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Numero do processo: 10783.906705/2012-78
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 28 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Oct 21 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/07/2009 a 30/09/2009
FRAUDE NA VENDA DE CAFÉ EM GRÃO. COMPROVADA A SIMULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE COMPRA. DESCONSIDERAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO. POSSIBILIDADE.
Comprovada a existência da fraude nas operações de aquisição de café em grão mediante simulação de compra realizada de pessoas jurídicas inexistentes de fato e a dissimulação da real operação de compra do produtor rural ou maquinista, pessoa física, com o fim exclusivo de se apropriar do valor integral do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desconsidera-se a operação da compra simulada e mantém-se a operação da compra dissimulada, se esta for válida na substância e na forma.
REGIME NÃO CUMULATIVO. CAFÉ EM GRÃO EFETIVAMENTE ADQUIRIDO DO PRODUTOR RURAL. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE PESSOA JURÍDICA INIDÔNEA. APROPRIAÇÃO DO CRÉDITO PRESUMIDO AGROPECUÁRIO. POSSIBILIDADE.
Se comprovado que o café em grão foi efetivamente adquirido do produtor rural, pessoa física, e não das pessoas jurídicas inexistentes de fato, fraudulentamente interpostas entre o produtor rural e a pessoa jurídica compradora, esta última faz jus apenas à parcela do crédito presumido agropecuário da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins.
AQUISIÇÃO DE CAFÉ EM GRÃO DE COOPERATIVA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA. OPERAÇÃO SUJEITA À TRIBUTAÇÃO NORMAL. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO INTEGRAL. POSSIBILIDADE.
Se submetidas ao regime de tributação normal, as aquisições de café em grão de cooperativas de produção agropecuária permitem a apropriação do valor integral dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins.
Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/07/2009 a 30/09/2009
NULIDADE DE DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO PROVADA A MUDANÇA DE FUNDAMENTO JURÍDICO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Não é passível de nulidade, por cerceamento do direito de defesa, a decisão primeira instância que apreciou todas as razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências consignadas no auto de infração de forma fundamentada e motivada.
2. Não motivo para nulidade da decisão de primeira instância, se não comprovado que houve a alegada alteração o fundamento jurídico do despacho decisório proferido pela autoridade fiscal da unidade da Receita Federal de origem.
PROCEDIMENTO FISCAL. MOTIVAÇÃO ADEQUADA E SUFICIENTE. CIÊNCIA AO CONTRIBUINTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE.
No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do direito de defesa procedimento fiscal apresenta fundamentação adequada e suficiente para o indeferimento do pleito de ressarcimento/compensçaõ formulado pelo contribuinte, que foi devidamente cientificada e exerceu em toda sua plenitude o seu direito de defesa nos prazos e na forma na legislação de regência.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 3302-003.380
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, para restabelecer o direito de a recorrente deduzir dos débitos lançados o valor dos créditos integrais das respectivas contribuições, calculados sobre as aquisições do café em grão das cooperativas de produção agropecuária, parcialmente vencido o Conselheiro Domingos de Sá, que dava integral provimento ao Recurso. A Conselheira Lenisa Prado votou pelas conclusões. Fez sustentação oral: Dr. Afonso Celso Mattos Lourenço - OAB 27.406 - RJ.
(assinado digitalmente)
Ricardo Paulo Rosa - Presidente.
(assinado digitalmente)
José Fernandes do Nascimento - Relator.
Participaram do julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza e Walker Araújo.
Nome do relator: JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/07/2009 a 30/09/2009 FRAUDE NA VENDA DE CAFÉ EM GRÃO. COMPROVADA A SIMULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE COMPRA. DESCONSIDERAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO. POSSIBILIDADE. Comprovada a existência da fraude nas operações de aquisição de café em grão mediante simulação de compra realizada de pessoas jurídicas inexistentes de fato e a dissimulação da real operação de compra do produtor rural ou maquinista, pessoa física, com o fim exclusivo de se apropriar do valor integral do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desconsiderase a operação da compra simulada e mantémse a operação da compra dissimulada, se esta for válida na substância e na forma. REGIME NÃO CUMULATIVO. CAFÉ EM GRÃO EFETIVAMENTE ADQUIRIDO DO PRODUTOR RURAL. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE PESSOA JURÍDICA INIDÔNEA. APROPRIAÇÃO DO CRÉDITO PRESUMIDO AGROPECUÁRIO. POSSIBILIDADE. Se comprovado que o café em grão foi efetivamente adquirido do produtor rural, pessoa física, e não das pessoas jurídicas inexistentes de fato, fraudulentamente interpostas entre o produtor rural e a pessoa jurídica compradora, esta última faz jus apenas à parcela do crédito presumido agropecuário da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins. AQUISIÇÃO DE CAFÉ EM GRÃO DE COOPERATIVA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA. OPERAÇÃO SUJEITA À TRIBUTAÇÃO NORMAL. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO INTEGRAL. POSSIBILIDADE. Se submetidas ao regime de tributação normal, as aquisições de café em grão de cooperativas de produção agropecuária permitem a apropriação do valor integral dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 78 3. 90 67 05 /2 01 2- 78 Fl. 617DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 2 ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/07/2009 a 30/09/2009 NULIDADE DE DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO PROVADA A MUDANÇA DE FUNDAMENTO JURÍDICO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não é passível de nulidade, por cerceamento do direito de defesa, a decisão primeira instância que apreciou todas as razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências consignadas no auto de infração de forma fundamentada e motivada. 2. Não motivo para nulidade da decisão de primeira instância, se não comprovado que houve a alegada alteração o fundamento jurídico do despacho decisório proferido pela autoridade fiscal da unidade da Receita Federal de origem. PROCEDIMENTO FISCAL. MOTIVAÇÃO ADEQUADA E SUFICIENTE. CIÊNCIA AO CONTRIBUINTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE. No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do direito de defesa procedimento fiscal apresenta fundamentação adequada e suficiente para o indeferimento do pleito de ressarcimento/compensçaõ formulado pelo contribuinte, que foi devidamente cientificada e exerceu em toda sua plenitude o seu direito de defesa nos prazos e na forma na legislação de regência. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, para restabelecer o direito de a recorrente deduzir dos débitos lançados o valor dos créditos integrais das respectivas contribuições, calculados sobre as aquisições do café em grão das cooperativas de produção agropecuária, parcialmente vencido o Conselheiro Domingos de Sá, que dava integral provimento ao Recurso. A Conselheira Lenisa Prado votou pelas conclusões. Fez sustentação oral: Dr. Afonso Celso Mattos Lourenço OAB 27.406 RJ. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Presidente. (assinado digitalmente) José Fernandes do Nascimento Relator. Participaram do julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza e Walker Araújo. Fl. 618DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 617 3 Relatório Tratase de pedido de ressarcimento (fls. 2/5) de créditos da Contribuição para o PIS/Pasep não cumulativa exportação do 3º trimestre de 2009, no valor total de R$ 39.329,96. Com base no Parecer de fls. 67/72, por meio do Despacho Decisório de fl. 73, o titular da unidade da Receita Federal de origem reconheceu parte do crédito pleiteado, no valor de R$ 3.697,44, apoiado nas conclusões exaradas no Termo de Encerramento da Ação Fiscal (TEAF) de fls. 75/250, no qual foram relatadas as seguintes glosas de créditos apropriados pela requerente: a) glosa da parcela dos créditos da Contribuição para PIS/Pasep e da Cofins, excedente ao valor do crédito presumido, apropriada sobre o valor do café em grão adquirido de empresas de “fachada” ou “laranja”, que atuaram como intermediárias fictícias entre o produtor rural/maquinista, pessoa física, e a interessada, com o propósito de gerar, indevidamente, crédito integral das referidas contribuições; b) glosa do crédito integral sobre aquisições de café de cooperativas crédito presumido; c) glosa do crédito integral sobre aquisições de café de produtores rurais pessoas físicas crédito presumido; e d) glosa valores informados a maior na linha 01 do Dacon. A parcela dos créditos glosada pela fiscalização referese à aquisição de café em grãos de pessoas jurídicas inexistente de fato e de cooperativas de produção com suspensão do pagamento das referidas contribuições. Tais irregularidades foram apuradas no âmbito das Operação Tempo de Colheita, Operação Broca e Operação Robusta, realizadas pela fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) e pela Polícia Federal, com a participação do Ministério Público Federal (MPF), e consistiram na participação da interessada nas fraudes, mediante compra notas fiscais de pessoas jurídicas inexistentes de fato, para acobertar as operações reais de compras de café em grãos dos produtores rurais pessoas físicas, com a finalidade de gerar ilicitamente créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, em vez de tão somente crédito presumido, bem como a apropriação indevida de créditos nas compras de café em grãos de cooperativas de produtores, sem incidência das referidas contribuições, situação que não admitia apropriação de créditos, nos termos do art. 3°, § 2°, II, da Lei 10.637/2002, e da Lei 10.833/2003. Os principais fatos relatados no referido TEAF foram resumidos no relatório integrante do acórdão recorrido, com os seguintes dizeres, in verbis: 1. A fiscalização teve como escopo a verificação de pretensos créditos, oriundos das aquisições de bens para revenda, compensados com as contribuições não cumulativas devidas para o Programa de Integração Social (PIS) e para a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); 2. REALCAFÉ foi objeto de ação fiscal em 2010, que analisou os pedidos de ressarcimento de créditos das contribuições não cumulativas do PIS/COFINS atinentes aos períodos de 01/2005 a 12/2008, e que resultou no indeferimento na ordem de 79% dos créditos pleiteados; Fl. 619DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 4 3. No Termo de Encerramento da Ação Fiscal n° 08241/2010, que faz parte do processo n° 15586.000956/201025, que analisou os referidos créditos dos períodos de 01/2005 a 12/2008, restou comprovado à saciedade que a REALCAFÉ apropriouse de créditos integrais fictos; 4. As investigações mostraram que a REALCAFÉ lançou mão de créditos do PIS/COFINS documentados com notas fiscais de empresas laranjas utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café de produtores/maquinistas. 5. O procedimento fiscal, ora encerrado, decorre das investigações originadas na operação fiscal TEMPO DE COLHEITA, deflagrada pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Vitória/ES, em outubro de 2007, em face de supostas empresas ATACADISTAS de café em grãos; 6. Posteriormente, na "OPERAÇÃO BROCA", deflagrada em 01/06/2010, fruto da parceria entre o Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal, foram cumpridos mandados de busca e apreensão, sendo as empresas compradoras de café do GRUPO TRISTÃO uns dos alvos; 7. Planilhas de controle de compras e outros documentos extraídos das mídias eletrônicas apreendidas nas empresas do GRUPO TRISTÃO corroboram o que antes eram meros indícios, de fato, essas planilhas faziam clara distinção entre o VENDEDOR do café e o EMISSOR da nota fiscal; 8. Como se não bastasse, o próprio sistema informatizado de controle de compras da TRISTÃO denominado "FOLHA DE COMPRA" deixava evidente a diferença entre o vendedor (produtor) e a empresa laranja usada como intermediária fictícia na operação, destacando claramente no campo "vendedor" o nome do produtor/maquinista e no campo observações o nome da empresa laranja; 9. Não obstante o volume de compras nesse período ser inferior ao analisado anteriormente, 44,90% das compras no ano de 2009 foram em nome de empresas laranjas, em 2010, o percentual foi de 26,37%, sendo que as compras da TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR representaram 45,54%, após exclusão das operações em nome das empresas laranjas; 10. A TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR foi também objeto de auditoria fiscal em 2013, que analisou as PER/DCOMP de 10/2008 a 12/2010, que, ao final, resultou no indeferimento de 90,83% do valor pleiteado nos pedidos de ressarcimento, em razão do mesmo ilícito, qual seja: créditos do PIS/COFINS documentados com notas fiscais de empresas laranjas utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café de produtores/maquinistas; 11. Repetemse nesse período algumas empresas laranjas envolvidas nas operações do período analisado anteriormente, a saber: CELBA, L&L, NOVA BRASÍLIA, Fl. 620DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 618 5 P.A. CRISTO, RADIAL, ROMA, WG DE AZEVEDO, W R DA SILVA, YPIRANGA; 12. A essas se juntaram outras novas empresas laranjas, por exemplo, ADAME, CAFÉ FORTE, CAFEEIRA CASTELENSE, COFFEE TRADE DO BRASIL, COFFEER SUL GOLD COFFEE, JUPARANÃ, LÍDER, NORTE PRODUTOS ALIMENTOS, PRINCESA DO NORTE ALIMENTOS e RODRIGO SIQUEIRA. 13. Os créditos integrais, apropriados indevidamente nos livros contábeis da REALCAFÉ, foram glosados na presente auditoria e reconhecido o direito ao crédito presumido sobre tais operações, na forma da legislação aplicável; 14. Após a recomposição dos saldos, as diferenças do PIS e da COFINS devidos foram lançadas| de ofício, além da aplicação das multas isoladas sobre as compensações indevidas, nãohomologadas, e sobre o valor do crédito objeto de ressarcimento não reconhecido; 15. Foram lançados de oficio os créditos tributários relativos às diferenças apuradas de PIS/COFINS no valor de R$ 901.297,65, consubstanciado no presente processo, bem como referentes às multas isoladas sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido e sobre o valor do débito indevidamente compensado, totalizando R$1.253.215,16, consubstanciado no processo n° 15586.720942/201374; 16. Além disso, após efetuada a glosa e recomposição dos saldos dos créditos, foram analisadas as PER/DCOMP resultando no reconhecimento parcial dos créditos apontados nos pedidos de ressarcimento; 17. E, finalmente, os fatos apurados no decorrer da ação fiscal em face da REALCAFÉ evidenciaram, em tese, crime contra a ordem tributária tipificado no art 1º, inciso I, II e IV da Lei n° 8.137, de 27/12/1990, pela supressão dolosa tributos devidos, bem como no art 2º, inciso I, da precitada lei, por eximirse mediante fraude de pagamentos de tributos. Consta do referido Termo, a reprodução de provas documentais colhidas no âmbito das referidas operações, de vários depoimentos prestados por pessoas participantes do esquema de fraude. Os valores dos créditos apurados, glosados, descontados e passível ressarcimento, referentes ao período de 01/2009 a 12/2010, encontramse discriminados nos demonstrativos de fls. 51/66. Em sede de manifestação de inconformidade (fls. 255/289), a interessada apresentou as razões de defesa que foram assim resumidas no citado relatório: 1. A Fiscalização efetuou a glosa dos créditos integrais do PIS e da COFINS não cumulativos, de forma a conceder à recorrente tão somente o direito ao crédito presumido sobre tais operações, mas sem a indicação de base legal para tal procedimento, pois o Fl. 621DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 6 enquadramento legal utilizado para amparar o procedimento adotado pela fiscalização não serve como fundamentação; 2. A desconsideração dos negócios/fatos jurídicos efetuada nestes autos violou o princípio da tipicidade cerrada, a qual nada mais é do que o elemento da legalidade, ou seja, presente tipicamente no direito público, a lei deve definir e fechar todos os elementos formadores do tipo, semelhante ao direito penal, de maneira que as hipóteses da incidência do tributo devem estar prescritas em lei; 3. Ora, a partir do momento em que a fiscalização descaracterizou legítimos negócios jurídicos realizados pela Impugnante, inclusive acusandoa de falsidade em suas declarações, por evidente que caberia a esta mesma autoridade fazendária indicar de quais produtores rurais a contribuinte então teria adquirido o café; 4. Ademais, a fiscalização deveria ter feito tais indicações de forma individualizada, por trimestre, para cada um dos processos administrativos nos quais examinou os pedidos de Ressarcimento/compensação, até mesmo porque, o percentual de fornecedores considerados pela autoridade como “de fachada” e glosados, obviamente não é o mesmo se considerado cada trimestre; 5. Se tivesse sido efetuada a quebra do sigilo fiscal/bancário das empresas fornecedoras das quais a Impugnante adquiriu o café, na medida em que os pagamentos (não questionados como de fato ocorridos) foram realizados por CHEQUE/DOC/TED, por evidente que a fiscalização poderia individualizar a destinação dos valores para cada uma das compras, elemento concreto que poderia amparar a imputação fiscal, ao contrário dos dados subjetivos (testemunhais e meramente indiciários) constantes deste processo; 6. Se tivesse sido efetuada a quebra do sigilo fiscal/bancário das empresas fornecedoras das quais a Impugnante adquiriu o café, consideradas como “de fachada”, teria a autoridade fazendária, ao menos, realizado o devido trabalho fiscal, com a INDIVIDUALIZAÇÃO DAS ILICITUDES, e não com a GLOSA GERAL das compras referentes a cada trimestre; 7. nos termos dos fundamentos anteriormente alinhados, há que se concluir que houve ofensa ao direito à ampla defesa da Impugnante, razão pela qual esta requer seja declarada a NULIDADE ABSOLUTA do procedimento fiscal; 8. Em suma, não restam dúvidas de que, pelo exame de todas as provas constantes dos autos inclusive levandose em consideração também os depoimentos obtidos no decorrer das investigações realizadas no âmbito da denominada "Operação Broca" , em nenhum momento a Impugnante é citada como estando envolvida na criação, ou manutenção das intituladas pseudopessoas jurídicas, mas sim, ao contrário, sempre é indicada apenas como a destinatária (adquirente) do café, o que ratifica plenamente a sua boafé; Fl. 622DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 619 7 9. Deve ser considerado o que dispõe o parágrafo único, do artigo 82, da Lei n° 9.430/96, segundo o qual as empresas que comprovarem a efetivação do pagamento do preço e o recebimento das mercadorias não poderão ter seus créditos glosados; 10. No caso presente, não restou qualquer dúvida quanto ao recebimento e pagamento das mercadorias por parte da Impugnante, até mesmo porque restou reconhecido ao menos o direito ao crédito presumido sobre as operações examinadas nestes autos; 11. A boafé da Impugnante é ainda demonstrada pelo fato de que esta teve o zelo de fazer consultas ao SINTEGRA e ao próprio banco de dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil, através do sítio http://receita.fazenda.gov.br com o objetivo de comprovar a regularidade jurídica das empresas fornecedoras, conforme comprovado através da documentação anexada nestes autos; 12. Logo, ainda que as empresas fornecedoras estivessem inativas no momento da realização das operações de fornecimento de mercadorias no período, o que não é verdade, mesmo assim a Impugnante não poderia jamais ser prejudicada por fatos que não causou, na medida em que adotou todas as medidas de cautela que exige a legislação de regência; 13. Nestes termos, uma vez afastadas por completo as infundadas acusações trazidas pela autoridade fazendária prolatora do despacho decisório ora combatido, face aos elementos de prova apresentados pela Impugnante, não restam dúvidas de que as aquisições de bens se deram por intermédio de fornecedoras (pessoas jurídicas) ativas no CNPJ Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, bem como no SINTEGRA Serviço Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços; 14. nenhum dos SÓCIOS ou empregados da Impugnante foi denunciado pelo Ministério Público Federal, não respondendo a qualquer dos crimes que foi objeto da operação denominada "Broca"; 15. Pelo exame dos elementos coletados pela fiscalização, tais como email's, telefonemas, depoimentos e documentos internos da contribuinte, não se vislumbra qualquer subsistência dos mesmos, para fins de comprovação de um vínculo entre a Impugnante, seus diretores, ou mesmo funcionários, nas aventadas empresas consideradas pela autoridade fazendária como sendo "de fachada"; 16. o sigilo de dados da Impugnante foi quebrado, sem qualquer ordem judicial, tendo em conta a subsunção do posicionamento do Plenário do STF ao caso concreto, temos que o que era uma duvidosa e muito combatida competência exercida pelos representantes da SRFB que não se acanhavam de afastar o sigilo de dados dos contribuintes, inclusive bancários, para Fl. 623DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 8 efetuar seus lançamentos , agora sem dúvida é, nos termos da decisão de nossa Corte Constitucional, ato ilegal; 17. o In dúbio pro contribuinte advém no Sistema Constitucional Tributário, como uma determinação de que se proteja, o máximo possível, o direito fundamental de propriedade e demais direitos em jogo, frente ao poder de tributar do Fisco; 18. na falta de uma prova inequívoca com base nos depoimentos trazidos pela fiscalização, decidase a favor do contribuinte, do cidadão, da parte hipossuficiente, que terá um direito fundamental limitado, que, arcará com danos maiores que o Estado, ao ver limitado seu poder; 19. não há como atribuir culpa ou dolo no caso sub examine, pois os depoimentos apresentados pelo fisco não se sobrepõem aos elementos de prova apresentados pela Impugnante, os quais demonstram que as operações por ela realizadas atenderam a todos os requisitos previstos na legislação vigente. 20. O conjunto probatório apresentado pela fiscalização se demonstra como nebuloso in extremo, as provas em especial os depoimentos são insuficientes e geram apenas dúvidas, vez que não conduzem a qualquer juízo de certeza; 21. Ademais, para ser válido, o depoimento de terceiros que visa imputar a prática de qualquer conduta aos contribuintes, necessariamente, deve ser realizado na presença deste e seu defensor, pois visa assegurarlhes o respeito ao princípio constitucional do contraditório, ampla defesa, bem como o direito a reperguntas; 22. Absolutamente, tais depoimentos não fazem nenhuma acusação direta contra a Impugnante, nem mesmo são tecidos quaisquer comentários que pudessem ser, legitimamente, tomados como desabonadores da conduta comercial da mesma. 23. Ademais, depoimentos, sobretudo os tomados de pessoas que integram um mercado submetido a uma ampla investigação devem ser tomados com grande reserva e cuidado, isso porque, pessoas podem tentar fugir das suas próprias responsabilidades ou encobrir as de parentes ou amigos, tentando transferilas a outrem; 24. Ora, pessoas podem simplesmente depor mal informadas, nervosas, apreensivas, temerosas, desconfortáveis com a exposição das suas limitações intelectuais ou com o que foge à sua rotina, ou manifestando outros tantos traços da condição humana; 25. No caso, portanto, é de se sobrevalorizar o fato de inexistirem declarações que deponham contra a idoneidade e a boafé da Impugnante; 26. Enfim, todas as trocas de emails obtidas pela fiscalização de forma ilegal, apenas comprovam a reiterada orientação da Diretoria da empresa Impugnante no sentido de não realizar operação de compra e venda de café com pessoas jurídicas que Fl. 624DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 620 9 apresentassem irregularidades perante o CNPJ e o SINTEGRA, em demonstração de extremo zelo profissional e boa fé; 27. Não resta outra conclusão senão a de que deve prevalecer o direito ao crédito integral da contribuição para o PIS e a COFINS amparada em lançamentos contábeis, identificáveis com base em aquisições, com data e valores, em razão da prevalência da sua essência sobre a forma; 28. Primeiramente, cabe salientar que nenhum dos Diretores ou componentes do quadro societário da impugnante foi denunciado pelo Ministério Público Federal nos autos da ação penal n° 2008.50.05.0005383 (conforme certidão anexada aos presentes autos); 29. as conclusões dos acórdãos proferidos no âmbito das DRJ's tornam evidente que não existe base legal para a presunção de que compras de mercadorias efetuadas de sociedades cooperativas se equiparam às compras de pessoas físicas que geram crédito presumido, razão pela qual para efeito de apuração dos créditos de PIS e da COFINS, tais compras devem ser consideradas como as das demais pessoas jurídicas; 30. diversas empresas não foram objeto de qualquer descrição delituosa no TERMO DE ENCERRAMENTO DA AÇÃO FISCAL N° 04301/ 2013; e as compras foram realizadas antes das declarações de inaptidão, quando estas ocorreram, já que diversas empresas fornecedoras continuam ATIVAS até hoje; estes elementos, isoladamente ou combinados, atestam a completa impropriedade das glosas efetuadas; 31. Vale ressaltar, em especial, o absurdo de glosas inexplicadas, a saber, aquelas para as compras realizadas nas empresas nas quais a fiscalização não indicou qualquer elemento delituoso, sendo que as mesmas continuam ATIVAS até a presente oportunidade. Sobreveio a decisão de primeira instância (fls. 445/471), em que, por unanimidade de votos, a manifestação de inconformidade foi julgada improcedente, com base nos fundamentos resumidos nos enunciados das ementas que seguem transcritos: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/07/2009 a 30/09/2009 Fraude. Dissimulação. Desconsideração. Negócio Ilícito. Comprovada a existência de simulação/dissimulação por meio de interposta pessoa, com o fim exclusivo de afastar o pagamento da contribuição devida, é de se glosar os créditos decorrentes dos expedientes ilícitos, desconsiderandose os negócios fraudulentos. Uso de Interposta Pessoa. Inexistência de Finalidade Comercial. Dano ao Erário. Caracterizado. Fl. 625DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 10 Negócios efetuados com pessoas jurídicas, artificialmente criadas e intencionalmente interpostas na cadeia produtiva, sem qualquer finalidade comercial, visando reduzir a carga tributária, além de simular negócios inexistentes para dissimular negócios de fato existentes, constituem dano ao Erário e fraude contra a Fazenda Pública, rejeitandose peremptoriamente qualquer eufemismo de planejamento tributário. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/07/2009 a 30/09/2009 Nulidade Não padece de nulidade a decisão, lavrada por autoridade competente, contra a qual o contribuinte pode exercer o contraditório e a ampla defesa, onde constam os requisitos exigidos nas normas pertinentes ao processo administrativo fiscal. Matéria não Impugnada Operamse os efeitos preclusivos previstos nas normas do processo administrativo fiscal em relação à matéria que não tenha sido expressamente contestada, salvo exceções legalmente previstas. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Em 21/8/2014, a recorrente foi cientificada da decisão de primeira instância (fl. 474). Em 16/9/2014, protocolou o recurso voluntário de fls. 476/586, em que reafirmou as razões de defesa apresentadas na manifestação de inconformidade. Em aditamento, em preliminar, além de reiterar as razões nulidade do procedimento fiscal suscitada na fase de manifestação de inconformidade, a recorrente alegou nulidade da decisão recorrida por cerceamento do direito de defesa, em virtude da ausência de fundamentação e motivação, baseada nos argumentos de que a Turma de Julgamento (i) analisara de forma genérica e sem qualquer aprofundamento a questão atinente à nulidade do procedimento fiscal e (ii) não se pronunciara sobre a possibilidade de apropriação de crédito integral nas aquisições de cooperativas; por ilegítima inovação dos fundamentos da glosa dos créditos pleiteados. No mérito, reafirmou as razões de defesa aduzidas na manifestação de inconformidade. Em 28/1/2016, a recorrente protocolou a petição de fls. 605/612, em que comunicou fatos novos e relevantes para o deslinde da controvérsia, a saber: a) a possibilidade de apropriação de créditos integrais das referidas contribuições, nas aquisições de cooperativas agropecuárias e agroindustrial, em face do entendimento exarado na Solução de Consulta Cosit 65/2014; b) a impossibilidade de manter a cobrança da multa isolada aplicada em razão dos pedidos de ressarcimento indevidos, em face da revogação da Medida Provisória 668/2015 e da sua aplicação retroativa; e c) as novas formas de utilização do crédito presumido agropecuário, apurado nas operações de aquisição de café in natura, instituídas pelo art. 7ºA da Lei 12.995/2014. É o relatório. Fl. 626DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 621 11 Voto Conselheiro José Fernandes do Nascimento, Relator. O recurso é tempestivo, trata de matéria da competência deste Colegiado e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto, deve ser conhecido. No recurso colacionado aos autos, a interessada suscita questões preliminares, atinentes à nulidade do acórdão recorrido e do procedimento fiscal, e de mérito, concernente ao seu direito de dedução integral dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins e não apenas da parcela do crédito presumido agropecuário. I DAS QUESTÕES PRELIMINARES Em preliminar, a recorrente alegou nulidade do acórdão recorrido, por cerceamento do direito de defesa e inovação dos fundamentos da glosa dos créditos pleiteados, e nulidade do procedimento fiscal por cerceamento do direito de defesa e ausência de provas. I.1 Da Nulidade da Decisão Recorrida. A recorrente alegou que a decisão recorrida apresentava dois vícios nulidade, a saber: a) cerceamento de direito de defesa; e b) inovação dos fundamentos da glosa dos créditos. Em relação à primeira alegação, a recorrente argumento que a Turma de Julgamento (i) havia analisado de forma genérica e sem qualquer aprofundamento a questão da nulidade do procedimento fiscal e (ii) não havia se pronunciado acerca da apropriação de crédito integral sobre o valor das aquisições do café em grão das sociedades cooperativas. O primeiro argumento não procede. A uma, porque o voto condutor do acórdão recorrido analisou, de forma adequada e devidamente fundamentada, todos os pontos relevantes da controvérsia suscitados pela recorrente na manifestação de inconformidade, acerca dos supostos vícios de nulidade do procedimento fiscal, consubstanciado no Parecer Fiscal e no Termo de Encerramento da Ação Fiscal, que serviu de fundamento para a decisão exarada no questionado despacho decisório. A duas, porque o fato de a recorrente não concordar ou entender que os argumentos apresentados no voto condutor do julgado não são corretos, certamente, não configura cerceamento do seu direito de defesa, principalmente, tendo em conta que lhe foi conferida a oportunidade de discordar da questionada decisão, por meio do recurso em apreço. A propósito, cabe ressaltar que o dever de fundamentação fixado no art. 93, IX, da CF/1988, combinado com disposto no art. 31 do Decreto 70.235/1972, exige que a decisão ou o acórdão se manifeste sobre todas razões de defesa de forma fundamentado, sem determinar que o julgador examine, completa e pormenorizadamente, cada uma das alegações ou provas apresentadas pelas partes, nem que seja correto os fundamentos por ele aduzidos. No mesmo sentido, o entendimento manso e pacífico explicitado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a exemplo do externado no julgamento Fl. 627DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 12 do AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 268.238/SP, cujo enunciado da ementa segue transcrito: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCIDÊNCIA DO ISSQN. REGISTRO PÚBLICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS. ADI 3.089/DF. POSSIBILIDADE. BASE DE CÁLCULO DO ISSQN DEVIDO PELOS TABELIÃES. PREÇO FIXO OU PREÇO DO SERVIÇO. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. INDEFERIMENTO LIMINAR. ART. 543A, § 5º, DO CPC. ART 5º, XXXV E ART. 93, IX, AMBOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. RECURSO PREJUDICADO. AGRAVO DESPROVIDO. [...] III. A Corte Suprema, nos autos do AIRGQO 791.292/PE, julgado sob o regime da repercussão geral, reafirmou a sua jurisprudência no sentido de que o art. 93, IX, da Constituição Federal exigem que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. IV Agravo regimental desprovido. (AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 268.238/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/12/2013, DJe 03/02/2014) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) também segue o mesmo entendimento, conforme julgamento realizado sob regime de repercussão geral, cujo enunciado da ementa segue transcrito: Questão de ordem. Agravo de Instrumento. Conversão em recurso extraordinário (CPC, art. 544, §§ 3° e 4°). 2. Alegação de ofensa aos incisos XXXV e LX do art. 5º e ao inciso IX do art. 93 da Constituição Federal. Inocorrência. 3. O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. 4. Questão de ordem acolhida para reconhecer a repercussão geral, reafirmar a jurisprudência do Tribunal, negar provimento ao recurso e autorizar a adoção dos procedimentos relacionados à repercussão geral.(AI 791292 QORG, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 23/06/2010, REPERCUSSÃO GERAL MÉRITO DJe149 DIVULG 12082010 PUBLIC 13 082010 EMENT VOL0241006 PP01289 RDECTRAB v. 18, n. 203, 2011, p. 113118 ) grifos não originais. Em relação ao segundo argumento assiste razão à recorrente. De fato, compulsando o voto condutor do julgado verificase que não houve pronunciamento acerca da questão atinente à apropriação de crédito integral sobre o valor das aquisições de café em grão das sociedades cooperativas, embora tal ponto tenha sido devidamente suscitado na respectiva manifestação de inconformidade, conforme exige o art. 31 do Decreto 70.235/1972. Fl. 628DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 622 13 Entretanto, com respaldo no art. 59, § 3º, do Decreto 70.235/1972, deixase de declarar a nulidade do referido julgado, uma vez que, na apreciação do mérito, a referida questão será dirimida em favor da recorrente, conforme a seguir explicitado. Também não há motivos para nulidade do acórdão recorrido, em razão da alegada inovação dos fundamentos da glosa dos créditos, porque ela não ocorreu. O fato de o nobre Relator do voto condutor julgado ter mencionado o parágrafo único do art. 116 do CTN no corpo do seu didático, claro e objetivo voto condutor do julgado, serviu apenas para robustecer os fundamentos jurídicos da glosa da parcela dos créditos apropriada ilicitamente pela recorrente sobre as operações de compra forjadas das pessoas jurídicas de “fachada”, as denominadas “pseudoatacadistas”, e assim demonstrar que tinha guarida no ordenamento jurídico tributário do País o procedimento da fiscalização adotado pela fiscalização no sentido de desconsiderar as operações de compra simuladas entre as “pseudoatacadistas” e considerar as reais operações de compras dissimuladas, efetivamente, realizadas com os produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas. Nos tópicos as seguir, será demonstrado que a recorrente, mancomunada com outros poderosas empresas do ramo de atividade de torrefação e exportação de grão de café, de forma planejada, contribuíram para o surgimento de fértil campo de criação pessoas jurídicas “laranjas” e de um grandioso mercado “negro” de venda de notas fiscais, com o deliberado e intencional propósito de angariar créditos indevidos das referidas contribuições, por meio de planejado esquema de interposição fraudulenta, que descortinado e sobejamente provado no âmbito das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”. Por essas razões, rejeitase a preliminar de nulidade da decisão primeiro grau suscitada pela recorrente. I.2 Da Nulidade do Procedimento Fiscal A recorrente alegou nulidade do procedimento fiscal, consubstanciado nos mencionados Parecer e Termo de Encerramento da Ação Fiscal (TEAF), sob argumento de que (i) houve cerceamento do seu direito de defesa, (ii) a descaracterização dos negócios jurídicos de todas as pessoas jurídicas envolvidas na fraude exigiria a verificação da situação tributária de todas e (iii) ausência de comprovação da sua participação esquema de fraude envolvendo a compra de notas fiscais de pessoas jurídicas inidôneas. Do cerceamento do direito de defesa. Inicialmente, ressaltase a evidente contradição entre a alegação da recorrente de que houve cerceamento do seu direito de defesa e a robustez da peça defensiva por ela apresentada. A leitura das 110 páginas do denso recurso em apreço revela que a recorrente não só teve pleno conhecimento das irregularidades que lhe foram imputadas, como delas defendeuse adequadamente. Porém, em razão da falta de argumentos consistentes para contestar o mérito das graves imputações que lhe foram feitas pela fiscalização e demonstradas com robusto acervo probatório colhido no curso das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, a recorrente apontou supostos vícios no procedimento fiscal, que, no seu entendimento, implicaria nulidade absoluta. Fl. 629DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 14 Um dos vícios apontados pela recorrente foi a falta de indicação da base legal da descaracterização das supostas operações de compra do café em grão das pessoa jurídica inexistente de fato e a consequente caracterização das referidas operações como compra dos produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas. Para recorrente, tal procedimento subsumir seia ao comportamento descrito no parágrafo único do artigo 116 do CTN, que prescindia de regulamentação ainda não realizada, logo, não poderia gerar quaisquer efeitos sobre as operações examinadas no presente processo administrativo fiscal. Sem razão a recorrente. O referido preceito legal trata da prática de simulação de negócios jurídicos (portanto de atos ou negócios lícitos), geralmente praticados sem propósito negocial ou abuso de forma, com a finalidade de “dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária.” O caso em tela, certamente, não se enquadra no figurino comportamental descrito no citado preceito legal. Aqui se trata de simulação de negócios ilícitos (operações de compra e venda fictícias) com o evidente propósito de dissimular negócio jurídico lícito (operações de compra e venda reais). Em situações desse jaez, determina o ordenamento jurídico do País, que seja declarado “nulo o negócio jurídico simulado” e subsistente o dissimulado, “se válido for na substância e na forma”. Nesse sentido, dispõe o art. 167 do Código Civil, a seguir transcrito: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós datados. § 2º Ressalvamse os direitos de terceiros de boafé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. (grifos não originais) Portanto, diferentemente do alegado pela recorrente, está em perfeita consonância com as normas legais que tratam da validade dos negócios jurídicos o procedimento adotado pela fiscalização no sentido de desconsiderar inválidas as operações simuladas de aquisição de café em grão das pessoas jurídicas inexistentes de fato (amparadas por notas fiscais comprovadamente inidôneas, compradas por quantias ínfimas das referidas pessoas jurídicas de “fachada”), e válidas as operações de aquisição do referido produto dos produtores rurais ou maquinistas, que foram dissimuladas com o nítido propósito de apropriar se ilicitamente de parcela indevida de crédito indevidos das referidas contribuições. Outro vício apontado pela recorrente que resultaria no cerceamento do seu direito de defesa foi a falta de indicação dos produtores rurais de quem havia adquirido o café em grão. Segunda a recorrente, a fiscalização deveria ter feito tais indicações de forma individualizada, por trimestre, para cada um dos processos administrativos nos quais examinou os pedidos de ressarcimento/compensação. Fl. 630DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 623 15 No caso, ao comprovar que as aquisições do café em grão das empresas “pseudoatacatadistas” foram simuladas, para acobertar as reais compras dos produtores rurais, pessoas físicas, a fiscalização poderia ter simplesmente desconsiderado tais operações e glosado a totalidade do crédito pleiteado, incluindo a parcela do crédito presumido agropecuário. Em decorrência dessa constatação, para fim de apropriação da referida parcela do crédito presumido, a comprovação de que tais produtos foram adquiridos de produtores rurais caberia a recorrente. Assim, ao presumir que tais compras foram realizadas de produtores rurais, a fiscalização evitou o árduo e grandioso trabalho probatório seria da incumbência da recorrente. Dessa forma, além de não configurar vício de nulidade do procedimento fiscal, a desconsideração de que tais compras não foram realizadas de pessoas físicas implicaria na glosa da parcela do crédito presumido agropecuário, já reconhecido pela autoridade fiscal, o que resultaria na reformatio in pejus da decisão recorrida, o que, sabidamente, não é permitido a este Colegiado. Por essa razão, fica demonstrado o completo despropósito desse argumento. Pela mesma razão, também se revela sem o menor propósito o argumento da recorrente de que somente mediante a quebra do “sigilo fiscal/bancário” das “pseudoatacadistas”, a fiscalização poderia revelar os dados concretos que comprovariam as práticas ilícitas que relatadas. Além disso, na fase de procedimento fiscal, a instrução probatória tratase de procedimento da conveniência e da alçada do poder discricionário da fiscalização. Assim, se os elementos probatórios colhidos no âmbito das referidas operações revelaramse suficientes para comprovar o cometimento da referida fraude, por óbvio, que a quebra do sigilo fiscal ou bancário das mencionadas empresas revelase despicienda. Até porque, em relação à recorrente, as planilhas de “PREVISÃO DE PAGAMENTO DE CAFÉ”, extraídas das mídias eletrônicas apreendidas no estabelecimento da recorrente revelaram, de forma irrefutável, que os verdadeiros fornecedores e recebedores dos recursos financeiros foram os produtores rurais e/ou maquinistas. De acordo com os dados extraídos da referida planilha, eram reais os pagamentos das compras de café em grão dos produtores e/ou maquinistas, enquanto que os pagamentos às empresas “laranjas” foram forjados para dissimular a existência da compra verdadeira. Também foi demonstrado que as contas das referidas empresas “laranjas” foram utilizadas apenas como passagem dos recursos financeiros destinados aos produtores rurais e/ou maquinistas. Os pagamentos realizados mediante TED ou depósito bancário, nas contas correntes das empresas de “fachada”, procedimento padrão utilizado por todas as empresas compradoras, de fato, foi uma tentativa de falsear a realidade dos fatos, dar aparência de legalidade a transação simulada e aparentar a condição de comprador de boafé. Por todas essas razões, rejeitase todos os argumentos suscitados pela recorrente de que o procedimento fiscal em destaque estava maculado pelo vício do alegado cerceamento do direito de defesa. Dos demais argumentos de nulidade do procedimento fiscal. A recorrente alegou ainda nulidade procedimento fiscal, sob o argumento de que (i) a descaracterização dos negócios jurídicos de todas as pessoas jurídicas envolvidas na fraude exigiria a verificação da situação tributária de todas e (ii) a ausência de comprovação da Fl. 631DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 16 sua participação esquema de compra de notas fiscais de pessoas jurídicas inidôneas, induvidosamente, envolvem o mérito da controvérsia, a seguir analisado. O primeiro argumento não procede, uma vez que a fiscalização se respaldou em documentos, colhidos no âmbito das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, que comprovam o as enormes discrepâncias entre a movimentação financeira das “pseudoatacadistas” e os insignificantes valores das receitas declaradas e tributadas. No que tange à apresentação da DIPJ, a grande maioria das referidas pessoas jurídicas encontravase na situação inativa ou omissa, e as poucas que se encontravam, formalmente, em situação de ativa não apresentavam ou apresentavam recolhimentos de tributos sem significância. Portanto, ao contrário do alegado pela recorrente, houve sim análise da situação tributária das empresas “pseudoatacadistas” e com base nessa análise ficou confirmado que tais empresas foram utilizadas apenas para fraudar o pagamento das contribuições e gerar créditos ilícitos para os compradoras das notas fiscais. No que tange ao argumento de que não havia comprovação da participação da recorrente no esquema de fraude em referência, os fartos elementos probatórios demonstram o contrário. Com efeito, as declarações prestadas a termo por produtores rurais/maquinistas, corretores, sócios (“laranjas” e de fato) e demais pessoas ligadas às empresas de fachada, colhidas no âmbito da operação “Tempo de Coheita”, corroboradas pelos documentos apreendidos no estabelecimento da recorrente e da outra do Grupo Tristão1, durante a operação “Broca”, não deixam qualquer dúvida no sentido de que os dirigentes da recorrente tinham total conhecimento da existência do citado esquema fraudulento de venda de notas fiscais, que, se não descoberto em tempo hábil, teria proporcionado à recorrente, ilicitamente, elevados valores de créditos das referidas contribuições. Aliás, foi a quantidade expressiva de emails extraídos das mídias eletrônicas apreendidas nas empresas do Grupo Tristão, que deram a verdadeira dimensão do esquema de interposição fraudulenta de empresas “laranjas”. As mensagens eletrônicas extraídas da mídia apreendida evidenciam que o comprador de café em grão das empresas Grupo Tristão, no Estado do Espírito Santo, o Sr. Ricardo Schneider, repassava aos setores contábil/fiscal, sala do café e estoque as compras diárias de produtores, os documentos inidôneos que acobertavam a operação, de modo que, para cada pedido de compra, era informado o nome do produtor seguido do nome da empresa laranja usada para falsamente documentar a operação com nota fiscal comprada míseros centavos. Dessa forma, o modus operandi do referido esquema de fraude descrito detalhadamente pelos agentes da cadeia de comercialização (produtor e/ou maquinista, corretor e representantes das fictas intermediárias empresas “laranjas”) foi devidamente demonstrado mediante confrontação dos documentos colhidos no decorrer das investigações e robustecido com aqueles apreendidos na operação “Broca”, conforme excertos extraídos do citado Termo que segue transcrito: Os emails contidos nas mídias apreendidas retratam compras de café desde o ano de 2004, o que implica dizer que a interposição de empresas laranjas nas aquisições do GRUPO 1 O GRUPO TRISTÃO é composto das seguintes empresas: REALCAFÉ SOLÚVEL DO BRASIL (industrialização café solúvel), TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR (comercialização café em grão) e TRISCAFÉ (armazenagem e rebeneficiamento). A REALCAFÉ e a TRISCAFÉ são controladas pela TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. SÉRGIO GIESTAS TRISTÃO é presidente tanto da REALCAFÉ quanto da TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR e sócio com esta na TRISCAFÉ. O comprador de café no Espírito Santo dessas empresas do GRUPO TRISTÃO foi o funcionário RICARDO SCHNEIDER. MARCELO SILVEIRA NETO, então diretor da TRISTÃO, foi presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (C.C.C.V). Fl. 632DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 624 17 TRISTÃO remonta aos primórdios da nãocumulatividade do PIS/COFINS. Essas mensagens foram repassadas por cópia para os dirigentes/gerentes das empresas do Grupo: LEONARDO MOREIRA GIESTAS, BRUNO MOREIRA GIESTAS, RAIMUNDO DE PAULA SOARES FILHO, MÁRCIO CÂNDIDO FERREIRA e JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS MELLO. O próprio presidente da REALCAFÉ e TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR, SÉRGIO GIESTAS TRISTÃO, bem como MARCELO SILVEIRA NETTO, então presidente do C.C.C.V, receberam emails referentes às compras de café futuro onde diziam com todas as letras que o café de vendedor (produtor) seria guiado com nota de firma (Pessoa Jurídica). Como se não bastasse, o próprio sistema informatizado de controle de compras da TRISTÃO denominado “FOLHA DE COMPRA” deixava evidente a diferença entre o vendedor (produtor) e a empresa laranja usada como intermediária fictícia na operação. Destacava claramente no campo “vendedor” o nome do produtor/maquinista e no campo observações o nome da empresa laranja. Há emails com diálogos estabelecidos entre o corretor e a REALCAFÉ em que aquele informa a este como se daria a entrega do café. Melhor dizendo: indicava que o produtor e/ou maquinista entregaria o seu café na qualidade estipulada na confirmação de compra e venda, mas seria faturado em nome de determinada empresa laranja, ... Na falta de argumentos para contestar tão contundentes imputações, a recorrente limitouse a tentar descaracterizálas, com base no argumento, sem respaldo em qualquer meio prova, de que tais elementos probatórios foram obtidos irregularmente, o que não corresponde aos fatos provados nos autos com base em documentos idôneos. Assim, fica demonstrado que não houve o alegado cerceamento do direito de defesa e as provas colhidas licitamente demonstram que a recorrente não só conhecia como contribuía e se beneficiava da prática dos atos fraudulentos apontados pela fiscalização. Por todas essas considerações, rejeitase todas as alegações de nulidade do procedimento fiscal em questão. II DAS QUESTÕES DE MÉRITO No mérito, a lide cingese a glosa de créditos da Contribuição para o PIS/Pasep, apurados no 3º trimestre de 2009, calculados sobre a aquisição de café em grão (i) de pessoas jurídicas consideradas inidôneas (pessoa jurídicas de “fachada”) e (ii) de cooperativas de produção agropecuária ou agroindustrial. As demais glosas não serão aqui apreciadas. A uma, porque a recorrente não as questionou na fase de manifestação de inconformidade, tornando a matéria preclusa, nos termos do art. 17 do Decreto 70.235/1972. A duas, porque a recorrente manifestouse de forma genérica em relação citadas glosas, sem apontar qualquer motivo de fato e de direito, nem Fl. 633DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 18 apresentar as razões para o restabelecimento dos correspondentes créditos glosados, contrariando o disposto no art. 16, III, do citado Decreto. Como as motivações das referidas glosas foram distintas para os créditos provenientes das aquisições das referidas pessoas jurídicas e das cooperativas, a análise será feita, a seguir, em tópicos separados. II.1 Da Glosa dos Créditos das Aquisições de Pessoas Jurídicas Inidôneas No presente tópico serão analisadas apenas a glosa parcial dos créditos apropriados pela recorrente sobre as aquisições de café em grão de pessoas jurídicas inidôneas (inexistes de fato ou de “fachada”). Em relação às referidas operações, a fiscalização procedeu a glosa parcial dos créditos, baseada na constatação de que houve fraude na operação de compra do café em grão, caracterizada pela interposição fraudulenta das referidas “empresas de fachada ou laranja” entre o real comprador (a recorrente) e o real vendedor (o produtor rural ou maquinista, pessoa física). Segundo a fiscalização, a atividade das referidas pessoas jurídicas de “fachada”, denominadas de “pseudoatacadistas”, restringiase a emissão de notas fiscais para acobertar operação de venda de grão de café, com o nítido objetivo de gerar, ilicitamente, créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, para as pessoas jurídicas adquirentes das respectivas notas fiscais, dentre as quais se inclui a recorrente. Para se ter uma percepção da dimensão da fraude em questão e do tamanho do prejuízo que ela causou ou poderia causar à arrecadação tributária da União, nos anos de 2009 a 2010, período objeto do procedimento fiscal em questão, a movimentação financeira das denominadas “pseudoatacadistas” foi da ordem de bilhões de reais, enquanto os valores dos tributos por elas recolhidos no período foram insignificantes. No âmbito do referido procedimento fiscal, a fiscalização demonstrou, com provas cabais, que a real operação de compra e venda do café em grão fora realizada entre o produtor rural, pessoa física, e a recorrente. E esta operação, nos termos do art. 8°, § 3º, III, da Lei 10.925/2004, assegurava ao comprador o direito de apropriação apenas da parcela do crédito presumido agropecuário, no valor equivalente a 35% (trinta e cinco por cento) do valor crédito integral normal, previsto no art. 3º, I e II, das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003. Do contexto legal que deu origem à fraude em destaque. Sob o aspecto legal, com a introdução do regime não cumulativo de apuração da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, respectivamente, por intermédio das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, os contribuintes, sujeito ao citado regime, adquirentes de bens de pessoas jurídicas passaram a gozar do direito de apropriar crédito sobre o valor das compras, no valor equivalente ao percentual de 9,25% da operação de aquisição. O referido percentual corresponde ao somatório das alíquotas normais fixadas para o cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep (1,65%) e Cofins (7,6%), incidentes sobre o valor da receita bruta mensal. Especificamente em relação à aquisição de café em grão, uma particularidade cabe ser ressaltada: se a empresa comprar o produto diretamente do produtor rural ou maquinista, pessoa física, desde que atendido os requisitos legais, a ela é assegurado o direito de apropriarse de um valor de crédito presumido equivalente a apenas ao percentual de 35% (trinta e cinco por cento) do crédito integral normal passível de apropriação nas aquisições realizada de uma pessoa jurídica produtora ou atacadista. Essa permissão de apropriação de Fl. 634DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 625 19 créditos entrou em vigor a partir 1/2/2004, na forma e segundo os termos do art. 8º, § 3º, III, da Lei 10.925/2004, a seguir transcrito: Art. 8º As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2, 3, exceto os produtos vivos desse capítulo, e 4, 8 a 12, 15, 16 e 23, e nos códigos 03.02, 03.03, 03.04, 03.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, exceto os códigos 0713.33.19, 0713.33.29 e 0713.33.99, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.01, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da NCM, destinadas à alimentação humana ou animal, poderão deduzir da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3o das Leis nºs 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] § 3º O montante do crédito a que se referem o caput e o § 1º deste artigo será determinado mediante aplicação, sobre o valor das mencionadas aquisições, de alíquota correspondente a: [...] III 35% (trinta e cinco por cento) daquela prevista no art. 2o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, para os demais produtos. (Renumerado pela Lei no 11.488, de 15 de junho de 2007) [...] (grifos não originais). Antes da vigência do citado preceito legal, prevalecia a regra geral, que vedava a apropriação de créditos sobre as aquisições do café em grão de pessoa física, na forma do § 3º do art. 3º das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, a seguir reproduzido: Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] § 3º O direito ao crédito aplicase, exclusivamente, em relação: I aos bens e serviços adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País; II aos custos e despesas incorridos, pagos ou creditados a pessoa jurídica domiciliada no País; [...] (grifos não originais) Fl. 635DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 20 Dado esse contexto legal, fica evidenciado que, para os contribuintes, submetidos ao regime não cumulativo das citadas contribuições, sob o ponto de vista tributário, passou a ser muitíssimo vantajoso adquirir o café em grão diretamente da pessoa jurídica e não do produtor rural, pessoa física, porque a primeira operação asseguravalhes o valor integral do crédito calculado sobre o preço de aquisição do produto, em vez da parcela equivalente a 35% (trinta e cinco por cento) do referido preço, a título de crédito presumido. Da fraude praticada contra a Fazenda Nacional. Previamente, cabe esclarecer que a comprovação da fraude em referência foi feita com base nos fartos elementos probatórios colhidos no âmbito das denominadas operações “Tempo de Colheita” e “Broca”. Os documentos colhidos no âmbito das referidas operações constam do processo n° 15586.720942/201374 (fls. 45/918), do interesse da recorrente, que trata da cobrança das multas isoladas sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido e do débito indevidamente compensado. Além das provas colhidas no âmbito das referidas operações, constam dos presentes autos o citado Termo de Encerramento de Ação Fiscal, que contém extensa e criteriosa descrição dos fatos, que comprovam o conhecimento e a participação da recorrente no referenciado esquema fraudulento, inclusive com a reprodução de parte dos documentos e de depoimentos e declarações de produtores rurais, maquinistas, corretores, sócios das empresas de “fachada”, procuradores etc. Ainda consta dos autos os demonstrativos dos créditos apurados, glosados, descontados e passível de ressarcimento, referente aos trimestres dos anos de 2009 e 2010. A operação denominada “Tempo de Colheita” foi deflagrada pela fiscalização da Delegacia da Receita Federal do Brasil em Vitória, em 22/10/2007, para investigar a existência do referido esquema de venda de nota fiscal para as empresas compradoras de café em grão (empresas torrefadoras e exportadoras), com o único propósito de assegurar, ilicitamente, a apropriação integral dos créditos das referidas contribuições, ou seja, créditos equivalentes ao percentual de 9,25% sobre o valor indicado na nota fiscal, pois, na compra real, efetivada perante o produtor rural ou do maquinista, pessoa física, era assegurado à pessoa jurídica adquirente apenas 35% do valor do crédito integral. Em face da grande quantidade de infratores e da dimensão dos valores dos créditos tributários fraudados, que foram demonstrados na operação “Tempo de Colheita”, e diante da insistente continuidade delitiva dos fraudadores, em 1/6/2010, foi deflagrada a operação “Broca”, para aprofundar a investigação do esquema fraudulento. Essa operação contou com a participação da fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. No seu curso, mídias eletrônicas foram apreendidas no estabelecimento da recorrente e outra empresa ligada ao Grupo Tristão. Delas foram extraídas planilhas de controle de compras e dezenas de mensagens eletrônicas (emails) trocados pelo comprador de café da recorrente, o Sr. Ricardo Schneider, com os setores contábil/fiscal, sala do café e estoque, em que, para cada pedido de compra, era repassado os dados das compras de café do dia mencionando e a indicação do nome do produtor rural ou maquinista, seguido do nome da empresa laranja usada para falsamente documentar a operação. Os dados apresentados nas referidas planilhas faziam clara distinção entre o vendedor do café em grão e o emissor da nota fiscal, como ilustra a pequena parte da referida planilha reproduzida abaixo, em especial, os dados do quadro em destaque: Fl. 636DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 626 21 De acordo com o referido Termo, as empresas exportadoras e torrefadoras do café em grão, envolvidas na citada fraude, utilizavam empresas de “fachada”, que serviam de intermediárias nas operações de compra e de venda do café em grão realizadas entre os produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas, e as citadas empresas, com a finalidade de gerar, indevidamente, créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins. A fraude, como já mencionado, teve início no ano 2003, quando foi introduzido os regimes não cumulativo de apuração das referidas contribuições, causando prejuízo de bilhões de reais aos cofres públicos federais. Há fartos elementos probatórios que comprovam que a maior parte dos “fornecedores” de notas fiscais da recorrente foram constituídos a partir do ano de 2002, e que, geralmente, estiveram em situação irregular no período em que foram fiscalizadas, seja por omissão em relação as suas obrigações acessórias, seja em relação ao pagamento de tributos. A este quadro de graves irregularidades, somase ainda o fato de que nenhuma das empresas diligenciadas possuíam armazéns ou depósitos nem funcionários contratados (ou um funcionário, no máximo), o que, em condições normais de operação, contrariava as tradicionais empresas atacadistas de café estabelecidas na região, detentoras de grande estrutura operacional e administrativa necessária para armazenar, beneficiar e movimentar o grande volume de café transacionado. Com efeito, revelam as provas colhidas no âmbito das referidas operações, que o único estoque que as “pseudoatacadistas” mantinham eram os talonários de notas fiscais, que consistia na única mercadoria por elas transacionadas no mercado negro criado pelos fraudadores. Assim, sem a existência de depósitos, funcionários, maquinário e qualquer logística, tais empresas não tinham a menor condição de transacionar tão grande quantidade de café em grão, até porque não tinham um grão do produto para venda. Com tal estrutura, a única atividade que era passível de ser realizada pelas pessoas jurídicas investigadas, certamente, era a venda e emissão de notas fiscais inidôneas, conforme sobejamente comprovado no curso do processo investigativo efetivado no âmbito das citadas operações. As provas colhidas no curso das citadas operações evidenciam ainda que as denominadas empresas “pseudoatacadistas” eram empresas de “fachada” ou “laranja”, utilizadas apenas para simular operações fictícias de compra e venda de café em grão com os produtores rurais e empresas exportadoras e torrefadoras. Em outras palavras, a fraude Fl. 637DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 22 consistia na simulação simultânea de duas operações: uma de compra dos produtores rurais, pessoas físicas, e a outra de venda para as empresas exportadoras e industriais. A recorrente foi uma das principais beneficiárias desse esquema fraudulento, haja vista a grande quantidade de operações e as elevadas cifras envolvendo as aquisições de café em grão realizada no período, conforme evidenciam a grande quantidade de notas fiscais emitidas pelas citadas pessoas jurídicas para a recorrente, que se encontram relacionadas nos autos. As informações fiscais, respaldadas em fartos documentos obtidos e apreendidos durante as citadas operações, e as declarações prestados pelos representantes de direito (“laranjas”), procuradores e de pessoas ligadas às empresas “pseudoatacadistas”, colhidos durante a operação “Tempo de Colheita”, confirmam a participação dos compradores finais do café em grão na fraude, dentre os quais a recorrente. Além dos trechos das declarações reproduzidos no citado Termo, merecem destaque alguns fatos apurados através de declarações prestadas nos diversos processos de inaptidão abertos contra as pessoas jurídicas fornecedoras de notas fiscais, participantes da fraude. No citado Termo, de forma exaustiva e criteriosa, dentre os inúmeros depoimentos/declarações prestados pelos envolvidos no esquema, a fiscalização transcreveu aqueles mais relevantes, que, de forma congruente, confirmam o modus operandi, os mentores, os executores e os reais beneficiários da gigantesca fraude praticada contra Fazenda Nacional em destaque. Assim, apresentado o contexto legal, o modus operandi e os intervenientes, participantes e mentores do esquema de fraude para apropriação ilícita de créditos das referidas contribuições, passase a analisar as alegações da recorrente. Das alegações relevantes apresentadas pelas recorrentes. Na peça recursal em apreço, a recorrente alegou que não procedia a glosa parcial realizada pela fiscalização, sob o argumento de que era compradora de boa fé, com base nos seguintes argumentos: a) não tinha conhecimento e participara do referido esquema de fraude, nem tinha contribuído para criação das empresas “pseudoatacadistas”; b) desconhecia a situação de inidoneidade das denominadas empresas “pseudoatacadistas”; e c) havia comprovado o pagamento do preço e o recebimento das mercadorias, em conformidade com disposto no parágrafo único do art. 82 da Lei 9.430/1996, a seguir transcrito: Art. 82. Além das demais hipóteses de inidoneidade de documentos previstos na legislação, não produzirá efeitos tributários em favor de terceiros interessados, o documento emitido por pessoa jurídica cuja inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes tenha sido considerada ou declarada inapta. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos casos em que o adquirente de bens, direitos e mercadorias ou o tomador de serviços comprovarem a efetivação do pagamento do preço respectivo e o recebimento dos bens, direitos e mercadorias ou utilização dos serviços. Inicialmente, esclareçase que, no caso em tela, não há controvérsia em relação ao preço nem quanto ao pagamento e recebimento das mercadorias pela recorrente, uma vez que a própria fiscalização utilizou, como base de cálculo do crédito presumido agropecuário que lhe fora deferido, o preço consignado nas correspondentes notas fiscais emitidas pelas empresas denominadas “pseudoatacadistas”, bem como informou que a Fl. 638DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 627 23 recorrente havia comprovado os pagamentos e os recebimentos dos produtos, com a finalidade de aparentar a condição de compradora de boa fé. Portanto, esclareçase que a glosa dos créditos em apreço foi motivada pela fraude, mediante interposição fraudulenta de empresas inidôneas, utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café em grão de pessoas físicas (produtores e/ou maquinistas) e não pela falta de comprovação do pagamento e da efetiva entrega da mercadoria, como alegado pela recorrente, com a clara intenção de desvirtuar o real motivo das referidas glosas. Dessa forma, fica demonstrado que a questão relevante para o deslinde da controvérsia não é a falta de comprovação do pagamento e da efetiva entrega das mercadorias, mas, em saber qual a real operação de compra e venda foi realizada pela recorrente, diante da existência do gigantesco esquema fraude devidamente comprovado nos autos. Nesse sentido, as provas colhidas no âmbito das citadas operações, tais como os depoimentos/declarações prestados pelos corretores e produtores de café e maquinistas, corroborados pelas transferências eletrônicas de depósitos TED, as planilhas de compras e demais documentos da própria recorrente, extraídos das mídias eletrônicas regularmente apreendidas, evidenciam que a real operação de compra e venda foi a realizada entre o produtor rural ou maquinista, pessoa física, e a recorrente. Da análise dos comprovantes de depósitos realizados pelos compradores finais do café em grão (indústria e exportadores) em favor das empresas “pseudoatacadistas” verificase, como procedimento padrão, o depósito seguido da saída imediata dos recursos das contas bancárias, por meio de TED e cheques, muitos desses emitidos ao próprio titular da conta bancária, os produtores rurais. Esse procedimento comprova que as contas bancárias das empresas “pseudoatacadistas” serviam apenas como ponto de passagem dos recursos transferidos dos compradores (exportadores/indústrias) para os reais vendedores de café em grão, ou seja, produtor rural ou maquinista, pessoa física. Também cabe ressaltar o correto procedimento adotado pela fiscalização ao desconsiderar a operação simulada (aparente) e reconhecer a existência da operação dissimulada (camuflada), o que está em perfeita consonância o ordenamento jurídico do País, conforme anteriormente demonstrado. Além disso, os documentos apresentados pela recorrente, para fim de comprovar o recebimento das mercadorias e efetivação do pagamento do preço do produto adquirido, revela a existência de um procedimento padrão adotado por todas as pessoas jurídicas fraudadores, em que, para cada nota fiscal de compra, foram anexados cópias de (i) extratos de consulta ao CNPJ e SINTEGRA, realizada na mesma ou em data próxima a da compra, (ii) de fichas de compra e nota de cálculo e liquidação da operação, (iii) romaneio da carga; e (iv) aviso de débito em conta corrente ou cheque nominal em nome da emitente da nota fiscal. Esse procedimento uniforme dos fraudadores revela que se tratava de um esquema de fraude planejado e executado com esmero pelas compradoras beneficiárias da fraude. Em outras palavras, conhecedoras da legislação e orientadas para dar a aparência da boa fé as compras simuladas das “pseudoatacadistas”, as indústrias e Fl. 639DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 24 exportadoras, em todas as operações de aquisição de café em grão guiado2 com nota fiscal de pessoa jurídica de “fachada”, procediam (todas elas) da seguinte forma: a) verificava a situação cadastral da “pseudoatacadista” perante a Receita Federal do Brasil, imprimindo a certidão negativa de débito expedida por este órgão; b) imprimia a situação cadastral da empresa perante o ICMS SINTEGRA; e b) efetuava o pagamento identificando a remetente dos recursos (indústrias/exportadoras) na conta bancária das “pseudoatacadistas”. Os fatos provados nos autos revelam que a referida documentação foi artificialmente produzida, uma vez que a recorrente e demais empresas compradoras de notas fiscais tinham pleno conhecimento de que as empresas “pseudoatacadistas” eram inidôneas e tinham como atividade apenas a emissão das notas fiscais, que eram transacionadas por míseros centavos de reais, conforme sobejamente provado nos depoimentos/declarações prestados pelas pessoas envolvidas nas correspondentes operações. E tal comportamento, obviamente, não encontra respaldo no parágrafo único do art. 82 da Lei 9.430/1996. A norma veiculada no referido preceito legal visa proteger o comprador de boa fé, que desconhece a situação do seu fornecedor, geralmente, nos casos em que este se encontra em local distante e não mantém relação habitual de negócio com o comprador, situação que não vislumbra no caso em tela. Com efeito, todas as “pseudoatacadistas”, vendedoras de notas fiscais, eram do conhecimento da recorrente e com ela mantinha negócios habituais, conforme revela os dados apresentados na planilha “PREVISÃO DE PAGAMENTO DE CAFÉ”, extraídas das mídias eletrônicas apreendidas no estabelecimento da recorrente. Além disso, diferente da ampla extensão dos efeitos alegados pela recorrente, a consulta aos cadastros do CNPJ e SINTEGRA prova apenas que a empresa estava em situação cadastral ativa, mas, sabidamente, a inscrição regular em tais cadastros não prova a existência real da pessoa jurídica. De outra parte, embora tenha se revelado diligente com a obtenção de documentos que certificavam a regularidade formal da existência dos seus fornecedores, a recorrente não teve a mesma diligência, para fim de verificação da existência de fato, da idoneidade empresarial, da capacidade operacional e patrimonial das denominadas “pseudoatacadistas”. No caso, se a recorrente tivesse adotado precauções básicas, como solicitado cópia dos contratos de constituição dos referidos fornecedores, prática normal no meio comercial quando há transações envolvendo altas cifras, como no caso em tela, induvidosamente, teria verificado que os sócios dos seus maiores fornecedores eram pessoas humildes, sem instrução, sem patrimônio e sem condições financeiras e conhecimento técnico para dirigir uma empresa atacadistas de café realizadora de milhares de operações de compra e venda do produto, com movimentação financeira, envolvendo milhões de reais. Pela mesma razão, se tivesse tido a diligência de pedir cópia dos demonstrativos contábeis dos referidos fornecedores, certamente teria constatado que todas elas não tinham patrimônio, funcionários e o mínimo de estrutura operacional para vender uma quantidade tão grande de café. Entretanto, nada disso foi feito e por uma razão óbvia, a recorrente já tinha pleno conhecimento que as referidas empresas “pseudoatacadistas” não existiam de fato e não tinham a mínima condição de negociar tão grande quantidade de café em grão. 2 A expressão “guiar café” era comumente usada pelos fraudadores para designar a empresa de fachada emitente da nota fiscal. Fl. 640DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 628 25 No período da atuação, essas informações eram indispensáveis, haja vista que já tinha havido ampla divulgação na imprensa local e nacional do resultado trabalho de investigação desenvolvido no âmbito da denominada “Operação Tempo de Colheita”, que resultou na descoberta de um grandioso esquema de venda de notas fiscais criado para possibilitar a apropriação ilícita de créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, no montante de 9,25% sobre o valor indicado nas notas fiscais. Nesse contexto, também perde relevância, para fins de prova, os registros contábeis realizados com base nas notas fiscais inidôneas, que não representavam a real operação de aquisição realizada pela recorrente. Tais registros apenas reproduziram na escrita contábil e fiscal os dados extraídos de documentos forjados, com claro propósito de acobertar uma operação de compra e venda fictícia. Enfatizase, novamente, as fartas provas documentais e informações prestadas em depoimentos/declarações prestados por produtores rurais, corretores de café, representante legais (formais) das “pseudoatacadistas”, participantes do esquema de fraude, demonstram que as aquisições do café não foram realizadas das denominadas “pseudoatacadistas”. Na verdade, tais empresas apenas forneciam as notas fiscais, para simular uma operação de compra e venda que, de fato, foi realizada entre os produtores rurais, pessoas físicas, não contribuintes da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, com o único e intencional propósito de gerar, ilicitamente, crédito integral das referidas contribuições em favor da recorrente. Além disso, a partir da leitura dos diversos depoimentos/declarações prestados pelos representante legais (formais) das “pseudoatacadistas” extraise que a recorrente não só sabia da fraude em comento, com fora uma das beneficiárias ou pretensa beneficiária do esquema, posto que condicionava a compra do café a intermediação e emissão das notas fiscais pelas “pseudoatacadistas”, o que deu origem a um mercado paralelo de venda de notas fiscais, que era negociada ao módico preço variável de R$ 0,15 a R$ 0,60. Com base nessas constatações, fica evidenciado que não tem qualquer relevância se a inaptidão, o cancelamento ou a suspensão dos registros nos cadastras fiscais das referidas pessoas jurídicas inidôneas ocorreram antes ou após o período da apuração dos créditos, conforme alegou a recorrente, pois, restou demonstrado nos autos que todas as operações de aquisição do café em grão das citadas pessoas jurídicas foram feitas de forma fraudulenta, com único objetivo de apropriarse, ilicitamente, do valor integral dos créditos tributários das referidas contribuições. Especialmente tendo em conta que, após determinada “pseudoatacadista” ser declarada inativa no CNPJ por inexistência de fato, logo em seguida novas empresas “laranjas” eram criadas. Esse fértil celeiro de criação de empresas inidôneas só foi interrompido com a deflagração da operação “Broca”, que prendeu os representantes das principais empresas compradoras. Até então, em total menosprezo pela ação da autoridade fiscal, que na operação “Tempo de Colheita” já havia descoberto o esquema fraude e dado amplamente divulgação na imprensa, tais representantes continuvam comprando o produto das “pseudoatacadistas” e assim contribuindo para manutenção e crescimento do esquema de fraude, como se nada tivesse acontecido. A recorrente ainda argumentou que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estava em consonância com a sua alegação de comprador do boa fé, consolidado Fl. 641DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 26 no julgamento do REsp nº 1.148.444/MG, julgado sob rito dos recursos repetitivos, definido no art. 543C do CPC, cujo enunciado da ementa segue transcrito, para uma melhor análise: PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. CRÉDITOS DE ICMS. APROVEITAMENTO (PRINCÍPIO DA NÃOCUMULATIVIDADE).NOTAS FISCAIS POSTERIORMENTE DECLARADAS INIDÔNEAS. ADQUIRENTE DE BOAFÉ. 1. O comerciante de boafé que adquire mercadoria, cuja nota fiscal (emitida pela empresa vendedora) posteriormente seja declarada inidônea, pode engendrar o aproveitamento do crédito do ICMS pelo princípio da nãocumulatividade, uma vez demonstrada a veracidade da compra e venda efetuada, porquanto o ato declaratório da inidoneidade somente produz efeitos a partir de sua publicação (Precedentes das Turmas de Direito Público: EDcl nos EDcl no REsp 623.335/PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 11.03.2008, DJe 10.04.2008; REsp 737.135/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 14.08.2007, DJ 23.08.2007; REsp 623.335/PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 07.08.2007, DJ 10.09.2007; REsp 246.134/MG, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 06.12.2005, DJ 13.03.2006; REsp 556.850/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 19.04.2005, DJ 23.05.2005; REsp 176.270/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 27.03.2001, DJ 04.06.2001; REsp 112.313/SP, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, julgado em 16.11.1999, DJ 17.12.1999; REsp 196.581/MG, Rel. Ministro Garcia Vieira, Primeira Turma, julgado em 04.03.1999, DJ 03.05.1999; e REsp 89.706/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Segunda Turma, julgado em 24.03.1998, DJ 06.04.1998). 2. A responsabilidade do adquirente de boafé reside na exigência, no momento da celebração do negócio jurídico, da documentação pertinente à assunção da regularidade do alienante, cuja verificação de idoneidade incumbe ao Fisco, razão pela qual não incide, à espécie, o artigo 136, do CTN, segundo o qual "salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato" (norma aplicável, in casu, ao alienante). 3. In casu, o Tribunal de origem consignou que: "(...)os demais atos de declaração de inidoneidade foram publicados após a realização das operações (f. 272/282), sendo que as notas fiscais declaradas inidôneas têm aparência de regularidade, havendo o destaque do ICMS devido, tendo sido escrituradas no livro de registro de entradas (f. 35/162). No que toca à prova do pagamento, há, nos autos, comprovantes de pagamento às empresas cujas notas fiscais foram declaradas inidôneas (f. 163, 182, 183, 191, 204), sendo a matéria incontroversa, como admite o fisco e entende o Conselho de Contribuintes." Fl. 642DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 629 27 4. A boafé do adquirente em relação às notas fiscais declaradas inidôneas após a celebração do negócio jurídico (o qual fora efetivamente realizado), uma vez caracterizada, legitima o aproveitamento dos créditos de ICMS. 5. O óbice da Súmula 7/STJ não incide à espécie, uma vez que a insurgência especial fazendária reside na tese de que o reconhecimento, na seara administrativa, da inidoneidade das notas fiscais opera efeitos ex tunc, o que afastaria a boafé do terceiro adquirente, máxime tendo em vista o teor do artigo 136, do CTN. 6. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1148444/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/04/2010, DJe 27/04/2010) Grifos não originais. Da simples leitura do referido enunciado, constatase que há uma diferença abissal entre a situação discutida nestes autos e a debatida no precedente jurisprudencial em referência. O que externou o referido julgado foi que o contribuinte não poderia ser prejudicado pela eventual e desconhecida inidoneidade do terceiro com quem tivesse contratado de boa fé, porém, condicionou adoção desse entendimento a demonstração de que a operação de compra e venda fosse efetivamente realizada, o que exclui qualquer tipo de fraude, especialmente, a praticada mediante simulação. Nos presentes a autos, em contraste com o julgado paradigma, as aquisições do café em grão das “pseudoatacadistas” foram comprovamente simuladas, para acobertar as efetivas operações de compra e venda celebradas com os produtores rurais e/ou maquinistas. Portanto, aqui tratase de operações fraudulentas que, certamente, não se amoldam à hipótese objeto do julgado paradigma, em que ficou “demonstrada a veracidade da compra e venda efetuada” e “a celebração do negócio jurídico (o qual fora efetivamente realizado)”. Dessa forma, não há como aplicar o entendimento exarado no referido REsp ao caso em tela, porque a situação fática nele trata revelase distinta da que provada nos presentes autos. Nele há prova de que a operação de compra e venda foi efetivamente realizada, aqui há prova de que a operação de compra e venda, celebrada com as “pseudoatacadistas” foi simulada. Diante dessa constatação, fica demonstrada a irrelevância do argumento da recorrente de que somente adquiriu café em grão de empresas de fachada ativas no CNPJ, como se o mero cumprimento dessa formalidade fosse suficiente para infirmar o vasto acervo probatório que comprova que as correspondentes operações de aquisição foram simuladas para acobertar a real operação de compra dos produtores rurais. No recurso em apreço, a recorrente tenta assumir a posição de vítima do citado esquema fraudulento. Porém, ao contrário do alegado, as robustas provas colhidas no âmbito das citadas operações comprovam que, em vez de vítima, ela foi ou poderia ter sido uma das compradoras beneficiada com o citado esquema de fraude, posto que, se não fosse pronta e eficiente intervenção da fiscalização da RFB, da Polícia Federal e do MPF, certamente, ela teria se apropriado ilicitamente de créditos fiscais nas cifras dos milhões de reais. Fl. 643DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 28 A grande vítima desse esquema, certamente, foi a Fazenda Nacional, pois, além do prejuízo com o não recolhimento das contribuições devidas nas correspondentes operações de compra e venda fictícias, se não desbaratada a tempo a fraude em destaque, certamente, a União seria obrigada a ressarcir em dinheiro bilhões reais em créditos gerados ilicitamente. Outras vítimas desse malsinado esquema fraudulento foram os produtores rurais, que foram obrigados a se submeter as determinações das poucas, mas poderosas empresas compradoras. Nos depoimentos e declarações prestados, eles revelaram desconhecimento da existência das empresas “pseudoatacadistas” (pessoas jurídicas “pseudoatacadistas”), “usadas para guiar o café vendido” (expressão comumente usada para designar a empresa de fachada emitente da nota fiscal). De acordo com tais depoimentos/declarações, os produtores negociavam com uma determinada pessoa (corretor/corretora, maquinista ou até mesmo a empresa adquirente), porém, no momento da retirada do café, surgiam nomes desconhecidos de “empresas” para serem inseridos na nota fiscal. A recorrente alegou que, seus diretores, ou mesmo funcionários, em nenhum momento foram indiciados ou denunciados em razão dos delitos apurados no âmbito das referidas operações de investigação, no entanto, além da certidão apresentada referirse apenas aos seus três diretores, os depoimentos colhidos perante a Polícia Federal, reproduzidos no TEAF, evidenciam o comprador de café da recorrente, tinha sim pleno conhecimento da fraude, conforme trechos a seguir reproduzidos: Se não bastassem os emails e planilhas apreendidas durante a OPERAÇÃO BROCA nas empresas do GRUPO TRISTÃO (REALCAFÉ e TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR), no seu depoimento perante a Polícia Federal narrado na DENÚNCIA PR/COL/ES, LUIZ FERNANDES ALVARENGA ratificou que o comprador de café das empresas do grupo tinha conhecimento de que nas suas operações de compra de café havia a interposição fictícia de empresa laranja. Aliás, os e mails de SCHNEIDER mostram exatamente isso: “(...) QUE com relação à[s] empresa[s] TRISTÃO e REAL negocia com SCHNEIDER, (...) QUE as pessoas identificadas nos itens anteriores tinham conhecimento dos verdadeiros vendedores do café negociado com as exportadoras e indústrias; QUE as pessoas identificadas nos itens anteriores tinham conhecimento de que o café era guiado por pessoa jurídica diversa dos verdadeiros vendedores;(...)”. Na mesma DENÚNCIA, o depoimento do corretor RAFAEL TEIXEIRA DE ALMEIDA, sócio de DEVANIR FERNANDES DOS SANTOS na corretora CRISTAL BRASIL, perante a Polícia Federal, no qual sintetiza a conduta do comprador do GRUPO TRISTÃO: “QUE o interrogado já realizou negociações prestando serviços de corretagem para as empresas (...) TRISTÃO, REALCAFÉ; (...) QUE, realizava negócios com a empresa (...), com a TRISTÃO e REALCAFÉ através de SCHNEIDER, (...) QUE, à exceção de (...),todas as demais pessoas acima citadas, com quem negociava, tinham conhecimento e faziam questão de saber quem eram os Fl. 644DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 630 29 produtores rurais ou armazéns gerais de quem estavam adquirindo café; QUE: tem conhecimento de que existem empresas “laranjas” no mercado de café, que vendem notas fiscais (...)”. Nas palavras do corretor RAFAEL TEIXEIRA, portanto, o comprador da TRISTÃO/REALCAFÉ fazia questão de saber quem eram os produtores rurais ou armazéns gerais (maquinistas) de quem estava adquirindo café. Como dito, esses depoimentos sintetizam o teor dos emails estabelecidos entre SCHNEIDER e os corretores. (grifos do original) Portanto, as planilhas, mensagens eletrônicas e os diálogos do seu preposto, encarregado da compra de café, o Sr. Ricardo Schneider, reproduzidos no citado Termo, extraído da mídia eletrônica apreendido no curso da operação “Broca”, revelam que a recorrente tinha pleno conhecimento e participava, de forma efetiva, do citado esquema de fraude, bem como sabia que as empresas “pseudoatacadistas” inexistiam de fato e não recolhiam ou recolhiam valores ínfimos de tributos federais. E todas as provas que respaldam tais conclusões foram obtidas em consonância com os parâmetros legais, incluindo os depoimentos e declarações prestados a fiscalização de forma espontânea pelos depoentes, inclusive alguns acompanhados de advogado, o que demonstra a improcedência das alegações da recorrente de que tais depoimentos não se prestavam como prova, porque produzidos unilateralmente pela fiscalização. A recorrente alegou ainda que houve transgressão ao seu direito fundamental ao sigilo de dados, insculpido no artigo 5o, X e XII, da CF/1988, sob argumento de que na busca realizada no estabelecimento da recorrente houve acesso irrestrito às informações internas e gerenciais, sem amparo em nenhuma autorização judicial para tal procedimento. Tal alegação também não procede, porque os dados e informações extraídos das mídias eletrônicas apreendidas no curso da operação “Broca” referem às compras fraudulentas realizadas pela recorrente e não a dados gerenciais. Além disso, tais documentos foram repassados a fiscalização por determinação judicial. Também não procede a alegação da recorrente de que a fiscalização afrontara o princípio do “nemo potest venire contra factum proprium” (em vernáculo, o princípio de proibição ao comportamento contraditório), sob argumento de que a fiscalização teria autuado as pessoas jurídicas inidôneas. A uma, porque ela não comprovou que tais pessoas jurídicas foram autuadas em razão dos fatos que motivaram a glosa dos créditos em apreço. A duas, porque o processo administrativo n° 15586.000366/201001, citado como prova do alegado, referese à autuação contra a pessoa jurídica inidônea CAFEEIRA SÃO JOSÉ, incluindo vários responsáveis solidários, em razão de movimentação financeira incompatível dos anos calendários de 2003 a 2006, portanto, período anterior e fato completamente estranho ao objeto dos presentes autos, que trata da glosa de créditos apropriados comprovadamente de forma ilícita, no período de janeiro de 2009 a dezembro 2010. A três, a referida pessoa jurídica Fl. 645DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 30 inidônea não consta da relação das empresas de “fachada” que vendeu café em grão objeto da glosa em apreço. Dado esse contexto fáticoprobatório, chegase a conclusão que, em todas as aquisições realizadas de pessoas jurídicas inidôneas, a recorrente não agiu como compradora de boa fé. Ao contrário, os fatos relatados no citado Termo, respaldados no amplo acervo probatório colhido no âmbito das citadas operações, demonstram que a recorrente não só tinha conhecimento, como contribuiu, de forma efetiva, para criação e funcionamento do citado esquema de fraude, tendo dele se beneficiado ou tentado se beneficiar, mediante a apropriação indevida de créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins calculados sobre aquisições simuladas das “pseudoatacadistas” de café em grão. Em razão dessas comprovações, revelase inaplicável ao caso o disposto no art. 112 do CTN, conforme pretendido pela recorrente. Cabe ainda ressaltar que a prova da fraude, especialmente a realizada mediante simulação, dificilmente será feita de forma direta, com base em documentos produzido pelos infratores, que agem de forma camuflada. É da essência desse tipo de ilícito a prática de atos aparentes, em que a regularidade da forma dissimula a vontade real da conduta do fraudador. Assim, sob pena de ineficácia dos meios legais de combate aos ilícitos de natureza tributária, há de ser aceita a prova da simulação com base na dinâmica dos atos praticados e pela convergência de indícios e demais elementos probatórios que levem o julgador à certeza de que houve duas vontades, uma declarada e outra dissimulada. E no caso em tela, este Relator está plenamente convencido que a Fazenda Nacional foi vítima de um planejado e organizado esquema de fraude, mediante simulação/dissimulação, implementado com o único propósito de retirar ilicitamente do Erário parcela significa de recursos financeiros. Por todas essas razões, deve ser mantida a glosa integral da parcela dos créditos excedente ao valor do crédito presumido agropecuário, calculado sobre as supostas aquisições de café em grão das “pseudoatacadistas”, conforme determinado pela fiscalização e mantido nos julgamentos anteriores. II.2 Da Glosa Parcial dos Créditos Apurados Sobre as Aquisições de Café em Grão das Cooperativas de Produção Agropecuária. De acordo com o subitem 5.2 do Termo de Encerramento da Ação Fiscal nº 04301/2013, com fundamento no art. 9°, III, da Lei 10.925/2004, com redação dada pela Lei 11.051/2004, combinado com o disposto na Instrução Normativa SRF 660/2006, que regulamentou o referido preceito legal, entendeu a fiscalização que a recorrente fazia jus somente a parcela do crédito presumido agropecuário calculado sobre as aquisições de café em grão adquiridos de cooperativas de produção agropecuária, porque as referidas aquisições estavam obrigatoriamente submetidas ao regime de suspensão da incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, uma vez que a recorrente estava sujeita ao regime cumulativo, exercia atividade agroindustrial e utilizara o produto como insumo na produção de produto destinados à alimentação humana ou animal, ou seja, enquadravase nas condições estabelecidas no art. 4º da referida Instrução Normativa, a seguir transcrito: Art. 4º Nas hipóteses em que é aplicável, a suspensão disciplinada nos arts. 2º e 3º é obrigatória nas vendas efetuadas a pessoa jurídica que, cumulativamente: (Redação dada pela Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) I apurar o imposto de renda com base no lucro real; Fl. 646DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 631 31 II exercer atividade agroindustrial na forma do art. 6º;e III utilizar o produto adquirido com suspensão como insumo na fabricação de produtos de que tratam os incisos I e II do art. 5º. [...] § 3º É vedada a suspensão quando a aquisição for destinada à revenda. (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) (grifos não originais) Segundo a fiscalização, em cumprimento a determinação das empresas compradoras, era prática habitual os corretores condicionarem as confirmações das compras do café em grão que as pessoas jurídicas vendedoras, incluindo as sociedade cooperativas, anotassem nas notas fiscais que as correspondentes operações estavam sujeitas à tributação normal das referidas contribuições, independentemente de tais operações de venda estarem, obrigatoriamente, sujeita ao regime suspensão de cobrança das referidas contribuições. Para se aferir a legalidade da referida glosa, cabe ressaltar que, no âmbito do regime não cumulativo, a apropriação de créditos normais ou ordinários da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins restringese às situações e condições estabelecidas no art. 3º das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003. E nos referidos preceitos legais, induvidosamente, não há vedação do aproveitamento de créditos nos casos em que o produto ou serviço for adquirido de cooperativas, seja de produção agropecuária ou não. Entretanto, há no art. 3º, § 2º, II, das referidas leis, expressa vedação a dedução de créditos nos casos de aquisição (i) de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento das contribuições e (ii) de bens ou serviços isentos, se revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela incidência das contribuições. As receitas auferidas pelas cooperativa de produção agropecuária, em regra, estão sujeitas à tributação normal das referidas contribuições, hipótese em que a pessoa jurídica adquirente do regime cumulativo é assegurado do direito de apropriarse do valor integral do crédito das referidas contribuições. Aliás, esse foi entendimento esposado pelo plenário do STF, no julgamento dos RREE 598.085/RJ e 599.362/RJ, realizado sob regime de repercussão geral. Entretanto, até o final do anocalendário de 2011, enquanto vigentes os arts. 8º e 9º da Lei 10.925/2004, com a redação dada pela Lei 11.051/2004, as receitas obtidas pelas cooperativas de produção agropecuária nas vendas de café em grão para as pessoas jurídicas sujeita ao regime cumulativo, que exercessem atividade agroindustrial e utilizassem o produto como insumo na produção de produto destinados à alimentação humana ou animal, obrigatoriamente, estavam sujeitas ao regime de suspensão, nos termos do inciso III do referido art. 9º, combinado com disposto no art. 4º da Instrução Normativa 660/2006. E em relação a essas aquisições, as pessoas jurídicas compradores não estavam autorizadas a descontar créditos integrais calculados sobre às aquisições dos referidos produtos, mas apenas a parcela do valor do crédito presumido agropecuário, instituído no art. 8º, § 3º, III, da Lei 10.925/2004, conforme previsto no art. 7º3, I, da referida Instrução Normativa. 3 Art. 7º Geram direito ao desconto de créditos presumidos na forma do art. 5º, os produtos agropecuários: (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) Fl. 647DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 32 Para melhor compreensão do regime de tributação das cooperativas de produção agropecuária4, incluindo aquelas que exercem atividade de produção agroindustrial5, transcrevese a seguir o referido preceito legal: Art. 9º A incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins fica suspensa no caso de venda: (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] III de insumos destinados à produção das mercadorias referidas no caput do art. 8º desta Lei, quando efetuada por pessoa jurídica ou cooperativa referidas no inciso III do § 1º do mencionado artigo. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) § 1º O disposto neste artigo: (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) I aplicase somente na hipótese de vendas efetuadas à pessoa jurídica tributada com base no lucro real; e(Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) II não se aplica nas vendas efetuadas pelas pessoas jurídicas de que tratam os §§ 6º e 7º do art. 8º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) § 2º A suspensão de que trata este artigo aplicarseá nos termos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal SRF. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) Os §§ 6º e 7º do art. 8º Lei 10.925/2004, desde a inclusão pela Lei 11.051/2004 até o final do ano 2011, quando foram revogados pela Lei 12.599/2012, tinham a seguinte redação: Art. 8º As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2, 3, exceto os produtos vivos desse capítulo, e 4, 8 a 12, 15, 16 e 23, e nos códigos 03.02, 03.03, 03.04, 03.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, exceto os códigos 0713.33.19, 0713.33.29 e 0713.33.99, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.01, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da NCM, destinadas à alimentação humana ou animal, poderão deduzir da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3º das Leis nºs 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro I adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País, com suspensão da exigibilidade das contribuições na forma do art. 2º; (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) [...] 4 A sociedade cooperativa de produção agropecuária é aquela que exece a atividade de comercialização da produção de seus associados, podendo também realizar o beneficiamento dessa produção. 5 Nos termos do art. 6º, II, da Instrução Normativa 660/2006, em relação ao café em grão considerase atividade agroindustrial o exercício cumulativo das atividades de padronizar, beneficiar, preparar e misturar tipos de café para definição de aroma e sabor (blend) ou separar por densidade dos grãos, com redução dos tipos determinados pela classificação oficial, relativamente aos produtos classificados no código 09.01 da NCM. Fl. 648DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 632 33 de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] § 6º Para os efeitos do caput deste artigo, considerase produção, em relação aos produtos classificados no código 09.01 da NCM, o exercício cumulativo das atividades de padronizar, beneficiar, preparar e misturar tipos de café para definição de aroma e sabor (blend) ou separar por densidade dos grãos, com redução dos tipos determinados pela classificação oficial. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) (Revogado pela Medida Provisória nº 545, de 2011) (Revogado pela Lei nº 12.599, de 2012). § 7º O disposto no § 6º deste artigo aplicase também às cooperativas que exerçam as atividades nele previstas. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) (Revogado pela Medida Provisória nº 545, de 2011) (Revogado pela Lei nº 12.599, de 2012). [...] (grifos não originais) Da interpretação combinada dos preceitos legais transcritos, depreendese que, até o final do ano de 2011, o regime de tributação das receitas da venda do café em grão auferidas pelas cooperativas de produção agropecuária dependia da destinação do produto e do regime de tributação da pessoa jurídica adquirente, que poderia se realizar sob regime de: a) tributação normal, se destinado a revenda, independentemente do regime de tributação da pessoa jurídica adquirente; b) tributação normal, se destinado à insumo de produção de pessoa jurídica do regime cumulativo; e c) regime de suspensão, se destinado à insumo de produção de pessoa jurídica do regime não cumulativo. Já as receitas da venda do café em grão auferidas pelas cooperativas de produção agropecuária, que exercessem, até o final do ano de 2011, a atividade agroindustrial, definida nos §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei 10.925/2004, estavam sujeitas ao regime de tributação normal, independentemente da destinação e do regime de tributação da pessoa jurídica adquirente. No mesmo sentido, o entendimento exarado no item 11 da Solução de Consulta Cosit 65/2014, a seguir parcialmente reproduzido: 11. Até o anocalendário de 2011, enquanto vigiam para o café os artigos 8º e 9º da Lei nº 10.925, de 2004, os exportadores de café não podiam descontar créditos em relação às aquisições do produto com as suspensões previstas nos incisos I e III do art. 9º. [...]. Por outro lado, havia direito ao creditamento nas aquisições de café já submetido ao processo de produção descrito nos §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei nº 10.925, de 2004, tendo em vista que sobre a receita de venda do café submetido a esta operação não se aplicava a suspensão da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins (art. 9º, § 1º, II, da Lei nº 10.925, de 2004). Portanto, até o final do ano de 2011, a obrigatoriedade do regime suspensivo somente se aplicava as receitas das cooperativas de produção agropecuária, provenientes da venda do café em grão não submetido ao processo de produção agroindustrial, definido nos então vigentes §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei 10.925/2004, desde que vendidos para as pessoas Fl. 649DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 34 jurídicas do regime não cumulativo, que exercessem a atividade agroindustrial e utilizassem o referido produto como insumo na fabricação de produtos destinados à alimentação humana ou animal, obrigatoriamente. Este é o entendimento que se extrai do caput do art. 9º da Lei 10.925/2004, combinado com o disposto no art. 4º da Instrução Normativa SRF 660/2006. As demais receitas auferidas pelas cooperativas de produção agropecuárias na venda do café em grão em grão, incluindo as decorrentes da atividade agroindustrial, estavam sujeitas à tributação ou pagamento normal das referidas contribuições. No caso, se as notas fiscais emitidas pelas cooperativas continham anotação de que houve incidência das contribuições sobre a correspondente operação de venda de café em grão e havia fundadas suspeitas, por parte da fiscalização, de que tal anotação não representava a real forma de tributação das respectivas operações de venda, cabialhe o ônus de provar que tais operações estavam, obrigatoriamente, submetidas ao regime de suspensão em comento. Induvidosamente, o simples fato de a recorrente está no regime cumulativo, exercer atividade agroindustrial e utilizar o café adquirido como insumo de fabricação de produto destinado à alimentação humana, embora seja uma condição necessária, por si só, ela não é suficiente para se presumir que todas as compras de cooperativas de produção agropecuária foram realizadas sob regime de suspensão. Essa conclusão, certamente, dependia ainda da prova de que as compras do café em grão foram realizadas de cooperativas de produção agropecuária e não submetidos ao processo de produção agroindustrial, definido nos então vigentes §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei 10.925/2004, o que não foi feito pela recorrente. No caso, somente se tivesse sido provada as duas condições, certamente, restaria demonstrada que as operações de venda em questão teriam sido realizadas sob regime de suspensão da cobrança das referidas contribuições, por força de expressa determinação legal. De outra parte, não teria qualquer efeito tributário a anotação consignada nas referidas notas fiscais de que a respectiva operação de compra e venda fora submetida a regime de tributação normal, haja vista que, a mera anotação no citado documento fiscal, inequivocamente, não tinha o condão de modificar o regime de tributação estabelecido na legislação tributária, especialmente tendo em conta que tal anotação não decorria de exigência legal (não era obrigação acessória) e havia fundadas suspeitas de que tal anotação visava conferir parcela de créditos indevidos das referidas contribuições à recorrente. Assim, na ausência de prova em contrário de que as operações do café em grão estavam, obrigatoriamente, submetida ao regime suspensão da cobrança das referidas contribuições, por expressa determinação legal, não há como ser desconsiderada a prova documental apresentada pela recorrente contendo o registro de que a correspondente operação de venda foi realizada com a tributação normal das referidas contribuições. Com base nessas considerações, fica assegurado à recorrente o direito de apropriarse do valor integral dos créditos calculados sobre o valor das respectivas operações de aquisição do café em grão das cooperativas de produção agropecuária. Em consequência, deve ser restabelecido o direito de dedução da parcela do valor dos créditos glosada, excedente a parcela do crédito presumido agropecuário. III DA CONCLUSÃO Por todo o exposto, votase pela rejeição das preliminares de nulidade suscitadas e, no mérito, pelo PROVIMENTO PARCIAL do recurso, para restabelecer o direito Fl. 650DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.906705/201278 Acórdão n.º 3302003.380 S3C3T2 Fl. 633 35 de a recorrente apropriarse do valor integral dos créditos calculados sobre as aquisições do café em grão das cooperativas de produção agropecuária. (assinado digitalmente) José Fernandes do Nascimento Fl. 651DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A
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Numero do processo: 11829.000036/2010-56
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Dec 14 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Dec 28 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Período de apuração: 02/01/2005 a 21/12/2005
AUTO DE INFRAÇÃO. MULTA PELA VIOLAÇÃO DO DEVER DE GUARDA E APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS FISCAIS RELATIVOS A IMPORTAÇÕES PELO RECOF. DECADÊNCIA.
No caso da multa relativa à guarda e apresentação de documentos, a decadência da obrigação ocorre junto com a decadência dos créditos tributários relativos à declarações de importação (art. 195, parágrafo único do CTN e art. 70, Lei n.º 10.833/2003).
Considerando a inexistência de recolhimento antecipado no RECOF, com a suspensão dos tributos incidentes na importação após o registro da Declaração de Importação de admissão, aplicável à hipótese o art. 173, I, do CTN (replicado no art. 138 do Decreto-lei n.º 37/66) e não o art. 150, ,§4º, do CTN, como entendido pela decisão de primeira instância.
Atentando-se para a disciplina normativa vigente à época dos fatos autuados, vislumbra-se que o lançamento poderia ser efetuado desde a data da emissão da DI de admissão da mercadoria no RECOF, momento no qual a exigibilidade do crédito, que poderia ser constituído e quantificado desde aquele momento, fica suspensa. Com efeito, em conformidade com os arts. 38 e 39 da IN 417/2004, este é o marco temporal inicial para que seja considerada a mora do sujeito passivo e, por conseguinte, a data em que o lançamento poderia ser efetuado.
Não consumada a decadência no presente caso.
Recurso de Ofício Provido.
Numero da decisão: 3402-003.670
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao Recurso de Ofício e não tomar conhecimento do Recurso Voluntário. Os Conselheiros Thais de Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula e Carlos Augusto Daniel Neto votaram pelas conclusões. O Conselheiro Rodolfo Tsuboi participou do julgamento em substituição ao Conselheiro Diego Diniz Ribeiro, que se declarou impedido. O Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto apresentou declaração de voto.
(Assinado com certificado digital)
Antonio Carlos Atulim - Presidente.
(Assinado com certificado digital)
Maysa de Sá Pittondo Deligne - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Carlos Augusto Daniel Neto e Rodolfo Tsuboi.
Nome do relator: MAYSA DE SA PITTONDO DELIGNE
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ementa_s : Assunto: Obrigações Acessórias Período de apuração: 02/01/2005 a 21/12/2005 AUTO DE INFRAÇÃO. MULTA PELA VIOLAÇÃO DO DEVER DE GUARDA E APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS FISCAIS RELATIVOS A IMPORTAÇÕES PELO RECOF. DECADÊNCIA. No caso da multa relativa à guarda e apresentação de documentos, a decadência da obrigação ocorre junto com a decadência dos créditos tributários relativos à declarações de importação (art. 195, parágrafo único do CTN e art. 70, Lei n.º 10.833/2003). Considerando a inexistência de recolhimento antecipado no RECOF, com a suspensão dos tributos incidentes na importação após o registro da Declaração de Importação de admissão, aplicável à hipótese o art. 173, I, do CTN (replicado no art. 138 do Decreto-lei n.º 37/66) e não o art. 150, ,§4º, do CTN, como entendido pela decisão de primeira instância. Atentando-se para a disciplina normativa vigente à época dos fatos autuados, vislumbra-se que o lançamento poderia ser efetuado desde a data da emissão da DI de admissão da mercadoria no RECOF, momento no qual a exigibilidade do crédito, que poderia ser constituído e quantificado desde aquele momento, fica suspensa. Com efeito, em conformidade com os arts. 38 e 39 da IN 417/2004, este é o marco temporal inicial para que seja considerada a mora do sujeito passivo e, por conseguinte, a data em que o lançamento poderia ser efetuado. Não consumada a decadência no presente caso. Recurso de Ofício Provido.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 15; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1960; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3C4T2 Fl. 2 1 1 S3C4T2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 11829.000036/201056 Recurso nº De Ofício e Voluntário Acórdão nº 3402003.670 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 14 de dezembro de 2016 Matéria DECADÊNCIA PENALIDADE ADUANEIRA Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado ALCATELLUCENT BRASIL S/A ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Período de apuração: 02/01/2005 a 21/12/2005 AUTO DE INFRAÇÃO. MULTA PELA VIOLAÇÃO DO DEVER DE GUARDA E APRESENTAÇÃO DOS DOCUMENTOS FISCAIS RELATIVOS A IMPORTAÇÕES PELO RECOF. DECADÊNCIA. No caso da multa relativa à guarda e apresentação de documentos, a decadência da obrigação ocorre junto com a decadência dos créditos tributários relativos à declarações de importação (art. 195, parágrafo único do CTN e art. 70, Lei n.º 10.833/2003). Considerando a inexistência de recolhimento antecipado no RECOF, com a suspensão dos tributos incidentes na importação após o registro da Declaração de Importação de admissão, aplicável à hipótese o art. 173, I, do CTN (replicado no art. 138 do Decretolei n.º 37/66) e não o art. 150, ,§4º, do CTN, como entendido pela decisão de primeira instância. Atentandose para a disciplina normativa vigente à época dos fatos autuados, vislumbrase que o lançamento poderia ser efetuado desde a data da emissão da DI de admissão da mercadoria no RECOF, momento no qual a exigibilidade do crédito, que poderia ser constituído e quantificado desde aquele momento, fica suspensa. Com efeito, em conformidade com os arts. 38 e 39 da IN 417/2004, este é o marco temporal inicial para que seja considerada a mora do sujeito passivo e, por conseguinte, a data em que o lançamento poderia ser efetuado. Não consumada a decadência no presente caso. Recurso de Ofício Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 82 9. 00 00 36 /2 01 0- 56 Fl. 695DF CARF MF 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao Recurso de Ofício e não tomar conhecimento do Recurso Voluntário. Os Conselheiros Thais de Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula e Carlos Augusto Daniel Neto votaram pelas conclusões. O Conselheiro Rodolfo Tsuboi participou do julgamento em substituição ao Conselheiro Diego Diniz Ribeiro, que se declarou impedido. O Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto apresentou declaração de voto. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim Presidente. (Assinado com certificado digital) Maysa de Sá Pittondo Deligne Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Carlos Atulim, Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro, Waldir Navarro Bezerra, Thais De Laurentiis Galkowicz, Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Carlos Augusto Daniel Neto e Rodolfo Tsuboi. Relatório Tratase de Recurso de Ofício interposto pelo Presidente da 2ª Turma da DRJ/SP2 contra o Acórdão n.º 17.53.284 (fl. 477493) que deu parcial provimento à Impugnação apresentada pelo sujeito passivo. Por trazer uma síntese do presente processo administrativo até o momento da Impugnação, peço vênia para adotar o relatório daquele acórdão em sua integralidade: "Trata o presente processo de auto de infração pela violação do dever de guarda e apresentação dos documentos fiscais relativos a importações pelo regime de RECOF. Segundo o TERMO DE CONSTATAÇÃO FISCAL, fls. 60 e seguintes, a impugnante foi intimada e reintimada a apresentar a documentação relativa a alguns despachos de RECOF dos anos de 2005 e 2006 (faturas comerciais e packing list) e não apresentou os mesmos. Em função disso, lançou a fiscalização a multa prevista no art. 70, II, "b" item 1 da Lei n.º 10.833/03. Intimadas do Auto de Infração em 22/12/2010 (fl. 02), as sucessoras da autuada apresentaram impugnação e documentos em 21/01/2011, juntados às folhas 200 e seguintes, alegando em síntese: 1. Alegam preliminarmente erro na identificação do sujeito passivo. Alegam que a empresa LUCENT TECJNOLOGIES DO BRASIL INDUSTRIA E COMERCIAL LTDA, CNPJ 84.512.045/000305 não existe mais e que seu patrimônio foi cindido e distribuído para as ora impugnantes. Citam jurisprudência administrativa sobre o tema. Fl. 696DF CARF MF Processo nº 11829.000036/201056 Acórdão n.º 3402003.670 S3C4T2 Fl. 3 3 2. Alegam a decadência dos créditos tributários anteriores a 22/12/2005. Citam jurisprudência administrativa sobre o tema. 3. Alegam violação ao princípio da irretroatividade das Leis. Alegam que o art. 70 da Lei n.º 10.833/03 só foi regulamentado pelo art. 18 do Regulamento Aduaneiro de 2009, Decreto n.º 6.579/2009. Cita doutrina sobre o tema. Citam o art. 5º, XL, da CF. 4. Alegam que a multa em questão não seria aplicada pois não está prevista na legislação específica do RECOF. Alegam violação ao Princípio da Especialidade das Leis. Alegam que a multa do art. 107, VII, "e" do DecretoLei n.º 37/66 é mais específica que a multa aplicada. Alegam que a IN SRF n.º 417/04, que regulamenta o RECOF, possui penalidade específica para a não apresentação de documentos no art. 15, II, "b". Citam jurisprudência judicial sobre o tema. 5. Alegam que a exigência de romaneio de carga para instrução das declarações de importação só veio a ser prevista em 2006 com a IN SRF 680. 6. Alegam que a cópia da fatura comercial tem o mesmo valor que a original da fatura comercial. Citam o art. 18, caput, §2º da IN SRF 206/02. 7. Alegam violação aos Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade. Alegam que a revisão das operações de importação poderia ser feita apenas com as cópias dos documentos. Citam doutrina e jurisprudência judicial sobre o tema. 8. Alegam que em nenhum momento a fiscalização alegou a falsidade e a inidoneidade das cópias apresentadas. Citam os arts. 372, 373 e 385 do CPC. Citam doutrina e jurisprudência sobre o tema. Alegam que o ônus da prova cabe à parte que agüiu a falsidade do documento. 9. Alegam que a fiscalização lavrou outro auto de infração com base nos documentos apresentados e não realizou arbitramento. Citam doutrina sobre o tema. 10. Alegam que não é cabível a aplicação de penalidade à empresa sucessora. Citam o art. 133 do CTN. Discorrem sobre a diferença entre tributa e multa. Citam doutrina e jurisprudência sobre o tema. 11. Alegam que a infração autuada tem caráter continuado sendo aplicada apenas uma multa. Citam doutrina e jurisprudência sobre o tema. 12. Alegam que a multa aplicada é inconstitucional pois tem caráter confiscatório. Citam jurisprudência sobre o tema. 13. Requerem, por fim, que seja julgado improcedente o presente auto de infração. É o relatório" (grifei fls. 478480) Por maioria de votos, foi acolhida a preliminar de decadência da multa para as DIs registradas até 21/12/2005, vez que o sujeito passivo foi intimado do Auto de Infração em 22/12/2010, rejeitados os demais argumentos aventados na impugnação. O voto vencedor aplicou ao caso o art. 150, §4º do CTN e o parágrafo único do art. 195, do CTN, entendendo que "no caso da multa relativa à guarda e apresentação de documentos, a decadência da obrigação ocorre junto com a decadência dos créditos tributários relativos à declarações de importação" (fl. 483). Por sua vez, no voto divergente do I. Sr. Presidente da Turma (flS. 491493), entendeuse pela aplicação na hipótese do art. 138 do DecretoLei n.º 37/1966, segundo o qual a decadência do direito de imposição de penalidade decai em 5 (cinco) anos contados da data da infração sendo que, no caso, a infração teria ocorrido em 04/11/2009, momento quando o interessado deixou de guardar e apresentar os documentos. Com isso, no entendimento da divergência, a decadência somente ocorreria em 04/11/2014. A decadência, frisese, é a única matéria mantida em discussão no presente processo administrativo após a desistência pela Recorrida, em 16/01/2014, do Recurso Fl. 697DF CARF MF 4 Voluntário interposto para inclusão dos débitos remanescentes no parcelamento da Lei n.º 11.941/2009 (despacho da desistência proferido pelo I. Presidente desta Seção de Julgamento à fl. 598). Com a transferência dos débitos parcelados para processo próprio (PTA 10831 724.599/201455, conforme extratos de fls. 656687), os autos retornaram a este E. CARF para julgamento do recurso de ofício. É o relatório. Voto Conselheira Maysa de Sá Pittondo Deligne Com fulcro no art. 34, I, do Decreto n.º 70.235/72 e presentes os pressupostos de admissibilidade, vez que o valor exonerado ultrapassa o valor de alçada previsto na Portaria n.º 03/2008, conheço do Recurso de Ofício, julgando prejudicado o Recurso Voluntário que consta dos autos em razão de sua desistência para inclusão dos valores no programa de parcelamento da Lei n.º 11.941/2009. Passo ao julgamento do mérito do recurso de ofício. Como relatado, a questão em discussão se refere ao prazo para que seja imposta penalidade ao importador por não apresentação de documentos que confirmem o cumprimento do Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado RECOF. No caso, por deixar de apresentar os documentos originais, somente as cópias, foi aplicada a penalidade prevista no art. 70, II, "b" item 1 da Lei n.º 10.833/03, que expressa: "Art. 70. O descumprimento pelo importador, exportador ou adquirente de mercadoria importada por sua conta e ordem, da obrigação de manter, em boa guarda e ordem, os documentos relativos às transações que realizarem, pelo prazo decadencial estabelecido na legislação tributária a que estão submetidos, ou da obrigação de os apresentar à fiscalização aduaneira quando exigidos, implicará: (...) II se relativo aos documentos obrigatórios de instrução das declarações aduaneiras: (...) b) a aplicação cumulativa das multas de: 1. 5% (cinco por cento) do valor aduaneiro das mercadorias importadas;" (grifei) Como indicado pela fiscalização para o enquadramento no tipo legal acima transcrito, o contribuinte teria deixado de manter a documentação relativa às declarações de admissão das mercadorias no RECOF, necessárias para confirmar o devido adimplemento daquele regime. No Auto de Infração, evidenciou claramente que somente estava lançando a multa por deixar de guardar os documentos originais: "Este auto de infração está restrito unicamente aos aspectos relacionados à guarda dos documentos de instrução obrigatória das declarações de admissão de mercadorias no RECOF, registradas no período de janeiro/2005 a outubro/2009, não tendo sido verificados outros aspectos." (fl. 73 grifei) Fl. 698DF CARF MF Processo nº 11829.000036/201056 Acórdão n.º 3402003.670 S3C4T2 Fl. 4 5 À época dos fatos geradores objeto deste Recurso (janeiro a dezembro de 2005), o RECOF era disciplinado pelos arts. 372 a 380 do Regulamento Aduaneiro, aprovado pelo Decreto n.º 4.543/2002, e pela Instrução Normativa SRF n.º 417/2004. Os arts. 22 e 23 da referida IN1 traziam uma disciplina clara quanto à admissão das mercadorias no regime, feita com base em Declaração de Importação específica feita no SISCOMEX e sujeita ao desembaraço automático naquele sistema. Assim, o importador habilitado no RECOF deveria, na forma da legislação, elaborar uma Declaração de Importação. Esta DI, ainda que específica para o fim do RECOF, estava sujeita à disciplina geral trazida no Regulamento Aduaneiro que, à época, expressava no art. 493 a necessidade da apresentação da via original da fatura comercial: "Art. 493. A declaração de importação será instruída com (Decretolei no 37, de 1966, art. 46, com a redação dada pelo Decretolei no 2.472, de 1988, art. 2o): I a via original do conhecimento de carga ou documento de efeito equivalente; II a via original da fatura comercial, assinada pelo exportador; III o comprovante de pagamento dos tributos, se exigível; e IV outros documentos exigidos em decorrência de acordos internacionais ou por força de lei, de regulamento ou de ato normativo." (grifei) Assim, considerando a legislação vigente à época e uma vez exigido pela lei a guarda dos documentos originais no caso as faturas comerciais (não sendo, portanto, admitida a cópia apresentada pelo sujeito passivo), constatase a subsunção do fato infrator ao tipo legal do art. 70, da Lei 10.833/2003, acima transcrito. Em um breve parênteses, não parece coerente que uma empresa do porte da Interessada tenha a guarda de documentos originais incorridos no momento da importação, sendo mais que plausível a guarda de cópia, especialmente em se considerando a diversidade de operadores envolvidos em uma operação de importação e a dinâmica dessas operações. Contudo, não posso nessa seara ultrapassar os termos constantes da lei, que exige a manutenção e guarda dos documentos originais. Como bem consignado no acórdão de primeira instância, "no caso da multa relativa à guarda e apresentação de documentos, a decadência da obrigação ocorre junto com a decadência dos créditos tributários relativos à declarações de importação" (fl. 483) Esse 1 "Art. 22. A admissão no regime de mercadoria importada terá por base declaração de importação específica formulada pelo importador no Siscomex. § 1o Será dispensado à mercadoria importada para admissão no regime o tratamento de "carga não destinada a armazenamento" no Sistema de Gerência do Trânsito, do Manifesto e do Armazenamento (Mantra), nos termos da norma específica. § 2o Poderão ser admitidas no regime mercadorias transferidas de outro regime aduaneiro especial, vedado o procedimento inverso. Art. 23. A mercadoria objeto de declaração de admissão no regime será desembaraçada automaticamente por meio do Siscomex. Parágrafo único. O licenciamento nãoautomático de importação, quando exigível, deverá ocorrer previamente à admissão das mercadorias no regime." Fl. 699DF CARF MF 6 entendimento, indicado expressamente no caput do art. 70, da Lei n.º 10.833/2003, está em conformidade com o parágrafo único do art. 195 do Código Tributário Nacional2 No acórdão recorrido, entenderam os I. Fiscais pela contagem do prazo decadencial em conformidade com o art. 150, §4º, do CTN. Contudo, no caso, tratase especificamente da documentação necessária para a verificação do adimplemento de um regime especial no qual, no momento do registro das DIs, os tributos incidentes são suspensos inexistindo, portanto, pagamento antecipado. Com a inexistência de pagamento antecipado, afastase a aplicação do art. 150, ,§4º, do CTN, sendo que o prazo de decadência aplicável passa a ser regido pelo art. 173, I, do CTN. A aplicação do art. 173, I, do CTN na hipótese de ausência de pagamento antecipado foi pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial n.º 973.733, julgado sob o rito dos recursos representativos de controvérsia previsto à época pelo atualmente revogado art. 543C do CPC/73: "PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontrase regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 163/210). 3. O dies a quo do prazo quinquenal da aludida regra decadencial regese pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos 2 "Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibilos. Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram." Fl. 700DF CARF MF Processo nº 11829.000036/201056 Acórdão n.º 3402003.670 S3C4T2 Fl. 5 7 nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs.. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs.. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs.. 183/199). 5. In casu, consoante assente na origem: (i) cuidase de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deuse em 26.03.2001. 6. Destarte, revelamse caducos os créditos tributários executados, tendo em vista o decurso do prazo decadencial quinquenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo. 7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008." (REsp 973.733/SC, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/08/2009, DJe 18/09/2009) E a peculiaridade do RECOF, com a suspensão dos tributos incidentes sobre a importação após o registro das DIs de admissão no regime (sem, portanto, pagamento antecipado), foi apontada pelo I. Fiscal no Auto de Infração, nos seguintes termos: "No RECOF, contrariamente à regra geral, os tributos devidos, por ocasião do registro da declaração de admissão ficam suspensos, isto é, não ocorre o pagamento. Deste fato decorrem conseqüências importantes, tendo em vista que por estarem sujeitos ao lançamento por homologação, caracterizamse pelo pagamento antecipado do valor devido. Não havendo o recolhimento antecipado a que se refere o art. 150 do CTN, a matéria passa a ser regida pelo art. 173, inciso I, do mesmo diploma legal, estabelecendo, por seu turno, que o direito da Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que poderia ter sido efetuado o lançamento." (fl. 68) Este CARF já se manifestou pela aplicação do art. 173, I, do CTN para a contagem do prazo decadencial no regime do RECOF. "Assunto: Regimes Aduaneiros. Período de apuração: 01/01/2005 a 31/12/2009 RECOF. ADIMPLEMENTO DO REGIME. CONDIÇÕES. As vendas de bens submetidos ao RECOF realizadas a empresa comercial exportadora, mesmo que não instituída nos termos do Decretolei n.º 1.248/1972, que tenham efetivamente sido exportados, podem ser computadas para efeito de comprovação do cumprimento das obrigações do RECOF. DECADÊNCIA. RECOF. O pagamento da apuração mensal dos tributos decorrentes das operações dos bens recofiados não é antecipação de pagamento dos lançamentos representados pelas declarações de admissão no regime. Eles correspondem ao atendimento de clausulas ínsitas nas obrigações do regime aplicado. Por isso, no caso de inadimplemento do regime, a regra decadencial deve ser a prevista no artigo 173, I, do CTN, que dita que o termo inicial deve ser do exercício seguinte em que ele poderia ser lançado. A determinação do termo inicial do prazo decadencial para obrigação tributária referente a bem recofiado que foi destinado a mercado interno deve ter como indicador a data em que passam a ser exigíveis os tributos suspensos Fl. 701DF CARF MF 8 e as obrigações acessórias, e não o prazo de encerramento do regime RECOF desse bem. Tendo se dado o fato que define a obrigação do contribuinte, e tendo ocorrido o descumprimento dessa clausula ou a inadimplência da regra, o exercício a partir de quando se poderia lançar não pode depender da finalização do prazo do regime desse bem recofiado. Recurso voluntário provido." (Processo n.º 10314.723513/201173 Sessão 17/09/2014 Relator Eloy Eros da Silva Nogueira Acórdão n.º 3401002.720 grifei) Cumpre mencionar que, antes do julgamento do STJ acima mencionado, foram proferidas decisões neste Conselho entendendo pela aplicação do art. 150, §4º do CTN no Regime do RECOF3. Contudo, considerando a atual jurisprudência firmada nessa matéria, acima trazida, não vislumbro a possibilidade de sua aplicação no caso em tela. Assim, considerando a inexistência de recolhimento antecipado no RECOF, com a suspensão dos tributos incidentes na importação após o registro da DI de admissão, aplicável à hipótese o art. 173, I, do CTN, replicado no art. 138 do Decretolei n.º 37/66, que expressam: Decretolei n.º 37/66 "Art.138 O direito de exigir o tributo extinguese em 5 (cinco) anos, a contar do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que poderia ter sido lançado. Parágrafo único. Tratandose de exigência de diferença de tributo, contarseá o prazo a partir do pagamento efetuado." (grifei) Código Tributário Nacional "Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado;" (grifei) Para identificar, por conseguinte, qual o marco inicial da contagem desse prazo decadencial, crucial avaliar quando se pode considerar que o "lançamento poderia ter sido efetuado" no regime do RECOF. Atentandose para a disciplina normativa vigente à época, vislumbrase que o lançamento poderia ser efetuado desde a data da emissão da DI de admissão da mercadoria no RECOF, momento no qual a exigibilidade do crédito, que poderia ser constituído e quantificado desde aquele momento, fica suspensa. É o que se depreende do Regulamento Aduaneiro/2002, que faz remissão à disciplina da Instrução Normativa n.º 417/2004: Decreto n.º 4.543/2002 "Da Exigência de Tributos Art. 377. Findo o prazo fixado para a permanência da mercadoria no regime, serão exigidos, em relação ao estoque, os tributos suspensos, com os acréscimos legais cabíveis (Decretolei no 37, de 1966, art. 90, § 2o). 3 3º Conselho de Contribuintes. Segunda Câmara. Acórdão n.º 30238645. Processo 10831.002624/200555 Sessão 22/05/2007 Relatora Elizabeth Emílio de Moraes Chieregatto. No mesmo sentido: Processo nº 10831.002626/200544. Acórdão nº 30238.450. Sessão 27/02/2007 Fl. 702DF CARF MF Processo nº 11829.000036/201056 Acórdão n.º 3402003.670 S3C4T2 Fl. 6 9 Parágrafo único. O disposto no caput não dispensa o cumprimento das exigências legais e regulamentares para a permanência definitiva da mercadoria no País. (...) Art. 379. A Secretaria da Receita Federal estabelecerá a forma e o momento para o cálculo e para o pagamento dos tributos." (grifei) Instrução Normativa n.º 471/2004 "Art. 38. Findo o prazo estabelecido para a vigência do regime, os tributos com exigibilidade suspensa, incidentes na importação, correspondentes ao estoque, deverão ser recolhidos com o acréscimo de juros e multa de mora, calculados a partir da data do registro da admissão das mercadorias no regime. § 1o Na hipótese deste artigo, para efeito de cálculo dos tributos devidos, as mercadorias constantes do estoque serão relacionadas às declarações de admissão no regime ou às correspondentes Notas Fiscais de aquisição no mercado interno, inclusive de transferência entre beneficiários, com base no critério contábil PEPS. § 2o O pagamento dos tributos e respectivos acréscimos legais, quando espontâneo, não dispensa o registro da DI e o cumprimento das demais exigências regulamentares para a permanência definitiva das mercadorias no País. § 3o O disposto neste artigo aplicase também no caso de cancelamento da habilitação, observado o cumprimento do prazo estabelecido no inciso II do § 1o do art. 19. Art. 39. A declaração a que se refere o § 2o do art. 38 será registrada, após autorização obtida em processo administrativo, informandose na ficha Básicas, no campo Processo Vinculado, que se trata de Declaração Preliminar e indicando o número do processo administrativo correspondente. § 1o A taxa de câmbio e a alíquota dos tributos incidentes serão as vigentes na data de admissão das mercadorias no regime, que constituirá o termo inicial para o cálculo dos acréscimos legais. § 2o O importador deverá indicar, no campo de Informações Complementares da DI, as alíquotas, a taxa de câmbio, os demonstrativos do cálculo dos tributos, multas e acréscimos" (grifei) Como se depreende dos arts. 38 e 39 da IN n.º 417/2004, acima transcritos, os créditos tributários são passíveis de serem constituídos desde o momento da emissão da DIs de admissão das mercadorias no regime ficando, após, com sua exigibilidade suspensa. Com efeito, finda a causa de suspensão, pela extinção do regime, os tributos devem ser calculados "a partir da data do registro da admissão das mercadorias no regime". Assim, considerada pela própria Receita Federal como marco temporal inicial para o cálculo dos efeitos da mora, reconhecese que a data do registro das Declarações de Importação de admissão é a data em que o lançamento poderia ser efetuado devendo ser, portanto, a data a ser considerada como marco inicial para a contagem do prazo decadencial do art. 173, I, do CTN e do art. 138 do Decretolei 37/66. Essencial frisar que o prazo de vigência do RECOF não influi na contagem do prazo decadencial. Uma vez existentes diversos marcos temporais para que seja identificada a extinção do regime, na forma do art. 31 da IN 417/20044, a própria Receita Federal 4 "Art. 31. A aplicação do regime se extingue com a adoção, pelo beneficiário, de uma das seguintes providências: I exportação: a) de produto no qual a mercadoria, nacional ou estrangeira, admitida no regime tenha sido incorporada; b) da mercadoria no estado em que foi importada; Fl. 703DF CARF MF 10 identificou nos artigos 38 e 39 desta mesma IN qual seria o marco temporal para que seja considerada a mora do sujeito passivo e, portanto, para ser considerado quando o lançamento poderia ser efetuado para fins da contagem do prazo decadencial. Aplicando este entendimento ao presente caso, constatase que não operou, no presente caso, a decadência. Os registros das declarações de importação de admissão no RECOF ocorreram entre 02/01/2005 a 21/12/2005, instaurandose o prazo decadencial em 01/01/2006. Com isso, o prazo limite para o presente lançamento era 31/12/2010, com a consumação da decadência apenas em 01/01/2011. Contudo, o sujeito passivo foi intimado pessoalmente do Auto de Infração em 22/12/2010 não estando, portanto, consumada a decadência. Diante do exposto, voto por dar provimento ao Recurso de Ofício para que seja afastada a decadência no presente caso e mantido o lançamento no período de 02/01/2005 a 21/12/2005. Tendo o sujeito passivo desistido de seu Recurso Voluntário, não cabe a análise dos demais argumentos enfrentados pela decisão de primeira instância. É como voto. Maysa de Sá Pittondo Deligne Relatora c) da mercadoria nacional no estado em que foi admitida; ou d) de produto ao qual a mercadoria estrangeira admitida no regime, sem cobertura cambial, tenha sido incorporada; II reexportação da mercadoria estrangeira admitida no regime sem cobertura cambial; III transferência de mercadoria para outro beneficiário, a qualquer título; IV despacho para consumo: a) das mercadorias estrangeiras admitidas no regime e incorporadas a produto acabado; ou b) da mercadoria no estado em que foi importada; V destruição, às expensas do interessado e sob controle aduaneiro; ou VI retorno ao mercado interno de mercadoria nacional, no estado em que foi admitida no regime, ou após incorporação a produto acabado, obedecido ao disposto na legislação específica. § 1o Na hipótese dos incisos II e IV do § 4o do art. 2o, o regime só poderá ser extinto mediante exportação, reexportação ou destruição. § 2o É vedada a extinção da aplicação do regime pelo fornecedor cohabilitado, ressalvadas: I a destruição, na forma do inciso V; e II a transferência de mercadoria para outro beneficiário, na forma do § 2o do art. 33. § 3o Na hipótese da alínea "d" do inciso I, a exportação será precedida do correspondente registro de DI para efeitos cambiais." Fl. 704DF CARF MF Processo nº 11829.000036/201056 Acórdão n.º 3402003.670 S3C4T2 Fl. 7 11 Declaração de Voto Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto Gostaria de frisar, inicialmente, que adiro às conclusões alcançadas pela Ilustre Conselheira Relatora, trazendo aqui apenas as pontuais razões de minhas discordância quanto aos fundamentos assumidos, na esperança de que o choque de posições contrárias possa, eventualmente, gerar a faísca da verdade. Mais precisamente, tenho sérias ressalvas quanto à natureza jurídica do RECOF "Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Aduaneiro Informatizado". Vejamos, por exemplo, a descrição que lhe é dada no site da Receita Federal do Brasil, e que foi assumido pela relatora como premissa: O Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Aduaneiro Informatizado (RECOF) é o que permite à empresa beneficiária importar ou adquirir no mercado interno, com suspensão do pagamento de tributos, mercadorias a serem submetidas a operações de industrialização de produtos destinados à exportação ou mercado interno. É também permitido que Parte da mercadoria admitida no regime, no estado em que foi importada ou depois de submetida a processo de industrialização, seja despachada para consumo. A mercadoria, no estado em que foi importada, poderá também ser exportada, reexportada ou destruída. O RECOF possui natureza jurídica de isenção sob condição resolutiva, onde se suspende o prazo para pagamento dos tributos até o cumprimento da condição pactuada. Em se tratando de isenção de caráter especial, deferida em razão da concessão pelo órgão responsável de habilitação no Regime Especial, aplicase a regra do art. 179, caput, do Código Tributário Nacional Lei nº 5.172/1966. Como se vê, entendeu a relatora, na esteira do professado pela RFB que o RECOF se trata de uma suspensão do pagamento dos tributos, cujo prazo decadencial para a cobrança do tributo deveria se iniciar no 1ª dia do exercício seguinte àquele no qual a DI de admissão foi registrada, para fins de entrada do produto no regime especial. Aduzimos adiante nossas discordâncias: 1) Da natureza do RECOF: diferimento na incidência tributária. Vejamos que a RFB indica que o RECOF se trata de uma suspensão do pagamento dos tributos (nos termos do art. 420 do RA/09), mas logo em seguida menciona que a sua natureza jurídica é de isenção sob condição resolutiva, como se ambos os benefícios fiscais fossem a mesma coisa. Pareceme que não. Fl. 705DF CARF MF 12 Quando há suspensão do pagamento do tributo, pressupõese que ocorreu o fato gerador do mesmo, com a respectiva constituição do crédito tributário, mas cuja obrigatoriedade do pagamento foi suspensa em razão de um benefício fiscal, que diferiu a sua data para momento posterior. É dizer, ocorrida a incidência tributária, com a realização do fato gerador, e exigível o crédito tributário, o Fisco permite um diferimento no pagamento desse tributo. Quanto à "isenção sob condição resolutiva", a dinâmica é diferente. Em havendo isenção, não há que se falar em incidência do tributo, pois este benefício fiscal delimita um campo de "nãoincidência". É dizer, o fato gerador não ocorreu até que se ultime a "condição resolutiva" apontada. Essa singela distinção já evidencia a confusão que cerca este regime especial. Isso se aprofunda quando verificamos o procedimento do RECOF, que se inicia com o registro da DI para despacho de admissão, nos termos do art. 2º, II da IN SRF nº 680/2006 (que traz o rol de despachos aduaneiros de importação), verbis: Art. 2º O despacho aduaneiro de importação compreende: I despacho para consumo, inclusive da mercadoria: a) ingressada no País com o benefício de drawback; b) destinada à ZFM, à Amazônia Ocidental ou a ALC; c) contida em remessa postal internacional ou expressa ou, ainda, conduzida por viajante, se aplicado o regime de importação comum; e d) admitida em regime aduaneiro especial ou aplicado em áreas especiais, na forma do disposto no inciso II, que venha a ser submetida ao regime comum de importação; e II despacho para admissão em regime aduaneiro especial ou aplicado em áreas especiais, de mercadoria que ingresse no País nessa condição. Pois bem, ao ingressar no país gozando do RECOF, o produto submetese a despacho para admissão, e não despacho para consumo (como acontece nos produtos ingressados com benefício do drawback, legítima suspensão do pagamento do tributo), como resta claro do rol de cabimento de cada uma das espécies. A mercadoria sujeita ao RECOF somente se sujeita ao despacho para consumo quando da extinção do regime (sendo uma de suas causas, conforme art. 29, IV da IN RFB nº 1291/2012) em duas hipóteses. Com o registro de nova DI para despacho de consumo, ocorre a chamada nacionalização, em que o produto entra efetivamente no mercado nacional. Senão vejamos: Art. 29. A aplicação do regime se extingue com a adoção, pelo beneficiário, de uma das seguintes providências: IV despacho para consumo: a) das mercadorias estrangeiras admitidas no regime e incorporadas a produto industrializado ao amparo do regime; ou Fl. 706DF CARF MF Processo nº 11829.000036/201056 Acórdão n.º 3402003.670 S3C4T2 Fl. 8 13 b) da mercadoria estrangeira no estado em que foi importada; Ocorre, todavia, que o fato gerador do Imposto de Importação possui uma dimensão temporal peculiar, delimitada legalmente no art. 72 e 73 do RA/09: Art.73. Para efeito de cálculo do imposto, considerase ocorrido o fato gerador: Ina data do registro da declaração de importação de mercadoria submetida a despacho para consumo; II no dia do lançamento do correspondente crédito tributário, quando se tratar de: a)bens contidos em remessa postal internacional não sujeitos ao regime de importação comum; b)bens compreendidos no conceito de bagagem, acompanhada ou desacompanhada; c)mercadoria constante de manifesto ou de outras declarações de efeito equivalente, cujo extravio tenha sido verificado pela autoridade aduaneira; ou d)mercadoria estrangeira que não haja sido objeto de declaração de importação, na hipótese em que tenha sido consumida ou revendida, ou não seja localizada; (Redação dada pelo Decreto nº 7.213, de 2010). III na data do vencimento do prazo de permanência da mercadoria em recinto alfandegado, se iniciado o respectivo despacho aduaneiro antes de aplicada a pena de perdimento da mercadoria, na hipótese a que se refere o inciso XXI do art. 689 (Lei no 9.779, de 19 de janeiro de 1999, art. 18, caput e parágrafo único); ou (Redação dada pelo Decreto nº 7.213, de 2010). IV na data do registro da declaração de admissão temporária para utilização econômica. Parágrafo único. O disposto no inciso I aplicase, inclusive, no caso de despacho para consumo de mercadoria sob regime suspensivo de tributação, e de mercadoria contida em remessa postal internacional ou conduzida por viajante, sujeita ao regime de importação comum. Como se verifica da literalidade do dispositivo, o único caso de incidência do II em casos sujeitos ao ingresso através de despacho para admissão é no caso da admissão temporária para utilização econômica, regidos pela IN RFB nº 1.600/2015 (a exemplo do REPETRO). Isso implica dizer que o caso de bens ingressados sob o benefício do RECOF caem na regra do art. 73, I do RA, ficando sujeitas à ocorrência do fato gerador apenas na data do registro da DI submetida a despacho para consumo. Todavia, como já foi visto anteriormente, o despacho para consumo só ocorre na etapa de nacionalização do produto sujeito ao RECOF, como causa da extinção desse regime especial. É dizer, apenas com a nacionalização do produto, através do registro de DI Fl. 707DF CARF MF 14 para despacho de consumo, é que ocorrerá o fato gerador do II, ou seja, durante todo o período do RECOF, não ocorre o fato gerador, pois não é alcançado o seu elemento temporal estabelecido pela legislação não se atinge o momento de ocorrência descrito na hipótese de incidência tributária! Portanto, não se trata nem de suspensão de pagamento pois o fato gerador sequer ocorreu , nem tampouco de isenção sujeita a condição resolutiva pois não há mutilação em parcela do campo de incidência do imposto, mas sim atipicidade (não ocorrência de todos os elementos da hipótese de incidência). O que há, portanto, é um diferimento temporal da ocorrência do fato gerador para o momento da nacionalização do produto sujeito ao RECOF. Somente a partir do registro da DI para despacho de consumo é que se contará o prazo decadencial, pois somente aí se estará concretizando o fato gerador do Imposto de Importação. 2) Ausência de pagamento vs Inadimplemento da inaplicabilidade do REsp 973.733/SC ao caso em tela. Para determinar o dies a quo do prazo decadencial da obrigação de guarda dos documentos obrigatórios que instruíram o despacho de admissão, utilizouse a Ilustre Relatora do REsp 973.733/SC. Como se verifica da legislação colacionada ao voto da relatora, o prazo decadencial da obrigação acessória de guarda dos documentos coincide com o prazo decadencial do tributo. Entendeu ela que, no caso, "tratase especificamente da documentação necessária para a verificação do adimplemento de um regime especial no qual, no momento do registro das DIs, os tributos incidentes são suspensos inexistindo, portanto, pagamento antecipado. Com a inexistência de pagamento antecipado, afastase a aplicação do art. 150, ,§4º, do CTN, sendo que o prazo de decadência aplicável passa a ser regido pelo art. 173, I, do CTN". Ou seja, ausente o pagamento antecipado, deveria ser aplicado a regra do art. 173, I do CTN. Em primeiro lugar, devemos anotar que, na esteira do que foi defendido no item anterior, sequer há que se falar em obrigação tributária, visto que o fato gerador não fora ocorrido ainda. Afastandose essa ressalva pessoal, resta ainda enfrentar a questão da ausência de pagamento em razão de uma "suspensão da exigibilidade" decorrente do regime especial teria o condão de atrair a aplicação do art. 173, I. Melhor dizendo, em vista da obrigatoriedade da aplicação de decisões em Recursos Repetitivos por parte deste Colegiado, restanos questionar se o caso em tela estaria abarcado no precedente invocado. Entendemos que não. Conquanto a ementa aparente abranger os casos em que o pagamento não foi realizado pela existência de uma causa de suspensão da exigibilidade ou suspensão do pagamento, a leitura do voto do Ministro Relator afasta tal entendimento, especialmente por se tratar de trecho que bem delimita o contexto fático de aplicação do Direito: In casu, consoante assente na origem: (i) cuidase de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos Fl. 708DF CARF MF Processo nº 11829.000036/201056 Acórdão n.º 3402003.670 S3C4T2 Fl. 9 15 imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deuse em 26.03.2001. (P.12) Como o Ministro Luiz Fux colocou em seu voto, um dos requisitos de aplicação do art. 173, I do CTN nos casos de lançamento por homologação é o INADIMPLEMENTO da obrigação ex lege de pagamento antecipado. Quando confrontado o contexto fático do precedente do STJ e o caso em tela, se verifica que, enquanto naquele havia inadimplemento da obrigação de pagamento, neste há apenas ausência de pagamento. Parecenos que tal diferença é assaz relevante para delimitar a aplicação dessa importante decisão vinculante. É comum que a obrigação tributária nasça, mas desprovida de exigibilidade por qualquer motivo que seja. Por exemplo, pensese no interregno de 30 dias que o art. 160 do CTN estabelece para o pagamento do tributo, após a notificação do lançamento durante esse prazo, o contribuinte é devedor, mas não é inadimplente em relação ao Estado, havendo apenas ausência de pagamento (o qual poderia ser legitimamente realizado dentro desses 30 dias). O mesmo se dá quando a constituição do crédito tributário fica a cabo do Contribuinte, através do lançamento por homologação. Uma vez constituído e não pago, já se coloca o sujeito passivo em situação de inadimplemento, haja vista que o prazo de 30 dias é previsto para a notificação de lançamento. Todavia, quando se trata de tributo sujeito a lançamento por homologação, mas cuja exigibilidade esteja suspensa, podese dizer que há a constituição da obrigação tributária, mas ela não é exigível e tampouco entrou o Contribuinte em situação de inadimplência em relação ao Estado. O fato da constituição do crédito se dar pelo Fisco ou pelo Contribuinte é irrelevante para fins de determinar a exigibilidade ou não de determinado tributo, visto que as causas dessa suspensão são taxativas. O que importa, isso sim, é que presentes uma das condições suspensivas, não há que se falar em inadimplemento, e sim mera ausência de pagamento de obrigação não imediatamente exigível. Nos termos do art. 315 do Código Civil, as dívidas devem ser pagas apenas no seu vencimento, pois é a partir daí que se perfaz sua exigibilidade. Se por algum motivo ela continua suspensa, é matemática a conclusão de que a dívida não deve ser paga, inocorrendo inadimplemento. Diante disso, entendo que não há que se aplicar tal precedente para fins de contagem do prazo decadencial na regra do art. 173, I do CTN pois, nas premissas assumidas pela fiscalização, não haveria o indimplemento exigido pelo REsp 973.733/SC para sua aplicação. 3) Conclusão Diante disso, e considerando especialmente as considerações do item 1, acompanho a Conselheira Relatora pelas conclusões, dando provimento ao Recurso de Ofício. É como voto. Fl. 709DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10480.908684/2012-30
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 24 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Oct 06 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Ano-calendário: 2007
COMPENSAÇÃO. REQUISITOS.
É vedada a compensação de débitos com créditos que não possuam os atributos da liquidez e certeza.
ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO NO QUAL SE FUNDAMENTA A AÇÃO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO.
Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado.
PROVA DOCUMENTAL. PRINCÍPIO PROCESSUAL DA VERDADE MATERIAL.
A busca da verdade real não se presta a suprir a inércia do contribuinte que tenha deixado de apresentar, no momento processual apropriado, as provas necessárias à comprovação dos créditos alegados.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3201-002.302
Decisão: ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. Votou pelas conclusões o Conselheiro Pedro Rinaldi de Oliveira Lima.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira, José Luiz Feistauer de Oliveira, Paulo Roberto Duarte Moreira, Mércia Helena Trajano D'Amorim, Cássio Schappo, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima e Tatiana Josefovicz Belisário.
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Ano-calendário: 2007 COMPENSAÇÃO. REQUISITOS. É vedada a compensação de débitos com créditos que não possuam os atributos da liquidez e certeza. ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO NO QUAL SE FUNDAMENTA A AÇÃO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. PROVA DOCUMENTAL. PRINCÍPIO PROCESSUAL DA VERDADE MATERIAL. A busca da verdade real não se presta a suprir a inércia do contribuinte que tenha deixado de apresentar, no momento processual apropriado, as provas necessárias à comprovação dos créditos alegados. Recurso Voluntário Negado.
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DCOMP. Recorrente MAUES LOBATO COMERCIO E REPRESENTACOES LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Anocalendário: 2007 COMPENSAÇÃO. REQUISITOS. É vedada a compensação de débitos com créditos que não possuam os atributos da liquidez e certeza. ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO NO QUAL SE FUNDAMENTA A AÇÃO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. PROVA DOCUMENTAL. PRINCÍPIO PROCESSUAL DA VERDADE MATERIAL. A busca da verdade real não se presta a suprir a inércia do contribuinte que tenha deixado de apresentar, no momento processual apropriado, as provas necessárias à comprovação dos créditos alegados. Recurso Voluntário Negado. ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. Votou pelas conclusões o Conselheiro Pedro Rinaldi de Oliveira Lima. (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira, José Luiz Feistauer de Oliveira, Paulo Roberto Duarte Moreira, Mércia Helena Trajano D'Amorim, Cássio Schappo, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima e Tatiana Josefovicz Belisário. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 48 0. 90 86 84 /2 01 2- 30 Fl. 59DF CARF MF Impresso em 06/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 29/09/2016 por MONICA MONTEIRO GARCIA DE LOS RIOS, Assinado digitalmente em 04/10/2016 por WINDERLEY MORAIS PEREIRA Processo nº 10480.908684/201230 Acórdão n.º 3201002.302 S3C2T1 Fl. 3 2 Relatório MAUES LOBATO COMERCIO E REPRESENTACOES LTDA transmitiu PER/DCOMP alegando indébito de Contribuição para o PIS/Pasep. A DRF/Recife emitiu o Despacho Decisório Eletrônico não homologando a compensação, em virtude de o pagamento informado ter sido integralmente utilizado para quitação de débitos declarados pelo contribuinte, não restando crédito disponível para a compensação declarada. Em Manifestação de Inconformidade a contribuinte alegou que os créditos em questão seriam "relativos a pagamentos a maior ou indevidos de PIS ou COFINS", originados "da retificação dos DACON da empresa, após a realização de auditoria interna", onde teria sido constatado que diversos créditos, oriundos das contribuições PIS e COFINS não cumulativas, não teriam sido contabilizados. Afirmou que realizou a retificação de suas DACON para, posteriormente, apresentar as respectivas PER/DComp. Assim, sustenta que os créditos oriundos dos alegados indébitos estariam plenamente demonstrados nos DACON retificadores entregues eletronicamente à SRF, o que dispensaria a juntada desta demonstração ao processo, conforme determinaria o Art. 37 da Lei 9.784/99. Ao final, alegou que o erro de não ter retificado tempestivamente suas DCTF´s não implica na inexistência de seus créditos. A Manifestação de Inconformidade foi julgada improcedente, nos termos do Acórdão 03059.578, cuja ementa segue transcrita, na parte essencial: APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÃO RETIFICADORA. PROVA INSUFICIENTE PARA COMPROVAR EXISTÊNCIA DE CRÉDITO DECORRENTE DE PAGAMENTO A MAIOR. Para se comprovar a existência de crédito decorrente de pagamento a maior, comparativamente com o valor do débito devido a menor, é imprescindível que seja demonstrado na escrituração contábilfiscal, baseada em documentos hábeis e idôneos, a diminuição do valor do débito correspondente a cada período de apuração. A simples entrega de declaração retificadora, por si só, não tem o condão de comprovar a existência de pagamento indevido ou a maior. DIREITO CREDITÓRIO. ÔNUS DA PROVA. Incumbe ao sujeito passivo a demonstração, acompanhada das provas hábeis, da composição e a existência do crédito que alega possuir junto à Fazenda Nacional para que sejam aferidas sua liquidez e certeza pela autoridade administrativa. DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE CRÉDITO. A compensação de créditos tributários (débitos do contribuinte) só pode ser efetuada com crédito líquido e certo do sujeito passivo, sendo que a compensação somente pode ser autorizada nas condições e sob as garantias estipuladas em lei; no caso, o crédito pleiteado é inexistente. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Fl. 60DF CARF MF Impresso em 06/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 29/09/2016 por MONICA MONTEIRO GARCIA DE LOS RIOS, Assinado digitalmente em 04/10/2016 por WINDERLEY MORAIS PEREIRA Processo nº 10480.908684/201230 Acórdão n.º 3201002.302 S3C2T1 Fl. 4 3 Em seu recurso voluntário a contribuinte traz, em resumo, os seguintes argumentos: a) reitera que a origem de seu direito creditório estaria demonstrada no DACON, e que os valores que originaram os pagamentos a maior e retenções já estariam na base de dados da SRF. Neste ponto, aduz que não lhe foi dada oportunidade de conversão do julgamento em diligência, nem teria sido intimada a juntar novas provas, o que teria prejudicado seu direito ao contraditório e à ampla defesa. Por tudo isto, alega, preliminarmente, que teria havido cerceamento de seu direito de defesa, solicitando a anulação da decisão da DRJ; b) reclama que bastaria uma simples comparação dos DACON com os valores recolhidos pela empresa para verificar a procedência do direito pleiteado, alegando que o parágrafo único do Art. 26 do Decreto 7.574/2011 determina que a prova da inveracidade dos fatos registrados caberia à autoridade fiscal. Desta forma, estaria se impondo um ônus injustificado ao contribuinte; c) reclama, ainda, que não teria havido uma recusa fundamentada acerca do pedido de produção de prova posterior, conforme determinaria o Art. 39, par. único, da Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo. Portanto, a decisão recorrida deveria ser anulada, conforme determinaria o Art. 53 do mesmo diploma legal. Neste sentido, sustenta que as diretrizes da verdade material devem ser observadas pelos agentes da administração e transcreve ementas de julgados que ilustram seus argumentos; d) solicita, ao final, a anulação da decisão recorrida por violações aos princípios da razoabilidade, proporcionalidade, informalidade e verdade material. Pede, ainda, que após a anulação da decisão da DRJ seja reconhecido seu direito creditório com a conseqüente homologação das compensações declaradas, ou seja o julgamento convertido em diligência. É o relatório. Voto Conselheiro Winderley Morais Pereira, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3201002.265, de 24/08/2016, proferido no julgamento do processo 10480.908649/201211, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3201002.265): "Observados os pressupostos recursais, a petição de fls. 43 a 52 merece ser conhecida como recurso voluntário contra o Acórdão DRJ/Brasília/4ª Turma, nº 0359.543, de 27 de fevereiro de 2014. Fl. 61DF CARF MF Impresso em 06/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 29/09/2016 por MONICA MONTEIRO GARCIA DE LOS RIOS, Assinado digitalmente em 04/10/2016 por WINDERLEY MORAIS PEREIRA Processo nº 10480.908684/201230 Acórdão n.º 3201002.302 S3C2T1 Fl. 5 4 O recorrente invoca, preliminarmente, o princípio processual da verdade material. O que deve ficar assente é que o referido princípio destinase à busca da verdade que está para além dos fatos alegados pelas partes, mas isto num cenário dentro do qual as partes trabalharam proativamente no sentido do cumprimento do seu ônus probandi. Em outras palavras, o principio da verdade material autoriza o julgador a ir além dos elementos de prova trazidos pelas partes, quando tais elementos de prova induzem à suspeita de que os fatos ocorreram não da forma como esta ou aquela parte afirma, mas de uma outra forma qualquer (o julgador não está vinculado às versões das partes). Mas isto, à evidência, nada tem a ver com propiciar à parte que tem o ônus de provar o que alega/pleiteia, a oportunidade de produzir algo que, do ponto de vista estritamente legal, já deveria compor, como requisito de admissibilidade, o pleito desde sua formalização inicial. Dito de outro modo: da mesma forma que não é aceitável que um lançamento seja efetuado sem provas e que se permita posteriormente, em sede de julgamento ou por meio de diligências, tal instrução probatória, também não é aceitável que um pleito, onde se objetiva a restituição de um alegado crédito, seja proposto sem a devida e minuciosa demonstração e comprovação da efetiva existência do indébito e que posteriormente, também em sede de julgamento, se oportunize tais demonstração e comprovação. Com essa introdução, entendo que deve ser afastada a insinuação recursal, implícita no brado pelo princípio da verdade material, de que esta instância de julgamento estaria obrigada a acolher todos e quaisquer documentos que por ventura acompanhem o recurso, primeiro porque existe um evidente limite temporal para a apresentação de provas no rito instituído pelo Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972 – PAF que no presente caso é o momento processual da apresentação da manifestação de inconformidade, segundo porque o ônus probatório aqui é do contribuinte, quando este pleiteia um ressarcimento ou uma restituição de indébito, tem a obrigação de comprovar inequivocamente o seu alegado direito creditório no momento que contesta o despacho decisório e instaura o contencioso. No caso, a decisão recorrida não acolheu a alegação de erro na apuração da contribuição social, nem a simples retificação do DACON para efeito de alterar valores originalmente declarados, porque o declarante, em sede de manifestação de inconformidade, não se desincumbiu do ônus probatório que lhe cabia e não juntou nos autos seus registros contábeis e fiscais, acompanhados de documentação hábil, para infirmar a motivo que levou a autoridade fiscal competente a não homologar a compensação ou mesmo para eventualmente comprovar a alegada inclusão indevida de valores na base de cálculo das contribuições, que poderiam levar à reduções de valores dos débitos confessados em DCTF. Novamente, agora já em sede de recurso voluntário, o interessado não aportou aos autos qualquer documentação probatória, limitandose a bradar contra alegadas violações à princípios constitucionais e também a afirmar que todas as informações já constariam na base de dados da SRF, que portanto não haveria necessidade da juntada de quaisquer outros documentos e ainda, que caso tais informações se revelassem insuficientes, deveria ter sido solicitada a realização de diligência. Fl. 62DF CARF MF Impresso em 06/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 29/09/2016 por MONICA MONTEIRO GARCIA DE LOS RIOS, Assinado digitalmente em 04/10/2016 por WINDERLEY MORAIS PEREIRA Processo nº 10480.908684/201230 Acórdão n.º 3201002.302 S3C2T1 Fl. 6 5 Conforme bem apontou a decisão da DRJ, a declaração do contribuinte em DCTF constituise em confissão de dívida, o que confere liquidez e certeza à obrigação tributária. No atual momento processual, para se comprovar a liquidez e certeza do crédito informado na Declaração de Compensação seria imprescindível uma cabal demonstração na escrituração contábilfiscal da contribuinte, baseada em documentos hábeis e idôneos, da alegada diminuição do valor do débito correspondente a cada período de apuração. As alegações de defesa são faculdades do demandado, mas constituemse em verdadeiro ônus processual, uma vez que a juntada das provas aos autos dever ser praticada no tempo certo, sob pena de preclusão, isto porque o processo é um caminhar para a frente, não se admitindo, em regra, ressuscitar questões já ultrapassadas em fases anteriores. Conforme o § 4º do art. 16 do PAF, só é lícito deduzir novas alegações em supressão de instância quando: relativas a direito superveniente, demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior ou destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. Compete ainda ao julgador administrativo conhecer de ofício de matérias de ordem pública, a exemplo da decadência; ou por expressa autorização legal. Finalmente, o § 5º do mesmo dispositivo legal exige que a juntada dos documentos deve ser requerida à autoridade julgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas nas alíneas do parágrafo anterior. Art. 16. A impugnação mencionará: (...) III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) (...) § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) b) refirase a fato ou a direito superveniente; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) § 5º A juntada de documentos após a impugnação deverá ser requerida à autoridade julgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas nas alíneas do parágrafo anterior.(Redação dada pela Lei nº 9.532, de 1997) (...) Fl. 63DF CARF MF Impresso em 06/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 29/09/2016 por MONICA MONTEIRO GARCIA DE LOS RIOS, Assinado digitalmente em 04/10/2016 por WINDERLEY MORAIS PEREIRA Processo nº 10480.908684/201230 Acórdão n.º 3201002.302 S3C2T1 Fl. 7 6 Contudo, no caso desses autos, o recorrente sequer se preocupou em trazer oportunamente os documentos que comprovariam suas alegações, ônus que lhe competia, segundo o sistema de distribuição da carga probatória adotado pelo Processo Administrativo Federal: o ônus de provar a veracidade do que afirma é do interessado, segundo o disposto na Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999, art. 36. Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, sem prejuízo do dever atribuído ao órgão competente para a instrução e do disposto no artigo 37 desta Lei. No mesmo sentido o art. 330 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (CPC). Art. 333. O ônus da prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II – ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. A comprovação do valor do tributo efetivamente devido (e, por conseqüência, do direito à restituição de eventual parcela recolhida a maior) no caso concreto deveria ter sido efetuada mediante apresentação oportuna de documentos contábeis e/ou fiscais capazes de efetivamente demonstrar que o valor da contribuição do período de apuração de interesse não teria atingido o valor informado na DCTF vigente quando da emissão do Despacho Decisório aqui analisado, mas apenas o valor informado na DCTF retificadora (que no presente caso sequer efeitos surte quanto à redução deste débito) e no DACON retificador, de caráter meramente informativo. Como o contribuinte sequer procurou juntar aos autos qualquer tipo de documentação na intenção de demonstrar que efetivamente seria titular do alegado direito creditório, eventuais créditos do contribuinte contra a Fazenda Pública ficam sem a devida comprovação de sua certeza e liquidez, atributos indispensáveis para a homologação da compensação pretendida, nos termos do art. 170 do CTN. Restam, portanto, descabidas as demais alegações quanto às supostas violações à ampla defesa, bem como aos demais princípios constitucionais da razoabilidade, proporcionalidade e informalidade. Sobre a jurisprudência trazida à colação pelo recorrente, devese contrapor que se tratam de decisões isoladas, que não se enquadram ao caso em exame e nem vinculam o presente julgamento, podendo cada instância decidir livremente, de acordo com suas convicções. Além disso, tratamse de precedentes que não constituem normas complementares, não têm força normativa, nem efeito vinculante para a administração tributária, pela inexistência de lei nesse sentido, conforme exige o art. 100, II, do CTN. Alertandose para a estrita vinculação das autoridades administrativas ao texto da lei, no desempenho de suas atribuições, sob pena de responsabilidade, motivo pelo qual tais decisões não podem ser aplicadas fora do âmbito dos processos em que foram proferidas. Com essas considerações, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário do Contribuinte, para não reconhecer o direito creditório em litígio e manter a não homologação das compensações." Fl. 64DF CARF MF Impresso em 06/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 29/09/2016 por MONICA MONTEIRO GARCIA DE LOS RIOS, Assinado digitalmente em 04/10/2016 por WINDERLEY MORAIS PEREIRA Processo nº 10480.908684/201230 Acórdão n.º 3201002.302 S3C2T1 Fl. 8 7 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, negase provimento ao recurso voluntário, para não reconhecer o direito creditório em litígio e manter a não homologação das compensações. Winderley Morais Pereira Fl. 65DF CARF MF Impresso em 06/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 29/09/2016 por MONICA MONTEIRO GARCIA DE LOS RIOS, Assinado digitalmente em 04/10/2016 por WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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Numero do processo: 13804.001989/2002-35
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Dec 06 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Tue Jan 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Ano-calendário: 2001
INCLUSÃO DO FRETE NA BASE DE CÁLCULO DO CRÉDITO PRESUMIDO DE IPI. APROVEITAMENTO. POSSIBILIDADE.
O frete, poderá ser aceito no cálculo do crédito presumido, desde que haja a efetiva comprovação do custo suportado pelo adquirente por ocasião de insumos utilizados no processo produtivo.
CRÉDITO PRESUMIDO SOBRE PRODUTOS NÃO TRIBUTADOS PELO IPI -NT
A exportação de produtos NT não gera direito ao aproveitamento do crédito presumido do IPI, Lei nº 9.369/96, por não estarem os produtos dentro do campo de incidência do imposto.
CRÉDITO PRESUMIDO.ATUALIZAÇÃO PELA TAXA SELIC
Na forma reiterada da jurisprudência oriunda do STJ, é cabível a correção monetária ao creditamento de crédito presumido de IPI de que trata a Lei nº 9.363/96, bem como a aplicação da taxa Selic acumulada a partir da data de protocolização do pedido administrativo, a título de atualização monetária do valor requerido, quando o seu deferimento decorre de ilegítima resistência por parte da Administração tributária (RESP 993.164). As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelo art. 543C do Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF.
Numero da decisão: 9303-004.419
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado,por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por maioria de votos, em dar-lhe provimento parcial, apenas quanto ao direito ao crédito presumido sobre produtos que constam na TIPI com notação NT (não tributados), vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama, Erika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello, que negaram provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Demes Brito - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello
Nome do relator: DEMES BRITO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI Ano-calendário: 2001 INCLUSÃO DO FRETE NA BASE DE CÁLCULO DO CRÉDITO PRESUMIDO DE IPI. APROVEITAMENTO. POSSIBILIDADE. O frete, poderá ser aceito no cálculo do crédito presumido, desde que haja a efetiva comprovação do custo suportado pelo adquirente por ocasião de insumos utilizados no processo produtivo. CRÉDITO PRESUMIDO SOBRE PRODUTOS NÃO TRIBUTADOS PELO IPI -NT A exportação de produtos NT não gera direito ao aproveitamento do crédito presumido do IPI, Lei nº 9.369/96, por não estarem os produtos dentro do campo de incidência do imposto. CRÉDITO PRESUMIDO.ATUALIZAÇÃO PELA TAXA SELIC Na forma reiterada da jurisprudência oriunda do STJ, é cabível a correção monetária ao creditamento de crédito presumido de IPI de que trata a Lei nº 9.363/96, bem como a aplicação da taxa Selic acumulada a partir da data de protocolização do pedido administrativo, a título de atualização monetária do valor requerido, quando o seu deferimento decorre de ilegítima resistência por parte da Administração tributária (RESP 993.164). As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelo art. 543C do Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF.
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APROVEITAMENTO. POSSIBILIDADE. O frete, poderá ser aceito no cálculo do crédito presumido, desde que haja a efetiva comprovação do custo suportado pelo adquirente por ocasião de insumos utilizados no processo produtivo. CRÉDITO PRESUMIDO SOBRE PRODUTOS NÃO TRIBUTADOS PELO IPI NT A exportação de produtos NT não gera direito ao aproveitamento do crédito presumido do IPI, Lei nº 9.369/96, por não estarem os produtos dentro do campo de incidência do imposto. CRÉDITO PRESUMIDO.ATUALIZAÇÃO PELA TAXA SELIC Na forma reiterada da jurisprudência oriunda do STJ, é cabível a correção monetária ao creditamento de crédito presumido de IPI de que trata a Lei nº 9.363/96, bem como a aplicação da taxa Selic acumulada a partir da data de protocolização do pedido administrativo, a título de “atualização monetária” do valor requerido, quando o seu deferimento decorre de ilegítima resistência por parte da Administração tributária (RESP 993.164). As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelo art. 543C do Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado,por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por maioria de votos, em darlhe provimento parcial, apenas quanto ao direito ao crédito presumido sobre produtos que constam na TIPI com notação NT (não tributados), AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 80 4. 00 19 89 /2 00 2- 35 Fl. 1262DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.263 2 vencidas as conselheiras Tatiana Midori Migiyama, Erika Costa Camargos Autran e Vanessa Marini Cecconello, que negaram provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Demes Brito Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello Relatório Tratase de Recurso Especial de Infringência e divergência interposto pela Fazenda Nacional, com fundamento no Inciso I do artigo 7º ( contrariedade à lei ou à evidência de prova) do antigo Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, Portaria MF nº 147, de 25 de junho de 2007, contra o acórdão nº 20401.462, proferido pela 4ª Câmara de julgamento do extinto Segundo Conselho de Contribuintes, que decidiu dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, para reconhecer o direito de incluir no cálculo do benefício o valor de frete constante das notas fiscais de aquisições das mercadorias, incluir nas receitas de exportação o valor correspondente às exportações de produtos NT, e atualização pela Taxa Selic a partir do protocolo do pedido. Transcrevo, inicialmente, excerto do relatório da decisão de primeiro grau: "Tratase de recurso voluntário contra decisão da DRJ Ribeirão Preto SP (fls. 1120/1130) que manteve o despacho da unidade local da SRF que indeferiu parcialmente o pedido de ressarcimento do crédito presumido (fls. 573/577), relativo ao quarto trimestre de 2001, sob o fundamento que os produtos exportados classificados como NT não entrariam no valor da receita de exportação, que os produtos adquiridos sem incidência do PIS e Cofins não podem entrar no cálculo do benefício, assim como no cômputo daquele não incluem insumos que não sejam utilizados na produção (MP, PI, ME), no caso específico energia elétrica utilizada na produção, fretes, serviços de telefonia e insumos importados. Aduziu a r. decisão que a empresa não questionou a correção efetuada pela fiscalização que considerou nos cálculos a participação dos insumos nos estoques de produtos acabados e em elaboração, enquanto a peticionante, no seu pleito, deixou de fora de seu cálculo os valores correspondentes aos insumos e matéria prima incluídas nos estoques de produtos acabados e em elaboração, bem como considerou os saldos totais de produtos em elaboração e acabados existente em 01/01/2002". A decisão restou assim ementada: Fl. 1263DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.264 3 ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Anocalendário: 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994 DECISÃO JUDICIAL. OBSERVÂNCIA DA SENTENÇA. Ocorrendo a sentença final com trânsito em julgado, a decisão judicial é de cumprimento obrigatório pela Administração Tributária. Recurso Voluntário Negado IPI.CRÉDITO PRESUMIDO. LEI N° 9.363/96 e LEI 10.276/2001. AQUISIÇÕES AONDE NÃO HAJA INCIDÊNCIA DE PIS E COFINS. Tendo a Lei n° 9.363/96 instituído um benefício fiscal a determinados contribuintes, com conseqüente renúncia fiscal, deve ela ser interpretada restritivamente. Assim, se a Lei dispõe que farão jus ao crédito presumido, com o ressarcimento das contribuições Cofins e PIS incidentes sobre as aquisições dos insumos utilizados no processo produtivo, não há que se falar no favor fiscal quando não houver incidência das contribuições na última aquisição, como no caso de aquisições de pessoas físicas ou de cooperativas. CRÉDITO PRESUMIDO. LEI N° 9.363/98. INCLUSÃO DO FRETE NA BASE DE CÁLCULO. O valor do frete. cobrado do adquirente e incluído no valor da nota fiscal de aquisição das matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagem, deve compor a base de cálculo do crédito presumido do PIS/Pasep/Cofins, nos termos do artigo 2° da Lei n°9.363/98. EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS CLASSIFICADOS NA TIPI COMO "NT". O art. 1° da Lei n° 9.363/96 prevê crédito presumido de IPI como ressarcimento de PIS e Cofins em favor de empresa produtora e exportadora de mercadorias nacionais. Referindose a lei a "mercadorias" e foi dado o benefício fiscal ao gênero, não cabendo ao intérprete restringilo apenas aos "produtos industrializados" que são uma espécie do gênero "mercadorias". APLICAÇÃO TAXA SELIC Não se revestindo a atualização monetária de nenhum plus, deve ser aplicada aos valores a serem ressarcidos a título de incentivo fiscal, sob pena de afrontar a própria lei instituidora do benefício. se este tiver seu valor corroído pelos efeitos da inflação. De outro turno, a não aplicação de qualquer índice para recompor o valor de compra da moeda revestese de verdadeiro enriquecimento ilícito da outra parte Recurso parcialmente provido. Cientificada, a Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial, recurso esse admitido pelo Presidente da 4ª Câmara do extinto Segundo Conselho de Contribuintes, suscitando contrariedade à legislação tributária, especialmente, quanto ao artigo 15 da lei nº 7.798/89, modificada pelo artigo 14 da lei nº 4.502/64, a não aplicação da Taxa Selic, em razão de não ser correta a expansão por analogia do disposto do art. 66, parágrafo, 3º da lei nº Fl. 1264DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.265 4 9.383/91, bem como, pela impossibilidade do exportador ressarcir crédito presumido de IPI de produtos NT. O Recurso Especial foi admitido fls. 1196, quanto à inclusão do frete na base de cálculo do crédito presumido de IPI, incidência de correção monetária ( Taxa Selic) sobre o crédito de IPI, e quanto ao direito ao crédito presumido sobre produtos não tributados pelo IPI NT. Tendo sido cientificado, por meio de edital, do acórdão do Segundo Conselho de Contribuintes, do Recurso Especial da Fazenda Nacional e do Exame de Admissibilidade, a Contribuinte apresentou contrarrazões fls. 1213/1230. É o relatório. Voto Demes Brito Conselheiro Relator O Recurso interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais requisitos de Admissibilidade, dele conheço. A matéria aceita como divergente no Recurso cingese especialmente quanto: (i) a impossibilidade de inclusão do frete na base de cálculo do crédito presumido de IPI; (ii) á incidência de correção monetária sobre crédito de IPI (Taxa Selic); e (iii) direito ao crédito presumido sobre produtos que constam na TIPI com notação NT (não tributados). Inclusão do Frete na Base de Cálculo do Crédito Presumido de IPI A Fazenda Nacional se insurge contra a possibilidade de inclusão dos valores referentes à prestação de serviços de transporte no cálculo do crédito presumido de IPI da Lei nº 9.363/96. Com objetivo de fomentar as exportações de produtos industrializados, de alto valor agregado, a União criou o crédito presumido de IPI como forma de ressarcimento das contribuições sociais do PIS e COFINS, incidentes sobre as aquisições, no mercado interno (nacionais), de matériasprimas, produtos intermediários e material de embalagem, utilizados no processo produtivo de bens exportados. Para regulamentar o credito presumido, foi instituída Lei nº 9.363/96, que adveio da MP 948/95 e reedições. Os requisitos para gozar do benefício esta atrelado com o compromisso de exportar produtos industrializados, a lei criou o ressarcimento ao produtor e exportador do pagamento das contribuições PIS e COFINS, incidentes no processo de produção da mercadoria a ser exportada. Neste sentido, penso que assiste razão a Fazenda Nacional, a qual sustenta que a matéria envolve renúncia fiscal e, por isso, interpretase restritivamente a lei instituidora do benefício. Não havendo, na norma, previsão de que o frete seja computado no cálculo do crédito presumido, não há como se orientarse em sentido contrário, de modo a ampliar seu alcance. Fl. 1265DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.266 5 Com efeito, a base de cálculo do crédito presumido será determinada mediante aplicação de um percentual sobre o valor total das aquisições de matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagem, o que em via reflexa, contempla o frete, desde que, haja a efetiva comprovação do custo arcado pelo adquirente, "o que fica embutido no custo da mercadoria e faz parte da base de cálculo do benefício. Contudo, se for custeado pelo fornecedor, o frete não poderá entrar no cálculo do benefício, pois não se subsumirá aos conceitos de matéria prima, produto intermediário ou de material embalagem1". Apesar da lei nº 9.393/96, instituir o benefício, o frete, poderia ser aceito no cálculo do crédito presumido, caso se configurasse alguma das hipóteses contempladas no artigo 15, da lei nº 7.798/89, modificada pelo artigo 14 da lei nº 4.505/64, a qual, permite a inclusão no valor tributável do IPI, quando debitado ou cobrado por firma coligada, controlada ou controladora ou interligada do estabelecimento da Contribuinte ou por firma com a qual a Contribuinte tenha relação de interdependência, ainda que o frete seja subcontratado. Vejamos: Art. 15. O art. 14 da Lei nº 4.502, com a alteração introduzida pelo art. 27 do DecretoLei nº. 1.593, de 21 de dezembro de 1977, mantido o seu inciso I, passa a vigorar a partir de 1° de julho de 1989 com a seguinte redação: "Art. 14. Salvo disposição em contrário, constitui valor tributável: I .......................................... II quanto aos produtos nacionais, o valor total da operação de que decorrer a saída do estabelecimento industrial ou equiparado a industrial. § 1º. O valor da operação compreende o preço do produto, acrescido do valor do frete e das demais despesas acessórias, cobradas ou debitadas pelo contribuinte ao comprador ou destinatário. § 2º. Não podem ser deduzidos do valor da operação os descontos, diferenças ou abatimentos, concedidos a qualquer título, ainda que incondicionalmente. § 3º. Será também considerado como cobrado ou debitado pelo contribuinte, ao comprador ou destinatário, para efeitos do disposto no § 1º, o valor do frete, quando o transporte for realizado ou cobrado por firma coligada, controlada ou controladora (Lei nº. 6.404) ou interligada (DecretoLei nº. 1.950) do estabelecimento contribuinte ou por firma com a qual este tenha relação de interdependência, mesmo quando o frete seja subcontratado." § 4º. Será acrescido ao valor da operação o valora das matériasprimas, produtos intermediários e material de embalagem, nos casos de remessa de produtos industrializados por encomenda, desde que não se destinem a comércio, a emprego na industrialização ou no acondicionamento de produtos tributados, quando esses insumos tenham sido fornecidos pelo próprio encomendante, salvo se se tratar de insumos usados." 1 Acórdão 9303001.469 CSRF. Razões de Decidir do Conselheiro Gilson Macedo Rosenburg Filho Relator Fl. 1266DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.267 6 Na trilha da tese da Fazenda Nacional, de que somente em casos de frete debitado ou cobrado pelo Contribuinte ao comprador ou destinatário é que seria possível incluílo no cálculo do crédito presumido. Verifico junto aos autos, que o frete foi assumido pela Adquirente Contribuinte, conforme nota fiscal abaixo fls.377, logo, seu valor deve compor a base de cálculo do benefício. Vejamos: Portanto, legítimo o direito da Contribuinte quanto a parcela de crédito presumido referente ao frete por ela suportado. Neste sentido, colaciono parte do voto do Ilustre Conselheiro Gilson Rosemburg Filho, nos autos do acórdão nº 9303001.469, proferido neste plenário, apesar de vencido, quanto ao creditamento de IPI NT, em suas razões de decidir, deu provimento ao Fl. 1267DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.268 7 Recurso da Contribuinte no sentido de incluir custos com fretes no cálculo do crédito presumido do IPI. Vejamos: Acórdão nº 9303001.469 "A Fazenda Nacional se insurge contra a possibilidade de inclusão dos valores referentes à prestação de serviços de transporte no cálculo do crédito presumido de IPI da Lei nº 9.363/96. O crédito presumido é uma forma de desoneração fiscal. São créditos que não estão relacionados com a operação direta do contribuinte. É uma ficção jurídica utilizada pelo legislador, cujo intuito é ressarcir o contribuinte do ônus arcado em operações anteriores. O crédito presumido como ressarcimento do PIS e da Cofins foi regulamentado pela Lei nº 9.363/96. Tal benefício tinha como objetivo o fomento das atividades industriais relacionadas às exportações. Tratase de um crédito correspondente ao ressarcimento das ditas contribuições incidentes na aquisição, no mercado interno, dos principais insumos do contribuinte do IPI, a saber: matériaprima, produto intermediário e material de embalagem. Observe que os insumos tinham que ser utilizados no processo industrial das empresas relacionadas às atividades de exportação. Foi, então, estabelecido um percentual (que resulta da relação entre a receita de exportação e a receita operacional bruta) a incidir sobre os custos com matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagem utilizados no produto exportado, para a obtenção da base de cálculo do benefício. O crédito fiscal resultará da aplicação do percentual de 5,37% sobre a base de cálculo acima descrita. Após essa breve digressão, retornando aos autos, o recorrente colima afastar os valores dos custos com fretes da base de cálculo do crédito presumido do IPI instituído pela Lei nº 9.363/96. Como dito alhures, a base de cálculo do crédito presumido será determinada mediante aplicação de um percentual sobre o valor total das aquisições de matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagem. A pergunta evidente é onde se encaixam os fretes na sistemática da Lei nº 9.363/96. Respondo de forma simples, se o valor do frete for arcado pelo adquirente, fica embutido no custo da mercadoria e faz parte da base de cálculo do benefício. Contudo, se for custeado pelo fornecedor, o frete não poderá entrar no cálculo do benefício, pois não se subsumirá aos conceitos de matériaprima, produto intermediário ou de material de embalagem. No caso em questão, o frete foi assumido pelo adquirente, conforme consta nos documentos aduzidos aos autos, de sorte que seu valor deverá compor a base de cálculo do benefício. CRÉDITO PRESUMIDO DE IPI. FRETES. VINCULAÇÃO AOS INSUMOS UTILIZADOS NO PROCESSO PRODUTIVO.APROVEITAMENTO. Fl. 1268DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.269 8 De se permitir na formação do cálculo presumido de IPI a inclusão dos gastos com fretes pagos e destacados nas notas fiscais por ocasião de insumos utilizados no processo produtivo. TAXA SELIC. SÚMULA nº 411STJ. É devida a correção monetária ao creditamento do IPI quando há oposição ao seu aproveitamento decorrente de resistência ilegítima do Fisco. Rel. Min. Luiz Fux, em 25/11/2009. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelo art. 543C do Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Recurso Especial do Procurador Negado. Acordam os membros do Colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso especial. Vencidos os Conselheiros Gilson Macedo Rosenburg Filho (Relator), Henrique Pinheiro Torres, Rodrigo da Costa Pôssas e Otacílio Dantas Cartaxo, que davam provimento parcial quanto à exportação de produtos NT. Designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Nanci Gama". Ante tais argumentos, mantenho a inclusão do Frete na Base de Cálculo do Crédito Presumido de IPI, nego provimento ao Recurso da Fazenda Nacional neste ponto. Crédito presumido sobre Produtos não tributados pelo IPI (NT) Receita de Exportação Quanto a possibilidade de se reconhecer o direito à fruição do incentivo fiscal instituído pela lei nº 9.363/96, denominado crédito presumido de IPI como ressarcimento das contribuições para o PIS e COFINS a pessoas jurídicas que elaboram produtos cuja notação na TIPI é NT ( não tributado), a qual, encontrase fora do campo da incidência do IPI, assisti razão a Fazenda Nacional, a decisão recorrida merece reparo. No que tange essa matéria, utilizo em minhas razões de decidir, o Voto do Ilustre Conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, no acórdão nº 9303003.462, julgado por esta Câmara Superior, o qual se negou provimento Recurso no sentido de não gerar direito a crédito presumido de IPI produtos fora do campo de incidência do imposto. Vejamos: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/01/1999 a 31/03/1999 IPI. CRÉDITOS. PRODUTOS NÃO TRIBUTADOS (NT). Fl. 1269DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.270 9 A exportação de produtos NT não gera direito ao aproveitamento do crédito presumido do IPI, Lei nº 9.369/96, por não estarem os produtos dentro do campo de incidência do imposto. Recurso Especial do Contribuinte Negado. O recurso interposto pelo contribuinte é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, dele conheço. A matéria objeto da divergência apontada pelo sujeito passivo diz respeito à questão do direito ou não ao crédito presumido de IPI, como forma de ressarcimento do PIS e da COFINS nas exportações de produtos que constam da TIPI com a notação NT (não tributados). Realmente é uma matéria divergente como demonstrou o contribuinte em seu Recurso Especial. Assim, conheço o recurso e passo a análise do mérito. Visando incentivar as exportações de produtos industrializados, de alto valor agregado, a União criou o crédito presumido de IPI como uma forma de ressarcimento das contribuições sociais do PIS e COFINS, incidentes sobre as aquisições, no mercado interno (nacionais), de matérias primas, produtos intermediários e material de embalagem, utilizados no processo produtivo de bens exportados. Tal crédito presumido foi criado pela Lei 9.363/96, que adveio da MP 948/95 e reedições. Para o cumprimento do objetivo a lei criou o ressarcimento ao produtor e exportador do pagamento das contribuições PIS e COFINS, incidentes no processo de produção da mercadoria a ser exportada. Tal discussão tem resultado em interpretações divergentes no Poder Judiciário o no próprio CARF. A depender das composições dos tribunais, tanto administrativos quanto judiciais, o resultado dos julgamentos tem dado soluções divergentes, ora permitindo, ora negando, o direito ao creditamento previsto na referida lei. Isso causa uma insegurança jurídica nos contribuintes. Já é hora de tentar pacificar a questão, mesmo sabendo que não é uma tarefa fácil. Até porque os nossos tribunais superiores ainda não se manifestaram a respeito. Porém já percebemos uma certa tendência dos Tribunais Regionais Federais de negar o aproveitamento do créditos nos casos em que as mercadorias exportação não são consideradas industrializadas (NT). Podemos citar como exemplos de decisões que negaram o aproveitamento do crédito: TRF da 3ª Região, Apelação em MS 309.564/MS, Processo 2005.61.00.0013479, Rel. Juiz convocado Des. Federal Roberto Jeuken, 3ª T., julg. 04/12/2008, DJ 20/01/2009. Apelação cível 1.245.945/MS, processo 1999.61.00.0019753, Rel. Des. Federal Cecília Marcondes, 3ª T., julg. 27/11/2008, DJ 09/12/2008. TRF da 5ª Região, AMS 89.109/PE, Processo 000236988.2003.4.058308, Rel. Des. Federal Francisco Barros Dias, 2ª T., julg. 18/08/2009, DJ, Fl. 1270DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.271 10 11/09/2009. Apelação em MS93782/PE, Processo 000992245.2005.4.05.8300/ 03, Rel. Des. Federal Rivaldo Costa, 3ª T., DJ 28/08/2007. Como já dissemos, os Tribunais Superiores ainda não se manifestaram diretamente sobre o tema. Para continuarmos a discorrer sobre o tema, é essencial ao deslinde da demanda, determinar se os produtos com a classificação “NT” na TIPI, que trata de produtos em que não há a incidência do IPI, por não serem industrializados e, portanto, não estarem no campo de incidência do imposto, podem se caracterizar como produtos originários de empresa produtora e exportadora descrita no art. 1º da Lei 9.363/96, transcrito abaixo. A lei, muita das vezes, apesar de não ser o meio ideal, deve dar definições aos institutos. Tal conduta do legislador serve para dar contornos precisos a alguns termos usados, como por exemplo o conceito de produto industrializado. A lei assim o faz. E mais. A Legislação complementar é de suma importância, quando traz a tabela TIPI com informações de quais produtos seriam NT e que tais produtos estariam forma do campo de incidência do IPI, não sendo considerados, portanto, produtos industrializados. O benefício fiscal chamado “Crédito Presumido de IPI Exportações” consiste em um crédito adicional de IPI para sociedades industriais que diretamente ou indiretamente exportam seus produtos industrializados ao mercado internacional. Tem como objetivo principal desonerar a cadeia produtiva dos produtos a serem exportados do custo econômico da COFINS e do PIS, conforme podemos notar pelo texto do art. 1º da Lei 9.363/96: Art. 1º A empresa produtora e exportadora de mercadorias nacionais fará jus a crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados, como ressarcimento das contribuições de que tratam as Leis Complementares nos 7, de 7 de setembro de 1970, 8, de 3 de dezembro de 1970, e 70, de 30 de dezembro de 1991, incidentes sobre as respectivas aquisições, no mercado interno, de matériasprimas, produtos intermediários e material de embalagem, para utilização no processo produtivo”. “Parágrafo Único O disposto neste artigo aplicase, inclusive, nos casos de venda a empresa comercial exportadora com o fim específico de exportação para o exterior”. Considerandose, então, que o artigo 1° da Lei 9.363/96 autoriza a fruição do beneficio do crédito presumido do IPI às empresas que satisfaçam, cumulativamente, dentre outras, a duas condições — ser produtora e ser exportadora —, não resta dúvida quanto à total impossibilidade de existência e aproveitamento de crédito do IPI para os estabelecimentos cujos produtos fabricados são classificados como NT na TIPI. Isso porque os estabelecimentos que produzem mercadorias NT não são considerados como produtor, para efeitos da legislação fiscal. Com efeito, se nas operações relativas aos produtos não tributados a empresa não é considerada como produtora, ela não satisfaz, por conseguinte, a uma das condições Fl. 1271DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.272 11 impostapelo beneficio em análise, qual seja, o de ser produtora. Esta condição está intimamente relacionada à própria natureza do crédito presumido. Ser industrializado o produto exportado é característica essencial da finalidade da lei: estimulo às empresas para que destinem seus produtos com maior valor agregado à exportação, melhorando nossa balança comercial e reduzindo a taxa de desemprego. São justamente os produtos industrializados que agregam mais fatores de produção, sobretudo mãodeobra. São eles que possuem cadeia produtiva mais extensa e, portanto, de maior influência para o desenvolvimento econômico. Não é a exportação de produtos primários que se procurou estimular, já que esta sempre foi a vocação do país ao longo de toda a sua história. Com efeito, cabe aos intérpretes das leis, trazer o real e correto significado das normas nela contidas. Se a norma é dúbia cabe aos operadores do direito a sua correta interpretação, conforme as técnicas da ciência da Hermenêutica Jurídica, e não fazer a interpretação de modo aleatório e intuitivo. Nem mesmo uma interpretação literal do art. 1º da referida lei poderia levar concluir que a empresa produtora e exportadora também abarcaria àquelas que não são contribuintes do imposto. Porém, como já dito, esse seria o pretenso resultado de uma interpretação meramente literal. Esse tipo de análise somente pode ser feito quando a lei expressamente determinar. Pelo contrário, qualquer tipo de interpretação nos levaria ao mesmo resultado, como acontece com os texto legais bem elaborados. Deve, neste caso, fazer uma interpretação sistemática, que consiste em harmonizar a presente norma de um modo contextualizado com todo o texto da mesma lei e com o arcabouço legal pátrio, principalmente na área tributária. Teremos de fazer a nossa análise em conjunto com toda a legislação que rege o IPI. Em um estudo da lei incentivadora, nos artigos posteriores ao 1º, o legislador já deixa mais claro que a delimitação do benefício se daria somente em relação aos produtos industrializados. Isso nos remete à matriz legal do IPI. A Lei nº 4.502/64 é muito precisa na definição do que seja estabelecimento produtor quando preceitua em ser art. 3º que “considerase estabelecimento produtos todo aquele que industrializar produtos sujeitos ao imposto”. Assim fica claro que tanto na acepção econômica quanto jurídica, não há como se enquadrar empresas não sujeitas ao IPI como estabelecimento industrial ou estabelecimento produtor. É pacífico que os produtos classificados na TIPI como "NT" não estão incluídos no campo de incidência do IPI, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 2° do RIPI/98. Decreto 2.637, de 25/06/98 Fl. 1272DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.273 12 "Art. 2° Parágrafo Único O campo de incidência do imposto abrange todos os produtos com alíquota, ainda que zero, relacionados na TIPI, observadas as disposições contidas nas respectivas notas complementares, excluídos aqueles a que corresponde a notação NT (nãotributado) (Lei n.° 9.493, de 10 de setembro de 1997, art. 13 )” Logo, quem produz esses produtos, ainda que sob uma das operações de industrialização previstas no artigo 4° do Regulamento do IPI não é considerado, à luz da legislação de regência desse imposto, como estabelecimento produtor ou industrial, de acordo com o artigo 8° do RIP1/98, que prescreve: Art. 8° Estabelecimento industrial é o que executa qualquer das operações referidas no art. 4°, de que resulte produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento (Lei n.° 4.502, de 1964, art. 3°). Estabelecimento produtor ou industrial é aquele que executa qualquer das operações definidas na legislação do imposto como de industrialização; da qual, cumulativamente, resulte um produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento. Ora, de fato, seu beneficiário necessariamente deve produzir industrializados sujeitos à incidência do PI e exportálos, diretamente ou através de empresa comercial exportadora, para que lhe seja reconhecido o direito ao crédito presumido, conforme a sistemática instituída pela Lei n° 9.363/96. Se o benefício fosse estendido a todas as empresas produtoras exportadoras, sem a delimitação de ser contribuinte do imposto algumas questões ficariam sem uma solução prevista na lei, como por exemplo, como se daria a escrituração dos créditos para a futura compensação? Não existe previsão de livro registro de apuração do IPI para não contribuintes. Todos sabemos que a apuração do imposto a pagar ou dos créditos devem ser escriturados no referido livro. Ademais a lei não contém palavra inúteis. Se fosse para abarcar os exportadores que não fossem produtores porque a lei traria e expressão “produtora e exportadora”. Bastaria o uso da palavra “exportadora”. Está claro, dessa forma, que há que se interpretar a linguagem legislativa contida no art. 1º da Lei 9.363/96 e cabe a nós, desse tribunal administrativo, elucidar e resolver o presente caso concreto ora apresentado a essa corte. È da interpretação que cuida a hermenêutica jurídica. Primeiramente cabe esclarecer o conceito de hermenêutica “que provém do latim hermeneutica (que interpreta ou explica), é empregado na técnica jurídica para assinalar o meio ou modo por que se devem interpretar as leis, a fim de que se tenha delas o exato ou omelhor sentido. Na hermenêutica jurídica, assim, estão encerrados todos os princípios e regras que devam ser judiciosamente utilizados para a interpretação do texto legal. E esta interpretação não se restringe ao esclarecimento de pontos Fl. 1273DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.274 13 obscuros, mas toda elucidação a respeito da exata compreensão da regra jurídica a ser aplicada aos fatos concretos. É o que faz a hermenêutica jurídica, interpreta as leis. Deixo claro também que não se trata de lacuna na lei. Caso assim fosse, teríamos que fazer uma integração legislativa e não a interpretação. Mais abaixo deixaremos claro que mesmo àqueles que consideram que a lei é omissa e que há que se fazer a integração,também chegaremos à mesma conclusão: A exportação de produtos NT não gera direito ao aproveitamento do crédito presumido do IPI, lei nº 9.369/96, por não estarem os produtos dentro do campo de incidência do imposto. Podemos concluir que tanto em uma análise econômica quanto jurídica não há como se interpretar o art. 1º da Lei 9.363/96, a ponto de considerar que a empresa produtora e exportadora ali mencionada abarcaria até mesmo àquelas não contribuintes do IPI, ou seja, somente os estabelecimentos industriais é que podem compensar os créditos presumidos de IPI nos casos de exportação. Economicamente falando, não há porque se incentivar, com desoneração tributária, a produção de produtos não industrializados, como por exemplo, as comodities, pois todos sabem que o Brasil tem expertise nesta área, sendo um dos maiores exportadores mundiais. Em se tratando de uma interpretação meramente jurídica, se fosse a intenção do legislador, a lei teria de ser muito clara, e não deixar nenhuma margem de dúvida quanto à extensão do benefício, conforme preceitua o CTN e várias outras leis tributárias e financeiras. Além do mais a lei que trata de qualquer tipo de exoneração tributária deve ter a sua interpretação restritiva, para abarcar somente os caso expressamente permitidos. É necessária a autorização legislativa para a concessão do beneficio em face do principio da legalidade. Como se sabe, o Princípio Constitucional da Legalidade impõe como dever aos agentes públicos que não somente proceda em consonância com as leis, mas também que somente atue quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Melhor dizendo, não tem a liberdade de fazer o que lhe convém apenas pela ausência de norma proibitiva, mas somente fazer o que a lei autoriza ou determina. O princípio da legalidade vale tanto para a exação quanto para a isenção. Sabemos que o crédito presumido é um tipo de isenção parcial. È indiscutível que a lei que trata de isenção deve descrever, pormenorizadamente, todos os elementos da norma jurídica tributária. A descrição deve ser exaustiva para a própria segurança jurídica dos contribuintes. Não pode haver subjetivismos ou interpretações não jurídicas. Fl. 1274DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.275 14 O art. 1º da lei isentiva faz exatamente isso. Descreve minuciosamente os contornos de quem tem o direito ao crédito presumido para evitar que o intérprete ou aplicador da lei tenha entendimentos contraditórios, gerando incerteza e insegurança para o contribuinte. Com efeito não há outra conclusão que não a constatação que crédito presumido de IPI somente poderá ser efetuado pela empresa exportadora ou, no caso de exportação indireta, pelo fornecedor da comercial exportadora, levandose em conta apenas os insumos adquiridos no mercado interno utilizados na industrialização de bens destinados à exportação. Para corroborar e elucidar todo o exposto, por ser de uma precisão ímpar, trago o Presidente Henrique Pinheiro Torres, no Acórdão nº 20216.066: “A questão envolvendo o direito de crédito presumido de IPI no tocante às aquisições de matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagens utilizados na confecção de produtos constantes da Tabela de Incidência do IPI com a notação NT (Não Tributado) destinados à exportação, longe de estar apascentada, tem gerado acirrados debates na doutrina e na jurisprudência. No Segundo Conselho de Contribuintes, ora prevalece a posição do Fisco, ora a dos contribuintes, dependendo da composição das Câmaras. A meu sentir, a posição mais consentânea com a norma legal é aquela pela exclusão dos valores correspondentes às exportações dos produtos não tributados (NT) pelo IPI, já que, nos termos do caput do art. 1º da Lei 9.363/1996, instituidora desse incentivo fiscal, o crédito é destinado, tão somente, às empresas que satisfaçam, cumulativamente, dentre outras, a duas condições: a) ser produtora; b) ser exportadora. Isso porque, os estabelecimentos processadores de produtos NT, não são, para efeitos da legislação fiscal, considerados como produtor. Isso ocorre porque, as empresas que fazem produtos não sujeitos ao IPI, de acordo com a legislação fiscal, em relação a eles, não são consideradas como estabelecimentos produtores, pois, a teor do artigo 3º da Lei 4.502/1964, considerase estabelecimento produtor todo aquêle que industrializar produtos sujeitos ao impôsto. Ora, como é de todos sabido, os produtos constantes da Tabela de Incidência do Imposto sobre ProdutosIndustrializados – TIPI com a notação NT (Não Tributados) estão fora do campo de incidência desse tributo federal. Por conseguinte, não estão sujeitos ao imposto. Ora, se nas operações relativas aos produtos não tributados a empresa não é considerada como produtora, não satisfaz, por conseguinte, a uma das condições a que está subordinado o beneficio em apreço, o de ser produtora. Por outro lado, não se pode perder de vista o escopo desse favor fiscal que é o de alavancar a exportação de produtos elaborados, e não a de produtos primários ou semielaborados. Fl. 1275DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.276 15 Para isso, o legislador concedeu o incentivo apenas aos produtores, aos industriais exportadores. Tanto é verdade, que, afora os produtores exportadores, nenhum outro tipo de empresa foi agraciada com tal benefício, nem mesmo as trading companies, reforçandose assim, o entendimento de que o favor fiscal em foco destinase, apenas, aos fabricantes de produtos tributados a serem exportados. Cabe ainda destacar que assim como ocorre com o crédito presumido, vários outros incentivos à exportação foram concedidos apenas a produtos tributados pelo IPI (ainda que sujeitos à alíquota zero ou isentos). Como exemplo podese citar o extinto crédito prêmio de IPI conferido industrial exportador, e o direito à manutenção e utilização do crédito referente a insumos empregados na fabricação de produtos exportados. Neste caso, a regra geral é que o benefício alcança apenas a exportação de produtos tributados (sujeitos ao imposto); se referir a NT, só haverá direito a crédito no caso de produtos relacionados pelo Ministro da Fazenda, como previsto no parágrafo único do artigo 92 do RIPI/1982. Outro ponto a corroborar o posicionamento aqui defendido é a mudança trazida pela Medida Provisória nº 1.50816, consistente na inclusão de diversos produtos no campo de incidência do IPI, a exemplo dos frangos abatidos, cortados e embalados, que passaram de NT para alíquota zero. Essa mudança na tributação veio justamente para atender aos anseios dos exportadores, que puderam, então, usufruir do crédito presumido de IPI nas exportações desses produtos. Diante de todas essas razões, é de se reconhecer que os produtos exportados pela reclamante, por não estarem incluídos no campo de incidência do IPI, já que constam da tabela como NT (não tributado), não geram crédito presumido de IPI” Também, colaciono parte do voto do Conselheiro Gilson Rosemburg Filho, em voto recentemente proferido neste plenário: Por outra parte, é cediço que os produtos classificados na TIPI como “NT” não estão incluídos no campo de incidência do IPI. Logo, quem fabrica tais produtos, mesmo sob uma das operações de industrialização previstas no Regulamento do IPI (no caso, as operações dispostas no art. 3º, caput e incisos, do Regulamento aprovado pelo Decreto nº 87.981, de 23/12/1982 – RIPI/82), não é considerado, à luz da legislação de regência desse imposto, como estabelecimento industrial. Isso porque, de acordo como o art. 8º do RIPI/82 (abaixo transcrito), estabelecimento industrial é o que industrializa produtos sujeitos à incidência do IPI, ou seja, é aquele estabelecimento que executa qualquer das operações definidas na legislação do imposto como “de industrialização”, da qual, cumulativamente, resulte um produto “tributado”, ainda que de alíquota zero ou isento. Ao contrário, não é estabelecimento industrial para fins de IPI aquele que elabora produtos classificados na TIPI como nãotributado (NT), bem como quem realiza operação excluída do conceito de industrialização dado pelo RIPI. Fl. 1276DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.277 16 “Art. 8º Estabelecimento industrial é o que executa qualquer das operações referidas no artigo 3º, de que resulte produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento (Lei nº 4.502, art. 3º).” Neste diapasão, Raimundo Clóvis do Valle Cabral em “Tudo sobre o IPI”, 4ª edição, São Paulo, Ed. Aduaneiras, págs. 54/55 e 57, assim assevera: “Estabelecimento Industrial é o que industrializa produtos sujeitos à incidência do imposto, ou seja, aquele que executa operações definidas na legislação do IPI como de industrialização (transformação, beneficiamento, montagem, acondicionamento/reacondicionamento e renovação/recondicionamento) e da qual resulte um produto tributado, ainda que de alíquota zero, ou isento. Tem por base legal o artigo 3º da Lei nº 4.502, de 1964, alterado pelo artigo 12 do DL nº 34/66, que tem o seguinte texto: ‘Considerase estabelecimento industrial todo aquele que industrializar produtos sujeitos ao imposto’(art. 8º). As expressões ‘fábrica’ e ‘fabricante’ são equivalentes a ‘estabelecimento industrial’, como definido acima (art. 487II). Se o produto por ele industrializado corresponde uma alíquota positiva (diferente de zero) estará ele obrigado a destacar o imposto na nota fiscal emitida, observando as demais obrigações concernentes à escrituração fiscal e ao recolhimento do imposto, assumindo o real papel de contribuinte – sujeito passivo de obrigação principal, salvo se optante pela inscrição no Simples (art. 20I, 23II e 107). Se o produto industrializado estiver sujeito à alíquota zero, ou for isento, embora não haja imposto a ser destacado nem recolhido, ele estará obrigado a emitir nota fiscal e proceder às demais obrigações relativas à escrituração fiscal prevista no Ripi, pois está definido como sujeito passivo de obrigações acessórias (art. 21). Contrario sensu, chegase à conclusão de não ser estabelecimento industrial, para fins do IPI, aquele que elabora produtos classificados na Tipi como NT (nãotributados), bem assim os resultantes de operações excluídas do conceito de industrialização pelo artigo 5º do RIPI.” O texto reproduzido acima traduz a essência da expressão “NT” aposta na TIPI ao lado dos produtos excluídos do campo de incidência do IPI, qual seja: o estabelecimento que dá saída a produtos nãotributados, não se classifica, nessas operações, para fins de incidência do imposto, como estabelecimento industrial, ou seja, como contribuinte do IPI. E o aproveitamento de créditos do IPI está intimamente ligado ao conceito do que seja estabelecimento industrial para a legislação desse imposto, no sentido de que não ser um estabelecimento de tal espécie implica o não reconhecimento da existência de créditos ou débitos de IPI, impossibilitando o aproveitamento dos primeiros (dos créditos) ou o surgimento da obrigação tributária principal decorrente dos segundos (dos débitos). Nessa linha, merece citar, especificamente no tocante ao crédito presumido do IPI objeto de análise no presente processo, o preceito do art. 1º combinado com o do parágrafo único do art. 3º, ambos da Lei nº 9.363/96: Fl. 1277DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.278 17 “Art. 1º A empresa produtora e exportadora de mercadorias nacionais fará jus ao crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados (...). Art. 3º (...). Parágrafo único. Utilizarseá, subsidiariamente, a legislação (...) do Imposto sobre Produtos Industrializados para o estabelecimento (...) dos conceitos de receita operacional bruta e de produção, (...).” Lógico que “produção” conformase na atividade do “produtor". E, nos termos da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, matriz legal de grande parte da legislação do IPI, “estabelecimento produtor” é aquele que industrializa produtos sujeitos ao imposto. Estabelece o art. 3º da aludida lei: “Art. 3º Considerase estabelecimento produtor todo aquele que industrializar produtos sujeitos ao imposto.” Considerandose, então, que o art. 1º da Lei nº 9.363/96 autoriza a fruição do crédito presumido do IPI ao “estabelecimento produtor e exportador”, e que o art. 3º da Lei 4.502/64 é a matriz do Regulamento do Imposto de Produtos Industrializados, não resta dúvida quanto à total impossibilidade de existência e, conseqüentemente, de aproveitamento de crédito do IPI para os estabelecimentos cujos produtos fabricados são classificados como “NT” na TIPI. Pelos fundamentos expostos, é possível arrolar as seguintes conclusões: O estabelecimento industrial é aquele que industrializa produtos sujeitos à incidência do imposto, ou seja, aquele que executa as operações definidas na legislação do IPI como de industrialização e da qual resulta um produto tributado, ainda que de alíquota zero ou isento. Portanto, os produtos exportados que não se encontram no campo de incidência do IPI, por constar da tabela como NT (não tributado), não geram crédito presumido de IPI; A legislação que trata do específico benefício do crédito presumido do IPI determina que as “mercadorias” devam decorrer de “estabelecimento produtor”, o qual, à luz da legislação do IPI, é somente o que industrializa produtos tributados por essa exação. Assim não há que se falar em questões fáticas, mas meramente jurídicas. Por isso toda a análise se absteve de ilações de fato, mas argumentações meramente jurídicas, como aliás devem ser todas as questões trazidas a interpretação pelos tribunais.. Também não há discussão acerca de os produtos que não tributados – NT, estarem, ou não, no campo de incidência do IPI. Senão teríamos de fazer uma longa explanação sobre outros institutos tributários como isenção, imunidade, não incidência, lançamento, fato gerador, dentre outros. Fl. 1278DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.279 18 Podemos concluir que tanto em uma análise econômica quanto jurídica não há como se interpretar o art. 1º da Lei 9.363/96, a ponto de considerar que a empresa produtora e exportadora ali mencionada abarcaria até mesmo àquelas não contribuintes do IPI, ou seja, somente os estabelecimentos industriais é que podem compensar os créditos presumidos de IPI nos casos de exportação. Economicamente falando, não há porque se incentivar, com desoneração tributária, a produção de produtos não industrializados, como por exemplo, as comodities, pois todos sabem que o Brasil tem expertise nesta área, sendo um dos maiores exportadores mundiais. Em se tratando de uma interpretação meramente jurídica, se fosse a intenção do legislador, a lei teria de ser muito clara, e não deixar nenhuma margem de dúvida quanto à extensão do benefício, conforme preceitua o CTN e várias outras leis tributárias e financeiras. Dessa forma, o crédito presumido de IPI somente poderá ser ressarcido pela empresa exportadora ou, no caso de exportação indireta, pelo fornecedor da comercial exportadora, levandose em conta apenas os insumos adquiridos no mercado interno, onerados pelo PIS e COFINS, e utilizados na industrialização de bens destinados à exportação. Mesmo para aqueles que entendem que existe omissão legal e que pretendem fazer a integração prevista no art. do CTN, in verbis: Interpretação e Integração da Legislação Tributária Art. 107. A legislação tributária será interpretada conforme o disposto neste Capítulo. Art. 108. Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada: I a analogia; II os princípios gerais de direito tributário; III os princípios gerais de direito público; IV a eqüidade. § 1º O emprego da analogia não poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. § 2º O emprego da eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido. Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizamse para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários. Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa ou Fl. 1279DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.280 19 implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias. Art. 111. Interpretase literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I suspensão ou exclusão do crédito tributário; II outorga de isenção; III dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. A ordem de integração é obrigatória, como determina a lei. Podemos usar a analogia com o caso dos créditos básicos e assim chegarmos à conclusão que não geram direito ao crédito a exportação de produtos NT. Neste caso existe até uma súmula do CARF: Súmula CARF nº 20: Não há direito aos créditos de IPI em relação às aquisições de insumos aplicados na fabricação de produtos classificados na TIPI como NT. Porém podemos passar também para o segundo critério de integração. Tratase de usarmos os princípios gerais de Direito Tributário. O princípio mais específico em relação ao IPI é o princípio constitucional da não cumulatividade do IPI, transcrito abaixo: Art. 153, § 3º: “O imposto previsto no inciso IV: I será seletivo, em função da essencialidade do produto; II – será não cumulativo, compensandose o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores”. Fica claro aqui também que tem que haver tributo devido para que possamos aplicar o princípio. Se o produto final não é tributado, não há que se falar em aproveitamento de crédito. Obviamente a lei pode excepcionar e permitir o aproveitamento do crédito, já que não há óbice constitucional como ocorre com o ICMS. Mas, como dito acima a lei tem que ser clara ao permitir o creditamento nessas situações especiais o que não ocorre in casu. O próprio TRF da 3ª Região tem exarado decisões que vedam o direito ao incentivo da Lei 9.363/96 quando não há o recolhimento do IPI na cadeia de industrialização da mercadoria a ser exportada. O Direito Pátrio não autoriza o aproveitamento do crédito presumido de IPI em relação a mercadorias exportadas que figurem como NT na tabela do IPI TIPI. Essa é a única conclusão juridicamente aceitável ao interpretarmos, por todas as técnicas existentes, os diplomas legais do crédito presumido – Lei 9.363/96, em cotejo com as demais legislações do IPI. Fl. 1280DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.281 20 Àqueles que defendem que a lei instituidora do incentivo é lacunosa, podemos fazer a integração nos moldes permitidos pelo CTN e chegaremos à mesma conclusão acima exposta. Diante de todo o exposto, voto pelo não provimento do Recurso Especial interposto pelo contribuinte". Com essas considerações, penso que as exportações de produtos NT não geram direito ao aproveitamento do crédito presumido do IPI, lei nº 9.369/96, por não estarem os produtos dentro do campo de incidência do imposto. Nesta matéria, dou provimento ao Recurso da Fazenda. Crédito Presumido Atualização Monetária Pela Taxa Selic Com efeito, esta matéria foi tratada nos autos no REsp nº 993.164MG, cuja ementa transcrevese abaixo: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRÉDITO PRESUMIDO DE IPI. LEI 9.363/96. FORMA DE CÁLCULO. INCLUSÃO DOS VALORES REFERENTES A AQUISIÇÕES DE COOPERATIVAS E PESSOAS FÍSICAS. POSSIBILIDADE. CORREÇÃO MONETÁRIA. INCIDÊNCIA. TAXA SELIC. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO N. 993.164/MG. 1. O acórdão recorrido está em sintonia com a jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, que já reconheceu a ilegalidade das limitações impostas pela IN 23/97, por ocasião do julgamento do Recurso Especial n. 993.164 MG, sob o regime do artigo 543C, do CPC. Na mesma assentada, decidiu se, quanto à correção monetária de tais créditos, que, na espécie, havendo óbice ao aproveitamento dos créditos presumidos, "é legítima a incidência de correção monetária, sob pena de enriquecimento sem causa do Fisco [...]". 2. Agravo regimental não provido. Neste passo, o artigo 62A, caput, do Regimento Interno do CARF (Portaria MF n° 256, de 22 de junho de 2009, alterada pela Portaria MF n° 586, de 21 de dezembro de 2010) dispõe que: As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543B e 543C da Lei n° 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF.e Neste ponto, voto no sentido de negar provimento ao Recurso da Fazenda Nacional, mantendose o que foi decido pela turma a quo, para que o valor a ser ressarcido seja aplicada a Taxa Selic desde o protocolo do pedido até o seu efetivo pagamento. Fl. 1281DF CARF MF Processo nº 13804.001989/200235 Acórdão n.º 9303004.419 CSRFT3 Fl. 1.282 21 Com essas considerações, voto no sentido de dar parcial provimento ao Recurso da Fazenda Nacional. É como voto é como penso. Demes Brito Fl. 1282DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10920.722805/2011-41
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 13 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Oct 20 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2006
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO PERPETRADO POR PESSOA JURÍDICA DISTINTA. ILEGITIMIDADE PASSIVA.
Cabe ao contribuinte responder por seus próprios atos no âmbito tributário. No caso de autuação baseada em racional que considera haver ocorrido planejamento tributário abusivo em decorrência de regime fiscal utilizado por pessoa jurídica distinta, resta evidente o erro da fiscalização na definição do sujeito passivo da relação tributária.
DECADÊNCIA. EXISTÊNCIA DE PAGAMENTO PARCIAL. INEXISTÊNCIA DE CONDUTA SIMULADA, FRAUDULENTA OU DOLOSA. APLICAÇÃO DA REGRAS DO ART. 150, § 4°do CTN.
Se o contribuinte comprova nos autos a ocorrência de pagamento parcial do tributos discutido e ao mesmo tempo estando ausentes condutas tidas como simuladas, fraudulentas ou dolosas, deve ser aplicada a regra prevista no art. 150, § 4°do CTN para fins de contagem do prazo decadencial.
PROPÓSITO NEGOCIAL. AUSÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. MANUTENÇÃO DOS EFEITOS DA OPERAÇÃO.
Ausente conduta tida como simulada, fraudulenta ou dolosa, a busca de eficiência fiscal em si não configura hipótese que invalide as operações perpetradas pelo contribuinte e os respectivos efeitos fiscais.
A existência de outras razões de negócio que vão além do benefício fiscal, apenas ratifica a validade e eficácia da operação.
Numero da decisão: 1201-001.484
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em NEGAR provimento ao Recurso de Ofício. O Conselheiro José Carlos acompanhou o Relator pelas Conclusões.
(assinado digitalmente)
ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA - Presidente.
(assinado digitalmente)
LUIS FABIANO ALVES PENTEADO - Relator.
EDITADO EM: 18/10/2016
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida (Presidente), Luis Fabiano Alves Penteado, Ester Marques Lins de Sousa (suplente convocada), Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães e Ronaldo Apelbaum.
Nome do relator: LUIS FABIANO ALVES PENTEADO
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ILEGITIMIDADE PASSIVA. Cabe ao contribuinte responder por seus próprios atos no âmbito tributário. No caso de autuação baseada em racional que considera haver ocorrido planejamento tributário abusivo em decorrência de regime fiscal utilizado por pessoa jurídica distinta, resta evidente o erro da fiscalização na definição do sujeito passivo da relação tributária. DECADÊNCIA. EXISTÊNCIA DE PAGAMENTO PARCIAL. INEXISTÊNCIA DE CONDUTA SIMULADA, FRAUDULENTA OU DOLOSA. APLICAÇÃO DA REGRAS DO ART. 150, § 4°do CTN. Se o contribuinte comprova nos autos a ocorrência de pagamento parcial do tributos discutido e ao mesmo tempo estando ausentes condutas tidas como simuladas, fraudulentas ou dolosas, deve ser aplicada a regra prevista no art. 150, § 4°do CTN para fins de contagem do prazo decadencial. PROPÓSITO NEGOCIAL. AUSÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. MANUTENÇÃO DOS EFEITOS DA OPERAÇÃO. Ausente conduta tida como simulada, fraudulenta ou dolosa, a busca de eficiência fiscal em si não configura hipótese que invalide as operações perpetradas pelo contribuinte e os respectivos efeitos fiscais. A existência de outras razões de negócio que vão além do benefício fiscal, apenas ratifica a validade e eficácia da operação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 92 0. 72 28 05 /2 01 1- 41 Fl. 789DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em NEGAR provimento ao Recurso de Ofício. O Conselheiro José Carlos acompanhou o Relator pelas Conclusões. (assinado digitalmente) ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Presidente. (assinado digitalmente) LUIS FABIANO ALVES PENTEADO Relator. EDITADO EM: 18/10/2016 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida (Presidente), Luis Fabiano Alves Penteado, Ester Marques Lins de Sousa (suplente convocada), Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães e Ronaldo Apelbaum. Relatório Por meio dos Autos de Infração, às folhas 588 a 623, foram exigidas da contribuinte acima qualificada as importâncias abaixo indicadas: Tributo Valores em Reais Imposto de Renda Pessoa Jurídica – IRPJ 17.689.915,12 Contribuição Social sobre Lucro Líquido – CSLL 3.047.095,06 Sobre esses valores de IRPJ e CSLL foram acrescidos juros de mora e multa de ofício de 150%. As exigências referemse a fatos geradores ocorridos no anocalendário 2006. 1. Do relato da Fiscalização No “Termo de Verificação Fiscal” TVF (f. 558 a 587), a Fiscalização acusa a Impugnante de realizar “planejamento tributário” para possibilitar a tributação da receita bruta do anocalendário de 2006, no valor de R$ 2.779.645.025 pelo lucro presumido. Relata a Fiscalização que o grupo Weg, cuja principal empresa desde 1999 era a WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora S/A), CNPJ 79.670.501/000135, constituiu Fl. 790DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 3 3 uma empresa denominada Segan Participações Ltda, CNPJ 07.175.725/000160, em 25/10/04, tendo por sócios seus próprios funcionários Alidor Lueders e Dimas Tarcísio Vanin. São os seguintes os dizeres (f. 560): A empresa Segan Participações Ltda, CNPJ 07.175.725/000160, estava localizada na Avenida Moema, n° 862, Sala "A", Bairro Indianópolis, em São Paulo, SP, Cep 04077023, com a atividade de holding de instituições nãofinanceiras. A referida empresa foi constituída com o seguinte quadro societário: Alidor Lueders, brasileiro, CPF 114.466.17904, RG 19/R111496, residente na Rua Adolfo Sacani, 36, Ap. 1102, Centro, Jaraguá do Sul, SC, Cep 89253075. Participação na sociedade: R$ 4.999,00. Dimas Tarcísio Vanin, brasileiro, CPF 290.799.00982, RG 3/R 438860, residente na Rua Marina Frutuozo, 300, Centro, Jaraguá do Sul, SC, Cep 89251500. Participação na sociedade: R$1,00. Estes sócios Alidor Lueders e Dimas Tarcísio Vanin da empresa então constituída Segan Participações Ltda, CNPJ 07.175.725/000160 eram, respectivamente, Administrador e Contador da empresa WEG Indústrias S/A ( atual RF Reflorestadora SA), CNPJ 79.670.501/000135. [...] Durante o ano de 2005, o grupo Weg teria preparado, mediante sucessivas alterações societárias, a transferência das atividades da WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora S/A), CNPJ 79.670.501/000135, para a empresa recém constituída, a Segan Participações Ltda, CNPJ 07.175.725/000160, já agora com a denominação de WEG Equipamentos Elétricos S/A, sendo adotada a opção pelo lucro presumido no anocalendário 2006. O histórico de faturamento (f. 562) das duas empresas possibilita uma boa visualização dos efeitos tributários: A WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora SA), CNPJ 79.670.501/000135, teve o seguinte histórico de faturamento declarado no período de 2002 a 2006: Fl. 791DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 4 A empresa Segan Participações Ltda, CNPJ 07.175.725/000160 (atual WEG Equipamentos Elétricos S/A) teve o seguinte histórico de faturamento declarado no período de 2002 a 2006: A Fiscalização relata ainda que (f. 563 a 567): O artigo 14, inciso I, da Lei 9.718, de 27/11/98, na redação dada pelo artigo 46 da Lei 10.637, de 30/12/02, obriga a tributação do resultado das pessoas jurídicas segundo o regime de lucro real quando a receita total do anocalendário anterior superar R$ 48.000.000,00. Art. 14. Estão obrigadas à apuração do lucro real as pessoas jurídicas: I cuja receita total, no anocalendário anterior seja superior ao limite de R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais), ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 (doze) meses É o caso da WEG Industrias S/A (atual RF Reflorestadora SA), CNPJ 79.670.501/000135, que estava obrigada ao lucro real, se considerada a sua receita total de cada ano, salvo enquanto optante pelo REFIS, cujo prazo para empresa acabou em 2005, pela opção ao art. 12 da Lei 9.964/2000. Aí entra a empresa Segan Participações Ltda, CNPJ 07.175.725/000160, criada em São Paulo, com o quadro societário composto por representantes do grupo Weg, cujas sucessivas alterações societárias culminarão com a transferência de parte substancial das operações da WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora SA), CNPJ 79.670.501/000135, para essa empresa, com a opção pelo lucro presumido no exercício de 2007, anocalendário 2006. A opção pelo presumido, por si só, não é problema: o problema é o contorcionismo organizacional utilizado para que uma empresa com faturamento acima do limite possa ingressar nesse regime, ou nele permanecer, segundo melhor lhe aprouver. Nesta linha de desdobramentos, em 31/01/05, foi alterada a razão social da empresa Segan Participações Ltda, CNPJ 07.175.725/000160, para WEG Máquinas São Bernardo Ltda., conforme dados da Ficha Cadastral da Junta Comercial do Estado de São Paulo, as fls. 449452. Na sessão de 14/02/05, a Junta Comercial do Estado de São Paulo arquivou os seguintes atos relativos à empresa Segan Participações Ltda, agora denominada WEG Máquinas São Bernardo Ltda, em que se constata a entrada agora ostensiva da WEG Indústrias S/A ( atual RF Reflorestadora SA), com a saída Fl. 792DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 4 5 dos sócios anteriores Administrador e Contador da própria WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora SA), que, em tese, dissimulavam a presença da empresa e os planos para futura utilização da empresa então criada. Alteração do nome empresarial para WEG Máquinas São Bernardo Ltda. Alteração da atividade econômica / objeto social da sede para fabricação de aparelhos e equipamentos de medida, teste e controle, fabricação de outros equipamentos e aparelhos elétricos não especificados anteriormente, geração de energia elétrica, desenvolvimento e licenciamento de programas de computador customizáveis, holdings de instituições não financeiras. Endereço da sede alterado para Estrada dos Alvarengas, 5500, fundos, Assunção, São Bernardo do Campo SP, CEP 09850550. Alteração contratual que abrange: [...] retirase da sociedade Alidor Lueders, CPF 114.466.17904, na situação de sócio, com valor de participação na sociedade de $ 4.999,00 (quatro mil, novecentos e noventa e nove reais). retirase da sociedade Dimas Tarcísio Vanin, CPF 290.799.00982, na situação de sócio e administrador, assinando pela empresa, com valor de participação na sociedade de $ 1,00 (um real). admitido WEG Indústria S/A, situada na Avenida Prefeito Waldemar Grubba, 3300, 1° andar, Jaraguá do Sul, SC, na situação de sócio, com valor de participação na sociedade de $ 4.999,00 (quatro mil, novecentos e noventa e nove reais). admitido Décio da Silva, CPF 344.079.28972, residente na Rua Maximiliano Heindlmeyer, 66, Centro, Jaraguá do Sul, SC, Cep 89256010, na situação de sócio e administrador, assinando pela empresa, com valor de participação na sociedade de $ 1,00 (um real). consolidação contratual da matriz, situada na Estrada dos Alvarengas, 5500, Fundos, Assunção, em São Bernardo do Campo, SP, Cep 09850550, com objeto destacado de fabricação de aparelhos e equipamentos de medida, teste e controle. Na sessão de 25/10/05, a Junta Comercial do Estado de São Paulo arquivou outros atos relativos à empresa Segan Participações Ltda, já denominada WEG Máquinas São Bernardo Ltda, em cuja sociedade agora estava presente a WEG Indústrias S/A ( atual RF Reflorestadora SA) e Décio da Silva, CPF 344.079.28972 presidente da WEG Indústrias S/A ( atual RF Reflorestadora SA), que revelam concretamente o desiderato de utilizar essa empresa para fins de economia tributária, especialmente quando se observa a criação de mais de duas dezenas de filiais e a mudança de sede, preparando a estrutura Fl. 793DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 6 organizacional para receber as operações da WEG Indústrias S/A ( atual RF Reflorestadora SA). abertura de filial situada na Estrada dos Alvarengas, 5500, Sala "d", Fds, Assunção, São Bernardo do Campo, SP, Cep 09850550; abertura de filial, CNPJ 07.175.725/002707, situada na Rua José Campanella, 99, Sala "b", Macedo, Guarulhos, SP, Cep 07122901; [...] transferida da sede para Jaraguá do Sul, SC, na Avenida Prefeito Waldemar Grubba, 3300 1° andar, Vila Lalau, Cep 89256500. Em 07/11/05, ato contínuo à transferência de sua sede para Jaraguá do Sul, a empresa Segan Participações Ltda, já denominada WEG Máquinas São Bernardo Ltda, alterou novamente a denominação para WEG Equipamentos Elétricos S.A. [...] Mais adiante, ocorre a cisão parcial da WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora SA) e subseqüente incorporação do patrimônio cindido na WEG Equipamentos Elétricos S.A, CNPJ 07.175.725/000160, preparada com a criação de mais de duas dezenas de filiais. No item "História e Desenvolvimento da Empresa", das informações anuais IAN referentes a 31/12/2006, copia às fls. 463466, encaminhadas à Bovespa pela Weg S/A, CNPJ 84.429.695/0001 11, conforme cópia as fls.463466, consta que: (http://www.bmfbovespa.com.br/dxw/AbrirDoc.asp?gstrlDTDES CRICAONUMERO=09.01&gstrlDTQDRODES RICAO=BREVE HISTÓRICO DA EMPRESA&gstrldtQdro=ianhist) Em 02 de janeiro de 2006, a WEG Indústrias foi novamente cindida parcialmente, vertendo seu patrimônio referente às unidades de negócios responsáveis por operações industriais de equipamentos eletroeletrônicos à WEG Equipamentos Elétricos. A WEG Indústrias S.A. manteve as unidades WEG Química e WEG Florestal, responsáveis pelos negócios não diretamente ligadas ao segmento eletroeletrônico, também julgados importantes para o desenvolvimento do Grupo WEG. Essa reestruturação permitiu agrupar em sociedades separadas os diversos segmentos em que atuamos, com ganho de eficiência e de qualidade de gestão, aproveitamento de sinergias operacionais e comerciais, otimização de processos administrativos, além de proporcionar economia tributária. [...] Fl. 794DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 5 7 A Fiscalização revela que o mesmo comportamento repetiuse em outros períodos (f. 570/571): A contribuinte não realizou tais operações apenas no ano calendário de 2006 conforme veremos a seguir e será mais profundamente analisado na continuação da presente Ação Fiscal que prosseguirá na empresa WEG Equipamentos Elétricos S.A, CNPJ 07.175.725/000160, com o MPF 09.0.01.002011000102, para outros períodos no momento oportuno. No final de 2006 ao perceber, que no anocalendário 2007, não poderia continuar no lucro presumido, a WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, recomeçou o processo de transferência de operações para outra empresa então criada e novamente denominada WEG Automação S/A. A WEG Automação S/A, CNPJ 08.520.338/000186, (re)aberta em 14.12.06, serviu de recipiente, em 2007, para a cisão patrimonial da WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, já então sob o regime de lucro real e que, assim, transferiu algumas operações para que essa outra empresa pudesse optar pelo lucro presumido. [...] A DIPJ do exercício 2008, anocalendário 2007, da WEG Automação S/A, CNPJ 08.520.338/000186, revela que esta operação possibilitou novamente que uma empresa com receita bruta acima dos limites, neste caso, R$ 435.126.597,08, optasse pelo lucro presumido. No exercício de 2009, anocalendário 2008, a receita bruta da WEG Automação S/A, CNPJ 08.520.338/000186, alcançou R$ 750.048.647,72, e, em virtude da receita obtida no ano calendário anterior, sujeitouse ao lucro real. Esgotada a solução lucro presumido para a WEG Automação S/A, CNPJ 08.520.338/000186, o passo seguinte foi recolocar as suas operações na empresa de onde haviam saído em 2007. De fato, a WEG Automação S/A, CNPJ 08.520.338/000186, foi incorporada pela WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, em 01/08/2009, pouco mais de 2 anos após entrar em operação. Ainda em 2007, mais precisamente em 04.10.07, foi criada outra empresa, a WEG Itajaí Equipamentos Elétricos Ltda, CNPJ 09.109.119/000171. Neste caso, com poucas operações registradas pela WEG Itajaí Equipamentos Elétricos Ltda, CNPJ 09.109.119/000171, em 2007, houve possibilidade de tributação pelo lucro presumido no anocalendário 2008, exercício 2009, com receita bruta de R$ 154.378.044,88. Fl. 795DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 8 Também neste caso da WEG Itajaí Equipamentos Elétricos Ltda, CNPJ 09.109.119/000171, esgotada a solução lucro presumido, foi incorporada pela WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, em 01/08/2009. A seguir segue um Histórico do faturamento declarado, no período de 2006 a 2010, pelas empresas: Constatando, então, que a principal intenção da Interessada era “driblar” o limite de receita para opção pelo lucro presumido, a Fiscalização desconsiderou, para fins fiscais, a transferência de receitas para a empresa WEG Equipamentos Elétricos (f. 573): Os resultados da WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160 devem ser tributados em conjunto com os resultados da WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora SA), CNPJ 79.670.501/000135, no ano calendário de 2006, desconsiderando, para fins fiscais, a transferência da Receita para empresa WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, que serviu primordialmente para driblar o limite de receita para opção pelo lucro presumido. A desconsideração do Faturamento declarado pela WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, ora proposto não implica na invalidade, absoluta ou relativa, dos atos praticados. A análise não se situa no plano da validade, e sim no da eficácia dessa transferência perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil. Daí que, sem se levar em conta para efeitos fiscais o faturamento declarado pela WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, no anocalendário de 2006 seu resultado deve ser adicionado àquele da WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora SA). Fl. 796DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 6 9 Deste modo, a Fiscalização intimou a Interessada a apresentar a contabilidade de forma consolidada. Tal intimação não restou cumprida, tendo a Interessada afirmado que suas demonstrações financeiras foram devidamente auditadas, aprovadas por uma assembleia de acionistas, registradas na CVM e devidamente publicadas, o que impossibilitaria a realização das alterações solicitadas. Entendendo não haver escrituração regular, a Fiscalização apurou os tributos devidos com base no regime de lucro arbitrado, e aplicou multa qualificada por entender que a Interessada burlou a obrigação de apurar o lucro pela sistemática do lucro real, resultando na sonegação de tributos. Da impugnação Inconformada, a Interessada apresentou a impugnação de f. 631 a 649. Apresenta, em síntese, os seguintes argumentos: Da preliminar de ilegitimidade passiva Sustenta a ilegitimidade passiva da Impugnante. Alega que, no âmbito do raciocínio da Fiscalização, “somente restaria ao Fisco glosar a tributação pelo lucro presumido na WEG Equipamentos Elétricos S/A, no ano base de 2006, já que a autoridade administrativa apenas nega os efeitos do ato (cisão), mas não a sua validade”. Da preliminar de decadência Assevera que teria decaído o direito de lançar eventual crédito tributário relativo aos três primeiros trimestres do ano de 2006, conforme contagem prevista no art. 150 do CTN. Alega que a informação da Fiscalização de que não teria havido pagamento antecipado é falsa, pois, efetuou recolhimentos regulares na forma de pagamentos antecipados, conforme cópias anexas dos respectivos Darf. Além disso, não teria havido evidente intuito de fraude, pois, a cisão promovida pela Impugnante teve como justificativa econômica a separação dos segmentos distintos que até então estavam todos contidos no seu objeto social. Do mérito – do propósito negocial e fundamentação econômica Revela que a Impugnante mantinha suas atividades operacionais, até 31/12/2005, classificadas em três segmentos bem distintos: (a) segmento eletroeletrônico; (b) segmento de tintas e vernizes; e (c) segmento florestal. Fl. 797DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 10 Alega que, em função de razões de ordem técnica e econômica que especifica, os sócios da Impugnante decidiram que era conveniente e necessário desenvolver as atividades inerentes ao ramo eletroeletrônico através de uma empresa específica. Assim, no dia 15/12/2005 os administradores da Impugnante e da WEG Equipamentos Elétricos reuniramse e firmaram o Protocolo, Justificação e Motivos para a Cisão Parcial da Impugnante. Finalmente, no dia 02/01/2006 foram realizadas as Assembleias Gerais Extraordinárias das duas companhias (Impugnante e WEG Equipamentos Elétricos S/A), onde restou aprovada a cisão parcial em comento. Em decorrência da cisão, a WEG Equipamentos Elétricos S/A ficou encarregada da produção e comercialização de tudo que se relaciona com o ramo eletroeletrônico. Assevera que a decisão foi acertada, tanto que perdura até os dias atuais. Ressalta a retidão dos atos praticados. Da inexistência de transferência de receita Alega que não houve qualquer transferência de receita de uma para outra empresa, pois, isso só ocorreria se houvesse ingresso da receita na Impugnante e esta transferisse, em ato posterior, tal receita a outra empresa. Afirma que isso jamais ocorreu. Do indevido arbitramento do lucro da Impugnante em 2006 A Impugnante jamais deixou de apresentar os livros e documentos de sua escrituração comercial e fiscal. Tudo que lhe foi solicitado foi apresentado. Ambas as empresas (impugnante e WEG Equipamentos Elétricos S/A) possuem sua escrituração regular, mantendo em boa guarda os livros e documentos exigidos por lei. Notese que a escrituração dessas duas empresas em momento algum foi desqualificada pela autoridade administrativa, nem foi alegada a existência de indícios de fraude ou vícios, erros ou deficiência que a tornem imprestável na forma da lei (inciso II do art. 47 da Lei nº 8.981/95). O que a impugnante não concordou, e não concorda, é apresentar a sua escrituração, daquele ano, de forma a reconhecer na sua contabilidade receitas de outra pessoa jurídica. A exigência fiscal fere frontalmente o princípio contábil da identidade, na medida em que pretende misturar receitas de duas pessoas jurídicas distintas. Deve ser cancelado o arbitramento do lucro da Impugnante pretendido pelo Fisco, no ano base de 2006, uma vez que não estão presentes nenhuma das hipóteses contidas no art. 47 da Lei nº 8.981/95. Fl. 798DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 7 11 Da indevida aplicação da Multa Qualificada de 150% A fraude não se configura, uma vez que o ato societário praticado (cisão parcial da Impugnante no início de 2006) teve cunho eminentemente econômico, qual seja, segregar atividades distintas para serem exercidas por empresas distintas. Ainda que a tributação pelo lucro presumido, em 2006, pela WEG Equipamentos Elétricos S/A tenha sido de forma indevida, como alega a autoridade administrativa, não significa dizer que, necessariamente, tenha havido "evidente intuito de fraude". Como restou provado na razão econômica da cisão efetuada, nada há de irregular e nem de tributo a recolher mas, ainda que houvesse, não estaria presente o "evidente intuito de fraude", tornandose totalmente indevida a aplicação da multa qualificada de 150%. Logo, deve ser CANCELADA a aplicação da multa qualificada de 150%, pois não estão presentes os seus pressupostos. Da indevida Representação para Fins Penais Tendo os atos praticados pela Impugnante (cisão) sido reconhecidos pela própria autoridade administrativa como válidos, resta absolutamente e inevitavelmente afastada qualquer conduta delituosa. REQUER a Impugnante, então, que seja cancelado o encaminhamento de representação para fins penais ou o seu sobrestamento até decisão administrativa final desse processo. Da impugnação dos valores apontados pelo Fisco Sem prejuízo das razões pelas quais a Impugnante requer o cancelamento integral dos autos de infração objeto deste processo administrativo, e apenas por dever de ofício, a Impugnante informa que o valor do crédito tributário indicado pela autoridade administrativa está majorado indevidamente. Nesse sentido, verificase que, no caso do IRPJ: (a) Existe uma diferença a maior e indevida na base de cálculo de R$1.167.558,60; (b) Não foi efetuada a dedução do valor de R$ 451.226,81 relativo ao imposto de renda retido na fonte. Em função, restou na apuração de um valor a maior e indevido de IRPJ de R$719.116,46, que acrescido de multa e juros chega a R$ 2.195.259,69. Fl. 799DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 12 No caso da CSSL, verificase que: (a) Existe uma diferença a maior e indevida na base de cálculo de R$1.257.570,09; (b) Existe uma diferença de R$ 416.347,44 no valor da CSSL declarado na DIPJ da WEG Equipamentos Elétricos S/A; (c) Não foi efetuada a dedução do valor de R$ 48.140,88 pago por estimativa no 2o trimestre/2006; e (d) Não efetuada a dedução do valor de R$ 6.128,72 relativo a CSSL retida na fonte. Com isso, restou uma diferença a maior e indevida de CSSL no montante de R$1.790.562.97. Do comparecimento nesta impugnação da AgroTrafo, Mineração, Agricultura, Pecuária e Administradora de Bens S/A De acordo com a Assembleia Geral Extraordinária da Impugnante, realizada no dia 26/09/2011, a Impugnante foi incorporada pela empresa AGROTRAFO, Mineração, Agricultura, Pecuária e Administradora de Bens S/A, inscrita no CNPJ sob n° 02.810.190/000138, conforme provam as inclusas cópias das respectivas AGE's de cada empresa. Tendo em vista, porém, que a ata da AGE da Impugnante ainda aguarda o respectivo arquivamento na Junta Comercial do Estado de Santa Catarina, a presente impugnação está sendo firmada tanto pela Impugnante (RF Reflorestadora S/A), como também pela incorporadora AGROTRAFO, Mineração, Agricultura, Pecuária e Administradora de Bens S/A. Da decisão de 1° instância Por meio do acórdão n° 0731.995 de 12/07/13, a 3° Turma da DRJ/FNS julgou PROCEDENTE a Impugnação apresentada pela ora Recorrente, conforme ementa abaixo: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2006 REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA. RACIONALIDADE ECONÔMICA. VALIDADE. A reorganização societária ocorrida no início do ano de 2006, que teve como pressuposto separar de modo racional os segmentos fabris do conglomerado, separação esta que perdura até os dias atuais, não pode ser considerado abusivo, ainda que tivesse como um de seus pressupostos a economia de tributos. Fl. 800DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 8 13 Recurso de Ofício Em razão do cancelamento do crédito tributário pela decisão da DRJ/FNS, foi apresentado o devido Recurso de Ofício. É o Relatório Voto Conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado Relator Admissibilidade Tratase de Recurso de Ofício apresentado adequadamente junto à formalização do acórdão e em conformidade com o PAF, assim, deve ser conhecido. Preliminar Ilegitimidade Passiva Alega a Autuada flagrante erro da fiscalização ao autuála em decorrência da indevida opção ou da impossibilidade de opção da empresa Weg Equipamentos Elétricos pelo Lucro Presumido. Isso porque, ao considerar abusiva a reorganização societária que precedeu e possibilitou a tributação das receitas da Weg Equipamentos Elétricos pelo Lucro Presumido, a autuante lançou o tributo contra a Autuada, seguindo o racional de que a autuada deveria somar suas receitas próprias com as receitas auferidas pela Weg Equipamentos Elétricos e, sobre tal base, aplicar a tributação pelo Lucro Real. Vejamos o que diz a Impugnação da autuada a este respeito: " 9. Apesar do reconhecimento da validade dos atos, a autoridade administrativa não aceita que esses atos possam gerar qualquer efeito no valor dos tributos a recolher. Neste sentido, consta no Termo de Verificação Fiscal, fls. 16 de 30: "Daí que, sem levar em conta para os efeitos fiscais o faturamento declarado pela WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, no anocalendário de 2006 seu resultado deve ser adicionado àquele da WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora S/A)". 10. Ou seja, os atos societários são válidos ( e nem poderia ser diferente, vez que praticados dentro da mais absoluta legalidade). Sendo assim, a autoridade administrativa buscou Fl. 801DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 14 apontar quais são os efeitos tributários conseqüentes dos mencionados atos, para os quais nega efeito. 11. Neste sentido, diz a autoridade administrativa às fls. 16 de 30 do Termo de Verificação Fiscal: " Diante disso, a tributação sob o regime de lucro presumido da WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, no anocalendário de 2006, tornase claramente indevida." 12. Assim, segundo a fiscalização, o efeito gerado foi a tributação do IRPJ e CSLL sob Weg Equipamentos Elétricos regime do lucro presumido, no ano base de 2006, pela WEG Equipamentos Elétricos S/A. 13. Desta forma, seguindo o raciocínio da fiscalização ( e sem perder de vista que o ato societário da cisão é plenamente válido e, aliás, confirmado pela própria autoridade), somente restaria ao Fisco glosar a tributação pelo lucro presumido na WEG Equipamentos Elétricos S.A, no anobase de 2006, já que a autoridade administrativa apenas negas os efeitos do ato (cisão), mas não a sua validade." Compartilho do racional adotado pela autuada. Isso porque, da leitura do Termo de Verificação Fiscal, principalmente, das conclusões do agente fiscal, podemos perceber que em momento algum há questionamento quanto à validade ou legalidade dos atos societários praticados pela autuada. O que há é o inconformismo do agente fiscal quanto ao efeito decorrente deste "Planejamento Tributário" que possibilitou que a empresa WEG Equipamentos Elétricos pudesse tributar sua receita segundo o regime do lucro presumido. Assim, se considerarmos como válidos os atos societários, e tal validade não foi questionada pelo Fisco, temos, então, duas entidades distintas, a ora autuada e a empresa WEG Equipamentos Elétricos. São duas pessoas jurídicas distintas, cada qual com personalidade jurídica própria. O ponto aqui é a eficácia dos atos para fins fiscais (tributação pelo Lucro Presumido) na empresa WEG Equipamentos Elétricos. Acho interessante começar este ponto com uma provocação: na hipótese da empresa WEG Equipamentos Elétricos ter tributado suas receitas pelo Lucro Real em 2006 e, neste período, houvesse se aproveitado (deduzido) de despesas inexistentes ou desnecessárias, qual entidade teria o fisco autuado? A ora autuada ou a WEG Equipamentos Elétricos? Certamente, teria sido a WEG Equipamentos Elétricos. Seguindo o mesmo racional, se entendido como válido todo o conjunto de atos societários mencionados no Relatório acima e, considerando que a "abusividade" tenha sido perpetrada pela indevida opção da empresa WEG Equipamentos Elétricos pelo Lucro Presumido, qual entidade deveria ter sido autuada? Não tenho dúvida alguma que a empresa que deveria ter sido autuada, caso comprovada o planejamento tributário abusivo, seria a WEG Equipamentos Elétricos, pois, fora lá que se deu o efeito fiscal combatido pela fiscalização. Fl. 802DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 9 15 Assim, me parece ter havido erro na definição do sujeito passivo da obrigação tributária ora em cobrança, sendo acertada a matéria preliminar levantada pela autuada em sua peça impugnatória. Por esse motivo, a autuação deve ser cancelada. Da decadência Alega a autuada a decadência dos 3 primeiros trimestres de 2006 (31/03/06; 30/06/06 e 30/09/06), vez que tomou ciência da autuação em 08/12/11. Aduz que a fiscalização, para fins de justificar a contagem do prazo decadencial segundo a regra do art. 173, I do CTN, afirma que não houve qualquer pagamento antecipado, bem como, afirma que os atos societários foram perpetrados com o intuito de fraude. Em relação aos pagamentos, a autuada apresenta DARFs dos pagamentos antecipados efetuados durante o ano de 2006, bem como, apresenta também, os comprovantes de recolhimento efetuados pela empresa WEG Equipamentos Elétricos, vez que efetuou recolhimentos com base no Lucro Presumido. No tangente ao intuito de fraude da autuada, conforme será abordado de forma mais detalhada adiante, entendo não haver qualquer evidência clara neste sentido, pelo contrário, os atos societários foram perfectibilizados de forma legal, transparente e válida. Assim, entendo deva ser aplicada a regra de contagem de prazo decadencial contida no art, 150, § 4° do CTN, o que implica afirmar que por ocasião da ciência do auto de infração que se deu em 08/12/2011, já estavam decaídos os 03 primeiros trimestres de 2006. Do Mérito Pela leitura do TVF, o agente fiscal atribui à autuada a utilização de planejamento tributário abusivo para o fim de possibilitar a tributação da maior parte de suas operações pelo lucro presumido. Neste sentido, afirma: A opção pelo presumido, por si só, não é problema: o problema é o contorcionismo organizacional utilizado para que uma empresa com faturamento acima do limite possa ingressar nesse regime, ou nele permanecer, segundo melhor lhe aprouver. Assim, temos que a Fiscalização desconsiderou, apenas para efeitos fiscais, a cisão promovida pela autuada com versão de parte de seu patrimônio para a empresa WEG Equipamentos Elétricos S/A e, por conseqüência, somou os resultados das duas empresas para efeito de tributação (f. 573): Fl. 803DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 16 Os resultados da WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160 devem ser tributados em conjunto com os resultados da WEG Indústrias S/A (atual RF Reflorestadora SA), CNPJ 79.670.501/000135, no ano calendário de 2006, desconsiderando, para fins fiscais, a transferência da Receita para empresa WEG Equipamentos Elétricos S/A, CNPJ 07.175.725/000160, que serviu primordialmente para driblar o limite de receita para opção pelo lucro presumido. Do Propósito Negocial Cumprese definir, de início, que os conceitos de propósito negocial e substância econômica carecem de fundamento legal, tornandose subjetivos e abrangentes. Veja, não são elementos aceitos e incorporados pelo ordenamento jurídico brasileiro, inexistindo qualquer dispositivo legal que lhes dêem substrato. O alcance destes conceitos atinge a existência de razões econômicas que vão além da obtenção de vantagem fiscal, única e exclusivamente. Partindo deste conceito, a presença de um propósito negocial deve ser precedente e, além, originária na operação, de modo a concretizar a amortização do planejamento tributário e o concomitante gozo do benefício fiscal como uma consequência natural e lógica, se considerarmos o fato gerador do IRPJ. Ocorre, porém, que a indefinição dos conceitos no ordenamento jurídico impede a formação de entendimento uníssono a respeito de seus termos e limites, tornando qualquer discussão acerca das operações de planejamento tributário como ao menos parcialmente subjetivas. O tema planejamento tributário não é um tema tão controverso e alvo de discussões calorosas no âmbito deste Conselho à toa. Cada julgador atribui uma amplitude e alcance diverso à definição atribuída ao propósito negocial/substância econômica. O que se busca, na realidade, com referidos conceitos, sejamos claros e diretos, é a identificação de abuso, fraude ou simulação, perfazendo caráter arbitrário e artificial que vise apenas o aproveitamento do benefício fiscal. A percepção do propósito negocial/substância econômica como definidor deste cenário pode ser favorável, mas diante da referida subjetividade, freqüentemente inaugura uma nova posição acerca de seu alcance, diante de casos concretos distintos, dotados cada qual de especificidade e peculiaridade. Se presta, então, o presente voto, a partir deste ponto, a analisar detalhadamente todos as informações e alegações levantadas pela fiscalização para definir se, necessário ou não um motivador para a operação que vá além do beneficio fiscal, bem como, ausente ou presente o tal propósito negocial e, da mesma forma, se presentes indícios de fraude ou simulação na operação. Primeiramente, é importante ressaltar que temos presenciado com preocupante freqüência, a utilização pelo Fisco da teoria do propósito negocial por meio do qual defende que a simples ausência sob a ótica do fisco de outros motivadores para Fl. 804DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 10 17 a operação que não o alcance do benefício fiscal, já é elemento suficiente que invalida os atos do contribuinte ou, ao menos, inviabiliza o benefício fiscal almejado. Entendo que tal racional adotado pela autoridade fiscal guarda certa contradição com diversas regras e estruturas criadas há muito tempo pelo legislador pátrio, por meio das quais são oferecidos benefícios fiscais às empresas que, ao cumprirem determinados requisitos, acabam levando desenvolvimento econômico à determinadas regiões do Brasil. Menciono aqui, de forma exemplificativa, o regime fiscal da Zona Franca de Manaus, que oferece incentivos fiscais para as empresas que lá se estabelecerem e produzirem, gerando empregos, desenvolvimento econômico/social e, mesmo, arrecadação de tributos para a região. Ora, em relação à Zona Franca de Manaus, a principal função desempenhada pelas autoridades fiscais tem sido monitorar se os contribuintes, de fato, cumprem todos os requisitos previstos em lei para o gozo dos incentivos fiscais, sem haver qualquer questionamento acerca das motivações do contribuinte. O que o Fisco busca é auditar se, realmente, as empresas estão lá estabelecidas ou se os produtos são lá produzidos, por exemplo. Contudo, não há qualquer exigência de que as empresas lá estabelecidas tenham propósitos negociais além do gozo do incentivo fiscal em si, para lá se estabelecerem. Em outras palavras: nenhuma empresa busca a Zona Franca de Manaus em razão da maior proximidade com o mercado consumidor, melhor infraestrutura ou maior oferta de mão de obra qualificada. O objetivo é o gozo do incentivo fiscal e isso é garantido às empresas que cumpram todos os requisito da legislação, independentemente da existência de outras razões. Desta forma, o conceito a ser adotado para definir o propósito negocial deve ser no sentido de considerar a busca pela redução das incidências tributárias, por si, como um propósito negocial que viabiliza a economia tributária. Já temos importantes precedentes do CARF nesta direção: GANHO DE CAPITAL. VENDA DE QUOTAS. PLANEJAMENTO FISCAL ILÍCITO. DISTRIBUIÇÃO DISFARÇADA DE LUCROS. INOCORRÊNCIA NAS REDUÇÕES DE CAPITAL MEDIANTE ENTREGA DE BENS OU DIREITOS, PELO VALOR CONTÁBIL A PARTIR DA VIGÊNCIA DA LEI 9.249/1995. Constitui propósito negocial legítimo o encadeamento de operações societárias visando a redução das incidências tributárias, desde que efetivamente realizadas antes da ocorrência do fato gerador, bem como não visem gerar economia de tributos mediante criação de despesas ou custos artificiais ou fictícios. A partir da vigência do art. 22 da Lei 9.249/1995 a redução de capital mediante entrega de bens ou direitos, pelo valor contábil,não mais constituiu hipótese de distribuição disfarçada de lucros, por expressa determinação legal. Fl. 805DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 18 (Acórdão nº 1402001.472 – 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária – Sessão de 09 de outubro de 2013) PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. NEGÓCIOS JURÍDICOS. ATOS JURÍDICOS. LICITUDE. O fato dos atos praticados visarem economia tributária não os torna ilícitos ou inválidos. O fato dos negócios praticados visarem economia tributária não os torna ilícitos ou inválidos. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MOTIVO DO NEGÓCIO. CAUSA DO NEGÓCIO. LICITUDE. Motivo do negócio é a razão subjetiva pela qual o contribuinte faz o negócio jurídico. Causa do negócio ou sua função econômica é o efeito que o negócio produz nas esferas jurídicas dos participes. O motivo ilícito implica em nulidade, quando declarada por um Juiz. Se a motivação do negócio é economia tributária, não se pode falar em motivo ilícito. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. MOTIVO DO NEGÓCIO. CONTEÚDO ECONÔMICO. PROPÓSITO NEGOCIAL. LICITUDE. Não existe regra federal ou nacional que considere negócio jurídico inexistente ou sem efeito se o motivo de sua prática foi apenas economia tributária. Não tem amparo no sistema jurídico a tese de que negócios motivados por economia fiscal não teriam "conteúdo econômico" ou "propósito negocial" e poderiam ser desconsiderados pela fiscalização. O lançamento deve ser feito nos termos da lei. (...) Outra tese do Fisco que merece análise é a de que os atos praticados poderiam ser desconsiderados, porque não teriam conteúdo econômico (ou propósito negocial), já que teriam sido praticados com o único objetivo de economia tributária. Porém, tal afirmativa está em descompasso com o ordenamento jurídico. Como se vê, em última análise, a afirmação do Fisco consiste em sustentar que o planejamento tributário é proibido e que a economia tributária só é admissivel se for acidental. Apenas por isso, já se percebe a improcedência do argumento. Mas, a análise da tese do Fisco confirma o equivoco desta interpretação da fiscalização, pois nem esta motivação vicia o negócio e nem existe lei atribuindo tal efeito. As razões de ordem subjetiva que levam a pessoa a concluir algum negócio jurídico denominamse motivos. Já o efeito que o negócio produz nas esferas jurídicas dos participes chamase causa ou função econômica do negócio. Assim, independente da causa do negócio jurídico, se ele é praticado visando redução da carga tributária, podese dizer que o motivo do negócio foi economia fiscal. Fl. 806DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 11 19 Conforme o Código Civil, apenas o motivo ilícito (se for determinante do negócio e comum As partes) implica em nulidade (inciso III, art. 166 do CC). Mesmo assim, tal nulidade precisa ser declarada por um Juiz. No entanto, salvo disposição de lei em contrário, não há como supor que a intenção de economizar tributos é ilícita. Assim, o inciso III, art. 166 do Código Civil não poderia ser aplicada sequer por juizes aos negócios jurídicos pelos quais a pessoa executa seu planejamento tributário. E, muito menos, poderia ser aplicada pela fiscalização, para efetuar lançamento de oficio. De outra banda, não existe regra federal ou nacional que considere negócio jurídico inexistente ou sem efeito se o motivo de sua prática foi apenas economia tributária. Somente se existisse uma lei com este conteúdo é que a fiscalização poderia desconsiderar os efeitos jurídicos dos negócios. " (Acórdão n. 1101000.835 1ª Câmara / 1ª Turma Ordinária – Sessão de 04 de dezembro de 2012) Neste sentido, existem também bons e recentes exemplos desta brilhante turma, merecendo destaque trecho do voto do Ilustre Conselheiro Marcelo Cuba Netto no acórdão n. 1201001.267 de 19 de janeiro de 2016: "(...)Repare que a abusividade do planejamento tributário pode ter como característica (desde que não seja a única) justamente a ausência de propósito negocial. Entretanto, quando exista uma norma jurídica incentivando, sob o ponto de vista fiscal, a realização de um negócio jurídico, seria absurdo imaginarse que além do propósito de economia fiscal deveria haver também algum outro propósito. Esse é exatamente o caso dos presentes autos." Aliás, o racional adotado nos julgados acima está integralmente alinhado com as disposições da própria Lei n. 6.404/76 define em seu art. 2º, § 3º: Art. 2º Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, não contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes. § 3º A companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiarse de incentivos fiscais. Veja, a lei claramente define a possibilidade da constituição de uma holding com o intuito único de gozo de incentivos fiscais. Assim, me parece claro que a simples alegação de ausência de propósito negocial não é suficiente para a desconsideração, para fins fiscais, dos atos societários Fl. 807DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 20 perpetrados pela autuada, , até mesmo porque, uma vez utilizados instrumento legais e inexistentes a fraude, simulação ou abuso de direito, a economia tributária pode ser considerada um propósito negocial. A autuada alega sustenta que a reorganização societária o propósito de separar o segmento eletroeletrônico dos segmentos de tintas e vernizes e florestal. Assevera o seguinte: A Do Propósito Negocial e Fundamentação Econômica 53. Como já dito anteriormente, a Impugnante mantinha suas atividades operacionais, até 31/12/2005, classificadas em três segmentos bem distintos: (a) segmento eletroeletrônico; (b) segmento de tintas e vernizes; e (c) segmento florestal. Além da distinção entre esses segmentos, a localização geográfica também estava (e ainda está) distribuída em Municípios diferentes. 54. Esses 3 segmentos são completamente distintos, não apenas no produto propriamente dito, mas também na cadeia de fornecedores, de clientes, de características tecnológicas, exigências técnicas e regulamentares, entres outras. 55. Algumas das características de cada um desses segmentos, e apenas a título ilustrativo, podem ser descritas conforme abaixo. 56. Segmento eletroeletrônico Possui um mercado voltado para o setor de bens de capital, que apresenta características de análise de investimentos e processos de produção com decisões de longo prazo, exigindo estruturas de comercialização altamente especializadas em termos técnicos e de contratos de longa duração nesses mercados. 57. Incluiu também um mercado voltado para a automação industrial e sistema, onde a especialização do seu quadro de engenheiros é fator de fundamental importância, necessitando inclusive a assinatura de convênios com diversas universidades, do Brasil e do exterior, com o objetivo de captar e desenvolver esses profissionais, com predominância da engenharia elétrica, eletrônica e mecânica. 58. A grande maioria dos produtos destinados a esses mercados é desenvolvida para aplicações específicas, daí porque a alta relevância de uma equipe de engenheiros altamente qualificada. 59. Segmento de Tintas e Vernizes Possui um mercado voltado para diversos segmentos de produção de bens de uso e consumo como a linha branca, auto peças, indústria moveleira e outros mais especializados como a indústria naval. Caracterizase por uma estrutura de comercialização com especificações definidas e contínuas, de acordo com as diversas aplicações. Na sua equipe de mãodeobra especializada há predominância da engenharia química. 60. Segmento Florestal Possui um mercado para o fornecimento de madeira industrial, principalmente para uso de fabricação de embalagens. A atividade é totalmente diferenciada Fl. 808DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 12 21 em termos de processo produtivo, ambiente de trabalho, bem como praticamente inexiste estrutura de comercialização. Praticamente não exige mãodeobra especializada. 61. Além das especificações particulares de cada segmento conforme acima demonstrado, cabe também destacar que até 31/12/2005 a Impugnante fornecia para a WEG Equipamentos Elétricos S/A determinados componentes como, por exemplo: fio de cobre esmaltado, rotor e estator de aço, carcaças, caixa de ligação. Esses fornecimentos, entretanto, estavam sujeitos à incidência de PIS e COFINS na modalidade cumulativa e IPI, fato que contribuía para o aumento dos custos de produção. Com a incorporação pela WEG Equipamentos Elétricos S/A de todas as atividades relativas ao segmento eletroeletrônico, a incidência cumulativa desapareceu, uma vez que as remessas passaram a ser entre estabelecimentos da mesma empresa, sem a tributação, contribuindo com a redução de custos. 62. No tocante aos Recursos Humanos, cabe destacar que os colaboradores foram alocados especificamente para cada segmento de atuação. Com isso, facilitou a aplicação das normas previstas nas Convenções Coletivas de Trabalho (CCT's), haja vista que os colaboradores estão submetidos a condições diferenciadas, de acordo com o respectivo Sindicato Profissional da categoria. 63. Outro aspecto importante a justificar a cisão, é que o segmento tintas está sujeito às regras específicas para o transporte dos seus produtos, haja vista que boa parte dos mesmos são classificados como "produtos perigosos", enquanto que os produtos da WEG Equipamentos Elétricos S/A não estão sujeitos a essas normas. 64. No tocante ao controle de produtos, o segmento tintas necessita de determinados produtos (matéria primeira) que estão sujeitos ao controle do Exército, exigência que não está presente com as matérias primeiras da WEG Equipamentos Elétricos S/A. 65. Com a segregação dos segmentos, a WEG Equipamentos Elétricos S/A ganhou maior flexibilidade na realização da sua Convenção Anual de Vendas, justamente por ser um segmento muito distinto dos demais. 66. Outra justificativa muito importante para a segregação de atividades diz respeito à apólice de seguro. É que o segmento de tintas e vernizes tem um agravante, para fins de cobertura de apólice de seguros, em função do maior risco desse segmento à eventuais riscos ambientais. Esse risco, entretanto, é muito menor no segmento eletroeletrônico. Portanto, com a segregação do segmento eletroeletrônico, o custo da apólice de seguro desse segmento, a cargo da WEG Equipamentos Elétricos S/A, foi substancialmente reduzido. 67. Naturalmente que poderiam ser alinhadas uma série de outras razões, mas acreditase que as razões acima expostas já são suficientes, por si só, para justificar a segregação de Fl. 809DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 22 atividades, através de cisão levada a efeito no início do ano de 2006. 68. Em função das especificidades de cada segmento, da localização geográfica distinta, e das demais razões anteriormente apresentadas, os sócios da Impugnante decidiram que era conveniente e necessário desenvolver as atividades inerentes ao ramo eletroeletrônico através de uma empresa específica. De fato, diante dos fatos apresentados, entendo que errou a Fiscalização. A meu ver, a reorganização societária não se mostra abusiva, pois, a cisão levada a efeito no início de 2006 resultou na pretendida segregação dos negócios de eletroeletrônicos dos demais segmentos, separação esta que existe até hoje. Não se trata, portanto, de ato efêmero ou sem racionalidade econômica, que poderia levar à conclusão de abuso de direito. A autuada foi, inclusive, incorporada pela empresa AgroTrafo, Mineração, Agricultura, Pecuária e Administradora de Bens S/A, conforme deliberado em Assembléia Geral Extraordinária ocorrida em 26/09/2011, cuja ata foi trazida pela autuada (f. 750, anexo V). Percebese pelo relato da Fiscalização que o Grupo WEG tem interesse, sim, em utilizarse do regime de lucro presumido para o segmento de eletroeletrônicos. Contudo, não há qualquer evidência de que em 2006 o procedimento que adotou tenha sido ilícito ou abusivo. Se havia o objetivo de separação dos segmentos fabris, a autuada poderia, sim, escolher o melhor momento para isso. Até o ano de 2005, a autuada já estava legalmente amparada pelo regime de lucro presumido. Em 2006, cindiu e transferiu o segmento de eletroeletrônicos para outra empresa do Grupo (WEG Equipamentos Elétricos), o que possibilitou a utilização do regime de lucro presumido por mais um ano. O “Protocolo e Justificação sobre a Cisão Parcial da WEG Indústrias S/A a ser Incorporada na WEG Equipamentos Elétricos S/A” (f. 690, anexo III), firmado em 15/11/2005, possui a seguinte justificação: I JUSTIFICAÇÃO 1. A presente operação de cisão parcial seguida de incorporação é parte de um projeto de reestruturação societária envolvendo a CINDIDA e a INCORPORADORA, podendose destacar como principal objetivo, a segregação das atividades de pesquisa, produção, industrialização, comércio, exportação e importação na área de sistemas industriais eletroeletrônicos de máquinas elétricas girantes (motores, máquinas e geradores), transformadores elétricos, componentes eletroeletrônicos e automação industrial, atualmente desenvolvidas pela CINDIDA, para serem transferidas e desempenhadas pela Fl. 810DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA Processo nº 10920.722805/201141 Acórdão n.º 1201001.484 S1C2T1 Fl. 13 23 INCORPORADORA. Buscase com isso uma maior eficiência e sinergia entre os segmentos de produtos da CINDIDA, melhorando sua eficiência e desempenho econômico, com boas perspectivas e incremento de seus resultados. Cabe destacar que a INCORPORADORA já atua no segmento de máquinas elétricas girantes. 2. A CINDIDA permanecerá desempenhando as atividades de produção e comercialização de tintas e vernizes, bem como com as atividades florestais. 3. Pelas razões acima expostas, é conveniente que seja procedida a cisão parcial da CINDIDA, com a transferência das atividades relativas a sistemas industriais eletroeletrônicos, para serem desenvolvidas pela INCORPORADORA, e entendem que essa proposta atende aos interesses de ambas as Companhias. [...] A cisão poderia ocorrer com a transferência dos segmentos de tintas, vernizes e reflorestamento, ao invés do segmento de eletroeletrônicos. Entretanto, não seria a opção mais econômica para o Grupo do ponto de vista tributário, nem o Fisco poderia obrigar o contribuinte a escolher a opção mais onerosa dentre as possíveis. A Fiscalização relata que a empresa WEG Equipamentos Elétricos realizou outras transferências de operações junto a coligadas. Isso só evidencia o interesse do Grupo WEG em adotar o regime de lucro presumido para o segmento de eletroeletrônicos, pois há que se analisar, caso a caso, a racionalidade econômica, a razoabilidade, das reorganizações societárias para se perquirir sobre a validade dos procedimentos adotados. Conclusão Diante do exposto, CONHEÇO do Recurso de Ofício para NEGARLHE Provimento. É como voto! (assinado digitalmente) Luis Fabiano Alves Penteado Relator Fl. 811DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA 24 Fl. 812DF CARF MF Impresso em 20/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 18/10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 18/ 10/2016 por LUIS FABIANO ALVES PENTEADO, Assinado digitalmente em 19/10/2016 por ROBERTO CAPARROZ DE ALMEIDA
score : 1.0
Numero do processo: 10930.903563/2012-56
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Dec 13 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Jan 12 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Data do Fato Gerador: 30/08/2005
COFINS. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. AUSÊNCIA DE PROVA.
Não se reconhece o direito à repetição do indébito quando o contribuinte, sobre quem recai o ônus probandi, não traz aos autos nenhuma prova de que teria havido pagamento a maior ou indevido, embora tenha tido mais de uma oportunidade processual para fazê-lo, não se justificando, portanto, o pedido de diligência para produção de provas.
COFINS - IMPORTAÇÃO SERVIÇOS. PER. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RECOLHIMENTO VINCULADO A DÉBITO CONFESSADO.
Correto o Despacho Decisório que indeferiu o pedido de restituição por inexistência de direito creditório, tendo em vista que o recolhimento alegado como origem do crédito estava integral e validamente alocado para a quitação de débito confessado.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3402-003.535
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e negar-lhe provimento.
(Assinado com certificado digital)
Antônio Carlos Atulim - Presidente e Relator.
Participaram do julgamento os Conselheiros Antônio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Carlos Augusto Daniel Neto, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra.
Nome do relator: ANTONIO CARLOS ATULIM
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REPETIÇÃO DO INDÉBITO. AUSÊNCIA DE PROVA. Não se reconhece o direito à repetição do indébito quando o contribuinte, sobre quem recai o ônus probandi, não traz aos autos nenhuma prova de que teria havido pagamento a maior ou indevido, embora tenha tido mais de uma oportunidade processual para fazêlo, não se justificando, portanto, o pedido de diligência para produção de provas. COFINS IMPORTAÇÃO SERVIÇOS. PER. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RECOLHIMENTO VINCULADO A DÉBITO CONFESSADO. Correto o Despacho Decisório que indeferiu o pedido de restituição por inexistência de direito creditório, tendo em vista que o recolhimento alegado como origem do crédito estava integral e validamente alocado para a quitação de débito confessado. Recurso Voluntário Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e negarlhe provimento. (Assinado com certificado digital) Antônio Carlos Atulim Presidente e Relator. Participaram do julgamento os Conselheiros Antônio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Carlos Augusto Daniel Neto, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 93 0. 90 35 63 /2 01 2- 56 Fl. 56DF CARF MF Processo nº 10930.903563/201256 Acórdão n.º 3402003.535 S3C4T2 Fl. 3 2 Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra. Relatório Trata os presentes autos de Pedido de Restituição (PER), por meio do qual a Recorrente solicita a restituição do crédito decorrente do pagamento de COFINS IMPORTAÇÃO. No Despacho Decisório, a autoridade competente da DRF em Londrina/PR, indeferiu o pleito da interessada, uma vez que o DARF informado como origem do crédito estava integralmente utilizado para quitação de débitos da própria contribuinte, "não restando crédito disponível para restituição". Inconformada com a decisão proferida, a empresa apresentou manifestação de inconformidade na qual esclarece tratarse de pessoa jurídica de direito privado que tem como atividade principal a indústria, comércio e exportação de couros de boi. Consigna que a Lei nº 10.865/2004 instituiu as contribuições do PIS e da COFINS sobre a importação de bens e serviços, mas não foi clara em relação à incidência sobre as quantias remetidas ao exterior a representantes comerciais a título de comissões sobre vendas, o que fez com que a Recorrente optasse por recolher as contribuições sobre essas operações. Entretanto, a Receita Federal do Brasil, em resposta a diversas consultas (cita duas), passou a vazar o entendimento de que as comissões de vendas pagas e/ou creditadas a representantes comerciais residentes ou domiciliados no exterior, não estão sujeitas à incidência do PIS e da COFINS Importação. Isso porque, anota a Recorrente, essas operações não configuram hipótese de serviços prestado no Brasil ou cujo resultado aqui se verifique. Assim, uma vez ter efetuado o pagamento de tributo indevido, tem o direito à restituição na forma prevista no art. 165 do Código Tributário Nacional CTN, devidamente corrigido pela taxa SELIC, conforme prescreve a Lei nº 9.250, de 1995, "ainda que informado o débito em DCTF". Sobreveio, então, o Acórdão nº 06045.906, da DRJ em Curitiba (PR), negando provimento à Manifestação de Inconformidade. Irresignada com a referida decisão, foi interposto o presente recurso voluntário, cujas razões, em suma, são as seguintes: (i) diferente do que entendeu a autoridade julgadora, a empresa recorrente comprovou ser pessoa jurídica de direito privado que tem como atividade principal a indústria, comércio e exportação de couros de boi; (ii) que demonstrou que a Lei n° 10.865, de 2004, que instituiu as contribuições ao PIS/Pasep e COFINS sobre a importação de bens e serviços, não foi clara ao determinar a incidência sobre as quantias pagas, ou remetidas ao exterior, a representantes comerciais domiciliados no exterior a título de comissões sobre vendas; Fl. 57DF CARF MF Processo nº 10930.903563/201256 Acórdão n.º 3402003.535 S3C4T2 Fl. 4 3 (iii) para não sofrer sanções, optou por recolher as contribuições sobre as quantias remetidas ao exterior (para representantes domiciliados no exterior) incidentes sobre comissões sobre vendas, conforme (DARF's) apresentados; (iv) ocorre que, posteriormente, a própria RFB, através de inúmeras respostas a Soluções de Consultas, passou a definir que as "comissões de vendas pagas e/ou creditadas a representantes comerciais residentes ou domiciliados no exterior não estão sujeitas à incidência da COFINS/PISImportação", por não configurarem hipótese de serviço prestado no Brasil ou cujo resultado aqui se verifique. Reproduz algumas dessas Solução de Consulta. (v) que o processo administrativo sempre deve buscar a verdade real ou material relativa aos fatos tributários, em decorrência da estrita legalidade tributária, que devem nortear todos os atos da administração fiscal. Com isto, não basta simplesmente argumentar que "prova alguma foi trazida aos autos que comprovassem de que teria havido pagamento a maior ou indevido", para negar a existência do direito creditório; (vi) frisa que os erros contidos em declaração podem e devem ser retificados de ofício, por força da estrita legalidade tributária e nos moldes do art. 147, § 2º do CTN. (vii) que seja reconhecido que os valores indevidamente recolhidos a este título são restituíveis em valores devidamente acrescidos de juros equivalentes à taxa SELIC, na forma da Lei n° 9.250/95; (viii) requer que seja determinada a conversão do julgamento em diligência, a fim de que seja oportunizada apresentação de elementos considerados necessários à complementação da prova ou esclarecimento de dúvidas relativas aos fatos trazidos neste processo. À vista do exposto, espera e requer seja julgado integralmente procedente o presente recurso, a fim de que seja reconhecido o direito creditório e assegurada a restituição das quantias recolhidas indevidamente. É o relatório. Voto Conselheiro Antonio Carlos Atulim, Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3402003.529, de 13 de dezembro de 2016, proferido no julgamento do processo 10930.903656/201281, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3402003.529): Fl. 58DF CARF MF Processo nº 10930.903563/201256 Acórdão n.º 3402003.535 S3C4T2 Fl. 5 4 Emerge do relatado, que o objeto do pedido de ressarcimento tem como fundamento o indébito de PIS/Pasep sobre comissão de venda paga a representantes comerciais residentes/domiciliados no exterior. No referido Despacho Decisório restou consignado que, "(...) A partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos abaixo relacionados, mas integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para restituição". Consta dos autos que o Despacho Decisório questionado está respaldado em informações prestadas pela própria interessada em DCTF, que encontrase ativa até o momento no sistema informatizado da Receita Federal do Brasil. Ou seja, ao que tudo indica, o contribuinte não retificou a DCTF no que pertine ao pleito em questão, por isso a conclusão do despacho decisório vestibular que o valor sob pedido de ressarcimento foi "integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte". Por outro lado, a Recorrente tenta demonstrar em seu recurso, que não há incidência de contribuições para o PIS Importação sobre remessas realizadas para o exterior para pagamento de comissões à agentes no exterior a título de comissões ali realizadas, por não configurarem hipótese de serviço prestado no Brasil ou cujo resultado aqui se verifique, e que os valores indevidamente recolhidos a este título são restituíveis e em montantes devidamente acrescidos de juros equivalentes à taxa referencial SELIC, na forma da Lei n° 9.250/95. Tudo com base na Lei nº 10.865, de 2004 e Soluções de Consultas emitidas pela RFB que cita. Contudo, se de um lado a decisão recorrida tenha asseverado que "(...) como se vê uma das hipóteses de ocorrência do fato gerador das contribuições ao PIS e a COFINS, sobre importação de serviços, é a remessa de valores a residentes ou domiciliados no exterior como contraprestação pelo serviço prestado", como alega a peticionante, por outro giro, deixou patente que o ônus da prova quanto ao indébito seria da ora Recorrente, nos seguintes termos: "(...) Mas, para a verificação se os valores remetidos ao exterior atendem às condições estabelecidas em lei para a incidência das contribuições sobre a importação de serviços ou, não se caracterizando o fato gerador da obrigação tributária, há, de fato, o indébito reclamado pela interessada, é crucial que se tenha em mãos documentos que demonstrem a real situação aventada, como contratos firmados com os agentes externos, comprovantes de remessa de valores ao exterior, cópias de notas fiscais, recibos, dentre outros, além da própria escrituração contábil da empresa que reflita essas operações. Ocorre que, no presente caso, prova alguma foi trazida aos autos que comprovassem de que teria havido pagamento a maior ou indevido. Nesse sentido, é bom lembrar que não se permite, depois de iniciado qualquer procedimento fiscal, que seja retificada declaração quando vise a reduzir ou a excluir tributo, a não ser mediante a comprovação do erro em que se funde. É o que Fl. 59DF CARF MF Processo nº 10930.903563/201256 Acórdão n.º 3402003.535 S3C4T2 Fl. 6 5 determina o art. 147, § 1º, da Lei nº 5.172, de 25/10/1966. E, como visto, o Despacho Decisório questionado está respaldado em informações prestadas pela própria interessada em DCTF, que encontrase ativa até o momento no sistema informatizado da Receita Federal do Brasil. (sublinhei) E conclui a decisão a quo: "(...) Assim, instaurado o contencioso administrativo, as alegações quanto ao suposto crédito decorrente de recolhimento indevido ou a maior, como no caso em análise, devem estar comprovadas pela demonstração inequívoca do quantum recolhido indevidamente, mediante a apresentação de documentação hábil e idônea, consistente na escrituração contábil/fiscal da contribuinte. Dessa forma, uma vez que a conclusão emitida pela autoridade administrativa teve como pressuposto as informações prestadas pela própria interessada em declarações fiscais válidas a produzir efeitos na data da emissão do Despacho Decisório e não havendo prova hábil que contrarie as informações prestadas espontaneamente, demonstrando o pagamento indevido do tributo, é de se manter o indeferimento da restituição pleiteada". Portanto, a lide se resume na questão de atendimento de condições estabelecidas em lei e provas documentais trazidos aos autos, pois para o deslinde do litígio é crucial que se tenha em mãos documentos que demonstrem a real situação aventada, mormente quando o pedido versa sobre suposto pagamento indevido. No caso em análise, por se tratar de pedido de restituição, devem estar comprovadas pela demonstração inequívoca do quantum recolhido indevidamente, mediante a apresentação de documentação hábil e idônea, consistente na escrituração contábil/fiscal da recorrente. Documentação essa, frisese, de posse da recorrente por determinação legal, como contratos firmados com os agentes externos, comprovantes de remessa de valores ao exterior, cópias de notas fiscais, recibos, dentre outros, além da própria escrituração contábil da empresa que reflita essas operações. É de conhecimento que a regra fundamental do sistema processual adotado pelo legislador nacional, quanto ao ônus da prova, encontrase cravada no art. 373 do novo Código de Processo Civil, in verbis: Art. 373. O ônus da prova incumbe: I ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Tal dispositivo é a tradução do princípio de que o ônus da prova cabe a quem dela se aproveita. E esta formulação também foi, com as devidas adaptações, trazida para o processo administrativo fiscal, posto que a obrigação de provar está expressamente atribuída para o Fisco quando realiza o lançamento tributário e para o sujeito passivo, quando formula pedido de repetição de indébito. Fl. 60DF CARF MF Processo nº 10930.903563/201256 Acórdão n.º 3402003.535 S3C4T2 Fl. 7 6 E, no presente caso, é fato que prova alguma foi trazida aos autos pela Recorrente que comprovem que teria havido pagamento a maior ou indevido, embora ela tenha tido mais de uma oportunidade processual para fazêlo, quer na impugnação, quer agora na fase recursal. Demais disso, o fundamento da decisão recorrida foi justamente este, qual seja, a falta de prova. Mas, contrariando os ditames do ônus da distribuição da prova para provar fato constitutivo de seu direito, insiste que "seja determinada a conversão do julgamento em diligência, a fim de que seja oportunizada apresentação de elementos considerados necessários à complementação da prova". Ora, se toda a documentação para provar o direito que alega está em seu poder, deveria ter a Recorrente produzido tal prova quando da manifestação de inconformidade, ou mesmo em sede de recurso voluntário, o que não ocorreu. Diante desse quadro, entendo que a decisão da DRJ é merecedora de ser mantida pelos seus próprios fundamentos. Conclusão Assim, concluo que por falta de prova hábil acostadas nos autos, ônus seu de produzir, deve ser negado seu pleito. Ante o exposto, nego provimento ao recurso voluntário. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, negase provimento ao recurso voluntário. (Assinado com certificado digital) Antonio Carlos Atulim Fl. 61DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10783.907173/2012-96
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 28 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Oct 21 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/09/2010 a 31/12/2010
FRAUDE NA VENDA DE CAFÉ EM GRÃO. COMPROVADA A SIMULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE COMPRA. DESCONSIDERAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO. POSSIBILIDADE.
Comprovada a existência da fraude nas operações de aquisição de café em grão mediante simulação de compra realizada de pessoas jurídicas inexistentes de fato e a dissimulação da real operação de compra do produtor rural ou maquinista, pessoa física, com o fim exclusivo de se apropriar do valor integral do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desconsidera-se a operação da compra simulada e mantém-se a operação da compra dissimulada, se esta for válida na substância e na forma.
REGIME NÃO CUMULATIVO. CAFÉ EM GRÃO EFETIVAMENTE ADQUIRIDO DO PRODUTOR RURAL. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE PESSOA JURÍDICA INIDÔNEA. APROPRIAÇÃO DO CRÉDITO PRESUMIDO AGROPECUÁRIO. POSSIBILIDADE.
Se comprovado que o café em grão foi efetivamente adquirido do produtor rural, pessoa física, e não das pessoas jurídicas inexistentes de fato, fraudulentamente interpostas entre o produtor rural e a pessoa jurídica compradora, esta última faz jus apenas à parcela do crédito presumido agropecuário da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins.
AQUISIÇÃO DE CAFÉ EM GRÃO DE COOPERATIVA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA. OPERAÇÃO SUJEITA À TRIBUTAÇÃO NORMAL. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO INTEGRAL. POSSIBILIDADE.
Se submetidas ao regime de tributação normal, as aquisições de café em grão de cooperativas de produção permitem a apropriação do valor integral dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins.
Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/09/2010 a 31/12/2010
NULIDADE DE DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO PROVADA A MUDANÇA DE FUNDAMENTO JURÍDICO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Não é passível de nulidade, por cerceamento do direito de defesa, a decisão primeira instância que apreciou todas as razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências consignadas no auto de infração de forma fundamentada e motivada.
2. Não motivo para nulidade da decisão de primeira instância, se não comprovado que houve a alegada alteração o fundamento jurídico do despacho decisório proferido pela autoridade fiscal da unidade da Receita Federal de origem.
PROCEDIMENTO FISCAL. MOTIVAÇÃO ADEQUADA E SUFICIENTE. CIÊNCIA AO CONTRIBUINTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE.
No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do direito de defesa procedimento fiscal apresenta fundamentação adequada e suficiente para o indeferimento do pleito de ressarcimento/compensçaõ formulado pelo contribuinte, que foi devidamente cientificada e exerceu em toda sua plenitude o seu direito de defesa nos prazos e na forma na legislação de regência.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 3302-003.389
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, para restabelecer o direito de a recorrente deduzir dos débitos lançados o valor dos créditos integrais das respectivas contribuições, calculados sobre as aquisições do café em grão das cooperativas de produção agropecuária, parcialmente vencido o Conselheiro Domingos de Sá, que dava integral provimento ao Recurso. A Conselheira Lenisa Prado votou pelas conclusões. Fez sustentação oral: Dr. Afonso Celso Mattos Lourenço - OAB 27.406 - RJ.
(assinado digitalmente)
Ricardo Paulo Rosa - Presidente.
(assinado digitalmente)
José Fernandes do Nascimento - Relator.
Participaram do julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza e Walker Araújo.
Nome do relator: JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/09/2010 a 31/12/2010 FRAUDE NA VENDA DE CAFÉ EM GRÃO. COMPROVADA A SIMULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE COMPRA. DESCONSIDERAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO. POSSIBILIDADE. Comprovada a existência da fraude nas operações de aquisição de café em grão mediante simulação de compra realizada de pessoas jurídicas inexistentes de fato e a dissimulação da real operação de compra do produtor rural ou maquinista, pessoa física, com o fim exclusivo de se apropriar do valor integral do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desconsiderase a operação da compra simulada e mantémse a operação da compra dissimulada, se esta for válida na substância e na forma. REGIME NÃO CUMULATIVO. CAFÉ EM GRÃO EFETIVAMENTE ADQUIRIDO DO PRODUTOR RURAL. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE PESSOA JURÍDICA INIDÔNEA. APROPRIAÇÃO DO CRÉDITO PRESUMIDO AGROPECUÁRIO. POSSIBILIDADE. Se comprovado que o café em grão foi efetivamente adquirido do produtor rural, pessoa física, e não das pessoas jurídicas inexistentes de fato, fraudulentamente interpostas entre o produtor rural e a pessoa jurídica compradora, esta última faz jus apenas à parcela do crédito presumido agropecuário da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins. AQUISIÇÃO DE CAFÉ EM GRÃO DE COOPERATIVA DE PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA. OPERAÇÃO SUJEITA À TRIBUTAÇÃO NORMAL. APROPRIAÇÃO DE CRÉDITO INTEGRAL. POSSIBILIDADE. Se submetidas ao regime de tributação normal, as aquisições de café em grão de cooperativas de produção permitem a apropriação do valor integral dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 78 3. 90 71 73 /2 01 2- 96 Fl. 708DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 2 ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/09/2010 a 31/12/2010 NULIDADE DE DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO PROVADA A MUDANÇA DE FUNDAMENTO JURÍDICO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não é passível de nulidade, por cerceamento do direito de defesa, a decisão primeira instância que apreciou todas as razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências consignadas no auto de infração de forma fundamentada e motivada. 2. Não motivo para nulidade da decisão de primeira instância, se não comprovado que houve a alegada alteração o fundamento jurídico do despacho decisório proferido pela autoridade fiscal da unidade da Receita Federal de origem. PROCEDIMENTO FISCAL. MOTIVAÇÃO ADEQUADA E SUFICIENTE. CIÊNCIA AO CONTRIBUINTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE. No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do direito de defesa procedimento fiscal apresenta fundamentação adequada e suficiente para o indeferimento do pleito de ressarcimento/compensçaõ formulado pelo contribuinte, que foi devidamente cientificada e exerceu em toda sua plenitude o seu direito de defesa nos prazos e na forma na legislação de regência. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, para restabelecer o direito de a recorrente deduzir dos débitos lançados o valor dos créditos integrais das respectivas contribuições, calculados sobre as aquisições do café em grão das cooperativas de produção agropecuária, parcialmente vencido o Conselheiro Domingos de Sá, que dava integral provimento ao Recurso. A Conselheira Lenisa Prado votou pelas conclusões. Fez sustentação oral: Dr. Afonso Celso Mattos Lourenço OAB 27.406 RJ. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Presidente. (assinado digitalmente) José Fernandes do Nascimento Relator. Participaram do julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Fl. 709DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 708 3 Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza e Walker Araújo. Relatório Tratase de pedido de ressarcimento (fls. 2/5) de créditos da Cofins não cumulativa exportação do 4º trimestre de 2010, no valor total de R$ 229.588,96. Com base no Parecer de fls. 65/69, por meio do Despacho Decisório de fl. 70, o titular da unidade da Receita Federal de origem reconheceu parte do crédito pleiteado, no valor de R$ 12.257,23, e homologou parcialmente as compensações declaradas até o limite do valor do crédito deferido, apoiado nas conclusões exaradas no Termo de Encerramento da Ação Fiscal (TEAF) de fls. 72/247, no qual foram relatadas as seguintes glosas de créditos apropriados pela requerente: a) glosa da parcela dos créditos da Contribuição para PIS/Pasep e da Cofins, excedente ao valor do crédito presumido, apropriada sobre o valor do café em grão adquirido de empresas de “fachada” ou “laranja”, que atuaram como intermediárias fictícias entre o produtor rural/maquinista, pessoa física, e a interessada, com o propósito de gerar, indevidamente, crédito integral das referidas contribuições; b) glosa do crédito integral sobre aquisições de café de cooperativas crédito presumido; c) glosa do crédito integral sobre aquisições de café de produtores rurais pessoas físicas crédito presumido; e d) glosa valores informados a maior na linha 01 do Dacon. A parcela dos créditos glosada pela fiscalização referese à aquisição de café em grãos de pessoas jurídicas inexistente de fato e de cooperativas de produção com suspensão do pagamento das referidas contribuições. Tais irregularidades foram apuradas no âmbito das Operação Tempo de Colheita, Operação Broca e Operação Robusta, realizadas pela fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) e pela Polícia Federal, com a participação do Ministério Público Federal (MPF), e consistiram na participação da interessada nas fraudes, mediante compra notas fiscais de pessoas jurídicas inexistentes de fato, para acobertar as operações reais de compras de café em grãos dos produtores rurais pessoas físicas, com a finalidade de gerar ilicitamente créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, em vez de tão somente crédito presumido, bem como a apropriação indevida de créditos nas compras de café em grãos de cooperativas de produtores, sem incidência das referidas contribuições, situação que não admitia apropriação de créditos, nos termos do art. 3°, § 2°, II, da Lei 10.637/2002, e da Lei 10.833/2003. Os principais fatos relatados no referido TEAF foram resumidos no relatório integrante do acórdão recorrido, com os seguintes dizeres, in verbis: 1. A fiscalização teve como escopo a verificação de pretensos créditos, oriundos das aquisições de bens para revenda, compensados com as contribuições não cumulativas devidas para o Programa de Integração Social (PIS) e para a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); 2. REALCAFÉ foi objeto de ação fiscal em 2010, que analisou os pedidos de ressarcimento de créditos das contribuições não cumulativas do PIS/COFINS atinentes aos períodos de Fl. 710DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 4 01/2005 a 12/2008, e que resultou no indeferimento na ordem de 79% dos créditos pleiteados; 3. No Termo de Encerramento da Ação Fiscal n° 08241/2010, que faz parte do processo n° 15586.000956/201025, que analisou os referidos créditos dos períodos de 01/2005 a 12/2008, restou comprovado à saciedade que a REALCAFÉ apropriouse de créditos integrais fictos; 4. As investigações mostraram que a REALCAFÉ lançou mão de créditos do PIS/COFINS documentados com notas fiscais de empresas laranjas utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café de produtores/maquinistas. 5. O procedimento fiscal, ora encerrado, decorre das investigações originadas na operação fiscal TEMPO DE COLHEITA, deflagrada pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Vitória/ES, em outubro de 2007, em face de supostas empresas ATACADISTAS de café em grãos; 6. Posteriormente, na "OPERAÇÃO BROCA", deflagrada em 01/06/2010, fruto da parceria entre o Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal, foram cumpridos mandados de busca e apreensão, sendo as empresas compradoras de café do GRUPO TRISTÃO uns dos alvos; 7. Planilhas de controle de compras e outros documentos extraídos das mídias eletrônicas apreendidas nas empresas do GRUPO TRISTÃO corroboram o que antes eram meros indícios, de fato, essas planilhas faziam clara distinção entre o VENDEDOR do café e o EMISSOR da nota fiscal; 8. Como se não bastasse, o próprio sistema informatizado de controle de compras da TRISTÃO denominado "FOLHA DE COMPRA" deixava evidente a diferença entre o vendedor (produtor) e a empresa laranja usada como intermediária fictícia na operação, destacando claramente no campo "vendedor" o nome do produtor/maquinista e no campo observações o nome da empresa laranja; 9. Não obstante o volume de compras nesse período ser inferior ao analisado anteriormente, 44,90% das compras no ano de 2009 foram em nome de empresas laranjas, em 2010, o percentual foi de 26,37%, sendo que as compras da TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR representaram 45,54%, após exclusão das operações em nome das empresas laranjas; 10. A TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR foi também objeto de auditoria fiscal em 2013, que analisou as PER/DCOMP de 10/2008 a 12/2010, que, ao final, resultou no indeferimento de 90,83% do valor pleiteado nos pedidos de ressarcimento, em razão do mesmo ilícito, qual seja: créditos do PIS/COFINS documentados com notas fiscais de empresas laranjas utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café de produtores/maquinistas; Fl. 711DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 709 5 11. Repetemse nesse período algumas empresas laranjas envolvidas nas operações do período analisado anteriormente, a saber: CELBA, L&L, NOVA BRASÍLIA, P.A. CRISTO, RADIAL, ROMA, WG DE AZEVEDO, W R DA SILVA, YPIRANGA; 12. A essas se juntaram outras novas empresas laranjas, por exemplo, ADAME, CAFÉ FORTE, CAFEEIRA CASTELENSE, COFFEE TRADE DO BRASIL, COFFEER SUL GOLD COFFEE, JUPARANÃ, LÍDER, NORTE PRODUTOS ALIMENTOS, PRINCESA DO NORTE ALIMENTOS e RODRIGO SIQUEIRA. 13. Os créditos integrais, apropriados indevidamente nos livros contábeis da REALCAFÉ, foram glosados na presente auditoria e reconhecido o direito ao crédito presumido sobre tais operações, na forma da legislação aplicável; 14. Após a recomposição dos saldos, as diferenças do PIS e da COFINS devidos foram lançadas| de ofício, além da aplicação das multas isoladas sobre as compensações indevidas, nãohomologadas, e sobre o valor do crédito objeto de ressarcimento não reconhecido; 15. Foram lançados de oficio os créditos tributários relativos às diferenças apuradas de PIS/COFINS no valor de R$ 901.297,65, consubstanciado no presente processo, bem como referentes às multas isoladas sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido e sobre o valor do débito indevidamente compensado, totalizando R$1.253.215,16, consubstanciado no processo n° 15586.720942/201374; 16. Além disso, após efetuada a glosa e recomposição dos saldos dos créditos, foram analisadas as PER/DCOMP resultando no reconhecimento parcial dos créditos apontados nos pedidos de ressarcimento; 17. E, finalmente, os fatos apurados no decorrer da ação fiscal em face da REALCAFÉ evidenciaram, em tese, crime contra a ordem tributária tipificado no art 1º, inciso I, II e IV da Lei n° 8.137, de 27/12/1990, pela supressão dolosa tributos devidos, bem como no art 2º, inciso I, da precitada lei, por eximirse mediante fraude de pagamentos de tributos. Consta do referido Termo, a reprodução de provas documentais colhidas no âmbito das referidas operações e de vários depoimentos/declarações prestados por pessoas participantes do esquema de fraude. Os valores dos créditos apurados, glosados, descontados e passível ressarcimento, referentes ao período de 01/2009 a 12/2010, encontramse discriminados nos demonstrativos de fls. 49/64. Em sede de manifestação de inconformidade (fls. 434/521), a interessada apresentou as razões de defesa que foram assim resumidas no citado relatório: Fl. 712DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 6 1. A Fiscalização efetuou a glosa dos créditos integrais do PIS e da COFINS não cumulativos, de forma a conceder à recorrente tão somente o direito ao crédito presumido sobre tais operações, mas sem a indicação de base legal para tal procedimento, pois o enquadramento legal utilizado para amparar o procedimento adotado pela fiscalização não serve como fundamentação; 2. A desconsideração dos negócios/fatos jurídicos efetuada nestes autos violou o princípio da tipicidade cerrada, a qual nada mais é do que o elemento da legalidade, ou seja, presente tipicamente no direito público, a lei deve definir e fechar todos os elementos formadores do tipo, semelhante ao direito penal, de maneira que as hipóteses da incidência do tributo devem estar prescritas em lei; 3. Ora, a partir do momento em que a fiscalização descaracterizou legítimos negócios jurídicos realizados pela Impugnante, inclusive acusandoa de falsidade em suas declarações, por evidente que caberia a esta mesma autoridade fazendária indicar de quais produtores rurais a contribuinte então teria adquirido o café; 4. Ademais, a fiscalização deveria ter feito tais indicações de forma individualizada, por trimestre, para cada um dos processos administrativos nos quais examinou os pedidos de Ressarcimento/compensação, até mesmo porque, o percentual de fornecedores considerados pela autoridade como “de fachada” e glosados, obviamente não é o mesmo se considerado cada trimestre; 5. Se tivesse sido efetuada a quebra do sigilo fiscal/bancário das empresas fornecedoras das quais a Impugnante adquiriu o café, na medida em que os pagamentos (não questionados como de fato ocorridos) foram realizados por CHEQUE/DOC/TED, por evidente que a fiscalização poderia individualizar a destinação dos valores para cada uma das compras, elemento concreto que poderia amparar a imputação fiscal, ao contrário dos dados subjetivos (testemunhais e meramente indiciários) constantes deste processo; 6. Se tivesse sido efetuada a quebra do sigilo fiscal/bancário das empresas fornecedoras das quais a Impugnante adquiriu o café, consideradas como “de fachada”, teria a autoridade fazendária, ao menos, realizado o devido trabalho fiscal, com a INDIVIDUALIZAÇÃO DAS ILICITUDES, e não com a GLOSA GERAL das compras referentes a cada trimestre; 7. nos termos dos fundamentos anteriormente alinhados, há que se concluir que houve ofensa ao direito à ampla defesa da Impugnante, razão pela qual esta requer seja declarada a NULIDADE ABSOLUTA do procedimento fiscal; 8. Em suma, não restam dúvidas de que, pelo exame de todas as provas constantes dos autos inclusive levandose em consideração também os depoimentos obtidos no decorrer das investigações realizadas no âmbito da denominada "Operação Broca" , em nenhum momento a Impugnante é citada como estando envolvida na criação, ou manutenção das intituladas pseudopessoas jurídicas, mas sim, ao contrário, sempre é Fl. 713DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 710 7 indicada apenas como a destinatária (adquirente) do café, o que ratifica plenamente a sua boafé; 9. Deve ser considerado o que dispõe o parágrafo único, do artigo 82, da Lei n° 9.430/96, segundo o qual as empresas que comprovarem a efetivação do pagamento do preço e o recebimento das mercadorias não poderão ter seus créditos glosados; 10. No caso presente, não restou qualquer dúvida quanto ao recebimento e pagamento das mercadorias por parte da Impugnante, até mesmo porque restou reconhecido ao menos o direito ao crédito presumido sobre as operações examinadas nestes autos; 11. A boafé da Impugnante é ainda demonstrada pelo fato de que esta teve o zelo de fazer consultas ao SINTEGRA e ao próprio banco de dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil, através do sítio http://receita.fazenda.gov.br com o objetivo de comprovar a regularidade jurídica das empresas fornecedoras, conforme comprovado através da documentação anexada nestes autos; 12. Logo, ainda que as empresas fornecedoras estivessem inativas no momento da realização das operações de fornecimento de mercadorias no período, o que não é verdade, mesmo assim a Impugnante não poderia jamais ser prejudicada por fatos que não causou, na medida em que adotou todas as medidas de cautela que exige a legislação de regência; 13. Nestes termos, uma vez afastadas por completo as infundadas acusações trazidas pela autoridade fazendária prolatora do despacho decisório ora combatido, face aos elementos de prova apresentados pela Impugnante, não restam dúvidas de que as aquisições de bens se deram por intermédio de fornecedoras (pessoas jurídicas) ativas no CNPJ Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, bem como no SINTEGRA Serviço Integrado de Informações sobre Operações Interestaduais com Mercadorias e Serviços; 14. nenhum dos SÓCIOS ou empregados da Impugnante foi denunciado pelo Ministério Público Federal, não respondendo a qualquer dos crimes que foi objeto da operação denominada "Broca"; 15. Pelo exame dos elementos coletados pela fiscalização, tais como email's, telefonemas, depoimentos e documentos internos da contribuinte, não se vislumbra qualquer subsistência dos mesmos, para fins de comprovação de um vínculo entre a Impugnante, seus diretores, ou mesmo funcionários, nas aventadas empresas consideradas pela autoridade fazendária como sendo "de fachada"; 16. o sigilo de dados da Impugnante foi quebrado, sem qualquer ordem judicial, tendo em conta a subsunção do posicionamento do Plenário do STF ao caso concreto, temos que o que era uma Fl. 714DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 8 duvidosa e muito combatida competência exercida pelos representantes da SRFB que não se acanhavam de afastar o sigilo de dados dos contribuintes, inclusive bancários, para efetuar seus lançamentos , agora sem dúvida é, nos termos da decisão de nossa Corte Constitucional, ato ilegal; 17. o In dúbio pro contribuinte advém no Sistema Constitucional Tributário, como uma determinação de que se proteja, o máximo possível, o direito fundamental de propriedade e demais direitos em jogo, frente ao poder de tributar do Fisco; 18. na falta de uma prova inequívoca com base nos depoimentos trazidos pela fiscalização, decidase a favor do contribuinte, do cidadão, da parte hipossuficiente, que terá um direito fundamental limitado, que, arcará com danos maiores que o Estado, ao ver limitado seu poder; 19. não há como atribuir culpa ou dolo no caso sub examine, pois os depoimentos apresentados pelo fisco não se sobrepõem aos elementos de prova apresentados pela Impugnante, os quais demonstram que as operações por ela realizadas atenderam a todos os requisitos previstos na legislação vigente. 20. O conjunto probatório apresentado pela fiscalização se demonstra como nebuloso in extremo, as provas em especial os depoimentos são insuficientes e geram apenas dúvidas, vez que não conduzem a qualquer juízo de certeza; 21. Ademais, para ser válido, o depoimento de terceiros que visa imputar a prática de qualquer conduta aos contribuintes, necessariamente, deve ser realizado na presença deste e seu defensor, pois visa assegurarlhes o respeito ao princípio constitucional do contraditório, ampla defesa, bem como o direito a reperguntas; 22. Absolutamente, tais depoimentos não fazem nenhuma acusação direta contra a Impugnante, nem mesmo são tecidos quaisquer comentários que pudessem ser, legitimamente, tomados como desabonadores da conduta comercial da mesma. 23. Ademais, depoimentos, sobretudo os tomados de pessoas que integram um mercado submetido a uma ampla investigação devem ser tomados com grande reserva e cuidado, isso porque, pessoas podem tentar fugir das suas próprias responsabilidades ou encobrir as de parentes ou amigos, tentando transferilas a outrem; 24. Ora, pessoas podem simplesmente depor mal informadas, nervosas, apreensivas, temerosas, desconfortáveis com a exposição das suas limitações intelectuais ou com o que foge à sua rotina, ou manifestando outros tantos traços da condição humana; 25. No caso, portanto, é de se sobrevalorizar o fato de inexistirem declarações que deponham contra a idoneidade e a boafé da Impugnante; Fl. 715DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 711 9 26. Enfim, todas as trocas de emails obtidas pela fiscalização de forma ilegal, apenas comprovam a reiterada orientação da Diretoria da empresa Impugnante no sentido de não realizar operação de compra e venda de café com pessoas jurídicas que apresentassem irregularidades perante o CNPJ e o SINTEGRA, em demonstração de extremo zelo profissional e boa fé; 27. Não resta outra conclusão senão a de que deve prevalecer o direito ao crédito integral da contribuição para o PIS e a COFINS amparada em lançamentos contábeis, identificáveis com base em aquisições, com data e valores, em razão da prevalência da sua essência sobre a forma; 28. Primeiramente, cabe salientar que nenhum dos Diretores ou componentes do quadro societário da impugnante foi denunciado pelo Ministério Público Federal nos autos da ação penal n° 2008.50.05.0005383 (conforme certidão anexada aos presentes autos); 29. as conclusões dos acórdãos proferidos no âmbito das DRJ's tornam evidente que não existe base legal para a presunção de que compras de mercadorias efetuadas de sociedades cooperativas se equiparam às compras de pessoas físicas que geram crédito presumido, razão pela qual para efeito de apuração dos créditos de PIS e da COFINS, tais compras devem ser consideradas como as das demais pessoas jurídicas; 30. diversas empresas não foram objeto de qualquer descrição delituosa no TERMO DE ENCERRAMENTO DA AÇÃO FISCAL N° 04301/ 2013; e as compras foram realizadas antes das declarações de inaptidão, quando estas ocorreram, já que diversas empresas fornecedoras continuam ATIVAS até hoje; estes elementos, isoladamente ou combinados, atestam a completa impropriedade das glosas efetuadas; 31. Vale ressaltar, em especial, o absurdo de glosas inexplicadas, a saber, aquelas para as compras realizadas nas empresas nas quais a fiscalização não indicou qualquer elemento delituoso, sendo que as mesmas continuam ATIVAS até a presente oportunidade. Sobreveio a decisão de primeira instância (fls. 547/573), em que, por unanimidade de votos, a manifestação de inconformidade foi julgada improcedente, com base nos fundamentos resumidos nos enunciados das ementas que seguem transcritos: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/10/2010 a 31/12/2010 Fraude. Dissimulação. Desconsideração. Negócio Ilícito. Comprovada a existência de simulação/dissimulação por meio de interposta pessoa, com o fim exclusivo de afastar o pagamento da contribuição devida, é de se glosar os créditos decorrentes dos expedientes ilícitos, desconsiderandose os negócios fraudulentos. Fl. 716DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 10 Uso de Interposta Pessoa. Inexistência de Finalidade Comercial. Dano ao Erário. Caracterizado. Negócios efetuados com pessoas jurídicas, artificialmente criadas e intencionalmente interpostas na cadeia produtiva, sem qualquer finalidade comercial, visando reduzir a carga tributária, além de simular negócios inexistentes para dissimular negócios de fato existentes, constituem dano ao Erário e fraude contra a Fazenda Pública, rejeitandose peremptoriamente qualquer eufemismo de planejamento tributário. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/10/2010 a 31/12/2010 Nulidade Não padece de nulidade a decisão, lavrada por autoridade competente, contra a qual o contribuinte pode exercer o contraditório e a ampla defesa, onde constam os requisitos exigidos nas normas pertinentes ao processo administrativo fiscal. Matéria não Impugnada Operamse os efeitos preclusivos previstos nas normas do processo administrativo fiscal em relação à matéria que não tenha sido expressamente contestada, salvo exceções legalmente previstas. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Em 29/7/2014, a recorrente foi cientificada da decisão de primeira instância (fl. 575). Em 13/8/2014, protocolou o recurso voluntário de fls. 577/691, em que reafirmou as razões de defesa apresentadas na peça impugnatória. Em aditamento, em preliminar, além de reiterar as razões nulidade do procedimento fiscal suscitada na fase de manifestação de inconformidade, a recorrente alegou nulidade da decisão recorrida por cerceamento do direito de defesa, em virtude da ausência de fundamentação e motivação, baseada nos argumentos de que a Turma de Julgamento (i) analisara de forma genérica e sem qualquer aprofundamento a questão atinente à nulidade do procedimento fiscal e (ii) não se pronunciara sobre a possibilidade de apropriação de crédito integral nas aquisições de cooperativas; por ilegítima inovação dos fundamentos da glosa dos créditos pleiteados. Em relação ao mérito, reafirmou as razões de defesa aduzidas na manifestação de inconformidade. Em 28/1/2016, a recorrente protocolou a petição de fls. 696/703, em que a recorrente comunica fatos novos e relevantes para o deslinde da controvérsia, a saber: a) a possibilidade de apropriação de créditos integrais das referidas contribuições, nas aquisições de cooperativas agropecuárias e agroindustrial, em face do entendimento exarado na Solução de Consulta Cosit 65/2014; b) a impossibilidade de manter a cobrança da multa isolada aplicada em razão dos pedidos de ressarcimento indevidos, em face da revogação da Medida Provisória 668/2015 e da sua aplicação retroativa; e c) as novas formas de utilização do crédito presumido Fl. 717DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 712 11 agropecuário, apurado nas operações de aquisição de café in natura, instituídas pelo art. 7ºA da Lei 12.995/2014. É o relatório. Voto Conselheiro José Fernandes do Nascimento, Relator. O recurso é tempestivo, trata de matéria da competência deste Colegiado e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto, deve ser conhecido. No recurso colacionado aos autos, a interessada suscita questões preliminares, atinentes a nulidade do acórdão recorrido e do procedimento fiscal, e de mérito, concernente ao seu direito de dedução integral dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins e não apenas da parcela do crédito presumido agropecuário. I DAS QUESTÕES PRELIMINARES Em preliminar, a recorrente alegou nulidade do acórdão recorrido, por cerceamento do direito de defesa e inovação dos fundamentos da glosa dos créditos pleiteados, e nulidade do procedimento fiscal por cerceamento do direito de defesa e ausência de provas. I.1 Da Nulidade da Decisão Recorrida. A recorrente alegou que a decisão recorrida apresentava dois vícios nulidade, a saber: a) cerceamento de direito de defesa; e b) inovação dos fundamentos da glosa dos créditos. Em relação à primeira alegação, a recorrente argumento que a Turma de Julgamento (i) havia analisado de forma genérica e sem qualquer aprofundamento a questão da nulidade do procedimento fiscal e (ii) não havia se pronunciado acerca da apropriação de crédito integral sobre o valor das aquisições do café em grão das sociedades cooperativas. O primeiro argumento não procede. A uma, porque o voto condutor do acórdão recorrido analisou, de forma adequada e devidamente fundamentada, todos os pontos relevantes da controvérsia suscitados pela recorrente na manifestação de inconformidade, acerca dos supostos vícios de nulidade do procedimento fiscal, consubstanciado no Parecer Fiscal e no Termo de Encerramento da Ação Fiscal, que serviu de fundamento para a decisão exarada no questionado despacho decisório. A duas, porque o fato de a recorrente não concordar ou entender que os argumentos apresentados no voto condutor do julgado não são corretos, certamente, não configura cerceamento do seu direito de defesa, principalmente, tendo em conta que lhe foi conferida a oportunidade de discordar da questionada decisão, por meio do recurso em apreço. A propósito, cabe ressaltar que o dever de fundamentação fixado no art. 93, IX, da CF/1988, combinado com disposto no art. 31 do Decreto 70.235/1972, exige que a decisão ou o acórdão se manifeste sobre todas razões de defesa de forma fundamentado, sem Fl. 718DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 12 determinar que o julgador examine, completa e pormenorizadamente, cada uma das alegações ou provas apresentadas pelas partes, nem que seja correto os fundamentos por ele aduzidos. No mesmo sentido, o entendimento manso e pacífico explicitado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a exemplo do externado no julgamento do AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 268.238/SP, cujo enunciado da ementa segue transcrito: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCIDÊNCIA DO ISSQN. REGISTRO PÚBLICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS. ADI 3.089/DF. POSSIBILIDADE. BASE DE CÁLCULO DO ISSQN DEVIDO PELOS TABELIÃES. PREÇO FIXO OU PREÇO DO SERVIÇO. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. INDEFERIMENTO LIMINAR. ART. 543A, § 5º, DO CPC. ART 5º, XXXV E ART. 93, IX, AMBOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. RECURSO PREJUDICADO. AGRAVO DESPROVIDO. [...] III. A Corte Suprema, nos autos do AIRGQO 791.292/PE, julgado sob o regime da repercussão geral, reafirmou a sua jurisprudência no sentido de que o art. 93, IX, da Constituição Federal exigem que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. IV Agravo regimental desprovido. (AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 268.238/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/12/2013, DJe 03/02/2014) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) também segue o mesmo entendimento, conforme julgamento realizado sob regime de repercussão geral, cujo enunciado da ementa segue transcrito: Questão de ordem. Agravo de Instrumento. Conversão em recurso extraordinário (CPC, art. 544, §§ 3° e 4°). 2. Alegação de ofensa aos incisos XXXV e LX do art. 5º e ao inciso IX do art. 93 da Constituição Federal. Inocorrência. 3. O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. 4. Questão de ordem acolhida para reconhecer a repercussão geral, reafirmar a jurisprudência do Tribunal, negar provimento ao recurso e autorizar a adoção dos procedimentos relacionados à repercussão geral.(AI 791292 QORG, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 23/06/2010, REPERCUSSÃO GERAL MÉRITO DJe149 DIVULG 12082010 PUBLIC 13 082010 EMENT VOL0241006 PP01289 RDECTRAB v. 18, n. 203, 2011, p. 113118 ) grifos não originais. Em relação ao segundo argumento assiste razão à recorrente. De fato, compulsando o voto condutor do julgado verificase que não houve pronunciamento acerca da questão atinente à apropriação de crédito integral sobre o valor das aquisições de café em grão Fl. 719DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 713 13 das sociedades cooperativas, embora tal ponto tenha sido devidamente suscitado na respectiva manifestação de inconformidade, conforme exige o art. 31 do Decreto 70.235/1972. Entretanto, com respaldo no art. 59, § 3º, do Decreto 70.235/1972, deixase de declarar a nulidade do referido julgado, uma vez que, na apreciação do mérito, a referida questão será dirimida em favor da recorrente, conforme a seguir explicitado. Também não há motivos para nulidade do acórdão recorrido, em razão da alegada inovação dos fundamentos da glosa dos créditos, porque ela não ocorreu. O fato de o nobre Relator do voto condutor julgado ter mencionado o parágrafo único do art. 116 do CTN no corpo do seu didático, claro e objetivo voto condutor do julgado, serviu apenas para robustecer os fundamentos jurídicos da glosa da parcela dos créditos apropriada ilicitamente pela recorrente sobre as operações de compra forjadas das pessoas jurídicas de “fachada”, as denominadas “pseudoatacadistas”, e assim demonstrar que tinha guarida no ordenamento jurídico tributário do País o procedimento da fiscalização adotado pela fiscalização no sentido de desconsiderar as operações de compra simuladas entre as “pseudoatacadistas” e considerar as reais operações de compras dissimuladas, efetivamente, realizadas com os produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas. Nos tópicos as seguir, será demonstrado que a recorrente, mancomunada com outros poderosas empresas do ramo de atividade de torrefação e exportação de grão de café, de forma planejada, contribuíram para o surgimento de fértil campo de criação pessoas jurídicas “laranjas” e de um grandioso mercado “negro” de venda de notas fiscais, com o deliberado e intencional propósito de angariar créditos indevidos das referidas contribuições, por meio de planejado esquema de interposição fraudulenta, que descortinado e sobejamente provado no âmbito das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”. Por essas razões, rejeitase a preliminar de nulidade da decisão primeiro grau suscitada pela recorrente. I.2 Da Nulidade do Procedimento Fiscal A recorrente alegou nulidade do procedimento fiscal, consubstanciado nos mencionados Parecer e Termo de Encerramento da Ação Fiscal (TEAF), sob argumento de que (i) houve cerceamento do seu direito de defesa, (ii) a descaracterização dos negócios jurídicos de todas as pessoas jurídicas envolvidas na fraude exigiria a verificação da situação tributária de todas e (iii) ausência de comprovação da sua participação esquema de fraude envolvendo a compra de notas fiscais de pessoas jurídicas inidôneas. Do cerceamento do direito de defesa. Inicialmente, ressaltase a evidente contradição entre a alegação da recorrente de que houve cerceamento do seu direito de defesa e a robustez da peça defensiva por ela apresentada. A leitura das 110 páginas do denso recurso em apreço revela que a recorrente não só teve pleno conhecimento das irregularidades que lhe foram imputadas, como delas defendeuse adequadamente. Porém, em razão da falta de argumentos consistentes para contestar o mérito das graves imputações que lhe foram feitas pela fiscalização e demonstradas com robusto acervo probatório colhido no curso das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, a recorrente Fl. 720DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 14 apontou supostos vícios no procedimento fiscal, que, no seu entendimento, implicaria nulidade absoluta. Um dos vícios apontados pela recorrente foi a falta de indicação da base legal da descaracterização das supostas operações de compra do café em grão das pessoa jurídica inexistente de fato e a consequente caracterização das referidas operações como compra dos produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas. Para recorrente, tal procedimento subsumir seia ao comportamento descrito no parágrafo único do artigo 116 do CTN, que prescindia de regulamentação ainda não realizada, logo, não poderia gerar quaisquer efeitos sobre as operações examinadas no presente processo administrativo fiscal. Sem razão a recorrente. O referido preceito legal trata da prática de simulação de negócios jurídicos (portanto de atos ou negócios lícitos), geralmente praticados sem propósito negocial ou abuso de forma, com a finalidade de “dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária.” O caso em tela, certamente, não se enquadra no figurino comportamental descrito no citado preceito legal. Aqui se trata de simulação de negócios ilícitos (operações de compra e venda fictícias) com o evidente propósito de dissimular negócio jurídico lícito (operações de compra e venda reais). Em situações desse jaez, determina o ordenamento jurídico do País, que seja declarado “nulo o negócio jurídico simulado” e subsistente o dissimulado, “se válido for na substância e na forma”. Nesse sentido, dispõe o art. 167 do Código Civil, a seguir transcrito: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós datados. § 2º Ressalvamse os direitos de terceiros de boafé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. (grifos não originais) Portanto, diferentemente do alegado pela recorrente, está em perfeita consonância com as normas legais que tratam da validade dos negócios jurídicos o procedimento adotado pela fiscalização no sentido de desconsiderar inválidas as operações simuladas de aquisição de café em grão das pessoas jurídicas inexistentes de fato (amparadas por notas fiscais comprovadamente inidôneas, compradas por quantias ínfimas das referidas pessoas jurídicas de “fachada”), e válidas as operações de aquisição do referido produto dos produtores rurais ou maquinistas, que foram dissimuladas com o nítido propósito de apropriar se ilicitamente de parcela indevida de crédito indevidos das referidas contribuições. Outro vício apontado pela recorrente que resultaria no cerceamento do seu direito de defesa foi a falta de indicação dos produtores rurais de quem havia adquirido o café em grão. Segunda a recorrente, a fiscalização deveria ter feito tais indicações de forma Fl. 721DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 714 15 individualizada, por trimestre, para cada um dos processos administrativos nos quais examinou os pedidos de ressarcimento/compensação. No caso, ao comprovar que as aquisições do café em grão das empresas “pseudoatacatadistas” foram simuladas, para acobertar as reais compras dos produtores rurais, pessoas físicas, a fiscalização poderia ter simplesmente desconsiderado tais operações e glosado a totalidade do crédito pleiteado, incluindo a parcela do crédito presumido agropecuário. Em decorrência dessa constatação, para fim de apropriação da referida parcela do crédito presumido, a comprovação de que tais produtos foram adquiridos de produtores rurais caberia a recorrente. Assim, ao presumir que tais compras foram realizadas de produtores rurais, a fiscalização evitou o árduo e grandioso trabalho probatório seria da incumbência da recorrente. Dessa forma, além de não configurar vício de nulidade do procedimento fiscal, a desconsideração de que tais compras não foram realizadas de pessoas físicas implicaria na glosa da parcela do crédito presumido agropecuário, já reconhecido pela autoridade fiscal, o que resultaria na reformatio in pejus da decisão recorrida, o que, sabidamente, não é permitido a este Colegiado. Por essa razão, fica demonstrado o completo despropósito desse argumento. Pela mesma razão, também se revela sem o menor propósito o argumento da recorrente de que somente mediante a quebra do “sigilo fiscal/bancário” das “pseudoatacadistas”, a fiscalização poderia revelar os dados concretos que comprovariam as práticas ilícitas que relatadas. Além disso, na fase de procedimento fiscal, a instrução probatória tratase de procedimento da conveniência e da alçada do poder discricionário da fiscalização. Assim, se os elementos probatórios colhidos no âmbito das referidas operações revelaramse suficientes para comprovar o cometimento da referida fraude, por óbvio, que a quebra do sigilo fiscal ou bancário das mencionadas empresas revelase despicienda. Até porque, em relação à recorrente, as planilhas de “PREVISÃO DE PAGAMENTO DE CAFÉ”, extraídas das mídias eletrônicas apreendidas no estabelecimento da recorrente revelaram, de forma irrefutável, que os verdadeiros fornecedores e recebedores dos recursos financeiros foram os produtores rurais e/ou maquinistas. De acordo com os dados extraídos da referida planilha, eram reais os pagamentos das compras de café em grão dos produtores e/ou maquinistas, enquanto que os pagamentos às empresas “laranjas” foram forjados para dissimular a existência da compra verdadeira. Também foi demonstrado que as contas das referidas empresas “laranjas” foram utilizadas apenas como passagem dos recursos financeiros destinados aos produtores rurais e/ou maquinistas. Os pagamentos realizados mediante TED ou depósito bancário, nas contas correntes das empresas de “fachada”, procedimento padrão utilizado por todas as empresas compradoras, de fato, foi uma tentativa de falsear a realidade dos fatos, dar aparência de legalidade a transação simulada e aparentar a condição de comprador de boafé. Por todas essas razões, rejeitase todos os argumentos suscitados pela recorrente de que o procedimento fiscal em destaque estava maculado pelo vício do alegado cerceamento do direito de defesa. Dos demais argumentos de nulidade do procedimento fiscal. Fl. 722DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 16 A recorrente alegou ainda nulidade procedimento fiscal, sob o argumento de que (i) a descaracterização dos negócios jurídicos de todas as pessoas jurídicas envolvidas na fraude exigiria a verificação da situação tributária de todas e (ii) a ausência de comprovação da sua participação esquema de compra de notas fiscais de pessoas jurídicas inidôneas, induvidosamente, envolvem o mérito da controvérsia, a seguir analisado. O primeiro argumento não procede, uma vez que a fiscalização se respaldou em documentos, colhidos no âmbito das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, que comprovam o as enormes discrepâncias entre a movimentação financeira das “pseudoatacadistas” e os insignificantes valores das receitas declaradas e tributadas. No que tange à apresentação da DIPJ, a grande maioria das referidas pessoas jurídicas encontravase na situação inativa ou omissa, e as poucas que se encontravam, formalmente, em situação de ativa não apresentavam ou apresentavam recolhimentos de tributos sem significância. Portanto, ao contrário do alegado pela recorrente, houve sim análise da situação tributária das empresas “pseudoatacadistas” e com base nessa análise ficou confirmado que tais empresas foram utilizadas apenas para fraudar o pagamento das contribuições e gerar créditos ilícitos para os compradoras das notas fiscais. No que tange ao argumento de que não havia comprovação da participação da recorrente no esquema de fraude em referência, os fartos elementos probatórios demonstram o contrário. Com efeito, as declarações prestadas a termo por produtores rurais/maquinistas, corretores, sócios (“laranjas” e de fato) e demais pessoas ligadas às empresas de fachada, colhidas no âmbito da operação “Tempo de Coheita”, corroboradas pelos documentos apreendidos no estabelecimento da recorrente e da outra do Grupo Tristão1, durante a operação “Broca”, não deixam qualquer dúvida no sentido de que os dirigentes da recorrente tinham total conhecimento da existência do citado esquema fraudulento de venda de notas fiscais, que, se não descoberto em tempo hábil, teria proporcionado à recorrente, ilicitamente, elevados valores de créditos das referidas contribuições. Aliás, foi a quantidade expressiva de emails extraídos das mídias eletrônicas apreendidas nas empresas do Grupo Tristão, que deram a verdadeira dimensão do esquema de interposição fraudulenta de empresas “laranjas”. As mensagens eletrônicas extraídas da mídia apreendida evidenciam que o comprador de café em grão das empresas Grupo Tristão, no Estado do Espírito Santo, o Sr. Ricardo Schneider, repassava aos setores contábil/fiscal, sala do café e estoque as compras diárias de produtores, os documentos inidôneos que acobertavam a operação, de modo que, para cada pedido de compra, era informado o nome do produtor seguido do nome da empresa laranja usada para falsamente documentar a operação com nota fiscal comprada míseros centavos. Dessa forma, o modus operandi do referido esquema de fraude descrito detalhadamente pelos agentes da cadeia de comercialização (produtor e/ou maquinista, corretor e representantes das fictas intermediárias empresas “laranjas”) foi devidamente demonstrado mediante confrontação dos documentos colhidos no decorrer das investigações e robustecido com aqueles apreendidos na operação “Broca”, conforme excertos extraídos do citado Termo que segue transcrito: 1 O GRUPO TRISTÃO é composto das seguintes empresas: REALCAFÉ SOLÚVEL DO BRASIL (industrialização café solúvel), TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR (comercialização café em grão) e TRISCAFÉ (armazenagem e rebeneficiamento). A REALCAFÉ e a TRISCAFÉ são controladas pela TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. SÉRGIO GIESTAS TRISTÃO é presidente tanto da REALCAFÉ quanto da TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR e sócio com esta na TRISCAFÉ. O comprador de café no Espírito Santo dessas empresas do GRUPO TRISTÃO foi o funcionário RICARDO SCHNEIDER. MARCELO SILVEIRA NETO, então diretor da TRISTÃO, foi presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (C.C.C.V). Fl. 723DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 715 17 Os emails contidos nas mídias apreendidas retratam compras de café desde o ano de 2004, o que implica dizer que a interposição de empresas laranjas nas aquisições do GRUPO TRISTÃO remonta aos primórdios da nãocumulatividade do PIS/COFINS. Essas mensagens foram repassadas por cópia para os dirigentes/gerentes das empresas do Grupo: LEONARDO MOREIRA GIESTAS, BRUNO MOREIRA GIESTAS, RAIMUNDO DE PAULA SOARES FILHO, MÁRCIO CÂNDIDO FERREIRA e JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS MELLO. O próprio presidente da REALCAFÉ e TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR, SÉRGIO GIESTAS TRISTÃO, bem como MARCELO SILVEIRA NETTO, então presidente do C.C.C.V, receberam emails referentes às compras de café futuro onde diziam com todas as letras que o café de vendedor (produtor) seria guiado com nota de firma (Pessoa Jurídica). Como se não bastasse, o próprio sistema informatizado de controle de compras da TRISTÃO denominado “FOLHA DE COMPRA” deixava evidente a diferença entre o vendedor (produtor) e a empresa laranja usada como intermediária fictícia na operação. Destacava claramente no campo “vendedor” o nome do produtor/maquinista e no campo observações o nome da empresa laranja. Há emails com diálogos estabelecidos entre o corretor e a REALCAFÉ em que aquele informa a este como se daria a entrega do café. Melhor dizendo: indicava que o produtor e/ou maquinista entregaria o seu café na qualidade estipulada na confirmação de compra e venda, mas seria faturado em nome de determinada empresa laranja, ... Na falta de argumentos para contestar tão contundentes imputações, a recorrente limitouse a tentar descaracterizálas, com base no argumento, sem respaldo em qualquer meio prova, de que tais elementos probatórios foram obtidos irregularmente, o que não corresponde aos fatos provados nos autos com base em documentos idôneos. Assim, fica demonstrado que não houve o alegado cerceamento do direito de defesa e as provas colhidas licitamente demonstram que a recorrente não só conhecia como contribuía e se beneficiava da prática dos atos fraudulentos apontados pela fiscalização. Por todas essas considerações, rejeitase todas as alegações de nulidade do procedimento fiscal em questão. II DAS QUESTÕES DE MÉRITO No mérito, a lide cingese a glosa de créditos da Cofins, apurados no 4º trimestre de 2010, calculados sobre a aquisição de café em grão (i) de pessoas jurídicas consideradas inidôneas (pessoa jurídicas de “fachada”) e (ii) de cooperativas de produção agropecuária ou agroindustrial. Fl. 724DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 18 As demais glosas não serão aqui apreciadas. A uma, porque a recorrente não as questionou na fase de manifestação de inconformidade, tornando a matéria preclusa, nos termos do art. 17 do Decreto 70.235/1972. A duas, porque a recorrente manifestouse de forma genérica em relação citadas glosas, sem apontar qualquer motivo de fato e de direito, nem apresentar as razões para o restabelecimento dos correspondentes créditos glosados, contrariando o disposto no art. 16, III, do citado Decreto. Assim, como as motivações foram distintas para as glosas dos créditos calculados sobre as aquisições das pessoas jurídicas inidôneas e das cooperativas de produção agropecuária/agroindustrial, a análise será feita, a seguir, em tópicos separados. II.1 Da Glosa dos Créditos das Aquisições de Pessoas Jurídicas Inidôneas No presente tópico serão analisadas apenas a glosa parcial dos créditos apropriados pela recorrente sobre as aquisições de café em grão de pessoas jurídicas inidôneas (inexistes de fato ou de “fachada”). Em relação às referidas operações, a fiscalização procedeu a glosa parcial dos créditos, baseada na constatação de que houve fraude na operação de compra do café em grão, caracterizada pela interposição fraudulenta das referidas “empresas de fachada ou laranja” entre o real comprador (a recorrente) e o real vendedor (o produtor rural ou maquinista, pessoa física). Segundo a fiscalização, a atividade das referidas pessoas jurídicas de “fachada”, denominadas de “pseudoatacadistas”, restringiase a emissão de notas fiscais para acobertar operação de venda de grão de café, com o nítido objetivo de gerar, ilicitamente, créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, para as pessoas jurídicas adquirentes das respectivas notas fiscais, dentre as quais se inclui a recorrente. Para se ter uma percepção da dimensão da fraude em questão e do tamanho do prejuízo que ela causou ou poderia causar à arrecadação tributária da União, nos anos de 2009 a 2010, período objeto do procedimento fiscal em questão, a movimentação financeira das denominadas “pseudoatacadistas” foi da ordem de bilhões de reais, enquanto os valores dos tributos por elas recolhidos no período foram insignificantes. No âmbito do referido procedimento fiscal, a fiscalização demonstrou, com provas cabais, que a real operação de compra e venda do café em grão fora realizada diretamente entre o produtor rural, pessoa física, e a recorrente. E esta operação, nos termos do art. 8°, § 3º, III, da Lei 10.925/2004, assegurava ao comprador o direito de apropriação apenas da parcela do crédito presumido agropecuário, no valor equivalente a 35% (trinta e cinco por cento) do valor crédito integral normal, previsto no art. 3º, I e II, das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003. Do contexto legal que deu origem à fraude em destaque. Sob o aspecto legal, com a introdução do regime não cumulativo de apuração da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, respectivamente, por intermédio das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, os contribuintes, sujeito ao citado regime, adquirentes de bens de pessoas jurídicas passaram a gozar do direito de apropriar crédito sobre o valor das compras, no valor equivalente ao percentual de 9,25% da operação de aquisição. O referido percentual corresponde ao somatório das alíquotas normais fixadas para o cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep (1,65%) e Cofins (7,6%), incidentes sobre o valor da receita bruta mensal. Fl. 725DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 716 19 Especificamente em relação à aquisição de café em grão, uma particularidade cabe ser ressaltada: se a empresa comprar o produto diretamente do produtor rural ou maquinista, pessoa física, desde que atendido os requisitos legais, a ela é assegurado o direito de apropriarse de um valor de crédito presumido equivalente a apenas ao percentual de 35% (trinta e cinco por cento) do crédito integral normal passível de apropriação nas aquisições realizada de uma pessoa jurídica produtora ou atacadista. Essa permissão de apropriação de créditos entrou em vigor a partir 1/2/2004, na forma e segundo os termos do art. 8º, § 3º, III, da Lei 10.925/2004, a seguir transcrito: Art. 8º As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2, 3, exceto os produtos vivos desse capítulo, e 4, 8 a 12, 15, 16 e 23, e nos códigos 03.02, 03.03, 03.04, 03.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, exceto os códigos 0713.33.19, 0713.33.29 e 0713.33.99, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.01, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da NCM, destinadas à alimentação humana ou animal, poderão deduzir da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3o das Leis nºs 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] § 3º O montante do crédito a que se referem o caput e o § 1º deste artigo será determinado mediante aplicação, sobre o valor das mencionadas aquisições, de alíquota correspondente a: [...] III 35% (trinta e cinco por cento) daquela prevista no art. 2o das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003, para os demais produtos. (Renumerado pela Lei no 11.488, de 15 de junho de 2007) [...] (grifos não originais). Antes da vigência do citado preceito legal, prevalecia a regra geral, que vedava a apropriação de créditos sobre as aquisições do café em grão de pessoa física, na forma do § 3º do art. 3º das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, a seguir reproduzido: Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] § 3º O direito ao crédito aplicase, exclusivamente, em relação: I aos bens e serviços adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País; Fl. 726DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 20 II aos custos e despesas incorridos, pagos ou creditados a pessoa jurídica domiciliada no País; [...] (grifos não originais) Dado esse contexto legal, fica evidenciado que, para os contribuintes, submetidos ao regime não cumulativo das citadas contribuições, sob o ponto de vista tributário, passou a ser muitíssimo vantajoso adquirir o café em grão diretamente da pessoa jurídica e não do produtor rural, pessoa física, porque a primeira operação asseguravalhes o valor integral do crédito calculado sobre o preço de aquisição do produto, em vez da parcela equivalente a 35% (trinta e cinco por cento) do referido preço, a título de crédito presumido. Da fraude praticada contra a Fazenda Nacional. Previamente, cabe esclarecer que a comprovação da fraude em referência foi feita com base nos fartos elementos probatórios colhidos no âmbito das denominadas operações “Tempo de Colheita” e “Broca”. Os documentos colhidos no âmbito das referidas operações constam do processo n° 15586.720942/201374 (fls.45/918), do interesse da recorrente, que trata da cobrança das multas isoladas sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido e do débito indevidamente compensado. Além das provas colhidas no âmbito das referidas operações, constam dos presentes autos o citado Termo de Encerramento de Ação Fiscal, que contém extensa e criteriosa descrição dos fatos, que comprovam o conhecimento e a participação da recorrente no referenciado esquema fraudulento, inclusive com a reprodução de parte dos documentos e de depoimentos e declarações de produtores rurais, maquinistas, corretores, sócios das empresas de “fachada”, procuradores etc. Ainda consta dos autos os demonstrativos dos créditos apurados, glosados, descontados e passível de ressarcimento, referente aos trimestres dos anos de 2009 e 2010. A operação denominada “Tempo de Colheita” foi deflagrada pela fiscalização da Delegacia da Receita Federal do Brasil em Vitória, em 22/10/2007, para investigar a existência do referido esquema de venda de nota fiscal para as empresas compradoras de café em grão (empresas torrefadoras e exportadoras), com o único propósito de assegurar, ilicitamente, a apropriação integral dos créditos das referidas contribuições, ou seja, créditos equivalentes ao percentual de 9,25% sobre o valor indicado na nota fiscal, pois, na compra real, efetivada perante o produtor rural ou do maquinista, pessoa física, era assegurado à pessoa jurídica adquirente apenas 35% do valor do crédito integral. Em face da grande quantidade de infratores e da dimensão dos valores dos créditos tributários fraudados, que foram demonstrados na operação “Tempo de Colheita”, e diante da insistente continuidade delitiva dos fraudadores, em 1/6/2010, foi deflagrada a operação “Broca”, para aprofundar a investigação do esquema fraudulento. Essa operação contou com a participação da fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. No seu curso, mídias eletrônicas foram apreendidas no estabelecimento da recorrente e outra empresa ligada ao Grupo Tristão. Delas foram extraídas planilhas de controle de compras e dezenas de mensagens eletrônicas (emails) trocados pelo comprador de café da recorrente, o Sr. Ricardo Schneider, com os setores contábil/fiscal, sala do café e estoque, em que, para cada pedido de compra, era repassado os dados das compras de café do dia mencionando e a indicação do nome do produtor rural ou maquinista, seguido do nome da empresa laranja usada para falsamente documentar a operação. Os dados apresentados nas referidas planilhas faziam clara distinção entre o Fl. 727DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 717 21 vendedor do café em grão e o emissor da nota fiscal, como ilustra a pequena parte da referida planilha reproduzida abaixo, em especial, os dados do quadro em destaque: De acordo com o referido Termo, as empresas exportadoras e torrefadoras do café em grão, envolvidas na citada fraude, utilizavam empresas de “fachada”, que serviam de intermediárias nas operações de compra e de venda do café em grão realizadas entre os produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas, e as citadas empresas, com a finalidade de gerar, indevidamente, créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins. A fraude, como já mencionado, teve início no ano 2003, quando foi introduzido os regimes não cumulativo de apuração das referidas contribuições, causando prejuízo de bilhões de reais aos cofres públicos federais. Há fartos elementos probatórios que comprovam que a maior parte dos “fornecedores” de notas fiscais da recorrente foram constituídos a partir do ano de 2002, e que, geralmente, estiveram em situação irregular no período em que foram fiscalizadas, seja por omissão em relação as suas obrigações acessórias, seja em relação ao pagamento de tributos. A este quadro de graves irregularidades, somase ainda o fato de que nenhuma das empresas diligenciadas possuíam armazéns ou depósitos nem funcionários contratados (ou um funcionário, no máximo), o que, em condições normais de operação, contrariava as tradicionais empresas atacadistas de café estabelecidas na região, detentoras de grande estrutura operacional e administrativa necessária para armazenar, beneficiar e movimentar o grande volume de café transacionado. Com efeito, revelam as provas colhidas no âmbito das referidas operações, que o único estoque que as “pseudoatacadistas” mantinham eram os talonários de notas fiscais, que consistia na única mercadoria por elas transacionadas no mercado negro criado pelos fraudadores. Assim, sem a existência de depósitos, funcionários, maquinário e qualquer logística, tais empresas não tinham a menor condição de transacionar tão grande quantidade de café em grão, até porque não tinham um grão do produto para venda. Com tal estrutura, a única atividade que era passível de ser realizada pelas pessoas jurídicas investigadas, certamente, era a venda e emissão de notas fiscais inidôneas, conforme sobejamente comprovado no curso do processo investigativo efetivado no âmbito das citadas operações. As provas colhidas no curso das citadas operações evidenciam ainda que as denominadas empresas “pseudoatacadistas” eram empresas de “fachada” ou “laranja”, Fl. 728DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 22 utilizadas apenas para simular operações fictícias de compra e venda de café em grão com os produtores rurais e empresas exportadoras e torrefadoras. Em outras palavras, a fraude consistia na simulação simultânea de duas operações: uma de compra dos produtores rurais, pessoas físicas, e a outra de venda para as empresas exportadoras e industriais. A recorrente foi uma das principais beneficiárias desse esquema fraudulento, haja vista a grande quantidade de operações e as elevadas cifras envolvendo as aquisições, no período fiscalizado, de café em grão, conforme evidenciam a grande quantidade de notas fiscais “compradas” das citadas pessoas jurídicas, que se encontram relacionadas nos autos. As informações fiscais, respaldadas em fartos documentos obtidos e apreendidos durante as citadas operações, e as declarações prestados pelos representantes de direito (“laranjas”), procuradores e de pessoas ligadas às empresas “pseudoatacadistas”, colhidos durante a operação “Tempo de Colheita”, confirmam a participação dos compradores finais do café em grão na fraude, dentre os quais a recorrente. Além dos trechos das declarações reproduzidos no citado Termo, merecem destaque alguns fatos apurados através de declarações prestadas nos diversos processos de inaptidão abertos contra as pessoas jurídicas fornecedoras de notas fiscais, participantes da fraude. No citado Termo, de forma exaustiva e criteriosa, dentre os inúmeros depoimentos/declarações prestados pelos envolvidos no esquema, a fiscalização transcreveu aqueles mais relevantes, que, de forma congruente, confirmam o modus operandi, os mentores, os executores e os reais beneficiários da gigantesca fraude praticada contra Fazenda Nacional em destaque. Assim, apresentado o contexto legal, o modus operandi e os intervenientes, participantes e mentores do esquema de fraude para apropriação ilícita de créditos das referidas contribuições, passase a analisar as alegações da recorrente. Das alegações relevantes apresentadas pelas recorrente. Na peça recursal em apreço, a recorrente alegou que não procedia a glosa parcial realizada pela fiscalização, sob o argumento de que era compradora de boa fé, com base nos seguintes argumentos: a) não tinha conhecimento e participara do referido esquema de fraude, nem tinha contribuído para criação das empresas “pseudoatacadistas”; b) desconhecia a situação de inidoneidade das denominadas empresas “pseudoatacadistas”; e c) havia comprovado o pagamento do preço e o recebimento das mercadorias, em conformidade com disposto no parágrafo único do art. 82 da Lei 9.430/1996, a seguir transcrito: Art. 82. Além das demais hipóteses de inidoneidade de documentos previstos na legislação, não produzirá efeitos tributários em favor de terceiros interessados, o documento emitido por pessoa jurídica cuja inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes tenha sido considerada ou declarada inapta. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos casos em que o adquirente de bens, direitos e mercadorias ou o tomador de serviços comprovarem a efetivação do pagamento do preço respectivo e o recebimento dos bens, direitos e mercadorias ou utilização dos serviços. Inicialmente, esclareçase que, no caso em tela, não há controvérsia em relação ao preço nem quanto ao pagamento e recebimento das mercadorias pela recorrente, uma vez que a própria fiscalização utilizou, como base de cálculo do crédito presumido agropecuário, o preço consignado nas correspondentes notas fiscais emitidas pelas empresas Fl. 729DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 718 23 denominadas “pseudoatacadistas”, bem como informou que a recorrente havia comprovado os pagamentos e os recebimentos dos produtos, com a finalidade de aparentar a condição de compradora de boa fé. Portanto, esclareçase que a glosa dos créditos em apreço foi motivada pela fraude, mediante interposição fraudulenta de empresas inidôneas, utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café em grão de pessoas físicas (produtores e/ou maquinistas) e não pela falta de comprovação do pagamento e da efetiva entrega da mercadoria, como alegado pela recorrente, com a clara intenção de desvirtuar o real motivo das referidas glosas. Dessa forma, fica demonstrado que a questão relevante para o deslinde da controvérsia não é a falta de comprovação do pagamento e da efetiva entrega das mercadorias, mas, em saber qual a real operação de compra e venda foi realizada pela recorrente, diante da existência do gigantesco esquema fraude devidamente comprovado nos autos. Nesse sentido, as provas colhidas no âmbito das citadas operações, tais como os depoimentos/declarações prestados pelos corretores e produtores de café e maquinistas, corroborados pelas transferências eletrônicas de depósitos TED, as planilhas de compras e demais documentos da própria recorrente, extraídos das mídias eletrônicas regularmente apreendidas, evidenciam que a real operação de compra e venda foi a realizada entre o produtor rural ou maquinista, pessoa física, e a recorrente. Da análise dos comprovantes de depósitos realizados pelos compradores finais do café em grão (indústria e exportadores) em favor das empresas “pseudoatacadistas” verificase, como procedimento padrão, o depósito seguido da saída imediata dos recursos das contas bancárias, por meio de TED e cheques, muitos desses emitidos ao próprio titular da conta bancária, os produtores rurais. Esse procedimento comprova que as contas bancárias das empresas “pseudoatacadistas” serviam apenas como ponto de passagem dos recursos transferidos dos compradores (exportadores/indústrias) para os reais vendedores de café em grão, ou seja, produtor rural ou maquinista, pessoa física. Também cabe ressaltar o correto procedimento adotado pela fiscalização ao desconsiderar a operação simulada (aparente) e reconhecer a existência da operação dissimulada (camuflada), o que está em perfeita consonância o ordenamento jurídico do País, conforme anteriormente demonstrado. Além disso, os documentos apresentados pela recorrente, para fim de comprovar o recebimento das mercadorias e efetivação do pagamento do preço do produto adquirido, revela a existência de um procedimento padrão adotado por todas as pessoas jurídicas fraudadores, em que, para cada nota fiscal de compra, foram anexados cópias de (i) extratos de consulta ao CNPJ e SINTEGRA, realizada na mesma ou em data próxima a da compra, (ii) de fichas de compra e nota de cálculo e liquidação da operação, (iii) romaneio da carga; e (iv) aviso de débito em conta corrente ou cheque nominal em nome da emitente da nota fiscal. Esse procedimento uniforme dos fraudadores revela que se tratava de um esquema de fraude planejado e executado com esmero pelas compradoras beneficiárias da fraude. Em outras palavras, conhecedoras da legislação e orientadas para dar a aparência da boa fé as compras simuladas das “pseudoatacadistas”, as indústrias e Fl. 730DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 24 exportadoras, em todas as operações de aquisição de café em grão guiado2 com nota fiscal de pessoa jurídica de “fachada”, procediam (todas elas) da seguinte forma: a) verificava a situação cadastral da “pseudoatacadista” perante a Receita Federal do Brasil, imprimindo a certidão negativa de débito expedida por este órgão; b) imprimia a situação cadastral da empresa perante o ICMS SINTEGRA; e b) efetuava o pagamento identificando a remetente dos recursos (indústrias/exportadoras) na conta bancária das “pseudoatacadistas”. Os fatos provados nos autos revelam que a referida documentação foi artificialmente produzida, uma vez que a recorrente e demais empresas compradoras de notas fiscais tinham pleno conhecimento de que as empresas “pseudoatacadistas” eram inidôneas e tinham como atividade apenas a emissão das notas fiscais, que eram transacionadas por míseros centavos de reais, conforme sobejamente provado nos depoimentos/declarações prestados pelas pessoas envolvidas nas correspondentes operações. E tal comportamento, obviamente, não encontra respaldo no parágrafo único do art. 82 da Lei 9.430/1996. A norma veiculada no referido preceito legal visa proteger o comprador de boa fé, que desconhece a situação do seu fornecedor, geralmente, nos casos em que este se encontra em local distante e não mantém relação habitual de negócio com o comprador, situação que não vislumbra no caso em tela. Com efeito, todas as “pseudoatacadistas”, vendedoras de notas fiscais, eram do conhecimento da recorrente e com ela mantinha negócios habituais, conforme revela os dados apresentados na planilha “PREVISÃO DE PAGAMENTO DE CAFÉ”, extraídas das mídias eletrônicas apreendidas no estabelecimento da recorrente. Além disso, diferente da ampla extensão dos efeitos alegados pela recorrente, a consulta aos cadastros do CNPJ e SINTEGRA prova apenas que a empresa estava em situação cadastral ativa, mas, sabidamente, a inscrição regular em tais cadastros não prova a existência real da pessoa jurídica. De outra parte, embora tenha se revelado diligente com a obtenção de documentos que certificavam a regularidade formal da existência dos seus fornecedores, a recorrente não teve a mesma diligência, para fim de verificação da existência de fato, da idoneidade empresarial, da capacidade operacional e patrimonial das denominadas “pseudoatacadistas”. No caso, se a recorrente tivesse adotado precauções básicas, como solicitado cópia dos contratos de constituição dos referidos fornecedores, prática normal no meio comercial quando há transações envolvendo altas cifras, como no caso em tela, induvidosamente, teria verificado que os sócios dos seus maiores fornecedores eram pessoas humildes, sem instrução, sem patrimônio e sem condições financeiras e conhecimento técnico para dirigir uma empresa atacadistas de café realizadora de milhares de operações de compra e venda do produto, com movimentação financeira, envolvendo milhões de reais. Pela mesma razão, se tivesse tido a diligência de pedir cópia dos demonstrativos contábeis dos referidos fornecedores, certamente teria constatado que todas elas não tinham patrimônio, funcionários e o mínimo de estrutura operacional para vender uma quantidade tão grande de café. Entretanto, nada disso foi feito e por uma razão óbvia, a recorrente já tinha pleno conhecimento que as referidas empresas “pseudoatacadistas” não existiam de fato e não tinham a mínima condição de negociar tão grande quantidade de café em grão. 2 A expressão “guiar café” era comumente usada pelos fraudadores para designar a empresa de fachada emitente da nota fiscal. Fl. 731DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 719 25 No período da atuação, essas informações eram indispensáveis, haja vista que já tinha havido ampla divulgação na imprensa local e nacional do resultado trabalho de investigação desenvolvido no âmbito da denominada “Operação Tempo de Colheita”, que resultou na descoberta de um grandioso esquema de venda de notas fiscais criado para possibilitar a apropriação ilícita de créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins, no montante de 9,25% sobre o valor indicado nas notas fiscais. Nesse contexto, também perde relevância, para fins de prova, os registros contábeis realizados com base nas notas fiscais inidôneas, que não representavam a real operação de aquisição realizada pela recorrente. Tais registros apenas reproduziram na escrita contábil e fiscal os dados extraídos de documentos forjados, com claro propósito de acobertar uma operação de compra e venda fictícia. Enfatizase, novamente, as fartas provas documentais e informações prestadas em depoimentos/declarações prestados por produtores rurais, corretores de café, representante legais (formais) das “pseudoatacadistas”, participantes do esquema de fraude, demonstram que as aquisições do café não foram realizadas das denominadas “pseudoatacadistas”. Na verdade, tais empresas apenas forneciam as notas fiscais, para simular uma operação de compra e venda que, de fato, foi realizada entre os produtores rurais, pessoas físicas, não contribuintes da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, com o único e intencional propósito de gerar, ilicitamente, crédito integral das referidas contribuições em favor da recorrente. Além disso, a partir da leitura dos diversos depoimentos/declarações prestados pelos representante legais (formais) das “pseudoatacadistas” extraise que a recorrente não só sabia da fraude em comento, com fora uma das beneficiárias ou pretensa beneficiária do esquema, posto que condicionava a compra do café a intermediação e emissão das notas fiscais pelas “pseudoatacadistas”, o que deu origem a um mercado paralelo de venda de notas fiscais, que era negociada ao módico preço variável de R$ 0,15 a R$ 0,60. Com base nessas constatações, fica evidenciado que não tem qualquer relevância se a inaptidão, o cancelamento ou a suspensão dos registros nos cadastras fiscais das referidas pessoas jurídicas inidôneas ocorreram antes ou após o período da apuração dos créditos, conforme alegou a recorrente, pois, restou demonstrado nos autos que todas as operações de aquisição do café em grão das citadas pessoas jurídicas foram feitas de forma fraudulenta, com único objetivo de apropriarse, ilicitamente, do valor integral dos créditos tributários das referidas contribuições. Especialmente tendo em conta que, após determinada “pseudoatacadista” ser declarada inativa no CNPJ por inexistência de fato, logo em seguida novas empresas “laranjas” eram criadas. Esse fértil celeiro de criação de empresas inidôneas só foi interrompido com a deflagração da operação “Broca”, que prendeu os representantes das principais empresas compradoras. Até então, em total menosprezo pela ação da autoridade fiscal, que na operação “Tempo de Colheita” já havia descoberto o esquema fraude e dado amplamente divulgação na imprensa, tais representantes continuvam comprando o produto das “pseudoatacadistas” e assim contribuindo para manutenção e crescimento do esquema de fraude, como se nada tivesse acontecido. A recorrente ainda argumentou que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) estava em consonância com a sua alegação de comprador do boa fé, consolidado Fl. 732DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 26 no julgamento do REsp nº 1.148.444/MG, julgado sob rito dos recursos repetitivos, definido no art. 543C do CPC, cujo enunciado da ementa segue transcrito, para uma melhor análise: PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. CRÉDITOS DE ICMS. APROVEITAMENTO (PRINCÍPIO DA NÃOCUMULATIVIDADE).NOTAS FISCAIS POSTERIORMENTE DECLARADAS INIDÔNEAS. ADQUIRENTE DE BOAFÉ. 1. O comerciante de boafé que adquire mercadoria, cuja nota fiscal (emitida pela empresa vendedora) posteriormente seja declarada inidônea, pode engendrar o aproveitamento do crédito do ICMS pelo princípio da nãocumulatividade, uma vez demonstrada a veracidade da compra e venda efetuada, porquanto o ato declaratório da inidoneidade somente produz efeitos a partir de sua publicação (Precedentes das Turmas de Direito Público: EDcl nos EDcl no REsp 623.335/PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 11.03.2008, DJe 10.04.2008; REsp 737.135/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 14.08.2007, DJ 23.08.2007; REsp 623.335/PR, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira Turma, julgado em 07.08.2007, DJ 10.09.2007; REsp 246.134/MG, Rel. Ministro João Otávio de Noronha, Segunda Turma, julgado em 06.12.2005, DJ 13.03.2006; REsp 556.850/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 19.04.2005, DJ 23.05.2005; REsp 176.270/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 27.03.2001, DJ 04.06.2001; REsp 112.313/SP, Rel. Ministro Francisco Peçanha Martins, Segunda Turma, julgado em 16.11.1999, DJ 17.12.1999; REsp 196.581/MG, Rel. Ministro Garcia Vieira, Primeira Turma, julgado em 04.03.1999, DJ 03.05.1999; e REsp 89.706/SP, Rel. Ministro Ari Pargendler, Segunda Turma, julgado em 24.03.1998, DJ 06.04.1998). 2. A responsabilidade do adquirente de boafé reside na exigência, no momento da celebração do negócio jurídico, da documentação pertinente à assunção da regularidade do alienante, cuja verificação de idoneidade incumbe ao Fisco, razão pela qual não incide, à espécie, o artigo 136, do CTN, segundo o qual "salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato" (norma aplicável, in casu, ao alienante). 3. In casu, o Tribunal de origem consignou que: "(...)os demais atos de declaração de inidoneidade foram publicados após a realização das operações (f. 272/282), sendo que as notas fiscais declaradas inidôneas têm aparência de regularidade, havendo o destaque do ICMS devido, tendo sido escrituradas no livro de registro de entradas (f. 35/162). No que toca à prova do pagamento, há, nos autos, comprovantes de pagamento às empresas cujas notas fiscais foram declaradas inidôneas (f. 163, 182, 183, 191, 204), sendo a matéria incontroversa, como admite o fisco e entende o Conselho de Contribuintes." Fl. 733DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 720 27 4. A boafé do adquirente em relação às notas fiscais declaradas inidôneas após a celebração do negócio jurídico (o qual fora efetivamente realizado), uma vez caracterizada, legitima o aproveitamento dos créditos de ICMS. 5. O óbice da Súmula 7/STJ não incide à espécie, uma vez que a insurgência especial fazendária reside na tese de que o reconhecimento, na seara administrativa, da inidoneidade das notas fiscais opera efeitos ex tunc, o que afastaria a boafé do terceiro adquirente, máxime tendo em vista o teor do artigo 136, do CTN. 6. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1148444/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/04/2010, DJe 27/04/2010) Grifos não originais. Da simples leitura do referido enunciado, constatase que há uma diferença abissal entre a situação discutida nestes autos e a debatida no precedente jurisprudencial em referência. O que externou o referido julgado foi que o contribuinte não poderia ser prejudicado pela eventual e desconhecida inidoneidade do terceiro com quem tivesse contratado de boa fé, porém, condicionou adoção desse entendimento a demonstração de que a operação de compra e venda fosse efetivamente realizada, o que exclui qualquer tipo de fraude, especialmente, a praticada mediante simulação. Nos presentes a autos, em contraste com o julgado paradigma, as aquisições do café em grão das “pseudoatacadistas” foram comprovamente simuladas, para acobertar as efetivas operações de compra e venda celebradas com os produtores rurais e/ou maquinistas. Portanto, aqui tratase de operações fraudulentas que, certamente, não se amoldam à hipótese objeto do julgado paradigma, em que ficou “demonstrada a veracidade da compra e venda efetuada” e “a celebração do negócio jurídico (o qual fora efetivamente realizado)”. Dessa forma, não há como aplicar o entendimento exarado no referido REsp ao caso em tela, porque a situação fática nele trata revelase distinta da que provada nos presentes autos. Nele há prova de que a operação de compra e venda foi efetivamente realizada, aqui há prova de que a operação de compra e venda, celebrada com as “pseudoatacadistas” foi simulada. Diante dessa constatação, fica demonstrada a irrelevância do argumento da recorrente de que somente adquiriu café em grão de empresas de fachada ativas no CNPJ, como se o mero cumprimento dessa formalidade fosse suficiente para infirmar o vasto acervo probatório que comprova que as correspondentes operações de aquisição foram simuladas para acobertar a real operação de compra dos produtores rurais. No recurso em apreço, a recorrente tenta assumir a posição de vítima do citado esquema fraudulento. Porém, ao contrário do alegado, as robustas provas colhidas no âmbito das citadas operações comprovam que, em vez de vítima, ela foi ou poderia ter sido uma das compradoras beneficiada com o citado esquema de fraude, posto que, se não fosse pronta e eficiente intervenção da fiscalização da RFB, da Polícia Federal e do MPF, certamente, ela teria se apropriado ilicitamente de créditos fiscais nas cifras dos milhões de reais. Fl. 734DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 28 A grande vítima desse esquema, certamente, foi a Fazenda Nacional, pois, além do prejuízo com o não recolhimento das contribuições devidas nas correspondentes operações de compra e venda fictícias, se não desbaratada a tempo a fraude em destaque, certamente, a União seria obrigada a ressarcir em dinheiro bilhões reais em créditos gerados ilicitamente. Outras vítimas desse malsinado esquema fraudulento foram os produtores rurais, que foram obrigados a se submeter as determinações das poucas, mas poderosas empresas compradoras. Nos depoimentos e declarações prestados, eles revelaram desconhecimento da existência das empresas “pseudoatacadistas” (pessoas jurídicas “pseudoatacadistas”), “usadas para guiar o café vendido” (expressão comumente usada para designar a empresa de fachada emitente da nota fiscal). De acordo com tais depoimentos/declarações, os produtores negociavam com uma determinada pessoa (corretor/corretora, maquinista ou até mesmo a empresa adquirente), porém, no momento da retirada do café, surgiam nomes desconhecidos de “empresas” para serem inseridos na nota fiscal. A recorrente alegou que, seus diretores, ou mesmo funcionários, em nenhum momento foram indiciados em razão dos delitos apurados no âmbito das referidas operações de investigação, no entanto, os depoimentos colhidos perante a Polícia Federal, reproduzidos no TEAF, a seguir transcritos, evidenciam o contrário, ou seja, que eles tinham sim pleno conhecimento da fraude: Se não bastassem os emails e planilhas apreendidas durante a OPERAÇÃO BROCA nas empresas do GRUPO TRISTÃO (REALCAFÉ e TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR), no seu depoimento perante a Polícia Federal narrado na DENÚNCIA PR/COL/ES, LUIZ FERNANDES ALVARENGA ratificou que o comprador de café das empresas do grupo tinha conhecimento de que nas suas operações de compra de café havia a interposição fictícia de empresa laranja. Aliás, os e mails de SCHNEIDER mostram exatamente isso: “(...) QUE com relação à[s] empresa[s] TRISTÃO e REAL negocia com SCHNEIDER, (...) QUE as pessoas identificadas nos itens anteriores tinham conhecimento dos verdadeiros vendedores do café negociado com as exportadoras e indústrias; QUE as pessoas identificadas nos itens anteriores tinham conhecimento de que o café era guiado por pessoa jurídica diversa dos verdadeiros vendedores;(...)”. Na mesma DENÚNCIA, o depoimento do corretor RAFAEL TEIXEIRA DE ALMEIDA, sócio de DEVANIR FERNANDES DOS SANTOS na corretora CRISTAL BRASIL, perante a Polícia Federal, no qual sintetiza a conduta do comprador do GRUPO TRISTÃO: “QUE o interrogado já realizou negociações prestando serviços de corretagem para as empresas (...) TRISTÃO, REALCAFÉ; (...) QUE, realizava negócios com a empresa (...), com a TRISTÃO e REALCAFÉ através de SCHNEIDER, (...) QUE, à exceção de (...),todas as demais pessoas acima citadas, com quem negociava, tinham conhecimento e faziam questão de saber quem eram os Fl. 735DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 721 29 produtores rurais ou armazéns gerais de quem estavam adquirindo café; QUE: tem conhecimento de que existem empresas “laranjas” no mercado de café, que vendem notas fiscais (...)”. Nas palavras do corretor RAFAEL TEIXEIRA, portanto, o comprador da TRISTÃO/REALCAFÉ fazia questão de saber quem eram os produtores rurais ou armazéns gerais (maquinistas) de quem estava adquirindo café. Como dito, esses depoimentos sintetizam o teor dos emails estabelecidos entre SCHNEIDER e os corretores. (grifos do original) Portanto, as planilhas, mensagens eletrônicas e os diálogos do seu preposto, encarregado da compra de café, o Sr. Ricardo Schneider, reproduzidos no citado Termo, extraído da mídia eletrônica apreendido no curso da operação “Broca”, revelam que a recorrente tinha pleno conhecimento e participava, de forma efetiva, do citado esquema de fraude, bem como sabia que as empresas “pseudoatacadistas” inexistiam de fato e não recolhiam ou recolhiam valores ínfimos de tributos federais. E todas as provas que respaldam tais conclusões foram obtidas em consonância com os parâmetros legais, incluindo os depoimentos e declarações prestados a fiscalização de forma espontânea pelos depoentes, inclusive alguns acompanhados de advogado, o que demonstra a improcedência das alegações da recorrente de que tais depoimentos não se prestavam como prova, porque produzidos unilateralmente pela fiscalização. A recorrente alegou ainda que houve transgressão ao seu direito fundamental ao sigilo de dados, insculpido no artigo 5o, X e XII, da CF/1988, sob argumento de que na busca realizada no estabelecimento da recorrente houve acesso irrestrito às informações internas e gerenciais, sem amparo em nenhuma autorização judicial para tal procedimento. Tal alegação também não procede, porque os dados e informações extraídos das mídias eletrônicas apreendidas no curso da operação “Broca” referem às compras fraudulentas realizadas pela recorrente e não a dados gerenciais. Além disso, tais documentos foram repassados a fiscalização por determinação judicial. Também não procede a alegação da recorrente de que a fiscalização afrontara o princípio do “nemo potest venire contra factum proprium” (em vernáculo, o princípio de proibição ao comportamento contraditório), sob argumento de que a fiscalização teria autuado as pessoas jurídicas inidôneas. A uma, porque ela não comprovou que tais pessoas jurídicas foram autuadas em razão dos fatos que motivaram a glosa dos créditos em apreço. A duas, porque o processo administrativo n° 15586.000366/201001, citado como prova do alegado, referese à autuação contra a pessoa jurídica inidônea CAFEEIRA SÃO JOSÉ, incluindo vários responsáveis solidários, em razão de movimentação financeira incompatível dos anos calendários de 2003 a 2006, portanto, período anterior e fato completamente estranho ao objeto dos presentes autos, que trata da glosa de créditos apropriados comprovadamente de forma ilícita, no período de janeiro de 2009 a dezembro 2010. A três, a referida pessoa jurídica Fl. 736DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 30 inidônea não consta da relação das empresas de “fachada” que vendeu café em grão objeto da glosa em apreço. Dado esse contexto fáticoprobatório, chegase a conclusão que, em todas as aquisições realizadas de pessoas jurídicas inidôneas, a recorrente não agiu como compradora de boa fé. Ao contrário, os fatos relatados no citado Termo, respaldados no amplo acervo probatório colhido no âmbito das citadas operações, demonstram que a recorrente não só tinha conhecimento, como contribuiu, de forma efetiva, para criação e funcionamento do citado esquema de fraude, tendo dele se beneficiado ou tentado se beneficiar, mediante a apropriação indevida de créditos integrais da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins calculados sobre aquisições simuladas das “pseudoatacadistas” de café em grão. Em razão dessas comprovações, revelase inaplicável ao caso o disposto no art. 112 do CTN, conforme pretendido pela recorrente. Cabe ainda ressaltar que a prova da fraude, especialmente a realizada mediante simulação, dificilmente será feita de forma direta, com base em documentos produzido pelos infratores, que agem de forma camuflada. É da essência desse tipo de ilícito a prática de atos aparentes, em que a regularidade da forma dissimula a vontade real da conduta do fraudador. Assim, sob pena de ineficácia dos meios legais de combate aos ilícitos de natureza tributária, há de ser aceita a prova da simulação com base na dinâmica dos atos praticados e pela convergência de indícios e demais elementos probatórios que levem o julgador à certeza de que houve duas vontades, uma declarada e outra dissimulada. E no caso em tela, este Relator está plenamente convencido que a Fazenda Nacional foi vítima de um planejado e organizado esquema de fraude, mediante simulação/dissimulação, implementado com o único propósito de retirar ilicitamente do Erário parcela significa de recursos financeiros. Por todas essas razões, deve ser mantida a glosa integral da parcela dos créditos excedente ao valor do crédito presumido agropecuário, calculado sobre as supostas aquisições de café em grão das “pseudoatacadistas”, conforme determinado pela fiscalização e mantido nos julgamentos anteriores. II.2 Da Glosa Parcial dos Créditos Apurados Sobre as Aquisições de Café em Grão das Cooperativas de Produção Agropecuária. De acordo com o subitem 5.2 do Termo de Encerramento da Ação Fiscal nº 04301/2013, com fundamento no art. 9°, III, da Lei 10.925/2004, com redação dada pela Lei 11.051/2004, combinado com o disposto na Instrução Normativa SRF 660/2006, que regulamentou o referido preceito legal, entendeu a fiscalização que a recorrente fazia jus somente a parcela do crédito presumido agropecuário calculado sobre as aquisições de café em grão adquiridos de cooperativas de produção agropecuária, porque as referidas aquisições estavam obrigatoriamente submetidas ao regime de suspensão da incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, uma vez que a recorrente estava sujeita ao regime cumulativo, exercia atividade agroindustrial e utilizara o produto como insumo na produção de produto destinados à alimentação humana ou animal, ou seja, enquadravase nas condições estabelecidas no art. 4º da referida Instrução Normativa, a seguir transcrito: Art. 4º Nas hipóteses em que é aplicável, a suspensão disciplinada nos arts. 2º e 3º é obrigatória nas vendas efetuadas a pessoa jurídica que, cumulativamente: (Redação dada pela Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) I apurar o imposto de renda com base no lucro real; Fl. 737DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 722 31 II exercer atividade agroindustrial na forma do art. 6º;e III utilizar o produto adquirido com suspensão como insumo na fabricação de produtos de que tratam os incisos I e II do art. 5º. [...] § 3º É vedada a suspensão quando a aquisição for destinada à revenda. (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) (grifos não originais) Segundo a fiscalização, em cumprimento a determinação das empresas compradoras, era prática habitual os corretores condicionarem as confirmações das compras do café em grão que as pessoas jurídicas vendedoras, incluindo as sociedade cooperativas, anotassem nas notas fiscais que as correspondentes operações estavam sujeitas à tributação normal das referidas contribuições, independentemente de tais operações de venda estarem, obrigatoriamente, sujeita ao regime suspensão de cobrança das referidas contribuições. Para se aferir a legalidade da referida glosa, cabe ressaltar que, no âmbito do regime não cumulativo, a apropriação de créditos normais ou ordinários da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins restringese às situações e condições estabelecidas no art. 3º das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003. E nos referidos preceitos legais, induvidosamente, não há vedação do aproveitamento de créditos nos casos em que o produto ou serviço for adquirido de cooperativas, seja de produção agropecuária ou não. Entretanto, há no art. 3º, § 2º, II, das referidas leis, expressa vedação a dedução de créditos nos casos de aquisição (i) de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento das contribuições e (ii) de bens ou serviços isentos, se revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela incidência das contribuições. As receitas auferidas pelas cooperativa de produção agropecuária, em regra, estão sujeitas à tributação normal das referidas contribuições, hipótese em que a pessoa jurídica adquirente do regime cumulativo é assegurado do direito de apropriarse do valor integral do crédito das referidas contribuições. Aliás, esse foi entendimento esposado pelo plenário do STF, no julgamento dos RREE 598.085/RJ e 599.362/RJ, realizado sob regime de repercussão geral. Entretanto, até o final do anocalendário de 2011, enquanto vigentes os arts. 8º e 9º da Lei 10.925/2004, com a redação dada pela Lei 11.051/2004, as receitas obtidas pelas cooperativas de produção agropecuária nas vendas de café em grão para as pessoas jurídicas sujeita ao regime cumulativo, que exercessem atividade agroindustrial e utilizassem o produto como insumo na produção de produto destinados à alimentação humana ou animal, obrigatoriamente, estavam sujeitas ao regime de suspensão, nos termos do inciso III do referido art. 9º, combinado com disposto no art. 4º da Instrução Normativa 660/2006. E em relação a essas aquisições, as pessoas jurídicas compradores não estavam autorizadas a descontar créditos integrais calculados sobre às aquisições dos referidos produtos, mas apenas a parcela do valor do crédito presumido agropecuário, instituído no art. 8º, § 3º, III, da Lei 10.925/2004, conforme previsto no art. 7º3, I, da referida Instrução Normativa. 3 Art. 7º Geram direito ao desconto de créditos presumidos na forma do art. 5º, os produtos agropecuários: (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) Fl. 738DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 32 Para melhor compreensão do regime de tributação das cooperativas de produção agropecuária4, incluindo aquelas que exercem atividade de produção agroindustrial5, transcrevese a seguir o referido preceito legal: Art. 9º A incidência da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins fica suspensa no caso de venda: (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] III de insumos destinados à produção das mercadorias referidas no caput do art. 8º desta Lei, quando efetuada por pessoa jurídica ou cooperativa referidas no inciso III do § 1º do mencionado artigo. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) § 1º O disposto neste artigo: (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) I aplicase somente na hipótese de vendas efetuadas à pessoa jurídica tributada com base no lucro real; e(Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) II não se aplica nas vendas efetuadas pelas pessoas jurídicas de que tratam os §§ 6º e 7º do art. 8º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) § 2º A suspensão de que trata este artigo aplicarseá nos termos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal SRF. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) Os §§ 6º e 7º do art. 8º Lei 10.925/2004, desde a inclusão pela Lei 11.051/2004 até o final do ano 2011, quando foram revogados pela Lei 12.599/2012, tinham a seguinte redação: Art. 8º As pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que produzam mercadorias de origem animal ou vegetal, classificadas nos capítulos 2, 3, exceto os produtos vivos desse capítulo, e 4, 8 a 12, 15, 16 e 23, e nos códigos 03.02, 03.03, 03.04, 03.05, 0504.00, 0701.90.00, 0702.00.00, 0706.10.00, 07.08, 0709.90, 07.10, 07.12 a 07.14, exceto os códigos 0713.33.19, 0713.33.29 e 0713.33.99, 1701.11.00, 1701.99.00, 1702.90.00, 18.01, 18.03, 1804.00.00, 1805.00.00, 20.09, 2101.11.10 e 2209.00.00, todos da NCM, destinadas à alimentação humana ou animal, poderão deduzir da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, devidas em cada período de apuração, crédito presumido, calculado sobre o valor dos bens referidos no inciso II do caput do art. 3º das Leis nºs 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro I adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País, com suspensão da exigibilidade das contribuições na forma do art. 2º; (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 977, de 14 de dezembro de 2009) [...] 4 A sociedade cooperativa de produção agropecuária é aquela que exece a atividade de comercialização da produção de seus associados, podendo também realizar o beneficiamento dessa produção. 5 Nos termos do art. 6º, II, da Instrução Normativa 660/2006, em relação ao café em grão considerase atividade agroindustrial o exercício cumulativo das atividades de padronizar, beneficiar, preparar e misturar tipos de café para definição de aroma e sabor (blend) ou separar por densidade dos grãos, com redução dos tipos determinados pela classificação oficial, relativamente aos produtos classificados no código 09.01 da NCM. Fl. 739DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 723 33 de 2003, adquiridos de pessoa física ou recebidos de cooperado pessoa física. (Redação dada pela Lei nº 11.051, de 2004) [...] § 6º Para os efeitos do caput deste artigo, considerase produção, em relação aos produtos classificados no código 09.01 da NCM, o exercício cumulativo das atividades de padronizar, beneficiar, preparar e misturar tipos de café para definição de aroma e sabor (blend) ou separar por densidade dos grãos, com redução dos tipos determinados pela classificação oficial. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) (Revogado pela Medida Provisória nº 545, de 2011) (Revogado pela Lei nº 12.599, de 2012). § 7º O disposto no § 6º deste artigo aplicase também às cooperativas que exerçam as atividades nele previstas. (Incluído pela Lei nº 11.051, de 2004) (Revogado pela Medida Provisória nº 545, de 2011) (Revogado pela Lei nº 12.599, de 2012). [...] (grifos não originais) Da interpretação combinada dos preceitos legais transcritos, depreendese que, até o final do ano de 2011, o regime de tributação das receitas da venda do café em grão auferidas pelas cooperativas de produção agropecuária dependia da destinação do produto e do regime de tributação da pessoa jurídica adquirente, que poderia se realizar sob regime de: a) tributação normal, se destinado a revenda, independentemente do regime de tributação da pessoa jurídica adquirente; b) tributação normal, se destinado à insumo de produção de pessoa jurídica do regime cumulativo; e c) regime de suspensão, se destinado à insumo de produção de pessoa jurídica do regime não cumulativo. Já as receitas da venda do café em grão auferidas pelas cooperativas de produção agropecuária, que exercessem, até o final do ano de 2011, a atividade agroindustrial, definida nos §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei 10.925/2004, estavam sujeitas ao regime de tributação normal, independentemente da destinação e do regime de tributação da pessoa jurídica adquirente. No mesmo sentido, o entendimento exarado no item 11 da Solução de Consulta Cosit 65/2014, a seguir parcialmente reproduzido: 11. Até o anocalendário de 2011, enquanto vigiam para o café os artigos 8º e 9º da Lei nº 10.925, de 2004, os exportadores de café não podiam descontar créditos em relação às aquisições do produto com as suspensões previstas nos incisos I e III do art. 9º. [...]. Por outro lado, havia direito ao creditamento nas aquisições de café já submetido ao processo de produção descrito nos §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei nº 10.925, de 2004, tendo em vista que sobre a receita de venda do café submetido a esta operação não se aplicava a suspensão da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins (art. 9º, § 1º, II, da Lei nº 10.925, de 2004). Portanto, até o final do ano de 2011, a obrigatoriedade do regime suspensivo somente se aplicava as receitas das cooperativas de produção agropecuária, provenientes da venda do café em grão não submetido ao processo de produção agroindustrial, definido nos então vigentes §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei 10.925/2004, desde que vendidos para as pessoas Fl. 740DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 34 jurídicas do regime não cumulativo, que exercessem a atividade agroindustrial e utilizassem o referido produto como insumo na fabricação de produtos destinados à alimentação humana ou animal, obrigatoriamente. Este é o entendimento que se extrai do caput do art. 9º da Lei 10.925/2004, combinado com o disposto no art. 4º da Instrução Normativa SRF 660/2006. As demais receitas auferidas pelas cooperativas de produção agropecuárias na venda do café em grão em grão, incluindo as decorrentes da atividade agroindustrial, estavam sujeitas à tributação ou pagamento normal das referidas contribuições. No caso, se as notas fiscais emitidas pelas cooperativas continham anotação de que houve incidência das contribuições sobre a correspondente operação de venda de café em grão e havia fundadas suspeitas, por parte da fiscalização, de que tal anotação não representava a real forma de tributação das respectivas operações de venda, cabialhe o ônus de provar que tais operações estavam, obrigatoriamente, submetidas ao regime de suspensão em comento. Induvidosamente, o simples fato de a recorrente está no regime cumulativo, exercer atividade agroindustrial e utilizar o café adquirido como insumo de fabricação de produto destinado à alimentação humana, embora seja uma condição necessária, por si só, ela não é suficiente para se presumir que todas as compras de cooperativas de produção agropecuária foram realizadas sob regime de suspensão. Essa conclusão, certamente, dependia ainda da prova de que as compras do café em grão foram realizadas de cooperativas de produção agropecuária e não submetidos ao processo de produção agroindustrial, definido nos então vigentes §§ 6º e 7º do art. 8º da Lei 10.925/2004, o que não foi feito pela recorrente. No caso, somente se tivesse sido provada as duas condições, certamente, restaria demonstrada que as operações de venda em questão teriam sido realizadas sob regime de suspensão da cobrança das referidas contribuições, por força de expressa determinação legal. De outra parte, não teria qualquer efeito tributário a anotação consignada nas referidas notas fiscais de que a respectiva operação de compra e venda fora submetida a regime de tributação normal, haja vista que, a mera anotação no citado documento fiscal, inequivocamente, não tinha o condão de modificar o regime de tributação estabelecido na legislação tributária, especialmente tendo em conta que tal anotação não decorria de exigência legal (não era obrigação acessória) e havia fundadas suspeitas de que tal anotação visava conferir parcela de créditos indevidos das referidas contribuições à recorrente. Assim, na ausência de prova em contrário de que as operações do café em grão estavam, obrigatoriamente, submetida ao regime suspensão da cobrança das referidas contribuições, por expressa determinação legal, não há como ser desconsiderada a prova documental apresentada pela recorrente contendo o registro de que a correspondente operação de venda foi realizada com a tributação normal das referidas contribuições. Com base nessas considerações, fica assegurado à recorrente o direito de apropriarse do valor integral dos créditos calculados sobre o valor das respectivas operações de aquisição do café em grão das cooperativas de produção agropecuária. Em consequência, deve ser restabelecido o direito de dedução da parcela do valor dos créditos glosada, excedente a parcela do crédito presumido agropecuário. III DA CONCLUSÃO Por todo o exposto, votase pela rejeição das preliminares de nulidade suscitadas e, no mérito, pelo PROVIMENTO PARCIAL do recurso, para restabelecer o direito Fl. 741DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 10783.907173/201296 Acórdão n.º 3302003.389 S3C3T2 Fl. 724 35 de a recorrente apropriarse do valor integral dos créditos calculados sobre as aquisições do café em grão das cooperativas de produção agropecuária. (assinado digitalmente) José Fernandes do Nascimento Fl. 742DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A
score : 1.0
Numero do processo: 10580.911718/2009-40
Turma: Segunda Turma Especial da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Feb 25 00:00:00 UTC 2015
Data da publicação: Thu Mar 05 00:00:00 UTC 2015
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Exercício: 2003
NÃO EXISTÊNCIA DE OMISSÃO E CONTRADIÇÃO.
Embargos de declaração com efeitos infringentes. Impossibilidade.
Embargos rejeitados.
Numero da decisão: 3802-004.214
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes auto.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade, conhecer do presente recurso de embargos e, no mérito, rejeitá-los.
(assinado digitalmente)
Mercia Helena Trajano Damorim - Presidente.
(assinado digitalmente)
Cláudio Augusto Gonçalves Pereira - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Mércia Helena Trajano Damorin (Presidente) Francisco José Barroso Rios, Waldir Navarro Bezerra, Solon Sehn, Bruno Mauricio Macedo Curi e Cláudio Augusto Gonçalves Pereira.
Nome do relator: CLAUDIO AUGUSTO GONCALVES PEREIRA
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Embargos de declaração com efeitos infringentes. Impossibilidade. Embargos rejeitados. Vistos, relatados e discutidos os presentes auto. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade, conhecer do presente recurso de embargos e, no mérito, rejeitálos. (assinado digitalmente) Mercia Helena Trajano Damorim Presidente. (assinado digitalmente) Cláudio Augusto Gonçalves Pereira Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 58 0. 91 17 18 /2 00 9- 40 Fl. 228DF CARF MF Impresso em 05/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/03/2015 por CLAUDIO AUGUSTO GONCALVES PEREIRA, Assinado digitalmente em 03/03/2015 por CLAUDIO AUGUSTO GONCALVES PEREIRA, Assinado digitalmente em 04/03/2015 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Mércia Helena Trajano Damorin (Presidente) Francisco José Barroso Rios, Waldir Navarro Bezerra, Solon Sehn, Bruno Mauricio Macedo Curi e Cláudio Augusto Gonçalves Pereira. Relatório Tratase de recurso de embargos que chega a este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais em razão da insurgência do contribuinte em epígrafe contra o Acórdão lavrado pela 2ª Turma Especial da 2ª Câmara da 3ª Seção de Julgamentos do Carf, em que foi conhecido e negado provimento ao Recurso Voluntário interposto. Ao analisar a questão, a 2ª Turma Especial proferiu o seguinte acórdão: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Data do fato gerador: 30/09/2003 Direito ao crédito não conhecido. Ausência de prova do crédito pleiteado. Em recurso que ora é objeto de exame, o sujeito passivo se insurge contra o acórdão em epígrafe, argumentando que houve contradição, no que concerne ao reconhecimento do crédito pleiteado para possível compensação, e que houve, também, omissão quanto à negativa de acolhimento dos termos da sentença proferida no mandado de segurança nº 2009.34.00.031.4472, em andamento na 9ª Vara Federal da Seção Judiciária Federal do Distrito Federal. Voto Verificase que o presente Recurso de Embargos é tempestivo e preenche todos os seus requisitos positivos. Portanto, dele tomo conhecimento e passo analisar o mérito. Por intermédio de manobra diversionista, o recorrente pretende efeitos infringentes em sede de embargos, o que é vedado pela legislação de regência. Tal motivo já é suficiente para negar provimento. Contudo, para elucidar a questão, renovase aqui os termos da decisão proferida em sede de recurso voluntário. O recorrente tem, em tese, ao seu favor, uma decisão judicial precária apenas, pois o processo ainda está em andamento e, por via de conseqüência, não aconteceu o trânsito em julgado do mandado de segurança. Esta situação, portanto, s.m.j., não implica no reconhecimento da liquidez e da certeza dos créditos tributários, nos termos do artigo 170 do CTN e do artigo 66 da lei nº 8.383/91. Ou seja, para que se possa promover a compensação dos pretensos créditos, necessário se faz o preenchimento dos requisitos da liquidez e da certeza, o que, de fato, não foram preenchidos. Fl. 229DF CARF MF Impresso em 05/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/03/2015 por CLAUDIO AUGUSTO GONCALVES PEREIRA, Assinado digitalmente em 03/03/2015 por CLAUDIO AUGUSTO GONCALVES PEREIRA, Assinado digitalmente em 04/03/2015 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM Processo nº 10580.911718/200940 Acórdão n.º 3802004.214 S3TE02 Fl. 112 3 Inclusive, aprofundando um pouco mais o debate, não há nos autos, qualquer prova que o contribuinte é beneficiário da noticiada decisão judicial, já que não há documentos que comprovam a condição de ser o ora recorrente integrante dos quadros associativos da associação que consta no polo ativo do mandado de segurança, muito menos os atos constitutivos dela para saber o funcionamento do regramento jurídico nos casos de representação coletiva em sede judicial. Portanto, pelas razões acima expostas, CONHEÇO dos presentes Embargos e, no mérito, Rejeitoos. (assinado digitalmente) Cláudio Augusto Gonçalves Pereira Fl. 230DF CARF MF Impresso em 05/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/03/2015 por CLAUDIO AUGUSTO GONCALVES PEREIRA, Assinado digitalmente em 03/03/2015 por CLAUDIO AUGUSTO GONCALVES PEREIRA, Assinado digitalmente em 04/03/2015 por MERCIA HELENA TRAJANO DAMORIM
score : 1.0
Numero do processo: 19515.002656/2007-70
Turma: Primeira Turma Especial da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 04 00:00:00 UTC 2015
Data da publicação: Wed Mar 18 00:00:00 UTC 2015
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Ano-calendário: 2002
MULTA. ARQUIVOS MAGNÉTICOS. INCÊNDIO. COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA.
À falta de comprovação inequívoca de nexo de causalidade entre o sinistro e a suposta destruição dos registros magnéticos (o local do incêndio pertence a outra empresa e estava localizado em estado federativo diverso do estabelecimento do contribuinte), deve ser mantido o lançamento que aplicou penalidade por ausência de cumprimento da obrigação acessória.
CONSERVAÇÃO E GUARDA DA DOCUMENTAÇÃO. ART. 264, RIR. DESTRUIÇÃO. PROCEDIMENTO. INOBSERVÂNCIA. EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE.
Para ilidir a responsabilidade quanto à inobservância do dever de conservação e guarda de documentação que dê lastro aos lançamentos contábeis e fiscais por hipótese de destruição, deve o contribuinte observar o procedimento indicado pela legislação, tal qual o previsto no § 1º do art. 264 do RIR.
Numero da decisão: 1801-002.314
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário, nos termos do voto do Relator.
(assinado digitalmente)
Ana de Barros Fernandes - Presidente.
(assinado digitalmente)
Alexandre Fernandes Limiro - Relator.
Participaram da sessão de julgamento, os conselheiros: Maria de Lourdes Ramirez, Fernando Daniel de Moura Fonseca, Neudson Cavalcante Albuquerque, Alexandre Fernandes Limiro, Rogério Aparecido Gil, Ana de Barros Fernandes Wipprich
Nome do relator: ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO
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ementa_s : Assunto: Obrigações Acessórias Ano-calendário: 2002 MULTA. ARQUIVOS MAGNÉTICOS. INCÊNDIO. COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA. À falta de comprovação inequívoca de nexo de causalidade entre o sinistro e a suposta destruição dos registros magnéticos (o local do incêndio pertence a outra empresa e estava localizado em estado federativo diverso do estabelecimento do contribuinte), deve ser mantido o lançamento que aplicou penalidade por ausência de cumprimento da obrigação acessória. CONSERVAÇÃO E GUARDA DA DOCUMENTAÇÃO. ART. 264, RIR. DESTRUIÇÃO. PROCEDIMENTO. INOBSERVÂNCIA. EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE. Para ilidir a responsabilidade quanto à inobservância do dever de conservação e guarda de documentação que dê lastro aos lançamentos contábeis e fiscais por hipótese de destruição, deve o contribuinte observar o procedimento indicado pela legislação, tal qual o previsto no § 1º do art. 264 do RIR.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Anocalendário: 2002 MULTA. ARQUIVOS MAGNÉTICOS. INCÊNDIO. COMPROVAÇÃO. AUSÊNCIA. À falta de comprovação inequívoca de nexo de causalidade entre o sinistro e a suposta destruição dos registros magnéticos (o local do incêndio pertence a outra empresa e estava localizado em estado federativo diverso do estabelecimento do contribuinte), deve ser mantido o lançamento que aplicou penalidade por ausência de cumprimento da obrigação acessória. CONSERVAÇÃO E GUARDA DA DOCUMENTAÇÃO. ART. 264, RIR. DESTRUIÇÃO. PROCEDIMENTO. INOBSERVÂNCIA. EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE. Para ilidir a responsabilidade quanto à inobservância do dever de conservação e guarda de documentação que dê lastro aos lançamentos contábeis e fiscais por hipótese de destruição, deve o contribuinte observar o procedimento indicado pela legislação, tal qual o previsto no § 1º do art. 264 do RIR. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário, nos termos do voto do Relator. (assinado digitalmente) Ana de Barros Fernandes Presidente. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 26 56 /2 00 7- 70 Fl. 222DF CARF MF Impresso em 18/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 11/03/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/0 3/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/03/2015 por ANA DE BARROS FERNAND ES 2 Alexandre Fernandes Limiro Relator. Participaram da sessão de julgamento, os conselheiros: Maria de Lourdes Ramirez, Fernando Daniel de Moura Fonseca, Neudson Cavalcante Albuquerque, Alexandre Fernandes Limiro, Rogério Aparecido Gil, Ana de Barros Fernandes Wipprich Relatório Tratase de Auto de Infração (efls. 80/81) lavrado para aplicação e cobrança de MULTAS DE VALOR FIXO por FALTA/ATRASO NA ENTREGA DE ARQUIVO MAGNÉTICO previstos no ADE n° 15/01. O valor total do crédito tributário apurado à época perfazia o montante de R$ 115.046,02 (efl. 82). O contribuinte foi devidamente notificado do auto de infração em 14/09/2007 (efl. 80/82), e apresentou impugnação às efls. 85/104, em 15/10/2007, a qual foi julgada improcedente pela DRJSão Paulo I/SP (efl. 173/180), que considerou ser devida a multa ante a falta de entrega dos aludidos materiais magnéticos. O julgador esclareceu que conforme Ocorrência Policial n° 178/06 (efl. 117), ocorreu um incêndio em uma antiga fábrica de charque, utilizada pelo Frigorifico Amambai como arquivo morto e que, conforme depoimentos pela autoridade policial, o local do sinistro servia de arquivo de documentos contábeis, fiscais e do departamento pessoal do frigorífico. Apontou que a perícia fora prejudicada, tendo em vista que o local não havia sido preservado e os documentos retirados do local do sinistro. Outrossim, esclareceu que os registros policiais nenhuma menção fizeram a qualquer documento da empresa TORLIM INDÚSTRIA FRIGORÍFICA LTDA que tenha sido objeto do sinistro. Asseverou que a empresa foi negligente, pois tinha domicilio fiscal na cidade de São Paulo e mantinha documentos e livros fiscais e contábeis na cidade de AmambaíMS, na sede de uma outra pessoa jurídica, sem a mínima vigilância, conforme relato policial, não tendo observado o "caput" do artigo 265 do RIR/99. Por fim, sustentou que não há como se elidir o procedimento fiscal, em face do sinistro ocorrido, tendo em vista que o contribuinte não procedeu nos termos do § l° do artigo 264 do RIR/99. Intimado desta decisão (efl. 194), o contribuinte apresentou recurso voluntário em 23/03/2011 (efls. 200/207), onde alega: a) Que os arquivos magnéticos não foram entregues às autoridades fiscais porque foram totalmente destruídos em um incêndio ocorrido em prédio de sua propriedade, onde estavam armazenados para posterior triagem. b) Que a destruição dos documentos poderia, em tese, levar ao arbitramento do movimento financeiro da recorrente, para fins de cobrança de eventuais tributos devidos, mas não à imposição de sanção pela sua nãoapresentação, eis que o fato foi impulsionado exclusivamente por caso fortuito e de força maior e não por vontade da recorrente. c) Cita o artigo 3.º da Portaria CORAT n.º 36, de 25/10/2001, e afirma ser descabida imposição da multa ou a utilização do fato fortuito como fundamento para agravar quaisquer penalidades impostas à recorrente. Alega não é o caso de cogitarse da presença ou não de dolo para a caracterização da infração, mas sim, da impossibilidade de atendimento a determinação fiscal, implicando com isso na ilegalidade da imposição e no agravamento de eventuais multas à recorrente. Fl. 223DF CARF MF Impresso em 18/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 11/03/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/0 3/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/03/2015 por ANA DE BARROS FERNAND ES Processo nº 19515.002656/200770 Acórdão n.º 1801002.314 S1TE01 Fl. 223 3 d) Pugnou pela anulação da autuação, relativamente à imposição e ao agravamento das penalidades por suposto embaraço na fiscalização, eis que o não atendimento à ordem de apresentação dos arquivos magnéticos é decorrente de caso fortuito. f) Esclarece que a razão das diferenças detectadas pelo agente fiscal autuante em suas contas bancárias se deu em um período no qual as empresas do Grupo Torlim estavam sob intensa fiscalização, resultando daí inúmeras restrições, sendo que a recorrente era a única que apresentava saúde financeira e, por essa razão, as demais empresas do referido Grupo passaram a se utilizar disso. Afirmou que tais operações estão devidamente registradas nos livros da recorrente e das empresas do Grupo Torlim. Portanto, os recursos movimentados não lhe pertenciam e, por essa razão, não foram lançados em suas declarações e sim nas declarações das empresas titulares de tais recursos. Por fim, requereu o afastamento da multa aplicada pela falta de apresentação dos documentos solicitados, bem como o afastamento do arbitramento do lucro com base na movimentação bancária da recorrente, eis que não condizem com o lucro obtido, o que somente seria possível contabilizar com a realização de perícia já requerida. Voto Conselheiro Alexandre Fernandes Limiro, Relator Presentes os pressupostos recursais exigidos pela legislação, conheço do recurso. Ausentes quaisquer preliminares, passo ao mérito. A recorrente afirma que, de fato, os arquivos magnéticos não foram entregues à fiscalização, mas justifica tal omissão na impossibilidade de fazêlo, porquanto os referidos arquivos teriam sido destruídos num incêndio ocorrido em prédio de sua propriedade, onde estavam armazenados. Comprova suas alegações através dos documentos acostados à peça impugnatória, especialmente o inquérito policial. Invoca o art. 3º da Portaria CORAT n. 36, de 25/10/2001, que exclui a punibilidade quando comprovada a ocorrência de caso fortuito ou força maior. O Inquérito Policial de efls. 115/121, oriundo de Amambaí/MS, indica como vítima a Fribai Frigorífico do Vale do Amambaí Ltda. Narra a ocorrência de incêndio, de causas desconhecidas, ocorrido em 08/03/2006, por volta das 17:30h, na antiga fábrica de charque existente no interior do Frigorífico Amambaí, localizado na Rodovia MS156; KM 69, Amambaí/MS. Conta ainda que o referido incêndio teria destruído vários documentos em uma das salas, que era utilizada como “arquivo morto”. Ressaltase ainda que na Ocorrência Policial de efl. 117 consta que o responsável pelo frigorífico foi informado da situação e orientado a não remover os documentos lá existentes, tendo em vista a solicitação de comparecimento da Perícia Técnica no local, orientação esta ignorada, uma vez que o local não foi preservado até a sua chegada. Dos depoimentos e declarações de efls. 123/127 depreendese que os documentos queimados/molhados se referem a documentos contábeis, fiscais e do Fl. 224DF CARF MF Impresso em 18/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 11/03/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/0 3/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/03/2015 por ANA DE BARROS FERNAND ES 4 departamento pessoal do frigorífico, os quais teriam sido anteriormente periciados e devolvidos pela Polícia Federal. Outrossim, o local não teria sido preservado até a chegada da Perícia Técnica em virtude de novo princípio de incêndio no meio dos papeis, o que obrigou quem ali estava a movimentálos. A decisão recorrida consignou que não há comprovação naqueles documentos de que ali estavam inseridos qualquer documento da empresa TORLIM INDÚSTRIA FRIGORÍFICA LTDA e que estes tenham sido objeto do sinistro. Inclusive, indica a negligência da recorrente, que possui domicílio fiscal em São Paulo, ao manter seus documentos fiscais e contábeis em Amambaí/MS, em estabelecimento de outra pessoa jurídica, sem qualquer vigilância. Acusa, ainda, estranheza no fato da recorrente não ter informado o incêndio à fiscalização, que se iniciou em 20/12/2005. Por fim, esclarece que a PortariaCorat n° 36/01 estabelece o regime disciplinar aplicável aos integrantes da Rede Arrecadadora de Receitas Federais, não sendo aplicável ao caso presente. A recorrente, no recurso voluntário, alega que, em 2003, o Grupo Torlim Frigoríficos era formado por diversas empresas, dentre as quais se encontravam a autuada e a empresa vítima do incêndio. Afirma ainda que as empresas do grupo foram submetidas a intensa fiscalização, tendo sido apreendidos quase todos os documentos relativos à contabilidade. A devolução dos mesmos teria ocorrido em Cuiabá/MT, donde foram remetidos à FRIBAI FRIGORÍFICO AMAMBAI, com sede na Rodovia MS/156, km 4, sentido Amambai/Caarapó, na cidade de Amambai (MS), onde foram armazenados para posterior triagem e reorganização. Pois bem. Feitas tais considerações, bem como analisado o material probatório acostado aos autos, não há como reconhecer a improcedência do lançamento, o qual observou todos os ditames legais. Isto porque não há comprovação nos autos das alegações da recorrente, não restando demonstrada qualquer excludente de sua responsabilidade. Em primeiro lugar, não é comum que as empresas armazenem seus documentos fiscais e contábeis em estabelecimento de empresa diversa, que se localize em outro estado federativo. Portanto, deveria haver algum documento que comprovasse tal situação. A recorrente alega que os arquivos se encontravam no local do sinistro em virtude de procedimento da Polícia Federal, mas não junta qualquer prova neste sentido. Ora, mais do que alegar e argumentar, a recorrente deveria ter comprovado que os arquivos magnéticos solicitados pela fiscalização se encontravam no local em que houve o incêndio. Contudo, não há qualquer documento nos autos que demonstre nexo de causalidade entre a impossibilidade de apresentação dos arquivos e o sinistro. Não há sequer indícios para sustentar tal hipótese. Da documentação juntada podese concluir apenas que houve o referido incêndio e que este destruiu diversos arquivos que se encontravam no local, mas também não há qualquer nexo entre os arquivos destruídos e aqueles solicitados pela fiscalização. Em segundo lugar, considerandose que se tratam de arquivos magnéticos previstos no ADE n° 15/01, não é crível que a autuada os tenha entregado todos à Polícia Federal sem fazer uma cópia (backup). Outrossim, lembrase que não houve menção a arquivos eletrônicos destruídos no inquérito policial (efls. 115/121). Em terceiro lugar, salientase que a fiscalização se iniciou em 20/12/2005 (e fls. 11/14) e o incêndio ocorreu em 08/03/2006. Contudo, a recorrente não informou o sinistro. Assim, mesmo tendo sido intimada diversas vezes, quedouse silente e inerte. Fl. 225DF CARF MF Impresso em 18/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 11/03/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/0 3/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/03/2015 por ANA DE BARROS FERNAND ES Processo nº 19515.002656/200770 Acórdão n.º 1801002.314 S1TE01 Fl. 224 5 Ante o exposto, só se pode concluir que a recorrente não logrou êxito em comprovar que a não entrega dos arquivos solicitados pela fiscalização se deu em função do sinistro aventado, razão pela qual seu recurso não merece provimento. Corrobora com a linha de pensamento aqui traçada o disposto na legislação. O art. 264 do RIR prevê a conservação de toda a documentação da empresa relativa à sua atividade enquanto não prescritas eventuais ações que lhes sejam pertinentes. Na hipótese de destruição ou extravio daqueles, o §1º do art. 264 do RIR traz o procedimento a ser observado pelo contribuinte. Confira: Art. 264. A pessoa jurídica é obrigada a conservar em ordem, enquanto não prescritas eventuais ações que lhes sejam pertinentes, os livros, documentos e papéis relativos a sua atividade, ou que se refiram a atos ou operações que modifiquem ou possam vir a modificar sua situação patrimonial (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 4º). § 1º Ocorrendo extravio, deterioração ou destruição de livros, fichas, documentos ou papéis de interesse da escrituração, a pessoa jurídica fará publicar, em jornal de grande circulação do local de seu estabelecimento, aviso concernente ao fato e deste dará minuciosa informação, dentro de quarenta e oito horas, ao órgão competente do Registro do Comércio, remetendo cópia da comunicação ao órgão da Secretaria da Receita Federal de sua jurisdição (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 10). § 2º A legalização de novos livros ou fichas só será providenciada depois de observado o disposto no parágrafo anterior (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 10, parágrafo único). § 3º Os comprovantes da escrituração da pessoa jurídica, relativos a fatos que repercutam em lançamentos contábeis de exercícios futuros, serão conservados até que se opere a decadência do direito de a Fazenda Pública constituir os créditos tributários relativos a esses exercícios (Lei nº 9.430, de 1996, art. 37). Não obstante, o contribuinte, além de não informar a fiscalização em curso sobre a suposta destruição de seus documentos, também não observou o procedimento previsto na lei para tal hipótese. Deste modo, não há que se cogitar a exclusão de sua responsabilidade, pois esta pressupõe justamente que ele tenha observado o procedimento insculpido na lei para o caso. Por fim, apenas a título de esclarecimento, a receita bruta utilizada pela fiscalização para apurar o montante da multa encontrase devidamente comprovada nos autos por meio da juntada das Notas Fiscais de efls. 56 a 66. Pelo exposto, voto por negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Alexandre Fernandes Limiro Fl. 226DF CARF MF Impresso em 18/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 11/03/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/0 3/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/03/2015 por ANA DE BARROS FERNAND ES 6 Fl. 227DF CARF MF Impresso em 18/03/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 11/03/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/0 3/2015 por ALEXANDRE FERNANDES LIMIRO, Assinado digitalmente em 11/03/2015 por ANA DE BARROS FERNAND ES
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Numero do processo: 10825.902139/2012-91
Turma: Terceira Turma Especial da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 25 00:00:00 UTC 2014
Data da publicação: Fri Feb 20 00:00:00 UTC 2015
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Período de apuração: 01/01/2005 a 31/12/2009
COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO AO PIS.
A partir do advento do art. 23, I e II, a, da Medida Provisória nº 1.858-6, de 26/06/1999 e reedições até a MP nº 2.158-35/2001, as receitas das cooperativas passaram a sofrer a incidência da contribuição ao PIS.
MATÉRIA TRIBUTÁRIA. ÔNUS DA PROVA. Cabe ao transmitente do Per/DComp o ônus probante da liquidez e certeza do crédito tributário alegado. À autoridade administrativa cabe a verificação da existência e regularidade desse direito, mediante o exame de provas hábeis, idôneas e suficientes a essa comprovação.
PROVA. MOMENTO DE APRESENTAÇÃO. Os motivos de fato, de direito e a prova documental deverão ser apresentadas com a impugnação/manifestação de inconformidade, precluindo o direito de fazê-lo em outro momento processual, ressalvadas as situações previstas nas hipóteses previstas no § 4o do artigo 16 do Decreto nº 70.235/72.
Numero da decisão: 3803-005.811
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade negar provimento ao recurso. Os conselheiros Juliano Eduardo Lirani, Hélcio Lafetá Reis e Belchior Melo de Sousa votaram pelas conclusões.
(Assinado digitalmente)
Corintho Oliveira Machado - Presidente.
(Assinado digitalmente)
Jorge Victor Rodrigues - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Belchior Melo de Sousa, Juliano Eduardo Lirani; Hélcio Lafetá Reis, Jorge Victor Rodrigues., João Alfredo Eduão Ferreira, e Corintho Oliveira Machado (Presidente).
Nome do relator: JORGE VICTOR RODRIGUES
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ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Período de apuração: 01/01/2005 a 31/12/2009 COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO AO PIS. A partir do advento do art. 23, I e II, a, da Medida Provisória nº 1.858-6, de 26/06/1999 e reedições até a MP nº 2.158-35/2001, as receitas das cooperativas passaram a sofrer a incidência da contribuição ao PIS. MATÉRIA TRIBUTÁRIA. ÔNUS DA PROVA. Cabe ao transmitente do Per/DComp o ônus probante da liquidez e certeza do crédito tributário alegado. À autoridade administrativa cabe a verificação da existência e regularidade desse direito, mediante o exame de provas hábeis, idôneas e suficientes a essa comprovação. PROVA. MOMENTO DE APRESENTAÇÃO. Os motivos de fato, de direito e a prova documental deverão ser apresentadas com a impugnação/manifestação de inconformidade, precluindo o direito de fazê-lo em outro momento processual, ressalvadas as situações previstas nas hipóteses previstas no § 4o do artigo 16 do Decreto nº 70.235/72.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade negar provimento ao recurso. Os conselheiros Juliano Eduardo Lirani, Hélcio Lafetá Reis e Belchior Melo de Sousa votaram pelas conclusões. (Assinado digitalmente) Corintho Oliveira Machado - Presidente. (Assinado digitalmente) Jorge Victor Rodrigues - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Belchior Melo de Sousa, Juliano Eduardo Lirani; Hélcio Lafetá Reis, Jorge Victor Rodrigues., João Alfredo Eduão Ferreira, e Corintho Oliveira Machado (Presidente).
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 11; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 2086; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3TE03 Fl. 11 1 10 S3TE03 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 10825.902139/201291 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 3803005.811 – 3ª Turma Especial Sessão de 25 de março de 2014 Matéria Compensação pagamento a maior/indevido Recorrente UNIMED CENTRO OESTE PAULISTA FEDERAÇÃO INFRAFEDERATIVA DAS COOPERATIVAS MÉDICAS Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/01/2005 a 31/12/2009 COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO. INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO AO PIS. A partir do advento do art. 23, I e II, “a”, da Medida Provisória nº 1.8586, de 26/06/1999 e reedições até a MP nº 2.15835/2001, as receitas das cooperativas passaram a sofrer a incidência da contribuição ao PIS. MATÉRIA TRIBUTÁRIA. ÔNUS DA PROVA. Cabe ao transmitente do Per/DComp o ônus probante da liquidez e certeza do crédito tributário alegado. À autoridade administrativa cabe a verificação da existência e regularidade desse direito, mediante o exame de provas hábeis, idôneas e suficientes a essa comprovação. PROVA. MOMENTO DE APRESENTAÇÃO. Os motivos de fato, de direito e a prova documental deverão ser apresentadas com a impugnação/manifestação de inconformidade, precluindo o direito de fazêlo em outro momento processual, ressalvadas as situações previstas nas hipóteses previstas no § 4o do artigo 16 do Decreto nº 70.235/72. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade negar provimento ao recurso. Os conselheiros Juliano Eduardo Lirani, Hélcio Lafetá Reis e Belchior Melo de Sousa votaram pelas conclusões. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 82 5. 90 21 39 /2 01 2- 91 Fl. 170DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO 2 (Assinado digitalmente) Corintho Oliveira Machado Presidente. (Assinado digitalmente) Jorge Victor Rodrigues Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Belchior Melo de Sousa, Juliano Eduardo Lirani; Hélcio Lafetá Reis, Jorge Victor Rodrigues., João Alfredo Eduão Ferreira, e Corintho Oliveira Machado (Presidente). Relatório Sob a alegação de realização de pagamento a maior ou indevido de PIS/PASEP a contribuinte transmitiu Per/DComp em 30/11/2009, entretanto a compensação realizada restou não homologada, eis que por meio de despacho decisório eletrônico a autoridade administrativa declarou haver outros débitos e que o crédito informado foi integralmente utilizado para a quitação dos mesmos, não havendo saldo credor o suficiente para solver os débitos declarados na DComp aviada. Sobreveio a manifestação do inconformismo e com ela os argumentos de que: (i) a exigência da contribuição ao PIS foi restabelecida sob a égide da CF/88, notadamente nos termos do art. 2o, II, da Lei 9.715/98, sendo um ano após expressamente revogada em relação às entidades sem fins lucrativos, por meio da MP 1.85810/99, com a atual redação conferida pelo art. 93 da MP nº 2.15835/01, ainda assim algumas cooperativas permaneceram obrigadas ao recolhimento da contribuição ao PIS sobre a folha de salário, em vista de regra específica prevista no § 1º, do art. 2º, da Lei nº 9.715/98; (ii) a MP 2.15835/01 ao mesmo tempo em que revogou a exigência da contribuição ao PIS para as entidades sem fins lucrativos. Explicitou que as sociedades cooperativas de produção rural, contribuintes do PIS com base no faturamento, porém sujeitas às exclusões e deduções no art. 15 da referida MP, continuavam sujeitas à contribuição ao PIS com base na folha de salário, nos termos do seu art. 13; (iii) ratificando esse entendimento encontrase o art. 28 da IN SRF nº 635/06, que explicita quais as sociedades que continuam sujeitas a incidência da contribuição ao PIS com base na folha de salário, conforme se depreende da solução no processo de consulta nº 290/07; (iv) ainda que a redação do art. 15 da MP2.15835 seja genérica em relação às sociedades cooperativas e, portanto, não excetue as cooperativas de trabalho médico, isso não permite a conclusão de que essas cooperativas estariam entre as compreendias no alcance desse dispositivo, como também concluiu as autoridades fiscais, nos termos do art. 28 da IN SRF nº 635/06; (v) conclui aduzindo que se as sociedades cooperativas médicas não se sujeitam às exigências da contribuição ao PIS com base na folha de salários de seus empregados e, Fl. 171DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO Processo nº 10825.902139/201291 Acórdão n.º 3803005.811 S3TE03 Fl. 12 3 portanto, todo o recolhimento realizado a esse título deve ser entendido comore colhimento a maior ou indevido e, logo, passível de ser recuperado. Requereu, ainda, a reforma do julgado de primeira instância, a procedência integral da declaração de compensação, com vista a legitimidade do crédito tributário e o reconhecimento da extinção dos débitos compensados no PER/DECOMP. A decisão prolatada pela 14ª Turma da DRJ/RPO, de 11/09/13 (fls. /) por meio do Acórdão nº 1444.629, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade, para manter o crédito tributário exigível, nos termos da ementa adiante transcrita: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/01/2005 a 31/12/2009 DIREITO CREDITÓRIO. PROVA. Correto o despacho decisório que não homologou a compensação declarada pelo contribuinte por inexistência de direito creditório, tendo em vista que o recolhimento alegado como origem do crédito estava integralmente alocado na quitação de débitos confessados. O reconhecimento do direito creditório aproveitado em DCOMP não homologada requer a prova de sua existência e montante. Faltando ao conjunto probatório carreado aos autos elementos que permitam a verificação da existência de pagamento indevido ou a maior frente à legislação tributária, o direito creditório não pode ser admitido. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2005 a 31/12/2009 FATURAMENTO E FOLHA DE SALÁRIOS. LEGALIDADE. Quando a sociedade cooperativa realiza as exclusões legais da base de cálculo do PIS Faturamento, é devido o PIS Folha concomitantemente, nos termos do art. 15, § 2º, da Medida Provisória nº 2.15835, de 2001, e do art. 32, § 4º, do Decreto nº 4.524, de 2002. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido O voto condutor do acórdão adotou o pressuposto de que : (a) “Nos termos da regra consolidada na atual MP nº 2.15835, de 2001, a tributação das sociedades cooperativas segue a tributação das demais pessoas jurídicas em geral, calculando o PIS de acordo com o faturamento. No entanto, caso a cooperativa realize determinadas operações que não sofrem a incidência do PIS com base no faturamento, deverá, conforme disposição inscrita no art. 15, §2º, I da MP nº 2.15835, de 2001, apurar o PIS com base na folha de salários. Nesse caso, portanto, a cooperativa sujeitase cumulativamente à tributação com base no faturamento e com base na folha de pagamentos”. Consubstanciouse ainda no art. 13 da referida MP, e nos arts. 36 da MP 66/02; no art. 1º da MP nº 101/02, convertida na Lei nº 10.767/03; no art. 32 do Dec. 4.524/02 e nos arts. 9º e 33 da IN SRF nº 247/02. Fl. 172DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO 4 De acordo com os dispositivos mencionados não prevalece a tese de que as sociedades cooperativas outras que não de produção agropecuária, eletrificação rural, de crédito e de transporte rodoviário, estariam fora do alcance do PIS sobre a folha de salários. E assim, nos períodos em que tenha procedido à exclusão das sobras líquidas da base de cálculo da contribuição, o PIS sobre a folha de pagamentos deve ser recolhido. Situação essa em que o sucesso da contribuinte em ver homologada a compensação declarada na primeira instância administrativa, condicionase à comprovação da liquidez e certeza do direito creditório, no caso, a de que não efetuou a exclusão em foco. No que se relaciona ao aspecto do elemento material de prova extraise excertos que sintetizam o posicionamento adotado pela decisão em questão, adiante: “Em se tratando de declaração eletrônica, a verificação dos dados informados pela contribuinte na DCOMP foi realizada também de forma eletrônica, cotejando os com os demais por ela informados à Receita Federal em outras declarações (DCTFs, DIPJ, etc), bem como com outras bases de dados desse órgão (pagamentos, etc), tendo resultado no Despacho Decisório em discussão. O ato combatido aponta como causa da não homologação o fato de que, embora localizado o pagamento apontado na DCOMP como origem do crédito, o valor correspondente fora utilizado para a extinção anterior de débito confessado pela interessada. Assim o exame das declarações prestadas pela própria interessada à Administração Tributária revela que o crédito utilizado na compensação declarada não existia.” De acordo com o Termo de Ciência por decurso de prazo, a data de disponibilização na caixa postal da contribuinte da decisão contida no Acórdão nº 1444.629, foi em 20/09/2013. Com isso a data da ciência se deu em 05/10/2013. O Termo de Solicitação de Juntada de recurso voluntário foi registrada pela repartição preparadora em 01/11/13. Ciente da decisão contida no acórdão retromencionado a contribuinte irresignada, em sede de recurso voluntário, reiterou de forma minudente acerca das razões de defesa apresentadas na exordial. Ressaltou que a MP 2.15835/01, em seu artigo 13, explicitou quais os tipos de entidades que se sujeitavam à contribuição ao PIS, calculada sobre a folha de salários, bem assim que as sociedades cooperativas não foram contempladas, de acordo com o elenco formulado nesse artigo, como o foram às Organizações das Cooperativas – OCB e as Organizações estaduais de Cooperativas, nos termos do inciso I, do art. 13, da MP nº 2.158 35/01, que não se identifica com as sociedades cooperativas propriamente ditas. Mencionou que na mesma senda segue o § 2º e incisos I a IV, do art. 15 dessa MP, eis que as cooperativas de trabalho médico não praticam as operações descritas nesses incisos do confuso enunciado do referido artigo da MP correspondente. Fl. 173DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO Processo nº 10825.902139/201291 Acórdão n.º 3803005.811 S3TE03 Fl. 13 5 Aduziu ademais disso que o art. 28 da IN SRF 635/06 identifica quais sociedades cooperativas se sujeitam à incidência da contribuição ao PIS com base na folha de salário, ou seja, as sociedades sujeitas às exclusões previstas no art. 15 da MP 2.15835/01,bem assim que a resposta à Consulta 290/07 ratifica este entendimento. Requer ao final o integral provimento do recurso, protestando pela apresentação de memoriais e sustentação oral das razões aduzidas. É relatório. Voto Conselheiro Jorge Victor Rodrigues. O recurso é tempestivo e preenche os pressupostos de admissibilidade, dele conheço. Duas foram às questões devolvidas para apreciação pelo Tribunal ad quem, a saber: (i) a verificação da certeza e liquidez do direito creditório alegado pela Recorrente; e (ii) a tributação das sociedades cooperadas de trabalho médico pelo PIS. O exame acerca da primeira questão resta prejudicado, eis que nenhum documento contábil ou fiscal hábil e idôneo foi colacionado aos autos, com o fim de corroborar as assertivas formuladas na exordial, ou mesmo no apelo sob exame, o que se faz em respeito aos dispositivos contidos no artigo 16 do Decreto nº 70.235/72, caput e § 4º. É cediço que quando da apresentação de Per/DComp à repartição fiscal, por se tratar de iniciativa do próprio contribuinte, cabe ao transmitente o ônus probante da liquidez e certeza do crédito tributário alegado em valores superiores ao débito informado na DComp. Por sua vez à autoridade administrativa cabe a verificação da existência e regularidade desse direito, mediante o exame de provas hábeis, idôneas e suficientes a essa comprovação. Resta, então, o enfrentamento da questão relacionada à tributação das sociedades cooperadas pelo PIS. O hodierno ordenamento jurídico tem a sua gênese na Constituição Cidadã de 1988. O seu artigo 146, III, ‘C’, dispõe que cabe à lei complementar estabelecer normas gerais me matéria de legislação tributária, especialmente sobre: adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas. A Lei nº 5.764/71, que definiu a Política Nacional de Cooperativismo e instituiu o regime jurídico das cooperativas, por meio do seu artigo 4º, já havia atribuído à definição legal de “cooperativas”, como sendo: Fl. 174DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO 6 Art. 4º. As cooperativas são sociedades de pessoas, como forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindose das demais sociedades pelas seguintes características: (...); VII – retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral. Adiante, no caput e no parágrafo único do artigo 79 do mesmo mandamus, adveio a definição e a funcionalidade de “atos cooperativos”. Em outras palavras são tais atos jurídicos que criam, mantém ou extinguem relações cooperativas, não implicando, necessariamente, em atos de mercado. Acerca da tributação do PIS e da COFINS, inicialmente, foi a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, considerada isenta por força do disposto no caput e inciso I do art. 6º, da LC nº 70/91, instituidora da Cofins. Entretanto, com o advento da MP nº 1.8586/99, por meio de seu artigo 23, foram os incisos I e III do artigo 6º da LC nº 70/91, revogados. Ocorre que essa revogação se manteve por meio da MP nº 66/02 e também pela Lei nº 10.637/02, por meio dos seus artigos 1º e 2º, que atualmente regula esta matéria (cobrança do PIS/PASEP, cuja base de cálculo é o valor do faturamento). Do mesmo modo ocorreu com o PIS, cujas cooperativas estão sujeitas ao pagamento desse tributo, seja sobre a folha de salários, mediante a aplicação de alíquota de 1% sobre a folha de pagamento mensal de seus empregados. A outra forma de tributação incide sobre a receita bruta, mediante a alíquota de 0,65% (a partir de 01/11/1999, data fixada pelo Ato Declaratório SRF nº 88/99), com exclusões da base de cálculo prevista pela MP 2.11327/01, ou mesmo de acordo com a MP 107, com as exclusões da base de cálculo, de acordo com o disposto também no artigo 15 da MP 2.113 27/01. Por força do contido na Lei nº 10.637/02, a partir de 01/12/02, a alíquota do PIS foi majorada para 1,65%. Destarte, por meio da MP 107/03, de 10/022003, a alíquota do PIS que houvera sido majorada, retorna ao seu valor original de 0,65%, inclusive para as sociedades cooperativas. Foi a partir da MP nº 2.11329, de 27/03/01, DOU de 28/03/01, de suas reedições e alterações posteriores, até a MP 2.15835/01, através de suas disposições que se tornou possível para as sociedades cooperativas a exclusão da base de cálculo do PIS e da Cofins, de valores mencionados no artigo 15 desta MP, isto uma vez observado o disposto nos artigos 2º e 3º da Lei nº 9.718/98. Fl. 175DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO Processo nº 10825.902139/201291 Acórdão n.º 3803005.811 S3TE03 Fl. 14 7 Portanto, a base de cálculo para as contribuições para o PIS e a Cofins, devidas pelas pessoas jurídicas de direito privado, é o faturamento, correspondente à receita bruta. A respeito da exclusão de valores da base de cálculo do PIS e da Cofins das cooperativas vale mencionar as disposições da MP nº 101/02, litteris: Art. 1º. As sociedades cooperativas também poderão excluir da base de cálculo da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS, sem prejuízo do disposto no art. 15 da Medida Provisória nº 2.15835, de 24 de agosto de 2001, as sobras apuradas na Demonstração de Resultado do Exercício, antes da destinação para a constituição do Fundo de Reserva e do Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, previstos no art. 28 da Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. § 1º. Omissis. § 3º O disposto neste artigo alcança os fatos geradores ocorridos a partir da vigência da Medida Provisória nº 1.85810, de 26 de outubro de 1999. Portanto, seja sob a ótica da MP nº 2.15835/01, ou segundo os dispositivos contidos na MP nº 101/02, posteriormente convertida na Lei 10.767/02 e, observados o disposto nos artigos 2º e 3º da Lei nº 9.718/98, o que se percebe nitidamente, é a possibilidade de exclusão de elementos da base de cálculo do PIS e da Cofins, para as sociedades cooperativas. Confirase: Art. 1° Esta Lei aplicase no âmbito da legislação tributária federal, relativamente às contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS/PASEP e à Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social COFINS, de que tratam o art. 239 da Constituição e a Lei Complementar n° 70, de 30 de dezembro de 1991, ao Imposto sobre a Renda e ao Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativos a Títulos ou Valores Mobiliários IOF. Art. 2° As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, devidas pelas pessoas jurídicas de direito privado, serão calculadas com base no seu faturamento, observadas a legislação vigente e as alterações introduzidas por esta Lei. (Vide Medida Provisória nº 215835, de 2001). Art. 3º O faturamento a que se refere o artigo anterior corresponde à receita bruta da pessoa jurídica. (Vide Medida Provisória nº 215835, de 2001) (...); § 9o Na determinação da base de cálculo da contribuição para o PIS/PASEP e COFINS, as operadoras de planos de assistência à saúde Fl. 176DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO 8 poderão deduzir: (Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) I coresponsabilidades cedidas; (Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) II a parcela das contraprestações pecuniárias destinada à constituição de provisões técnicas; (Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001) III o valor referente às indenizações correspondentes aos eventos ocorridos, efetivamente pago, deduzido das importâncias recebidas a título de transferência de responsabilidades. (Incluído pela Medida Provisória nº 215835, de 2001). (Grifei). De outra parte assim se pronunciou a Solução de Consulta COSIT nº 06, de 8 de novembro de 2010 (ação judicial): EMENTA: O disposto no inciso III do § 9º do art. 3º da Lei nº 9.718, de 1998, com a redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001, não permite que as operadoras de planos de assistência à saúde deduzam da base de cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep as despesas e custos operacionais relacionados com os atendimentos médicos realizados em seus próprios beneficiários (clientes), por meio de estabelecimento próprio ou pela rede conveniada/credenciada de profissionais e empresas da área de saúde, visto que tais contribuições incidem sobre o faturamento (receita bruta) mensal e não sobre o resultado. O inciso III do § 9º do art. 3º da Lei nº 9.718, de 1998, somente autoriza as operadoras de planos de assistência à saúde a deduzirem da base de cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep o valor correspondente às indenizações efetivamente pagas por uma operadora, referente aos atendimentos médicos efetuados em beneficiários (clientes) pertencentes à outra operadora de plano de assistência à saúde, deduzido das importâncias recebidas a título de transferência de responsabilidade. O Poder Judiciário, aqui representado pelos Tribunais Superiores, também não se omitiu quando provocado a se pronunciar a respeito da tributação do PIS/PASEP e da Cofins, senão vejamos: O Julgamento da Questão no STJ – Sistemática do Recurso Repetitivo: RECURSO ESPECIAL Nº 1.164.716 MG (2009/02107185) RELATOR : MINISTRO LUIZ FUX RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : PROCURADORIAGERAL DA FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : COOPERATIVA DOS INSTRUTORES DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL E PROMOÇÃO SOCIAL RURAL LTDA COOPIFOR ADVOGADO : CAMILA COLARES SANTANA E OUTRO(S) DECISÃO (...) impõese, da mesma forma, a submissão do presente apelo extremo como representativo da controvérsia atinente à incidência da Fl. 177DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO Processo nº 10825.902139/201291 Acórdão n.º 3803005.811 S3TE03 Fl. 15 9 contribuição destinada ao PIS e da COFINS sobre a receita oriunda de atos cooperativos típicos realizados pelas cooperativas, à luz do disposto no artigo 79, parágrafo único, da Lei 5.764/71, a fim de se prevenir eventual óbice de conhecimento. (...) Brasília (DF), 24 de fevereiro de 2010. A discussão realizada pelo Supremo Tribunal Federal ainda não chegou a termo, entretanto o reconhecimento da repercussão geral a respeito do tema ora sob exame, já ocorreu. Confirase: REPERCUSSÃO GERAL EM RE N.672.215CE RELATOR: MIN. JOAQUIM BARBOSA EMENTA: TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DA COFINS, DA CONTRIBUIÇÃO AO PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL E DA CONTRIBUIÇÃO SOBRE O LUCRO LÍQUIDO SOBRE O PRODUTO DE ATO COOPERADO OU COOPERATIVO. DISTINÇÃO ENTRE “ATO COOPERADO TÍPICO” E “ATO COOPERADO ATÍPICO”. CONCEITOS CONSTITUCIONAIS DE “ATO COOPERATIVO”, “RECEITA DE ATIVIDADE COOPERATIVA” E “COOPERADO”. COOPERATIVA DE SERVIÇOS MÉDICOS. VALORES PAGOS POR TERCEIROS À COOPERATIVA POR SERVIÇOS PRESTADOS PELOS COOPERADOS. LEIS 5.764/1971, 7.689/1988, 9.718/1998 E 10.833/2003. ARTS. 146, III, c, 194, par. ún., V, 195, caput, e I, a, b e c e § 7º e 239 DA CONSTITUIÇÃO. Tem repercussão geral a discussão sobre a incidência da Cofins, do PIS e da CSLL sobre o produto de ato cooperativo, por violação dos conceitos constitucionais de “ato cooperado”, “receita da atividade cooperativa” e “cooperado”. Discussão que se dá sem prejuízo do exame da constitucionalidade da revogação, por lei ordinária ou medida provisória, de isenção, concedida por lei complementar (RE 598.085RG), bem como da “possibilidade da incidência da contribuição para o PIS sobre os atos cooperativos, tendo em vista o disposto na Medida Provisória nº 2.158 33, originariamente editada sob o nº 1.8586, e nas Leis nºs 9.715 e 9.718, ambas de1998” (RE 599.362 RG, Rel. Min. Dias Toffoli). Como visto ainda não se vislumbra nos textos normativos, nem jurisprudenciais, a hipótese de isenção ou de não incidência tributária para as cooperativas. Tampouco de distinção entre cooperativas de trabalho médico, de crédito, enfim, entre as demais modalidades de sociedades cooperativas. Concluise, por conseguinte que, do texto legal, onde o legislador não faz distinção, não cabe ao operador do direito fazêlo, tampouco ao intérprete da lei. O PIS sobre a folha de pagamento constitui uma obrigação tributária principal devida por todas as entidades sem fins lucrativos, classificadas como Isentas, Imunes ou Dispensadas, e calculado sobre a folha de pagamento de salários, à alíquota de 1%. Fl. 178DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO 10 Quanto ao requerido pela Recorrente, no sentido de que o PIS/folha de pagamento não é cabível, portanto poderia ser compensado com tais débitos, considero inadequado o seu pedido. Isto porque ao manifestar o seu inconformismo a ora Recorrente destacou que a MP 2.15835/01 ao mesmo tempo em que revogou a exigência da contribuição ao PIS para as entidades sem fins lucrativos, explicitou que as sociedades cooperativas de produção rural, contribuintes do PIS com base no faturamento, porém sujeitas às exclusões e deduções no art. 15 da referida MP, continuavam sujeitas à contribuição ao PIS com base na folha de salário, nos termos do seu art. 13. Tema este reiterado no recurso voluntário. Há um equívoco nas assertivas formuladas pela Recorrente quanto à revogação da exigência da contribuição ao PIS para as entidades sem fins lucrativos, pela MP nº 2.158 35/01. Diversamente, com o advento dessa medida provisória tornouse concreta a possibilidade de exclusão de elementos previstos na legislação de regência, da base de cálculo do PIS e da Cofins, isto em conformidade com o disposto nos artigos 2º e 3º da Lei nº 9.718/98. E mais, a Recorrente foi além ao mencionar que ratificando esse entendimento encontrase o art. 28 da IN SRF nº 635/06, que explicita quais as sociedades que continuam sujeitas a incidência da contribuição ao PIS com base na folha de salário, conforme se depreende da solução no processo de consulta nº 290/07; O fato de o art. 28 não relacionar expressamente a sociedade cooperativa de trabalho médico dentre aquelas cujo fato gerador para o PIS/PASEP incide sobre a folha de salários no percentual de 1%, não autoriza o contribuinte a dela se eximir, como se imune ou isenta fosse, o que não corresponde ao disposto nos arts. 2º e 3º da Lei nº 9.718/98, posto que as deduções permitidas em lei, se faz em observância desses dois artigos suso citados. O rol das exclusões mencionados no art. 15 da MP 2.15835/01, aplicável ao caso em comento, não é exaustivo, ou mesmo conclusivo, como também não o é aquele constante do artigo 28 da IN SRF nº 635/06, DOU de 17/04/2006, e ambos ensejam a incidência do PIS/Folha. Isto posto oriento o meu voto pelo não provimento do recurso voluntário. É como voto. Sala de sessões em 25 de março de 2014. Jorge Victor Rodrigues Relator Fl. 179DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO Processo nº 10825.902139/201291 Acórdão n.º 3803005.811 S3TE03 Fl. 16 11 Fl. 180DF CARF MF Impresso em 20/02/2015 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/11/2014 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 03/11/20 14 por JORGE VICTOR RODRIGUES, Assinado digitalmente em 06/11/2014 por CORINTHO OLIVEIRA MACHADO
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