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Numero do processo: 16004.001550/2008-10
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu May 17 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jun 18 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2003, 2004, 2005, 2006
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OBSCURIDADE NO JULGAMENTO. CABIMENTO.
São cabíveis embargos de declaração para suprir obscuridade e omissão de acórdão. Os embargos são acolhidos para integrar os fundamentos eivados de obscuridade, mas sem conceder efeitos infringentes ao recurso quando as obscuridades constatadas não tiverem o condão alterar a decisão embargada.
Numero da decisão: 1401-002.631
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os Embargos de Declaração, para, re-ratificando o Acórdão nº 1401-001.417, de 25 de março de 2015, sanar a omissão apontada, mantendo inalterado o resultado do julgamento.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente
(assinado digitalmente)
Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Livia De Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga.
Nome do relator: LUIZ RODRIGO DE OLIVEIRA BARBOSA
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OBSCURIDADE NO JULGAMENTO. CABIMENTO. São cabíveis embargos de declaração para suprir obscuridade e omissão de acórdão. Os embargos são acolhidos para integrar os fundamentos eivados de obscuridade, mas sem conceder efeitos infringentes ao recurso quando as obscuridades constatadas não tiverem o condão alterar a decisão embargada. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os Embargos de Declaração, para, reratificando o Acórdão nº 1401001.417, de 25 de março de 2015, sanar a omissão apontada, mantendo inalterado o resultado do julgamento. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente (assinado digitalmente) Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Livia De Carli Germano, Abel Nunes de AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 00 4. 00 15 50 /2 00 8- 10 Fl. 9652DF CARF MF 2 Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga. Relatório Tratase de Embargos de Declarações propostos por Elizeu Machado Filho ME (efls. 9179 a 9200), por Nivaldo Fortes Peres (efls. 9275 a 9297), e por Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres (efls. 9108 a 9125), contra o acórdão de recurso voluntário nº 1401001.417, de 25 de março de 2015, desta turma ordinária, que teve a seguinte ementa e decisão: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2003, 2004, 2005, 2006 DECADÊNCIA ESCRITURAÇÃO IMPRESTÁVEL PARA A APURAÇÃO DO LUCRO REAL LUCRO ARBITRADO Havendo prova de dolo, o prazo decadencial contase pela regra inscrita no art. 173, I, do CTN. Caso o contribuinte não apresente escrituração regular, apta à apuração do lucro real, a base de cálculo do imposto de renda deve ser apurada pelo lucro arbitrado. MULTA QUALIFICADA A multa deve ser qualificada (150%) quando ficar caracterizada a ocorrência de sonegação, fraude ou conluio. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA Somente é cabível a atribuição de responsabilidade solidária àqueles que tiverem interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação tributária apurada. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL AUTO REFLEXO Quanto à impugnação de auto de infração lavrado como reflexo de fatos apurados para o lançamento do IRPJ, são aplicáveis as mesmas razões que deram fundamento à decisão acerca da impugnação a este, quando não houver alegação especifica no tocante ao auto reflexo. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS AUTO REFLEXO Quanto à impugnação de auto de infração lavrado como reflexo de fatos apurados para o lançamento do IRPJ, são aplicáveis as mesmas razões que deram fundamento à decisão acerca da impugnação a este, quando não houver alegação específica no tocante ao auto reflexo. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Fl. 9653DF CARF MF Processo nº 16004.001550/200810 Acórdão n.º 1401002.631 S1C4T1 Fl. 9.653 3 AUTO REFLEXO Quanto à impugnação de auto de infração lavrado como reflexo de fatos apurados para o lançamento do IRPJ, são aplicáveis as mesmas razões que deram fundamento à decisão acerca da impugnação a este, quando não houver alegação específica no tocante ao auto reflexo. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Na parte dispositiva, foi consignado o seguinte: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares de nulidade e, pelo voto de qualidade, afastar a decadência, vencidos os Conselheiros Alexandre Antonio Alkmim Teixeira, Maurício Pereira Faro e Karem Jureidini Dias que acolhiam a decadência pelo art. 150, parágrafo 4º do CTN. No mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso, nos seguintes termos: 1 Por unanimidade de votos, manter o arbitramento do anocalendário de 2006; 2 Por maioria de votos, manter o arbitramento dos anoscalendários 2003, 2004 e 2005. Vencida a Conselheira Karem Jureidini Dias; 3 Por maioria de votos, manter as responsabilidades tributárias do Sr. Nivaldo Fortes Peres, do Sr. Luciano da Silva Peres e do Sr. Rodrigo da Silva Peres, vencido o Conselheiro Maurício Pereira Faro que retirava a atribuição de responsabilidade de cada um deles; 4 Por unanimidade de votos, cancelar a responsabilidade da Sra. Maria Helena La Retondo, do Sr. José Roberto Giglio, do Sr. Pedro Giglio Sobrinho e do Sr. Antônio Giglio Sobrinho; e 5 Pelo voto de qualidade, manter a qualificação da multa, vencidos os Conselheiros Alexandre Antonio Alkmim Teixeira, Maurício Pereira Faro e Karem Jureidini Dias, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. Cientes do resultado do julgamento, Elizeu Machado Filho ME (efls. 9.179 a 9.200), Nivaldo Fortes Peres (efls. 9.275 a 9.297) e Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres (efls. 9.108 a 9.125), apresentaram Embargos de Declaração, nos termos do art. 65, §1º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09.06.2015. Estes foram os argumentos dos embargantes: a) Embargos de declaração de Elizeu Machado Filho ME (fls. 91799200): 1) Arguição de omissão sobre petição com fatos alegou que a decisão embargada omitiuse de apreciar arguições e documentos trazidos aos autos em 30/08/2012; 2) Arguição de inúmeras omissões, elencadas às fls. 91899199 alegou que diversas alegações de defesa apresentadas no recurso voluntário deixaram de ser analisadas por este colegiado julgador. b) Embargos de declaração de Nivaldo Fortes Peres (v. fls. 92759297): 3) Arguição de contradição pela afirmação de que não se fez incidir o art. 116 do CTN porque eram outros os preceitos do mesmo CTN que serviriam de fundamento legal para a presente autuação; 4) Arguição de diversas omissões no tocante à qualificação do sr. Nivaldo como responsável solidário; Fl. 9654DF CARF MF 4 5) Arguição de diversas omissões quanto aos fatos do processo; c) Embargos de declaração de Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres (v. fls. 91089125). 6) Arguição de obscuridade na referência das fls. dos autos onde se encontra a decisão recorrida, inviabilizando conhecer a fundamentação da decisão embargada e, consequentemente, apresentar eventual recurso especial; 7) Arguição de omissão quanto à análise de petição do sr. Elizeu Machado Filho, juntada aos autos antes da prolação da decisão embargada, mas não analisada por este colegiado julgador; 8) Arguição de omissão sobre ponto essencial da defesa e de contradição na manutenção da responsabilização solidária na espécie; 9) Arguição de omissão quanto ao apontamento preciso da fundamentação da responsabilização por atos de gerência; 10) Arguição de omissão quanto ao fundamento preciso do benefício indireto dos ilícitos praticados; 11) Arguição de contradição consistente na responsabilização genérica dos embargantes com base no contexto, em voto que analisa provas e alegações de outros acusados, em relação aos quais foi afastada a responsabilidade solidária. No despacho de admissibilidade, somente os embargos de Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres foram admitidos, e tão somente em relação à arguição de obscuridade na referência das folhas dos autos onde se encontra a decisão de 1ª instância (decisão recorrida). Após admissibilidade de embargos, conforme se verá abaixo, a turma ordinária decidiu baixar o processo em diligência para verificar a questão dos erros cometidos na digitalização do processo, conforme teor da Resolução 1401001.659. (início da transcrição do relatório da Resolução 1401001.659) Os embargantes alegaram diversas omissões, contradições e obscuridades no Acórdão nº 1401001.417, proferido pela 4ª Câmara/1ª Turma Ordinária (fls. 8995 9040), relativamente os seguintes itens: (...) No despacho de admissibilidade dos embargos, verificouse que assiste razão aos embargantes Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres, exclusivamente no que tange à arguição de obscuridade na referência das folhas dos autos onde se encontra a decisão de 1ª instância (decisão recorrida). Sobre o tema, os embargantes apontaram que a decisão embargada fez referência às fls. 16.53616.542 dos autos, as quais supostamente seriam parte integrante da decisão de 1ª instância (decisão recorrida). No entanto, conforme bem apontado pelos embargantes, "a decisão ora embargada está situada nas fls. 8.995 a 9.040 dos autos. Concluise, pois, que as fls. 16.536 a 16.542 [...] não existem". No tocante às demais arguições apresentadas por estes e pelos demais embargantes, num juízo perfunctório, considerouse que as mesmas não representavam autênticas omissões, contradições ou obscuridades, capazes de justificar a admissão dos presentes embargos. Em relação a tais arguições, Fl. 9655DF CARF MF Processo nº 16004.001550/200810 Acórdão n.º 1401002.631 S1C4T1 Fl. 9.654 5 considerouse que, no máximo, poderseia apresentar alguns esclarecimentos adicionais aos embargantes, sem quaisquer efeitos infringentes ao presente julgado. Em sede de memorial, Elizeu Machado Filho ME reiterou as alegações apresentadas em seus embargos declaratórios, com alguns acréscimos, conforme resumido a seguir: a) alguns documentos essenciais ao deslinde da matéria apresentados pelo sr. Elizeu Machado Filho em 30/03/2012 ainda não se encontravam nos autos em 23/03/2015 (data do julgamento). Tais documentos somente foram juntados aos autos em 12/06/2015 (fls. 8.643 e seguintes); b) toda a matéria do recurso voluntário sobre arbitramento deixou de ser abordada pelo acórdão embargado, que limitouse a adotar e transcrever as razões de decidir constantes da decisão de piso. Tal fato, no seu entender, fere o princípio do amplo direito de defesa; c) não foi apreciada a alegação de que a aplicação da penalidade qualificada e o arbitramento configuram dupla incidência, posto que ambos foram baseados nos mesmos supostos defeitos da escrituração da contribuinte; d) não foi adequadamente julgada a questão da decadência, posto que se a receita declarada pela Rio Preto foi aceita pelo Fisco, não se poderia cogitar da aplicação da multa qualificada, razão pela qual a contagem do prazo decadencial não poderia ser feita com base no art. 173 do CTN; e) não foi apreciada a alegação da recorrente de que vários livros deixaram de ser apresentados porque estavam de posse das fiscalizações previdenciária e do Estado. Consequentemente, o arbitramento teria decorrido de exigências impossíveis de serem cumpridas; f) não foram apreciadas refutações a fatos usados na autuação, mas documentalmente refutados pela contribuinte, em sede de recurso voluntário. Nestes termos, requereu a anulação do julgamento realizado por este colegiado. Também em sede de memorial, os demais embargantes apresentaram extensas petições, reiterando as alegações apresentadas em suas peças de embargos. Como argumento inovador, foi mencionado o fato de que existiriam diversos outros lançamentos tributários, efetuados contra terceiros, versando sobre os mesmos fatos que embasam as presentes exigências. Apresentaramse, outrossim, "questões de ordem" requerendo a anulação da decisão embargada, pelo fato de que diversos documentos não constavam dos presentes autos por ocasião do julgamento embargado. (término da transcrição do relatório da Resolução 1401001.659) No voto da resolução acima citada, fezse constar o seguinte: (início da transcrição do voto da Resolução 1401001.659) Conforme relatado, no presente caso ocorreu um fenômeno bastante inusitado: o processo eletrônico, que possuía exatas 17.157 folhas por ocasião da realização do Fl. 9656DF CARF MF 6 julgamento anterior, passou a ter apenas 9.301 folhas, por ocasião do julgamento dos presentes embargos (conforme acesso ao sistema eprocesso, efetuado na presente data). Não há nos autos nenhuma explicação para este estranho fenômeno. Às fls. 8983 (conforme nova numeração do eprocesso), consta despacho da Secretaria desta 4ª Câmara, com os seguinte teor, verbis: DESPACHO Quando da conferência das imagens no eprocesso foi constatada a falta de fls. nos volumes 02; 03; 05; 09; 10; 11; 12; 16; 18; 20; 23; 24; 33; 35; 36; 38; 39 e 40, e procedi o saneamento da(s) mesma(s) anexando a(s) folha(s) faltante(s) logo abaixo do respectivo volume. Brasília DF, em 12 de junho de 2015 (Assinado digitalmente) Maristela de Sousa Rodrigues Este Relator esclarece que mantém no HD do seu notebook funcional uma cópia integral do presente processo, contendo 17.157 folhas (arquivo baixado em 19/07/2013, contendo 786.248 KB). Cópia do citado arquivo encontrase à disposição da Secretaria desta 4ª Câmara, na pasta "acessível" dos servidores deste CARF, em nome deste Relator (tratase da pasta normalmente utilizada pelos Conselheiros desta Turma, durante as sessões de julgamento). Assim sendo, julgo necessário que se esclareça o motivo pelo qual o presente processo foi reduzido de 17.157 folhas para 9.301 folhas. Julgo conveniente, outrossim, que seja disponibilizada às partes cópia do arquivo do eprocesso, na versão existente na data do julgamento original (contendo 17.157 folhas). Conclusão Diante do exposto, proponho a admissão dos presentes embargos, para converter o julgamento em diligência, solicitando a adoção das seguintes providências: a) que a Secretaria da Câmara explique o motivo pelo qual o presente processo eletrônico, que possuía 17.157 folhas por ocasião da realização do julgamento anterior, passou a ter apenas 9.301 folhas, por ocasião do julgamento dos presentes embargos; b) que a Secretaria da Câmara informe se os documentos faltantes, que foram juntados aos volumes 02; 03; 05; 09; 10; 11; 12 ;16; 18; 20; 23; 24; 33; 35; 36; 38; 39 e 40 em 12 de junho de 2015; constavam na versão original deste eprocesso (existente na data de realização do julgamento, contendo 17.157 folhas); c) que, se possível, seja anexado ao processo eletrônico a íntegra do arquivo baixado em 19/07/2013, com 786.248 KB, contendo 17.157 folhas (cópia do citado arquivo encontrase à disposição da Secretaria desta 4ª Câmara, na pasta "acessível" dos servidores deste CARF, em nome deste Relator). Na impossibilidade de juntada do citado arquivo ao eprocesso, devem ser fornecidas cópias em meio físico aos interessados (embargantes e Procuradoria da Fazenda Nacional); Fl. 9657DF CARF MF Processo nº 16004.001550/200810 Acórdão n.º 1401002.631 S1C4T1 Fl. 9.655 7 d) após as providências descritas nos itens "a", "b" e "c", seja dado ciência aos embargantes e à Procuradoria da Fazenda Nacional, facultandolhes manifestação acerca desses fatos, no prazo de 20 dias. (término da transcrição do voto da Resolução 1401001.659) Em resposta ao pedido contido na resolução do CARF, foi emitido o seguinte despacho: Atendendo a Resolução nº 1401001.659, de 09 de junho de 2016, informo que no presente processo foi feita a conferência das imagens anexadas ao eprocesso com o processo físico para transformálo em digital de acordo com o roteiro estabelecido nos incisos do § 1º do art. 1º da Portaria CARF nº 23, de 25 de maio de 2015, foi constatado a duplicidade de alguns volumes que totalizam 17.157 folhas, assim como também a falta de várias folhas nos volumes: 02; 03; 05; 09; 10; 11; 12; 16; 18; 20; 23; 24; 33; 35; 36; 38; 39 e 40 que não foram digitalizadas à época. Procedi a exclusão dos volumes que encontravamse em duplicidade e a anexação das folhas faltantes logo abaixo do respectivo volume. Anexei Despacho de Saneamento às efls. 8993 e Despacho de Conversão de Processo Papel em Digital às efls. 8994 e torneio digital atendendo a Portaria CARF nº 23, de 25 de maio de 2015. Brasília DF, em 31 de maio de 2017 (Assinado digitalmente) Maristela de Sousa Rodrigues Chefe da Secretaria/4ªCâmara/1ª Seção Cientificados do resultado da diligência, a empresa autuada e os embargantes Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres apresentaram argumentos referentes à falta de apreciação de documento que supostamente comprovaria a capacidade financeira do Sr. Elizeu Machado Filho, o que derrubaria os fundamentos da fiscalização de que ele seria interposta pessoa do Sr. Nivaldo Peres. Os embargantes Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres afirmam que o recurso voluntário foi apreciado e julgado sem que estivessem no processo todos os documentos de defesa, dentre os quais, e mais especificamente, a manifestação do Sr. Elizeu que desmonta toda a acusação fiscal de que ele não seria o real sócio proprietário da Rio Preto Abatedouro. No CARF, em razão do término do mandato do conselheiro relator, coube a mim a relatoria do processo. É o Relatório. Voto Fl. 9658DF CARF MF 8 Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Relator Os Embargos de Rodrigo da Silva Peres e Luciano da Silva Peres são tempestivos e preenchem os requisitos de admissibilidade, portanto deles tomo conhecimento. Cabe destacar que este processo foi constituído originalmente em papel, sendo posteriormente convertido em meio digital. Desta forma, as citações de folhas feita neste voto referemse ao processo digitalizado, a fim de facilitar a consulta, no eprocesso, dos elementos referidos. Importante observar que o objeto dos embargos resumese tão somente à análise da obscuridade do acórdão do CARF, em razão da falha na numeração dos documentos no eprocesso. Desta forma, uma questão a ser debatida é se a obscuridade constante no acórdão de recurso voluntário nº 1401001.417, de 25 de março de 2015, desta turma ordinária, é suficiente para decretar a nulidade do referido acórdão por cerceamento de defesa. Entendo que não. Não obstante a falta de algumas folhas do processo, vejo que tais documentos em nada acrescentariam na análise dos argumentos apresentados pelos embargantes, tampouco seriam suficientes para alterar a decisão embargada. Como se pode ver na decisão embargada, o relator faz algumas citações a folhas do processo que aparentemente não correspondem ao que está sendo fundamentado pelo relator; entretanto, o relator reproduz o teor dos (corretos) fundamentos utilizados pela DRJ. Não obstante, reproduzo o teor da decisão embargada, nos trechos em que o relator cita as folhas do processo, para corrigir e citar as folhas corretas do processo. Sobre o tema, manifestouse com muita propriedade o acórdão de piso, fls. 16808: onde se lê fls. 16808; leiase efls. 7.750 Ressaltese que a autoridade autuante faz referências a documentos lavrados pela Polícia Federal e a buscas e apreensões por realizadas por esta instituição, mas tomou o cuidado de acostar aos autos as provas dos fatos apontados. Em outras palavras, não importou do inquérito policial as conclusões. Apenas trouxe aos autos provas produzidas pela Polícia Federal, mas avaliou esses elementos juntamente com os demais colhidos no curso da ação fiscal para chegar a suas próprias conclusões. Finalmente, há que se esclarecer que não há exigência legal de que documentos apreendidos pela Polícia Federal sejam submetidos a perícia para verificação da respectiva autenticidade. O contribuinte sequer tem o cuidado de apontar quais documentos têm autenticidade duvidosa. A oportunidade de contraditálos é oferecida precisamente por ocasião da apresentação de impugnação aos autos de infração lavrados, de modo que o contribuinte, caso efetivamente vislumbrasse algum documento falso nos autos, deveria pronunciarse nessa oportunidade. Convém frisar que na fase recursal a contribuinte também se absteve de apontar quais fatos estariam desacompanhados de provas e/ou quais documentos teriam origem questionável ou duvidosa. Fl. 9659DF CARF MF Processo nº 16004.001550/200810 Acórdão n.º 1401002.631 S1C4T1 Fl. 9.656 9 Diante dos fatos, a presente preliminar de nulidade merece ser rejeitada. (...) Esta alegação foi corretamente enfrentada pela decisão de piso, fls. 16813, razão pela qual adoto e transcrevo as suas razões de decidir: onde se lê fls. 16813; leiase efls. 7.755 Equivocamse, já que não há exigência legal de emissão de MPF – Fiscalização para a atribuição de responsabilidade solidária a terceiros nos termos do art. 124, I, do CTN. O MPF – Fiscalização tem o objetivo de dar transparência à atuação da Administração Tributária e esse fim é cumprido mediante a intimação do contribuinte. A responsabilidade solidária é atribuída àqueles que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal e esse interesse pode ser apurado no curso da ação fiscal levada a efeito diante do contribuinte. O reconhecimento da responsabilidade solidária no curso da ação fiscal cumpre a função de garantir ao responsável o exercício do direito de defesa na esfera administrativa, além de subsidiar a Procuradoria da Fazenda Nacional no direcionamento de eventual execução fiscal a ser interposta para a satisfação do crédito tributário lançado. Em suma, basta a emissão de MPF – Fiscalização prevendo que a ação fiscal se desenvolva no contribuinte. Para os responsáveis solidários não há necessidade de emissão de MPF – Fiscalização. Eventualmente, pode ser emitido MPF – Diligência, diante da necessidade de colheita de provas junto aos responsáveis solidários. Nestes termos, também rejeito a presente preliminar de nulidade. (...) Ao abordar este tema, o colegiado julgador inicialmente apresentou um profundo e interessante estudo teórico sobre o instituto do arbitramento de lucro. Rendendome à precisão deste estudo, adoto e transcrevo parcialmente os seus principais argumentos, fls. 1680916811: onde se lê fls. 1680916811; leiase efls. 77517753 A propósito dessas alegações, cabe esclarecer que o lucro arbitrado caracterizase como uma base de cálculo excepcional e subsidiária do imposto de renda. A subsidiariedade do lucro arbitrado é amplamente reconhecida pela doutrina. Rubens Gomes de Sousa (“A Retificação das Declarações de Impôsto de Renda Viciadas por Êrro de Direito”. In: Estudos de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 1950, pp. 275291) afirma que a Administração só pode recorrer a esta figura depois de demonstrar a impossibilidade de determinação do imposto devido pelo sistema normal de tributação. Também Alberto Xavier (Do Lançamento: Teoria Geral do Ato, do Procedimento e do Processo Tributário. 2ª ed.. Rio de Fl. 9660DF CARF MF 10 Janeiro: Forense, 2002, pp. 138139) afirma que a existência de escrituração regular impede a Administração de utilizar a base de cálculo subsidiária. Mesmo na hipótese de constatação de incorreções em alguns lançamentos contábeis, se houver possibilidade de apuração do lucro real, deve a Administração proceder às correções necessárias e lançar as diferenças apuradas com base nas regras pertinentes ao lucro real. Daí a afirmação do caráter excepcional do arbitramento. O autor adverte também que, quando a escrituração mostrarse imprestável para a apuração do lucro real, o recurso ao arbitramento do lucro é obrigatório e vinculado à Administração, que não pode tentar reconstituir analiticamente o lucro real. Este caráter obrigatório e vinculado do arbitramento decorre do princípio da segurança jurídica, que não pode conviver com a excessiva liberdade ou discricionariedade probatória que haveria se à Administração fosse permitido reconstituir o lucro real sem o recurso a provas elaboradas pelo contribuinte. Quanto a esta última advertência, é necessário esclarecer que o recurso ao arbitramento do lucro é obrigatório e vinculado no sentido de que, uma vez demonstrada a impossibilidade de reconstrução do lucro real por meio da escrituração contábil e fiscal e dos documentos pertinentes, à autoridade administrativa cabe utilizar tãosomente os índices acolhidos na lei para a apuração do lucro arbitrado, sendolhe vedada a utilização de quaisquer outros indícios para inferir o montante do lucro auferido pelo contribuinte. Em outras palavras, o arbitramento do lucro não pode ser realizado com o recurso a índices livremente escolhidos pela autoridade administrativa, mas apenas com base nos instrumentos que o legislador entendeu aptos para tanto. A subsidiariedade do arbitramento do lucro se refletiu na Súmula 76 do TFR, segundo a qual “em tema de imposto de renda, a desclassificação da escrita somente se legitima na ausência de elementos concretos que permitam a apuração do lucro real da empresa, não a justificando o simples atraso na escrita.” O legislador, diante da falta de cumprimento do dever de colaboração pelo contribuinte, estabeleceu uma base de cálculo excepcional e subsidiária que permite à Administração constituir o crédito tributário respectivo. O lucro arbitrado é excepcional pelo fato de que sua adoção tem como conseqüência a aferição da manifestação de capacidade contributiva média, normal ou potencial, afastandose, portanto, da capacidade contributiva efetiva, atual, real, de modo que, para ter legitimidade constitucional no sistema, sua adoção só pode ser admitida em casos extremos. A subsidiariedade decorre do fato de que o lucro só pode ser arbitrado quando a Administração estiver impossibilitada de apurar o lucro real ou o lucro presumido (nas hipóteses em que o contribuinte tenha validamente optado por este método). A excepcionalidade e a subsidiariedade da figura, ademais, têm fundamento no princípio da igualdade, pois não poderia o legislador privilegiar o contribuinte faltoso com seus deveres instrumentais, submetendo à tributação apenas aquele que os cumpre de maneira zelosa. Tais características não Fl. 9661DF CARF MF Processo nº 16004.001550/200810 Acórdão n.º 1401002.631 S1C4T1 Fl. 9.657 11 vinculam apenas o aplicador da lei, mas também o legislador, que não poderá criar hipóteses de aplicação do lucro arbitrado que não sejam excepcionais e subsidiárias. Fixadas estas idéias, é preciso avaliar, abstratamente, quais características devem estar presentes no caso concreto para que a Administração tenha que recorrer ao arbitramento do lucro. Sustenta Alberto Xavier (Do Lançamento: Teoria Geral do Ato, do Procedimento e do Processo Tributário. 2ª ed.. Rio de Janeiro: Forense, 2002, pp. 140141) que o critério de distinção entre os vícios nos lançamentos contábeis e a imprestabilidade da escrituração é funcional. Devese verificar se resta impossibilitado o exercício do dever de investigação pela Administração, com o objetivo de retificar a escrituração. Para o autor, apenas quando este objetivo resultar absolutamente impossível, e que essa impossibilidade decorra do descumprimento do dever de colaboração pelo contribuinte, fica a Administração autorizada a recorrer ao arbitramento. Tal como adverte Alberto Xavier (“I. R. Lançamento por Arbitramento: Pressupostos e Limites”. In: Revista de Direito Tributário. São Paulo: RT, n. 31, 1985, pp. 174185), a excepcionalidade do arbitramento decorre da preferência que a lei dá às provas préconstituídas como meio de consecução da verdade material. A afirmação de Alberto Xavier de que o lançamento efetuado com base no lucro arbitrado só terá validade quando resultar “absolutamente impossível” retificar a escrituração pode conduzir à inaplicabilidade da figura. É preciso ter presente que a escrituração do contribuinte não é a única fonte de informações para a autoridade administrativa, que pode recorrer também a elementos de prova oferecidos por terceiros. A demonstração da absoluta impossibilidade de retificação da escrita poderia exigir em alguns casos diligências tão complexas e numerosas que, na prática, impediriam o lançamento do crédito tributário. Evidentemente, a avaliação do respeito à subsidiariedade do lucro arbitrado dependerá da apreciação das circunstâncias do caso concreto. É importante, porém, deixar claro que o arbitramento não pode ser realizado unicamente com o objetivo de facilitar a apuração do crédito tributário. De outra parte, tampouco é razoável exigir a demonstração da absoluta impossibilidade de reconstituir a escrita contábil e fiscal. Deve ser encontrado, entre estes dois extremos, um ponto de equilíbrio que, simultaneamente, não torne impraticável o arbitramento do lucro e garanta o contribuinte contra arbitrariedades Esta avaliação dependerá das características apresentadas pelo caso concreto. Por fim, é importante ressaltar que atualmente o dever de colaboração do contribuinte exerce papel fundamental na atividade administrativa de lançamento. Portanto, quando a Administração se encontra privada das informações e provas que o contribuinte tinha a obrigação legal de apresentar, as dificuldades para a reconstituição da escrita são tão grandes Fl. 9662DF CARF MF 12 que dificilmente será admissível a alegação de que não havia impossibilidade absoluta para tanto. Após este estudo profundo e abrangente sobre o instituto do arbitramento do lucro, o voto condutor da decisão de piso procedeu à uma análise bastante consistente do caso concreto, com vistas a demonstrar a necessidade do arbitramento do lucro. Por concordar com os fundamentos desta análise, adoto e transcrevo as suas razões de decidir, fls. 1681116812: onde se lê fls. 1681116812; leiase efls. 77537754 Na situação de que trata o presente processo administrativo, a autoridade autuante constatou que os Livros Diário e Razão continham a escrituração da conta Bancos por partidas mensais, razão pela qual foi solicitada ao contribuinte a apresentação de Livros Auxiliares, com o registro individualizado das operações relativas à conta Bancos. Os Livros Auxiliares, porém, não foram apresentados, a despeito de reiteradas intimações. Constatouse, ainda, que o contribuinte escriturou apenas quatro contas bancárias, quando, na verdade, era titular de dezesseis. Mais que isso, as contas escrituradas não pode ser identificadas, já que na descrição da conta consta apenas “Banco Bradesco S/A”. Tampouco registrou as operações relativas às onze contas por ele controladas por procuração. Ademais, o contribuinte não atendeu as intimações para comprovar algumas despesas operacionais consignadas nas DIPJs dos anoscalendário de 2003 a 2006, mormente as classificadas como “outras despesas operacionais”. A falta de apresentação de todos os referidos elementos e as diversas falhas constatadas na escrituração impedem uma análise detalhada da contabilidade e, por conseguinte, a verificação da autenticidade do lucro real apurado. Registrese que é descabida a alegação de que os extratos bancários substituem a escrituração de Livros Auxiliares com o registro individualizado das operações relativas à conta Bancos. Os extratos bancários não contém informações precisas acerca do fato econômico que ensejou a movimentação financeira. É essencial, para a apuração do lucro real, saber a que título houve o ingresso ou a saída de recursos. Somente com esta informação é possível concluir se a movimentação financeira influi na apuração do resultado da empresa. Um depósito em dinheiro, por exemplo, pode representar uma receita, quando proveniente da venda de um produto a um cliente, ou apenas uma transferência da conta caixa para a conta bancos. É importante ressaltar que, para a apuração do lucro real, além da escrituração regular dos livros, deve o contribuinte manter os documentos que comprovam as operações realizadas. Portanto, além dos Livros Auxiliares referidos, deveria o contribuinte manter em seu poder todos os documentos que serviram de suporte às movimentações financeiras realizadas. Além disso, as provas colhidas no curso da ação fiscal demonstraram que o contribuinte atuou no sentido de fraudar sua contabilidade para não apresentar lucro e também para eximirse do pagamento do PIS e da COFINS não cumulativos. Nesse sentido, comprovouse que o contribuinte simulou operações de compras junto ao Sr. José Alves Lemes, com o Fl. 9663DF CARF MF Processo nº 16004.001550/200810 Acórdão n.º 1401002.631 S1C4T1 Fl. 9.658 13 objetivo de reduzir a base de cálculo do IRPJ e da CSLL e de gerar créditos de PIS e de COFINS não cumulativos. Isso foi evidenciado pelo fato de que os cheques utilizados no pagamento das supostas compras foram creditados nas próprias contas da RIO PRETO ABATEDOURO. Todos esses fatos revelam que a apuração do lucro real, com base nos elementos colhidos no curso da ação fiscal, não era possível. O contribuinte sustenta que a ausência de apuração de receitas omitidas revela a existência de um ponto de partida seguro para a apuração do lucro real. A alegação não procede, já que para a apuração do lucro real são fundamentais informações confiáveis acerca dos custos e despesas incorridos. Com efeito, as receitas compõem apenas parte das informações necessárias à apuração do lucro real. Sem dados fidedignos sobre custos e despesas não há como apurar o lucro real. Conforme amplamente demonstrado, foram constatadas fraudes praticadas com o fim de inflar custos e a movimentação bancária não foi devidamente retratada na escrituração. Especificamente para o anocalendário de 2006, o contribuinte sequer apresentou os livros Diário e Razão. Portanto, não restou à autoridade administrativa outra alternativa senão arbitrar o lucro a partir da receita bruta conhecida. Para a apuração da receita bruta conhecida, foram considerados os valores informados nas DIPJs, nas DACONs e nas GIAs, já que constatouse a compatibilidade com as receitas escrituradas nos livros fiscais e contábeis do contribuinte. As fraudes constatadas na escrituração consistiram em simular operações por meio das contas “Caixa” e “Bancos” e também operações de compras. As primeiras tinham o objetivo de transferir recursos às pessoas ligadas ao grupo Nivaldo, enquanto a segunda tinha por objetivo reduzir a base de cálculo do IRPJ e da CSLL e gerar créditos de PIS e de COFINS não cumulativos. Portanto, para a apuração da receita bruta conhecida foram considerados os valores declarados nas DIPJs e nas DACON. Alega a RIO PRETO ABATEDOURO que foi intimada em 29/10/2008 a, no prazo de 20 dias, apresentar os Livros Razão e Diário relativos ao anocalendário de 2006. Porém, em 17/11/2008, antes que estivesse esgotado o prazo da intimação, foi lavrado o “Termo de Descrição dos Fatos” e os respectivos autos de infração. Diante disso, devem ser cancelados os autos de infração lavrados para os fatos geradores ocorridos no ano calendário de 2006. A argumentação do contribuinte omite o fato de que foram reiteradas as intimações para apresentação dos livros Razão e Diário relativos ao anocalendário de 2006. Com efeito, a primeira intimação para tanto foi recebida pelo contribuinte em 28/03/2008 (fls. 7981). Em 24/04/2008, recebeu Termo de Reintimação Fiscal (fls. 8385) solicitando os referidos livros. Mais uma vez, em 23/06/2008, recebeu novo Termo de Reintimação Fiscal (fls. 8789) solicitando os mesmos elementos. Fl. 9664DF CARF MF 14 Finalmente, em 29/10/2008, recebeu a reintimação (fls. 9193) a que se refere em sua alegação. A seqüência de intimações a ele enviadas com solicitação para apresentação dos mesmos elementos demonstra a falta de colaboração com que agiu no curso da ação fiscal. É curioso notar que, a despeito de alegar que a autoridade administrativa não observou o prazo constante da intimação, sequer na impugnação os livros referidos foram apresentados. De qualquer forma, a alegação não procede, tendo em vista que a ciência do “Termo de Descrição dos Fatos” e dos autos de infração lavrados ocorreu apenas em 22/11/2008, vale dizer, após o prazo de 20 dias consignado na intimação, recebida pelo contribuinte em 29/10/2008. É preciso esclarecer que o “Termo de Descrição dos Fatos” e os autos de infração são atos administrativos que só se completam com a intimação do contribuinte. Antes da intimação, não há que se falar em lançamento. Portanto, é descabida a alegação de desrespeito ao prazo consignado na intimação. Os embargantes alegam, mesmo que tangencialmente, que a demonstração da capacidade financeira do Sr. Elizeu Machado Filho estaria dentre os documentos que não tinham sido anexados ao eprocesso. Entretanto, a análise do documento em nada acrescenta ao quanto disposto no acórdão embargado, tanto é que o despacho de admissibilidade dos embargos afastou tal omissão. Desta forma, entendo que a obscuridade está sanada, sem que tenha havido algum prejuízo aos embargantes. Conclusão Diante do exposto, voto no sentido de ACOLHER os embargos para, re ratificando o Acórdão nº 1401001.417, de 25 de março de 2015, sanar a omissão apontada, mantendo inalterado o resultado do julgamento. (assinado digitalmente) Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Fl. 9665DF CARF MF Processo nº 16004.001550/200810 Acórdão n.º 1401002.631 S1C4T1 Fl. 9.659 15 Fl. 9666DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10600.720022/2013-15
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 20 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu May 10 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Exercício: 2008, 2009
PRELIMINAR DE NULIDADE. NÃO CABIMENTO.
Não ocorreram as hipóteses previstas no RPAF para inquinar de nulidade o lançamento. O reconhecimento de débito sob a égide da Lei 12.865/2013 não inquina de nulidade o lançamento vez que foi posterior ao início do procedimento fiscal.
PRELIMINAR. APROVEITAMENTO DOS VALORES RECOLHIDOS SOB O ABRIGO DA LEI 12.865/2013. MEDIDA DE JUSTIÇA FISCAL. ACOLHIMENTO PARCIAL.
A omissão de receitas exigida no presente lançamento acarretou na geração de lucros na empresa do exterior, cuja operação foi desconsiderada no presente lançamento. Assim, levando em consideração que a Recorrente confessou e pagou o IRPJ e CSLL incidentes sobre os lucros de suas controladas no exterior, apurados nos anos de 2008 e 2009, deixar de considerar o que foi efetivamente pago seria exigir do contribuinte duas vezes o pagamento.
Não é possível acolher integralmente a preliminar suscitada pela Recorrente, no sentido de considerar como pago e aplicar os efeitos da Lei 12.865/2013 ao presente lançamento.
O referido parcelamento foi específico para tributação de lucros no exterior, infração diversa à cometida pela Recorrente. Ademais, a lei também atribuiu benefícios que foram específicos para o reconhecimento dessa infração, os quais não posso aqui expandir ou aplicar analogicamente para infração diversa. Entre os benefícios estava a quitação com a utilização de prejuízo fiscal, ao passo em que se o Recorrente tivesse tributado a omissão de receitas no País, como deveria, não faria jus.
Assim, deverão ser deduzidos do presente lançamento, tão somente, os valores efetivamente recolhidos aos cofres da união, excetuando o prejuízo fiscal utilizado para quitação de parte do crédito.
OMISSÃO DE RECEITAS. OPERAÇÃO DE EXPORTAÇÃO PARA PESSOAS VINCULADAS. INEXISTÊNCIA. INTERMEDIAÇÃO ARTIFICIAL.
As provas constantes dos autos evidenciam a ausência de efetividade das operações realizadas entre controladora e controlada, em que não ocorreu de fato nenhuma intermediação, mas mero ato simulado. Não há racionalidade logística ou econômica nas operações realizadas com a pessoa jurídica vinculada, a não ser a de retirar parte da receita auferida por pessoa jurídica nacional para estrangeira situada em país de tributação mais benéfica.
ÁGIO GERADO EM OPERAÇÃO ENVOLVENDO EMPRESA DO EXTERIOR. IMPOSSIBILIDADE DE AMORTIZAÇÃO.
A legislação que permite a amortização fiscal do ágio é nacional, devendo ser aplicada tão somente às empresas domiciliadas internamente, que adquirem investimentos com ágio. A extensão ao alcance das regras fiscais a reais adquirentes domiciliados no exterior deve ser afastada pela fiscalização e o ágio amortizado deve ser objeto de glosa fiscal.
ÁGIO. INEXISTÊNCIA DE CONFUSÃO PATRIMONIAL.
A amortização fiscal do ágio somente tem amparo legal quando as empresas adquirente e adquirida se emaranham entre si, a partir de um dos institutos elencados no art. 7º da Lei 9.532/1997 (fusão, cisão ou incorporação), resultando dessa operação a confusão patrimonial entre ambas.
ÁGIO. INDEDUTIBILIDADE DE PARCELAS DE ÁGIO GERADAS ANTES DO EVENTO.
O direito a dedutibilidade fiscal do ágio amortizado contabilmente nasce somente após a ocorrência dos eventos de incorporação, fusão ou cisão. Assim, incabível a obtenção de tal benefício fiscal sobre parcelas de ágio amortizadas contabilmente pela entidade incorporada, anteriormente à ocorrência do evento de incorporação.
MULTA QUALIFICADA. NÃO CABIMENTO.
A artificialidade das operações não pressupõe o dolo específico de enganar ou fraudar o Fisco quando realizadas de forma lícita e sem qualquer tipo de ocultação ou barreira á fiscalização.
MULTA DE OFÍCIO E MULTA ISOLADA. APLICAÇÃO CONCOMITANTE. IMPOSSIBILIDADE. Incabível a aplicação concomitante de multa isolada por falta de recolhimento de estimativas no curso do período de apuração e de ofício pela falta de pagamento de tributo apurado no balanço. A infração relativa ao não recolhimento da estimativa mensal caracteriza etapa preparatória do ato de reduzir o imposto no final do ano. A primeira conduta é meio de execução da segunda. A aplicação concomitante de multa de ofício e de multa isolada na estimativa implica em penalizar duas vezes o mesmo contribuinte, já que ambas as penalidades estão relacionadas ao descumprimento de obrigação principal.
LANÇAMENTOS REFLEXOS. CSLL. Dada à íntima relação de causa e feito, o entendimento adotado para o lançamento matriz estender-se-á ao lançamento reflexo.
APLICAÇÃO DO ART. 57 § 3º DO REGIMENTO INTERNO DO CARF. FACULDADE DO JULGADOR. Plenamente cabível a aplicação do respectivo dispositivo regimental uma vez que a Recorrente não inova nas suas razões já apresentadas em sede de impugnação, as quais foram claramente analisadas pela decisão recorrida.
Lançamento parcialmente procedente.
Numero da decisão: 1401-002.182
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário em relação às infrações de omissão de receitas e de indedutibilidade das despesas com ágio relativo às parcelas anteriores à incorporação da AAEB e, dar provimento para afastar a qualificação da multa de ofício. Por maioria de votos negar provimento ao recurso voluntário no que se refere ao lançamento reflexo da CSLL; vencida a Conselheira Lívia De Carli Germano; dar provimento quanto ao afastamento da multa isolada; vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Por voto de qualidade, negar provimento ao recurso quanto à glosa de ágio pela utilização de empresa veículo; vencidos os Conselheiros Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Leonam Rocha de Medeiros; designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa. A Conselheira Letícia Domingues Costa Braga declarou-se impedida. Participou do julgamento o Conselheiro Leonam Rocha de Medeiros.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Daniel Ribeiro Silva- Relator.
(assinado digitalmente)
Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa - Redator Designado.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Livia de Carli Germano (Vice-Presidente), Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Abel Nunes de Oliveira Neto, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Leonam Rocha de Medeiros (suplente convocado em razão do impedimento da Conselheira Letícia Domingues Costa Braga).
Nome do relator: DANIEL RIBEIRO SILVA
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Exercício: 2008, 2009 PRELIMINAR DE NULIDADE. NÃO CABIMENTO. Não ocorreram as hipóteses previstas no RPAF para inquinar de nulidade o lançamento. O reconhecimento de débito sob a égide da Lei 12.865/2013 não inquina de nulidade o lançamento vez que foi posterior ao início do procedimento fiscal. PRELIMINAR. APROVEITAMENTO DOS VALORES RECOLHIDOS SOB O ABRIGO DA LEI 12.865/2013. MEDIDA DE JUSTIÇA FISCAL. ACOLHIMENTO PARCIAL. A omissão de receitas exigida no presente lançamento acarretou na geração de lucros na empresa do exterior, cuja operação foi desconsiderada no presente lançamento. Assim, levando em consideração que a Recorrente confessou e pagou o IRPJ e CSLL incidentes sobre os lucros de suas controladas no exterior, apurados nos anos de 2008 e 2009, deixar de considerar o que foi efetivamente pago seria exigir do contribuinte duas vezes o pagamento. Não é possível acolher integralmente a preliminar suscitada pela Recorrente, no sentido de considerar como pago e aplicar os efeitos da Lei 12.865/2013 ao presente lançamento. O referido parcelamento foi específico para tributação de lucros no exterior, infração diversa à cometida pela Recorrente. Ademais, a lei também atribuiu benefícios que foram específicos para o reconhecimento dessa infração, os quais não posso aqui expandir ou aplicar analogicamente para infração diversa. Entre os benefícios estava a quitação com a utilização de prejuízo fiscal, ao passo em que se o Recorrente tivesse tributado a omissão de receitas no País, como deveria, não faria jus. Assim, deverão ser deduzidos do presente lançamento, tão somente, os valores efetivamente recolhidos aos cofres da união, excetuando o prejuízo fiscal utilizado para quitação de parte do crédito. OMISSÃO DE RECEITAS. OPERAÇÃO DE EXPORTAÇÃO PARA PESSOAS VINCULADAS. INEXISTÊNCIA. INTERMEDIAÇÃO ARTIFICIAL. As provas constantes dos autos evidenciam a ausência de efetividade das operações realizadas entre controladora e controlada, em que não ocorreu de fato nenhuma intermediação, mas mero ato simulado. Não há racionalidade logística ou econômica nas operações realizadas com a pessoa jurídica vinculada, a não ser a de retirar parte da receita auferida por pessoa jurídica nacional para estrangeira situada em país de tributação mais benéfica. ÁGIO GERADO EM OPERAÇÃO ENVOLVENDO EMPRESA DO EXTERIOR. IMPOSSIBILIDADE DE AMORTIZAÇÃO. A legislação que permite a amortização fiscal do ágio é nacional, devendo ser aplicada tão somente às empresas domiciliadas internamente, que adquirem investimentos com ágio. A extensão ao alcance das regras fiscais a reais adquirentes domiciliados no exterior deve ser afastada pela fiscalização e o ágio amortizado deve ser objeto de glosa fiscal. ÁGIO. INEXISTÊNCIA DE CONFUSÃO PATRIMONIAL. A amortização fiscal do ágio somente tem amparo legal quando as empresas adquirente e adquirida se emaranham entre si, a partir de um dos institutos elencados no art. 7º da Lei 9.532/1997 (fusão, cisão ou incorporação), resultando dessa operação a confusão patrimonial entre ambas. ÁGIO. INDEDUTIBILIDADE DE PARCELAS DE ÁGIO GERADAS ANTES DO EVENTO. O direito a dedutibilidade fiscal do ágio amortizado contabilmente nasce somente após a ocorrência dos eventos de incorporação, fusão ou cisão. Assim, incabível a obtenção de tal benefício fiscal sobre parcelas de ágio amortizadas contabilmente pela entidade incorporada, anteriormente à ocorrência do evento de incorporação. MULTA QUALIFICADA. NÃO CABIMENTO. A artificialidade das operações não pressupõe o dolo específico de enganar ou fraudar o Fisco quando realizadas de forma lícita e sem qualquer tipo de ocultação ou barreira á fiscalização. MULTA DE OFÍCIO E MULTA ISOLADA. APLICAÇÃO CONCOMITANTE. IMPOSSIBILIDADE. Incabível a aplicação concomitante de multa isolada por falta de recolhimento de estimativas no curso do período de apuração e de ofício pela falta de pagamento de tributo apurado no balanço. A infração relativa ao não recolhimento da estimativa mensal caracteriza etapa preparatória do ato de reduzir o imposto no final do ano. A primeira conduta é meio de execução da segunda. A aplicação concomitante de multa de ofício e de multa isolada na estimativa implica em penalizar duas vezes o mesmo contribuinte, já que ambas as penalidades estão relacionadas ao descumprimento de obrigação principal. LANÇAMENTOS REFLEXOS. CSLL. Dada à íntima relação de causa e feito, o entendimento adotado para o lançamento matriz estender-se-á ao lançamento reflexo. APLICAÇÃO DO ART. 57 § 3º DO REGIMENTO INTERNO DO CARF. FACULDADE DO JULGADOR. Plenamente cabível a aplicação do respectivo dispositivo regimental uma vez que a Recorrente não inova nas suas razões já apresentadas em sede de impugnação, as quais foram claramente analisadas pela decisão recorrida. Lançamento parcialmente procedente.
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NÃO CABIMENTO. Não ocorreram as hipóteses previstas no RPAF para inquinar de nulidade o lançamento. O reconhecimento de débito sob a égide da Lei 12.865/2013 não inquina de nulidade o lançamento vez que foi posterior ao início do procedimento fiscal. PRELIMINAR. APROVEITAMENTO DOS VALORES RECOLHIDOS SOB O ABRIGO DA LEI 12.865/2013. MEDIDA DE JUSTIÇA FISCAL. ACOLHIMENTO PARCIAL. A omissão de receitas exigida no presente lançamento acarretou na geração de lucros na empresa do exterior, cuja operação foi desconsiderada no presente lançamento. Assim, levando em consideração que a Recorrente confessou e pagou o IRPJ e CSLL incidentes sobre os lucros de suas controladas no exterior, apurados nos anos de 2008 e 2009, deixar de considerar o que foi efetivamente pago seria exigir do contribuinte duas vezes o pagamento. Não é possível acolher integralmente a preliminar suscitada pela Recorrente, no sentido de considerar como pago e aplicar os efeitos da Lei 12.865/2013 ao presente lançamento. O referido parcelamento foi específico para tributação de lucros no exterior, infração diversa à cometida pela Recorrente. Ademais, a lei também atribuiu benefícios que foram específicos para o reconhecimento dessa infração, os quais não posso aqui expandir ou aplicar analogicamente para infração diversa. Entre os benefícios estava a quitação com a utilização de prejuízo fiscal, ao passo em que se o Recorrente tivesse tributado a omissão de receitas no País, como deveria, não faria jus. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 60 0. 72 00 22 /2 01 3- 15 Fl. 6670DF CARF MF 2 Assim, deverão ser deduzidos do presente lançamento, tão somente, os valores efetivamente recolhidos aos cofres da união, excetuando o prejuízo fiscal utilizado para quitação de parte do crédito. OMISSÃO DE RECEITAS. OPERAÇÃO DE EXPORTAÇÃO PARA PESSOAS VINCULADAS. INEXISTÊNCIA. INTERMEDIAÇÃO ARTIFICIAL. As provas constantes dos autos evidenciam a ausência de efetividade das operações realizadas entre controladora e controlada, em que não ocorreu de fato nenhuma intermediação, mas mero ato simulado. Não há racionalidade logística ou econômica nas operações realizadas com a pessoa jurídica vinculada, a não ser a de retirar parte da receita auferida por pessoa jurídica nacional para estrangeira situada em país de tributação mais benéfica. ÁGIO GERADO EM OPERAÇÃO ENVOLVENDO EMPRESA DO EXTERIOR. IMPOSSIBILIDADE DE AMORTIZAÇÃO. A legislação que permite a amortização fiscal do ágio é nacional, devendo ser aplicada tão somente às empresas domiciliadas internamente, que adquirem investimentos com ágio. A extensão ao alcance das regras fiscais a reais adquirentes domiciliados no exterior deve ser afastada pela fiscalização e o ágio amortizado deve ser objeto de glosa fiscal. ÁGIO. INEXISTÊNCIA DE CONFUSÃO PATRIMONIAL. A amortização fiscal do ágio somente tem amparo legal quando as empresas adquirente e adquirida se emaranham entre si, a partir de um dos institutos elencados no art. 7º da Lei 9.532/1997 (fusão, cisão ou incorporação), resultando dessa operação a confusão patrimonial entre ambas. ÁGIO. INDEDUTIBILIDADE DE PARCELAS DE ÁGIO GERADAS ANTES DO EVENTO. O direito a dedutibilidade fiscal do ágio amortizado contabilmente nasce somente após a ocorrência dos eventos de incorporação, fusão ou cisão. Assim, incabível a obtenção de tal benefício fiscal sobre parcelas de ágio amortizadas contabilmente pela entidade incorporada, anteriormente à ocorrência do evento de incorporação. MULTA QUALIFICADA. NÃO CABIMENTO. A artificialidade das operações não pressupõe o dolo específico de enganar ou fraudar o Fisco quando realizadas de forma lícita e sem qualquer tipo de ocultação ou barreira á fiscalização. MULTA DE OFÍCIO E MULTA ISOLADA. APLICAÇÃO CONCOMITANTE. IMPOSSIBILIDADE. Incabível a aplicação concomitante de multa isolada por falta de recolhimento de estimativas no curso do período de apuração e de ofício pela falta de pagamento de tributo apurado no balanço. A infração relativa ao não recolhimento da estimativa mensal caracteriza etapa preparatória do ato de reduzir o imposto no final do ano. A primeira conduta é meio de execução da segunda. A aplicação concomitante de multa de ofício e de multa isolada na estimativa implica em penalizar duas vezes o mesmo contribuinte, já que ambas as penalidades estão relacionadas ao descumprimento de obrigação principal. Fl. 6671DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.670 3 LANÇAMENTOS REFLEXOS. CSLL. Dada à íntima relação de causa e feito, o entendimento adotado para o lançamento matriz estenderseá ao lançamento reflexo. APLICAÇÃO DO ART. 57 § 3º DO REGIMENTO INTERNO DO CARF. FACULDADE DO JULGADOR. Plenamente cabível a aplicação do respectivo dispositivo regimental uma vez que a Recorrente não inova nas suas razões já apresentadas em sede de impugnação, as quais foram claramente analisadas pela decisão recorrida. Lançamento parcialmente procedente. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário em relação às infrações de omissão de receitas e de indedutibilidade das despesas com ágio relativo às parcelas anteriores à incorporação da AAEB e, dar provimento para afastar a qualificação da multa de ofício. Por maioria de votos negar provimento ao recurso voluntário no que se refere ao lançamento reflexo da CSLL; vencida a Conselheira Lívia De Carli Germano; dar provimento quanto ao afastamento da multa isolada; vencidos os Conselheiros Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Por voto de qualidade, negar provimento ao recurso quanto à glosa de ágio pela utilização de empresa veículo; vencidos os Conselheiros Lívia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Leonam Rocha de Medeiros; designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa. A Conselheira Letícia Domingues Costa Braga declarouse impedida. Participou do julgamento o Conselheiro Leonam Rocha de Medeiros. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Daniel Ribeiro Silva Relator. (assinado digitalmente) Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Redator Designado. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Livia de Carli Germano (VicePresidente), Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Abel Nunes de Oliveira Neto, Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Fl. 6672DF CARF MF 4 Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Leonam Rocha de Medeiros (suplente convocado em razão do impedimento da Conselheira Letícia Domingues Costa Braga). Relatório 1. Tratase de Recurso Voluntário interposto em face do acórdão proferido pela Delegacia da Receita Federal em Salvador (BA) que manteve o crédito tributário decorrente de supostas infrações à legislação tributária no anocalendário de 2008/2009, referente às operações de comércio exterior praticadas pelo contribuinte, cujos registros efetivados informavam como "País de Aquisição" região autônoma da ilha da madeira (Portugal), grandes deduções computadas sobre a base tributável de IRPJ e CSLL dos anos de 2008 e 2009, atribuídas a “ágio” decorrente de “fechamento do capital” da Companhia e multa isolada por falta ou insuficiência de recolhimento de estimativas, conforme valores descriminados nas tabelas abaixo: IRPJ VALOR DO CRÉDITO R$ 74.896.072,90 JUROS R$ 28.339.099,07 MULTA R$ 56.172.054,67 MULTA ISOLADA R$ 39.309.100,39 VALOR TOTAL R$ 198.716.327,03 CSLL VALOR DO CRÉDITO R$ 26.924.543,24 JUROS R$ 10.184.895,44 MULTA R$ 20.193.407,43 MULTA ISOLADA R$ 14.236.530,88 VALOR TOTAL R$ 71.539.376,99 Segundo informações constantes nos Termo de Verificação Fiscal às fls. 03/76, apurouse que o contribuinte cometeu diversas infrações, dentre elas, “omissão de receitas com conseqüente redução do lucro tributável (base tributável do IRPJ e da CSLL), deixou de adicionar ao lucro líquido do período despesas atribuídas a amortização de ágio, as quais são indedutíveis, exclusões/compensações não autorizadas na apuração do lucro real, falta de pagamento do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) incidente sobre a base de Fl. 6673DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.671 5 cálculo estimada, apurada via balanços mensais de suspensão ou redução. Em função dos ilícitos identificados na presente ação fiscal”. A Autoridade Fiscal destaca, ainda, que “o contribuinte já fora objeto de procedimento fiscal, compreendendo operações de comércio exterior no anocalendário de 2007, envolvendo a suposta trading na Ilha de Madeira (processo fiscal no 10680.722.860/201119), caracterizando prática continuada de omissão de receitas orquestrada pela aparente intermediação comercial atribuída à controlada/vinculada sediada em paraíso”. Aperam Inox América do Sul S.A (Aperam ou Companhia) “é a denominação dada a partir de 2011 a outrora chamada ArcelorMittal Inox do Brasil S.A (AMIB ou ArcelorMittal Inox); que por sua vez, representava a nova razão social, recebida em 2007, pela fabricante mineira de aço inox Acesita S/A”. O TVF aos autos, resume o contexto atual da fiscalizada, informando que “o controle societário da ArcelorMittal Inox (antes Acesita; hoje, Aperam) ficara distribuído (ao final de 2008) entre duas subsidiárias estrangeiras (e integrais) da ArcelorMittal S.A Luxemburgo. Ficando o percentual de 30,50% vinculado à subsidiária ArcelorMittal France (França); e outros 69,50% de posse da subsidiária ArcelorMittal Spain Holding SL. Como tais subsidiárias têm origem na estrutura que antes integrava o grupo Arcelor S.A, natural que os negócios desta fiscalizada continuassem a sofrer influências corporativas do grupo estrangeiro absorvido na mencionada fusão. Assim, entendese o fato de a então subsidiária do extinto grupo Arcelor (Arcelor Stainless International) continuar exercendo, frente ao novo controlador (ArcelorMittal S.A – Luxemburgo), o papel de distribuidor mundial dos produtos gerados pelo conglomerado”, e que por meio de uma simples cessão de cotas no valor de 5.000 euros, a entidade Acesita IE se vira adquirida pela fiscalizada em 03/07/2007. Pelo que duas (02) sociedades offshores (sediadas em dependência externa à Ilha da Madeira) transferiram o controle detido sobre a mesma a um novo sócio, qual seja: a Acesita Holding BV – Holanda. Esta, na qualidade de sociedade subsidiaria (integral) desta fiscalizada, que havia se constituído na Holanda em 27/06/2007, concomitantemente ao referido evento. Com objeto societário descrito como importação e exportação de produtos no exterior, a Acesita IE passara a constar, desde tal momento, em vários registros de exportação formalizados por esta fiscalizada, sempre na condição formal de aparente intermediadora comercial de aço inox, a partir da Ilha da Madeira – Portugal”. Sobre à glosa de amortização de ágio, a autoridade fiscal questionou se “a validade do ágio pago pela empresa Arcelor Aços Especiais do Brasil Ltda. (“AAEB”) – antiga controladora da Recorrente –, na aquisição de ações de emissão da ArcelorMittal Inox Brasil S/A (“AMIB”), atualmente Aperam Inox America do Sul S.A., ora Recorrente, no contexto da oferta pública de aquisição de ações realizada em 2008 (“OPA”)”. A Autoridade Fiscal enfatiza que "a presente ação fiscal não buscara negar a existência jurídica da controlada/vinculada Acesita IE que fora formalmente constituída naquela dependência externa de benefícios fiscais, como também não pretendera questionar o direito de a fiscalizada constituir uma sociedade vinculada em paraíso fiscal, no seu campo de liberdade de se autoorganizar. Porém, isso não se confunde com o necessário restabelecimento da verdade tributária a envolver as operações de exportação em tela, promovidas pela fiscalizada sob a camuflagem de uma pretensa intermediação comercial, que se revelara nos procedimentos fiscais como operações comerciais triangulares de mera aparência, que não se efetivaram na prática. É de dizer que, se constatada a ausência material da atividade de Fl. 6674DF CARF MF 6 intermediação comercial formalizada em documentos (como é o caso, em situações de aparência negocial reiteradamente formalizadas pela fiscalizada em seus registros de exportação), estarseá diante de uma fraude ou falsidade fiscal”. Acerca da utilização indevida e das deduções fiscais do ágio, restou configurado nos autos, que a AAEB "teria sido usada como “extensão de caixa” daquela que, efetivamente, promovera e custeara toda operação, ou seja, a controladora estrangeira do grupo na época (ArcelorMittal S.A. Luxemburgo), fazendo crer que a AAEB estivesse suportando o custo decorrente da operação". Afirmando a fiscalização, que "a dedução do ágio que fora amortizado contabilmente no período anterior à incorporação da AAEB. E que, a parcela do ágio amortizada contabilmente antes do evento de incorporação não pode ser deduzida para fins fiscais após tal evento, sendo que tal posição poderia ser extraída indiretamente da legislação que rege a matéria (art. 386, inciso III, do Decreto nº 3.000/99 – Regulamento do Imposto de Renda ou “RIR/99”)". Cientificado da autuação fiscal, o interessado apresentou IMPUGNAÇÃO ADMINISTRATIVA em 20/01/2014 (fls. 5644/5782), na qual alegou: 1. "Vício insanável de motivação por não ter a autoridade fiscal apontado qualquer norma apta a justificar a desconsideração das transações realizadas e a validade do ágio registrado na aquisição das ações da Impugnante por parte da AAEB, invocando supostos “artifícios” e “subterfúgios”, utilizandose de alegações retóricas, mencionando a falta de propósito negocial e conceitos estranhos ao ordenamento jurídico brasileiro”; 2. Discorre sobre a exigência de propósito negocial como requisito de validade das operações, teoria do “negócio jurídico indireto (cita Acórdão 9101000.869, da 1ª Turma da CSRF, de 23.02.2011); “norma geral antielisão”, criada a partir da Lei Complementar nº 104/01, que incluiu o parágrafo único ao artigo 116 do CTN; Medida Provisória 66/02, para considerar que a rubrica “propósito negocial” não pode servir de justificativa para o desrespeito de negócios jurídicos lícitos praticados pelos contribuintes. Entende que a questão do propósito negocial deve ser vista com cautela; 3. DA IMPROBIDADE DA GLOSA DE AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO: Considera que “cumpriu os requisitos legais para aproveitamento do ágio previstos nos artigos 20 e seguintes do DecretoLei no 1.598/77, artigos 7 e 8 da Lei no 9.532/97, artigos 385 e 386 do RIR/99”; 4. IMPROBIDADE DA QUALIFICAÇÃO DA CONTROLADORA INDIRETA ESTRANGEIRA COMO VERDADEIRA ADQUIRENTE DAS AÇÕES: Entende que “coube à própria AAEB, na qualidade de sócia da Impugnante, adquirir as ações detidas pelos acionistas minoritários e pagar tais acionistas com recursos próprios, obtidos via aumento de capital e empréstimo concedido por empresa do grupo econômico a qual pertencia, o que não altera a natureza jurídica da transação em questão”; 5. DEMONSTRAÇÃO DA CAUSA E DO PROPÓSITO NEGOCIAL DAS TRANSAÇÕES REALIZADAS PELO GRUPO ARCELORMITTAL: Afirma que “encontramse presentes o motivo Fl. 6675DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.672 7 ou causa, a finalidade negocial e a congruência entre ambos nas operações realizadas. Não há, portanto, motivação exclusivamente fiscal na transação, sendo o registro do ágio e seu aproveitamento pela Impugnante a consequência natural da aquisição das ações na OPA, inserindose congruentemente no contexto de fechamento de capital da Impugnante”; 6. INEXISTÊNCIA DE ABUSO DE DIREITO EM FACE DO BENÉFICO FISCAL PREVISTO PELA LEI Nº 9.532/97: Diz que a teoria sobre o abuso de direito não é aplicada no caso concreto, considerando que “o CARF tem reconhecido, de maneira reiterada, que a existência das chamadas “empresas veículos” ou sociedades veículo” não é suficiente para que se infirme a validade de uma operação que culmine na amortização fiscal do ágio”; 7. DA SUPOSTA OMISSÃO DE RECEITA: Afirma que “em relação ao lançamento do IRPJ e da CSLL sobre valores considerados como receitas omitidas em 2008 e 2009, considera que as supostas “receitas omitidas” são receitas efetivamente auferidas por ACESITA IE, uma sociedade domiciliada nas Ilhas da Madeira, Portugal, à época controlada indiretamente pela Impugnante, por intermédio da ACESITA HOLDING BV, domiciliada na Holanda”; 8. MATÉRIA PRELIMINAR: NÃO CABIMENTO DO LANÇAMENTO, TENDO EM VISTA O PAGAMENTO À VISTA DO DÉBITO AO ABRIGO DA LEI NO 12.865/2013: Alega que “no que diz respeito aos lucros de suas controladas estrangeiras apurados em 2008 (ACESITA IE e ACESITA HOLDING BV), os valores incluídos na base de cálculo do IRPJ e CSLL foram inteiramente absorvidos por prejuízos da Impugnante apurados no mesmo exercício, acarretando a redução do valor dos prejuízos do exercício (doc. 9). A DIPJ retificadora correspondente foi apresentada em 16.01.2014, tendo em vista que, por ocasião do pagamento nos termos da Lei no 12.865/2013, a impugnante encontravase sob a fiscalização, que culminou na presente autuação, o que a impossibilitou de apresentar a DIPJ retificadora naquela altura”; 9. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO POR FALHA NA CAPITULAÇÃO LEGAL E DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DO INQUISITÓRIO E VERDADE MATERIAL: Afirma que “a fiscalização parte de ilações despropositadas (como, a de que a existência de três funcionários não seria suficiente para comprovar a existência e operação da controlada Acesita IE), sem demonstração da existência dos elementos nucleares à ocorrência do fato gerador – receitas omitidas recebidas pela Impugnante”; 10. INEXISTÊNCIA DE INFRAÇÃO CONSISTENTE EM OMISSÃO DE RECEITAS: Diz que “as receitas ditas omitidas não foram efetivamente recebidas pela Impugnante, pois transitaram pelas contas de sua controlada Acesita IE e não pelas suas contas. Se a Fl. 6676DF CARF MF 8 Impugnante se beneficiou de alguma forma destes valores, o fez na qualidade de controladora indireta da Acesita IE, pela apuração de resultado de equivalência patrimonial. Apenas nesta circunstância é que a Impugnante teria disponibilidade sobre os dividendos eventualmente pagos por sua controlada (direta) estrangeira, mas que, no entanto, não se confundem com as receitas de Acesita IE”; 11. INEXISTÊNCIA DE SUBFATURAMENTO: Afirma que o chamado “Projeto Exportação Acesita foi empreendido com vistas a destinar certos volumes de exportações para uma empresa do Grupo com funções de trading, a qual seria responsável pela concretização de vendas para clientes localizados em países específicos, atuando como interface dos agentes de exportação, sediada num ambiente de negócios expedito e flexível, notadamente pela inexistência de restrições e controles de ordem cambial. A Acesita IE foi concebida, assim, para atuar exclusivamente no interesse de empresas do Grupo, como é caso da autuada”; 12. A ILHA DA MADEIRA NÃO É “PARAÍSO FISCAL”: Alega “que a Ilha da Madeira não é um paraíso fiscal, assim entendido como país de tributação favorecida definidos na Lei nº 9430/96, pois não há uma exoneração absoluta e incondicionada, mas apenas uma isenção temporária (que terminou no ano de 2011) das rendas de origem não portuguesa. Ademais, também não se oculta a identidade dos sócios das sociedades ali domiciliadas”; 13. EXCESSO DE CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO: Considera que “a existência do Projeto Exportação Acesita, suportado em estudos técnicos qualificados, junto com a absoluta transparência das informações prestadas ao Fisco, revela a inexistência de qualquer intenção de simulação ou fraude”; 14. DA ILEGALIDADE DA INCIDÊNCIA DE JUROS SELIC SOBRE A MULTA DE OFÍCIO: Diz que “nos termos do artigo 61 da Lei no 9.430/96, somente são admitidos os acréscimos moratórios referentes aos débitos decorrentes de tributos e contribuições, mas não sobre as penalidades pecuniárias. O contrário seria uma afronta ao princípio constitucional do nãoconfisco, citando jurisprudência do CARF”; 15. Requereu o cancelamento integral do Auto de Infração. O Acórdão ora Recorrido (1540.438 2ª Turma da DRJ/SDR) recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA – IRPJ Anocalendário: 2008, 2009 OPERAÇÃO DE EXPORTAÇÃO PARA PESSOAS VINCULADAS. INEXISTÊNCIA. INTERMEDIAÇÃO SIMULADA. Fl. 6677DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.673 9 As provas constantes dos autos evidenciam a ausência de efetividade das operações realizadas entre controladora e controlada, em que não ocorreu de fato nenhuma intermediação, mas mero ato simulado. SIMULAÇÃO. RECONHECIMENTO PELO FISCO. O Fisco, como diretamente envolvido, na defesa do interesse publico da Fazenda Nacional, pode se opor à simulação, desde que realizada de forma maliciosa em prejuízo da lei tributária brasileira. CUSTOS E DESPESAS INCORRIDAS. DEDUTIBILIDADE. Em conformidade com a legislação do imposto de renda, os custos e despesas dedutíveis na apuração da base de cálculo do imposto são tão somente aqueles intrinsecamente vinculados à fonte produtora de rendimentos, nunca aqueles dispêndios decorrentes de despesas de empresa que não interveio de fato. INCORPORAÇÃO DE EMPRESA. AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO NA AQUISIÇÃO DE AÇÕES. TRANSFERÊNCIA DE CAPITAL PARA AQUISIÇÃO DE INVESTIMENTO POR EMPRESA VEÍCULO. Não produz o efeito tributário almejado pelo sujeito passivo a incorporação de pessoa jurídica, em cujo patrimônio constava registro de ágio com fundamento em expectativa de rentabilidade futura, sem qualquer finalidade negocial ou societária, quando caracterizada a utilização da incorporada como mera “empresaveículo” para transferência do ágio à incorporadora. INCENTIVO FISCAL. PROGRAMA DE ALIMENTAÇÃO DO TRABALHADOR. DEDUÇÃO. FORMALIZAÇÃO. O auto de lançamento ou o processo administrativo fiscal não se constituem em instrumentos jurídicos apropriados para o sujeito passivo formalizar ou elevar o montante da dedução do incentivo fiscal do PAT. MULTA DE OFÍCIO. MULTA ISOLADA. EXIGIDAS CONCOMITANTEMENTE NO LANÇAMENTO. Por se tratar de hipóteses legais distintas, são cabíveis, no lançamento de oficio, a aplicação de multa exigida isoladamente, por falta de recolhimento dos valores devidos por estimativa, bem como as que se exigem juntamente com o imposto ou contribuição que forem apurados no procedimento fiscal. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO – CSLL. Anocalendário: 2008, 2009 DESPESAS DE AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. ADIÇÃO À BASE DE CÁLCULO DA CSLL. A adição à base de cálculo da CSLL, de despesas com amortização de ágio encontra amparo nas normas que regem a exigência da referida contribuição. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. Aplicase à tributação reflexa idêntica solução dada ao lançamento principal, em face da estreita relação de causa e efeito entre ambos. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido. Fl. 6678DF CARF MF 10 Isto porque, segundo entendimento da Turma, “à vista de um fato jurígeno tributário, tem a autoridade administrativa o dever de efetuar a devida subsunção legal, com a conseqüente lavratura do auto de infração. No caso sob análise, foi o que efetivamente ocorreu: à vista da omissão de receitas, conforme descrito no Termo de Verificação Fiscal. Conforme o TVF, dos valores omitidos, bem como das diferenças apuradas no recolhimento de estimativas de IRPJ e CSLL, foi efetuada a compensação, na própria autuação, com o valor de prejuízo fiscal e da base negativa declarado pelo contribuinte no período fiscalizado; e com o saldo/estoque destes créditos (sob limite de 30% do resultado ajustado antes da compensação)”. Coadunouse ao entendimento da fiscalização, de que “a controlada Acesita IE, com regime fiscal privilegiado da Ilha da Madeira, não participou efetivamente das operações de intermediação entre a Fiscalizada (atual Aperam S.A.) e os compradores finais situados em países na América Central e América do Sul. Sua participação foi apenas formal, atuando como central de refaturamento, de forma a diminuir a tributação devida pela Fiscalizada, em um planejamento fiscal abusivo. (...) A Impugnante não foi capaz de comprovar as despesas incorridas pela controlada/vinculada Acesita IE na realização da sua atividade de trading. Para comprovar despesas, a fiscalizada disponibilizou relação contendo valores que teriam sido despendidos pela Acesita IE com agentes comerciais no exterior, sendo que o principal desses agentes prestadores de serviços de intermediação é outra subsidiária integral da controladora estrangeira ArcelorMittal (Luxemburgo), a Arcelor Stainless International, a quem cabia o papel de distribuidora mundial do segmento de aço inox produzido pelo grupo. Ora, como ressalta a Fiscalização no TVF, é incabível logicamente que a despesa mais significativa da suposta trading Acesita IE seja, justamente, a realização de serviços de trading que ela própria teoricamente se propunha a praticar a partir da Ilha da Madeira. Além disso, a operacionalização das transações comerciais atribuídas à controlada no exterior (reinvoice/refatura da Acesita IE) foi produzida pela própria fiscalizada”. Como fundamenta o TVF, ficou constatada a “ausência material de atividade de intermediação comercial formalizada em documentos”. Considerase, assim, demonstrada a prática da simulação. Tal simulação levada a cabo pela Impugnante violou a lei brasileira. Está provado nos autos que não houve de fato nenhuma intermediação, mas mero ato simulado, suscetível, pois, de ser desconsiderado pelo Fisco para fins de tributação. Conforme dispõe o Código Civil Brasileiro, instituído pela Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que entrou em vigor em janeiro de 2003”. Extraise do Acórdão recorrido, que “os indícios carreados e analisados em profundidade pela Fiscalização e a análise da própria seqüência de atos, iniciados em 2007, levantados por ocasião da ação fiscal anterior, e confirmados no procedimento fiscal atual, tendo comprovadamente se prolongado durante os anos de 2008 e 2009, são suficientes para comprovar que a empresa contribuinte tinha o total conhecimento de que estava formalizando, perante o fisco brasileiro, uma intermediação comercial simulada, em nome de uma controlada/vinculada no exterior (Acesita IE), sem concretização material. Tratouse de uma orquestração insidiosa (e, enfatizese, duradoura) com o fito de enganar o Fisco e reduzir de forma ilícita e intencional, a base tributável de IRPJ e CSLL nos exercícios fiscais em questão”. Ademais, considerou a turma julgadora, que “o Auto de Infração determinou corretamente a tributação das receitas omitidas, resultante da diferença entre o montante efetivamente pago pelo destinatário final e o apropriado contabilmente pela fornecedora do produto. Em conformidade com a legislação do imposto de renda, os custos e despesas dedutíveis na apuração da base de cálculo do imposto são tãosomente aqueles intrinsecamente vinculados à fonte produtora de rendimentos, não havendo que se falar em dedutibilidade dos Fl. 6679DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.674 11 referidos dispêndios na situação em que sua falta de comprovação serviu de alicerce para a própria acusação”. Sobre o ágio e as parcelas indedutíveis, afirma que “o artigo 386, inciso III, do RIR/99, determina que o ágio passível de dedutibilidade é apenas aquele decorrente de amortizações ocorridas posteriormente ao evento de incorporação, fusão ou cisão, ou seja, nos balanços correspondentes à apuração do Lucro Real, levantados após os referidos eventos – desde que cumpridas, obviamente, as demais condições e requisitos essenciais do instituto. Ou seja, o direito a dedutibilidade fiscal do ágio amortizado contabilmente nasce somente após a ocorrência dos eventos de incorporação, fusão ou cisão. Assim, incabível a obtenção de tal benefício fiscal sobre parcelas de ágio amortizadas contabilmente pela entidade incorporada, anteriormente à ocorrência do evento de incorporação”. Ciente da decisão do Acórdão em 24/06/2016(fls.6449), que julgou improcedente a impugnação apresentada, o contribuinte interpõe Recurso Voluntário em 22/07/2014 (fls. 6451/6559), apresentando praticamente as mesmas razões expendidas em sua impugnação administrativa, modificandose apenas nos seguintes tópicos: · IMPOSSIBILIDADE DE DESCONSIDERAÇÃO DE NEGÓCIOS JURÍDICOS VALIDAMENTE CELEBRADOS: Ressaltase que, “ao tempo da realização da OPA, a Recorrente era uma empresa de capital aberto, com ações listadas em bolsa de valores. Assim, todas as operações por ela realizadas, além de atender aos requisitos legais, estavam submetidas à rigorosa fiscalização da CVM e às regras de publicidade e governança aplicáveis às companhias abertas. (...)Ademais, a AAEB foi efetivamente a parte adquirente das ações da Recorrente na OPA, tendo liquidado as obrigações dela decorrentes, além de ter assumido parte dos custos da operação (despesas junto ao Banco Santander que efetuou a intermediação da OPA”; · DEMONSTRAÇÃO DO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS PARA A AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO À LUZ DA JURISPRUDÊNCIA DO CARF: Afirma que desde meados de 2007, a questão da legitimidade do ágio no contexto de reorganizações societárias vem sendo enfrentada pelo CARF, que reiteradamente rechaçou supostas qualificações de “empresa veículo” ou de exigência de propósito negocial como requisitos de validade. (...) A fundamentação econômica do ágio pago em relação as ações da Recorrente, na OPA, também jamais foi colocada sob dúvida. Ou seja, o laudo de avaliação do Banco Goldman Sachs, com database 31.12.2007, não foi objeto de qualquer questionamento específico por parte da autoridade fiscal, de modo que também figura como fato incontroverso o cumprimento desse terceiro requisito pela Recorrente”; · UNICIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO – BIS IN IDEM: Diz que “os valores pagos em sede de processo de parcelamento previsto no art. 40 da Lei 12.865/13 referemse ao IRPJ e à CSLL incidentes sobre os lucros das controladas da Recorrente no exterior (ACESITA Fl. 6680DF CARF MF 12 IE e Acesita Holding BV), apurados nos anos de 2008 e 2009. Considerando que a Recorrente detinha 100% da Acesita Holding BV, a qual, por sua vez, detinha 100% da ACESITA IE, os lucros desta última foram incorporados ao nível da Acesita Holding BV e adicionados à escrituração da Recorrente através do método de equivalência patrimonial. (...) A ilegalidade do bis in idem decorre do fato de a cobrança dúplice importar em enriquecimento ilícito por parte da Fazenda, em violação ao artigo 884 do Código Civil, conforme, aliás, reconhecido de forma pacífica pelo CARF. (...) Assim, andou mal o Acórdão recorrido ao manter a exigência formulada, que corresponde a uma segunda cobrança (bis in idem) sobre os mesmos créditos que já se encontravam extintos, antes mesmo de ser efetuado o lançamento (em 19.12.2013), por ocasião de seu pagamento integral e à vista38 (em 29.11.2013), no âmbito do programa de parcelamento previsto no art. 40 da Lei nº 12.865/2013”; · A ALEGAÇÃO DE QUE A RECORRENTE ESTARIA DISCUTINDO O CRÉDITO: Afirma que “é obrigado a reconhecer, no âmbito do parcelamento, serem devidos os créditos abrangidos pelo benefício e pagos de acordo com a Lei 12.865/13, mas jamais pode tolerar a exigência em duplicidade dos mesmos créditos, posteriormente a referido pagamento, que configura enriquecimento ilícito do Fisco”; · A IMPOSSIBILIDADE DE SUBSUNÇÃO DO FATO AO TIPO “OMISSÃO DE RECEITAS”: A recorrente afirma que “foi indevida a manutenção pelo Acórdão da DRJ do Auto de Infração que caracterizou como “omissão de receitas” o fato de a Recorrente não ter submetido à tributação no Brasil, como se suas fossem, as receitas da ACESITA IE, sua controlada indireta no exterior”. Diz que, “restou apenas receber, no Brasil ou no exterior (contas junto ao JP Morgan), (i) os pagamentos pela exportação realizada à ACESITA IE (custo + 15%, observada a legislação de preços de transferência), os quais eram devidamente adicionados ao lucro líquido da Recorrente para fins de tributação no Brasil, e (ii) quando fosse o caso, dividendos na distribuição dos lucros da Acesita Holding BV, empresa do tipo holding cuja receita precípua advinha de dividendos recebidos da ACESITA IE”. Informa ainda, que no presente caso, “em que não há comprovação do ingresso dos recursos não contabilizados, podese apenas analisar a eventual inobservância de uma das duas regras: (i) sobre tributação dos lucros de controlada no exterior (art. 74 da MP 2.15835/01) ou (ii) de preço de transferência (arts. 18, 19 e 24 da Lei 9.430/96); não havendo espaço para se questionar uma omissão de receitas”. · A SUBSTÂNCIA DA ACESITA IE E DA ESTRUTURA ADOTADA PELO GRUPO ARCELORMITTAL: Esclarece, que “a estrutura que envolvia a Recorrente, adotada pelo grupo, consistia em um plano estratégico de expansão no mercado internacional, que envolvia a criação, de um lado, de uma sociedade trading localizada na Europa, que teria por objetivo comercializar exclusivamente mercadorias produzidas pela Recorrente; e, de outro lado, de uma sociedade holding para deter e gerir investimentos em subsidiárias Fl. 6681DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.675 13 operacionais em terceiros países e recursos financeiros destas controladas”. Afirma que, “é irrelevante o fato de a Recorrente enviar diretamente para os consumidores finais os aços inox exportados. Ora, o fato de o aço inox ser produzido no Brasil não descaracteriza o fato de a negociação e o closing do contrato com clientes do Grupo serem feitos pela ACESITA IE no exterior”. (...) Diz que em relação “à representação da controladora direta da ACESITA IE e desta mesma, é normal que assim proceda, sob o comando dos gestores das referidas empresas. Ora, não seria razoável que, como investidora na Ilha da Madeira, a Acesita Holding BV não possuisse um procurador para representála junto a repartições públicas e registros locais”. (...) Reitera, que “não é de se estranhar o fato de a Acesita IE ter celebrado uma operação no dia seguinte ao início de suas atividades. E isso porque a Acesita IE se trata de uma inhouse trading, que adquire tão somente mercadorias junto a empresas do Grupo (ou seja, já possui fornecedor) e posteriormente as revende a uma clientela que acabou por “herdar” de outra empresa do Grupo”; · Acerca das operações realizadas pela ACESITA IE, a recorrente argumenta que: (i) os preços de mercado por ela praticados, e (ii) o fato de que a maior parte das exportações da Recorrente era feita sem a intermediação da referida empresa, o que não ocorreria caso a mesma consistisse em mero instrumento de simulação. (...) A ACESITA IE não apenas faturava e recebia diretamente as receitas das vendas que efetuava, como basta a simples comparação dos preços de compra dos produtos e de revenda pela ACESITA IE, constantes da planilha elaborada pela fiscalização, para se verificar que as margens praticadas variavam entre 5% e 10%, tratandose de margens normais e usuais para as operações de trading, donde nenhuma artificialidade se pode extrair desses negócios” · Requereu a reforma do Acordão recorrido da DRJ, com o consequente cancelamento integral do Auto de infração; · Requereu cancelamento das multas; · Pugnou pela sustentação oral. É o relatório do essencial. Voto Vencido Conselheiro Daniel Ribeiro Silva Relator. Observo que as referências a fls. feitas no decorrer deste voto se referem ao eprocesso. Fl. 6682DF CARF MF 14 Passo a analisar o Recurso Voluntário. Da análise dos autos é fácil constatar que o Recurso Voluntário apresentado pelo contribuinte constituise em repetições dos argumentos utilizados em sede de impugnação, salvo alguns poucos novos tópicos que, em verdade, acabam por repetir e reafirmar a tese sustentada pelo contribuinte, as quais foram detalhadamente apreciadas pelo julgador a quo. Nestes termos, cumpre ressaltar a faculdade garantida ao julgador pelo § 3º do Art. 57 do Regimento Interno do CARF: Art. 57. Em cada sessão de julgamento será observada a seguinte ordem: I verificação do quórum regimental; II deliberação sobre matéria de expediente; e III relatório, debate e votação dos recursos constantes da pauta. § 1º A ementa, relatório e voto deverão ser disponibilizados exclusivamente aos conselheiros do colegiado, previamente ao início de cada sessão de julgamento correspondente, em meio eletrônico. § 2º Os processos para os quais o relator não apresentar, no prazo e forma estabelecidos no § 1º, a ementa, o relatório e o voto, serão retirados de pauta pelo presidente, que fará constar o fato em ata. § 3º A exigência do § 1º pode ser atendida com a transcrição da decisão de primeira instância, se o relator registrar que as partes não apresentaram novas razões de defesa perante a segunda instância e propuser a confirmação e adoção da decisão recorrida. (Redação dada pela Portaria MF nº 329, de 2017). Da análise do presente processo, entendo ser plenamente cabível a aplicação do respectivo dispositivo regimental uma vez que não inova nas suas razões já apresentadas em sede de impugnação, as quais foram claramente analisadas pela decisão recorrida. Desta feita, da análise da decisão recorrida, no que se refere: (i) às preliminares apreciadas (com exceção à preliminar de pagamento nos moldes da Lei 12.865/2013); (ii) à omissão das receitas; (iii) à manutenção da glosa do Ágio e parcelas indedutíveis anteriores à incorporação da AAEB; (iv) manutenção de juros de mora sobre multa de ofício e da SELIC sobre a multa, e; (v) reflexos quanto à CSLL; proponho a manutenção da decisão recorrida pelos seus próprios fundamentos: A impugnação é tempestiva e atende a todos os requisitos de admissibilidade, por isso, dela tomo conhecimento. Fl. 6683DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.676 15 Inicialmente, ante a farta jurisprudência colacionada pela defesa, deve ser esclarecido que decisões judiciais e administrativas não atinentes ao caso concreto, eventualmente apresentadas nos autos como paradigmas jurisprudenciais, são, em verdade, atos jurídicos que produzem efeitos interpartes, não tendo eficácia erga omnes e não constituem legislação tributária, à luz do CTN, artigos 96 e 100. Por conseguinte, não vinculam esta instância julgadora, conforme a dicção do artigo 472 do Código de Processo Civil (CPC), a “sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros”. PRELIMINAR DE NULIDADE POR AUSÊNCIA DA BASE LEGAL PARA A GLOSA DA AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO Alega que a autoridade fiscal não apresentou qualquer norma apta a justificar a desconsideração das transações realizadas e a validade do ágio registrado na aquisição das ações da Impugnante por parte da AAEB, havendo vício de motivação no Auto de Infração. De pronto, rejeito esta alegação de nulidade. O auto está devidamente fundamentado. A autuação traz a indicação de diversos dispositivos do Regulamento de Imposto de Renda que disciplinam o registro e a amortização do ágio, matéria objeto de discussão nos autos. O Termo de Verificação Fiscal descreveu minuciosamente as operações societárias realizadas pela recorrente, analisando as operações em face da legislação do Imposto de Renda (Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999 – Decreto 3.000/1999), e considerouas como inoponíveis ao Fisco. A Impugnante, por sua vez, demonstrou completo entendimento da acusação fiscal imputada, trazendo ampla argumentação contra as acusações fiscais, sobretudo quanto à efetividade do ágio, ao seu pagamento, escudando o seu procedimento nos mesmos dispositivos tido como violados pelo Fisco. Resta claro que a recorrente compreendeu a imputação feita pela fiscalização, que determinou a glosa da amortização do ágio, e pôde exercer sem restrição o seu direito de defesa. Desta forma, foi respeitado o art. 10 do Decreto no 70.235/72, dispositivo o qual prevê os requisitos obrigatórios do auto de infração, respeitando os princípios fundamentais do Contraditório e da Ampla Defesa. Vejamos: Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente: I a qualificação do autuado; II o local, a data e a hora da lavratura; III a descrição do fato; Fl. 6684DF CARF MF 16 IV a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; V a determinação da exigência e a intimação para cumprila ou impugnála no prazo de trinta dias; VI a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. (grifo não original) Remetendo ao voto vencedor do mesmo acórdão citado pela defesa: “Entendo que, quando o Decreto nº 70.235/1972 determina em seu art. 10, inc. IV que o auto de infração deve conter a disposição legal infringida está a se referir à legislação tributária que disciplina a exigência do tributo tida como violada. E, nem sempre a legislação estabelece uma conduta que é vedada, mas sim um molde ao qual se subsumem (ou não) as situações de fato. Assim, um mesmo dispositivo tanto pode servir para validar um procedimento adotado pelo sujeito passivo, se a ele se subsumem os fatos, como para negar seus efeitos perante o Fisco. A aplicação da legislação nada mais é do que o enquadramento dos fatos à lei tributária. No aspecto puramente formal, com a devida vênia do entendimento doutrinário trazido pelo D. Relator, entendo que a citação de dispositivos do Regulamento do Imposto de Renda, como fundamento legal da autuação não viola o dispositivo processual administrativo, pois tratase da legislação do Imposto de Renda consolidada, cujos dispositivos são expressamente amparados por dispositivos da lei ordinária ou complementar. O que, dado a sua sistematização, longe de prejudicar o direito de defesa do contribuinte, antes a facilita” (Acórdão 1302001.145 – 3a Câmara/2a Turma, 6/08/2013). Não ocorreu, portanto, a alegada omissão do fundamento tributário autorizador do lançamento. (...) DA OMISSÃO DE RECEITAS Trata da exigência de crédito tributário referente ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), devidos nos anocalendário de 2008 e 2009, em razão da constatação da ocorrência de omissão de receita (subfaturamento) decorrente de simulação de intermediação de empresas. A impugnante argumenta, em sua defesa, sinteticamente que: Preliminarmente: Não ocorreu omissão de receitas, pois as exportações realizadas para a Acesita IE observaram as normas referentes à tributação internacional e as regras de preços de transferência. Consideramos, entretanto, que isto é questão tratada no mérito e não em sede de preliminar. Não ocorreu simulação, já que todos os elementos demonstram ter sido real a intenção da contribuinte em constituir uma trading na Ilha da Madeira para desempenhar as operações de intermediação comercial; Fl. 6685DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.677 17 Não ocorreu omissão de receitas. Não ocorreu subfaturamento. Existiu propósito legítimo para existência e operações da Acesita IE, fundadas no Projeto Exportação, com decisão amadurecida da administração da Impugnante e baseado em pareceres. Jamais houve uma intenção de concentrar todas as receitas de exportação para uma entidade despida de propósito negocial; A Ilha da Madeira não é paraíso fiscal, e a motivação da impugnante foi predominantemente de ordem empresarial. A Acesita IE teve existência de fato. Não ocorreu intuito de fraude. Conforme a fiscalização, a controlada Acesita IE, situada na dependência com regime fiscal privilegiado da Ilha da Madeira, não participou efetivamente das operações de intermediação entre a Fiscalizada (atual Aperam S.A.) e os compradores finais situados em países na América Central e América do Sul. Sua participação foi apenas formal, atuando como central de refaturamento, de forma a diminuir a tributação devida pela Fiscalizada, em um planejamento fiscal abusivo. São as seguintes entidades envolvidas: A minuciosa descrição dos fatos ocorrida no Termo de Verificação Fiscal, acima relatado, evidencia a ocorrência de uma intermediação simulada efetuada pela Impugnante, via pretensa intervenção da controlada Acesita IE, localizada na Ilha da Madeira: Como exposto no relatório fiscal, a Impugnante efetuou venda de produtos para sua controlada, estabelecida no exterior, em país considerado “paraíso fiscal”. Esta controlada (Acesita IE), a seguir, refaturava aos clientes finais por preço cerca de 10% superior. O objetivo da intermediação simulada foi obter Fl. 6686DF CARF MF 18 vantagens fiscais, de forma a transferir parte do lucro para país com tributação favorecida, violando a legislação brasileira. Ocorre, que, em verdade, esses lucros/resultados foram produzidos no Brasil e artificialmente transferidos para a subsidiária Acesita IE. Assim, devem sofrer tributação no país. Primeiramente, cabe ressaltar que, ao contrário do que argúi a Impugnante, a legislação brasileira estabelece a Ilha da Madeira, dependência de Portugal, como detentora de um regime de tributação favorecida, ou seja, a denominação brasileira oficial para os paraísos fiscais. Instrução Normativa SRF no 188, de 6 de agosto de 2002 Art. 1º Para todos os efeitos previstos nos dispositivos legais discriminados acima, consideramse países ou dependências que não tributam a renda ou que a tributam à alíquota inferior a 20% ou, ainda, cuja legislação interna oponha sigilo relativo à composição societária de pessoas jurídicas ou à sua titularidade as seguintes jurisdições: (...) XXX Ilha da Madeira; Instrução Normativa RFB no 1037, de 4 de junho de 2010 Art. 1º Para efeitos do disposto nesta Instrução Normativa, consideramse países ou dependências que não tributam a renda ou que a tributam à alíquota inferior a 20% (vinte por cento) ou, ainda, cuja legislação interna não permita acesso a informações relativas à composição societária de pessoas jurídicas ou à sua titularidade, as seguintes jurisdições: (...) XXXII – Ilha da Madeira A Acesita IE, empresa constituída na dependência portuguesa da Ilha da Madeira, situada no Oceano Atlântico, a sudoeste de Portugal e próximo a costa do Marrocos, foi adquirida pela fiscalizada Acesita S.A em 03/07/2007, via controlada direta Acesita Holding BV (Holanda), esta última constituída em 27/06/2007, dias antes. A autoridade fiscal carreou aos autos vários elementos que comprovam a ocorrência da simulação e a falta de participação efetiva da Acesita IE, dos quais resumimos os principais pontos: 1. O capital social integralizado da Acesita IE (5.000 euros) não condiz com o volume de operações por ela supostamente intermediados, entre os anos de 2007 e 2009, sendo o lucro obtido pela controlada distribuído sob a forma de dividendos isentos à sócia única Acesita Holding BV (Holanda) – também controlada pela Fiscalizada. Fl. 6687DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.678 19 2. A Acesita IE não possuía estrutura operacional física e de pessoal compatível com o volume de operações que supostamente executou. 3. O endereçosede inicial, em 2007, é o mesmo de uma série de outras empresas de natureza semelhantes à suposta trading, concebidas por “escritórios de negócio” e geralmente representadas nos atos contratuais pela mesma pessoa (Sr. Roberto Carlos Castro Abreu), vinculado a Madeira Corporate Service (MCS), empresa cujos serviços ofertados incluem a constituição e gestão de sociedades offshores, contabilidade, consultoria fiscal e serviços advocatícios no paraíso fiscal da Ilha da Madeira. 4. A partir de 2008, sua sede passou a ter locação compartilhada com a Madeira Corporate Service (MCS) e com a Skadden – Consult. e Serviços Ltda, que aparece suportando despesas administrativas de pequena monta, com repasse a Acesita IE, o que demonstra a inexistência de estrutura da controlada na Ilha da Madeira. 5. Ausência de corpo funcional próprio, por parte da suposta trading company. Os gerentes com poderes de representação residentes no Brasil, e ocupantes de cargos de direção na própria fiscalizada, não receberam remuneração da Acesita IE. 6. Sequer mantinha um site na Internet, em que pudesse promover ou divulgar sua atividade. 7. Um dia após o seu estabelecimento, em 04/07/2007, a Acesita IE já teria intermediado um embarque de exportação de aço inox da Acesita S.A., no Brasil, para um cliente no Equador, o que demonstra a impossibilidade de a nova empresa ter realmente intermediado a negociação comercial. 8. Algumas refaturas supostamente emitidas pela Acesita IE eram assinadas pelas mesmas pessoas físicas que assinavam as Faturas Comerciais emitidas pela autuada; as faturas Comercial e Refaturas tinham o mesmo leiaute; o valor da Fatura Comercial emitida pela Recorrente é quase sempre 10% inferior ao valor da Refatura (valor efetivamente pago pelo comprador final); o prazo de recebimento da mercadoria constante da Refatura é sempre inferior ao prazo de recebimento fixado pela autuada para o pagamento pela Acesita IE; a mercadoria é remetida diretamente pela Recorrente ao comprador final; e a autuada é quem providencia a contratação de seguro para as mercadorias exportadas. 9. Não apresentou documentos que pudessem asseverar a materialização da atividade de intermediação comercial atribuída a sua controlada Acesita IE e que justificassem a diferença de valor (fatura x refatura). Como bem expõe a Fl. 6688DF CARF MF 20 Fiscalização, o negócio jurídico, se de fato praticado, deixaria rastro negocial da atividade de intermediação, seja por meio de lista de clientes e fornecedores, registros de cotação e consultas de preços e de contatos com clientes e fornecedores dos produtos intermediados. Seja através de registro das tratativas comerciais (correspondências, fax, telefonemas, emails e mensagens eletrônicas). Ressaltese que a ausência de comprovação da efetiva intermediação demonstra que a Acesita IE serviu apenas como fachada, estando inserida de maneira artificial na operação de exportação realizada pela Acesita S.A. (atual Aperam – a Impugnante), não tendo a sociedade situada na Ilha da Madeira realmente praticado a atividade de trading a que, em aparência, se destinava a fazer. 10. Outro ponto importante trazido pela Fiscalização é que a Impugnante não foi capaz de comprovar as despesas incorridas pela controlada/vinculada Acesita IE na realização da sua atividade de trading. Para comprovar despesas, a fiscalizada disponibilizou relação contendo valores que teriam sido despendidos pela Acesita IE com agentes comerciais no exterior, sendo que o principal desses agentes prestadores de serviços de intermediação é outra subsidiária integral da controladora estrangeira ArcelorMittal (Luxemburgo), a Arcelor Stainless International, a quem cabia o papel de distribuidora mundial do segmento de aço inox produzido pelo grupo. Ora, como ressalta a Fiscalização no TVF, é incabível logicamente que a despesa mais significativa da suposta trading Acesita IE seja, justamente, a realização de serviços de trading que ela própria teoricamente se propunha a praticar a partir da Ilha da Madeira. Além disso, a operacionalização das transações comerciais atribuídas à controlada no exterior (reinvoice/refatura da Acesita IE) foi produzida pela própria fiscalizada. 11. Ademais, não se vislumbra racionalidade econômica na intermediação comercial realizada pela Acesita IE, dada sua localização desfavorável em relação aos pretensos clientes – situados na América Central e América do Sul, bastando observar o mapa de fls. 1.240 do TVF e reproduzido no relatório. Portanto, analisando os elementos de prova, a conclusão a que se chega é que não ocorreu a alegada intermediação das operações por parte da Acesita IE, tendo as operações de exportação entre a Impugnante e a Acesita IE se revestido de mera aparência. Por meio dessa operação simulada, a Impugnante formalizou R$240 milhões em 2008 e R$230 milhões em 2009 em registros de exportação. Assim, conforme o relato minucioso da fiscalização, estáse diante de um quadro de simulação, que envolve a fiscalizada (exportadora), a controlada/vinculada Acesita IE (importadora formal) e importadoras finais sediadas na América Central e do Sul (importadoras de fato), em uma Fl. 6689DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.679 21 série de operações triangulares sob “aparência” de intermediação comercial no exterior, que se destinava a camuflar uma venda direta, de fato ocorrida entre a fiscalizada e os clientes importadores, de forma a propiciar vantagens tributárias ilícitas. O subfaturamento, iniciado no ano de 2007, continuou nos anos de 2008 e 2009, como extensamente demonstrado pela Fiscalização. Ao ser intimada a fornecer documentação suporte das operações de comercio exterior de 2008 e 2009, a fiscalizada apresentou novamente “faturas” (de emissão da exportadora residente) e “refaturas” (atribuídas à intervenção da trading Acesita IE), com as mesmas características das disponibilizadas no procedimento anterior. O TVF demonstra como a Fiscalizada, novamente, não apresentou documentos comprovando a materialização da intermediação comercial atribuída a offshore da Ilha da Madeira, a Acesita IE. A simulação efetuada teve o intuito de omitir receitas sobre operações de exportação realizadas pela Fiscalizada, enviando e retendo recursos no exterior, seguindo o mesmo procedimento já destacado acima. A documentação juntada pela empresa, em resposta aos Termos de Intimação, está longe de revelar uma efetiva intermediação comercial a envolver a suposta trading, o fornecedor (industrial exportadora) e clientes finais variados, se resumindo a conjunto de extratos emitidos por empresa de courier internacional (DHL Express), acerca de documentos transportados. Nesses documentos, constam como destinatários agentes financeiros ou empresas vinculadas ao próprio grupo ArcelorMittal, incluindo a ArcelorMittal Stainless International, citada no parágrafo anterior. Ou seja, a empresa foi incapaz de comprovar a efetiva intermediação da Acesita IE. Ressaltese que, junto com sua peça impugnatória, a contribuinte anexou aos autos documentos que alega comprovariam a existência e atuação da Acesita IE (fls. 6.120 a 6.328). O exame dos documentos permite concluir que, mais uma vez, não foi capaz de apresentar documentos que comprovassem a atuação efetiva da empresa da Ilha da Madeira nas operações de vendas. Entre os documentos juntados na Impugnação encontramse, por exemplo, contratos de trabalho elaborados pelo Acesita com duas funcionária de meioperíodo com termo em 24 de fevereiro de 2008 e abril de 2008, respectivamente; comprovantes de pequenas despesas, no valor de 2.146,87 euros, efetuadas em 2009 pela ArcelorMittal Trading por conta da Acesita IE (em conjunto com pagamentos efetuados pela ArcelorMittal Trading em nome da Skadden); recibos de envios de correspondência via DHL; fatura da Madeira Corporate Fl. 6690DF CARF MF 22 Services (MCS) – a já mencionada empresa de criação e manutenção de offshores no paraíso fiscal da Madeira, em que esta cobra serviços anuais prestados. A empresa pode até ter existido formalmente na dependência de tributação favorecida da Ilha da Madeira, na mesma sala em que funcionam várias outras empresas, em conjunto com o escritório de intermediação de empresas MCS, mas os documentos acostados aos autos são incapazes de demonstrar que a offshore participou efetivamente da intermediação objeto da discussão. Em 2009, a fiscalizada somente considerou na demonstração das controladas as operações afetas ao período de janeiro a junho, pelo seu entendimento de que a Acesita IE tivera o controle transferido para a outra empresa do grupo ArcelorMittal, a AM Global Holding (Luxemburgo), em 23/07/2009, e registrado em 06/08/2009 no órgão competente na Ilha da Madeira (registro oficial da ZFM). Fica claro que, independentemente da meramente formal troca de controle da Acesita IE entre subsidiárias integrais da ArcelorMittal – Luxemburgo, a simulação de intermediação comercial no exterior via Acesita IE continuou a ser formalizada pela fiscalizada em seus registros de exportação ao longo de todo o ano de 2009, conforme os registros constantes da Planilha de Embarques e Receitas Omitidas. Os elementos de prova demonstram que o planejamento fiscal utilizado pela fiscalizada serviu para tentar esconder uma simulação, uma mera aparência de negócio jurídico, resultando em subfaturamento das exportações realizadas pela empresa fiscalizada, não podendo ser aceito. O esforço da fiscalizada em fugir à tributação é demonstrado pela tentativa de esconder a simulação em uma aparência meramente formal de intervenção da Acesita IE, incluindo a transferência formal de controle entre empresas do mesmo grupo. O objetivo central dessa operação, fica demonstrado, é o de subtrair parte dos tributos devidos pela fiscalizada em território brasileiro. Em relação à alegação da Fiscalizada de que seria aplicável a legislação de preço de transferência, devemos considerar que tais regras servem para inibir a transferência de lucro para empresas vinculadas no exterior por meio de operações de importação e exportação que tenham efetivamente ocorrido. O instituto dos preços de transferência não é o instrumento adequado para sanar ilícitos tributários decorrentes de situações de falsidade ou aparência negocial. Neste caso, aplicamse as disposições do art. 149, inciso VII, do CTN, em conjunto com os artigos 71 e 72 da Lei no 4.502/64, como se verá abaixo. Fl. 6691DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.680 23 Ressalto a disposição da própria Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o tema, trazida pela Autoridade Fiscal, que demonstra a diferenciação entre o instituto do preço de transferência e a fraude e elisão fiscal: “O preço de transferência é neutro, não se confundindo com as questões de fraude, elisão fiscal internacional ou de transferência ilícita de lucros”. (Relatório OCDE – 1979). Ou seja, para que fosse aplicável a legislação de preços de transferência no caso concreto, seria condição necessária que a offshore Acesita IE houvesse participado de fato da operação praticada, exercendo a intermediação. O que não ocorreu, conforme ficou demonstrado. Assim, concluise que o caso em análise não envolve a legislação de preços de transferência. Não se nega a existência formal da Acesita IE, offshore na Ilha da Madeira, paraíso fiscal. Muito menos, a liberdade da empresa de se autoorganizar. Entretanto, o procedimento fiscal demonstrou, com clareza, que a offshore Acesita IE não participou efetivamente das operações de venda da fiscalizada. Como fundamenta o TVF, ficou “constatada a ausência material de atividade de intermediação comercial formalizada em documentos”. Considerase, assim, demonstrada a prática da simulação. Tal simulação levada a cabo pela Impugnante violou a lei brasileira. Está provado nos autos que não houve de fato nenhuma intermediação, mas mero ato simulado, suscetível, pois, de ser desconsiderado pelo Fisco para fins de tributação. Conforme dispõe o Código Civil Brasileiro, instituído pela Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que entrou em vigor em janeiro de 2003: Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boafé e os usos do lugar de sua celebração. (...) Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: (...) VI tiver por objetivo fraudar lei imperativa; Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: Fl. 6692DF CARF MF 24 I – aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;” II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; (...) §2o Ressalvamse os direitos de terceiros de boafé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido suprilas, ainda que a requerimento das partes. (...) Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercêlo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boafé ou pelos bons costumes. (...) Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boafé. Como bem expõe o Conselheiro do CARF, Hélcio Lafetá Reis: Na visão “liberal formalista”, ou há evasão fiscal, ou seja, o uso de meios ilícitos para se eximir do pagamento de tributos, ou há elisão fiscal, denominação esta utilizada para agrupar as diferentes formas de planejamento fiscal lícito; o primeiro passível de combate pela Administração Tributária por desconformidade ao Direito; o outro, inatingível, pois operado com base em premissas legais autorizativas, ou não impeditivas. Porém, tal entendimento vem sendo contestado por parte da doutrina e dos aplicadores do Direito – Poder Judiciário e Administração Tributária. Numa percepção aqui chamada de “realista substancial”, considerase que os comportamentos dos contribuintes em face da norma tributária – e aos outros todos lícitos – em que se incluiria o planejamento tributário. Além desses, há outras condutas que, não obstante se subsumirem à regra formal da lei, fariam uso de meios artificiosos destinados a contornar a Fl. 6693DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.681 25 incidência da norma tributária e, consequentemente, pagar menos tributos. Essa concepção de planejamento fiscal abusivo parte da premissa de que inexiste direito absoluto, seja ele referente à livre iniciativa ou à propriedade, pois, no Estado Democrático de Direito, aos direitos individuais se acrescem os direitos de caráter coletivo, dentre os quais a função social da propriedade. A “auto organização sofre limitações baseadas na necessidade de cada um contribuir para as despesas públicas, de acordo com os valores de justiça, da igualdade e da solidariedade” (Reis, Hélcio Lafetá. Planejamento Tributário Abusivo: Violação da Imperatividade da Norma Jurídica, in Revista Dialética do Direito Tributário, v. 209, p. 59) Ou seja, à luz do que dispõe o Estado Democrático de Direito, o Código Civil, sem desrespeitar a liberdade contratual, estabeleceu alguns princípios básicos que norteiam os negócios jurídicos, os contratos e os seus vícios, os quais limitam a liberdade absoluta de contratar. São tais princípios o da solidariedade social e da boafé objetiva. A simulação, por se tratar de vício contratual, em que ocorre uma ocultação da verdade na declaração, atinge o Direito e torna nulo o negócio jurídico simulado. Ocorre uma ficção negocial com a finalidade de ocultar a realidade, como bem expõe Hermes Marcelo Huck: Em síntese, consiste a simulação numa ficção negocial com a finalidade de ocultar a realidade, enquanto na fraude à lei há um negócio real, conscientemente desejado pelas partes, tanto em seu conteúdo com em sua execução, dirigidos para elidir o cumprimento de uma norma legal. A fraude pode conviver com a simulação, mas nunca decorre do negócio jurídico aparente desta, podendo, eventualmente, aparecer no negócio que a simulação encobriu. Desmascarada a simulação, surge o negócio oculto, e este poderá – ou não – ser caracterizado como fraudulento. Em matéria tributária, entretanto, a simulação é mais do que a mera e simples ocultação de um negócio jurídico; requer uma conduta dirigida a obstruir a ocorrência do fato gerador, utilizandose para tanto de um arsenal complexo que envolve uma miríade de artimanhas, documento, práticas contábeis e registros” (Hermes Marcelo Huck. Evasão Fiscal e Elisão: Rotas Nacionais e Internacionais do Planejamento Tributário. São Paulo, Saraiva, 1997, p. 120). A reação do direito ante a simulação concentrase na busca do verdadeiro ato praticado. O Código Civil impõe a pena de nulidade ao negócio jurídico simulado. Nulidade esta que, de acordo com o artigo 168 do Código Civil, pode ser alegada por qualquer interessado. Portanto, pode o Fisco, como diretamente envolvido, na defesa do interesse publico da Fazenda Nacional, se opor à simulação, realizada de forma maliciosa em prejuízo da lei tributária. Fl. 6694DF CARF MF 26 A simulação relativa ocorre quando as partes desejam negócio distinto do pactuado e aparente, quando o sujeito é diverso daquele que integra a relação jurídica aparente ou ainda quando há falsidade em qualquer outro elemento da relação jurídica. Ocorre um negócio verdadeiro, mas dissimulado. Mascarase com determinado tipo de negócio um outro negócio. Os indícios carreados e analisados em profundidade pela Fiscalização e a análise da própria sequência de atos, iniciados em 2007, levantados por ocasião da ação fiscal anterior, e confirmados no procedimento fiscal atual, tendo comprovadamente se prolongado durante os anos de 2008 e 2009, são suficientes para comprovar que a empresa contribuinte tinha o total conhecimento de que estava formalizando, perante o fisco brasileiro, uma intermediação comercial simulada, em nome de uma controlada/vinculada no exterior (Acesita IE), sem concretização material. Tratou se de uma orquestração insidiosa (e, enfatizese, duradoura) com o fito de enganar o Fisco e reduzir de forma ilícita e intencional, a base tributável de IRPJ e CSLL nos exercícios fiscais em questão. Cito o voto do Conselheiro Wilson Fernandes Guimarães, no Acórdão no 10517.084, por considerar que expressa bem a realidade do presente caso: Argumenta a Recorrente que a escolha do modelo negocial adotado por ela não pode ser injustificadamente questionada pelas autoridades fiscais. Há de se repelir, de imediato, que não estamos diante de intervenção injustificada. Não se trata, aqui, de agressão ao primado da livre iniciativa, mas, sim, de legítima atuação da autoridade competente com o intuito de inibir prática que, para ela, a luz dos elementos que puderam ser colhidos, mostrase antijurídica. Não cabe, realmente, à autoridade administrativa imiscuirse nos planejamentos adotados pelo contribuinte para realizar seu objeto social. Cabe, sim, verificar: a) se a atividade declarada pelo contribuinte efetivamente foi realizada; e b) se tal atividade, uma vez provada a sua inexistência, revela mecanismo criado com o intuito de provocar danos ao erário. [...] Quanto a tal consideração, cabe observar que não se deve negar ou desmerecer a importância, em um mundo globalizado, dessas "ilhas" de facilidades, mas, tãosomente, de se aferir se as operações de exportação, no caso vertente, foram efetivamente realizadas pela empresas MIC e ILMOT, ou, em sentido convergente com a peça acusatória, praticadas pela MARCOPOLO S/A, servindo as denominadas empresas intermediárias como meio para atenuar o efeito tributário que a exportação direta naturalmente traduziria. (Acórdão 105 Fl. 6695DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.682 27 17.084,1o Conselho de Contribuintes, 5a Câmara, sessão de 25/06/2008). (grifos nossos) Portanto, correta a aplicação do disposto no artigo 149 do CTN (inciso VII), com o enquadramento nas disposições contidas na Lei no 4.502/64 (artigos 71 e 72), pela forma com que foram auferidas as referidas vantagens fiscais. Código Tributário Nacional Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: (...) VII quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964 Art . 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Assim, a ocorrência de simulação relativa ou dissimulação, caracterizada pela ausência de intermediação das empresas nas operações de venda, torna legítima a autuação por omissão de receita, com amparo na parte final dos art. 283 do RIR e do art. 2º da Lei nº 8.846/94, devido à emissão de nota fiscal com valor inferior ao da operação. RIR/99 Art. 283. Caracteriza omissão de receita ou de rendimentos, inclusive ganhos de capital, a falta de emissão de nota fiscal, recibo ou documento equivalente, no momento da efetivação das operações de venda de mercadorias, prestação de serviços, operações de alienação de bens móveis, locação de bens móveis e imóveis ou quaisquer outras transações realizadas com bens ou serviços, bem como a sua emissão com valor inferior ao da operação (Lei nº 8.846, de 1994, art. 2º). Fl. 6696DF CARF MF 28 Lei no 8.846/94. Art. 2º Caracteriza omissão de receita ou de rendimentos, inclusive ganhos de capital para efeito do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza e das contribuições sociais, incidentes sobre o lucro e o faturamento, a falta de emissão da nota fiscal, recibo ou documento equivalente, no momento da efetivação das operações a que se refere o artigo anterior, bem como a sua emissão com valor inferior ao da operação. Tratase de omissão de receita decorrente de simulação de negócio jurídico, caracterizada pelo subfaturamento decorrente de simulação de intermediação de terceiras empresas, que esconde a real operação realizada de exportação de seus produtos para os destinatários finais, posto que, comprovadamente, não houve intermediação de suas controladas. Ademais, o Auto de Infração determinou corretamente a tributação das receitas omitidas, resultante da diferença entre o montante efetivamente pago pelo destinatário final e o apropriado contabilmente pela fornecedora do produto. Em conformidade com a legislação do imposto de renda, os custos e despesas dedutíveis na apuração da base de cálculo do imposto são tãosomente aqueles intrinsecamente vinculados à fonte produtora de rendimentos, não havendo que se falar em dedutibilidade dos referidos dispêndios na situação em que sua falta de comprovação serviu de alicerce para a própria acusação. Novamente, cito o voto do Conselheiro Wilson Fernandes Guimarães, no Acórdão no 10517.084: É certo, como diz a Recorrente "que, em momento algum, omitiu se as operações efetuadas...", pois é exatamente isso que caracteriza a simulação relativa, isto é, a contribuinte simulou a prática de ato (venda para suas controladas) com o intuito de encobrir outro, qual seja, venda direta para seus clientes no exterior. Com isso, aparentou ter transmitido bens a pessoas diversas (suas controladas) das a quem realmente transmitiu (os destinatários finais dos produtos). A Recorrente sustenta que, caso se entenda que alguma exação mostrase devida, é certo que os critérios de apuração do crédito tributário estão equivocados, pois, para ela, os custos e as despesas incorridas por suas controladas deveriam ser considerados. Na mesma linha, tal argumentação não deve ser recepcionada. Primeiro, porque a Recorrente não traz aos autos qualquer documento que possa ser considerado hábil para comprovar custos ou despesas incorridos por suas controladas; e, segundo, porque não restou também comprovado nos autos, no âmbito em que os fatos apurados estão sendo considerados, que eventuais custos ou despesas de suas controladas tenham, de alguma forma, concorrido para a obtenção de suas receitas. Assim, diante da situação concreta retratada pela Fiscalização, não cabe outra conclusão que não a de que os custos e despesas Fl. 6697DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.683 29 vinculados às receitas de exportação já foram devidamente apropriados pela Recorrente. (Acórdão 10517.084, 1o Conselho de Contribuintes, 5a Câmara, sessão de 25/06/2008). (grifos nossos) Em decorrência da omissão de receita, via reiterada prática de subfaturamento, a fiscalização apurou o valor de R$24.867.531,08 em receitas omitidas em exportações registradas pela fiscalizada, ao longo do ano de 2008, e outros R$21.573.891,11 omitidos no ano de 2009, conforme espelhado na Planilha de Embarques e Receitas Omitidas, bem assim, na planilha de ajustes de estimativas. Correto, desta forma, o procedimento adotado pela Fiscalização. Assim, devem ser mantidas integralmente as exigências do IRPJ e da CSLL, constantes do presente lançamento, relativas à omissão de receitas praticada pelo subfaturamento de exportação. (...) Do Ágio e das parcelas indedutíveis anteriores à incorporação da AAEB Ainda por cima, ressalta o Termo de Verificação Fiscal que a fiscalizada também deduziu diretamente sobre a base tributável de IRPJ e CSLL o valor mensal de R$1.494.060,97 (derivado do valor de R$89.643.658,28, rateado em 60 meses). A Impugnante rotulou tal dedução como “amortização de ágio AAEB x AMIB” (antes da incorporação). De tal forma, acabou excluindo o total de R$8.964.365,83 em 2008 (meses 07 a 12/2008) e de R$17.928.731,64 em 2009. Nos registros contábeis da AAEB, constava o montante de R$89.643.658,28 “amortizados” nos meses de abril, maio e junho de 2008, tendo por base o mesmo ágio segregado em questão. Ou seja, ao mesmo tempo em que a AAEB repassava aos acionistas minoritários alienantes (via OPA) os valores financeiros transferidos pela ArcelorMittal Luxemburgo para bancar os compromissos que esta (a controladora estrangeira) assumira, o valor “amortização” foi adicionado pela sociedade de participação na apuração da sua base tributável de IRPJ. Após a ocorrência da incorporação da AAEB, a Impugnante considerou que poderia aproveitar tal valor. Entretanto, o artigo 386, inciso III, do RIR/99, determina que o ágio passível de dedutibilidade é apenas aquele decorrente de amortizações ocorridas posteriormente ao evento de incorporação, fusão ou cisão, ou seja, nos balanços correspondentes à apuração do Lucro Real, levantados após os referidos eventos – desde que cumpridas, obviamente, as demais condições e requisitos essenciais do instituto. Ou seja, o direito a dedutibilidade fiscal do ágio amortizado contabilmente nasce Fl. 6698DF CARF MF 30 somente após a ocorrência dos eventos de incorporação, fusão ou cisão. Assim, incabível a obtenção de tal benefício fiscal sobre parcelas de ágio amortizadas contabilmente pela entidade incorporada, anteriormente à ocorrência do evento de incorporação. Logo, é também procedente o lançamento, na forma de “exclusões indevidas” ao lucro real, a titulo de “amortização de ágio AAEB x AMIB” (antes da incorporação), dos valores de R$8.964.365,83 em 2008 e R$17.928.731,64 em 2009, conforme Planilha de Ajuste de Estimativas de IRPJ e CSLL (fls. 2.807 a 2.810 ). O art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, prevê a incidência de juros de mora sobre os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal. A multa de ofício incidente sobre os tributos e contribuições não pagos integram os referidos débitos, motivo pelo qual sofrerão incidência de juros de mora a partir do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Transcrevese, a seguir, decisões do Conselho de Contribuintes consagram esse entendimento: MULTA DE LANÇAMENTO DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA. Sobre a multa por lançamento de ofício não paga no vencimento incidem juros de mora, na forma dos artigos 43 e 61, § 3º, da Lei 9.430/96. (Acórdão 1101001.296. Relator: Paulo Mateus Ciccone. Data da Sessão: 25/03/2015.) JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. Por ser parte integrante do crédito tributário, a multa de ofício sofre a incidência dos juros de mora. (Acórdão 1201000.919. Relator: André Almeida Blanco. Data da Sessão: 07/11/2013.) Processo 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1540.438 DRJ/SDR Fls. 6.437 94 DA REPERCUSSÃO DOS FATOS SOBRE A APURAÇÃO DA CSLL Alega a Impugnante que não existe dispositivo que vede a dedutibilidade do ágio para apuração da CSLL. Ocorre que a adição à base de cálculo da CSLL, de despesas com amortização de ágio encontra amparo nas normas que regem a exigência da referida contribuição. A respeito da matéria, cabe reproduzir o art. 57 da Lei nº 8.981/95, com a redação dada pela Lei nº 9.065/1995, e o artigo 28 da Lei nº 9.430/1996. Art. 57. Aplicamse à Contribuição Social sobre o Lucro (Lei nº 7.689, de 1988) as mesmas normas de apuração e de pagamento estabelecidas para o imposto de renda das pessoas jurídicas, inclusive no que se refere ao disposto no art. 38, mantidas a base de cálculo e as alíquotas previstas na legislação em vigor, com Fl. 6699DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.684 31 as alterações introduzidas por esta Lei. (Redação dada pela Lei nº 9.065, de 1995) Art. 28. Aplicamse à apuração da base de cálculo e ao pagamento da contribuição social sobre o lucro líquido as normas da legislação vigente e as correspondentes aos arts. 1º a 3º, 5º a 14, 17 a 24, 26, 55 e 71, desta Lei. Verificase, portanto, que a lei determina a aplicação à CSLL das mesmas normas de apuração do IRPJ. Por sua vez, a Instrução Normativa SRF nº 390/2004, ao consolidar as regras relativas à apuração e pagamento da CSLL, dispôs em seus artigos 34, 44 e 75: Art. 34. O pagamento da CSLL por estimativa deverá ser efetuado até o último dia útil do mês subseqüente àquele a que se referir. Art. 44. Aplicamse à CSLL as normas relativas à depreciação, amortização e exaustão previstas na legislação do IRPJ, exceto as referentes a depreciação acelerada. Art. 75. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do Decretolei n º 1.598, de 1977, deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento econômico seja: I valor de mercado de bens ou direitos do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos períodos de apuração futuros, em contrapartida a conta do ativo diferido, se ágio, ou do passivo, como receita diferida, se deságio III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas, em contrapartida a conta do ativo diferido, se ágio, ou do passivo, como receita diferida, se deságio; § 1 º Alternativamente, a pessoa jurídica poderá registrar o ágio ou deságio a que se referem os incisos II e III do caput em conta do patrimônio líquido; 2 º A opção a que se refere o § 1 º aplicase, também, à pessoa jurídica que tiver absorvido patrimônio de empresa cindida, na qual tinha participação societária adquirida com ágio ou deságio, com o fundamento de que trata o inciso I do caput, quando não tiver adquirido o bem a que corresponder o referido ágio ou deságio; § 3 º O valor registrado com base no fundamento de que trata: Fl. 6700DF CARF MF 32 (....). Da leitura dos dispositivos acima transcritos, concluise que a legislação relativa à CSLL adotou o mesmo disciplinamento contido na legislação do IRPJ quanto ao registro e o tratamento a ser dispensado ao ágio, inclusive no concernente à sua amortização (artigos 384 e seguintes do RIR/99). Citamos o voto vencedor no acórdão 1402001.589, de 11 de março de 2014, da 4ª Câmara/2ª Turma Ordinária do CARF, que assim decidiu: DESPESAS DE AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. ADIÇÃO À BASE DE CÁLCULO DA CSLL. A adição à base de cálculo da CSLL, de despesas com amortização de ágio encontra amparo nas normas que regem a exigência da referida contribuição. Recurso Negado. Isto posto, aplicase à CSLL o mesmo decidido quanto ao IRPJ. Assim, quanto a esses aspectos concordo integralmente com a decisão recorrida e entendo que não merece ser modificada, razão pela qual voto no sentido de manter a decisão pelos seus próprios fundamentos. No que se refere à preliminar de Nulidade por pagamento à vista do débito ao abrigo da Lei. 12.865/2013, entendo que a mesma não merece ser acolhida. Não há o que se falar em nulidade se foi o próprio Recorrente quem deu causa ao lançamento, até porque o suposto pagamento foi posterior ao início do procedimento fiscal. Outrossim, as infrações, em que pese possam ser excludentes ou interferir uma na outra, são absolutamente distintas. Ressalto que, este relator, inicialmente orientou seu voto no sentido de negar provimento integral à referida preliminar, após os debates em julgamento, me convenci da necessidade de, ao menos, aproveitar os pagamentos efetivamente realizados sob a égide da referida lei. Isto porque, a omissão de receitas exigida no presente lançamento acarretou na geração de lucros na empresa do exterior, cuja operação foi desconsiderada no presente lançamento. Assim, levando em consideração que a Recorrente confessou e pagou o IRPJ e CSLL incidentes sobre os lucros de suas controladas no exterior (controlada indireta Acesita IE e controlada direta Acesita Holding BV), apurados nos anos de 2008 e 2009, deixar de considerar o que foi efetivamente pago seria exigir do contribuinte duas vezes o pagamento. Entretanto, não é possível acolher integralmente a preliminar suscitada pela Recorrente, no sentido de considerar como pago e aplicar os efeitos da Lei 12.865/2013 ao presente lançamento. Isto porque, como já ressaltado, estou convencido de que a operação triangular acabou acarretando na omissão de receitas que deveriam ser tributadas no País. Ao passo que, a Lei 12.865/2013 previu um parcelamento especial para débitos decorrentes da aplicação do artigo 74 da Medida Provisória 2.15835/2001, que determina a tributação automática, ao final de cada ano, de lucros auferidos por sociedades controladas ou coligadas sediadas no exterior. Fl. 6701DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.685 33 Ou seja, o referido parcelamento foi específico para tributação de lucros no exterior, infração diversa à cometida pela Recorrente. Ademais, a lei também atribuiu benefícios que foram específicos para o reconhecimento dessa infração, os quais não posso aqui expandir ou aplicar analogicamente para infração diversa. Entre os benefícios estava a quitação com a utilização de prejuízo fiscal, ao passo em que se o Recorrente tivesse tributado a omissão de receitas no País, como deveria, não faria jus. Por exemplo, em referência a 2008, o Recorrente informou que os valores incluídos na base de cálculo do IRPJ e CSLL foram inteiramente absorvidos por prejuízos da Impugnante apurados no mesmo exercício, tendo a adição dos lucros da controlada resultado na redução do valor dos prejuízos do referido exercício. Ora, não poderia aplicar ao presente lançamento os efeitos e benefícios de um parcelamento especial específico, concedido para infração diversa. Também não poderia aplicar os efeitos das reduções de penalidades impostas. Entretanto, voto por dar provimento parcial à preliminar para determinar o aproveitamento dos valores efetivamente pagos em espécie pelo Recorrente sob a égide da referida Lei. Assim, deverão ser deduzidos do presente lançamento, tão somente, os valores efetivamente recolhidos aos cofres da união, excetuando o prejuízo fiscal utilizado para quitação de parte do crédito. Por sua vez, no que se refere à: (i) glosa do ágio pela utilização de" empresa veículo"; (ii) qualificação da multa de ofício, e; (iii) concomitância da multa de ofício e isolada; passo a me manifestar. No que se refere à alegação de impossibilidade da duplicidade da multa isolada e de ofício, concordo com as razões do Recorrente. Isto porque, sigo o entendimento acerca da impossibilidade da aplicação simultânea sobre a mesma infração da multa isolada pelo não pagamento de estimativas apuradas no curso do anocalendário e da multa proporcional concernente à falta de pagamento do tributo devido apurado no balanço final do mesmo anocalendário. Tal fato se deve à conclusão de que o não pagamento das estimativas é apenas uma etapa preparatória da execução da infração. Uma vez que as estimativas são meras antecipações dos tributos devidos, a concomitância significa dupla imposição de penalidade sobre o mesmo fato. Neste ponto me permito valer dos fundamentos aduzidos pelo Conselheiro Guilherme Adolfo Mendes no Acórdão 120100.235: As regras sancionatórias são em múltiplos aspectos totalmente diferentes das normas de imposição tributária, a começar pela circunstância essencial de que o antecedente das primeiras é composto por uma conduta antijurídica, ao passo que das segundas se trata de conduta lícita. Dessarte, em múltiplas facetas o regime das sanções pelo descumprimento de obrigações tributárias mais se aproxima do penal que do tributário. Fl. 6702DF CARF MF 34 Pois bem, a Doutrina do Direito Penal afirma que, dentre as funções da pena, há a PREVENÇÃO GERAL e a PREVENÇÃO ESPECIAL. A primeira é dirigida à sociedade como um todo. Diante da prescrição da norna punitiva, inibese o comportamento da coletividade de cometer o ato infracional. Já a segunda é dirigida especificamente ao infrator para que ele não mais cometa o delito. É, por isso, que a revogação de penas implica a sua retroatividade, ao contrário do que ocorre com tributos. Uma vez que uma conduta não mais é tipificada como delitiva, não faz mais sentido aplicar pena se ela deixa de cumprir as funções preventivas. Essa discussão se torna mais complexa no caso de descumprimento de deveres provisórios ou excepcionais. Hector Villegas, (em Direito Penal Tributário. São Paulo, Resenha Tributária, EDUC, 1994), por exemplo, nos noticia o intenso debate da Doutrina Argentina acerca da aplicação da retroatividade benigna às leis temporárias e excepcionais. No direito brasileiro, porém, essa discussão passa ao largo há muitas décadas, em razão de expressa disposição em nosso Código Penal, no caso, o art. 3°: Art. 3" A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplicase ao fato praticado durante sua vigência. O legislador penal impediu expressamente a retroatividade benigna nesses casos, pois, do contrário, estariam comprometidas as funções de prevenção. Explico e exemplifico. Como é previsível a cessação da vigência de leis extraordinárias e certo, em relação às temporárias, a exclusão da punição implicaria a perda de eficácia de suas determinações, uma vez que todos teriam a garantia prévia de, em breve, deixarem de ser punidos. É o caso de uma lei que impõe a punição pelo descumprimento de tabelamento temporário de preços. Se após o período de tabelamento, aqueles que o descumpriram não fossem punidos e eles tivessem a garantia prévia disso, por que então cumprir a lei no período em que estava vigente? Ora, essa situação já regrada pela nossa codificação penal é absolutamente análoga à questão ora sob exame, pois, apesar de a regra que estabelece o dever de antecipar não ser temporária, cada dever individualmente considerado é provisório e diverso do dever de recolhimento definitivo que se caracterizará no ano seguinte. Nada obstante, também entendo que as duas sanções (a decorrente do descumprimento do dever de antecipar e a do dever de pagar em definitivo) não devam ser aplicadas conjuntamente pelas mesmas razões de me valer, por terem a mesma função, dos institutos do Direito Penal. Fl. 6703DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.686 35 Nesta seara mais desenvolvida da Dogmática Jurídica, aplicase o Princípio da Consunção. Na lição de Oscar Stevenson, "pelo princípio da consunção ou absorção, a norma definidora de um crime, cuja execução atravessa fases em si representativas desta, bem como de outras que incriminem fatos anteriores e posteriores do agente, efetuados pelo mesmo fim prático". Para Delmanto, "a norma incriminadora de fato que é meio necessário, fase normal de preparação ou execução, ou conduta anterior ou posterior de outro crime, é excluída pela norma deste". Como exemplo, os crimes de dano, absorvem os de perigo. De igual sorte, o crime de estelionato absorve o de falso. Nada obstante, se o crime de estelionato não chega a ser executado, punese o falso. É o que ocorre em relação às sanções decorrentes do descumprimento de antecipação e de pagamento definitivo. Uma omissão de receita, que enseja o descumprimento de pagar definitivamente, também acarreta a violação do dever de antecipar. Assim, punese com multa proporcional. Todavia, se há uma mera omissão do dever de antecipar, mas não do de pagar, punese a não antecipação com multa isolada. Digase ainda que a questão é objeto de Súmula do CARF nº 105, que entendo permanecer aplicável aos fatos geradores posteriores à edição da Lei nº 11.488/07 in verbis: Súmula CARF nº 105 : A multa isolada por falta de recolhimento de estimativas, lançada com fundamento no art. 44 § 1º, inciso IV da Lei nº 9.430, de 1996, não pode ser exigida ao mesmo tempo da multa de ofício por falta de pagamento de IRPJ e CSLL apurado no ajuste anual, devendo subsistir a multa de ofício. Outrossim, tal posição encontra guarida em diversas decisões deste Conselho, incluindose esta mesma Turma Ordinária, razão pela qual dou provimento ao Recurso para excluir a multa isolada. Ademais, resta prejudicado o argumento subsidiário relativo à dedução do PAT e IRRF. No que se refere à aplicação de multa qualificada sobre a omissão de receitas identificada, também neste particular entendo assistir razão ao Recorrente. Ressaltese, neste particular, que um dos fundamentos aduzidos no TVF e mantidos pela decisão Recorrida para justificar a manutenção da qualificação da penalidade se dá em razão da suposta continuidade do delito, e pela manutenção das operações com a empresa Acesita na Ilha da Madeira mesmo a empresa já tendo sido objeto de autuação pelo mesmo motivo quanto aos fatos geradores de 2007. Ocorre que, o referido lançamento apenas aconteceu no ano de 2011, ou seja, muito posterior aos fatos geradores de 2007 (objeto do PAF 10680.722860/201119) e dos Fl. 6704DF CARF MF 36 fatos geradores de 2008 e 2009 (objetos do presente lançamento). Assim, tal fundamento não se sustenta. Outrossim, também foi omitido no TVF o fato de que esta Primeira Seção ao julgar o Recurso Voluntário apresentado no PAF 10680.722860/201119 1402001.122, ocorrido em julho de 2012 (antes do presente lançamento), não manteve a qualificação da multa de ofício, em decisão com a qual concordo inteiramente: Forte nesses argumentos, a fiscalização entendeu que, diante da artificialidade na operação envolvendo a Acesita IE, não houve intermediação, mas, sim, venda direta pelo preço final. Logo, tais lucros não seriam da empresa Portuguesa e sim da Recorrente, ensejando a autuação por omissão de receitas. A autuação foi acrescida de multa qualificada, em virtude da suposta intenção deliberada do agente em fraudar o fisco. Nesse diapasão, cumpre notar que a simples apuração de omissão de receita, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessário, conforme preconiza o artigo 44, inciso II, da Lei nº 9.430/96 e Súmula nº. 14 do CARF, a comprovação do evidente intuito de fraude, definido nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº. 4.502/64. Em assim sendo, vale transcrever os artigos em referência: Art. 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II – das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a evitar ou diferir o seu pagamento. Art. 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos art. 7l e 72. A fiscalização, ao agravar a multa de ofício, não justifica estar se diante de conluio, sonegação ou fraude, limitandose a afirmar seu cabimento em virtude da prática de simulação de intermediação comercial nas exportações efetuadas pela Recorrente. De plano, vêse que está afastada a possibilidade de conluio, já que a Fiscalização nada trouxe aos autos para provar que os adquirentes finais dos produtos vendidos pela contribuinte Fl. 6705DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.687 37 obtiveram vantagens ilícitas ou que, no mínimo, foram coniventes. Analisando os conceitos de sonegação e fraude, verificase que ambos pressupõe o dolo, conceito extraído do direito penal. Nessa linha, o dolo significa ter a plena consciência de que o ato praticado irá ocasionar o resultado criminoso. Exemplos de tipos dolosos se mostram quando nos deparamos, com uma falsificação de documentos comprobatórios (notas fiscais, contratos, escrituras públicas, dentre outros) ou de livros fiscais/contábeis, emissão de notas fiscais calçadas, notas fiscais frias, notas fiscais paralelas, notas fiscais fornecidas a título gracioso, contabilidade paralela (Caixa 2), conta bancária fictícia, falsidade ideológica, declarações falsas ou errôneas (quanto apresentadas reiteradamente), práticas que em nada não se assemelham à hipótese descrita nos autos. Destarte, não nos olvidemos que o chamado direito de se auto organizar para pagar menos impostos não pode ser considerado conduta ilícita, já que é, sobretudo, emanação de uma liberdade individual. Assim é que, nos mesmos termos da decisão acima citada, mesmo concordando com a artificialidade da operação triangular realizada com a Acesita IE, entendo que não restam configurada a prova do dolo para se justificar a qualificação da multa. Todas as operações foram devidamente escrituradas, os documentos solicitados foram apresentados e não foram impostos obstáculos à fiscalização. O dolo qualificado ensejador da aplicação de uma penalidade qualificada demanda a prova, pelo Fisco, de que na época dos fatos, o contribuinte, consciente da ilegalidade, mesmo assim a pratica com a intenção de lesar o Fisco. Certamente, não foi o que aconteceu no caso concreto, face a todo o contexto histórico fartamente comprovado pelo contribuinte. Desta feita, nos mesmos termos do Acórdão 1402001.122, voto no sentido de dar provimento ao Recurso do contribuinte para desqualificar a multa aplicada. Resta, portanto, analisar a questão relativa à amortização de ágio em razão da utilização da chamada empresa veículo. Os debates no CARF acerca das condições para dedução da amortização do ágio na apuração da base de cálculo do IRPJ e CSLL freqüentemente envolvem os conceitos de empresaveículo e propósito negocial. A validade jurídica de todas as operações realizadas pela Recorrente não são questionadas no presente lançamento, mas sim o propósito negocial de um dos quadros da operação societária realizada. Fl. 6706DF CARF MF 38 De fato, existem duas grandes correntes interpretativas sobre o tema. A primeira entende que a amortização do ágio constitui benefício fiscal expressamente previsto em lei, originalmente concedido como incentivo à privatização e à reorganização societária das empresas. Para essa corrente, a dedução prescindiria da existência de propósito negocial e a utilização de empresaveículo seria legítima para se alcançar a redução da base tributável, desde que cumpridos os demais requisitos legais. Nestes termos identificase na jurisprudência administrativa o Acórdão 105 16.774 (08/11/2007), o qual foi mantido pela CSRF na decisão de Acórdão 9101001.657 (15/05/2013). A segunda corrente defende a obrigatoriedade da existência de elementos de fato caracterizadores da necessidade da realização da operação societária, razão pela qual a realização de operações sem fim negocial caracterizaria planejamento tributário abusivo, com o único propósito de economia tributária, baseada nas figuras de fraude à lei, abuso de direito e simulação. Nesse sentido foi a linha adotada no Acórdão 120100.689 (08/05/2012), na mesma esteira do TVF e da decisão Recorrida. Como podese inferir do TVF, corroborado pela DRJ, o ponto principal da argumentação que embasa o presente lançamento é a ausência de propósito negocial na realização de um planejamento tributário abusivo. Por sua vez o Recorrente em sua vasta argumentação defende que, além de ter havido propósito negocial necessário à conclusão do negócio, e o lapso temporal que quase 3 anos para conclusão das operações, mesmo que esse não existisse, não se poderia invalidar o uso de empresaveículo nos termos de decisões já proferidas por este Conselho. Necessário ressaltar ainda que, as operações foram realizadas a cerca de 10 anos, em um momento absolutamente distinto e, em atenção ao princípio da segurança jurídica, não é possível aplicar ao contribuinte hoje, conseqüências jurídicas que não haveriam no momento da realização dos atos e operações societárias que ensejaram o presente lançamento. Ainda mais, em se tratando de uma interpretação que leva em consideração o dolo qualificado punido por uma multa qualificada. É inegável que a segurança jurídica e suas garantias derivadas, como proibição de excesso, proporcionalidade, razoabilidade, acessibilidade e confiança legítima, configuramse como típicas garantias asseguradas aos contribuintes, as quais, ainda que não expressamente discriminadas, constituemse em modalidades de “limitações constitucionais ao poder de tributar” e, por conseguinte, acomodamse ao conjunto das regras de identidade do sistema constitucional, como expressões de cláusulas pétreas, protegidas pelo artigo 60, parágrafo 4º, “a”, da CF. Pois bem. Traçadas essas premissas das duas principais correntes interpretativas sobre o tema me alinho à primeira, a qual também é defendida pelo Recorrente. Ressaltese mais uma vez que não existem dúvidas acerca do efetivo pagamento do ágio gerado através de operações realizadas entre pessoas jurídicas distintas. Não obstante o alto grau de subjetividade existente em qualquer discussão relacionada à existência ou inexistência de propósito negocial nas operações, face à mais que Fl. 6707DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.688 39 concreta objetividade da lei quanto às regras para dedução do ágio, não deixarei de enfrentar as questões de fato, muito embora entendo que o cerne da questão é avaliar se a escolha de negócio da Recorrente infringe a lei tributária ou não, de forma a impossibilitar a dedução do ágio. Isto porque, o conceito de propósito negocial carece de fundamento legal, tornandose absolutamente subjetivo e abrangente. Partindo deste conceito adotado pelo Fisco, a presença de um propósito negocial deve ser precedente e, além, originária na operação, de modo a concretizar a amortização do ágio e o concomitante gozo do benefício fiscal como uma conseqüência natural e lógica. Entretanto, a indefinição dos conceitos no ordenamento jurídico impede a formação de entendimento uniforme, tornando qualquer discussão acerca das operações de ágio como ao menos parcialmente subjetivas, afastandose do princípio da tipicidade cerrada que foi base de formação do direito tributário. É freqüente a utilização pelo Fisco da teoria da ausência de propósito negocial por meio do qual defende que a simples inexistência sob sua ótica outros motivadores para a operação que não o alcance do benefício fiscal, tem sido usada como elemento suficiente para invalidar os atos do contribuinte ou o benefício fiscal almejado. Tal lógica ao meu ver se afasta da necessária objetividade da lei tributária, fundada no princípio da tipicidade cerrada, além de afetar a segurança jurídica vez que diversas regras e estruturas criadas pelo legislador brasileiro oferecem um benefício fiscal aos contribuintes como parte integrante de uma política econômica. Nesse sentido entendo ser absolutamente claro o exemplo trazido pelo Conselheiro desta Primeira Seção, Luiz Fabiano Alves Penteado em caso semelhante ao aqui tratado: Usualmente menciono em meu votos, de forma exemplificativa, o regime fiscal da Zona Franca de Manaus, que oferece incentivos fiscais para as empresas que lá se estabelecerem e produzirem, gerando empregos, desenvolvimento econômico/social e, mesmo, arrecadação de tributos para a região. Neste caso, não há qualquer exigência de que as empresas lá estabelecidas tenham propósitos negociais além do gozo do incentivo fiscal em si, para lá se estabelecerem. Isso porque, nenhuma empresa busca a Zona Franca de Manaus em razão da maior proximidade com o mercado consumidor, melhor infraestrutura ou maior oferta de mão de obra qualificada. O objetivo é o gozo do incentivo fiscal, que seja suficiente para compensar os desafios e dificuldades adicionais. Isso é garantido às empresas que cumpram todos os requisito da legislação, independentemente da existência de outras razões. Este é um exemplo do caráter indutor da norma, no sentido de que quando a legislação cria um determinado benefício, acaba por induzir o contribuinte a agir de determinada forma. Fl. 6708DF CARF MF 40 Nesse sentido, entendo que a busca da redução de incidência tributária por si só já se constitui em propósito negocial que viabiliza o aproveitamento do ágio, como incentivo tributário estabelecido em lei, desde que cumpridos os demais requisitos. Nesse sentido este Conselho já possui diversos precedentes: GANHO DE CAPITAL. VENDA DE QUOTAS. PLANEJAMENTO FISCAL ILÍCITO. DISTRIBUIÇÃO DISFARÇADA DE LUCROS. INOCORRÊNCIA NAS REDUÇÕES DE CAPITAL MEDIANTE ENTREGA DE BENS OU DIREITOS, PELO VALOR CONTÁBIL A PARTIR DA VIGÊNCIA DA LEI 9.249/1995. Constitui propósito negocial legítimo o encadeamento de operações societárias visando a redução das incidências tributárias, desde que efetivamente realizadas antes da ocorrência do fato gerador, bem como não visem gerar economia de tributos mediante criação de despesas ou custos artificiais ou fictícios. A partir da vigência do art. 22 da Lei 9.249/1995 a redução de capital mediante entrega de bens ou direitos, pelo valor contábil,não mais constituiu hipótese de distribuição disfarçada de lucros, por expressa determinação legal. (Acórdão nº 1402001.472 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária – Sessão de 09 de outubro de 2013) PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. NEGÓCIOS JURÍDICOS. ATOS JURÍDICOS. LICITUDE. O fato dos atos praticados visarem economia tributária não os torna ilícitos ou inválidos. O fato dos negócios praticados visarem economia tributária não os torna ilícitos ou inválidos. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MOTIVO DO NEGÓCIO. CAUSA DO NEGÓCIO. LICITUDE. Motivo do negócio é a razão subjetiva pela qual o contribuinte faz o negócio jurídico. Causa do negócio ou sua função econômica é o efeito que o negócio produz nas esferas jurídicas dos participes. O motivo ilícito implica em nulidade, quando declarada por um Juiz. Se a motivação do negócio é economia tributária, não se pode falar em motivo ilícito. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MOTIVO DO NEGÓCIO. CONTEÚDO ECONÔMICO. PROPÓSITO NEGOCIAL. LICITUDE. Não existe regra federal ou nacional que considere negócio jurídico inexistente ou sem efeito se o motivo de sua prática foi apenas economia tributária. Não tem amparo no sistema jurídico a tese de que negócios motivados por economia fiscal não teriam "conteúdo econômico" ou "propósito negocial" e poderiam ser desconsiderados pela fiscalização. O lançamento deve ser feito nos termos da lei. (...) Outra tese do Fisco que merece análise é a de que os atos praticados poderiam ser desconsiderados, porque não teriam conteúdo econômico (ou propósito negocial), já que teriam sido praticados com o único objetivo de economia tributária. Porém, tal afirmativa está em descompasso com o ordenamento jurídico. Fl. 6709DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.689 41 Como se vê, em última análise, a afirmação do Fisco consiste em sustentar que o planejamento tributário é proibido e que a economia tributária só é admissivel se for acidental. Apenas por isso, já se percebe a improcedência do argumento. Mas, a análise da tese do Fisco confirma o equivoco desta interpretação da fiscalização, pois nem esta motivação vicia o negócio e nem existe lei atribuindo tal efeito. As razões de ordem subjetiva que levam a pessoa a concluir algum negócio jurídico denominamse motivos. Já o efeito que o negócio produz nas esferas jurídicas dos participes chamase causa ou função econômica do negócio. Assim, independente da causa do negócio jurídico, se ele é praticado visando redução da carga tributária, podese dizer que o motivo do negócio foi economia fiscal. Conforme o Código Civil, apenas o motivo ilícito (se for determinante do negócio e comum As partes) implica em nulidade (inciso III, art. 166 do CC). Mesmo assim, tal nulidade precisa ser declarada por um Juiz. No entanto, salvo disposição de lei em contrário, não há como supor que a intenção de economizar tributos é ilícita. Assim, o inciso III, art. 166 do Código Civil não poderia ser aplicada sequer por juizes aos negócios jurídicos pelos quais a pessoa executa seu planejamento tributário. E, muito menos, poderia ser aplicada pela fiscalização, para efetuar lançamento de oficio. De outra banda, não existe regra federal ou nacional que considere negócio jurídico inexistente ou sem efeito se o motivo de sua prática foi apenas economia tributária. Somente se existisse uma lei com este conteúdo é que a fiscalização poderia desconsiderar os efeitos jurídicos dos negócios. " (Acórdão n. 1101000.835 1ª Câmara / 1ª Turma Ordinária – Sessão de 04 de dezembro de 2012) REQUISITOS PARA DEDUTIBILIDADE DO ÁGIO. EXISTÊNCIA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. Ausente conduta tida como simulada, fraudulenta ou dolosa, a busca de eficiência fiscal em si não configura hipótese de perda do direito de dedução do ágio, ainda que tenha sido a única razão aparente da operação. A existência de outras razões de negócio que vão além do benefício fiscal, apenas ratifica a validade e eficácia da operação. (Acórdão n. 1201001.507 – 2ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Sessão de 14 de setembro de 2016) AGIO NA AQUISIÇÃO DE AÇÕES AMORTIZAÇÃO A pessoa jurídica que, por opção, avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido e absorver patrimônio da investida, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, pode amortizar o valor do ágio com fundamento econômico com base em previsão de resultados nos exercícios futuros, contabilizados por ocasião da aquisição do investimento. A amortização poderá ser feita a razão de um sessenta avos, mensais, a partir da primeira apuração do lucro real subseqüente ao evento da absorção. No caso de deságio deverá amortizar na apuração do lucro real levantado a partir do primeiro anocalendário seguinte ao evento. O ágio também poderá ser Fl. 6710DF CARF MF 42 amortizado por terceira pessoa jurídica que incorporar a investidora que pagou o ágio e incorporou sua investida. O legislador não estabeleceu ordem de seqüência dos atos que de incorporação, fusão ou cisão, não cabendo ao interprete vedar aquilo que a não proibiu. ÁGIO NA SUBSCRIÇÃO DE AÇÕES AMORTIZAÇÃO O ágio na subscrição de ações deve ser calculado após refletido o aumento do patrimônio líquido da investida decorrente da própria subscrição. O ágio corresponde à parcela do valor pago que não beneficia, via reflexa, o próprio subscritor. A subscrição é uma forma de aquisição e de o tratamento do ágio apurado nessa circunstância deve ser o mesmo que a lei admitiu para a aquisição das ações de terceiros. MULTA ISOLADA ESTIMATIVA Não procede a exigência de multa isolada quando da recomposição do resultado em virtude de glosa de despesa, visto que não participam da base a ser utilizada para calcular o imposto estimado antecipado mensalmente. JUROS SOBRE MULTA A SELIC incide tão somente sobre débitos de tributos e contribuições, não sobre penalidade, que deve seguir a regra de juros contida no artigo 161 do CTN. (Lei 9.430/96, art. 61 c/c art. 3º do CTN). Recurso parcialmente provido. (Acórdão n. 10516.774 Sessão de 08 novembro de 2007) DESPESAS COM AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. Inexiste vedação legal para que uma pessoa jurídica, detentora de ágio na aquisição de investimento avaliado pelo método da equivalência patrimonial em razão da rentabilidade futura da investida, confira o aproveitamento deste ágio a outra pessoa jurídica por intermédio da absorção de seu patrimônio (art. 7º da Lei nº 9.430/96) ou viceversa (art. 8º). Se o ágio na aquisição do investimento efetivamente ocorreu, não sendo fruto de operações entre empresas do mesmo grupo econômico (ágio interno), incabível a glosa da despesa com sua amortização fundada no emprego da assim chamada "empresa veículo". (Acórdão n. 1201001.267 Sessão de 19 de janeiro de 2016) Cumpre destacar trecho do voto proferido no último Acórdão citado, com o qual me coaduno: "(...)Repare que a abusividade do planejamento tributário pode ter como característica (desde que não seja a única) justamente a ausência de propósito negocial. Entretanto, quando exista uma norma jurídica incentivando, sob o ponto de vista fiscal, a realização de um negócio jurídico, seria absurdo imaginarse que além do propósito de economia fiscal deveria haver também algum outro propósito. Esse é exatamente o caso dos presentes autos." Desta feita, entendo que a ausência de propósito negocial, sob a ótica do fisco, não pode ser suficiente para a glosa da dedução da amortização do ágio, até mesmo porque, a economia tributária pode ser considerada um propósito negocial. Fl. 6711DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.690 43 Por outro lado, a utilização da chamada empresaveículo, expressão que tem sido usada como sinônimo de ilegalidade tributária, por si só, não torna a operação ilegal, se desacompanhada de qualquer ato fraudulento ou simulado, especialmente quando restar demonstrada a existência de alternativas que resultem no mesmo resultado tributário obtido. Esta linha de jurisprudência já é adotada por este Conselho: "AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. USO DE EMPRESA VEÍCULO. Em regra, é legítima a dedutibilidade de despesas decorrentes de amortização de ágio efetivamente pago. A circunstância de a reorganização societária de que tratam os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, ter sido realizada por meio de empresa veículo não prejudica o direito do contribuinte, ante o fato incontroverso de que dessa reorganização não surgiu novo ágio ou economia de tributos distinta daquela prevista em lei. (Acórdão 1102000.982 1° Câmara / 2° Turma Ordinária Sessão de 04/12/2013 Voto Vencedor Conselheiro José Evande Carvalho Araujo) Destaquese trecho de voto proferido no Acórdão n. 1201001.267: "(...) Em relação ao emprego da chamada "empresa veículo" cumpre destacar que tal expressão tem sido utilizada pela fiscalização de uma maneira pejorativa, no sentido de um "mal em si mesmo". No entanto, como é cediço, não é possível sustentarse uma autuação fiscal lastreada na simples acusação de emprego de "empresa veículo", até porque o simples emprego de "empresa veículo" não é tipificado como infração à legislação tributária. Caberia então à fiscalização apontar a relação entre o emprego da "empresa veículo" e a prática de alguma infração à legislação tributária. E, no caso dos autos, como o autor da ação fiscal não se desincumbiu de seu ônus, isso já seria razão suficiente para afastarse, de pronto, a autuação." Ademais, a AAEB foi criada a partir da cisão total de uma empresa holding brasileira, que já detinha há anos participação na Recorrente, ocorrida em 2005, no contexto de uma reestruturação societária cujo objetivo era segregar segmentos de negócio do então grupo Arcelor no Brasil. Assim, a AAEB já existia desde 2005, portanto, anos antes da OPA de 2008. Notase que a criação da AAEB, então controladora da AMIB, não representou a interposição de uma sociedade holding entre o Grupo ArcelorMittal e a Recorrente, como quer sugerir a autoridade fiscal. Afinal, desde que o ingresso do grupo Fl. 6712DF CARF MF 44 francês Usinor no bloco de controle da Recorrente, já havia uma sociedade holding no Brasil (inicialmente a Usipar, depois a AAPB e finalmente a AAEB). Com efeito, a transferência da participação que o grupo ArcelorMittal detinha na então Acesita para a AAEB ocorreu, unicamente, em função de reestruturações societárias internas: primeiramente a incorporação da holding Usipar pela AAPB (2004) e posteriormente a cisão da AAPB, com destinação de parte de seu acervo patrimonial para a holding AAEB (2005). Portanto, é incorreta a suposição de que teria havido interposição” de uma “entidade veículo” (AAEB) para a aquisição das ações da recorrente no contexto da OPA. Ademais, parece evidente que a AAEB não só existiu de direito e de fato, como também praticou todas as atividades ligadas à sua finalidade de sociedade holding, recebendo participações de empresas operacionais (Recorrente e Arcelor Auto), para atuar como empresa concentradora do segmento de aços especiais e inox do Grupo ArcelorMittal. Outrossim, a OPA resultou em efetivo desembolso, pela AAEB, de aproximadamente R$ 2,94 bilhões, transação realizada em ambiente regulado, posto que a Recorrente era empresa de capital aberto e houve intermediação e controle da bolsa de valores, instituições financeiras e da CVM. Ademais, além de tudo o quanto exposto, como bem observado pelo Recorrente, o uso da chamada empresaveículo não era indispensável para obtenção do aproveitamento do ágio. Isto porque, caso a controladora ArcelorMittal S.A. – ou mesmo a Arcelor Spain – tivesse diretamente adquirido a Recorrente, mediante pagamento de ágio, tal empresa poderia integralizar o capital de pessoa jurídica constituída no Brasil, com a conferência das ações da Recorrente adquiridas com ágio. Posteriormente, tal sociedade seria incorporada pela Recorrente, que adquiriria, assim, o direito à amortização do ágio. Desta forma, havendo outra forma de se obter o mesmo resultado econômico, não há o que se questionar sobre o uso da AAEB na operação societária, que foi um claro exercício da liberdade negocial assegurada ao contribuinte. Esse também é entendimento firmado no CARF: AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. USO DE EMPRESA VEÍCULO. Em regra, é legítima a dedutibilidade de despesas decorrentes de amortização de ágio efetivamente pago. A circunstância de a reorganização societária de que tratam os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, ter sido realizada por meio de empresa veículo não prejudica o direito do contribuinte, ante o fato incontroverso de que dessa reorganização não surgiu novo ágio ou economia de tributos distinta daquela prevista em lei. (Acórdão 1102000.982 1° Câmara / 2° Turma Ordinária Sessão de 04/12/2013 Voto Vencedor Conselheiro José Evande Carvalho Araujo) No mesmo sentido foi o voto do Conselheiro Alberto Pinto Souza Júnior no Acórdão 1302001.186 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária: Fl. 6713DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.691 45 Por outro lado, a constituição da NAVPAR teve como propósito possibilitar o aproveitamento do ágio, como afirma a autoridade lançadora? A resposta é irrefragavelmente não, pelas seguintes razões. Primeiro, ninguém discute a existência do ágio e o seu efetivo pagamento pela recorrente aos membros da família Schwec. Logo, mesmo que não existisse a NAVPAR, se a recorrente e a Sogil tivessem adquirido diretamente o controle da Auto Viação Navegantes com ágio, poderiam cindila e passar a deduzir a amortização do ágio das suas bases tributáveis. Logo, fica evidente que esse malabarismo societário se deve a razões meramente empresariais, que os obrigavam a preservar a Auto Viação Navegantes, ou seja, preferindo assim criar uma intermediária. Além disso, caso viesse a ser declarado nulo o ato de constituição da NAVPAR, por ser um ato simulado, subsistiria o ato dissimulado, o qual consistiria em uma participação da recorrente na Auto Viação Navegantes com ágio no mesmo valor que fora registrado na aquisição da NAVPAR, sendo que, por óbvio, para que a sua amortização viesse a ser dedutível do IR e da CSLL, bastava que houvesse a mesma operação que foi feita com a NAVPAR. Logo, ainda que se admita a existência de um pacto prévio de constituição da NAVPAR, este não serviu para dissimular ato tributariamente mais oneroso, pois os efeitos tributários seriam os mesmos caso a NAVPAR não viesse a ser constituída, razão pela qual entendo que não houve simulação fiscal. Diante do exposto, entendo assistir razão ao Recorrente quanto a este ponto da autuação. Assim, voto pelo provimento parcial do recurso para (i) aproveitar os valores efetivamente recolhidos pelo Recorrente, sob a égide da Lei 12.865/2013, relativa à tributação dos lucros da Acesita IE no ano de 2009; (ii) cancelar a glosa do ágio pela utilização de empresa veículo; (iii) desqualificar a multa de ofício, e; (iv) excluir a multa isolada. Quanto aos demais pontos da autuação, voto no sentido de manter a decisão recorrida pelos seus próprios fundamentos, nos termos da faculdade garantida ao julgador pelo § 3º do Art. 57 do Regimento Interno do CARF. É como voto. (assinado digitalmente) Daniel Ribeiro Silva Voto Vencedor Fl. 6714DF CARF MF 46 Conselheiro Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Redator Designado Como visto, fui designado para redigir voto vencedor quanto à glosa de ágio pela utilização de empresa veículo, após a incorporação da AAEB. Consta no relatório deste acórdão que a autoridade fiscal questionou “a validade do ágio pago pela empresa Arcelor Aços Especiais do Brasil Ltda. (“AAEB”) antiga controladora da Recorrente , na aquisição de ações de emissão da ArcelorMittal Inox Brasil S/A (“AMIB”), atualmente Aperam Inox America do Sul S.A., ora Recorrente, no contexto da oferta pública de aquisição de ações realizada em 2008 (“OPA”)”. E, a fiscalização, deparouse com o valor de R$1,798 bilhão em “ágio segregado” em nome da sociedade de participação AAEB, em abril de 2008, tendo como motivação a operação de fechamento de capital, pelo que a própria fiscalizada (objeto do fechamento de capital) passara a aproveitálo a partir do mês de julho/2008, tão logo concluída a referida operação e assim que formalizada a “incorporação” da sociedade “AAEB”, conforme antecipado, sendo que, do valor segregado, R$89 milhões foram amortizados na contabilidade da AAEB, nos meses de abril a junho de 2008 – ficando, pois, um ágio residual registrado, no valor de R$1,708 bilhão. Pois bem. A parte vencedora da turma ordinária entendeu que a análise da amortização do ágio necessariamente pressupõe a verificação do verdadeiro adquirente das ações de emissão da empresa ArcelorMittal Inox Brasil S/A (“AMIB”), atualmente Aperam Inox America do Sul S.A., ora Recorrente. Isto porque o recurso para aquisição de tal investimento teve origem no exterior. Vejase nos principais trechos do voto da DRJ os fundamentos que levaram à delegacia de origem a entender que não teria sido a AAEB que efetivamente adquiriu o investimento de ArcelorMittal Inox Brasil S/A (“AMIB”), atualmente Aperam Inox America do Sul S.A.; mas sim ArcelorMittal S.A., sediada em Luxemburgo: É preciso que o laudo demonstre que o ágio foi suportado pela empresa investidora – que a defesa alega ter sido a AAEB. Entretanto, ao contrário, o laudo deixa claro que foi a empresa controladora sediada no exterior, a ArcelorMittal S.A. – Luxemburgo, que detinha a motivação para efetuar o fechamento de capital que resultou no pagamento de valor adicional pelo investimento e que, na realidade, foi responsável por todos os dispêndios efetuados na operação. · Laudo de Avaliação (fls. 2.063 a 2.105), elaborado pelo Goldman Sachs com o intuito de auxiliar o Conselho de Administração da ArcelorMittal Luxemburgo. · Contrato de intermediação da Oferta Pública de Ações efetuado entre o Banco Santander e a ArcelorMittal S.A. – Luxemburgo (fls. 2.106 a 2.121), em que fica comprovado que a empresa situada em Luxemburgo foi a responsável pela OPA e pelos pagamentos decorrente da compra das ações dos minoritários. · Correspondência do Banco Santander para a ArcelorMittal S.A. – Luxemburgo, datada de 5 de maio de 2008, em que o Banco que operacionalizou a OPA cobra da empresa de Luxemburgo, conforme o contrato previamente estabelecido pelas partes, o adicional pelo sucesso da Oferta Pública de Ações (página 2.122). Fl. 6715DF CARF MF Processo nº 10600.720022/201315 Acórdão n.º 1401002.182 S1C4T1 Fl. 6.692 47 Ou seja, a AAEB serviu como mera empresaveículo para efetuar o repasse aos acionistas alienantes, dos recursos financeiros advindos da controladora estrangeira. Os recursos despendidos na operação de fechamento de capital da fiscalizada (cerca de R$2,9 bilhões) vieram do caixa da controladora estrangeira, os quais alimentaram o caixa da entidade local em pleno exercício da OPA. A AAEB apenas recebeu os recursos oriundos do exterior, enviados pela sua controladora e imediatamente os transmitiu aos alienantes, por meio de operações que buscaram mascarar a real operação ocorrida. Tentouse dar uma aparência negocial à interposição fugaz e desnecessária da empresaveículo AAEB. Tal participação, fica claro, teve o intuito de burlar o fisco. Não há a menor razoabilidade na operação efetuada, cujo objetivo foi fabricar artificialmente um pretenso ágio por meio da simulação via interposição de empresaveículo com prejuízo ao Estado e à sociedade. A AAEB atuou apenas como extensão de caixa da controladora internacional, por meio do qual a ArcelorMittal S.A. – Luxemburgo transferiu durante a OPA os recursos (US$2,9 bilhões) que foram utilizados para compra das ações dos sócios minoritários da Impugnante, com a finalidade de que parecesse que fora a AAEB, uma sociedade local, a empresa que efetuara o dispêndio financeiro relativo ao fechamento de capital. A sucessão de atos, incluindo a proximidade temporal entre a transferência de valores oriundos do exterior e a realização da OPA demonstram que a AAEB não participou de fato da operação e atuou apenas como uma fachada. A quase imediata incorporação da AAEB logo após ter servido como meio de entrada do dinheiro utilizado na operação de fechamento de capital serviu para que a controladora estrangeira ArcelorMittal S.A. se aproveitasse artificialmente de um ágio sobre a operação de fechamento de capital, sendo que ela, a responsável pelas despesas, subsiste ativa. É um caso claro de planejamento fiscal abusivo, com o intuito de frustrar a aplicação da norma tributária de incidência, via operação artificial, desnecessária e sem propósito negocial efetivo, revestindose de mero instrumento de manipulação das formas do Direito com vistas à economia de tributos. Buscouse criar formalmente uma situação que se enquadrasse na possibilidade de deduzir despesas de amortização de ágio. A AAEB se exterioriza apenas formalmente como se fosse a responsável pela operação de fechamento de capital e pelo dispêndio financeiro que resultou na formação de ágio. (...) Portanto, no caso em análise, afastada a empresaveículo AAEB, surge a verdadeira responsável, a controladora europeia, ArcelorMittal S. A. – Luxemburgo, que do exterior tentou fabricar um ágio para diminuir a tributação devida em território brasileiro, com efetivo prejuízo a Fazenda Nacional. O investimento do qual resultou o pretenso ágio não partiu da empresa interposta na operação, a AAEB, residente no Brasil. Essa foi apenas a caixa momentânea pela qual o investimento externo transitou. Assim sendo, sua extinção jamais poderia justificar a amortização de ágio pago efetivamente pela representação do Grupo ArcelorMittal no exterior. Entendo por correto o procedimento da fiscalização e os fundamentos da DRJ os quais adoto como razões de decidir , pois percebo que o ágio trazido ao Brasil não carrega consigo o verdadeiro negócio celebrado. No caso, percebo que a operação veiculada foi preparada com o único objetivo de amortização fiscal do ágio. Embora (eu) entenda que não se deve afastar, de plano, uma operação que tenha como propósito uma redução tributária, percebo que o caso foge à Fl. 6716DF CARF MF 48 exceção da permissão legal de amortização do ágio, e se enquadra na regra geral de sua proibição. E, por fim, partindo da premissa que a real adquirente é domiciliada no exterior, não se atendeu a uma das condições para amortização fiscal do ágio, que é a confusão patrimonial existente entre adquirente e adquirida, conforme caput do art. Art. 7º da Lei 9.532/1997: A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977. Desta forma, não há outra conclusão a ser extraída dos fatos aqui colacionados, a não ser a manutenção da glosa de amortização do ágio. Diante do exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário, mantendo a glosa da amortização do ágio nos períodos posteriores à referida incorporação. (assinado digitalmente) Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Fl. 6717DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10680.924991/2016-35
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 20 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri May 04 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 28/02/2011
CRÉDITO INTEGRALMENTE RECONHECIDO E DEFERIDO EM PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DISCORDÂNCIA QUANTO À COMPENSAÇÃO EM PROCEDIMENTO DE OFÍCIO.
Não se conhece de recurso voluntário cujo direito creditório fora integralmente reconhecido e deferido em Pedido de Restituição.
A negativa da unidade de origem em efetuar compensação de crédito deferido em razão de débito pendentes de liquidação não se constitui matéria a ser apreciada pela instância julgadora.
Recurso Voluntário Não Conhecido
Numero da decisão: 3201-003.558
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente Substituto e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima e Leonardo Vinicius Toledo de Andrade.
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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DISCORDÂNCIA QUANTO À COMPENSAÇÃO EM PROCEDIMENTO DE OFÍCIO. Não se conhece de recurso voluntário cujo direito creditório fora integralmente reconhecido e deferido em Pedido de Restituição. A negativa da unidade de origem em efetuar compensação de crédito deferido em razão de débito pendentes de liquidação não se constitui matéria a ser apreciada pela instância julgadora. Recurso Voluntário Não Conhecido Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente Substituto e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima e Leonardo Vinicius Toledo de Andrade. Relatório MRV ENGENHARIA E PARTICIPAÇÕES S/A declarou compensação de crédito da contribuição (PIS/Cofins) com débito de sua titularidade. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 68 0. 92 49 91 /2 01 6- 35 Fl. 74DF CARF MF Processo nº 10680.924991/201635 Acórdão n.º 3201003.558 S3C2T1 Fl. 3 2 A repartição de origem emitiu Despacho Decisório Eletrônico não homologando a compensação, em razão do fato de que os pagamentos informados pelo declarante já haviam sido integralmente utilizados para quitação de débitos de sua titularidade, não restando crédito disponível. Em Manifestação de Inconformidade, o Requerente requereu a anulação do despacho decisório e a homologação da compensação, alegando o seguinte: a) transmitira Pedido de Restituição (PER) para garantir o direito ao crédito de pagamento efetuado a maior, crédito esse objeto de compensação declarada posteriormente; b) devido a incompatibilidade do programa gerador da declaração, o número do PER não foi informado na declaração de compensação. Nos termos do Acórdão nº 06058.702, a Manifestação de Inconformidade foi julgada improcedente, tendo a Delegacia de Julgamento (DRJ) decidido que, por se encontrar retido o direito creditório reconhecido administrativamente até que fossem liquidados os débitos existentes em nome do contribuinte para com a Fazenda Pública, encontravase correto o despacho decisório de não homologação da compensação declarada. Inconformado, o Contribuinte apresentou Recurso Voluntário, aduzindo, inicialmente, que havia entendido que a glosa de seu crédito se dera por ocorrência de erro operacional nos sistemas da Receita Federal, fato esse esclarecido somente na decisão da DRJ. Arguiu o Recorrente que a decisão recorrida sustentarase na premissa equivocada de que o não deferimento do direito creditório decorrera da discordância do contribuinte quanto ao procedimento de compensação de ofício, procedimento esse que não alcança débitos que se encontrem com exigibilidade suspensa, de acordo com decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) REsp nº 1.213.082/PR , submetido à sistemática dos recursos repetitivos, de observância obrigatória pelos Conselheiros do CARF,. É o relatório. Voto Conselheiro Winderley Morais Pereira Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF 343, de 9 de junho de 2015, aplicandose, portanto, ao presente litígio o decidido no Acórdão 3201003.508, de 20/03/2018, proferido no julgamento do processo 10680.904616/201679, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3201003.508): O Recurso Voluntário atende aos requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento. (...) Fl. 75DF CARF MF Processo nº 10680.924991/201635 Acórdão n.º 3201003.558 S3C2T1 Fl. 4 3 Não há litígio a ser decidido nesta instância. A pretensão da contribuinte é ter reconhecido seu direito ao crédito informado em Pedido de Restituição. Ocorre que, conforme informado no voto da decisão recorrida, o crédito indicado já foi integralmente reconhecido e deferido no PER n° 39452.15834.310314.1.2.044815, tendo como resultado extraído da tela do Sief Processo: "DEFERIDO TOTALMENTE RDC AUTOMÁTICO". Ora, uma vez reconhecido e deferido o crédito não há o que se decidir quanto ao direito da contribuinte. A negativa da unidade de origem em efetuar a compensação, sob o fundamento de que o crédito está retido frente a débito pendente de liquidação, não se constitui matéria a ser apreciada pelo CARF, devendo negar conhecimento ao recurso da contribuinte. Conclusão Diante do exposto, voto para NÃO CONHECER do recurso voluntário interposto, uma vez que na origem o crédito fora reconhecido e deferido. Destaquese que, não obstante o processo paradigma se referir unicamente à Cofins, a decisão ali prolatada se aplica nos mesmos termos à contribuição para o PIS. Além disso, devese ressaltar, que, neste processo, também ocorreram fatos da mesma natureza daqueles observados no processo paradigma que ensejaram o não conhecimento do recurso voluntário. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu não conhecer do recurso voluntário. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira . Fl. 76DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13603.904322/2011-43
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Apr 13 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu May 24 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Período de apuração: 01/10/2007 a 31/12/2007
COMPENSAÇÃO - SALDO NEGATIVO DE CSLL.
Não se admite a compensação de débito com crédito que se comprova inexistente. O contribuinte deve munir a contabilidade de documentos e elementos que comprovem a efetiva realização dos fatos nela registrados. No caso, o contribuinte não traz os documentos que a lei define como hábeis para provar as retenções que teria contabilizado, insistindo em aduzir que os possui e estão à disposição.
Numero da decisão: 1401-002.487
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Livia de Carli Germano, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DE SOUZA GONCALVES
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ementa_s : Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL Período de apuração: 01/10/2007 a 31/12/2007 COMPENSAÇÃO - SALDO NEGATIVO DE CSLL. Não se admite a compensação de débito com crédito que se comprova inexistente. O contribuinte deve munir a contabilidade de documentos e elementos que comprovem a efetiva realização dos fatos nela registrados. No caso, o contribuinte não traz os documentos que a lei define como hábeis para provar as retenções que teria contabilizado, insistindo em aduzir que os possui e estão à disposição.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Livia de Carli Germano, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Período de apuração: 01/10/2007 a 31/12/2007 COMPENSAÇÃO SALDO NEGATIVO DE CSLL. Não se admite a compensação de débito com crédito que se comprova inexistente. O contribuinte deve munir a contabilidade de documentos e elementos que comprovem a efetiva realização dos fatos nela registrados. No caso, o contribuinte não traz os documentos que a lei define como hábeis para provar as retenções que teria contabilizado, insistindo em aduzir que os possui e estão à disposição. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Livia de Carli Germano, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 60 3. 90 43 22 /2 01 1- 43 Fl. 515DF CARF MF Processo nº 13603.904322/201143 Acórdão n.º 1401002.487 S1C4T1 Fl. 3 2 Relatório 1. Tratase de Recurso Voluntário interposto em face do acórdão proferido pela Delegacia da Receita Federal em Belo Horizonte (MG) que manteve o crédito tributário decorrente da não homologação de pedido de compensação apresentado pelo contribuinte. 2. Foi emitido despacho decisório, por meio do qual foi parcialmente homologada a compensação declarada no PER/DCOMP objeto do presente lançamento. 3. O crédito transmitido pela via da compensação foi reconhecido como insuficiente para compensar integralmente os débitos informados no PER/DCOMP, razão pela qual se homologou o débito parcialmente. 4. O interessado apresentou MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE, na qual alegou: · Que "houve um equívoco, por parte da RFB, na apuração dos valores relativos aos créditos compensados, já que foi considerado indevidamente como valor original utilizado na Declaração de Compensação"; · Diz que, “com as devidas correções, o valor do crédito utilizado na data da transmissão da Declaração de Compensação, ora parcialmente homologada, se faz perfeitamente justificável e suficiente, conforme atestam as tabelas anexas. As tabelas que seguem anexas trazem a discriminação de todas as notas fiscais e respectivas retenções efetuadas O total de retenções é superior aos valores compensados. O valor do crédito informado se fazia suficiente para compensação dos débitos relacionados na declaração parcialmente homologada”; · Requereu o acolhimento da presente Manifestação de Inconformidade para homologar a compensação declarada no PER/DCOMP, com o reconhecimento da extinção do crédito tributário objeto da compensação. Protestando, pela produção de todos os meios de prova em direito admitidos, destacando que não juntou cópia de cada nota fiscal em virtude do volume de documentos. 5. O Acórdão ora Recorrido recebeu a seguinte ementa: COMPENSAÇÃO SALDO NEGATIVO DE CSLL. Não se admite a compensação de débito com crédito que se comprova inexistente. Manifestação de Inconformidade Improcedente. Crédito Tributário Mantido. 5. Isto porque, segundo entendimento da Turma, no Despacho Decisório considerouse confirmado a CSLL retida na fonte em valor inferior ao declarado, não tendo Fl. 516DF CARF MF Processo nº 13603.904322/201143 Acórdão n.º 1401002.487 S1C4T1 Fl. 4 3 sido considerada a totalidade das retenções informadas no PER/DCOMP em virtude da não confirmação em DIRF. 6. Por isso, “na falta da confirmação por DIRF, o documento hábil para comprovar a retenção, a ser apresentado pelo beneficiário dos pagamentos é o previsto no art. 86 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, disciplinado pela Instrução Normativa SRF nº 119, de 28 de dezembro de 2000, e alterações posteriores. É requisito para dedução do imposto retido a sua comprovação mediante comprovante de rendimento regularmente emitido pela fonte pagadora, consoante expressa disposição legal contida nos seguintes dispositivos: art. 55 da Lei nº 7.450, de 23 de dezembro de 1985; art. 815 do RIR de 1999; art. 4º da Instrução Normativa SRF nº. 119, de 2000”. 7. Considerou, que “não há crédito de saldo negativo de CSLL do trimestre objeto de compensação, além do já reconhecido no despacho decisório”. 8. Ciente da decisão do Acórdão que julgou improcedente a manifestação apresentada, o contribuinte interpõe Recurso Voluntário, alegando as seguintes razões: · DO INDEFERIMENTO DE PROVAS: alega que “destacou em sua Manifestação de Inconformidade que não juntou cópia de cada nota fiscal objeto do pedido de compensação, pois o volume de documentos inviabilizaria o manuseio da mesma”. Mas, os livros de Notas Fiscais estariam à disposição; · NO MÉRITO, destaca que houve equívoco por parte da RFB na apuração dos valores relativos aos créditos compensados; · Argumenta que “o valor do crédito utilizado na data da transmissão da Declaração de Compensação se faz perfeitamente justificável e suficiente, conforme as tabelas anexadas”, destacando, que o total de retenções é superior aos valores compensados pela Recorrente. · Afirma que conforme os documentos e tabelas anexas ao presente recurso voluntário, demonstra a insubsistência e improcedência da homologação parcial da compensação declarada, com isso, requereu a extinção do crédito tributário com a consequente homologação da compensação declarada no PER/DCOMP em sua integralidade. 9. É o relatório do essencial. Voto Conselheiro Luiz Augusto de Souza Gonçalves Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1401002.331, de 16.03.2018, proferido no julgamento do Processo nº 13603.904309/201194, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Fl. 517DF CARF MF Processo nº 13603.904322/201143 Acórdão n.º 1401002.487 S1C4T1 Fl. 5 4 Nos presentes autos o contribuinte solicita a compensação de débito com crédito oriundo de saldo negativo de CSLL apurado no período de 01/10/2007 a 31/12/2007, concorrendo para a formação do saldo negativo parcela referente à dedução de contribuição social sobre o lucro líquido retida na fonte. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1401002.331): "Sendo tempestivo, passo a analisar o Recurso Voluntário. No que se refere à preliminar de nulidade em razão do indeferimento da produção de provas entendo que a mesma não merece ser acolhida. Em regra geral, o momento oportuno para a juntada de provas em que se fundamentam as alegações é quando da apresentação da impugnação (art. 15 do Dec. n.º 70.235, de 1972). A impugnação, deve ser formalizada por escrito e instruída com os documentos em que se fundamentar, constituindose ônus do contribuinte apresentar as provas de suas alegações. No caso concreto, até o presente momento, o contribuinte não traz aos autos, nem exemplificativamente ou por amostragem, parte das provas que amparam seu direito, simplesmente aduz que em razão do grande volume as mesmas encontramse à disposição. Tratamse de documentos que deveriam estar em posse do contribuinte e, mesmo tendo a sua manifestação de inconformidade indeferida, permanece sem fazer prova do que alega. Daí que não se admite que o pedido de realização de diligência seja usado como instrumento de coleta de provas que cabiam à parte interessada produzir, e muito menos transferir esse ônus à autoridade administrativa. Outrossim, o deferimento de diligência cabe à análise do julgador, de acordo com as razões e fundamentos apresentados nos autos. No caso concreto, diante da inexistência de contexto probatório hábil a dar suporte às razões do contribuinte, o julgador optou por indeferir a diligência, decisão com a qual me coaduno. Assim, não há o que se falar em desrespeito ao princípio da verdade material quando a parte interessada não demonstra, nem de forma exemplificativa, que há alguma verdade, diferente da dos autos, que deva ser alcançada. Face o exposto, deixo de acolher a preliminar de nulidade. Como visto, o crédito utilizado na compensação é de saldo negativo de IRPJ, concorrendo para a formação do saldo negativo parcela referente à dedução de imposto de renda retido na fonte. Fl. 518DF CARF MF Processo nº 13603.904322/201143 Acórdão n.º 1401002.487 S1C4T1 Fl. 6 5 Portanto, o crédito utilizado nas compensações analisadas tem origem na dedução efetuada, de cuja confirmação depende a homologação pretendida. Na falta da confirmação por DIRF, o documento hábil para comprovar a retenção, a ser apresentado pelo beneficiário dos pagamentos é o previsto no art. 86 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, disciplinado pela Instrução Normativa SRF nº 119, de 28 de dezembro de 2000, e alterações posteriores. É requisito para dedução do imposto retido a sua comprovação mediante comprovante de rendimento regularmente emitido pela fonte pagadora, consoante expressa disposição legal contida nos seguintes dispositivos: art. 55 da Lei nº 7.450, de 23 de dezembro de 1985; art. 815 do RIR de 1999; art. 4º da Instrução Normativa SRF nº 119, de 2000. O contribuinte deve munir a contabilidade de documentos e elementos que comprovem a efetiva realização dos fatos nela registrados. No caso, o contribuinte não traz os documentos que a lei define como hábeis para provar as retenções que teria contabilizado, insistindo em aduzir que os possui e estão à disposição. Assim, diante da inexistência de comprovação do saldo negativo, não dou provimento ao Recurso Voluntário do contribuinte. É como voto." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, nego provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Fl. 519DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.944922/2013-49
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Thu Apr 19 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jun 11 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 3301-000.581
Decisão: Vistos relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência à unidade de origem para que a autoridade fiscal: 1) por ser o laudo n° 59/2018 fato novo, que se manifeste a autoridade fiscal sobre ele; 2) quanto à aquisição de leite fresco, analise os documentos indicados pela Recorrente para verificar se: a) o transporte do leite foi feito por terceiros, que não a Recorrente ou fornecedor; b) as notas fiscais indicadas contêm a informação de venda com suspensão, e c) se foram cumpridos os requisitos para suspensão, dispostos na IN nº 660/06; 3) quanto à aquisição de GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO BOT, GÁS LIQUEFEITO PETRÓLEO EM BOTIJÃO 45 KG e GÁS LIQUEFEITO PETRÓLEO BOTIJÃO 20KG EMP, verifique a possibilidade de segregação entre as aquisições para área administrativa e para o processo produtivo da Recorrente; 4) quanto à NF 013645, da Logoplaste do Brasil Ltda., verifique se essa nota foi lançada corretamente, no valor de R$ 4.663,40, em virtude do erro de preenchimento alegado pela empresa; 5) quanto à contratação de mão de obra, coteje as notas fiscais juntadas e as indicadas no recurso voluntário, no DOC. 10 e 11, e o laudo, bem como os demais elementos que constam nos autos para atestar se tal mão de obra foi aplicada no processo produtivo da Recorrente; 6) quanto às despesas de energia elétrica, faça a conciliação das notas, DOC. 13 do recurso voluntário, com a escrituração da Recorrente, com vistas a atestar a legitimidade do creditamento com base nesses documentos; 7) quanto às despesas de fretes, analise as planilhas juntadas pela Recorrente no recurso voluntário, para atestar a correta segregação entre frete de aquisição, frete de venda e frete de transferência, com apoio dos conhecimentos de transporte e notas fiscais correspondentes às operações de compra, venda e transferência; 8) caso entenda necessário, intime o sujeito passivo para prestar outros esclarecimentos, tais como planilhas ou outros documentos; 9) cientifique a interessada do resultado da diligência, concedendo-lhe prazo para manifestação; e 10) retorne os 33 processos juntos ao CARF para julgamento.
José Henrique Mauri - Presidente.
Semíramis de Oliveira Duro - Relatora.
Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros José Henrique Mauri (Presidente), Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Rodolfo Tsuboi (Suplente convocado), Valcir Gassen, Marcos Roberto da Silva (Suplente convocado), Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Ari Vendramini e Semíramis de Oliveira Duro.
Nome do relator: SEMIRAMIS DE OLIVEIRA DURO
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Recorrida Fazenda Nacional Vistos relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em converter o julgamento em diligência à unidade de origem para que a autoridade fiscal: 1) por ser o laudo n° 59/2018 fato novo, que se manifeste a autoridade fiscal sobre ele; 2) quanto à aquisição de leite fresco, analise os documentos indicados pela Recorrente para verificar se: a) o transporte do leite foi feito por terceiros, que não a Recorrente ou fornecedor; b) as notas fiscais indicadas contêm a informação de “venda com suspensão”, e c) se foram cumpridos os requisitos para suspensão, dispostos na IN nº 660/06; 3) quanto à aquisição de GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO BOT, GÁS LIQUEFEITO PETRÓLEO EM BOTIJÃO 45 KG e GÁS LIQUEFEITO PETRÓLEO BOTIJÃO 20KG EMP, verifique a possibilidade de segregação entre as aquisições para área administrativa e para o processo produtivo da Recorrente; 4) quanto à NF 013645, da Logoplaste do Brasil Ltda., verifique se essa nota foi lançada corretamente, no valor de R$ 4.663,40, em virtude do erro de preenchimento alegado pela empresa; 5) quanto à contratação de mão de obra, coteje as notas fiscais juntadas e as indicadas no recurso voluntário, no DOC. 10 e 11, e o laudo, bem como os demais elementos que constam nos autos para atestar se tal mão de obra foi aplicada no processo produtivo da Recorrente; 6) quanto às despesas de energia elétrica, faça a conciliação das notas, DOC. 13 do recurso voluntário, com a escrituração da Recorrente, com vistas a atestar a legitimidade do creditamento com base nesses documentos; 7) quanto às despesas de fretes, analise as planilhas juntadas pela Recorrente no recurso voluntário, para atestar a correta segregação entre frete de aquisição, frete de venda e frete de transferência, com apoio dos conhecimentos de transporte e notas fiscais correspondentes às operações de compra, venda e transferência; 8) caso entenda necessário, intime o sujeito passivo para prestar outros esclarecimentos, tais como planilhas ou outros documentos; 9) cientifique a interessada do resultado da diligência, concedendolhe prazo para manifestação; e 10) retorne os 33 processos juntos ao CARF para julgamento. José Henrique Mauri Presidente. Semíramis de Oliveira Duro Relatora. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 08 80 .9 44 92 2/ 20 13 -4 9 Fl. 2842DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.843 2 Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros José Henrique Mauri (Presidente), Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Rodolfo Tsuboi (Suplente convocado), Valcir Gassen, Marcos Roberto da Silva (Suplente convocado), Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Ari Vendramini e Semíramis de Oliveira Duro. Relatório Na origem, a DRF analisou os Pedidos Eletrônicos de Ressarcimento (PER) e Declarações de Compensação (DCOMP) a eles vinculadas, por meio dos quais a empresa pretende ressarcir e compensar, neste último caso, quando houver DCOMP para o período, créditos da nãocumulatividade da COFINS e do PIS/Pasep vinculados a receitas tributadas à alíquota 0 (zero) no mercado interno e oriundos do 3º e 4º trimestres de 2007; 1º trimestre de 2009; 1º trimestre de 2010 ao 4º trimestre de 2012; bem como, no caso exclusivo dos créditos de Cofins, do 2º ao 4º trimestre de 2009, que, segundo o contribuinte, montam em R$ 146.939.599,93 (cento e quarenta e seis milhões, novecentos e trinta e nove mil, quinhentos e noventa e nove reais e noventa e três centavos). Tratase de julgamento em conjunto de 33 (trinta e três) processos conexos: 1. 10880.944897/201301; 2. 10880.944898/201348; 3. 12585.000324/201083; 4. 12585.000325/201028; 5. 12585.000326/201072; 6. 12585.000328/201061; 7. 10880.944921/201302; 8. 10880.944917/201336; 9. 10880.944918/201381; 10. 10880.944920/201350; 11. 10880.944910/201314; 12. 10880.944911/201369; 13. 10880.944902/201378; 14. 10880.944900/201389; 15. 10880.944913/201358; 16. 10880.944903/201312; 17. 10880.944906/201356; 18. 10880.944923/201393; 19. 10880.944896/201359; 20. 10880.944899/201392; 21. 12585.000327/201017; 22. 10880.944915/201347; 23. 10880.944919/201325; 24. 10880.944914/201301; 25. 10880.944916/201391; 26. 10880.944912/201311; 27. 10880.944908/201345; Fl. 2843DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.844 3 28. 10880.944909/201390; 29. 10880.944904/201367; 30. 10880.944901/201323; 31. 10880.944905/201310; 32. 10880.944907/201309 e, 33. 10880.944922/201349. Tais processos foram analisados em conjunto na origem, tendo sido emitida apenas uma informação fiscal para todos os períodos, a qual embasou os Despachos Decisórios, e neste relatório, remetese a essa informação fiscal. Na DRF, foram deferidos parcialmente os pedidos eletrônicos de ressarcimento, e, em consequência, homologadas as declarações de compensação apresentadas até o limite do direito creditório reconhecido, quando existentes. Informação Fiscal Extraise da Informação Fiscal os detalhes das glosas efetuadas pela fiscalização: DOS BENS ADQUIRIDOS PARA REVENDA • o sujeito passivo apurou créditos básicos de bens para revenda calculados em relação à aquisição de leite fresco in natura nos períodos de apuração julho/2007, setembro/2007 e dezembro/2007, nos seguintes montantes: Por outro lado, ao analisar a planilha enviada pela contribuinte em 15/01/2014 com a relação de todos os produtos vendidos, acompanhados de sua descrição e montante total no período, constatouse que ela obteve receitas de vendas de leite fresco in natura inferiores aos valores adquiridos no mês, conforme relação abaixo: Assim, tendo em vista que o leite fresco in natura é produto com alto grau de perecibilidade e tornase, em reduzido intervalo de tempo, impróprio para a utilização ou comercialização, é razoável concluir que os valores adquiridos que excedem as receitas de vendas desse produto certamente não foram destinados à revenda e, portanto, não devem compor o crédito básico da rubrica sob análise. Nesse sentido, desconsiderada a possibilidade de as quantidades excedentes terem perecido e, assim, sido desperdiçadas, o que anularia totalmente os créditos do sujeito passivo, é natural inferir que tenham sido utilizadas como insumos na industrialização dos laticínios que compõem a carteira de produtos do sujeito passivo. Fl. 2844DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.845 4 Por essa razão, foram realocados os valores que excedem as receitas de venda de leite fresco in natura para a rubrica créditos presumidos e mantidos sob a rubrica bens adquiridos para revenda os valores dentro dos limites das receitas acima discriminadas; • a contribuinte foi intimada a apresentar descrição sucinta de alguns itens presentes em suas planilhas de crédito, bem como a sua destinação no âmbito do processo produtivo. A explicação fornecida deixa claro que se trata de embalagem ou material de embalagem utilizados no transporte das mercadorias vendidas, não se integrando aos produtos finais vendidos. Não é de se cogitar o enquadramento desses produtos como insumo, tendo em vista que, para tanto, o material em questão deveria ser aplicado na embalagem de apresentação destinada ao consumidor final, e não de forma acessória apenas na embalagem de transporte. Por essa razão, os lançamentos referentes à aquisição de CAIXA CHAMBINHO 360 520G REFR BR, CAIXA EXPEDICAO YGT NATURAIS REFR BR, CAIXA YGT 21X200G CHBNH 26X130G REFR BR e CAIXA YGT BICAMADA 24X150 G REFR BR foram integralmente glosados; • a autuada apurou parte de seu crédito com base em operações cujas naturezas não se encaixam no conceito de bens para revenda, uma vez que descreveu essas operações como “Outra entrada de mercadoria ou prestação de serviço não especificada”, com a utilização do Código Fiscal de Operações e Prestações (CFOP) nº 1949. Dessa forma, essas operações foram integralmente glosadas; DOS BENS UTILIZADOS COMO INSUMOS • de modo análogo ao caso dos bens adquiridos para revenda, as aquisições de “Leite fresco produtor granel” e “Leite fresco usina granel” para insumo são hipóteses de apuração de crédito presumido, a teor do disposto no art. 8º, § 1º, inciso II, da Lei nº 10.925, de 2004, não podendo gerar créditos com alíquota cheia. Por isso, esses valores devem ser realocados para a rubrica adequada, qual seja, “Créditos Presumidos Calculados sobre a Aquisição de Insumos de Origem Animal”; • pelas razões já acima expostas, foram glosados os créditos decorrentes da aquisição dos seguintes produtos, tendo em vista que se enquadram no conceito de embalagem ou material de embalagem de mero transporte de mercadorias, não integrados ao produto destinado ao consumidor final: CAIXA CHAMBINHO 360 520G REFR BR, CAIXA CHAMY FRUTESS T REX 1000G REFR BR, CAIXA CHANDELLE 2 E 4 POTES REFR BR, CAIXA CHBNH 38X90G YGT24X130G REFR BR, CAIXA DE GAXETA ACO, CAIXA ESPECIALIDADE LACTEA REFR BR, CAIXA EXPEDICAO MOUSSE 14X150G REFR BR, CAIXA EXPEDICAO NECTAR LARANJA 12X1L, CAIXA EXPEDICAO YGT NATURAIS REFR BR, CAIXA FRUTESS T PRISMA 12X315G REFR BR, CAIXA GAXETA TRI CLOVER PN J324B0002, CAIXA PAP ONDULADO IOG POLPA 12X400G, CAIXA PO AUTM IOG LIQ 48X180G REFR BR, CAIXA PO AUTM LEI FERM 20X450G REFR BR, CAIXA PO AUTM LEI FERM 20X720G REFR BR, CAIXA PO CHAMY SACO 12X1000G REFR BR, CAIXA PO ERCA DECOR 3 12X400G REFR BR, CAIXA PO MOCA FESTA 20X180G BR, CAIXA PO NESTLE IOG NAT 21X170G REFR BR, CAIXA PO REFR CHAMYTO BIG 22X720G BR, CAIXA PO REFR CHAMYTO CHOC 20X480G BR, CAIXA PO REFR CHANDELLE MOUSSE 14MP BR, CAIXA PO REFR ERCA DECOR 4 600G BR, CAIXA PO REFR NESTLE NINHO 100G BR, CAIXA PO REFR PTSIS 16 UNI ALTURA 32MMBR, CAIXA PO REFR PTSIS 16 UNI ALTURA 35MMBR, CAIXA PO REFR REQUEIJAO 19X220G BR, CAIXA POICAO CHAMY SACO 12X1000G REFR BR, CAIXA PUDIM MOCA 2 E 4 POTES REFR BR, CAIXA SEM ABAS CHMYT 30X4P 22X6P REFR BR, CAIXA UNICAYGT 6 BANDEJAS REFR BR, CAIXA YGT 21X200G CHBNH Fl. 2845DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.846 5 26X130G REFR BR, CAIXA YGT BAG 1 X 10KG REFR BR, CAIXA YGT BICAMADA 24X150 G REFR BR, CAIXA YGT LIQ 45X200G9X800G REFR BR, CAIXA YGT LIQUIDOS 10X850 900G REFR BR, CAIXA YGT MOLICO 21X150G REFR BR e CAIXAPO REFRCHDEL MSE INDVIDUAL 14X75GBR, ACESSORIO CONTAINER 1200KG, ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413115, ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413136, ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413167, CONTAINER PREP FRT 1200KG, CX TRANSPORTE FRASCOS FORNECEDOR, DIVISORIA DE PAPELAO, DIVISORIA PAPELAO 1 00MX1 20M, ETIQUETA IDENTIFICACAO PALETE REFR BR, ETIQUETA PAPEL AADSV AUTOMACAO FABRICA, ETIQUETA PAPEL AUTO ADESIVA C75MM L104MM, FILME ENCOLHIVEL CHAMYTO 6P REFR BR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT FRTVERM 450G PRBR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT FRTVERM 720G PRBR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT LEIFERM450G PR BR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT LEIFERM720G PR BR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT TT FR 450G PR BR, FILME ENCOLHIVEL PEBD CHAMYTO 6X75G PR, FILME PEBD CHAMY MRG REFR BR, FILME PEBD PELBD NESTLE MRG REFR 900G, FILME SHRINK PEBD CHAMYTO 6X75G TT FR PR, FILME SHRINK PEBD CHAMYTO FRUTASVERMBR, FILME SHRINK PEBD CHAMYTO UVA 6X75G, FILME SHRINK PEBD CHMYT BIG FRUTASVERMBR, FILME SHRINK PEBD FCHAMYTO BIG 6X120G PR, FILME SHRINK PEBD REFR CHAMYTO 4X3G PRBR, FILME SHRINK PEBD REFR CHAMYTO BIG BR, FILME SHRINKPEBD NINHO LEI FERMENTADO BR, FILME SHRINKPEBD NINHO LEIFERMENT 7X1 BR, FILME TERMOENC CHAMYTO TT FR 6 POTES BR, FITA ARQUEAR PP VERDE C2000MX L12MM, FITA DE ARQUEAR PP C2500M L12MM, FITA DE ARQUEAR PP C2500M L12MM 2008, PAPELAO VELOMOIDE 1 64 ESPES X1 20 LARG e STRETCHFILME 500MM X 24 5UM. • os lançamentos descritos como CAPA DESCARTAVEL TAMANHO UNICO, DESINFETANTE DIVOSAN S1, DESINFETANTE ACIDO PERACET LIQ 30KG, LUVAS DESCARTAVEL 340X270X006MM, MANGOTE DESCART POLIPR BRANCO GRAM 20, MANGOTE DESCARTAVEL POLIPROPILENO, MANGOTES EM POLIPROPILENO BRANCA 30GR, PANO DE LIMPEZA ALVEJADO 60CMx35CM, PANO LIMPEZA AZUL BAINHA MED 30X40CM, PANO LIMPEZA BAINHA BRANCO MED42X75CM, PANO PARA LIMPEZA OVERLOQUE AZUL40X20CM, PAR DE LUVA DE POLITILENO TRANSPARENTE, SABONETE LIQUIDO SUMASEPT, TOUCA DESC AZUL C ELASTICO 50CM GRAM 30, TOUCA DESCARTAVEL 50CM GRAMATURA 30 e TOUCA PROT DESC PP BR UN referemse à aquisição de material de limpeza, no caso do desinfetante, e de material descartável de proteção pessoal e higiene nos demais casos, não se enquadrando, portanto, no conceito de insumo. As Instruções Normativas SRF nº 247, de 2002, e nº 404, de 2004, ao explicitarem o que se deve ter por insumo para os fins colimados pelas Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003, definiram que se entende como insumo as matérias primas, os produtos intermediários, o material de embalagem e quaisquer outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado. Não é o caso, por óbvio, dos bens supramencionados, que são utilizados apenas para proteção pessoal e manutenção das condições de higiene do ambiente em que são utilizados, não sendo consumidos ou integrados ao produto final durante a fabricação, devendo, portanto, ser integralmente glosados. Igual tratamento merece a aquisição de FITA ISOLANTE, material acessório utilizado em reparos de máquinas, equipamentos ou instalações elétricas não necessariamente ligadas ao processo produtivo, que sequer é incluída quando da substituição de peças que sofrem desgaste Fl. 2846DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.847 6 em decorrência da fabricação do produto. O mesmo pode se dizer dos lançamentos descritos como 7 SERVICOS CONSULTORIA EM RH, BRINDE E RELACOES PUBLICAS e BRINDES DIVERSOS, uma vez que os serviços de consultoria em recursos humanos destinamse, preponderantemente, ao auxílio no recrutamento e gerenciamento de pessoal, não se encaixando, por óbvio no conceito de insumos. Assim como os brindes, usualmente destinados a clientes e fornecedores, e não direcionados ao processo produtivo, não ensejando apuração de créditos. As aquisições de GAS LIQUEFEITO DE PETROLEO BOT, GAS LIQUEFEITO PETROLEO EM BOTIJAO 45 KG e GAS LIQUEFEITO PETROLEO BOTIJAO 20KG EMP também foram integralmente glosadas tendo em vista que, em resposta à intimação que lhe foi feita, a contribuinte esclareceu que os referidos itens são utilizados como “combustível para empilhadeiras” ou na “preparação de alimento não se encaixando, portanto, no conceito de insumos. Por essa razão, os créditos decorrentes dos lançamentos supracitados foram integralmente glosados; • a aquisição de LEITE DESNATADO GRANEL, LEITE DESNATADO GRANEL TERCEIROS, LEITE DESNATADO INDUSTRIAL COPACKER, LEITE EM PO DESNATADO MSK, LEITE PO INTEGRAL 26 25KG, LEITE PO MSK 25KG e SORO MILK PO 25KG são operações sujeitas à alíquota zero, pois se tratam de aquisição de leite industrializado, desnatado, integral ou em pó, bem como de soro de leite, cujas alíquotas das contribuições são iguais a zero, conforme reza o art. 1º, XI e XIII, da Lei nº 10.925, de 2004. Aquisições sujeitas à alíquota zero não geram direito a crédito, nos termos do § 2º, inciso II, do art. 3º das Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003, que determinam que “não dará direito a crédito o valor da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição”. Dessa forma os referidos lançamentos foram integralmente glosados. Assim como a aquisição de leite industrializado, a aquisição no mercado interno de frutas e produtos hortícolas classificados nos capítulos 7 e 8 da TIPI também se sujeita a alíquota zero, de acordo com o art. 28, inciso III, da Lei nº 10.865, de 2004. Por essa razão, os créditos decorrentes das aquisições de produtos hortícolas e frutas, todos classificados nos capítulos 7 e 8 da TIPI, descritos como AMEIXA POLPA PASTEURIZADA 20KG, AMORA POLPA 8BRIX CONGELADA 20KG, BANANA POLPA LIQUIDA 24BRIX PAST 20KG, COCO RALADO 0JAN 004 MM 25KG, FRAMBOESA POLPA 8BRIX 10KG, KIWI POLPA 13 BRIX, MAMAO POLPA 8 11 BRIX PASTEURIZADO 210KG, MELAO POLPA 4 7BRIX CONGELADO 12KG, MORANGO POLPA SEM SMT 4 5 8 5BRIX 10KG, PERA POLPA 8 13BRIX CONGELADA 20KG, PESSEGO POLPA 8 11BRIX CONGELADO 12KG, POLPA DE MORANGO, POLPA MORANGO PAST SEM SMT 28BRIX 200KG e POLPA MORANGO PAST SEM SMT 28BRIX 210KG, foram integralmente glosados; • a contribuinte apurou parte de seu crédito com base em operações cujas naturezas não se encaixam no conceito de bens utilizados como insumos, uma vez que descreveu essas operações como “Outra entrada de mercadoria ou prestação de serviço não especificada” e “Compra de material para uso ou consumo”, com a utilização dos Códigos Fiscais de Operações e Prestações (CFOP) nº 1949, 2949, 1556 e 2556. Por conseguinte, os créditos decorrentes dessas operações foram integralmente glosados; DOS SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS • a autuada foi intimada, em 24/12/2013 e 29/04/2014 a apresentar as memórias de cálculo de todas as rubricas do Dacon. Nas referidas intimações, a Fiscalização foi expressa em indicar que a rubrica “Serviços Utilizados como Insumos” deveria conter o detalhamento das prestações em questão, contendo “Mês de Referência”; Fl. 2847DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.848 7 “Data de Apropriação do Crédito”; “Descrição da Operação”; “CFOP da Operação”; “Número da Nota Fiscal”; "Data da Nota Fiscal"; “CNPJ do Fornecedor”; “Razão Social do Fornecedor”; "Número do Item/Bem/Serviço da Nota Fiscal"; "Código do Item/Bem/Serviço"; “Classificação Fiscal TIPI do Item/Bem”; "Descrição do Item/Bem/Serviço"; “Valor da Nota Fiscal”; “Base de Cálculo para fins de Créditos”; e “Alíquota Aplicável”. Nesse sentido, foram glosados os créditos decorrentes de todas as aquisições de serviços utilizados como insumos descritos como “GENERICOS” nas planilhas apresentadas pelo sujeito passivo, contratados de EMPRESA DE TRANSPORTES SOPRODIVINO S.A., NESTLE BRASIL LTDA e PLENO CONSULTORIA E SERVICOS LTDA, tendo em vista que somente com as informações fornecidas não é possível assegurar se os serviços em questão enquadram se, de fato, no conceito de insumo; • foi feito ajuste negativo no valor de R$ 4.679.264,48 da base de cálculo dos créditos apurados em relação à aquisição do serviço lastreado pelo documento fiscal nº 013645, de fevereiro/2009, emitido por LOGOPLASTE DO BRASIL LTDA, CNPJ nº 00.359.256/000513, para refletir o seu real valor de face, que monta em R$ 4.663,40, e foi erroneamente registrado pelo sujeito passivo pelo valor de R$ 4.683.927,88. Da mesma forma, foi feito ajuste negativo no valor de R$ 28.607,49 da base de cálculo dos créditos apurados em relação à aquisição do serviço lastreado pelo documento fiscal nº 000202233, de setembro de 2012, emitido por TETRA PAK LTDA, CNPJ nº 61.528.030/000160, para refletir apenas o valor dos produtos e serviços adquiridos, que montam em R$ 418.390,89, e retirar o IPI incidente, recuperável pelo sujeito passivo, e os encargos financeiros, que não compõem a base de cálculo de créditos; • conforme inciso I do § 2º do art. 3º da Lei nº 10.637, de 2002, e da Lei nº 10.833, de 2003, de idêntico teor, não darão direito a crédito os valores de mãodeobra pagos a pessoa física. É mister destacar que a referida norma não deve ser compreendida em sentido meramente literal, restrito, de modo a admitir que o pagamento a título de mãodeobra a pessoa física por intermédio de uma pessoa jurídica contratada para tal fim garanta direito a creditamento. Entender dessa forma é subverter o sentido da norma, que visa evitar que as pessoas jurídicas possam indevidamente apurar créditos sobre a folha de pagamento com utilização de empresas de mãodeobra ou contratação de autônomos. Por essa razão, glosamos as operações relativas à contratação de mão de obra temporária, descritas pelo sujeito passivo em sua memória de cálculo como “SERV DE MAO DE OBRA TEMPORARIA”, contratados preponderantemente da empresa SOCIEDADE EMPRESARIAL DE TERCEIRIZACAO E SERVICOS LTDA, CNPJ nº 04.842.349/000121; • a aquisição de LEITE DESNATADO INDUSTRIAL COPACKER é operação sujeita à alíquota zero, pois se trata de aquisição de leite industrializado desnatado, cujas alíquotas das contribuições são iguais a zero, conforme reza o art. 1º, inciso XI, da Lei nº 10.925, de 2004. Aquisições sujeitas à alíquota zero não geram direito a crédito, nos termos do § 2º, inciso II, do art. 3º das Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003. Dessa forma, os créditos referentes a esses lançamentos foram integralmente glosados; • foram glosados os créditos referentes aos serviços contratados de LOCALIZA RENT A CAR SA, CNPJ nº 16.670.085/030496 e nº 16.670.085/009454, e de PAULISTANIA LOCADORA DE VEICULOS LTDA, CNPJ nº 03.339.638/0004 92, tendo em vista que ambos têm como atividade principal o serviço de locação de automóveis sem condutor, prestação que, considerada a atividade do sujeito passivo (produção de laticínios), não se encaixa no conceito de serviços utilizados como insumos; Fl. 2848DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.849 8 • a empresa MONTIN MEC MONTAGENS INDUSTRIAIS LTDA ME, CNPJ nº 15.023.132/000106, tem como objeto a instalação de máquinas e equipamentos industriais. Tomando como exemplo a nota fiscal nº 79, de dezembro de 2012, o serviço prestado é de fabricação e instalação de pórtico para manutenção das torres de resfriamento, serviço que não se integra ou agrega valor aos produtos comercializados pelo sujeito passivo, não se enquadrando como insumo, sendo integralmente objeto de glosa por parte da fiscalização os créditos decorrentes das aquisições desse fornecedor; • a empresa PASCOTTI SERVICOS DE TERRAPLENAGEM LOCACAO DE MAQUINAS E VEICULOS LTDA, CNPJ nº 03.887.120/000140, presta serviços de obras de terraplenagem, obras de urbanização em ruas, praças e calçadas, construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e construções correlatas, exceto obras de irrigação, serviços de preparação do terreno, aluguel de máquinas e equipamentos para construção sem operador, exceto andaimes, atua nos setores de terraplenagem, pavimentação asfáltica, infraestrutura em geral, locação de equipamentos e fornecimento de materiais básicos para construção civil em empreendimentos comerciais, industriais e residenciais. Nenhum desses serviços se enquadram no conceito de insumo, ao se considerar o ramo de atuação do sujeito passivo (produção de laticínios), devendo, portanto, ser glosados os créditos relativos às aquisições de serviço do fornecedor em questão; • a empresa PLENO CONSULTORIA E SERVICOS LTDA, CNPJ nº 70.059.043/ 000128, tem como atividade principal a locação de mãodeobra temporária, atuando também nos serviços de conservação e limpeza, serviços temporários e terceirização de mão de obra. Nesse sentido, em obediência ao inciso I do § 2º do art. 3º da Lei nº 10.637, de 2002, e da Lei nº 10.833, de 2003, de idêntico teor, as aquisições do referido fornecedor foram integralmente glosadas; • foram glosados os créditos decorrentes das aquisições de serviços de TITO CADEMARTORI ASSESSORIA, CNPJ nº 93.911.147/000386, que presta serviço de assessoria e gestão aduaneira, o qual não se enquadra no conceito de serviços utilizados como insumos; • foram glosados os créditos relativos às operações descritas como MATERIAIS PARA MONTAGEM ELETRICA, MEDICINA VETERINARIA E ZOOTECNIA., MOLDES, SERV USINAGEM, SERV ARMAZENAGEM E LOGISTICA (SERV FRETE), SERV ASSESSORIA ADUANEIRA, SERV CONST CIVIL MONT ELET MEC E HIDR, SERV CONSULTORIA E ADMINISTRACAO, SERV DE ASSIST TEC EM EQUIP DE FABR, SERV DE MANUT EM EQUIP DE FABR, SERV ENG CIVIL, SERV IMPR PUBLICIDADE PROMOCOES, SERV LOCACAO EQUIP TELEC, SERV SUPORTE CONSTR LOCACAO ESTRUTURAS e SERV TELEFONIA FIXA, tendo em vista que, consideradas as próprias descrições fornecidas pelo contribuinte, não se enquadram como serviços utilizados como insumos; • foram glosados os créditos relativos à aquisição do serviço lastreado pelo documento fiscal nº 9774, de novembro de 2007, contratado de outro estabelecimento da própria pessoa jurídica, DAIRY PARTNERS AMERICAS BRASIL LTDA, CNPJ nº 05.300.331/001647, no valor de R$ 8.111,59. É naturalmente vedada a apuração de créditos com base em bens e serviços adquiridos de outros estabelecimentos da pessoa jurídica justamente em função de os créditos das contribuições serem apurados de forma centralizada, pelo estabelecimento matriz da pessoa jurídica; • foram glosados os créditos decorrentes da aquisição do serviço lastreado pelo documento fiscal nº 000223, de novembro de 2012, contratado de NESTLE BRASIL Fl. 2849DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.850 9 LTDA, CNPJ nº 60.409.075/000667, no valor de R$ 216.527,07, tendo em vista ter sido lançado em duplicidade pelo contribuinte em suas memórias de cálculo; DA IMPORTAÇÃO DE BENS UTILIZADOS COMO INSUMOS • a aquisição de LEITE PO INTEGRAL 26 25KG é operação sujeita à alíquota zero, pois se trata de leite industrializado integral, em pó, conforme o art. 1º, XI, da Lei nº 10.925, de 2004, razão pela qual foram glosados os créditos referentes a esses lançamentos; • foram glosados os créditos oriundos da nota fiscal nº 24.558, de 14/07/2010 emitida por CENTRES DE RECHERCHE ET DEVELOPPEMENT NESTLE S.A., tendo em vista ter sido ela cancelada pelo emitente, conforme os dados constantes nas planilhas do sujeito passivo; DA IMPORTAÇÃO DE BENS ADQUIRIDOS PARA REVENDA, DA IMPORTAÇÃO DE SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS E DOS CRÉDITOS CALCULADOS SOBRE BENS DO ATIVO IMOBILIZADO (DEPRECIAÇÃO) ADQUIRIDOS NO MERCADO INTERNO • o contribuinte foi intimado, em 24/12/2013 e 29/04/2014 a apresentar as memórias de cálculo de todas as rubricas do Dacon. Nas referidas intimações, a fiscalização foi expressa em indicar que as rubricas em epígrafe deveriam ter suas composições demonstradas nas planilhas de cálculo a serem apresentadas. A contribuinte apresentou respostas em diversos momentos, contudo, até o fim do procedimento fiscal o contribuinte não havia apresentado nenhuma memória de cálculo referente às rubricas sob análise. Limitouse a esclarecer, em resposta apresentada no dia 23/01/2014, que os valores lançados na ficha 16A, linha 09, “créditos calculados sobre bens do ativo imobilizado (depreciação)”, e na ficha 16B, linha 01, “importação de bens para revenda”, referemse na verdade a insumos. Dessa forma, tendo em vista a não apresentação de planilhas específicas para essas duas rubricas e o esclarecimento supra, assumimos que os seus valores estão inseridos nas planilhas referentes aos créditos de aquisição de insumos do mercado interno e importação, de modo que a análise desses valores foi realizada no âmbito das referidas rubricas relativas à aquisição de insumos, e, naturalmente, realocadas para tais linhas. Nesse sentido, com o objetivo de evitar a apuração de tais créditos em duplicidade, desconsideramos a integralidade dos valores lançados na ficha 16A, linha 09, créditos calculados sobre bens do ativo imobilizado, e na ficha 16B, linha 01, importação de bens para revenda. Já os valores pleiteados pelo contribuinte a título de importações de serviços utilizados como insumos foram integralmente glosados, por falta de comprovação do crédito pleiteado, tendo em vista a não apresentação de nenhuma planilha com as memórias de cálculo dos créditos lançados nos Dacons; DAS DESPESAS DE ENERGIA ELÉTRICA • intimado em 27/05/2014 a apresentar uma amostra de notas fiscais de energia elétrica, o sujeito passivo, em 03/06/2014, apresentou a contento uma parte relevante dos documentos fiscais requeridos, deixando de apresentar, contudo, os documentos fiscais nos 999249, 1746, 774027, 873446, 527588, 6151 e 510673, emitidas por ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVICO, CNPJ nº 02.328.280/000197; e nos 450, 464 e 293, emitidas por LIGHT SERVICOS DE ELTRICIDADE S/A, CNPJ nº 60.444.437/000146. Em consequência, foram glosados integralmente os créditos apurados com base nas aquisições de energia elétrica cujos documentos não foram apresentados, por falta de comprovação do crédito pleiteado; Fl. 2850DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.851 10 DAS DESPESAS COM ALUGUÉIS DE PRÉDIOS LOCADOS DE PESSOAS JURÍDICAS • as operações firmadas com o locador Maconetto Empreendimentos Imobiliários SC Ltda, CNPJ nº 02.479.601/000154, são meramente descritas como “Serv. Leasing Locação de Imóvel” e, tendo em vista a completa ausência de informações acerca do endereço, descrição ou finalidade do imóvel locado, não permitem constatar se os valores referemse de fato a uma locação de imóvel, de modo que os créditos delas decorrentes foram integralmente glosados; • as operações firmadas com o locador Patriarca Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ nº 74.192.097/000118, além de incorrerem no mesmo problema anterior, de ausência de informações elementares para a identificação do imóvel locado, são descritas como “Serv. Administração Imobiliária”, restando evidente que não se referem de fato a locação de imóvel, mas sim a serviços imobiliários acessórios à locação. Por isso, os créditos referentes a essas operações também foram integralmente glosados; • as operações firmadas com o locador Nestle Brasil Ltda, CNPJ nº 60.409.075/0001 52, foram descritas como “Aluguel predial”, de modo que os correspondentes contratos de locação foram requeridos pela fiscalização, acompanhados dos demonstrativos atualizados das despesas de aluguel, bem como os respectivos comprovantes de pagamento. O contribuinte apresentou em 03/06/2014 os contratos de aluguel a contento, por meio dos quais constatamos que se referem de fato a dois imóveis locados pelo sujeito passivo. Contudo, deixou de apresentar uma parte relevante dos recibos com os comprovantes de pagamento, bem como quase que a integralidade dos demonstrativos dos valores atualizados das despesas de aluguel. Ademais, não foi possível encontrar correspondência entre quaisquer dos recibos com os comprovantes apresentados e os valores inicialmente demonstrados pelo sujeito passivo em suas memórias de cálculo, tendo em vista que os valores de face dos recibos e os informados nas planilhas não coincidiam ou sequer eram compatíveis entre si. Anexados a alguns recibos de pagamento, o contribuinte apresentou demonstrativos com a discriminação fornecida pelo locador com todas as rubricas que compõem o montante devido pelo sujeito passivo, e notase pela análise destes documentos que apenas uma parcela do valor total devido referese, de fato, à locação do imóvel. As demais rubricas se referem a despesas acessórias com energia elétrica; malote; telefone; despesas legais e impostos diversos; ginástica laboral; cantina e alimentos; serviços de manutenção em câmaras/incêndio/predial; manutenção e reparo de móveis e utensílios; serviço de manutenção e limpeza em geral; serviço de segurança ambiental; manutenção de câmaras (peças e materiais); correio; IPTU; pagamento de alvará de funcionamento; e nobreak. As despesas acima não integram o valor do aluguel e, portanto, não ensejam direito ao crédito das contribuições, de forma que, para compor a base de cálculo da rubrica em questão, consideramos exclusivamente os valores descritos como “Aluguéis Filiais” nos demonstrativos apresentados pelo sujeito passivo. Nos meses em que o contribuinte apresentou apenas o recibo, comprovante de pagamento total, sem o demonstrativo com a discriminação e individualização das rubricas componentes da despesa total de aluguel, estimamos a parcela referente ao valor do aluguel propriamente dito obtendo a média aritmética dos meses em que houve apresentação, tendo em vista que os valores mostravam pouca variação mês a mês. Vale dizer que, nos meses em que não houve apresentação do demonstrativo com a discriminação da despesa total de aluguel e do correspondente recibo, comprovante do pagamento total efetuado, a base de cálculo considerada foi nula, por falta de comprovação do crédito pleiteado. Ressaltase que, no dia 06/06/2014, o contribuinte apresentou uma série de comprovantes de transferências ou depósitos bancários em Fl. 2851DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.852 11 nome do locador que serviriam, em tese, para liquidar as despesas de aluguel. No entanto, mais uma vez os valores em questão não coincidiam ou sequer eram compatíveis com os valores apresentados nas planilhas com as memórias de cálculo, não sendo possível assegurar se, de fato, referemse à liquidação de aluguéis. Esses documentos bancários foram integralmente desconsiderados pela Fiscalização; DAS DESPESAS COM ALUGUÉIS DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS LOCADOS DE PESSOAS JURÍDICAS • a contribuinte foi intimada, em 24/12/2013 e 29/04/2014, a apresentar as memórias de cálculo de todas as rubricas do Dacon. Nas referidas intimações, a Fiscalização foi expressa em indicar que a rubrica Aluguéis de Máquinas e Equipamentos Locados de Pessoas Jurídicas deveria conter o detalhamento das locações em questão, contendo “CNPJ do Locador”; “Razão Social do Locador”; "Descrição do Bem Locado"; “Finalidade do Bem Locado no Processo Produtivo”; "Valor Original do Contrato de Locação"; “Valor do Aluguel Pago no Mês”; "Data do Pagamento do Aluguel"; “Base de Cálculo para fins de Créditos”; e “Alíquota Aplicável”. A despeito do solicitado, nas diversas oportunidades em que trouxe como resposta às intimações as memórias de cálculo, a autuada apresentou planilhas de aluguéis de bens incompletas furtandose a apresentar na relação dados elementares como a descrição do bem locado, sua finalidade, e, em alguns casos, os dados do locador, Razão Social e CNPJ. De qualquer sorte, analisamos a planilha apresentada e constatamos que o contribuinte tem como um de seus fornecedores a empresa LOCALIZA RENT A CAR SA, CNPJ nº 16.670.085/030496 e nº 16.670.085/009454. A referida empresa tem como atividade a locação de veículos automotores, bens que, considerada a atividade do sujeito passivo, não se encaixam no conceito de bens utilizados nas atividades da empresa e, portanto, os créditos decorrentes foram integralmente glosados. Foram glosados também os créditos referentes a todas as operações em que não há a identificação do locador (CNPJ e Razão Social), tendo em vista que não é possível sequer verificar a natureza do locador – pessoa jurídica ou física. Nas referidas operações também não há a descrição do bem locado e foram identificados pela contribuinte apenas como “LEASING” ou como “N/D”, além de não ter a identificação do número do documento (nota fiscal ou contrato) que lastreia e ampara o crédito pleiteado, ou seja, não há nenhuma informação que possibilite a identificação e análise de procedência dos créditos calculados em relação a essas operações; DESPESAS DE ARMAZENAGEM E FRETES NA OPERAÇÃO DE VENDA • o sujeito passivo informou que possui mandado de segurança (MS nº 2008.61.00.0025770) versando sobre a possibilidade de apuração de créditos da não cumulatividade do PIS/Pasep e da Cofins nas operações de fretes entre estabelecimentos da pessoa jurídica, com decisão favorável ao contribuinte. Em 23/01/2014, apresentou a Certidão de Objeto e Pé relativa a esse mandado de segurança, contendo o teor da decisão judicial, que julgou procedente o pedido e concedeu a segurança postulada, assegurando ao sujeito passivo impetrante o direito de manter e deduzir integralmente os créditos calculados sobre as despesas com armazenagem e fretes nas transferências de mercadorias entre seus estabelecimentos, com vistas à posterior venda a terceiros. Essa decisão garante ao contribuinte o direito de manter e deduzir os créditos, não se estendendo o direito garantido à seara do ressarcimento e da compensação, institutos plenamente distintos daqueles; • o direito à compensação não se estende a qualquer crédito apurado com base na não cumulatividade de um tributo, como ocorre com a dedução. Pelo contrário, são garantidos única e exclusivamente nos casos expressamente previstos em lei, como o Fl. 2852DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.853 12 direito à compensação de créditos vinculados a receitas de exportação, autorizados pelas normas contidas no art. 5º, §§ 1º e 2º, da Lei n° 10.637, de 2002, e no art. 6º, §§ 1º e 2º, da Lei n° 10.833, de 2003. Sobre o assunto, vale ressaltar o disposto no art. 74, § 12, II, d, da Lei nº 9.430, de 1996, que determina que será considerada não declarada a compensação nas hipóteses em que o crédito seja decorrente de decisão judicial não transitada em julgado. Nesse sentido, é mister, para o presente exame, apurar se o crédito ora pleiteado engloba efetivamente as operações discutidas judicialmente ou se os valores discutidos judicialmente foram excluídos do pedido administrativo; • nas oportunidades em que apresentou resposta à intimação para esse fim, a saber, em 15/01/2014, 23/01/2014, 06/05/2014 e 16/05/2014, o contribuinte apresentou planilhas de armazenagem e fretes incompletas furtandose a apresentar alguns dados elementares à correta validação dos créditos pleiteados, quais sejam a descrição da operação. Em função da insuficiência de dados, em 29/04/2014, o sujeito passivo foi reintimado a apresentar as memórias de cálculo de todas as rubricas do Dacon, com menção expressa aos dados da rubrica “Despesas de Armazenagem e Fretes na Operação de Venda”. Novamente, na resposta de 03/06/2014, apresentou planilhas incompletas, pois não continham alguns dos dados elementares à correta validação dos créditos pleiteados. Assim, pela completa ausência de informações relativas ao CNPJ e à razão social do remetente e do destinatário do frete contratado, bem como da descrição da operação em questão, o que permitiria determinar se as operações em questão podem ou não compor o crédito destinado ao ressarcimento e à compensação, glosamos a integralidade dos créditos relativos à rubrica sob análise; DAS DEVOLUÇÕES DE VENDAS • foram glosados os créditos referentes à devolução de vendas de produtos sujeitos à alíquota zero; • foram glosados os créditos apurados em relação aos documentos fiscais nº 5062 e nº 5063, emitidos por Nestlé Brasil Ltda., tendo em vista que eles não se referem a devolução de vendas, mas sim a emissões fiscais complementares de preço, praticadas com o objetivo de realizar correções financeiras decorrentes de alteração de valor ou erro no preenchimento do documento fiscal anterior. Nas planilhas disponibilizadas pelo contribuinte, não há nenhuma informação a respeito dos itens constantes desses documentos fiscais complementares, sua descrição, classificação fiscal, alíquota aplicável, ou qualquer outra forma de identificar os itens supostamente devolvidos, de modo que não é possível assegurar que o crédito pleiteado, amparado pelos referidos documentos, é realmente procedente; DAS OUTRAS OPERAÇÕES COM DIREITO A CRÉDITO • com relação à rubrica “Outras Operações com Direito a Crédito”, a contribuinte apurou créditos para os períodos de apuração dezembro/2007, dezembro/2010, dezembro/2011, janeiro/2012, fevereiro/2012, março/2012, abril/2012 e maio/2012. A despeito de ter sido intimado em 24/12/2013 e 29/04/2014 para detalhar essas operações, a autuada deixou de apresentar a contento os esclarecimentos solicitados, mormente aqueles relacionados à devida identificação da natureza do crédito pleiteado; • novamente intimada em 27/05/2014, a contribuinte esclareceu que os créditos de dezembro/2007 refeririamse a itens tributados em períodos anteriores à alíquota de 9,25%, quando deveriam ter sido tributados à alíquota zero, sendo, pois, um ajuste. Fl. 2853DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.854 13 Ocorre que, no período em questão, a tributação excessiva não resultou necessariamente em saldo de tributo a recolher, pois ela dispunha de saldo credor suficiente para realizar integralmente a dedução, acarretando apenas a redução indevida do saldo credor. Logo, não se trata de repetição de indébito, mas de estorno contábil de conta do ativo reduzida indevidamente. Em quaisquer das duas situações, estorno ou repetição de indébito, é inapropriada a utilização do Dacon como instrumento de anulação dos efeitos fiscais, contábeis ou financeiros da tributação indevida realizada pelo sujeito passivo. Vale dizer que o próprio contribuinte no âmbito do exame amparado pelo MPFD nº 08.1.80.002010000510 e ao MPFF nº 08.1.90.002012 002304 já havia informado sobre essa prática e reconhece que utilizou a forma errada – Dacon – para realizar os ajustes cabíveis. O estorno contábil de conta do ativo reduzida indevidamente e a repetição de indébito não estão previstas no art. 3º da Lei nº 10.637, de 2002, e da Lei nº 10.833, de 2003, como hipóteses de apuração de créditos, não possuindo o valor lançado a esse título amparo legal para tanto. Por essa razão, os créditos decorrentes do lançamento em questão foram integralmente glosados; • os créditos de abril/2009, segundo a autuada, não seriam créditos extemporâneos, mas refeririamse a créditos de leasing, que, por conta de dificuldades sistêmicas foram lançados nessa rubrica. Sobre esse ponto, digase que ela não apurou créditos para a rubrica “Outras Operações com Direito a Crédito”, na linha 13, para abril/2009, como se infere dos esclarecimentos prestados. Na realidade, a contribuinte apurou os referidos créditos sob a rubrica “Outros Créditos a Descontar”, linha 21, que não foram objeto de questionamento por parte da Fiscalização; • a fiscalizada informou também que os créditos de fevereiro/2012 e março/2012 referemse a diversas rubricas (aluguéis, energia elétrica, armazenagem e insumos), apurados durante o mês, que, em decorrência de dificuldades sistêmicas, foram lançados na rubrica “Outras Operações com Direito a Crédito”, na linha 13. Apresentou na mesma ocasião planilha contendo os mesmos dados de planilhas apresentadas em 06/05/2014 e 16/05/2014, com acréscimo tão somente, para cada rubrica, da linha à qual a referida operação deveria ser imputada no Dacon (aluguéis, energia elétrica, armazenagem e insumos). Vale dizer que os dados continuavam desacompanhados de uma descrição detalhada da origem do crédito pleiteado, bem como da legislação que autorizasse a sua apropriação, como requerido nas intimações, tendo em vista que os dados de 02/2012 e 03/2012 ainda não continham a identificação da operação, bem, serviço, ou quaisquer outros dados que possibilitassem sua identificação, tais como razão social e CNPJ do fornecedor ou número da nota fiscal ou documento que desse lastro para o crédito. As planilhas nada mais eram que valores dispostos em sequência sem nenhum outro dado adicional, como em um rascunho; • devido à falta de comprovação do crédito, foram glosados integralmente os créditos lançados sob a rubrica “Outras Operações com Direito a Crédito”, na linha 13, nos meses de 02/2012 e 03/2012, por insuficiência de dados e documentos comprobatórios do crédito pleiteado, e nos meses de 12/2010, 12/2011, 01/2012, 04/2012 e 05/2012, por ausência total de quaisquer dados, documentos ou esclarecimentos a respeito do crédito pleiteado; DOS CRÉDITOS PRESUMIDOS CALCULADOS SOBRE INSUMOS DE ORIGEM ANIMAL • intimada em 27/05/2014 a apresentar uma amostra de notas fiscais de crédito presumido, o sujeito passivo apresentou a contento os documentos fiscais requeridos, de modo que foram aceitos integralmente os valores apresentados nos Dacons do período. Ressaltese que foi realizado um ajuste positivo nos créditos presumidos decorrentes Fl. 2854DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.855 14 das operações que foram realocadas de Bens para Revenda e de Bens Utilizados como Insumos; DOS CRÉDITOS CALCULADOS A ALÍQUOTAS DIFERENCIADAS • por meio da análise da planilha de créditos da rubrica “Créditos calculados a Alíquotas Diferenciadas”, depreendese que eles se referem a aquisições de mercadorias produzidas por pessoa jurídica estabelecida na Zona Franca de Manaus, qual seja a METALMA DA AMAZONIA S.A., CNPJ nº 06.207.412/000183. A apuração de créditos das contribuições nesses casos é regrada pelo § 12 do art. 3º da Lei nº 10.637, de 2002, no caso do PIS/Pasep, e pelo § 17 do art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003, no caso da Cofins. Excetuandose os casos específicos, essas normas determinam que o crédito nesses casos sejam apurados com a alíquota de 1%, no caso do PIS/Pasep, e de 4,6%, no caso da Cofins. De volta às operações apresentadas pelo contribuinte em sua planilha de cálculo, após confronto com os dados da base da Nota Fiscal Eletrônica, foram validados e aceitos os valores apresentados para base de cálculo. Sobre as referidas bases aplicaramse as alíquotas de 1% e 4,6% para apurar as contribuições devidas; DOS DEMAIS VALORES • os demais valores informados nos Dacons que não foram acima mencionados se mostraram compatíveis com os valores apresentados pela contribuinte em seus memoriais de cálculo e, por isso, foram aceitos pela fiscalização. Manifestação de Inconformidade Em manifestação de inconformidade, alegou a empresa: Preliminar • diversas rubricas foram objeto de indeferimento pela autoridade fazendária, por entender que a ora manifestante não teria logrado êxito na apresentação de planilhas de memórias de cálculo, com informações extremamente detalhadas, como se essas informações não fossem possíveis de serem verificadas em sua escrita fiscal e contábil; • possui diversas filiais e, embora a apuração do PIS/Pasep e da Cofins seja de forma centralizada, não conseguiu atender a todas as informações no grau de detalhamento estipulado. Todavia, esse fato isoladamente não poderia dar ensejo ao indeferimento do crédito referente a diversas rubricas, como se esses custos de produção e despesas operacionais não existissem. O auditor fiscal não pode glosar o crédito de determinada rubrica baseado na presunção de que se as informações não foram detalhadas como desejava é porque o crédito não existe; • a autoridade fiscal poderia ter esgotado a verdade material e, assim, examinado a liquidez e a certeza do crédito pleiteado por meio de diligência fiscal no estabelecimento da contribuinte, a fim de que fosse verificada, mediante exame de sua escrituração contábil e fiscal, a exatidão das informações prestadas, como prevê o art. 76 da Instrução Normativa RFB nº 1.300, de 2012. É importante dizer que apresentou os arquivos digitais como exigido por esse mesmo art. 76, sem os quais, inclusive, não seriam admitidos seus pedidos eletrônicos de ressarcimento. Também transmite regularmente a EFD – Contribuições, após janeiro/2012, e a EFD – ICMS/IPI no período anterior. Desse modo, o auditor fiscal ainda teria outros meios para a verificação das informações a respeito da composição dos créditos pleiteados; Fl. 2855DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.856 15 • no presente caso, verificase a necessidade da aplicação do princípio da razoabilidade, eis que, para a finalidade e a eficiência da atividade fiscal e em face do volume de documentos é medida proporcional, para que a Autoridade Fiscal tenha acesso a todos os documentos pertinentes ao crédito pleiteado. A manifestante encerra suas alegações preliminares com os seguintes dizeres: Contudo, a ora Manifestante está providenciando o detalhamento das informações, porém, em razão do prazo de 30 (trinta) dias ser exíguo para adequar ao nível de informações exigidas, considerando que se tratam de trimestres de 2007 a 2012, a ora Manifestante juntará as complementações das informações das memórias de cálculo nos próximos 120 (cento e vinte) dias, que certamente irão demonstrar a legitimidade dos créditos às Vossas Senhorias, razão pela qual, requer a concessão da juntada posterior destes documentos no prazo supra referido. Ademais, se Vossas Senhorias não entenderem como suficientes, a ora Manifestante solicita que seja determinada a baixa em diligência, a fim de que em observância a verdade material, a eficiência e finalidade administrativa, seja verificada a legitimidade do crédito pleiteado com o cotejo das informações prestadas pela ora Manifestante e a análise pela Autoridade Fiscal de origem das escriturações fiscal e contábil da ora Manifestante como possibilita o art. 76 da aludida IN/RFB nº 1300/2012. Esta medida de determinação de baixa em diligência, será necessária, pois, a busca pela verdade material não pode ficar restringida ao exame das alegações de indeferimento do fiscal, mas, que se valha de outros elementos que possam influir o seu convencimento, no presente caso, através da conversão do presente julgamento em baixa em diligência. Mérito BENS ADQUIRIDOS PARA REVENDA Aquisição de leite fresco produtor granel em operação tributada • a aplicação da suspensão do PIS/Pasep e da Cofins não tem implicação imediata sobre a aquisição de leite fresco, estando submetida a determinados requisitos prescritos pela Instrução Normativa RFB nº 660, de 2006. O primeiro requisito é que o fornecedor exerça as atividades de transporte, resfriamento e venda a granel, conforme pode ser verificado no art. 3º, inciso II, dessa instrução normativa; • a quase totalidade dos fornecedores da manifestante desempenham as atividades de resfriamento e de venda de leite a granel, contudo, não exercem a atividade de transporte de leite. Para corroborar essa alegação, juntamse aos autos a relação dos fornecedores e os cartões de CNPJ, que demonstram que a quase totalidade são pessoas jurídicas que desempenham a atividade de industrialização de leite, mas sem exercer a atividade de transporte de leite; • juntamse aos autos notas fiscais por amostragem, para demonstrar que o frete foi prestado por terceiro, reforçando o fato de que seus fornecedores não desempenham a atividade de transporte e, portanto, que a aquisição do leite in natura não é operação com tributação suspensa, mas com incidência “cheia” do PIS/Pasep e da Cofins; Fl. 2856DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.857 16 • mesmo nos poucos casos em que houve fornecedor que desempenhou as três atividades (resfriamento, venda a granel e transporte), ainda assim verificase que não seria o caso de suspensão do PIS/Pasep e da Cofins, pois, além desse requisito, a Instrução Normativa RFB nº 660, de 2006, determina que, nos casos em que se aplica a suspensão, deve constar obrigatoriamente a observação na nota fiscal de venda de que é operação com tributação suspensa. Na análise das notas fiscais emitidas pelos fornecedores que exercem as três atividades, foi constatado que não preencheram esse requisito, pois não continham a expressão obrigatória de que a venda seria com tributação suspensa. Desse modo, não havendo o preenchimento desse requisito, a operação é tributada pelas alíquotas básicas e gera direto a crédito de PIS/Pasep e Cofins ao adquirente do leite fresco. Com esse entendimento, citase o acórdão 3302 001.989 da 3ª Câmara da 2ª Turma Ordinária do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais; • além das notas fiscais que demonstram que o frete foi prestado por terceiro, de planilha demonstrando em quais casos há o preenchimento das atividades cumulativas de resfriamento, venda a granel e transporte e dos cartões do CNPJ de seus fornecedores, juntamse ainda aos autos os atos constitutivos da Nestlé, sua maior fornecedora; Aquisição de embalagem • na atividade de comercialização, a manifestante utiliza serviços de armazenagem, bem como embalagens destinadas ao transporte de seus produtos. Essas embalagens são essenciais à conservação e proteção dos produtos durante o transporte e integram o custo de venda dos produtos, fazendo parte do processo produtivo, que só se encerra com a aquisição pelo consumidor final; • apesar de a embalagem de transporte não ser a própria embalagem do produto, sem ela o produto sequer chegaria ao consumidor final em condições de ser consumido; • a embalagem para transporte tem aplicação direta no processo produtivo, sendo um gasto essencial, de forma que sua subtração importe na impossibilidade da prestação do serviço ou da produção; • por essas razões, devese considerar o material de transporte como insumo, nos termos definidos no art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003. Esse é o entendimento dos acórdãos do CARF nº 3803003.300 e nº 3803 002.983, bem como do acórdão do Superior Tribunal de Justiça REsp nº 1125253/SC; Operações não enquadradas como aquisição de bens para revenda – entradas no CFOP 1949; • em razão de erro formal de preenchimento, foram contabilizadas no CFOP 1949 mercadorias que foram objeto de devolução dos clientes. Juntase, em anexo, a própria planilha formulada pela autoridade fiscal, demonstrando que a origem desses produtos decorre dos próprios clientes da manifestante; • como se trata de devolução de venda, é forçoso reconhecer o direito ao crédito sobre essas operações, nos termos do art. 3º, inciso VIII, das Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003; BENS UTILIZADOS COMO INSUMOS Do conceito de insumo para a apropriação de crédito do PIS/Pasep e da Cofins Fl. 2857DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.858 17 • o legislador ordinário não definiu o conceito de insumo aplicado na apuração do PIS/Pasep e da Cofins na modalidade não cumulativa. Buscando suprir essa lacuna a Secretaria da Receita Federal do Brasil editou as Instruções Normativas nº 247, de 2002 (art. 66), e nº 404, de 2004 (art. 8º), tentando definir esse conceito. Essas instruções normativas interpretam o termo insumo em sentido estrito, amoldandoo à forma prevista no Regulamento do IPI, o que não é a melhor interpretação, pois esse entendimento não se coaduna com o critério material do PIS/Pasep e da Cofins, cujo ciclo de formação não se limita à fabricação de um produto ou à execução de um serviço, abrangendo outros elementos necessários para a obtenção de receita vinculada à atividade fim da empresa; • a jurisprudência do CARF evoluiu no sentido de que os custos e as despesas necessários para a atividade produtiva também devem ser albergados pelo conceito de insumo para a apuração do PIS/Pasep e da Cofins na modalidade não cumulativa, na forma dos art. 290 e 299 do RIR/99. Citase o processo administrativo nº 11020.001952/200622, julgado no CARF. No julgamento desse processo, o voto do conselheiro relator Gilberto de Castro Moreira Júnior, que foi acompanhado pelos demais, descreve que, para fins de classificação de insumo para o PIS/Pasep e a Cofins, devem ser considerados todos os custos e despesas necessários, usuais e normais na atividade da empresa, aproximando esse conceito ao de despesas dedutíveis para a apuração do IRPJ; • insumos são os custos e despesas que, ligados inseparavelmente aos elementos produtivos, proporcionam a existência do produto ou serviço, o seu funcionamento, a sua manutenção ou seu aprimoramento. Noutros termos, insumos são todos os bens, serviços, custos e despesas necessários à obtenção da receita proveniente da atividade econômica da pessoa jurídica. De acordo com essa concepção, o insumo pode integrar as etapas que resultam no produto ou serviço ou até mesmo as posteriores, desde que seja indispensável para a sua atividade econômica; • todos os insumos dos quais a manifestante apurou créditos são extremamente vinculados e essenciais ao exercício de sua atividade econômica com o objetivo de obter receita, de modo que também se subsome ao critério da essencialidade, recentemente invocado pela 3ª Turma do CARF, ao negar provimento aos Recursos Especiais interpostos pela Fazenda Nacional, nos autos dos processos administrativos nº 13053.000112/200518 e nº 13053.000211/200672; Aquisição de leite fresco produtor granel e leite fresco usina granel em operação tributada • a aplicação da suspensão do PIS/Pasep e da Cofins não tem implicação imediata sobre a aquisição de leite fresco, estando submetida a determinados requisitos prescritos pela Instrução Normativa RFB nº 660, de 2006. O primeiro requisito é que o fornecedor exerça as atividades de transporte, resfriamento e venda a granel, conforme pode ser verificado no art. 3º, inciso II, dessa instrução normativa; • a quase totalidade dos fornecedores da manifestante desempenham as atividades de resfriamento e de venda de leite a granel, contudo, não exercem a atividade de transporte de leite. Para corroborar essa alegação, juntamse aos autos a relação dos fornecedores e os cartões de CNPJ, que demonstram que a quase totalidade são pessoas jurídicas que desempenham a atividade de industrialização de leite, mas sem exercer a atividade de transporte de leite; • juntamse aos autos notas fiscais por amostragem, para demonstrar que o frete foi prestado por terceiro, reforçando o fato de que seus fornecedores não desempenham Fl. 2858DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.859 18 a atividade de transporte e, portanto, que a aquisição do leite in natura não é operação com tributação suspensa, mas com incidência “cheia” do PIS/Pasep e da Cofins; • mesmo nos poucos casos em que houve fornecedor que desempenhou as três atividades (resfriamento, venda a granel e transporte), ainda assim verificase que não seria o caso de suspensão do PIS/Pasep e da Cofins, pois, além desse requisito, a Instrução Normativa RFB nº 660, de 2006, determina que, nos casos em que se aplica a suspensão, deve constar obrigatoriamente a observação na nota fiscal de venda de que é operação com tributação suspensa. Na análise das notas fiscais emitidas pelos fornecedores que exercem as três atividades, foi constatado que não preencheram esse requisito, pois não continham a expressão obrigatória de que a venda seria com tributação suspensa. Desse modo, não havendo o preenchimento desse requisito, a operação é tributada pelas alíquotas básicas e gera direto a crédito de PIS/Pasep e Cofins ao adquirente do leite fresco. Com esse entendimento, citase o acórdão 3302 001.989 da 3ª Câmara da 2ª Turma Ordinária do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais; • além das notas fiscais que demonstram que o frete foi prestado por terceiro, de planilha demonstrando em quais casos há o preenchimento das atividades cumulativas de resfriamento, venda a granel e transporte e dos cartões do CNPJ de seus fornecedores, juntamse ainda aos autos os atos constitutivos da Nestlé, sua maior fornecedora; Aquisição de embalagem • na atividade de comercialização, a manifestante utiliza serviços de armazenagem, bem como embalagens destinadas ao transporte de seus produtos. Essas embalagens são essenciais à conservação e proteção dos produtos durante o transporte e integram o custo de venda dos produtos, fazendo parte do processo produtivo, que só se encerra com a aquisição pelo consumidor final; • apesar de a embalagem de transporte não ser a própria embalagem do produto, sem ela o produto sequer chegaria ao consumidor final em condições de ser consumido; • a embalagem para transporte tem aplicação direta no processo produtivo, sendo um gasto essencial, de forma que sua subtração importe na impossibilidade da prestação do serviço ou da produção; • por essas razões, devese considerar o material de transporte como insumo, nos termos definidos no art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003. Esse é o entendimento dos acórdãos do CARF nº 3803003.300 e nº 3803 002.983, bem como do acórdão do Superior Tribunal de Justiça REsp nº 1125253/SC; Aquisição de produto enquadrado como insumo • a fiscalização glosou créditos referentes a uma série de produtos que, supostamente, seriam bens utilizados apenas para proteção pessoal e manutenção das condições de higiene do ambiente em que são utilizados, não sendo consumidos ou integrados aos produtos finais durante a fabricação. Também glosou a aquisição de fita isolante, serviços de consultoria em recursos humanos, brindes e aquisições de gás liquefeito de petróleo; • novamente o auditor fiscal utilizou o conceito de insumos conferido pela legislação do IPI, que se restringe basicamente às matérias primas, produtos intermediários e materiais de embalagem, bem como aos produtos que são consumidos no processo de industrialização, que tenham efetivo contato com o produto. No entanto, Fl. 2859DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.860 19 no caso do PIS/Pasep e da Cofins, o legislador não restringiu a apropriação de créditos aos parâmetros adotados no IPI; • toda industrialização do leite é fiscalizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o qual, por meio da Resolução nº 10, de 2003, estabeleceu o Programa Genérico de Procedimentos – Padrão de Higiene Operacional – PPHO, a ser utilizado nos estabelecimentos de leite e derivados que funcionam sob o regime de inspeção federal. Assim, os materiais de limpeza, como por exemplo, desinfetantes e panos, bem como os demais itens glosados como mangotes, toucas, capas, luvas não são exclusivamente para a proteção dos empregados, mas especialmente para que o produto possa ser industrializado e comercializado. Por isso, as despesas com esses materiais são essenciais, sendo eles utilizados diretamente no processo produtivo, se enquadrando, pois, no conceito de insumo; • as fitas isolantes são utilizadas em reparos de máquinas e equipamentos vinculados ao processo produtivo e, portanto, dão direito a crédito na apuração do PIS/Pasep e da Cofins na modalidade não cumulativa; • o gás liquefeito de petróleo é utilizado como combustível para as empilhadeiras no processo produtivo. O art. 3º, inciso II, das Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003, e o art. 8º, inciso I, alínea b, da Instrução Normativa SRF nº 404, de 2004, permitem expressamente o aproveitamento de créditos referentes a despesas com combustíveis utilizados no processo produtivo; Aquisição de mercadoria ou produto “sujeito à alíquota zero” e o direito à não cumulatividade • a glosa de créditos decorrentes da aquisição de leite desnatado, leite em pó, frutas e produtos hortícolas, por não serem eles sujeitos ao pagamento do PIS/Pasep e da Cofins, resulta em mitigação do princípio da nãocumulatividade, não permitindo que se deduza os custos de aquisição dessas matériasprimas utilizadas pela empresa em oposição à receita obtida com os produtos que se originam delas; • o art. 195, inciso I, alínea b, § 12, da Constituição Federal, ao promover uma incidência nãocumulativa das contribuições, faz referência a um instituto já existente no direito pátrio e, portanto, sua regulamentação por lei ordinária deve observância aos limites conceituais de tal instituto, não lhe sendo concedido o poder de restringir essa sistemática; • a sistemática criada no art. 195, § 12, da Constituição Federal deve possuir elementos suficientes para enquadrála no conceito jurídico existente de não cumulatividade. Caso contrário, a legislação em comento não encontra fundamento no referido preceito constitucional e, por conseguinte, representa apenas uma forma de majoração de tributo, ferindo o princípio do nãoconfisco, consagrado no art. 150, § 4º, da Constituição Federal; • é um dos requisitos para se promover a nãocumulatividade a neutralização da tributação, o que no presente caso não ocorre; Operações não enquadradas como aquisição de bens utilizados como insumos • em relação aos créditos decorrentes de operações com os CFOPs n° 1949 e 2949, devido a erro formal de preenchimento, foram contabilizadas nesses códigos Fl. 2860DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.861 20 mercadorias que foram objeto de devolução pelos clientes. Juntase aos autos planilha formulada pela autoridade fiscal que demonstra a origem desses produtos. Por essa razão, deve ser reconhecido o direito creditório sobre essas operações, pois a legislação é expressa ao permitir a apuração de créditos nesses casos; • em relação às operações com CFOPs n° 1556 e 2556, verificase que se trata de “compra de material para uso e consumo”, ou seja, correspondem à aquisição de partes e peças de máquinas, parafusos, graxas, mangueiras, rolamentos, molas, anéis, retentores, cilindros, termostatos, entre outras peças de reposição e materiais de consumo utilizados na manutenção do processo produtivo. Anexase planilha elaborada pelo auditor fiscal contendo o fornecedor e a descrição de cada produto objeto dessas operações, em que a simples leitura permite verificar que são utilizados como materiais consumidos no processo produtivo. Em face da essencialidade desses materiais é evidente que se consubstanciam em insumos e, como tais, devem ter o respectivo crédito reconhecido; DOS SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS Aquisição de serviços que supostamente não permitem identificálos como insumos • o auditor fiscal efetuou glosas dos créditos referentes aos serviços descritos como “genéricos” nas planilhas apresentadas, contratados com as seguintes empresas: Empresa de Transportes Soprodivino S.A., Nestlé Brasil Ltda. e Pleno Consultoria de Serviços Ltda.; • quanto aos serviços prestados pela Empresa de Transportes Soprodivino S.A., cabe elucidar que se trata de serviços de frete na aquisição de matériaprima, o qual é indiscutivelmente essencial ao processo produtivo e, como tal, enquadrase no conceito de insumo, gerando direito ao crédito pleiteado. No entanto, a autoridade fiscal relatou que a planilha da memória de cálculo na qual estavam discriminados esses serviços não estaria correta. Após isso, intimou a contribuinte a comprovar os valores apontados na referida planilha, oportunidade em que a empresa apresentou os comprovantes dos serviços, bem como os contratos que possui com a empresa. Todavia, mesmo depois disso, o auditor fiscal entendeu por não reconhecer o crédito sob o argumento de que o serviço não se trataria de insumo e as planilhas estariam incorretas. Cabe salientar que, muito embora o auditor fiscal tenha alegado que as notas fiscais nos 119851, 120030, 120047, 120087, 120109, 120142, 120173, 120187 seriam serviços genéricos, é possível verificar que nas outras notas fiscais da empresa Soprodivino, isto é, nas outras cinquenta e quatro notas fiscais apresentadas, fica claramente demonstrado que se trata de prestação de serviços de armazenagem, logística e frete; • em relação à empresa Nestlé Brasil Ltda., não houve uma exaustiva análise quanto às atividades realizadas por essa empresa à autuada. Nesse sentido, cumpre demonstrar que os serviços tidos como “genéricos” são serviços de performance industrial, engenharia de manutenção e utilidade de energia, de fornecimento de água e de tratamento de efluentes, os quais são claramente essenciais ao processo produtivo. Os serviços de performance industrial são atividades que visam a segurança para com as pessoas operantes das máquinas e de todos os equipamentos integrantes do processo produtivo e, dessa forma, são necessários à linha de produção. Quanto aos serviços de engenharia de manutenção e utilidade de energia, são atividades que visam a prevenção e manutenção dos equipamentos responsáveis por todo o processo produtivo, sem os quais seria impossível manter a produção de empresa. Quanto aos fornecimentos de Fl. 2861DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.862 21 água e tratamento de efluentes, é demasiadamente óbvia a essencialidade do serviço, tendo em vista que a matéria é regulamentada e fiscalizada pelos órgãos de vigilância sanitária, os quais devem ser atendidos sob pena de a empresa ser interditada; • com relação aos serviços prestados pela Pleno Consultoria, os correspondentes créditos foram glosados porque o auditor fiscal entendeu que se trataria de serviços de mãodeobra pagos a pessoa física. No entanto, tal serviço é pago diretamente à empresa Pleno Consultoria e a atividade consiste no recrutamento de trabalhadores para atividades temporárias. Esse serviço é obviamente essencial ao processo produtivo, gerando crédito nos termos da legislação vigente; Aquisições que sofreram ajustes negativos na base de cálculo correspondente para refletir o valor de face dos documentos fiscais • lançou corretamente o valor de R$ 4.663,40 referente à nota fiscal nº 013645 da Logoplaste do Brasil Ltda. O valor de R$ 4.682.449,79, que seria o total do reajuste negativo no Dacon, referese às anulações dos lançamentos realizados em duplicidade, em razão de erro de preenchimento; Operações relativas à contratação de mãodeobra • a autoridade fiscal glosou os valores referentes às operações de contratação de serviços de mãodeobra temporária com a empresa Sociedade Empresarial de Terceirização de Serviços Ltda., porque entendeu que se trataria de serviços de mãode obra pagos a pessoa física. No entanto, tal serviço é pago diretamente à empresa Sociedade Empresarial de Terceirização de Serviços Ltda., e a atividade consiste no recrutamento de trabalhadores para atividades temporárias. Esse serviço é obviamente essencial ao processo produtivo, gerando crédito nos termos da legislação vigente; Aquisição de mercadoria ou produto sujeito à alíquota zero e o direito à não cumulatividade • o despacho decisório efetuou a glosa do crédito referente à aquisição do leite industrial Copacker. A glosa sobre as aquisições desse produto resulta em mitigação do princípio da nãocumulatividade, não permitindo que se deduza os custos de aquisição dessa matériaprima utilizada pela empresa em oposição à receita obtida com os produtos que dela se originam; • o art. 195, inciso I, alínea b, § 12, da Constituição Federal, ao promover uma incidência nãocumulativa das contribuições, faz referência a um instituto já existente no direito pátrio e, portanto, sua regulamentação por lei ordinária deve observância aos limites conceituais de tal instituto, não lhe sendo concedido o poder de restringir essa sistemática; • a sistemática criada no art. 195, § 12, da Constituição Federal deve possuir elementos suficientes para enquadrála no conceito jurídico existente de não cumulatividade. Caso contrário, a legislação em comento não encontra fundamento no referido preceito constitucional e, por conseguinte, representa apenas uma forma de majoração de tributo, ferindo o princípio do nãoconfisco, consagrado no art. 150, § 4º, da Constituição Federal; • é um dos requisitos para se promover a nãocumulatividade a neutralização da tributação, o que no presente caso não ocorre; Fl. 2862DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.863 22 Aquisição de serviços não enquadrados como insumo • o CARF pacificou o entendimento de que o conceito mais correto para que o produto ou o serviço se torne insumo e possa gerar créditos na apuração do PIS/Pasep e da Cofins é ser considerado essencial ao processo produtivo. Por ser essencial entende se que o produto ou o serviço deve ser necessário ao processo produtivo e sem ele, no mínimo, comprometerseia a qualidade do produto, bem como a continuação da produção e, por conseguinte, a atividade econômica da empresa; • os serviços de manutenção em equipamento de fábrica são extremamente necessários e, assim sendo, essenciais para o processo produtivo da empresa. Consistem eles na montagem e manutenção das tubulações nas linhas de produção e em linhas de utilidades por onde passam água, vapor ou até mesmo ar comprimido. Sem tais serviços, resta óbvio que os equipamentos da empresa seriam danificados pelo uso intenso que sofrem, o que comprometeria toda a linha de produção; • os serviços de armazenagem e logística são essenciais ao processo produtivo, pois sem eles seria impossível continuar a produção. Tratase de serviços industriais prestados, nos quais está incluso o fornecimento de água, os tratamentos de efluentes, os quais a empresa é obrigada a realizar, e os serviços de construção civil em plataforma de manutenção de torre de resfriamento de água industrial, todos eles obviamente necessários ao processo produtivo e, portanto, geradores de crédito na apuração do PIS/Pasep e da Cofins; • os serviços de assistência técnica em equipamento de fábrica fazem a revisão preventiva, a montagem, bem como a manutenção em tubulações nas linhas de produção e em linhas de utilidades por onde passam o leite ou a água, sendo, pois, essenciais ao processo produtivo; • os serviços de mãodeobra temporária são essenciais para momentos do processo produtivo. A atividade baseiase no serviço de movimentação de produtos terminados destinados à venda e transferências (separação de produtos de acordo com o pedido de clientes e carregamentos). Dessa forma, dá direito ao crédito reclamado; • os serviços de assessoria aduaneira são essenciais ao processo produtivo, tendo em vista que consistem nos serviços de desembaraço aduaneiro, sem os quais é impossível continuar a linha de produção; • os serviços de consultoria e administração, são insumos, tendo em vista que sem eles não há como continuar a produção. As atividades de consultoria e administração são serviços industriais necessários como, por exemplo, fornecimento de água e tratamento de efluentes que, conforme já dito, é extremamente necessário e essencial à produção; • os serviços com a descrição de genéricos também tiveram os respectivos créditos glosados pelo auditor fiscal. Porém, cabe elucidar que esses são os serviços com tratamento de efluentes e fornecimento de água, que, conforme já relatado, são essenciais ao processo produtivo e, como tais, são insumos; • os serviços de medicina veterinária e zootecnia são atividades consistentes no serviço de evitar a contaminação das tubulações em linhas, por onde passa a matéria Fl. 2863DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.864 23 prima, mantendo dessa forma a higiene, a qualidade e o controle exigido pelos órgãos da vigilância sanitária; • os serviços de construção civil e montagem elétrica, mecânica e hidráulica são essenciais ao processo produtivo da empresa. Tratase dos serviços de construção civil e montagem de linhas elétricas, mecânicas e hidráulicas das plataformas de carregamento de produtos terminados. Por isso, geram direito ao crédito pleiteado; • os serviços de locação de equipamentos de telecomunicação são essenciais ao processo produtivo, pois consistem na locação de impressoras de videojet utilizadas para a datação de produtos terminados. Sem esses serviços seria impossível realizar qualquer marcação nos produtos, impossibilitando a continuação da produção; • os serviços de engenharia civil consistem na atividade em plataforma de manutenção de torre de resfriamento de água industrial, sendo, dessa forma, essencial para o processo produtivo e, portanto, deve ser considerado como insumo; • os serviços de suporte de construção e locação de estrutura, que se constituem na atividade de armazenagem de equipamentos obsoletos, ao contrário do que considerou o auditor fiscal, enquadramse como insumos, tendo em vista seu caráter essencial ao processo produtivo da empresa; • os serviços de impressão de publicidade de promoções também tiveram os respectivos créditos glosados pela autoridade fiscal. Todavia, tal serviço consiste na impressão de material publicitário da empresa, sendo atividade essencial para a promoção e divulgação dos seus produtos e, portanto, essencial para o processo produtivo, devendo, assim, dar direito ao crédito reclamado; DA IMPORTAÇÃO DE BENS UTILIZADOS COMO INSUMO Aquisição de mercadoria ou produto sujeito à alíquota zero e o direito à não cumulatividade • o auditor fiscal efetuou a glosa dos créditos decorrentes da importação de leite em pó integral, por entender que na aquisição do referido produto não incidiu tributação. Essa glosa resulta em mitigação do princípio da nãocumulatividade, não permitindo que se deduza os custos de aquisição dessa matériaprima utilizada pela empresa em oposição à receita obtida com os produtos que dela se originam; • a ora manifestante está levantando diversas informações e documentos em suas filiais e, no decorrer deste processo, providenciará a juntada das Declarações de Importações, a fim de demonstrar que no desembaraço do referido leite em pó integral houve a tributação do PIS/Pasep e da Cofins, razão pela qual deve ser deferido o crédito pleiteado; • o despacho decisório ora combatido, ao negar o crédito nas aquisições de matériaprima, acaba gerando o efeito cumulativo na apuração do PIS/Pasep e da Cofins, em sentido contrário ao que prescreve o art. 195, § 12, da Constituição Federal; • a sistemática criada no art. 195, § 12, da Constituição Federal deve possuir elementos suficientes para enquadrála no conceito jurídico existente de não cumulatividade; • é um dos requisitos para se promover a nãocumulatividade a neutralização da tributação, o que no presente caso não ocorre; Fl. 2864DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.865 24 DA IMPORTAÇÃO DE BENS ADQUIRIDOS PARA REVENDA, DA IMPORTAÇÃO DE SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS E DOS CRÉDITOS CALCULADOS SOBRE BENS DO ATIVO IMOBILIZADO (DEPRECIAÇÃO) ADQUIRIDOS NO MERCADO INTERNO • os créditos referentes aos bens adquiridos para revenda, a importação de serviços utilizados como insumos e os créditos calculados sobre bens do ativo imobilizado (depreciação) adquiridos no mercado interno somente foram glosados devido à não apresentação de planilhas específicas ou pela suposta falta de comprovação. Esse argumento não pode ser utilizado para embasar a glosa dos créditos pleiteados. A fiscalização deixou de examinar o mérito do pedido de ressarcimento e apenas o indeferiu com base na presunção de que o crédito não é legítimo em face de a contribuinte não ter logrado sucesso em juntar os documentos julgados necessários; • em que pese o suposto desatendimento às solicitações do auditor fiscal, é necessário dizer que ele poderia ter esgotado a verdade material e, assim, examinado a liquidez e a certeza do crédito pleiteado. Deve ficar claro que no presente caso não se trata de a ora manifestante não ter comprovado o crédito pretendido, ônus que sabidamente incumbe ao autor do pedido, e sim da impossibilidade de atender aos termos de intimação da forma como foi requerido; • devese ter em mente que se está diante de um volume de documentos gigantesco, muitos deles espalhados em diversas filiais. Em momento algum se recusou ou não quis colaborar com a fiscalização para a comprovação dos créditos pleiteados. Apenas não teve condições de cumprir as exigências feitas pela fiscalização. No entanto, isso não quer dizer que o auditor fiscal não tenha acesso aos documentos comprobatórios dos créditos, para o que seria necessário que se dispusesse a analisar a documentação no estabelecimento da manifestante, como possibilita o art. 19 da Instrução Normativa SRF nº 600, de 2005; • verificase a necessidade da aplicação do princípio da razoabilidade, pois, para a finalidade e a eficiência da atividade fiscal e em face do volume de documentos, é medida proporcional que seja concedido o prazo de cento e vinte dias, para que a contribuinte possa realizar a juntada dos documentos e planilhas de cálculos exigidas pela fiscalização ou então deve ser determinada a baixa em diligência para que a autoridade fiscal analise todos os documentos pertinentes ao crédito; DAS DESPESAS DE ENERGIA ELÉTRICA • apesar de ter aceitado a memória de cálculo, o despacho decisório não reconheceu a integralidade do crédito referente às despesas de energia elétrica, em razão de algumas notas fiscais não terem sido apresentadas, quais sejam: 999246, 1746, 774027, 873446, 527588, 6151 e 510673, emitidas por Elektro Eletricidade e Serviço, CNPJ nº 02.328.280/000197; e 450, 464 e 293, emitidas por Light Serviços de Eletricidade S.A., CNPJ nº 60.444.437/000146; • a ausência de algumas notas fiscais poderia ter sido plenamente satisfeitas com todas as notas fiscais que foram apresentadas, pela amostragem dos documentos, eis que a memória de cálculo dessas despesas foi aceita pelo auditor fiscal. Se esse não for o melhor entendimento, ainda assim, os créditos referentes a essas despesas poderão ser reconhecidos mediante a juntada dos comprovantes. Contudo, em razão de a manifestante possuir diversas filiais e não ter ainda conseguido localizar as notas fiscais em apreço, providenciará a juntada delas no decorrer do processo, em prazo não superior aos cento e vinte dias requeridos para juntar os demais documentos com os detalhes questionados no despacho decisório; Fl. 2865DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.866 25 DAS DESPESAS COM ALUGUÉIS DE PRÉDIOS LOCADOS DE PESSOAS JURÍDICAS • o auditor fiscal glosou os créditos referentes às despesas com aluguéis de prédios locados das seguintes pessoas jurídicas: Maconetto Empreendimentos Imobiliários S.C. Ltda., CNPJ nº 02.479.601/000152; Patriarca Empreendimentos e Participações Ltda., CNPJ nº 74.192.097/000118; e Nestlé Brasil Ltda., CNPJ nº 60.409.075/000152, sob o fundamento de que não foram apresentados os devidos esclarecimentos sobre endereço, descrição ou finalidade do imóvel locado e que os comprovantes de pagamento não foram apresentados em sua integralidade; • a contribuinte não conseguiu preencher a memória de cálculo com todas as informações que a fiscalização entendeu como necessárias. Entretanto, entende que foram entregues outros elementos de prova que atestam a habitualidade da despesa de aluguel, tais como os contratos que foram entregues e os comprovantes de pagamento; • os próprios contratos de aluguéis demonstram a relação de locação e, sobretudo, as obrigações de pagamentos que a manifestante deve cumprir mensalmente. Por isso, não haveria necessidade de glosa se os comprovantes não estão de acordo com as quantias pagas, pois o que gera o direito ao crédito é a despesa de locação e não o seu pagamento. Pode haver pagamentos que correspondam a mais de um mês de locação. Contudo, para que essa dúvida seja afastada, está providenciando a reunião dos contratos, dos comprovantes de pagamento e das memórias de cálculos dessas informações, que irão comprovar a legitimidade desses créditos; DAS DESPESAS COM ALUGUÉIS DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS LOCADOS DE PESSOAS JURÍDICAS • a apropriação de créditos referentes a despesas com aluguéis de máquinas e equipamentos é amparada pelo art. 3º, inciso VI, das Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003. Contudo, o despacho decisório glosou esses créditos, por entender que eles não foram suficientemente comprovados, dizendo que as memórias de cálculo estariam incompletas, por não trazer a relação de dados complementares que seriam necessários para a legitimidade; • a fiscalização poderia ter verificado a legitimidade dos créditos e das informações fornecidas na memória de cálculo, se tivesse escolhido exaurir a verdade material por meio de diligência fiscal; • neste momento processual, a ora manifestante não se exime de que há inversão do ônus da prova e que cabe a comprovação do fundamento alegado, no entanto, em razão do volume de notas fiscais de aluguéis e de serem créditos apropriados pela matriz e pelas filiais da ora manifestante, a contribuinte irá juntar em momento posterior uma planilha com o registro dos dados (nos moldes solicitados pela fiscalização) e documentos fiscais por amostragem, a fim de que seja cabalmente demonstrada a legitimidade do seu crédito e seja consequente o reconhecimento de Vossas Senhorias acerca da sua legitimidade; DAS DESPESAS DE ARMAZENAGEM E FRETES DE AQUISIÇÃO DE INSUMOS, FRETES NA OPERAÇÃO DE VENDA E ARMAZENAGEM • é necessário esclarecer que na mesma linha do Dacon referente aos fretes de venda e armazenagem, a contribuinte também registrou os custos de fretes de aquisição de insumos. Desse modo, em relação a essa rubrica, aqui se está defendendo não só os créditos de despesas de frete de venda e armazenagem, mas também os fretes na aquisição de insumos; Fl. 2866DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.867 26 • os créditos de fretes entre estabelecimentos não fazem parte de seu pedido de ressarcimento, pois, conforme informado à fiscalização, esses créditos são objeto do mandando de segurança nº 2008.61.00.0025770. Logo, esses créditos não poderiam ser objeto de glosa; • o despacho decisório glosou os fretes de aquisição, os fretes de venda e as despesas de armazenagem sob o argumento de que não teriam sido preenchidas todas as informações que seriam necessárias nas memórias de cálculo e na segregação dessas despesas; • a ora Manifestante esclarece que a memória de cálculo não há segregação, pois, nela constam apenas os fretes de aquisição, os fretes de venda e as despesas de armazenagem; não havendo que se falar em fretes entre estabelecimentos por ser esta despesa objeto de reconhecimento de ação judicial; • em razão das diversas filiais e da grande quantidade de operações de fretes de aquisição e fretes de venda, a ora Manifestante não conseguiu apresentar as memórias de cálculo segregadas entre os referidos fretes de venda e de aquisição, nos moldes requeridos e com o detalhe de informações desejadas pela fiscalização. Isto não significa que a memória de cálculo não tenha sido entregue pela ora Manifestante, tampouco, que seria um óbice para a análise da Autoridade Fazendária de origem, pois, conforme foi salientado no tópico preliminar, a Autoridade Fiscal poderia ter esgotado a verdade material através de diligência fiscal no estabelecimento da ora Manifestante, conforme prevê o art. 76, da IN/RFB 1.300, de 2012. • assim que recebeu a ciência do presente despacho decisório, começou a elaborar a planilha de memória de cálculo e a separar a documentação pertinente aos créditos de frete de aquisição de insumos, frete de venda de produtos e despesas de armazenagem. Junto à presente manifestação, apresenta planilha com operações por amostragem e conhecimentos de transporte, nas operações de frete na aquisição e frete na venda, assim como de armazenagem, em razão de ainda não ter finalizado a análise de forma exauriente; • reitera os pedidos anteriores de que seja permitida a juntada da documentação comprobatória do seu crédito no decorrer da tramitação deste processo, em prazo não superior a cento e vinte dias, bem como a determinação de baixa em diligência para a confrontação da documentação juntada com a escrituração contábil, caso se entenda que as memórias de cálculos não sejam suficientes; • na linha dos fretes de venda e armazenagem, incluiu os fretes de aquisição, quando deveria inserilos na linha de bens/serviços adquiridos como insumo, por fazer parte do custo de aquisição da matériaprima. Embora tenha cometido esse lapso, em razão da verdade material, é medida razoável que os créditos de frete na aquisição sejam reconhecidos; • junta em anexo, por amostragem, notas fiscais que demonstram que arcou com despesas de fretes na aquisição de insumos, de fretes sobre vendas e de armazenagens, bem como relação das notas fiscais que estão sendo juntadas nesse primeiro momento; • em razão do volume de conhecimentos de transporte (em torno de 400.000), está fazendo a análise e separação deles, a fim de complementar as planilhas de memória de cálculo com os dados que foram solicitados pela fiscalização de origem, bem como a devida segregação e planilha de controle dos créditos de frete de transferência, que, como dito, não foi objeto do presente pedido de ressarcimento. Fl. 2867DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.868 27 DA DEVOLUÇÃO DE VENDAS Devolução de produtos sujeitos à alíquota zero • o auditor fiscal enumerou vários produtos que foram devolvidos, glosando o respectivo crédito, sob o argumento de que teriam sido vendidos com alíquota zero. Ocorre que, como se verifica nos Dacons dos períodos em exame, esses produtos (tais como: nesvita, molico tentação cassis, ninho soleil, chamyto, chambinho, chandele, entre outros) tiveram suas vendas lançadas em receita de mercado interno tributada. Dessa forma, mesmo que sejam produtos que estariam sujeitos à alíquota zero, em face da verdade material de que foram vendidos com tributação, sua devolução gera direito a crédito, nos termos do art. 3º, inciso VIII, das Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003; • para exemplificação, juntase o Dacon do período de apuração junho/2012 e a relação desses bens que foram vendidos com tributação (lembrando que todos os Dacons podem ser acessados pela RFB); Operações relativas à emissão de nota fiscal que seria supostamente complementar de preço • em relação às notas fiscais nos 5062 e 5063, emitidas pela Nestlé Brasil Ltda., esclarece que as mesmas não foram lançadas como notas complementares de preço, mas como estorno de lançamento de duplicidade, foram lançadas como devolução; • foram feitos, em 28/12/2007, lançamentos a crédito na conta 2062240/30, evidenciando que os valores foram provisionados para pagamento/compensação. Posteriormente, por erro de preenchimento, foram feitos novamente, poucas horas depois, os mesmos lançamentos, ou seja, em duplicidade. São lançamentos idênticos, apenas com números de controle diferentes. Para corrigir esse equívoco, verificado dentro do mesmo mês, foi efetuado, em 31/12/2007, lançamentos de estorno a débito nas contas de provisão; • quando era feito o Dacon, a massa de dados trabalhada era muito grande e, por isso, era impossível separar cada caso. Dessa forma, todos os lançamentos de estorno de provisão eram tratados como devolução e classificados na linha “Devolução de vendas” na ficha de créditos do Dacon. Em contrapartida, as provisões em duplicidade eram registradas na ficha de “Cálculo da contribuição”, na linha 01; OUTRAS OPERAÇÕES COM DIREITO A CRÉDITO • a fiscalização glosou créditos referentes a aluguéis de máquinas e equipamentos, aluguéis de prédios, energia elétrica, armazenagem, insumos e serviços de manutenção, devido à não apresentação de planilhas específicas ou pela suposta falta de comprovação dos referidos créditos; • esse argumento não pode ser utilizado para embasar a glosa dos créditos pleiteados. A fiscalização deixou de examinar o mérito do pedido de ressarcimento e apenas o indeferiu com base na presunção de que o crédito não é legítimo em face de a contribuinte não ter logrado sucesso em juntar os documentos julgados necessários. Em que pese o suposto desatendimento às solicitações do auditor fiscal, é necessário dizer que ele poderia ter esgotado a verdade material e, assim, examinado a Fl. 2868DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.869 28 liquidez e a certeza do crédito pleiteado. Deve ficar claro que no presente caso não se trata de a ora manifestante não ter comprovado o crédito pretendido, ônus que sabidamente incumbe ao autor do pedido, e sim da impossibilidade de atender aos termos de intimação da forma como foi requerida; • devese ter em mente que se está diante de um volume de documentos gigantesco, muitos deles espalhados em diversas filiais. Em momento algum se recusou ou não quis colaborar com a fiscalização para a comprovação dos créditos pleiteados. Apenas não teve condições de cumprir as exigências feitas pela fiscalização. No entanto, isso não quer dizer que o auditor fiscal não tenha acesso aos documentos comprobatórios dos créditos, para o que seria necessário que se dispusesse a analisar a documentação no estabelecimento da manifestante, como possibilita o art. 19 da Instrução Normativa SRF nº 600, de 2005; • verificase a necessidade da aplicação do princípio da razoabilidade, pois, para a finalidade e a eficiência da atividade fiscal e em face do volume de documentos, é medida proporcional que seja concedido o prazo de cento e vinte dias, para que a contribuinte possa realizar a juntada dos documentos e planilhas de cálculos exigidas pela fiscalização ou então deve ser determinada a baixa em diligência para que a autoridade fiscal analise todos os documentos pertinentes ao crédito; DA CORREÇÃO PELA TAXA SELIC • a taxa Selic, por expressa previsão legal, é o fator de correção utilizado pela Administração Pública tanto para cobrança dos valores que lhe são devidos, como também para os créditos a que fazem jus os contribuintes; • a não incidência da taxa Selic desde o protocolo dos pedidos implica em ressarcimento a menor dos créditos a que tem direito a manifestante; • não pode a contribuinte suportar o ônus decorrente do ato de a autoridade fiscal glosar seus créditos e, quando houver deferimento pela turma julgadora, os créditos lhe serem disponibilizados sem a devida correção monetária; • registre o entendimento do Superior Tribunal de Justiça consubstanciado na Súmula nº 411: É devida a correção monetária ao creditamento do IPI quando há oposição ao seu aproveitamento decorrentes de resistência ilegítima do Fisco. • o CARF vem reconhecendo esse direito, em decorrência de recurso repetitivo no STJ, como demonstra o acórdão nº 3401.002.075. Decisão recorrida A Delegacia de Julgamento manteve a integralidade das glosas, negando provimento à manifestação de inconformidade. Recurso voluntário Em recurso voluntário, a empresa reitera seus argumentos da impugnação, para pleitear o reconhecimento de todos os créditos. No recurso voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos) anexa aos autos novos documentos. Fl. 2869DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.870 29 Recentemente, a empresa também juntou o laudo técnico de avaliação do uso de materiais e serviços no processo produtivo, laudo n° 059/2018, produzido em 27/03/2018. É o relatório. Voto Conselheira Semíramis de Oliveira Duro O recurso voluntário reúne os pressupostos legais de interposição, dele, portanto, tomo conhecimento. Fazse nesta oportunidade, a análise conjunta dos 33 processos de titularidade da Recorrente, por configurarem inegável unidade de julgamento. Tratamse de processos conexos, nos termos do art. 6°, §1º, I, do RICARF: 1. 10880.944897/201301; 2. 10880.944898/201348; 3. 12585.000324/201083; 4. 12585.000325/201028; 5. 12585.000326/201072; 6. 12585.000328/201061; 7. 10880.944921/201302; 8. 10880.944917/201336; 9. 10880.944918/201381; 10. 10880.944920/201350; 11. 10880.944910/201314; 12. 10880.944911/201369; 13. 10880.944902/201378; 14. 10880.944900/201389; 15. 10880.944913/201358; 16. 10880.944903/201312; 17. 10880.944906/201356; 18. 10880.944923/201393; 19. 10880.944896/201359; 20. 10880.944899/201392; 21. 12585.000327/201017; 22. 10880.944915/201347; 23. 10880.944919/201325; 24. 10880.944914/201301; 25. 10880.944916/201391; 26. 10880.944912/201311; 27. 10880.944908/201345; 28. 10880.944909/201390; 29. 10880.944904/201367; 30. 10880.944901/201323; 31. 10880.944905/201310; 32. 10880.944907/201309 e, Fl. 2870DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.871 30 33. 10880.944922/201349. Conforme relatado, foram diversos os motivos das glosas dos créditos pleiteados pela Recorrente. Ocorre que um dos pontos controvertidos nestes autos é o conceito de insumo para fins de creditamento no âmbito do regime de apuração nãocumulativa das contribuições do PIS e da COFINS. A Recorrente pleiteia todos créditos por entendêlos como essenciais para sua atividade. Entretanto, o conceito de insumo que norteou a análise fiscal na origem foi o restrito, veiculado pelas Instruções Normativas da RFB n° 247/2002 e 404/2004, segundo as quais o termo “insumo” não pode ser interpretado como todo e qualquer bem ou serviço que gera despesa necessária para a atividade da empresa, mas, sim, tão somente, como aqueles que, adquiridos de pessoa jurídica, efetivamente sejam aplicados ou consumidos na produção de bens destinados à venda ou na prestação do serviço da atividade. O mesmo critério foi utilizado no julgamento da decisão de piso. Por outro lado, para a Recorrente, o conceito de insumo é amplo, sendo aplicáveis os art. 290 e 299 do RIR/99, para “albergar os custos e despesas que se fizerem necessárias na atividade econômica da empresa”. Esta 1ª Turma de Julgamento adota a posição de que o conceito de insumo para fins de creditamento do PIS e da COFINS, no regime da nãocumulatividade, não guarda correspondência com o utilizado pela legislação do IPI, tampouco pela legislação do Imposto sobre a Renda. Dessa forma, o insumo deve ser necessário e essencial ao processo produtivo e, por conseguinte, à execução da atividade empresarial desenvolvida pela empresa. Em razão disso, deve haver a análise individual da natureza da atividade da pessoa jurídica que busca o creditamento segundo o regime da nãocumulatividade, para se aferir o que é insumo. As atividades desenvolvidas pela Recorrente são a fabricação, transformação, beneficiamento, conservação, distribuição comercial, importação e exportação de produtos alimentícios, produtos acabados, semiacabados e matériasprimas alimentares e alimentos in natura e alimentos refrigerados, congelados e supercongelados, principalmente leite e seus derivados, as quais, em tese, podem depender das despesas ora pleiteadas como crédito. Ressaltese que há fato novo nos autos: a juntada de laudo técnico de avaliação do uso de materiais e serviços no processo produtivo, laudo n° 059/2018, produzido em 27/03/2018. O laudo descreve o processo produtivo dos iogurtes, desde o transporte de aquisição de leite fresco até o transporte da fábrica até o ponto de comércio (vide itens 8.1 a 8.15). Fl. 2871DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.872 31 Ademais, o laudo discorre sobre a essencialidade de despesas que seriam integrantes do processo produtivo, sem os quais, sustenta, não seria possível obter o produto em condições adequadas para o consumo, bem como dispor de instalações suficientemente higienizadas, obtendo desta forma a liberação pelos órgãos fiscalizadores, pelos mercados específicos atendidos pela empresa. E o faz nos itens 9.1 a 9.21. De antemão já vislumbro a necessidade de conversão em diligência por duas razões: a) a negativa de creditamento em parte foi pela aplicação do conceito restrito de insumo, ao passo que a Recorrente busca a aplicação ampla do conceito. Sendo assim, há dúvidas a serem dirimidas sobre a comprovação da efetiva associação dessas despesas com o processo produtivo da Recorrente e b) por ser o laudo fato novo, isso demanda a manifestação da autoridade fiscal, em respeito ao princípio do contraditório. Somese a esses dois fatores, a juntada de novos documentos no recurso voluntário da Recorrente, os quais, em análise desta relatora, são aptos a afastarem algumas glosas, total ou parcialmente. Logo, analiso a seguir uma a uma das glosas para delimitar o objeto da diligência proposta por esta Relatora. DOS BENS ADQUIRIDOS PARA REVENDA AQUISIÇÃO DE LEITE FRESCO PRODUTOR GRANEL A Fiscalização apontou: Preliminarmente, destacamos que o sujeito passivo apurou créditos básicos de bens para revenda calculados em relação à aquisição de leite fresco in natura nos meses de julho, setembro e dezembro de 2007, nos montantes a seguir: Por outro lado, ao analisarmos a planilha enviada pelo sujeito passivo em 15/01/2014 com a relação de todos os produtos vendidos, acompanhados de sua descrição e montante total no período, constatamos que o sujeito passivo obteve receitas de vendas de leite fresco in natura inferiores aos valores adquiridos no mês, conforme relação abaixo: Fl. 2872DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.873 32 Assim, tendo em vista que o leite fresco in natura é produto com alto grau de perecibilidade e tornase, em reduzido intervalo de tempo, impróprio para a utilização ou comercialização, é no mínimo razoável concluir que os valores adquiridos que excedem as receitas de vendas do leite fresco in natura no período certamente não foram destinados à revenda e, portanto, não devem compor o crédito básico da rubrica sob análise. Nesse sentido, desconsiderando a possibilidade de as quantidades excedentes terem perecido e, assim, desperdiçadas, o que anularia integralmente os créditos do sujeito passivo, é natural inferir que tenham sido utilizadas como insumos na industrialização dos laticínios que compõem a carteira de produtos do sujeito passivo. Vale lembrar que a aquisição de leite fresco in natura, LEITE FRESCO PRODUTOR GRANEL, NCM 04011090, por pessoa jurídica que, cumulativamente, apure o imposto de renda com base no lucro real, exerça atividade agroindustrial e utilize o produto adquirido como insumo na fabricação das mercadorias de origem animal previstas na legislação tributária, entre as quais encontramse os derivados de leite, classificados no capítulo 4 da TIPI, é operação sujeita à apuração de créditos presumidos, nos termos do art. 8º, caput, e parágrafos, da Lei nº 10.925, de 2004. Por essa razão, como o sujeito passivo enquadrase nas condições acima, realocamos os valores que excedem as receitas de venda de leite fresco in natura para a rubrica créditos presumidos e mantivemos sob a rubrica bens adquiridos para revenda os valores dentro dos limites das receitas supracitadas. Vale lembrar que a apuração do crédito presumido, nas hipóteses em que é aplicável, é obrigatória e não opcional para o sujeito passivo, de modo que os lançamentos referentes a essas operações obrigatoriamente devem ser realocados para a rubrica correspondente. Segue síntese dos valores realocados para crédito presumido. (...) A Recorrente pleiteia o crédito base e não o presumido pelas seguintes razões: · a aplicação da suspensão do PIS/Pasep e da Cofins não tem implicação imediata sobre a aquisição de leite fresco, estando submetida a determinados requisitos prescritos pela Instrução Normativa RFB nº 660/2006. O primeiro requisito é que o fornecedor exerça as atividades de transporte, resfriamento e venda a granel, conforme pode ser verificado no art. 3º, II, dessa instrução normativa; · a quase totalidade dos fornecedores da empresa desempenham as atividades de resfriamento e de venda de leite a granel, contudo, não exercem a atividade de transporte de leite. Para corroborar essa alegação, junta aos autos a relação dos fornecedores e os cartões de CNPJ, que demonstram que a quase totalidade são pessoas jurídicas que desempenham a atividade de industrialização de leite, mas sem exercer a atividade de transporte de leite; Fl. 2873DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.874 33 · junta aos autos notas fiscais por amostragem, para demonstrar que o frete foi prestado por terceiro, reforçando o fato de que seus fornecedores não desempenham a atividade de transporte e, portanto, que a aquisição do leite in natura não é operação com tributação suspensa, mas com incidência “cheia” do PIS/Pasep e da Cofins; · mesmo nos poucos casos em que houve fornecedor que desempenhou as três atividades (resfriamento, venda a granel e transporte), ainda assim verificase que não seria o caso de suspensão do PIS/Pasep e da Cofins, pois, além desse requisito, a Instrução Normativa RFB nº 660, de 2006, determina que, nos casos em que se aplica a suspensão, deve constar obrigatoriamente a observação na nota fiscal de venda de que é operação com tributação suspensa. Na análise das notas fiscais emitidas pelos fornecedores que exercem as três atividades, foi constatado que não preencheram esse requisito, pois não continham a expressão obrigatória de que a venda seria com tributação suspensa. Desse modo, não havendo o preenchimento desse requisito, a operação é tributada pelas alíquotas básicas e gera direto a crédito de PIS/Pasep e Cofins ao adquirente do leite fresco. · além das notas fiscais que demonstram que o frete foi prestado por terceiro, de planilha demonstrando em quais casos há o preenchimento das atividades cumulativas de resfriamento, venda a granel e transporte e dos cartões do CNPJ de seus fornecedores, junta ainda aos autos os atos constitutivos da Nestlé, sua maior fornecedora; O laudo salienta que o leite é a principal matériaprima do iogurte, que o frete é suportado pela Recorrente e que tal frete prestado por terceiro é seu próprio custo de aquisição do leite. A Recorrente juntou, nos DOC. 4 a 6 do Recurso Voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), para sustentar as suas alegações: cópia dos cartões CNPJ dos fornecedores, amostragem de notas fiscais que demonstrariam que o frete foi prestado por terceiro e, o contrato social da Nestlé, sua maior fornecedora, a qual não realiza o transporte do leite. Entendo que este ponto deve ser investigado. Logo, solicitase à autoridade fiscal a análise dos documentos indicados pela Recorrente para verificar, se: 1 O transporte do leite foi feito por terceiros, que não a Recorrente e o fornecedor. Cotejar as notas fiscais com os conhecimentos de transporte (Vide tópico FRETES); 2 As notas fiscais indicadas contêm a informação de “venda com suspensão”; 3 Se foram cumpridos os requisitos para suspensão, dispostos na IN n° 660/06. AQUISIÇÃO DE EMBALAGEM DE TRANSPORTE OU MATERIAL DE EMBALAGEM DE TRANSPORTE Fl. 2874DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.875 34 Tratase das glosas de: CAIXA CHAMBINHO 360 520G REFR BR, CAIXA EXPEDICAO YGT NATURAIS REFR BR, CAIXA YGT 21X200G CHBNH 26X130G REFR BR e CAIXA YGT BICAMADA 24X150 G REFR BR, que no entendimento da fiscalização se tratam de embalagem ou material de embalagem utilizados no transporte das mercadorias vendidas, não se integrando aos produtos finais vendidos pelo sujeito passivo. A autoridade fiscal distinguiu “embalagens de apresentação” e “embalagens de transporte”, para aplicar as instruções normativas e negar o crédito. Por sua vez, o laudo descreve a essencialidade nos itens 9.6 e 9.9. No Recurso Voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), DOC. 7, constam planilha e fotos das embalagens. Confrontando o motivo da glosa, o laudo e DOC. 7, entendo que não há razão para outros esclarecimentos em diligência. OPERAÇÕES NÃO ENQUADRADAS COMO AQUISIÇÃO DE BENS PARA REVENDA Apontou a fiscalização que o contribuinte apurou parte de seu crédito com base em operações cuja natureza não se encaixa no conceito de bens para revenda, uma vez que descreveu as referidas operações como “Outra entrada de mercadoria ou prestação de serviço". Por sua vez, a Recorrente alega que, em razão de erro formal de preenchimento, foram contabilizadas no CFOP 1949 mercadorias que foram objeto de devolução dos clientes. Prossegue, informando que indicou as notas fiscais dessas operações, que demonstrariam que a origem desses produtos decorre dos próprios clientes da empresa, razão pela qual restaria evidenciado que se tratam de devoluções de vendas. Entretanto, esta Relatora não localizou a indicação de tais notas. Ademais, foi juntado o DACON de 2012 já em impugnação, para demonstrar que em eventual devolução, haverá crédito em razão da operação de venda ter sido tributada. Diante disso, não vislumbro a necessidade de realização de diligência nesse ponto. DOS BENS UTILIZADOS COMO INSUMOS AQUISIÇÃO DE LEITE FRESCO PRODUTOR GRANEL e LEITE FRESCO USINA GRANEL Tratase da mesma situação anterior, relativa ao caso dos bens adquiridos para revenda, as aquisições de LEITE FRESCO PRODUTOR GRANEL e LEITE FRESCO USINA GRANEL, que nos dizeres da fiscalização são hipóteses de apuração de crédito presumido, pois se tratam de aquisição de leite in natura, nos termos do art. 8º, § 1º, II, da Lei nº 10.925/2004, e, portanto, não podem ser enquadradas na rubrica sob análise, com crédito cheio, devendo, obrigatoriamente, ser realocadas para rubrica adequada, qual seja, “créditos presumidos calculados sobre a aquisição de insumos de origem animal”. Fl. 2875DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.876 35 Os argumentos da Recorrente são os mesmos do outro tópico. À semelhança, aqui também considero que se trata de uma questão que deve ser objeto da presente diligência, como já exposto anteriormente. AQUISIÇÃO DE EMBALAGEM DE TRANSPORTE OU MATERIAL DE EMBALAGEM DE TRANSPORTE Como mencionado anteriormente, tratase da glosa de despesas relacionadas ao transporte do produto perecível pronto. Também como já dito, para a fiscalização, não seria de se cogitar o enquadramento como insumo tendo em vista que, para tanto, o material em questão deveria ser aplicado na embalagem de apresentação, destinada à venda ao consumidor final, e não de forma acessória, na embalagem de transporte, destinada ao mero transporte da mercadoria. Nesta rubrica foram glosados: CAIXA CHAMBINHO 360 520G REFR BR, CAIXA CHAMY FRUTESS T REX 1000G REFR BR, CAIXA CHANDELLE 2 E 4 POTES REFR BR, CAIXA CHBNH 38X90G YGT24X130G REFR BR, CAIXA DE GAXETA ACO, CAIXA ESPECIALIDADE LACTEA REFR BR, CAIXA EXPEDICAO MOUSSE 14X150G REFR BR, CAIXA EXPEDICAO NECTAR LARANJA 12X1L, CAIXA EXPEDICAO YGT NATURAIS REFR BR, CAIXA FRUTESS T PRISMA 12X315G REFR BR, CAIXA GAXETA TRI CLOVER PN J324B0002, CAIXA PAP ONDULADO IOG POLPA 12X400G, CAIXA PO AUTM IOG LIQ 48X180G REFR BR, CAIXA PO AUTM LEI FERM 20X450G REFR BR, CAIXA PO AUTM LEI FERM 20X720G REFR BR, CAIXA PO CHAMY SACO 12X1000G REFR BR, CAIXA PO ERCA DECOR 3 12X400G REFR BR, CAIXA PO MOCA FESTA 20X180G BR, CAIXA PO NESTLE IOG NAT 21X170G REFR BR, CAIXA PO REFR CHAMYTO BIG 22X720G BR, CAIXA PO REFR CHAMYTO CHOC 20X480G BR, CAIXA PO REFR CHANDELLE MOUSSE 14MP BR, CAIXA PO REFR ERCA DECOR 4 600G BR, CAIXA PO REFR NESTLE NINHO 100G BR, CAIXA PO REFR PTSIS 16 UNI ALTURA 32MMBR, CAIXA PO REFR PTSIS 16 UNI ALTURA 35MMBR, CAIXA PO REFR REQUEIJAO 19X220G BR, CAIXA POICAO CHAMY SACO 12X1000G REFR BR, CAIXA PUDIM MOCA 2 E 4 POTES REFR BR, CAIXA SEM ABAS CHMYT 30X4P 22X6P REFR BR, CAIXA UNICAYGT 6 BANDEJAS REFR BR, CAIXA YGT 21X200G CHBNH 26X130G REFR BR, CAIXA YGT BAG 1 X 10KG REFR BR, CAIXA YGT BICAMADA 24X150 G REFR BR, CAIXA YGT LIQ 45X200G9X800G REFR BR, CAIXA YGT LIQUIDOS 10X850 900G REFR BR, CAIXA YGT MOLICO 21X150G REFR BR e CAIXAPO REFRCHDEL MSE INDVIDUAL 14X75GBR. E ainda, ACESSORIO CONTAINER 1200KG, ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413115, ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413136, ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413167, CONTAINER PREP FRT 1200KG, CX TRANSPORTE FRASCOS FORNECEDOR, DIVISORIA DE PAPELAO, DIVISORIA PAPELAO 1 00MX1 20M, ETIQUETA IDENTIFICACAO PALETE REFR BR, ETIQUETA PAPEL AADSV AUTOMACAO FABRICA, ETIQUETA PAPEL AUTO ADESIVA C75MM L104MM, FILME ENCOLHIVEL CHAMYTO 6P REFR BR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT FRTVERM 450G PRBR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT FRTVERM 720G PRBR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT LEIFERM450G PR BR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT LEIFERM720G PR BR, FILME ENCOLHIVEL CHMYT TT FR 450G PR BR, FILME ENCOLHIVEL PEBD CHAMYTO 6X75G PR, FILME PEBD CHAMY MRG REFR BR, FILME PEBD PELBD NESTLE MRG REFR 900G, FILME SHRINK PEBD Fl. 2876DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.877 36 CHAMYTO 6X75G TT FR PR, FILME SHRINK PEBD CHAMYTO FRUTASVERMBR, FILME SHRINK PEBD CHAMYTO UVA 6X75G, FILME SHRINK PEBD CHMYT BIG FRUTASVERMBR, FILME SHRINK PEBD FCHAMYTO BIG 6X120G PR, FILME SHRINK PEBD REFR CHAMYTO 4X3G PRBR, FILME SHRINK PEBD REFR CHAMYTO BIG BR, FILME SHRINKPEBD NINHO LEI FERMENTADO BR, FILME SHRINKPEBD NINHO LEIFERMENT 7X1 BR, FILME TERMOENC CHAMYTO TT FR 6 POTES BR, FITA ARQUEAR PP VERDE C2000MX L12MM, FITA DE ARQUEAR PP C2500M L12MM, FITA DE ARQUEAR PP C2500M L12MM 2008, PAPELAO VELOMOIDE 1 64 ESPES X1 20 LARG e STRETCHFILME 500MM X 24 5UM. Sobre alguns desses itens a fiscalização informou: Em resposta apresentada em 31/07/2013, o contribuinte esclareceu que o STRETCHFILME 500MM X 24 5UM é “utilizado no fracionamento de paletes para venda de produtos Não relacionado ao processo produtivo”. O sujeito passivo esclareceu também que a FITA DE ARQUEAR PP C2500M L12MM 2008 é utilizada “na amarração dos paletes de produtos terminados”. Já o ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413115 é “complemento utilizado na caixa de expedição com a finalidade de evitar o tombamento do produto” e o ACESSORIO PAPELAO ONDULADO CAIXA 413167 é “complemento utilizado com a finalidade de reforçar a caixa de expedição”. Por sua vez, a ETIQUETA IDENTIFICACAO PALETE REFR BR é utilizada “na identificação do produto paletizado” (Documentos Diversos – Outros 20130731 Resp Contr Destin Insu Exame MPF Anterior; fl. 746). O stretch filme, ou filme esticável, bem como o filme shrink, ou filme encolhível, são largamente utilizados como materiais acessórios à embalagem de transporte utilizados durante o fracionamento de paletes para remessa do produto aos clientes. Nesse mesmo grupo incluise a fita de arquear, bem como os acessórios e divisórias de papelão, utilizados durante o transporte dos produtos. Na mesma toada, a autoridade fiscal distinguiu “embalagens de apresentação” e “embalagens de transporte”, para aplicar as instruções normativas e negar o crédito. Por sua vez, o laudo descreve a essencialidade nos itens 9.6 e 9.9. E, constam planilha e fotos anexadas ao documento. Como já dito anteriormente, entendo que não há razão para outros esclarecimentos em diligência. AQUISIÇÃO DE MERCADORIA OU PRODUTO NÂO ENQUADRADO COMO INSUMO Tratase de glosas referentes à aquisição de material de limpeza, no caso do desinfetante, e de material descartável de proteção pessoal e higiene: CAPA DESCARTÁVEL TAMANHO UNICO, DESINFETANTE DIVOSAN S1, DESINFETANTE ACIDO Fl. 2877DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.878 37 PERACET LIQ 30KG, LUVAS DESCARTÁVEL 340X270X0 06MM, MANGOTE DESCART POLIPR BRANCO GRAM 20, MANGOTE DESCARTÁVEL POLIPROPILENO, MANGOTES EM POLIPROPILENO BRANCA 30GR, PANO DE LIMPEZA ALVEJADO 0 60CM 0 35CM, PANO LIMPEZA AZUL BAINHA MED 30X40CM, PANO LIMPEZA BAINHA BRANCO MED42X75CM, PANO PARA LIMPEZA OVERLOQUE AZUL40X20CM, PAR DE LUVA DE POLITILENO TRANSPARENTE, SABONETE LIQUIDO SUMASEPT, TOUCA DESC AZUL C ELÁSTICO 50CM GRAM 30, TOUCA DESCARTÁVEL 50CM GRAMATURA 30 e TOUCA PROT DESC PP BR UN. Tais itens foram glosados, nos termos das instruções normativas, por não serem consumidos ou integrados ao produto final durante a fabricação. Na mesma rubrica houve a glosa de FITA ISOLANTE, que nos dizeres da fiscalização: “aquisição de FITA ISOLANTE, material acessório utilizado em reparos de máquinas, equipamentos ou instalações elétricas não necessariamente ligadas ao processo produtivo, que sequer é incluída quando da substituição de peças que sofrem desgaste em decorrência da fabricação do produto.” Glosados também as despesas com 7 SERVIÇOS CONSULTORIA EM RH, BRINDE R RELAÇÕES PUBLICAS e BRINDES DIVERSOS, “uma vez que os serviços de consultoria em recursos humanos destinamse, preponderantemente, ao auxílio no recrutamento e gerenciamento de pessoal, não se encaixando, por óbvio no conceito de insumos. Assim como os brindes, usualmente destinados a clientes e fornecedores, e não direcionados ao processo produtivo, não ensejando apuração de créditos”. E ainda, foram glosadas as aquisições de GAS LIQUEFEITO DE PETROLEO BOT, GAS LIQUEFEITO PETROLEO EM BOTIJAO 45 KG e GAS LIQUEFEITO PETROLEO BOTIJAO 20KG EMP, pois “o contribuinte esclareceu que os referidos itens são utilizados como ‘combustível para empilhadeiras’ ou na “preparação de alimentos no restaurante não relacionado ao processo produtivo”. O laudo da Recorrente trata dessas rubricas no item 9.10. Segundo este documento: 1 a industrialização do leite é fiscalizada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MAPA, através da Resolução n° 10, de 22 de maio de 2003, que estabelece o Programa Genérico de Procedimentos Padrão de Higiene Operacional – PPHO, a ser utilizado nos estabelecimentos de leite e derivados que funcionam sob o regime de inspeção federal; 2 as fitas isolantes são utilizadas em reparos de máquinas e equipamentos para isolar conexões e outros componentes elétricos, garantindo maior segurança para quem manuseia aparelhos elétricos ou está trabalhando com algum serviço que envolva energia elétrica e 3 o Gás Liquefeito de Petróleo é uma energia convertida em movimentos das empilhadeiras. Entendo que, de todas as glosas listadas acima, é necessária a intervenção da autoridade fiscal apenas para verificar a possibilidade de segregação entre as aquisições de GAS LIQUEFEITO DE PETROLEO BOT, GAS LIQUEFEITO PETROLEO EM BOTIJAO 45 KG e GAS LIQUEFEITO PETROLEO BOTIJAO 20KG EMP – para área administrativa e para o processo produtivo. Para as demais glosas, entendo que os elementos dos autos são suficientes para o julgamento, não sendo, portanto, necessária diligência sobre os demais itens. Fl. 2878DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.879 38 AQUISIÇÃO DE MERCADORIA OU PRODUTO SUJEITO À ALIQUOTA ZERO Tratase das glosas de bens adquiridos classificados nos capítulos 7 e 8 da TIPI, que estão sujeitos à alíquota zero das contribuições, nos termos do art. 28, III, da Lei nº 10.865/2004, bem como de leite, nos termos art. 1º, XI e XIII, da Lei nº 10.925/2004. As glosas tiveram como fundamento o § 2º, II, do art. 3º das Leis nº 10.637/2002, e nº 10.833/2003, que dispõem que as aquisições sujeitas à alíquota zero não geram direito a crédito. Assim, foram glosados LEITE DESNATADO GRANEL, LEITE DESNATADO GRANEL TERCEIROS, LEITE DESNATADO INDUSTRIAL COPACKER, LEITE EM PO DESNATADO MSK, LEITE PO INTEGRAL 26 25KG, LEITE PO MSK 25KG e SORO MILK PO 25KG, bem como frutas e produtos hortícolas, AMEIXA POLPA PASTEURIZADA 20KG, AMORA POLPA 8BRIX CONGELADA 20KG, BANANA POLPA LIQUIDA 24BRIX PAST 20KG, COCO RALADO 0JAN 004 MM 25KG, FRAMBOESA POLPA 8BRIX 10KG, KIWI POLPA 13 BRIX, MAMAO POLPA 8 11 BRIX PASTEURIZADO 210KG, MELAO POLPA 4 7BRIX CONGELADO 12KG, MORANGO POLPA SEM SMT 4 5 8 5BRIX 10KG, PERA POLPA 8 13BRIX CONGELADA 20KG, PESSEGO POLPA 8 11BRIX CONGELADO 12KG, POLPA DE MORANGO, POLPA MORANGO PAST SEM SMT 28BRIX 200KG e POLPA MORANGO PAST SEM SMT 28BRIX 210KG. A Recorrente alega que são as suas essenciais matériasprimas e que negar crédito sobre elas implica em ferir a sistemática da nãocumulatividade. No mesmo sentido, apontou o laudo. Claramente, estáse diante de questão de direito, que não será objeto da diligência. OPERAÇÕES NÃO ENQUADRADAS COMO AQUISIÇÃO DE BENS UTILIZADOS COMO INSUMOS Aponta a fiscalização que o contribuinte apurou parte de seu crédito com base em operações cujas naturezas não se encaixam no conceito de bens utilizados como insumos, uma vez que descreveu as referidas operações como “Outra entrada de mercadoria ou prestação de serviço não especificada” e “Compra de material para uso ou consumo”, com a utilização dos Códigos Fiscais de Operações e Prestações (CFOP) nº 1949, 2949, 1556 e 2556. Quanto aos CFOP n° 1949 e 2949, “Outra entrada de mercadoria ou prestação de serviço não especificada”, aduz a Recorrente que foram escriturados erroneamente, pois contabilizou neste CFOP as mercadorias objeto de devolução de seus clientes. Da mesma forma, não indicou as notas fiscais que comprovariam tal argumento. Assim, não foram especificadas as notas que poderiam atestar se a empresa incorreu em erro formal, se se tratam de devoluções de vendas. Com relação ao CFOP 1556 e 2556, “compra de material para uso e consumo”, alega a Recorrente que são aquisições de partes e peças de máquinas, parafusos, Fl. 2879DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.880 39 peças, graxas, mangueiras, rolamentos, molas, anéis, retentores, cilindros, termostatos, entre outras peças de reposição e consumo utilizadas na manutenção do processo produtivo. O laudo, no item 9.12, trata apenas dos “materiais para uso e consumo”, afirmando que estes “elementos são essenciais para o processo de forma que seja possível efetuar o reparo da máquina, por meio de manutenções, permitindo que ela retorne ao fluxo produtivo.” A Recorrente indicou em seu recurso voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), DOC. 9, os materiais para uso e consumo que são integrantes do processo produtivo: partes e peças de máquinas, parafusos, graxas, mangueiras, rolamentos, molas, anéis, retentores, cilindros necessários a manutenção das máquinas no processo produtivo. Por conseguinte, não vislumbro a necessidade de diligência nesses itens. DOS SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS CUJAS DESCRIÇÕES NÃO PERMITEM IDENTIFICÁLOS COMO INSUMOS Tratase das glosas de serviços utilizados como insumos descritos como “GENÉRICOS” nas planilhas apresentadas pelo contribuinte, contratados de EMPRESA DE TRANSPORTES SOPRODIVINO SA, NESTLE BRASIL LTDA e PLENO CONSULTORIA E SERVICOS LTDA. O laudo descreve os serviços no item 9.13 como essenciais: I) Empresa de Transportes Soprodivino S.A. – transportadora contratada para realizar o transporte do açúcar que é uma matéria prima do processo produtivo. Sem o transporte do produtor até a empresa, o açúcar não estaria disponível para ser adicionado ao iogurte, consequentemente não estaria apto para o consumo. II) Nestlé Brasil Ltda empresa correlacionadas com a DPA em realizar alguns serviços industrias na planta, tais como: Performance Industrial: o termo utilizado para os indicadores de performance da manutenção em uma fábrica é o KPI (em inglês, Key Performance Indicators ou KPI, Indicadores de Performance na tradução). As KPIs podem mensurar diferentes performances abrangendo desde o tempo de parada das máquinas até o processo produtivo e são atividades que visam segurança para as pessoas operantes das máquinas e todos os equipamentos integrados com o processo industrial. Sem esses indicadores o sistema fabril entraria em colapso e pane geral, paralisando a produção do produto final. Engenharia de Manutenção e utilidades de energia: são atividades que visam toda a prevenção, manutenção, confiabilidade e Fl. 2880DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.881 40 disponibilidade dos equipamentos responsáveis por todo o processo produtivo, nos quais sem eles seria impossível manter a produção da empresa; Fornecimento de água e tratamento de efluentes: efluente industrial é o despejo de resíduos líquidos poluentes oriundos de processos fabris que abrange desde rejeitos provenientes dos próprios processos industriais, até o esgoto doméstico. Ou seja, é toda água que é utilizada em uma indústria e que, depois, precisa ser descartada. Na empresa pode utilizar a água com diversas finalidades, como para a lavagem do chão de fábrica ou de algum equipamento do processo de produção, para a incorporação ao próprio produto e para o resfriamento de sistemas e geradores de vapor. Em todas essas utilizações citadas, a indústria está produzindo resíduos que precisam ser tratados, para que a água apresente as condições estabelecidas no Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RIISPOA além de atender aos princípios e objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12.305 de 02 de agosto de 2010, antes de serem lançados à natureza, tendo em vista que esse tratamento é regulamentada e fiscalizada pelos órgãos de vigilância sanitária, dos quais devem ser atendidos sob pena da empresa ser interditada, caracterizando crime contra o meio ambiente, conforme menciona a Lei de Crimes Ambientais n° 9605/98. III) Pleno Consultoria de Serviços Ltda: recrutamento de trabalhadores para atividades temporárias, por exemplo: quando a empresa necessita realizar embalagens de iogurte promocionais nos formatos de “pague 2 leve 3”. Nestes momentos, a empresa necessita de um contingente maior do que o normal temporariamente para que consiga atender a demanda. A Recorrente juntou no DOC. 11 do Recurso Voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), algumas notas de despesas com serviços. Mas, não constam nos autos mais documentos sobre esses serviços, tampouco a conciliação entre as notas fiscais com os referidos serviços. Assim, como a glosa foi em decorrência da falta de informações que permitissem assegurar se os serviços em questão enquadramse no conceito de insumo, entendo que não há necessidade de outros esclarecimentos por parte da autoridade fiscal em diligência. AQUISIÇÕES QUE SOFRERAM AJUSTES NEGATIVO NA BASE DE CÁLCULO CORRESPONDENTE PARA REFLETIR O VALOR DE FACE DO DOCUMENTO FISCAL Aduz a fiscalização que: Procedemos ao ajuste negativo no valor de R$ 4.679.264,48 da base de cálculo dos créditos calculados em relação à aquisição do serviço lastreado pelo documento fiscal nº 013645, de fevereiro de 2009, emitido por LOGOPLASTE DO BRASIL LTDA, CNPJ nº 00.359.256/000513, para refletir o seu real valor de face, que monta em R$ 4.663,40, e foi erroneamente registrado pelo sujeito passivo pelo Fl. 2881DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.882 41 valor de R$ 4.683.927,88 (Documentos Diversos Outros 20140603 Resposta Intimação NF13645; fl. 747). Nesse ponto alega a Recorrente que lançou corretamente o valor de R$ 4.663,40 referente a essa nota fiscal. Segundo ela, o valor de R$ 4.682.449,79, que seria o total do reajuste negativo no Dacon, referese às anulações dos lançamentos realizados em duplicidade, em razão de erro de preenchimento. A Recorrente reiterou o pleito em sede de recurso voluntário, bem como apontou no item IV.III.2 da peça recursal os registros do DACON a que se refere, dessa forma esse ponto dever ser investigado na diligência. Então, solicitase à autoridade fiscal que verifique se a NF 013645 da Logoplaste do Brasil Ltda. foi lançada corretamente, no valor de R$ 4.663,40, em virtude do erro de preenchimento alegado pela empresa. OPERAÇÕES RELATIVAS À CONTRATAÇÃO DE MÃO DE OBRA Foram glosadas as operações relativas à contratação de mão de obra temporária, descritas pelo sujeito passivo em sua memória de cálculo como “SERV DE MAO DE OBRA TEMPORÁRIA”, contratados preponderantemente da empresa SOCIEDADE EMPRESARIAL DE TERCEIRIZACAO E SERVICOS LTDA, por entender a fiscalização que o pagamento a título de mão de obra a pessoa física por intermédio de uma pessoa jurídica contratada para tal fim é vedado. Afirma a empresa que essa mão de obra é alocada no processo produtivo. Junta notas fiscais. O laudo se refere a esse item no tópico 9.14. Solicitase a autoridade fiscal que coteje as notas fiscais juntadas e as indicadas no recurso voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), no DOC. 10 e 11, e o laudo, bem como os demais elementos que constam nos autos para atestar se tal mão de obra foi aplicada no processo produtivo da Recorrente. AQUISIÇÃO DE MERCADORIA OU PRODUTO SUJEITO À ALIQUOTA ZERO Tratase da glosa da aquisição de LEITE DESNATADO INDUSTRIAL COPACKER, por se tratar de operação sujeita à alíquota zero, já que é aquisição de leite industrializado desnatado, cujas alíquotas das contribuições são iguais a zero, conforme reza o art. 1º, XI, da Lei nº 10.925/2004. Logo, tais aquisições sujeitas à alíquota zero não geram direito a crédito. Foi tratado no laudo, no item 9.15. Outrossim, como já manifestado, tratase de questão de direito, que será oportunamente julgada, não sendo, portanto, objeto desta diligência. Fl. 2882DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.883 42 AQUISIÇÃO DE SERVIÇOS NÃO ENQUADRADOS COMO INSUMOS A glosa referiuse a: Glosamos os serviços contratados de LOCALIZA RENT A CAR SA, CNPJ nº 16.670.085/030496 e nº 16.670.085/0094 54, e de PAULISTANIA LOCADORA DE VEICULOS LTDA, CNPJ nº 03.339.638/000492, tendo em vista que ambos têm como atividade principal o serviço de locação de automóveis sem condutor, prestação que, considerada a atividade do sujeito passivo, a produção de laticínios, não se encaixa no conceito de serviços utilizados como insumos, devendo, portanto, ser integralmente glosadas. A empresa MONTIN MEC MONTAGENS INDUSTRIAIS LTDA ME, CNPJ nº 15.023.132/000106, tem como objeto a instalação de máquinas e equipamentos industriais. Tomando como exemplo a nota fiscal nº 79, de dezembro de 2012, o serviço prestado é de fabricação e instalação de pórtico para manutenção das torres de resfriamento, serviço que não se integra ou agrega valor aos produtos comercializados pelo sujeito passivo, não se enquadrando como insumos, sendo integralmente objeto de glosa por parte da Fiscalização todas as aquisições desse fornecedor (Documentos Diversos Outros 20140603 Resposta Intimação NF 79; fl. 750). A empresa PASCOTTI SERVICOS DE TERRAPLENAGEM LOCACAO DE MAQUINAS E VEICULOS LTDA, CNPJ nº 03.887.120/000140, presta serviços de obras de terraplenagem, obras de urbanização em ruas, praças e calçadas, construção de redes de abastecimento de água, coleta de esgoto e construções correlatas, exceto obras de irrigação, serviços de preparação do terreno, aluguel de máquinas e equipamentos para construção sem operador, exceto andaimes, atua nos setores de terraplenagem, pavimentação asfáltica, infraestrutura em geral, locação de equipamentos e fornecimento de materiais básicos para construção civil em empreendimentos comerciais, industriais e residenciais. Nenhum dos serviços descritos acima se enquadram no conceito de insumo ao se considerar o ramo de atuação sujeito passivo, a produção de laticínios, devendo, nesse caso, ser glosados todas as aquisições de serviço do fornecedor em questão. A empresa PLENO CONSULTORIA E SERVICOS LTDA, CNPJ nº 70.059.043/000128, tem como atividade principal a locação de mão deobra temporária, atuando também nos serviços de conservação e limpeza, serviços temporários e terceirização de mão de obra. Nesse sentido, em obediência ao inciso I do § 2º da Lei nº 10.637, de 2002, e da Lei nº 10.833, de 2003, de idêntico teor, as aquisições do referido fornecedor foram integralmente glosadas. Mesmo tratamento foi dispensado às aquisições de serviços de TITO CADEMARTORI ASSESSORIA, CNPJ nº 93.911.147/000386, que presta serviço de assessoria e gestão aduaneira, principalmente Classificação Fiscal de Mercadorias, Valoração Aduaneira, Efetivação de Ex tarifários e Recuperação de impostos pagos, etc. Em outras palavras, presta serviço de assessoria aduaneira, que, por óbvio, não se enquadra no conceito de serviços utilizados como insumos, devendo, Fl. 2883DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.884 43 portanto, ser integralmente glosados os créditos relacionados às aquisições desse fornecedor. Glosamos também as operações descritas como MATERIAIS PARA MONTAGEM ELETRICA; MEDICINA VETERINARIA E ZOOTECNIA.; MOLDES; SERV USINAGEM; SERV ARMAZENAGEM E LOGISTICA (SERV FRETE); SERV ASSESSORIA ADUANEIRA; SERV CONST CIVIL MONT ELET MEC E HIDR; SERV CONSULTORIA E ADMINISTRACAO; SERV DE ASSIST TEC EM EQUIP DE FABR; SERV DE MANUT EM EQUIP DE FABR; SERV ENG CIVIL; SERV IMPR PUBLICIDADE PROMOCOES; SERV LOCACAO EQUIP TELEC; SERV SUPORTE CONSTR LOCACAO ESTRUTURAS; e SERV TELEFONIA FIXA, tendo em vista que, consideradas as próprias descrições fornecidas pelo contribuinte, não se enquadram como serviços utilizados como insumos. Alega a Recorrente que são serviços essenciais, tais como: Serviços de Manutenção de equipamentos de Fábricas; Serviços de Armazenagem e Logística; Serviços de Assistência Técnica em Equipamento de Fábrica; Serviços de Mão de Obra Temporária; Serviços de Consultoria e Administração; Serviços de Medicina Veterinária e Zootecnia; Serviços de Construção Civil e Montagem Elétrica, Mecânica e Hidráulica; Serviços de Locação de Equipamentos de Telecomunicação; Serviços de Engenharia Civil; Serviços de Suporte de Construção e Locação de Estruturas e Serviços de Impressão de Publicidade de Promoções. Aduz que juntou notas fiscais por amostragem. O laudo se refere a esse item no tópico 9.16, que descreve cada serviço e sua utilização. Entretanto, não houve a interligação entre cada serviço e as respectivas notas. Diante disso, entendo desnecessária a realização de diligência nesse tópico. DA IMPORTAÇÃO DE BENS UTILIZADOS COMO INSUMOS AQUISIÇÃO DE MERCADORIA OU PRODUTO SUJEITO À ALIQUOTA ZERO Tratase da glosa de aquisição de LEITE PÓ INTEGRAL 26 25KG, por ser sujeita à alíquota zero, nos termos do o art. 1º, XI, da Lei nº 10.925/2004. O laudo referese a essa aquisição no tópico 9.17. Mais uma vez, tal como já tratado acima, não é objeto desta diligência. DA IMPORTAÇÃO DE BENS ADQUIRIDOS PARA REVENDA, DA IMPORTAÇÃO DE SERVIÇOS UTILIZADOS COMO INSUMOS e DOS CRÉDITOS CALCULADOS SOBRE BENS DO ATIVO IMOBILIZADO (DEPRECIAÇÃO) ADQUIRIDOS NO MERCADO INTERNO Relatou a fiscalização o seguinte: No caso em tela, o contribuinte foi intimado, em 24/12/2013 e 29/04/2014 a apresentar as memórias de cálculo de TODAS AS Fl. 2884DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.885 44 RUBRICAS do Dacon. Nas referidas intimações, a Fiscalização foi expressa em indicar que as rubricas em epígrafe deveriam ter suas composições demonstradas nas planilhas de cálculo a serem apresentadas (Termo de Início de Diligência Fiscal; e Termo de Intimação Fiscal Número 2 20140429; fls. 239 a 246; e fls. 496 a 501). O contribuinte apresentou respostas à Fiscalização em diversos momentos, conforme se depreende do relatório desta Informação Fiscal, contudo, até o fim do procedimento fiscal o contribuinte não havia apresentado quaisquer memórias de cálculo referentes as rubricas sob análise. Limitouse a esclarecer, em resposta apresentada no dia 23/01/2014, que os valores lançados na ficha 16A, linha 09, créditos calculados sobre bens do ativo imobilizado (depreciação), e na ficha 16B, linha 01, importação de bens para revenda, referemse na verdade a insumos (Documentos Diversos Outros 20140123 Resposta Intimação Protocolo; fl. 483). Dessa forma, em vista da não apresentação de planilhas específicas para essas duas rubricas e do esclarecimento supra, assumimos que os seus valores estão inseridos nas planilhas referentes aos créditos de aquisição de insumos do mercado interno e importação, de modo que a análise desses valores fora automaticamente realizada no âmbito das referidas rubricas relativas à aquisição de insumos, e, naturalmente, realocadas para tais linhas. Nesse sentido, com o objetivo de evitar a apuração de tais créditos em duplicidade, desconsideramos a integralidade dos valores lançados na ficha 16A, linha 09, créditos calculados sobre bens do ativo imobilizado, e na ficha 16B, linha 01, importação de bens para revenda. Já os valores pleiteados pelo contribuinte a título de importações de serviços utilizados como insumos foram integralmente glosados, por falta de comprovação do crédito pleiteado, tendo em vista a não apresentação de quaisquer planilhas com as memórias de cálculo dos créditos lançados nos Dacons. O laudo não abordou essa temática. E a Recorrente não trouxe novos elementos em recurso voluntário, apenas afirma que o auditor fiscal glosou créditos baseado na presunção de que, se as informações não foram detalhadas como solicitado, é porque o crédito não existe. Logo, esse item está fora do objeto da diligência. DAS DESPESAS DE ENERGIA ELÉTRICA Relata a fiscalização que: Intimado em 27/05/2014 a apresentar uma amostra de notas fiscais de energia elétrica, o sujeito passivo, em 03/06/2014, apresentou a Fl. 2885DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.886 45 contento uma parte relevante dos documentos fiscais requeridos, deixando de apresentar, contudo, os documentos fiscais nº 999249, 1746, 774027, 873446, 527588, 6151 e 510673, emitidas por ELEKTRO ELETRICIDADE E SERVICO, CNPJ nº 02.328.280/0001 97; e 450, 464 e 293, emitidas por LIGHT SERVICOS DE ELTRICIDADE SA,CNPJ nº 60.444.437/000146 (Termo de Intimação Fiscal Número 3 20140527; Documentos Diversos Outros 20140603 Resposta Intimação Protocolo; e Termo de Anexação de Arquivo Nãopaginável 20140603 Resposta à Intimação Mídia; fls. 540 a 573). Dessa forma, a autoridade fiscal glosou integralmente os créditos apurados com base nas aquisições de energia elétrica cujos documentos não foram apresentados. Informa a Recorrente que juntou ao seu recurso voluntário, as notas fiscais n° 999249, 1746, 774027, 873446, 527588, 6151 e 510673 emitidas por Elektro Eletricidade e Serviço (CNPJ 02.328.280/000197) e notas fiscais n° 450, 464 e 293, emitidas por Light Serviços de Eletricidade S/A (CNPJ 60.444.437/000146). A essencialidade da energia elétrica para o processo produtivo é objeto do item 9.18 do laudo. Assim, solicitase a autoridade fiscal que faça a conciliação dessas notas, DOC. 13 do recurso voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), com a escrituração da Recorrente, com vistas a atestar a legitimidade do creditamento com base nesses documentos. DAS DESPESAS COM ALUGUÉIS DE PRÉDIOS LOCADOS DE PESSOAS JURÍDICAS Relata a fiscalização que: O contribuinte foi intimado, em 24/12/2013 e 29/04/2014 a apresentar as memórias de cálculo de TODAS AS RUBRICAS do Dacon. Nas referidas intimações, a Fiscalização foi expressa em indicar que a rubrica Aluguéis de Prédios Locados de Pessoas Jurídicas deveria conter o detalhamento das locações em questão, contendo “CNPJ do Locador”; “Razão Social do Locador”; "Endereço do Imóvel Locado"; "Descrição do Imóvel Locado"; “Finalidade do Imóvel Locado”; "Valor Original do Contrato de Locação"; “Valor do Aluguel Pago no Mês”; "Data do Pagamento do Aluguel"; “Base de Cálculo para fins de Créditos”; e “Alíquota Aplicável” (Termo de Início de Diligência Fiscal; e Termo de Intimação Fiscal Número 2 20140429; fls. 239 a 246; e fls. 496 a 501). Nas diversas oportunidades em que trouxe como resposta às intimações as memórias de cálculo, o contribuinte apresentou planilhas de aluguéis de prédios incompletas furtandose a apresentar na relação a identificação do imóvel locado, e dados elementares, como o endereço do imóvel locado, sua descrição e finalidade, bem como os valores originais de locação e o valor efetivamente pago. Fl. 2886DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.887 46 De qualquer sorte, analisamos a planilha apresentada em 16/05/2014 e constatamos que o contribuinte apura créditos de aluguéis de imóveis oriundos de contratos firmados com três locadores distintos, quais sejam, Maconetto Empreendimentos Imobiliários SC Ltda, CNPJ nº 02.479.601/000154; Patriarca Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ nº 74.192.097/000118; e Nestle Brasil Ltda, CNPJ nº 60.409.075/000152. As operações firmadas com o locador Maconetto Empreendimentos Imobiliários SC Ltda, CNPJ nº 02.479.601/000154 são meramente descritas como “Serv. Leasing Locação de Imóvel” e, tendo em vista a COMPLETA AUSÊNCIA de informações acerca do endereço, descrição ou finalidade do imóvel locado, não permitem constatar se os valores referemse de fato a uma locação de imóvel, de modo que foram integralmente glosados (Termo de Anexação de Arquivo Não paginável Memórias de Cálculo Dacon Parte 1; fl. 538). Já as operações firmadas com o locador Patriarca Empreendimentos e Participações Ltda, CNPJ nº 74.192.097/000118, além de incorrerem no mesmo problema anterior, de ausência de informações elementares para a identificação do imóvel locado, são descritas como “Serv. Administração Imobiliária”, restando evidente que não se referem de fato a locação de imóvel, e, sim, de serviços imobiliários acessórios à locação. Essas operações também foram integralmente glosadas (Termo de Anexação de Arquivo Nãopaginável Memórias de Cálculo Dacon Parte 1; fl. 538). Por outro lado, as operações firmadas com o locador Nestle Brasil Ltda, CNPJ nº 60.409.075/000152, foram descritas como “Aluguel predial”, de modo que os correspondentes contratos de locação foram requeridos pela Fiscalização acompanhados dos demonstrativos atualizados das despesas de aluguel bem como os respectivos comprovantes de pagamento (Termo de Anexação de Arquivo Não paginável Memórias de Cálculo Dacon Parte 1; e Termo de Intimação Fiscal Número 3 20140527; fl. 538; e fls. 540 a 556). O contribuinte apresentou em 03/06/2014 os contratos de aluguel a contento, por meio dos quais constatamos que se referem de fato a dois imóveis locados pelo sujeito passivo. Contudo, deixou de apresentar uma parte relevante dos recibos com os comprovantes de pagamento, bem como quase que a integralidade dos demonstrativos dos valores atualizados das despesas de aluguel (Documentos Diversos Outros 20140603 Resposta Intimação Protocolo; e Termo de Anexação de Arquivo Nãopaginável 20140603 Resposta à Intimação Mídia; fls. 557 a 573). Ademais, não foi possível encontrar correspondência entre quaisquer um dos recibos com os comprovantes apresentados e os valores inicialmente demonstrados pelo sujeito passivo em suas memórias de cálculo, tendo em vista que os valores de face dos recibos e os informados nas planilhas não coincidiam ou sequer eram compatíveis entre si. Anexados a alguns recibos de pagamento, o contribuinte apresentou demonstrativos com a discriminação fornecida pelo locador com todas as rubricas que compõem o montante devido pelo sujeito passivo ao Fl. 2887DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.888 47 locador, e notamos pela análise destes documentos que apenas uma parcela do valor total devido referese, de fato, à locação do imóvel (Documentos Diversos Outros 20140603 Demonstrativos Despesas Aluguel Mensal, fls. 697 a 722). As demais rubricas se referem a despesas acessórias com energia elétrica; malote; telefone; despesas legais e com impostos diversos; ginástica laboral; cantina e alimentos; serviços de manutenção em câmaras/incêndio/predial; manutenção e reparo de móveis e utensílios; serviço de manutenção e limpeza em geral; serviço de segurança ambiental; manutenção de câmaras (peças e materiais); correio; IPTU; pagamento de alvará de funcionamento; e nobreak (Documentos Diversos Outros 20140603 Demonstrativos Despesas Aluguel Mensal, fls. 697 a 722). As despesas acima não integram o valor do aluguel e, portanto, não ensejam direito ao crédito das contribuições, de forma que, para compor a base de cálculo da rubrica em questão, consideramos exclusivamente os valores descritos como “Aluguéis Filiais” nos demonstrativos apresentados pelo sujeito passivo. Nos meses em que o contribuinte apresentou apenas o recibo, comprovante de pagamento total, sem o demonstrativo com a discriminação e individualização das rubricas componentes da despesa total de aluguel, estimamos a parcela referente ao valor do aluguel propriamente dito obtendo a média aritmética dos meses em que houve apresentação, tendo em vista que os valores mostravam pouca variação mês a mês. Vale dizer que, nos meses em que não houve apresentação do demonstrativo com a discriminação da despesa total de aluguel e do correspondente recibo, comprovante do pagamento total efetuado, a base de cálculo considerada foi nula, por falta de comprovação do crédito pleiteado. Ressaltase que no dia 06/06/2014, o contribuinte apresentou uma série de comprovantes de transferência ou depósitos bancários em nome do locador que serviram, em tese, para liquidar as despesas de aluguel. No entanto, mais uma vez os valores em questão não coincidiam ou sequer eram compatíveis com os valores apresentados nas planilhas com as memórias de cálculo, não sendo possível assegurar se referem se, de fato, à liquidação de aluguéis. Esses documentos bancários foram integralmente desconsiderados pela Fiscalização (Documentos Diversos Outros 20140606 Resposta Intimação SVA; Documentos Diversos Outros 20140606 Resposta Intimação Comprovantes Aluguel; e Termo de Anexação de Arquivo Nãopaginável 20140606 Resposta Intimação Planilha Aluguel; fls. 574 a 685). BASE DE CÁLCULO RECONSTITUÍDA PELA FISCALIZAÇÃO DAS DESPESAS COM ALUGUÉIS DE PRÉDIOS LOCADOS DE PESSOAS JURÍDICAS Para compor a base de cálculo de créditos para a rubrica em questão, desconsideramos a planilha com a memória de cálculo inicialmente apresentada à Fiscalização e consideramos exclusivamente os valores descritos como “Aluguéis Filiais” nos demonstrativos com a Fl. 2888DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.889 48 discriminação das despesas de aluguel apresentados pelo sujeito passivo. Nos meses em que houve apresentação apenas dos comprovantes, sem a discriminação que pudesse identificar a parcela relativa, de fato ao aluguel, estimamos esse valor com a utilização da média aritmética dos valores disponíveis, tendo em vista que apresentavam pouca variação mês a mês. Seria temerário admitir e aceitar a integralidade do crédito pleiteado, tendo em vista que o sujeito passivo evidenciou, quando da apresentação dos demonstrativos com as discriminações fornecidas pelo locador, que apenas uma parte daqueles valores referese, de fato, a despesas de aluguel. Nos meses em que não houve apresentação nem da discriminação nem dos comprovantes de pagamento de aluguel, o valor considerado foi nula. Vale ressaltar que não há o que se falar em planilha de valores glosados tendo em vista que a memória de cálculo fornecida pelo sujeito passivo foi integralmente desconsiderada pela Fiscalização para apurar a base de cálculo de créditos e que a apuração se deu exclusivamente com base nos comprovantes de pagamento e demonstrativos com a discriminação das despesas de aluguel apresentados em 03/06/2014. Quanto a essas despesas, o laudo afirma: 9.19. CRÉDITOS DE ALUGUÉIS DE PRÉDIOS Em visita à empresa, verificamos que prédios locados pela empresa tiveram como finalidade a expansão do seu prédio produtivo, de modo a proporcionar o aumento da produção já realizada pela empresa. Concluímos que os prédios foram locados com autorização do o art. 3º, IV, das Leis 10.637/02 e 10.833/03, além da sua finalidade ser de proporcionar o aumento do processo produtivo. No recurso voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), DOC. 14 e 15, a Recorrente anexou contratos e recibos de pagamento de aluguel. Apresentou o contrato de locação firmado com a empresa Maconetto Empreendimentos Imobiliários Ltda, CNPJ 02.479.601/000154, bem como os comprovantes de pagamento de aluguéis: Fl. 2889DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.890 49 Ademais, junta cópia do contrato de locação firmado com a empresa Patriarca Empreendimentos e Participações Ltda, bem como os comprovantes de pagamento: Observase que os referidos imóveis são conjuntos comerciais em edifícios comerciais. Quanto aos contratos com a Nestlé, apenas afirma o desacerto da fiscalização, sem novos elementos. Logo, não tal rubrica não compõe a presente diligência. Fl. 2890DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.891 50 DAS DESPESAS COM ALUGUÉIS DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS LOCADOS DE PESSOAS JURÍDICAS Relata a fiscalização: O contribuinte foi intimado, em 24/12/2013 e 29/04/2014 a apresentar as memórias de cálculo de TODAS AS RUBRICAS do Dacon. Nas referidas intimações, a Fiscalização foi expressa em indicar que a rubrica Aluguéis de Máquinas e Equipamentos Locados de Pessoas Jurídicas deveria conter o detalhamento das locações em questão, contendo “CNPJ do Locador”; “Razão Social do Locador”; "Descrição do Bem Locado"; “Finalidade do Bem Locado no Processo Produtivo”; "Valor Original do Contrato de Locação"; “Valor do Aluguel Pago no Mês”; "Data do Pagamento do Aluguel"; “Base de Cálculo para fins de Créditos”; e “Alíquota Aplicável” (Termo de Início de Diligência Fiscal; e Termo de Intimação Fiscal Número 2 20140429; fls. 239 a 246; e fls. 496 a 501). A despeito do solicitado, nas diversas oportunidades em que trouxe como resposta às intimações as memórias de cálculo, o contribuinte apresentou planilhas de aluguéis de bens incompletas furtandose a apresentar na relação dados elementares como a descrição do bem locado, sua finalidade, e, em alguns casos, os dados do locador, Razão Social e CNPJ. (...) De qualquer sorte, analisamos a planilha apresentada e constatamos que o contribuinte tem como um de seus fornecedores a empresa LOCALIZA RENT A CAR SA, CNPJ nº 16.670.085/030496 e nº 16.670.085/009454. A referida empresa tem como atividade a locação de veículos automotores, bens que, considerada a atividade do sujeito passivo, a produção de laticínios, não se encaixam no conceito de bens utilizados nas atividades da empresa e, portanto, foram integralmente glosados. Glosamos também todas as operações em que não há a identificação do locador (CNPJ e Razão Social), tendo em vista que não é possível sequer verificar a natureza do locador pessoa jurídica ou física. Nas referidas operações também não há a descrição do bem locado e foram identificados pelo contribuinte apenas como “LEASING” ou como “N/D”, além de não ter a identificação do número do documento (nota fiscal ou contrato) que lastreia e ampara o crédito pleiteado, ou seja, não há quaisquer informações que possibilitem a identificação e análise de procedência dos créditos calculados em relação a essas operações. Em recurso voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), a Recorrente informa que juntou, por amostragem, DOC. 16, os pedidos de serviços e faturas de locação de bem móvel, em que é possível verificar com clareza o tipo de bem locado, a finalidade e valores envolvidos. Fl. 2891DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.892 51 O laudo trata da locação de máquinas, nos tópicos 9.20 e 9.21: 9.20. CRÉDITOS DE ALUGUÉIS DE MÁQUINAS Consistem na locação de impressoras da marca Markem Imaje nas quais, são utilizadas para a datação de produtos terminados. Sem as impressoras seria impossível realizar processo automático de impressão da data de fabricação, validade, código de barras e lote na embalagem em cada produto final, impossibilitando, por corolário lógico, a continuação da produção e a sua comercialização. Como no item Serviços de Locação de Equipamentos de Telecomunicação citado acima o intuito desta atividade é manter desta forma o controle exigido órgãos governamentais tais como: Departamento Nacional de Inspeção de Produtos de Origem Animal – DIPOA, da portaria 4 de 03 de janeiro de 1978 no capítulo 7 – Rotulagem e Particularidades; Portaria Inmetro n° 157, de 19 de agosto de 2002 na qual estabelece a forma de expressar a indicação quantitativa do conteúdo líquido dos produtos tais como: prémedidos, conteúdo nominal ou conteúdo líquido, indicação quantitativa, peso drenado, rotulagem e vista principal. 9.21. CRÉDITOS DE ALUGUÉIS DE MÁQUINAS – LOCAÇÃO DE AUTOMÓVEIS Conforme o fluxograma do item 8, destacamos a comercialização como a etapa do processo produtivo antecedente ao frete de venda. Em visita à empresa, verificamos que há a locação de automóveis para proporcionar visita comercial a clientes, de modo que a locação de automóveis está ligada à atividade comercial da empresa. Considerando que, sem a atividade comercial, não haveria venda da produção, concluise que faz parte do ciclo produtivo. O laudo não veio acompanhado da indicação das notas fiscais das impressoras Markem Imaje, tampouco com contratos. Já no recurso voluntário, a Recorrente junta poucas faturas da Markem Imaje e pedidos de serviço. Por outro lado, as faturas se referem ao contrato 0040013367 de 15/03/2011 que não foi juntado aos autos. Já quanto às despesas com a Localiza, essas são efetuadas para proporcionar visita comercial, desnecessários outros esclarecimentos. Logo, tal rubrica está fora do objeto da diligência. DAS DESPESAS DE ARMAZENAGEM E FRETES NA OPERAÇÃO DE VENDA Relata a autoridade fiscal: Fl. 2892DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.893 52 Ocorre que, em 15/01/2014, o sujeito passivo informou que possui mandado de segurança (MS nº 2008.61.00.002577 0) versando sobre a possibilidade de apuração de créditos da não cumulatividade do PIS/PASEP e da COFINS nas operações de fretes entre estabelecimentos da pessoa jurídica, com decisão favorável ao contribuinte (Documentos Diversos Outros 20140115 Resposta Intimação Info Mandado Segurança; fl. 264). Em 23/01/2014, apresentou a Certidão de Objeto e Pé relativa ao MS nº 2008.61.00.0025770 contendo o teor da decisão judicial, que julgou procedente o pedido e concedeu a segurança postulada, assegurando ao sujeito passivo impetrante o direito de manter e deduzir integralmente os créditos de PIS e COFINS calculados sobre as despesas com armazenagem e fretes nas transferências de mercadorias entre seus estabelecimentos, com vistas à posterior venda a terceiros (Documentos Diversos Outros 20140123 Certidão de Objeto e Pé Mandado Segurança; fls. 486 e 487). Sobre o teor da decisão, vale, de antemão, traçar os limites de seu alcance uma vez que garante ao contribuinte o direito de manter e deduzir os créditos de PIS de COFINS, não se estendendo o direito garantido à seara do ressarcimento e da compensação, institutos plenamente distintos daqueles. A dedução é inerente aos tributos não cumulativos e indissociável dessa sistemática, elemento básico de operacionalização da própria não cumulatividade, que permite alcançar o objetivo primário do instituto, qual seja, a anulação do quantum de tributo incidente na operação anterior, desonerando as etapas posteriores da cadeia de um produto. Diferente instituto é a compensação, que, autorizada por lei, é benefício fiscal concedido nos rigorosos limites da norma instituidora. O direito à compensação não se estende a qualquer crédito apurado com base na nãocumulatividade de um tributo, como ocorre com a dedução, pelo contrário, são garantidos única e exclusivamente nos casos expressamente previstos em lei, como o direito à compensação de créditos vinculados a receitas de exportação, autorizados pelas normas contidas no art. 5º, §§ 1º e 2º, da Lei n° 10.637, de 2002, e no art. 6º, §§ 1º e 2º, da Lei n° 10.833, de 2003. Sobre o assunto, vale ressaltar o disposto no art. 74, § 12, II, d, da Lei nº 9.430, de 1996, que determina que “será considerada não declarada a compensação nas hipóteses em que o crédito seja decorrente de decisão judicial não transitada em julgado”. Nesse sentido, é mister para o presente exame apurar se o crédito ora pleiteado engloba efetivamente as operações discutidas judicialmente ou se os valores discutidos judicialmente foram excluídos do pedido administrativo. Isso porque, acaso existam créditos apurados sobre transferências de mercadorias ou produtos inacabados entre estabelecimentos da pessoa jurídica, os referidos créditos, em obediência ao art. 74, § 12, II, d, da Lei nº 9.430, de 1996, devem ser excluídos da base de cálculo dos créditos em que se baseiam as compensações, ainda que, por força de decisão judicial, devam permanecer na contabilidade do sujeito Fl. 2893DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.894 53 passivo e continuar disponível para a dedução das contribuições devidas. Nesse sentido, o contribuinte foi intimado, em 24/12/2013, a apresentar as memórias de cálculo de TODAS AS RUBRICAS do Dacon. Na referida intimação, a Fiscalização foi expressa em indicar que a rubrica Despesas de Armazenagem e Fretes na Operação de Venda deveria conter o detalhamento das operações em questão, contendo “Mês de Referência”; “Data de Apropriação do Crédito”; “Descrição da Operação (Armazenagem / Frete Venda / Frete Insumos / Frete entre Estabelecimentos)”; “CFOP da Operação”; “Número da Nota Fiscal”; "Data da Nota Fiscal"; “CNPJ do Fornecedor do Frete/Armazenagem”; “Razão Social do Fornecedor do Frete/Armazenagem”; "CNPJ do Remetente"; "Razão Social do Remetente"; "CNPJ do Destinatário"; "Razão Social do Destinatário"; "Número do Item/Bem Transportado"; "Código do Item/Bem Transportado"; “Classificação Fiscal TIPI do Item/Bem Transportado”; "Descrição do Item/Bem Transportado"; “Valor da Nota Fiscal”; “Base de Cálculo para fins de Créditos”; e “Alíquota Aplicável” (Termo de Início de Diligência Fiscal; fls. 496 a 501). A despeito do solicitado, nas oportunidades em que apresentou resposta à intimação supra, a saber, em 15/01/2014, 23/01/2014, 06/05/2014 e 16/05/2014, o contribuinte apresentou planilhas de armazenagem e fretes incompletas furtandose a apresentar alguns dados elementares à correta validação dos créditos pleiteados, quais sejam a “Descrição da Operação (Armazenagem / Frete Venda / Frete Insumos / Frete entre Estabelecimentos)”, bem como o "CNPJ do Remetente", a "Razão Social do Remetente", o "CNPJ do Destinatário" e a "Razão Social do Destinatário". Em função da insuficiência de dados supracitada, em 29/04/2014 reintimamos o sujeito passivo a apresentar as memórias de cálculo de TODAS AS RUBRICAS do Dacon. Na referida intimação, a Fiscalização mais uma vez foi expressa em indicar que a rubrica Despesas de Armazenagem e Fretes na Operação de Venda deveria conter o detalhamento das operações em questão, contendo “Mês de Referência”; “Data de Apropriação do Crédito”; “Descrição da Operação (Armazenagem / Frete Venda / Frete Insumos / Frete entre Estabelecimentos)”; “CFOP da Operação”; “Número da Nota Fiscal”; "Data da Nota Fiscal"; “CNPJ do Fornecedor do Frete/Armazenagem”; “Razão Social do Fornecedor do Frete/Armazenagem”; "CNPJ do Remetente"; "Razão Social do Remetente"; "CNPJ do Destinatário"; "Razão Social do Destinatário"; "Número do Item/Bem Transportado"; "Código do Item/Bem Transportado"; “Classificação Fiscal TIPI do Item/Bem Transportado”; "Descrição do Item/Bem Transportado"; “Valor da Nota Fiscal”; “Base de Cálculo para fins de Créditos”; e “Alíquota Aplicável” (Termo de Intimação Fiscal Número 2 20140429; fls.496 a 501). Novamente, a despeito do solicitado, em 03/06/2014, oportunidade em que apresentou resposta à intimação supra, o contribuinte apresentou planilhas de armazenagem e fretes igualmente incompletas, pois ainda Fl. 2894DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.895 54 não continham alguns dos dados elementares à correta validação dos créditos pleiteados, quais sejam a “Descrição da Operação (Armazenagem / Frete Venda / Frete Insumos / Frete entre Estabelecimentos)”, bem como o "CNPJ do Remetente", a "Razão Social do Remetente", o "CNPJ do Destinatário" e a "Razão Social do Destinatário". Como explicitado anteriormente, é essencial identificar em cada serviço de frete ou contratado a natureza da operação (frete sobre vendas, sobre insumos ou entre estabelecimentos) a fim de assegurar que o pedido de ressarcimento e a declaração de compensação não contemplem créditos decorrentes de operações sem amparo legal, como é o caso das transferências entre estabelecimentos da pessoa jurídica. Assim, pela completa ausência de informações relativas ao CNPJ e à Razão Social do remetente e do destinatário do frete contratado, bem como da descrição da operação em questão, o que permitiria determinar se as operações em questão podem ou não compor o crédito destinado ao ressarcimento e à compensação, glosamos a integralidade dos créditos relativos a rubrica sob análise. Informa a Recorrente que anexou ao Recurso Voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e outros processos), três planilhas, DOC. 19, relativas aos fretes de compra (aquisição), fretes entre estabelecimentos (que são objeto do mandado de segurança n° 2008.61.00.0025770 e não compõem o pedido de ressarcimento) e os fretes de venda. E ainda, que anexou cópia dos conhecimentos de transporte, bem como das notas fiscais relativas a esses conhecimentos de transportes, ao menos um jogo de documentos por mês objeto do pedido de ressarcimento em debate. No laudo, os fretes de aquisição são tratados no item 9.1, que afirma que o frete de aquisição foi tomado pela Recorrente, sendo prestado por transportadores distintos dos remetentes das mercadorias, e, para possibilitar o recebimento de insumos e embalagens adquiridos, o frete foi custado pela própria Recorrente. Já os fretes de venda foram tratados no item 9.2 do laudo, que aponta que o frete de venda foi arcado pela Recorrente, sendo prestado por transportadores distintos dos seus clientes, para possibilitar a entrega das mercadorias vendidas por ela. Sobre o frete de transferência, o laudo, no item 9.3, atesta que tais despesas não fizeram parte dos pedidos de ressarcimentos do período analisado. O laudo ratifica a planilha de segregação elaborada pela Recorrente: A empresa nos informou que produziu prova para demonstrar que os fretes de compra, os fretes de venda e os fretes de transferência estão segregados. Elaborou planilha para cada modalidade de frete, adotando os seguintes critérios: 1. Conhecimentos de frete em que terceiro consta como remetente e a DPA consta como destinatário, classificou o transporte em frete de Fl. 2895DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.896 55 compra. Em conferência da nota fiscal referenciada no conhecimento de transporte, constatou que se trata de operação de compra de insumo. 2. Conhecimentos de frete em que a DPA consta como remetente e terceiro consta como destinatário, classificou o transporte em frete de venda. Em conferência da nota fiscal referenciada no conhecimento de transporte, constatou que se trata de operação de venda de mercadoria industrializada. 3. Conhecimentos de frete em que a DPA consta como remente e como destinatária, classificou o transporte em frete entre estabelecimentos. Em conferência da nota fiscal referenciada no conhecimento de transporte, constatou que se trata de operação de mercadoria remetida em transferência. Entendo ser necessária a análise dessas planilhas, não apenas para deliberação quanto ao creditamento dos fretes de aquisição, mas também para revisar a concomitância imposta aos fretes de transferência entre estabelecimentos da Recorrente pela DRJ. Diante do descrito, solicitase à autoridade fiscal que analise as planilhas juntadas pela Recorrente no recurso voluntário, para atestar a correta segregação entre frete de aquisição, frete de venda e frete de transferência, com apoio dos conhecimentos de transporte e notas fiscais correspondentes às operações de compra, venda e transferência. DAS DEVOLUÇÕES DE VENDAS DEVOLUÇÃO DE PRODUTOS SUJEITOS À ALÍQUOTA ZERO Em 24/12/2013, o contribuinte foi intimado a apresentar planilhas digitais em formato .xls ou equivalente referentes a todos os produtos vendidos que contenham o "Gênero do Produto", a "Descrição Produto", o "Código do Produto"; a "Classificação Fiscal do Produto", a "Alíquota Aplicável nas Vendas do Produto" e o "Valor Total Vendido do Produto". A empresa apresentou a planilha requerida em 15/01/2014, da qual a fiscalização extraiu todos os produtos comercializados à alíquota zero. Aduziu a fiscalização: As Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003, permitem a apuração de créditos calculados em relação aos bens recebidos em devolução cuja receita de venda tenha integrado faturamento do mês ou de mês anterior, e tenha sido tributada. A possibilidade de apuração de créditos sobre as devoluções de vendas tem o objetivo de anular os efeitos fiscais e financeiros das vendas realizadas anteriormente e que por alguma razão foram devolvidas ao vendedor. Decidiu o legislador que, para promover a referida anulação, os valores das vendas devolvidas não devem ser abatidos da Fl. 2896DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.897 56 receita bruta e sim lançados como créditos da não cumulatividade no Dacon. Como decorrência lógica da explanação supra, é razoável entender que somente as devoluções de vendas relacionadas a operações tributadas à sua época são passíveis de apuração de créditos. Não impor tal restrição promoveria um enriquecimento ilícito por parte do contribuinte que calcularia créditos da não cumulatividade em operações relacionadas a vendas nas quais não houve “débitos” correspondentes. Nesse sentido, os referidos diplomas legais foram expressos em condicionar a admissibilidade de apuração de créditos calculados sobre as devoluções de vendas à efetiva tributação das receitas oriundas das vendas ora devolvidas. Então, foram glosados da base de cálculo os lançamentos relacionados a devoluções dos produtos sujeitos à alíquota zero. Entende a Recorrente que, como os bens em devolução sofreram pagamento de tributo na sua venda, é legítima a apropriação dos créditos de PIS e COFINS, nos casos em que houve a devolução. Alega que o DACON demonstraria que tais bens foram tributados na venda. Não foram trazidos novos elementos em recurso voluntário, de forma que tal item não é objeto da diligência. OPERAÇÕES RELATIVAS A EMISSÃO DE NOTA FISCAL COMPLEMENTAR DE PREÇO Foram glosados os créditos calculados em relação aos documentos fiscais nº 5062 e 5063, emitidos por Nestle Brasil Ltda., tendo em vista que os mesmos não se referem a devoluções de vendas e sim a emissões fiscais complementares de preço, praticadas com o objetivo de realizar correções financeiras decorrentes de alteração de valor ou erro em preenchimento no documento fiscal anterior. A fiscalização relatou que nas planilhas disponibilizadas pelo contribuinte, não há quaisquer informações a respeito dos itens constantes desses documentos fiscais complementares, sua descrição, classificação fiscal, alíquota aplicável, ou qualquer outra forma de identificar os itens supostamente devolvidos, de modo que não é possível assegurar que o crédito pleiteado, amparado pelos referidos documentos, é realmente procedente. A Recorrente defende que essas duas notas não foram lançadas como notas complementares de preço, mas como estorno de lançamento em duplicidade, foram lançadas como devolução. Faz indicações de lançamentos contábeis que demonstrariam tal situação, contudo junta ao recurso apenas as próprias notas fiscais. Sem fatos novos, não é esse item objeto da diligência. DAS OUTRAS OPERAÇÕES COM DIREITO A CRÉDITO Foram glosados a integralidade dos créditos pleiteados pelo contribuinte sob a rubrica “Outras Operações com Direito a Crédito”, devido à falta de comprovação do crédito, Fl. 2897DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.898 57 foram glosados integralmente os créditos lançados sob a rubrica “Outras Operações com Direito a Crédito”, na linha 13, nos meses de 02/2012 e 03/2012, por insuficiência de dados e documentos comprobatórios do crédito pleiteado, e nos meses de 12/2010, 12/2011, 01/2012, 04/2012 e 05/2012, por ausência total de quaisquer dados, documentos ou esclarecimentos a respeito do crédito pleiteado. A Recorrente culpou o grande volume dos documentos, todavia nada de novo trouxe aos autos. Dessa forma, esse item não é objeto da diligência. Conclusão Por todo o exposto e considerando: a) a unidade de julgamento dos 33 processos da Recorrente (para PIS e COFINS, bem como diversos trimestres de apuração) e b) os documentos juntados no recurso voluntário do processo n° 12585.000324/201083 (e também neste e nos outros processos conexos), voto por converter o julgamento em diligência à unidade de origem para que a autoridade fiscal: 1 Por ser o laudo n° 59/2018 fato novo, que se manifeste a autoridade fiscal sobre ele; 2 Quanto à aquisição de leite fresco, analise os documentos indicados pela Recorrente para verificar, se: a) o transporte do leite foi feito por terceiros, que não a Recorrente ou fornecedor; b) as notas fiscais indicadas contêm a informação de “venda com suspensão” e c) se foram cumpridos os requisitos para suspensão, dispostos na IN n° 660/06; 3 Quanto a aquisição de GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO BOT, GÁS LIQUEFEITO PETRÓLEO EM BOTIJÃO 45 KG e GÁS LIQUEFEITO PETRÓLEO BOTIJÃO 20KG EMP, verifique a possibilidade de segregação entre as aquisições para área administrativa e para o processo produtivo da Recorrente; 4 Quanto à NF n° 013645, da Logoplaste do Brasil Ltda., verifique se essa nota foi lançada corretamente, no valor de R$ 4.663,40, em virtude do erro de preenchimento alegado pela empresa; 5 Quanto à contratação de mão de obra, coteje as notas fiscais juntadas e as indicadas no recurso voluntário, no DOC. 10 e 11, e o laudo, bem como os demais elementos que constam nos autos para atestar se tal mão de obra foi aplicada no processo produtivo da Recorrente; 6 Quanto às despesas de energia elétrica, faça a conciliação das notas, DOC. 13 do recurso voluntário, com a escrituração da Recorrente, com vistas a atestar a legitimidade do creditamento com base nesses documentos; 7 Quanto às despesas de fretes, analise as planilhas juntadas pela Recorrente no recurso voluntário, para atestar a correta segregação entre frete de aquisição, frete de venda e frete de transferência, com apoio dos conhecimentos de transporte e notas fiscais correspondentes às operações de compra, venda e transferência; 8 Caso entenda necessário, intime o sujeito passivo para prestar outros esclarecimentos, tais como planilhas ou outros documentos; Fl. 2898DF CARF MF Processo nº 10880.944922/201349 Resolução nº 3301000.581 S3C3T1 Fl. 2.899 58 9 Cientifique a interessada do resultado da diligência, concedendolhe prazo para manifestação; e 10 Retorne os 33 processos juntos ao CARF para julgamento. (assinado digitalmente) Semíramis de Oliveira Duro Relatora Fl. 2899DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11070.721069/2012-13
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 06 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue May 22 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/11/2009 a 31/07/2010
NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA.
Não se configurando nenhuma das hipóteses arroladas no art. 59 do Decreto 70.235, de 1972 que rege o processo administrativo fiscal, e estando o auto de infração formalmente perfeito, com a discriminação precisa do fundamento legal sobre que determina a obrigação tributária, os juros de mora, a multa e a correção monetária, revela-se inviável falar em nulidade, não se configurando qualquer óbice ao desfecho da demanda administrativa, uma vez que não houve elementos que possam dar causa à nulidade alegada.
GLOSA. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. VEDAÇÃO À COMPENSAÇÃO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO JUDICIAL.
Constatada a compensação de valores efetuada indevidamente pelo Município ou em desacordo com o permitido pela legislação tributária, será efetuada a glosa dos valores e constituído o crédito tributário por meio do instrumento competente, sem prejuízo das penalidades cabíveis.
É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 2301-005.190
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, pelo voto de qualidade, somente conhecer do recurso as razões respeitantes às verbas sobre subsídio dos agentes políticos; por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar e, no mérito por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário, na parte conhecida. Vencidos os Conselheiros Wesley Rocha (Relator), Alexandre Evaristo Pinto, Marcelo Freitas de Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato, que conheciam do recurso em maior extensão. Designado por fazer o voto vencedor o conselheiro João Maurício Vital.
(assinado digitalmente)
João Bellini Junior Presidente
(assinado digitalmente)
Wesley Rocha - Relator
(assinado digitalmente)
João Maurício Vital - Redator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Andréa Brose Adolfo, João Maurício Vital, Alexandre Evaristo Pinto, Marcelo Freitas de Souza Costa, Antônio Savio Nastureles, Juliana Marteli Fais Feriato e Wesley Rocha.
Nome do relator: WESLEY ROCHA
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IMPROCEDÊNCIA. Não se configurando nenhuma das hipóteses arroladas no art. 59 do Decreto 70.235, de 1972 que rege o processo administrativo fiscal, e estando o auto de infração formalmente perfeito, com a discriminação precisa do fundamento legal sobre que determina a obrigação tributária, os juros de mora, a multa e a correção monetária, revelase inviável falar em nulidade, não se configurando qualquer óbice ao desfecho da demanda administrativa, uma vez que não houve elementos que possam dar causa à nulidade alegada. GLOSA. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. VEDAÇÃO À COMPENSAÇÃO ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO JUDICIAL. Constatada a compensação de valores efetuada indevidamente pelo Município ou em desacordo com o permitido pela legislação tributária, será efetuada a glosa dos valores e constituído o crédito tributário por meio do instrumento competente, sem prejuízo das penalidades cabíveis. É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. Recurso Voluntário Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, pelo voto de qualidade, somente conhecer do recurso as razões respeitantes às verbas sobre subsídio dos agentes políticos; por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar e, no mérito por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário, na parte conhecida. Vencidos os Conselheiros Wesley Rocha (Relator), Alexandre Evaristo Pinto, Marcelo Freitas de Souza Costa e Juliana Marteli Fais Feriato, que conheciam do recurso em maior extensão. Designado por fazer o voto vencedor o conselheiro João Maurício Vital. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 07 0. 72 10 69 /2 01 2- 13 Fl. 1231DF CARF MF 2 (assinado digitalmente) João Bellini Junior – Presidente (assinado digitalmente) Wesley Rocha Relator (assinado digitalmente) João Maurício Vital Redator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Andréa Brose Adolfo, João Maurício Vital, Alexandre Evaristo Pinto, Marcelo Freitas de Souza Costa, Antônio Savio Nastureles, Juliana Marteli Fais Feriato e Wesley Rocha. Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra Acórdão de julgamento n.º 1044.764, exarado pela 6ª Turma da DRJ em Porto Alegre (fls. 1.060 a 1.070). O Auto de Infração Debcad n.º 51.006.7735 referese a glosas de valores indevidamente compensados pelo Município em Guias de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social – GFIP’s nas competências 11/2009 a 07/2010. Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da DRJ de origem, que narra com clareza o que foi relacionado no auto de infração: a) cotas patronais indevidamente recolhidas sobre os subsídios dos exercentes de mandato eletivo com base na alínea “h” do inciso I do artigo 12 da Lei nº 8.212/1991, que são objeto da Ação Ordinária nº 2008.71.15.0013428, cuja decisão ainda não transitou em julgado; b) verbas salariais que o sujeito passivo entendia não serem integrantes da base de cálculo do Regime Geral da Previdência Social (horas extras 50%, horas extras 100%, 1/3 férias, férias média 1/3 e férias abono pecuniário). A fiscalização identificou que os códigos informados em cada verba, na planilha de fls. 44 a 46, assim como os valores, eram diferentes dos códigos e valores informados na folha de pagamento do Município de Santa Rosa; c) diferença de contribuições relativas ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, já que o sujeito passivo entendia ser devida a alíquota de 1%, e não 2%. O sujeito passivo informou a existência da Ação Ordinária nº 2004.71.15.0040694, relacionada à redução da alíquota SAT de 3% para 1%. A fiscalização relata que o sujeito passivo apresentou planilha de créditos de SAT/RAT com valores de 09/2009 a 07/2010, mas que o Município efetuou esta compensação nas competências de 10/2010 e 11/2010 com Fl. 1232DF CARF MF Processo nº 11070.721069/201213 Acórdão n.º 2301005.190 S2C3T1 Fl. 1.223 3 valores originários das competências 01/2010 a 08/2010, em virtude do FAP do Município ser fator 0,83. O montante deste crédito, consolidado em 18/05/2012, é de R$1.583.833,81 (um milhão, quinhentos e oitenta e três mil, oitocentos e trinta e três reais e oitenta e um centavos). Impugnado o lançamento, as alegações foram julgadas improcedente. Irresignada, a recorrente apresenta recurso Voluntário (fls. 1.075 a 1.097), alegando o seguinte. i) Preliminar de nulidade formal do auto de infração. Alega a recorrente que não houve a descrição devida dos fatos, em especial quanto ao "inciso III" do relatório fiscal. Informa que não é possível concluir de maneira clara as infrações cometida pela recorrente. Aduz que houve confusão da fiscalização no que diz respeito aos institutos de procedimento fiscal e processo administrativo fiscal, em especial em seus conceitos em si. Pede a nulidade por ter ocorrido ofensa à ampla defesa e contraditório. ii) no mérito alega que: a) agentes políticos: entende devida a compensação realizada, pois conforme afirma ser uma "restituição" da cota patronal de subsídios de agentes políticos no período de fevereiro de 1998 a setembro de 2004, diante da declaração de inconstitucionalidade do disposto no artigo 12, inciso I, alínea "h", da Lei 8.212/91, pelo STF no RE 351.7171/PR, sendo legítimo, segundo a recorrente, que qualquer Município possa se creditar da ilegítima cobrança previdenciária para compensação dos valores a serem pagos em competências posteriores. Entretanto, verificase que foi ajuizada ação de procedimento ordinário (n.º 2008.71.15.0013428/RS), em face da União – Fazenda Nacional, pretendendo a declaração de inexigibilidade das contribuições patronais incidentes sobre os valores pagos aos detentores de cargo eletivo antes e após a Lei nº 10.887/2004, bem como a repetição do indébito dos valores recolhidos a tal título. Contudo, segundo a recorrente o que foi posto no poder judiciário para discussão não é a compensação em si, mas a suspensão da incidência da contribuição previdenciária sobre as verbas dos agentes políticos. Compreende a recorrente que não renunciou ao direito de contestar administrativamente os créditos fiscais, porque na ação judicial pretende a suspensão e não compensação. Compensação essa que a recorrente entende ser devida em razão do já descrito acima, pois o STF teria declarado inconstitucional o dispositivo aplicado e o Município compreendeu ser devido compensar os valores futuros. b) Verbas de natureza indenizatórias: entende ser indevido a incidência das contribuições previdenciárias sobre as seguintes verbas: i) terço constitucional; ii) adicional de horas extras, iii) férias proporcionais indenizadas; iv) abono pecuniário. Cita jurisprudência favorável a seu entendimento e processo que encontravase para julgamento no STF, especificadamente o Recurso Extraordinário 59306808/SC, que trata sobre a matéria arguida. c) Da alíquota SAT/RAT/GILRAT: a recorrente alega que deve recolher alíquota menor que a lançada, referente à diferença de contribuições relativas ao financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, correspondente à diferença entre a alíquota de 1%, declarada pelo contribuinte, e a devida de 2%. Fl. 1233DF CARF MF 4 Por fim, informou a recorrente que havia divergência entre os valores declarados e os valores efetivamente recolhidos, o que ensejou a realização de diligência por meio da Resolução n.º 2301000.569, de janeiro de 2016, os quais tinham por objetivo os seguintes questionamentos, conforme quesitos lançados pela Relatora Luciana de Souza Espíndola Reis: "Diante do exposto, entendo que o processo não está em condições de ser apreciado, carecendo, antes, de manifestação motivada e conclusiva da autoridade lançadora quanto ao aqui exposto, mediante esclarecimento dos seguintes pontos: a) informar se as GFIPs do período foram retificadas, passando a contemplar os fatos geradores objeto do recolhimento a maior. Em caso afirmativo, esclarecer se subsistem recolhimentos a maior do que o declarado na GFIP retificadora. b) informar se há diferenças entre GFIP e GPS que foram objeto de compensação pela Recorrente. Em caso afirmativo, demonstrar, para cada competência da compensação, o período do indébito e o valor compensado. c) informar se o recolhimento em valor superior ao declarado foi aproveitado para redução do valor glosado neste auto de infração, em outro lançamento tributário ou foi objeto de pedido de restituição. d) se for o caso de se aproveitar este específico crédito do contribuinte para reduzir o valor glosado da compensação, elaborar planilha de valores demonstrando, por competência, o crédito do contribuinte a ser considerado e o valor retificado da glosa". As diligências retornaram positivas, conforme se constata das fls. 1.122 a 1.217, sendo que as respostas aos quesitos encontramse nas fls. 1.208 a 1.210. Com a conclusão foi dado ciência ao Município de Santa Rosa, com prazo de 30 dias para manifestação sobre o Relatório, sendo que não houve nenhuma manifestação ou impugnação do levantamento feito. É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Wesley Rocha Relator DO CONHECIMENTO PARCIAL DO RECURSO PELO COLEGIADO Inicialmente, cabe tecer algumas considerações sobre o conhecimento do recurso, que foi recebido em partes pelo colegiado. A recorrente alegou em seu recurso que as contribuições não deveriam ser cobradas sob as seguintes exigências: " a) terço constitucional de férias; b) adicional de horas extras; c) férias proporcionais indenizadas, e; d) abono pecuniário." Fl. 1234DF CARF MF Processo nº 11070.721069/201213 Acórdão n.º 2301005.190 S2C3T1 Fl. 1.224 5 Ocorre que, com a processo em julgamento pelo colegiado restou vencido o entendimento deste relator que conhecia dessa parte específica do recurso, e que pretendia dar provimento a ele, no caso de se constatar eventualmente as verbas mencionadas, quando do processamento da decisão pela Delegacia da Receita Federal. Isso porque, não foi possível localizar no processo de maneira clara as verbas alegadas pela recorrente, e que supostamente não teriam sido objeto de autuação. Assim, os termos do voto vencido foram esses: "DA INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE VERBAS INDENIZATÓRIAS No que se refere à incidência previdenciária sob verbas indenizatórias, alega a recorrente que não deveria ser cobrada sob as seguintes exigências: " a) terço constitucional de férias; b) adicional de horas extras; c) férias proporcionais indenizadas, e; d) abono pecuniário." Férias indenizadas e respectivo terço constitucional. Férias usufruídas. Entende a recorrente que são verbas de natureza indenizatória, e portanto, não deveriam estar sendo exigidas da contribuinte, por ser ilegal a referida cobrança. Junta decisões favoráveis ao seu entendimento, e compreende, portanto, ser possível a compensação dos valores, que supostamente teriam sido recolhidos. Por outro lado, A DRJ de origem entendeu não ser possível qualquer tipo de compensação, uma vez que não se constatou recolhimentos dessa verba, que legalmente teria sido exigida, conforme parte da decisão abaixo transcrita (fls. 1067): "(...) Em uma análise por amostragem das folhas de pagamento trazidas com a impugnação (base: março/2007), foi possível identificar que o sujeito passivo não fez incidir contribuição previdenciária em relação às verbas identificadas com os códigos 502 – Férias Ab.Pecúnia e 503 – Férias Abono Pec. Como exemplo, trazse dados das folhas de pagamento de Albino Medeiros (fls. 158) e de Lourival de Lima, (fls. 793/795), correspondentes a março/2007: Albino Medeiros 1 Salário P 196,81 10 – Triênio P 68,88 35 – Adicional Tp. Serv P 29,52 39 – Insalubridade 40% P 46,67 151 – Horas Extras 50% P 50,03 152 – Horas Extras 100% P 35,77 502 – Férias Ab. Pecúnia P 295,18 503 – Férias Abono Pec. P 98,39 507 – Férias P 590,37 508 – Media Férias P 154,48 514 – Descanso Remunera P 12,71 516 – Férias 1/3 P 196,79 538 – Férias Media 1/3 P 51,49 (...) 1117 – FGTS Efetivo Folh F 114,68 1158 – Dependentes IRRF F 132,05 1382 – FGTS Efetivo Folh F 114,68 3120 – B. IRRF (Folha) F 440,39 Fl. 1235DF CARF MF 6 3120 – B. IRRF (Férias) F 993,13 3121 – B. INSS (Folha) F 440,39 O código 3121, que representa a base para o INSS, decorrente da folha, corresponde ao somatório das verbas salário (1), triênio (10), hora extra (11), adicional por tempo de serviço (36) e insalubridade (39). Embora tenha para o IRRF (código 3120), não existe indicação na folha de pagamento de base para o INSS correspondente a férias. Além disso, também é possível observar que não houve o cálculo da contribuição previdenciária patronal em relação aos códigos 507 – Férias, 508 – Média Férias, 516 – Férias 1/3 e 538 –Férias Media 1/3, que são verbas que deveriam ter sido tributadas. O sujeito passivo não informou qual seria o código das férias indenizadas pagas na rescisão, não tendo sido localizada tal rubrica na planilha que embasou o lançamento e nem na amostra das folhas de pagamento analisada. Portanto, improcedentes os argumentos do sujeito passivo, já que não restou comprovada a existência de crédito em relação a férias indenizadas e a valor pago a título de abono de férias na forma dos artigos 143 e 144 da CLT" (...)". Já o relatório de fl. 83 informa o seguinte: Portanto, consta do relatório fiscal a exigibilidade de férias sobre 1/3 de férias, sendo ele indenizado ou não. Nesse sentido, compreendo não ser o caso de aplicar o referido entendimento, já que o STJ se pronunciou de forma diversa em recurso julgado pelo rito dos recursos repetitivos, e que vem sendo aplicado às demais decisões da Corte Superior, conforme ementa in verbis: "Ementa TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS SOBRE VALORES PAGOS, NOS QUINZE PRIMEIROS DIAS DE AFASTAMENTO DO EMPREGADO DOENTE OU ACIDENTADO, E ADICIONAL DE 1/3 (UM TERÇO) DE FÉRIAS. NÃO INCIDÊNCIA. JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, CONFIRMADA NO JULGAMENTO O RECURSO ESPECIAL REPETITIVO 1.230.957/RS. APRECIAÇÃO DE ALEGADA VIOLAÇÃO A DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INVIABILIDADE, NA VIA DE RECURSO ESPECIAL. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO À CLÁUSULA DA RESERVA DE PLENÁRIO. NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO EGIMENTAL IMPROVIDO. Fl. 1236DF CARF MF Processo nº 11070.721069/201213 Acórdão n.º 2301005.190 S2C3T1 Fl. 1.225 7 I. Tanto no que diz respeito ao valor pago pelo empregador, nos 15 (quinze) primeiros dias de afastamento do empregado, por doença ou acidente, assim como no que tange ao adicional de 1/3 (um terço) sobre as férias, restou pacificada a jurisprudência desta Corte, no julgamento do Recurso Especial 1.230.957/RS submetido ao rito do art. 543C do CPC, no sentido de que tais verbas não devem sofrer a incidência de contribuições previdenciárias. II. A análise de suposta ofensa a dispositivos constitucionais compete exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal, nos termos do art. 102, inciso III, da Constituição da República, sendo defeso o seu exame, no âmbito do Recurso Especial, ainda que para fins de prequestionamento, conforme pacífica jurisprudência do STJ. III. Consoante a jurisprudência do STJ, "[a] questão referente à ofensa ao princípio da reserva de plenário (art. 97 da CF) não deve ser confundida com a interpretação de normas legais embasada na jurisprudência deste Tribunal" (AgRg no REsp 1.330.888/AM, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, DJe de 21/02/2014). IV. Agravo Regimental improvido". AgRg no REsp 1353974 / RN AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 2012/02419678 Relator(a) Ministra ASSUSETE MAGALHÃES (1151) Órgão Julgador T2 SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 06/11/2014 Data da Publicação/Fonte DJe 21/11/2014. Grifouse. Diante resultado no Recurso Especial 1.230.957/RS submetido ao rito do art. 543C, do antigo CPC, consoante a necessidade de aplicar as decisões de acordo regimento interno desse Conselho, afasto a exigibilidade da contribuição previdenciária sobre 1/3 de férias. DAS OUTRAS VERBAS INDENIZATÓRIAS. ADICIONAL DE HORAS EXTRA E ABONO PECUNIÁRIO O recorrente também contesta a exigência de contribuições sociais sobre valores pagos a título de adicional de horas extras e de abono pecuniário. Nesse quesito, entendo não ser cabível considerar as alegações apresentadas, tendo em vista não se verificar quaisquer referências ou valores atinentes às citadas rubricas, tanto no próprio Relatório Fiscal, bem como nos demonstrativos de apuração das bases de cálculo das contribuições exigidas, conforme, inclusive, analisado pela DRJ de origem. Em razão disso, carece de razão o recorrente, o qual entendo ser necessário absterse quanto ao postulado". Esses foram os termos que o Relator dava conhecimento sobre a matéria de verbas indenizatórias, mas que foi vencido pelo colegiado, tendo em vista o entendimento do colegiado de não conhecer de matéria que não é objeto de atuação, nos termos do voto do redator designado. Fl. 1237DF CARF MF 8 DA PARTE CONHECIDA NO RECURSO Superada a questão, passase a analisar das matérias que foram conhecidas no recurso. DAS PRELIMINARES DA NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO A recorrente sustenta a nulidade do auto de infração, alegando que não há indicação das descrições dos fatos, necessários para lavratura do referido auto, em desobediência ao que prescreve o art. 10º, inciso III, do Decreto lei ° 70.235/72. Contudo, essa alegação foi a mesma apresentada em sua impugnação, e que de modo a analisar novamente a argumentação trazida pela recorrente não vislumbro motivos de nulidade do auto de infração, em decorrência de "não descrição dos fatos". Primeiro porque, no processo administrativo fiscal as causas de nulidade se limitam às que estão elencadas no artigo 59 do Decreto 70.235, de 1972: "Art. 59. São nulos: I – os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II – os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. § 1º A nulidade de qualquer ato só prejudica os posteriores que dele diretamente dependam ou sejam conseqüência. § 2º Na declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos alcançados, e determinará as providências necessárias ao prosseguimento ou solução do processo. § 3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. (Parágrafo acrescentado pela Lei 8.748, de 1993". Segundo, também, porque, o art. 60 da referida Lei, menciona que as irregularidades, incorreções e omissões não configuram nulidade, devendo ser sanadas se resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio: "Art. 60. As irregularidades, incorreções e omissões diferentes das referidas no artigo anterior não importarão em nulidade e serão sanadas quando resultarem em prejuízo para o sujeito passivo, salvo se este lhes houver dado causa, ou quando não influírem na solução do litígio". Nesse sentido, está pacificado em nossos Tribunais o princípio de nullité sans grief, ou seja: não há nulidade sem prejuízo. No presente caso, verificase que a recorrente teve ciência de todo os fatos que estavam sendo apontados, pois respondeu a todo questionamento da fiscalização, bem como indicou elementos solicitados para as conclusões do lançamento. Fl. 1238DF CARF MF Processo nº 11070.721069/201213 Acórdão n.º 2301005.190 S2C3T1 Fl. 1.226 9 Nesse sentido, a DRJ de origem discorreu de forma precisa os fatos que constituíram o fato gerador, estando de maneira clara o entendimento da autuação, e que a recorrente em seu recurso também se manifestou sobre o conteúdo lançado em decisão de primeira instância, conforme transcrição abaixo: "O lançamento abrange exclusivamente a glosa das compensações efetuadas pelo sujeito passivo entre 11/2009 e 07/2010. A autoridade lançadora entendeu que não ficou comprovada a origem dos créditos a que o sujeito passivo entendia ter direito. O sujeito passivo, por seu turno, teve a oportunidade de discorrer em sua defesa sobre os motivos que o levaram a efetuar as compensações, incluindo a origem dos créditos, alegações estas que estão sendo examinadas neste julgamento. Portanto, entendo que todo o procedimento administrativo, assim como o Relatório Fiscal, em conjunto com os demais elementos dos autos, permitiram que o sujeito passivo exercesse plenamente o seu direito à defesa, não havendo razão para ser decretada a nulidade do lançamento". Sobre a alegação de "confusão" dos institutos jurídicotributários do processo administrativo fiscal e do procedimento de fiscalização, a recorrente afirma que durante o lançamento e julgamento em primeiro instância houve "confusão" dos institutos, discorrendo o seguinte : "percebese claramente que a autoridade julgadora confundese na distinção entre o procedimento de fiscalização e o processo administrativo fiscal". Nesse sentido, registrase que processo administrativo fiscal é o meio que a Fazenda Pública se utiliza para cobrar legalmente seus créditos, sendo eles de natureza tributária ou não. Porém, processo administrativo não se confunde com procedimento administrativo. Processo administrativo é o conjunto de atos coordenados para obtenção de decisão sobre uma controvérsia no âmbito administrativo, enquanto procedimento administrativo é o modo de realização do processo administrativo, ou seja, é o rito processual (Américo Luís Martins da Silva, in execução da dívida ativa da Fazenda Pública, São Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2009, página 41). Verificase dos autos que os procedimentos administrativos foram devidamente realizados sem mácula ou nulidade, dentro do processo administrativo (rito processual). O PAF – processo administrativo fiscal se inicia pelo ato da fiscalização realizada pela autoridade administrativa, contemplada pelo artigo 196 do CTN, conforme transcrição abaixo: “Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligências de fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o início do procedimento, na forma da legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão daquelas”. Por meio desse procedimento é que a autoridade fazendária realiza a devida fiscalização. Assim, a autoridade administrativa tem o direito e o dever de realizar diligências que entender devido para verificar o levantamento de todas as informações necessárias, desde Fl. 1239DF CARF MF 10 que permitidas em lei, para a respectiva busca da verdade material sobre os fatos em relação a obrigação tributária a ser cumprida, podendo examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, movimentações financeiras, papéis e feitos comerciais ou fiscais dos contribuintes. Apesar das ações de fiscalização possuírem caráter investigatório e inquisitório, realizando procedimentos unilaterais, de obediência obrigatória, que não é absoluta, o desfecho do PAF alberga os princípios da ampla defesa e contraditório, pois existe nele a possibilidade do contribuinte se manifestar, impugnar, apresentar provas, e contestar todo o apontamento realizado. O PAF, como em diversos procedimentos, é constituído de fases, e nesse sentido existe uma espécie de fase não contenciosa. Para melhor explicar é de se transcrever a lição de Hugo de Brito Machado, do qual explica: "A determinação do crédito tributário começa com a fase não contenciosa, que é essencial no lançamento de ofício de qualquer tributo. tem início com o primeiro ato da autoridade competente para fazer o lançamento, com o objetivo de constituir o crédito tributário. Tal ato há de ser necessariamente escrito, e deve ser levado ao conhecimento do sujeito passivo da obrigação tributária correspondente, posto que só assim pode ser considerado completo. Em outras palavras: o ato inicial da fase não contenciosa da constituição do crédito tributário completa se quando é levado ao conhecimento do sujeito passivo da obrigação tributária, aquele contra quem o ato é praticado e tem, portanto, interesse em se manifestar contra ele". MACHADO, Hugo de Brito. Teoria Geral do direito tributário. Editora Malheiros, São Paulo, 2015, pág 411). Portanto, diferentemente do que alega a recorrente, no sentido de não haver ampla defesa e contraditório na constituição do crédito, o processo administrativo fiscal em algum momento deve ser constituído para aí sim ser contestado, se for o caso, com a finalidade de fazer coisa julgada material, consoante a reunião de um conjunto probatório. São procedimentos necessários para apurar e constatar as irregularidades e possíveis fraudes que possam vir a ocorrer no recolhimento dos tributos, em consonância com as normas imbuídas na Constituição Federal brasileira. Tal ato é conhecido como controle interno, ou auto controle, da legalidade dos tributos. Nesses termos, estando o auto de infração formalmente perfeito, com a discriminação precisa do fundamento legal sobre que determina a obrigação tributária, os juros de mora, a multa e a correção monetária, revelase inviável falar em nulidade, não se configurando qualquer óbice ao desfecho da demanda administrativa, uma vez que não houve elementos que possam dar causa à nulidade alegada. DO MÉRITO DO RETORNO DA DILIGÊNCIA E DOS CRÉDITOS ALEGADOS As diligências retornaram positivas, conforme se constata das fls. 1.122 a 1.217, sendo que as respostas aos quesitos encontramse nas fls. 1.208 a 1.210. Fl. 1240DF CARF MF Processo nº 11070.721069/201213 Acórdão n.º 2301005.190 S2C3T1 Fl. 1.227 11 O Município recorrente, após ser intimado para se manifestar, quedouse inerte ao resultado dos procedimentos. Com isso, transcrevo as respostas realizadas aos quesitos formulados pela Turma, no intuito de esclarecer as dúvidas geradas para aí sim, concluir o julgamento ora iniciado: "O Município foi intimado para informar, para cada uma das compensações realizadas em GFIP no período de 10/2006 a 03/2016, qual a origem dos créditos compensados. Apresentou em resposta a planilha de fls. 1140. Também foi solicitado à recorrente que justificasse as diferenças apresentadas no relatório CCORGFIP no período de 03/2005 a 13/2011, entre o valor declarado em GFIP e o valor recolhido em GPS. Conforme respostas apresentadas pelo Município (fls. 1144, 1146 a 1148, 1152, 1155, 1162 e 1163, 1166 e 1167, 1170, 1171, 1173 e 1186) e da análise desta auditoria (descrição pormenorizada no anexo de fls. 1194 a 1207), contatouse que não existe nenhum crédito da empresa relativamente ao relatório CCORGFIP, visto que as divergências apontadas no relatório decorrem da falta da declaração de fatos geradores que efetivamente ocorreram, mas que não foram declarados em GFIP na época própria. De acordo com a resposta do Município, a correção das GFIPs será providenciada, para incluir os fatos geradores não declarados. Grifouse. Assim, passamos a responder aos questionamentos do CARF: "a) informar se as GFIPs do período foram retificadas, passando a contemplar os fatos geradores objeto do recolhimento a maior. Em caso afirmativo, esclarecer se subsistem recolhimentos a maior do que o declarado na GFIP retificadora." As GFIPs do período não foram retificadas até o momento, para incluir os fatos geradores não declarados em época própria, mas cujas contribuições foram recolhidas em GPS. O Município informou que irá providenciar a correção das GFIPs. "b) informar se há diferenças entre GFIP e GPS que foram objeto de compensação pela Recorrente. Em caso afirmativo, demonstrar, para cada competência da compensação, o período do indébito e o valor compensado." A empresa demonstrou, nos arquivos enviados nos dias 13/05/2016 e 02/09/2016 (fls. 1140 e 1186), todas as compensações que declarou em GFIP. Embora a planilha de fls. 960, elaborada pelo Município, indique que os supostos créditos do CCORGFIP foram parcialmente compensados no período de 11/2009 a 11/2011, constatouse que não houve compensação desses valores, e que no período de 11/2009 a 07/2010 as compensações referiramse apenas a cargos eletivos. Esta informação consta também do arquivo fornecido pelo Município no dia 02/09/2016 (fls. 1186), no qual especifica que todas as compensações de 11/2009 a 07/2010 referemse apenas a agentes políticos, e que na competência 10/2011 referese a agentes políticos (R$ 114.397,28) e a pagamento indevido para a servidora Marilise Scalco (R$ 3.906,09). Fl. 1241DF CARF MF 12 Cabe destacar, quanto ao presente item, conforme demonstrado no relatório de fls. 1194 a 1207, que as diferenças apontadas no relatório CCORGFIP nos meses 09/2010 e 10/2010 foram compensadas pela empresa na competência 11/2010. c) informar se o recolhimento em valor superior ao declarado foi aproveitado para redução do valor glosado neste auto de infração, em outro lançamento tributário ou foi objeto de pedido de restituição." Não houve novos lançamentos previdenciários no Município posteriormente ao presente. Tampouco houve pedidos de restituição do Município após esta data. Assim, e considerando que nem o Relatório Fiscal, nem o Relatório de Lançamentos ou qualquer outro documento integrante do Auto de Infração indicam que foram abatidos os recolhimentos em valores superiores aos declarados (CCORGFIP), podemos afirmar que não houve tal aproveitamento. "d) se for o caso de se aproveitar este específico crédito do contribuinte para reduzir o valor glosado da compensação, elaborar planilha de valores demonstrando, por competência, o crédito do contribuinte a ser considerado e o valor retificado da glosa." Conforme demonstrado acima, não existe crédito do contribuinte decorrente do CCORGFIP, sendo as divergências ali apontadas decorrentes da omissão parcial na declaração de fatos geradores. Especificamente quanto ao crédito apontado nas competências 09 e 10/2010, este foi compensado pela empresa na competência 11/2010" Grifouse. Assim, verificase que diferentemente do alegado pela recorrente, inexistem créditos apontados nos extratos da CCORGFIP, o qual relaciona os valores informados pelo contribuinte em GFIP em períodos diferentes, uma vez que as divergências apontadas no relatório decorrem da falta da declaração de fatos geradores que efetivamente ocorreram, mas que não foram declarados em GFIP na época própria. Cumpre registrar que, conforme a resposta do item "c" da diligência, há informação que a recorrente já teria compensado suposto crédito na competência 11/2010. Assim, sem razão a recorrente quanto a possível aproveitamento para redução do valor glosado neste auto de infração. DAS RAZÕES DO RECURSO DAS CONTRIBUIÇÕES INCIDENTES SOBRE OS SUBSÍDIOS DOS AGENTES POLÍTICOS O STF declarou inconstitucional a contribuição previdenciária sobre os exercentes de mandados políticos, os chamados "agentes políticos", e a própria SRFB publicou a Portaria n.º 133/2006, autorizando o contribuinte a compensar os valores recolhidos indevidamente, o que deve ser efetuado na forma do detalhamento da IN 900/2008, consoante determinação contida no art. 89, § 4o, da Lei 8.212/91. Do período autuado, diante das informações do auto de infração e da diligência realizada verificase que possível crédito teria sido compensado pela recorrente. Fl. 1242DF CARF MF Processo nº 11070.721069/201213 Acórdão n.º 2301005.190 S2C3T1 Fl. 1.228 13 Especificamente, quanto ao crédito apontado nas competências 09 e 10/2010, este foi compensado pela recorrente na competência 11/2010, conforme informações de fl. 1.210. Por outro lado, existe um equívoco por parte da recorrente, que contamina o processo administrativo no tocante às contribuições dos agentes políticos, qual seja: a compensação indevida diante do ajuizamento de ação judicial antes do trânsito em julgado, para questionar exatamente o que foi postulado (ação de procedimento ordinário n° 2008.71.15.0013428). Por mais que a alegação da recorrente seja no sentido de afirmar que aquilo "que está em discussão ante o Poder Judiciário não é compensação das verbas a título da remuneração dos agentes políticos, e sim a suspensão das mesmas", o resultado final, em saindo vencedora, aproveitaria com certeza os interessas da recorrente. Ainda, segue a recorrente alegando que: "assim sendo, mesmo que, sob um juízo perfunctório, possam os pleitos parecer idênticos, não o são. Enquanto um diz respeito exclusivamente à suspensão de recolhimento dos valores a esse título, ou outro trata da compensação dos mesmos, razão pela qual não resta caracterizada a renúncia à via administrativa quanto ao caso em questão, devendo os valores a esse título serem homologados, vez que de pleno direito". Contudo, conforme se verifica da descrição dos fatos do auto de infração fiscal de fl. 07 o período de apuração e fiscalização foi justamente no período de ajuizamento da ação judicial que ocorreu em 2008 (período de apuração de 01/2008 a 12/2010 período do débito 11/2009 a 07 2010). Ademais, segundo o relatório da diligência, "ocorreu o trânsito em julgado da ação relativa aos cargos eletivos, Ação Ordinária n° 2008.71.15.0013428, tendo sido reconhecida a prescrição de todas as contribuições anteriores a 29/12/2003, visto que a ação foi ajuizada em 29/12/2008" (fl. 1.210). Contudo, a autuada insiste em afirmar que a legislação em vigência autoriza que o contribuinte, verificando o recolhimento indevido, compense, independentemente de decisão judicial, o valor do indébito. De fato, os normativos citados pela recorrente autorizam as compensações, desde que sejam observadas as condições ali expostas, quais sejam: que a compensação deverá ser precedida de retificação das GFIP, para excluir todos os exercentes de mandato eletivo informados, e que o direito de efetuar compensação prescreve em cinco anos, contados a partir do pagamento. Assiste razão a recorrente quando afirma que não há a necessidade de autorização prévia da administração tributária para a compensação de tributos e contribuições federais, que tenham sido recolhidos a mais ou indevidamente com futuros débitos de exações da mesma espécie, conforme o disposto no art. 66, da Lei 8.383/91, que permite o tal procedimento. No entanto, devese observar que o caráter facultativo da compensação não desobriga o contribuinte do cumprimento da legislação pertinente, no caso, o Código Tributário Nacional e a Lei 8.212/91. O que não foi a situação do presente processo. Nesse sentido, as contribuições previdenciárias, por possuírem natureza tributária, são regidas pelo Código Tributário Nacional – CTN e pelas normas previdenciárias., e o artigo 170A, do CTN, veda a compensação efetuada pela empresa: Fl. 1243DF CARF MF 14 Art.170A É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial. *(Acrescido pela Lei Complementar 104/01). Apesar de querer afastar esse dispositivo em seu recurso, a recorrente deixou de observar a legislação em vigor, e lançou de forma equivocada o direito à compensação. Assim, se a fiscalização constata que a compensação não está de acordo com a legislação tributária realiza a glosa dos valores constituindo o crédito. Nesse sentido, as compensações foram feitas antes do trânsito em julgado da ação própria ajuizada, bem como antes da decisão final do STF referente à matéria, que recebeu o recurso que trata do assunto sob o rito da repercussão geral em 2009 (RE 593068 RG, Relator(a): Min. Joaquim Barbosa, julgado em 07/05/2009, DJe094 Divulg. 21052009 Publicado em 22052009, Ementa, Vol0236108, PP01636, LEXSTF v. 31, n. 365,2009, p. 285295. Constatase que a recorrente não observou as condições para a compensação trazidas pelo Decreto e pelas INs, no que se refere à prescrição e à correção de GFIP, e a ação judicial ingressada para que não precisasse respeitar essa primeira condição, ainda não transitou em julgado. Cabe mencionar que, ao intentar essa situação pleiteada em seu recurso somada aos atos praticados, a recorrente pretende manter os agentes políticos em suas GFIPs, gerando um benefício previdenciário indevido, mas sem querer contribuir com a previdência social relativamente à remuneração paga a esses agentes, uma vez que compensou parte do crédito das contribuições recolhidas à época. Nesse sentido, a autoridade fiscal, cuja atividade é vinculada aos ditames legais, agiu em estrita observância aos normativos que regem o processo administrativo tributário, efetuando a glosa da compensação indevida, e lançando o presente débito. Assim, a pretensão da recorrente não encontra amparo legal. Conclusão Pelo exposto, voto, portanto, por CONHECER integralmente do recurso para rejeitar a preliminar de nulidade e no mérito NEGAR PROVIMENTO mantendo a exigência fiscais, uma vez que a recorrente não respeitou o disposto no artigo 170A, do CTN. (assinado digitalmente) Wesley Rocha Relator Voto Vencedor Conselheiro João Maurício Vital Redator designado Fl. 1244DF CARF MF Processo nº 11070.721069/201213 Acórdão n.º 2301005.190 S2C3T1 Fl. 1.229 15 Destaco o esclarecedor relatório do eminente relator, Dr. Wesley Rocha, que com brilhantismo didático explicou a incorreção da compensação efetuada pela Recorrente quanto aos valores relativos aos pagamentos efetuados aos agentes políticos. Todavia, declinando a mais absoluta vênia, não posso concordar com a extensão dada ao conhecimento do recurso voluntário. Eis que a Recorrente pleiteou a não incidência de contribuição previdenciária sobre verbas indenizatórias, notadamente férias indenizadas e adicional de 1/3 sobre férias. Acontece que essas matérias não foram objeto do lançamento, que ficou adstrito à glosa das compensações das contribuições incidentes sobre os subsídios aos exercentes de mandatos eletivos (efl. 60) em desacordo, como bem esclareceu o Relator, com o art. 170A do CTN. O imbróglio aconteceu porque, ao analisar as informações inicialmente encaminhadas pela Recorrente, a Fiscalização constatou que os códigos da planilha de valores compensados não correspondiam aos que estavam nas folhas de pagamento (efl. 43). Intimada a esclarecer a discrepância, a Recorrente apontou apresentou novo documento (efl. 60) a justificar as compensações, no qual discriminou os valores compensados em razão de, no seu entender, estar amparada por decisão judicial acerca da incidência de contribuição previdenciária sobre os valores pagos a agentes políticos. Aquelas informações iniciais, da planilha ou da folha de pagamento, não foram utilizadas pelo Fisco, enfim. O que, finalmente, acabou por refletir no lançamento foi apenas o último documento apresentado, ou seja, a glosa se deu tãosomente sobre as compensações relacionadas aos valores pagos aos detentores de mandato eletivo. Observese que a Recorrente, intimada, apresentou documento, encimado Mandatos Eletivos (efl. 60), em que relacionou os valores das compensações efetuadas, valores tais que são os mesmos que foram objeto das glosas (efls. 7, 8, 9, 12 e 13). A Autoridade Fiscal encarregada da diligência determinada pelo Carf, após analisar as informações prestadas pela Recorrente, chegou a igual conclusão, ou seja, de que as compensações se referiam essencialmente aos valores pagos a agentes políticos: Embora a planilha de fls. 960, elaborada pelo Município, indique que os supostos créditos do CCORGFIP foram parcialmente compensados no período de 11/2009 a 11/2011, constatouse que não houve compensação desses valores, e que no período de 11/2009 a 07/2010 as compensações referiramse apenas a cargos eletivos. Esta informação consta também do arquivo fornecido pelo Município no dia 02/09/2016 (fls. 1186), no qual especifica que todas as compensações de 11/2009 a 07/2010 referemse apenas a agentes políticos, e que na competência 10/2011 referese a agentes políticos (R$ 114.397,28) e a pagamento indevido para a servidora Marilise Scalco (R$ 3.906,09). Assim, não há como conhecer, no recurso, das matérias alheias ao crédito tributário lançado, quais sejam: 1) a incidência de contribuição previdenciária sobre verbas salariais que a Recorrente entendeu indevidas (horas extras, férias, abono pecuniário de férias e adicional de férias), e 2) a diferença de alíquota de contribuição para financiamento dos Fl. 1245DF CARF MF 16 benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho (alíquota SAT). Resta para conhecer, então, a alegação de nulidade do lançamento e, no mérito, somente compensação da contribuição incidente sobre os subsídios dos agentes políticos. João Maurício Vital Redator Fl. 1246DF CARF MF
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Numero do processo: 16095.720077/2014-31
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Feb 23 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Apr 24 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2009, 2010, 2011
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. RECURSO VOLUNTÁRIO. PRAZO. INTEMPESTIVIDADE. RECURSO NÃO CONHECIDO. RECURSO NÃO PROVIDO.
O prazo legal para interposição do Recurso Voluntário é de trinta dias, a contar da ciência do Acórdão de Impugnação. Apresentando-se o recurso fora do prazo legal sem a prova de ocorrência de qualquer causa impeditiva, o mesmo se revela intempestivo e, portanto, não pode ser conhecido.
IMPUGNAÇÃO. PROVA. ERRO DE JUNTADA. REABERTURA DO PRAZO.
Considera-se instaurado o litígio com a apresentação de petição formalizada por escrito, hábil a esclarecer de que forma as provas que a acompanham se relacionam com os fatos tributários apurados pela fiscalização, e descritos no lançamento. A impugnação não se confunde com as provas que devem instruir a defesa. Ausente a citada petição resta impossível o exercício da atividade de julgamento. Descabe imputar responsabilidade ao órgão que jurisdiciona o Contribuinte pela falta de juntada da impugnação quando os documentos que a instruiriam foram anexados ao processo vritual pelo próprio contribuinte, mediante a utilização do Programa Gerador de Solicitação de Juntada de Documentos - PGS. O prazo de impugnação é peremptório e preclusivo, e a sua prorrogação somente pode ser admitida se efetivada, de forma expressa e justificada, pela autoridade fiscal competente. Não há previsão legal de reabertura de prazo para impugnação, mesmo na hipótese de irregular expedição de nova intimação para apresentação de defesa, quando o lançamento tiver sido regularmente notificado ao sujeito passivo há mais de trinta dias.
Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2009, 2010, 2011
DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. SONEGAÇÃO E FRAUDE. INOCORRÊNCIA.
Começa a fluir o prazo decadencial no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que poderia ser lançado, quanto aos tributos sujeitos a lançamento por homologação, quando comprovada a ocorrência de fraude ou sonegação.
Numero da decisão: 1401-002.171
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, não conhecer do recurso voluntário apresentado pela Contribuinte e conhecer dos recursos voluntários apresentados pelos responsáveis solidários, para quanto a estes, negar-lhes provimento.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Lívia de Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga e Luiz Augusto de Souza Gonçalves.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DE SOUZA GONCALVES
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RECURSO VOLUNTÁRIO. PRAZO. INTEMPESTIVIDADE. RECURSO NÃO CONHECIDO. RECURSO NÃO PROVIDO. O prazo legal para interposição do Recurso Voluntário é de trinta dias, a contar da ciência do Acórdão de Impugnação. Apresentandose o recurso fora do prazo legal sem a prova de ocorrência de qualquer causa impeditiva, o mesmo se revela intempestivo e, portanto, não pode ser conhecido. IMPUGNAÇÃO. PROVA. ERRO DE JUNTADA. REABERTURA DO PRAZO. Considerase instaurado o litígio com a apresentação de petição formalizada por escrito, hábil a esclarecer de que forma as provas que a acompanham se relacionam com os fatos tributários apurados pela fiscalização, e descritos no lançamento. A impugnação não se confunde com as provas que devem instruir a defesa. Ausente a citada petição resta impossível o exercício da atividade de julgamento. Descabe imputar responsabilidade ao órgão que jurisdiciona o Contribuinte pela falta de juntada da impugnação quando os documentos que a instruiriam foram anexados ao processo vritual pelo próprio contribuinte, mediante a utilização do Programa Gerador de Solicitação de Juntada de Documentos PGS. O prazo de impugnação é peremptório e preclusivo, e a sua prorrogação somente pode ser admitida se efetivada, de forma expressa e justificada, pela autoridade fiscal competente. Não há previsão legal de reabertura de prazo para impugnação, mesmo na hipótese de irregular expedição de nova intimação para apresentação de defesa, quando o lançamento tiver sido regularmente notificado ao sujeito passivo há mais de trinta dias. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2009, 2010, 2011 AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 09 5. 72 00 77 /2 01 4- 31 Fl. 12068DF CARF MF 2 DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. SONEGAÇÃO E FRAUDE. INOCORRÊNCIA. Começa a fluir o prazo decadencial no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que poderia ser lançado, quanto aos tributos sujeitos a lançamento por homologação, quando comprovada a ocorrência de fraude ou sonegação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, não conhecer do recurso voluntário apresentado pela Contribuinte e conhecer dos recursos voluntários apresentados pelos responsáveis solidários, para quanto a estes, negarlhes provimento. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros: Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Lívia de Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga e Luiz Augusto de Souza Gonçalves. Fl. 12069DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.069 3 Relatório Trata o presente processo de Autos de Infração à legislação do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas – IRPJ, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, e das Contribuições para o Programa de Integração Social – PIS e para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins, lavrados em 12/05/2014, pela DRF Guarulhos/SP. O crédito tributário constituído importou em um total de R$ 16.370.290,08, incluídos o principal, a multa de ofício de 225% e os juros de mora devidos até a data da lavratura, haja vista as irregularidades apuradas relativamente aos anoscalendário de 2009, 2010 e 2011, descritas no Termo de Verificação e Constatação de Irregularidade Fiscal, de efls. 4.084/4.109. Deparouse a Fiscalização com omissão de receitas, apuradas a partir do confronto entre as Notas Fiscais Eletrônicas emitidas, as receitas declaradas em DIPJ e Dacon, e os valores devidos informados em DCTF. Adotou a Fiscalização como método de apuração o Lucro Arbitrado, haja vista a falta de apresentação dos livros e documentos da escrituração comercial e fiscal. Também foi objeto de imposição multa de ofício qualificada, com base na verificação da ocorrência dos seguintes fatos: (i) apresentação de declarações “zeradas” (DCTF e Dacon) em relação aos fatos geradores ocorridos nos anoscalendário 2009 e 2010, e omissão de entrega das declarações (DIPJ, DCTF e Dacon) para o anocalendário 2011; (ii) interposição fraudulenta de pessoas no quadro societário da empresa e utilização de empresas paralelas, sem condições financeiras e patrimoniais, com a finalidade de manter intacto o nome das empresas do Grupo já consolidadas no mercado, nos ilícitos praticados. O agravamento da penalidade deuse por conta da falta de atendimento às intimações para prestação de esclarecimentos. Foram incluídos no pólo passivo do lançamento diversas empresas do Grupo Empresarial, bem assim os respectivos sócios e administradores, apontados como beneficiários das fraudes e da sonegação que teriam sido perpetradas pela empresa. Os Autos de Infração constam do processo às efls. 4.110/4.204, e os Termos de Sujeição Passiva Solidária às efls. 4.249/5.040. A ciência dos Autos de Infração e dos Termos de Responsabilidade Solidária deramse conforme a tabela abaixo: Fl. 12070DF CARF MF 4 Cientificada dos Autos de Infração, a Contribuinte juntou ao processo os documentos de efls. 5.048/11.475, em 25/06/2014, conforme atestam os Termos de Fl. 12071DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.070 5 Solicitação de Juntada de efls. 5.047, 6.731, 8.408, 9.331, 9.355, 9.585 e 11.240. Tais documentos constam dos respectivos Termos de Solicitação de Juntada como “Impugnação”. Verificando que entre os documentos juntados não constava a Impugnação propriamente dita, mas tão somente as evidências que a deveriam instruir, a ARF/Suzano, à época a Unidade da Receita Federal que jurisdicionava a Contribuinte, formalizou a Intimação nº 316/2.014 (efls. 11.477), nos seguintes termos: Em 25/06/2014 foram protocolados documentos comprobatórios visando impugnar o credito tributário decorrente do auto de infração de IRPJ, MPF 0811100.2013.00004, no entanto não é possível saber o que está sendo impugnado uma vez que a petição não consta do rol de documentos. Assim sendo, fica o contribuinte acima identificado, intimado a apresentar, no prazo de 5 (cinco) dias, contados do recebimento desta intimação a petição mencionada. O não atendimento da presente fará com que a impugnação seja desconsiderada. De acordo com o Termo de Abertura de Documento de efls. 11.478, a contribuinte tomou ciência da referida Intimação em 11/09/2014, através da abertura dos arquivos correspondentes no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (Portal eCAC) através da opção Consulta Comunicados/Intimações. Na mesma data, foi formalizada a solicitação de juntada da impugnação, v. efls. 11.481/11.598, em nome de todos os sujeitos passivos, com genérica argumentação acerca da tempestividade, vazada nos seguintes termos: I – TEMPESTIVIDADE. A presente impugnação é tempestiva, uma vez que apresentada dentro do prazo legal. Por isso, é de ser conhecida. Consta do processo a informação de alteração de endereço da contribuinte para o Município de Mauá/SP – v. efls. 11610. Assim, em 05/12/2014, a nova Autoridade Preparadora (DRF Santo André/SP) se manifestou sobre a tempestividade da impugnação – v. efls. 11.612, nos seguintes termos: Ref.: Intempestividade da impugnação Informamos a V. Sa. que sua pet ição foi declarada intempestiva, razão pela qual não se instaurou o litígio administrativo. Fica o interessado intimado a pagar, no prazo de 30 (trinta) dias, contados a partir da ciência nos termos da legislação em vigor, os débitos constantes do demonstrativo em anexo. Transcorrido o prazo acima, sem que ocorra a extinção dos débitos, o processo será encaminhado à Procuradoria da Fazenda Nacional para cobrança executiva. Segundo os Termos de Abertura de Documentos (efls. 11.623 e 11.624/11.625), a contribuinte tomou ciência da intimação sobre a intempestividade da impugnação em 12 e 15/12/2014, pela abertura dos arquivos correspondentes no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (Portal eCAC), através da opção Consulta Comunicados/Intimações. Fl. 12072DF CARF MF 6 Em 12/01/2015, a contribuinte apresentou o Termo de Solicitação de Juntada (efls. 11.627) da petição de efls. 11.631/11.752, de seguinte teor: STEELMAN ALUMINIO LTDA. CNPJ: 51.568.343/000198, já qualificada nos autos, e os seguintes devedores solidários, já qualificados nos autos: CAST METAL IND.COM.DE METAIS LTDA 05.266.881/000100, INBRA IND. E COM. DE METAIS LTDA 47.914.221/000139, LATASA INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA 00.148.025/000137, LATASA RECICLAGEM LTDA 04.266.100/000115, RECICLAGEM BRASILEIRA DE ALUMÍNIO LTDA 08.874.458/000181, RBA REC. E IND. DE AL. E METAIS LTDA 12.293.421/000137, RBM REC. E IND. BRAS. DE AL. E METAIS LTDA 10.216.871/000109, 68.308.501/000173, IND. BRAS. DE REC. DE ALUMÍNIO LTDA 07.459.421/000124, CANTO DOS METAIS COM. E REC. LTDA 68.308.501/000173, MCN EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA 61.281.218/000156, CDC ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S/A 06.278.656/000157, MANOEL DO CANTO NETO CPF 321.338.04820, MARIA DOLORES MARTINEZ DO CANTO CPF 285.782.63898, MÁRIO MARTINEZ DO CANTO CPF 131.986.69804, JOSÉ ROBERTO MARTINEZ DO CANTO CPF 267.255.458 74, CLÁUDIO DO CANTO CPF 010.78032831 e ELIANE REGINA ALVES DO CANTO CPF 075.948.000877, vêm, respeitosamente, apresentar PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO / RECURSO VOLUNTÁRIO pelos fatos e motivos aduzidos. RESUMO DA IMPUGNAÇÃO AUTO DE INFRAÇÃO. GRUPO ECONÔMICO. AUTO DE INFRAÇÃO BASEADO EM AUDITORIA DA SECRETARIA DE FAZENDA ESTADUAL QUE ANALISAVA O PAGAMENTO DE ICMS E O APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS DE ICMS E POSSIBILIDADE OU NÃO DE DIFERIMENTO. RELATÓRIO DO FISCO FEDERAL QUE COPIOU OS ELEMENTOS ESTADUAIS. IMPRESTABILIDADE DAS MESMAS CONCLUSÕES QUANTO AO NÃO PAGAMENTO DE TRIBUTOS FEDERAIS. DEBATE EXTENSO NA COMPROVAÇÃO DE GRUPO ECONÔMICO QUE SE FOR CONSIDERADO ENSEJARÁ NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE DILIGÊNCIA PARA JUSTIFICAR O FLUXO DE RECURSOS ENTRE EMPRESAS DO MESMO GRUPO. DIVERSIDADE DE JUSTIFICATIVAS PARA A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA. CONVÊNIO DE RATEIO DE DESPESAS COMUNS E MÚTUO. NECESSIDADE DE BAIXA EM DILIGÊNCIA COM PEDIDO ESPECÍFICO QUANTO AOS VALORES. AUDITOR QUE CONSIDEROU GRUPO ECONÔMICO E NÃO CONSIDEROU O TRÂNSITO DE VALORES ENTRE AS EMPRESAS. CONTRADIÇÃO NA ATUAÇÃO E NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. PRELIMINAR DE DILIGÊNCIA PARA POSSIBILITAR A PERQUIRIÇÃO DO TRÂNSITO DE CAPITAIS. ATIVIDADE CONTEMPLADA COM ISENÇÃO. CONSECTÁRIOS DA BOAFÉ. VEDAÇÃO AO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM. ARBITRAMENTO. INEXISTÊNCIA DE FUNDAMENTO. FALTA DE ESCRITURAÇÃO DIGITAL. APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS AO AUDITOR. SE O AUDITOR RECONHECE QUE OS DOCUMENTOS FORAM APRESENTADOS DIRETAMENTE AO FISCAL NÃO É MOTIVO PARA DESCONSIDERAÇÃO CONTÁBIL PELA FALTA DE ENVIO DIGITAL. AUDITOR QUE TINHA ELEMENTOS PARA APURAR OS VALORES EFETIVOS. NULIDADE POR VIOLAÇÃO ÀS SÚMULAS 29 E 30 DO CARF. ARBITRAMENTO COM VALORES INDEVIDOS. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. PEDIDO PELA REDUÇÃO DE MULTA. INEXISTÊNCIA DE DOLO. VIOLAÇÃO ART. 124 DO CTN. PRECEDENTES DO CARF. Fl. 12073DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.071 7 I PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO QUANTO A REVELIA POR SUPOSTA INTEMPESTIVIDADE. Em maio de 2014 a Contribuinte recebeu uma intimação da DRJ, com Aviso de Recebimento, para apresentar impugnação à exigência fiscal ou pagar do suposto crédito tributário, no prazo de 30 dias. No dia 25/06/2014, a Contribuinte protocolizou tempestivamente, via eCAC, a impugnação e todos os documentos que demonstram a inexistência do alegado crédito. No dia 1° de julho de 2014, a Contribuinte foi surpreendida com nova intimação, para que juntasse a impugnação. Em 11 de setembro de 2014, a DRJ intimou novamente a Contribuinte para que apresentasse a Impugnação, sendo cumprido o requerido no mesmo dia. Houve, inclusive, a expedição de certidão pela DRJ informando o recebimento da devida impugnação. Entretanto, em 12 de dezembro de 2014, a Contribuinte foi surpreendida com mensagem da DRJ informando que a impugnação apresentada estaria intempestiva. Ao compulsar os autos fiscais, verificase a existência do termo de revelia, na qual foi tomada ciência também do dia 12 de dezembro de 2014, na qual consta, equivocadamente, que a Contribuinte não teria apresentado a impugnação. A questão aqui é simples: a DRJ, verificando alguma incorreção no processo digital, reabriu prazo para que a Contribuinte apresentasse a impugnação, o que foi devidamente cumprido. Não pode agora, d.m.v., se contradizer, declarando a inexistência da referida contestação em decorrência de suposta intempestividade. O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência consolidada no sentido de que a republicação/reintimação da parte, abre novamente o prazo processual, afastando a intempestividade sic: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. REPUBLICAÇÃO DE EMENTA APÓS O PRAZO PARA O RECURSO ESPECIAL. REABERTURA DE PRAZO. POSSIBILIDADE. TEMPESTIVIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO INTERNA. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO CONSIDERADO VIOLADO. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA SÚMULA N. 284 DO STF. 1. A jurisprudência desta Corte Superior já apontou no sentido de que o prazo para interposição do recurso flui a partir da última publicação da decisão a ser impugnada, de sorte que a republicação do decisum, ainda que tenha ocorrido por equívoco, tem o condão de reabrir o prazo recursal. 2. A contradição que autoriza a oposição dos embargos declaratórios é apenas aquela contradição interna, entre a fundamentação e o dispositivo do julgado, o que não se observa a partir da leitura do acórdão. Nesse sentido, existem diversos precedentes nesta Corte. 3. Não se pode conhecer do recurso pela alínea "a", tampouco pela alínea "c" do permissivo constitucional. A ausência de indicação do dispositivo considerado violado atrai a aplicação analógica da Súmula n. 284 do STF. Fl. 12074DF CARF MF 8 4. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 147.574/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/02/2013, DJe 14/02/2013 – destacouse) Da análise do precedente se extrai que a segunda intimação da DRJ reabriu o prazo para a apresentação da impugnação. E ainda: Agravo de instrumento. Tempestividade. Republicação do despacho agravado. Peça essencial. Precedentes da Corte. 1. Havendo republicação da decisão, dela começa a correr o prazo para recurso (REsp n° 281.590/MG, Terceira Turma, de minha relatoria, DJ de 28/6/04). 2. A falta de peça essencial ao julgamento do agravo, ainda que não obrigatória, conduz ao nãoconhecimento do recurso. No caso, tratando o despacho agravado da habilitação que teve como regularmente postulada, é evidente que essa peça era realmente essencial. 3. Recurso especial não conhecido. (REsp 644.979/RS, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/02/2006, DJ 05/06/2006, p. 258 destacouse) Assim, ao declarar a revelia pela intempestividade, a DRJ contraria o ordenamento jurídico brasileiro, mormente o entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça. Portanto, requerse o prosseguimento do processo administrativo ou o recebimento do presente como Recuso Voluntário a ser julgado pela instância superior ou colegiado. Haja vista a manifestação da Contribuinte quanto à tempestividade da Impugnação, o processo foi encaminhado à Delegacia da Receita Federal de Julgamento de Ribeirão Preto que proferiu o Acórdão nº 1459.820 13ª Turma, em 06 de abril de 2016. A ementa do referido Acórdão encontrase abaixo reproduzida: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2009, 2010, 2011 Impugnação. Prazo. A impugnação, formalizada por escrito e instruída com os documentos em que se fundamentar, será apresentada ao órgão preparador no prazo de trinta dias, contados da data em que for feita a intimação da exigência. A impugnação apresentada após o prazo regulamentar não tem aptidão para a instauração do litígio. Impugnação versus Provas. A impugnação hábil à instauração do litígio é uma petição, formalizada por escrito, na qual há que se falar sobre as provas, para esclarecer de que forma elas se relacionam com os fatos tributários apurados pela fiscalização, e descritos no lançamento. A impugnação não se confunde com as provas que devem instruir a defesa. Sem a articulação lingüística constante da impugnação que demonstre a vinculação entre os fatos apurados pela fiscalização e aqueles comprovados Fl. 12075DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.072 9 pelas provas apresentadas, não se instaura o contraditório, porque não há duas interpretações de fato e/ou de direito contrapostas, o que obsta o exercício da atividade de julgamento. Juntada de Impugnação. Erro. Verificado que a juntada ao processo virtual dos diversos documentos comprobatórios foi efetuada pelo próprio contribuinte, mediante a utilização do Programa Gerador de Solicitação de Juntada de Documentos PGS, no qual não há qualquer interferência da repartição no procedimento, não se pode imputar ao órgão local qualquer responsabilidade pela falta de juntada da petição de impugnação aos autos. Intimação. Reabertura de Prazo. Como o prazo de impugnação que é peremptório e preclusivo, a sua prorrogação somente pode ser admitida se efetivada, de forma expressa e justificada, pela autoridade fiscal competente. Para o lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo há mais de trinta dias não há previsão legal de reabertura de prazo para impugnação, mesmo na hipótese de irregular expedição de nova intimação, para apresentação de defesa. Impugnação Não Conhecida Sem Crédito em Litígio Segundo o Termo de Ciência por Abertura de Mensagem (efls. 11.849), a contribuinte tomou ciência da Intimação de Resultado do Julgamento de efls. 11.838 em 14/04/2016, pela abertura dos arquivos correspondentes no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (Portal eCAC), através da opção Consulta Comunicados/Intimações. MINISTÉRIO DA FAZENDA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL RFB PROCESSO/PROCEDIMENTO: 16095.720077/201431 INTERESSADO: 51568343000198 STEELMAN CONSTRUCOES LTDA TERMO DE CIÊNCIA POR ABERTURA DE MENSAGEM O destinatário teve ciência dos documentos relacionados abaixo por meio de sua Caixa Postal, considerada seu Domicílio Tributário Eletrônico (DTE) perante a RFB, na data de 14/04/2016 15:21:46, data em que se considera feita a intimação nos termos do art. 23, § 2º, inciso III, alínea 'b' do Decreto nº 70.235/72. Data do registro do documento na Caixa Postal: 11/04/2016 15:52:52 Intimação de Resultado de Julgamento Acórdão de Impugnação Darf Fl. 12076DF CARF MF 10 O Acórdão de Impugnação foi aberto pela Recorrente tão somente em 05/05/2016, como atesta o Termo de Abertura de Documento de efls. 11.850. Os responsáveis solidários foram intimados do Acórdão de Impugnação entre os dias 06/06/2016 e 14/06/2016 (vide os docs. de efls. 11.875/11.926). O Recurso Voluntário (v. efls. 11.930/12.012) foi apresentado em 24/06/2016, conforme comprova o Termo de Análise de Solicitação de Juntada de efls. 12.013. Em suas razões recursais, a Contribuinte repete os mesmos argumentos já expendidos quando da impugnação. Afinal, vieram os autos para este Conselheiro relatar e votar. É o relatório. Fl. 12077DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.073 11 Voto Conselheiro Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Relator. Preliminar de tempestividade. A DRJ/RPO julgou o processo em 06 de abril de 2016, tendo sido a decisão cientificada à contribuinte em 14 de abril de 2016 (v. efls. 11.849), pelo ECAC. Já a ciência aos responsáveis solidários foi realizada a partir do dia 06/06/2016 até o dia 14/06/2016 (vide os docs. de efls. 11.875/11.926. O Recurso Voluntário (v. efls. 11.930/12.012) foi interposto em 24/06/2016 e engloba os recursos de todos os responsáveis solidários. Em sua petição, a contribuinte sequer toca na questão da tempestividade do Recurso Voluntário, limitandose, quanto a este tema, a repetir, ipsis literis, o que já havia posto na impugnação que não foi conhecida pela DRJ/RPO, justamente por ter sido considerada intempestiva. Portanto, o Recurso Voluntário apresentado em 24 de junho de 2016, em relação à contribuinte autuada é manifestamente intempestivo, haja vista que o prazo para sua interposição já havia expirado em 16 de maio de 2016. Isto posto, meu voto é pelo não conhecimento do Recurso Voluntário em relação à contribuinte STEELMAN CONSTRUÇÕES LTDA. Já em relação aos responsáveis solidários, há que se considerar tempestivas as alegações apresentadas no recurso apresentado conjuntamente com a contribuinte STEELMAN. Entretanto, apesar de conhecer do recurso apresentado pelos responsáveis solidários, opino por sua rejeição, haja vista que não foi capaz de superar a questão que motivou o não conhecimento da impugnação, justamente a sua apresentação intempestiva. Recordo aos colegas de Turma que a Contribuinte foi cientificada da autuação em 12/05/2014 (v. efls. 4.110/4.204). Cientificada dos Autos de Infração, a Contribuinte juntou ao processo os documentos de efls. 5.048/11.475, em 25/06/2014, conforme atestam os Termos de Solicitação de Juntada de efls. 5.047, 6.731, 8.408, 9.331, 9.355, 9.585 e 11.240. Tais documentos constam dos respectivos Termos de Solicitação de Juntada como “Impugnação”. Ao verificar que entre os documentos juntados não constava a peça impugnatória, mas tão somente as evidências que a deveriam instruir, a unidade local que jurisdicionava a Contribuinte à época formalizou a Intimação de efls. 11.477, através da qual lhe alertou que não havia apresentado petição que indicasse as razões da impugnação, atribuindolhe o prazo de 05 (cinco) dias para sanear o recurso. Essa intimação deuse em 11/09/2014 e, na mesma data, a Contribuinte formalizou a juntada das razões de impugnação até então inexistentes. Neste documento, sequer tangenciou os motivos pelos quais estava apresentando a impugnação a destempo. Fl. 12078DF CARF MF 12 Em 05/12/2014, a Autoridade Preparadora (DRF Santo André/SP) se manifestou nos autos sobre a intempestividade da impugnação (v. efls. 11.612), nos seguintes termos: Ref.: Intempestividade da impugnação Informamos a V. Sa. que sua petição foi declarada intempestiva, razão pela qual não se instaurou o litígio administrativo. Fica o interessado intimado a pagar, no prazo de 30 (trinta) dias, contados a partir da ciência nos termos da legislação em vigor, os débitos constantes do demonstrativo em anexo. Transcorrido o prazo acima, sem que ocorra a extinção dos débitos, o processo será encaminhado à Procuradoria da Fazenda Nacional para cobrança executiva. Tomando ciência da intimação acima, a Contribuinte protocolou pedido de reconsideração (v. efls. 11.631/11.752) alegando, em apertadíssima síntese que: a) No dia 25/06/2014, protocolou tempestivamente, via eCAC, a impugnação e todos os documentos que demonstram a inexistência do alegado crédito; b) No dia 1° de julho de 2014, foi surpreendida com nova intimação, para que juntasse a impugnação; c) Em 11 de setembro de 2014, a delegacia da Receita Federal a intimou novamente para que apresentasse a Impugnação, o que foi cumprido no mesmo dia; d) Em 12 de dezembro de 2014, foi surpreendida com nova intimação da delegacia da Receita Federal lhe informando que a impugnação apresentada estaria intempestiva; e) Em sua defesa, alega que a delegacia da Receita Federal teria verificado alguma incorreção no processo digital, reabrindolhe o prazo para a apresentação da impugnação, o que teria sido devidamente cumprido; f) Não poderia, agora, se contradizer, declarando a inexistência da referida contestação em decorrência de suposta intempestividade; g) O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência consolidada no sentido de que a republicação/reintimação da parte, abre novamente o prazo processual, afastando a intempestividade sic; h) Da análise do precedente se extrai que a segunda intimação da delegacia da Receita Federal teria reaberto o prazo para a apresentação da impugnação; i) Assim, ao declarar a revelia pela intempestividade, a delegacia da Receita Federal contraria o ordenamento jurídico brasileiro, mormente o entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça. Já no Recurso Voluntário de efls. 11.930/12.012, a Contribuinte e os Responsáveis Solidários repetem exatamente as mesmas alegações apresentadas através do pedido de reconsideração acima, apreciado em conjunto com a impugnação, sem apresentar qualquer argumento novo, nem mesmo rechaçar os fundamentos adotados pela decisão recorrida que não conheceu do respectivo recurso. Assim, e considerando o disposto no art. 57 do RICARF, especialmente seu parágrafo 3º, que abaixo reproduzo, Fl. 12079DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.074 13 Art. 57. Em cada sessão de julgamento será observada a seguinte ordem: I verificação do quórum regimental; II deliberação sobre matéria de expediente; e III relatório, debate e votação dos recursos constantes da pauta. § 1º A ementa, relatório e voto deverão ser disponibilizados exclusivamente aos conselheiros do colegiado, previamente ao início de cada sessão de julgamento correspondente, em meio eletrônico. § 2º Os processos para os quais o relator não apresentar, no prazo e forma estabelecidos no § 1º, a ementa, o relatório e o voto, serão retirados de pauta pelo presidente, que fará constar o fato em ata. § 3º A exigência do § 1º pode ser atendida com a transcrição da decisão de primeira instância, se o relator registrar que as partes não apresentaram novas razões de defesa perante a segunda instância e propuser a confirmação e adoção da decisão recorrida. (Redação dada pela Portaria MF nº 329, de 2017) (grifos nossos) Adoto como minhas razões de decidir o disposto no Acórdão de Impugnação, em especial os trechos a seguir destacados: Na petição de fls. 11631/11752, juntada aos autos em 12/01/2015 (fls. 11627), veio a defesa argumentar que teria apresentado a impugnação, em 25/06/2014, juntamente com a documentação comprobatória, fato que seria confirmado por certidão expedida pela DRJ, e que devido a erro na formalização do processo digital, teria sido intimada, novamente, em 12/12/2014, a apresentar a impugnação, o que teria sido efetivado na mesma data da ciência da intimação. Entretanto, não há elementos nos autos a corroborar os fatos invocados pela defesa. A impugnação não se encontra juntada entre os diversos documentos de fls. 5048/11475, arrolados nos termos de solicitação de juntada, apesar de terem sido denominados como “impugnação”os arquivos juntados pelos impugnantes. Os documentos comprobatórios de fls. 5048/11475, não podem ser recebidos como impugnação, porque com ela não se confundem, e somente a impugnação é instrumento hábil a instauração do litígio. É o que se encontra prescrito nos artigos do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972 pertinentes à matéria, verbis: Art. 14. A impugnação da exigência instaura a fase litigiosa do procedimento. Art. 15. A impugnação, formalizada por escrito e instruída com os documentos em que se fundamentar, será apresentada ao órgão preparador no prazo de trinta dias, contados da data em que for feita a intimação da exigência. Art. 16. A impugnação mencionará: I a autoridade julgadora a quem é dirigida; Fl. 12080DF CARF MF 14 II a qualificação do impugnante; III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) IV as diligências, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação dos quesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, o nome, o endereço e a qualificação profissional do seu perito. (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) V se a matéria impugnada foi submetida à apreciação judicial, devendo ser juntada cópia da petição. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) (...) § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) b) refirase a fato ou a direito superveniente; (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) § 5º A juntada de documentos após a impugnação deverá ser requerida à autoridade julgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas nas alíneas do parágrafo anterior. (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) § 6º Caso já tenha sido proferida a decisão, os documentos apresentados permanecerão nos autos para, se for interposto recurso, serem apreciados pela autoridade julgadora de segunda instância. (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) Art. 17. Considerarseá não impugnada a matéria que não tenha sido expressamente contestada pelo impugnante. (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) Com base nas normas jurídicas a impugnação hábil à instauração do litígio é uma petição, formalizada por escrito, que contém como elementos distintivos a menção (i) à autoridade julgadora a quem é dirigida; (ii) à qualificação do impugnante; (iii) aos motivos de fato e de direito em que se fundamenta, aos pontos de discordância e às razões e provas que possuir; (iv) às diligências ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas; e (v) à informação sobre a submissão da matéria impugnada à apreciação judicial. Notese que a menção feita, na impugnação, “aos motivos de fato e de direito em que se fundamenta, e às razões e provas que possuir o impugnante”, não se confunde com as provas que devem instruir a petição de defesa, porque na impugnação há que se falar sobre as provas, para esclarecer de que forma elas se relacionam com os fatos tributários apurados pela fiscalização, e descritos no lançamento. Sem a articulação lingüística que demonstre a vinculação entre os fatos apurados pela fiscalização e aqueles comprovados pelas provas apresentadas, não se instaura o contraditório, porque não há duas interpretações de fato e/ou de direito contrapostas, o que obsta o exercício da atividade de julgamento. Fl. 12081DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.075 15 Nas mesmas normas jurídicas, temse até a regulamentação sobre a apresentação de provas após o prazo de impugnação (art. 16, §4º), mas não há dúvida de que a apresentação de impugnação fora do prazo regulamentar não é hábil à instauração do litígio. Trazse à colação decisão do Conselho de Contribuintes que respalda a interpretação ora adotada: Acórdão nº 10707882, Sessão de 01/12/2004 IRPJ – PROVA – Cumpre à impugnante demonstrar o efeito modificativo ou extintivo do crédito constituído pelo lançamento. Não basta ao impugnante juntar documentos aos autos, sendo indispensável que ele demonstre o efei to probatório por eles produzido (destaques acrescidos) Também não há prova do invocado erro na formalização do processo digital, porque foram juntados ao processo todos os documentos constantes dos diversos termos de solicitação de juntada (fls. 5047, 6731, 8408, 9331, 9355, 9585 e 11240), e entre eles não se encontra a petição a ser recebida como impugnação, mas apenas documentos comprobatórios de fatos não devidamente articulados pela defesa. De acordo com os termos de solicitação de juntada, assinados digitalmente pelo contribuinte, os documentos não foram apresentados, na repartição fiscal (digitalizados ou para serem digitalizados), mas foram transmitidos pelo próprio interessado já digitalizados para serem juntados ao processo. Notese que não há autenticação na documentação juntada ao processo, por se tratar de procedimento em que a repartição fiscal se limitou a deferir a juntada ao processo virtual da documentação constante do termo, sem qualquer interferência sobre os documentos que teriam sido juntados. Na época, o procedimento de entrega de documentos digitais para juntada a processo digital estava regulado pela Instrução Normativa RFB nº 1412, de 22 de novembro de 2013 (DOU 25/11/2013), nos seguintes termos: Art. 1º A entrega de documentos, em formato digital , na Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), para juntada a processo digital ou a dossiê digital de atendimento, será realizada nos termos desta Instrução Normativa. Art. 2º A entrega de documentos de que trata o art. 1º será efetivada por solicitação de juntada a processo digital ou a dossiê digital de atendimento, mediante a utilização do Programa Gerador de Solicitação de Juntada de Documentos (PGS) ou mediante atendimento presencial nas unidades de atendimento da RFB. Vejam que havia duas possibilidades de entrega da documentação: (i) via utilização de Programa Gerador de Solicitação de Juntada de Documentos – PGS; ou (ii) via atendimento presencial nas unidades de atendimento da RFB. No caso de utilização do Programa Gerador de Solicitação de Juntada de Documentos – PGS, temse os seguintes preceitos, verbis: Capítulo I Da solicitação de juntada de documentos por meio do PGS Art. 3º A solicitação de juntada de documentos digitais nos termos do caput do art. 2º ocorrerá mediante transmissão de arquivo por meio do PGS disponível no sítio da RFB, na Internet, no endereço http://www.receita.fazenda.gov.br. Fl. 12082DF CARF MF 16 § 1º A solicitação de juntada de documentos na forma do caput, a processo digital, ocorrerá somente na hipótese de o interessado estar com a opção de domicílio tributário eletrônico (DTE) ativa, nos termos da Instrução Normativa SRF nº 664, de 21 de julho de 2006. (...) § 3º Somente o interessado, em nome de quem houver sido formado o processo digital ou o dossiê digital de atendimento, ou o seu procurador habilitado mediante “Procuração para o Portal eCAC”, com opção “processos digitais”, poderá solicitar a juntada de documentos por meio do PGS. Foram estabelecidos também os seguintes requisitos materiais e formais a serem observados, para a eficácia da solicitação de juntada de documentos a processo digital: Capítulo III Da solicitação de juntada de documentos a processo digital Art. 8º Para solicitação da juntada de documentos a processo digital existente, deverão ser apresentados os documentos previstos nos incisos I e III do § 1º do art. 5º e, ainda, os documentos necessários à análise do processo, observadas as disposições do § 2º do art. 5º. (...) Art. 5º omissis. § 1º A documentação exigida nos termos do caput compõese de: I requerimento com a especificação do serviço pretendido e as informações necessárias e suficientes para o encaminhamento e análise do mérito, apresentado em formulário próprio disponível no sítio da RFB no endereço eletrônico informado no caput do art. 3º; (...) III documentos que comprovem a outorga de poderes, se for o caso, bem como os documentos que permitam as corretas identificação e qualificação de outorgantes e outorgados . § 2º A documentação de que trata o § 1º deverá ser apresentada em arquivos distintos, observados, também, os seguintes requisitos: I os arquivos serão compostos por documentos de mesma espécie, observadas as instruções para a solicitação do serviço, disponíveis no sítio da RFB no endereço informado no caput do art. 3º, e serão nomeados de forma a identificar os documentos neles contidos, conforme Nomenclatura de Arquivos por Tipo de Documento constante do Anexo Único a esta Instrução Normativa; II cada arquivo terá tamanho máximo de 15 megabytes (15.360 kilobytes), devendo o arquivo que exceder esse limite ser fracionado em tantos quantos forem necessários, observada a Nomenclatura de Arquivos por Tipo de Documento constante do Anexo Único a esta Instrução Normativa; III os arquivos deverão estar no formato PDF, conforme padrão ISO 19005 3:2012 (PDF/A versões PDF 1.4 ou superior), com margens superior e inferior de, no mínimo, 3cm (três centímetros), e margens laterais de, no mínimo, 2,5cm (dois centímetros e cinco milímetros), com resolução de imagem de 300dpi (trezentos dots per inch) nas cores preta e branca. A partir daí, a Instrução Normativa passa a regulamentar a solicitação de juntada de documentos, nas unidades de atendimento da RFB, verbis: Fl. 12083DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.076 17 Capítulo IV Da solicitação de juntada de documentos nas unidades de atendimento da RFB Art. 9º O interessado, ou seu procurador legalmente constituído, poderá, em qualquer unidade de atendimento da RFB, solicitar a juntada de documentação: I necessária à análise do processo, observadas as disposições do art. 8º; ou (...) § 1º No momento da entrega, os arquivos digitais devem estar acompanhados do Recibo de Entrega de Arquivos Digitais (Read), gerado pelo Sistema de Validação e Autenticação de Arquivos Digitais (SVA), disponível no sítio da RFB no endereço informado no caput do art. 3º. § 2º Os arquivos digitais devem estar contidos em dispositivo móvel de armazenamento e, necessariamente, gravados em pasta específica que conterá somente os arquivos validados pelo SVA. § 3º O Read deverá ser: I assinado eletronicamente, com assinatura digital válida, por meio do programa assinador disponível no sítio da RFB no endereço informado no caput o art. 3º, pelo interessado ou por seu procurador habilitado mediante “Procuração para o Portal eCAC”, com opção “processos digitais”; ou II digitalizado, depois de preenchido, impresso e assinado manualmente pelo interessado ou por seu procurador legalmente constituído. (...) § 5º A assinatura firmada no Read equivale à declaração do interessado de que as informações cont idas nos arquivos digitais foram prestadas pelo signatário e de que os documentos convertidos para o formato digital correspondem a documentos sob a sua guarda. § 6º Depois de assinado, o Read deverá ser digitalizado e gravado no mesmo dispositivo móvel , em pasta diferente da que se encontra gravada a documentação apresentada. (...) Art. 10. No ato da entrega presencial dos arquivos digitais, o atendente gerará novo Read com a finalidade de confirmar o código de identificação geral (hash) constante do Read apresentado pelo interessado. § 1º A recepção dos arquivos digitais ocorrerá depois da confirmação do hash, sendo que a via do Read com a assinatura do atendente será o comprovante de entrega perante a RFB para todos os fins. § 2º A confirmação do hash atesta a correspondência entre os arquivos entregues e os que foram juntados ao processo digital ou ao dossiê digital de atendimento. § 3º Não serão recebidos arquivos com divergência no hash. Oportuno dizer que a autenticação pelo agente público de documentos recebidos em formato digital para a inclusão no sistema eProcesso somente cabe quando o contribuinte opta pela entrega da documentação, via atendimento presencial nas unidades de atendimento da RFB, porque é somente nessa hipótese que a interferência do servidor no procedimento impõe a autenticação dos documentos recebidos. Vejamse os preceitos da Instrução Normativa em análise: Fl. 12084DF CARF MF 18 Art. 14. A autenticação, pelo agente público, de documentos recebidos em formato digital para a inclusão no sistema e Processo é o atestado de que os documentos juntados correspondem aos que foram entregues pelo interessado. Parágrafo único. Cabe ao interessado a responsabilidade pelo conteúdo dos documentos e sua correspondência com os originais. Quando feita a transmissão, via Programa Gerador de Solicitação de Juntada de Documentos – PGS, como não há interferência do servidor, dispensável se configurou a autenticação da documentação apresentada para ser juntada ao processo. De observar que, no caso dos presentes autos, a juntada dos diversos documentos comprobatórios a título de “impugnação” (designação dada pelo próprio interessado na juntada da documentação), foi efetuada apenas com base nos “Termos de Solicitação de Juntada” e nos respectivos documentos, todos assinados digitalmente pelo próprio contribuinte, e nos “Termos de Análise de Solicitação de Juntada”, assinados digitalmente pelo servidor encarregado da função. Não constam os Recibos de Entrega de Arquivos Digitais (Read), gerados pelo Sistema de Validação e Autenticação de Arquivos Digitais (SVA), fato a denotar que os documentos a serem juntados ao processo não foram apresentados à unidade de atendimento da RFB, mas foram transmitidos pelo PGS, não se podendo imputar à repartição qualquer responsabilidade pela falta de juntada da petição de impugnação aos autos. A intimação formalizada pela Agência da Receita Federal, após o prazo regulamentar, para apresentação de impugnação, não pode ser interpretada, como quer a defesa, como um reconhecimento de erro na formalização do processo digital, mas apenas como um alerta acerca da irregularidade verificada na instrução processual providenciada pela própria contribuinte. De qualquer forma, referida intimação também não é hábil a reabrir o prazo de impugnação por diversos motivos: (i) não o fez expressamente; (ii) dela não consta qualquer justificativa a amparar o tratamento excepcional; e (iii) não formalizada pela autoridade competente – Delegado da Receita Federal em Santo André/SP. Na verdade, a intimação apenas se limitou a constatar a inexistência de petição hábil no processo a ser recebida como impugnação, mas não foi trazida qualquer justificativa que amparasse a ampliação do prazo de defesa. Transcrevemse acórdão do antigo Conselho de Contribuintes e do atual Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF em se confirma que a reabertura do prazo de impugnação deve que estar devidamente fundamentada nas provas do processo: Nº Acórdão 10196965 Data da Sessão 15/10/2008 PRAZO PARA IMPUGNAÇÃO REABERTURA É possível a reabertura do prazo para impugnação quando for constatada ofensa ao princípio da ampla defesa e do contraditório, sob pena de nulidade. Nº Acórdão 1101001.013 Data da Sessão 03/12/2013 NULIDADE. LANÇAMENTO APERFEIÇOADO EM DILIGÊNCIA. VALIDADE PARCIAL. As omissões que resultem em prejuízo ao sujeito passivo, quando este não lhes der causa, podem ser sanadas com reabertura do prazo para impugnação, desde que não transcorrido o prazo decadencial para revisão do lançamento. Fl. 12085DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.077 19 Notese que a prorrogação do prazo de impugnação, que é peremptório, é exceção, e somente se faz para garantia dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, em face de erros ou omissões perpetradas pelos agentes da Administração Pública. Além de não haver fundamento para a prorrogação do prazo peremptório previsto em lei, quando a autoridade fiscal competente para a prática do ato o faz, o faz expressamente, o que não aconteceu no presente caso. Trazse à colação exemplo de prorrogação expressa de prazo de impugnação e de seus efeitos: Nº Acórdão 20400136 Data da Sessão 17/05/2005 NORMAS PROCESSUAIS. IMPUGNAÇÃO. TEMPESTIVIDADE. Determinado pelo Delegado da Receita Federal a reabertura do prazo para impugnação, tempestiva a manifestação apresentada antes do decurso no novo prazo assinalado. Processo anulado. Diferentemente do caso ora sob apreciação, no caso julgado pelo antigo Conselho de Contribuintes, a reabertura de prazo de impugnação teria constado expressamente da decisão que teria autorizado a revisão de ofício do lançamento, conforme excertos do voto da Ilma. Conselheira Relatora: Ocorre, contudo, que, na Decisão de fls. 262/264 que autorizou ‘a revisão do lançamento consubstanciado no Auto de Infração de fls. 229/247, tendo em vista a ocorrência de erro de fato não conhecido na ocasião de sua implementação, apenas para excluir da exigência o PIS referente ao fato gerador 02/2002’, expressamente determinou o Sr. Delegado de Maringá o encaminhamento do feito a “ARF/Cianorte para providências no sentido de cientificar a interessada da presente decisão, reabrindo o prazo para pagamento do saldo remanescente do crédito tributário lançado ou impugnálo no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da ciência e demais providências cabíveis’ (negritamos). Haja vista esse fato e verificando, pelas razões recursais, que a empresa pautou a sua conduta nessa determinação, aguardando a nova intimação, tenho que, no caso concreto, deve ser ultrapassada a preliminar de intempestividade da impugnação. Ademais, no vigente Regimento Interno da RFB (aprovado pela Portaria MF nº 203, de 14 de maio de 2012 – DOU de 17/05/2012) o controle sobre os prazo de impugnação não se inclui entre as atribuições dos Agentes da Receita Federal, conforme abaixo: Art. 231. Às Agências da Receita Federal do Brasil ARF compete executar as atividades de atendimento ao contribuinte e, especificamente: I prestar informações ao contribuinte, excetuandose as que envolverem interpretação de legislação; II recepcionar declarações, requerimentos, manifestações de inconformidade, impugnações e recursos voluntários e formalizar processos administrativos; III fornecer cópias de declarações, processos e outros documentos na sua área de competência; IV expedir e cancelar certidões relativas à situação fiscal e cadastral do contribuinte; Fl. 12086DF CARF MF 20 V realizar ajustes nos sistemas de cadastro, controle de créditos tributários e pagamentos; VI examinar e executar as atividades relacionadas com os pedidos de regularização de obras de construção civil que não implique em verificação de escrituração contábil; VII executar os procedimentos de retificação e correção de documentos de arrecadação, excetuandose os de valor total e data de arrecadação; VIII examinar pedidos de parcelamento de débitos; IX examinar pedidos de revisão de débitos inscritos em Dívida Ativa da União, nos casos de pagamento ou parcelamento do débito antes da inscrição; X preparar e controlar os processos administrativos fiscais, excetuandose os que envolverem ações judiciais; XI prestar ao Juízo solicitante, ao Ministério Público e aos demais órgãos, informações sobre a situação fiscal e cadastral dos contribuintes jurisdicionados, respeitadas as limitações impostas pela legislação vigente; e XII promover a educação fiscal. Parágrafo único. Às Agências da Receita Federal do Brasil ARF de Classes “A” e “B” compete, ainda, pronunciarse sobre a inclusão e exclusão de contribuintes em regimes de tributação diferenciados Notese que ficou a cargo das Divisões/Serviços/Seções das Delegacias da Receita Federal a lavratura de Termo de Revelia que envolve justamente o controle sobre o prazo de impugnação, e conseqüentemente, o poder para decidir acerca de sua prorrogação, conforme abaixo: Art. 241. Às Divisões de Orientação e Análise Tributária Diort, aos Serviços de Orientação e Análise Tributária Seort e às Seções de Orientação e Análise Tributária Saort competem as atividades de orientação e análise tributária, e em especial: (...) VI preparar, instruir, acompanhar e controlar os processos administrativos de contencioso fiscal, bem assim lavrar termo de revelia nos casos de falta de impugnação ou de sua apresentação fora do prazo, inclusive em relação às matérias objeto de manifestação de inconformidade, no âmbito da sua competência; (...) Art. 243. Às Divisões de Controle e Acompanhamento Tributário Dicat, aos Serviços de Controle e Acompanhamento Tributário Secat e às Seções de Controle e Acompanhamento Tributário Sacat competem as atividades de controle e acompanhamento tributário e, em especial: (...) V preparar, instruir, acompanhar e controlar os processos administrativos de contencioso fiscal, bem assim lavrar termo de revel ia nos casos de falta de impugnação ou de sua apresentação fora do prazo, inclusive em relação às matérias objeto de manifestação de inconformidade, no âmbito de sua competência; No caso sob apreciação, a autoridade competente (DRF Santo André/SP) pronunciouse expressamente pela intempestividade da impugnação, que somente Fl. 12087DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.078 21 foi encaminhada ao órgão julgador, para dirimir os questionamentos acerca desta matéria. Assim, a intimação formalizada pela Agência da Receita Federal não é hábil a configurar a prorrogação de prazo de impugnação, e a autoridade competente (DRF Santo André/SP) manifestouse pela não admissão do recurso. Trazse à colação decisão do Conselho de Contribuintes a referendar que a irregular expedição de intimação para apresentação de impugnação não tem o efeito de promover a reabertura do prazo regulamentar já transcorrido: Nº Acórdão 20180290 Data da Sessão 23/05/2007 AUTO DE INFRAÇÃO. CIÊNCIA. PRAZO PARA IMPUGNAÇÃO. REABERTURA. IMPOSSIBILIDADE. Para o lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo há mais de trinta dias não há previsão legal para reabrir o prazo para impugnação, mesmo na hipótese de irregular expedição de nova intimação, abrindo prazo para impugnação. Recurso negado. Quanto à certidão expedida pela DRJ, provavelmente quer fazer menção o Impugnante à situação do processo nos sistemas de controle de cobrança em que o crédito tributário constituído exofficio aparece na situação “suspenso – julgamento da impugnação”. Todavia, essa informação apenas registra que até a apreciação das razões de defesa apresentadas quanto à tempestividade da defesa, o crédito tributário está com a exigibilidade suspensa, mas não tem o condão de ratificar que a documentação apresentada deve ser recebida como impugnação. Acrescentese ainda, por fim, que em consulta ao eprocesso ora sob apreciação, na opção “Acompanhar Ciência”, temse a informação de que a ciência da Intimação nº 316/2014 se deu, em 16/07/2014, quinze dias após a postagem da intimação, emitida em 01/07/2014, na caixa postal do contribuinte, e não com a abertura do documento em 11/09/2014. É o que se encontra definido no art. 23, III, “a”, § 2º, III, “a”, do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, com as alterações da legislação superveniente, verbis: Art. 23. Farseá a intimação: I pessoal, pelo autor do procedimento ou por agente do órgão preparador, na repartição ou fora dela, provada com a assinatura do sujeito passivo, seu mandatário ou preposto, ou, no caso de recusa, com declaração escrita de quem o intimar; (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) II por via postal, telegráfica ou por qualquer outro meio ou via, com prova de recebimento no domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo; (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) III por meio eletrônico, com prova de recebimento, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005) a) envio ao domicílio tributário do sujeito passivo; ou (Incluída pela Lei nº 11.196, de 2005) b) registro em meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo. (Incluída pela Lei nº 11.196, de 2005) § 1º Quando resultar improfícuo um dos meios previstos no caput deste artigo ou quando o sujeito passivo tiver sua inscrição declarada inapta perante o Fl. 12088DF CARF MF 22 cadastro fiscal, a intimação poderá ser feita por edital publicado (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009): I no endereço da administração tributária na internet; (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) II em dependência, franqueada ao público, do órgão encarregado da intimação; ou (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) III uma única vez, em órgão da imprensa oficial local. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) § 2° Considerase feita a intimação: I na data da ciência do intimado ou da declaração de quem fizer a intimação, se pessoal; II no caso do inciso II do caput deste artigo, na data do recebimento ou, se omitida, quinze dias após a data da expedição da intimação; (Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) III se por meio eletrônico: (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) a) 15 (quinze) dias contados da data registrada no comprovante de entrega no domicílio tributário do sujeito passivo; (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) b) na data em que o sujei to passivo efetuar consulta no endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, se ocorrida antes do prazo previsto na alínea a; ou (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) c) na data registrada no meio magnético ou equivalente utilizado pelo sujeito passivo; (Incluída pela Lei nº 12.844, de 2013) IV 15 (quinze) dias após a publicação do edital, se este for o meio utilizado. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) § 3º Os meios de intimação previstos nos incisos do caput deste artigo não estão sujeitos a ordem de preferência. (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005) § 4º Para fins de intimação, considerase domicílio tributário do sujeito passivo: (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005) I o endereço postal por ele fornecido, para fins cadastrais, à administração tributária; e (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) II o endereço eletrônico a ele atribuído pela administração tributária, desde que autorizado pelo sujeito passivo. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) § 5º O endereço eletrônico de que trata este artigo somente será implementado com expresso consentimento do sujeito passivo, e a administração tributária informarlheá as normas e condições de sua utilização e manutenção. (Incluído pela Lei nº 11.196, de 2005) (...) Em assim sendo, ainda que se considere válida a intimação efetuada pela Agência da Receita Federal, para reabertura de prazo de impugnação, a apresentação da petição de defesa, em 11/09/2014, teria se efetivado a destempo, haja vista que como a ciência, por decurso de prazo, teria ocorrido em 16/07/2014 (15 dias após a contados da data de disponibilização do documento na caixa postal do contribuinte), o prazo de 30 (trinta) dias teria se encerrado em 15/08/2014. Por todo o exposto, adoto os fundamentos da decisão recorrida para negar provimento ao recurso voluntário apresentado pelos responsáveis solidários pelo crédito tributário. Fl. 12089DF CARF MF Processo nº 16095.720077/201431 Acórdão n.º 1401002.171 S1C4T1 Fl. 12.079 23 Apesar de votar por não conhecer do Recurso Voluntário por sua intempestividade em relação à contribuinte autuada e negarlhe provimento em face dos responsáveis solidários, fazse necessário atentar, ao menos, às alegações relativas à decadência, por sua natureza de matéria passível de reconhecimento de ofício. Alegam os Recorrente que os fatos geradores anteriores a 12/05/2009 (data da ciência do Auto de Infração) e exigidos pela autuação teriam sido fulminados pela decadência. O lançamento tributário se reporta aos anos calendários de 2009, 2010 e 2011. Ora, diante dos fartos elementos carreados aos autos, que dão conta da prática reiterada de sonegação e fraude tributárias (declarações entregues em branco e/ou com valores irrisórios comparados ao faturamento constatado para todos os anos objeto da auditoria, confusão patrimonial, utilização de interpostas pessoas, não atendimento a nenhuma das intimações etc), o termo inicial para a contagem do prazo decadencial segue a regra insculpida no art. 173, inc. I, do CTN. Assim, a contagem do prazo decadencial tem como data de início, para o ano calendário de 2009, no mínimo o dia 01 de janeiro de 2010. Como o Auto de Infração foi lavrado e cientificado à Contribuinte em 12/05/2014, resta patente a inocorrência da decadência alegada. Por todo o exposto, voto por não conhecer do Recurso Voluntário da contribuinte STEELMAN CONSTRUÇÕES LTDA, por sua manifesta intempestividade, e negar provimento ao recurso dos apontados como responsáveis solidários. É como voto. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Fl. 12090DF CARF MF
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Numero do processo: 10715.008807/2009-34
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Feb 21 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed May 23 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Data do fato gerador: 06/01/2006, 07/01/2006, 10/01/2006, 12/01/2006
13/01/2006, 19/01/2006, 26/01/2006
INFORMAÇÕES EXIGIDAS PELA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. PRAZO. INOBSERVÂNCIA. INFRAÇÃO. TIPIFICAÇÃO LEGAL. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. ANTINOMIA.
A denúncia espontânea da infração não exclui a responsabilidade quando a penalidade tem por objeto a própria conduta extemporânea do administrado, materializada no cumprimento a destempo da obrigação de fazer.
Aplica-se a multa prevista em lei à empresa de transporte internacional, inclusive a prestadora de serviços de transporte internacional expresso porta-a-porta, ou ao agente de carga, quando deixarem de prestar informação sobre veículo ou carga nele transportada, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, ainda que a informação tenha sido prestada antes do início de qualquer procedimento fiscal.
Numero da decisão: 9303-006.341
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer do Recurso Especial, vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama (relatora) e Érika Costa Camargos, que não conheceram do recurso. No mérito, por maioria de votos, acordam em dar-lhe provimento, vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama (relatora), Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello, que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Andrada Márcio Canuto Natal.
(Assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício
(Assinado digitalmente)
Tatiana Midori Migiyama Relatora
(Assinado digitalmente)
Andrada Márcio Canuto Natal Redator designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Charles Mayer de Castro Souza (suplente convocado), Demes Brito, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: TATIANA MIDORI MIGIYAMA
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ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Data do fato gerador: 06/01/2006, 07/01/2006, 10/01/2006, 12/01/2006 13/01/2006, 19/01/2006, 26/01/2006 INFORMAÇÕES EXIGIDAS PELA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL. PRAZO. INOBSERVÂNCIA. INFRAÇÃO. TIPIFICAÇÃO LEGAL. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. ANTINOMIA. A denúncia espontânea da infração não exclui a responsabilidade quando a penalidade tem por objeto a própria conduta extemporânea do administrado, materializada no cumprimento a destempo da obrigação de fazer. Aplicase a multa prevista em lei à empresa de transporte internacional, inclusive a prestadora de serviços de transporte internacional expresso porta aporta, ou ao agente de carga, quando deixarem de prestar informação sobre veículo ou carga nele transportada, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, ainda que a informação tenha sido prestada antes do início de qualquer procedimento fiscal. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer do Recurso Especial, vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama (relatora) e Érika Costa Camargos, que não conheceram do recurso. No mérito, por maioria de votos, acordam em darlhe provimento, vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama (relatora), Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello, que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Andrada Márcio Canuto Natal. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 71 5. 00 88 07 /2 00 9- 34 Fl. 254DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 3 2 (Assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas – Presidente em exercício (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama – Relatora (Assinado digitalmente) Andrada Márcio Canuto Natal – Redator designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício), Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama (Relatora), Charles Mayer de Castro Souza (suplente convocado), Demes Brito, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Érika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello. Relatório Tratase de Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional contra o Acórdão nº 3201001.128, da 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da 3ª Seção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais que, por maioria de votos, deu provimento ao recurso voluntário, consignando a seguinte ementa: “ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Data do fato gerador: 06/01/2006, 07/01/2006, 10/01/2006, 12/01/2006, 13/01/2006, 19/01/2006, 26/01/2006 MULTA ADMINISTRATIVA. ATRASO NA ENTREGA DA DECLARAÇÃO RELATIVA A VEÍCULO OU CARGA NELE TRANSPORTADA. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. POSSIBILIDADE. ART. 102, § 2º, DO DECRETOLEI nº 37/66, COM REDAÇÃO DADA PELA LEI N° 12.350/2010. Uma vez satisfeitos os requisitos ensejadores da denúncia espontânea deve a punibilidade ser excluída, considerando que a natureza da penalidade é administrativa, aplicada no exercício do poder de polícia no âmbito aduaneiro, em face da incidência do art. 102, §2º, do DecretoLei nº 37/66, cuja alteração trazida pela Lei n° 12.350/2010, passou a contemplar o instituto da denúncia espontânea para as obrigações administrativas. Fl. 255DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 4 3 RETROATIVIDADE BENIGNA. Considerando que o dispositivo que autoriza a exclusão de multa administrativa em razão de denúncia espontânea entrou em vigor antes do julgamento da peça recursal, fazse necessário observar o art. 106, II, “a”, do Código Tributário Nacional e afastar a multa prevista no DecretoLei nº 37/66. ” Irresignada, a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial contra o r. acórdão, trazendo, entre outros, que o disposto no art. 138 do CTN não alcança as penalidades exigidas pelo descumprimento de obrigações acessórias autônomas. Em Despacho às fls. 163 a 167, foi dado seguimento ao recurso especial interposto pela Fazenda Nacional. Contrarrazões foram apresentadas pelo sujeito passivo, trazendo, entre outros, que o recurso não deva ser conhecido e, caso conhecido, que seja negado provimento. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Tatiana Midori Migiyama Relatora Depreendendose da análise do recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, entendo que o recurso não atende aos pressupostos de admissibilidade. O que, concordo em parte com o exame de admissibilidade exposto em Despacho do processo 10715.008227/200947. Peço vênia para transcrever a parte que concordo: “[...] O primeiro acórdão não serve como paradigma, porque trata de aplicação de penalidade por infração ao controle administrativo das importações (falta de Guia de Importação GI) e se refere a julgamento realizado antes da vigência da nova redação dada ao no Fl. 256DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 5 4 art. 102, § 2º, do Decretolei nº 37/1966, pela Lei 12.350/2010. Portanto, como diz respeito à legislação e circunstâncias fáticas diferentes das do acórdão recorrido, o acórdão nº CSRF/0305.339 não atende as condições exigidas no art. 67 do Anexo II do RICARF para fim de comprovação do alegado dissenso jurisprudencial. [...]” Tal como dito em Despacho, o primeiro acórdão indicado como paradigma – de nº 0305.339 trata de situação diversa da tratada nos autos. O que podemos inferir tal entendimento considerando apenas a ementa desse acórdão: “Acórdão 0305.339 IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO E MULTA DE OFÍCIO. O lançamento dos tributos e da correspondente multa de ofício, com base na falta de guia de importação, não pode prosperar, já que neste caso a legislação prevê a imputação da multa administrativa do artigo 526, inciso II, do Regulamento Aduaneiro (Decreto n° 91.030/1985). MULTA POR FALTA DE GUIA DE IMPORTAÇÃO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. Não há que se falar em denúncia espontânea se após o início do despacho aduaneiro e em caso de multa por descumprimento de obrigação formal. ” Proveitoso trazer também parte relatada no acórdão indicado como paradigma: “[...] A empresa foi autuada em virtude de infração verificada na operação de importação lastreada na Dl n2 003868/96 (GI n2 001096/0161942). Segundo o auto de infração, a recorrente solicitou o desembaraço da mercadoria "formulário em bloco tipo `Manifold', formulário continuo de papel com dizeres impressos 240mm x 11 polegadas em caixas com 3.000 folhas", classificando a no código NCM/SH 4820.40.00", pleiteando a aplicação de alíquota zero para o imposto de importação, com base no Decreto n2 550/92 MERCOSUL. A fiscalização, entendendo que a Fl. 257DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 6 5 mercadoria importada era "formulário contínuo (folha simples) para impressora de micro", classificoua no código NCWSH 4820.90.00 e efetuou o lançamento para cobrança do II à alíquota normal, acrescido da multa de 100% de que trata o artigo 42, inciso I, da Lei n 2 8.218/91, por declaração inexata, da multa de 30% sobre o valor da mercadoria, prevista no artigo 526, inciso II, do RA, bem como juros de mora.[...]” Sendo assim, resta claro que o primeiro acórdão não serve como paradigma, por tratar de situações diferentes. Quanto ao segundo acórdão indicado como paradigma – a de nº 3802001.129, vêse que EM NENHUM MOMENTO FOI DISCUTIDO O ART. 102, §2º do DECRETOLEI 37/66 E TAMPOUCO A APLICAÇÃO RETROATIVA DESSE DISPOSITIVO. Apenas foi trazido como fundamento o art. 138 do CTN. Nos termos do art. 67, do RICARF/2015, temos (Grifos meus): “Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. § 1º Não será conhecido o recurso que não demonstrar a legislação tributária interpretada de forma divergente. [...]” Considerando que o art. 102, § 2º, do DecretoLei 37/66 nem foi aventada no acórdão indicado como paradigma, não há como se conhecer o recurso especial, vez que não demonstrou interpretação divergente frente ao mesmo dispositivo. Diante do exposto, não conheço o Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional. Fl. 258DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 7 6 Considerando que essa conselheira restou vencida em relação ao conhecimento do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional, passo a discorrer sobre a lide – qual seja, aplicação ou não da denúncia espontânea com o intuito de se afastar a multa por falta de cumprimento de obrigação acessória, que se torna ostensivo com o decurso do prazo fixado para a entrega tempestiva da mesma, entendo que assiste razão ao sujeito passivo. Eis que a denúncia espontânea em matéria aduaneira se encontra positivada no art. 102, § 2º, do DecretoLei 37/66, reproduzido no art. 683 § 2º do Regulamento Aduaneiro (Decreto nº 6759/2009). Para melhor elucidar, trago síntese cronológica do art. 102 do DecretoLei 37/66 – que trata da denúncia espontânea no âmbito aduaneiro. Antes do advento da MP 497/10, vêse que o § 2º do art. 102 era taxativo ao prescrever que a denúncia espontânea excluía apenas as penalidades de natureza tributária (Grifos meus): “Art.102 A denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do imposto e dos acréscimos, excluirá a imposição da correspondente penalidade. (Redação dada pelo DecretoLei nº 2.472, de 01/09/1988) § 1º Não se considera espontânea a denúncia apresentada: (Incluído pelo DecretoLei nº 2.472, de 01/09/1988) a) no curso do despacho aduaneiro, até o desembaraço da mercadoria; (Incluído pelo DecretoLei nº 2.472, de 01/09/1988) b) após o início de qualquer outro procedimento fiscal, mediante ato de ofício, escrito, praticado por servidor competente, tendente a apurar a infração. (Incluído pelo DecretoLei nº 2.472, de 01/09/1988) § 2º A denúncia espontânea exclui somente as penalidades de natureza tributária. (Incluído pelo DecretoLei nº 2.472, de 01/09/1988)” Fl. 259DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 8 7 Com o advento da MP 497/10, convertida na Lei 12.350/2010, a denúncia espontânea passou a afastar também as penalidades de natureza administrativa, além da tributária, in verbis (Grifos meus): “Art.102 – A denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do imposto e dos acréscimos, excluirá a imposição da correspondente penalidade. (Redação dada pelo DecretoLei nº 2.472, de 01/09/1988) [...] § 2º A denúncia espontânea exclui a aplicação de penalidades de natureza tributária ou administrativa, com exceção das penalidades aplicáveis na hipótese de mercadoria sujeita a pena de perdimento. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010) Com tal dispositivo, a denúncia espontânea passou a ser aplicada para as penalidades de natureza administrativa, salvo as penalidades aplicáveis na hipótese de mercadoria sujeita a pena de perdimento. Ademais, quanto à intenção do legislador ao trazer a menção à penalidade administrativa quando da aplicação da denúncia espontânea, importante reproduzir a Exposição de Motivos daquela MP 497/10 (Grifos meus): “[...] 40. A proposta de alteração do § 2º do art. 102 do DecretoLei nº 37, de 1966, visa a afastar dúvidas e divergência interpretativas quanto à aplicabilidade do instituto da denúncia espontânea e a consequente exclusão da imposição de determinadas penalidades, para as quais não se tem posicionamento doutrinário claro sobre sua natureza. (…) 47. A proposta de alteração objetiva deixar claro que o instituto da denúncia espontânea alcança todas as penalidades pecuniárias, aí incluídas as chamadas multas isoladas, pois nos parece incoerente haver a possibilidade de se aplicar o instituto da denúncia espontânea para penalidades vinculadas ao nãopagamento de tributo, que é a obrigação principal, e não haver Fl. 260DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 9 8 essa possibilidade para multas isoladas, vinculadas ao descumprimento de obrigação acessória.” Nesse ínterim, cumpre destacar ainda que para que a exclusão da responsabilidade ocorra devese observar se não houve início de procedimento fiscal, mediante ato de ofício, tendente a apurar a infração ou o cumprimento da obrigação acessória aduaneira. Sendo assim, considerando o caso vertente, em respeito ao princípio da especialidade – lex specialis derogat legi generali é de se aplicar o art. 102, §2º, do DecretoLei 37/66 com a redação dada pela MP 497/10 (convertida na Lei 12.350/10 – que manteve a mesma redação) para os casos de entrega a destempo de obrigação acessória aduaneira. Ademais, cabe trazer que o Direito aduaneiro é considerado autônomo, inclusive porque se originam de fontes peculiares – tais como, acordos e tratados internacionais, códigos e regulamentos aduaneiros, ainda que tenha dependência com outros ramos de direito. As relações jurídicas observam as peculiaridades de regimes próprios, ainda que envolva outros ramos científicos. Sendo assim, podese considerar que deve observar um regramento especial – tal como o que preceitua o art. 102, § 2º, do DecretoLei 37/66. Não há como ignorar a redação do art. 102, §2º do Decretolei nº 37/66, conferida pela Lei 12.350/2010, que exclui “expressamente” a penalidade da multa administrativa pelos efeitos da denúncia espontânea. Digo “expressamente”, pois, ao meu sentir, não há como “interpretála” ou “interpretála restritivamente”, vez trazer claramente que o instituto da denúncia espontânea afasta toda a penalidade pecuniária de natureza administrativa sem ao menos ressalvar hipóteses excludentes. Nos termos do art. 5º, inciso II, da CF/88, temos que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei – ou seja, somente a lei poderá criar, entre outros, vedações. O que, por conseguinte, entender Fl. 261DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 10 9 que a norma em questão seria “expressa” reflete o respeito ao Princípio da Legalidade. Caso o legislador da Lei 12.350/2010, que alterou o art. 102, § 2º do DecretoLei 37/66, incluindo no campo de alcance da aplicação do instituto da denúncia espontânea, tivesse a pretensão de se excluir as hipóteses de entrega de obrigações acessórias aduaneiras a destempo, deveria ter trazido tal vedação de forma expressa, promovendo ao sujeito passivo a segurança jurídica que tanto merece. Não obstante a isso, vêse que apenas incluiu o termo penalidade de natureza administrativa e ainda esclareceu na exposição de motivos que o instituto da denúncia espontânea alcança “toda” penalidade pecuniária. Ademais, ignorar o dispositivo de lei, sem ao menos, ter sido declarado inconstitucional, traria insegurança jurídica aos sujeitos passivos que observam o disposto na lei, além de ferir a regra trazida pelo art. 62, Anexo II, do RICARF/2015, in verbis (Grifos meus): “Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. [...]” Quanto à aplicação do disposto no art. 102, § 2º do DecretoLei 37/66 aos períodos anteriores à sua vinda no ordenamento jurídico, entendo ser plenamente aplicável o instituto da retroatividade benigna – tal como estabelece o art. 106 do Código Tributário Nacional: "Art. 106 . A lei aplica se a ato o u fato pretérito: 1 em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II tratando se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de definilo como infração; Fl. 262DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 11 10 b) quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo de sua prática ". Sendo assim, verificase a subsunção do caso concreto à norma referendada. Ora, com a aplicação do instituto da retroatividade benigna, no caso vertente, há de ser afastada a aplicação da multa pela entrega a destempo da obrigação acessória aduaneira. Ainda em respeito ao princípio da especialidade – lex specialis derogat legi generali, não mais aplico, por analogia, a Súmula CARF 49, eis que, ainda que tenha como fundamento original o art. 138 do CTN, trata especificamente da entrega a destempo de DCTF, e não da obrigação acessória aduaneira. Essa última possui regra especial tratada expressamente no art. 102, §2º do Decretolei nº 37/66, conferida pela Lei 12.350/2010. Ademais, quanto à Súmula CARF nº 49 que traz que "a denúncia espontânea não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração", entendo que deva ainda sua aplicabilidade ser afastada no presente caso (obrigação acessória aduaneira), pois as decisões reiteradas e uniformes que consubstanciaram a referida súmula se deu anteriormente à edição da MP 497/2010. O que, por conseguinte, não há que se falar em obrigatoriedade de os conselheiros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais observarem a referida súmula no presente caso, invocando equivocadamente o caput do art. 72, Anexo II, do RICARF/2015 (Portaria MF 343/2015). Em vista de todo o exposto, voto por admitir o recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, negandolhe provimento. Fl. 263DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 12 11 É como voto. (Assinado digitalmente) Tatiana Midori Migiyama Voto Vencedor Conselheiro Andrada Márcio Canuto Natal Redator designado Conhecimento do Recurso Especial Embora as pertinentes considerações feitas pela i. Relatora do processo, me permito dela divergir em relação ao conhecimento do recurso na parte em que trata da denúncia espontânea da infração. É que, ainda que certas particularidades dos casos retratados no recorrido e nos paradigma não sejam idênticas, não tenho dúvidas de que o acórdão paradigma nº 3802001.1281 enfrentou explicitamente a questão da aplicação do instituto da espontaneidade nos casos de infrações por descumprimento de prazo e chegou a conclusão que a iniciativa do contribuinte, nesses casos, não afastava a responsabilidade pela infração, se não vejamos. No caso em tela, a infração é objetiva pelo simples decurso do prazo para apresentação do registro de embarque. Assim, uma vez transcorrido esse prazo sem que o sujeito passivo tenha adimplido com sua obrigação, a infração restará caracterizada. Admitir a denúncia espontânea no caso em tela seria transformar esse instituto em instrumento de permissibilidade para infrações referentes a obrigações acessórias, já que o simples cumprimento, no tempo intentado pelo sujeito passivo (desde que antes de descoberto pela fiscalização), não o levaria a qualquer tipo de responsabilização. O instituto, no lugar de incentivar o voluntarismo do sujeito passivo em reconhecer seu erro e buscar retificálo, incentivaria o atraso no cumprimento das obrigações acessórias. Por esse motivo, conheço do recurso também nesse particular. 1 Por equívoco, foi informado no voto vencido o número de acórdão 3802001.129. A leitura o recurso especial interposto pela Procuradoria da Fazenda Nacional, e folha 137, contudo, não deixa dúvidas de que o número correto do acórdão paradigma é 3802001.128. Fl. 264DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 13 12 Mérito A matéria objeto dos autos é de amplo conhecimento deste Colegiado. Como já me manifestei em outras ocasiões, trilhando o mesmo caminho escolhido nos autos do processo nº 10283.002493/200993, acórdão nº 9303003.559, da relatoria do i. Conselheiro Gilson Macedo Rosemburg Filho, pela maestria como aborda a matéria, adoto, mais uma vez, os fundamentos declinados no voto do i. Conselheiro José Fernandes do Nascimento, em decisão tomada no processo nº processo 11128.002765/200749, acórdão 380200.568, datado de 05 de julho de 2011, a seguir reproduzido. Do instituto da denúncia espontânea no âmbito da legislação aduaneira: condição necessária. É de fácil ilação que o objetivo da norma em destaque é estimular que o infrator informe espontaneamente à Administração aduaneira a prática das infrações relativas ao descumprimento das obrigações de natureza tributária e administrativa. Nesta última, incluída todas as obrigações acessórias ou deveres instrumentais (segundo alguns) que tenham por objeto as prestações positivas (fazer ou tolerar) ou negativas (não fazer) instituídas no interesse fiscalização das operações de comércio exterior, incluindo os aspectos de natureza tributária, administrativo, comercial, cambial etc. Nesse sentido, resta evidente que é condição necessária para a aplicação do instituto da denúncia espontânea que a infração de natureza tributária ou administrativa seja passível de denunciação à Administração tributária pelo infrator, em outros termos, é elemento essencial da presente excludente de responsabilidade que a infração seja denunciável. No âmbito da legislação aduaneira, com base no teor do art. 102 do Decretolei n° 37, de 1966, com as novas redações, está claro que as impossibilidades de aplicação do referido instituto podem decorrer de circunstância de ordem lógica (ou racional) ou legal (ou jurídica). No caso de impedimento legal, é o próprio ordenamento jurídico que veda a incidência da norma em apreço, ao excluir Fl. 265DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 14 13 determinado tipo de infração do alcance do efeito excludente da responsabilidade por denunciação espontânea da infração cometida. A título de exemplo, podem ser citadas as infrações por dano erário, sancionadas com a pena de perdimento, conforme expressamente determinado no § 2º, in fine, do citado art. 102. A impossibilidade de natureza lógica ou racional ocorre quando fatores de ordem material tornam impossível a denunciação espontânea da infração. São dessa modalidade as infrações que têm por objeto as condutas extemporâneas do sujeito passivo, caracterizadas pelo cumprimento da obrigação após o prazo estabelecido na legislação. Para tais tipos de infração, a denúncia espontânea não tem o condão de desfazer ou paralisar o fluxo inevitável do tempo. São dessa última modalidade todas as infrações que têm, no núcleo do tipo, o atraso no cumprimento da conduta imposta como sendo o elemento determinante da materialização da infração. A título de exemplo, pode ser citado a conduta do transportador de registrar extemporaneamente no Siscomex os dados do embarque da carga transportado em veículo de transporte internacional de carga. Veja que, na hipótese da infração em apreço, o núcleo do tipo é deixar de prestar a informação sobre a carga no prazo estabelecido, que é diferente da conduta de, simplesmente, deixar de prestar a informação sobre a carga. Na primeira hipótese, a prestação da informação intempestivamente materializa a infração, ao passo que na segunda hipótese, a prestação da informação fora do prazo estabelecido, porém antes do início do procedimento fiscal, realizando o cumprimento da obrigação, mediante a denúncia espontânea, com exclusão da responsabilidade pela infração. (...) Logo, no caso em destaque, se o registro da informação a destempo materializou a infração tipificada na alínea “e” do Fl. 266DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 15 14 inciso IV do artigo 107 do Decretolei n° 37, de 1966, com redação dada pelo artigo 77 da Lei n° 10.833, de 2003, por conseguinte, não pode ser considerada, simultaneamente, como uma conduta realizadora da denunciação espontânea da mesma infração. De fato, se a prestação extemporânea da informação dos dados de embarque materializa a conduta típica da infração sancionada com a penalidade pecuniária objeto da presente autuação, em consequência, seria de todo ilógico, por contradição insuperável, que a conduta que materializasse a infração fosse, ao mesmo tempo, a conduta que concretizasse a denúncia espontânea da mesma infração. No caso em apreço, se admitida pretensão da Recorrente, o que se admite apenas para argumentar, o cometimento da mencionada infração nunca resultaria na cobrança da referida multa, uma vez que a própria conduta tipificada como infração seria, simultaneamente, a conduta que representativa da denúncia espontânea. Em consequência, tornarseia impossível a imposição da multa sancionadora da dita conduta, ou seja, existiria a infração, mas a multa fixada para sancionála não poderia ser cobrada por força da exclusão da responsabilidade do infrator. Tal hipótese, ao meu ver, representaria um contra senso do ponto de vista jurídico, retirando da prática da dita infração qualquer efeito punitivo. Nesse sentido, porém com base em fundamentos distintos, tem trilhado a jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça (STJ), conforme enunciado da ementa a seguir transcrita: TRIBUTÁRIO. PRÁTICA DE ATO MERAMENTE FORMAL. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. DCTF. MULTA MORATÓRIA. CABIMENTO. I A inobservância da prática de ato formal não pode ser considerada como infração de natureza tributária. De acordo com a moldura fática delineada no acórdão recorrido, deixou a agravante de cumprir obrigação acessória, razão pela qual não se aplica o benefício da denúncia espontânea e não se Fl. 267DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 16 15 exclui a multa moratória. "As responsabilidades acessórias autônomas, sem qualquer vínculo direto com a existência do fato gerador do tributo, não estão alcançadas pelo art. 138, do CTN" (AgRg no AG nº 490.441/PR, Relator Ministro LUIZ FUX, DJ de 21/06/2004, p. 164). II Agravo regimental improvido.(STJ, ADRESP 885259/MG, Primeira Turma, Rel. Min Francisco Falcão, pub. no DJU de 12/04/2007). Os fundamentos da decisão apresentados pela E. Corte, foram basicamente os seguintes: (i) a inobservância da prática de ato formal não pode ser considerada como infração de natureza tributária; e (ii) o descumprimento de obrigações acessórias autônomas, sem qualquer vínculo direto com a existência do fato gerador do tributo, não estão alcançadas pelo art. 138 do CTN. Com a devida vênia, tais argumentos não representam o melhor fundamento para a conclusão esposada pela E. Corte no referido julgado. No meu entendimento, para fim de definição dos efeitos do instituto da denúncia espontânea, é irrelevante a questão atinente à natureza intrínseca da multa tributária ou administrativa, isto é, se punitiva (ou sancionatória) ou indenizatória2 (ou ressarcitória), uma vez que toda penalidade pecuniária tem, necessariamente, natureza punitiva, pois decorre sempre da prática de um ato ilícito, consistente no descumprimento de um dever legal, enquanto que a indenização tem como pressuposto um dano causado ao patrimônio alheio, com ou sem culpa do agente. Essa questão, no meu entendimento, é irrelevante para definição do significado e alcance jurídicos da excludente da responsabilidade por denunciação espontânea em análise, seja no âmbito das penalidades tributárias ou administrativas. 2 A origem dessa discussão está na jurisprudência do C. STF (RE nº 79.625/SP) que tratou da natureza jurídica da multa moratória (se punitiva ou ressarcitória), quando julgou questões acerca da aplicação do art. 184 do CTN, que trata dos privilégios do crédito fiscal, no âmbito do processo de falência. Segundo o referido julgado, entendeu a Corte Suprema que a dita multa tinha natureza punitiva. Fl. 268DF CARF MF Processo nº 10715.008807/200934 Acórdão n.º 9303006.341 CSRFT3 Fl. 17 16 É consabido que todo ato ilícito previsto na legislação tributária e aduaneira configura, respectivamente, infração de natureza tributária ou aduaneira, independentemente dela decorrer do descumprimento de um dever de caráter formal (obrigação acessória) ou material (obrigação principal). Ademais, toda obrigação acessória tem vínculo indireto com o fato gerador da obrigação principal, instrumentalizandoo e, dessa forma, servindo de suporte para as atividades de controle da arrecadação e fiscalização dos tributos, conforme delineado no § 2º do art. 113 do CTN. Por todo o exposto, voto por conhecer do recurso especial interposto pela Fazenda Nacional e darlhe provimento, para afastar a aplicação da denúncia espontânea no caso concreto. (assinado digitalmente) Andrada Márcio Canuto Natal Relator. Fl. 269DF CARF MF
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Numero do processo: 10882.721035/2011-12
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 13 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri May 11 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007
DESMUTUALIZAÇÃO. ASSOCIAÇÃO CIVIL SEM FIM LUCRATIVO. DISSOLUÇÃO. DEVOLUÇÃO DE PATRIMÔNIO. TÍTULOS PATRIMONIAIS.CUSTO DE AQUISIÇÃO.
A cisão da BOVESPA, associação civil sem fins lucrativos, consuma a devolução dos títulos patrimoniais aos associados. Não tem previsão legal a utilização, por associação civil, de instituto de modificação societária destinado às sociedades anônimas. Tampouco se aplica a atualização de valores dos títulos patrimoniais de associações civis sem finalidade lucrativa com base no Método de Equivalência Patrimonial, próprio para investimentos em coligadas e controladas das sociedades anônimas que visam o lucro. Assim, sujeita-se à incidência do imposto de renda, computando-se na determinação do lucro real do exercício, a diferença entre o valor dos bens e direitos recebidos de instituição isenta, por pessoa jurídica, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver sido entregue para a formação do referido patrimônio.
ÁGIO. COMPLEMENTARIDADE DAS LEGISLAÇÕES COMERCIAIS E FISCAIS. EFEITOS.
Os resultados tributáveis das pessoas jurídicas, apurados com base no Lucro Real, têm como ponto de partida o resultado líquido apurado na escrituração comercial, regida pela Lei nº 6.404/1976, conforme estabelecido pelo DL. 1.598/1977. O ágio é fato econômico cujos efeitos fiscais foram regulados pela lei tributária, com substrato nos princípios contábeis geralmente aceitos. Assim, os princípios contábeis geralmente aceitos e as normas emanadas dos órgãos fiscalizadores e reguladores, como Conselho Federal de Contabilidade e Comissão de Valores Mobiliários, têm pertinência e devem ser observadas na apuração dos resultados contábeis e fiscais.
REDUÇÃO INDEVIDA DE GANHO DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE TÍTULOS. CUSTO INFLADO COM ÁGIO. REAVALIAÇÃO INTERNA DOS ATIVOS. GLOSA. CABIMENTO
As operações societárias realizada em sequência e em curto espaço de tempo, entre empresas sob o mesmo controle, incluindo a permuta de ativos entre as empresas do mesmo grupo, com reavaliação dos componentes patrimoniais de uma delas, entre os quais, os títulos da Bovespa, seguida de sua imediata absorção pela empresa reavaliada, mediante a incorporação reversa da empresa controladora, que recebera os ativos reavaliados na permuta revela a intenção de manipulação dentro do grupo empresarial deturpando a real situação econômica e patrimonial das empresas. O ágio registrado corresponde, de fato, a mera reavaliação interna de ativos, sendo correta sua glosa no cálculo do ganho de capital.
DESCONSIDERAÇÃO DE ATO OU NEGÓCIO JURÍDICO. NORMA ANTIELISÃO. ART. 116, PARÁGRAFO ÚNICO DO CTN. EFICÁCIA PLENA.
Embora não tenha a acusação fiscal se baseado na norma antielisão prevista no art. 116, parágrafo único do CTN, sua utilização não seria vedada. A eficácia de tal dispositivo independe de expedição de novo ato legal ante a existência de rito próprio para a constituição e exigência de créditos tributário em âmbito federal, consubstanciado no Decreto nº 70.235/1972.
A Medida Provisória nº 66/2002, pretendeu estabelecer um rito prévio ao lançamento no qual o contribuinte, caso concordasse com a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos pelo Fisco, poderia efetuar, no prazo de 30 dias, o pagamento sem a incidência de multa. Caso discordasse, sofreria o lançamento dos tributos, com aplicação da multa de ofício, que se submeteria, no âmbito federal, ao rito previsto no Decreto nº 70.235/1972.
Com a rejeição dos dispositivos da MP. 66/2002 perderam os contribuintes a oportunidade desse "rito prévio", mas nenhum prejuízo sofreu a aplicação das normas de constituição e exigência do crédito tributário previstas no decreto do PAF, que de resto já regulavam toda a relação processual entre o Fisco e os contribuintes na esfera federal.
MULTA DE OFÍCIO. EMPRESA SUCESSORA. CABIMENTO.
Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. (Aplicação da Súmula 554 do STJ)
COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZO E BASE DE CÁLCULO NEGATIVA DE CSLL.
Cabível a compensação de 30% por prejuízo fiscal e base negativa de CSLL de períodos anteriores, tendo em vista a opção externada em sua DIPJ e a existência de saldos compensáveis e a reconstituição da base de cálculo para absorção do prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da CSSL do período, apurado na empresa sucedida.
TRIBUTAÇÃO REFLEXA: CSLL
Por se constituírem infrações decorrentes e vinculadas, nos termos do § 2º do art. 24 da Lei 9.249/1995, aplica-se ao lançamento CSLL as conclusões relativas ao IRPJ.
Numero da decisão: 1302-002.622
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos em negar provimento ao recurso voluntário, votando pelas conclusões os conselheiros Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Gustavo Guimarães da Fonseca e Flávio Machado Vilhena Dias, e em negar provimento ao recurso de ofício. O Conselheiro Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa solicitou a apresentação de declaração de voto.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo Rogério Aparecido Gil, Lizandro Rodrigues de Sousa (Suplente Convocado), Flavio Machado Vilhena Dias, Gustavo Guimarães da Fonseca e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
Nome do relator: LUIZ TADEU MATOSINHO MACHADO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2007 DESMUTUALIZAÇÃO. ASSOCIAÇÃO CIVIL SEM FIM LUCRATIVO. DISSOLUÇÃO. DEVOLUÇÃO DE PATRIMÔNIO. TÍTULOS PATRIMONIAIS.CUSTO DE AQUISIÇÃO. A cisão da BOVESPA, associação civil sem fins lucrativos, consuma a devolução dos títulos patrimoniais aos associados. Não tem previsão legal a utilização, por associação civil, de instituto de modificação societária destinado às sociedades anônimas. Tampouco se aplica a atualização de valores dos títulos patrimoniais de associações civis sem finalidade lucrativa com base no Método de Equivalência Patrimonial, próprio para investimentos em coligadas e controladas das sociedades anônimas que visam o lucro. Assim, sujeita-se à incidência do imposto de renda, computando-se na determinação do lucro real do exercício, a diferença entre o valor dos bens e direitos recebidos de instituição isenta, por pessoa jurídica, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver sido entregue para a formação do referido patrimônio. ÁGIO. COMPLEMENTARIDADE DAS LEGISLAÇÕES COMERCIAIS E FISCAIS. EFEITOS. Os resultados tributáveis das pessoas jurídicas, apurados com base no Lucro Real, têm como ponto de partida o resultado líquido apurado na escrituração comercial, regida pela Lei nº 6.404/1976, conforme estabelecido pelo DL. 1.598/1977. O ágio é fato econômico cujos efeitos fiscais foram regulados pela lei tributária, com substrato nos princípios contábeis geralmente aceitos. Assim, os princípios contábeis geralmente aceitos e as normas emanadas dos órgãos fiscalizadores e reguladores, como Conselho Federal de Contabilidade e Comissão de Valores Mobiliários, têm pertinência e devem ser observadas na apuração dos resultados contábeis e fiscais. REDUÇÃO INDEVIDA DE GANHO DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE TÍTULOS. CUSTO INFLADO COM ÁGIO. REAVALIAÇÃO INTERNA DOS ATIVOS. GLOSA. CABIMENTO As operações societárias realizada em sequência e em curto espaço de tempo, entre empresas sob o mesmo controle, incluindo a permuta de ativos entre as empresas do mesmo grupo, com reavaliação dos componentes patrimoniais de uma delas, entre os quais, os títulos da Bovespa, seguida de sua imediata absorção pela empresa reavaliada, mediante a incorporação reversa da empresa controladora, que recebera os ativos reavaliados na permuta revela a intenção de manipulação dentro do grupo empresarial deturpando a real situação econômica e patrimonial das empresas. O ágio registrado corresponde, de fato, a mera reavaliação interna de ativos, sendo correta sua glosa no cálculo do ganho de capital. DESCONSIDERAÇÃO DE ATO OU NEGÓCIO JURÍDICO. NORMA ANTIELISÃO. ART. 116, PARÁGRAFO ÚNICO DO CTN. EFICÁCIA PLENA. Embora não tenha a acusação fiscal se baseado na norma antielisão prevista no art. 116, parágrafo único do CTN, sua utilização não seria vedada. A eficácia de tal dispositivo independe de expedição de novo ato legal ante a existência de rito próprio para a constituição e exigência de créditos tributário em âmbito federal, consubstanciado no Decreto nº 70.235/1972. A Medida Provisória nº 66/2002, pretendeu estabelecer um rito prévio ao lançamento no qual o contribuinte, caso concordasse com a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos pelo Fisco, poderia efetuar, no prazo de 30 dias, o pagamento sem a incidência de multa. Caso discordasse, sofreria o lançamento dos tributos, com aplicação da multa de ofício, que se submeteria, no âmbito federal, ao rito previsto no Decreto nº 70.235/1972. Com a rejeição dos dispositivos da MP. 66/2002 perderam os contribuintes a oportunidade desse "rito prévio", mas nenhum prejuízo sofreu a aplicação das normas de constituição e exigência do crédito tributário previstas no decreto do PAF, que de resto já regulavam toda a relação processual entre o Fisco e os contribuintes na esfera federal. MULTA DE OFÍCIO. EMPRESA SUCESSORA. CABIMENTO. Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. (Aplicação da Súmula 554 do STJ) COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZO E BASE DE CÁLCULO NEGATIVA DE CSLL. Cabível a compensação de 30% por prejuízo fiscal e base negativa de CSLL de períodos anteriores, tendo em vista a opção externada em sua DIPJ e a existência de saldos compensáveis e a reconstituição da base de cálculo para absorção do prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da CSSL do período, apurado na empresa sucedida. TRIBUTAÇÃO REFLEXA: CSLL Por se constituírem infrações decorrentes e vinculadas, nos termos do § 2º do art. 24 da Lei 9.249/1995, aplica-se ao lançamento CSLL as conclusões relativas ao IRPJ.
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FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007 DESMUTUALIZAÇÃO. ASSOCIAÇÃO CIVIL SEM FIM LUCRATIVO. DISSOLUÇÃO. DEVOLUÇÃO DE PATRIMÔNIO. TÍTULOS PATRIMONIAIS.CUSTO DE AQUISIÇÃO. A cisão da BOVESPA, associação civil sem fins lucrativos, consuma a devolução dos títulos patrimoniais aos associados. Não tem previsão legal a utilização, por associação civil, de instituto de modificação societária destinado às sociedades anônimas. Tampouco se aplica a atualização de valores dos títulos patrimoniais de associações civis sem finalidade lucrativa com base no Método de Equivalência Patrimonial, próprio para investimentos em coligadas e controladas das sociedades anônimas que visam o lucro. Assim, sujeitase à incidência do imposto de renda, computandose na determinação do lucro real do exercício, a diferença entre o valor dos bens e direitos recebidos de instituição isenta, por pessoa jurídica, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver sido entregue para a formação do referido patrimônio. ÁGIO. COMPLEMENTARIDADE DAS LEGISLAÇÕES COMERCIAIS E FISCAIS. EFEITOS. Os resultados tributáveis das pessoas jurídicas, apurados com base no Lucro Real, têm como ponto de partida o resultado líquido apurado na escrituração comercial, regida pela Lei nº 6.404/1976, conforme estabelecido pelo DL. 1.598/1977. O ágio é fato econômico cujos efeitos fiscais foram regulados pela lei tributária, com substrato nos princípios contábeis geralmente aceitos. Assim, os princípios contábeis geralmente aceitos e as normas emanadas dos órgãos fiscalizadores e reguladores, como Conselho Federal de Contabilidade e Comissão de Valores Mobiliários, têm pertinência e devem ser observadas na apuração dos resultados contábeis e fiscais. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 2. 72 10 35 /2 01 1- 12 Fl. 1402DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.403 2 REDUÇÃO INDEVIDA DE GANHO DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE TÍTULOS. CUSTO INFLADO COM ÁGIO. REAVALIAÇÃO INTERNA DOS ATIVOS. GLOSA. CABIMENTO As operações societárias realizada em sequência e em curto espaço de tempo, entre empresas sob o mesmo controle, incluindo a permuta de ativos entre as empresas do mesmo grupo, com reavaliação dos componentes patrimoniais de uma delas, entre os quais, os títulos da Bovespa, seguida de sua imediata absorção pela empresa reavaliada, mediante a incorporação reversa da empresa controladora, que recebera os ativos reavaliados na permuta revela a intenção de manipulação dentro do grupo empresarial deturpando a real situação econômica e patrimonial das empresas. O ágio registrado corresponde, de fato, a mera reavaliação interna de ativos, sendo correta sua glosa no cálculo do ganho de capital. DESCONSIDERAÇÃO DE ATO OU NEGÓCIO JURÍDICO. NORMA ANTIELISÃO. ART. 116, PARÁGRAFO ÚNICO DO CTN. EFICÁCIA PLENA. Embora não tenha a acusação fiscal se baseado na norma antielisão prevista no art. 116, parágrafo único do CTN, sua utilização não seria vedada. A eficácia de tal dispositivo independe de expedição de novo ato legal ante a existência de rito próprio para a constituição e exigência de créditos tributário em âmbito federal, consubstanciado no Decreto nº 70.235/1972. A Medida Provisória nº 66/2002, pretendeu estabelecer um rito prévio ao lançamento no qual o contribuinte, caso concordasse com a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos pelo Fisco, poderia efetuar, no prazo de 30 dias, o pagamento sem a incidência de multa. Caso discordasse, sofreria o lançamento dos tributos, com aplicação da multa de ofício, que se submeteria, no âmbito federal, ao rito previsto no Decreto nº 70.235/1972. Com a rejeição dos dispositivos da MP. 66/2002 perderam os contribuintes a oportunidade desse "rito prévio", mas nenhum prejuízo sofreu a aplicação das normas de constituição e exigência do crédito tributário previstas no decreto do PAF, que de resto já regulavam toda a relação processual entre o Fisco e os contribuintes na esfera federal. MULTA DE OFÍCIO. EMPRESA SUCESSORA. CABIMENTO. Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. (Aplicação da Súmula 554 do STJ) COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZO E BASE DE CÁLCULO NEGATIVA DE CSLL. Cabível a compensação de 30% por prejuízo fiscal e base negativa de CSLL de períodos anteriores, tendo em vista a opção externada em sua DIPJ e a existência de saldos compensáveis e a reconstituição da base de cálculo para absorção do prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa da CSSL do período, apurado na empresa sucedida. TRIBUTAÇÃO REFLEXA: CSLL Fl. 1403DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.404 3 Por se constituírem infrações decorrentes e vinculadas, nos termos do § 2º do art. 24 da Lei 9.249/1995, aplicase ao lançamento CSLL as conclusões relativas ao IRPJ. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos em negar provimento ao recurso voluntário, votando pelas conclusões os conselheiros Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Gustavo Guimarães da Fonseca e Flávio Machado Vilhena Dias, e em negar provimento ao recurso de ofício. O Conselheiro Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa solicitou a apresentação de declaração de voto. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros: Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Paulo Henrique Silva Figueiredo Rogério Aparecido Gil, Lizandro Rodrigues de Sousa (Suplente Convocado), Flavio Machado Vilhena Dias, Gustavo Guimarães da Fonseca e Luiz Tadeu Matosinho Machado. Fl. 1404DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.405 4 Relatório Tratase de recursos voluntário e de ofício interpostos em face do Acórdão nº 0535.726, proferido em 09/11/2011, pela 5ª Turma da DRJ/Campinas/SP, que considerou parcialmente procedente a impugnação apresentada pela interessada, conforme sintetizado na seguinte ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2007 REDUÇÃO INDEVIDA DE GANHO DE CAPITAL NA ALIENAÇÃO DE TÍTULOS. CUSTO INFLADO COM ÁGIO. Mantémse o lançamento de IRPJ e CSLL decorrente de acréscimo indevido de ágio ao custo de aquisição do investimento, que reduziu o ganho de capital e, conseqüentemente, o lucro tributável, se constatado pela Fiscalização que o ágio não provém de transação onerosa com terceiros mas foi originado de permuta entre empresas sob controle acionário comum, em função de conjunto de operações, em seqüência e num curto espaço de tempo, entre empresas do mesmo grupo (algumas delas de existência efêmera) para as quais não identificada substância econômica e, portanto, não passíveis de registro, mensuração e evidenciação pela contabilidade. DESMUTUALIZAÇÃO DE BOLSAS DE VALORES. ASSOCIAÇÕES ISENTAS. DEVOLUÇÃO DE PATRIMÔNIO SOB A FORMA DE AÇÕES. SUJEIÇÃO À TRIBUTAÇÃO. Sujeitase à incidência do IRPJ e CSLL, computandose na determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL, a diferença entre o valor dos bens e direitos recebidos por pessoa jurídica, provenientes de instituição isenta, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver entregue para a formação do referido patrimônio. REALIZAÇÃO DA RESERVA DE ATUALIZAÇÃO DE TÍTULOS PATRIMONIAIS DE ENTIDADE ISENTA. Os aumentos nominais de títulos patrimoniais em virtude de majoração do capital social da Bolsa de Valores, contabilizados em contrapartida à conta de reserva de atualização, sujeitamse à tributação quando da alienação do investimento. Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2007 Fl. 1405DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.406 5 COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZO E BASE DE CÁLCULO NEGATIVA DE CSLL. Relativamente à parcela da exigência pela qual a autuada responde como contribuinte, acatase o pedido de redução dos valores devidos em função de compensação de 30% por prejuízo fiscal e base negativa de CSLL de períodos anteriores, tendo em conta a opção externada em sua DIPJ e a existência, nos sistemas informatizados, de saldos compensáveis. Em relação à parcela da exigência pela qual a autuada responde como sucessora por incorporação, verificada a apresentação, pela incorporada, de DIPJ com apuração de resultado negativo, reconstituise a base de cálculo para absorção do prejuízo do período. CSLL. LANÇAMENTO CONEXO. Aplicase ao lançamento conexo o mesmo tratamento dispensado ao lançamento principal, em razão da relação de causa e de efeito que os vincula. O auto de infração do IRPJ, fls. 505/517, traz a descrição das seguintes infrações, verbis: 001 GANHOS E PERDAS DE CAPITAL ALIENAÇÃO DE AÇÕES, TÍTULO E/OU COTAS DE CAPITAL Redução de ganho de Capital na alienação de ações, títulos e/ou quotas de capital, em virtude de acréscimo indevido ao custo de aquisição do investimento, conforme descrito no Termo de Verificação Fiscal, anexo e parte integrante do presente Auto de Infração. Fato Gerador Valor Tributável ou Imposto Multa (%) 31/12/2007 R$ 77.371.023,93 75,00 31/12/2007 R$ 64.475.853,19 75,00 002 OUTROS RESULTADOS NÃO OPERACIONAIS GANHOS AUFERIDOS EM DEVOLUÇÃO DO PATRIMÔNIO SOCIAL DAS ENTIDADES ISENTAS Omissão de ganho auferido na devolução do patrimônio social de entidade isenta conforme descrito no Termo de Verificação Fiscal, anexo e parte integrante do presente Auto de Infração. Fato Gerador Valor Tributável ou Imposto Multa (%) 31/12/2007 R$ 1.404.775,60 75,00 003 – ADIÇÕES NÃO COMPUTADAS NA APURAÇÃO DO LUCRO REAL Fl. 1406DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.407 6 REALIZAÇÃO DA RESERVA DE REAVALIAÇÃO Ausência de cômputo, na determinação do lucro real, da realização de reserva de atualização a valores de mercado dos títulos patrimoniais da Bovespa, decorrente da efetiva realização do bem, conforme descrito no Termo de Verificação Fiscal, anexo e parte integrante do presente Auto de Infração. Fato Gerador Valor Tributável ou Imposto Multa (%) 31/12/2007 R$ 1.685.730,72 75,00 As infrações 01 e 02 ensejaram exigência reflexa de CSLL por falta de recolhimento. O acórdão recorrido descreve as apurações feitas pelas autoridades fiscais constantes do Termo de Verificação Fiscal TVF, das quais, tendo em vista a complexidade das operações, julgo importante transcrever os pontos principais, verbis: As irregularidade apuradas foram contextualizadas no Termo de Verificação Fiscal do qual se extrai: 1) A Contribuinte A contribuinte é sociedade por cotas limitada e tem por objeto social a participação como sócia ou acionista em outras empresas; o agenciamento da compra e venda de imóveis por conta de terceiros; a administração, a compra e venda de bens imóveis e a realização de títulos e valores mobiliários, tudo conforme seu Contrato Social. Seu capital social encontrase distribuído entre os seguintes sócios: Cotistas Qtd. Cotas Percentual do Capital Elba Holdings Ltda. 3.669.489.775 95,97% Embaúba Holdings Ltda. 154.124.261 4,03% Banco Bradesco SA. 1 0,00% Total de Cotas do Capital Social 3.823.614.037 2) O Grupo de Empresas No presente trabalho foram verificadas incorporações e transações efetuadas entre empresas pertencentes ao mesmo grupo, que será, a fim de facilitar a sua compreensão, identificado como Grupo Bradesco. A seguir são relacionadas as empresas envolvidas com os fatos relatados a seguir, pertencentes ao chamado Grupo Bradesco, com a composição dos seus principais acionistas ou quotistas, conforme informações constantes nas Fichas 50 Identificação de Sócios ou Titular, das DIPJs entregues por cada umas das empresas e referentes ao anocalendário de 2007. Ressaltese, no transcorrer do ano de 2007, essas empresas apresentaram mudanças na distribuição de seu capital social, estando, porém, sempre sob controle direto ou indireto do Banco Bradesco S.A.. 1) Elba Holdings Ltda. CNPJ 07.832.152/000108 Controladora da contribuinte Bradesplan com 95,97% do Capital Social. Tem como acionista controlador Banco Bradesco S.A., com 81,06% do capital total e votante. 2) Bruxelas Holdings CNPJ 08.427.596/000112 100% do capital total e votante pertencente à Embaúba Holdings Ltda., foi incorporada pela Bradesplan em 19/10/2007. 3) Embaúba Holdings CNPJ 07.436.414/000107 83,51% do capital total e votante pertencente ao Banco Boavista Interatlântico S.A.. Fl. 1407DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.408 7 4) Banco Boavista Interatlântico S.A. CNPJ 33.485.541/000106 100% do capital total e votante pertencente ao Banco Bradesco S.A.. 5) Málaga Holdings CNPJ 08.427.596/000112 100% do capital total e votante pertencente à Embaúba Holdings Ltda., foi Incorporada pela Bruxelas holdings em 08/06/2007. 6) Banco Alvorada S.A. CNPJ 33.870.163/000184 65,31% do capital total e votante pertencente ao Banco Bradesco S.A. 7) Serei Participações em Imóveis S.A. CNPJ 72.712.201/000122 48,98% do capital total e votante pertencente ao Banco Bradesco S.A., 37,88% do capital total e votante pertencente ao Banco Alvorada S.A.. 8) Companhia Securitizadora de Créditos Rubi CNPJ 01.222.069/000122 92,73% do capital total e votante pertencente à Serei Participações em Imóveis S.A.. Como pode ser depreendido da composição acionária das empresas listadas acima, o Banco Bradesco S.A. era, à época dos fatos geradores detalhados a seguir, controlador de todas elas, algumas diretamente e outras indiretamente, como é, por exemplo, o caso da Bradesplan controlada indiretamente através da Elba Holdings, e das Holdings Málaga e Bruxelas, controladas indiretamente através da Embaúba, controlada pelo Banco Boavista que por sua vez tinha 100% do Capital social pertencente ao Banco Bradesco S.A.. 3) A Ação Fiscal A ação fiscal se iniciou em 08/03/2010, com a ciência, por AR, do Termo de Início de Ação Fiscal lavrado em 03/03/2010. Ressaltese que parte dos documentos e esclarecimentos prestados pela contribuinte Bradesplan, foram colhidos pela DEINF/SPO, sob abrigo do MPFDiligência 08.1.66.00.2009.0003758 e enviados à DRF Osasco, conforme o Memorando n°5/2011/SEPAC/DEINFSPO/SRRF08/RFB/MFSP. Em 01/04/2011 foi lavrado Termo de Convalidação e Prosseguimento de Ação Fiscal, convalidando todos os atos praticados sob o abrigo do MPF 08.1.66.00.2009.0003758. No curso dos trabalhos também foram colhidos documentos e esclarecimentos diretamente da BM&F BOVESPA S.A. Bolsa de Valores Mercadorias e Futuros, CNPJ 09.346.601/000125, sob abrigo do MPF 08.1.13.002010002855. a) A desmutualização Convencionouse chamar de "desmutualização" o conjunto de alterações societárias ocorridas no ano de 2007 em que a Bovespa e a BM&F, ambas Associações Civis sem Fins Lucrativos, transformaramse em sociedades empresarias, constituídas sob a forma de sociedades anônimas de capital aberto. Como resultado das desmutualízações, as pessoas físicas e jurídicas associadas, detentoras dos títulos patrimoniais de ambas as associações (bolsas), passaram a deter ações das companhias (empresas S.A.) criadas no processo e que incorporaram as atividades das antigas Bolsas. No curso de sua existência a Bovespa efetuou diversas emissões, desdobramentos e cancelamentos de títulos patrimoniais, de modo que na data da desmutualização o patrimônio da entidade era representado por 758 títulos patrimoniais. Em 28 de agosto de 2007, esses títulos possuíam o valor unitário de R$ 1.460.194,02, tendo como referência os valores apurados no balanço de 30/06/2007. Nesta data houve uma série de alterações societárias que resultaram na devolução de capital, por meio da entrega de ações da Bovespa Holding S.A. para os detentores de títulos patrimoniais da Bovespa, na proporção de 706.762 ações, com valor unitário de R$ 2,06, para cada título patrimonial. Fl. 1408DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.409 8 Resumidamente, a operação de desmutualização ocorreu da seguinte forma: 1º) criação da Bovespa Holding S.A.; 2º) Cisão parcial da antiga Bovespa; 3º) incorporação do capital cindido, parte diretamente na Bovespa Holding e parte na BVSP (Bovespa Serviços e Participações S.A); 4º) incorporação pela Bovespa Holding S.A. das ações da BVSP e da CBLC. As atividades desempenhadas pela antiga Bovespa passaram a ser desempenhadas pela BVSP. Essa operação teve como objetivo transferir as atividades compreendidas no objeto social da associação civil sem fins lucrativos Bovespa, para outra entidade, organizada sob a forma de sociedade anônima e, com a desmutualização, ocorreu a separação entre o conteúdo operacional do título e os direitos patrimoniais, que passaram a estar corporificados em ações da Bovespa Holding S/A. Os títulos representativos do patrimônio das Bolsas eram contabilizados na conta de ativo permanente das corretoras, ficando sujeito às atualizações periódicas de acordo com as informações fornecidas pela BM&F e pela Bovespa, decorrentes do engrandecimento das Bolsas. Essas atualizações eram contabilizadas como acréscimos ao valor dos citados ativos, em contrapartida à subconta "reserva de atualização dos títulos patrimoniais", dentro da conta "reserva de capital", que compõe o patrimônio líquido das corretoras de acordo com as orientações contidas no COSIF Plano Contábil das Instituições Financeiras, Capítulo 1, item 11, subitem 3, § 3o. A Portaria MF n° 785/77 conferiu neutralidade tributária aos referidos acréscimos do valor desses títulos, enquanto mantidos no ativo de seus detentores. Portanto, em função desta Portaria, os aumentos nominais dos títulos patrimoniais em virtude de aumento do capital social das bolsas ficam sujeitos à tributação em caso de extinção ou redução do capital social (a qualquer título) da bolsa de valores. Através da Solução de Consulta n° 10 de 26/10/2007, em resposta a consulta formulada pela Comissão Nacional de Bolsas de Valores, a Receita Federal do Brasil se manifestou acerca das repercussões tributárias advindas do processo de desmutualização. Em apertada síntese, na referida consulta fica claro que se aplica, ao processo de desmutualização, a tributação prevista no artigo 17 da Lei n° 9.532/97, segundo o qual deve ser computada na determinação do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro a diferença entre o valor em dinheiro ou o valor dos bens recebidos a título de devolução de patrimônio de instituição isenta e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos entregues para a formação do patrimônio, no caso de pessoas jurídicas sujeitas ao pagamento do imposto de renda com base no lucro real. b) Os fatos A Bruxelas Holdings foi constituída em 25/10/2006, com Capital Social de R$ 1.000,00. Não teve praticamente nenhuma atividade até 30/05/2007, quando, conforme Ata da Assembléia Geral Extraordinária, promoveu um aumento de capital, com a emissão de 71.000.733 ações ordinárias, sem valor nominal, elevando seu Capital Social para R$ 54.453.592,72. O Banco Alvorada subscreveu 26.917.485 destas ações, mediante a conferência de bens, entre eles 22 Títulos Patrimoniais da Bolsa de Valores de São Paulo BOVESPA, no valor de R$ 29.033.762,12. Na contabilidade da Bruxelas, foi debitada a conta 13141002 Títulos Patrimoniais BOVESPA, tendo como contrapartida credora a conta 28111001 Capital Social Integralizado. Na contabilidade da Bruxelas Holdings S.A. Fl. 1409DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.410 9 Data Cod Conta Conta Valor D/ C Histórico Num_Arq uiv 30/05/200 7 28111001 Capital Social Integralizado 54.452.592,72 C Valor referente a integralizacap deCapital, mediante a emissão de71.000.733 acoes ordinar 070500001 0 30/05/200 7 13141002 Títulos Patrimoniais BOVESPA 29.033.762,12 D Valor referente de 22 TitulosPatrimoniais da Bovespaavalidados pelos critério contábil, medianteconferencia do 070500001 0 * extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bruxelas Holdings Em 08/06/2007, houve novo aumento de capital, no valor de R$ 1.072.851.627,50. Esse aumento de Capital ocorreu em razão da operação de incorporação da Málaga Holdings, que, na ocasião, era a controladora da Bruxelas Holding, ocorrendo o que se convencionou chamar de incorporação às avessas, operação na qual a controladora é incorporada pela sua controlada. Dentre os lançamentos contábeis representativos desta operação, foi verificado o lançamento a débito da conta contábil 13112058 Ágio Títulos BOVESPA, no valor de R$ 141.846.877,20, tendo como contrapartida credora a conta 21561001 Credores Diversos por Incorporação. Na contabilidade da Bruxelas Holdings S.A. Data Cod Conta Conta Valor D/ C Histórico Num_Arq uív 08/06/200 7 13112058 Agio Títulos BOVESPA. 141.846.877,0 2 D Valor referente a incorporação da Malaga Holdings Ltda.,transferencia do saldo contábil da conta Agio TitulosPatrimoniais Bovespa, conforme I 070600003 0 08/06/200 7 21561001 Credores Diversos por Incorporacao/Cis ao 141.846.877,0 2 c Valor referente a incorporação da Malaga Holdings Ltda..transferencia do saldo contábil da conta Agio TitulosPatrimoniais Bovespa, conforme I 070600003 0 * extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bruxelas Holdings Ou seja, os 22 Títulos Patrimoniais da BOVESPA, recebidos do Banco Alvorada, avaliados em R$ 29.033.762,12, agora estavam registrados na contabilidade da Bruxelas Holdings acompanhados de um ágio de R$ 141.846.877,20, oriundos de empresa diversa daquela que possuía originalmente esses títulos. A incorporada Málaga Holdings também foi constituída em 25/10/2006 com o mesmo valor do capital inicial da sua incorporadora Bruxelas Holdings, ou seja: R$ 1.000,00. Da mesma forma que a Bruxelas, não teve praticamente nenhuma atividade até 31/05/2007, quando teve um aumento de seu Capital Social, no valor de R$ 400.000.000,00, mediante a conferência de 547.952.172 ações da Companhia Securitizadora de Créditos Rubi pela Embaúba Holdings S.A.. Em 05/06/2007, a Málaga Holdings, efetuou permuta de ações com a Serei Participações em Imóveis S.A., através de Instrumento Particular de Permuta de Ações. A Málaga entregou 399.043.412 ações ordinárias, nominativasescriturais da Companhia Securitizadora de Créditos Financeiros Rubi, à Serei, tendo recebido na permuta, 71.001.733 ações ordinárias, nominativasescriturais da Bruxelas Holdings S.A., passando a ser, após essa operação, a controladora da Bruxelas Holdings. Fl. 1410DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.411 10 Como resultado desta permuta de ativos, ocorrida entre empresas pertencentes ao chamado Grupo Bradesco e, portanto, sob controle acionário comum, surgiu um ágio referente aos títulos patrimoniais da BOVESPA, no valor de R$ 141.846.877,20. Regularmente intimada, em 27/05/2010, a esclarecer o valor da transferência destes títulos, a Serei Participações limitouse a informar que: "com relação à Permuta de Ações firmada entre Málaga Holdings e Serei Participações, os 22 Títulos Patrimoniais da bovespa foram avaliados pelo valor unitário de R$ 7.640.000,00, conforme Laudo de Avaliação anexo (DOC 3)". O Laudo apresentado foi elaborado em 30/05/2007 pela BDO Trevisan Auditores Independentes, a pedido do Banco Alvorada S.A.. Foi tomado como base o valor de uma venda de sete Títulos Patrimoniais da Bovespa, ocorrida em 29/05/2007 e divulgada no site da Bovespa, nesta venda os títulos atingiram o valor unitário de R$ 7.640.000,00. Portanto, o ágio registrado na contabilidade da Bruxelas Holdings, na conta contábil 13112058 Ágio Títulos BOVESPA, no valor de R$ 141.846.877,20, por ocasião da incorporação da Málaga Holdings, teve sua origem numa operação de permuta de ativos, dentro de empresas do mesmo grupo, sob controle acionário comum, e sem que houvesse qualquer desembolso financeiro na sua constituição. Em 30/06/2007 e 31/07/2007, a Bruxelas efetuou ajustes nos valores dos títulos patrimoniais escriturados na conta contábil 13141002 Títulos Patrimoniais BOVESPA, nos valores respectivos de R$ 1.942.326,10 e R$ 1.148.180,22 tendo como contrapartida credora conta contábil 28121011 Reserva de Atualização de Títulos Patrimoniais. Na contabilidade da Bruxelas Holdings Data Cod Conta Conta Valor D/ C Histórico Num_Arq uiv 30/06/200 7 13141002 Títulos Patrimoniais BOVESPA 1.942.326,10 D Valor referente, atualização de 22 titulos patimoniais daBOVESPA, com base no valor unitário de R$ 1.408.004,01. 070600012 9 30/06/200 7 28121011 Reserva de Atualização de Titulos Patrimoniai 1.942.326,10 c Valor referente, atualização de 22 titulos patimoniais daBOVESPA, com base no valor unitário de R$ 1.408.004,01. 070600012 9 31/07/200 7 13141002 Titulos Patrimoniais BOVESPA 1.148.180,22 D Valor referente atualização detitulos BOVESPA. 070700012 2 31/07/200 7 28121011 Reserva de Atualização de Titulos Patrimoniai 1.148.180,22 C Valor referente atualização detitulos BOVESPA. 070700012 2 * extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bruxelas Essas atualizações foram feitas com base nas informações fornecidas pela Bovespa, e foram decorrentes da valorização dos ativos da Bovespa. Em 24/08/2007, a Bruxelas celebrou com o Goldman Sachs do Brasil Banco Múltiplo S.A. INSTRUMENTO PARTICULAR DE CESSÃO E TRANSFERÊNCIA DE TÍTULOS PATRIMONIAIS DE CORRETORA DE EMISSÃO DA BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO BOVESPA, através do qual vendeu 12 dos 22 Títulos Patrimoniais da Bovespa. Neste contrato fez parte o Banco Bradesco S.A., na qualidade de interveniente. Em 31/10/2007, foi efetuado o PRIMEIRO ADITIVO AO INSTRUMENTO PARTICULAR DE CESSÃO E TRANSFERÊNCIA DE TÍTULOS PATRIMONIAIS DE CORRETORA DE EMISSÃO DA BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO BOVESPA, tendo de um lado o Goldman Sachs do Brasil Banco Múltiplo S.A. e de outro a Bradesplan, uma vez que a Bruxelas já havia sido incorporada pela Bradesplan, e, ainda, como interveniente Banco Bradesco S.A.. Fl. 1411DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.412 11 Como resultado desta operação, a Bruxelas recebeu o montante de R$ 91.680.000,00 em 27/08/2007 e a Bradesplan o montante de R$ 29.220.886,20, em 01/11/2007, sendo este segundo montante referente ao cálculo, previsto no contrato, de percentual do valor recebido pelo Goldman Sachs, pela venda das ações no IPO da Bovespa. Regularmente intimada em 21/09/2009 a apresentar o demonstrativo do ganho de capital referente à venda destes Títulos Patrimoniais, a Bradesplan apresentou, em 28/09/2009, demonstrativo, cuja cópia foi transcrita abaixo: Demonstrativo do Resultado Apurado na Alienação De 12 Títulos Patrimoniais da Bovespa AGOSTO/2007 Qtde. de títulos Patrimoniais da Bovespa Alienados em Agosto /2007 12 Valor da Venda 91.680.000,00 Baixa do Investimento (94.893.352,07) Resultado da Alienação dos Títulos em Agosto/2007 (3.213.352,07) OUTUBRO/2007 Valor Recebido por força do Instrumento Particular de 29.220.886,20 Cessão e Transferência de Títulos Patrimoniais de Corretora de Emissão da Bovespa Resultado da Alienação dos Títulos em Outubro/2007 29.220.886,20 Resultado Líquido da Alienação dos 12 Títulos em 2007 26.007.534,13 Na contabilidade da Bruxelas Holdings Data Cod Conta Conta Valor D/C Histórico Num_Arq uiv 27/08/200 7 13141002 Titulos Patrimoniais BOVESPA 17.522.328,24 c Baixa custo Titulos IBOVESPA 070800007 0 27/08/200 7 13112058 Agio Titulos BOVESPA. 77.371.023,83 C Baixa agio Titulos IBOVESPA 070800007 0 27/08/200 7 51715003 Prejuízo na Alienação de Investimentos 3.213.352,07 D Valor referente despesa apurada na venda de 12 TitulosPatrimoniais da BOVESPA para a empresa GODMAMSACHS. 070800007 0 * extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bruxelas O custo considerado pela Bruxelas no demonstrativo elaborado, no valor de R$ 94.893.352,07, e baixado nas contas contábeis 13121002 e 13112058, nos respectivos valores de R$ 17.522.328,24 e 77.371.023,83, passa a seguir a ser detalhado para melhor compreensão. Na contabilidade da Bruxelas, como já descrito acima, os 22 Títulos originais foram registrados na conta contábil 13141002 Títulos Patrimoniais BOVESPA pelo valor da contrapartida do aumento de capital feito pelo Banco Alvorada, ou seja, R$ 29.033.762,1 um valor unitário de R$ 1.319.716,46. Posteriormente, a Bruxelas efetuou ajustes nos valores dos títulos patrimoniais de R$ 1.942.326,10 e R$ 1.148.180,22 tendo como contrapartida credora a conta contábil 28121011 Reserva de Atualização de Títulos Patrimoniais. Esses ajustes, em Agosto de 2007, somados e divididos pelos 22 Títulos, representavam um valor adicional de R$ 140.477,56 por Título. Na conta contábil 13112058 Ágio Títulos BOVESPA, foi registrado um ágio, na ocasião da incorporação da Málaga Holdings no valor de R$ 141.846.877,20, referente aos 22 Títulos Patrimoniais, o que dá um valor do ágio unitário de R$ 6.447.585,33. Fl. 1412DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.413 12 O custo baixado, referente aos 12 Títulos alienados em Agosto de 2007, foi a soma do valor do custo de cada um dos títulos acrescido do valor do ajuste efetuado e do ágio, conforme detalhado na planilha abaixo. 22 Títulos 12 Títulos Custo Contábil dos Títulos 29.033.762,12 15.836.597,52 Ajustes Efetuados 3.090.506,32 1.685.730,72 Ágio 141.846.877,20 77.371.023,93 Custo Considerado pela Bruxelas 94.893.352,17 Portanto, conforme detalhado, do custo considerado pela Bruxelas, R$ 77.371.023,93 eram referentes ao ágio. Em 31/08/2007 e 04/09/2007 foram registradas na contabilidade da Bruxelas as novas atualizações dos 10 Títulos remanescentes, na conta contábil 13141002 Títulos Patrimoniais Bovespa, tendo como contrapartida credora a conta contábil 28121011 Reserva de Atualização de títulos Patrimoniais. Apesar das datas dos registros contábeis serem 31/08/2007 e 04/09/2007, essas atualizações provavelmente ocorreram antes da operação de desmutualização das Bolsas, ocorrida em 28/08/2007, uma vez que nesta data os Títulos Patrimoniais foram convertidos em ações da Bovespa Holdings S.A.. Na contabilidade da Bruxelas Holdings S A Em 18/09/2007, houve o lançamento da conversão dos Títulos Patrimoniais em ações da Bovespa S.A., por ocasião da desmutualização da Bovespa, ocorrida em 28/08/2007, como já detalhado no tópico "A Desmutualização", em que ocorreu a devolução do capital da antiga bolsa, constituída sob a forma de Associação Civil sem Fins Lucrativos, por meio da entrega de ações da Bovespa Holding S.A., com o valor unitário de R$ 2,06, na proporção de 706.762 ações para cada título patrimonial. Na contabilidade da Bruxelas, foi creditada a conta contábil 13141002 Títulos Patrimoniais Bovespa pelo valor do seu saldo total, R$ 15.688.037,10 e debitada a conta 13121050 Outras Empresas, pelo mesmo valor. Tendo restado um saldo credor de R$ 864,80 na conta 131410002. Na contabilidade da Bruxelas Holdings S.A. Data Cod_Con ta Conta Valor D/ C Histórico Num„Arqu iv 18/09/200 7 13121050 Outras Empresas 15.688.037,10 D Valor referente transferencia de 10 títulos da Bovespa,face serem convertidos a 706.762 acoes de emissão daBovespa Holdings. 070900006 5 18/09/200 7 13141002 Títulos Patrimoniais BOVESPA 15.688.037,10 C Valor referente transferencia de 10 títulos da Bovespa.face serem convertidos a 706.762 acoes de emissão 070900006 5 Fl. 1413DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.414 13 daBovespa Holdings. * extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bruxelas Holdings Na mesma data, 18/09/2007, foi creditada a conta contábil 13112058 Ágio Títulos BOVESPA, pelo valor de seu saldo total, R$ 64.475.853,19, e debitada a recém criada conta contábil 13121050 Outras Empresas, pelo mesmo valor, sendo o histórico descrito como "valor referente à baixa do ágio para o custo do investimento das ações da Bovespa Holdings"! Ou seja, o ágio criado em 05/06/2007, na Málaga Holdings, através da permuta com a Serei Participações em Imóveis S.A., a partir deste lançamento, não existia mais, havia sido incorporado ao custo do investimento! Também foi verificado na conta contábil 13121050 Outras Empresas um lançamento devedor, no valor de R$ 72.755,50, referente à valorização do custo unitário das ações da Bovespa. Neste caso, porém, a contrapartida se deu na conta de resultado 41411002 Ações Bovespa. Na contabilidade da Bruxelas Holdings S.A. Data Cod Conta Conta Valor D/ C Histórico Num_Arq uiv 18/09/200 7 13121050 Outras Empresas 72.755,50 D Valor referente valorização do custo unitário da acao daBovespa Holdings de 2,2197 para 2,23. 070900006 5 18/09/200 7 41411002 Acoes BOVESPA. 72.755,50 C Valor referente valorização do custo unitário da acao daBovespa Holdings de 2,2197 para 2,23. 070900006 5 18/09/200 7 13121050 Outras Empresas 64.475.853,19 D Valor referente a baixa do agio para custo deinvestimento das acoes da BOVESPA Holdings. 070900006 5 18/09/200 7 13112058 Agio Titulos BOVESPA. 64.475.853,19 C Valor referente a baixa do agio para custo deinvestimento das acoes da BOVESPA Holdings. 070900006 5 extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bruxelas Holdings Em 19/10/2007, ocorreu a operação de incorporação da Bruxelas Holdings pela Bradesplan, elevando o Capital Social da Bradesplan de R$ 3.287.978.618,00 para R$ 3.436.872.051,00. Dentre os lançamentos contábeis representativos desta operação de incorporação, foi verificado o lançamento na conta contábil 13121050 Outras Empresas, exatamente o mesmo código contábil e nomenclatura usada na incorporada Bruxelas, no valor de R$ 80.236.645,79, tendo como contrapartida credora a conta contábil 21561001 Credores Diversos por Incorporação/Cisão. Ou seja, foi transferido o saldo contábil existente na mesma conta contábil na Bruxelas, sem qualquer menção ao ágio constituído. O ágio agora havia simplesmente sumido da contabilidade da Bradesplan, estava definitivamente incorporado ao custo do investimento. Na contabilidade da Bradesplan Participações Ltda. Data Cod Conta Conta Valor D/ C Histórico Num Arquiv 19/10/200 7 13121050 Outras Empresas 80.236.645,79 D Valor referente a Incorporação da Bruxelas Holdings S.A.em 19.10.2007 com base em 30.09.2007. 071000010 3 19/10/200 21561001 Credores 80.236.645,79 C Valor referente a 071000010 Fl. 1414DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.415 14 7 Diversos por Incorporacao/Cis ao Incorporação da Bruxelas Holdings S.A.em 19.10.2007 com base em 30.09.2007. 3 * extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bradesplan Participações Ltda. Para melhor compreensão foi elaborada a planilha abaixo, com o detalhamento da composição do custo original das 7.067.620 ações da Bovespa Holding S.A., agora de propriedade da Bradesplan, desdobrando assim, a origem do valor de R$ 80.236.645,79. Composição do "custo" das ações registradas na contabilidade da Bradesplan Em 30/10/2007, foi registrada a venda das ações de emissão da Bovespa Holdings, pelo valor de R$ 162.555.260,00, ocorrida na oferta pública inicial (IPO). Na contabilidade da Bradesplan foram efetuados os seguintes lançamentos Data Cod_Con ta Conta Valor D/ C Histórico Num_Arq uiv 30/10/200 7 13121050 Outras Empresas 80.236.645,79 C Valor referente a Baixa do custo das 7.067.620 Acoes da Bovespa Holding, vendidas através de Oferta Publica nesta data. 071000014 6 30/10/200 7 11121001 Banco Bradesco S.A.Ag. Matriz/SP 162.555.260,0 0 D Valor referente ao recebimento pela venda das 7.067.620 Acoes da Bovespa Holding, sendo R$ 23,00 por acao,vendidas através de Oferta Publica nesta 071000014 6 30/10/200 7 51315086 Perdas cl Titulos e Créditos 864,80 D Valor referente a Baixa do saldo dos titulos patrimoniais da Bovespa Holding, devido transformação dos titulos em acoes. 071000014 6 30/10/200 7 13141002 Titulos Patrimoniais BOVESPA 864,80 C Valor referente a Baixa do saldo dos titulos patrimoniais da Bovespa Holding, devido transformação dos titulos em acoes. 071000014 6 30/10/200 7 41712003 Receita na Venda de Investimentos 82.318.614,21 C Valor referente ao ganho apurado na venda de 7.067.620Acoes da Bovespa Holding, sendo R$ 23,00 por acao,vendidas através de Oferta Publica nesta 071000014 6 * extraídos dos arquivos magnéticos da contabilidade da Bradesplan Participações Nesta operação, conforme demonstrado acima, a Bradesplan ofereceu à tributação o valor de R$ 82.318.614,21 como resultado obtido, deduzindo o custo no montante de R$ 80.236.645,79 do valor de R$ 162.555.260,00, recebido. Deste custo, o montante de R$ 64.475.853,19 representa o ágio, que agora não mais aparece segregado do seu custo. A seguir, os fatos já narrados são sistematizados cronologicamente, a fim de facilitar a sua compreensão: Fl. 1415DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.416 15 1) 30/05/2007 NA BRUXELAS transferência dos 22 Títulos Patrimoniais da Bovespa do Banco Alvorada para a Bruxelas, em contrapartida do aumento de capital. Custo dos títulos R$ 29.033.762,12 2) 31/05/2007 NA MÁLAGA recebimento das ações da Companhia Rubi em contrapartida do aumento de capital efetuado pela Embaúba. 3) 05/06/2007 NA MÁLAGA permuta de ações com a Serei. A Málaga entrega as ações da Rubi para a Serei e recebe, em troca, ações da Bruxelas. Nesta operação é criado o ágio no valor de R$ 141.846.877,02. 4) 08/06/2007 NA MÁLAGA E BRUXELAS extinção da Málaga, através de sua incorporação pela Bruxelas. Com isso há a transferência do ágio para a Bruxelas. 5) 30/06/2007 NA BRUXELAS lançamento da atualização dos títulos no valor de R$ 1.942.326,10. 6) 31/07/2007 NA BRUXELAS nova atualização dos títulos, valor R$ 1.148.180,22. 7) 27/08/2007 NA BRUXELAS Venda de 12 Títulos para o Goldman Sachs, tendo recebido o valor de R$ 91.680.000,00. Como parte do custo foi considerado o valor de R$ 77.371.023,93, referente ao ágio proporcional aos 12 Títulos. 8) 31/08/2007 NA BRUXELAS nova atualização do valor dos Títulos remanescentes, valor R$ 545.433,90. 9) 04/09/2007 NA BRUXELAS nova atualização do valor dos Títulos remanescentes, valor R$ 541.527,80. 10) 18/09/2007 NA BRUXELAS conversão dos títulos em ações da Bovespa Holdings S.A., em razão da desmutualização ocorrida em 28/08/2007. Transferência do valor da conta contábil Títulos Patrimoniais Bovespa para a conta Outras Empresas. 11) 18/09/2007 NA BRUXELAS lançamento contábil da conta Ágio Títulos Bovespa contra a conta Outras Empresas. O ágio remanescente, no valor de R$ 64.475.853,19, não está mais segregado do custo do investimento. 12) 19/10/2007 NA BRUXELAS e BRADESPLAN extinção da Bruxelas com sua incorporação pela Bradesplan. Ocorre a transferência das ações da Bovespa Holdings para a Bradesplan pelo valor total de R$ 80.236.645,79. Não há mais qualquer segregação de valores no custo escriturado. 13) 30/10/2007 NA BRADESPLAN venda das ações da Bovespa Holdings, recebidas na incorporação da Bruxelas. Valor recebido R$ 162.555.260,00. Dentro do valor de R$ 80.236.645,79, referente ao custo escriturado, R$ 64.475.853,19 eram referente ao ágio que agora estava definitivamente incorporado ao custo. 14) 30/10/2007 NA BRADESPLAN recebimento de R$ 29.220.886,20, referente ao valor residual, previsto em contrato sobre a venda dos 12 Títulos Patrimoniais. Este valor foi levado ao resultado do exercício. c) As empresas de passagem Como bem destacou Marco Aurélio Grecco (Planejamento tributário. S. Paulo, Dialética, 2004), o elemento relevante quando se está perante uma pessoa jurídica não é apenas a sua existência formal. Em matéria tributária, tão ou mais importante que o preenchimento das formalidades legais para sua constituição é a identificação do empreendimento que justifica sua existência. A criação de uma empresa tem sentido na medida em que corresponda "a vestimenta jurídica de um determinado empreendimento econômico ou profissional". A idéia de empresa é o Fl. 1416DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.417 16 núcleo a ser investigado. O Código Civil define no caput do art. 966 que "considera se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços". Nesse contexto, quais seriam os papeis da Bruxelas Holdings e Málaga Holdings? Marco Aurélio Grecco cita situações que são perfeitamente aplicáveis nesta situação. Uma delas é a que se chama de "empresa de passagem", que vem a ser uma pessoa jurídica usada apenas para servir de canal de passagem de um patrimônio ou de dinheiro, sem que tenha efetivamente outra função dentro do contexto. Tratase de uma operação que serve apenas para transmitir um patrimônio ou um determinado recurso. A outra é a "sociedade efêmera" ou de curta duração que nasce para morrer ou para ser extinta tão logo cumpra seu papel em determinada operação. As empresas Málaga Holdings e Bruxelas Holdings enquadramse perfeitamente nessas duas situações. A Málaga foi constituída em 25/10/2006, não teve qualquer atividade até 31/05/2007, quando recebeu as ações da Companhia Securitizadora de Créditos Rubi. Sete dias depois realizou a permuta de ações com a Serei Participações, que deu origem ao ágio. Em 08/06/2007 foi extinta devido à sua incorporação pela Bruxelas. Teve, incontestavelmente, vida efêmera, operou efetivamente de 31/05/2007 a 08/06/2007, durante apenas 9 dias, sendo que neste período teve seu Capital Social aumentado de R$ 1.000,00 para R$ 400.000.000,00 e produziu o ágio Títulos Patrimoniais da Bovespa no valor de R$ 141.846.877,20. A Bruxelas, também constituída em 25/10/2006, também ficou adormecida até 30/05/2007 e sobreviveu até 19/10/2007 quando foi incorporada pela Bradesplan, transferindo as ações da Bovespa Holdings S.A. já com o ágio, criado na Málaga, incorporado ao custo do investimento. Neste período teve seu capital aumentado de R$ 1.000,00 para R$ 3.287.978.617,66 d) O ágio de si mesmo O Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações da FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras, FEA/USP), elaborado por Sérgio de Iudícibus, Eliseu Martins e Ernesto Rubens Gelbcke, em sua 7ª Edição, em seu item "11.7 ÁGIOS OU DESÁGIOS E AMORTIZAÇÃO", abaixo transcrito. [...] O ágio gerado em operações internas, também denominado "ágio de si mesmo", é, também, vedado pela Comissão de Valores Mobiliários, nos termos do OfícioCircular CVM SNC/SEP n° 1/2007, em seu item 20.1.7: "20.1.7 "Ágio" gerado em operações internas A CVM tem observado que determinadas operações de reestruturação societária de grupos econômicos (incorporação de empresas ou incorporação de ações) resultam na geração artificial de "ágio". Uma das formas que essas operações vêm sendo realizadas, iniciase com a avaliação econômica dos investimentos em controladas ou coligadas e, ato contínuo, utilizarse do resultado constante do laudo oriundo desse processo como referência para Fl. 1417DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.418 17 subscrever o capital numa nova empresa. Essas operações podem, ainda, serem seguidas de uma incorporação. Outra forma observada de realizar tal operação é a incorporação de ações a valor de mercado de empresa pertencente ao mesmo grupo econômico. Em nosso entendimento, ainda que essas operações atendam integralmente os requisitos societários, do ponto de vista econômicocontábil é preciso esclarecer que o ágio surge, única e exclusivamente, quando o preço (custo) pago pela aquisição ou subscrição de um investimento a ser avaliado pelo método da equivalência patrimonial, supera o valor patrimonial desse investimento. E mais, preço ou custo de aquisição somente surge quando há o dispêndio para se obter algo de terceiros. Assim, não há, do ponto de vista econômico, geração de riqueza decorrente de transação consigo mesmo. Qualquer argumento que não se fundamente nessas assertivas econômicas configura sofisma formal e, portanto, inadmissível. Não é concebível, econômica e contabilmente, o reconhecimento de acréscimo de riqueza em decorrência de uma transação dos acionistas com eles próprios. Ainda que, do ponto de vista formal, os atos societários tenham atendido à legislação aplicável (não se questiona aqui esse aspecto), do ponto de vista econômico, o registro de ágio, em transações como essas, somente seria concebível se realizada entre partes independentes, conhecedoras do negócio, livres de pressões ou outros interesses que não a essência da transação, condições essas denominadas na literatura internacional como "arm's length". Portanto, é nosso entendimento que essas transações não se revestem de substância econômica e da indispensável independência entre as partes, para que seja passível de registro, mensuração e evidenciação pela contabilidade." (grifei) Fica claro que, para efeitos contábeis e societários, o surgimento de ágio, assim como lucro, pressupõe transação onerosa com terceiros, aqui estamos diante de um ágio puramente imaginário. O ágio sobre os Títulos Patrimoniais da Bovespa foi gerado em uma operação de permuta de ativos entre empresas sob controle acionário comum, do Banco Bradesco S.A., portanto, sem o envolvimento de terceiros, quaisquer que fossem eles. Os controladores do grupo apenas mudaram os títulos de lugar. Ninguém pagou e ninguém recebeu um centavo sequer por tal movimentação. A riqueza que possuíam antes é exatamente igual à riqueza que continuaram a possuir após as movimentações. Nos termos postos pela CVM, as reorganizações societárias ocorridas dentro do chamado Grupo Bradesco não se revestem de substância econômica e da indispensável independência entre as partes, requisitos indispensáveis para que fossem passíveis de registro, mensuração e evidenciação pela contabilidade. Fl. 1418DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.419 18 Entretanto, tais desatinos foram contabilizados e o valor desse ágio esdrúxulo foi abatido do lucro tributável. Fica evidente que deve ser feita a glosa da parte do custo inflado com o ágio produzido, uma vez que tais valores carecem de substância econômica. e) As operações preocupantes. Nos fatos verificados no presente trabalho, ficaram evidentes algumas figuras, clássicas no planejamento tributário das empresas, listadas a seguir: operações realizadas em sequência: todas as operações foram realizadas no período de 30/05/2007 a 30/10/2007, envolvendo as pessoas jurídicas, Banco Alvorada; Málaga Holdings; Bruxelas Holdings; Companhia Rubi; Serei Participações e Bradesplan e organizadas sequencialmente transferindo os ativos entre as empresas, com o objetivo de aumentar o seu custo. O objetivo almejado pela contribuinte somente foi obtido com a conclusão do conjunto de operações e não com cada operação isoladamente. operações invertidas: em 08/06/2007 a Bruxelas Holdings incorporou a Málaga Holdings, que era sua controladora, em uma operação de incorporação às avessas; operações entre partes relacionadas: conforme detalhado no item "2) O Grupo de Empresas", todas as empresas estavam sob controle acionário comum, do Banco Bradesco SA; uso de sociedades efêmeras: conforme já detalhado no item "as empresas de passagem", as pessoas jurídicas Málaga Holdings e Bruxelas Holdings, tiveram vida efêmera, de curta duração e atividade ágio de si mesmo: como já exposto no item "O Ágio de si mesma", tratase de um ágio gerado internamente, em empresas sob controle acionário comum, sem o dispêndio de qualquer valor monetário. Mais uma vez citando o professor Marco Aurélio Greco, em sua obra "Planejamento Tributário" (Editora Dialética), no "Capítulo XVI Operações Preocupantes" elenca algumas modalidades de planejamentos tributários com escassas chances de oposição contra o Fisco. Tal capítulo parece ter sido escrito sob medida para o presente trabalho, dada a semelhança entre as práticas adotadas pela contribuinte e as operações elencadas pelo renomado mestre. Segue, abaixo, a reprodução dos seus pontos mais importantes. [...] g) A autuação A seguir, as infrações verificadas, passam a ser descritas de forma sistematizada para melhor clareza do presente Termo. g1) Não tributação dos valores recebidos de entidade isenta a título de devolução do patrimônio. Fl. 1419DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.420 19 Em 28 de agosto de 2007, como já exposto no item "A Desmutualização", ocorreu a desmutualização da Bovespa, com a consequente devolução do capital aos detentores dos Títulos Patrimoniais de sua emissão. A diferença entre o valor dos bens e direitos recebidos de instituição isenta, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver entregue para a formação do referido patrimônio, ou seja, o custo do investimento, deve ser computada na determinação do lucro real e da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro conforme disposto no artigo 17 da Lei n° 9.532/97, transcrito abaixo. [...] Essa diferença corresponde exatamente ao valor da atualização do custo de aquisição do título patrimonial, registrado no patrimônio líquido da sociedade corretora associada, na conta Reserva de Capital. A Bruxelas recebeu 22 Títulos Patrimoniais da Bovespa em 30/05/2007 do Banco Alvorada, pelo valor de R$ 29.033.762,12. O que corresponde ao valor unitário de R$ 1.319.716,46. Em 30/06/2007 e 31/07/2007, efetuou ajustes nos valores dos títulos patrimoniais escriturados na conta contábil 13141002 Títulos Patrimoniais BOVESPA, nos valores respectivos de R$ 1.942.326,10 e R$ 1.148.180,22 tendo como contrapartida credora a conta contábil 28121011 Reserva de Atualização de Títulos Patrimoniais. Em 24/08/2007, a Bruxelas vendeu 12 dos 22 Títulos Patrimoniais, efetuando a baixa contábil da parcela do custo e das atualizações referente a estes 12 Títulos. Na data da desmutualização possuía, portanto, 10 Títulos remanescentes. A parcela do valor das atualizações, referentes a estes 10 Títulos, corresponde à diferença entre o custo de aquisição e o valor das atualizações, conforme demonstrado na Tabela I, abaixo. Tabela I valores recebidos a título de devolução do capital Portanto o valor de R$ 1.404.775,60 deve ser adicionado à base de cálculo do IRPJ e da CSLL, com base no artigo 17 da Lei n° 9.532/97 e seu § 3º e corroborada pela Solução de Consulta COSIT n° 10 de 26/10/2007. g2) Falta de adição ao lucro real da realização da reserva de atualização dos Títulos Patrimoniais. Como já exposto anteriormente, as atualizações dos Títulos Patrimoniais, em razão do engrandecimento das bolsas, eram contabilizadas como acréscimos ao valor dos citados ativos, em contrapartida à conta reserva de atualização dos títulos patrimoniais. A Portaria MF n° 785/77 conferiu neutralidade tributária aos referidos acréscimos do valor desses títulos, enquanto mantidos no ativo de seus detentores. Fl. 1420DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.421 20 Portanto, em função da Portaria, os aumentos nominais dos títulos patrimoniais em virtude de aumento do capital social das bolsas ficam sujeitos à tributação em caso de alienação do investimento. Em 24/08/2007, a Bruxelas vendeu 12 dos 22 Títulos Patrimoniais. Na composição do custo destes títulos, conforme também já detalhado anteriormente, e reproduzido abaixo, havia uma parcela referente a essas atualizações. Tabela II custo considerado pela contribuinte 22 Títulos 12 Títulos Custo Contábil dos Títulos 29.033.762,12 15.836.597,52 Ajustes Efetuados 3.090.506,32 1.685.730,72 Ágio 141.846.877,20 77.371.023,93 Custo Considerado pela Bruxelas 94.893.352,17 Portanto, uma vez que não foi verificada a adição da contrapartida destes ajustes efetuados, no valor de R$ 1.685.730,72, mantida na conta contábil 28121011 Reserva de Atualização de títulos Patrimoniais no LALUR da Bruxelas, a mesma deve ser adicionada ao lucro real pela fiscalização. g3) Apuração a menor do ganho de capital glosa do ágio. Conforme já detalhado, em 24/08/2007 a Bruxelas vendeu 12 dos 22 Títulos Patrimoniais da Bovespa adquiridos do Banco Alvorada. Os 10 Títulos remanescentes foram transformados em 7.067.620 ações da Bovespa Holdings S.A., posteriormente transferidas para a Bradesplan, na operação de incorporação ocorrida. A totalidade destas ações foi vendida em 30/10/2007. Na venda dos 12 Títulos Patrimoniais, foi deduzido do valor oferecido à tributação o custo referente a estes ativos, detalhado na Tabela II, acima. Deste custo, R$ 77.371.023,93 eram representativos do ágio gerado na operação de permuta. Na venda das ações da BOVESPA foi considerado o valor de R$ 80.236.645,79 como o custo do investimento baixado. Na composição deste custo, R$ 64.475.853,19 eram referentes ao ágio gerado, conforme detalhado anteriormente. Abaixo fica novamente transcrita a composição do custo das ações vendidas pela Bradesplan. Custo original dos 10 Títulos + atualizações 15.688.037,10 Valorização do custo das ações em 18/09/2007 72.755,50 Ágio 64.475.853,19 Total das ações transferidas na incorporação 80.236.645,79 Portanto, nestas operações, o custo foi inflado pelo ágio gerado na operação de permuta já detalhada, no valor total de R$ 141.846.877,20. Diante de todo o exposto, não é concebível, econômica e contabilmente, o reconhecimento unilateral de acréscimo de riqueza (ágio) em decorrência de uma transação dos sócios com eles próprios. Ainda que, do ponto de vista formal, os atos societários tenham atendido à legislação aplicável, do ponto de vista econômico, tais transações não se revestem de substância econômica e da indispensável independência entre as partes para merecer registro, mensuração e evidenciação pela contabilidade e, conseqüentemente, o ágio delas decorrentes não se enquadra na hipótese de dedutibilidade prevista nos arts. 7º e 8º da Lei 9.532/97. Fl. 1421DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.422 21 Portanto, foi efetuada glosa no custo dos ativos alienados, no valor de R$ 141.846.877,20, em função de ágio constituído nessas condições Intimada do acórdão recorrido em 30/11/2011, que julgou parcialmente procedente o lançamento, a interessada interpôs recurso voluntário em 28/12/2011, no qual repete os argumentos expendidos na sua impugnação, que foram bem descritos na decisão a quo, conforme abaixo transcrito: Ao expor os fatos questiona, de início, a autuação de atividade de duas pessoas jurídicas nos termos seguintes: Os dois autos de infração decorrem, segundo a autoridade fiscal, de quatro valores que, indevidamente, duas empresas do conglomerado Bradesco (Bruxelas Holdings e a impugnante) teriam abatido na apuração do ganho auferido na alienação de ativos. Independente do fato em si, que abaixo será objeto de análise para demonstrar a incorreção da peça acusatória, causa surpresa, de início, que atividade de duas pessoas jurídicas distintas sejam objeto de lançamento no mesmo auto de infração. Os quatro valores glosados dizem respeito a 22 (vinte e dois) títulos patrimoniais da associação BOVESPA, que a empresa Bruxelas Holdings S/A, CNPJ 08.427.596/000112, recebeu em integralização de capital social do Banco Alvorada S/A, CNPJ 33.870.163/000184. Dos 22 (vinte e dois) títulos, 12 (doze) foram alienados em 24 de agosto de 2.007 para Goldman Sachs do Brasil Banco Múltiplo S/A, CNPJ 04.332.281/000130, pelo valor de R$ 91.680.000,00. Na apuração do resultado desta operação de venda, os autos de infração glosam, do custo apurado pelo contribuinte, os valores de R$1.685.730,72 e R$ 77.371.023,93. Os outros 10 títulos patrimoniais da associação BOVESPA foram convertidos em ações do capital da BOVESPA S/A, sociedade anônima nascida com a cisão parcial da mencionada associação, ocorrida em 28 de agosto de 2.007, na base de setecentas e seis mil, setecentas e sessenta e duas (706.762) ações por título patrimonial, no total de sete milhões, sessenta e sete mil, seiscentas e vinte (7.067.620) ações. Em 19 de outubro de 2.007, a empresa Bruxelas Holdings S/A foi, integralmente, incorporada pela sociedade Bradesplan Participações Ltda., CNPJ 61.782.769/000101, sendo vertidos todos seus bens, direitos e obrigações para a sociedade incorporadora. No caso específico das ações da BOVESPA S/A, a incorporadora alienouas dentro do processo de abertura do capital da citada sociedade anônima, na oferta pública ocorrida em 30 de outubro de 2.007. Os dois outros valores glosados pelo D. agente fiscal, R$1.404.775,60 e R$64.475.853,19, constituemse parcelas do custo destas ações alienadas pela impugnante. Os valores de R$1.685.730,72 e 1.404.775,60 foram contabilizados e levados ao custo dos títulos patrimoniais pela Bruxelas Holdings S/A, por corresponderem a acréscimo do valor nominal dos títulos, em decorrência de alteração do patrimônio social da referida bolsa. Tais valores foram lançados a custo dos títulos patrimoniais aqui em discussão por expressa autorização do DecretoLei 1.190/70, com a regulamentação que lhe deu a Portaria MF 785/77, procedimento, digase, pacífico e de longa data assentado entre os possuidores de títulos patrimoniais das bolsas de valores. Fl. 1422DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.423 22 Os outros dois valores de custos questionados, R$77.371.023,93 e R$64.475.853,19 correspondem ao ágio lançado ao custo dos títulos patrimoniais pela Bruxelas Holdings S/A, com respaldo no Parágrafo 1º do Artigo 7º da Lei 9.532/97. O custo dos títulos assim contabilizados, serviram de base para a própria Bruxelas Holdings apurar seu resultado em relação aos 12 títulos vendidos para o Banco Goldman Sachs, bem como para formar o custo das ações que recebeu em substituição aos títulos patrimoniais em decorrência da cisão parcial da associação BOVESPA. Quando a impugnante absorveu o Patrimônio Líquido da Bruxelas Holdings S/A, parte deste patrimônio, o custo das ações da Bovespa S/A, era composto pelo valor original, mais os acréscimos em razão do aumento do patrimônio social da bolsa e ainda do ágio, numa operação de permuta, como será adiante analisado. Ao alienar tais ações, a impugnante apurou o resultado da operação tendo como custo dos ativos o valor exato pelo qual os recebeu ao incorporar a Bruxelas Holdings S/A. Como tudo se passou dentro dos estritos limites da lei, reconhecido pelo próprio auto de infração, nada há, portanto, a se exigir da impugnante pela venda de tais ações. Aborda a base de cálculo do Auto de Infração, argumentando que para glosar os acréscimos ao valor dos títulos em decorrência da equiparação do valor destes ao Patrimônio Social da Bolsa, alega, em síntese, a fiscalização, que o contribuinte não tributou a devolução de patrimônio feita pela associação BOVESPA aos seus associados, e que a contribuinte não adicionou ao lucro líquido a reserva de atualização dos títulos patrimoniais, quando a Portaria MF 785/77 havia tão somente conferido uma neutralidade tributária a tais acréscimos enquanto mantidos no ativo de seus detentores. Acrescenta que: de fato, nunca houve a tal devolução de patrimônio aos associados por parte da associação BOVESPA, assim como o DecretoLei 1.190/70, regulamentado pela Portaria MF 785/77, efetivamente, retirou do campo de incidência tributária os acréscimos em questão. Curiosamente, a base dos Autos de Infração, no que diz respeito à glosa do ágio, não é a lei, mas a obra "Planejamento Tributario" de Marco Aurélio Grecco, publicada em 2.004 pela Editora Dialética. Conclui o Termo de Verificação fiscal existir uma consonância perfeita entre a obra do celebrado autor e o trabalho fiscal, citando, expressamente, que "Tal capítulo parece ter sido escrito sob medida para o presente trabalho... ", para, num arrebatamento final, transcreve 15 (quinze) páginas do livro. Reproduz excertos do Termo de Verificação para observar que salta aos olhos, antes de qualquer outro fato, a constatação literal do D. agente fiscal, de que os atos dos quais decorreram o ágio, todos, sem exceção, atenderam a legislação a eles aplicável. O problema, segundo a mesma fiscalização, é que não se enquadraram nos preceitos estatuídos na obra do professor Grecco, o que não permitiria que tais eventos fossem levados a registro no sistema contábil do contribuinte. A primeira questão que surge é, se os atos atendem à legislação aplicável, por que não podem ser levados a registro? Em qual lei está prescrito que só podem ser contabilizados fatos decorrentes de negócios onerosos com terceiros? Fl. 1423DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.424 23 Por mais que a impugnante tenha procurado, não logrou êxito em localizar tal preceito legal entre os dispositivos legais arrolados no Enquadramento Legal dos autos de infração, os quais transcreve. Conclui não constar da legislação transcrita a exigência lançada, gratuitamente, pelos autos de infração, de que uma operação para ser contabilizada precisa ser onerosa e com empresas sem vínculos societários. Reportase ao Termo de Verificação alegando afirmar com acerto que o ágio apropriado pela impugnante é decorrente de uma permuta, e permuta, como prevista no artigo 533 do Código Civil, é transação onerosa (mesmo que nenhuma das partes tenha experimentado um ganho financeiro, por serem os bens permutados, no caso, economicamente equivalentes), logo a assertiva de que o ágio nascera de operação não onerosa revelase incorreta e contraditória. E continua: quanto à exigência da participação de terceiros na transação, entendida como realizadas por empresas sem vínculos societários, tratase de norma instituída pela própria fiscalização, pois, em momento algum, há a vedação em toda legislação em vigor, de transações entre pessoas com algum vínculo entre si. Pelo contrário, como ficará demonstrado, a lei fiscal manda que se trate isoladamente cada uma das pessoas jurídicas, considerandoas como totalmente independentes entre si mesmo na constância de vínculos entre elas. no presente caso, há, ainda, a interveniência da empresa especializada de avaliação, que incontestavelmente, não mantém vínculo societário, pelo que entende não se sustentarem as exigências. Abordando o Direito, defende que o lançamento afronta garantias constitucionais do cidadão, relegando o princípio da legalidade e o mandamento de que não se pode lançar tributo sem lei anterior que o estabeleça. Expõe que conforme anteriormente descrito, os autos de infração glosam, no custo dos títulos e nas ações alienadas, parte do custo. A glosa recai sobre os acréscimos contabilizados, período a período, para equiparar o valor dos títulos patrimoniais da associação Bovespa ao patrimônio social da entidade e, ainda, o ágio nascido numa operação de permuta. Sob o título Equivalência dos Títulos Patrimoniais ao Patrimônio Social da Bolsa de Valores, argumenta: por décadas, sem nenhuma contestação da Receita Federal, e em atenção às determinações do Banco Central do Brasil, as instituições financeiras ou equiparadas, detentoras dos títulos representativos do patrimônio social das bolsas de valores ajustaram, mês a mês, o valor destes títulos ao valor do quinhão que representavam no patrimônio da Bolsa e, em contrapartida, sem transitar com estes valores pelo resultado do exercício, contabilizavam o ajuste como reserva de capital no patrimônio líquido; os presentes autos de infração insurgemse contra o procedimento determinado pelo Banco Central do Brasil e já pacífico perante a Receita Federal, sob o argumento de que o tratamento fiscal estatuído no DecretoLei 1.190/70 e regulamentado pela Portaria MF 785/77, seria um mero diferimento da tributação para a equivalência contabilizada, e que teria havido uma devolução do patrimônio social da bolsa, entidade isenta, para seus associados, fato que ensejaria uma tributação baseada no artigo 17 da lei 9.532/97. Além de tal artigo versar, Fl. 1424DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.425 24 exclusivamente, sobre a tributação de pessoa física, não houve a devolução de patrimônio social, a qualquer tempo, para os associados pela bolsa de valores; invoca a fiscalização, ainda, como se fora uma transgressão, a operação de cisão parcial pela qual passou a bolsa de valores que transformou, no sentido mais puro do instituto jurídico, parte do Título Patrimonial em ações da sociedade anônima nascida da cisão parcial, como se tal fato se constituísse em devolução patrimonial; Não houve a pretensa devolução patrimonial, não havendo, portanto, qualquer tributação a ser feita a este título. Pura e simplesmente, a mencionada associação passou por processo de transformação, na modalidade cisão, não havendo, portanto, qualquer parcela a ser tributada a título de devolução patrimonial, pois esta não ocorreu. A BOVESPA uma associação constituída, basicamente, por Instituições Financeiras, na modalidade de sociedades corretoras de valores transformouse, cindindo parte de seu patrimônio, destinandoo ao aumento do capital de uma sociedade anônima. O objetivo da novel sociedade seria o de explorar as atividades operacionais antes exercidas pela associação cindida, ou seja, dar curso e local às negociações dos títulos mobiliários. Permaneceu na associação BOVESPA, que continua existindo, o patrimônio não operacional, tudo como descrito no Protocolo de Cisão e Justificativas (doc. anexo). Neste ponto, restou configurado um conflito interno da Administração Tributária na interpretação da legislação em vigor, pois duas Soluções de Consulta traçaram caminhos diferentes para uma mesma situação fática. De fato, o procedimento adotado pela associação BOVESPA, já houvera sido adotado, aproximadamente dez anos antes, pela CBLC, também uma associação nos moldes da BOVESPA, que se cindiu fazendo surgir uma sociedade anônima, mantendo com a associação os ativos não operacionais, passando a explorar as atividades operacionais. O procedimento adotado pelos associados, no caso, foi o de dividir o valor registrado no ativo, representativo da participação cindida em duas partes, uma representando as ações da novel sociedade e outra representando a continuidade de participação na associação. Esta operação não gerou qualquer ganho de capital, como acontece em toda cisão. Tal operação foi objeto de uma consulta formal pela ANCOR Associação Nacional das Corretoras de Valores, Câmbio e Mercadorias que mereceu uma solução, através da Decisão Cosit n° 013, de 10/11/97, confirmando a correção do procedimento adotado (doc. anexo). Agora, face à transformação pela qual passou a BOVESPA, nova Consulta foi formulada à Administração Tributária pela Comissão Nacional de Bolsas, solicitando um pronunciamento a respeito do procedimento adotado pelas sociedades corretoras, para espelhar em suas escriturações, o ocorrido com a Bolsa de Mercadorias & Futuros e provocou a formalização da Solução de Consulta Cosit n° 10, de 26/10/07. A Consulta formulada pela Comissão Nacional de Bolsas, foi solucionada pela Administração Tributária de forma completamente diferente da anterior, para caso semelhante. Para justificar a diferença na solução dada, alegou a Fl. 1425DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.426 25 Administração Tributária alterações na legislação de regência entre um fato e outro. Nosso Estado é um produtor inigualável de novas leis, mormente em matéria de tributos, o que, a primeira vista, poderia fazer parecer plausível a premissa da solução da consulta, mas, como se verá, não é o caso. A Solução de Consulta Cosit n° 10, de 26/10/07 inicia por negar que a BOVESPA tenha passado por uma operação de cisão, entendendo que tal instituto, previsto na Lei n° 6.404/76, seria privativo das sociedades anônimas e que, portanto, entidades com outros formatos, mormente, as associações, não poderiam sujeitarse a tal modalidade de transformação. Com base na assertiva acima, negando a evidência de fatos incontestáveis e passando por cima da autoridade competente para avaliar o procedimento societário, no caso específico a Junta Comercial do Estado de São Paulo, a solução da consulta sugere que houve uma disfarçada devolução de patrimônio aos associados, que o teriam usado na subscrição do capital de sociedade nova, que teria substituído a velha associação na operação dos negócios com títulos mobiliários representativos de mercadorias e futuros. A solução de consulta desqualifica um fato com base num argumento, esquecendo a velha lição dos filósofos gregos de que contra fato não há argumentos. Não caberia aqui discutirse se o instituto "solução de consulta administrativa" tem a prerrogativa legal de desconstituir um fato, fato, aliás, ratificado pela Junta Comercial, ou se isto, em último caso, seria prerrogativa do Poder Judiciário. Caberia, contudo, questionar a base legal invocada para a desconstituição de tal fato, e criação de fato novo, que nunca existiu. Nada impede que sociedade de qualquer forma ou associação lance mão do instituto da transformação na modalidade cisão. Nenhum óbice legal existe. As inconsistências e equívocos até aqui descritos não seriam suficientes, contudo, para que a solução da consulta atingisse seus objetivos, pois seria necessário um passo além, a desconstituição de outros fatos já consumados, praticados em estrita consonância com as normas legais vigentes. Os ativos patrimoniais foram vertidos do patrimônio da associação BOVESPA para o patrimônio da sociedade anônima que surgiu pela cisão, pelo valor contábil, prerrogativa incontestável inerente ao próprio instituto jurídico, oferecida a quem dele lança mão, seja do ponto de vista societário ou tributário. Com isto, na contabilidade dos associados, houve o desdobramento do valor registrado como título patrimonial: uma parte do valor permaneceu idêntica ao do título patrimonial da associação remanescente, e a outra parte passou a equivaler ao valor das ações emitidas, em substituição à parcela do título patrimonial correspondente aos ativos vertidos para a sociedade anônima. Em termos de valor absoluto nada mudou na contabilidade dos associados, o valor que antes representava o título patrimonial passou a representar uma quantidade de ações e o título patrimonial. Neste momento, ocorria uma correspondência de um para um entre o valor contabilizado das ações na escrituração dos associados e seu valor patrimonial na escrituração contábil da nova sociedade, ou seja, mesmo aceitando o equivocado Fl. 1426DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.427 26 entendimento adotado pela Solução de Consulta Cosit n° 10, de 26/10/07, de que houve uma devolução de capital e uma subscrição, ainda assim, nada havia por tributar, pois cada associado recebeu o valor "x" para um custo contabilizado de "x" e integralizou este ativo também pelo valor de "x". Onde estaria o ganho não operacional apontado pelos Autos de Infração? De fato, ele nunca existiu. Portanto, para os objetivos do fisco, era preciso fazer mais, era preciso desfazer toda a contabilidade dos associados, desconsiderar todas as Declarações de Rendimentos apresentadas ao longo dos anos, ignorar os livros de apuração da base imputável dos tributos de todos os exercícios, homologados, prescritos, não importa, para de qualquer forma apurar um novo custo contábil para os tais títulos, de forma a se verificar base imponível dos tributos. As sociedades corretoras, instituições financeiras, estão subordinadas à autoridade do Banco Central do Brasil, como também, em razão de constituíremse operadoras no mercado de capitais, encontramse subordinadas ao controle da Comissão de Valores Mobiliários, autoridades estas que disciplinam a operação e funcionamento destas empresas. Estes Órgãos emanaram normas a serem seguidas na escrituração e acompanhamento destes títulos patrimoniais, mormente a Circular BCB 1.273/87 e OficioCircular CVM 325/79. Assim, a apuração do valor dos títulos patrimoniais, seja do ponto de vista societário, seja do ponto de vista fiscal, teve ao longo dos anos regras muito claras e definidas, e o valor registrado na escrituração contábil e fiscal, à data da cisão ou venda dos títulos, só poderia ser contestado se alguma das instituições associadas deixasse de seguir o procedimento imposto pelo Banco Central ou pela CVM, e, por que não dizer, pelo próprio fisco. O que é inaceitável, num Estado de direito, é uma regra que vigorou ao longo dos anos, seja, subitamente, contestada de forma retroativa, ignorando as imposições do BACEN, da CVM e do próprio Fisco. As regras do BACEN e da CVM impunham que os associados, ao apurar seu balanço patrimonial, fizessem a correspondência entre o valor do patrimônio da Bolsa e a fração representada pelo título. A contrapartida da diferença, resultante entre o valor anteriormente contabilizado e o novo valor, havia de ser lançada diretamente nas contas do Patrimônio Líquido e, no momento oportuno, levado ao capital, aumentandoo, quando o valor representasse mais valia ou diminuindoo, quando este valor representasse perda. Por seu turno, a BOVESPA teria também de aumentar ou diminuir, de pronto, o seu capital, para espelhar a superveniência ativa ou passiva, como se pode ver de seu Estatuto. Destarte, tanto a BOVESPA como os associados, estavam impedidos de distribuir tais resultados, característica prevista no Código Civil para as associações. Por outro lado, a legislação tributária sempre deferiu isenção aos valores de reservas incorporados ao capital, o sócio não é tributado quando a sociedade aumenta o capital a partir de reservas, questão que será melhor adiante abordada. O único pronunciamento formal e específico da Administração Tributária sobre a matéria é a Portaria MF 785 de 20/12/77, que consagra o procedimento Fl. 1427DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.428 27 estabelecido pelas autoridades que controlam as instituições e reconhece a não incidência tributária sobre a matéria, ao afirmar que esta mais valia "não constitui receita nem ganho de capital", o auto de infração, ao contrário, está afrontando literalmente os termos da Portaria. A única condição imposta pelo texto é a de que não houvesse a distribuição destes resultados e ele fosse incorporado ao capital. o valor, portanto, destes títulos, na escrituração dos associados, ao momento da cisão ou da venda, refletia a imposição das autoridades e o tratamento tributário que lhe foi deferido pela legislação. Eis que Solução de Consulta Cosit n° 10, de 26/10/07, negando tudo isso, pretendeu estabelecer nova regra para apurar o valor destes títulos. Não se sabe com que fundamento, entende que os títulos sejam considerados por valor de aquisição. Tal entendimento significa desqualificar a escrituração contábil e arbitrar o lucro, mudar a regra do jogo já encerrado. Pior, a escrituração foi feita estritamente dentro dos parâmetros da lei, observando rigorosamente o que as autoridades determinaram, e, ainda assim, merece aos olhos da solução da consulta ser desqualificada. Reportase aos arts. 2.033 e 44 do Código Civil, para defender que a Solução de Consulta nº 10, de 26/10/2007 se fundamenta em premissa inválida e que o procedimento adotado pela impugnante observou disposições legais. Em suas palavras: A disposição da lei é literal, o instituto da cisão aplicase às associações, sendo, portanto, falaciosa a afirmativa de que o "instituto da cisão, disciplinado nos arts. 229 e segs. da Lei nº. 6.404, de 1976, e no art. 1.122 da Lei nº. 10.406, de 2002, só é aplicável às pessoas jurídicas de direito privado constituídas sob a forma de sociedade ". A premissa sobre a qual se baseou a solução de consulta, anteriormente citada e que norteou a lavratura do presente auto de infração, embora ela não tenha sido citada, é falsa, o que a faz ruir por terra. A falsa premissa, de que só podem se submeter às modalidades de transformação previstas no Código Civil Brasileiro as sociedades anônimas, não se sustenta contra uma singela análise do próprio Código Civil, que traz um rol de entidades aptas a passar por essas transformações. Essa infundada premissa, trazida pela solução de consulta, tinha como objetivo negar que o instituto jurídico utilizado pela BOVESPA, por ocasião de suas transformações, tenha sido uma verdadeira operação de cisão, pois, por sua lógica imprópria, às associações era vedada tal medida. No entanto, a operação de cisão feita pela BOVESPA, seguindo os ditames legais e registrada regularmente pelo Registro de Comércio é regular e legal e, portanto, desencadeia todas as conseqüências que a lei lhe atribui. A cisão não implica em distribuição do patrimônio cindido para os associados, há uma versão direta deste patrimônio da pessoa jurídica cindida para a pessoa jurídica resultante. Para o associado só há uma troca de ativo, ele participava na primeira e agora participa na segunda, sempre pelo mesmo valor. Isto acarreta uma conseqüência inexorável, ainda que houvesse ganho na operação, o que pela própria definição do instituto não existe, ainda assim, este ganho não se teria realizado. Não havendo realização de ganho, não haveria o que se tributar, pois a base imponível é a renda, o lucro. Fl. 1428DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.429 28 Tal argumento já seria o bastante para encerrar toda discussão, demonstrando serem os Autos de Infração complemente insubsistentes, pois se assentam na falsa premissa de que houve um repasse do patrimônio da bolsa para o recorrente na qualidade de associado da BOVESPA. A impugnante apurou o resultado da alienação do título contra o custo do mesmo, constante de sua escrituração contábil, exatamente como manda a lei do ganho de capital, transcrita pela própria fiscalização, o que tornam os autos de infração e a ação fiscal absolutamente improcedentes. O pretenso ganho apontado pela ação fiscal decorre do fato de que esta se afastou da escrituração contábil e fiscal, para buscar critério estranho e sem previsão legal, baseada num "princípio", o que, por si só, já seria o bastante para ruir toda a tese defendida pelo D. agente fiscal. Conforme antes exposto, esta diferença entre o valor histórico de aquisição do Título Patrimonial e o valor contábil presente, decorreu da metodologia imposta pelo BACEN e pela CVM como tratamento contábil para o investimento em Título Patrimonial. Ano a ano, era feita a equivalência entre o valor contábil e o Patrimônio Líquido da Bolsa, como no período este cresceu, também o valor correspondente do investimento na contabilidade do associado aumentou de forma alinhada. O método é muito semelhante ao da equivalência patrimonial, a diferença consiste em que na equivalência seu resultado transita pelas contas de resultado do exercício para depois ser excluído no momento de apuração do lucro real, base de calculo do imposto, e, neste, o resultado é apropriado diretamente ao patrimônio líquido, sem transitar por conta de resultado. Repitase, tal alinhamento de valores não era opção do associado, como também não o era a capitalização do aumento do patrimônio líquido pela Bolsa (Art. 10 da Resolução BACEN 1.656/89), tratandose de uma imposição legal. o tratamento fiscal desta atualização do Título Patrimonial, com base na evolução do patrimônio da Bolsa foi, literalmente, disciplinado pela Portaria MF 785/77, que se escuda na letra "m" do artigo 223 do Regulamento do Imposto de Renda vigente à época, que relaciona os valores a serem excluídos do lucro líquido para efeito de se apurar o lucro real, da seguinte forma: a) O acréscimo do valor nominal dos títulos patrimoniais das Bolsas de Valores,em decorrência de alteração do seu patrimônio social, não constitui receita nem ganho de capital das sociedades corretoras associadas e, por isso, pode ser excluído do lucro real, desde que não seja distribuído e constitua reserva para oportuna e compulsória incorporação ao capital. b) Aos aumentos de capital assim procedidos aplicase o disposto no Decreto lei nº. 1.109/70, art. 3º , §3°. A base legal da portaria ministerial era o art. 3º, caput, do DecretoLei 1.109/70 (que transcreve) cujas regras continuam em vigor até hoje, pois não foram revogadas. Art. 3º Os aumentos de capital das pessoas jurídicas mediante incorporação de reservas ou lucros em suspenso não sofrerão tributação do imposto de renda. (...) Fl. 1429DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.430 29 § 3º Ocorrendo a redução do capital ou a extinção da pessoa jurídica nos cinco anos subseqüentes o valor da incorporação será tributado na pessoa jurídica como lucro distribuído, ficando os sócios, acionistas ou titular, sujeitos ao imposto de renda na declaração de rendimentos, ou na fonte, no ano em que ocorrer a extinção ou redução. Expõe, então, que: Antes de demonstrar a não revogação desta base legal, é preciso traçar um paralelo entre o disposto no DecretoLei 1.109/70, com a regulamentação do Decreto 785/77, e a legislação da reavaliação de ativos: (i) a Portaria Ministerial, com base no Decretolei, cria uma não incidência, enquanto o disciplinamento da reavaliação faz apenas um diferimento, assim, a regra aplicável é de que a mais valia não constitui receita nem ganho de capital, é definição de substancia não de tempo, não é ganho de capital, e, portanto, não haverá ajuste no lucro líquido para efeito de apuração de resultado tributável; (ii) ficam muito bem caracterizados os fatos subjacentes aos dois casos, reavaliação é uma coisa e outra é o aumento do valor dos títulos em razão do aumento do patrimônio das bolsas, pontos que serão melhor analisados adiante. A Lei n° 8.849/94 renovou a regra de não incidência criada pelo Decreto Lei 1.109/70, ao estabelecer algumas situações de relaxamento à proibição de redução do capital aumentado sob a não incidência do tributo, situações em que, mesmo reduzindose o capital dentro do período quinquenal, tal fato não implicaria na tributação do valor capitalizado ou mantido em reservas. De novidade, a Lei n° 8.849/94 deixou explícito que a não incidência atinge também os aumentos de capital com lucros, ainda que não tributados, o que era até desnecessário, pois, para excetuar estes lucros, a lei haveria de deixar explícita a exceção, não cabendo ao intérprete distinguir o que a lei não distingue. Posteriormente, a Lei n° 9.064/95 deu nova redação ao artigo 3º da Lei n° 8.849/94, mantendo a regra geral intacta, ou seja, a não incidência sobre o aumento de capital, disciplinando com maiores detalhes as questões relativas à extinção da empresa que capitalizou lucros e a redução de capital, mas, repitase, manteve intacta a regra de não incidência sobre o aumento do capital com reservas ou lucros e a extensão da não incidência para sócios e acionistas, conforme se depreende da análise do artigo 3º da lei 8.849/94, com a redação que lhe deu a Lei 9.064/95, o qual transcreve para defender que está incólume a regra criada pelo DecretoLei 1.109/70, que ensejou e deu suporte legal à edição da Portaria MF 785/77. E continua: Não houve, em qualquer momento, a revogação explícita da mencionada Portaria, não havendo outro entendimento possível que não seja o de que ela está em pleno vigor, tanto que a regra consta do atual Regulamento do Imposto de Renda, artigo 658 e seus parágrafos. Assim, tornase imperioso se acatar que a Portaria 785/77, para além de ratificar que a mais valia oriunda do alinhamento do valor contábil, registrado como representativo do título patrimonial ao valor do patrimônio que ele representa, não constitui receita ou ganho de capital, serviu para enquadrar o fato no arcabouço de nosso ordenamento jurídico tributário. Fl. 1430DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.431 30 Esta mais valia não é reavaliação ou qualquer outro instituto, ela é, exatamente, o fato disciplinado pelo Decretolei 1.109/70, que se caracteriza pela constituição de uma reserva em contrapartida do aumento do valor do título patrimonial pelo aumento do patrimônio da Bolsa de Valores que o emitiu, valor este que não transita por contas de resultado. Assim, não há princípio que possa transformar este fato em qualquer outro, pois ele tem vida, natureza e tratamento próprios na legislação, ele não está sujeito a tratamentos gerais e genéricos, pois, conforme disposto na Lei de Introdução ao Código Civil, a lei geral não poderá revogar a lei específica, menos ainda, a lei específica que definiu as regras de tributação poderá ser subjugada por mero raciocínio, ou pela criação do tal "princípio da neutralidade". Neste ponto é inevitável dizer que o princípio que de fato existe, em matéria tributária, é o princípio constitucional da reserva legal, que determina que não ocorra cobrança de tributo sem lei anterior que o estabeleça. Outra constatação decorrente da análise da legislação que rege o tratamento tributário do fato levantado pela fiscalização, é a de que a não incidência do tributo sobre a mais valia decorrente da equiparação do título ao seu valor patrimonial, não é um deslocamento provisório do momento da tributação, mas um tratamento tributário definitivo, pois, quando a lei quer fazer apenas um diferimento, ela estabelece, necessariamente, o fato futuro que resolverá o diferimento e o momento que o tributo passará a ser devido. Já no caso que aqui se discute, a lei não vincula qualquer fato futuro. A única condição imposta pela legislação de regência para que o resultado decorrente dessa equiparação do valor do título ao patrimônio da entidade emissora dele permanecesse fora do campo de incidência tributária, é que no período de cinco anos este resultado não fosse distribuído aos acionistas. Portanto, o custo do título patrimonial alienado é o valor constante da escrituração do impugnante, elaborada em total obediência às regras emanadas pelo Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários e Receita Federal, e o ganho de capital foi apurado com base na regra do artigo 418 do Regulamento do Imposto de Renda, que reproduz. Inexiste para o presente caso qualquer disposição especial, e aceitarse o procedimento pretendido pela presente ação fiscal implicaria em se admitir um arbitramento de lucro sem qualquer base legal, o que se traduziria em confisco puro e simples. O confisco ou a cobrança de tributo sem base legal afronta a Carta Magna, pelo que não podem prosperar os presentes autos de infração. Assim, foi analisada toda a trajetória de formação do custo do título alienado, restando constatado que tudo foi feito com lisura, em total obediência à legislação em vigor, pois, do ponto de vista contábil, foram atendidas as normas de BACEN e CVM, registrandose a contrapartida e aumento de valor do título como reserva no Patrimônio Líquido, e, no momento da alienação, o ganho de capital foi apurado com base no custo contábil registrado. A discussão, desta forma, seria se, no momento da alienação, além do ganho de capital apurado nos termos acima, haveria alguma exação adicional, o que foi de pronto afastado, pois a legislação criou uma não incidência de tributos sobre a reserva constituída em contrapartida do aumento do valor do título em razão de sua equiparação ao patrimônio social da entidade emissora. Fl. 1431DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.432 31 Outra questão, seria se esta não incidência tributária era provisória, vinculandose a ocorrência da tributação a algum evento futuro, hipótese também absolutamente descartada, pois não há qualquer fato futuro descrito na lei como capaz de descaracterizar a não incidência. Não é verdade, assim, que a tributação fora transferida para outro momento, até porque não fica claro que momento é este, como se isso pudesse ficar em aberto, algo inadmissível no Estado de Direito. Transcreve novamente teor da Portaria MF 785/77, para destacar : Impossível encontrar neste texto uma postergação do momento da tributação, pois a lei estabelece que não ocorre o fato gerador do tributo, portanto, é impossível cobrálo a qualquer tempo, em respeito à Constituição Federal, que veda a cobrança de tributo sem lei anterior que o defina e o confisco. Não se poderia entender que o DecretoLei 1.109/70 tenha criado um diferimento provisório do tributo, pois, para não pairar qualquer dúvida, o parágrafo primeiro de seu artigo 3º , deixa clara a natureza do instituto criado, ao estabelecer que a não incidência estabelecida neste artigo se estende aos sócios ...”. Tratase, assim, de uma não incidência, não de um diferimento, razão pela qual não poderá prosperar, de forma alguma, a presente ação fiscal. Aborda a exigência de CSLL, alegando que a ela se aplica a argumentação expendida para o IRPJ e acrescentando que: A base imponível desta contribuição é o lucro líquido do exercício, com ajustes, todos previstos, explicitamente, em lei. Por definição legal, o ajuste do valor dos títulos não transitava pelas contas de resultado da pessoa jurídica, compondo diretamente o patrimônio líquido, portanto, não fazendo parte do lucro líquido.; Como não há previsão de ajuste do lucro líquido na lei para refletir a valorização dos títulos, não haveria como se cogitar da incidência da CSLL sobre estes valores, sendo, assim, ainda mais arbitrária e equivocada a exigência fiscal com relação à contribuição em questão. Acerca de ágio na permuta de ações, argumenta que assertiva do próprio agente fiscal, de que todos os atos atenderam a legislação aplicável, é absolutamente correta, e, assim, os procedimentos adotados não merecem qualquer reparo. Não se discute que a lei em vigor por ocasião dos fatos deve regêlos, e não a posição isolada de um doutrinador ou legislações posteriores ou anteriores aos fatos. É pacífico em nosso ordenamento e literal no artigo 106 do Código Tributário, que a lei só se aplica a fato pretérito para beneficiar o contribuinte, e ainda assim, em situações específicas e descritas no próprio CTN. A aplicação da lei, ainda não em vigor por ocasião dos fatos, fere de morte o princípio da legalidade, garantia máxima deferida pelo texto constitucional ao contribuinte, conforme disposto em seu art. 150. E continua: Nos presentes autos, a Administração Tributária reconhece, formalmente, que o procedimento adotado pelo contribuinte não fugiu do procedimento estabelecido em lei, que este adequouse à lei, mas o apena do mesmo modo. A regra constitucional acima posta é o pano de fundo sobre o qual se haverá de ser avaliado o procedimento fiscal. A primeira acusação sacada pelos autos de infração é que o procedimento adotado, embora legal, não poderia ser aceito pelo fisco, pois "não é concebível, Fl. 1432DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.433 32 econômica e contabilmente, o reconhecimento unilateral de acréscimo de riqueza (ágio) em decorrência de uma transação dos sócios com eles próprios". A questão colocada é se as operações de subscrição de capital, redução de capital, incorporação e permuta realizadas entre as empresas envolvidas, relacionadas nos autos de infração, todas interligadas ao Banco Bradesco S/A, ou, como quer a fiscalização, pertencentes ao Conglomerado Bradesco, são ilegais pelo fato de pertencerem ao mesmo grupo empresarial. Esta é a primeira parte da premissa posta pela fiscalização para justificar a glosa realizada. Os autos de infração deixam claro que somente seria aceita a incorporação do ágio ao custo do ativo, prevista no parágrafo Iº do artigo 7º da lei 9.532/97, se o ágio decorresse de operação com terceiros e onerosa. É patente que as duas condições impostas pela fiscalização não constam, de pronto, do texto legal, tendo o D. agente fiscal expressamente reconhecido tal fato. Vejamos, pois, a primeira parte da premissa, a questão das operações dentro do grupo empresarial frente à lei, para em seguida, voltarmos à questão da onerosidade. Fica implícito na concepção da fiscalização, e na leitura que a fiscalização faz do doutrinador que invoca, que estas operações intragrupo são um nada, um mero artifício, pelo que não merecem registro no sistema contábil. Seria o tratamento adotado pela fiscalização a expressão da nossa tradição contábilfiscal? Seria este o tratamento deferido pelas leis comerciais e tributárias a tais operações? Longe disso. A primeira e única tentativa de tratar as operações de um mesmo grupo de empresas englobadamente foi a prerrogativa dada aos contribuintes pelo artigo 2º do DecretoLei 1.598/77, que transcreve e que prevê hipótese afastada do ordenamento jurídico quando o DecretoLei 1.648/78 em seu artigo 5º revogou tal dispositivo. Destarte, as pessoas jurídicas pertençam ou não ao mesmo grupo empresarial, haverão de ser tratadas individualizadamente para efeitos tributários, cada uma apurando seu próprio tributo e o recolhendo, aplicandose, isonomicamente, a legislação em vigor para cada uma delas. Não se sustenta, pois, a pretensão vazada nos autos de infração. Embora pertencentes ao mesmo grupo, as empresas são, efetivamente, terceiros em relação umas às outras. Do ponto de vista fiscal são terceiros, mas isto não é uma condição imposta pela legislação como condicionante a que se incorpore o ágio ao custo do ativo. Em data posterior aos fatos aqui discutidos, a Lei 11.638/07 acrescentou o parágrafo 3º ao artigo 226 da Lei 6.404/76, cujo caput trata das operações de fusão, incorporação e cisão, onde fez uma distinção entre empresas com e sem vínculo entre si, nos seguintes termos: §3º Nas operações referidas no caput deste artigo, realizadas entre partes independentes e vinculadas à efetiva transferência de controle, os ativos e passivos da sociedade a ser incorporada ou decorrente de fusão ou cisão serão contabilizados pelo seu valor de mercado. Posteriormente, a Lei 11.941/09 revogou este parágrafo 3º do artigo 226 da lei 6.404/76, delegando competência à Comissão de Valores Mobiliários para estabelecer as regras contábeis de avaliação de ativos e passivos aplicáveis às Fl. 1433DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.434 33 operações de fusão, incorporação e cisão que envolvam companhia aberta, mas silencia em relação a empresas terem ou não vinculo entre si. O parágrafo terceiro transcrito que, na prática, nem chegou a vigorar, mas de qualquer forma posterior aos fatos aqui discutidos, determina que nas operações de incorporação, fusão e cisão os ativos e passivos teriam, necessariamente, que ser avaliados a mercado no caso destas operações que envolvessem empresas independentes, onde houvesse mudança de controle acionário, mas não se proibiu que as empresas interligadas usassem o mesmo critério, apenas elas não estariam obrigadas a fazêlo. Curiosamente, a contabilização do ágio aqui discutido decorre, exatamente, de se ter levado os ativos a valor de mercado. Importante a análise do citado parágrafo 3º para confirmar que, em querendo a lei, tem ela que, explicitamente, manifestar a sua vontade, para que esta possa ser oposta ao contribuinte. No curso da descrição daquilo que os autos de infração queriam indicar como transgressões, são invocadas regras administrativas emanadas pela mencionada Comissão de Valores Mobiliários já na constância das Leis 11.638/07 e 11.941/09 (Ofício Circular CVM 1/2007), como se isso pudesse lhe dar respaldo retroativo, quando vimos que a lei só poderá retroagir em casos específicos, sempre a favor do contribuinte. Não tem base legal a premissa posta pelos autos de infração, portanto. Eis que a lei comercial no disciplinamento dos institutos não fazia distinção entre empresas ligadas ou não como se pode ver do artigo 223 da Lei das Sociedades Anônimas, que transcreve. Também o parágrafo 1º do artigo 7º da Lei 9.532/97 não impõe tal condição, assim a condição imposta pelos Autos de Infração é absolutamente ilegal. Questionase, portanto, se, embora, não explicitada diretamente na lei, poderia a premissa constante do Termo de Verificação Fiscal, de que a exigência que a transação que gerou o ágio fosse cursada por empresas sem vínculos societários, ser fruto da interpretação regular da lei? No caso, a interpretação consistiria em fazer uma distinção nos seguintes termos: o gênero fusão, incorporação e cisão teria duas espécies, uma quando cursada entre empresas interligadas e a outra quando cursada entre empresas sem ligação entre si, para, na seqüência, se afirmar que o preceito legal se aplicaria a uma das espécies e não à outra. Tal distinção, no caso, estaria restringindo o alcance do texto legal, negando sua aplicação a hipótese a que a lei em si não negara. Estaria restringindo o alcance de um instituto do direito privado, desnaturandoo, afrontando de maneira acintosa as disposições dos artigos 109 e 110 do CTN. Reportase a excerto doutrinário para concluir este tópico expondo que pela legislação em vigor, as empresas citadas uma em relação às outras são todas independentes entre si pelo conceito do direito tributário, mas ainda que não o fossem, o direito comercial não as distingue por terem participações entre si, e as trata da mesma forma, sendo aplicáveis a elas todos os institutos do direito privado, em especial as regras das operações de incorporação, fusão e cisão. Não as distingue também o artigo 7º da Lei 9.532/97, e, sendo as regras deste artigo aplicáveis, indistintamente, a elas, portanto, os autos de infração estão impondo exigência absolutamente ilegal, o que torna improcedente a ação fiscal. Fl. 1434DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.435 34 Prossegue, argumentando que: a segunda exigência colocada pelos autos de infração, e que não teria sido atendida para se evitar a glosa, é que o ágio tivesse nascido de uma operação onerosa. Como descrito nos próprios autos de infração, o ágio teve sua origem numa operação de permuta. Permuta, instituto jurídico descrito em nosso Código Civil (artigo 533) e na doutrina, é uma operação onerosa, onde duas pessoas, ao mesmo tempo, alienam e adquirem ativos. O proprietário do bem "a" alienao para o proprietário do bem "b", em contrapartida, o proprietário do bem "b" alienao para o proprietário do bem "a". Não há preço estipulado, pois um bem constituise o pagamento do outro. Para os intervenientes o sacrifício consiste na perda do bem anteriormente havido, como condição para se ter o novo bem sob seu domínio, encontrandose configurada, portanto, a onerosidade da operação. Fosse permitida a tributação conjunta do grupo de empresas, poderia se alegar que o procedimento não acarretaria qualquer impacto para o grupo como um todo, o que se perde em uma empresa ganhase na outra, no conjunto a soma algébrica teria resultado zero, contudo, em nosso regime de independência completa na tributação de cada uma das pessoas jurídicas, independentemente de pertencerem a um conglomerado, isso não ocorre. No presente caso, contudo, o mais relevante é o tratamento contábil da permuta, pois nunca o valor registrado dos bens permutados serão iguais entre si. O parágrafo 4º do artigo 128 do RIR/99, ao disciplinar os mecanismos de apuração do ganho de capital das pessoas físicas estabelece uma regra, aceita universalmente como regra geral de procedimento para todas as pessoas, pela qual o valor a se atribuir ao bem havido por permuta, seja o valor pelo qual estava registrado o bem dado na permuta. ... No caso da permuta que aqui se discute, os bens envolvidos são participações societárias. O registro das aquisições de participações societárias tem um roteiro muito bem definido no artigo 385 do RIR/99 e seus parágrafos, cuja base é o artigo 20 do DecretoLei 1.598/77, que transcreve: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte;e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. §1º 0 valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei n° 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). §2º 0 lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (Decreto Lei n* 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): Fl. 1435DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.436 35 I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razoes econômicas. §3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). Juntandose as duas regras, o preço pago (o custo do bem anteriormente havido) é cotejado contra o valor do patrimônio líquido da empresa investida, no que forem iguais o valor é registrado como custo de aquisição patrimônio líquido, e a diferença como ágio ou deságio. Evidente que no caso específico de permuta, se um interveniente registra um ágio, o outro necessariamente registrará um deságio. Fica assim demonstrado que, muito diferente do que tenta fazer crer a fiscalização, o ágio não é um valor artificial inventado, tirado do nada. Pelo contrário, é a equivalência ao patrimônio de uma sociedade investida que acaba de ser adquirida por um valor menor do que seu valor patrimonial, é a expressão natural de um bom negócio. Não registrando o ágio, neste momento, inexoravelmente, ele se tornaria resultado de equivalência patrimonial por ocasião da primeira avaliação, resultado este não tributável, por sinal. Este foi o procedimento sereno adotado pela impugnante, ao qual os autos de infração tentam impingir ares de malícia e transgressão. A permuta foi celebrada entre Málaga Holdings Ltda. e Serei Participações em Imóveis S/A, o objeto da permuta foi, por parte da Málaga, 399.043.412 ações da Securitizadora Rubi, e, por parte da Serei, 71.001.733 ações da Bruxelas Holdings S/A. Após a permuta, Málaga Holdings S/A, então, passou a ter as 71.001.733 ações da Bruxelas Holdings S/A, correspondentes a 100% do capital desta, ou seja, a Bruxelas Holdings S/A passou a ser subsidiaria integral da empresa Málaga Holdings Ltda. Não se justificava a manutenção do custo das duas empresas. O grupo decidiu reunilas, era indiferente a Málaga absorver a Bruxelas ou viceversa. Como os ativos, de fato, estavam na Bruxelas, optouse por fazer com que esta incorporasse integralmente a Málaga, de forma que a Málaga deixasse de existir, cessando os custos administrativos de mantêla. Mais uma vez, tudo foi feito seguindo, rigorosamente o caminho traçado na lei. Neste fato simples e corriqueiro, os autos de infração vêm a incorporação invertida, como se se tratasse de transgressão inominável. Atendendo as regras do artigo 386 do RIR/99, ao proceder a incorporação, o valor do ágio é incorporado ao custo da participação societária, fato absolutamente desprovido de qualquer efeito fiscal, pois, incorporado ou não ao custo da participação societária em si, no caso de alienação dos bens que geraram o ágio, este comporá o custo de aquisição com a finalidade de apurar o resultado da transação. Eis o disposto no artigo 426 do RIR/99: ... Fl. 1436DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.437 36 Novamente, os autos de infração apontam a incorporação do ágio ao custo do ativo como algo ilegal e superdimensionado, fato, como vimos, desprovido de qualquer significado fiscal. É ainda de se chamar atenção que, em momento algum,houve amortização de ágio, sempre este compôs o resultado na operação de alienação do ativo que o gerou. Assim, cai por terra a segunda parte da premissa posta pelos autos de infração para sustentar a glosa do ágio na composição do custo, primeiro na alienação dos Títulos Patrimoniais BOVESPA pela Bruxelas Holdings S/A, e depois na venda, na oferta pública, das ações da BOVESPA S/A pela impugnante. A lei estabelece a total independência tributária entre empresas interligadas e as transações objeto destes autos foram sim onerosas para as partes envolvidas, mormente porque o ágio de um correspondeu a deságio do outro. Da análise minuciosa do Termo de Verificação Fiscal, encontrase implícito que o D. agente fiscal, em que pese não mencionar tal fato textualmente, escudouse nas disposições contidas no parágrafo único do artigo 116 do CTN, introduzido pela Lei Complementar 104/01, e isso parece óbvio, pois, somente se possível fosse a utilização de tal preceito legal, é que a glosa fiscal poderia ter algum embasamento em nosso ordenamento jurídico: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária." Desnecessário adentrarse na discussão da constitucionalidade do parágrafo único do artigo 116 do CTN, eis que tal norma não é autoaplicável, dependendo de regulamentação adicional por lei ordinária para que possa surtir efeitos. Nesse sentido, é importante ressaltar que a Medida Provisória n° 66, de 2002 tentou regulamentar as disposições da LC 104/01, contudo, o Congresso Nacional rejeitou a referida medida provisória, encontrandose a LC 104/01 sem regulamentação. Assim, as disposições da LC 104/01 possuem eficácia limitada, e sua aplicabilidade está condicionada à edição da referida legislação ordinária que a complementará, e somente após publicada a regulamentação necessária, o novo dispositivo legal poderá produzir efeitos, alcançando os atos praticados a partir da publicação da legislação ordinária, não atingindo os fatos geradores até então ocorridos. É claro que, conhecedor de tal fato, de que o parágrafo único do artigo 116 do CTN não se encontra vigente, eis que pendente de regulamentação, entendeu por bem o D. agente fiscal ocultar a referência expressa a ele, sendo cristalino, contudo, que todo trabalho fiscal tomou por base o preceito legal em comento, esquecendo se, entretanto, que, pior do que embasar a lavratura num dispositivo legal ainda não vigente, é fazer a glosa com base em determinação legal inexistente. Finalmente, com relação às operações societárias praticadas pela impugnante, nem se alegue que poderia permanecer no ar uma pergunta, qual teria sido a motivação de tais operações, pois, na origem de todas as operações societárias, encontrase uma razão de natureza empresarial. Fl. 1437DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.438 37 Os títulos patrimoniais das bolsas eram ativos operacionais, condição sine qua non para que as empresas do conglomerado, detentoras destes títulos, pudessem fazer suas operações nestas instituições. Sem os títulos não se operava. Esta regra mudou. Os títulos foram transformados em ações de companhias, e deixaram de ser condição para se operar nas bolsas. Estes ativos operacionais passaram a ser ativos para negócio, onde cabia escolha de cunho empresarial, mantêlos para esperar sua valorização ou alienálos aproveitando momentos de mercado. Além deste fato, havia o compromisso de disponibilizar uma quantidade destas ações, por parte de cada um e de todos os seus detentores, como forma de viabilizar a oferta pública da BOVESPA. No conglomerado, estes títulos estavam dispersos, pois foram adquiridos ao longo dos anos através de aquisições e incorporações de outras instituições financeiras, como por exemplo, na compra de bancos estaduais privatizados, assim, todo esse movimento teve como origem uma decisão de empresa, uma decisão de caráter econômico, a de escolher a melhor forma de realizar os ativos. É direito do contribuinte, e decorre da estrita legalidade em matéria tributária, escolher entre as formas legais a que melhor atenda seus objetivos, assim se posicionando Ives Gandra Martins, na já citada obra: "É que a estrita legalidade não admite de um lado, que uma operação legal possa ser desconsiderada por não ter demonstrado "escopo econômico " e , de outro, que entre duas formas legais, ele seja obrigado a adotar aquela que implicar maior imposto." Assim, se a motivação da fiscalização para lavratura dos autos, foi a suposta ausência de uma razão econômica de todos esses fatos, fica, também neste ponto, cabalmente demonstrada a improcedência da ação fiscal. Reportase, então, à existência de prejuízos fiscais e base de cálculo negativa de CSLL de períodos anteriores compensáveis até o limite de 30% e alega que na improvável hipótese que a autuação venha a ser mantida, os valores haverão de ser recalculados, para abater R$43.481.215,03 da base do imposto de renda e R$42.975.495,81 da base da contribuição social sobre o lucro líquido, conforme devidamente comprovado em anexo. Finaliza requerendo a insubsistência da autuação. Além dos principais argumentos contidos na impugnação a recorrente adita que: a) preliminarmente, que não pode ser responsabilizada, como sucessora, pela multa aplicada em face dos fatos geradores ocorrido na empresa Bruxelas Holding, pois a responsabilidade estaria limitada aos tributos devidos, nos termos do art. 132 do CTN; b) quanto ao mérito, refuta o fundamento da decisão recorrida, tendo por base no art. 74 da IN SRF 390/04 que contemplaria a exigência da CSLL, por não ter esta cunho legal; c) questiona o argumento da decisão de primeira instância que, com o intuito de descaracterizar a onerosidade da permuta, cita ensinamento de Fran Martins, revelando a Fl. 1438DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.439 38 distinção entre contrato de compra e venda e permuta, para concluir que "o preço pressupõe dispêndio de recursos em dinheiro". Refuta a conclusão, afirmando que não existe dúvida de que são institutos distintos, mas que em momento algum a doutrina afirma que a permuta não seria onerosa pelo fato de não haver dispêndio em dinheiro. A Fazenda Nacional, por seu Procurador, apresentou contrarazões ao recurso voluntário em 19/04/2012, na qual traça, inicialmente, um breve histórico sobre a criação das Bolsas (Bovespa e BMF), como associações sem fins lucrativos, na qual as pessoas físicas e jurídicas que desejassem participar das operações por elas organizadas deveriam adquirir títulos patrimoniais, até o processo que ficou conhecido como "desmutualização", ocorrido em 2007, no qual as associações sem fins lucrativos foram transformadas em companhias abertas com propósitos econômicos. Quanto às operações objeto de autuação, a Procuradoria da Fazenda Nacional aduziu em síntese: a) que a Resolução CMN nº 2.690/2000 faculta a adoção de qualquer das formas, associação civil sem fins lucrativos ou sociedade anônima, para as bolsas de valores. Igualmente e traça diretrizes tanto para as que adotaram a estrutura jurídica de associação quanto para aquelas que adotaram a forma de S.A; b) que contribuintes autuados em razão da desmutualização desejam a aplicação de dispositivos previstos apenas para quem adotou a forma de S.A., no entanto a estrutura jurídica da Bovespa e da BM&F eram de associações civis. c) que por mais engenhosas que tenham sido as operações societárias que culminaram com a transferência das atividades das Bolsas para uma S.A o que resultou ao final das operações, é que as associações civis sem fins lucrativos estavam extintas e, em seu lugar, constituíramse sociedades anônimas; d) que os institutos da fusão, cisão e incorporação não são de utilização permitida pelas associações por força do disposto no artigo 1.113 e seguintes do Código Civil, cuja localização topográfica indica sua aplicação somente às sociedades empresárias (Livro II – Do Direito de Empresa; Título II – Da Sociedade; Subtítulo II – Da Sociedade Personificada; Capítulo X – Da Transformação, Da Incorporação, Da Fusão e Da Cisão das Sociedades); e) que tal entendimento é corroborado pela Instrução Normativa nº 88 do DNRC, que dispõe em seu art. 23 que "as operações de transformação, incorporação, fusão e cisão abrangem apenas as sociedades mercantis, não se aplicando às firmas mercantis individuais; f) que não sendo aplicável o instituto da cisão às sociedades civis, resultam extintas as sociedades civis Bovespa e BMF, aplicandose o disposto no art. 61 do Código Civil, que "veda a destinação de qualquer parcela do patrimônio das bolsas de valores, constituídas sob a forma de associações, a entes com finalidade lucrativa". g) que os contribuintes defendem uma interpretação literal e isolada do artigo 2033 do Código Civil que retira o conteúdo normativo de um outro artigo de lei; h) que ainda que se admita a aplicação da cisão ou incorporação às sociedades civis, não se pode fugir das consequências do art. 61 do Código Civil; Fl. 1439DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.440 39 i) que o próprio art. 2.033 ressalva a aplicação de legislação específica que, no caso das associações civis, é a Lei nº 6.015, de 1973, que nada dispõe sobre os institutos da fusão, cisão, incorporação e transformação para as sociedades civis; j) que a matéria possui tratamento específico nos artigos 53 a 61 do Código Civil, pelos quais resta claro o distanciamento entre elas e a finalidade econômica; k) que a exploração atividade econômica por pessoa jurídica submetida a regime incompatível com a mercancia exigiria sua prévia extinção; l) que "ainda que se admitisse a aplicação de institutos como a transformação, cisão e incorporação de sociedades empresárias ao presente caso, apenas para se evitar eventual solução de continuidade das atividades desenvolvidas pelas bolsas, ainda assim, dada a nítida disparidade de regimes, não há como fugir à conclusão (como manda a lei) de que os associados receberam de volta patrimônio e, ato contínuo, utilizaram se do mesmo na integralização de ações em sociedade anônima". m) que a recorrente deveria ter oferecido à tributação os valores do patrimônio das associações extintas que lhe foram devolvidos, uma vez que se tratavam de entidades isentas, nos termos do artigo 17 da Lei nº 9.532/1997; n) que a matéria já recebeu manifestação do judiciário que acolheu os argumentos antes arrolados e também o CARF reconheceu em três julgamentos recentes, o entendimento, ora esposado, quanto a impossibilidade de versão do patrimônio de associação isenta a pessoa jurídica com finalidade lucrativa; o) com relação às vendas de títulos anteriores à desmutualização observa que: A titularidade de títulos patrimoniais da Bovespa pela Contribuinte Recorrente passa por diversas e complexas operações societárias firmadas no âmbito do Grupo Bradesco de maneira estruturada e em curto espaço de tempo. [...] Em nome de uma desejável concisão e objetividade textual, limitemonos destacar que em 30/05/2007 a empresa Bruxelas Holdings S.A, criada 7 meses antes, com capital social de R$ 1.000,00, elevou seu capital social para R$ 54 milhões (em números redondos), sendo certo que o Banco Alvorada subscreveu parte deste capital, mediante a conferência de bens, entre eles 22 Títulos Patrimoniais da BOVESPA, no valor de R$ 29 milhões. Nove dias depois, em 08/06/2007, houve novo aumento de capital, no valor de R$ 1 bilhão, decorrente de operação de incorporação às avessas da Málaga Holdings, que, na ocasião, era a controladora da Bruxelas Holdings. Nesta operação de 08/06/2007 foi contabilizado o valor de R$ 141 milhões de ágio. Ou seja, os 22 Títulos Patrimoniais da BOVESPA, recebidos do Banco Alvorada, avaliados em R$ 29 milhões, agora estavam registrados na contabilidade da Bruxelas Holdings acompanhados de um ágio de R$ 141 Fl. 1440DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.441 40 milhões, oriundos de empresa diversa daquela que possuía originalmente esses títulos. No que se refere à incorporada, Málaga Holdings S.A, foi constituída também em 25/10/2006, tal como a Bruxelas Holdings, e com o mesmo valor do capital social da sua incorporadora, ou seja, R$ 1.000,00. Ainda como a Bruxelas, não teve praticamente nenhuma atividade até 31/05/2007, quando teve um aumento de seu Capital Social, no valor de R$ 400 milhões, mediante a conferência de ações da Companhia Securitizadora de Créditos Rubi pela Embaúba Holdings S.A. Em 05/06/2007, a Málaga Holdings, efetuou permuta de ações com a Serei Participações em Imóveis S.A., através de Instrumento Particular de Permuta de Ações. A Málaga entregou 399.043.412 ações ordinárias, nominativas escriturais da Companhia Securitizadora de Créditos Financeiros Rubi, à Serei, tendo recebido na permuta, 71.001.733 ações ordinárias, nominativas escriturais da Bruxelas Holdings S.A., passando a ser, após essa operação, a controladora da Bruxelas Holdings. Como resultado desta permuta de ativos, ocorrida entre empresas pertencentes ao chamado Grupo Bradesco e, portanto, sob controle acionário comum, surgiu um ágio referente aos títulos patrimoniais da BOVESPA, no valor de R$ 141.846.877,20. A Fiscalização apurou, portanto, que o ágio registrado na contabilidade da Bruxelas Holdings, no valor de R$ 141.846.877,20, por ocasião da incorporação da Málaga Holdings, teve sua origem numa operação de permuta de ativos, dentro de empresas do mesmo grupo, sob controle acionário comum, e sem que houvesse qualquer desembolso financeiro na sua constituição. Quanto a este último elemento apurado pelo Fisco (ausência convém citar entendimento já consagrado neste Conselho, a exigir efetivo aporte financeiro, ao mesmo tempo em que condena artificialismos e formalismos contábeis: [...] Não obstante os casos acima tratem de hipótese de amortização de ágio artificialmente gerado (enquanto neste caso o ágio artificial se prestou à reduzir a base de cálculo), todos os argumento são aplicáveis a este caso. Isso porque, também aqui, todas as operações ocorreram 1. sem aporte efetivo de recursos financeiros; 2. sem que as partes apresentassem independência ente si, haja vista o controle comum pelo Grupo Bradesco; 3. as vultosas operações ocorreram de maneira estruturada e em curto espaço de tempo; Fl. 1441DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.442 41 4. utilização de empresas veículo (Málaga Holdings e Bruxelas Holdings). Queremos com isso demonstrar que, ao alienar 12 títulos patrimoniais da Bovespa em 24/08/2007, a Bruxelas Holdings, sucedida pela Contribuinte Recorrente, em razão de incorporação, inflou o custo dos títulos a partir de um ágio fictício, um ágio "decorrente de transações dos sócios com eles próprios". Tal expediente reduziu artificial e injustificadamente o acréscimo patrimonial que seria experimentado se o custo dos títulos a ser considerado fosse aquele mensurado quando da integralização de capital feita pelo Banco Alvorada na Bruxelas Holdings. Não há reparos a serem feitos nas conclusões do Fiscal, didaticamente enunciadas nos itens g1, g2 e g3 do Termo de Verificação Fiscal. p) Com relação à devolução do patrimônio com a desmutualização, a d. representante da Fazenda Nacional reitera as conclusões já manifestadas nos tópicos I e II de suas contrarrazões, asseverando a correção do entendimento da Fiscalização ao autuar a devolução de patrimônio correspondente aos 10 títulos patrimoniais que a Contribuinte Recorrente detinha em 28/agosto/2007, data da desmutualização, em cumprimento ao disposto no art. 17 da Lei nº 9.532/1997. Tendo em vista o acolhimento parcial das alegações da interessada quanto a existência de prejuízos compensáveis, o colegiado recorrido apresentou recurso de ofício a este Conselho, nos termos do art. 34, inciso I, do Decreto n.º 70.235, de 6 de março de 1972, com as alterações introduzidas pela Lei 9.532/97, incorporado pelo Decreto nº 7.574, de 2011, e Portaria do Ministro da Fazenda nº 3, de 03 de janeiro de 2008. Na sessão de julgamento de 05 de outubro de 2016, este colegiado resolveu converter o julgamento dos recursos em diligência, por meio da Resolução nº 1302000.454, na qual foi determinado, verbis: Ante ao exposto, voto no sentido de converter o presente julgamento em diligência, para que a unidade preparadora designe autoridade fiscal competente para: a) Intimar a interessada a: a.1) apresentar cópias dos atos societários (atas de AGE, estatutos, etc) da empresa Bruxelas Holding que registrem as deliberações de transferência do controle desta sociedade das empresas referidas na Ata da AGE realizada em 30/05/2007 (efls. 345/348) para a empresa Serel Participações em Imóveis S/A, conforme registrado na cópia do Livro Razão (efls. 445); a.2) apresentar cópias dos atos societários (atas de AGE, estatutos, etc) que registrem as deliberações de aumento de capital na empresa Málaga Holdings, mediante a integralização em bens (entrega de 399.043.412 ações da Cia Securitizadora de Créditos Rubi), conforme descrito na cópia do Livro Razão (efls. 461), inclusive dos laudos de avaliação, se houver; Fl. 1442DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.443 42 a.3) apresentar cópias dos laudos de avaliação das ações permutadas pela Cia Málaga (ações da Cia Securitizadora de Créditos Rubi) com a empresa Serel Participações em Imóveis S/A, conforme Instrumento Particular de Permuta de Ações (efls. 419/422); a.4) apresentar cópias dos livros Diário e Razão (partidas e contrapartidas e respectivos Plano de Contas) que contenham os registros das seguintes operações: a.4.1) Na empresa Bruxelas Holdings: das alterações no capital social dessa sociedade descritas nas Atas de AGE: de 30/05/2007 (aumento de capital, com entrega de 22 Títulos Patrimoniais da Bovespa pelo Banco Alvorada), de 08/06/2007 (do aumento de capital pela incorporação da empresa Málaga), de 11/06/2007 (redução de capital, mediante devolução em bens à Embaúba Holding), de 02/07/2007 (aumento de capital em dinheiro); de 10/07/2007 (aumento de capital em dinheiro) e de 19/10/2007 (extinção por incorporação pela Bradesplan); Demonstrações Financeiras (Balanço/Balancete Patrimonial) que tenham sido levantadas antes ou após as operações acima referidas. a.4.2) Na empresa Málaga Holdings: do recebimento das ações da Companhia Rubi em contrapartida do aumento de capital efetuado pela Embaúba em 30/05/2007; da permuta de ações com a empresa Serel Participações em Imóveis S/A em 05/06/2007; da extinção por incorporação pela empresa Bruxelas Holdings; Demonstrações Financeiras (Balanço/Balancete Patrimonial) que tenham sido levantadas antes e/ou após as operações acima referidas. a.4.3) Na empresa Bradesplan: da incorporação da empresa Bruxelas em 30/10/2007; da venda das ações da Bovespa Holdings em 30/10/2007; do recebimento de R$ 29.220.886,20, referente ao valor residual, previsto em contrato sobre a venda dos 12 Títulos Patrimoniais para Goldman Sachs, em 30/10/2007 Demonstrações Financeiras (Balanço/Balancete Patrimonial) que tenham sido levantadas antes e/ou após as operações acima referidas. b) Intimar a empresa Serel Participações em Imóveis S/A para: b.1) informar se ofereceu à tributação o ganho de capital relativo ao ágio obtido na entrega das ações na empresa Bruxelas Holding na permuta realizada com a empresa Málaga Holdings, apresentando os respectivos demonstrativos e elementos de comprovação; b.2) apresentar cópia do laudo de avaliação das ações da empresa Bruxelas Holding permutadas com a empresa Málaga Holdings, conforme Instrumento Particular de Permuta de Ações (efls. 419/422); Fl. 1443DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.444 43 b.3) apresentar cópias dos livros Diário e Razão (partidas e contrapartidas e respectivo Plano de Contas) contendo os registros das operações de permuta de ações realizadas junto à empresa Málaga Holdings e cópias do Balanços Patrimoniais e Demonstrações de Resultado e da apuração do Lucro Real no Lalur, no AnoCalendário 2007. Após o recebimento dos documentos, juntálos aos autos na ordem acima solicitada, relacionandoos em termo de conclusão, do qual deve ser dada ciência à interessada, para querendo, se manifestar no prazo de 30 dias, nos termos no parágrafo único do art. 35 do Decreto nº 7.574/2011. Concluídas as providências, os autos devem retornar a este colegiado para prosseguimento do julgamento. A autoridade fiscal encarregada das diligências efetuou as solicitações determinadas na citada Resolução e apresentou Termo de Conclusão no qual relaciona os documentos que foram anexados ao processo em face das diligências realizadas (fls. 1337/1339). A contribuinte, por sua vez, apresentou manifestação (fls. 1345), na qual afirma que as diligências realizadas pela fiscalização encontramse de acordo com o que havia sido determinado na Resolução nº 1302000.454. Cumpridas as diligências, os autos foram devolvidos a este colegiado para a continuidade do julgamento. É o relatório. Fl. 1444DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.445 44 Voto Conselheiro Luiz Tadeu Matosinho Machado Relator Tratase de apreciar os recursos de ofício e voluntário interpostos em face da decisão de primeiro grau. Para melhor encadeamento do julgamento inicio pela análise do recurso voluntário. RECURSO VOLUNTÁRIO O recurso voluntário é tempestivo e atende aos pressupostos legais e regimentais. A recorrente apresenta inicialmente estranheza pelo fato de terem sido exigidos no mesmo lançamento valores decorrentes de infrações apuradas em face da contribuinte Bruxelas Holding, por ela incorporada, e com relação a fatos geradores próprios. A decisão recorrida apreciou a questão, delimitando bem as matérias, de modo que julgo oportuno sua reprodução, verbis: Dos fatos relatados extraise que a autuação decorre de operações com 22 títulos patrimoniais da Bovespa, originalmente pertencentes ao Banco Alvorada. Referidos títulos passaram à titularidade da Bruxelas em razão de aumento de seu capital com emissão de ações subscritas pelo Banco Alvorada mediante entrega de bens, entre os quais os referidos títulos. Dos 22 títulos, 12 foram vendidos pela Bruxelas em 24/08/2007 a Goldman Sachs do Brasil Banco Múltiplo S A. Os 10 títulos remanescentes que permaneceram na Bruxelas deram ensejo a ações da Bovespa em 28/08/2007, em face da alteração, nesta data, da natureza da Bolsa de Valores de associação civil para sociedade empresarial (desmutualização). Em 19/10/2007 a Bruxelas foi extinta por incorporação pela ora autuada Bradesplan à qual, em consequência, foram transferidas as ações provenientes dos 10 títulos patrimoniais e vieram a ser alienadas em 30/10/2007 pela ora autuada. No registro dessas operações, a fiscalização detectou as seguintes irregularidades: redução de ganho de capital na alienação de ações, título e/ou quotas de capital, correspondente a 22 títulos patrimoniais da Bovespa nos valores de R$ 77.371.023,93 (ágio integrante do custo relativo a 12 títulos vendidos pela Bruxelas em 24/08/2007) e R$ 64.475.853,19 (ágio integrante do custo relativo a 10 títulos remanescentes, transformados em ações da Bovespa em virtude de sua alteração de associação civil para sociedade empresarial, ações essas vendidas pela Bradesplan em 30/10/2007) – porque o ganho foi reduzido por custo inflado com o ágio produzido em decorrência de reorganizações societárias ocorridas dentro do chamado Grupo Bradesco desprovidas de substância econômica; Fl. 1445DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.446 45 falta de adição à base de cálculo do IRPJ e da CSLL do valor de R$ 1.404.775,60, correspondente ao ganho auferido na devolução, em 28/08/2007 (data da transformação da Bovespa de associação civil para sociedade empresarial) do patrimônio social de entidade isenta (Bovespa) representado por 10 títulos; falta da adição à base de cálculo do IRPJ da realização de reserva de atualização no valor de R$ 1.685.730,72 quando da alienação pela Bruxelas dos 12 títulos patrimoniais. Assim, depreendese que a exigência se dá em face da Bradesplan (i) na qualidade de contribuinte em relação à redução de ganho no valor de R$ 64.475.853,19 e (ii) na qualidade de sucessora por incorporação em relação às outras irregularidades nos valores de R$ 77.371.023,93, R$ 1.404.775,60 e R$ 1.685.730,72. E tal fato, apesar da surpresa manifestada pela impugnante, não lhe causa prejuízo algum, pois todos as constatações que ensejaram a autuação foram detalhadamente descritas pela Fiscalização e perfeitamente compreendidas pela defesa, como se confirma pelo teor da impugnação em que apresentada oposição a todas as infrações que lhe foram imputadas. Ainda em caráter preliminar, a recorrente traz em seu recurso voluntário a alegação de que não poderia serlhe exigida a multa de ofício cobrada sobre os tributos devidos pela empresa sucedida (Bruxelas Holding), mas tão somente os tributos, na forma prevista no art. 132 do CTN. A questão da responsabilidade da sucessora pelas multas de mora ou punitivas devidas pela empresa sucedida está pacificada no âmbito do Superior Tribunal de Justiça por meio do REsp. nº 923.012/MG, proferido no rito dos Recursos Repetitivos previsto no art. 543C do antigo CPC, verbis: TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. RESPONSABILIDADE POR INFRAÇÃO. SUCESSÃO DE EMPRESAS. ICMS. BASE DE CÁLCULO. VALOR DA OPERAÇÃO MERCANTIL. INCLUSÃO DE MERCADORIAS DADAS EM BONIFICAÇÃO. DESCONTOS INCONDICIONAIS. IMPOSSIBILIDADE. LC N.º 87/96. MATÉRIA DECIDIDA PELA 1ª SEÇÃO, NO RESP 1111156/SP, SOB O REGIME DO ART. 543C DO CPC. 1. A responsabilidade tributária do sucessor abrange, além dos tributos devidos pelo sucedido, as multas moratórias ou punitivas, que, por representarem dívida de valor, acompanham o passivo do patrimônio adquirido pelo sucessor, desde que seu fato gerador tenha ocorrido até a data da sucessão. (Precedentes: REsp 1085071/SP, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/05/2009, DJe 08/06/2009; REsp 959.389/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2009, DJe 21/05/2009; AgRg no REsp 1056302/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/04/2009, DJe 13/05/2009; REsp 3.097/RS, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/10/1990, DJ 19/11/1990) Fl. 1446DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.447 46 2. "(...) A hipótese de sucessão empresarial (fusão, cisão, incorporação), assim como nos casos de aquisição de fundo de comércio ou estabelecimento comercial e, principalmente, nas configurações de sucessão por transformação do tipo societário (sociedade anônima transformandose em sociedade por cotas de responsabilidade limitada, v.g.), em verdade, não encarta sucessão real, mas apenas legal. O sujeito passivo é a pessoa jurídica que continua total ou parcialmente a existir juridicamente sob outra "roupagem institucional". Portanto, a multa fiscal não se transfere, simplesmente continua a integrar o passivo da empresa que é: a) fusionada; b) incorporada; c) dividida pela cisão; d) adquirida; e) transformada. (Sacha Calmon Navarro Coêlho, in Curso de Direito Tributário Brasileiro, Ed. Forense, 9ª ed., p. 701) [...] 9. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do art. 543C do CPC e da Resolução STJ 08/2008. Igualmente a matéria é objeto da Súmula nº 554 do STJ, verbis: Súmula 554 Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores ocorridos até a data da sucessão. (Súmula 554, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/12/2015, DJ 15/12/2015) Ante ao exposto, rejeito a alegação preliminar da recorrente. 1. Do ganho de capital Apurado em face da Devolução de Patrimônio da Entidade Isenta. Passo ao exame das questões de mérito, iniciando pela relacionada à tributação das operações em face da devolução de capital em face da transformação dos títulos da Bovespa em ações, que se convencionou chamar Desmutualização das Bolsas. Esta discussão tem relevo em face das exigências contidas nos itens 02 e 03 do Auto de Infração. A recorrente alega que seguiu o tratamento fiscal estatuído pela Portaria MF nº 785/77, que por décadas autorizou "as instituições financeiras ou equiparadas, detentoras dos títulos representativos do patrimônio social das bolsas de valores ajustaram, mês a mês, o valor destes títulos ao valor do quinhão que representavam no patrimônio da Bolsa e, em contrapartida, sem transitar com estes valores pelo resultado do exercício, contabilizavam o ajuste como reserva de capital no patrimônio líquido", e questiona o entendimento fiscal de que teria havido uma devolução de patrimônio da Bovespa Associação, pois teria havido mera transformação da entidade, na modalidade de cisão, não havendo qualquer parcela a tributar a título patrimonial. Alega que os ativos patrimoniais foram vertidos do patrimônio da associação BOVESPA para o patrimônio da sociedade anônima que surgiu pela cisão, pelo valor contábil, prerrogativa incontestável inerente ao próprio instituto jurídico, oferecida a quem dele lança mão, seja do ponto de vista societário ou tributário e que na contabilidade dos associados, Fl. 1447DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.448 47 houve o desdobramento do valor registrado como título patrimonial: uma parte do valor permaneceu idêntica ao do título patrimonial da associação remanescente, e a outra parte passou a equivaler ao valor das ações emitidas, em substituição à parcela do título patrimonial correspondente aos ativos vertidos para a sociedade anônima. Assim, não haveria nenhum ganho, mas mera permuta nesta substituição. Sustenta, por outro lado, que a legislação tributária sempre deferiu isenção aos valores de reservas incorporados ao capital, não sendo o sócio tributado quando a sociedade aumenta o capital a partir de reservas. É o que dispunha a Portaria MF. 785/77: a única condição imposta pelo texto é a de que não houvesse a distribuição destes resultados e ele fosse incorporado ao capital. Sustenta que a Solução de Consulta Cosit nº 10, de 26/10/2007, trazida como um dos fundamentos da autuação e da decisão de primeiro grau, se fundamenta em premissa inválida, pois o instituto da cisão utilizado pela Bovespa tem amparo no Código Civil. Defende que a diferença entre o valor histórico de aquisição do Título Patrimonial e o valor contábil presente, decorreu da metodologia imposta pelo BACEN e pela CVM como tratamento contábil para o investimento em Título Patrimonial.Que anualmente, era feita a equivalência entre o valor contábil e o Patrimônio Líquido da Bolsa, como no período este cresceu, também o valor correspondente do investimento na contabilidade do associado aumentou de forma alinhada. Que o método é muito semelhante ao da equivalência patrimonial, a diferença consiste em que na equivalência seu resultado transita pelas contas de resultado do exercício para depois ser excluído no momento de apuração do lucro real, base de calculo do imposto, e, neste, o resultado é apropriado diretamente ao patrimônio líquido, sem transitar por conta de resultado. Que tal alinhamento de valores não era opção do associado, como também não o era a capitalização do aumento do patrimônio líquido pela Bolsa (Art. 10 da Resolução BACEN 1.656/89), tratandose de uma imposição legal. A recorrente traça um paralelo entre o disposto no DecretoLei 1.109/70, com a regulamentação do Decreto 785/77, aduzindo que a Lei 8.849/94 renovou a regra de não incidência criada pelo DecretoLei 1.109/70, ao estabelecer algumas situações de relaxamento à proibição de redução do capital aumentado sob a não incidência do tributo, situações em que, mesmo reduzindose o capital dentro do período quinquenal, tal fato não implicaria na tributação do valor capitalizado ou mantido em reserva, e que. posteriormente, a Lei n° 9.064/95 deu nova redação ao artigo 3º da Lei n° 8.849/94, mantendo a regra geral intacta. A recorrente alega que não houve a revogação explícita da mencionada Portaria 785/77 e que os valores decorrentes dessa mais valia não é uma reavaliação " ou qualquer outro instituto, ela é, exatamente, o fato disciplinado pelo Decretolei 1.109/70, que se caracteriza pela constituição de uma reserva em contrapartida do aumento do valor do título patrimonial pelo aumento do patrimônio da Bolsa de Valores que o emitiu, valor este que não transita por contas de resultado". Invoca o princípio a reserva legal para afastar a cobrança de tributo sem que lei anterior o estabeleça. Por fim, afasta a hipótese de que a não incidência tributária prevista na Portaria MF. nº 785/77 seria provisória, vinculandose a ocorrência da tributação a algum Fl. 1448DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.449 48 evento futuro, hipótese que descarta, pois não há qualquer fato futuro descrito na lei como capaz de descaracterizar a não incidência. Essencialmente, são duas as questões centrais que se discutem sobre os efeitos da chamada desmutualização das bolsas: primeiro, quanto à possibilidade e efeitos legais da cisão da Bovespa (associação) e versão de seu patrimônio para a Bovespa (Sociedade Anônima), e, segundo, em se considerando existir de fato uma devolução de capital, a determinação do custo contábil dos títulos para apuração de eventuais ganhos de capital, tendo em vista as disposições da Portaria MF nº 785/77. Estas questões foram amplamente analisadas na Solução de Consulta Cosit nº 10/2007, adotada como fundamento pelo acórdão recorrido para a manutenção das infrações descritas nos itens 02 e 03 do auto de infração. A referida Solução de Consulta traz as seguintes conclusões: i) a operação de “desmutualização” das bolsas de valores, conforme descrita pela consulente, encontra obstáculo insuperável na norma do art. 61 do Código Civil (Lei nº 10.406, de 2002), a qual veda a destinação de qualquer parcela do patrimônio de associações a entes com finalidade lucrativa; ii) o art. 16 da Lei nº 9.532, de 1997, não se aplica à operação de “desmutualização”, pois, nessa, a transferência de bens das bolsas de valores para outras pessoas jurídicas não tornará aquelas sócias dessas, mas, sim, os seus associados (as sociedades corretoras), o que configura uma devolução de capital, ao qual se aplica o art. 17 do mesmo diploma legal; iii) os títulos patrimoniais das bolsas de valores devem ser avaliados por seu custo de aquisição, pois nunca estiveram as sociedades corretoras autorizadas a avaliar tais cotas ou frações ideais pelo MEP, mas, sim, autorizadas pela Portaria nº 785, de 1977, a postergar a tributação sobre o valor dos acréscimos efetuados ao valor nominal das cotas ou frações ideais recebidos em virtude de aumento do capital social das bolsas de valores para o momento em que houvesse a redução do capital ou até mesmo a extinção dessas associações; iv) a ilegalidade da operação de desmutualização das bolsas de valores não obsta a incidência do imposto de renda sobre a diferença entre o valor nominal das ações (da sociedade) recebidas pelos associados (sociedades corretoras) e o custo de aquisição das cotas ou frações ideais representativo do patrimônio segregado das bolsas de valores. Em que pese concordar com os fundamentos expostos na Solução de Consulta Cosit nº 10/2007 e entenda que ela responde a praticamente todas as questões suscitadas pela recorrente quanto à esta duas questões, penso que o debate ocorrido perante este tribunal administrativo tem trazido novos ângulo à discussão, enriquecendo e fortalecendo as suas conclusões. Nesse sentido, considero irretocável o voto vencedor da i. Conselheira Edeli Pereira Bessa no Acórdão nº 1103000.833, quando analisou as duas questões, ora debatidas. Por bem refletir meu posicionamento sobre a questão, transcrevo os principais excertos do voto da i. Conselheira Edeli, para também adotálos como razão de decidir no presente processo. Fl. 1449DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.450 49 Sobre a possibilidade de transformação, mediante cisão, de uma associação civil sem fins lucrativos em empresa mercantil, assim se posicionou a d. Conselheira Edeli, verbis: O segundo grupo de infrações tratado pelo I. Relator referese ao resultado tributado em razão da substituição, no patrimônio da autuada, de títulos patrimoniais por ações representativas do capital de Bolsa de Valores, em seu voto denominada “conversão de 02 TMCBM&F em 9.923.220 ações da BM&F S.A.”. Isto em razão da alteração da regulamentação da constituição, da organização e do funcionamento das Bolsas de Valores, veiculada por meio da Resolução CMN nº 2.690/2000, que assim permitiu: Art. 1º As bolsas de valores poderão ser constituídas como associações civis ou sociedades anônimas, tendo por objeto social: [...] Parágrafo único. As bolsas de valores que se constituírem com o associações civis, sem finalidade lucrativa, não podem distribuir a sociedades membros parcela de patrimônio ou resultado, exceto se houver expressa autorização da Comissão de Valores Mobiliários. (negrejouse) No âmbito da incidência do IRPJ e da CSLL, a Lei nº 9.532/97, ao revogar o art. 28 do Decretolei nº 5.844/43, e o art. 30 da Lei nº 4.506/64, consolidou as regras para reconhecimento de isenção às associações civis sem fins lucrativos: Art. 15. Consideramse isentas as instituições de caráter filantrópico, recreativo, cultural e científico e as associações civis que prestem os serviços para os quais houverem sido instituídas e os coloquem à disposição do grupo de pessoas a que se destinam, sem fins lucrativos. § 1º A isenção a que se refere este artigo aplicase, exclusivamente, em relação ao imposto de renda da pessoa jurídica e à contribuição social sobre o lucro líquido, observado o disposto no parágrafo subseqüente. § 2º Não estão abrangidos pela isenção do imposto de renda os rendimentos e ganhos de capital auferidos em aplicações financeiras de renda fixa ou de renda variável. § 3º Às instituições isentas aplicamse as disposições do art. 12, § 2°, alíneas "a" a "e" e § 3° e dos arts. 13 e 14. [...] Art. 16. Aplicamse à entrega de bens e direitos para a formação do patrimônio das instituições isentas as disposições do art. 23 da Lei nº 9.249, de 1995. Parágrafo único. A transferência de bens e direitos do patrimônio das entidades isentas para o patrimônio de outra pessoa jurídica, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, deverá ser efetuada pelo valor de sua aquisição ou pelo valor atribuído, no caso de doação. Art. 17. Sujeitase à incidência do imposto de renda à alíquota de quinze por cento a diferença entre o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos recebidos de instituição isenta, por Fl. 1450DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.451 50 pessoa física, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver entregue para a formação do referido patrimônio. § 1º Aos valores entregues até o final do ano de 1995 aplicam se as normas do inciso I do art. 17 da Lei nº 9.249, de 1995. § 2º O imposto de que trata este artigo será: a) considerado tributação exclusiva; b) pago pelo beneficiário até o último dia útil do mês subseqüente ao recebimento dos valores § 3º Quando a destinatária dos valores em dinheiro ou dos bens e direitos devolvidos for pessoa jurídica, a diferença a que se refere o caput será computada na determinação do lucro real ou adicionada ao lucro presumido ou arbitrado, conforme seja a forma de tributação a que estiver sujeita . § 4º Na hipótese do parágrafo anterior, para a determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido a pessoa jurídica deverá computar: a) a diferença a que se refere o caput, se sujeita ao pagamento do imposto de renda com base no lucro real; b) o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos recebidos, se tributada com base no lucro presumido ou arbitrado. (negrejouse) O art. 15, § 3º da Lei nº 9.532/97 vinculou a isenção concedida à observância dos seguintes dispositivos da mesma lei: Art. 12. [...] [...] § 2º Para o gozo da imunidade, as instituições a que se refere este artigo, estão obrigadas a atender aos seguintes requisitos: a) não remunerar, por qualquer forma, seus dirigentes pelos serviços prestados; b) aplicar integralmente seus recursos na manutenção e desenvolvimento dos seus objetivos sociais; c) manter escrituração completa de suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a respectiva exatidão; d) conservar em boa ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data da emissão, os documentos que comprovem a origem de suas receitas e a efetivação de suas despesas, bem assim a realização de quaisquer outros atos ou operações que venham a modificar sua situação patrimonial; e) apresentar, anualmente, Declaração de Rendimentos, em conformidade com o disposto em ato da Secretaria da Receita Federal; [...]. Fl. 1451DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.452 51 § 3° Considerase entidade sem fins lucrativos a que não apresente superávit em suas contas ou, caso o apresente em determinado exercício, destine referido resultado, integralmente, à manutenção e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais. (Redação dada pela Lei nº 9.718, de 1998) Art. 13. Sem prejuízo das demais penalidades previstas na lei, a Secretaria da Receita Federal suspenderá o gozo da imunidade a que se refere o artigo anterior, relativamente aos anos calendários em que a pessoa jurídica houver praticado ou, por qualquer forma, houver contribuído para a prática de ato que constitua infração a dispositivo da legislação tributária, especialmente no caso de informar ou declarar falsamente, omitir ou simular o recebimento de doações em bens ou em dinheiro, ou de qualquer forma cooperar para que terceiro sonegue tributos ou pratique ilícitos fiscais. (Vide ADI 1802) Parágrafo único. Considerase, também, infração a dispositivo da legislação tributária o pagamento, pela instituição imune, em favor de seus associados ou dirigentes, ou, ainda, em favor de sócios, acionistas ou dirigentes de pessoa jurídica a ela associada por qualquer forma, de despesas consideradas indedutíveis na determinação da base de cálculo do imposto sobre a renda ou da contribuição social sobre o lucro líquido. Art. 14. À suspensão do gozo da imunidade aplicase o disposto no art. 32 da Lei nº 9.430, de 1996. Nestes termos, a associação civil que atende aos requisitos legais e destina seu superávit, integralmente, à manutenção e ao desenvolvimento dos seus objetivos sociais, está isenta dos tributos incidentes sobre o lucro. Caso esta associação devolva bens e direitos a pessoa jurídica que contribuiu para a formação de seu patrimônio, a diferença entre o valor recebido e o valor antes entregue à associação deverá ser adicionada à base de cálculo do IRPJ e da CSLL (art. 17, caput c/c §§ 3º e 4º da Lei nº 9.532/97). O Código Civil de 2002 somente cogita da destinação do patrimônio de uma associação em caso de dissolução, fixando que ela deve beneficiar entidade de fins não econômicos ou os associados que contribuíram para a formação daquele patrimônio: Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I as associações; II as sociedades; III as fundações. IV as organizações religiosas; (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) V os partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) VI as empresas individuais de responsabilidade limitada. (Incluído pela Lei nº 12.441, de 2011) (Vigência) § 1o São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negarlhes reconhecimento ou registro dos atos Fl. 1452DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.453 52 constitutivos e necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) § 2o As disposições concernentes às associações aplicamse subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) § 3o Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003) [...] Art. 53. Constituemse as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos. Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: I a denominação, os fins e a sede da associação; II os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; III os direitos e deveres dos associados; IV as fontes de recursos para sua manutenção; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) VI as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127, de 2005) Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário. Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto. Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) Art. 58. Nenhum associado poderá ser impedido de exercer direito ou função que lhe tenha sido legitimamente conferido, a não ser nos casos e pela forma previstos na lei ou no estatuto. Fl. 1453DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.454 53 Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) I – destituir os administradores; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) II – alterar o estatuto. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) Art. 60. A convocação dos órgãos deliberativos farseá na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovêla. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) Art. 61. Dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais referidas no parágrafo único do art. 56, será destinado à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes. § 1o Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destinação do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação. § 2o Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede, instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda do Estado, do Distrito Federal ou da União. (negrejouse) Ao ser editado, o referido Código ainda trouxe algumas disposições transitórias para adaptação de todas as pessoas jurídicas, inclusive as associações, ao novo regime, estipulando prazo que foi prorrogado pela Lei nº 10.838/2004 e pela Lei nº 11.127/2005: Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de 2007. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005) Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às organizações religiosas nem aos partidos políticos. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003)) [...] Art. 2.033. Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos constitutivos das pessoas jurídicas referidas no art. 44, bem como a sua transformação, incorporação, cisão ou fusão, regemse desde logo por este Código. Fl. 1454DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.455 54 Art. 2.034. A dissolução e a liquidação das pessoas jurídicas referidas no artigo antecedente, quando iniciadas antes da vigência deste Código, obedecerão ao disposto nas leis anteriores. Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Observase no referido diploma legal que as hipóteses de transformação, incorporação, cisão ou fusão somente foram previstas para sociedades, nos termos dos arts. 1.113 a 1.122, integrantes do Capítulo X (Da Transformação, da Incorporação, da Fusão e da Cisão das Sociedades) do Subtítulo II (Da Sociedade Personificada). Quando quis compartilhar as normas aplicáveis às sociedades com as demais pessoas jurídicas privadas, o legislador foi expresso: Art. 51 [...] [...] § 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicamse, no que couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado. §3o Encerrada a liquidação, promoverseá o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica. [...] Neste cenário jurídico, a dissolução da associação civil sem fins lucrativos deve resultar na destinação de seu patrimônio a entidade de fins não econômicos, idênticos ou semelhantes aos seus, ou favorecer os associados que contribuíram para a formação de seu patrimônio. E, caso bens e direitos sejam devolvidos a pessoa que contribuiu para formação do patrimônio da associação civil, haverá a incidência tributária prevista no art. 17 da Lei nº 9.532/97. Estas regras aplicamse, inclusive, em caso de dissolução parcial da associação civil, devendo o parágrafo único do art. 16 da Lei nº 9.532/97 ser interpretado à luz do Código Civil de 2002, que somente permite a transferência de bens e direitos do patrimônio das entidades isentas para o patrimônio de outra pessoa jurídica de fins não econômicos. Inexistindo a possibilidade de cisão da associação civil, ou mesmo de destinação de seu patrimônio a entidade de fins econômicos, o fato jurídico que converteu os títulos patrimoniais que a recorrente possuía em Bolsa de Valores em ações de Bolsa de Valores somente pode ser caracterizado como dissolução parcial da associação sem fins lucrativos, com devolução de patrimônio a associado, que utiliza este valor para aporte de capital na sociedade anônima referida. Em tais circunstâncias, a diferença entre o valor recebido e o valor antes entregue à associação deverá ser adicionada à base de cálculo do IRPJ e da CSLL (art. 17, caput c/c §§ 3º e 4º da Lei nº 9.532/97). Aliás, recente decisão do Tribunal Regional Federal da 3a Região orientase neste mesmo sentido: PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MANDAMENTAL. IRPJ. CSSL. BM&F BOLSA DE MERCADORIAS E FUTURO DE SÃO PAULO. OPERAÇÃO DE Fl. 1455DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.456 55 DESMUTUALIZAÇÃO. TÍTULOS CONVERTIDOS EM AÇÕES DE S/A. LEI 9.532/97, ART. 17. INCIDÊNCIA NA ESPÉCIE. 1. O processo de desmutualização trouxe ganhos patrimoniais à impetrante que passou de simples associada da BM&F à detentora de ações na nova holding, acrescendo ao seu patrimônio as novas ações adquiridas com os valores que havia despendido para a formação da associação e que lhe fora devolvido. 2. A devolução implicou em aplicação de parte dos valores que compunha o patrimônio da associação em ações de empresa com fins lucrativos, o que desnatura o processo de sucessão legal das associações e autoriza a incidência de tributos em razão do acréscimo patrimonial experimentado pela impetrante. 3. Não há que se falar em avaliação pelo método de equivalência patrimonial porquanto o Decreto 3.000/99 (Regulamento do Imposto de Renda), autoriza a utilização de tal método apenas na hipótese de investimentos em controladas e coligadas, não sendo este o caso dos autos. 4. Também não socorre a impetrante a Solução de Consulta nº 13 de 10/11/97, proferida antes da vigência da Lei 9.532/97. O mesmo vale para a aplicação da Portaria nº MF nº 785/77, já que esta cuidava de "constituição de reserva com os acréscimos no valor nominal dos títulos" e a exclusão de tais acréscimos ao lucro real, não sendo este o caso dos autos. 5. O processo de desmutualização autoriza a incidência do imposto de renda e da CSLL, como pretendido pelo Fisco, nos exatos termos do quanto disposto no artigo 17 da Lei nº 9.532/97. 6. Apelação que se nega provimento. (Apelação Cível nº 0035179 62.2007.4.03.6100/SP, processo nº 2007.61.00.0351795/SP, Relator Desembargador Federal Márcio Moraes, sessão de 19 de julho de 2012). Discordo, portanto, do I. Relator quando: · Admite a possibilidade de cisão de associação civil sem fins lucrativos com fundamento: o no art. 2.033 do Código Civil de 2002, pois embora tais associações sejam uma das pessoas jurídicas de direito privado mencionadas no art. 44 do mesmo diploma legal (inciso I), a possibilidade de cisão destas pessoas jurídicas foi submetida à regência do Código, e este somente disciplinou tal procedimento relativamente às sociedades, pessoas jurídicas de direito privado referidas no inciso II do art. 44 de seu texto; · no art. 174 do RIR/99, pois a base legal deste dispositivo é a Lei nº 9.532/97, anterior ao Código Civil de 2002, que estabeleceu o cenário jurídico antes mencionado; · na prática civil, pois ainda que tal ocorra, e não há demonstração neste sentido, é necessário distinguir hipóteses como a presente, na qual a destinação do patrimônio ocorre em favor de uma entidade de fins econômicos; · no arquivamento dos competentes atos sociais, sem objeção pelos órgãos públicos de registro, na medida em que os registros de dissolução parcial da associação civil e de constituição da sociedade anônima são independentes, em órgãos distintos. Fl. 1456DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.457 56 Entendo que os fundamentos acima apresentados demonstram sobejamente a impossibilidade legal de cisão das associações civis, com versão de seu patrimônio (ou parte dele) para uma entidade de fins lucrativos. De tal constatação resulta a conclusão inescapável de que o patrimônio da Bovespa associação foi (parcialmente) devolvido aos seus associados para, ato contínuo, serem integralizados no capital da Bovespa SA, deixando assim de ser representados por títulos patrimoniais e passando a ser representado por ações da nova companhia. O i. Conselheiro Alberto Pinto Souza Junior, que outrora integrou este colegiado, ao proferir o voto vencedor do Acórdão nº 1302001.634. apontou com precisão os limites para a transformação de uma sociedade, verbis: Quinta questão: pode uma associação se transformar em sociedade empresária (S/A)? Diz o Relator que: “Tenho como claro que a mens legis do art. 17 da Lei nº 9.532/95 buscou colher a hipótese de retirada de associado ou de extinção da entidade isenta. Mas esta idéia está bem descrita na redação do artigo de lei, pois ao eleger a entrega de bens ou dinheiro a título de devolução do patrimônio, quer tratar efetivamente do bem ou dinheiro entregue. Este bem ou dinheiro estava no patrimônio, e era representado por um título associativo. Assim, guarda correspondência com o valor do título. Ao ser entregue ao associado que se retira, o patrimônio da entidade fica reduzido daquele valor, que também era representado no título, e, assim, também o patrimônio da entidade ficará reduzido, pela eliminação do título antes existente. Tal raciocínio evidencia um movimento de saída, que é totalmente diverso do movimento de transformação pelo qual as entidades associadas passaram. Elas não queriam retirarse. Mas além disso, o que elas receberam foi outro título (ação), que absolutamente não se confunde com o bem ou direito representado por tal título e que ao ser removido do patrimônio da entidade o reduz. Não. No caso vertente, pelo contrário, foi o patrimônio mantido, com mera troca do título representativo, que passou a ser uma ação. Assim, efetivamente pode se dizer que não houve devolução de bem ou direito porque a ação recebida não é o bem ou o direito de que se fala no art. 17 da Lei nº 9.532/97, mas o título que o comporta.” Ensina Luiz Alberto Warat (in El Derecho y su Lenguaje) que: “Sem a rigorosidade da linguagem não há ciência. Fazer ciência é traduzir numa linguagem rigorosa os dados do mundo”. Assim, aflora outra discordância minha com o brilhante voto do Sr. Relator, pois uma associação não pode se transformar em um S/A. Explico. Primeiro, há que se entender o que é uma transformação, razão pela qual trago à colação o art. 1113 do CC/02, in verbis: Art. 1.113. O ato de transformação independe de dissoluç ão ou liquidação da sociedade, e obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e inscrição próprios do tipo em que vai converterse. Ora, como antes já dito à exaustão, transformação é instituto aplicável apenas às sociedades. Segundo, é a alteração da forma de constituição de uma sociedade, sem solução de continuidade. Assim, uma LTDA pode se transformar em um S/A, promovendo os devidos assentamentos nos seus registros Fl. 1457DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.458 57 na Junta Comercial. Todavia, uma associação não pode se transformar em uma S/A, pois associação é registrada no Registro Civil das pessoas jurídicas e a S/A é registrada na Junta Comercial, logo, haverá sempre solução de continuidade, se possível fosse que o patrimônio de uma associação pudesse ser destinado a formação de uma sociedade lucrativa. Somese a isso o disposto no art. 45 do CC/02, que assim dispõe: Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, averbandose no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Ora, se a existência legal da Bovespa S/A só começou com o seu registro na junta comercial, é lógico que, ainda que por um átimo, o patrimônio destacado da Associação Bovespa ficou a disposição dos seus associados, já que, ao se constituir a S/A, as ações eram da titularidade deles. Assim, fica claro que sendo distintos os órgãos de registros de uma associação e de uma S/A é juridicamente impossível se falar em transformação de uma associção (sic) em uma S/A. Ou seja, neste caso, o que ocorreu foi uma devolução do patrimônio da associação aos associados e a formação, com esse patrimônio, de um sociedade, a qual só surgiu com o registro na Junta comercial. Por essa mesma razão, ouso mais uma vez discordar do I. Relator, quando ele afirma que: Vejase que é impraticável o raciocínio que tenta desmembrar a operação em duas operações intermediárias, pelas quais, na primeira se devolveria o patrimônio, e na segunda, em que o patrimônio seria novamente entregue, agora para a formação do capital da nova SA. Com a devida vênia, impraticável à luz do direito pátrio, é transformar uma associação em S/A. Por essa mesma razão, é que o art. 17 é a norma aplicável na espécie. Fixada a premissa que o que ocorreu, de fato, foi uma devolução de capital, impõese analisar a determinação do custo contábil dos títulos para apuração de eventuais ganhos de capital, tendo em vista as disposições da Portaria MF nº 785/77. Para tanto, retorno ao brilhante voto da i. Conselheira Edeli Bessa, no Acórdão nº 1101000.833, que mais uma vez, com maestria analisou a questão, verbis: A Resolução nº 1.656/89 do Conselho Monetário Nacional, ao disciplinar a constituição, a organização e o funcionamento das Bolsas de Valores, definiu sua natureza e objeto social nos seguintes termos: Art. 1º As Bolsas de Valores são constituídas como associações civis, sem finalidade lucrativa, tendo por objeto social: [...] Parágrafo único. As Bolsas de Valores não podem distribuir a sociedades corretoras membros parcela de patrimônio ou resultado, exceto nos casos de dissolução e na forma que a Comissão de Valores Mobiliários aprovar. (negrejouse) Fl. 1458DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.459 58 O patrimônio social das Bolsas de Valores era formado mediante realização em dinheiro e dividido em títulos patrimoniais, colocados no mercado mediante leilão para aquisição pelas sociedades corretoras membros (art. 7o c/c art. 25 da Resolução CMN nº 1656/89). O valor nominal destes títulos patrimoniais era atualizado anualmente com base nas demonstrações financeiras do exercício social (art. 10 da Resolução CMN nº 1.656/89). Consoante observou o I. Relator no voto proferido na sessão de 08/05/2012, a conduta da recorrente teve em conta o disposto na Circular BACEN nº 1.273/87, responsável por criar o Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional – COSIF, in verbis: CAPÍTULO: Normas Básicas – 1 SEÇÃO: Ativo Permanente 11 (...) 3 – Os títulos patrimoniais de bolsas de valores, de mercadorias e de futuros, são corrigidos mensalmente e atualizados, por ocasião dos balanços, pelo valor informado pela respectiva bolsa, procedendose aos seguintes lançamentos de ajustes: a) se o novo valor informado pelas bolsas for superior ao saldo contábil corrigido na database do balanço, debitase TÍTULOS PATRIMONIAIS pela diferença apurada, em contrapartida com RESERVA DE ATUALIZAÇÃO DE TÍTULOS PATRIMONIAIS; b) se o novo valor informado pelas bolsas for inferior ao saldo c ontábil corrigido na database do balanço, creditase TÍTULOS PATRIMONIAIS pela diferença apurada, em contrapartida com RESERVA DE ATUALIZAÇÃO DE TÍTULOS PATRIMONIAIS até o limite do seu saldo. A parcela excedente, se houver, é debitada em LUCROS OU PREJUÍZOS ACUMULADOS. O Capítulo 1, item 11, subitem 3, § 3º do Plano Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional – Cosif estabelece que a conta utilizada para registro dos títulos patrimoniais pertence ao grupo do Ativo Permanente – Investimentos (contas Cosif 2.1.4.10.10.000183, 2.1.4.10.20.00037 e 2.1.4.10.20.0004 0), e que a Reserva de Atualização de Títulos Patrimoniais é registrada na conta Cosif 6.1.3.709, que integra o Patrimônio Líquido – Reserva de Capital. Consoante explicita a Fiscalização, este ganho obtido pela atualização dos Títulos Patrimoniais estava sujeito à tributação conforme definido pelo parágrafo único do art. 219 do RIR/99. Porém, estas operações contábeis foram objeto da Portaria MF nº 785/77, que assim classificou os resultados destas atualizações: I. O acréscimo do valor nominal dos títulos patrimoniais das Bolsas de Valores, em decorrência de alteração do seu patrimônio social, não constitui receita nem ganho de capital das sociedades corretoras associadas e, por isso, pode ser excluído do lucro real destas desde que não seja distribuído e constitua reserva para oportuna e compulsória incorporação ao capital. II. Aos aumentos de capital assim procedidos aplicasse o disposto no Decretolei nº 1.109/70, art. 3º, § 3º (RIR, art. 237). Fl. 1459DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.460 59 É possível também interpretar, como disse o I. Relator em seu voto apresentado na sessão de 08/05/2012, que tais variações, por não transitarem em conta de resultado, dependeriam de determinação legal expressa para seu cômputo na apuração do lucro real, a teor de outra disposição do RIR/99: Art. 249. Na determinação do lucro real, serão adicionados ao lucro líquido do período de apuração (Decreto Lei nº 1.598, de 1977, art. 6º, § 2º): I os custos, despesas, encargos, perdas, provisões, participações e quaisquer outros valores deduzidos na apuração do lucro líquido que, de acordo com este Decreto, não sejam dedutíveis na determinação do lucro real; II os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores não incluídos na apuração do lucro líquido que, de acordo com este Decreto, devam ser computados na determinação do lucro real. [...] Ocorre que a alienação destes títulos patrimoniais pelas sociedades corretoras pode se verificar por valor superior ao de aquisição, e o debate, então, cingese à existência, ou não, de ganho de capital suscetível de tributação na forma estabelecida pelo Regulamento do Imposto de Renda aprovado pelo Decreto nº 3.000/99 (RIR/99): Art. 418. Serão classificados como ganhos ou perdas de capital, e computados na determinação do lucro real, os resultados na alienação, na desapropriação, na baixa por perecimento, extinção, desgaste, obsolescência ou exaustão, ou na liquidação de bens do ativo permanente (Decreto Lei nº 1.598, de 1977, art. 31). § 1º Ressalvadas as disposições especiais, a determinação do ganho ou perda de capital terá por base o valor contábil do bem, assim entendido o que estiver registrado na escrituração do contribuinte e diminuído, se for o caso, da depreciação, amortização ou exaustão acumulada (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 31, § 1º). § 2º O saldo das quotas de depreciação acelerada incentivada, registradas no LALUR, será adicionado ao lucro líquido do período de apuração em que ocorrer a baixa. [...] Art. 425 O ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação de investimento será determinado com base no valor contábil (art. 418, § 1º) (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 31, § 3º). Parágrafo único. A provisão para perdas constituídas até 31 de dezembro de 1995, quando dedutível na apuração do lucro real nos termos da legislação aplicável, deverá ser considerada na determinação do ganho ou perda de c apital. (negrejouse) Fl. 1460DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.461 60 Defende a recorrente que o valor contábil do bem corresponderia àquele atualizado, periodicamente, em sua contabilidade, para equivalência ao patrimônio social da Bovespa. Todavia, como bem apontou o I. Relator em seu voto proferido na sessão de 08/05/2012, o “custo contábil” a que alude a legislação, obviamente, é aquele suportado na ocasião da aquisição dos bens do ativo permanente, devidamente escriturado. As únicas modificações permitidas, na conformação destes montantes, são condizentes a sua correção monetária, banda uma, e à dedução de depreciação, amortização ou exaustão acumulada, banda distinta. (negrito não existente no original transcrito) De fato, como aventa a recorrente, há, aqui, semelhanças procedimentais com o Método de Equivalência Patrimonial, que pode resultar em acréscimos periódicos não tributáveis (art. 389 do RIR/99), e ainda assim representativos do valor contábil do investimento, para fins de apuração do ganho de capital em eventual alienação. Mas o cenário que autoriza este entendimento é totalmente distinto daquele no qual a contribuinte busca sua aplicação. Inicialmente devese observar que o Método da Equivalência Patrimonial é critério contábil de avaliação de ativos, reconhecido pela Lei nº 6.404/76 e pela doutrina contábil, diversamente da atualização determinada pelas referidas Resoluções do Banco Central. Na seqüência, há que se considerar que este acréscimo não é tributável porque resulta de operações de uma sociedade controlada ou coligada cujo acréscimo patrimonial está sujeito à tributação, diversamente da atualização em referência, que tem por lastro os superávits de uma associação civil sem fins lucrativos. Por fim, a investidora que é obrigada a atualizar o valor contábil de seu investimento pelo Método da Equivalência Patrimonial tem poderes para influenciar nas decisões da investida, em razão da relevância do investimento, diversamente da sociedade corretora, que só pode cogitar da realização dos resultados auferidos por intermédio do título patrimonial representativo de sua participação na BOVESPA em caso de sua alienação. Outra não poderia ser a conclusão, em tais condições, senão que os resultados reconhecidos periodicamente, em razão desta participação em associação civil sem fins lucrativos, não afetam o lucro tributável das sociedades corretoras no momento de seu registro, mas também não podem afetar a apuração do ganho de capital no momento de sua alienação, de modo que a tributação incida no momento da realização efetiva dos resultados antes contabilmente reconhecidos por determinação do Banco Central do Brasil. A interessada ainda invoca os efeitos dos Pareceres Normativos CST nº 78/78 e 107/78, que trataram dos efeitos tributários dos resultados de equivalência patrimonial promovidos em razão de determinações do Banco Central do Brasil. O Parecer Normativo CST nº 78/78 aborda o alcance das normas tributárias acerca dos métodos de avaliação de investimentos. De seu texto, extraise: 2. De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976, artigo 247, parágrafo único) um investimento em sociedade coligada ou controlada é relevante quando seu valor contábil é igual ou superior a 10% (dez por cento) do valor do patrimônio liquido da sociedade anônima investidora. Também o é, mesmo sem atingir os 10% (dez por cento) se o valor da participação, somado ao das demais participações em coligadas ou controladas, alcança pelo menos 15% (quinze por cento) do valor do patrimônio líquido da investidora. Investimentos em sociedades não Fl. 1461DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.462 61 coligadas nem controladas não são considerados relevantes, não importa quão importantes sejam para a empresa investidora. A mesma lei, no artigo 243, considera duas sociedades como coligadas quando uma participa com 10% (dez por cento) ou mais do capital da outra, sem controlála (§ 1º); e define controlada como aquela sociedade na qual a controladora, diretamente ou através de outras controladas, é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente, preponderância nas deliberações sociais e o poder de eleger a maioria dos administradores (§ 2º). 3. O artigo 248 da Lei das S/A. manda que a sociedade anônima apresente em seu balanço, avaliado pelo valor de patrimônio líquido, o investimento relevante (a) em sociedade coligada sobre cuja administração tenha influência, ou (b) em sociedade coligada de que participe com 20% (vinte por cento) ou mais do capital social, ou ainda (c) em sociedade controlada. Assim sendo, as participações de capital de caráter permanente, que a um só tempo sejam relevantes e determinem influência (sob qualquer das formas (a), (b) ou (c) mencionadas neste item) nas coligadas ou controladas devem se r avaliadas em função do valor de patrimônio liquido, método também chamado de equivalência patrimonial: 3.1 A lei não manda avaliar indiscriminadamente segundo um (equivalência patrimonial) ou outro (custo de aquisição) critério; antes, discrimina os investimentos segundo sua importância relativa. Importância na capacidade de Inversão da investidora, originando o conceito de relevância, e importância no conjunto dos recursos aplicados no empreendimento, gerando o conceito de influência. 4. O DecretoLei n. 1.598, de 26 de dezembro de 1977 (artigo 20, § 4o), diz que essa modalidade de avaliação de investimentos é obrigatória nos casos determinados pela Lei das S/A., e nas sociedades em que “a coligada ou controlada participe, direta ou indiretamente, com investimento relevante, cuja avaliação segundo o mesmo critério seja necessária para determinar o valor de patrimônio líquido da coligada ou controlada”. 5. O Decretolei desta maneira exige que outras sociedades, além das anônimas, avaliem investimentos por equivalência patrimonial. Na cadeia de participações entre sociedades, iniciada por sociedade anônima, toda avaliação de investimento no capital de outra sociedade, quando o investimento for permanente, relevante e influente, deve ser feita por esse método, mesmo naquelas sociedades não organizadas sob a forma de companhia. Não importa, convém lembrar, que a participação seja direta ou indireta. 6. Em resumo, quando possuírem investimentos permanentes, rel evantes e influentes devem em relação a eles praticar avaliação por equivalência patrimonial: I as companhias; e II as demais sociedades, sempre que entre os detentores do seu capital ou na cadeia ascendente e ininterrupta de participações relevantes e influentes se encontre sociedade anônima. 7. Não obstante a generalidade das regras acima discutidas, ressalvese a possibilidade de legislação específica para setores Fl. 1462DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.463 62 econômicos ou classes de empresas estabelecer outros critérios de avaliação pelo patrimônio líquido. Particularmente, a Lei da Reforma Bancária (n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, artigo 49, item XII) atribui ao Conselho Monetário Nacional a fixação de normas contábeis para as instituições financeiras, assim como a Lei n. 6.385, de 7 de dezembro de 1976 (artigo 22, §, IV) deferiu à Comissão de Valores Mobiliários a fixação de padrões de contabilidade para companhias abertas: 7.1 Dado que tais normas devem ser interpretadas integradamente com a legislação tributária, a imposição pelo Banco Central ou CVM de avaliação de investimentos por valor de patrimônio líquido, em situações que não as referidas no § 4º do artigo 20, do Decretolei n. 1.598/77, cria para as pessoas jurídicas obrigação de assim proceder nas demonstrações financeiras, com os reflexos pertinentes na apuração do lucro real. 8. Por fim, pessoas jurídicas outras que não as acima referidas devem avaliar seus investimentos permanentes em outras sociedades de conformidade com o princípio do custo de aquisição de que trata o artigo 183, item III, da Lei das S/A., sendolhes vedado avaliálos pelo valor de patrimônio líquido. Como se vê, referido ato normativo apenas esclarece que, nas hipóteses em que o Banco Central do Brasil ou a Comissão de Valores Mobiliários determinar que investimentos outros, que não aqueles previstos no Decretolei nº 1.598/77, sejam avaliados pelo método da equivalência patrimonial, o Fisco não poderá desqualificar esta operação, e deve atribuir ao resultado os efeitos que a legislação prevê no âmbito da equivalência patrimonial. Se não for este o caso, orienta o Parecer Normativo CST nº 107/78: 5. Inexistindo relevância ou influência na participação societária, o investimento se refletirá no balanço da investidora a custo contábil, é dizer, a custo de aquisição corrigido monetariamente, por força do art. 183, item III, da Lei n.º6.404/76. A eventual avaliação desses investimentos acima dos custo de aquisição corrigido será considerada reavaliação tributável, observado quando for o caso o disposto no artigo 35 do Decretolei n.º1.598/77. Todavia, a perda patrimonial registrada por esse processo não será dedutível na apuração do lucro real, excetuado o caso de provisão admitida nos termos do artigo 32 do Decreto n.º 1.598. Contudo, nenhuma razão existe para se cogitar, aqui, que a determinação fixada pelo Banco Central do Brasil, no sentido de que os títulos patrimoniais detidos pelas sociedades corretoras sejam atualizados periodicamente em razão do patrimônio da Bovespa, represente hipótese de avaliação de investimentos por valor de patrimônio líquido, em situações que não as referidas no § 4º do artigo 20, do Decretolei n. 1.598/77, mencionada no Parecer Normativo CST nº 78/78. Inadmissível cogitar de avaliação de investimento por valor de patrimônio líquido se não há nem investimento, no sentido de participação societária, nem patrimônio líquido, na medida em que se está tratando de um título patrimonial representativo do patrimônio social de uma associação civil sem fins lucrativos. Fl. 1463DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.464 63 A interpretação integrada, orientada pelo Parecer Normativo CST nº 78/78, diante das circunstâncias específicas da situação presente, é aquela expressa na Portaria MF nº 785/77, que afasta qualquer incidência sobre atualização patrimonial reconhecida contabilmente por determinação do Banco Central do Brasil, mas sem qualquer disponibilidade econômica ou jurídica, e que tem por reverso a inadmissibilidade destas parcelas como redutoras do ganho de capital na alienação, caso o valor da alienação disponibilize, à sociedade corretora, a atualização antes reconhecida contabilmente. De toda sorte, ainda que se interprete literalmente o §1º do art. 418 do RIR/99, de modo a adotar como valor contábil do bem o montante pelo qual ele estiver registrado na escrituração do contribuinte, independentemente das operações que ensejaram aquele resultado, não se pode olvidar que contabilmente também está registrado, no patrimônio líquido da sociedade corretora, o total das atualizações promovidas desde a aquisição do título patrimonial, em conta de reserva de capital. E tal reserva deve ser baixada no momento em que o ativo que a justifica também o é. Em conseqüência, se a apuração do ganho de capital deve ter em conta o valor contábil do bem, no montante defendido pela recorrente, a reserva assim baixada deve necessariamente integrar o resultado tributável, o que mantém inalterada a presente exigência, no que tange ao primeiro grupo de infrações apreciado pelo I. Relator. Por fim, apenas acrescentese que não há qualquer incidência tributária prevista para os resultados auferidos por parte da Bovespa, enquanto associação civil sem fins lucrativos. A referência feita pela recorrente, em memoriais, ao art. 15, §2o da Lei nº 9.532/97 é imprópria, pois tal dispositivo diz respeito à pretendida incidência tributária sobre rendimentos e ganhos de capital auferidos, por instituições isentas, em aplicações financeiras, quando esta não integra o próprio objeto da instituição. Cogitar deste tipo de incidência sobre a associação civil aqui em comento significaria, simplesmente, negar a isenção que lhe é conferida. Estas as razões, portanto, para divergir do I. Relator, que na forma final de seu voto concluiu pela insubsistência do lançamento relativamente à tributação dos ganhos de capital auferidos na alienação do que denominou “22 TP Bovespa” e “01 TMCBM&F”. A jurisprudência da Câmara Superior de Recursos Fiscais CSRF também é no mesmo sentido do que foi aqui exposto, verbis: Acórdão nº 9101002.462, de 19/10/2016 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007 DESMUTUALIZAÇÃO. ASSOCIAÇÃO CIVIL SEM FIM LUCRATIVO. DISSOLUÇÃO. DEVOLUÇÃO DE PATRIMÔNIO. TÍTULOS PATRIMONIAIS. CUSTO DE AQUISIÇÃO. A cisão da BOVESPA e BM&F, associações civis sem fins lucrativos, consuma a devolução dos títulos patrimoniais aos associados. Não tem previsão legal a utilização, por associação civil, de instituto de modificação Fl. 1464DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.465 64 societária destinado às sociedades anônimas. Por consequência, tampouco se aplica a atualização de valores dos títulos patrimoniais de associações civis sem finalidade lucrativa com base no Método de Equivalência Patrimonial, próprio para investimentos em coligadas e controladas das sociedades anônimas que visam o lucro. Acórdão nº 9101002.696, de 16/032017 DESMUTUALIZAÇÃO. ASSOCIAÇÃO ISENTA. DEVOLUÇÃO DE PATRIMÔNIO. TRIBUTAÇÃO. 1 O processo de desmutualização trouxe ganhos patrimoniais à contribuinte, que passou de simples associada da BM&F à detentora de ações na nova holding, acrescendo ao seu patrimônio as novas ações adquiridas com os valores que havia despendido para a formação da associação e que lhe fora devolvido. 2 A devolução implicou em aplicação de parte dos valores que compunha o patrimônio da associação em ações de empresa com fins lucrativos, o que desnatura o processo de sucessão legal das associações e autoriza a incidência de tributos em razão do acréscimo patrimonial experimentado pela contribuinte. 3 Sujeitase à incidência do imposto de renda, computandose na determinação do lucro real do exercício, a diferença entre o valor dos bens e direitos recebidos de instituição isenta, por pessoa jurídica, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver sido entregue para a formação do referido patrimônio. O processo de desmutualização autoriza a incidência do imposto de renda e da CSLL, como pretendido pelo Fisco, nos exatos termos do quanto disposto no artigo 17 da Lei nº 9.532/97. Acórdão nº 9101003.016, de 09/08/2017 DESMUTUALIZAÇÃO. ASSOCIAÇÃO CIVIL SEM FIM LUCRATIVO. DISSOLUÇÃO. DEVOLUÇÃO DE PATRIMÔNIO. TÍTULOS PATRIMONIAIS. CUSTO DE AQUISIÇÃO. A cisão da BOVESPA e BM&F, associações civis sem fins lucrativos, consuma a devolução dos títulos patrimoniais aos associados. Não tem previsão legal a utilização, por associação civil, de instituto de modificação societária destinado às sociedades anônimas. Por consequência, tampouco se aplica a atualização de valores dos títulos patrimoniais de associações civis sem finalidade lucrativa com base no Método de Equivalência Patrimonial, próprio para investimentos em coligadas e controladas das sociedades anônimas que visam o lucro. Fl. 1465DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.466 65 Existem também precedentes judiciais que confirmam as interpretações trazidas na Solução Cosit nº 10 e na jurisprudência do CARF, verbis: APELAÇÃO CÍVEL Nº 003458985.2007.4.03.6100/SP MANDADO DE SEGURANÇA. BOVESPA E BM&F. OPERAÇÃO DE "DESMUTUALIZAÇÃO". DEVOLUÇÃO DE VALORES, NA PRÁTICA, LUCRATIVA, É TRIBUTÁVEL. GANHO PATRIMONIAL EXISTENTE. INCIDÊNCIA DE IRPJ E CSSL. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1. Da leitura do artigo 61 do Código Civil, concluise que, em caso de dissolução, não poderia o patrimônio de uma associação passar para uma sociedade com fins econômicos, como foi o caso dos presentes autos, em que o patrimônio da Bovespa (associação) foi incorporado pela Bovespa Holding S/A (sociedade empresária). 2. Há uma devolução de patrimônio, e a diferença entre o valor entregue e o devolvido deve ser tributada, sendo o objetivo do mencionado artigo 61, exatamente, o de evitar o aproveitamento da isenção, por anos a fio, por parte da associação, que pura e simplesmente se converte em entidade econômica e pretende a equivalência (que somente poderia existir no plano meramente contábil) dos valores que antes sofreram valorização e foram, repitase, majorados indiretamente em razão da isenção fiscal de que gozavam. 3. Com tal operação, os associados das referidas associações tiveram mesmo ganho patrimonial, já que passaram a ser acionistas de sociedades anônimas, com finalidade de lucro, sendo o montante a ser oferecido à tributação a diferença entre o valor nominal das ações recebidas a título de devolução e o custo de aquisição dos títulos patrimoniais das extintas associações, nos termos do que estabelece o citado art. 17, §§ 3º e 4º, da Lei nº 9.532/97, dispositivo que, digase de passagem, não exigiria nem mesmo a transferência efetiva de numerário, bastando, para que se realizasse a incidência, a transferência valorativa dos direitos da associação até então isenta. 4. A venda posterior de tais ações poderá ser fato gerador dos tributos combatidos, havendo neste caso uma nova incidência tributária, distinta daquela que ocorreu no momento da devolução do patrimônio, uma devolução lucrativa, na forma de ações. 5. Constatada a legalidade da cobrança de IRPJ e CSLL sobre os acréscimos patrimoniais decorrentes da operação de "desmutualização" da Bovespa. Precedentes desta Corte. 6. Apelação a que se nega provimento. Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, indeferir o pedido de que a CVM atuasse no processo como amicus curiae, nos termos do voto da Desembargadora Federal Relatora Alda Basto e, por Fl. 1466DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.467 66 maioria, negar provimento à apelação, nos termos do voto do Juiz Federal Convocado Leonel Ferreira, com quem votou o Desembargador Federal André Nabarrete, vencida a Desembargadora Federal Relatora Alda Basto, que dava parcial provimento à apelação. São Paulo, 14 de novembro de 2013. LEONEL FERREIRA Juiz Federal Convocado APELAÇÃO CÍVEL Nº 003516748.2007.4.03.6100/SP TRIBUTÁRIO IRPJ CSLL BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULOBOVESPA DESMUTUALIZAÇÃO SUBSTITUIÇÃO DE TÍTULOS PATRIMONIAIS DAS ASSOCIADAS POR AÇÕES DA BOVESPA HOLDING S.A. RESOLUÇÃO CMN 2.690/2000 PORTARIA MF 785/77 E SOLUÇÃO DE CONSULTA SRF 13/97 LEI Nº 9.532/97 E SOLUÇÃO DE CONSULTA SRF 10/2007 MÉTODO DE EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL (ART. 248, DA LEI 6.404/76) INAPLICABILIDADE VALORIZAÇÃO DOS TÍTULOS PATRIMONIAIS ACRÉSCIMO PATRIMONIAL INCIDÊNCIA DOS TRIBUTOS DEPÓSITOS JUDICIAIS À ORDEM DO JUÍZO A QUO REALIZADOS SPONTE PROPRIA DELIBERAÇÃO. 1. Com fulcro na Resolução do Conselho Monetário Nacional nº 2.690/2000, optou a Bolsa de Valores de São PauloBOVESPA pelo processo de desmutualização, passando de associação civil sem fins lucrativos, para o regime das sociedades anônimas, regido pela Lei nº 6.404/76, sendo as sociedades a ela associadas, caso da impetrante, obrigadas a substituir os títulos patrimoniais de que eram detentoras, por ações da Bovespa Holding S.A. 2. Inicialmente, a Portaria do Ministério da Fazenda MF 785/77 e a Solução de Consulta da Secretaria da Receita Federal nº 13/97 não previram fosse a substituição hipótese de incidência do IRPJ e da CSLL. Entretanto, tal entendimento foi superado pelo disposto no art. 17, da Lei nº 9.532/97, seguindoo a Solução de Consulta da Secretaria da Receita Federal nº 10/2007, não deixando dúvidas quanto à incidência dos tributos na espécie. Com efeito, assim dispôs o preceito legal mencionado: "Art. 17. Sujeitase à incidência do imposto de renda à alíquota de quinze por cento a diferença entre o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos recebidos de instituição isenta, por pessoa física, a título de devolução de patrimônio, e o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos que houver entregue para a formação do referido patrimônio. § 1º Aos valores entregues até o final do ano de 1995 aplicamse as normas do inciso I do art. 17 da Lei nº 9.249, de 1995. § 2º O imposto de que trata este artigo será: a) considerado tributação exclusiva; b) pago pelo beneficiário até o último dia útil do mês subseqüente ao recebimento dos valores. § 3º Quando a destinatária dos valores em dinheiro ou dos bens e direitos devolvidos for pessoa jurídica, a diferença a que se refere o caput será computada na determinação do lucro real ou adicionada ao lucro presumido ou arbitrado, conforme seja a forma de tributação a que estiver sujeita. § 4º Na hipótese do Fl. 1467DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.468 67 parágrafo anterior, para a determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido a pessoa jurídica deverá computar: a) a diferença a que se refere o caput, se sujeita ao pagamento do imposto de renda com base no lucro real; b) o valor em dinheiro ou o valor dos bens e direitos recebidos, se tributada com base no lucro presumido ou arbitrado". 3. Não socorre a contribuinte a disposição inserta no art. 248, da Lei nº 6.404/76, ao entendimento de que "os títulos patrimoniais passaram a ter o mesmo tratamento tributário dispensado às participações societárias avaliadas pelo método de equivalência patrimonial". (fl. 514). O mencionado preceito legal está inserido em capítulo da Lei das Sociedades Anônimas, voltado à elaboração do relatório anual da companhia, em relação aos investimentos nas sociedades coligadas, controladoras e controladas, pelo método da equivalência patrimonial, não cuidando, portanto, do caso de que tratam estes autos. 4. Destarte, pacífico que o processo de desmutualização da BOVESPA, do qual decorreu a substituição dos títulos patrimoniais da apelante por ações da Bovespa Holding S.A., gerou acréscimo patrimonial, sendo caso de incidência da tributação, nos termos da legislação pertinente aplicável. Nesse sentido, os seguintes precedentes desta e de outras Cortes Regionais Federais: Processo: AI 01051154420074030000 AI AGRAVO DE INSTRUMENTO 322814 Relatora: Des. Fed. SALETTE NASCIMENTO Sigla do órgão: TRF3 Órgão julgador: Quarta Turma Fonte: DJF3 Data: 19/08/2008; Processo: AMS 00087060520084036100 AMS APELAÇÃO CÍVEL 313991 Relator: Juiz Fed. Conv. RUBENS CALIXTO Sigla do órgão: TRF3 Órgão julgador: Terceira Turma Fonte: eDJF3 Judicial 1 Data: 20/07/2012; Processo: AC 200851010065590 AC APELAÇÃO CIVEL 432856 Relator: Des. Fed. THEOPHILO MIGUEL Sigla do órgão: TRF2 Órgão julgador: Terceira Turma Especializada Fonte: EDJF2R Data:16/10/2012 p. 77. 5. Segundo as guias juntadas por cópias, pela contribuinte às fls. 575 e 576, os depósitos noticiados foram ambos por ela efetuados, na data de 06/03/08, quando o feito ainda tramitava junto ao juízo da 15ª Vara Cível Federal desta Capital. Assim, tendo em vista que foram feitos, sponte própria, à ordem e à disposição do juízo de primeiro grau, as questões a eles relacionadas, tais como as ventiladas às fls. 569/574 e seguintes, deverão ser apreciadas pelo juízo de origem, ao qual se encontram vinculados, após o trânsito em julgado da decisão definitiva, ressalvado o levantamento do montante incontroverso, sobre o qual se manifestou, favoravelmente, a União. Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Sexta Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, negar provimento à Fl. 1468DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.469 68 apelação, nos termos do voto do Relator. São Paulo, 22 de agosto de 2013. HERBERT DE BRUYN Juiz Federal Convocado Alinhavadas estas razões, entendo que devem ser mantidas as exigências contidas nos itens 02 e 03 do auto de infração. O item 02 do auto de infração do IRPJ se refere ao ganho auferido na devolução do patrimônio social da entidade isenta (Bovespa) e corresponde à parcela de atualizações registrada em reservas sobre os 10 títulos remanescentes no patrimônio da Bruxelas Holding quando da desmutualização, que foram convertidos em ações. O item 03 do auto de infração do IRPJ se refere à parcela de atualizações registrada em reservas sobre os 12 títulos da Bovespa vendidos em 24/08/2007, que não foram adicionados ao lucro real, nos termos do art. 4º da Lei nº 9.959/2000. Por fim, resta observar que todas as considerações feitas com relação ao IRPJ, aplicamse à exigência de CSLL, no que se refere ao ganho auferido na devolução do patrimônio social da entidade isenta (Bovespa), nos termos da previsão expressa no § 4º do art. 17 da Lei nº 9.532/1997. Ante ao exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso quanto a este ponto. 2. Da glosa do ágio na Apuração do Ganho de Capital A fiscalização glosou o valor do ágio incorporado ao custo de alienação dos títulos da Bovespa e, posteriormente, das ações recebidas em face da devolução do patrimônio da antiga Bovespa (associação). A recorrente questiona as conclusões da fiscalização, alegando que ela própria reconheceria que os atos dos quais decorreram o ágio atenderam a legislação aplicável; que não existe prescrição legal no sentido de que só podem ser contabilizados fatos decorrentes de negócios onerosos com terceiros; que o ágio aproveitado decorre de uma permuta e que esta é uma transação onerosa, nos termos do art. 533 do Código Civil; que houve interveniência de empresa especializada de avaliação; que as pessoas jurídicas pertençam ou não ao mesmo grupo empresarial, devem ser tratadas individualizadamente para efeitos tributários; que embora pertencentes ao mesmo grupo, as empresas são, do ponto de vista fiscal, terceiros em relação umas às outras. Sustenta que a fiscalização invoca regras administrativas emanadas pela Comissão de Valores Mobiliários já na constância das Leis 11.638/07 e 11.941/09 (Ofício Circular CVM 1/2007), como se isso pudesse lhe dar respaldo retroativo. A recorrente refuta a possibilidade de distinção entre os institutos da fusão, incorporação e cisão entre empresas interligadas ou sem ligação entre si, o que afrontaria os arts. 109 e 110 do CTN. Defende que a permuta, é uma operação onerosa, onde duas pessoas, ao mesmo tempo, alienam e adquirem ativos; que para os intervenientes o sacrifício consiste na perda do bem anteriormente havido, como condição para se ter o novo bem sob seu domínio, Fl. 1469DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.470 69 encontrandose configurada, portanto, a onerosidade da operação; que se um interveniente registra um ágio, o outro necessariamente registrará um deságio. Sustenta que o ágio não é um valor artificial inventado, tirado do nada; que ao contrário, é a equivalência ao patrimônio de uma sociedade investida que acaba de ser adquirida por um valor menor do que seu valor patrimonial, é a expressão natural de um bom negócio. Não registrando o ágio, neste momento, inexoravelmente, ele se tornaria resultado de equivalência patrimonial por ocasião da primeira avaliação, resultado este não tributável, por sinal. Alega que este foi o procedimento da recorrente nas operações realizadas e que após as reestruturações, como não se justificava a manutenção do custo das duas empresas, o grupo decidiu reunilas, sendo que era indiferente a Málaga absorver a Bruxelas ou vice versa; que após a incorporação o valor do ágio foi incorporado ao custo de aquisição, o que não teria qualquer efeito fiscal. Alega que embora a autoridade fiscal não mencione, teria se utilizado das disposições do art. 116, parágrafo único do CTN, introduzido pela LC. 104/2001, para possibilitar a glosa do ágio, porém tal dispositivo tem eficácia limitada, pois depende de regulamentação por lei ordinária; portanto, não poderia ser aplicada. Que a justificativa econômica para as operações, decorre da decisão de cunho empresarial de alienar os títulos da Bovespa, tendo em vista a possibilidade surgida com sua transformação em ações, e que é direito do contribuinte escolher a melhor forma de realizar seus ativos, inclusive no sentido de pagar menos tributos. Antes de adentrar à análise das operações realizadas, dos fundamentos da autuação e dos argumentos da autuada, peço vênia aos meus pares para transcrever algumas reflexões já apresentadas a este colegiado em outra oportunidade1 quando analisamos questões semelhantes envolvendo a glosa de amortização de ágio apurado em face da expectativa de rentabilidade futura, quanto este surge em face de operações realizadas entre partes relacionadas. Trago aqui os principais excertos, verbis: Considerações sobre a amortização do ágio Antes de adentrar o mérito da exigência fiscal, entendo ser necessário tecer algumas considerações acerca da questão da amortização do ágio em face de reorganizações societárias, que vem sendo largamente utilizado e discutido enquanto mecanismo de planejamento tributário das empresas. Tal discussão é bastante tormentosa, o que se revela na própria jurisprudência administrativa, e não está imune a algum grau de subjetividade por parte dos intérpretes e aplicadores do direito. Da liberdade de autoorganização do contribuinte A primeira questão a ser analisada referese à liberdade de autoorganização do contribuinte, tida como absoluta pelos intérpretes e doutrinadores liberais, que defendem que “o Fisco só pode cobrar (tributos) mediante tipicidade fechada e legalidade estrita” enquanto que o contribuinte pode fazer tudo que não está restringido pela lei. 1 Vide Acórdão nº 1302001.950, de 09 de agosto de 2016. Fl. 1470DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.471 70 Desta visão decorre o entendimento de que atendidos os aspectos puramente formais dos atos e operações do contribuinte, independente de seu conteúdo real, nenhuma objeção pode ser feita pelo Fisco. Tal visão desconsidera o aspecto finalístico da lei e sua interpretação sistêmica. Não há dúvidas de que o contribuinte tem ampla liberdade de autoorganizar se, inclusive no sentido de adotar as opções negociais que lhe propiciem a menor carga tributária possível. Esta liberdade de autoorganização, no entanto, não é absoluta; está sujeita a restrições, como o respeito à livre concorrência, à boa fé, à função social da empresa, etc. Tampouco se aplica às hipóteses de simulação, fraude à lei e abuso de direito. Um dos poucos doutrinadores a tratar do tema sem o viés estritamente liberal, Marco Aurélio Greco leciona que “não há dúvida de que o contribuinte tem o direito encartado na Constituição Federal, de organizar sua vida da maneira que melhor julgar. Porém, o exercício desse direito supõe a existência de causas reais que levem a tal atitude. A autoorganização com a finalidade predominante de pagar menos imposto configura abuso de direito, além de poder configurar algum outro tipo de patologia do negócio jurídico, como, por exemplo, fraude à lei” 2. Nesse sentido, observa que “a possibilidade de serem identificadas situações concretas em que os atos realizados pelos particulares, embora juridicamente válidos, não serão oponíveis ao Fisco, quando forem fruto de um uso abusivo do direito de autoorganização que, por isso, compromete a eficácia do princípio da capacidade contributiva e da isonomia fiscal” 3. A observância aos princípios da capacidade contributiva e da isonomia fiscal na interpretação e aplicação da lei tributária, especialmente quando se trata do Imposto de Renda, revelase de todo pertinente, não podendo tais princípios serem subjugados ou simplesmente esquecidos em face do direito de autoorganização do sujeito passivo. “A eficácia do princípio da capacidade contributiva está em assegurar que todas as manifestações daquela aptidão sejam efetivamente atingidas pelo tributo” 4. E, “na medida em que a lei qualificou uma determinada manifestação de capacidade contributiva como pressuposto de incidência de um tributo, só haverá isonomia tributária se todos aqueles que se encontrarem na mesma condição tiverem de suportar a mesma carga fiscal. Se, apesar de existirem idênticas manifestações de capacidade contributiva, um contribuinte puder se furtar ao imposto (ainda que licitamente), esta atitude estará comprometendo a igualdade, que tem dignidade e relevância até mesmo maiores que a proteção à propriedade (CF, artigo 5º)” 5. Desta feita, não há que se falar em liberdade de autoorganização quando o ato praticado visa única e exclusivamente a reduzir o tributo devido, pois “a carga tributária decorre da lei e não pode ficar ao sabor da ‘criatividade’ do contribuinte. Nem se diga que o ordenamento autoriza estas condutas, pois a opção fiscal 2 GRECO, Marco Aurélio. Planejamento Tributário. 3a. ed.São Paulo: Dialética, 2011. p 228 3 GRECO, Marco Aurélio. Op cit, p. 211 4 GRECO, Marco Aurélio. Op cit. p.209. 5 GRECO, Marco Aurélio. Op cit. p.210. Fl. 1471DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.472 71 (desejada ou induzida pelo ordenamento) é diferente da ‘montagem fiscal” (construção de um modelo apenas formal para atingir uma redução do tributo)”. 6 Se o contribuinte que pratica atos, abusando do direito de autoorganização, não pode ter reconhecido os efeitos tributários os quais buscou beneficiarse, aquele que simula a prática de atos com vistas unicamente a redução de tributos menos ainda pode usufruir do benefício fiscal almejado. Primeira conclusão: a liberdade de autoorganização do contribuinte perante o Fisco e a sociedade não é absoluta; está sujeita a restrições, como o respeito à livre concorrência, à boa fé, à função social da empresa e não se coaduna com as práticas de simulação, abuso de direito ou fraude à lei. Os fundamentos da existência ágio e das condições para sua amortização. [...] Qualquer que fosse o objetivo, é certo que o legislador baseouse em um motivo econômico da maior relevância quando tratou da possibilidade fiscal de dedução do ágio pago na aquisição de investimentos, com fundamento na expectativa de rentabilidade futura, na Lei nº 9.532/1997. Independente da premissa ou pressuposto para a instituição da previsão legal de dedução do ágio, verificase que a lei não cuidou de restringir o seu alcance apenas para as operações de aquisições de participações visando o programa nacional de desestatização, de sorte que é correta a sua extensão a toda e qualquer operação de aquisição de investimentos, inclusive naquelas ocorridas entre particulares, desde que seja equivalente às da previsão legal. Assim é que, em uma operação de aquisição de investimentos entre duas empresas independentes, conhecedoras do negócio, livres de pressões ou outros interesses, havendo o pagamento de ágio com fundamento na expectativa de rentabilidade futura e, cumpridos os requisitos legais, o Fisco não pode opor qualquer óbice à sua amortização. Por outro lado, a lei não ampara as reorganizações societárias em que não existe uma efetiva aquisição de investimentos; quando há uma mera simulação de negócios societários visando unicamente a criar um ágio artificial para reduzir a carga tributária do contribuinte. São os casos em que ainda que formalmente regulares, os negócios societários não tem substância ou existência real. As principais características desses arranjos societários artificiais são: reorganização societária dentro de um grupo de empresa sob controle comum: a aquisição ou criação de empresas sem atividade econômica real (empresas veículos); subscrição de capital na empresa veículo, integralizada com quotas ou ações da empresa operacional do grupo (ou outra holding intermediária), avaliadas “a valor de mercado” com base na expectativa de rentabilidade futura; ausência de pagamento efetivo (não há qualquer dispêndio ou sacrifício patrimonial); inexistência de outra finalidade nas operações, que não a geração/aproveitamento do ágio, ou preponderância desta última; operações formais realizadas em curto espaço de tempo; incorporação reversa da investidora pela investida, que passa a adotar a razão social ou marca daquela; o controle societário da empresa 6 GRECO, Marco Aurélio. Op cit, p.246 Fl. 1472DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.473 72 operacional (direto ou indireto) resulta inalterado ao final da reorganização societária. Nem todas as variáveis acima elencadas deverão estar presentes, ao mesmo tempo, para se constatar a geração artificial de um ágio na operação societária. No exame das operações societárias visando a aferir a efetividade da existência do ágio há que se levar em consideração, fundamentalmente: a existência de motivação econômica para a operação; a independência entre as partes na formação do preço pago pela participação; a existência de efetivo pagamento (dispêndio ou sacrifício patrimonial); modificação da participação no controle (direto ou indireto) da empresa operacional após a reorganização. [...] O ágio sob a perspectiva do reconhecimento contábil Por fim, examino a questão do ágio sob a perspectiva de sua apuração e reconhecimento na contabilidade. Essa discussão ganha sua relevância em face do argumento utilizado quando se discute a questão do ágio no âmbito das operações societárias no sentido de que o regime contábil dado ao instituto seria diferente daquele previsto na legislação tributária. Tal entendimento deriva do fato do legislador ter disciplinado o instituto no âmbito de uma lei que tratava Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. E esta, de fato, disciplinou a matéria por meio do art. 20 do DL. 1598/777. Com a devida vênia, ainda que a legislação tributária tenha regulado procedimentos contábeis no seu bojo, até pela falta de maior detalhamento pela lei societária, não autoriza a conclusão de que existam dois tipos de ágios para um mesmo fato econômico: um jurídicotributário e outro contábil. 7 Art 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento. § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras a e b do § 2º deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração. Fl. 1473DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.474 73 Em que pese a contabilidade e direito tributário tenham seus campos próprios de conhecimento e ciência, é inegável a interseção entre ambos no âmbito das relações jurídicotributárias. Não se deve olvidar que o lucro tributável é definido pela legislação do Imposto de Renda a partir do lucro líquido apurado na escrituração comercial, tendo o próprio DecretoLei nº1.598/77, no inc. X do seu art. 67, estabelecido expressamente que o lucro líquido do exercício deverá ser apurado, a partir do primeiro exercício social iniciado após 31 de dezembro de 1977, com observância das disposições da Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976. Desta forma, as normas contábeis exaradas pelas entidades responsáveis pela normatização e regulamentação da contabilidade não são elementos estranhos à aplicação da legislação tributária, pelo contrário, fazem parte do arcabouço de mensuração do resultado tributável obtido pelas sociedades empresariais. E aí provavelmente resida um dos pontos nodais nesta discussão, concernente ao reconhecimento do ágio sob a perspectiva de sua apuração contábil. O Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999 (Decreto nº 3.000/1999) dispõe extensamente sobre o registro e amortização do ágio na contabilidade da pessoa jurídica, in verbis: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado Fl. 1474DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.475 74 segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso I do § 2º do artigo anterior, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso III do § 2º do artigo anterior, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração do lucro real, levantados durante os cinco anoscalendário subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no mínimo, para cada mês do período de apuração. § 1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, § 1º). § 2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, § 2º): I o ágio em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; II o deságio em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. § 3º O valor registrado na forma do inciso II (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, § 3º): I será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; II poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. § 4º Na hipótese do inciso II do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos ou contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos Fl. 1475DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.476 75 de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, § 4º). § 5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, § 5º). § 6º O disposto neste artigo aplicase, inclusive, quando (Lei nº 9.532, de 1997, art. 8º): I o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor do patrimônio líquido; II a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. § 7º Sem prejuízo do disposto nos incisos III e IV, a pessoa jurídica sucessora poderá classificar, no patrimônio líquido, alternativamente ao disposto no § 2º deste artigo, a conta que registrar o ágio ou deságio nele mencionado (Lei nº 9.718, de 1998, art. 11). Como se vê, tanto o registro da ocorrência do ágio quanto os de sua amortização, de acordo com a legislação tributária devem ser feitos na contabilidade do sujeito passivo, que por sua vez deve seguir as normas de escrituração da legislação comercial. Ora, o art. 20 do DL. 1598/77 define a existência de ágio ou deságio como sendo a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor do patrimônio líquido na época da aquisição. Deste conceito emanam duas grandezas a serem determinadas com vistas à apuração da existência de ágio (ou deságio). A primeira é o custo de aquisição e a segunda é o valor do patrimônio líquido. Quanto a este último não há dúvidas de que se trata do valor patrimonial da empresa investida na data do investimento. Quanto à primeira é que surgem controvérsias quando se trata de operações societárias realizadas internamente num grupo econômico: qual é o custo de aquisição? O Conselho Federal de Contabilidade, por meio da resolução 750/938, que dispõe sobre os princípios fundamentais da contabilidade, ao tratar do registro dos componentes patrimoniais assim estabelecia no seu art 7º: Art. 7º Os componentes do patrimônio devem ser registrados pelos valores originais das transações com o mundo exterior, expressos a valor presente na moeda do País, que serão mantidos na avaliação das variações patrimoniais posteriores, inclusive quando configurarem agregações ou decomposições no interior da ENTIDADE. Parágrafo único – Do Princípio do REGISTRO PELO VALOR ORIGINAL resulta: I – a avaliação dos componentes patrimoniais deve ser feita com base nos valores de entrada, considerandose como tais os resultantes do consenso com os agentes externos ou da imposição destes; 8 Essa redação foi Alterada pela Resolução CFC nº 1282/2010, por conta do processo de convergência às normas internacionais de contabilidade introduzidas pela Lei nº 11.941/2009. Fl. 1476DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.477 76 [...] (grifo nosso) Fundada nesses princípios a Comissão de Valores Mobiliários, por meio do Ofício Circular CVM/SNC/SEP no 01/2007 condenou o reconhecimento do chamado ágio interno, ou seja, gerado dentro do mesmo grupo de empresas sob controle comum, in verbis: "20.1.7 "Ágio" gerado em operações internas A CVM tem observado que determinadas operações de reestruturação societária de grupos econômicos (incorporação de empresas ou incorporação de ações) resultam na geração artificial de "ágio". Uma das formas que essas operações vêm sendo realizadas, iniciase com a avaliação econômica dos investimentos em controladas ou coligadas e, ato continuo, utilizarse do resultado constante do laudo oriundo desse processo como referência para subscrever o capital numa nova empresa. Essas operações podem, ainda, serem seguidas de uma incorporação. Outra forma observada de realizar tal operação é a incorporação de ações a valor de mercado de empresa pertencente ao mesmo grupo econômico. Em nosso entendimento ainda que essas operações atendam integralmente os requisitos societários do ponto de vista econômicocontábil é preciso esclarecer que o ágio surge única e exclusivamente, quando o preço (custo) pago pela aquisição ou subscrição de um investimento a ser avaliado pelo método da equivalência patrimonial supera o valor patrimonial desse investimento. E mais preço ou custo de aquisição somente surge quando há o dispêndio para se obter algo de terceiros. Assim não há do ponto de vista econômico geração de riqueza decorrente de transação consigo mesmo. Qualquer argumento que não se fundamente nessas assertivas econômicas configura sofisma formal e, portanto, inadmissível. Não é concebível, econômica e contabilmente o reconhecimento de acréscimo de riqueza em decorrência de uma transação dos acionistas com eles próprios. Ainda que, do ponto de vista formal, os atos societários tenham atendido à legislação aplicável (não se questiona aqui esse aspecto), do ponto de vista econômico, o registro de ágio, em transações como essas, somente seria concebível se realizada entre partes independentes, conhecedoras do negócio, livres de pressões ou outros interesses que não a essência da transação, condições essas denominadas na literatura internacional como "arm's length". Portanto é nosso entendimento que essas transações não se revestem de substancia econômica e da indispensável independência entre as partes para que seja passível de registro. mensuração e evidenciação pela contabilidade." (Os grifos constam do original). Resta evidente a convergência Ofício Circular CVM/SNC/SEP no 01/2007 com o princípio emanado do CFC quando se trata da definição do custo de aquisição de um componente patrimonial. Fl. 1477DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.478 77 Não obstante, respeitáveis vozes têm se insurgido contra a invocação desta norma da CVM para fins de interpretação da lei tributária, alegando que a mesma não teria o condão de modificar os conceitos legais do ágio ou mesmo ser utilizada na interpretação da legislação tributária, pois abrigaria conceitos de caráter meramente econômicos ou contábeis. Com a devida vênia aos que assim pensam, entendo que a nota da CVM apenas proclama o óbvio, seja em termos jurídicos, contábeis ou econômicos, deixando nua a falta de substância das operações societárias realizadas com o intuito de gerar ágios artificialmente, unicamente com vistas à redução da carga tributária, situação não amparada pela lei, conforme já examinamos. Ora, se não se concebe a ocorrência de acréscimo de riqueza em decorrência de uma transação dos acionistas com eles próprios, como se justificaria a existência de um ágio nestes casos? Afinal, qual a finalidade da lei tributária (do imposto de renda, em especial), senão estabelecer a carga tributária conforme a capacidade econômica do contribuinte? No voto que restou vencido, no Acórdão nº 110100.708, a ilustre Conselheira Edeli Pereira Bessa, cita o exame do conceito de ágio pela doutrina contábil, in verbis: [...] “[...]o Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações, elaborado pela referida FIPECAFI (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), e citado pela Fiscalização nos termos de sua edição de 2008, afirma o mesmo entendimento no âmbito doutrinário, expondo com clareza o conceito contábil de ágio nos termos a seguir transcritos: 11.7.1 — Introdução e Conceito Os investimentos, como já vimos, são registrados pelo valor da equivalência patrimonial e, nos casos em que os investimentos foram feitos por meio de subscrições em empresas coligadas ou controladas, formadas pela própria investidora, não surge normalmente qualquer ágio ou deságio. Vejase, todavia, caso especial no item 11.7.6. Todavia, no caso de uma companhia adquirir ações de unia empresa já existente, pode surgir esse problema. O conceito de ágio ou deságio, aqui, não é o da diferença entre o valor pago pelas ações e seu valor nominal, mas a diferença entre o valor pago e o valor patrimonial das ações, e ocorre quando adotado o método da equivalência patrimonial. Dessa forma, há ágio quando o preço de custo das ações for maior que seu valor patrimonial, e deságio, quando for menor, como exemplificado a seguir. 11.7.2 Segregação Contábil do Ágio ou Deságio Ao comprar ações de uma empresa que serão avaliadas pelo método da equivalência patrimonial, devese, já na ocasião da compra, segregar na Contabilidade o preço total de custo em duas subcontas distintas, ou seja, o valor da equivalência patrimonial numa subconta e, o valor do ágio (ou deságio) em outra subconta (..) 11.7.3 Determinação do Valor do Ágio ou Deságio a) GERAL Fl. 1478DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.479 78 Para permitir a determinação do valor do ágio ou deságio, é necessário que, na database da aquisição das ações, se determine o valor da equivalência patrimonial do investimento, para o que é necessária a elaboração de um Balanço da empresa da qual se compraram as ações, referencialmente na mesma database da compra das ações ou até dois meses antes dessa data. Todavia, se a aquisição for feita com base num Balanço de negociação, poderá ser utilizado esse Balanço, mesmo que com defasagem superior aos dois meses mencionados. Ver exemplos a seguir. b) DATABASE Na prática, esse tipo de negociação é usualmente um processo prolongado, levando, As vezes, a meses de debates até a conclusão das negociações. A database da contabilização da compra é a da efetiva transmissão dos direitos de tais ações aos novos acionistas a partir dela, passam a usufruir dos lucros gerados e das demais vantagens patrimoniais.() 11.7.4 Natureza e Origem do Ágio ou Destigio (...) c) ÁGIO FOR VALOR DE RENTABILIDADE FUTURA Esse ágio (ou deságio) ocorre quando se paga pelas ações um valor maior (menor) que o patrimonial, em função de expectativa de rentabilidade futura da coligada ou controlada adquirida. Esse tipo de ágio ocorre com maior frequência por envolver inúmeras situações e abranger diversas possibilidades. No exemplo anterior da Empresa B, os $ 100.000.000 pagos a mais na compra das ações representam esse tipo de ágio e devem ser registrados nessa subconta especifica. Sumariando, no exemplo anterior, a contabilização da compra das ações pela Empresa A, por $ 504.883.200, seria (...). 11.7.5 Amortização do Ágio ou Destigio a) CONTABILIZAÇÃO I Amortização do ágio (deságio) por valor de rentabilidade futura O ágio pago por expectativa de lucros futuros da coligada ou controlada deve ser amortizado dentro do período pelo qual se pagou por tais futuros lucros, ou seja, contra os resultados dos exercícios considerados na projeção dos lucros estimados que justifiquem o ágio.O fundamento aqui é o de que, na verdade, as receitas equivalentes aos lucros da coligada ou controlada não representam um lucro efetivo, já que a investidora pagou por eles antecipadamente devendo, portanto, baixar o ágio contra essas receitas. Suponha que uma empresa tenha pago pelas ações adquiridas um valor adicional ao do patrimônio liquido de $ 200.000, correspondente a sua participação nos lucros dos 10 anos seguintes da empresa adquirida. Nesse caso, tal ágio deverá ser amortizado na base de 10% ao ano. (Todavia, se os lucros previstos pelos quais se pagou o ágio não forem projetados em uma base uniforme de ano para ano, a amortização deverá acompanhar essa evolução proporcionalmente).(..) Fl. 1479DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.480 79 Nesse sentido, a CVM determina que o ágio ou o deságio decorrente da diferença entre o valor pago na aquisição do investimento e o valor de mercado dos ativos e passivos da coligada ou controlada deverá ser amortizada da seguinte forma (..). [..] (destaques cfe original) Como se observa, tanto as normas contábeis quanto a doutrina são convergentes em não reconhecer a existência de ágio quando não há negociação, ainda que indireta, com terceiros e efetivo pagamento pelas participações subscritas. A utilização dos princípios contábeis para dar uma resposta satisfatória ao desafio de mensuração do resultado das pessoas jurídicas, foi bem observado por Schoueri, que aborda a solução encontrada pelo legislador pátrio para a questão da dedutibilidade do ágio, in verbis: “Conforme já referido, pelo princípio contábil do confronto das despesas com as receitas (o matching principle), as despesas que sejam diretamente relacionadas a receitas de determinado período devem ser com estas confrontadas, a fim de que não sejam geradas quaisquer distorções. Não seria razoável que se contabilizasse uma receita sem que a despesa que a originou fosse a essa contraposta; caso contrário, se verificariam valores absolutamente fictícios, com resultados negativos no período em que se contabilizasse a despesa e positivos no período que se escriturasse a receita, quando, em verdade, esses valores contrapostos acarretariam um resultado global neutro. Segundo explana Sérgio de Iudcibus, os princípios dão as grandes linhas filosóficas da resposta contábil aos desafios do sistema de informação da Contabilidade, operando num cenário complexo, no nível dos postulados, formando, pois, o núcleo da doutrina contábil. Muito além de influenciar as ciências contábeis, é de se notar que os princípios influenciam todos os demais âmbitos de estudo dotado de cientificidade, dentre esses o Direito. Um princípio que fornece respostas satisfatórias a uma ciência pode perfeitamente oferecer respostas também satisfatória a outros âmbitos científicos. E ocorreu justamente isso em matéria de amortização de ágio. Além de fornecer resposta aos desafios contábeis, o princípio do confronto das despesas com as receitas também foi utilizado pelo legislador para fornecer respostas satisfatórias aos desafios fiscais de amortização do ágio. Foi de rara felicidade a introdução desse princípio, de natureza primordialmente contábil, na apuração do lucro real das pessoas jurídicas nacionais, por parte do Poder Executivo quando formulou o tratamento do ágio na incorporação que atualmente observamos em nosso ordenamento jurídico. Entendeuse que o momento de dedutibilidade fiscal dó ágio deveria estar estritamente vinculado ao momento em que as receitas que acarretaram o seu pagamento fossem auferidas, isto é, o momento em que o ágio fosse considerado realizado. Ora, qual o motivo de se ter pago um montante superior ao valor do patrimônio líquido de uma pessoa jurídica para adquirila? A expectativa de auferir resultados positivos futuros em decorrência desse ágio pago é a resposta. Se os resultados positivos futuros tiveram sua origem em dispêndio com ágio ocorrido no passado, nada mais correto que registrar esse ágio em ativo para que apenas seja considerado em conta de resultado quando os referidos resultados Fl. 1480DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.481 80 positivos futuros foram auferidos. Eis onde o legislador acertou ao edificar a regulamentação do ágio ora em vigor.” 9 (grifos nosso) Muito feliz a observação de Schoueri de que o legislador buscou na ciência contábil a solução para a questão da amortização do ágio. E o fez tanto com relação à adoção do princípio do confronto entre despesas e receitas como também ao já citado princípio do registro pelo valor original, resultante do consenso com os agentes externos ou da imposição destes, pois ambos se complementam neste caso. Senão, como se pode falar em dispêndio com ágio pago numa transação que não envolve terceiros? Como se admitir a dedução de um dispêndio que não existiu sobre uma receita que dele não decorreu? Seria absolutamente contraditório aceitar um princípio e negar o outro. [...] Ora se é lógico não haver a tributação do resultado antes de deduzido o ágio efetivamente pago [...], da mesma forma não faz sentido deduzir do lucro, como despesa, um valor que não foi efetivamente despendido. O lucro, neste último caso, é o mesmo que a empresa já teria antes da suposta reorganização societária e não ocorreu nenhum dispêndio que justifique a sua redução. Observese ainda que, quando se fala em ágio pago, não se está discutindo a possibilidade do pagamento de uma subscrição ser feita por outros meios que não o pagamento em dinheiro, tais como a dação em pagamento de bens ou direitos. Não há dúvidas de que o pagamento de uma subscrição possa ser feito sob diversas formas ou meios, como a dação em pagamento de bens ou direitos, p.ex. A questão que se coloca é que para que se admita a existência do pagamento de ágio é que haja um efetivo sacrifício patrimonial por parte da adquirente. Não caracteriza qualquer desembolso a mera transferência escritural das ações registrados pela investidora em seu patrimônio (indevidamente reavaliados) para o da investida. Mormente, se, ato contínuo, é feita a reversão do investimento, mediante a incorporação reversa, apenas para cumprir um requisito legal, sem qualquer modificação do seu controle direto ou indireto, seja quantitativa, seja qualitativamente. A ausência de um efetivo pagamento (sacrifício patrimonial) por parte da investidora pelas participações subscritas em operações com empresas controladas revela a falta de substância econômica das operações o que impede o seu registro e reconhecimento contábil, pois não há efetiva modificação da situação patrimonial. Ora, como já visto, os resultados tributáveis das pessoas jurídicas, apurados com base no Lucro Real, têm como ponto de partida o resultado líquido apurado na escrituração comercial, regida pela Lei nº 6.404/1976, conforme estabelecido pelo DL. 1.598/1977. O ágio na subscrição de investimentos é um fato econômico captado pela ciência contábil e regulado pela lei tributária com substrato nos princípios contábeis. É nessa perspectiva que a orientação normativa da CVM e demais normas contábeis devem ser vistas. Não como fonte normativa tributária, mas como 9 SCHOUERI, Luis Eduardo. op cit, p. 71 e 72 Fl. 1481DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.482 81 elementos para a adequada interpretação da lei quanto aos efeitos do fato econômico (ágio) por ela regulado, pois os seus fundamentos foram buscados na ciência contábil. Assim, os princípios contábeis geralmente aceitos e as normas emanadas dos órgãos fiscalizadores e reguladores, como Conselho Federal de Contabilidade e Comissão de Valores Mobiliários, observadas disposições legais específicas em contrário, têm pertinência e devem ser observadas na apuração dos resultados contábeis e fiscais. Pelo exposto, entendo que, também sob o ponto de vista de apuração dos resultados segundo os princípios e as normas contábeis, só pode ser aceita a dedutibilidade de ágio, com base nos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, quando este puder ser reconhecido segundo as normas contábeis, uma vez que os referidos dispositivos remetem ao ágio apurado nos temos do art. 20 do Decretolei nº 1.598/1997, que por sua vez deve ser reconhecido contabilmente conforme com as normas da escrituração comercial estabelecidas pela Lei nº 6.404, de 1976. Estabelecidas as premissas acima transcritas, passo a analisar os argumentos da recorrente e os fundamentos do auto do infração. Para melhor análise das operações e dos fundamentos da autuação e da defesa, transcrevo abaixo a sequência cronológica dos fatos conforme apontados às fls. 13 do TVF (fls.488 do processo): A seguir, os fatos já narrados são sistematizados cronologicamente, a fim de facilitar a sua compreensão: 1) 30/05/2007 NA BRUXELAS transferência dos 22 Títulos Patrimoniais da Bovespa do Banco Alvorada para a Bruxelas, em contrapartida do aumento de capital. Custo dos títulos R$ 29.033.762,12 2) 31/05/2007 NA MÁLAGA recebimento das ações da Companhia Rubi em contrapartida do aumento de capital efetuado pela Embaúba. 3) 05/06/2007 NA MÁLAGA permuta de ações com a Serei. A Málaga entrega as ações da Rubi para a Serei e recebe, em troca, ações da Bruxelas. Nesta operação é criado o ágio no valor de R$ 141.846.877,02. 4) 08/06/2007 NA MÁLAGA E BRUXELAS extinção da Málaga, através de sua incorporação pela Bruxelas. Com isso há a transferência do ágio para a Bruxelas. 5) 30/06/2007 NA BRUXELAS lançamento da atualização dos títulos no valor de R$ 1.942.326,10. 6) 31/07/2007 NA BRUXELAS nova atualização dos títulos, valor R$ 1.148.180,22. 7) 27/08/2007 NA BRUXELAS Venda de 12 Títulos para o Goldman Sachs, tendo recebido o valor de R$ 91.680.000,00. Como parte do custo foi considerado o valor de R$ 77.371.023,93, referente ao ágio proporcional aos 12 Títulos. 8) 31/08/2007 NA BRUXELAS nova atualização do valor dos Títulos remanescentes, valor R$ 545.433,90. Fl. 1482DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.483 82 9) 04/09/2007 NA BRUXELAS nova atualização do valor dos Títulos remanescentes, valor R$ 541.527,80. 10) 18/09/2007 NA BRUXELAS conversão dos títulos em ações da Bovespa Holdings S.A., em razão da desmutualização ocorrida em 28/08/2007. Transferência do valor da conta contábil Títulos Patrimoniais Bovespa para a conta Outras Empresas. 11) 18/09/2007 NA BRUXELAS lançamento contábil da conta Ágio Títulos Bovespa contra a conta Outras Empresas. O ágio remanescente, no valor de R$ 64.475.853,19, não está mais segregado do custo do investimento. 12) 19/10/2007 NA BRUXELAS e BRADESPLAN extinção da Bruxelas com sua incorporação pela Bradesplan. Ocorre a transferência das ações da Bovespa Holdings para a Bradesplan pelo valor total de R$ 80.236.645,79. Não há mais qualquer segregação de valores no custo escriturado. 13) 30/10/2007 NA BRADESPLAN venda das ações da Bovespa Holdings, recebidas na incorporação da Bruxelas. Valor recebido R$ 162.555.260,00. Dentro do valor de R$ 80.236.645,79, referente ao custo escriturado, R$ 64.475.853,19 eram referente ao ágio que agora estava definitivamente incorporado ao custo. 14) 30/10/2007 NA BRADESPLAN recebimento de R$ 29.220.886,20, referente ao valor residual, previsto em contrato sobre a venda dos 12 Títulos Patrimoniais. Este valor foi levado ao resultado do exercício. É inegável que as empresas Bruxelas Holding e Málaga foram utilizadas como meras empresas de passagem com vistas a possibilitar a reavaliação dos títulos da Bovespa que seriam vendidos, antes da formalização da venda. É certo que, parte dos títulos foram alienados em nome das empresa Bruxelas Holding, antes de sua incorporação pela recorrente, mas tal fato se dá imediatamente após às operações de permuta de ativos, das quais resultaram a reavaliação dos títulos da Bovespa, formandose o ágio registrado inicialmente na empresa Málaga. Em poucos dias, estas empresas passaram de inativas, com capital de R$ 1.000,00, tiveram seu capital aumentado exponencialmente mediante o aporte de participação societárias (e títulos patrimoniais) de empresas do grupo, foram objeto de operações de permuta de ativos, incorporações e extinção, como destacou a autoridade fiscal no TVF, verbis: A Málaga foi constituída em 25/10/2006, não teve qualquer atividade até 31/05/2007, quando recebeu as ações da Companhia Securitizadora de Créditos Rubi. Sete dias depois realizou a permuta de ações com a Serei Participações, que deu origem ao ágio. Em 08/06/2007 foi extinta devido à sua incorporação pela Bruxelas. Teve, incontestavelmente, vida efêmera, operou efetivamente de 31/05/2007 a 08/06/2007, durante apenas 9 dias, sendo que neste período teve seu Capital Social aumentado de R$ 1.000,00 para R$ 400.000.000,00 e produziu o ágio Títulos Patrimoniais da Bovespa no valor de R$ 141.846.877,20. A Bruxelas, também constituída em 25/10/2006, também ficou adormecida até 30/05/2007 e sobreviveu até 19/10/2007 quando foi incorporada pela Bradesplan, transferindo as ações da Bovespa Holdings S.A. já com o ágio, criado na Málaga, incorporado ao custo do investimento. Neste período teve seu capital aumentado de R$ 1.000,00 para R$ 3.287.978.617,66 Fl. 1483DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.484 83 A recorrente questiona a utilização pela fiscalização de normas emanadas da CVM que teriam sido editadas na constância das Lei 11.638/07 e 11.941/09, alegando a irretroatividade da lei. Penso que, na esteira do que acima sustentei quanto ao meu entendimento sobre a aplicação das normas contábeis, a norma citada no TVF, expedida pela CVM (Ofício Circular CVM SNC/SEP n° 1/2007), faz tão somente proclamar, com vistas à expressa orientação das empresas sob sua supervisão e fiscalização, o que já dispunham as normas contábeis e societárias que disciplinam a apuração do resultado pelas sociedades comerciais, conforme se extrai da própria doutrina contábil citada no TVF. Tratase, como já dito, de orientação visando a respeitar princípio fundamental da contabilidade, já fixado na Resolução CFC 750/1993, que determinava que os componentes do patrimômio fossem expressos pelos valores de entrada, ou seja, os valores originais decorrentes das transações com o mundo exterior, resultantes do consenso com os agentes externos ou da imposição destes. Visa precipuamente a que os resultados e valores patrimoniais não sejam objeto de manipulação dentro do grupo empresarial que venham a deturpar a real situação econômica e patrimonial das empresas. No caso sob análise, houve mera permuta de ativos entre as empresas do mesmo grupo, com reavaliação dos componentes patrimoniais da empresa Bruxelas Holding, entre os quais, os títulos da Bovespa, seguida de sua imediata absorção pela empresa reavaliada, mediante a incorporação reversa da empresa controladora, que recebera os ativos reavaliados na permuta (Málaga). É exatamente o que a orientação do Ofício Circular visava coibir. A diferença é que nesta caso ocorreram passos adicionais, dando uma aparência de maior complexidade às operações, com a permuta de ações entre a empresas do grupo, após a sua capitalização, no bojo da qual surgiu o ágio contestado pelo Fisco. Ora, o que houve de fato foi uma tentativa reavaliação de ativos, utilizando se do artifício da permuta de ações. A característica de onerosidade da permuta, nos termos do Código Civil, aventada pela recorrente, não é suficiente, por si só, para validar o reconhecimento do ágio sob a perspectiva contábil. O suposto sacrifício consistente na perda do bem anteriormente havido em troca de outro ativo de empresa sob o mesmo controle se esvazia na medida em que entabulada a permuta por quem tem interesse de ambos os lados, sendo inconcebível o reconhecimento de um ganho econômico de um lado e um dispêndio de outro, decorrente de manipulação dos elementos de troca por quem detém ambos os direitos. O laudo de avaliação emitido por empresa especializada, tampouco tem o condão de validar economicamente a operação. E não se está aqui afastando a aplicação dos arts. 109 e 110 do CTN, nem se cogita de negar validade aos institutos do direito civil, comercial ou societário, mas, ao contrário, de aplicálos de acordo com as normas emanadas pela entidade responsável pela fiscalização e controle das leis societárias e das normas contábeis. Fl. 1484DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.485 84 Afinal, a apuração do resultado das empresas se obtém por meio da correta aplicação das normas societárias e contábeis e são a base para a apuração do lucro sob a perspectiva fiscal. Esta é a base da acusação fiscal que entendo estar correta e por isto deve ser mantida. Não obstante, a recorrente alega ainda que, embora a autoridade fiscal não mencione, teria se utilizado das disposições do art. 116, parágrafo único do CTN, introduzido pela LC. 104/2001, para possibilitar a glosa do ágio, porém tal dispositivo teria eficácia limitada, pois depende de regulamentação por lei ordinária; portanto, não poderia ser aplicada. Analisando os elementos dos autos e a forma em que as operações foram entabuladas penso que estamos, efetivamente, diante de operações simuladas que tiveram o único propósito de aumentar o custo contábil do ativo a ser vendido (títulos da Bovespa), com vistas a supressão ou redução do ganho de capital que se vislumbrava com a perspectiva imediata de sua alienação, diante do novo cenário que se desenhou com o processo de desmutualização da bolsa. Sem dúvida estamos diante da hipótese de cabimento do lançamento de ofício com base no art. 149, inc. VII do CTN, verbis: Art. 149. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação. [...] VII quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; Assim, entendo que seria mesmo o caso da autoridade fiscal ter aplicado a multa qualificada de 150% sobre as infrações apuradas, pois é evidente o intuito doloso de suprimir ou reduzir os tributos devidos. Evidente também o conluio perpetrado mediante o concurso de diversas empresas do mesmo grupo econômico com o intuito deliberado de prática dos atos tendentes à prática da sonegação. Obviamente, não tendo sido este o fundamento apontado pela autoridade fiscal para a glosa da despesa, falece competência à autoridade julgadora para agravar a exigência e determinar a imposição da penalidade qualificada. Inúmeros doutrinadores destacam que a norma contida no art. 116, parágrafo único do CTN, introduzida pela LC. 104/2001 pouco inova no ordenamento jurídico, em face do que já dispunha o art. 149, inc. VII do CTN, acima citado, e, ainda, que a norma insculpida no art. 50 do Código Civil dispensaria a sua própria existência. Vejamos algumas posições: "... o direito positivo já autorizava a desconsideração de negócios jurídicos dissimulados, à vista do disposto no art. 149, inc. VII do CTN, que estabelece que o lançamento deva ser procedido de ofício na hipótese de o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, ter agido com dolo, fraude ou simulação." Fl. 1485DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.486 85 (COSTA, Regina Helena. Curso de Direito Tributário. Saraiva, 2009, p.184) 10 "O ordenamento brasileiro, a meu ver, já autorizava a desconsideração de negócios jurídicos dissimulados, a exemplo do disposto no art. 149, VII, do Código Tributário Nacional. O dispositivo veio apenas ratificar regra existente no sistema em vigor. Por isto mesmo, assiste razão a Heleno Torres, ao asseverar que a referida lateração (sic) tão só aperfeiçoa o que já se encontrava previsto, de modo genérico, afastando quaisquer dúvidas quanto a possibilidade da Administração em desconsiderar os negócios fictícios ou dissimulados. (...)" (CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário, 21ª edição. Saraiva, 2009, p. 309/310) 11 "A teoria da desconsideração da personalidade jurídica aplica se indistintamente em qualquer ramo da Ciência Jurídica, inclusive no direito tributário, pois constitui uma sanção ao abuso do direito subjetivo à personalidade jurídica. É instituto que pertence à Teoria Geral do Direito.[...]Ainda corrobora para a repressão ao abuso de direito à personalidade jurídica o princípio não expresso da função social da empresa, que, de uma forma mais abstrata, observa a pessoa jurídica sob uma ótica funcionalista de se uso adequado e regular. Nestes termos, salientese também a desnecessidade de regra expressa que autorize a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica no direito tributário, sendo frágil o argumento e que vulneraria o princípio da legalidade, ou mesmo a inaplicabilidade do art. 50 do Código Civil à seara tributária, em virtude desse diploma ser lei ordinária, e a matéria tributária exigir lei complementar. [...]...o parágrafo único do art. 116 do CTN em nada inovou. Resta, portanto, interpretálo num contexto de unidade e complementaridade sistêmica com os arts. 50 e 187 do CC, podendo, inclusive, prestar como fundamento legal da desconsideração da personalidade jurídica no direito tributário. É evidente que isso fica a cargo do intérprete, pois é sabido que a desconsideração da personalidade jurídica prescinde de regra expressa que a estabeleça. Ressaltese, também, sobre a possibilidade de aplicação dessa teoria já na esfera administrativa, pois não há porque negar aplicação à teoria da desconsideração , se esta se constitui na repressão a uma forma de abuso de direito.8) Em síntese, é perfeitamente possível e aceitável a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica no direito tributário. ... o direito tributário pode se valer da previsão normativa do art. 50 do CC, pois como visto, esse diploma não somente acolher (sic) normas de direito privado como também encerra regras de Teoria Geral do Direito, permitindo aplicação subsidiária a outros campos do direito. (SILVA, Alexandre Alberto Teodoro da. A 10 in PAULSEN, Leandro. Direito Tributário. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 13. ed, Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; ESMAFE, 2011. p 951. 11 PAULSEN, Leandro. Op. cit, p. 952. Fl. 1486DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.487 86 Desconsideração da Personalidade Jurídica no Direito Tributário. Quartier Latin, 2007, p.230 e 232) 12 Com efeito, grande parte da doutrina aponta que o art. 116, parágrafo único teria o condão de incorporar expressamente ao direito tributário às normas já insculpidas na lei civil, como o abuso de forma, o abuso de direito e a fraude à lei, indo além da simulação, já prevista expressamente no CTN, como já visto. O abuso de forma, segundo Luciano Amaro13, "consistiria na utilização, pelo contribuinte, de uma forma jurídica atípica, anormal ou desnecessária, para a realização de um negócio jurídico que, se fosse adotada a forma 'normal', teria um tratamento tributário mais oneroso. Em certa medida, confundindose com o abuso de forma, o abuso de direito traduzirseia em procedimentos que, embora correspondentes modelos abstratos legalmente previstos. só estariam sendo concretamente adotados para fins outros que não aqueles normalmente adotados para fins outros que não aqueles que normalmente decorreriam sua prática". Marciano Seabra Godoi14, entende que "o dispositivo veio inserir no direito tributário brasileiro uma norma de 'combate á fraude à lei tributária'; segundo esta norma, continua permitido o planejamento tributário, mas quando este, buscando uma vantagem fiscal, promove uma distorção ou um uso artificioso e 'forçado' de determinados atos ou negócios jurídicos (ou um conjunto destes) previstos na lei civil ou comercial para outros fins, então podem ser desconsideradas tais formalizações e se aplicará a norma tributária elidida ou defraudada" Para Ricardo Lobo Torres15, a "desconsideração se refere aos atos ou negócios jurídicos praticados, ou seja, requalificamse os fatos geradores concretos" e a "requalificação do ato ou negócio praticado, o que nada tem a ver com as consequência da simulação, a saber: a anulação prevista no art. 149, VII do CTN. Pelo contrário. Visa apenas reaproximar do verdadeiro conteúdo material do ato decorrente do desenho da hipótese de incidência". Mais adiante em sua obra, Lobo Torres analisa o alcance e o sentido da expressão "...com a finalidade de dissimular", contida no parágrafo único do art. 116 do CTN e explica, verbis: A dissimulação pode ser tomada em dois sentidos: a) como mecanismo da simulação, como fizeram os juristas de índole formalista; b) como ingrediente da elisão, na linha adotada no modelo francês, que adotamos. [...] 12 PAULSEN, Leandro. Op cit. p. 956 13 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. Saraiva, 15ª ed., 2009, p. 231/234, in PAULSEN, Leandro. Direito Tributário. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 13. ed, Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora; ESMAFE, 2011. p 949. 14 GODOI, Marciano Seabra de. A figura da "fraude à lei tributária" prevista no art. 116, parágrafo único do CTN. RDDT nº 68, maio/01, p. 101/123), in PAULSEN, Leandro. Op cit. p. 952/953. 15 TORRES, Ricardo Lobo. Planejamento Tributário: elisão abusiva e evasão fiscal. Rio de Janeiro. Elsevier, 2013. p.47. Fl. 1487DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.488 87 A teoria do direito civil considera a dissimulação como forma de simulação relativa. Tratase de ponto de vista teórico, que não se positiva no direito civil brasileiro, o qual cuida simplesmente da simulação (art. 102 do Código Civil). Explica Roberto de Ruggiero que na simulação ocorre a desconformidade consciente e querida da declaração com a vontade, mas é preordenada com a parte à qual a declaração se dirige e acordada com ela, a fim de enganar terceiros. Se o acordo cria um negócio que não era querido (simulamos uma venda, mas não queremos nem vender nem criar qualquer relação jurídica), a simulação é absoluta. Outras vezes se cria um negócio distinto daquele que em realidade se quer (encobrimos uma venda com uma doação), ou se declara o querido, mas um do sujeito é distinto ... ou é diverso o objeto... ou algum outro elemento, a simulação nestes casos é relativa, porque um negócio é querido, mas resulta dissiumulado sob falsas aparências. A dissimulação referida no art. 116, parágrafo único, do CTN foi interpretada nesse sentido de simulação relativa pela doutrina normativista e conceptualista, que sempre defendeu o primado na forma sobre a substância. Não nos parece que assim seja, tendo em vista que a desconsideração da autoridade administrativa referese a ato ou negócio jurídico realmente acontecido, sem qualquer simulação, absoluta ou relativa, porque, como já vimos, na elisão o fato gerador concreto é verdadeiro. Ademais, não existe outra pessoa envolvida na realização do fato gerador, como acontece na simulação. Com efeito, me parece bastante razoável a interpretação trazida pelo ilustre autor na medida em que o próprio CTN já trazia regramento sobre a possibilidade de lançamento de ofício quando configurada a simulação por parte do sujeito passivo. Inferir que o parágrafo único do art. 116 teria sido incluído no CTN pelo legislador para disciplinar o que já existia, me parece pouco razoável e contrário às mais comezinhas regras de interpretação. No caso sob exame, me parece que a situação configurada nada mais é que a simulação de operações societárias, estruturadas em sequência, de modo a modificar a base tributável da futura alienação dos títulos, situação (possibilidade de venda dos títulos da Bovespa) que a própria recorrente admite que foi considerada quando levou a efeito tais operações. Mas, ainda que se considere que a situação ora examinada pudesse configurar "mero" abuso de direito ou de forma por parte da contribuinte e fosse o caso de efetivamente aplicarse o disposto no parágrafo único do art. 116 do CTN com vistas a alcançar a base tributável real e malgrado o entendimento majoritário da doutrina no sentido defendido pela recorrente de que a referida norma estaria com sua eficácia limitada, no aguardo de regulamentação por lei ordinária, alinhome ao pensamento contrário de Lobo Torres no sentido de que préexiste, no âmbito federal, a norma ordinária reclamada pela lei complementar, qual seja o DecretoLei nº 70.235/1972, que regula o processo administrativo fiscal. Os defensores da tese de eficácia contida da norma estabelecida no parágrafo único do art. 116 do CTN apóiamse na rejeição aos arts. 14 a 19 da MP. 66/200216 para 16 MP. 66/2002: Fl. 1488DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.489 88 proclamar que não, tendo sido aprovadas tais disposições pelo Congresso Nacional, confirmada estaria a tese da necessidade de edição de uma nova lei para regular o instituto. Lobo Torres faz uma crítica ao texto da MP, por pretender regular não o procedimento mas sim por tentar conceituar as normas antielisivas, acabou revelandose incompleta e contraditória, sendo rejeitada pelos contribuintes e pela comunidade acadêmica e, afinal, pelo Congresso Nacional na conversão da MP à Lei nº 10.637/2002. Art. 14. São passíveis de desconsideração os atos ou negócios jurídicos que visem a reduzir o valor de tributo, a evitar ou a postergar o seu pagamento ou a ocultar os verdadeiros aspectos do fato gerador ou a real natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária. § 1º Para a desconsideração de ato ou negócio jurídico deverseá levar em conta, entre outras, a ocorrência de: I falta de propósito negocial; ou II abuso de forma. § 2º Considerase indicativo de falta de propósito negocial a opção pela forma mais complexa ou mais onerosa, para os envolvidos, entre duas ou mais formas para a prática de determinado ato. § 3º Para o efeito do disposto no inciso II do § 1º, considerase abuso de forma jurídica a prática de ato ou negócio jurídico indireto que produza o mesmo resultado econômico do ato ou negócio jurídico dissimulado. Art. 15. A desconsideração será efetuada após a instauração de procedimento de fiscalização, mediante ato da autoridade administrativa que tenha determinado a instauração desse procedimento. Art. 16. O ato de desconsideração será precedido de representação do servidor competente para efetuar o lançamento do tributo à autoridade de que trata o art. 15. § 1o Antes de formalizar a representação, o servidor expedirá notificação fiscal ao sujeito passivo, na qual relatará os fatos que justificam a desconsideração. § 2o O sujeito passivo poderá apresentar, no prazo de trinta dias, os esclarecimentos e provas que julgar necessários. § 3o A representação de que trata este artigo: I deverá conter relatório circunstanciado do ato ou negócio praticado e a descrição dos atos ou negócios equivalentes ao praticado; II será instruída com os elementos de prova colhidos pelo servidor, no curso do procedimento de fiscalização, até a data da formalização da representação e os esclarecimentos e provas apresentados pelo sujeito passivo. Art. 17. A autoridade referida no art. 15 decidirá, em despacho fundamentado, sobre a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos praticados. § 1o Caso conclua pela desconsideração, o despacho a que se refere o caput deverá conter, além da fundamentação: I descrição dos atos ou negócios praticados; II discriminação dos elementos ou fatos caracterizadores de que os atos ou negócios jurídicos foram praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência de fato gerador de tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária; III descrição dos atos ou negócios equivalentes aos praticados, com as respectivas normas de incidência dos tributos; IV resultado tributário produzido pela adoção dos atos ou negócios equivalentes referidos no inciso III, com especificação, por tributo, da base de cálculo, da alíquota incidente e dos encargos moratórios. § 2o O sujeito passivo terá o prazo de trinta dias, contado da data que for cientificado do despacho, para efetuar o pagamento dos tributos acrescidos de juros e multa de mora. Art. 18. A falta de pagamento dos tributos e encargos moratórios no prazo a que se refere o § 2o do art. 17 ensejará o lançamento do respectivo crédito tributário, mediante lavratura de auto de infração, com aplicação de multa de ofício. § 1o O sujeito passivo será cientificado do lançamento para, no prazo de trinta dias, efetuar o pagamento ou apresentar impugnação contra a exigência do crédito tributário. § 2o A contestação do despacho de desconsideração dos atos ou negócios jurídicos e a impugnação do lançamento serão reunidas em um único processo, para serem decididas simultaneamente. Art. 19. Ao lançamento efetuado nos termos do art. 18 aplicamse as normas reguladoras do processo de determinação e exigência de crédito tributário. Fl. 1489DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.490 89 Aponta Torres17 que "o erro maior da MP. 66/2002, a nosso ver, centrouse na tentativa de regulamentar normas gerais abertas e de conteúdo polissêmico, que apenas podem ser objeto de complementação ou interpretação pelo trabalho da doutrina e da jurisprudência. Em nenhum país que possua normas gerais antielisivas e são todas as nações cultas procurou o Executivo regulamentálas; nem mesmo na França, que exibe o modelo no qual se inspirou a LC nº 104/2001". No entanto, para o renomado jurista18 a rejeição da MP veio em prejuízo dos contribuintes, na medida em que a MP.66 previa um rito prévio, mediante o qual o contribuinte poderia se eximir da aplicação da multa caso viesse a concordar com o entendimento fiscal e pagasse os tributos no prazo de 30 dias da ciência do despacho que decidisse pela desconsideração dos atos ou negócios praticados, verbis: Mas a MP nº 66 continha dispositivos de grande importância para a normalidade do direito tributário brasileiro, como eram os de ordem processual. Previa no art. 15 a instauração de procedimento específico de fiscalização. No art. 16 determinava que o ato de desconsideração seria precedido de representação do servidor competente para efetuar o lançamento, com a notificação ao sujeito passivo que teria 30 dias para os esclarecimentos e provas. A autoridade administrativa, segundo o art. 17, decidiria, em despacho fundamentado sobre a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos praticados. O sujeito passivo teria 30 dias para efetuar o pagamento (art. 17, §2º), que, não realizado, ensejaria a lavratura do auto de infração (art. 18). Ao lançamento assim efetuado aplicarseiam as normas reguladoras do processo de determinação e exigência do crédito tributário (art. 19). Parecenos que a recusa do Congresso Nacional em aprovar os arts. 15 a 19 da MP nº 66/2002 desnorteou a ulterior ação da fiscalização, por ausência de normas procedimentais. Mas não afetou a eficácia da LC nº104/2001, que nunca esteve limitada à ulterior regulamentação, se o ente público possuir regras de processo administrativo, como acontece com a União e os principais Estados brasileiros. Lobo Torres19, ao analisar especificamente a parte final do texto do parágrafo único do art. 116 do CTN assim leciona, verbis: Resta saber se o art. 116, parágrafo único, do CTN, trazido pela LC nº 104/2001 é de aplicação imediata. Parecenos que fica na dependência de normas federais, estaduais ou municipais de caráter procedimental para que possa ser aplicado. Tendo surgido a norma antielisiva por lei complementar federal, a regra procedimental ordinária correspondente não será apenas federal, mas deverá operar no âmbito do processo administrativo fiscal da União, dos Estados e dos Municípios. Se as legislações desses entes da federação já possuem regras de procedimento administrativo que permitam a aplicação da norma antielisiva, nada obsta a incidência imediata do art. 116, parágrafo único do CTN. Afinal de contas, a LC nº104/2001 não está introduzindo uma novidade no direito brasileiro, senão que veio explicitar o que já era aplicado pelos Tribunais sob a forma de combate à fraude à lei ou ao abuso de forma jurídica. 17 TORRES, Ricardo Lobo. Op cit, p. 164 18 TORRES, Ricardo Lobo. Op cit, p. 164/165. 19 TORRES, Ricardo Lobo. Op cit, p. 52. Fl. 1490DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.491 90 Sucede que o Governo Federal optou por baixar a MP. 66/2002, introduzindo desnecessárias complicações na sistemática da norma antielisiva. Mas a Medida Provisória foi recusada pelo Congresso Nacional. De modo que, no plano federal, as normas que regulam o processo tributário administrativo podem ser aplicadas nos casos de combate à elisão abusiva, embora sejam rudimentares e lacunosas. Me parece que as conclusões do renomado tributarista são bastante razoáveis. É certo que a MP. 66/2002, pretendia estabelecer um rito prévio ao lançamento no qual o contribuinte, caso concordasse com a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos pelo Fisco, poderia efetuar, no prazo de 30 dias, o pagamento sem a incidência de multa. Mas, uma vez discordando, sofreria o lançamento dos tributos, com aplicação da multa de ofício, que se submeteria, no âmbito federal, ao rito previsto no Decreto nº 70.235/1972. Com a rejeição dos dispositivos da MP. 66/2002 perderam os contribuintes a oportunidade desse "rito prévio", mas nenhum prejuízo sofreu a aplicação das normas de constituição e exigência do crédito tributário previstas no Decreto nº 70.235/1972, que de resto já regulavam toda a relação processual entre o Fisco e os contribuintes na esfera federal. Notese que os lançamentos envolvendo fraude, dolo e simulação sempre estiveram submetidos ao rito do Decreto nº 70.235/1972, sendo copiosa a jurisprudência deste tribunal administrativo no sentido de reconhecer e homologar tais lançamentos ao exame dos casos concretos. O coro dos que defendem a necessidade de regulamentação específica da norma antielisiva contida no parágrafo único do art. 116 do CTN, como forma de evitar sua aplicação é, me parece, o derradeiro grito da doutrina "normativista e conceptualista" (no dizer de Lobo Torres) e "formalista e reacionária" (digo eu) contra a evolução social do direito tributário brasileiro, tentando evitar que as leis que regem as relações civis e vedam o abuso de direito ou de forma ou a fraude a lei alcancem o direito público, em detrimento do interesse de toda a sociedade, o tão decantado e muitas vezes escanteado "interesse público". Repilo, desde já, o surrado argumento de que tais normas atentam contra a segurança jurídica. Ora, a segurança jurídica se alcança mediante a aplicação reiterada da norma, sempre submetida aos princípios gerais do direito, ao devido processo legal, consubstanciado nos princípios do contraditório e da ampla defesa e, ainda, ao controle de legalidade dos atos administrativos pelo Poder Judiciário. Como bem aponta Lobo Torres20, verbis: A elisão fiscal abusiva só pode ser combatida pela legislação, através do fechamento dos conceitos jurídicos, ou pela Administração, mediante a requalificação dos atos e negócios jurídicos praticados pelo contribuinte. Sobre a autoridade administrativa recai o ônus da prova. O Judiciário não tem competência para desconsiderar o ato ou negócio, ao contrário do que prevê o Projeto de Lei de Defesa do Contribuinte, em exame no Senado Federal, relativamente à desconsideração da personalidade jurídica da sociedade. Ao Judiciário, entretanto, compete o controle do ato de requalificação levado a efeito pela administração. 20 TORRES, Ricardo Lobo. Op cit, p. 45. Fl. 1491DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.492 91 (grifei) Este ponto é extremamente relevante. O ato administrativo jamais poderá deixar de ser submetido ao crivo do Poder Judiciário (CF/88, art. V, inc XXXV), mas a sua concretização não pode e não depende da manifestação prévia daquele Poder, em qualquer caso. Nesta linha de pensamento não pode ser acolhida a alegação da recorrente de que a justificativa econômica para as operações, decorre da decisão de cunho empresarial de alienar os títulos da Bovespa, tendo em vista a possibilidade surgida com sua transformação em ações, e que é direito do contribuinte escolher a melhor forma de realizar seus ativos, inclusive no sentido de pagar menos tributos. Como já frisei antes, a liberdade de autoorganização dos contribuintes não é absoluta; está sujeita a restrições, como o respeito à livre concorrência, à boa fé, à função social da empresa, etc. Tampouco se aplica às hipóteses de simulação, fraude à lei e abuso de direito. Assim, por qualquer ângulo que se analise os efeitos das operações engendradas pelo contribuinte a conclusão é a mesma, no sentido de rejeitar seus efeitos na apuração do ganho de capital ocorrido na venda dos títulos da Bovespa e, posteriormente, das ações que deles derivaram. Por oportuno, observo que, todas as análises feitas neste voto em torno da aplicabilidade do art. 116, parágrafo único do CTN decorrem da alegação trazida pela recorrente no sentido de que a motivação subjacente da autuação seria a aplicação de tal preceito. Deste modo toda a argumentação acima trazida a esse respeito tem por objeto o enfrentamento da alegação suscitada, não importando, em hipótese alguma, na alteração dos critérios jurídicos do lançamento feito pela autoridade fiscal. Ante ao exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário quanto à glosa do ágio na apuração do ganho de capital, mantendo tanto a exigência de IRPJ quanto de CSLL neste ponto. Conclusão Por todo o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário. RECURSO DE OFÍCIO Em face da exoneração parcial do crédito pelo acórdão recorrido foi interposto recurso de ofício pelo colegiado a quo. O recurso de ofício deve ser conhecido, pois o valor exonerado extrapola o limite fixado pelo Ministro da Fazenda, por meio da Portaria MF. nº 63, de 09/02;2017 (créditos de tributos e encargos de multa superior a R$ 2.500.000,00). O acórdão de primeiro grau deu parcial acolhimento à impugnação do contribuinte para reconhecer a existência de saldos de prejuízos fiscais e de bases de cálculo negativas na empresa Bruxelas Holding, que foi incorporada pela ora recorrente e nela própria, Fl. 1492DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.493 92 "acatando a solicitação de compensação de prejuízo e base negativa de períodos anteriores (já que formalizada tal opção na DIPJ apresentada pela autuada e existente saldo compensável) e reconstituindo a base de cálculo da incorporada (na medida em que declarado resultado negativo), resultam como devidos pela Bradesplan os seguintes valores a título de IRPJ e CSLL": Valores devidos IRPJ CSLL Como Sucessora por incorporação da Bruxelas 19.496.053,00 6.873.343,32 Como Contribuinte 11.283.274,31 4.061.978,75 Soma 30.779.327,31 10.935.322,07 Após examinar as DIPJ das duas empresas (Bruxelas Holding e Bradesplan), a autoridade julgadora de primeira instância concluiu, verbis: Analisando a DIPJ apresentada para o anocalendário 2007, pela incorporadora Bradesplan, vêse que houve opção pela compensação, no limite legal de 30%, de prejuízos e base de cálculo negativa de CSLL de períodos anteriores, bem como identificase, nos sistemas informatizados (Sapli) a existência de saldos de prejuízo e de base negativa compensáveis, como segue: Bradesplan: [...] Já a Bruxelas apurou no período de 2007 resultado negativo de R$ 2.405.318,24. [...] Assim, necessário se faz a recomposição da base de cálculo apurada pela incorporada Bruxelas em razão das infrações nela apuradas na autuação, pelas quais responde a Bradesplan na qualidade de sucessora por incorporação. Bruxelas – DIPJ AC 2007 Valores em R$ Prejuízo do período declarado (a) 2.405.318,24 Infrações sujeitas à incidência de IRPJ (b) 80.461.530,25 (=77.371.023,93+ 1.404.775,60 + 1.685.730,72) Resultado após infrações (c = b – a) 78.056.212,01 IRPJ (d = c x 15%) 11.708.431,80 Adicional [e = (c 180.000,000) x 10%] 7.787.621,20 IRPJ devido como sucessora das Bruxelas (=d+e) 19.496.053,00 Lucro Líquido declarado (f) 2.405.318,24 Infrações sujeitas à incidência de CSLL (g) 78.775.799,53 ( = 77.371.023,93 + 1.404.775,60) Fl. 1493DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.494 93 BC da CSLL após infrações (h = g+f) 76.370.481,29 CSLL devida (= h x 9%) como sucessora da Bruxelas 6.873.343,32 E, quanto à Bradesplan, verificada a opção pela utilização de prejuízos e base negativa de CSLL de períodos anteriores, bem como a existência de saldos compensáveis, são recalculados os valores devidos na qualidade de contribuinte, como segue: Bradesplan – DIPJ AC 2007 Saldo de prejuízo de períodos anteriores atividades em geral 323.544.577,94 Lucro real antes da comp de per ant. declarado (i) 394.614.840,00 Infrações operacionais (j) 64.475.853,19 Resultado após infrações (k = i + j) 459.090.693,19 Compensação prejuízo per anteriores 30% (l) 137.727.207,95 Lucro real após comp (m = k – l) 321.363.485,24 IRPJ (= m x 15%) 48.204.522,79 Adicional [= (m – 240.000,00) x 10%] 32.112.348,52 IRPJ + adicional apurado com as infrações 80.316.871,31 IRPJ+adic declarados (41.434.558,20+ 27.599.038,80) 69.033.597,00 IRPJ sobre infrações devido como contribuinte 11.283.274,31 Saldo de BC negativa de CSLL de per anteriores 782.705.071,09 BC da CSLL declarada antes da comp de BC neg per ant 430.480.425,86 Infração 64.475.853,19 BC da CSLL antes da comp de BC neg per ant (n) 494.956.279,05 Compensação da BC neg. de per anteriores 30% (o) 148.486.883,71 BC da CSLL após comp (p = n – o) 346.469.395,34 CSLL apurada com a infração (q = p x 9%) 31.182.245,58 CSLL apurada na declaração (r) 27.120.266,83 CSLL sobre infrações, devida como contribuinte (s=qr) 4.061.978,75 Fl. 1494DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.495 94 [...] Diante do exposto, o presente VOTO é no sentido de considerar PROCEDENTE EM PARTE a impugnação para, em razão da reconstituição da base de cálculo apurada pela incorporada Bruxelas e da compensação de prejuízos e base de cálculo negativa de CSLL de períodos anteriores da autuada Bradesplan, MANTER EM PARTE os valores exigidos a título de IRPJ e CSLL, conforme quadro resumo ao final deste voto, decisão que se sujeita a recurso de ofício. Não tenho reparos à decisão recorrida, na medida em que constatada a existência de prejuízos fiscais e base de cálculo negativas de anos anteriores na Bradesplan e tendo sido apurado prejuízo no próprio ano de 2007, objeto da autuação, pela empresa Bruxelas Holding, revelase correto o deferimento do aproveitamento dos saldos existentes. Pelo exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso de ofício. CONCLUSÃO Por todo o exposto, voto no sentido de negar provimento aos recursos voluntário e de ofício. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Fl. 1495DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.496 95 Declaração de Voto Conselheiro Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa Com a devida vênia, divirjo do relator somente em relação aos argumentos lançados acerca do aproveitamento do ágio imposto pela lei fiscal e/ou societária e os efeitos da aplicação do parágrafo único do art.116 do CTN na análise do caso em apreço. Por esses motivos o acompanho pelas conclusões. Vejamos os nossos argumentos: Devese ter em mente que o sistema jurídico pressupõe uma coerência entre as normas jurídicas observadas com fundamento na norma hipotética fundamental. Para que uma norma seja considerada jurídica, e, portanto, seja incluída no ordenamento jurídico, esta deve guardar coerência com a norma que dá fundamento ao sistema. Se não houver a mencionada correspondência, nem se poderá dizer que a referida norma é jurídica. Com efeito, a norma que outorga validade ao sistema jurídico é a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, devendo toda norma que se pretenda jurídica guardar relação de pertinência com as hipóteses descritas na mesma. Uma vez que se verifique a inobservância de quaisquer dos preceitos constitucionais, a norma de qualquer natureza deve ser imediatamente expurgada do sistema. Assim, a norma vigente no ordenamento pressupõe tanto a obediência aos preceitos constitucionais, quanto a harmonização com as demais normas do sistema que, por sua vez, também devem obedecer às hipóteses constitucionais. Consequentemente, a obrigação tributária bem como a atividade do Fisco que a exige, devem sempre vir respaldadas pela Lei; caso contrário, o ato administrativo que objetive a cobrança do tributo será nulo. Olhando para a legislação em vigor à época do período fiscalizado, vêse que o artigo 20, caput, inciso II; e § 2º, alínea “b”, do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, não apenas possibilitava, mas obrigava que as pessoas jurídicas que detivessem investimentos em controladas e coligadas, ao realizar escrituração pelo MEP, que desdobrassem o custo destas (i) no valor do patrimônio líquido existente no momento da aquisição da respectiva empresa investida e (ii) no ágio ou deságio eventualmente suportado para a aludida aquisição. Cumulativamente, o artigo 7º da Lei 9.532/97, possibilitava o aproveitamento do ágio à fração de 1/60 ao mês, desde o momento em que o ágio escriturado pela investidora viesse a ser confrontado, em um mesmo acervo patrimonial, com os lucros advindos da empresa investida que justificaram o pagamento desse sobrepreço por expectativa de rentabilidade futura. No presente caso, com os documentos carreados aos autos, assim como pelo expresso reconhecimento da Fazenda Nacional quanto à adequação das operações procedidas e a disposição legal, resta ao aplicador do Direito, apenas, a tarefa de subsumir os fatos à norma, sendo irrelevantes quaisquer juízos de valor relativos à intenção com a qual o contribuinte incorreu na hipótese legal. Logo, se a lei não distingue sobre a forma pela qual se procedeu para obterse o ágio; não distinguiu quanto ao tempo decorrido entre a constituição dos atos societários de uma empresa e sua posterior incorporação; não dispôs sobre a necessidade Fl. 1496DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.497 96 de independência entre as partes vinculantes; e não distinguiu as operações societárias feitas com propósito negocial, ou não, não deverá o intérprete da norma proceder a esta distinção. Ives Gandra da Silva Martins, em Parecer constante da Revista Dialética de Direito Tributário nº 187, preleciona: “É elementar o princípio hermenêutico de que “ubi lex non distinguit, distinguere non debemus”, axioma que vem de priscas eras, inspirado no Direito Romano, pelo qual o intérprete não pode se transformar em legislador positivo. Sempre que o intérprete distinguir, onde a lei não distingue, estará criando hipótese legislativa não constante de lei e substituiuse ao legislador positivo, passando de exegeta a produtor de leis”. No sobredito parecer, o renomado Professor analisa o aproveitamento do ágio da integralização do em caso deveras semelhante ao aqui julgado. Adiante, esclarece que: “...a interpretação econômica não foi recepcionada, quando promulgado o CTN. Os artigos 107 e 112 do CTN não admitem a imposição de tributos, sob a alegação de que “não haveria escopo econômico” na operação legalmente realizada pelo contribuinte à luz do direito privado. Ao contrário, impõe que a interpretação mais benéfica em favor do contribuinte (artigo 112 do CTN) e que a analogia só pode ser usada em favor dele; nunca contra o contribuinte, para exigir tributos (artigo 108, parágrafo 1º). É que a estrita legalidade não admite, de um lado, que uma operação legal possa ser desconsiderada por não ter o contribuinte demonstrado “escopo econômico” e, de outro, que, entre duas formas legais de atuar, ele seja obrigado a adotar aquela forma que implicar maior imposição. (...) A falta de “proposta negocial” não está consagrada em nenhum dispositivo da legislação tributária, não podendo ser confundida com “simulação”, que pressupõe operação escusa, escondida e não feita “às claras”, como ocorreu no caso da consulente.” Não obstante, sob a ótica da lógica ainda é possível infirmar a argumentação fiscal quanto à necessidade de propósito negocial nas sobreditas operações de reestruturação societária. Isto porque, a Lei do Terceiro Excluído (em latim, principium tertii exclusi ou tertium non datur) afirma que para qualquer proposição, ou esta proposição é verdadeira, ou sua negação é verdadeira. Desta forma, à título de exemplo, não seria possível a seguinte construção: se praticada a conduta A, então deve ser B; porém, se praticada a conduta A, psicologicamente motivada pelo propósito Z, então deve ser C. Impossível! O Direito Tributário deve se ater, exclusivamente, aos eventos ocorridos no mundo fático, posto que jungido à tipicidade cerrada. Não há espaço para a análise subjetiva das condutas. Devese ater ao disposto em lei. A análise da motivação subjetiva com a qual os contribuintes atuaram em conformidade com a lei tributária é uma afronta à segurança jurídica que as normas objetivam Fl. 1497DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.498 97 conferir. A norma jurídica tributária, por exemplo, está submetida aos princípios da estrita legalidade (apenas o que estiver plenamente desenhado na lei obriga), da tipicidade fechada (impõe que o legislador preveja, na maior medida do possível, os aspectos necessários à constituição do fato gerador) e o princípio da reserva da lei (vincula a imposição tributária à reserva de lei formal, entendida como aquela elaborada com participação precípua da representação popular). Para o debate em tela, reservome à análise do princípio da estrita legalidade que, em outras palavras, decorre do caráter de restrição imputados tanto à Administração quanto ao Administrado. Sobre o referido princípio Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Brasileiro. 35ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 41.) expressa: “A legalidade, como princípio de administração (CF, art. 37, caput), significa que o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e exporse a responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso. A eficácia de toda a atividade administrativa está condicionada ao atendimento da Lei e do Direito. É o que diz o inc. I do parágrafo único do art. 2º da Lei n. 9.784/99. Com isso, fica evidente que, além da atuação conforme à lei, a legalidade significa, igualmente, a observância dos princípios administrativos.” Como exposto, o princípio da estrita legalidade aplicado à Administração (Legalidade da administração), compreende a ideia de subordinação da Administração Pública às leis; sendo deferido à Administração, unicamente, o procedimento daquilo expressamente determinado em lei. Estando, o ato administrativo, estritamente aprisionado aos quadrantes da lei, não cabe à Administração adentrar na motivação do particular em proceder conforme os ditames legais. A alegação de “inexistência de propósito negocial” advém de construção jurisprudencial estrangeira que não encontra validade no nosso Ordenamento Jurídico, justamente por conflitar com uma gama de princípios, como o da estrita legalidade tributária, descrito acima, além de outros princípios como a liberdade de iniciativa e iniciativa privada, estes últimos provenientes da Ordem Econômica. Neste sentido, colaciono as seguintes ementas de Acórdãos deste Conselho: PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. PROPÓSITO NEGOCIAL. EMPRESA VEÍCULO. Os dispositivos legais concernentes ao registro e amortização do ágio fiscal não vedam que as operações societárias sejam realizadas, única e exclusivamente, com fins ao aproveitamento do ágio. Bem como, notase que tal regra não está presente em nenhum outro dispositivo legal de nosso sistema jurídico, seja nacional ou federal. Neste tom, registrase, nenhuma norma pátria veda que a realização de negócios tenha por finalidade a redução da carga tributária de forma lícita. É o que se observa no §3º, art. 2 o da Lei das SA, o qual dispõe que a companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades (empresa Fl. 1498DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.499 98 veículo), também, como forma de beneficiarse de incentivos fiscais. Somese a tal assertiva o fato de que a contribuinte possuía motivação negocial, clara, posto que se encontrava impedida, por regras da ANEEL, de realizar a incorporação diretamente. Motivo pelo qual se valeu de uma empresa veículo. (Acórdão nº 1302001.978; Relatora: Talita Pimenta Felix; Data da Sessão: 14/09/2016) REQUISITOS PARA DEDUTIBILIDADE DO ÁGIO. EXISTÊNCIA DE PROPÓSITO NEGOCIAL. Ausente conduta tida como simulada, fraudulenta ou dolosa, a busca de eficiência fiscal em si não configura hipótese de perda do direito de dedução do ágio, ainda que tenha sido a única razão aparente da operação. A existência de outras razões de negócio que vão além do benefício fiscal, apenas ratifica a validade e eficácia da operação. UTILIZAÇÃO DE EMPRESAVEÍCULO. LEGALIDADE. MANUTENÇÃO DA DEDUTIBILIDADE DO ÁGIO. A utilização de empresaveículo que viabilize o aproveitamento do ágio, por si só, não desfigura a operação e invalida a dedução do ágio, se ausentes a simulação, dolo ou fraude. (Acórdão nº 1201001.507; Relator: Luis Fabiano Alves Penteado; Data da Sessão: 14/09/2016). As ementas acima são contundentes por afirmarem que a existência de propósito negocial seria apenas um “plus” para demonstrar a validade e lisura das operações societárias, não havendo fundamento legal para a referida exigência no âmbito da legalidade, nem cabendo à Administração realizar exigências diversas das previstas em lei. Neste sentido, é importante pontuar que a lei tributária assume seu atributo de imperatividade quando constatada a ocorrência do fato jurídico tributário, não tolerando outra conduta do sujeito passivo que não o adimplemento da obrigação tributária, sob pena de sanção punitiva. Por conseguinte, a imperatividade da lei tributária reside, justamente, no consequente de sua norma, ou seja, na obrigação do sujeito passivo em recolher um valor exprimível em moeda ao sujeito ativo da prestação. Esta obrigação decorre da verificação de um fato ocorrido em determinada local e tempo, e constituída por meio do lançamento tributário. Logo, se o atributo imperativo da lei tributária está em seu consequente, concluise que somente haverá fraude à referida lei, se seu comando (recolher tributo) for frustrado por quem incorra no fato jurídico tributário. Não existe, contudo, qualquer comando imperativo no antecedente da norma tributária obrigando o particular a incorrer no fato jurígeno tributário e/ou naquele fato mais oneroso, sendo ele livre para organizarse da forma que, licitamente, lhe oferte menor oneração. Fl. 1499DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.500 99 Acreditando ter demonstrado meu posicionamento, concluo afirmando que não é possível ao intérprete da lei adentrar o mérito do propósito negocial com que a operação foi realizada. A Administração tem sua atuação vinculada à Lei, e, uma vez que perceba a semelhança de uma ocorrência, no mundo dos fatos, de uma conduta prevista no ordenamento jurídico, é obrigada a subsumir os fatos à norma, encerrando aí, sua participação no processo de positivação. Pois bem. O conceito de ágio criado pela legislação do imposto sobre a renda jamais guardou identidade com aquele oriundo da ciência contábil. Enquanto o ágio, para a Teoria Contábil, é a diferença entre o valor de aquisição da participação societária e o valor do patrimônio após a alocação da maisvalia dos ativos e do reconhecimento dos intangíveis ainda não registrados, para o DecretoLei nº 1.598/77 (conceito jurídico) o ágio era a singela diferença entre o valor pago e o patrimônio líquido a valor de custo. Aprofundo, embora do ponto de vista contábil, o ágio somente possa existir quando estiverem envolvidas partes independentes não relacionadas, sendo resultado de um processo de barganha negocial, raciocínio este adotado inclusive no Ofíciocircular CVM SNC/SEP nº 01/2007, não se pode dizer o mesmo com relação ao ‘ágio tributário’. Do ponto de vista tributário, o investidor deve, sempre, registrar um ágio que corresponderá, sempre, à diferença positiva entre o valor patrimonial e o preço pago pela participação societária. É dizer, na esteira do que apontam Roberto Quiroga Mosquera e Rodrigo de Freitas, que, diante do “repúdio ao ágio interno pela Ciência Contábil”, cumpre ao jurista ter em mente que “essa realidade existente para a Ciência Contábil não é automaticamente aplicável ao Direito” (Controvérsias jurídicocontábeis aproximações e distanciamentos, 2º vol., São Paulo, Dialética, 2011, p. 276). Previsto em lei o conceito de ágio, novamente, temse em conta que não cabe ao intérprete da lei realizar distinções não expressas naquela norma. Tal conceito, encontrase expressa e claramente disposto no art. 20 do Decretolei nº 1.598/1977, que dá fundamento ao art. 385 do RIR/99, inclusive fazendo menção ao desdobramento do custo de aquisição de investimentos em coligadas e controladas. No âmbito da legalidade, então, não havia nenhuma restrição ao aproveitamento do ágio em relação a operações efetuadas com partes relacionadas. Logo, ao admitir que o ágio possa ser amortizado apenas quando decorrente de operações entre partes independentes não relacionadas, o intérprete imiscuiuse na função de legislador positivo, distinguindo onde a Lei não distingue. Ademais, apenas com o advento da Lei nº 12.973/2014 surgiu, para o “mundo jurídico” a proibição de dedutibilidade do ágio interno, isto é, do ágio surgido em operações societárias realizadas entre partes dependentes. Este fato, no meu entendimento, apenas confirma que, sob a égide da legislação tributária anterior, não era proibida a amortização do ágio gerado dentro de um grupo econômico. Nesse aspecto, é importante ressaltar que a oposição ao ágio interno possui raízes vincadas na contabilidade. Isto porque, o ágio, conhecido como ‘o mais intangível dentre os intangíveis’, implica uma grande dificuldade de mensuração, e faz com que a teoria contábil apenas admita seu reconhecimento quando decorrente de uma negociação de mercado (“at arm’s lenght”). No entanto, como já amplamente demonstrado, o ‘ágio jurídico’ possui Fl. 1500DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.501 100 conceito próprio o qual, à época do período fiscalizado, era distinto do conceito do ‘ágio contábil’. Isto posto, mais uma vez, cabe a análise da legislação aplicável ao caso, ou seja, o DecretoLei 1598/77 que disciplinava sobre o desdobramento do custo de aquisição das pessoas jurídicas que detinham investimentos em controladas e coligadas, bem como a Lei 9.532/97, que regulamenta a forma como se dava a amortização do ágio em operações de incorporação, fusão e cisão: Art. 20, DL 1.598/77: O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I – valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II – ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. (...) § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: (...) b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; (...) Art. 7º, Lei 9.532/97: A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do Decreto Lei n° 1.598, de 26 de dezembro de 1977: (...) III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decreto lei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes a apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (Redação dada pela Lei n°9.718, de 1998) (...) Art. 8º, Lei 9.532/97: O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando; (...) b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária." Fl. 1501DF CARF MF Processo nº 10882.721035/201112 Acórdão n.º 1302002.622 S1C3T2 Fl. 1.502 101 Ora, a Lei nº 9.532/97 fez expressa referência ao ágio apurado de acordo com o DecretoLei nº 1.598/77 (conceito jurídico autônomo). Dada a existência de um conceito legal de ágio, não é possível a sua alteração em razão da superveniência de novas normas contábeis adotadas pela legislação contábil ou societária. É preciso respeitar a opção do legislador, que poderia ter realizado. Contudo, como bem pontuado pelo Ilustre Relator no seu voto, não estamos tratando de um “ágio propriamente dito”, mas sim de uma tentativa de reavaliação de ativos, caindo por terra qualquer argumento do contribuinte visando caracterizar tal operação como se fosse de glosa de despesa de ágio, litteris: “a diferença é que neste caso ocorreram passos adicionais, dando uma aparência de maior complexidade às operações, com a permuta de ações entre a empresas do grupo, após a sua capitalização, no bojo da qual surgiu o ágio contestado pelo Fisco. Ora, o que houve de fato foi uma tentativa reavaliação de ativos, utilizandose do artifício da permuta de ações. A característica de onerosidade da permuta, nos termos do Código Civil, aventada pela recorrente, não é suficiente, por si só, para validar o reconhecimento do ágio sob a perspectiva contábil. O suposto sacrifício consistente na perda do bem anteriormente havido em troca de outro ativo de empresa sob o mesmo controle se esvazia na medida em que entabulada a permuta por quem tem interesse de ambos os lados, sendo inconcebível o reconhecimento de um ganho econômico de um lado e um dispêndio de outro, decorrente de manipulação dos elementos de troca por quem detém ambos os direitos. O laudo de avaliação emitido por empresa especializada, tampouco tem o condão de validar economicamente a operação. E não se está aqui afastando a aplicação dos arts. 109 e 110 do CTN, nem se cogita de negar validade aos institutos do direito civil, comercial ou societário, mas, ao contrário, de aplicálos de acordo com as normas emanadas pela entidade responsável pela fiscalização e controle das leis societárias e das normas contábeis. Afinal, a apuração do resultado das empresas se obtém por meio da correta aplicação das normas societárias e contábeis e são a base para a apuração do lucro sob a perspectiva fiscal. Esta é a base da acusação fiscal que entendo estar correta e por isto deve ser mantida. Diante do exposto, nego provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa Fl. 1502DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.726189/2014-41
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon Mar 12 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon May 28 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2010, 2011, 2012, 2013
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. OPERAÇÕES ESTRUTURADAS EM SEQUÊNCIA.
Nas operações estruturadas em sequência, deve a fiscalização apurar se, em cada uma das etapas realizadas, não houve abuso de poder ou fraude. Caso haja, deve-se considerar, para fins tributários, o conjunto das operações como um todo e não as etapas isoladas.
GANHO DE CAPITAL. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. ALIENAÇÃO DE INVESTIMENTO EM CONTROLADA POR PESSOA JURÍDICA DOMICILIADA NO PAÍS.
Se o conjunto das operações societárias mostra que o verdadeiro vendedor é a pessoa jurídica sediada no Brasil, e não sua controladora, pessoa jurídica sediada no Exterior, o ganho de capital na alienação do investimento deve ser tributado na primeira pessoa jurídica.
PAGAMENTO INDEVIDO.
Os valores retidos e recolhidos em nome da empresa sediada no Exterior podem ser objeto de pedido de restituição, no rito próprio, por meio de PER/DCOMP .
MULTA QUALIFICADA. 150%.
Matéria não impugnada.
AUTO REFLEXO. CSLL.
O decidido em relação ao tributo principal se aplica ao lançamento reflexo, em virtude da estreita relação de causa e efeitos entre eles existentes.
Numero da decisão: 1302-002.617
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, vencido o Conselheiro Jose Roberto Adelino da Silva. Votaram pelas conclusões do relator os conselheiros Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Breno do Carmo Moreira Viera e Luiz Tadeu Matosinho Machado.
(assinado digitalmente)
Luiz Tadeu Matosinho Machado - Presidente
(assinado digitalmente)
Rogério Aparecido Gil - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Jose Roberto Adelino da Silva (suplente convocado), Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Breno do Carmo Moreira Vieira (suplente convocado), Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente). Ausentes justificadamente Gustavo Guimaraes da Fonseca, Flavio Machado Vilhena.
Nome do relator: ROGERIO APARECIDO GIL
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ALIENAÇÃO DE ATIVO. MULTA QUALIFICADA Recorrente FERMAU PARTICIPAÇÕES LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2010, 2011, 2012, 2013 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. OPERAÇÕES ESTRUTURADAS EM SEQUÊNCIA. Nas operações estruturadas em sequência, deve a fiscalização apurar se, em cada uma das etapas realizadas, não houve abuso de poder ou fraude. Caso haja, devese considerar, para fins tributários, o conjunto das operações como um todo e não as etapas isoladas. GANHO DE CAPITAL. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. ALIENAÇÃO DE INVESTIMENTO EM CONTROLADA POR PESSOA JURÍDICA DOMICILIADA NO PAÍS. Se o conjunto das operações societárias mostra que o verdadeiro vendedor é a pessoa jurídica sediada no Brasil, e não sua controladora, pessoa jurídica sediada no Exterior, o ganho de capital na alienação do investimento deve ser tributado na primeira pessoa jurídica. PAGAMENTO INDEVIDO. Os valores retidos e recolhidos em nome da empresa sediada no Exterior podem ser objeto de pedido de restituição, no rito próprio, por meio de PER/DCOMP . MULTA QUALIFICADA. 150%. Matéria não impugnada. AUTO REFLEXO. CSLL. O decidido em relação ao tributo principal se aplica ao lançamento reflexo, em virtude da estreita relação de causa e efeitos entre eles existentes. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 72 61 89 /2 01 4- 41 Fl. 490DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 491 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, vencido o Conselheiro Jose Roberto Adelino da Silva. Votaram pelas conclusões do relator os conselheiros Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Paulo Henrique Silva Figueiredo, Breno do Carmo Moreira Viera e Luiz Tadeu Matosinho Machado. (assinado digitalmente) Luiz Tadeu Matosinho Machado Presidente (assinado digitalmente) Rogério Aparecido Gil Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Carlos Cesar Candal Moreira Filho, Jose Roberto Adelino da Silva (suplente convocado), Paulo Henrique Silva Figueiredo, Rogério Aparecido Gil, Breno do Carmo Moreira Vieira (suplente convocado), Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente). Ausentes justificadamente Gustavo Guimaraes da Fonseca, Flavio Machado Vilhena. Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto face ao Acórdão nº 1666.414, da 4ª Turma da DRJ de São Paulo SP (DRJ/SPO), que por unanimidade de votos, julgou improcedente a impugnação, registrandose a seguinte ementa: MULTA SUPERIOR A 50%. INCONSTITUCIONALIDADE. A questão de inconstitucionalidade da legislação tributária não será examinada, pois é matéria reservada à apreciação do Poder Judiciário. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2010, 2011, 2012, 2013 PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. OPERAÇÕES ESTRUTURADAS EM SEQUÊNCIA. Nas operações estruturadas em sequência, deve a fiscalização apurar se cada uma das etapas realizadas tem propósito negocial. Caso não tenham, devese considerar, para fins tributários, o conjunto das operações como um todo e não as etapas isoladas. GANHO DE CAPITAL. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. ALIENAÇÃO DE INVESTIMENTO EM CONTROLADA POR PESSOA JURÍDICA DOMICILIADA NO PAÍS. Se o conjunto das operações societárias mostra que o verdadeiro vendedor é a pessoa jurídica sediada no Brasil, e não sua controladora, pessoa jurídica sediada no Exterior, o ganho de capital na alienação do investimento deve ser tributado na primeira pessoa jurídica. PAGAMENTO INDEVIDO. Fl. 491DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 492 3 Os valores retidos e recolhidos em nome da empresa sediada no Exterior podem ser objeto de pedido de restitição, no rito próprio, por meio de PER/DCOMP . MULTA QUALIFICADA. 150%. Matéria não impugnada. AUTO REFLEXO. CSLL. O decidido em relação ao tributo principal se aplica ao lançamento reflexo, em virtude da estreita relação de causa e efeitos entre eles existentes. Contextualização A Recorrente foi autuada, em 15/07/2014, por omissão de receita não operacional, resultando na não tributação no IRPJ e CSLL do valor de R$10.585.718,00 de ganho de capital recebido entre os anoscalendário de 2010 e 2013. O ganho de capital foi obtido com a venda de ações da Neugebauer S.A., tendo sido dado ao negócio a aparência de que o vendedor seria a empresa uruguaia (Kandy S/A). Foi exigido o crédito tributário total de R$10.477.390,14, incluindo imposto, contribuição, multas de 150% e juros de mora calculados até 07/2014 (fls. 1 a 392). O Relatório Fiscal (RF), de fls. 382 a 391, reporta, em resumo, os seguintes fatos: "(...) Do objeto de alienação A fiscalização tomou conhecimento da operação de compra e venda da "Neugebauer", por meio do "Contrato de Compra e Venda de Quotas e Outras Avenças" (fls.238/272) apresentado pela Vonpar S.A. O objeto do contrato é a compra e venda da "Operação Neugebauer" representada pelas ações da Neugebauer S.A. Tal contrato foi assinado em 04/02/2010 e apresenta como vendedores Paulo Roberto Heineck, Isabela Heineck, Débora Heineck, Nestor José Heineck e Kandy Sociedade Anónima (empresa Uruguaia) e, na qualidade de intervenientesanuentes dos vendedores, entre outros, Neugebauer S/A, Florestal Alimentos S/A, Fermau Participações Ltda e Antônio Claudir Weiand. O valor global total da operação de venda foi de R$70 milhões, sendo aqui analisado, o valor "devido" à Kandy de R$ 14.727.100,00. Referido contrato tem como ponto de partida o Memorando de Entendimentos (fls. 223 a 237), que trata da aquisição "dos ativos vinculados, na Florestal, à operação Neugebauer ou da totalidade de ações ou quotas representativas do capital social da sociedade que porventura vier a deter tais ativos". Este documento foi assinado em 18/12/2009 pela Vonpar S/A na condição de comprador e, como vendedores, as pessoas jurídicas Florestal e Fermau, e as pessoas físicas da família Heineck: Paulo, Isabela, Débora, Nestor e Jurema. O Memorando de Entendimentos apresenta, entre as condições para o preço integral ser pago, "criação de uma nova empresa, de nome Neugebauer, para a qual será contribuído todo o acervo vinculado à operação Neugebauer ou à marca Neugebauer por seus respectivos valores contábeis (...)." Das sociedades Empresárias envolvidas Florestal Alimentos S/A Fl. 492DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 493 4 A Florestal Alimentos S/A é uma empresa do ramo de doces e balas criada no ano de 1966 e estabelecida na cidade de Lajeado no RS sendo uma sociedade de capital fechado. Em sua página na internet é informado que, em 2002, adquiriu a Neugebauer, tradicional fábrica de chocolates no RS com mais de 100 anos. Seus sócios, na data de assinatura do memorando de entendimentos eram a Fermau Participações Ltda. e pessoas físicas da família Heineck. Após a sequência de eventos que culminou com a redução e devolução de capital aos sócios em 27/01/2010 (representativo dos ativos da Neugebauer) a Fermau passa a ter 100% das ações da Florestal Alimentos S/A, na data da assinatura do contrato de Compra e vendas das ações da Neugebauer S.A. Fermau Participações Ltda. A Fermau Participações foi instituída em 1994 e tem como atividade principal a participação em outras sociedades. Na data da assinatura do Memorando de Entendimentos tinha como sócios a Kandy S/A (empresa uruguaia) com praticamente 100% do capital social, pois os outros sócios, o Sr. Antonio Claudir Weiand e a Sra Lousie Maria Lampert, detinham cada um apenas R$ 0,55 do total dos R$14 milhões do capital social. O Sr. Antonio Claudir Weiand é o único administrador da sociedade. Uruguaia Kandy S/A A Kandy Sociedad Anónima, tem como representante no Brasil o Sr. Antônio Claudir Weiand, que também é sócio minoritário e administrador da Fermau, bem como diretor da Florestal Alimentos S/A. No contrato de Compra e Venda sob exame, o Sr. Antônio Claudir Weiand representa e assina pelas três empresas: Florestal, Fermau e Kandy. No Memorando de Entendimentos, ele representou a Florestal e a Fermau, vez que a Kandy não fez parte do mesmo. Neugebauer S/A A Neugebauer S/A foi criada em dezembro de 2008 com o nome de Parlak Participações S/A, uma sociedade de capital fechado de 100 ações com valor nominal de R$1,00 cada, sendo considerada "empresa de prateleira" não apresentando nenhum lançamento contábil (além do capital social) até janeiro de 2010 quando a Florestal adquire as ações da Parlak. Segundo Ata de Assembléia Geral Extraordinária de 29/12/2009 (fls. 200/202) foram feitas alterações na denominação social, no endereço, objeto social, além de reforma do Estatuto Social e destituição de diretoria com constituição de nova, para transformála na Neugebauer S/A. Em julho de 2010 ela sofre incorporação pela Vonpar Alimentos S/A com sua extinção. Dos Fatos Constatados Em 18/12/2009 foi assinado o Memorando de Entendimentos entre a Vonpar S/A e a Florestal Alimentos S/A, a Fermau Participações Ltda, Paulo Roberto Heineck, Isabela Heineck, Débora Heineck, Jurema Maria Heineck e Nestor Jose Heineck. Fl. 493DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 494 5 O Memorando estabeleceu os termos e condições gerais da Aquisição dos ativos vinculados, na Florestal, à operação Neugebauer. Entre as condições do negócio estabelecidas no Memorando estão o preço total, a forma de pagamento e [a forma de] resolução de disputas judiciais entre os vendedores; a determinação de criação de uma nova empresa denominada Neugebauer S/A que receberá o acervo de ativos e marca Neugebauer; devolução de capital social representativa da operação Neugebauer pela Florestal a seus acionistas; também contém os quinhões individuais de cada vendedor, entre eles a Fermau. Assim, a Florestal Alimentos S/A, que detinha os ativos e marca Neugebauer, objeto de aquisição pela Vonpar, compra as ações de uma "empresa de prateleira", a Parlak Participações e a transforma na Neugebauer S/A. Segundo o Livro de Transferência de ações da Parlak, em 15/01/2010 suas ações são todas transferidas para a Florestal Alimentos S/A (fls. 129/132). A Neugebauer S/A, em Assembléia Geral Extraordinária de 26/01/2010, registra aumento de capital no valor de R$ 11.215.412,00 com a emissão de novas ações todas subscritas pela Florestal Alimentos S/A. Já a Florestal Alimentos S/A, em Assembléia Geral Extraordinária de 27/01/2010 (fls. 209/211), reduz seu capital social em R$ 11.215.412,00 devolvendo a seus acionistas o equivalente do capital reduzido em ações da Neugebauer S/A (fl. 177). Esses acionistas que receberam as ações da Neugebauer SA são as pessoas que constam como vendedores no Contrato de Compra e Venda de Quotas e Outras Avenças das ações da Neugebauer S/A à Vonpar, à exceção da Fermau Participações Ltda; esta era uma acionista que recebeu ações e, no entanto, não aparece no Contrato de Compra e Venda; mas sim sua controladora, a empresa uruguaia Kandy S.A. A Fermau, ao receber as ações da Neugebauer S/A como devolução de capital social reduzido pela Florestal Alimentos efetua, também, redução de capital no dia posterior, em 28/01/2010, com a justificativa de possuir capital social em excesso e transfere as ações da Neugebauer S/A recebidas da Florestal a sua sócia controladora estrangeira Kandy SA, esta sim que aparecerá como vendedora no referido contrato de 04/02/2010. Em 27/12/2010, a Florestal repassa para a Fermau o valor líquido remanescente relativo aos pagamentos que a Vonpar efetuou em sua conta bancária, que seriam devidos à Kandy SA, e a Fermau aumenta seu capital social nesse exato valor (fl. 17), conforme demonstrativo abaixo, ou seja, apesar de ter reduzido seu capital social "por ser excessivo" (fls. 12/13) às vésperas da assinatura do contrato de compra e venda das ações da Neugebauer S/A, transferindoas a sua controladora (empresa uruguaia), meses depois, com o exato valor líquido pela venda das ações, que seria devido à Kandy SA, sua controladora, o capital social é aumentado, pois agora existiria a necessidade de ampliálo. Florestal Alimentos S/A conta Kandy S/A (Obrigações) Extrato Razão na fl. 279 Data Valor Histórico fev10 9.661.902,85 Valor líquido depositado pela Vonpar ref venda ações Neugebauer S/A pela Kandy fev10 1.151.633,35 Pagamento Trust Gestão de Ativos fev10 8.510.269,50 Saldo no fim do mês dez10 438.714,15 Valor líquido depositado pela Vonpar ref venda ações Neugebauer S/A pela Kandy dez10 8.948.983,65 Valor disponível na Florestal relativo aos valores "devidos" à Kandy S/A dez10 8.948.983,65 Valor transferido para Fermau dez10 0,00 Saldo no fim do mês Florestal Alimentos S/A conta Fermau Participações (Obrigações) Extrato Razão na fl. 280 Data Valor Histórico 27dez10 8.948.983,65 valor recebido por transferência (Kandy S/A) 27dez10 261.422,18 referente a mútuo Fernando e Maurício Weiand 27dez10 1.002.275,43 referente adiant. Ref. Vendas ações Fermau Fl. 494DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 495 6 27dez10 1.266.750,04 referente NF Fermau participações Florestal Alimentos S/A conta Kandy S/A (Obrigações) Extrato Razão na fl. 279 Data Valor Histórico fev10 9.661.902,85 Valor líquido depositado pela Vonpar ref venda ações Neugebauer S/A pela Kandy fev10 1.151.633,35 Pagamento Trust Gestão de Ativos fev10 8.510.269,50 Saldo no fim do mês dez10 438.714,15 Valor líquido depositado pela Vonpar ref venda ações Neugebauer S/A pela Kandy dez10 8.948.983,65 Valor disponível na Florestal relativo aos valores "devidos" à Kandy S/A dez10 8.948.983,65 Valor transferido para Fermau dez10 0,00 Saldo no fim do mês Florestal Alimentos S/A conta Fermau Participações (Obrigações) Extrato Razão na fl. 280 Data Valor Histórico 27dez10 8.948.983,65 valor recebido por transferência (Kandy S/A) 27dez10 261.422,18 referente a mútuo Fernando e Maurício Weiand 27dez10 1.002.275,43 referente adiant. Ref. Vendas ações Fermau 27dez10 1.266.750,04 referente NF Fermau participações Na mesma data que a Fermau tem seu capital social aumentado com valores da venda das ações da Neugebauer SA, 27/12/2010, aumenta o capital social da Florestal com esses recursos. Destacouse que, estava claro que a redução de capital social da Fermau com consequente devolução a sua controladora Kandy SA na forma de transferência de titularidade das ações da Neugebauer foi um mecanismo para reduzir a tributação incidente sobre o ganho de capital e os valores nunca saíram do Brasil ou foram efetivamente para a Kandy SA. Esses valores, embora inicialmente depositados em conta da Florestal, a partir de 2011, passam a ser depositados em conta da Fermau, empresa que efetivamente participou do Memorando de Entendimentos e que se beneficiou de forma direta e indireta (aumento de capital social na Florestal) dos valores pagos pela venda das ações da Neugebauer S.A. Cabe lembrar que a Fermau detém 100% das ações da Florestal e a Kandy detém praticamente 100% da Fermau, pois os outros dois sócios, já mencionados, mantém juntos apenas R$1,10 agora de um total de quase R$19 milhões de capital social e todas as três empresas são representadas pela mesma pessoa, o Sr. Antônio Claudir Weiand. Devese ter em mente que o Memorando de Entendimentos assinado em dezembro de 2009 é o instrumento que estipulou os direitos e deveres entre as partes, vendedora e compradora, do negócio posteriormente formalizado com o "Contrato de Compra e Venda de Quotas e Outras Avenças", e traz em resumo a seguinte formatação do negócio a ser realizado: a) 29/12/2009 a Florestal adquire uma empresa de prateleira cujo capital social era de R$100,00 e a renomeia como "Neugebauer S/A"; b) 26/01/2010 a Florestal aumenta o capital com integralização de ativos da "Operação Neugebauer" no valor superior a R$11 milhões na Neugebauer S/A; c) 27/01/10 a Florestal reduz seu capital social no exato valor do capital social integralizado na Neugebauer e devolve a seus sócios o equivalente da redução em ações da Neugebauer S/A; d) agora os detentores das ações da Neugebauer SA são os sócios da Florestal que receberam devolução de capital e estes passam a ser os vendedores pelo memorando: pessoas físicas da família Heineck e a empresa Fermau Participações Ltda; Fl. 495DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 496 7 e) ou seja, em momento algum a Kandy S/A se apresenta neste documento como vendedora das ações da Neugebauer S/A. É importante destacar que a tributação sobre o ganho de capital em operações cujo vendedor é estrangeiro ocorre de forma diversa de quando os vendedores são empresas estabelecidas no Brasil. No caso de estrangeiros, o imposto sobre o Ganho de Capital é retido na fonte pela pagadora à alíquota de 15% de forma exclusiva, bem como não existe incidência de CSLL. No caso em tela, sendo a Fermau a vendedora, que tributa pelo lucro real, a tributação sobre o ganho de capital é de 25% de IRPJ e 9% de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, ou seja, bem superior à situação acima mencionada. Com o intuito de verificar se os valores pagos pela Vonpar à Kandy SA foram remetidos ao exterior ou foram efetivamente recebidos pela Kandy, constatouse, a partir da análise dos lançamentos contábeis da Florestal e da Fermau, que esses valores ficaram no país, nunca foram remetidos ao exterior e a beneficiária desses pagamentos foi a Fermau, pois manteve, até 2013 valores "devidos" à Kandy e, ao invés de repassálos, aumentou capital social em empresa totalmente sua controlada (Florestal). A primeira e segunda parcela que seriam devidas pela Vonpar à Kandy SA foram depositadas em conta bancária da Florestal Alimentos S/A em fevereiro e dezembro de 2010, como pode ser observado pelo extrato do Razão na folha 279 e comprovantes de depósitos nas folhas 113 a 116. Dos valores depositados em sua conta bancária a Florestal informa que, em 09/02/2010, pagou a Trust Gestão de Ativos, empresa de consultoria/assessoria, a pedido da Kandy (fl. 83), não havendo outras movimentações até 27/12/2010 quando todo o valor líquido remanescente foi transferido para sua controladora Fermau Participações Ltda., conforme quadro retro reproduzido e extrato do razão, fl. 279. Nessa mesma data, com esse valor, a Fermau efetua lançamento contábil de aumento de capital, conforme alteração contratual n° 11 (fl. 17 e fls. 273/274) e com reflexo no seu investimento na Florestal no valor de R$ 8.948.983,65 a título também de aumento de capital. No entanto, a Florestal só registra aumento de capital de R$ 6.418.536,00 (fls. 187, 278 e 280), sendo o restante do valor registrado como um acerto de contas entre a Fermau e a Florestal relativo a dividendos, venda de máquinas e equipamentos e mútuo com Fernando e Mauricio Weiand, conforme quadro abaixo e extratos de razões citados. Fermau Participações Ltda conta Capital Social Extrato Razão fl. 273 Data Valor Histórico dez10 8.948.983,65 valor recebido por transf. da Florestal e contabilizado como aumento de capital p/ Kandy S/A Fermau Participações Ltda conta Florestal Alimentos S/A (investimentos) Extrato Razão fl. 274 Data Valor Histórico 27dez10 8.948.983,65 Vlr aumento capital social efe alteração contratual n° 11 27dez10 261.422,18 referente a mútuo Fernando e Maurício Weiand 27dez10 1.002.275,43 referente adiant. Ref. Vendas ações Fermau 27dez10 1.266.750,04 referente NF Fermau participações As demais parcelas devidas pela aquisição das ações da Neugebauer SA, a partir de 2011, foram depositadas diretamente em conta bancária da Fermau que contabilizou Fl. 496DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 497 8 os valores como obrigação a pagar à Kandy que, no entanto, se acumulam até 31/12/2013 sem repasse desses valores à Kandy, conforme resumo de extrato do Razão abaixo (fls. 275/277). Data Cód. Conta Conta D/ C Débitos Créditos Saldo D/ C Histórico 01/06/2011 110102001 SICREDI D 395.065,58 395.065,58 C VLR. REF.CREDITO KANDY S/A REC.DE VONPAR 01/06/2011 2102003 KANDY S/A C 395.065,58 395.065,58 C VLR. REF.CREDITO KANDY S/A REC.DE VONPAR 01/06/2012 110102001 SICREDI D 433.808,39 828.873,97 C VLR. REF.CREDITO KANDY 01/06/2012 2102003 KANDY S/A C 433.808,39 828.873,97 C VLR. REF.CREDITO KANDY 29/10/2012 110102001 SICREDI D 895.228,75 1.724.102,72 C VLR.REF.DEPOSITO SICREDI REF. CREDITO DE KANDY S/A 29/10/2012 2102003 KANDY S/A C 895.228,75 1.724.102,72 C VLR.REF.DEPOSITO SICREDI REF.CREDITO DE KANDY S/A 03/12/2012 110102001 SICREDI D 452.257,83 2.176.360,55 C VLR.REF.DEPOSITO SICREDI REF. CREDITO DE VONPAR PARA KANDY S/A 03/12/2012 2102003 KANDY S/A C 452.257,83 2.176.360,55 C VLR.REF.DEPOSITO SICREDI REF. CREDITO DE VONPAR PARA KANDY S/A 03/06/2013 110102001 SICREDI D 405.974,37 2.582.334,92 C VLR.REF.DEPOSITO SICREDI REF. CREDITO DE VONPAR PARA KANDY S/A 03/06/2013 2102003 KANDY S/A C 405.974,37 2.582.334,92 C VLR.REF.DEPOSITO SICREDI REF. CREDITO DE VONPAR PARA KANDY S/A 02/12/2013 110102001 SICREDI D 489.198,92 3.071.533,84 C VLR.RECEBIDO DE VONPAR REF.VENDA ACOES DA KANDY S/A 02/12/2013 2102003 KANDY S/A C 489.198,92 3.071.533,84 C VLR.RECEBIDO DE VONPAR REF.VENDA ACOES DA KANDY S/A Do Cálculo do Ganho de Capital A operação em questão resultou em ganho de capital pela Fermau que não o ofereceu á tributação. O pagamento pela aquisição das ações se deu de forma parcelada, sendo uma parcela de R$ 10.727.100,00, paga na data da assinatura do Contrato e 10 parcelas semestrais consecutivas de R$ 400.000,00, com vencimento da primeira ... em 01/06/2010, que sofrem ajustes monetários. Assim, o valor total a ser recebido pelas ações da Fermau (Kandy) é de R$14.727.100,00 sendo o custo dessas ações o valor recebido pela redução de capital da Florestal à Fermau (fl. 177) de R$ 4.141.382,00. Concluiuse, assim, que o ganho de capital na operação é de R$10.585.718,00, que representa um percentual de 71,8792%; e que o ganho de capital contido em cada parcela recebida é o obtido pela aplicação do percentual encontrado sobre os valores recebidos. No entanto, registrouse que, esses valores recebidos precisam ser ajustados. O mencionado ajuste precisa ser efetuado porque a fonte pagadora, a Vonpar, tem como informação que está pagando a uma empresa estrangeira que apurou ganho de capital aqui no país. Assim, ela efetua uma retenção na fonte e deposita apenas o valor líquido deduzido dessa retenção. Dessa forma a fiscalização obteve perante a fonte pagadora os valores pagos e os retidos na fonte para cada pagamento realizado no período de 2010 a 2013 (fls. 112/128) e somou às parcelas o valor das retenções. Com o valor apurado para o total de cada parcela, foi aplicado o percentual de 71,8792 para se obter o ganho de capital em cada pagamento, conforme quadro demonstrativo abaixo. Fl. 497DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 498 9 (1) 113/114 115/117 118/120 119/120 121/122 123/124 125/126 127/128 (2) 04/02/2010 01/12/2010 03/12/2010 01/06/2011 01/06/2012 29/10/2012 03/12/2012 03/06/2013 02Í12/2013 (3) 10.833.130,44 171.271,22 267.442,93 395.065,58 433.808,39 895.228,75 452.257,83 405.974,37 489.198,92 (4) 1.171.227,59 65.807,12 69.717,46 76.554,42 157.981,54 79.810,21 83.255,56 86.329,22 (5) 12.004.358,03 504.521,27 464.783,04 510.362,81 1.053.210,29 532.068,04 489.229,93 575.528,14 (6) Florestal Florestal Fermau Fermau Fermau Fermau Fermau Fermau (7) 8.628.636,52 362.645,85 334.082,33 366.844,70 757.039,13 382.446,25 351.654,55 413.685,02 (1) Folha do processo; (2) Data das parcelas pagas; (3) Valor liquido depositado; (4) Valor IRRF DARF; (5) Valor total (soma das linhas acima); (6) Titular da conta depositada; (7) Resultado da Aplicação do % Ganho Capital 71,8792. Da Apuração dos tributos devidos Com o valor das parcelas de ganho de capital calculadas de acordo com o demonstrado no quadro retro, a fiscalização acrescentou esses valores às bases de cálculo apuradas pelo contribuinte para a verificação dos tributos a serem constituídos de ofício no presente procedimento fiscal. Cópias dos Livros de Apuração do Lucro Real nas folhas 281 a 352 deste processo. AC 2010 AC 2011 AC 2012 AC 2013 Apuração IRPJ Lucro Real antes Compensação 670,53 144.208,54 32.970,46 1.417,68 Compensação Prejuízo fiscal Períodos anterior contrib 0,00 43.262,56 9.891,14 425,30 Lucro Real antes Compensação 670,53 100.945,98 23.079,32 992,38 Ganho de Capital não tributado 8.991.282,37 334.082,33 1.506.330,09 765.339,58 Comp. Prej. Per. Anterior Fiscalização 255.361,46 0,00 0,00 0,00 Lucro Real fiscalização 8.735.250,38 435.028,31 1.529.409,41 766.331,96 IRP.I 15% 1.310.287,56 65.254,25 229.411,41 114.949,79 IRPJ Adicional 10% 849.525,04 19.502,83 128.940,94 52.633,20 IRPJ total fiscalização 2.159.812,60 84.757,08 358.352,35 167.582,99 IRPJ apurado contribuinte 0,00 15.141,90 3.461,90 148,86 IRPJ a lançar 2.159.812,60 69.615,18 354.890,45 167.434,14 Apuração CSLL BC CSLL antes da Compensação apurada contribuinte 670,53 144.208,54 32.970,46 1.417,68 Compensação BC negativa CSLL anterior contribuinte 0,00 43.262,56 9.891,14 425,30 BC CSLL apurada contribuinte 670,53 100.945,98 23.079,32 992,38 Ganho de Capital não tributado 8.991.282,37 334.082,33 1.506.330,09 765.339,58 Compensação BC neqativa CSLL Fiscalização 255.361,46 0,00 0,00 0,00 BC CSLL fiscalização 8.735.250,38 435.028,31 1.529.409,41 766.331,96 CSLL fiscalização 786.172,53 39.152,55 137.646,85 68.969,87 CSLL apurada contribuinte 0,00 9.085,14 2.077,14 89,31 CSLL a lançar 786.172,53 30.067,41 135.569,71 68.880,56 CSLL fiscalização 786.172,53 39.152,55 137.646,85 68.969,87 Concluiuse que a Fermau Participações Ltda. é a real vendedora e beneficiária dos valores recebidos pela venda das ações da Neugebauer SA e que ela omitiu o ganho de capital obtido nessa operação apresentando como vendedor em seu lugar a Kandy SA, sua controladora uruguaia, com o único intuito de reduzir a tributação, sendo que o real sujeito passivo era a própria Fermau. Fl. 498DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 499 10 Dessa forma, foram apurados e constituídos de ofício mediante lavratura de Auto de Infração, os tributos de IRPJ e CSLL sobre ganho de capital omitido, sendo a multa de ofício de 150%, conforme §1°, I, do artigo 44 da Lei 9.430/96. Lei 4.502/1964 Art. 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Os autos de infração com as compensações de prejuízo fiscal e de base negativa constam às fls. 354 a 382 e 392. Os fundamentos legais da autuação no IRPJ (fl. 355) são os seguintes: art. 3° da Lei n° 9.249/95, e arts. 247, 248, 249, inciso II, 251, 278 e 288, todos do RIR/99. Os formulários FAPLI e FACS não constam do processo, mas o sistema SAPLI foi atualizado pela fiscalização. Impugnação Improcedente Não obstante as alegações apresentadas em impugnação, 14/08/2014 (fls. 394 a 412), devidamente representada (fls. 413 a 419), a DRJ/SPO concluiu pela sua improcedência. Recurso Voluntário A Recorrente foi devidamente cientificada do Acórdão da DRJ, em 15/04/2015 (fl. 455) e interpôs Recurso Voluntário, tempestivamente, em 14/05/2015 (fls. 444/455), cujas razões são a seguir sintetizadas. 1 a fiscalização desconsiderou os negócios jurídicos, pois a partir da identificação de um conjunto de medidas lícitas praticadas por coligadas que, no máximo, poderia caracterizar planejamento tributário , concluiu que a "Fermau é a real vendedora e beneficiária 2 a Lei Complementar n° 104 cuja constitucionalidade é questionável, incluiu o parágrafo único ao art.106 do Código Tributário Nacional, autorizando a desconsideração de atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, "observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária"; 3 inexistindo tal lei, é desnecessária analisar mais profundamente o tema; Fl. 499DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 500 11 4 a fiscalização não aponta uma única ação ou omissão violadora de lei, sendo certo que todos os atos praticados (inclusive a constituição da empresa alienada) ocorreram regularmente, sem vícios, simulação, fraude ou ocultação; traz jurisprudência judicial favorável ao planejamento tributário; 5 o Memorando de Entendimentos foi um précontrato, de modo que não era necessária a participação da Kandy nesse ato, até porque seria necessário adotar posteriormente um conjunto de medidas para viabilizar o negócio; 6 assim, a utilização de uma sociedade anônima já existente, com transferência de ativos, aumento de capital, alteração do objeto social, representou a forma mais rápida e fácil para separar a atividade "Neugebauer" da Florestal Alimentos, segundo avaliação das partes envolvidas, inclusive da Vonpar; as outras medidas tomadas, inclusive a transferência das ações da nova empresa, objetivaram viabilizar o recebimento dos valores da venda pelos detentores dos direitos; afinal, o negócio só foi realizado porque os sócios da Florestal tinham interesse em receber em dinheiro; no caso da relação entre a Fermau e sua controladora Kandy, cabia a esta a destinação final dos valores relativos à sua participação no negócio; por esta razão ela constou como parte apenas no contrato de compra e venda, que representou o efetivo negócio jurídico firmado pelas partes envolvidas; 7 ademais, nada impedia ou obrigava a remessa dos valores ao exterior; se a Kandy optou por manter o capital dentro de sua controlada, tratase de questão de interesse das sociedades envolvidas, não cabendo à Receita Federal discutir a conveniência ou oportunidade da medida, sobretudo para o fim de promover uma tributação mais onerosa; 8 pela mesma razão, a validade e regularidade de eventuais reduções e aumentos de capital social da Fermau não podem ficar condicionadas à análise e interpretação da Receita Federal; 9 discorre sobre o IRPJ e respectivo fato gerador e contesta a apuração da sua base de cálculo do IRPJ (bem como da CSLL), em razão da fiscalização não deduzir os valores pagos da quantia supostamente devida; ou, deveria a Receita Federal proceder à imediata restituição à Vonpar, para permitir o repasse de tais valores a quem de direito; 10 em resumo: as razões pelas quais os negócios jurídicos foram desconsiderados precisavam ser mais detalhadas, pois seria pela apreciação da motivação dos atos que se pode exercer o controle de legalidade; portanto, não basta a fiscalização afirmar que as medidas adotadas tiveram o "único intuito de reduzir a tributação", eis que era necessário especificar e indicar qual ação ilícita foi praticada; 11 contesta o caráter confiscatório de multa cujo valor ultrapasse 50% o valor da obrigação principal, situação na qual deve ser reconhecida a respectiva inconstitucionalidade. É o relatório Voto Conselheiro Rogério Aparecido Gil Relator Fl. 500DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 501 12 O Recurso Voluntário é tempestivo e atende os demais requisitos de admissibilidade. Conheço o recurso. Mérito Verificase que, a Fiscalização considerou os negócios jurídicos havidos no presente caso. De seu lado, a Recorrente admite a realização de planejamento tributário, com o intuito de reduzir a tributação. A respeito das operações estruturadas em sequência, cabe citar a lição de Marco Aurélio Greco ("Planejamento Tributário", S. Paulo, Ed. Dialética, 2004, pp. 345347): "XVI.2. Operações Estruturadas em Sequência Sob esta denominação estão as step transactions, vale dizer, aquelas sequências de etapas em que cada uma corresponde a um tipo de ato ou deliberação societária ou negocial encadeado com o subsequente para obter determinado efeito fiscal mais vantajoso. Neste caso, cada etapa só tem sentido se existir a que lhe antecede e se for deflagrada a que lhe sucede. O Acórdão recorrido fundamenta que, uma operação estruturada indica a existência de um objetivo único, predeterminado à realização de todo o conjunto. E mais, indica a existência de uma causa jurídica única que informa todo o conjunto. Nestes casos, cumpre examinar se há motivos autônomos, ou não, pois se estes inexistirem, o fato a ser enquadrado é o conjunto e não cada uma das etapas. Diante de reorganizações societárias que tenham o efeito de reduzir o impacto da carga tributária incidente sobre as atividades ou os resultados de determinada pessoa jurídica, é frequente encontrarmos estudos que procuram examinar separadamente cada um dos aspectos envolvidos ou quando se trata de uma reorganização que envolva um conjunto de etapas sucessivas cada um dos passos adotados no âmbito de uma operação mais ampla. À vista de uma situação complexa, é essencial considerar a figura como um todo, examinando ao mesmo tempo os vários aspectos que a cercam, pois o conhecimento e o enquadramento de determinada realidade será a resultante das diversas circunstâncias reunidas no caso concreto. Assim, a postura metodológica mais adequada é aquela que sem perder de vista as peculiaridades de cada etapa ou dos segmentos de que a operação se compõe visualiza o conjunto assim formado e busca determinar o enquadramento que este, globalmente considerado, deve ter perante o ordenamento tributário brasileiro. Vale dizer, ao invés de analisar cada fotografia (etapa) é importante analisar o filme (conjunto delas). Mais do que um evento (etapa) é importante interpretar a estória (conjunto). O antes e o depois Na medida que, o conjunto de operações corresponde apenas a uma pluralidade de meios para atingir um único fim, a verificação das alterações relevantes deve ser Fl. 501DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 502 13 feita não apenas considerando os momentos anterior e posterior a cada etapa mas, principalmente, os momentos anterior e posterior ao conjunto de etapas. Ou seja, é preciso indagar qual a situação existente antes da deflagração da sequência de etapas, de quem era determinado patrimônio, qual a composição societária, quem era o titular de certos poderes sobre determinado empreendimento etc., e qual a situação final resultante da última das etapas. Só assim será assegurado um exame abrangente de uma operação complexa subdividida em múltiplas etapas que são meros segmentos de uma operação maior, de modo a verificar qual, na realidade, a operação que se está pretendendo opor ao Fisco (o complexo ou cada parte). Assim, de acordo com as lições de Marco Aurélio Greco, devese verificar se há motivos autônomos para a realização das etapas. Se estes não existirem, o fato a ser enquadrado é o conjunto e não cada uma das etapas. O conjunto de ativos caracterizados como "Negebauer" pertenciam à Florestal Alimentos, que pertencia à Fermau (juntamente com algumas pessoas físicas), que, por sua vez, pertencia à empresa uruguia Kandy (juntamente com duas pessoas físicas). Essas pessoas jurídicas são a parte relevante do pólo vendedor, para fins do exame do litígio. A sucessão de operações estruturadas pelo pólo vendedor mostra que entre 18/12/2009, data da assinatura do Memorando de Entendimentos (em que os vendedores pessoas jurídicas seriam a Florestal e a Fermau) e 04/02/2010, data da assinatura do Contrato de Compra e Venda (em que o vendedor pessoa jurídica passou a ser a Kandy) a Neugebauer "passou" da Florestal para a Fermau, e desta para a Kandy, que foi quem efetivou a venda, pagando um tributo mais baixo pelo ganho de capital, por ser empresa sediada no Exterior. As transferências da Neugebauer pelas pessoas jurídicas do pólo vendedor se deram por meio de sucessivas reduções de capital e respectivas devoluções. Fechada venda, os recursos que nunca chegaram às mãos da Kandy permanecem na Fermau, até que esta aumentasse seu capital e o de sua controlada Florestal com os recursos remanescentes. As operações realizadas coordenadamente pelo pólo vendedor, a partir do Memorando de Entendimentos, evidenciam que eram operações estruturadas em sequência cujo conjunto tinha o único objetivo de realizar a venda pagando o mínimo de imposto possível sobre o respectivo ganho de capital. Os motivos formais apontados "na ida" da Neugebauer para justificar as sucessivas reduções de capital na Fermau e na Florestal são tautológicos: capital social em excesso. Igualmente tautológicos os motivos formais apontados, "na volta" dos recursos, para justificar os sucessivos aumentos de capital na Fermau e na Florestal. Em resumo: exceto pela substituição da Neugebauer pelos recursos remanescentes de sua venda, o "antes" e o "depois" são exatamente iguais. Portanto, essas operações carecem de propósito negocial. Fl. 502DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 503 14 Vejase que o abuso de direito e a fraude à lei estão previstos no Código Civil (Lei n° 10.406/2002), in verbis: "Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercêlo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boafé ou pelos bons costumes." "Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: (...) VI tiver por objetivo fraudar lei imperativa;" A respeito do abuso do direito, cabe mencionar as lições de Marco Aurélio Greco, na obra citada, págs. 181187: "Neste passo, tem pertinência o tema do "abuso do direito", categoria construída para inibir práticas que, embora se encontrem dentro do âmbito da licitude, implicam, no seu resultado, uma distorção no equilíbrio do relacionamento entre as partes, seja pela utilização de um poder ou de um direito em finalidade diversa daquela para a qual o ordenamento assegura sua existência, seja sua distorção funcional, por implicar inibir a eficácia da lei incidente sobre a hipótese sem uma razão suficiente que a justifique. Nesse contexto é que vejo a inserção da temática do abuso do direito de autoorganização no âmbito tributário. Ou seja, a possibilidade de serem identificadas situações concretas em que os atos realizados pelos particulares, embora juridicamente válidos, não serão oponíveis ao Fisco quando forem fruto de um uso abusivo do direito de autoorganização que, por isso, compromete a eficácia do princípio da capacidade contributiva e da isonomia fiscal. Aqui não se está falando da figura prevista no artigo 123 do CTN, mas sim da possibilidade de atos privados não serem admitidos pelo Fisco quando implicarem deslocamento do foco visado pela lei ao qualificar a manifestação de capacidade contributiva" A respeito de fraude à lei, cabe mencionar as lições de Marco Aurélio Greco, na obra citada, págs. 219 e 251: "Interessanos neste momento a figura da fraude à lei também chamada de fraus legis. (...) Nesta figura, estamos perante duas normas (ou de uma norma e uma ausência de previsão expressa do ordenamento: a) uma norma imperativa de tributação que se considera indesejada, à qual o contribuinte não quer se submeter (a norma contornada); e b) uma norma ou uma ausência de previsão expressa, que o contribuinte utiliza para evitar a norma contornada (a norma de contorno). Na fraude à lei, o contribuinte monta determinada estrutura negocial que se enquadre na norma de contorno para, desta forma, numa expressão coloquial, "driblar" a norma Fl. 503DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 504 15 contornada. Com isto pretende fazer com que a situação concreta seja regulada pela norma de contorno, com o que ficaria afastada a aplicação da norma de tributação (ou de tributação mais onerosa). Na fraude à lei, buscase contornar determinada norma imperativa, mediante a utilização de outra norma (ou ausência de previsão expressa). Neste caso, o ordenamento reage aplicando a norma contornada." Segundo Marco Aurélio Greco, na mesma obra, págs. 419 a 421: "O abuso é corolário do uso regular do direito, pois há décadas já se afastou a visão individualista de que um direito comporta qualquer tipo de uso, inclusive o excessivo ou que distorça seu perfil objetivo. A fraude à lei é decorrência da legalidade e da imperatividade do ordenamento positivo, como um todo, e da norma jurídica específica. Lei existe para ser seguida e não contornada ou 'driblada'. Em suma, a aplicação das figuras do abuso do direito e da fraude à lei em matéria tributária, no ordenamento positivo brasileiro, pode ocorrer independente de lei expressa que as autorize, pois são decorrência da legalidade e da imperatividade do ordenamento. Ainda que fosse indispensável uma lei autorizando a aplicação de tais categorias, este requisito estaria atendido pelo parágrafo único do artigo 116 aqui comentado." No caso em tela, ficou caracterizado o abuso do direito, visto que a Recorrente praticou atos societários que, embora previstos legalmente, resultaram em uso abusivo do direito de autoorganização. Em relação às operações que resultaram na transferência da ações da Neugebauer até a Kandy fica evidente que as mesmas tiveram a única finalidade de submeter a operação de venda das referidas a ações a uma menor tributação, não tendo a Recorrente demonstrado a existência de nenhuma motivação extratributária. Restou caracterizada também a fraude à lei, pois havia uma norma impositiva que previa a incidência de IRPJ (alíquota de 15% e adicional de 10%) e CSLL (alíquota de 9%) na venda de bem do ativo permanente por pessoa jurídica domiciliada no Brasil (norma contornada), tendo a Recorrente montado uma sequência de operações de modo a enquadrar a operação como venda de bem do ativo permanente por pessoa jurídica domiciliada no exterior (norma de contorno), enquadrando a operação em uma tributação menor (somente IRRF à alíquota de 15%). Quanto à permanência dos valores na Fermau, há que se dizer que isso, isoladamente, nada significa, pois, ainda que os recursos tivessem sido remetidos à Kandy no exterior e, em seguida, retornassem ao Brasil para produzirem os mesmos efeitos já referidos, de modo que o "depois" fosse o mesmo já retratado, ainda assim, estarseia diante de uma sucessão de operações estruturadas para diminuir o pagamento de tributo. A Fiscalização andou bem ao não deduzir da exigência os valores retidos pela Vonpar, pois se tratam de valores indevidamente recolhidos em nome da Kandy. Ou seja, tais valores configuram pagamento indevido ou a maior, cuja restituição é regida por rito próprio, exigindo a emissão de PER/DCOMP. Fl. 504DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 505 16 E a fiscalização, também corretamente, concluiu que: "a Fermau é a real vendedora e beneficiária dos valores recebidos pela venda das ações da Neugebauer SA e que ela omitiu o ganho de capital obtido nessa operação apresentando como vendedor em seu lugar a Kandy SA, sua controladora uruguaia, com o único intuito de reduzir a tributação, sendo que o real sujeito passivo era a própria Fermau. Dessa forma, foram apurados e constituídos de ofício mediante lavratura de Auto de Infração, do qual este Relatório faz parte, os tributos de IRPJ e CSLL sobre ganho de capital omitido, sendo a multa de ofício de 150%, conforme §1°, I, do artigo 44 da Lei 9.430/96." Há expressa previsão legal para a aplicação da multa. Já o argumento relativo ao seu alegado caráter confiscatório por ultrapassar 50% do valor da obrigação principal, não será examinado, pois não cabe à instância administrativa manifestarse a respeito de suposta inconstitucionalidade da legislação tributária. Vejase a Súmula CARF n° 2: "O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária." Auto Reflexo. O decidido em relação ao tributo principal se aplica ao lançamento reflexo, em virtude da estreita relação de causa e efeitos entre eles existentes. Fundamentos Vencedores (RICARF, Anexo II, art. 63, § 8º) Em atendimento às disposições do § 8º do art. 63 do Anexo II do RICARF, no sentido de que, "na hipótese em que a decisão por maioria dos conselheiros (...) acolher apenas a conclusão do relator, caberá ao relator reproduzir, no voto e na ementa do acórdão, os fundamentos adotados pela maioria dos conselheiros", apresento a seguir os fundamentos, adotados pela maioria dos Conselheiros, também expostos em Declaração de Voto. Os Conselheiros também concluíram por negar provimento ao Recurso Voluntário. Todavia, em relação à manutenção do lançamento relativo ao IRPJ e CSLL incidentes sobre o ganho de capital na alienação das ações da Neugebauer S.A., ressaltaram que o lançamento fiscal foi embasado no fato de a Recorrente ser "a real vendedora e beneficiária dos valores recebidos pela venda das ações da Neugebauer S.A. e que ela omitiu o ganho de capital obtido nessa operação apresentando como vendedor em seu lugar a Kandy SA, sua controladora empresa estrangeira uruguaia". Nesse contexto, registraram que, o que deve ser combatido é o uso da liberdade negocial própria da atividade das pessoas jurídicas, para construir situações artificiais, apenas e tãosomente visando à economia tributária, posto que contrária à boafé característica da moderna interpretação do Direito. O fato é que, independentemente de a opção pela forma utilizada pela Recorrente ser uma opção válida, perante o direito civil e empresarial, não pode ser utilizada como subterfúgio para conferir à operação aparência de outra que não esteja abrangida pelo dispositivo legal que impõe a tributação do ganho de capital efetivamente auferido. A autoridade fiscal aponta, no Relatório de Ação Fiscal (fls. 383 a 391), que, conforme Memorando de Entendimento datado de 18 de dezembro de 2009, a Recorrente Fl. 505DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 506 17 figurava (ao lado da Florestal e de seus sócios pessoas físicas) como a vendedora das ações em questão. Contudo, na realização da operação, artificialmente, inserese no negócio a pessoa jurídica Kandy SA, controladora da Recorrente, e sediada no Uruguai, com a finalidade exclusiva de parecer que a alienação era realizada por uma pessoa jurídica sediada no exterior, de modo a reduzir a tributação sobre o ganho de capital. Ocorre que, a autoridade descreve, com riquezas de detalhes, que as receitas originadas no negócio, de fato, jamais deixaram o país e foram, efetivamente, auferidas pela Recorrente: "A primeira e segunda parcela que seriam devidas pela Vonpar à Kandy SA foram depositadas em conta bancária da Florestal Alimentos S/A em fevereiro e dezembro de 2010, como pode ser observado pelo extrato do razão na folha 279 e comprovantes de depósitos nas folhas 113 e 116. Dos valores depositados em sua conta bancária a Florestal informa que, em 09/02/2010, pagou a Trust Gestão de Ativos, empresa de consultoria/assessoria, a pedido da Kandy (fl.83), não havendo outras movimentações até 27/12/2010 quando todo o valor líquido remanescente foi transferido para sua controladora Fermau Participações Ltda, como já demonstrado em quadro na página anterior deste Relatório e no extrato do razão na folha 279. (...) As demais parcelas devidas pela aquisição das ações da Neugebauer SA, a partir de 2011, passam a ser depositadas diretamente em conta corrente bancária da Fermau que contabiliza os valores como uma obrigação a pagar à Kandy que no entanto se acumulam até 31/12/2013 sem repasse desses valores à Kandy, conforme resumo de extrato do Razão abaixo (fls. 275/277)." O fundamento do lançamento, portanto, é a constatação de que a participação da Kandy no negócio que originou as receitas foi mera fraude perpetrada pela Recorrente (de modo, inclusive, que a autuação foi realizada com a imposição de multa de ofício de 150%), razão pela qual ela, na condição de real vendedora deveria arcar com o ônus do IRPJ e da CSLL sobre o ganho de capital obtido no negócio. Por todo o exposto, agregandose tais fundamentos da maioria dos Conselheiros, voto no sentido de negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Rogério Aparecido Gil Declaração de Voto Conselheiro Paulo Henrique Silva Figueiredo Fl. 506DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 507 18 Contanto concorde com as conclusões a que chega o Relator em seu voto, entendo ser necessário manifestar a minha discordância em relação aos fundamentos nele empregados para manter o lançamento concernente ao IRPJ e CSLL incidente sobre o ganho de capital na alienação das ações da Neugebauer S.A. É que, para o Relator, o ponto fundamental está na ausência de propósito negocial, e na presença do abuso de direito e na fraude à lei, nas operações engendradas durante a referida alienação. Por outro lado, o lançamento fiscal foi embasado no fato de a Recorrente ser "a real vendedora e beneficiária dos valores recebidos pela venda das ações da Neugebauer S.A. e que ela omitiu o ganho de capital obtido nessa operação apresentando como vendedor em seu lugar a Kandy SA, sua controladora empresa estrangeira uruguaia". Aliás, é sabido que o emprego do teste do "propósito negocial" (importado do direito estadunidense, pelo qual não devem produzir efeitos contra o Fisco os negócios jurídicos que tenham por finalidade única a obtenção da economia do tributo) ou a rejeição à ausência de motivação extratributária enfrentam fortes críticas por parte de doutrinadores e Conselheiros deste CARF. De fato, a utilização de tais elementos deve ser realizada com extrema cautela, já que, no meu entender, o que deve ser combatido não é o planejamento tributário empreendido por meio de operação realizada sem propósito negocial ou sem motivação extratributária (o que pode ser plenamente lícito, vide o prosaico exemplo da escolha de um casal entre apresentar a declaração de rendimentos em conjunto ou em separado), mas aquele realizado por meio da dissociação entre a vontade expressa formalmente nos atos praticados e a real motivação para a sua prática. Ricardo Lobo Torres (Planejamento Tributário: elisão abusiva e evasão fiscal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013) faz importante síntese acerca dos parâmetros de aproximação que podem ser utilizados nos casos de planejamento tributário: "O problema da elisão fiscal está intimamente ligado ao das posições teóricas fundamentais em torno da interpretação do direito tributário. O positivismo normativista e conceptualista defende, com base na autonomia da vontade, a possibilidade ilimitada de planejamento fiscal. A elisão, partindo de instrumentos válidos, seria sempre lícita. Essa posição foi defendida com veemência por Sampaio Dória. O positivismo sociológico e historicista, com a sua consideração econômica do fato gerador, chega à conclusão oposta, defende a ilicitude generalizada da elisão, que representaria abuso da forma jurídica escolhida pelo contribuinte para revestir juridicamente o seu negócio jurídico ou a sua empresa. Amilcar de Araújo Falcão representou moderadamente essa orientação. A jurisprudência dos valores e o póspositivismo aceitam o planejamento fiscal como forma de economizar imposto, desde que não haja 'abuso de direito'. Só a elisão abusiva ou o planejamento inconsistente se tornam ilícitos. Fl. 507DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 508 19 (...) O combate ao abuso do direito consiste, sobretudo, na busca de superação do posicionamento formalista e conceptualista, com o cuidado para não cair no exagero oposto do substancialismo, do historicismo ou do causalismo economicista. No direito tributário vivese, a partir dos anos 1990, na incessante procura do equilíbrio entre forma e substância, que só poderá ser obtido evitandose o abuso das formas ('Missbrauch von Gestaltungsmöglichkeiten Formen' dos alemães)." Da mesma obra, extraise ainda a seguinte passagem atribuída ao tributarista italiano Victor Uckman: "Enquanto no direito privado a 'rationale' da teoria do abuso consiste em proteger os direitos de outros indivíduos, no setor fiscal se utiliza o princípio para proteger os interesses do Estado frente à liberdade do contribuinte de utilizar as formas jurídicas que eleja para desenvolver as suas atividades produtoras de renda." O que deve ser combatido, portanto, é o uso da liberdade negocial própria da atividade das pessoas jurídicas, para construir situações artificiais, apenas e tãosomente visando à economia tributária, posto que contrária à boafé característica da moderna interpretação do Direito. O fato é que, independentemente de a opção pela forma utilizada pela Recorrente ser uma opção válida, perante o direito civil e empresarial, não pode, como já dito, ser utilizada como subterfúgio para conferir à operação aparência de outra que não esteja abrangida pelo dispositivo legal que impõe a tributação do ganho de capital efetivamente auferido. O atendimento a requisitos legais nos ramos civil e empresarial não tem repercussão na esfera tributária. A autoridade fiscal aponta, no Relatório de Ação Fiscal (fls. 383 a 391), que, conforme Memorando de Entendimento datado de 18 de dezembro de 2009, a Recorrente figurava (ao lado da Florestal e de seus sócios pessoas físicas) como a vendedora das ações em questão. Contudo, na realização da operação, artificialmente, inserese no negócio a pessoa jurídica Kandy SA, controladora da Recorrente, e sediada no Uruguai, com a finalidade exclusiva de parecer que a alienação era realizada por uma pessoa jurídica sediada no exterior, de modo a reduzir a tributação sobre o ganho de capital. Ocorre que, a autoridade descreve, com riquezas de detalhes, que as receitas originadas no negócio, de fato, jamais deixaram o país e foram, efetivamente, auferidas pela Recorrente: "A primeira e segunda parcela que seriam devidas pela Vonpar à Kandy SA foram depositadas em conta bancária da Florestal Fl. 508DF CARF MF Processo nº 11080.726189/201441 Acórdão n.º 1302002.617 S1C3T2 Fl. 509 20 Alimentos S/A em fevereiro e dezembro de 2010, como pode ser observado pelo extrato do razão na folha 279 e comprovantes de depósitos nas folhas 113 e 116. Dos valores depositados em sua conta bancária a Florestal informa que, em 09/02/2010, pagou a Trust Gestão de Ativos, empresa de consultoria/assessoria, a pedido da Kandy (fl.83), não havendo outras movimentações até 27/12/2010 quando todo o valor líquido remanescente foi transferido para sua controladora Fermau Participações Ltda, como já demonstrado em quadro na página anterior deste Relatório e no extrato do razão na folha 279. (...) As demais parcelas devidas pela aquisição das ações da Neugebauer SA, a partir de 2011, passam a ser depositadas diretamente em conta corrente bancária da Fermau que contabiliza os valores como uma obrigação a pagar à Kandy que no entanto se acumulam até 31/12/2013 sem repasse desses valores à Kandy, conforme resumo de extrato do Razão abaixo (fls. 275/277)." O fundamento do lançamento, portanto, é a constatação de que a participação da Kandy no negócio que originou as receitas foi mera fraude perpetrada pela Recorrente (de modo, inclusive, que a autuação foi realizada com a imposição de multa de ofício de 150%), razão pela qual ela, na condição de real vendedora deveria arcar com o ônus do IRPJ e da CSLL sobre o ganho de capital obtido no negócio. Por essas razões, portanto, entendo que o Recurso Voluntário deve ser integralmente improvido. (assinado digitalmente) Paulo Henrique Silva Figueiredo Fl. 509DF CARF MF
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