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Numero do processo: 15540.720404/2011-44
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 10 00:00:00 UTC 2014
Data da publicação: Fri Dec 12 00:00:00 UTC 2014
Numero da decisão: 2202-000.591
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do Conselheiro Relator.
(Assinado digitalmente)
Antonio Lopo Martinez Presidente
(Assinado digitalmente)
Rafael Pandolfo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Lopo Martinez, Marcio de Lacerda Martins (suplente convocado), Jimir Doniak Junior (suplente convocado), Dayse Fernandes Leite (suplente convocada) e Rafael Pandolfo. Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Fabio Brun Golsdschmidt, Pedro Anan Junior e Odmir Fernandes (suplente convocad).
Relatório
Nome do relator: RAFAEL PANDOLFO
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Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do Conselheiro Relator. (Assinado digitalmente) Antonio Lopo Martinez – Presidente (Assinado digitalmente) Rafael Pandolfo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Lopo Martinez, Marcio de Lacerda Martins (suplente convocado), Jimir Doniak Junior (suplente convocado), Dayse Fernandes Leite (suplente convocada) e Rafael Pandolfo. Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Fabio Brun Golsdschmidt, Pedro Anan Junior e Odmir Fernandes (suplente convocad). RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 55 40 .7 20 40 4/ 20 11 -4 4 Fl. 980DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 981 2 Relatório 1 Procedimento de Fiscalização Após verificar a incompatibilidade entre as informações financeiras apresentadas pelo contribuinte em sua DIRPF anocalendário 2007 e os dados de sua movimentação financeira, a Fazenda Nacional instaurou Procedimento de Fiscalização em relação ao IRPF do recorrente dos anoscalendário referidos, com o objetivo de esclarecer a origem dos recursos que possibilitaram a realização dos créditos e depósitos bancários, considerando que existiam evidências de omissão de rendimentos pelo recorrente (fl. 5354). Em 10/09/10, o contribuinte, tomou ciência do Termo de Início de Fiscalização (fl. 55), ocasião em que foi intimado para apresentar: a) extratos bancários relativos a todas as contas corrente que deram origem a movimentação financeira nas instituições bancárias discriminadas, informando se foram movimentadas em conjunto ou individualmente; e b) apresentar documentação hábil e idônea, comprovando a origem dos recursos depositados nas contas bancárias referidas. Em 29/09/10, o recorrente requereu a prorrogação do prazo para o atendimento da intimação, o que foi deferido (fl. 56). Em 25/10/10, foram apresentados os seguintes documentos: a) Recibos de pagamentos de salário (fls. 5866) b) Protocolos de Requerimento de Segunda via de extratos (fls. 6768). Em 16/11/10, o contribuinte reconheceu as movimentações da conta nº 207031 7, Agência 0194, do Unibanco como pertencente a ele, mesmo que formalmente seja conta conjunta com sua esposa Sra. Rose Mary da Silva Ferreira Côrrea (fl. 71). Ainda, apresentou os seguintes documentos: a) Extratos HSBC (fls. 73103); b) Extratos Unibanco (fls. 104128); c) Extratos Banco Real (fls. 129170). Em 10/12/10, a Fiscalização decidiu lavrar Requisição de Informações Sobre Movimentações Financeiras – RMF (fls. 479480 do eprocesso), para as instituições financeiras Sudaméris (fl. 171194), HSBC Bank (fls. 365441) e Unibanco (fls. 442641), as quais apresentaram documentos. Em 14/03/11, a autoridade administrativa lavrou Termo de Constatação e Intimação Fiscal, intimando o contribuinte para comprovar a origem dos valores depositados conforme o demonstrativo em anexo (fl. 649656). Em 03/05/11, o recorrente apresentou nova manifestação informando que trabalhou na Empresa Strong Manutenção e Reparos Navais LTDA e a condição para que se mantivesse na empresa era a de que emprestasse cheques para a movimentação da empresa até a sua regularização no mercado, pois todos os seus diretos estavam com os nomes sujos, tal relação durou todo o ano de 2007. Ainda, informou que suas contas bancárias nos três bancos alvos do procedimento de fiscalização foram utilizadas para a movimentação da empresa, que através de DOC’s ou tranferências, usando seu rol de clientes, realizava pagamentos de fornecedores, salários e demais encargos trabalhistas dos funcionários. Ressalta que a empresa negou qualquer esclarecimento ou prova ao contribuinte, motivo pelo qual se torna inviável a apresentação de mais documentos (fls. 669671). Juntou canhotos de cheques (fls. 672708). Fl. 981DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 982 3 Em 18/05/11, o contribuinte indicou em planilha elaborada por ele, a origem dos valores autuados decorrentes da Imatur Turis LTDA, pagamento funcionários Engersea, TED’s Strong, Operação de Leasing (fls. 720727). Em razão desses fatos a autoridade administrativa solicitou Mandados de Procedimento Fiscal para os três maiores depositantes indicados nos extratos do contribuinte Strong Manutenção e Reparos Navais Ltda. – constante nos extratos, ratificado pelo contribuinte (fl. 734), Engersea Ind. Com. e Serviços de estruturas Metálicas Ltda. – constante nos extratos, ratificado pelo contribuinte (fl. 795) e Imatur Viagens e Turismo Ltda. – indicado pelo contribuinte (fl. 813) intimandoos a apresentar: a) Contrato Social da Empresa; b) Livro de Escrituração Contábil Caixa e Registro de Inventário e c) Livro de Escrituração Contábil Diário e Razão. Em 19/05/11, Strong Manutenção e Reparos Navais LTDA apresentou: a) Contrato Social (fls. 740743); b) Livro Caixa (fls. 744784) e, por sua vez, Engersea – Indústria, Comércio e Serviços de Estruturas Metálicas LTDA apresentou o seu Contrato Social (fls. 801807). Em 01/06/11 a fiscalização intimou Engersea (fl. 808809), Imatur (fl. 813816), Pompeu Costa Lima Pinheiro Maia (Imatur viagens e Turismo Ltda) (fls. 821824) para que justificassem a que título os créditos foram efetuados na conta do contribuinte. A fiscalização efetuou pesquisas no sistemas da RFB. Juntando ao presente processo dados cadastrais dos sócios e situação cadastral das empresas Strong (fls. 728733), Engersea (fls. 788794), Imatur (Fls. 810812) e Pompeu Costa Lima Pinheiro Maia (fls. 819 820). Em 07/07/11, Pompeu Costa Lima Pinheiro Maia, sócio da empresa Imatur Viagens e Turismo Ltda., informou que encerrou suas atividades e que desde 2005 não possui quaisquer negócios, contas, funcionários e qualquer outra atividade econômica. Declarase como inativa ao IRPJ em razão de existirem demandas trabalhistas que impedem o encerramento definitivo. Declarou, ainda, desconhecer o referido senhor, bem como todos os lançamentos expostos na intimação (fls. 826827). Em 03/11/11, Rose Mary da Silva Ferreira informou que não movimentou a conta conjunta, constando como co titular apenas para fins de segurança (fls. 839). Em 05/12/11 a autoridade administrativa lavrou Termo de Encerramento (fls. 840842) destacando que conforme os arts. 1º, 2º e 3º da Portaria da RFB nº 2.284/10, serão cientificados, além do fiscalizado, os sócios administradores e sócios responsáveis, à época dos fatos ocorridos, pelas pessoas jurídicas (Strong e Engersea), os quais receberão uma via do Auto de Infração, uma via do relatório e uma via do Termo de Sujeição Passiva Solidária, dandolhes todas as condições do contraditório e de ampla defesa. Ainda, que o fiscalizado e todas as pessoas indicadas, têm relação pessoal e direta com o Fato Gerador, conforme arts. 45, 124, 235, 136 e 137 do CTN e declara a aplicação do art. 123 do CTN, uma vez que convenções particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar o sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes. Salientou que corrobora para essa situação: a) as empresas Strong e Engersea não escrituraram suas respectivas movimentações bancárias; b) não declararam rendimentos Fl. 982DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 983 4 suficientes para efetuar os depósitos nos montantes analisados (R$ 2.005.713,28 e R$ 395.391,20, respectivamente); c) não ficou esclarecida a natureza dos depósitos; d) não houve qualquer tributo relativos a esta movimentação financeira; e) há declaração expressa do titular das contas bancárias acerca do repasse dos depósitos para terceiros ligados às empresas, bem como há existência de provas contundentes de recebimentos e de pagamentos aos funcionários destas empresas. Assim, considerou que pelos elementos de fato e de direito constantes no presente processo, ficou constatada e comprovada à existência de vínculos de comando e/ou conluio entre os sócios das empresas Strong, Engersea e o fiscalizado Francisco José Corrêa, com o intuito de suprimir ou reduzir tributo, fato que, em tese, configuram fraude e consequente Crime contra a Ordem Tributária (fls. 2146). A autoridade administrativa encerrou o procedimento de fiscalização, pois não ficou comprovada a origem dos depósitos. 2 Auto de Infração Foi lavrado, em 05/12/11 (fls. 1420), auto de infração relativo ao Imposto sobre a Renda da Pessoa Física, anocalendário 2007, apurando crédito tributário no montante de R$ 3.365.482,24 incluídos imposto, juros de mora e multa de 150 %. A infração imputada foi omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários sem origem comprovada. 3 Impugnação O recorrente Francisco José Corrêa apresentou impugnação tempestiva (fls. 871 879), esgrimindo os seguintes argumentos: a) a movimentação financeira não corresponde a valores e/ou rendimentos próprios, tais valores eram inerentes a empréstimos contraídos com diversas empresas entre elas, Strong Manutenção e Reparos Navais Ltda. e Engersea Indústria e Comércio de Estruturas Metálicas Ltda; b) o impugnante nada mais era do que um mero intermediador de valores, que almejava angariar algum lucro no exercício da intermediação, angariava comissão variável 0,5% e 0,75% c) a maior prova de que não possuiu qualquer rendimento sobre a movimentação financeira que realizou, é o fato de possuir um único apartamento e um veículo antigo; d) meros depósitos não são documentos suficientes para comprovar e fundamentar a omissão de receitas; e) o contribuinte não pode ser autuado de forma tipificada, por não ser dono da quantia movimentada e pelo motivo das empresas terem sido autuados sob a mesma égide; f) todos foram autuados pela única movimentação financeira e sob o mesmo fundamento, caracterizando múltipla tributação; Fl. 983DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 984 5 g) impossibilidade da quebra de sigilo bancário, sem prévia autorização; O recorrente Eduardo Luiz Macedo Rodrigues apresentou impugnação tempestiva (fls. 880897), alegando, em síntese, os seguintes argumentos: a) a violação da ampla defesa, pois, em nenhum momento foi dada oportunidade ao impugnante, na qualidade de sujeição passiva solidária, de se defender a apresentar documentos ou relatos pertinentes ao deslinde da questão; b) a violação da ampla defesa, pois ausente clara fundamentação necessária, comprometendo parte da impugnação c) não foi concedido acesso ao MPF, na medida que não lhe concederam qualquer código de acesso; d) a ausência de validade do MPF; e) a relação entre as empresas Strong Manutençao e Reparos Navais Ltda e Engersea Indústria, Comércio e Serviços de Estruturas Metálistas Ltda reside no fato, de a primeira ser propriedade de seu pai e tio; f) pai e filho possuem amizade profissional, mas muito distante do conluio atríbuido pela fiscalização; g) as falsas alegações do contribuinte Francisco José Correa, induziram o auditor a erro, pois as movimentações financeiras nunca ocorreram na habitualidade mencionada; h) existem poucas movimentações no nome da empresa impugnante, a movimentação na conta do contribuinte Francisco José Correa não é de responsabilidade da Empresa; i) da irregularidade da quebra do sigilo bancário; j) indício ou presunção não podem caracterizar, por si só, o crédito tributário; k) a autoridade fiscal tem o dever constitucional de investigar e provar o fato tributário; l) a autoridade fiscal lavrou diversos autos de infrações derivados de apenas um único fato gerador, situação que caracteriza o bis in idem; O impugnante Luiz Alberto Rodrigues apresentou impugnação (fls. 898918), esgrimindo, em síntese, os seguintes argumentos: a) a violação da ampla defesa, pois, em nenhum momento foi dada oportunidade ao impugnante, na qualidade de sujeição passiva solidária, de se defender a apresentar documentos ou relatos pertinentes ao deslinde da questão; Fl. 984DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 985 6 b) a violação da ampla defesa, pois ausente clara fundamentação necessária, comprometendo parte da impugnação c) não foi concedido acesso ao MPF, na medida que não lhe concederam qualquer código de acesso; d) a ausência de validade do MPF; e) as operações financeiras nunca ocorreram na habitualidade mencionada, objetivando o favorecimento da mesma; f) não foi esclarecido pelo Sr. Francisco José Corrêa que ele também prestava serviços de intermediação financeira, além de estar diretamente ligado a empresa; g) da quebra irregular do sigilo bancário, considerando a ausência de autorização judicial para tanto; h) não se pode tributar por mero indício, pois a fiscalização tem o dever constitucional de investigar e provar o fato tributário; i) a autoridade fiscal lavrou diversos autos de infrações derivados de apenas um único fato gerador, situação que caracteriza o bis in idem; 4 Acórdão de Impugnação As impugnações foram julgadas improcedentes, por unanimidade, pela 1ª Turma da DRJ/REC (fls. 933952), mantendo o crédito tributário exigido. Na decisão, foram alinhados, em síntese, os seguintes fundamentos: a) é legítima a utilização dos dados bancários do contribuinte pelo Fisco, sem autorização judicial, com a devida previsão no art. 6º da Lei Complementar nº 105/01; b) eventuais irregularidades verificadas no trâmite do MPF não tem o condão de invalidar o auto de infração, pois são meras irregularidades formais; c) não há nenhuma hipótese de ausência de clareza que pudesse ter dificultado a defesa dos impugnante. No auto de infração constam a capitulação legal e a descriação da infração, mencionando, inclusive, o Relatório Fiscal; d) a própria legislação estabeleceu uma presunção legal de omissão de rendimentos, a qual autoriza o lançamento, sempre que o intimado não comprovar, mediante hábil e idônea documentação a origem dos depósitos; e) inexiste bitributação, pois, em nenhum momento, os depósitos bancários objetos da presente fiscalização ensejaram outros lançamentos tributários em face das empresas Strong e Engersea; Fl. 985DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 986 7 f) nenhum dos impugnantes logra em comprovar a origem dos depósitos bancários; g) a fiscalização por meio da RMF obteve cópias de cheques emitidos e dados de operações bancárias que conjugados com as DIRPF e as relações de empregados das empresas Strong e Engersea, demonstram recebimentos e pagamentos aos funcionários dessas empresas. Essas evidências cabais de que as contas em questão estavam vinculadas às atividades da Strong e da Engersea são corroboradas pelos esclarecimentos prestados pelo Contribuinte; 5 Recurso Voluntário Intimado em 10/06/13, o recorrente Francisco José Corrêa, interpôs, tempestivamente, recurso voluntário (fls. 957966), esgrimindo os seguintes argumentos: a) a ocorrência do bis in idem tributário, pois houve uma pluralidade de cobranças sobre uma mesma movimentação financeira, considerando que tal movimentação foi atribuída as empresas Strong e Engersea, não pode o contribuinte ser cobrado, sob pena do estado se locupletar triplamente às custas do mesmo fato gerador; b) o débito foi cobrado em sua totalidade de cada parte, sem sequer ser rateado com a demonstração individualizada sobre responsabilidade de cada um; c) no procedimento fiscal não foram observados os princípios constitucionais da legalidade, tipicidade e proporcionalidade; d) em algumas ocasiões o impugnante utilizou alguns de seus cheques para efetuar os pagamentos que eram necessários tendo em vista que a grande maioria das empresas (especialmente Strong e Engersea); e) a maior prova de que o impugnante não possuiu qualquer rendimento sobre a movimentação financeira que realizou em sua conta a intermediação de empréstimos, é o fato de possuir um único e modesto apartamento em São Gonçalo e um antigo Fiat conforme DIRPF; f) está explícito nos extratos bancários a comprovação material de que o fiscalizado exercia uma corretagem informal, com empréstimos financeiros sendo os valores de sua conta corrente meros repasses, pois nunca refletiram na melhoria de seu padrão de vida; g) os depósitos bancários desacompanhados de outros indícios não podem ensejar a presunção válida de omissão de rendimentos; h) a inconstitucionalidade da quebra de sigilo bancário sem a devida autorização judicial; 6 Sobrestamento Fl. 986DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 987 8 Em 18/06/13, através da Resolução nº 2202000.493 (fls. 1126.1145 do e processo), este processo foi sobrestado, conforme orientação contida no § 3º do art. 2º da Portaria CARF nº 001, de 03/01/12, tendo em vista que para alcançar seu desiderato, a Fiscalização utilizou RMF e que a constitucionalidade das prerrogativas estendidas à autoridade fiscal através de instrumentos infraconstitucionais – como a RMF – encontravase em análise pelo STF no âmbito do Recurso Extraordinário nº 601.314, que tramitava em regime de repercussão geral. É o relatório. Fl. 987DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ Processo nº 15540.720404/201144 Resolução nº 2202000.591 S2C2T2 Fl. 988 9 Voto Conselheiro Rafael Pandolfo Da análise dos autos, observase que foi lavrado Termo de Sujeição Passiva Solidária em face dos contribuintes Luiz Alberto Rodrigues, Eduardo Luiz Macedo Rodrigues, Manuel Henrique P. Martins, Ricardo Kamel Miranda e Sérgio Luis Rodrigues, representantes legais das empresas Strong e Engersea. Em 28/12/11, os Srs. Eduardo Luiz Macedo Rodrigues e Luiz Alberto Rodrigues apresentaram impugnações (fls. 880897 do eprocesso) que foram julgadas improcedentes pela 18ª Turma da DRJ/RJ1 (fls. 933952 do eprocesso). Entretanto, ao compulsar os autos, não constatei a intimação de qualquer dos responsáveis solidárias – Srs. Luiz Alberto Rodrigues, Eduardo Luiz Macedo Rodrigues, Ricardo Kimel Miranda, Sérgio Luis Rodrigues – do resultado do julgamento da DRJ. Consta nos autos apenas a intimação feita ao ora recorrente, Sr. Francisco José Correa (fl. 954 do e processo). Considerando o Termo de Sujeição Passiva Solidária, entendo como prudente a conversão do presente julgamento em diligência, no âmbito da qual sejam tomadas as seguintes providências: a) seja verificada se houve, ou não, a devida notificação dos contribuintes Luiz Alberto Rodrigues, Eduardo Luiz Macedo Rodrigues, Manuel Henrique P. Martins, Ricardo Kamel Miranda e Sérgio Luis Rodrigues, quanto ao resultado do julgamento da 18ª Turma da DRJ/RJ1; b) em caso negativo, sejam os mesmos intimados, e aberto prazo para as manifestações devidas. (Assinado digitalmente) Rafael Pandolfo Relator Fl. 988DF CARF MF Impresso em 12/12/2014 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 24/11/2014 por RAFAEL PANDOLFO, Assinado digitalmente em 25/11/2014 por ANTONIO LOPO MARTINEZ
score : 1.0
Numero do processo: 10283.721388/2009-57
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Nov 29 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL - ITR
Exercício: 2006
PEDIDO DE DILIGÊNCIA OU PERÍCIA - A luz do regramento processual vigente, a autoridade julgadora é livre para, diante da situação concreta que lhe é submetida, deferir ou indeferir pedido de diligência/perícia formulado pelo sujeito passivo, ex vi do disposto no art, 18 do Decreto n° 70.235, de 1972. No caso vertente, demonstrada, à evidência, a dispensabilidade do procedimento, há que se indeferir o pedido correspondente.
ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. EXIGÊNCIA DE ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL (ADA) POR LEI. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO.
A partir do exercício de 2001, com a introdução do art. 17 na Lei nº 6.938, de 1981, por força da Lei nº 10.165, de 2000, o Ato Declaratório Ambiental (ADA) passou a ser obrigatório para fins de exclusão da área de preservação permanente da base de cálculo do ITR.
Recurso negado.
Numero da decisão: 2202-001.479
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, , por unanimidade de votos indeferir o pedido de perícia solicitada pela Recorrente e, no mérito, negar provimento ao recurso. Votaram pelas conclusões os Conselheiros Guilherme Barranco de Souza, Odmir Fernandes e Pedro Anan Junior.
Nome do relator: Antonio Lopo Martinez
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No caso vertente, demonstrada, à evidência, a dispensabilidade do procedimento, há que se indeferir o pedido correspondente. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. EXIGÊNCIA DE ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL (ADA) POR LEI. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO. A partir do exercício de 2001, com a introdução do art. 17 na Lei nº 6.938, de 1981, por força da Lei nº 10.165, de 2000, o Ato Declaratório Ambiental (ADA) passou a ser obrigatório para fins de exclusão da área de preservação permanente da base de cálculo do ITR. Recurso negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, , por unanimidade de votos indeferir o pedido de perícia solicitada pela Recorrente e, no mérito, negar provimento ao recurso. Votaram pelas conclusões os Conselheiros Guilherme Barranco de Souza, Odmir Fernandes e Pedro Anan Junior. 2 (Assinado digitalmente) Nelson Mallmann – Presidente (Assinado digitalmente) Antonio Lopo Martinez – Relator Composição do colegiado: Participaram do presente julgamento os Conselheiros Maria Lúcia Moniz de Aragão Calomino Astorga, Guilherme Barranco de Souza, Antonio Lopo Martinez, Odmir Fernandes, Pedro Anan Júnior e Nelson Mallmann. Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Helenilson Cunha Pontes e Rafael Pandolfo. Processo nº 10283.721388/200957 Acórdão n.º 220201.479 S2C2T2 Fl. 2 3 Relatório Em desfavor da contribuinte, WOW AMAZONIAN RESORTS , por meio da Notificação de Lançamento n° 02201/00092/2009 de fls. 10/14, emitida, em 30.11.2009, a contribuinte identificada no preâmbulo foi intimada a recolher o crédito tributário, no montante de R$ 8.107.859,80, referente ao Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural ITR, exercício de 2006, acrescido de multa lançada (75%) e juros de mora, tendo como objeto o imóvel denominado "Fazenda Matei", cadastrado na RFB sob o n° 5.756.2083, com área declarada de 9.917,0 ha, localizado em Manaus/AM. A ação fiscal, proveniente dos trabalhos de revisão das DITR/2004 incidentes em malha valor, iniciouse com o Termo de Intimação Fiscal n° 02201/00029/2009 de fls. 01/02, para a contribuinte apresentar os seguintes documentos de prova: 1o Identificação do contribuinte; 2o matrícula atualizada do registro imobiliário ou, em caso de posse, documento que comprove a posse e a inexistência de registro de imóvel rural; 3o Certificado de Cadastro de Imóvel Rural CCIR do INCRA; 4o Ato Declaratório Ambiental ADA requerido dentro de prazo junto ao IBAMA; 5o documentos, tais como Laudo Técnico emitido por engenheiro agrônomo/fio restai, acompanhado de Anotação de Responsabilidade Técnica ART registrada no CREA, que comprovem as áreas de preservação permanente declaradas, identificando o imóvel rural e detalhando a localização e dimensão das áreas declaradas a esse título, previstas nos termos das alíneas "a" até "h" do art. 2o da Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965, que identifique a localização do imóvel rural através de um conjunto de coordenadas geográficas definidores dos vértices de seu perímetro, preferivelmente georeferenciadas ao sistema geodésico brasileiro; 6o Certidão do órgão público competente, caso o imóvel ou parte dele esteja inserido em área declarada como de preservação permanente, nos termos do art. 3o da Lei n° 4.771/1965, acompanhado do ato do poder público que assim a declarou; 7o matrícula atualizada do registro imobiliário, com a averbação da área de reserva particular do patrimônio natural; 8o documento que comprove a localização da área de reserva particular do patrimônio natural, nos termos do art. 21 da Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000. Em resposta ao Termo de Intimação Fiscal n° 02201/00029/2009, a contribuinte protocolou correspondência de fls. 4, em 21.08.2009, acompanhada dos documentos de fls. 05, 06 e 07/08, solicitando prorrogação do prazo por mais 20 dias, para apresentação dos documentos arrolados na intimação. Tal solicitação foi atendida por meio do despacho constante às fls. 04. 4 Em 15.09.2009, a contribuinte apresentou correspondência, às fls. 09, solicitando concessão de novo prazo de 30 (trinta) dias, para atendimento do Termo de Intimação Fiscal. O pedido foi parcialmente aceito, com a prorrogação do prazo até 30.09.2009, conforme despacho de fls. 09. Por meio das correspondências de fls. 10 e 11, a contribuinte solicitou a concessão de novo prazo de 15 dias, em cada uma delas, para resposta ao Termo de Intimação Fiscal. No procedimento de análise e verificação da documentação apresentada e das informações constantes da DITR/2006, a fiscalização resolveu glosar integralmente as áreas de preservação permanente e de reserva particular do patrimônio natural (RPPN) de, respectivamente, 1.500,0 ha e 8.300,0 ha, além de alterar o Valor da Terra Nua (VTN) declarado, reduzido de R$24.577.698,00 (R$2.478,34/ha) para R$19.285.193,22 (R$1.944,66/ha), com base em valor constante do SIPT, com conseqüentes aumentos da área tributável/área aproveitável, do VTN tributável e da alíquota aplicada, e disto resultando o imposto suplementar de R$3.855.744,63, conforme demonstrado às fls. 13. A descrição dos fatos e os enquadramentos legais das infrações, da multa de ofício e dos juros de mora constam às fls. 13/14 e 16. Cientificada do lançamento em 11.12.2009, às fls. 110, ingressou a contribuinte, em 23.12.2009, às fls. 21, com sua impugnação de fls. 22/33, instruída com os documentos de fls. 34/36, 37, 38, 39/43, 44/54, 55/56, 57/59, 60/63, 64, 65, 66, 67 e 68/74, alegando e solicitando o seguinte, em síntese: salienta que, sobre a desnecessidade do ADA, a alínea "a", do inciso II, do art. 10, da Lei n° 9.393/96 não impõe qualquer exigência ou prérequisito para a concessão de isenção do ITR às áreas de preservação permanente e reserva particular do patrimônio natural, bastando que as terras sejam, de fato, áreas de preservação permanente; entende que não há qualquer lei que estabeleça a exigência do ADA e diz que a própria COSIT editou a Solução de Consulta Interna n° 12, de 21.05.2003, que ratifica esse entendimento; considera que, antes da Lei n° 10.165/00, somente atos administrativos (Instruções Normativas SRF) é que impunham a exigibilidade do ADA para fins de isenção do ITR, não havendo qualquer lei que assim dispusesse; ressalta que, se a lei não determinou a forma de agir do contribuinte, uma Instrução Normativa não poderá fazêlo, considerando que os particulares devem obedecer tão somente à lei formulada por seus representantes eleitos e que passou pelo devido processo legislativo, não havendo que se falar em obediência a uma omissão à lei e cita e transcreve posicionamentos doutrinários sobre o tema; afirma que não há dúvidas que tanto a Notificação de Lançamento, quanto a decisão a quo não se lastrearam na lei que regula a DITR, mas somente em IN que avança na seara da lei; ressalta, também, que, tentar vincular a concessão da isenção a requisitos meramente formais é afastarse do objetivo da isenção, que serve como incentivo à preservação; entende que, a ausência do ADA não altera a realidade e que o imóvel possui área de reserva legal e de grande interesse Processo nº 10283.721388/200957 Acórdão n.º 220201.479 S2C2T2 Fl. 3 5 ecológico e que vem sendo preservada, já que nenhuma atividade é nela desenvolvida, salientando, quanto à isenção, que o importante é exista a área preservada, não passando o ADA de mera formalidade, e cita e transcreve Ementas de Decisões do Conselho de Contribuintes e de Decisões Judiciais para referendar seus argumentos; considera nula a Notificação de Lançamento em função de ter sido tributada área que de fato é de preservação permanente e de reserva particular do patrimônio natural, sob o argumento de que não deu cumprimento à obrigação acessória prevista na IN/SRF n° 73/00, ignorando a primazia da realidade dos fatos, consubstanciado no processo administrativo fiscal pela busca dogmática da verdade material; requer, com fundamento no art. 16 do Decreto n° 70.235/1972, a realização de diligência e perícia na área que se pretende tributar, indicando Perito e arrolando quesitos; pelo exposto, requer que sejam acolhidas as razões da impugnação, em face de o procedimento fiscalizatório que deu origem a Notificação de Lançamento encontrar se eivado de nulidades insanáveis, de modo que devem ser desconsiderados para a constituição de qualquer crédito tributário. Em 11.01.2010, a impugnante juntou aos autos a Petição de fls. 76/87, acompanhada dos documentos de fls. 88, 89/91 e 92/102, alegando e solicitando o seguinte, em síntese: alegou, preliminarmente, que estaria prescrito o direito de a Fazenda Pública à constituição do crédito tributário e posterior execução, referente ao exercício de 2004, conforme art. 174 do CTN que fixa o prazo de 5 anos para a Fazenda executar seus créditos e transcreve várias Ementas de Decisões Judiciais sobre a prescrição de crédito tributário; discorre sobre as condições da ação, no processo de conhecimento e no processo executivo, e, especificamente, sobre a legitimidade passiva, salientando que as recorrentes não possuem legitimidade passiva, para figurar na dita relação obrigacional tributária; considera que os pretensos executados, ora recorrentes, não eram sócios da pessoa jurídica WOW, e sim o Sr Carlos Edson Guedes de Oliveira e Carlos Edson Guedes de Oliveira Júnior, conforme cópia do contrato social e suas alterações, conforme anexo; salienta que, no período da hipótese de incidência e do posterior surgimento da obrigação tributária, as recorrentes, já qualificadas, não eram sócias da pessoa jurídica, ora questionada e que lhes falta legitimidade passiva, para figurar na presente relação jurídica obrigacional tributária, posto que a alteração contratual ocorreu em 10 de outubro de 2006; ressalta que, no período compreendido, do ano base de 2004, 2005 e 2006, as recorrentes jamais foram sócias da pessoa jurídica de direito privado WOW AMAZONIAN LTDA; 6 informa que os Sr Carlos Edson Guedes de Oliveira e Carlos Edson Guedes de Oliveira Júnior transferiram as cotas da pessoa jurídica, ora mencionada, para as recorrentes, pessoas estas sem conhecimento do caso concreto, e que vieram arcar com as conseqüências; considera que, se o principal desiderato do fisco, é de cobrar o seu crédito tributário, é mister cobrar de quem tem legitimidade para figurar no pólo passivo da relação obrigacional tributária, e não de quem não tem condições de pagar essa quantia; entende que o fato gerador do tributo fora realizado pelos antigos sócios da pessoa jurídica, ora mencionada; afirma que desconheciam que a WOW AMAZONIAN estava nessa situação, por falta de conhecimento técnico, e que os antigos sócios e responsáveis pela hipótese de incidência, obrigação e lançamento tributário, passaram as mencionas cotas, em 10.10.2006, configurando um verdadeiro atentado às leis, por uão dizer que ocorreu fraude contra seus credores, em especial à Fazenda Pública; informa, por derradeiro, que os recorrentes não possuem bens e que seu patrimônio, conjunto de bens, direitos e obrigações, é inexistente; solicita a Extração das peças e o envio das mesmas ao Ministério Público Estadual, por força do art. 40 do CPP, havendo no caso em espécie, sonegação de tributo estadual, para verificação da tipicidade exposta na Lei n° 8.137/1990; em face dos argumentos expostos: a) requer de imediato o acolhimento do presente incidente, com a conseqüente exclusão dos recorrentes da relação obrigacional tributária processual executiva, por ausência de legitimidade passiva ad causam e a inclusão dos antigos sócios os Sr03 Carlos Edson Guedes de Oliveira e Carlos Edson Guedes de Oliveira Júnior; b) pronunciamento da prescrição ora ventilada; c) extração das Peças ao Ministério Público Federal, para posterior verificação de infração penal na modalidade crime. Lei n° 8.137/1990. A DRJ/Brasília julgou o lançamento procedente, nos termos da ementa a seguir: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR Exercício: 2005 LEGITIMIDADE PASSIVA. REGISTRO DO IMÓVEL. CONVENÇÕES PARTICULARES Contribuinte do Imposto Territorial Rural é o proprietário de imóvel rural, o titular de seu domínio útil ou o seu possuidor a qualquer título. Enquanto não cancelado o registro imobiliário, referente à matrícula do imóvel rural junto ao competente Cartório de Registro Imobiliário, ele continua produzindo todos seus efeitos legais, inclusive para fins de identificação do sujeito passivo da obrigação tributária. Salvo disposição de lei em contrário, as convenções particulares, relativas à Processo nº 10283.721388/200957 Acórdão n.º 220201.479 S2C2T2 Fl. 4 7 responsabilidade pelo pagamento de tributos, não podem se opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes. DA NULIDADE LANÇAMENTO Contendo a Notificação de Lançamento todos os requisitos obrigatórios previstos no Processo Adrninistrativo Fiscal (PAF) e tendo sido o procedimento fiscal instaurado em conformidade com as normas e os princípios constitucionais vigentes, possibilitando ao contribuinte exercer plenamente o seu direito de defesa, não há que se • falar em qualquer irregularidade que macule o lançamento (Nulidade). DA PROVA PERICIAL A perícia técnica destinase a subsidiar a formação da convicção do julgador, limitandose ao aprofundamento de questões sobre provas e elementos incluídos nos autos, não podendo ser utilizada para suprir o descumprimento de uma obrigação prevista na legislação. DO ÔNUS DA PROVA Cabe ao contribuinte, quando solicitado pela autoridade fiscal, comprovar com documentos hábeis, os dados cadastrais informados na sua DITR, posto que é seu o ônus da prova. DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E DE RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN) As áreas de preservação permanente e de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), para fins de exclusão da tributação do ITR, devem estar incluídas no requerimento do Ato Declaratório Ambiental (ADA) protocolado tempestivamente junto ao IBAMA, além de estar a área de RPPN averbada, em tempo hábil, à margem da matrícula do imóvel. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Insatisfeito a contribuinte interpõe recurso voluntário reiterando as razões da impugnação. Da áreas de preservação permanente não dependem de ato administrativo e do ADA. Da Verdade Material e realização de perícia, cerceamento de direito de defesa. Da não incidência de juros e multa. É o relatório. 8 Voto Conselheiro Antonio Lopo Martinez, Relator O presente recurso voluntário reúne os pressupostos de admissibilidade previstos na legislação que rege o processo administrativo fiscal e deve, portanto, ser conhecido por esta Turma de Julgamento. Do ADA Como é de notório conhecimento, o ITR incide sobre: (i) o direito de propriedade do imóvel rural; (ii) o domínio útil; (iii) a posse por usufruto; (iv) a posse a qualquer título, tudo conforme ditado pela Lei nº 9.393, de 1996. Conquanto, este tributo será devido sempre que no plano fático se configurar a hipótese de incidência ditada pela norma (Lei 9393/96): (i) a norma dita que a obrigação tributária nasce sempre em primeiro de janeiro de cada ano uma vez que a periodicidade deste tributo é anual; (ii) o imóvel deve estar localizado em zona rural; (iii) os demais requisitos já constam acima posse, propriedade ou domínio útil. Tenho para mim que para excluir as áreas de Interesse Ambiental de Preservação Permanente e as de Utilização Limitada da base de cálculo do ITR e anular a sua influência na determinação do Grau de Utilização, duas condições têm de ser atendidas. Uma é a sua averbação a margem da escritura no Cartório de Registro de Imóveis outra é a sua informação no Ato Declaratório Ambiental – ADA. Destaquese que ambas devem ser atendidas à época a que se refere a Declaração do ITR. É de se ressaltar, que em nenhum momento estou questionando a existência e o estado das Reservas Preservacionistas, relatórios técnicos que atestam a sua existência não atingem o âmago da questão. Mesmo aquelas possíveis áreas consideradas inaproveitáveis, para integrarem as reservas da propriedade, para fins de cálculo do ITR, devem, no meu ponto de vista, obrigatoriamente, atender as exigências legais. Um dos objetivos precípuos da legislação ambiental e tributária é, indubitavelmente, estimular a preservação do meio ambiente, via beneficio fiscal. No entanto, o beneficio da exclusão do ITR, inclusive em áreas de proteção e/ou interesse ambiental como os Parques Estaduais, não se estende genérica e automaticamente a todas as áreas do imóvel por ele abrangidas. Somente se aplica a áreas especificas da propriedade, vale dizer, somente para as áreas de interesse ambiental situadas no imóvel como: área de preservação permanente, área de reserva legal, área de reserva particular do patrimônio natural e área de proteção de ecossistema bem como área imprestável para a atividade rural, desde que reconhecidas de interesse ambiental e desde que haja o reconhecimento dessas áreas por ato especifico, por imóvel, expedido pelo IBAMA, o Ato Declaratório Ambiental (ADA). Não tenho dúvidas de que a obrigatoriedade da apresentação do ADA para fins de exclusão das áreas de preservação permanente e de utilização limitada (reserva legal) da base de cálculo do ITR, surgiu no ordenamento jurídico pátrio com o art. 1º da Lei nº 10.165, de 2000 que incluiu o art. 17, § 1º na Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, para os exercícios a partir de 2001, verbis: Art. 17 O Os proprietários rurais que se beneficiarem com redução do valor do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR, com base em Ato Declaratório Ambiental ADA, deverão recolher ao Ibama a importância prevista no item 3.11 Processo nº 10283.721388/200957 Acórdão n.º 220201.479 S2C2T2 Fl. 5 9 do Anexo VII da Lei no 9.960, de 29 de janeiro de 2000, a título de Taxa de Vistoria." (NR) (...) § 1o A utilização do ADA para efeito de redução do valor a pagar do ITR é obrigatória. Tal dispositivo teve vigência a partir do exercício de 2001, anteriormente a este, a imposição da apresentação do ADA para tal fim era definido por ato infralegal, que contrariava o disposto no § 1º do inciso II do art. 97, do Código Tributário Nacional. Os presentes autos tratam do lançamento de ITR do exercício de 2002, portanto, a exigência do ADA para fins de exclusão da base de cálculo daquele tributo encontra respaldo legal, pelo quê, deve ser mantido quanto a este ponto, já o recorrente não comprovou nos autos a protocolização tempestiva do requerimento/ADA, junto ao IBAMA/órgão conveniado. É oportuno salientar, que Conselho Administrativo de Recursos Fiscais tem entendido em suas decisões de que a dispensa de comprovação relativa às áreas de interesse ambiental (preservação permanente/utilização limitada), conforme redação do parágrafo 7°, do art. 10, da Lei n° 9.363, de 1996, introduzido originariamente pelo art. 3º da MP n° 1.95650, de 2000, e mantido na MP n° 2.16667, de 2001, ocorre quando da entrega da declaração do ITR, o que não dispensa o contribuinte de, uma vez sob procedimento administrativo de fiscalização, comprovar as informações contidas em sua declaração por meio dos documentos hábeis previstos na legislação de regência da matéria. Enfim, a solicitação tempestiva do ADA constituiuse um ônus para o contribuinte. Assim, caso não desejasse a incidência do ITR sobre as áreas de preservação permanente e de utilização limitada/reserva legal, o proprietário do imóvel deveria ter providenciado, dentro do prazo legal, o requerimento do ADA. Portanto, não há outro tratamento a ser dada às áreas de preservação permanente e de utilização limitada/reserva legal glosadas pela fiscalização, por falta de comprovação da exigência tratada anteriormente, que devem realmente passar a compor as áreas tributável e aproveitável do imóvel, respectivamente, para fins de apuração do VTN tributado e do seu Grau de Utilização (do imóvel). Desta forma, não tendo sido comprovada a protocolização tempestiva do Ato Declaratório Ambiental — ADA, junto ao IBAMA/órgão conveniado, cabe manter as glosas efetuadas pela fiscalização em relação às áreas de preservação permanente e de utilização limitada/reserva legal. Da Verdade Material e realização de perícia, cerceamento de direito de defesa. Não há necessidade de realização de perícia, uma vez que a luz do regramento processual vigente, a autoridade julgadora é livre para, diante da situação concreta que lhe é submetida, deferir ou indeferir pedido de diligência/perícia formulado pelo sujeito passivo, ex vi do disposto no art, 18 do Decreto n° 70.235, de 1972. No caso vertente, demonstrada, à evidência do descumprimento da norma relativa ao ADA, há que se indeferir o pedido correspondente. No que toca a incidência de juros e multa, existe previsão legal para que seja aplicada multa de ofício e juros, não se identificando qualquer ilegalidade nesse procedimento. 10 Ante ao exposto, voto por indeferir o pedido de perícia solicitada pela Recorrente e, no mérito, negar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Antonio Lopo Martinez
score : 1.0
Numero do processo: 11030.720089/2013-16
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Nov 06 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Dec 06 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2008
DESCONSIDERAÇÃO DE ATOS OU NEGÓCIOS JURÍDICOS PRATICADOS COM A FINALIDADE DE DISSIMULAR O FATO GERADOR. POSSIBILIDADE DE LANÇAMENTO. DESNECESSIDADE DA LEI ORDINÁRIA.
Não há que se falar em regulamentação do art. 116 do CTN para que a autoridade lançadora efetue lançamento sobre atos considerados dissimulados. A permissão legal que a autoridade fiscal tem para realizar lançamento sobre atos dissimulados decorre da combinação do art. 116, parágrafo único, com os artigos 142 e 149, inciso VII, todos do CTN.
UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE PESSOA JURÍDICA. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. PESSOA FÍSICA
Caracterizada a utilização de empresa interposta, suas operações tributam-se, no escritório de advocacia. Correta a tributação das operações na pessoa física, na declaração do contribuinte.
DEDUÇÃO INDEVIDA DE DESPESAS DE LIVRO CAIXA. COMPROVAÇÃO.
Para dedutibilidade no Livro Caixa há que ser provada a correspondência dos contratos e a efetividade dos pagamentos, com detalhamento das operações, e comprovação financeira.
RECLASSIFICAÇÃO DE RECEITA TRIBUTADA NA PESSOA JURÍDICA PARA RENDIMENTOS DE PESSOA FÍSICA. COMPENSAÇÃO DE TRIBUTOS PAGOS NA PESSOA JURÍDICA.
Devem ser compensados na apuração de crédito tributário os valores arrecadados sob o código de tributos exigidos da pessoa jurídica, cuja receita foi desclassificada e convertida em rendimentos de pessoa física, base de cálculo do lançamento de oficio.
Numero da decisão: 2202-004.821
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares, e, no mérito, em dar provimento parcial ao recurso para que sejam compensados os tributos recolhidos pela: empresa interposta, relacionados às receitas da empresa D&F que foram considerados rendimentos do recorrente.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente.
(assinado digitalmente)
Rosy Adriane da Silva Dias - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, Marcelo de Sousa Sateles, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Andréa de Moraes Chieregatto e Ronnie Soares Anderson (Presidente).
Nome do relator: ROSY ADRIANE DA SILVA DIAS
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POSSIBILIDADE DE LANÇAMENTO. DESNECESSIDADE DA LEI ORDINÁRIA. Não há que se falar em regulamentação do art. 116 do CTN para que a autoridade lançadora efetue lançamento sobre atos considerados dissimulados. A permissão legal que a autoridade fiscal tem para realizar lançamento sobre atos dissimulados decorre da combinação do art. 116, parágrafo único, com os artigos 142 e 149, inciso VII, todos do CTN. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE PESSOA JURÍDICA. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. PESSOA FÍSICA Caracterizada a utilização de empresa interposta, suas operações tributamse, no escritório de advocacia. Correta a tributação das operações na pessoa física, na declaração do contribuinte. DEDUÇÃO INDEVIDA DE DESPESAS DE LIVRO CAIXA. COMPROVAÇÃO. Para dedutibilidade no Livro Caixa há que ser provada a correspondência dos contratos e a efetividade dos pagamentos, com detalhamento das operações, e comprovação financeira. RECLASSIFICAÇÃO DE RECEITA TRIBUTADA NA PESSOA JURÍDICA PARA RENDIMENTOS DE PESSOA FÍSICA. COMPENSAÇÃO DE TRIBUTOS PAGOS NA PESSOA JURÍDICA. Devem ser compensados na apuração de crédito tributário os valores arrecadados sob o código de tributos exigidos da pessoa jurídica, cuja receita foi desclassificada e convertida em rendimentos de pessoa física, base de cálculo do lançamento de oficio. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 03 0. 72 00 89 /2 01 3- 16 Fl. 11345DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares, e, no mérito, em dar provimento parcial ao recurso para que sejam compensados os tributos recolhidos pela: empresa interposta, relacionados às receitas da empresa D&F que foram considerados rendimentos do recorrente. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente. (assinado digitalmente) Rosy Adriane da Silva Dias Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, Marcelo de Sousa Sateles, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Andréa de Moraes Chieregatto e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra o acórdão nº 1046.356, proferido pela 4a Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Porto AlegreRS (DRJ/POA), que julgou parcialmente procedente o lançamento, mantendo a cobrança parcial do crédito tributário. Pela clareza, reproduzo o relatório da Resolução nº 2202000.619, de 10/12/2015, da 2ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento do CARF: Em desfavor do contribuinte MAURICIO DAL AGNOL, foi lavrado o auto de infração do imposto sobre a renda de pessoa física (fls. 3.920 a 3.931), que exigiu um crédito tributário total de R$ 4.802.742,75, incluídos multa de ofício e juros de mora calculados até 01/2013, tendo sido apuradas infrações relativas ao exercício 2009 (anocalendário 2008). Conforme o Termo de Verificação Fiscal (fls. 3.932 a 3.978), o fiscalizado é advogado, com escritório profissional à rua Coronel Chicuta, 151, Centro, Passo Fundo/RS, mesmo endereço informado como domicílio tributário da empresa DAL AGNOL & FERNANDES LTDA., CNPJ 06.081.082/000122, optante pelo Simples Nacional, da qual ele detinha participação societária até março de 2008. Fl. 11346DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.346 3 No decorrer da ação fiscal, a Fiscalização concluiu que MAURICIO DAL AGNOL e DAL AGNOL & FERNANDES LTDA (D&F) nada mais eram que uma mesma unidade econômica voltada à prestação de serviços advocatícios sob a alcunha "DAL AGNOL ADVOCACIA" e que as notas fiscais de emissão da D&F eram, na verdade, honorários advocatícios auferidos pelo contribuinte fiscalizado, que visando reduzir a carga tributária a que estava sujeito, na condição de pessoa física, valeuse da pessoa jurídica, apenas formalmente constituída, mas que se configurou verdadeira interposta pessoa do contribuinte de fato. A Fiscalização também efetuou a glosa de diversas despesas deduzidas a título de livro caixa pelo contribuinte, por entender que não seriam dedutíveis, parte por falta de comprovação e parte por não serem necessárias à percepção da receita. Foram apuradas as seguintes infrações: 1) OMISSÃO DE RENDIMENTOS DO TRABALHO SEM VÍNCULO EMPREGATÍCIO RECEBIDOS DE PESSOAS JURÍDICAS; 2) OMISSÃO DE RENDIMENTOS DO TRABALHO SEM VÍNCULO EMPREGATÍCIO RECEBIDOS DE PESSOA FÍSICA; 3) DEDUÇÃO DA BASE DE CÁLCULO (AJUSTE ANUAL) DEDUÇÃO INDEVIDA DE DESPESAS DE LIVRO CAIXA; 4) DEDUÇÃO DA BASE DE CÁLCULO (CARNÊLEÃO) DEDUÇÃO INDEVIDA DE DESPESAS DE LIVRO CAIXA. O contribuinte apresentou impugnação ao auto de infração, com os seguintes argumentos, em síntese: O Auto de Infração é nulo, pois os AuditoresFiscais que o lavraram não eram contadores legalmente habilitados no CRC RS , não estando aptos a efetuarem auditoria nos livros contábeis; a ausência de intimação da empresa DAL AGNOL & FERNANDES LTDA. importa na suspensão do presente processo ou na sua anulação, pois o impugnante não poderia receber intimações em nome da empresa fiscalizada, por não ser seu representante legal; Os juros na forma em que foram descritos no Auto de Infração impedem que o impugnante possa realizar o seu pagamento, em relação a alguma das infrações, com benefícios de redução da multa, posto que não há qualquer demonstrativo que viabilize a realização de defesa e verificação da real correção dos valores e percentuais aplicados; o impugnante é parte ilegítima para responder sobre os pagamentos realizados sob a descrição de "emolumentos pagos Fl. 11347DF CARF MF 4 a terceiros", pois se trata de créditos cedidos a terceiros, que não mais integravam seu patrimônio; em nenhum momento a Fiscalização negou a existência da empresa DAL AGNOL & FERNANDES LTDA.; a terceirização de atividades meio é algo comum e legal, tendo o impugnante criado a sua própria empresa de cópias reprográficas; as atividades da empresa foram ampliadas e o que antes era apenas copiadora, passou também a ser digitação e digitalização de documentos, além de outras atividades de controle de processos e de processamento de dados, fossem eles financeiros, organizacionais, administrativos, mas nunca os jurídicos; os serviços de limpeza e segurança também foram terceirizados; a empresa era antes de sua propriedade e depois passou a ser da sra. Márcia Fátima da Silva Dal Agnol, mas nem por isso se retirou a independência na gestão da D&F, na contabilidade, na gestão financeira e de pessoas; não existe necessidade ou exigência de que as empresas terceirizadas sejam de pessoas estranhas; o impugnante é advogado e trabalhava cerca de 14 horas por dia e então terceirizou toda a atividade administrativa; ele e a empresa não são a mesma pessoa, não são um grupo econômico, não possuem a mesma gerência, não possuem a mesma contabilidade, não possuem os mesmos funcionários, não possuem as mesmas contas bancárias e ele não possui poder de mando na administração da D&F; somente as atividades administrativas eram terceirizadas e isso é legal, não se constituindo em fraude; não se utilizava da D&F para sonegar imposto, pois se assim o fosse, os rendimentos tributáveis de RS 17.144.404,97 do ano de 2008 seriam faturados pela D&F; os valores pagos pelo impugnante à empresa D&F não poderiam ter sido glosados, pois se trata de serviços efetivamente prestados e pagos; o impugnante era titular de direitos creditórios com origem em honorários advocatícios e os cedeu à empresa D&F, o que o desobrigava de registrar em seu livro caixa; não tem como se defender da omissão de rendimentos recebidos do Estado do Rio Grande do Sul, uma vez que não há especificação do processo onde se deu o suposto pagamento e ele não presta serviços àquele ente. O Fiscal deveria ter intimado o órgão público para prestar tal informação; os pagamentos da Telasul S/A feitos às pessoas físicas foram objeto de cessão de crédito firmado com a empresa D&F; Fl. 11348DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.347 5 devem ser anuladas as glosas de despesas lançadas na conta caixa da empresa D&F pois essa não foi intimada a produzir defesa; as despesas com segurança privada são necessárias à atividade, tendo em vista a situação em que se encontra a segurança pública; não podem prosperar as glosas de despesas referentes a pagamentos feitos a advogados, porquanto são despesas de custeio necessárias à percepção da receita, por serem percentual de honorários transferidos a advogados parceiros, sem os quais não haveria clientes, pois eram eles que realizavam todos os contatos e solicitavam dos clientes as documentações complementares ao longo da tramitação das ações; a multa de ofício é excessiva e deve ser reduzida para 20%; a multa de 150% deve ser afastada porque não há que se falar em sonegação, fraude, dolo ou simulação; a multa relativa ao carnêleão é improcedente pois todos os valores foram corretamente lançados e pagos, não havendo pendência de pagamento; também devem ser declarados improcedentes os juros, independente do percentual que tenha sido lavrados e sobre que base de cálculo. A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Porto Alegre (DRJ/POA) julgou a impugnação procedente em parte, afastando a glosa relativa a serviços de segurança privada. A decisão foi assim ementada: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendario: 2008 APURAÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA NA DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. ALTERAÇÃO DO LANÇAMENTO. COMPROVAÇÃO. Contribuinte apresentou documentação, comprovando item integrante da apuração anual do imposto de renda, que altera o lançamento efetuado. UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE PESSOA JURÍDICA. ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA. Caracterizada a utilização de empresa interposta, as operações da empresa tributamse no escritório de advocacia, e correta a tributação das operações na pessoa física, na declaração do contribuinte. DEDUÇÃO INDEVIDA DE DESPESAS DE LIVRO CAIXA. COMPROVAÇÃO. Fl. 11349DF CARF MF 6 Para dedutibilidade no livro caixa a discussão de matéria de prova de sobrepõe a possibilidade de deduzir. Há que ser provada a correspondência dos contratos e pagamentos, com detalhamento das operações, com a comprovação financeira. AUDITOR FISCAL. EXAME DA CONTABILIDADE. A competência do Auditor Fiscal para exame da contabilidade da empresa decorre de lei, não estando sujeitando a habilitação em curso superior específico ou ao registro junto ao Conselho de Contabilidade. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte Cientificado da decisão em 03/10/2013 (fl. 4.272), o contribuinte interpôs recurso voluntário no dia 31/10/2013 (fls. 4.273 a 4.457), no qual reitera as razões da impugnação e enfatiza os seguintes pontos: o Auto de Infração é nulo pois ocorreu cerceamento de defesa, uma vez que a sociedade Dal Agnol & Fernandes Ltda, não foi regularmente cientificada para prestar esclarecimentos e apresentar provas; as autoridades fiscais desconsideraram a pessoa jurídica da empresa referida sem a devida decisão judicial; ao calcular o suposto tributo devido, a Fiscalização não permitiu a dedução de despesas referentes a emolumentos pagos a terceiros, expressamente permitidas pela legislação; são apresentados documentos em anexo que provam os valores pagos como emolumentos a terceiros; tendo em vista o exíguo prazo para apresentação do recurso voluntário, os documentos trazidos são por amostragem, sendo requerida a possibilidade de juntada posterior ou que sejam os autos baixados em diligência para apresentação de tais documentos; a autoridade fiscal não considerou os contratos, recibos e notas apresentados pelo recorrente em relação às parcerias com os advogados, ao contrário do que julgou a DRJ em sua decisão; em respeito à segurança jurídica, à ampla defesa e ao princípio da verdade material, é imprescindível que o recorrente tenha o direito de juntar provas agora aceitas pela DRJ; além de não considerarem os emolumentos pagos a terceiros como despesas, também não consideraram os tributos pagos pela pessoa jurídica, na apuração do lançamento; não há base legal para incidência dos juros SELIC incidentes sobre a multa de ofício. O Recurso Voluntário do contribuinte foi julgado em 10/12/2015, momento em que foi exarada a Resolução nº 2202000.619, para que a Unidade de Origem tomasse as seguintes providências: Fl. 11350DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.348 7 1 Intime o contribuinte a apresentar, no prazo de 30 (trinta) dias, relatório, preferencialmente em forma de planilha, com a discriminação das despesas glosadas pela Fiscalização, a título de "emolumentos pagos a terceiros", vinculando cada despesa com os correspondentes documentos comprobatórios; 2 Que a autoridade fiscal se manifeste, em relatório circunstanciado e conclusivo, sobre a validade das alegações presentes nesse relatório quanto à dedução das despesas a título de "emolumentos pagos a terceiros", indicando as glosas a serem mantidas e dandose vista ao recorrente, com prazo de 30 (trinta) dias para, querendo, se pronunciar. Após as providências tomadas pela Unidade de Origem, conforme determinado na Resolução supracitada, a Autoridade Fiscal emitiu o relatório fiscal da diligência (fls. 11312/11322), que em síntese explica que a autuação se deu em função da indedutibilidade das despesas, após análise dos documentos apresentados, e que a planilha acostada aos autos pelo recorrente após intimação solicitada por Resolução do Carf não corroborava com os documentos constantes nos autos. Intimado do relato fiscal, o recorrente apresentou resposta (fls. 11328/11337), argumentando que a decisão a quo reconheceu que as despesas poderiam ser indedutíveis, mas que não foram apresentados os documentos para a devida correspondência com os dados declarados, e como a Resolução do Carf, levando isso em consideração, converteu o julgamento em diligência para que o intimasse a apresentar planilha correlacionando os documentos constantes nos autos, o Auditor Fiscal diligenciante deveria ter se limitado a verificar essas correspondências, e não dizer que as despesas eram indedutíveis. Adicionou que a Autoridade Diligenciante anexou ao processo a planilha em formato PDF, desconfigurando as informações apresentadas pelo recorrente que mostravam a correlação de documentos. Pediu em sua resposta que fosse anexada ao processo a planilha conforme apresentada em formato XLS, fato que foi atendido pela fiscalização (fls. 11341/11342), sem fazer demais considerações sobre os dados constantes nessa planilha. É o relatório. Voto Conselheira Rosy Adriane da Silva Dias, Relatora Admissibilidade O Recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Delimitação da lide Observo que não houve alegação em relação à omissão de rendimentos recebidos de pessoa jurídica (Estado do Rio Grande do Sul), nem sobre a qualificação da Fl. 11351DF CARF MF 8 multa, portanto, considero como matérias não impugnadas, nos termos do art. 17 do Decreto nº 70.235/72. Além disso, a DRJ exonerou parte do crédito fiscal, portanto, a controvérsia se limita aos seguintes tópicos: 1. Omissão de rendimentos recebidos de pessoa física (desconstituição da Dal Agnol & Fernandes Ltda) 2. Dedução indevida de despesas de Livro Caixa Das preliminares Cerceamento de defesa Em relação ao cerceamento de defesa por falta de intimação da D&F para prestar esclarecimentos sobre a relação jurídica que mantinha com o recorrente, e sobre as diligências desenvolvidas nos clientes dessa empresa, compartilho os fundamentos do julgador a quo, quanto ao não acolhimento dessa preliminar. Primeiramente, a D&F foi diligenciada e intimada a apresentar documentos e prestar esclarecimentos julgados necessários para o desenvolvimento do procedimento fiscal no recorrente (fls. 1870/1871; 2408/2409; 3358/3359; fls. 3485/3486; fls. 3490/3492; fls. 3609/3610; fls. 3615/3616). Os depoimentos prestados pelos clientes da D&F por meio de diligência é procedimento normal em uma fiscalização, para busca da verdade material, e não configura cerceamento de defesa, visto que tais depoimentos foram corroborados por provas postas à disposição do recorrente. Segundo, o procedimento fiscal é a fase inquisitória em que são buscados dados para a apuração da verdade material, nessa fase não se instaura o contencioso, nem é dado à fiscalização apresentar documentos e depoimentos colhidos, pois estes comporão o auto de infração, em que serão anexados todos os documentos necessários ao sujeito passivo, para conhecimento de todos os fatos que lhe são imputados e, assim, possa exercer seu pleno direito de defesa na fase do contencioso. Ademais, ao contrário do que afirma o recorrente, a questão da nulidade do lançamento por cerceamento de defesa foi analisada pelo julgador de primeira instância, que respondeu às alegações do impugnante de que a D&F teve sua personalidade jurídica desconsiderada sem ter sido intimada, e, o julgador rebate essa alegação entendendo que não houve essa desconsideração, e os documentos foram obtidos de forma regular, por meio de intimação enviada à D&F enquanto empresa diligenciada. Adiciono que os relatórios, demonstrativos, e documentos juntados aos Autos de Infração trazem os esclarecimentos sobre a origem e a constituição do crédito tributário lançado. Cada um deles tem uma função específica e contém as informações que lhe são próprias. No Termo de Verificação Fiscal (fls. 3932/3978) o Auditor Fiscal descreve todos os fatos que deram origem ao lançamento, assim como, os motivos da lavratura, anexando documentos comprobatórios que demonstram de onde foram extraídas as bases de cálculo. Fl. 11352DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.349 9 Portanto, o conjunto de relatórios e demonstrativos que compõem o Auto de Infração contém as informações necessárias para elucidar o crédito, o que deu recorrente todos os dados necessários para rebater contrariamente os fatos apurados. O direito constitucional à ampla defesa e ao contraditório, disposto no inciso LV do art. 5º, da Constituição Federal de 1988, tem por finalidade possibilitar aos litigantes, seja em processo judicial ou administrativo, o direito à reação contra atos desfavoráveis, momento esse em que a parte interessada exerce o direito à ampla defesa e ao contraditório. Dessa forma, quando a Administração, antes de decidir o mérito de uma questão administrativa, dá à parte contrária oportunidade de impugnar da forma mais ampla que entender, em hipótese alguma, pode ser acusada de negar ao contribuinte o exercício do direito à ampla defesa e ao contraditório. Logo, concluise que não houve qualquer tipo de cerceamento do direito de defesa, pois o Auto de Infração foi lavrado em obediência ao princípio da estrita legalidade, expondo com objetividade e clareza a origem do lançamento de crédito, sua composição, bem como os dispositivos legais e os documentos que o fundamentaram, atendendo a todos os dispositivos normativos sobre a matéria, permitindo assim, o exercício do direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa do contribuinte. Desconsideração da personalidade jurídica Em relação à alegação da desconsideração da personalidade jurídica, compartilho o entendimento do julgador a quo, de que tal fato não ocorreu. O que a fiscalização fez foi desconsiderar as receitas da D&F, que pelos fatos apurados, verificou que elas eram em verdade honorários advocatícios recebidos pelo recorrente. Por outro lado, enganouse o recorrente ao afirmar que na infração de omissão de rendimentos não houve qualificação da multa, por conduta dolosa, no percentual de 150%. Essa conduta está descrita no relato fiscal (fls. 3963/3967), com a aplicação da qualificação da multa, em todas as infrações relacionadas aos rendimentos oriundos da interposição de pessoa jurídica D&F, sendo que a auditoria segregou as infrações com aplicação da multa de 75% e de 150%: Isso é perceptível também pela visualização do auto de infração, que consolidou as infrações por valores (fls. 3923/3924) Fl. 11353DF CARF MF 10 O recorrente alega ainda que, a auditoria desenvolveu seu raciocínio baseado no art. 116 do CTN que ainda não está regulamentado. Sem respaldo essa alegação. Como bem observou o recorrente, o Auditor Fiscal em nenhum momento cita o referido artigo. Por oportuno, assevero que o art. 149 do CTN estabelece os casos em que é cabível o lançamento de ofício, trazendo em seu inciso VII, a hipótese de simulação. Já o art. 142 desse Código estabelece a competência da autoridade administrativa para constituir o crédito tributário pelo lançamento, cabendo a ele verificar a ocorrência do fato gerador. Neste ponto, ressalto que, para verificar tal ocorrência a autoridade deve analisar todas as circunstâncias e elementos que permeiam esse fato gerador, inclusive descartando falsas evidências que poderiam deixálo encoberto aos "olhos" do Fisco. Assim, o art. 149 do CTN deu à autoridade fiscal a competência para efetuar o lançamento fiscal nos casos em que ocorre simulação. E o parágrafo único do art. 116 chancelou essa competência, ao estabelecer que essa autoridade pode desconsiderar atos ou negócios que dissimulam a ocorrência do fato gerador do tributo. Portanto, a autoridade fiscal pode, ao contrário do que entende o recorrente, desconsiderar os atos e negócios, amparada pelo parágrafo único referido, corroborado pelo inciso VII do art. 142, e art. 146, todos do Código Tributário Nacional. Nesse sentido, o parágrafo único do art. 116 do CTN não engessou a atuação da autoridade fiscal, que ao verificar a ocorrência do fato gerador se depara com casos de simulação. Ao contrário, o Auditor Fiscal deve efetuar o lançamento nos termos do art. 142 do CTN. Assim, ele não age aleatoriamente, mas obedece a procedimentos regulamente estabelecidos e de acordo com dispositivos legais específicos aplicados a cada tributo. Portanto, não há como acatar a nulidade baseada em tal alegação. Apresentação de provas A recorrente requer a intimação da D&F para apresentar documentos e que lhe seja oportunizada a apresentação de outros meios de prova. Fl. 11354DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.350 11 Em relação a isso, importante lembrar que o Decreto nº 70.235/72, que regula o processo administrativo Fiscal, no art. 16 e parágrafos, e art. 18, aborda a questão nos seguintes termos: Art. 16. A impugnação mencionará: [...] III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) IV as diligências, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas, expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação dos quesitos referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, o nome, o endereço e a qualificação profissional do seu perito. (Redação dada pela Lei nº 8.748, de 1993) [...] § 1º Considerarseá não formulado o pedido de diligência ou perícia que deixar de atender aos requisitos previstos no inciso IV do art. 16. (Incluído pela Lei nº 8.748, de 1993) [...] § 4º A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) b) refirase a fato ou a direito superveniente; (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) c) destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) § 5º A juntada de documentos após a impugnação deverá ser requerida à autoridade julgadora, mediante petição em que se demonstre, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas nas alíneas do parágrafo anterior. (Incluído pela Lei nº 9.532, de 1997) [...] Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observado o disposto no art. 28, in fine. (redação dada pelo art. 1° da Lei n° 8.748/93). Os dispositivos acima transcritos demonstram que a juntada de documentos após o recurso somente é permitida nas situações expressamente previstas, que, no caso, não foram demonstradas pelo recorrente. Mérito Erro na base de cálculo. Emolumentos pagos a terceiros No mérito, o recorrente se limitou a contrapor o lançamento referente à desconsideração de negócios da D&F e dedução no Livro Caixa de emolumentos pagos a terceiros. Alega o recorrente erro na apuração da base de cálculo, pois a auditoria desconsiderou as despesas relativas a emolumentos pagos a terceiros pela sociedade D&F e pelo recorrente. Fl. 11355DF CARF MF 12 Assevera que a fiscalização não intimou os representantes da D&F para esclarecerem esses pagamentos, e anexa documentos, que afirma provarem se tratarem de emolumentos pagos a terceiros e passíveis de dedução no Livro Caixa. Explica que a apresentação se dá por amostragem pelo exíguo prazo para apresentação do recurso voluntário, requer que a D&F seja intimada a apresentar tais documentos, e seja oportunizada a apresentação deles posteriormente. Acrescenta que a auditoria não considerou os contratos, recibos e notas provenientes de parcerias com advogados. A alegação de falta de intimação da D&F já foi debatida nas preliminares. Portanto, passo a analisar demais argumentos da recorrente. Na verificação da ocorrência do fato gerador, o autuante enumera fatos que o levaram a concluir que o recorrente recebia honorários advocatícios por meio da D&F, vejamos: D&F emitiu em favor de GEORGINA MARIA DOS SANTOS FLORES a Nota Fiscal nº 578 em 04/04/2008, no valor de R$ 7.641,62 (fl. 1964). Este é exatamente o mesmo valor informado pelo fiscalizado como tendo sido recebido da citada cliente na “RESPOSTA AO TERMO nº 02” (fls. 790 a 826). Em resposta à intimação, a Sra. Georgina apresentou uma procuração e dois instrumentos particulares, sendo um contrato de prestação de serviços (honorários advocatícios) entre ela e MAURÍCIO DALAGNOL, e outro de CESSÃO DE DIREITOS E AÇÕES DE CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA, entre a cliente e DAL AGNOL & FERNANDES LTDA (fls. 2248 a 2250). [...] D&F emitiu em favor de INES TEREZINHA SCHMITZ DA SILVA a Nota Fiscal n° 600 em 17/07/2008, no valor de R$ 10.784,91 (fl. 1986). No entanto, não consta o nome da cliente na "RESPOSTA AO TERMO n° 02" (fls. 790 a 826). Em atendimento à intimação, a cliente compareceu pessoalmente à repartição, munida dos documentos requisitados, oportunidade em que foi lavrado o TERMO DE DEPOIMENTO de 18/06/2012. A intimada entregou cópia da Nota Fiscal de Prestação de Serviço n°600, emitida em 17/07/2008 por "DAL AGOL & FERNANDES", CNPJ 06.081.082/000122, no valor de R$ 10.784,91, declarando que este foi o único documento comprobatório do valor devido a Maurício Dal Aqnol a título de honorários advocatícios recebido em decorrência do processo judicial n°001/1.06.004210 51. Declarou, ainda, que o comprovante dos honorários advocatícios (nota fiscal de prestação de serviços n°600, de emissão de DAL AGNOL & FERNANDE S LTDA.) só lhe foi entregue após solicitação feita pela própria cliente, em razão de ter incidido em Malha Fiscal e ter recebido a Notificação de Lançamento Imposto de Renda Pessoa Física n° 2009/004340239921495, para a qual necessitava do referido Fl. 11356DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.351 13 documento a fim de interpor defesa junto a este órgão fazendário. Apresentou o "Resumo Demonstrativos dos Valores Recebidos relativos ao Principal da Complementação das Ações da Brasil Telecom, Celular e Dividendos", firmado em 17/07/2008, no qual foram discriminados os valores que lhe eram devidos em decorrência da causa judicial, destacandose a linha "Honorários Advocatícios contratados", cuja importância é exatamente a mesma da Nota Fiscal n° 600 (R$ 10.784,91), emitida por D&F a título de "digitação de processo judicial". Ao final do mesmo documento, consta o Recibo da quitação dos valores que couberam à cliente em decorrência do processo n° 001/1.06.00421051, mencionando expressamente que o valor de R$ 32.322,38 foi recebido de MAURICIO DAL AGNOL. [...] D&F emitiu em 12/08/2008 a nota fiscal n° 609 em favor de GILBERTO ERNESTO TOMELERO, CPF 445.562.17091, no valor de R$ 11.552,48, em cuja discriminação de serviços consta "digitação de processo judicial" (fl. 1995). Ressaltese que este mesmo valor foi informado pelo Sr. Gilberto em sua DIRPF 2009 (anocalendário 2008), como pagamento a MAURICIO DAL AGNOL a título de honorários advocatícios. Intimado, o Sr. Gilberto apresentou o "Resumo Demonstrativos dos Valores Recebidos ao Principal da Complementação das Ações da Brasil Telecom, Celular e Dividendos", com o timbre "DAL AGNOL ADVOCACIA" no cabeçalho, e recibo de quitação informando ter o cliente recebido de MAURICIO DAL AGNOL o valor líquido de R$21.433,15, percebido em decorrência da ação n° 001/1.05.24571302 (fl. 2285). Naquele documento, ficou estampado que o valor cobrado a título de "honorários advocatícios contratados" foi exatamente o mesmo valor constante da nota fiscal n° 609 (R$ 11.552,48). [...] O vasto material probatório comprova que a vinculação existente entre a pessoa física e D&F é um caso de simulação e as provas coligidas demonstram que o fiscalizado agiu de má fé. Como se viu, a utilização de notas fiscais falsas para forjar uma prestação de serviço que nunca ocorreu, ou que ao menos não foi o serviço efetivamente contratado pelos respectivos destinatários, visou unicamente criar receitas fictícias na pessoa jurídica, até o limite anual do SIMPLES, a fim de aparentar, apenas sob o aspecto formal, uma atividade econômica regular. As diligências realizadas junto às pessoas físicas (supostos clientes da D&F) comprovam que os valores inscritos nas notas fiscais emitidas em favor desses clientes se referem em sua totalidade a "honorários advocatícios contratados", rendimentos tributáveis auferidos pela pessoa física MAURICIO DAL AGNOL e não receitas da DAL AGNOL & FERNANDES. Fl. 11357DF CARF MF 14 Diante das provas constantes nos autos, entendo que a auditoria tinha fundamentos suficientes para considerar que os negócios da D&F em realidade eram do recorrente, que a utilizava para recebimento de honorários advocatícios. Verificase que em diligência a essa empresa, ela foi intimada a apresentar documentos (fls. 1870/1871; 2408/2409; fls. 3358/3359 (termo de constatação, em que o recorrente se identifica como advogado da empresa); fls. 3485/3486; fls. 3490/3492; fls. 3609/3610; fls. 3615/3616), que quando analisados e comparados como depoimentos colhidos em diligência, e dados constantes nos sistemas do Fisco, demonstram a conduta apontada pela auditoria. Os fatos narrados poderiam ser contraditados pelo recorrente em seu momento de defesa, inclusive em relação aos documentos apresentados pela própria D&F, da qual, o recorrente se apresentou como advogado, segundo Termo de Constatação às fls. 3358/3359. Pelo que se vê nos autos, essa empresa não passava de uma interposta do recorrente, portanto, da mesma forma que ele teria acesso aos documentos que foram por ela apresentados, ela teria acesso a todos os documentos que constam nesse processo, podendo o recorrente apresentar contraprova aos depoimentos e elementos colhidos durante as diligências, mas o recorrente apenas trouxe alegações genéricas, sem apresentar documentos que infirmassem que as receitas da D&F eram verdadeiramente receitas dessa empresa. Em relação à dedução das despesas no Livro Caixa, ao contrário do que entende o recorrente, o julgador a quo, não concluiu em definitivo que tais despesas eram dedutíveis, ele afirmou que havia a possibilidade, mas que esta dependia de análise das provas, veja: Emolumentos pagos a terceiros. A utilização de outros advogados nas atividades do contribuinte, a repartição dos honorários, pode ter ocorrido na forma descrita pelo contribuinte. E concordamos com a argumentação da impugnação quanto à possibilidade de dedução na forma do art. 75 do RIR, de 1999. No entanto, no Termo de Verificação Fiscal, fls. 3970 e 3971, também consta: [...] A discussão de matéria de prova de sobrepõe a possibilidade de deduzir. E entendemos que não foi provada a correspondência dos contratos e pagamentos, pois não se encontram demonstrados os detalhamentos dos rendimentos recebidos, quais ações, quais clientes, nem demonstrados os respectivos repasses aos parceiros. Não há detalhamento das operações nem a comprovação financeira. Assim, concordando com o texto do lançamento reproduzido acima, quanto a comprovação dos emolumentos pagos a terceiros, entendemos não comprovados os pagamentos, no sentido de dedutibilidade no livro caixa. (grifos no original). Assim, da forma como entendeu a autoridade diligenciante, o lançamento foi efetuado porque, diante das provas apresentadas, chegouse à conclusão que as despesas eram indedutíveis. Como o julgador a quo assevera ser necessário analisar as provas antes de dizer se as despesas são ou não dedutíveis, e a Resolução nº 2202000.619 deste Colegiado, foi por intimar o recorrente a apresentar planilha, fazendo as correlações com os documentos que comprovariam a verdadeira existência da despesa, há que se observar se as correlações foram Fl. 11358DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.352 15 efetuadas, e se os documentos correlacionados são suficientes para suportar as deduções efetuadas. Analisando a planilha em formato ".xls", anexa ao arquivo não paginável de fls. 11340, verificase que ela foi dividida em três blocos de informações, denominadas anexos I, II e III. Em suas considerações sobre a planilha anexada (fls. 4519/4523), a defesa explica que os dados das planilhas estão em sequência com o Anexo 3 do Termo de Verificação Fiscal (3900/3915), onde estão discriminadas as despesas glosadas pela auditoria. Entretanto, entendo que as informações constantes nessa planilha não atendem ao solicitado na Resolução. Primeiro, os dados constantes nos documentos aos quais foram correlacionados não guardam relação com os dados da planilha, e/ou com as glosas constantes no Anexo 3 do TVF; inconformidades essas que tornam a planilha complexa, e sem efetividade para provar as alegações do recorrente. Segundo, os documentos a que estão correlacionadas são insuficientes para demonstrar o efetivo pagamento de emolumentos a terceiros. Tomando como exemplo a sequência 349 do Anexo 3 do TVF, que são os primeiros dados que constam na planilha do recorrente, verificase que para essa despesa o recorrente relaciona no Anexo II três recibos com data de 08/02/2008, apresentandoos às fls. 4845/4847 (fls. 907, 908, 909 do Anexo II (trazidos pós Resolução)), e no anexo III apresenta como se deu a divisão dos honorários com os parceiros/subparceiros, entretanto, as informações constantes neles não apresentam correlação, vejamos: Anexo 3 do Termo de Verificação Fiscal Fl. 11359DF CARF MF 16 Anexos I, II e III da Planilha do recorrente: Fls. 907, 908 e 909 do Anexo II (fls. 4845/4847 dos autos): Conforme se verifica nas figuras acima, o Auditor Fiscal apresenta como despesa glosada o valor de R$ 1.442,17 (sequência 349), informada pelo recorrente como paga a Marco Aurélio Spier (CPF 561.448.81034), relativo a emolumentos pagos a terceiros, entretanto, a defesa correlaciona essa despesa a recibos assinados por Plínio, nos valores de R$ 479,75, R$ 481,21, R$ 481,21; sem apresentar outros elementos que demonstrem o efetivo repasse do recurso e para quem (se para Marco Aurélio ou a Plínio). Além disso, em tais recibos consta que o valor de crédito recebido pelo cliente Renato Schimitt foi R$ 11.993,82; por Neri Wagner, R$ 12.030,19; por Ivan Alaor Ponath, R$ 12.030,19. Entretanto, tais valores destoam do informado na planilha no valor de R$ 9.060,29 para esses três clientes. E mais, na referida Planilha consta como subparceiro/parceiro o nome de Plínio para esses clientes, mas consta nas últimas colunas do Anexo III os parceiros Dirceu/Valdecir como recebedores dos respectivos honorários. Consta ainda para esses mesmos clientes, honorários totais no valor de R$ 1.812,06, sendo que R$ 362,41 foi pago ao subparceiro, R$ 483,22 pago ao Maurício, e R$ 966,43 pago a Dirceu/Valdecir. Ou seja, as informações estão desencontradas: primeiro, consta no histórico da despesa o nome de Marco Aurélio, os recibos foram assinados por Plínio, e na planilha consta como honorários de Dirceu/Valdecir e Maurício. Fazendo um esforço para tentar entender a planilha apresentada pela defesa, e relacionála aos documentos, vejo que na primeira linha da planilha para o cliente Ivan Alaor consta na coluna honorários totais o valor de R$ 1.812,06, sendo que desse valor, R$ 362,41 foi pago a subparceiro (que estou supondo tenha sido paga a Plínio) e, R$ 966,43 pago ao parceiro (que supondo tenha sido Dirceu/Valdecir); se assim foi, então o recibo às fls. 4847 não corroboram a informação constante na tabela, pois em referido recibo consta que Plínio Fl. 11360DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.353 17 recebeu R$ 481,21, que por coincidência é o mesmo valor que consta na planilha como tendo sido recebida pelo recorrente. O recorrente afirma que apenas recebia os honorários, mas que não eram deles, mas dos parceiros, se assim fosse, por que não há qualquer recibo assinado por Dirceu/Valdecir afirmando ter recebido R$ 966,43 de honorários? E mais, por que não foram acostados aos autos, outros elementos que confirmassem o efetivo repasse desses honorários (tais como comprovantes de depósitos e/ou transferências, extratos bancários, cópias de cheques com respectivos nomes de emissor e emitente, etc.)? Por que o recorrente insiste em alegar que os honorários não lhe pertenciam, apesar de as cópias dos alvarás constantes no anexo IV (fls. 7865/11311) afirmarem o contrário?. Outro exemplo é a sequência 1734 do Anexo 3 do TVF (despesa glosada no valor de R$ 983,84 (Wessel Contabilidade S/S Ltda)), a qual o recorrente correlaciona os documentos às fls. 6191 (1253 do anexo II), em que consta recibo assinado por Wessel no valor de R$ 489,49; de um crédito do Cliente Erson Eldor Stapenhorst no valor de R$ 12.237,17, entretanto, no anexo III da planilha do recorrente, consta para esse cliente o valor de R$ 8.510,52, com honorários totais no valor de R$ 1.276,58, sendo R$ 255,32 pago a subparceiro (que suponho tenha sido Wessel), R$ 340,00 a Mauricio, e R$ 680,84 aos parceiros Dirceu/Valdecir, portanto, nenhum desses valores bate com os R$ 489,49, que consta no recibo correlacionado. Fazendo mais um esforço para verificar se houve correlação da planilha no formato ".xls" com os documentos constantes nos autos, tomei como exemplo as sequências 1197, 1199, 722, 1378, 1223, 1543 constantes no Anexo 3 do TVF, conforme abaixo: Mês Data Cód. Conta Histórico CPF / CNPJ Benef. Valor Seq Conta 04/ago 17/04/2008 4.006 GEOVANI CEREZER ADV. ASSOC. CNPJ06023861/000171 6023861000171 11.605,50 1197 4.006 EMOLUMENTOS PAGOS A TERCEIR 04/ago 17/04/2008 4.006 VERA LUCIA FAGUNDES DOS SANTOS CPF37416430097 37416430097 5.830,86 1199 4.006 EMOLUMENTOS PAGOS A TERCEIR 03/ago 10/03/2008 4.006 VERA LUCIA FAGUNDES DOS SANTOS CPF37416430097 37416430097 5.167,15 722 4.006 EMOLUMENTOS PAGOS A TERCEIR 04/ago 30/04/2008 4.006 GEOVANI CEREZER ADV.ASSOC. CNPJ06023861/000171 6023861000171 5.671,24 1378 4.006 EMOLUMENTOS PAGOS A TERCEIR 04/ago 18/04/2008 4.006 VILSON BELLE CPF25017551034 25017551034 72.439,03 1223 4.006 EMOLUMENTOS PAGOS A TERCEIR 05/ago 20/05/2008 4.006 ROGER MAURICIO BELLE CPF961884480 34,PFRS 96188448034 65.407,00 1543 4.006 EMOLUMENTOS PAGOS A TERCEIR Diante delas me reportei aos dados na planilha no formato ".xls" do recorrente que correspondiam às sequências acima, a fim de verificar se tais dados se relacionavam com os documentos constantes nos número de folhas indicados pelo recorrente na planilha, e se batiam com os valores da tabela acima por sequência. Desse batimento, extraí da planilha do recorrente as seguintes informações, relativas à sequência 1197: Fl. 11361DF CARF MF 18 Os documentos relacionados a elas, conforme Anexo II estão às fls. 1726/1753. No Anexo III, o recorrente demonstra como foram divididos os honorários, da seguinte forma: Entretanto, os honorários dos parceiros que, segundo o recorrente, são despesas dedutíveis como emolumentos pagos a terceiros, e foram glosadas pela auditoria, estão disformes com os valores glosados pela auditoria. Fazendo o batimento chegouse aos seguintes valores: Sequência Somatório da divisão dos honorários relacionados aos documentos apresentados pós Resolução Carf 722 295,65 Fl. 11362DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.354 19 1197 11.545,37 1199 2.918,35 1307 2.041,59 1378 1.287,12 Mesmo que somemos todos os valores relativos às sequências 1223/1523, conforme indicado pela recorrente no Anexo III, o valor também não bate com o valor de despesa glosado pela Auditoria no Anexo 3 do TVF, vejamos: ANEXO III Valor Ind. Perc. Valor Total Honor. Honor. Honorários Honorários Honorários SubParceiro/Parceiro Processo CLIENTE CPF/CNPJ Corrigido Honor. Honorários SubParceiro Mauricio Bellé Celi Dirceu/Valdecir Bellé José Carlos Federle 383.889.10078 9246,71 20% 1849,34 924,67 924,67 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João Maria Inez Both Bolzan 325.445.45020 9246,71 20% 1849,34 431,45 647,27 462,34 308,29 Bellé José Carlos Federle 383.889.10078 1291,34 20% 258,27 129,13 129,13 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João Maria Inez Both Bolzan 325.445.45020 1291,34 20% 258,27 60,25 90,39 64,57 43,05 Geovani Cerezer/Bellé/João Maria Regina Daniel Rosso 243.673.20006 3779,27 20% 755,85 176,34 264,55 188,96 126,00 Celito E. Dariva/Bellé Sérgio Rodrigues da Silva 303.585.90000 3779,27 20% 755,85 264,55 377,93 113,38 Bellé Itacir Calgaro 380.270.97053 51697,31 20% 10339,46 5169,73 5169,73 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João Espólio de Eloi Sampaio Affonso por Sonia Rosa Affonso 771.451.00053 51537,33 20% 10307,47 2404,73 3607,61 2576,87 1718,25 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.06.00184157 Theodora Anita Varini Sanfelice 525.536.47034 18629,87 30% 5588,96 2235,58 1956,14 1397,24 0,00 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.07.01934143 Adubar Comércio e Representações Agropastoril Ltda. 93.644.078/000120 5149,90 30% 1544,97 617,99 540,74 386,24 0,00 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.06.00052730 V. Parcianello & Cia. Ltda. 89.252.209/000156 10009,47 30% 3002,84 1201,14 1050,99 750,71 0,00 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.07.01716529 Plinio Niederauer Petri dos Santos 075.242.26004 20466,52 20% 4093,30 1637,32 1432,66 1023,33 0,00 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.06.00245768 Dalva Maria Fernandes 768.816.01034 18616,72 30% 5585,02 2234,01 1954,76 1396,25 0,00 Vera L. Fagundes/Bellé 001/1.05.24305378 Avanir Catarina Venturini Cavedon 191.864.87000 2586,48 20% 517,30 206,92 206,92 103,46 0,00 0,00 Bellé 001/1.07.01059218 Nilce Maria Denti Favero 144.641.60034 19342,90 20% 3868,58 1934,29 1934,29 0,00 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.06.00808550 Daito Gomes Ferreira 045.941.00082 3369,43 20% 673,89 157,22 235,86 168,47 112,34 Bellé 001/1.05.23935696 Edemar Valérius 246.067.40078 41248,86 20% 8249,77 4124,89 4124,89 0,00 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.06.00194543 Antonio Stein 283.723.52020 4688,14 20% 937,63 218,75 328,17 234,41 156,30 Bellé 001/1.07.00638494 João Rosalino de Andrade 274.809.17015 15897,43 40% 6358,97 3179,49 3179,49 0,00 Vera L. Fagundes/Bellé 001/1.07.01766380 Reneu José Zanon 272.751.83072 52734,03 20% 10546,81 4218,72 4218,72 2109,36 0,00 0,00 Bellé 001/1.05.23014094 Elenice Fernandes Nunes 305.334.57068 8607,81 20% 1721,56 860,78 860,78 0,00 Bellé 001/1.06.00187423 Carlos Alberto Pertile 592.123.57091 34089,65 30% 10226,90 5113,45 5113,45 0,00 Bellé Osmar Luiz Berlato 230.888.42072 34626,19 30% 10387,86 5193,93 5193,93 0,00 Bellé 001/1.05.01356480 Tabelionato e Registro Civil de Severiano de Almeida 90.982.588/000119 244,75 20% 48,95 24,47 24,47 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João Celso Aita 260.814.23034 1201,67 20% 240,33 56,07 84,12 60,08 40,06 Celito E. Dariva/Bellé Mitra Diocesana de Erechim 87.635.405/000184 369,86 20% 73,97 25,89 36,99 11,10 Geovani Cerezer/Bellé/João Friggi & Cia. Ltda. 90.138.223/000102 738,45 20% 147,69 34,46 51,69 36,92 24,62 Fl. 11363DF CARF MF 20 Vera L. Fagundes/Bellé 001/1.06.00930410 Onildo Sarzi Sartori 048.152.03091 7391,20 20% 1478,24 591,30 591,30 295,65 0,00 0,00 Bellé 001/1.06.00349598 Drogaria e Perfumaria Cabo Grando Ltda. 00.736.429/000141 0,00 20% 4322,72 2161,36 2161,36 0,00 Vera L. Fagundes/Bellé 001/1.05.01354275 Espólio de Dinora Culau Fruett por José Francisco Portella Fruett 048.797.59015 17638,26 20% 3527,65 1411,06 1411,06 705,53 0,00 0,00 Bellé 001/1.05.24420720 Ernan Gottliebs Coutinho 131.063.17000 10853,19 20% 2170,64 1085,32 1085,32 0,00 Bellé João Carlos Arcego 395.977.25053 10849,50 20% 2169,90 1084,95 1084,95 0,00 Bellé Sérgio João Salvati 390.693.20010 10947,95 20% 2189,59 1094,79 1094,79 0,00 Bellé Elide Bertolini 526.077.63053 22694,26 20% 4538,85 2269,43 2269,43 0,00 Bellé 001/1.07.02620681 Albanize Giacomini 480.407.54020 20248,84 30% 6074,65 3037,33 3037,33 0,00 Bellé Inez Maria Guareschi Fioreze 636.139.48087 19346,76 25% 4836,69 2418,34 2418,34 0,00 Bellé Vilmar José Pacheco Ritta 215.734.84091 2354,31 25% 588,58 294,29 294,29 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João Cláudio Rafael Schmitt 175.020.20004 3240,56 20% 648,11 151,20 226,84 162,03 108,04 0,00 Celito E. Dariva/Bellé Sérgio Rodrigues da Silva 303.585.90000 24460,70 20% 4892,14 1712,25 2446,07 733,82 Celito E. Dariva/Bellé João Antonio Teles de Farias 117.130.11034 21395,13 20% 4279,03 1497,66 2139,51 641,85 Bellé 001/1.05.02180122 Nadir Perin 308.660.49053 138770,59 20% 27754,12 13877,06 13877,06 0,00 Bellé 001/1.06.01222010 Devino Rigo 024.972.55091 47871,60 20% 9574,32 4787,16 4787,16 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João 001/1.05.01819391 Luiz Verno Staudt 198.827.77015 904,57 20% 180,91 42,21 63,32 45,23 30,16 Geovani Cerezer/Bellé/João Noé Piussi 88.375.449/000185 282,64 20% 56,53 13,19 19,78 14,13 9,42 Geovani Cerezer/Bellé/João Spode e Cia. Ltda. 97.168.058/000180 1112,44 20% 222,49 51,91 77,87 55,62 37,09 Bellé 001/1.06.00129350 Onesmo Scariot 463.776.11072 26065,97 25% 6516,49 3258,25 3258,25 0,00 Bellé 001/1.07.01958735 Alvino Paim 195.756.88015 2170,23 40% 868,09 434,05 434,05 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João 001/1.05.23919747 Vitélio Zanini 064.007.36034 851,39 20% 170,28 39,73 59,60 42,57 28,39 Bellé 001/1.05.24034641 João Batista da Silva Tatim 206.492.23004 2058,23 40% 823,29 411,65 411,65 0,00 Geovani Cerezer/Bellé 001/1.07.02124048 Ibira Tarik Garcia Cecin 045.331.60000 2801,43 20% 560,29 224,11 196,10 140,07 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João Espólio de João Jorge Gonçalves por Filomena Bittencourt Neves Camani 141.619.15004 10698,85 20% 2139,77 499,21 748,92 534,94 356,70 Geovani Cerezer/Bellé/João João Alberto Fernandes Rochedo 004.961.38049 10555,31 20% 2111,06 492,51 738,87 527,77 351,91 Vera L. Fagundes (Bellé) Walmir Martins Carpes 256.947.82020 51039,82 20% 10207,96 4083,19 4083,19 2041,59 0,00 0,00 Geovani Cerezer/Bellé/João Flavio Jair Hatzfeld Schirmann 280.868.64049 4538,07 20% 907,61 211,75 317,67 226,90 151,30 Marcelo C. Schaurich/ Bellé 001/1.06.02248039 Pedro Alvarez Fortes Nunes 304.713.03020 6344,28 30% 1903,28 570,99 666,15 666,15 Geovani Cerezer/Bellé/João Ailton Flores Zucuni 165.240.55004 10906,15 20% 2181,23 508,88 763,43 545,31 363,61 Bellé Nilce Maria Denti Favero 144.641.60034 10906,15 15% 1635,92 817,96 817,96 0,00 Celito E. Dariva/Bellé João Batista da Silva Tatim 206.492.23004 10771,52 20% 2154,30 754,01 1077,15 323,15 Bellé Eloi Pertile 024.367.10082 15960,65 40% 6384,26 3192,13 3192,13 0,00 Bellé Hildo Da Ré 232.268.46000 16127,50 20% 3225,50 1612,75 1612,75 0,00 Total 18786,00 3965,54 0,00 Total 22751,53 Diante desses exemplos, entendo que a planilha apresentada pelo recorrente, não demonstra com clareza e exatidão se as glosas efetuadas pela fiscalização são indevidas, mostrandose ineficaz para modificar o lançamento fiscal. Fl. 11364DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.355 21 Aliás, a autoridade diligenciante, a despeito de ter feito seu juízo sobre a dedutibilidade ou não das despesas no Livro Caixa, chegou a mesma conclusão: A planilha mostrase ininteligível. Não obstante o esforço do contribuinte em explicála, em sua cartaresposta, ela não demonstra, com a clareza minimamente necessária, a vinculação de cada despesa glosada (constante do Anexo 3 do Auto de Infração) com os documentos, apresentados por ele como anexos físicos (anexos I a IV). 26. Embora o contribuinte diga, na cartaresposta de 27/06/2016, que o prazo de 30 (trinta) dias foi exíguo para a confecção da referida planilha, lembrase que durante o procedimento fiscal lhe foi oportunizado, em várias ocasiões (por meio do Termo nº 03 –Intimação Fiscal, de 13/12/2011; do Termo nº 07 – Reintimação Fiscal, de 11/05/2012; do Termo nº 10 – Intimação Fiscal, de 24/09/2012, e do Termo nº 11 – Constatação e Intimação Fiscal, de 30/10/2012), o fornecimento das mesmas informações, instruídas por documentos comprobatórios, que deveriam constar da planilha em questão. Não se pode, pois, aceitar a suposta exiguidade do tempo para se justificar a desorganização das informações prestadas. 27. Os valores e as datas destas despesas, lançados no livro caixa do contribuinte, constam de comprovantes de pagamento (como recibos, assinados pelos terceiros, ou notas fiscais, emitidas por eles, recebedores), que foram analisados, por amostras relevantes, no procedimento fiscal, juntamente com os contratos de prestação de serviço que ampararam estes pagamentos. 28. Para justificar a origem dos recursos empregados nestes pagamentos, o contribuinte apresentou, por meio do “ANEXO IV”, os Alvarás de Autorização, emitidos pelo Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, contendo os levantamentos de depósitos judiciais, e documentos correlatos (como cópias de petições relativas a estes Alvarás), referentes aos créditos dos clientes, dos quais ele retirou seus honorários advocatícios contratuais. 29.O contribuinte apresentou, também, por meio do “ANEXO III”, planilhas contendo a destinação, aos terceiros (parceiros e subparceiros, captadores dos clientes), das comissões, calculadas sobre seus honorários advocatícios contratuais. 30.Com base nos cálculos feitos por meio das planilhas do “ANEXO III”, o contribuinte efetuou os pagamentos registrados nos recibos de pagamento e nas notas fiscais do “ANEXO II”, que foram lançados no livrocaixa e representam as despesas glosadas no procedimento de fiscalização. 31.Muitos comprovantes de pagamento (recibos e notas fiscais) contêm valores referentes ao total da soma de duas ou mais comissões, destinadas aos terceiros, devidas em face da captação de diferentes clientes, titulares de créditos oriundos de diversos processos judiciais. Fl. 11365DF CARF MF 22 32.É muito confuso. 33.As informações e os documentos apresentados na diligência fiscal demonstram que cada comissão paga pelo contribuinte aos terceiros, em face do recebimento de honorários advocatícios contratuais deduzidos dos créditos dos clientes,não corresponde, necessariamente, a um registro de despesa, referente a este pagamento, no livrocaixa. Isto é, não há equivalência entre a comissão paga ao terceiro, considerada individualmente (referente ao êxito em processo judicial de cliente,do contribuinte, captado por este terceiro), e o valor constante do comprovante de pagamento, que foi INDEVIDAMENTE registrado pelo contribuinte em seu livrocaixa. Muitas vezes (na maior parte das vezes), o contribuinte somou diversas comissões devidas ao terceiro, oriundas de processos judiciais de diferentes clientes, seguindo sistemática de pagamento própria, e registrou o total desta soma no comprovante de pagamento (recibo ou nota fiscal) e no livrocaixa. Assim, os valores INDEVIDAMENTE registrados na conta “4.006 EMOLUMENTOS PAGOS A TERCEIROS” correspondem aos valores constantes dos comprovantes de pagamento (recibos ou notas fiscais) mas não às comissões, consideradas individualmente, pagas (e sim ao total da soma de duas ou mais comissões, segundo critério peculiar do contribuinte). 34. As palavras do contribuinte, em sua cartaresposta, confirmam a afirmativa supra (parágrafo 33) e denotam a ausência de critério uniforme empregado na somadas comissões que totalizaram os valores constantes dos comprovantes de pagamento: [...] 35. Portanto, ultrapassandose o fato, já exposto, de que o motivo das glosas em questão foi essencialmente jurídico, verificouse, por cautela, no cumprimento da presente diligência fiscal, que a escrituração, pelo contribuinte, em seu livrocaixa, das despesas referentes aos pagamentos, aos terceiros, das comissões, não possui lastro documental satisfatório. [...] 37. Ressaltase que, assim como ocorreu durante o procedimento fiscal, mesmo apresentando, no âmbito da diligência que embasa o presente Relatório Fiscal, as informações e os documentos ora analisados, o contribuinte, pelos motivos retro expostos (parágrafos 31 a 36), não atendeu ao requisito “clareza”, intrínseco à escrituração do livrocaixa, especialmente em relação às despesas, redutoras da base de cálculo do imposto de renda, mais expressivas, que foram neste lançadas. Além disso, mesmo os recibos que o recorrente apresentou pósResolução Carf não são suficientes para exonerar ou alterar o crédito tributário, pois lhes faltam elementos que possam provar o efetivo repasse dos valores ali glosados, uma vez que os alvarás demonstram que os honorários foram recebidos pelo recorrente, e não foram apresentados extratos bancários, comprovantes de depósito, etc, que pudessem corroborar a afirmação do recorrente de que recebia honorários e os repassava aos parceiros. Fl. 11366DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.356 23 Portanto, entendo que o recorrente não se incumbiu de fazer a correspondência dos dados constantes na planilha apresentada com documentos que a suporte, a fim de que seja verificado que tais documentos já constavam ou não nos autos. Assim, entendo que as informações tanto da auditoria fiscal quanto da autoridade diligenciante de que não há correspondência entre os documentos apresentados pelo recorrente que suportem as despesas deduzidas estão corretas, sendo por certo que deve ser mantida a autuação na forma com decidido em primeira instância. Falta de recolhimento do carnê leão Como consequência do lançamento pela omissão de rendimentos, deve ser mantida a multa como proposta pela decisão de primeira instância. Compensação dos tributos pagos pela D&F Aduz o recorrente que os tributos recolhidos pela D&F na sistemática do SIMPLES devem ser compensados com o IRPF por ele devido, antes da aplicação da multa de ofício e correção monetária. Entendo que assiste razão ao recorrente, uma vez que a auditoria concluiu que as receitas auferidas pela D&F eram do recorrente, o tributo recolhido sobre elas deve ser considerado na apuração do imposto devido. Nesse sentido, os acórdãos nº 2102002.441, nº 2801002.280, nº 220200252: RECLASSIFICAÇÃO DE RECEITA TRIBUTADA NA PESSOA JURÍDICA PARA RENDIMENTOS DE PESSOA FÍSICA.COMPENSAÇÃO DE TRIBUTOS PAGOS NA PESSOA JURÍDICA. Devem ser compensados na apuração de crédito tributário os valores arrecadados sob o código de tributos exigidos da pessoa jurídica, cuja receita foi desclassificada e convertida em rendimentos de pessoa física, base de cálculo do lançamento de oficio. (Acórdão nº 2102002.441, data de publicação: 11/03/2013, rel. Núbia Matos Moura). RECLASSIFICAÇÃO DA RECEITA TRIBUTADA NA PESSOA JURÍDICA PARA RENDIMENTOS DA PESSOA FÍSICA.COMPENSAÇÃO DOS TRIBUTOS PAGOS NA PESSOA JURÍDICA. Devem ser compensados na apuração do crédito tributário os valores arrecadados sob os códigos de tributos exigidos da pessoa jurídica, cuja receita foi desclassificada e convertida em rendimentos de pessoa física, base de cálculo do lançamento de ofício. (Acórdão nº 2801 002.280, data de publicação: 21/10/2012, rel. Tânia Maria Paschoalin). IRPF RECLASSIFICAÇÃO DA RECEITA TRIBUTADA NA PESSOA JURÍDICA PARA RENDIMENTOS DA PESSOA FÍSICA. COMPENSAÇÃO DOS TRIBUTOS PAGOS NA PESSOA JURÍDICA Devem ser compensados na apuração do crédito tributário os valores arrecadados sob os códigos de tributos exigidos da pessoa jurídica, cuja receita foi desclassificada e convertida em rendimentos de pessoa física,base de cálculo do lançamento de Fl. 11367DF CARF MF 24 oficio. (Acórdão nº 220200252, data de publicação: 23/09/2009, rel. Antonio Lopo Martinez). Juros sobre multa de ofício Em relação à alegação de impossibilidade da cobrança desses juros, entendo não assistir razão ao recorrente. Cabe destacar, aqui, que, ao contrário do que entende o recorrente, a legislação autoriza a cobrança de juros de mora sobre o valor da multa de ofício. Registrese, que, a teor das disposições contidas nos artigos 113, § 1º, e 139 do Código Tributário Nacional (CTN), verificase que a penalidade pecuniária, a despeito de não ser tributo, faz parte do crédito tributário. Por conseguinte, temse que a cobrança das multas lançadas de ofício deve receber o mesmo tratamento dispensado pela legislação ao crédito tributário. Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. [...] Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. (Grifouse) Ressaltese que a fundamentação para a futura cobrança dos juros de mora sobre a multa de ofício é sustentada no art. 161 do CTN, quando dispõe acerca da incidência de juros de mora sobre o crédito tributário não pago no vencimento, que são devidos seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo das penalidades cabíveis: Código Tributário Nacional (CTN): Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. O art. 61, § 3º, da Lei nº 9.430/96, dispõe sobre a incidência dos juros de mora sobre os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorram a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica. Essa mesma lei, em seu art. 43, estabelece expressamente que sobre o crédito tributário constituído na forma do caput incidem juros de mora a partir do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento, e de um por cento no mês de pagamento. O caput do artigo se refere à formalização de exigência de crédito tributário correspondente, exclusivamente, a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Lei n.º 9.430/96: Art.43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Fl. 11368DF CARF MF Processo nº 11030.720089/201316 Acórdão n.º 2202004.821 S2C2T2 Fl. 11.357 25 Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. [...] Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. (Vide Decreto nº 7.212, de 2010) [...] § 3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. (Vide Lei nº 9.716, de 1998). (Grifouse) Dessa forma, o CTN admite a incidência de juros de mora sobre as multas lançadas de ofício. Ademais, a Lei nº 10.522/02, por meio de seu art. 17, incluiu o § 8º no art. 84 da Lei nº 8.981/95, que dispõe, de forma geral, que os juros de mora se aplicam aos demais créditos da Fazenda Nacional, cuja inscrição e cobrança como Dívida Ativa da União seja de competência da ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional. Assim, ainda que se interprete que a exigência de juros de mora sobre a multa de ofício, após seu vencimento, não está incluída no art. 61 da Lei nº 9.430/96, prospera a interpretação de que os juros são devidos sobre a multa de ofício, considerandose o disposto no § 8º do art. 84 da Lei nº 8.981/95. Cabe reiterar, no caso, que o conceito de crédito tributário abrange a multa de ofício, de forma que, não efetuado o pagamento no prazo legal, o contribuinte se caracteriza em débito para com a União, incidindo juros de mora sobre o principal e a multa de ofício. Ademais a matéria já foi consolidada neste Conselho, por meio da Súmula Carf nº 108: "Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício.". Conclusão Pelo exposto, voto por rejeitar as preliminares, e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso para compensar os tributos recolhidos pela empresa interposta, relacionados às receitas da D&F que foram considerados rendimentos do recorrente. (assinado digitalmente) Rosy Adriane da Silva Dias Fl. 11369DF CARF MF 26 Fl. 11370DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19740.720135/2009-04
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 12 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Dec 07 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/07/2004 a 31/07/2004, 01/01/2005 a 31/01/2005
Ementa:
RELATÓRIO DE REPRESENTANTES LEGAIS. SÚMULA.
"A Relação de Co-Responsáveis - CORESP, o Relatório de Representantes Legais - RepLeg e a Relação de Vínculos - VÍNCULOS, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa." (Súmula CARF nº 88)
REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. SÚMULA.
"O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais." (Súmula CARF nº 28)
PREVIDÊNCIA PRIVADA. APORTES DA INSTITUIDORA.
O método incomum de apurar os aportes ao Plano de Previdência Privada não afasta o caráter previdenciários desses pagamentos efetuados pela Instituidora.
Numero da decisão: 2202-004.798
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, vencida a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias, que lhe negava provimento.
(Assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson- Presidente.
(Assinado digitalmente)
Junia Roberta Gouveia Sampaio - Redatora ad hoc
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, José Ricardo Moreira (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Ronnie Soares Anderson (Presidente
Nome do relator: DILSON JATAHY FONSECA NETO
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SÚMULA. "A Relação de CoResponsáveis CORESP”, o “Relatório de Representantes Legais RepLeg” e a “Relação de Vínculos VÍNCULOS”, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa." (Súmula CARF nº 88) REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. SÚMULA. "O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais." (Súmula CARF nº 28) PREVIDÊNCIA PRIVADA. APORTES DA INSTITUIDORA. O método incomum de apurar os aportes ao Plano de Previdência Privada não afasta o caráter previdenciários desses pagamentos efetuados pela Instituidora. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, vencida a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias, que lhe negava provimento. (Assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 74 0. 72 01 35 /2 00 9- 04 Fl. 814DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 815 2 (Assinado digitalmente) Junia Roberta Gouveia Sampaio Redatora ad hoc Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, José Ricardo Moreira (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Ronnie Soares Anderson (Presidente Relatório Como Redatora ad hoc, sirvome da minuta de acórdão inserida pelo Relator no repositório oficial do CARF Tratase, em breves linhas, de auto de infração lavrado em desfavor da Contribuinte para constituir crédito referente Contribuições Sociais Previdenciárias. Intimada, esta protocolou impugnação, que foi julgada improcedente pela DRJ. Inconformada, interpôs recurso voluntário, ora levado a julgamento. Feito o breve resumo da lide, passo ao relatório pormenorizado dos autos. Em 07/07/2009 foi formalizado auto de infração DEBCAD nº 37.179.6032 (fl. 2 e demais documentos fls. 3/14) para constituir crédito referente a Contribuições Sociais Previdenciárias, especificamente o salárioeducação. Conforme o Relatório Fiscal (fls. 15/30), "03. A contribuição social que integra este lançamento é aquela prevista no art. 212, § 5º, da Constituição da República, regulamentada pelas Leis nº 9.424/96, 9.766/98 (Salário educação 2,5%). Tendo sido lançada separadamente das contribuições devidas a Outras Entidades e Fundos em virtude da existência, à época dos fatos, de convênio do sujeito passivo com o Fundo Naconal de Desenvolvimento da Educação FNDE. 04. O débito levantado nesta autuação decorre de remuneração, vinculada a avaliação de desempenho, paga pelo sujeito passivo a seus empregados. (...) 07. É fato que a transferência de parcela do patrimônio de uma pessoa jurídica para outra sociedade empresarial, ainda que a cindida continue a existir, caracteriza a cisão parcial. Para esse tipo de sucessão o legislador tributário definiu, artigos 124 e 132 do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/66), que a responsabilidade será solidária em relação às obrigações ocorridas até a data do evento. (...) 16. Buscando a origem desse benefício identificouse a Ata de Reunião do Conselho de Administração de 19 de junho de 2001 Fl. 815DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 816 3 (Anexo IV). Neste documento, observase que um dos objetivos da reunião é a discussão de uma nova proposta de remuneração variável elaborada pela empresa William M. Mercer Limitada, que foi, ao final, aprovada pelo Conselho de Administração para implementação a partir do segundo semestre daquele ano. 17. Em relação a esse projeto, foi entregue ao fisco cópia da apresentação da proposta (Anexo V), solicitada pelo Presidente do Conselho de Administração naquela mesma reunião. Vêse nesta apresentação que a proposta divide a remuneração variável em função de medidas de sucesso quantitativo do sujeito passivo, 'privilegia o desempenho das equipes na busca do Resultado Institucional', e de medidas qualitativas a serem avaliadas pelo Conselho de Administração. 18. Verificouse, em relação aos aportes realizados em julho de 2004 e janeiro de 2005, que os mesmos foram autorizados, respectivamente, por reuniões do Conselho de Administração realizadas em 29 de junho de 2004 e 14 de dezembro de 2004, nas quais foram aprovadas as avaliações de desempenho dos empregados, como se fez registrar em Atas (Anexo VI). (...) 29. No presente caso, podese inferir, com base nos documentos dos Anexo IV e V, que o benefício financeiro nada mais é do que uma remuneração em função de avaliações quantitativas e qualitativas, isto é, constitui forma de incentivo ao empregado visando o aumento de sua produtividade. 30. Diante disso, resta claro que este benefício é uma vantagem auferida em decorrência do trabalho realizado pelos empregados, sendo o aporte em Plano Gerador de Benefício Livro PGBL apenas um meio encontrado pelo sujeito passivo de tentar desvirtuar a natureza remuneratória do mesmo. 31. Há que se salientar a habitualidade do pagamento do benefício, uma vez que pelos fatos já apresentados (itens 16 e 17) essa modalidade de remuneração tem sido implementada semestralmente, desde o segundo semestre de 2001. Além disso, a própria existência do contrato de adesão a plano de previdência complementar privada, cujo pagamento era de responsabilidade da associação, demonstra a intenção do empregador de que a despesa não seja eventual. 32. Por fim, ressaltase que não há na legislação hipótese de exclusão do referido benefício financeiro da base de cálculo das contribuições previdenciárias, como pode ser observado no disposto nas alíneas do § 9º, do artigo 28, da Lei nº 8.212/91. 33. Concluise, então, que a forma pela qual foi feito pagamento do benefício financeiro não desconfigura o seu caráter, nem macula sua natureza remuneratória. 34. A legislação (Leis nº. 8.212/91, art. 94 e 1.457/07, art. 3º) aplica às contribuições devidas a Outras Entidades e Fundos, as Fl. 816DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 817 4 mesmas regras gerais da contribuição previdenciária, portanto, comum a basedecálculo. Assim sendo, deve a referida remuneração integrar a base de cálculo da contribuição social ora lançada." Foi formalizado Termo de Sujeição Passiva Solidária (fls. 75/76), no qual se incluiu no polo passivo a CETIP S.A. Balcão Organizado de Ativos e Derivativos. Tanto a Contribuinte quanto a Responsável Solidária foram intimadas em 14/07/2009 (fls. 77/78), protocolando uma única Impugnação em 11/08/2009 (fls. 82/119 e docs. anexos fls. 120/645). Analisando a defesa, a DRJ proferiu o acórdão nº 1235.616, de 10/02/2011 (fls. 658/667), no qual manteve integralmente o crédito tributário e que restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/07/2004 a 31/07/2004, 01/01/2005 a 31/01/2005 PREVIDÊNCIA PRIVADA. Os aportes extraordinários em conta de previdência privada, com a intenção de premiar os trabalhadores pelo seu desempenho e cumprimento de metas possuem natureza remuneratória, integrando o saláriodecontribuição, independentemente da forma legal utilizada. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DOS ADMINISTRADORES. O Relatório de Representantes Legais REPLEG é peça necessária à instrução do processo administrativo de débito, não importando, por si só, em efetiva responsabilização solidária dos representantes legais na esfera administrativa. MULTA DE MORA. RETROATIVIDADE DE NORMA BENIGNA. O cálculo para aplicação da norma mais benéfica ao contribuinte deverá ser efetuado na data da quitação do débito, comparandose a legislação vigente a época da infração com os termos da Lei nº 11.941/2009. INFRAÇÃO PENAL. COMPETÊNCIA. O contencioso administrativo fiscal não é o foro competente para julgar a ocorrência de infração penal. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Intimadas em 18/05/2011 (fls. 670/671), e ainda inconformadas, a Contribuinte e a Responsável Solidária protocolaram um único Recurso Voluntário (fls. 672/689), em 15/06/2011, argumentando, em síntese, Fl. 817DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 818 5 · Que o julgamento do presente processo deve ser feito em conjunto com aquele dos DEBCAD's nº 37.179.6040; nº 37.179.6059; nº 37.179.602 4; nº 37.179.5982; nº 37.179.5974 e nº 37.179.5990, uma vez que todos têm por base os mesmos fatos; · Que os representantes legais da empresa foram incluídos na qualidade de coresponsáveis, não havendo, porém, nenhuma norma que lhes atribua a responsabilidade sem que sejam preenchidos os requisitos do art. 135 do CTN. Outrossim, que o art. 13 da Lei nº 8.620/1993, já foi afastado pelo STJ e revogado expressamente pela Lei nº 11.941/2009, devendo haver retroatividade benigna, nos termos do art. 106 do CTN; · Que o lançamento tem por base a tese de que os pagamentos de previdência privada compõem o saláriodecontribuição para fins das Contribuições Previdenciárias. Porém, o art. 202, § 2º, da CF/1988 expressamente determina que a previdência complementar não integra a remuneração dos beneficiários. Também o art. 28, § 9º, 'p', da Lei nº 8.212/1991 excluiu tais valores da base de cálculo das contribuições previdenciárias. Que a regra ainda foi ratificada pelo art. 458, § 2º, VI, da CLT; · Que a única regra estabelecida pela legislação é que o benefício seja disponível à totalidade dos empregados e dirigentes das empresas. Não impõe nenhuma outra exigência; · Que o lançamento se lastreou em fundamentos contrários à legislação, criticando a habitualidade dos pagamentos e a forma de apuração dos mesmos (política de metas e avaliação de desempenho); · Que a fiscalização em momento algum contesta que a Contribuinte oferecia o benefício da previdência privada a todos os seus empregados; · Que, subsidiariamente, a Lei nº 11.941/2009 apresenta penalidade mais benéfica, limitando a multa de mora no percentual de 0,33% por dia de atraso, limitado ao percentual de 20%, mas que o lançamento aplicou a multa de 24% contida na redação anterior do art. 35, II, 'a', da Lei nº 8.212/1991. Nessa linha, deve ser aplicada a Lei mais benéfica retroativamente, nos termos do art. 106 do CTN; e · Que a representação para fins penais só pode ser apresentada após a constituição definitiva do lançamento, o que ainda não ocorreu. De qualquer sorte, que não houve infração à legislação tributária, assim como não houve atos praticados dolosamente com fins de reduzir ou evadirse ao pagamento de tributos e eventuais multas ou encargos, não havendo conduta a ser tipificada como crime. O presente processo foi apensado aos autos do processo de nº 19740.720137/200995 (fl. 80). É o relatório. Fl. 818DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 819 6 Voto Conselheira Junia Roberta Gouveia Sampaio Redatora ad hoc. Como Redatora ad hoc, sirvome da minuta de voto inserida pelo Relator no repositório oficial do CARF, de sorte que o posicionamento abaixo esposado não necessariamente tem a aquiescência desta Conselheira: O recurso voluntário é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto dele conheço. Julgamento Conjunto Argumenta a contribuinte pelo julgamento conjunto do presente processo com aqueles que contém os demais débitos tributários constituídos em função dos mesmos fatos. Constatase que, conforme despacho de fl. 80, o presente processo já foi apensado ao de nº 19740.720137/200995, que contém o crédito referente à parte da empresa, no qual foram apensados os demais AI's, bem como vieram todos a julgamento conjunto. Relatório de Representantes Legais Argumenta a Contribuinte que os representantes legais da empresa foram incluídos na qualidade de coresponsáveis, não havendo, porém, nenhuma norma que lhes atribua a responsabilidade sem que sejam preenchidos os requisitos do art. 135 do CTN. Outrossim, que o art. 13 da Lei nº 8.620/1993, já foi afastado pelo STJ e revogado expressamente pela Lei nº 11.941/2009, devendo haver retroatividade benigna, nos termos do art. 106 do CTN. Acontece que esse e.CARF já consolidou o entendimento de que Súmula CARF nº 88: A Relação de CoResponsáveis CORESP”, o “Relatório de Representantes Legais – RepLeg” e a “Relação de Vínculos – VÍNCULOS”, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa. Nessa linha, não é possível dar provimento ao recurso nesse ponto. Da Representação Fiscal para Fins Penais Argumenta ainda a Recorrente que a representação para fins penais só pode ser apresentada após a constituição definitiva do lançamento, o que ainda não ocorreu. De qualquer sorte, que não houve infração à legislação tributária, assim como não houve atos praticados dolosamente com fins de reduzir ou evadirse ao pagamento de tributos e eventuais multas ou encargos, não havendo conduta a ser tipificada como crime. Acontece que já foi consolidado nesse Conselho o seguinte entendimento: Fl. 819DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 820 7 Súmula CARF nº 28: O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais. Nessa linha, não é possível dar provimento ao recurso nesse ponto. MÉRITO Dos aportes ao PGBL Ultrapassadas as preliminares, impende analisar o mérito do Recurso Voluntário. Especificamente, o ponto crucial do presente PAF é identificar se deve ou não incidir Contribuições Sociais Previdenciárias sobre os valores pagos pela Contribuinte a plano de previdência privada de seus colaboradores. Retornando ao Relatório Fiscal, percebese que o presente lançamento tem por objeto constituir crédito de Contribuições Previdenciárias sobre os valores pagos pela Contribuinte ao PGBL de seus colaboradores. Conforme a autoridade lançadora, os montantes configuramse saláriodecontribuição porquanto (1) não há norma legal autorizando a exclusão desses aportes da base de cálculo do tributo; 2) os aportes habituais, sendo feitos semestralmente desde 2001; e (3) os aportes eram calculados levando em consideração avaliações quantitativas e qualitativas de produção do colaborador. Em sua defesa, a Contribuinte argumentou (1) que o art. 202, § 2º, da CF/1988 e o art. 28, § 9º, da 'p', da Lei nº 8.212/1991, são claros em determinar que a contribuição à previdência privada não compõe o saláriodecontribuição; (2) que a única regra legal para a isenção é que o benefício seja oferecido a todos os empregados e dirigentes da empresa, o que ela fazia e que a fiscalização não contesta isso; e (3) que a fiscalização criou requisitos ilegais. Analisando a questão, a DRJ manteve o lançamento ao fundamento de que "21. Pela leitura dos dispositivos acima transcritos, e diversamente do que entendeu a interessada, o pagamento de contribuições a programa de previdência complementar não será considerado como saláriodecontribuição, desde que, além de estar disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, não seja utilizado com finalidade diversa da intenção da lei (art. 9º, da CLT). (...) 23. Assim, como se verifica no bem explanado relatório fiscal, não se questionou a observância formal da legislação, mas tão somente a finalidade do pagamento da referida verba, caracterizandoa como de autêntico teor remuneratório não apenas pelo fato de terem sido considerados para aferição dos aportes extraordinários o atingimento de metas e avaliação de desempenho individual, como também o fato de a empresa também possuir um plano de previdência complementar fechado para todos os empregados e dirigentes destinado a garantir a complementação da aposentadoria, nos moldes previstos constitucionalmente. Fl. 820DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 821 8 24. Ora, se já existe um programa de previdência privada fechada, com participações mensais tanto dos segurados como da empresa (vide Anexo I –fls. 146/176), qual o sentido da existência de outro plano de previdência custeado apenas pela empresa, cujos valores são aferidos de acordo com o atingimento de metas e desempenho individual, senão a de premiar empregados e dirigentes, pelo seu desempenho? (...) 27. Assim, o conceito de saláriodecontribuição não se restringe apenas ao salário base do trabalhador, tem como núcleo a remuneração de forma mais ampliada, alcançando outras importâncias pagas pelo empregador, sem importar a forma de retribuição ou o título. São vantagens econômicas acrescidas ao patrimônio do trabalhador decorrentes da relação laboral. 28. Apesar dos esforços da interessada, sua tese de que a verba em questão não tem caráter remuneratório, não há de prosperar. A remuneração variável, sob a roupagem jurídica de plano de previdência privada, na verdade objetivava reconhecer o atingimento das metas institucionais e o desempenho individual, e portanto vinculados a fatores de ordem pessoal do trabalhador, seja individualmente ou em grupo, sendo assim alcançados pelo conceito de saláriodecontribuição estabelecido no artigo 28, inciso I, da Lei nº 8.212/1991. 29. Isto posto, não resta qualquer dúvida de que a referida parcela,concedida pela empresa a seus empregados, tem cunho remuneratório, trazendolhes uma vantagem econômica ou benefício." fls. 664/666. Em suma, podese entender que a decisão recorrida manteve o lançamento pelo seu terceiro fundamento, qual seja, que a forma como eram apurados os aportes retirava lhe o caráter de previdência privada. Para tanto, aprofundou na análise da questão, esclarecendo que ao utilizar como critério de apuração do aporte a ser feito avaliação quantitativa e qualitativa dos beneficiários, atribuiu aos aportes claro caráter remuneratório Convém analisar individualmente os fundamentos o lançamento. Da base legal: No Relatório Fiscal, a autoridade lançadora afirmou expressamente que: "32. Por fim, ressaltase que não há na legislação hipótese de exclusão do referido benefício financeiro da base de cálculo das contribuições previdenciárias, como pode ser observado no disposto nas alíneas do § 9º, do artigo 28, da Lei nº 8.212/91." fl. 21. Com a devida vênia, a verdade é que o referido art. 28, § 9º, da Lei nº 8.212/1991, comando contém a alínea 'p', que traz a seguinte redação: p) o valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a programa de previdência complementar, Fl. 821DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 822 9 aberto ou fechado, desde que disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9º e 468 da CLT; Em outras palavras, há sim uma norma específica, no próprio comando legal citado pela autoridade lançadora, que expressamente exclui do saláriodecontribuição os valores aportados à previdência privada. Essa norma se encontra em clara consonância com a regra estabelecida no art. 202, § 2º, da CF/1988. Portanto, há sm base legal para excluir os presentes valores do saláriode contribuição. Da habitualidade No Relatório Fiscal, a autoridade lançadora afirmou expressamente que: 31. Há que se salientar a habitualidade do pagamento do benefício, uma vez que pelos fatos já apresentados (itens 16 e 17) essa modalidade de remuneração tem sido implementada semestralmente, desde o segundo semestre de 2001. Além disso, a própria existência do contrato de adesão a plano de previdência complementar privada, cujo pagamento era de responsabilidade da associação, demonstra a intenção do empregador de que a despesa não seja eventual." fl. 21. Tratase de constatação relevante, consoante posicionamento já adotado por este relator em diversas outras oportunidades. A verdade é que o art. 28, I, da Lei nº 8.212/1991 são expressos em estabelecer que: Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; Portanto, se os pagamentos identificados pela autoridade lançadora não tivessem habitualidade e.g., tivesse ocorrido um único aporte , então não seriam preenchidos os requisitos do caput e, por esse motivo já não se configuraria saláriodecontribuição. Ou seja, se não houvesse habitualidade, nem mesmo seria necessário analisar se os pagamentos eram ou não aportes para a previdência privada. Nessa linha, esse elemento é necessário para se identificar se estão preenchidos os requisitos gerais. Contudo, em nada influenciam na configuração ou não da natureza dos aportes à previdência privada. Ou seja, e plenamente possível que os aportes Fl. 822DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 823 10 sejam feitos de maneira habitual, constante, reiterada, mas que continuem sendo aportes à previdência privada e, por isso, não componentes do saláriodecontribuição. A verdade é que a periodicidade dos aportes à previdência privada é estabelecida pelas partes. Os aportes podem ser mensais, bimestrais, semestrais como no presente caso , anuais, únicos ou pontuais, aleatórios, sem qualquer referência lógica de periodicidade. Contanto que o Plano permita o aporte feito daquela maneira, em nada isso influenciará na configuração da natureza tributável do recurso. Da forma de apuração do montante dos aportes e do caráter remuneratório No Relatório Fiscal, a autoridade lançadora afirmou expressamente que: "29. No presente caso, podese inferir, com base nos documentos dos Anexo IV e V, que o benefício financeiro nada mais é do que uma remuneração em função de avaliações quantitativas e qualitativas, isto é, constitui forma de incentivo ao empregado visando o aumento de sua produtividade. 30. Diante disso, resta claro que este benefício é uma vantagem auferida em decorrência do trabalho realizado pelos empregados, sendo o aporte em Plano Gerador de Benefício Livro PGBL apenas um meio encontrado pelo sujeito passivo de tentar desvirtuar a natureza remuneratória do mesmo." fl. 21. A par dos argumentos já superados nos itens (1) e (2) acima, esse é, única e exclusivamente, o argumento utilizado pela autoridade lançadora. NÃO há nos autos nenhuma alegação de que o benefício não era pago à integralidade dos trabalhadores, de que os valores eram altos demais, de que eram incompatíveis com a remuneração "ordinária" dos trabalhadores, de que eram integralmente sacados no prazo limite ou mesmo de que não respeitavam os prazos para levantamento dos aportes , impedindo assim a formação de uma poupança, de que os trabalhadores dependiam desses recursos para sua subsistência, de que a Contribuinte não demonstrou os cálculos atuariais etc. O lançamento tem como fundamento, apenas e exclusivamente, a vinculação da metodologia de apuração dos aportes a serem feitos pela Contribuinte a critérios quantitativos e qualitativos. Pois bem. O objetivo de toda atividade empresarial é o lucro e qualquer despesa que tenha outro objetivo foge ao propósito intrínseco da atividade empresária. Nesse sentido, como regra, os dispêndios incorridos terão o objetivo de maximizar o lucro, ainda que de forma indireta, como é o caso do patrocínio esportivo, que se faz não pelo amor ao esporte e sim como forma de propagar a marca. No mesmo sentido, se institui um Plano de Previdência, não o faz por mera liberalidade em favor dos beneficiários, mas sim com o objetivo de reter seus talentos. Não apenas no plano suplementar, mas também no plano geral. Isso porque, ao escolher entre duas possíveis empregadoras em condições idênticas de trabalho, de ambiente de trabalho, de salário etc., se uma delas oferecer esse benefício e a outra não, então é certo que o profissional escolherá ela. Acontece que a Constituição Federal expressamente desvinculou os Planos de Previdência Privada dos contratos de trabalho, estipulando como cláusula constitucional que Fl. 823DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 824 11 não serão tidos como remuneração. Em outras palavras, não é tido como contraprestação do trabalho. Fêlo com o objetivo exatamente de incentivar as empresas a instituir tais benefícios aos seus empregados. Diversas rubricas têm o mesmo objetivo de incentivar a retenção de talentos e, ao mesmo tempo, não configuram remuneração para fins do contrato de trabalho. Por todas, citase a Participação nos Lucros e Resultados. Tal benefícios não é obrigatório, podendo ou não ser instituídos pelas empresas; as empresas que o oferecem, fazemno com o objetivo de reter talentos, ou seja, para incentivar seus trabalhadores a permanecerem nos empregos, e não por fundamentos absolutamente altruístas como se poderia querer. Ainda assim, quando pagos em conformidade com a Lei, não configuram remuneração para fins previdenciários. Em suma, o fato de que os aportes ao Plano de Previdência em apreço são feitos para reter incentivar a produtividade dos trabalhadores não é elemento apto a desnaturá lo. Antes, é mera constatação da realidade prática, como são quaisquer aportes feitos a quaisquer Planos de Previdência. Afinal, ao se conscientizar que recebe um benefício em determinada empresa, que poderia não receber em outra, o colaborador se esforça para manter o seu vínculo e, em última análise, aumenta a lucratividade, que é o objetivo final de qualquer empresa. Conquanto o aporte seja feito em Plano de Previdência Privado regularmente constituído, que respeite todas as Leis e regramentos específicos, e que não seja utilizado como substituição do salário, nada há que se criticar. Diferente seria se a autoridade lançadora tivesse demonstrado, por exemplo, que o salário desses trabalhadores era inferior àquele observado em relação a outros trabalhadores no mesmo cargo, ou que tivesse comprovado que a empresa deixou de pagar o salário, de dar aumentos ou promoções, substituindo tais valores por esses aportes. Aí sim haveria fraude, porquanto o PGBL estaria sendo utilizado para substituir a remuneração oficial. Frisase que a Lei não estabeleceu o critério matemático para apuração dos aportes a serem feitos. Nessa linha, não pode a autoridade lançadora estabelecer critério ao seu alvitre, nem tomar como indevidos critérios adotados pela empresa exclusivamente porque não concorda com a sua forma de calcular. Conclusões Em suma, não se identificou no lançamento nenhum argumento apto a demonstrar a fraude à Lei, nem a desconfigurar a natureza de aporte à previdência privada dos pagamentos efetuados pela Contribuinte. Por essa razão, entendo ser necessário cancelar o AIOP ora em análise. Por essa razão, deixase de analisar os argumentos da Contribuinte tocantes à multa, especificamente à forma como deve ser aplicada a retroatividade benigna e aos limites percentuais. Dispositivo Diante de tudo quanto exposto, voto por dar provimento ao recurso. Fl. 824DF CARF MF Processo nº 19740.720135/200904 Acórdão n.º 2202004.798 S2C2T2 Fl. 825 12 (assinado digitalmente) Junia Roberta Gouveia Sampaio (voto de Dilson Jatahy Fonseca Neto) Fl. 825DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 15504.724488/2017-17
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Oct 02 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Nov 01 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2005 a 31/12/2006
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS - PLR
Os instrumentos de negociação devem adotar regras claras e objetivas, de forma a afastar quaisquer dúvidas ou incertezas, que possam vir a frustrar o direito do trabalhador quanto a sua participação na distribuição dos lucros;
A legislação regulamentadora da PLR não veda que a negociação quanto a distribuição do lucro, seja concretizada após sua realização, é dizer, a negociação deve preceder ao pagamento, mas não necessariamente advento do lucro obtido
Numero da decisão: 2202-004.815
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, vencida a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias, que negava provimento.
(Assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson- Presidente.
(Assinado digitalmente)
Júnia Roberta Gouveia Sampaio - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, Jorge Henrique Backes (suplente convocado), Júnia Roberta Gouveia Sampaio, José Alfredo Duarte Filho (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson (Presidente)
Nome do relator: JUNIA ROBERTA GOUVEIA SAMPAIO
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Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, vencida a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias, que negava provimento. (Assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, Jorge Henrique Backes (suplente convocado), Júnia Roberta AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 50 4. 72 44 88 /2 01 7- 17 Fl. 1090DF CARF MF 2 Gouveia Sampaio, José Alfredo Duarte Filho (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson (Presidente) Relatório Foram lavrados Autos de Infração em nome da empresa Anglo American Minério de Ferro do Brasil para constituição dos seguintes créditos tributários: De acordo com o Relatório Fiscal (fls. 158/161), a fiscalização identificou a ocorrência dos fatos geradores da Contribuição Social incidente sobre os pagamentos realizados pela empresa Anglo American aos segurados empregados a título de Participação nos Lucros ou Resultados em desacordo com a legislação pertinente (Lei nº 8.212/91, Lei nº 10.101/2000 e Decreto nº 3.048/99) nos seguintes termos: c) O Acordo Coletivo Específico sobre a Participação dos Empregados nos Resultados Variável da Empresa e Missão: Primeiro Embarque – Exercício 2013 foi assinado no dia 04/06/2013, tendo como signatários a Anglo American Minério de Ferro Brasil S/A e o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos. d) Este Acordo Coletivo foi previsto e autorizado pela Assembléia Geral Extraordinária, realizada no dia anterior, ou seja, 03/06/2013. e) Porém, a questão central diz respeito exatamente ao próprio Programa de Participação nos Resultados e Lucros – PLR, pois foi assinado no dia 04/06/2013 e, no entanto, estabeleceu metas e critérios de aferições para todo o ano calendário de 2013. f) A Participação nos Lucros ou Resultados da empresa referente ao exercício de 2013 com efeitos financeiros em setembro/2013 e março/2014 (e alguns complementos em abril/2014), foi paga com base em Acordos de Participação nos Lucros ou Resultados firmados na metade do exercício (junho) a que se refere, ou seja, as regras do programa de participação foram estabelecidas quando já haviam transcorridos vários meses compreendidos no período definido como base de avaliação dos resultados e aferição das metas. Fl. 1091DF CARF MF Processo nº 15504.724488/201717 Acórdão n.º 2202004.815 S2C2T2 Fl. 1.091 3 g) Conforme disposto no art. 1° da Lei nº 10.101 de 19/12/2000, a participação dos trabalhadores nos Lucros ou Resultados da empresa é um instrumento de integração entre o capital e o trabalho e um incentivo à produtividade. h) Dessa forma, o grande objetivo do pagamento pela participação nos Lucros ou Resultados das empresas é promover a participação do empregado de tal sorte que ele se sinta estimulado a trabalhar em prol do empreendimento. Desse engajamento resultará maiores ganhos para ele e para o empreendedor. i) Assim, não há como falar em estímulo ao empregado se o mesmo não tem conhecimento prévio do quanto a sua dedicação irá refletir em termos de sua participação. j) Para que ocorra um incentivo à produtividade, é necessário que as regras para a implementação do programa sejam discutidas, acordadas e divulgadas aos empregados previamente ao início do exercício, findo o qual, a empresa pretende dividir os lucros com os seus empregados. l) Sendo assim, os pagamentos efetuados pela empresa a seus empregados, a título de “Participação nos Lucros ou Resultados”, face à ausência de comprovação de programas de metas, resultados e prazos pactuados previamente, não se enquadram no previsto no art. 214, § 9º, inciso X do Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999. A Anglo American apresentou impugnação (fls. 216/248) alegando, resumidamente, o seguinte: a) A fiscalização não se atentou para existência de dois programas distintos de PLR com fundamentos e metas distintas todas devidamente acordada com o sindicato em período anterior à assinatura do plano; b) que já havia sido intimada a apresentar os documentos e informações relacionados aos instrumentos de negociação de PLR em relação aos anos de 2012 a 2015, disponibilizando à RFB todas as informações relevantes, inclusive, no que tange ao Acordo Coletivo de PLR 2013. Diante desse fato, o lançamento seria nulo, uma vez que a fiscalização fez a revisão de fatos já fiscalizados anteriormente. c) que cumpriu os requisitos e critérios estabelecidos na Lei nº 10.101 de 19/12/2000 e que não cabe a Autoridades Fiscais exigir outros requisitos, somente os expressamente previstos na legislação. Enfatizou que o Acordo Coletivo de PLR 2013 foi desqualificado com base no argumento de que a assinatura do plano aconteceu em junho de 2013, depois de transcorridos apenas alguns meses do ano calendário; d) o artigo 61 da Lei n° 9.430/96 somente admite os acréscimos moratórios referentes aos débitos decorrentes de tributos e não sobre as penalidades pecuniárias. Nesse sentido, inclusive, já reconheceu a C. CSRF no julgamento do Acórdão n° 9101000.722. Fl. 1092DF CARF MF 4 A Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Salvador (BA) negou provimento à impugnação em decisão cuja ementa é a seguinte (fls. 950): ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/2013 a 31/12/2014 PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS. INTEGRA O SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. Integram o saláriodecontribuição, para fins de incidência de contribuição social, as parcelas pagas a título de participação nos lucros e resultados da empresa em desacordo com a legislação. NULIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. Somente há nulidade do Auto de Infração quando ocorrer violação aos requisitos dos artigos 10 e 59 do Decreto 70.235/72. JUROS SELIC. MULTA DE OFÍCIO. NÃO APLICAÇÃO. De acordo com as normas que tratam dos acréscimos legais, os juros cobrados incidem apenas sobre a contribuição lançada, não alcançando as multas de ofício. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. APRESENTAÇÃO DE PROVAS APÓS O PRAZO REGULAMENTAR. PRECLUSÃO. No processo administrativo fiscal, o direito de apresentar provas preclui após o prazo regulamentar. Cientificado (fls. 978), o contribuinte apresentou o Recurso Voluntário (fls.981/1017), no qual reitera as alegações suscitadas quando da impugnação. É o relatório. Voto Conselheira Júnia Roberta Gouveia Sampaio Relatora O recurso preenche os pressupostos legais de admissibilidade, motivo pelo qual, dele conheço. 1) PRELIMINAR NULIDADE POR VÍCIO DE MOTIVAÇÃO DO LANÇAMENTO Alega a Recorrente que o presente lançamento é nulo por vício de motivação, uma vez que o agente fiscal não "analisou devidamente o Plano de PLR 2013 implementado Fl. 1093DF CARF MF Processo nº 15504.724488/201717 Acórdão n.º 2202004.815 S2C2T2 Fl. 1.092 5 pela Recorrente" se limitando a desconsiderálo em razão de único fundamento: o de que a assinatura do Plano ocorreu em junho de 2013. Em relação as nulidades apontadas pela Impugnante, ora Recorrente, a Delegacia de Julgamento se limitou a afirmar, com fundamento no art. 59 do Decreto nº 70.235/72, que não haveria que se falar em nulidade, uma vez que, sob o aspecto formal, os atos praticados no processo foram lavrados por pessoa competente (inciso I) e os despachos e decisões foram igualmente lavrados por autoridades competentes e sem preterição do direito de defesa (inciso II). Entendo que o inconformismo quanto análise dos planos de PLR realizada pelo fiscal se confunde com o mérito e, por isso, será juntamente com ele analisada. 2) A REGULAMENTAÇÃO DA PLR PELA LEI Nº 10.101/2000 Antes de passarmos a análise da fundamentação utilizada pelo relatório fiscal é importante expor como se deu a normatização da PLR por parte da Lei nº 10.101/2000. A Constituição Federal, ao tratar dos direitos conferidos aos trabalhadores assegurou, em seu artigo 7º, dentre outros, o direito a Participação nos Lucros e Resultados: "Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) XI participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; Tratase de norma de eficácia limitada, cuja regulamentação se deu por meio da Medida Provisória (MP) nº 794, de 29 de dezembro de 1994. De forma harmônica com a Constituição Federal, a Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, também determinou que a participação nos lucros ou resultados da empresas somente não integraria o salário de contribuição, quando paga ou creditada de acordo com lei específica, nestes termos: "Art. 28. Entendese por salário de contribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; (...) Fl. 1094DF CARF MF 6 § 9º Não integram o salário de contribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: (...) j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica; A Lei nº 10.101, de 19 de dezembro de 2000, determina os requisitos da participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, tendo resultado da conversão em lei da já citada Medida Provisória nº 794, de 1994, após sucessivas reedições.São esses os termos da lei reguladora: Art. 1o Esta Lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à produtividade,nos termos do art. 7o, inciso XI da Constituição. Art. 2o A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: I comissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; II convenção ou acordo coletivo. § 1o Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo ser considerados, entre outros, os seguintes critérios e condições: I índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; II programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. § 2o O instrumento de acordo celebrado será arquivado na entidade sindical dos trabalhadores. (...) Art. 3º A participação de que trata o art. 2o não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. (...) § 2 É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil. (grifamos) Fl. 1095DF CARF MF Processo nº 15504.724488/201717 Acórdão n.º 2202004.815 S2C2T2 Fl. 1.093 7 A leitura dos artigos acima transcritos nos permite verificar a existência de normas prescritivas (determinam a conduta a ser observada) e normas permissivas Essa distinção, a nosso ver, é fundamental para interpretação da obediência ou não do plano de PLR ao estabelecido na mencionada lei. Em primeiro lugar, observase que o artigo 1º da lei é norma de conteúdo programático, ou seja, trata da finalidade da lei que seria, em suas palavras, "integração entre o capital e o trabalho" "incentivo à produtividade O artigo 2º traz uma norma prescritiva ao determinar que a participação deverá ser objeto de negociação coletiva realizada por comissão paritária, acordo ou convenção coletiva. O §1º do artigo 2º, por sua vez, traz normas prescritivas e permissivas ao determinar que "dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas" e que, para essa finalidade poderão, ser considerados, dentre outros, os índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa, bem como os programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. Da leitura do referido parágrafo constatase que a norma prescritiva nele prevista referese a imposição de regras claras e objetivas. Tais regras podem utilizar como parâmetro a produtividade, a lucratividade ou a realização de programas de metas e resultados a depender da especificidade do setor econômico e do tipo de negociação realizada. Em outras palavras, a lei não determinou quais as regras deveriam constar do Programa de Participação dos Lucros. Apenas exigiu que tais regras fossem claras e objetivas. Isso fica ainda mais claro quando, em seu artigo 3º, §2º, veda, expressamente, que o pagamento seja feita em periodicidade inferior à 6 (seis) meses. Feitas essas observações iniciais, passaremos a análise do Plano de Participação de Lucros e Resultados da Recorrente, bem como das objeções utilizadas pela Autoridade fiscal para descaracterizálo. 2.1.2 DATA DA ASSINATURA AO FINAL DO ANO BASE O argumento da auditoria fiscal de que o fato do contribuinte assinar os acordos coletivos em junho de 2013 descaracterizaria a natureza da verba paga a título de PLR, ao meu ver, não merece prosperar. Isso por que a data de assinatura dos acordos coletivos não possui o condão de desnaturar a validade do acordo realizado entre as parte, tampouco retira a natureza jurídica do pagamento da rubrica. Conforme será analisado mais detidamente a seguir, a maior parte das metas previstas nos referidos programas tinha data de conclusão posterior à assinatura do plano e as metas anteriores contaram com ampla divulgação por parte da empresa o que demonstra o conhecimento das metas pelos empregados. Fl. 1096DF CARF MF 8 Ademais, há que se mencionar que a própria norma, não estabelece momento exato para a assinatura dos acordos coletivos referente à participação nos lucros.Nesse sentido já se manifestou a 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, conforme se verifica pela ementa abaixo transcrita: CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. INEXISTÊNCIA. AUTO DE INFRAÇÃO. SALÁRIO INDIRETO. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS. OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO REGULAMENTADORA. METAS. PRESCINDIBILIDADE. LUCROS. NEGOCIAÇÃO POSTERIOR AO SEU ADVENTO. INEXISTÊNCIA DE VEDAÇÃO LEGAL. I Ação fiscal precedente ao lançamento é procedimento é inquisitório, o que significa afastar qualquer natureza contenciosa dessa atuação, de forma que a prévia oitiva do contribuinte, quanto a eventuais dados levantados durante ação fiscal, podem ser plenamente descartados acaso a autoridade fiscal já se satisfaça com os elementos de que dispõe; II A discussão em torno da tributação da PLR não cingese em infirmar se esta seria ou não vinculada a remuneração, até porque o texto constitucional expressamente diz que não, mas sim em verificar se as verbas pagas correspondem efetivamente a distribuição de lucros; III Para a alínea "j" do § 90 do art. 28 da Lei n° 8.212/91, e para este Conselho, PLR é somente aquela distribuição de lucros que seja executada nos termos da legislação que a regulamentou, de forma que apenas a afronta aos critérios ali estabelecidos, desqualifica o pagamento, tornandoo mera verba paga em decorrência de um contrato de trabalho, representando remuneração para fins previdenciários; IV Os instrumentos de negociação devem adotar regras claras e objetivas, de forma a afastar quaisquer dúvidas ou incertezas, que possam vir a frustrar o direito do trabalhador quanto a sua participação na distribuição dos lucros; VI A legislação regulamentadora da PLR não veda que a negociação quanto a distribuição do lucro, seja concretizada após sua realização, é dizer, a negociação deve preceder ao pagamento, mas não necessariamente advento do lucro obtido. Recurso especial negado. (Processo nº 14485.000329/200764, Recurso nº 160.087, Acórdão nº 9202002.484– 2ª Turma, Sessão de 29 de janeiro de 2013) (grifamos) A jurisprudência desse Conselho tem reconhecido que “a legislação regulamentadora da PLR não veda que a negociação quanto a distribuição do lucro, seja concretizada após a sua realização,baseandose no fato de que a negociação deve preceder ao pagamento, mas não necessariamente ao advento do lucro obtido” (2ª Turma Ordinária, da 4ª Câmara, da 2ª Seção de Julgamento do CARF, Ac. 2402.00.508, de 22/2/2010, Rel. Rogério de Lellis Pinto, processo nº 14485.000326/200721). Merece transcrição, pela clareza e profundidade com que aborda a questão, parte do voto do Conselheiro Rogério de Lellis Pinto: Fl. 1097DF CARF MF Processo nº 15504.724488/201717 Acórdão n.º 2202004.815 S2C2T2 Fl. 1.094 9 . “Sem embargos, se analisarmos de forma mais detida a exigência contida no §1º do art. 2º ut mencionado, veremos que os instrumentos de negociação deverão prever regras "claras e objetivas" , e esse é o ponto central da questão, porque o que a Lei exige não são metas ou resultados, mas sim preceitos que não sejam geradores de dúvidas que impeçam a qualquer das partes envolvidas o direito de observar o quanto fora acordado. Talvez o que aqueles que defendem que a implementação de um plano de participação nos lucros deve sempre prever metas ou resultado, inadvertidamente esteja, confundindo essa distribuição com incentivo à produção, confusão essa que a melhor doutrina não aceita. É obvio que o incremento da produção e a obtenção de lucros são questões que interessam a ambas as partes envolvidas no pagamento da verba em questão mas não é seu objetivo principal. a origem da PLR não remonta a busca por resultados ou lucros em si, mas como consagrado pela própria CF e visto acima, representa uma forma de socializar o capital alcançado pela empresa, mediante distribuição entre aqueles que ajudaram a construílo (trabalhadores). Portanto, a previsão constitucional de conferir aos trabalhadores o direito a PLR existe não para se alcançar resultados ou metas, incentivar a produção etc., mas sim para viabilizar a integração entre capital e trabalho, conferindo a estes últimos o direito ao acesso a riqueza produzida com seu esforço”. (grifamos) Como bem esclarece o voto acima transcrito, a participação nos lucros ou resultados é uma modalidade negocial na qual um empregador (diretamente ou por meio do sindicato) negocia junto aos seus empregados (representados por comissão ou sindicato) a distribuição de valores atrelados a metas empresariais e não a execução dos contratos de trabalho. De resto, é importante ressaltar que a Lei n. 10.101/2000 silencia quanto o momento da assinatura dos acordos coletivos, não cabendo à fiscalização, de ofício, limitar aspecto temporal que a própria norma não se preocupou em restringir. Entender que não houve negociação prévia antes da assinatura do acordo significa tomar o produto (convenção) pelo processo (negociação). Conforme esclarece Amauri Mascaro Nascimento em sua obra Direito Sindical: "Negociação é um procedimento de discussões sobre divergências trabalhistas entre as partes visando um resultado. Convenção é o resultado desse procedimento, o produto acabado da negociação. A negociação pode ou não ser bem sucedida. Se frustrada, não haverá convenção. O conflito terá outra forma de composição. A negociação é obrigatória. A convenção é facultativa. Assim, como há norma e o seu processo de elaboração, há convenção e negociação. A relação entre as duas é de meio e fim, sendo a negociação o meio que produzi o fim. Fl. 1098DF CARF MF 10 (NASCIMENTO, Amauri Mascaro Direito Sindical ed. Saraiva, p.316) Além disso, ao analisar a documentação trazida com a impugnação, é possível identificar a negociação e o conhecimento das metas por parte dos empregados, conforme se constata pelos seguinte documentos: a) Informativo enviado aos funcionários em 30/03/2013 sobre o programa Primeiro Embarque (fls. 442); b) Detalhamento das metas do programa Primeiro Embarque (fls. 449/500) c) Apresentação das metas relativas ao Acordo Coletivo (fls. 502/554) d) Comunicado sobre a conclusão da 1ª meta do programa Primeiro Embarque em 15 de abril de 2013 (fls. 569); e) Comunicado sobre a conclusão da 2ª meta do programa Primeiro Embarque em 02 de maio de 2013 (fls. 696); f) Comunicado sobre ausência de conclusão da 3ª meta do programa Primeiro Embarque em 30 de junho de 2013; g) Calendário das metas 4 à 14 (fls 573/605) g.1 Finalização a montagem eletromecânica 20/08/2013; g.2 Montagem e operação do primeiro caminhão fora de estrada 01/09/2013; g.3 Decapeamento de 2 milhões de m3 01/12/2013; g.4 Conclusão de 520 Km de abertura de pista no mineroduto 30/12/2013; g.6 Finalização da montagem eletromecânica do primeiro moinho de bolas 30/12/2013; g.7 Energização da linha de transmissão 230 Kv 28/02/2014 g.8 Protocolar a solicitação de conversão de LI´s para LO´s 31/03/2014; g.9 Alimentação de minério na britagem primária 21/06/2014; g.10 Alimentação de minério na moagem primária 21/07/2014; g.11 Início do bombeamento de minério no mineiroduto 20/08/2014; g.12 Primeiro embarque de minério de ferro 30/11/2014; Da análise da documentação acima mencionada é possível concluir que as metas foram "pactuadas previamente " como exige a Lei 10.101/00. Com efeito o informativo sobre as metas foi enviado aos funcionários em 30/03/2013 e a primeira meta tinha previsão para ser concluída em 15/04/2013. Das 14 metas estipuladas, somente duas tiveram sua conclusão previstas em datas anteriores à assinatura do plano em 04/06/2013. Fl. 1099DF CARF MF Processo nº 15504.724488/201717 Acórdão n.º 2202004.815 S2C2T2 Fl. 1.095 11 3) CONCLUSÃO Em face de todo exposto, rejeito a preliminar e, no mérito, dou provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Júnia Roberta Gouveia Sampaio Fl. 1100DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10540.720832/2011-53
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Dec 04 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jan 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2008
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITO BANCÁRIO SEM ORIGEM COMPROVADA.
Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
Numero da decisão: 2202-004.854
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso, para fins de excluir da base de cálculo da infração o crédito datado de 30/12/2008, no valor de R$ 959.347,94.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, Andrea de Moraes Chieregatto, Wilderson Botto (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson.
Nome do relator: RONNIE SOARES ANDERSON
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 2008 OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITO BANCÁRIO SEM ORIGEM COMPROVADA. Caracterizam-se como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
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DEPÓSITO BANCÁRIO SEM ORIGEM COMPROVADA. Caracterizamse como omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso, para fins de excluir da base de cálculo da infração o crédito datado de 30/12/2008, no valor de R$ 959.347,94. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros Marcelo de Sousa Sateles, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Rorildo Barbosa Correa, Andrea de Moraes Chieregatto, Wilderson Botto (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 54 0. 72 08 32 /2 01 1- 53 Fl. 281DF CARF MF 2 Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Porto Alegre (RS) DRJ/POA, que julgou parcialmente procedente lançamento de Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) relativo ao exercício 2009 (fls. 118/141), face à apuração de omissão de rendimentos, caracterizados por depósitos de origem não comprovada. A instância de piso sintetizou as razões de impugnação (fls. 240/241), em resumo que se reproduz, no essencial: Entende que não merece prosperar a atuação em sua totalidade, sobretudo no que se refere a omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada. Argumenta que o Auditor Fiscal, a revelia do princípio da verdade material, desconsiderou todos os documentos que demonstram ser a atividade rural o único ofício do impugnante e lançou o tributo através do arbitramento atinente às pessoas que não são produtores rurais, em que pese não tenha havido um indício sequer de que o impugnante tenha auferido renda por outro meio. Alega ainda que foi desconsiderado que diversos ingressos nas contas do autuado, na verdade, se referem a transferências de contas da mesma titularidade, e também as devoluções de empréstimos sem juros que o autuado concedeu no ano calendário em litígio. Das transferências entre contas da mesma titularidade e a impossibilidade de caracterização dos valores envolvidos como renda. Faz três demonstrativos indicando datas, referência e valores relativos: 1) Transferência do Banco do Brasil para o Banco do Brasil; 2) transferências do Bradesco para o Banco do Brasil e 3) resgate de aplicação para a conta corrente do Banco do Brasil. Afirma que tais movimentações se encontram devidamente atestadas nos extratos bancários ora juntados aos autos (Docs. 03 e 04), totalizando o montante de r$2.878.692,94 a ser excluído da base de cálculo. Empréstimos concedidos pelo autuado a familiares e parceiros comerciais Valores devolvidos de empréstimos efetuados a Deolizando Moreira de Oliveira – CPF nº 0002.729.90582: R$ 240.000,00 e R$60.000,00 recebidos em 15/05/2008 e 16/05/2008 devidamente informados na DIRPF (Doc.06). R$300.000,00 emprestado ao Sr. Adilson Oliveira Santos – CPF nº 074.853.52504 via TED em 23/04/2008 e devolvido em 02/06/2008, conforme comprovam os documentos em anexo (Doc.03); R$61.500,00 se refere a empréstimo efetuado ao Sr. Manoelito Arruda Amaral – CPF nº 049.862.295 devolvido em 16/05/2008 (Doc.03). R$10.000,00 empréstimo ao seu neto Igor Velame Brige – CPF nº XXX.948.08687 restituído em 23/07/2008, através de transferência “on line” Extratos – Doc. 03). Assim, o montante a ser excluído da base de cálculo é de R$ 671.500,00 por não se referir a novas receitas, mas sim a restituição de valores emprestados a familiares. Da Atividade rural exercida pelo autuado Fl. 282DF CARF MF Processo nº 10540.720832/201153 Acórdão n.º 2202004.854 S2C2T2 Fl. 282 3 Argumenta, que ficou fartamente evidenciado durante o procedimento fiscal que a única atividade profissional exercida pelo Autuado é a de Produtor Rural, conforme documentação comprobatória juntada ao processo. Enfatiza que o próprio Auto de Infração no item Fatos constatados e conclusões (transcreve itens 1 e 2) elenca diversos elementos que comprovam o exercício da atividade de produtor rural. Salienta que as despesas de custeio, aliadas a prova de inúmeras propriedades rurais produtivas corroboram que a atividade rural é a única ocupação do impugnante, sendo descabida o enquadramento das demais receitas omitidas como depósito bancários de origem não comprovada. Aduz ainda que o ingresso do valor R$87.636,46 em 002/01/2008 se refere a venda de gado, conforme comprovam as Notas Fiscais localizadas (Docs. 07 e 07A ) realizada à Betin em 2007. Conclui que não tendo a fiscalização provado que a omissão de rendimentos poderia ter como origem outra atividade, a tributação correta é na atividade rural. Entende que não há sequer indícios que o autuado teria outra fonte pagadora além de produtor rural, o que é demonstrado nos registros na declaração de ajuste anual. Transcreve diversas ementas de Acórdão do Conselho de Contribuintes e da Câmara Superior de Recursos Fiscais para corroborar seu entendimento de que “é imperiosa a revisão da autuação para que seja aplicado sobre o resultado tributável (após as deduções dos empréstimos e das transferências de contas de mesma titularidade e o percentual de 20% por se tratar de receita bruta da atividade rural.” (sic) . (...) A exigência foi parcialmente mantida no julgamento de primeiro grau (fls. 239/249), excluindose valores de R$ 1.120.573,00 e R$ 98.772,00, relativos a transferências entre contas bancárias, e de R$ 87.636,46, comprovado como tendo sua origem em atividade rural. O contribuinte interpôs recurso voluntário em 04/08/2015 (fls. 256/274), repisando, em linhas gerais, os termos da impugnação. É o relatório. Voto Conselheiro Ronnie Soares Anderson, Relator O recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. De plano, impende explicar que o lançamento foi apurado tendo como base legal o art. 42 da Lei nº 9.430/96, sendo que desde o início da vigência desse preceito a Fl. 283DF CARF MF 4 existência de depósitos bancários sem comprovação da origem, após a regular intimação do sujeito passivo, passou a constituir hipótese legal de omissão de rendimentos e ou/receita. Portanto, cabe ao Fisco demonstrar a existência de depósitos bancários de origem não comprovada para que se presuma, até prova em contrário, a cargo do contribuinte, a ocorrência de omissão de rendimentos. Tratase de presunção legal relativa, bastando assim que a autoridade lançadora comprove o fato definido em lei como necessário e suficiente ao estabelecimento da presunção, para que fique evidenciada a referida omissão, e o consequente fato gerador do imposto de renda pessoa física, a despeito do entendimento em sentido diverso trazido na peça recursal. E apesar de não haver previsão legal para que a justificação da origem se dê com coincidência de datas e valores, o § 3º do art. 42 da Lei nº 9.430/96 exige que a comprovação demandada aconteça de maneira individualizada. Destarte, intimado o recorrente a comprovar a origem dos recursos depositados/creditados, devidamente discriminados pela fiscalização, e não se desincumbindo desse ônus probatório que lhe foi legalmente transferido, ficou caracterizada a omissão de rendimentos. Bem esclarecida a base legal da autuação, cumpre passar ao exame dos depósitos sujeitos a questionamentos, na ordem em que foram abordados na peça recursal. O primeiro tratase de depósito em cheque realizado em 03/01/2008 no valor de R$ 700 mil em conta mantida no Banco do Brasil. Segundo o autuado, tal depósito estaria justificado por saída nesse valor via emissão de ordem de pagamento, na data de 26/12/2007. Sem sucesso a irresignação, pois ao contrário do que aduz o contribuinte, não há coincidência de datas e valores, apenas de valores. Assim, para tecer liame entre as duas movimentações bancárias, acontecidas em datas e anos distintas seria necessário identificar claramente a causa jurídica a amparar o vínculo aventado, o que não se verifica na espécie. Já no tocante ao depósito de R$ 959.347,94 efetuado em 30/12/2008 na conta mantida no Banco do Brasil, está ele, com a devida vênia da decisão vergastada, adequadamente justificado como sendo resgate de aplicação "CDB DI SWP" no valor de R$ 920 mil, realizada em 28/07/2008, conforme DOC. 03 anexo à impugnação, c/c informe de fl. 274. Neste último consta inclusive especificado o montante de rendimentos associados à dita aplicação, estando bem circunstanciados e coincidentes os montantes envolvidos. De rigor, assim, excluir tal depósito da base de cálculo do lançamento. Quanto aos depósitos associados a empréstimos a parentes e parceiros comerciais, não merecem prosperar os argumentos recursais. Os créditos de R$ 240 mil e R$ 60 mil, respectivamente datados de 15/05/2008 e 16/05/2008, foram atribuídos à devolução de empréstimo de R$ 300 mil feito em 2007 a Deolizando Moreira de Oliveira, CPF nº 002.729.90582, sendo que tal evento está informado nas declarações de ajuste de imposto de renda do contribuinte e do mutuário. Não obstante, inexistem contratos a corroborar a narrativa de empréstimo. E, ainda que se pudesse superar tal carência documental, sobressai a necessidade de comprovação da anterior correspondente saída de numerário das contas do contribuinte, de modo a comprovar que tal valor de R$ 300 mil tenha, em algum dia, saído de suas disponibilidades. Fl. 284DF CARF MF Processo nº 10540.720832/201153 Acórdão n.º 2202004.854 S2C2T2 Fl. 283 5 Destaquese que a mera informação em declaração não é prova suficiente de que os eventos nela consignados tenham acontecido no mundo real, sendo, no particular, imprescindível que se ateste tenha ocorrido, de fato, o fluxo de recursos cogitado. Para os demais supostos empréstimos, temse que foram, alegadamente, efetuados dentro do anocalendário 2008, assim, que se passe a respectiva análise. O depósito de R$ 300 mil efetuado em 02/06/2008 foi vinculado pelo recorrente à TED datada de 23/04/2008, voltada a empréstimo destinado a Adilson Oliveira Santos, CPF nº 074.853.52504. Uma vez mais, inexistem contratos, recibos ou documentos que permitam aferir a veracidade da narrativa. E, ao contrário do sugerido pelo contribuinte, nos documentos bancários de fl. 194 e 197 não restam consignados quaisquer elementos que permitam associar tais movimentações à referida pessoa física. Para o valor de R$ 10 mil datado de 23/07/2008 ligado, conforme aduzido, a montante emprestado em 26/05/2008 a Igor Velame Brige, CPF nº 925.948.08687, a situação é exatamente a mesma, ou seja, não há contratos, documentos, ou identificação do depositante ou beneficiário que corrobore a justificativa levantada. E, para o valor de R$ 61.500,00 depositado em 16/05/2008, e também vinculado a suposto empréstimo, sequer é apontada operação antecedente que se constituiria na saída de recursos correspondente. Destarte, não há como aceitar a argumentação recursal quanto aos precitados depósitos, pois não há comprovação de estarem vinculados, efetivamente, a devolução de empréstimos. Quanto ao pleito de que os depósitos remanescentes sejam considerados como decorrentes de atividade rural, tenho que a matéria foi bem enfrentada no julgamento a quo, e, não divergindo das razões lá ventiladas, transcrevo o respectivo trecho da fundamentação, de modo a que integre este voto: O autuado impugna o arbitramento de IRPF sobre parte dos depósitos registrados suas contas bancárias, sem considerálos como receita da atividade rural, o que ensejaria tributação diferenciada, mas com origem não comprovada. Conforme descrição dos fatos e enquadramento legal (fls. 121 a 130) a fiscalização, após analisar a documentação juntada ao processo, apurou duas infrações fiscais, de acordo com a conclusão do Auditor Fiscal a seguir transcrita: “CONCLUSÃO INFRAÇÕES APURADAS: 1) Omissão de Rendimentos da Atividade Rural: Constatamos que o fiscalizado efetuou a venda de gado no ano calendário de 2008, conforme notas fiscais fornecidas pelo mesmo. Efetuamos o lançamento de ofício como Rendimento de Atividade Rural, submetendo a receita bruta ao arbitramento de vinte por cento por ser mais favorável ao sujeito passivo. Desta forma fica o valor tributável decorrente da atividade rural estipulado em R$ 262.882,36 (ver Anexo III ao auto de Infração); Fl. 285DF CARF MF 6 2) Omissão de Rendimentos caracterizada por depósitos bancários com origem não comprovada: apuramos o total dos créditos bancários com origem não comprovada (Banco do Brasil e Bradesco), o que alcançou o valor de R$ 6.077.428,69 (V. coluna 3 do Anexo IV do Auto de Infração). Deste, subtraímos os rendimentos decorrentes da atividade rural (V. coluna 4), que será lançado na infração anteriormente descrita. O resultado (coluna 5 do Anexo IV) será lançado com esta descrição de infração.” Dessa forma, não há que se falar em arbitramento do IRPF sobre a parte dos depósitos bancários, pois esse se deu sobre os rendimentos da atividade rural, por lhe ser mais benéfico. Enquanto que a tributação da omissão de rendimentos com base nos depósitos bancários de origem não comprovada, se deu pelo fato o interessado, apesar de intimado, não ter comprovado a origem dos depósitos através de documentação hábil e idônea. Também por essa via, portanto, não prospera a inconformidade do contribuinte. Ante o exposto, voto por dar provimento parcial ao recurso, para fins de excluir da base de cálculo da infração o crédito datado de 30/12/2008, no valor de R$ 959.347,94. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Fl. 286DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 19740.720134/2009-51
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 12 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Dec 07 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/07/2004 a 31/07/2004, 01/01/2005 a 31/01/2005
Ementa:
RELATÓRIO DE REPRESENTANTES LEGAIS. SÚMULA.
"A Relação de Co-Responsáveis - CORESP, o Relatório de Representantes Legais - RepLeg e a Relação de Vínculos - VÍNCULOS, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa." (Súmula CARF nº 88)
REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. SÚMULA.
"O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais." (Súmula CARF nº 28)
PREVIDÊNCIA PRIVADA. APORTES DA INSTITUIDORA.
O método incomum de apurar os aportes ao Plano de Previdência Privada não afasta o caráter previdenciários desses pagamentos efetuados pela Instituidora.
Numero da decisão: 2202-004.797
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, vencida a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias, que lhe negava provimento.
(Assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente.
(Assinado digitalmente)
Junia Roberta Gouveia Sampaio- Redatora ad hoc.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, José Ricardo Moreira (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Ronnie Soares Anderson (Presidente
Nome do relator: DILSON JATAHY FONSECA NETO
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SÚMULA. "A Relação de CoResponsáveis CORESP”, o “Relatório de Representantes Legais RepLeg” e a “Relação de Vínculos VÍNCULOS”, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa." (Súmula CARF nº 88) REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. SÚMULA. "O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais." (Súmula CARF nº 28) PREVIDÊNCIA PRIVADA. APORTES DA INSTITUIDORA. O método incomum de apurar os aportes ao Plano de Previdência Privada não afasta o caráter previdenciários desses pagamentos efetuados pela Instituidora. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso, vencida a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias, que lhe negava provimento. (Assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 74 0. 72 01 34 /2 00 9- 51 Fl. 778DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 779 2 Ronnie Soares Anderson Presidente. (Assinado digitalmente) Junia Roberta Gouveia Sampaio Redatora ad hoc. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, José Ricardo Moreira (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Ronnie Soares Anderson (Presidente Relatório Como Redatora ad hoc, sirvome da minuta de acórdão inserida pelo Relator no repositório oficial do CARF Tratase, em breves linhas, de auto de infração lavrado em desfavor da Contribuinte para constituir crédito referente Contribuições Sociais Previdenciárias. Intimada, esta protocolou impugnação, que foi julgada improcedente pela DRJ. Inconformada, interpôs recurso voluntário, ora levado a julgamento. Feito o breve resumo da lide, passo ao relatório pormenorizado dos autos. Em 07/07/2009 foi formalizado auto de infração DEBCAD nº 37.179.6024 (fl. 2 e demais documentos fls. 3/14) para constituir crédito referente a Contribuições Sociais Previdenciárias, parte do segurado. Conforme o Relatório Fiscal (fls. 15/27), "03. A contribuição para Seguridade Social que integra este lançamento é aquela prevista no artigo 20 da Lei nº 8.212/91. 04. O débito levantado nesta autuação decorre de remuneração, vinculada a avaliação de desempenho, paga pelo sujeito passivo a seus empregados. (...) 07. É fato que a transferência de parcelas do patrimônio de uma pessoa jurídica para outra sociedade empresarial, ainda que a cindida continue a existir, caracteriza a cisão parcial. Para esse tipo de sucessão o legislador tributário definiu, artigos 124 e 132 do Código Tributário Nacional (Lei nº 5.172/66), que a responsabilidade será solidária em relação às obrigações ocorridas até a data do evento. (...) 16. Buscando a origem desse benefício identificouse a Ata de Reunião do Conselho de Administração de 19 de junho de 2001 (Anexo IV). Neste documento, observase que um dos objetivos da reunião é a discussão de uma nova proposta de remuneração variável elaborada pela empresa William M. Mercer Limitada, Fl. 779DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 780 3 que foi, ao final, aprovada pelo Conselho de Administração para implementação a partir do segundo semestre daquele ano. 17. Em relação a esse projeto, foi entregue ao fisco cópia da apresentação da proposta (Anexo V), solicitada pelo Presidente do Conselho de Administração naquela mesma reunião. Vêse nesta apresentação que a proposta divide a remuneração variável em função de medidas de sucesso quantitativo do sujeito passivo, 'privilegia o desempenho das equipes na busca do Resultado Institucional', e de medidas qualitativas a serem avaliadas pelo Conselho de Administração. 18. Verificouse, em relação aos aportes realizados em julho de 2004 e janeiro de 2005, que os mesmos foram autorizados, respectivamente, por reuniões do Conselho de Administração realizadas em 29 de junho de 2004 e 14 de dezembro de 2004, nas quais foram aprovadas as avaliações de desempenho dos empregados, como se fez registrar em Atas (Anexo VI). (...) 29. No presente caso, podese inferir, com base nos documentos dos Anexo IV e V, que o benefício financeiro nada mais é do que uma remuneração em função de avaliações quantitativas e qualitativas, isto é, constitui forma de incentivo ao empregado visando o aumento de sua produtividade. 30. Diante disso, resta claro que este benefício é uma vantagem auferida em decorrência do trabalho realizado pelos empregados, sendo o aporte em Plano Gerador de Benefício Livro PGBL apenas um meio encontrado pelo sujeito passivo de tentar desvirtuar a natureza remuneratória do mesmo. 31. Há que se salientar a habitualidade do pagamento do benefício, uma vez que pelos fatos já apresentados (itens 16 e 17) essa modalidade de remuneração tem sido implementada semestralmente, desde o segundo semestre de 2001. Além disso, a própria existência do contrato de adesão a plano de previdência complementar privada, cujo pagamento era de responsabilidade da associação, demonstra a intenção do empregador de que a despesa não seja eventual. 32. Por fim, ressaltase que não há na legislação hipótese de exclusão do referido benefício financeiro da base de cálculo das contribuições previdenciárias, como pode ser observado no disposto nas alíneas do § 9º, do artigo 28, da Lei nº 8.212/91. 33. Concluise, então, que a forma pela qual foi feito pagamento do benefício financeiro não desconfigura o seu caráter, nem macula sua natureza remuneratória. Devendo o mesmo integrar a base de cálculo das contribuições devidas à Seguridade Social. (...) Fl. 780DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 781 4 35. Ressaltase que as referidas contribuições não foram descontadas dos segurados empregados, o que gerou a lavratura do Auto de Infração 37.179.5982. (...) 38. As contribuições previdenciárias, lançadas no levantamento "RMV", foram obtidas mediante o resultado da aplicação do percentual, conforme a faixa salarial, até o limite máximo de contribuição, sobre a soma do valore recebido a título de 'PGBL' (1) com o saláriodecontribuição anteriormente considerado (2), subtraída da contribuição consignada na folha de pagamento apresentada pelo sujeito passivo (3), resultando, assim, nas diferenças lançadas." Foi formalizado Termo de Sujeição Passiva Solidária (fls. 72/73), no qual se incluiu no polo passivo a CETIP S.A. Balcão Organizado de Ativos e Derivativos. Tanto a Contribuinte quanto a Responsável Solidária foram intimadas em 14/07/2009 (fls. 74/75), protocolando uma única Impugnação em 11/08/2009 (fls. 79/98 e docs. anexos fls. 99/618). Analisando a defesa, a DRJ proferiu o acórdão nº 1235.615, de 10/02/2011 (fls. 620/629), no qual manteve integralmente o crédito tributário e que restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/07/2004 a 31/07/2004, 01/01/2005 a 31/01/2005 CONTRIBUIÇÃO DOS SEGURADOS EMPREGADOS. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. A empresa é a responsável tributária definida na lei para o recolhimento das contribuições previdenciárias dos segurados empregados que lhe prestam serviços. PREVIDÊNCIA PRIVADA. Os aportes extraordinários em conta de previdência privada, com a intenção de premiar os trabalhadores pelo seu desempenho e cumprimento de metas possuem natureza remuneratória, integrando o saláriodecontribuição, independentemente da forma legal utilizada. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DOS ADMINISTRADORES. O Relatório de Representantes Legais REPLEG é peça necessária à instrução do processo administrativo de débito, não importando, por si só, em efetiva responsabilização solidária dos representantes legais na esfera administrativa. MULTA DE MORA. RETROATIVIDADE DE NORMA BENIGNA. Fl. 781DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 782 5 O cálculo para aplicação da norma mais benéfica ao contribuinte deverá ser efetuado na data da quitação do débito, comparandose a legislação vigente a época da infração com os termos da Lei nº 11.941/2009. INFRAÇÃO PENAL. COMPETÊNCIA. O contencioso administrativo fiscal não é o foro competente para julgar a ocorrência de infração penal. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Intimadas em 18/05/2011 (fls. 632/633), e ainda inconformadas, a Contribuinte e a Responsável Solidária protocolaram um único Recurso Voluntário (fls. 634/653), em 15/06/2011, argumentando, em síntese, · Que o julgamento do presente processo deve ser feito em conjunto com aquele dos DEBCAD's nº 37.179.6059; nº 37.179.6032; nº 37.179.604 0; nº 37.179.5982; nº 37.179.5974 e nº 37.179.5990, uma vez que todos têm por base os mesmos fatos; · Que os representantes legais da empresa foram incluídos na qualidade de coresponsáveis, não havendo, porém, nenhuma norma que lhes atribua a responsabilidade sem que sejam preenchidos os requisitos do art. 135 do CTN. Outrossim, que o art. 13 da Lei nº 8.620/1993, já foi afastado pelo STJ e revogado expressamente pela Lei nº 11.941/2009, devendo haver retroatividade benigna, nos termos do art. 106 do CTN; · Que o lançamento tem por base a tese de que os pagamentos de previdência privada compõem o saláriodecontribuição para fins das Contribuições Previdenciárias. Porém, o art. 202, § 2º, da CF/1988 expressamente determina que a previdência complementar não integra a remuneração dos beneficiários. Também o art. 28, § 9º, 'p', da Lei nº 8.212/1991 excluiu tais valores da base de cálculo das contribuições previdenciárias. Que a regra ainda foi ratificada pelo art. 458, § 2º, VI, da CLT; · Que a única regra estabelecida pela legislação é que o benefício seja disponível à totalidade dos empregados e dirigentes das empresas. Não impõe nenhuma outra exigência; · Que o lançamento se lastreou em fundamentos contrários à legislação, criticando a habitualidade dos pagamentos e a forma de apuração dos mesmos (política de metas e avaliação de desempenho); · Que a fiscalização em momento algum contesta que a Contribuinte oferecia o benefício da previdência privada a todos os seus empregados; · Que o débito tributário constituído nesse auto de infração é devido pelas pessoas físicas, sendo que o dever da Contribuinte de retêlos é mera Fl. 782DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 783 6 obrigação acessória, "de modo que seu descumprimento jamais poderá ocasionar a cobrança do valor da contribuição principal" (fl. 647), citando, como paralelo, a Súmula CARF nº 12; · Que, subsidiariamente, a Lei nº 11.941/2009 apresenta penalidade mais benéfica, limitando a multa de mora no percentual de 0,33% por dia de atraso, limitado ao percentual de 20%, mas que o lançamento aplicou a multa de 24% contida na redação anterior do art. 35, II, 'a', da Lei nº 8.212/1991. Nessa linha, deve ser aplicada a Lei mais benéfica retroativamente, nos termos do art. 106 do CTN; e · Que a representação para fins penais só pode ser apresentada após a constituição definitiva do lançamento, o que ainda não ocorreu. De qualquer sorte, que não houve infração à legislação tributária, assim como não houve atos praticados dolosamente com fins de reduzir ou evadirse ao pagamento de tributos e eventuais multas ou encargos, não havendo conduta a ser tipificada como crime. O presente processo foi apensado aos autos do processo de nº 19740.720137/200995 (fl. 77). É o relatório. Voto Conselheira Junia Roberta Gouveia Sampaio Redatora ad hoc Como Redatora ad hoc, sirvome da minuta de voto inserida pelo Relator no repositório oficial do CARF, de sorte que o posicionamento abaixo esposado não necessariamente tem a aquiescência desta Conselheira O recurso voluntário é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto dele conheço. Julgamento Conjunto Argumenta a contribuinte pelo julgamento conjunto do presente processo com aqueles que contém os demais débitos tributários constituídos em função dos mesmos fatos. Constatase que, conforme despacho de fl. 77, o presente processo já foi apensado ao de nº 19740.720137/200995, que contém o crédito referente à parte da empresa, no qual foram apensados os demais AI's, bem como vieram todos a julgamento conjunto. Relatório de Representantes Legais Argumenta a Contribuinte que os representantes legais da empresa foram incluídos na qualidade de coresponsáveis, não havendo, porém, nenhuma norma que lhes atribua a responsabilidade sem que sejam preenchidos os requisitos do art. 135 do CTN. Outrossim, que o art. 13 da Lei nº 8.620/1993, já foi afastado pelo STJ e revogado expressamente pela Lei nº 11.941/2009, devendo haver retroatividade benigna, nos termos do art. 106 do CTN. Fl. 783DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 784 7 Acontece que esse e.CARF já consolidou o entendimento de que Súmula CARF nº 88: A Relação de CoResponsáveis CORESP”, o “Relatório de Representantes Legais – RepLeg” e a “Relação de Vínculos – VÍNCULOS”, anexos a auto de infração previdenciário lavrado unicamente contra pessoa jurídica, não atribuem responsabilidade tributária às pessoas ali indicadas nem comportam discussão no âmbito do contencioso administrativo fiscal federal, tendo finalidade meramente informativa. Nessa linha, não é possível dar provimento ao recurso nesse ponto. Da Representação Fiscal para Fins Penais Argumenta ainda a Recorrente que a representação para fins penais só pode ser apresentada após a constituição definitiva do lançamento, o que ainda não ocorreu. De qualquer sorte, que não houve infração à legislação tributária, assim como não houve atos praticados dolosamente com fins de reduzir ou evadirse ao pagamento de tributos e eventuais multas ou encargos, não havendo conduta a ser tipificada como crime. Acontece que já foi consolidado nesse Conselho o seguinte entendimento: Súmula CARF nº 28: O CARF não é competente para se pronunciar sobre controvérsias referentes a Processo Administrativo de Representação Fiscal para Fins Penais. Nessa linha, não é possível dar provimento ao recurso nesse ponto. MÉRITO Dos aportes ao PGBL Ultrapassadas as preliminares, impende analisar o mérito do Recurso Voluntário. Especificamente, o ponto crucial do presente PAF é identificar se deve ou não incidir Contribuições Sociais Previdenciárias sobre os valores pagos pela Contribuinte a plano de previdência privada de seus colaboradores. Retornando ao Relatório Fiscal, percebese que o presente lançamento tem por objeto constituir crédito de Contribuições Previdenciárias sobre os valores pagos pela Contribuinte ao PGBL de seus colaboradores. Conforme a autoridade lançadora, os montantes configuramse saláriodecontribuição porquanto (1) não há norma legal autorizando a exclusão desses aportes da base de cálculo do tributo; 2) os aportes habituais, sendo feitos semestralmente desde 2001; e (3) os aportes eram calculados levando em consideração avaliações quantitativas e qualitativas de produção do colaborador. Em sua defesa, a Contribuinte argumentou (1) que o art. 202, § 2º, da CF/1988 e o art. 28, § 9º, da 'p', da Lei nº 8.212/1991, são claros em determinar que a contribuição à previdência privada não compõe o saláriodecontribuição; (2) que a única regra legal para a isenção é que o benefício seja oferecido a todos os empregados e dirigentes da empresa, o que ela fazia e que a fiscalização não contesta isso; e (3) que a fiscalização criou requisitos ilegais. Fl. 784DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 785 8 Analisando a questão, a DRJ manteve o lançamento ao fundamento de que "17. Pela leitura dos dispositivos acima transcritos, e diversamente do que entendeu a interessada, o pagamento de contribuições a programa de previdência complementar não será considerado como saláriodecontribuição, desde que, além de estar disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, não seja utilizado com finalidade diversa da intenção da lei (art. 9º, da CLT). (...) 19. Assim, como se verifica no bem explanado relatório fiscal, não se questionou a observância formal da legislação, mas tão somente a finalidade do pagamento da referida verba, caracterizandoa como de autêntico teor remuneratório não apenas pelo fato de terem sido considerados para aferição dos aportes extraordinários o atingimento de metas e avaliação de desempenho individual, como também o fato de a empresa também possuir um plano de previdência complementar fechado para todos os empregados e dirigentes destinado a garantir a complementação da aposentadoria, nos moldes previstos constitucionalmente. 20. Ora, se já existe um programa de previdência privada fechada, com participações mensais tanto dos segurados como da empresa (vide Anexo I –fls. 146/176), qual o sentido da existência de outro plano de previdência custeado apenas pela empresa, cujos valores são aferidos de acordo com o atingimento de metas e desempenho individual, senão a de premiar empregados e dirigentes, pelo seu desempenho? (...) 23. Assim, o conceito de saláriodecontribuição não se restringe apenas ao salário base do trabalhador, tem como núcleo a remuneração de forma mais ampliada, alcançando outras importâncias pagas pelo empregador, sem importar a forma de retribuição ou o título. São vantagens econômicas acrescidas ao patrimônio do trabalhador decorrentes da relação laboral. 24. Apesar dos esforços da interessada, sua tese de que a verba em questão não tem caráter remuneratório, não há de prosperar. A remuneração variável, sob a roupagem jurídica de plano de previdência privada, na verdade objetivava reconhecer o atingimento das metas institucionais e o desempenho individual, e portanto vinculados a fatores de ordem pessoal do trabalhador, seja individualmente ou em grupo, sendo assim alcançados pelo conceito de saláriodecontribuição estabelecido no artigo 28, inciso I, da Lei nº 8.212/1991. 25. Isto posto, não resta qualquer dúvida de que a referida parcela,concedida pela empresa a seus empregados, tem cunho remuneratório, trazendolhes uma vantagem econômica ou benefício." fls. 625/627. Fl. 785DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 786 9 Em suma, podese entender que a decisão recorrida manteve o lançamento pelo seu terceiro fundamento, qual seja, que a forma como eram apurados os aportes retirava lhe o caráter de previdência privada. Para tanto, aprofundou na análise da questão, esclarecendo que ao utilizar como critério de apuração do aporte a ser feito avaliação quantitativa e qualitativa dos beneficiários, atribuiu aos aportes claro caráter remuneratório Convém analisar individualmente os fundamentos o lançamento. Da base legal: No Relatório Fiscal, a autoridade lançadora afirmou expressamente que: "32. Por fim, ressaltase que não há na legislação hipótese de exclusão do referido benefício financeiro da base de cálculo das contribuições previdenciárias, como pode ser observado no disposto nas alíneas do § 9º, do artigo 28, da Lei nº 8.212/91." fl. 21. Com a devida vênia, a verdade é que o referido art. 28, § 9º, da Lei nº 8.212/1991, comando contém a alínea 'p', que traz a seguinte redação: p) o valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a programa de previdência complementar, aberto ou fechado, desde que disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9º e 468 da CLT; Em outras palavras, há sim uma norma específica, no próprio comando legal citado pela autoridade lançadora, que expressamente exclui do saláriodecontribuição os valores aportados à previdência privada. Essa norma se encontra em clara consonância com a regra estabelecida no art. 202, § 2º, da CF/1988. Portanto, há sm base legal para excluir os presentes valores do saláriode contribuição. Da habitualidade No Relatório Fiscal, a autoridade lançadora afirmou expressamente que: 31. Há que se salientar a habitualidade do pagamento do benefício, uma vez que pelos fatos já apresentados (itens 16 e 17) essa modalidade de remuneração tem sido implementada semestralmente, desde o segundo semestre de 2001. Além disso, a própria existência do contrato de adesão a plano de previdência complementar privada, cujo pagamento era de responsabilidade da associação, demonstra a intenção do empregador de que a despesa não seja eventual." fl. 21. Tratase de constatação relevante, consoante posicionamento já adotado por este relator em diversas outras oportunidades. A verdade é que o art. 28, I, da Lei nº 8.212/1991 são expressos em estabelecer que: Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: Fl. 786DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 787 10 I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; Portanto, se os pagamentos identificados pela autoridade lançadora não tivessem habitualidade e.g., tivesse ocorrido um único aporte , então não seriam preenchidos os requisitos do caput e, por esse motivo já não se configuraria saláriodecontribuição. Ou seja, se não houvesse habitualidade, nem mesmo seria necessário analisar se os pagamentos eram ou não aportes para a previdência privada. Nessa linha, esse elemento é necessário para se identificar se estão preenchidos os requisitos gerais. Contudo, em nada influenciam na configuração ou não da natureza dos aportes à previdência privada. Ou seja, e plenamente possível que os aportes sejam feitos de maneira habitual, constante, reiterada, mas que continuem sendo aportes à previdência privada e, por isso, não componentes do saláriodecontribuição. A verdade é que a periodicidade dos aportes à previdência privada é estabelecida pelas partes. Os aportes podem ser mensais, bimestrais, semestrais como no presente caso , anuais, únicos ou pontuais, aleatórios, sem qualquer referência lógica de periodicidade. Contanto que o Plano permita o aporte feito daquela maneira, em nada isso influenciará na configuração da natureza tributável do recurso. Da forma de apuração do montante dos aportes e do caráter remuneratório No Relatório Fiscal, a autoridade lançadora afirmou expressamente que: "29. No presente caso, podese inferir, com base nos documentos dos Anexo IV e V, que o benefício financeiro nada mais é do que uma remuneração em função de avaliações quantitativas e qualitativas, isto é, constitui forma de incentivo ao empregado visando o aumento de sua produtividade. 30. Diante disso, resta claro que este benefício é uma vantagem auferida em decorrência do trabalho realizado pelos empregados, sendo o aporte em Plano Gerador de Benefício Livro PGBL apenas um meio encontrado pelo sujeito passivo de tentar desvirtuar a natureza remuneratória do mesmo." fl. 21. A par dos argumentos já superados nos itens (1) e (2) acima, esse é, única e exclusivamente, o argumento utilizado pela autoridade lançadora. NÃO há nos autos nenhuma alegação de que o benefício não era pago à integralidade dos trabalhadores, de que os valores eram altos demais, de que eram incompatíveis com a remuneração "ordinária" dos trabalhadores, de que eram integralmente sacados no prazo limite ou mesmo de que não respeitavam os prazos para levantamento dos aportes , impedindo assim a formação de uma Fl. 787DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 788 11 poupança, de que os trabalhadores dependiam desses recursos para sua subsistência, de que a Contribuinte não demonstrou os cálculos atuariais etc. O lançamento tem como fundamento, apenas e exclusivamente, a vinculação da metodologia de apuração dos aportes a serem feitos pela Contribuinte a critérios quantitativos e qualitativos. Pois bem. O objetivo de toda atividade empresarial é o lucro e qualquer despesa que tenha outro objetivo foge ao propósito intrínseco da atividade empresária. Nesse sentido, como regra, os dispêndios incorridos terão o objetivo de maximizar o lucro, ainda que de forma indireta, como é o caso do patrocínio esportivo, que se faz não pelo amor ao esporte e sim como forma de propagar a marca. No mesmo sentido, se institui um Plano de Previdência, não o faz por mera liberalidade em favor dos beneficiários, mas sim com o objetivo de reter seus talentos. Não apenas no plano suplementar, mas também no plano geral. Isso porque, ao escolher entre duas possíveis empregadoras em condições idênticas de trabalho, de ambiente de trabalho, de salário etc., se uma delas oferecer esse benefício e a outra não, então é certo que o profissional escolherá ela. Acontece que a Constituição Federal expressamente desvinculou os Planos de Previdência Privada dos contratos de trabalho, estipulando como cláusula constitucional que não serão tidos como remuneração. Em outras palavras, não é tido como contraprestação do trabalho. Fêlo com o objetivo exatamente de incentivar as empresas a instituir tais benefícios aos seus empregados. Diversas rubricas têm o mesmo objetivo de incentivar a retenção de talentos e, ao mesmo tempo, não configuram remuneração para fins do contrato de trabalho. Por todas, citase a Participação nos Lucros e Resultados. Tal benefícios não é obrigatório, podendo ou não ser instituídos pelas empresas; as empresas que o oferecem, fazemno com o objetivo de reter talentos, ou seja, para incentivar seus trabalhadores a permanecerem nos empregos, e não por fundamentos absolutamente altruístas como se poderia querer. Ainda assim, quando pagos em conformidade com a Lei, não configuram remuneração para fins previdenciários. Em suma, o fato de que os aportes ao Plano de Previdência em apreço são feitos para reter incentivar a produtividade dos trabalhadores não é elemento apto a desnaturá lo. Antes, é mera constatação da realidade prática, como são quaisquer aportes feitos a quaisquer Planos de Previdência. Afinal, ao se conscientizar que recebe um benefício em determinada empresa, que poderia não receber em outra, o colaborador se esforça para manter o seu vínculo e, em última análise, aumenta a lucratividade, que é o objetivo final de qualquer empresa. Conquanto o aporte seja feito em Plano de Previdência Privado regularmente constituído, que respeite todas as Leis e regramentos específicos, e que não seja utilizado como substituição do salário, nada há que se criticar. Diferente seria se a autoridade lançadora tivesse demonstrado, por exemplo, que o salário desses trabalhadores era inferior àquele observado em relação a outros trabalhadores no mesmo cargo, ou que tivesse comprovado que a empresa deixou de pagar o salário, de dar aumentos ou promoções, substituindo tais valores por esses aportes. Aí sim haveria fraude, porquanto o PGBL estaria sendo utilizado para substituir a remuneração oficial. Frisase que a Lei não estabeleceu o critério matemático para apuração dos aportes a serem feitos. Nessa linha, não pode a autoridade lançadora estabelecer critério ao seu Fl. 788DF CARF MF Processo nº 19740.720134/200951 Acórdão n.º 2202004.797 S2C2T2 Fl. 789 12 alvitre, nem tomar como indevidos critérios adotados pela empresa exclusivamente porque não concorda com a sua forma de calcular. Conclusões Em suma, não se identificou no lançamento nenhum argumento apto a demonstrar a fraude à Lei, nem a desconfigurar a natureza de aporte à previdência privada dos pagamentos efetuados pela Contribuinte. Por essa razão, entendo ser necessário cancelar o AIOP ora em análise. Por essa razão, deixase de analisar (1) o argumento da Contribuinte tocante à multa, especificamente à forma como deve ser aplicada a retroatividade benigna e aos limites percentuais, bem como (2) o argumento da Contribuinte de que a sua obrigação de reter e recolher o tributo é meramente acessória, não sendo possível lançar contra ela o crédito principal. Dispositivo Diante de tudo quanto exposto, voto por dar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Junia Roberta Gouveia Sampaio (voto de Dilson Jatahy Fonsenca Neto) Fl. 789DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16539.720008/2017-12
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Oct 03 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Dec 13 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/07/2012 a 31/12/2013
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. LEI Nº 10.101/00. PERIDICIODIDADE DOS PAGAMENTOS. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA.
Conforme disposição do § 2º, do artigo 2º, da Lei 10.101/00, é vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil. § 2º É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em mais de 2 (duas) vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil.
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. ADMINISTRADORES NÃO EMPREGADOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA EXCLUSÃO DO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. INAPLICABILIDADE DA LEI 10.101/2000 E DA LEI 6.404/76.
Tratando-se de valores pagos aos diretores não empregados, não há que se falar em exclusão da base de cálculo pela aplicação da Lei nº 10.101/2000, posto que nos termos do art. 2º da referida Lei, essa só é aplicável aos empregados.
A verba paga aos diretores não empregados possui natureza remuneratória. A Lei n 6.404/1976 não regula a participação nos lucros e resultados para efeitos de exclusão do conceito de salário de contribuição, posto que não remunerou o capital investido na sociedade, mas, sim, o trabalho executado pelos diretores, compondo dessa forma, o conceito previsto no art. 28, II da Lei nº 8.212/91.
PREVIDENCIÁRIO. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE. CARÁTER HABITUAL, NÃO EVENTUAL E PRESTATIVO AO TRABALHO. INCIDÊNCIA. NÃO APLICABILIDADE DE ATO DECLARATÓRIO Nº 16/2011.
Incidem contribuições previdenciárias sobre a gratificação contingente, concedida de forma habitual, prevista em acordo coletivo de trabalho, como contraprestação pelo trabalho. Situação na qual não se pode aplicar o disposto no Ato Declaratório nº 16/2011, pelo fato de materialmente a gratificação não assumir a essência de um pagamento por liberalidade de caráter eventual, mas, ao contrário, visar substituir parcela nitidamente remuneratória dos serviços prestados.
BÔNUS DE DESEMPENHO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA.
Diante da natureza remuneratória destes, como forma de incentivo ao desempenho funcional, sendo concedidos, pelo e não, para, o trabalho, há, portanto, a incidência de contribuição previdenciária sobre tal rubrica.
REMUNERAÇÃO DE DIRETORES. PROFISSIONAIS CEDIDOS POR TERCEIRO. RESPONSABILIDADE DO SUJEITO QUE REMUNERA OS PROFISSIONAIS. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA.
Configura contribuinte o sujeito de direito que, recebendo profissionais cedidos por outrem, os remunera quanto aos serviços a ele prestado, configurando-se a sua relação pessoal e direta com o fato gerador da contribuição previdenciária. A partir desta relação, imputa-se ao sujeito passivo as correspondentes obrigações tributárias, principal e acessória.
Numero da decisão: 2202-004.816
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em negar provimento ao recurso no que se refere à gratificação contingente e à participação nos lucros dos diretores, vencidos os conselheiros Martin da Silva Gesto (relator), Júnia Roberta Gouveia Sampaio e José Alfredo Duarte Filho (suplente convocado), que deram provimento nesses pontos; acordam ainda, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso quanto às demais matérias. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente
(assinado digitalmente)
Martin da Silva Gesto - Relator
(assinado digitalmente)
Rosy Adriane da Silva Dias - Redatora designada
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, Jorge Henrique Backes (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, José Alfredo Duarte Filho (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson.
Nome do relator: MARTIN DA SILVA GESTO
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/07/2012 a 31/12/2013 PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. LEI Nº 10.101/00. PERIDICIODIDADE DOS PAGAMENTOS. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA. Conforme disposição do § 2º, do artigo 2º, da Lei 10.101/00, é vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil. § 2º É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em mais de 2 (duas) vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. ADMINISTRADORES NÃO EMPREGADOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA EXCLUSÃO DO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. INAPLICABILIDADE DA LEI 10.101/2000 E DA LEI 6.404/76. Tratando-se de valores pagos aos diretores não empregados, não há que se falar em exclusão da base de cálculo pela aplicação da Lei nº 10.101/2000, posto que nos termos do art. 2º da referida Lei, essa só é aplicável aos empregados. A verba paga aos diretores não empregados possui natureza remuneratória. A Lei n 6.404/1976 não regula a participação nos lucros e resultados para efeitos de exclusão do conceito de salário de contribuição, posto que não remunerou o capital investido na sociedade, mas, sim, o trabalho executado pelos diretores, compondo dessa forma, o conceito previsto no art. 28, II da Lei nº 8.212/91. PREVIDENCIÁRIO. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE. CARÁTER HABITUAL, NÃO EVENTUAL E PRESTATIVO AO TRABALHO. INCIDÊNCIA. NÃO APLICABILIDADE DE ATO DECLARATÓRIO Nº 16/2011. Incidem contribuições previdenciárias sobre a gratificação contingente, concedida de forma habitual, prevista em acordo coletivo de trabalho, como contraprestação pelo trabalho. Situação na qual não se pode aplicar o disposto no Ato Declaratório nº 16/2011, pelo fato de materialmente a gratificação não assumir a essência de um pagamento por liberalidade de caráter eventual, mas, ao contrário, visar substituir parcela nitidamente remuneratória dos serviços prestados. BÔNUS DE DESEMPENHO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA. Diante da natureza remuneratória destes, como forma de incentivo ao desempenho funcional, sendo concedidos, pelo e não, para, o trabalho, há, portanto, a incidência de contribuição previdenciária sobre tal rubrica. REMUNERAÇÃO DE DIRETORES. PROFISSIONAIS CEDIDOS POR TERCEIRO. RESPONSABILIDADE DO SUJEITO QUE REMUNERA OS PROFISSIONAIS. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA. Configura contribuinte o sujeito de direito que, recebendo profissionais cedidos por outrem, os remunera quanto aos serviços a ele prestado, configurando-se a sua relação pessoal e direta com o fato gerador da contribuição previdenciária. A partir desta relação, imputa-se ao sujeito passivo as correspondentes obrigações tributárias, principal e acessória.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 49; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 2327; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S2C2T2 Fl. 2.136 1 22..113355 SS22CC22TT22 MMIINNIISSTTÉÉRRIIOO DDAA FFAAZZEENNDDAA CCOONNSSEELLHHOO AADDMMIINNIISSTTRRAATTIIVVOO DDEE RREECCUURRSSOOSS FFIISSCCAAIISS SSEEGGUUNNDDAA SSEEÇÇÃÃOO DDEE JJUULLGGAAMMEENNTTOO PPrroocceessssoo nnºº 16539.720008/201712 RReeccuurrssoo nnºº Voluntário AAccóórrddããoo nnºº 2202004.816 – 2ª Câmara / 2ª Turma Ordinária SSeessssããoo ddee 03 de outubro de 2018 MMaattéérriiaa CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS RReeccoorrrreennttee PETROBRAS TRANSPORTE S.A TRANSPETRO RReeccoorrrriiddaa FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/07/2012 a 31/12/2013 PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. LEI Nº 10.101/00. PERIDICIODIDADE DOS PAGAMENTOS. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA. Conforme disposição do § 2º, do artigo 2º, da Lei 10.101/00, é vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil. § 2º É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em mais de 2 (duas) vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. ADMINISTRADORES NÃO EMPREGADOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA EXCLUSÃO DO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. INAPLICABILIDADE DA LEI 10.101/2000 E DA LEI 6.404/76. Tratandose de valores pagos aos diretores não empregados, não há que se falar em exclusão da base de cálculo pela aplicação da Lei nº 10.101/2000, posto que nos termos do art. 2º da referida Lei, essa só é aplicável aos empregados. A verba paga aos diretores não empregados possui natureza remuneratória. A Lei n 6.404/1976 não regula a participação nos lucros e resultados para efeitos de exclusão do conceito de salário de contribuição, posto que não remunerou o capital investido na sociedade, mas, sim, o trabalho executado pelos diretores, compondo dessa forma, o conceito previsto no art. 28, II da Lei nº 8.212/91. PREVIDENCIÁRIO. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE. CARÁTER HABITUAL, NÃO EVENTUAL E PRESTATIVO AO TRABALHO. AC ÓR Dà O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 53 9. 72 00 08 /2 01 7- 12 Fl. 2136DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.137 2 INCIDÊNCIA. NÃO APLICABILIDADE DE ATO DECLARATÓRIO Nº 16/2011. Incidem contribuições previdenciárias sobre a gratificação contingente, concedida de forma habitual, prevista em acordo coletivo de trabalho, como contraprestação pelo trabalho. Situação na qual não se pode aplicar o disposto no Ato Declaratório nº 16/2011, pelo fato de materialmente a gratificação não assumir a essência de um pagamento por liberalidade de caráter eventual, mas, ao contrário, visar substituir parcela nitidamente remuneratória dos serviços prestados. BÔNUS DE DESEMPENHO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA. Diante da natureza remuneratória destes, como forma de incentivo ao desempenho funcional, sendo concedidos, “pelo” e não, “para”, o trabalho, há, portanto, a incidência de contribuição previdenciária sobre tal rubrica. REMUNERAÇÃO DE DIRETORES. PROFISSIONAIS CEDIDOS POR TERCEIRO. RESPONSABILIDADE DO SUJEITO QUE REMUNERA OS PROFISSIONAIS. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INCIDÊNCIA. Configura contribuinte o sujeito de direito que, recebendo profissionais cedidos por outrem, os remunera quanto aos serviços a ele prestado, configurandose a sua relação pessoal e direta com o fato gerador da contribuição previdenciária. A partir desta relação, imputase ao sujeito passivo as correspondentes obrigações tributárias, principal e acessória. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por voto de qualidade, em negar provimento ao recurso no que se refere à gratificação contingente e à participação nos lucros dos diretores, vencidos os conselheiros Martin da Silva Gesto (relator), Júnia Roberta Gouveia Sampaio e José Alfredo Duarte Filho (suplente convocado), que deram provimento nesses pontos; acordam ainda, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso quanto às demais matérias. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Rosy Adriane da Silva Dias. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Relator (assinado digitalmente) Rosy Adriane da Silva Dias Redatora designada Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, Jorge Henrique Backes (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, José Alfredo Duarte Filho (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson. Fl. 2137DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.138 3 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto nos autos do processo nº 16539.720008/201712, em face do acórdão nº 1474.928, julgado pela 12ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto (DRJ/RPO), em sessão do dia 14 de novembro de 2017, no qual os membros daquele colegiado entenderam por julgar improcedente a impugnação apresentada pela contribuinte. Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da DRJ de origem que assim os relatou: “Tratase de lançamento de crédito tributário previdenciário, relativo à contribuição devida pela empresa à Seguridade Social e ao adicional de financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa e riscos ambientais do trabalho – RAT/GILRAT (Auto de Infração de fls. 02/74) e contribuições devidas aos Terceiros FNDE Salário educação, INCRA e FDEPM1 (Auto de Infração de fls. 75/174), no período compreendido pelas competências 07/2012 a 12/2013. O procedimento fiscal teve como objeto a verificação do cumprimento da legislação previdenciária, por todos os estabelecimentos da empresa, com relação: a) a valores pagos, devidos ou creditados a segurados empregados da empresa a título de Gratificação Contingente. De acordo com os parâmetros das folhas de pagamento, a empresa não reconheceu tais valores como base de cálculo de contribuição previdenciária e, portanto, os mesmos não foram informados em Guias de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e de Informações à Previdência Social GFIP, assim como não foram recolhidas as contribuições previdenciárias correspondentes; b) a valores pagos, devidos ou creditados a empregados e aos diretores da empresa a título de Participação nos Lucros e Resultados PLR. De acordo com os parâmetros das folhas de pagamento, a empresa não reconheceu tais valores como base de cálculo de Intimouse o contribuinte, através do Termo de Início de Procedimento contribuição previdenciária e, portanto, os mesmos não foram informados em GFIP, assim como não foram recolhidas as contribuições previdenciárias correspondentes; c) ao pagamento de parcelas remuneratórias a dirigentes da empresa. Intimouse o contribuinte, através do Termo de Início de Procedimento Fiscal (TIPF) e de Termos de Intimação Fiscal (TIF) a apresentar, dentre outros, os seguintes documentos: folhas de pagamentos de todos os segurados em meio digital, de acordo com o formato previsto no Manual Normativo de Arquivos Digitais e Autenticação de Arquivos Digitais SVA, aprovado pela Instrução Normativa MPS/SRP n° 12, de 20/06/2006 (MANAD) (DOU de 04/07/2006); folhas de pagamento de todos os segurados em formato “.pdf”; Acordos Fl. 2138DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.139 4 Coletivos de Trabalho de 2012 e 2013; contratos de prestação de serviços de plano de saúde celebrados com terceiros; recibos e comprovantes de pagamentos feitos a prestadores de plano de saúde; recibos e comprovantes de pagamentos feitos a contribuintes individuais, dirigentes, administradores, conselheiros e diretores; e regulamento da participação nos lucros ou resultados PLR de 2012 e 2013.As GFIP consideradas pela fiscalização, para efeito de perda de espontaneidade do sujeito passivo, foram obtidas por meio de sistema informatizado interno da Receita Federal do Brasil, tendo sido enviadas pelo contribuinte antes de 13/09/2016, data de início do procedimento fiscal. A seguir, por rubrica, apresenta os fundamentos pelos quais entendeuse cabível o lançamento. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE O fato gerador das contribuições apuradas foi o pagamento de remunerações a diversos segurados empregados a título de “Gratificação Contingente”, as quais deveriam ter sido consideradas pelo contribuinte como integrantes da base de cálculo de contribuições previdenciárias, mas não o foram. Verificouse nas folhas de pagamento (MANAD) da empresa a ocorrência de rubrica relativa ao pagamento de Gratificação Contingente (rubrica "1469 Gratificação Contingente") a diversos segurados empregados no anos de 2012 e 2013. Intimouse o contribuinte, por meio do Termo de Intimação Fiscal TIF nº 3, datado de 04/04/2017, a apresentar, dentre outros, explicações acerca da rubrica da folha de pagamento “1469 Gratificação Contingente”. O contribuinte, em resposta datada de 11/05/2017, expôs o seguinte: "1469 Gratificação Contingente: Gratificação prevista em Acordo Coletivo de Trabalho, correspondente ao pagamento extraordinário de uma remuneração a todos os empregados". A fiscalização segregou os acordos coletivos de trabalho por segmento de sindicatos envolvidos, a saber: O documento "Acordo Coletivo de Trabalho 2011_2013_Terra" contém o Acordo Coletivo de Trabalho, vigente no período de 01/09/2011 até 31/08/2013, celebrado entre a Petrobrás Transporte S.A. Transpetro e os seguintes sindicatos acordantes: Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo do Estado do Rio de Janeiro; Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Petróleo dos Estados do Pará, Amazonas, Maranhão e Amapá; Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo no Estado de Alagoas e Sergipe e Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista. (item 2.6 do Relatório Fiscal) A Gratificação Contingente, paga entre 01/09/2011 e 31/08/2013 aos segurados empregados que trabalhavam em terra, é prevista na Cláusula 4a do Acordo Coletivo, transcrevendose: Cláusula 4 a. Gratificação Contingente A Companhia pagará de uma só vez a todos os empregados admitidos até 31 de agosto de 2011 e que estejam em efetivo exercício em 31 de agosto de 2011, uma Fl. 2139DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.140 5 Gratificação Contingente, sem compensação e não incorporado aos respectivos salários, no valor correspondente a 100% (cem por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, ou R$ 6.000.00 (seis mil reais), o que for maior. Os documentos "Acordo Coletivo de Trabalho 2011_2013_Marítimos Parte 1" e anexos "Acordo Coletivo de Trabalho 2011_2013_Marítimos Parte 2", contêm o Acordo Coletivo de Trabalho, vigente no período de 01/11/2011 até 31/10/2013, celebrado entre a Petrobrás Transporte S.A. Transpetro e os seguintes sindicatos, federações e Confederações acordantes: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos na Pesca e nos Portos; Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Afins; Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante SINDMAR; Sindicato Nacional dos Mestres de Cabotagem e dos Contramestres em Transportes Marítimos; Sindicato Nacional dos Condutores da Marinha Mercante; Sindicato Nacional dos Enfermeiros da Marinha Mercante; Sindicato Nacional dos Taifeiros Culinários e Panificadores Marítimos; Sindicato Nacional dos Marinheiros e Moços de Máquinas em Transportes Marítimos e Fluviais e Sindicato Nacional dos Marinheiros e Moços de Máquinas em Transportes Marítimos. (item 2.7 do Relatório Fiscal) A Gratificação Contingente, paga entre 01/11/2011 e 31/10/2013 aos segurados empregados marítimos que trabalhavam embarcados, é prevista na Cláusula 44a. do Acordo Coletivo, transcrevendose: Cláusula 44a. Gratificação Contingente A Companhia pagará de uma só vez a todos os empregados admitidos até 31 de outubro de 2011 e que estejam em efetivo exercício em 31 de outubro de 2011, uma Gratificação Contingente, sem compensação e não incorporado aos respectivos salários, no valor correspondente a 100% (cem por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, ou R$ 6.000.00 (seis mil reais), o que for maior. O documento "Acordo Coletivo de Trabalho 2013 Terra" contém o Acordo Coletivo de Trabalho, vigente no período de 01/09/2013 até 31/08/2015, celebrado entre a Petrobrás Transporte S.A. Transpetro e os seguintes sindicatos, federações e Confederações acordantes: Federação Única dos Petroleiros FUP e os Sindicatos da categoria profissional dos trabalhadores na indústria do petróleo. (item 2.8 do Relatório Fiscal) A Gratificação Contingente, paga entre 01/09/2013 e 31/08/2015 aos segurados empregados que trabalhavam em terra, é prevista na Cláusula 4a. do Acordo Coletivo: Cláusula 4a. Gratificação Contingente A Companhia pagará de uma só vez a todos os empregados admitidos até 31 de outubro de 2013 e que estejam em efetivo exercício em 31 de outubro de 2013, uma Gratificação Contingente, sem compensação e não incorporado aos Fl. 2140DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.141 6 respectivos salários, no valor correspondente a 100% (cem por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, ou R$7.200.00 (sete mil e duzentos reais), o que for maior. O documento "Acordo Coletivo de Trabalho 2013 Marítimos" contém o Acordo Coletivo de Trabalho, vigente no período de 01/11/2013 até 31/10/2015, celebrado entre a Petrobrás Transporte S.A. Transpetro e os seguintes sindicatos, federações e Confederações acordantes: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos na Pesca e nos Portos; Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Afins; Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante SINDMAR; Sindicato Nacional dos Mestres de Cabotagem e dos Contramestres em Transportes Marítimos; Sindicato Nacional dos Condutores da Marinha Mercante; Sindicato Nacional dos Enfermeiros da Marinha Mercante; Sindicato Nacional dos Taifeiros Culinários e Panificadores Marítimos; Sindicato Nacional dos Marinheiros e Moços de Máquinas em Transportes Marítimos e Fluviais e Sindicato Nacional dos Marinheiros e Moços de Máquinas em Transportes Marítimos. (item 2.8.1 do Relatório Fiscal) A Gratificação Contingente, paga entre 01/11/2013 e 31/10/2015 aos segurados empregados que trabalhavam embarcados, é prevista na Cláusula 52a. do Acordo Coletivo: Cláusula 52a. A Companhia pagará de uma só vez a todos os empregados admitidos até 31 de outubro de 2013 e que estejam em efetivo exercício em 31 de outubro de 2013, uma Gratificação Contingente, sem compensação e não incorporado aos respectivos salários, no valor correspondente a 100% (cem por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, ou R$ 7.200.00 (sete mil e duzentos reais), o que for maior. Em vista destas disposições, sustenta a fiscalização que apesar de prevista nos Acordos Coletivos, para ser paga em parcela única, não se incorporando aos salários dos segurados empregados beneficiados pelo pagamento, a Gratificação Contingente não consiste em um pagamento eventual. Verificou se no sítio da FUP Federação Única dos Petroleiros (http://www.fup.org.br/acordoscoletivos) que a Transpetro pagou, em parcela única, a Gratificação Contingente em todos os anos do período de 2007 até 2015. Os documentos com os Acordos Coletivos de Trabalho e seus respectivos Termos Aditivos, obtidos do site da FUP, vigentes no período de 01/09/2007 a 31/08/2015, foram anexados ao Relatório Fiscal. A seguir, relaciona para cada ano a que o Acordo Coletivo se refere, o número da cláusula relativa à Gratificação Contingente no respectivo documento e um resumo das condições de pagamento da rubrica: a) 2007 a 2009 Cláusula 96a. 80% (oitenta por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, a todos os empregados admitidos até 31 de agosto de 2007 e que estejam em efetivo exercício em 31 de agosto de 2007. Fl. 2141DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.142 7 b) 2010 Cláusula 3a. 100% (cem por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, ou R$ 6.000,00 (seis mil reais), o que for maior, a todos os empregados admitidos até 31 de agosto de 2010 e que estejam em efetivo exercício em 31 de agosto de 2010. c) 2011 a 2013 Cláusula 4a. 100% (cem por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, ou R$ 6.000,00 (seis mil reais), o que for maior, a todos os empregados admitidos até 31 de agosto de 2011 e que estejam em efetivo exercício em 31 de agosto de 2011. d) 2013 a 2015 Cláusula 4a. 100% (cem por cento) da sua remuneração normal, excluídas as parcelas de caráter eventual ou médias, ou R$ 7.200,00 (sete mil e duzentos reais), o que for maior, a todos os empregados admitidos até 31 de agosto de 2013 e que estejam em efetivo exercício em 31 de agosto de 2013. Conclui que a remuneração paga, devida ou creditada aos segurados empregados da Transpetro, nos anos de 2012 e de 2013, a título de Gratificação Contingente, não configurou um simples ganho eventual para esses segurados empregados, já que o pagamento desse montante, ainda que em parcela única no ano, foi realizado por 9 (nove) anos seguidos, a partir de 2007, o que descaracteriza o seu caráter de eventualidade. Dada a natureza salarial dos valores pagos, devidos ou creditados a título de Gratificação Contingente, a Transpetro deveria têlos considerado, em suas folhas de pagamento, como integrantes do salário de contribuição dos segurados empregados beneficiados com ela, informando em GFIP a totalidade do salário de contribuição desses segurados, abrangendo a referida gratificação, e efetuando o recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS Principia a abordagem do tema pela citação da legislação de regência (Lei nº 8.212/91, Regulamento da Previdência Social – RPS, aprovado pelo Decreto no. 3.048/99 e Lei nº 10.101/00). Da análise dos dispositivos legais emergem algumas considerações: 1) O primeiro ponto a considerar é o objetivo da lei, expresso em seu artigo 1o. Tratase de munir as empresas de instrumento para estímulo à produtividade de seus empregados. Este instrumento se traduz na distribuição de resultados, vale dizer, recompensas pecuniárias. 2) Tais pagamentos não se sujeitam à incidência da contribuição previdenciária, desde que efetuados nos termos da lei. Significa dizer que a nãoincidência da contribuição previdenciária sobre a PLR é admitida, desde que observados determinados requisitos legais, e estes requisitos se encontram na própria Lei nº 10.101/2000. 3) Os requisitos legais de nãoincidência, definidos pela Lei no 10.101/2000, têm relação com a participação das entidades representativas dos trabalhadores (sindicatos) na definição dos Fl. 2142DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.143 8 critérios de apuração e pagamento da PLR, com a definição de regras claras e objetivas, relativas a estes critérios, que deverão constar dos instrumentos decorrentes da negociação (art. 2o, parágrafo 1o), e com a periodicidade dos pagamentos (art. 3o, parágrafo 2o). 4) Neste ponto, outra consideração se impõe. Os requisitos não são aleatórios; ao contrário, derivam do objetivo mesmo da lei. Tratase de garantir que a PLR seja um instrumento de incentivo pecuniário aos empregados como um todo, segundo critérios claros e objetivos definidos não somente pela empresa, mas por esta em conjunto com os próprios empregados, organizados em comissão (com participação obrigatória de representante do sindicato) ou representados pelo seu sindicato, e materializada esta convergência de vontades em instrumentos previstos na lei. 5) Sob o aspecto da periodicidade, se a PLR é medida de incentivo, guardando relação com o resultado e a produtividade, os pagamentos serão necessariamente incidentais ou excepcionais. 6) Sob o aspecto da representação dos empregados, as participações a serem distribuídas devem ser calculadas segundo critérios aprovados pelos empregados como um todo, representados pelas suas entidades sindicais, sendo estes critérios formalizados em instrumento próprio, arquivado na sede do sindicato, à disposição dos interessados; não sendo assim, as participações poderiam beneficiar uns poucos em detrimento dos restantes, ou transformarse em veículo para pagamento de benefícios diversos e liberalidades, a juízo da empresa, desvirtuando a finalidade do instituto e distorcendo o resultado fiscal. 7) Sob o aspecto da definição de regras claras e objetivas não basta a mera previsão em acordo coletivo ou a fixação de valores, percentuais e prazos de pagamentos. É necessário que deste acordo conste regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, tais como índices de produtividade, qualidade e lucratividade, e programas de metas e resultados. Sem a observância às regras previstas na legislação, a participação nos lucros será mera verba que complementa o salário, representando campo de incidência de contribuição previdenciária. 8) Vedação de pagamento de PLR a pessoas ligadas à empresa sem a qualidade de empregados (art. 2o e art. 3o da Lei no 10.101/2000). Verificouse nas folhas de pagamento (MANAD) da empresa a ocorrência de rubricas relativas ao pagamento de PLR (rubrica "/B10 Particip Lucr e ou Result") a diversos segurados empregados nas competências 04/2013, 05/2013 e 07/2013. Portanto, o PLR pago a esses empregados na competência 05/2013 violou a regra da periodicidade de pagamento da PLR, Fl. 2143DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.144 9 uma vez que o período entre os pagamentos foi inferior a um trimestre civil. Para não violar a regra da periodicidade do pagamento da PLR, que não admite pagamentos em período inferior a um trimestre civil, a Transpetro, ao efetuar pagamentos sob a rubrica Participação nos Lucros e ou Resultados a alguns empregados cumulativamente nas competências 04/2013 e 05/2013, deveria ter considerado como integrante do salário de contribuição desses empregados a parte paga a título de PLR em 05/2013, informando esses valores em GFIP e realizando o recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias. Concluiu, portanto, a fiscalização, que os valores pagos a título de PLR na competência 05/2013 aos segurados empregados que receberam PLR cumulativamente nas competências 04/2013 e 05/2013 enquadramse no conceito de salário de contribuição previdenciário, sujeitos, portanto, à incidência das contribuições previdenciárias, haja vista não atenderem à lei específica a que se refere a alínea "j" do § 9° do art. 28 da Lei n° 8.212/91, combinada com o § 10 do art. 214 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto n° 3.048/99. PAGAMENTO DE PLR A CONTRIBUINTES INDIVIDUAIS O fato gerador das contribuições apuradas foi o pagamento de remunerações a diversos segurados contribuintes individuais a título de PLR, que deveriam ter sido consideradas pelo contribuinte como integrantes da base de cálculo de contribuições previdenciárias, mas não o foram. Verificouse nas folhas de pagamento (MANAD) da empresa a ocorrência de rubrica relativa ao pagamento de PLR (rubrica "/B10 Particip Lucr e ou Result") a diversos segurados contribuintes individuais em 2013: Agenor Cesar Junqueira Leite categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Cláudio Ribeiro Teixeira Campos categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Jose Sergio de Oliveira Machado – categoria 5 diretor não empregado com FGTS; Marcelo Rosa Renno Gomes categoria 5 diretor não empregado com FGTS; e, Rubens Teixeira da Silva categoria 5 diretor não empregado com FGTS. Embora o inciso XI do artigo 7° da Constituição Federal de 1988 e o artigo 1° da Lei n° 10.101, de 19 de dezembro de 2000 (publicada no DOU de 20 de dezembro de 2000), mencionem a PLR para os trabalhadores, o artigo 2° da referida lei regulou a PLR mediante negociação entre a empresa e seus empregados, de forma que, para efeito de dispensa de incidência de contribuição previdenciária, a PLR está restrita às parcelas pagas aos segurados empregados, excluindose os demais trabalhadores que laboram para a empresa, como os segurados contribuintes individuais. No período em que exerciam as funções de direção da companhia, os diretores, inclusive o diretor presidente, ainda que empregados de carreira, eram contribuintes individuais, sendo, inclusive, relacionados nas folhas de pagamento (MANAD) nas categorias 5 (diretor não empregado com FGTS) e 11 (diretor não empregado sem FGTS). Além disso, Fl. 2144DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.145 10 naturalmente, os administradores gozavam de posição privilegiada em relação aos empregados com relação ao estabelecimento dos critérios e metas para atribuição do montante a ser recebido a título de PLR. Portanto, embora a Transpetro não estivesse impedida de realizar pagamentos de PLR a seus diretores e a seu presidente, no ano de 2013 não pode usufruir da exclusão de incidência de contribuições previdenciárias sobre tais valores, prevista no artigo 28, § 9°, "j" da Lei n° 8.212/1991. Mesmo que o contribuinte considerasse que a rubrica recebida pelos membros da Diretoria da Transpetro em 2013 referiase à PLR de administradores, prevista no artigo 190 da Lei n° 6.404/76, os valores pagos, devidos ou creditados sob esse título deveriam compor a base de cálculo de contribuições previdenciárias. A PLR de administradores é uma forma de contraprestação pelos serviços prestados por dirigentes da empresa e não está incluída no rol exaustivo de exclusões de incidência de contribuição previdenciária, previsto no § 9° do artigo 28 da Lei n° 8.212/1991. DIRETORES EMPREGADOS DA PETROBRÁS O fato gerador das contribuições apuradas foi o pagamento de remunerações a diretores (segurados contribuintes individuais) da Transpetro cedidos pela empresa Petrobrás, as quais deveriam ter sido consideradas pelo contribuinte como integrantes da base de cálculo de contribuições previdenciárias, mas não o foram. Verificouse nas folhas de pagamento (MANAD) da empresa a ocorrência de pagamentos aos diretores (contribuintes individuais categoria 11: diretores não empregados sem FGTS) Agenor César Junqueira Leite e Cláudio Ribeiro Teixeira Campos em 2012 e 2013 sob as seguintes rubricas: a) rubrica /0333 13° Salário Dezembro com incidência de contribuições previdenciárias segundo as folhas de pagamento (MANAD) da empresa; b) rubrica /0337 Diferença de 13° Salár com incidência de contribuições previdenciárias segundo as folhas de pagamento (MANAD) da empresa; c) rubrica 0C04 Grat Férias ACT no mês com incidência de contribuições previdenciárias segundo as folhas de pagamento (MANAD) da empresa; d) rubrica MC03 Férias no Mês com incidência de contribuições previdenciárias segundo as folhas de pagamento (MANAD) da empresa; e) rubrica MC04 Férias 1/3 no Mês com incidência de contribuições previdenciárias segundo as folhas de pagamento (MANAD) da empresa; e, f) rubrica 1010 Rem Global Dir S Enc sem incidência de contribuições previdenciárias segundo as folhas de pagamento (MANAD) da empresa. Fl. 2145DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.146 11 Intimouse o contribuinte, por meio do Termo de Intimação Fiscal TIF n° 3, datado de 04/04/2017, a apresentar, dentre outros, esclarecimentos acerca da rubrica da folha de pagamento “1010 Rem Global Dir S Enc”. O contribuinte, em resposta datada de 11/05/2017 (documento de resposta em anexo), expôs o seguinte: "1010 Honorários pagos aos Dirigentes cedidos, com vínculo empregatício com a Petrobrás Brasileiro S/A Petrobrás, que é a responsável pelo recolhimento dos encargos trabalhistas e previdenciários". Verificouse que a Transpetro, ao omitir os diretores Agenor Cesar Junqueira Leite e Cláudio Ribeiro Teixeira Campos em GFIP, também deixou de declarar em GFIP os valores pagos sob as rubricas mencionadas acima a esses diretores, descumprindo o disposto no artigo 32, inciso IV, da Lei n° 8.212/1991, além de não efetuar o recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias, previstas no artigo 22, inciso III, da Lei nº 8.212/1991. Verificouse que estes dois diretores da Transpetro são segurados empregados da empresa Petrobrás CNPJ 33.000.167/000101, empresa do mesmo grupo empresarial. Assim, a Petrobrás cedeu estes dois segurados empregados à Transpetro para exercer cargos de direção, mantendo contudo o vínculo como empregados da Petrobrás, para onde retornariam após o fim do mandato como diretores da Transpetro. A empresa Petrobrás permaneceu nesse período declarando estes dois segurados em GFIP e efetuando o recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias, realizando as duas empresas um acerto destes valores entre elas. Desta forma, a rubrica "1010 Rem Global Dir S Enc" é apontada nas folhas de pagamento (MANAD) como sem incidência de contribuições previdenciárias, haja vista se referirem a valores pagos a dois segurados cedidos pela Transpetro à Petrobrás, ficando a cargo desta empresa declarar os valores pagos a esses segurados em GFIP e efetuar o recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias. BÔNUS DE DESEMPENHO O fato gerador das contribuições apuradas foi o pagamento de remunerações a título de bônus de desempenho a alguns segurados contribuintes individuais, as quais deveriam ter sido consideradas pelo contribuinte como integrantes da base de cálculo de contribuições previdenciárias, mas não foram. Verificouse nas folhas de pagamento (MANAD) da empresa a ocorrência de rubricas relativas ao pagamento de Bônus Desempenho (rubrica "2007 – Bônus Desempenho") aos seguintes segurados contribuintes individuais na competência 04/2013: Agenor Cesar Junqueira Leite categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Cláudio Ribeiro Teixeira Campos categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Jose Sergio de Oliveira Machado categoria 5 diretor não empregado com FGTS; Marcelo Rosa Renno Gomes categoria 5 diretor não Fl. 2146DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.147 12 empregado com FGTS; e) Rubens Teixeira da Silva categoria 5 diretor não empregado com FGTS. Intimouse o contribuinte, por meio do Termo de Intimação Fiscal TIF n° 3, datado de 04/04/2017, a apresentar, dentre outros, explicações acerca da rubrica da folha de pagamento “2007 Bônus Desempenho”. O contribuinte, em resposta datada de 11/05/2017 (documento de resposta em anexo), expôs o seguinte: "2007 Bônus Desempenho : Bônus pagos extraordinariamente aos Dirigentes, correspondente a uma remuneração". Intimouse, então, o contribuinte, por meio do Termo de Intimação Fiscal TIF n° 5, datado de 11/05/2017, a apresentar explicações adicionais acerca da rubrica “2007 BÔNUS DESEMPENHO”: (3.1) Quais foram os critérios utilizados, em 2013, na decisão de quais trabalhadores receberiam essa rubrica? (3.2) Quais foram os critérios utilizados pela empresa para chegar ao montante pago a cada beneficiário da rubrica em 2013? (3.3) A previsão de pagamento dessa rubrica em 2013 estava formalizada em algum documento? Se positiva a resposta, em que documento? (3.4) Qual é periodicidade de pagamento de tal rubrica em 2012 e 2013 ? (3.5) Em caso de resposta positiva ao subitem (3.3), solicitase a apresentação de cópia digital do documento em que estava revisto o pagamento da rubrica 2007 BÔNUS DESEMPENHO em 2013." O contribuinte, em resposta datada de 06/06/2017 (documento de resposta em anexo), expôs, em relação aos itens 3.1 a 3.5 do TIF n° 5, respectivamente, o seguinte: "Foi aprovado em reunião do Conselho de Administração da Companhia, de 03/04/2013, cópia do extrato parcial em anexo, o pagamento de uma remuneração a título de bônus para os membros da Diretoria (Presidente e Diretores)." “Conforme aprovado pelo Conselho de Administração da Companhia, o valor do Bônus seria de uma remuneração, R$ 76.010,55, para o Presidente e R$ 67.784,14, para os Diretores." "Sim. Em decisão constante de extrato parcial de Ata de reunião do Conselho de Administração da Companhia." "Anual". "Segue cópia do extrato parcial de Ata da Reunião do Conselho de Administração." A rubrica “2007 Bônus Desempenho” foi apontada nas folhas de pagamento (MANAD) da empresa como provento sem incidência de contribuições previdenciárias, não sendo declarados em GFIP os valores pagos sob essa rubrica aos segurados contribuintes individuais. Quanto à natureza do pagamento da Bônus de Desempenho (Rubrica 2007), tratase de simples abono ou gratificação, pago Fl. 2147DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.148 13 a dirigentes em retribuição/reconhecimento ao trabalho desenvolvido, por decisão da administração da empresa. Convém esclarecer que os pagamentos não foram efetuados a segurados empregados e sim a dirigentes contribuintes individuais. Após citar a legislação previdenciária, afirma que o conceito de remuneração tem forma ampla, alcançando importâncias pagas pela empresa ao prestador do serviço, sem importar a forma de retribuição ou o título; são vantagens econômicas acrescidas ao patrimônio do trabalhador em decorrência da relação laboral. Neste diapasão há que se concluir que a livre manifestação do empregador possui a natureza de convenção particular e cujos efeitos, consoante o disposto no artigo 123 do CTN, não podem ser opostos à Fazenda Pública, não afastam a incidência da contribuição previdenciária, cujos termos têm eficácia restrita às partes aderentes, não podendo se contrapor às disposições da Lei n° 8.212/91. Assim sendo, a livre manifestação da empresa, ainda que expressamente negue a incorporação do pagamento ao "salário", aqui entendido remuneração, não têm força de lei para impor a não incidência de contribuições previdenciárias sobre tais parcelas, nos termos do art. 123 do CTN. Tendo em vista que os valores pagos aos dirigentes (contribuintes individuais) sob a rubrica "2007 Bônus Desempenho" tratamse de remuneração em retribuição aos serviços prestados, sem qualquer previsão legal que afaste a incidência de contribuições previdenciárias, esse valores devem integrar a base de cálculo da remuneração dos contribuintes individuais, incidindo sobre eles, por conseguinte, as contribuições previdenciárias. Ressaltese que o fato de terem sido tais remunerações pagas em parcela única em 04/2013 não caracteriza o pagamento como eventual, pois conforme exposto no item 3.4 da resposta do contribuinte, datada de 06/06/2017, a periodicidade de pagamento de tal rubrica em 2012 e 2013 é anual. Portanto, como a Transpetro não considerou a remuneração paga, devida ou creditada a cada um dos membros de sua própria Diretoria, sob a rubrica “2007 – Bônus Desempenho”, como integrante da base de cálculo para a Previdência Social, não a incluiu nos respectivos salários de contribuição informados na GFIP do estabelecimento 02.709.449/0001 59, na competência 04/2013, acarretando uma contribuição previdenciária declarada em GFIP, para esse estabelecimento/competência, inferior à devida. Tendo em vista que os fatos geradores das contribuições lançadas no presente processo ocorreram na vigência da Lei no 11.941/09, que introduziu o artigo 35A na Lei n° 8.212/91, aplicase no presente lançamento a multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento), conforme disposto no inciso I do artigo 44 da Lei n° 9.430/96. Devidamente intimado o contribuinte sobre o lançamento, comparece aos autos apresentando o instrumento de impugnação de fls. 694/751. Alega, em apertada síntese: Fl. 2148DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.149 14 DO DIREITO DA CONTRIBUIÇÃO A OUTRAS ENTIDADES OU FUNDOS: MESMA BASE DE CÁLCULO UTILIZADA PARA CONTRIBUIÇÕES À PREVIDÊNCIA SOCIAL 1) De acordo com o art. 109 da Instrução Normativa RFB n° 971/09, as contribuições destinadas a Outras Entidades ou Fundos (Terceiros) incidem sobre a mesma base de cálculo utilizada para o cálculo das contribuições destinadas à Previdência Social, ou seja, a folha de pagamento de salários. Cita legislação e julgados. DA EXCLUSÃO DAS VERBAS DE GRATIFICAÇÃO DE CONTINGENTE DA BASE DE CÁLCULO DAS CONTRIBUIÇÕES 2) Cita o artigo 22, inciso I, da Lei nº 8.212/91. O dispositivo transcrito determinou que a base de cálculo das contribuições à Seguridade Social corresponde ao total das remunerações destinadas a retribuir o trabalho, ou seja, o salário do empregado, não havendo o que se falar na inclusão nesta base de cálculo de determinadas remunerações pagas sem correlação com a prestação de serviços realizada pelo empregado. Nem se alegue, em desfavor desta constatação, que a Lei utiliza a palavra "remuneração", e não "salário", eis que caso fosse esse o desejo do legislador, a Lei não preceituaria que a incidência da contribuição deve ocorrer apenas sobre as verbas "destinadas a retribuir o trabalho". Dessa forma, afirmese em rigorosa síntese que as contribuições ora em voga, devem incidir tão somente sobre as verbas que correspondam a uma contraprestação ao serviço prestado pelo trabalhador, ou seja, as verbas de natureza estritamente salarial, e não sobre a remuneração sob uma visão geral de toda e qualquer quantia recebida. Com tanto mais razão, o plano jus trabalhista considera distintos os conceitos de remuneração e salário. O primeiro, mais amplo, tem definição controvertida entre os doutrinadores, recebendo pelo menos três sentidos diferenciados que, apesar de se aproximarem, possuem determinadas particularidades. Entretanto, a mais aceita das acepções, fundada no modelo sugerido pelo texto dos arts. 76 e 457, caput, da Consolidação das Leis do Trabalho CLT, consolida o entendimento de que os conceitos em discussão guardam entre si considerável diferença. Cita doutrina. 3) Destarte, remuneração é todo provento legal e habitualmente auferido pelo empregado em virtude do contrato de trabalho, podendo incluirse neste, o salário que, por seu turno, é contraprestação direta devida pelo empregador ao empregado em virtude de serviço prestado em face do contrato de trabalho. Cita doutrina. 4) Em seguimento a esse elenco, importante destacar que a gratificação de contingente é pagamento feito pela Impugnante aos empregados sem respectiva contraprestação pelo trabalho. Tratase de quantia paga em decorrência de previsão do Acordo Coletivo de Trabalho, o que foi reconhecido pela própria Fiscalização, não havendo qualquer correlação direta com a Fl. 2149DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.150 15 prestação de serviço. O pagamento de gratificação de contingente não configura remuneração decorrente do trabalho, mesmo porque não há qualquer obrigatoriedade da Impugnante realizar o pagamento, havendo apenas um acordo entre ela e o sindicato para o referido pagamento. 5) Há de se ressaltar que a Impugnante não estava obrigada a acordar a concessão da gratificação no Acordo Coletivo de Trabalho, fazendo isso por livre e espontânea vontade, e deixando constar expressamente que não há qualquer vinculação do pagamento com a remuneração decorrente do trabalho prestado. Importante destacar que esta rubrica não possui uma das principais características das quantias que compõem o salário de contribuição, qual seja, a habitualidade. A gratificação de contingente não é paga de forma habitual, sendo pagamento realizado eventualmente e, de acordo com o Acordo Coletivo de Trabalho. 6) Mostrase deveras equivocado o argumento da Autoridade Fiscal no sentido de que, por terem sido tais gratificações pagas nos anos de 2012 e 2013, período objeto da fiscalização, na verdade, haveria habitualidade. Acrescentese, ainda, que a autoridade menciona que, conforme verificado no site da Federação Única dos Petroleiros, a Impugnante pagou, em parcela única, a Gratificação de Contingente em todos os anos do período de 2007 a 2015. Ora, a autoridade fiscal não verificou como foram feitos os pagamentos nos anos de 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2014 e 2015, não tendo avaliado condições, previsões em Acordos Coletivos de Trabalho, tampouco critérios de pagamento, já que a fiscalização foi apenas dos anos de 2012 e 2013. Assim, não pode a autoridade fiscal utilizar informação genérica obtida em site da Federação Única dos Petroleiros para presumir que há habitualidade no pagamento da Gratificação de Contingência e justificar o lançamento das contribuições em exigência, sem analisar qualquer documento relativo aos pagamentos nos anos não fiscalizados. 7) Destaquese, inclusive, que o Superior Tribunal de Justiça STJ já se manifestou no sentido de que o pagamento de abono único em sucessivos anos não caracteriza a habitualidade do pagamento da verba, sendo evidente que o pagamento da gratificação de contingente é eventual e, portanto, não pode sofrer a incidência das contribuições. A habitualidade, na verdade, se refere apenas ao período de vigência do Acordo Coletivo que prevê o pagamento da verba. Assim a quantia deve ser paga uma única vez dentro do prazo do ACT e não durante toda a relação de emprego do empregado. Como pode se observar, ainda, nos Acordos Coletivos de Trabalho apresentados à época da fiscalização e constantes nos presentes autos, suas cláusulas são expressas ao determinar que a gratificação de contingente não integra os salários dos empregados, deixando claro, ainda, que não consiste em contraprestação do trabalho realizado pelos mesmos. 8) Cita precedente do Tribunal Superior do Trabalho – TST, específico sobre a gratificação contingente (Orientação Fl. 2150DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.151 16 Jurisprudencial nº 64 da SBDI1), do Superior Tribunal de Justiça STJ, o Ato Declaratório PGFN nº 16/2011 e precedentes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF. 9) Diante de todo o exposto, resta claro que é pacífico o entendimento de segundo o qual a gratificação de contingente é verba de natureza não salarial, já que paga de forma eventual, e sem natureza retributiva do trabalho do empregado. A Fiscalização, ao mencionar o artigo 28, § 9°, da Lei n° 8.212/91, o trata como norma isentiva, estabelecendo rol taxativo das hipóteses ali apontadas. No entanto, a doutrina é pacífica ao entender que o referido dispositivo normativo trata de casos de não incidência tributária com rol exemplificativo, especialmente no que se refere ao item 7 da alínea “e”. Cita doutrina. É oportuno destacar, ainda, que não merece prosperar o argumento no sentido que somente a lei poderia afastar a natureza salarial das rubricas mencionadas no item 7 da alínea “e” do § 9° do art. 28 da Lei n° 8.212/91. Cita doutrina. DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS PLR PAGA AOS SEGURADOS EMPREGADOS 10) A Autoridade Fiscal não verificou que os empregados que receberam PLR nos meses de 04 e 05/2013 não ocupavam o mesmo cargo nos dois períodos, ou seja, estes empregados receberam o PLR nos meses de abril e maio/2013, mas ocupando cargos diversos. Como se vê na planilha anexa ao Relato Fiscal, em que é informada a matrícula do empregado beneficiado pelo pagamento na coluna “Cód Trab”, apesar de se tratar do mesmo empregado, ele recebeu o PLR de 04 e 05/2013 ocupando cargos diferentes, havendo, inclusive, descrição diversa do mesmo trabalhador. Apresenta planilha que demonstra que o PLR pago ao mesmo empregado sem observância da periodicidade estabelecida em lei foi, todas as vezes que o empregado ocupava outro cargo, o que pode ser verificado pela sua matrícula no período. 11) Destaquese, ainda, que é possível verificar que os empregados Cristina Helena Zagratzki Smith da Silva e Antonio Jose Caldas Rodrigues receberam PLR duas vezes no mês de maio, sendo certo que ocupavam cargos diferentes em ambos os recebimentos, bem como em abril e julho. Ora, é evidente que a Impugnante não pagaria PLR ao mesmo empregado duas vezes no mesmo mês, sequer em meses seguidos, sem observância da periodicidade exigida em lei, tendo ocorrido tais pagamentos justamente porque os empregados ocupavam cargos diferentes quando do recebimento do benefício. 12) É importante lembrar que somente receberam PLR aqueles empregados que atingiram as metas e resultados estabelecidos para as posições que ocupavam na empresa no período. Assim, é possível verificar que os pagamentos realizados, apesar de terem sido destinados aos mesmos empregados, se deram em razão de colocação em cargos diferentes, tendo, inclusive, recebido valores diversos. A legislação não faz qualquer restrição para a Fl. 2151DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.152 17 concessão diferenciada de PLR em setores ou unidades da mesma empresa, razão pela qual, a Impugnante decidiu que o pagamento de PLR para empregados ocupantes de cargos diferentes ocorreria em períodos diversos. 13) No caso sob apreciação, o fato de existirem mais pagamentos no mesmo exercício ou no mesmo trimestre não desnatura a PLR, posto que evidenciado tratarse de pagamentos a empregados ocupantes de cargos diferentes quando dos recebimentos. Como se sabe, a periodicidade estabelecida pela Lei n° 10.101/00 tem como objetivo impedir que o pagamento de PLR seja feito como complemento ao salário mensal, de forma que não substitua a remuneração. Ora, no presente caso é evidente que os pagamentos de PLR nos meses de abril e maio não objetivaram substituir a remuneração decorrente de contrato de trabalho, principalmente porque foram feitos quando os empregados ocupavam diferentes cargos. DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS PLR PAGA AOS CONTRIBUINTES INDIVIDUAIS 14) Cita a Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 10.101/00. Somente em razão do artigo 2o da Lei nº 10.101/00 se referir a "empresa e seus empregados", a Fiscalização entendeu que os pagamentos feitos a título de PLR a contribuintes individuais sofrem a incidência das contribuições. Lembrese que a Constituição de 1988 não faz referência a empregados, mencionando de forma abrangente o termo "trabalhadores", de forma que não épossível a limitação pretendida pela autoridade fiscal. Não é demais lembrar, inclusive, que o pagamento de PLR a dirigentes e diretores encontrase previsto na Lei n° 6.404/76 em seus arts. 152, § 1° e 190. 15) Ocorre que, diferentemente do sustentado pela Autoridade Fiscal, a não incidência das contribuições sobre os pagamentos feitos a título de PLR também se estende aos pagamentos feitos aos diretores e dirigentes, contribuintes individuais. A referência somente a empregados na Lei n° 10.101/00 não pode criar um novo campo de incidência das contribuições previdenciárias para os contribuintes individuais, sendo certo que os lucros e resultados pagos a eles também não se incluem na base de cálculo dos referidos tributos. Cita julgados do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF. 16) Assim, o entendimento adotado pela autoridade fiscal diverge de toda jurisprudência do CARF, sendo evidente que se admitir a incidência das contribuições sobre as verbas pagas a título de PLR somente aos diretores (contribuintes individuais) caracterizaria manifesta afronta à isonomia, princípio constitucionalmente assegurado. A Lei n° 8.212/91, em seu art. 28, § 9°, alínea “j” dispõe expressamente que não integram o salário de contribuição as verbas pagas a título de participação nos lucros ou resultados da empresa, desde que observados os requisitos estabelecidos em lei. Como de natural obviedade, os pagamentos feitos a contribuintes individuais somente sofrerão a incidência das contribuições previdenciárias quando pagos de forma habitual e em contraprestação ao trabalho realizado. Fl. 2152DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.153 18 17) Como se sabe, o pagamento referente a participação nos lucros e resultados não se dá em razão do trabalho realizado pelo diretor, tratase, na verdade, de rendimento do capital, o que comprova a ausência de um dos requisitos para inclusão da verba no saláriodecontribuição. Na esteira desse raciocínio, a PLR não é paga de forma habitual, pelo que também não resta atendido o outro requisito para inclusão da verba no saláriode contribuição. Cita doutrina. DOS PAGAMENTOS A SEGURADOS EMPREGADOS DA PETROBRÁS 18) A Fiscalização exige contribuições sobre as verbas pagas aos diretores Agenor Cesar Junqueira Leite e Cláudio Ribeiro Teixeira Campos, nos anos de 2012 e 2013, sob a rubrica “Remuneração Global Dir. S. Enc”. Ocorre, no entanto, que se tratam de honorários pagos aos dirigentes cedidos pela Petrobrás, com vínculo empregatício com esta empresa, razão pela qual a responsável pelo recolhimento das contribuições incidentes sobre tais verbas era a Petrobrás e não a Impugnante. Cabe lembrar que, conforme reconhecido pela própria Autoridade Fiscal, a Petrobrás permaneceu declarando os dois segurados em GFIP e efetuando o recolhimento das respectivas contribuições previdenciárias incidentes sobre a remuneração dos diretores. Como de natural obviedade, considerando que as remunerações dos dois dirigentes estavam sendo declaradas na GFIP da Petrobrás e as respectivas contribuições previdenciárias também estavam sendo recolhidas por esta empresa, a Impugnante não procedeu à mesma declaração em GFIP, tampouco ao recolhimento em duplicidade das contribuições. 19) Não obstante, a Autoridade Fiscal entendeu que a Impugnante ao não incluir em GFIP os pagamentos realizados aos dois diretores da Petrobrás, bem como ao não recolher as respectivas contribuições, descumpriu o disposto nos arts. 22, inciso III e 32, inciso IV, da Lei n° 8.212/91. Não é demais repetir que a Petrobrás estava realizando todas as declarações e recolhimentos devidos, o que foi reconhecido na Fiscalização. No entanto, de acordo com a Autoridade Fiscal, a Petrobrás não declarou a totalidade dos valores e, consequentemente, não recolheu a integralidade das contribuições devidas, razão pela qual estão sendo exigidas da impugnante as diferenças não recolhidas. 20) Ora, é evidente que, em sendo os dirigentes considerados vinculados à Petrobrás, em havendo declaração da remuneração dos mesmos na GFIP daquela empresa, cabe tão somente a ela o recolhimento das contribuições devidas, não havendo o que se falar em responsabilidade da Impugnante, razão pela qual o lançamento tributário deve ser feito em face da Petrobrás, que declarou incorretamente e recolheu a menor. 21) Importante lembrar que nos contratos de trabalho consta a Petrobrás como contratante de ambos os diretores, razão pela qual o ônus referente ao recolhimento das contribuições Fl. 2153DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.154 19 incidentes sobre as verbas pagas a eles, é da Petrobrás e não da Impugnante que tomou os serviços por curto espaço de tempo. Dessa forma, se a Petrobrás declarou incorretamente os valores que foram efetivamente pagos a título de remuneração aos diretores e, consequentemente, recolheu a menor as respectivas contribuições devidas, é evidente que a cobrança deve ser feita em face da referida empresa e não da Impugnante. DAS VERBAS DE BÔNUS DE DESEMPENHO 22) Conforme já informado durante a Fiscalização, o bônus de desempenho foi um pagamento feito uma única vez aos diretores em razão de decisão do Conselho de Diretores. Impede assinalar, desde logo, que o mencionado pagamento foi realizado uma única vez, não havendo o que se falar em habitualidade no pagamento da rubrica. Ora, os dirigentes receberam as quantias de bônus de desempenho uma única vez, não tendo sido, inclusive, uma contraprestação do trabalho desenvolvido, já que pago desproporcionalmente e sem qualquer vinculação às atividades realizadas no ano. Verificase, dessa forma, que o bônus de desempenho não possui as duas características essenciais para que seja atribuída natureza salarial à verba, ou seja, a retributividade e a habitualidade. Cita doutrina. 23) No presente caso, não houve qualquer proporcionalidade no pagamento realizado, o que, por si só, já afasta a característica da retributividade, já que completamente desvinculada do trabalho dos diretores. A eventualidade do pagamento é evidente, não existindo habitualidade em um pagamento realizado uma única vez aos diretores, e, conforme amplamente já demonstrado na presente defesa, pagamentos eventuais não integram o salário de contribuição. A ausência de habitualidade nos pagamentos, bem como a inexistência de contraprestação impedem que valores pagos aos empregados componham o salário de contribuição, sendo evidente que a Impugnante, em momento algum, pretendeu substituir ou complementar a remuneração de seus empregados com os referidos/bônus/benefícios. Cita julgados do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF. 24) Destaquese, ainda, que os valores de bônus de desempenho considerados no lançamento combatido incluem os pagamentos feitos aos diretores Agenor César Junqueira Leite e Cláudio Ribeiro Teixeira Campos, os quais, conforme já informado, são empregados da Petrobrás, razão pela qual não há o que se falar em exigência em face da Impugnante. Dessa forma, ainda que as contribuições incidissem sobre as verbas pagas a título de bônus de desempenho, os valores referentes às quantias pagas aos diretores Agenor César Junqueira Leite e Cláudio Ribeiro Teixeira Campos deveriam ser exigidos da Petrobrás. 25) Diante dos elementos trazidos à colação, resta descaracterizada a contraprestatividade ao serviço prestado pelo trabalhador, não se podendo, pois, falar em salário; motivo pelo qual tais verbas devem ser excluídas da base de cálculo das Fl. 2154DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.155 20 contribuições sociais e previdenciárias, devendo, portanto, serem integralmente afastadas as cobranças combatidas. DA COBRANÇA ABUSIVA DE MULTA 26) Por derradeiro, por amor ao debate e ainda que fosse possível a aplicação de penalidade no presente caso, insta repisar que a multa exigida vai de encontro ao ordenamento jurídico pátrio. Como é sabido, os parâmetros para fixação das multas devem obedecer aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, preceitos do Direito Tributário cuja função primordial reside na atuação consciente da Administração Pública, sem a imposição de punições além das necessárias ao atendimento do interesse público. Cita doutrina. 27) À guisa do entendimento ora dado à estampa, concluise que o princípio da proporcionalidade é aquele que norteia a Administração Pública quando esta procede com as imposições de sanções pecuniárias aos contribuintes, devendo esta, portanto, aplicar a multa de forma proporcional entre o delito, a sanção e o prejuízo econômico causado. No presente caso, multa de ofício de 75% do valor do tributo supostamente devido, acrescida de juros, considerando que este sequer é devido, mostrase exorbitante e desproporcional. Ressaltese, ainda, que a imposição da multa de 75%, avança de forma desmedida no patrimônio do contribuinte para injustificadamente impingirlhe gravame punitivo. Destaquese que exigir multa em razão do não recolhimento do referido tributo, quando este não era devido, como pretende a Receita Federal no caso em comento, caracteriza manifesto confisco, em frontal violação dos preceitos constitucionais. Cita entendimento do Supremo Tribunal Federal STF e doutrina. DO PEDIDO 28) Por todo o exposto, espera firmemente a Impugnante sejam consideradas as relevantes razões de fato e de direito aduzidas na presente e requer sejam julgados improcedentes os Autos de Infração, cancelando, na sua totalidade, o lançamento tributário. Caso assim não se entenda, protestase pela redução da multa arbitrada em homenagem aos princípios da legalidade e não confisco. Vieramme os autos à conclusão. É o relatório. Passo a decidir.” A DRJ de origem entendeu pela improcedência da impugnação apresentada pelo contribuinte, mantendo, assim o crédito tributário lançado, na integralidade. O contribuinte, inconformado com o resultado do julgamento, apresentou recurso voluntário, às fls. 1111/1168, reiterando, as alegações expostas em impugnação. Em anexo ao Recurso Voluntário, o contribuinte juntou aos autos documentos a fim de comprovar suas alegações, quais sejam: Fl. 2155DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.156 21 · Às fls. 1206/1245 e fls. 1312/1351 junta “Descrição dos fatos e enquadramento legal – Contribuição Previdenciária da Empresa e do Empregador”; · Às fls. 1352/1400 e fls. 1401/1440 “Demonstrativo de Apuração – Contribuição para outras entidades e fundos”; · Às fls. 1441/1498, Acórdão que deu parcial provimento ao Recurso Especial no processo em que também é recorrente (processo n° 16682721489/201398); · Às fls. 1499/1669 e fls. 1673/2128, contratos individuais de trabalho; É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Martin da Silva Gesto Relator O recurso voluntário foi apresentado dentro do prazo legal, reunindo, ainda, os demais requisitos de admissibilidade. Portanto, dele conheço. Da Gratificação Contingente Sobre a rubrica “1469 Gratificação Contingente”, pagas nos anos de 2012 e 2013, basicamente a fiscalização sustenta: a) Previsão em acordos coletivos, que transcreve. b) Habitualidade no pagamento da rubrica (de 2007 a 2015), em parcela única, após pesquisa no sítio da FUP Federação Única dos Petroleiros (http://www.fup.org.br/acordoscoletivos), transcrevendo as previsões dos acordos de trabalho localizados no site. De sua parte, no tópico “DA EXCLUSÃO DAS VERBAS DE GRATIFICAÇÃO DE CONTINGENTE DA BASE DE CÁLCULO DAS CONTRIBUIÇÕES”, alega o contribuinte, basicamente: a) As contribuições previdenciárias devem incidir tão somente sobre as verbas que correspondam a uma contraprestação ao serviço prestado pelo trabalhador, ou seja, as verbas de natureza estritamente salarial, e não sobre a remuneração sob uma visão geral de toda e qualquer quantia recebida. b) A gratificação de contingente é pagamento feito pela Impugnante aos empregados sem respectiva contraprestação pelo trabalho. Tratase de quantia paga em decorrência de previsão do Acordo Coletivo de Trabalho, não havendo qualquer correlação direta com a prestação de serviço. c) Impugnante não estava obrigada a acordar a concessão da gratificação no Acordo Coletivo de Trabalho, fazendo isso por livre e espontânea vontade d) A rubrica não possui uma das principais características das quantias que compõem o salário de contribuição, qual seja, a habitualidade. e) Sobre a verificação no site da Federação Única dos Petroleiros, a autoridade fiscal não verificou como foram feitos os pagamentos nos anos de 2007, 2008, Fl. 2156DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.157 22 2009, 2010, 2011, 2014 e 2015, não tendo avaliado condições, previsões em Acordos Coletivos de Trabalho, tampouco critérios de pagamento, já que a fiscalização foi apenas dos anos de 2012 e 2013. Assim, não pode a autoridade fiscal utilizar informação genérica obtida em site da Federação Única dos Petroleiros para presumir que há habitualidade no pagamento da Gratificação de Contingência e justificar o lançamento das contribuições em exigência, sem analisar qualquer documento relativo aos pagamentos nos anos não fiscalizados. f) O Superior Tribunal de Justiça STJ já se manifestou no sentido de que o pagamento de abono único em sucessivos anos não caracteriza a habitualidade do pagamento da verba, sendo evidente que o pagamento da gratificação de contingente é eventual. g) O tema já foi objeto de pronunciamento pelo Tribunal Superior do Trabalho – TST, conforme Orientação Jurisprudencial nº 64 da SBDI1. O contribuinte alega que o pagamento da Gratificação Contingente não se deu com habitualidade, e, em face do artigo 201, § 11 da Constituição Federal de 1988, não estaria abrangido pela hipótese de incidência previdenciária. Sobre o tema, consoante destacado pela CONTRIBUINTE, o Tribunal Superior do Trabalho – TST, em reiterados julgados, tem se manifestado nos seguintes termos: “RECURSOS DE REVISTA INTERPOSTOS PELAS RECLAMADAS. IDENTIDADE DE MATÉRIAS. ANÁLISE CONJUNTA. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE E PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS PREVISTAS EM NORMA COLETIVA A EMPREGADOS DA ATIVA. NATUREZA JURÍDICA NÃO SALARIAL. NÃO INTEGRAÇÃO NA COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. Segundo a diretriz fixada na Orientação Jurisprudencial Transitória nº 64 da SBDI1 do TST, as parcelas gratificação contingente e participação nos resultados, concedidas por força de acordo coletivo a empregados da Petrobras em atividade, pagas de uma única vez, não integram a complementação de aposentadoria. Dessa orientação divergiu o acórdão recorrido. Recurso de revista parcialmente conhecido e provido.” (TST, RR 12320009.2008.5.04.0202 , Relator Ministro: Walmir Oliveira da Costa, Data de Julgamento: 27/09/2017, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/09/2017) “RECURSO DE REVISTA DA PRIMEIRARECLAMADA PETROBRAS COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA COMPETÊNCIA JUSTIÇA DO TRABALHO DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO. No dia 20/2/2013, o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento dos Recursos Extraordinários nºs RE 586.453 e RE 583.050, proferido com repercussão geral, concluiu que cabe à Justiça Comum julgar processos decorrentes de contrato de previdência complementar privada, ainda que oriunda do contrato de trabalho. Contudo, os efeitos da decisão, por questões de segurança jurídica, foram modulados para estabelecer que permanecerão na Justiça do Trabalho todos os processos com sentença de mérito proferida até aquela data. Logo, como na situação a decisão de primeiro grau com resolução de mérito foi prolatada antes do julgamento da matéria pela Corte Suprema, fica preservada a competência da Justiça do Trabalho para a resolução do litígio. Fl. 2157DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.158 23 Recurso de revista da primeirareclamada não conhecido. COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA PETROBRAS PETROS PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE NORMA COLETIVA NATUREZA INDENIZATÓRIA EXTENSÃO AOS APOSENTADOS IMPOSSIBILIDADE. O art. 7º, XI, da Constituição Federal estabelece a natureza jurídica indenizatória da participação nos lucros. Além disso, nos termos do art. 7º, XXVI, da Constituição da República, deve ser prestigiado o pactuado em norma coletiva, invocandose o princípio da autonomia da vontade coletiva, desde que não haja o desrespeito a norma de ordem pública ou máfé. Logo, a participação nos lucros e a gratificação contingente, previstas em norma coletiva e pagas em parcela única, são devidas apenas aos empregados em atividade e têm natureza jurídica indenizatória, sendo descabida a extensão das referidas parcelas aos inativos e a sua integração aos proventos de complementação de aposentadoria. Incide a Orientação Jurisprudencial Transitória nº 64 da SBDI1 do TST. Recurso de revista da primeirareclamada conhecido e provido. RECURSO DE REVISTA DA SEGUNDARECLAMADA PETROS PERDA SUPERVENIENTE DO OBJETO. Ante o conhecimento e provimento do recurso de revista da primeirareclamada, com a improcedência dos pedidos iniciais dos autores, fica prejudicado o exame do apelo de revista da segundareclamada, em razão da total perda superveniente do seu objeto. Recurso de revista da segundareclamada prejudicado.” (TST, RR 14630082.2002.5.01.0041 , Relator Ministro: Luiz Philippe Vieira de Mello Filho, Data de Julgamento: 26/10/2016, 7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 28/10/2016) “I EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA FUNDAÇÃO PETROBRAS DE SEGURIDADE SOCIAL PETROS. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE. OMISSÃO. Reconhecida a omissão em relação ao tema gratificação contingente, dáse provimento aos embargos de declaração para sanar omissão e analisar o recurso de revista quanto ao tema em questão. Embargos de declaração conhecidos e providos, com efeito modificativo. II RECURSO DE REVISTA. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE. A decisão regional em que se deferiu a inclusão da parcela denominada "Gratificação Contingente" no cálculo da complementação de aposentadoria, está em contrariedade aos termos da OJ 64 da SBDI1 Transitória, segundo a qual "As parcelas gratificação contingente e participação nos resultados, concedidas por força de acordo coletivo a empregados da Petrobras em atividade, pagas de uma única vez, não integram a complementação de aposentadoria". Recurso de revista conhecido por contrariedade à OJ Transitória nº 64 da SBDI1 e provido, no particular.” (TST, EDARR 21140086.2008.5.04.0203, Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data de Julgamento: 22/11/2016, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 25/11/2016) Fl. 2158DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.159 24 O Tribunal Superior do Trabalho buscou uniformizar a jurisprudência, resultando na edição da OJ Transitória 64 SBDI1, nos seguintes termos: “64. Petrobras. Parcelas gratificação contingente e participação nos resultados deferidas por norma coletiva a empregados da ativa. Natureza jurídica não salarial. Não integração na complementação de aposentadoria. (DeJT 03/12/2008). As parcelas gratificação contingente e participação nos resultados, concedidas por força de acordo coletivo a empregados da Petrobras em atividade, pagas de uma única vez, não integram a complementação de aposentadoria.” No julgamento do Recurso de Revista nº 738054/2001.0, a 5ª Turma do TST, por intermédio do voto da lavra do eminente ministro Emmanoel Pereira, reconheceu a natureza indenizatória das parcelas denominadas "participação nos resultados" e "gratificação de contingente". Cumpre transcrever trecho do voto condutor daquele julgado. Confirase: “2. MÉRITO PETROBRÁS. PARCELA PARTICIPAÇÃO NOS RESULTADOS DEFERIDAS POR NORMA COLETIVA A EMPREGADOS DA ATIVA. NATUREZA JURÍDICA NÃO SALARIAL. NÃOINTEGRAÇÃO NA COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. Limitase a controvérsia em definir a natureza jurídica imanentes às parcelas creditadas aos empregados da ativa, ligados à PETROBRAS, a título de "participação nos resultados" e "gratificação de contingente". No âmbito do Tribunal Superior do Trabalho, a questão não mais comporta questionamento. Em termos gerais, a Corte entende que a parcela instituída por negociação coletiva com destinação específica aos empregados em atividade a serem pagas uma única vez e não incorporadas ao salário não são passíveis de reflexos na complementação de aposentadoria. É o que deflui da Orientação Jurisprudencial nº 346 da SBDI1, abaixo reproduzida: ABONO PREVISTO EM NORMA COLETIVA. NATUREZA INDENIZATÓRIA. CONCESSÃO APENAS AOS EMPREGADOS EM ATIVIDADE. EXTENSÃO AOS INATIVOS. IMPOSSIBILIDADE. DJ 25.04.07 A decisão que estende aos inativos a concessão de abono de natureza jurídica indenizatória, previsto em norma coletiva apenas para os empregados em atividade, a ser pago de uma única vez, e confere natureza salarial à parcela, afronta o art. 7º, XXVI, da CF/88. No caso em foco, relativo à PETRO e PETROBRAS, o TST também pacificou entendimento. As parcelas creditadas aos empregados da ativa, em parcela única, sem reflexo em outras verbas, a título de "participação nos resultados" e "gratificação de contingente" revestemse de natureza indenizatória e, por isto, não comportam extensão aos inativos. Nesse sentido, menciono os seguintes precedentes específicos à PETROBRAS e PETROS: Fl. 2159DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.160 25 "GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE E PARTICIPAÇÃO DE RESULTADO ACORDO COLETIVO REPERCUSSÃO NA COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA PETROBRAS. Não se há falar em ofensa ao art. 457, § 1º, da CLT, pela peculiaridade registrada na decisão Regional, de que as verbas deferidas não se incorporam ao salário, já que os abonos concedidos o foram a título de participação nos resultados, conforme firmado em acordo coletivo, e pagos em parcela única. Recurso de Embargos não conhecido" (ERR44387/ 20029001100, Rel. Min. Carlos Alberto Reis de Paula, DJ 22/06/07); "EMBARGOS. PETROBRAS PARTICIPAÇÃO EM RESULTADOS. GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE. INCORPORAÇÃO À COMPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA INDEVIDA. 1. Não se identificam elementos hábeis à declaração da natureza salarial das verbas gratificação contingente e participação de resultados. A inexistência de habitualidade afasta, de imediato, a incorporação das parcelas ao contrato de trabalho, não havendo falar em violação ao artigo 457, § 1º, da CLT. 2. O art. 7º, XI, da Constituição da República não foi prequestionado, nos termos da Súmula nº 297 do TST. Embargos não conhecidos" (ERR44381/ 20029001100, Rel. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, DJ 25/05/07); "GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE E PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS. NATUREZA DA PARCELA. ACORDO COLETIVO. Devese prestigiar o pactuado entre empregados e empregadores por meio de convenções e acordos coletivos de trabalho, sob pena de violação ao disposto no art. 7º, inc. XXVI, da Constituição da República. A flexibilização no Direito do Trabalho, fundada na autonomia coletiva privada, permite a obtenção de benefícios para os empregados com concessões mútuas. Portanto, se as partes decidiram vedar a incorporação das verbas em apreço na remuneração, não se pode dar interpretação elastecida ao instrumento normativo. Recurso de Embargos de que não se conhece" (ERR785.415/ 2001.5 Rel. Min. João Batista Brito Pereira, DJ 02/02/07). Ante o exposto, dou provimento ao recurso de revista, para, reconhecendo a natureza indenizatória das parcelas denominadas "participação nos resultados" e "gratificação de contingente", julgar improcedente todos os pedidos deduzidos na petição inicial. Invertido o ônus da sucumbência. Custas pelos reclamantes, no importe de R$ 27,00, calculadas sobre o valor atribuído à causa, de cujo pagamento ficam dispensados na forma da lei.” (grifouse) O Recorrente alega, ainda, que a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, editou o Ato Declaratório nº 16, de 20 de dezembro de 2011 (DOU de 22.12.2011), em que reconhece expressamente que sobre o abono único previsto em convenção coletiva de trabalho, e desvinculado do salário e pago sem habitualidade, não incide contribuição previdenciária, in verbis: A PROCURADORAGERAL DA FAZENDA NACIONAL, no uso da competência legal que lhe foi conferida, nos termos do inciso Fl. 2160DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.161 26 II do art. 19 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, e do art. 5º do Decreto nº 2.346, de 10 de outubro de 1997, tendo em vista a aprovação do Parecer PGFN/CRJ/Nº 2114 /2011, desta ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional, pelo Senhor Ministro de Estado da Fazenda, conforme despacho publicado no DOU de 09/12/2011 , DECLARA que ‘nas ações judiciais que visem obter a declaração de que sobre o abono único, previsto em Convenção Coletiva de Trabalho, desvinculado do salário e pago sem habitualidade, não há incidência de contribuição previdenciária’. JURISPRUDÊNCIA: REsp nº 434.471/MG (DJ 14/2/2005), REsp nº 1.125.381/SP (DJe 29/4/2010), REsp nº 840.328/MG (DJ 25/9/2009) e REsp nº 819.552/BA (DJe 18/5/2009). Por oportuno, transcrevo a ementa de julgado deste Conselho, pelo afastamento da incidência de contribuição previdenciária sobre a rubrica gratificação contingente: [...] GRATIFICAÇÃO CONTINGENTE. NORMA COLETIVA. NATUREZA INDENIZATÓRIA. Nos termos do art. 7º, XXVI, da Constituição da República, deve ser prestigiado o pactuado em norma coletiva, invocandose o princípio da autonomia da vontade coletiva, desde que não haja o desrespeito a norma de ordem pública ou máfé. Logo, a gratificação contingente, prevista em norma coletiva e paga em parcela única, é devida apenas aos empregados em atividade e têm natureza jurídica indenizatória, sendo descabida a extensão das referidas parcelas aos inativos e a sua integração aos proventos de complementação de aposentadoria. Incide a Orientação Jurisprudencial Transitória nº 64 da SBDI1 do TST. [...] (Acórdão nº 2401005.284, Relatora Luciana Matos Pereira Barbosa, julgado em 07.02.2018.) Verifico, no presente caso, que se encontram presentes os requisitos estabelecidos no art. 28, §9º, ‘e’, item 7, da Lei 8.212/91, para a não incidência da contribuição previdenciária, a vista que as importâncias recebidas são expressamente desvinculados do salário, conforme determinam os Acordos Coletivos (não incorporados os respectivos salários) e pagos sem habitualidade, não possuindo natureza salarial e portanto, deve ser afastada a contribuição previdenciária sobre a rubrica gratificação contingente. Da Participação nos Lucros e Resultados PLR Quanto à Participação nos Lucros e Resultados, após várias considerações teóricas sobre o tema, a fiscalização fundamenta o lançamento em dois pontos específicos: 1) Rubrica "/B10 Particip Lucr e ou Result" paga a diversos segurados empregados nas competências 04/2013, 05/2013 e 07/2013, violandose a regra da periodicidade exigida pela Lei nº 10.101/00, promovendo o lançamento dos valores pagos tão somente na competência 05/2013. 2) Pagamento de PLR, conforme registro das folhas de pagamento, aos seguintes segurados contribuintes individuais: Agenor César Junqueira Leite categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Cláudio Ribeiro Teixeira Campos categoria 11 diretor Fl. 2161DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.162 27 não empregado sem FGTS; Jose Sergio de Oliveira Machado categoria 5 diretor não empregado com FGTS; Marcelo Rosa Renno Gomes categoria 5 diretor não empregado com FGTS; e, Rubens Teixeira da Silva categoria 5 diretor não empregado com FGTS. 2a) Posição privilegiada dos administradores, em comparação aos empregados, com relação ao estabelecimento dos critérios e metas para atribuição do montante a ser recebido a título de PLR. 2b) Mesmo que o contribuinte considerasse que a rubrica recebida pelos membros da Diretoria da Transpetro em 2013 referiase à PLR de administradores, prevista no artigo 190 da Lei n° 6.404/76, os valores pagos, devidos ou creditados sob esse título deveriam compor a base de cálculo de contribuições previdenciárias. Em relação ao item 1, a contribuinte impugna o primeiro ponto do lançamento (pagamentos em violação à regra da periodicidade mínima), afirmando, em síntese, que o motivo justificador destes pagamentos é o fato de que os empregados que receberam PLR nos meses de 04 e 05/2013 não ocuparem o mesmo cargo nos dois períodos, ou seja, estes empregados receberam o PLR nos meses de abril e maio/2013, mas ocupando cargos diversos. Ainda, afirma que somente receberam PLR aqueles empregados que atingiram as metas e resultados estabelecidos para as posições que ocupavam na empresa no período. A DRJ se posicionou sobre o tema: "(...) ouso divergir do contribuinte. Poderia até ser possível que um mesmo segurado atingisse as metas e objetivos de cada um dos cargos, ao longo de um período razoável de tempo, por exemplo, um semestre. No entanto, considerando que em um mês está ele provendo um cargo, e no outro, já ocupa novo cargo, resta sumamente difícil crer que em período tão curto de tempo tenha atingido as metas e resultados no novo cargo. Se assim ocorreu, obviamente, as metas fixadas não eram por cargos, mas sim gerais, e, dessa forma, pouco importava se em um ou em outro cargo, a periodicidade mínima deveria ser respeitada. A fiscalização traz aos autos o Anexo II de fls. 418/420. Confira se os valores pagos a cada empregado: (...) Ora, os valores são consideráveis para se entender que em tão pouco tempo, de um mês para outro, houve o atingimento de metas e resultados pelos segurados em relação aos cargos ocupados. Aliás, é interessante observar que o contribuinte não traz qualquer elemento de prova que demonstre que, de fato, houve a suposta transferência dos segurados e em relação a quais cargos eles atingiram suas metas respectivas e quais foram estas metas a justificar a suposta “complementação de PLR”. A Lei nº 10.101/2000 não impede que se receba a PLR em relação a cargos distintos, desde que, evidentemente, se comprove cabalmente que houve o atingimento das metas respectivas em cada um deles. O que não se mostra razoável é que de um mês a outro se atinja a meta do novo cargo, ou, como alega o contribuinte, no caso dos segurados Cristina Helena Zagratzki Smith da Silva e Antonio José Caldas Rodrigues, que nos meses de maio, abril e julho, receberam valores de cargos diferentes! A alegação afronta o bom senso! Fl. 2162DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.163 28 Outrossim, a simples verificação da matrícula do segurado empregado não prova nada, pois é apenas um número interno de controle do contribuinte que não tem demonstrada a eventual relação que ele tenha com este ou aquele cargo, não tendo este Relator mediunidade para adivinhar esta vinculação! Isto é ônus probatório do contribuinte, não desempenhado, frisese. Dispõe a Lei nº 10.101/2000: Art. 3º A participação de que trata o art. 2º não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. § 2º É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a título de participação nos lucros ou resultados da empresa em periodicidade inferior a um semestre civil, ou mais de duas vezes no mesmo ano civil (Redação dada pela Lei nº 12.832, de 20 de junho de 2013) Diante disso, concluiu a DRJ, cujo entendimento compartilho, que seja antes do advento da Lei nº 12.832/2013, como após ela, os pagamentos feitos em três parcelas a determinados segurados sem qualquer comprovação no sentido de que, de fato, faziam jus ao pagamento complementar, seja por erro quanto aos pagamentos originários, seja pela suposta mudança de cargo, neste caso provandose o atingimento de metas no cargo em questão, configuram parcela integrante do salário de contribuição, porque feitos em desacordo com a Lei nº 10.101/00, a teor do artigo 28, § 9º, alínea “j” da Lei nº 8.212/91. Portanto, carece de razão a contribuinte neste tocante. Pois bem. Em relação ao item 2, entendo que se os ditames da Lei nº 10.101/00 se aplicam ao contribuinte individual, ou seja, cumpridos os requisitos previstos na Lei nº 10.101/00, há isenção da contribuição previdenciária nos pagamentos realizados ao contribuinte individual a título de PLR. Ao instituir uma gama de direitos aos trabalhadores, a Constituição Federal assim determinou: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: ... XI participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;” (grifouse) Não quis, o Constituinte, diferenciar os trabalhadores. Podemos assim inferir, pois quando optou por identificar determinados trabalhadores, a Carta Fundamental assim o fez, como se pode observar no inciso XXXIV e parágrafo único, ambos do mesmo artigo 7º acima, que se referem especificamente ao trabalhador avulso, que teve seus direitos equiparados; e ao doméstico, que na redação original da Carta, os teve diminuídos. Idêntica redação tem a Lei 10.101, de 2000, que em seu artigo 1º, explicita: “Art. 1o Esta Lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à Fl. 2163DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.164 29 produtividade, nos termos do art. 7o, inciso XI, da Constituição.” (grifouse) Para alguns, por mencionar a categoria dos empregados, nos caputs dos artigos 2º e 3º, dispositivos que explicitam os requisitos para a validade da PLR, a Lei nº 10.101 restringiria a estes trabalhadores o direito à participação nos lucros e resultados. No acórdão nº 2201003.370, o Conselheiro Relator Carlos Henrique de Oliveira, assim expõe seu voto, o qual foi acolhido por unanimidade na sessão de julgamento de 18 de janeiro de 2017, cujo entendimento compartilho: "(...) o uso do vocábulo empregado se constituiu um pressuposto lógico, pois o dispositivo constante do artigo 2º trata da participação do sindicato na elaboração do plano, e o do artigo 3º versa sobre a integração da verba paga a título de PLR na remuneração e nos reflexos trabalhistas que só existem para o empregado. A uma não haveria outro modo de redigir a norma, pois ao desejar que os trabalhadores estivessem representados na mesa de negociação com os empregadores por alguém que lhe defendessem os interesses, esse alguém só poderia ser o sindicato, entidade típica dos empregados, que já tem – por expressa previsão constitucional – esse mister. A outra, porque reflexos trabalhistas sobre verbas pagas pelo trabalho, também só surgem para os empregados. Mera busca na letra fria da lei só encontra mais uma remissão aos empregados, justamente no parágrafo 1º do artigo 3º, de onde se conclui que não há, nem do ponto de vista semântico, a intenção do legislador de restringir o benefício. Reiterese, que, ao tratar da questão da tributação da renda decorrente do recebimento da PLR, volta novamente o legislador a utilizarse da expressão “trabalhador”. Por fim, necessário recordar, numa interpretação teleológica, que o contribuinte individual, por exemplo, o diretor, contribui também com seu labor para o atingimento das metas e resultados da empresa. Subtrair tal benefício dessa categoria é discriminar alguém que, em regra, não sendo detentor do capital, só possui o trabalho para obter renda e sustentar sua família. Vários julgados deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais corroboram esse entendimento (PAF 10920.002868/200881, Ac. 2301003.024, dj; PAF 11020.002008/201079, Ac. 2301002.492 dj 18.01.2014). Wagner Balera e Thiago Taborda Simões, em obra de fôlego sobre o tema (Participação nos Lucros e nos Resultados: Natureza Jurídica e Incidência Previdenciária, São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, FISCOSoft Editora, 2014, p. 163), asseveram: “...Na linha da literalidade, entendese que a norma de isenção descreve a materialidade a exclusão da incidência sobre as verbas pagas aos empregados da pessoa jurídica, conceito que não albergaria os contribuintes individuais (diretores estatutários, administradores, conselheiros), por não gozarem dessa qualidade. Fl. 2164DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.165 30 Por outro lado, a interpretação sistemática considera o benefício fiscal extensivo aos estatutários, por não integrarem o salário de contribuição. Enfileiramonos com a segunda posição. A norma de isenção da PLR é extensiva aos diretores (contribuintes individuais), já que a norma específica que trata do tema – Lei nº 10.101/2000 – não estabelece a limitação” Não obstante o todo o exposto, outro ponto, ao meu ver irrefutável, deve ser analisado. Disse, há pouco, que não quis o Constituinte distinguir os trabalhadores, ao reverso, fez questão de aproximálos pois, quando entendeu necessário, expressamente se referiu a um e a outro. Porém, outra consideração de cunho eminentemente jurídico deve ser apresentada. É cediço que a interpretação jurídica deve ser feita com estrito respeito aos princípios jurídicos que enfeixam o Direito. Mestre JJ Gomes Canotilho, no clássico Direito Constitucional e Teoria da Constituição (7ª edição, Almedina, pag. 1223), elucida que a Constituição deve ser interpretada segundo um catálogo dos princípios tópicos da interpretação constitucional, desenvolvido a partir de uma postura metódica hermeneutico concretizante, recortados pelo autores de forma diversa. Para ele, dois princípios são determinantes: "Princípio da unidade da constituição: O princípio da unidade da constituição ganha relevo autônomo com princípio interpretativo quando com ele se quer significar que a constituição deve ser interpretada de forma a evitar contradições (antinomias, antagonismos) entre suas normas. Como "ponto de orientação", "guia de discussão" e "factor hermenêutico de decisão", o princípio da unidade obriga o intérprete a considerar a constituição em sua globalidade e a procurar harmonizar os espaços de tensão entre as normas constitucionais a concretizar (...). Daí que o interprete deva sempre considerar as normas constitucionais não como normas isoladas e dispersas, mas sim como preceitos integrados num sistema interno unitário de normas e princípios. Princípio da máxima efetividade Este princípio, também designado por princípio da eficiência ou princípio da interpretação efectiva, pode ser formulado da seguinte maneira: a uma norma constitucional deve ser atribuído o sentido que maior eficácia lhe dê. (...)" (destaques não constam do original) Ainda mais enfática é a posição de Humberto Ávila (Teoria dos Princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 15ª ed. Malheiros. pag. 158/160). Após recordar que: "Princípios não são necessariamente meras razões ou simples argumentos afastáveis, mas também estruturas e condições inafastáveis" Fl. 2165DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.166 31 O doutrinador e professor titular da UFRGS, assevera com tintas fortes: "Quando a Constituição contém um dispositivo que privilegia o caráter descritivo da conduta, ou a definição de um âmbito de poder, há, nesse contexto e nesse aspecto, a instituição de uma regra que não pode ser simplesmente desprezada pelo legislador, ainda que haja internamente alguma margem de indeterminação para a definição de seu sentido" Nesse mesmo sentido, Tércio Sampaio Ferraz (Direito Constitucional, Manole, 2007, pg. 10 'in fine'), ensina: "Por exemplo, uma norma constitucional que impõe uma vedação (proibição de instituir tributo que não seja uniforme) valida normas legais que estatuam tributações, se respeitada a vedação, independentemente de se os fins (provimento de recursos adequados às necessidades) estão ou não sendo alcançados" A Carta da República, em seu artigo 150, que versa sobre as limitações do poder de tributar, peremptoriamente, assevera: "Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado a União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos" Refletindo sobre os princípios tributários, Paulo de Barros Carvalho (Direito Tributário: Linguagem e Método, 2ª ed. Noeses, 2008, pg. 267), esclarece: "Quando a estimativa "igualdade" é empregada em direito tributário, o critério é bem objetivo: dois sujeitos de direito que apresentarem sinais de riqueza expressos no mesmo padrão monetário haverão de sofrer a tributação em proporções absolutamente iguais" Voltemos às disposições da Lei nº 10.101/00: "Art.3º A participação de que trata o art. 2o não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista, não se lhe aplicando o princípio da habitualidade. (...) § 5º A participação de que trata este artigo será tributada pelo imposto sobre a renda exclusivamente na fonte, em separado dos demais rendimentos recebidos, no ano do recebimento ou crédito, com base na tabela progressiva anual constante do Anexo e não integrará a base de cálculo do imposto devido pelo beneficiário na Declaração de Ajuste Anual." Fl. 2166DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.167 32 Ao recordarmos que a Lei nº 10.101/00 trata sobre o Imposto sobre a Renda da Pessoa Física incidente sobre os valores percebidos pelo trabalhador a título de Participação nos Lucros e Resultados e mais, o faz de forma favorecida, se torna patente que a interpretação que discrimina o diretor estatutário, vedando seu direito ao recebimento da Participação, ofende de morte a Constituição Federal posto que colide frontalmente com a regra (caráter descritivo da conduta nos dizeres de Humberto Ávila), constante do inciso II do artigo 150 transcrito. Por óbvio que tal interpretação não pode ser aceita uma vez que contraria direito do contribuinte constitucionalmente esculpido, tratado pela Carta como vedação ao poder de tributar. Ao afastarmos o direito a percepção da PLR nos termos da Lei nº 10.101/00, o contribuinte individual estaria submetido a tributação sobre o valor recebido com base na tabela vigente para a remuneração decorrente do trabalho. Já, para a mesma verba, recebida pelo diretor empregado ou seja, trabalhador na mesma ocupação profissional ou função este teria direito a uma menor tributação para a mesma renda obtida, vez que decorrente de PLR. Leandro Paulsen (Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da jurisprudência e da doutrina, 15ª ed. Livraria do Advogado Ed., 2013, pg. 185), é enfático em afirmar: " O art. 150, II, da CF é expresso em proibir qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos" Como nos recorda JJ Canotilho, a interpretação deve ser realizada evitandose antinomias constitucionais e mais, ampliandose o gozo de direitos constitucionalmente esculpidos Não há tal vício de inconstitucionalidade na Lei nº 10.101/00. Não será o interprete que irá criálo. Assim, acompanhados pela jurisprudência administrativa e pela moderna doutrina, e principalmente, por entender que a norma de isenção representada pela Lei nº 10.101/00, não limitou o benefício fiscal e trabalhista à determinada categoria de trabalhadores – até porque tal procedimento seria claramente discriminatório e inconstitucional – sou de opinião que a PLR, desde que devidamente implementada, com o programa de criação do plano – devidamente aprovado pelo sindicato dos empregados explicitamente não excluindo os contribuintes individuais, pode sim ser extensiva a todos os trabalhadores da empresa. Do exposto, forçoso reconhecer que o recurso voluntário deve ser provido nessa parte. Assim, que preenchidos os requisitos para não incidência de contribuição previdenciária sobre pagamento de PLR aos seguintes segurados contribuintes individuais: Agenor César Junqueira Leite categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Cláudio Ribeiro Teixeira Campos categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Jose Sergio de Fl. 2167DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.168 33 Oliveira Machado categoria 5 diretor não empregado com FGTS; Marcelo Rosa Renno Gomes categoria 5 diretor não empregado com FGTS; e, Rubens Teixeira da Silva categoria 5 diretor não empregado com FGTS. Dos Pagamentos Realizados a Diretores Empregados da Petrobrás No que tange à parte do lançamento denominada “Diretores Empregados da Petrobrás”, sustenta a fiscalização, em linhas fundamentais, que o contribuinte remunerou dois diretores (segurados contribuintes individuais), cedidos pela Petrobrás S.A, Srs. Agenor César Junqueira Leite e Cláudio Ribeiro Teixeira Campos. Dentre as várias rubricas pagas, a única que não sofreu incidência previdenciária foi a rubrica “1010 Rem Global Dir S Enc”, abrangendo pagamento de honorários aos diretores, como informado pelo contribuinte. Em consequência, o contribuinte não inseriu esta rubrica na folha de pagamento e não a declarou em Guia de Recolhimento ao FGTS e Informações à Previdência Social GFIP. A Petrobrás S.A também não o fez relativamente à rubrica “1010 Rem Global Dir S Enc”. O contribuinte afirma que se trata de honorários pagos aos dirigentes cedidos pela Petrobrás, com vínculo empregatício com esta empresa, razão pela qual a responsável pelo recolhimento das contribuições incidentes sobre tais verbas era a Petrobrás e não ele. Considerandose, assim, que as remunerações dos dois dirigentes estavam sendo declaradas na GFIP da Petrobrás e as respectivas contribuições previdenciárias também estavam sendo recolhidas por ela, a Impugnante não procedeu à mesma declaração em GFIP, tampouco ao recolhimento em duplicidade das contribuições. A questão que se põe não envolve maiores dificuldades, resolvendose pela atribuição pertinente da responsabilidade pelos fatos geradores. Nos termos do Código Tributário Nacional CTN: Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz se: I contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; Nos termos da Lei nº 8.212/91, eis a relação pessoal e direta que se estabelece entre o contribuinte e os diretores que lhe prestam serviços: Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: [...] III vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços; Assim, sabendose que a teor dos artigos 12, inciso V, alínea “f” e 28, inciso III, todos da Lei nº 8.212/91, os diretores não empregados são segurados contribuintes individuais, pouco importa que eles permaneçam de alguma forma vinculados à Petrobrás S.A. O que importa no presente caso é que o contribuinte autuado, e não a Petrobrás S.A realizou pagamento de remuneração tributável, porquanto se trata de honorários pelos serviços prestados na qualidade de diretores, constituindo ele, o contribuinte autuado, a Petrobrás Transporte S.A – Transpetro, o sujeito passivo da exação, cabendolhe, como corolário, proceder à inserção das rubricas tributáveis na folha de pagamento e a respectiva declaração na Fl. 2168DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.169 34 Guia de Recolhimento ao FGTS e Informações à Previdência Social GFIP, não cabendo a imputação desta responsabilidade a outrem, ainda que este seja o cedente dos profissionais remunerados pelo contribuinte. É dizer, ainda que tenha sido cedido o diretor e haja acordo entre as duas empresas, isto não afasta a ocorrência do fato gerador e a responsabilidade em relação a ele, a cargo da Transpetro, o contribuinte que, de fato, remunerou os profissionais cedidos, e não a Petrobrás. Assim, poderia até ser que por um acordo entre as empresas a Transpetro realizasse os pagamentos remuneratórios e procedesse aos recolhimentos previdenciários devidos, e, em momento posterior, obtivesse o reembolso ou compensação pela Petrobrás, estabelecendose uma relação civil na espécie. O que não se admite é antecipar toda esta relação para alterar os efeitos tributários da ocorrência do fato gerador. Portanto, seja no que pertine à obrigação principal de recolhimento tributário, seja no que toca ao cumprimento das obrigações acessórias (inserção de todas as rubricas na folha de pagamento e integral declaração na Guia de Recolhimento ao FGTS e Informações à Previdência Social GFIP), a responsabilidade tributária se mantém no contribuinte autuado, porquanto foi ele, e não a Petrobrás, quem praticou os fatos geradores, remunerando segurados contribuintes individuais a seu serviço. Carece de razão a contribuinte, portanto. Do Bônus de Desempenho Sobre a rubrica “Bônus de Desempenho”, recebida, segundo a folha de pagamento, pelos diretores segurados contribuintes individuais, na competência 04/2013, Srs. Agenor César Junqueira Leite, Cláudio Ribeiro Teixeira Campos, Jose Sergio de Oliveira Machado, Marcelo Rosa Renno Gomes e Rubens Teixeira da Silva, a fiscalização sustenta ter intimado o contribuinte a prestar esclarecimentos e os esclarecimentos prestados demonstraram tratarse simples abono ou gratificação, pago a dirigentes em retribuição/reconhecimento ao trabalho desenvolvido, por decisão da administração da empresa. Também afirma que o fato de terem sido tais remunerações pagas em parcela única em 04/2013 não caracteriza o pagamento como eventual, pois conforme exposto na resposta do contribuinte, a periodicidade de pagamento de tal rubrica é anual. De sua parte, o contribuinte impugna esta parte do lançamento, sob o argumento segundo o qual o bônus de desempenho foi um pagamento feito uma única vez aos diretores em razão de decisão do Conselho de Diretores, não tendo sido, inclusive, a natureza de contraprestação do trabalho desenvolvido, já que pago desproporcionalmente e sem qualquer vinculação às atividades realizadas no ano. Ainda, afirma que o bônus de desempenho não possui as duas características essenciais para que seja atribuída natureza salarial à verba, ou seja, a retributividade e a habitualidade. Também não houve qualquer proporcionalidade no pagamento realizado, o que, por si só, já afasta a característica da retributividade, já que completamente desvinculada do trabalho dos diretores. Por fim, os valores pagos a título de bônus de desempenho considerados no lançamento combatido incluem os pagamentos feitos aos diretores Agenor César Junqueira Leite e Cláudio Ribeiro Teixeira Campos, os quais são empregados da Petrobrás, razão pela qual não haveria o que se falar em exigência em face da Impugnante. Com a devida vênia, a justificativa apresentada pelo contribuinte não convence. Se é um “Bônus de Desempenho” (friso e carrego na tinta) como admitirse que tenha sido pago sem o caráter de contraprestação ao trabalho. Se é um pagamento que decorre do desempenho do profissional – pois “desempenho” pressupõe algo esperado ou desejado – natural e essencialmente há que se aquilatar e pressupor que haja um mérito quanto ao seu cabimento, isto é, que se tenha uma meta ou resultado, ou mesmo um objetivo ou performance esperada, que tenha sido atingido Fl. 2169DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.170 35 como critério justificador do pagamento da rubrica. Caso contrário, ou seja, não havendo nenhum aspecto de mérito a ser considerado como supedâneo ao pagamento, a rubrica paga decorre meramente da prestação dos serviços, e como tal, deve ser tributada. Por outro lado, em termos de contribuintes individuais não há que se falar na distinção entre salário e remuneração, porquanto, constituindo seus serviço uma prestação material fora do contexto do trabalho subordinado, todos os pagamentos por ele recebidos integram o conceito de remuneração tributável, salvo, obviamente, os valores recebidos a título de indenização por danos sofridos ou reembolso de despesas comprovadas. Quanto a contribuintes individuais não há que se falar em proporcionalidade do pagamento, retributividade e habitualidade ou não. Tratandose de uma relação de trabalho peculiar, não sujeita ao poder diretivo do empregador, e sem as salvaguardas inerentes à relação de emprego, uma vez que se fundamenta nos princípios da autonomia e da liberdade de contratar, não há que se buscar amparo nos conceitos da relação de trabalho subordinado, pois nela vigora o princípio da hipossuficiência do empregado. Ademais, o tema já não comporta maiores digressões, pois já foi objeto de pronunciamento pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, conforme o já citado processo administrativo nº 16682.721450/201371, acórdão nº 2401004.562 – 4a. Câmara / 1a. Turma Ordinária, cujo julgamento se deu em sessão datada de 19/01/2017: No voto da Conselheira Relatora Luciana Matos Pereira Barbosa resta assim delineada a questão: "O Recorrente alega que os citados pagamentos deramse como forma de indenização pelos desempenhos dos empregados, exsurge cristalina a natureza remuneratória destes, como forma de incentivo ao desempenho funcional, sendo concedidos, “pelo” e não, “para”, o trabalho. Nesse tocante, tornase irrelevante se há ou não previsão de extensão a todos os empregados, dado que a lei não trata da abrangência das citadas rubricas como critério de incidência de contribuição. Aliado a isso a (artigos. 22, I, c/c art. 28, ambos, da Lei nº 8.212/91), ausência de norma que isenta em lei ou ACT a inaplicabilidade do Ato Declaratório PGFN nº 16, de 20.12.2011. Dessa forma, mostrase firme o lançamento nos moldes efetuados." Assim, compartilho da conclusão da DRJ de origem, onde concluise que o bônus concedido nada mais é do que uma remuneração mensal adicional ao Presidente e aos Diretores, sem qualquer vinculação a metas, resultados, objetivos, atuação profissional ou qualquer outro requisitos de performance. Apenas, única e exclusivamente, o bônus é devido pelo simples fato da atuação de cada um dos profissionais como Presidente e Diretores, respectivamente, o que corrobora o caráter salarial da verba, concedida que foi “pelo” trabalho executado. Conclusão. Ante o exposto, voto por dar parcial provimento ao recurso, para afastar da base de cálculo do lançamento fiscal os valores pagos a título de: a) "gratificação contingente"; b) PLR aos seguintes segurados contribuintes individuais: Agenor César Junqueira Leite categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Cláudio Ribeiro Teixeira Campos categoria 11 diretor não empregado sem FGTS; Jose Sergio de Oliveira Machado categoria 5 diretor Fl. 2170DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.171 36 não empregado com FGTS; Marcelo Rosa Renno Gomes categoria 5 diretor não empregado com FGTS; e, Rubens Teixeira da Silva categoria 5 diretor não empregado com FGTS. (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Voto Vencedor Conselheira Rosy Adriane da Silva Dias Redatora designada Felicito o i. Conselheiro Martin da Silva Gesto, pela clareza com que fundamentou seu voto. Entretanto, peço vênia para divergir de seu posicionamento, em relação à gratificação de contingência e PLR pago a contribuintes individuais. Gratificação de contingência Primeiramente, a verba de contingência, como demonstrado pela fiscalização, não se tratou de parcela única, nem está expressamente desvinculada do salário por expressa previsão legal, a fim de que a ela seja aplicado o Parecer da PGFN nº 2114/2011, que deu origem ao Ato Declaratório nº 16/2011, publicado no DOU de 09/12/2011, e como determina legislação específica previdenciária que expressamente nomeia as verbas que não integram o saláriocontribuição. Ademais, peço vênia para transcrever trecho do voto condutor do Acórdão nº 9202003.044, que explica com acerto, a confusão que tem sido feita entre os conceitos de não eventualidade e habitualidade para fundamentar, a meu ver equivocadamente, a não incidência de contribuição previdenciária sobre determinadas verbas: Como se vê, da leitura do art. 22, I e do art, 28,1 da Lei n° 8.212/91 e do art. 201, § 1o do RPS, que somente é exigido o requisito da habitualidade no que diz respeito ao "salário in natura", por incluir, expressamente, no conceito de remuneração os "ganhos habituais sob a forma de utilidades", sem fazer menção ao requisito habitualidade para os pagamentos em espécie. Ou seja, no campo de incidência das contribuições previdenciárias encontramse: a) a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, inclusive gorjetas (salário em espécie); e b) os ganhos habituais sob a forma de utilidades (salário in natura/ Podese, então, concluir que a lei, ao definir a hipótese de incidência da contribuição previdenciária, exige o requisito da habitualidade tão somente para o salário in natura. Por seu turno, o art. 28, § 9o , alínea "e", item "7" prevê expressamente que as importâncias recebidas a título de ganhos eventuais são isentas de contribuições sociais previdenciárias: "Não integram o saláriodecontribuição (remuneração) para os fins desta Lei, exclusivamente: (...)as importâncias: (...)recebidas a título de ganhos eventuais (...)"Assim sendo, podese afirmar que "a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho ", independentemente de serem ou não habituais, Fl. 2171DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.172 37 encontramse no campo de incidência das contribuições previdenciárias. Entretanto, "as importâncias recebidas a título de ganhos eventuais " encontramse excluídas da sua base de cálculo por se tratarem de importâncias atingidas pela isenção. Entendo que está sendo criada uma grande confusão ao tentarem comparar os conceitos de "habitualidade com o de não eventualidade" ou o "não habitualidade com o de eventualidade". Para o Dicionário Michaelis, as definições são: Habitual 1 Que acontece ou se faz por hábito. 2 Frequente, comum, vulgar. 3 Usual. Eventual 1 Dependente de acontecimento incerto. 2 Casual, fortuito. 3 Variável. De acordo com o Vocabuário Jurídico de Plácido e Silva: Habitualidade De habitual, entendese a repetição, a sucessividade, a constância, a iteração, na prática ou no exercício de certos e determinados atos, em regra da mesma espécie ou natureza, com a preconcebida intenção de fruir resultados materiais ou de gozo. Eventualidade De evento, significa o caráter e a condição do que é eventual, mostrando assim a possibilidade e a probabilidade do fato, cuja realização é esperada ou aguardada. A habitualidade, como requisito para que a prestação in natura, integre o saláriodecontribuição, diz respeito a freqüência da concessão da referida prestação. Já a eventualidade, como elemento caracterizador da isenção prevista no art. 28, § 9o , alínea "e", item "7", ou seja, que decorram de importâncias recebidas a títulos de ganhos eventuais, dizem respeito a ocorrência de caso fortuito. No presente caso há de se assinalar, primeiramente, que foram realizados pagamentos em pecúnia, o que afasta a necessidade de se indagar a habitualidade com que o pagamento foi realizado. No presente caso há de se assinalar, que os pagamentos foram em pecúnia, o que afasta a necessidade de se indagar a habitualidade com que eles foram realizados; nem se trata de pagamento decorrente de caso fortuito, pois é um pagamento que se perpetua no tempo, como demonstrou a fiscalização. Portanto, nada há de eventual em tal pagamento. Porém, ad argumentandum tantum, não há que se falar que a fiscalização tenha se baseado em informação genérica obtida em site da Federação Única dos Petroleiros, mas nos Acordos Coletivos de Trabalho, que constam nesses sites, inclusive a auditoria relacionou por ano o que dispunha cada um deles. A defesa aduz que a fiscalização não avaliou os critérios em que os pagamentos foram efetuados nos demais anos. Então, a recorrente não nega que nos demais anos também foram efetuados pagamentos relativos a essas rubricas. Ademais, a auditoria relacionou a descrição sobre tal verba nos Acordos Coletivos de Trabalho dos demais anos, que, aliás, traziam as mesmas descrições nos ACT's dos anos abrangidos pelo procedimento Fl. 2172DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.173 38 fiscal, em que foram verificados tais pagamentos. E, digase que a auditoria ao utilizar informações do site da Federação Única dos Petroleiros, apenas demonstrou a verdade material sobre a previsão desses pagamentos nos ACT's dos demais anos, o que apenas reforça a convicção desta redatora de que tal verba nada tem de eventual, que pudesse afastar a incidência da contribuição previdenciária. Ora, diante dessas informações, a recorrente deveria comprovar que tais pagamentos não foram efetuados; e, não me diga se trata de prova negativa, pois a simples apresentação das folhas de pagamento dos anos apontados pela fiscalização demonstraria isso, e como ela diz que a auditoria não verificou as condições em que os pagamentos foram efetuados, deveria em sua defesa demonstrar quais seriam esses critérios que afastariam a referida verba da tributação. Mesmo que assim fosse, como já exposto, para verbas pagas em pecúnia não há que se discutir se houve ou não habitualidade, nem se discute que se trata de um abono único, pois para que assim fosse haveria que estar desvinculada do salário expressamente por lei, o que não ocorreu no caso. É certo que o art. 28, I, da Lei nº 8.212/91 trata do que é considerado remuneração para fins de incidência de contribuição previdenciária, entre a qual se enquadra a verba em comento, por ser paga em decorrência do vínculo de trabalho que os segurados mantêm com a recorrente, ou seja, é uma verba paga em razão do trabalho e não para o trabalho. O estipulado entre as partes de forma particular não sobressai ao que dispõe a lei que trata da matéria, não podendo um ACT ou Convenção Coletiva isentar verbas da incidência de contribuição previdenciária, cuja legislação específica trata do que não se inclui no saláriode contribuição. Portanto, o lançamento deve ser mantido nessa parte. PLR pago a contribuintes individuais No que toca ao PLR pago aos contribuintes individuais me filio à corrente que entende que a Lei nº 10.101/2001 se restringe à categoria de empregados, visto que os administradores tem dispositivo próprio na Lei nº 6.404/76, que trata da participação dos administradores nos lucros da empresa. Por isso, correto os fundamentos da decisão de piso, os quais adoto como razões de decidir: Como se vê, os dispositivos tratam de nítida remuneração aos administradores, considerados como segurados contribuintes individuais. Paralelamente a isto, não consta dos autos qualquer demonstração de que os valores pagos refiramse a dividendos ou a participação nos lucros, participação esta não no sentido da Lei nº 10.101/00, mas sim como a participação sobre o resultado positivo da atividade econômica, isto é, o lucro como fruto do capital empregado na atividade empresária. Ocorre, contudo, que o contribuinte incorre em contradição ao sustentar que tais pagamentos se tratam de participação estatutária dos administradores e fundamentar a não incidência das contribuições previdenciárias nos moldes da participação nos resultados. Isto porque, a participação nos resultados, enquanto um direito sócioeconômico, não é um direito inerente aos segurados contribuintes individuais, seja na condição de prestador de serviço autônomo, seja na condição de administrador. Fl. 2173DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.174 39 Em relação ao prestador de serviços autônomos, ao assumir a condução de sua própria atividade, sem se submeter à hierarquia e subordinação empregatícia, age como efetivo empresário independente, de forma que não há que se falar na integração capitaltrabalho, pois tanto o capital como o trabalho pertencem ao próprio prestador de serviço. No que tange aos administradores, a mesma razão se impõe, com o acréscimo de que os administradores integram o quadro social da empresa, como quotistas ou acionistas, e, nestes casos, têm suas retiradas a título de pro labore, como fruto do seu trabalho na empresa, e, enquanto parcelas não excludentes, suas retiradas de lucros, fruto civil decorrente do emprego do capital na atividade empresária. Assim, não tem sentido permitirse o pagamento de participação nos lucros e resultados a administradores da empresa, uma vez que tal benefício não assume pertinência lógica quanto à sua essência, objetivando estimular a relação capitaltrabalho desenvolvida entre empregados e a empresa. Sequer há, portanto, de se cogitar se o pagamento realizado pelo contribuinte observou ou não alguma meta estabelecida, critério de cálculo ou de aferição, nos moldes da Lei nº 10.101/2000, pela evidente e lógica razão de que sua sistemática não se aplica a contribuintes individuais (prestadores de serviços autônomos ou administradores). Não se nega que os administradores da sociedade anônima, assim como em qualquer outra forma societária, podem receber remuneração pelo exercício de suas funções (Lei nº 6.404/76, artigo 152). No entanto, esta remuneração integra o salário de contribuição, sofrendo, destarte, incidência de contribuições providenciarias, na forma dos artigos 12, inciso V, alínea "f e 28, inciso III, todos da Lei nº 8.212/91: [...] Outrossim, cabe ressaltar que este entendimento não objetiva promover uma tributação direta ou direta do lucro propriamente dito. No caso do contribuinte, por ser uma sociedade anônima, não há uma distribuição de lucros direta, mas proporcional às ações subscritas por cada acionista, sob a forma de dividendos. As contribuições previdenciárias não incidem sobre o lucro distribuídos aos acionistas, pois esta renda é fruto civil do capital empregado na atividade econômica, e não fruto do trabalho. Já a suposta PLR paga aos administradores não assume qualquer similitude com a distribuição nos lucros, não se podendo confundir a "participação nos lucros ou resultados" da Lei nº 10.101/00, com a "participação nos lucros sociais" de que trata a Lei nº 6.404/76. Neste contexto, embora a Constituição Federal de 1988, no caput do seu artigo 7o adote a expressão "trabalhadores" a inteligência da Lei nº 10.101/00 não admite o pagamento de Participação nos Lucros e Resultados PLR a diretores não empregados, enquadrados como segurados contribuintes individuais, constituindo instrumento fecundo ao fomento da relação integrada "capitaltrabalho" entre empresário e Fl. 2174DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.175 40 empregados, stricto sensu. Justificase este entendimento pelo fato de que o artigo 7o da Constituição Federal de 1988 objetiva a tutela do aspecto sócioeconômico, tendo como foco os direitos sociais e econômicos relativos à dignidade da pessoa humana na sua exteriorização laborativa, isto é, na tutela da sua expressividade econômica pura, objetivando o trabalho edificante, seguro e realizador. Ao contrário, a administração empresária se situa em outro objetivo, qual seja, a perseguição do lucro, a administração dos complexos interesses da empresa, convergentes ou não, objetiva a maximização dos resultados etc. Assim, o administrador não é remunerado tal qual um empregado, ainda que de alto nível na empresa, e este é o sentido do artigo 152 da Lei nº 6.404/76. Não que haja uma posição melhor ou mais importante que a outra. Não! O que há é a diversidade natural dos cargos e a complexidade inerente a cada um. Isto basta, segundo penso, para divorciar a remuneração dos administradores segurados contribuintes individuais da PLR de que trata a Lei nº 10.101/2000. Em que os acórdãos do Carf citados pelo recorrente, em sentido contrário ao posicionamento da decisão de piso, colho recente julgado no Acórdão 2403006.526, de 10/08/2018, cujo voto vencedor vai em direção ao posicionamento ao qual me filio: PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. ADMINISTRADORES NÃO EMPREGADOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL PARA EXCLUSÃO DO SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO INAPLICABILIDADE DA LEI 10.101/2000 E DA LEI 6.404/76 Tratandose de valores pagos aos diretores não empregados, não há que se falar em exclusão da base de cálculo pela aplicação da lei 10.101/2000, posto que nos termos do art. 2º da referida lei, essa só é aplicável aos empregados. A verba paga aos diretores não empregados possui natureza remuneratória. A Lei n 6.404/1976 não regula a participação nos lucros e resultados para efeitos de exclusão do conceito de salário de contribuição, posto que não remunerou o capital investido na sociedade, mas, sim, o trabalho executado pelos diretores, compondo dessa forma, o conceito previsto no art. 28, II da lei 8212/91. Mesma linha de raciocínio é desenvolvido pela CSRF nos Acórdãos nº 9202 005.705, de 29.08.2017; nº 9202004.490, de 29/09/2016; nº 9202003.196, de 07/05/2014. Aliás, merece transcrição o voto vencedor da conselheira Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira que enfrentou a questão com primazia, no Acórdão nº 9202004.490, que transcrevo com complemento às minhas razões de decidir: De forma expressa, a Constituição Federal de 1988 remete à lei ordinária a fixação dos direitos da participação nos lucros, nestas palavras: Art. 7o São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...) Fl. 2175DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.176 41 XI participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei. Conforme previsto no § 6o do art. 150 da Constituição Federal, somente a Lei pode instituir isenções. Assim, o § 2o do art. 22 da Lei n° 8.212/91 dispõe que não integram a remuneração as parcelas de que trata o § 9o do art. 28 da mesma Lei. O § 9o do art. 28 da Lei n° 8.212/91 enumera, exaustivamente, as parcelas que não integram o salário de contribuição. De acordo com o art. 9o, inciso V, alínea "f §§ 2o e 3o, do Regulamento da Previdência Social (RPS), aprovado pelo Decreto 3.048/1999, são considerados contribuintes individuais tanto o diretor não empregado como o membro do conselho de administração da sociedade anônima, vejamos: Regulamento da Previdência Social (RPS), Decreto 3.048/1999: Art. 9o São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas: (...) V como contribuinte individual: (Redação dada pelo Decreto n°3.265, de 1999) (...) j) o diretor não empregado e o membro de conselho de administração na sociedade anônima: (Redação dada pelo Decreto n°3.265, de 1999) (...) §2° Considerase diretor empregado aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja contratado ou promovido para cargo de direção das sociedades anônimas, mantendo as características inerentes à relação de emprego, § 3o Considerase diretor não empregado aquele que, participando ou não do risco econômico do empreendimento, seja eleito, por assembléia geral dos acionistas, para cargo de direção das sociedades anônimas, não mantendo as características inerentes à relação de emprego, (g.n.) No mesmo sentido, prevê o art. 12, inciso V, da Lei 8.212/1991 como contribuintes individuais os administradores (o diretor não empregado e o membro de conselho de administração) da companhia. Lei 8.212/1991: Art. 12. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas: (...) V como contribuinte individual: (Redação dada pela Lei n° 9.876, de 1999). (...) j) o titular de firma individual urbana ou rural, o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anônima, o sócio solidário, o sócio de indústria, o sócio gerente e o sócio cotista que recebam remuneração decorrente de seu trabalho em empresa urbana ou rural, e o Fl. 2176DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.177 42 associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração; (Incluído pela Lei n° 9.876, de 1999). (g.n.) Logo, a legislação previdenciária enquadra os administradores da Recorrente como contribuintes individuais. Esse entendimento está consubstanciado pela concepção organicista em que os administradores (membros da Diretoria e do Conselho de Administração) são órgãos da companhia, na medida em que o ato praticado por eles, dentro de seus poderes, é um ato da própria sociedade empresária (Recorrente), linha adotada por Fábio Ulhoa Coelho (Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 1999, v. 2, p. 239241). Em outras palavras, os membros da Diretoria (administradores), o que é o caso dos autos, possuem poder decorrentes da lei e do estatuto, sendo que isso viabiliza todo o poder para a condução das atividades diárias da companhia e distanciase da subordinação pessoal da relação empregatícia1. Verificase que a legislação aplicável à espécie determina, em um primeiro momento, a regra geral de incidência das contribuições previdenciárias sobre a remuneração total dos segurados obrigatórios da previdência social, no caso, na qualidade de contribuintes individuais, incluindo no sentido lato de remuneração toda e qualquer retribuição, inclusive os ganhos habituais sob a forma de utilidades. Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: III para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, observado o limite máximo a que se refere o § 5a; Somente em um segundo momento é que são definidas, de forma expressa e exaustiva, porquanto excepcionais, as hipóteses de não incidência das contribuições destinadas à Seguridade Social. Vale destacar que, entendo que o art. 28, §9° descreve as parcelas que não compõem o conceito de salário de contribuição de forma genérica, não afastando os pagamentos feitos os demais segurados, por exemplo Contribuintes individuais, da possibilidade de terem valores recebidos dos contratantes também excluídos do conceito de salário de contribuição, como analisaremos adiante. Resta claro ao analisar os art. 28, §9°, que a legislação previdenciária, alinhandose ao preceito constitucional, identifica verbas que não integram o salário de contribuição. Tais parcelas não sofrem incidência de contribuições previdenciárias, seja por sua natureza indenizatória, assistencial, ou mesmo por expressa previsão legal seguindo os parâmetros descritos no dispositivo. Quanto à participação nos lucros, encontrase expressamente descrito na alínea "j": Art. 28(...) Fl. 2177DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.178 43 § 9o Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: (Redação dada pela Lei n° 9.528, de 10/12/97) j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica; Não restou demonstrado pelo recorrente que o pagamento enquadravase na exclusão acima descrita. Em relação a esse dispositivo e aos termos do art. 7, XI, inicialmente, ocorreu a edição da Medida Provisória nº 794, de 29 de dezembro de 1994, que dispunha sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas, e veio atender ao comando constitucional. Desde então, sofreu reedições e remunerações sucessivamente, tendo sofrido poucas alterações ao texto legal, até a conversão na Lei nº 10.101, de 19 de dezembro de 2000. A Lei nº 10.101/2000 dispõe, nestas palavras : Art. 1º Esta Lei regula a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa como instrumento de integração entre o capital e o trabalho e como incentivo à produtividade, nos termos do art. T, inciso XI, da Constituição. Art. 2o A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empresados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: (grifo nosso) I comissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; II convenção ou acordo coletivo. § 1° Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo ser considerados, entre outros, os seguintes critérios e condições: I índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; II programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. § 2° O instrumento de acordo celebrado será arquivado na entidade sindical dos trabalhadores. (...) Art. 3o A participação de que trata o art. 2o não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista ou previdenciário (...) §3º Todos os pagamentos efetuados em decorrência de planos de participação nos lucros ou resultados, mantidos Fl. 2178DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.179 44 espontaneamente pela empresa, poderão ser compensados com as obrigações decorrentes de acordos ou convenções coletivas de trabalho atinentes à participação nos lucros ou resultados. (...) Art. 4o Caso a negociação visando à participação nos lucros ou resultados da empresa resulte em impasse, as partes poderão utilizarse dos seguintes mecanismos de solução do litígio: I Mediação; II — Arbitragem de ofertas finais. § 1o Considerase arbitragem de ofertas finais aquela que o árbitro deve restringirse a optar pela proposta apresentada, em caráter definitivo, por uma das partes. § 2o O mediador ou o árbitro será escolhido de comum acordo entre as partes. § 3o Firmado o compromisso arbitral, não será admitida a desistência unilateral de qualquer das partes. § 4o O laudo arbitral terá força normativa independentemente de homologação judicial. Cabe observar que o § 2o, do art. 2o, da Lei nº 10.101, foi introduzido no ordenamento jurídico a partir da Medida Provisória nº 955, de 24 de março de 1995, e o § 3o, do art. 3o, a partir da Medida Provisória nº 1.69851, de 27 de novembro de 1998. Nessa primeira análise é possível concluir que a lei 10.101/2000, conversão das citadas MPs, trouxe ao mundo jurídico a regulamentação de um anseio constitucional, qual seja, a definição da forma como o PLR estaria desvinculado da remuneração. Esse raciocínio, encontrase em perfeita consonância com o entendimento do próprio STF, que destaca que o direito previsto no art. 7, XI não é auto aplicável, iniciandose apenas a partir da edição da MP 794/1994, reeditada várias vezes e finalmente convertida na Lei 10.101/2000. Esse entendimento é extraído do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do RE 398284/RJRio de Janeiro. RE 398284 / RJ RIO DE JANEIRO RECURSO EXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. MENEZES DIREITO Julgamento: 23/09/2008 Órgão Julgador: Primeira Turma Ementa EMENTA Participação nos lucros. Art. 7°, XI, da Constituição Federal. Necessidade de lei para o exercício desse direito. 1. O exercício do direito assegurado pelo art. 7o, XI, da Constituição Federal começa com a edição da lei prevista no dispositivo para regulamentálo. diante da imperativa necessidade de integração. 2. Com isso, possível a cobrança das contribuições previdenciárias até a data em que entrou em vigor a regulamentação do dispositivo. 3. Recurso extraordinário conhecido e provido. Fl. 2179DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.180 45 Merece transcrição excerto do voto do Ministro Menezes Direito (Relator do RE 398284/RJ): "Há três precedentes monocráticos na Corte. Um que foi relator o Eminente Ministro Gilmar Mendes; e dois outros da relatoria do Ministro Eros Grau. Então a questão está posta com simplicidade. E estou entendendo, Senhor Presidente, com a devida vênia da bela sustentação do eminente advogado, que realmente a regra necessita de integração, por um motivo muito simples: é que o exercício do direito é que se vincula à integração, não é a regra só, que nesses casos, quando manda que a lei regule o exercício, que vale por si só. Se a própria Constituição determina que o gozo do exercício dependa de lei, tem que haver a lei para que o exercício seja pleno. Se não há lei, não existe exercício. E com um agravante que, a meu ver, parece forte o suficiente para sustentar esse raciocínio. E que o fato de existir a participação nos lucros, desvinculada da remuneração, na forma da lei, não significa que se está deixando de dar eficácia a essa regra, porque a participação pode ser espontânea; já havia participação nos lucros até mesmo antes da Constituição dos 80. E, por outro lado, só a lei pode regular a natureza dessa contribuição previdenciária e também a natureza jurídica para fins tributários da participação nos lucros. A lei veio exatamente com esse objetivo. E uma lei que veio para determinar, especificar, regulamentar o exercício do direito de participação nos lucros, dando consequência à necessária estipulação da natureza jurídica dessa participação para fins tributários e para fins de recolhimento da Própria Previdência Social. Ora, se isso é assim, e, a meu sentir, parece ser, pela leitura que faço eu do dispositivo constitucional, não há fundamento algum para afastarse a cobrança da contribuição previdenciária antes do advento da lei regulamentadora." Pelo abordado acima, já se manifestou o STF que não apenas o texto constitucional não é auto aplicável, como a norma que regulamento o art. 7o, inciso XI, surgiu apenas com a edição da MP 794/94, convertida posteriormente na lei 10.101/2000, o que afasta a argumentação também de que a lei 6404/76 teria sido recepcionada pela Constituição para efeitos de regulamentação do art. 7o, XI. Ainda nessa linha de raciocínio, notese, conforme grifado no art. 2o da referida lei, que a PLR descrita na Lei 10.101/2000 serve apenas para regulamentar a distribuição no âmbito dos "empregados", ou seja, não serve para afastar do conceito de remuneração os valores pagos à título de "participações estatutárias" (administradores não empregados). Não se pode elastecer o conceito de participação nos lucros ou resultados, sob pena de todas as empresas enquadrarem como resultados, todo e qualquer pagamento feito aos seus trabalhadores e em função dessa nomenclatura desvincular as verbas do conceito de remuneração e salário. A Lei nº 10.101/2000, resultado da conversão das Medidas Provisórias anteriores, é cristalina nesse sentido. Fl. 2180DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.181 46 Apenas para ressaltar, afastase aqui, também, qualquer argumento de que o dispositivo constitucional, por si só , já afastaria para todo e qualquer trabalhador a "participação nos Lucros e resultados" do conceito de remuneração, considerando o fato de que o "caput do art. 7o da CF/88, utilizou a nomenclatura "trabalhadores". Basta analisarmos os 34 incisos do próprio art. 7o, para que identifiquemos, que o termo "trabalhadores urbanos e rurais", referese ao direitos dos "empregados urbanos e rurais". Essa constatação é cristalina na medida que os direitos elencados no dispositivo constitucional, nos trazem a certeza do sentido estrito do direcionamento ao empregado, pretendido pelo legislador, ao considerarmos que: férias com adicional de 1/3, FGTS, repouso semanal remunerado, salário mínimo, jornada de trabalho, piso salarial, licença maternidade, licença paternidade, aviso prévio, previsão de indenização no caso de dispensa imotivada, salário família, horas extras, adicional noturno, insalubridade, periculosidade, dentro outros muitos ali elencados, são assegurados apenas aos trabalhadores detentores de uma relação de emprego, ou seja, garantidos aos empregados. No parágrafo único, também observamos a nomenclatura "trabalhadores", porém com referência aos empregados domésticos. Levando a efeito o raciocino pretendido pelo recorrente, chegaríamos a conclusão de obrigatoriedade de atribuir a observância dos direitos ali elencados a todos os trabalhadores autônomos. Assim, entendo que não há como acolher a pretensão do recorrente. Isto posto, rejeito qualquer argumentação de que o termo trabalhador descrito também no art. 1o da lei 10.101/2000, seria capaz de abranger a categoria de administradores e demais contribuintes individuais. Vejase, que o termo autônomo ou para previdência social, contribuinte individual, não é uma pessoa que trabalha de forma subordinada, devendo cumprir metas alcançar resultados, pois se assim o fosse, estaríamos atribuindo um requisito de empregado, qual seja a subordinação. Também vale lembrar que o trabalho de um mesmo trabalhador autônomo exigindo o cumprimento de resultados e metas durante um período (exercício) não deve ser utilizado de forma continuada, pois senão estaríamos atribuindo o segundo requisito que é a habitualidade na prestação de serviços. Dessa forma, entendo inviável qualquer interpretação em sentido contrário, razão pela, qual todo e qualquer pagamento feito a contribuintes individuais constituem salário de contribuição, salvo se possível o seu enquadramento dentre as hipóteses elencadas no art. 28, §9º da lei 8212/91. Percebese, então, que, se o STF entendeu que não havia lei regulamentando o pagamento de PLR antes da edição da MP nº 794/1994. Dessa forma, não há como acolher o entendimento de que a expressão "lei específica" contida na alínea "j" do § 9o do art. 28 da Lei 8.212/1991, também se refere a outras leis extravagantes, tal como a Lei 6.404/1976 que dispõe sobre as Sociedades por Ações (companhia), inclusive o seu art. 152, § 1o, estabeleceu que o estatuto da companhia pode atribuir aos Fl. 2181DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.182 47 administradores participação nos lucros da companhia, desde que sejam atendidos dois requisitos: (i) a fixação dividendo obrigatório em 25% ou mais do lucro líquido; e (ii) o total da participação estatutária não ultrapasse a remuneração anual dos administradores nem 0,1 (um décimo) dos lucros, prevalecendo o limite que for menor. Corroborando ainda mais esse entendimento, o Supremo Tribunal Federal (STF) pacificou sua posição quanto ao tema por meio do RE 569441/RS, rei. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, de 30/10/2014 (Info 765), submetido a sistemática de repercussão geral (art. 543B do Código de Processo Civil CPC), nos seguintes termos: "RECURSO EXTRAORDINÁRIO 569.441 RIO GRANDE DO SUL RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI REDATOR DO ACÓRDÃO: MIN TEORIZAVASCKI EMENTA: CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS NATUREZA JURÍDICA PARA FINS TRIBUTÁRIOS. EFICÁCIA LIMITADA DO ART. 7o, XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE ESSA ESPÉCIE DE GANHO ATÉ A REGULAMENTAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL. 1. Segundo afirmado por precedentes de ambas as Turmas desse Supremo Tribunal Federal, a eficácia do preceito veiculado pelo art. 7o, XI, da CF— inclusive no que se refere à natureza jurídica dos valores pagos a trabalhadores sob a forma de participação nos lucros para fins tributários depende de regulamentação. 2. Na medida em que a disciplina do direito à participação nos lucros somente se operou com a edição da Medida Provisória 794/94 e que o fato gerador em causa concretizouse antes da vigência desse ato normativo, deve incidir, sobre os valores em questão, a respectiva contribuição previdenciária. (g.n.) 3. Recurso extraordinário a que se dá provimento. " Por força do artigo 62, §2° do Regimento Interno do CARF2, aprovado pela 343, de 09/06/2015, as decisões definitivas de mérito do STF e do STJ, na sistemática dos artigos 543B e 543C da Lei 5.869/1973 (Código de Processo Civil CPC), devem ser reproduzidas pelas Turmas do CARF. Entendo que o citado RE 569441/RS esclarece a inaplicabilidade da lei 6.404/76, seja como recepcionada para regulamentação do art. 7o, XI da CF/88 aos contribuintes individuais, seja dando respaldo a exclusão do conceito de salário de contribuição previsto no art. 29, §9° da lei 8212/90. Pela transcrição do trecho do acórdão do STF acima, podemos dizer que a decisão daquela corte apenas ratifica o posicionamento adotado por essa relatora e por diversas outras decisões desse conselho acerca do tema. Essa linha de interpretação também se amolda ao posicionamento do STJ: "(...) A contribuição previdenciária sobre a participação nos lucros é devida no período anterior à Fl. 2182DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.183 48 MP n. 794/94, uma vez que o benefício fiscal concedido sobre essa verba somente passou a existir no ordenamento jurídico com a entrada em vigor do referido normativo. (...)" (STJ. 2a Turma. AgRg no AREsp 95.339/PA, Rei. Min. Humberto Martins, julgado em 20/11/2012). De fato, concluise que a Lei 8.212/1991 em seu art. 28, §9°, "j", ao excluir da incidência das contribuições os pagamentos efetuados de acordo com a lei específica, quis se referir à PLR paga em conformidade com a Lei 10.101/2000, a qual é destinada apenas aos empregados e que EXPRESSAMENTE, descreve: "A participação de que trata o art. 2" não substitui ou complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista (...)"Por fim, para espancar qualquer argumentação de que o pagamento estaria de acordo com o descrito na lei 6404/76, ressalto que a participação descrita na referida lei, dáse em função do capital investido. Ademais, também não entendo que a lei 6404/76 tenha, de forma alguma, excluído os valores do conceito de salário de contribuição, e, por consequência, possa respaldar os argumentos do recorrente, vejamos o texto da lei, assim, como já descrito pela autoridade fiscal: Lei 6.404/1976: Art. 152. A assembléia geral fixará o montante global ou individual da remuneração dos administradores, inclusive beneficios de qualquer natureza e verbas de representação, tendo em conta suas responsabilidades, o tempo dedicado às suas funções, sua competência e reputação profissional e o valor dos seus serviços no mercado. (Redação dada pela Lei nº 9.457, de 1997) § 1o O estatuto da companhia que fixar o dividendo obrigatório em 25% (vinte e cinco por cento) ou mais do lucro líquido, pode atribuir aos administradores participação no lucro da companhia, desde que o seu total não ultrapasse a remuneração anual dos administradores nem 0,1 (um décimo) dos lucros (artigo 190), prevalecendo o limite que for menor, (g.n.) § 2o Os administradores somente farão jus à participação nos lucros do exercício social em relação ao qual for atribuído aos acionistas o dividendo obrigatório, de que trata o artigo 202. Quanto às participações estatutárias, tal como a participação no lucro dos administradores diretores não empregados, qualificados como segurados contribuintes individuais , elas dependem de o resultado da companhia, no respectivo exercício social, ter sido positivo, pois do contrário não haverá lucros a serem partilhados aos diretores não empregados com base nos lucros, conforme determinar o art. 190 da LSA: "as participações estatutárias de empregados, administradores e partes beneficiárias serão determinadas, sucessivamente e nessa ordem, com base nos lucros que remanesceram depois de deduzidas a participação anteriormente calculada" (g.n.). Considerando não ter sido trazido qualquer argumentação de que tratavamse de acionistas, os fatos acima mencionados evidenciam que a Recorrente concedeu aos diretores não Fl. 2183DF CARF MF Processo nº 16539.720008/201712 Acórdão n.º 2202004.816 S2C2T2 Fl. 2.184 49 empregados (contribuintes individuais) uma remuneração distinta dos lucros previstos no art. 152 da Lei 6.404/1976 (Lei da LSA) ou distribuiu uma verba cognominada de lucros em desacordo com as regras estampadas na Lei 6.404/1976 (artigo 152 c/c o artigos 189 e 190). Isso nos leva a clara conclusão de que, efetivamente, a verba paga aos diretores não empregados, caracterizase como uma remuneração pelo exercício de atividades na empresa, decorrente da relação contratante/contratado, que é distinta da relação acionista e diretores não empregados. Essa argumentação deixa claro a impossibilidade de acatar a interpretação dada pela ilustre conselheira relatora, seja porque os valores recebidos enquanto "diretores não empregados" não remunerou o capital investido, seja porque, a autorização da referida lei, acerca da possibilidade de distribuir lucros aos administradores nunca isentou tais valores da incidência de contribuições previdenciárias, ao contrário do que expressamente prevê a lei 10.101/2000, aplicável a categoria de empregados em consonância com o art. 28, §9º, j" da lei 8212/90. Os pagamentos efetuados possuem natureza remuneratória. Tal ganho ingressou na expectativa dos segurados contribuintes individuais em decorrência do contrato e da prestação de serviços à recorrente, sendo portanto uma verba paga pelo trabalho e não para o trabalho. Dessa forma, estando no campo de incidência do conceito de remuneração e não havendo dispensa legal para incidência de contribuições previdenciárias sobre tais verbas, conforme já analisado, deve persistir o lançamento em toda a sua extensão em relação aos administradores contribuintes individuais, negandose provimento integralmente ao recurso do sujeito passivo. (Grifos no original). Portanto, dadas as corretas razões da decisão de piso, corroboradas pelos julgados neste Conselho, o lançamento deve ser mantido nessa parte. Conclusão Por todo o exposto, voto por negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rosy Adriane da Silva Dias Fl. 2184DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10530.004202/2008-51
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Dec 05 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jan 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2005
CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO CONFIGURADO.
O direito ao contraditório e à ampla defesa devem ser plenamente garantidos ao contribuinte desde a ciência do lançamento. Afasta-se a alegação de nulidade da autuação por cerceamento do direito de defesa se o teor da impugnação e a farta documentação apresentadas indicam que o contribuinte teve pleno conhecimento da matéria tida como infringida, não restando comprovado nos autos qualquer embaraço ao exercício do seu direito de defesa.
DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. OMISSÃO DE RENDIMENTOS.
Mantém-se o lançamento quando rendimentos tributáveis comprovadamente auferidos pelo contribuinte tenham sido omitidos na declaração de ajuste anual.
DESPESAS MÉDICAS. DESPESAS COM INSTRUÇÃO. DEDUÇÃO.
Mantêm-se como indevidas as deduções efetuadas na declaração de ajuste anual, quando não autorizada pela legislação tributária ou não apresentada documentação comprobatória hábil e suficiente para caracterizar a efetiva realização das despesas.
MULTA ISOLADA DO CARNÊ-LEÃO E MULTA DE OFÍCIO -CONCOMITÂNCIA
Incabível a aplicação da multa isolada quando em concomitância com a multa de ofício, ambas incidindo sobre a mesma base de cálculo.
JUNTADA POSTERIOR DE PROVAS.
A prova documental deve ser apresentada juntamente com a impugnação, não podendo o contribuinte apresentá-la em outro momento a menos que demonstre motivo de força maior, refira-se a fato ou direito superveniente, ou destine-se a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidos aos autos.
Numero da decisão: 2202-004.863
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade, e no mérito, em dar provimento parcial ao recurso para excluir a multa isolada do carnê-leão aplicada em concomitância com a multa de ofício.
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente.
(assinado digitalmente)
Marcelo de Sousa Sáteles - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andréa de Moraes Chieregatto, Marcelo de Sousa Sáteles, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Rorildo Barbosa Correia, Wilderson Botto (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson (Presidente).
Nome do relator: MARCELO DE SOUSA SATELES
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NÃO CONFIGURADO. O direito ao contraditório e à ampla defesa devem ser plenamente garantidos ao contribuinte desde a ciência do lançamento. Afastase a alegação de nulidade da autuação por cerceamento do direito de defesa se o teor da impugnação e a farta documentação apresentadas indicam que o contribuinte teve pleno conhecimento da matéria tida como infringida, não restando comprovado nos autos qualquer embaraço ao exercício do seu direito de defesa. DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. Mantémse o lançamento quando rendimentos tributáveis comprovadamente auferidos pelo contribuinte tenham sido omitidos na declaração de ajuste anual. DESPESAS MÉDICAS. DESPESAS COM INSTRUÇÃO. DEDUÇÃO. Mantêmse como indevidas as deduções efetuadas na declaração de ajuste anual, quando não autorizada pela legislação tributária ou não apresentada documentação comprobatória hábil e suficiente para caracterizar a efetiva realização das despesas. MULTA ISOLADA DO CARNÊLEÃO E MULTA DE OFÍCIO CONCOMITÂNCIA Incabível a aplicação da multa isolada quando em concomitância com a multa de ofício, ambas incidindo sobre a mesma base de cálculo. JUNTADA POSTERIOR DE PROVAS. A prova documental deve ser apresentada juntamente com a impugnação, não podendo o contribuinte apresentála em outro momento a menos que AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 53 0. 00 42 02 /2 00 8- 51 Fl. 105DF CARF MF 2 demonstre motivo de força maior, refirase a fato ou direito superveniente, ou destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidos aos autos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar de nulidade, e no mérito, em dar provimento parcial ao recurso para excluir a multa isolada do carnêleão aplicada em concomitância com a multa de ofício. (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente. (assinado digitalmente) Marcelo de Sousa Sáteles Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Andréa de Moraes Chieregatto, Marcelo de Sousa Sáteles, Ludmila Mara Monteiro de Oliveira, Martin da Silva Gesto, Ricardo Chiavegatto de Lima, Rorildo Barbosa Correia, Wilderson Botto (suplente convocado) e Ronnie Soares Anderson (Presidente). Relatório Tratase de recurso voluntário interposto contra o acórdão nº 1518.321, proferido pela 3a Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Salvador Ba (DRJ/SDA) que julgou procedente o lançamento, mantendo a cobrança parcial do crédito tributário. Reproduzse, na sequência, os termos da autuação e da respectiva impugnação, tal como sintetizados pela decisão de piso, no essencial (efls. 84/87): Tratase de Auto de Infração relativo ao Imposto sobre a Renda, exercício 2006, anocalendário de 2005 (fls.3 a 16), por meio do qual formalizouse a exigência de imposto suplementar, no valor de R$31.874,63 (trinta e um mil, oitocentos e setenta e quatro reais e sessenta e três centavos), acrescido de multa de oficio e juros de mora, calculados até outubro de 2008, bem como de multa isolada por falta de recolhimento do carnêleão, no valor de R$12.931,58 (doze mil, novecentos e trinta e um reais e cinquenta e oito centavos), perfazendo um crédito tributário total de R$78.268,19 (setenta e oito mil, duzentos e sessenta e oito reais e dezenove centavos). O lançamento decorreu da constatação de irregularidades nos rendimentos tributáveis e nas deduções da base de cálculo declarados pelo Contribuinte. Ficou caracterizada omissão de rendimentos de pessoas físicas, de quem o Contribuinte teria recebido honorários advocatícios em ações trabalhistas, no total de RS 95.740,07 (noventa e cinco mil, setecentos e quarenta reais e sete centavos). Este valor resultou de Fl. 106DF CARF MF Processo nº 10530.004202/200851 Acórdão n.º 2202004.863 S2C2T2 Fl. 106 3 diligências efetuadas em razão da ausência de manifestação do Contribuinte quanto a reconhecer os valores declarados por seus clientes (fls.31 a 65). E o rendimento auferido pela dependente Francisca Maria dos Santos totalizou R$12.672,00 (doze mil, seiscentos e setenta e dois reais), conforme informe de rendimentos (fl.22). As deduções consideradas indevidas referemse a despesas com instrução e despesas médicas não comprovadas. Cientificado, o Contribuinte contesta o lançamento, argumentando em síntese que não fora considerada a prova documental carreada ao procedimento fiscal, notadamente a deficiência física alegada para a sua filha, com quem efetuara despesas com instrução. Refere também haver sido desconsiderada a despesa com instrução do cônjuge, Francisca Maria dos Santos Souza. Afirma que os honorários advocatícios recebidos de Antonio Marcos Cordeiro de Barros e Dácio da Silva Melo já haviam sido declarados mês a mês no ajuste anual e, por essa razão, não teria sido recolhido o carnêleão. Refere dispensável a reapresentação dos documentos que julgou suficientes à comprovação durante a ação fiscal, insurgese contra a aplicação da multa isolada, para o que cita jurisprudência administrativa e doutrina e requer a juntada de provas a posteriori e a improcedência do lançamento (fls.74 a 79).(grifos nossos) A impugnação foi julgada improcedente pela DRJ/SDR. A decisão teve a seguinte ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2006 DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. Mantémse o lançamento quando rendimentos tributáveis comprovadamente auferidos pelo contribuinte tenham sido omitidos na declaração de ajuste anual. DESPESAS MÉDICAS. DESPESAS COM INSTRUÇÃO. DEDUÇÃO. Mantêmse como indevidas as deduções efetuadas na declaração de ajuste anual, quando não autorizada pela legislação tributária ou não apresentada documentação comprobatória hábil e suficiente para caracterizar a efetiva realização das despesas. CARNÊLEÃO. FALTA DE RECOLHIMENTO. MULTA ISOLADA. CABIMENTO. É cabível a exigência de multa isolada, incidente sobre o valor do imposto mensal devido a título de carnêleão e não recolhido Fl. 107DF CARF MF 4 A exigência foi mantida no julgamento de primeiro grau (fls. 84/87), ensejando a interposição de recurso voluntário em 17/04/2009 (fls. 93/101), no qual foram renovados, em linhas gerais, os termos da impugnação. É o relatório. Voto Marcelo de Sousa Sáteles Relator O recurso foi apresentada tempestivamente, atendendo também aos demais requisitos de admissibilidade previstos nos artigos 15 e 16 do Decreto 70.235/1972, portanto, dela tomo conhecimento. DA PRELIMINAR DE NULIDADE CERCEAMENTO DE DEFESA Quanto ao cerceamento de defesa, cumpre esclarecer que, no curso da ação fiscal, a Autoridade Fiscal atua com poderes amplos de investigação, tendo liberdade para interpretar os elementos de que dispõe para efetuar o lançamento. O direito ao contraditório e à ampla defesa devem ser plenamente garantidos ao Contribuinte desde a ciência do lançamento. Afastase a alegação de nulidade por cerceamento do direito de defesa se o teor da impugnação e a documentação apresentadas indicam que o Contribuinte teve pleno conhecimento da matéria tida como infringida, não restando comprovado nos autos qualquer embaraço ao exercício do seu direito de defesa. Observese, ainda, que o auto de infração combatido foi lavrado por autoridade competente, contém precisa e clara descrição dos fatos e da infração, bem como indica os dispositivos legais infringidos, não se vislumbrando, pois, qualquer vício apto a ensejar a nulidade do lançamento, nos termos do art. 12 do Decreto nº 7.574/11, impondose a rejeição das preliminares de nulidade. DO MÉRITO Omissão de Rendimentos Recebidos de Pessoas Físicas (honorários advocatícios em ações trabalhistas) e Deduções indevidas de Despesas Médicas e Instrução No que tange às alegações do Recorrente quanto omissão de rendimentos recebidos de pessoas físicas e deduções indevidas de despesas médicas e instrução, não cabe nenhum reparo na decisão de piso, que adoto como razões de decidir: Diferentemente do que afirma, foram sim consideradas no procedimento fiscal as despesas com instrução declaradas como efetuadas com a dependente Carline Pereira de Souza Santos, no total de R$1.320,00 (mil, trezentos e vinte reais). O valor a esse título que fora glosado no lançamento R$1.968,00 (mil, novecentos e sessenta e oito reais) referese à despesa com instrução declarada como tendo sido paga à Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá para a dependente Francisca Maria dos Santos Souza, pois que o documento apresentado à fl.26 é da Universidade Castelo Branco e não se refere ao ano calendário revisado. O motivo da glosa fora claramente Fl. 108DF CARF MF Processo nº 10530.004202/200851 Acórdão n.º 2202004.863 S2C2T2 Fl. 107 5 expresso no Termo de Verificação de Infração (fl.13), do qual o Contribuinte foi cientificado. Nesse mesmo documento também consta o motivo da glosa das despesas médicas, por terem sido efetuadas com beneficiário cujo vínculo de dependência com o fiscalizado não fora comprovado por documento hábil e idôneo (fl.l4). Os documentos que o Impugnante junta às fls.24/25 identificam como beneficiária dos serviços médicos Maria José dos Santos, não declarada como sua dependente e inviabilizada a respectiva inclusão nesse momento processual, pois implicaria retificação da declaração de ajuste anual, vedada expressamente pela legislação tributária após a notificação do lançamento, como dispõe o art. 147, § Io, do Código Tributário Nacional (CTN): Art. 147 (...) § Io A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento, (grifouse). Do exposto, restam mantidas as deduções indevidas consideradas no lançamento. Em relação à omissão de rendimentos, o Contribuinte limitase a referir haver declarado mês a mês no ajuste anual os honorários advocatícios recebidos de Antonio Marcos Cordeiro de Barros e Dacio da Silva Melo, mas não apresenta qualquer documento comprobatório do que afirma. E as informações prestadas na diligência pelos dois clientes sinalizam que os depósitos foram efetuados em parcela única, inclusive com rascunho do valor e número da contacorrente em um deles (fls.47 a 49 e 53 a 55). Procedente, portanto, a omissão de rendimentos caracterizada no lançamento. Da Multa Isolada Quanto à alegação de ser indevida a cobrança da multa isolada, já está consolidado em reiteradas decisões da segunda instância administrativa que antes da vigência da Medida Provisória n° 351, de 22 de janeiro de 2007 (convertida na Lei n° 11.488. de 2007) havia uma concomitância indevida entre a multa isolada do carnêleão com a multa de ofício (Acórdãos nsº 2202004.745, de 07/08/2018, 2401005.738, de 12/09/2018). Portanto, devese excluir a multa isolada do carnêleão no anocalendário 2005. Juntada posterior de provas O Impugnante requer a juntada posterior de provas, a este respeito, assim dispõe o Decreto 7574/2011 que regulamenta o Processo Administrativo Fiscal: Art.57. A impugnação mencionará (Decreto no 70.235, de 1972, art. 16, com a redação dada pela Lei no 8.748, de 1993, art. 1o, e pela Lei no 11.196, de 2005, art. 113): Fl. 109DF CARF MF 6 [...] III os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de discordância e as razões e provas que possuir; [...] §4o A prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual, a menos que: I fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior; II refirase a fato ou a direito superveniente; ou III destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. O princípio do ônus da prova é inerente a todo ordenamento jurídico, sendo que deve ser obedecido também na esfera administrativa. Assim, incumbe ao impugnante apresentar tempestivamente, ou seja, junto com a impugnação, as provas em direito admitidas, pois o ônus da prova cabe a quem alega, precluindo o direito de fazêlo em outra ocasião, ressalvada a impossibilidade por motivo de força maior, quando se refira a fato ou direito superveniente ou no caso de contrapor fatos ou razões posteriormente trazidos aos autos. Assim, concluise pela preclusão do direito de apresentação de novas provas, salvo nas hipóteses previstas na legislação. Além disso, o pedido de juntada de novos documentos aos autos, para ser viável, deve vir acompanhado dos documentos cuja juntada pretendese seja realizada, fato que não se verificou no caso em análise. Em face do exposto, indefiro o pedido de produção de provas, em especial, a de prova documental. CONCLUSÃO Diante do exposto, voto em rejeitar a preliminar de nulidade, e no mérito, dar provimento parcial ao recurso para excluir a multa isolada do carnêleão aplicada em concomitância com a multa de ofício. (assinado digitalmente) Marcelo de Sousa Sateles Relator Fl. 110DF CARF MF Processo nº 10530.004202/200851 Acórdão n.º 2202004.863 S2C2T2 Fl. 108 7 Fl. 111DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10825.720948/2015-20
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 12 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Dec 10 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/04/2012 a 31/12/2013
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA (CPRB). COBRANÇA. CALL CENTER.
A atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center e não está abrangida pela substituição previdenciária instituída pela Lei nº 12.546, de 2011.
COMPENSAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA.
O disposto no art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, não se aplica às contribuições previdenciárias, em razão do disposto no art. 26, parágrafo único da Lei nº 11.457, de 16 de março de 2007. A compensação da Contribuição Previdenciária está adstrita aos termos do art. 89 da Lei nº 8.212, de 1991.
ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO. IMPROCEDÊNCIA.
Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, não tendo ele se desincumbindo deste ônus. Simples alegações desacompanhadas dos meios de prova que as justifiquem revelam-se insuficientes para comprovar os fatos alegados.
ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE. SÚMULA CARF Nº 2.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
Recurso Voluntário Negado
Numero da decisão: 2202-004.792
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso, vencidos os conselheiros Júnia Roberta Gouveia Sampaio, que deu provimento parcial em maior extensão, e Dilson Jatahy Fonseca Neto, que lhe deu provimento integral. Manifestou interesse em apresentar declaração de voto o conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto. Entretanto, findo o prazo regimental, o Conselheiro não apresentou a declaração de voto, que deve ser tida como não formulada, nos termos do § 7º,do art. 63,do anexo II, da Portaria MF nº 343/2015 (RICARF).
(assinado digitalmente)
Ronnie Soares Anderson - Presidente
(assinado digitalmente)
Martin da Silva Gesto - Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, José Ricardo Moreira (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Ronnie Soares Anderson.
Nome do relator: MARTIN DA SILVA GESTO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso, vencidos os conselheiros Júnia Roberta Gouveia Sampaio, que deu provimento parcial em maior extensão, e Dilson Jatahy Fonseca Neto, que lhe deu provimento integral. Manifestou interesse em apresentar declaração de voto o conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto. Entretanto, findo o prazo regimental, o Conselheiro não apresentou a declaração de voto, que deve ser tida como não formulada, nos termos do § 7º,do art. 63,do anexo II, da Portaria MF nº 343/2015 (RICARF). (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson - Presidente (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto - Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, José Ricardo Moreira (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Ronnie Soares Anderson.
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COBRANÇA. CALL CENTER. A atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center e não está abrangida pela substituição previdenciária instituída pela Lei nº 12.546, de 2011. COMPENSAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. O disposto no art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, não se aplica às contribuições previdenciárias, em razão do disposto no art. 26, parágrafo único da Lei nº 11.457, de 16 de março de 2007. A compensação da Contribuição Previdenciária está adstrita aos termos do art. 89 da Lei nº 8.212, de 1991. ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO. IMPROCEDÊNCIA. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado, não tendo ele se desincumbindo deste ônus. Simples alegações desacompanhadas dos meios de prova que as justifiquem revelamse insuficientes para comprovar os fatos alegados. ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE. SÚMULA CARF Nº 2. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Recurso Voluntário Negado Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 82 5. 72 09 48 /2 01 5- 20 Fl. 345DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 346 2 Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao recurso, vencidos os conselheiros Júnia Roberta Gouveia Sampaio, que deu provimento parcial em maior extensão, e Dilson Jatahy Fonseca Neto, que lhe deu provimento integral. Manifestou interesse em apresentar declaração de voto o conselheiro Dilson Jatahy Fonseca Neto. Entretanto, findo o prazo regimental, o Conselheiro não apresentou a declaração de voto, que deve ser tida como não formulada, nos termos do § 7º,do art. 63,do anexo II, da Portaria MF nº 343/2015 (RICARF). (assinado digitalmente) Ronnie Soares Anderson Presidente (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Rosy Adriane da Silva Dias, Martin da Silva Gesto, José Ricardo Moreira (suplente convocado), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto e Ronnie Soares Anderson. Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto nos autos do processo nº 10825.720948/201520, em face do acórdão nº 1674.732, julgado pela 12ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo (DRJ/SPO), na sessão de julgamento de 26 de setembro de 2016, no qual os membros daquele colegiado entenderam por julgar improcedente a impugnação apresentada pelo contribuinte. Por bem descrever os fatos, adoto o relatório da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento de origem, que assim relatou os fatos: DA AUTUAÇÃO Tratase de Auto de Infração AI Debcad nº 51.063.9399, referente a contribuições previdenciárias da parte "patronal" destinadas a Seguridade Social, lançado na rubrica 12 Empresa no DD Discriminativo do Débito, fls. 04/07, relativas a valores informados pela empresa no campo destinado a "compensações" em Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social GFIP, nos termos do Relatório Fiscal, abrangendo o período de 04/2012 a 13/2013, no montante de R$ 13.507.744,60 (treze milhões, quinhentos e sete mil, setecentos e quarenta e quatro reais e sessenta centavos), consolidado em 05/05/2015. No item 1.2. do Relatório Fiscal estão relacionados todos os valores mensais que foram informados no campo "compensação" em GFIP, de todos os estabelecimentos (matriz e filiais), que totalizaram R$ 9.578.120,85. O Relatório Fiscal de fls. 12/25 traz ainda, em síntese, as seguintes informações: Fl. 346DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 347 3 No tópico II DOS MANDADOS DE PROCEDIMENTO FISCAL Que em 11/2014 determinouse o presente procedimento de fiscalização, via Termo de Distribuição do Procedimento Fiscal TDPF nº 08.1.03.002014009670, objetivando auditoria destinada a verificar a legitimidade das compensações previdenciárias informadas em GFIP. O contribuinte foi notificado e intimado a apresentar os documentos solicitados no Termo de Início de Procedimento Fiscal TIPF de 11/11/2014, o qual foi recebido em 14/11/2014. Em atendimento apresentou os documentos solicitados, acompanhado de petição que informa, entre outros, que a empresa não está inserida dentro de nenhum "grupo empresarial", nos termos do artigo 265 da Lei n° 6.404/1976, nem dos artigos 1.097 a 1.099 do Código Civil Brasileiro, até porque não participa de nenhuma outra sociedade, nem possui outra sociedade como sócia. E ainda, que a empresa possui ação judicial Mandado de Segurança n° 0005936.44.2010.4.03.6108, distribuído perante a 3ª Vara da Justiça Federal em Bauru, movida contra a União, relativamente às contribuições incidentes sobre a folha de salários. Após prorrogação concedida, a empresa apresentou as folhas de pagamento, meio digital, em 22/12/14. Diante da informação de existência de Mandado de Segurança, através do Termo de Intimação Fiscal n° 01, foi solicitado o seguinte esclarecimento "se tais valores compensados se referem a decisão judicial e se houve outros fundamentos para tais compensações". Em resposta o contribuinte esclareceu que: "1. As compensações informadas em GFIP, nos valores de R$ 4.039.001,66 (2012) e de R$ 5.539.119,19 se referem à desoneração da folha de salários prevista na Lei n° 12.546/2012, essas compensações correspondem à diferença entre a apuração da cota previdenciária patronal calculada automaticamente pelo SEFIP/GFIP em cima da folha de salários (alíquota de 20%) e o valor da contribuição sobre a receita bruta (alíquota de 2,5% entre abril e julho de 2012; e de 2% a partir de agosto/2012)". "2. Em anexo, seguem planilhas demonstrativas dessas compensações". "3. Tais valores compensados não se referem a decisão judicial, ficando prejudicada a apresentação dos documentos citados no quarto parágrafo." No tópico III DO OBJETO SOCIAL DA EMPRESA Verificase da 44ª Alteração Contratual que se trata de sociedade empresarial, sob o tipo jurídico de sociedade limitada, constituída em 20/04/1980 e registrada no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas de Araçatuba/SP, protocolado sob n° 3831 no livro A1 e registrado sob n° 195 no livro A1 folha 536, em 13/05/1980, e essa 44ª alteração com registro na Junta Fl. 347DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 348 4 Comercial do Estado de São Paulo JUCESP sob n° 673/122, em sessão de 03/01/12, com sede nesta cidade de Bauru/SP, na Rua Cussy Junior, n° 1116, sendo que "O objeto social da matriz e filiais é a exploração do ramo de prestação de serviços de atividades de teleatendimento, telecobrança e cobrança extrajudicial", que foi mantido na 45ª Alteração Contratual. Por sua vez, a 46ª Alteração Contratual, certificado o registro na JUCESP em 04/09/13, sob n° 312.672/135, que dispõe, entre outros, do "Contrato Social Consolidado",temse o seguinte: "O objeto social da sociedade é a exploração dos serviços de teleatendimento, contact center, call center, telemarketing sem a comercialização de mercadorias, sistemas de resposta vocal interativa, sistemas de integração telefone computador, prestação de informações por telefone, consulta sobre produtos por telefone, central de recados, centro de emissão de chamadas telefônicas para pesquisas de mercado, atendimento a clientes por telefone, central de atendimento por telefone." Assim, a empresa procedeu a "auto enquadramentos" nos seguintes códigos: CNAE FISCAL 7499303 (Serviços de Contatos Telefônicos, adotado desde 15/08/2005), CNAE 8220 2/00 (Atividade de Teleatendimento, adotado desde 29/12/2006), SAT 8069905 e FPAS 515. No tópico IV DOS CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS (CLIENTES) A fiscalização relaciona no item 4 "a" a "l", fls. 14 a 20, os contratos de prestação de serviços apresentados, celebrados com os clientes abaixo citados, transcrevendo algumas cláusulas contratuais, destacando em cada um deles o seu objeto que se constitui em "prestação de serviços de cobrança", em suma, como segue: a) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 01/09/2003 com HSBC Bank Brasil S/A Banco Múltiplo CNPJ n° 01.701.201/000189 (CONTRATANTE), destacandose: "Cláusula 1 Constitui objeto deste Contrato, o serviço de Cobrança Extrajudicial de Créditos..." b) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EXTRAJUDICIAIS celebrado em 10/01/2004 com UNIBANCO União de Bancos Brasileiros S/A CNPJ n° 33.700.394/000140 e outros dez contratantes, destacandose: "1. CLÁUSULA PRIMEIRA: DO OBJETO O CONTRATO tem por objeto a prestação de serviços especializados por parte da CONTRATADA, aos CONTRATANTES, fora do âmbito das atividades fins destes últimos, serviços esses que consistirão na cobrança extrajudicial de créditos decorrentes de operações de crédito em geral, oriundos de conta corrente, cartão de crédito, financiamento, Fl. 348DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 349 5 arrendamento mercantil e outras diversas modalidades, realizadas pelos CONTRATANTES com seus clientes, correntistas ou não, nas diversas praças onde exercem suas atividades, a critério e conforme interesse das CONTRATANTES. c) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 10/11/2008 com BANCO BRADESCO S/A CNPJ n° 60.746.948/000112 (CONTRATANTE), destacandose: "DAS DISPOSIÇÕES GERAIS Cláusula primeira a CONTRATADA, sem caráter de exclusividade e sem qualquer vinculo empregatício de seus sócios, procuradores, funcionários, colaboradores ou prepostos, se obriga a prestação de serviços profissionais objetivando a cobrança extrajudicial de créditos de titularidade dos CONTRATANTES, os quais serão prestados em suas dependências e, ..." d) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 01/02/2011 com ORBITALL SERVIÇOS E PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES COMERCIAIS S/A CNPJ n° 00.006.878/000134 (CONTRATANTE), destacandose: "CLÁUSULA PRIMEIRA OBJETO 1.1. O CONTRATADO prestará, para a CONTRATANTE, serviços de cobrança amigável ("SERVIÇOS") visando recuperar créditos juntos aos devedores ("DEVEDORES") dos clientes da CONTRATANTE ("EMISSORES"). O detalhamento da forma de cobrança, tipo de trabalho a ser realizado e demais condições pertinentes a cada EMISSOR estão especificados no Manual das Agências Externas de Cobrança da Orbital ("MANUAL")..." e) INSTRUMENTO PARTICULAR DE CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS celebrado em 07/02/2011 com BV FINANCEIRA S/A CRÉDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO CNPJ n° 01.149.953/000189 (CONTRATANTE), destacandose: "CLÁUSULA PRIMEIRA OBJETO 1.1. Temse por objeto do presente contrato a prestação de serviços de cobrança extrajudicial de valores representativos de créditos pertencentes à CONTRATANTE relacionados às operações do produto Veículos, podendo a CONTRATADA utilizarse de todos os meios e recursos atinentes à execução da obrigação ora contratada, observadas as normas e disposições legais em vigência, sobretudo o que dispõe a Lei 8.078/1990." f) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 02/09/2011 com Sorocred Crédito, Fl. 349DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 350 6 Financiamento e Investimento S/A CNPJ n° 04.814.563/0001 74 (CONTRATANTE), destacandose: "AS DISPOSIÇÕES GERAIS Cláusula primeira A CONTRATADA, se obriga a prestação de serviços profissionais objetivando a cobrança extrajudicial de créditos de titularidade dos CONTRATANTE, os quais serão prestados em suas dependências e, neste ato, declara estar plenamente estruturada para a prestação de tais serviços nos termos fixados neste contrato." g) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 02/09/2011 com o Contratante Cejud Cobranças Extrajudiciais Ltda CNPJ n°08.754.932/000131, com cláusulas idênticas do contrato mencionado na letra "f". h) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 28/10/2011 com Contratante Scard Administradora de Cartões de Crédito Ltda CNPJn° 10.382.064/000158, com cláusulas idênticas do contrato mencionado na letra "f". i) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 02/01/2012 com BANCO PANAMERICANO CNPJ n° 59.285.411/000113 e outros dois contratantes, destacandose: "CLÁUSULA PRIMEIRA DO OBJETO 1. O objeto deste contrato é a prestação de serviços de cobrança extrajudicial, sem exclusividade que a CONTRATADA se obriga a promover em nome das CONTRATANTES, com o propósito de recuperar os seus créditos junto a terceiros, ficando assim a CONTRATADA investida, desde já, de poderes para ajuizar todos os meios e recursos legais necessários a atividades aqui contratadas, podendo, inclusive receber e dar quitação dos valores efetivamente recebidos em nome das CONTRATANTES obedecendo as leis e normas vigentes, especialmente, os ditames da Lei 8078/90, que a CONTRATADA declara ter pleno conhecimento." j) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 31/05/2013 com ATLÂNTICO FUNDO DE INVESTIMENTO EM DIREITOS CREDITÓRIOS NÃO PADRONIZADOS CNPJ n° 09.194.841/000151 (CONTRATANTE), destacandose: "1.OBJETO 1.1. O objeto do presente CONTRATO é a fixação dos termos e condições para a prestação, pela Contratada, ao Contratante, de serviços de cobrança, exclusivamente extrajudicial, de créditos de titularidade do contratante ("Serviços")." Fl. 350DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 351 7 k) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 10/07/2013 com BETACRED COMPANHIA SECURITIZADORA DE CRÉDITOS FINANCEIROS CNPJ n° 06.050.986/000190 (CONTRATANTE), destacandose: "1. OBJETO 1.1. O objeto do presente CONTRATO é a fixação dos termos e condições para a prestação, pela Contratada, ao Contratante, de serviços de cobrança, exclusivamente extrajudicial, de créditos de titularidade do contratante ("Serviços")." l) CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS celebrado em 01/11/2011 com TRICARD ADMINISTRADORA DE CARTÕES LTDA CNPJ n° 05.045.717/000173 e BANCO TRIÂNGULO S/A CNPJ n° 17.351.180/000159 (CONTRATANTES), destacandose: "CLÁUSULA PRIMEIRA DO OBJETO 1.1. Constitui objeto do presente Contrato a prestação de serviços de envio de mensagens via SMS e oferta de produtos da CONTRATANTE utilizando URA REVERSA. Para tanto, a CONTRATANTE informará à CONTRATADA a base de contatos para os serviços, bem como conteúdo de mensagens e produtos disponíveis, além dos quantitativos envolvidos no período. 1.2 Os serviços deverão ser realizados a partir das dependências da CONTRATADA, em horário comercial, ou nos locais previamente ajustados pelas partes." No tópico V DA DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO Salienta a fiscalização que, em 03/08/2011, foi publicada no D.O.U. a Medida Provisória n° 540, que tratou, dentre outros, da Desoneração da Folha de Pagamento, posteriormente convertida na Lei 12.546, de 2011, instituindo a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta CPRB. Ainda tratando da matéria, houve outros atos legais subseqüentes, dentre eles, a MP 563/12 e a Lei 12.715/12. E que nos termos da MP e da Lei, em síntese, a contribuição que " incide sobre a receita bruta da empresa; substitui a contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento para os setores envolvidos; abrange somente a contribuição patronal paga pelas empresas; é obrigatória para os setores abrangidos pela mudança e as alíquotas dependem do setor em que a empresa atua..." Conforme consta acima em resposta a intimação a empresa informou que as compensações informadas em GFIP se referem à desoneração da folha de salários prevista na Lei n° 12.546/2012, e que essas compensações correspondem à diferença entre a apuração da cota previdenciária patronal Fl. 351DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 352 8 calculada automaticamente pelo SEFIP/GFIP em cima da folha de salários (alíquota de 20%) e o valor da contribuição sobre a receita bruta (alíquota de 2,5% entre abril e julho de 2012; e de 2% a partir de agosto/2012). De fato, as disposições acerca do preenchimento da GFIP pelas empresas abrangidas pelos arts. 7º e 8º da Lei n° 12.546, de 14 de dezembro de 2011, foram estabelecidas no ATO DECLARATÓRIO EXECUTIVO CODAC N° 93, de 19/12/2011, DOU de 20/12/2011, destacandose: Art. 1º Para fins de aplicação da substituição das contribuições previdenciárias estabelecidas nos incisos I e II do art. 22 da Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991, prevista no caput do art. 7º da Lei n° 12.546, de 14 de dezembro de 2011, as empresas que prestam serviços de Tecnologia da Informação (TI) e de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) deverão observar o disposto neste artigo quando da prestação de informações no Sistema Empresa de Recolhimento do Fundo de Garantia e Informações à Previdência Social (Sefip), até que ocorra a adequação desse sistema. § 1º Os valores de Contribuição Previdenciária patronal calculados pelo Sefip e demonstrados no "Comprovante de Declaração das Contribuições a Recolher à Previdência Social" nas linhas "Empregados/ Avulsos" e "Contribuintes Individuais" abaixo do titulo empresa deverão ser somados e lançados no Campo "Compensação", (n/ destaque) § 5° O disposto neste artigo aplicase às empresas que prestam serviços de call center somente a partir de 1º de abril de 2012. (n/ destaque) Art. 5º As contribuições substitutivas das Contribuições Previdenciárias Patronais incidentes sobre a receita bruta referidas nos art. 7º e 8º da Lei n° 12.546, de 2001, deverão ser recolhidas em Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf) conforme disposto no Ato Declaratório Executivo Codac n° 86, de 1º de dezembro de 2011. Ressalta o fato de que, em consulta ao sistema "Histórico das Alterações Cadastrais Processadas a Partir de 01/01/1994", verificase que a empresa adotara desde 15/08/2005 o CNAE FISCAL 7499303 Serviços de Contatos Telefônicos. Por sua vez, o enquadramento no CNAE 82202/00 Atividade de Teleatendimento (serviços de Call Center) foi adotado em 29/12/2006 e permanece até hoje. As empresas que prestam serviços de call center foram obrigadas, a partir de 1º de abril de 2012, a adotar o regime de recolhimento de contribuição previdenciária na modalidade de "substituição" (sistema obrigatório), ou seja, incidente sobre a receita bruta. Assim, tendo a empresa se valendo do enquadramento CNAE 82202/00 desde 29/12/2006, procedeu ao recolhimento na modalidade indicada. Fl. 352DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 353 9 Observa ainda que o enquadramento no CNAE 82202/00 é anterior ao surgimento do regime substitutivo de recolhimento e, assim sendo, conclui a fiscalização que não houve emprego de "artifício" visando esse enquadramento, a fim de obtenção do beneficio da desoneração da folha de pagamento. No entanto, salienta que a questão a se definir é se a atividade de cobrança, cujo código CNAE é 82911/00, pode ser considerada como serviços de call center. Isto porque todos os Contratos de Prestação de Serviços apresentados são relativos a Serviços de Cobrança (item 4, letras "a" a "k" deste relatório), com exceção de um contrato cuja atividade referese a serviços de envio de mensagens via SMS e oferta de produtos (letra "l" do item 4). Ressalta ainda o fato de que o CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE COBRANÇA celebrado em 02/01/2012 com BANCO PANAMERICANO CNPJ n° 59.285.411/000113 e outros dois contratantes (letra "i" do item 4), trouxe a seguinte obrigação da autuada: CLÁUSULA SÉTIMA DAS OBRIGAÇÕES DA CONTRATADA 7.2. A CONTRATADA se obriga a cumprir a Norma Regulamentadora 17 (NR 17), do Ministério do Trabalho e Emprego. A referida Norma Regulamentadora n° 17, aprovada pela Portaria SIT n° 9/2007, traz a seguinte definição de call center: 1.1.1. Entendese como call center o ambiente de trabalho no qual a principal atividade é conduzida via telefone e/ou rádio com utilização simultânea de terminais de computador (Anexo II da NR). Observa que, face aos contratos apresentados, é certo que as atividades de cobranças são executados com uso de telefone e de terminais de computador, com sistema de comunicação e transmissão eletrônica e/ou magnética das informações, ora com permissão para recebimento de valores, com transferência aos clientes dos valores recebidos e ora com proibição de recebimento. No entanto, não são aplicáveis à Atividade de Cobrança ( CNAE 82911/00), o regime de substituição da contribuição social previdenciária sobre as remunerações dos segurados pela tributação incidente sobre o faturamento, pois a atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center, questão esta que já foi dirimida com publicações no Diário Oficial da União da SOLUÇÃO DE CONSULTA N° 238, DE 6 DE DEZEMBRO DE 2012, abaixo reproduzida, da SOLUÇÃO DE CONSULTA DISIT/SRRF01 N° 16, DE 10 DE ABRIL DE 2013, e da SOLUÇÃO DE CONSULTA DISIT/SRRF10 N° 52, DE 26 DE JUNHO DE 2013, neste mesmo sentido, e que vinculam à fiscalização: Fl. 353DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 354 10 SOLUÇÃO DE CONSULTA N° 238, DE 6 DE DEZEMBRO DE 2012 (Publicado(a) no DOU de 08/01/2013) ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA (CPRB) COBRANÇA CALL CENTER. A atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center, e não está abrangida pela substituição previdenciária instituída pela Lei n° 12.546, de 2011. Dispositivos Legais: Lei n° 11.744, de 2008, art. 14, § 5; Lei n° 12.546, de 2011, art.7°.Resoluções IBGE/CONCLA n° 01/2006 e n° 02/2006. SOLUÇÃO DE CONSULTA DISIT/SRRF01 N° 16, DE 10 DE ABRIL DE 2013 ASSUNTO: Contribuições Sociais Previdenciárias EMENTA: CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA (CPRB) COBRANÇA CALL CENTER. A atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center, e não está abrangida pela substituição previdenciária instituída pela Lei n° 12.546, de 2011. Dispositivos Legais: Lei n° 11.744, de 2008, art. 14, § 5; Lei n° 12.546, de 2011, art.7°.Resoluções IBGE/CONCLA n° 01/2006 e n° 02/2006. No tópico VI DO AUTO DE INFRAÇÃO Ante o exposto, lavrouse o presente Auto de Infração AI Debcad n° 51.063.9399, exigindose a contribuição social previdenciária destinadas à Seguridade Social ("parte patronal"), que corresponde aos valores lançados no campo da GFIP a "título de compensação", ou seja, tratase de não homologação dos mesmos. Tais valores foram extraídos dos demonstrativos elaborados pela empresa a título de "DESONERAÇÃO FOLHA DE PAGAMENTO 2012 MULTICOBRA", "DESONERAÇÃO FOLHA DE PAGAMENTO 2013 MULTICOBRA", "VALORES COMPENSADOS EM GFIP 2012 MULTICOBRA" e "VALORES COMPENSADOS EM GFIP 2013 MULTICOBRA", conforme tabela item 6.1. do Relatório Fiscal, fls. 24, observando que, em que pese os valores informado em GFIP no campo compensação terem sidos efetuados por estabelecimento (matriz e filiais), no lançamento do AI considerouse apenas o estabelecimento matriz, pois a receita bruta foi informada de forma "totalizada". Em observação às determinações do CTN (art. 142), no sentido de "tornar liquida a obrigação, calculando o montante do tributo", foi deduzido da exigência, os valores informados/confessados anteriormente em Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais (DCTF), a título de Fl. 354DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 355 11 Contribuição Previdenciária sobre Receita Bruta (coluna CPRB), resultando a contribuição exigida dos anoscalendário 2012 e 2013 (coluna CONTR EXIGIDA), ou seja, R$ 9.578.120,85 (valor total "compensado") R$ 2.680.199,45 (CPRB) = R$ 6.897.921,40 (valor lançado). Mesmo porque, se assim não procedesse, estaria se aceitando a forma de recolhimento das contribuições previdenciárias "parte patronal" efetuada pela empresa, ou seja, "Contribuição Previdenciária sobre Receita Bruta CPRM". Foi aplicada, no caso, a multa de ofício estabelecida pela Lei n° 9.430, de 27 de dezembro de 1996, com a nova redação dada pela Lei n° 11.488, de 15 de junho de 2007. O crédito lançado está fundamentado na legislação constante no Relatório Fiscal e no anexo FLD Fundamentos Legais do Débito. DA IMPUGNAÇÃO Inconformada com a autuação, da qual foi cientificada pessoalmente, em 25/05/2015, tempestivamente, em 23/06/2015, o sujeito passivo apresenta impugnação, às fls. 208/234, acompanhada de cópias dos documentos às fls. 235/258 ( da Procuração, da OAB dos procuradores, da 46ª Alteração Contratual, da Portaria CAT65 de 22/07/2005, da Declaração datada de 21/01/2015, endereçada à Secretaria da Fazenda do Estado de S.Paulo, solicitando Redução de ICMS, com base na referida Portaria, da Conta de Prestação de Serviços emitida pela Embratel e seus pagamentos ref. 05/2015, da conta da Algar Telecom, ref. 05/2015, e da capa deste Auto de Infração), alegando, em síntese, após um breve relato dos fatos narrados pela fiscalização, que estes não correspondem à realidade dos fatos, o que se pretende demonstrar a seguir por meio desta impugnação. II PRELIMINARMENTE: NULIDADE DA AUTUAÇÃO POR VÍCIO PROCEDIMENTAL. NÃO HOMOLOGAÇÃO DA "COMPENSAÇÃO" LANÇADA EM GFIP. NECESSIDADE DE DESPACHO DECISÓRIO E ABERTURA DE PRAZO PARA MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE (ART. 74 DA LEI N° 9.430/96) Observa a impugnante que, conforme consignado pela fiscalização no Relatório Fiscal os valores exigidos no AI lavrado tratase de não homologação da compensação declarada em GFIP. Salienta que as compensações informadas em GFIP pelo contribuinte se referem à desoneração da folha de salários prevista na Lei n° 12.546/2012, correspondendo à diferença entre a apuração da cota previdenciária patronal calculada automaticamente pelo SEFIP/GFIP em cima da folha de salários (alíquota de 20%) e o valor da contribuição sobre a receita bruta (alíquota de 2,5% entre abril e julho de 2012; e de 2% a partir de agosto/2012), tendo a fiscalização reconhecido que a Fl. 355DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 356 12 Impugnante agiu corretamente do ponto de vista formal, consignando que "de fato, as disposições acerca do preenchimento da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia e Informações à Previdência Social (GFIP) pelas empresas abrangidas pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011 foram estabelecidas no ATO DECLARATÓRIO EXECUTIVO CODAC N°93, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2011". Transcreve os artigos 1º e 5º do referido Ato Declaratório e salienta que a empresa agiu de acordo com o que determina formalmente a legislação: recolheu a Contribuição Previdenciária Patronal sobre a receita bruta via DARF, e lançou, no campo compensação da GFIP ("outros créditos") a Contribuição Previdenciária Patronal calculada pelo SEFIP sobre a folha de salários. No entanto, a fiscalização tendo considerada como NÃO HOMOLOGADA a "compensação" lançada em GFIP, deveria, obrigatoriamente, ter observado o procedimento estabelecido pelo artigo 74 da Lei nº 9.430/96, o qual transcreve, para as referidas compensações. Acresce ainda que o pedido de compensação não vai acarretar a automática extinção do crédito tributário, mas sim a suspensão da exigibilidade do crédito até a apreciação fiscal, nos termos do §11 do artigo 74 da Lei nº 9.430/96 e, caso a Receita Federal deixe passar o prazo de cinco anos, a contar do pedido de compensação, esta será homologada tacitamente, nos termos do §5° deste mesmo dispositivo legal. Em outras palavras, há uma sintonia entre esse processo administrativo de compensação e o "autolançamento" (lançamento por homologação) do artigo 150, §4°, do CTN. Por outro lado, observa que o referido dispositivo legal é bastante claro ao exigir um devido processo legal administrativo para a Receita Federal "nãohomologar", isto é, rejeitar a declaração de compensação operada pela autuada, nos termos do caput e §1° do artigo 74 da Lei nº 9.430/96, e do Ato Declaratório Executivo CODAC nº 93/2011. Esse trâmite processual revela uma nítida imposição e decorrência dos princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, dispostos no artigo 5º, incisos LIV e LV, da Carta Magna, que transcreve. Portanto, uma vez não homologada a compensação, deveria a autoridade administrativa, nos termos do §7º do artigo 74 da Lei nº 9.430/96, cientificar o sujeito passivo e intimálo a efetuar, no prazo de 30 (trinta) dias, contado da ciência do ato que não a homologou, o pagamento dos débitos indevidamente compensados, sendo facultada, no mesmo prazo, a apresentação de manifestação de inconformidade (§ 9° deste mesmo dispositivo legal). Afirma a impugnante que o "ato" que não homologa a compensação não é o Auto de Infração, e sim o DESPACHO DECISÓRIO, conforme disposto no art. 74 da Lei nº 9.430/96, Fl. 356DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 357 13 por meio do qual a autoridade fiscal testifica a acurácia do pagamento ou compensação em face do tributo considerado devido. Ressalta ainda que apenas se fosse reputada como "não declarada" a compensação, automaticamente também seria considerada como não declarada (não "autolançada") a dívida, nos termos do §13, combinado com o §6° do referido dispositivo legal, forçando, assim, a lavratura de auto de infração para constituir o crédito tributário, mas, não foi esse o caso, pois a fiscalização considerou como "não homologadas" as compensações declaradas em GFIP, motivo pelo qual deveria ter sido proferido Despacho Decisório em lugar da lavratura do AI, logo, segundo ela houve ERRO quanto ao procedimento administrativo adotado, nulificando a referida autuação. Seguindo este mesmo raciocínio, aduz a impugnante que a fiscalização ao invés de fundamentar a autuação no não lançamento da contribuição patronal sobre a folha de salários (20%), glosou/estornou os créditos declarados pela Impugnante, não tendo constituído o crédito tributário, apenas desconsiderou a forma de pagamento (= compensação). Logo, os débitos foram devidamente autodeclarados pela empresa. Tal constatação gera reflexos diretos quanto á multa imposta: não haveria espaço para a aplicação da multa punitiva de 75%, mas sim a multa moratória de 20%, uma vez que os débitos foram confessados/autodeclarados pelo contribuinte. Segundo ela, na pior das hipóteses, caberia a aplicação da multa isolada de 50% sobre o valor do débito (e não do crédito) objeto de declaração de compensação não homologada, nos termos do § 17 do artigo 74 da Lei n° 9.430/96, muito embora essa multa esteja prestes a ser declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 4.905, sendo praticamente certo o afastamento desta multa. Portanto, requer a impugnante a Nulidade da autuação por vício procedimental, pois considerada como "não homologada" a compensação declarada em GFIP, deveriam ser obrigatoriamente observados os regramentos estampados no artigo 74 da Lei n° 9.430/96 (expedição de Despacho Decisório, abertura de prazo para Manifestação de Inconformidade, etc) e, no mínimo, a multa PUNITIVA de 75% deveria dar lugar à multa MORATÓRIA de 20%, pois os débitos foram confessados/ autodeclarados pela Impugnante. III UTILIZAÇÃO DO CALL CENTER COMO MEIO PARA A PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE COBRANÇA, NÃO SE CONFUNDINDO COM A ATIVIDADE DE COBRANÇA PROPRIAMENTE DITA (ATIVIDADEFIM). CONSEQUENTE INSUBSISTÊNCIA DA AUTUAÇÃO. Afirma a impugnante que a fiscalização lavrou o presente AI por entender que a atividade de call center por ela realizada não se Fl. 357DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 358 14 confunde com a atividade de cobrança, e faz uma síntese dos argumentos utilizados pela auditoria fiscal. Questiona, por que o fiscal não explicou o que é call center? Por que a Impugnante não se encaixa no conceito de call center? Muito embora os objetos dos contratos firmados entre a Impugnante e seus clientes se refiram a "cobrança", será que esse serviço não pode ser desenvolvido por MEIO de call center? E, passa a discorrer sobre alguns desses temas. A "CALL CENTER": GENERALIDADES E CARACTERÍSTICAS Afirma que, a grosso modo, entendese por call center um conjunto de recursos (computadores, equipamentos de telecomunicação e agentes) que permitirão o fornecimento de serviços via telefone, onde o Custumer Service Representative, ou simplesmente "operador", interage com os clientes. Colaciona vários conceitos de call center dos portais eletrônicos especializados em definições, inclusive o elaborado pela Gazeta Mercantil. Observa que em termos de legislação, a única norma que se presta a definir o que vem a ser call center advém da seara trabalhista: a Norma Regulamentadora nº 17 (NR17), do Ministério do Trabalho e Emprego, aprovada pela Portaria SIT nº 9/2007, e transcreve o disposto no Anexo II, item 1, destacando o item 1.1.1. Entendese como call center o ambiente de trabalho no qual a principal atividade é conduzida via telefone e/ou rádio com utilização simultânea de terminais de computador. Conclui ressaltando que a partir de tais definições extraise importantes características dos call centers: Call center é um conjunto de recursos tendentes a auxiliar no desenvolvimento de um serviço, e não o "serviço" propriamente dito; Através desse conjunto de recursos (computadores interligados, equipamentos de telecomunicação e agentes), há o oferecimento de informações, produtos e serviços via telefone (teleatendimento), onde o operador interage com o cliente; Tratase de espaço físico no qual se realizam operações de teleatendimento e atividades relacionadas a tais operações, sendo também o conjunto de pessoas, equipamentos e sistemas com que é exercido o teleatendimento; A presença do elemento humano é indispensável para a prestação de serviços através de um ambiente de call center, já que a prestação ocorre quando o atendente recebe uma ligação telefônica (serviço receptivo) ou quando efetua a ligação (serviço ativo) para um ambiente ou usuário; Fl. 358DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 359 15 Um desdobramento do call center é o chamado contact center, modalidade cm que o contato não se restringe ao telefone, mas também a mensagens de SMS, Whatsapp, email, chat, Facebook, etc. Ante tais considerações destaca a impugnante: call center não é uma espécie ou tipo de contrato, ou seja, não existe um "contrato de call center"!!! Call center é uma FORMA, um MEIO através do qual determinado serviço é desenvolvido, e não um serviço propriamente dito (atividade fim). Em suma, segundo ela, um serviço de assistência técnica (atividadefim) pode se dar através de uma atividademeio de call center. Uma atividade de pósvenda (atividademeio de um contrato de compra e venda regida pelo CDC) pode ser desenvolvida também por meio de um call center. Uma atividade de prévenda também. Um serviço de cobrança também pode ser desempenhado sob a forma de call center. O call center é apenas um meio, uma forma de se executar um serviço ou cumprir uma etapa de um contrato (principal). Neste sentido, transcreve ementa da 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, que ao analisar o Conflito de Competência n° 113.947, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, DJe de 06/03/2014, corretamente consignou que o call center foi a "via", o meio pelo qual se operou uma venda a distância, e do RESP nº 976.217, relatora Maria Isabel Gallotti, que em 11/09/2012, DJe de 15/10/2012, a 4ª Turma também analisou a contratação de serviços telefônicos "via" call center. E destaca que esse caráter acessório e instrumental do call center ficou ainda mais claro no RESP nº 1.260.310, relator Ministro Herman Benjamin, 2ª Turma do STJ, em 10/04/2014, DJe de 02/02/2015, que transcreve. Cita mais julgamentos, salienta que o Sindicato dos empregados de call center de Bauru também disciplina o call center como uma maneira de se exercer a "principal atividade" da empresa, e o site SEBRAE que numa cartilha intitulada "como montar um call center" inclui a atividade de cobrança de inadimplentes como um ex. de serviço passível de ser executado por esta via. Por fim, no Tribunal Superior do Trabalho (TST), a jurisprudência é no sentido de que os recuperadores de crédito que trabalham por meio de call center (cobrança exclusivamente por telefone, com uso de headphones) têm direito à mesma jornada especial de trabalho (de 6 horas) prevista no artigo 227 da CLT, aplicáveis aos telefonistas, conforme se depreende dos seguintes julgados: AI RR n° 111218.2012.5.02.0029, j. em 13/05/2015, DeJT 15/05/2015, de relator Desembargador convocado Alexandre Teixeira de Freitas Bastos Cunha, Ia Turma; c RR n° 53992.2013.5.03.0036, relator Ministro José Roberto Freire Pimenta, j. em 25/03/2015, DeJT 31/03/2015, 2ª Turma. Fl. 359DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 360 16 Em suma, segundo ela call center é um meio, uma via, uma forma pela qual muitos contratos são executados, inclusive de prestação de serviços (de cobrança; telecobrança). B) "CALL CENTER" X CONTRATOS DE COBRANÇA: NULIDADE DA AUTUAÇÃO POR DEFICIÊNCIA E CONTRADIÇÃO DA FUNDAMENTAÇÃO Afirma que a fundamentação da lavratura do referido AI pode ser resumida pelos itens 5.4.4. a 5.4.6. do Relatório Fiscal, os quais transcreve, e observa que a fiscalização concluiu de maneira explícita que as atividades de cobrança desempenhadas pela Impugnante são executadas com uso de telefone e de terminais de computador, com sistema de comunicação e transmissão eletrônica e/ou magnética das informações, ora com permissão para recebimento de valores, com transferência aos clientes dos valores recebidos e ora com proibição de recebimento. Ou seja, RECONHECEUSE EXPRESSAMENTE QUE A IMPUGNANTE EXECUTA A ATIVIDADE DE COBRANÇA POR MEIO DE CALL CENTER. Porém, em seguida, de maneira surpreendente e CONTRADITÓRIA, afastou o enquadramento da empresa como sendo de call center (e, consequentemente, do regime de desoneração da folha de salários) por constatar que o objeto dos contratos firmados pela Impugnante com seus clientes é de COBRANÇA, e não de CALL CENTER. Sustenta que não faz sentido tal conclusão, pois se restou constatada a atividade de cobrança através de um ambiente de call center, não pode ser desconsiderado o enquadramento como call center em decorrência da atividade de cobrança, seria, segundo ela, pura contradição. Ressalta que a fiscalização sequer explicou o que é call center, e se assim tivesse agido iria concluir que não se trata de uma "espécie" ou "tipo" de contrato, mas sim uma FORMA, um MEIO pelo qual determinado serviço de cobrança é desenvolvido. Observa que a única fundamentação utilizada pelo fiscal foi a citação das Soluções de Consulta nº 238/2012, 16/2013 e 52/2013, e que essas súmulas merecem INTERPRETAÇÃO em relação ao caso concreto ora discutido, pois, segundo ela, é óbvio que a atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center, até porque esta é atividademeio, enquanto aquela é atividadefim; mas nada impede que se faca uso do ambiente de call center para o exercício da atividade de cobrança, ocasião cm que essas atividades se somam, se aglutinam, como é o caso da Impugnante, que realiza o serviço de cobrança POR MEIO de call center. Afirma que mencionadas soluções de consulta parecem ter levado em consideração tãosomente a CNAE das atividades, quando cita as Resoluções IBGE/CONCLA n° 1/2006 e n° 2/2006, mas, diferentemente, do que ocorreu com o setor da Fl. 360DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 361 17 construção civil e do comércio varejista, a Lei n° 12.546/2011 não incluiu a atividade de call center de conformidade com o seu enquadramento na CNAE, mas sim pelo modo como o serviço é desenvolvido ("empresa de call center"). Conclui afirmando que por não ter a fiscalização sequer explicado ou definido o que é call center e por que a Impugnante não se encaixa, deixando de realizar uma análise interpretativa das Soluções de Consulta n° 238/2012, 16/2013 e 52/2013, a autuação é NULA por deficiência e contradição da fundamentação, em nítida agressão aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º, incisos LIV e LV). C) "CALL CENTER" COMO MEIO PELO QUAL O SERVIÇO DE COBRANÇA É DESENVOLVIDO. CONSEQUENTE IMPROCEDÊNCIA DA AUTUAÇÃO. Novamente destaca o fato de ter a fiscalização concluído que as atividades de cobrança desempenhadas pela Impugnante são executadas com uso de telefone e de terminais de computador, com sistema de comunicação e transmissão eletrônica e/ou magnética das informações, ora com permissão para recebimento de valores, com transferência aos clientes dos valores recebidos e ora com proibição de recebimento. E, para que não restem dúvidas quanto à execução do serviço de cobrança por meio de call center anexa aos autos cópias de contas telefônicas da Embratel S/A, da Claro S/A e da Algar Telecom S/A, onde se constata a cobrança do ICMS com alíquota de 15% (e não 25%), justamente pelo fato de a empresa se enquadrar no artigo 44, inciso V, do Anexo II do Regulamento do ICMS, o qual transcreve, que prevê a redução da base de cálculo do imposto incidente nas prestações de serviços de telefonia fixa a empresas de "call center" para a execução dos serviços terceirizados de cobrança. Portanto, segundo ela restou demonstrado que a Impugnante executa a atividade de cobrança através de call center, sendo que o único empecilho encontrado pela fiscalização o enquadramento como call center (regime de desoneração da folha) foi o de que o objeto dos contratos firmados pela Impugnante com seus clientes é COBRANÇA, e não CALL CENTER. Salienta que call center não é, e nem poderia ser objeto de um contrato, já que call center é a forma, o MEIO pelo qual um serviço é desenvolvido. Passa a discorrer novamente sobre este tema, cita o Código Civil, em seu TÍTULO VI ("DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CONTRATO"), que prevê, nos artigos 481 a 853, as espécies de contrato existentes: compra e venda, troca ou permuta, contrato estimatório, doação, locação de coisas, empréstimo (comodato/mútuo), prestação de serviço, empreitada, depósito, mandato, comissão, agência/distribuição, corretagem, transporte, seguro, constituição de renda, jogo/aposta, fiança, transação e compromisso, não existindo a Fl. 361DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 362 18 previsão de um contrato de call center, e sim de prestação de serviço, sendo que, se o objeto do serviço contratado for o de cobrança, ele pode ser realizado através de call center (meio). Observa que para fins de incidência do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS), o fato gerador eleito pela legislação é a prestação de serviço de COBRANÇA (atividadefim), item 17, subitem 22 da Lista de Serviços Anexa á Lei Complementar n° 116/03, cujo rol é TAXATIVO, e não de serviço de call center (meio). Discorre novamente a respeito da diferenciação entre atividade meio e atividade fim, inclusive para efeitos de incidência do Imposto sobre Serviços ISS, e cita também o artigo 10 da Lei n° 10.833/2003 (COFINS não cumulativa), ao dispor sobre as receitas que devem permanecer na regra cumulativa da COFINS deixou claro que não existe a prestação de serviços de call center, mas sim a prestação de serviços ATRAVÉS de empresas de call center. Destaca algumas cláusulas dos contratos analisados pela fiscalização, e do contrato social que, segundo ela, demonstram a prestação do serviço de cobrança ATRAVÉS de ambiente de call center. Cita ainda a Portaria CAT n° 65, de 22/07/2005 (documento em anexo), editada pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, que disciplina a redução da base de cálculo do ICMS incidentes nas prestações de serviços de telefonia fixa para empresas de call center, prevendo, em seu artigo 1°, inciso V, que faz jus ao benefício as empresas de call center que executam serviços terceirizados de cobrança. Segundo ela, o próprio contexto histórico que gerou essa nova forma de apuração da cota previdenciária também justifica a aplicação do "regime de desoneração da folha" às empresas que prestam serviços de cobrança por meio de call center, como é o caso da Impugnante, em razão dos número significativo de empregados que essa atividade vem gerando em nosso País, pois vai ao encontro dos anseios do Governo Federal de proporcionar uma redução na carga tributária desses grandes empregadores. Ante o exposto, com base na fundamentação supra citada, afirma a Impugnante não restar dúvidas de que se enquadra no "regime de desoneração" contemplado pela Lei n° 12.715/2012, que alterou os artigos 14, § 5º da Lei n° 11.774/2008, e 7º, I, da Lei n° 12.546/2011, os quais transcreve, não devendo subsistir, assim, a autuação ora guerreada. IV PEDIDOS FINAIS Diante de todo o exposto, afirma a impugnante que se conclui pela ausência de matéria incontroversa no presente auto de infração, tendo sido impugnados todos os pontos objetos da autuação. Fl. 362DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 363 19 Quanto aos pedidos, requerse o CANCELAMENTO TOTAL do auto de infração, mediante o reconhecimento de que: Preliminarmente, é NULA a autuação por vício quanto ao procedimento administrativo adotado, já que os valores lançados no campo da GFIP a título de "compensação" foram considerados como NÃO HOMOLOGADOS, o que implicaria na lavratura de despacho decisório de não homologação, oportunizando ao contribuinte a apresentação de Manifestação de Inconformidade (art. 74, § 9º da Lei nº 9.430/96), além de ensejar a aplicação de multa MORATÓRIA de 20%, e não de multa de ofício (PUNITIVA) de 75%; Também em preliminar é NULA a autuação por deficiência e contradição da fundamentação, em nítida agressão aos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa (CF, art. 5º, incisos LIV e LV), pois a fiscalização sequer explicou o que é call center e por que a Impugnante não se encaixa, deixando de realizar uma análise interpretativa das Soluções de Consulta nº 238/2012, 16/2013 e 52/2013; No mérito, não merece subsistir a autuação ora guerreada, já que a Impugnante faz jus à apuração de suas contribuições previdenciárias segundo o chamado "regime de desoneração da folha de salários", com base na Lei n° 12.715/2012, que alterou os artigos 14, § 5º da Lei n° 11.774/2008, e 7º, I, da Lei n° 12.546/2011, especialmente porque call center constitui MEIO para a prestação do serviço de cobrança, não se confundindo com a atividade de cobrança propriamente dita (ATIVIDADE FIM). É o relatório." A DRJ de origem julgou pela improcedência da impugnação, concluindo pela aplicação da multa. Inconformado, o contribuinte apresentou Recurso Voluntário às fls. 308/339, reiterando as alegações expostas em impugnação. É o relatório. Voto Conselheiro Martin da Silva Gesto Relator O recurso voluntário foi apresentado dentro do prazo legal, reunindo, ainda, os demais requisitos de admissibilidade. Portanto, dele conheço. A preliminar suscitada de que é nula a autuação por vício quanto ao procedimento administrativo adotado será tratada como mérito. Não se sustenta os argumentos apresentados pela recorrente, em preliminar, de que é nula a autuação por vício quanto ao procedimento administrativo adotado, já que os valores lançados no campo da GFIP a título de "compensação" foram considerados como não homologados, e isto implicaria na lavratura de despacho decisório de não homologação, Fl. 363DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 364 20 oportunizando ao contribuinte a apresentação de Manifestação de Inconformidade, nos termos do art. 74, §9º da Lei nº 9.430/96, além de ensejar a aplicação de multa moratória de 20%, e não de multa de ofício de 75%. E, que também seria nulo o referido Auto de Infração por deficiência e contradição da fundamentação pois, segundo ela, a fiscalização sequer explicou o que é call center e por que a autuada aí não se encaixa, deixando de realizar uma análise interpretativa das Soluções de Consulta nº 238/2012, 16/2013 e 52/2013. De pronto, cumpre esclarecer que, conforme disposto no art. 26, parágrafo único da Lei nº 11.457, de 16 de março de 2007, às contribuições previdenciárias não se aplica a compensação prevista no art. 74 da Lei nº 9.430, de 1996: (...) Art. 2º Além das competências atribuídas pela legislação vigente à Secretaria da Receita Federal, cabe à Secretaria da Receita Federal do Brasil planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas a tributação, fiscalização, arrecadação, cobrança e recolhimento das contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, e das contribuições instituídas a título de substituição. (...) Art. 26. O valor correspondente à compensação de débitos relativos às contribuições de que trata o art. 2º desta Lei será repassado ao Fundo do Regime Geral de Previdência Social no máximo 2 (dois) dias úteis após a data em que ela for promovida de ofício ou em que for deferido o respectivo requerimento. Parágrafo único. O disposto no art. 74 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996, não se aplica às contribuições sociais a que se refere o art. 2º desta Lei. (g.n.) Sobre à compensação das contribuições previdenciárias os arts. 11 e 89, caput, da Lei nº 8.212, de 1991, estabelecem: Art. 11. No âmbito federal, o orçamento da Seguridade Social é composto das seguintes receitas: I receitas da União; II receitas das contribuições sociais; III receitas de outras fontes. Parágrafo único. Constituem contribuições sociais: a) as das empresas, incidentes sobre a remuneração paga ou creditada aos segurados a seu serviço; (Vide art. 104 da lei nº 11.196, de 2005) b) as dos empregadores domésticos; c) as dos trabalhadores, incidentes sobre o seu saláriode contribuição;( Vide art. 104 da lei nº 11.196, de 2005) Fl. 364DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 365 21 d) as das empresas, incidentes sobre faturamento e lucro; e) as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos. (...) Art. 89. As contribuições sociais previstas nas alíneas a, b e c do parágrafo único do art. 11 desta Lei, as contribuições instituídas a título de substituição e as contribuições devidas a terceiros somente poderão ser restituídas ou compensadas nas hipóteses de pagamento ou recolhimento indevido ou maior que o devido, nos termos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009). (grifouse) Portanto, se o sujeito passivo optar pela compensação das contribuições previdenciárias na via administrativa sujeitase ao disposto no caput do art. 89 da lei 8.212/91, que determina que as contribuições previdenciárias somente poderão ser restituídas ou compensadas nas hipóteses de pagamento ou recolhimento indevido ou maior que o devido, e ao disciplinamento da matéria feito pela Secretaria de Receita Federal do Brasil (RFB) através de atos normativos vigentes à época da referida compensação. Nos termos do Relatório Fiscal, a autuada se autoenquadrou, desde 29/12/2006, no CNAE 82202/00 Atividade de Teleatendimento (serviços de Call Center), que se sujeita ao disposto na Medida Provisória n° 540, de 03/08/11, posteriormente convertida na Lei nº 12.546, de 14/12/2011, que instituiu a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta CPRB, e o sujeito passivo tem efetuado o recolhimento, em Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf), de contribuições substitutivas das Contribuições Previdenciárias Patronais incidentes sobre a receita bruta, desde 01/04/2012. Através do Termo de Intimação Fiscal nº 01 foi solicitado ao contribuinte que prestasse o seguinte esclarecimento em relação aos valores informados como "compensados" em GFIP "se tais valores compensados se referem a decisão judicial e se houve outros fundamentos para tais compensações". Em resposta o contribuinte esclareceu que as compensações informadas em GFIP se referem à desoneração da folha de salários prevista na Lei n° 12.546/2012, e que essas compensações correspondem à diferença entre a apuração da cota previdenciária patronal calculada automaticamente pelo SEFIP/GFIP em cima da folha de salários (alíquota de 20%) e o valor da contribuição sobre a receita bruta (alíquota de 2,5% entre abril e julho de 2012; e de 2% a partir de agosto/2012). De fato, o Ato Declaratório Executivo CODAC N° 93, de 19/12/2011, DOU de 20/12/2011, que dispõe sobre os procedimentos a serem observados para o preenchimento da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP) pelas empresas abrangidas pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011, assim determina: Art. 1º Para fins de aplicação da substituição das contribuições previdenciárias estabelecidas nos incisos I e II do art. 22 da Lei n° 8.212, de 24 de julho de 1991, prevista no caput do art. 7º da Lei n° 12.546, de 14 de dezembro de 2011, as empresas que prestam serviços de Tecnologia da Informação (TI) e de Fl. 365DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 366 22 Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) deverão observar o disposto neste artigo quando da prestação de informações no Sistema Empresa de Recolhimento do Fundo de Garantia e Informações à Previdência Social (Sefip), até que ocorra a adequação desse sistema. § 1º Os valores de Contribuição Previdenciária patronal calculados pelo Sefip e demonstrados no "Comprovante de Declaração das Contribuições a Recolher à Previdência Social" nas linhas "Empregados/ Avulsos" e "Contribuintes Individuais" abaixo do titulo empresa deverão ser somados e lançados no Campo "Compensação", (n/ destaque) (...) § 3º A Guia da Previdência Social (GPS) gerada pelo Sefip deverá ser desprezada, devendo ser preenchida GPS com os valores efetivamente devidos sobre os fatos geradores declarados em Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP). § 4º Os relatórios gerados pelo Sefip "Relatório de Valor de Retenção", "Relatório de Compensações" e "Relatório de Reembolso" devem ser desprezados e mantidos demonstrativos de origem do crédito para fins de fiscalização e/ou pedido de reembolso/restituição/compensação. § 5° O disposto neste artigo aplicase às empresas que prestam serviços de call center somente a partir de 1º de abril de 2012. (n/ destaque) (...) Art. 5º As contribuições substitutivas das Contribuições Previdenciárias Patronais incidentes sobre a receita bruta referidas nos art. 7º e 8º da Lei n° 12.546, de 2001, deverão ser recolhidas em Documento de Arrecadação de Receitas Federais (Darf) conforme disposto no Ato Declaratório Executivo Codac n° 86, de 1º de dezembro de 2011. Conforme disposto nos §§§ 1º, 3º e 4º do referido Ato Declaratório Executivo Codac nº 93/2011 verificase que no campo “compensação” pode haver informações sobre valores que não se referem a pagamento ou recolhimento indevido ou maior que o devido efetuado pelo contribuinte, conforme disposto no art. 89 da lei nº 8.212/91, acima transcrito, mas a ajustes feitos para correção do valor declarado devido à Previdência Social na GFIP, em face da não adequação do Sefip a alterações promovidas na legislação do custeio da Previdência Social, no caso, às ocorridas em decorrências das empresas obrigadas ao recolhimento da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta, abrangidas pelos artigos 7º e 8º da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011. Portanto, esta compensação é considerada uma “compensação de ajuste” no SEFIP, devida apenas às empresas que prestam serviços de call center, que não é o caso, como será demonstrado no decorrer deste voto, não se trata de crédito originário de contribuições previdenciárias indevidas ou recolhidas a maior pelo sujeito passivo, fato este confirmado no Sistema GFIPWEB da RFB, no período lançado, onde se constata que os recolhimentos Fl. 366DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 367 23 efetuados pelo contribuinte através de GPS Guia da Previdência Social se referem, exclusivamente, às contribuições previdenciárias devidas à Seguridade Social da parte dos segurados empregados, e não da cota previdenciária patronal. Exemplificando, citamos 02 (dois) estabelecimentos cujos valores das contribuições previdenciárias devidas são os maiores: CNPJ 51.098.549/001335 Competência 10/2012 (Valor devido à Previdência R$ 148.227,04 Contribuição devida dos Segurados R$ 81.387,76 Deduções (SalárioFamília R$ 3.293,45 Saláriomaternidade R$ 11.265,41 e 13º Saláriomaternidade R$ 1.173,76) GPS R$ 65.655,14) e CNPJ 51.098.549/001505 Competência 12/2012 (Valor devido à Previdência R$ 175.020,83 Contribuição devida dos Segurados R$ 93.406,73 Deduções (SalárioFamília R$ 6.173,54 Saláriomaternidade R$ 14.179,67) GPS R$ 73.053,46). Dessa forma, ratificando os termos do Relatório Fiscal, a fiscalização, corretamente, lançou de ofício no Auto de Infração integrante deste processo administrativo os valores das contribuições previdenciárias da parte da empresa rubrica 12, que foram informados pela empresa no campo destinado a "compensações" em Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social GFIP, pois tais valores se referem à "compensação de ajuste" pelo SEFIP, e não à compensação de contribuições previdenciárias decorrentes de crédito originário de pagamento ou recolhimento indevido ou maior que o devido efetuado pelo sujeito passivo, conforme acima exposto, motivo pelo qual a fiscalização informou no relatório fiscal que os valores lançados no campo da GFIP a "título de compensação" pelo contribuinte não foram homologados. Assim, face a necessidade do lançamento de ofício, o auditor fiscal aplicou a multa de ofício de 75% prevista na legislação tributária vigente, no caso, o art. 35A da Lei nº 8.212/91, que remete ao art. 44 da Lei nº 9.430/96, abaixo transcritas, as quais encontrase vinculado, por força do disposto no § único do art. 142 do CTN, não podendo afastála reduzi la como requer a contribuinte. Lei nº 8.212/91 Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009). Lei nº 9.430 de 1996 Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; Ademais, cabe observar que a fiscalização informa ainda que foi deduzido do valor total declarado pelo contribuinte em GFIP como "compensação" no montante de R$ 9.578.120,85, os valores informados/confessados anteriormente em Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais DCTF a título de Contribuição Previdenciária sobre Receita Bruta no valor de R$ 2.680.199,45 (coluna CPRB), resultando na contribuição previdenciária patronal lançada, nos anoscalendário 2012 e 2013, no montante de R$ 6.897.921,40 (coluna CONTR EXIGIDA), pois, se assim não procedesse, estaria se aceitando a forma de Fl. 367DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 368 24 recolhimento das contribuições previdenciárias "parte patronal" efetuada pela empresa, ou seja, "Contribuição Previdenciária sobre Receita Bruta CPRB". Ratificando o contido no relatório fiscal, face aos contratos de prestação de serviços apresentados pelo sujeito passivo, descritos no Tópico IV item 4. "a" a "I" do relato acima, constatase que eles são relativos à Atividade de Cobrança, cujo código CNAE é 8291 1/00, e esta não se confunde com a atividade de call center, e não está abrangida pela substituição previdenciária instituída pela lei nº 12.546/11, modalidade esta em que a empresa efetuou os recolhimentos das contribuições previdenciárias "parte patronal". Em que pese a vasta argumentação apresentada pela contribuinte no sentido que, embora reconheça que de fato a atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center, pois, segundo ela, esta é atividademeio, enquanto aquela é atividadefim, e que não há impecilho que a empresa faça uso do ambiente de call center para o exercício da atividade de cobrança, como é o caso, onde se verifica que estas atividades se somam, pois ela realiza o serviço de cobrança POR MEIO de call center, o fato é que este não é o entendimento exarado pela Secretaria da Receita Federal do Brasil RFB através das Soluções de Consulta nº 238 SRRF09/Disit, de 06/12/2012, nº 16 SRRF01/Disit, de 10/04/2013, e nº 52 SRRFF10/Disit, de 26/06/2013, conforme consta do Relatório Fiscal, cujo teor não pode a contribuinte alegar desconhecimento face a publicação de sua ementa no D.O.U. e no sítio da RFB na internet. Cabe ressaltar que as referidas Soluções de Consultas Interna (SCI), relativas à interpretação da legislação tributária de interesse da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) tem efeito vinculante no âmbito da RFB, a partir de sua publicação no sítio da RFB na internet, <http://www.receita.fazenda.gov.br>, conforme disposto no art. 6º da Portaria RFB nº 3.222, de 8 de agosto de 2011, que foi revogada pela Portaria RFB nº 379, de 27 de março de 2013, publicada em 28/03/2013, que em seu artigo 8º da mesma forma estabelece, in verbis: Portaria RFB nº 3.222, de 8 de agosto de 2011 Art. 6º. As SCI elaboradas pela Cosit e as por ela aprovadas terão efeito vinculante em relação às unidades da RFB, a partir da publicação no sítio da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) na internet <http://www.receita.fazenda.gov.br>. Portaria RFB nº 379, de 27 de março de 2013 Art. 8º. As SCI terá efeito vinculante no âmbito da RFB, a partir de sua publicação no sítio da RFB na internet, no endereço <http://www.receita.fazenda.gov.br>. Inicialmente, cumpre observar que, de fato, os serviços de call center, os quais compreendem as atividades de atendimento remoto a clientes por meio de chamadas, atendimento telefônico, sistemas de integração telefone computador, sistemas de resposta vocal interativa ou métodos similares, visando o recebimento de pedidos, fornecimento de informação sobre produtos, atendimento a solicitações de consumidores ou a reclamações, venda ou promoção de mercadorias e serviços a possíveis clientes, realização de pesquisas de mercado e de opinião pública e atividades similares, estão sujeitos à incidência da contribuição substitutiva prevista no art. 7º da Lei nº 12.546, de 2011, a partir de 01 de abril de 2012. Fl. 368DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 369 25 Com relação às atividades de call center e contact center recorrendo à Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), elaborada pela Comissão Nacional de Classificação (Concla), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a qual foi adotada, nos termos da IN SRF nº 700, de 22 de dezembro de 2006, pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) temos: CNAE 2.2 – Subclasses Hierarquia Seção N ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS E SERVIÇOS COMPLEMENTARES Divisão 82 SERVIÇOS DE ESCRITÓRIO, DE APOIO ADMINISTRATIVO E OUTROS Grupo: 822 SERVIÇOS PRESTADOS PRINCIPALMENTE ÀS EMPRESAS Classe: 82202 ATIVIDADES DE TELEATENDIMENTO Subclasse: 82202/00 ATIVIDADES DE TELEATENDIMENTO Lista de Atividades Código Descrição CNAE 82202/00 ATENDIMENTO A CLIENTES SAC POR TELEFONE, POR TERCEIROS; SERVIÇO DE 82202/00 ATENDIMENTO A CLIENTES POR TELEFONE; SERVIÇO PRESTADO POR TERCEIROS 82202/00 CALL CENTER; SERVIÇO DE 82202/00 CENTRAL DE ATENDIMENTO POR TELEFONE; SERVIÇO PRESTADO POR TERCEIROS 82202/00 CENTRAL DE RECADOS; SERVIÇO DE 82202/00 CENTROS DE RECEPÇÃO DE CHAMADAS 82202/00 CONSULTA SOBRE PRODUTOS POR TELEFONE;SERVIÇOS DE 82202/00 CONTACT CENTER; SERVIÇOS DE 82202/00 CONTATOS TELEFÔNICOS, RECADOS; SERVIÇOS PRESTADOS POR TERCEIROS 82202/00 PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES POR TELEFONE; SERVIÇO DE 82202/00 SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO TELEFONE COMPUTADOR; ATIVIDADES DE 82202/00 SISTEMAS DE RESPOSTA VOCAL INTERATIVA; ATIVIDADES DE Notas Explicativas: Fl. 369DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 370 26 Esta subclasse compreende: as atividades de centros de recepção de chamadas e de respostas a chamadas dos clientes com operadores humanos e distribuição automática de chamadas as atividades baseadas em sistemas de integração telefone computador os sistemas de resposta vocal interativa ou métodos similares para o recebimento de pedidos e fornecimento de informação sobre produtos o atendimento telefônico a solicitações de consumidores ou de atendimento a reclamações Esta subclasse compreende também: os centros de emissão de chamadas telefônicas que usam métodos para vender ou promover mercadorias e serviços a possíveis clientes (telemarketing) os centros de emissão de chamadas telefônicas para a realização de pesquisas de mercado e de opinião pública e atividades similares Esta subclasse não compreende: os serviços de comunicação de pager (61205/99) Neste contexto, reproduzimos a seguir ainda outras fontes mencionadas na Solução de Consulta nº 69 Cosit, de 10/03/2015, em complemento às citadas pela contribuinte, para elucidar o tema: O call center que se conhece hoje apareceu na década de 1970 nos Estados Unidos (...). A atividade começou a se difundir na década de 1980 nas empresas de infraestrutura e de serviços financeiros por meio de operações de telemarketing ativas e de operações receptivas das centrais de SAC (Araújo, 2003: 09). Não é por acaso que se use tanto a expressão telemarketing para se referir às empresas dessa atividade. Os atuais call centers se desenvolveram com a difusão das práticas de vendas por telefone e de marketing. Os call centers, ou centrais de atendimento, eram reconhecidos como estruturas onde se concentravam as ligações telefônicas com objetivos ligados às funções de vendas e marketing. Assim, os primeiros call centers eram centrais telefônicas de empresas ou instituições estabelecidas com o propósito de oferecer algum tipo de serviço direcionado para agentes externos. No entanto, gradualmente os call centers foram incorporando novas finalidades às suas centrais telefônicas e, desde então, a diversidade de serviços tem aumentado consideravelmente (Padilha e Matussi, 2002:117). Nos anos 1990, a fim de acompanhar as alterações do mercado consumidor (mais comparativo, mais exigente e rigoroso em termos de qualidade e respeito), as empresas em geral, por meio dos call centers, Fl. 370DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 371 27 empenharamse para oferecer novos serviços voltados para o atendimento desse novo consumidor. Assim, tornouse obsoleto o termo telemarketing, substituído na década de 1990 pela expressão serviços de call center (EConsulting, 2004: 02). Todavia, as empresas especializadas reivindicam o título de contact center. Historicamente, o telefone tem sido o principal canal de interação com os consumidores. Porém, novas tecnologias foram agregadas aos processos, como as tecnologias de datamining e a utilização de novos canais de comunicação, como a Internet e a tecnologia de Voz sobre Protocolo de Internet (VoIP). Mas, especial destaque deve ser concedido à implantação de sistemas de Customer Relationship Management (CRM), responsáveis por transformar os call centers em centrais de relacionamento das empresas com seus consumidores. Assim, a integração de várias tecnologias e canais de comunicações aos processos de prestação de serviços transforma os call centers em centros dinâmicos que intensificam as interações entre empresas e consumidores, fatores que caracterizam um contact center (Anton, 2000: 124). Nesse contexto, o call center ou contact center, como unidade prestadora do serviço, representa uma forma facilitadora de comunicação entre as empresas e os consumidores (ou fornecedores) estabelecida por meio da tecnologia, cujo foco é a informação rápida e eficaz. (NETO. José Borges da Silva. Call Centers no Brasil: um estudo sobre emprego, estratégias e exportações. Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, como avaliação parcial para a obtenção do Título de Mestre em Economia, desenvolvida sob orientação do Prof. Dr. Germano Mendes de Paula. Uberlândia: Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, 2005. Disponível em < http://www0.ufu.br.ie_dissertacoes/2005/4.pdf . Acesso em 05 jan 2015). O call center tradicional está, atualmente, evoluindo para aquilo que é chamado customer contact center. Uma combinação de desenvolvimento tecnológico (com a Internet sendo o principal motivador) com as necessidades de um mercado em mudança está, essencialmente, transformando os call centers de centros de custo operacional corporativos para um processo de negócio significante. O foco está mudando do lidar com ligações de usuários para maximizar o valor do consumidor com integração significativa. Esses canais de comunicação são sempre integrados com bancos de dados ao longo da empresa, os quais possuem diversos tipos de informações sobre consumidores. O peso do custobenefício vai direcionar o mercado para a adoção dos customer contact centers. (SALLES, Marcos Aurélio. A relação da motivação para o trabalho com as metas do trabalhador: um estudo de caso em uma operadora de call center. Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Fl. 371DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 372 28 Vargas, 2008. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial. Disponível em . Acesso em 05 jan 2015). Muitas vezes os termos Call Center e Contact Center são utilizados como tendo o mesmo significado. Será que existe diferença entre eles ou tratase apenas de uma variedade de nomenclaturas do setor que significam a mesma coisa? Durante nossos treinamentos e seminários perguntamos aos gerentes e supervisores de call center qual o significado do setor para ele notamos as mais diversas definições, porém ao questionar se há diferenciação entre Call Center, Contact Center e Telemarketing, notamos a grande dificuldade de resposta. O Call Center envolve um conjunto de recursos (computadores, equipamentos de telecomunicação e agentes) que permitirão o fornecimento de serviços via telefone, onde o Customer Service Representative, ou operador interage com os clientes. Com necessidade de aumentar a capacidade de respostas das organizações e o surgimento de outros canais de relacionamento e interação com o cliente (chat, email, web, entre outros) os Call Center passaram a serem chamados de Contact Centers. Para Cardoso (Unified Customer Interaction: Gestão do Relacionamento num Ambiente Misto de Interacção Self e Assistida, Centro Atlântico, Lisboa), o conceito de Call Center só aparece formalmente nos anos 80, apesar de ser possível afirmar que eles existiam bem antes onde o telefone era a principal ferramenta e tecnologia empregada, sendo uma atividade que consumia bastante tempo, pois os métodos de trabalho eram essencialmente manuais. No final da década de 80 começa a ser utilizada a tecnologia CTI (Computer Telephony Integration) que permitiu a integração de telefonia ao computador, o gerenciamento das ligações e a distribuição das mesmas através dos operadores e grupos de atendimento em serviços. Juntamente com a tecnologia CTI surgiu a IVR (Interactive Voice Response) possibilitando o processamento automático de pedidos e a gestão das chamadas telefônicas. O IVR é um sistema de Resposta Interactiva de Voz, usado nos serviços de apoio telefónico e permite aos clientes interagir com menus e obter informações sobre os seus serviços. Esta tecnologia tornou o atendimento mais rápido e mais eficiente permitindo encaminhar o cliente para o grupo de assistentes especializados em determinados assuntos. A utilização de outras ferramentas de comunicação como email, fax e web, trouxe a necessidade de adaptação do conceito, passando a ser chamado de Contact Center. Diante do exposta acima, podemos perceber que, apesar das diferenças entre Call Center e Contact Center que vão desde os processos de trabalho às tecnologias podemos entender os conceitos não através de uma simples diferenciação, mas sim Fl. 372DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 373 29 como resultado da evolução de um setor fundamental para a economia e sociedade. (SILVA, Márcio A. Call center ou contact center: diferenciação ou evolução do setor? Disponível em < http://www.cursoscallcenter.com.br/callcenter contactcenter_13.html >. Acesso em 05 jan 2015). Ante os esclarecimentos acima reproduzidos têmse que as atividades listadas pela CNAE cód. 82202/00 compreendem os serviços de Call center e Contact Center ( Subclasse Atividades de Teleatendimento), cujas características principais são o atendimento remoto a clientes por meio de chamadas, atendimento telefônico, sistemas de integração telefonecomputador, sistemas de resposta vocal interativa ou métodos similares, visando o recebimento de pedidos, fornecimento de informação sobre produtos, atendimento a solicitações de consumidores ou a reclamações, venda ou promoção de mercadorias e serviços a possíveis clientes, realização de pesquisas de mercado e de opinião pública e atividades similares. Por outro lado, a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) possui uma classe específica para a atividade de cobrança (“82911 COBRANÇA DE FATURAS E DÍVIDAS DE CLIENTES; ATIVIDADES DE”), e esta classe possui uma única subclasse, a saber, “82911/00 ATIVIDADES DE COBRANÇAS E INFORMAÇÕES CADASTRAIS” (consulta disponível em www.cnae.ibge.gov.br; sem destaques no original): Subclasse 82911/00 ATIVIDADES DE COBRANÇAS E INFORMAÇÕES CADASTRAIS Lista de Atividades 82911/00 ANÁLISE DE CADASTRO PARA APROVAÇÃO DE CRÉDITO; SERVIÇOS DE 82911/00 ANÁLISE E APROVAÇÃO DE CRÉDITO; SERVIÇOS DE 82911/00 COBRANÇA DE FATURAS E DÍVIDAS DE CLIENTES; ATIVIDADES DE 82911/00 COMPILAÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE HISTÓRICO DE CRÉDITO DE PESSOAS PARA EMPRESAS CLIENTES; ATIVIDADES DE 82911/00 CONSULTA SOBRE HISTÓRICO DE CRÉDITO DE PESSOAS POR TELEFONE; SERVIÇOS DE 82911/00 INFORMAÇÕES CADASTRAIS; SERVIÇOS DE 82911/00 INFORMAÇÕES PARA AVALIAÇÃO DE CAPACIDADE DE CRÉDITO DE PESSOAS E EMPRESAS; SERVIÇO DE (...) Notas Explicativas: Esta subclasse compreende: Fl. 373DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 374 30 as atividades de cobrança de faturas e de dívidas para clientes e a transferência aos clientes dos pagamentos recebidos as atividades de compilação de informações, como históricos de crédito, de emprego, para empresas clientes o fornecimento de informações sobre a capacidade de endividamento de pessoas e de empresas a instituições financeiras, ao comércio e a empresas de outras atividades que necessitam avaliar a capacidade de crédito de pessoas e empresas (...) Portanto, ratificando o contido no relatório fiscal, o serviço de cobrança não pode ser classificado entre as atividades de teleatendimento e portanto não se confunde com o serviço de call center, previsto no § 5º do art. 14 da Lei nº 11.774, de 2008, motivo pelo qual não se enquadra na substituição previdenciária prevista no art. 7º da Lei nº 12.546, de 2011. Dessa forma, ao contrário do que alega a contribuinte, temse que o presente lançamento foi devidamente motivado pela fiscalização, tendo sido expostos, no Relatório Fiscal, o conjunto de circunstâncias fáticas verificadas, bem como a hipótese de incidência das contribuições lançadas, com a indicação das normas pertinentes ao caso em tela. Cabe observar ainda que o próprio Anexo II da NR 17, aprovado pela Portaria nº 9, de 30 de março de 2007, da Secretaria de Inspeção do Trabalho e do Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho, e citado como a única norma que se presta a definir o que vem a ser call center pela contribuinte, não inclui expressamente a atividade de telecobrança entre os serviços de teleatendimento/telemarketing (g.n): 1.1. As disposições deste Anexo aplicamse a todas as empresas que mantêm serviço de teleatendimento/telemarketing nas modalidades ativo ou receptivo em centrais de atendimento telefônico e/ou centrais de relacionamento com clientes (call centers), para prestação de serviços, informações e comercialização de produtos. E que se justificaria a aplicação da referida norma (até por similaridade da atividade) às empresas de telecobrança, por se tratar de norma protetiva da segurança e da saúde do trabalhador; mas, cabe observar que tal fato não tem reflexos na seara tributária. Por fim, para que não pairem dúvidas sobre o tema em questão, reproduzimos a seguir a ementa e trechos da Solução de Consulta nº 104 Cosit, de 22/04/2015, cujo inteiro teor consta do sitio da RFB na internet <http://www.receita.fazenda.gov.br>, sobre o qual deveria a contribuinte ter pleno conhecimento já que o assunto é de seu extremo interesse e ela colaciona em sua defesa apresentada inúmeras pesquisas realizadas, das mais diversas fontes, e vários julgados para fundamentar sua tese e, justamente, aquela que deveria ser a primeira pesquisa a ser efetuada junto a Secretaria da Receita Federal do Brasil (Soluções de Consultas Interna (SCI)) para verificar e comprovar se, de fato, a atividade de cobrança por ela realizada estaria abrangida pela substituição previdenciária instituída pela Lei nº 12.546, de 2011, estranhamente, não o faz. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Fl. 374DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 375 31 CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA SOBRE A RECEITA BRUTA (CPRB). COBRANÇA. CALL CENTER. A atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center e não está abrangida pela substituição previdenciária instituída pela Lei nº 12.546, de 2011. Dispositivos Legais: Lei nº 11.774, de 2008, art. 14, §§ 4º e 5º; Lei nº 12.546, de 2011, art. 7º; Resoluções IBGE/CONCLA nº 01/2006 e nº 02/2006. Relatório A interessada, acima identificada, formula consulta sobre a Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) de que tratam os arts. 7º a 9º da Lei nº 12.546, de 14 de dezembro de 2011 (em substituição às contribuições previstas nos incisos I e III do caput do art. 22 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991). 2. Informa que a empresa tem como atividade principal o teleatendimento (CNAE 82202/00), e como secundária, dentre outras, a atividade de cobrança e informações cadastrais (CNAE 82911/00) “efetuada no ambiente de Call Center, via teleatendimento ou telecobrança” (fl. 04). 3. Citando o art. 7º da Lei nº 12.546, de 2011, e o § 5º do art. 14 da Lei nº 11.774, de 2008, alega que a atividade de cobrança estaria englobada nas atividades de call center por força da Norma Regulamentadora nº 17, aprovada pela Portaria da Secretaria de Inspeção do Trabalho (Portaria SIT) nº 9, de 30 de março de 2007, que conceituaria como call center o ambiente de trabalho em que as atividades de teleatendimento e telemarketing são conduzidas via telefone e/ou rádio com utilização de computador (fl. 07). Prossegue afirmando que, como a atividade de cobrança é desenvolvida no mesmo ambiente da atividade de teleatendimento, ambas deveriam ter o mesmo tratamento tributário, ou seja, deveriam estar sujeitas à substituição previdenciária prevista no inciso I do art. 7º da Lei nº º 12.546, de 2011 (c/c § 5º do art. 14 da Lei nº 11.774, de 2008). (...) Fundamentos (...) 6. A consulente indaga se o serviço de cobrança prestado por meio telefônico, por mensagens ou sistemas eletrônicos pode ser considerado como “serviço de call center”, nos termos do § 5º do art. 14 da Lei nº 11.774, de 2008 (sem destaques no original): Art. 14. As alíquotas de que tratam os incisos I e III do caput do art. 22 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, em relação às empresas que prestam serviços de tecnologia da informação TI e de tecnologia da informação e comunicação TIC, ficam reduzidas pela subtração de 1/10 (um décimo) do percentual Fl. 375DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 376 32 correspondente à razão entre a receita bruta de venda de serviços para o mercado externo e a receita bruta total de vendas de bens e serviços, após a exclusão dos impostos e contribuições incidentes sobre a venda, observado o disposto neste artigo. (...) § 4º Para efeito do caput deste artigo, consideramse serviços de TI e TIC: (...) VI assessoria e consultoria em informática; VII suporte técnico em informática, inclusive instalação, configuração e manutenção de programas de computação e bancos de dados, bem como serviços de suporte técnico em equipamentos de informática em geral; e (Redação dada pela Lei nº 12.844, de 2013) (...) § 5º O disposto neste artigo aplicase também a empresas que prestam serviços de call center e àquelas que exercem atividades de concepção, desenvolvimento ou projeto de circuitos integrados. (Redação dada pela Lei nº 12.715, de 2012) 6.1 Esta definição teria reflexo em possível enquadramento da empresa na substituição previdenciária prevista no art. 7º da Lei nº 12.546, de 2011 (sem destaques no original): Art. 7º Contribuirão sobre o valor da receita bruta, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos, em substituição às contribuições previstas nos incisos I e III do caput do art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, à alíquota de 2% (dois por cento): (Redação dada pela Lei nº 13.043, de 2014) I as empresas que prestam os serviços referidos nos §§ 4º e 5º do art. 14 da Lei nº 11.774, de 17 de setembro de 2008; (Incluído pela Lei nº 12.715, de 2012) (...) 7. Segundo informa a própria consulente, a empresa realiza a atividade de “cobrança e gerenciamento de valores recebidos” (fl. 04), atividade esta que, no seu entender, estaria englobada nas de call center, por força do Anexo II da Norma Regulamentadora nº 17, aprovado pela Portaria SIT nº 9, de 30 de março de 2007 (sem destaques no original): TRABALHO EM TELEATENDIMENTO/TELEMARKETING 1. O presente Anexo estabelece parâmetros mínimos para o trabalho em atividades de teleatendimento/telemarketing nas Fl. 376DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 377 33 diversas modalidades desse serviço, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente. 1.1. As disposições deste Anexo aplicamse a todas as empresas que mantêm serviço de teleatendimento/telemarketing nas modalidades ativo ou receptivo em centrais de atendimento telefônico e/ou centrais de relacionamento com clientes (call centers), para prestação de serviços, informações e comercialização de produtos. 1.1.1. Entendese como call center o ambiente de trabalho no qual a principal atividade é conduzida via telefone e/ou rádio com utilização simultânea de terminais de computador. 1.1.1.1. Este Anexo aplicase, inclusive, a setores de empresas e postos de trabalho dedicados a esta atividade, além daquelas empresas especificamente voltadas para essa atividadefim. 1.1.2. Entendese como trabalho de teleatendimento/telemarketing aquele cuja comunicação com interlocutores clientes e usuários é realizada à distância por intermédio da voz e/ou mensagens eletrônicas, com a utilização simultânea de equipamentos de audição/escuta e fala telefônica e sistemas informatizados ou manuais de processamento de dados. 7.1. Entretanto, tal alegação não é relevante para a análise da dúvida, vez que o tratamento dado pela norma trabalhista pode não coincidir com o tratamento dado pela norma tributária. A mencionada norma regulamentadora está voltada para aspectos ambientais/laborais, com o objetivo de “proporcionar um máximo de conforto, segurança, saúde e desempenho eficiente” para o trabalhador (item 1), sem detalhar as atividades desempenhadas. 7.2. Por sua vez, o art. 14 da Lei nº 11.774, de 2008, tem foco na atividade desempenhada, e não no ambiente, o que pode ser verificado pela análise deste artigo, parcialmente transcrito. Por exemplo, atividades de assessoria e consultoria em informática, bem como de suporte técnico em informática (mencionadas no § 4º), podem ser exercidas em ambiente similar ao de um call center. Entretanto, aquelas atividades não são consideradas como call center, independentemente do ambiente em que são desempenhadas (como se extrai da leitura conjunta dos §§ 4º e 5º do referido artigo). 7.3 Assim, para se solucionar a dúvida levantada, é preciso analisar o disposto na Lei nº 12.546, de 2011, e também na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), pois esta classificação foi utilizada pela mencionada lei em vários de seus dispositivos para delimitar o alcance da substituição previdenciária da CPRB (ver, por exemplo, todos os demais incisos do art. 7º e o anexo II da Lei nº 12.546, de 2011). 8. A Classificação Nacional de Atividades Econômicas foi elaborada sob a coordenação da Secretaria da Receita Federal e orientação técnica do IBGE, com representantes da União, dos Fl. 377DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 378 34 Estados e dos Municípios, na Subcomissão Técnica da CNAE, que atua em caráter permanente no âmbito da Comissão Nacional de Classificação CONCLA. 9. A versão 2.0 da tabela de códigos e denominações da CNAE foi oficializada mediante publicação no DOU Resoluções IBGE/CONCLA nº 01, de 04 de setembro de 2006, e nº 02, de 15 de dezembro de 2006 (esta e outras resoluções podem ser obtidas no sítio http://subcomissaocnae.fazenda.pr.gov.br/modules/conteudo/con teudo.php?conteudo=18 ). 10. A Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) possui uma classe específica para a atividade de cobrança (“82911 COBRANÇA DE FATURAS E DÍVIDAS DE CLIENTES; ATIVIDADES DE”). Esta classe possui uma única subclasse, a saber, “8291 1/00 ATIVIDADES DE COBRANÇAS E INFORMAÇÕES CADASTRAIS” (consulta disponível em www.cnae.ibge.gov.br; sem destaques no original): (...) 11. A Classificação Nacional de Atividades Econômicas também possui uma classe específica para as atividades de teleatendimento (“82202 ATIVIDADES DE TELEATENDIMENTO”). O serviço de call center é classificado na única subclasse desta classe (“82202/00 Atividades de teleatendimento / call center; serviço de”): (...) 12. A mera existência de uma classe específica para a atividade de cobrança e outra, diversa, para a atividade de teleatendimento (inclusive serviço de call center) já seria suficiente para demonstrar que estas atividades não se confundem. Entretanto, para melhor fundamentar este entendimento, examinase a atividade de teleatendimento. 13. Da análise da tabela CNAE, é possível extrair algumas das características das atividades de teleatendimento (subclasse 82202/00) como um todo (abrangendo, portanto, os serviços de call center). São elas: a) o serviço deve ser voltado a um cliente/consumidor, ou a um possível cliente/consumidor; b) ele há de ser remoto (não presencial); c) ele deve ter a finalidade de (i) recepcionar e, na medida do possível, dar uma resposta às solicitações ou reclamações dos consumidores, ou (ii) vender ou promover mercadorias e serviços a possíveis clientes (telemarketing), ou (iii) realização de pesquisas de mercado e de opinião pública e atividades similares. Fl. 378DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 379 35 14. Ora, o real cliente da empresa de cobrança é quem a contratou, e não o devedor que receberá a ligação telefônica ou qualquer outra forma de comunicação. A atividade da empresa será cobrar, e não oferecer um produto ou um serviço ao destinatário da comunicação. A estrutura da cobrança é voltada para contatar não clientes/consumidores, mas terceiros, o que já seria suficiente para não considerar o serviço de cobrança como pertencente à classe 82202 (atividades de teleatendimento). 15. Mas não é só. Também a finalidade da empresa de cobrança – recuperação de créditos – é completamente diversa das finalidades da atividade de teleatendimento (item 12, “c”, supra), o que também afastaria sua classificação entre as atividades de teleatendimento. 16. Concluise, portanto, que o serviço de cobrança não pode ser classificado entre as atividades de teleatendimento e não se confunde com o serviço de call center mencionado no § 5º do art. 14 da Lei nº 11.774, de 2008. Consequentemente, não se enquadra na substituição previdenciária prevista no inciso I do art. 7º da Lei nº 12.546, de 2011. Conclusão 17. Diante do exposto, solucionase a consulta respondendo ao consulente que a atividade de cobrança não se confunde com a atividade de call center e não está abrangida pela substituição previdenciária prevista no inciso I do art. 7º da Lei nº 12.546, de 2011. Portanto, ante os fundamentos acima expostos, deveria a empresa manterse atualizada a respeito do posicionamento da RFB sobre o tema, não podendo alegar o seu desconhecimento para se eximir da obrigação do recolhimento da contribuição previdenciária da "parte patronal", prevista no inciso I do caput do art. 22 da lei nº 8.212/91, corretamente lançada pela fiscalização no Auto de Infração integrante deste processo administrativo fiscal, pois a atividade de cobrança por ela exercida, não se confunde com a atividade de call center e não está abrangida pela substituição previdenciária instituída pela lei nº 12.546/11. Assim, não sendo provado o fato constitutivo do direito alegado pelo contribuinte, com fundamento no artigo 373 do CPC/2015 e artigo 36 da Lei n° 9.784/99, devese manter sem reparos o acórdão recorrido. Ocorre que temos que no processo administrativo fiscal, tal qual no processo civil, o ônus de provar a veracidade do que afirma é do interessado, in casu, do contribuinte ora recorrente. Alegações de inconstitucionalidade Nos termos da Súmula CARF nº 02, o CARF não possui competência para analisar e decidir sobre matéria constitucional, conforme súmula vigente, de utilização obrigatória, conforme Regimento Interno deste Conselho. Por tais razões, rejeitase a preliminar suscitada pela contribuinte. Conclusão. Ante o exposto, voto por negar provimento ao recurso. Fl. 379DF CARF MF Processo nº 10825.720948/201520 Acórdão n.º 2202004.792 S2C2T2 Fl. 380 36 (assinado digitalmente) Martin da Silva Gesto Relator Fl. 380DF CARF MF
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