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Numero do processo: 10242.720216/2014-18
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed May 08 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Mon Jul 29 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
Ano-calendário: 2010
CONVERSÃO EM DILIGÊNCIA. DISPENSABILIDADE. FUNDAMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO. CONFAZ. SÍTIO.
É dispensável a conversão em diligência, com o sobrestamento em diligência, quando a conferência a respeito do registro em reserva de lucros não consta do lançamento tributário e o cumprimento das cláusulas 2ª, 3ª e 4ª do Convênio ICMS 190/2017 podem ser verificadas no sítio do CONFAZ.
ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA (IRPJ)
Ano-calendário: 2010
SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO. LEI COMPLEMENTAR 160, de 2017. LEI 12.973/2014, ART. 30. REQUISITOS.
Aplica-se a Lei Complementar nº 160, de 2017, aos processos pendentes, desde que atendidos os requisitos do art. 30.
Numero da decisão: 9101-004.196
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em rejeitar a preliminar de conversão em diligência, vencidos os conselheiros Viviane Vidal Wagner (relatora), Rafael Vidal de Araújo, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado). Acordam, ainda, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado), que lhe deram provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa e Rafael Vidal de Araújo. Designada para redigir o voto vencedor, quanto à preliminar de conversão em diligência, a conselheira Cristiane Silva Costa. Manifestaram intenção de apresentar declaração de voto os conselheiros Cristiane Silva Costa, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva. Esgotado o prazo regimental, o conselheiro Daniel Ribeiro Silva não apresentou a declaração de voto, pelo que se considera não formulada.
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Presidente
(assinado digitalmente)
Viviane Vidal Wagner - Relatora
(assinado digitalmente)
Cristiane Silva Costa - Redatora designada
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Luis Fabiano Alves Penteado, Viviane Vidal Wagner, Lívia De Carli Germano, Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado) e Adriana Gomes Rêgo (Presidente). Ausente o conselheiro Demetrius Nichele Macei, substituído pelo conselheiro Daniel Ribeiro Silva.
Nome do relator: VIVIANE VIDAL WAGNER
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ementa_s : ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Ano-calendário: 2010 CONVERSÃO EM DILIGÊNCIA. DISPENSABILIDADE. FUNDAMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO. CONFAZ. SÍTIO. É dispensável a conversão em diligência, com o sobrestamento em diligência, quando a conferência a respeito do registro em reserva de lucros não consta do lançamento tributário e o cumprimento das cláusulas 2ª, 3ª e 4ª do Convênio ICMS 190/2017 podem ser verificadas no sítio do CONFAZ. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA (IRPJ) Ano-calendário: 2010 SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO. LEI COMPLEMENTAR 160, de 2017. LEI 12.973/2014, ART. 30. REQUISITOS. Aplica-se a Lei Complementar nº 160, de 2017, aos processos pendentes, desde que atendidos os requisitos do art. 30.
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Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Ano-calendário: 2010 CONVERSÃO EM DILIGÊNCIA. DISPENSABILIDADE. FUNDAMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO. CONFAZ. SÍTIO. É dispensável a conversão em diligência, com o sobrestamento em diligência, quando a conferência a respeito do registro em reserva de lucros não consta do lançamento tributário e o cumprimento das cláusulas 2ª, 3ª e 4ª do Convênio ICMS 190/2017 podem ser verificadas no sítio do CONFAZ. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA (IRPJ) Ano-calendário: 2010 SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO. LEI COMPLEMENTAR 160, de 2017. LEI 12.973/2014, ART. 30. REQUISITOS. Aplica-se a Lei Complementar nº 160, de 2017, aos processos pendentes, desde que atendidos os requisitos do art. 30. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em rejeitar a preliminar de conversão em diligência, vencidos os conselheiros Viviane Vidal Wagner (relatora), Rafael Vidal de Araújo, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado). Acordam, ainda, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado), que lhe deram provimento. Votaram pelas conclusões os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa e Rafael Vidal de Araújo. Designada para redigir o voto vencedor, quanto à preliminar de conversão em diligência, a conselheira Cristiane Silva Costa. Manifestaram intenção de apresentar declaração de voto os conselheiros Cristiane Silva Costa, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva. Esgotado o prazo regimental, o conselheiro Daniel Ribeiro Silva não apresentou a declaração de voto, pelo que se considera não formulada. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo - Presidente AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 24 2. 72 02 16 /2 01 4- 18 Fl. 3906DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner - Relatora (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa - Redatora designada Participaram da sessão de julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Luis Fabiano Alves Penteado, Viviane Vidal Wagner, Lívia De Carli Germano, Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado) e Adriana Gomes Rêgo (Presidente). Ausente o conselheiro Demetrius Nichele Macei, substituído pelo conselheiro Daniel Ribeiro Silva. Relatório Trata-se de recurso especial de divergência interposto pelo contribuinte CICLO CAIRU LTDA contra o Acórdão nº 1401-001.621, de 4 de maio de 2016, por meio do qual o colegiado negou provimento ao recurso voluntário, em decisão assim ementada: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Ano-calendário: 2010 LUCRO REAL. SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO. CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. NECESSIDADE DE VINCULAÇÃO E SINCRONIA. DESCARACTERIZAÇÃO. Para que uma subvenção possa ser considerada como de investimento e, nessa condição, se encontre fora do cômputo da base de cálculo do IRPJ apurado pelo lucro real, é imprescindível a sua efetiva e específica aplicação na aquisição de bens ou direitos necessários à implantação ou expansão de empreendimento econômico. Na ausência de tal vinculação e sincronia, os valores objeto da subvenção, decorrentes de créditos presumidos de ICMS, devem ser computados na determinação da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. SALDO CREDOR DE CAIXA. OMISSÃO DE RECEITA. ALEGAÇÕES NÃO COMPROVADAS O saldo credor de caixa caracteriza a presunção de omissão de receitas em montante equivalente, se as justificativas do contribuinte são meras alegações, que não encontram respaldo na sua própria contabilidade. OMISSÃO DE RECEITAS SUPRIMENTOS DE CAIXA POR SÓCIO. Não comprovadas com documentação hábil e idônea a origem e a efetiva entrega de numerário escriturado na contabilidade da contribuinte a título de empréstimo junto a seu sócio, procede o lançamento a título de omissão de receitas. TRIBUTAÇÃO REFLEXA. CSLL. PIS. COFINS. Em se tratando de exigências reflexas que tem por base os mesmos fatos que ensejaram o lançamento do IRPJ, a decisão de mérito prolatada no principal constitui prejulgado na decisão dos decorrentes. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 3907DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Acordam os membros do colegiado: por unanimidade de votos, REJEITAR a preliminar de nulidade, e no mérito, NEGAR provimento ao recurso, nos seguintes termos: I) Por unanimidade de votos, NEGAR provimento em relação ao suprimento de numerário; II) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação à subvenção para investimento. Vencidas as Conselheiras Aurora Tomazini de Carvalho (Relatora) e Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin. O Conselheiro Ricardo Marozzi Gregório acompanhou pelas conclusões. Designado o Conselheiro Fernando Luiz Gomes de Mattos para redigir o voto vencedor. Trata-se de autuação de Imposto sobre a Renda Pessoa Jurídica – IRPJ, Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, Contribuição ao PIS/Pasep e COFINS, referentes a fatos geradores ocorridos no período de Janeiro a Dezembro de 2010, incluindo juros e multa nos percentuais de 75% e 150%, tendo sido constatadas as seguintes infrações, conforme Relatório Fiscal (fls.62-97): - Infração 1: exclusão indevida, do Lucro Real, de quantias referentes a subvenções governamentais, pois, com base nas cópias do termo de acordo do regime especial 005/2005, firmado em 7 de julho de 2005, e o termo de acordo do ato concessório nº 327/10, firmado em 29 de dezembro de 2010, entendeu caracterizar-se o beneficio como subvenções para custeio, por se tratar de concessão de crédito presumido em função da manutenção da atividade da empresa estabelecida no Estado de Rondônia, com a condição de promover a saída interestadual de mercadoria importada do exterior, sendo tal condição insuficiente para enquadrá-lo como subvenção para investimentos, nos termos do art. 38 do Decreto-Lei 1.598, de 26 de dezembro de 1977. - Infração 2: compensação indevida de prejuízo fiscal referente ao 4º trimestre de 2009, gerado por conta da exclusão indevida de subvenções governamentais; - Infração 3: compensação indevida de base de cálculo negativa referente ao 4º trimestre de 2009, gerada por conta da exclusão indevida de subvenções governamentais; - Infração 4: omissão de receitas, presumida em razão da existência de saldo credor de caixa; Infração 5: omissão de receitas, presumida por conta da não comprovação do suposto suprimento de caixa por sócios e administradores. O voto vencedor do acórdão recorrido considerou plenamente válida a conclusão constante da decisão de piso, no sentido de que as subvenções recebidas pela contribuinte constituem subvenções para custeio devendo se sujeitar à tributação pelo IRPJ e CSLL. Inconformado, o contribuinte apresentou recurso especial (e-fls.744 e ss.), alegando divergência jurisprudencial em relação às seguintes matérias decididas pelo acórdão recorrido: 1. O valor contabilizado a título de subvenção para investimento não ostentaria tal natureza, porquanto não demonstrada a sua efetiva e específica aplicação na aquisição de bens ou direitos necessários à implantação ou expansão de empreendimento econômico, indicando como paradigmas os Acórdãos nºs 1102-000.868 (2ª Turma Ordinária da 1ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento - CARF) e 9101-001.094 (1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais - CARF); 2. A configuração da omissão de receitas decorre da não comprovação por meio de provas hábeis e idôneas da origem e da entrega de numerário escriturado sob a forma de empréstimo junto aos sócios, indicando como paradigmas os Acórdãos nºs 9101-001.263 (1ª Fl. 3908DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais - CARF) e 1102-000.940 (1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento - CARF). O recurso especial foi admitido parcialmente pelo Presidente da Câmara, através do despacho de admissibilidade de e-fls.3847 e ss., apenas em relação à primeira matéria: caracterização da subvenção para investimento. Cientificada desse despacho, a PFN apresentou contrarrazões (e-fls.3875 e ss.) em que pede que seja negado provimento ao recurso do contribuinte, sustentando, em síntese, a possibilidade de tributação dos recursos oriundos do incentivo de redução do ICMS, ante a sua natureza de subvenção para custeio, citando especificamente os arts. 392, I, e 443 do Regulamento do Imposto de Renda e o Parecer Normativo (PN CST) nº 112/78. Após sorteio entre os membros da 1ª Turma da CSRF, o relator André Mendes de Moura propôs despacho de saneamento para o retorno dos autos para a unidade preparadora, para apreciação da petição de e-fls. 3892/3893 e confirmar se seria realizado o pedido de adesão ao parcelamento. Após desmembramento do processo e retorno dos autos ao CARF, em 27/04/2018, foi determinado o novo sorteio do processo no âmbito da 1ª Turma da CSRF, em conformidade com o art. 50, §6º, do Anexo II da Portaria MF nº 343 de 09 de junho de 2015, que aprovou o Regimento Interno do CARF, tendo em vista o afastamento temporário do relator originário. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Viviane Vidal Wagner - Relatora Conhecimento Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF, a teor do art. 67 do Anexo II do atual Regimento Interno do CARF - RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 9 de junho de 2015. Como relatado, o recurso especial do contribuinte foi admitido parcialmente, apenas em relação à matéria "caracterização da subvenção para investimento", e a Procuradoria da Fazenda Nacional, em contrarrazões, não questiona o seguimento da matéria, mas apenas o mérito das alegações formuladas. Presentes os pressupostos recursais, conheço do recurso nos termos do despacho de admissibilidade de e-fls.3847 e ss. Mérito Cabe a este Colegiado analisar a matéria em litígio, no que diz respeito à natureza das subvenções concedidas pelo governo do Estado de Rondônia ao contribuinte ora recorrente. Fl. 3909DF CARF MF Fl. 5 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Veja-se que o acórdão recorrido decidiu pela necessidade de vinculação e sincronia entre subvenção e investimento, nos seguintes termos: LUCRO REAL. SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO. CRÉDITO PRESUMIDO DE ICMS. NECESSIDADE DE VINCULAÇÃO E SINCRONIA. DESCARACTERIZAÇÃO. Para que uma subvenção possa ser considerada como de investimento e, nessa condição, se encontre fora do cômputo da base de cálculo do IRPJ apurado pelo lucro real, é imprescindível a sua efetiva e específica aplicação na aquisição de bens ou direitos necessários à implantação ou expansão de empreendimento econômico. Na ausência de tal vinculação e sincronia, os valores objeto da subvenção, decorrentes de créditos presumidos de ICMS, devem ser computados na determinação da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Do voto vencedor do acórdão recorrido se extraem as seguintes informações: Conforme relatado, a subvenção em apreço foi concedida à recorrente sob a modalidade de crédito presumido de ICMS, com fundamento na Lei Estadual RO nº 1.473/2005, a qual, no seu artigo 1º, previa o seguinte à época da concessão do benefício (fls. 74/75): Art. 1º. Fica concedido ao contribuinte de ICMS enquadrado no artigo 2º um crédito presumido de 85% (oitenta e cinco por cento) do valor do imposto devido pela saída interestadual de mercadoria importada do exterior. A contribuinte, por meio do Regime Especial nº 005/2005 (fls.500 a 503), datado de 07 de julho de 2005, foi incluída no referido benefício fiscal, tendo ficado condicionado, além do disposto na Lei Estadual-RO nº 1.473, às seguintes exigências: I – manutenção da garantia já prestada no montante de 2.000 (duas mil) UPF/RO, pelo prazo de 60 (sessenta) meses, deverá ser renovada 30 (trinta) dias antes do seu vencimento, ou ainda completada quando o débito declarado ultrapassar aquele valor; II – realize exclusivamente operações de entradas por importação e saídas interestaduais das mercadorias importadas, permitida as saídas internas; III – entregue quinzenalmente à Gerência de Fiscalização – GEFIS da Coordenadoria da Receita Estadual arquivo magnético de seus registros fiscais; IV – não realize operações com combustíveis líquidos ou gasosos derivados ou não de petróleo. A contribuinte também aderiu a outro Regime Especial, o de nº 022/07 (fls. 506 a 507), assinado em 24 de setembro de 2007, que conferiu à empresa o direito a crédito presumido de ICMS nas saídas de peças para bicicletas e motocicletas. Em 29/12/2010, foi assinado o Termo de Acordo para Concessão de Regime Especial – Ato Concessório nº 0327/10 (524 a 526), o qual revogou o Regime Especial de nº 022/07, mas manteve o direito a crédito presumido de ICMS nas saídas de peças para bicicletas e motocicletas, sob outra forma. [...] A autoridade fiscal contestou o procedimento do contribuinte, apurando a partir dos documentos que serviram de comprovação dos regimes especiais concedidos pelo Governo do Estado de Rondônia que as exigências e propósitos dos acordos não possuem a qualificação necessária para o perfeito enquadramento como subvenção para investimentos, e efetuou a lavratura de auto de infração com fulcro, em especial, no art. 38 do Decreto-Lei 1.598, de 26 de dezembro de 1977, arts. 392 e 443 do RIR/99 e Parecer Normativo CST nº 112, de 29 de dezembro de 1978. Além disso, considerou que a Lei Estadual nº 1.473, de 13 de maio de 2005, que dá amparo ao Regime Especial nº 005/2005, em sua redação original que vigorava no AC 2010, também não estabelece condições necessárias para caracterizar tal incentivo como subvenção para investimentos, tal qual disposto no PN CST nº 112/78. Verificou-se, ainda, que o benefício, concedido em 07/07/2005 (Regime Especial nº 005/2005) e em 24/09/2007 (Regimes Especiais nºs 022/07 e 327/10), tem prazo indeterminado de fruição. Fl. 3910DF CARF MF Fl. 6 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Como fundamento principal para a manutenção do lançamento, sustenta o voto vencedor do recorrido que, a teor do Parecer Normativo CST nº 112, de 29 de dezembro de 1978, "as subvenções de investimento apresentam “características bem marcantes”, quais sejam: (a) ser o beneficiário da subvenção sempre aquele que vai suportar o ônus de implantar ou expandir o empreendimento econômico; e (b) a efetiva e específica aplicação da subvenção, pelo beneficiário, em bens ou direitos específicos para implantar ou expandir empreendimento econômico, havendo perfeita sincronia da intenção do subvencionador com a ação do subvencionado." Ocorre que, em julgamentos semelhantes, realizados nas últimas sessões, esta 1ª Turma da CSRF tem considerado o disposto na Lei Complementar nº 160, de 07/08/2017, aplicável, em tese, aos processos administrativos fiscais pendentes de decisão definitiva. A Lei Complementar nº 160, de 2017 conferiu nova redação ao art. 30 da Lei nº 12.973, de 13/05/2014, incluindo os §§4º e 5º, de sorte que a atual redação do dispositivo estabelece: Art. 30. As subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos e as doações feitas pelo poder público não serão computadas na determinação do lucro real, desde que seja registrada em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei n o 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que somente poderá ser utilizada para: I - absorção de prejuízos, desde que anteriormente já tenham sido totalmente absorvidas as demais Reservas de Lucros, com exceção da Reserva Legal; ou II - aumento do capital social. § 1 o Na hipótese do inciso I do caput, a pessoa jurídica deverá recompor a reserva à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes. § 2 o As doações e subvenções de que trata o caput serão tributadas caso não seja observado o disposto no § 1 o ou seja dada destinação diversa da que está prevista no caput, inclusive nas hipóteses de: I - capitalização do valor e posterior restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou subvenções governamentais para investimentos; II - restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, nos 5 (cinco) anos anteriores à data da doação ou da subvenção, com posterior capitalização do valor da doação ou da subvenção, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitada ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou de subvenções governamentais para investimentos; ou III - integração à base de cálculo dos dividendos obrigatórios. § 3 o Se, no período de apuração, a pessoa jurídica apurar prejuízo contábil ou lucro líquido contábil inferior à parcela decorrente de doações e de subvenções governamentais e, nesse caso, não puder ser constituída como parcela de lucros nos termos do caput, esta deverá ocorrer à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes. § 4 o Os incentivos e os benefícios fiscais ou financeiro-fiscais relativos ao imposto previsto no inciso II do caput do art. 155 da Constituição Federal, concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal, são considerados subvenções para investimento, vedada a exigência de outros requisitos ou condições não previstos neste artigo. § 5 o O disposto no § 4 o deste artigo aplica-se inclusive aos processos administrativos e judiciais ainda não definitivamente julgados. (grifou-se) Fl. 3911DF CARF MF Fl. 7 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 O art. 155, II, § 2º, inciso XII, alínea g, da Constituição Federal estabelece: Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) XII - cabe à lei complementar: (...) g) regular a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos e benefícios fiscais serão concedidos e revogados. Verifica-se que a lei complementar que fixou as novas regras teve caráter retroativo, na medida em que determinou que fossem ser aplicadas aos processos pendentes de julgamento, para considerar como subvenções para investimento os benefícios concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal, na forma do art. 155, II, da Constituição Federal, vedada a exigência de qualquer requisito não previsto no próprio art. 30. Trata-se de legislação superveniente a ser observada pelo colegiado. Nesse sentido, entendo que a aplicação do disposto nos §§4º e 5º do art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, pode ser considerada no âmbito do presente processo. Cumpre ter em mente que, quando da aprovação da Lei Complementar n o 160, de 2017, o Congresso Nacional rejeitou o veto do Presidente da República às partes do projeto referentes aos arts. 9º e 10, demonstrando a intenção do legislador no sentido de permitir aos Estados e ao Distrito Federal deliberar sobre a remissão dos créditos tributários, constituídos ou não, decorrentes das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais instituídos em desacordo com o disposto na alínea ‘g’ do inciso XII do § 2 o do art. 155 da Constituição Federal e a reinstituição das respectivas isenções, incentivos e benefícios fiscais ou financeiro-fiscais. Além de pretender amenizar a guerra fiscal entre os Estados, ao estender aos processos em curso, percebe-se a intenção do legislador em tentar resolver um enorme passivo de litígios sobre a matéria, competindo aos Estados e ao Distrito Federal definir quais das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais teriam sido reconhecidos como subvenção para investimento. Ou seja, os dispositivos inseridos na norma complementar destinavam-se aos entes federados, a quem competiria conceder as referidas isenções, incentivos e benefícios fiscais ou financeiro-fiscais. Ademais, nota-se que a lei complementar determinou a aplicação das regras dos §§ 4º e 5º, do art. 30, aos benefícios anteriormente concedidos, inclusive aqueles em desacordo com o disposto no art. 155 da Constituição Federal, desde que atendidas as exigências de registro e depósito de novo Convênio entre os Estados, nos termos dos arts. 10 e 3º: Art. 10. O disposto nos §§ 4º e 5 o do art. 30 da Lei n o 12.973, de 13 de maio de 2014, aplica-se inclusive aos incentivos e aos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais de ICMS instituídos em desacordo com o disposto na alínea ‘g’ do inciso XII do § 2º do art. 155 da Constituição Federal por legislação estadual publicada até a data de início de produção de efeitos desta Lei Complementar, desde que atendidas as respectivas exigências de registro e depósito, nos termos do art. 3º desta Lei Complementar. Fl. 3912DF CARF MF Fl. 8 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 ................................................... Art. 3 o O convênio de que trata o art. 1 o desta Lei Complementar atenderá, no mínimo, às seguintes condicionantes, a serem observadas pelas unidades federadas: I - publicar, em seus respectivos diários oficiais, relação com a identificação de todos os atos normativos relativos às isenções, aos incentivos e aos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais abrangidos pelo art. 1 o desta Lei Complementar; II - efetuar o registro e o depósito, na Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), da documentação comprobatória correspondente aos atos concessivos das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais mencionados no inciso I deste artigo, que serão publicados no Portal Nacional da Transparência Tributária, que será instituído pelo Confaz e disponibilizado em seu sítio eletrônico. § 1 o O disposto no art. 1 o desta Lei Complementar não se aplica aos atos relativos às isenções, aos incentivos e aos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais vinculados ao Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) cujas exigências de publicação, registro e depósito, nos termos deste artigo, não tenham sido atendidas, devendo ser revogados os respectivos atos concessivos. § 2 o A unidade federada que editou o ato concessivo relativo às isenções, aos incentivos e aos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais vinculados ao ICMS de que trata o art. 1 o desta Lei Complementar cujas exigências de publicação, registro e depósito, nos termos deste artigo, foram atendidas é autorizada a concedê-los e a prorrogá-los, nos termos do ato vigente na data de publicação do respectivo convênio, não podendo seu prazo de fruição ultrapassar: I - 31 de dezembro do décimo quinto ano posterior à produção de efeitos do respectivo convênio, quanto àqueles destinados ao fomento das atividades agropecuária e industrial, inclusive agroindustrial, e ao investimento em infraestrutura rodoviária, aquaviária, ferroviária, portuária, aeroportuária e de transporte urbano; II - 31 de dezembro do oitavo ano posterior à produção de efeitos do respectivo convênio, quanto àqueles destinados à manutenção ou ao incremento das atividades portuária e aeroportuária vinculadas ao comércio internacional, incluída a operação subsequente à da importação, praticada pelo contribuinte importador; III - 31 de dezembro do quinto ano posterior à produção de efeitos do respectivo convênio, quanto àqueles destinados à manutenção ou ao incremento das atividades comerciais, desde que o beneficiário seja o real remetente da mercadoria; IV - 31 de dezembro do terceiro ano posterior à produção de efeitos do respectivo convênio, quanto àqueles destinados às operações e prestações interestaduais com produtos agropecuários e extrativos vegetais in natura; V - 31 de dezembro do primeiro ano posterior à produção de efeitos do respectivo convênio, quanto aos demais. § 3 o Os atos concessivos cujas exigências de publicação, registro e depósito, nos termos deste artigo, foram atendidas permanecerão vigentes e produzindo efeitos como normas regulamentadoras nas respectivas unidades federadas concedentes das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais vinculados ao ICMS, nos termos do § 2 o deste artigo. § 4 o A unidade federada concedente poderá revogar ou modificar o ato concessivo ou reduzir o seu alcance ou o montante das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais antes do termo final de fruição. § 5 o O disposto no § 4 o deste artigo não poderá resultar em isenções, incentivos ou benefícios fiscais ou financeiro-fiscais em valor superior ao que o contribuinte podia usufruir antes da modificação do ato concessivo. Fl. 3913DF CARF MF Fl. 9 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 § 6 o As unidades federadas deverão prestar informações sobre as isenções, os incentivos e os benefícios fiscais ou financeiro-fiscais vinculados ao ICMS e mantê-las atualizadas no Portal Nacional da Transparência Tributária a que se refere o inciso II do caput deste artigo. § 7 o As unidades federadas poderão estender a concessão das isenções, dos incentivos e dos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais referidos no § 2 o deste artigo a outros contribuintes estabelecidos em seu território, sob as mesmas condições e nos prazos- limites de fruição. § 8 o As unidades federadas poderão aderir às isenções, aos incentivos e aos benefícios fiscais ou financeiro-fiscais concedidos ou prorrogados por outra unidade federada da mesma região na forma do § 2 o , enquanto vigentes. Em cumprimento à Lei Complementar nº 160, de 2017, foi aprovado o Convênio ICMS nº 190, de 15/12/2017, que dispõe sobre a remissão de créditos tributários, constituídos ou não, decorrentes de isenções, incentivos e benefícios fiscais ou financeiro-fiscais, instituídos em desacordo com o disposto na alínea “g” do inciso XII do § 2° do art. 155 da Constituição Federal, bem como sobre as correspondentes reinstituições, estabelecendo o procedimento para o reconhecimento dos benefícios fiscais, nos seguintes termos: Cláusula segunda - As unidades federadas, para a remissão, para a anistia e para a reinstituição de que trata este convênio, devem atender as seguintes condicionantes: I - publicar, em seus respectivos diários oficiais, relação com a identificação de todos os atos normativos, conforme modelo constante no Anexo Único, relativos aos benefícios fiscais, instituídos por legislação estadual ou distrital publicada até 8 de agosto de 2017, em desacordo com o disposto na alínea “g” do inciso XII do § 2º do art. 155 da Constituição Federal; II - efetuar o registro e o depósito, na Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Política Fazendária CONFAZ, da documentação comprobatória correspondente aos atos concessivos dos benefícios fiscais mencionados no inciso I do caput desta cláusula, inclusive os correspondentes atos normativos, que devem ser publicados no Portal Nacional da Transparência Tributária instituído nos termos da cláusula sétima e disponibilizado no sítio eletrônico do CONFAZ. § 1º O disposto nos incisos I e II do caput estendem-se aos atos que não se encontrem mais em vigor, observando quanto à reinstituição o disposto na cláusula nona. § 2º Na hipótese de um ato ser, cumulativamente, de natureza normativa e concessiva, deve-se atender ao disposto nos incisos I e II do caput desta cláusula. § 3º A Secretaria Executiva do CONFAZ responsabiliza-se pela guarda da relação e da documentação comprobatória de que trata o inciso III do § 2º da cláusula primeira e deve certificar o registro e o depósito. E o prazo para atendimento aos requisitos está tratado pela Cláusula Terceira do Convênio: Cláusula terceira - A publicação no Diário Oficial do Estado ou do Distrito Federal da relação com a identificação de todos os atos normativos de que trata o inciso I do caput da cláusula segunda deve ser feita até as seguintes datas: I - 29 de março de 2018, para os atos vigentes em 8 de agosto de 2017; II - 30 de setembro de 2018, para os atos não vigentes em 8 de agosto de 2017. Parágrafo único. O CONFAZ pode, em casos específicos, observado o quórum de maioria simples, autorizar que o cumprimento da exigência prevista no caput desta cláusula seja feita até 28 de dezembro de 2018, devendo o pedido da unidade federada requerente se fazer acompanhar da identificação dos atos normativos objeto da solicitação, na forma do modelo constante no Anexo Único. Fl. 3914DF CARF MF Fl. 10 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 O prazo para registro e depósito, por sua vez, é veiculado pela Cláusula Quarta: Cláusula quarta - O registro e o depósito na Secretaria Executiva do CONFAZ da documentação comprobatória correspondente aos atos concessivos dos benefícios fiscais de que trata o inciso II do caput da cláusula segunda, devem ser feitas até as seguintes datas: I - 29 de junho de 2018, para os atos vigentes na data do registro e do depósito; II - 28 de dezembro de 2018, para os atos não vigentes na data do registro e do depósito. Parágrafo único. O CONFAZ pode, em casos específicos, observado o quórum de maioria simples, autorizar que o cumprimento da exigência prevista no caput desta cláusula seja feita até 28 de dezembro de 2018, devendo o pedido da unidade federada requerente se fazer acompanhar da documentação comprobatória correspondente aos atos concessivos dos benefícios fiscais. Após a publicação dos atos normativos pelo Estado, como prevê o inciso I da Cláusula Segunda, e com o registro dessas normas no CONFAZ, como estabelece o inciso II, a publicação será disponibilizada pelo próprio Portal Nacional da Transparência Tributária no prazo de 30 dias, como determina a Cláusula Quinta: Cláusula quinta - A publicação no Portal Nacional da Transparência Tributária de que trata o inciso II do caput da cláusula segunda deve ser realizada pela Secretaria Executiva do CONFAZ até 30 (trinta) dias após o respectivo registro e depósito. No presente caso, a lei do Estado de Rondônia, em sua origem, não teria deixado claro a intenção de vinculação da subvenção ao investimento efetivo, o que a tornaria questionável quanto ao enquadramento nessa categoria, como se vê do texto abaixo reproduzido: Lei Estadual nº 1.473, de 13 de maio de 2005. Art. 1º. Fica concedido ao contribuinte do ICMS enquadrando no artigo 2º um crédito presumido de até 85% (oitenta e cinco por cento) do valor do imposto devido pela saída interestadual de mercadoria importada do exterior, que efetivamente esteja estabelecida no Estado de Rondônia e cumpra os requisitos exigíveis para a geração de emprego e renda á população.(NR dada pela Lei nº 2389, de 10.01.11- efeitos a partir de 11.01.11) Redação Original: Art. 1º. Fica concedido ao contribuinte do ICMS enquadrado no artigo 2º um crédito presumido de 85% (oitenta e cinco por cento) do valor do imposto devido pela saída interestadual de mercadoria importada do exterior. Art. 2º. A fruição do benefício de que trata esta Lei condiciona-se ao cumprimento das exigências indicadas no artigo 3º, nos termos da legislação tributária, e a que o contribuinte: (NR dada pela Lei nº 2389, de 10.01.11- efeitos a partir de 11.01.11) Redação Original: Art. 2º. A fruição do benefício de que trata esta Lei condiciona-se ao cumprimento das exigências indicadas no artigo 3º e a que o contribuinte: I – realize exclusivamente operações abrangidas por esta Lei, permitidas as saídas internas, não abrangidas pelo benefício e desde que acompanhadas de prévio recolhimento do imposto devido; II – entregue quinzenalmente à Coordenadoria da Receita Estadual arquivo magnético com seus registros fiscais; III – não realize operações com combustíveis líquidos ou gasosos derivados ou não de petróleo; e IV – celebre Termo de Acordo com a Coordenadoria da Receita Estadual comprometendo-se a cumprir os termos desta Lei. Parágrafo único. A opção pelo benefício indicado nesta Lei implica a vedação de aproveitamento de outros créditos relativos à entrada de mercadorias, bens ou serviços, inclusive os concedidos por Lei de Incentivo Fiscal. Fl. 3915DF CARF MF Fl. 11 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 No mesmo sentido o disposto no normativo abaixo: REGIME ESPECIAL Nº 005/2005, de 7 de julho de 2005. Cláusula primeira. Fica concedido à ACORDANTE o crédito presumido de 85% (oitenta e cinco por cento) do valor do imposto devido pela saída interestadual de mercadoria importada do exterior. Cláusula segunda. A fruição do benefício de que trata a Cláusula anterior fica condicionada ao cumprimento das seguintes exigências: I – manutenção da garantia já prestada no montante de 2.000 (duas mil) UPF/RO, pelo prazo de 60 (sessenta) meses, deverá se renovada 30 (trinta) dias antes do seu vencimento, ou ainda complementada quando o débito declarado ultrapassar aquele valor; II – realize exclusivamente operações de entradas por importação e saídas interestaduais das mercadorias importadas, permitidas as saídas internas; III – entregue quinzenalmente à Gerência de Fiscalização – GEFIS da Coordenadoria da Receita Estadual arquivo magnético de seus registros fiscais; IV – não realize operações com combustíveis líquidos ou gasosos derivados ou não de petróleo. Parágrafo único. São permitidas as saídas internas, desde que não abrangidas pelo benefício, devendo ser previamente recolhido o imposto devido. Pode-se entender, contudo, que essa ausência de intenção, inicialmente, expressa teria sido superada pela remissão efetuada a partir do Convênio ICMS nº 190, de 2017, com a comprovação do registro e depósito nele referidos, por parte do ente da Federação concedente da benesse. Todavia, deve-se interpretar a norma por inteiro, consoante a boa técnica de redação e interpretação legislativas, que determina que os parágrafos, por exemplo, são subdivisões do assunto do caput, enquanto os incisos são exemplificações do assunto do parágrafo ou do próprio caput. Analisando mais detidamente a matéria para fins desta relatoria, compreendi que, se, de um lado, o legislador destinou ao ente federado a norma que permite o posterior reconhecimento expresso quanto aos incentivos e benefícios fiscais ou financeiro-fiscais relativos ao ICMS, anteriormente concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal, que devem ser considerados subvenções para investimento, ao inserir os §§ 4º e 5º ao art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, por outro, não afastou a exigência dos requisitos ou condições previstos no mesmo artigo. Assim, além da referida intenção do Estado em estimular a implantação e expansão de empreendimentos, entendo que remanesce a exigência de caráter objetivo de registro em reserva de lucros, para fins de cumprimento dos requisitos do caput do art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, como se vê abaixo em destaque: Art. 30. As subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos e as doações feitas pelo poder público não serão computadas na determinação do lucro real, desde que seja registrada em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei n o 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que somente poderá ser utilizada para: I - absorção de prejuízos, desde que anteriormente já tenham sido totalmente absorvidas as demais Reservas de Lucros, com exceção da Reserva Legal; ou II - aumento do capital social. Fl. 3916DF CARF MF Fl. 12 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Nesse sentido, cabe reproduzir o disposto no art. 195-A da Lei nº 6.404/76, incluído pela Lei nº 11.638, de 2007, e que trata da Reserva de Incentivos Fiscais: Art. 195-A. A assembléia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório (inciso I do caput do art. 202 desta Lei). (Incluído pela Lei nº 11.638,de 2007) Adotando-se a interpretação sistemática, não se pode desconsiderar que a legislação acima encontrava-se plenamente vigente à época dos fatos geradores objeto de autuação (ano-calendário 2010). Ademais, tratando-se de pessoa jurídica sujeita ao Regime Tributário de Transição - RTT, cumpre destacar que o novo Regulamento do Imposto de Renda aprovado pelo Decreto nº 9.580, de 22 de novembro de 2018 (RIR/2018), trouxe as mesmas regras e ainda acrescentou referência expressa à disposição transitória sobre a matéria, assim dispondo: Seção IV Das subvenções para investimento e doações públicas Art. 523. As subvenções para investimento, inclusive por meio de isenção ou de redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou à expansão de empreendimentos econômicos e as doações feitas pelo poder público não serão computadas para fins de determinação do lucro real, desde que sejam registradas na reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei nº 6.404, de 1976 , que somente poderá ser utilizada para (Lei nº 12.973, de 2014, art. 30, caput ): I - absorção de prejuízos, desde que anteriormente as demais reservas de lucros, à exceção da Reserva Legal, já tenham sido totalmente absorvidas; ou II - aumento do capital social. § 1º Na hipótese prevista no inciso I do caput , a pessoa jurídica deverá recompor a reserva à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes (Lei nº 12.973, de 2014, art. 30, § 1º). § 2º As doações e as subvenções de que trata o caput serão tributadas caso não seja observado o disposto no § 1º ou seja dada destinação diversa daquela prevista no caput , inclusive nas hipóteses de (Lei nº 12.973, de 2014, art. 30, § 2º): I - capitalização do valor e posterior restituição de capital aos sócios ou ao titular, por meio da redução do capital social, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou subvenções governamentais para investimentos; II - restituição de capital aos sócios ou ao titular, por meio da redução do capital social, nos cinco anos anteriores à data da doação ou da subvenção, com capitalização posterior do valor da doação ou da subvenção, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitada ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou de subvenções governamentais para investimentos; ou III - integração à base de cálculo dos dividendos obrigatórios. § 3º Se, no período de apuração, a pessoa jurídica apurar prejuízo contábil ou lucro líquido contábil inferior à parcela decorrente de doações e de subvenções governamentais e, nesse caso, não puder ser constituída como parcela de lucros nos termos estabelecidos no caput , esta deverá ocorrer à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes (Lei nº 12.973, de 2014, art. 30, § 3º) . Disposição transitória quanto à pessoa jurídica sujeita ao Regime Tributário de Transição Art. 524. Até 31 de dezembro de 2013, ou 31 de dezembro de 2014, conforme disposto no art. 211, o valor das subvenções para investimento concedidas pelo Poder Público, Fl. 3917DF CARF MF Fl. 13 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 como estímulo à implantação ou à expansão de empreendimentos econômicos por meio de doações, isenções ou reduções de impostos não deve ser computado para fins de determinação do lucro real se a pessoa jurídica sujeita ao RTT, nos termos estabelecidos no art. 213 , observou os procedimentos exigidos à época da concessão (Lei nº 11.941, de 2009, art. 18) . Nesse sentido dispunha o art. 18 da Lei nº 11.941, de 2009, até ser revogado pela Lei nº 12.973, de 2014: Art. 18. Para fins de aplicação do disposto nos arts. 15 a 17 desta Lei às subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos, e às doações, feitas pelo Poder Público, a que se refere o art. 38 do Decreto-Lei no 1.598, de 26 de dezembro de 1977, a pessoa jurídica deverá: (Vide Medida Provisória nº 627, de 2013) (Vigência) (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) I – reconhecer o valor da doação ou subvenção em conta do resultado pelo regime de competência, inclusive com observância das determinações constantes das normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, no uso da competência conferida pelo § 3º do art. 177 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, no caso de companhias abertas e de outras que optem pela sua observância; II – excluir do Livro de Apuração do Lucro Real o valor decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimentos, reconhecido no exercício, para fins de apuração do lucro real; III – manter em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, a parcela decorrente de doações ou subvenções governamentais, apurada até o limite do lucro líquido do exercício; IV – adicionar no Livro de Apuração do Lucro Real, para fins de apuração do lucro real, o valor referido no inciso II do caput deste artigo, no momento em que ele tiver destinação diversa daquela referida no inciso III do caput e no § 3 o deste artigo. § 1 o As doações e subvenções de que trata o caput deste artigo serão tributadas caso seja dada destinação diversa da prevista neste artigo, inclusive nas hipóteses de: I – capitalização do valor e posterior restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou subvenções governamentais para investimentos; II – restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, nos 5 (cinco) anos anteriores à data da doação ou da subvenção, com posterior capitalização do valor da doação ou da subvenção, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou de subvenções governamentais para investimentos; ou III – integração à base de cálculo dos dividendos obrigatórios. § 2 o O disposto neste artigo terá aplicação vinculada à vigência dos incentivos de que trata o § 2º do art. 38 do Decreto-Lei no 1.598, de 26 de dezembro de 1977, não se lhe aplicando o caráter de transitoriedade previsto no § 1 o do art. 15 desta Lei. § 3 o Se, no período base em que ocorrer a exclusão referida no inciso II do caput deste artigo, a pessoa jurídica apurar prejuízo contábil ou lucro líquido contábil inferior à parcela decorrente de doações e subvenções governamentais, e neste caso não puder ser constituída como parcela de lucros nos termos do inciso III do caput deste artigo, esta deverá ocorrer nos exercícios subsequentes. (grifou-se) No presente caso, consoante o Relatório Fiscal (e-fls.67-92), o contribuinte esclareceu que procedeu aos registros em atendimento à Lei 11.638/2007 que padronizou a contabilidade com as Normas Internacionais, os valores das Subvenções e Doações Governamentais foram contabilizados em OUTRAS RECEITAS e transitaram no resultado do Fl. 3918DF CARF MF Fl. 14 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 exercício. E, em atendimento a Lei 11.941/2009, que instituiu o RTT (Regime de Transição Tributário) que em seus artigos 15 ao 18 determinou a exclusão dos valores recebidos a título de Subvenções e Doações Governamentais do Livro de Apuração do Lucro Real. Assim, em princípio, estariam atendidos os incisos I e II do art. 18 acima referidos. Todavia, não há nos autos comprovação da manutenção em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, a parcela decorrente de doações ou subvenções governamentais, apurada até o limite do lucro líquido do exercício, consoante previsto no inciso III do art. 18 da Lei nº 11.941, de 2009. Veja-se que a própria Lei Complementar nº 160, de 2017, prevê a sua aplicação aos processos em curso. Todavia, deve-se buscar assegurar a aplicação regular das disposições dessa lei complementar e do Convênio ICMS acima citados, sem se olvidar de que a comprovação do cumprimento dos requisitos legais é ônus do interessado. Nesse caso, além de não restar comprovado nos autos – até o presente momento – o cumprimento do art. 3º, incisos I e II, da Lei Complementar nº 160, de 2017, não existe comprovação da constituição e manutenção da reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, nos termos do art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, o que já era previsto no inciso III do art. 18 da Lei nº 11.941, de 2009. Assim, considerando que não consta dos autos a completa demonstração do atendimento aos requisitos previstos na legislação retro mencionada, faz-se necessário, por cautela, permitir que as partes se manifestem para que se possa apreciar, em sua inteireza, o panorama traçado pela Lei Complementar nº 160/2017 e pelo Convênio ICMS nº 190/2017. Nesse sentido, entendo que se faz necessária a conversão do julgamento em diligência para que a autoridade fiscal: a) intime o contribuinte a comprovar o cumprimento dos requisitos previstos no art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, caput e §§4º e 5º, o que inclui a demonstração do registro em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei n o 6.4047/76, assim como dos requisitos previstos nas Cláusulas 2ª, 3ª e 4ª do Convênio ICMS nº 190/2017; b) elabore relatório conclusivo sobre a diligência; c) devolva o processo ao CARF para que seja dada ciência à PFN com possibilidade de manifestação nos autos e, após, o prosseguimento do julgamento. Todavia, essa proposta restou vencida na sessão de julgamento. Assim, vencida na proposta de conversão do julgamento em diligência, passo ao exame do mérito. Mérito Em razão de todo o exposto, na ausência dos elementos que demonstrem o atendimento à legislação pertinente ao caso, entendo que não há como dar provimento ao recurso do contribuinte. Se o contribuinte interessado sustenta que a subvenção de que trata os autos teria caráter de subvenção para investimento de forma a contestar a autuação fiscal, cumpre a ele demonstrar, no mínimo, que ele próprio deu o tratamento contábil e fiscal de subvenção para investimento, ainda que o ente federado somente tenha reconhecido isso expressamente a partir do Convênio nº 160/2017. Fl. 3919DF CARF MF Fl. 15 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Nesse sentido, a comprovação de que esse tratamento era dado ocorre a partir do registro da subvenção recebida em conta de reserva de lucros prevista no art. 195-A da Lei nº 9.430/96, consoante o disposto no art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014: Art. 30. As subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos e as doações feitas pelo poder público não serão computadas na determinação do lucro real, desde que seja registrada em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei n o 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que somente poderá ser utilizada para: Destaca-se que, no caso de pessoa jurídica sujeita ao Regime Tributário de Transição (RTT), o art. 18 da Lei nº 11.941, de 2009, até ser revogado pela Lei nº 12.973, de 2014, já determinava a manutenção em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, a parcela decorrente de doações ou subvenções governamentais, apurada até o limite do lucro líquido do exercício (inciso III). Nesse caso, além de não restar comprovado nos autos o cumprimento do art. 3º, incisos I e II, da Lei Complementar nº 160, de 2017, não existe comprovação da constituição e manutenção da reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei nº 6.404/76, nos termos do art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, o que era previsto no inciso III do art. 18 da Lei nº 11.941, de 2009, para pessoa jurídica sujeita ao Regime Tributário de Transição (RTT). Registro que, por maioria de votos, foi negado provimento ao recurso, e que a maioria dos conselheiros acompanhou a relatora pelas conclusões. Os conselheiros que acompanharam pela conclusões compreenderam, em síntese, que o caput do art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, dispôs sobre o conceito das subvenções para investimentos, que se constituem em transferências de recursos dos entes subvencionantes que são concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos. Assim, deve restar demonstrada, na legislação elaborada pelo ente subvencionante, de forma objetiva, que os recursos decorrentes das subvenções devam ser destinados para estimular a implantação de empreendimentos econômicos, ou expandir empreendimentos econômicos, com parâmetros específicos dispondo sobre a implantação ou expansão do investimento. E, no caso dos autos, não há nenhuma menção na legislação estadual estabelecendo diretrizes para implantar ou expandir os empreendimentos econômicos (trazendo metas a serem cumpridas como prazo para instalação ou ampliação da empresa, evolução do faturamento, da produção, do número de empregos, por exemplo), razão pela qual não podem ser considerados como subvenções para investimentos. Conclusão Ante o exposto, conheço do recurso apresentado pelo contribuinte e, no mérito, nego provimento. (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner Fl. 3920DF CARF MF Fl. 16 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Voto Vencedor Conselheira Cristiane Silva Costa - Redatora designada Apresento o presente voto vencedor para esclarecer as razões pelas quais divergi da D. Relatora quanto à conversão em diligência. Com efeito, a Ilustre Relatora manifestou-se pela diligência nos seguintes termos: Nesse sentido, entendo que se faz necessária a conversão do julgamento em diligência para que a autoridade fiscal: a) intime o contribuinte a comprovar o cumprimento dos requisitos previstos no art. 30 da Lei nº 12.973, de 2014, caput e §§4º e 5º, o que inclui a demonstração do registro em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei no 6.4047/76, assim como dos requisitos previstos nas Cláusulas 2ª, 3ª e 4ª do Convênio ICMS nº 190/2017; b) elabore relatório conclusivo sobre a diligência; c) devolva o processo ao CARF para que seja dada ciência à PFN com possibilidade de manifestação nos autos e, após, o prosseguimento do julgamento. Ocorre que é dispensável a diligência nos presentes autos, tanto porque o Auto de Infração (e Relatório que o acompanha) não questionou o registro em reserva de lucros, a despeito de já viger – ao tempo da lavratura do lançamento – a atual redação do artigo 195-A, da Lei nº 6.404/1964. Com efeito, a exigência de registro em reserva de lucros – da subvenção para investimento – foi estabelecida pela Lei nº 11.638/2007, alterando a Lei nº 6.404/1964, verbis: Art. 195-A. A assembléia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para a reserva de incentivos fiscais a parcela do lucro líquido decorrente de doações ou subvenções governamentais para investimentos, que poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório (inciso I do caput do art. 202 desta Lei). (Incluído pela Lei nº 11.638,de 2007) A Lei nº 12.973/2014, fruto da Conversão da Medida Provisória nº 627/2013, reproduziu a exigência de registro em reserva de lucros, verbis: Art. 30. As subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos e as doações feitas pelo poder público não serão computadas na determinação do lucro real, desde que seja registrada em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que somente poderá ser utilizada para: I - absorção de prejuízos, desde que anteriormente já tenham sido totalmente absorvidas as demais Reservas de Lucros, com exceção da Reserva Legal; ou II - aumento do capital social. § 1º Na hipótese do inciso I do caput, a pessoa jurídica deverá recompor a reserva à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes. § 2º As doações e subvenções de que trata o caput serão tributadas caso não seja observado o disposto no § 1º ou seja dada destinação diversa da que está prevista no caput, inclusive nas hipóteses de: I - capitalização do valor e posterior restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou subvenções governamentais para investimentos; Fl. 3921DF CARF MF http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11638.htm#art2 Fl. 17 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 II - restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, nos 5 (cinco) anos anteriores à data da doação ou da subvenção, com posterior capitalização do valor da doação ou da subvenção, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitada ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou de subvenções governamentais para investimentos; ou III - integração à base de cálculo dos dividendos obrigatórios. § 3º Se, no período de apuração, a pessoa jurídica apurar prejuízo contábil ou lucro líquido contábil inferior à parcela decorrente de doações e de subvenções governamentais e, nesse caso, não puder ser constituída como parcela de lucros nos termos do caput, esta deverá ocorrer à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes. O lançamento tributário foi lavrado em 23/06/2014, sem que conste qualquer referência à eventual ausência de registro na forma do artigo 195-A, da Lei nº 6.404/1964 ou ao artigo 29, da Medida Provisória nº 627/2013, convertida na Lei nº 12.973/2014. Extrai-se trecho do Relatório fiscal, justificando a autuação: Contatou-se nos documentos que serviram de comprovação dos regimes especiais concedidos pelo Governo do Estado de Rondônia que as exigências e propósitos dos acordos não possuem a qualificação necessária para o perfeito enquadramento como subvenção para investimentos. Em nenhum momento houve a menção aos propósitos necessários que caracterizam tal subvenção para investimentos como bem explanado no PN CST nº 112/78 acima transcrito, como aplicação específica em bens ou direitos para implantação ou expansão de empreendimentos econômicos. (...) Assim, percebe-se dos documentos supracitados que o benefício fiscal concedido se trata apenas de concessão de crédito presumido em função da manutenção da atividade da empresa estabelecida no Estado de Rondônia, com a condição de promover a saída interestadual de mercadoria importada do exterior. Porém, tal condição é insuficiente para enquadrar o benefício como subvenção para investimentos como exposto no PN CST nº 112, de 29 de dezembro de 1978. Assim, é vedada a alteração do critério jurídico da autuação fiscal, como assegura o artigo 146, do Código Tributário Nacional. Art. 146. A modificação introduzida, de ofício ou em conseqüência de decisão administrativa ou judicial, nos critérios jurídicos adotados pela autoridade administrativa no exercício do lançamento somente pode ser efetivada, em relação a um mesmo sujeito passivo, quanto a fato gerador ocorrido posteriormente à sua introdução. Portanto, é desnecessária a baixa para comprovação do registro em reserva de lucros, na medida em que não constitui fundamento do auto de infração e não poderia – neste momento processual – ser avaliado se há registro em reserva de lucros. Ademais, revela-se desnecessário o sobrestamento para análise do cumprimento de condições das Cláusulas 2ª, 3ª e 4ª do Convênio ICMS 190/2017, eis que é possível a conferência dos dados no site do CONFAZ quanto aos benefícios já depositados e registrados (https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/certificado-registro-deposito-cv-icms-190-17-1). Acrescento que o caso dos autos trata de benefício regulado pela Lei Estadual de Rondônia nº 1.473/2005, que, aparentemente foi expressamente legitimado pelo Decreto Estadual nº 22.699/2018, disponível no diário oficial do Estado (http://www.coad.com.br/) Ademais, este benefício foi devidamente depositado e registrado perante o CONFAZ, como se verifica pelo acesso ao sítio (https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/certificado-registro-deposito-cv-icms-190-17- 1/rondonia/2018-1/sei_mf-0952884-certificado-de-registro-e-deposito-34-18.pdf) Fl. 3922DF CARF MF https://www.confaz.fazenda.gov.br/legislacao/certificado-registro-deposito-cv-icms-190-17-1 Fl. 18 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 O Secretário Executivo do CONFAZ, no uso de suas atribuições prevista no art. 5º, incisos I, II, e XIV do Regimento do Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ, aprovado pelo Convênio ICMS 133/97, de 02 de janeiro de 1998; bem como no inciso II do art. 3º da Portaria nº 525, de 7 de dezembro de 2017, que aprovou o regimento interno da Secretaria Executiva do CONFAZ, para os fins do disposto na Lei Complementar nº 160, de 07 de agosto de 2017, e nos termos do §3º da cláusula segunda do Convênio ICMS 190/17, de 15 de dezembro de 017, torna público e CERTIFICA o seguinte: Que o ESTADO DE RONDÔNIA , representado pelo seu Secretário de Fazenda Franco Maegaki Ono, efetuou o depósito nesta Secretaria Executiva do CONFAZ, nos termos do inciso II da cláusula segunda do Convênio ICMS 190/17, das PLANILHAS DOS ATOS NORMATIVOS E DOS ATOS CONCESSIVOS DOS BENEFÍCIOS FISCAIS E DA CORRESPONDENTE DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA, cuja relação dos atos normativos foi publicada no Diário Oficial do Estado de Rondônia, por meio do Decreto nº 22.699, de 26 de março de 2018, no dia 26 de março de 2018. O depósito foi efetuado no dia 28 de junho de 2018 por meio do Ofício nº 041/2018/GAB/CRE/SEFIN041/2018/GAB/CRE/SEFIN acompanhado de mídia física (pendrive) na forma do Despacho nº 96/18, de 25 de julho de 2018. (...) O depósito efetuado foi registrado sob nº 34/2018. Assim, desnecessária a conversão em diligência para converência do cumprimento dos requisitos das Cláusulas do Convênio ICMS 190/2017. Por tais razões, voto por negar a conversão em diligência. (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Declaração de Voto Conselheira Cristiane Silva Costa Apresento a presente declaração de voto para justificar as razões pelas quais acompanhei a D. Relatora pelas conclusões, para negar provimento ao recurso do contribuinte. Em julgamentos precedentes, pronunciei-se a respeito da aplicação da Lei Complementar nº 160/2017 aos processos administrativos pendentes, para que se considerem subvenções para investimento os benefícios concedidos pelos Estados e Distrito Federal, na forma do artigo 155, II, da Constituição Federal, sem a exigência de requisitos não previstos no próprio artigo 30 (v.g. acórdão 9101-004.108). Ocorre que no caso dos autos não restou comprovado o cumprimento de um dos requisitos previstos pelo artigo 30, da Lei nº 12.973/2014. Com efeito, o artigo 30 restou assim expresso em sua integralidade, com as alterações veiculadas pela Lei Complementar nº 160/2017: Fl. 3923DF CARF MF Fl. 19 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Art. 30. As subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos e as doações feitas pelo poder público não serão computadas na determinação do lucro real, desde que seja registrada em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que somente poderá ser utilizada para: I - absorção de prejuízos, desde que anteriormente já tenham sido totalmente absorvidas as demais Reservas de Lucros, com exceção da Reserva Legal; ou II - aumento do capital social. § 1º Na hipótese do inciso I do caput, a pessoa jurídica deverá recompor a reserva à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes. § 2º As doações e subvenções de que trata o caput serão tributadas caso não seja observado o disposto no § 1º ou seja dada destinação diversa da que está prevista no caput, inclusive nas hipóteses de: I - capitalização do valor e posterior restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitado ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou subvenções governamentais para investimentos; II - restituição de capital aos sócios ou ao titular, mediante redução do capital social, nos 5 (cinco) anos anteriores à data da doação ou da subvenção, com posterior capitalização do valor da doação ou da subvenção, hipótese em que a base para a incidência será o valor restituído, limitada ao valor total das exclusões decorrentes de doações ou de subvenções governamentais para investimentos; ou III - integração à base de cálculo dos dividendos obrigatórios. § 3º Se, no período de apuração, a pessoa jurídica apurar prejuízo contábil ou lucro líquido contábil inferior à parcela decorrente de doações e de subvenções governamentais e, nesse caso, não puder ser constituída como parcela de lucros nos termos do caput, esta deverá ocorrer à medida que forem apurados lucros nos períodos subsequentes. § 4 º Os incentivos e os benefícios fiscais ou financeiro-fiscais relativos ao imposto previsto no inciso II do caput do art. 155 da Constituição Federal, concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal, são considerados subvenções para investimento, vedada a exigência de outros requisitos ou condições não previstos neste artigo. (Incluído pela Lei Complementar nº 160, de 2017) § 5 º O disposto no § 4º deste artigo aplica-se inclusive aos processos administrativos e judiciais ainda não definitivamente julgados. (Incluído pela Lei Complementar nº 160, de 2017) A despeito da aplicação aos processos pendentes, remanesce a exigência de cumprimento dos requisitos do caput do artigo 30, quais sejam: (i) intenção do Estado da em estimular a implantação e expansão de empreendimentos (ii) registro em reserva de lucros. O lançamento tributário que originou o presente processo administrativo não trata do registro em reserva de lucros, sendo vedado ao julgador administrativo modificar o critério jurídico do lançamento, nos termos do artigo 146, do Código Tributário Nacional. Não obstante isso, consta expressamente do Relatório Fiscal que acompanha o Auto de Infração que o benefício concedido à contribuinte não revela a intenção do Estado da em estimular a implantação e expansão de empreendimentos, mas apenas de manutenção da atividade da empresa: Além disso, a Lei Estadual nº 1.473, de 13 de maio de 2005, que dá amparo ao regime especial supracitado, em sua redação original que vigorava no AC 2010, também não Fl. 3924DF CARF MF Fl. 20 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 estabelece condições necessárias para caracterizar tal incentivo como subvenção para investimentos, tal qual disposto no PN CST nº 112/78. (...) Com a redação atual, em vigor a partir de 11 de janeiro de 2011, a Lei nº 1.473, acima transcrita, em seu Art 1º prevê a concessão do benefício ao contribuinte do ICMS que efetivamente esteja estabelecida no Estado de Rondônia e cumpra os requisitos exigíveis para a geração de emprego e renda à população. Ora, tais requisitos de geração de emprego e renda não são condição suficiente para caracterização do benefício fiscal concedido como subvenção para investimentos, sob pena de todo e qualquer benefício ser caracterizado como subvenção para investimentos. Do mesmo modo, com relação ao Termo de Acordo para Concessão de Regime Especial nº 327/10, firmado em 29 de dezembro de 2010, este prevê a concessão de crédito presumido do ICMS em função das saídas de peças, acessórios e pneus de bicicletas e de peças e acessórios de motocicletas enquanto a Ciclo Cairu LTDA (Acordante) mantiver suas atividades como comércio atacadista de peças, acessórios para motocicletas e bicicletas, inclusive pneus para esse último veículo, estabelecido no Estado de Rondônia. Segue abaixo a transcrição de partes do referido Termo de Acordo. (...) Assim, percebe-se dos documentos supracitados que o benefício fiscal concedido se trata apenas de concessão de crédito presumido em função da manutenção da atividade da empresa estabelecida no Estado de Rondônia, com a condição de promover a saída interestadual de mercadoria importada do exterior. Porém, tal condição é insuficiente para enquadrar o benefício como subvenção para investimentos como exposto no PN CST nº 112, de 29 de dezembro de 1978. A análise dos atos concessórios constantes dos autos confirma o acerto do lançamento tributário nesse ponto, não se comprovando a intenção de estímulo à implantação e expansão de empreendimentos, como exige o artigo 30, caput, da Lei nº 12.973/2014 Diante disso, nego provimento ao recurso do contribuinte, adotando as razões acima expostas. (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Declaração de voto Conselheira Livia De Carli Germano Optei por apresentar a presente declaração de voto a fim de esclarecer as razões pelas quais, no mérito, divergi da Relatora, especificamente quanto aos requisitos para que valores relativos a créditos presumidos de ICMS sejam tratados, para fins fiscais, como subvenção para investimento. Fl. 3925DF CARF MF Fl. 21 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 É que, no caso, compreendo que os créditos presumidos de ICMS não são, a rigor, subvenções, daí porque sequer cabe a discussão sobre classificar o benefício fiscal como subvenção para investimento ou para custeio, para efeito de definir a tributação. Isso porque compreendo o crédito presumido de ICMS como uma renúncia de receita estatal -- a qual, exclusivamente para fins de registro contábil, recebe o mesmo tratamento de subvenção para investimento, nos termos do artigo 443 do RIR/99 (§ 2º do art. 38 do Decreto-Lei 1.598/1977) e artigo 18 da Lei 11.941/2009. Dito de outra forma, o benefício é tratado, pela legislação acima citada, como subvenção, mas isso não significa dizer que ele é subvenção, no sentido estrito do termo. Por analogia, é o mesmo que dizer que, para determinados fins, o morango será tratado como -- e fato costuma ser tratado como -- uma fruta, mas tal tratamento não muda a sua natureza (que é de flor 1 ). Para que algo possa ser considerado subvenção, é necessário que haja uma efetiva transferência de recursos, o que em regra não ocorre com incentivos fiscais tais como o crédito presumido de ICMS. É neste sentido que Bulhões Pedreira conceitua as subvenções para custeio como “transferências de renda” e as subvenções para investimento como “transferências de capital” (BULHÕES PEDREIRA, José Luiz. “Imposto sobre a Renda – Pessoas Jurídicas”, Vol. I, Rio de Janeiro: Justec, 1979, pág. 551 e Vol II p. 685). Ambas pressupondo a necessária "transferência", portanto. Também nessa linha, o Parecer Normativo CST 112/1979, tanto ao conceituar subvenção para custeio quanto para investimento, faz menção à transferência de recursos, veja-se (grifamos): "(...) SUBVENÇÃO PARA CUSTEIO ou SUBVENÇÃO PARA OPERAÇÃO são expressões sinônimas. SUBVENÇÃO PARA CUSTEIO é a transferência de recursos para uma pessoa jurídica com a finalidade de auxiliá-la a fazer face ao seu conjunto de despesas. SUBVENÇÃO PARA OPERAÇÃO é a transferência de recursos para uma pessoa jurídica com a finalidade de auxiliá-la nas suas operações, ou seja, na consecução de seus objetivos sociais." "(...) SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO é a transferência de recursos para uma pessoa jurídica com a finalidade de auxiliá-la, não nas suas despesas, mais sim, na aplicação específica em bens ou direitos para implantar ou expandir empreendimentos econômicos. Essa concepção está inteiramente de acordo com o próprio § 2º do art. 38. do D. L. 1.598/77. 2.12 - Observa-se que a SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO apresenta características bem marcantes, exigindo até mesmo perfeita sincronia da intenção do subvencionador com a ação do subvencionado. Não basta apenas o "animus" de subvencionar para investimento. Impõe-se, também, a efetiva e específica aplicação da subvenção, por parte do beneficiário, nos investimentos previstos na implantação ou expansão do empreendimento econômico projetado. Por outro lado, a simples aplicação dos recursos decorrentes da subvenção em investimentos não autoriza a sua classificação como SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO." Ressalte-se que este mesmo diploma, ao tratar especificamente das isenções e reduções de impostos, já esclarece que, "Tecnicamente, na linguagem orçamentária, a isenção ou redução de impostos jamais poderiam ser intituladas de subvenção.". E, mais adiante, ressalta: "o auxílio obtido pelo comprador com a isenção, evidenciado pelo não desembolso 1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Morango, acesso em 11 de abril de 2019. Fl. 3926DF CARF MF Fl. 22 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 financeiro, integra o giro do negócio e dele dispõe o beneficiário como lhe aprouver. A rigor, sequer são SUBVENÇÕES as isenções desse tipo, representado efetivamente uma redução no custo do bem adquirido" (grifamos). O PN CST 112/1979 continua, ressaltando que, em alguns casos específicos, a redução ou isenção de impostos pode ser enquadrada como subvenção para investimento. Cita então alguns exemplos -- todos eles, destaque-se, envolvendo a efetiva transferência de recursos ao beneficiário -- valendo destacar o seguinte: "Há, também, uma modalidade de redução do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias (ICM), utilizada por vários Estados da Federação como incentivo fiscal, que preenche todos os requisitos para ser considerada como SUBVENÇÃO PARA INVESTIMENTO. A mecânica do benefício fiscal consiste no depósito, em conta vinculada, de parte do ICM devido em cada mês. Os depósitos mensais, obedecidas as condições estabelecidas, retornam à empresa para serem aplicados na implantação ou expansão de empreendimento econômico." (grifamos) O próprio PN CST 112/1979 alerta para o risco das generalizações e para a importância do exame específico do benefício: "É oportuna a advertência para o risco de generalizar as conclusões do item anterior para todos os casos de retorno do ICM. O contribuinte deverá ter cuidado de examinar caso por caso e verificar se estão presentes, todos os requisitos exigidos. Um retorno de ICM, por exemplo, como prêmio ao incremento das vendas, em relação às de período anterior, acima de determinado percentual, não será uma subvenção para investimento." Daí a conclusão deste diploma de que "As ISENÇÕES ou REDUÇÕES de impostos só se classificam como subvenções para investimento, se presentes todas as características (...)". Percebe-se que o PN CST 112/1979 é claro em conceituar as subvenções como "transferência de recursos", bem como em afirmar que a rigor, isenções e reduções de tributos não são subvenções, não obstante possam ser tratadas como subvenções, se e quando se revestirem das características destas. Ora, se é verdade que, estando presentes as características das subvenções para investimento2, a isenção ou redução de impostos poderá ser considerada como tal, isso não autoriza concluir que, quando não estão presentes tais características, o benefício será considerado subvenção para custeio. Como visto, existe a terceira via, que é a hipótese de não se tratar de uma subvenção, sendo que é isso o que ocorre, por exemplo, quando o beneficiário não recebe diretamente quaisquer recursos do poder público -- o que, por sua vez, é o caso, em regra, do crédito presumido de ICMS. A distinção é importante sobretudo em termos orçamentários porque, nos termos da Lei 4.320/1964, a transferência de recursos está na esfera da despesa pública, de forma que depende de dotação orçamentária. O crédito presumido de ICMS, por outro lado, não importa transferência de recursos, tratando-se de benefício fiscal que não exige dotação orçamentária e que é caracterizado como renúncia de receita por parte do governo, nos exatos termos do artigo 14, §1o da Lei de Responsabilidade Fiscal - LC 101/2000 (grifamos): 2 Quais sejam: (i) intenção do subvencionador de destiná-las para investimentos; (ii) efetiva e específica aplicação da subvenção, pelo beneficiário, nos investimentos previstos na implantação ou expansão do empreendimento econômico projetado; e (iii) o beneficiário da subvenção ser a pessoa jurídica titular do empreendimento econômico. Fl. 3927DF CARF MF Fl. 23 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições: (...) §1o A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que correspondam a tratamento diferenciado. Vemos, portanto, que em linguagem orçamentária as subvenções não se confundem com o crédito presumido de ICMS, sendo este uma forma de renúncia de receita que independe de dotação orçamentária, ao contrário das primeiras, que são despesas públicas caracterizadas pelas transferência de recursos. Acontece que a legislação tributária tratou de forma equivalente, inclusive no mesmo dispositivo legal, tanto as subvenções para investimento em sentido estrito (i.e., transferências de recursos por parte do poder público revestidas das características mencionadas no PN CST 112/1979) quanto as renúncias de receita concedidas sob a forma de reduções e isenções de tributos e, ainda, as doações feitas pelo poder público. De fato, o artigo 443 do RIR/99 (§ 2º do art. 38 do Decreto-Lei 1.598/1977) denominou tanto as primeiras quanto as últimas de "subvenções" -- seriam, no caso, subvenções em sentido amplo, isto é, não técnico. Veja-se (grifamos): Art. 443. Não serão computadas na determinação do lucro real as subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos, e as doações, feitas pelo Poder Público, desde que (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 38, § 2º, e Decreto-Lei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso VIII): I - registradas como reserva de capital que somente poderá ser utilizada para absorver prejuízos ou ser incorporada ao capital social, observado o disposto no art. 545 e seus parágrafos; ou II - feitas em cumprimento de obrigação de garantir a exatidão do balanço do contribuinte e utilizadas para absorver superveniências passivas ou insuficiências ativas. Mas o fato de o art. 443 do RIR/99 ter dado o mesmo tratamento tributário, e ter denominado como "subvenção para investimento", tanto as subvenções em sentido estrito (i.e., transferências de recursos por parte do poder público revestidas das características das subvenções para investimento mencionadas no PN CST 112/1979) quanto recursos que não são tecnicamente subvenções (i.e., as renúncias de receitas via reduções e isenções e tributos) não faz com que estes últimos, apenas por tal razão, passem a ter a natureza de subvenções -- assim como o fato de o morango ser vendido na banca de frutas e não na floricultura não faz dele, biologicamente, uma fruta. Por tal motivo, no caso de isenções e reduções de tributos (assim como no caso de doações efetuadas pelo Poder Público), o tratamento tributário previsto no artigo 443 do RIR/99 é aplicável independentemente do preenchimento das condições previstas no PN CST 112/1979 - - eis que estas são aplicáveis exclusivamente às subvenções stricto sensu, ou seja, às transferências de recursos por parte do poder público (despesa pública). Pretender o contrário poderia resultar em impor condição impossível ao contribuinte, eis que, em não havendo a transferência de valores por parte do poder público, o Fl. 3928DF CARF MF Fl. 24 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 beneficiário do incentivo sequer recebe recursos subvencionados passíveis de serem assim aplicados. Vale notar que, de acordo com as regras contábeis em vigor antes das modificações promovidas pela adoção dos padrões contábeis internacionais, a subvenção para investimento e as reduções e isenções de tributos (ou seja, as "subvenções em sentido amplo", ou não-técnico, nos termos do art. 443 do RIR/99) podiam ser contabilizadas de duas maneiras: a contrapartida do aumento do ativo ou redução do passivo podia ser registrada como (i) receita, ou (ii) reserva de capital. No entanto, com as modificações providas pela Lei nº 11.638/2007 no artigo 182 da Lei nº 6.404/1976, a possibilidade de se contabilizar esse valor em conta de reserva de capital deixou de existir, fazendo com que o referido montante passasse a ser contabilizado apenas contra resultado. Porém, objetivando a manutenção do tratamento tributário anteriormente dispensado aos valores que eram contabilizados como reserva de capital, o artigo 18 da Lei nº 11.941/2009 estabeleceu que, após a apuração do lucro, os valores correspondentes às subvenções para investimento e às reduções e isenções de tributos seriam destinados à conta de reserva de incentivos fiscais, até o limite do lucro líquido do exercício. Logo, mesmo após a extinção da possibilidade de se registrar a subvenção para investimento e as reduções e isenções de tributos em contrapartida de uma conta patrimonial (reserva de capital), ainda assim esses valores não deveriam compor a base tributária do IRPJ e da CSLL, em conformidade com o supracitado artigo 18. E foi nesse contexto que, anos depois, foi editado o artigo 30 da Lei nº 12.973/2014, com o seguinte teor (grifamos): Art. 30. As subvenções para investimento, inclusive mediante isenção ou redução de impostos, concedidas como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos e as doações feitas pelo poder público não serão computadas na determinação do lucro real, desde que seja registrada em reserva de lucros a que se refere o art. 195-A da Lei n o 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que somente poderá ser utilizada para: I - absorção de prejuízos, desde que anteriormente já tenham sido totalmente absorvidas as demais Reservas de Lucros, com exceção da Reserva Legal; ou II - aumento do capital social. (...) § 4º Os incentivos e os benefícios fiscais ou financeiro-fiscais relativos ao imposto previsto no inciso II do caput do art. 155 da Constituição Federal , concedidos pelos Estados e pelo Distrito Federal, são considerados subvenções para investimento, vedada a exigência de outros requisitos ou condições não previstos neste artigo. (Incluído pela Lei Complementar nº 160, de 2017) De se notar que a Lei 12.973/2014 é resultado da conversão da MP 627/2003, e a exposição de motivos desta norma esclarece que o dispositivo que acabou sendo publicado como artigo 30 (ali referido como artigo 29) não teve a pretensão de trazer qualquer novidade, sendo apenas a manutenção de um tratamento tributário que já se aplicava -- ou pelo menos já deveria ser aplicável -- aos valores que cumprissem o requisito (único) de serem rastreáveis por meio da manutenção em reserva de lucros específica. In verbis (grifamos): 40. O art. 29 mantém o tratamento tributário previsto anteriormente, isentando do IRPJ as importâncias relativas a subvenções para investimento e doações recebidas Fl. 3929DF CARF MF Fl. 25 do Acórdão n.º 9101-004.196 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10242.720216/2014-18 do Poder Público, desde que tais valores sejam mantidos em conta de reserva de lucros específica, ainda que tenham transitado pelo resultado da empresa. Não por acaso, o caput do artigo 30 da Lei nº 12.973/2014 tem em sua hipótese normativa o mesmo texto do artigo 443 do RIR/99 (§2º do art. 38 do Decreto-Lei 1.598/1977), tratando portanto das (i) subvenções para investimento (em sentido amplo, não-técnico) e das (ii) doações feitas pelo poder público. Traz, então, em seu consequente normativo, o dever (único) de registro dos valores em reserva de lucros específica. Nesse contexto, o §4º do artigo 30 da Lei nº 12.973/2014 vem, em uma relação de genérico/específico com o caput, esclarecer que os incentivos fiscais de ICMS devem receber o mesmo tratamento tributário das subvenções para investimento previstas no caput (que, como vimos, se refere às subvenções em sentido amplo, não técnico), "vedada a exigência de outros requisitos ou condições não previstos neste artigo", ou seja, sendo irrelevantes, para tal fim, o exame específico da legislação do Estado, a verificação de uma suposta vinculação no caso concreto entre os recursos e os projetos, assim como o atendimento de quaisquer outras condições que não o dever-ser único previsto no caput, que é o registro em reserva de lucros. Assim, buscando uma síntese de todo o exposto, compreendo, com a devida vênia aos posicionamentos em sentido diverso, que o crédito presumido de ICMS consiste em renúncia de receita estatal que apenas pode ser considerada subvenção para investimento na acepção ampla (não técnica) deste termo, de acordo com art. 443, I, do RIR/99 (§ 2º do art. 38 do Decreto-Lei 1.598/1977) e artigo 30 da Lei nº 12.973/2014. Por isso, para o crédito presumido de ICMS não se exige a vinculação, isto é, aplicação direta e exclusiva dos recursos a projetos determinados, eis que tal requisito é aplicável apenas às subvenções para investimento em sentido estrito (isto é, às transferências de recursos por parte do Poder Público, despesa pública). Nesse contexto, é suficiente, para a não tributação pelo IRPJ e CSLL dos valores relativos a crédito presumido de ICMS, o respectivo controle e registro em reserva de lucros nos termos do artigo 443 do RIR/99 (§ 2º do art. 38 do Decreto-Lei 1.598/1977) e, mais recentemente, artigo 30 da Lei nº 12.973/2014. Daí porque, no caso, acompanhei a Relatora quanto à preliminar de conversão em diligência para, em homenagem à verdade material, ser verificado, dentre outros dados, como foi realizado o registro de tais valores pelo contribuinte. Não obstante, superada tal preliminar e sendo o colegiado instado a julgar o mérito, compreendo que trata-se de informação que deveria constar dos autos como base para a autuação, sendo, assim, matéria da acusação e não ônus exclusivo da defesa. Desse modo, se a conclusão é de que não há provas da forma como o contribuinte registrou os valores, a acusação é que não foi devidamente instruída, sendo o caso de cancelamento do auto de infração. Estas são, assim, as razões do meu voto no presente caso. (assinado digitalmente) Livia De Carli Germano Fl. 3930DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10805.720241/2006-61
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue May 07 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Fri Jun 14 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Exercício: 2002
COMPENSAÇÃO. SALDO NEGATIVO. IRRF. AUSÊNCIA DE INFORME DE RENDIMENTO. EXISTÊNCIA DE OUTRAS FORMAS DE COMPROVAÇÃO.
Na situação em que a fonte pagadora não fornece o comprovante anual de retenção, a respectiva prova pode ser feita por outros meios, como registros contábeis do beneficiário e respectivos documentos e declarações fiscais.
Numero da decisão: 9101-004.146
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento. Acompanharam pelas conclusões os conselheiros Viviane Vidal Wagner e Nelso Kichel (suplente convocado).
(assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araújo Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Luis Fabiano Alves Penteado - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Demetrius Nichele Macei, Nelso Kichel (suplente convocado), Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Rafael Vidal de Araújo (Presidente em Exercício).
Nome do relator: LUIS FABIANO ALVES PENTEADO
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SALDO NEGATIVO. IRRF. AUSÊNCIA DE INFORME DE RENDIMENTO. EXISTÊNCIA DE OUTRAS FORMAS DE COMPROVAÇÃO. Na situação em que a fonte pagadora não fornece o comprovante anual de retenção, a respectiva prova pode ser feita por outros meios, como registros contábeis do beneficiário e respectivos documentos e declarações fiscais. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. Acompanharam pelas conclusões os conselheiros Viviane Vidal Wagner e Nelso Kichel (suplente convocado). (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo – Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Luis Fabiano Alves Penteado Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 80 5. 72 02 41 /2 00 6- 61 Fl. 748DF CARF MF Processo nº 10805.720241/200661 Acórdão n.º 9101004.146 CSRFT1 Fl. 1.384 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Demetrius Nichele Macei, Nelso Kichel (suplente convocado), Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Rafael Vidal de Araújo (Presidente em Exercício). Relatório Tratase de Recurso Especial de Divergência (fls. 728/734) interposto pela PGFN contra o acórdão 1101000.987 da 1° Turma da 1° Câmara que restou assim ementado e decidido: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 COMPENSAÇÃO. SALDO NEGATIVO. RETENÇÕES DE IMPOSTO NA FONTE. COMPROVAÇÃO. Na hipótese de a fonte pagadora não fornecer o comprovante anual de retenção, sua prova pode se dar por meio dos registros contábeis do beneficiário, acompanhados da nota fiscal ou fatura e da comprovação do valor líquido quitado pela fonte pagadora. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. A ora Recorrente alega em seu Recurso Especial a existência de divergência de interpretação entre o acórdão Recorrido e os acórdãos paradigmas nº 10323.022 e 105 14.858 no tocante à possibilidade de aceitação, como meio de prova passível de ser utilizado para a comprovação de retenções do IRRF, de documentos emitidos pela própria beneficiária, para fins de compensação de estimativas de IRPJ de períodos subseqüentes. Os acórdãos paradigmas estão assim ementados: Acórdão nº 10323.022 Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Exercício: 1993, 1994, 1995, 1996, 1997 Ementa: COMPROVANTE DE RETENÇÃO DO IRRF — a escrituração e os documentos subscritos pela própria pessoa, contra ela fazem prova; o contrário, porém, não é verdadeiro. Para o interessado constituir prova a seu favor, não basta Fl. 749DF CARF MF Processo nº 10805.720241/200661 Acórdão n.º 9101004.146 CSRFT1 Fl. 1.385 3 carrear aos autos elementos por ele mesmo elaborados; deverá ratificálos por outros meios probatórios cuja produção não decorra exclusivamente de seu próprio ato de vontade. No que se refere à comprovação do imposto de renda na fonte, o meio probatório adequado, por expressa disposição legal, é o ‘comprovante de retenção’ emitido pelo responsável por substituição. Meras notas fiscais da própria emissão do interessado não são documentos suficientes para o reconhecimento do imposto supostamente retido. Acórdão nº 10514.858 IRRF COMPROVANTE DE RETENÇÃO Não é admitida como prova de retenção de imposto de renda na fonte a juntada de notas fiscais. O reconhecimento de tal retenção se faz através do valor registrado a título de IR FONTE no documento fornecido pela fonte pagadora denominado de ‘Comprovante de Retenção de Imposto de Renda na Fonte’. Recurso improvido. Despacho de Exame de Admissibilidade de Recurso Especial Em despacho de admissibilidade (fls. 737/739), fora dado seguimento ao recurso em relação a ambos os paradigmas apresentados. Não foram apresentadas contrarrazões ao Recurso da PGFN pela Contribuinte. É o Relatório. Voto Conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado Relator Conhecimento Adoto as razões do Despacho de Admissibilidade para conhecer do Recurso Especial da PGFN. Fl. 750DF CARF MF Processo nº 10805.720241/200661 Acórdão n.º 9101004.146 CSRFT1 Fl. 1.386 4 Mérito Em síntese, a controvérsia nos presentes autos decorre do inconformismo da Recorrente face à posição da turma ordinária de aceitar outros meios de prova para fins de comprovação da retenção do IRRF na ausência do Informe de Rendimentos emitido pela fonte pagadora. Assim, no presente voto, deve ser respondida a seguinte pergunta: na ausência de Informe de Rendimentos que comprovem o IRRF, qual documentação pode ser considerada suficiente para aceitação do respectivo IRRF? Pois bem, inicialmente, cabe destacar o disposto no art. 55 da Lei n. 7.450/85: “Art. 55 – O imposto de renda retido na fonte sobre quaisquer rendimentos somente poderá ser compensado na declaração de pessoa física ou jurídica, se o contribuinte possuir comprovante de retenção em seu nome pela fonte pagadora dos rendimentos” Neste sentido, a Lei n. 7.450/85 é clara ao prever a existência do Informe de Rendimento como condição básica para aproveitamento do IRRF pela pessoa jurídica. Dispõe ainda o art. 4° da IN SRF n. 119/00: “Art. 4° O Comprovante Anual de Rendimentos Pago ou Creditados e de Retenção de Imposto de Renda na Fonte – Pessoa Jurídica será utilizado para comprovar o imposto de renda retido na fonte a ser deduzido ou compensado pela beneficiária dos rendimentos ou a ela restituído.” Contudo, também é fato que existe um conjunto amplo de informações, documentos e declarações que envolvem a retenção do IRRF tanto do lado da fonte pagadora quanto do beneficiário, sendo certo que o beneficiário que sofreu o ônus desta tributação não pode depender exclusivamente do Informe de Rendimento que pode não estar disponível, inclusive, em decorrência de falha da fonte pagadora. A própria Receita Federal já se manifestou através da Solução de Consulta SRRF n. 19/2004 da 5° Região Fiscal: Assunto: Obrigações Acessórias Ementa: COMPROVANTE ANUAL DE RETENÇÃO FORNECIDO POR ÓRGÃO OU ENTIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL. AUSÊNCIA. Na hipótese de o órgão ou entidade da administração pública federal não fornecer o comprovante anual de retenção, a pessoa jurídica poderá utilizar os seus registros contábeis, acompanhados da nota fiscal ou fatura e da comprovação do Fl. 751DF CARF MF Processo nº 10805.720241/200661 Acórdão n.º 9101004.146 CSRFT1 Fl. 1.387 5 valor depositado pela fonte pagadora, para respaldar a compensação dos tributos e contribuições federais retidos. Dispositivos Legais: art. 64 da Lei n° 9.430, de 1996; arts. 5° e 28 da IN SRF n° 306, de 2003; art. 923 do Decreto n° 3.000, de 1999. Entendo como acertada a posição da Receita Federal externada na Solução de Consulta acima mencionada, isso porque, o beneficiário não consegue por si próprio obrigar que a fonte pagadora forneça o respectivo comprovante de rendimentos. Assim é que deve contar com outras formas de fazer tal comprovação que viabilize o direito de utilizarse da retenção sofrida. Neste sentido, merece destaque o disposto no art. 923 do RIR/99 que a meu ver ratifica o racional adotado pela Solução de Consulta n. 19/2004: Art. 923. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados e comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais (Decreto Lei nº 1.598, de 1977, art. 9º, § 1º ). Alinhome integralmente ao racional até aqui exposto e ratificado pela própria Receita Federal no sentido de que na ausência do Informe de Rendimentos, a apresentação de outras informações e documentos, especialmente a escrita fiscal e contábil da própria beneficiária, pode ser admitida como suficiente para a comprovação do IRRF a ser aproveitado. Este também é o entendimento externado por esta 1° Turma da CSRF no acórdão n. 9101003.437 do Conselheiro Rafael Vidal de Araújo, que restou assim ementado: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 1992 PEDIDO DE RESTITUIÇÃO/COMPENSAÇÃO DE SALDO NEGATIVO DE IRPJ GERADO POR RETENÇÕES NA FONTE (IRRF). COMPROVAÇÃO DA RETENÇÃO. O sujeito passivo tem direito de deduzir o imposto retido pelas fontes pagadoras incidentes sobre receitas auferidas e oferecidas à tributação, do valor do imposto devido ao final do período de apuração, ainda que não tenha recebido o comprovante de retenção ou não possa mais obtêlo, desde que consiga provar, por quaisquer outros meios ao seu dispor, que efetivamente sofreu as retenções que alega. Essa posição foi recentemente confirmada pela 1°Turma da CSRF no recentíssimo acórdão n. 9101004.110 de relatoria do Conselheiro André Mendes de Moura: Fl. 752DF CARF MF Processo nº 10805.720241/200661 Acórdão n.º 9101004.146 CSRFT1 Fl. 1.388 6 Assunto: Processo Administrativo Fiscal Anocalendário: 2006 Ementa: COMPENSAÇÃO. SALDO NEGATIVO. RETENÇÕES DE IMPOSTO NA FONTE. COMPROVAÇÃO. Na hipótese de a fonte pagadora não fornecer o comprovante anual de retenção, sua prova pode se dar por outros meios previstos na legislação tributária. Precedentes. Acórdãos nº 9101002.876 e 9101003.437. Por fim, assim como o fez o Conselheiro André Mendes de Moura no acórdão n. 9101004.110 cuja ementa está acima transcrita, utilizome de trecho do voto do Conselheiro Rafael Vidal de Araújo, no também mencionado acórdão nº 9101003.437: E a razão para isso é bem simples. Não há como prejudicar um contribuinte por falha/infração cometida por outro. No caso, negar o direito de aproveitamento de retenção na fonte sofrida pelo beneficiário de um rendimento em razão de a fonte pagadora descumprir o dever instrumental de emitir e lhe fornecer o respectivo comprovante de rendimentos e de retenção na fonte. Não há como impor um ônus para um contribuinte cujo atendimento depende única e exclusivamente de conduta a ser praticada por outro contribuinte (emissão de comprovante de rendimentos e de retenção na fonte). A imagem de um empregado/servidor que recebe pagamento descontado do IRFonte e que não pode computar essa retenção na sua declaração de rendimentos porque a fonte pagadora não emitiu o correspondente informe de rendimentos e de retenção na fonte ilustra bem o que está sendo dito. O sentido que se dá ao texto da lei não pode conflitar de forma tão flagrante com o sistema jurídico. Se a fonte pagadora não emite o referido comprovante, ou se o beneficiário do pagamento não tem como obter esse documento da fonte pagadora (e isso pode ocorrer em função de várias situações), não se pode negar ao beneficiário do pagamento o direito ao aproveitamento da retenção que este sofreu e que consegue comprovar com outros meios de prova. Fl. 753DF CARF MF Processo nº 10805.720241/200661 Acórdão n.º 9101004.146 CSRFT1 Fl. 1.389 7 Conclusão Diante do exposto, CONHEÇO do RECURSO ESPECIAL para no MÉRITO NEGARLHE PROVIMENTO. É como voto! (assinado digitalmente) Luis Fabiano Alves Penteado Fl. 754DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13116.001437/2004-47
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jun 05 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Mon Jul 29 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Ano-calendário: 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004
QUALIFICAÇÃO DA MULTA. PLUS NA CONDUTA. DOLO.
Omissão substancial de receitas auferidas em declaração prestada ao Fisco, de maneira deliberada e consciente, implicam na presença dos elementos volitivo e cognitivo, caracterizando o dolo, o plus na conduta que ultrapassa o tipo objetivo da norma tributária, além do evidente intuito de fraude, e deve ser apenado com a qualificação da multa de ofício.
MANUTENÇÃO DA ESCRITA FISCAL E CONTÁBIL. OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA PREVISTA NA LEGISLAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE SALVO CONDUTO OU ESCUDO PROTETOR CONTRA PENALIDADES.
Fato de a pessoa jurídica manter sua escrita fiscal e contábil com os registros reais de receitas de vendas não lhe confere um escudo protetor contra incidências de penalidades previstas na legislação tributária, inclusive qualificação da multa. Manter escrita fiscal e contábil não é favor, é obrigação acessória prevista na legislação tributária imposta à toda a sociedade. Manter escrita contábil e fiscal registrando receitas reais de 100 unidades e declarar ao Fisco que auferiu 5 ou 10 unidades, de maneira reiterada, evidencia com ainda mais clareza a intenção deliberada, planejada e consciente de se esquivar do pagamento de tributos.
Numero da decisão: 9101-004.218
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em dar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa (relatora), Luis Fabiano Alves Penteado e Lívia De Carli Germano, que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro André Mendes de Moura.
(documento assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Presidente
(documento assinado digitalmente)
Cristiane Silva Costa - Relatora
(documento assinado digitalmente)
André Mendes de Moura - Redator designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Edeli Pereira Bessa, Demetrius Nichele Macei, Viviane Vidal Wagner, Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Adriana Gomes Rêgo (Presidente). Ausente o conselheiro Rafael Vidal de Araújo.
Nome do relator: CRISTIANE SILVA COSTA
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Manter escrita contábil e fiscal registrando receitas reais de 100 unidades e declarar ao Fisco que auferiu 5 ou 10 unidades, de maneira reiterada, evidencia com ainda mais clareza a intenção deliberada, planejada e consciente de se esquivar do pagamento de tributos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em dar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa (relatora), Luis Fabiano Alves Penteado e Lívia De Carli Germano, que lhe negaram provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro André Mendes de Moura. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 11 6. 00 14 37 /2 00 4- 47 Fl. 328DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 9101-004.218 - CSRF/1ª Turma Processo nº 13116.001437/2004-47 (documento assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo - Presidente (documento assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa - Relatora (documento assinado digitalmente) André Mendes de Moura - Redator designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Edeli Pereira Bessa, Demetrius Nichele Macei, Viviane Vidal Wagner, Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Adriana Gomes Rêgo (Presidente). Ausente o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Relatório Trata-se de processo originado por Autos de Infração de CSLL quanto a trimestres de 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004, sendo aplicada multa de 150% (fls. 6). Destaca-se trecho do Auto de Infração: O sujeito passivo declarou no período em exame, de 01/10/1999 a 01/0712004, para a Receita Federal, para fins de apuração da CSLL, valores de receitas de vendas em torno de 5% a 10% dos valores registrados em seus livros fiscais e Contábeis, conforme cópias das Demonstrações do Livro Diário, em anexo, o que caracteriza não haver incorrido em erro de fato, ao preencher as declarações enviadas à Receita Federal. (...) MULTAS PASSÍVEIS DE REDUÇÃO Fatos Geradores a partir de 01/01/1997. 150,00% Art. 44, inciso II, da Lei nº 9.420/96. O contribuinte apresentou Impugnação Administrativa (fls. 184) decidindo a Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Brasília pela manutenção do lançamento (fls. 166, volume 1), destacando-se trecho da ementa a respeito da multa qualificada: MULTA QUALIFICADA. A prática reiterada de apresentar ao fisco declarações que ocultam a obrigação tributária demonstra que este conhecia o real valor a recolher, constitui evidente intuito de fraude que implica qualificação da multa de oficio. O contribuinte apresentou recurso voluntário (fls. 184), ao qual foi dado parcial provimento pela 3ª Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes para reduzir a multa ao percentual de 75% sobre valores escriturados, conforme acórdão do qual se extrai a ementa (acórdão 103-23184, fls. 237): MATÉRIA DE FATO – Não colacionados aos autos documentos que comprovem as alegações recursais e ilidam a legitimidade da ação fiscal, é de rigor a manutenção do Fl. 329DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 9101-004.218 - CSRF/1ª Turma Processo nº 13116.001437/2004-47 lançamento. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. A falta de declaração ou a prestação de declaração inexata, por si sós, não autorizam o agravamento da multa, que somente se justifica quando presente o evidente intuito de fraude, caracterizado pelo dolo específico, resultante da intenção criminosa e da vontade de obter o resultado da ação ou omissão delituosa, descrito na Lei nº 4.502/64 (Proc. 10240.000695/2004-92, Terceira Câmara, Rel.: Paulo Jacinto Nascimento, DOU 05.04.06). Recurso voluntário a que se dá parcial provimento. Os autos foram remetidos à Procuradoria, conforme RM emitida em 07/01/2008 (fls. 251), com recebimento pela PGFN em 21/02/2008. A Procuradoria interpôs recurso especial em 10/03/2008. O recurso especial está fundado em contrariedade à lei, da forma autorizada pelo artigo 7º, I, do Regimento Interno (Portaria MF 147/07), sustentando-se a contrariedade ao artigo 44, II, da Lei nº 9.430/1996 e aos artigos 71 a 73, da Lei nº 4.502/1966. O recurso especial foi admitido pelo então Presidente da 3ª Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes (fls. 266). O contribuinte apresentou contrarrazões ao recurso especial, pleiteando a manutenção do acórdão recorrido (fls. 281). É o relatório. Voto Vencido Conselheira Cristiane Silva Costa, Relatora Conheço o recurso especial, adotando as razões do Presidente de Câmara. Passo, assim, à análise do mérito. Relembro que a fiscalização entendeu pela qualificação da multa pelos fundamentos, fundamentando a exigência em Auto de Infração (fls. 6): O sujeito passivo declarou no período em exame, de 01/10/1999 a 01/0712004, para a Receita Federal, para fins de apuração da CSLL, valores de receitas de vendas em torno de 5% a 10% dos valores registrados em seus livros fiscais e Contábeis, conforme cópias das Demonstrações do Livro Diário, em anexo, o que caracteriza não haver incorrido em erro de fato, ao preencher as declarações enviadas à Receita Federal. (...) MULTAS PASSÍVEIS DE REDUÇÃO Fatos Geradores a partir de 01/01/1997. 150,00% Art. 44, inciso II, da Lei nº 9.420/96. Assim, nota-se a referência à omissão substancial (90 a 95% da receita de venda) e reiteração da conduta com relação a todas as infrações do lançamento (trimestres de 1999 a 2004). O tema foi julgado da forma seguinte pela Turma Ordinária, conforme voto condutor do ex-Conselheiro Antonio Carlos Guidoni Filho, Relator do acórdão recorrido: Consoante precedentes desse E. Conselho de Contribuintes, não cabe a qualificação da multa de oficio quando a fiscalização obtém os elementos necessários ao lançamento mediante mero exame dos registros nos livros fiscais e contábeis do contribuinte (...) Fl. 330DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 9101-004.218 - CSRF/1ª Turma Processo nº 13116.001437/2004-47 Sobre o tema, ainda, esse e. Conselho de Contribuintes firmou o entendimento de que não caracteriza evidente intuito de fraude para fins de qualificação de multa de oficio a não-apresentação ou apresentação de declaração de rendimentos que informe com incorreção as receitas auferidas pelo contribuinte ("declaração inexata"), especialmente quando a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária pode ser facilmente constatada pelo Fisco mediante exame dos livros fiscais e demais documentos contábeis do contribuinte, tal como ocorre no caso dos autos. (...) No caso dos autos, tendo a fiscalização se valido exclusivamente de elementos constantes da contabilidade da Recorrente para a lavratura dos lançamentos, não se justifica a manutenção da qualificação da multa de oficio, devendo ser essa reduzida ao seu percentual regular de 75% (setenta e cinco por cento). A Procuradoria pede a reforma do citado acórdão, sustentando, em síntese, que haveria omissão reiterada e de valores vultosos: 15. Analisando detidamente os autos, observa-se que não se trata de mera hipótese de falta de declaração ou de prestação de declaração inexata como pretendeu a c. Câmara a quo. A contribuinte, na verdade, deixou de inserir parte significativa de seu faturamento nas suas declarações, chegando ao absurdo patamar de declarar entre cinco e dez por cento do seu faturamento, reduzindo a tributação em quase nada diante dos seus assentamentos fiscais e contábeis, por vários anos consecutivos. (...) Como visto, a atividade ilícita do autuado consistiu na prática sistemática de, nos anos- calendário de 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2004 sonegar vultosas quantias, em atividade dolosamente repetida, evidenciada pela flagrante desproporcionalidade entre os rendimentos declarados e os apurados de oficio pela fiscalização. Tais práticas reiteradas revelaram evidente intuito fraudulento, a ensejar a incidência da multa qualiticada. (trecho do recurso especial) Lembro que o Auto de Infração identifica como fundamento para a imposição de multa qualificada o disposto no artigo 44, II, da Lei nº 9430/1996, que tinha a seguinte redação ao tempo dos fatos em discussão nos presentes autos: Art. 44. (...) II - cento e cinqüenta por cento, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Vide Lei nº 10.892, de 2004) A despeito de constar o artigo 44, II no Auto de Infração - como acima reproduzido – o auditor fiscal autuante não identificou se a hipótese é de sonegação, fraude ou conluio, para ajustar a conduta infracional aos artigos 71, 72, ou 73, da Lei nº 4.506/1964. Com efeito, a conduta infracional deve ser devidamente descrita no lançamento tributário para demonstrar a subsunção dos fatos à hipótese legal, em respeito ao artigo 142, do Código Tributário Nacional: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. (grifo nosso) A falta de precisão quanto à conduta, para tipificá-la em qualquer das hipóteses dos artigos 71, 72 e 73, da Lei nº 4.502/1964, acarreta a improcedência do lançamento da multa qualificada. Fl. 331DF CARF MF http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4502.htm#art71 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4502.htm#art72 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4502.htm#art73 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.892.htm#art2 Fl. 5 do Acórdão n.º 9101-004.218 - CSRF/1ª Turma Processo nº 13116.001437/2004-47 Esclareço que proferi votos manifestando-me sobre a necessária identificação da conduta infracional para aplicação da penalidade, como nos acórdãos 9101-002.826 (processo nº 10120.008793/2002-72) e 9101-003.365 (processo nº 16561720172/2012-20). Diante disso, voto por negar provimento ao recurso especial da Procuradoria. Conclusão Por tais razões, voto por conhecer do recurso especial da Procuradoria. No mérito, voto por negar-lhe provimento. (documento assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Voto Vencedor Conselheiro André Mendes de Moura, Redator designado. Não obstante o substancioso voto da i. Relatora, peço vênia para discordar em relação ao mérito. Transcrevo a motivação trazida pelo auto de infração para imposição da multa qualificada de 150%: O sujeito passivo declarou no período em exame, de 01/10/1999 a 01/0712004, para a Receita Federal, para fins de apuração da CSLL, valores de receitas de vendas em torno de 5% a 10% dos valores registrados em seus livros fiscais e Contábeis, conforme cópias das Demonstrações do Livro Diário, em anexo, o que caracteriza não haver incorrido em erro de fato, ao preencher as declarações enviadas à Receita Federal. (...) (Grifei) Relevante registrar que a conduta de declarar valores de receitas de vendas nos percentuais de 5% a 10% não se restringiu a um mero período, foi reiterada, do quarto trimestre de 1999 até o segundo trimestre de 2004. Não se fala de um trimestre, os autos trazem omissão substancial, planejada, reiterada e consciente no decorrer de dezenove trimestres. Como dizer que não há evidente intuito de fraude, que não há conduta dolosa? Transcrevo fundamentos da decisão recorrida, trazidos no voto da i. Relatora: Sobre o tema, ainda, esse e. Conselho de Contribuintes firmou o entendimento de que não caracteriza evidente intuito de fraude para fins de qualificação de multa de oficio a não-apresentação ou apresentação de declaração de rendimentos que informe com incorreção as receitas auferidas pelo contribuinte ("declaração inexata"), especialmente quando a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária pode ser facilmente Fl. 332DF CARF MF Fl. 6 do Acórdão n.º 9101-004.218 - CSRF/1ª Turma Processo nº 13116.001437/2004-47 constatada pelo Fisco mediante exame dos livros fiscais e demais documentos contábeis do contribuinte, tal como ocorre no caso dos autos. (...) No caso dos autos, tendo a fiscalização se valido exclusivamente de elementos constantes da contabilidade da Recorrente para a lavratura dos lançamentos, não se justifica a manutenção da qualificação da multa de oficio, devendo ser essa reduzida ao seu percentual regular de 75% (setenta e cinco por cento). Quer dizer que, no caso em apreciação, como o Fisco no exercício de suas atribuições, constatou que a conduta da pessoa jurídica, em dezenove trimestres, omitiu 90% a 95% de suas receitas, deu-se por meio da apreciação dos livros fiscais e contábeis, então não poderia se falar em evidente intuito de fraude, porque se valeu exclusivamente de elementos constantes da contabilidade da Recorrente ? Com a devida vênia, o que se mostra relevante no caso não é o Fisco ter à sua disposição a escrita contábil e fiscal para fazer o seu trabalho. O que causa espanto é que resta demonstrando, sem nenhum dúvida, que a pessoa jurídica, apesar de dispor de todas as informações necessárias para encaminhar as declarações, e sabendo que auferiu receita de 100 unidades, resolveu conscientemente encaminhar declaração dizendo ter auferido receita de 5 unidades em um período, receitas de 10 unidades em outro período, no decorrer de dezenove fatos geradores. Resta demonstrada, de maneira nuclear, a consciência e a vontade, a intenção deliberada de fraudar o Fisco e a sociedade. Acatar os argumentos da decisão recorrida é o mesmo que dizer que se a pessoa jurídica mantiver sua escrita contábil e fiscal em dia, cumprindo determinação da legislação tributária, poderá fazer um teste, e declarar entre 5% a 10% de suas receitas por tempo indeterminado, porque sabe que, se for fiscalizada, não terá sua multa qualificada. Vale dizer que manter a escrita contábil e fiscal não é um favor ao Fisco, é uma obrigação acessória disposta em lei. E o fato de manter a escrita contábil e fiscal não confere a ninguém um saldo conduto, não confere um escudo sobre a obrigação de declarar e recolher os tributos. No caso, o plus na conduta é evidente, ultrapassando o tipo objetivo da norma tributária. Não se trata de mero descumprimento da norma. Verifica-se a presença dos elementos cognitivo e volitivo, consumando-se o dolo, cuja definição é apresentada com clareza por CEZAR ROBERTO BITENCOURT 1 : O dolo, elemento essencial da ação final, compõe o tipo subjetivo. Pela sua definição, constata-se que o dolo é constituído por dois elementos: um cognitivo, que é o conhecimento do fato constitutivo da ação típica; e um volitivo, que é a vontade de realizá-la. O primeiro elemento, o conhecimento, é pressuposto do segundo, a vontade, que não pode existir sem aquele. Sobre o elemento cognitivo, BITENCOURT 2 discorre com didática: 1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal : parte geral, volume 1, 11ª ed. São Paulo : Saraiva, 2007, p. 267. 2 BITENCOURT, 2007, p. 269. Fl. 333DF CARF MF Fl. 7 do Acórdão n.º 9101-004.218 - CSRF/1ª Turma Processo nº 13116.001437/2004-47 Para a configuração do dolo exige-se a consciência daquilo que esse pretende praticar. Essa consciência deve ser atual, isto é, deve estar presente no momento da ação, quando ela está sendo realizada Sobre o elemento volitivo, são claros os ensinamentos 3 : A vontade, incondicionada, deve abranger a ação ou omissão (conduta), o resultado e o nexo causal. A vontade pressupõe a previsão, isto é, a representação, na medida em que é impossível querer algo conscientemente senão aquilo que se previu ou representou na nossa mente, pelo menos, parcialmente. Não há que se falar em desconhecimento da legislação ou erro material. Resta plenamente demonstrada a presença de evidente intuito de fraude, e do dolo, atributo presente nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 1964 4 , que ensejam a aplicação do art. 44, da Lei nº 9.430, de 1996, predicando a qualificação da multa de ofício para 150%. Cabe, portanto, ser restabelecida a qualificação da multa de ofício. Diante do exposto, voto no sentido de dar provimento ao recurso especial da PGFN. (documento assinado digitalmente) André Mendes de Moura 3 BITENCOURT, 2007, p. 269. 4 Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I - da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II - das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. Fl. 334DF CARF MF Fl. 8 do Acórdão n.º 9101-004.218 - CSRF/1ª Turma Processo nº 13116.001437/2004-47 Fl. 335DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10630.000037/2004-15
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Jun 06 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Jun 26 00:00:00 UTC 2019
Ementa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
Ano-calendário: 2002
RECURSO ESPECIAL. DIVERGÊNCIA. NÃO CARACTERIZADA.
Não se conhece de recurso especial que não demonstra a divergência.
O alegado dissenso jurisprudencial se estabelece em relação à interpretação das normas, devendo, pois, a divergência, se dar em relação a questões de direito, tratando-se da mesma legislação aplicada a uma mesma situação fática.
Verificado que o contexto fático e os fundamentos legais para a exclusão do contribuinte do SIMPLES foram diversos, não se verifica a divergência jurisprudencial necessária à admissibilidade do recurso especial.
Numero da decisão: 9101-004.241
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial.
(documento assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Presidente
(documento assinado digitalmente)
Livia De Carli Germano - Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Edeli Pereira Bessa, Demetrius Nichele Macei, Viviane Vidal Wagner, Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Adriana Gomes Rêgo (Presidente).
Nome do relator: LIVIA DE CARLI GERMANO
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DIVERGÊNCIA. NÃO CARACTERIZADA. Não se conhece de recurso especial que não demonstra a divergência. O alegado dissenso jurisprudencial se estabelece em relação à interpretação das normas, devendo, pois, a divergência, se dar em relação a questões de direito, tratando-se da mesma legislação aplicada a uma mesma situação fática. Verificado que o contexto fático e os fundamentos legais para a exclusão do contribuinte do SIMPLES foram diversos, não se verifica a divergência jurisprudencial necessária à admissibilidade do recurso especial. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial. (documento assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo - Presidente (documento assinado digitalmente) Livia De Carli Germano - Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Edeli Pereira Bessa, Demetrius Nichele Macei, Viviane Vidal Wagner, Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Adriana Gomes Rêgo (Presidente). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 63 0. 00 00 37 /2 00 4- 15 Fl. 243DF CARF MF Fl. 2 do Acórdão n.º 9101-004.241 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10630.000037/2004-15 Relatório Trata-se de Recurso Especial de Divergência interposto pelo contribuinte em face do acórdão nº 3803-00.099, de 17 de junho de 2009, o qual decidiu, por maioria de votos, negar provimento ao recurso voluntário, tendo recebido as seguintes ementa e decisão: Acórdão recorrido: 3803-00.099, de 17 de junho 2009 ASSUNTO: SISTEMA INTEGRADO DE PAGAMENTO DE IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES DAS MICROEMPRESAS E DAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE - SIMPLES Ano-calendário: 2002 SIMPLES. CISÃO. A empresa que seja resultante de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica não poderá optar pelo Simples. RECURSO VOLUNTÁRIO NEGADO. ACORDAM os membros da 3" Turma Especial da Terceira Seção de Julgamento, Por maioria de votos, negar-se provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. Vencido o Conselheiro André Luis Bonat Cordeiro que dava provimento. Tendo tomado ciência do acórdão de rejeição dos embargos em 14 de fevereiro de 2012, a contribuinte interpôs recurso especial em 24 de fevereiro de 2012, alegando divergência jurisprudencial em relação ao entendimento do acórdão recorrido de manter a exclusão do Simples pelo fato de ser resultante de cisão de outra pessoa jurídica. Como paradigma, aponta o acórdão nº 103-23.357, proferido em sessão de 23/01/2008, cuja ementa é: Acórdão paradigma: 103-23.357 Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Exercício: 2002 Ementa: SIMULAÇÃO – INEXISTÊNCIA – Não é simulação a instalação de duas empresas na mesma área geográfica com o desmembramento das atividades antes exercidas por uma delas, objetivando racionalizar as operações e diminuir a carga tributária. OMISSÃO DE RECEITAS – SALDO CREDOR DE CAIXA – DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA – A reunião das receitas supostamente omitidas por duas empresas para serem tributadas conjuntamente como se auferidas por uma só importa em erro na quantificação da base de cálculo e na identificação do sujeito passivo, conduzindo à nulidade do lançamento. Recurso provido. O despacho de admissibilidade de fls. 226-230, de 18 de fevereiro de 2013, do PResidente da Terceira Câmara da Primeira Seção, deu seguimento ao recurso especial, Fl. 244DF CARF MF Fl. 3 do Acórdão n.º 9101-004.241 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10630.000037/2004-15 observando que "A conclusão do acórdão paradigma é a de que o simples desmembramento das atividades da pessoa jurídica, com intuito de obter economia tributária, não é indício suficiente para desconsiderar os seus atos constitutivos e acoimá-los de simulados. O acórdão recorrido, por seu turno, em sentido oposto, entende que existindo indícios de que a empresa incorporada foi criada sem objetivos empresariais, visando somente a posterior operação de incorporação ( indício de simulação) fica caracterizada a cisão de empresa enquadrada no Simples, impondo- se a sua exclusão do Sistema." Intimada em 15 de abril de 2013, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional apresentou contrarrazões em 17 de abril de 2013 (fls. 232-236), aduzindo exclusivamente questões de mérito. É o relatório. Voto Conselheira Livia De Carli Germano, Relatora. Admissibilidade recursal O recurso especial é tempestivo. Passo a analisar os demais requisitos para a sua admissibilidade. A Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) é instância especial de julgamento com a finalidade de proceder à uniformização da jurisprudência do CARF. Desse modo, a admissibilidade do recurso especial está condicionada ao atendimento das condições previstas no art. 67 do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF nº 343, de 9 de junho de 2015: Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. § 1º Não será conhecido o recurso que não demonstrar a legislação tributária interpretada de forma divergente. (...) § 8º A divergência prevista no caput deverá ser demonstrada analiticamente com a indicação dos pontos nos paradigmas colacionados que divirjam de pontos específicos no acórdão recorrido. Fl. 245DF CARF MF Fl. 4 do Acórdão n.º 9101-004.241 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10630.000037/2004-15 Destaca-se, de início, que o alegado dissenso jurisprudencial se estabelece em relação à interpretação das normas, devendo, pois, a divergência, se dar em relação a questões de direito, tratando-se da mesma legislação aplicada a uma mesma situação fática. Acrescente-se, também, que, se os acórdãos confrontados examinaram normas jurídicas distintas, ainda que os fatos sejam semelhantes, não há que se falar em divergência de julgados, uma vez que a discrepância a ser configurada diz respeito à interpretação da mesma norma jurídica. Com o devido respeito quanto à conclusão a que chegou o despacho de admissibilidade de recurso especial, compreendo que, da contraposição dos fundamentos expressos nas ementas e nos votos condutores dos acórdãos, a Recorrente não logrou êxito em comprovar a ocorrência do alegado dissenso jurisprudencial, pois chegou-se a conclusões distintas em situações fáticas diversas e à luz de diferentes normas jurídicas. O caso dos autos trata de exclusão da contribuinte da sistemática de pagamento dos tributos e contribuições de que trata o art. 3º da Lei 9.317/1996, denominada Simples Federal, tendo em vista a autoridade fiscal ter verificado a ocorrência da condição impeditiva prevista no inciso XVII do art. 9º da referida lei, de seguinte teor: “Art. 9o. Não poderá optar pelo SIMPLES, a pessoa jurídica: (...) XVII – que seja resultante de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento da pessoa jurídica, salvo em relação aos eventos ocorridos antes da vigência desta Lei;” Em sua defesa, a contribuinte afirma que não é, ela própria, decorrente de cisão, mas que apenas incorporou pessoa jurídica que resultou de processo de cisão da Cerâmica Ibituruna Ltda. (fato incontroverso nos autos). A discussão dos autos é, assim, sobre o alcance da vedação prevista no inciso XVII do art. 9º da Lei 9.317/1996 e os conceitos de cisão, desmembramento e incorporação. O acórdão recorrido concluiu que, tendo a contribuinte incorporado pessoa jurídica resultante da Cerâmica Ibituruna Ltda., ela resulta do desmembramento de outra pessoa jurídica e portanto incorreu na vedação legal. Já no caso do acórdão paradigma, a contribuinte foi excluída do SIMPLES por ter excedido o limite de receitas, ou seja, com base em outro dispositivo legal -- o artigo 9o, inciso I, da Lei 9.317/1996. Naquele caso, a fiscalização visitou a sede social e verificou que no mesmo local funcionavam 2 empresas, o que deu base à sua conclusão de que teria havido simulação na constituição de uma delas, que foi então desqualificada, tendo as exigências fiscais daí resultantes sido baseadas na soma das receitas de ambas. A discussão dos autos tratou da existência ou não de simulação. Embora ambos os casos tratem de exclusão do SIMPLES, a base legal e o contexto fático que baseou os atos declaratórios de exclusão são substancialmente diversos, não sendo possível concluir pela existência de qualquer divergência na interpretação da legislação tributária. Não resta preenchido, portanto, o requisito do artigo 67, Anexo II do RICARF, necessário à admissibilidade do presente recurso especial. Diante do exposto, compreendo que é o caso de não conhecer do recurso especial da contribuinte. Fl. 246DF CARF MF Fl. 5 do Acórdão n.º 9101-004.241 - CSRF/1ª Turma Processo nº 10630.000037/2004-15 Conclusão Ante o exposto, oriento meu voto por não conhecer do recurso especial. (documento assinado digitalmente) Livia De Carli Germano Fl. 247DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10980.011737/2003-76
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue May 07 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Wed Jun 26 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2000
PEDIDO DE REVISÃO DE ORDEM DE EMISSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS. PERC.
Até 1º de maio de 2001 as aplicações nos fundos FINOR e FINAM podiam ser exercidas até mesmo pelas pessoas jurídicas que não se enquadravam nas condições do art. 9º. da Lei n° 8.167, de 1991. A partir de 02 de maio de 2001, entretanto, em razão da edição da Medida Provisória n° 2.145/2001, tal possibilidade deixou de existir.
Numero da decisão: 9101-004.151
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencida a conselheira Lívia De Carli Germano (relatora), que lhe deu provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Demetrius Nichele Macei. Declarou-se impedido de participar do julgamento o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado, substituído pelo conselheiro Rogério Aparecido Gil.
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Presidente
(assinado digitalmente)
Livia De Carli Germano - Relatora
(assinado digitalmente)
Demetrius Nichele Macei - Redator Designado
Participaram do presente julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Demetrius Nichele Macei, Viviane Vidal Wagner, Livia De Carli Germano, Adriana Gomes Rêgo (Presidente), Rogério Aparecido Gil (suplente convocado para eventuais substituições).
Nome do relator: LIVIA DE CARLI GERMANO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencida a conselheira Lívia De Carli Germano (relatora), que lhe deu provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Demetrius Nichele Macei. Declarou-se impedido de participar do julgamento o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado, substituído pelo conselheiro Rogério Aparecido Gil. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo - Presidente (assinado digitalmente) Livia De Carli Germano - Relatora (assinado digitalmente) Demetrius Nichele Macei - Redator Designado Participaram do presente julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Demetrius Nichele Macei, Viviane Vidal Wagner, Livia De Carli Germano, Adriana Gomes Rêgo (Presidente), Rogério Aparecido Gil (suplente convocado para eventuais substituições).
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MP 2.145/2001 Recorrente VW DO BRASIL PARTICIPACOES LTDA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2000 PEDIDO DE REVISÃO DE ORDEM DE EMISSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS. PERC. Até 1º de maio de 2001 as aplicações nos fundos FINOR e FINAM podiam ser exercidas até mesmo pelas pessoas jurídicas que não se enquadravam nas condições do art. 9º. da Lei n° 8.167, de 1991. A partir de 02 de maio de 2001, entretanto, em razão da edição da Medida Provisória n° 2.145/2001, tal possibilidade deixou de existir. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencida a conselheira Lívia De Carli Germano (relatora), que lhe deu provimento. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Demetrius Nichele Macei. Declarouse impedido de participar do julgamento o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado, substituído pelo conselheiro Rogério Aparecido Gil. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Presidente (assinado digitalmente) Livia De Carli Germano Relatora AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 98 0. 01 17 37 /2 00 3- 76 Fl. 289DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 290 2 (assinado digitalmente) Demetrius Nichele Macei Redator Designado Participaram do presente julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Rafael Vidal de Araújo, Demetrius Nichele Macei, Viviane Vidal Wagner, Livia De Carli Germano, Adriana Gomes Rêgo (Presidente), Rogério Aparecido Gil (suplente convocado para eventuais substituições). Fl. 290DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 291 3 Relatório Tratase de Recurso Especial de Divergência interposto pelo contribuinte em face do acórdão nº 1301000.664, proferido pela 1a Turma Ordinária da 3a Câmara da 1a Seção em de 29 de setembro de 2011, o qual decidiu, por maioria de votos, negar provimento ao recurso voluntário, tendo recebido as seguintes ementa e decisão: Acórdão recorrido: 1301000.664, de 29 de setembro de 2011 PEDIDO DE REVISÃO DE ORDEM DE EMISSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS – PERC. Se o sujeito passivo, restringindose a alegar que se enquadra na situação descrita na lei, não traz aos autos elementos capazes de comprovar o atendimento das condições estabelecidas para usufruir do beneficio fiscal, há que se indeferir o pedido de revisão. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso. Vencido o Conselheiro Edwal Casoni de Paula Fernandes Junior. Cientificada em 13 de março de 2012 (fl. 182), a Recorrente interpôs recurso especial em 27 de março de 2012 (fl. 184), alegando divergência jurisprudencial em relação ao entendimento do acórdão recorrido de indeferir seu Pedido de Emissão de Incentivos Fiscais PERC, manifestado na DIPJ 2001, tendo em vista a revogação contida no art. 50, inciso I, XX da MP 2.145/2001. Nessa passo, a Recorrente alega divergência em relação ao conteúdo dos acórdãos n. 10708.652, de 26 de julho de 2006, e 140200.209, de 5 de julho de 2010, cujas ementas, quanto a essa matéria, são as seguintes: Acórdão paradigma: 10708.652, de 26 de julho de 2006 INCENTIVOS FISCAIS ANO CALENDÁRIO DE 2000 MP 2.145/01 REVOGAÇÃO INDEFERIMENTO RESPEITO AO DIREITO ADQUIRIDO E AO PRINCIPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS GARANTIA O contribuinte, a luz da lei vigente no ano calendário de 2000, teve assegurado o direito de destinar parte do imposto de renda pago em incentivos fiscais. A MP 2.145/01, em respeito ao direito adquirido e ao principio da irretroatividade das leis, evidentemente não teria o condão de revogar esse direito sob o argumento de que a opção, realizada quando da tempestiva entrega da DIPJ, fora feita quando o incentivo já se achava revogado. A opção feita quando da tempestiva entrega da declaração, é, por assim dizer, ato de manifestação de direito que já se incorporara ao patrimônio do contribuinte, pelo que este pode e deve, no âmbito do processo administrativo fiscal, ver solucionado o litígio instaurado quando do protocolo do denominado PERC, em que buscava assegurar o reconhecimento do direito aos incentivos que postulara. Fl. 291DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 292 4 Acórdão paradigma nº 140200.209, de 5 de julho de 2010 INCENTIVOS FISCAIS. REVOGAÇÃO PELA MP 2.145/01. RESPEITO AO DIREITO ADQUIRIDO E AO PRINCIPIO DA IRRETROATIVIDADE DAS LEIS. O contribuinte, a luz da lei vigente no ano calendário de 2000, teve assegurado o direito de destinar parte do imposto de renda pago em incentivos fiscais. A MP 2.145/2001, em respeito ao direito adquirido e ao principio da irretroatividade das leis, evidentemente não teria o condão de revogar esse direito sob o argumento de que a opção, realizada quando da tempestiva entrega da DIPJ, fora feita quando o incentivo já se achava revogado. O despacho de admissibilidade de fls. 277280, de 21 de novembro de 2014, deu seguimento ao recurso especial, observando que "A conclusão dos acórdãos paradigmas é a de que a revogação do incentivo fiscal introduzido pela MP. 2145/2001 não se aplica à DIPJ do anocalendário 2000, entregue em junho de 2001, pela aplicação do princípio da irretroatividade da lei. O acórdão recorrido, por seu turno, traz entendimento que tendo sido revogado o incentivo fiscal antes da entrega da DIPJ, inexiste o direito ao incentivo pleiteado, uma vez que o contribuinte não comprova o atendimento ao incentivo fiscal de que trata o art. 9° da Lei n° 8.167, de 1991, que restou ressalvado quando da revogação." Intimada em 3 de dezembro de 2012 (fl. 281), a ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional apresentou contrarrazões em 18 de dezembro de 2012 (fls. 282286), aduzindo exclusivamente questões de mérito. É o relatório. Fl. 292DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 293 5 Voto Vencido Conselheira Livia De Carli Germano Relatora Admissibilidade recursal O recurso especial é tempestivo e atendeu aos requisitos de admissibilidade, não havendo, inclusive, questionamento pela parte recorrida no tocante ao seu seguimento, motivo pelo qual concordo e adoto as razões do i. Presidente da 3ª Câmara da 1ª Seção do CARF para conhecimento do Recurso Especial, nos termos do permissivo do art. 50, § 1º, da Lei 9.784/1999. Mérito O mérito do presente recurso especial é essencialmente de direito e consiste em definir se a revogação do incentivo fiscal, introduzida pela MP 2.145/2001, se aplica à DIPJ do anocalendário 2000, cujo prazo para entrega era até 30 junho de 2001, considerando o princípio da irretroatividade da lei. O acórdão recorrido concordou com a conclusão do despacho decisório, de que a data limite para usufruir o benefício seria 2 de maio de 2001, uma vez que em 3 de maio de 2001 foi publicada a MP 2.145, que revogou expressamente a legislação que dispunha sobre a matéria, ficando ressalvado somente o direito ao incentivo para as pessoas jurídicas ou grupos de empresas de que trata o art. 9° da Lei 8.167/1991. Nesses termos, a Recorrente viu seu beneficio indeferido, eis que entregou sua declaração em 29 de junho de 2001, tendo feito a opção para aplicação no FINOR através desta declaração. Dito de outra forma, o tema posto para análise deste Colegiado cingese à questão de direito intertemporal, uma vez que ao término do anocalendário 2000, estava em vigor o disposto no art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.167/1991, que possibilitava às pessoas jurídicas optarem pela aplicação de “parcelas do imposto de renda devido no Fundo de Investimentos do Nordeste (FINOR) ou no Fundo de Investimentos da Amazônia (FINAM), bem assim no Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo (FUNRES)”, sendo que a respectiva opção, nos moldes do art. 13, da MP 2.12809, de 26.04.2001, ocorreria “na Declaração de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Juridica – DIPJ ou no curso do anocalendário”. Contudo, o art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.167/1991 foi expressamente revogado pelo disposto no art. 50, inciso XVIII, da MP 2.145/2001, restando apenas uma ressalva no inciso XX do mesmo artigo, para pessoas jurídicas que preenchessem os requisitos dispostos no art. 9º, da Lei nº 8.167/1991, que não é o caso dos autos. Assim, como a opção do contribuinte ocorreu após a revogação de tal dispositivo, mediante a entrega da DIPJ 2001, anocalendário 2000, instaurouse a controvérsia sobre a possibilidade de fruição do benefício fiscal. Fl. 293DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 294 6 É importante registrar que a MP 2.145/2001 apenas revogou o incentivo, mas não estabeleceu se a revogação atingiria as opções correspondentes aos fatos geradores de 31/12/2000, nos casos em que elas ainda não tivessem sido exercidas. É essa a questão posta para definição nos presentes autos. O tema não é novo nesta 1a turma da CSRF, não obstante a orientação ainda não esteja consolidada. Neste sentido, os seguintes precedentes decidiram que as restrições para aplicações em fundos de investimentos proporcionadas pela Medida Provisória 2.145/2001 não atingiriam fatos geradores ocorridos no anocalendário 2000, eis que apenas poderiam alcançar fatos geradores do imposto de renda ocorridos a partir da sua edição: Acórdão 9101001.482, de 23 de outubro de 2012 Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Exercício: 2001 INCENTIVOS FISCAIS. PERC. ANOCALENDÁRIO DE 2000. IRRETROATIVIDADE DA MP 2.145/01. DEFERIMENTO. As restrições para aplicações em fundos de investimentos proporcionadas pela Medida Provisória 2.145/01 apenas atingem os fatos geradores do imposto de renda ocorridos a partir da sua edição. INCENTIVOS FISCAIS. CONCESSÃO. REGRAS DE ADMISSIBILIDADE. PERC. COMPROVAÇÃO DE REGULARIDADE FISCAL. CERTIDÃO POSITIVA COM EFEITO DE NEGATIVA. POSSIBILIDADE. A concessão ou o reconhecimento de qualquer incentivo ou benefício fiscal relativos a tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil fica condicionada à comprovação pelo contribuinte, pessoa física ou jurídica, da quitação de tributos e contribuições federais, podendo, em casos excepcionais, ser admitida a certidão positiva com efeito de negativa para fazer jus ao incentivo. Recurso Especial do Contribuinte Provido. Acórdão 9101001.090, de 28 de junho de 2011 Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Exercício: 2001 Ementa: PERC. INCENTIVO FISCAL. APLICAÇÃO DO IMPOSTO EM INVESTIVOS REGIONAIS. MEDIDA PROVISÓRIA N. 2.145/2001. EFEITOS EM RELAÇÃO A FATOS GERADORES OCORRIDOS A PARTIR DO ANO CALENDÁRIO DE 2001. A revogação da faculdade do contribuinte de optar pela aplicação de parcela do IRPJ em investimentos regionais levada a efeito por meio da MP 2.145/2001 — surte efeitos apenas para fatos geradores de IRPJ ocorridos a partir do ano calendário de 2001 (inclusive), ano da publicação da citada Medida Provisória. Fl. 294DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 295 7 Recurso da Contribuinte provido. Não obstante, mais recentemente, esta 1a Turma da CSRF decidiu em sentido contrário: Acórdão 9101003.878, de 6 de novembro de 2018 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2001 PEDIDO DE REVISÃO DE ORDEM DE EMISSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS. PERC. Até 1º de maio de 2001 as aplicações nos fundos FINOR e FINAM podiam ser exercidas até mesmo pelas pessoas jurídicas que não se enquadravam nas condições do art. 9o. da Lei n° 8.167, de 1991. A partir de 02 de maio de 2001, entretanto, em razão da edição da Medida Provisória n° 2.145/2001, tal possibilidade deixou de existir. Com a devida vênia ao posicionamento mais recente, compreendo que deve prevalecer o entendimento anterior, que resulta em maior segurança jurídica, garantindo a isonomia no tratamento de contribuintes quanto a alterações na base de cálculo de tributos devidos no anocalendário 2000 ocorridas após o término desse período de apuração. Assim, compreendo que uma vez encerrado o anocalendário, aquela opção que o contribuinte poderia fazer quando da entrega da sua declaração de imposto de renda não lhe pode ser posteriormente tolhida simplesmente em razão de ele ter deixado para entregar a declaração um pouco mais perto (mas também antes) do prazo fatal. Iso porque, com a ocorrência do fato gerador, em 31/12/2000, surgiu a obrigação tributária, e juntamente com ela todos os seus elementos caracterizadores, os quais não poderiam ser modificados por legislação superveniente, em desfavor dos contribuintes. Juntamente com a obrigação tributária, surgiu também para a o contribuinte o "direito de optar" pelo incentivo, e não uma mera expectativa de direito. No caso, não estamos tratando do exercício de um puro direito potestativo. O que está em discussão são formas de adimplemento de uma obrigação já existente, e, nesse caso, a estabilidade nas relações jurídicas adquire ainda uma maior relevância para a solução da referida questão intertemporal. Neste passo, irretocáveis as observações feitas pelo voto condutor do acórdão 9101001.090, do Conselheiro Antonio Carlos Guidoni Filho, acerca da importância dos princípios da segurança jurídica, previsibilidade e da justiça, em caso semelhante ao dos presentes autos (grifos do original): É de conhecimento geral a assertiva de que os princípios constituem vigas mestras de sustentação de todo o ordenamento jurídico. Os princípios albergam valores e o principio da segurança jurídica alberga, particularmente, um dos dois Fl. 295DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 296 8 valores mais importantes da humanidade em todos os tempos e lugares, quais sejam: segurança e justiça. O Estado de Direito significa, dentre outros aspectos, previsibilidade das ações do Estado, boafé no trato dos cidadãos de forma segura (previsível, certa, limitada) e justa (porque certa, previsível, limitada). O valor da segurança jurídica é também uma conseqüência e uma premissa do Estado de Direito. Conforme ensina LUIS ROBERTO BARROSO: "a segurança encerra valores e bens jurídicos que não se esgotam na mera preservação da integridade fisica do Estado e das pessoas: açambarca em seu conteúdo conceitos fundamentais para a vida civilizada, como a continuidade das normas jurídicas, a estabilidade das situações constituídas e a certeza jurídica que se estabelece sobre situações anteriormente controvertidas." (Temas de Direito Constitucional, 2° ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p.49.) J. J. GOMES CANOTILHO (CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Livraria Almedina, Coimbra, 1991, pp. 375 e 376), ao cuidar dos padrões estruturantes do Direito Constitucional vigente e dos princípios que regem o Estado de Direito, aborda a questão da segurança jurídica, nos seguintes termos: "Partindo da idéia de que o homem necessita de uma certa segurança para conduzir, planificar e conformar autônoma e responsavelmente a sua vida, desde cedo se considerou como elementos constitutivos do Estado de Direito os dois princípios seguintes: o principio da segurança jurídica; o principio da confiança do cidadão. (...) A idéia de segurança jurídica reconduzse a dois princípios materiais concretizados do principio geral de segurança: 1) O principio da determinabilidade das leis (exigência de leis claras e densas); 2) O principio da protecção da confiança, traduzido na exigência de leis tendencialmente estáveis, ou, pelo menos, não lesivas de previsibilidade e calculabilidade dos cidadãos relativamente aos seus efeitos jurídicos." Conclui o citado constitucionalista que esses princípios, o da segurança jurídica e da proteção de confiança, "apontam basicamente para (1) a proibição de leis retroactivas; (2) a inalterabilidade do caso julgado, (3) a tendencial irrevogabilidade de actos administrativos constitutivos de direitos". Segundo o autor, "na actual sociedade de risco cresce a necessidade de actos provisórios e actos precários a fim de a administração poder reagir a alteração das situações fáticas e reorientar a prossecução do interesse público segundo os novos conhecimentos técnicos e cientificos. Isto tem de articularse Fl. 296DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 297 9 com salvaguarda de outros princípios constitucionais, entre os quais se conta a proteção da confiança, a segurança jurídica, a boafé dos administrados e os direitos fundamentais" (Direito constitucional e Teoria da Constituição. Ed. Almedina: Coimbra, 4" edição) Neste mesmo sentido também são os ensinamentos de ALMIRO DO COUTO E SILVA (SILVA, Almiro do Couto e. O Principio da segurança jurídica (proteção da confiança) no Direito Público brasileiro e o direito da Administração Pública de anular seus próprios atos: o prazo decadencial do art. 54 da Lei 9.784/99. Revista Brasileira de Direito Público, Belo Horizonte, ano 2, n. 6, jul./set, 2004, pp. 758), que aduz que a segurança jurídica é entendida como um conceito ou principio jurídico que se ramifica em duas partes, uma de natureza objetiva e outra de natureza subjetiva. A primeira, de natureza objetiva, é aquela que envolve a questão dos limites da retroatividade dos atos do Estado até mesmo quando estes se qualificam como atos legislativos. Diz respeito, portanto à proteção ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e a coisa julgada. A outra, de natureza subjetiva, concerne à proteção à confiança das pessoas, no pertinente aos atos, condutas e procedimentos do Estado. Sob esse aspecto, não pode o Estado adotar novas providencias em contradição com as que foram por ele próprio impostas, surpreendendo os que acreditaram nos atos do Poder Público. De tão relevante ao Estado de Direito, PAULO DE BARROS CARVALHO eleva o principio da segurança jurídica ao conceito de "sobreprincípio". Segundo Paulo de Barros Carvalho, os sobreprincipios são normas jurídicas de maior hierarquia, as quais são operadas no sistema pela conjunção de outras normas de forte conteúdo axiológico (princípios), tais como, no direito brasileiro, os princípios da igualdade, legalidade estrita e tipicidade tributárias, o principio da irretroatividade das leis, da anterioridade, da universalidade da jurisdição, da proibição do confisco, etc.. Para o Emérito Professor, "não há por que se confundir a certeza do direito naquela acepção de índole sintática, com o cânone da segurança jurídica. Aquele é atributo essencial, sem o que não se produz enunciado normativo com sentido deôntico; este último é decorrência de fatores sistêmicos que utilizam o primeiro de modo racional e objetivo, mas dirigido a implantação de um valor especifico, qual seja, o de coordenar o fluxo das interações interhumanas, no sentido de propagar no seio da comunidade social o sentimento de previsibilidade quanto aos efeitos jurídicos da regulação da conduta." (Paulo de Barros Carvalho, Curso de Direito Tributário, 20a ed., Sao Paulo, Saraiva, 2008, p. 166) Em observância à ordem constitucional e em respeito ao Estado Democrático de Direito foi editada a Lei n. 9.784, de 1999, cujo artigo 2°, caput e inciso XIII do parágrafo único, impõe expressamente à Administração Pública obediência ao principio da segurança jurídica e irretroatividade dos atos administrativos, inclusive no que se refere à aplicação retroativa de (nova) interpretação de disposição legal, verbis: Fl. 297DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 298 10 Art. 22 A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Especificamente em relação ao direito tributário, a par de outras normas relacionadas às limitações ao poder de tributar que positivam o sobreprincipio da segurança jurídica em nosso ordenamento, releva citar o art. 105 do CTN, segundo o qual "a legislação tributária aplicase imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido inicio mas não esteja completa nos termos do artigo 116.' Do ponto de vista jurisprudencial, o E. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA já assentou o entendimento de serem nulos os atos normativos praticados pela Administração com afronta ao principio da segurança jurídica. Vejase, a titulo ilustrativo, ementa de v. acórdão de relatoria do Exmo. Min. Luiz Fux, verbis: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. SERVENTIA. PARTICIPAÇÃO DO CERTAME. ESCOLHA PERMITIDA A POSTERIORI. DESPROPORCIONALIDADE. ILEGALIDADE. DESCONFORMIDADE COM A REGRA EDITALÍCIA. MUDANÇA DA NATUREZA DO CONCURSO PÚBLICO. 1. O Edital é a regra maior do concurso em cargos públicos, por isso que, inscrito em determinado certame, não pode o candidato optar por outro cargo, à mingua de permissão editalicia. Nestes termos, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal: "Os parâmetros alusivos ao concurso hão de estar previstos no edital. Descabe agasalhar ato da Administração Pública que, após o esgotamento das fases inicialmente estabelecidas, com aprovação nas provas, implica criação de novas exigências. A segurança jurídica, especialmente a ligada a relação cidadãoEstado, rechaça a modificação pretendida." (RE 118927RJ Relator Min. MARCO AURÉLIO, Julgamento: 07/02/1995, Órgão Julgador: segunda turma). (RMS 19676/RS, PRIMEIRA TURMA, DJ 12.02.2007, p. 246). No mesmo sentido: MANDADO DE SEGURANÇA CÓPIA DO ATO IMPUGNADO — APRESENTAÇÃO PELA AUTORIDADE COATORA. II ADMINISTRATIVO LEI 9.784/99 DEVIDO PROCESSO ADMINISTRATIVO COMUNICAÇÃO DOS ATOS INTIMAÇÃO PESSOAL ANULAÇÃO E REVOGAÇÃO. (.) V A velha maxima de que a Administração pode nulificar ou revogar seus próprios atos continua verdadeira (Art. 53). Hoje, contudo, o exercício de tais poderes pressupõe devido processo legal administrativo, em que se observa em os princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência (L. 9784/99, Art. 2). (MS 8946 / DF Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS PRIMEIRA SEÇÃO DJ 17.11.2003 p. 197) Fl. 298DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 299 11 No mesmo sentido, trecho de acórdão de Relatoria da Exma. Ministra LAURITA VAZ, verbis: "Não pode o administrado ficar sujeito indefinidamente ao poder de autotutela do Estado, sob pena de desestabilizar um dos pilares mestres do estado democrático de direito, qual seja, o principio da segurança das relações jurídicas". (STJ, REsp. n° 645856/RS, j. 24.08.04, pub. DJU 13.09.04, p.291.) No mesmo sentido, trecho de acórdão de Relatoria do Exmo. Ministro LUIZ FUX, verbis: "Se é assente que a Administração pode cancelar seus atos, também o é que por força do principio da segurança jurídica obedece aos direitos adquiridos e reembolsa eventuais prejuízos pelos seus atos ilícitos ou originariamente lícitos, como consectario do controle jurisdicional e das responsabilidades dos atos da Administração." (STJ, REsp. n° 402.638/DF, j. 03.04.03, pub. DJU 02.06.03, p.187; RDDP vol. n°5, p.237.) Pois bem. Pareceme intuitivo que a tese defendida pelo voto vencedor do acórdão recorrido atenta contra o sobreprincipio da segurança jurídica acima conceituado, os princípios que o operam (irretroatividade e isonomia, especialmente) e dispositivos constitucionais e legais que positivam tais princípios (tais como, mas sem se limitar, ao art. 105 do CTN). Conforme consta do relatório supra, o Contribuinte optou por destinar parcela do imposto de renda devido e recolhido no ano calendário de 2000 ao FINOR, por intermédio da entrega da DIPJ em 29.06.2001. Assim o fez de boafé com base no permissivo do art. 409 da Lei n. 9.532/97 vigente à época do respectivo fato gerador (31.12.2000), o qual, reiterese, facultava à pessoa jurídica realizar a opção no curso do ano calendário (por meio de DARFs com códigos de recolhimento específicos) ou no anocalendário subseqüente (por meio de declaração em DIPJ). Com a devida vênia, entendo que é vedado à Administração deixar de reconhecer o direito do Contribuinte que agiu de acordo com as regas vigentes ao tempo do fato gerador do IRPJ, apenas pelo fato de que a faculdade de destinar parte do imposto recolhido a investimentos regionais foi revogada no ano calendário subsequente. Com efeito, e sob pena de se retirar do ordenamento sua indispensável previsibilidade, adequação e estabilização das expectativas normativas, a edição de norma após o término do exercício retirando o direito de opção de aplicação em incentivos regionais não pode ter aplicação retroativa, mas deve surtir efeitos apenas para fatos geradores ocorridos após sua edição. Ante o exposto, compreendo que a decisão recorrida merece reforma, eis que o direito à opção pelos incentivos vinculados ao IRPJ do anocalendário 2000 surgiu juntamente com essa obrigação tributária, ou seja, com a ocorrência do fato gerador do imposto, em 31/12/2000, não podendo ser extinto por legislação superveniente. Assim, tenho como válida a opção exercida com a apresentação da DIPJ 2001, entregue tempestivamente. Fl. 299DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 300 12 Conclusão Ante o exposto, oriento meu voto por conhecer do recurso especial e, no mérito, darlhe parcial provimento, com o retorno dos autos à unidade de origem para análise das demais questões relacionadas ao PERC apresentado pelo contribuinte. (assinado digitalmente) Livia De Carli Germano Fl. 300DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 301 13 Voto Vencedor Conselheiro Demetrius Nichele Macei Redator Designado Com o devido respeito ao voto exarado pela i.Conselheira Relatora, apresento o seguinte voto vencedor no sentido de negar provimento ao recurso especial do contribuinte. Explico. A recorrente pretende que a revogação do incentivo fiscal (FINOR), introduzida pela MP. 2.145/2001, não se aplique à DIPJ do anocalendário 2000, entregue 29/06/2001, pela aplicação do princípio da irretroatividade da lei. Contudo, isto não é possível, pois com o advento da MP 2.145, de 02 de maio de 2001, o art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.167/1991 que possibilitava às pessoas jurídicas optarem pela aplicação de parcelas do imposto de renda devido no FINOR, FINAM ou FUNRES – foi expressamente revogado pelo disposto no art. 50, inciso XVIII, da referida MP 2.145/2001, restando apenas uma ressalva no inciso XX do mesmo artigo, para pessoas jurídicas que preenchessem os requisitos dispostos no art. 9º, da Lei nº 8.167/91, que não é o caso do contribuinte, como bem fundamentou o acórdão recorrido. Para que fique claro, analisese os dispositivos legais em comento; a começar pelo art. 1º, inciso I, da Lei 8.167/1991: Art. 1º A partir do exercício financeiro de 1991, correspondente ao período base de 1990, fica restabelecida a faculdade da pessoa jurídica optar pela aplicação de parcelas do imposto de renda devido: I no Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) ou no Fundo de Investimentos da Amazônia (Finam) (DecretoLei nº 1.376, de 12 de dezembro de 1974, art. 11, I, alínea a), bem assim no Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo (Funres) (DecretoLei nº 1.376, de 12 de dezembro de 1974, art. 11, V); (Grifos meus) Ora, é plenamente possível e lógico constatar que a opção era uma faculdade da pessoa jurídica destinar imposto de renda devido, que seria pago para a União, diretamente para um fundo de investimento, à escolha do contribuinte. Por se tratar de uma opção, poderia ser exercida, ou não, pelo contribuinte, na forma da lei e regulamento. No caso concreto, por ocasião do encerramento do anocalendário 2000, concluise que o contribuinte tinha imposto de renda devido, pois, na apresentação da DIPJ 2001, fez a opção pela destinação desse IR para o FINOR. A questão é que a opção por destinar esse imposto de renda devido para o FINOR, tinha sido expressamente revogada pela MP 2.145/01 a partir de 02 de maio de 2001, através do art. 50, inciso XVIII. Confirase: Fl. 301DF CARF MF Processo nº 10980.011737/200376 Acórdão n.º 9101004.151 CSRFT1 Fl. 302 14 Art. 50. Ficam revogados: (...) XVIII o inciso I do art. 1º da Lei nº 8.167, de 16 de abril de 1991; (...) XX o art. 18 da Lei nº 4.239, de 27 de junho de 1963, e a alínea "b" do art. 1º do DecretoLei nº 756, de 11 de agosto de 1969, ressalvado o direito previsto no art. 9º da Lei nº 8.167, de 16 de janeiro de 1991, para as pessoas que já o tenham exercido, até o final do prazo previsto para a implantação de seus projetos, desde que estejam em situação de regularidade, cumpridos todos os requisitos previstos e os cronogramas aprovados. (Grifos meus) Com a devida vênia, a interpretação a ser dada para a legislação fiscal, que traz ao contribuinte um benefício, deve ser feita de maneira estrita aos termos da legislação vigente. Desta forma, se, no momento da opção, em junho/2001, por ocasião da entrega da DIPJ 2001, já não mais existia a própria opção, por revogação expressa do permissivo, não há que se tratar o assunto como direito adquirido, restando ao contribuinte tão somente a opção de pagar o imposto de renda devido, portanto, o entendimento esposado no v. acórdão recorrido. Acrescento, ademais, que a revogação art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.167/91 pelo art. 50, inciso XVIII, da MP 2.145/2001, não interfere no fato gerador do IRPJ de 31.12.2000 e, desta forma, não vislumbro aplicação retroativa de lei ao referido fato gerador. O IRPJ devido pelo contribuinte, referente ao fato gerador consumado em 31.12.2000, foi apurado de acordo com a legislação vigente na época do fato. O que foi alterado restringese à não possibilidade de direcionar o pagamento a determinado fundo de investimento. Ante o exposto, voto no sentido de NEGAR provimento ao recurso especial do contribuinte, mantendo o que foi decidido pelo v. acórdão recorrido, para não reconhecer o direito à recorrente de optar pela destinação de imposto de renda devido ao FINOR depois da revogação expressa do disposto no art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.167/91 pelo art. 50, inciso XVIII, da MP 2.145/2001. É o voto. (assinado digitalmente) Demetrius Nichele Macei Fl. 302DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10950.002807/2005-14
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Dec 15 00:00:00 UTC 2010
Ementa: Obrigações Acessórias
Exercício: 2005
Ementa: DCTF, ATRASO NA ENTREGA. MULTA. Não havendo provas
no sentido de que o Contribuinte esteve impossibilitado (pela SRF) de promover a entre ga da DCTF no prazo fixado, impõe-se a cobrança de penalidade pecuniária por atraso no cumprimento dessa obrigação acessória .
Numero da decisão: 9101-000.803
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar
provimento ao recurso da Fazenda Nacional. Participaram do julgamento os Conselheiros Nelson Lósso Filho e João Carlos de Lima Junior, Ausentes, justificadamente os Conselheiros Claudemir Rodrigues Malaquias e Susy Gomes Hoffmann.
Matéria: DCTF - Multa por atraso na entrega da DCTF
Nome do relator: Antonio Carlos Guidoni Filho
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CSRF-T1 Fl 1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo n° 10950,002807/2005-14 Recurso le 138.073 Especial do Procurador Acórdão le 9101-00.803 — Turma Sessão de 15 de dezembro de 2010 Matéria Obrigações Acessórias Multa por atraso na entre ga de declara ção Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado CLINICA MARINGAENSE DE OFTALMOLOGIA S/C Assunto: Obrigações Acessórias Exercício: 2005 Ementa: DCTF, ATRASO NA ENTREGA. MULTA. Não havendo provas no sentido de que o Contribuinte esteve impossibilitado (pela SRF) de promover a entre ga da DCTF no prazo fixado, impõe-se a cobran ça de penalidade pecuniária por atraso no cumprimento dessa obri gação acessória . Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso da Fazenda Nacional. Participaram do jul gamento os Conselheiros Nelson Losso Filho e Joao Carlos de Lima Junior, Ausentes, justificadamente os Conselheiros Claudemir Rodrigues Malaquias e Susy Gomes Hoffinann 2 8 FEV 201 Participaram do presente julgamento os conselheiros: Francisco de Sales Ribeiro de Queiroz, Alexandre Andrade Lima da Fonte Filho, Leonardo de Andrade Couto, Karem Jureidini Dias, Nelson Loss° Filho, Antonio Carlos Guidoni Filho, Viviane Vidal Wagner, Valmir Sandri, João Carlos de Lima Junior e Carlos Alberto Freitas Barreto. EDITADO EM: Relatório Com base no permissivo do art, 7, II do Regimento Interno da Camara Superior de Recursos Fiscais, a Fazenda Nacional interpõe recurso especial em face de acórdao proferido pela extinta 3 Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, assim ementado: "ASSUNTO, OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Ano-calendtirio, 2004 DCTF. DECLARAÇÃO DE DÉBITOS E CRÉDITOS FEDERAIS ATRASO NA ENTREGA. PROBLEMAS TÉCNICOS NOS SISTEMAS ELETRÔNICOS DA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL Tendo em vista o Ato Declaratário SRE n° 24, de 08 de abril de 2005, que prorrogou o prazo estabelecido para a entrega da DCTF relativa ao 4°. Trimestre de 2004, declarando válidas as declarações entregues até 18102/2005, e, considerando que a publicidade do ato somente ocorreu no dia 12/04/2005, deve ser considerada tempestiva a entrega da DCIF no dia 28/02/2005. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO" O caso foi assim relatado pela Camara recorrida, verbis: Adoto o relatório da decisão recorrida, o qual transcrevo a seguir. "Trata o presente processo de auto de infração (ft 03) mediante o qual é exigido da contribuinte qualificada o crédito tributário total de R$500,00, referente à multa por atraso na entrega da Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF relativa ao quarto trimestre de 2004, O enquadramento legal do lançamento encontra-se discriminado no campo 05 ( Descrição dos Fatos / Fundamentação) do auto de infração, áfi, 03.. Em 23/08/2005, a contribuinte apresentou a impugnação de f1.01/02, instruída com os documentos de ,fis. 03/13, cujo teor é sintetizado a seguir_ Diz que no dia 15 de fevereiro de 2005 houve a impossibilidade de transmissão da DCTF em face de ter havido congestionamento no "site "da Secretaria da Receita Federal. Salienta que recebeu orientação de servidora da CAC (Central de Atendimento ao Contribuinte) da DRF em Maringá para que persistisse na tentativa de transmissão e que, caso não fosse possível, comparecesse, no dia imediatamente seguinte, diretamente na Delegacia local para recepção. 2 Process() n° W950002807/2005-14 CSRF-T1 Acórd5o n.' 9101 -00.803 Fi 2 Aduz que no dia 160 disquete com a declaração foi levado à DRF mas que nab foi possível a sua recepção face a alegação de ausência de instruções para tanto.. Afirma, ainda, que prosseguiu na tentativa de entrega sem qualquer sucesso e que, no dia 22/02/2005, quando da realização de uma palestra no auditório da DRF em Maringá, obteve a orientação no sentido de não aguardar instruções da Secretaria da Receita Federal e proceder ao envio da DCTF, via internet, ainda que fora do prazo e que se houvesse notificação, alegasse o ocorrido.. Nesse contexto informa que transmitiu a DCTF em 28/02/2005. Posto isso, requer o cancelamento do lançamento.. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento de Curitiba considerou o lançamento Procedente, em decisão assim ementada,.. "Ementa.' DECLARAÇÃO DE DÉBITOS E CRÉDITOS TR1BUTARIOS FEDERAIS — DCTF. MULTA POR ATRASO NA ENTREGA, CABIMENTO_ A contribuinte que, obrigada à entrega da DCTF, a apresenta .fora do prazo legal sujeita-se á multa estabelecida na legislação de regência. Lançamento Procedente" Em tempestivo Recurso Voluntário Os. 27/30) a Contribuinte reitera os arpunentas de sua peça impugnatória, aduzindo que agiu conforme orientação fornecida pelos próprios funcionários da Receita Federal, inclusive, por seu Delegado; que de acordo com a IN SRF No .395, de 05 de fevereiro de 2004, a (mica forma que a Receita Federal disponibiliza aos contribuintes para que cumpram com suas obrigações acessórias, em especial a DCTF, 6 pela Internet; que se não houvesse o problema técnico no sistema da Receita Federal a Contribuinte teria efetuado transmissão da DCTF no prazo legal; que o Ato Declaratório Executivo No. 24 que admitiu como entregues em 15/02/2005 todas as declarações transmitidas em 16, 17 e 18 de fevereiro de 200.5, somente teve a sua publicação 52 dias após o ocorrido, ou seja, em 08 de abril de .2005 Requer, ao final, que o cancelamento da referida multa lançada, por ser arbitrária e ilegal." No que interessa a essa instancia recursal, o acórdão impugnado deu provimento ao recurso voluntário interposto pela Contribuinte, a fim de que fosse cancelada a exigência de multa por atraso em entrega de declaração porquanto o o Ato Declaratório Executivo SRF n° 24, que estendeu o prazo estabelecido para a entrega da DCTF relativa ao 40 trimestre de 2004, e declarou válidas as declarações entregues até 18/02/2005, somente foi publicado no Diário Oficial no dia 12/04/.2005, ou seja, após a data nele estabelecida para entrega da declaração . Segundo o acórdão recorrido, considerando-se o principio da publicidade e o fato de que "as (micas informações que o contribuinte possuía acerca da nova 3 data para envio de sua declaração eram as fornecidas pelos . funcionários da Delegacia da Receita Federal, bem como, considerando a intenção do Contribuinte de entregar a sua declaração corretamente, extraio o entendimento, de que a DCIT entregue em 28/02/2005 deve ser considerada tempestiva, pois sua entrega foi anterior a data da publicação do Ato Declaratório Executivo SRF n°24 de 08 de abril de 2005.. Em sede de recurso especial, argüi a Fazenda Nacional, em síntese, dissenso entre o acórdão recorrido e aresto da extinta Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, o qual assenta o entendimento de que "o atraso pelo contribuinte na entrega da declaração além do prazo estipulado pela Receita Federal, em razão do congestionamento de dados em seu site, acarreta a aplicação da multa prevista na legislação de regência." O recurso especial foi admitida pela Sr, Presidente do Colegiada a quo (Despacho Pres n. 303-260/2008 (fls. 55/57)), ante a caracterização da alegada divergência jurisprudencial. Foram apresentadas contra-razões. o relatório 4 Process() n" 10950 002807/2005-14 Acórd5o nó 9101-00.803 CSRF-T1 Fl. 3 Voto Conselheiro Antonio Carlos Guidoni Filho O recurso especial é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, pelo que dele conheço. Entendo que o recurso da Fazenda Nacional merece provimento_ Com a devida vênia ao entendimento do acórdão recorrido, parece-me que o que o fato de o Contribuinte não ter conseguido entregar sua declaração no prazo assinalado por problemas de informática supervenientemente reconhecidos pela SRF não tem o condão de tomar incerto ou indefinidamente prorrogado o prazo em referência. Os regramentos sobre prazos são uniformes em reconhecer que eventual impossibilidade material para cumprimento de determinado prazo em sua data fatal o transfere para o dia útil imediatamente posterior Aquele originariamente previsto. Nesses termos, parece-me razoável entender que o Contribuinte deveria ter insistido em cumprir a obrigação acessória nos dias subseqüentes ao prazo originariamente fixado, o que notadamente não foi feito na hipótese . Sobre o ponto, diga-se que, mesmo advertido em 22,02,2005 por prepostos da SRF que não deveria aguardar por manifestação do Fisco a respeito, o Contribuinte levou ainda outros 6 (seis) dias para entregar a declaração a que estava obrigado. E do Contribuinte (e não da Fazenda Nacional) o ônus de comprovar que os problemas de recepção de documentos pela SRF teriam perdurado até a data imediatamente anterior h. entrega respectiva, no caso 28.02.2005, Incumbe ao Contribuinte, e não A. Fazenda Nacional, comprovar que estava impossibilitado de cumprir suas obrigações no prazo estabelecido pela norma ou, no caso, em período posterior àquele fixado pela SRF após a alegada solução do problema nos sistemas de informática. Tal assertiva é corroborada pelo fato de que inúmeros contribuintes entregaram suas declarações no período imediatamente posterior - ao encerramento do prazo originariamente previsto pela SRF (15,02,2008), as quais foram consideradas tempestivas pela SRF por meio de ato declaratório. Embora relevantes, os fatos alegados pela Contribuinte de que (i) teria havido tentativa de entrega e recusa de preposto da Secretaria da Receita Federal em receber o documento na repartição; (ii) os problemas de recepção de documentos pela SRF teriam perdurado por período superior aos 3 (três) dias previstos no ato declaratório (18,02,2005) ; não podem ser reconhecidos por absoluta carência de provas. Não há nos autos elementos que permitam concluir que o Contribuinte realmente ficou impossibilitado de entregar sua DCTF nos dias imediatamente posteriores ao prazo originalmente estabelecido pela SRF. Tais fatos poderiam ser provados corn relativa facilidade, por meio de documentos (ex. notificação extrajudicial à SRF para entrega do documento) ou depoimentos de testemunhais (que afirmassem a recusa do recebimento da DCTF pelos agentes do Fisco ou a manutenção dos problemas nos sistemas da SRF até a véspera da entrega feita pelo contribuinte). 5 Tendo o Contribuinte entregue sua declaração apenas 10 dias após o encerramento do novo prazo estabelecido para a SRI para esta finalidade, e não havendo prova no sentido de demonstrar que ele esteve impossibilitado de fazê-lo em momento imediatamente posterior ao prazo originariamente fixado, impõe-se o restabelecimento da penalidade pecuniária. POT' tais fundamentos, voto no sentido de conhecer do recurso especial da PGFN para, no mérito, dap-lhe provi nen o Sala das Se bro de 20111 Antonio Filho - Relator 6
score : 1.0
Numero do processo: 10680.009278/2004-26
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed May 08 00:00:00 UTC 2019
Data da publicação: Mon Jul 01 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 1997
EMBARGOS INOMINADOS. INTEGRAÇÃO DE VOTO. NÃO CABIMENTO.
Descabe a integração de voto a partir de embargos inominados, previstos no art. 66 do Anexo II do Ricarf, os quais se limitam a "inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo existentes na decisão", uma vez ultrapassado o prazo para embargos de declaração, nos termos do art. 67 do Anexo II do Ricarf.
Numero da decisão: 9101-004.170
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer os Embargos Inominados, vencidos os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa e Luis Fabiano Alves Penteado, que não conheceram dos embargos. Acordam, ainda, por maioria de votos, em acolher parcialmente os Embargos Inominados, nos termos do voto da relatora, vencidos os conselheiros Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado), que acolheram integralmente. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto a conselheira Lívia De Carli Germano.
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Presidente
(assinado digitalmente)
Viviane Vidal Wagner - Relatora
Nome do relator: VIVIANE VIDAL WAGNER
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 1997 EMBARGOS INOMINADOS. INTEGRAÇÃO DE VOTO. NÃO CABIMENTO. Descabe a integração de voto a partir de embargos inominados, previstos no art. 66 do Anexo II do Ricarf, os quais se limitam a "inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo existentes na decisão", uma vez ultrapassado o prazo para embargos de declaração, nos termos do art. 67 do Anexo II do Ricarf.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer os Embargos Inominados, vencidos os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa e Luis Fabiano Alves Penteado, que não conheceram dos embargos. Acordam, ainda, por maioria de votos, em acolher parcialmente os Embargos Inominados, nos termos do voto da relatora, vencidos os conselheiros Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado), que acolheram integralmente. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto a conselheira Lívia De Carli Germano. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo - Presidente (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner - Relatora
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 23; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1682; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => CSRFT1 Fl. 1.138 1 1.137 CSRFT1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 10680.009278/200426 Recurso nº Embargos Acórdão nº 9101004.170 – 1ª Turma Sessão de 8 de maio de 2019 Matéria DECADÊNCIA. EMBARGOS. Embargante BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. BDMG Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 1997 EMBARGOS INOMINADOS. INTEGRAÇÃO DE VOTO. NÃO CABIMENTO. Descabe a integração de voto a partir de embargos inominados, previstos no art. 66 do Anexo II do Ricarf, os quais se limitam a "inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo existentes na decisão", uma vez ultrapassado o prazo para embargos de declaração, nos termos do art. 67 do Anexo II do Ricarf. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer os Embargos Inominados, vencidos os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa e Luis Fabiano Alves Penteado, que não conheceram dos embargos. Acordam, ainda, por maioria de votos, em acolher parcialmente os Embargos Inominados, nos termos do voto da relatora, vencidos os conselheiros Luis Fabiano Alves Penteado, Lívia De Carli Germano e Daniel Ribeiro Silva (suplente convocado), que acolheram integralmente. Manifestou intenção de apresentar declaração de voto a conselheira Lívia De Carli Germano. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Presidente (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner Relatora AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 68 0. 00 92 78 /2 00 4- 26 Fl. 1138DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.139 2 Relatório Tratase de embargos inominados apresentados pelo contribuinte BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS BDMG, sob a forma de requerimento (juntado ao eprocesso como "arquivo não paginável", termo de juntada à efl. 1008), em face do Acórdão nº 9101001.543, de 22/01/2013, por meio do qual o colegiado julgou o recurso especial da PFN, nos seguintes termos: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 1998, 1999, 2000 Ementa: DECADÊNCIA DO DIREITO DA FAZENDA NACIONAL CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. TERMO INICIAL PARA A CONTAGEM DO PRAZO Na inexistência de pagamento antecipado ou nos casos em que for caracterizado o evidente intuito de fraude, a contagem dos cinco anos deve ser a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de ofício poderia ter sido efetuado, em conformidade com o art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional. Somente ultrapassado esse lapso temporal sem a expedição de lançamento de ofício operase a decadência, a atividade exercida pelo contribuinte está tacitamente homologada e o crédito tributário extinto, nos termos do artigo 150, § 4° e do artigo 156, inciso V, ambos do Código Tributário Nacional. Assim, a contagem do prazo decadencial de cinco anos, na hipótese de falta de recolhimento de Imposto de Renda Pessoa Jurídica, tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de ofício poderia ter sido efetuado, em consonância com o inciso I do artigo 173 do Código Tributário Nacional CTN. DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. RECOLHIMENTOS NÃO EFETUADOS E NÃO DECLARADOS. MATÉRIA JULGADA NA SISTEMÁTICA DOS ARTIGOS 543B E 543C DA LEI nº 5.869/1973 CPC As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, consoante art. 62A do seu Regimento Interno, introduzido pela Portaria MF nº 586, de 21/12/2010. Fl. 1139DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.140 3 Para a contagem do prazo decadencial, o STJ pacificou entendimento segundo o qual, em havendo pagamento parcial do tributo, devese aplicar o artigo 150, § 4º do Código Tributário Nacional CTN; de outro modo, em não se verificando pagamento, deve ser aplicado o seu artigo 173, inciso I, com o entendimento externado pela Segunda Turma do STJ no julgamento dos EDcl nos EDcl no AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 674.497 PR (2004/01099782). EXCLUSÃO INDEVIDA DE RECEITA DE REVERSÃO DE CONTINGÊNCIA PASSIVA. TRIBUTAÇÃO ANTERIOR. ILEGITIMIDADE DO LANÇAMENTO. Não é admissível que um crédito de natureza estritamente contábil seja tributado na sua constituição e novamente tributado no momento de sua reversão. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, 1) por maioria de votos, dar provimento à arguição de decadência. Vencidos os Conselheiros José Ricardo da Silva (Relator) e Valmir Sandri. Designado para redigir o voto quanto à preliminar o Conselheiro Valmar Fonseca de Menezes. 2) No mérito, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso, quanto à reversão de contingência passiva e dar provimento em parte, com retorno à câmara de origem, para exame das matérias não alcançadas pela decadência. Dessa decisão o contribuinte foi intimado e não apresentou embargos (e fls.846848). Posteriormente, a 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara, em sessão de 09 de agosto de 2016, decidiu sobre a matéria remanescente, através do acórdão nº 1401001.677, que teve a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 1998 ATIVO FISCAL DIFERIDO. CONSTITUIÇÃO E REVERSÃO. A constituição do ativo fiscal diferido, decorrente de prejuízo fiscal e de base de cálculo negativa de CSLL de períodos anteriores à sua constituição, deve ter como contrapartida o patrimônio líquido e não pode ensejar efeito fiscal, de acordo com a Solução de Consulta SRRF/9ªRF/DISIT nº 21, de 01 de fevereiro de 2001. Incorreta a interpretação de que, se a empresa ofereceu à tributação do IRPJ a contrapartida do ativo fiscal diferido decorrente da base de cálculo negativa da CSLL, tem o direito de extrair do lucro real no período em que foi feita a reversão, por falta de base legal. Mormente, quando a contrapartida da constituição do ativo fiscal diferido apenas reduziu o prejuízo fiscal apurado. Fl. 1140DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.141 4 Cientificado, o contribuinte embargou essa decisão (efls.892897), pleiteando, inclusive, a correção do erro material contido no “Demonstrativo do Débito – Intimação nº 598/2017”, nos termos do art. 66 do RICARF. Alegou que como a questão da decadência com relação ao anocalendário de 1997 já está definida, na eventualidade de ser mantida a cobrança de 1998 nos termos do acórdão embargado, requerse a correção do “Demonstrativo do Débito – Intimação nº 598/2017”, para excluir os valores de 1997, reconhecidamente decaídos, conforme os termos constantes do Acórdão nº 9101001.543, de 21.01.2013, efls. 818840. Os embargos foram rejeitados monocraticamente, conforme despacho de admissibilidade de efls.906916. Na sequência, o contribuinte apresentou petição dirigida ao Delegado da Receita Federal do Brasil (e fls. 919 a 921) pleiteando a exclusão da cobrança dos débitos de 1997, visto que conforme a decisão do CARF no acórdão de recurso especial datado de 21/01/2013, estaria supostamente reconhecida a decadência desses valores. A petição foi indeferida conforme despacho de efls.931. Cientificado do despacho que rejeitou os embargos, o contribuinte apresentou recurso especial (efls.938 e ss.), ao qual foi negado seguimento pelo despacho de admissibilidade defls.976 e ss. Após, o contribuinte apresentou nova petição (efls.981 e ss.) e agravo (e fls.1000 e ss.), os quais foram analisados pelo despacho de admissibilidade de efls. 1109 e ss., em 15/01/2018, em que a Presidente da CSRF rejeitou o agravo e admitiu o recebimento da referida petição como embargos inominados opostos em face do Acórdão nº 9101001.543, nos seguintes termos: Constatase que a situação descrita pelo requerente se amolda àquela prevista no art. 66 do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF nº 343/2015 e alterações supervenientes, verbis: Art. 66. As alegações de inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo existentes na decisão, provocados pelos legitimados para opor embargos, deverão ser recebidos como embargos inominados para correção, mediante a prolação de um novo acórdão. § 1º Será rejeitado de plano, por despacho irrecorrível do presidente, o requerimento que não demonstrar a inexatidão ou o erro. § 2º Caso o presidente entenda necessário, preliminarmente, será ouvido o conselheiro relator, ou outro designado, na impossibilidade daquele. § 3º Do despacho que indeferir requerimento previsto no caput, darseá ciência ao requerente. Com efeito, a situação descrita revela a plausibilidade de que, no ato de integração de voto vencido, voto vencedor e redação da parte dispositiva do Acórdão nº 9101001.543, algum lapso Fl. 1141DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.142 5 tenha sido cometido, conduzindo a um erro material capaz de impactar a correta interpretação e aplicação do quanto decidido, em especial quanto ao alcance do provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional. Por tais razões, o requerimento apresentado deve ser recebido como embargos inominados opostos em face do Acórdão nº 9101001.543. Ainda, demonstrada a plausibilidade das alegações do embargante, os embargos devem ser admitidos e levados a julgamento perante a 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, nos termos regimentais. Os autos foram, então, sorteados a esta relatora. É o relatório. Voto Conselheira Viviane Vidal Wagner Relatora Conhecimento Os embargos inominados foram admitidos pela Presidente da CSRF que determinou o julgamento perante a 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, a partir da previsão contida no art. 66 do Anexo II da Portaria MF Nº 343, de 09 de junho de 2015, que aprovou o Regimento Interno do CARF (RICARF). Assim, conheço dos embargos nos termos do despacho de admissibilidade de efls. 1109 e ss. Mérito A síntese da questão ficou bem delimitada no referido despacho de admissibilidade, que esclareceu que o requerente/embargante apontou uma imprecisão no acórdão nº 9101001.543 (efls. 818/840), no que se refere à decadência para os fatos geradores ocorridos no anocalendário 1997, o que teria levado a Unidade Preparadora, encarregada da execução do julgado, a exigirlhe débitos referentes a esse período, os quais entende que teriam sido afastados pela referida decisão, em face de decadência. Deduziuse, das alegações do requerente/embargante que, no ato de integração de voto vencido, voto vencedor e redação da parte dispositiva do Acórdão nº 9101 001.543, poderia ter sido cometido algum lapso. Antes da análise do referido julgado, contudo, importa destacar os fatos relevantes constantes dos autos. Fl. 1142DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.143 6 Consta auto de infração (fls.8 e ss. do vol.1) a caracterização das seguintes infrações: 001 — EXCLUSÃO INDEVIDA DE 'CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO: O contribuinte produziu uma redução indevida do Lucro Real do anobase de 1998 no valor de R$ 45.050.281,37, em virtude da exclusão do valor referente a 'Contribuição Social sobre o Lucro', exclusão esta não autorizada pela legislação do imposto de renda, visto ser um valor que está sendo revertido do ativo e não uma efetiva despesa do contribuinte, tudo conforme explicado no item '4 — Da escrituração do Ativo fiscal Diferido' do Termo de Verificação Fiscal de fls. 19 a 29. 002 — EXCLUSÃO INDEVIDA DE SALDO DEVEDOR DA DIFERENÇA IPC/BINF 1990: O contribuinte produziu reduções indevidas do Lucro Real nos anosbase de 1997, 1998 e 1999, em virtude de estar excluindo a diferença IPC/BINF90 em desacordo com a legislação do tema (Lei 8.200/91, com alterações do art. 11 da Lei 8.682/93) e com o disposto na sentença exarada pelo Sr. Juiz da 12°. Vara da Justiça Federal em Minas Gerais, que lhe permitiu excluir a diferença IPC/BTNF90 da apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL de uma única vez no exercício de 1995, ano base 1994. Tudo conforme explicado no item 3 — Da ação judicial acerca da diferença IPC/BTNF 1990' do Termo de Verificação Fiscal de fls. 19 a 29. 003 — EXCLUSÃO INDEVIDA DE 'REVERSÃO CRÉDITO TRIBUTÁRIO DE CSLL TRIBUTADO EM 1997: O contribuinte produziu uma redução indevida do Lucro Real do anobase de 1998 no valor de R$ 2.140.144,75, em virtude da exclusão do valor referente a 'Reversão de Crédito Tributário de CSLL tributado em 1997, exclusão esta não autorizada pela legislação do imposto de renda, visto ser um valor que está sendo revertido do ativo e não é uma efetiva despesa do contribuinte, tudo conforme explicado no item '4 — Da escrituração do Ativo fiscal Diferido' do Termo de Verificação Fiscal de fls. 19 a 29. 004 — EXCLUSÃO INDEVIDA DE 'RECEITA PELA REVERSÃO DE CONTINGÊNCIA PASSIVA': O contribuinte produziu uma redução indevida do Lucro Real do anobase de 1999 no valor de R$ 10.968.459,45, em virtude da exclusão do valor referente a Receita pela Reversão de Contingência passiva', exclusão esta não autorizada pela legislação do imposto de renda, visto ser um que está sendo revertido do ativo e não é uma efetiva despesa do contribuinte, tudo conforme explicado no item '5 — Da Receita de reversão de contingências' do Termo de Verificação Fiscal de fis. 19 a 29." No Termo de Verificação Fiscal ainda constou: Fl. 1143DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.144 7 6— DAS DECLARAÇÕES DE IRPJ E CSLL O contribuinte retificou sua declaração de imposto de renda da pessoa jurídica relativa ao anobase 1997 em 18/10/1999. Na retificadora alterou o valor das exclusões na apuração do lucro real e a base de cálculo da CSLL e deixou de lançar a compensação integral do prejuízo fiscal e da base negativa de CSLL, conforme foi originariamente declarada na MN, que teve 'como suporte a ação judicial n° 95.00139103/MG. Assim, foi na data da retificadora que a Receita Federal tomou conhecimento das exclusões efetuadas pelo contribuinte na apuração do lucro real e da CSLL e pode efetuar o lançamento das exclusões não admitidas. Em 26/06/2004 o contribuinte retificou a declaração relativa ao anobase de 1998, alterou na declaração retificadora o valor das exclusões, visto ter excluído da apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL o valor referente aos juros de Notas do Tesouro Nacional —NTN da série A3, emitidas na forma autorizada pela MP 1.53847 e contendo as características do art. 70, §2°, do Decreto n" 3.859/2001. A isenção de imposto de renda consta da Le. 10.179/2001 e art. 777 do RIR/99. Assim apesar do contribuinte estar sob procedimento de ofício ao retificar a declaração e esta, abada, não ter sido processada pela Receita Federal, iremos considerar esta declaração retificadora quando do lançamento de ofício. Em síntese, a autuação (efls. 10 e segs.) se deu para exigência de IRPJ diante de quatro diferentes infrações apuradas pelo Fisco. As infrações 001 e 003 alcançaram exclusivamente fatos geradores ocorridos em 31/12/1998. A infração 004 alcançou exclusivamente fatos geradores ocorridos em 31/12/1999. A infração 002 alcançou fatos geradores ocorridos em 30/06/1997, 31/12/1998 e 31/12/1999. A impugnação do contribuinte foi parcialmente acatada pela Delegacia da Receita Federal de Belo Horizonte, com redução do crédito tributário, assim: "EXCLUSÕES/COMPENSAÇÕES NÃO AUTORIZADAS NA APURAÇÃO DO LUCRO REAL. EXCLUSÃO INDEVIDA DE 'CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO'. EXCLUSÃO INDEVIDA DE 'REVERSÃO CRÉDITO TRIBUTÁRIO DE CSLL TRIBUTADO EM 1997'. EXCLUSÃO INDEVIDA DE 'RECEITA PELA REVERSÃO DE CONTINGÊNCIA PASSIVA'. Na determinação do lucro real, poderão ser excluídos do lucro líquido do períodobase somente os valores cuja dedução seja expressamente autorizada pelo Regulamento do Imposto de Renda e que não tenham sido computados na apuração do lucro líquido do períodobase; bem como os resultados, rendimentos, receitas e quaisquer outros valores incluídos na apuração do Fl. 1144DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.145 8 lucro líquido que, de acordo com o Regulamento do imposto de renda, não sejam computados no lucro real. EXCLUSÃO INDEVIDA DE SALDO DEVEDOR DA DIFERENÇA IPC/BT7VF 1990. Em qualquer hipótese, o saldo devedor da correção monetária complementar, relativa ao períodobase de 1990, que corresponder à diferença IPC/BTNE poderá ser deduzido na determinação do lucro real em seis anos calendário, a partir de 1993, à razão de 25% em 1993 e 15% ao ano, de 1994 a 1998. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. NORMAS PROCESSUAIS. OPÇÃO PELA VIA JUDICIAL. RENÚNCIA À INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA. A propositura pela contribuinte de ação judicial contra a Fazenda, com o mesmo objeto, implica renúncia às instâncias administrativas e impede a apreciação das razões de mérito pela autoridade administrativa a quem caberia o julgamento. Lançamento Procedente em parte. A decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento de Belo Horizonte afastou a arguição de decadência do contribuinte sob o argumento de que "somente na data da entrega da declaração retificadora [do ano de 1997], que ocorreu em outubro de 1999, a SRF tomou conhecimento das inauditas exclusões efetuadas pelo contribuinte na apuração do lucro real e da CSLL." Quanto ao mérito, assim decidiu a Delegacia da Receita Federal de Julgamento: "Em face do exposto, VOTO no sentido de rejeitar as preliminares suscitadas e JULGAR PROCEDENTE EM PARTE o lançamento para: 1. em relação as matérias dos itens '001', '003' e '004' do Auto de Infração: 1.1. Manter integralmente as exigências fiscais, no valor de R$ 9.862.533,38 (nove milhões, oitocentos e sessenta e dois mil, quinhentos e trinta e três reais e trinta e oito centavos), com os acréscimos legais; 2. em relação a matéria do item '002' do Auto de Infração: 2.1. Reduzir a exigência do IRPJ para R$ 3.417.611,76 (três milhões, quatrocentos e dezessete mil, seiscentos e vinte e um reais e setenta e seis centavos), com os acréscimos legais; 2.2. Declarar definitiva a exigência, nos termos do item 'a' do ADN CST te. 03, de 1996, no aspecto referente à matéria que foi levada à discussão do Poder Judiciário, qual seja a dedução integral da diferença IPC/BTNF de 1990 sem o óbice determinado pela Lei nº. 8.200, de 1991; excetuados os demais Fl. 1145DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.146 9 aspectos atinentes à incorreção material do lançamento, exigência de multa de oficio e juros de mora." (grifouse) Nas razões de recurso voluntário o contribuinte sustentou: (i) decadência do direito de lançar em relação aos créditos dos exercícios de 1997 e 1998; (ii) ilegitimidade do lançamento no que concerne à exclusão do saldo devedor da diferença IPC/BTNF; (iii) legalidade da exclusão da resultado da "Receita pela Reversão de Contingência Passiva" e do crédito tributário de CSLL sobre Bases de Cálculo Negativas de anos anteriores. Aqui destaco que, para os períodos de apuração de 1997 e 1998 (objeto de recurso voluntário quanto à alegação de decadência) foram apontadas as infrações descritas nos itens 1, 2 e 3 do auto de infração. Após o trâmite processual regular, foram a julgamento os recursos de ofício e voluntário em face da decisão de primeira instância, que foram objeto de decisão do então 1º Conselho de Contribuintes, mediante o Acórdão nº 10709.377 (efls. 529 e segs.). Entre outros aspectos, aquele Colegiado reconheceu a decadência para os fatos geradores ocorridos em 30/06/1997 e 31/12/1998. Confirase sua ementa integral: IRPJ. DECADÊNCIA. ART. 150, § 4°., DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. LANÇAMENTO FORMALIZADO APÓS A FLUÊNCIA DO LUSTRO DECADENCIAL. Formalizado o lançamento de oficio em 29/07/2004, não poderia a Receita Federal, validamente, constituir o crédito tributário relativo aos fatos geradores ocorridos em 30/06/1997 e 31/12/1998. O fato de ter a Recorrente, apresentado declaração retificadora não interfere na contagem do prazo de decadência, prazo este que, diante de regra expressa (insculpida no art. 150, § 4º, do CTN), iniciase quando se reputa ocorrido o fato imponível. Os prazos de decadência não estão sujeitos a interrupção ou suspensão. EXCLUSÃO INDEVIDA DE 'RECEITA DE REVERSÃO DE CONTINGÊNCIA PASSIVA'. TRIBUTAÇÃO ANTERIOR. ILEGITIMIDADE DO LANÇAMENTO. Não é admissivel que um crédito de natureza estritamente contábil seja tributado na sua constituição e novamente tributado no momento de sua reversão. PROCESSO ADMINISTRATIVO. CONCOMITÂNCIA COM AÇÃO JUDICIAL DE MESMO OBJETO. É firme o entendimento desta Corte no sentido de que a existência de ação judicial pela qual discute o contribuinte o 'mérito' do lançamento importa em renúncia à instância administrativa, posto que a coisa julgada a ser proferida no âmbito do Poder Judiciário jamais poderia ser alterada no processo administrativo, o que toma inócua a discussão administrativa. Fl. 1146DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.147 10 EXCLUSÃO INDEVIDA DE SALDO DEVEDOR DA DIFERENÇA IPC/BTNF 1990. É de se afastar imposição de dedução integral dos valores de correção monetária IPC/BTNF no anocalendário de 1994, sendo obrigatória a observância do escalonamento previsto na Lei n o. 8.200/1991, que discriminou, em cada anocalendário, as deduções possíveis. [grifouse] Assim, através do Acórdão nº 10709.377 (efls. 529 e segs.), o Colegiado a quo decidiu: (1) conhecer do recurso voluntário para darlhe provimento, declarando a decadência do direito de a Receita Federal constituir crédito tributário em desfavor da Recorrente nos exercícios de 1997 e 1998 (art. 150, § 4°, do CTN), bem como para cancelar o lançamento quanto à exclusão da reversão de reservas de contingência do procedimento de apuração do resultado do exercício e (2) conhecer do recurso de oficio para negarlhe provimento. No voto condutor, o relator destacou a matéria a ser apreciada no mérito: "acolhida a preliminar, conheço o mérito em relação à exclusão indevida de 'receita de reversão de contingência passiva' — fato gerador ocorrido em 31/12/1999 —, e, igualmente, em relação à exclusão da diferença IPC/BTNF 1990". Logo, a autuação referente à exclusão da diferença IPC/BTNF 1990 (mérito), no período remanescente (AC 1999), foi enfrentada, tendo sido mantida a decisão de primeira instância, a partir dos seguintes fundamentos: Quanto à questão do abatimento das diferenças de correção monetária IPC/BTNF, a análise a ser realizada por este Conselho se bifurca para fins de (i) determinação da legitimidade ou ilegitimidade da dedução (objeto do recurso voluntário) e (ii) aferir a correção dos ajustes efetuados pela autoridade julgadora (objeto do recurso de oficio). Em relação a esse tópico o recurso voluntário não pode ser conhecido em face da concomitância de ação judicial com o mesmo objeto (Mandado de Segurança no. 1997.01.00.0216781). É matéria de súmula o entendimento no sentido de que a existência de ação judicial pela qual discute o contribuinte o 'mérito' do lançamento importa em renúncia à instância administrativa, posto que a coisa julgada a ser proferida no âmbito do Poder Judiciário jamais poderia ser alterada no processo administrativo, o que toma inócua a discussão administrativa. No caso, sendo o objeto deste processo administrativo idêntico ao do processo judicial manejado pela Recorrente, caracterizada está a inviabilidade da discussão da questão em sede administrativa. Em síntese, a partir dessa decisão concluise que restaram: (i) Infrações 1 e 3 – exclusões CSLL: integralmente canceladas por envolverem fatos ocorridos no ano de 1998 e, portanto, alcançados pela decadência; (ii) Infração 2 – diferenças IPC/BTN90: mantida a decisão de 1ª instância, ou seja, a exigência de valores sub judice, acrescidos de juros e multa, em relação ao anocalendário 1999, uma vez que os anos de 1997 e 1998 foram alcançados pela decadência; (iii) Infração 4 – receita de reversão de contigência passiva: cancelada no mérito. Fl. 1147DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.148 11 Sobreveio, então, recurso especial da Fazenda Nacional sobre essa matéria (entre outras), com fundamento no art.7°, I, do antigo Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, ou seja, contra decisão nãounânime de Câmara, quando contrária à lei ou à evidência da prova, apontando (fls. do vol.2): [... ] Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, na sessão de julgamento do dia 12.08.2009, ao analisar o Recurso Especial 973.733/SC, de Relatoria do Min. Luiz Fux, na sistemática dos Recursos Repetitivos (Art. 543C do CPC), definiu que no caso dos tributos sujeitos a lançamento por homologação o prazo decadencial é de cinco anos contados áo primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido realizado, nas hipóteses em que o contribuinte não declara, nem efetua o pagamento do tributo. [...] Não havendo, pois, o que homologar, o procedimento exigível é o do lançamento de oficio, observado o prazo do artigo 173 do CTN, e não o do artigo 150 do mesmo Diploma Legal. É de se destacar que somente na data da entrega da declaração de rendimentos retificadora, o que se deu em 1999, foi que a Receita Federal tomou conhecimento das indevidas exclusões efetuadas pelo contribuinte na apuração do lucro real e da CSLL. Aplicandose, então a teoria da actio nata, é fácil concluir que somente nesta data é que surgiu para a Fazenda o direito de lançar os valores indevidamente excluídos. Logo, foi a partir de 01/01/2000 (primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido efetuado) que começou a correr o prazo decadencial para a Fazenda efetuar o lançamento, não havendo, pois, que se falar em decadência da exação, devendo ser mantido o lançamento referente aos períodos de 1997 e 1998. O recurso foi admitido e levado à Câmara Superior de Recursos Fiscais, que prolatou, então, o Acórdão nº 9101001.543 (efls. 818/840), sobre o qual recaem os presentes embargos inominados. Cumpre a esta turma analisar o referido acórdão a fim de perquirir eventual irregularidade. Consta da ata publicada referente à sessão do dia 22 de janeiro de 2013: Relator: JOSÉ RICARDO DA SILVA Processo: 10680.009278/200426 Recorrente: FAZENDA NACIONAL e Recorrida: BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S/A BDMG Decisão: Por maioria de votos, dado provimento à arguição de decadência. Vencidos os Conselheiros Valmir Sandri e Jose Ricardo da Silva, relator. Designado para redigir o voto quanto à preliminar o Conselheiro Valmar Fonsêca de Menezes. 2) No mérito, por unanimidade de votos, negado provimento ao recurso, quanto à reversão de contingência passiva e dado provimento em parte, com retorno à câmara de origem, para exame das matérias não alcançadas pela decadência. Fez Fl. 1148DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.149 12 sustentação oral o advogado Francisco de Almeida OAB/MG n°94.400. Acórdão n° 9101001.543 A seguir, são transcritos a parte dispositiva, a ementa e alguns excertos dessa decisão: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Exercício: 1998, 1999, 2000 Ementa: DECADÊNCIA DO DIREITO DA FAZENDA NACIONAL CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. TERMO INICIAL PARA A CONTAGEM DO PRAZO Na inexistência de pagamento antecipado ou nos casos em que for caracterizado o evidente intuito de fraude, a contagem dos cinco anos deve ser a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de ofício poderia ter sido efetuado, em conformidade com o art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional. Somente ultrapassado esse lapso temporal sem a expedição de lançamento de ofício operase a decadência, a atividade exercida pelo contribuinte está tacitamente homologada e o crédito tributário extinto, nos termos do artigo 150, § 4° e do artigo 156, inciso V, ambos do Código Tributário Nacional. Assim, a contagem do prazo decadencial de cinco anos, na hipótese de falta de recolhimento de Imposto de Renda Pessoa Jurídica, tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de ofício poderia ter sido efetuado, em consonância com o inciso I do artigo 173 do Código Tributário Nacional CTN. DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. RECOLHIMENTOS NÃO EFETUADOS E NÃO DECLARADOS. MATÉRIA JULGADA NA SISTEMÁTICA DOS ARTIGOS 543B E 543C DA LEI nº 5.869/1973 CPC As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, consoante art. 62A do seu Regimento Interno, introduzido pela Portaria MF nº 586, de 21/12/2010. Para a contagem do prazo decadencial, o STJ pacificou entendimento segundo o qual, em havendo pagamento parcial do tributo, devese aplicar o artigo 150, § 4º do Código Tributário Nacional CTN; de outro modo, em não se verificando pagamento, deve ser aplicado o seu artigo 173, inciso I, com o entendimento externado pela Segunda Turma do STJ no julgamento dos EDcl nos EDcl no AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 674.497 PR (2004/01099782). Fl. 1149DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.150 13 EXCLUSÃO INDEVIDA DE RECEITA DE REVERSÃO DE CONTINGÊNCIA PASSIVA. TRIBUTAÇÃO ANTERIOR. ILEGITIMIDADE DO LANÇAMENTO. Não é admissível que um crédito de natureza estritamente contábil seja tributado na sua constituição e novamente tributado no momento de sua reversão. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, 1) por maioria de votos, dar provimento à arguição de decadência. Vencidos os Conselheiros José Ricardo da Silva (Relator) e Valmir Sandri. Designado para redigir o voto quanto à preliminar o Conselheiro Valmar Fonseca de Menezes. 2) No mérito, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso, quanto à reversão de contingência passiva e dar provimento em parte, com retorno à câmara de origem, para exame das matérias não alcançadas pela decadência. Naquela decisão ocorreu a necessidade de formalização ad hoc do voto vencido, onde restou consignado: Voto vencido: [...] Informo que, na condição de Redator Ad Hoc, estritamente transcrevo as razões expostas pelo relator original da decisão. Portanto, a análise do caso concreto reflete a convicção do Conselheiro José Ricardo da Silva na valoração dos fatos. Ou seja, não me encontro vinculado: (1) ao relato dos fatos apresentado; (2) a nenhum dos fundamentos adotados para a apreciação das matérias em discussão; e (3) a nenhuma das conclusões da decisão incluindose a parte dispositiva e a ementa. Destarte, adoto como base a minuta de acórdão inicialmente apresentada quando do julgamento do recurso, bem como o seu resultado, proferido pela 1ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, expresso na Ata da sessão ocorrida em janeiro de 2013, para formalizar o voto do relator. [...] Desta forma, para lançamentos em que não houve pagamento antecipado, é de se observar que os julgados do Superior Tribunal de Justiça firmaram posição no sentido de que o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado corresponde, de fato, ao primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, § 4º, e 173, do Código Tributário Nacional. Fl. 1150DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.151 14 Por outro lado, para os lançamentos em que houve pagamento antecipado a contagem do prazo decadencial tem início na data do fato gerador da obrigação tributária discutida. O caso em questão trata de cobrança de Imposto de Renda pessoa Jurídica ocorridos nos anoscalendário de 1997 e 1998, correspondente aos exercícios de 1998 e 1999, respectivamente. Os fatos geradores questionados ocorreram em 30/06/1997 e 31/12/1998. É importante observar , que no que diz respeito ao ano calendário de 1997, o direito de a Fazenda nacional constituir o crédito está decadente por ambas as teses adotadas pelo Superior Tribunal de Justiça. Ou seja, tanto faz se existe pagamento antecipado ou não, já que tanto pelo art. 150, § 4º como pelo art. 173, I, do Código Tributário Nacional o direito de constituir o crédito tributário já se exauriu. Pelo art. 150, § 4º, o prazo fatal ocorreu em 30/06/2002. Pelo art. 173, I, o prazo fatal ocorreu em 31/12/2003. A ciência do lançamento ocorreu 29/07/2004, posterior ao prazo fatal. No que diz respeito ao ano calendário de 1998,[...] Assim sendo, no ponto de vista dos julgados do Superior Tribunal de Justiça, o termo inicial da contagem do prazo decadencial é 01/01/2000, já que o fato gerador ocorreu em 31/12/1998. Ou seja, de acordo com a linguagem do Superior Tribunal de Justiça “o termo inicial para contagem do prazo decadencial, nos casos em que não houve pagamento antecipado, é o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de oficio poderia ter sido efetuado, nos termos do art. 173, I, do Código Tributário Nacional. O prazo fatal para a constituição do lançamento ocorreria em 31/12/2004, tendo ocorrido a ciência do lançamento em 29/07/2004, não está decadente o direito de a Fazenda Nacional constituir o crédito tributário questionado para o anocalendário de 1998. Assim sendo, considero que em relação à exigência do Imposto de Renda Pessoa Jurídica, sem pagamento antecipado, aplicase a regra geral de decadência enunciada no artigo 173, I do Código Tributário Nacional, tendo a Fazenda o prazo de cinco anos a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado para constituir o crédito tributário. [...] Nestas condições, entendo que se faz necessário adaptar a decisão recorrida aos julgados do Superior Tribunal de Justiça, razão pela qual conheço do recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, por tempestivo, preenchendo as demais questões de admissibilidade e, no mérito, voto no sentido de dar provimento parcial ao Recurso Especial do Procurador para declarar que o anocalendário de 1998 não foi alcançado pelo prazo decadencial, determinando o retorno dos autos à Câmara Fl. 1151DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.152 15 recorrida para apreciação das demais matérias recursais relativo ao anocalendário de 1998. Ao final, conclui sobre o mérito: Assim sendo, correta a decisão recorrida, não merecendo nenhum reparo nesta Câmara Superior de Recursos Fiscais. Nestas condições, entendo que se faz necessário adaptar a decisão recorrida aos julgados do Superior Tribunal de Justiça, razão pela qual conheço do recurso especial interposto pela Fazenda Nacional, por tempestivo, preenchendo as demais questões de admissibilidade e, no mérito, voto no sentido de dar provimento parcial ao Recurso Especial do Procurador para declarar que o anocalendário de 1998 não foi alcançado pelo prazo decadencial, determinando o retorno dos autos à Câmara recorrida para apreciação das demais matérias recursais relativo ao anocalendário de 1998. (grifouse) Por seu turno, o voto vencedor em relação à preliminar, foi formalizado e assinado digitalmente pelo próprio redator designado, que então consignou: Voto vencedor [...] minha posição passou a ser a da aplicação do art. 173, I, do CTN, em todos os casos em que não tenha havido pagamento antecipado, haja vista essa matéria ter sido objeto de decisão do STJ, na sistemática do art. 543C do Código de Processo Civil – CPC, no procedimento previsto para os recursos repetitivos. Sendo assim, esta 1ª Turma da CSRF, no Acórdão nº 9101 000.811, sessão de 21/02/2011, da qual também participei, por unanimidade de votos adotou a decisão proferida pelo STJ no julgamento do Resp. STJ nº 973.733/SC, em 12/08/2009, [...]. [...] Sendo assim, mantenho a posição anteriormente assumida na decisão desta 1ª Turma da CSRF, no supracitado Acórdão nº 9101000.811, sessão de 21/02/2011, porém com o entendimento externado pelas duas Turmas que compõem a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça – STJ, representado no julgamento dos Embargos de Declaração “EDcl nos EDcl no AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 674.497 PR (2004/01099782)”, julgado em 09/02/2010, cujo aresto transcrevo a seguir: [...] Diante do exposto, e da inexistência de pagamentos, dou provimento ao recurso da Fazenda Nacional, com retorno à Câmara a quo para análise das demais questões. É importante esclarecer que, no âmbito do CARF, a formalização do acórdão segue o padrão do sistema em que, quando há voto vencedor, ainda que parcialmente, o voto original passa a ser registrado como "voto vencido". Inexiste a opção de "voto vencido parcialmente". Fl. 1152DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.153 16 Tendo isso em mente, cabe analisar se o voto vencedor substituiu totalmente o voto vencido ou apenas parcialmente, no que o voto, embora descrito como "voto vencido", restaria parcialmente mantido. No caso dos autos, a conclusão é fácil, uma vez que se trata de análise de questão preliminar (decadência), como ficou bem destacado no resultado do julgamento. Assim, tratase de voto vencido parcialmente (apenas quanto à preliminar), ainda que isso não tenha ficado tão evidenciado quando da formalização. Houve uma divergência entre o resultado registrado para o julgamento e o resultado do voto vencido "ad hoc" em relação à preliminar de decadência: este teria se dado de forma parcial, enquanto o resultado registrava que o relator (e outro conselheiro) teriam ficado vencidos (integralmente), ou seja, o relator original do voto "vencido" negou provimento ao recurso da PFN, mantendo, assim, o que restara decidido no acórdão recorrido (decadência de 1997 e 1998). Já o voto vencedor, formalizado pelo redator designado, registrou o provimento integral ao recurso da PFN. Vale lembrar que o quê a Fazenda Nacional pleiteava era o afastamento da decadência para os anoscalendário 1997 e 1998. A fundamentação apresentada pelo voto vencedor (que coincide com a fundamentação do voto vencido ad hoc) não restou suficientemente clara para afastar a decadência em relação ao anocalendário 1997, ainda que efetuando a contagem pelo prazo do art. 173, I, do CTN, uma vez que a autuação ocorreu em 2004. Há, no caso, um outro fundamento, considerado válido pela autoridade fiscal e pela DRJ e rechaçado pela turma ordinária que julgou o recurso voluntário pela primeira vez (no acórdão nº 10709377), qual seja, a apresentação de declaração (DIPJ do AC 1997) retificadora em 1999. Considerando essa informação estaria, em tese, afastada a preliminar de decadência em relação ao anocalendário 1997 e condizente com o resultado registrado na ata de julgamento (pelo provimento integral ao recurso da PFN quanto à matéria decadência). Considerando que todos os conselheiros, no momento do julgamento do acórdão nº 9101001543, em 21/01/2013, estavam vinculados ao quanto decidido pelo STJ no Resp nº 973.733, por força do art. 62A do Anexo II do Ricarf aprovado pela Portaria MF nº 586, de 21/12/2010, podese concluir que o único fundamento pelo qual o relator e o outro conselheiro não teriam dado provimento ao recurso da PFN, em função da interpretação vinculante, seria a divergência em relação à outra fundamentação (da actio nata em relação à DIPJ retificadora entregue em 1999). Assim, para justificar o provimento ao recurso especial da PFN no tocante à preliminar de decadência, de forma integral, consoante registrado em ata de julgamento, caberia ler a fundamentação do voto vencedor considerando essa questão da actio nata. Ocorre que, nesse caso, descabe a integração do voto a partir de embargos inominados, previstos no art. 66 do Anexo II do Ricarf, os quais se limitam a "inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo existentes na decisão", uma vez que foi ultrapassado o prazo para embargos de declaração, nos termos do art. 67 do Anexo II do Ricarf, pois o contribuinte, embora intimado do acórdão (efls.846848), não os apresentou. De outro lado, verificase que, embora na decisão tenha sido registrado "dar provimento à arguição de decadência", nenhuma decadência foi arguída, pois se tratava de recurso especial da Fazenda Nacional. Consta da parte final do voto vencedor que "Diante do Fl. 1153DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.154 17 exposto, e da inexistência de pagamentos, dou provimento ao recurso da Fazenda Nacional, com retorno à Câmara a quo para análise das demais questões." Nesse caso, logicamente, "dar provimento ao recurso" da Fazenda Nacional significa "afastar a decadência". Por se tratar de mero erro material, cabe ajuste a partir dos presentes embargos inominados, sem nenhum prejuízo a qualquer das partes. Quanto ao mérito da questão referente à parte do lançamento mantida pela DRJ e objeto de recurso voluntário do contribuinte no tocante ao item 2 do auto de infração, cabe esclarecer que tal parcela havia sido objeto de cancelamento preliminar por decadência (em relação aos anos calendário 1997 e 1998), o que foi revertido pela CSRF, como se viu anteriormente. Contudo, no mérito, a parte mantida pela DRJ em relação ao item 2 do auto de infração, após os ajustes que restaram definitivos pelo não provimento do recurso de ofício, já havia sido objeto de decisão pelo acórdão que analisou o recurso voluntário apresentado (AC 10709377), para reconhecer a decadência parcial em relação aos períodos de 1997 e 1998, mas mantendo a autuação em relação ao ano de 1999: PROCESSO ADMINISTRATIVO. CONCOMITÂNCIA COM AÇÃO JUDICIAL DE MESMO OBJETO. É firme o entendimento desta Corte no sentido de que a existência de ação judicial pela qual discute o contribuinte o 'mérito' do lançamento importa em renúncia à instância administrativa, posto que a coisa julgada a ser proferida no âmbito do Poder Judiciário jamais poderia ser alterada no processo administrativo, o que toma inócua a discussão administrativa. EXCLUSÃO INDEVIDA DE SALDO DEVEDOR DA DIFERENÇA IPC/BTNF 1990. É de se afastar imposição de dedução integral dos valores de correção monetária IPC/BTNF no anocalendário de 1994, sendo obrigatória a observância do escalonamento previsto na Lei n o. 8.200/1991, que discriminou, em cada anocalendário, as deduções possíveis. Assim, compreendese que, mesmo diante do provimento integral do recurso especial da Fazenda Nacional pela CSRF, essa matéria não teria que ser apreciada pela turma a quo novamente. Por fim, considerandose que os embargos inominados foram admitidos para verificação de eventual lapso cometido “no ato de integração de voto vencido, voto vencedor e redação da parte dispositiva do Acórdão nº 9101001.543", o único erro material passível de correção por essa estreita via, como demonstrado, é o ajuste na parte dispositiva do acórdão, em consonância com o voto vencedor para, onde se lê "dar provimento à arguição de decadência", leiase "dar provimento para afastar a decadência", uma vez que se trata de recurso especial da Fazenda Nacional. Em face do exposto, conheço e dou provimento parcial aos embargos inominados do contribuinte para retificar a decisão registrada no acórdão nº 9101001.543, Fl. 1154DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.155 18 determinando onde se lê "dar provimento à arguição de decadência", leiase "dar provimento para afastar a decadência". (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner Declaração de Voto Conselheira Livia De Carli Germano No presente caso divergi da Relatora por entender, com a devida vênia, que os embargos mereceriam acolhida. Passo a declarar meu voto. Conforme relatado, o acórdão embargado (9101001.543, de 22/01/2013), proferido por esta 1a Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais CSRF, analisou recurso especial interposto pela Fazenda Nacional contra decisão proferida por turma ordinária deste CARF que acolheu a preliminar de decadência dos fatos geradores ocorridos em 31/06/1997 e 31/12/1998. No caso, o relator original do acórdão embargado restou vencido quanto à decadência, de modo que foi designado outro Conselheiro para a redigir o voto vencedor. Analisando o conteúdo dos votos vencedor e vencido constantes do acórdão 9101001.543, temos o seguinte: Voto vencido no acórdão embargado: dá provimento parcial ao recurso da Fazenda Nacional por entender que o ano de 1998 não foi alcançado pela decadência, mantendo a decadência para 1997. Em sua fundamentação, o relator afirma seguir a contagem do prazo decadencial adotada pelo STJ nos autos do Recurso Especial 973.733 SC, decidido na sistemática de recursos repetitivos, e, em síntese, observa que (a) para 1997 a decadência ocorreu, tanto por aplicação do artigo 150, par. 4o, do CTN, seja pelo artigo 173, I, e (b) para 1998 conclui que não se operou a decadência eis que, considerando a ausência de pagamento antecipado, a contagem do prazo decadencial segue o artigo 173, I do CTN, devendo ser adotado como termo inicial o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ser realizado. Destaco os seguintes trecho deste voto: É importante observar , que no que diz respeito ao ano calendário de 1997, o direito de a Fazenda nacional constituir o crédito está decadente por ambas as teses adotadas pelo Superior Tribunal de Justiça. Ou seja, tanto faz se existe pagamento antecipado ou não, já que tanto pelo art. 150, § 4º Fl. 1155DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.156 19 como pelo art. 173, I, do Código Tributário Nacional o direito de constituir o crédito tributário já se exauriu. Pelo art. 150, § 4º, o prazo fatal ocorreu em 30/06/2002. Pelo art. 173, I, o prazo fatal ocorreu em 31/12/2003. A ciência do lançamento ocorreu 29/07/2004, posterior ao prazo fatal. (...) No presente caso se torna irrelevante continuar a discussão sobre qual seria o significado de “pagamento antecipado”, já que não houve recolhimento antecipado de Imposto de Renda Pessoa Jurídica, como restou consignado na Declaração de Rendimentos da Pessoa Jurídica. Notase às fls. 41, que o ajuste pelo lucro real, no anocalendário de 1998, não houve nenhum recolhimento do imposto (apuração de IRPJ = zero). Necessário se observar, que apesar do contribuinte ter compensado base negativa de imposto de renda de pessoa jurídica, nada foi recolhido a título deste imposto. Assim sendo, no ponto de vista dos julgados do Superior Tribunal de Justiça, o termo inicial da contagem do prazo decadencial é 01/01/2000, já que o fato gerador ocorreu em 31/12/1998. Ou seja, de acordo com a linguagem do Superior Tribunal de Justiça “o termo inicial para contagem do prazo decadencial, nos casos em que não houve pagamento antecipado, é o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento de oficio poderia ter sido efetuado, nos termos do art. 173, I, do Código Tributário Nacional. O prazo fatal para a constituição do lançamento ocorreria em 31/12/2004, tendo ocorrido a ciência do lançamento em 29/07/2004, não está decadente o direito de a Fazenda Nacional constituir o crédito tributário questionado para o anocalendário de 1998. Voto vencedor no acórdão embargado: o redator designado cita a jurisprudência do STJ e o Recurso Especial nº. 973.733SC adotandoos como razões de decidir. Afirma que sua posição passou a ser a da aplicação do artigo 173, I, do CTN nos casos em que não tenha havido pagamento antecipado e passa a tratar do termo inicial de tal contagem (se seria o primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato gerador ou o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ser realizado) para, então, afirmar que adota a posição do STJ (firmada nos EDcl nos EDcl no AgRg no Recurso Especial nº 674.497/PR), de que o termo inicial do prazo previsto no artigo 173, I, do CTN é o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ser realizado. Em seguida, afirma: Diante do exposto, e da inexistência de pagamentos, dou provimento ao recurso da Fazenda Nacional, com retorno à Câmara a quo para análise das demais questões. Fl. 1156DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.157 20 Como se percebe, a fundamentação apresentada pelo voto vencedor, em essência, coincide com a fundamentação do voto vencido, sendo de se concluir que não restou clara a razão pela qual o relator original foi vencido na sessão de julgamento. Tal falha poderia ter sido sanada por meio da apresentação de embargos de declaração (por qualquer das partes), todavia isso não ocorreu. Não obstante, é fato que existe uma incompatibilidade entre o conteúdo do voto vencedor (que não traz fundamento para excluir a decadência para o ano de 1997) e o dispositivo da decisão (que se refere a um provimento total do recurso da Fazenda Nacional). Daí porque a irresignação do contribuinte acabou por ser devolvida à apreciação desta 1a Turma da CSRF sob a única via processual então possível: a dos "embargos inominados". O artigo 66 do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF 343/2015, estabelece que os embargos inominados são um recurso sem prazo específico e que, por isso mesmo, sua cognição é restrita, sendo dedicado apenas a sanar "inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculo existentes na decisão". Assim, é importante pontuar que, de fato, não estamos diante de um caso típico de embargos inominados, visto que não há, no acórdão embargado, propriamente um lapso manifesto ou algum erro de escrita ou de cálculo. Sem embargo, também não se pode negar que por meio do presente processo administrativo o contribuinte busca se defender da cobrança de um tributo e a fundamentação para a manutenção de tal cobrança inexiste, já que a decisão desta 1a Turma da CSRF que manteve o auto de infração relativo ao anocalendário de 1997 não diz a razão pela qual não teria ocorrido a decadência para tal período de apuração. Ante tal circunstância, e considerando o poderdever da Administração de anular seus próprios atos quando eivados de vício de legalidade (artigo 53 da Lei 9.784/1999), compreendo que seria o caso de se suscitar, de ofício, a preliminar de nulidade da decisão embargada no que diz respeito ao anocalendário de 1997, por ausência de fundamentação (motivação). Conforme expressei em meu voto no acórdão 9101004.144, as decisões deste CARF são atos administrativos e, portanto, os elementos dessa natureza de ato devem estar presentes para que se possam considerar tais atos como existentes, devendo ainda esses elementos se revestirem de seus respectivos atributos para que o ato administrativo seja considerado então válido. Dito de forma breve, os elementos do ato administrativo são: o agente/sujeito (quem o realiza), a forma (como é realizado), a finalidade (para que é realizado), o objeto (o que contém) e o motivo (por que é realizado). Os atributos, por sua vez, são: a capacidade (agente competente), a licitude da forma (forma prevista em lei ou não proibida), o atendimento ao interesse público como finalidade, o objeto lícito, possível e determinado ou determinável, bem como a subsunção do fato à norma quanto ao motivo. Ainda sobre o motivo, a doutrina costuma conceituálo como as situações de fato (o acontecimento) e de direito (a norma) que geram a necessidade da Administração em Fl. 1157DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.158 21 praticar o ato administrativo, ressaltando que não se deve confundir motivo com motivação, que é a demonstração dos motivos, isto é, a justificativa da existência dos pressupostos de fato. Sobre o tema, José dos Santos Carvalho Filho leciona: A despeito da divergência que grassa entre alguns autores a propósito dos conceitos de motivo e motivação, temse firmado a orientação que os distingue e pelo qual são eles configurados como institutos autônomos. Motivo, como vimos, é a situação de fato (alguns denominam de ‘circunstâncias de fato’) por meio da qual é deflagrada a manifestação de vontade da Administração, já a motivação, como bem sintetiza CRETELLA JR., ‘é a justificativa do pronunciamento tomado’, o que ocorre mais usualmente em atos cuja resolução ou decisão é precedida, no texto, dos fundamentos que conduziram à prática do ato. Em outras palavras: a motivação exprime de modo expresso e textual todas as situações de fato que levaram o agente à manifestação da vontade. (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 125) Neste sentido, no âmbito do processo administrativo fiscal, o Decreto 70.235/1972 exige fundamentação das decisões, assim dispondo: Art. 28. Na decisão em que for julgada questão preliminar será também julgado o mérito, salvo quando incompatíveis, e dela constará o indeferimento fundamentado do pedido de diligência ou perícia, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) ... Art. 31. A decisão conterá relatório resumido do processo, fundamentos legais, conclusão e ordem de intimação, devendo referirse, expressamente, a todos os autos de infração e notificações de lançamento objeto do processo, bem como às razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências. (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) Também os artigos 2º e 50 da Lei 9.784/1999 a qual regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal e é aplicável subsidiariamente ao processo administrativo fiscal (nos termos de seu artigo 69) obrigam à motivação, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando os atos administrativos decidirem recursos administrativos. Vejase (grifamos): Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Fl. 1158DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.159 22 Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: (...) VII indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão; (...) Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: (...) V decidam recursos administrativos; (...) § 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. (...) § 3º A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito. No caso, como visto, o acórdão embargado não contém os fundamentos pelos quais não foi reconhecida a decadência para o anocalendário de 1997, havendo assim lacuna de fundamentação. Diante de decisão não fundamentada, concluo que tal ato administrativo carece de um de seus elementos de validade, qual seja, a motivação, e, neste sentido, o acórdão 9101001.543, de 22/01/2013 é nulo quanto à decisão relativa ao anocalendário de 1997. Seria o caso, portanto, de esta CSRF reconhecer tal nulidade e então passar à análise sobre se, com relação ao anocalendário de 1997, o lançamento decaiu ou não. Neste passo, registro também que, quando da devolução dos autos à turma ordinária deste CARF (para que esta se manifestasse sobre as demais questões cuja análise havia sido prejudicada em razão do reconhecimento da decadência), esta analisou e julgou, por meio do acórdão 1401001.677, apenas e tão somente o anocalendário de 1998. Disso decorre que, em termos processuais, sequer existe decisão deste CARF quanto às questões supostamente não alcançadas pela decadência relacionadas ao ano calendário de 1997. Vale pontuar, ademais, que mesmo que, em termos lógicos, seja possível aplicar ao auto de infração relativo a 1997 o resultado do julgamento do acórdão 1401001.677 (que analisou apenas o auto de infração referente a 1998), juridicamente é necessário uma Fl. 1159DF CARF MF Processo nº 10680.009278/200426 Acórdão n.º 9101004.170 CSRFT1 Fl. 1.160 23 decisão específica para o auto de infração relativo a 1997, pois só então a Fazenda terá uma base, um título final, para a cobrança dos respectivos tributos. Em síntese, nos presentes autos temos a peculiar situação em que o contribuinte (i) não sabe a razão pela qual o lançamento relativo ao ano de 1997 não estaria decaído; e (ii) não obteve uma decisão final administrativa específica para o ano de 1997 sobre as questões supostamente não alcançadas pela decadência. São estas as razões pelas quais, respeitosamente, divergi da Relatora, compreendendo que seria o caso de esta 1a Turma da CSRF acolher os presentes embargos para, primeiramente, reconhecer a ausência de fundamentação (e portanto a nulidade) do acórdão 9101001.543 quanto ao anocalendário de 1997 para, então, decidir, na presente sessão, se o ano de 1997 estaria ou não decaído, e então, se fosse o caso (isto é, apenas se a decisão fosse pela manutenção do lançamento referente a 1997), os autos deveriam ser retornados à turma ordinária para análise das questões não alcançadas pela decadência relativas a tal anocalendário. Apenas assim compreendo que seria possível afirmar sobre a existência de uma decisão fundamentada relativa ao auto de infração lavrado para a cobrança do tributo referente a 1997, tal como ocorreu com o ano de 1998. É a declaração. (assinado digitalmente) Livia De Carli Germano Fl. 1160DF CARF MF
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Numero do processo: 16561.000197/2007-46
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jul 04 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Sep 28 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2002
VERIFICAÇÃO DE PREJUÍZOS APURADOS POR EMPRESA RESIDENTE NO EXTERIOR. DECADÊNCIA.
O prazo de decadência apenas começa a fluir com a inércia da administração fiscal.
Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2002
ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. HIPÓTESE DE DISPONIBILIZAÇÃO DE LUCROS.
Na alienação de participação em empresa sediada no exterior, há o emprego dos lucros auferidos no exterior, em favor da empresa brasileira, configurando hipótese de disponibilização desses lucros. A finalidade da norma contida no item 4 da alínea b do § 2º do art. 1º da Lei nº 9.532/1997 não pode ser outra, senão a de caracterizar como disponibilização qualquer forma de realização dos lucros que não esteja compreendida nas demais situações previstas no referido §2º. Não há como defender a ideia de que a alienação das participações societárias (onde os lucros estavam acumulados) não representa uma forma de disponibilização dos lucros no exterior. Ao contrário disso, a alienação das participações societárias é uma típica forma de realização dos lucros auferidos no exterior, lucros que ainda não haviam sido tributados pelas leis brasileiras.
Assunto: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL
Ano-calendário: 2002
TRIBUTAÇÃO REFLEXA - CSLL
Estende-se ao lançamento decorrente, no que couber, a decisão prolatada no lançamento matriz, em razão da íntima relação de causa e efeito que os vincula.
Numero da decisão: 9101-003.649
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no me´rito, (i) em relac¸a~o ao emprego de valor, por voto de qualidade, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Lui´s Fla´vio Neto (relator), Cristiane Silva Costa, Gerson Macedo Guerra e Jose´ Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado), que lhe deram provimento; e, (ii) em relac¸a~o a` decade^ncia, por maioria de votos, acordam em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Votou pelas concluso~es o conselheiro Demetrius Nichele Macei. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Rafael Vidal de Arau´jo. Nos termos do Art. 58, §5o, Anexo II do RICARF, o conselheiro Demetrius Nichele Macei na~o votou quanto ao conhecimento do recurso e quanto ao me´rito da primeira mate´ria, por se tratar de questa~o ja´ votada pelo conselheiro Jose´ Eduardo Dornelas Souza na reunia~o anterior.
(assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Arau´jo - Presidente em exercício e redator designado
(assinado digitalmente)
Luís Flávio Neto - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Fla´vio Franco Corre^a, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Luis Fla´vio Neto, Fernando Brasil de Oliveira Pinto (suplente convocado), Gerson Macedo Guerra, Demetrius Nichele Macei, Rafael Vidal de Arau´jo (Presidente em Exerci´cio). Ausente, justificadamente, o conselheiro Andre´ Mendes Moura, substitui´do pelo conselheiro Fernando Brasil de Oliveira Pinto.
Nome do relator: LUIS FLAVIO NETO
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DECADÊNCIA. O prazo de decadência apenas começa a fluir com a inércia da administração fiscal. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. HIPÓTESE DE DISPONIBILIZAÇÃO DE LUCROS. Na alienação de participação em empresa sediada no exterior, há o emprego dos lucros auferidos no exterior, em favor da empresa brasileira, configurando hipótese de disponibilização desses lucros. A finalidade da norma contida no item 4 da alínea “b” do § 2º do art. 1º da Lei nº 9.532/1997 não pode ser outra, senão a de caracterizar como disponibilização qualquer forma de realização dos lucros que não esteja compreendida nas demais situações previstas no referido §2º. Não há como defender a ideia de que a alienação das participações societárias (onde os lucros estavam acumulados) não representa uma forma de disponibilização dos lucros no exterior. Ao contrário disso, a alienação das participações societárias é uma típica forma de realização dos lucros auferidos no exterior, lucros que ainda não haviam sido tributados pelas leis brasileiras. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2002 TRIBUTAÇÃO REFLEXA CSLL AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 56 1. 00 01 97 /2 00 7- 46 Fl. 1407DF CARF MF 2 Estendese ao lançamento decorrente, no que couber, a decisão prolatada no lançamento matriz, em razão da íntima relação de causa e efeito que os vincula. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, (i) em relação ao emprego de valor, por voto de qualidade, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto (relator), Cristiane Silva Costa, Gerson Macedo Guerra e Jose ́Eduardo Dornelas Souza (suplente convocado), que lhe deram provimento; e, (ii) em relação à decaden̂cia, por maioria de votos, acordam em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Votou pelas conclusões o conselheiro Demetrius Nichele Macei. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Rafael Vidal de Araújo. Nos termos do Art. 58, §5o, Anexo II do RICARF, o conselheiro Demetrius Nichele Macei não votou quanto ao conhecimento do recurso e quanto ao mérito da primeira matéria, por se tratar de questão já votada pelo conselheiro José Eduardo Dornelas Souza na reunião anterior. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Presidente em exercício e redator designado (assinado digitalmente) Luís Flávio Neto Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Flávio Franco Corrêa, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Luis Flávio Neto, Fernando Brasil de Oliveira Pinto (suplente convocado), Gerson Macedo Guerra, Demetrius Nichele Macei, Rafael Vidal de Araújo (Presidente em Exercício). Ausente, justificadamente, o conselheiro André Mendes Moura, substituído pelo conselheiro Fernando Brasil de Oliveira Pinto. Fl. 1408DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 3 3 Relatório Tratase de recurso especial interposto por COMPANHIA DE BEBIDAS DAS AMÉRICAS AMBEV em face do acórdão n. 110200.785 (doravante “acórdão a quo” ou “acórdão recorrido”), proferido pela então 2a Turma Ordinária, 1a Câmara, 1a Seção (doravante “Turma a quo”). O caso trazido a esta e. CSRF diz respeito à (i) discussão se alienacã̧o de participação societária em controlada no exterior configura a hipótese de incidência de IRPJ e CSLL, com fulcro no art. 1o, par. 2o, “b”, item 4, da Lei n. 9.532/97; (ii) decadência do direito de promover a glosa de prejuízos fiscais da empresa estrangeira. O acórdão recorrido apresenta a seguinte descrição dos fatos: “Conforme o Termo de Verificacã̧o Fiscal de fls. 186 a 197, foram verificados os fatos a seguir sintetizados, no que importa ao presente feito: Em 02.09.1999, a empresa AMBEV adquire 100% das ações da HOHNECK S/A, empresa sediada no Uruguai, cujo capital social era de R$ 10.000,00. Em maio de 2002, a empresa SKOL adquiriu da AMBEV ações da HOHNECK, pelo valor de R$ 9.999,99, efetuou uma integralizacã̧o de capital no valor de R$ 40.000,00 e fez um AFAC (Adiantamento para Futuro Aumento de Capital) no valor de R$ 575.285.996,93. A partir dessa operação a SKOL passou a deter 99,9991% da participacã̧o acionária, e a AMBEV 0,0009%. Em julho de 2002, a Companhia Brasileira de Bebidas – CBB adquiriu da SKOL acõ̧es da HOHNECK no valor de R$ 25.345,47 e efetuou um AFAC de R$ 591.444.812,28, do que resultou nova alteração no quadro societário e participacã̧o acionária na HOHNECK. Com relacã̧o aos resultados da HOHNECK no exterior, a autoridade fiscal constatou que ela apurou prejuízo fiscal nos anos de 1999, 2000 e 2001 e lucro no ano de 2002. Entretanto, por não ter sido apresentada a documentacã̧o que lastreou os registros contábeis, a fiscalização desconsiderou os prejuízos apurados nos anos de 1999, 2000 e 2001, observando ainda que alguns lançamentos contabilizados seriam “inverossímeis” ou “sem nenhum fundamento na contabilidade brasileira”. Concluiu então a fiscalização que, em decorren̂cia da transferência de 99,9991% das ações possuídas na HOHNECK para a SKOL, ocorreu a disponibilização dos lucros apurados pela HOHNECK à AMBEV, no montante de R$ 7.743.131,85, proporcional à participação societária alienada (99,9991% de R$ 7.743.201,54, correspondente ao lucro apurado pela HOHNECK em abril/2002). Fl. 1409DF CARF MF 4 Além disto, considerando que, no ano calendário de 2002, a HOHNECK teve um lucro de R$ 363.026.564,70, concluiu também a fiscalizacã̧o que a AMBEV teve disponibilizado para si o valor de R$ 3.267,24, referente à sua participacã̧o acionária de 0,0009% naquele lucro. De se registrar que foi também lavrado contra a autuada, na condição de sucessora da CBB, em face de incorporação ocorrida em maio de 2005, autos de infração referentes à disponibilizacã̧o do lucro auferido no exterior pela HOHNECK no ano calendário de 2002, proporcionalmente à sua participação acionária. Contudo, tal lançamento integra outro processo administrativo (PAF no 16561.000204/200718).” A Turma a quo negou provimento ao recurso voluntário, proferindo decisão assim ementada: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2002 PERDA DO DIREITO DO FISCO DE REVISAR ATOS PASSADOS. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. PREJUÍZOS FISCAIS. COMPROVAÇÃO. O transcurso do prazo decadencial, que conduz à perda do direito do fisco de praticar o ato de lançamento, não dispensa o contribuinte da guarda dos documentos que lastreiam os registros contábeis, de modo a comprovar a efetiva existência de fatos, ocorridos em períodos passados, que repercutem em exercícios futuros. Se o tempo não pode desfazer o que se consolidou, também não pode transformar em verdadeiro o que não era real. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 LUCRO AUFERIDO POR CONTROLADA OU COLIGADA NO EXTERIOR. ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA. DISPONIBILIZAÇÃO. Os lucros auferidos por pessoa jurídica controlada ou coligada no exterior serão considerados disponibilizados para a controladora ou coligada no Brasil quando ocorrer o emprego do valor, em favor da beneficiária, em qualquer praça, inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior. A alienação de investimento em controlada ou coligada, domiciliada no exterior, caracteriza disponibilização dos lucros auferidos por intermédio da referida controlada ou coligada e ainda não tributados no Brasil, os quais devem ser adicionados ao lucro liquido da alienante, para efeito de determinação do lucro real. TRIBUTAÇÃO REFLEXA OU DECORRENTE. CSLL. Aplicase aos lançamentos decorrentes ou reflexos o decidido no principal, em razão da íntima relação de causa e efeito que os Fl. 1410DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 4 5 vincula. O contribuinte interpôs recurso especial, no qual requer a reforma do acórdão, apresentando divergência de interpretação em relação a dois temas: (i) não incidência do IRPJ e CSLL na alienação de participação societária no exterior e (ii) decadência do direito de promover a glosa de prejuízos fiscais da controlada no exterior (efls. 1241 e seg.). O referido recurso foi integralmente admitido por despacho (efls. 1388 e seg.). A PFN apresentou contrarrazões, em que, embora não se oponha ao conhecimento do recurso especial interposto pelo contribuinte, requer o seu não provimento (efls. 1395 e seg.). Concluise, com isso, o relatório. Fl. 1411DF CARF MF 6 Voto Vencido Conselheiro Luís Flávio Neto, Relator Compreendo que o despacho de admissibilidade bem analisou o cumprimento dos requisitos para a interposição do recurso especial de divergência interposto quanto ao tema da decadência, razão pela qual não merece reparo, adotandose neste voto os seus fundamentos. I Não incidência do IRPJ e CSLL na alienação de participacã̧o societária no exterior A controvérsia a ser analisada diz respeito à incidência de IRPJ e CSLL na alienação de participação societária no exterior. No caso, compreendo que a alienação de participação societária em controlada ou coligada no exterior não configura a hipótese de incidência dos tributos sob exame, razão pela qual deve ser provido o recurso especial interposto pelo contribuinte. O núcleo da discussão instaurada no presente processo administrativo reside no art. 1o, par. 2o, “b”, item 4, da Lei n. 9.532/97: Art. 1o Os lucros auferidos no exterior, por intermédio de filiais, sucursais, controladas ou coligadas serão adicionados ao lucro líquido, para determinacã̧o do lucro real correspondente ao balanço levantado no dia 31 de dezembro do anocalendário em que tiverem sido disponibilizados para a pessoa jurídica domiciliada no Brasil. § 1o Para efeito do disposto neste artigo, os lucros serão considerados disponibilizados para a empresa no Brasil: a) no caso de filial ou sucursal, na data do balanco̧ no qual tiverem sido apurados; b) no caso de controlada ou coligada, na data do pagamento ou do crédito em conta representativa de obrigação da empresa no exterior. § 2o Para efeito do disposto na alínea "b" do parágrafo anterior, considera se: a) creditado o lucro, quando ocorrer a transferen̂cia do registro de seu valor para qualquer conta representativa de passivo exigível da controlada ou coligada domiciliada no exterior; b) pago o lucro, quando ocorrer: 1. o crédito do valor em conta bancária, em favor da controladora ou coligada no Brasil; 2. a entrega, a qualquer título, a representante da beneficiária; 3. a remessa, em favor da beneficiária, para o Brasil ou para qualquer outra praça; Fl. 1412DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 5 7 4. o emprego do valor, em favor da beneficiária, em qualquer praca̧, inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior. O conteúdo normativo dos enunciados em questão pode ser explicitado tanto de forma positiva (o que está compreendido na hipótese de incidência da norma) quanto negativa (o que não está compreendido na hipótese de inciden̂cia da norma). De forma positiva, o referido enunciado prescritivo requer, como requisito de incidência, que ocorra disponibilidade econômica ou jurídica dos lucros da empresa estrangeira, empregados por esta em benefício de sua coligada ou controlada brasileira. Considerase ocorrido o aludido emprego se presentes alguns elementos que se sucedem, em especial: 1. a prática de ato da sociedade estrangeira vocacionado à disponibilização de seus lucro aos acionistas; 2. realização do rendimento, em que o contribuinte, residente no Brasil, deve beneficiarse do valor dos lucros (disponibilização da renda); 2.1. considerase auferido o rendimento se o lucro for utilizado para aumento de capital da própria empresa estrangeira controlada ou coligada que os produziu ou para creditamento, entrega, emprego de outras maneiras. É relevante constatar que, na hipótese de não haver a distribuiçaõ direta dos lucros da empresa estrangeira à sua acionista brasileira na forma de dividendos, o legislador prescreveu, como condição para a incidência tributária, a presença de um elemento principal e outro acessório: o principal, de competência da empresa estrangeira, que deve deliberar a disponibilizacã̧o de seus lucros aos acionistas; o acessório, de competência do acionista brasileiro (empresa coligada ou controladora), com o propósito de creditálos, entregálos, empregálos de determinada maneira. Ocorre que a entrega, o emprego ou o crédito de tais valores em favor de terceiros, ultimado pela empresa estrangeira e dependente de requerimento da coligada ou controladora, apenas tem ensejo em face da existência de um ato antecendente e, por isso, principal: a constituição da obrigação de disponibilização dos lucros, que compete à empresa estrangeira. A delimitacã̧o do fato gerador do tributo, prescrito pela Lei n. 9.532/97, também pode ser realizada de forma negativa. Assim, cogitandose hipóteses que não dariam ensejo à incidência tributária, é possível citar: a) inexistência de obrigação constituída atinente à disponibilização dos lucros empresa estrangeira em benefício da coligada ou controladora brasileira; b) atos da coligada ou controladora brasileira desconectados de precedente decisão da empresa estrangeira quanto à distribuiçaõ de seus respectivos lucros; É possível aferirse, por essa segunda perspectiva, que, inexistente o ato principal de competência da empresa estrangeira (disponibilizaçaõ de seus lucros), deixa de ter relevância jurídicotributária qualquer ato praticado por sua acionista brasileira. Os atos da Fl. 1413DF CARF MF 8 coligada ou controladora brasileira, dada a sua natureza acessória, apresentam relevância apenas parcial e não determinante. A exigen̂cia deste ato principal é comum em ambas as perspectivas por força da Lei n. 9.532/97 que, ao tutelar os atos praticados pela empresa estrangeira, lhes atribui o status de um gatilho: o dispositivo demarcou o momento em que tem início o desencadeamento da incidência normativa, com a relevância apenas parcial e naõ determinante de atos da empresa controlada ou coligada brasileira. A análise acurada do texto legal demonstra que tais assertativas são corretas. Assim, o art. 1, par. 2, “b”, item 1, da Lei n. 9.532/97, tem em sua hipótese “o crédito do valor em conta bancária, em favor da controladora ou coligada no Brasil”. O sujeito da ação de creditar, eleito pelo legislador competente, foi a empresa estrangeira, enquanto a controladora ou coligada no Brasil seria justamente beneficiária da ação. O beneficiário de tais rendimentos (acionista brasileiro) pode indicar um terceiro destinatário para o referido creditamento. Naturalmente o ato da controladora ou coligada brasileira atinente à indicação desse terceiro destinatário seria necessário para que o crédito pudesse ser realizado em benefício deste. No entanto, para a incidência tributária, a relevância desse ato da acionista brasileira seria apenas acessória e, portanto, de parcial relevância: não fossem os atos principais, de competência da controlada ou coligada estrangeira, de gerar à sua acionista brasileira o direito aos seus lucros, sequer haveria crédito a ser direcionados a terceiros ou empregado de qualquer maneira. Não difere o art. 1, par. 2, “b”, item 2, da Lei n. 9.532/97, cuja hipótese consiste na “entrega, a qualquer título, a representante da beneficiária”. O agente da ação de entregar os seus lucros seria a empresa estrangeira, enquanto quem se beneficiaria seria a controladora ou coligada no Brasil. A existência de ato da empresa acionista brasileira, que indica algum representante para o recebimento dos lucros, apresenta igualmente relevância apenas parcial e não determinante. Principal e determinante é o ato da empresa estrangeira. Da mesma forma, o art. 1, par. 2, “b”, item 3, da Lei n. 9.532/97, cuja hipótese é “a remessa, em favor da beneficiária, para o Brasil ou para qualquer outra praça”. O enunciado é igualmente claro, com a indicação de ato (“remessa”) realizada pela empresa estrangeira. De forma harmoniosa, o item 4 do art. 1, par. 2, “b”, da Lei n. 9.532/97, que serviu de fundamento para o auto de infracã̧o objeto deste julgamento, é expresso ao prescrever, como elemento da hipótese de inciden̂cia, “o emprego do valor, em favor da beneficiária, em qualquer praca̧, inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior”. A competência para a pratica do ato determinante para a incidência tributária, por decisão do legislador, seria detida pela empresa estrangeira. Se a acionista brasileira solicitar à sua coligada ou controlada que empregue a determinada finalidade os dividendos que lhe seriam atribuíveis, este ato seria naturalmente relevante para a incidência do o item 4 do art. 1, par. 2, “b”, da Lei n. 9.532/97. Relevante, mas secundário e não determinante, pois necessariamente sucederia o ato praticado pela controlada ou coligada estrangeira que decidiu distribuir seus lucros, bem como antecederia o efetivo emprego levado a termo pela aludida empresa estrangeira. Nesse cenário, a controladora ou coligada residente no Brasil não possui competência para praticar o ato determinante para incidência tributária. Com isso, tornase impertinente supor que atos praticados pelo acionista no Brasil teriam eficácia para Fl. 1414DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 6 9 desencadear, por si só, a referida incidência normativa, a ̀revelia de qualquer participação das controladas ou coligadas estrangeiras. No caso concreto, essa questão fulmina a autuação fiscal promovida contra a contribuinte. Ocorre que os fatos descritos demonstram que são imputados pela fiscalização apenas atos emanados pela acionista brasileira, sem qualquer atuaçaõ da empresa estrangeira. Não há elementos nos autos que evidenciem a prática de quaisquer dos atos determinantes para a ocorren̂cia do fato gerador, qual seja, a deliberacã̧o para distribuição de lucros à controladora ou coligada brasileira. Notese que não havia decisão do legislador, à época dos fatos, para a tributaçaõ da simples transferen̂cia ou alienação de participação societária. Isso pode ser evidenciado por uma rápida digressão quanto à evoluçaõ legislativa pertinente à matéria. De início, é esclarecedor observar a IN 38/96, que previa algumas hipóteses de incidência com controvertida base legal: LUCROS, RENDIMENTOS E GANHOS DE CAPITAL AUFERIDOS NO EXTERIOR Art. 1o A partir de 1o de janeiro de 1996 os lucros, rendimentos e ganhos de capital auferidos no exterior, por pessoa jurídica domiciliada no Brasil, serão tributados pelo imposto de renda na forma da legislação vigente, observadas as disposições desta Instrucã̧o Normativa. § 1o Os lucros referidos neste artigo são os apurados por filiais e sucursais da pessoa jurídica e os decorrentes de participações societárias, inclusive em controladas e coligadas. § 2o Os rendimentos e ganhos de capital a que se refere este artigo são os auferidos no exterior, diretamente pela pessoa jurídica domiciliada no Brasil. § 3o Os lucros de que trata este artigo serão adicionados ao lucro líquido, para determinacã̧o do lucro real da pessoa jurídica no Brasil, integralmente, quando se tratar de filial ou sucursal, ou proporcionalmente à sua participação no capital social, quando se tratar de controlada ou coligada. § 4o Para efeito da inciden̂cia do imposto de renda no Brasil, os lucros serão computados na determinacã̧o do lucro real, de forma individualizada, por controlada ou coligada, vedada a consolidação dos valores, ainda que todas as entidades estejam localizadas em um mesmo país. § 5o Tratandose de filiais e sucursais, os resultados poderão ser consolidados por país, desde que a matriz, no Brasil, indique uma filial ou sucursal como entidade lider no referido país. § 6o Os rendimentos e os ganhos de capital integrarão os resultados da pessoa jurídica domiciliada no Brasil. Fl. 1415DF CARF MF 10 § 7o As perdas reconhecidas nos resultados da pessoa jurídica deverão ser adicionadas ao lucro líquido, para determinação do lucro real. § 8o Os resultados auferidos por intermédio de outra pessoa jurídica, na qual a filial, sucursal, controlada ou coligada, no exterior, mantenha qualquer tipo de participação societária, ainda que indiretamente, serão consolidados no balanco̧ da filial, sucursal, controlada ou coligada para efeito de determinacã̧o do lucro real da beneficiária, no Brasil. § 9o Os lucros, rendimentos e ganhos de capital de que trata este artigo, a serem adicionados ao lucro líquido ou nele computados, serão considerados pelos seus valores antes de descontado o tributo pago no país de origem. Art. 2o Os lucros auferidos no exterior, por intermédio de filiais, sucursais, controladas ou coligadas serão adicionados ao lucro líquido do períodobase, para efeito de determinação do lucro real correspondente ao balanço levantado em 31 de dezembro do anocalendário em que tiverem sido disponibilizados. § 1o Consideramse disponibilizados os lucros pagos ou creditados à matriz, controladora ou coligada, no Brasil, pela filial, sucursal, controlada ou coligada no exterior. § 2o Para efeito do disposto no parágrafo anterior, considerase: I creditado o lucro, quando ocorrer a transferência do registro de seu valor para qualquer conta representativa de passivo exigível da filial, sucursal, controlada ou coligada, domiciliada no exterior; II pago o lucro, quando ocorrer: a) o crédito do valor em conta bancária em favor da matriz, controladora ou coligada, domiciliada no Brasil; b) a entrega, a qualquer título, a representante da beneficiária; c) a remessa, em favor da beneficiária, para o Brasil ou para qualquer outra praça; d) o emprego do valor, em favor da beneficiária, em qualquer praca̧, inclusive no aumento de capital da filial, sucursal, controlada ou coligada, domiciliada no exterior. § 3o Os rendimentos e ganhos de capital decorrentes de aplicacõ̧es ou operacõ̧es efetuadas no exterior serão computados nos resultados da pessoa jurídica, correspondentes ao balanço levantado no dia 31 de dezembro do anocalendário em que auferidos. § 4o No caso de encerramento do processo de liquidação da empresa no Brasil, por extinção da empresa, os recursos correspondentes aos lucros auferidos no exterior, por intermédio de suas filiais, sucursais, controladas e coligadas, ainda não tributados no Brasil, serão considerados disponibilizados na data do balanço de encerramento, devendo, nessa mesma data, Fl. 1416DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 7 11 serem adicionados ao lucro líquido, para determinação do lucro real. § 5o No caso de encerramento de atividades no exterior da filial, sucursal, controlada ou coligada, os lucros, auferidos por seu intermédio, ainda não tributados no Brasil, serão considerados disponibilizados, devendo serem adicionados ao lucro líquido para determinação do lucro real correspondente ao balanço levantado em 31 de dezembro do respectivo anocalendário ou da data do encerramento das atividades da empresa no Brasil. § 6o Os lucros ainda não tributados no Brasil, auferidos por filial, sucursal, controlada ou coligada, domiciliada no exterior, cujo patrimônio for absorvido por empresa sediada no Brasil, em virtude de incorporacã̧o fusão ou cisão, serão adicionados ao lucro líquido desta, para determinação do lucro real correspondente ao balanço levantado em 31 de dezembro do anocalendário do evento, observado o disposto nos §§ 1o e 2o. § 7o No caso de cisão, total ou parcial, a responsabilidade da cindida e de cada sucessora será proporcional aos valores do patrimônio líquido remanescente e absorvidos. § 8o Ocorrendo a absorção do patrimônio da filial, sucursal, controlada ou coligada por empresa sediada no exterior, os lucros ainda não tributados no Brasil, apurados até a data da transferência do referido patrimônio, serão considerados disponibilizados, devendo ser adicionados ao lucro líquido da beneficiária no Brasil, para determinacã̧o do lucro real correspondente ao balanço levantado em 31 de dezembro do anocalendário do evento. § 9o Na hipótese de alienação do patrimônio da filial ou sucursal, ou da participação societária em controlada ou coligada, no exterior, os lucros ainda não tributados no Brasil deverão ser adicionados ao lucro líquido, para determinação do lucro real da alienante no Brasil. Como se constata imediatamente do texto desses enunciados infralegais, houve clara segregação, pela administração tributária, das hipóteses de (i) alienação de participação societária em controlada ou coligada no exterior (IN 38/96, art. 1o, §2o, “d”) e de (ii) emprego do valor em favor da controladora ou coligada brasileira (IN 38/96, art. 2o, § 9o). A segregação das aludidas hipóteses corrobora com as constatações acima expostas, quanto à distinção entre atos de competência exclusiva da acionista brasileira (“alienação de participação societária em controlada ou coligada no exterior”) de atos complexos, cuja participação da coligada ou controladora brasileira é meramente acessória aos atos da empresa estrangeira, que detém a competência para a prática dos atos principais e determinantes (crédito, emprego ou entrega dos lucros distribuídos). Pelo texto da IN 38/96, tratarseiam de situações distintas, mas que configurariam, ambas, hipóteses de incidência tributária. Fl. 1417DF CARF MF 12 A Lei n. 9.532/97 veio ao socorro das controvérsias geradas em torno da IN 38/96, flagrantemente inapta, por reserva de legalidade, para tutelar o sistema brasileiro de tributação de controladas e coligadas no exterior. Ocorre que a Lei n. 9.532/97 deixou de reproduzir algumas de suas hipóteses, entre as quais se destaca, neste caso, a contida no art. 2o, § 9o da IN 38/96, qual seja, “alienação de participação societária em controlada ou coligada no exterior”. Isso evidencia que: (i) “alienação de participação societária em controlada ou coligada no exterior” não equivale ou se confunde com emprego, entrega ou crédito de lucros de controlada ou coligada no exterior, bem como que; (ii) o legislador, com a edição da Lei n. 9.532/97, confirmou sua decisão de até então, no sentido de não prescrever a “alienação de participação societária em controlada ou coligada no exterior” como uma hipótese de incidência tributária. Poderseia argumentar que os lucros acumulados na empresa estrangeira teriam valorizado as suas ações, que vieram a ser transferidas na reorganização societária em questão, o que seria suficiente para a incidência tributária. No entanto, para que esse argumento se confirmasse, seria necessário que a legislação aplicável ao caso prescrevesse a possibilidade da tributação dos resultados apurados pelo método da equivalência patrimonial (“MEP”), o que não ocorre. Quando uma pessoa jurídica possui participação societária relevante em outra pessoa jurídica (controlada ou coligada), deve refletir em sua contabilidade tal investimento, avaliandoo conforme o MEP. A Lei 6.404/1976 regulou a adoção do MEP, especialmente em seu art. 248. Essas receitas, evidenciadas para fins contábeis pelo MEP, contudo, não deveriam gerar consequências tributárias à controladora ou coligada brasileira, o que restou confirmado pelo art. 25, par. 6o, da Lei 9.249/95. II Decadência do direito de promover a glosa de prejuízos fiscais. A questão envolve o tema da decadência. Na clara lição de Paulo de Barros Carvalho, “a decadência ou caducidade é tida como o fato jurídico que faz perecer um direito pelo seu nãoexercício durante certo lapso de tempo”. O valor prestigiado pelas normas de decadência é a segurança jurídica. Realizado um determinado ato, o Direito positivo prescreve um lapso temporal para a atuação da administração fiscal. Transcorrido in albis o prazo decadencial previsto em lei complementar (Constituição, art. 146; Sumula Vinculante STF n. 8), tornase definitivo o status decorrente daquele ato praticado. É pressuposto da norma de decadência a existência de marcos iniciais e finais claramente definidos pelo legislador competente. Em face da escolha pela segurança jurídica, a consequência normativa da inércia da administração fiscal até o instante definido como termo final da respectiva contagem é a extinção da competência da administração para questionar os respectivos fatos jurídico. No entanto, é pressuposto para a fruição do prazo de decadência a inercia da administração fiscal, o que, no caso dos autos, apenas se poderia alegar a partir de 2002. Ocorre que, no caso dos autos, está em discussão se, em decorrência da transferência de ações possuídas na HOHNECK para a SKOL, teria ou não ocorrido disponibilizacã̧o dos lucros apurados pela HOHNECK à AMBEV, ensejando, então, a tributação destes no Brasil. Antes dessa data, contudo, não haveria legitimidade para que a Fl. 1418DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 8 13 administração fiscal brasileira questionasse a apuração de lucros ou prejuízos da empresa estrangeira. É importante frisar que a situação sob análise é anterior à edição da MP 215835/2001, o que, no meu entendimento, alteraria substancialmente a solução do caso. Também é importante deixar claro o contexto da presente decisão: a questão é sensivelmente diversa da existente quando estamos diante de relações exclusivamente nacionais. Nessas hipóteses, haveria plena fruição dos prazos estabelecidos pelos arts. 150 e 173 para que a administração fiscal se manifestasse tanto quanto aos lucros como em relação aos prejuízos apurados pelo contribuinte desde o ano em que forem apurados. No caso dos autos, tendo em vista que a autuação fiscal se deu no ano de 2007 em relação aos lucros apurados em 2002, não se pode alegar inercia da administração fiscal superior ao prazo previsto nos arts. 150 e 173 do CTN. Voto, portanto, por CONHECER e dar PROVIMENTO ao recurso especial interposto quanto à (i) discussão se alienação de participação societária em controlada no exterior configura a hipótese de incidência de IRPJ e CSLL, com fulcro no art. 1o, par. 2o, “b”, item 4, da Lei n. 9.532/97; (ii) bem como NEGAR PROVIMENTO quanto à matéria de decadência do direito de promover a glosa de prejuízos fiscais da empresa estrangeira. (assinado digitalmente) Luís Flávio Neto Fl. 1419DF CARF MF 14 Voto Vencedor Conselheiro Rafael Vidal de Araújo Redator designado. Inicialmente, registro minha concordância com o i. Conselheiro Relator em relação às suas conclusões pela inocorrência da decadência, defendida pela contribuinte COMPANHIA DE BEBIDAS DAS AMÉRICAS AMBEV (doravante mencionada apenas como "AMBEV"), do direito de o Fisco promover, em 2007, a desconsideração dos prejuízos fiscais registrados pela empresa uruguaia HOHNECK S.A. ("HOHNECK") nos anos calendário 1999, 2000 e 2001. Ao tratar do assunto, o nobre Conselheiro Relator expôs seu entendimento de que a fruição do prazo decadencial pressupõe a inércia da administração fiscal, que somente poderia ser alegada, no caso dos presentes autos, a partir de 2002. Como se sabe, em maio daquele ano, as ações da HOHNECK foram vendidas pela contribuinte à empresa CERVEJARIAS REUNIDAS SKOL CARACU S.A. ("SKOL"), o que fez com que o Fisco considerasse que os lucros auferidos pela empresa estrangeira nos primeiros meses de 2002 teriam sido disponibilizados para a AMBEV, tornandose passíveis de tributação no Brasil. Todavia, o voto do Conselheiro Relator pondera que os prejuízos fiscais registrados pela HOHNECK em 1999, 2000 e 2001 não poderiam ter sido questionados antes de 2002 porque a administração fiscal brasileira não tinha legitimidade para tal, por estar diante de uma pessoa jurídica sediada no exterior. Expõe ainda o voto que, se estivéssemos tratando de prejuízos fiscais registrados por uma empresa brasileira, os valores já poderiam ser objeto de exame pelo Fisco desde o ano de seu registro, o que provocaria a plena fruição dos prazos previstos nos arts. 150 e 173 do Código Tributário Nacional (CTN). Discordo deste último raciocínio. Entendo que, em qualquer caso, o mero registro de prejuízos fiscais (ou de bases negativas de CSLL) não inaugura a contagem de prazo decadencial. Os arts. 150 e 173 do CTN estabelecem as duas hipóteses de decadência possíveis na legislação tributária brasileira. Ambas baseiamse no fato gerador dos tributos para estabelecer o marco temporal inicial da contagem do prazo decadencial. No caso do art. 173, inciso I, a contagem se inicia no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que a autoridade tributária já poderia ter realizado o lançamento, motivado, logicamente, pela verificação do fato gerador. Já na previsão contida no §4º do art. 150, a própria ocorrência do fato gerador inaugura o decurso do prazo decadencial. O fato gerador do IRPJ, segundo o art. 43 do CTN, é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de proventos de qualquer natureza. Já o fato gerador da CSLL, embora o art. 2º da Lei nº 7.689/1988 não seja explícito a este respeito, é a ocorrência de resultado ajustado positivo no exercício financeiro, antes da provisão para o imposto de renda. Assim, só há sentido em se discutir decadência de lançamento relativo ao IRPJ e à CSLL a partir do momento em que ocorram tais fatos geradores, por determinação expressa dos arts. 150, § 4º, e 173, I, do CTN. O registro de prejuízos fiscais pelas pessoas jurídicas brasileiras, embora expressamente prescrito pela legislação, não implica na ocorrência de fato gerador algum. Fl. 1420DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 9 15 Somente a partir do momento em que tais prejuízos são utilizados pelos contribuintes, via compensação, no cálculo de tributo devido (após, agora sim, a ocorrência do devido fato gerador), é que surge a obrigação da autoridade tributária de verificar a correção dos procedimentos adotados e dos valores apurados. Se os tributos forem apurados de forma incorreta, a valor menor, em razão da utilização de prejuízo fiscal irregularmente contabilizado, passa a existir um fato que demanda a atuação do Fisco. Somente a partir do momento em que ocorrem os fatos geradores destes tributos, portanto, é que se passa a discutir decadência. Portanto, o registro de prejuízos fiscais, seja ele feito por empresas nacionais ou estrangeiras, não provoca o início da contagem de prazo decadencial que impeça a atuação do Fisco brasileiro. Feito tal esclarecimento, passo à análise do principal tema de controvérsia na presente lide: a alienação de participação societária de investida sediada no exterior caracteriza a hipótese de disponibilização de lucros prevista no art. 1º, § 2º, alínea "b", item 4 da Lei nº 9.532/1997? Examinemos inicialmente a redação do dispositivo citado: Art. 1° Os lucros auferidos no exterior, por intermédio de filiais, sucursais, controladas ou coligadas serão adicionados ao lucro líquido, para determinação do lucro real correspondente ao balanço levantado no dia 31 de dezembro do anocalendário em que tiverem sido disponibilizados para a pessoa jurídica, domiciliada no Brasil. §1° Para efeito do disposto neste artigo, os lucros serão considerados disponibilizados para a empresa no Brasil: (...) b) no caso de controlada ou coligada, na data do pagamento ou do crédito em conta representativa de obrigação da empresa no exterior. (...) §2º Para efeito do disposto na alínea "b" do parágrafo anterior, considerase: a) creditado o lucro, quando ocorrer a transferência do registro de seu valor para qualquer conta representativa de passivo exigível da controlada ou coligada domiciliada no exterior; b) pago o lucro, quando ocorrer: 1. o crédito do valor em conta bancária, em favor da controladora ou coligada no Brasil; 2. a entrega, a qualquer título, a representante da beneficiária; 3. a remessa, em favor da beneficiária, para o Brasil ou para qualquer outra praça; Fl. 1421DF CARF MF 16 4. o emprego do valor, em favor da beneficiária, em qualquer praça, inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior. O i. Conselheiro Relator considera que a resposta à pergunta formulada é negativa. Para fundamentar seu entendimento, argumenta, em síntese, que a ocorrência do "emprego do valor", exigido pela norma legal para fins disponibilização do lucro à controladora ou coligada nacional, demanda obrigatoriamente a prévia prática de ato que só pode ser exercido pela controlada ou coligada estrangeira: a constituição da obrigação de disponibilização dos lucros. Assim, a operação de alienação de participação societária em investida estrangeira, por ser ato decidido unilateralmente pela investidora brasileira, não teria o condão de se subsumir à hipótese legal sob exame. Divirjo de tal entendimento, com a devida vênia, pelas razões que passo a expor. No caso concreto sob análise, a contribuinte AMBEV alienou à também brasileira SKOL, no início de maio de 2002, 99,9991% das ações que detinha junto à uruguaia HOHNECK. Diante de tal fato, a Fiscalização considerou que a parcela equivalente (99,9991%) do lucro auferido pela empresa estrangeira entre janeiro e abril de 2002 teria sido disponibilizada à contribuinte, adicionando tal valor (R$ 7.743.131,85) ao seu lucro real e à sua base de cálculo da CSLL. O lançamento se fundamentou, entre outros dispositivos, no art. 25 da Lei nº 9.249/1995 e no art. 1º da Lei nº 9.532/1997. Em seu recurso especial, a contribuinte questiona o entendimento da Fiscalização defendendo que os lucros da HOHNECK não foram disponibilizados em maio de 2002, permanecendo na investida. Além disso, argumenta que o fato de a Instrução Normativa SRF nº 38/96 trazer, no § 9º do art. 2º, previsão específica de disponibilização de lucros provocada pela alienação de ações de investida estrangeira, significaria que esta hipótese não se confunde com aquela prevista no art. 2º, § 2º, inciso II, alínea "d" da mesma IN (equivalente ao art. 1º, § 2º, alínea "b", item 4 da Lei nº 9.532/1997). Pois bem. O dispositivo legal objeto de discussão considera pago o lucro auferido no exterior quando ocorrer o emprego do seu valor, em favor da beneficiária, em qualquer praça, inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior. O deslinde da questão passa, portanto, pela análise do alcance da expressão "emprego do valor, em favor da beneficiária", contida no referido dispositivo, para fins de se definir se a situação sob exame configura ou não hipótese de disponibilização de lucros contemplada na norma, capaz de desencadear a tributação da empresa brasileira por lucros no exterior. Esta questão sobre a disponibilização dos lucros no exterior (se há ou não a disponibilização), quando a empresa brasileira aliena suas participações em empresas controladas e coligadas no exterior, já vem sendo há muito tempo examinada, desde os tempos do antigo Primeiro Conselho de Contribuintes, e depois pelo CARF. A este respeito, transcrevo aqui o voto que orientou o Acórdão n° 1102 00059, proferido pela exConselheira Sandra Maria Faroni em julgamento realizado pela 2ª Turma Ordinária da 1ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, na sessão de 29/09/2009: Fl. 1422DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 10 17 "Voto Conselheira Sandra Maria Faroni. Cuidase de exigências de IRPJ e CSLL dos anoscalendário de 2001, 2002, 2003 e 2004, relativo aos lucros auferidos no exterior. A fiscalização aponta duas infrações, a saber: 1 (...) 2 Ausência de adição ao lucro líquido do período, na determinação do lucro real, dos lucros auferidos no exterior pelas empresas controladas, pela filial AGÊNCIA GRAND CAYMAN (ILHAS CAYMAN), e pelas controladas ou coligadas AFINCO AMÉRICAS MADEIRA SGPS LTDA (ILHA DA MADEIRA), ITAUBANK LTD (ILHAS CAYMAN), BFB OVERSEAS INC (CURAÇAO, ANTILHAS HOLANDESAS) e ITB HOLDING (ILHAS CAYMAN), considerados disponibilizados. O recurso apresentado foi articulado sob sete títulos, que a seguir analiso, não necessariamente na ordem em que foram apresentados, registrando que as conclusões se aplicam a ambas as exações, naquilo que não houver razão especifica para tratamento diverso. (...) 2 Ausência de disponibilização dos lucros auferidos no exterior pelas controladas. Alega o Recorrente que a transferência de sua participação no capital das controladas para integralização de capital de outras empresas no exterior não configura "emprego do valor", tratado no item 4 do § 2°, alínea b do art. 1° da Lei nº. 9.532/97, argumentando que o sujeito da ação do verbo empregar só pode ser a controlada ou coligada, que, no caso, não praticaram nenhuma ação. O art. 1° da Lei n° 9.532, de 1997, estabeleceu: (...) As situações tratadas na alínea "a" e nos itens 1, 2 e 3 da alínea "b" do § 2° do artigo são muito claras, não dando margem a discussões. Todas as dúvidas trazidas à discussão no Conselho contêmse no alcance que tem sido dado à expressão "emprego do valor", referida no item 4. Registro que não estou analisando a constitucionalidade da lei, não só porque foge à competência deste Conselho fazêlo, mas também porque é indubitável que o disposto no item 4 da alínea "b" do § 2° não conflita com o art. 43 do CTN e com o conceito constitucional de renda. O objeto da análise é quanto ao alcance do conceito de "emprego do valor". Fl. 1423DF CARF MF 18 A norma determina que os lucros serão considerados disponibilizados na data do pagamento, e que se considera pago o lucro, quando ocorrer o emprego do valor, em favor da beneficiária. A presunção legal estabelecida não contém qualquer vinculação com o agente da ação que materializa o emprego. O vocábulo disponibilidade significa a faculdade de dispor dos bens. Dispor é um dos atributos do direito de propriedade. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavêla do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. (CC, art. 1.228). Significa o poder que o proprietário tem de se desfazer do bem, inclusive para integrálo ao patrimônio de outra pessoa. Alguém só pode dispor de algo de que seja proprietário, o que implicitamente, significa que num momento anterior adquiriu a disponibilidade desse bem. (A disponibilidade é adquirida mediante transferência da propriedade). Importa verificar se as situações que na prática têm sido enquadradas no referido item 4 traduzem a aquisição da disponibilidade dos lucros. Uma quota ou ação representa parcela da propriedade da investidora no patrimônio da investida. Se esse patrimônio contém lucros acumulados, ao alienar o investimento (simplesmente para dele se desfazer, ou para integralizar capital de outra sociedade), a sociedade dispôs de sua participação no patrimônio da investida, incluindo a parcela de lucros nela compreendidos. Não é relevante que o lucro permaneça no PL da investida. Vejase que, contabilmente, o resultado positivo (lucro) auferido através da coligada ou controlada se materializou por ocasião da apuração da equivalência patrimonial, tendo afetado o lucro líquido. Assim, o PL da investidora brasileira já se encontra afetado pela valorização do investimento na investida, correspondente aos lucros nela acumulados. Se esse investimento é utilizado para qualquer fim por exemplo, restituir capital aos sócios da investidora ou para adquirir participação no capital de outras empresas (integralizar capital subscrito) , é óbvio que a investidora dispôs dos lucros que auferiu através da coligada no exterior (que estão contidos no investimento alienado). Conforme ponderou o ilustre Conselheiro Mário Junqueira Franco Júnior, em voto condutor do Acórdão 94.747/2005, "o ordenamento jurídico tem suas bases muito mais ligadas a interpretações sistemáticas e finalísticas, a ensejar um conjunto sustentado em certa axiologia, ainda que mutável no tempo, do que a restritivas interpretações literais". E concluiu o brilhante Conselheiro que a disponibilização de que trata a norma é o uso do valor adicionado pelos lucros auferidos no exterior, para quaisquer fins, ainda que seja para pagamento de dívida. É assim que deve ser interpretada a expressão "o emprego do valor, em favor da beneficiária.". Fl. 1424DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 11 19 Sabese que a lei não contém palavras inúteis. Perguntase: a não ser o aumento de capital da coligada ou controlada, expressamente previsto na norma, que outra situação se conteria no item 4 que não correspondesse a alienação do investimento? Não identifico nenhuma. Nos debates travados em julgamento pretérito, levantouse, como exemplo, que poderia ser para pagamento de dívida do investidor. Ora, levando em conta que as entidades (investidora e investida) não se confundem, a utilização dos lucros acumulados na investida para esse fim (pagamento de dívida do sócio/acionista) pressupõe um passo anterior (ainda que implícito, oculto) de transferência dos lucros acumulados para conta representativa de passivo exigível da investida, situação prevista na alínea "a" do § 2° do artigo, e uma ordem/autorização da investidora. A finalidade da norma (item 4 da alínea "b" do § 2°) foi de caracterizar como disponibilização qualquer forma de realização dos lucros que não estivesse compreendida nas demais situações previstas no parágrafo. E a alienação do investimento, por qualquer forma, entre elas a conferência para integralização de capital de outras empresas, corresponde à sua realização. Ao alienar a participação, cujo valor já está afetado pelos lucros acumulados na investida, a investidora realizou os lucros, devendo incluílos para tributação. O valor pelo qual o investimento foi alienado só tem relevância para a apuração do resultado na alienação (que pode, inclusive, neutralizar a tributação dos lucros, se o valor da venda for inferior ao valor contábil do investimento). (grifouse) A Câmara Superior de Recursos Fiscais também tem entendido que a alienação de participação em empresa controlada ou coligada no exterior caracteriza a hipótese prevista no art. 1º, § 2º, alínea "b", item 4, da Lei nº 9.532/97 ("emprego do valor, em favor da beneficiária"), configurando situação de disponibilização de lucros capaz de desencadear a tributação da empresa brasileira por lucros no exterior. Nesse sentido, transcrevo o voto proferido pelo Conselheiro André Mendes de Moura no Acórdão nº 9101003.087, em julgamento realizado por esta 1ª Turma da CSRF em 13/09/2017: "Voto Conselheiro André Mendes de Moura, Relator. São dois recursos especiais, da Contribuinte e da PGFN, cada qual apreciado em tópico específico. 1. Recurso Especial da Contribuinte. Lucros no Exterior. Emprego de Valor. Em relação à admissibilidade do recurso especial da Contribuinte, adoto as razões dos despachos de exame de admissibilidade de 723/726, com fulcro no art. 50, § 1º da Lei nº Fl. 1425DF CARF MF 20 9.784, de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, para conhecêlo. Foi devolvida para o Colegiado a matéria emprego de valor nos lucros do exterior. Passo ao exame do mérito. Os fatos concernentes à matéria litigiosa encontramse descritos com precisão no relatório da decisão recorrida: (...) Sobre o emprego de valor, a redação vigente à época da autuação era a seguinte: Art. 1º Os lucros auferidos no exterior, por intermédio de filiais, sucursais, controladas ou coligadas serão adicionados ao lucro líquido, para determinação do lucro real correspondente ao balanço levantado no dia 31 de dezembro do anocalendário em que tiverem sido disponibilizados para a pessoa jurídica domiciliada no Brasil. §1º Para efeito do disposto neste artigo, os lucros serão considerados disponibilizados para a empresa no Brasil: a) no caso de filial ou sucursal, na data do balanço no qual tiverem sido apurados; b) no caso de controlada ou coligada, na data do pagamento ou do crédito em conta representativa de obrigação da empresa no exterior. §2º Para efeito do disposto na alínea "b" do parágrafo anterior, considerase: a) creditado o lucro, quando ocorrer a transferência do registro de seu valor para qualquer conta representativa de passivo exigível da controlada ou coligada domiciliada no exterior; b) pago o lucro, quando ocorrer: 1. o crédito do valor em conta bancária, em favor da controladora ou coligada no Brasil; 2. a entrega, a qualquer título, a representante da beneficiária; 3. a remessa, em favor da beneficiária, para o Brasil ou para qualquer outra praça; 4. o emprego do valor, em favor da beneficiária, em qualquer praça, inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior. (grifei) Tratase de matéria já bastante discutida, tanto pelo Primeiro Conselho de Contribuintes, quanto pelo CARF. Fl. 1426DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 12 21 No caso em tela, a Contribuinte detinha participação societária na FIQ (sediada na Ilha da Madeira Portugal) que auferiu lucros no exterior, e se desfez do investimento em operações que se consumaram em 31/12/1999, evento que, no entendimento da autoridade autuante, teria caracterizado a disponibilização de lucros, por meio do emprego de valor (art. 1º, inciso b e § 2º, item 4 do inciso b, da Lei nº 9.532, de 1997). Entendo que não há reparos em tal interpretação. Peço vênia para apreciar a norma em debate sob a perspectiva da hipótese de incidência tributária delineada pela doutrina de GERALDO ATALIBA. Esclarece o doutrinador que a hipótese de incidência se apresenta sob variados aspectos, cuja reunião lhe dá entidade. Os aspectos analisados no presente voto são o material, pessoal, territorial e temporal. Ou seja, para se consumar a hipótese de incidência, há que se concretizar a ocorrência de todos os aspectos previstos na norma. A empresa investidora (Contribuinte) passou a auferir lucros no exterior, a partir do anocalendário de 1996, na proporção de sua participação na sua investida. Isso porque a sua investida, empresa controlada FIQ com sede no exterior, auferiu lucros. Entendo ser o aspecto material de hipótese de incidência prevista no caput do art. 1º da Lei nº 9.532, de 1997. Transcrevo novamente o caput: Art. 1º Os lucros auferidos no exterior, por intermédio de filiais, sucursais, controladas ou coligadas serão adicionados ao lucro líquido, para determinação do lucro real correspondente ao balanço levantado no dia 31 de dezembro do anocalendário em que tiverem sido disponibilizados para a pessoa jurídica domiciliada no Brasil. Ocorre que a consumação do aspecto material, por si só, não é suficiente para a concretização da hipótese de incidência. Passemos adiante. Quanto ao aspecto pessoal, a redação do caput não deixa dúvidas de que a norma estabelece, no pólo ativo, a presença de pessoa jurídica domiciliada no Brasil, e no passivo, empresa com sede no exterior. A empresa no Brasil atua no exterior por meio de filiais, sucursais, controladas ou coligadas. No caso em tela, a FIQ (pólo passivo, empresa com sede no exterior) é controlada da Contribuinte (pólo ativo, empresa com sede no Brasil). Portanto, percebese que o aspecto pessoal encontrase atendido. Por sua vez, o diploma, ao tratar do aspecto temporal, discorre sobre o balanço levantado no dia 31 de dezembro do ano calendário em que tiverem sido disponibilizados, momento em que optou por positivar uma série de hipóteses, relacionadas nos §§ 1º e 2º do artigo em estudo. Fl. 1427DF CARF MF 22 No caso de controladas e coligadas, a disponibilização ocorre na data (1) do pagamento ou (2) do crédito em conta representativa de obrigação da empresa no exterior. Observase, portanto, que enquanto os lucros permanecerem na investida, sem utilização, não há que se falar em disponibilização. Utilizo o termo "utilização", vez que restou clara, pela redação dada pela norma, que a disponibilização não se restringe à remessa dos lucros para o Brasil, stricto sensu. Os termos "pagamento" ou "crédito" não foram adotados por acaso. A disponibilização, a realização do lucro, pode ser operacionalizar mediante diferentes situações. Precisamente nessa perspectiva, é fundamental constatar que a quota ou ação da investidora (Contribuinte) na investida (FIQ) percebe uma valorização, auferida mediante o método de equivalência patrimonial (MEP), em razão do lucro auferido pela investida. E, em se tratando da data do pagamento, optou o legislador em positivar quatro hipóteses, do qual transcrevo na sequência: 1ª) o crédito do valor em conta bancária, em favor da controladora ou coligada no Brasil; 2ª) a entrega, a qualquer título, a representante da beneficiária; 3ª) a remessa, em favor da beneficiária, para o Brasil ou para qualquer outra praça; 4ª) o emprego do valor, em favor da beneficiária, em qualquer praça, inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior. As hipóteses de pagamento do lucro abrangem tanto atos de iniciativa da empresa investida quanto da investidora. As três primeiras, (1) o crédito do valor em conta bancária, em favor da controladora ou coligada no Brasil, (2) entrega, a qualquer título, a representante da beneficiária e (3) a remessa, em favor da beneficiária, para o Brasil ou para qualquer outra praça, pressupõem ato da investida. Na terceira, ampliase o aspecto territorial, ao dizer que a remessa em favor da beneficiária pode ser para o Brasil ou para qualquer outra praça. Já a quarta, precisamente o emprego de valor, pressupõe um ato que pode ser tanto da investida, quanto da investidora, que, sendo detentora de participação da investida, pode, a qualquer momento, dispor de suas ações ou quotas, da melhor maneira que lhe convier, como, por exemplo, por meio de alienação, transferência, conferência para integralizar capital em outras empresas, dentre outros. E também, na quarta hipótese, não por acaso dispôs o legislador que a negociação pode ocorrer em qualquer praça. Ora, ao dispor do investimento, a investidora tem liberdade para negociar com qualquer outra empresa, independente de sua localização. Pode alienar sua participação societária de uma empresa no exterior tanto para uma empresa Fl. 1428DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 13 23 localizada no exterior quanto para uma empresa localizada no Brasil. E, em se tratando de investimento em coligada ou controlada, o valor das ações é avaliado pelo método de equivalência patrimonial (MEP), que permite refletir, na proporção da participação societária do investidor, os lucros auferidos pela investida. Enquanto o lucro estava sendo auferido na investida, e refletido via MEP na investidora, não havia que se falar em disponibilização para a investidora. Por sua vez, sendo tal investimento alienado para outra empresa, entendeu o legislador que seria hipótese no qual o lucro, até então não disponibilizado pela investida, passaria a ser disponibilizado, porque serviu para valorizar a participação alienada. Ou seja, o lucro auferido pela investida foi empregado, quando o investimento foi desfeito. Portanto, no caso em análise, a partir do momento em que a investidora (Contribuinte) decidiu se desfazer da investida (FIQ), e se beneficiou da valorização do ativo (ações) para efetuar a operação, valorização essa que se viabilizou a partir dos lucros auferidos pela controlada refletidos no investimento por meio da equivalência patrimonial, restou evidente a consumação do emprego de valor. (grifos no original) Alinhome aos entendimentos expostos nas decisões administrativas transcritas. A alínea "b", § 2º, do art. 1º da Lei nº 9.532, de 1997, em cada um de seus itens, utilizase de quatro substantivos "o crédito", "a entrega", "a remessa", "o emprego", que correspondem, respectivamente, aos verbos creditar, entregar, remeter e empregar. Cada um desses verbos admite sujeito e objeto indireto (são transitivos diretos e indiretos). A tese defendida pelo nobre Conselheiro Relator sugere que, como os verbos creditar, entregar e remeter somente admitem como sujeito a controlada no exterior e como objeto indireto a controladora no Brasil, então a mesma lógica deveria ser aplicável ao verbo empregar. Não me parece a melhor aplicação do vernáculo. O fato de os outros três verbos não admitirem como sujeito a controladora no Brasil e o verbo empregar admitir, demonstra que, quando o legislador optou por escolher um verbo com característica diferente dos outros três já utilizados, tinha em mente exatamente permitir essa situação. Isso porque o legislador é conhecedor tanto da língua nacional quanto do princípio geral de Direito de que não deve o intérprete diferenciar quando o legislador não o fez. Os três verbos iniciais trazem em sua natureza o discrímen e não a especificação expressa de determinados sujeitos e objetos indiretos. Não havendo na natureza do último verbo esse discriminante, não lhe podem ser impostas as limitações dos outros verbos. Aliás, o só fato do legislador utilizarse de um substantivo ligado a um verbo mais rico e com possibilidades mais amplas de aplicação constitui mais um indicativo de que o legislador estava tratando no último item de uma regra de aplicação subsidiária que "entra em campo" exatamente quando as outras hipóteses da norma não são suficientes para conduzir ao desejado enquadramento. Empregar é exatamente uma forma de dispor, ainda que indiretamente, de algo que não se detém diretamente. Fl. 1429DF CARF MF 24 Assim, em harmonia com o princípio basilar (ubi lex non distinguir, nec nos distinguere debemus), observando e respeitando a vontade do legislador que não diferenciou (não porque seja displicente, mas sim porque efetivamente não quis diferenciar), não se deve restringir o item 4 da alínea "b" ao emprego pela controlada no exterior. Ademais, é importante notar que a expressão "inclusive no aumento de capital da controlada ou coligada, domiciliada no exterior" sinaliza que este dispositivo admite caso de emprego de valor a partir da decisão da sociedade controladora no Brasil de aumentar capital na controlada do exterior, independentemente de haver casos em que essa decisão de aumentar o capital não seja tomada pela pessoa jurídica domiciliada no Brasil (como os que podem ocorrer com coligadas). Ou seja, a só existência fática de uma hipótese expressa ratifica o acerto por se entender que a norma comporta essa amplitude, não podendo ser restringida. Considero importante analisar o argumento, por vezes apresentado, de que a alienação de participação societária em empresa estrangeira não configuraria "pagamento", uma vez que não se extingue a relação jurídica obrigacional existente: a operação não significa que a controlada estrangeira esteja desobrigada de, no futuro, disponibilizar o lucro por ela auferido. A tese se apega à definição civilista de que o pagamento provoca a extinção de uma obrigação que o devedor possui junto ao credor (realizado o "pagamento", extinguese a relação jurídica obrigacional, nada mais podendo o credor exigir do devedor). Este argumento já foi, inclusive, acolhido por parte da jurisprudência deste Conselho. Ocorre que esta jurisprudência incorre numa impropriedade jurídica e adota uma confusão patrimonial, que fere o princípio da entidade. Vejamos. A impropriedade jurídica consiste em considerar que a relação jurídica obrigacional não se teria extinto pelo seu objeto. Ocorre que essa relação também se extingue pela alteração dos pólos da relação, ou seja, a modificação do credor. Com a alienação, estáse frente a uma nova relação jurídica obrigacional. E, embora se possa defender que o objeto continua válido, o que motivou a extinção da relação obrigacional anterior e a constituição de uma nova foi exatamente o fato de terse dado uma operação em que o objeto atingiu todos os seus fins. Ao se considerar que a relação obrigacional não seja outra, e sim a mesma, estarse ia implicitamente dizendo que o ocupante do pólo ativo da relação anterior se confunde com o da nova relação, o que não está de acordo com o fato de que são entidades distintas. Ademais, essa teoria ainda ignora o fato de que se trata aqui de uma presunção: a legislação fala que "considerase pagamento", não exigindo a verificação das exatas características do instituto do pagamento. Por fim, quanto ao § 9º do art. 2º da IN 38/96, há que se ressaltar que a IN é uma norma interpretativa. O fato do restante do artigo ter se tornado lei (Lei nº 9.532/1997), e não esse parágrafo, não pode ser entendido como se o que consta no parágrafo 9º fosse incompatível com a atual redação da lei. Pelo contrário, quando o legislador infralegal trouxe toda uma matéria para a IN, tinha a concepção de que tudo aquilo era interpretativo. Depois, refletiuse melhor e se concluiu que alguns dispositivos da IN eram inovadores do ordenamento jurídico, não tendo base legal, o que levou à sua positivação na lei de 1997. Mas o mesmo não se deu com o § 9º. Considerouse que o dispositivo não precisava ser reproduzido na lei, pois era apenas um desdobramento do "emprego de valor". Entendeuse que aquele parágrafo era meramente uma interpretação do que trazia o § 2º do mesmo artigo da IN. Assim, embora se tenha reconhecido a ausência de base legal para o disposto no § 2º do art. 2º da IN, o que provocou sua posterior reprodução em texto legal, a Fl. 1430DF CARF MF Processo nº 16561.000197/200746 Acórdão n.º 9101003.649 CSRFT1 Fl. 14 25 mesma necessidade não foi reconhecida para o § 9º, diante de sua natureza eminentemente interpretativa. A situação é semelhante ao caso de uma IN, posterior à vigência do art. 1º da Lei nº 9.532/97, que trouxesse um parágrafo expresso com o conteúdo do § 9º do art. 2º da IN 38/96. Se fosse isso o que tivesse acontecido, estaríamos discutindo a legalidade do referido parágrafo. Nesta situação hipotética, eu me posicionaria pela sua legalidade, por ser essencialmente interpretativo da regra subsidiária do emprego de valor. Também é conceitualmente equivocado pensar que o legislador tenha atuado ativamente para não incluir o texto do § 9º do art. 2º da IN 38/96 na lei, por desejar que a operação de alienação não provocasse a tributação decorrente da disponibilização de lucros por controlada estrangeira. Esta concepção só teria algum peso se a Medida Provisória que veiculou esses dispositivos viesse acompanhada de dispositivo com o teor do referido parágrafo e este tivesse sido suprimido no Processo Legislativo, mas não foi o que ocorreu. A Medida Provisória nº 1.602, de 14 de novembro de 1997, não propôs dispositivo com esse conteúdo. Isso significa que o Poder Executivo compartilhou do entendimento da Administração Tributária de que aquela previsão específica a respeito da alienação de participação societária já estava contemplado na expressão "emprego do valor". Diante de todo o exposto, não há dúvidas de que ocorreu, no caso esquadrinhado no presente processo, o “emprego do valor, em favor da beneficiária”. No papel de beneficiária está, obviamente, a contribuinte AMBEV, empresa brasileira que alienou a participação societária que detinha em empresa controlada no exterior. Reitero meu entendimento de que a finalidade da norma contida no item 4 da alínea “b” do § 2º do art. 1º da Lei nº 9.532/1997 não pode ser outra, senão a de caracterizar como disponibilização qualquer forma de realização dos lucros que não esteja compreendida nos demais itens listados na referida alínea "b" do § 2º. Não vejo como defender a ideia de que a alienação das participações societárias (onde os lucros estavam acumulados) não representa uma forma de disponibilização dos lucros no exterior. Ao contrário disso, a alienação das participações societárias é uma típica forma de realização dos lucros auferidos no exterior, que ainda não haviam sido tributados pelas leis brasileiras. Assim, voto no sentido de NEGAR provimento ao recurso especial da contribuinte, mantendo os créditos tributários de IRPJ e CSLL lançados em razão da disponibilização dos lucros auferidos pela empresa estrangeira HOHNECK entre janeiro e abril de 2002. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Fl. 1431DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.720191/2013-18
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Sep 21 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Exercício: 2009, 2011
DEPÓSITO JUDICIAL DE MONTANTE INTEGRAL. CONSTITUIÇÃO DE OFÍCIO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO.
O entendimento pacificado no STJ em julgamento de recurso afetado como representativo de controvérsia é o de que o depósito do montante integral do crédito tributário suspende sua exigibilidade e veda a prática de atos de cobrança por parte da Administração Tributária, mas não impede ou invalida o lançamento de ofício desses valores, desde que feito com suspensão de exigibilidade e sem a incidência de multa de ofício.
Numero da decisão: 9101-003.686
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer do Recurso Especial, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto, Gerson Macedo Guerra e Demetrius Nichele Macei, que não conheceram do recurso. No mérito, por voto de qualidade, acordam em dar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Gerson Macedo Guerra e Demetrius Nichele Macei, que lhe negaram provimento. Votou pelas conclusões, quanto ao conhecimento, a conselheira Cristiane Silva Costa.
(assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araújo Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Viviane Vidal Wagner - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Luís Flávio Neto, Nelso Kichel (suplente convocado), Gerson Macedo Guerra, Demétrius Nichele Macei e Rafael Vidal de Araújo. Ausente, justificadamente, o conselheiro Flávio Franco Corrêa, substituído pelo conselheiro Nelso Kichel.
Nome do relator: VIVIANE VIDAL WAGNER
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer do Recurso Especial, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto, Gerson Macedo Guerra e Demetrius Nichele Macei, que não conheceram do recurso. No mérito, por voto de qualidade, acordam em dar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Gerson Macedo Guerra e Demetrius Nichele Macei, que lhe negaram provimento. Votou pelas conclusões, quanto ao conhecimento, a conselheira Cristiane Silva Costa. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Presidente em exercício (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner - Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Luís Flávio Neto, Nelso Kichel (suplente convocado), Gerson Macedo Guerra, Demétrius Nichele Macei e Rafael Vidal de Araújo. Ausente, justificadamente, o conselheiro Flávio Franco Corrêa, substituído pelo conselheiro Nelso Kichel.
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DÉBITOS DECLARADOS EM DCTF Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado SANTANDER ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Exercício: 2009, 2011 DEPÓSITO JUDICIAL DE MONTANTE INTEGRAL. CONSTITUIÇÃO DE OFÍCIO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. O entendimento pacificado no STJ em julgamento de recurso afetado como representativo de controvérsia é o de que o depósito do montante integral do crédito tributário suspende sua exigibilidade e veda a prática de atos de cobrança por parte da Administração Tributária, mas não impede ou invalida o lançamento de ofício desses valores, desde que feito com suspensão de exigibilidade e sem a incidência de multa de ofício. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em conhecer do Recurso Especial, vencidos os conselheiros Luís Flávio Neto, Gerson Macedo Guerra e Demetrius Nichele Macei, que não conheceram do recurso. No mérito, por voto de qualidade, acordam em darlhe provimento, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Gerson Macedo Guerra e Demetrius Nichele Macei, que lhe negaram provimento. Votou pelas conclusões, quanto ao conhecimento, a conselheira Cristiane Silva Costa. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo – Presidente em exercício (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner Relatora AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 32 7. 72 01 91 /2 01 3- 18 Fl. 880DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 881 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Luís Flávio Neto, Nelso Kichel (suplente convocado), Gerson Macedo Guerra, Demétrius Nichele Macei e Rafael Vidal de Araújo. Ausente, justificadamente, o conselheiro Flávio Franco Corrêa, substituído pelo conselheiro Nelso Kichel. Relatório A FAZENDA NACIONAL recorre a este Colegiado por meio do Recurso Especial de fls 691/700, contra o Acórdão nº 1402002.425 (fls. 672/689) que, por unanimidade de votos, deu provimento ao Recurso Voluntário apresentado pela contribuinte, cancelando o lançamento que constituiu crédito tributário de CSLL relativo aos anos calendário 2008 e 2010, formalizado com exigibilidade suspensa e sem inclusão de juros de mora, em razão da existência de medida judicial amparada por depósitos judiciais do montante integral questionado. Transcrevese a ementa do acórdão recorrido: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO CSLL Anocalendário: 2008 DEPÓSITO. CONFISSÃO DE DÍVIDA. DESNECESSIDADE DO LANÇAMENTO. O depósito judicial configura verdadeiro lançamento por homologação. O contribuinte calcula o valor do tributo e substitui o pagamento antecipado pelo depósito, por entender indevida a cobrança. Uma vez ocorrido o lançamento tácito, encontrase constituído o crédito tributário, razão pela qual não há que se falar em necessidade de lançamento de ofício das importâncias depositadas. Precedente do STJ no EREsp nº 898.992/PR. Os efeitos da suspensão da exigibilidade pela realização do depósito integral do crédito exequendo, quer no bojo de ação anulatória, quer no de ação declaratória de inexistência de relação jurídicotributária, ou mesmo no de mandado de segurança, desde que ajuizados anteriormente à execução fiscal, têm o condão de impedir a lavratura do auto de infração. Precedente no STJ em recurso representativo de controvérsia julgado no rito do art. 543C do antigo CPC, REsp 1.140.956/SP. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Ausente justificadamente o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira. Fl. 881DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 882 3 Contra essa decisão a PFN apresentou Recurso Especial (fls 691/700), no qual aponta divergência jurisprudencial em relação ao tema: "o depósito judicial do montante integral não impede lançamento fiscal, não o exonera nem o torna nulo". A recorrente opõese ao entendimento manifestado no acórdão recorrido no sentido de que o depósito judicial do montante integral configura verdadeiro lançamento por homologação, substitui o pagamento antecipado, e equivale à constituição de crédito tributário em favor do Fisco. Como paradigmas indica os Acórdãos nº 1101001.135 e nº 10707.992. Argumenta, em síntese, que nos termos do art. 142 do CTN, o lançamento é ato administrativo de caráter vinculado e obrigatório, não podendo a autoridade fiscal eximirse de efetuálo, mesmo que existente hipótese de suspensão de exigibilidade do crédito tributário (art. 151, CTN), sob pena de responsabilidade funcional. Pondera que o fato de se ter realizado o depósito integral do montante do crédito tributário, não criaria vedação a atuação funcional do agente público e que nada impede que o Fisco, com vistas a prevenir a decadência, proceda ao lançamento quando o contribuinte, antes de procedimento fiscal, busca a tutela jurisdicional para deixar de recolher, total ou parcialmente, determinado tributo, realizando os respectivos depósitos judiciais integrais, conforme art. 63 da Lei 9.430/96. Afirma haver jurisprudência dos tribunais superiores nesse sentido, que colaciona. Pede, ao final, seja admitido o recurso e, no mérito, lhe seja dado provimento para reformar o acórdão recorrido, restabelecendose o lançamento em sua integralidade. Deuse seguimento ao recurso especial pelo despacho de fls. 704/708 da Presidência da Quarta Câmara da Primeira Seção do CARF. A interessada foi cientificada do Acórdão nº 1402002.425 e do Recurso Especial da PFN, em 28/7/2017, como demonstra o Termo de Ciência por Abertura de Mensagem à fl. 718 e apresentou Embargos de Declaração (fls. 721/725). Os Embargos foram rejeitados pelo presidente da turma, em caráter definitivo, conforme despacho de fls. 863/866. A interessada também apresentou, em 10/08/2017, contrarrazões ao Recurso Especial da PFN (fls. 761/783). Como razão preliminar requer, inicialmente, o não conhecimento do apelo especial porque o paradigma Acórdão nº 1101001.135 violaria o inciso II, do § 12, do art. 67, do RICARF, já que haveria decisão definitiva do STJ, proferida na forma do art. 543C, do antigo CPC Recurso Especial nº 1.140.956/SP proferida em sentido oposto àquele deduzido no paradigma. Acrescenta que essa decisão tambem não teria feito interpretação diversa do recorrido acerca dos dispositivos legais tratados nos autos. Nesse sentido aduz que o paradigma se resume a definir que o lançamento de ofício era desnecessário, mas que não traria prejuízos ao contribuinte e que o ato administrativo de lançamento é vinculado, de forma que a Autoridade Fiscal não poderia se omitir de realizá lo. Fl. 882DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 883 4 Pondera que, por outro lado, o acórdão recorrido não tece considerações sobre se o lançamento é necessário ou se implica em prejuízos ao contribuinte, mas apenas se esse ato administrativo obedece aos critérios da legalidade. Defende, também, que o paradigma nº 10707.992 é inadmissível por tratar de situação fática distinta, mormente porque proferido em 16/03/2005, mais de 5 (cinco) anos antes da decisão definitiva do STJ, proferida na forma do art. 543C, do antigo CPC no Recurso Especial nº 1.140.956/SP, que se deu em 24/11/2010. No mérito aduz ser equivocado o entendimento da recorrente, de que não há normas que proíbam o lançamento desnecessariamente realizado, como também errôneo o argumento de que um ato administrativo reconhecidamente desnecessário pode continuar produzindo efeitos, quando na verdade ele não poderia nem ter sido produzido. Aponta que o art. 63 da Lei nº 9.430/96 é preciso ao prever o lançamento de débito com exigibilidade suspensa apenas para as hipóteses de suspensão pela concessão de medida liminar em mandado de segurança e concessão de medida liminar ou tutela antecipada em outras espécies de ações. Afirma que a Autoridade Fiscal não pode produzir atos desnecessários por tratarse de grave violação à lei e aos princípios basilares que a Constituição Federal definiu em seu artigo 37, de sorte que a nulidade de atos administrativos desnecessários é flagrante, não sendo admitidas no nosso ordenamento jurídico. Observa que diante do depósito do montante integral não prospera a motivação de que o lançamento foi feito para prevenir a decadência. Colaciona jurisprudência administrativa e judicial. Requer, ao final, o não conhecimento do apelo e, caso seja conhecido, que lhe seja negado seguimento, mantendose a decisão recorrida. É o relatório. Voto Conselheira Viviane Vidal Wagner Relatora A PFN apresentou recurso especial, o qual foi previamente admitido pelo despacho de fls. 704/708. Contudo, a recorrida apresenta, em contrarrazões, alegações no sentido de que não deve ser conhecido o apelo especial, pelo que passo a apreciar a sua admissibilidade. Primeiramente, a recorrida pede que o apelo especial da PFN seja não conhecido por violar as disposições do RICARF, que determina que não serve como paradigma acórdão que contrarie decisões proferidas pelo STF e STF, em recursos representativos de controvérsia. Afirma que o paradigma nº 1101001.135 não teria observado o que decidiu o STJ no Recurso Especial nº 1.140.956/SP, afetado como representativo de controvérsia. Fl. 883DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 884 5 Segue a ementa do Acórdão nº 1101001.135: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2008 CRÉDITO TRIBUTÁRIO DEPOSITADO JUDICIALMENTE. LANÇAMENTO. MATÉRIA DECIDIDA NO RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS. INOCORRÊNCIA. No julgamento proferido no âmbito do Recurso Especial nº 1.140.956/SP não foi apreciada a possibilidade de lançamento, sem aplicação de penalidade e com suspensão da exigibilidade, em face de crédito tributário objeto de depósito judicial integral. ARGÜIÇÃO DE NULIDADE. Embora desnecessário, não é nulo o lançamento que tem por objeto crédito tributário depositado judicialmente. JUROS DE MORA. Não são devidos juros de mora sobre o crédito tributário objeto de depósito no montante integral (Súmula CARF nº 5). CONCOMITÂNCIA. Importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial (Súmula CARF nº 1). SOBRESTAMENTO. Se o julgamento do litígio administrativo não depende do julgamento da ação judicial, é desnecessário o sobrestamento. Na verdade, compreendese que o referido paradigma analisou o conteúdo da decisão proferida no Recurso Especial nº 1.140.956/SP e afirmou que o caso tratado nos autos seria diferente da situação apreciada pelo STJ, que, na ocasião, não avaliou a possibilidade de lançamento, sem aplicação de penalidade e com suspensão da exigibilidade, em face de crédito tributário objeto de depósito judicial integral. Não se pode afirmar, assim, que o paradigma não observou julgamento repetitivo do STJ. A recorrida pugna, ainda, pelo não conhecimento do apelo especial porque o segundo paradigma Acórdão nº 10707.992 não trataria de situação fática semelhante à dos autos, porque à época do julgamento não teria sido proferida a decisão do STJ em recurso afetado como representativo de controvérsia Recurso Especial nº 1.140.956/SP. Segue a ementa do Acórdão nº 10707.992: NULIDADE DE LANÇAMENTO. Não provada a violação das disposições contidas no art. 142 do CTN e artigos 10 e 59 do Decreto n° 70.235/72. Não há que se falar em nulidade do lançamento. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO LANÇAMENTO PARA PREVENIR DECADÊNCIA. O depósito judicial do montante integral do crédito tributário, nos termos do inciso II do art. 151 do CTN, Fl. 884DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 885 6 suspende a exigibilidade do crédito tributário, mas, não impede a formalização do lançamento para prevenção de decadência. Entendo equivocado o raciocínio da interessada. A situação fática tratada no referido paradigma é muito semelhante àquela julgada pelo recorrido. Em ambos os casos foram formalizados autos de infração para exigir valores que se encontravam depositados judicialmente de forma integral. Em ambos os casos a exigibilidade do crédito tributário foi suspensa em razão da existência dos depósitos judiciais. Em ambos os casos a defesa alegou que diante da existência dos depósitos judiciais não poderia ter sido lavrado o auto de infração. Mas as decisões proferidas foram distintas. No recorrido considerouse que a existência de depósito do montante integral para suspender a exigibilidade (art. 151, II, do CTN) dos créditos de CSLL, lançados de ofício para prevenir a decadência, não se enquadraria na previsão legal que autoriza a Fiscalização a lavrar Auto de Infração, sem exigência de multa e que o STJ já havia reconhecido no Recurso Especial nº 1.140.956/SP que o depósito do montante integral de tributo, sujeito ao lançamento por homologação, constitui o crédito tributário, equivalendo a um lançamento ou confissão de dívida. Já, no paradigma, decidiuse que o fato de a contribuinte estar amparada por depósito do montante integral, não impediria o lançamento para prevenir a decadência. Não foi aplicada a decisão do STJ, no caso do paradigma, porque ela ainda não existia. Mas isso não compromete a similaridade das situações. Assim, considerando improcedentes as alegações preliminares de não conhecimento, conheço do recurso especial da PFN e passo a examinar o mérito. Mérito Como visto, tratase de lançamento de CSLL relativa aos anoscalendário 2008 e 2010, formalizado com suspensão de exigibilidade e sem a imposição da multa de ofício, porque a interessada discute, na justiça, a majoração da alíquota da CSLL de 9% para 15%, aplicável às instituições financeiras. De acordo com o consignado no Termo de Verificação Fiscal de fls. 351/354, os débitos estão com a exigibilidade suspensa devido ao depósito judicial de seu montante integral. A autoridade fiscal, diante desses fatos, viuse obrigada a efetuar o lançamento correspondente à diferença de alíquotas, ainda que esses valores tenham sido depositados judicialmente, de forma integral, para evitar possíveis prejuízos ao Fisco pelo decurso do lapso decadencial. Com efeito, os valores de CSLL foram lançados no auto de infração com suspensão de exigibilidade e sem a imposição da multa de ofício, apenas para resguardar o Fisco dos efeitos do prazo decadencial, eis que se encontram integralmente depositados em juízo no seio do Mandado de Segurança nº 2008.61.00.0141999. A interessada se opôs à exigência alegando que os depósitos judiciais do montante integral questionado na ação judicial equivalem à constituição do crédito tributário, sendo desnecessário e indevido o lançamento de ofício. Ponderou, ainda, que o STJ apreciou a matéria pelo rito do recurso repetitivo, previsto no art. 543C do CPC, no julgamento do Resp Fl. 885DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 886 7 nº 1.140.956/SP, em que foi firmado o entendimento de que o depósito do crédito tributário impede a realização, pelo fisco, de atos de cobrança, os quais têm início com a lavratura do auto de infração. A 10ª Turma de Julgamento da DRJ em São Paulo/SP julgou improcedente a impugnação. Ao apreciar o Recurso Voluntário, a 2ª Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção do CARF concluiu que os depósitos judiciais dos montantes integrais se prestaram à constituir o crédito tributário, como reconhecido de forma pacífica pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, na forma de recursos representativos de controvérsia, e pela jurisprudência do próprio CARF. Diante do Recurso Especial apresentado pela PFN, cabe, agora, à esta 1ª Turma da CSRF, reapreciar a questão, sob todos os seus aspectos. Isso implica analisar: (i) se, na existência de depósitos judiciais de montantes integrais o lançamento é imprescindível, ou dispensável; (ii) se dispensável, ainda que formalizado, se deve ser cancelado ou mantido. Administrativamente, há entendimentos divergentes a respeito de equivalerem, os depósitos judiciais de montantes integrais de valores discutidos judicialmente, à constituição do crédito tributário, de modo que o lançamento de ofício para exigência dos mesmos valores seria indevido. Há divergências, até mesmo, na compreensão da matéria diante da jurisprudência no âmbito do STJ. Há aqueles que entendem que o tema, naquela corte, já se encontra pacificado no sentido de que as causas suspensivas da exigibilidade do crédito tributário, previstas no art. 151, do CTN, dentre as quais se encontra o depósito judicial do montante integral, impedem a realização, pelo Fisco, de atos de cobrança, incluído aí a lavratura do auto de infração, e que esta tese já teria sido afetada como representativa de controvérsia no julgamento do Resp n° 1.140.956/SP, de forma que essa conclusão deve ser reproduzida pelos conselheiro do CARF, nos termos do art. 62, do RICARF. Mas há outros que julgam que o tema submetido aos efeitos de repetitivo não abarca situações como as do presente caso, já que naquela oportunidade julgamento do Recurso Especial nº 1.1140.956/SP não foi apreciada a possibilidade de formalização de lançamento sem aplicação de penalidade e com suspensão da exigibilidade, em face de crédito tributário objeto de depósito judicial integral, como ocorreu nestes autos. Comecemos, então, por delimitar se a questão em análise teria sido decidida pelo STJ em recurso afetado como representativo de controvérsia e, nessas condições, deve ser reproduzida pelos conselheiros deste colegiado. Em voto proferido no Acórdão nº 1101001.135, a ilustre exConselheira Edeli Pereira Bessa, avaliando questão idêntica à dos presentes autos, concluiu, em excelente explanação, que o STJ não havia apreciado, no bojo do repetitivo Resp n° 1.140.956/SP situação em que os valores depositados judicialmente haviam sido constituídos por meio de lançamento de ofício, sem suspensão de exigibilidade e sem a imposição de multa de ofício, tratando aquele julgado, como seus precedentes, de casos em fase de execução de dívida ativa em que os depósitos judiciais foram feitos em valores insuficientes. Fl. 886DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 887 8 Assim, em seu voto, imediatamente após transcrever o acórdão do STJ proferido no julgamento do Resp n° 1.140.956/SP , assinalou o seguinte: Porém, observase que a discussão, naqueles autos, tinha em conta execução fiscal promovida em face de sujeito passivo que promovera depósito judicial classificado como insuficiente pela Municipalidade e, assim, inábil a suspender a exigibilidade do crédito tributário. Aqui, o lançamento foi formalizado sem aplicação de penalidade e com o reconhecimento da suspensão da exigibilidade do crédito tributário, inexistindo qualquer questionamento acerca da suficiência do depósito judicial. Por sua vez, o voto condutor do julgado antes mencionado principia observando que: Entrementes, dentre os multifários recursos especiais relacionados à questão da impossibilidade de ajuizamento de executivo fiscal, ante a existência de ação antiexacional conjugada ao depósito do crédito tributário, grande parte refere se à discussão acerca da integralidade do depósito efetuado ou da existência do mesmo, razão pela qual impõese o julgamento da controvérsia pelo rito previsto no art. 543C, do CPC, cujo escopo precípuo é a uniformização da jurisprudência e a celeridade processual. (destaques do original) Sob esta ótica, o Superior Tribunal de Justiça manifestouse acerca da implementação da suspensão da exigibilidade do crédito tributário em razão de depósito judicial, asseverando que sua implementação, quando integral, impede “atos de cobrança”, dentre os quais inseriu a “lavratura do auto de infração e aplicação de multa”, sem apreciar a possibilidade de lançamento sem aplicação de penalidade e com suspensão da exigibilidade. É nesse contexto específico que exsurge o impedimento à lavratura do auto de infração em face de depósito judicial integral do tributo. No mais, o Superior Tribunal de Justiça teve em conta apenas a extinção do crédito tributário em razão da conversão do depósito em renda da Fazenda Pública, bem como a suficiência do depósito judicial no caso concreto em análise, determinando a extinção da execução fiscal em curso. Concluise, do exposto, que o Superior Tribunal de Justiça não decidiu, no rito do art. 543C, acerca da impossibilidade de lançamento, sem aplicação de penalidade e com suspensão da exigibilidade, de tributo depositado judicialmente. É verdade que o mencionado acórdão foi reformado por esta 1ª Turma da CSRF, por voto de maioria de seus componentes, através do acórdão nº 9101003061, de 13/09/2017. Mas isto não impede que esta conselheira exerça seu livre convencimento a respeito da questão, fiandose nas razões de decidir daquele julgado reformado. Em assim sendo, julgo não só oportunas as observações da exConselheira Edeli Bessa deduzidas no voto acima reproduzido, como encontro eco de suas arguições nos julgamentos precedentes do STJ que deram origem ao Resp n° 1.140.956/SP. É o que se vislumbra, por exemplo, do teor dos seguintes julgados precedentes: RECURSO ESPECIAL Nº 885.246 ES (2006/01590614): REMESSA NECESSÁRIA APELAÇÃO VOLUNTÁRIA AÇÃO ANULATÓRIA DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO DEPÓSITO DO Fl. 887DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 888 9 VALOR INTEGRAL DO DÉBITO FISCAL, EM DINHEIRO SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO ART. 151, INCISO II, DO CTN SÚMULA 112 DO STJ AJUIZAMENTO DE AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL INUTILIDADE SUPOSTA OFENSA AO ART. 16, DA LEI 6.830/80 NÃO OCORRÊNCIA APRECIAÇÃO DE QUESTÃO DE ORDEM PÚBLICA RECURSO IMPROVIDO REMESSA PREJUDICADA. 1. Nos termos da súmula 112 do STJ, e do inciso II, do artigo 151, do Código Tributário Nacional, o depósito do valor correspondente à integralidade do débito fiscal cobrado, em dinheiro, suspende a exigibilidade do crédito tributário. 2. A propositura da ação anulatória de lançamento fiscal, com o depósito do valor integral do crédito cobrado, em dinheiro, impede a Fazenda Pública de promover a execução fiscal, por ausência de exigibilidade do título na qual esta se funda. Ademais, não há utilidade do processo executivo, posto que o crédito tributário será extinto, seja pela sentença que acolha a pretensão anulatória, seja pela conversão do depósito efetuado em renda para o ente tributante. 3. Não há de se falar em ofensa ao artigo 16 da Lei n.º 6.830/80, pois se tratando de condição da ação executiva, questão de ordem pública antecedente, o julgador pode conhecêla de ofício (*) destaques acrescidos RECURSO ESPECIAL Nº 1.074.506 SP (2008/01537880) PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AÇÃO ANULATÓRIA. DEPÓSITO INTEGRAL DO DÉBITO. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO (ART. 151, II, DO CTN). EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO FISCAL AJUIZADA APÓS O DEPÓSITO. POSSIBILIDADE. 1. O depósito do montante integral do débito, nos termos do artigo 151, inciso II, do CTN, suspende a exigibilidade do crédito tributário e impede o ajuizamento da execução fiscal por parte da Fazenda Pública. Precedentes: REsp 193.402/RS, 2ª Turma, Min. Franciulli Netto, DJ de 31.03.2003; REsp 677.212/PE. 1ª T., Min. Teori Albino Zavascki DJ de 17.10.2005; REsp 156885/SP, 2ª Turma, Min. Castro Meira, DJ 16.11.2004; REsp 181758/SP, 1ª Turma, Min. Milton Luiz Pereira, DJ de 06.05.2002; REsp 62767/PE, 2ª Turma, Min. Antônio de Pádua Ribeiro, DJ de 28.04.1997. 2. A improcedência da ação anulatória, precedida do depósito do montante integral, acarreta acarreta a conversão do depósito em renda à Fazenda Pública, extinguindo o crédito tributário, consoante o comando do art. 156, VI, do CTN nos termos dos ensinamentos da abalizada doutrina, verbis: "Depois da constituição definitiva do crédito, o depósito, quer tenha sido prévio ou posterior, te o mérito de impedir a propositura da ação de cobrança, vale dizer, da execução fiscal, porquanto fica suspensa a exigibilidade do crédito. (...) Ao promover a ação anulatória de lançamento, ou a declaratória de inexistência de relação tributária, ou mesmo o Fl. 888DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 889 10 mandado de segurança, o autor fará a prova do depósito e pedirá ao Juiz que mande cientificar a Fazenda Pública, para os fins do art. 151, II, do Código Tributário Nacional. Se pretender a suspensão da exigibilidade antes da propositura da ação, poderá fazer o depósito e, em seguida, juntando o respectivo comprovante, pedir ao Juiz que manda notificar a Fazenda Pública. Terá então o prazo de 30 dias para promover a ação. Julgada a ação procedente, o depósito deve ser devolvido ao contribuinte, e se improcedente, convertido em renda da Fazenda Pública, desde que a sentença de mérito tenha transitado em julgado" (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 27ª ed., p. 205/206). 3. No caso dos autos incontroverso o depósito do montante integral o Tribunal de origem consignou que foi a "ação anulatória de débito fiscal proposta anteriormente à execução fiscal ajuizada"(fl. 116). Assim, merece reforma a decisão recorrida, porquanto de acordo com os precedentes citados, deve ser declarada a extinção da execução fiscal. Precedente: REsp 1040603/MG, Rel. Min. Mautro Campbell, DJ. 23/06/2009 REsp 807685/RJ, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 08/05/2006. 4. Recurso especial a que se dá provimento. (*) destaques acrescidos Notase desses e de todos os demais precedentes que basearam o julgamento do Resp n° 1.140.956/SP, que aquela Corte Superior concluiu que os depósitos judiciais em montantes integrais tem o condão de impedir o ajuizamento da ação de execução fiscal apresentada posteriormente à feitura dos referidos depósitos judiciais ação de cobrança. Daí porque compartilho do entendimento no sentido de que o recurso repetitivo do STJ Resp n° 1.140.956/SP não apreciou situação como a dos presentes autos, em que se discute se os depósitos judiciais integrais impedem a lavratura de auto de infração com suspensão de exigibilidade e sem a imposição de multa de ofício. Ademais, é pertinente ressaltar que o entendimento pacificado no STJ pelo Resp n° 1.140.956/SP, é o de que o depósito do montante integral do crédito tributário suspende sua exigibilidade e veda a prática de atos de cobrança por parte da Administração Tributária. Isto fica bem claro do seguinte trecho do voto nele proferido pelo Exmo Ministro Luiz Fux: [...] Deveras, ao realizarse, no plano fático, a hipótese de incidência contida no antecedente da regra matriz de incidência tributária, vale dizer, a ocorrência do fato gerador, a autoridade fiscal ou o próprio contribuinte procedem ao lançamento, que constitui o crédito tributário, que possibilita a incidência de uma outra norma geral e abstrata, qual seja, a regra matriz de exigibilidade. Nesse segmento, no que tange à matéria atinente à exigibilidade do crédito tributário, verificase a existência de duas normas gerais e abstratas: a regra matriz da exigibilidade e a regra Fl. 889DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 890 11 matriz de suspensão da exigibilidade norma de estrutura prevista no art. 151 do CTN. A regra matriz de exigibilidade do crédito tributário, portanto, em seu critério temporal, decorre, simultânea e obrigatoriamente, da constituição do crédito tributário por ato norma do particular (art. 150 do CTN) ou da autoridade fiscal (art. 142, do CTN) e do decurso do lapso temporal para seu vencimento. A regra matriz de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, por sua vez, ocorrida alguma das hipóteses previstas no art. 151 do CTN, inibe o critério temporal da regra matriz de exigibilidade, prevalecendo até que descaracterizada a causa que lhe deu azo. Isso significa dizer que as causas suspensivas da exigibilidade aparecem como critérios negativos das hipóteses normativas das regras gerais e abstratas de exigibilidade, que, por isso, não podem ser aplicadas. Por isso que o depósito do montante integral do débito, nos termos do artigo 151, inciso II, do CTN, suspende a exigibilidade do crédito tributário e impede o ajuizamento da execução fiscal por parte da Fazenda Pública. Nesse sentido, os seguintes precedentes: [...] É que as causas suspensivas da exigibilidade do crédito tributário (art. 151 do CTN) impedem a realização, pelo Fisco, de atos de cobrança, os quais têm início em momento posterior ao lançamento, com a lavratura do auto de infração. [...] (*) grifos do original Assim, não se vê, do referido repetitivo, qualquer afirmação feita pelo relator na direção de que os depósitos judiciais de montante integral impeçam a constituição de ofício do crédito tributário. Muito pelo contrário. O que fica bem claro do voto é que os depósitos judiciais integrais impedem a exigibilidade do crédito tributário, o que se dá através da ação de cobrança ou da execução fiscal. Com esta explanação, temse por analisada e afastada a alegação preliminar feita pela interessada em sede de contrarrazões, de não conhecimento do REsp da PFN em razão de que o paradigma indicado para o tema "Depósito do Montante Integral", não teria observado o que decidiu o STJ no Recurso Especial nº 1.140.956/SP, afetado como representativo de controvérsia. Por essa razão é que não tem aplicação, neste caso, o art. 62 do Anexo II do RICARF. Por tudo o quanto foi dito até aqui é que a autoridade fiscal, tomando conhecimento da ocorrência do fato gerador, fica obrigada a efetuar o lançamento, sob pena de responsabilidade funcional (art. 142, parágrafo único, do CTN), ainda que a exigibilidade do Fl. 890DF CARF MF Processo nº 16327.720191/201318 Acórdão n.º 9101003.686 CSRFT1 Fl. 891 12 crédito tributário assim constituído fique com sua exigibilidade suspensa, caso seja verificada alguma das hipóteses previstas no art. 151 do CTN, dentre as quais se encontra o depósito do montante integral. Como se vê, não há discricionariedade na atividade do lançamento. Entendo que em casos como o presente, em que não há sequer unanimidade na compreensão da jurisprudência do STJ sobre o tema, é absolutamente compulsória a constituição de ofício do crédito tributário a que se referem os depósitos judiciais de montantes integrais, com a devida suspensão da sua exigibilidade e sem a imposição da multa de ofício, até, inclusive, para proteger a Fazenda Pública dos efeitos do lapso decadencial. Assim se extrai a inteligência da Súmula CARF nº 48: Súmula CARF nº 48. A suspensão da exigibilidade do crédito tributário por força de medida judicial não impede a lavratura de auto de infração. Em face do exposto, voto no sentido de conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, doulhe provimento para manter o lançamento consubstanciado nos presentes autos, observandose que, na existência dos depósitos judiciais, não poderão ser implementados atos de cobrança do crédito tributário constituído, nos termos do entendimento pacificado pelo STJ. (assinado digitalmente) Viviane Vidal Wagner Fl. 891DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10380.901669/2010-27
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Oct 18 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2002
COMPENSAC¸A~O. DENU´NCIA ESPONTA^NEA. COMPENSAC¸A~O.
A regular compensação realizada pelo contribuinte é meio hábil para a caracterização de denúncia espontânea, nos termos do art. 138 do CTN, cuja eficácia normativa não se restringe ao adimplemento em dinheiro do débito tributário.
Numero da decisão: 9101-003.691
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no me´rito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Viviane Vidal Wagner, Nelso Kichel (suplente convocado) e Rafael Vidal de Arau´jo, que lhe deram provimento.
(assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Arau´jo - Presidente em exercício.
(assinado digitalmente)
Luís Flávio Neto - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Andre´ Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Lui´s Fla´vio Neto, Nelso Kichel (suplente convocado), Gerson Macedo Guerra, Demetrius Nichele Macei, Rafael Vidal de Arau´jo (Presidente em Exerci´cio). Ausente, justificadamente, o conselheiro Fla´vio Franco Corre^a.
Nome do relator: LUIS FLAVIO NETO
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INDUSTRIA E COMERCIO DE ALIMENTOS ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2002 COMPENSAÇÃO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. COMPENSAÇÃO. A regular compensação realizada pelo contribuinte é meio hábil para a caracterização de denúncia espontânea, nos termos do art. 138 do CTN, cuja eficácia normativa não se restringe ao adimplemento em dinheiro do débito tributário. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Viviane Vidal Wagner, Nelso Kichel (suplente convocado) e Rafael Vidal de Araújo, que lhe deram provimento. (assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araújo Presidente em exercício. (assinado digitalmente) Luís Flávio Neto Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Viviane Vidal Wagner, Luís Flávio Neto, Nelso Kichel (suplente AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 38 0. 90 16 69 /2 01 0- 27 Fl. 231DF CARF MF Processo nº 10380.901669/201027 Acórdão n.º 9101003.691 CSRFT1 Fl. 236 2 convocado), Gerson Macedo Guerra, Demetrius Nichele Macei, Rafael Vidal de Araújo (Presidente em Exercício). Ausente, justificadamente, o conselheiro Flávio Franco Corrêa. Relatório Tratase de recurso especial interposto pela Procuradoria da Fazenda Nacional, em que figura como interessado M DIAS BRANCO S.A. INDUSTRIA E COMERCIO DE ALIMENTOS (doravante “contribuinte” ou “recorrido”). O recurso especial versa sobre a caracterização de denúncia espontânea, nos termos do art. 138 do CTN, por meio de compensação tributária. A decisão recorrida restou assim ementada: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2002 COMPENSAÇÃO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. ATO DECLARATÓRIO PGFN N° 04/2011. ATO DECLARATÓRIO PGFN N° 08/2011. ABRANGÊNCIA. AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO SOBRE COMPENSAÇÃO. Os Atos Declaratórios PGFN n° 04/2011 e n° 08/2011 autorizam a dispensa de contestação em ações judiciais envolvendo a denúncia espontânea, sendo que o primeiro ato define que a multa de mora deve ser afastada e o segundo ato esclarece que caracteriza a denúncia espontânea o pagamento, concomitante a ̀ retificacã̧o da declaracã̧o, da diferença de deb́ito declarado a menor, mas ambos os atos nada dispõem sobre se a compensaçaõ configura ou não o instituto do art. 138 do CTN. COMPENSAÇÃO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. NÃOEQUIPARAÇAÕ A PAGAMENTO. Para efeito da caracterização da denúncia espontan̂ea a compensaçaõ não se equipara ao pagamento, já que possuem efeitos distintos, pois este extingue o débito, instantaneamente, dispensando qualquer outra providência posterior, e aquele sujeitase a uma condição resolutória de decisão de nãohomologação, que pode retonar o débito à condica̧õ de nãoextinto. COMPENSAÇÃO. DENÚNCIA ESPONTAN̂EA. NOTA TÉCNICA COSIT N° 1, DE 18/01/2012. REVOGAÇÃO PELA NOTA TÉCNICA COSIT N° 19, DE 2/06/2012. A Nota Técnica Cosit n° 1, de 18/01/2012, que dava orientação no sentido da equiparacã̧o da compensação ao pagamento para fins da caracterização da denúncia espontan̂ea, foi revogada pela Nota Tećnica Cosit n° 19, de 12/06/2012, que dispõe que não se considera ocorrida a denúncia espontânea quando o contribuinte compensa o débito. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2002 INTIMAÇÃO. ENDEREÇO DO PROCURADOR. MATÉRIA DISCIPLINADA NO PAF. FALTA DE PREVISÃO. De acordo com a disciplina instituída no PAF, as intimações devem ser encaminhadas ao endereço do sujeito passivo, sem previsão para o envio de correspondências para o endereço do procurador da empresa. CONEXÃO. COINCIDÊNCIA DE DESPACHO DECISÓRIO. PROCESSOS SEPARADOS. ADOÇÃO DA MESMA DECISÃO. Fl. 232DF CARF MF Processo nº 10380.901669/201027 Acórdão n.º 9101003.691 CSRFT1 Fl. 237 3 Em caso de Per/Dcomps analisados pelo mesmo despacho decisório, preparados em processos separados, impõese adotar a mesma decisão já proferida em um deles, para evitar contradição, ainda que dela se discorde. A PFN opôs embargos de declaração (efls. 149 e seg.), os quais foram rejeitados por acórdão assim ementado (efls. 166 e seg.): ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2002 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO. Cabem embargos de declaração quando o acórdão contiver obscuridade, omissão ou contradicã̧o entre a decisão e os seus fundamentos, ou for omitido ponto sobre o qual devia pronunciarse a turma. No aludido acórdão de embargos, restou consignado o quanto segue: “A razão dos embargos é a alegada contradicã̧o entre os fundamentos e a conclusão da decisão. Não assiste razão ao embargante. Embora o relator tenha consignado no voto sua posicã̧o pessoal em dar tratamento diferenciado para as compensações, afastando a denúncia espontânea, ele registra que conduziria o voto para dar provimento ao recurso, em homenagem à coeren̂cia de resultados com outros processos conexos, já julgados a favor do contribuinte, conforme a seguinte transcrição (fl. 136): Como o ato atacado é o mesmo, não há sentido algum em proferir decisões diferentes e sobretudo conflitantes, o que resultaria em evidente contradica̧õ. Dessa forma, ainda que eu divirja do acórdão n° 1402001.424, entendo que a adoção da mesma decisão é imperiosa. Por isso, voto pelo provimento do recurso voluntário, para afastar a inciden̂cia da multa e homologar as compensações até o limite do crédito. Apesar da decisão favorável, considerando que houve discussão na sessão passada, que inclusive resultou em pedido de vista, e levando em conta a natureza controvertida da matéria, entendo conveniente manter o conteúdo da apreciação do mérito na redação do presente voto. Assim, uma leitura mais detida do acórdão afasta a aparente contradição. Diante do exposto, voto por rejeitar os embargos de declaração”. A PFN, então, interpôs recurso especial, arguindo divergência de interpretação quanto à possibilidade de configuração de denúncia espontânea por meio de compesanção tributária (efls. 180 e seg.), o qual foi admitido por despacho (efls. 191 e seg.). O contribuinte apresentou contrarrazões ao recurso especial, em que, embora não se oponha ao conhecimento do recurso especial, requer lhe seja negado provimento (efls. 201 e seg.). Concluise, com isso, o relatório. Voto Conselheiro Luís Flávio Neto, Relator. Fl. 233DF CARF MF Processo nº 10380.901669/201027 Acórdão n.º 9101003.691 CSRFT1 Fl. 238 4 Compreendo que o despacho de admissibilidade bem analisou o cumprimento dos requisitos para a interposição do recurso especial de divergência interposto, razão pela qual não merece reparo, adotandose neste voto os seus fundamentos. O presente caso exige que se compreenda a hipótese de incidência do art. 138 do CTN, especialmente quanto à exigência de extinção do crédito tributário por meio de “pagamento” ou de “compensação”. O art. 138 do CTN possui a seguinte redação: Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontan̂ea da infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infracã̧o. O núcleo da presente discussão consiste em saber se o termo “pagamento”, adotado pelo art. 138 do CTN (acima sublinhado), tem o sentido restritíssimo de “quitação em dinheiro” ou se contempla acepcã̧o mais ampla de adimplemento, abarcando, no caso, a compensação tributária. De início, é necessário observar que o legislador nem sempre utiliza o vocábulo “pagamento” no sentido de quitação em dinheiro, valendose deste em sua acepção mais ampla de adimplemento. É o que se verifica em variados exemplos colhidos tanto de leis ordinárias como de leis complementares, conforme se passa a analisar antes de adentrar ao mérito em si do art. 138 do CTN. Primeiramente, notese a redação do art. 150 do CTN: Art. 150. O lanca̧mento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. Notese que o CTN utilizou a dicçaõ “antecipar o pagamento” no sentido de antecipar o adimplemento sem prévio exame da autoridade administrativa. Não há dúvidas que o contribuinte, mediante declaracã̧o e compensacã̧o regularmente levadas a termo, irá consumar o típico “lançamento por homologação” tutelado pelo art. 150 do CTN. Nesse sentido, merecem destaque os seguintes julgados, proferidos pela Primeira e Segunda Turma do STJ, que consideram indiferente o adimplemento darse mediante pagamento em dinheiro ou compensação tributária para a incidência do art. 150 do CTN: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. PEDIDO DE COMPENSAÇÃO. ART. 74 DA LEI 9.430/96. MODIFICAÇÕES LEGISLATIVAS: LEI 10.637/02 E LEI 10.833/03. CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. NOV/1998. INDEFERIMENTO ADMINISTRATIVO DA COMPENSAÇÃO. MAI/05. TRANSCURSO DE PRAZO SUPERIOR AO QUINQUÊNIO LEGAL. ART. 150, §4o, DO CTN. HOMOLOGAÇAÕ TÁCITA. PAGAMENTO ANTECIPADO. Fl. 234DF CARF MF Processo nº 10380.901669/201027 Acórdão n.º 9101003.691 CSRFT1 Fl. 239 5 1. No caso concreto, o crédito tributário foi constituído na data do protocolo do pedido de compensaca̧õ (10/11/1998), por força do §4o do art. 74 da Lei n. 9.430/96. Logo, como até maio de 2005, a Administração não havia se manifestado sobre o referido pleito, ocorreu a homologação tácita prevista no §4o do art. 150 do CTN. 2. Recurso especial provido. (STJ, REsp 1320994/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/10/2014, DJe 22/10/2014) TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ICMS. LANÇAMENTO SUPLEMENTAR. CREDITAMENTO INDEVIDO. PAGAMENTO PARCIAL. DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. FATO GERADOR. ART. 150, § 4o, DO CTN. 1. O prazo decadencial para o lanca̧mento suplementar de tributo sujeito a homologação recolhido a menor em face de creditamento indevido é de cinco anos contados do fato gerador, conforme a regra prevista no art. 150, § 4o, do CTN. Precedentes: AgRg nos EREsp 1.199.262/MG, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seçaõ, DJe 07/11/2011; AgRg no REsp 1.238.000/MG, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, SEGUNDA TURMA, DJe 29/06/2012. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1318020/RS, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/08/2013, DJe 27/08/2013) Prosseguindo a análise ora empreendida, verificase que o mesmo se verifica, por exemplo, em relação ao art. 9o, § 2º, da Lei n. 9.532/97. Esse enunciado prescritivo estabelece, em seu caput, que, “à opção da pessoa jurídica, o saldo do lucro inflacionário acumulado, existente no último dia útil dos meses de novembro e dezembro de 1997, poderá ser considerado realizado integralmente e tributado à alíquota de dez por cento”. Para que essa opção fosse exercida, o legislador requereu a sua manifestação mediante o adimplemento do tributo correspondente, em quota única. Não há sinais de que o legislador procurou se referir a quitação em dinheiro, mas sim às hipóteses que legitimamente conduzam ao adimplemento da obrigaçaõ, como é o caso da compensação. Esse foi precisamente o entendimento adotado por esta 1ª Turma da CSRF, em julgamento recente sobre o tema: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2003, 2004 SALDO ACUMULADO DE LUCRO INFLACIONÁRIO. REALIZAÇÃO INTEGRAL EM COTA ÚNICA. COMPENSAÇÃO. À opção da pessoa jurídica, o saldo do lucro inflacionário acumulado, existente no último dia útil dos meses de novembro e dezembro de 1997, poderia ser considerado realizado integralmente e tributado à alíquota de dez por cento (Lei n. 9.532/1997, art. 9º). Exercício da opção mediante o adimplemento do valor correspondente. A regular compensação, assim como a regular quitação em dinheiro, era meio hábil para o exercício da opção. DECADÊNCIA. SÚMULA CARF n. 10 O prazo decadencial para constituição do crédito tributário relativo ao lucro inflacionário diferido é contado do período de apuração de sua efetiva realização. (CSRF, 9101002.352, 14/06/2016) Adentrando no mérito do presente recurso, verificase que, tal como se dá com os outros dispositivos citados, incluindo o art. 150 do CTN, embora o art. 138 do CTN, Fl. 235DF CARF MF Processo nº 10380.901669/201027 Acórdão n.º 9101003.691 CSRFT1 Fl. 240 6 textualmente adote o termo “pagamento”, não procura restringir o instituto da denúncia espontânea às hipóteses de quitação em dinheiro, requerendo o adimplemento em sentido amplo, o que inclui a compensação tributária. A Nota Técnica n. 1 COSIT, de 18.01.2012, posteriormente cancelada pela Nota Técnica no 1 COSIT, de 12.06.2012, chegou a reconhecer de ofício, com o propósito de colocar fim aos litígios sobre a matéria, o sentido amplo de “pagamento”, para abrager hipóteses de adimplemento como a “compensacã̧o”, in verbis: “18. Com relação à aplicabilidade da denúncia espontan̂ea na compensação de tributos, não se pode perder de vista que pagamento e compensacã̧o se equivalem; ambos apresentam a mesma natureza jurídica, seus efeitos são exatamente os mesmos: a extinção do crédito tributário. Como consequen̂cia, a compensação também é instrumento apto a configurar a denúncia espontânea. 18.1 Tanto é assim que o art. 28 da Lei no 11.941, de 27 de maio de 2009, ao dar nova redaçaõ ao art. 6° da Lei no 8.218, de 29 de agosto de 1991, conferiu à compensação o mesmo tratamento dado ao pagamento para efeito de redução das multas de lançamento de ofício. 18.2 Essa equiparaca̧õ do pagamento e compensação na denúncia espontânea resulta da aplicação da analogia, prevista como método de integraçaõ da legislação pelo art. 108, I, do CTN. 18.3 Dessa forma, respondendo às indagações formuladas nas letras h e i do item 3 desta Nota Técnica: a) se o contribuinte não declara o débito na DCTF, porém efetua a compensação desse débito na Dcomp, sendo os atos de confessar e compensar concomitantes, aplicasse o mesmo raciocínio previsto no item 10, ou seja, neste caso resta configurada a denúncia espontânea prevista no art. 138 do CTN” O entendimento esposado pela Nota Técnica n. 1 COSIT, de 18.01.2012 não merece reparo. Vale observar que a compensação efetuada pelo contribuinte possui efeito de pagamento, sob condição resolutória. Significa dizer que, se porventura a compensação não vier a ser homologada, perderá a eficácia a denúncia espontânea, com a exigência do débito tributário com a multa. Não obstante tratarse de matéria controversa, seja neste Conselho ou no e. STJ, é importante observar as decisões deste Tribunal que se alinham ao entendimento que acolho no presente voto. A Primeira e a Segunda Turma do STJ apresentam precedentes em que aplicam a norma do art. 138 do CTN de forma que o termo “pagamento” assuma a acepção de “adimplemento”. Conforme a interpretação levada a termo nos julgados a seguir, há denúncia espontânea mediante o adimplemento integral do débito tributário antes da ação fiscal, independentemente deste se dar mediante pagamento em dinheiro ou compensação: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. PRESENÇA DE OMISSÃO. EMBARGOS DE DECLARAÇAÕ ACOLHIDOS COM EFEITOS INFRINGENTES. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. RECONHECIMENTO. TRIBUTO PAGO SEM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO ANTERIOR E ANTES DA ENTREGA DA DCTF REFERENTE AO IMPOSTO DEVIDO. 1. A decisão embargada afastou o instituto da denúncia espontânea, contudo se omitiu para o fato de que a hipótese dos autos, tratada pelas instan̂cias Fl. 236DF CARF MF Processo nº 10380.901669/201027 Acórdão n.º 9101003.691 CSRFT1 Fl. 241 7 ordinárias, referese a tributo sujeito a lançamento por homologação, tendo os ora embargantes recolhido o imposto no prazo, antes de qualquer procedimento fiscalizatório administrativo. 2. Verificase estar caracterizada a denúncia espontânea, pois não houve constituição do crédito tributário, seja mediante declaração do contribuinte, seja mediante procedimento fiscalizatório do Fisco, anteriormente ao seu respectivo pagamento, o que, in casu, se deu com a compensação de tributos. Ademais, a compensacã̧o efetuada possui efeito de pagamento sob condição resolutória, ou seja, a denúncia espontânea será válida e eficaz, salvo se o Fisco, em procedimento homologatório, verificar algum erro na operação de compensação. Nesse sentido, o seguinte precedente: AgRg no REsp 1.136.372/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, DJe 18/5/2010. 3. Ademais, inexistindo prévia declaração tributária e havendo o pagamento do tributo antes de qualquer procedimento administrativo, cabível a exclusão das multas moratórias e punitivas. 4. Embargos de declaração acolhidos com efeitos modificativos. (STJ, EDcl no AgRg no REsp 1375380/SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/08/2015, DJe 11/09/2015) AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. COMPENSAÇÃO. CARACTERIZAÇAÕ. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 557 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INOCORRÊNCIA. EXCLUSÃO DA MULTA MORATÓRIA OU PUNITIVA. POSSIBILIDADE. IMPROVIMENTO. 1. Fundada a decisão na jurisprudência dominante do Tribunal, não há falar em óbice para que o relator julgue o recurso especial com fundamento no artigo 557 do Código de Processo Civil. 2. Caracterizada a denúncia espontânea, quando efetuado o pagamento do tributo em guias DARF e com a compensação de vários créditos, mediante declaração à Receita Federal, antes da entrega das DCTFs e de qualquer procedimento fiscal, as multas moratórias ou punitivas devem ser excluídas. 3. Agravo regimental improvido. (STJ, AgRg no REsp 1136372/RS, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/05/2010, DJe 18/05/2010, O mesmo entendimento tem sido adotado por este Tribunal administrativo, como se observa desta recente decisão da 1ª Turma Ordinaŕia da 4ª Câmara da 3a Seçaõ: CRÉDITO TRIBUTÁRIO NÃO DECLARADO. DCOMP. COMPENSAÇÃO HOMOLOGADA. DENÚNCIA ESPONTÂNEA CARACTERIZADA. EXCLUSÃO DA MULTA DE MORA. STJ. RECURSO REPETITIVO. REPRODUÇÃO NO CARF . Extinto, por meio de Declaração de Compensação homologada, Crédito tributário antes não declarado à administraçaõ tributária, resta caracterizada a denúncia espontânea prevista no art. 138 do Código Tributário Nacional, com exclusão da multa de mora segundo interpretaçaõ do Superior Tribunal de Justica̧ em julgamento de recursos repetitivos, de aplicação obrigatória no âmbito do CARF. (Acórdão 3401002.706, Sessão de 21/08/2014) Nesse cenário, a norma do art. 138 do CTN não se aplica apenas às hipóteses de pagamento em dinheiro: a norma de denúncia espontânea incide igualmente em face de outras hipóteses em que haja equivalente adimplemento, como é o caso da regular compensação tributária. Não se trata de interpretaçaõ ampliativa ou restrintiva, mas de Fl. 237DF CARF MF Processo nº 10380.901669/201027 Acórdão n.º 9101003.691 CSRFT1 Fl. 242 8 reconhecimento do âmbito de incidência prescrito pelo legislador. Não há que se falar, por conseguinte, em ofensa ao art. 111 do CTN. Por todo o exposto, voto por conhecer e NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial. (assinado digitalmente) Luís Flávio Neto Fl. 238DF CARF MF
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