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Numero do processo: 10580.729056/2010-08
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Apr 24 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 28/02/2006 a 28/02/2007
AFERIÇÃO INDIRETA. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NULIDADE.
O uso da aferição indireta para apurar parcelas salariais tributadas, quando observados os requisitos legais, não acarreta nulidade nem cerceia o direito à ampla defesa. O descumprimento de intimação fiscal para o fornecimento de documentos justifica o uso da aferição indireta.
CONTRIBUIÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL. INCIDÊNCIA SOBRE PAGAMENTOS DE REMUNERAÇÃO NÃO DECLARADOS. OBRIGATORIEDADE DE DECLARAR EM GFIP.
Incide contribuição previdenciária, patronal e dos trabalhadores, sobre os valores pagos a título de remuneração pelo trabalho. Sujeita-se ao lançamento de ofício os fatos geradores não declarados em Gfip e identificados pela fiscalização, através de documentos apresentados pela empresa.
GLOSA DE COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO DOS CRÉDITOS DECLARADOS. ÔNUS DO DECLARANTE.
É correta a compensação, em Gfip, da contribuição previdenciária com créditos líquidos e certos da mesma contribuição. Cabe ao sujeito passivo a comprovação da liquidez e certeza dos créditos utilizados para compensação, cuja prova não se faz pela mera declaração em Gfip de créditos compensáveis. É correta a glosa de valores compensados quando não comprovados, os créditos, por meios hábeis.
PERÍCIA. DESNECESSIDADE. CERCEAMENTO DE DIREITO DE DEFESA.
O indeferimento motivado de pedido de perícia não caracteriza cerceamento de direito de defesa. Não cabe perícia para fazer prova de fatos cujo ônus probante é da defesa e ela tem acesso às informações que pretenderia obter com a perícia. Nulidade do acórdão inexistente.
SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. VALE-TRANSPORTE. DESCONTO MENOR DO QUE O AUTORIZADO PELA LEI.
Não incide contribuição previdenciária sobre valores pagos a título de vale-transporte. A lei autoriza, mas não obriga, o desconto de até 6% da remuneração do empregado para custeio do vale-transporte. A ausência de desconto ou o desconto menor do que o autorizado não implicam descaracterização do benefício.
SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. ALUGUEL. EMPREGADO TRANSFERIDO.
A habitação fornecida pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distinta de sua residência é isenta da contribuição previdenciária quando atendidos os requisitos legais. A transferência do empregado para outra localidade implica a alteração do seu domicílio e, portanto, da sua residência. Configura salário indireto o pagamento de aluguel a empregado transferido, nos termos da CLT, para outra localidade.
SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. CARTÃO DE PREMIAÇÃO.
Integra o salário de contribuição a totalidade dos rendimentos pagos, a qualquer título, ao empregado e trabalhador avulso destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a forma. Excluem-se do salário de contribuição os ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário. O pagamento habitual de valores a título de prêmio de produtividade, por meio de cartão de premiação, integra o salário de contribuição.
MULTA. RETROATIVIDADE BENIGNA. APLICAÇÃO LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009.
Aplica-se a legislação inovadora quando mais benéfica ao sujeito passivo. A comparação das multas previstas na legislação, para efeito de aferição da mais benéfica, leva em conta a natureza da exação, e não a sua nomenclatura. Em se tratando de lançamento de ofício por descumprimento de obrigação acessória e principal, a aplicação da multa prevista no art. 35-A da Lei nº 8.212, de 1991, deve retroagir para beneficiar o contribuinte se resultar menor do que a soma das multas previstas nos artigos 32, §§ 4º e 5º, e 35, inc. II, da mesma lei.
Numero da decisão: 2301-005.193
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam, os membros do colegiado, por unanimidade de votos, DENEGAR o pedido de perícia e REJEITAR as preliminares; no mérito, pelo voto de qualidade, dar parcial provimento ao recurso voluntário para excluir do lançamento os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1, correspondentes à incidência de contribuições previdenciárias sobre as parcelas inferiores a 6% de desconto dos empregados a título de vale-transporte, vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto, Wesley Rocha, Marcelo Freitas De Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato que davam provimento ao recurso voluntário em maior extensão.
(assinado digitalmente)
João Bellini Júnior - Presidente.
(assinado digitalmente)
João Maurício Vital - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Júnior (Presidente), Antônio Sávio Nastureles, Alexandre Evaristo Pinto, Andrea Brose Adolfo, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa, João Maurício Vital e Wesley Rocha.
Nome do relator: JOAO MAURICIO VITAL
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CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NULIDADE. O uso da aferição indireta para apurar parcelas salariais tributadas, quando observados os requisitos legais, não acarreta nulidade nem cerceia o direito à ampla defesa. O descumprimento de intimação fiscal para o fornecimento de documentos justifica o uso da aferição indireta. CONTRIBUIÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL. INCIDÊNCIA SOBRE PAGAMENTOS DE REMUNERAÇÃO NÃO DECLARADOS. OBRIGATORIEDADE DE DECLARAR EM GFIP. Incide contribuição previdenciária, patronal e dos trabalhadores, sobre os valores pagos a título de remuneração pelo trabalho. Sujeitase ao lançamento de ofício os fatos geradores não declarados em Gfip e identificados pela fiscalização, através de documentos apresentados pela empresa. GLOSA DE COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO DOS CRÉDITOS DECLARADOS. ÔNUS DO DECLARANTE. É correta a compensação, em Gfip, da contribuição previdenciária com créditos líquidos e certos da mesma contribuição. Cabe ao sujeito passivo a comprovação da liquidez e certeza dos créditos utilizados para compensação, cuja prova não se faz pela mera declaração em Gfip de créditos compensáveis. É correta a glosa de valores compensados quando não comprovados, os créditos, por meios hábeis. PERÍCIA. DESNECESSIDADE. CERCEAMENTO DE DIREITO DE DEFESA. O indeferimento motivado de pedido de perícia não caracteriza cerceamento de direito de defesa. Não cabe perícia para fazer prova de fatos cujo ônus AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 58 0. 72 90 56 /2 01 0- 08 Fl. 2160DF CARF MF 2 probante é da defesa e ela tem acesso às informações que pretenderia obter com a perícia. Nulidade do acórdão inexistente. SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. VALETRANSPORTE. DESCONTO MENOR DO QUE O AUTORIZADO PELA LEI. Não incide contribuição previdenciária sobre valores pagos a título de vale transporte. 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Excluemse do salário de contribuição os ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário. O pagamento habitual de valores a título de prêmio de produtividade, por meio de cartão de premiação, integra o salário de contribuição. MULTA. RETROATIVIDADE BENIGNA. APLICAÇÃO LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Aplicase a legislação inovadora quando mais benéfica ao sujeito passivo. A comparação das multas previstas na legislação, para efeito de aferição da mais benéfica, leva em conta a natureza da exação, e não a sua nomenclatura. Em se tratando de lançamento de ofício por descumprimento de obrigação acessória e principal, a aplicação da multa prevista no art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, deve retroagir para beneficiar o contribuinte se resultar menor do que a soma das multas previstas nos artigos 32, §§ 4º e 5º, e 35, inc. II, da mesma lei. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam, os membros do colegiado, por unanimidade de votos, DENEGAR o pedido de perícia e REJEITAR as preliminares; no mérito, pelo voto de qualidade, dar parcial provimento ao recurso voluntário para excluir do lançamento os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1, correspondentes à incidência de contribuições previdenciárias sobre as parcelas inferiores a 6% de desconto dos empregados a título de valetransporte, vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto, Wesley Rocha, Marcelo Freitas De Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato que davam provimento ao recurso voluntário em maior extensão. Fl. 2161DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.161 3 (assinado digitalmente) João Bellini Júnior Presidente. (assinado digitalmente) João Maurício Vital Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Júnior (Presidente), Antônio Sávio Nastureles, Alexandre Evaristo Pinto, Andrea Brose Adolfo, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa, João Maurício Vital e Wesley Rocha. Relatório Tratase de lançamento de ofício, Auto de Infração nº 37.280.6090, para a exigência das contribuições sociais patronais, destinadas à Seguridade Social, nos termos do artigo 22, inc. I, da Lei 8.212, de 24 de julho de 1991, e ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, nos termos do inciso II daquele artigo. O lançamento decorreu de ação fiscal, relativa ao período de 2/2006 a 2/2007, na qual a Autoridade Lançadora identificou que a empresa havia declarado, em Gfip, valores inferiores aos valores efetivamente devidos de contribuição previdenciária, parte patronal e dos segurados, bem como os valores reflexos relativos às contribuições a terceiros. Da ação fiscal, resultaram os seguintes autos de infração: Nº do auto de infração (Debcad) Período Valor Nº do PAF Matéria lançada 372806139 09/2010 1.000,00 10580.729062/201057 Multa por deixar de declarar em GFIP (art. 32A). 372806082 09/2010 1.431,79 10580.729053/201066 Multa por deixar de descontar contribuição devida pelos segurados (art. 92). 372806368 09/2010 551.239,15 10580.729052/201011 Multa por deixar de declarar em GFIP (art. 32, §§ 4º e 5º). 372806090 2/2006 a 2/2007 2.784.318,36 10580.729056/201008 Contribuições da empresa para a previdência social. 372806104 5/2006 a 2/2007 128.486,40 10580.729057/201044 Contribuições dos segurados descontadas, mas não declaradas e nem recolhidas. 372806112 2/2006 a 2/2007 493.208,37 10580.729059/201033 Contribuições a terceiros. 372806120 2/2006 a 2/2007 957.210,48 10580.729061/201011 Contribuições dos segurados não descontadas, não declaradas e nem recolhidas. O processos encontramse vinculados, sendo que o processo principal é o de nº 10580.729056/201008, ao qual os demais estão apensos. Na ação fiscal, a Autoridade Lançadora constatou que a empresa não havia informado corretamente as bases de cálculo, contribuições e demais dados que deveriam constar das Gfip do período fiscalizado. Verificou, também, que o contribuinte não havia tributado os valores pagos a segurados relativos a despesas de alimentação por meio de Fl. 2162DF CARF MF 4 empresa não inscrita no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), valetransporte, alugueis e cartão de premiação. A Fiscalização apurou, ainda, que a empresa possuía créditos e os considerou para efeito de cálculo do montante tributável, bem como levou em conta todos os pagamentos efetuados pelo contribuinte sob o CNPJ da matriz e das filiais. Em decorrência das constatações, a Autoridade Lançadora constituiu os pertinentes créditos tributários relativos a tais parcelas que, no seu entender, integrariam o salário de contribuição. Assim, surgiram os autos de infração para a constituição da contribuição previdenciária patronal e dos segurados, bem como das contribuições a terceiros e das multas relacionadas a incorreções nas Gfip. Inconformada com o lançamento, a Recorrente apresentou, em cada um dos processos, impugnações nas quais, em síntese, questionou a tributação das verbas tidas por salárioutilidade, alegou que seus créditos e pagamentos não haviam sido considerados pela Autoridade Lançadora e solicitou perícia para a verificação dos valores levantados pela Fiscalização. Também insurgiuse contra o cálculo das multas devidas. Por fim, a Recorrente pleiteou, em cada um dos processos, a anulação dos respectivos autos de infração e, subsidiariamente, a aplicação das multas na forma que, segundo a Recorrente, lhe seria mais benéfica. A instância a quo analisou as impugnações e, de tudo o que foi questionado, deu provimento ao pedido de exclusão dos valores pagos a título de despesas de alimentação, mantendo hígidas todas as demais infrações apontadas pela Autoridade Lançadora. A Recorrente, então, apresentou recursos voluntários repisando as alegações das impugnações. É o relatório. Voto Conselheiro João Maurício Vital 1. Preliminar de nulidade por realização de aferição indireta pela Fiscalização A Recorrente alegou que o auto de infração deveria ser anulado porquanto a aferição indireta, no caso, não seria cabível porque feriria o regime de competência e, ainda, não teria havido justificativa para o uso daquele instituto e que isso teria inviabilizado o pleno exercício de seu direito de defesa. Destaquese que a Recorrente reproduziu, no recurso voluntário, quanto à matéria, os exatos termos que havia manifestado na impugnação. O colegiado a quo muito bem tratou da questão e peço vênia para reproduzir o pertinente trecho do voto do acórdão recorrido (efls. 2066 e 2067), com cuja conclusão concordo e cujos fundamentos também assumo como meus: 8. Em que pese o entendimento da impugnante, o Relatório Fiscal traz de forma clara e precisa, a matéria tributável (descrição dos fatos geradores), as contribuições devidas, o período do lançamento e todas as razões que ensejaram a lavratura do auto de Infração, indicando a origem das Fl. 2163DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.162 5 exigências lançadas, seus fatos geradores, o período a que se referem, como foram apurados os valores lançados e as razões dos procedimentos adotados. 8.1. Especificamente, quanto ao critério da aferição indireta utilizada em relação aos levantamentos (VT, VT1, AL, AL1), foi constatado pela fiscalização por meio do exame da contabilidade da empresa, que esta forneceu salárioutilidade na forma de habitação a alguns de seus trabalhadores sem demonstrar que a moradia era necessária ao deslocamento do seu trabalho. Também foi informado no Relatório Fiscal que uma parte dos empregados da impugnante teria participado com apenas 1% (um por cento) de desconto sobre seu salário para o custeio do vale transporte, procedimento este em desconformidade com a Lei 7.418/85 que regula a concessão do Vale Transporte. 8.2. Assim, com o objetivo de identificar os fatos geradores e verificar a consistência dos registros contábeis e Folhas de Pagamento, a Fiscalização intimou o contribuinte, por meio do Termo de Início do Procedimento Fiscal e nos demais Termos de Intimação Fiscal, (fls.239/263), a prestar informações e fornecer cópias dos documentos (contratos de aluguel, esclarecimentos quanto aos beneficiários pelo pagamento, bem como sobre a destinação do imóvel locado, além dos comprovantes de fornecimentos de Vale transporte), que deram ensejo aos registros da contabilidade e folhas de pagamento, cujos lançamentos contábeis, no caso dos aluguéis estão relacionados no Relatório Fiscal. 8.3. No entanto, a empresa não atendeu a totalidade das intimações feitas no procedimento fiscal, obstando à ação da Fiscalização e impedindo a auditoria fiscal de identificar a totalidade dos atos e fatos da contabilidade. Assim, diante da recusa da empresa em apresentar a documentação solicitada, a autoridade fiscal não teve alternativa a não ser lançar de ofício a importância que reputou devida, considerando a totalidade dos pagamentos registrados nos lançamentos contábeis discriminados no item 4.4.8.3 do Relatório Fiscal (Salário Utilidade na modalidade de Aluguel – Conta Razão 31101040015 e 31201020013), e nas Folhas de Pagamento da Matriz, em relação ao valor de Vale Transporte concedido a alguns empregados em percentual menor que o exigido em Lei, com base no art. 33, parágrafo 3º, da Lei 8.212/91, invertendose o ônus da prova, que passou a ser da autuada. Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições sociais previstas no parágrafo único do art. 11 desta Lei, das contribuições incidentes a título de substituição e das devidas a outras entidades e fundos. (...) Fl. 2164DF CARF MF 6 § 3o Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou informação, ou sua apresentação deficiente, a Secretaria da Receita Federal do Brasil pode, sem prejuízo da penalidade cabível, lançar de ofício a importância devida.(grifei) (...) §6° Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, serão apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. 8.4. Vale destacar, ainda o que diz o Relatório Fiscal de Diligência em relação à rubrica Vale Transporte, fls. 2041/2046, sobre o qual a impugnante não se manifestou: “Para que fosse utilizado o método de aferição direta, seria necessário que a empresa tivesse disponibilizado o valor fornecido em vale transporte, empregado a empregado, mês a mês. Assim, a auditoria poderia aplicar ao valor do salário, o valor do vale transporte, verificando qual o percentual a ser ressarcido pelo empregado, ou seja, até o percentual máximo de 6% do salário e a seguir, confrontando esse percentual, com o valor da rubrica 046. A diferença encontrada, empregado a empregado, mês a mês, seria o valor do salárioutilidade considerado como base de cálculo”. 8.5. Desta forma, a aferição indireta, conforme praticada pela fiscalização no presente caso, está completamente amparada na legislação vigente. 8.6. Por fim, deve ser ressaltado também que os anexos “DD – Discriminativo do Débito”, “RL – Relatório de Lançamentos”, e os ANEXOS de fls. 91/402 do Relatório Fiscal, ao indicar a base de cálculo apurada, as alíquotas aplicadas, e as contribuições exigidas, por competência, propiciaram o pleno exercício do direito do contraditório e da ampla defesa, constitucionalmente assegurado aos litigantes em processo administrativo, pelo que deve ser afastada tal preliminar de nulidade. (Grifos e negritos do original.) Entendo, pois, que não há nulidade no auto de infração em razão do uso de aferição indireta para apurar parcelas salariais tributadas, já que foram observados os requisitos legais para a sua aplicação, sem que tenha havido qualquer prejuízo à defesa da Recorrente. 2. Diferenças entre as remunerações e contribuições de segurados da matriz, constantes da folha de pagamento e as declaradas na Gfip (levantamentos MT e MT1), glosa na compensação de créditos de competências anteriores (levantamento CG) e pedido de perícia Por serem intrinsecamente relacionados, merecem uma análise conjunta os seguintes tópicos indicados pela Recorrente em sua peça recursal: a) diferenças entre as Fl. 2165DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.163 7 remunerações e contribuições de segurados da matriz, constantes da folha de pagamento e as declaradas na Gfip (levantamentos MT e MT1), b) glosa na compensação de créditos de competências anteriores (levantamento CG) e c) pedido de perícia. Nos termos do inc. IV do art. 16 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, a Recorrente solicitou perícia, e indicou perito, para a) o refazimento dos cálculos constantes dos levantamentos MT e MT1, considerando os valores das Gfip que apresentara já sob o procedimento de ofício, e b) para esclarecer a origem dos valores e procedimentos adotados pela Fiscalização no caso do levantamento CG. Em relação aos valores identificados nos levantamentos MT (efls. 25 a 143) e MT1 (efl. 143 a 154), a Recorrente alegou que as diferenças apuradas na ação fiscal teriam sido resultantes de mero erro cometido pela empresa na transmissão das Gfip e que isso não teria resultado em falta de recolhimento. Afirma que, ao pretender retificar as Gfip para incluir informações faltantes, teria, inadvertidamente, transmitido as declarações como se novas Gfip fossem, o que teria ocasionado a sobreposição das informações anteriormente declaradas. Também sustentou, a Recorrente, que a Fiscalização teria deixado de considerar as informações sobre recolhimentos e compensações que resultaram sobrepostas pelo alegado erro de retificação de Gfip. Para sanar o erro cometido com a retificação das Gfip, a Recorrente tornou a apresentar as declarações, embora já sob procedimento de ofício, na tentativa de restabelecer as informações que enviara e que haviam sido substituídas. Na verdade, a apresentação das Gfip, as suas substituições indevidas e posteriores retificações intempestivas não têm a menor influência no deslinde da questão tratada neste ponto dos autos (embora tenha relevância quanto a outros aspectos tributários, resultantes da mesma ação fiscal e que serão tratados nos respectivos processos fiscais). Ao analisar os levantamentos MT e MT1, constatase que a investigação fiscal não se baseou nas Gfip para efetuar o lançamento, mas diretamente nas situações que configuraram fatos geradores das contribuições. A partir daí, a Autoridade Lançadora determinou as bases de cálculo, calculou o tributo correspondente, deduziu os pagamentos informados e os créditos identificados e lançou as diferenças devidas. Sobre a matéria, assim se manifestou o acórdão a quo (efl. 2069): 10.2. As bases de cálculo das contribuições foram extraídas das folhas de pagamento, cujas bases foram comparadas com as bases declaradas em GFIP’S, e as diferenças lançadas nos levantamentos DC e DM, para possibilitar a apropriação de possíveis sobras de guias. Nestes dois levantamentos, foram lançados os valores de remuneração, desconto de segurados, salário família, salário maternidade e compensação, conforme declarados em GFIP. Nestes termos, as eventuais sobras de recolhimento foram utilizadas para abatimento dos levantamentos MT e MT1, que contêm as diferenças entre as remunerações e as contribuições de segurados da matriz, constantes da Folha de Pagamento e as não declaradas em GFIP, bem como os demais levantamentos apurados nesta ação fiscal. 10.3. Assim, todos os créditos constantes no sistema informatizado da Receita Federal do Brasil e os comprovados pela contribuinte durante a ação fiscal foram devidamente Fl. 2166DF CARF MF 8 considerados e abatidos dos lançamentos vinculados aos Autos de Infração de descumprimento de obrigação principal, sendo que a autuada teve acesso a todas as informações necessárias ao oferecimento de sua defesa administrativa. (Sem grifo no original.) Ao que se vê, a Autoridade Fiscal foi diligente em buscar, a partir das fontes primárias, e não das Gfip, as bases de cálculo das contribuições e, em relação aos levantamentos MT e MT1, essas bases de cálculo não foram contestadas no recurso voluntário. O Fisco também agiu com correção ao considerar, em favor do contribuinte, todos os pagamentos apresentados e créditos que foram identificados. Alegou, a Recorrente, que seus pagamentos não teriam sido aproveitados. Não procede a alegação, pois os valores efetivamente recolhidos pela empresa a título de contribuição previdenciária foram devidamente considerados no lançamento, para efeito de calcular o montante devido. Os recolhimentos informados pela empresa constam do Relatório de Documentos Apresentados (RDA) (efls. 163 a 167) e do Relatório de Apropriação de Documentos Apresentados (Rada) (efls. 168 a 183). Os mesmos valores constam do auto de infração, na coluna de créditos, a reduzir o valor do tributo lançado (efls. 7 a 22). Também alegou, a Recorrente, que seus créditos não foram compensados no cálculo da contribuição devida. A alegação é descabida, pois o que se verifica no Levantamento CG, que corresponde ao item 4.4.11 e respectivos subitens (efls. 199 a 201) do relatório fiscal, é que os saldos remanescentes dos créditos informados foram integralmente aproveitados. Observase, a partir das informações da Delegacia da Receita Previdenciária de Salvador (efls. 273 a 279) e do relatório fiscal, o seguinte: a) o contribuinte teve, nos processos nº 35013.003375/200661 e 35013.003667/200601, reconhecido o direito de compensar sobras de recolhimentos de vários estabelecimentos, no valor total de R$ 4.200.318,26, que foram integralmente utilizados na operação concomitante que consta do processo nº 35013.003667/200601; b) dos créditos reconhecidos, restaram inaproveitados quatro recolhimentos do estabelecimento 14.306.831/002063, no valor total de R$ 33.428,78 (item 4.4.11.2 do relatório fiscal, Tabela A, efl. 199); c) a empresa, ao invés de informar nas Gfip, para compensação, o saldo dos pagamentos inaproveitados na operação concomitante, informou valor muito maior, R$ 135.203,86, além de informar, indevidamente, como compensações nas Gfip, valores que já haviam sido utilizados para a operação concomitante; d) a Autoridade Lançadora corrigiu o saldo dos créditos remanescentes (R$ 33.428,78), refez os cálculos das compensações e glosou o que estava em excesso. Notase, pois, que, ao contrário do afirmado pela Recorrente, os seus créditos foram aproveitados no procedimento fiscal. Destaquese que a Recorrente apresentou planilha intitulada Acompanhamento Saldo INSS Recuperar 2006 (efl. 1113), na qual constam valores muito diferentes dos que estão nos documentos emitidos pela Delegacia da Receita Previdenciária de Salvador (efls. 273 a 279). Porém, a Recorrente não apresentou qualquer comprovação dos valores que apontou e nem explicou, em seu apelo, qual a finalidade daquela planilha. Fl. 2167DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.164 9 A Recorrente solicitou perícia para levantar os valores refazer os cálculos dos levantamentos MT e MT1 e para verificar a origem dos valores constantes do levantamento CG. Ora, quanto aos levantamentos MT e MT1, os dados foram extraídos dos documentos fornecidos pela própria empresa e que estão nos autos, sendo absolutamente desnecessária qualquer perícia para esse fim pois os documentos fundamentais pertencem à Recorrente. Pretende, a Recorrente, que uma perícia venha considerar as Gfip entregues sob procedimento de ofício, quando, na verdade, esses documentos inexistem, para efeitos jurídicos, por força do disposto no parágrafo único art. 138 do CTN. O que quer a Recorrente é que sejam aproveitadas as informações de créditos compensáveis que constam das Gfip extemporâneas; mas, se os créditos são hígidos, caberia à Recorrente fazer prova deles, pois a Gfip (tempestiva ou não) não é documento hábil para provar a origem dos créditos utilizados em eventuais compensações. Os documentos que amparariam os créditos alegados nas Gfip intempestivas, se existem, deveriam estar sob a guarda da própria Recorrente. Quanto ao levantamento CG, os documentos e informações também constam dos autos, sobretudo a informação da Delegacia da Receita Previdenciária de Salvador (efls. 273 a 279) que subsidiou o referido levantamento. Não há necessidade de perícia para evidenciar o que já está evidente. O que se percebe é que a Recorrente apenas alega que os créditos diligentemente buscados pela Fiscalização não estão corretos, sem apresentar qualquer contraprova e invocando uma perícia para que cumpra o papel que seria da Recorrente. Para bem fundamentar meu entendimento, socorrome do voto do que conduziu o Acórdão nº 2301005.129, desta turma, da lavra do Conselheiro João Bellini Júnior: A teor do disposto no o art. 18 do Decreto nº 70.235, de 1972, com redação dada pelo art. 1º da Lei nº 8.748, de 1993, tais pedidos somente são deferidos quando necessários à formação de convicção do julgador. Ou seja, a perícia ou a diligência só têm razão de ser quando há questão de fato ou de prova a ser elucidada, a critério da autoridade administrativa que realiza o julgamento do processo. Além do mais, descabe diligência ou perícia para averiguação de fato que possa ser comprovado com a juntada de prova documental, cuja guarda e comprovação está a cargo do sujeito passivo, como se dá no presente caso. Portanto, indefiro o pedido de perícia, nos termos do art. 18 do Decreto nº 70.235, de 1972, por considerála despicienda porquanto todos os elementos necessários à decisão já se encontram nos autos. A despeito de toda a argumentação trazida no recurso e da juntada de centenas de folhas, a Recorrente não se desincumbiu, ao meu ver, do essencial, que seria provar que o débito lançado estaria errado ou que algum pagamento ou crédito não teria sido considerado na determinação do montante devido. Entendo que os valores das diferenças entre folha de pagamento e Gfip informados nos levantamentos MT e MT1 estão corretos, porquanto ali se indicam exatamente os valores calculados das contribuições devidas deduzidas de eventuais pagamentos e créditos Fl. 2168DF CARF MF 10 conhecidos e comprovados pela Recorrente. Não cabe, pois, neste ponto, reparo no lançamento ou na decisão a quo. 3. Salárioutilidade valetransporte (levantamentos VT e VT1) No que concerne ao valetransporte, o acórdão recorrido entendeu procedente o lançamento porquanto o empregador não teria observado a legislação de regência quanto ao desconto de 6% do salário do empregado. É o que está nos seguintes trechos do voto condutor daquele julgado (efl. 2073): 11.6. Assim, observase, pela leitura de texto legal acima, que o empregador é obrigado a adquirir os valestransporte para fornecêlos aos seus empregados, ficando evidenciado ainda, que o empregador deverá participar do custeio do benefício com a parcela que exceder 6% do salário básico do trabalhador, o que significa dizer, que são proibidas quaisquer outras formas de prestação do benefício, entre elas, o fornecimento do vale transporte em espécie, além da participação do trabalhador em percentual inferior a 6% do seu salário básico. (Grifo do original.) ......................................................................................................... 11.8. Assim, a legislação transcrita não deixa dúvidas: o vale transporte, quando concedido nas condições e limites definidos na lei, possui natureza indenizatória, não incorporando a remuneração para quaisquer efeitos. No entanto, a inobservância da legislação específica transforma o pagamento do vale transporte em verba salarial que se incorpora à remuneração do empregado para todos os fins e efeitos. Porém, entendo que, neste ponto, reside razão à Recorrente. A questão dos autos é a incidência de contribuição previdenciária sobre os valores descontados do empregado em percentual menor do que 6% do seu salário. Sob o raciocínio do colegiado a quo, estariam excluídos da base de cálculo da contribuição apenas os valores suportados pela empresa menos a parcela descontada dos empregados, à razão de 6% de seus salários, não mais e não menos. Porém, a correta exegese do parágrafo único do art. 9º do Decreto nº 95.247, de 17 de novembro de 1987, que regulamentou a Lei nº 7.418, de 16 de dezembro de 1985, é que o desconto do empregado é uma faculdade do empregador, e não um requisito legal: Art. 9° O ValeTransporte será custeado: I pelo beneficiário, na parcela equivalente a 6% (seis por cento) de seu salário básico ou vencimento, excluídos quaisquer adicionais ou vantagens; II pelo empregador, no que exceder à parcela referida no item anterior. Parágrafo único. A concessão do ValeTransporte autorizará o empregador a descontar, mensalmente, do beneficiário que exercer o respectivo direito, o valor da parcela de que trata o item I deste artigo.(Sem grifo no original.) Fl. 2169DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.165 11 Assim, se o empregador optar por arcar, sozinho, com os custos de transporte de seus empregados, sem com eles dividilo ainda que autorizado, não terá desnaturado o benefício concedido pela lei, desde que os valores pagos sejam compatíveis com o custo do transporte do empregado de e para o trabalho. Portanto, entendo que os valores pagos ao empregado para a sua locomoção, mesmo que não tenha havido desconto de seu salário ou que esse desconto tenha sido menor do que 6%, subsumemse ao conceito de valetransporte e têm caráter indenizatório, razão pela qual entendo aplicarse, ao caso, Súmula Carf nº 89: Não há incidência de contribuição previdenciária sobre o vale transporte pago em pecúnia, considerando o caráter indenizatório da verba. (Sem grifo no original.) No mesmo sentido, decidiu unanimemente a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) no Acórdão nº 9202005.387, cujo voto condutor encerra: Assim, a partir da edição das Súmula CARFs e AGU citadas, a mera inexistência de desconto nas remunerações dos segurados, em percentual diferente, aquém dos 6% legalmente citados, não é suficiente para que se conclua acerca da incidência das contribuições previdenciárias, tal como se admitiu no Acórdão paradigma, uma vez, repitase, permitido, na forma das Súmulas, o recebimento em pecúnia para que os segurados, posteriormente, fizessem frente às suas despesas de transporte. Daí entender este Conselheiro que a tributação aqui baseada somente na existência de desconto em percentual diferente dos 6%, mesmo quando acompanhada, no paradigma, de rejeição do caráter indenizatório da verba não poderia, à luz da Súmula CARF no. 89, subsistir e, assim, voto, por negar provimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional. Entendo, pois, que os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1 devem ser excluídos do lançamento por, a despeito do quantum descontado dos empregados, se tratarem de valetransporte, verba de natureza indenizatória consoante Súmula Carf nº 89, sobre a qual não incide contribuição previdenciária. 4. Salárioutilidade aluguel pago a empregados (levantamentos AL e AL1) No caso dos autos, a Fiscalização identificou, nos registros contábeis da empresa, o pagamento de alugueis. Intimada a apresentar os respectivos contratos de locação, informando, no caso de aluguel residencial, a quem se destinava a moradia, a empresa não apresentou os documentos. Por consequência, a Autoridade Lançadora considerou os valores dos pagamentos escriturados como salários indiretos. 4.1. Dos alugueis pagos a Reginaldo Moreno dos Santos Quanto aos pagamentos de aluguel a Reginaldo Moreno dos Santos, a Recorrente alega que ele nunca foi seu empregado, senão o locatário de um imóvel que locara para ser utilizado como canteiro de obras em ItamarajuBA. Entretanto, apesar de haver sido intimada, no curso da ação fiscal a apresentar o contrato de locação, e podendo fazêlo inclusive na fase impugnatória ou mesmo nesta fase recursal, a Recorrente em nenhum momento apresentou o documento ou qualquer outro elemento para comprovar a natureza do aluguel. Fl. 2170DF CARF MF 12 O acórdão recorrido manteve o lançamento sob o seguinte argumento: 11.30. Com relação aos valores lançados de locação ao Sr. Reginaldo Moreno dos Santos, a impugnante afirma que esta pessoa nunca foi segurado da mesma, sendo, na realidade, apenas, proprietário de um imóvel situado na Avenida ACM, 1020, ItamarajuBA, o qual foi locado pela impugnante no período de 15/06/2006 a 15/11/2006 para utilização como canteiro de uma de suas obras. (Grifo do original.) 11.31. Contudo, verificase dos autos, que os recibos trazidos pela empresa, (fls. 2005/2010), vieram desacompanhados do contrato de locação, documento este que poderia comprovar suas alegações. 11.32. Neste sentido, cumpre destacar, novamente que as alegações da defesa que não estiverem acompanhadas da produção das provas competentes e eficazes desfiguramse e obliteram o arrazoado defensório, pelo que deve prosperar a exigibilidade fiscal. A parte que apenas alega, mas não produz prova, ou pelo menos indícios convincentes, dos fatos alegados, sujeitase às conseqüências do sucumbimento, porque não basta alegar. Para afastar o lançamento, são necessárias provas que infirmem o que consta do auto de infração, não bastando meras alegações, sobretudo quando os fatos são facilmente comprováveis e toda a eventual documentação estaria de posse da Recorrente. Bastaria apresentar o contrato de locação, ou outro elemento a confirmar que o imóvel teria sido destinado à instalação do canteiro de obras. Mas a Recorrente não logrou comprovar sequer se, de fato, teria havido uma obra naquela localidade. Ao omitir tais documentos, a Recorrente abre espaço para se rechaçar sua alegação e se admitir como absoluta a verdade apresentada pela Autoridade Lançadora. Portanto, em relação aos valores de aluguel pagos a Reginaldo Moreno dos Santos, constantes dos levantamentos AL e AL1, entendo correto o lançamento que os considerou de salário indireto. 4.2. Dos alugueis pagos a Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda e ao Condomínio Edifício Marques de Herval A Recorrente admitiu, no recurso voluntário, que Neide Jane e Cristiano de Souza Bila eram seus empregados e que foram transferidos para a filial de MaringáPR, provenientes, respectivamente, de SalvadorBA e NiteróiRJ. Do recurso voluntário e da análise dos contratos locatícios (efls. 677 a 683 e 716 a 722) depreendese que a empresa locou dois imóveis na cidade de MaringáPR para habitação de seus empregados. Destaquese que os objetos de ambos os contratos são imóveis de uso residencial e que os locadores eram, em ambos os casos, representados pela imobiliária Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda. Quanto aos valores pagos a Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda e ao Condomínio Edifício Marques de Herval, a Recorrente sustentou que não integrariam o salário de contribuição, porquanto estariam enquadrados no que assevera o inc. XII do § 9º do art. 214 do Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, in verbis: §9º Não integram o saláriodecontribuição, exclusivamente: ......................................................................................................... Fl. 2171DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.166 13 XIIos valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em canteiro de obras ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego; Não assiste razão à Recorrente. Conforme ela mesmo afirma, seus empregados foram transferidos para novo município, em outro estado da federação, a fim de trabalharem em uma filial da empresa. O art. 469 do DecretoLei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) define que a transferência implica a mudança do domicílio do empregado, como se vê: Art. 469 Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio . (Sem grifo no original.) A regra isentiva estabelece que a habitação fornecida pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distinta de sua residência não integra o salário de contribuição. Entendese por residência o local onde a pessoa habitualmente é encontrada. O domicílio é, segundo o art. 70 do Código Civil Brasileiro, o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo. A residência é, pois, um dos elementos do domicílio. É como a doutrina assevera: O conceito de domicílio civil se compõe, pois, de dois elementos: o objetivo, que é a residência, mero estado de fato material; e o subjetivo, de caráter psicológico, consistente no ânimo definitivo, na intenção de aí fixarse de modo permanente. A conjunção desses dois elementos forma o domicílio civil. A residência é, portanto, apenas um elemento componente do conceito de domicílio, que é mais amplo e com ela não se confunde. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 10ª edição São Paulo: Saraiva, 2012.) A alteração do domicílio, por força do disposto no art. 469 da CLT, corresponde também à alteração da residência para o novo local de trabalho. A rigor, não é possível conceber que os empregados, saindo um de SalvadorBA e outro de NiteróiRJ para trabalharem em MaringáPR, município a centenas de quilômetros daqueles dois, não tenham transferido suas residências. Portanto, não se trata de habitação fornecida para empregado em razão de ele trabalhar distante de onde mora, mas de mudança da residência para próximo do novo local de trabalho, em razão da transferência do trabalhador, razão pela qual não se aplica o inc. XII do § 9º do art. 214 do Decreto nº 3.048, de 1999. Além disso, o fornecimento de habitação aos empregados em cidade onde não há limitação de moradia, como na hipótese dos autos, não ocorreu para o trabalho, mas pelo trabalho, o que caracteriza uma contraprestação e dá caráter salarial ao benefício, como já foi decidido por esta turma, em caso semelhante, no Acórdão n º 2301003.996, verbis: Fl. 2172DF CARF MF 14 No que tange ao fornecimento de habitação e sua caracterização como salárioutilidade, o TST possui a Súmula 367 que esclarece em que situações a habitação fornecida pode ser considerada como salárioutilidade, in verbis: Súmula TST 367 Utilidades "in natura". Habitação. Energia elétrica. Veículo. Cigarro. Não integração ao salário. I A habitação, a energia elétrica e veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza salarial, ainda que, no caso de veículo, seja ele utilizado pelo empregado também em atividades particulares. II O cigarro não se considera salário utilidade em face de sua nocividade à saúde. O conteúdo da Súmula 367, portanto, o qual adotamos integralmente para o caso por conta da aplicação do art. 110 do CTN, exige que o fornecimento de habitação seja dispensável para a realização do trabalho. Tal dispensabilidade, em regra, depende de prova que o fisco deve providenciar, salvo os casos em que for fato notório. In casu, os contratos que constam dos autos apontam que os imóveis locados localizavamse em cidades com boa disponibilidade de imóveis, como Brasília. Como qualquer trabalhador, os diretores ao serem convidados para trabalhar fora de seu domicílio devem ter considerado se o novo salário tornaria vantajosa sua nova situação. Em cidades com ampla oferta de imóveis, dispondo de salário adequado, os diretores poderiam providenciar seu novo domicílio. Com relação às utilidades, boa parte da doutrina e da jurisprudência do TST se alinhou à teoria finalística – originalmente defendida entre nós por José Martins Catharino na década de 1950 – que distingue as utilidades fornecidas “para o trabalho” das utilidades fornecidas “pelo trabalho”. As primeiras , “para o trabalho”, seriam funcionais, instrumentais, verdadeiros equipamentos de trabalho e, portanto, sem natureza salarial; as segundas, “pelo trabalho”, seriam contraprestativas e com natureza salarial. Não nos parece que o fornecimento de habitação em cidades com boa oferta de imóveis possa ser considerado de maneira similar a um equipamento de trabalho, pois a esmagadora maioria dos trabalhadores que lá trabalham arcam com o custo da habitação com seu próprio salário. Situação diferente seria o fornecimento de habitação em uma localidade inóspita e que não permitisse que o próprio trabalhador, de qualquer nível, acomodasse a si e a sua família. Concluo, portanto, existir nítido caráter contraprestativo no fornecimento de habitação para o caso em análise. Assim, entendo que a inclusão dos valores despendidos com habitação de diretores na base de cálculo da contribuição previdenciária atende aos desígnios da lei. Portanto, o lançamento está correto ao considerar os valores de habitação pagos a Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda e ao Condomínio Edifício Marques de Herval, Fl. 2173DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.167 15 constantes dos levantamentos AL e AL1, como salários indiretos e integrálos à base de cálculo da contribuição previdenciária. 5. Salárioutilidade prêmio de incentivo (levantamentos CP, CP1, CM e CM1) Por intermédio da empresa Mark Up, a Recorrente realizou pagamentos a funcionários, a título de premiação, mediante crédito de valores em cartão magnético, cartões tais com disponibilidade de saque em terminais de atendimento bancário. Enfim, o pagamento dava em pecúnia, por meio de créditos disponíveis. Segundo a Recorrente, a premiação seguia critérios eminentemente meritórios, ou seja, o empregado estaria sendo remunerado pelo seu trabalho (efl. 2137). Afirma, ainda, que tais verbas constituem mera liberalidade da empresa empregadora e que não foram diretamente foram pagas pela Recorrente, mas por meio de uma empresa especializada (efl. 2138). Aduz que o pagamento não cria ou modifica direitos, que possui caráter excepcional vinculado ao alcance de metas e que, por isso, carece de habitualidade (e fl. 2139), o que colocaria a verba fora do conceito de saláriodecontribuição. A Recorrente afirmou que as verbas pagas não seriam habituais, mas esporádicas, e, por conseguinte, estariam enquadradas na exclusão prevista no item 7 da alínea e do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212, de 1991, in verbis: § 9º Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: ......................................................................................................... 7.recebidas a título de ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário; Não assiste razão à Recorrente. De acordo com o art. 28, inc. I, da Lei nº 8.212, de 1991, os valores pagos a qualquer título para retribuir o trabalho integram o salário decontribuição: Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; A Recorrente faz a comum confusão entre eventualidade e habitualidade. De fato, as verbas recebidas eventualmente não estão sujeitas à contribuição previdenciária, sendo que o mesmo não acontece com as inabituais. Reproduzo o trecho do voto condutor do Acórdão nº 9202003.044 que assim abordou o tema: Como se vê, da leitura do art. 22, I e do art, 28,I da Lei nº 8.212/91 e do art. 201, § 1º do RPS, que somente é exigido o Fl. 2174DF CARF MF 16 requisito da habitualidade no que diz respeito ao “salário in natura”, por incluir, expressamente, no conceito de remuneração os “ganhos habituais sob a forma de utilidades”, sem fazer menção ao requisito habitualidade para os pagamentos em espécie. Ou seja, no campo de incidência das contribuições previdenciárias encontramse: a) a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, inclusive gorjetas (salário em espécie); e b) os ganhos habituais sob a forma de utilidades (salário in natura). Podese, então, concluir que a lei, ao definir a hipótese de incidência da contribuição previdenciária, exige o requisito da habitualidade tão somente para o salário in natura. Por seu turno, o art. 28, § 9º , alínea “e”, item “7” prevê expressamente que as importâncias recebidas a título de ganhos eventuais são isentas de contribuições sociais previdenciárias: “Não integram o saláriodecontribuição (remuneração) para os fins desta Lei, exclusivamente: (...)as importâncias: (...)recebidas a título de ganhos eventuais (...).” Assim sendo, podese afirmar que “a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho”, independentemente de serem ou não habituais, encontramse no campo de incidência das contribuições previdenciárias. Entretanto, “as importâncias recebidas a título de ganhos eventuais” encontramse excluídas da sua base de cálculo por se tratarem de importâncias atingidas pela isenção. Entendo que está sendo criada uma grande confusão ao tentarem comparar os conceitos de "habitualidade com o de não eventualidade" ou o "não habitualidade com o de eventualidade". Para o Dicionário Michaelis, as definições são: Habitual 1 Que acontece ou se faz por hábito. 2 Frequente, comum, vulgar. 3 Usual. Eventual 1 Dependente de acontecimento incerto. 2 Casual, fortuito. 3 Variável. De acordo com o Vocabuário Jurídico de Plácido e Silva: Habitualidade De habitual, entendese a repetição, a sucessividade, a constância, a iteração, na prática ou no exercício de certos e determinados atos, em regra da mesma espécie ou natureza, com a preconcebida intenção de fruir resultados materiais ou de gozo. Eventualidade De evento, significa o caráter e a condição do que é eventual, mostrando assim a possibilidade e a probabilidade do fato, cuja realização é esperada ou aguardada. Fl. 2175DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.168 17 A habitualidade, como requisito para que a prestação in natura, integre o saláriodecontribuição, diz respeito a freqüencia da concessão da referida prestação. Já a eventualidade, como elemento caracterizador da isenção prevista no art. 28, § 9º , alínea “e”, item “7”, ou seja, que decorram de importâncias recebidas a títulos de ganhos eventuais, dizem respeito a ocorrência de caso fortuito. No presente caso há de se assinalar, primeiramente, que foram realizados pagamentos em pecúnia, o que afasta a necessidade de se indagar a habitualidade com que o pagamento foi realizado. Entendo, pois, que o requisito da habitualidade não se aplica a recebimentos em pecúnia ocorridos em razão do trabalho. Mas, ainda que se aplicasse, não seria o caso dos prêmios pagos na hipótese dos autos. Esses prêmios, embora, em tese, fossem variáveis, nada tinham de eventuais e nem de inabituais; na verdade, eram pagos regularmente aos empregados, conforme se constata nos documentos dos autos (efls. 292 a 517). Em uma rápida análise, por amostragem, verificase que os empregados e respectivos valores recebidos se repetiram em praticamente todos os meses considerados na ação fiscal (2/2006 a 2/2007): eFolhas 292 a 329 330 a 385 399 a 465 466 a 517 Empregado Ângelo Mercury Garcia Ducineia Silva Conceição Jorge Lima de Deus Jaciara Balbino dos Santos Celso Antônio Majchrovicz Luiz Abrahao Filho Nivaldo Canella Antônio Carlos Fontana José Vogt fev/06 140,00 140,00 250,00 600,00 4.020,00 4.020,00 4.020,00 3.090,00 1.242,00 mar/06 140,00 140,00 250,00 600,00 4.982,79 4.020,00 3.090,00 1.242,00 abr/06 100,00 140,00 250,00 600,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 mai/06 100,00 200,00 250,00 600,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 jun/06 100,00 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 jul/06 100,00 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 ago/06 116,67 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 set/06 116,70 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 out/06 116,70 200,00 200,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 nov/06 116,70 200,00 250,00 933,34 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 dez/06 155,56 200,00 250,00 700,00 4.140,60 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 jan/07 116,67 200,00 250,00 700,00 4.140,60 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 fev/07 116,67 200,00 250,00 700,00 4.140,60 4.502,40 4.020,00 Essa modalidade de remuneração já foi, reiteradas vezes, objeto de análise no Carf, que coleciona vasta jurisprudência (a exemplo dos acórdãos nº 9201003.044, 2401 003.921 e 2301004.955) no sentido de considerar os cartões de premiação, exatamente como na espécie dos autos, como componente do saláriodecontribuição e, portanto, como elemento da base de cálculo da contribuição previdenciária, porquanto tratamse de rendimentos auferidos pelo trabalho, compondo, assim,a remuneração do empregado. Reproduzo a conclusão, na matéria, do voto condutor do acórdão recorrido (efl. 2079), por bem expressar o meu entendimento: Fl. 2176DF CARF MF 18 11.38. Do exposto, entendese que os créditos em discussão foram pagos aos segurados, com habitualidade (02/2006 a 02/2007), em função do resultado de seus trabalhos junto à impugnante, sendo evidente que não se tratou de distribuição de premiação sem causa, mas de pagamentos com caráter tipicamente remuneratório, formalizados impropriamente por intermédio de cartões de incentivo, devendo sujeitarse em virtude disso à incidência de contribuição previdenciária. Portanto, o lançamento está correto ao considerar os pagamentos de cartão de premiação como saláriosdecontribuição. 6. Aplicação das multas de mora e de ofício A Recorrente sustenta que a comparação das multas, para efeito de aplicação da retroatividade benigna, estaria incorreta porque compara multas de mora com multas de ofício. Alega que a comparação deveria se dar somente entre as sistemáticas de cálculo de multa de mora vigentes à época dos fatos geradores com as vigentes à época do lançamento, pois, sempre segundo a Recorrente, a legislação da época não previa a aplicação de multa de ofício. Segundo o seu entendimento, por ter havido entrega de Gfip contendo informações incorretas ou omissão de dados (efl. 2148), deveria ser aplicada, no caso, a multa prevista no inc. I do art. 32A da Lei nº 8..212, de 1991, incluído pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009: Art.32A. O contribuinte que deixar de apresentar a declaração de que trata o inciso IV do art. 32 no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentála ou a prestar esclarecimentos e sujeitarseá às seguintes multas: (Incluído pela Medida Provisória nº 449, de 2008) I de R$ 20,00 (vinte reais) para cada grupo de dez informações incorretas ou omitidas, e ............................................................................................................. A Recorrente justifica, em seu apelo, que a multa devida seria a prevista no inc. I do art. 32A da Lei nº 8..212, de 1991, porque se trata de multa com a mesma natureza da penalidade anteriormente prevista para a hipótese de entrega de GFIP contendo omissão de dados (efl. 2153) (sem grifo no original). De fato, acerta a Recorrente ao afirmar que devem ser comparadas as multas de mesma natureza, mas essa comparação conduz a conclusão de que a multa aplicada no caso dos autos está correta e o raciocínio da Recorrente, por conseguinte, está equivocado. Confunde, a Recorrente, a natureza da multa com a sua nomenclatura. A multa aplicada no lançamento sob análise não teve caráter moratório, devida pelo pagamento do tributo a destempo, mas tratouse de multa resultante da ação estatal que, por meio da medida fiscal, efetuou o lançamento nos termos do art. 142 do CTN. No Direito Tributário, as multas se classificam em dois gêneros: as multas de mora e as multas punitivas. Fl. 2177DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.169 19 As multas de mora são destinadas a reparar a impontualidade do contribuinte que, embora a destempo, adimpliu, espontaneamente, sua obrigação tributária. Têm efeito desestimulador do pagamento em atraso, de modo a compelir o contribuinte a pagar o tributo no prazo legalmente previsto, sob pena de arcar com ônus econômico adicional. As multas moratórias não se confundem com os juros de mora, cuja finalidade é a remuneração do capital no tempo. Tanto as multas quanto os juros moratórios integram o crédito tributário. As multas punitivas são sanções aplicadas ao contribuinte que deixou de, espontaneamente, cumprir a obrigação tributária, seja ela acessória ou principal. São aplicáveis quando, em atividade plenamente vinculada, o poder público identifica o descumprimento da obrigação e procede ao lançamento, como previsto no art. 142 do CTN, o que implica a imposição legal de penalidade pecuniária, na forma de multa, que integra o crédito tributário. As multas punitivas possuem duas distintas espécies: a multa de ofício e a multa isolada. A multa de ofício surge com o descumprimento da obrigação principal e é a ela vinculada, geralmente representando um percentual do tributo não recolhido. A multa isolada decorre do descumprimento de obrigação acessória e, com o lançamento, convertese em obrigação principal. No caso dos autos, independentemente da nomenclatura utilizada pela legislação de fundamento ou pelo auto de infração (efl. 2), tratamse de multas aplicadas em decorrência do descumprimento de obrigações tributárias principais, consistentes no não recolhimento dos valores de contribuições previdenciárias devidas pela Recorrente, apuradas mediante ação fiscal. Portanto, não há dúvidas de que multas constantes do discriminativo do débito (efl. 5 a 22), que compõe o auto de infração, têm natureza de multas de ofício. Não se trata de recolhimento espontâneo de tributos ocorrido após o vencimento, o que descaracteriza a natureza moratória das multas. Diante da constatação de que o encargo é, materialmente, multa de ofício, vale invocar o posicionamento da CSRF sobre a matéria, cujo entendimento encontrase pacificado. Reproduzo, pois, parte do voto condutor do Acórdão nº 9202006.028, com cuja fundamentação concordo e assumo como parte das razões de decidir: De inicio (sic), cumpre registrar que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), de forma unânime pacificou o entendimento de que na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Assim, a multa de mora prevista no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, não é aplicável quando realizado o lançamento de ofício, conforme consta do Acórdão nº 9202004.262 (Sessão de 23 de junho de 2016), cuja ementa transcrevese: AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA MULTA APLICAÇÃO NOS LIMITES DA LEI 8.212/91 C/C LEI 11.941/08 APLICAÇÃO DA MULTA MAIS FAVORÁVEL RETROATIVIDADE BENIGNA NATUREZA DA MULTA APLICADA. Fl. 2178DF CARF MF 20 A multa nos casos em que há lançamento de obrigação principal lavrados após a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, mesmo que referente a fatos geradores anteriores a publicação da referida lei, é de ofício. AUTO DE INFRAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA COMPARATIVO DE MULTAS APLICAÇÃO DE PENALIDADE. RETROATIVIDADE BENIGNA. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Se as multas por descumprimento de obrigações acessória e principal foram exigidas em procedimentos de ofício, ainda que em separado, incabível a aplicação retroativa do art. 32A, da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, eis que esta última estabeleceu, em seu art. 35A, penalidade única combinando as duas condutas. A legislação vigente anteriormente à Medida Provisória n° 449, de 2008, determinava, para a situação em que ocorresse (a) recolhimento insuficiente do tributo e (b) falta de declaração da verba tributável em GFIP, a constituição do crédito tributário de ofício, acrescido das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, respectivamente. Posteriormente, foi determinada, para essa mesma situação (falta de pagamento e de declaração), apenas a aplicação do art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991, que faz remissão ao art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996. Portanto, para aplicação da retroatividade benigna, resta necessário comparar (a) o somatório das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, e (b) a multa prevista no art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991. Pois bem, a Autoridade Fiscal, acertadamente, comparou, período a período, as multas calculadas sob as sistemáticas vigentes antes e depois da Medida Provisória nº 449, de 2008, conforme demonstrou Relatório Fiscal de Aplicação da Multa de Mora e da Multa Punitiva por Descumprimento das Infrações Relacionadas à Gfip (efls. 206 a 214), do qual destacase o seguinte trecho: O somatório das multas calculadas pela sistemática antiga (§5º do art. 32 da Lei 8.212/91; alínea “a” do inciso II do art. 35 da Lei n° 8.212/91, com redação dada pela Lei nº 9.876/99; e § 6° do art. 32, da lei n° 8.212/91) deve ser confrontado com a nova forma de cálculo introduzida pela Lei n° 11.941/09 (art. 35A na Lei 8.212/91 e art. 32A na Lei 8.212/91), aplicandose a multa menos gravosa. Ficou incontestemente evidenciado, nos cálculos nos itens onze e doze (efls. 210 e 211), que, dentre as duas opções possíveis, a Autoridade Lançadora utilizouse da mais benéfica ao contribuinte, retroagindo a aplicação da legislação inovadora apenas em relação às Fl. 2179DF CARF MF Processo nº 10580.729056/201008 Acórdão n.º 2301005.193 S2C3T1 Fl. 2.170 21 competências 2, 3 e 13 de 2006. Para as demais, manteve a legislação vigente quando dos fatos geradores. Destaquese que essa comparação deverá ser feita novamente, quando do efetivo pagamento das contribuições. É o que estabelece a Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 14, de 4 de dezembro de 2009: Art. 2º No momento do pagamento ou do parcelamento do débito pelo contribuinte, o valor das multas aplicadas será analisado e os lançamentos, se necessário, serão retificados, para fins de aplicação da penalidade mais benéfica, nos termos da alínea "c" do inciso II do art. 106 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN). Conclusões Por todo o exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso voluntário para: rejeitar a preliminar de nulidade em razão da utilização de aferição indireta e negar o pedido de perícia, por desnecessária e, no mérito, a) excluir do lançamento os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1, correspondentes à incidência de contribuições previdenciárias sobre as parcelas inferiores a 6% de desconto dos empregados a título de vale transporte, e b) negar provimento nas demais matérias. João Maurício Vital Relator Fl. 2180DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11046.001957/2008-29
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 03 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Jun 12 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Data do fato gerador: 31/01/1999, 31/03/1999, 31/05/1999
ARBITRAMENTO. AFERIÇÃO INDIRETA. PAGAMENTO ESPONTÂNEO.
O arbitramento é hipótese legal de apuração do tributo devido. É lícita a aplicação da aferição indireta para o cálculo de contribuições previdenciárias quando há omissão de registros contábeis. O pagamento espontâneo não elide a possibilidade de aplicação da aferição indireta, se presentes os requisitos legais e normativos.
NORMA INSTRUMENTAL. PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA FISCAL. INOVAÇÃO NORMATIVA. RETROATIVIDADE.
Aplica-se a norma instrumental vigente no momento do lançamento. O advento de norma que modificou procedimentos e critérios de fiscalização não afetam o lançamento constituído.
CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO. AFERIÇÃO INDIRETA. CONSTRUÇÃO CIVIL. CONSTRUÇÃO DE LINHAS E REDES DE TELECOMUNICAÇÕES. INSTRUÇÃO NORMATIVA DC/INSS Nº 18, DE 2000.
Aplicam-se os critérios de aferição previstos na Instrução Normativa DC/INSS nº 18, de 11 de maio de 2000, quando a pessoa jurídica realiza obras de construção civil. A instalação de redes de telecomunicações é atividade de construção civil prevista na norma de regência, para efeito de aplicação de critérios de aferição indireta.
Numero da decisão: 2301-005.236
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam, os membros do colegiado, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto, Wesley Rocha e Juliana Marteli Fais Feriato, que davam provimento ao recurso. Manifestou a intenção de apresentar declaração de voto o conselheiro Alexandre Evaristo Pinto.
João Bellini Júnior - Presidente.
João Maurício Vital - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Júnior (Presidente), Alexandre Evaristo Pinto, Andrea Brose Adolfo, Antônio Sávio Nastureles, João Maurício Vital, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa e Wesley Rocha.
Nome do relator: JOAO MAURICIO VITAL
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 17; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1801; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S2C3T1 Fl. 401 1 400 S2C3T1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 11046.001957/200829 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 2301005.236 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 3 de abril de 2018 Matéria CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA E CONTRIBUIÇÕES DECORRENTES Recorrente TELENGE TELECOMUNICAÇÕES E ENGENHARIA LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Data do fato gerador: 31/01/1999, 31/03/1999, 31/05/1999 ARBITRAMENTO. AFERIÇÃO INDIRETA. PAGAMENTO ESPONTÂNEO. O arbitramento é hipótese legal de apuração do tributo devido. É lícita a aplicação da aferição indireta para o cálculo de contribuições previdenciárias quando há omissão de registros contábeis. O pagamento espontâneo não elide a possibilidade de aplicação da aferição indireta, se presentes os requisitos legais e normativos. NORMA INSTRUMENTAL. PROCEDIMENTOS DE AUDITORIA FISCAL. INOVAÇÃO NORMATIVA. RETROATIVIDADE. Aplicase a norma instrumental vigente no momento do lançamento. O advento de norma que modificou procedimentos e critérios de fiscalização não afetam o lançamento constituído. CRITÉRIOS DE ARBITRAMENTO. AFERIÇÃO INDIRETA. CONSTRUÇÃO CIVIL. CONSTRUÇÃO DE LINHAS E REDES DE TELECOMUNICAÇÕES. INSTRUÇÃO NORMATIVA DC/INSS Nº 18, DE 2000. Aplicamse os critérios de aferição previstos na Instrução Normativa DC/INSS nº 18, de 11 de maio de 2000, quando a pessoa jurídica realiza obras de construção civil. A instalação de redes de telecomunicações é atividade de construção civil prevista na norma de regência, para efeito de aplicação de critérios de aferição indireta. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 04 6. 00 19 57 /2 00 8- 29 Fl. 401DF CARF MF 2 Acordam, os membros do colegiado, por maioria de votos, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto, Wesley Rocha e Juliana Marteli Fais Feriato, que davam provimento ao recurso. Manifestou a intenção de apresentar declaração de voto o conselheiro Alexandre Evaristo Pinto. João Bellini Júnior Presidente. João Maurício Vital Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Júnior (Presidente), Alexandre Evaristo Pinto, Andrea Brose Adolfo, Antônio Sávio Nastureles, João Maurício Vital, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa e Wesley Rocha. Relatório Tratase de lançamento de ofício, Notificação Fiscal de Lançamento de Débito (NFLD) nº 35.159.1052, para a exigência das contribuições previdenciárias (segurados, empresa, SAT e terceiros) do período de 01/1999, 03/1999 e 05/1999, incidentes sobre as remunerações pagas aos segurados empregados, calculadas por aferição indireta, relativas à filial da empresa cujo CNPJ é 14.306.831/000109 (filial de CampinasSP). A ação fiscal resultou de representação do Ministério Público do Trabalho que, em inspeção direta na filial de Curitiba, em conjunto com a Fiscalização do Ministério do Trabalho, motivada por denúncia, constataram a realização de pagamentos de horas extras de modo irregular. O Relatório de Inspeção (efls. 49 a 52) do Sr. Benedito Xavier da Silva, Procurador do Trabalho, bem ilustra o modus operandi da empresa para pagamento de verbas à margem dos registros contábeis, trabalhistas e fiscais. É oportuno reproduzirse alguns trechos do documento para bem compreender as razões e fundamentos do lançamento sob análise: Em data de 24 de janeiro de 2000, em razão da denúncia de fls. 03 a 05, bem como em virtude da notícia de pagamento de "salário por fora" previsto para esta data (24.01.00), a partir, aproximadamente, das 15:00 horas, compareci na filial da requerida, juntamente com o Fiscal do Trabalho Sr. Sérgio Rech, com o Advogado Dr. André Passos e com os servidores desta Procuradoria Rosa Helena Thomé (lotada na CODIN) e Valmir Maiochi (motorista), buscando esclarecimentos quanto aos fatos denuciados. A requerida tem sua matriz no Estado da Bahia Salvador (...) [e] filial no Estado do Paraná Curitiba (...). Ao chegarmos na Filial da requerida em Curitiba, encontramos vários trabalhadores recebendo verbas salariais. (...) Tivemos a oportunidade de conversar rapidamente com alguns trabalhadores, dentre eles o Sr. José de Oliveira (...) [que narrou várias irregularidades trabalhistas que a empresa cometia contra si]. Em seguida dirigimos à sala na qual o pagamento estava sendo efetuado, cujo pagamento foi suspenso de imediato, com o fim de se ludibriar a fiscalização. Após, dirigimos até a sala do Sr. CELSO ANTONIO MAJCHROVICZ CEA 14662DREG. 30342, o qual Fl. 402DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 402 3 esclareceu que a empresa TELENGE tem sua matriz sediada na cidade de Salvador/Bahia. Afirmou ser apenas Eng. Co responsável pela filial do Paraná, cabendolhe a função de repassar as ordens oriundas da matriz. ......................................................................................................... Constatamos dos (sic) recibos paralelo do pagamento de horas extras, apresentados pela Sª Edicléia, a não incidência dos encargos sociais e trabalhistas (INSS e FGTS). ......................................................................................................... Enquanto prosseguia a fiscalização, tomamos conhecimento de que o pagamento "por fora" prosseguia em outra localidade para a qual me dirige com o servidor Valmir. (...) No local se encontravam vários trabalhadores uniformizados (e vários veículos com a identificação da empresa). Ao chegarmos a prota foi encostada. Adentramos à casa e falamos com o Sr. MESSIAS SÃO PAULO, responsável pelo pagamento, tendo informado ser o Coordenador do Setor de Faturamento, o qual mais uma vez suspendeu o pagamento (...). Ao pedirmos esclarecimentos disse que deveríamos falar com o Sr. CELSO. Recusou a prestar maiores informações. Retornamos à sede da filial da Empresa, demonstrando a nossa indignação com a conduta do Sr. CELSO (responsável pela Filial), por dificultar os esclarecimentos e valer4se de artifício para ocultar o pagamento de salários "pore fora". A hipótese era de prisão em flagrante por sonegação fiscal e por inviabilizar a atuação do Ministério Público e da Fiscalização do Ministério do Trabalho. Aliás, durante todo o tempo, o Sr. Celso mostrouse evasivo, dandose por desentendido. Mesmo assim, explicou que a Empresa deposita as gratificações (pagamento por fora) nas contas bancárias dos Coordenadores, sendo que estes pagam as gratificações aos empregados (espécie de produção). Esclareceu que a empresa não tem qualquer responsabilidade pelo pagamento da referida gratificação, cuja responsabilidade ser4ia dos Coordenadores (Aládio Henrique e Diane Moura Farias São Paulo, mulher do Sr. Messias). Informou que as gratificações são calculadas sobre o faturamento e que apenas a matriz poderá fornecer maiores detalhes. Disse que os Coordenadores são de extrema confiança da Empresa e que não sabe se os mesmos prestam contas a esta; porém, informou que a Empresa exige resultados. Na fiscalização previdenciária que se seguiu à representação do Ministério Público do Trabalho, constatouse que, de fato, a empresa efetuara pagamentos "por fora" de remuneração a seus empregados, motivando a apuração por aferição indireta, como se constata no seguinte trecho do relatório fiscal (efl. 32): Durante a ação dos Auditores Fiscais da Previdência Social na empresa ficou constatado que as horas extras pagas aos empregados da Telenge, através de recibos paralelos, como foi mencionado acima, não foram lançadas em títulos próprios de Fl. 403DF CARF MF 4 sua contabilidade, não registrando o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, infringindo, portanto, o artigo 32, II da Lei 8.212/91 e o artigo 225, II, parágrafo 13, I e II do RPS aprovado pelo Decreto 3048/99. Em razão do exposto, aplicamos o que reza o artigo 33 parágrafo 6 da Lei 8.212/91 e o artigo 235 do RPS, item VII, 51 da Ordem de Serviço INSS/DAF 209 de 20.05.99 e também o art. 49 da Instrução Normativa 18 de 11.05.2000. Com base nas normas infralegais, arbitrouse as bases de cálculo das contribuições previdenciárias e consectários em 40% sobre o valor das notas fiscais de serviços e em 20% sobre o valor das notas fiscais de serviços e materiais. Impugnado o lançamento (efls. 125 a 150), o apelo foi considerado tempestivo (efl. 180). Os autos foram devolvidos ao Serviço de Fiscalização para pronunciamento quanto aos termos da impugnação (efls. 181 e 182), que se manifestou (efls. 196 a 199) no sentido de manter inalterado o lançamento. O processo seguiu para julgamento em primeira instância, que proferiu a DecisãoNotificação nº 04401.4/816/2002 (efls. 202 a 212), na qual foi mantido integralmente o lançamento. Tempestivamente (efl. 217), a Recorrente apresentou recurso voluntário (e fls. 249 a 263). O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apresentou contrarazões (efls. 267 e 268) nas quais solicitou a manutenção da decisão recorrida. Foi, então, proferido o Acórdão nº 392/2005, do Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) (efls. 272 a 275) em que se constatou cerceamento do direito de defesa por não ter sido devolvido o prazo de impugnação após manifestação do Setor de Fiscalização, anulandose a decisão recorrida. Intimada (efls. 279 e 280) para tomar conhecimento da manifestação fiscal e da decisão do CRPS e reaberto o prazo impugnatório, a Recorrente manifestouse (efls. 282 a 294), tempestivamente, questionando a legalidade do arbitramento e asseverando que não haveria débito nenhum, pois, antes da ação fiscal, teriam recolhido as contribuições previdenciárias incidentes sobre as horasextras pagas "por fora". Nova decisão de primeira instância foi, então, proferida, DecisãoNotificação nº 04.401.4/0060/2006 (efls. 299 a 309), mantendose integralmente o lançamento. A Recorrente apresentou, então, tempestivamente, recurso voluntário (efls. 313 a 333) que, dada a ausência de depósito recursal, foi considerado deserto (efl. 351). Dirimida judicialmente a questão incidental relacionada ao depósito recursal, o recurso finalmente teve seguimento (efl. 400). No apelo, repisando o que contestara em suas impugnações, a Recorrente alegou, em síntese: a) que o arbitramento seria ilegal e contrariaria precedentes administrativos e judiciais; b) que as contribuições devidas sobre as horasextras pagas "por fora" foram espontaneamente recolhidas após a fiscalização do trabalho, mas antes da fiscalização previdenciária, nada restando a pagar; Fl. 404DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 403 5 c) que, no caso de aferição indireta, deveria ser aplicada a Instrução Normativa nº 70/2002, limitandose o procedimento ao tempo e lugar em que foram constatadas as irregularidades, e d) que a Instrução Normativa nº 18/2000 seria inaplicável ao caso, porquanto afeta exclusivamente a obras de construção civil, hipótese em que não se enquadraria a Recorrente. É o relatório. Voto Conselheiro João Maurício Vital. O recurso é tempestivo e dele conheço. 1 Da legalidade da utilização de aferição indireta A Recorrente contestou o modo de lançamento, realizado com base em aferição indireta, que se deu em razão de inconsistências contábeis constatadas quando de fiscalização do trabalho e comunicadas à fiscalização tributária. Conta do relatório fiscal (efl. 32): Durante a ação dos Auditores .Fiscais da Previdência Social na empresa ficou constatado que as horas extras pagas aos empregados da Telenge, através de recibos paralelos, como foi mencionado acima, não foram lançadas em títulos próprios de sua contabilidade, não registrando o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, infringindo, portanto, o artigo 32, II da Lei 8212/91 e o artigo 225, II, parágrafo 13, I e II do RPS aprovado pelo Derreto 3048/99. Em razão do exposto, aplicamos o que reza o artigo 33 parágrafo 6 da Lei 8212/91 e o artigo 235 do RPS, item VII, 51 da Ordem de serviço INSS/DAF 209 de 20.05.99 e também o art. 49 da Instrução Normativa 18 de 11.05.2000. Ao tempo do lançamento, vigoravam as seguintes normas que davam supedâneo à aferição indireta da contribuição previdenciária: Lei nº 8.212, de 1991: Art. 32. A empresa é também obrigada a: I preparar folhasdepagamento das remunerações pagas ou creditadas a todos os segurados a seu serviço, de acordo com os padrões e normas estabelecidos pelo órgão competente da Seguridade Social; II lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores de todas as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições da empresa e os totais recolhidos; Fl. 405DF CARF MF 6 Art. 33....................................................................................... § 6º Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, serão apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999: Art. 235. Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real da remuneração dos segurados a seu serviço, da receita ou do faturamento e do lucro, esta será desconsiderada, sendo apuradas e lançadas de ofício as contribuições devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. Ordem de Serviço DAF nº 209, de 20 de maio de 1999: 51. Quando a fiscalização verificar, no exame da escrituração contábil e de outros elementos, que a contratada não registra o movimento real da mãodeobra utilizada ou do faturamento, a remuneração dos segurados será apurada utilizandose como base o percentual mínimo de 40% sobre o valor bruto do serviço da nota fiscal, fatura ou recibo, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. 51.1. Adotarseá, também, o procedimento deste item quando a contratada não apresentar a escrituração contábil ou estiver dispensada dessa obrigação. 51.2. Quando a remuneração for apurada na forma deste item, a diferença da contribuição relativa aos segurados empregados decorrente do arbitramento será calculada mediante a aplicação da alíquota mínima. 52. Será verificado se o valor dos serviços contidos na nota fiscal, fatura ou recibo está compatível com os limites mínimos estabelecidos neste ato, nas situações que couber. 53. A Administração Pública Federal, Estadual, Distrital e Municipal, direta, autárquica e fundacional e a entidade beneficente de assistência social em gozo de isenção da contribuição patronal estão sujeitas às disposições contidas neste ato. 54. Ainda que a atividade principal da contratada não seja, especificamente, de execução de serviços mediante cessão de mãodeobra ou empreitada, a sua contratação nessa forma estará sujeita às disposições deste ato. 55. Serão verificados os pressupostos de existência de relação de emprego dos trabalhadores executantes dos serviços com a contratante, quando a cessão de mãodeobra ou empreitada tiver sido contratada com autônomo ou equiparado. Instrução Normativa nº 18, de 11 de maio de 2000: Fl. 406DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 404 7 Art. 1º Os procedimentos a seguir estabelecidos são aplicáveis à obra de construção civil de responsabilidade de pessoa jurídica, utilizandose, subsidiariamente, as disposições da Ordem de Serviço OS/INSS/DAF nº 161/97 com as alterações da OS/INSS/DAF nº 172/97, que dispõe sobre a regularização de obra de responsabilidade de pessoa física, quando couber e não for incompatível com os critérios e rotinas fixadas nesta Instrução Normativa IN. Art. 4º Para os efeitos deste ato, considerase: I obra de construção civil: a construção, a demolição, a reforma ou a ampliação de edificação, de instalação ou de qualquer outra benfeitoria agregada ao solo ou ao subsolo, observado o disposto no § 1º. Art. 48. A obra de construção civil de responsabilidade de pessoa jurídica deverá ser fiscalizada com base na escrituração contábil e na documentação relativa às obras ou aos serviços. Parágrafo único. Considerase empresa com escrita contábil aquela que apresenta o livro Diário devidamente escriturado e formalizado. Art. 49. Se não houver escrituração contábil, mesmo quando a empresa estiver desobrigada da apresentação, ou quando a contabilidade não espelhar a realidade econômicofinanceira da empresa por omissão de qualquer lançamento contábil ou por não registrar o movimento real da remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, a remuneração dos segurados utilizados para a execução da obra ou para a prestação dos serviços será obtida: I pelo cálculo do valor da mãodeobra empregada, proporcional à área construída e ao padrão em relação à obra de sua responsabilidade, somente em relação às edificações prediais; II mediante a aplicação dos percentuais previstos na Seção VIII deste Capítulo sobre o valor da nota fiscal de serviço, fatura ou recibo de empreitada ou de subempreitada; e III por outra forma julgada apropriada com base em contratos, informações prestadas aos contratantes em licitação, publicações especializadas ou outros elementos. Parágrafo único. Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou informação ou apresentação deficiente aplicarse á o disposto neste artigo, lavrandose ainda o Auto de Infração AI. Apesar do inconformismo da Recorrente, a utilização da aferição indireta como critério de lançamento estava amparada pelas normas vigentes. A contabilidade, se constituída com base nas técnicas adequadas e com observância da legislação e dos princípios contábeis de aceitação geral, é um sistema que evidencia fielmente o patrimônio e as variações patrimoniais de uma entidade. É por essa razão Fl. 407DF CARF MF 8 que ela se constitui em meio de prova eficaz dos fatos empresariais. Uma contabilidade desprovida do rigor que as normas contábeis determinam, ainda que se preste a fornecer alguma informação não terá valor comparativo, não poderá ser oposta a terceiros e não servirá de instrumento probante. Como em qualquer sistema, a contabilidade se sustenta no equilíbrio entre os elementos patrimoniais (bens, direitos, obrigações e patrimônio líquido, neste contidos os elementos modificativos como as receitas e despesas). Se um desses elementos é afetado por algum fenômeno, outro elemento sofrerá o efeito contrário, de forma a manter o sistema sempre em equilíbrio. No caso em questão, constatouse a omissão no registro de despesas de horas extras na escrituração contábil. Esses pagamentos teriam sido feitos pelos coordenadores da filial de Curitiba a partir de recursos depositados pela matriz em suas contas. Ora, para que pagamentos assim ocorressem à margem dos registros contábeis, como se constatou, existem apenas duas possibilidades a manter o sistema em equilíbrio: 1) ou foi efetuado um registro contábil de um fato falso, dedutível do Patrimônio Líquido, para ocultar a despesa real (equivalente aos pagamentos efetuados), ou 2) os pagamentos reais ocorreram com base em "caixa dois", constituído por receita recebidas também à margem dos registros contábeis. Em outras palavras, para justificar a saída do numerário, ou a Recorrente efetuou o pagamento com recursos não contabilizados, evidenciando a existência de "caixa dois", ou "esquentou" a saída de recursos contabilizados usando o artifício de registrar um fato modificativo inexistente. Sem qualquer das duas soluções, a contabilidade não "fecharia", ficaria inconsistente, e os relatórios contábeis denunciariam facilmente o desequilíbrio. É por essa razão que a falta de registro de fatos contábeis não é tratada pela norma como um mero erro inconsequente, como pretende colocar a Recorrente. É, na verdade, o sinal de que o sistema de contabilidade é inconsistente, desequilibrado e, portanto, não pode ser levado em conta para efeitos tributários. Nesses casos, a norma estabelece padrões arbitrários para a mensuração da base de cálculo, em substituição aos registros contábeis. Esse arbitramento, por meio do qual, por vias indiretas, se chega ao valor tributável, não corresponde à verdade absoluta, cabendo prova em contrário. A Recorrente, inclusive, apresentou, na impugnação, provas de que o arbitramento não estaria correto, tanto o é que os erros materiais foram revistos. Percebo, pois, que, ao contrário do que sobejamente alega a Recorrente em sua peça recursal, a não contabilização de gratificações, horas extras ou pagamentos a qualquer título aos empregados configura motivo mais do que justificável para a utilização da aferição indireta, porquanto a situação se amolda com perfeição à legislação que ampara esse instituto. Ademais, não vejo ofensa ao art. 1481 do Código Tributário Nacional, uma vez que as informações contábeis, como exposto, não eram dignas de fé. Ao contrário, vejo que o citado artigo dá sustentação ao procedimento adotado. 1 Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial. Fl. 408DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 405 9 Portanto, nada houve de irregular, excessivo, desproporcional ou ilegal na adoção, no caso, do procedimento de aferição indireta. Houve apenas a aplicação da lei e das normas regulamentares, dentro dos seus estreitos limites. 2 Do pagamento espontâneo de contribuições devidas sobre as horasextras A Recorrente alega que, após a fiscalização do Ministério do Trabalho, tratou de retificar as Gfip e efetuar os recolhimentos das contribuições incidentes sobre as horas extras que, naquela ação fiscal, foram identificadas como pagamentos não incluídos nas bases de cálculo. Isso teria se dado antes da fiscalização previdenciária; portanto, estaria sob o manto da espontaneidade. A empresa, somente após ter seu modus operandi desvelado pela fiscalização trabalhista na filial de Curitiba, rapidamente tratou de recolher as contribuições previdenciárias incidentes sobre as horas extras que eram pagas à margem da contabilidade. Alega, com isso, que estaria suprimida a razão do arbitramento, pois a contribuição sonegada teria sido somente aquela equivalente aos valores não contabilizados. Essa atitude pode ser comparada à de uma pessoa que, por exemplo, tenha desviado milhões de reais de uma empresa, que descobriu apenas um pequeno desvio de alguns milhares de reais; obviamente, o desviante prontamente devolveria os valores descobertos alegando boa fé. No presente caso, o arbitramento, com base na lei, é um instrumento criado pelo legislador para extrapolar os efeitos da irregularidade constatada, de modo a tornar desnecessário que o poder público identifique cada uma das irregularidades para só então tributar, o que seria extremamente oneroso. Presente a hipótese de arbitramento prevista na lei, o ônus da prova se inverte para que contribuinte prove a total regularidade de suas obrigações fiscais. O arbitramento não é um método necessariamente mais gravoso de apuração de obrigações previdenciárias, é apenas um modo diferente. A sua aplicação pode resultar em uma contribuição maior ou menor do que a que seria devida utilizandose o método direto. Entretanto, os critérios previstos na norma tendem a se aproximar do que seria a contribuição real, aferida a partir dos fatos geradores. Assim, se o contribuinte houvesse recolhido corretamente suas contribuições previdenciárias, a utilização da aferição indireta resultaria, eventualmente, em nenhuma ou em reduzida diferença a pagar . Ora, no caso, o valor da remuneração dos empregados considerado como base de cálculo das contribuições previdenciárias foi de 40% do total das notas fiscais exclusivamente de serviços e 20% do total das notas fiscais de serviços e materiais. É um critério razoável e muito próximo do que normalmente se concebe para a proporção da mãode obra no total do faturamento. Se as irregularidades, como afirma a Recorrente, houvessem sido apenas aquelas que a fiscalização do trabalho identificou, correspondente aos valores de horas extras da filial de Curitiba, o resultado da utilização da aferição indireta não discreparia do que a empresa teria recolhido com base em sua contabilidade e nas folhas de pagamento. Mas não foi o que ocorreu, os valores recolhidos foram muito diferentes dos apurados, o que apenas confirma a provável extensão das irregularidades muito além do que se constatou. É justamente para situações tais que a lei instituiu a possibilidade de arbitramento. Registrese que no cálculo da contribuição devida, apurada com base nos valores arbitrados, deduziramse os pagamentos de contribuições previdenciárias efetivamente realizados pela Recorrente, de modo que o valor lançado foi o resultante da diferença entre o que se apurou por aferição indireta e o que foi pago pela empresa. Fl. 409DF CARF MF 10 Entendo, pois, que o recolhimento das contribuições previdenciárias sobre as parcelas pagas "por fora" não é suficiente para excluir a hipótese de aplicação do arbitramento, quando presentes as condições estabelecidas pelas normas regentes. Ademais, tais pagamentos foram considerados no valor lançado. 3 Da aplicação da Instrução Normativa INSS/DC nº 70/2002 A Recorrente alegou que a disposição contida no § 2º do art. 58 da Instrução Normativa INSS/DC nº 70, de 10 de maio de 2002, deveria ser aplicada ao caso. Tal dispositivo estatui: Art. 58. O procedimento de aferição indireta será utilizado, quando, comprovadamente: I – no exame da escrituração contábil ou de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real da remuneração dos segurados a seu serviço, da receita ou do faturamento e do lucro; ......................................................................................................... § 2º Somente será aferida indiretamente a base de cálculo de contribuição referente ao período no qual ocorreu qualquer das hipóteses previstas nos incisos I a II e IV. Tratase de norma procedimental, que estabeleceu critérios e limites para a aplicação da aferição indireta. A inteligência do § 1º do art. 144 do Código Tributário Nacional (CTN) não deixa dúvidas quanto à aplicação da norma instrumental, ou seja, aquela que defina procedimentos, concede novos instrumentos e tecnologias ou amplia poderes para que a Autoridade Fiscal faça o lançamento. Nesses casos, a norma aplicável é a vigente no momento da constituição do crédito tributário. Art. 144. O lançamento reportase à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e regese pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada. § 1º Aplicase ao lançamento a legislação que, posteriormente à ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros. § 2º O disposto neste artigo não se aplica aos impostos lançados por períodos certos de tempo, desde que a respectiva lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido. A Instrução Normativa INSS/DC nº 70, de 2002, foi publicada em 15 de maio de 2002, com vigência determinada para a partir do dia 1º de setembro de 2002. O lançamento ocorreu em 23 de fevereiro de 2001; portanto, muito antes da existência da referida norma. Fl. 410DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 406 11 Obviamente, uma norma inovadora que tenha definido, modificado, limitado ou ampliado os procedimentos Autoridade Lançadora não poderia afetar um lançamento pretérito porque sequer existia. É exatamente o que pretende a Recorrente. Ao contrário do que a Apelante afirma, a Instrução Normativa INSS/DC nº 70, de 2002, não é uma norma interpretativa, mas uma norma estritamente instrumental que estabelece procedimentos fiscais e dispõe sobre o planejamento das atividades de arrecadação relativas às contribuições previdenciárias. Na verdade, ela é praticamente um manual de fiscalização. Portanto, não é o caso de aplicação da hipótese de retroação normativa prevista no inc. I do art. 106 do CTN2. Sobre a matéria, assim se pronunciou a decisão recorrida: Ainda com relação à aplicação das normas infralegais referidas Ordem de Serviço INSS/DAF n°. 209, de 20.05.99 e Instrução Normativa INSS/DAF n°. 18, de 11.05.2000, convém ressalvar que os agentes fiscais bem procederam ao aplicar, no momento da ação fiscal desenvolvida, os parâmetros procedimentais em vigência (na data da lavratura da NFLD), realizando, assim, a devida “atualização” normativa" restrita aos aspectos procedimentais da apuração e lançamento do crédito. De fato, todo o procedimento fiscal configurouse de acordo com o previsto no Código Tributário Nacional, em seus arts. 96 a 123. As normas instrumentais utilizadas para efetuar o lançamento sob litígio foram a Ordem de Serviço DAF nº 209, de 20 de maio de 1999, e a Instrução Normativa nº 18, de 11 de maio de 2000, ambas em vigor no momento do lançamento. Pelo já exposto, não vislumbro possibilidade de retroagir a Instrução Normativa INSS/DC nº 70, de 2002, para limitar a extensão, no tempo e no espaço, do procedimento de aferição indireta adotado pela Autoridade Lançadora. 4 Da aplicação da Instrução Normativa nº 18/2000 A Recorrente alegou que não realiza obras de construção civil e, portanto, não estaria sujeita aos critérios de aferição previstos na Instrução Normativa DC/INSS nº 18, de 11 de maio de 2000, que dispõe sobre procedimentos aplicáveis à obra de construção civil de responsabilidade de pessoa jurídica. Juntou, inclusive, na primeira impugnação, laudo de perito em segurança e saúde ocupacional (efls. 167 a 170) que foi apresentado à Justiça do Trabalho, para efeito de comprovar risco laboral em determinada reclamação trabalhista. Lendo e relendo o laudo, nada encontrei que afirme que a Recorrente não realiza obras de construção civil. Sobre a matéria, vale citar o seguinte trecho da decisão a quo: 59. Quanto à argumentação de que não se aplica a Instrução Normativa INSS/DAF n°. 18/2000, pois a atividade da empresa não é de construção civil, a análise do contrato social (fls. 112 a 115), bem como o pronunciamento fiscal às fls. 192 a 195, 2 Art. 106. A lei aplicase a ato ou fato pretérito: I em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; Fl. 411DF CARF MF 12 elucidam inteiramente a questão, afastando a tese da defesa. Além de constar do próprio contrato social (cláusula 2°, letra c) como objetivo da sociedade a execução de obras de construção civil em geral, a empresa é inscrita no CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, conforme pesquisa no site desta entidade, às fls. 181. Ademais, a empresa presta serviços de construção, instalação e manutenção de redes telefônicas, incluídos no Anexo III da IN 18, de 11.05.00 (relação de atividades compreendidas como obras de construção civil prevista no Anexo V do RPS). O item 45.330 do citado Anexo III enquadra o serviço de construção de linhas e redes de telecomunicações como obra de construção civil, sendo lícito concluir que procede o enquadramento da notificada nas disposições do Inciso VI, art. 4°, Capítulo I da IN 18/00. Com relação ao enquadramento da Recorrente na Instrução Normativa DC/INSS nº 18, de 2000, não há reparos a fazer no lançamento ou na decisão recorrida, eis que consta dos objetivos sociais da Recorrente (efl. 107): A elaboração de projetos, a execução de instalações e montagens, a manutenção e prestação de serviços em geral para telecomunicações, eletricidade e eletrônica. A elaboração de projetos, especificações e execução de obras de construção civil em geral. Como se não fosse suficiente, o próprio laudo apresentado pela Recorrente deixa claro que, dentre suas atividades, está a de instalações de sistemas de telecomunicações (efl. 168): A reclamada é uma empresa privada, fornecedora dos serviços de implantação, instalação, montagem e reparos no sistema de telecomunicações. Presta serviços, em Salvador, a diversas empresas, entre elas a Telebahia S.A., realizando os serviços de ampliação e implantação de sistema telefônico na cidade de Salvador. De fato, observandose o que consta do Anexo III da Instrução Normativa DC/INSS nº 18, de 2000, não há como deixar de enquadrar a Recorrente no item 45.330, que estabelece: 45.330 Construção de estações e redes de telefonia e comunicação Esta classe compreende: Construção de linhas e redes de telecomunicações Construção de estações telefônicas Portanto, está correta a aplicação dos critérios da Instrução Normativa DC/INSS nº 18, de 2000, para arbitramento da base de cálculo das contribuições previdenciárias, porquanto tratase de empresa cuja atividade se enquadra na hipótese normativa. Conclusões Fl. 412DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 407 13 Por todo o exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso. João Maurício Vital Relator Declaração de Voto Declaração de Voto Conselheiro Alexandre Evaristo Pinto Com o devido respeito, divirjo do voto do ilustre relator, uma vez que entendo que não havia outros meios para que a Recorrente afastasse a aferição indireta realizada pelas autoridades fiscais. O artigo 32, II, da Lei n.º 8.212/91 estabelece que a empresa deve registrar em sua contabilidade os fatos geradores de todas as contribuições, sendo que o §6º do artigo 33 da Lei n.º 8.212/91 autoriza a apuração das contribuições por aferição indireta quando a fiscalização constata que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, conforme abaixo: Lei nº 8.212, de 1991: Art. 32. A empresa é também obrigada a: I preparar folhasdepagamento das remunerações pagas ou creditadas a todos os segurados a seu serviço, de acordo com os padrões e normas estabelecidos pelo órgão competente da Seguridade Social; II lançar mensalmente em títulos próprios de sua contabilidade, de forma discriminada, os fatos geradores de todas as contribuições, o montante das quantias descontadas, as contribuições da empresa e os totais recolhidos; Art. 33....................................................................................... § 6º Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, serão apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. No tocante aos fatos geradores objeto do presente processo administrativo, a apuração das contribuições por aferição indireta era regulamentada pelo Decreto n.º 3.048/99, pela Ordem de Serviço DAF n.º 209/99, e pela Instrução Normativa n.º 18/00, conforme abaixo: Fl. 413DF CARF MF 14 Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999: Art. 235. Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real da remuneração dos segurados a seu serviço, da receita ou do faturamento e do lucro, esta será desconsiderada, sendo apuradas e lançadas de ofício as contribuições devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. Ordem de Serviço DAF nº 209, de 20 de maio de 1999: 51. Quando a fiscalização verificar, no exame da escrituração contábil e de outros elementos, que a contratada não registra o movimento real da mãodeobra utilizada ou do faturamento, a remuneração dos segurados será apurada utilizandose como base o percentual mínimo de 40% sobre o valor bruto do serviço da nota fiscal, fatura ou recibo, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. 51.1. Adotarseá, também, o procedimento deste item quando a contratada não apresentar a escrituração contábil ou estiver dispensada dessa obrigação. 51.2. Quando a remuneração for apurada na forma deste item, a diferença da contribuição relativa aos segurados empregados decorrente do arbitramento será calculada mediante a aplicação da alíquota mínima. 52. Será verificado se o valor dos serviços contidos na nota fiscal, fatura ou recibo está compatível com os limites mínimos estabelecidos neste ato, nas situações que couber. 53. A Administração Pública Federal, Estadual, Distrital e Municipal, direta, autárquica e fundacional e a entidade beneficente de assistência social em gozo de isenção da contribuição patronal estão sujeitas às disposições contidas neste ato. 54. Ainda que a atividade principal da contratada não seja, especificamente, de execução de serviços mediante cessão de mãodeobra ou empreitada, a sua contratação nessa forma estará sujeita às disposições deste ato. 55. Serão verificados os pressupostos de existência de relação de emprego dos trabalhadores executantes dos serviços com a contratante, quando a cessão de mãodeobra ou empreitada tiver sido contratada com autônomo ou equiparado. Instrução Normativa nº 18, de 11 de maio de 2000: Art. 1º Os procedimentos a seguir estabelecidos são aplicáveis à obra de construção civil de responsabilidade de pessoa jurídica, utilizandose, subsidiariamente, as disposições da Ordem de Serviço OS/INSS/DAF nº 161/97 com as alterações da OS/INSS/DAF nº 172/97, que dispõe sobre a regularização de obra de responsabilidade de pessoa física, quando couber e não for incompatível com os critérios e rotinas fixadas nesta Instrução Normativa IN. Fl. 414DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 408 15 Art. 4º Para os efeitos deste ato, considerase: I obra de construção civil: a construção, a demolição, a reforma ou a ampliação de edificação, de instalação ou de qualquer outra benfeitoria agregada ao solo ou ao subsolo, observado o disposto no § 1º. Art. 48. A obra de construção civil de responsabilidade de pessoa jurídica deverá ser fiscalizada com base na escrituração contábil e na documentação relativa às obras ou aos serviços. Parágrafo único. Considerase empresa com escrita contábil aquela que apresenta o livro Diário devidamente escriturado e formalizado. Art. 49. Se não houver escrituração contábil, mesmo quando a empresa estiver desobrigada da apresentação, ou quando a contabilidade não espelhar a realidade econômicofinanceira da empresa por omissão de qualquer lançamento contábil ou por não registrar o movimento real da remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, a remuneração dos segurados utilizados para a execução da obra ou para a prestação dos serviços será obtida: I pelo cálculo do valor da mãodeobra empregada, proporcional à área construída e ao padrão em relação à obra de sua responsabilidade, somente em relação às edificações prediais; II mediante a aplicação dos percentuais previstos na Seção VIII deste Capítulo sobre o valor da nota fiscal de serviço, fatura ou recibo de empreitada ou de subempreitada; e III por outra forma julgada apropriada com base em contratos, informações prestadas aos contratantes em licitação, publicações especializadas ou outros elementos. Parágrafo único. Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou informação ou apresentação deficiente aplicarse á o disposto neste artigo, lavrandose ainda o Auto de Infração AI. Como se vê, a aferição indireta pode ser utilizada quando a contabilidade não espelhar a realidade econômicofinanceira da empresa por omissão de qualquer lançamento contábil ou por não registrar o movimento real da remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro. Tal qual muito bem exposto no voto do ilustre Conselheiro Relator, foi realizada fiscalização do trabalho em uma das filiais da Recorrente, na qual constatouse falta de registro na contabilidade de horas extras pagas aos empregados daquela filial. Como decorrência da fiscalização do trabalho, deuse início à fiscalização tributária, de modo que tal situação consta expressamente no relatório fiscal (efl. 177): Durante a ação dos Auditores .Fiscais da Previdência Social na empresa ficou constatado que as horas extras pagas aos empregados da Telenge, através de recibos paralelos, como foi Fl. 415DF CARF MF 16 mencionado acima, não foram lançadas em títulos próprios de sua contabilidade, não registrando o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, infringindo, portanto, o artigo 32, II da Lei 8212/91 e o artigo 225, II, parágrafo 13, I e II do RPS aprovado pelo Derreto 3048/99. Em razão do exposto, aplicamos o que reza o artigo 33 parágrafo 6 da Lei 8212/91 e o artigo 235 do RPS, item VII, 51 da Ordem de serviço INSS/DAF 209 de 20.05.99 e também o art. 49 da Instrução Normativa 18 de 11.05.2000. Não se nega aqui a clara prática irregular praticada pela filial da Recorrente no caso exemplarmente examinado pela fiscalização do trabalho. O que se discute aqui diz respeito à extensão dos efeitos decorrentes da fiscalização do trabalho para todas as transações econômicas envolvendo a Recorrente e seus empregados ou trabalhadores avulsos de todas as filiais. Todavia, o fato de que a contabilidade da filial analisada pela fiscalização do trabalho estava descasada da realidade e, portanto, poderia ser desconsiderada para fins de apuração de contribuição previdenciária por aferição indireta não torna imprestável a contabilidade de todas as filiais da Recorrente. Se fosse assim, chegaríamos ao exemplo esdrúxulo da constatação de um pagamento não registrado na contabilidade em uma filial em Macapá de uma grande empresa, como um banco ou um supermercado, ter o condão de descaracterização da contabilidade de todas as filiais daquele banco ou supermercado no Brasil inteiro. Além da falta de limitação espacial dessa presunção com base apenas na constatação da falta de registro contábil, também haveria uma falta de limitação temporal, isto é, o fato de ter sido constatado essa falta de registro em 2001 teria o condão também de permitir a aferição indireta nos anos subsequentes. Assim, ainda que a não contabilização das gratificações, horas extras ou pagamentos a qualquer título aos empregados seja motivo suficiente para o uso da aferição indireta, não há como usarmos uma constatação de um período e de uma filial específica para descaracterizar a contabilidade e autorizar o uso da aferição indireta para todas as filiais e todos os períodos. Nesse sentido, ainda que o § 2º do art. 58 da Instrução Normativa INSS/DC nº 70/02 seja posterior aos períodos de apuração das contribuições previdenciárias objeto do presente processo administrativo, há que destacar que tal dispositivo normativo somente exterioriza uma questão de bom senso, isto é, a aferição indireta somente poderá ser utilizada nos períodos em que ocorreu algum fato que autorize a sua utilização. Em outras palavras, tal norma explicita uma limitação temporal para o uso da aferição indireta, uma vez que esta somente pode ser utilizada no período em que foi constatada que a contabilidade do contribuinte não refletia a realidade. Ademais, considerando que se trata de presunção de que a contabilidade não reflete a realidade, cabe pensar qual seria a documentação a ser apresentada pela Recorrente que poderia afastar a presunção. Com o devido respeito ao voto vencedor do ilustre relator, não vejo outra documentação a sustentar as afirmações da Recorrente no tocante às demais filiais (que não sofreram fiscalização trabalhista) do que a própria contabilidade da Recorrente. Por fim, com relação ao critério utilizado para aferição indireta, isto é, o cálculo da contribuição previdenciária com base no percentual de 40% do valor bruto do Fl. 416DF CARF MF Processo nº 11046.001957/200829 Acórdão n.º 2301005.236 S2C3T1 Fl. 409 17 serviço da nota fiscal, previsto na Ordem de Serviço DAF n.º 209/09, não há dúvida de que este deve ser o critério aplicado no caso de aferição indireta. Em que pese tal cálculo de aferição indireta esteja adequado de acordo com os critérios legais, cumpre mencionar que a atribuição de 40% da receita bruta como custo da mão de obra é bastante alto, tendo em vista se tratar de serviço em que não são exigido tantos anos de treinamento e especialização. Dessa forma, tal critério poderia ser discutido no âmbito judicial à luz do princípio da razoabilidade. Voto, portanto, pela aplicação da Instrução Normativa nº 70/2002 ao presente caso, limitandose o uso da aferição indireta ao tempo e lugar em que foram constatadas as irregularidades. (assinado digitalmente) Alexandre Evaristo Pinto Fl. 417DF CARF MF
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Numero do processo: 10880.721160/2013-12
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue May 08 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Jul 04 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Data do fato gerador: 01/10/2008, 07/08/2009, 17/08/2009
NULIDADE. INEXISTÊNCIA.
As hipóteses de nulidade do procedimento são as elencadas no artigo 59 do Decreto 70.235, de 1972, não existindo nos autos qualquer de suas hipóteses.
ERRO DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO PASSIVO. INEXISTÊNCIA.
Evidenciada a interposição fraudulenta pela existência de robusto conjunto probatório, o fato da comprovação da existência da pessoa interposta, realizada em processo penal motivada por representação fiscal, não tem o condão de provar a existência de erro de identificação do sujeito passivo, mas sim de evidenciar a intrincada operação visando a ocultar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária.
GANHO DE CAPITAL. IMÓVEL RURAL. CUSTO DE AQUISIÇÃO. VALOR DE ALIENAÇÃO. ENTREGA DO DIAT. APURAÇÃO.
A apuração do ganho de capital de imóveis rurais deve ser feita com base nos valores constantes dos respectivos documentos de aquisição e alienação, nos casos de falta de entrega do Diac ou do Diat, subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM.
Não constituem interesse comum, por outro lado, as posições antagônicas em um contrato, mesmo quando em virtude deste surja um fato jurídico tributário
MULTA QUALIFICADA. SONEGAÇÃO.
Aplica-se a multa de ofício qualificada de 150% diante da constatação da prática de sonegação com o objetivo de impedir o conhecimento da ocorrência do fato gerador pelo Fisco e de reduzir o montante das contribuições devidas, utilizando-se de interposta pessoa jurídica.
MULTA DE OFÍCIO. AGRAVAMENTO.
O não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para prestar esclarecimentos o sujeita ao agravamento da multa (Lei 9.430, de 1996, art. 44, § 2º, I).
Numero da decisão: 2301-005.258
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, (i) por maioria de votos, em conhecer do recurso da responsável tributária AGK5, vencido o conselheiro João Mauricio Vital, que dele desconhecia; (ii) por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares; (iii) pelo voto de qualidade, manter os lançamentos sobre o ganho de capital em todos os períodos, vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto (relator), Wesley Rocha, Marcelo Freitas de Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato; (iv) por unanimidade de votos, afastar a responsabilidade tributária da sociedade AGK5; votaram pelas conclusões os conselheiros Andrea Brose Adolfo, João Mauricio Vital, Antônio Sávio Nastureles e João Bellini Júnior; (v) pelo voto de qualidade, manter os juros sobre a multa, vencidos o conselheiros Alexandre Evaristo Pinto (relator), Wesley Rocha, Marcelo Freitas de Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro João Bellini Júnior.
(assinado digitalmente)
João Bellini Junior - Presidente
(assinado digitalmente)
Alexandre Evaristo Pinto - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrea Brose Adolfo, Alexandre Evaristo Pinto, João Maurício Vital, Wesley Rocha, Antônio Sávio Nastureles, Marcelo Freitas de Souza Costa, Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Júnior (Presidente).
Nome do relator: 31336549858 - CPF não encontrado.
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Data do fato gerador: 01/10/2008, 07/08/2009, 17/08/2009 NULIDADE. INEXISTÊNCIA. As hipóteses de nulidade do procedimento são as elencadas no artigo 59 do Decreto 70.235, de 1972, não existindo nos autos qualquer de suas hipóteses. ERRO DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO PASSIVO. INEXISTÊNCIA. Evidenciada a interposição fraudulenta pela existência de robusto conjunto probatório, o fato da comprovação da existência da pessoa interposta, realizada em processo penal motivada por representação fiscal, não tem o condão de provar a existência de erro de identificação do sujeito passivo, mas sim de evidenciar a intrincada operação visando a ocultar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária. GANHO DE CAPITAL. IMÓVEL RURAL. CUSTO DE AQUISIÇÃO. VALOR DE ALIENAÇÃO. ENTREGA DO DIAT. APURAÇÃO. A apuração do ganho de capital de imóveis rurais deve ser feita com base nos valores constantes dos respectivos documentos de aquisição e alienação, nos casos de falta de entrega do Diac ou do Diat, subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. Não constituem interesse comum, por outro lado, as posições antagônicas em um contrato, mesmo quando em virtude deste surja um fato jurídico tributário MULTA QUALIFICADA. SONEGAÇÃO. Aplica-se a multa de ofício qualificada de 150% diante da constatação da prática de sonegação com o objetivo de impedir o conhecimento da ocorrência do fato gerador pelo Fisco e de reduzir o montante das contribuições devidas, utilizando-se de interposta pessoa jurídica. MULTA DE OFÍCIO. AGRAVAMENTO. O não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para prestar esclarecimentos o sujeita ao agravamento da multa (Lei 9.430, de 1996, art. 44, § 2º, I).
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INEXISTÊNCIA. As hipóteses de nulidade do procedimento são as elencadas no artigo 59 do Decreto 70.235, de 1972, não existindo nos autos qualquer de suas hipóteses. ERRO DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO PASSIVO. INEXISTÊNCIA. Evidenciada a interposição fraudulenta pela existência de robusto conjunto probatório, o fato da comprovação da existência da pessoa interposta, realizada em processo penal motivada por representação fiscal, não tem o condão de provar a existência de erro de identificação do sujeito passivo, mas sim de evidenciar a intrincada operação visando a ocultar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária. GANHO DE CAPITAL. IMÓVEL RURAL. CUSTO DE AQUISIÇÃO. VALOR DE ALIENAÇÃO. ENTREGA DO DIAT. APURAÇÃO. A apuração do ganho de capital de imóveis rurais deve ser feita com base nos valores constantes dos respectivos documentos de aquisição e alienação, nos casos de falta de entrega do Diac ou do Diat, subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. Não constituem “interesse comum”, por outro lado, as posições antagônicas em um contrato, mesmo quando em virtude deste surja um fato jurídico tributário MULTA QUALIFICADA. SONEGAÇÃO. Aplicase a multa de ofício qualificada de 150% diante da constatação da prática de sonegação com o objetivo de impedir o conhecimento da ocorrência do fato gerador pelo Fisco e de reduzir o montante das contribuições devidas, utilizandose de interposta pessoa jurídica. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 72 11 60 /2 01 3- 12 Fl. 2913DF CARF MF 2 MULTA DE OFÍCIO. AGRAVAMENTO. O não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para prestar esclarecimentos o sujeita ao agravamento da multa (Lei 9.430, de 1996, art. 44, § 2º, I). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, (i) por maioria de votos, em conhecer do recurso da responsável tributária AGK5, vencido o conselheiro João Mauricio Vital, que dele desconhecia; (ii) por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares; (iii) pelo voto de qualidade, manter os lançamentos sobre o ganho de capital em todos os períodos, vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto (relator), Wesley Rocha, Marcelo Freitas de Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato; (iv) por unanimidade de votos, afastar a responsabilidade tributária da sociedade AGK5; votaram pelas conclusões os conselheiros Andrea Brose Adolfo, João Mauricio Vital, Antônio Sávio Nastureles e João Bellini Júnior; (v) pelo voto de qualidade, manter os juros sobre a multa, vencidos o conselheiros Alexandre Evaristo Pinto (relator), Wesley Rocha, Marcelo Freitas de Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro João Bellini Júnior. (assinado digitalmente) João Bellini Junior Presidente (assinado digitalmente) Alexandre Evaristo Pinto Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrea Brose Adolfo, Alexandre Evaristo Pinto, João Maurício Vital, Wesley Rocha, Antônio Sávio Nastureles, Marcelo Freitas de Souza Costa, Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Júnior (Presidente). Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra Acórdão da 4ª Turma da DRJ Curitiba que manteve, parcialmente, o lançamento tributário relativo ao IRPF supostamente devido no anocalendário de 2009, em razão do ganho de capital por venda de bens imóveis. Tal crédito foi constituído por meio do auto de infração (fl. 1463), devidamente explicitado, pelo qual foi apurado o crédito tributário de R$ 8.334.761,73, que compreende imposto (R$ 2.277.534,28), juros de moras (R$ 932.775,31), multa proporcional (R$ 5.124.452,14), valores consolidados em março de 2013. Foi imputada responsabilidade solidária à empresa AGK 5 Empreendimentos e Participações Ltda., conforme consta no Termo de Verificação Fiscal (fl. 1471), por suposto interesse comum na ocorrência do fato gerador, ganho de capital na alienação de bens imóveis em face da venda de propriedades rurais pelo devedor principal. Fl. 2914DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 3 3 A ciência do auto de infração ocorreu em 08 de abril de 2013 para o devedor principal, conforme se verifica pela cópia do AR às folhas 1575. A ciência do devedor solidário, se dá em 02 de abril de 2013, também por meio postal (AR de fls. 1547). Em 02 e 06 de maio de 2013, foram apresentadas as impugnações ao lançamento, pelo devedor solidário (fl. 1581), e pelo sujeito passivo (fls. 2348), respectivamente. Em 19 de novembro do mesmo ano, a 4ª Turma da DRJ de Curitiba por meio de decisão consubstanciada no Acórdão 0644.299 (fl. 2384), de forma unânime, julgou parcialmente procedente o crédito tributário impugnado. Tal decisão tem o seguinte relatório, que por sua clareza, reproduzo (fls. 2394): Trata o presente processo de Auto de Infração de Imposto sobre a Renda de Pessoa Física – IRPF, às fls. 1.463/1.470, que exige R$ 2.277.534,28 de imposto, R$ 5.124.452,14 de multa de ofício de 225% e encargos legais. Consoante descrição dos fatos do Auto de Infração às fls. 1.465 e Termo de Verificação Fiscal, às fls. 1.471/1.543, foi constatada apuração incorreta de Ganho de Capital na alienação de bens e direitos adquiridos em reais, ocorridas em 01/10/2008, 07/08/2009 e 17/08/2009, nos valores de R$ 14.588.823,86, R$ 527.250,00 e R$ 67.488,00, respectivamente. Cientificado em 08/04/2013 (fls. 1.575/1.576), o interessado apresentou, em 06/05/2013, a tempestiva impugnação de fls. 2.338 a 2.347, instruída com os documentos de fls. 2.348 a 2.353, onde alega que o Auto de Infração não obedeceu ao normativo do art. 9º do Decreto 70.232 (sic), de 25 de março de 1972, na redação dada pelo art. 25 da Lei 11.941, de 27 de outubro de 2009, resultado da conversão da MP 448, de 2008, cognominada a “MP do Bem”, que institui uma diversidade de prescrições editadas com a finalidade de proporcionar aos contribuintes meios eficazes de fazer frente às conseqüências da crise econômica internacional, dentre as quais se destaca um parcelamento de débitos fiscais em condições até então inéditas. A observância estrita ao referido dispositivo é regra de natureza cogente, imbricada com o sobre princípio constitucional da ampla defesa, trazendo implícita a sanção da invalidade do ato administrativo que a transgredir. A seguir, relata os fatos que ensejaram a lavratura do Auto de Infração na versão dos autuantes para, relativamente à alegação de que teria assumido a identidade fictícia de Paulo Roberto da Rosa, CPF 714.373.39115, e praticado vários atos jurídicos com esse nome, expõe particularidades da vida familiar para argumentar que, nos idos de 2006, teria sido procurado por um homem desconhecido que apresentava traços fisionômicos semelhantes aos seus, que dizia ser seu meioirmão. O referido cidadão, órfão de mãe aos três anos, não teria sido aceito por sua mãe e por essa razão foi amparado por outro casal, tendo indicado o nome desses como seus progenitores quando do Registro Civil. Teria esclarecido que na escola primária fora identificado por uma certidão que indicava apenas o nome da mãe, com a qual obteve seus documentos e foi Fl. 2915DF CARF MF 4 aventurar a vida no Paraguai, radicandose numa Colônia de “Brasiguaios” aprendendo tudo sobre o cultivo da soja. Casouse e, com o sogro, corretor de imóveis, aprendeu a avaliar terras para compras e vendas, abandonando praticamente as lides agrícolas. A esposa o abandonou e, sem nunca ter tido visto de permanência no país vizinho, retornou ao Brasil. Afirma que, embora ignorasse a existência desse irmão, ofereceulhe o melhor amparo possível e o entrosamento entre ambos foi facilitado pelo conhecimento que o mesmo possuía acerca de corretagem de imóveis rurais. Sugeriu ao seu meio irmão que se submetessem ao exame de DNA, o qual concordou, no entanto, não tiveram oportunidade de ir a um laboratório e, também porque, de sua parte, tal providência não revestia caráter de urgência dada a semelhança física entre ambos. Procurou cercarse do máximo de cautela, adiantou lhe uma pequena quantia para que se estabelecesse e efetuasse as primeiras despesas; garantiulhe um empréstimo de grande porte, mas exigiu que lhe fosse outorgada procuração a si e a seu advogado, cabendolhe a última palavra em relação aos negócios. Assim, não teve prejuízo nem lucro, posto que as comissões de intermediação foram apropriadas ao irmão. Dele sabe apenas que estaria viajando de carro para o Paraguai, onde iria vender propriedades que adquiriu em nome de terceiros, por carência de documentos de identificação paraguaios. Sustenta que não cometeu transgressão alguma, eis que tudo resultou da intenção de reparar uma injustiça cometida ao seu meioirmão. As decantadas transações de terras supostamente subavaliadas não resistem a um exame à luz da razão. Comprar e vender imóveis rurais, em época em que os invasores de terra granjeiam o apoio dos políticos, importa sempre em um negócio de risco. Quando alguém aparece com dinheiro é sempre bem vindo e o preço pode ser convidativo; os cartórios são estritamente fiscalizados pelas Secretarias da Fazenda dos Estados, os valores subavaliados são prontamente impugnados. Como homem de negócios, tem o direito de se associar ou consorciarse com quem quer que seja, com propósito de lucro. Se houver alguma infringência fiscal, descarta o dolo, que exige a intenção de ocultar ou retardar o conhecimento do fato gerador. Na hipótese de divergência quanto à base tributável, é de se lhe exigir a complementação, acrescida no máximo de multa simples, jamais da alíquota exacerbada. Transcreve doutrinas para insurgirse contra as penalidades pecuniárias por consideralas confiscatórias, porquanto aplicadas a contribuinte que declarou as operações efetuadas, previamente fiscalizadas pelo poder competente para apreciar o valor tributável. Dizse surpreendido pelo fisco federal que não concordou com o valor julgado justo pela Fazenda Estadual, que detém poder de instituir e fiscalizar o Imposto de Transmissão de Propriedade Inter Vivos. Por fim, requer o acatamento da preliminar, reconhecendo a invalidade do auto de infração e que seja ordenado o preceptivo do art. 9º do Decreto 70.232/72 (sic), reabrindose prazo para a defesa, se desde logo não preferir decidir pela improcedência da autuação. Se não for este o Fl. 2916DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 4 5 entendimento, pelo menos que se determine a redução da penalidade ao valor mínimo, em face de ausência de dolo. A autoridade fiscal lavrou, em 27/03/2013, o Termo de Sujeição Passiva Solidária (fls. 1.544/1.545), em nome da empresa AGK 5 Empreendimentos e Participações Ltda., CNPJ 10.197.422/000152, com fundamento no artigo 124, inciso I, da Lei nº 5.172, de 1966 (CTN), em face de a empresa ter agido em conluio com o sujeito passivo (Joselito Golin), visando obter vantagens em transações imobiliárias. O interesse comum se consubstanciou na economia de IRPF decorrente de ganho de capital, o que possibilitou o fechamento de contratos milionários de transferências de imóveis, conforme amplamente descrito no Termo de Verificação Fiscal às fls. 1.471/1.543. Consta dos itens 68/70 do Termo de Verificação Fiscal (fls. 1.510/1.512) que, as empresas I.C.G.L, I.C.G.L 2 e AGK 5 jamais fizeram qualquer negócio com “Paulo Roberto da Rosa” (não havia, em seu nome, patrimônio para garantir as operações de empréstimos, notadamente nos casos dos primeiros empréstimos), mas sim, com o Sr. Joselito Golin. Este sim, um conhecido empresário que tem patrimônio (transferido em parte para as suas filhas) e administra várias empresas. Portanto, houve conluio entre essas empresas e o Sr. Joselito Golin (que compareceu nos negócios sob o manto de procurador da pessoa fictícia “Paulo Roberto da Rosa”) o que dificultou e retardou o conhecimento do fato gerador (notadamente quanto ao seu aspecto subjetivo) das obrigações tributárias abordadas no item IV deste Termo de Verificação Fiscal. Isso porque: a) essas empresas de renome, de enorme patrimônio, sabiam ou deviam saber da irregularidade (interposição de uma terceira pessoa, fictícia, com a finalidade de haver economia tributária) pois não iriam emprestar valores milionários a alguém com quem não mantiveram nenhum contato e nem tinha patrimônio para garantir os empréstimos; b) a justificativa dada para a escolha de “Paulo Roberto da Rosa” foi, em apertada síntese, o conhecimento detido por ele sobre as condições do mercado e a sua experiência na negociação dos preços de imóveis rurais na região. Entretanto, ficou amplamente demonstrado que, até então, “Paulo Roberto da Rosa” jamais teve uma movimentação financeira que o permitisse realizar as referidas operações; c) a I.C.G.L e AGK 5 afirmaram ter tido contato pessoal com “Paulo Roberto da Rosa”, apesar de estar comprovado, neste TVF, ser “Paulo Roberto da Rosa”, pessoa fictícia, criada por Joselito Golin (vide item II.III, mais especificamente o parágrafo 66); d) as garantias dadas aos empréstimos por “Paulo Roberto da Rosa” são visivelmente precárias. A maior parte desses empréstimos foi garantida por notas promissórias emitidas por “Paulo Roberto da Rosa”. Entretanto ficou comprovado que, em nome de “Paulo Roberto da Rosa”, no momento da operação, os bens e direitos existentes eram ínfimos quando comparados ao valor dos mútuos contratados; Fl. 2917DF CARF MF 6 e) a AGK 5 adquiriu de “Paulo Roberto da Rosa” a Fazenda Angelim juntamente com a Golin Empreendimentos Imobiliários – empresa ligada a Joselito Golin – o que demonstra o interesse comum entre essa empresa e o Sr. Joselito Golin; f) a garantia substancial dada aos mútuos contratados consistiu na responsabilização de Joselito Golin (este sim pessoa com nome e patrimônio), como devedor solidário e principal pagador, sem benefício de ordem, de todas as obrigações assumidas por “Paulo Roberto da Rosa”; g) as empresas I.C.G.L, I.C.G.L 2 e AGK 5 compartilham o mesmo endereço do “Grupo Vision, que, segundo informações na imprensa, possui um vínculo empresarial com o “Grupo Golin”. Da análise dos contratos de compra e venda dos imóveis rurais referidos, são patentes as enormes diferenças entre os valores de aquisição desses imóveis, por “Paulo Roberto da Rosa”, o VTN médio (informado pela Secretaria do Estado de Agricultura) e o valor atribuído às fazendas na dação em pagamento aos mútuos contraídos, conforme se evidencia a seguir: a) a Fazenda Santa Rosa, por exemplo, foi adquirida, por R$ 176.000,00 (valor que consta no registro do imóvel) e alienada à AGK 5 por R$ 25.000.000,00; b) as Fazendas Chapadão (I a X e XII a XVI) e Terçado (Fazendas Cabeceira, Fazenda Pirajazinho II e Fazenda Engano) foram adquiridas por R$ 2.247.400,00 (valor que consta no registro do imóvel) e alienadas à I.C.G.L por R$ 46.464.188,39; c) as Fazendas Piauí (Fazenda Olho D’Água, Fazenda Brejo da Onça II, Fazenda Esteio I, Fazenda Esteio II, Fazenda Duas Meninas, Fazenda Piauí I, Fazenda Piauí II, Fazenda Piauí III, Fazenda Piauí IV e Fazenda Piauí V) foram adquiridas por R$ 960.000,00 (valor que consta no registro de imóvel) e alienadas à I.C.G.L e I.C.G.L 2 por R$ 54.735.988,46. Cientificada em 02/04/2013 (fls. 1.547/1.548), a empresa AGK 5 Empreendimentos e Participações Ltda., por meio de representante (fls. 1.556/1.557), apresentou, em 02/05/2013, a impugnação ao Termo de Sujeição Passiva Solidária de fls. 1.581/1.712, instruída com os documentos de fls. 1.713/2.320, onde, inicialmente, relata os fatos que ensejaram a lavratura do Auto de Infração e do referido Termo, faz um breve apanhado acerca de suas atividades, bem como da empresa Vision, responsável pela sua gestão no Brasil, para fins de deixar clara a incompatibilidade das acusações fiscais com o seu perfil de atuação e a total ausência de conluio com o Sr. Joselito Golin ou interesse comum em eventual sonegação de IRPF por ele praticada. Salienta que a Vision Brasil Investments (“Vision”).é uma empresa de gestão de investimentos, aprovada e supervisionada pela “CVM” e membro da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (“ANBIMA”), que adota as melhoras práticas de governança Fl. 2918DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 5 7 e transparência de atuação existentes no mercado, com um padrão de excelência no exercício de sua atividade fiduciária. A grande maioria de seus clientes são investidores institucionais internacionais com interesse em ativos reais no Brasil, cujos recursos são aplicados em áreas inovadoras e de alto potencial de valorização, buscando gerar valor agregado a seus acionistas, clientes, colaboradores, mediante o desenvolvimento de projetos de atividades agrícolas, aquisição de Fazendas no intuito de obter resultados positivos da atividade agrícola e valorização da Fazenda para futura venda. Faz um breve resumo dos acontecimentos mais importantes da empresa desde a sua criação em 2003 até 2012 e aduz que foi no exercício dessa atividade que adquiriu Fazendas do Sr. Paulo Roberto da Rosa, cuja alienação gerou o suposto ganho de capital não oferecido à tributação pelo alienante. Em que pese a Impugnante não ter concedido qualquer empréstimo ao Sr. Paulo Roberto da Rosa, diferentemente das outras empresas relacionadas (I.C.G.L e I.C.G.L 2) que são acusadas no mesmo Termo de Verificação Fiscal, entende ser importante tecer alguns esclarecimentos acerca das operações de empréstimo, com subsequente dação em pagamento por Paulo Roberto da Rosa, até porque mencionadas e utilizadas para, indevidamente, imputarlhe responsabilidade tributária. Conhecendo as peculiaridades do mercado de imóveis rurais na região norte do país, percebeu que a melhor forma de atuar nesse mercado seria contar com a expertise de proprietário local que pudesse auxiliála na negociação, pois, assim, manteria a sua identidade oculta para que os proprietários das Fazendas desejadas não elevassem os preços em demasia. Nessas circunstâncias, por intermédio dos seus gestores, foi apresentada ao Sr Joselito Golin, conhecido proprietário de imóveis na região, que por sua vez, apresentou o Sr. Paulo Roberto da Rosa, em reunião presencial no escritório Pinheiro Neto Advogados. Segundo o Sr Joselito, o Sr. Paulo era um empresário que teria enriquecido com a aquisição, exploração e venda de grandes propriedades rurais naquela região; seria, ainda, pessoa de sua confiança, parceiro de negócios e que figuraria nos contratos atinentes às operações para aquisição de Fazendas. Para viabilizar os negócios contratou o escritório de advocacia Pinheiro Neto Advogados que ficou responsável pela elaboração dos Contratos de Empréstimo e verificação de toda a documentação necessária, tendo sido estruturada uma operação de land loan (empréstimo de terras), onde, inicialmente, as empresas I.C.G.L e I.C.G.L 2 celebravam contrato de mútuo, pelo qual concediam um empréstimo ao Sr. Paulo Roberto da Rosa, no valor equivalente ao da propriedade de seu interesse onerados com juros préestabelecidos. Em garantia da quitação o mutuário outorgava a tais empresas garantia hipotecária de outros imóveis de sua propriedade, que à época, possuíam valor de mercado suficiente para garantir os empréstimos. Em seguida o Sr. Paulo Roberto Rosa efetivava a aquisição do imóvel, tomando todas as providências necessárias à sua regularização e, depois de efetuada, utilizava o imóvel para quitar o contrato de mutuo, transferindoo à Fl. 2919DF CARF MF 8 impugnante mediante dação em pagamento por valor ligeiramente superior ao montante inicialmente emprestado, ou seja, com o acréscimo dos juros pactuados. Sustenta que as empresas I.C.G.L e I.C.G.L 2 fizeram quatro empréstimos firmados em 24/07/2007, 10/09/2007, 04/12/2007 e 10/04/2008, os três primeiros, no valor de R$ 20.000.000,00 cada, liberados da seguinte forma: o primeiro, em duas parcelas de R$ 10.000.000,00 cada, em 27/07/2007 e 21/08/2007; o segundo em 11/09/2007, em parcela única; o terceiro, em uma parcela de R$ 6.000.000,00 em 04/12/2007 e outra de R$ 1.500.000,00 em 13/12/2007, e os R$ 12.500.000,00 restantes não foram disponibilizados, conforme Contrato às fls. 87 a 102 e os comprovantes de transferência financeira à fls. 130/134. O 4º Contrato, no valor de R$ 35.000.000,00, foi liberado em uma parcela de R$ 16.000.000,00 e outra de R$ 18.751.417,00, conforme fls. 584/600, e comprovantes de transferência às fls. 630/631. Teria constado, expressamente, nos referidos contratos que os recursos mutuados destinavamse, única e exclusivamente, à aquisição de imóveis rurais previamente selecionados e indicados nos contratos, os quais após regularização, seriam transferidos às empresas para quitação dos empréstimos. À fl. 1.599, relaciona os imóveis integrantes da “Fazenda Chapadão” e da “Fazenda Terçado” que teriam sido transferidos para quitar os empréstimos contraídos em 24/07/2007 e 10/09/2007, conforme Certidão de Escritura às fls. 135 a 158. Os empréstimos contraídos em 04/12/2007 e 10/04/2008 teriam sido quitados pela transferência dos imóveis relacionados à fl. 1.600, denominados coletivamente como “Fazenda Piauí”, consoante Certidão de Escritura às fls. 161/176. Observa que do montante de R$ 54.735.988,46 recebidos como dação em pagamento, coube a fração de 18,94% à I.C.G.L e de 81,06% a I.C.G.L 2, pelas quais deram a quitação dos empréstimos de R$ 7.500.000,00 e R$ 35.000.000,00, respectivamente. Enfatiza que todas as tratativas das operações eram feitas com o Sr. Joselito Golin, e que a única ocasião em que o administrador da impugnante, Sr. Fábio Greco, esteve presente com o Sr. Paulo Roberto da Rosa, ocorreu na sede do Escritório Pinheiro Neto Advogados, para a discussão dos documentos atinentes às operações de land loan. Essa pessoa seria a constante na ficha de identificação acostada pela fiscalização às fls. 1319/1324. Como o Sr. Joselito Golin contava com instrumento de procuração pública para representar os interesses do Sr. Paulo (fls. 1307/1308), não tinha motivos para suspeitar da lisura das operações pactuadas, bem como da inexistência do Sr. Paulo Roberto da Rosa, a quem conheceu. Rechaça o Termo de Sujeição Passiva Solidária por não subsistir a uma análise acurada de seus fundamentos, seja pela ausência de prova quanto ao seu interesse econômico na suposta sonegação, seja pela interpretação errônea e aplicação do disposto no art. 124, inciso I, do CTN. Sustenta que o referido dispositivo requer a existência de interesse jurídico na situação que constitui o fato gerador da obrigação tributária e não o interesse econômico, como quis a fiscalização, o que significa que o sujeito passivo deve realizar a hipótese de incidência tributária, isto é, praticar o fato gerador. Não há nos autos qualquer prova que dê sustentação à alegação de que teve proveito econômico com a suposta Fl. 2920DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 6 9 sonegação praticada pelo Sr. Paulo Roberto da Rosa, ou como alegado pela fiscalização, pelo Sr. Joselito Golin. Quanto à afirmação da fiscalização de que o Sr. Paulo Roberto da Rosa não tinha patrimônio, reitera que não concedeu empréstimo algum, apenas celebrou contratos de compra e venda. Salienta que adotou todas as medidas que qualquer parte interessada adotaria na celebração desses negócios jurídicos, com a efetivação de due diligences, mediante a contratação de um dos mais respeitados escritórios de advocacia para representala nesses negócios, e, de forma alguma, tinha como suspeitar de qualquer irregularidade, não só pelo fato de confiar no Sr. Joselito, mas também pelas evidências documentais e físicas, assim como a análise jurídica de todos os documentos pelo escritório de advocacia contratado. Acrescenta que, não obstante os baixos valores de custo histórico registrado na declaração de bens, desde 2000, o mesmo era proprietário de lotes rurais localizados em MateirosTocantins, conhecidos por “Fazenda Santa Rosa” de altíssimo valor econômico, conforme laudo de avaliação da empresa de auditoria Deloitte que, em 31/12/2008, era de R$ 30.290.000,00, a qual foi concedida em garantia hipotecária à I.C.G.L no Contrato de Empréstimo firmado em 10/09/2007, conforme escritura de dação em pagamento de 10/04/2008 que, em função da entrega das Fazendas Chapadão e Terçado, ficaram canceladas as hipotecas que recaiam sobre as matrículas da Fazenda Santa Rosa (fl. 157, item 8.2), tendo sido, na mesma data, lavrada nova escritura pública de garantia hipotecária à empresa I.C.G.L 2, em virtude do empréstimo concedido no valor de R$ 35.000.000,00 (fls. 592/593). Além disso, era proprietário da “Fazenda Alto da Serra”, avaliada em R$ 46.590.000,00, conforme laudo elaborado pela Deloitte, não alienada às empresas, e sim dada como garantia hipotecária aos empréstimos realizados em 24/07/2007 e 04/12/2007, conforme Certidões de Registro de Imóvel e Escritura Pública de garantia hipotecária, datada de 13/12/2007 e, escritura de dação em pagamento, datada de 23/10/2009, que confirma a alienação da Fazenda Piauí à impugnante, o cancelamento da hipoteca da Fazenda Alto da Serra, já que efetivada a transferência da propriedade pretendida (fls. 175/176, item 8.3). Repisa que o escritório Pinheiro Neto Advogados teria recebido e analisado os documentos e certidões das operações relativos ao Sr. Paulo Roberto da Rosa, relacionados às fls. 1.619/1.622, não tendo constatado problemas para realização das operações. Teria contratado, ainda, o escritório Rulli&Moretti Advogados, especializado na aquisição de Fazendas, que analisou a documentação não tendo apontado nenhuma restrição quanto ao Sr. Paulo Roberto da Rosa. A bem da verdade, apontou apenas a existência de processos no COMPROT, o que, em princípio, não é revelador de qualquer fraude (doc 13). Quanto à área tributária, tinha preocupação em proceder de forma correta, assim, contratou o escritório Souza, Schneider, Pugliese & Sztokfisz que analisou os aspectos tributários envolvidos na operação, Fl. 2921DF CARF MF 10 descreveu as incidências fiscais e sugeriu alternativa que implicaria redução (lícita!) dos tributos incidentes. Relativamente à afirmação do fisco de que o Sr. Paulo Roberto da Rosa não tinha movimentação financeira compatível com a realização de compra e venda de imóveis rurais, alega que não teria como saber acerca dessa movimentação já que tal movimentação não é pública, bem como de informação comumente solicitada aos vendedores em operações de aquisição de terras, ou aos tomadores de empréstimos em operações de mútuos, o que se pede, e isso foi feito, é a apresentação de garantias. Analisando a movimentação financeira do Sr. Paulo, às fls 1486/1488, constatase haver, no ano de 2007, lançamentos a crédito no valor de R$ 54.166.844,19, sendo que os empréstimos da impugnante teriam sido de R$ 47.500.000,00, havendo um ingresso de R$ 6.666.844,19, com o qual nada tinha a ver. Em 2008, os valores creditados foram de R$ 62.931.951,99, enquanto as operações com a I. C. G.L 2 e AGK 5 totalizaram R$ 60.000.000,00. Em 2009, houve um ingresso de R$ 4.966.806,23, enquanto a única operação com empresa relacionada à impugnante (AGK 5) fora de R$ 3.200.000,00. No que concerne à afirmação de que a AGK 5 teria adquirido a Fazenda Angelim juntamente com a Golin Empreendimentos Imobiliários – empresa ligada a Joselito Golin – o que comprovaria o interesse comum de ambos, esclarece que a empresa AGK 5 não adquiriu a Fazenda Angelim em conjunto com a Golin Empreendimentos Imobiliários Ltda.. Em verdade, teria adquirido a Fazenda Santa Rosa e como esta tinha pendências em sua documentação, solicitou que fosse trocada por outra devidamente regularizada. Como a AGK 5 já havia pago R$ 25.000.000,00 ao Sr. Paulo Roberto da Rosa, acordaram que a Fazenda Angelim seria vendida em substituição àquela, pelo preço de R$ 37.800.000,00, e a diferença de R$ 12.800.000,00 paga em duas parcelas de R$ 6.400.000,00 (fls. 910928), como a AGK não pretendia desembolsar o montante total, cedeu parte de seus direitos à empresa Golin Empreendimentos Imobiliários Ltda., ficando coproprietários na proporção de 83,07% (AGK 5) e 16,93% (Golin), o que no seu entender não revela qualquer interesse comum entre a AGK e o Sr. Joselito Golin na suposta fraude com a criação do Sr. Paulo Roberto da Rosa e a alegada sonegação de IRPF. Quanto à alegação de as empresas I.C.G.L. I.C.G.L. 2 e AGK 5 compartilharem o mesmo endereço do Grupo Vision, alega não haver qualquer irregularidade no fato, tendo em vista que as referidas empresas são geridas pela Vision. Um dos administradores da impugnante (Fabio Greco) é também administrador da I.C.G.L. e I.C.G.L. 2, e o Sr. Amaury Fonseca Junior é também administrador da impugnante, sendo ambos sócios fundadores da Vision. A impugnante, a I.C.G.L. e a I.C.G.L. 2 foram constituídas para viabilizar as atividades agrícolas, todas geridas pela Vision. Afirma nunca ter havido “união” ou “conluio” entre a Vision, as empresas por elas geridas e o Sr. Joselito Golin. No tocante às notícias extraídas da Internet de que a Tiba Agro, da qual os Srs. Amaury Fonseca Junior e Fabio Greco eram sócios em 25%, e que Fl. 2922DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 7 11 teriam se unido a dois produtores rurais, os irmãos Francioni da Bahia, e o Grupo Golin da região Centro Oeste, alega imprestáveis para fundamentar uma acusação fiscal, uma vez que inacuradas não refletindo a realidade. Afirma que o Sr Joselito Golin ou o Grupo Golin nunca tiveram participação na Tiba Agro, conforme documentos societários que relaciona às fls. 1.639/1.642. Em relação à alegação de que o custo de aquisição das Fazendas era excessivamente baixo, inferior ao VTN médio e ao valor atribuído na dação em pagamento, alega não ser de sua responsabilidade o custo de aquisição considerado por seus anteriores proprietários ou mesmo o informado pelo Sr Paulo Roberto da Rosa, no entanto, tem certeza de que os valores das alienações eram os de mercado, até mesmo muito superiores ao VTN médio, conforme quadro à fl. 1.644. É evidente que não teria adquirido as Fazendas pelo exato valor de mercado apontado pela Deloitte, mas por valores justos e próximos aos de mercado. Quanto à conclusão da fiscalização de que “a economia de imposto obtida com o uso desse subterfúgio (atribuir a uma pessoa fictícia a sujeição passiva do IRPF relativa ao ganho de capital) aproveita a todos os envolvidos nas operações, alega não haver um único documento que prove que a impugnante obteve uma redução no preço das Fazendas, como também de que teve qualquer tipo de Ganho Financeiro com a alegada sonegação de IRPF! Muito ao contrário: pagou preço de mercado e muito superior ao VTN. Tece considerações acerca do instituto da solidariedade tributária, prevista no art. 124, inciso I, do CTN, alegando que o referido dispositivo requer a existência de interesse jurídico na situação que constitui o fato gerador e não interesse econômico, como quis a Fiscalização, o que significa que o sujeito passivo deve realizar a hipótese de incidência tributária, isto é, praticar o fato gerador. Como pessoa jurídica não poderia realizar o fato gerador do IRPF, bem como é logicamente impossível que tenha auferido renda na alienação de Fazendas por outrem. Aduz ser ponto pacífico na doutrina e jurisprudência (transcrita) que a comprovação de “proveito comum” é imprescindível para configurar o interesse comum previsto em lei como caracterizador da solidariedade. Não se pode atribuir solidariedade tributária a duas pessoas sem antes demonstrar que a ocorrência do fato imponível é proveitosa para ambos, no mesmo sentido. A multa de ofício não se aplica à solidariedade, em especial o agravamento em 50%, pois a impugnante atendeu a todas as intimações. O próprio art 124, I do CTN, prevê que o instituto da solidariedade é restrito à cobrança da obrigação principal. As multas de ofício foram aplicadas em percentual qualificado (150%), e agravado à metade (75%), totalizando 225%, o que reforça a impossibilidade de responsabilização da impugnante, uma vez que o “evidente intuito de fraude” é atribuído tão Fl. 2923DF CARF MF 12 somente ao Sr. Joselito Golin, que na visão do fisco teria criado ”pessoa fictícia”. Alega ser flagrantemente ilegal a determinação contida na IN SRF nº 84/01 de tomar como base para apuração do ganho de capital os valores reais da transação envolvendo os imóveis rurais, já que a Lei 9.393, de 1996, em seus art. 14 e 19, estabelece como base de cálculo tão somente o VTN do imóvel rural nos anos da aquisição e da alienação, seja aquele indicado pelo próprio contribuinte no DIAT (auto avaliação do VTN, como parte da atividade de lançamento por homologação), seja aquele obtido no SIPT (no caso de lançamento de ofício). A Instrução Normativa não pode se sobrepor aos ditames legais, disciplinando diversamente do estabelecido em lei, sob pena de acarretar inversão de hierarquia das normas e majorar ilegalmente a base de cálculo do imposto em tela. Conforme quadros às fls. 1.683/1.684, alega que, em relação à Fazenda Santa Rosa, o ganho auferido foi imensamente inferior ao indicado pela fiscalização, conforme a base de cálculo que encontra respaldo em lei – o VTN extraído do SIPT e, embora a fiscalização tenha mencionado que apurou o suposto ganho de capital com base em informações obtidas nas Certidões fornecidas pelos órgãos de registro (§ 128 do TVF), as aludidas matrículas não foram juntadas, ou seja, mesmo que fosse legalmente autorizada a cobrança do IRPF com base nos valores de aquisição ou alienação, baseouse em documentação que não consta dos autos, em especial o alegado custo de aquisição. No que se refere à Fazenda Angelim, como a alienação se deu em data anterior a da entrega do DIAT, a fiscalização nem sequer apresentou os VTN de aquisição e alienação, resumindose a calcular o IRPF com base nos valores efetivamente pagos e recebidos, impossibilitando a demonstração das eventuais diferenças, já que o acesso aos dados do SIPT é restrito aos servidores da RFB. A base de cálculo empregada pelo fisco é ilegal, de modo que o respectivo lançamento não pode prosperar. No que tange à alegação de que a DITR da Fazenda Santa Rosa não poderia ser utilizada para fins de apuração do ganho de capital, por ter sido apresentada por pessoa supostamente fictícia, alega que a fiscalização não provou a inexistência do Sr. Paulo Roberto da Rosa, preferindo valerse de conjecturas e presunções do que provas concretas e cabais, o que é incompatível com o processo administrativo tributário (princípios da verdade material e da legalidade), assim, não poderia ser desconsiderada. Ainda que prevalecesse a acusação fiscal no sentido de erro na identificação do sujeito passivo nas aludidas declarações, caberia a Fiscalização retificálas de ofício, a teor do art. 147, § 2º do CTN, para que constassem como transmitidas pela pessoa física do Sr. Joselito Golin, apontado como o verdadeiro sujeito passivo, de modo a prevalecer a confissão de dívida nelas contida e, se fosse o caso, lançar eventuais diferenças apuradas com base no SIPT. É inconteste que as DITR relativas aos imóveis em apreço foram efetivamente transmitidas à RFB, com o efeito de possibilitar à Fiscalização o conhecimento dos fatos geradores da obrigação tributária de ITR e de IRPF, de modo que caberia à Fiscalização, quando muito, lançar as eventuais diferenças apuradas com base no SIPT. Fl. 2924DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 8 13 Alega incabível a aplicação da multa em 150%, uma vez que a acusação de fraude recai apenas sobre o Sr Joselito Golin e não ficou provado que teria agido em conluio e, muito menos, que tenha tido alguma responsabilidade com a alegada sonegação. Insurgese, ainda, sobre os juros de mora incidentes sobre a multa de ofício, que considera ilegais, na medida em que essa não retrata a obrigação principal, mas em encargo que se agrega ao valor da dívida, como forma de punir o devedor. Por fim, requer o provimento da impugnação, para determinar o cancelamento do Termo de Sujeição Passiva Solidária e do próprio Auto de Infração e, se não for esse o entendimento, protesta pela posterior juntada de documentos adicionais, que estão sendo diligentemente levantados pela impugnante em seus registros. Cientificados da decisão que contrariou parcialmente seus interesses em 06 e 13 de dezembro de 2013, o sujeito passivo (fls. 2432) e o devedor solidário (fls. 2482), respectivamente, apresentaram tempestivamente, em 26 de dezembro de 2013 e 14 de janeiro de 2014 recursos voluntários. Antes, porém, em 14 de novembro de 2013, o Contribuinte apresenta aditamento de sua impugnação, folhas 2415, na no qual apresenta nova argumentação contra o lançamento tributário ainda não julgado, mas que apenas 5 dias depois, viria a sêlo. Tal peça, por meio de despacho de folhas 2425 que reconheceu o recebimento tardio em face da ciência do acórdão de impugnação não foi apreciada pela decisão recorrida. Em 26 de março de 2015 foi juntado aos autos (fls. 2676), pelo devedor solidário, cópia de decisão do Juiz do DIPO da Justiça Estadual de São Paulo que, acatando a posição do Ministério Público Estadual, determinou o arquivamento por falta de provas, uma vez que constatouse a existência do Sr Paulo Roberto da Rosa do Inquérito Policial nº 004343146.2014 que tinha por finalidade apurar o crime de falsificação de documento público e de falsidade ideológica noticiado por meio de Representação Fiscal para Fins Penais decorrente da ação fiscal que lançou o tributo que aqui se discute. Na petição de juntada, o devedor solidário reitera as alegações de seu recurso voluntário em especial quanto a solidariedade imputada, posto que fundada no interesse comum e conluio. A Procuradoria da Fazenda Nacional, noticia (fls. 2745), em 13 de janeiro de 2016, o ajuizamento de ação cautelar fiscal nº 006176688.2015.403.6182, junto à 11ª Vara de Execuções Fiscais da Justiça Federal de São Paulo e que houve concessão de decisão liminar nos referidos autos. Por fim, houve em 13 de setembro de 2016, pedido de conexão (fls. 2758) nos termos do artigo 6º do Anexo I do RICARF, por parte da empresa AGK5 Empreendimentos e Participações Ltda, à qual também foi imputada responsabilidade solidária pelos créditos discutidos no processo nº 10880.721159/201380. Tal pedido foi indeferido por despacho fundamentado (fls. 2910), assinado em conjunto pela Sra. Presidente desta 2ª Câmara e pelo Sr. Presidente desta 2ª Seção de Julgamento do CARF. Fl. 2925DF CARF MF 14 É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Relator Alexandre Evaristo Pinto Os recursos voluntários atendem aos requisitos de admissibilidade e portanto, deles conheço e passo a apreciálos na ordem de suas alegações. Das Preliminares de Nulidade por Cerceamento de Defesa A AGK 5 Empreendimentos e Participações Ltda requer a nulidade do lançamento uma vez que não foi intimada para apresentar documentos ao longo da fiscalização, assim como nem todas as razões de defesa suscitadas foram apreciadas no Acórdão da DRJ, sendo que isso configura cerceamento de defesa. Também alega que o acórdão da DRJ não se debruçou sobre o fato de que inexiste interesse jurídico que entre a AGK 5 Empreendimentos e Participações Ltda e o Sr. Joselito Golin, que justifique a responsabilidade solidária do artigo 124, I, do Código Tributário Nacional. O regime jurídico da nulidade do processo administrativo está previsto nos artigos 59 e 60 do DecretoLei n. 70.235/71, nos seguintes termos: Art. 59. São nulos: I os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. § 1º A nulidade de qualquer ato só prejudica os posteriores que dele diretamente dependam ou sejam conseqüência. § 2º Na declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos alcançados, e determinará as providências necessárias ao prosseguimento ou solução do processo. § 3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio. Como se vê, as hipóteses de nulidade se restringem aos atos e termos lavrados por pessoa incompetente e aos despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. No caso em tela, não há que se falar em preterição do direito de defesa, visto que o responsável solidário foi regularmente notificado e apresentou extensos argumentos tanto Fl. 2926DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 9 15 na impugnação quanto no recurso voluntário. No tocante à questão da não apreciação de todos argumentos apresentados na impugnação, vale notar que o Acórdão da DRJ enfrentou a questão da solidariedade da AGK5 inclusive em tópico específico (fls. 2402 a 2405). Dessa forma, e enfatizando que o caso em exame não se enquadra nas hipóteses de nulidade previstas no art. 59 do Decreto nº 70.235/72, são incabíveis as pretendidas nulidades, por não se vislumbrar qualquer vício capaz de invalidar o procedimento administrativo adotado. Do Erro de Identificação do Sujeito Passivo Constato que a maior parte da defesa do Recorrente se funda na premissa de que há erro na sujeição passiva, posto que o Sr Paulo Roberto da Rosa é pessoa natural viva. Como relatado, tratamse de apelos interpostos pelo devedor principal e pelos solidários em oposição a decisão de primeira instância que manteve o lançamento tributário relativo ao pretenso IRPF devido em razão do ganho de capital ocorrido pela alienação de bens do devedor principal. Assim se inicia o Termo de Verificação Fiscal (fls 1472): "1. Cumpre informar, inicialmente, que a fiscalização em epígrafe é decorrente do Mandado de Procedimento Fiscal n° 06.1.85.0020120001147 em nome de "Paulo Roberto da Rosa", CPF 714.373.39115. Essa ação fiscal teve começo com o: ,Termo de Início recebido, por via postal, em 09/04/2012, que demandou do intimado a apresentação dos seguintes documentos: (...) 2. Tendo em vista a ausência de resposta a este. Termo, "Paulo Roberto da Rosa" foi intimado, novamente, por mais seis vezes (ver quadro abaixo), no domicílio fiscal constante no Cadastro da Pessoa Física da Receita Federal do Brasil, isto é: Rua Anita Garibaldi, n° 29, Sala 401, Centro, São Paulo (SP) e, até a presente data,não recebemos a' documentação/esclarecimentos solicitados e/ou qualquer pronunciamento a respeito. (...) 3. Entretanto, conforme se demonstrará nesse Termo de Verificação Fiscal (item II), "Paulo Roberto da Rosa" é uma pessoa fictícia, que foi criada por Joselito Golin, cuja alcunha é "Paulo Golin". (...)" (destaques não constam do original) A leitura do excerto acima é determinante no deslinde do presente processo administrativo tributário. Como veremos, a Fiscalização entendeu que o sujeito passivo, por ela eleito, alienou bens imóveis de sua propriedade, como procurador do Sr. Paulo Roberto da Rosa, posto que tais bens estavam registrados em nome deste. Fl. 2927DF CARF MF 16 Dito de modo diverso: O Sr Joselito Golin, eleito pela Autoridade Autuante como sujeito passivo, criou a pessoa física Paulo Roberto da Rosa por meio da utilização de documentos falsos, realizando diversas alienações ensejadoras de ganho de capital e consequente incidência de IRPF, sempre em nome da pessoa fictícia por ele criada, consoante se verifica no item 5 do TVF. Alega a Autoridade Fiscal (fls. 1474): "5. Destacase que o objetivo dessa ação fiscal é apurar o real Ganho de Capital e o imposto respectivo, decorrente das alienações ocorridas, em 2008 e 2009, de diversos imóveis rurais, adquiridos em 2007 e 2008, em nome de."Paulo Roberto da Rosa", CPF 714.373.39115, com parte.dos recursos provenientes de empréstimos concedidos por "I.C.G.L Empreendimentos (e Participações S.A (CNPJ 08.692.712/000120), doravante também referida como I.C.G.L, no valor de R$ 47.500,000,00 e por I.C.G.L 2 Empreendimentos e Participações Ltda (CNPJ 09.060.869/000104), doravante também referida como I.C.G.L 2, no valor de R$ 35.000.000,00. (...) 6. Registrase que o Sr Joselito Golin, em flagrante desprezo à intimação já exarada, erigida em Termo formal .e regular, quando intimado a apresentar os demonstrativos/esclarecimentos referentes à apuração do ganho de capital decorrente das : operações mencionadas no, parágrafo anterior, mantevese silente, sem apresentar qualquer manifestação, apesar de estar demonstrada, nesse Termo, a responsabilidade direta dele quanto a essas infrações " Tal a certeza do ocorrido, que a Fiscalização, no item II (Identificação Correta do Sujeito Passivo), folhas 1475, assevera: "7. 0 artigo 142 da Lei n° 5.172, de 25/10/1966 (Código Tributário Nacional), assim dispõe sobre a constituição do crédito tributário: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. II.I) COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS 8. Nas DIRPF (Declaração de Imposto sobre a Renda da Pessoa Física)apresentadas em nome de. "Paulo Roberto da Rosa", CPF 714.373.39115, .há a informação referente à aquisição de diversos imóveis rurais (vide tabelas a seguir) nos anoscalendário 2007 e 2008. Esses imóveis, de acordo com as aludidas declarações(informações confirmadas por documentos apresentados "pelas mutuantes), teriam sido adquiridos com parte dos recursos provenientes de empréstimos concedidos por I.C.G.L Empreendimentos e Participações S A (CNPJ;08.692.712/000120), no valor de R$ 47.500,000,00'e por I.C.G.L 2 Empreendimentos e Participações Itda Fl. 2928DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 10 17 (CNPJ09.060.869/000104), no valor de R$ 35.000.000,00 (apresenta extensa tabela folhas 1475 e 1476) 9.Uma informação que merece ser destacada são os baixos valores de aquisição dos imóveis rurais relacionados no parágrafo anterior em comparação com os dados constantes do SIPT (Sistemas de Preços de Terras) tendo por base o VTN (valor da Terra Nua) informado pela Secretaria de Agricultura dos Estados. Com base no SIPT, os imóveis, que foram transferidos; em 2008 (dação em pagamento) e adquiridos em 2007 por R$ 2.247.400,00, deveriam ter um VTN de aquisição médio de R$ 36.199.976,00, enquanto que os adquiridos em .2008 por R$ 960.000,00 e transferidos em 2009 (dação em pagamento) deveriam ter um VTN de aquisição médio de R$ 6.572.794,00. 10. De acordo com as DIRPF apresentadas em nome de"Paulo Roberto da Rosa", teriam sido realizadas benfeitorias nos imóveis rurais adquiridos com recursos de empréstimos obtidos de pessoas jurídicas não financeiras. Após; teria havido a liquidação desses empréstimos, via dação, de quase todos os imóveis .adquiridos, em, pagamento. Registrase aqui que as alegadas benfeitorias realizadas não foram comprovadas, e que o imposto relativo ao ganho de capital apurado não foi recolhido em sua totalidade (vide Item IV)11, Em análise aos registros de imóveis, verificase que yários dos imóveis" adquiridos em nome de "Paulo Roberto da Rosa" (Duas Meninas, Piauí I, Piauí II,y Piauí III, Piauí IV e Piauí V,;Olho D' Agua II,e,Brejo da Onça II) teriam sido alienados a ele pelo Sr.Ronaldo Lisboa de Freitas (Sr Ronaldo), CPF 566.578.54315, que teve relação de emprego com a Eldorado Agroindustrial Ltda (informação constante de sua DIRPF/2009), CNPJ 37.224.433/000130, empresa essa que possui como, sócios o Sr Joselito Golin, Aria Paula Schimitz Golin, Judiliane Schimitz Golin e Rafaela Schimitz Golin. 12. As informações constantes do Cadastro de Pessoa Física (CPF) da; Receita Federal do Brasil (CPF) permitem depreender que Ana Paula Schimitz Golin, CPF 056.547.84943, Judiliane Schimitz Golin, CPF 726.184.00178 e Rafaela Schimitz Golin, CPF 057.631.90904, são filhas do Sr Joselito Golin 13. As informações contidas nos parágrafos 11 e 12 constituem indícios de que;pelo menos parte das fazendas adquiridas em nome de "Paulo Roberto da Rosa" , pertenciam a Joselito Golin que as vendeu, então, para empresas do Grupo Vision" Ao longo de várias páginas, a Fiscalização demonstra a ligação do Sr. Joselito Golin com as empresas I.C.G.L Empreendimentos e Participações SA e I.C.G.L 2 e AGK5 Empreendimentos e Participações Ltda. Demonstra ainda, que a movimentação bancária de Paulo Roberto da Rosa era incompatível com sua estrutura patrimonial e atividade. Ressalta a grande quantidade de empréstimos concedidos pelas empresas mencionadas ao Sr Paulo Roberto da Rosa. Menciona, citando reportagens de jornais de grande circulação que dois executivos de grande banco internacional constituíram empresa com objetivo de captar Fl. 2929DF CARF MF 18 recursos no exterior para aquisição de grandes extensões de terra em fronteiras agrícolas do Centro Oeste e nordeste brasileiros e que o Sr Paulo Roberto da Rosa, por indicação de J Golin, foi contratado por essa empresa, para adquirir, em seu nome, grande extensão de terras. Conclui (folhas 1491): "32. Pelos fatos já narrados, depreendese haver uma estreita relação entre o Sr Joselito Golin e as empresas I.C.G.L, I.G.G.L 2 e AGK 5, destacandose os seguintes fatos: a) o Sr Joselito Golin e a empresa AGK 5 adquiriram," em conjunto, a Fazenda Angelim, sendo, portanto, condôminos; b) Há vínculo empresarial entre o Grupo Vision e o " Grupo Golin", confirmado, por informações da Imprensa e por declaração prestada pelo Sr Carlos Alberto Casseb (vide Item II.Ill deste Termo de Verificação Fiscal). c)As empresas do Grupo Vision e as empresas IX.G.L, I.C.G.L 2 e AGK 5 compartilham o mesmo endereço cadastral d)As empresas LC.G.L e I.C.G.L 2 declararam ter feito empréstimos.milionários a "Paulo: Roberto da.Rosa" devido aos seus conhecimentos para escolha de imóveis rurais na região e.de sua experiência na negociação dos preços desses imóveis. Entretanto, a sua movimentação financeira, até a data dós referidos empréstimos,era incompatível com essa atividade. Assim, o mais razoável é concluir que I.C.G L, I.C.G.L 2 e. AGK 5 não quiseram contratar"Paulo Roberto da Rosa", mas Joselito Golin, este sim,, pessoa com reconhecida experiência no mercado de"compra e venda de imóveis rurais (vide informações da imprensa citadas nos parágrafos'55 a 57deste Termo de Verificação Fiscal). A corroborar tal conclusão depõe o documento referente a Contrato de Empréstimo e Hipoteca assinado por Joselito Golin e encaminhado à I.C.G.L 2.onde o signatário declara ter conhecimento e experiência profissional na atividade de aquisição de imóveis rurais nos Estados do Piauí e Mato Grosso e assume ser responsável, devedor solidário, garantidor e principal pagador, sem benefício de ordem, de todas as obrigações assumidas em nome de "Paulo Roberto da Rosa". Ademais, quase todos os documentos (há documentos assinados por Carlos Alberto Casseb advogado do Grupo Golin) envolvendo "Paulo Roberto da Rosa" e a I.C.G.L., I.C.G.L 2 e AGK 5 sempre foram assinados por Joselito Golin, alegadamente na condição de procurador. O referido documento coloca o Sr Joselito Golin na condição de PARTE no contrato a que faz referência e) As empresas I.C.G.L e AGK 5, declaram ter tido contato pessoal com "Paulo Roberto dá Rosa" apesar de ficar comprovado, nesse Termo, que "Paulo Roberto da Rosa", nascido em 12/12/1962, é pessoa fictícia (vide Item II.Ill deste Termo de Verificação Fiscal)." A partir deste ponto o Auditor Fiscal responsável pelo lançamento tributário passa, segundo se observa nas folhas 1492/1508, a demonstrar que a pessoa de Paulo Roberto da Rosa é ficta, criada por Joselito Golin para fins escusos. Transcrevo a conclusão da Autoridade Fiscal (fls 1506): Fl. 2930DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 11 19 "Conclusão: Paulo Roberto da Rosa". CPF 374.361.63000.RG 11.615.29586 SSP/BA. é Pessoa Fictícia criada por Joselito Golin Diante do exposto, concluise que "Paulo Roberto da. Rosa" é , uma pessoa fictícia, que foi criada por JOSELITO GOLIN, CPF 374.361.63000, empresário, conhecido do ramo imobiliário rural e do agronegócio, possivelmente, para ocultar o verdadeiro sujeito passivo de eventuais obrigações tributárias. Os fatos narrados que permitem essa conclusão podem ser sintetizados da seguinte forma: a) Ausência de assento de nascimento em nome de "Paulo Roberto da Rosa", data de nascimento 12/12/1962; filho de Almerica .Silva da Rosa b) Inexistência de Título de Eleitor em nome de "Paulo Roberto da Rosa", data de nascimento em 12/12/1962 e filho de Almerica Silva da Rosa c) Procuração outorgada por. "Paulo Roberto da Rosa", no ano de 2002, com prazo indeterminado, conferindo ao Sr Joselito Golin 'amplos, gerais e ilimitados poderes, inclusive, para abrir, movimentar;, é encerrar contas bancárias" d) Joselito Golin assume a responsabilidade solidária por empréstimos, contraídos em, nome de "Paulo Roberto da Rosa",sem benefício de ordem e) Joselito Golin comparece verdadeiramente como "PARTE" num contrato em que apenas "Paulo Roberto, da Rosa" inicialmente havia sido contratado f)"Paulo Roberto, da Rosa" .participa de vários atos sempre; representado por um procurador (vide todos os documentos firmados por "Paulo Roberto da Rosa" e as empresas I.C.G".L, I.C.G.L 2 e AGK) , tais como. contratos :de empréstimos, escritura de dação e imóveis em pagamento ;e instrumentos de compra é venda de imóveis, além de informações do síndico da massa falida das Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A. g) A criação do CPF de "Paulo Roberto da Rosa", em 1999, aos 36 anos de idade, nascido em .12/12/1962 h) O registro da suposta Certidão de Nascimento e da Carteira de Identidade em nome de "Paulo Roberto da Rosa",.quando ele teria, respectivamente, 32 e 36 anos de idade i) As tentativas de inserir o nome Paulo ao de Joselito Golin, em 1998, no cadastro de CPF. j) Domicílio Tributário informado para "Paulo Roberto da Rosa" pertence a outro contribuinte. Entretanto as correspondências; encaminhadas a ele estão sendo interceptadas pelo escritório de advocacia do Sr Casseb, Escritório esse que possui como clientela. JAP empresa ligada a Joselito Golin Fl. 2931DF CARF MF 20 k) As assinaturas de "Paulo Roberto da Rosa" constantes do CPF, da Carteira de Identidade e da Ficha do Instituto de Identificação Pedro;Mello do Departamento de Polícia do governo do Estado da Bahia, são divergentes I) Os documentos de "Paulo Roberto da Rosa" (CPF, Carteira de Identidade, Certidão de Nascimento e Procuração) foram emitidos em: diferentes estados (Mato Grosso do Sul, Bahia, Amazonas e Distrito Federal, respectivamente) m) Forte suspeita levantada pelo síndico da Massa Falida da Boi Gordo de que Paulo Roberto da Rosa nem sequer existe, tendo sido criado por Joselito Golin n) Realização de vultosos empréstimos de Paulo Roberto da Rosa a Gérson Luiz de Oliveira (Gérson faz parte do Quadro Societário de várias empresas do Grupo Golin) que, por sua vez, fez transferências milionárias a empresas e pessoas ligadas a Joselito Golin o) O endereço constante no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica de Empresa ligada a Joselito Golin (JAP) é o mesmo daquele eleito como domicílio tributário para "Paulo Roberto da Rosa", sendo que esse endereço pertence a outro contribuinte p) Joselito Golin é empresário conhecido no ramo do agronegócio e do comércio de imóveis rurais, enquanto Paulo Roberto da Rosa é pessoa desconhecida até mesmo em seu endereço tributário q)Várias fazendas adquiridas em nome de Paulo Roberto da Rosa pertenciam a pessoas ligadas a Joselito Golin, como por exemplo, as fazendas Duas Meninas, Piauí I, Piauí II, Piauí III, Piauí IV, Piauí V, Olho D'Agua II e Brejo da Onça II que tinham como proprietário o Sr Ronaldo Lisboa de Freitas, CPF 566.578.54315" Assim, é claro o posicionamento da autoridade lançadora no sentido que o Sr Paulo Roberto da Rosa não existe. Nesse sentido, cabe mencionar o seguinte trecho (fls 1540): "154.No item "II.Ill RELACIONAMENTO DE JOSELITO GOLIN COM "Paulo Roberto da Rosa" deste TVF, ficou amplamente demonstrado o evidente intuito de fraude, via criação de um sujeito passivo fictício ("Paulo Roberto da Rosa") por Joselito Golin, para, dentre outros objetivos, ocultar o verdadeiro sujeito passivo das obrigações, tributárias analisadas no item "IV ; APURAÇÃO DO GANHO DE CAPITAL", e com isso impedir ou retardar o conhecimento por parte, da Autoridade Tributária do fato gerador da obrigação tributária. Ante o exposto, estáse diante da hipótese de sonegação, prevista no inciso II do.art. 71 da lei n° 4.502/1964, uma vez que a criação de um sujeito passivo fictício foi uma ação dolos, .que teve, dentre, outros; o objetivo de impedir o.conhecimento por parte da autoridade fazendária das condições pessoais do contribuinte, suscetíveis, de afetar a obrigação tributária, principal ou o crédito tributário correspondente" Fl. 2932DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 12 21 Como consequência de suas constatações, os Auditores Fiscais responsáveis pelo lançamento, elaboraram representações fiscais para fins penais que foram encaminhadas ao Ministério Público Federal, visando a apuração da prática, em tese, do crime de uso de documento falso e falsidade ideológica. Como consta do Relatório, em 26 de março de 2015, a devedora solidária I.C.G.L 2 Empreendimentos e Participações Ltda, requer a juntada da Manifestação do Ministério Público do Estado de São Paulo nos autos do Inquérito Policial nº 322/2014, seguida da decisão do MM Juíz do Foro Central Criminal da Barra Funda da Comarca de São Paulo DIPO Sandro Rafael Barbosa Pacheco, determinando o arquivamento do Inquérito Policial (fls. 2709). Assim se manifestou o Ministério Público do Estado de São Paulo (fls. 2706): "Observase, assim, que o presente procedimento administrativo deve ser arquivado, pois o conjunto probatório mostrase precário quanto a caracterização dos delitos em questão. Ressaltese que a Receita Federal acreditava que Joselito Golin teria criado pessoa fictícia para omitir sujeito passivo da obrigação tributária. Todavia, restou demonstrado que não restou evidenciado, pois se revelou que Paulo Roberto da Rosa é, de fato, uma pessoa, titular de direitos e obrigações. Atentese que Paulo Roberto explicou que a suspeita da Receita Federal se deu em virtude de um número equivocado quanto a sua certidão de nascimento, fazendo, inclusive, com que ele sofresse prejuízos financeiros e morais. Por fim, os sócios da Vision Brasil de Investimenos relataram que quando fizeram negócios com Paulo Roberto, todos os seus documentos foram supervisionados por escritórios de advocacia especializados, bem como empresas de auditoria, não sendo encontrada nenhuma falsidade nos referidos documentos. Assim, apesar dos esforços da polícia, o cenário probatório e precário quanto a caracterização dos delitos em exame e não vislumbro novas diligências cabíveis, razão pela qual requeiro o arquivamento dos autos, sem prejuízo, contudo, do disposto no artigo 18 do Código de Processo Penal" Dessa forma, é cristalina a conclusão da autoridade competente para verificação da existência da pessoa natural: Paulo Roberto da Rosa é pessoa física viva e titular de direitos e obrigações. Houve erro da identificação do sujeito passivo pelas Autoridades Lançadoras. Os negócios jurídicos ensejadores de obrigações tributárias constantes do Auto de Infração que aqui se discute foram praticados pelo Sr Paulo Roberto da Rosa como reconhecido pelo próprio Fisco e o lançamento tributário foi realizado em nome de Joselito Golin e dos demais devedores solidários mencionados. Inegável a existência de vício no lançamento. Vício de índole material. Fl. 2933DF CARF MF 22 Como sabido, cabe ao Fisco, nos termos do artigo 142 do Código Tributário Nacional, por meio de procedimento do lançamento de ofício, constituir o crédito tributário, revisando nos casos de auto lançamento, os procedimentos do sujeito passivo. Para tanto, ele deve, após verificar a ocorrência do fato gerador, identificar o sujeito passivo, determinar a matéria tributável, quantificar o tributo devido e, quando for o caso, aplicar a penalidade cabível. Por ser atividade vinculada e obrigatória, é dever da autoridade fiscal empreender esforços na determinação do critério material da regra matriz de incidência tributária, base de cálculo do tributo e alíquota aplicável, apropriamos dos ensinamentos de Paulo de Barros Carvalho. A mensuração das grandezas tributárias, decorrente da verificação da prática do fato gerador pelo sujeito passivo, deve ser corretamente efetuada quando da lavratura do auto de infração. Podese até compreender a impossibilidade do acerto em razão da ausência de comprovação por parte do contribuinte, o que, não se aplica no caso concreto. Ao reverso, o que se observa é que todo o lançamento tributário parte da premissa de que aquele que praticou o fato gerador não existe como pessoa natural. Consta do prelúdio do Termo de Verificação Fiscal tal afirmação. Não obstante as diligências efetuadas pelas Autoridades Lançadoras no tocante a intimação do contribuinte e dos demais partícipes dos negócios jurídicos praticados, em que pese o caráter inusual destes, denotarem a prática de determinados atos simulados, a Fiscalização optou por eleger somente o Sr Joselito Golin como contribuinte assim entendido aquele que tem relação pessoal e direta com o fato gerador, posto que o Fisco assumiu como verdade a inexistência do Sr Paulo Roberto da Rosa. Instada, por imperativo processual, a comprovar a sujeição passiva, a Recorrente soube se desvencilhar do ônus, comprovando para a autoridade competente, no caso a autoridade policial, a existência com vida daquele que praticou os negócios jurídicos ensejadores do ganho de capital. Ante o exposto, não resta dúvida de que o Fisco não cumpriu seu dever, ou seja, não identificou o sujeito passivo da obrigação tributária. Vale citar que este foi o entendimento manifestado no Acórdão n. 2201 003.698 da 1a Turma da 2a Câmara da 2a Seção de Julgamento do CARF, no qual também a mesma situação do Recorrente foi analisada, mas para um período diferente. Nesse sentido, cumpre mencionar o voto do conselheiro relator Carlos Henrique de Oliveira que cita a doutrina de Celso Antonio Bandeira de Melo (Curso de Direito Administrativo, 29ª ed., p.478), acerca a irregularidade dos atos administrativos: Atos irregulares são aqueles padecentes de vícios materiais irrelevantes, reconhecíveis de plano, ou incursos em formalização defeituosa consistente em transgressão de normas cujo real alcance é meramente o de impor a padronização interna dos instrumentos pelos quais se veiculam os atos administrativos Ainda no referido voto, o conselheiro relator Carlos Henrique de Oliveira assinala que os lançamentos que contenham conteúdo ilegal não são passíveis de convalidação, pois a nulidade que ostentam é absoluta, de modo que tendo em vista que houve ofensa às determinações do artigo 142 do CTN há vício no conteúdo do ato, pois são requisitos do Fl. 2934DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 13 23 lançamento, atributos intrínsecos ao procedimento de constituição do crédito tributário, tal qual no caso em que é indicado sujeito passivo diferente daquele que deve integrar a obrigação tributária. Assim, verificase que a autoridade fiscal não comprovou quem efetivamente praticou os fatos geradores da obrigação tributária, errando ao eleger o Contribuinte, quando deveria apontar o real sujeito passivo. Da Questão da Solidariedade Tributária do Sr. Joselito Golin Embora o Sr. Joselito Golin traga argumentação no sentido de que ele não deve ser sujeito passivo solidário em virtude da inexistência de interesse comum, cumpre lembrar que no presente processo, ele foi considerado sujeito passivo, de modo que tal questão não carece ser enfrentada. Da Questão da Base de Cálculo do Ganho de Capital na Alienação de Imóvel Rural Com relação à apuração do ganho de capital decorrente da alienação de imóvel rural, o Recorrente alega que o dispositivo legal aplicável é o artigo 19 da Lei n. 9.393/96, que assim dispõe: Art. 19. A partir do dia 1º de janeiro de 1997, para fins de apuração de ganho de capital, nos termos da legislação do imposto de renda, considera se custo de aquisição e valor da venda do imóvel rural o VTN declarado, na forma do art. 8º, observado o disposto no art. 14, respectivamente, nos anos da ocorrência de sua aquisição e de sua alienação. Parágrafo único. Na apuração de ganho de capital correspondente a imóvel rural adquirido anteriormente à data a que se refere este artigo, será considerado custo de aquisição o valor constante da escritura pública, observado o disposto no art. 17 da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Dessa forma, há regra específica de ganho de capital para imóvel rural que toma por base o valor da terra nua tanto no momento da aquisição quanto no momento da alienação. Tal regra é reiterada no artigo 9º da Instrução Normativa SRF n. 84/01, nos seguintes termos: Art. 9o Na apuração do ganho de capital de imóvel rural é considerado custo de aquisição o valor relativo à terra nua. § 1o Considerase valor da terra nua (VTN) o valor do imóvel rural, nele incluído o da respectiva mata nativa, não computados os custos das benfeitorias (construções, instalações e melhoramentos), das culturas permanentes e temporárias, das árvores e florestas plantadas e das pastagens cultivadas ou melhoradas. § 2o Os custos a que se refere o § 1o, quando não tiverem sido deduzidos como despesa de custeio, na apuração do resultado da atividade rural, podem ser computados para efeito de apuração de ganho de capital. Fl. 2935DF CARF MF 24 A dúvida surge quando não houve a entrega da Declaração do ITR com a respectiva informação acerca do VTN, de modo que o artigo 14 da Lei n. 9.393/96 assim dispõe: Art. 14. No caso de falta de entrega do DIAC ou do DIAT, bem como de subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas, a Secretaria da Receita Federal procederá à determinação e ao lançamento de ofício do imposto, considerando informações sobre preços de terras, constantes de sistema a ser por ela instituído, e os dados de área total, área tributável e grau de utilização do imóvel, apurados em procedimentos de fiscalização. § 1º As informações sobre preços de terra observarão os critérios estabelecidos no art. 12, § 1º, inciso II da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, e considerarão levantamentos realizados pelas Secretarias de Agricultura das Unidades Federadas ou dos Municípios. § 2º As multas cobradas em virtude do disposto neste artigo serão aquelas aplicáveis aos demais tributos federais. Por sua vez, o §2º do artigo 10 da Instrução Normativa SRF n. 84/01 estabelece que caso não tenha sido apresentado o Diat relativamente ao ano de aquisição ou de alienação, ou a ambos, considerase como custo e como valor de alienação o valor constante nos respectivos documentos de aquisição e de alienação, conforme pode ser observado abaixo: Art. 10. Tratandose de imóvel rural adquirido a partir de 1997, considerase custo de aquisição o valor da terra nua declarado pelo alienante, no Documento de Informação e Apuração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (Diat) do ano da aquisição, observado o disposto nos arts. 8o e 14 da Lei No 9.393, de 1996. § 1o No caso de o contribuinte adquirir: I e vender o imóvel rural antes da entrega do Diat, o ganho de capital é igual à diferença entre o valor de alienação e o custo de aquisição; II o imóvel rural antes da entrega do Diat e alienálo, no mesmo ano, após sua entrega, não ocorre ganho de capital, por se tratar de VTN de aquisição e de alienação de mesmo valor. § 2o Caso não tenha sido apresentado o Diat relativamente ao ano de aquisição ou de alienação, ou a ambos, considerase como custo e como valor de alienação o valor constante nos respectivos documentos de aquisição e de alienação. § 3o O disposto no § 2o aplicase também no caso de contribuinte sujeito à apresentação apenas do Documento de Informação e Atualização Cadastral (Diac). Nesse sentido, o artigo 14 da Lei n. 9.393/96 não deixa margem para que seja usado como custo e como valor de alienação o valor constante nos respectivos documentos de aquisição e de alienação, de modo que a Receita Federal deverá proceder à determinação e ao lançamento de ofício do imposto, considerando informações sobre preços de terras, constantes de sistema a ser por ela instituído, e os dados de área total, área tributável e grau de utilização Fl. 2936DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 14 25 do imóvel, apurados em procedimentos de fiscalização, no caso de falta de entrega do DIAC ou do DIAT, bem como de subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas. Ainda que possa ser entendido que o artigo 14 da Lei n. 9.393/96 seja aplicável somente ao cálculo do ITR, não pode ser olvidado que tal dispositivo deve ser lido de forma sistemática inclusive para fins de apuração do ganho de capital de imóvel rural. Ante o exposto, a argumentação trazida pelo Recorrente merece ser acolhida. Da Questão da Falta de Interesse Comum entre a AGK5 Empreendimentos e Participações Ltda e o Sr. Joselito Golin A solidariedade tributária está prevista no artigo 124 do Código Tributário Nacional, nos seguintes termos: Art. 124. São solidariamente obrigadas: I as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; II as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem. Como se vê, o artigo 124, I, do Código Tributário Nacional prevê a solidariedade para as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal. Ao analisar o conteúdo da expressão “interesse comum”, Luís Eduardo Schoueri assinala que: “Interesse comum só tem as pessoas que estão no mesmo polo na situação que constitui o fato jurídico tributário. Assim, por exemplo, os condôminos têm “interesse comum” na propriedade; se esta dá azo ao surgimento da obrigação de recolher o IPTU, são solidariamente responsáveis pelo pagamento do imposto todos os condôminos. Notese que o débito é um só, mas todos os condôminos se revestem da condição de sujeitos passivos solidários. Não constituem “interesse comum”, por outro lado, as posições antagônicas em um contrato, mesmo quando em virtude deste surja um fato jurídico tributário. Assim, comprador e vendedor não têm “interesse comum” na compra e venda: se o vendedor é contribuinte do ICMS devido na saída da mercadoria objeto da compra e venda, o comprador não será solidário com tal obrigação”. (SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito Tributário. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. P. 581) No caso em tela, não há como enquadrar a situação como de “interesse comum”, de modo que a solidariedade tributária não deve alcançar a AGK5 Empreendimentos e Participações Ltda. Fl. 2937DF CARF MF 26 Vale ressaltar que na hipótese em que a solidariedade tributária seja considerada possível, é fundamental que sejam cancelados os lançamentos relativos aos valores já declarados e pagos pelo Sr. Paulo Roberto da Rosa a título de ganho de capital. Da Questão da Multa Qualificada e da Multa Majorada Deixo de apreciar as questões de incidência da multa qualificada e majorada, alegadas somente no Recurso Voluntário da AGK5 Empreendimentos e Participações Ltda, uma vez que a solidariedade tributária da AGK5 Empreendimentos e Participações Ltda foi afastada no presente Acórdão. Da Questão da Incidência de Juros de Mora sobre a Multa de Ofício Por fim, a Lei n° 9.430/97, em seu artigo 61 passou a dispor que sobre os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Receita Federal, incidirão juros de mora à taxa SELIC, veja: Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1° de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. (.) § 3° Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3° do art. 5°, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês do pagamento. Partindo do disposto no referido artigo, a discussão centrouse na interpretação da expressão "débitos decorrentes de tributos e contribuições", sendo que a multa de ofício não é débito decorrente de tributos e contribuições, decorrendo, nos exatos termos do art. 44 da Lei nº 9.430/96, da punição aplicada pela fiscalização às seguintes condutas: “a) falta de pagamento ou recolhimento dos tributos e contribuições, após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa moratória; e b) falta de declaração e nos de declaração inexata.” Dessa forma, a regra veiculada pelo art. 61 da Lei n.° 9.430/96 referese à incidência de acréscimos moratórios sobre ‘débitos decorrentes de tributos e contribuições’, sendo certo que a penalidade pecuniária não decorre de tributo ou contribuição, mas do descumprimento do dever legal de declarálo e/ou pagálo, de onde se extrai a conclusão de ser inaplicável os juros de mora a taxa Selic sobre a multa de oficio. Conclusão Diante do exposto e pelos fundamentos apresentados, voto por afastar a preliminar de nulidade e, no tocante ao mérito, dar provimento ao recurso voluntário reconhecendo a improcedência do lançamento. É como voto. (assinado digitalmente) Alexandre Evaristo Pinto Fl. 2938DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 15 27 Voto Vencedor Conselheiro João Bellini Júnior, redator Ouso divergir do respeitado conselheiro Alexandre Evaristo Pinto, pelas razões que passo a expor. DA SUJEIÇÃO PASSIVA / INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA O recurso voluntário se limita a repetir, por diversas vezes, a seguinte tese: uma vez que o Sr. Paulo Rosa foi localizado, o lançamento não pode subsistir. O recorrente parece crer, ou quer fazer crer, que o fato de o Sr. Paulo Rosa haver sido localizado seria bastante para descaracterizar a interposição fraudulenta. Em seguida, o recorrente tece considerações genéricas e expõe sua opinião sobre o art. 124 do CTN, afirmando não ser cabível incluílo no pólo passivo apenas porque era parceiro negocial. Quanto a este segundo argumento, importa deixar clara a sua impertinência, pois a fiscalização não imputa a Joselito Golin a condição de responsável tributário, mas sim de contribuinte. Paulo Rosa foi afastado do pólo passivo por ser considerado pessoa interposta. Voltando ao argumento principal, cumpre observar que, apesar de insistir em dizer que, em razão da localização de Paulo Rosa, este deveria ocupar o pólo passivo, o recurso não enfrenta os fundamentos que levaram ao reconhecimento da interposição fraudulenta. Com efeito, o recorrente falsamente afirma que a imposição tributária se fundou na inexistência de Paulo Rosa. Não foi isso que ocorreu. A fiscalização baseou o lançamento tributário: (i) na prestação de declarações falsas/incorretas nas declarações de rendimento e Diat o que levou à omissão de ganho de capital em valores significativos e (ii) na interposição fraudulenta de pessoa, interposição de um laranja, Paulo Rosa. De fato, restou provado que o Sr. Paulo Roberto da Rosa é pessoa natural, não fictícia; porém, tal fato, por si só, não possui o condão de caracterizar erro de identificação do sujeito passivo, uma vez que o fato de o Sr. Paulo Roberto da Rosa existir não significa que esteja errada a fiscalização ao afirmar estarmos diante de operação perpetrada pelo Sr. Joselito Golin para se eximir de suas obrigações tributárias; é necessário, portanto, analisar o conjunto probatório dos autos para verificarmos que é o sujeito passivo do crédito tributário em questão. Em o fazendo, entendo existir provas contundentes de ser o Sr. Joselito Golin o sujeito passivo, como constou no lançamento, sendo o Sr. Paulo Roberto Rosa mero intermediário, ou “laranja”. Passo a abordálas. (a) falta de capacidade financeira do Sr. Paulo Roberto Rosa: restou constatada a falta de capacidade financeira do Sr. Paulo Roberto Rosa, uma vez que sua movimentação financeira e seu patrimônio são incompatíveis com o porte das operações realizadas; o Sr. Paulo Roberto Rosa só teve movimentação financeira significativa pouco antes de se iniciarem as operações em questão e enquanto essas perduraram.; em 2006, o saldo total da conta que detinha no Banco da Amazônia era de R$ 65,00; em 2007, tinha R$ 1.077,35 no Unibanco e R$ 68,00 no Banco da Amazônia. A conta junto ao Banco do Brasil começou a Fl. 2939DF CARF MF 28 receber movimentação absolutamente desproporcional com o período anterior (R$ 54.166.884,19) (efls. 1486/1488): Em 2008, quando começam as operações, a movimentação total foi de R$ 63 milhões a débito e valor similar a crédito; em 2009, a movimentação foi de cerca de R$ 4,9 milhões e em 2010 em torno de R$ 2,5 – 3 milhões. Após esse interregno, não houve mais movimentação financeira em contas em nome do Sr. Paulo Roberto Rosa, conforme pesquisa na base nas Declaração de Informações sobre Movimentação Financeira (Dimof). (b) O Sr. Paulo Roberto Rosa conferiu, ao Sr. Joselito Golin, em instrumento datado de 18/10/2002, por prazo indeterminado, procuração de com poderes amplos amplos, gerais e ilimitados a esse, inclusive para abrir, movimentar e encerrar contas bancárias. A longa narrativa sobre o encontro entre irmãos que não se conheciam pode até ser contato com a realidade, mas, pelos elementos dos autos, concluise que se tal fato ocorreu, dele decorreu que o Sr. Joselito Golin utilizou o Sr. Paulo Roberto Rosa, supostamente seu irmão, como laranja, para não figurar diretamente nos contatos. (c) O Sr. Joselito Golin era o efetivo responsável pelas negociações e fechamento dos contratos com as empresas adquirentes dos imóveis, de acordo com as informações prestadas pelas sociedades empresárias adquirentes das propriedades rurais (efl. 1484): Fl. 2940DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 16 29 (c.1) Ainda mais contundente, por revelar que o Sr. Joselito Golin assumiu a responsabilidade pela consecução dos negócios em razão de sua expertise, é o Contrato de Empréstimo assinado pelo Sr. Joselito Golin e encaminhado à ICGL2: Fl. 2941DF CARF MF 30 (d) O Sr. Joselito Golin assumiu responsabilidade solidária por empréstimo concedido ao Sr. Paulo Roberto Rosa. O trecho acima reproduzido demonstra que, além de assumir a responsabilidade por efetivar o negócio em razão de seu conhecimento, o Sr. Joselito Golin assumiu responsabilidade pelo pagamento do empréstimo contraído pelo Sr. Paulo Roberto Rosa, empréstimo este no valor de R$ 35 milhões (efls. 1482 e 1.484). (e) A negociação de grandes imóveis rurais era a especialidade do Sr. Joselito Golin. Conforme informa o TVF à efl. 1500, em entrevista, Sr. Joselito Golin afirma que, dentre as suas atividades estão "compra fazendas, formálas e revendelas". (f) O Sr. Joselito Golin era conhecido empresário no agronegócio enquanto o Sr. Paulo Roberto Rosa nunca participou de nenhuma sociedade e não há qualquer elemento que demonstre que tenha trabalhado, sob qualquer forma, na área. Enquanto o Sr. Paulo Roberto Rosa não consta no quadro societário de nenhuma empresa ligada ao Agronegócio ou ao ramo imobiliário rural, o Sr. Joselito Golin é conhecido operador da área. É sócio de diversas empresas. Esteve à frente, inclusive, da falida Fazendas Reunidas Boi Gordo. A inscrição do Sr. Paulo Roberto Rosa, no cadastro CPF, nº 714.373.39115, somente foi realizada em 28/04/1999, o que é incompatível com atividade empresarial anterior a esse fato. Além de toda a série de indícios que demonstram que ao Sr. Paulo Roberto Rosa faltariam tanto condições financeiras quanto capacidade técnica para tomar parte nos negócios realizados, enquanto o Sr. Joselito Golin possuía ambas, há uma série de indícios a demonstrar a relação entre o Sr. Joselito Golin e o Sr. Paulo Roberto Rosa e o Sr. Joselito Golin e as empresa adquirentes. (g) O vendedor de diversos imóveis adquiridos por o Sr. Paulo Roberto Rosaera empregado (informação da DIRPF/2009) do Grupo Eldorado Agroindustrial Ltda, empresa da qual Sr. Joselito Golin era sócio, juntamente com suas filhas. Vejase: Fl. 2942DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 17 31 (h) Há empréstimo do Sr. Paulo Roberto Rosa para empregado do Grupo Golin. Das declarações de rendimentos referentes ao anocalendário 2008 constam empréstimos do Sr. Paulo Roberto Rosa em favor de Gerson Luiz de Oliveira. Gerson é sócio de empresas ligadas ao Grupo Rolim (Proterra Empreendimentos e Vale Verde Transporte e Turismo) e Gerson Oliverira, no mesmo exercício, fez empréstimos em favor das filhas DE Sr. Joselito Golin, como informa o TVF à fl. 1498. Há aí forte indício de circularização de valores em favor das filhas de Sr. Joselito Golin. Ademais, é de se perquirir a origem dos valores emprestados por Paulo Roberto Rosa, que, como visto, não detinha capacidade financeira, ao contrário do Sr. Joselito Golin. (i) O domicílio fiscal da JAP Empreendimentos, empresa cujas sócias são as filhas de Sr. Joselito Golin é o mesmo indicado pelo Sr. Paulo Roberto Rosa. De acordo com o advogado que presta serviços à JAP no mesmo prédio, a JAP nunca funcionou naquele condomínio, mas não sabe indicar o seu endereço. No domicílio fiscal indicado pelo Sr. Paulo Roberto da Rosa, esse é desconhecido do porteiro ou dos advogado que exercem ali sua profissão; no entanto, outro escritório de advocacia que recebe sua correspondência fiscal, no mesmo condomínio, se recusa a informar seu domicílio. O Sr. Joselito Golin é o administrador de fato de empresa em que o Sr. Paulo Roberto Rosa figura como administrador de direito. o Sr. Paulo Roberto Rosa figura como diretorpresidente da Fazendas Reunidas Boi Gordo, adquirida, após a falência pelos Grupos Golin e Sperafico. Todavia, conforme apurado, toda a atividade de administração é exercida por Sr. Joselito Golin. (relatório do síndico da falência da sociedade Fazendas Reunidas Boi Gordo). Vejase: Fl. 2943DF CARF MF 32 (j) de acordo com o relatório do síndico dativo referente à falência das Fazendas Reunidas Boi Gordo S.A, Joselito Golin, juntamente com o Grupo Golin e as empresas ligadas a ele (principalmente a Eldorado Agroindustrial Ltda), é "responsável por crimes falimentares e 'está sendo, citado no Processo 583.00.2002.1711313, da 1a Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo: (l). Ligação das empresas do Grupo Golin com o Grupo Vision. As sociedades do Grupo Golin mantinham relação com o Grupo econômico do qual faziam parte as empresas ICGL, ICGL2 e AK5. (efl. 1490): Fl. 2944DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 18 33 (m) Joselito Golin também era conhecido por Paulo Golin (item 55 do auto de infração, entrevista à repórter, efl. 1500). Matéria do colunista Arimatéia Azevedo, informando que Joselito Golin, ou “Paulo Golin” está eolvido com a grilagem de terras no Piauí, possuindo “laranja” que opera na região (item 56 do auto de infração, efl. 1501). Reportagem que se refere a Joselito Golin como Paulo Golin e afirma ser este, juntamente com Júlio Lourenço Golin, donos de grande grupo econômico e perpetradores de invasões de terras públicas e provadas em municípios do sul do Piauí (item 57 do auto de infração, efl. 1502). Fl. 2945DF CARF MF 34 Desse modo, o conjunto probatório coligido demonstra fartamente a falta de capacidade do Sr. Paulo Roberto Rosa, seja econômica, seja operacional, para realizar as negociações em que figurou como parte. Demonstra também que se tratava de atividades tipicamente desenvolvidas pelo Sr. Joselito Golin, conforme reconhecido por esse. Por fim, ficou evidenciada a relação entre o Sr. Paulo Roberto Rosa e o Grupo Golin. Ademais, há múltiplas relações entre as partes a ensejar confusão, tal como a compra de imóveis que eram de propriedade de funcionário do Grupo Golin, o empréstimo de valores a funcionário do grupo que repassava as quantias às filhas de Sr. Joselito Golin e o fato de que o Sr. Joselito Golin administrava as Fazendas Reunidas Boi Gordo, embora o Sr. Paulo Roberto figurasse como seu diretor. Diante desse conjunto probatório, resta evidente que o Sr. Paulo Roberto Rosa era um “laranja”, pessoa interposta para ocultar a participação do Sr. Joselito Golin nos negócios. A interposição desse laranja objetivava, claramente, impedir e/ou dificultar o trabalho da Administração Fiscal. Por força dessa interposição, ainda que fossem constatadas as informações falsas nas declarações Diat, DITR, DIRPF, não seria possível encontrar o suposto devedor, de forma a turbar, assim, o procedimento de lançamento. O objetivo de ocultarse mediante a interposição fraudulenta resta demonstrado mediante a recusa da pessoa interposta em comparecer para prestar qualquer esclarecimento. Vejase que, além do Termo de Início de Ação Fiscal recebido por via postal em 09/04/2012, foram encaminhados inúmeros termos de intimação sem que tenha havido qualquer resposta. Ainda que a fiscalização lograsse concluir o lançamento em face do laranja, Sr. Paulo Roberto Rosa, não seria possível encontrálo, obstruindo a cobrança, o que, de fato ocorreu no caso, uma vez que o Sr. Paulo Roberto Rosa não foi localizado no domicilio fiscal por ele declarado, apesar de se tratar de escritório de advocacia que admitia ser responsável pelo recebimento da correspondência. Ademais, o representante do escritório se recusava a informar como contactar o intimado. Tal sistemática mostrase consentânea com o esquema de fraude fiscal. Fl. 2946DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 19 35 Em contínuo, por se tratar o laranja de pessoa sem capacidade financeira, ainda que localizada, essa pessoa não teria bens para fazer face aos vultosos créditos fiscais, exercendo, assim, a função precípua da pessoa interposta. Ou seja, a interposição fraudulenta buscava, por diferentes vias, tornar inócuo qualquer esforço por parte da Administração Tributária. A manobra adiou o desenvolvimento dos trabalhos em cerca de nove meses. Somente em 15/02/2013, após as diligências fiscais paralelas que resultaram na identificação de que o real beneficiário do rendimento era o Sr. Joselito Golin, foi esse intimado. Cumpre recordar que o fato gerador do Imposto sobre a renda é a aquisição de disponibilidade da renda, é o acréscimo patrimonial. Ao determinar o sujeito passivo da obrigação tributária constituída por meio do procedimento em epígrafe, a fiscalização constatou que o sujeito passivo da obrigação tributária é JOSELITO GOLIN. Assim o fez em estrita aplicação ao art. 118, I, do CTN e o art. 167 do CC, que tratam de simulação, os quais preconizam que, diante de simulação em que se aparenta conferir direitos a uma pessoa e não aquela que é o real titular, devese retirar o ato simulado e considerar o que se dissimulou. No caso, a dissimulação consistiu em aparentar conferir a Paulo Rosa renda que, na verdade, pertencia a Joselito Golin. O ato efetivamente ocorrido foram aquelas mesmas operações, mas figurando Joseelito Golin como parte e não como representante de outrem. É este o aspecto relevante para definição da sujeição passiva tributária. Quanto ao ato simulatório, à pessoa interposta, pouco importa qual seja sua efetiva situação, pois o ato jurídico que contava com sua presença, porque viciado, é afastado. Dessa forma, se evidencia a irrelevância das alegações recursais, pois é indiferente, para o fim de caracterizar a simulação, se a pessoa interposta inexistia de fato, se existiu e faleceu e seus documentos eram utilizados indevidamente ou se era mero laranja, como no presente caso. O que importa para aplicação da norma de tributária é que sua presença naqueles contratos foi ato simulado. Assim, as repetidas alegações relativas à existência de PAULO ROSA, são inteiramente irrelevantes para o deslinde da controvérsia recursal. Com base em tais fundamentos, entendo não haver erro de identificação do sujeito passivo. DA APURAÇÃO DO GANHO DE CAPITAL DE IMÓVEIS RURAIS No tocante à apuração do ganho de capital de imóveis rurais, a legislação de regência é o art. 19 da Lei 9.393, de 1996: Art. 19. A partir do dia 1º de janeiro de 1997, para fins de apuração de ganho de capital, nos termos da legislação do imposto de renda, considerase custo de aquisição e valor da venda do imóvel rural o VTN declarado, na forma do art. 8º, observado o disposto no art. 14, respectivamente, nos anos da ocorrência de sua aquisição e de sua alienação. Fl. 2947DF CARF MF 36 A mesma Lei 9.393, de 1996 traz outros preceitos relevantes para a presente demanda: Art. 8º O contribuinte do ITR entregará, obrigatoriamente, em cada ano, o Documento de Informação e Apuração do ITR DIAT, correspondente a cada imóvel, observadas data e condições fixadas pela Secretaria da Receita Federal. § 1º O contribuinte declarará, no DIAT, o Valor da Terra Nua VTN correspondente ao imóvel. § 2º O VTN refletirá o preço de mercado de terras, apurado em 1º de janeiro do ano a que se referir o DIAT, e será considerado autoavaliação da terra nua a preço de mercado. (...) Art. 10. A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, independentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitandose a homologação posterior. § 1º Para os efeitos de apuração do ITR, considerarseá: I VTN, o valor do imóvel, excluídos os valores relativos a: a) construções, instalações e benfeitorias; b) culturas permanentes e temporárias; c) pastagens cultivadas e melhoradas; d) florestas plantadas; (...) Art. 14. No caso de falta de entrega do DIAC ou do DIAT, bem como de subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas, a Secretaria da Receita Federal procederá à determinação e ao lançamento de ofício do imposto, considerando informações sobre preços de terras, constantes de sistema a ser por ela instituído, e os dados de área total, área tributável e grau de utilização do imóvel, apurados em procedimentos de fiscalização. A Instrução Normativa SRF 84, de 2001 regula o art. 14, dispondo sobre as hipóteses de não entrega da DIAT nos termos que seguem: Art. 10. Tratandose de imóvel rural adquirido a partir de 1997, considerase custo de aquisição o valor da terra nua declarado pelo alienante, no Documento de Informação e Apuração do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (Diat) do ano da aquisição, observado o disposto nos arts. 8º e 14 da Lei No 9.393, de 1996. § 1o No caso de o contribuinte adquirir: I e vender o imóvel rural antes da entrega do Diat, o ganho de capital é igual à diferença entre o valor de alienação e o custo de aquisição; Fl. 2948DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 20 37 II o imóvel rural antes da entrega do Diat e alienálo, no mesmo ano, após sua entrega, não ocorre ganho de capital, por se tratar de VTN de aquisição e de alienação de mesmo valor. § 2o Caso não tenha sido apresentado o Diat relativamente ao ano de aquisição ou de alienação, ou a ambos, considerase como custo e como valor de alienação o valor constante nos respectivos documentos de aquisição e de alienação. § 3o O disposto no § 2o aplicase também no caso de contribuinte sujeito à apresentação apenas do Documento de Informação e Atualização Cadastral (Diac). Como se infere da leitura da legislação de regência, o valor de alienação da propriedade rural será baseado no conceito de Valor da Terra Nua (VTN), o qual deve ser somado ao valor das benfeitorias. O VTN corresponde ao valor do solo com sua superfície e respectiva floresta nativa, despojado das construções, das instalações, das benfeitorias, das pastagens cultivadas, das florestas plantadas, etc. Portanto, no caso imóveis rurais, há duas grandezas distintas, o valor da terra nua e o valor de tudo mais que a ela for agregado, incluídas neste conceito as benfeitorias. O tratamento das benfeitorias quando da apuração do ganho de capital na apuração do imóvel rural condicionase ao tratamento que lhe foi anteriormente conferido. Quando os valores relativos à benfeitorias foram deduzidos como despesas da atividade rural, a parcela do preço correspondente às benfeitorias é computada como resultado da atividade rural, ao passo que, não tendo sido deduzida como despesas, a parcela do preço correspondente às benfeitorias é computada como valor de alienação. O VTN, por sua vez, será apurado de acordo com a informação prestada na DIAT, exceto quando não houver entrega de DIAT ou quando se apurar incorreção, inexatidão ou prestação de informações fraudulentas. Com estas premissas em mente, passase ao exame das infrações apuradas pela fiscalização para, em seguida, tratar da interposição fraudulenta da pessoa física. As omissões de rendimento apuradas se referem à atividade negocial do contribuinte. O contribuinte atuava, associado com grandes empresas de investimento, na compra e venda de imóveis rurais, ICGL Empreendimentos e Participações S.A., ICGL2 Empreendimentos e Participações Ltda e AGK5. O modelo de negócios se desenvolvia conforme as seguintes etapas: (i) a empresa de investimento emprestava ao sujeito passivo o valor a ser utilizado na aquisição; (ii) o interessado adquiria o imóvel em nome próprio e promovia as regularizações eventualmente necessárias e (iii) a operação se encerrava com a entrega do imóvel em dação em pagamento para quitação do empréstimo. O referido modelo explica a existência de diversas alienações na mesma data, como se constata ao examinar as infrações apuradas. Passase a seu exame em separado: Fl. 2949DF CARF MF 38 1ª infração A primeira infração diz respeito a imóveis adquiridos em 2007 e alienados em 2008. Os imóveis correspondem a 22 matrículas, foram adquiridos a partir de 30/07/2007 e foram todos alienados, mediante dação em pagamento, em 10/04/2008. Uma vez que a alienação desses imóveis se deu antes da apresentação da DIAT para o respectivo anocalendário, a apuração do ganho de capital se deu com base nos valores da transação, conforme preconiza o art. 10, §2º, da IN SRF n. 84 de 11/10/2001 c/c art. 14 da Lei n. 9.393/96. A data em que ocorreram as alienações, bem como seus valores, foram apurados a partir da escritura da dação em pagamento, registrada no 15º cartório de notas de São Paulo. Já os valores de aquisição foram obtidos em diligência junto aos registros de imóveis do 1º Tabelionato de Notas, Ofício do Registro e Imóveis e Anexos da Comarca de Bom Jesus/PI e do Cartório de Palmeira do Piauí, conforme narra o TVF. A partir da documentação já mencionada e aplicandose a legislação pertinente, chegouse a um ganho de capital de R$ 43.011.831,91 e IRPF devido de R$ 6.451.774,00. Não obstante, o responsável pelas declarações dessas operações de alienação declarou ganho de capital de R$ 667.236,04 e recolheu IR no montante de R$ 100.000,00 apenas. Consequentemente, promoveuse o lançamento de ofício do valor apurado a maior, acompanhado da respectiva multa. Considerando que a declaração e o recolhimento foram feitos pela pessoa interposta, a fiscalização lançou a totalidade do valor devido em face do real contribuinte JOSELITO GOLIN. 2ª infração A segunda infração diz respeito a imóveis que foram adquiridos em 2008 e vendidos em 2009. A pessoa interposta apresentou declaração de rendimentos (DIRPF2010) informando que auferiu ganho de capital no montante de R$ 9.515.281,22, o que resultou num imposto de renda a pagar de R$ 1.427.292,18, que, todavia, não foi recolhido. Para este ano, assim como no ano anterior, também não foi apresentada DIAT para os imóveis alienados, circunstância esta que que, por si, basta para apuração do ganho de capital a partir dos documentos de aquisição e alienação. Além disso, a fiscalização observa que os valores de VTN declarados nas DITRs dos respectivos anoscalendários eram irreais quando cotejados com os valores constantes do SIPT informado pela Secretaria de Agricultura dos Estados. Destaca o TVF que as DITRs informavam para o VTN os valores de R$ 146.000,00 e R$ 285.000,00 em 2008 e 2009, respectivamente, enquanto o Sistema de Preços de Terra indicava que o VTN deveria ser de R$ 6.572.794,00. Fl. 2950DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 21 39 Diante dessa discrepância, as DITRs não foram consideradas como documentos aptos para embasar a apuração dos valores das transações. Prosseguindo, a fiscalização verificou que a alienação dos imóveis constou da DIPF de 2010 da pessoa interposta, em cujo demonstrativo do ganho de capital foi incluído, a título de benfeitoria, o valor de R$ 11.223.198,21. Tais valores, de acordo com os normativos de regência, a princípio, deveriam compor o custo de aquisição do imóvel. Todavia, a declaração apresentada ostentava inconsistência patente entre o valor declarado no demonstrativo de apuração do ganho de capital e o valor do imóvel declarado. Além disso, intimados a pessoa interposta e o contribuinte a apresentarem documentos comprobatórios das benfeitorias realizadas, nenhum dos dois atendeu a intimação, nem mesmo quando da apresentação de impugnação. Pelas razões postas, a fiscalização concluiu que a DIPF careceria de idoneidade para embasar a apuração da base de cálculo do tributo. Não bastasse a ausência de prova a corroborar a informação constante da declaração, o valor das benfeitorias lá lançados é infirmado por laudo de avaliação elaborado pela Deloitte por ocasião da dação em pagamento das fazendas para as empresas adquirentes ICGL e ICGL2. Nesse laudo consta apenas uma benfeitoria avaliada em R$ 436.000,00 reais. Diante da imprestabilidade das informações constantes das declarações, o valor das operações foi apurado a partir dos registros obtidos em diligência junto ao 15º Cartório de Notas de São Paulo, no qual registrada a escritura da dação em pagamento, e no 1º Ofício de Registro Civil das Pessoas Naturais e Anexos da Comarca de Cristiano Castro/PI e 1º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Manuel Emídio/PI. Apurouse ganho de capital de R$ 51.003.446,77, o que resultou num valor de IR devido de R$ 7.650.000,006. Verificouse, assim, que fora declarado ganho de capital a menor em R$ 41.488.165,55. Consequentemente, foi lançado o valor não declarado, acompanhado da respectiva multa de ofício, em sua forma qualificada, haja vista a série de informações falsas prestadas nas declarações, além da interposição fraudulenta de pessoa, adiante tratada com mais detalhes. 3ª infração A terceira infração corresponde à operação de alienação da Fazenda Santa Rosa. Tratase de imóvel adquirido em 17/03/2000 em nome de Paulo Roberto Rosa e objeto de instrumento particular de promessa de compra de venda firmado com a empresa AGK5 em 30/09/2008. A operação não foi declarada na DIRPF/2009 de Paulo Roberto Rosa. Foi apresentada DIAT referente ao imóvel, na qual não foram consignadas despesas de custeio. Na DIRPF/2009 também não foram informados valores atinentes a benfeitorias. Fl. 2951DF CARF MF 40 Houve apresentação de DIAT e DITR para os exercícios mas não foi utilizado o VTN constante da declaração porque: (i) entregue por pessoa fraudulentamente interposta e (ii) os valores da Terra Nua registrados nas DITRs apresentam grandes divergências em relação ao VTN Médio registrado no SIPT para região, de forma caracterizar se situação prevista no art. 14 da Lei n. 93.93/96 (subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas). Notese que, também em relação a esta infração, o contribuinte, não obstante intimado, deixou de apresentar documentação que corroborasse os valores lançados. O cálculo do tributo de acordo com os parâmetros da transação efetivamente realizada chegou a ganho de capital de R$ 14.588.823,66 e imposto apurado de R$ 2.188.323,58. 4ª infração Alienação da Fazenda Angelim. A Fazenda Angelim foi adquirida em 03/08/2009 pelo valor de R$ 37 milhões. Em 07/08/09, foi assinado "Aditivo ao Instrumento Particular de Compra e Venda de Imóvel Rural" pelo qual é acertada a venda da Fazenda à AGK5 pelo valor de R$ 37,8 milhões. Parte do pagamento foi feito com a entrega da Fazenda Santa Rosa e parte em dinheiro. A alienação ocorreu antes da entrega da Diat, motivo pela qual se fez a apuração do ganho de capital com base nos valores da transação, aplicandose o art. 10, §2º, da IN SRF 84 de 11/10/2001. O ganho de capital apurado foi de R$ 800.000,00 e o imposto correspondente foi de m R$ 99.000,00, considerando as parcelas do contrato efetivamente pagas. Todos os lançamentos foram acrescidos de multa de ofício qualificada haja vista a interposição fraudulenta de pessoa com vistas a ocultar o real beneficiário da renda e a prestação de informações falsas nas declarações de rendimentos. A multa foi também agravada ante a recusa de atender as intimações fiscais e a tentativa de ocultar o verdadeiro sujeito passivo. O recorrente não trouxe nenhuma alegação quanto às imputações fiscais relativas aos valores constantes da Diat. Não buscou, de qualquer forma, demonstrar a veracidade das informações prestadas em Diat. DA MULTA QUALIFICADA A base legal do multa qualificada é o art. 44, I, § 1º, da Lei 9430, de 1996: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Vide Lei nº 10.892, de 2004) (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) (...) Fl. 2952DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 22 41 § 1º O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) (Grifouse.) Os arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 1964 dispõem: Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. (Grifouse.) De acordo com Pontes de Miranda (Tratado de Direito Privado. Rio de Janeiro; Borsoi, t.2, § 177), dolo é a direção da vontade para contrariar a direito. No suporte fático, estão o ato, positivo ou negativo, a contrariedade a direito, e a direção da vontade que liga aquele a essa: § 177. Conceito de dolo Dolo é a direção da vontade para contrariar a direito. No suporte fático, estão o ato, positivo ou negativo, a contrariedade a direito, e a direção da vontade que liga aquele a essa. Não só o agente atua e contraria a direito: quer que o ato contrarie a direito; ou quer contrariar a direito, e atua para isso. Sabe que o ato (ou omissão) contraria a sua promessa, viola o direito, a pretensão, a ação ou exceção do seu credor, e pratica o para contrariar a direito. A lei vedalhe algum ato, ou omissão, e quer violála, praticandoo, ou omitindo. Não é preciso que o agente queira as consequências do ato, ainda que sejam próprias desse. Nem que as preveja. Basta querer o ato contrário a direito. Na apreciação da prova, o julgador forma livremente sua convicção (art. 29 do Decreto 70.235, de 1972). Assim se dá com a prova do dolo. Dada uma determinada infração tributária, não há outra possibilidade de que tenha ocorrido: (a) mero erro, evidenciando culpa, ou (b) vontade em praticar o ato, demonstrando o dolo. Fl. 2953DF CARF MF 42 No caso presente, são abundantes as provas de interposição fraudulenta, como já abordado, a evidenciar a ação dolosa de impedir ou retardar o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador do imposto sobre a renda (art. 72 da Lei 4.502, de 1964), impondo à autoridade lançadora, por conseguinte, o dever de aplicação da multa qualificada de 150%, prevista no art. 44, I, § 1º, da Lei 9430, de 1996. DA MULTA AGRAVADA A multa de ofício foi agravada em face do não atendimento às intimações para prestar esclarecimentos por parte do contribuinte. No tocante ao agravamento da multa de oficio, dispõe o art. 44, § 2°, da Lei 9.430, de 1996: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei n° 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Redação dada pela Lei n° 11.488, de 2007) (...) § 2o Os percentuais de multa a que se referem o inciso I do caput e o § 1o deste artigo serão aumentados de metade, nos casos de não atendimento pelo sujeito passivo, no prazo marcado, de intimação para: (Redação dada pela Lei n° 11.488, de 2007) I prestar esclarecimentos; (Renumerado da alínea "a", pela Lei n° 11.488, de 2007) II apresentar os arquivos ou sistemas de que tratam os arts. 11 a 13 da Lei no 8.218, de 29 de agosto de 1991; (Renumerado da alínea "b", com nova redação pela Lei n° 11.488, de 2007) III apresentar a documentação técnica de que trata o art. 38 desta Lei. (Renumerado da alínea "c", com nova redação pela Lei n° 11.488, de 2007) Para a imputação da penalidade agravada é necessário que o contribuinte não responda às intimações da autoridade fiscal nos prazos por essa assinalados. É o que ocorre no caso em apreço, pelo que o agravamento da multa deve ser mantido DA INCIDÊNCIA DOS JUROS SOBRE A MULTA O recorrente alega ser descabida a incidência de juros sobre a multa. Não lhe assiste razão. Para o deslinde da questão, devese discernir os conceitos de tributo e de crédito tributário veiculados no Código Tributário Nacional (CTN). Tributo é definido em seu art. 3°: Fl. 2954DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 23 43 Art. 3°. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Por sua vez, os artigos 113, § 1°, 139 e 142 do CTN dispõem sobre o crédito tributário: Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1° A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. (Grifouse.) Assim, a multa, apesar de não ser tributo, integra o crédito tributário e, em vista desse fato, se subsume ao tratamento dispensado ao crédito tributário pelo CTN. O art. 161 do CTN estabelece que, ao crédito tributário não pago no vencimento, devem ser acrescidos os juros moratórios à taxa disposta em lei ou, em sua falta, à taxa de um por cento ao mês:: Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. (Grifouse.) Assim, ao contrário do que alega o interessado, o CTN determina a incidência de juros de mora sobre a multa lançada de ofício. A expressão “sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis” esclarece que a imposição de juros e de multa não são excludentes entre si. A previsão legal da incidência de juros sobre as multas de ofício constou nas Leis 9.430, de 1996 e 10.522, de 2002, que disciplinaram o assunto de maneira diversa ao que acontecia até então. Vejamos, inicialmente, o que diz o § 3° do art. 61 da Lei 9.430, de 1996: Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1° de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, Fl. 2955DF CARF MF 44 serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. (...) §3° Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3° do art. 5°, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Por sua vez, os arts. 29 e 30 da Lei 10.522, de 2002, resultante da conversão da Medida Provisória 162131, de 1998 (reedição da Medida Provisória 154217, de 18 de dezembro de 1996, arts. 25 e 26), dispõem: Art. 29. Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional e os decorrentes de contribuições arrecadadas pela União, constituídos ou não, cujos fatos geradores tenham ocorrido até 31 de dezembro de 1994, que não hajam sido objeto de parcelamento requerido até 31 de agosto de 1995, expressos em quantidade de Ufir, serão reconvertidos para real, com base no valor daquela fixado para 1° de janeiro de 1997. (...) Art. 30. Em relação aos débitos referidos no art. 29, bem como aos inscritos em Dívida Ativa da União, passam a incidir, a partir de 1° de janeiro de 1997, juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia Selic para títulos federais, acumulada mensalmente, até o último dia do mês anterior ao do pagamento, e de 1% (um por cento) no mês de pagamento. A multa de ofício proporcional, lançada em função de infração à legislação tributária de que resulta falta de pagamento de tributo, é débito decorrente de tributos e contribuições, estando a eles vinculada. Logo, as expressões “débitos decorrentes de tributos e contribuições” e “débitos de qualquer natureza”, utilizadas, respectivamente, nas Leis 9.430/1996 e 10.522/2002, incluem a multa de ofício. Também tratam especificadamente do assunto, determinando a cobrança de juros sobre a multa, os pareceres MF/SRF/COSIT/COOPE/SENOG n° 28, de 1998 e PGFN/CAT nº 1834, de 2013: Parecer MF/SRF/COSIT/COOPE/SENOG n° 28 3. (...). Assim, desde 01.01.97, as multas de ofício que não forem recolhidas dentro dos prazos legais previstos estão sujeitas à incidência de juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais, acumulada mensalmente, até o último dia do mês anterior ao do pagamento, e de um por cento no mês de pagamento, desde que estejam associadas a: a) fatos geradores ocorridos a partir de 01.01.97; b) fatos geradores que tenham ocorrido até 31.12.94, se não tiverem sido objeto de pedido de parcelamento até 31.08.95. Fl. 2956DF CARF MF Processo nº 10880.721160/201312 Acórdão n.º 2301005.258 S2C3T1 Fl. 24 45 Parecer PGFN/CAT nº 1834, de 2013 21.Por todo o exposto, respondendo à consulta apresentada pela ProcuradoriaRegional da Fazenda Nacional da 3ª Região, por meio da Consulta Interna identificada pelo nº. 20138000CI00002, que veicula questionamentos a respeito da incidência de juros de mora sobre créditos tributários resultantes de multa de ofício aplicada pela RFB, referentes a fatos geradores ocorridos em 1995 e 1996, entendemos, salvo melhor juízo, que há incidência dos mencionados juros de mora sobre as multas de ofício, seja por aplicação do § 1º do artigo 161 do CTN, seja por determinação de norma legal específica, o que se resume nas seguintes situações: a) para a hipótese de haver créditos ainda não inscritos em dívida ativa (sob administração da RFB), decorrentes de fatos geradores ocorridos em 1995 e 1996, em razão da ausência de lei específica, incidirá a norma geral prevista no § 1º do artigo 161 do CTN, aplicandose o índice de 1% ao mês; b) para os créditos inscritos em dívida ativa da União (sob administração da PGFN), aplicase a taxa SELIC a partir de 31 de agosto de 1995, data de início da vigência do § 8º, inserido no artigo 84 da Lei nº. 8.981, de 1995, por determinação do artigo 16 da MP nº. 1.110, de 1995, objeto de sucessivas reedições e confirmado pelo artigo 17 da Lei nº. 10.522, de 2002; e c) para os créditos inscritos em dívida ativa da União, referentes a fatos geradores ocorridos entre 1 de janeiro e 30 de agosto de 1995, por ausência de norma legal específica, aplicase o índice de 1% ao mês, com base no § 1º do artigo 161 do CTN. Também nesse sentido a jurisprudência da CSRF: JUROS MORATÓRIOS INCIDENTES SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. TAXA SELIC. A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu não pagamento, incluindo a multa de oficio proporcional. O crédito tributário corresponde a toda a obrigação tributária principal, incluindo a multa de oficio proporcional, sobre a qual, assim, devem incidir os juros de mora à taxa Selic. (Acórdão 9202003.700) JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic. Recurso da Fazenda Nacional Provido. Recurso da Contribuinte Improvido. (Nº Acórdão 9101000.539) Conclusão Com base em tais argumentos, acompanho o relator na questões (a) conhecer do recurso da responsável tributária AGK5 e (b) rejeitar as preliminares e dele discordo para Fl. 2957DF CARF MF 46 (c) manter os lançamentos sobre o ganho de capital em todos os períodos e para (d) manter os juros sobre a multa. João Bellini Júnior Fl. 2958DF CARF MF
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Numero do processo: 11330.000275/2007-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jun 06 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jul 02 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Período de apuração: 31/01/1999 a 31/12/2005
JULGAMENTO EM CONJUNTO. PROCESSOS RESULTANTES DA MESMA AÇÃO FISCAL. NÃO INTEGRAÇÃO À LIDE.
A inclusão de processos na pauta de julgamento não é matéria litigiosa, pois não compõe a acusação fiscal. O regramento processual administrativo não determina o julgamento em conjunto de processos fiscais. Cabe à administração, obedecidos os critérios legais e normativos, definir a pauta e as prioridades de julgamento dos processos.
MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. PRECLUSÃO. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO VOLUNTÁRIO.
Conhece-se do recurso voluntário apenas quanto a matérias impugnadas. Recurso não conhecido quanto a matéria não trazida na impugnação, porquanto não compõem a lide e quedou-se preclusa.
RELAÇÃO DE CO-RESPONSÁVEIS. ARROLAMENTO DE DIRETORES.
No termos da Súmula Carf nº 88, a relação de co-responsáveis é apenas informativa e não compõe o contencioso tributário.
ACÓRDÃO RECORRIDO. REFERÊNCIA A TODAS AS MATÉRIAS IMPUGNADAS. NULIDADE.
A decisão do julgamento deve se referir às razões da defesa suscitadas pelo impugnante. Havendo se referido a todas as matérias trazidas na impugnação, não há nulidade no acórdão a quo.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA.DECADÊNCIA QUINQUENAL. SÚMULA VINCULANTE Nº 8 STF. INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI Nº 8.212, DE 1991.
Segundo o STF, são inconstitucionais os artigos 45 e 46 da Lei n° 8.212/91. Súmula Vinculante nº8, de 12/06/2008. Decai em cinco anos o direito de o Fisco lançar os créditos previdenciários.
TRABALHADOR ESTRANGEIRO. CONTRATO DE TRABALHO COM NÃO EVENTUALIDADE, SUBORDINAÇÃO E REMUNERAÇÃO. SEGURADO OBRIGATÓRIO. EMPREGADO.
É segurado obrigatório quem presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado, independentemente da nacionalidade ou da situação de residência. Estrangeiro contratado, ainda que por prazo certo, para trabalhar como empregado é segurado obrigatório, se não estiver enquadrado nas exceções legais.
BÔNUS DE PERFORMANCE. LIBERALIDADE. HABITUALIDADE. RETRIBUTIVIDADE. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO.
Integra o salário de contribuição a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma. Pagamento de prêmios, bônus ou qualquer verba em razão do contrato de trabalho tem caráter retributivo e compõe o salário de contribuição, quando não houver expressa exceção legal.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COOPERATIVA DE TRABALHO. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI DECLARADA PELO SUPREMO TRIBUNA FEDERAL.
O art. 22, IV da Lei 8.212, de 1991, que prevê a incidência de contribuição previdenciária nos serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho foi julgado inconstitucional, por unanimidade de votos, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, no RE 595.838/SP, paradigma da Tese de Repercussão Geral 166: É inconstitucional a contribuição previdenciária prevista no art. 22, IV, da Lei 8.212/1991, com redação dada pela Lei 9.876/1999, que incide sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura referente a serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho.
Numero da decisão: 2301-005.334
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, (a) por unanimidade de votos, conhecer parcialmente do recurso voluntário, desconhecendo das questões atinentes ao pedido de apreciação conjunta dos processos, à incidência de juros com base na Selic e ao arrolamento de diretores na relação de co-responsáveis; (b) por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares; (c) no mérito, (c.1) por maioria de votos, dar parcial provimento ao recurso voluntário para reconhecer a decadência e excluir do lançamento as multas relativas às Gfip entregues até 31/12/2001; vencido o conselheiro Marcelo Freitas de Souza Costa, que entende que a decadência por não apresentação de Gfip ocorre juntamente com a decadência da obrigação principal e (c.2) por unanimidade de votos, excluir do lançamento os valores relativos às contribuições previdenciárias incidentes sobre valores pagos a cooperativas de trabalho, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
João Bellini Júnior - Presidente.
(assinado digitalmente)
João Maurício Vital - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Mauricio Vital, Wesley Rocha, Antonio Sávio Nastureles, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa, e João Bellini Junior (Presidente).
Nome do relator: JOAO MAURICIO VITAL
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PROCESSOS RESULTANTES DA MESMA AÇÃO FISCAL. NÃO INTEGRAÇÃO À LIDE. A inclusão de processos na pauta de julgamento não é matéria litigiosa, pois não compõe a acusação fiscal. O regramento processual administrativo não determina o julgamento em conjunto de processos fiscais. Cabe à administração, obedecidos os critérios legais e normativos, definir a pauta e as prioridades de julgamento dos processos. MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. PRECLUSÃO. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO VOLUNTÁRIO. Conhecese do recurso voluntário apenas quanto a matérias impugnadas. Recurso não conhecido quanto a matéria não trazida na impugnação, porquanto não compõem a lide e quedouse preclusa. RELAÇÃO DE CORESPONSÁVEIS. ARROLAMENTO DE DIRETORES. No termos da Súmula Carf nº 88, a relação de coresponsáveis é apenas informativa e não compõe o contencioso tributário. ACÓRDÃO RECORRIDO. REFERÊNCIA A TODAS AS MATÉRIAS IMPUGNADAS. NULIDADE. A decisão do julgamento deve se referir às razões da defesa suscitadas pelo impugnante. Havendo se referido a todas as matérias trazidas na impugnação, não há nulidade no acórdão a quo. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA.DECADÊNCIA QUINQUENAL. SÚMULA VINCULANTE Nº 8 STF. INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI Nº 8.212, DE 1991. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 33 0. 00 02 75 /2 00 7- 11 Fl. 268DF CARF MF 2 Segundo o STF, são inconstitucionais os artigos 45 e 46 da Lei n° 8.212/91. Súmula Vinculante nº8, de 12/06/2008. Decai em cinco anos o direito de o Fisco lançar os créditos previdenciários. TRABALHADOR ESTRANGEIRO. CONTRATO DE TRABALHO COM NÃO EVENTUALIDADE, SUBORDINAÇÃO E REMUNERAÇÃO. SEGURADO OBRIGATÓRIO. EMPREGADO. É segurado obrigatório quem presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado, independentemente da nacionalidade ou da situação de residência. Estrangeiro contratado, ainda que por prazo certo, para trabalhar como empregado é segurado obrigatório, se não estiver enquadrado nas exceções legais. BÔNUS DE PERFORMANCE. LIBERALIDADE. HABITUALIDADE. RETRIBUTIVIDADE. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. Integra o salário de contribuição a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma. Pagamento de prêmios, bônus ou qualquer verba em razão do contrato de trabalho tem caráter retributivo e compõe o salário de contribuição, quando não houver expressa exceção legal. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. COOPERATIVA DE TRABALHO. INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI DECLARADA PELO SUPREMO TRIBUNA FEDERAL. O art. 22, IV da Lei 8.212, de 1991, que prevê a incidência de contribuição previdenciária nos serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho foi julgado inconstitucional, por unanimidade de votos, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, no RE 595.838/SP, paradigma da Tese de Repercussão Geral 166: “É inconstitucional a contribuição previdenciária prevista no art. 22, IV, da Lei 8.212/1991, com redação dada pela Lei 9.876/1999, que incide sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura referente a serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho”. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, (a) por unanimidade de votos, conhecer parcialmente do recurso voluntário, desconhecendo das questões atinentes ao pedido de apreciação conjunta dos processos, à incidência de juros com base na Selic e ao arrolamento de diretores na relação de coresponsáveis; (b) por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares; (c) no mérito, (c.1) por maioria de votos, dar parcial provimento ao recurso voluntário para reconhecer a decadência e excluir do lançamento as multas relativas às Gfip entregues até 31/12/2001; vencido o conselheiro Marcelo Freitas de Souza Costa, que entende que a decadência por não apresentação de Gfip ocorre juntamente com a decadência da obrigação principal e (c.2) por unanimidade de votos, excluir do lançamento os valores relativos às contribuições previdenciárias incidentes sobre valores pagos a cooperativas de trabalho, nos termos do voto do relator. (assinado digitalmente) Fl. 269DF CARF MF Processo nº 11330.000275/200711 Acórdão n.º 2301005.334 S2C3T1 Fl. 269 3 João Bellini Júnior Presidente. (assinado digitalmente) João Maurício Vital Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Mauricio Vital, Wesley Rocha, Antonio Sávio Nastureles, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa, e João Bellini Junior (Presidente). Relatório Tratase de Auto de Infração, lavrado em 03/01/2007 (efl. 48), Debcad nº 37.065.2339, para a exigência de multa por deixar de informar, em Gfip, todos os fatos geradores de contribuição previdenciária. Consta do sucinto Relatório Fiscal (efls. 36 a 47): A empresa deixou de declarar na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social os fatos geradores de contribuição previdenciária relacionados na Planilha em anexo. Pelo descumprimento desta obrigação, a empresa incorreu na infração prevista no art. 32, Inciso IV, § 5º, da Lei nº 8.212/91. As remunerações pagas aos segurados empregados através de cartões magnéticos ou Vouchers emitidos pela empresa Incentive House S.A. foram objeto de Representação Fiscal para Fins Penais, por configurarem, em tese, crime de sonegação. Na impugnação, a Recorrente alegou: a) que pagamentos a estrangeiros não constituiriam fato gerador das contribuições previdenciárias; porquanto não se enquadram nas hipóteses de segurados obrigatórios da Previdência Social; b) que os pagamentos de "Bônus de Performance" e "Liberalidade" não compõem a base de cálculo de contribuições previdenciárias por não serem habituais e não retribuírem o trabalho; c) que pagamentos realizados a cooperativas de trabalho não constituem fato gerador de contribuições previdenciárias, pois a lei que instituiu a cobrança de contribuições sobre valores pagos a esse título teria afrontado o dispositivos constitucionais; d) que a impugnante não poderia ser solidariamente responsabilizada pelas contribuições advindas da relação de emprego entre os trabalhadores e as cooperativas de trabalho sem que, antes, se verificasse o cumprimento das obrigações previdenciárias pelos empregadores diretos, o que não teria se provado nos autos; Fl. 270DF CARF MF 4 e) que, em relação aos fatos geradores ocorridos além de cinco anos do lançamento, já se teria operado a decadência, e f) que os diretores da impugnante não poderiam ser incluídos no pólo passivo da relação tributária; O Colegiado Julgador de primeira instância administrativa julgou integralmente procedente a autuação e manteve o lançamento (efls. 166 a 180). A Recorrente apresentou, então, recurso voluntário (efls. 186 a 215) no qual questionou: a) preliminarmente, que a decisão recorrida seria nula por não ter apreciado a questão da incidência de contribuições previdenciárias sobre os pagamentos realizados às cooperativas contratadas; b) que os processos conexos devem ser reunidos e julgados em conjunto, e c) que pagamentos a estrangeiros não constituiriam fato gerador das contribuições previdenciárias; porquanto não se enquadram nas hipóteses de segurados obrigatórios da Previdência Social; d) que os pagamentos de "Bônus de Performance" e "Liberalidade" não compõem a base de cálculo de contribuições previdenciárias por não serem habituais e não retribuírem o trabalho; e) que pagamentos realizados a cooperativas de trabalho não constituem fato gerador de contribuições previdenciárias, pois a lei que instituiu a cobrança de contribuições sobre valores pagos a esse título teria afrontado o dispositivos constitucionais; f) que, em relação aos fatos geradores ocorridos além de cinco anos do lançamento, já se teria operado a decadência; g) que os diretores da impugnante não poderiam ser incluídos no pólo passivo da relação tributária, e h) que seria descabida a incidência de juros com base na taxa Selic. Os autos foram submetidos a julgamento nesta mesma Câmara, em 18 de abril de 2012, que determinou o retorno do processo para diligência a fim de que fossem prestados esclarecimentos sobre o resultado do julgamento dos processos conexos, de cujas decisões dependeria a solução desta lide. A diligência (efls. 246 e 247) apontou remanescem pendentes de julgamento no Carf os processos nºs 11330.000255/200731 (NFLD nº 37.005.8593), 11330.000256/200786 (NFLD nº 37.005.8615) e 11330.000268/200719 (NFLD nº 37.065.2290). Os demais processos decorrentes da mesma ação fiscal foram pagos ou parcelados. A Recorrente, intimada, manifestouse (efls. 251 a 255) do resultado da diligência sem contestálo. Fl. 271DF CARF MF Processo nº 11330.000275/200711 Acórdão n.º 2301005.334 S2C3T1 Fl. 270 5 A este processo, foram apensados os de nºs 11330.000255/200731 e 11330.000256/200786. Quanto ao Processo nº 11330.000268/200719, a Recorrente apresentou pedido de desistência (efls. 216 e 217 daquele processo) que foi deferido e, atualmente, o respectivo crédito tributário encontrase parcelado. É o relatório. Voto Conselheiro João Maurício Vital Relator. 1 Do conhecimento O recurso é tempestivo. 1.1 APRECIAÇÃO CONJUNTA DE DIFERENTES PROCESSOS Quanto ao pedido de julgamento concomitante dos processos afins, não há previsão legal ou regimental que determine a apreciação conjunta dos autos. Cabe à administração, obedecidos os critérios legais e normativos, definir a pauta e as prioridades de julgamento dos processos. Porém, como medida de eficiência administrativa, é conveniente, embora não seja determinante, que os processos correlacionados sejam analisados em conjunto para se evitar discrepância de decisões sobre a mesma matéria, uma vez que tenham se baseado nos mesmo fatos. No presente caso, os processos derivados da mesma ação fiscal ainda em fase contenciosa no Carf, conforme informação resultante da diligência fiscal (efls. 246 e 247), foram todos distribuídos para a análise do mesmo relator, que poderá, se necessário, fazer remissões cruzadas entre os autos, sem que obrigatoriamente tenham que ser julgados em conjunto. Ademais, essa questão não compõe a lide pois não integra a acusação fiscal, além de não ter sido objeto de impugnação. 1.2 INCIDÊNCIA DE JUROS COM BASE NA SELIC Sobre a incidência de juros com base na taxa Selic, a matéria não foi questionada na impugnação, momento processual em que se delimita a lide, quedandose, pois, preclusa. Como já se manifestou esta turma, unanimemente, no Acórdão nº 2301005.165, não se conhece de matéria não impugnada: Não é possível conhecer da matéria porque não foi questionada pela recorrente na impugnação e, consoante o art. 17 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, considerase não impugnada a matéria que não tenha sido expressamente contestada pelo impugnante. É a impugnação, ao instaurar a fase litigiosa, que delimita a lide. Não suscitada a matéria na fase própria, precluso estará o direito de fazêlo em outro momento processual. Nesse sentido, há vários precedentes no Carf (por Fl. 272DF CARF MF 6 exemplo, os acórdãos nºs 3302004.356, 3402004.318, 2402 005.903, 2402005.808 e 9101002.719). 1.3 DO ARROLAMENTO DOS DIRETORES NA RELAÇÃO DE CORESPONSÁVEIS A matéria encontrase sumulada pelo Carf, que adotou o entendimento de que as relações de coresponsáveis não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas, além de não comporem o contencioso administrativo fiscal, sendo apenas uma medida informativa para eventuais efeitos executórios. Assim estabelece a Súmula Carf nº 88: Súmula CARF nº 88: A Relação de CoResponsáveis CORESP”, o “Relatório de Representantes Legais – RepLeg” e a “Relação de Vínculos – VÍNCULOS”, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa. Portanto, não conheço do recurso em relação às matérias relacionadas nos itens 1.1, 1.2 e 1.3. Dele conheço, entretanto, quanto às demais matérias. 2 Das preliminares 2.1 PRELIMINAR DE NULIDADE DO ACÓRDÃO RECORRIDO A Recorrente alegou a nulidade da decisão recorrida, por preterição do direito de defesa, em razão de não haver se manifestado sobre a não incidência de contribuições previdenciárias sobre os pagamentos realizados às cooperativas por ela contratadas (efl. 191). Solicitou, pois, novo julgamento em que se contemple todos os argumentos trazidos na impugnação (efl. 191). De fato, a multa lançada teve por supedâneo, além de outras incorreções e omissões, a ausência, nas Gfip, dos valores decorrentes do pagamento a cooperativas, como se observa no anexo ao auto de infração (efls. 46 e 47). A matéria foi questionada na impugnação (efls. 63 a 71). Entretanto, ao contrário do que afirma a Recorrente, a decisão a quo se manifestou sobre o tema nos seguintes termos: 15. Quanto A alegação de ilegalidade na Imputação de Responsabilidade Solidária à Impugnante, em relação aos empregados das cooperativas que lhes prestaram serviço, cabe ressaltar que tal lançamento não constou deste Auto de Infração. A coluna referente a Cooperativas discriminada na Planilha de fls. 36 e de fls. 45 diz respeito à contribuição estabelecida no art. 22, IV, da Lei n° 8.212/91, com redação dada pela Lei n° 9.876/99 e lançada da NFLD n° 37.005.8615, julgada procedente por esta Turma de Julgamento através do Acórdão de n° 1215.798, cuja ementa transcrevo: (grifo do original.) CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS A CARGO DA EMPRESA. CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES SOBRE 0 VALOR BRUTO DA NOTA FISCAL EMITIDA PELA COOPERATIVA DE TRABALHO. Fl. 273DF CARF MF Processo nº 11330.000275/200711 Acórdão n.º 2301005.334 S2C3T1 Fl. 271 7 A empresa é obrigada a recolher a contribuição previdenciária de 15% sobre o valor bruto da nota fiscal de serviço, relativamente aos serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativa de trabalho, nos termos do art. 22, IV, da Lei n° 8.212/91, com redação dada pela Lei n°9.876/99. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E LEGALIDADE. O julgador não tem competência legal para apreciar e declarar ilegalidade ou inconstitucionalidade de dispositivo de Lei ou Decreto, frente ao sistema normativo. O controle da constitucionalidade é exercido, via de regra, pelo Poder Judiciário. DECADÊNCIA PARA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO PREVIDENCIÁRIO. O prazo decadencial para o lançamento das contribuições previdenciárias é de 10 anos com fulcro no art. 45, I e II, da Lei n° 8.212/91. RESPONSABILIDADE TRIBUTARIA DOS ADMINISTRADORES. A relação dos coresponsáveis não atribui responsabilidade tributária aos representantes legais da empresa, apenas enumera de acordo com os respectivos períodos de atuação. 16 Portanto, não cabe aqui analisar tal alegação, uma vez que não diz respeito ao que foi aqui lançado e sim à outra NFLD, cujos fatos geradores não constaram desse Auto de Infração. Ou seja, a decisão recorrida não apenas se manifestou, mas trouxe como razão de decidir o que constou de outra decisão daquele mesmo colegiado, em processo decorrente da mesma ação fiscal, na qual se pronunciou no sentido de que as contribuições previstas no art. 22, IV, da Lei n° 8.212/91 são devidas. Tanto o é que manteve o lançamento com o valor omitido dos pagamentos a cooperativas porque, em outro processo, entendeu que esses valores, por serem devidos, deveriam constar das Gfip. Inclusive a Recorrente, no recurso voluntário, se insurgiu contra a matéria, o que evidencia a inexistência de prejuízo à defesa. Ainda que o acórdão recorrido pudesse ter sido mais explícito quanto à análise e conclusão sobre a matéria, não percebo a omissão apontada, porquanto o entendimento do colegiado está contido na decisão. O dispositivo do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972,1 invocado pela Recorrente estabelece que a Autoridade Julgadora deve se referir a todas as razões de defesa apresentadas na impugnação. Não restam dúvidas de que houve referência à matéria no acórdão recorrido. Não vejo, pois, omissão do colegiado a quo ou qualquer cerceamento ou limitação à defesa da Recorrente que possa motivar a nulidade da decisão contestada. Ad argumentandum tantum, o acórdão recorrido é de 15/10/2007, portanto, as disposições do Decreto nº 70.235, de 1972, ainda não se aplicavam ao contencioso de natureza 1 Art. 31. A decisão conterá relatório resumido do processo, fundamentos legais, conclusão e ordem de intimação, devendo referirse, expressamente, a todos os autos de infração e notificações de lançamento objeto do processo, bem como às razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências. Fl. 274DF CARF MF 8 previdenciária, por força do que consta no art., 25, inc, I, combinado com o § 1º do art. 16 da Lei nº 11.457, de 16 de março de 2007: Art. 25. Passam a ser regidos pelo Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972: I a partir da data fixada no § 1o do art. 16 desta Lei, os procedimentos fiscais e os processos administrativofiscais de determinação e exigência de créditos tributários referentes às contribuições de que tratam os arts. 2o e 3o desta Lei; ......................................................................................................... Art. 16. ............................................................................................ § 1o A partir do 1o (primeiro) dia do 13o (décimo terceiro) mês subseqüente ao da publicação desta Lei, o disposto no caput deste artigo se estende à dívida ativa do Instituto Nacional do Seguro Social INSS e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FNDE decorrente das contribuições a que se referem os arts. 2o e 3o desta Lei. 2.2 PRELIMINAR DE DECADÊNCIA Preliminarmente, antes mesmo de analisar o mérito do lançamento, constata se de pronto a ocorrência de decadência, em face do Súmula Vinculante STF nº 8 que declarou inconstitucionais os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212, de 1991, editada após o julgamento de primeira instância administrativa. Esta turma já decidiu, unanimemente, acerca da matéria nos termos do voto do iminente relator Alexandre Evaristo Pinto, no Acórdão nº 2301005.092, in verbis: Considerando que foi declarada a inconstitucionalidade dos artigos 45 e 46 da Lei n° 8.212/91 pelo Supremo Tribunal Federal STF na Súmula Vinculante nº8, de 12/06/2008, de eficácia retroativa para os contribuintes com solicitações administrativas apresentadas até a data do julgamento da referida Súmula, os créditos da Seguridade Social pendentes de pagamento não podem ser cobrados, em nenhuma hipótese, após o lapso temporal quinquenal. Dessa forma, ao contrário do disposto no Acórdão da DRJ (fls. 543 a 544), que aplicou a decadência de 10 anos prevista nos artigos 45 e 46 da Lei n° 8.212/91, deverão ser considerados como decaídos os períodos de apuração que vão até novembro de 2002, uma vez que a Recorrente foi notificada da NFLD em 27/11/2007 (fls. 521), isto é, os períodos de apuração que superaram o prazo quinquenal. Ora, a penalidade de que trata estes autos tem origem no art. 32, inc. IV, § 5º, da Lei nº 8.212/91, nos termos vigentes quando do lançamento, que determinava a obrigatoriedade de informar, mensalmente, os dados relativos aos fatos geradores das contribuições previdenciárias. Deste modo, temse que a hipótese de incidência da multa é a omissão ou incorreção das informações nas declarações mensais e, portanto, a cada declaração incorreta corresponde um fato gerador distinto cuja ocorrência se dá na data em que a informação é apresentada, ou seja, quando da entrega da respectiva Gfip. Fl. 275DF CARF MF Processo nº 11330.000275/200711 Acórdão n.º 2301005.334 S2C3T1 Fl. 272 9 A multa acessória não é tributo sujeito a lançamento por homologação, mas exação decorrente exclusivamente de lançamento de ofício. Assim, a regra decadencial pertinente é a que consta do art. 173, inc. I, do CTN que determina como termo a quo para a contagem do prazo quinquenal o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido efetuado. A Recorrente afirmou (efl. 193): E analisandose o presente caso em que (i) ao crédito tributário exigido aplicamse as regras relacionadas aos tributos sujeitos ao lançamento por homologação; (ii) os fatos jurídicos tributários sob análise ocorreram entre janeiro de 1.999 e dezembro de 2.005; (iii) a lavratura da NFLD ocorreu em abril de 2.007, concluise que quando da autuação fiscal, parte dos possíveis e eventuais créditos tributários (mais especificamente aqueles anteriores a março de 2.002) já estavam extintos pela decadência, conforme determina o artigo 156, inciso V do Código Tributário Nacional. (Grifos do original.) Equivocase, a Recorrente, ao afirmar que o lançamento teria sido feito em abril de 2007 e, também, que estariam decaídos os períodos anteriores a março de 2002. No caso em tela, considerando que o lançamento ocorreu em 03/01/2007 (e fl. 48), estava decaído o direito de o Fisco constituir as multas por omissão ou incorreção em Gfip entregues até 31/12/2001, independentemente de a que período a declaração se refira. As multas decorrentes de Gfip apresentadas após essa data têm como termo inicial do prazo decadencial o dia 1/1/2003 ou posterior e, portanto, não foram atingidas pelo instituto extintivo da obrigação tributária. Tendo em conta que as datas de entrega das Gfip em questão não constam dos autos, não é possível indicar, neste momento, com precisão, os períodos atingidos pela decadência. Porém, em prevalecendo o entendimento deste voto, esta medida deverá ser tomada quando da execução do julgado, ocasião em que a unidade preparadora deverá identificar os períodos decaídos a partir da data da entrega das Gfip, e não em razão da data em que deveriam ter sido apresentadas. Além disso, em caso de eventual apresentação de declaração retificadora, o prazo decadencial deverá ser contado a partir do primeiro dia do exercício seguinte à apresentação da última declaração corretiva. 3 Do mérito 3.1 PAGAMENTO A ESTRANGEIROS A decisão recorrida corroborou o lançamento, no que se refere ao pagamento a estrangeiros, sob o fundamento de que, para efeitos fiscais (Instrução Normativa SRF n° 208, de 27 de setembro de 2002), considerase residente no Brasil a pessoa física com visto temporário, limitado ao dois anos, para trabalhar no país, na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime estabelecido em contrato visado pela Secretaria de Imigração do Ministério do Trabalho. Nas razões de decidir do acórdão recorrido, destacamse os seguintes trechos: Fl. 276DF CARF MF 10 25. Inócua, portanto, as alegações da impugnante que o empregado em questão não mantém residência no pais e que o retorno ao pais de origem comprova a transitoriedade dos serviços prestados. 26. A autorização temporária de 2 (dois) anos com contrato de trabalho (fls.99/100), concedida pelo Ministério do Trabalho ao trabalhador estrangeiro e utilizada pela impugnante, colocao na posição de um funcionário comum da empresa, com Carteira de Trabalho e Previdência Social — CTPS, cadastramento no PIS/PASEP, inclusão em folha de pagamento e recebendo todos os benefícios de um funcionário normal e pagando todos os impostos e contribuições devidos. Portanto o Sr. Antonio Garcia Acuña, contratado pela impugnante sob a égide da Consolidação das Leis do Trabalho — CLT, é segurado empregado enquadrado no artigo 12, inciso I, alínea 'a', da Lei n°8.212/91. 27. Quanto ao Parecer CI n° 2.991/2003, citado pela impugnante, apesar do assunto ser sobre técnico estrangeiro, tratase de caso distinto do aqui abordado, como indica a conclusão ora transcrita do Parecer em questão: "Ante o exposto, entende esta Consultoria Jurídica que a vinculação do segurado obrigatório ao Regime Geral de Previdência Social pressupõe o seu estrito enquadramento nos dispositivos da legislação previdenciária, não se encontrando submetido ao RGPS o técnico estrangeiro remunerado no exterior e com vinculação a previdência social do seu pais". (grifei) 28. No caso da presente NFLD, tratase de técnico estrangeiro remunerado no Brasil sem vinculação a previdência social do seu pais de origem. 29. Na conclusão acima transcrita, há o pressuposto do estrito enquadramento nos dispositivos da legislação previdenciária para a vinculação do segurado obrigatório (estrangeiro no caso) ao Regime Geral de Previdência Social. Portanto, a situação do Sr. Antonio Garcia Acuña deve ser também analisada a luz do inciso V do artigo 6° da Instrução Normativa SRP n° 03, de 14 de julho de 2005, que assim dispõe: "Art. 6° Deve contribuir obrigatoriamente na qualidade de segurado empregado: V o trabalhador contratado no exterior para trabalhar no Brasil em empresa constituída e funcionando em território nacional segundo as leis brasileiras, ainda que com salário estipulado em moeda estrangeira, salvo se amparado pela previdência social de seu pais de origem, observado o disposto nos acordos internacionais porventura existentes;" 30. Em relação ao Sr. Antonio Garcia Acuña, a impugnante apresenta fls. 107/108 documentos atestando sua inscrição junto à previdência de seu pais de origem e seu vinculo empregatício com a empresa Radiomóvil DIPSA, S.A. de C. V. Tais documentos, datados de 08/01/2007, posteriores ao período do levantamento (04/2003 a 05/2005), não comprovam que o Sr. Antonio Garcia Acuña "sempre esteve amparado pelo Instituto Fl. 277DF CARF MF Processo nº 11330.000275/200711 Acórdão n.º 2301005.334 S2C3T1 Fl. 273 11 Mexicano de Seguro Social", como alega a impugnante. Informam apenas a situação em 08/01/2007, sem mencionar o período à época dos fatos geradores. Portanto, o mesmo não pode ser incluído na exceção prevista no inciso V do artigo 6° da Instrução Normativa SRP n° 03, de 14 de julho de 2005 (aquele que é amparado pela previdência de seu pais de origem não é segurado obrigatório do RGPS, observado o disposto no acordo internacional existente). Ele é apenas um estrangeiro que presta serviço para uma empresa brasileira, sendo, portanto, segurado obrigatório do RGPS. 31. Portanto, não procede a alegação da impugnante que o trabalhador em questão não se enquadra como segurado obrigatório da Previdência Social, estando "dispensado de contribuir para a Seguridade Social, assim como a sua remuneração não pode ser considerada base de cálculo para a contribuição previdenciária devida pela empresa que o contratou". A Recorrente sustentou que o vínculo previdenciário de estrangeiros somente ocorre quando presente, cumulativamente, duas condições, a saber (efl. 55): Nestes termos, a mais singela leitura do artigo 12 da Lei n.o 8.212/91 evidencia que somente em 2 (duas) hipóteses um estrangeiro poderá ser considerado segurado para deflagrar a hipótese de incidência da contribuição previdenciária a cargo da empresa. São aquelas expressas nas alíneas "c" e "f", do inciso I, do artigo 12 da Lei n.o 8.212/91, que tratam do segurado empregado. Confirase: "c) o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de empresa nacional no exterior; (...). f) o brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como empregado em empresa domiciliada no exterior, cuja maioria do capital votante pertença à empresa brasileira de capital nacional;" (g.n.) Em ambos os casos, além de ser necessária a prova de residência no pais como ânimo definitivo, o estrangeiro deve trabalhar como empregado em sucursal, agência ou empresa nacional localizada no exterior. (Grifos do original) Afirmou, ainda, que os estrangeiros contratados (Antônio Acuña, Alfonso Gallardo e Rogelio Viesca) não mantinham residência no país. Assim, não haveria razão para que os respectivos pagamentos constassem das Gfip. Acrescentou, ainda, que os trabalhadores já haviam retornado ao país de origem, onde sempre estiveram amparados pelo Instituto Mexicano de Seguro Social. Fl. 278DF CARF MF 12 A questão, a meu ver, se resolve com a interpretação da alínea "a" do inc. I do art. 12 da Lei nº 8.212, de 1991: Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: I como empregado: a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado; Do ponto de vista teleológico, pareceme evidente que a intenção do legislador foi incluir, na primeira alínea que enumera o que é considerado empregado, qualquer pessoa em relação de emprego, na qual esteja presente a não eventualidade, a subordinação e a remuneração. Não distinguiu, o legislador, a nacionalidade do trabalhador ou mesmo sua condição de residência, no caso de estrangeiro, ou, ainda, se o contrato de trabalho é por prazo certo. A literalidade do dispositivo também deixa claro que, enquanto em outras alíneas daquele inciso o legislador delimitou o enquadramento a brasileiros ou estrangeiros, na alínea "a" ele fez constar a expressão "aquele que presta serviço", sem qualquer qualificação delimitadora. A única possibilidade de que "aquele que presta serviço", mediante contrato de trabalho, não ser enquadrado na condição de segurado obrigatório, como empregado, é estar contido em alguma exceção da lei. Analisandose as alíneas do inc. I do art. 12 da Lei nº 8.212, de 1991, que estabelece quem são os segurados obrigatórios da previdência social na condição de empregado, constatase as seguintes exceções: a) na alínea "d", não são segurados obrigatórios os trabalhadores de representações diplomáticas no Brasil que: 1) se estrangeiros, sejam não residentes e, 2) se brasileiros, estejam vinculados à previdência social do país a que se refere a missão diplomática; b) na alínea "e", não são segurados obrigatórios os brasileiros civis que trabalhem para a União, no exterior, ou organismo internacional oficial, se estiverem vinculados à previdência social daquele país; c) na alínea "i", não são segurados obrigatórios os empregados de organismo oficial internacional ou estrangeiro que funcione no país quando cobertos por regime próprio de previdência, e d) na alínea "j", não são segurados obrigatórios os detentores de mandato eletivo vinculados a regime próprio. Não há nos autos nenhuma prova de que os trabalhadores estrangeiros contratados pela Recorrente estivessem enquadrados em alguma das exceções. Observase no único contrato de trabalho juntado aos autos (efls. 114 a 115), que o Sr. Antônio Garcia Acuña foi contratado para exercer as atividades de Gerente de Operações, inclusive dando suporte ao Diretor de Operações Regionais e ao Diretor Regional de São Paulo, pelo que receberia o salário mensal de R$ 16.000,00. Tratase de típico contrato de trabalho em que estão presentes a não eventualidade, a subordinação e a remuneração, requisitos que permitem subsumir, com perfeição, a situação à disposição da alínea "a" do Fl. 279DF CARF MF Processo nº 11330.000275/200711 Acórdão n.º 2301005.334 S2C3T1 Fl. 274 13 inciso I do art. 12 da Lei nº 8.212, de 1991. Destaquese que a condição de estrangeiro, o regime de residência ou a temporalidade do trabalho em nada afastam a aplicação do dispositivo legal. Portanto, não há como prosperar a alegação da Recorrente de que aqueles trabalhadores estrangeiros não poderiam ser considerados segurados obrigatórios e que sua remuneração não constaria das Gfip. Ademais, no Processo nº 11330.000264/200722, que trata da incidência de contribuição previdenciária sobre o salário pago a Antônio Garcia Acuña, consta o Acórdão nº 240300.187 que negou provimento ao recurso voluntário do sujeito passivo. A decisão foi embargada pelo contribuinte que, posteriormente, desistiu do contencioso e optou por pagar à vista o débito exigido (efl. 383 do Processo nº 11330.000264/200722). 3.2 PAGAMENTOS DE "BÔNUS DE PERFORMANCE" E "LIBERALIDADE" A Recorrente afirma (efl. 207) que as verbas intituladas "bônus de performance" e "liberalidade" seriam simples liberalidade, a qual, conforme exposto, não possui nem habitualidade e nem retributividade. Consta da planilha trazida pela Recorrente (e fls. 148 a 153) a relação dos pagamentos a esses títulos. Na planilha, observase que estão listados empregados em diversas funções da empresa, com indicativo da data de admissão, do mês e ano a que se referem os pagamentos e com os valores. A Recorrente não juntou qualquer outro elemento que permitisse identificar a natureza e a motivação das verbas pagas. Considerando que o vínculo existente entre as pessoas relacionadas e a empresa é de trabalho, a única presunção possível, diante dos elementos presentes, é que os pagamentos ocorreram em razão desse vínculo. Pareceme também evidente, pelo que consta dos autos, que o pagamento das verbas é parte da política remuneratória, o que caracteriza a habitualidade. O art. 28 da Lei nº 8.212, de 1991, define que integra o salário de contribuição a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma. Exclui, porém, os ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário. Nos autos não nada que permita desvincular os valores recebidos da remuneração do trabalhador. A Recorrente sequer juntou cópia dos contratos de trabalho e dos termos, contratos ou instrumentos que regulassem as verbas pagas sob os títulos "bônus de performance" e "liberalidade". O elemento distintivo que a lei enumera é a finalidade de retribuir o trabalho, ou seja, a retributividade., que me parece evidente, no presente caso, diante do que consta dos autos. Portanto, entendo que, pelo que consta do processo, os valores foram pagos em face da relação de trabalho, com a finalidade de retribuílo e, portanto, devem compor o salário de contribuição. Por conseguinte, deveriam ser também informados nas Gfip. Ademais, no Processo nº 11330.000002/200768, que trata da incidência de contribuição previdenciária sobre pagamentos realizados a título de bônus de performance, consta a desistência, do sujeito passivo, do contencioso e a informação de que teria parcelado o débito exigido (efls. 159 e 160 do Processo nº 11330.000002/200768). Fl. 280DF CARF MF 14 3.3 PAGAMENTOS A COOPERATIVAS DE TRABALHO O art. 22 da Lei nº 8.212, de 1991, que estabelecia a contribuição sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. Como razão de decidir, reproduzo parte do voto do destacado Conselheiro João Bellini Júnior, unanimemente aprovado por esta turma no Acórdão nº 2301005.076: Em 11/03/2015 transitou em julgado o acórdão publicado em 25/02/2015, o qual rejeitou os embargos de declaração opostos pela União, com o fito de modular o decidido no julgamento do RE 595.838/SP, o qual, proferido em 23/04/2014, declarou inconstitucional a exação prevista na Lei 8.212, de 1991, art. 22, IV: RE 595838 ED / SP Embargos de declaração no recurso extraordinário. Tributário. Pedido de modulação de efeitos da decisão com que se declarou a inconstitucionalidade do inciso IV do art. 22 da Lei nº 8.212/91, com a redação dada pela Lei nº 9.876/99. Declaração de inconstitucionalidade. Ausência de excepcionalidade. Lei aplicável em razão de efeito repristinatório. Infraconstitucional. 1. A modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade é medida extrema, a qual somente se justifica se estiver indicado e comprovado gravíssimo risco irreversível à ordem social. As razões recursais não contêm indicação concreta, nem específica, desse risco. 2. Modular os efeitos no caso dos autos importaria em negar ao contribuinte o próprio direito de repetir o indébito de valores que eventualmente tenham sido recolhidos. 3. A segurança jurídica está na proclamação do resultado dos julgamentos tal como formalizada, dandose primazia à Constituição Federal. 4. É de índole infraconstitucional a controvérsia a respeito da legislação aplicável resultante do efeito repristinatório da declaração de inconstitucionalidade do inciso IV do art. 22 da Lei nº 8.212/91, com a redação dada pela Lei nº 9.876/99. 5. Embargos de declaração rejeitados RE 595838 / SP Recurso extraordinário. Tributário. Contribuição Previdenciária. Artigo 22, inciso IV, da Lei nº 8.212/91, com a redação dada pela Lei nº 9.876/99. Sujeição passiva. Empresas tomadoras de serviços. Prestação de serviços de cooperados por meio de cooperativas de Trabalho. Base de cálculo. Valor Bruto da nota fiscal ou fatura. Tributação do faturamento. Bis in idem. Nova fonte de custeio. Artigo 195, § 4º, CF. Fl. 281DF CARF MF Processo nº 11330.000275/200711 Acórdão n.º 2301005.334 S2C3T1 Fl. 275 15 1. O fato gerador que origina a obrigação de recolher a contribuição previdenciária, na forma do art. 22, inciso IV da Lei nº 8.212/91, na redação da Lei 9.876/99, não se origina nas remunerações pagas ou creditadas ao cooperado, mas na relação contratual estabelecida entre a pessoa jurídica da cooperativa e a do contratante de seus serviços. 2. A empresa tomadora dos serviços não opera como fonte somente para fins de retenção. A empresa ou entidade a ela equiparada é o próprio sujeito passivo da relação tributária, logo, típico “contribuinte” da contribuição. 3. Os pagamentos efetuados por terceiros às cooperativas de trabalho, em face de serviços prestados por seus cooperados, não se confundem com os valores efetivamente pagos ou creditados aos cooperados. 4. O art. 22, IV da Lei nº 8.212/91, com a redação da Lei nº 9.876/99, ao instituir contribuição previdenciária incidente sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura, extrapolou a norma do art. 195, inciso I, a, da Constituição, descaracterizando a contribuição hipoteticamente incidente sobre os rendimentos do trabalho dos cooperados, tributando o faturamento da cooperativa, com evidente bis in idem. Representa, assim, nova fonte de custeio, a qual somente poderia ser instituída por lei complementar, com base no art. 195, § 4º com a remissão feita ao art. 154, I, da Constituição. 5. Recurso extraordinário provido para declarar a inconstitucionalidade do inciso IV do art. 22 da Lei nº 8.212/91, com a redação dada pela Lei nº 9.876/99. (Grifouse.) Ademais, o STF reconheceu a existência de repercussão geral da questão constitucional suscitada no RE 595.838, para o qual firmou a Tese de Repercussão Geral 166: É inconstitucional a contribuição previdenciária prevista no art. 22, IV, da Lei 8.212/1991, com redação dada pela Lei 9.876/1999, que incide sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura referente a serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho. Em face disso, o Senado Federal emitiu a Resolução nº 10, de 2016, pela qual “É suspensa, nos termos do art. 52, inciso X, da Constituição Federal, a execução do inciso IV do art. 22 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, declarado inconstitucional por decisão definitiva proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos do Recurso Extraordinário nº 595.838”. De acordo com o art. 62, §2º do Anexo II do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 2015 (Ricarf) as decisões definitivas de mérito do STF e do STJ, na sistemática dos artigos 543B e 543C da Lei 5.869, de 1973 ou dos arts. Fl. 282DF CARF MF 16 1.036 a 1.041 da Lei 13.105, de 2015 – Código de Processo Civil, devem ser reproduzidas pelas Turmas do CARF: Ricarf Art. 62. (...) § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) Assim, existindo decisão definitiva do STF, submetida à sistemática da repercussão geral, no sentido de ser inconstitucional o fato gerador incidente sobre o valor bruto da nota fiscal/fatura de serviços prestados por cooperados, por intermédio de DF CARF MF Fl. 387 6 cooperativas de trabalho (art. 22, IV, da Lei 8.212, de 1991), deve esta Turma reproduzir o conteúdo de tal decisão em seus acórdãos. Tem razão a Recorrente. Ora, se os valores não são devidos em face da declaração de inconstitucionalidade, também não deveriam ser informados na Gfip. Assim, os valores correspondentes (efls. 46 e 47) deverão ser excluídos do cálculo da multa (efl. 38). 4 Conclusões Voto por não conhecer do recurso voluntário quanto ao pedido de apreciação conjunta dos processos, à incidência de juros com base na Selic e ao arrolamento de diretores na relação de coresponsáveis. Voto ainda por DAR PARCIAL PROVIMENTO ao apelo para admitir a decadência e excluir do lançamento as multas relativas às Gfip entregues até 31/12/2001 e, no mérito, para excluir do lançamento os valores relativos às contribuições previdenciárias incidentes sobre valores pagos a cooperativas de trabalho. (assinado digitalmente) João Maurício Vital Relator Fl. 283DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12898.000497/2009-34
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu May 10 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Jun 28 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2004 a 31/12/2004
NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA.
Constata que a contribuinte recebeu integralmente os documentos do auto de infração, em duas oportunidades, e tendo sido respeitado o prazo para nova manifestação, com acolhimento de suas argumentações em sede de primeira instância, não há falar em cerceamento de defesa, não se configurando nenhuma das hipóteses arroladas no art. 59 do Decreto 70.235, de 1972, que rege o processo administrativo fiscal, uma vez que não houve elementos que possam dar causa à nulidade alegada.
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COOPERATIVA. EQUIPARAÇÃO À EMPRESA PARA FINS DE TRIBUTAÇÃO. FATO GERADOR DO TRIBUTO. CONTABILIZAÇÃO DEVIDA. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA.
Cooperativa que não preenche mais os requisitos legais da Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, deve ser equiparada como empresa para as devidas exigências das contribuições previdenciária, em virtude da empresa ter deixado de realizar a contabilização adequada de todas as despesas e pagamentos devidos aos segurados que laboraram atividades durante o período de fiscalização, impondo a observação de obrigação acessória como se empresa fosse.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 2301-005.283
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares, e no mérito, negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
João Bellini Júnior Presidente
(assinado digitalmente)
Wesley Rocha Relator
Participar am da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Andréa Brose Adolfo, João Maurício Vital, Alexandre Evaristo Pinto, Marcelo Freitas de Souza Costa, Antônio Savio Nastureles, Juliana Marteli Fais Feriato e Wesley Rocha.
Nome do relator: WESLEY ROCHA
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IMPROCEDÊNCIA. Constata que a contribuinte recebeu integralmente os documentos do auto de infração, em duas oportunidades, e tendo sido respeitado o prazo para nova manifestação, com acolhimento de suas argumentações em sede de primeira instância, não há falar em cerceamento de defesa, não se configurando nenhuma das hipóteses arroladas no art. 59 do Decreto 70.235, de 1972, que rege o processo administrativo fiscal, uma vez que não houve elementos que possam dar causa à nulidade alegada. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. COOPERATIVA. EQUIPARAÇÃO À EMPRESA PARA FINS DE TRIBUTAÇÃO. FATO GERADOR DO TRIBUTO. CONTABILIZAÇÃO DEVIDA. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. Cooperativa que não preenche mais os requisitos legais da Lei 5.764, de 16 de dezembro de 1971, deve ser equiparada como empresa para as devidas exigências das contribuições previdenciária, em virtude da empresa ter deixado de realizar a contabilização adequada de todas as despesas e pagamentos devidos aos segurados que laboraram atividades durante o período de fiscalização, impondo a observação de obrigação acessória como se empresa fosse. Recurso Voluntário Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares, e no mérito, negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 89 8. 00 04 97 /2 00 9- 34 Fl. 699DF CARF MF 2 (assinado digitalmente) João Bellini Júnior – Presidente (assinado digitalmente) Wesley Rocha – Relator Participar am da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Andréa Brose Adolfo, João Maurício Vital, Alexandre Evaristo Pinto, Marcelo Freitas de Souza Costa, Antônio Savio Nastureles, Juliana Marteli Fais Feriato e Wesley Rocha. Relatório Tratase de recurso voluntário interposto pela empresa GREEN MATRIX COOPERATIVA DE PROFESSORES EMPREENDEDORES, contra o Acórdão de Julgamento proferido pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento Rio de Janeiro (14ª Turma da DRJ/RJ1), que julgou improcedente as impugnações e manteve o crédito tributário lançado. O Auto de Infração referese ao crédito referese ao crédito DEBCAD n.º 37.216.0786, em virtude de a empresa ter deixado de arrecadar, mediante desconto das remunerações, as contribuições a cargo dos contribuintes individuais que lhe prestaram serviços, no período de 01/2004 a 12/2004. Por bem descrever os motivos da autuação, adoto o relatório da DRJ de origem referente ao fatos ocorridos, onde o presente processo tem conexão com o processo 12898.000499/200923: 1.1. A fiscalização lançou as contribuições sociais relativas aos segurados contribuintes individuais, não arrecadadas pela empresa, mediante desconto de suas remuneração, por meio do processo comprot 12898.000499/200923 referente ao crédito DEBCAD nº 37.216.0808. 2. Ainda de acordo com o Relatório Fiscal, item 56 (fl. 101) a A Lei n. 10.666/2003 determinou que as empresas, a partir de 01/04/2003, passassem a arrecadar a contribuição a cargo dos contribuintes individuais a seu serviço, descontadoa da respectiva remuneração e recolhendoa juntamente com a contribuição a seu cargo. 2.1. Assim sendo, no período fiscalizado, ao efetuar pagamentos a contribuintes individuais, a autuada deveria ter descontado 11% (onze por cento) da remuneração dos mesmos. Entretanto, verificouse que isso não ocorreu no período fiscalizado para todos os contribuintes individuais que lhe prestaram serviços. 3. A fiscalização ressalta que, embora a empresa apresentasse três estabelecimentos no período fiscalizado, como os valores objeto desta autuação foram obtidos na Contabilidade da empresa, sem discriminação do estabelecimento a que se referiam, todos os valores deste Al foram considerados como relativos ao estabelecimento centralizador (000106 Rio de Janeiro/RJ). Fl. 700DF CARF MF Processo nº 12898.000497/200934 Acórdão n.º 2301005.283 S2C3T1 Fl. 700 3 4. Foi aplicada a multa prevista nos artigos 92 e 102 da Lei nº 8.212, de 24/07/1991, e dos artigos 283, inciso I, alínea "g", e 373 do Regulamento da Previdência Social RPS, aprovado pelo Decreto na 3.048, de 06/05/1999, no valor de R$ 1.329,18 (Um mil, trezentos e vinte e nove reais e dezoito centavos). Esse valor foi atualizado pelo inciso V do artigo 7º da Portaria Interministerial MPS/MF nº 48 , de 12/02/2009 DOU de 13/02/2009. 5. O Relatório Fiscal da Aplicação da Multa informa, ainda, que em consulta efetuada aos sistemas corporativos da Receita Federal do Brasil RFB, verificouse que não constam autos de infração por descumprimento de obrigação acessória lavrados contra a empresa autuada em ações fiscais anteriores (não ficando configurada a circunstância agravante de reincidência presente no artigo 290, inciso V, do RPS), bem como também não ficaram configuradas as demais circunstâncias agravantes ou atenuantes Diante do julgamento improcedente da impugnação, a recorrente apresenta recurso voluntário, incluindo estatuto social e documentos que dão poderes para apresentação do recurso, alegando em suma o seguinte: Preliminarmente: pede a Nulidade do auto de infração em razão de não ser apresentado à contribuinte o relatório REPLEG. No mérito: alega a não exigência das contribuições sociais em razão da recorrente estar enquadrada em regime especial de tributação voltada para as Cooperativas e que essa não infringiu normas legais, devendo ser considerada os atos cooperados feitos entre a recorrente, Green Matrix Cooperativa de Professores Empreendedores a empresa denominada Green Matrix LTDA. Entende que por estar enquadrada como cooperativa não deveria ser exigida as contribuições como se empresa fosse. Por fim alega que é impossível elaborar defesa no que tange à solidariedade do art. 135, do CTN, porque também não teria sido anexado o REPLEG ao processo, cerceando direito de defesa. Diante dos fatos, é o relatório. Voto Conselheiro Wesley Rocha Relator Fl. 701DF CARF MF 4 O recurso voluntário apresentado está revestido do requisito formal de tempestividade. Portanto, deles o conheço. Portanto, passo a analisar os pontos atacados em recurso. DA PRELIMINAR DE NULIDADE Alega a recorrente que não teria sido anexado o relatório REPLEG ao processo e que isso traria prejuízo a sua defesa, bem como teria prejudicado a defesa dos possíveis responsáveis solidários, que no caso seria o presidente da Associação Cooperada, do qual consta no processo apenas como responsável legal, conforme a legislação em vigor e não como responsável pelo Débito. Entretanto, a alegação de cerceamento não prospera como já analisado pela DRJ de origem. De fato o art. 660 da Instrução Normativa SRP n° 03, de 14/07/2005, com a modificação introduzida pela IN SRP 20 de 11/01/2007, revogada pela IN RFB 851 de 28/05/2008: assim dispõe: "Art. 660. Constituem peças de instrução do processo administrativo fiscal previdenciário, os seguintes relatórios e documentos: (...) X Relatório de Representantes Legais RepLeg, que lista todas as pessoas físicas e jurídicas representantes legais do sujeito passivo, indicando sua qualificação e período de atuação; (Redação dada pela IN SRP nº 20, de 11/01/2007) XI Relação de Vínculos VÍNCULOS, que lista todas as pessoas físicas ou jurídicas de interesse da administração previdenciária em razão de seu vínculo com o sujeito passivo, representantes legais ou não, indicando o tipo de vínculo existente e o período correspondente"; No presente caso, a alegação da recorrente de que não teria recebido o referido relatório não se confirma, conforme as constatações na demanda e nos feitos que tramitam em conjunto, do que se colhe do processo conexo DEBCAD 12898.000500/200910, o qual há registro do conteúdo mencionado, citando o "CD" com as informações dos autos de infrações devidamente enviadas à contribuinte, da fl. 488, assim trasncrita: "Esta página contém o Aviso de Recebimento AR SO560960114BR, com d a t a de recebimento de 30/04/2009, relativo aos Autos de Infração AI 37.204.3917, 37.216.0760, 37.216.0778, 37.216.0786, 37.216.0794, 37.216.0808 e 37.216.0816, ao Termo de Encerramento do Procedimento Fiscal TEPF , ao CD destinado ao contribuinte e ao seu respectivo recibo". Grifouse. Como se vê, o CD contento o procedimento fiscal com todos os processos conexos á ação fiscal foi devidamente entregue ao contribuinte. Fl. 702DF CARF MF Processo nº 12898.000497/200934 Acórdão n.º 2301005.283 S2C3T1 Fl. 701 5 Entretanto, mesmo estando anexado o conteúdo citado, a contribuinte alegou que não o teria recebido, e que cautelosamente a fiscalização enviou novamente os citados anexos em "CD" e impresso com data de recebimento em 01/12/2012, contendo nele os anexos Representantes Legais do Débito – REPELEG , conforme se verifica das fls. 693 a 695, da matéria conexa (DEBCAD 12898.000500/200910), já citada e que também está em julgamento perante esse Conselho, sob o mesmo relator. São como dito, processos que possuem conexão dos fatos e direito. Constatouse ainda que a Contribuinte apresentou inclusive aditivo à defesa no processo conexo (fls. 699 a 704), o que resultou em ciência integral do conteúdo, não havendo, portanto, falar em cerceamento de defesa, pois a recorrente teve a oportunidade de manifestarse de forma plena, tendo a fiscalização reparado possível equívoco na falta de envio de todas as informações, bem como foram conhecidas todos os recursos e alegações do contribuinte. Nesse sentido, não houve prejuízo à defesa. No processo administrativo fiscal as causas de nulidade se limitam às que estão elencadas no artigo 59, do Decreto 70.235, de 1972: "Art. 59. São nulos: I – os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II – os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. § 1º A nulidade de qualquer ato só prejudica os posteriores que dele diretamente dependam ou sejam conseqüência. § 2º Na declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos alcançados, e determinará as providências necessárias ao prosseguimento ou solução do processo. § 3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. (Parágrafo acrescentado pela Lei 8.748, de 1993.)". Mais, o art. 60 da referida Lei, do Decreto 70.235/1972 menciona que as irregularidades, incorreções e omissões não configuram nulidade, devendo ser sanadas se não resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio: "Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio". Eventual equívoco no envio do conteúdo fiscal à recorrente foi devidamente sanada pela fiscalização com o reenvio do material, do qual caberia à contribuinte provar não ter recebido ou apontado alguma falha concreta no recebimento deste, sendo que seu representante legal deu ciência no documento que recebeu os documentos mencionados na fl. 693, do DEBCAD 12898.000500/200910, o qual cabe mencionar que o representante legal Fl. 703DF CARF MF 6 não é responsável solidário arrolado como sujeito passivo nesse ou nos outros autos de infrações. Nesse sentido, a Súmula CARF 88, esclarece que o fato do sócio ser mencionado no RepLeg não configura por si só a corresponsabilidade pelo tributo exigido, conforme se constata abaixo: "Súmula CARF nº 88: A Relação de CoResponsáveis CORESP”, o “Relatório de Representantes Legais – RepLeg” e a “Relação de Vínculos – VÍNCULOS”, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa". Portanto, deve ser afastada as alegações de nulidade. DO MÉRITO Em razão do julgamento nesse Conselho na autuação conexa AI 37.216.0816, referente ao processo n.º 12898.000499/200923, e ter tido seu recurso julgado nesse mesmo ato improcedente, entendo como a DRJ de origem, que a prejudicialidade e de conexão daquele atinge o mérito desse. Sendo, portanto, também, improcedente o recurso desse processo. Cabe mencionar que naquele se discutiu o não recolhimento das contribuições da seguridade social dos segurados contribuintes individuais em que não houve o recolhimento devido por parte da contribuinte, e nesse a questão do não recolhimento dos 11% e preparo da retenção devida, obrigação acessória, gera a multa imposta. Portanto, no presente recurso a recorrente alega apenas que não deveria recolher as contribuições exigidas, pois estaria enquadrada na Lei º 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que rege as relações jurídicas das Cooperativas, em especial os seus atos que teriam sido realizados entre associados, que seriam considerados atos cooperados conforme se descreve do art. 79, da citada lei in verbis: "Art. 79. Denominamse atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos objetivos sociais. Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou mercadoria". Ocorre que, a recorrente alega que realizou esses atos com a empresa "associada" denominada "Green Matrix Ltda". Entretanto, não se verifica que a empresa estivesse nos seus quadros de associados cooperados, não sendo permitido de forma legal que ela ingressasse como sendo associada nos registros da Cooperativa1. 1 Conforme prescreve o art. 29 da Lei º 5.764/1971, podem se associar à cooperativa, as seguintes pessoas: "Art. 29. O ingresso nas cooperativas é livre a todos que desejarem utilizar os serviços prestados pela sociedade, desde que adiram aos propósitos sociais e preencham as condições estabelecidas no estatuto, ressalvado o disposto no artigo 4º, item I, desta Lei. Fl. 704DF CARF MF Processo nº 12898.000497/200934 Acórdão n.º 2301005.283 S2C3T1 Fl. 702 7 Possivelmente, para superar a questão descrita foi realizado então um "contrato de cooperação" entre a recorrenteGMS e Green Matrix Ltda, e que desse contrato resultou em infringências legais, em especial da legislação previdenciária, onde a própria recorrente alega que remunerava de forma diretamente os funcionários da empresa cooperada, tidos por ela como associados. Do Contrato de “Associação Cooperativa” juntado nas fls. 318 a 321 do processo conexo DEBCAD 12898.000500/200910, consta o termo de “Associação Cooperativa”, estabelecido no seguinte modo: "De um lado, Green Matrix Cooperativa de Profissionais Empreendedores Ltda., com sede na Rua da Quitanda, 607 4o andar Centro "Rio de Janeiro, CGC/MF n° 01.710.088/000106, representada por seu Diretor Presidente, Eduardo Manoel Farias Pereira e por seu Diretor, Gilberto da Silva Martins, adiante denominada Green Matrix Ltda., e de outro lado, Green Matrix Serviços Cooperativa de Profissionais Ltda., com sede na Rua da Quitanda, 60/4° andar Parte Centro Rio de Janeiro, CGC/MF.01.716.071/000158, representada por seu Diretor VicePresidente, Pedro Cezar Abreu e pela Conselheira, Maneia Costa Souza Fontenelle, adiante denominada Green Matrix Serviços. CLÁUSULA PRIMEIRA: OBJETO 1.1 Realização de ato cooperativo, inerente à prestação de serviços nàs áreas constantes no artigo 2o (DOS OBJETIVOS SOCIAIS) do Estatuto Social j da Green Matrix Serviços. 1.2 Os serviços relativos ao objeto deste contrato serão executados pela Green Matrix Serviços, em associação com a Green Matrix Ltda., através de seus profissionais cooperados, constituindo "ato cooperativo" conforme definido na Lei 5764/71. 1.3 A Green Matrix Serviços, neste ato, concede à Green Matrix Ltdai os poderes para contratar seus serviços, também em nome dos cooperados, substabelecendo os poderes que lhe foram estatutariamente outorgados. CLÁUSULA QUARTA: FATURAMENTO E PAGAMENTO 4.1 O faturamento da produção referente aos serviços prestados será feito pela Green Matrix Serviços tomando por base o custo referencial que for. utilizado no contrato com os usuários. 4.2 O faturamento será levantado ao final de cada atividade contratada e/ou.a cada período de 01 (um) mês, e apresentado à Green Matrix Ltda; § 1° A admissão dos associados poderá ser restrita, a critério do órgão normativo respectivo, às pessoas que exerçam determinada atividade ou profissão, ou estejam vinculadas a determinada entidade. § 2° Poderão ingressar nas cooperativas de pesca e nas constituídas por produtores rurais ou extrativistas, as pessoas jurídicas que pratiquem as mesmas atividades econômicas das pessoas físicas associadas". Fl. 705DF CARF MF 8 4.3 A Green Matrix Ltda. efetuará o pagamento contra a apresentação das faturas. 4.3.1 A Green Matrix Ltda. poderá efetuar adiantamentos de produção diretamente ao profissional cooperado da Green Matrix Serviços prestador de serviço, por solicitação desta última, fazendo, ao final de cada período, um encontro de contas para o acerto do débito/crédito porventura existente". Ocorre que, a Lei impõe que sejam recolhidas as contribuições sociais quando realizada a efetiva prestação de serviços por segurado individual, ocorrendo o fato gerador, salvo disposição contrária, não podendo, como já enfrentado pela DRJ de origem, que a pessoa jurídica que seria a verdadeira responsável pelo recolhimento devido modifique interpretação legal, conforme se denota do disposto no art. 22, inciso III, Lei nº 8.212/91, in verbis: "Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: (...) III vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços"; Ficou constatado dos autos e dos fatos conexos que a recorrente (como ela mesmo cita) remunerava os segurados individuais que para ela prestaram serviços, e portanto, caracterizada a ocorrência dos fatos gerados promovidas no auto de infração. Porém, alega também que não haveria contribuinte individual no período fiscalizado. Entretanto, as remunerações praticadas junto à Grenn Matrix foram exatamente no período da autuação, bem como a empresa recorrente menciona que os pagamentos foram feitos diretamente aos funcionários que prestaram serviços a ela ou a terceiros, conforme se constata do relatório fiscal, em que foram lançadas as seguintes informações: "(...) 3.6. Foram apresentadas à fiscalização as folhas de pagamento relativas aos cooperados (com a inscrição "Local: 10.01.56 Ltda/Fundadores"), de 01/2004 a 10/2004. A planilha "VALORES VERIFICADOS NAS FOLHAS DE PAGAMENTO "LOCAL: 10.01.56 LTDA/FUNDADORES" demonstra os valores contidos nas referidas FP. A contabilização das referidas folhas de pagamento está demonstrada na planilha "LANÇ. CONTÁBEIS CORRESPONDENTES ÀS FOLHAS DE PAGAMENTO "10.01.56 LTDA. FUNDADORES (...) 26) Nos TIF de 16/02/2009, de 24/03/2009, de 03/04/2009 e de 16/04/2009, solicitouse a apresentação de diversos documentos de caixa que deram suporte aos lançamentos contábeis nas contas citadas no item anterior. 27) Em esclarecimento prestado pela empresa em 09/03/2009, o Sr. Eduardo Manoel Farias Pereira afirmou que, em razão do acordo de cessão de cooperados da GMS para a prestação de serviços acertados entre a autuada e empresas tomadoras, para Fl. 706DF CARF MF Processo nº 12898.000497/200934 Acórdão n.º 2301005.283 S2C3T1 Fl. 703 9 maior agilidade ao procedimento, ficou acordado que os valores das sobras seriam distribuídos pela autuada diretamente aos cooperados da GMS. 28) Ressaltese que, na legislação previdenciária, não existe previsão de duas pessoas jurídicas estabelecerem um contrato entre si e os pagamentos feitos pela contratante à contratada ocorrerem por meio de depósito bancário diretamente a pessoa(s) física(s), sem que se atribua a essa(s) pessoa(s) física(s) a condição de segurado(s) obrigatório(s) da Previdência Social. 29) Assim, face a todo o exposto, os valores pagos às pessoas físicas verificadas nas citadas contas contábeis foram considerados, por esta fiscalização, como remuneração paga a contribuintes individuais". Por fim, não obrou a recorrente afastar a alegação da fiscalização de que a referida perdeu os requisitos necessários para estar enquadrada como Cooperativa, qual seja: o mínimo de 20 associados 2, conforme já amplamente abordado pela DRJ de origem. Em seu recurso a contribuinte sequer ataca a decisão de primeira instância nesse quesito, o que entendo que consumouse integralmente o fato legal que configura a descaracterização da Cooperativa, conforme o apontamento feito pelo fisco. CONCLUSÃO Por todo o exposto, voto por CONHECER e NEGAR provimento ao recurso voluntário, promovendo a manutenção da decisão a quo. É como voto. (assinado digitalmente) Wesley Rocha – Relator 2 O art. 6º, da Lei Lei º 5.764/1971, assim impõe: "Art. 6º As sociedades cooperativas são consideradas: I singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20 (vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente permitida a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto as mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos; II cooperativas centrais ou federações de cooperativas, as constituídas de, no mínimo, 3 (três) singulares, podendo, excepcionalmente, admitir associados individuais; III confederações de cooperativas, as constituídas, pelo menos, de 3 (três) federações de cooperativas ou cooperativas centrais, da mesma ou de diferentes modalidades". Fl. 707DF CARF MF 10 x Fl. 708DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10580.729059/2010-33
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Apr 24 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 28/02/2006 a 28/02/2007
AFERIÇÃO INDIRETA. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NULIDADE.
O uso da aferição indireta para apurar parcelas salariais tributadas, quando observados os requisitos legais, não acarreta nulidade nem cerceia o direito à ampla defesa. O descumprimento de intimação fiscal para o fornecimento de documentos justifica o uso da aferição indireta.
CONTRIBUIÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL. INCIDÊNCIA SOBRE PAGAMENTOS DE REMUNERAÇÃO NÃO DECLARADOS. OBRIGATORIEDADE DE DECLARAR EM GFIP.
Incide contribuição previdenciária, patronal e dos trabalhadores, sobre os valores pagos a título de remuneração pelo trabalho. Sujeita-se ao lançamento de ofício os fatos geradores não declarados em Gfip e identificados pela fiscalização, através de documentos apresentados pela empresa.
GLOSA DE COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO DOS CRÉDITOS DECLARADOS. ÔNUS DO DECLARANTE.
A compensação, em Gfip, da contribuição previdenciária com créditos líquidos e certos da mesma contribuição é permitida. Cabe ao sujeito passivo a comprovação da liquidez e certeza dos créditos utilizados para compensação, cuja prova não se faz pela mera declaração em Gfip de créditos compensáveis. É correta a glosa de valores compensados quando os créditos não forem comprovados por meios hábeis.
PERÍCIA. DESNECESSIDADE. CERCEAMENTO DE DIREITO DE DEFESA.
O indeferimento motivado de pedido de perícia não caracteriza cerceamento de direito de defesa. Não cabe perícia para fazer prova de fatos cujo ônus probante é da defesa e ela tem acesso às informações que pretenderia obter com a perícia. Nulidade do acórdão inexistente.
SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. VALE-TRANSPORTE. DESCONTO MENOR DO QUE O AUTORIZADO PELA LEI.
Não incide contribuição previdenciária sobre valores pagos a título de vale-transporte. A lei autoriza, mas não obriga, o desconto de até 6% da remuneração do empregado para custeio do vale-transporte. A ausência de desconto ou o desconto menor do que o autorizado não implicam descaracterização do benefício.
SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. ALUGUEL. EMPREGADO TRANSFERIDO.
A habitação fornecida pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distinta de sua residência é isenta da contribuição previdenciária quando atendidos os requisitos legais. A transferência do empregado para outra localidade implica a alteração do seu domicílio e, portanto, da sua residência. Configura salário indireto o pagamento de aluguel a empregado transferido, nos termos da CLT, para outra localidade.
SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. CARTÃO DE PREMIAÇÃO.
Integra o salário de contribuição a totalidade dos rendimentos pagos, a qualquer título, ao empregado e trabalhador avulso destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a forma. Excluem-se do salário de contribuição os ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário. O pagamento habitual de valores a título de prêmio de produtividade, por meio de cartão de premiação, integra o salário de contribuição.
MULTA. RETROATIVIDADE BENIGNA. APLICAÇÃO LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009.
Aplica-se a legislação inovadora quando mais benéfica ao sujeito passivo. A comparação das multas previstas na legislação, para efeito de aferição da mais benéfica, leva em conta a natureza da exação, e não a sua nomenclatura. Em se tratando de lançamento de ofício por descumprimento de obrigação acessória e principal, a aplicação da multa prevista no art. 35-A da Lei nº 8.212, de 1991, deve retroagir para beneficiar o contribuinte se resultar menor do que a soma das multas previstas nos artigos 32, §§ 4º e 5º, e 35, inc. II, da mesma lei.
Numero da decisão: 2301-005.194
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, NEGAR o pedido de perícia e REJEITAR as preliminares; no mérito, pelo voto de qualidade, dar parcial provimento ao recurso voluntário para, excluir do lançamento os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1, correspondentes à incidência de contribuições previdenciárias sobre as parcelas inferiores a 6% de desconto dos empregados a título de vale-transporte; vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto, Wesley Rocha, Marcelo Freitas De Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato que davam provimento ao recurso voluntário em maior extensão.
(assinado digitalmente)
João Bellini Júnior - Presidente.
(assinado digitalmente)
João Maurício Vital - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Júnior (Presidente), Antônio Sávio Nastureles, Alexandre Evaristo Pinto, Andrea Brose Adolfo, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa, João Maurício Vital e Wesley Rocha.
Nome do relator: JOAO MAURICIO VITAL
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CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NULIDADE. O uso da aferição indireta para apurar parcelas salariais tributadas, quando observados os requisitos legais, não acarreta nulidade nem cerceia o direito à ampla defesa. O descumprimento de intimação fiscal para o fornecimento de documentos justifica o uso da aferição indireta. CONTRIBUIÇÃO PARA A PREVIDÊNCIA SOCIAL. INCIDÊNCIA SOBRE PAGAMENTOS DE REMUNERAÇÃO NÃO DECLARADOS. OBRIGATORIEDADE DE DECLARAR EM GFIP. Incide contribuição previdenciária, patronal e dos trabalhadores, sobre os valores pagos a título de remuneração pelo trabalho. Sujeitase ao lançamento de ofício os fatos geradores não declarados em Gfip e identificados pela fiscalização, através de documentos apresentados pela empresa. GLOSA DE COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO DOS CRÉDITOS DECLARADOS. ÔNUS DO DECLARANTE. A compensação, em Gfip, da contribuição previdenciária com créditos líquidos e certos da mesma contribuição é permitida. Cabe ao sujeito passivo a comprovação da liquidez e certeza dos créditos utilizados para compensação, cuja prova não se faz pela mera declaração em Gfip de créditos compensáveis. É correta a glosa de valores compensados quando os créditos não forem comprovados por meios hábeis. PERÍCIA. DESNECESSIDADE. CERCEAMENTO DE DIREITO DE DEFESA. O indeferimento motivado de pedido de perícia não caracteriza cerceamento de direito de defesa. Não cabe perícia para fazer prova de fatos cujo ônus AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 58 0. 72 90 59 /2 01 0- 33 Fl. 2469DF CARF MF 2 probante é da defesa e ela tem acesso às informações que pretenderia obter com a perícia. Nulidade do acórdão inexistente. SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. VALETRANSPORTE. DESCONTO MENOR DO QUE O AUTORIZADO PELA LEI. Não incide contribuição previdenciária sobre valores pagos a título de vale transporte. A lei autoriza, mas não obriga, o desconto de até 6% da remuneração do empregado para custeio do valetransporte. A ausência de desconto ou o desconto menor do que o autorizado não implicam descaracterização do benefício. SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. ALUGUEL. EMPREGADO TRANSFERIDO. A habitação fornecida pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distinta de sua residência é isenta da contribuição previdenciária quando atendidos os requisitos legais. A transferência do empregado para outra localidade implica a alteração do seu domicílio e, portanto, da sua residência. Configura salário indireto o pagamento de aluguel a empregado transferido, nos termos da CLT, para outra localidade. SALÁRIO INDIRETO. SALÁRIO UTILIDADE. CARTÃO DE PREMIAÇÃO. Integra o salário de contribuição a totalidade dos rendimentos pagos, a qualquer título, ao empregado e trabalhador avulso destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a forma. Excluemse do salário de contribuição os ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário. O pagamento habitual de valores a título de prêmio de produtividade, por meio de cartão de premiação, integra o salário de contribuição. MULTA. RETROATIVIDADE BENIGNA. APLICAÇÃO LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Aplicase a legislação inovadora quando mais benéfica ao sujeito passivo. A comparação das multas previstas na legislação, para efeito de aferição da mais benéfica, leva em conta a natureza da exação, e não a sua nomenclatura. Em se tratando de lançamento de ofício por descumprimento de obrigação acessória e principal, a aplicação da multa prevista no art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, deve retroagir para beneficiar o contribuinte se resultar menor do que a soma das multas previstas nos artigos 32, §§ 4º e 5º, e 35, inc. II, da mesma lei. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, NEGAR o pedido de perícia e REJEITAR as preliminares; no mérito, pelo voto de qualidade, dar parcial provimento ao recurso voluntário para, excluir do lançamento os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1, correspondentes à incidência de contribuições previdenciárias sobre as parcelas inferiores a 6% de desconto dos empregados a título de valetransporte; vencidos os conselheiros Alexandre Evaristo Pinto, Wesley Rocha, Marcelo Freitas De Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato que davam provimento ao recurso voluntário em maior extensão. Fl. 2470DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.469 3 (assinado digitalmente) João Bellini Júnior Presidente. (assinado digitalmente) João Maurício Vital Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Júnior (Presidente), Antônio Sávio Nastureles, Alexandre Evaristo Pinto, Andrea Brose Adolfo, Juliana Marteli Fais Feriato, Marcelo Freitas de Souza Costa, João Maurício Vital e Wesley Rocha. Relatório Tratase de lançamento de ofício, Auto de Infração nº 37.280.6112, para a exigência das contribuições devidas por lei a outras entidades e fundos (terceiros), cuja competência para fiscalizar e arrecadar é da Secretaria da Receita Federal do Brasil. O lançamento decorreu de ação fiscal, relativa ao período de 2/2006 a 2/2007, na qual a Autoridade Lançadora identificou que a empresa havia declarado, em Gfip, valores inferiores aos valores efetivamente devidos de contribuição previdenciária, parte patronal e dos segurados, bem como os valores reflexos relativos às contribuições a terceiros. Da ação fiscal, resultaram os seguintes autos de infração: Nº do auto de infração (Debcad) Período Valor Nº do PAF Matéria lançada 372806139 09/2010 1.000,00 10580.729062/201057 Multa por deixar de declarar em GFIP (art. 32A). 372806082 09/2010 1.431,79 10580.729053/201066 Multa por deixar de descontar contribuição devida pelos segurados (art. 92). 372806368 09/2010 551.239,15 10580.729052/201011 Multa por deixar de declarar em GFIP (art. 32, §§ 4º e 5º). 372806090 2/2006 a 2/2007 2.784.318,36 10580.729056/201008 Contribuições da empresa para a previdência social. 372806104 5/2006 a 2/2007 128.486,40 10580.729057/201044 Contribuições dos segurados descontadas, mas não declaradas e nem recolhidas. 372806112 2/2006 a 2/2007 493.208,37 10580.729059/201033 Contribuições a terceiros. 372806120 2/2006 a 2/2007 957.210,48 10580.729061/201011 Contribuições dos segurados não descontadas, não declaradas e nem recolhidas. O processos encontramse vinculados, sendo que o processo principal é o de nº 10580.729056/201008, ao qual os demais estão apensos. Na ação fiscal, a Autoridade Lançadora constatou que a empresa não havia informado corretamente as bases de cálculo, contribuições e demais dados que deveriam constar das Gfip do período fiscalizado. Verificou, também, que o contribuinte não havia tributado os valores pagos a segurados relativos a despesas de alimentação por meio de empresa não inscrita no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), valetransporte, alugueis e cartão de premiação. Fl. 2471DF CARF MF 4 A Fiscalização apurou, ainda, que a empresa possuía créditos e os considerou para efeito de cálculo do montante tributável, bem como levou em conta todos os pagamentos efetuados pelo contribuinte sob o CNPJ da matriz e das filiais. Em decorrência das constatações, a Autoridade Lançadora constituiu os pertinentes créditos tributários relativos a tais parcelas que, no seu entender, integrariam o salário de contribuição. Assim, surgiram os autos de infração para a constituição da contribuição previdenciária patronal e dos segurados, bem como das contribuições a terceiros e das multas relacionadas a incorreções nas Gfip. Inconformada com o lançamento, a Recorrente apresentou, em cada um dos processos, impugnações nas quais, em síntese, questionou a tributação das verbas tidas por salárioutilidade, alegou que seus créditos e pagamentos não haviam sido considerados pela Autoridade Lançadora e solicitou perícia para a verificação dos valores levantados pela Fiscalização. Também insurgiuse contra o cálculo das multas devidas. Por fim, a Recorrente pleiteou, em cada um dos processos, a anulação dos respectivos autos de infração e, subsidiariamente, a aplicação das multas na forma que, segundo a Recorrente, lhe seria mais benéfica. A instância a quo analisou as impugnações e, de tudo o que foi questionado, deu provimento ao pedido de exclusão dos valores pagos a título de despesas de alimentação, mantendo hígidas todas as demais infrações apontadas pela Autoridade Lançadora. A Recorrente, então, apresentou recursos voluntários repisando as alegações das impugnações. É o relatório. Voto Conselheiro João Maurício Vital 1. Preliminar de nulidade por realização de aferição indireta pela Fiscalização A Recorrente alegou que o auto de infração deveria ser anulado porquanto a aferição indireta, no caso, não seria cabível porque feriria o regime de competência e, ainda, não teria havido justificativa para o uso daquele instituto e que isso teria inviabilizado o pleno exercício de seu direito de defesa. Destaquese que a Recorrente reproduziu, no recurso voluntário, quanto à matéria, os exatos termos que havia manifestado na impugnação. O colegiado a quo muito bem tratou da questão e peço vênia para reproduzir o pertinente trecho do voto do acórdão recorrido (efls. 2380 e 2382), com cuja conclusão concordo e cujos fundamentos também assumo como meus: 8. Em que pese o entendimento da impugnante, o Relatório Fiscal traz de forma clara e precisa, a matéria tributável (descrição dos fatos geradores), as contribuições devidas, o período do lançamento e todas as razões que ensejaram a lavratura do auto de Infração, indicando a origem das exigências lançadas, seus fatos geradores, o período a que se referem, como foram apurados os valores lançados e as razões dos procedimentos adotados. Fl. 2472DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.470 5 8.1. Especificamente, quanto ao critério da aferição indireta utilizada em relação aos levantamentos (VT, VT1, AL, AL1), foi constatado pela fiscalização por meio do exame da contabilidade da empresa, que esta forneceu salárioutilidade na forma de habitação a alguns de seus trabalhadores sem demonstrar que a moradia era necessária ao deslocamento do seu trabalho. Também foi informado no Relatório Fiscal que uma parte dos empregados da impugnante teria participado com apenas 1% (um por cento) de desconto sobre seu salário para o custeio do vale transporte, procedimento este em desconformidade com a Lei 7.418/85 que regula a concessão do Vale Transporte. 8.2. Assim, com o objetivo de identificar os fatos geradores e verificar a consistência dos registros contábeis e Folhas de Pagamento, a Fiscalização intimou o contribuinte, por meio do Termo de Início do Procedimento Fiscal e nos demais Termos de Intimação Fiscal, (fls.239/263), a prestar informações e fornecer cópias dos documentos (contratos de aluguel, esclarecimentos quanto aos beneficiários pelo pagamento, bem como sobre a destinação do imóvel locado, além dos comprovantes de fornecimentos de Vale transporte), que deram ensejo aos registros da contabilidade e folhas de pagamento, cujos lançamentos contábeis, no caso dos aluguéis estão relacionados no Relatório Fiscal. 8.3. No entanto, a empresa não atendeu a totalidade das intimações feitas no procedimento fiscal, obstando à ação da Fiscalização e impedindo a auditoria fiscal de identificar a totalidade dos atos e fatos da contabilidade. Assim, diante da recusa da empresa em apresentar a documentação solicitada, a autoridade fiscal não teve alternativa a não ser lançar de ofício a importância que reputou devida, considerando a totalidade dos pagamentos registrados nos lançamentos contábeis discriminados no item 4.4.8.3 do Relatório Fiscal (Salário Utilidade na modalidade de Aluguel – Conta Razão 31101040015 e 31201020013), e nas Folhas de Pagamento da Matriz, em relação ao valor de Vale Transporte concedido a alguns empregados em percentual menor que o exigido em Lei, com base no art. 33, parágrafo 3º, da Lei 8.212/91, invertendose o ônus da prova, que passou a ser da autuada. Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições sociais previstas no parágrafo único do art. 11 desta Lei, das contribuições incidentes a título de substituição e das devidas a outras entidades e fundos. (...) § 3o Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou informação, ou sua apresentação deficiente, a Secretaria da Receita Federal do Brasil Fl. 2473DF CARF MF 6 pode, sem prejuízo da penalidade cabível, lançar de ofício a importância devida.(grifei) (...) §6° Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, serão apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. 8.4. Vale destacar, ainda o que diz o Relatório Fiscal de Diligência em relação à rubrica Vale Transporte, fls. 2041/2046, sobre o qual a impugnante não se manifestou: “Para que fosse utilizado o método de aferição direta, seria necessário que a empresa tivesse disponibilizado o valor fornecido em vale transporte, empregado a empregado, mês a mês. Assim, a auditoria poderia aplicar ao valor do salário, o valor do vale transporte, verificando qual o percentual a ser ressarcido pelo empregado, ou seja, até o percentual máximo de 6% do salário e a seguir, confrontando esse percentual, com o valor da rubrica 046. A diferença encontrada, empregado a empregado, mês a mês, seria o valor do salárioutilidade considerado como base de cálculo”. 8.5. Desta forma, a aferição indireta, conforme praticada pela fiscalização no presente caso, está completamente amparada na legislação vigente. 8.6. Por fim, deve ser ressaltado também que os anexos “DD – Discriminativo do Débito”, “RL – Relatório de Lançamentos”, e os ANEXOS de fls. 91/402 do Relatório Fiscal, ao indicar a base de cálculo apurada, as alíquotas aplicadas, e as contribuições exigidas, por competência, propiciaram o pleno exercício do direito do contraditório e da ampla defesa, constitucionalmente assegurado aos litigantes em processo administrativo, pelo que deve ser afastada tal preliminar de nulidade. (Grifos e negritos do original.) Entendo, pois, que não há nulidade no auto de infração em razão do uso de aferição indireta para apurar parcelas salariais tributadas, já que foram observados os requisitos legais para a sua aplicação, sem que tenha havido qualquer prejuízo à defesa da Recorrente. 2. Diferenças entre as remunerações e contribuições de segurados da matriz, constantes da folha de pagamento e as declaradas na Gfip (levantamentos MT e MT1), glosa na compensação de créditos de competências anteriores (levantamento CG) e pedido de perícia Por serem intrinsecamente relacionados, merecem uma análise conjunta os seguintes tópicos indicados pela Recorrente em sua peça recursal: a) diferenças entre as remunerações e contribuições de segurados da matriz, constantes da folha de pagamento e as declaradas na Gfip (levantamentos MT e MT1), b) glosa na compensação de créditos de competências anteriores (levantamento CG) e c) pedido de perícia. Fl. 2474DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.471 7 Nos termos do inc. IV do art. 16 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, a Recorrente solicitou perícia, e indicou perito, para a) o refazimento dos cálculos constantes dos levantamentos MT e MT1, considerando os valores das Gfip que apresentara já sob o procedimento de ofício, e b) para esclarecer a origem dos valores e procedimentos adotados pela Fiscalização no caso do levantamento CG. Em relação aos valores identificados nos levantamentos MT (efls. 24 a 142) e MT1 (efl. 142 a 164), a Recorrente alegou que as diferenças apuradas na ação fiscal teriam sido resultantes de mero erro cometido pela empresa na transmissão das Gfip e que isso não teria resultado em falta de recolhimento. Afirma que, ao pretender retificar as Gfip para incluir informações faltantes, teria, inadvertidamente, transmitido as declarações como se novas Gfip fossem, o que teria ocasionado a sobreposição das informações anteriormente declaradas. Também sustentou, a Recorrente, que a Fiscalização teria deixado de considerar as informações sobre recolhimentos e compensações que resultaram sobrepostas pelo alegado erro de retificação de Gfip. Para sanar o erro cometido com a retificação das Gfip, a Recorrente tornou a apresentar as declarações, embora já sob procedimento de ofício, na tentativa de restabelecer as informações que enviara e que haviam sido substituídas. Na verdade, a apresentação das Gfip, as suas substituições indevidas e posteriores retificações intempestivas não têm a menor influência no deslinde da questão tratada neste ponto dos autos (embora tenha relevância quanto a outros aspectos tributários, resultantes da mesma ação fiscal e que serão tratados nos respectivos processos fiscais). Ao analisar os levantamentos MT e MT1, constatase que a investigação fiscal não se baseou nas Gfip para efetuar o lançamento, mas diretamente nas situações que configuraram fatos geradores das contribuições. A partir daí, a Autoridade Lançadora determinou as bases de cálculo, calculou o tributo correspondente, deduziu os pagamentos informados e os créditos identificados e lançou as diferenças devidas. Sobre a matéria, assim se manifestou o acórdão a quo (efl. 2383 a 2384): 10.2. As bases de cálculo das contribuições foram extraídas das folhas de pagamento, cujas bases foram comparadas com as bases declaradas em GFIP’S, e as diferenças lançadas nos levantamentos DC e DM, para possibilitar a apropriação de possíveis sobras de guias. Nestes dois levantamentos, foram lançados os valores de remuneração, desconto de segurados, salário família, salário maternidade e compensação, conforme declarados em GFIP. Nestes termos, as eventuais sobras de recolhimento foram utilizadas para abatimento dos levantamentos MT e MT1, que contêm as diferenças entre as remunerações e as contribuições de segurados da matriz, constantes da Folha de Pagamento e as não declaradas em GFIP, bem como os demais levantamentos apurados nesta ação fiscal. 10.3. Assim, todos os créditos constantes no sistema informatizado da Receita Federal do Brasil e os comprovados pela contribuinte durante a ação fiscal foram devidamente considerados e abatidos dos lançamentos vinculados aos Autos de Infração de descumprimento de obrigação principal, sendo que a autuada teve acesso a todas as informações necessárias ao Fl. 2475DF CARF MF 8 oferecimento de sua defesa administrativa. (Sem grifo no original.) Ao que se vê, a Autoridade Fiscal foi diligente em buscar, a partir das fontes primárias, e não das Gfip, as bases de cálculo das contribuições e, em relação aos levantamentos MT e MT1, essas bases de cálculo não foram contestadas no recurso voluntário. O Fisco também agiu com correção ao considerar, em favor do contribuinte, todos os pagamentos apresentados e créditos que foram identificados. Alegou, a Recorrente, que seus pagamentos não teriam sido aproveitados. Não procede a alegação, pois os valores efetivamente recolhidos pela empresa a título de contribuição previdenciária foram devidamente considerados no lançamento, para efeito de calcular o montante devido. Os recolhimentos informados pela empresa constam do Relatório de Documentos Apresentados (RDA) (efls. 173 a 177) e do Relatório de Apropriação de Documentos Apresentados (Rada) (efls. 178 a 193). Os mesmos valores constam do auto de infração, na coluna de créditos, a reduzir o valor do tributo lançado (efls. 7 a 21). Também alegou, a Recorrente, que seus créditos não foram compensados no cálculo da contribuição devida. A alegação é descabida, pois o que se verifica no Levantamento CG, que corresponde ao item 4.4.11 e respectivos subitens (efls. 208 a 211) do relatório fiscal, é que os saldos remanescentes dos créditos informados foram integralmente aproveitados. Observase, a partir das informações da Delegacia da Receita Previdenciária de Salvador (efls. 273 a 279) e do relatório fiscal, o seguinte: a) o contribuinte teve, nos processos nº 35013.003375/200661 e 35013.003667/200601, reconhecido o direito de compensar sobras de recolhimentos de vários estabelecimentos, no valor total de R$ 4.200.318,26, que foram integralmente utilizados na operação concomitante que consta do processo nº 35013.003667/200601; b) dos créditos reconhecidos, restaram inaproveitados quatro recolhimentos do estabelecimento 14.306.831/002063, no valor total de R$ 33.428,78 (item 4.4.11.2 do relatório fiscal, Tabela A, efl. 209); c) a empresa, ao invés de informar nas Gfip, para compensação, o saldo dos pagamentos inaproveitados na operação concomitante, informou valor muito maior, R$ 135.203,86, além de informar, indevidamente, como compensações nas Gfip, valores que já haviam sido utilizados para a operação concomitante; d) a Autoridade Lançadora corrigiu o saldo dos créditos remanescentes (R$ 33.428,78), refez os cálculos das compensações e glosou o que estava em excesso. Notase, pois, que, ao contrário do afirmado pela Recorrente, os seus créditos foram aproveitados no procedimento fiscal. Destaquese que a Recorrente apresentou planilha intitulada Acompanhamento Saldo INSS Recuperar 2006 (efl. 587), na qual constam valores muito diferentes dos que estão nos documentos emitidos pela Delegacia da Receita Previdenciária de Salvador (efls. 273 a 279). Porém, a Recorrente não apresentou qualquer comprovação dos valores que apontou e nem explicou, em seu apelo, qual a finalidade daquela planilha. A Recorrente solicitou perícia para levantar os valores refazer os cálculos dos levantamentos MT e MT1 e para verificar a origem dos valores constantes do levantamento CG. Fl. 2476DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.472 9 Ora, quanto aos levantamentos MT e MT1, os dados foram extraídos dos documentos fornecidos pela própria empresa e que estão nos autos, sendo absolutamente desnecessária qualquer perícia para esse fim pois os documentos fundamentais pertencem à Recorrente. Pretende, a Recorrente, que uma perícia venha considerar as Gfip entregues sob procedimento de ofício, quando, na verdade, esses documentos inexistem, para efeitos jurídicos, por força do disposto no parágrafo único art. 138 do CTN. O que quer a Recorrente é que sejam aproveitadas as informações de créditos compensáveis que constam das Gfip extemporâneas; mas, se os créditos são hígidos, caberia à Recorrente fazer prova deles, pois a Gfip (tempestiva ou não) não é documento hábil para provar a origem dos créditos utilizados em eventuais compensações. Os documentos que amparariam os créditos alegados nas Gfip intempestivas, se existem, deveriam estar sob a guarda da própria Recorrente. Quanto ao levantamento CG, os documentos e informações também constam dos autos, sobretudo a informação da Delegacia da Receita Previdenciária de Salvador (efls. 273 a 279) que subsidiou o referido levantamento. Não há necessidade de perícia para evidenciar o que já está evidente. O que se percebe é que a Recorrente apenas alega que os créditos diligentemente buscados pela Fiscalização não estão corretos, sem apresentar qualquer contraprova e invocando uma perícia para que cumpra o papel que seria da Recorrente. Para bem fundamentar meu entendimento, socorrome do voto do que conduziu o Acórdão nº 2301005.129, desta turma, da lavra do Conselheiro João Bellini Júnior: A teor do disposto no o art. 18 do Decreto nº 70.235, de 1972, com redação dada pelo art. 1º da Lei nº 8.748, de 1993, tais pedidos somente são deferidos quando necessários à formação de convicção do julgador. Ou seja, a perícia ou a diligência só têm razão de ser quando há questão de fato ou de prova a ser elucidada, a critério da autoridade administrativa que realiza o julgamento do processo. Além do mais, descabe diligência ou perícia para averiguação de fato que possa ser comprovado com a juntada de prova documental, cuja guarda e comprovação está a cargo do sujeito passivo, como se dá no presente caso. Portanto, indefiro o pedido de perícia, nos termos do art. 18 do Decreto nº 70.235, de 1972, por considerála despicienda porquanto todos os elementos necessários à decisão já se encontram nos autos. A despeito de toda a argumentação trazida no recurso e da juntada de centenas de folhas, a Recorrente não se desincumbiu, ao meu ver, do essencial, que seria provar que o débito lançado estaria errado ou que algum pagamento ou crédito não teria sido considerado na determinação do montante devido. Entendo que os valores das diferenças entre folha de pagamento e Gfip informados nos levantamentos MT e MT1 estão corretos, porquanto ali se indicam exatamente os valores calculados das contribuições devidas deduzidas de eventuais pagamentos e créditos conhecidos e comprovados pela Recorrente. Não cabe, pois, neste ponto, reparo no lançamento ou na decisão a quo. 3. Salárioutilidade valetransporte (levantamentos VT e VT1) Fl. 2477DF CARF MF 10 No que concerne ao valetransporte, o acórdão recorrido entendeu procedente o lançamento porquanto o empregador não teria observado a legislação de regência quanto ao desconto de 6% do salário do empregado. É o que está nos seguintes trechos do voto condutor daquele julgado (efls. 2387 e 2388): 11.6. Assim, observase, pela leitura de texto legal acima, que o empregador é obrigado a adquirir os valestransporte para fornecêlos aos seus empregados, ficando evidenciado ainda, que o empregador deverá participar do custeio do benefício com a parcela que exceder 6% do salário básico do trabalhador, o que significa dizer, que são proibidas quaisquer outras formas de prestação do benefício, entre elas, o fornecimento do vale transporte em espécie, além da participação do trabalhador em percentual inferior a 6% do seu salário básico. (Grifo do original.) ......................................................................................................... 11.8. Assim, a legislação transcrita não deixa dúvidas: o vale transporte, quando concedido nas condições e limites definidos na lei, possui natureza indenizatória, não incorporando a remuneração para quaisquer efeitos. No entanto, a inobservância da legislação específica transforma o pagamento do vale transporte em verba salarial que se incorpora à remuneração do empregado para todos os fins e efeitos. Porém, entendo que, neste ponto, reside razão à Recorrente. A questão dos autos é a incidência de contribuição previdenciária sobre os valores descontados do empregado em percentual menor do que 6% do seu salário. Sob o raciocínio do colegiado a quo, estariam excluídos da base de cálculo da contribuição apenas os valores suportados pela empresa menos a parcela descontada dos empregados, à razão de 6% de seus salários, não mais e não menos. Porém, a correta exegese do parágrafo único do art. 9º do Decreto nº 95.247, de 17 de novembro de 1987, que regulamentou a Lei nº 7.418, de 16 de dezembro de 1985, é que o desconto do empregado é uma faculdade do empregador, e não um requisito legal: Art. 9° O ValeTransporte será custeado: I pelo beneficiário, na parcela equivalente a 6% (seis por cento) de seu salário básico ou vencimento, excluídos quaisquer adicionais ou vantagens; II pelo empregador, no que exceder à parcela referida no item anterior. Parágrafo único. A concessão do ValeTransporte autorizará o empregador a descontar, mensalmente, do beneficiário que exercer o respectivo direito, o valor da parcela de que trata o item I deste artigo.(Sem grifo no original.) Assim, se o empregador optar por arcar, sozinho, com os custos de transporte de seus empregados, sem com eles dividilo ainda que autorizado, não terá desnaturado o benefício concedido pela lei, desde que os valores pagos sejam compatíveis com o custo do transporte do empregado de e para o trabalho. Portanto, entendo que os valores pagos ao empregado para a sua locomoção, mesmo que não tenha havido desconto de seu salário ou que Fl. 2478DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.473 11 esse desconto tenha sido menor do que 6%, subsumemse ao conceito de valetransporte e têm caráter indenizatório, razão pela qual entendo aplicarse, ao caso, Súmula Carf nº 89: Não há incidência de contribuição previdenciária sobre o vale transporte pago em pecúnia, considerando o caráter indenizatório da verba. (Sem grifo no original.) No mesmo sentido, decidiu unanimemente a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) no Acórdão nº 9202005.387, cujo voto condutor encerra: Assim, a partir da edição das Súmula CARFs e AGU citadas, a mera inexistência de desconto nas remunerações dos segurados, em percentual diferente, aquém dos 6% legalmente citados, não é suficiente para que se conclua acerca da incidência das contribuições previdenciárias, tal como se admitiu no Acórdão paradigma, uma vez, repitase, permitido, na forma das Súmulas, o recebimento em pecúnia para que os segurados, posteriormente, fizessem frente às suas despesas de transporte. Daí entender este Conselheiro que a tributação aqui baseada somente na existência de desconto em percentual diferente dos 6%, mesmo quando acompanhada, no paradigma, de rejeição do caráter indenizatório da verba não poderia, à luz da Súmula CARF no. 89, subsistir e, assim, voto, por negar provimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional. Entendo, pois, que os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1 devem ser excluídos do lançamento por, a despeito do quantum descontado dos empregados, se tratarem de valetransporte, verba de natureza indenizatória consoante Súmula Carf nº 89, sobre a qual não incide contribuição previdenciária. 4. Salárioutilidade aluguel pago a empregados (levantamentos AL e AL1) No caso dos autos, a Fiscalização identificou, nos registros contábeis da empresa, o pagamento de alugueis. Intimada a apresentar os respectivos contratos de locação, informando, no caso de aluguel residencial, a quem se destinava a moradia, a empresa não apresentou os documentos. Por consequência, a Autoridade Lançadora considerou os valores dos pagamentos escriturados como salários indiretos. 4.1. Dos alugueis pagos a Reginaldo Moreno dos Santos Quanto aos pagamentos de aluguel a Reginaldo Moreno dos Santos, a Recorrente alega que ele nunca foi seu empregado, senão o locatário de um imóvel que locara para ser utilizado como canteiro de obras em ItamarajuBA. Entretanto, apesar de haver sido intimada, no curso da ação fiscal a apresentar o contrato de locação, e podendo fazêlo inclusive na fase impugnatória ou mesmo nesta fase recursal, a Recorrente em nenhum momento apresentou o documento ou qualquer outro elemento para comprovar a natureza do aluguel. O acórdão recorrido manteve o lançamento sob o seguinte argumento: 11.30. Com relação aos valores lançados de locação ao Sr. Reginaldo Moreno dos Santos, a impugnante afirma que esta Fl. 2479DF CARF MF 12 pessoa nunca foi segurado da mesma, sendo, na realidade, apenas, proprietário de um imóvel situado na Avenida ACM, 1020, ItamarajuBA, o qual foi locado pela impugnante no período de 15/06/2006 a 15/11/2006 para utilização como canteiro de uma de suas obras. (Grifo do original.) 11.31. Contudo, verificase dos autos, que os recibos trazidos pela empresa, (fls. 2005/2010), vieram desacompanhados do contrato de locação, documento este que poderia comprovar suas alegações. 11.32. Neste sentido, cumpre destacar, novamente que as alegações da defesa que não estiverem acompanhadas da produção das provas competentes e eficazes desfiguramse e obliteram o arrazoado defensório, pelo que deve prosperar a exigibilidade fiscal. A parte que apenas alega, mas não produz prova, ou pelo menos indícios convincentes, dos fatos alegados, sujeitase às conseqüências do sucumbimento, porque não basta alegar. Para afastar o lançamento, são necessárias provas que infirmem o que consta do auto de infração, não bastando meras alegações, sobretudo quando os fatos são facilmente comprováveis e toda a eventual documentação estaria de posse da Recorrente. Bastaria apresentar o contrato de locação, ou outro elemento a confirmar que o imóvel teria sido destinado à instalação do canteiro de obras. Mas a Recorrente não logrou comprovar sequer se, de fato, teria havido uma obra naquela localidade. Ao omitir tais documentos, a Recorrente abre espaço para se rechaçar sua alegação e se admitir como absoluta a verdade apresentada pela Autoridade Lançadora. Portanto, em relação aos valores de aluguel pagos a Reginaldo Moreno dos Santos, constantes dos levantamentos AL e AL1, entendo correto o lançamento que os considerou de salário indireto. 4.2. Dos alugueis pagos a Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda e ao Condomínio Edifício Marques de Herval A Recorrente admitiu, no recurso voluntário, que Neide Jane e Cristiano de Souza Bila eram seus empregados e que foram transferidos para a filial de MaringáPR, provenientes, respectivamente, de SalvadorBA e NiteróiRJ. Do recurso voluntário e da análise dos contratos locatícios (efls. 677 a 683 e 716 a 722) depreendese que a empresa locou dois imóveis na cidade de MaringáPR para habitação de seus empregados. Destaquese que os objetos de ambos os contratos são imóveis de uso residencial e que os locadores eram, em ambos os casos, representados pela imobiliária Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda. Quanto aos valores pagos a Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda e ao Condomínio Edifício Marques de Herval, a Recorrente sustentou que não integrariam o salário de contribuição, porquanto estariam enquadrados no que assevera o inc. XII do § 9º do art. 214 do Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, in verbis: §9º Não integram o saláriodecontribuição, exclusivamente: ......................................................................................................... XIIos valores correspondentes a transporte, alimentação e habitação fornecidos pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distante da de sua residência, em Fl. 2480DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.474 13 canteiro de obras ou local que, por força da atividade, exija deslocamento e estada, observadas as normas de proteção estabelecidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego; Não assiste razão à Recorrente. Conforme ela mesmo afirma, seus empregados foram transferidos para novo município, em outro estado da federação, a fim de trabalharem em uma filial da empresa. O art. 469 do DecretoLei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) define que a transferência implica a mudança do domicílio do empregado, como se vê: Art. 469 Ao empregador é vedado transferir o empregado, sem a sua anuência, para localidade diversa da que resultar do contrato, não se considerando transferência a que não acarretar necessariamente a mudança do seu domicílio . (Sem grifo no original.) A regra isentiva estabelece que a habitação fornecida pela empresa ao empregado contratado para trabalhar em localidade distinta de sua residência não integra o salário de contribuição. Entendese por residência o local onde a pessoa habitualmente é encontrada. O domicílio é, segundo o art. 70 do Código Civil Brasileiro, o lugar onde a pessoa estabelece a sua residência com ânimo definitivo. A residência é, pois, um dos elementos do domicílio. É como a doutrina assevera: O conceito de domicílio civil se compõe, pois, de dois elementos: o objetivo, que é a residência, mero estado de fato material; e o subjetivo, de caráter psicológico, consistente no ânimo definitivo, na intenção de aí fixarse de modo permanente. A conjunção desses dois elementos forma o domicílio civil. A residência é, portanto, apenas um elemento componente do conceito de domicílio, que é mais amplo e com ela não se confunde. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte geral. 10ª edição São Paulo: Saraiva, 2012.) A alteração do domicílio, por força do disposto no art. 469 da CLT, corresponde também à alteração da residência para o novo local de trabalho. A rigor, não é possível conceber que os empregados, saindo um de SalvadorBA e outro de NiteróiRJ para trabalharem em MaringáPR, município a centenas de quilômetros daqueles dois, não tenham transferido suas residências. Portanto, não se trata de habitação fornecida para empregado em razão de ele trabalhar distante de onde mora, mas de mudança da residência para próximo do novo local de trabalho, em razão da transferência do trabalhador, razão pela qual não se aplica o inc. XII do § 9º do art. 214 do Decreto nº 3.048, de 1999. Além disso, o fornecimento de habitação aos empregados em cidade onde não há limitação de moradia, como na hipótese dos autos, não ocorreu para o trabalho, mas pelo trabalho, o que caracteriza uma contraprestação e dá caráter salarial ao benefício, como já foi decidido por esta turma, em caso semelhante, no Acórdão n º 2301003.996, verbis: No que tange ao fornecimento de habitação e sua caracterização como salárioutilidade, o TST possui a Súmula 367 que esclarece em que situações a habitação fornecida pode ser considerada como salárioutilidade, in verbis: Fl. 2481DF CARF MF 14 Súmula TST 367 Utilidades "in natura". Habitação. Energia elétrica. Veículo. Cigarro. Não integração ao salário. I A habitação, a energia elétrica e veículo fornecidos pelo empregador ao empregado, quando indispensáveis para a realização do trabalho, não têm natureza salarial, ainda que, no caso de veículo, seja ele utilizado pelo empregado também em atividades particulares. II O cigarro não se considera salário utilidade em face de sua nocividade à saúde. O conteúdo da Súmula 367, portanto, o qual adotamos integralmente para o caso por conta da aplicação do art. 110 do CTN, exige que o fornecimento de habitação seja dispensável para a realização do trabalho. Tal dispensabilidade, em regra, depende de prova que o fisco deve providenciar, salvo os casos em que for fato notório. In casu, os contratos que constam dos autos apontam que os imóveis locados localizavamse em cidades com boa disponibilidade de imóveis, como Brasília. Como qualquer trabalhador, os diretores ao serem convidados para trabalhar fora de seu domicílio devem ter considerado se o novo salário tornaria vantajosa sua nova situação. Em cidades com ampla oferta de imóveis, dispondo de salário adequado, os diretores poderiam providenciar seu novo domicílio. Com relação às utilidades, boa parte da doutrina e da jurisprudência do TST se alinhou à teoria finalística – originalmente defendida entre nós por José Martins Catharino na década de 1950 – que distingue as utilidades fornecidas “para o trabalho” das utilidades fornecidas “pelo trabalho”. As primeiras , “para o trabalho”, seriam funcionais, instrumentais, verdadeiros equipamentos de trabalho e, portanto, sem natureza salarial; as segundas, “pelo trabalho”, seriam contraprestativas e com natureza salarial. Não nos parece que o fornecimento de habitação em cidades com boa oferta de imóveis possa ser considerado de maneira similar a um equipamento de trabalho, pois a esmagadora maioria dos trabalhadores que lá trabalham arcam com o custo da habitação com seu próprio salário. Situação diferente seria o fornecimento de habitação em uma localidade inóspita e que não permitisse que o próprio trabalhador, de qualquer nível, acomodasse a si e a sua família. Concluo, portanto, existir nítido caráter contraprestativo no fornecimento de habitação para o caso em análise. Assim, entendo que a inclusão dos valores despendidos com habitação de diretores na base de cálculo da contribuição previdenciária atende aos desígnios da lei. Portanto, o lançamento está correto ao considerar os valores de habitação pagos a Almeida, Miyasaki & Cia. Ltda e ao Condomínio Edifício Marques de Herval, constantes dos levantamentos AL e AL1, como salários indiretos e integrálos à base de cálculo da contribuição previdenciária. 5. Salárioutilidade prêmio de incentivo (levantamentos CP, CP1, CM e CM1) Fl. 2482DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.475 15 Por intermédio da empresa Mark Up, a Recorrente realizou pagamentos a funcionários, a título de premiação, mediante crédito de valores em cartão magnético, cartões tais com disponibilidade de saque em terminais de atendimento bancário. Enfim, o pagamento dava em pecúnia, por meio de créditos disponíveis. Segundo a Recorrente, a premiação seguia critérios eminentemente meritórios, ou seja, o empregado estaria sendo remunerado pelo seu trabalho (efl. 2448). Afirma, ainda, que tais verbas constituem mera liberalidade da empresa empregadora e que não foram diretamente foram pagas pela Recorrente, mas por meio de uma empresa especializada (efl. 2449). Aduz que o pagamento não cria ou modifica direitos, que possui caráter excepcional vinculado ao alcance de metas e que, por isso, carece de habitualidade (e fl. 2139), o que colocaria a verba fora do conceito de saláriodecontribuição. A Recorrente afirmou que as verbas pagas não seriam habituais, mas esporádicas, e, por conseguinte, estariam enquadradas na exclusão prevista no item 7 da alínea e do § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212, de 1991, in verbis: § 9º Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: ......................................................................................................... 7.recebidas a título de ganhos eventuais e os abonos expressamente desvinculados do salário; Não assiste razão à Recorrente. De acordo com o art. 28, inc. I, da Lei nº 8.212, de 1991, os valores pagos a qualquer título para retribuir o trabalho integram o salário decontribuição: Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; A Recorrente faz a comum confusão entre eventualidade e habitualidade. De fato, as verbas recebidas eventualmente não estão sujeitas à contribuição previdenciária, sendo que o mesmo não acontece com as inabituais. Reproduzo o trecho do voto condutor do Acórdão nº 9202003.044 que assim abordou o tema: Como se vê, da leitura do art. 22, I e do art, 28,I da Lei nº 8.212/91 e do art. 201, § 1º do RPS, que somente é exigido o requisito da habitualidade no que diz respeito ao “salário in natura”, por incluir, expressamente, no conceito de remuneração os “ganhos habituais sob a forma de utilidades”, sem fazer menção ao requisito habitualidade para os pagamentos em espécie. Fl. 2483DF CARF MF 16 Ou seja, no campo de incidência das contribuições previdenciárias encontramse: a) a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, inclusive gorjetas (salário em espécie); e b) os ganhos habituais sob a forma de utilidades (salário in natura). Podese, então, concluir que a lei, ao definir a hipótese de incidência da contribuição previdenciária, exige o requisito da habitualidade tão somente para o salário in natura. Por seu turno, o art. 28, § 9º , alínea “e”, item “7” prevê expressamente que as importâncias recebidas a título de ganhos eventuais são isentas de contribuições sociais previdenciárias: “Não integram o saláriodecontribuição (remuneração) para os fins desta Lei, exclusivamente: (...)as importâncias: (...)recebidas a título de ganhos eventuais (...).” Assim sendo, podese afirmar que “a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho”, independentemente de serem ou não habituais, encontramse no campo de incidência das contribuições previdenciárias. Entretanto, “as importâncias recebidas a título de ganhos eventuais” encontramse excluídas da sua base de cálculo por se tratarem de importâncias atingidas pela isenção. Entendo que está sendo criada uma grande confusão ao tentarem comparar os conceitos de "habitualidade com o de não eventualidade" ou o "não habitualidade com o de eventualidade". Para o Dicionário Michaelis, as definições são: Habitual 1 Que acontece ou se faz por hábito. 2 Frequente, comum, vulgar. 3 Usual. Eventual 1 Dependente de acontecimento incerto. 2 Casual, fortuito. 3 Variável. De acordo com o Vocabuário Jurídico de Plácido e Silva: Habitualidade De habitual, entendese a repetição, a sucessividade, a constância, a iteração, na prática ou no exercício de certos e determinados atos, em regra da mesma espécie ou natureza, com a preconcebida intenção de fruir resultados materiais ou de gozo. Eventualidade De evento, significa o caráter e a condição do que é eventual, mostrando assim a possibilidade e a probabilidade do fato, cuja realização é esperada ou aguardada. A habitualidade, como requisito para que a prestação in natura, integre o saláriodecontribuição, diz respeito a freqüencia da concessão da referida prestação. Já a eventualidade, como elemento caracterizador da isenção prevista no art. 28, § 9º , alínea “e”, item “7”, ou seja, que Fl. 2484DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.476 17 decorram de importâncias recebidas a títulos de ganhos eventuais, dizem respeito a ocorrência de caso fortuito. No presente caso há de se assinalar, primeiramente, que foram realizados pagamentos em pecúnia, o que afasta a necessidade de se indagar a habitualidade com que o pagamento foi realizado. Entendo, pois, que o requisito da habitualidade não se aplica a recebimentos em pecúnia ocorridos em razão do trabalho. Mas, ainda que se aplicasse, não seria o caso dos prêmios pagos na hipótese dos autos. Esses prêmios, embora, em tese, fossem variáveis, nada tinham de eventuais e nem de inabituais; na verdade, eram pagos regularmente aos empregados, conforme se constata nos documentos dos autos. Em uma rápida análise, por amostragem, verificase que os empregados e respectivos valores recebidos se repetiram em praticamente todos os meses considerados na ação fiscal (2/2006 a 2/2007): eFolhas 292 a 329 330 a 385 399 a 465 466 a 517 Empregado Ângelo Mercury Garcia Ducineia Silva Conceição Jorge Lima de Deus Jaciara Balbino dos Santos Celso Antônio Majchrovicz Luiz Abrahao Filho Nivaldo Canella Antônio Carlos Fontana José Vogt fev/06 140,00 140,00 250,00 600,00 4.020,00 4.020,00 4.020,00 3.090,00 1.242,00 mar/06 140,00 140,00 250,00 600,00 4.982,79 4.020,00 3.090,00 1.242,00 abr/06 100,00 140,00 250,00 600,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 mai/06 100,00 200,00 250,00 600,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 jun/06 100,00 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 jul/06 100,00 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 ago/06 116,67 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 set/06 116,70 200,00 250,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 out/06 116,70 200,00 200,00 700,00 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 nov/06 116,70 200,00 250,00 933,34 4.020,00 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 dez/06 155,56 200,00 250,00 700,00 4.140,60 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 jan/07 116,67 200,00 250,00 700,00 4.140,60 4.502,40 4.020,00 3.090,00 1.242,00 fev/07 116,67 200,00 250,00 700,00 4.140,60 4.502,40 4.020,00 Essa modalidade de remuneração já foi, reiteradas vezes, objeto de análise no Carf, que coleciona vasta jurisprudência (a exemplo dos acórdãos nº 9201003.044, 2401 003.921 e 2301004.955) no sentido de considerar os cartões de premiação, exatamente como na espécie dos autos, como componente do saláriodecontribuição e, portanto, como elemento da base de cálculo da contribuição previdenciária, porquanto tratamse de rendimentos auferidos pelo trabalho, compondo, assim,a remuneração do empregado. Reproduzo a conclusão, na matéria, do voto condutor do acórdão recorrido (efl. 2393), por bem expressar o meu entendimento: 11.39. Do exposto, entendese que os créditos em discussão foram pagos aos segurados, com habitualidade (02/2006 a 02/2007), em função do resultado de seus trabalhos junto à impugnante, sendo evidente que não se tratou de distribuição de premiação sem causa, mas de pagamentos com caráter tipicamente remuneratório, formalizados impropriamente por Fl. 2485DF CARF MF 18 intermédio de cartões de incentivo, devendo sujeitarse em virtude disso à incidência de contribuição previdenciária. Portanto, o lançamento está correto ao considerar os pagamentos de cartão de premiação como saláriosdecontribuição. 6. Aplicação das multas de mora e de ofício A Recorrente sustenta que a comparação das multas, para efeito de aplicação da retroatividade benigna, estaria incorreta porque compara multas de mora com multas de ofício. Alega que a comparação deveria se dar somente entre as sistemáticas de cálculo de multa de mora vigentes à época dos fatos geradores com as vigentes à época do lançamento, pois, sempre segundo a Recorrente, a legislação da época não previa a aplicação de multa de ofício. Para efeito de constatação da hipótese mais benigna, deverseia comparar a Segundo o seu entendimento, por ter havido entrega de Gfip contendo informações incorretas ou omissão de dados, deveria ser aplicada, no caso, a multa prevista no inc. I do art. 32A da Lei nº 8..212, de 1991, incluído pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009: Art.32A. O contribuinte que deixar de apresentar a declaração de que trata o inciso IV do art. 32 no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentála ou a prestar esclarecimentos e sujeitarseá às seguintes multas: (Incluído pela Medida Provisória nº 449, de 2008) I de R$ 20,00 (vinte reais) para cada grupo de dez informações incorretas ou omitidas, e ............................................................................................................. A Recorrente justifica, em seu apelo, que a multa devida seria a prevista no inc. I do art. 32A da Lei nº 8..212, de 1991, porque se trata de multa com a mesma natureza da penalidade anteriormente prevista para a hipótese de entrega de GFIP contendo omissão de dados (efl. 2464) (sem grifo no original). De fato, acerta a Recorrente ao afirmar que devem ser comparadas as multas de mesma natureza, mas essa comparação conduz a conclusão de que a multa aplicada no caso dos autos está correta e o raciocínio da Recorrente, por conseguinte, está equivocado. Confunde, a Recorrente, a natureza da multa com a sua nomenclatura. A multa aplicada no lançamento sob análise não teve caráter moratório, devida pelo pagamento do tributo a destempo, mas tratouse de multa resultante da ação estatal que, por meio da medida fiscal, efetuou o lançamento nos termos do art. 142 do CTN. No Direito Tributário, as multas se classificam em dois gêneros: as multas de mora e as multas punitivas. As multas de mora são destinadas a reparar a impontualidade do contribuinte que, embora a destempo, adimpliu, espontaneamente, sua obrigação tributária. Têm efeito desestimulador do pagamento em atraso, de modo a compelir o contribuinte a pagar o tributo no prazo legalmente previsto, sob pena de arcar com ônus econômico adicional. As multas moratórias não se confundem com os juros de mora, cuja finalidade é a remuneração do capital no tempo. Tanto as multas quanto os juros moratórios integram o crédito tributário. Fl. 2486DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.477 19 As multas punitivas são sanções aplicadas ao contribuinte que deixou de, espontaneamente, cumprir a obrigação tributária, seja ela acessória ou principal. São aplicáveis quando, em atividade plenamente vinculada, o poder público identifica o descumprimento da obrigação e procede ao lançamento, como previsto no art. 142 do CTN, o que implica a imposição legal de penalidade pecuniária, na forma de multa, que integra o crédito tributário. As multas punitivas possuem duas distintas espécies: a multa de ofício e a multa isolada. A multa de ofício surge com o descumprimento da obrigação principal e é a ela vinculada, geralmente representando um percentual do tributo não recolhido. A multa isolada decorre do descumprimento de obrigação acessória e, com o lançamento, convertese em obrigação principal. No caso dos autos, independentemente da nomenclatura utilizada pela legislação de fundamento ou pelo auto de infração (efl. 2), tratamse de multas aplicadas em decorrência do descumprimento de obrigações tributárias principais, consistentes no não recolhimento dos valores de contribuições previdenciárias devidas pela Recorrente, apuradas mediante ação fiscal. Portanto, não há dúvidas de que multas constantes do discriminativo do débito (efl. 5 a 21), que compõe o auto de infração, têm natureza de multas de ofício. Não se trata de recolhimento espontâneo de tributos ocorrido após o vencimento, o que descaracteriza a natureza moratória das multas. Diante da constatação de que o encargo é, materialmente, multa de ofício, vale invocar o posicionamento da CSRF sobre a matéria, cujo entendimento encontrase pacificado. Reproduzo, pois, parte do voto condutor do Acórdão nº 9202006.028, com cuja fundamentação concordo e assumo como parte das razões de decidir: De inicio (sic), cumpre registrar que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), de forma unânime pacificou o entendimento de que na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Assim, a multa de mora prevista no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, não é aplicável quando realizado o lançamento de ofício, conforme consta do Acórdão nº 9202004.262 (Sessão de 23 de junho de 2016), cuja ementa transcrevese: AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA MULTA APLICAÇÃO NOS LIMITES DA LEI 8.212/91 C/C LEI 11.941/08 APLICAÇÃO DA MULTA MAIS FAVORÁVEL RETROATIVIDADE BENIGNA NATUREZA DA MULTA APLICADA. A multa nos casos em que há lançamento de obrigação principal lavrados após a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, mesmo que referente a fatos geradores anteriores a publicação da referida lei, é de ofício. AUTO DE INFRAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA COMPARATIVO DE MULTAS Fl. 2487DF CARF MF 20 APLICAÇÃO DE PENALIDADE. RETROATIVIDADE BENIGNA. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Se as multas por descumprimento de obrigações acessória e principal foram exigidas em procedimentos de ofício, ainda que em separado, incabível a aplicação retroativa do art. 32A, da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, eis que esta última estabeleceu, em seu art. 35A, penalidade única combinando as duas condutas. A legislação vigente anteriormente à Medida Provisória n° 449, de 2008, determinava, para a situação em que ocorresse (a) recolhimento insuficiente do tributo e (b) falta de declaração da verba tributável em GFIP, a constituição do crédito tributário de ofício, acrescido das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, respectivamente. Posteriormente, foi determinada, para essa mesma situação (falta de pagamento e de declaração), apenas a aplicação do art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991, que faz remissão ao art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996. Portanto, para aplicação da retroatividade benigna, resta necessário comparar (a) o somatório das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, e (b) a multa prevista no art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991. Pois bem, no caso de contribuições destinadas a terceiros, a legislação vigente quando dos fatos geradores determinava não incidia a multa prevista no art. 32, § 5º, mas somente a descrita no art. 35. Portanto, a comparação deve ser feita entre a multa do revogado art. 35, que vigia na época fatos geradores, e a multa introduzida pela legislação superveniente, que vigia quando do lançamento, que é a descrita no art. 35A. Todos os dispositivos citados são da Lei nº 8.212, de 1991. O acórdão recorrido, ao comparar as multas, concluiu, acertadamente, que a aplicação, em todos os períodos dos autos, do revogado art. 35 é mais benéfica ao contribuinte, porquanto é menor do que 75%. De fato, observase, no auto de infração, que a multa considerada pela Autoridade Lançadora foi de 24%, que é a faixa inicial da multa progressiva que estava regulada pelo já revogado art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991. Assim resumiu a decisão o voto condutor da decisão a quo (efl. 2395): 12.4. Desta forma, nos lançamentos referentes às contribuições destinadas a terceiras entidades, cujo fato gerador ocorreu em período anterior à vigência da MP 449/2008, como no caso em questão, somente cabe a lavratura de autodeinfração por descumprimento de obrigação principal, com a imposição da multa de mora prevista no art. 35, da Lei 8.212/91. A imposição da multa de ofício de 75% do tributo não recolhido, a teor do art. 44, I, de Lei nº 9.430, de 1996, que é mais severa ao contribuinte, somente pode ser imposta a partir das Fl. 2488DF CARF MF Processo nº 10580.729059/201033 Acórdão n.º 2301005.194 S2C3T1 Fl. 2.478 21 competências posterior à vigência da MP 449/2008. . (Grifo do original.) 12.5. Assim, como a legislação anterior (vigência à época da ocorrência dos fatos geradores) é mais benéfica ao contribuinte, no presente lançamento (referente às contribuições de terceiros), no período anterior à MP 449/2008 (02/2006 a 02/2007) houve somente a imposição da multa de mora prevista no art. 35, da Lei 8.212/91, com a redação da Lei nº 9.876/1999, pelo que devem ser rechaçados os argumentos da defesa. Destaquese que essa comparação deverá ser feita novamente, quando do efetivo pagamento das contribuições. É o que estabelece a Portaria Conjunta PGFN/RFB nº 14, de 4 de dezembro de 2009: Art. 2º No momento do pagamento ou do parcelamento do débito pelo contribuinte, o valor das multas aplicadas será analisado e os lançamentos, se necessário, serão retificados, para fins de aplicação da penalidade mais benéfica, nos termos da alínea "c" do inciso II do art. 106 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN). Conclusões Por todo o exposto, voto no sentido de DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso voluntário para: rejeitar a preliminar de nulidade em razão da utilização de aferição indireta e negar o pedido de perícia, por desnecessária e, no mérito, a) excluir do lançamento os valores resultantes dos levantamentos VT e VT1, correspondentes à incidência de contribuições previdenciárias sobre as parcelas inferiores a 6% de desconto dos empregados a título de valetransporte, e b) negar provimento nas demais matérias. João Maurício Vital Relator Fl. 2489DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11065.721414/2012-80
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 03 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Jun 12 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/01/2009 a 31/12/2010
PROVA TESTEMUNHAL. DEPOIMENTO PESSOAL. DESNECESSIDADE.
No rito do processo administrativo fiscal inexiste previsão legal para audiência de instrução na qual seriam ouvidas testemunhas ou apresentados depoimentos pessoais, devendo a parte apresentar tais depoimentos sob a forma de declaração escrita já com a sua impugnação.
Em todo o caso, tais depoimentos não se justificam a partir do momento que as questões abordadas no julgamento estão suficientemente claras nos autos, através de vasto conjunto probatório.
CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A OUTRAS ENTIDADES OU FUNDOS. SIMULAÇÃO.
Desconsiderados os atos jurídicos simulados, as contribuições destinadas a outras entidades ou fundos devem ser exigidas da pessoa jurídica que teve relação direta com o fato gerador.
MULTA DE OFÍCIO. PERCENTUAL DUPLICADO
O procedimento de simular contratos com empresa, com o objetivo de acobertar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária, caracteriza conduta dolosa tendente a excluir ou modificar as características essenciais da obrigação tributária principal, reduzindo desse modo o montante dos tributos devidos e evitando o seu pagamento, justificando a imposição do percentual duplicado da multa prevista por falta de recolhimento.
Numero da decisão: 2301-005.234
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
João Bellini Junior - Presidente
(assinado digitalmente)
Alexandre Evaristo Pinto - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrea Brose Adolfo, Alexandre Evaristo Pinto, João Maurício Vital, Wesley Rocha, Antônio Sávio Nastureles, Marcelo Freitas de Souza Costa, Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Júnior (Presidente).
Nome do relator: ALEXANDRE EVARISTO PINTO
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ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Período de apuração: 01/01/2009 a 31/12/2010 PROVA TESTEMUNHAL. DEPOIMENTO PESSOAL. DESNECESSIDADE. No rito do processo administrativo fiscal inexiste previsão legal para audiência de instrução na qual seriam ouvidas testemunhas ou apresentados depoimentos pessoais, devendo a parte apresentar tais depoimentos sob a forma de declaração escrita já com a sua impugnação. Em todo o caso, tais depoimentos não se justificam a partir do momento que as questões abordadas no julgamento estão suficientemente claras nos autos, através de vasto conjunto probatório. CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A OUTRAS ENTIDADES OU FUNDOS. SIMULAÇÃO. Desconsiderados os atos jurídicos simulados, as contribuições destinadas a outras entidades ou fundos devem ser exigidas da pessoa jurídica que teve relação direta com o fato gerador. MULTA DE OFÍCIO. PERCENTUAL DUPLICADO O procedimento de simular contratos com empresa, com o objetivo de acobertar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária, caracteriza conduta dolosa tendente a excluir ou modificar as características essenciais da obrigação tributária principal, reduzindo desse modo o montante dos tributos devidos e evitando o seu pagamento, justificando a imposição do percentual duplicado da multa prevista por falta de recolhimento.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/01/2009 a 31/12/2010 PROVA TESTEMUNHAL. DEPOIMENTO PESSOAL. DESNECESSIDADE. No rito do processo administrativo fiscal inexiste previsão legal para audiência de instrução na qual seriam ouvidas testemunhas ou apresentados depoimentos pessoais, devendo a parte apresentar tais depoimentos sob a forma de declaração escrita já com a sua impugnação. Em todo o caso, tais depoimentos não se justificam a partir do momento que as questões abordadas no julgamento estão suficientemente claras nos autos, através de vasto conjunto probatório. CONTRIBUIÇÕES DESTINADAS A OUTRAS ENTIDADES OU FUNDOS. SIMULAÇÃO. Desconsiderados os atos jurídicos simulados, as contribuições destinadas a outras entidades ou fundos devem ser exigidas da pessoa jurídica que teve relação direta com o fato gerador. MULTA DE OFÍCIO. PERCENTUAL DUPLICADO O procedimento de simular contratos com empresa, com o objetivo de acobertar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária, caracteriza conduta dolosa tendente a excluir ou modificar as características essenciais da obrigação tributária principal, reduzindo desse modo o montante dos tributos devidos e evitando o seu pagamento, justificando a imposição do percentual duplicado da multa prevista por falta de recolhimento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 06 5. 72 14 14 /2 01 2- 80 Fl. 1664DF CARF MF 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares e, no mérito, negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) João Bellini Junior Presidente (assinado digitalmente) Alexandre Evaristo Pinto Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrea Brose Adolfo, Alexandre Evaristo Pinto, João Maurício Vital, Wesley Rocha, Antônio Sávio Nastureles, Marcelo Freitas de Souza Costa, Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Júnior (Presidente). Relatório Em síntese, às fls 40, o Relatório Fiscal registra que a autuada juntamente com empresa CALÇADOS MOLLINO LTDA e mais as empresas DIVERSU´S COMPONENTES PARA CALÇADOS LTDA, MIXAGE CALÇADOS LTDA e CLEITON LAZARETTI & CIA LTDA, embora constituídas regularmente, não eram, de fato, sociedades independentes, mas empresas interpostas : “ A fiscalização teve início em 08/09/2011 com a ciência pessoal do Termo de Início de Procedimento Fiscal – TIPF. Todos os termos lavrados no curso do procedimento, inclusive contra as demais empresas do grupo, seguem em anexo a este relatório. No curso da ação fiscal, constatamos que a fiscalizada, juntamente com a empresa CALÇADOS MOLLINO LTDA, CNPJ 09.475.352/000178, sediada em São Francisco de Paula, RS, constituiu grupo econômico de fato e irregular, com a finalidade de sonegar contribuições sociais e contribuições de intervenção no domínio econômico, por meio de três “prestadoras de serviço”. As empresas DIVERSU´S COMPONENTES PARA CALÇADOS LTDA, MIXAGE CALÇADOS LTDA e CLEITON LAZARETTI & CIA LTDA, embora constituídas regularmente, não eram, de fato, sociedades independentes, mas empresas interpostas.” ( grifos do Relator) O contribuinte apresentou impugnação alegando que: como TODAS as fábricas deste porte, a AUTUADA, na condição de empresa ANCORA, possui uma série de PARCERIAS firmadas com diversos ATELIÊS, exatamente como outras empresas do setor onde algumas chegam a ter mais de 100 ateliês gravitando em sua volta. Dentre estes ATELIÊS, que nada mais são do que pequenas empresas que se prestam a trabalhar em uma das etapas da produção do calçado, nos anos de 2009 e 2010 entre outras, estavam as empresas DIVERSAS COMPONENTES PARA CALÇADOS LTDA., MIXAGE CALÇADOS LTDA. e CLEITON LAZARETTI & CIA LTDA. Nesse norte, andou muito mal a Autoridade Fiscal no instante em que não incluiu as empresas DIVERSU’S, MIXAGE e CLEITON no polo passivo deste Auto de Infração, pois como se verá adiante são empresas autônomas e independentes da AUTUADA. Fl. 1665DF CARF MF Processo nº 11065.721414/201280 Acórdão n.º 2301005.234 S2C3T1 Fl. 3 3 Após analisar aos argumentos da impugnante, na forma do registro de fls.1.487, a 7 ª Turma da Delegacia de Julgamento da Receita Federal do Brasil em Porto Alegre RS DRJ/POA, em 18 de dezembro de 2012, exarou o Acórdão n° 1041.922, julgando improcedente a impugnação. Irresignadas, as Recorrentes interpuseram idênticos Recursos Voluntários de fls.1.527 a 1.571, onde reiteram as alegações que fizeram em instancia “ad quo”. Em 23 de janeiro de 2014, a 3a Turma da 4a Câmara da 2a Seção emitiu a Resolução n. 2403002.219, que converteu o julgamento em diligência para informar, também, se foram deduzidos eventuais pagamentos recolhidos pelas empresas arroladas produzindo planilhas dos valore abatidos por empresa e por competência., assim como se há interesse comum. O contribuinte apresentou petição demonstrando que houve recolhimento de contribuição patronal pelo Simples pelas demais autuadas. É o relatório. Voto Conselheiro Alexandre Evaristo Pinto O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade. Dele conheço. Da Preliminar de Nulidade No que tange ao pedido de depoimentos pela Recorrente, ressalto o que já foi anteriormente dito no âmbito do Acórdão da DRJ no sentido de que no rito do processo administrativo fiscal não existe previsão legal para audiência de instrução, na qual seriam ouvidas testemunhas ou apresentados depoimentos pessoais, entre outros, de modo que a Recorrente deveria ter apresentado esses depoimentos sob a forma de declaração escrita, assim como outras provas que entendesse pertinentes, junto com sua impugnação. De qualquer forma, a partir da análise dos autos, tal pedido também não se demonstra necessário uma vez que as provas abordadas no julgamento estão suficientemente claras nos autos, através de documentos, declarações, circularizações, planilhas, informações prestadas pelas próprias empresas, entre outros. A Recorrente afirma que a fiscalização “feriu de morte o princípio constitucional da ampla defesa”, pois as empresas Diversu’s Componentes para Calçados Ltda., Calçados Mixage Ltda. e Cleiton Lazaretti e Cia. Ltda. não constaram do pólo passivo da autuação. Fl. 1666DF CARF MF 4 Todavia, consoante demonstrado no relatório fiscal, a autoridade lançadora, a partir da constatação dos fatos e dos procedimentos adotados pela empresa sob ação fiscal e interpostas, procedeu à cobrança das contribuições previdenciárias devidas atribuindo ao verdadeiro sujeito passivo, empresa Calçados Di Cristalli Ltda., a responsabilidade pelo pagamento do crédito lançado. A descrição dos fatos está clara e detalhada no Relatório Fiscal, constando do anexo Fundamentos Legais do Débito – FLD todos os dispositivos legais infringidos, correspondentes à obrigação tributária descumprida, qual seja a de recolher as contribuições previdenciárias devidas pelos segurados empregados e segurados contribuintes individuais a serviço da empresa. Ademais, referido relatório permitiu a autuada entender perfeitamente a infração da qual está sendo acusada, não havendo nenhum prejuízo ao seu direito de defesa, tanto assim que defende em extenso arrazoado a insubsistência do crédito tributário ora lançado. Ante o exposto, rejeito a preliminar de nulidade por cerceamento do direito de defesa, em virtude de não ter sido aberto o contencioso administrativo para as pessoas jurídicas contratadas pela autuada não pode ser acolhida, eis que estas empresas não fazem parte da relação jurídica debatida nos autos, que tem como únicos sujeitos a Fazenda Pública Federal e a Recorrente, conforme se verá a seguir. Da Simulação e Multa Qualificada No tocante à caracterização de grupo econômico e potencial simulação por meio da constituição de pessoas jurídicas para usufruir do regime tributário do Simples, destaquese que a Recorrente alega que tratase de planejamento fiscal, e que ela teria o papel da chamada “empresa âncora”, a qual trabalharia em parceria com as três empresas em questão (as quais denomina de “ateliês”) do ramo calçadista, adquirindo a produção das mesmas. Assim, o ponto principal do presente processo é a controvérsia sobre a legalidade fiscal da estrutura formal e funcionamento da autuada em sua relação com estas outras empresas, de modo que cabe indagar se seriam essas distintas e autônomas ou, apenas teriam esta roupagem no intuito de permitir a sonegação tributária. Cumpre destacar que no Relatório Fiscal, a auditoria fiscal elenca diversos fatos e circunstâncias com o intuito de evidenciar a ocorrência desta simulação, que analisados em conjunto serviram para firmar o entendimento de que se trata de grupo econoômico. Tal qual analisado no âmbito do Acórdão da DRJ, tal simulação estaria fundamentada em 20 itens, a seguir dispostos: 1º) Mesmo endereço das “prestadoras de serviço” A Recorrente se localiza na Rua Imperatriz Leopoldina nº 26, em Três Coroas, sendo que em dezembro de 2007 abriu uma filial no nº 33 dessa mesma rua. Nesse mesmo endereço operaria a empresa Diversu’s Componentes para Calçados Ltda. (ANEXO I e ANEXO VII 1). Os endereços se confundiam, assim como o funcionamento dentro da mesma área industrial, pois era utilizada a mesma sede e as mesmas instalações, demonstrando se tratarem da mesma unidade fabril. Da mesma forma as empresas Mixage e Cleiton Lazaretti foram estabelecidas no mesmo endereço (Rua Parobé, 306). Fl. 1667DF CARF MF Processo nº 11065.721414/201280 Acórdão n.º 2301005.234 S2C3T1 Fl. 4 5 A fiscalização visitou as instalações e constatou se tratar de um único imóvel, um galpão industrial, com uma única entrada e uma só portaria, o que pode ser observado nas fotos com a visão geral das instalações juntadas aos autos (Anexo XXX). Observouse um verdadeiro arranjo nos contratos de aluguel, pois esses são iguais para todas as empresas interpostas, com as mesmas datas, prazos de duração, dizeres, cláusulas, até mesmo os sinais de pontuação são ipsis litteris, sendo os reconhecimentos de firma feitos na mesma data e horário, no município de Três Coroas (Anexo XXIX). A Recorrente alega que no caso das empresas Mixage e Cleiton Lazaretti o prédio era grande e bem dividido, no entanto, não se verificou separação alguma entre ambas. A igualdade dos endereços dessas empresas demonstra estarmos tratando de um único grupo econômico. 2º) Do objeto social e do vínculo societário entre as empresas Inicialmente se diga que conforme os documentos constitutivos das sociedades todas operavam na fabricação de calçados, sendo que nas empresas interpostas, cada uma tinha responsabilidade por uma etapa do processo industrial, conforme a própria contribuinte demonstra em sua impugnação. Essa repartição do processo produtivo é mais um elemento de que na verdade o processo industrial foi dividido conscientemente para as empresas interpostas. Por outro lado, há forte vínculo familiar entre os sócios das empresas envolvidas. O exame das cópias dos contratos sociais e dos documentos acostados revela que todas as empresas têm como sócio pelo menos um integrante da família Fuhrmann/Souza, ou, ainda, empregados das empresas por eles controlados. 1 As referências aos Anexos apontam para os elementos que levaram a tais conclusões pela fiscalização. A Di Cristalli tinha em seu quadro societário o Sr. Léo Fuhrmann, e com a saída do sócio Cléber Cavallin, ingressou Matheus Furmann, filho do Sr. Léo, de apenas 8 meses de idade à época. Da empresa Calçados Mollino Ltda. era sócia administradora a Sra. Daiana Sulamita de Souza Furmann, esposa do Sr. Léo, e Jefferson Cássio de Souza, irmão de Daiana (Anexo I). Jefferson era também sócio da empresa Diversu’s Componentes para Calçados Ltda. Da empresa Calçados Mixage Ltda. temos como sócio majoritário Daniel Fuhrmann, menor de idade, que é sobrinho de Léo Fuhrmann, com 95% das quotas. O sócio minoritário com 5% das quotas é Diego Cavallin, irmão de Cléber Cavallin que foi sócio da Di Cristalli entre 2005 e 2008. Destaquese que Diego Cavallin era também empregado da Di Cristalli desde janeiro de 2006, como se observa em extrato do CNIS e Ficha de Registro de Empregados (Anexo XIX). A empregada da Di Cristali, Sra. Márcia Maria Pletsch, por sua vez, na entrega da DIRPF dos anoscalendários de 2009 e 2010, além de se declarar empregada da fiscalizada, também informava ser administradora da empresa Diversu’s (Anexo XLIII). Fl. 1668DF CARF MF 6 Tal engenharia societária facilitou todo o esquema de simulação imposto, visto que não se tratava de diversas empresas, mas de um único grupo econômico. 3º) Dados cadastrais de empresa eram os mesmos da Di Cristalli A empresa Diversu’s tinha junto ao sistema CNPJ da Receita Federal os mesmos dados cadastrais da empresa Di Cristallli (histórico cadastral de 19/12/2007). Isso já constava registrado três anos antes de sua incorporação2 pela Recorrente (novembro de 2010), como pode se observar à fl. 36 dos autos. Em tais dados da empresa Diversu’s o email do responsável era marli@dicristalli.com.br (empregada da Di Cristalli), sendo que o telefone para contato (51) 35468600, também era o mesmo da Recorrente. A autuada alega que o fato de constar nos dados cadastrais da empresa “Diversu’s” o telefone, o email corporativo e o local de trabalho da sua sede não fazem qualquer meio de prova. Discordamos da autuada, visto que qualquer contato que se fosse fazer com a Diversu’s teria que passar pelo controle da Di Cristalli, o que demonstra a ingerência da mesma sobre a empresa. 4º) Despesas de água, energia elétrica, telefonia No endereço utilizado pela empresa Diversu’s as faturas de fornecimento de água e de energia elétrica saiam em nome da empresa Di Cristalli (Anexo VIII). No mesmo sentido, a empresa Cleiton Lazaretti trabalhando como prestadora de serviço no segmento de calçados possuía uma média de 100 empregados, e Em novembro de 2010 a empresa Diversu's Componentes para Calçados Ltda. foi incorporada pela Di Cristallis. mesmo com tantos empregados não tinha despesas com energia elétrica, telefonia ou fornecimento de água, conforme o seu Livro Razão (Anexo XXXII). A Recorrente confirma que as faturas dessas despesas saíam em seu nome no caso da empresa Diversu’s, justificando que se devia ao fato de ser ela proprietária do imóvel. Ora, a Di Cristalis não iria pagar todas essas despesas de outra empresa sem o devido ressarcimento, os quais não ocorriam conforme verificado na contabilidade de ambas empresas pela fiscalização. Fica claro que a autonomia dessas empresas não passava de mera simulação, pois a autuada era responsável por todas as referidas despesas. 5º) Os sócios das empresas eram empregados da Di Cristalli em período concomitante Os sócios da empresa Diversu’s, Márcia Adriana Colombo e Jéferson Cássio de Souza, eram empregados da fiscalizada em período concomitante. A Sra. Márcia era empregada da empresa desde o ano de 2000, enquanto que o Sr. Jefferson de Souza, que entrou como sócio em julho de 2005, foi admitido no mês seguinte pela Recorrente (Anexo IX). Ora, é estranho que alguém que assumira num mês como sócio de uma empresa, ficando em tal situação por anos, no mês seguinte procuraria emprego numa outra Fl. 1669DF CARF MF Processo nº 11065.721414/201280 Acórdão n.º 2301005.234 S2C3T1 Fl. 5 7 empresa em “horário integral”, se não fosse pelo fato de que na verdade tal atividade societária fosse fictícia. Mesma situação se verifica no tocante a Diego Cavallin, sócio administrador da empresa Mixage, visto que o outro sócio era menor de idade. Diego era empregado da Di Cristalli desde janeiro de 2006 (Anexo XIX). Sua jornada de trabalho conforme o registro funcional era das 6h45min às 17h30min de segundafeira a sextafeira, ficando óbvio que não administrava a empresa Mixage, ou então, a administrava representando a Di Cristalli (visto o outro sócio ser menor). 6º) O produto da atividade das empresas ia para a Di Cristalli e Mollino A produção das empresas interpostas era direcionada para abastecer as empresas Di Cristalli e Mollino. A Diversu’s operava como uma prestadora de serviço quase que exclusivamente para o grupo econômico formado pela Di Cristalli e Mollino, com percentual de 100% em praticamente todos os períodos fiscalizados. Isso pode ser observado nas fls. 38 e 39 dos autos, assim como no Anexo XII. Da mesma forma, a empresa Mixage atuava como prestadora de serviço de acordo com a receita bruta declarada. A totalidade de seu faturamento provinha das empresas Di Cirstallis e Mollino, ou seja, trabalhava unicamente para esse grupo econômico. A empresa Cleiton Lazaretti, por sua vez, também prestou serviços predominantemente para a fiscalizada e para a Mollino, sendo que a partir de março de 2010 a empresa Mixage passou também a utilizar os seus serviços, visto que fazia parte do mesmo grupo econômico como já vimos. A justificativa da Recorrente, no caso da empresa Mixage, alegando que não seria estranho que todas as receitas dessa sociedade viessem da sua proveniência devido a parceria entre as duas empresas, o que não descaracterizaria a independência de ambas, ao contrário, não tem como se manter, pois apenas confirma que o grupo econômico que formava adquiria toda a produção dessas empresas interpostas, demonstrando sim que havia total dependência de relação econômica. 7º) Sincronismo entre os pagamentos de despesas das empresas interpostas e os aportes financeiros feitos pela Di Cristalli e Mollino Em verificação na conta Passivo Circulante – Adiantamento a Clientes da empresa Diversu’s foi possível observar que os diversos aportes financeiros feitos pela Di Cristalli e Mollino (ver Anexo XII) apresentavam um preciso sincronismo com a saída de recursos para pagamentos das suas despesas. Em períodos que são demonstrados no Relatório Fiscal, como no caso dos movimentos do dia 06/01/2009 e 05/03/2009, observase que os ingressos financeiros serviam para o pagamento dos salários. Essas movimentações estão demonstradas nas tabelas da fl. 40 dos autos, assim como no Anexo XIV. Fl. 1670DF CARF MF 8 A fiscalização verificou o mesmo no tocante a empresa Mixage. Cópias do Livro Razão referente à conta do Banco do Brasil demonstraram um sincronismo entre os adiantamentos feitos pela Di Cristalli e Mollino com os pagamentos de despesas feitas pela Mixage. Isso pode ser observado na tabela da fl. 44 (Anexo XXII). A constatação de que as despesas da Mixage eram pagas pela fiscalizada fica clara visto que os recebimentos de duplicatas tinham valores similares aos que deveriam ser pagos pela interposta, como se observa em alguns exemplos juntados ao Auto de Infração, como nos lançamentos dos dias 15 e 31 de março, e 22 de junho, como pode ser observado nos registros do Livro Razão, assim como nas páginas 44 e 45 dos autos. Na empresa Cleiton Lazaretti foi também feita tabela demonstrando a ingerência financeira das empresas Calçados Di Cristalli Ltda e Calçados Mollino Ltda (fls. 45 e 46). Como se observa, estas empresas receberam aportes financeiros da autuada – na forma de depósitos, adiantamentos e transferências entre contas – que foram necessários para cobrir seus gastos operacionais. Desta forma, é patente que o liame existente entre as empresas foge totalmente de uma simples relação comercial entre pessoas jurídicas. É inevitável concluir que havia dependência econômicofinanceira entre essas empresas. 8º) Compra da matériaprima das empresas vinha da Di Cristalli A matériaprima adquirida pelas empresas interpostas era adquirida pela autuada. No caso da empresa Diversu’s a rubrica contábil referente à matériaprima demonstra que todas as compras efetuadas no período tiveram apenas uma origem – Calçados Di Cristalli (Anexo XVI). Nada era adquirido de outro fornecedor, demonstrando que a empresa funcionava realmente como um departamento da fiscalizada. O mesmo acontecia com a empresa Mixage, onde todas as despesas da conta matériaprima têm como fornecedor a Recorrente (Anexo XXIII). A própria Di Cristalli confirma isso, ao tentar justificar que o fato dessas empresas adquirirem os seus insumos fazia parte da parceria que montara com as mesmas. A compra de insumos somente de um fornecedor demonstra algo mais que a alegada parceria, pois é uma conexão clara da dependência que havia em tais relações. 9º) Compra de materiais diversos pela Di Cristalli Além da fiscalizada fornecer toda a matériaprima para a empresa Mixage também fornecia sacos plásticos, panos de limpeza, lâmpadas, papel higiênico, etc., conforme se pode se observar nas notas fiscais do Anexo XXIII. Evidente fica que a empresa Mixage não passava de um mero estabelecimento da fiscalizada e da Mollino, pois não era responsável nem pela compra de materiais diversos. Fl. 1671DF CARF MF Processo nº 11065.721414/201280 Acórdão n.º 2301005.234 S2C3T1 Fl. 6 9 10º) Ausência de área administrativa e de outros setores nas interpostas Os empregados das empresas interpostas eram na sua totalidade da atividade fim, ou seja, não existiam outros setores a não ser o de produção. Por exemplo, os trabalhadores da empresa Mixage eram na sua totalidade da área de produção, conforme se observa no Anexo XXV. A tabela da fl. 47 apresenta 147 empregados todos envolvidos na área produtiva. Com um contingente desses de empregados é inconcebível que não houvesse empregados alocados em outras atividades. Além disso, na contabilidade da empresa, não existe nenhum registro de prestação de serviços de qualquer outra ordem que pudesse vir a dispensar a necessidade de mãodeobra em outras áreas, como recursos humanos, contabilidade, logística, administração, etc. Da mesma forma, a empresa Cleiton Lazaretti não passava de um mero departamento ligado fisicamente a Mixage e atendendo à fiscalizada e à Mollino. O quadro de empregados da Cleiton Lazaretti era na sua totalidade composto por “sapateiros” que trabalhavam na área de produção. Ou seja, só existiam trabalhadores na atividadefim, também sem empregados na área administrativa. A tabela apresentada à fl. 103 demonstra que os seus 104 empregados tinham tal incumbência (exceção feita a um porteiro), ou seja, realmente não havia nenhum empregado em qualquer outra área da empresa (Anexo XXXVII). Não é crível que inexistissem empregados em outras áreas. Na verdade fica nítido que toda a parte de logística, de administração e das demais atividades era feita pelas empresas Di Cristalli e Mollino, que eram as reais responsáveis por todo esse corpo de trabalhadores. 11º) Notas fiscais de remessa tinham o mesmo endereço do vendedor e do comprador O esquema de simulação tomou uma proporção tão grande que vários descuidos foram cometidos, como, por exemplo, não perceberam ao emitir diversas notas fiscais fictícias que o endereço do vendedor da matériaprima – Di Cristalli – era o mesmo da entrega da mercadoria – Diversu’s, inclusive, com o mesmo telefone do destinatário (35468600). Isso pode ser observado em inúmeras notas fiscais do Anexo XVI. 12º) Não havia transporte das mercadorias, tanto que constava como transportador a própria Di Cristalli As notas fiscais de remessa de mercadorias da Diversu’s para a empresa Mollino, tinha como transportadora a fiscalizada, sendo que não faz parte do objeto social da Calçados Di Cristalli o transporte de mercadorias. Na verdade, essas mercadorias nunca eram transportadas, pois se encontravam todas na mesma unidade fabril (Anexo XVII). Da mesma forma, as notas fiscais de remessa de mercadoria, em tese transação entre a Mixage e a Cleiton Lazaretti, eram também transportadas pela Di Cristalli, ou seja, o transporte das mercadorias não era feito por uma transportadora, mas sim pela própria indústria de calçados, a qual seria posteriormente destinatária de toda a produção junto com a Fl. 1672DF CARF MF 10 empresa Mollino. Fica claro que se tratava da sua própria produção, objetivando tais notas fiscais de remessa apenas dar aparência de veracidade a essas transações. 13º) Responsabilidade na entrega da DANFE Tanto era que a empresa Mixage era dependente da autuada que nos documentos fiscais – DANFE (Documento Auxiliar de Nota Fiscal Eletrônica) – quem respondia pela empresa na identificação do emitente era a empresa Di Cristalli, sendo a referência eletrônica eliane@dicristalli.com.br, empregada da fiscalizada (Anexo XXIV). 14º) Uma empresa interposta respondia por intimações de outra A simulação tomou uma proporção tamanha que o descontrole e a confusão entre os envolvidos foi acumulando provas, como no caso em que intimada a empresa Mixage a declarar onde se estabelecia, respondeu em nome da empresa Cleiton Lazaretti & Cia Ltda., conforme se verifica no comprovante da fl. 48. 15º) Os contratos entre a Di Cristalli e as interpostas eram todos “verbais” A empresa Mollino disse que a prestação de serviço da empresa Cleiton Lazaretti para com a Di Cristalli e Mollino era verbal (observese que a empresa Mollino respondia em nome da Di Cristalli). Intimada a empresa Mixage deu a mesma resposta, ou seja, que seu contrato com a Cleiton Lazaretti era verbal. Ou seja, a empresa Cleiton mesmo tendo recebido no período mais de 2,5 milhões de reais, quer nos fazer acreditar que fazia apenas contratos verbais com esses compradores. Não haveria previsão de multas por não entrega ou inadimplência. Não é factível esse procedimento, a não ser pelo fato de que todas essas operações eram na verdade fictícias, pertencentes a mesma unidade fabril. 16º) Telefone nas notas fiscais emitidas O telefone impresso como pertencente à empresa Cleiton Lazaretti nas notas fiscais de saída era o da autuada (Anexos XXV e VI). Ou seja, qualquer reclamação por parte dos compradores, esses deveriam se dirigir a Di Cristalli, e não a empresa Cleiton Lazaretti. 17º) Todas as empresas tinham a mesma contadora, a qual era empregada da Di Cristalli Inicialmente se registre que essa contadora não se tratava de uma profissional autônoma ou pertencente a algum Escritório Contábil, mas sim de uma empregada da empresa Di Cristalli em tempo integral. A empregada da autuada era a responsável pela contabilidade de todas essas empresas (Ver Anexos XXXIX, XL e XLI). Isso é verificável na declaração das empresas para a própria Receita Federal do Brasil (fl. 53). Fl. 1673DF CARF MF Processo nº 11065.721414/201280 Acórdão n.º 2301005.234 S2C3T1 Fl. 7 11 A justificativa da Recorrente de que sua empregada ser a contadora das empresas interpostas não significaria nenhum vínculo, podendo essa profissional ter tantos clientes quanto conseguisse atender, não procede, tendo em vista que a mesma se identificava como empregada da Di Cristalli, com email personalizado da empresa, e com o telefone da autuada para qualquer contato. Sendo que tais atividades com órgãos públicos eram realizadas no seu horário de expediente na Di Cristalli. A utilização da mesma contadora serviu para facilitar o trâmite contábil dessas operações. 18º) Informações entregues nas GFIPs As informações entregues em GFIP de todas as empresas traziam o mesmo responsável, com o telefone e o endereço eletrônico da empresa Di Cristalli – márcia@dicristalli.com.br, como já vimos empregada da autuada (Anexo XLII). Por outro lado, a responsável pela entrega da GFIP da Mixage se chamava Andréa, mas o telefone e o email informados eram também da Di Cristalli. Essa senhora seria Andréa Fuhrmann Lazaretti, irmã do administrador da Recorrente, e empregada da empresa Diversu’s (Anexo XLIV e XLV). A empresa Cleiton Lazaretti, por sua vez, apresentava também em sua GFIP o email e telefone da fiscalizada. O nome dado como responsável era de Loiva Terezinha da Silva Cemin, empregada da empresa Diversu’s. A confusão era tanta entre as sociedades, que se vê que era comum as empregadas de uma empresa fazerem trabalhos relacionados a outras, inclusive, apresentando declarações fiscais, dados que não teriam como ter acesso, se não estivéssemos tratando de uma única unidade fabril. As transmissões da GFIP da filial da Di Cristalli foram feitas pela mesma senhora Loiva Cemim, ou seja, mesma pessoa que transmitiu as declarações da empresa Cleiton Lazaretti (Anexo XLVII). A conclusão é óbvia: as funções administrativas das prestadoras de serviço eram feitas pelos empregados da estrutura da autuada. As prestadoras não eram autônomas, não assumiam efetivamente o risco do negócio. Eram pessoas jurídicas interpostas com o único fim de beneficiar o Recorrente e a empresa Mollino. Na impugnação a contribuinte confirma que a GFIP de todas as empresas teriam sido enviadas pela senhora Marli com o auxílio de seus colegas de trabalho, no caso empregados da Di Cristalli. A observação de que a senhora Marli Maria Pletsch seria uma profissional de destaque da região não muda em nada a constatação de que ela agia em nome dos interesses da Di Cristalli. 19º) Endereço IP de transmissão de documentos fiscais das empresas era o mesmo Se houvesse alguma dúvida ainda de que a transmissão de todos esses documentos fiscais vieram da mesma origem, essa foi dizimada pelo fato de que o endereço IP Fl. 1674DF CARF MF 12 de todas essas declarações ser idêntico. Todas as declarações foram transmitidas da mesma máquina, cujo IP é 193.168.1.20 (fl. 54). 20º) Das reclamatórias trabalhistas Nas demandas trabalhistas movidas contra a empresa Mixage atuaram como prepostas as senhoras Marli Maria Pletsch e Loiva Terezinha da Silva Cemim, sendo que ambas não teriam nenhum vínculo com a empresa Mixage, como já vimos – a primeira empregada da Di Cristalli e a segunda da Diversu’s (Anexo XLVIII). Outra senhora chamada Cristina Inês Zumach, empregada da Mixage, atuou como preposta da empresa Cleiton Lazaretti (Anexo LII). O advogado que representava as reclamadas era o mesmo, Dr. Fausto Guido Beck (fl. 55). Ou seja, a representação das empresas na Justiça do Trabalho era feita por empregados do grupo econômico, sendo comum empregados de uma das empresas interpostas representando as outras. A conclusão é óbvia: as funções administrativas das prestadoras de serviço eram feitas pelos empregados da estrutura da autuada. A Recorrente em sua defesa diz ser sabido que a Justiça do Trabalho possui entendimento pacificado no sentido de que a tomadora de serviços deve responder solidariamente com a prestadora de serviço pelos débitos trabalhistas, entendendo ser normal que viesse a ser incluído no pólo passivo de empregados dos estabelecimentos que chamava ateliês. Pelo contrário! Como veremos nos processos mencionados a seguir, ficou comprovado na Justiça do Trabalho que as empresas realmente seriam interpostas, pertencendo a mesma unidade fabril. a) Do processo nº 00801200935104007 No processo trabalhista nº 00801200935104007, da 1ª Vara do Trabalho de Gramado, o reclamante que teria prestado serviço a empresa Cleiton Lazaretti, trabalhava com uniforme (avental) da empresa Mixage. Transcrevemos o que é dito em tal processo: “Necessário destacarse que ambas as empresas de fato constituem a mesma unidade fabril, com mesmo maquinário, funcionários ...” (Anexo XLIX) (gn) b) Empregada Zimmermann Zimmer A empregada Juliana Zimmermann Zimmer que movia processo contra a empresa Cleiton Lazaretti, afirma que trabalhava com o uniforme da empresa Mixage, declarando que ambas empresas formavam uma mesma unidade fabril, compartilhando maquinário e empregados. E, mesmo tendo vínculo empregatício com essa empresa, quem acolheu a demanda judicial foi a empresa Mixage, de acordo com a Guia de Previdência Social relativa ao pagamento das contribuições previdenciárias incidentes sobre o processo, demonstrando solidariedade trabalhista tacitamente reconhecida (Anexo L). Nesse mesmo processo, a empresa Cleiton Lazaretti designou como preposto o Sr. Fernando Orestes Cicarolli que era empregados da Di Cristalli (Anexo LI). Fl. 1675DF CARF MF Processo nº 11065.721414/201280 Acórdão n.º 2301005.234 S2C3T1 Fl. 8 13 c) Decisão da Justiça do Trabalho no processo nº 00766200935204002 A própria Justiça do Trabalho reconheceu que tais empresas eram integrantes do mesmo grupo econômico, sempre estando sob a mesma direção, controle e administração dos mesmos proprietários, como se observa no processo nº 00766200935204002, da 2ª Vara de Trabalho de Gramado: “As reclamadas são solidariamente responsáveis pelos créditos trabalhistas da reclamante, eis que integrantes do mesmo grupo econômico. Com efeito, embora cada uma delas tenha personalidade jurídica própria, sempre estiveram sob a direção, controle e administração dos mesmos proprietários...” (Anexo LII) (gn) Dessa forma, há uma amplo conjunto probatório demonstrando que há características de simulação na constituição das pessoas jurídicas, uma vez que elas se confundem em diversos momentos com a Recorrente. Logo, esse conjunto de provas demonstrou que as empresas Diversu’s, Mixage e Cleiton Lazaretti se tratavam de empresas interpostas, pois tínhamos um só grupo econômico responsável por todo o processo produtivo, pertencente às empresas Di Cristalli e Mollino. Não era caso de terceirização, mas sim desse próprio grupo econômico agindo em todos os momentos da produção. As provas demonstram, portanto, que tais empresas não eram independentes, pois sua separação é uma ficção meramente formal, caracterizandose como um só grupo econômico. As empresas interpostas seriam na realidade uma filial/departamento da autuada com o intuito exclusivo de se beneficiar do tratamento fiscal e previdenciário favorável que as micro e pequenas empresas possuem que é a tributação através do SIMPLES. A justificativa apresentada pela Recorrente de que o seu planejamento fiscal seria incentivado por órgãos do governo, sendolhe assegurada a liberdade para organizar e reorganizar seus negócios da forma que entender conveniente também não prospera, pois não pode o interesse sob a tese de se valer da sua liberdade de livre iniciativa afrontar e desrespeitar normas previstas no ordenamento jurídico, especialmente em simular situações para obter vantagens econômicas e fiscais. Por fim, o impugnante no caso de não ter êxito em provar a inexistência de ato simulado ou da formação de grupo econômico, insurgese quanto à aplicação da multa qualificada de 150%, visto que entende não caracterizada a simulação, posto que na pior das hipóteses a multa punitiva deveria ser reduzida para o percentual de 75%. Como se verifica, todo o conjunto probatório indica a prática de ato simulado, isto é, ato doloso com a intenção de impedir o fisco de tomar conhecimento da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal. Assim, como a conduta descrita pela fiscalização caracteriza o intuito de pagamento a menor das contribuições, pela tentativa da contribuinte de simular atos negociais, deve ser mantida a multa de 150%, eis que condizente com a legislação que rege a matéria. Como a contribuinte não trouxe aos autos elementos que descaracterizassem a existência da simulação imputada, entendese pela manutenção integral do Auto de Infração. Conclusão Fl. 1676DF CARF MF 14 Com base no exposto, voto por conhecer voluntário, rejeitar as preliminares e negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Alexandre Evaristo Pinto Fl. 1677DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10580.722477/2008-85
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 11 00:00:00 UTC 2012
Data da publicação: Wed Jul 04 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2005, 2006, 2007
NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. Não provada violação das disposições contidas no art. 142 do CTN, tampouco dos artigos 10 e 59 do Decreto nº. 70.235, de 1972 e não se identificando no instrumento de autuação nenhum vício prejudicial, não há que se falar em nulidade do lançamento.
IRPF. REMUNERAÇÃO PELO EXERCÍCIO DE CARGO OU FUNÇÃO. INCIDÊNCIA. Sujeitam-se à incidência do imposto de renda as verbas recebidas como remuneração pelo exercício de cargo ou função, independentemente da denominação que se dê a essa verba.
IRRF. COMPETÊNCIA. A repartição do produto da arrecadação entre os entes federados não altera a competência tributária da União para instituir, arrecadar e fiscalizar o Imposto sobre a Renda.
MULTA DE OFÍCIO. DADOS CADASTRAIS. O lançamento efetuado com dados espontaneamente declarados pelo contribuinte que, induzido pelas informações prestadas pela fonte pagadora, incorreu em erro escusável no preenchimento da declaração, não comporta multa de ofício.
IRPF. JUROS MORATÓRIOS VINCULADOS A VERBAS TRABALHISTAS RECONHECIDAS JUDICIALMENTE. INCIDÊNCIA. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal - STF e pelo Superior Tribunal de Justiça - STJ em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543-B e 543-C do Código de Processo Civil, devem ser reproduzidas pelas turmas nos julgamentos dos recursos no âmbito do CARF. É o caso do Acórdão Resp. nº 1227133/RS, proferido pelo STJ sob o rito do art. 543-C do CPC, segundo o qual não incide imposto de renda sobre os juros moratórios legais vinculados a verbas trabalhistas reconhecidas em decisão judicial.
Preliminar rejeitada
Recurso parcialmente provido
Numero da decisão: 2201-001.714
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, REJEITAR a preliminar de nulidade do Auto de Infração. No mérito, por maioria de votos, DAR provimento PARCIAL ao recurso para excluir da base de cálculo os juros incidentes sobre as verbas recebidas e a multa de ofício. Vencidos os Conselheiros PEDRO PAULO PEREIRA BARBOSA (Relator)e MARIA HELENA COTTA CARDOZO, que apenas excluíram os juros, e RODRIGO SANTOS MASSET LACOMBE e RAYANA ALVES DE OLIVEIRA FRANCA, que deram provimento integral ao recurso. Designado para redigir o voto vencedor quanto à exclusão da multa de ofício o Conselheiro GUSTAVO LIAN HADDAD.
Assinatura digital
Maria Helena Cotta Cardozo Presidente
Assinatura digital
Pedro Paulo Pereira Barbosa Relator
Assinatura digital
Gustavo Lian Haddad Redator designado
EDITADO EM: 20/08/2012
Participaram da sessão: Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente), Pedro Paulo Pereira Barbosa (Relator), Eduardo Tadeu Farah, Rodrigo Santos Masset Lacombe, Gustavo Lian Haddad e Rayana Alves de Oliveira França.
Nome do relator: Pedro Paulo Pereira Barbosa
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Não provada violação das disposições contidas no art. 142 do CTN, tampouco dos artigos 10 e 59 do Decreto nº. 70.235, de 1972 e não se identificando no instrumento de autuação nenhum vício prejudicial, não há que se falar em nulidade do lançamento. IRPF. REMUNERAÇÃO PELO EXERCÍCIO DE CARGO OU FUNÇÃO. INCIDÊNCIA. Sujeitamse à incidência do imposto de renda as verbas recebidas como remuneração pelo exercício de cargo ou função, independentemente da denominação que se dê a essa verba. IRRF. COMPETÊNCIA. A repartição do produto da arrecadação entre os entes federados não altera a competência tributária da União para instituir, arrecadar e fiscalizar o Imposto sobre a Renda. MULTA DE OFÍCIO. DADOS CADASTRAIS. O lançamento efetuado com dados espontaneamente declarados pelo contribuinte que, induzido pelas informações prestadas pela fonte pagadora, incorreu em erro escusável no preenchimento da declaração, não comporta multa de ofício. IRPF. JUROS MORATÓRIOS VINCULADOS A VERBAS TRABALHISTAS RECONHECIDAS JUDICIALMENTE. INCIDÊNCIA. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal STF e pelo Superior Tribunal de Justiça STJ em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543B e 543C do Código de Processo Civil, devem ser reproduzidas pelas turmas nos julgamentos dos recursos no âmbito do CARF. É o caso do Acórdão Resp. nº 1227133/RS, proferido pelo STJ sob o rito do art. 543C do CPC, segundo o qual não incide imposto de renda sobre os juros moratórios legais vinculados a verbas trabalhistas reconhecidas em decisão judicial. Preliminar rejeitada AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 58 0. 72 24 77 /2 00 8- 85 Fl. 202DF CARF MF 2 Recurso parcialmente provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, REJEITAR a preliminar de nulidade do Auto de Infração. No mérito, por maioria de votos, DAR provimento PARCIAL ao recurso para excluir da base de cálculo os juros incidentes sobre as verbas recebidas e a multa de ofício. Vencidos os Conselheiros PEDRO PAULO PEREIRA BARBOSA (Relator)e MARIA HELENA COTTA CARDOZO, que apenas excluíram os juros, e RODRIGO SANTOS MASSET LACOMBE e RAYANA ALVES DE OLIVEIRA FRANCA, que deram provimento integral ao recurso. Designado para redigir o voto vencedor quanto à exclusão da multa de ofício o Conselheiro GUSTAVO LIAN HADDAD. Assinatura digital Maria Helena Cotta Cardozo – Presidente Assinatura digital Pedro Paulo Pereira Barbosa – Relator Assinatura digital Gustavo Lian Haddad – Redator designado EDITADO EM: 20/08/2012 Participaram da sessão: Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente), Pedro Paulo Pereira Barbosa (Relator), Eduardo Tadeu Farah, Rodrigo Santos Masset Lacombe, Gustavo Lian Haddad e Rayana Alves de Oliveira França. Relatório VILMA COSTA VEIGA interpôs recurso voluntário contra acórdão da DRJ SALVADOR/BA que julgou procedente em parte lançamento, formalizado por meio de auto de infração, para exigência de Imposto sobre Renda de Pessoa Física – IRPF, referente aos exercícios de 2005, 2006 e 2007, no valor de R$ 88.156,44, acrescido de multa de ofício e de juros de mora, perfazendo um crédito tributário total lançado de R$ 182.809,99. A infração que ensejou o lançamento foi a classificação indevida de rendimentos como isentos, conforme descrição dos fatos do auto de infração, a seguir reproduzida: O sujeito passivo classificou indevidamente como Rendimentos Isentos e Não Tributáveis os rendimentos auferidos do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, CNPJ 13.100.722/000160, a título de ‘Valores Indenizatórios de URV, a partir de informações a ele fornecidas pela fonte pagadora. Fl. 203DF CARF MF Processo nº 10580.722477/200885 Acórdão n.º 2201001.714 S2C2T1 Fl. 3 3 Tais rendimentos decorrem de diferenças de remuneração ocorridas quando da conversão de Cruzeiro Real para a Unidade Real de Valor – URV em 1994, reconhecidas e pagas em 36 parcelas iguais no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2006, com base na Lei Complementar do Estado da Bahia nº 20, de 08 de setembro de 2003. Estas diferenças recebidas têm natureza eminentemente salarial, e consequentemente, são tributadas pelo imposto de renda, conforme disposto nos arts. 43 e 114 da Lei nº 5.172, de3 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional (CTN), sendo irrelevante a denominação dada aos rendimentos para sujeitálo ou não à incidência do imposto. Preceitua a Lei Complementar do Estado da Bahia nº 20, de 2003, dentre outras coisas, que a verba em questão é de natureza indenizatória. A única interpretação possível em harmonia com o ordenamento jurídico nacional e em especial com sistema tributário, é a de que esta Lei disciplina aquilo que é pertinente à competência do Estado, ou seja, seus efeitos não se estendem ao imposto de renda. Principalmente porque não se fez, e nem se poderia, estender seus efeitos tributários ao âmbito federal. Não poderiam os Estados Federados versarem sobre o que não se lhes foi constitucionalmente outorgado, seja para criar, seja para isentar tributo. A lei complementar aludida tem repercussão jurídica em outras matérias afeitas à competência legislativa estadual, tão somente. Considerar que uma lei estadual possa afastar a incidência do imposto de renda de determinadas verbas, denominandoas de indenizatórias, seria descuido crasso, porquanto demonstraria desconhecimento básico acerca dos limites impostos às competências tributárias dispostas na Carta Magna de 1988, particularmente nos artigos 153 e 154. Ademais, o CTN dispõe, no art. 111, que se interpreta literalmente a legislação tributária pertinente à outorga de isenção. As isenções do Imposto de Renda da Pessoa Física são as expressamente especificadas no art. 39 do Decreto nº 3.000, de 1999. Verificase que a legislação tributária não contempla isenção a diferenças salariais reconhecidas posteriormente, ainda que recebam a denominação de “indenização” ou “valores indenizatórios” são tributáveis pelo imposto de renda. A Contribuinte impugnou o lançamento e alegou, em síntese, que o auto de infração seria nulo em razão da ilegitimidade ativa e da falta de interesse jurídico da Receita Federal do Brasil (RFB) para fiscalizar, administrar ou cobrar o imposto lançado. Pois, em razão da distribuição constitucional das receitas, todo o montante que fosse arrecado a título de imposto de renda incidente sobre os valores pagos a título de URV teria como destinatário o próprio Estado da Bahia; que a própria Receita Federal entende que é ilegítima para figurar no pólo passivo de pedido de compensação vinculado a crédito tributário referente a IRRF retido pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, por não ter a disponibilidade sobre os valores recolhidos. Assim, pelo mesmo motivo, concluise que a União é parte ilegítima para exigir o referido imposto; que as diferenças pagas pelo Estado da Bahia decorrentes do erro na Fl. 204DF CARF MF 4 conversão da remuneração dos Magistrados de Cruzeiro Real para URV têm natureza jurídica indenizatória, conforme previsto nos arts. 4º e 5º da Lei Estadual da Bahia nº 8.730, de 08 de setembro de 2003. Portanto, tais rendimentos são isentos de imposto de renda; que o STF, através da Resolução nº 245, de 2002, deixou claro o caráter indenizatório de tais verbas, e da consequente não incidência do imposto de renda. Neste mesmo sentido estão a jurisprudência pátria, decisões do Conselho de Contribuintes, e a Solução de Consulta SRF nº 55 de 18 de abril de 2005; que mesmo que tal verba fosse tributável, não caberia a aplicação da multa de ofício e juros de mora, pois o contribuinte agiu de boa fé, seguindo informações constantes nos contracheques emitidos pela fonte pagadora; que, além disso, o caráter indenizatório de tal verba estava previsto em lei, o que, também, afastaria de a aplicação de multa e juros, nos termos dos artigos 100 e 112 do CTN. A DRJSALVADOR/BA julgou procedente em parte o lançamento para excluir da exigência o valor de R$ 9.403,08 e correspondentes acréscimos, com base nas considerações a seguir resumidas. Inicialmente, a DRJSALVADOR/BA observou que as verbas em questão foram pagas em decorrência da Lei Estadual da Bahia nº 8.730, de 2003 que se refere a diferenças de remuneração quando da conversão da URV, a qual era realizada mensalmente e visava à manutenção do valor real do salário. Daí concluiu que as diferenças recebidas tinham natureza eminentemente salarial; que o recebimento extemporâneo de tais diferenças não altera a natureza das verbas, ainda que o beneficiário tenha tido que recorrer à Justiça e o acordo tenha sido implementado mediante lei complementar. Registra, ainda, que a tributação incide também sobre os complementos, juros e atualização monetária. Sobre o disposto no artigo 5º da Lei Estadual da Bahia nº 8.730, de 2003, que dispõe que as diferenças pagas teriam natureza indenizatória, observa que o Imposto de Renda é regido por legislação federal e, portanto, tal dispositivo não tem nenhum efeito em matéria tributária, destacando que a incidência do imposto de renda independe da denominação do rendimento e que indenizações não são indistintamente isentas, mas apenas aquelas previstas em lei específica como tal; que o art. 55, XIV, do RIR/99 prevê expressamente que tanto os juros moratórios quanto quaisquer outras indenizações por atraso de pagamento estão sujeitos à tributação, salvo se corresponderem a rendimentos isentos ou não tributáveis. Sobre a alegação de que deveria ser reconhecida a isenção com base na Resolução do STF nª 245, de 2002, que reconheceu a isenção do abono vinculado às diferenças de URV pagas aos magistrados federais, registra que o benefício não poderia ser estendido aos membros do Ministério Público Estadual, pois tal resultaria em isenção sem lei específica, e que também não seria o caso de se recorrer à analogia. Também não seria o caso de se aplicar a isonomia com relação aos magistrados federais, pois se trata de funcionários públicos sujeitos a leis específicas distintas, e que a isenção, no âmbito federal, decorreu de resolução expedida no âmbito do próprio Poder Judiciário. E sobre a responsabilidade da fonte pagadora pela retenção do IRRF, registra que esta se extingue com o término do prazo para a apresentação da declaração dos rendimentos pelo beneficiário dos rendimentos, conforme orientação da Receita Federal por meio da Instrução Normativa SRF nº 1, de 24 de setembro de 2002. Ainda sobre a retenção do imposto pela fonte pagadora, anota que, embora o produto da arrecadação do imposto pertença à fonte pagadora, no caso o Estado da Bahia, este fato não isenta o beneficiário dos rendimentos de oferecêlo à tributação; que, portanto, a competência para o lançamento tributário e o julgamento da lide são da União. Fl. 205DF CARF MF Processo nº 10580.722477/200885 Acórdão n.º 2201001.714 S2C2T1 Fl. 4 5 Relativamente à multa de ofício, a DRJ rechaça a alegação de que, como os informes de rendimento apresentados pela fonte pagadora indicavam que se tratava de rendimentos isentos, sem a retenção do imposto, agiu de boafé e não poderia ser punido com a multa. Observa que a infração independe da intenção do agente e que a multa é devida pela omissão dos rendimentos e não pela prática de fraude. Finalmente, a DRJ registra que a autuação observou a regra estabelecida pela orientação da PGFN por meio do Parecer PGFN/CRJ nº 287/2009, eliminando os efeitos tributários do recebimento dos rendimentos de forma acumulada, todavia, foram tributados indevidamente os valores correspondentes a 13º salário e férias indenizadas, valores que exclui da tributação. O Contribuinte tomou ciência da decisão de primeira instância em 06/04/2011 e, em 28/04/2011, interpôs o recurso voluntário que ora se examina e no qual afirma, inicialmente, que a decisão recorrida não enfrentou a questão suscitada na impugnação quanto à falta de legitimidade da União para cobrar imposto de renda que pertence, por determinação constitucional, ao Estado; que também não enfrentou a questão da “quebra da capacidade contributiva da recorrente”. Afirma que tais omissões representam supressão de instância, afrontando o devido processo legal, o contraditório e ampla defesa. Reafirma, como preliminar, as alegações de ilegitimidade passiva da União para cobrar o imposto incidente na fonte e que não foi objeto de retenção pelo Estado; reafirma a alegação de quebra da capacidade contributiva do Contribuinte, que estaria caracterizada pelo fato de que o Fisco pretende receber o imposto em valor maior do que o que seria devido caso os rendimentos fossem recebidos no tempo próprio, com multa, correção e juros. Quanto ao mérito, reitera, em síntese, as alegações e argumentos da impugnação quanto à natureza indenizatórias das verbas recebidas; sobre a quebra do princípio constitucional da isonomia, em face do tratamento recebido pelo membros do Poder Judiciário Federal; questiona procedimentos de cálculos quanto á alíquota aplicável, as base de cálculo e a inclusão indevida de rendimentos que seria de 13º salário e abono de férias. Por fim, reitera alegações contra a aplicação da multa e dos juros de mora, sob o argumento de que declarou rendimentos segundo orientações da fonte pagadora, tanto pelos comprovantes de rendimentos por esta fornecidos quanto pela Lei Estadual que definiu que a verba em questão teria natureza indenizatória. É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Pedro Paulo Pereira Barbosa – Relator O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade. Dele conheço. Fundamentação Fl. 206DF CARF MF 6 O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade. Dele conheço. Fundamentação Examino, inicialmente, a argüição de nulidade do lançamento. Afirma o Recorrente que o auto de infração seria nulo devido à ilegitimidade ativa da União e a erro de procedimento na base de cálculo do imposto. Rejeito de plano a argüição de nulidade, pois ambas as questões se confundem com o mérito e serão examinadas mais adiante. Isto é, uma das questões a serem aqui discutidas é se o fato de pertencer ao estado o produto da arrecadação do IRRF afasta a competência da União para fiscalizar, lançar e cobrar dos contribuintes beneficiários dos rendimentos sobre os quais devem incidir o imposto na fonte e, como já dito, a solução dessa questão, neste caso, se confunde com o mérito do lançamento; a outra questão diz respeito precisamente aos procedimentos de apuração da base de cálculo. Por outro lado, o lançamento foi formalizado por servidor competente e de acordo com as normas que regem o processo administrativo fiscal, e, portanto, não vislumbro nenhum vício que pudesse ensejar sua nulidade. Rejeito a preliminar de nulidade. Quanto ao mérito, sobre a distribuição das competências tributárias esta é claramente definida na Constituição Federal sendo da União a competência do Imposto de Renda. E quanto a sito não há controvérsia. A pretensão da defesa, todavia, é de que, como o produto da arrecadação do IRRF, no caso, pertenceria ao Estado da Bahia, a União não teria legitimidade para exigir o tributo. Mas, como ressaltou a decisão de primeira instância, independentemente de ter havido ou não a retenção do imposto pela fonte pagadora, é dever dos contribuintes informarem os rendimentos quando do ajuste anual. A retenção do imposto pela fonte pagadora é mera antecipação do imposto devido quando do ajuste anual, e tanto é assim que, quando apurado o imposto devido no ajuste, compensase o imposto retido na fonte. Sobre isto, a propósito, há súmula do CARF, a saber: Constatada a omissão de rendimentos sujeitos à incidência do imposto de renda na declaração de ajuste anual, é legítima a constituição do crédito tributário na pessoa física do beneficiário, ainda que a fonte pagadora não tenha procedido à respectiva retenção. (Súmula CARF Nº 12) Não há, portanto, relação entre o dever de reter o imposto, o fato de o produto da arrecadação do imposto retido pertencer ao Estado e a competência tributária do Imposto de Renda. Vale ressaltar também que a exigência foi feita de acordo com a legislação aplicável, que não pode deixar de ser aplicada com base em juízo subjetivo da administração tributária a respeito da capacidade contributiva. Isto é, a compatibilização da carga tributária ao princípio da capacidade contributiva deve ser considerada pelo legislador e não pelos agentes arrecadadores que estão vinculados á lei. No caso concreto a Contribuinte queixase do fato de que, tendo oferecimentos os rendimentos à tributação de acordo com a orientação da própria fonte pagadora, por meio do comprovante de rendimentos por ela fornecida e de acordo com orientação legal do próprio estado, não poderia ser onerada com a exigência do imposto com acréscimos de multa, juros e correção, portanto, ser instada a pagar mais do que pagaria sob condições normais. Fl. 207DF CARF MF Processo nº 10580.722477/200885 Acórdão n.º 2201001.714 S2C2T1 Fl. 5 7 Mas, mais uma vez, o argumento da defesa confunde aspectos que não se relacionam. A administração tributária deve limitarse a exigir os tributos devidos de acordo as normas de incidência previstas na legislação tributária. Se o Contribuinte não recebeu os rendimentos quando fazia jus a eles, por divergências com a fonte pagadora quanto a esse direito, e veio a receber em momento posterior, este fato não pode interferir na regra de incidência tributária que deve levar em conta os rendimentos efetivamente recebidos pelos contribuintes; e se o Contribuinte recebeu os rendimentos em momento posterior e não os ofereceu à tributação quando desse recebimento, o imposto deve ser exigido, com os acréscimos previstos em lei. Sobre o fato de que o Contribuinte agiu de boafé e, portanto, não deveria ser onerado com multa e juros, a questão será examinada mais adiante. Por enquanto afasto apenas a objeção levantada pela defesa de que a autuação tenha onerado a carga tributária em relação à situação hipotética de o rendimento ter sido recebido ao tempo em que o Contribuinte faria jus a eles. Sobre a alegada natureza indenizatória das verbas recebidas, pela própria descrição dos fatos, fica claro que não é disso que se trata. Segundo o relato da própria Contribuinte, as verbas em questão referemse a diferenças salariais devidas em decorrência de erro na conversão dos salários de Cruzeiro Real para URV. Isto é, nesta conversão teria havido erro com prejuízo para os servidores, prejuízo que veio a ser posteriormente reparado, pagandose a eles aquilo que antes deixou de ser pago. E o que deixou de ser pago não foi outra coisa que não salários. Logo, o que veio a ser posteriormente pago é salário. Mas o Contribuinte apóiase na Lei Complementar nº 20, de 2003 do Estado da Bahia que no seu art. 3º definiu que as tais verbas teriam natureza indenizatória, a saber: Art. 2º. As diferenças de remuneração ocorridas quando da conversão de Cruzeiro Real para Unidade Real de Valor – URV, objeto da Ação Ordinária de nº 140.975921531, julgada pelo Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, e em conseqüência com os precedentes do Supremo Tribunal Federal, especialmente nas Ações Ordinárias nos. 613 e 614, serão apuradas mês a mês, de 1º de abril de 1994 a 31 de agosto de 2001, e o montante, correspondente a cada Procurador e Promotor de Justiça, será devido em 36 parcelas iguais e consecutivas para pagamento nos meses de janeiro de 2004 a dezembro de 2006. Art. 3º. São de natureza indenizatória as parcelas de que trata o art. 2º desta lei. Ora, primeiramente, como já referido acima, o Imposto de Renda é da competência da União e, portanto, os estados da federação não são competentes para legislar em matéria tributária relativamente a este tributo. Portanto, se o Estado da Bahia se arvora a definir a natureza das coisas e a dizer que diferença de salário tem natureza indenizatória, esta denominação não se presta para fins de definição da incidência ou não do imposto de renda. Isto, aliás, está dito expressamente no § 1º do art. 43 do CTN, a saber: Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; Fl. 208DF CARF MF 8 II de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. § 1o A incidência do imposto independe da denominação da receita ou do rendimento, da localização, condição jurídica ou nacionalidade da fonte, da origem e da forma de percepção. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) Mas a Recorrente invoca a Resolução nº 245, do Supremo Tribunal Federal que definiu que verba semelhante devida aos magistrados federais teria natureza indenizatória. Pois bem, é certo que o Supremo Tribunal Federal, em sessão administrativa, considerou como tendo natureza indenizatória o abono variável concedido aos membros do Poder Judiciário da União pela Lei nº 10.474, de 2002, e como tal, não sujeitas à tributação pelo imposto de renda, como também é certo que a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, por meio do Parecer PGFN nº 529/2003, manifestou entendimento no sentido de que as referidas verbas não estariam sujeitas à tributação. Mas tanto a Resolução do STF quanto o Parecer da PGFN referemse especificamente ao abono concedido aos Magistrados da União, e, em seguida, aos membros do Ministério Público Federal, e o que se discute neste processo é se o mesmo entendimento deve ser aplicado à verba atribuída aos membros do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. E o que passo a analisar. Vale destacar, inicialmente, que a posição do Supremo Tribunal Federal – STF sobre a natureza do abono variável atribuído aos Magistrados da União foi definida em sessão administrativa e expedida por meio de Resolução, e não em sessão de julgamento daquela Corte e, por óbvio, não se trata de uma decisão judicial cujos efeitos são bem distintos dos de um ato administrativo. Enfim, é elementar e dispensa maiores considerações, que a Resolução do STF não vinculava a Administração Tributária da União. Sobreveio, todavia, o Parecer PGFN/Nº 529/2003 da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, aprovado pelo Ministro da Fazenda, e que concluiu que o abono variável de que trata o art. 2º da Lei nº 10.474, de 2002 tem natureza indenizatória. O referido Parecer, entretanto, não deixa dúvidas quanto aos limites desse entendimento, senão vejamos. Após destacar que o Superior Tribunal de Justiça – STJ consolidou entendimento no sentido de que abonos recebidos em substituição a aumentos salariais sofrem a incidência do imposto de renda, fez a ressalva de que, segundo entendimento dessa mesma Corte, nos casos de abono concedido como reparação pela supressão ou perda de direito, o mesmo tem natureza indenizatória. E, segundo o Parecer da PGFN, seria este, no entendimento do STF, manifestado por meio da Resolução nº 245, de 2002, o caso do abono variável e provisório previsto no art. 6º da Lei nº 9.655, de 1998, com a alteração estabelecida no art. 2º da Lei nº 10.474, de 2002, no entendimento do STF. Fica claro, portanto, que o Parecer da PGFN somente reconhece a natureza indenizatória do abono variável de que tratam as Leis nº 9.655, de 1998 e 10.474, de 2002, acolhendo entendimento do STF de que tal abono destinase a reparar direito. Assim, o que se tem é, por um lado, a Resolução nº 245, do STF que, como se viu, não emana os efeitos de uma decisão judicial e, por outro, o Parecer PGFN/Nº 529/2003 que se limita a reconhecer a natureza indenizatória do abono concedido aos Magistrados da União, acatando interpretação do STF. É dizer, ambos os atos alcançam apenas o abono Fl. 209DF CARF MF Processo nº 10580.722477/200885 Acórdão n.º 2201001.714 S2C2T1 Fl. 6 9 previsto no art. 6º da Lei nº 9.655, de 1998, com a alteração estabelecida no art. 2º da Lei nº 10.474, de 2002. Nessas condições, não vejo como se estender o alcance dos dois atos acima referidos para abonos concedidos posteriormente, para outro grupo de servidores, por meio de ato específico distinto daqueles referidos na Resolução do STF e no Parecer da PGFN. Por outro lado, é irrelevante o fato de a lei estadual se reportar ao sistema remuneratório dos Magistrados da União. Tratase de mera questão de técnica legislativa, de opção por uma determinada forma de fixação de parâmetros remuneratórios, o que de modo algum implica na equiparação de uma e de outra verba. É preciso examinar, portanto, no caso concreto, a natureza da verba recebida pela Recorrente para se poder concluir pela incidência ou não incidência, sobre ela, do imposto de renda, e, como vimos acima, a verba tem natureza salarial e como tal é tributável. Registrese, por fim, que em recente julgado a Câmara Superior de Recursos Fiscal – CSRF, analisando situação semelhante em que era parte um membro do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, decidiu pela manutenção da exigência. Tratase do Acórdão nº 9202002.032, de 21 de março de 2012. Eis a ementa do acórdão: Ementa: REMUNERAÇÃO PELO EXERCÍCIO DE CARGO OU FUNÇÃO INCIDÊNCIA Sujeitamse à incidência do imposto de renda as verbas recebidas como remuneração pelo exercício de cargo ou função, independentemente da denominação que se dê a essa verba. Sobre a quebra de isonomia entre os membros do Poder Judiciário Federal e os membros do Ministério Público do Estado da Bahia, que teriam tratamento diferenciado, estando em situações semelhantes, registrese que, ainda que se verificasse tal situação, isto não poderia ser invocado para deixar de aplicar a norma tributária. Os princípios da isonomia, da capacidade contributiva e outros que informam o sistema tributário devem ser observados pelo legislador na feitura das normas tributárias, e não cabe aos agentes da administração, vinculados que são a esta legislação, deixar de aplicála a pretexto de violação de princípios que elas deveriam observar. Ademais, no caso concreto, a situação específica dos membros da Magistratura Federal decorre de ato do próprio Poder Judiciário, e não da legislação ou da administração tributária. E sobre as deduções reclamadas pela Contribuinte, estas também deveriam ter sido pleiteadas quando da apresentação da declaração de rendimentos. O que o Fisco exige mediante a autuação objeto deste processo é apenas a diferença de imposto que deixou de ser paga. O Fisco apenas incluiu rendimentos que deixaram de ser tributados. Tudo o mais que se refere à apuração do imposto já deveria constar da declaração apresentada. Sobre os alegados erros na base de cálculo e na alíquota, vale ressaltar que, por determinação da DRJSALVADOR/BA, por meio de diligência, o lançamento foi ajustado para observar a orientação do Parecer PGFN//CRJ nº 287/2009, considerando os rendimentos nos meses do recebimento e com as alíquotas vigentes à época. Por outro lado, a pretensão de que deveria ser aplicada a alíquota considerando apenas o valor das diferenças recebidas, há um equívoco da Contribuinte. É que se trata aqui de exigência de imposto devido no ajuste anual, e não mais na fonte e, portanto, deve ser considerado, na base de cálculo do imposto, a totalidade dos rendimentos recebidos no período e não apenas os rendimentos não tributados na Fl. 210DF CARF MF 10 declaração. Portanto, considerando os valores totais dos rendimentos recebidos pela Contribuinte em cada exercício, a alíquota aplicável é a alíquota máxima. O mesmo vale para as deduções, que também deveriam ter sido pleiteadas quando da apresentação da declaração de rendimentos. O que o Fisco exige mediante a autuação objeto deste processo é apenas a diferença de imposto que deixou de ser paga. O Fisco apenas incluiu rendimentos que deixaram de ser tributados. Tudo o mais que se refere à apuração do imposto já deveria constar da declaração apresentada. Correto, portanto, o lançamento quanto a este aspecto. Quanto ao pedido de exclusão da multa de ofício e dos juros, sob a alegação de que a Contribuinte teria agido de boafé, seguindo orientação normativa da fonte pagadora, a questão foi adequadamente enfrentada pela decisão de primeira instância. Ainda que a fonte pagadora tenha deixado de proceder à retenção, o Contribuinte teria que oferecer os rendimentos à tributação ,e não o tendo feito, fica sujeito à multa prevista no art. 44, I da Lei nº 9.430, de 1996, verbis: Lei nº 9.430, de 1996: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição: I – de 75% (setenta e cinco por cento), nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, pagamento ou recolhimento após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa moratória, de falta de declaração e nos de declaração inexata, excetuada a hipótese do inciso seguinte; E quanto à consulta que teria sido respondida concordando com a tese da não aplicabilidade da multa de ofício, diferentemente do quem afirma o Recorrente, por não ter sido a consulta processada de acordo com o rito do Decreto nº 70.235, de 1972, esta não tem efeito vinculante. Sobre a aplicação do art. 100 ou 110 do CTN, no caso de tributos sujeitos ao lançamento por homologação, é dever dos contribuintes apurar o imposto devido, devendo observar a legislação aplicável, e não o fazendo fica sujeito ao lançamento em relação a eventuais diferenças de impostos. Ora, não sendo a fonte pagadora competente para legislar a respeito do imposto, que é de competência da União, não poderia o Contribuinte ter apurado o imposto com base nessas orientações. Se o fez, ainda que de boafé, responde pela omissão sujeitandose à multa prevista em lei. Mais uma vez, como noutras situações acima analisadas, não cabe ao Fisco, ao proceder ao lançamento tributário, fazer juízo subjetivo sobre a boafé ou máfé do Contribuinte, devendo se limitar a aplicar a legislação à qual está vinculado e que, no caso, prevê a imposição dos acréscimos legais. Finalmente, sobre os juros incidentes sobre as verbas recebidas, ressalvando minha posição em sentido contrário, penso ser aplicável ao caso, por força do art. 62A do Regimento Interno do CARF, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça segundo o qual os juros calculados sobre verbas, recebidas em decorrência de decisões judiciais em ações trabalhistas, têm natureza indenizatórias, não estando sujeitos à incidência do imposto, nos termos do Acórdão Resp. nº 1227133/RS, julgado em 28/09/2011, com a seguinte ementa: RECURSO ESPECIAL. REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. JUROS DE MORA LEGAIS. NATUREZA Fl. 211DF CARF MF Processo nº 10580.722477/200885 Acórdão n.º 2201001.714 S2C2T1 Fl. 7 11 INDENIZATÓRIA. VERBAS TRABALHISTAS. NÃO INCIDÊNCIA OU ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA. – Não incide imposto de renda sobre os juros moratórios legais vinculados a verbas trabalhistas reconhecidas em decisão judicial. Recurso especial, julgado sob o rito do art. 543C do CPC, improvido. Deve ser excluída da base de cálculo, portanto, a parcela dos rendimentos correspondentes aos juros recebidos pelo beneficiário. Conclusão Ante o exposto, encaminho meu voto no sentido de rejeitar a preliminar de nulidade do lançamento e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso para excluir da base de cálculo do lançamento o valor correspondente aos juros. Assinatura digital Pedro Paulo Pereira Barbosa Voto Vencedor Conselheiro GUSTAVO LIAN HADDAD, Redatordesignado Divergi das conclusões do I. Relatora, Dr. Pedro Paulo Pereira Barbosa, no que respeita ao não acolhimento do pleito de exclusão da multa de ofício formulado pelo recorrente. De fato e como consta de seu voto, a fonte pagadora – no caso o Poder Judiciário do Estado da Bahia tratou os rendimentos como de natureza indenizatória e não os submeteu a tributação, assim informando o contribuinte em informe de rendimentos que lhe foi entregue. Tratase de situação em que o recorrente foi induzido a equívoco quanto ao tratamento dos rendimentos recebidos, configurando erro escusável como já decidido em inúmeros precedentes da Câmara Superior de Recursos Fiscais. Confiramse os seguintes acórdãos da Câmara Superior de Recursos Fiscais: CSRF/01—4.825, j. 16.02.2004, Rel. Antonio de Freitas Dutra; MULTA DE OFÍCIO DADOS CADASTRAIS O lançamento efetuado com dados cadastrais espontaneamente declarados pelo contribuinte que, induzido pelas informações prestadas pela fonte pagadora, incorreu em erro escusável no preenchimento da declaração, não comporta multa de ofício. Fl. 212DF CARF MF 12 CSRF/0400.058, j. 21.06.2005, Rel. Remis Almeida Estol IRPF RENDIMENTOS TRIBUTAÇÃO NA FONTE ANTECIPAÇÃO RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA Em se tratando de imposto em que a incidência na fonte se dá por antecipação daquele a ser apurado na declaração, inexiste responsabilidade tributária concentrada, exclusivamente, na pessoa da fonte pagadora, devendo o beneficiário, em qualquer hipótese, oferecer os rendimentos à tributação no ajuste anual MULTA DE OFÍCIO DADOS CADASTRAIS O lançamento efetuado com dados cadastrais espontaneamente declarados pelo contribuinte que, induzido pelas informações prestadas pela fonte pagadora, incorreu em erro escusável no preenchimento da declaração, não comporta multa de ofício. Recurso especial parcialmente provido. Assim, com as presentes considerações e com base em todo o exposto, divirjo das conclusões do I. Relator para dar parcial provimento parcial ao recurso com vistas a excluir do crédito tributário o valor correspondente à multa de ofício. (assinado digitalmente) GUSTAVO LIAN HADDAD Fl. 213DF CARF MF Processo nº 10580.722477/200885 Acórdão n.º 2201001.714 S2C2T1 Fl. 8 13 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS 2ª CÂMARA/2ª SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº: 10580.722477/200885 TERMO DE INTIMAÇÃO Em cumprimento ao disposto no § 3º do art. 81 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria Ministerial nº 256, de 22 de junho de 2009, intimese o (a) Senhor (a) Procurador (a) Representante da Fazenda Nacional, credenciado junto à Segunda Câmara da Segunda Seção, a tomar ciência do Acórdão nº. 2201001.714. Brasília/DF, 10 de setembro de 2012. ______________________________________ Maria Helena Cotta Cardozo Presidente da Segunda Câmara da Segunda Seção Ciente, com a observação abaixo: ( ) Apenas com Ciência ( ) Com Recurso Especial ( ) Com Embargos de Declaração Fl. 214DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 15563.000409/2008-93
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Apr 04 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Jun 19 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2005
NULIDADE. INEXISTÊNCIA
As hipóteses de nulidade do procedimento são as elencadas no artigo 59 do Decreto 70.235, de 1972.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS.
O art. 42 da Lei 9.430, de 1996 ,autoriza a presunção de omissão de rendimentos tributáveis com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
Se o ônus da prova, por presunção legal, é do contribuinte, cabe a ele a demonstração da origem dos recursos utilizados para acobertar seus depósitos bancários, a qual não pode ser substituída por meras alegações.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS. ASPECTO TEMPORAL DO FATO GERADOR.
Súmula CARF 38 (VINCULANTE): O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário.
Numero da decisão: 2301-005.249
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de nulidade da decisão recorrida e, no mérito, negar provimento ao recurso.
João Bellini Júnior presidente e relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrea Brose Adolfo, Alexandre Evaristo Pinto, João Maurício Vital, Wesley Rocha, Antônio Sávio Nastureles, Marcelo Freitas de Souza Costa, Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Júnior (Presidente).
Nome do relator: JOAO BELLINI JUNIOR
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 2005 NULIDADE. INEXISTÊNCIA As hipóteses de nulidade do procedimento são as elencadas no artigo 59 do Decreto 70.235, de 1972. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS. O art. 42 da Lei 9.430, de 1996 ,autoriza a presunção de omissão de rendimentos tributáveis com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Se o ônus da prova, por presunção legal, é do contribuinte, cabe a ele a demonstração da origem dos recursos utilizados para acobertar seus depósitos bancários, a qual não pode ser substituída por meras alegações. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS. ASPECTO TEMPORAL DO FATO GERADOR. Súmula CARF 38 (VINCULANTE): O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do ano-calendário.
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INEXISTÊNCIA As hipóteses de nulidade do procedimento são as elencadas no artigo 59 do Decreto 70.235, de 1972. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS. O art. 42 da Lei 9.430, de 1996 ,autoriza a presunção de omissão de rendimentos tributáveis com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Se o ônus da prova, por presunção legal, é do contribuinte, cabe a ele a demonstração da origem dos recursos utilizados para acobertar seus depósitos bancários, a qual não pode ser substituída por meras alegações. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS. ASPECTO TEMPORAL DO FATO GERADOR. Súmula CARF 38 (VINCULANTE): O fato gerador do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, relativo à omissão de rendimentos apurada a partir de depósitos bancários de origem não comprovada, ocorre no dia 31 de dezembro do anocalendário. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de nulidade da decisão recorrida e, no mérito, negar provimento ao recurso. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 56 3. 00 04 09 /2 00 8- 93 Fl. 265DF CARF MF 2 João Bellini Júnior – presidente e relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andrea Brose Adolfo, Alexandre Evaristo Pinto, João Maurício Vital, Wesley Rocha, Antônio Sávio Nastureles, Marcelo Freitas de Souza Costa, Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Júnior (Presidente). Relatório Tratase de recurso voluntário em face do Acórdão 0425.793, exarado pela 2ª Turma da DRJ em Campo Grande (fls. 118 a 120 – numeração dos autos eletrônicos). O auto de infração (fls. 84 a 91), é referente ao imposto sobre a renda de pessoa física (IRPF), anocalendário 2006. É exigido crédito tributário de R$802.402,92, dos quais R$399.981,52 correspondem a imposto, R$299.986,14 à multa proporcional de 75% e R$102.435,26 a juros de mora. A autoridade fiscal efetuou o lançamento de ofício em face de omissão de rendimentos identificada através de depósitos bancários cujas origens não foram comprovadas com documentação hábil e idônea. Em sua impugnação, o contribuinte alegou, em síntese, que: (a) os valores relativos aos depósitos bancários têm origem em sua atividade mercantil, qual seja, a compra e revenda de jóias e bijuterias para terceiros; (b) cabe à autoridade fiscal apurar a base de cálculo do IR para apurar o lucro arbitrado com base na atividade exercida pelo contribuinte e não tributar integralmente o capital como se renda fosse, caracterizando erro na identificação do sujeito passivo, considerando a nãoassociação dos depósitos bancários realizados em sua conta conjunta com seu cônjuge com qualquer atividade da pessoa jurídica – firma individual – por acarretar conseqüências que ultrapassam os limites do lançamento tributário; (c) a fiscalização procedeu à apuração das supostas omissões no decorrer do ano calendário de 2005 tributando ao final de 2005 ao invés de fazêlo mensalmente como manda a lei, gerando nulidade do lançamento; (d) haver erro na identificação do sujeito passivo, uma vez que a sua atividade implica em equiparação da pessoa física à pessoa jurídica para efeito de tributação, quer se encontre ou não regularmente inscrita junto ao órgão de registro de comércio ou registro civil, devendo a fiscalização, de ofício, promover sua inscrição no CNPJ como pessoa jurídica, para estabelecer a exata sujeição passiva e proceder ao lançamento dos tributos correspondentes. A DRJ julgou a impugnação improcedente, e o acórdão recebeu a seguinte ementa: DEPÓSITOS BANCÁRIOS SEM COMPROVAÇÃO DE ORIGEM. A comprovação da origem dos depósitos bancários deve ser feita pelo sujeito passivo de forma individualizada, não cabendo à Fl. 266DF CARF MF Processo nº 15563.000409/200893 Acórdão n.º 2301005.249 S2C3T1 Fl. 3 3 autoridade fiscal a comprovação da veracidade de alegações das origens desses depósitos indicadas pelo contribuinte com meras alegações. A ciência dessa decisão ocorreu em 20/09/2011 (Extrato do Processo, fl. 213). Em 18/10/2011, foi apresentado recurso voluntário (fls. 126 a 148), no qual: (a) foram reiterados, em síntese, os t