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Numero do processo: 10280.720843/2013-11
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Aug 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Sep 10 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/08/2008 a 31/12/2008
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. MATÉRIA PARCIALMENTE ABORDADA. ACOLHIMENTO.
Cabem embargos de declaração quando no acórdão for omitido ponto sobre o qual deveria pronunciar-se a turma.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. RETENÇÃO 11%. OBRIGATORIEDADE.
A empresa contratante de serviços executados mediante cessão de mão de obra deverá reter 11% (onze por cento) do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e recolher, em nome da empresa cedente da mão de obra, a importância retida até o dia 20 (vinte) do mês subseqüente ao da emissão da respectiva nota fiscal ou fatura, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia.
O desconto de contribuição sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo à disposição legal.
Numero da decisão: 2402-006.470
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os embargos, sem efeitos infringentes, com vistas a suprir a omissão apontada, nos termos do voto do relator
(assinado digitalmente)
Mário Pereira de Pinho Filho - Presidente
(assinado digitalmente)
Mauricio Nogueira Righetti - Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mario Pereira de Pinho Filho, Mauricio Nogueira Righetti, Gregorio Rechmann Junior, Jamed Abdul Nasser Feitoza, João Victor Ribeiro Aldinucci, Luis Henrique Dias Lima, Denny Medeiros da Silveira e Renata Toratti Cassini.
Nome do relator: MAURICIO NOGUEIRA RIGHETTI
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Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/08/2008 a 31/12/2008 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. MATÉRIA PARCIALMENTE ABORDADA. ACOLHIMENTO. Cabem embargos de declaração quando no acórdão for omitido ponto sobre o qual deveria pronunciarse a turma. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. RETENÇÃO 11%. OBRIGATORIEDADE. A empresa contratante de serviços executados mediante cessão de mão de obra deverá reter 11% (onze por cento) do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e recolher, em nome da empresa cedente da mão de obra, a importância retida até o dia 20 (vinte) do mês subseqüente ao da emissão da respectiva nota fiscal ou fatura, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia. O desconto de contribuição sempre se presume feito oportuna e regularmente pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente responsável pela importância que deixou de receber ou arrecadou em desacordo à disposição legal. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 28 0. 72 08 43 /2 01 3- 11 Fl. 641DF CARF MF Processo nº 10280.720843/201311 Acórdão n.º 2402006.470 S2C4T2 Fl. 642 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os embargos, sem efeitos infringentes, com vistas a suprir a omissão apontada, nos termos do voto do relator (assinado digitalmente) Mário Pereira de Pinho Filho Presidente (assinado digitalmente) Mauricio Nogueira Righetti Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mario Pereira de Pinho Filho, Mauricio Nogueira Righetti, Gregorio Rechmann Junior, Jamed Abdul Nasser Feitoza, João Victor Ribeiro Aldinucci, Luis Henrique Dias Lima, Denny Medeiros da Silveira e Renata Toratti Cassini. Relatório Tratase de Embargos de Declaração apresentados pelo sujeito passivo em face de acórdão proferido pela 2ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da 2ª Seção, onde os Conselheiros Mário Pereira de Pinho Filho, Ronnie Soares Anderson, João Victor Ribeiro Aldinucci, Luis Henrique Dias Lima, Theodoro Vicente Agostinho, Mauricio Nogueira Righetti (relator), Jamed Abdul Nasser Feitosa e Fernanda Melo Leal, por unanimidade votaram por afastar a preliminar e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário, determinando a correção do valor lançado de modo a adequálo ao percentual de 50% (cinqüenta por cento) das notas fiscais, nos termos do voto do relator. O Embargante sustenta que teria havido omissão quanto à apreciação do fato de que o consórcio, contratado para executar a obra em regime de empreitada parcial, teria recolhido todas as contribuições previdenciárias devidas e que a cobrança de retenção de 11%, a que se refere o presente lançamento, “consubstancia evidente bis in idem” ou excesso de exação. Após confrontar a alegação acima com excertos do voto condutor, a decisão de fls. 629/633 decidiu pela admissão dos embargos, com a fim de que fosse apreciada, em julgamento por colegiado, a suposta omissão apontada. É o relatório. Voto Conselheiro Mauricio Nogueira Righetti Relator Os embargos foram tidos como tempestivos e admitidos nos termos do artigo 65 do RICARF, eis que haveria omissão no acórdão quanto a ponto sobre o qual deveria pronunciarse a turma. Um vez admitidos, vejo que toda a tese defensiva do autuado em seu recurso, quanto ao cabimento da retenção, podese resumir a duas alegações: Fl. 642DF CARF MF Processo nº 10280.720843/201311 Acórdão n.º 2402006.470 S2C4T2 Fl. 643 3 1 afastar de si a responsabilidade solidária pelo recolhimento das contribuições previdenciária sobre a folha do contratado, ao argumento de que com ele não seria solidário em função de a contratação terse dado sob o regime de empreitada parcial e a própria RFB entender que tal instituto (solidariedade) somente aplicarseia ao regime de empreitada total. Confirase: 2 Que o consórcio contratado teria recolhido a integralidade da contribuição sobre sua folha de salário. Vejase: Em seus embargos, insiste o autuado na tese de que o lançamento seria indevido, na medida em que, tendo sido o contrato celebrado em regime de empreitada parcial e em se tratando de antecipação, o contratado não teria se valido desse valor em compensações em suas GFIP. Fl. 643DF CARF MF Processo nº 10280.720843/201311 Acórdão n.º 2402006.470 S2C4T2 Fl. 644 4 O próprio acórdão de piso já havia se pronunciado sobre o assunto. Confira se: Isso porque não houve aplicação de responsabilidade solidária no presente lançamento. A responsabilidade solidária foi substituída pelo instituto da retenção, com a edição da Lei nº 9.711/118, a qual deu nova redação para o art. 31 da Lei nº 8.212/1991. Doutro giro e a meu sentir, o acórdão embargado abordou o tema apenas de forma indireta, como se extrai do excerto abaixo colacionado. A retenção dos 11% sobre o valor da nota fiscal de prestação de serviços tem previsão expressa no artigo 31 da Lei 8.212/91. Vejamos: Art. 31. A empresa contratante de serviços executados mediante cessão de mãodeobra, inclusive em regime de trabalho temporário, deverá reter 11% (onze por cento) do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e recolher a importância retida até o dia 10 (dez) do mês subseqüente ao da emissão da respectiva nota fiscal ou fatura em nome da empresa cedente da mãodeobra, observado o disposto no § 5o do art. 33 desta Lei. (...) § 3o Para os fins desta Lei, entendese como cessão de mãodeobra a colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a atividadefim da empresa, quaisquer que sejam a natureza e a forma de contratação. § 4º Enquadramse na situação prevista no parágrafo anterior, além de outros estabelecidos em regulamento, os seguintes serviços: (...) III empreitada de mãodeobra; Por sua vez, o artigo 219 do Decreto 3.048/99, assim determina: Art. 219. A empresa contratante de serviços executados mediante cessão ou empreitada de mãodeobra, inclusive em regime de trabalho temporário, deverá reter onze por cento do valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços e recolher a importância retida em nome da empresa contratada, observado o disposto no § 5º do art. 216. Fl. 644DF CARF MF Processo nº 10280.720843/201311 Acórdão n.º 2402006.470 S2C4T2 Fl. 645 5 Notese que se trata de instituto diverso do da solidariedade, eis que o tomador, responsável pelo tributo, relacionase com a obrigação tributária na condição de sujeito passivo, por substituição legal. Vale dizer, quando da emissão da nota fiscal, naquele momento, perseguese o tomador e somente ele. É, em outras palavras, o que dispõe o §5º do artigo 33 da Lei 8.212/91. O regime de retenção instituído pela Lei 9.711/98, que promoveu alterações no artigo 31 da Lei 8.212/91, difere daquele que se tinha anteriormente no mesmo dispositivo. A partir de então, a regra é que a empresa, contratante de serviços executados mediante cessão ou empreitada de mãodeobra, inclusive em regime de trabalho temporário, deverá reter onze por cento do valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços e recolher a importância retida em nome da empresa contratada. E ainda, por força do § 5º do artigo 33 daquele mesmo diploma, passou a pouco importar, para fins dessa obrigação de reter, se o prestador do serviço (contratado) recolheu, ou não, a contribuição devida sobre sua folha de salários ou ainda se não promoveu compensação com as "antecipações" não retidas. A seu turno, não se pode olvidar que em alguns poucos casos ainda se aplica o regime de solidariedade, que em um passado não muito distante era a regra de sistemática nessas contratações. Veja, tratase de obrigação tributária principal atribuída ao tomador, por substituição, relacionada ao valor dos serviços que constaram na correspondente nota fiscal ou fatura. Evidentemente, o prestador, que sofreu a retenção, poderá utilizála na dedução da contribuição apurada sobre sua folha e, no caso de ainda restarlhe crédito, reavêlo em restituição. Não havendo, pois, que se falar em bis in idem. Nesse sentido, trago o acórdão a seguir ementado: RETENÇÃO DO ARTIGO 31 DA LEI 8.212/91. NATUREZA JURÍDICA. RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DO SERVIÇO QUE DEIXOU DE EFETUARA RETENÇÃO. PAGAMENTO FEITO PELO PRESTADOR DO SERVIÇO. O instituto da retenção previsto no artigo 31 da Lei nº 8.212/91, com a redação da Lei 9.711/98 e alterações posteriores, é hipótese de substituição tributária, conforme decidido pelo Superior Tribunal de Justiça em Recurso Especial submetido ao regime do art. 543C do CPC, de observância obrigatória por este órgão julgador, com base no art. 62A do Regimento Interno do CARF. É direta a responsabilidade do tomador de serviço pela contribuição que deixou de reter do prestador, pois o artigo 31 da Lei 8.212/91 determina a observância da norma expressa pelo art. 33, § 5º do mesmo diploma legal, que traz a responsabilidade direta do tomador de serviço pelo adequado recolhimento. Fl. 645DF CARF MF Processo nº 10280.720843/201311 Acórdão n.º 2402006.470 S2C4T2 Fl. 646 6 O tomador do serviço que deixou de efetuar a retenção de que trata o artigo 31 da Lei 8.212/91 não aproveita o pagamento feito pelo prestador do serviço relativo às contribuições devidas sobre sua folha de pagamento. (destaquei) Posta a sistemática acima e como já adiantado, há todavia, exceções ao regime de retenção tal como acima resumido. Podese exemplificar com o que se tem no ramo da Construção Civil. Vejamos: A Instrução Normativa SRP nº 03/2005, que vigeu de 15.07.2005 a 16.11.2009 e dispunha sobre Normas Gerais de Tributação Previdenciária, assim tratou da matéria: Inicialmente, procurou distinguir o que seria a OBRA de CONSTRUÇÃO CIVIL do SERVIÇO DE CONSTRUÇÃO CIVIL. O inciso I de seu artigo 413, especificou que obra de construção civil é "a construção, a demolição, a reforma, a ampliação de edificação ou qualquer outra benfeitoria agregada ao solo ou ao subsolo, conforme discriminação no Anexo XIII". Por sua vez, o inciso X do mesmo artigo estabelece que serviço de construção civil e "aquele prestado no ramo da construção civil, tais como os discriminados no anexo XIII" Na seqüência, cumpre destacar a diferença entre EMPREITADA TOTAL e EMPREITADA PARCIAL. Antes, porém, há que se definir o que vem a ser "contratação por empreitada". Consoante estabelece o inciso XXVIII do artigo 413 da IN 3/2005, "contrato de construção civil ou contrato de empreitada (também conhecido como contrato de execução de obra, contrato de obra ou contrato de edificação), aquele celebrado entre o proprietário do imóvel, o incorporador, o dono da obra ou o condômino e uma empresa, para a execução de obra ou serviço de construção civil, no todo ou em parte.", que, por sua vez, pode ser total ou parcial, como abaixo especificado: * total, quando celebrado exclusivamente com empresa construtora, definida no inciso XX, que assume a responsabilidade direta pela execução de todos os serviços necessários à realização da obra, compreendidos em todos os projetos a ela inerentes, com ou sem fornecimento de material; e * parcial, quando celebrado com empresa construtora ou prestadora de serviços na área de construção civil, para execução de parte da obra, com ou sem fornecimento de material; Fl. 646DF CARF MF Processo nº 10280.720843/201311 Acórdão n.º 2402006.470 S2C4T2 Fl. 647 7 Dessarte, para fins de determinar se há ou não retenção deverá ser verificada se a atividade classificase como obra ou como serviço. Classificandose como obra, haverá a retenção caso a contratação seja na forma de empreitada parcial ou subempreitada; classificandose como serviço haverá a retenção, independentemente do regime de contratação. No caso em exame, a contratação do consórcio derase em regime de empreitada parcial. É dizer, houve, em última análise, a contratação de duas empresas (OAS e ESTACON), reunidas em consórcio, para realização de parte da obra. Diferentemente, seria a contratação de mais de uma empresa duas ou três por exemplo, reunidas em consórcio para a realização de toda a obra. Nesse caso, ainda que a contratação estivesse de dando, a rigor, com cada uma das consorciadas que executariam no âmbito do consórcio parcial ou totalmente os serviços necessários à realização da obra, o fato é que a legislação equiparou referida circunstância ao regramento que se tem para a contratação de empreitada total nas obras de construção civil. À toda evidência, não é o que se tem neste caso, em que a contratação do consórcio se dera, como acertadamente assentou o recorrente, sob o regime de empreitada parcial. Isso porque, a princípio, conforme preconiza o artigo 169 da citada IN, a retenção aplicarseia somente à OBRA de contribuição civil, quando contratada por meio de empreitada PARCIAL. Diferentemente do que se tem para os SERVIÇOS de construção civil, que, a teor do inciso III do artigo 169, pouco importa a modalidade de contratação, bastando que se amoldem àqueles especificados no Anexo XIII da IN e desde que não estejam, textualmente, enumerados no artigo 170. É o que se infere da expressão "...tais como.." constante, inclusive, do inciso X do artigo 413. Art. 169. Na construção civil, sujeitase à retenção de que trata o art. 140, observado o disposto no art. 172: I a prestação de serviços mediante contrato de empreitada parcial, conforme definição contida na alínea "b" do inciso XXVIII, do art. 413; II a prestação de serviços mediante contrato de subempreitada, conforme definição contida no inciso XXIX, do art. 413; III a prestação de serviços tais como os discriminados no Anexo XIII; IV a reforma de pequeno valor, conforme definida no inciso V do art. 413. . Nesse sentido, podese dizer que o regime empregado ao ramo da Construção Civil se por retenção ou se por solidariedade resumese ao quadro a seguir: Fl. 647DF CARF MF Processo nº 10280.720843/201311 Acórdão n.º 2402006.470 S2C4T2 Fl. 648 8 Ante ao exposto, voto por ACOLHER os Embargos opostos com vistas a suprir a omissão apontada, sem, contudo, empregar efeitos infringentes ao acórdão embargado. (assinado digitalmente) Mauricio Nogueira Righetti Fl. 648DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13807.001306/98-81
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 18 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Oct 09 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 1993, 1994
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. DUPLICAÇÃO JUSTIFICADA PELA AUTORIDADE JULGADORA. INOVAÇÃO. INACEITÁVEL.
A duplicação do percentual da multa de que trata o inciso I do art.44 da Lei nº 9.430/96 (com a nova redação do artigo dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) deve ser devidamente justificada pela autoridade que efetua o lançamento de ofício e não pela autoridade julgadora.
LANÇAMENTO DE OFÍCIO. MULTA APLICÁVEL.
As multas de ofício não possuem natureza confiscatória, constituindo-se antes em instrumento de desestímulo ao sistemático inadimplemento das obrigações tributárias, atingindo, por via de conseqüência, apenas os contribuintes infratores, em nada afetando o sujeito passivo cumpridor de suas obrigações fiscais.
JUROS DE MORA. APLICABILIDADE.
Estando os juros lançados em absoluta conformidade com a legislação de regência, não podem ter seus percentuais reduzidos aleatoriamente pelo julgador administrativo, em virtude de alegada feição de inconstitucionalidade/ilegalidade da exigência de juros.
JUROS DE MORA. SÚMULA CARF Nº 4.
A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais.
Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 1993, 1994
SÚMULA CARF Nº 2.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
Numero da decisão: 1401-002.889
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento parcial ao recurso para, tão somente, afastar a qualificação da multa de ofício.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente
(assinado digitalmente)
Cláudio de Andrade Camerano - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Livia de Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Cláudio de Andrade Camerano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga e Ângelo Abrantes Nunes (Suplente convocado).
Nome do relator: CLAUDIO DE ANDRADE CAMERANO
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 1993, 1994 MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. DUPLICAÇÃO JUSTIFICADA PELA AUTORIDADE JULGADORA. INOVAÇÃO. INACEITÁVEL. A duplicação do percentual da multa de que trata o inciso I do art.44 da Lei nº 9.430/96 (com a nova redação do artigo dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) deve ser devidamente justificada pela autoridade que efetua o lançamento de ofício e não pela autoridade julgadora. LANÇAMENTO DE OFÍCIO. MULTA APLICÁVEL. As multas de ofício não possuem natureza confiscatória, constituindo-se antes em instrumento de desestímulo ao sistemático inadimplemento das obrigações tributárias, atingindo, por via de conseqüência, apenas os contribuintes infratores, em nada afetando o sujeito passivo cumpridor de suas obrigações fiscais. JUROS DE MORA. APLICABILIDADE. Estando os juros lançados em absoluta conformidade com a legislação de regência, não podem ter seus percentuais reduzidos aleatoriamente pelo julgador administrativo, em virtude de alegada feição de inconstitucionalidade/ilegalidade da exigência de juros. JUROS DE MORA. SÚMULA CARF Nº 4. A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais. Assunto: Processo Administrativo Fiscal Ano-calendário: 1993, 1994 SÚMULA CARF Nº 2. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento parcial ao recurso para, tão somente, afastar a qualificação da multa de ofício. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente (assinado digitalmente) Cláudio de Andrade Camerano - Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Livia de Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Cláudio de Andrade Camerano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga e Ângelo Abrantes Nunes (Suplente convocado).
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DUPLICAÇÃO JUSTIFICADA PELA AUTORIDADE JULGADORA. INOVAÇÃO. INACEITÁVEL. A duplicação do percentual da multa de que trata o inciso I do art.44 da Lei nº 9.430/96 (com a nova redação do artigo dada pela Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007) deve ser devidamente justificada pela autoridade que efetua o lançamento de ofício e não pela autoridade julgadora. LANÇAMENTO DE OFÍCIO. MULTA APLICÁVEL. As multas de ofício não possuem natureza confiscatória, constituindose antes em instrumento de desestímulo ao sistemático inadimplemento das obrigações tributárias, atingindo, por via de conseqüência, apenas os contribuintes infratores, em nada afetando o sujeito passivo cumpridor de suas obrigações fiscais. JUROS DE MORA. APLICABILIDADE. Estando os juros lançados em absoluta conformidade com a legislação de regência, não podem ter seus percentuais reduzidos aleatoriamente pelo julgador administrativo, em virtude de alegada feição de inconstitucionalidade/ilegalidade da exigência de juros. JUROS DE MORA. SÚMULA CARF Nº 4. A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 1993, 1994 SÚMULA CARF Nº 2. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 80 7. 00 13 06 /9 8- 81 Fl. 424DF CARF MF 2 O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento parcial ao recurso para, tão somente, afastar a qualificação da multa de ofício. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente (assinado digitalmente) Cláudio de Andrade Camerano Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Livia de Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Cláudio de Andrade Camerano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Daniel Ribeiro Silva, Letícia Domingues Costa Braga e Ângelo Abrantes Nunes (Suplente convocado). Relatório DOS AUTOS DE INFRAÇÃO Contra a contribuinte acima identificada foi lavrado o Auto de Infração o qual lhe exige a importância de R$ 515.862,17, a título de Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ, pelo regime do Lucro Real, correspondente a fatos geradores mensais ocorridos nos anos calendário de 1993 e 1994, acrescido de multa de ofício de 150% e juros de mora à època do pagamento. Segundo consta na Descrição dos Fatos do lançamento de IRPJ, a exigência de imposto decorre de omissão de receitas da atividade. Segundo o Termo de Verificação Fiscal (fls.30 a Volume I), a autoridade fiscal teria encontrado diferenças entre os valores escriturados no Livro Registro de Saídas de Mercadorias com os valores contabilizados no Livro Diário (planilhas anexas nos autos) e que, após intimações feitas ao contribuinte para as devidas explicações, o mesmo não teria providenciado os necessários esclarecimentos. As diferenças apontadas são (valores em CR$): Fl. 425DF CARF MF Processo nº 13807.001306/9881 Acórdão n.º 1401002.889 S1C4T1 Fl. 425 3 Estas diferenças foram tributadas e o IRPJ apurado foi convertido para Reais, conforme consta no Auto de Infração. Em decorrência do lançamento de IRPJ, foram ainda lavrados os Autos de Infração a título de Contribuição para o Programa de Integração Social PIS, de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, de Imposto de Renda Retido na Fonte IRRF, e de Contribuição Social sobre o Lucro – CSLL, nas importâncias de R$ 15.477,16, R$ 41.272,51, R$ 515.099,22 e de R$ 199.358,57, respectivamente, acrescidas da multa de ofício de 150% e de juros de mora à época do pagamento. A Autuada foi cientificada dos Autos de Infração em 19/10/98 e em 16 de novembro foi protocolada a Impugnação, onde, após descrever seu ramo de atividade, suas origens e fundadores, as sucessivas crises internas brasileiras, os vários planos de estabilização econômica e da moeda, alegou que "ficará inviável para a Autuada pagar, mesmo que de forma parcelada os seus débitos já existente somados ao presente Auto de Infração com a abusiva cobrança dos juros e multa lançados, ..." Alegou também: Ademais, sem prova material existência de fraude fiscal ou sonegação fiscal, como definidas em leis federais, a multa por eventual infração de regulamento fiscal, sem má fé, não pode ser astronômica, nem proporcional ao valor do imposto como no presente caso. Não há no presente Auto de Infração qualquer causa legítima para o confisco tributário, que é manifestamente contrário a Lei Fl. 426DF CARF MF 4 maior, que é a Constituição Federal, que em seu art.150 IV, assim diz: "Art.150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: IV. utilizar tributos com efeito de confisco." Diante do exposto, requer de V.Sa. a redução da multa de 150% por ser um flagrante confisco tributário e redução dos juros a 1% ao mês, por ser de direito, com a consequente improcedência do Auto de Infração. DO ACÓRDÃO DE IMPUGNAÇÃO Em 08 de junho de 1999, a Delegacia de Julgamento de São Paulo (DRJ/SPO) julgou o lançamento procedente (fls.122 a Volume I), nos seguintes termos, resumidamente: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Ementa: IRPJ. OMISSÃO DE RECEITAS. Em não havendo justificativa para a diferença a maior detectada entre a receita apurada no Livro de Saídas de Mercadorias e a receita oferecida à tributação é de se concluir que houve omissão de receitas. MULTA DE OFÍCIO. Configurada a ocorrência, em tese, de sonegação fiscal é de se aplicar a penalidade agravada. PIS, COFINS, IRFON e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. O decidido no lançamento do IRPJ deve prevalecer na análise dos lançamentos decorrentes. [...] VOTO Fl. 427DF CARF MF Processo nº 13807.001306/9881 Acórdão n.º 1401002.889 S1C4T1 Fl. 426 5 [...] A Multa de ofício foi capitulada no artigo 4º da Lei nº 8.218/1991 e artigo 44 da Lei nº 9.430, de 27/12/1996, c/c artigo 106, inciso II, alínea "c" da Lei nº 5.172 de 25/10/1996. Transcrevese o artigo 44 da Lei nº 9.430/1996: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição: I de setenta e cinco por cento, nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, pagamento ou recolhimento após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa moratória, de falta de declaração e nos de declaração inexata, excetuada a hipótese do inciso seguinte; II de cento e cinqüenta por cento, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts.71,72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Fl. 428DF CARF MF 6 PIS, COFINS, IRFON e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido O decidido quanto ao lançamento do IRPJ deve prevalecer na análise dos tributos decorrentes. Fl. 429DF CARF MF Processo nº 13807.001306/9881 Acórdão n.º 1401002.889 S1C4T1 Fl. 427 7 DO RECURSO VOLUNTÁRIO Cientificada, em 24/08/99, da decisão da DRJ, ingressou a Interessada com recurso voluntário, protocolado em 22/09/99, onde repetiu os mesmos argumentos apresentados na Impugnação. Às fls.150, consta despacho da DRF/SP (datado de 04/07/2001), por meio de autoridade fiscal competente, negando seguimento ao Recurso Voluntário por inexistência do depósito então previsto na MP 162130, ocasião em que a contribuinte foi intimada (fl.151) para recolhimento do crédito tributário lançado. Em 04 de julho de 2002 os débitos foram inscritos em dívida ativa, conforme Termo de Inscrição de Dívida Ativa, fls.185 a 283, Volume II. Às fls.286, despacho, em 16/06/2010, da PGFN informando (e solicitando manifestação da divisão própria) que a executada ingressou com Ação de Embargos à Execução Fiscal alegando a existência de cobrança em duplicidade de IRPJ e de CSLL do mesmo período (93/94) em dois processos judiciais (existiam outras execuções de outros períodos e foram juntadas por determinação judicial reunião de processos). Em 02/09/2015, despacho da DERAT/SP (fls.361) propondo "o encaminhamento deste processo à autoridade superior para que seja declarada nula a decisão que negou seguimento ao recurso voluntário interposto." E assim foi feito, sendo solicitado que a contribuinte tomasse ciência do feito e envio à PGFN para que procedesse ao cancelamento da inscrição em dívida ativa e, posteriormente, ao CARF para apreciação do recurso voluntário apresentado. Às fls.411 A 419, em Telas e Extratos, sistemas da PGFN mostram a situação da contribuinte, relativa ao débitos do presente processo presente: EXTINTA POR DECISÃO ADMINISTRATIVA ORGÃO DE ORIGEM A SER DEV OU ARQ. às fls.422, despacho, 05/09/2017, da DERAT/SP: Com base no Parece PGFN/CRJ nº 1.973/2010 e em face da declaração de inconstitucionalidade proferida na Súmula Vinculante nº 21 do STF, a DIDAU/PFNSPO proferiu despacho considerando indevida a negativa de seguimento do recurso, cancelando, inclusive, a inscrição na dívida ativa da União. Por sua vez, a DERATSPO, por meio de sua Delegada, reconsiderou decisão anterior e determinou o encaminhamento do processo ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (fls. 380/381). Informo que o contribuinte foi cientificado da reconsideração e o processo atualizado para situação “Suspenso – Julgamento do Recurso Voluntário” , conforme extrato de fls.397/405. Fl. 430DF CARF MF 8 À vista do exposto, encaminhese o presente ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Voto Conselheiro Cláudio de Andrade Camerano Preenchidos os requisitos de admissibilidade do Recurso Voluntário apresentado, dele conheço. O recurso voluntário repete a argumentação apresentada na Impugnação, ora transcrita na decisão recorrida, então apreciada pela primeira instância. Da delimitação do litígio Depreendese do Recurso apresentado, que a Recorrente insurgese apenas contra a aplicação dos acréscimos legais, quais sejam, a multa de ofício e os juros moratórios. Da Multa de Ofício A base de cálculo da multa de ofício, ora aplicada, é o próprio valor do tributo/contribuição lançado, nos termos e com a utilização dos percentuais estabelecidos no art.44 da Lei 9.430/96 que adiante se transcreverá. Com relação aos argumentos trazidos pela Impugnante acerca do caráter confiscatório da multa aplicada de se dizer apenas que reclamações desta natureza não cabem sua apreciação nas instâncias administrativas. Sem qualquer discussão acerca da constitucionalidade/legalidade da legislação citada na Impugnação, algumas considerações são oportunas. Com relação a multa de ofício, alega que representa afronta ao preceito constitucional que veda a utilização de tributo com efeito de confisco. Quanto à argüição de confisco, a Constituição Federal, em seu art. 150, IV, veda a utilização de tributo com o efeito de confisco. Tratase de limitação ao poder de tributar que visa evitar o excesso de carga tributária, que implique agravamento exagerado na situação do contribuinte. Porém, não existe um patamar prédefinido que permita dizer que um tributo tem ou não efeito confiscatório, cabendo essa valoração ao legislador ou, mediante provocação, ao órgão judicial competente. Assim, em primeiro plano, podese dizer que o princípio do não confisco é uma limitação imposta pelo legislador constituinte ao legislador infraconstitucional, não podendo este último instituir tributo que tenha efeito confiscatório, onerando excessivamente o contribuinte. Em segundo plano, o princípio dirigese, eventualmente, ao poder judiciário, que deve aplicálo no controle difuso ou concentrado da constitucionalidade das leis. Portanto, não se pode dizer que o princípio esteja direcionado à administração tributária. Esta submetese ao princípio da legalidade, não podendo se esquivar à aplicação de lei editada conforme o processo legislativo constitucional. Não cabe à administração tributária criar a lei, muito menos furtarse a aplicála ou negar sua vigência. Fl. 431DF CARF MF Processo nº 13807.001306/9881 Acórdão n.º 1401002.889 S1C4T1 Fl. 428 9 A autoridade lançadora não deve nem pode fazer um juízo valorativo sobre a conveniência do lançamento. O lançamento tributário é rigidamente regrado pela lei, ou, no dizer do art. 3º do CTN, é “atividade administrativa plenamente vinculada”. O que é determinante para a efetivação do lançamento é a ocorrência do fato gerador, e não a repercussão da exigência no patrimônio do contribuinte. Conforme o art. 142 do CTN, ocorrido o fato gerador a autoridade fiscal deve constituir o crédito tributário, calculando a exigência de acordo com a lei vigente à época do fato, não tendo repercussão a atual situação econômico financeira do sujeito passivo. Assim, não compete à instância administrativa a análise sobre a matéria, pois a vedação constitucional quanto à utilização de tributo com efeito confiscatório dirigese ao legislador, e não ao aplicador da lei. Em se tratando de falta de pagamento ou recolhimento de imposto/contribuição, apurada em procedimento de ofício, a autoridade lançadora deve aplicar a multa de lançamento de ofício, prevista no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996, não podendo deixar de aplicála ou reduzir seu percentual ao seu livre arbítrio. De tal sorte, como as multas de ofício estão previstas em ato legal vigente, regularmente editado, descabida mostrase qualquer manifestação deste órgão julgador no sentido do afastamento de sua aplicação/eficácia. LEI 9.430 DE 27/12/1996 – DOU 30/12/1996 Multas de Lançamento de Ofício (com a nova redação da Lei 11.488/2007) Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: a) na forma do art. 8º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. § 1º O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Fl. 432DF CARF MF 10 Como se percebe, nos casos de lançamento de ofício, a regra geral é aplicar a multa de 75%, estabelecida no inciso I transcrito, sendo, entretanto, aplicada no presente lançamento a multa do parágrafo 1º, de 150%. O princípio que norteia a imputação desta penalidade tem o condão de compelir o contribuinte a se afastar de cometer atos ou atitudes lesivos à coletividade, constituindose em instrumento de desestímulo ao sistemático inadimplemento das obrigações tributárias. No mais, a apreciação de argüições de inconstitucionalidade/ilegalidade da legislação tributária foge à alçada das autoridades administrativas de qualquer instância, que não dispõem de competência para examinar hipóteses de violações às normas legitimamente inseridas no ordenamento jurídico nacional. Com efeito, a apreciação de assuntos desse tipo achase reservada ao Poder Judiciário, pelo que qualquer discussão quanto aos aspectos da validade das normas jurídicas deve ser submetida ao crivo deste poder. Não compete à instância administrativa a análise sobre a matéria, pois a vedação constitucional quanto à utilização de tributo com efeito confiscatório dirigese ao legislador, e não ao aplicador da lei. A questão já foi, inclusive, objeto de súmula em instância administrativa superior, no caso, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – CARF, por meio da Portaria CARF de nº 106, de 21 de dezembro de 2009: Súmula CARF n° 2 O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Entretanto, entendo que deve ser afastada a qualificação da multa de ofício, uma vez que a autoridade autuante não justificou o motivo de sua aplicação. Apesar de constar no Auto de Infração IRPJ apenas uma infração, qualquer acréscimo de percentual (agravamento ou qualificação) à multa de ofício típica (75%) deve ser objeto de justificativa por parte da autoridade fiscal autuante, sob pena de termos uma situação como a vista nos autos, ou seja, a justificativa para a aplicação da qualificação da multa de ofício foi construída pela decisão recorrida, algo que, obviamente, não se pode aceitar. Dos Juros de Mora Quanto à alegação de redução de taxa de juros para 1% ao mês, além de contestar sua legalidade, nada traz a contribuinte em sua defesa que lhe possa permitir o uso de tal percentual. Correto o enquadramento legal que consta no auto de infração para os juros de mora, observandose que, em alguns períodos (não todos), os juros eram cobrados à razão de 1%. Como se vê, os juros de mora foram calculados com base em dispositivos legais e devidamente citados nos autos de infração. A ação fiscal baseouse em comandos constantes de disposições legais, e destaquese que a Recorrente não apontou qualquer incorreção em sua apuração. Fl. 433DF CARF MF Processo nº 13807.001306/9881 Acórdão n.º 1401002.889 S1C4T1 Fl. 429 11 Em casos como este, em que a única forma de afastar uma determinada exigência fiscal é a de negar validade aos atos que a prevêem, no caso os juros, bastante limitada resta a atuação do julgador administrativo, em face das limitações impostas às instâncias administrativas à apreciação de questões relacionadas com a legalidade ou constitucionalidade de qualquer ato legal. Dos Lançamentos Decorrentes – CSLL, PIS/PASEP, COFINS e IRFF O lançamento de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, PIS/PASEP, COFINS e IRRF neste processo, são reflexos da mesma irregularidade apurada no Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ). Assim sendo, por possuírem os mesmos fundamentos fáticos, a decisão prolatada com relação ao Auto de Infração do IRPJ faz coisa julgada em relação aos decorrentes, no mesmo grau de jurisdição administrativa, em vista da íntima relação de causa e efeito. Conclusão Voto por dar provimento parcial ao recurso voluntário, cancelandose a qualificação da multa de ofício, mantida, portanto, em seu patamar típico, de 75%. (assinado digitalmente) Cláudio de Andrade Camerano Fl. 434DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10437.720019/2014-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Oct 02 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Oct 22 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2009
JUNTADA DE DOCUMENTO APÓS O RECURSO. PRECLUSÃO.
De acordo com o art. 15 do Decreto nº 70.235/1972, a impugnação deve ser instruída com os documentos em que se fundamentar. O § 4º do art. 16, por sua vez, estabelece que a prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual.
NULIDADES. INOCORRÊNCIA.
A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, e não anual, conforme está determinado nas Leis nº 7.713, de 1988 e nº 8.134, de 1990. Correta a fórmula empreendida no lançamento.
Não há afronta aos princípios constitucionais do contraditório e de ampla defesa, na medida em que foram discriminados mensalmente os valores aplicados e os resgatados em contas mantidas no exterior, conforme planilha que consta dos autos.
Não padece de nulidade o Auto de Infração que seja lavrado por autoridade competente, com observância ao art. 142, do CTN, e arts. 10 e 59, do Decreto nº 70.235/72, contendo a descrição dos fatos e enquadramentos legais, permitindo ao contribuinte o pleno exercício do direito de defesa, mormente quanto se constata que o mesmo conhece minuciosamente a matéria fática e legal e exerceu, com lógica e nos prazos devidos, o seu direito.
IRPF. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS EXCEDENTE AO LUCRO PRESUMIDO. REQUISITOS. COMPROVAÇÃO POR MEIO DE ESCRITURAÇÃO COMERCIAL. FORMALIDADES.
Não estão sujeitos ao imposto sobre a renda os lucros e dividendos pagos ou creditados a sócios, acionistas ou titular de empresa individual. No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, poderá ser distribuída, sem incidência de imposto, parcela de lucros ou dividendos excedentes, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pelo lucro presumido. Sem prejuízo de exigências especiais da lei, é obrigatório o uso de Livro Diário, encadernado com folhas numeradas seguidamente, que deverá conter termos de abertura e de encerramento, e ser submetido à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio.
ESCRITURAÇÃO DO LIVRO DIÁRIO. AUSÊNCIA DE PRAZO NA LEGISLAÇÃO COMERCIAL.
A legislação comercial não prevê qualquer prazo para que os livros sejam autenticados ou penalidade decorrente do atraso. Assim, a escrituração dos livros a destempo não configura argumento para fundamentar a acusação fiscal.
ESCRITURAÇÃO DO LIVRO DIÁRIO. REGISTRO E AUTENTICAÇÃO. PERDA DA ESPONTANEIDADE.
Os livros ou fichas do Diário, bem como os livros auxiliares, devem ser submetidos à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio até antes do início da ação fiscal, sob pena de perda da espontaneidade.
REGISTROS CONTÁBEIS. PROVA. SE COMPROVADOS POR DOCUMENTOS HÁBEIS.
A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados, se comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais.
ERRO DE CONTABILIZAÇÃO. CORREÇÃO.
A mera identificação de erro de contabilização, por si só, não afasta a procedência do lançamento se todas as medidas necessárias à sua correção não foram levadas a termo.
ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. ANÁLISE DO FLUXO DE ORIGENS E DISPÊNDIOS.
A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, com base em documentação hábil e idônea. Compete ao contribuinte demonstrar eventuais vícios na apuração minuciosamente detalhada em planilhas elaboradas pela fiscalização.
ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO NO QUAL SE FUNDAMENTA A AÇÃO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO.
Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. A realização de diligência não se presta para a produção de provas que toca à parte produzir.
Numero da decisão: 2401-005.777
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário. Votaram pelas conclusões os conselheiros Andréa Viana Arrais Egypto, Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez (Suplente Convocada), Rayd Santana Ferreira, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro e Miriam Denise Xavier. Vencida em primeira votação a conselheira Andrea Viana Arrais Egypto, que votou por converter o julgamento em diligência.
(assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier - Presidente
(assinado digitalmente)
Matheus Soares Leite - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Cleberson Alex Friess, Luciana Matos Pereira Barbosa, Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez (Suplente Convocada), Rayd Santana Ferreira, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Andrea Viana Arrais Egypto, Matheus Soares Leite e Miriam Denise Xavier (Presidente).
Nome do relator: MATHEUS SOARES LEITE
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 2009 JUNTADA DE DOCUMENTO APÓS O RECURSO. PRECLUSÃO. De acordo com o art. 15 do Decreto nº 70.235/1972, a impugnação deve ser instruída com os documentos em que se fundamentar. O § 4º do art. 16, por sua vez, estabelece que a prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual. NULIDADES. INOCORRÊNCIA. A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, e não anual, conforme está determinado nas Leis nº 7.713, de 1988 e nº 8.134, de 1990. Correta a fórmula empreendida no lançamento. Não há afronta aos princípios constitucionais do contraditório e de ampla defesa, na medida em que foram discriminados mensalmente os valores aplicados e os resgatados em contas mantidas no exterior, conforme planilha que consta dos autos. Não padece de nulidade o Auto de Infração que seja lavrado por autoridade competente, com observância ao art. 142, do CTN, e arts. 10 e 59, do Decreto nº 70.235/72, contendo a descrição dos fatos e enquadramentos legais, permitindo ao contribuinte o pleno exercício do direito de defesa, mormente quanto se constata que o mesmo conhece minuciosamente a matéria fática e legal e exerceu, com lógica e nos prazos devidos, o seu direito. IRPF. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS EXCEDENTE AO LUCRO PRESUMIDO. REQUISITOS. COMPROVAÇÃO POR MEIO DE ESCRITURAÇÃO COMERCIAL. FORMALIDADES. Não estão sujeitos ao imposto sobre a renda os lucros e dividendos pagos ou creditados a sócios, acionistas ou titular de empresa individual. No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, poderá ser distribuída, sem incidência de imposto, parcela de lucros ou dividendos excedentes, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pelo lucro presumido. Sem prejuízo de exigências especiais da lei, é obrigatório o uso de Livro Diário, encadernado com folhas numeradas seguidamente, que deverá conter termos de abertura e de encerramento, e ser submetido à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio. ESCRITURAÇÃO DO LIVRO DIÁRIO. AUSÊNCIA DE PRAZO NA LEGISLAÇÃO COMERCIAL. A legislação comercial não prevê qualquer prazo para que os livros sejam autenticados ou penalidade decorrente do atraso. Assim, a escrituração dos livros a destempo não configura argumento para fundamentar a acusação fiscal. ESCRITURAÇÃO DO LIVRO DIÁRIO. REGISTRO E AUTENTICAÇÃO. PERDA DA ESPONTANEIDADE. Os livros ou fichas do Diário, bem como os livros auxiliares, devem ser submetidos à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio até antes do início da ação fiscal, sob pena de perda da espontaneidade. REGISTROS CONTÁBEIS. PROVA. SE COMPROVADOS POR DOCUMENTOS HÁBEIS. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados, se comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais. ERRO DE CONTABILIZAÇÃO. CORREÇÃO. A mera identificação de erro de contabilização, por si só, não afasta a procedência do lançamento se todas as medidas necessárias à sua correção não foram levadas a termo. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. ANÁLISE DO FLUXO DE ORIGENS E DISPÊNDIOS. A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, com base em documentação hábil e idônea. Compete ao contribuinte demonstrar eventuais vícios na apuração minuciosamente detalhada em planilhas elaboradas pela fiscalização. ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO NO QUAL SE FUNDAMENTA A AÇÃO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. A realização de diligência não se presta para a produção de provas que toca à parte produzir.
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PRECLUSÃO. De acordo com o art. 15 do Decreto nº 70.235/1972, a impugnação deve ser instruída com os documentos em que se fundamentar. O § 4º do art. 16, por sua vez, estabelece que a prova documental será apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento processual. NULIDADES. INOCORRÊNCIA. A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, e não anual, conforme está determinado nas Leis nº 7.713, de 1988 e nº 8.134, de 1990. Correta a fórmula empreendida no lançamento. Não há afronta aos princípios constitucionais do contraditório e de ampla defesa, na medida em que foram discriminados mensalmente os valores aplicados e os resgatados em contas mantidas no exterior, conforme planilha que consta dos autos. Não padece de nulidade o Auto de Infração que seja lavrado por autoridade competente, com observância ao art. 142, do CTN, e arts. 10 e 59, do Decreto nº 70.235/72, contendo a descrição dos fatos e enquadramentos legais, permitindo ao contribuinte o pleno exercício do direito de defesa, mormente quanto se constata que o mesmo conhece minuciosamente a matéria fática e legal e exerceu, com lógica e nos prazos devidos, o seu direito. IRPF. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS EXCEDENTE AO LUCRO PRESUMIDO. REQUISITOS. COMPROVAÇÃO POR MEIO DE ESCRITURAÇÃO COMERCIAL. FORMALIDADES. Não estão sujeitos ao imposto sobre a renda os lucros e dividendos pagos ou creditados a sócios, acionistas ou titular de empresa individual. No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, poderá ser AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 43 7. 72 00 19 /2 01 4- 11 Fl. 2321DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.322 2 distribuída, sem incidência de imposto, parcela de lucros ou dividendos excedentes, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pelo lucro presumido. Sem prejuízo de exigências especiais da lei, é obrigatório o uso de Livro Diário, encadernado com folhas numeradas seguidamente, que deverá conter termos de abertura e de encerramento, e ser submetido à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio. ESCRITURAÇÃO DO LIVRO DIÁRIO. AUSÊNCIA DE PRAZO NA LEGISLAÇÃO COMERCIAL. A legislação comercial não prevê qualquer prazo para que os livros sejam autenticados ou penalidade decorrente do atraso. Assim, a escrituração dos livros a destempo não configura argumento para fundamentar a acusação fiscal. ESCRITURAÇÃO DO LIVRO DIÁRIO. REGISTRO E AUTENTICAÇÃO. PERDA DA ESPONTANEIDADE. Os livros ou fichas do Diário, bem como os livros auxiliares, devem ser submetidos à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio até antes do início da ação fiscal, sob pena de perda da espontaneidade. REGISTROS CONTÁBEIS. PROVA. SE COMPROVADOS POR DOCUMENTOS HÁBEIS. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados, se comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais. ERRO DE CONTABILIZAÇÃO. CORREÇÃO. A mera identificação de erro de contabilização, por si só, não afasta a procedência do lançamento se todas as medidas necessárias à sua correção não foram levadas a termo. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. ANÁLISE DO FLUXO DE ORIGENS E DISPÊNDIOS. A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, com base em documentação hábil e idônea. Compete ao contribuinte demonstrar eventuais vícios na apuração minuciosamente detalhada em planilhas elaboradas pela fiscalização. ÔNUS DA PROVA. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO NO QUAL SE FUNDAMENTA A AÇÃO. INCUMBÊNCIA DO INTERESSADO. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado. A realização de diligência não se presta para a produção de provas que toca à parte produzir. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 2322DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.323 3 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário. Votaram pelas conclusões os conselheiros Andréa Viana Arrais Egypto, Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez (Suplente Convocada), Rayd Santana Ferreira, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro e Miriam Denise Xavier. Vencida em primeira votação a conselheira Andrea Viana Arrais Egypto, que votou por converter o julgamento em diligência. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Presidente (assinado digitalmente) Matheus Soares Leite Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Cleberson Alex Friess, Luciana Matos Pereira Barbosa, Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez (Suplente Convocada), Rayd Santana Ferreira, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, Andrea Viana Arrais Egypto, Matheus Soares Leite e Miriam Denise Xavier (Presidente). Relatório A bem da celeridade, peço licença para aproveitar o relatório já elaborado em ocasião anterior, pela 15ª Turma da DRJ/SPO e que bem elucida a controvérsia posta, para, ao final, complementálo (fls. 2161/2177): Contra a contribuinte acima identificada, foi lavrado o auto de infração de fls. 2.102 a 2.104, relativo ao imposto sobre a renda das pessoas físicas do anocalendário de 2009, acompanhado dos demonstrativos de fls. 2.105 a 2.109 e do Termo de Verificação Fiscal de fls. 2.091 a 2.101, por meio do qual foi apurado crédito tributário no montante de R$ 1.640.391,19, composto de: Imposto: R$ 778.654,38 Juros de mora (calculados até 02/2014): R$ 277.746,02 Multa Proporcional R$ 583.990,79 Conforme descrição dos fatos de fls. 2.103 a 2.104, a exigência decorreu das seguintes infrações à legislação tributária: rendimentos recebidos por sócios de empresas – omissão de rendimentos recebidos a título de lucro distribuído excedentes ao lucro presumido – rendimentos pagos a sócio ou acionista de pessoa jurídica submetida ao regime de tributação com base no Lucro Presumido, excedentes ao Lucro Presumido diminuído de impostos e contribuições, quando a pessoa jurídica não demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é superior ao Lucro Presumido, conforme relatado no Termo de Verificação Fl. 2323DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.324 4 em anexo. Fatos geradores, valores apurados e enquadramento legal a fl. 2.103; acréscimo patrimonial a descoberto – omissão de rendimentos tendo em vista a variação patrimonial a descoberto, ou seja, excesso de aplicações sobre origens, não respaldado por rendimentos tributáveis, não tributáveis, tributados exclusivamente na fonte ou objeto de tributação definitiva, conforme Termo de Verificação em anexo. Fatos geradores, valores apurados e enquadramento legal a fl. 2.104. No citado Termo de Verificação Fiscal de fls. 2.091 a 2.101 encontrase descrito o desenvolvimento da ação fiscal, donde se extrai que: constatouse que o contribuinte informou em sua Declaração de Ajuste Anual do anocalendário 2009, o valor total de R$ 1.850.000,00 a título de rendimentos isentos e não tributáveis referentes a lucros e dividendos recebidos da empresa Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda., CNPJ 57.646.119/0001 53; intimado a apresentar Ata de Assembleia ou documento equivalente, que deliberou sobre a distribuição dos lucros, bem como a comprovar a efetiva transferência financeira do valor declarado, o contribuinte apresentou apenas cópias parciais do Razão Analítico da empresa Atrevida Produções Artísticas Ltda., bem como cópias da folha de pagamento – prólabore de Angelina Maria Muniz Zagari e “Recibos de Retirada de Lucro”; analisando a DIPJ, constatouse que a empresa optou pelo regime de tributação com base no lucro presumido e informou na Ficha 61A – Rendimentos de Dirigentes, Conselheiros, Sócios ou Titular, lucro distribuído à sócia Angelina Maria Muniz Zagari foi no montante de R$ 223.751,21; foi emitido Mandado de Procedimento Fiscal – Diligência, em 09/10/2012, em face da empresa Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda., da qual a contribuinte era sócia no ano calendário de 2009, com participação de 99%; em atendimento à intimação, a empresa apresentou o original do Livro Diário e do Livro Razão, em 27/11/2012, bem como Balancetes de Verificações Mensais e Anual Analítico e Balanço Patrimonial referentes ao anocalendário 2009. O livro Diário somente foi registrado na JUCESP em 14/11/2012; tendo em vista que a empresa envolvida não cumpriu as formalidades legais exigidas para a sua escrituração contábil, a fiscalização não considerou a escrituração contábil da empresa hábil para fazer prova a favor da contribuinte ora fiscalizada, sendo considerado como rendimentos isentos, recebidos a título de distribuição de lucros, tão somente o valor correspondente ao lucro presumido, declarado na DIPJ, diminuído dos impostos e Fl. 2324DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.325 5 contribuições, conforme demonstrado a fl. 2.094, ou seja, R$ 67.044,44 no total para 2009; a parcela excedente foi submetida à tributação; ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO – no ano calendário de 2009, a contribuinte era casada pelo regime da comunhão universal de bens com Walter Zagari, CPF n.º 482.996.00863. O casal entregou a DIRPF separadamente, no modelo simplificado; assim, foi efetuada a análise de todos os documentos acostados na ação fiscal do Sra. Angelina conjuntamente com os coletados na ação fiscal do Sr. Walter, computando todos os bens e direitos do casal, bem como os rendimentos e dispêndios de ambos, sendo elaborando ao final, um único fluxo de Análise de Variação Patrimonial e Financeira; foi apurado acréscimo patrimonial a descoberto, nos meses de janeiro, abril, agosto e setembro de 2009, sendo tributado 50% para cada cônjuge, tendo em vista que o casal apresentou Declaração em separado. O Demonstrativo Mensal da Evolução Patrimonial e Financeira do anocalendário 2009 encontrase as fls. 2.041 a 2.044. Cientificada do lançamento em 28/02/2014 (fl. 2.111), a contribuinte apresentou, em 01/04/2014, a impugnação de fls. 2.116 a 2.144, por intermédio de procuradores (procuração a fl. 2.145), acompanhada dos documentos de fls. 2.152 a 2.156, alegando: em cumprimento à exigência da Fiscalização, foram apresentados os Livros Diário e Razão, bem como Balancetes de Verificação Mensais e Anual Analítico e Balanço Patrimonial referente ao anobase 2009; não obstante todo o restante da escrituração contábil da empresa estivesse em perfeita ordem, o Livro Diário fora registrado a destempo, entendendo a Fiscalização que deveria considerar toda a escrituração contábil inábil; alega o contribuinte que a pessoa jurídica Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda. possui contabilidade idônea e suficiente a comprovar que foi auferido no anobase 2009, lucro superior ao lucro presumido, viabilizando, consequentemente, as distribuições efetuadas à impugnante; no que tange ao segundo ponto de autuação, importa destacar que o procedimento de apuração e tributação de forma mensal e não anual, dos rendimentos decorrentes da suposta variação patrimonial a descoberto, é altamente questionável, podendo levar inclusive à nulidade da autuação; admitese a exigência de um único requisito à validade da distribuição de lucros e dividendos em valor superior ao do lucro presumido, sob o ponto de vista lógico, constitucional e Fl. 2325DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.326 6 infraconstitucional, qual seja: a comprovação da existência de lucro em montante suficiente a embasar a respectiva distribuição, conforme registros contábeis; a impugnante logrou êxito, ao longo da fiscalização, em comprovar, através da apresentação de cópias do Balanço Patrimonial, dos Balancetes de Verificação e dos Livros Diário e Razão da pessoa jurídica, que o lucro apurado, efetivo, superou o valor correspondente ao do lucro presumido que serve de base de cálculo apenas para o recolhimento dos tributos devidos pela pessoa jurídica; existe uma única exigência válida à distribuição isenta de lucros e dividendos acima do valor do lucro presumido, e tal exigência é a existência de resultado suficiente à distribuição, devidamente respaldado em balanço; e leviano seria ignorar que tal resultado, qual seja, a existência do lucro efetivamente auferido pela pessoa jurídica no ano calendário 2009, pode ser respaldado por diversos documentos, sendo irrazoável fechar os olhos à sua real existência em razão de mero atraso em um dos registros que o comprovam!; alega ainda, a afronta aos princípios da proporcionalidade, razoabilidade, proporcionalidade, verdade material e legalidade; no caso dos autos, ainda que válida fosse a desconsideração do Livro Diário, com o que não concorda o impugnante, certo é que os demais meios de prova trazidos aos autos poderiam plenamente substituílo no fito de comprovar a existência do lucro apurado pela pessoa jurídica (tais como os balancetes de verificação, Balanço Patrimonial, Recibos de Retirada de Lucros e Livro Razão apresentados); conforme se verifica pelos Recibos de Retirada de Lucros acostados aos autos, a Impugnante recebeu, a título de distribuição de lucros, o montante de R$ 1.850.000,00. Referidas distribuições estão devidamente registradas na contabilidade da empresa, atribuindo veracidade e reforçando as informações constantes nos Recibos de Retirada de Lucros; da ofensa aos princípios da motivação e da verdade material – carece de motivação o lançamento em questão, pois o impugnante apresentou documentos hábeis e idôneos e suficientes a comprovar a existência de lucro da pessoa jurídica Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda.; seria patente a improcedência do presente lançamento, razão pela qual tal AIIM encontrase eivado de insanável vício de nulidade, posto que carece do imprescindível requisito da motivação; o princípio da verdade material determina que o lançamento tributário deverá se ater à realidade dos fatos, de sorte que possa ocorrer a subsunção do fato efetivamente incorrido à Fl. 2326DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.327 7 norma jurídica que lhe outorga consequências no campo tributário; restando evidenciada a ocorrência de erro material que distorce a realidade dos fatos, cabe à Administração Pública rever o lançamento. Transcreve ementa de processo judicial; a autuação originouse exclusivamente do fato de a fiscalização não ter observado a vasta documentação apresentada, capaz de suportar as distribuições de lucros havidas, em razão, exclusivamente, de erro cometido pela pessoa jurídica da qual a Impugnante é sócia, consistente no atraso do registro de seu livro Diário; tal procedimento afronta o princípio da verdade material, já que o lucro auferido pela pessoa jurídica resta plenamente comprovado; caso ainda resida dúvida acerca da suficiência da documentação anexa para a comprovação do quanto ora alegado, requer a Impugnante a conversão do julgamento em diligência, para rever a documentação contábil apresentada; Da Inexistência de Acréscimo Patrimonial a Descoberto – a apuração do acréscimo patrimonial a descoberto deve ser realizada de forma anual, no ajuste, e não de forma mensal, como realizado nos autos; com relação à acusação de Acréscimo Patrimonial a Descoberto para o mês de janeiro de 2009, esta não se justifica já que ocasionada por mero erro cometido pelo escritório de contabilidade terceirizado contratado pela empresa na qual o marido da Impugnante é sócio majoritário. Conforme se verifica da anexa cópia da fl. 02 do Livro Diário, em conjunto com o extrato bancário da conta de titularidade do casal, no Citibank, além dos R$ 202.423,11 informados como distribuídos em janeiro ao marido da Impugnante, foi também distribuída a quantia de R$ 600.000,00 no dia 20/01/2009; a Fiscalização alega que a Impugnante (e/ou seu marido) teria aplicado em contas do banco RBC Dominion Securities Inc. em Toronto, Canadá, as quantias de R$ 2.101.883,76 e R$ 628.343,84 em março e abril de 2009, aplicações estas não identificadas nos extratos bancários que supostamente as embasam; impossível compreender as apurações referentes a supostos depósitos e aplicações tidos por ocorridos em contas bancárias no exterior, já que apresentadas pela Fiscalização de forma global, não individualizada, não respaldada pelas informações constantes dos respectivos extratos bancários e, portanto, inintelígivel, o que não se pode permitir, sob pena de afrontar ao direito constitucionalmente previsto ao contraditório e ampla defesa do Impugnante; Fl. 2327DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.328 8 caso essa Delegacia de Julgamento entenda não ser possível, de plano, constatar que as mencionadas aplicações no exterior não foram devidamente demonstradas, calculadas, fundamentadas e comprovadas pela Fiscalização, impreterível será a conversão do julgamento em diligência, para que se digne a D. Fiscal autuante a esclarecer as acusações levadas a efeito; no mês de agosto de 2009, deixouse de considerar uma entrada financeira da Impugnante, referente a empréstimo tomado da empresa da qual é sócia majoritária (“Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda.”); isto se comprova através do simples confronto entre as informações constantes do Livro Diário de mencionada pessoa jurídica e extrato da conta mantida junto ao Citibank, quando se verifica que no dia 21/08/2009 houve transferência do valor de R$ 3.593.745,68 da empresa para a sócia, referente a empréstimo por ela tomado; considerando tal quantia na composição do APD, concluiremos que em agosto de 2009, o casal apurou saldo disponível para o mês seguinte, no valor de R$ 2.457.621,93 e não acréscimo patrimonial a descoberto; tal saldo, por consequência, anula igualmente o suposto APD apurado para o mês de setembro de 2009, que passa de R$ 212.738,96 para zero, majorando ainda o saldo disponível em caixa no ano, de R$ 750.218,80 para R$ 3.207.840,73; por fim, requer o conhecimento e regular processamento da sua defesa. Em seguida, sobreveio julgamento proferido pela 15ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo/SP (DRJ/SPO), por meio do Acórdão nº 1662.339 (fls. 2161/2177), de 16/10/2014, cujo dispositivo considerou Improcedente a Impugnação, com a manutenção do crédito tributário. É ver a ementa do julgado: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2009 NULIDADES. INOCORRÊNCIA. Tendo o auto de infração sido lavrado por servidor competente, com estrita observância das normas reguladoras da atividade de lançamento e, existentes no instrumento os elementos necessários para que o contribuinte exerça o direito do contraditório e da ampla defesa, assegurado pela Constituição Federal, afastamse as preliminares de nulidade arguidas. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO – APURAÇÃO MENSAL. Em consonância com o disposto no artigo 2º da Lei 7.713/1988, a partir do anocalendário de 1989, para fins de determinação Fl. 2328DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.329 9 de omissão de rendimentos por análise da variação patrimonial, as alterações devem ser levantadas mensalmente e confrontadas com os rendimentos do respectivo mês. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS ACIMA DO LIMITE DE ISENÇÃO. PESSOA JURÍDICA TRIBUTADA COM BASE NO LUCRO PRESUMIDO. É tributável a parcela dos rendimentos pagos, a título de distribuição de lucros, a sócio de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, que exceder à diferença entre o lucro presumido e os valores correspondentes ao imposto de renda da pessoa jurídica, CSLL, COFINS e PIS/PASEP, a menos que fique demonstrado, por meio de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo para o qual houver optado. APURAÇÃO DO LUCRO EFETIVO. LIVRO DIÁRIO. FORMALIDADES. Para fazer prova a favor do contribuinte, o livro Diário deve conter, respectivamente, na primeira e última página, termos de abertura e de encerramento e deve ser registrado e autenticado pelas juntas comerciais ou repartições encarregadas do Registro do Comércio. Somente pode ser aceita a escrituração do livro Diário, autenticado em data posterior ao movimento das operações nele lançadas, quando o registro e a autenticação tenham sido promovidos até a data prevista para a entrega tempestiva da declaração de rendimentos do correspondente exercício financeiro. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. A variação patrimonial não justificada através de provas inequívocas da existência de rendimentos tributados, não tributáveis, ou tributados exclusivamente na fonte está sujeita à tributação. Por força de presunção legal, cabe ao contribuinte o ônus de provar as origens dos recursos que justifiquem o acréscimo patrimonial. DILIGÊNCIA FISCAL CABIMENTO. A diligência fiscal deve ser determinada pela autoridade julgadora, de ofício ou a requerimento do impugnante, quando entendêla necessária. DECISÕES JUDICIAIS. DOUTRINA. EFEITOS. As decisões Judiciais, à exceção das decisões do STF sobre inconstitucionalidade da legislação e daquelas objeto de Súmula vinculante, nos termos da Lei nº 11.417 de 19 de dezembro de 2006, não se constituem em normas gerais, razão pela qual seus julgados não se aproveitam em relação a qualquer outra ocorrência, senão àquela objeto da decisão. Fl. 2329DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.330 10 A doutrina transcrita não pode ser oposta ao texto explícito do direito positivo, mormente em se tratando do direito tributário brasileiro, por sua estrita subordinação à legalidade. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Nesse sentido, cumpre repisar que a decisão a quo exarou os seguintes motivos e que delimitam o objeto do debate recursal: 1. Não cabem os questionamentos do contribuinte acerca da validade do procedimento fiscal. Não há nele vicio que comprometa a validade do lançamento. O auto de infração em epígrafe se revestiu de todas as formalidades legais previstas pelo art. 10 do Decreto nº 70.235/1972. O auto de infração foi lavrado por Auditor Fiscal da Receita Federal, servidor competente para efetuar o lançamento, perfeitamente identificado pelo nome, matrícula e assinatura em todos os atos emitidos pelo mesmo, no decorrer do procedimento fiscal, conforme designação pelo Mandado de Procedimento Fiscal – Fiscalização nº 08.1.96.002014 001333. 2. O autuado, por outro lado, teve conhecimento da existência do citado procedimento fiscal, tendolhe sido concedido o mais amplo direito, pela oportunidade de apresentar, já na fase de instrução do processo, em resposta às intimações que recebeu, argumentos, alegações e documentos no sentido de tentar elidir as infrações apuradas pela fiscalização. 3. Os fatos descritos no Termo de Verificação Fiscal (fls. 2.087 a 2.097) e no item “Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal” do Auto de Infração (fls. 2.099 a 2.100), partes integrantes do auto de infração, descrevem detalhadamente o fato gerador do imposto de renda da pessoa física, bem como o seu enquadramento legal, permitindo ao impugnante o conhecimento pleno da motivação da ação fiscal, sem dar margem a dúvidas quanto à matéria tida como infringida. 4. Para as contas bancárias mantidas no exterior, foram computados mensalmente como “recursos” na análise da Evolução Patrimonial e Financeira os valores efetivamente resgatados. E foram computados mensalmente como dispêndios, os valores aplicados. E ao contrário do alegado pelo interessado, há sim documentação comprobatória dessas aplicações. As fls. 2.048 a 2.050, encontramse, discriminado em planilhas, os valores aplicados e os valores resgatados em contas no exterior, com identificação do Banco e n.º das contas. Ademais, as fls. 792/804 consta a Declaração de Capitais Brasileiros no Exterior, apresentada pelo cônjuge do contribuinte e documentos bancários de movimentação de contas no exterior. Também as fls. 828/917 e 1.123/1.174 encontramse extratos bancários de contas mantidas no exterior. Na declaração de bens e direitos da DIRPF/2010, do Sr, Walter Zagari estão registradas as contas mantidas no exterior (fls. 1.179 a 1.188). Fl. 2330DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.331 11 5. A partir de 1º de janeiro de 1.989, com a edição da Lei nº 7.713/1988, o imposto de renda das pessoa físicas passou a ser exigido mensalmente, à medida em que os rendimentos incluídos neste conceito os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados e ganhos de capital são percebidos. Com a Lei nº 8.134, de 1990, o imposto continuou devido mensalmente, porém a título de antecipação, pois, ao se estabelecer que algumas deduções somente poderiam ser utilizadas na declaração anual, criouse uma exigência provisória do tributo, sendo que o valor definitivo só é determinado na declaração de ajuste anual. Portanto, a análise da evolução patrimonial para fins de levantamento do acréscimo patrimonial a descoberto, cuja finalidade é detectar a existência de omissão de rendimentos tributáveis, deve reportarse aos períodos mensais para conformarse às disposições legais. Posteriormente, ao consolidar as normas de tributação relativas à incidência do imposto de renda das pessoas físicas, a Instrução Normativa nº 15/01 do Secretário da Receita Federal esclareceu definitivamente, por meio do seu artigo 33, que o acréscimo patrimonial não justificado constitui rendimento tributável na Declaração de Ajuste Anual. Referese tal dispositivo, pois, à forma de tributação e não à apuração do fato gerador, que deve ser feita em bases mensais. 6. O art. 10 da Lei n° 9.249, de 26/12/1995, dispõe que os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados, a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliada no País ou no exterior. 7. Em se tratando de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, a parcela do lucro distribuído excedente ao valor da base de cálculo do imposto, diminuída dos impostos e contribuições, não se sujeitará à tributação, se a pessoa jurídica demonstrar, por meio de escrituração contábil, efetuada de conformidade com a legislação comercial, que o lucro contábil é superior ao determinado pelas normas de apuração da base de cálculo do imposto calculado com base no lucro presumido. 8. Conforme consignado no Termo de Verificação Fiscal (fls. 2.091 a 2.101) o livro Diário do anocalendário de 2009 foi objeto de autenticação apenas em 14/11/2012, após o termo final estabelecido na legislação e após a ciência da intimação para a empresa Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda. para apresentação dos Livros Contábeis, que ocorreu em 11/10/2012 (AR a fl. 545). Mesmo a Declaração de Informações Econômico Fiscais apresentada pela pessoa jurídica não confirma o valor dos lucros distribuídos no anocalendário 2009 à contribuinte. Pelo contrário, nela consta distribuição de lucros para a interessada no valor de R$ 223.751,21 (fl. 680) e cotejando os valores de receita bruta nela declarada e impostos e contribuições devidos, apurase o limite para distribuição de lucros no valor anual de R$ 67.044,44 (fl. 2.094). Fl. 2331DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.332 12 9. Logo, não cumpridas todas as formalidades exigidas pela legislação, a escrituração contida nesse livro não possui o condão de fazer prova da apuração do lucro efetivo da pessoa jurídica. 10. Os demais documentos apresentados pelo contribuinte não se prestam para comprovar o lucro contábil auferido, sendo que os recibos de recebimento de dividendos, assinados apenas pela contribuinte, que detém 75% de participação na pessoa jurídica, não podem ser aceitos como prova de lucro contábil, mas apenas dos valores recebidos. 11. No que concerne à segunda infração, cabe considerar que o acréscimo patrimonial é uma das formas colocadas à disposição do Fisco para detectar omissão de rendimentos, edificandose aí uma presunção legal, do tipo condicional ou relativa, que, embora estabelecida em lei, não tem caráter absoluto da verdade e que impõe ao contribuinte a comprovação da origem dos rendimentos determinantes do descompasso patrimonial. 12. A presunção legal da omissão de rendimentos representada pelo acréscimo patrimonial a descoberto decorre da constatação lógica de que ninguém aumenta seu patrimônio sem a obtenção dos recursos para isso necessários. A eventual diferença ou descompasso demonstrado na evolução patrimonial evidencia a obtenção de recursos não conhecidos pelo Fisco. Desta forma, a autoridade administrativa, em procedimento fiscal, utilizase de fluxos de caixa com o objetivo de verificar a ocorrência de inconformidades entre a renda declarada e os dispêndios realizados pelo contribuinte. O resultado dos demonstrativos poderá indicar variação patrimonial a descoberto, ou seja, a aquisição de bens e/ou gastos acima dos rendimentos informados. 13. No caso em tela, a impugnante alega que foi distribuída a quantia de R$ 600.000,00 no dia 20/01/2009 para seu esposo. Entretanto, a contribuinte não aponta a transferência desses recursos para as contas correntes sejam de seu cônjuge ou as suas, limitandose a argumentar que estaria comprovada nos autos. Salientase que foram considerados como origens de recursos todos os saldos bancários em ContasCorrentes e Poupança no início de cada mês, tanto da contribuinte quanto de seu esposo. 14. Em relação aos mês de abril de 2009, a impugnante afirma que a fiscalização alega que a contribuinte (e/ou seu marido) teria aplicado em contas do banco RBC Dominion Securities Inc. em Toronto, Canadá, as quantias de R$ 2.101.883,76 e R$ 628.343,84 em março e abril de 2009, aplicações estas que não estariam identificadas nos extratos bancários. 15. Ocorre que os extratos bancários de fls. 1.474 a 1.477, 1.568 a 1.593, 1.803 a 1.848 demonstram aplicações financeiras em contas de n.º 671 2326328 e 6712326427 mantidas no Banco RBC Dominion Securities Inc, Toronto/Canadá. 16. Não há afronta aos princípios constitucionais do contraditório e de ampla defesa, na medida em que a planilha de fl. 2.070 discrimina mensalmente Fl. 2332DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.333 13 os valores aplicados e os resgatados em contas mantida no Banco RBC Dominion Securities Inc. 17. Quanto ao acréscimo patrimonial apurado nos meses de agosto e setembro de 2009, argumenta o contribuinte que no mês de agosto de 2009 deixouse de considerar uma entrada financeira da contribuinte, referente a empréstimo bancário tomado da empresa da qual é sócia majoritária (“Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda.”), no valor de R$ 3.593.745,68. Contudo, não há nos autos um único documento comprovando o alegado empréstimo, havendo apenas cópia do extrato de uma conta no Citibank sem identificação do titular e do número da conta corrente (fl. 2.156) e uma página do Livro Diário da pessoa jurídica acima citada, onde consta um crédito de R$ 3.593.745,68 para a pessoa jurídica, identificado como valor ref a classificar (fl. 2.154). 18. Em relação à alegação de afronta a princípios constitucionais, falece competência legal à autoridade julgadora de instância administrativa para se manifestar acerca da legalidade das normas legais regularmente editadas segundo o processo legislativo estabelecido, tarefa essa reservada constitucionalmente ao Poder Judiciário, podendo apenas reconhecer inconstitucionalidades já declaradas pelo Supremo Tribunal Federal, e nos estritos termos do Decreto nº 2.346, de 10 de outubro de 1997, condições que não se apresentam neste caso. 19. Cabe à autoridade julgadora de primeira instância examinar o pedido de realização de diligências ou perícias, formulado pelo sujeito passivo, mandando realizar (de ofício ou a requerimento) aquelas que forem necessárias e indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis. O contribuinte, por sua vez, inconformado com a decisão prolatada e procurando demonstrar a improcedência do lançamento, interpôs Recurso Voluntário (fls. 2183/2210), apresentando, em síntese, os seguintes argumentos: a. Não há que se falar em omissão de receita decorrente da distribuição de lucros em montante superior ao do lucro presumido da empresa da qual a recorrente é sócia, tendo em vista a vasta documentação acostada aos autos, hábil e suficiente a comprovar a efetiva apuração de lucro pela empresa em valor superior ao presumido, suportando, assim, as distribuições levadas a efeito, sendo certo que: (i.a) o mero atraso no registro do Livro Diário é insuficiente para desconsiderar tal documento como hábil a comprovar a existência de lucro acima do presumido, sob risco de ofensa ao princípio da proporcionalidade e razoabilidade; (i.b) mesmo que assim não o fosse, o que apenas se admite por argumentação, os demais documentos contábeis trazidos aos autos, cujas idoneidades jamais foram questionadas pela D. Fiscalização, igualmente comprovam o lucro efetivamente auferido pela pessoa jurídica em pauta, devendo, em atenção aos princípios da motivação, verdade material e razoabilidade, serem aceitos e considerados. Fl. 2333DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.334 14 b. Existe vício que nulifica tanto o procedimento de lançamento como o auto de infração dele decorrente, posto que: (ii.a) a apuração de omissão de rendimentos com base em acréscimo patrimonial a descoberto deve ser realizada anualmente, ou seja, considerando a situação patrimonial ao final do anocalendário, no ajuste, e não mensalmente, como realizado no caso dos autos; e (ii.b) equivocada e arbitrária a inclusão dos valores das aplicações efetuadas no exterior, na medida que ausente nos autos documentação probatória capaz de lhe dar arrimo, viciando, portanto, o presente lançamento em razão da ofensa dos princípios da motivação, eficiência e verdade material. c. Independentemente dos vícios acima apontados, no mérito, qualquer que seja a forma de apuração do acréscimo patrimonial da recorrente no ano calendário de 2009 (mensal ou anual), ficou comprovada e justificada a existência de outras “Origens” que respaldam integralmente despesas consideradas mês a mês, anulando a apuração de qualquer hipotético “acréscimo patrimonial” a descoberto, mais especificamente: (iii.a) o adicional de distribuição de lucro recebido pelo marido da recorrente, em janeiro de 2009, no valor de R$ 600.000,00, da empresa do qual é sócio; e (iii.b) o empréstimo tomado pela recorrente da empresa da qual é sócia, no valor de R$ 3.593.745,68, no mês de agosto de 2009, ambos devidamente respaldados pelas documentações contábeis das empresas e extratos bancários da recorrente e seu marido (conta conjunta). d. Pelo exposto, pede e espera seja conhecido e integralmente provido o presente Recurso Voluntário e extinguindose o crédito tributário sob discussão. Por derradeiro, protesta pela juntada de eventual documentação complementar que se faça necessária, de forma a possibilitar a mais justa e correta composição da presente demanda, bem como pela conversão do julgamento em diligência, caso essa E. Turma entenda necessário. A recorrente, após a apresentação de seu apelo recursal e após a publicação da pauta de julgamento, e, inclusive, faltando poucos dias para apreciação de seu recurso pelo colegiado, em petição de fls. 2217/2221, requereu a juntada e apreciação de Parecer Técnico de Natureza Contábil e Tributária de fls. 2222/2239, acompanhado dos anexos de fls. 2240/2320. Em seguida, os autos foram remetidos a este Conselho para apreciação e julgamento do Recurso Voluntário. Não houve apresentação de contrarrazões. É o relatório. Voto Conselheiro Matheus Soares Leite – Relator 1. Juízo de Admissibilidade. Fl. 2334DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.335 15 O Recurso Voluntário é tempestivo, conforme certidão de fls. 2213, e preenche os demais requisitos de admissibilidade previstos no Decreto n° 70.235/72. Portanto, dele tomo conhecimento. 2. Considerações iniciais. O julgador administrativo deve fundamentar suas decisões com a indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos que a motivam (art. 50 da Lei n° 9.784/99), observando, dentre outros, os princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência (art. 2° da Lei n° 9.784/99). O dever de motivação oportuniza a concretização dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório (art. 5º, LV, da CR/88), abrindo aos interessados a possibilidade de contestar a legalidade do entendimento adotado, mediante a apresentação de razões possivelmente desconsideradas pela autoridade na prolação do decisum. Para a solução do litígio tributário, deve o julgador delimitar, claramente, a controvérsia posta à sua apreciação, restringindo sua atuação apenas a um território contextualmente demarcado. Os limites são fixados, por um lado, pela pretensão do Fisco e, por outro lado, pela resistência do contribuinte, que culminam com a prolação de uma decisão de primeira instância, objeto de revisão na instância recursal. Dessa forma, se a decisão de 1ª instância apresenta motivos expressos para refutar as alegações trazidas pelo contribuinte, a lida fica adstrita a essa motivação. Para solucionar a lide posta, o julgador se vale do livre convencimento motivado, resguardado pelos artigos 29 e 31 do Decreto n° 70.235/72. Assim, não é obrigado a manifestar sobre todas as alegações das partes, nem a se ater aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando possui motivos suficientes para fundamentar a decisão. Cabe a ele decidir a questão de acordo com o seu livre convencimento, utilizandose dos fatos, das provas, da jurisprudência, dos aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto. Caso a recorrente discorde da decisão proferida por este Colegiado, pode, ainda: (a) opor embargos de declaração no caso de “obscuridade, omissão ou contradição entre a decisão e os seus fundamentos, ou for omitido ponto sobre o qual devia pronunciarse a turma” (art. 65 do RICARF); ou (b) interpor Recurso Especial à Câmara Superior de Recursos Fiscais, desde que demonstre a existência de decisão de outra Câmara, Turma de Câmara, Turma Especial ou a própria CSRF que dê a à lei tributária interpretação divergente (art. 67 do RICARF). 3. Do pedido de juntada de documentos na fase recursal. A recorrente, após a apresentação de seu apelo recursal e após a publicação da pauta de julgamento, e, inclusive, faltando poucos dias para apreciação de seu recurso pelo colegiado, em petição de fls. 2217/2221, requereu a juntada e apreciação de Parecer Técnico de Natureza Contábil e Tributária de fls. 2222/2239, acompanhado dos anexos de fls. 2240/2320. Esclareço que, nos termos do art. 16, § 4°, do Decreto n° 70.235/72, a prova documental será apresentada na Impugnação, precluindo o direito da prática do ato em outra oportunidade, a menos que: (a) fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação Fl. 2335DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.336 16 oportuna, por motivo de força maior; (b) refirase a fato ou a direito superveniente; (c) destine se a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas aos autos. Ademais, o § 5°, do mesmo dispositivo legal, transfere ao litigante, o ônus de demonstrar, com fundamentos, a ocorrência de uma das condições previstas para que a autoridade julgadora aceita a juntada posterior de documentos, após apresentada a Impugnação. Contudo, a recorrente não apresentou qualquer justificativa para a apresentação intempestiva do “Parecer Técnico de Natureza Contábil e Tributária”. Cabe ressaltar, inclusive, que a ciência do Auto de Infração em tela ocorreu no dia 28/03/2014. O julgamento em primeira instância, por sua vez, proferido pela 15ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em São Paulo/SP (DRJ/SPO), por meio do Acórdão nº 1662.339 (fls. 2161/2177), ocorreu em 16/10/2014. Ou seja, passados mais de 4 (quatro) anos da ciência do Auto de Infração e, somente nesta instância recursal, inclusive após a apresentação do recurso, e mesmo após a publicação da pauta de julgamento é que a recorrente decide juntar novos documentos aos autos, sequer apresentando justificativa razoável para sua aceitação e apreciação. Ante o exposto, rejeito a apreciação dos documentos apresentados pela recorrente, eis que intempestivo, estando, inclusive, ausente a comprovação do preenchimento dos requisitos previstos no art. 16, § 4°, do Decreto n° 70.235/72. 4. Preliminares. Preliminarmente, a recorrente requer a nulidade do auto de infração, por entender que a fiscalização teria apurado a suposta variação patrimonial a descoberto de forma mensal e não anual, o que, no seu entendimento, seria altamente questionável. Ademais, entende que o lançamento estaria viciado por ausência de provas da existência de aplicações efetuadas no exterior. Contudo, sem razão à recorrente. A começar, conforme bem pontuado pela decisão de piso, a análise da evolução patrimonial para fins de levantamento do acréscimo patrimonial a descoberto, cuja finalidade é detectar a existência de omissão de rendimentos tributáveis, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, e não anual, para conformarse ao determinado nas Leis nº 7.713, de 1988 e nº 8.134, de 1990. E, ainda, no tocante à alegação de provas da existência de aplicações efetuadas no exterior, cabe destacar o seguinte trecho da decisão proferida pela DRJ e não contraditado pela recorrente: Para as contas bancárias mantidas no exterior, foram computados mensalmente como “recursos” na análise da Evolução Patrimonial e Financeira os valores efetivamente resgatados. E foram computados mensalmente como dispêndios, os valores aplicados. E ao contrário do alegado pelo interessado, há sim documentação comprobatória dessas aplicações. As fls. 2.048 a 2.050, encontramse, discriminado em planilhas, os valores aplicados e os valores resgatados em contas no exterior, com identificação do Banco e n.º das contas. Ademais, as fls. 792/804 consta a Declaração de Capitais Fl. 2336DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.337 17 Brasileiros no Exterior, apresentada pelo cônjuge do contribuinte e documentos bancários de movimentação de contas no exterior. Também as fls. 828/917 e 1.123/1.174 encontramse extratos bancários de contas mantidas no exterior. Na declaração de bens e direitos da DIRPF/2010, do Sr, Walter Zagari estão registradas as contas mantidas no exterior (fls. 1.179 a 1.188). O lançamento em comento seguiu todos os passos para sua correta formação, conorme determina o art. 142 do Código Tributário Nacional, quais sejam: (a) constatação do fato gerador cominado na lei; (b) caracterização da obrigação; (c) apuração do montante da base de cálculo; (d) fixação da alíquota aplicável à espécie; (e) determinação da exação devida – valor original da obrigação; (f) definição do sujeito passivo da obrigação; e (g) lavratura do termo correspondente, acompanhado de relatório discriminativo das parcelas mensais, tudo conforme a legislção. Tendo o fiscal autuante demonstrado de forma clara e precisa os fatos que suportaram o lançamento, oportunizando ao contribuinte o direito de defesa e do contraditório, bem como em observância aos pressupostos formais e materiais do ato administrativo, nos termos da legislação de regência, especialmente arts. 142 do CTN e 10 do Decreto n° 70.235/72, não há que se falar em nulidade do lançamento. Dessa forma, afasto as preliminares levantadas pela recorrente, passando a apreciar o mérito da questão posta. 5. Mérito. Conforme informações contidas no Termo de Verificação Fiscal (fls. 2091/2101), foram apuradas as seguintes infrações e que serão analisadas separadamente: (i) rendimentos excedentes ao lucro presumido pagos a sócio; (ii) acréscimo patrimonial a descoberto. 5.1. Rendimentos excedentes ao lucro presumido pagos a sócio. Conforme informações contidas no Termo de Verificação Fiscal (fls. 2091/2101), o contribuinte, relativamente ao anocalendário 2009, teria declarado rendimentos isentos ou nãotributáveis recebidos a título de lucros distribuídos por pessoa jurídica da qual é sócio em valores superiores ao lucro presumido apurado por essa empresa em cada ano calendário, deduzido dos tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal. Segundo a fiscalização, o Livro Diário do anocalendário de 2009 somente foi registrado no órgão de registro competente (JUCESP) em 14/11/2012, tendo o procedimento fiscal iniciado em 24/04/2012 e a ciência da intimação pela empresa em questão para apresentação dos Livros Contábeis ocorrida em 11/10/2012. Ademais, a fiscalização apontou divergência existente entre o valor informado pelo contribuinte, a título de rendimentos isentos e não tributáveis referentes a lucros e dividendos, na Declaração de Ajuste Anual do anocalendário de 2009, e o valor que consta na Ficha 61A – Rendimentos de Dirigentes, Conselheiros, Sócios ou Titular – parte integrante da DIPJ do anocalendário de 2009 da Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda. A contribuinte informou em sua Declaração de Ajuste Anual do anocalendário de 2009, Fl. 2337DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.338 18 o valor total de R$ 1.850.000,00, a título de rendimentos isentos e não tributáveis referentes a lucros e dividendos recebidos da Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda, que por sua vez, informou o valor de R$ 223.751,21 distribuído à sócia Angelina Maria Muniz Zagari. Dessa forma, a fiscalização considerou, então, como rendimentos isentos, recebidos a título de distribuição de lucros, tão somente o valor correspondente ao lucro presumido, declarado na respectiva DIPJ, diminuído dos impostos e contribuições (inclusive adicional do IR, CSLL, Cofins, PIS/Pasep) (ADN Cosit n° 4, de 1996; IN SRF n° 11 de 1996, art. 51 e parágrafos; IN SRF n° 93 de 1997, art. 48 e parágrafos). A parcela excedente, por sua vez, foi submetida à tributação, com base na tabela progressiva aplicável aos rendimentos do trabalho assalariado, nos termos do artigo 3°, § 1° e 4°, e artigo 7° da Lei n° 7.713/88; artigos 1° e 3° da Lei n° 9.250/95; artigo 43 do Decreto n° 3.000/99 (RIR/99); art. 9, inciso XVI da IN SRF n° 15, de 2001; artigo 1° da Lei n° 11.482/2007, com redação dada pela Lei n° 11.945/2009. Alega a recorrente que, embora a pessoa jurídica Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda. – EPP tenha optado pelo regime de tributação com base no lucro presumido, possui contabilidade idônea e suficiente a comprovar que foi auferido, no anobase 2009, lucro superior ao lucro presumido, viabilizando, consequentemente, as distribuições efetuadas à recorrente. Afirma, ainda, que os balancetes constantes dos autos e o respectivo Balanço Patrimonial, somados ainda à cópia do Livro Razão e também do Livro Diário da pessoa jurídica são inequívocos na demonstração da existência do lucro a ela distribuído, sendo certo que a desconsideração de toda essa documentação em razão exclusivamente do registro a destempo do Livro Diário denota patente ofensa aos princípios da razoabilidade, proporcionalidade e verdade material. Pois bem. Antes de adentrar ao mérito da discussão posta, necessário fazer uma breve explanação sobre a legislação pertinente à matéria. Nesse desiderato, cumpre pontuar que a isenção dos lucros distribuídos está prevista no art. 10, da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995: Art. 10. Os lucros ou dividendos calculados com base nos resultados apurados a partir do mês de janeiro de 1996, pagos ou creditados pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, presumido ou arbitrado, não ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte, nem integrarão a base de cálculo do imposto de renda do beneficiário, pessoa física ou jurídica, domiciliado no País ou no exterior. Parágrafo único. No caso de quotas ou ações distribuídas em decorrência de aumento de capital por incorporação de lucros apurados a partir do mês de janeiro de 1996, ou de reservas constituídas com esses lucros, o custo de aquisição será igual à parcela do lucro ou reserva capitalizado, que corresponder ao sócio ou acionista. Em suma, a empresa enquadrada no regime de Lucro Presumido está autorizada a distribuir lucros excedentes, desde que demonstrados através de escrituração Fl. 2338DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.339 19 contábil com observância das normas legais, que o lucro efetivo é maior. O art. 48 da IN SRF nº 93/97, vigente à época dos fatos geradores, estabelecia as condições para a distribuição de lucros e dividendos isentos pelas empresas, da seguinte forma: Art. 48. Não estão sujeitos ao imposto de renda os lucros e dividendos pagos ou creditados a sócios, acionistas ou titular de empresa individual. §1º O disposto neste artigo abrange inclusive os lucros e dividendos atribuídos a sócios ou acionistas residentes ou domiciliados no exterior. §2º No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido ou arbitrado, poderá ser distribuído, sem incidência de imposto: I o valor da base de cálculo do imposto, diminuída de todos os impostos e contribuições a que estiver sujeita a pessoa jurídica; II a parcela de lucros ou dividendos excedentes ao valor determinado no item I, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pela qual houver optado, ou seja, o lucro presumido ou arbitrado. § 3º A parcela dos rendimentos pagos ou creditados a sócio ou acionista ou ao titular da pessoa jurídica submetida ao regime de tributação com base no lucro real, presumido ou arbitrado, a título de lucros ou dividendos distribuídos, ainda que por conta de períodobase não encerrado, que exceder ao valor apurado com base na escrituração, será imputada aos lucros acumulados ou reservas de lucros de exercícios anteriores, ficando sujeita a incidência do imposto de renda calculado segundo o disposto na legislação específica, com acréscimos legais. §4º Inexistindo lucros acumulados ou reservas de lucros em montante suficiente, a parcela excedente será submetida à tributação nos termos do art. 3º, § 4º, da Lei nº 7.713, de 1988, com base na tabela progressiva a que se refere o art. 3º da Lei nº9.250, de 1995. §5º A isenção de que trata o "caput" não abrange os valores pagos a outro título, tais como "pro labore", aluguéis e serviços prestados. §6º A isenção de que trata este artigo somente se aplica em relação aos lucros e dividendos distribuídos por conta de lucros apurados no encerramento de períodobase ocorrido a partir do mês de janeiro de 1996. §7º O disposto no § 3º não abrange a distribuição do lucro presumido ou arbitrado conforme o inciso I do § 2º, após o encerramento do trimestre correspondente. Fl. 2339DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.340 20 §8º Ressalvado o disposto no inciso I do § 2º, a distribuição de rendimentos a título de lucros ou dividendos que não tenham sido apurados em balanço sujeitase à incidência do imposto de renda na forma prevista no § 4º. No mesmo sentido o Ato Declaratório Normativo Cosit n° 04/96: O COORDENADORGERAL DO SISTEMA DE TRIBUTAÇÃO, no uso das atribuições que lhe confere o art. 147, inciso III, do Regimento Interno da Secretaria da Receita Federal, aprovado pela Portaria do Ministro da Fazenda nº 606, de 03 de setembro de 1992, e tendo em vista o disposto no art. 10 da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, e no art. 51 da Instrução Normativa nº 11, de 21 de fevereiro de 1996, DECLARA, em caráter normativo, às Superintendências Regionais da Receita Federal, às Delegacias da Receita Federal de Julgamento e aos demais interessados que: I no caso de pessoa jurídica submetida ao regime de tributação com base no lucro presumido ou arbitrado, poderá ser distribuído, a título de lucros, sem incidência do imposto, o valor correspondente à diferença entre o lucro presumido ou arbitrado e os valores corresponndentes ao imposto de renda da pessoa jurídica, inclusive adicional, quando devido, à contribuição social sobre o lucro, à contribuição para a seguridade social COFINS e às contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público PIS/PASEP. II na hipótese do § 2º do art. 51 da IN nº 11, de 1996, a parcela dos lucros e dividendos que exceder o valor da base de càlculo do imposto da pessoa jurídica, a ser distribuída também sem a incidência do imposto, será determinada deduzindose do lucro líquido do período, após o imposto de renda, o valor determinado na forma do inciso anterior. Na mesma toada, são também as disposições do art. 238 da IN RFB nº 1.700/2017, atualmente vigente. (...) II a parcela de lucros ou dividendos excedentes ao valor determinado no inciso I, desde que a empresa demonstre, com base em escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pela qual houver optado. Em suma, a empresa tributada com base no lucro presumido poderá distribuir a título de lucros, com isenção do imposto de renda, o valor correspondente à diferença entre o lucro presumido e os tributos a que está sujeita. Caso deseje distribuir valores acima deste limite, deverá demonstrar por meio de escrituração contábil elaborada com observância da legislação comercial que o lucro efetivo é maior que o apurado segundo as regras do lucro presumido. Fl. 2340DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.341 21 Mesmo que o lucro contábil apurado no exercício não seja suficiente, a pessoa jurídica pode ainda distribuir lucros acima desse valor, com a condição de que possua saldo na conta lucros acumulados ou reserva de lucros. No entanto, para esses últimos casos a empresa deve possuir escrituração regular, baseada em registros permanentes e seguindo as estritas formalidades exigidas em relação aos livros obrigatórios. O art. 258 do Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999, (Regulamento do Imposto de Renda), dispõe sobre essas formalidades, da seguinte forma: Art. 258. Sem prejuízo de exigências especiais da lei, é obrigatório o uso de Livro Diário, encadernado com folhas numeradas seguidamente, em que serão lançados, dia a dia, diretamente ou por reprodução, os atos ou operações da atividade, ou que modifiquem ou possam vir a modificar a situação patrimonial da pessoa jurídica (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 5º). § 1º Admitese a escrituração resumida no Diário, por totais que não excedam ao período de um mês, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares para registro individuado e conservados os documentos que permitam sua perfeita verificação (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 5º, § 3º). § 2º Para efeito do disposto no parágrafo anterior, no transporte dos totais mensais dos livros auxiliares, para o Diário, deve ser feita referência às páginas em que as operações se encontram lançadas nos livros auxiliares devidamente registrados. § 3º A pessoa jurídica que empregar escrituração mecanizada poderá substituir o Diário e os livros facultativos ou auxiliares por fichas seguidamente numeradas, mecânica ou tipograficamente (DecretoLei nº 486, de 1969, art. 5º, § 1º). § 4º Os livros ou fichas do Diário, bem como os livros auxiliares referidos no § 1º, deverão conter termos de abertura e de encerramento, e ser submetidos à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio, e, quando se tratar de sociedade civil, no Registro Civil de Pessoas Jurídicas ou no Cartório de Registro de Títulos e Documentos (Lei nº 3.470, de 1958, art. 71, e DecretoLei nº 486, de 1969, art. 5º, § 2º). O dispositivo em referência tratase, para efeitos de apuração do imposto sobre a renda das pessoas jurídicas, das formalidades intrínsecas e extrínsecas de escrituração do Livro Diário, inclusive a sua obrigatoriedade de registro no órgão competente. A exigência de autenticação do Livro Diário também consta do Código Civil, conforme abaixo: Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis. Fl. 2341DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.342 22 Parágrafo único. A autenticação não se fará sem que esteja inscrito o empresário, ou a sociedade empresária, que poderá fazer autenticar livros não obrigatórios. Nesse sentido, para distribuição de lucros acima do lucro presumido, há a necessidade de existir lucro contábil que possibilite tal distribuição, que se faz conhecido a partir da sua apuração (do lucro), com observância das exigências da legislação comercial. Se há distribuição de lucro acima do montante presumido, essa parcela excedente deve ser efetivamente demonstrada e essa demonstração deve se revestir de formalidades. As escriturações contábeis, apesar de não obrigatórias para as optantes pelo lucro presumido, são necessárias para que seja permitida a distribuição de valores superiores ao lucro presumido com isenção do imposto de renda. Portanto, verificado qualquer vício, erro ou deficiência que a torne imprestável para identificar a efetiva movimentação financeira do contribuinte, tal escrituração contábil deve ser considerada inapta a demonstrar a apuração do lucro efetivo. Feitas essas considerações sobre a legislação de regência que trata da situação dos autos, passo a analisar os pontos controversos, a fim de solucionar a lide. Pois bem. De início, destacase que estamos diante de isenção1 relativa a distribuição de lucros excedentes que possui condições para sua fruição, inclusive formalidades intrínsecas e extrínsecas que devem ser observadas. Mais do que a existência das escriturações contábeis, essas devem regulares, além de guardarem harmonia entre as informações prestadas, sob pena de se desqualificar sua força probante. Não se trata de formalismo vazio, pois a autenticidade dos livros contábeis e a confiabilidade das informações que ali constam, é condição para a fruição da isenção. A propósito, cumpre pontuar que a finalidade da isenção em comento é no sentido de se estabelecer a completa integração entre a pessoa física e a pessoa jurídica, tributandose esses rendimentos exclusivamente na empresa e isentandoos quando do recebimento pelos beneficiários. Nesse contexto, cabe destacar os seguintes trechos da exposição de motivos do Projeto de Lei n° 913, de 1995 (convertido na Lei n° 9.249/95)2, do então Ministro Pedro Malan, dirigindose ao Presidente da República: 2. A reforma objetiva simplificar a apuração do imposto, reduzindo as vias de planejamento fiscal, uniformizar o 1 Sobre a isenção, vale as seguintes observações: “(i) há inúmeros fenômenos que ocasionam a não incidência tributária, estando a imunidade tributária e a isenção, incluídas nesse rol; (ii) nesse sentido, o resultado da isenção, isenção heterônoma, imunidade, definição limitada de critério normativo e criação normativa reduzida é a própria não incidência tributária; (iii) isenção não é dispensa legal de pagamento de tributo devido, pois admitir isso implica em ferir o princípio da não contraditoriedade das normas jurídicas, dado que não é possível admitir certo descompasso de normas no tempo, ou seja, uma norma que tribute e uma outra que logo em seguida realiza a dispensa do pagamento do tributo; (ii) dessa forma, tanto na isenção, quanto na imunidade tributária, ocorre a não incidência; (iii) a diferença da imunidade tributária para a isenção, enquanto técnicas utilizadas pelo legislador, é eminentemente formal, pois a imunidade tributária possui assento em norma constitucional de competência, sendo que a isenção opera no plano da legislação infraconstitucional, voltada à construção da norma tributária. A isenção, portanto, decorre de enunciados que informarão a norma (de conduta) tributária. A imunidade, por sua vez, está contida, integra a norma constitucional de competência”. LEITE, Matheus Soares. Teoria das Imunidades Tributárias. São Paulo. PerSe, 2016. p. 105/106. 2 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1995/lei924926dezembro1995349062exposicaodemotivos149781 pl.html>. Acesso em: 27/10/2018. Fl. 2342DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.343 23 tratamento tributário dos diversos tipos de renda, integrando a tributação das pessoas físicas e jurídicas, ampliar o campo de incidência do tributo, com vistas a alcançar os rendimentos auferidos no exterior por contribuintes estabelecidos no País e, finalmente, articular a tributação das empresas com o Plano de Estabilização Econômica. [....] 12. Com relação à tributação dos lucros e dividendos, estabelecese a completa integração entre a pessoa física e a pessoa jurídica, tributandose esses rendimentos exclusivamente na empresa e isentandoos quando do recebimento pelos beneficiários. Além de simplificar os controles e inibir a evasão, esse procedimento estimula, em razão da equiparação de tratamento e das alíquotas aplicáveis, o investimento nas atividades produtivas. No caso dos autos, a fiscalização apontou que o Livro Diário do ano calendário de 2009 somente foi registrado no órgão de registro competente (JUCESP) em 14/11/2012, após o início do procedimento fiscal (24/04/2012) e da ciência da intimação pela empresa para apresentação dos Livros Contábeis (11/10/2012). Vale destacar que a ciência do auto de infração ocorreu em 28/03/2014. Pois bem, apesar de ter manifestado anteriormente pela necessidade de observância do prazo estipulado na IN SRF n° 16/84, que admite a autenticação do Livro Diário em data posterior ao movimento das operações nele lançadas, desde que o registro e a autenticação tenham sido promovidos até a data da entrega tempestiva da declaração, correspondente ao respectivo período, após maiores reflexões, entendo que a legislação comercial não prevê qualquer prazo para que os livros sejam autenticados ou penalidade decorrente do atraso. Assim, a escrituração dos livros a destempo não configura argumento para fundamentar a acusação fiscal. Esse entendimento, inclusive, já foi adotado em julgado do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, conforme ementa abaixo: MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO TRIBUTÁRIO. REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO. AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. RENDIMENTOS PESSOA JURÍDICA. IRPJ. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS. SÓCIO. LIVROS CONTÁBEIS. APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL NÃO PROVIDAS. I O impetrante qualificado como sócio das pessoas jurídicas Osvaldo Pereira Sociedade de Advogados e JOPE Gestão de Bens e Participações Societárias, tributadas com base no lucro presumido, sustentou que recebeu distribuição dos lucros de referidas empresas, sem a incidência de impostos, com fundamento no art. 51, § 2ºm IN/SRF nº 11, de 21.02.1996, e assim, declarou mencionada verba, na sua declaração de ajuste anual, como rendimento isento e não tributável. O impetrante sustenta que foi fiscalizado pela Receita Federal do Brasil, com o objetivo principal de verificar sua variação patrimonial, não resultando apurada a existência de valores que pudessem caracterizar o acréscimo patrimonial a descoberto, a serem Fl. 2343DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.344 24 considerados como rendimentos obtidos. II Entendeu a autoridade fazendária que referida verba tinha natureza tributável, uma vez que os livros diários das citadas empresas teriam sido apresentados a destempo. Assim, foi lavrado o auto de infração em desfavor do impetrante por dedução indevida de despesas médicas e por omissão de rendimentos recebidos a título de lucro distribuído, em valor excedente ao lucro presumido, relativamente ao anocalendário 2009. Todavia, a isenção foi criada como incentivo ao investimento na empresa pelos acionistas. Observese, que a isenção foi criada para prestigiar os acionistas, como instrumento de política fiscal. III A interpretação restritiva é mandamento do Código de Tributário Nacional, que determina em seu artigo 111, inciso II, que "interpretase literalmente a legislação tributária que disponha sobre outorga de isenção". Além disso, o caput do artigo em questão fala da possibilidade de o beneficiário ser pessoa física ou jurídica. A figura do acionista realmente pode ser a de uma pessoa física ou a de uma pessoa jurídica e, ainda, podemos observar que o parágrafo único do art. 10 da Lei 9.249/95 fez expressa referência ao sócio e ao acionista da empresa. IV O impetrante declarou como não tributáveis, na sua declaração de ajuste anual do ano calendário de 2009, rendimentos recebidos de pessoas jurídicas, relativos à distribuição de lucros excedentes àquele apurados para o fim da tributação pelo regime do lucro presumido. V As pessoas jurídicas estão obrigadas a manter escrituração contábil de acordo com a lei, conforme o disposto no artigo 45 da Lei nº 8.981/95 e artigo 527 do Decreto nº 3000/99. Além disso, os livros precisam conter termos de abertura e encerramento e autenticação no órgão competente. Para a escrituração dos mencionados livros, a lei não prevê qualquer prazo. A escrituração contábil das pessoas jurídicas obedece, observadas eventuais exigências previstas em lei especial, aos critérios estabelecidos no Código Civil (art. 1179 ss.) e no DecretoLei nº 486/69. VI Conforme a fundamentação da r. sentença, a legislação comercial, assim como a Instrução Normativa MDICE/SCS/DNRC nº 102/06 (que dispõe sobre a autenticação de instrumentos de escrituração dos empresários e sociedades empresárias), não prevê qualquer prazo para que os livros sejam autenticados ou penalidade decorrente do atraso. VII Assim, a escrituração dos livros a destempo não configura argumento para fundamentar autuação fiscal. VIII Apelação e remessa oficial tida por interposta não providas. (TRF3 Ap: 00226601120144036100 SP, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL ANTONIO CEDENHO, Data de Julgamento: 01/08/2018, TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: eDJF3 Judicial 1 DATA:13/08/2018) Contudo, no caso em questão, conforme consignado no Termo de Verificação Fiscal (fls. 2.091 a 2.101) o Livro Diário do anocalendário de 2009 foi objeto de autenticação apenas em 14/11/2012, após o termo final estabelecido na legislação e após a ciência da intimação para a empresa Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda para apresentação dos Fl. 2344DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.345 25 Livros Contábeis, que ocorreu em 11/10/2012 (AR a fl. 545), havendo a perda da espontaneidade do contribuinte. Ademais, a acusação fiscal de rendimentos excedentes ao Lucro Presumido (item 4.1 do Termo de Verificação Fiscal de fls. 2091/2101), não foi motivada unicamente em razão da autenticação a destempo do Livro Diário, de modo que questionou, ainda, a divergência existente entre o valor informado pelo contribuinte, a título de rendimentos isentos e não tributáveis referentes a lucros e dividendos, na Declaração de Ajuste Anual do ano calendário de 2009, e o valor que consta na Ficha 61A – Rendimentos de Dirigentes, Conselheiros, Sócios ou Titular – parte integrante da DIPJ do anocalendário de 2009 da Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda. A contribuinte informou em sua Declaração de Ajuste Anual do anocalendário de 2009, o valor total de R$ 1.850.000,00, a título a título de rendimentos isentos e não tributáveis referentes a lucros e dividendos recebidos da Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda, que por sua vez, informou o valor de R$ 223.751,21 distribuído à sócia Angelina Maria Muniz Zagari. Conforme assinalado pela decisão de piso, mesmo a Declaração de Informações Econômico Fiscais apresentada pela pessoa jurídica não confirma o valor dos lucros distribuídos no anocalendário 2009 à contribuinte. Pelo contrário, nela consta distribuição de lucros para a interessada no valor de R$ 223.751,21 (fl. 680) e cotejando os valores de receita bruta nela declarada e impostos e contribuições devidos, apurase o limite para distribuição de lucros no valor anual de R$ 67.044,44 (fl. 2.094). Ademais, na DIPJ da pessoa jurídica que distribuiu os lucros, o total informado a título de receita bruta declarada (R$ 374.875,00), por ser bastante inferior, é incompatível com o montante informado pela contribuinte Angelina Maria Muniz Zagari a título de lucros e dividendos recebidos, em sua Declaração de Ajuste Anual do anocalendário de 2009 (Termo de Verificação Fiscal de fls. 2091/2101). Assim, não pode ser considerado como rendimento isento e não tributável se não cumpridas as exigências formais legais, e se não demonstrado que tal lucro existiu conforme a escrituração da época dos fatos. No que diz respeito aos recibos assinados pelo contribuinte sobre recebimento dos lucros, como meio de prova, destaco entendimento preconizado pela decisão de piso: Os demais documentos apresentados pelo contribuinte não se prestam para comprovar o lucro contábil auferido, sendo que os recibos de recebimento de dividendos, assinados apenas pela contribuinte, que detém 75% de participação na pessoa jurídica, não podem ser aceitos como prova de lucro contábil, mas apenas dos valores recebidos. Infração mantida. E, ainda, no Livro Diário, fl. 1879, consta lançamento a título de “transferência”, no montante de R$ 600.000,00, nomenclatura distinta da utilizada em outras páginas para se referir a distribuição de lucros, qual seja, “retirada s/ lucro Aline” (fls. 1883 e 1931). Contudo, impossível identificar a natureza da transferência, e, ainda, se foram oferecidos à tributação ou se são rendimentos isentos ou não tributados. Como não foram informados na declaração de rendimentos, não foram oferecidos à tributação, e na ausência de provas, também não são rendimentos isentos a título de distribuição de lucros. Fl. 2345DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.346 26 Nesse sentido, ao meu ver, o contribuinte não se desincumbiu do ônus de comprovar suas alegações. Portanto, na ausência de escrituração contábil regular, feita com observância da lei comercial, a distribuição de lucros isenta limitase ao valor da base de cálculo do imposto (lucro presumido), diminuída de todos os impostos e contribuições a que estiver sujeita a pessoa jurídica, nos exatos termos definidos no art. 48, § 2º, inciso I, da IN SRF nº 93, de 1997. Por fim, é preciso registrar que a conversão do julgamento em diligência, com fundamento no princípio da busca da verdade material, não se presta para a produção de provas que toca à parte produzir, sob pena de se inverter o ônus da prova. Dessa forma, sem razão à recorrente, estando, neste ponto, hígido o lançamento que ora se combate. 5.2. Acréscimo patrimonial a descoberto. Conforme informações contidas no Termo de Verificação Fiscal (fls. 2091/2101), no anocalendário de 2009, a recorrente era casada pelo regime da comunhão universal de bens com Walter Zagari, também fiscalizado conforme Mandado de Procedimento Fiscal 08.1.90.002012014728, substituído em 13/02/2014 pelo MPFF 08.1.96.002014 001333. O casal entregou a Declaração de Ajuste Anual separadamente, sendo que ambos utilizaram o modelo simplificado. No referido anocalendário, o total do patrimônio do casal era da ordem de R$ 29.682.710,33 e R$ 63.370.006,65, em 31/12/2008 e 31/12/2009, respectivamente. Parte do patrimônio encontrase declarada na declaração de bens do cônjuge varão e na parte da cônjuge varoa, não necessariamente na proporção de 50% para cada um. Assim, a fiscalização efetuou a análise de todos os documentos acostados na ação fiscal da Sra. Angelina conjuntamente com os coletados na ação fiscal do Sr. Walter, computando todos os bens e direitos do casal, bem como os rendimentos e dispêndios de ambos, elaborando, ao final, um único fluxo de Análise da Variação Patrimonial e Financeira. Com base nos documentos e esclarecimentos apresentados pelo casal durante as respectivas ações fiscais, nas Declarações de Ajuste Anual do Imposto de Renda Pessoa Física do Exercício de 2010/AnoCalendário de 2009 de ambos, nas informações constantes nos Sistemas Informatizados da Receita Federal do Brasil, documentos coletados junto a terceiros e demais dados obtidos pela fiscalização, foi efetuada a análise mensal da Evolução Patrimonial e Financeira do anocalendário de 2009, verificando a compatibilidade entre os gastos efetuados e a renda disponível. Assim, a fiscalização verificou excesso de aplicações sobre origens, não respaldado por rendimentos declarados, sendo os gastos/investimentos realizados superiores à renda disponível declarada, gerando, como consequência, Acréscimo Patrimonial a Descoberto no anocalendário de 2009. A tributação do acréscimo patrimonial a descoberto foi feita em separado, na proporção de 50% para cada cônjuge, tendo em vista que o casal não apresentou Declaração em conjunto, mas sim separadamente. Para que esse valor fosse considerado na apuração do acréscimo patrimonial a descoberto, repito, deveria ser demonstrado que se refere a rendimentos já tributados ou que sejam isentos ou não tributados. Fl. 2346DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.347 27 Assim, passase a analisar os argumentos da recorrente, bem como a prova dos autos. Em seu recurso, a recorrente insiste que em relação à acusação de Acréscimo Patrimonial a Descoberto (APD) para o mês de janeiro de 2009, esta não se justificaria já que ocasionada por mero erro cometido pelo escritório de contabilidade terceirizado contratado pela empresa na qual o marido da recorrente é sócio majoritário. Alega que, conforme cópia da fl. 02 do Livro Diário daquela pessoa jurídica (WZ Publicidade e Comunicação Ltda – CNPJ n° 54.337.098/000120), em conjunto com o extrato bancário da conta de titularidade do casal junto ao Citibank, além dos R$ 202.423,11 informados como distribuídos em janeiro ao marido da recorrente, foi também distribuída a quantidade de R$ 600.000,00, no dia 20/01/2009. Sustenta que a empresa possuía Lucros Acumulados de dezembro de 2008, conforme transferência constante da linha 02 da p. 02 de seu Livro Diário, cuja cópia já se encontra anexada aos autos, no valor de R$ 13.873.102,64, tendo apurado no mês de janeiro, ainda, lucro líquido de R$ 1.342.376,21, o que demonstra a total viabilidade da distribuição dos R$ 600.000,00 adicionais de lucros ao marido da recorrente. Assim, entende que restou equivocada a apuração de acréscimo patrimonial a descoberto referente ao mês de janeiro de 2009, no valor de R$ 366.067,48, por entender que respaldado pelo recebimento dos R$ 600.000,00 acima mencionados e documentalmente comprovados nestes autos. Pois bem. De início, cabe destacar que, conforme já abordado no tópico anterior, na ausência de escrituração contábil regular, feita com observância da lei comercial, a distribuição de lucros isenta limitase ao valor da base de cálculo do imposto (lucro presumido), diminuída de todos os impostos e contribuições a que estiver sujeita a pessoa jurídica, nos exatos termos definidos no art. 48, § 2º, inciso I, da IN SRF nº 93, de 1997. Aqui repito: Conforme apontado pela decisão de piso, a recorrente não articulou suas ideias com os documentos que entende fazer prova de suas alegações, limitando se a argumentar que estaria comprovada nos autos, sem apontar a transferência desses recursos para as contas correntes, sejam de seu cônjuge ou as suas. Conforme extrato de fl. 766, consta que no mês de janeiro de 2009 o saldo inicial no Citibank era de R$ 19.218,86 e o saldo final de R$ 19.909,00, sendo que junto com os saldos das outras contas, foram totalizados, alcançando o montante de R$ 68.238,87 e R$ 23.495,06 (fl. 2066) e transportados para a planilha de apuração “demonstrativo mensal da evolução patrimonial e financeira” (fl. 2041). No Livro Diário, fl. 1879, consta lançamento a título de “transferência”, no montante de R$ 600.000,00, nomenclatura distinta da utilizada em outras páginas para se referir a distribuição de lucros, qual seja, “retirada s/ lucro Aline” (fls. 1883 e 1931). Contudo, impossível identificar a natureza da transferência, e, ainda, se foram oferecidos à tributação ou se são rendimentos isentos ou não tributados. Como não foram informados na declaração de rendimentos, não foram oferecidos à tributação, e na esteira do elucidado em tópico anterior, também não são rendimentos isentos a título de distribuição de lucros. Fl. 2347DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.348 28 Para além do exposto, a mera identificação de erro de contabilização pelo recorrente, por si só, não afasta a procedência do lançamento se todas as medidas necessárias à sua correção não foram levadas a termo. Ora, vale destacar que o que está regularmente registrado na contabilidade faz prova contra o contribuinte. Nesse sentido, cumpre pontuar que o contribuinte não demonstrou a retificação dos livros contábeis das sociedades das quais é sócio, bem como da respectiva declaração fiscal do anocalendário de 2009, limitandose a argumentar, genericamente, que tais fatos estariam comprovados nos autos. Conforme esclarece Fabiana Del Padre Tomé3, “(...) provar algo não significa simplesmente juntar um documento aos autos. É preciso estabelecer relação de implicação entre esse documento e o fato que se pretende provar, fazendoo com o animus de convencimento”. Adicionalmente, argumenta que a apuração de suposto acréscimo patrimonial a descoberto para o mês de abril de 2009 decorreria, ainda, de erro cometido pela D. fiscalização na apuração de supostas aplicações financeiras em contas no exterior nos meses de março e abril de 2009. Mais precisamente, alega a D. Fiscalização que a recorrente (e/ou seu marido) teria aplicado em contas do banco RBC Dominion Securities Inc. em Toronto, Canadá, as quantias de R$ 2.101.883,76 e R$ 628.343,84 em março e abril de 2009, respectivamente, aplicações estas não identificadas nos extratos bancários que supostamente as embasam. Argumenta, pois, que impossível compreender as apurações referentes a supostos depósitos e aplicações tidos por ocorridos em contas bancárias do exterior, eis que apresentados pela fiscalização de forma global e não individualizada, o que não se poderia permitir, sob pena de afronto ao contraditório e ampla defesa. Assim, entende que deveriam ser desconsiderados da planilha de apuração da evolução patrimonial da recorrente e seu marido tais valores apontados como tendo sido aplicados no exterior nos meses de março e abril de 2009, uma vez que não se encontram devidamente explicados, fundamentados e, principalmente, comprovados nos autos. Pois bem. A tese recursal do contribuinte repete as alegações de defesa, e não contrapõe as afirmações da decisão de piso que, ao meu ver, muito bem esclareceram a ausência de afronta aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa e que, por isso, merecem respaldo, conforme se destaca: Ocorre que os extratos bancários de fls. 1.474 a 1.477, 1.568 a 1.593, 1.803 a 1.848 demonstram aplicações financeiras em contas de n.º 6712326328 e 6712326427 mantidas no Banco RBC Dominion Securities Inc, Toronto/Canadá. Não há afronta aos princípios constitucionais do contraditório e de ampla defesa, na medida em que a planilha de fl. 2.070 discrimina mensalmente os valores aplicados e os resgatados em contas mantida no Banco RBC Dominion Securities Inc. 3 TOMÉ, Fabiana Del Padre. A prova no direito tributário: de acordo com o código de processo civil de 2015. 4. Ed. Rev. Atual. São Paulo: Noeses, 2016. p. 405. Fl. 2348DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.349 29 Portanto, constatase que é possível identificar todos os valores e documentos, dentro do processo, não havendo que se falar em afronta ao contraditório e a ampla defesa. A recorrente alega, ainda, que tal qual ocorreu no mês de janeiro de 2009, no mês de agosto de 2009, a fiscalização teria deixado de considerar uma entrada financeira, desta vez da recorrente, referente ao empréstimo por ela tomado junto à empresa da qual é sócia majoritária (“Atrevida Produções Artísticas e Culturais Ltda” – CNPJ n° 57.646.119/000153). Tal fato se comprovaria através do simples confronto entre as informações constantes no Livro Diário de mencionada pessoa jurídica e extrato da conta mantida pelo casal junto ao Citibank, quando se verifica que no dia 21/08/2009 houve transferência no valor de R$ 3.593.745,6 da empresa para a recorrente, referente a empréstimo por ela tomado. Conforme destacado pela decisão de piso, a improcedência do argumento se dá pelo fato de que não há nos autos documentação que comprove a existência do empréstimo, havendo apenas cópia do extrato de uma conta no Citibank sem identificação do titular e do número da contacorrente (fl. 2.156) e uma página do Livro Diário da pessoa jurídica acima citada, na qual consta um crédito de R$ 3.593.745,68 para a pessoa jurídica, identificado como valor ref a classificar (fl. 2.154). Quando foi classificado como "empréstimo"? Quando foi pago o “empréstimo”? Qual a taxa de juros? Quantas prestações? A documentação apontada pela recorrente apenas demonstra que houve uma transferência de valores entre a empresa e a contribuinte, não se comprovando que a sua natureza seja de empréstimo. E, ainda, reforço o entendimento segundo o qual a conversão do julgamento em diligência, com fundamento no princípio da busca da verdade material, não se presta para a produção de provas que toca à parte produzir, sob pena de se inverter o ônus da prova. Por fim, destaco que as considerações aqui tecidas estão em consonância com o decidido nos autos do Processo n° 10437.720018/201469, Acórdão n° 2202003.569, da 2ª Câmara da 2ª Turma Ordinária, em sessão de 21 de setembro de 2016, e que diz respeito ao auto de infração lavrado em face do Sr. Walter Zagari, com base nos mesmos elementos de prova, sendo que este Eg. Conselho, naquela oportunidade, por unanimidade, rejeitou as preliminares e, no mérito, negou provimento ao recurso voluntário, conforme ementa a seguir: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2010 NULIDADES. INOCORRÊNCIA. A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, e não anual, conforme está determinado nas Leis nº 7.713, de 1988 e nº 8.134, de 1990. Correta a fórmula empreendida no lançamento. Não há afronta aos princípios constitucionais do contraditório e de ampla defesa, na medida em que foram Fl. 2349DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.350 30 discriminados mensalmente os valores aplicados e os resgatados em contas mantidas no exterior, conforme planilha que consta dos autos. Não padece de nulidade o Auto de Infração que seja lavrado por autoridade competente, com observância ao art. 142, do CTN, e arts. 10 e 59, do Decreto nº 70.235/72, contendo a descrição dos fatos e enquadramentos legais, permitindo ao contribuinte o pleno exercício do direito de defesa, mormente quanto se constata que o mesmo conhece minuciosamente a matéria fática e legal e exerceu, com lógica e nos prazos devidos, o seu direito. IRPF. DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS EXCEDENTE AO LUCRO PRESUMIDO. REQUISITOS. COMPROVAÇÃO POR MEIO DE ESCRITURAÇÃO COMERCIAL. FORMALIDADES. Não estão sujeitos ao imposto sobre a renda os lucros e dividendos pagos ou creditados a sócios, acionistas ou titular de empresa individual. No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido, poderá ser distribuída, sem incidência de imposto, parcela de lucros ou dividendos excedentes, desde que a empresa demonstre, através de escrituração contábil feita com observância da lei comercial, que o lucro efetivo é maior que o determinado segundo as normas para apuração da base de cálculo do imposto pelo lucro presumido. Sem prejuízo de exigências especiais da lei, é obrigatório o uso de Livro Diário, encadernado com folhas numeradas seguidamente, que deverá conter termos de abertura e de encerramento, e ser submetido à autenticação no órgão competente do Registro do Comércio. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. ANÁLISE DO FLUXO DE ORIGENS E DISPÊNDIOS. A apuração da variação patrimonial, para fins de imposto de renda, deve ser feita a partir de fluxo mensal de origens/receitas e dispêndios/aplicações, com base em documentação hábil e idônea. Compete ao contribuinte demonstrar eventuais vícios na apuração minuciosamente detalhada em planilhas elaboradas pela fiscalização. DILIGÊNCIAS. DESNECESSIDADE. Despicienda a determinação de diligências quando todas as provas necessárias à formar a convicção do julgador encontramse nos autos. Recurso Voluntário Negado. Fl. 2350DF CARF MF Processo nº 10437.720019/201411 Acórdão n.º 2401005.777 S2C4T1 Fl. 2.351 31 Dessa forma, sem razão à recorrente, estando, neste ponto, hígido o lançamento que ora se combate. Conclusão Ante o exposto, voto por CONHECER do Recurso Voluntário, para, no mérito, NERGARLHE PROVIMENTO, nos termos do relatório e voto. É como voto. Por fim, votaram pelas conclusões os Conselheiros Miriam Denise Xavier, José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro e Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez (Suplente Convocada), por entenderem pela necessidade de observância do prazo estipulado na IN SRF n° 16/84; Rayd Santana Ferreira, por entender que não houve perda da espontaneidade; e Andrea Viana Arrais Egypto, por estar adstrita ao relatório da acusação fiscal. (assinado digitalmente) Matheus Soares Leite Relator Fl. 2351DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10730.911188/2009-79
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Nov 06 00:00:00 UTC 2013
Ementa: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL
Exercício: 2007
ESTIMATIVAS. COMPENSAÇÃO.
O art. 11 da IN RFB nº 900, de 2008, que admite a restituição ou a compensação de valor pago a maior ou indevidamente de estimativa, é preceito de caráter interpretativo das normas materiais que definem a formação do indébito na apuração anual do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, aplicando-se, portanto, aos PER/DCOMP originais transmitidos anteriormente a 1º de janeiro de 2009 e que estejam pendentes de decisão administrativa.
Numero da decisão: 1302-001.226
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade, em dar provimento ao recurso voluntário, para determinar o retorno dos autos à Delegacia da Receita Federal de Niterói, com o fito de que continue na análise do PER/Dcomp nº n° 11858.86239.120107.1.3.04-5006, observando o disposto na Solução de Consulta Interna nº 19 - Cosit, de 5 de dezembro de 2011.
Nome do relator: Alberto Pinto Souza Júnior
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Recorrente AMPLA ENERGIA E SERVIÇOS LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Exercício: 2007 ESTIMATIVAS. COMPENSAÇÃO. O art. 11 da IN RFB nº 900, de 2008, que admite a restituição ou a compensação de valor pago a maior ou indevidamente de estimativa, é preceito de caráter interpretativo das normas materiais que definem a formação do indébito na apuração anual do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, aplicandose, portanto, aos PER/DCOMP originais transmitidos anteriormente a 1º de janeiro de 2009 e que estejam pendentes de decisão administrativa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade, em dar provimento ao recurso voluntário, para determinar o retorno dos autos à Delegacia da Receita Federal de Niterói, com o fito de que continue na análise do PER/Dcomp nº n° 11858.86239.120107.1.3.045006, observando o disposto na Solução de Consulta Interna nº 19 Cosit, de 5 de dezembro de 2011. ALBERTO PINTO SOUZA JUNIOR – Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Alberto Pinto Souza Junior, Márcio Frizzo, Waldir Rocha, Luiz Tadeu Matosinho, Guilherme Pollastri e Cristiane Costa.. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 73 0. 91 11 88 /2 00 9- 79 Fl. 150DF CARF MF Documento de 6 página(s) assinado digitalmente. Pode ser consultado no endereço https://cav.receita.fazenda.gov.br/eCAC/publico/login.aspx pelo código de localização EP10.1018.16149.G2X5. Consulte a página de autenticação no final deste documento. 2 A recorrente emitiu a Per/Dcomp (Pedido de Restituição e Declaração de Compensação) de fls. 90 a 94 pretendendo restituição, e posterior compensação, de pagamento a maior de estimativa de IRPJ referente ao mês de julho de 2006, no valor de R$ 1.073.667,16. O pleito da recorrente formalizado na Per/Dcomp nº 11858.86239.120107.1.3.045006 foi indeferido por tratarse de pagamento efetuado a título de estimativa, concluindo a autoridade a quo pela impossibilidade do pedido com este objeto – Despacho Decisório Eletrônico às fls. 85. A manifestação de inconformidade foi apresentada às fls. 01 a 09. A recorrente se insurgiu, em suma, contra o indeferimento dos pedidos com fulcro em Instrução Normativa editada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), sem respaldo em lei tributária. A Quarta Turma de Julgamento da DRJ no Rio de Janeiro/RJI, às fls. 117 e segs., proferiu o Acórdão nº 1232.818/10, indeferindo a Per/Dcomp, acompanhando a motivação que constou no Despacho Decisório. A recorrente, cientificada da decisão recorrida em 22/09/2010 (AR a fls 104) interpôs recurso voluntário em 22/10/2010 (doc. a fls. 105 a 117), no qual alega as seguintes razões: a) que o crédito utilizado na compensação efetuada pela RECORRENTE consiste na diferença decorrente do recálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) apurado para o periodo de Julho do ano 2006, efetuado em virtude dos efeitos das seguintes decisões judiciais proferidas nos autos do mandado de segurança impetrado pela ora RECORRENTE (à época, CERJ — Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro) contra ato do Delegado da Receita Federal no Rio de Janeiro (processo n° 98.02071293): a.1) Liminar de 10/02/1999, publicada em 05/03/19992, e sentença de 19/12/2001, publicada em 09/01/20023, ambas proferidas pelo Juízo da 1º Vara Federal de Niterói, autorizando a ora RECORRENTE a utilizar integralmente os prejuízos fiscais acumulados nos anos calendários de 1993, 1995 e 1996 contra lucros apurados no ano calendário de 1998 e seguintes, para fins de apuração do IRPJ e da Contribuição Social Sobre o Lucro (CSLL), sem as limitações previstas pelos artigos 42 e 58, "caput", da Lei nº 8.981/95 e pelos artigos 15 e 16 da Lei nº 9.065/95, sendo que, sob os efeitos de tais decisões (liminar e sentença), a ora RECORRENTE calculou e recolheu IRPJ e CSLL, de modo que o estoque de prejuízo fiscal acumulado esgotouse no mês de Março do ano 2006 e o estoque de base negativa de CSLL acumulada esgotou no mês de Dezembro do ano 2005 e assim, o IRPJ apurado para o período de 31/07/2006 foi de R$ 3.576.890,51, recolhido em 31/08/2006, por meio de DARF; a.2) Acórdão de 14/11/2006 e publicado em 14/12/2006, proferido pela Terceira Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (processo nº 1998.51.02.2071296), dando provimento ao recurso de apelação interposto pela União Federal contra a sentença mencionada no item acima e, em virtude da publicação de tal acórdão, a ora RECORRENTE decidiu recalcular as estimativas mensais de IRPJ e de CSLL aplicando as limitações previstas pelos artigos 42 e 58, "caput", da Lei nº 8.981/95 e pelos artigos 15 e 16 da Lei nº 9.065/95, resultando assim do recalculo efetuado pela Companhia, o valor da estimativa de IRPJ para o período de apuração 31/07/2006 passou a ser de R$ 2.503.223,35, tendo este valor sido devidamente declarado em DCTF e em DIPJ; b) que, em decorrência do recálculo efetuado pela ora RECORRENTE, gerouse um recolhimento a maior de tributo no valor de R$ 1.073.667,16 que foi utilizado para compensação através do PER/DCOMP n° 11858.86239.120107.1.3.045006, entregue em 12/01/2007; Fl. 151DF CARF MF Documento de 6 página(s) assinado digitalmente. Pode ser consultado no endereço https://cav.receita.fazenda.gov.br/eCAC/publico/login.aspx pelo código de localização EP10.1018.16149.G2X5. Consulte a página de autenticação no final deste documento. Processo nº 10730.911188/200979 Acórdão n.º 1302001.226 S1C3T2 Fl. 151 3 c) que o valor do crédito fica assim retratado: Data Valor em R$ IRPJ recolhido (DARF 31/08/2006 (+) 3.576.890,51 IRPJ devido 31/08/2006 () 2.503.223,35 Crédito decorrente de recolhimento a maior de IRPJ (=) 1.073.667,16 d) que a decisão recorrida julgou improcedente sua manifestação de inconformidade com base nos seguintes argumentos: d.1) à época da compensação efetuada pela ora RECORRENTE não era possível a utilização de estimativa mensal para fins de compensação antes de encerrado o ano calendário, por força do art. 10 da Instrução Normativa n° 600/2005; d.2) o rol de vedações que consta do art.74 da Lei n° 9.430/96 é enumerativo; d.3) a Receita Federal possui poderes conferidos pelo legislador para disciplinar o procedimento de compensação de tributos por ela administrados; d.4) o julgador administrativo de primeira instância não pode negar aplicação a um ato normativo da Receita Federal em face do dever de observância imposto pela Portaria MF n° 58/2006; d.5) o fato de o art.11 da Instrução Normativa n° 900/2006 ter removido a restrição à compensação de estimativa mensal recolhida indevidamente ou a maior no mesmo anocalendário não legitima a pretensão da ora RECORRENTE de fazer retroagir a referida norma; d.6) a jurisprudência do STJ já expressou o entendimento de que o processamento da compensação subordinase à legislação vigente no momento do encontro de contas; e) que o valor do crédito pleiteado na declaração de compensação não homologada pelo v. acórdão recorrido resta devidamente comprovado; f) que a RECORRENTE pugna pelo reconhecimento da comprovação do crédito decorrente da diferença demonstrada no item 2.2, referente ao valor recolhido a maior do que o apurado a titulo de estimativa mensal de IRPJ; g) que a Ficha de Débito Apurado e Créditos Vinculados da DCTF, no código 236201, relativa ao mês de Julho de 2006 (doc.7 da Manifestação de Inconformidade), na qual consta que o valor do débito apurado do IRPJ foi de R$ 2.503.223,35, com as seguintes informações que evidenciam o pagamento a maior no valor de 1.073.667,16; h) que a Ficha 11 da DIPJ no mês de Julho de 2006 (doc.8 da Manifestação de Inconformidade), na qual consta que o valor do IRPJ apurado foi de R$ 1.073.667,16; i) que acórdão recorrido não merece prosperar, uma vez que não se pronunciou sobre a validade das informações prestadas em DIPJ e em DCTF, o que, no entender da RECORRENTE, limitou o alcance do julgamento administrativo de 1º instância; j) que o crédito pleiteado na declaração de compensação (referente ao valor recolhido a maior do que o apurado a tftulo de estimativa mensal) caracteriza pagamento indevido para fins do art. 165 do Código Tributário Nacional e do art. 74 da Lei n° 9.430/96; Fl. 152DF CARF MF Documento de 6 página(s) assinado digitalmente. Pode ser consultado no endereço https://cav.receita.fazenda.gov.br/eCAC/publico/login.aspx pelo código de localização EP10.1018.16149.G2X5. Consulte a página de autenticação no final deste documento. 4 l) que, ao contrario do manifestado pela autoridade administrativa a quo, a jurisprudência administrativa do CARF já reconheceu a possibilidade de se compensar estimativas mensais dentro do mesmo anocalendário, com base no art. 165 do CTN; m) que não há fundamento para a homologação da compensação pelo v. acórdão recorrido, tampouco para a cobrança de quaisquer débitos compensados com crédito decorrente do pagamento a maior efetuado pela RECORRENTE por meio do DARF de 31/08/2006, pelo fato de ter se amparado na melhor jurisprudência para não ter constituído saldo negativo no anocalendário 2006, e sim, utilizado o crédito em PER/DCOMP; n) que o antigo Conselho de Contribuintes, no acórdão n° 10516205, já se pronunciou no sentido de que o montante que exceder à estimativa mensal apurada conforme legislação especifica poderá ser compensado durante o mesmo anocalendário, afirmando que os recolhimentos feitos acima dos valores apurados seguindo as regras de estimativa mensal previstas na legislação são recolhimentos indevidos e, por essa razão, passíveis de restituição/ compensação; o) que o art. 10 da IN 600/2005 não tinha amparo em lei; p) que nunca pretendeu aplicar a Instrução Normativa n° 900/2008 para legitimar a compensação pleiteada, masque citou a IN 900/2008 apenas para demonstrar a ilegalidade da restrição do art. 10 da IN 600/2005 que sequer foi mantida; q) que estava devidamente autorizada por lei a efetuar a compensação do valor que recolheu a maior (art. 165 do CTN e art. 74 da Lei n° 9.430/96) e que a restrição à compensacão prevista no art. 10 da Instrução Normativa n° 600/2005 exorbitou o poder da Receita Federal do Brasil (previsto no §12 do art. 74 da Lei n° 9.430/96) de disciplinar as normas aplicáveis à utilizacão de créditos na compensação; r) que reafirma também que a não conversão da Medida Provisória n°449/2009 em lei torna ainda mais flagrante a ausência de previsão legal impedindo a compensação do recolhimento de valor maior que o apurado de estimativa mensal de IRPJ e de CSLL. É o relatório. Voto Conselheiro Alberto Pinto Souza Junior. O recurso voluntário é tempestivo e foi subscrito pelo representante legal da recorrente , razão pela qual dele conheço. A recorrente apresentou ao Fisco o PER/DCOMP de n° 11858.86239.120107.1.3.045006, por meio do qual pretendeu compensar débitos de IRPJ Estimativa referentes ao AC 2005, mediante aproveitamento de um crédito no valor de R$ 1.073.667,16, decorrente do pagamento a maior da estimativa de IRPJ do mês de JULHO/2006. Todavia, a compensação não foi homologada, porque, conforme despacho decisório a fls. 105, “a improcedência do crédito informado no PER/DCOMP por tratarse de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, caso em que o recolhimento somente pode ser utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro liquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do Fl. 153DF CARF MF Documento de 6 página(s) assinado digitalmente. Pode ser consultado no endereço https://cav.receita.fazenda.gov.br/eCAC/publico/login.aspx pelo código de localização EP10.1018.16149.G2X5. Consulte a página de autenticação no final deste documento. Processo nº 10730.911188/200979 Acórdão n.º 1302001.226 S1C3T2 Fl. 152 5 período”. A decisão recorrida (a fls. 118 e segs.), datada de 18/08/2010, por sua vez, confirmou o despacho decisório, por entender que: “Na vigência da Instrução Normativa SRF nº 600, de 28/12/2005, a pessoa jurídica tributada pelo lucro real anual que tivesse efetuado recolhimento indevido ou a maior a titulo de estimativa mensal somente poderia utilizar o valor do indébito na dedução do IRPJ ou CSLL devidos ao fim do anocalendário ou para compor o saldo negativo do período em questão”. Com efeito, as disposições das Instruções Normativas SRF 460/2004 e 600/2005, vigorava à época do pedido sub examine, claramente suportavam o que fora decidido no despacho decisório acima referido. Com a edição da Instrução Normativa RFB 900/2008, revogada pela IN RFB 1.300/2012, tal entendimento foi alterado, pois o novo normativo deixou de contemplar o texto que negava aos contribuintes a possibilidade de compensação das estimativas pagas indevidamente ou a maior no curso do exercício. Com isso, durante algum tempo houve dúvida sobre a possibilidade de se aplicar o disposto na IN RFB 900/2008 aos PER/DCOMP apresentados antes da publicação de tal normativo. Entretanto tal dúvida foi dirimida e o entendimento da decisão recorrida, ora em exame, já está superado no âmbito da própria Receita Federal, se não vejamos como dispõe a ementa da Solução de Consulta Interna nº 19 – Cosit, de 5 de dezembro de 2011, in verbis: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO ESTIMATIVAS. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RESTITUIÇÃO E COMPENSAÇÃO. O art. 11 da IN RFB nº 900, de 2008, que admite a restituição ou a compensação de valor pago a maior ou indevidamente de estimativa, é preceito de caráter interpretativo das normas materiais que definem a formação do indébito na apuração anual do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, aplicandose, portanto, aos PER/DCOMP originais transmitidos anteriormente a 1º de janeiro de 2009 e que estejam pendentes de decisão administrativa. Caracterizase como indébito de estimativa inclusive o pagamento a maior ou indevido efetuado a este título após o encerramento do período de apuração, seja pela quitação do débito de estimativa de dezembro dentro do prazo de vencimento, seja pelo pagamento em atraso da estimativa devida referente a qualquer mês do período, realizado em ano posterior ao do período da estimativa apurada, mesmo na hipótese de a restituição ter sido solicitada ou a compensação declarada na vigência das IN SRF nº 460, de 2004, e IN SRF nº 600, de 2005. A nova interpretação dada pelo art. 11 da IN RFB nº 900, de 2008, aplica se inclusive aos PER/DCOMP retificadores apresentados a partir de 1º de janeiro de 2009, relativos a PER/DCOMP originais transmitidos durante o período de vigência da IN SRF nº 460, de 2004, e IN SRF nº 600, de 2005, desde que estes se encontrem pendentes de decisão administrativa. Dispositivos Legais: Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, arts. 2º e 74; IN SRF nº 460, de 18 de outubro de 2004; IN SRF nº 600, de 28 de dezembro de 2005; IN RFB nº 900, de 30 de dezembro de 2008. Cabe, ainda, salientar que tal entendimento encontra amparo na Súmula CARF nº 84, in verbis: Fl. 154DF CARF MF Documento de 6 página(s) assinado digitalmente. Pode ser consultado no endereço https://cav.receita.fazenda.gov.br/eCAC/publico/login.aspx pelo código de localização EP10.1018.16149.G2X5. Consulte a página de autenticação no final deste documento. 6 “Pagamento indevido ou a maior a título de estimativa caracteriza indébito na data de seu recolhimento, sendo passível de restituição ou compensação.”. Em face do exposto, voto por dar provimento ao recurso e determinar o retorno dos autos à Delegacia da Receita Federal de Niterói, para que continue na análise do PER/Dcomp nº n° 11858.86239.120107.1.3.045006, observando o disposto na Solução de Consulta Interna nº 19 – Cosit, de 5 de dezembro de 2011. Fl. 155DF CARF MF Documento de 6 página(s) assinado digitalmente. Pode ser consultado no endereço https://cav.receita.fazenda.gov.br/eCAC/publico/login.aspx pelo código de localização EP10.1018.16149.G2X5. Consulte a página de autenticação no final deste documento. PÁGINA DE AUTENTICAÇÃO O Ministério da Fazenda garante a integridade e a autenticidade deste documento nos termos do Art. 10, § 1º, da Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001 e da Lei nº 12.682, de 09 de julho de 2012. Documento produzido eletronicamente com garantia da origem e de seu(s) signatário(s), considerado original para todos efeitos legais. Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001. Histórico de ações sobre o documento: Documento juntado por ALBERTO PINTO SOUZA JUNIOR em 08/11/2013 20:55:17. Documento autenticado digitalmente por ALBERTO PINTO SOUZA JUNIOR em 08/11/2013. Documento assinado digitalmente por: ALBERTO PINTO SOUZA JUNIOR em 08/11/2013. Esta cópia / impressão foi realizada por MARIA MADALENA SILVA em 10/10/2018. Instrução para localizar e conferir eletronicamente este documento na Internet: EP10.1018.16149.G2X5 Código hash do documento, recebido pelo sistema e-Processo, obtido através do algoritmo sha1: 05AEAC04CD527715F3FCF6623EC9BCCF81AFB5B8 Ministério da Fazenda 1) Acesse o endereço: https://cav.receita.fazenda.gov.br/eCAC/publico/login.aspx 2) Entre no menu "Legislação e Processo". 3) Selecione a opção "e-AssinaRFB - Validar e Assinar Documentos Digitais". 4) Digite o código abaixo: 5) O sistema apresentará a cópia do documento eletrônico armazenado nos servidores da Receita Federal do Brasil. página 1 de 1 Página inserida pelo Sistema e-Processo apenas para controle de validação e autenticação do documento do processo nº 10730.911188/2009-79. Por ser página de controle, possui uma numeração independente da numeração constante no processo.
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Numero do processo: 16095.720038/2012-72
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 25 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Oct 30 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010
OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE.
Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro/instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo). A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria pela adquirente, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro, então mercadoria, beneficiar-se dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição para a COFINS.
Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010
OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE.
Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro/instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo). A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria pela adquirente, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro, então mercadoria, beneficiar-se dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição para o PIS.
Recurso Voluntário Negado
Crédito Tributário Mantido
Numero da decisão: 3402-005.582
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. Vencidos os Conselheiros Diego Diniz Ribeiro, Renato Vieira de Avila (suplente convocado) e Cynthia Elena de Campos que davam provimento. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro apresentou declaração de voto, lida em sessão. O Conselheiro Renato Vieira de Avila (suplente convocado) votou pelas conclusões da divergência.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Presidente.
(assinado digitalmente)
Pedro Sousa Bispo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Waldir Navarro Bezerra (presidente da turma), Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Diego Diniz Ribeiro, Cynthia Elena de Campos, Renato Vieira de Ávila (suplente convocado), Pedro Sousa Bispo e Rodrigo Mineiro Fernandes.
Nome do relator: PEDRO SOUSA BISPO
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010 OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro/instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo). A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria pela adquirente, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro, então mercadoria, beneficiar-se dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição para a COFINS. Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010 OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro/instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo). A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria pela adquirente, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro, então mercadoria, beneficiar-se dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição para o PIS. Recurso Voluntário Negado Crédito Tributário Mantido
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010 OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro/instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo). A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria pela adquirente, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro, então mercadoria, beneficiarse dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição para a COFINS. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010 OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro/instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo). A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria pela adquirente, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro, então mercadoria, beneficiarse dos créditos por AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 09 5. 72 00 38 /2 01 2- 72 Fl. 985DF CARF MF 2 ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição para o PIS. Recurso Voluntário Negado Crédito Tributário Mantido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. Vencidos os Conselheiros Diego Diniz Ribeiro, Renato Vieira de Avila (suplente convocado) e Cynthia Elena de Campos que davam provimento. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro apresentou declaração de voto, lida em sessão. O Conselheiro Renato Vieira de Avila (suplente convocado) votou pelas conclusões da divergência. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Presidente. (assinado digitalmente) Pedro Sousa Bispo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Waldir Navarro Bezerra (presidente da turma), Maria Aparecida Martins de Paula, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Diego Diniz Ribeiro, Cynthia Elena de Campos, Renato Vieira de Ávila (suplente convocado), Pedro Sousa Bispo e Rodrigo Mineiro Fernandes. Relatório Por bem relatar os fatos, adoto o relatório do acórdão recorrido com os devidos acréscimos: Neste processo está se discutindo a glosa de créditos em todos os meses do ano 2010 das contribuições da Cofins e do PIS (fl. 171), que geram por consequência, após sua recomposição e apuração, débitos das citadas contribuições em alguns meses do ano 2010 (fl. 172 a 173), sendo necessário a lavratura de Autos de Infração para constituição de crédito tributário das contribuições (Cofins fls. 179 a 188, e PIS fls. 174 a 178), conforme Relatório Fiscal / Termo de Constatação de Irregularidades Fiscais (TCIF, fls. 158 a 170) e planilhas anexas (fls. 171 a 173, em formato PDF), cuja ciência ocorreu em 02/03/2012 (fl. 189). Glosas essas relacionadas a não consideração da aquisição do ouro ativo financeiro / instrumento cambial como gerador de créditos da não cumulatividade, adquirido de Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs). Abaixo os valores envolvidos no lançamento, das respectivas contribuições, bem como descrição da infração: Fl. 986DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 986 3 No TCIF a autoridade fiscal assim relatou, parcialmente, o presente lançamento (com destaques nossos): [...] Na sequência, passouse a conferir os diversos aspectos envolvidos na apuração dos saldos credores mensais solicitados no período de janeiro de 2010 a dezembro de 2010, quais sejam, o efetivo cálculo mensal das contribuições e a apuração dos valores deduzidos a título de crédito naqueles períodos. Para este último bloco de verificações (conferenciardes cálculo das contribuições e dos valores deduzidos a título de crédito) foram utilizados os arquivos da Escrituração Fiscal Digital ICMS/IPI (EFDICMS/IPI) gerada pelo Contribuinte, apoiada, quando necessário, pelo exame da Escrituração Contábil Digital, transmitida pelo Sistema Público de Escrituração Digital (ECD SPED), e de documentos de suporte dos lançamentos. No que diz respeito ao cálculo da Contribuição verificamos que o Contribuinte procedeu em acordo com as normas legais que direcionam esta atividade, sendo que suas receitas que não Fl. 987DF CARF MF 4 foram incluídas no cálculo, de fato, representam hipóteses de não incidência das contribuições (exportações ou vendas a empresa comercial exportadora), ou de alíquota zero (vendas para empresas localizadas na Zona Franca de Manaus e Receitas Financeiras). Com relação à conferência dos valores utilizados para compor a base de cálculo dos créditos das contribuições, percebeuse que o Contribuinte utilizou em sua composição, na linha "Bens Utilizados como Insumos" de todos os meses do período verificado, valores correspondentes a aquisições de ouro adquirido de empresas distribuidoras de títulos e valores mobiliários (DTVMs). A inclusão deste tipo de operação na base de cálculo dos créditos mereceu uma análise mais detalhada. Por isto o Contribuinte foi intimado, como dito, em 29 de novembro de 2011 a apresentar os documentos que ampararam tais transações, de forma a esclarecer o seu efetivo direito ao crédito. De acordo com os elementos apresentados em resposta à intimação, bem como em pesquisas efetuadas junto ao Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), pôdese concluir que o Contribuinte adquiriu, através das operações relacionadas em anexo, ouro de instituições financeiras, mais especificamente, distribuidoras de títulos e valores mobiliários(DTVMs), que têm autorização do Banco Central do Brasil para praticar operações de compra e venda de no mercado físico de ouro, por conta própria ou de terceiro. Vale observar que o ouro pode ser classificado como ativo financeiro ou como mercadoria, dependendo de sua destinação. Considerase ativo financeiro quando destinado ao mercado financeiro, ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional (art. 1º, Lei nº 7.766, de 11/05/89). Em relação ao caso em questão, não restam dúvida que as Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM) são instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, autorizadas pelo Banco Central a realizar operações financeiras. Nesse mesmo sentido, ou seja, que o ouro adquirido é ouro financeiro, observamos que sua aquisição sempre esteve acompanhada da Nota Fiscal de Remessa de Ouro, e de Nota fiscal de Nota Fiscal de Negociação de Ouro, documentos instituídos pela Instrução Normativa SRF N° 49/2001, e de emissão exclusiva em operações com o ouro, quando definido como ativo financeiro ou instrumento cambial:[...] Diante das características descritas, concluise que as operações de aquisição de ouro de DTVMs são tipicamente operações financeiras, não podendo ser confundidas com aquisições ordinárias de matériaprima, mesmo considerando que o comprador assim as classifique em seus registros contábeis e fiscais, e que as utilize de fato em seu processo produtivo. Mesmo que o propósito do comprador, no momento da Fl. 988DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 987 5 realização da operarão seja a utilização do ouro como matéria prima, a operação em si, considerada as partes intervenientes, e principalmente as regras de controle do Sistema Financeiro Nacional, é tipicamente de natureza financeira. Vale dizer que diante do fato do fornecedor de ouro ser instituição financeira, e das características dos documentos fiscais emitidos na operação, o Contribuinte não pode deixar de admitir que tenha praticado uma operação tipificada financeira, independentemente do "animus" em relação à utilização do produto adquirido. A importância da caracterização das aquisições de ouro como financeira está ligada à análise da tributação nessas operações pelo PIS e pela COFINS (Contribuições). As operações envolvendo o ouro ativo financeiro não sofrem a incidência dessas Contribuições, uma vez que não são definidas como seu fato gerador, pela legislação. O ouro, quando definido pela lei como ativo financeiro, tem um tratamento muito específico, que se inicia com o disposto no § 5º, do artigo 153, da nossa Constituição:[...] A Lei 7.766/89 define o conceito de ouro artigo1º: [...] O dispositivo presente no artigo acima prevê a dimensão e a abrangência do conceito de ouro financeiro, e permite a criação de toda uma cadeia, desde a etapa da mineração até as mais sofisticadas negociações financeiras envolvendo o metal. Por força do também citado § 5º, do artigo 153, da Constituição Federal, esta cadeia fica totalmente franqueada da incidência de outros tributos que não sejam o IOF, sendo esta incidência prevista para uma única etapa da cadeia, a compra do ativo por qualquer instituição financeira autorizada pelo Banco Central do Brasil, o que também é corroborado pelos artigo 4º e 8º da Lei 7.766/89:[...] Destaquese que a operação praticada pelo Contribuinte, onde adquiri ouro de Instituição Financeira, subsumese integralmente ao disposto no § 2º , do artigo 1º, da Lei 7.766/89, onde é definido que operações de compra do metal no mercado de balcão são operações financeiras. A tributação das atividades financeiras pela Contribuição para o PIS e pela COFINS incide sobre suas receitas, assim consideradas conforme a definição do Plano de Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF). Uma característica da atividade financeira, que é refletida no COSIF, é a de reconhecer como receita o produto da intermediação financeira, que, na essência, é o objeto social dessas instituições. Assim, nos casos em que estas instituições transacionam com valores mobiliários, ou quaisquer outros ativos financeiros, é pacifico que o valor registrado a titulo de receita é o ganho ou a renda auferida na transação, seja ela de compra ou venda do ativo. O valor do ativo transacionado não compõe o conceito da receita das instituições financeiras, como ocorre na empresa comercial, ou industrial. Fl. 989DF CARF MF 6 Diante disto, quando os artigos 1º e 2º , da Lei 9.718/98, definem a incidência do COFINS sobre a Receita Bruta da Pessoa Jurídica, o intérprete deve entender, no caso de uma instituição financeira, que esta incidência se dá sobre o valor da receita auferida (fato gerador) tomando esta conforme as normas de contabilidade bancária assim a definem, e não sobre o valor da transação realizada. A propósito, esta transação, estritamente considerada, pode nem resultar em receita, uma vez que pode haver perda na alienação de qualquer ativo. Dito isto, não pode ser aceita a argumentação no sentido de que a operação de venda de ouro financeiro por Instituição Financeira seria uma operação sujeita ao pagamento das Contribuições. E isto se opera pelo simples fato de que esta operação (a alienação de ativo financeiro) não é enquadrada no conceito de receita, pelo COSIF. Desta forma, considerando esta não incidência das Contribuições na operação de venda de ouro financeiro, as operações de aquisição do metal de DTVMs enquadramse nos dispositivos previstos pelo § 2º, inciso II, do artigo 3º, das Leis 10.637/2002, e 10.833/2003:[...] É oportuno lembrar que a forma de tributação pelo PIS e pela COFINS das Instituições Financeiras é disciplinada pelo artigo 95, da Instrução Normativa SRF N° 247/2002. Basicamente, este dispositivo prevê que a base de cálculo mensal das Contribuições das Instituições Financeiras seja apurada com o apoio da planilha prevista no anexo I da Instrução Normativa, onde as receitas das instituições financeiras, ao final de cada mês, seguindo a planificação contábil do Sistema Financeiro Nacional (COSIF), são enumeradas. Entre estas receitas, podemos encontrar a denominada "Rendas de Aplicações em Ouro", código 7.1.5.70.002. Segundo as instruções do Banco Central do Brasil, a função desta conta é registrar os ajustes positivos nas aplicações temporárias em ouro, que constituam receita efetiva da instituição no período. A tributação dessa receita não se confunde de maneira nenhuma com a tributação da transmissão da propriedade do ativo financeiro. O fato de um eventual rendimento auferido na alienação do ouro financeiro (eventual) porque pode ser que haja perdas neste tipo de operação, também significa que toda a operação de alienação do ativo tenha sido submetida à tributação. É fundamental perceber que o conceito técnico contábil de Receita não envolve o valor da movimentação do ativo financeiro. Prova disso é que não encontramos no Plano de Contas das Instituições do Sistema Financeiro, dentre as receitas operacionais, qualquer item que pudesse representar o valor total da alienação de um ativo, como "receita da venda de ouro", ou receita da "venda de ações", ou ainda "receita da venda de recebíveis". O próprio conceito de receita, nas Instituições Financeiras, restringese ao valor do rendimento na operação, o que não inclui o valor do ativo negociado. Fl. 990DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 988 7 Por ocasião da resposta ao Termo de Intimação de 29 de novembro de 2011, o Contribuinte cita em socorro de sua tese (legitimidade da utilização das aquisições de ouro financeiro na base de cálculo de seus créditos das Contribuições) o artigo 22, da Instrução Normativa SRF N° 247/2002, extraindo dele que "as Instituições Financeiras estão sujeitas ao pagamento do PIS e COFINS por ocasião da alienação dos ativos financeiros". Na verdade, o que de fato está disposto neste artigo é que as receitas auferidas (receitas assim consideradas de acordo com o COSIF ) pela Instituição Financeira, produzidas em decorrência de avaliações de seus títulos e valores mobiliários a preço de mercado, somente participarão da composição da base de cálculo a partir do momento da alienação do ativo. Ou seja, o dispositivo não se preocupa alterar a definição do fato gerador ou da base de cálculo, mas sim em definir o aspecto temporal da incidência. Também em sua defesa o Contribuinte comenta que no caso do PIS e COFINS, os contribuintes podem descontar créditos sobre os custos incorridos em valor superior ao pago na etapa anterior da cadeia, reforçandose com a citação de reposta de Consulta Tributária. Este comentário, porém, não atinge o centro da questão que aqui se discute. Não se trata de considerar que houve incidência na operação anterior, com um recolhimento inferior de Contribuições, como acontece, por exemplo, no caso de aquisições de mercadorias de empresa que apura as Contribuições no regime cumulativo. Tratase, sim, de considerar que não houve incidência na operação anterior, uma vez que, como já exaustivamente demonstrado, o valor da alienação de um ativo financeiro ou valor mobiliário não se confunde com a receita financeira eventualmente auferida. O conceito de base de cálculo é em regra elemento indissociável conceito de fato gerador. A base de cálculo, salvo nos casos expressamente previstos em lei, é nada mais nada menos do que a expressão quantitativa do fato gerador. Se o fato gerador das Contribuições é auferir receita bruta, a base de cálculo é o valor receita auferida! Assim, se o fato gerador, no caso de movimentação de ouro financeiro é o fato da instituição auferir receita financeira, a expressão econômica desta operação é o valor desta receita financeira, e não o valor desta receita somado ao valor do ativo financeiro. Diferentemente, numa operação comercial, o fato gerador é auferir a receita da venda das mercadorias. Assim a base de cálculo das Contribuições neste caso é a receita da venda das mercadorias, e não o lucro bruto apurado na operação. Pelo exposto, concluise que a empresa não poderia ter utilizado os valores provenientes da aquisição de ouro financeiro para compor a base de cálculo de seus créditos. E não haveria nenhum sentido que diferente fosse. Fl. 991DF CARF MF 8 Como visto, toda a cadeia do ouro financeiro é livre da incidência do PIS e da COFINS. Desde a saída de empresa mineradora, as Contribuições não incidem, ou por força da não incidência Constitucional (art. 153, § 5º) , ou pela incidência da alíquota zero, prevista no artigo 1º, do Decreto 5.442/2005:[...] Notese que o assunto "ouro como ativo financeiro ou mercadoria" já foi amplamente abordado pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional em seu Parecer PGFN/CRJ nº 0957, de 22/07/1999 publicado no DOU de 10/08/1999, Seção I, p 1, cujo texto, em parte, está transcrito a seguir:[...] Se não há incidência, em nenhuma dessas etapas foi recolhido qualquer valor a título de Contribuições. Sendo assim, não há qualquer valor de Contribuição acumulado na cadeia de comercialização que justifique crédito por parte de quem adquiriu este ouro financeiro e o desviou para a utilização como matériaprima em seu processo industrial. Mesmo que consideremos os valores recolhidos no fornecimento de insumo à pessoa jurídica mineradora de ouro, esses valores seriam passíveis de aproveitamento ou ressarcimento a essa empresa, por força do disposto no artigo 27, inciso II, da Instrução Normativa SRF N° 900/2008, ficando assim garantido o direito de que esta cadeia seja expurgada de qualquer incidência das contribuições. Assim, se admitido o crédito na aquisição de ouro financeiro, a adquirente ficaria em uma posição econômica imensamente favorecida em relação à empresa que trabalhasse com o ouro mercadoria, pois este produto certamente lhe custaria mais caro, uma vez que viria "carregado" pela incidência das Contribuições nas etapas precedentes do processo de produção. O princípio da nãocumulatividade tem por finalidade precípua a garantia de que o tributo pago nas etapas anteriores de uma cadeia de produção e/ou comercialização não incida em cascata nas operações subsequentes. O mecanismo do crédito é a forma pelo qual o princípio da nãocumulatividade se faz eficaz. Assim o direito ao crédito só se justifica quando há incidência de contribuição em etapas antecedentes de uma cadeia de produção / comercialização. Se esta incidência não existe, o crédito não faz o menor sentido. A não ser que haja um claro propósito do legislador no sentido de incentivar uma determinada atividade. Porém, mesmo neste último caso, o benefício deve ser expressamente previsto na lei. Se não bastasse o todo exposto, foi observado durante a auditoria fiscal que o Contribuinte destina vendas com o código fiscal de operação e prestação (CFOP) 6109, que se trata de venda de produção do estabelecimento destinada a Zona Franca de Manaus ou Áreas de Livre Comércio. Por se tratar de venda para a Zona Franca de Manaus, essas saídas são tributadas à alíquota zero de PIS/COFINS. Nesta operação, destacase como cliente a empresa COIMPA INDUSTRIAL LTDA, CNPJ 04.222.428/000130, a qual a empresa objeto da presente ação fiscal detém um percentual de 99,97% do capital (conforme consta da base de dados da RFB). Fl. 992DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 989 9 Em alguns casos a venda realizada tratase de apenas, e somente, ouro em lingotes, ou seja, o mesmo ouro adquirido nas DTVM's. Estamos, assim, presenciando a seguinte situação. O Contribuinte adquire o ouro financeiro sem a tributação do PIS/COFINS. Revende o mesmo ouro para um empresa em que, claramente, detém o controle acionário, mas tributado à alíquota zero de PIS/COFINS. E, por fim, pleiteia o crédito que em nenhum momento foi recolhido ao Erário. Ao analisar situação semelhante àquela que nos é aqui apresentada, a Delegacia de Julgamento da Receita Federal em Porto Alegre decidiu em consonância com o raciocínio aqui desenvolvido, embora naquele caso, a empresa recorrente teria se utilizado de valores de aquisição de ouro financeiro na composição da base de cálculo do crédito presumido de IPI, que visaria justamente o ressarcimento de valores que teriam incididos a titulo de PIS e de COFINS na cadeia de produtiva de produtos exportados. [...] INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO DAS CONTRIBUIÇÕES PARA O PIS E PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL (PIS E COFINS) Diante de todo o exposto, foi formulada proposta de DEFERIMENTO PARCIAL dos valores solicitados nos PERDCOMPs. Em alguns períodos de apuração, a glosa do crédito das Contribuições efetuadas na aquisição de ouro, quando adquirido de empresas Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, foi superior ao valor apurado a titulo de saldo credor, resultando na constatação da insuficiência de declaração e recolhimento das Contribuições naqueles períodos, conforme demonstrado no "Demonstrativo da Apuração da Insuficiência de Recolhimento das Contribuições", anexo ao presente termo. Os valores ali apurados serão lançados de oficio, mediante lavratura de Autos de Infração.[...] No demonstrativo "Cálculo Valores das Glosas" do TCIF a autoridade fiscal relacionou, mês a mês, os valores dos créditos da Cofins e do PIS glosados (com base nos valores das notas fiscais, conforme, fl. 171). Demonstrou em resumo os valores no TCIF que tais glosas (linhas "(+) Valor da Glosa") refletiram nos PerDcomps apresentados, conforme "Demonstrativo da Apuração da Insuficiência de Recolhimento das Contribuições" para o PIS e para a Cofins, fls. 172 e 173, linhas "(=) Crédito Ressarcível" ou geraram débitos a lançar conforme linha "(=) Insuficiência de Declaração/Pagamento". Por sua vez o contribuinte apresentou sua impugnação (fls. 196 a 230), em 23/03/2012, com extensos arrazoados nos seguintes tópicos: l. Dos fatos; 2. Do direito; 2.1. Da tempestividade; 2.2. Da tributação do ouro autorizada pela Constituição Federal; 2.3. Da classificação do ouro: relevância da destinação dada ao bem; 2.4. Do direito ao desconto de créditos de PIS e de COFINS nas aquisições de ouro ativo financeiro como insumo; 2.5. Da nãocumulatividade do PIS e da COFINS e da irrelevância do regime de tributação a que esteja submetido o Fl. 993DF CARF MF 10 fornecedor dos bens. 2.6 Das operações com a Zona Franca de Manaus. 3. Do pedido. A seguir parte dos argumentos trazidos: [...] A Impugnante é sociedade empresária que se dedica à industrialização comercialização, importação e exportação de produtos manufaturados e semimanufaturados, especialmente de metais preciosos e outros metais, prezando sempre pelo fiel cumprimento de suas obrigações. Por força de suas atividades operacionais, a Impugnante regularmente acumula créditos de PIS e COFINS decorrentes da sistemática nãocumulativa dessas contribuições, prevista nas Leis nºs 10.637/02 e 10.833/03. [...] Após análise de toda documentação contábil e fiscal da Impugnante, a Receita Federal do Brasil (RFB) houve por bem glosar parte do crédito pleiteado, especificamente no que tange aos valores oriundos de aquisições de ouro de Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários DTVMs. [...] Por consequência da glosa dessa parte do crédito, a RFB, nos meses em que houve saldo devedor (junho, agosto, setembro, outubro e novembro de 2010), procedeu à constituição de crédito tributário. [...] A glosa dos créditos de PIS e de COFINS, derivados da aquisição de ouro ativo financeiro, de acordo com o descrito no TVCIF pela D. Autoridade de Fiscalização, teria se verificado, em síntese, em face do seguinte: [...] Ocorre que, entretanto, que referido entendimento não pode prosperar, uma vez que o crédito glosado é legítimo, eis que: 1. A alienação do ouro, ativo financeiro ou não, em todas as etapas de sua cadeia, sujeitase ao pagamento da contribuição ao PIS e da COFINS: 2. O ouro ativo financeiro, se e enquanto de propriedade de instituições financeiras, sujeitase à contribuição do PIS e à COFINS; 3. O ouro ativo financeiro, quando adquirido como insumo e desde que obedecidas as condições impostas pela legislação, permite o desconto de créditos das contribuições; 4. O ouro adquirido pela Impugnante é insumo de seu processo industrial, afirmação feita a partir da destinação dada pela adquirente ao bem; e 5. As operações realizadas com contribuintes localizados na Zona França de Manaus, nos termos da legislação vigente, de modo algum permite a acumulação de créditos inexistentes. [...] Dessa forma, considerando que a incidência da contribuição ao PIS e da COFINS é o faturamento, assim entendido a receita bruta auferida e não a operação com o bem ou serviço em si, podese notar que o ouro, seja ele ativo financeiro ou mercadoria, em todas as etapas de sua cadeia, indiscutivelmente sujeitase à incidência de tais contribuições. Essa é a única conclusão possível de se construir a partir da Constituição Federal. [...] Apesar de fincar orientação de que o elemento norteador da natureza jurídica da operação com o ouro é a sua destinação, a fiscalização, nos parágrafos seguintes, defende que o simples Fl. 994DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 990 11 fato de uma instituição financeira participar da relação negocial envolvendo o ouro acarreta a conclusão de que o referido metal será sempre um ativo financeiro (e nunca mercadoria). Vejamos: [...] Da mera leitura do trecho acima, depreendemos que a fiscalização simplesmente abandonou a importância da destinação para valorar exclusivamente as pessoas envolvidas na operação. Nada mais equivocado e desprovido de fundamento legal. A Lei n. 7.766/89 define claramente que o ouro será considerado ativo financeiro quando destinado ao mercado financeiro (o que não é o caso), in ver bis: Art. 1º O ouro em qualquer estado de pureza, em bruto ou refinado, quando destinado ao mercado financeiro ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, na forma e condições autorizadas pelo Banco Central do Brasil, será desde a extração, inclusive, considerado ativo financeiro ou instrumento cambial. § 1º Enquadrase na definição deste artigo: I o ouro envolvido em operações de tratamento, refino, transporte, depósito ou custódia, desde que formalizado compromisso de destinálo ao Banco Central do Brasil ou à instituição por ele autorizada. II as operações praticadas nas regiões de garimpo onde o ouro é extraído, desde que o ouro na saída do Município tenha o mesmo destino a que se refere o inciso 1 deste parágrafo. § 2° As negociações com o ouro, ativo financeiro, de que trata este artigo, efetuada nos pregões das bolsas de valores, de mercadorias, de futuros ou assemelhadas, ou no mercado de balcão com a interveniência de instituição financeira autorizada, serão consideradas operações financeiras, (destacamos) E de forma ainda mais categórica, o artigo 4º de referida norma determina taxativamente a necessidade da destinação do ouro ao mercado financeiro, a fim de que este seja classificado como ativo financeiro. Vejamos: Art. 4º O ouro destinado ao mercado financeiro sujeitase, desde sua extração inclusive, exclusivamente à incidência do imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários. Parágrafo único. A alíquota desse imposto será de 1% (um por cento), assegurada a transferência do montante arrecadado, nos termos do art. 153, § 5o, incisos I e II, da Constituição Federal, (destacamos) Fl. 995DF CARF MF 12 Da exegese dos dois dispositivos supra transcritos, concluise que o elemento definidor da natureza jurídica do ouro é sua destinação. Esse entendimento, inclusive, foi brilhantemente observado pelo então Juiz Ari Pargendler, nos autos da arguição de inconstitucionalidade n° 92.04.096250/113 do E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região, quando decidiu que: A destinação do ouro o identifica como mercadoria ou como ativo financeiro. A entrada do ouro no mercado financeiro e sua permanência nele lhe assegura esse regime vantajoso: o de ser tributado uma só vez (monofasicamente) e de modo exclusivo (unicamente) pelo Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro Relativo a Títulos e Valores Mobiliários. E indiscutível que, mesmo com a interveniência de uma instituição financeira no negócio como vendedora, se o bem não for destinado ou não permanecer no Sistema Financeiro Nacional, ele não poderá ser classificado com ativo financeiro. No caso em apreço, a destinação do ouro adquirido pela Impugnante não foi o mercado financeiro, e tampouco nele ocorreu sua permanência, o que é expressamente reconhecido no auto de infração. O auditor fiscal menciona, por diversas vezes, que o ouro adquirido pela Umicore das DTVMs, desde sua aquisição, sempre esteve direcionado/destinado à industrialização, i.e. à utilização no processo produtivo da Impugnante, o que fica evidente na seguinte frase, abaixo reproduzida a título exemplificativo: Diante das características descritas, concluise que as operações de aquisição de ouro de DTVMs são tipicamente operações financeiras, não podendo ser confundidas com aquisições ordinárias de matéria prima, mesmo considerando que o comprador assim as classifique em seus registros contábeis e fiscais, e que as utilize de fato em seu processo produtivo. (destacamos) Esse fato é novamente reconhecido no decorrer do TVIF, quando a fiscalização tenta, de forma ardilosa, imputar irregularidade na prática negocial da impugnante. Observe que a fiscalização tenta dar ênfase a um suposto desvio de finalidade no uso do ouro, como se a Impugnante estivesse utilizandoo de forma irregular. Vejamos: Não há qualquer valor de contribuição acumulado na cadeia de comercialização que justifique crédito por parte de quem adquiriu este ouro financeiro e o desviou para a utilização como matériaprima em seu processo industrial (destacamos) Entretanto, não há nada de irregular na conduta da Impugnante, industrializadora de metais preciosos. Tal "desvio" demonstra, claramente, que a destinação do ouro no caso em questão não foi o mercado financeiro, mas sim a industrialização (atividade operacional da Impugnante). E, como tal, é inequívoco seu direito creditório. Fl. 996DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 991 13 Ademais, diferentemente do que restou asseverado pela fiscalização, a utilização da documentação instituída pela IN 49/2001 não define a natureza da operação, mas sim a destinação dada ao ouro. Dito de outra forma: não é o conjunto de documentos fiscais que define a natureza jurídica do bem, mas sim a destinação a ele dada na operação. [...] No âmbito de suas atividades, a Impugnante adquire o ouro em estado bruto de Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários DTVMs e, a seguir, para que possa ser utilizado como insumo em cadeias produtivas, faz o seu refino processo que tem por escopo eliminar as impurezas e contaminantes para que o ouro possa ser utilizado industrialmente produzindo lingotes com teor de pureza de 99,99%. A partir daí, os lingotes são vendidos a clientes produtores de jóias ou indústrias que utilizam o metal já refinado como insumo, dentre estes, a Coimpa Industrial Ltda. (Coimpa), subsidiária da Umicore, localizada na Zona Franca de Manaus. Destaquese que a Coimpa especificamente citada pela d. fiscalização, foi responsável pela aquisição de apenas 32,24% do total das vendas realizadas em 06, 08, 09, 10 e 11/10 para a ZFM (doc. 10), sendo que os demais 67,76% referemse a clientes não relacionados à Impugnante. Isso demonstra, indiscutivelmente, que existe propósito negocial (e não meramente eventual economia fiscal) na aquisição do ouro bruto pela Impugnante e posterior venda à Coimpa. Mas não é só. Contrariamente ao exposto pela d. fiscalização, expliquemos melhor porque a Impugnante não aliena o mesmo ouro adquirido das DTVMs à Coimpa e demais clientes não relacionados (vide fotos do laudo técnico doc. 6). O ouro passa por um efetivo processo de industrialização, onde é refinado e transformado em lingotes; só então é posto ao mercado na forma de ouro puro para utilização em processo industrial. E prova disso é a descrição das operações de compra de ouro bruto e venda de ouro refinado, com os respectivos documentos que o suportam: 1. A Impugnante adquire de Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs) ouro em bruto, ou seja, ouro extraído do garimpo e com teor aproximado de impureza de 15% a 5% (ou seja, entre 85% a 95% de ouro). 2. A nota fiscal emitida pela DTVM apresenta os pesos em bruto (peso do produto recebido) e líquido (peso do ouro estimado contido), conforme doc. 8. 3. Os documentos fiscais relativos à compra do ouro são: nota fiscal de negociação do ouro, nota fiscal de remessa de ouro e nota fiscal fatura de entrada. Os dois primeiros são emitidos pelas DTVMs e o último pela Umicore. 4. A Umicore recebe o bem e paga o fornecedor de acordo com o valor da nota fiscal. Fl. 997DF CARF MF 14 5. O ouro é recebido em barras fundidas. Estas barras possuem dimensões, apresentações e pesos não padronizados, pois se tratam de produto resultante da fundição de pequenos lotes oriundos da atividade de mineração (fotos constantes do laudo doc. 6). Pela mesma razão os teores de ouro contidos nas barras recebidas variam de barra para barra. 6. A Umicore funde o ouro em bruto, coleta uma amostra e analisa o teor do ouro contido (Ficha de Recuperação de Resíduos). 7. A Umicore refina o ouro bruto teores aproximados de 85% a 95%, produzindo ouro puro equivalente ao teor de 99,99%. 8. O ouro puro refinado é fundido em lingotes (foto constante do laudo doc. 6), sendo substancialmente diferente do ouro em bruto conforme demonstrado no laudo técnico (seja no grau de impurezas, seja na apresentação). 9. A Umicore possui a qualificação Good for deliver, emitida pela London Bullion Market Ássociation LBMA, sendo uma das duas únicas empresas brasileiras portadoras de referida qualificação, conforme apresentado na lista anexa (doc. 5). 10. A Umicore vende os lingotes por ela industrializados, destinandoos ao mercado para utilização de diversos fins (docs. 10 e 11). 11. Especificamente a Coimpa utiliza o ouro principalmente para a produção de aurocianeto de PotássioPGC (Cianeto duplo de Ouro e Potássio). Para esta aplicação o ouro precisa ter pureza 99,99% e teor de prata, como impureza, extremamente baixo, uma vez que o produto final não pode conter teor de prata superior a 10 partes por milhão (ppm) (especificação do produto PGC). Ademais, temos que: a) No exercício de 2010, a Coimpa adquiriu 46% do ouro em lingotes vendidos pela Umicore, enquanto que empresas não relacionadas responderam por 54% das vendas (doc. 10). Já nos meses autuados (06, 08, 09, 10 e 11/12010) o percentual foi de 32,24% para a Coimpa e 67,76% para as demais (doc. 10). Concluise, portanto, que a aquisição dos lingotes de empresa relacionada é fato necessário ao desenvolvimento das atividades da Coimpa, não se tratando de exclusivo planejamento fiscal desprovido de propósito negocial. E a Umicore, por sua vez, fornece os bens tanto para a Coimpa quanto para diversos outros clientes; e b) Conforme já elucidado, o ouro comercializado sujeitouse às contribuições do PIS e COFINS em todas as suas etapas. Logo, se por um lado a venda à ZFM sujeitase à alíquota zero, por outro, a empresa na ZFM não desconta créditos sobre tais aquisições, não se verificando qualquer dano ao erário público. Além disso, quando da alienação pela Coimpa. de parte de sua produção ao mercado nacional, a receita de venda se sujeita ao PIS e à COFINS. E, se é verdade que na exportação, em face da imunidade constitucional não há PIS e COFINS, também é verdade que as aquisições de ouro realizadas pela Coimpa não possibilitam o desconto de créditos do ouro adquirido da Fl. 998DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 992 15 Impugnante, o que também infirma a conclusão alcançada pela d. autoridade de fiscalização. Assim, não há razão para a fiscalização questionar as transações realizadas pela Impugnante com empresas situadas na ZFM, em especial com a Coimpa, haja vista que tais operações são reais, necessárias e não configuram prejuízo aos cofres fazendários. Pelo contrário, são operações que, embora sujeitas à alíquota zero do PIS e da COFINS, não permitem ao contribuinte localizado na ZFM o direito a crédito dessas contribuições, ao passo que possibilitam à Impugnante a manutenção dos créditos, visto que o insumo utilizado no processo, ouro ativo financeiro, sujeitouse em todas as etapas da sua cadeia, à incidência das contribuições. 3. DO PEDIDO Por todo o exposto, requer seja julgada procedente a presente Impugnação, para os fins de anular integralmente os autos de infração e imposição de multa de PIS e de COFINS ora impugnados, com o consequente reconhecimento do direito de descontar créditos de PIS e de COFINS sobre aquisição de ouro oriundo de DTVMs, utilizados no processo produtivo da Impugnante. Protesta pela juntada adicional de quaisquer documentos comprobatórios das alegações citadas ao longo do presente petitório. Ao final o contribuinte juntou os seguintes documentos a sua impugnação: Doc. 1 Procuração; Docs. 2 e 3 Documentos pessoais dos signatários; Doc. 4 Contrato social; Doc. 5 — Cópia da página da internet (www.lbma.org.uk) que prova que apenas duas empresas brasileiras são certificadas pela The London Bullion Market Association como Goodfor deliver para a industrialização de barras de ouro com 99,99% de pureza do metal; Doc. 6 Laudo técnico descrevendo o processo de industrialização do ouro realizado pela Umicore, acompanhado de algumas fotos; Docs. 7 Três jogos de notas fiscais relativos à compra do ouro bruto com impurezas, compostos por (i) nota de negociação do ouro, (ii) nota fiscal de remessa de ouro e (iii) nota fiscal fatura de entrada; Doc. 8 Planilha relativa aos adquirentes dos lingotes fabricados pela Umicore, valores e percentuais; Doc. 9 Jogo de notas fiscais fatura de saída que subsidiam a planilha indicada como doc. 8 e comprovam as informações lá constantes; e Doc. 10 Termo de Constatação e Intimação Fiscal e Autos de infração e imposição de multa. O contribuinte ainda juntou de forma extemporânea (em 03/08/2012, fls. 479 a 489) uma manifestação, tratando de acórdão do CARF em relação a crédito presumido do IPI de uma indústria de jóias. Ato contínuo, a DRJRIBEIRÃO PRETO (SP) julgou a Impugnação do Contribuinte nos seguintes termos: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010 OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. Fl. 999DF CARF MF 16 Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro / instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo), pois a CF/1988 assim determinou que fosse ele considerado. A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro então mercadoria se beneficiar dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição da Cofins. Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/01/2010 a 31/12/2010 OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro / instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo), pois a CF/1988 assim determinou que fosse ele considerado. A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro então mercadoria se beneficiar dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição do PIS. Impugnação Improcedente. Crédito Tributário Mantido. Em seguida, devidamente notificada, a Recorrente interpôs o presente recurso voluntário pleiteando a reforma do acórdão. Em seu Recurso Voluntário, a Empresa suscitou apenas questões de mérito, apresentando as mesmas argumentações da sua impugnação. É o relatório. Voto Conselheiro Pedro Sousa Bispo Fl. 1000DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 993 17 O Recurso Voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele se deve conhecer. Conforme se depreende dos autos, a autuação em tela teve por base o procedimento de verificação das Perdcomps apresentadas referentes aos trimestres de 2010, nos quais foram parte dos créditos solicitados indeferidos nos pedidos de ressarcimentos pela Autoridade Fiscal e resultou na lavratura dos autos de infração de PIS/Pasep e COFINS, em alguns meses, para cobrança de diferenças apuradas dessas contribuições decorrentes de glosas de crédito na aquisição de insumos (ouro). As glosas operadas estão relacionadas essencialmente com a não consideração da aquisição do ouro ativo financeiro/instrumento cambial como gerador de créditos da não cumulatividade, adquirido de Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs). A Recorrente é uma empresa que atua no refino e na reciclagem de metais, especialmente o ouro, atuando na sua purificação, normalmente obtendo o ouro a 58% de pureza e o transformando em ouro a 99,99%, ideal para a utilização na fabricação de jóias, quando ligados com outros metais que acrescentam cor e resistência ao metal. Além de processar ouro por conta própria, a empresa também presta o mesmo serviço de industrialização por encomenda para outras empresas do ramo. Abaixo os tipos de ouro encontrados no mercado, de acordo com o seu grau de pureza: A Fiscalização procedeu a glosa dos créditos na aquisição de ouro pela Umicore pois entendeu que em toda a cadeia envolvida no ouro adquirido no mercado de balcão de empresas DTVMs (ouro ativo financeiro), desde a etapa da mineração até as negociações no mercado financeiro envolvendo o metal, não houve a incidência das contribuições ao PIS e COFINS nas operações, uma vez que a tributação do ouro se dá em uma única etapa somente pelo IOF, conforme prevê a Constituição Federal no art.153, § 5º e a legislações infraconstitucionais relativas a Lei nº7.766/89 e Decreto nº5.442/2005. Dessa forma, o ouro adquirido no mercado financeiro (ouro ativo financeiro) não dá direito a crédito, situação esta prevista na legislação do PIS e da COFINS que, expressamente, veda o desconto de créditos nas aquisições de bens e serviços que não se sujeitaram à incidência das contribuições. O Contribuinte, por sua vez, alega que a alienação do ouro, ativo financeiro ou não, sujeitase ao pagamento das contribuições ao PIS e COFINS em todas as etapas da sua cadeia, inclusive sobre o valor da intermediação financeira ocorrida nas Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários. A destinação que o comprador dar ao ouro ativo financeiro adquirido é que define o seu direito ao crédito, uma vez que este é utilizado como insumo do seu processo industrial, comprovado nos autos pela documentação fiscal e contábil, especificamente pelas notas fiscais de entrada emitidas e pela contabilização do ouro como insumo (estoque) destinado a produção, como se vê pelo código fiscal de operação e prestação de serviço (CFOP) utilizado. Considerando que a base oponível à contribuição para o PIS e a Fl. 1001DF CARF MF 18 COFINS é o faturamento, assim entendida a receita bruta oponível, e não a operação com o bem ou serviço em si, podese notar que o ouro, seja ele ativo financeiro ou mercadoria, sujeitase, indiscutivelmente, a incidência de tais contribuições em todas as etapas de sua cadeia, conforme se depreende do conteúdo da Constituição Federal. Percebese que é fato provado nos autos que a empresa adquiriu ouro ativo financeiro de empresa DTVM, nos termos previstos no art.1º, § 2º da Lei nº7.766/89 e conforme documentos anexados de notas de negociação de ouro e nota fiscal de remessa de ouro emitida pela instituição financeira. Somente após aquisição do ouro ativo financeiro foi que a empresa deu a ele destinação diversa ao produto adquirido, transformandoo em mercadoria para aplicação como insumo no seu processo de produção do ouro purificado e, posteriormente, vendeu o produto resultante para empresas que o destina à produção de jóias. Depreendese que, em suma, a discussão a ser decidida por este Colegiado referese a controvérsia quanto a possibilidade ou não de se calcular crédito das contribuições ao PIS e a COFINS sobre a aquisição de ouro como ativo financeiro, posteriormente transformado em mercadoria para aplicação na produção de ouro purificado realizado pela Recorrente Umicore. Por oportuno, fazemse algumas considerações sobre o funcionamento do mercado do ouro no Brasil e a tributação envolvida. Identificase no país dois tipos de ouro circulando no Brasil, quanto ao seu uso, que são diferenciados não pela composição física, mas sim pelas características atribuídas por lei quanto a sua destinação: ouro mercadoria e ouro ativo financeiro. O primeiro (ouro mercadoria) é aquele extraído pelos garimpeiros/cooperativas ou por empresas mineradoras e destinado ao mercado de ouro como reserva de valor de empresas e particulares ou como insumo para a produção de artefatos para computadores, comunicações, naves espaciais, motores de reação na aviação e artigos de luxo, tal como, no presente caso, para a produção de jóias. Nesses casos, o ouro se caracteriza como mercadoria, sujeitandose às mesmas regras ordinárias das demais mercadorias quanto a emissão dos documentos fiscais e a tributação relativa ao ICMS, IPI, PIS e COFINS. O segundo tipo é aquele ouro que desde a sua origem na extração é destinado a se tornar ativo financeiro ou instrumento cambial. Nesse caso, é necessário que seja formalizado compromisso de destinálo ao Banco Central do Brasil ou à instituição por ele autorizada, nos termos estabelecidos na Lei nº7.766/89. Após ser adquirido pela instituição financeira, esse ouro como ativo financeiro/instrumento cambial poderá ser negociado em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros ou assemelhados, ou no mercado de balcão, mas em qualquer dos casos ele sempre será considerado uma operação do mercado financeiro. Os requisitos para o ouro adquirir natureza de ativo financeiro são delineados pela Lei nº7.766/89, in verbis: “Art. 1º O ouro em qualquer estado de pureza, em bruto ou refinado, quando destinado ao mercado financeiro ou à execução da política cambial do País, em operações realizadas com a interveniência de instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, na forma e condições autorizadas pelo Banco Central do Brasil, será desde a extração, inclusive, considerado ativo financeiro ou instrumento cambial. § 1º Enquadrase na definição deste artigo: I o ouro envolvido em operações de tratamento, refino, transporte, depósito ou custódia, desde que formalizado Fl. 1002DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 994 19 compromisso de destinálo ao Banco Central do Brasil ou à instituição por ele autorizada. II as operações praticadas nas regiões de garimpo onde o ouro é extraído, desde que o ouro na saída do Município tenha o mesmo destino a que se refere o inciso I deste parágrafo. § 2º As negociações com o ouro, ativo financeiro, de que trata este artigo, efetuada nos pregões das bolsas de valores, de mercadorias, de futuros ou assemelhadas, ou no mercado de balcão com a interveniência de instituição financeira autorizada, serão consideradas operações financeiras. (...) Art. 3º A destinação e as operações a que se referem os arts. 1º e 2º desta Lei serão comprovadas mediante notas fiscais ou documentos que identifiquem tais operações. Pela leitura do conteúdo da lei transcrita, observase que o compromisso de destinação ao ouro assume condição fundamental para a sua caracterização como ativo financeiro. Quando ele é destinado ao Banco Central, ou a instituições financeiras por ele autorizadas, o ouro será considerado como ativo financeiro, desde a sua origem na extração, nos termos do compromisso firmado disposto na lei em comento. A documentação de suporte necessária para acompanhar as operações com esse ativo financeiro foram estabelecidas pela IN SRF nº49/2001. No caso sob análise, constatase que de fato a Recorrente adquiriu o produto ouro ativo financeiro de uma instituição financeira DVTM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários), comprovado pela documentação emitida pela empresa vendedora do ativo financeiro. Ao adquirir o ouro ativo financeiro, a empresa teria a opção de mantêlo custodiado na instituição financeira autorizada pelo Banco Central indicada por ela ou retirar o ouro em barras/linguotes e leválo consigo. A opção da Recorrente foi por retirar o ativo financeiro do Sistema Financeiro e ficar com a posse do seu ouro visando aplicálo de modo diverso daquele que até então vinha sendo utilizado. Percebese que a Umicore adquiriu tal produto com o animus de dar destinação diversa daquela que até então possuía o ativo e transformálo em mercadoria para utilização como insumo em seu processo produtivo, fato materializado pelas notas fiscais de entrada emitidas pela Recorrente constantes dos autos, que consignam o CFOP utilizado de compras de insumos para industrialização –1.101. A legislação anteriormente transcrita, a Lei n. 7.766/89, define claramente que o ouro será considerado ativo financeiro quando destinado ao mercado financeiro. No presente caso, entretanto, restou comprovado que o Contribuinte adquiriu o ouro ativo financeiro com o animus de transformálo em mercadoria (insumo). O elemento definidor da natureza jurídica do ouro, portanto, é a sua destinação. Tal entendimento, inclusive, foi brilhantemente observado pelo então Juiz Ari Pargendler (ex Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal), nos autos da arguição de inconstitucionalidade nº 92.04.096250/RS, do E. Tribunal Regional Federal da 4ª Região, quando decidiu que: “A destinação do ouro o identifica como mercadoria ou como ativo financeiro. A entrada do ouro no mercado financeiro e sua permanência nele lhe Fl. 1003DF CARF MF 20 assegura esse regime vantajoso: o de ser tributado uma só vez (monofasicamente) e de modo exclusivo (unicamente) pelo Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro Relativo a Títulos e Valores Mobiliários”. Entendese, assim, que o ouro, ao sair do sistema financeiro, por vontade do investidor para utilização em função diversa que até então possuía, não mais poderá ser classificado como ativo financeiro, mas sim como mercadoria. No caso concreto, temse que a destinação dada ao ouro ativo financeiro foi aplicálo, após a compra, como insumo no processo produtivo de produção de ouro com maior grau de pureza pela Recorrente. Entendo que, se a definição da natureza do ouro se dá pela sua destinação, embora a documentação emitida na transferência do ouro da DTVM para a Recorrente seja de tradição de um ativo financeiro, isso não impede que a empresa, agora proprietária e de posse do seu bem materializado, dê destinação diversa a ele fora do mercado financeiro, tratandoo como mercadoria/insumo. Ressaltese que não há nenhuma vedação legal a esse procedimento adotado pela empresa. Admitese, assim, a possibilidade do ouro ser adquirido como ativo financeiro e ser posteriormente transformado em mercadoria com o fim de ser aplicado como insumo no processo produtivo da Recorrente. Admitida a possibilidade do ouro adquirido ser transformado em insumo após a sua aquisição como ativo financeiro, resta analisar a possibilidade da empresa se creditar do PIS/COFINS sobre a aquisição do referido ouro ativo financeiro de acordo com as regras de creditamento presentes na legislação que rege a matéria. Inicialmente, devese entender como ocorre a tributação do ouro ativo financeiro adquirido em toda a cadeia envolvida desde a extração até a instituição financeira. A Constituição Federal previu a incidência unicamente de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as operações com ouro definido como ativo financeiro, assim como a incidência monofásica desse imposto na entrada na instituição financeira sobre o que seria devido na operação de origem: Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: [...] V operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; § 5° O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, sujeitase exclusivamente à incidência do imposto de que trata o inciso V do "caput" deste artigo, devido na operação de origem; a alíquota mínima será de um por cento, assegurada a transferência do montante da arrecadação nos seguintes termos: (negritos nossos) Os entes tributários ficam impedidos, assim, de criar outros tributos ou prever a incidência dos já existentes sobre as operações com ouro ativo financeiro, descritas na forma da lei. A regulamentação do citado dispositivo constitucional veio por meio da Lei nº7.766/89, in verbis: (...) Fl. 1004DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 995 21 Art. 4º O ouro destinado ao mercado financeiro sujeitase, desde sua extração inclusive, exclusivamente à incidência do imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários. Parágrafo único. A alíquota desse imposto será de 1% (um por cento), assegurada a transferência do montante arrecadado, nos termos do art. 153, § 5º, incisos I e II, da Constituição Federal. (...) Art. 7º A pessoa jurídica adquirente fará constar, da nota fiscal de aquisição, o Estado, o Distrito Federal, ou o Território e o Município de origem do ouro. Art. 8º O fato gerador do imposto é a primeira aquisição do ouro, ativo financeiro, efetuada por instituição autorizada, integrante do Sistema Financeiro Nacional. (...) Art. 13. Os rendimentos e ganhos de capital decorrentes de operações com ouro, ativo financeiro, sujeitamse às mesmas normas de incidência do imposto de renda aplicáveis aos demais rendimentos e ganhos de capital resultantes de operações no mercado financeiro. Parágrafo único. O ganho de capital em operações com ouro não considerado ativo financeiro será determinado segundo o disposto no art. 3º, § 2º, da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988. Art. 14. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 15 Revogamse as disposições em contrário.” (negritos nossos) Quanto à incidência do PIS e COFINS, entendese que as operações com ouro ativo financeiro praticadas por todos aqueles envolvidos (desde sua extração, operações de tratamento, refino, transporte, depósito ou custódia, conforme art. 1º da Lei nº 7.766/89) estão fora do campo de incidência dessas contribuições por expressa determinação constitucional, anteriormente transcrita. Esse é o mesmo entendimento do Professor Ricardo Alexandre que, explicando sobre a tributação do ouro ativo financeiro, afirma a impossibilidade de incidência de outros tributos, além do IOF, que incidam sobre mercadorias, conforme o trecho a seguir reproduzido: Quando o ouro é mercadoria, não há qualquer especificidade digna de nota, pois sobre ele incidirão os tributos que ordinariamente incidem sobre as mercadorias (ICMS, IP!, II, IE). Já nos casos em que o ouro é o próprio meio de pagamento, como se fora moeda, não há que se falar em cobrança de tributos que incidem sobre mercadorias, pois, a título de exemplo, se não incide ICMS sobre a circulação dos reais Fl. 1005DF CARF MF 22 usados para pagar determinado débito, também não pode incidir sobre o ouro' utilizado para quitar débito semelhante. 1 Nesse cenário, a afirmação da Recorrente, em sua defesa, de que o ouro ativo financeiro se sujeita normalmente a incidência do PIS e da COFINS em todas as operações envolvidas ao longo da sua cadeia não se mostra verdadeira, pois, conforme visto nos dispositivos legais anteriormente expostos, o ouro ativo financeiro tem uma carga tributária bastante reduzida se comparada como o do ouro mercadoria. Sobre as operações envolvendo o primeiro , os envolvidos na cadeia de produção do ouro ativo financeiro, desde a extração até chegar a instituição financeira, não pagam PIS e COFINS sobre essas operações, posto que são beneficiadas pela imunidade, excetuandose IOF. Tendo uma carga tributária menor, logicamente o ouro ativo financeiro/instrumento cambial tem um preço mais barato que o ouro mercadoria. As instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central a operarem com o ouro ativo financeiro, tais como as DTVMs, por sua vez, estão sujeitas ao regime cumulativo das Contribuições para o PIS e COFINS, incidindo essas contribuições sobre as receitas de serviços bancários (cobranças de tarifas) e as de intermediação financeira. Quanto a tributação das contribuições em comento nesse ramo de atividade, reproduzse o Parecer PGFN/CAT/Nº 2.773/2007, que trata da base de cálculo dessas contribuições devidas pelas instituições financeiras e seguradoras após o julgamento do RE 357.9509/RS, no qual fica claro que as instituições financeiras tem como receita apenas serviços para fins tributários, e destes a receita pelo serviço de intermediação financeira, não tendo receitas pela venda de mercadorias, in verbis: Segundo a Nota da Cosit, após a decisão do STF, diversos questionamentos foram levantados sobre a aplicação da referida decisão às instituições financeiras e às seguradoras, sob o argumento de que tais entidades não possuem “faturamento”, propriamente dito, pois argumentam as entidades que a palavra faturamento teria acepção própria, tecnicamente construída, e corresponderia, taxativamente, ao conjunto de receitas obtidas pela pessoa jurídica na venda de mercadorias e na prestação de serviços. Não se confundiria, nem se equipararia, com receitas outras, como as receitas financeiras das pessoas jurídicas que se dedicam à indústria, ao comércio ou à prestação de serviços. 3.Entretanto, continua mencionada Nota, resta equivocado o entendimento dado pelas instituições financeiras, com base no argumento referido, no sentido de que deverão recolher os tributos em pauta apenas sobre as tarifas de emissão de extratos ou de talões de cheque, entre outras assemelhadas, considerandoas unicamente como receitas de serviços. Sabese que a maior parte das receitas das instituições citadas decorre de atividades estritamente financeiras. As instituições alegam que não importa que essas receitas sejam consideradas operacionais, visto que o conceito de faturamento não é maleável a ponto de sofrer ampliações em função da natureza das atividades do contribuinte, conforme já decidido pelo STF. 4.O argumento utilizado pelas empresas de seguros não é diferente, neste caso tais empresas dizem que a receita de prêmios de seguros também não se enquadra no conceito de 1 Alexandre, Ricardo. Direito tributário I Ricardo Alexandre 11. ed. rev. atual. e amp1. Salvador Ed.JusPodivm, 2017. Fl. 1006DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 996 23 faturamento por não se tratar de venda de serviços, de mercadorias e de serviços e mercadorias. A Nota da Cosit prossegue afirmando: 8.Portanto, são frágeis os argumentos das instituições financeiras e seguradoras no que tange à não incidência dessas contribuições sobre suas receitas financeiras, sem que antes seja examinada a natureza jurídica dessas receitas em relação às suas atividades. 9.Com efeito, o enquadramento da atividade de bancos e de seguros no setor terciário da economia (serviços) é contemplado no Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS), firmado durante a rodada de negociações multilaterais promovidas no âmbito do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994 (GATT 1994) – Rodada Uruguai, promulgada pelo Decreto nº 1.355, de 30 de dezembro de 1994. 9.1.O Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS) pode ser subdivido em dois grandes blocos. O primeiro é o próprio texto do Acordo contendo as regras e as obrigações aplicáveis a todos os Membros da OMC. O segundo é composto pelos anexos que tratam de problemas específicos de alguns setores. São eles: o anexo referente ao movimento de pessoas físicas fornecedoras de serviço, o anexo sobre os serviços de transportes aéreos e os de transportes marítimos, o anexo sobre serviços financeiros, e, finalmente, os anexos concernentes a telecomunicações. 9.2.O Anexo sobre Serviços Financeiros do GATS (em anexo), em seu item 5, efetua as seguintes determinações: 5. Definições: Para os fins do presente Anexo: Por serviço financeiro se entende todo serviço financeiro oferecido por um prestador de serviço de um Membro. Os serviços financeiros incluem os serviços de seguros e os relacionados com seguros e todos os serviços bancários e demais serviços financeiros (excluídos seguros). Os serviços financeiros incluem as seguintes atividades: Operações comerciais por conta própria ou para clientes, seja em bolsa, em mercado não cotado (overthemarket) ou, em outros casos, no que se segue: instrumentos do mercado monetário (inclusive cheques, letras de câmbio, certificados de depósito); divisas; produtos derivados, tais como, mas não exclusivamente, futuros e opções; instrumentos do mercado cambial e monetário, tais como “swaps” e acordos a prazo sobre juros; valores mobiliários negociáveis; outros instrumentos e ativos financeiros negociáveis, inclusive metal; [...] Fl. 1007DF CARF MF 24 10.Assim, entendese que, sendo essas atividades caracterizadas como serviços, as receitas delas provenientes são receitas de serviços, e, portanto, integrantes do faturamento.” [...] 33. Com efeito, o conceito de serviços não se limita àqueles assim caracterizados na legislação e na doutrina especificamente bancárias, na qual as atividades da instituições financeiras, em geral, discriminadas entre operações bancárias (em síntese, relacionadas à intermediação financeira) e serviços bancários (estes, em síntese, relacionados à prestação direta de serviços pelas instituições a seus usuários, clientes ou não, e normalmente remunerados sob a forma de tarifas). [...] h) serviços para as instituições financeiras abarcam as receitas advindas da cobrança de tarifas (serviços bancários) e das operações bancárias (intermediação financeira); [...] 66. Temse, então, que a natureza das receitas decorrentes das atividades do setor financeiro e de seguros pode ser classificada como serviços para fins tributários, estando sujeita à incidência das contribuições em causa, na forma dos arts. 2º, 3º, caput e nos §§ 5º e 6º do mesmo artigo, exceto no que diz respeito ao “plus” contido no § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718, de 1998, considerado inconstitucional por meio do Recurso Extraordinário 357.9509/ RS e dos demais recursos que foram julgados na mesma assentada. A Fiscalização, ainda, discorreu de forma detalhada sobre as especificidades da sistemática de tributação do PIS e COFINS no ramo de atividade das instituições financeiras. Reproduzemse os trechos principais: A tributação das atividades financeiras pela Contribuição para o PIS e pela COFINS incide sobre suas receitas, assim consideradas conforme a definição do Plano de Contas Contábil das Instituições do Sistema Financeiro Nacional (COSIF). Uma característica da atividade financeira, que é refletida no COSIF, é a de reconhecer como receita o produto da intermediação financeira, que, na essência, é o objeto social dessas instituições. Assim, nos casos em que estas instituições transacionam com valores mobiliários, ou quaisquer outros ativos financeiros, é pacífico que o valor registrado a título de receita é o ganho ou a renda auferida na transação, seja ela de compra ou venda do ativo. O valor do ativo transacionado não compõe o conceito da receita das instituições financeira, como ocorre na empresa comercial ou industrial. Diante disto, quando os artigos 1º, 2º, da Lei nº9.718/98, definem a incidência do COFINS sobre a Receita Bruta da pessoa jurídica, o interprete deve entender, no caso de uma instituição financeira, que esta incidência se dá sobre o valor da receita auferida (fato gerador), tomando esta conforme as normas de contabilidade bancária assim a definem, e não sobre o valor da transação realizada, A propósito, esta transação, estritamente considerada pode nem resultar em receita, uma vez que pode haver perda na alienação de qualquer ativo. Fl. 1008DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 997 25 Dito isto, não pode ser aceita a argumentação no sentido de que a operação de venda de ouro financeiro por instituição financeira será uma operação sujeita ao pagamento das contribuições. E isto se opera pelo simples fato de que esta operação (a alienação de ativo financeiro) não é enquadrada no conceito de receita pelo COSIF. É oportuno lembrar que a forma de tributação pelo PIS e pela COFINS das instituições financeiras é disciplinada pelo art.95, da Instrução Normativa SRF nº247/2002. Basicamente, este dispositivo prevê que a base de cálculo mensal das contribuições das instituições financeiras seja apurada com o apoio da planilha prevista no anexo I da Instrução Normativa, onde as receitas das instituições financeiras, ao final de cada mês, seguindo a planificação contábil do Sistema Financeiro Nacional (COSIF), são enumeradas. Entre estas receitas, podemos encontrar a denominada "Rendas de Aplicações em Ouro", código 7.1.5.70.002. Segundo as instruções do Banco Central do Brasil, a função desta conta é registrar os ajustes positivos nas aplicações temporárias em ouro, que constituam receita efetiva da instituição no período. A tributação dessa receita não se confunde de maneira nenhuma com a tributação da transmissão de propriedade do ativo financeiro. O fato de um eventual rendimento auferido na alienação do ouro financeiro (eventual porque pode ser que haja perdas nesta tipo de operação, também) não significa que toda a operação de alienação do ativo tenha sido submetido à tributação. Destarte, concluise que na instituição financeira (DTVM) que recebe o ouro compromissado com natureza de ativo financeiro e o aliena a um investidor, a tributação do ouro não se dá sobre o valor do bem ouro alienado, mas tão somente sobre a receita de serviço de intermediação, incidindo sobre o ganho apurado entre a operação de compra e a de venda, se por ventura apurado, pois também se é possível apurar perda na operação. No caso ora analisado, tornase evidente que o produto (ouro) adquirido pela Recorrente, na sua origem, era, de fato, um ativo financeiro que possuía, pela Constituição e lei regulamentadora, características próprias bem distintas das do ouro mercadoria, mormente com relação as instituições autorizadas a operálo, documentação lastreadora das operações e sua forma de tributação privilegiada. Depreendese dos fatos até aqui narrados, que a Recorrente comprou um ativo financeiro e posteriormente, por vontade própria, transformouo em mercadoria, e consequentemente insumo, para aplicação no seu processo produtivo de purificação do ouro. Ressaltase que o produto adquirido foi um ativo financeiro da DTVM e não uma mercadoria, como faz crer a Recorrente. Em uma etapa posterior foi que o Contribuinte concretizou o seu animus de transformálo em mercadoria nova, quando então a utilizou como insumo. Entendo, assim, que a situação explicitada não gera direito a crédito porque a Recorrente, de forma originária, fez surgir a mercadoria que não existia nas operações anteriores, posto que o produto adquirido (ouro ativo financeiro) possuía características Fl. 1009DF CARF MF 26 próprias, distintas das mercadorias, não havendo que se falar em direito a crédito. Se a Recorrente optou pela transformação do ouro ativo financeiro em mercadoria isso deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro, então mercadoria, beneficiarse dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Ademais, ainda que se entenda que a empresa adquiriu um insumo, o que se admite apenas para efeito de argumentação, também este não faria jus ao crédito, por não ser possível aplicar a não cumulatividade nessa operação discutida por inexistência de crédito na operação anterior. Como se sabe, o princípio da não cumulatividade tem por finalidade limitar a incidência tributária nas cadeias de produção e circulação mais extensas, fazendo com que, a cada etapa da cadeia, o tributo somente incida sobre o valor adicionado nessa etapa. A não cumulatividade se materializa por meio da previsão de creditamento das aquisições antecedentes de uma cadeia de produção/comercialização. Se não há incidência na etapa antecedente, pela lógica da sistemática, não há direito a creditamento, a não ser que haja um claro propósito do legislador no sentido de incentivar uma determinada atividade. Porém, mesmo nesse último caso, o benefício deve ser expressamente previsto em lei. Nessa direção, há expressa vedação à apropriação de créditos das referidas contribuições, nos termos do art. 3º, § 2º, II, das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, a seguir reproduzido: Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] § 2º Não dará direito a crédito o valor: (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) [...] II da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, inclusive no caso de isenção, esse último quando revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela contribuição. (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) (negritos nossos) No caso concreto, restou comprovado que o bem adquirido pela Recorrente (ouro ativo financeiro), além de não ser mercadoria no momento da aquisição, também não se sujeitou o bem, ouro ativo financeiro, a incidência das contribuições ao PIS e a COFINS ao longo da sua cadeia, desde a extração até a negociação do ativo financeiro pela DTVM, o que torna inviável a possibilidade de creditamento dessas contribuições na operação de aquisição do bem. A essa mesma conclusão chegou a Conselheira Relatora Liziane Angelotti Meira Nessa no acórdão nº 3301004.675, da 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária, que, em julgamento dos mesmos elementos fáticojurídicos da própria Recorrente, mas de período de apuração diferente, concluiu pela impossibilidade de creditamento na operação de aquisição do ouro na forma aqui discutida, conforme sintetizado na ementa a seguir reproduzida: Fl. 1010DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 998 27 ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/2011 a 31/12/2012 OURO ATIVO FINANCEIRO / INSTRUMENTO CAMBIAL. CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. Quando se adquire ouro na forma de ativo financeiro / instrumento cambial não se está adquirindo uma mercadoria (um insumo). A instituição financeira não deu destino diverso ao ouro ativo financeiro, nem poderia. A alteração dessa condição vantajosa, para que o ouro seja considerado uma mercadoria, deverá vir acompanhado das consequências tributárias que esse fato vier a gerar, com a regência das normas impositivas do ICMS, do IPI, do PIS e da Cofins, e só a partir da primeira venda como mercadoria poderá o adquirente do ouro então mercadoria se beneficiar dos créditos por ventura gerados, em conformidade com as leis de regência, antes não. Sobre o bem ouro ativo financeiro não houve incidência da contribuição do PIS. Por fim, cabe informar à Recorrente que as conclusões tomadas no acórdão nº3302001.492, de lavra do ilustre Conselheiro Gileno Gurjão, não tem relação com o caso ora analisado. pois lá foi discutido o direito a ressarcimento de crédito presumido de IPI na exportação previsto na Lei nº 9.363/96, no qual não é imprescindível a incidência das contribuições em comento sobre as aquisições de insumos para a requerente fazer jus ao ressarcimento (REsp nº 993.164 MG), enquanto no presente caso, em não havendo previsão legal de regra ou benefício especial de creditamento, o Contribuinte para ter direito a crédito deve adquirir o bem a ser utilizado como insumo necessariamente com incidência das referidas contribuições, nos termos estabelecidos nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003. Além do mais, conforme já anteriormente indicado no presente voto, o ouro adquirido nessa situação é ativo financeiro e não mercadoria (insumo), posição divergente, portanto, daquela do ilustre Relator no citado acórdão. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Pedro Sousa Bispo Relator Declaração de Voto Fl. 1011DF CARF MF 28 1. Com a devida vênia, ouso divergir do bem fundamentado voto do I. Relator do caso, o que passo a fazer nos seguintes termos. 2. Antes, todavia, de apresentarmos nossas conclusões, mister se faz nesse instante elucidar dois pontos que são fundamentais para o deslinde da presente contenda. 3. Primeiramente, insta registrar que não há dúvida quanto ao tratamento contábil atribuído pelas DTVM´s, de quem a recorrente adquire o ouro aqui questionado, na presente operação; tais empresas tratam a operação com ouro como se ativo financeiro fosse, submetendo, pois, tal operação à incidência de IOF, bem como ao PIS e à COFINS no regime cumulativo. Tanto é verdade que a declaração prestada pelas DTVM's na sua Escrituração Fiscal Digital EFD contribuições é no sentido de tratar como "rendas com títulos e valores mobiliários e instrumentos e instrumentos financeiros" aquelas receitas decorrentes das aplicações com ouro. 4. Também não existem dúvidas quanto ao objeto social da recorrente2 nem quanto ao destino dado ao ouro por ela adquirido das DTVM's. É inconteste nos autos o seu emprego como insumo para fins de industrialização. Nesse sentido, inclusive, é o teor de parte do Termo de Relatório Fiscal (fls. 839 e s.s.): (...). (...). 5. Aliás, do trecho alhures transcrito, é possível perceber que a fiscalização não nega a possibilidade do ouro ser juridicamente tratado como mercadoria e não como ativo financeiro, nos exatos termos do art. 155, § 2º, inciso X, alínea "c" da Constituição Federal. Todavia, no presente caso em concreto, a fiscalização afasta esta possibilidade uma vez que aqui (i) o ouro foi adquirido de instituição financeira na qualidade de ativo financeiro, o que (ii) estaria devidamente comprovado nos documentos fiscais emitidos pelas DTVM's e que materializaram a operação em análise. Logo, o ulterior tratamento fiscal e contábil dado pela 2 Industrialização de metais preciosos, inclusive ouro, conforme cláusula 5a do se contrato social (fls. 19 e s.s.). Fl. 1012DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 999 29 recorrente não seria hábil para desnaturar tal operação jurídica e, por conseguinte, transmutar a qualidade do ouro adquirido pela recorrente de ativo financeiro para mercadoria. 6. Assim, sob uma perspectiva estritamente formal, assiste razão à fiscalização, bem como ao bem fundamentado voto do d. Relator do caso. Acontece que, a depender de determinadas particularidades fáticas do caso em concreto, a forma deve ceder espaço à essência do ato jurídico praticado, sob pena de se prestigiar um indevido formalismo exacerbado. 7. Tratando de tal questão sob uma perspectiva contábil, o que se afirma aqui é que os registros contábeis não têm o condão de criar uma realidade jurídica, já que a contabilidade deve limitarse a registrar fatos e não criálos. Ao encontro de tal assertiva, é a mudança sofrida nos últimos anos no sentido de promover a convergência da contabilidade brasileira às regras internacionais. Aliás, a respeito do tema, assim se pronuncia a Comissão de Valores Mobiliários por intermédio do seu parecer de orientação n. 37/2011, in verbis: (...) Dois conceitos interrelacionados são essenciais para o entendimento dessa nova realidade contábil: (i) a representação verdadeira e apropriada; e (ii) a primazia da essência sobre a forma. A contabilidade somente cumprirá sua função essencial de fornecer informações úteis ao processo de tomada de decisão de seus usuários se refletir verdadeiramente a realidade econômica subjacente. Para que essa representação apropriada (true and fair view) possa ser alcançada, é importante observar a primazia da essência econômica sobre a forma jurídica dos eventos econômicos. Dessa forma, com a mudança iniciada com a edição da Lei 11.638, de 2007, resgatase a característica fundamental das demonstrações contábeis, que devem representar fidedignamente a realidade dos efeitos econômicos das transações, independentemente do seu tratamento jurídico. (...) (grifos nosso). 8. Logo, um eventual equívoco nos registros contábeis das DTVM's para fins de materialização da operação fiscalizada não pode ser capaz de desnaturála em sua substância. 9. Pois bem. Feitos tais esclarecimentos convém repisar que as DTVM's indevidamente registraram que as operações aqui fiscalizadas (de venda de ouro para a recorrente) geraram receitas que foram rubricadas como "rendas com títulos e valores mobiliários e instrumentos e instrumentos financeiros". Além disso, submeteram tal operação ao IOF e ao PIS e a COFINS não cumulativos, na medida em que deram saída de tais bens na qualidade de ativos financeiros. 10. Acontece que tais empresas erraram em seus registros contábeis, uma vez que deveriam ter apontado as operações aqui tratadas como realizadoras de receita bruta, nos termos do art. 12, inciso I do Decreto n. 1.598/77, já que decorrentes de venda de ouro como Fl. 1013DF CARF MF 30 mercadoria, operação esta que foge do espectro das suas atividades empresariais ordinárias e que, portanto, não pode ser originária de receita operacional3. 11. Tal equívoco contábil, entretanto, não é suficiente para, a priori, desnaturar a operação realizada entre as DTVM's e a recorrente como uma operação de venda de ouro mercadoria e não de ouro como ativo financeiro. Todavia, para efetivamente precisar se no específico caso sob julgamento o ouro adquirido pela recorrente é de fato mercadoria, mister se faz destacar o parecer emitido pela Deloitte Brasil Auditores Ltda. (fls. 1.228/1.244). 12. Conforme se observa do sobredito parecer, a Auditoria independente analisou os seguintes documento fiscais e contábeis da recorrente para o período objeto da autuação: (i) escrituração contábil digital (ECD); (ii) escrituração fiscal digital do ICMS e do IPI (EFD Fiscal); (iii) escrituração fiscal digital contribuições (EFD Contribuições); (iv) demonstrativo de apuração de contribuições sociais (DACON); e, ainda (v) notas fiscais de entrada (por amostragem e aleatórias) do ouro adquirido pela recorrente junto as DTVM's. 13. Depois de analisar tal documentação, assim concluiu o citado parecer: (...). O ouro adquirido junto às DTVMs pela Umicore foi tratado contabilmente como estoque de matériaprima. Do ponto de vista fiscal, as transações foram apresentadas como entrada de mercadoria para insumo de produção; O ouro, mesmo que inicialmente tenha sido classificado pela DTVM como ativo financeiro, deve ser classificado como mercadoria pelo adquirente industrial, quando for destinado para produção como matériaprima, e, nesse sentido, sua classificação como insumo do processo industrial, sob os aspectos contábeis e fiscais, reflete aquela que melhor expressa sua natureza. Ou seja, havendo destinação diferente do mercado financeiro, o ouro adquirido passa a ser tratado como “ouro mercadoria”. Assim, no caso específico da Umicore, do ponto de vista contábil e fiscal, a classificação do ouro como insumo é aquele que melhor expressa sua natureza; Quando da entrada do ouro na Umicore, a mesma emite nota fiscal de entrada eletrônica de emissão própria registrandoa como compra de ouro para industrialização, haja vista que a Sociedade utilizará o ouro adquirido como matériaprima na produção de lingotes que serão revendidos futuramente. Este procedimento atende o disposto estabelecido no art. 136 da 3 Segundo o CPC 30, vigente à éopoca dos fatos, apenas as atividades ordinárias de uma empresa se enquadram no conceito de receitas operacionais, conforme se observa do citado pronunciamento abaixo transcrito: "Receita é o ingresso bruto de benefícios econômicos durante o período observado no curso das atividades ordinárias da entidade que resultam no aumento do seu patrimônio líquido, exceto os aumentos de patrimônio líquido relacionados às contribuições dos proprietários." Fl. 1014DF CARF MF Processo nº 16095.720038/201272 Acórdão n.º 3402005.582 S3C4T2 Fl. 1000 31 Regulamento do ICMS, o qual estabelece a necessidade do contribuinte emitir nota fiscal no momento em que entrar no estabelecimento, real ou simbolicamente, mercadoria ou bem. Assim, é possível afirmar que o procedimento adotado pela Umicore de emitir nota fiscal de entrada está em consonância com aquilo disposto na legislação fiscal vigente. No que tange ao CFOP utilizado na nota fiscal de entrada, entendemos que o mesmo reflete a destinação pretendida da matéria prima pela Umicore e, portanto, o CFOP utilizado pela Sociedade está condizente com a natureza da transação realizada pela Sociedade; A Umicore, com base em seu relatório de produção, demonstra a entrada do ouro bruto como insumo e sua remessa para o processo de refino, bem como é possível identificar o ingresso no estoque de produto acabado; e As entradas de ouro entre outubro de 2006 e dezembro de 2012, em sua totalidade, foram destinadas ao processo industrial como insumo, não tendo sido dada qualquer outra destinação diversa, tal como ativo financeiro. (...) (g.n.). 14. Percebese, pois, que segundo o citado parecer contábil, a integralidade do ouro adquirido pela recorrente junto as DTVM's no período fiscalizado foi utilizado na qualidade de insumo para a sua produção, o que, conjugado com os equívocos quanto aos registros contábeis perpetrados pelas DTVM's, desvela a verdadeira natureza da operação empresarial aqui debatida: a aquisição de ouro mercadoria e não de ouro ativo financeiro. 15. Tais conclusões são reforçadas quando se observa as notas fiscais emitidas pelas DTVM's para a recorrente (fls. 684/806), tal como a exemplarmente colacionada abaixo: Fl. 1015DF CARF MF 32 16. Ao se analisar o campo "característica da operação" da nota fiscal alhures o que se observa é a transferência do ouro mercadoria, inclusive com a indicação da quantidade de gramas que está sendo transferida da DTVM para a recorrente. Se de fato a operação fosse de venda de ouro como ativo financeiro, o que seria transmitido da DTVM para a recorrente seria um direito, materializado em um título e lastreado em ouro, mas não o metal precioso propriamente dito. 17. Diante deste quadro e, em especial, levando em consideração as particulares circunstâncias fáticas que gravitam em torno do caso em julgamento, resta claro que a recorrente de fato adquiriu ouro mercadoria e, como tal, faz jus a manutenção dos créditos indevidamente glosados pela fiscalização. 18. Nesse sentido, ouso divergir do d. Relator do caso para dar integral provimento ao recurso voluntário interposto pelo contribuinte. 19. É como voto. (assinado digitalmente) Diego Diniz Ribeiro Fl. 1016DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12466.000915/2008-92
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 29 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Sep 27 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 10/03/2008
IMPORTAÇÃO. DANO AO ERÁRIO. OCULTAÇÃO DO REAL ADQUIRENTE. PENA DE PERDIMENTO CONVERTIDA EM MULTA.
Considera-se dano ao Erário à ocultação do real sujeito passivo na operação de importação, infração punível com a pena de perdimento, que é convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro, caso as mercadorias não sejam localizadas ou tenham sido consumidas.
MEIOS DE PROVA. PROVA INDICIÁRIA.
A prova de infração fiscal pode realizar-se por todos os meios admitidos em Direito, podendo ser direta ou indireta, assim conceituada aquela que se apóia em conjunto de indícios capazes de demonstrar a ocorrência da infração e de fundamentar o convencimento do julgador, sendo, outro ssim, livre a convicção do julgador.
Numero da decisão: 3302-005.785
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Fenelon Moscoso de Almeida - Presidente Substituto
(assinado digitalmente)
Jorge Lima Abud - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimaraes, Jose Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior, Raphael Madeira Abad e Fenelon Moscoso de Almeida. Ausente justificadamente o conselheiro Paulo Guilherme Déroulède.
Nome do relator: JORGE LIMA ABUD
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DANO AO ERÁRIO. OCULTAÇÃO DO REAL ADQUIRENTE. PENA DE PERDIMENTO CONVERTIDA EM MULTA. Considerase dano ao Erário à ocultação do real sujeito passivo na operação de importação, infração punível com a pena de perdimento, que é convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro, caso as mercadorias não sejam localizadas ou tenham sido consumidas. MEIOS DE PROVA. PROVA INDICIÁRIA. A prova de infração fiscal pode realizarse por todos os meios admitidos em Direito, podendo ser direta ou indireta, assim conceituada aquela que se apóia em conjunto de indícios capazes de demonstrar a ocorrência da infração e de fundamentar o convencimento do julgador, sendo, outro ssim, livre a convicção do julgador. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Fenelon Moscoso de Almeida Presidente Substituto (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 46 6. 00 09 15 /2 00 8- 92 Fl. 5832DF CARF MF 2 Jorge Lima Abud Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimaraes, Jose Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior, Raphael Madeira Abad e Fenelon Moscoso de Almeida. Ausente justificadamente o conselheiro Paulo Guilherme Déroulède. Relatório Trata o presente processo de auto de infração, lavrado em 10/03/2008, formalizando a exigência de multa equivalente ao valor aduaneiro (100%) no valor de R$ 1.103.385,00, pelos fatos descritos a seguir. Conforme documentos em anexo (anexos 01), inicialmente recebemos correspondência da Delegacia da Receita Federal no Chuí, onde a mesma nos comunica que apurou irregularidades em operações de comércio exterior realizada pela fiscalizada. Tais irregularidades caracterizavamse em importações realizadas em valores bem superiores aos limites permitidos para a empresa e em pagamentos irrisórios de imposto de renda em relação ao expressivo volume de importações. Também foi detectada incompatibilidade econômico financeira da empresa para realizar as operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados. Em sua correspondência, aquela delegacia nos propõe que seja revisada a habilitação da empresa no RADAR, bem como nos propõe a inclusão da mesma em procedimento especial. Posteriormente, recebemos EMAIL da Inspetoria da Receita Federal em Florianópolis informandonos que ao se analisar duas Declarações de Importações (Dls) registradas pela auditada naquela inspetoria, e por meio de consultas efetuadas no sistema RADAR, foram identificados indícios de prática de irregularidades nas referidas operações, em especial de interposição fraudulenta. Em uma das importações, observouse a existência de etiquetas com o CNPJ da empresa Kinsberg Comércio Importação e Exportação de Tecidos LTDA, a qual encontravase com o seu CNPJ suspenso em virtude de prática de irregularidades em operações de comércio exterior. Em consultado sistema RADAR, a Inspetoria de Florianópolis verificou que .a empresa Kinsberg Comércio Importação e Exportação de Tecidos LTDA possuía uma série de registros de procedimentos especiais abertos, inclusive relativos a prática de ocultação do verdadeiro adquirente das . mercadorias importadas, sendo mencionadas, ainda, importações de produtos cujas marcas têm como representante no Brasil a empresa DASLU. Pelas irregularidades apuradas, a Inspetoria de Florianópolis nos propôs que a empresa fosse incluída em procedimento especial. Cabe ressaltar que a empresa Kinsberg foi declarada inapta ao final do procedimento especial, conforme documento em anexo. Fl. 5833DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 3 3 Também recebemos da Alfândega do Rio de Janeiro correspondência com proposta de inclusão da empresa em procedimento especial em virtude das seguintes razões: (a) empresa com sede em Vitória/ES; (b) sócios da empresa domiciliados em São Paulo; (c) Declaração do Imposto de Renda dos sócios incompatível com o aumento de capital registrado em 2005 (o capital social saltou de R$ 60.000,00 para R$ 1.560.000,00); (d) falta de capacidade econômicofinanceira da empresa para realizar as operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados; (e) indícios de interposição fraudulenta nas operações de comércio exterior realizadas. Conforme determinado pelo Sr. Chefe do Serviço de Fiscalização Aduaneira (SEFIA) da Alfândega do Porto de Vitória, e conforme relatório em anexo, no mês de fevereiro/06 realizamos diligência na empresa, onde foi detectada a falta de capacidade econômicofinanceira da mesma para a realizar as suas operações de comércio exterior, bem como foi detectado que a fiscalizada havia ultrapassado o limite de importações previsto em nossa base de dados. Na referida diligência, após examinarmos as Declarações do Imposto de Renda dos sócios, também foi constatada a falta de capacidade financeira dos sócios para a integralização do Capital Social de R$ 1.500.000,00. Desta forma, propusemos que a empresa fosse incluída em procedimento especial com base na IN/SRF n2 228/02 (art. 1B) e com base na IN/SRF n2 455/04 (art. 14). Acatada a proposta, no dia 11 de maio de 2006 iniciamos o procedimento especial na empresa, conforme MPF e Termo de Início de Fiscalização em anexo (anexos 02). Após recebermos os documentos, iniciamos a análise econômica da auditada. Nessa análise, verificamos nos contratos sociais, que em 28 de março de 2005 houve uma alteração contratual, passando o Capital Social de R$ 60.000,00 para R$ 1.560.000,00 com integralização de R$ 800.000,00 oriundos da conta “Lucros Acumulados e R$ 700.000,00 para ser integralizado pelos sócios no prazo de 24 (vinte e quatro) meses. Posteriormente, em 25 de agosto de 2005, nova alteração contratual foi realizada, passando o Capital Social de R$ 1.560.000,00 para R$ 3.000.000,00 sendo que a diferença (R$ 1.440.000,00) seria integralizada pelos sócios em 05 (cinco) parcelas. Entretanto, ao analisarmos as contas representativas do Patrimônio Líquido (anexos 03), verificamos que a conta referente à distribuição de lucros aos sócios possuía, além dos pagamentos referentes às distribuições de lucros, vários outros registros referentes a outros pagamentos, tais como: (a) pagamento de empréstimos aos sócios; (b) adiantamentos aos sócios; (c) adiantamentos a empregados; (d) pagamento de despesas a terceiros; (e) pagamento de 13a salário. Notamos, também, que os lançamentos referentes à integralização do Capital Social por parte dos sócios, realizados no dia 30 de novembro de 2005, no valor total de R$ 740.000,00, não ocorreu, já que o registro contábil utilizado debita a conta referente a distribuição de lucros e credita a conta referente a capital a realizar. Tal lançamento, na verdade, é um artifício contábil não significando, portanto, o ingresso de recursos monetários na empresa. Desta forma, no quadro abaixo apresentado, o referido valor (R$ 740.000,00) não foi considerado para apuração dos valores do Patrimônio Líquido. Conforme se verifica, é total a falta de capacidade econômica da empresa para realizar as operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados. Analisandose o Balanço Patrimonial e o Balancete de Verificação, não localizamos nenhuma conta que indicasse a existência de empréstimos obtidos pela empresa para que a mesma pudesse realizar as expressivas importações evidenciadas no demonstrativo acima. Ainda analisandose as referidas peças contábeis, observamos que não existia a conta fornecedores (indicativo de compras a prazo). Entretanto, notamos a existência no passivo da conta Câmbio Exterior Próprio com a realização de expressivos pagamentos. Desta forma, Fl. 5834DF CARF MF 4 ficou caracterizada a falta de capacidade econômica da fiscalizada para a realização das operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados; Conforme determina o artigo 27 da Lei 10.637 de 30 de dezembro de 2002, “A operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro presumese por conta e ordem deste, para fins de aplicação do disposto nos arts. 77 a 81 da Medida Provisória na 2.15835, de 24 de agosto de 2001". Entretanto, a empresa utilizouse da simulação, já que em todas as operações de comércio exterior ela registrou as importações como se fossem próprias e emitiu nota fiscal de saída de vendas. Tal simulação foi utilizada com a finalidade de usufruir o benefício fiscal proporcionado pelo Estado do Espírito Santo, por ser empresa atacadista, conforme documento em anexo (anexos 14), e por realizar operações interestaduais. Tal benefício fiscal caracterizase por um crédito presumido de 11% (onze por cento). A existência de tal simulação provoca danos ao Erário Estadual onde estão localizados os reais adquirentes das mercadorias, já que os reais adquirentes poderão creditar se de 12% (doze por cento) do ICMS ao darem entrada nas mercadorias em seus estabelecimentos e a fiscalizada, ao final, pagará somente 1% (um por cento) de ICMS ao Estado do Espírito Santo, em virtude do benefício fiscal citado. A Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda, ao registrar as importações como se fossem próprias, burla a legislação e aufere vantagens indevidas, as quais também são usufruídas pelos reais adquirentes das mercadorias importadas. A utilização de tal simulação contraria a Constituição Federal, já que a mesma dispõe em seu artigo 155, § 2a, inciso IX, alínea "a”, que o ICMS devido na entrada de mercadoria procedente do exterior cabe ao Estado em que estiver situado o estabelecimento destinatário da mercadoria. Assim, chegase à conclusão de que o estabelecimento principal ou matriz da Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda está localizado na cidade de São Paulo, pois, como se verifica por meio das Declarações de Imposto de Renda dos sócios (anexos 14), os mesmos sempre residiram naquela cidade. Durante o curso da fiscalização, também percebemos que daquela cidade são emanadas as ordens e instruções dos sócios para que sejam realizadas as operações da fiscalizada, administrandoa, assim, diretamente de São Paulo. Esquadrinhandose a nossa base de dados de 01/01/04 até 31/12/06, capturase que todas as mercadorias importadas foram desembaraçadas em recintos alfandegados situados fora do Estado do Espírito Santo, conforme se verifica no demonstrativo “RECINTOS DE DESEMBARAÇOS” (anexos 14). Por fim, cabe destacar que, embora a fiscalizada esteja cadastrada junto à Secretaria de Estado de Fazenda do Espírito Santo como empresa atacadista, ela nunca possuiu no Espírito Santo um galpão para estocagem de mercadorias, conforme se verifica nos contratos sociais. Assim sendo, vêse que, ao se nomear a cidade de Vitória/ES como sede da empresa, tal postura foi mais uma simulação maquinada para se obter os benefícios fiscais proporcionados pelo Estado do Espírito Santo. Ou seja, na presente fiscalização os reais adquirentes das mercadorias importadas são contribuintes do IPI. Assim sendo, a fiscalizada ao simular que ela é a adquirente das mercadorias importadas, deixando de registrar as operações como por conta e ordem, descaracteriza os reais adquirentes das mercadorias importadas da condição de equiparados a estabelecimento industrial, fazendo com que os mesmos deixem de ser contribuintes do IPI. Desta forma, o valor do IPI recolhido pela fiscalizada é bem menor do que aquele que deveria ser recolhido pelos reais adquirentes das mercadorias importadas, já que, ao simular a emissão da nota fiscal de venda, a fiscalizada a emite por um valor que é praticamente igual àquele constante na nota fiscal de entrada, quando o valor real do IPI a ser Fl. 5835DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 4 5 recolhido seria aquele que incidiría sobre o valor total da operação de venda das mercadorias realizadas pelos reais adquirentes aos seus clientes finais. Em sendo optante do SIMPLES, o contribuinte não poderá se apropriar de créditos relativos ao IPI. Conforme se pode observar nos documentos ora abojados que foram extraídos de nossa base de dados (anexos 14), existem diversas empresas participantes do SIMPLES que utilizaram a fiscalizada para realizar as suas importações. Assim, os valores do IPI creditados pela fiscalizada, em relação às importações de tais empresas, é mais um dano provocado à União. Por fim, também se verifica que a simulação adotada pela fiscalizada causa dano ao Erário Federal na apuração do PIS/PASEP e da COFINS incidentes na importação. Pela Lei Nfl 10.865 de 30/04/04, as empresas tributadas pelo Lucro Real poderão creditarse do valor recolhido na importação referente a tais contribuições, abatendo tal valor quando da apuração do PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre a receita bruta apurada na venda de produtos no mercado interno. A recuperação do PIS/PASEP e da COFINS incidentes na importação, entretanto, não poderá ser utilizada pelas empresas tributadas pelo Lucro Presumido e pelo SIMPLES. Conforme se pode observar no documento citado no item anterior, existem diversas empresas que são tributadas pelo Lucro Presumido e pelo SIMPLES que utilizaram a fiscalizada para realizar as suas importações. Assim, os valores do PIS/PASEP e da COFINS creditados pela fiscalizada, em relação às importações de tais empresas, é mais um dano provocado ao Erário Federal. Por tudo que foi exposto, fica caracterizado o dano ao Erário, já que a Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda não é a real adquirente das mercadorias importadas, devendose, assim, ser aplicado o disposto no artigo 23, inciso V (e seus parágrafos) do DecretoLei 1.455 de 07 de abril de 1976, com as modificações introduzidas pela Lei 10.637 de 30 de dezembro de 2002 (conversão da Medida Provisória N°. 66 de 29 de agosto de 2002). Cientificadas, a contribuinte Gama Comercial importadora e Exportadora Ltda e a devedora solidária TCL Telecomunicações Comercial Ltda apresentaram impugnação, alegando, em síntese: Gama Comercial Importadora c Exportadora Ltda fls. 1.174 a 1.180, acompanhada dos documentos de fls. 1.181 a 1.221. ü Que em 11 de maio de 2006, iniciouse contra a impugnante o procedimento especial de fiscalização previsto na IN 228/02; ü Que, utilizandose de seu direito de defesa previsto na própria IN, apresentou contraposição, rechaçando tudo que fora levantado pelo Auditor Fiscal; ü Que no dia 7 de janeiro/2008, através do comunicado SECAT/ALF/PORTO VITÓRIA N° 001, chegou ao conhecimento da impugnante o despacho do Sr. Inspetor a respeito do Parecer n° 991/07, o qual expressamente declarou ser aquela representação totalmente insubsistente tomandoa nula; Fl. 5836DF CARF MF 6 ü Que os autos de infração não estavam numerados, dificultando a identificação de cada um deles no comprot e que não contavam com a assinatura do chefe do setor responsável, conforme previsto no art. 11 do Decreto n° 70.235/72; ü Que através da decisão exarada no Parecer n° 991/07, acabouse com a possibilidade de prosperar qualquer infração porventura levantada por tal relatório; Requer, por fim, seja o auto de infração declarado nulo e insubsistente, bem como seja determinada a anulação das respectivas Representações Penais. TCL Telecomunicações Comercial Ltda apresentou impugnação fls. 1.116 a 1.125, acompanhada dos documentos de fls. 1.126 a 1.173. ü Que o agente autuante, fundamentado em suposta irregularidade contábil da empresa Gama, chegou à absurda conclusão de que a impugnante não comprou mercadorias, mas sim, supostamente, teria efetuado importação por conta e ordem, utilizando a Gama; ü Que essa generalização de argumentos, de per si, entende a impugnante ser suficiente para demonstrar não haver qualquer prova acerca da suposta irregularidade comercial, frisase, de venda e compra. Assim, não é correto exigir que a impugnante pague suposto crédito tributário, tendo em vista que somente comprou mercadorias da empresa Gama e pagou por tais mercadorias compradas; ü Que, por tudo quanto foi exposto (razoabilidade das afirmações da impugnante, contradições do fisco, utilização de circunstância genérica para demonstração de caso específico) e, diante das provas e outras circunstâncias presentes nos autos, entende a impugnante ter afastado a presunção “juris tantum”, contida no artigo 27 da Lei n° 10.637/2002. Logo, o presente auto não pode subsistir em relação a impugnante, quer por não corresponder à verdade fática, quer por representar penalização em virtude da inércia do fisco no quanto ele era obrigado a fiscalizar, quer pelo fato do fisco tentar derrubar questão fática, específica, à relação comercial havida entre a impugnante e a empresa Gama (venda e compra devidamente provada com documentos); ü Questiona o valor estabelecido como “valor aduaneiro” com relação à inclusão do frete. Requer: 1. Seja julgada improcedente a relação de solidariedade; 2. Seja excluído do valor aduaneiro o valor do frete; 3. Protesta pela realização de diligência com a finalidade de apurar a existência de cláusula “FOB”. Fl. 5837DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 5 7 Em 19 de setembro de 2008, através do Acórdão n° 0714.076, a 2a Turma da Delegacia Regional de Julgamento de Florianópolis (SC), por maioria de votos, considerou procedente o lançamento, mantendo o crédito tributário exigido. Entendeu a Turma que: ü O Auto de Infração foi lavrado por servidor competente e não ocorreu a hipótese de cerceamento do direito de defesa. Se a autoridade administrativa cumpriu todos os preceitos da legislação em vigor, constando a perfeita descrição do fato e os dispositivos legais infringidos, como se verifica nos autos, não procede o argumento de que o Auto de Infração constante no processo é nulo; ü Quanto à alegação de descumprimento de requisito estabelecido no art. 11 do PAF (assinatura do Chefe do Órgão), mister se faz esclarecer que o lançamento em tela foi formalizado por meio de auto de infração (art. 10 do referido Decreto) e não por notificação de lançamento; ü Importante registrar, por oportuno, que a apuração dos fatos e as provas concernentes ao presente processo são autônomas em relação àquelas que embasaram o Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/ALFÂNDEGA/PORTO DE VITÓRIA; ü Compulsando as peças que compõem o processo, verificase que a autoridade fiscal carreou aos autos elementos que indicam uma ocultação do real adquirente; ü Por sua vez, a empresa Menta & Mellow Comercial Ltda baseou sua defesa no argumento de que o lançamento estaria assentado em meras suposições, desprovidas de qualquer comprovação material ou mesmo que o ocorrido se referiu a equívoco na contabilidade da empresa importadora (Gama); ü É importante ressaltar que, ainda que os referidos elementos apresentem um caráter de prova indireta, é inequívoca a necessidade de que a interessada, ao contraditar, demonstre não ser a real importadora das mercadorias em questão através das razões e provas que possuir; ü Quanto a empresa Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda, esta construiu sua defesa argüindo a nulidade do auto de infração por inobservância ao art. 11 do Decreto n° 70.235/72 (assinatura do Chefe do Órgão) e no entendimento de que não seria possível a presente autuação em razão da conclusão do Parecer SEORT/ALF/Porto de Vitória n° 991/07 que tomou sem efeito a representação para a caracterização da declaração de inaptidão, temas estes já tratados anteriormente; ü Da análise da legislação sobre o tema em tela, acima transcrita, concluise que a mercadoria importada nas condições previstas no Fl. 5838DF CARF MF 8 inciso V do artigo 23 do DecretoLei n° 1.455/76 caracteriza a infração de “dano ao erário”, sendo a mesma punida com a pena de perdimento que será convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria quando esta não for localizada ou se a mesma for consumida; ü Configurase a interposição fraudulenta toda vez que uma pessoa, física ou jurídica, apresentase como responsável por uma operação que não realizou, se inteipondo entre determinada parte (no caso o fisco) e outra (no caso, o verdadeiro sujeito passivo responsável pela promoção da entrada da mercadoria no Território Nacional); ü Assim, comprovada a ocorrência da interposição fraudulenta, resta configurado o dano ao Erário. A empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 09/10/2008 (folhas 2.471). A empresa TCL TELECOMUNICAÇÕES COMERCIAL LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 10/10/2008 (folhas 2.473). Contra o acórdão recorrido, a empresa Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda. interpôs recurso voluntário, em 07/11/2008 (folhas 2.474) defendendo especialmente que: ü A decisão seria nula por ter alterado o critério jurídico do lançamento; que acusou a empresa de ter insuficiência de recursos, e não de ocultação do real adquirente; ü Seria nulo o lançamento por tese se baseado em Relatório tornado insubsistente pelo Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/Alfândega/Porto de Vitória, referendado pelo Inspetor da Alfândega, não tendo havido motivação para contrapor as conclusões deste; ü Não houve interposição fraudulenta ou ocultação de adquirente. O contribuinte solidário TCL Telecomunicações Comercial Ltda. foi intimado às fls. 1237, verso, e não apresentou recurso, motivo pelo qual foi realizado termo de perempção, fls. 1402. Em 25 de fevereiro de 2014, a ilustre Turma do CARF decidiu, através da Resolução n° 3202000.189, converter o julgamento em diligência, para que a autoridade preparadora: 1. anexe cópia integral do processo de n° 12466.000172/200770 referente ao processo de inaptidão (principalmente todo o teor do Parecer n° 991/2007); 2. esclareça o período abrangido pelo Parecer n° 991/2007; e, Fl. 5839DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 6 9 3. explique se o Auto de Infração teve como base o relatório conclusivo, conforme alegações da recorrente. Realizada a diligência, deverá ser dado vista ao recorrente para se manifestar, querendo, pelo prazo de 30 dias, e após, devem ser encaminhados os autos para este Conselho, para fins de julgamento. A fiscalização juntou informação fiscal de folhas 5.802 a 5.804 do processo digital. A empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA tomou ciência por via eletrônica em 16/01/2015 (folhas 5808). A empresa TCL TELECOMUNICAÇÕES COMERCIAL LTDA tomou ciência via edital em 27/01/2015 (folhas 5.826). A empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA se manifestou de folhas 5.811 a 5.818 do processo digital. A empresa TCL TELECOMUNICAÇÕES COMERCIAL LTDA não se manifestou. É o relatório. Voto Conselheiro Jorge Lima Abud – Relator. Da admissibilidade. Por conter matéria desta E. Turma da 3a Seção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais e presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do Recurso Voluntário tempestivamente interposto pelo contribuinte, considerando que: Ø A empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 09/10/2008 (folhas 2.528); Ø A empresa MENTA & MELLOW COMERCIAL LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 13/10/2008 (folhas 2.534). Contra o acórdão recorrido, a empresa Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda. interpôs recurso voluntário, em 07/11/2008. A empresa Menta & Mellow Comercial Ltda interpôs Recurso Voluntário em 11/11/2008 (folhas 2.867). Os recurso são tempestivos. Fl. 5840DF CARF MF 10 Da controvérsia. No caso em questão, a discussão se cinge aos seguintes pontos: a) A decisão seria nula por ter alterado o critério jurídico do lançamento; que acusou a empresa de ter insuficiência de recursos, e não de ocultação do real adquirente; b) Seria nulo o lançamento por tese se baseado em Relatório tornado insubsistente pelo Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/Alfândega/Porto de Vitória, referendado pelo Inspetor da Alfândega, não tendo havido motivação para contrapor as conclusões deste; c) Não houve interposição fraudulenta ou ocultação de adquirente; d) Aplicação do princípio da retroatividade benigna, tal como articulado no Voto Vencido do acórdão recorrido. Das Preliminares. ALTERAÇÃO DO CRITÉRIO DO LANÇAMENTO Após transcrever o artigo 142 do Código Tributário Nacional, o Recorrente empresa Gama Comercial alega às folhas 06 do seu Recurso Voluntário: No caso, foi formulada uma exigência, segundo determinado critério através de todo o procedimento de lançamento, posteriormente, no momento do julgamento o conteúdo do lançamento, especificamente a matéria tributável, foi modificado sem que houvesse motivação para isso. Todo o procedimento fiscalizatório ocorreu no sentido de se comprovar a utilização pela recorrente de recursos de terceiros nas operações de comércio exterior, consequentemente toda sua defesa foi no sentido de se comprovar que nunca se utilizou de recursos de terceiros para subsidiar suas atividades, em seguida o Auditor, encarregado de analisar o procedimento da representação fiscal elaborou o parecer conclusivo. Parecer SEORT 991/07. no sentido de que não houve a utilização de recursos de terceiros nas operações da recorrente. (Grifos próprios do original) Mais adiante, às folhas 07 do seu Recurso Voluntário, a empresa Gama Comercial alega: Houve total afronta ao devido processo legal, nulificando assim seu ato, porquanto lavrou o Auto de Infração após o Parecer conclusivo n° 991/07 (SEORT), no qual julgou pela insubsistência dos motivos ensejadores da Representação Fiscal para Fins de Inaptidão, em cujo parecer constatouse a regularidade das operações realizadas pela recorrente e de que não houve a utilização de recursos de terceiros nas importações realizadas. Fl. 5841DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 7 11 Ademais, no Auto de Infração, não se verificou qualquer apontamento do I. Auditor Fiscal do SEFIA que indicasse que a recorrente não seria a real adquirente das mercadorias, haja vista que todo o procedimento de fiscalização foi no sentido de se comprovar, ou não, a utilização de recursos próprios na importação. O auto de infração é vago, pois o fiscal que o lavrou não o fundamenta correta e claramente, apenas apensa seu relatório conclusivo que foi considerado nulo pelo Inspetor o qual tentava comprovar que a requerente não possuia recursos próprios e a decisão advinda da Delegacia de Julgamento muda totalmente a descrição dos fatos para emitir seu Acórdão dizendo agora que se trata de ocultacão do real adquirente. E, convenhase, tal fato é muito relevante, pois muda totalmente a situação de interposição fraudulenta que foi tachada à recorrente. (Grifos próprios do original) O pleito da impugnante quer obstaculizar os efeitos da presente ação fiscal sob a alegação de que a empresa importadora já havia sido submetida a um procedimento especial de fiscalização anterior, com base na mesma Instrução Normativa n° 228/02. O argumento esposado pelo impugnante deliberadamente confunde (ou ignora) o objeto da presente ação fiscal com os efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02. Para aclarar e delimitar os contornos do objeto da presente ação fiscal e dos efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02, passase a discorrer sobre esse último. ❉ Os efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02 O procedimento especial de fiscalização bastante utilizado pela Receita Federal do Brasil está assim previsto: ❖ Instrução Normativa SRF n° 228/02. Art. 1º As empresas que revelarem indícios de incompatibilidade entre os volumes transacionados no comércio exterior e a capacidade econômica e financeira evidenciada ficarão sujeitas a procedimento especial de fiscalização, nos termos desta Instrução Normativa. § 1º O procedimento especial a que se refere o caput visa a identificar e coibir a ação fraudulenta de interpostas pessoas em operações de comércio exterior, como meio de dificultar a verificação da origem dos recursos aplicados, ou dos responsáveis por infração à legislação em vigor. § 2º No caso de importação realizada por conta e ordem de terceiro, conforme disciplinado na legislação específica, o controle de que trata o caput será realizado considerando as operações e a capacidade econômica e financeira do terceiro, adquirente da mercadoria. (...) Da Aplicação do Procedimento Especial Fl. 5842DF CARF MF 12 Art. 3º Cabe ao titular da unidade da SRF de fiscalização aduaneira com jurisdição sobre o domicílio fiscal do estabelecimento matriz da empresa determinar o início da ação fiscalizadora, mediante expedição de Mandado de Procedimento Fiscal (MPF). Parágrafo único. Considerados a conveniência da administração e os recursos disponíveis, o Superintendente Regional da Receita Federal poderá designar outra unidade da região fiscal para conduzir o procedimento especial previsto nesta Instrução Normativa. (...) Art. 7º Enquanto não comprovada a origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos necessários à prática das operações, bem assim a condição de real adquirente ou vendedor, o desembaraço ou a entrega das mercadorias na importação fica condicionado à prestação de garantia, até a conclusão do procedimento especial. Destacase que o procedimento especial de fiscalização disciplinado na IN SRF n° 228/02 tem por foco a EMPRESA, sendo aplicado sobre a matriz da empresa fiscalizada. A unidade da Receita Federal do Brasil responsável pelo desenvolvimento deste procedimento é aquela que tenha jurisdição sobre a cidade na qual se localize a matriz da empresa. O fato que propicia o implemento do procedimento especial de fiscalização disciplinado pela Instrução Normativa n° 228/02 são indícios de incompatibilidade entre os volumes transacionados no comércio exterior e a capacidade econômica e financeira da empresa importadora, consoante o estipulado em seu artigo 1º. Por conseguinte, caso detectados esses indícios, serão implementados efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02, tal qual estipulado em seu artigo 7º: · a partir do momento em que é iniciado o procedimento da IN SRF n° 228/02, todas as mercadorias posteriormente importadas pela empresa sujeita ao procedimento, EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL, serão retidas pela Receita Federal do Brasil; · o desembaraço ou a entrega das mercadorias na importação fica condicionado à prestação de garantia, até a conclusão do procedimento especial. Portanto, os efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02 são procedimentos atinentes ao desembaraço aduaneiro, cuja competência pelo seu implemento em última análise cabe ao Sr. Inspetor de Alfândega. Toda e qualquer mercadoria importada antes da instauração do procedimento, mas ainda não desembaraçada e entregue à empresa, será retida. Caso a empresa deseje desembaraçar alguma Declaração de Importação, poderá fazêlo mediante prestação de garantia. A seguir o quadro comparativo entre os mencionados procedimentos especiais: Fl. 5843DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 8 13 ❉ O objeto do presente Auto de Infração O objeto do presente Auto de Infração não diz respeito à procedimentos atinentes ao desembaraço aduaneiro entrega das mercadorias na importação condicionada à prestação de garantia –. O objeto do presente Auto de Infração diz respeito à: · constatação pela fiscalização de uma conduta ilícita por parte do importador – a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência de recursos empregados na importação – conduta tipificada no §2º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76; · aplicação de uma sanção – a multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.) em substituição à pena de perdimento (§3º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76 ) Percebam o seguinte: · o objeto do procedimento especial de fiscalização estipulado na Instrução Normativa n° 228/02 é a incompatibilidade entre os volumes transacionados no comércio exterior e a capacidade econômica e financeira da empresa importadora; · o objeto tanto da presente ação fiscal quanto da declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ é a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados nas operações de importação. Fl. 5844DF CARF MF 14 Portanto, são fatos dispares que põe por terra a argumentação esposada na impugnação. No mais, há que se ressaltar a distinção de competências entre os procedimentos, a saber: a) Instauração do procedimento especial de fiscalização com base na Instrução Normativa n° 228/02, cuja competência fica a cargo do Sr. Inspetor de Alfândega; b) No caso de mercadoria desembaraçada consumida, revendida ou não localizada, o lançamento da multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.), e uma vez esse lançamento impugnado a competência para o seu julgamento fica a cargo da Delegacia Regional de Julgamento; e c) A declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, com base no §1º do artigo 81 da Lei n° 9.430/96, cuja competência fica a cargo do Delegado da Receita Federal do Brasil da circunscrição da Matriz da empresa. O caso em análise diz respeito ao item (2) competência para o julgamento da multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.) a cargo da Delegacia Regional de Julgamento. Assim como o julgamento no âmbito da Delegacia Regional de Julgamento não interfere nos demais procedimentos, a recíproca é verdadeira, pois se tratam de competências distintas. Fl. 5845DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 9 15 O próprio Acórdão de Impugnação comunga com esse entendimento, ao afirmar que: Importante registrar, por oportuno, que a apuração dos fatos e as provas concernentes ao presente processo são autônomas em relação àquelas que embasaram o Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/ALFÂNDEGA/PORTO DE VITÓRIA; Um breve comentário a respeito da declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ: este Relator advoga que se trata de um ato discricionário, onde o Delegado da Receita Federal do Brasil da circunscrição da Matriz da empresa possui uma margem para avaliar as consequências e efeitos do ato, mesmo porque o legislador não estabeleceu quaisquer parâmetros. Uma empresa que possui um número pequeno de operações de importação sem compravação da origens dos recursos e instalações, ainda que parcas, e com empregados deve ter um tratamento diverso daquela que não comprove qualquer origem de suas operações de importação e não possua nenhuma estrutura e sem empregados. O que se quer enfatizar é que a declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ necessita de um critério, uma dosagem, que só a partir da análise da realidade constatada será possível se auferir. Feito esse adendo, a exigência da multa equivalente ao valor aduaneiro (100%), a partir da incidência do §2° c/c §3° do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, tem por gênese o Lançamento Vinculado por parte da autoridade fiscal e se submete ao rito do Procedimento Administrativo Fiscal, Decreto n° 70.235/72. Portanto, são esferas distintas e independentes, não podendo a decisão de uma interferir na outra, porque possuem critérios de avaliação distintos quanto aos seus resultados. NECESSIDADE DE REABERTURA DE PRAZO PARA DEFESA DIANTE DA MODIFICAÇÃO DO LANÇAMENTO AUSÊNCIA CERCEAMENTO DE DEFESA É alegado às folhas 08 e 09 do Recurso Voluntário pela empresa Gama Comercial: Em respeito aos princípios do contraditório, da motivação, da ampla defesa, do devido processo legal e da segurança jurídica, eventual mudança de motivação do ato de lançamento inicial DEVE impor o reconhecimento de ofício da nufídade do Lançamento ou do Auto de Infração, demandando obrigatória lavratura de NOVA Notificação de Lançamento ou de Auto de Infração, observando os prazos decadencais e o direito de defesa; nunca a correção. A fase de julgamento examinada somente a legalidade do lançamento tributário, especialmente sobre a relação de pertinência entre os elementos contidos na Notificação de Lançamento ou no Auto de Infração, a situação fática concreta atribuível ao sujeito passivo e o seu embasamento jurídico, por meio da observância dos preceitos constitucionais e legais. Fl. 5846DF CARF MF 16 Não há que se confundirem as funções administrativa (lavratura da Notificação de Lançamento ou do Auto de Infração) e executiva (diligências e providências pertinentes à retificação da Notificação de Lançamento ou do Auto de Infração), com a função de julgamento (Decisão acerca da legitimidade do lançamento tributário). Aos órgãos de julgamento compete a função de decidir a lide processual administrativa, já que sua competência é haurida pelo art 5, incisos LV e LV1, ao passo que a da autoridade lançadora tem fundamento no art 142 do CTN e no poder/dever de tributação constitucional. Assim, a autoridade administrativa ou mantem a Notificação de Lançamento ou o Auto de Infração (de forma total ou parcial) ou decretando a respectiva insubsistência e inerente cancelamento dos débitos fiscais. Para discorrer sobre a questão levantada, é mister responder a duas indagações: 1. Qual a exigência discutida no presente Auto de Infração? 2. Qual o seu fato gerador? A resposta a essas duas singelas questões demonstram a absoluta incongruência da argumentação esposada na impugnação, bem como da jurisprudência administrativa por ela transcrita. A exigência discutida no presente Auto de Infração é a multa equivalente ao valor aduaneiro (§3º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76) decorrente da substituição da pena de perdimento por dano ao Erário, em função da prática de interposição fraudulenta de terceiros ( inciso V, §2º do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76). E então se segue a outra questão: qual o fato gerador da pena de perdimento ou da multa equivalente ao valor aduaneiro? E a resposta categórica salta aos olhos: Não há o que se falar em fato gerador para pena de perdimento ou multa equivalente ao valor aduaneiro, porque a exigência discutida, embora proveniente de um lançamento, na sua gênese está presente um ato ilícito aduaneiro, enquanto que o fato gerador é uma atividade lícita reveladora de riqueza. A pena de perdimento, pautada no artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76, não possui natureza tributária. Sua finalidade é dispare da arrecadação de tributos. A aplicação da pena de perdimento tem por propósito a vedação que determinadas mercadorias cheguem ao mercado interno, seja pelo modo ilícito que ocorreu a sua importação, seja pela própria natureza da mercadoria importada de circulação proibida. A natureza jurídica da pena de perdimento é de sanção da espécie administrativa, proveniente do exercício do poder de polícia pela fiscalização aduaneira O conceito de tributo, esculpido no artigo 3º do Código Tributário Nacional, assim determina: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, Fl. 5847DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 10 17 instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. (Grifo Nosso) O fato gerador é o instituto responsável pela natureza jurídica específica do tributo, a luz do caput do artigo 4º do Código Tributário Nacional. Fato gerador necessariamente possui natureza dispare de ato ilícito. Dar tratamento tributário a pena de perdimento oriunda de ato ilícito (dano ao Erário) é subverter o próprio conceito lapidar de tributo atribuído pelo artigo 3º do Código Tributário Nacional. Muitos se pegam na letra do artigo 96 do Código Tributário Nacional para dar uma conotação de infração tributária à pena de perdimento. Tributo não advém de prática de ato ilícito. Tributo não é sanção. Tributo não possui sua gênese a partir da violação do direito de alguém; não possui natureza de reparação. A gênese de um tributo é um fato gerador, jamais um ato ilícito que acarreta a aplicação da pena de perdimento. Entendese que não observar essa interpretação é violar o rigor conceitual do artigo 3º do Código Tributário Nacional ao definir tributo: ... que não constitua sanção de ato ilícito. Pena de perdimento decorre de ato ilícito, logo não pode ter tratamento de tributo. Fl. 5848DF CARF MF 18 A similaridade reside que ambas as condutas são tipificadas, portanto definidas em Lei. A mesma Lei que elege a conduta dita seus efeitos caso praticada por um sujeito de direito. Contudo, ao se negar a distinção da natureza jurídica entre a incidência da multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.) em substituição à pena de perdimento e de tributo, sem ao menos atentar para suas respectivas gêneses, deturpase conceitos cristalizados que o legislador quis separar: · A gênese da relação jurídico tributária é uma conduta comissiva, uma PRÁTICA LEGAL e incentivada do ponto de vista sócio econômico, na medida em que é um fato revelador de riqueza, que o Estado legitimamente se apropria de um quinhão; · A gênese da pena de perdimento é uma conduta que pode ser tanto omissiva quanto comissiva e possui natureza jurídica de ato ilícito. Uma PRÁTICA REPUDIADA do ponto de vista jurídico, que o legislador entendeu por bem NÃO TOLERAR. A relação jurídico tributária, cujo objeto é o tributo, por gênese um ato lícito, definido em Lei como fato gerador. A multa equivalente ao valor aduaneiro, exigida no presente Auto de Infração, tem por gênese um ato ilícito cuja a sanção é a pena de perdimento. As consequências dessa distinção são bem palpáveis quanto aos efeitos jurídicos: Fl. 5849DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 11 19 Para complementar a exposição, transcrevese os artigos 94 e 95 do Decreto Lei n° 37/66: Art.94 Constitui infração toda ação ou omissão, voluntária ou involuntária, que importe inobservância, por parte da pessoa natural ou jurídica, de norma estabelecida neste DecretoLei, no seu regulamento ou em ato administrativo de caráter normativo destinado a completálos. § 1º O regulamento e demais atos administrativos não poderão estabelecer ou disciplinar obrigação, nem definir infração ou cominar penalidade que estejam autorizadas ou previstas em lei. § 2º Salvo disposição expressa em contrário, a responsabilidade por infração independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Art.95 Respondem pela infração: I conjunta ou isoladamente, quem quer que, de qualquer forma, concorra para sua prática, ou dela se beneficie; (...) V conjunta ou isoladamente, o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso da importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) VI conjunta ou isoladamente, o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora. (Incluído pela Lei nº 11.281, de 2006) (Grifo e negrito nossos) Esse arrazoado tem por objetivo demonstrar a incongruência da argumentação analisada, por invocar fundamentos próprios do Código Tributário Nacional. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO PARA MODIFICAR O LANÇAMENTO É alegado às folhas 13 do Recurso Voluntário da empresa Gama Comercial: No Auto de Infração constou que a penalidade foi aplicada à recorrente em razão da conclusão do I. Auditor Fiscal ao término do procedimento especial de fiscalização previsto náV IN/SRF n° 228/02, o qual resultou na proposta de Representação para Fins de Inaptidão do CNPJ da empresa. Fl. 5850DF CARF MF 20 FRISESE que o enquadramento utilizado pelo I. Auditor Fiscal na lavratura do Auto de Infração decorreu de meras ilações, as quais foram todas refutadas pela recorrente por ocasião da apresentação da contraposição, inclusive sendo apreciada pela autoridade competente, qual analisou toda a defesa e os documentos apresentados sendo que, ao final, concluiu através do Parecer n° 991/07 (SEORT), que não ocorreu as irregularidades apontadas pelo I. Auditor Fiscal, razão pela qual julgou pela insubsistência daquelas alegações que motivaram o ato. Portanto, concluise, que o I. Auditor Fiscal CONDENOU a recorrente contrariamente ao resultado final daquele processo administrativo, o qual foi devidamente apreciado pela autoridade competente para tal. Ou seja, o auto de Infração jamais podería ter sido lavrado haja vista que os motivos que ensejaram aquela autuação foram julgados INSUBSISTENTES pelo Inspetor da Alfândega do Porto de Vitória, que tomou NULA toda a atuação realizada pelo I. Auditor Fiscal no procedimento especial de fiscalização. (Grifos próprios do original) Boa parte da argumentação apresentada já foi analisada em tópicos anteriores. A argumentação referente ao Parecer 991/07 SEORT se confunde com o mérito e lá será analisada. Do Mérito. O EXERCÍCIO DOS CONTROLES ADUANEIROS Para a instauração de Ação Fiscal há a necessidade de se selecionar a empresa a ser fiscalizada. Para que as chances de acerto na escolha da empresa a ser fiscalizada sejam maiores, é recomendável que a seleção se realize a partir de algumas das seguintes fontes: ● Representações Externas Fundamentadas Devem ser valorizadas as representações externas que já tragam os elementos indiciários que as fundamentem. Não devem ser confundidas com as demandas externas requisitórias, às quais devem ser encaminhadas para a fiscalização sem passar por crivo de seleção, passando apenas por eventual complementação. ● Representações Internas Geralmente, são representações de alta qualidade, elaboradas por servidores da RFB. Normalmente já vêm instruídas com os elementos indiciários. Costumam ser oriundas da Habilitação, da Fiscalização em zona secundária ou do Despacho Aduaneiro. ● Seleção Interna É o emprego de técnicas de cruzamento de informações fiscais e aduaneiras visando identificar um conjunto de empresas que possuam maior probabilidade de estar atuando como interposta pessoa. Fl. 5851DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 12 21 A seguir temos uma representação dos sistemas de informações disponibilizados pelas diferentes instâncias do controle aduaneiro durante as operações de importação, os quais acumulam informações que podem ser utilizadas na seleção interna: Além das informações obtidas durante o controle aduaneiro, temos várias outras que são oriundas dos sistemas de fiscalização e arrecadação de tributos internõsr Estas podem ser conjugadas com as informações de origem aduaneira, potencializando um aumento da qualidade e efetividade da seleção interna. A seleção interna na área da Interposição Fraudulenta normalmente considera diversos aspectos de uma empresa como a sua regularidade fiscal, rendimentos dos seus sócios, número de funcionários, etc., sendo considerado um trabalho de certa complexidade. Normalmente não utiliza qualquer informação externa como denúncias ou representações, apenas informações contidas nos bancos de dados da RFB; visando a análise dos principais componentes de risco, tais como: · Logística: tipo de mercadoria, embalagem, rota, via de transporte, país de procedência; · Relativa à Transação Comercial: país de aquisição, forma de pagamento, marca x origem. · Componente Relativa à Qualidade dos Importadores · Estrutural: Condições financeiras para a realização das operações, sócios com conhecimento do negócio, condições financeiras e patrimoniais compatíveis; Fl. 5852DF CARF MF 22 · Comportamental: Relacionada ao histórico de indícios ou infrações aduaneiras, tributárias, administrativas, penais. · Componente Relativa à Qualidade dos Terceiros Intervenientes; · Estrutural: Localização do domicílio em comparação à área de atuação; · Comportamental: Relacionada ao histórico de envolvimento com infrações aduaneiras, tributárias, administrativas, penais, ou indícios. A ausência de informação sobre o adquirente ou o encomendante do bem importado no registro da Declaração de Importação, prejudica o exercício efetivo dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. O CONCEITO DE INTERPOSIÇÃO EM OPERAÇÃO DE IMPORTAÇÃO A função da sólida construção jurisprudencial é fornecer critérios precisos para a equânime e indistinta aplicação da Lei. O dicionário eletrônico Houaiss, fornece uma definição precisa da locução interposição, que se adéqua ao contexto aqui a ser evidenciado: ato ou efeito de interpor(se) Locuções i. de pessoa jur substituição intencional por terceiro, num processo simulatório, do verdadeiro interessado num ato jurídico. Fonte: (http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=interposi%25C3%25A7%25C3%25A3o, em 01/08/15) A expressão “interposição fraudulenta” foi cunhada pela primeira vez em nosso Sistema Jurídico na Medida Provisória n° 66/2002. Para colher o exato alcance que pretendeu dar o legislador à citada expressão é necessário comparar termos semelhantes e seus respectivos significados. Aurélio Buarque de Holanda conceitua “interposição de pessoa” como “simulação que consiste em ocultar o verdadeiro interessado num ato jurídico, fazendo aparecer um terceiro em seu lugar”. No Vocabulário Jurídico, De Plácido e Silva, definese interposição como meterse de permeio, colocarse entre. É a intervenção de uma pessoa em negócio alheio, por ordem de seu dono ou a mandado dele. A pessoa interposta, com o fito de cumprir ou realizar aquilo que o ordenante ou mandante não pode fazer, é colocada ou posta entre este e um terceiro. A interposta pessoa nada mais é que aquela que executa um ato jurídico ou uma série de atos jurídicos, a mando ou ordem de alguém. Fl. 5853DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 13 23 O ato jurídico, objeto da presente análise, é justamente a operação de importação maculada pela prática de interposição fraudulenta de terceiros. Portanto, um ilícito aduaneiro. O ato de se interpor em operação de importação, pressupõe necessariamente a existência de dois participes: 1. O importador ➞ aquele que se apresenta às autoridades aduaneiras como responsável pela nacionalização da mercadoria. Importador é aquele que promove a entrada do bem no território nacional. Há dois pressupostos básicos para se caracterizar o importador: a) deve estar devidamente HABILITADO no Sistema SiscomexRADAR; b) é aquele que efetua o registro da Declaração de Importação em seu nome. 2. O sujeito passivo oculto (ou responsável pela operação de importação) ➞ aquele que se vale do importador para obter a nacionalização da mercadoria à margem dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. O sujeito passivo oculto é aquele que não pode ou não quer promover a operação de importação em seu próprio nome. Por isso se vale outro ( o importador ) para obter produto importado no mercado interno. É de se frisar que é perfeitamente possível, à luz da legislação aplicável, que terceiro utilize o importador para obter produto importado no mercado interno. Fl. 5854DF CARF MF 24 A legislação prevê duas formas de identificar o terceiro (REAL COMPRADOR no mercado interno ) responsável pela importação: I. modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros"; e II. modalidade de "importação por encomenda". Não se valendo dessas duas modalidades de importação, fica caracterizada a seguinte situação: Ø o REAL COMPRADOR no mercado interno (sujeito passivo oculto) obtém a nacionalização do bem importado, por intermédio do importador interposto, sem a adoção formas previstas na legislação aplicável, permanecendo à margem dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. ❉ A normatização do conceito de interposição fraudulenta de terceiros em operações de importação. Coube ao artigo 59 da Lei n° 10.637/02, normatizar o conceito de interposição fictícia de pessoas para a área aduaneira, denominandoo de interposição fraudulenta de terceiros. O referido artigo alterou a redação do artigo 23, do DecretoLei nº 1.455, de 07 de Abril de 1976, que define as infrações que causam dano ao Erário, acrescentandolhe o inciso V, além de quatro novos parágrafos. ❖ Decreto Lei n° 1.455/76: Art 23. Consideramse dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: (...) V estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 1o O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) Fl. 5855DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 14 25 § 2o Presumese interposição fraudulenta na operação de comércio exterior a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 3o As infrações previstas no caput serão punidas com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, na importação, ou ao preço constante da respectiva nota fiscal ou documento equivalente, na exportação, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida, observados o rito e as competências estabelecidos no Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010) § 4o O disposto no § 3o não impede a apreensão da mercadoria nos casos previstos no inciso I ou quando for proibida sua importação, consumo ou circulação no território nacional.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) Deve ser feita uma observação. No inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, o legislador trata da mesma forma as seguintes expressões: I. sujeito passivo oculto aquele que importa o bem através de um importador interposto; II. real comprador aquele que adquire o bem importado através de importador interposto no mercado interno; e III. responsável pela operação (importação) aquele que mesmo não adquirido o bem importado no mercado interno, exerce o "Domínio do Fato" sobre a operação de importação. Essas expressões ao serem usadas pelo legislador como sinônimas, retratam a mesma pessoa: o terceiro no mercado interno (dentro do território nacional) que se vale de um importador interposto para obter a nacionalização de um bem, à margem dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. ❉ Formas de constatação da existência do sujeito passivo oculto Existem, a princípio, duas formas de constatação da existência do sujeito passivo oculto: · Por AÇÃO DIRETA – A fiscalização evidencia a existência e identifica o sujeito passivo oculto a partir de duas situações: 1. Verificação de que a fonte dos recursos aplicados na operação de comércio exterior advém de terceiro; ou 2. Verificação que terceiro foi de fato o responsável pela operação em comércio exterior (possuiu/exerceu o “domínio do fato” sobre a transação), sendo o importador um instrumento para obter o bem importado. Em ambos os casos, o terceiro deveria se identificar aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros e assim não procedeu. · Por AÇÃO INDIRETA – O fisco não identifica o sujeito passivo oculto. Contudo, o ato omissivo do importador, em não comprovar a origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados, Fl. 5856DF CARF MF 26 autoriza a fiscalização a presumir que terceiro (não identificado) financia a operação em comércio exterior. Essa é a mesma conclusão da lição de Deiab Junior e Nepomuceno (2008), ao se referirem às inovações trazidas à baila pela alteração do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76: a) apenou com perdimento a mercadoria de origem estrangeira, na importação ou na exportação, quando constatada a ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros, e; b) criou a presunção legal de interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior, quando não comprovada a origem, disponibilidade e a transferência, dos recursos empregados em tais transações. DEIAB JUNIOR, Remy; NEPOMUCENO, Bruno Carvalho. Interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior perpetradas por pessoas físicas. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1794, 30 maio 2008 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/11329>. Acesso em: 16 dez. 2012. Portanto, há duas formas de constatação da prática de interposição fraudulenta de terceiros: 1. Prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros (Ocultação) – Conduta infracional tipificada no inciso V do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76 – É a constatação da ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável através de fraude ou simulação. Sua inspiração vem da norma geral antielisiva do Parágrafo Único do artigo 116 do CTN, que pode estar relacionada ou não com a legislação que cuida do crime relacionado à ordem tributário e a “lavagem de dinheiro”, responsável por municiar a fiscalização para o combate da interposição fictícia de pessoas em operações de comércio exterior, o que implica na necessidade de comprovação, mediante a demonstração por parte da fiscalização, de quem é de fato o real sujeito passivo beneficiado. Aplicação do processo conhecido como “follow the money”. 2. Prática presumida da interposição fraudulenta de terceiros – Conduta infracional tipificada no §2° do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76 – Advém de uma presunção legal, o que acarreta ao importador/exportador a necessidade comprovar a origem, disponibilidade e a transferência, dos recursos empregados em operações de comércio exterior. Sua inspiração vem não só da norma geral antielisiva já citada, como também do artigo 1º da Lei nº 9.613/98 e municia a fiscalização com um mecanismo de controle para coibir a prática, pelo sujeito ocultado, do crime relacionado à “lavagem de dinheiro” por sucessivas operações internacionais, podendo estar relacionado com outras irregularidades tributárias, como por exemplo, fraude no preço/valor declarado (sub ou superfaturamento). Fl. 5857DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 15 27 O artigo 11 da IN SRF n° 228/2002 contempla essa formatação de constatação da prática de interposição fraudulenta de terceiros e determina seus respectivos efeitos, substanciados no artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, artigo 33 da Lei n° 11.488/2007 e no artigo 81 da Lei n° 9.430/96: ° Artigo 11 da IN SRF n° 228/2002: Art. 11. Concluído o procedimento especial, aplicarseá a pena de perdimento das mercadorias objeto das operações correspondentes, nos termos do art. 23, V do Decretolei nº 1.455, de 7 de abril de 1976, na hipótese de: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0 I ocultação do verdadeiro responsável pelas operações, caso descaracterizada a condição de real adquirente ou vendedor das mercadorias; II interposição fraudulenta, nos termos do § 2º do art. 23 do Decretolei nº 1.455, de 1976, com a redação dada pela Medida Provisória nº 66, de 29 de agosto de 2002, em decorrência da não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados, inclusive na hipótese do art. 10. § 1º Na hipótese prevista no inciso I do caput, será aplicada, além da pena de perdimento das mercadorias, a multa de que trata o art. 33 da Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0(Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) § 2º Na hipótese prevista no inciso II do caput, além da aplicação da pena de perdimento das mercadorias, será instaurado procedimento para declaração de inaptidão da inscrição da empresa no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0 (Incluído(a) pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) § 3º A hipótese prevista no inciso I do caput contempla a ocultação de encomendante predeterminado. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0 (Incluído(a) pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) ❉ Inftações decorrentes de cada prática de interposição fraudulenta de terceiros Fl. 5858DF CARF MF 28 A prática EFETIVA da interposição fraudulenta de terceiros implica em duas infrações: ¨ Uma infração tipificada no inciso V, do artigo 23, do Decreto Lei 1.455/76, punível com a aplicação da pena de perdimento, tendo por destinatário o real adquirente da mercadoria e conseguinte conversão em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria no caso de que não seja localizada ou que tenha sido consumida. Uma infração imprópria que pode ser cometida por qualquer um na condição de REAL COMPRADOR em coautoria com o importador interposto. ¨ Outra infração tipificada no caput do artigo 33 da Lei 11.488/2007, punível com a multa de 10% (dez por cento) do valor da operação acobertada, não podendo ser inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), tendo por destinatário a pessoa jurídica que cedeu seu nome. Uma infração própria, já que para cometêla o agente deve ter a condição de ser importador devidamente habilitado no SISCOMEX. A prática PRESUMIDA da interposição fraudulenta de terceiros também implica em duas infrações: ¨ Uma infração tipificada no §2º, do artigo 23, do Decreto Lei n° 1.455/76, punível com a aplicação da pena de perdimento e conseguinte conversão em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria no caso de que não seja localizada ou que tenha sido consumida, tendo por destinatário o importador de direito (INTERPOSTO), em razão da não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na importação. Uma infração própria, já que para cometêla o agente deve ter a condição de ser importador devidamente habilitado no SISCOMEX. ¨ Outra infração tipificada no artigo 81, §1º, da Lei nº 9.430/96, que determina a declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, que não comprove a origem, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos empregados em operações de comércio exterior. Fl. 5859DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 16 29 Coadunase para essa constatação, o seguinte artigo: ¹ Artigo 99 do DecretoLei nº 37/66: Art.99 Apurandose, no mesmo processo, a prática de duas ou mais infrações pela mesma pessoa natural ou jurídica, aplicamse cumulativamente, no grau correspondente, quando for o caso, as penas a elas cominadas, se as infrações não forem idênticas. (Grifo e Negrito Nossos) ❉ Do ônus probatório A depender da forma de constatação da existência do sujeito passivo oculto, o ônus probatório irá oscilar: Ø Na prática efetiva o ônus probatório é da fiscalização: Cabe à ação fiscal reunir os elementos que indicam a ocorrência da interposição fraudulenta de terceiros entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto. Ø Na prática presumida o ônus probatório é do importador: Cabe ao importador a comprovação da origem, disponibilidade e transferência de recursos empregados na importação, na forma do §2º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. ❉ A caracterização da infração O núcleo da infração da prática de interposição fraudulenta de terceiros é o USO DE INTERPOSTA PESSOA em operação de comércio exterior com o propósito de ACOBERTAR o sujeito passivo oculto. A partir disso são detectadas duas espécies da mesma infração: Fl. 5860DF CARF MF 30 · Infração 1: O uso de interpostas pessoas como instrumento (meio) para acobertar a identificação do responsável pela importação (OCULTAÇÃO) por infração contra o sistema tributário nacional (FRAUDES FISCAIS/SIMULAÇÃO). · Infração 2: O uso de interpostas pessoas como instrumento (meio) para acobertar a identificação do responsável pela importação (OCULTAÇÃO) por infração contra o sistema financeiro nacional (LAVAGEM DE DINHEIRO/SIMULAÇÃO). Nesse diapasão, há três formas de se caracterizar a prática de interposição fraudulenta de terceiros: 1. A PARTIR DA NÃO IDENTIFICAÇÃO DA ORIGEM DOS RECURSOS APLICADOS A administração aduaneira deve estar atenta à movimentação de recursos financeiros de origem desconhecida ou não comprovada associada ao uso de interposta pessoa em operação de comércio exterior. 2. A PARTIR DA IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL DE INFRAÇÃO CONTRA O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL A Lei nº 8.137, de 1990, define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo. Nesse contexto, a legislação objetivou não só evitar as fraudes fiscais, como também dar maior efetividade na cobrança de tributos buscando identificar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária. 3. A PARTIR DA IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELA INFRAÇÃO CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL A Lei nº 9.613, de 1998, dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores, bem como sobre a prevenção da utilização do sistema financeiro. Portanto, tem se também como finalidade não cuidar da questão puramente tributária, mas coibir crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores. Na prática as três causas se mesclam, e assim existe a hipótese de haver infrações entrelaçadas, mas sempre com o USO DE INTERPOSTA PESSOA COMO INSTRUMENTO (MEIO) PARA DIFICULTAR A IDENTIFICAÇÃO do sujeito passivo oculto. ❉ A sanção prevista A legislação apenou a prática de interposição fraudulenta de terceiros com o perdimento da mercadoria de origem estrangeira. A nova redação do § 3º, do artigo 23, do DecretoLei nº 1.455/76, dada pela Lei nº 12.350/10, substituiu a redação originariamente dada pela Medida Provisória n° 66/2002, em 29 de agosto de 2002, e estipulou a seguinte alternância de procedimentos – ritos: Fl. 5861DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 17 31 · Pena de perdimento ➞ se a mercadoria em situação irregular for apreendida pela fiscalização ( rito aplicado: artigo 27 do Decreto Lei n° 1.455/76 ); ou · Multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do valor aduaneiro) ➞ se a mercadoria passível de perdimento não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida ( rito aplicado: Decreto n° 7.574/2011). Estáse assim diante de uma alternância de ritos procedimentais, a depender da retenção ou não da mercadoria passível de perdimento. É de se enfatizar o seguinte: ainda que a multa equivalente ao valor aduaneiro receba a designação de “crédito tributário”, por ser advinda de um lançamento, isso não altera a natureza jurídica da prática de interposição fraudulenta de terceiros: um ato ilícito passível de sanção (pena de perdimento ou multa equivalente ao valor aduaneiro). ▣ A PRÁTICA EFETIVA DE INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS A demonstração da prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros engloba três pontos: 1. Identificação do importador interposto e do sujeito passivo oculto; 2. Constatação do liame entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto; 3. Demonstração da FRAUDE ou SIMULAÇÃO. ❉ A identificação do importador interposto e do sujeito passivo oculto Salientase que esse é o primeiro passo ou o pressuposto básico e necessário para a caracterização da prática efetiva, mas longe de ser o suficiente. Como dito, o ato de se interpor em operação de importação, pressupõe necessariamente a existência de dois participes. Na demonstração da prática efetiva, a fiscalização tem o dever de identificar tanto o importador interposto como o sujeito passivo oculto. A fiscalização deve também evidenciar que o sujeito passivo oculto se valeu do importador interposto para obter produto importado no mercado interno. Portanto, é indispensável a demonstração pela fiscalização da revenda do produto importado no mercado interno entre os dois participes, ou a revenda do importador a alheio ( MERO COMPRADOR) sob a determinação do sujeito passivo oculto. Fl. 5862DF CARF MF 32 A caracterização da prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros pode ocorrer através de diversos elementos, tais como: · a destinação integral e imediata das mercadorias importadas; · o conhecimento prévio ao registro da DI do destinatário das mercadorias importadas; · rotulagem das mercadorias importadas com sinais de identificação do adquirente (logotipo, marcas etc.); · especificidade das mercadorias que são importadas para um único adquirente, ou conjunto restrito de adquirentes, de tal forma que a importação não poderia ser realizada para posterior comercialização no mercado interno. Atualmente, duas formas de “terceirização” das operações de comércio exterior são reconhecidas e reguladas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB): · A importação por conta e ordem uma empresa (a adquirente), interessada em uma determinada mercadoria, contrata uma prestadora de serviços (a importadora por conta e ordem) para que esta, utilizando os recursos originários da contratante. providencie, entre outros, o despacho de importação da mercadoria em nome da empresa adquirente; · A importação por encomenda uma empresa (a encomendante predeterminada), interessada em uma certa mercadoria, contrata uma outra empresa (a importadora) para que esta, com seus próprios recursos, providencie a importação dessa mercadoria e a revenda posteriormente para a empresa encomendante. A escolha entre importar mercadoria estrangeira por conta própria ou por meio de um intermediário, contratado para esse fim, é livre e perfeitamente legal, seja esse intermediário um prestador de serviço ou um revendedor. Fl. 5863DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 18 33 Entretanto, tanto o importador quanto o adquirente ou encomendante. conforme o caso, devem observar o tratamento tributário específico dessas operações e alguns cuidados especiais, a fim de não serem autuados ou, até mesmo, que as mercadorias sejam apreendidas. Para que uma operação de importação por encomenda ou importação por conta e ordem seja realizada de forma perfeitamente regular, é necessário, antes de tudo, que tanto as empresas encomendantes e adquirentes quanto a empresa importadora estejam habilitadas para operar no Siscomex, nos termos da legislação respectiva. Além de habilitação de todos os intervenientes (encomendante, adquirente e importador), nas operações de importação terceirizadas, é necessário apresentar, à unidade da RFB com jurisdição para fiscalização aduaneira sobre o estabelecimento matriz da encomendante ou adquirente, cópia do contrato firmado entre as empresas (encomendante ou adquirente e importadora), caracterizando a natureza de sua vinculação, a fim de que a contratante e a contratada sejam vinculadas no Siscomex. pelo prazo ou operações previstos no contrato. A fim de promover o despacho aduaneiro das mercadorias importadas, conforme determina o art. 3o, da IN SRF n° 634/06 e o art. 3o, da IN SRF n° 225/02, ao elaborar a Declaração de Importação, o importador, pessoa jurídica contratada, deve informar que não se trata de uma operação por conta própria, indicando, em campo próprio na ficha “importador” da DI, o número de inscrição do encomendante ou do adquirente no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). A falta de indicação do encomendante ou adquirente na Declaração de Importação, bem como a ausência de habilitação de alguma das partes no Siscomex e a ausência de vinculação do contrato na Receita Federal caracterizam a situação de ocultação do sujeito passivo ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, punível com a pena de perdimento das mercadorias (art. 23 V, do Decretolei n° 1.455/76 com a redação dada pela Lei n° 10.637/02). ❉ Das modalidades de Importação Fl. 5864DF CARF MF 34 Não há propriamente uma definição normatizada e, portanto, estanque do que vem a ser a importação direta. Poderseia esboçar aqui uma definição sob o sério risco de fazêla incompleta ou até mesmo imperfeita e assim confundir mais do que auxiliar. Por isso, tomase o caminho mais fácil e seguro. Se tanto a Importação por “conta e ordem” como a Importação por “encomenda” possuem definições precisas dadas pela Lei e se apenas existem três modalidades e possibilidades de importação no Brasil, valese do critério da complementaridade para se estabelecer que aquilo que não for Importação por “conta e ordem” e Importação por “encomenda” será, portanto, uma importação direta. É mister que se compreenda um ponto chave na consolidação da legislação de combate a interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior e que servirá para o adequado deslinde do caso ora em análise: O artigo 27 da Lei n° 10.637/02 e a IN SRF nº 225, de 18 de outubro de 2002 – responsáveis pela definição, previsão e regulamentação da modalidade de Importação por “conta e ordem” – assim como o artigo 11 da Lei nº 11.281/2006 e a IN SRF nº 634/2006 responsáveis pela definição, previsão e regulamentação da modalidade de Importação por “encomenda” não criam qualquer conduta infracional. O que elas regulamentam, simplesmente, são formas permissivas de atuação de empresa interposta na importação. Assim, temos que inicialmente o artigo 27 da Lei n° 10.637/02 (modalidade de Importação por “conta e ordem”) e posteriormente o artigo 11 da Lei n° 11.281/06 (modalidade de Importação por “encomenda”) criam formas permissivas do uso do importador interposto. Caracterizada a prática de qualquer uma dessas duas modalidades de Importação, sem a adoção dos respectivos procedimentos previstos para a adequada identificação do adquirente ou do encomendante no mercado interno, resta configurada a ocultação do sujeito passivo (real beneficiário da importação) pelo importador interposto. ❉ A identificação do liame entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto Para a seguinte indagação: existe a possibilidade da prática de interposta pessoa (importador interposto) em operações de importação frente à legislação brasileira? A resposta é SIM: Ø seja através da Importação por “conta e ordem”; ou Ø seja através da Importação por “encomenda”. Portanto, o passo subsquente ao da identificação do importador interposto e do sujeito passivo oculto é a demonstração por parte da fiscalização de que: Ø a modalidade de importação “direta” eleita pelo importador oculta uma modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros"; ou Fl. 5865DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 19 35 Ø a modalidade de importação “direta” eleita pelo importador oculta uma modalidade de "importação por encomenda". Em outros termos: justamente para não identificar o REAL COMPRADOR no mercado interno do produto importado, foi eleita a modalidade de importação “direta”. ❉ identificação da modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros" Para uma adequada análise, partese do conceito normativo da importação por conta e ordem de terceiros: · Disciplinada pelos artigos 80, 81 da Medida Provisória n° 2.158/0135 e artigo 29 da Medida Provisória n° 66/2002, regulamentada pela Instrução Normativa SRF nº 225, de 18 de outubro de 2002, com definição jurídica dada pelo artigo 27 da Lei n° 10.637/02: Art. 27. A operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro presumese por conta e ordem deste, para fins de aplicação do disposto nos arts. 77 a 81 da Medida Provisória n° 2.15835, de 24 de agosto de 2001. O artigo transcrito autoriza a seguinte presunção: denominar de importação por conta e ordem de terceiros a importação realizada mediante utilização de recursos de terceiros. Fl. 5866DF CARF MF 36 Assim, se a operação de importação é adimplida (fechamento do câmbio) com recursos de terceiro, a modalidade de importação a ser reconhecida será a importação por conta e ordem de terceiros, na forma do artigo 27 da Lei n° 10.637/02. O fluxograma nos auxiliará na visualização do contexto: ❉ Identificação da modalidade de importação “por encomenda” Para uma adequada análise, partese do conceito normativo da importação por encomenda: · Disciplinada pelo artigo 11 da Lei 11.281/06 e regulamentada pela Instrução Normativa SRF nº 634, de 24 de março de 2006, com definição jurídica dada pelo artigo 11 da Lei n° 11.281/06: Art. 11. A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros. Como dito, na redação do inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, o legislador se valeu de três expressões análogas: I. sujeito passivo oculto; II. real comprador; e III. responsável pela importação. Usase uma outra expressão com o mesmo significado para explorar adequadamente o conceito de importação por encomenda: “PESSOA PREDETERMINADA”. Fl. 5867DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 20 37 A nova expressão tem o seu propósito porque vem a retratar uma faceta específica e determinante para a identificação da modalidade de "importação por encomenda" : A tomada de risco. Se na modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros" a regra de ouro é entender a gênese do recurso e sua consequencia no financiamento da operação de importação, na modalidade de "importação por encomenda" a regra de ouro é identificar se o importador correu risco quanto à revenda do produto importado no mercado interno. Há que se comente um detalhe de suma importância: A bem dizer, o critério tomada de risco também pode e deve ser usado para caracterizar a modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros", pois se entende que a tomada de risco de revenda das mercadorias importadas no mercado interno é uma característica essencial da importação direta. Isso porque: Ø na Importação por “conta e ordem” no momento da nacionalização – registro da Declaração de Importação – já existe no mercado interno comprador certo (ADQUIRENTE); e Ø na Importação por “encomenda” no momento da nacionalização – registro da Declaração de Importação – já existe no mercado interno comprador certo (ENCOMENDANTE). Portanto, é perfeitamente possível ver em um Auto de Infração o uso do critério tomada de risco conjugado com o repasse de recursos para evidenciar uma importação por conta e ordem de terceiros. Contudo, é o repasse de recursos a característica essencial daquela modalidade de importação. Na importação por encomenda, dado o seu conceito normativo inexiste qualquer repasse de recursos. Por isso, que o critério tomada de risco passa a ser relevante em sua caracterização. Tomase por base um quadrinho usado comumente para retratar a modalidade de importação direta: Fl. 5868DF CARF MF 38 Ø O importador adquire a mercadoria no mercado externo com recursos próprios e a revende no mercado interno para comprador indeterminado. Um outro quadrinho auxiliará a compreensão do conceito de PESSOA PREDETERMINADA: Ø O importador adquire a mercadoria no mercado externo com recursos próprios e a revende no mercado interno para comprador determinado (REAL COMPRADOR). A pessoa predeterminada é o comprador de bem importado definido antes da data do registro da Declaração de Importação. Como dito, a tomada de risco de revenda das mercadorias é uma característica essencial da importação direta, enquanto que na Importação por “conta e ordem” e na Importação por “encomenda” no momento da nacionalização – registro da Declaração de Importação – já existe no mercado interno comprador certo (REAL COMPRADOR). Em uma operação de venda casada, como a promovida por uma interposta pessoa em operações de importação este risco é inexistente, já que toda operação de compra e venda foi previamente arranjada e seus termos são bem conhecidos no momento em que o importador promove o despacho aduaneiro das mercadorias. Fl. 5869DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 21 39 Essa premissa decorre de modo direto e imperioso do objetivo traçado pela Receita Federal do Brasil em pretender possuir controle absoluto sobre o destino de todas as mercadorias importadas por empresas nacionais. Aquele que é destinatário de bem importado, já conhecido no momento do registro da respectiva Declaração de Importação, deve ser necessariamente informado aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros na forma da IN SRF nº 225/02 para a modalidade de Importação por “conta e ordem” e da IN SRF nº 634/2006 para a modalidade de Importação por “encomenda” , sob o risco de configuração da prática de interposição fraudulenta de terceiros e conduta tendente a burlar os controles aduaneiros. O registro da Declaração de Importação é o marco eleito para identificar a PESSOA PREDETERMINADA, pois: 1. É o aspecto temporal que define o momento da entrada do bem no território aduaneiro; 2. É o instante de nacionalização do bem possível de ser precisado; 3. Antes desse instante a legislação pátria não tem qualquer efeito sobre o bem importado; 4. Só com o registro da Declaração de Importação é que se reúne toda a gama de informações suficientes para atender os requisitos exigidos pelas Instruções Normativas citadas. E ainda se acrescenta: Antes do ingresso da mercadoria no território nacional o bem é completamente alienígena ao ordenamento jurídico pátrio. Quem comprou, porque comprou, quando comprou, como pagou são questões por ora estranhas à fiscalização aduaneira, até mesmo porque a mercadoria pode vir a ter outro destino que não o Brasil. A ação da fiscalização aduaneira brasileira, com relação à mercadoria importada, só tem sentido a partir do seu ingresso no País. Esse momento a legislação precisa muito bem, inclusive em termos de minutos e até segundos: é o registro da Declaração de Importação. A partir desse instante é que o bem passa a ter relevância ao ordenamento jurídico pátrio, em particular à ação da fiscalização aduaneira da Receita Federal do Brasil. Para poder exercer sua expertise e verificar a regularidade da importação e assim atender a premissa de possuir controle absoluto sobre o destino de todas as mercadorias importadas por empresas nacionais, no momento do registro da Declaração de Importação o importador tem o dever de informar esse fato à fiscalização aduaneira através da adoção da modalidade de Importação por “conta e ordem” ou modalidade de Importação por “encomenda” a depender da forma de financiamento da importação. Se no momento do registro da Declaração de Importação a mercadoria tem destino certo no mercado interno – PESSOA PREDETERMINADA – é dever do importador expor esse fato, sob pena de burla aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. Fl. 5870DF CARF MF 40 E nesse contexto, é inegável que o importador age como interposta pessoa, pois a mercadoria apenas transpassa por ele. Por vezes sequer adentra ao seu estabelecimento comercial. Uma questão que é comumente suscitada é a alegação de que para se caracterizar a modalidade de "importação por encomenda" é necessário que o encomendante participe da transação comercial com o fornecedor estrangeiro. O legislador contemplou essa situação nos §§ 3º e 4º, do inciso I, do artigo 112 do Regulamento Aduaneiro, aprovado pelo Decreto n° 6.759/2009: § 3o A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros (Lei no 11.281, de 2006, art. 11, caput). § 4o Considerase promovida na forma do § 3o a importação realizada com recursos próprios da pessoa jurídica importadora, participando ou não o encomendante das operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior (Lei no 11.281, de 2006, art. 11, § 3o, com a redação dada pela Lei nº 11.452, de 2007, art. 18). (grifo e negrito nossos) Portanto, a participação do encomendante das operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior é irrelevante para a caracterização da modalidade de "importação por encomenda". ❉ Identificação do responsável pela importação. Está aqui diante de um terceiro modo de identificação do liame entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto, à margem da modalidade de importação praticada: reconhecer quem foi o responsável pela importação. Fl. 5871DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 22 41 Um adendo se faz necessário: como já dito, usualmente, a fiscalização identifica a prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros pela desconstituição da modalidade de importação direta adotada pelo importador com a consequente caracterização da modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros" ou de “por encomenda”. Todavia, há um outro modo de demonstrar esse liame, à margem de qualquer demonstração de repasse de recursos e/ou tomada de risco. É demonstrar que o responsável pela importação utilizou o importador interposto como um longa manus. É uma outra ótica da fiscalização reconhecer a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros dissociada do critério da capacidade econômica: o REAL COMPRADOR no mercado interno seria identificado como sendo aquele que detém o “Domínio do Fato”. Um outro modo de compreender (identificar) o responsável pela importação é através da seguinte constatação: sem a sua vontade a importação não aconteceria. Percebam uma nova variante da prática de interposição fraudulenta de terceiros: Quem exerce o “domínio do fato” pode vir a ser ou não o destinatário dos produtos importados no mercado interno. A mercadoria transacionada PODE SEQUER passa por ele assim como o dinheiro referente à transação. Ainda assim, é ele que determina todas as coordenadas do importador. Portanto, é tido como o responsável pela importação. IMPORTANTE: Se não for constatado o liame entre os assim denominados “importador interposto” e “sujeito passivo oculto”, aquele que a fiscalização a priori identificou como REAL COMPRADOR no mercado interno perde essa qualificação e passa a ser tratado como um “MERO COMPRADOR”, não cabendo assim qualquer tipificação da conduta no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. Fl. 5872DF CARF MF 42 ❉ Demonstração da FRAUDE ou SIMULAÇÃO. Como visto, o significado de “interpor”, verbo transitivo, é "pôr entre". Já a fraude representa todo artifício empregado com o fim de enganar uma pessoa e causarlhe prejuízo. Destarte, tomando como base o simples significado das palavras, é possível concluir que interposição fraudulenta é a situação fática em que determinado ente fica numa posição de "intermediário" (importador ostensivo) com o objetivo de esconder outro agente (adquirente ou encomendante), causando prejuízo ao erário ou dificultando os controles administrativos das Aduanas. Embora a fraude já esteja perfeitamente caracterizada, nos termos do art. 72 da Lei nº 4.502/1964, cumpre ainda atentar que o bem jurídico protegido pela norma contida no art. 83, inciso I, da Lei nº 4.502/1964, com a redação dada pelo art. 1º, alteração 2ª, do Decreto lei nº 400, de 30 de dezembro de 1968, não é unicamente o Erário, mas a norma visa essencialmente resguardar o controle aduaneiro e proteger a economia nacional, que se vêem afetados pela importação fraudulenta e pela entrada clandestina de mercadorias no País. Nesse passo é possível discernir entre a fraude tributária stricto sensu e a fraude aduaneira que abrange, além dos aspectos estritamente fiscais atinentes àquela, também os extrafiscais, próprios do controle aduaneiro. Nesse sentido, fraude aduaneira não se restringe à fraude exclusivamente tributária. Assim, em matéria aduaneira, a fraude assume uma feição própria, de modo que o termo “importação fraudulenta” transcende a conduta dolosa de tãosomente evitar ou reduzir o pagamento de tributo, não se restringindo à “fraude”, tal como conceituada no art. 72 da Lei nº 4.502/1964, de feição estritamente tributária. Envolve também as ações dolosas empreendidas para burlar os controles aduaneiros, com o intuito de lograr benefícios ilicitamente, com p. ex., obter vantagens cambias, remeter divisas irregularmente etc. Em tais situações, pode ocasionalmente não haver insuficiência ou falta de recolhimento de impostos, porém não se há de negar a caracterização da importação como fraudulenta, porquanto resta evidente a ação dolosa em ilidir o controle aduaneiro para fruição de vantagens ilícitas em detrimento da economia nacional, bens jurídicos que a norma visa assegurar. Então, em relação a operações aduaneiras, seria um contrasenso exigir que a fraude se caracterizasse unicamente pela falta ou insuficiência de pagamento dos impostos incidentes na importação. No ordenamento jurídico encontramos exemplos dessa acepção, em que a importação fraudulenta não necessariamente implica supressão ou redução do imposto devido. É o caso art. 23 do DecretoLei nº 1.455, de 7 de abril de 1976, com redação dada pelo art. 59 da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002 (DOU 31/12/2002), que pune uma espécie de importação fraudulenta, caracterizada pela ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros, mesmo não havendo repercussão no recolhimento do imposto. Assim, “importação fraudulenta” significa importação com fraude ao controle aduaneiro, mitigandose a feição estritamente tributária de “reduzir ou evitar o pagamento do imposto” ocorrendo nos casos em que a falsificação ou a adulteração de documentos acarrete dano ao citado controle, mesmo que não haja repercussão no tratamento tributário. Fl. 5873DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 23 43 A propósito observese o lúcido ensinamento de ROOSEVELT BALDOMIR SOSA: "consiste a falsidade documental, em matéria aduaneira, em elaborar documento falso, ou alterálo total ou parcialmente de modo a iludir o controle administrativo. Também se conhece a falsidade ideológica, que é quando o documento se mostra verdadeiro, mas não expressa a verdade” (Comentário à lei aduaneira: Regulamento Aduaneiro, São Paulo: Aduaneiras, 1993, vol. III, p. 187) . A prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, tipificada no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. é uma conduta que o legislador entendeu por bem não tolerar, dado o seu RISCO POTENCIAL. O quadro abaixo indica as três etapas para a consumação da infração, de acordo com a prática efetiva. Para tanto, transcrevese trecho do Termo de Verificação Fiscal, às folhas 19 e 20 do processo digital: Por tudo que foi exposto até o presente momento, verificase que a contabilidade não está espelhando com fidedignidade as operações realizadas pela empresa e assim, pelo que foi até aqui relatado, há fortes indícios de que a fiscalizada não é a real adquirente das mercadorias importadas e que ocorria, portanto, a interposição de pessoas. Desta forma, mantivemos a continuidade da fiscalização e através de uma amostragem significativa, emitimos os Termos de Intimação Fiscal Ns 02, Ns 03, e Na 04, a fim de verificarmos a origem e a finalidade dos recursos monetários que ingressaram na empresa (anexos 09). Fl. 5874DF CARF MF 44 Após terem transcorrido mais de dois meses para atender as intimações, a empresa nos forneceu os documentos solicitados. Analisandose os documentos que nos foram enviados, verificamos que a fiscalizada enviounos somente 01 (um) contrato que foi assinado com um de seus “clientes”. Neste contrato verificase que a auditada não é a real adquirente das mercadorias, pois no mesmo é contratado que as operações_só serão realizadas mediante adiantamento de recursos monetários (anexos 10). De posse dos documentos, e em virtude da enorme quantidade de dados a serem verificados, inicialmente, utilizandose os “Compact Disc” (CDs) enviados pela empresa, criamos o Demonstrativo das Notas Fiscais Emitidas (anexos 12). Os dados constantes neste demonstrativo foram obtidos nos dados informados pela empresa na relação de notas fiscais (anexos 05) e na relação de identificação dos recursos monetários recebidos (anexos 11), os quais foram entregues, também, em “CD”. Analisandose o referido demonstrativo, concluímos que as informações prestadas pela fiscalizada não correspondiam à realidade. Em nossa análise constatamos as seguintes ocorrências: depósitos realizados em data anterior a de emissão das notas fiscais de saídas, caracterizando, assim, adiantamentos; valores depositados superiores aos valores totais constantes nas notas fiscais de saídas; valores depositados inferiores aos valores totais constantes nas notas fiscais de saídas; valores depositados em datas bem posteriores à data de emissão das notas fiscais de saídas (há casos em que a diferença de data é superior a um ano); um mesmo depósito referindose a notas fiscais de saídas emitidas em datas bem diferentes; informação de que os depósitos referiamse à devolução de cheques; Notas fiscais informadas nas planilhas de identificação dos recursos monetários recebidos não localizadas nas planilhas de notas fiscais. f) O conjunto de fatos apurados levounos a emitir o Termo de Intimação Fiscal Nfi 05 (anexos 13) para verificarmos os dados constantes nas notas fiscais de saídas. Ao examinarmos as notas fiscais de saídas, verificamos que todas as notas que constam no Demonstrativo das Notas Fiscais Emitidas foram emitidas como vendas a vista e não como vendas a prazo, como informado anteriormente pela empresa. Desta forma, nas informações prestadas, verificase que os depósitos realizados em parcelas para diversas notas fiscais são comprovações de que as informações prestadas não correspondem à realidade dos recursos monetários recebidos pela fiscalizada. Além destes fatos, observamos outros, os quais nos levaram a fazer correções Fl. 5875DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 24 45 no Demonstrativo das Notas Fiscais Emitidas elaborados pela fiscalização. Assim sendo, de posse do referido demonstrativo e de posse das notas fiscais, construímos ò Demonstrativo do Saldo Bancário (onde é demonstrado o saldo bancário da empresa nas datas especificadas), o Demonstrativo dos Valores Excluídos (onde é demonstrado os valores que não foram considerados no fluxo financeiro e o motivo da exclusão) e o Demonstrativo do Fluxo Financeiro (onde é demonstrado o real saldo de recursos monetários da empresa disponíveis para pagamento das despesas aduaneiras realizadas). No Demonstrativo do Fluxo Financeiro, fica demonstrada a total falta de capacidade financeira da empresa para realizar as operações de comércio exterior no período fiscalizado (anexos 13). Cabe destacar que quando foi gerado o Demonstrativo dos Valores Excluídos, todos os valores que foram creditados na conta “Obrigações Diversas”, e que foram debitados na conta “Bancos" como depósitos, não foram considerados como recursos monetários da empresa, já que, em contabilidade, a essência deve prevalecer sobre a forma e, assim, neste caso, não fica caracterizado que a empresa assumiu uma obrigação de pagamento de algo. Tais registros contábeis caracterizam que a empresa assumiu a obrigação de uma prestação de serviço por ter recebido recursos monetários de terceiros, caracterizando, desta forma, que tais recebimentos de recursos monetários são, na realidade, adiantamentos realizados pelos reais adquirentes das mercadorias importadas pela fiscalizada. Portanto, em planilhas anexas ao Auto de Infração, a fiscalização identificou como origem dos recursos empregados nas operações de importação, clientes da empresa Gama Comercial no mercado interno, o que caracteriza modalidade de importação por "conta e ordem". Como a figura do adquirente não aparece na Declaração de Importação, isso implica em burla aos controles aduaneiros e por conseguinte prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, conduta infracional tipificada no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. É alegado às folhas 16 do Recurso Voluntário pela empresa Gama Comercial: Infeliz foi o procedimento do I. Auditor Fiscal do SEFIA, pois em momento algum deixou claro no Auto de Infração qual o dispositivo legal a recorrente infringiu, somente apontou os artigos que amparam o seu relatório final do procedimento especial de fiscalização da IN/SRF n° 228/02, como se não soubesse o andamento final daquele processo que estava arquivado, já nulo, então utilizou esse Relatório para embasar o auto de infração, contrariando as ordens do Inspetor, o que demonstrou a total MÁ FÉ do I. Auditor Fiscal do SEFIA já manifestada inicialmente, quando ao invés de enviar uma intimação solicitando todos os documentos, foi solicitando aos poucos, para que a fiscalização perdurasse no tempo. Fl. 5876DF CARF MF 46 A Decisão proferida no referido Processo Fiscal emitida pelo SEORT da IRF/Vitória foi muito dara quando julgou insubsistente o Relatório e todas as irregularidades apontadas pelo I. Auditor Fiscal e, por consequência, anulando a acusação que a recorrente não teria utilizado recursos próprios para sua atividade. Através dessa Decisão da autoridade competente, acabouse com a possibilidade de prosperar qualquer infração porventura levantada por tal relatório. E é isso que consta claramente do Parecer n° 991/07 e que deixa claro em diversas passagens de seu teor, como o do primeiro parágrafo da página 17: “A representação não merece prosperar, pois a ausência da comprovação acima citada trazida pela fiscalização, capaz de fundamentar suas conclusões, faz subsistir incólume o entendimento firmado no presente parecer”. Mais adiante, o Recorrente apresenta trecho do Parecer n° 991/07: “Ademais, inexiste comprovação de que o contribuinte tenha utilizado algum meio fraudulento objetivando burlar os encargos tributários, de modo que se afigura exorbitante a decretação de inaptidão do CNPJ da mesma”. “0 princípio da segurança jurídica consubstanciase na necessidade e adequação dos meios empregados para que atinja os desideratos que a lei almeja. In casu, não se configurando a interposição fraudulenta, bem como havendo possibilidade da determinação de providência extremamente gravosa ao contribuinte, novamente menciono que se afiguraria demasiada a pena imposta”. “Desta forma, do quanto foi exposto, ressalvandose as vênias cabíveis, e considerando que os fatos levantados pela fiscalização não configuram irregularidades previstas na legislação para caracterização da declaração de inaptidão, manifesto entendimento de que deva ser acolhido o pleito sobre a ins0ubsistência da representação, tomandoa sem efeito, haja vista as razões expendidas no presente parecer”. “Todavia, não se pode conceber, em pleno Estado Democrático de Direito, como suficiente para ensejará imposição de qualquer penalidade, mesmo a mais branda, a inexistência de teto da empresa representada, não só pela efetiva demonstração de sua existência, mas também pela comprovação da origem dos recursos que agora se demonstra”. (Grifos próprios do original) São necessárias as seguintes considerações: 1. Em momento algum o Parecer n° 991/07 SEORT aborda a questão da demonstração do trinômio origem, disponibilizados e transferência de recursos empregados nas operações de importação; 2. O Parecer n° 991/07 SEORT aborda a questão da declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, o que foge por completo do escopo da Fl. 5877DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 25 47 prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, tipificada no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76; 3. Sem querer invadir seara alheia, respeitando os motivos e fundamentos veiculados, mas parece claro, pelo menos para este Relator, que a declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ foi denegada justamente porque se identificou a origem dos recursos empregados nas operações de importação, como sendo de terceiro identificado, o que implica em outra sanção. Portanto, o Parecer n° 991/07 SEORT, ponto basilar da defesa da Recorrente empresa Gama Comercial, não tem substância para ilidir a ocorrência da prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros. Da empresa TCL TELECOMUNICAÇÕES COMERCIAL LTDA. Foi identificada pela fiscalização como sendo a origem dos recursos empregados nas operações de importação praticadas pela empresa Gama Comercial e adquirente das mercadorias no mercado interno, o que implica sua condição de REAL COMPRADOR. São encontradas provas de transferências de recursos da empresa TCL Telecomunicações Comercial Ltda (REAL COMPRADORA) para à empresa Gama Comercial (importador interposto) às seguintes folhas: Ø 1860 do processo digital; Ø 1872 do processo digital; Ø 1876 do processo digital; Ø 1888 do processo digital; Ø 1902 do processo digital; Ø 1912 do processo digital; Ø 1918 do processo digital; Ø 1922 do processo digital; Ø 1930 do processo digital; Ø 1934 do processo digital; Ø 1948 do processo digital. Esse quadro afasta a alegação da empresa TCL TELECOMUNICAÇÕES COMERCIAL LTDA de ilegitimidade passiva, pois sabia que estava adquirindo produto importado no mercado interno, na condição de ADQUIRENTE / REAL COMPRADOR – sem estar habilitada para tanto. Fl. 5878DF CARF MF 48 ¨ O DANO AO ERÁRIO No caso em análise, o bem jurídico tutelado é o controle aduaneiro e esse controle foi violado, mediante a prática de fraude ou simulação tendente a burlar a Administração Aduaneira. Por serem os Imposto de Importação e de Exportação tributos com caráter extrafiscal, o dano ao Erário não se relaciona apenas a questão de “quanto de tributo deixou de ser recolhido”. Até mesmo porque, pela própria natureza da fraude e simulação proporciona vantagens de outra natureza. Mas mesmo assim, podem vir a serem detectadas vantagens irregulares relacionadas a nãoincidência de impostos e contribuições decorrentes da prática de interposição fraudulenta de terceiros, muito embora não se mostrem imprescindíveis para configurar o dano ao Erário. Para esclarecer o assunto, listase algumas dessas vantagens que podem ser auferidas indevidamente pela prática da interposição fraudulenta de terceiros: Burlar os controles de habilitação para operar no comércio exterior: Para que uma pessoa, física ou jurídica, possa operar no comércio exterior, é necessário que a Receita Federal lhe conceda uma habilitação para acesso ao Siscomex – Sistema Integrado de Comércio Exterior. A pessoa deve possuir Radar. Procedimentos relacionados a essa habilitação estão previstos em atos normativos que estabelecem uma série de verificações fiscais atinentes à avaliação da capacidade operacionaleconômicofinanceira da empresa e ao confronto entre as informações prestadas no requerimento e aquelas constantes na base de dados da Receita Federal (auditoria preventiva). Foi citado, em mais de uma oportunidade, que na interposição fraudulenta de terceiros aquele que não possui capacidade contributiva está intencionalmente exercendo o papel daquele que a possui, com o firme propósito de burla dos controles aduaneiros e fugir da exação tributária. Mesmo que se alegue que a exação tributária foi paga pela interposta pessoa, portanto o Erário não deixou de efetuar o recolhimento que lhe cabia, a burla dos controles aduaneiros ocorreu, pois não é o real importador que se apresenta perante à fiscalização com o seu nome no despacho aduaneiro. A burla aos controles aduaneiros pode causar: • impedir que uma determinada empresa (adquirente) seja submetida ao procedimento de habilitação; • impedir a equiparação, do real adquirente, à condição de estabelecimento industrial, contribuinte do IPI; • impedir a aplicação das restrições e determinações previstas na legislação de "valor aduaneiro" e de "preços de transferência"; . • impedir o conhecimento da verdadeira origem dos recursos; • impedir atribuir ao adquirente a condição de responsável solidário pelos tributos incidentes na importação; Fl. 5879DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 26 49 • impedir o devido registro contábil da propriedade dos bens, incluindo a composição de custos destes bens; • propiciar o aproveitamento indevido de incentivos fiscais estaduais (ICMS), a chamada "guerra fiscal' entre os Estados da federação que, muitas vezes, apenas fomenta a criação , ou simulação de enpresas com o fim único de se obter tais vantagens; • impedir o efetivo controle aduaneiro e fiscal; No caso específico da modalidade Importação por “conta e ordem” ainda podem ser listadas as seguintes burlas aos controles aduaneiros: · A não vinculação do adquirente ao Importação por “conta e ordem”, no Siscomex, via Declaração de Importação; · A não apresentação do adquirente, para fins da vinculação, de requerimento à unidade aduaneira da Receita Federal do Brasil com jurisdição sobre o seu estabelecimento matriz, indicando: I nome empresarial e número de inscrição do importador no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ); e II – apresentação de cópia do contrato firmado entre as partes para a prestação dos serviços. · A não habilitação do adquirente no RADAR; · A não informação pelo Importação por “conta e ordem", do número de inscrição do adquirente no CNPJ em campo próprio da Declaração de Importação; · A exigência de garantia para autorização da entrega ou desembaraço aduaneiro de mercadorias, por parte do adquirente quando o valor das importações for incompatível com o capital social ou patrimônio líquido deste; E ainda traz outros efeitos: Fl. 5880DF CARF MF 50 Blindar o patrimônio do real adquirente/encomendante: No caso de eventual lançamento tributário decorrente das operações, o real importador se beneficia de certa “imunidade” no âmbito patrimonial (cobrança de tributos e multa) e penal (conduta criminosa), uma vez que, aos olhos do Fisco, somente é conhecida a identidade da interposta pessoa. Quebra da cadeia de incidência do IPI: Por ordenamento constitucional, o IPI é um tributo de incidência nãocumulativa, compensandose o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores (art. 153, § 3º, inciso II, da CF/88). O importador de mercadoria estrangeira é estabelecimento equiparado a industrial, consoante o artigo 13 da Lei 13.281/06. Desse modo, a saída de mercadoria do estabelecimento equiparado a industrial, mesmo quando a importação não tenha sido realizada diretamente por ele, constitui fato gerador do IPI, sendo efetivamente devido o valor do imposto em razão da diferença entre o preço de entrada e o preço de saída, pelo princípio da nãocumulatividade, conforme artigo 35 do Decreto nº 7.212/10 (RIPI). Ao não se apresentar à Receita Federal como importador de mercadorias importadas, o real adquirente intenta afastar sua condição de contribuinte (por equiparação) do IPI pela saída do produto de seu estabelecimento. Sonegação de PIS/PASEP e COFINS nãocumulativos: Em uma importação por intermédio de terceiros, o importador é contribuinte do PIS/PASEP e COFINS não cumulativos sobre a receita bruta auferida (no caso da importação por encomenda) ou sobre o valor dos serviços prestados (no caso de importação por conta e ordem), consoante o artigo 12 do Decreto nº 4.524/02. Lavagem de dinheiro e ocultação de bens e valores: Por lavagem de dinheiro entendese o procedimento utilizado para disfarçar a origem de bens e valores obtidos ilegalmente. No caso da ocultação mediante fraude ou simulação, abrese brecha para a utilização de recursos de origem desconhecida no pagamento das importações. Fruição indevida pelo importador oculto ( adquirente ) do benefício do ICMS. Fl. 5881DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 27 51 Esse ponto em destaque ganha abrupta relevância quando a interposta pessoa se localiza em Estado da Federação que proporciona benefícios fiscais relacionados a incidência do ICMS. Um instrumento que a princípio teria fins de elisão fiscal, ao ser combinado com a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros, via modalidade de Importação por “conta e ordem" não declarada, assume contornos de elusão fiscal. Aquele que seria em princípio instrumento para fomentar a atividade econômica de um Estado da Federação, passa a ser usado de modo ilícito ao ser combinado com a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior. Para legitimar a sanção, basta a certificação do fato infracional, independente da existência de culpa, demonstração de boafé e ocorrência de efetivo dano ao Erário público. Este também parecer ser o entendimento da colenda jurisprudência, conforme a seguinte ementa de decisão emanada pela terceira turma do TRF da 4º Região, referente ao processo 2001.72.08.0023793/SC a respeito da natureza do dano ao erário: ADMINISTRATIVO. PENA DE PERDIMENTO. LESÃO AO ERÁRIO. ART. 136 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Como a responsabilidade decorrente da violação à legislação tributária é objetiva, o dano ao erário deve ser entendido como de natureza meramente potencial, sob pena de se incentivar a fraude fiscal com a aparência de inocência, dada a dificuldade de se apurar o elemento subjetivo em cada caso concreto. Neste mesmo sentido: Origem: TRIBUNAL QUARTA REGIÃO Processo: 96.04.005111 UF: PR Orgão Julgador: PRIMEIRA TURMA Ementa PENA DE PERDIMENTO. DEL37/66. O DEL37/66 não foi revogado pela Constituição Federal pois, o dano causado ao erário público previsto no ART153, PAR11 da Carta Magna, não exige o prejuízo decorrente da exportação sem pagamento de tributos ou mesmo a exportação proibida, bastando configurarse uma situação vedada pela lei, fato que se assemelha ao crime de perigo previsto na lei penal.” Agreguese ainda outro julgado do mesmo Tribunal, na Apelação em Mandado deSegurança nº 2001.72.03.0009910/SC (grifouse): "Devese ter presente que dano ao erário não se configura unicamente pelo nãorecolhimento de tributos. Em matéria de Fl. 5882DF CARF MF 52 controle aduaneiro, a questão não se limita aos aspectos tributários, pois a atividade alfandegária ultrapassa em muito a mera questão tributária. "... não é certo considerar o Direito Aduaneiro como um ramo do Direito Fiscal. É, sim, ramo independente que com aquele não se confunde, pois não lida apenas com o fenômeno impositivo, mas sobretudo com a complexa e variada gama de fenômenos que caracterizam o comércio internacional,tanto do ponto de vista da regulação quanto do controle estatal exercido” (ob. cit., p.52). - A QUEBRA DA CADEIA DO IPI – A INFRAÇÃO AO SISTEMA TRIBUTÁRIO Quando da publicação da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, foi estabelecida a equiparação à industrial de todo importador que promovesse a nacionalização de um determinado bem: Art. 4° Equiparamse a estabelecimento produtor, para todos os efeitos desta Lei: I os importadores e os arrematantes de produtos de procedência estrangeira; Essa equiparação atribui ao importador a obrigação de recolhimento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) não apenas na importação, mas também na revenda/saída dos produtos importados ao mercado interno, bem como a obrigação de escriturar livros fiscais e de cumprir com as demais obrigações acessórias, ainda que o mesmo desenvolva atividade meramente comercial e que as mercadorias importadas não sejam submetidas a nenhum processo produtivo. Com o advento do uso da empresa interposta em operação de comércio exterior, percebeuse a necessidade de se estender essa mesma equiparação para a figura do adquirente que se vale de um intermediário (empresa interposta) para realizar suas importações. O artigo 79 da MP 2.158/2001 cuidou dessa previsão: Art. 79. Equiparamse a estabelecimento industrial os estabelecimentos, atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. O artigo 13 da Lei nº 11.281/06 estendeu também essa condição ao encomendante: Art. 13. Equiparamse a estabelecimento industrial os estabelecimentos, atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por encomenda ou por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. A partir desta nova previsão legal, a utilização de empresa interposta em operações de comércio exterior sem a adoção de uma das duas modalidades (Importação por “conta e ordem" ou Importação por “encomenda”), implica também na não observância de: o Uma obrigação tributária principal Em relação a omitir sua condição de equiparado à industrial; o Uma obrigação tributária acessória Por não realizar a escrituração do IPI. Fl. 5883DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 28 53 Quando uma empresa opta por uma modalidade de importação deve estar atenta não só às diferenças de custo, mas também aos diferentes efeitos e obrigações tributárias a que estão sujeitas, não só na esfera federal, mas também no âmbito estadual. Entretanto, algumas empresas levam em consideração apenas a diferença de custos e obrigações acessórias na hora de optar entre modalidades regulamentadas pela RFB e uma outra modalidade "alternativa", sem se preocupar com as obrigações tributárias a que estão sujeitas para atuarem no comércio exterior. Algumas "economias tributárias" almejadas são inaceitáveis por agredirem a legislação em vigor. Tanto o importador quanto o adquirente de mercadoria importada por encomenda ou por sua conta e ordem são estabelecimentos equiparados a industrial. ❖ Decreto N° 7.212/2010. Art. 9° Equiparamse a estabelecimento industrial: I os estabelecimentos importadores de produtos de procedência estrangeira, que derem saída a esses produtos (Lei n° 4.502, de 1964, art. 4°, inciso I); (...) IX os estabelecimentos, atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por encomenda ou por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora (Medida Provisória n° 2.15835, de 2001, art. 79, e Lei no 11.281, de 20 de fevereiro de 2006, art. 13);. A saída da mercadoria dos estabelecimentos equiparados a industrial é fato gerador do imposto, sendo devido o IPI. Assim, se uma empresa contratar uma importadora para registrar uma operação de importação "por encomenda" ou "por conta e ordem", será contribuinte do IPI e estará sujeita a recolher o imposto e ao cumprimento das obrigações acessórias (escrituração dos livros exigidos pelo RIPI, destaque do IPI nas notas fiscais, e outras). Porém, se o verdadeiro importador, o real adquirente ou encomendante se ocultar do Fisco, uma "empresa de fachada" figurará na declaração de importação e será equiparado a estabelecimento industrial e contribuinte do IPI. Após a nacionalização das mercadorias, a "empresa de fachada" acatará as ordens do verdadeiro responsável pela operação e "venderá" (remeterá) as mercadorias a quem ele determinar. Assim, o verdadeiro destinatário final das mercadorias de procedência estrangeira, fugirá da equiparação à indústria, dissimulando a condição de contribuinte do IPI. Exemplificando as perdas de arrecadação, pela quebra da cadeia de incidência do IPI, decorrentes de uma das possíveis simulações acima citadas, tomese duas situações em que a empresa "A" decide importar uma mercadoria com o valor aduaneiro de R$ 1.000,00 e vendêlo no mercado interno com uma margem de lucro de 150%. Na situação 1, a empresa "A" registra a importação como operação por conta própria. Na situação 2, a empresa A contrata a operação a um importador de fachada, a fim de ocultar sua situação como real importador. Para simplificar o exemplo, a alíquota do IPI é 20% e não existem outras despesas na importação: Fl. 5884DF CARF MF 54 Além disso, a correta incidência do IPI sobre a mercadoria estrangeira equipara a carga tributária do produto importado ao produto nacional. Com a sonegação do IPI, a concorrência desleal do produto importado aumenta os obstáculos ao crescimento da indústria nacional. A pratica de interposição fraudulenta de pessoas possibilita a quebra da cadeia do IPI. com a consequente sonegação daquele tributo. Não se trata do IPI vinculado à importação, este é recolhido automaticamente no ato de registro da DI. Tratase do IPI que incide em etapa posterior ao desembaraço aduaneiro, IPI incidente sobre o lucro agregado na fase comercial posterior ao desembaraço. O seguinte esquema mostra as etapas da operação: o A empresa interposta registra importação de mercadorias a preços irrisórios no mercado exterior e recolhe IPI proporcional em função do valor aduaneiro vinculado IPI vinculado à importação; o Dá saída da mercadoria (venda) a outra empresa (sujeito passivo oculto) com destaque de IPI na nota fiscal (a recolher). IPI calculado com base em um lucro agregado nesta etapa, lucro geralmente insignificante; o Por ser insignificante o valor agregado — a importadora (empresa interposta) recolhe o IPI referente ao valor agregado por ser importadora, portanto, equiparada legalmente a industrial; o O sujeito passivo oculto (controlador de fato das operações) dá saída da mercadoria aos seus clientes com lucro comercial real ao agrega valores significativos à operação. É um risco potencial que o legislador quis evitar. O sujeito passivo oculto ao não se apresentar aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros por não adotar uma das modalidades de Importação permissivas para o uso de empresa interposta em operação de comércio exterior, esquivase de assumir sua posição na cadeia do Imposto sobre Produtos Industrializados, tal qual determina a legislação. Há uma cisma por parte dos causídicos que militam na área aduaneira em querer atrelar infrações passíveis de pena de perdimento (artigo 105 do DecretoLei nº 37/66 e artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76) com a exigência da constatação de recolhimento de tributos a menor. E a indagação natural que se segue a essa ilação é a seguinte: De que ordem deve ser essa sonegação para justificar a pena de perdimento: mil, cem, dez reais, ou até Fl. 5885DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 29 55 mesmo, um real? Ou em outros termos, se assim preferirem, vinte, dez, cinco, ou até mesmo, um por cento da base de cálculo? Ou tomando a licença de levar esse mesmo raciocínio ao seu extremo: Um único centavo sonegado, já que é a menor fração da moeda, justificaria a aplicação da pena de perdimento? Com base no que e em que? Em exame aos dispositivos citados (artigo 105 do DecretoLei nº 37/66 e artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76), é cristalino que o legislador não se ocupou em estabelecer tal discriminem. E isso reside no fato de que a área aduaneira tem por escopo outros interesses que não a exigência tributária. Dada que a função da fiscalização aduaneira tem por natureza o exercício do Poder de Polícia, sua função precípua é a repressão de CONDUTAS consideradas nocivas pelo legislador. Em exame analítico aos incisos dos dois artigos, percebese que o legislador se deteve no assunto do recolhimento dos tributos aduaneiros em apenas dois incisos do artigo 105 do DecretoLei nº 37/66, a saber: Art.105 Aplicase a pena de perda da mercadoria: (...) IX estrangeira, encontrada ao abandono, desacompanhada de prova de pagamento dos tributos aduaneiros, salvo as do art.58; (...) XI estrangeira, já desembaraçada e cujos tributos aduaneiros tenham sido pagos apenas em parte, mediante artifício doloso; (Grifo Nosso) Essa constatação é muito salutar para a presente análise, pois revela que quando o legislador quer atrelar a aplicação da pena de perdimento à ausência ou o pagamento parcial dos tributos incidentes no despacho aduaneiro, assim o faz. Os demais incisos de ambos os artigos (artigo 105 do DecretoLei nº 37/66 e artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76) dizem respeito à CONDUTAS, que o legislador entendeu por bem denominálas de “dano ao Erário”, inclusive no que tange à prática de interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior. Portanto, esse discriminem da ausência ou pagamento parcial dos tributos não se denota na redação do inciso V, do artigo 23, do DecretoLei nº 1.455/76. Quando a fiscalização se refere à “Quebra da Cadeia do IPI", o faz com propriedade no seguinte sentido: A empresa deliberadamente não assumiu sua condição de equiparado à industrial, conforme determina a legislação aplicável. Querer que a fiscalização apure quanto deixou de ser arrecadado, se é que isso aconteceu, é uma atribuição que o legislador ao estabelecer a tipificação da infração de ocultação do sujeito passivo em operações de comércio exterior não lhe conferiu. A FRUIÇÃO DO BENEFÍCIO DO ICMS POR EMPRESA INTERPOSTA. Aquele que seria em princípio um instrumento voltado para fomentar a atividade econômica de um Estado da Federação, passa a ser usado de modo ilícito ao ser Fl. 5886DF CARF MF 56 combinado com a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior, conforme a seguinte descrição: o A empresa age como interposta pessoa em operações de comércio exterior; o A empresa interposta se apresenta aos controles aduaneiros da Receita Federal do Brasil como importador de direito; o A empresa interposta oferta o benefício do ICMS que é lhe conferido pela legislação do Estado aos seus clientes espalhados pelo território nacional; o Ao agir assim, encobre esses clientes que por força de Lei deveriam ser apresentados aos controles aduaneiros como intervenientes do comércio exterior na condição de adquirentes/encomendantes da mercadoria importada. o Em proveito da política fiscal do Estado que exonera / mitiga o ICMS, a empresa interposta consegue oferecer bens importados no mercado interno com preços inferiores aos preços normalmente praticados, propiciando aos seu cliente (sujeito passivo oculto) uma condição ímpar, deflagrando assim prática nociva à ao princípio da livre concorrência e ao princípio da isonomia; o Aquele que deveria ser o gozo de dois direitos inicialmente legítimos (fruição do benefício do ICMS e o direto de importar) ao serem combinados, sem a estrita observância da legislação pertinente a modalidade de Importação por “conta e ordem” ou por “encomenda”, assume um contorno nocivo por propiciar uma vantagem não estendida aos demais importadores; o Destarte, tanto a empresa interposta como o sujeito passivo oculto gozam de vantagens indevidas ao combinarem sinergias: enquanto que empresa interposta (importador) se credita do ICMS, o sujeito passivo oculto (cliente) obtém a mercadoria importada no mercado interno a preços vantajosos, uma condição que é inacessível a quem se submete à legislação; Assim, devese reprimir o potencial nocivo dessa vantagem diferencial decorrente da fruição do benefício do ICMS conferido pela legislação Estadual e o uso de empresa interposta em operações de comércio exterior, que passa a ofertála pais a fora como uma vitrine em um balcão de negócios. A Lei Complementar nº 87/96 (Lei Kandir), no artigo 11, inciso I, alínea d), estabelece que: Art. 11. O local da operação ou da prestação, para os efeitos da cobrança do imposto e definição do estabelecimento responsável, é: I tratandose de mercadoria ou bem: (...) Fl. 5887DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 30 57 d) importado do exterior, o do estabelecimento onde ocorrer a entrada física. (Grifo Nosso) Se o estabelecimento daquele que promove a importação pela modalidade “direta” está situado em unidade da federação que fornece benefício da fruição do ICMS (crédito fictício), está evidenciado um recolhimento de ICMS a menor na importação, configurando assim uma vantagem indevida através da prática de interposição fraudulenta de terceiros, o que deve ser reprimido pela Receita Federal do Brasil. Esse crédito fictício fornecido pelo Estado de origem não entra no cômputo da do redutor da alíquota interestadual. Um exemplo é esclarecedor: Estado A tem alíquota de ICMS de 12%, ao passo que Estado B tem alíquota de ICMS de 18%. O Estado A fornece benefício da fruição do ICMS para as empresas importadoras que ali se instalarem, através de crédito fictício de 9%. Portanto, o importador só suportará a incidência da alíquota de 3%. Contudo, ao se remeter a mercadoria ao Estado B ( que tem alíquota de ICMS de 18% ), o diferencial da alíquota interestadual incidirá sobre 12% e não sobre a alíquota de 3% efetivamente pagos. Portanto, para o Estado B (de destino) o diferencial da alíquota interestadual a incidir será apenas de 6% (18 – 12) e não de 15% (18 3) como deveria. É um risco potencial que o legislador também quis evitar. É a famigerada guerra fiscal, trazendo efeitos nocivos aos princípios da capacidade econômica, da isonomia e da livre concorrência que a repressão à prática de interposição fraudulenta de terceiros visa combater. INCOMPATIBILIDADE ENTRE OPTANTE DO SIMPLES E CONTRIBUINTE DO IPI. Em sendo optante do SIMPLES, o contribuinte não poderá se apropriar de créditos relativos ao IPI. Conforme se pode observar nos documentos ora abojados que foram extraídos de nossa base de dados (anexos 14), existem diversas empresas participantes do SIMPLES que utilizaram a fiscalizada para realizar as suas importações. Assim, os valores do IPI creditados pela fiscalizada, em relação às importações de tais empresas, é mais um dano provocado à União. - DA BOA FÉ ALEGADA Oportuno agora se faz trazer comentários a respeito do alegado quanto à boa fé: É imprescindível para a análise a transcrição do artigo 136 do Código Tributário Nacional: Fl. 5888DF CARF MF 58 Responsabilidade por Infrações Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Esse artigo possui o seu correspondente no DecretoLei n° 37/66: Art.94 Constitui infração toda ação ou omissão, voluntária ou involuntária, que importe inobservância, por parte da pessoa natural ou jurídica, de norma estabelecida neste DecretoLei, no seu regulamento ou em ato administrativo de caráter normativo destinado a completálos. § 1º O regulamento e demais atos administrativos não poderão estabelecer ou disciplinar obrigação, nem definir infração ou cominar penalidade que estejam autorizadas ou previstas em lei. § 2º Salvo disposição expressa em contrário, a responsabilidade por infração independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. O artigo 136 do Código Tributário Nacional é taxativo no sentido de que a responsabilidade tributária é objetiva. O §2º, do artigo 94 do Decreto Lei n° 37/66, também é taxativo no sentido de que a responsabilidade por infração aduaneira é objetiva. Assim, ainda agindo de boafé, cercado das cautelas de praxe, com razões suficientes para acreditar que está praticando um ato em conformidade com o direito, ainda que ignore o fato de seu ato ou de seus representantes estar em descompasso com a legislação, o Impugnante não pode se furtar de sua responsabilidade. O Código Tributário Nacional, ao preceituar a aplicação de sanção por infrações tributárias, utiliza a expressão “independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato”. Linha absolutamente idêntica é adotada pelo DecretoLei n° 37/66. Ambos ordenamentos desconsideram a intenção do agente ou responsável como pressuposto para a aplicação da devida punição, bem como dispensa a comprovação dos efeitos e extensão dos danos à Fazenda Pública. A boa fé alegada, ainda que preponderante, por força dos artigos transcritos, não tem o condão de afastar a responsabilidade por infrações da legislação tributária. Assim, o legislador ao consagrar a responsabilidade objetiva por atos infracionais, dispensa a Fazenda Pública de perquirir fatos comprovadores da presença do dolo ou da culpa e elementos de materialidade efetiva para aplicar a sanção correspondente. A responsabilidade objetiva garante de forma mais eficaz a coercibilidade do sistema punitivo tributário. De outro modo, a atividade de fiscalização se inviabilizaria se a cada infração tivesse que se provar que o contribuinte não autorizou determinada operação por negligência, imperícia ou imprudência. Para legitimar a sanção, basta a certificação do fato infracional, independente da existência de culpa, demonstração de boafé e ocorrência de efetivo dano ao Erário público. - A INFRAÇÃO POR “CESSÃO DE NOME” Fl. 5889DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 31 59 A infração por “cessão de nome” surge como uma consequencia da prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros. Ceder seu nome, mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seu real beneficiário, ficando sujeita a multa tipificada no caput do artigo 33 da Lei 11.488/2007: Art. 33. A pessoa jurídica que ceder seu nome, inclusive mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários fica sujeita a multa de 10% (dez por cento) do valor da operação acobertada, não podendo ser inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais). (Grifo e negrito nossos) Chamase a atenção para a expressão utilizada pelo legislador "com vistas", o que denota que a conduta infracional tipificada pelo artigo 33 da Lei n° 11.488/2007 dispensa resultado, sendo uma infração de conduta. Uma vez caracterizada a prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, com fulcro no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, o importador interposto incorre também em infração por "cessão de nome". COAUTORIA DO IMPORTADOR NA PRÁTICA EFETIVA DE INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS A questão que perdura é: Por ser a infração tipificada no inciso V, do artigo 23, do Decreto Lei 1.455/76, uma infração imprópria, o importador de direito (INTERPOSTO) responde juntamente com o importador de fato pela multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria? Bernardo Alves da Silva Júnior, Procurador da Fazenda Nacional em Brasília, em magistral explanação, vem proporcionar precisa e robusta contribuição quanto à adequada hermenêutica: NÃO É ILEGAL ACUMULAR PENALIDADES POR FRAUDE Fl. 5890DF CARF MF 60 Enorme controvérsia fervilha nos órgãos judiciais e administrativos competentes para dirimir contendas tributárias acerca da aplicação das multas previstas no artigo 23, inciso V, parágrafo 3º do Decretolei 1.455/1976, e artigo 33 da Lei 11.488/2007, que prevêem infrações derivadas da interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior. O cerne da discussão atine aos efeitos oriundos do art. 33 da Lei 11.488/2007, notadamente no que tange à interposição fraudulenta de terceiros materializada pela conduta de cessão do nome para o acobertamento dos reais intervenientes em operação de importação, a qual também é regulada pelo art. 23, inciso V, parágrafos 1º e 3º do DecretoLei 1.455/1976. Segundo o Decretolei 1.455/1976, no seu art. 23, inciso V (incluído pela Lei 10.637, de 30/12/2002), a ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, gera a penalidade de perdimento das mercadorias, convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, caso esta não tenha sido localizada ou haja sido consumida. A seu turno, o art. 33 da Lei 11.488/2007 consigna a aplicação de multa, no montante de 10% do valor da operação, à pessoa jurídica que ceder seu nome para a realização de negócios de comércio exterior em que se acoberte os reais intervenientes ou beneficiários, vedada a penalidade de inaptidão de CNPJ. Muitas são as perspectivas adotadas para a solução da suposta colisão entre as citadas regras. No âmbito administrativo e em alguns juízos, ecoa com bastante força a tese de que a diferença das infrações tipificadas nos dispositivos legais apontados reside no fato de que a Lei 11.488/2007 dirigese ao importador ou exportador ostensivo, aquele que cede o seu nome, enquanto o Decretolei 1.455/1976 tem por objetivo sancionar o sujeito oculto, verdadeiro responsável pela operação. Para essa corrente, o importador ou exportador ostensivo deixou de se submeter à multa prescrita no Decretolei 1.455/1976 por força de derrogação pela lei posterior, de modo que referido agente a partir de então deve se submeter apenas à multa de 10% sobre o valor da operação acobertada, proibindose a declaração da inaptidão de seu CNPJ. Essa é a posição consolidada pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento em São Paulo, 2ª Turma (Acórdão 1725849, de 17/07/2008). Recentemente, todavia, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, examinando a fundo a questão, trilhou caminho diverso no seu enfrentamento. Em 24 de maio de 2010, as 1ª e 2ª Turmas da 1ª Câmara da 3ª Seção do Fl. 5891DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 32 61 CARF deram provimento a recursos de ofício para restabelecer lançamentos fiscais nos valores de mais de R$ 42 milhões e R$ 27 milhões, respectivamente (processos 10314.010132/200744 e 10314.013716/200691), ao entendimento de que mesmo após o advento da Lei 11.488/2007 o importador ostensivo deve responder pela multa substitutiva do perdimento de mercadoria prevista no art. 23, inciso V, parágrafos 1º e 3º do Decretolei 1.455/1976. O novo entendimento perfilhado pelo CARF nos parece inteiramente acertado e condizente com os regramentos legais imponíveis. Em que pese a celeuma que rodeia o tema, a sua detida análise revela que não houve derrogação do art. 23, inciso V do Decretolei 1.455/1976, sendo certo que tal regra convive harmonicamente com a disposição do art. 33 da Lei 11.488/2007, de maneira a permitir a aplicação de ambas as multas ao importador ostensivo que mediante a cessão do seu nome em operação de comércio exterior oculta, em ação fraudulenta, o real adquirente. Com efeito, a escorreita leitura do art. 33 da Lei 11.488/2007, pautada nas perspectivas literal, histórica, teleológica e sistemática, evidencia que o único efeito desse comando legal foi o de empreender a substituição da penalidade de inaptidão do CNPJ pela de multa de 10% sobre o valor da operação acobertada para os importadores que cedessem seu nome para acobertar o real interveniente em operação de comércio exterior. Referida norma não faz nenhuma alusão à pena de perdimento de mercadoria prescrita no Decretolei 1.455/1976. Razões de política fiscal levaram o legislador a extirpar a penalidade de inaptidão do CNPJ, até então prevista no art. 81 da Lei 9.430/1996 c/c art. 34, inciso III e 41, inciso III, da Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal 568/2005, porque se afigurava desproporcional e infenso à Economia considerarse inexistente de fato grandes empresas de intermediação em operações no comércio exterior — Trading Companies — que viessem a cometer a infração de ceder seu nome para ocultar o real adquirente em importações. Essa penalidade culminava, em verdade, com a própria aniquilação das atividades da pessoa jurídica, pelo que se reputou mais adequado imputar, em substituição, a sanção de multa. Assim, de sua parte, o art. 23, inciso V, parágrafos 1º e 3º do Decretolei 1.455/1976 continua a sancionar o agente que oculta o verdadeiro adquirente em importação, ainda Fl. 5892DF CARF MF 62 que mediante a cessão de seu nome, sendolhe aplicável a pena de perdimento da mercadoria ou multa substitutiva. Antes da Lei 11.488/2007, a conduta de ceder o nome para acobertar o real interveniente em importação gerava duas penalidades: o perdimento da mercadoria ou multa substitutiva e a inaptidão de CNPJ. Agora, à luz das normas vigentes, temse como consequência da indigitada conduta a aplicação de multa de 10% no lugar da inaptidão do CNPJ, sem prejuízo do perdimento da mercadoria. A aplicação de duas ou mais penalidades em decorrência de uma única conduta não encontra nenhum óbice no ordenamento jurídico pátrio. Isso porque o ato de ceder o nome para acobertar o real adquirente em importação tem o condão de configurar o cometimento de duas infrações, previstas no art. 23, inciso V, do Decretolei 1.455 e no art. 33 da Lei 11.488, em circunstância similar ao concurso formal de infrações estampado no art. 70 do Código Penal. E a cada infração corresponde uma penalidade. O próprio art. 99 do Decretolei 37/1966 contempla a aplicação cumulativa das penas correspondentes à prática de duas ou mais infrações. É relevante destacar que as infrações em comento são distintas, notadamente porque tutelam bens jurídicos diversos. O art. 23, inciso V, do Decretolei 1.455/1976 visa a proteger o regime de controle aduaneiro e o patrimônio da União, ao passo que o art. 33 da Lei 11.488/2007 resguarda a higidez do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, sancionando o mau uso da inscrição no CNPJ pelas empresas. Aqui, importa relembrar que a multa de 10% sobre o valor da operação acobertada veio substituir a inaptidão de CNPJ, e apesar da modificação do consequente normativo, o suposto normativo e o seu objeto jurídico mantiveramse inalterados. Essa constatação da diversidade de objetos jurídicos, aliás, é suficiente para afastar qualquer alegação da ocorrência de bis in idem, na esteira do que vêm decidindo iterativamente os tribunais superiores. A concepção de que as sanções ora analisadas podem ser aplicadas cumulativamente foi cristalizada no art. 727, parágrafo 3º, do Decreto 6.759/2009, que trata do Regulamento Aduaneiro, no qual se consignou expressamente que a multa de 10% do valor da operação à pessoa jurídica que ceder seu nome não prejudica a pena de perdimento das mercadorias importadas ou exportadas. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região também tem esposado essa mesma intelecção (AMS 200572080051666, Otávio Roberto Pamplona, TRF4 – 2ª Turma, 01/08/2007). Fl. 5893DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 33 63 As normas em cotejo não se chocam, mas sim se complementam na defesa dos bens jurídicos que visam a proteger, de modo que ambas vigoram sem qualquer prejuízo à sua aplicação. Ou seja, mesmo após o advento da Lei 11.488/2007, o importador ostensivo continua a sujeitarse à pena de perdimento da mercadoria ou a correlata multa substitutiva. A nosso juízo, o novo entendimento sufragado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais retrata a mais escorreita exegese da matéria. Assim, firme nas considerações ora alinhavadas, forçoso é concluir que o importador que ceder seu nome para acobertamento de terceiros em operação de comércio exterior deverá responder tanto pela multa substitutiva prevista no art. 23, inciso V, parágrafo 3º, do Decretolei 1.455/1976 como pela multa do art. 33 da Lei 11.488/2007, até mesmo em atenção ao que dispõe o art. 95, incisos I, V e VI do Decretolei 37/1966. (in: www.jurisite.com.br/textosjuridicos/texto332.html Neste mesmo sentido, posicionouse o TRF4 APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA: AMS 5166 SC 2005.72.08.0051666, Dilação Probatória. Interposição Fraudulenta. Ocultação do Verdadeiro Importador. Pena de Perdimento das Mercadorias. Dados Gerais Processo: AMS 5166 SC 2005.72.08.0051666 Relator(a): OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA Julgamento: 03/07/2007 Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA Publicação: D.E. 01/08/2007 Ementa TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DILAÇÃO PROBATÓRIA. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA. OCULTAÇÃO DO VERDADEIRO IMPORTADOR. PENA DE PERDIMENTO DAS MERCADORIAS. LEGALIDADE. ARTIGO 33 DA LEI Nº 11.488, DE 15 DE JUNHO DE 2007. NÃO REVOGAÇÃO DA PENA DE PERDIMENTO PREVISTA NO ARTIGO 23 DO DECRETOLEI Nº 1.455, DE 1976. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. A alegada violação a direito líquido e certo deve estar demonstrada de plano, mediante prova préconstituída (artigo 8º da Lei nº. 1.533/51), sendo descabida a Fl. 5894DF CARF MF 64 utilização do mandado de segurança para o fim de desconstituir ato administrativo, que goza da presunção de legitimidade e veracidade, mediante alegações de fato que demandem dilação probatória. 2. O auto de infração, que redundou na aplicação da pena de perdimento, está devidamente fundamentado, encontrando lastro nos documentos produzidos no procedimento administrativo, que dão conta de que a impetrante, de fato, promoveu a importação em favor de terceiro, sem o observância das regras pertinentes. 3. Da mesma forma, o arbitramento feito pela autoridade fiscal, no que concerne aos valores dos bens internalizados, demonstra que houve subfaturamento, não se desincumbindo a autuada de demonstrar, a contento, que as conclusões da autoridade fiscal estão equivocadas. 4. A existência de outras imperfeições formais na documentação que amparou a importação, aliada ao subfaturamento, são indicativos de que a operação, em princípio, está eivada de irregularidades. A prova produzida pela impetrante, por sua vez, apresentouse frágil para afastar a presunção de legitimidade do ato apontado como coator. 5. O artigo 33 da Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007, não tem o condão de afastar a pena de perdimento, porquanto não implicou em revogação do artigo 23 do DL nº 1.455/76, com a redação dada pela Lei nº 10.637/2002. Isso porque, a pena de perdimento atinge, em verdade, o real adquirente da mercadoria, sujeito oculto da operação de importação. A pena de multa de 10% sobre a operação, prevista no referido dispositivo legal, revelase como pena pessoal da empresa que, cedendo seu nome, faz a importação, em nome próprio, para terceiros. O parágrafo único do aludido artigo, por sua vez, estatui que "à hipótese prevista no caput deste artigo não se aplica o disposto no art. 81 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996". Essa complementação legal, constante do parágrafo único, abona o entendimento de que não houve a revogação da pena de perdimento para a hipótese retratada nos autos. Antes o confirma, porquanto exclui, expressamente, apenas a possibilidade da aplicação da sanção de inaptidão do CNPJ. Quanto às demais penas, permanecem incólumes, havendo a previsão, agora também, da pena pecuniária, nos termos do caput do aludido preceptivo legal. 6. A discussão acerca da sanção de declaração de inaptidão do CNPJ não pode ser enfrentada nesta segurança, pois o auto de infração impugnado não aplicou referida pena. A decisão que declarou a inaptidão do CNPJ foi proferida por outra autoridade, em outro procedimento, Fl. 5895DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 34 65 o qual, aliás, é objeto de ação ordinária que tramita na 1ª Região. 7. Denegação da segurança mantida. Improvimento da apelação. Nesse sentido, citase o artigo 99 do DecretoLei nº 37/66: Art.99 Apurandose, no mesmo processo, a prática de duas ou mais infrações pela mesma pessoa natural ou jurídica, aplicamse cumulativamente, no grau correspondente, quando for o caso, as penas a elas cominadas, se as infrações não forem idênticas. (Grifo e negrito nossos) São portanto duas condutas infracionais distintas, afetando bens jurídicos tutelados dispares: ¨ Art. 33 da Lei 11.488/2007: Infração própria cometida apenas pelo importador de direito (INTERPOSTO), em razão de sua habilitação no Siscomex, por ceder seu nome, inclusive mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários. O parágrafo único do referido artigo é explicito em determinar que sua aplicação vem a inibir a declaração de inaptidão do CNPJ do importador/exportador de direito (ou ostensivo), decorrente da previsão feita pelo §1º, do artigo 81 da Lei nº 9430/96, não fazendo referência à qualquer outro artigo. A conduta tipificada do importador de direito (INTERPOSTO) é de “ceder o nome” agindo em descompasso em relação à higidez do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas. ¨ Art. 23, inciso V, do Decreto Lei 1.455/76: Infração imprópria cometida tanto pelo importador de direito (INTERPOSTO) como pelo importador de fato (REAL COMPRADOR) em coautoria. A conduta tipificada do importador de direito (INTERPOSTO) é de “prática de interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior”, agindo em descompasso em relação aos controles aduaneiros. Encontrase apoio nas palavras de Luiz Flávio Gomes para se conceituar o instituto da coautoria: Ocorre coautoria (no Direito penal) quando várias pessoas participam da execução do crime, realizando ou não o verbo núcleo do tipo. Todos os coautores, entretanto, possuem o codomínio do fato. Todos praticam fato próprio. Enquanto o coautor participa de fato próprio, o partícipe contribui para fato alheio. Fl. 5896DF CARF MF 66 Três são os requisitos da coautoria: 1) pluralidade de condutas; 2) relevância causal e jurídica de cada uma; 3) vínculo subjetivo entre os coautores (ou pelo menos de um dos coautores, com anuência ainda que tácita do outro ou dos outros coautores). A coautoria, como se vê, conta com uma parte objetiva (concretização do fato) e outra subjetiva (acordo explícito ou tácito entre os agentes). http://jus.com.br/revista/texto/8120/conceitodeco autoriaemdireitopenal#ixzz1qoR4I4u3 Fazendo a transposição do conceito acima elucidado para a infração de interposição fraudulenta em operação de comércio exterior, temos: 1) pluralidade de condutas: a interposição fraudulenta é composta pela conduta do importador de fato (ocultado) e pela conduta do importador de direito (ocultador). Uma conduta complementa a outra. Logo ambos percorrem o fato típico da infração. 2) relevância causal e jurídica de cada uma: o importador de direito (ocultador) registra a Declaração de Importação em seu nome com recursos oriundos do importador de fato (ocultado) ou sob sua determinação. A relação entre os dois agentes é clara e cristalina com flagrante intenção de burlar os controles aduaneiros. 3) vínculo subjetivo entre os coautores: existe o liame subjetivo que liga o importador de fato (ocultado) ao importador de direito (ocultador) na clara intenção de auferir proveitos em descumprir a legislação aduaneira. É certa a exigência de que todo e qualquer importador se cadastre junto ao Siscomex (Sistema Radar) para que a Receita Federal do Brasil possa exercer um controle direto sobre suas atividades de modo a garantir, entre outros, a lisura da concorrência no mercado interno, inclusive o adquirente e o encomendante. Sabese que muitas organizações usam a figura do importador interposto para não auferir o lucro contábil e assim burlar a fiscalização no pagamento de impostos e contribuições decorrentes tanto do lucro quanto do faturamento. O vínculo que liga tanto o importador de fato ao importador de direito é justamente a consecução dessa prática visando fugir dos controles aduaneiros. O artigo 95, inciso I, do DecretoLei n° 37/66, assim determina: Art.95 Respondem pela infração: I conjunta ou isoladamente, quem quer que, de qualquer forma, concorra para sua prática, ou dela se beneficie; (Grifo e negrito próprios do impugnante) Pelo exposto, o importador de direito – importador interposto e o importador de fato – sujeito passivo oculto CONCORREM para a prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, pois: Fl. 5897DF CARF MF Processo nº 12466.000915/200892 Acórdão n.º 3302005.785 S3C3T2 Fl. 35 67 Assim, entendese que, mesmo com o advento do artigo 33 da Lei n° 11.488/2007, a infração do inciso V, do artigo 23, do DecretoLei n° 1.455/76 é imputável tanto ao importador de direito (INTERPOSTO) como ao importador de fato (OCULTO) em coautoria, , no que tange à cobrança da multa proporcional ao valor aduaneiro. Por fim, o próprio § 3º, do artigo 727, do Regulamento Aduaneiro – Decreto 6.759/2009 endossa esse entendimento. Art. 727. Aplicase a multa de dez por cento do valor da operação à pessoa jurídica que ceder seu nome, inclusive mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas ao acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários (Lei no 11.488, de 2007, art. 33, caput). (...) § 3o A multa de que trata este artigo não prejudica a aplicação da pena de perdimento às mercadorias importadas ou exportadas. (grifo e negrito nossos) Portanto, a incidência da multa do artigo 33 da Lei nº 11.488/07 não exclui a aplicação da pena de perdimento e consequentemente a multa equivalente ao valor aduaneiro. Diante de tudo que foi exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao Recurso do Contribuinte. É como voto. Jorge Lima Abud. Fl. 5898DF CARF MF 68 Fl. 5899DF CARF MF
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Numero do processo: 19515.002966/2004-41
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 24 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Oct 05 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/01/1999 a 31/08/1999, 01/10/1999 a 31/12/1999, 01/02/2000 a 31/05/2000, 01/07/2000 a 31/07/2000, 01/09/2000 a 28/02/2001, 01/04/2001 a 31/05/2001, 01/07/2001 a 30/06/2002, 01/08/2002 a 30/09/2002, 01/12/2002 a 30/01/2003, 01/03/2003 a 31/07/2003, 01/09/2003 a 31/12/2003
PIS/COFINS. BASE DE CÁLCULO. ALARGAMENTO. LEI 9.718/98. INCONSTITUCIONALIDADE. DECISÃO. STF. REPERCUSSÃO GERAL.
As decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em regime de repercussão geral deverão ser reproduzidas o julgamento do recurso apresentado pelo contribuinte, por força do disposto no artigo 62, § 2º, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. A decisão que considerou constitucional o caput do artigo 3º da Lei 9.718/98 e declarou a inconstitucionalidade de seu § 1º estabeleceu que apenas o faturamento mensal da sociedade empresária, representado pela receita bruta advinda das atividades típicas da pessoa jurídica, integram a base de cálculo da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins.
Numero da decisão: 3301-004.820
Decisão: Recurso Voluntário Provido
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Winderley Morais Pereira - Presidente
(assinado digitalmente)
Liziane Angelotti Meira - Relatora.
Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Salvador Candido Brandão Junior, Ari Vendramini, Semiramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Winderley Morais Pereira (Presidente).
Nome do relator: LIZIANE ANGELOTTI MEIRA
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BASE DE CÁLCULO. ALARGAMENTO. LEI 9.718/98. INCONSTITUCIONALIDADE. DECISÃO. STF. REPERCUSSÃO GERAL. As decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal em regime de repercussão geral deverão ser reproduzidas o julgamento do recurso apresentado pelo contribuinte, por força do disposto no artigo 62, § 2º, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. A decisão que considerou constitucional o caput do artigo 3º da Lei 9.718/98 e declarou a inconstitucionalidade de seu § 1º estabeleceu que apenas o faturamento mensal da sociedade empresária, representado pela receita bruta advinda das atividades típicas da pessoa jurídica, integram a base de cálculo da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins. Recurso Voluntário Provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 51 5. 00 29 66 /2 00 4- 41 Fl. 519DF CARF MF Processo nº 19515.002966/200441 Acórdão n.º 3301004.820 S3C3T1 Fl. 519 2 (assinado digitalmente) Winderley Morais Pereira Presidente (assinado digitalmente) Liziane Angelotti Meira Relatora. Participaram da presente sessão de julgamento os conselheiros Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques d'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Salvador Candido Brandão Junior, Ari Vendramini, Semiramis de Oliveira Duro, Valcir Gassen e Winderley Morais Pereira (Presidente). Relatório Visando à elucidação do caso, adoto e cito o relatório do constante da decisão recorrida, Acórdão no 1317.257 5a Turma da DRJ/RJOII (fls 285 e seguintes): Trata o presente processo de Auto de Infração lavrado contra o contribuinte anteriormente identificado, relativo à falta de recolhimento da Contribuição para o Programa de Integração Social — PIS, abrangendo os períodos de apuração (PA) 01/99 a 08/99, 10/99 a 12/99, 02/00 a 05/00, 07/00, 09/00 a 02/01, 04/01, 05/01, 07/01 a 06/02, 08/02, 09/02, 12/02, 01/03, 03/03 a 07/03, 09/03 a 12/03, no valor (principal) de R$ 53.824,90, com multa de oficio de 75% no valor de R$ 40.368,49, e juros de mora, calculados até 29/10/2004, no valor de R$ 20.595,16, totalizando um crédito tributário apurado de R$ 114.788,55, em decorrência de ação fiscal levada a efeito pela Delegacia da Receita Federal de Fiscalização em São Paulo (Defic/SPO), conforme Mandado de Procedimento Fiscal (MPF) acostado à inicial. 2. Na Descrição dos Fatos de fl. 55, bem como no Termo de Constatação fls. 41/44, o AFRF autuante informa que, durante o procedimento de verificações obrigatórias, foram constatadas divergências entre os valores declarados/pagos e os valores escriturados da contribuição ao PIS, e ainda que: • A par da legislação de regência da contribuição ao PIS (LC n° 07/70 c/c arts. 2°4, 3° e 8°I, da MP n° 1.212/95, posteriormente convertida na Lei n° 9.715/98), verificouse, em relação ao mês calendário de jan/99, que foi recolhido e declarado em DCTF valor menor que o devido apurado por esta fiscalização, conforme demonstrativo de apuração de fl. 32; • A partir de fev/99, quando a contribuição passou a incidir sobre a totalidade das receitas auferidas pelo contribuinte, excetuadas aquelas citadas nos incisos I a IV do parágrafo 2° do art. 3° da Fl. 520DF CARF MF Processo nº 19515.002966/200441 Acórdão n.º 3301004.820 S3C3T1 Fl. 520 3 Lei n° 9.718/98, verificouse que os valores devidos do PIS, relativos aos meses calendário de jan/99 a ago/99, out/99 a dez/99; fev/00 a mai/00, jul/00, set/00 a dez/00; jan/01, fev/01, abr/01, mai/01 e jul/01 a dez/01; jan/02 a jun/02, ago/02 e set/02 foram recolhidos e declarados em DCTF em valores menores que o devido apurado por esta fiscalização, conforme demonstrativos (planilhas) e cálculos às fls. 31/38; • A partir de dez/02, quando a contribuição ao PIS passou a ser devida nos termos das alterações introduzidas pela Lei n° 10.637/2002, conforme planilha denominada "Demonstrativo do PIS a Pagar", apresentada pelo contribuinte no curso da fiscalização(fls. 25/26), verificouse que os valores devidos do PIS, relativos aos meses calendário de dez/02; jan/03, mar/03 a ju1/03, set/03 a dez/03 foram insuficientemente recolhidos ou compensados, bem como declarados insuficientemente nas DCTF respectivas; • Desta forma, os valores devidos e não recolhidos ou declarados em DCTF serão exigidos de ofício através do presente Auto de Infração. 3. O enquadramento legal do presente lançamento fiscal da contribuição ao PIS (v. fls. 57/58), cientificado ao contribuinte em 03/12/2004, conforme se observa à fl. 54, consistiu no art. 77, inciso III, do DecretoLei n° 5.844/43; art. 149 da Lei n° 5.172/66; arts. 1° e 3°, alínea "b", da Lei Complementar (LC) n° 07/70; art. 1°, parágrafo único, da LC n° 17/73, Título 5, capítulo 1, seção 1, alínea "b", itens I e II, do Regulamento do PIS/Pasep, aprovado pela Portaria MF n° 142/82; arts. 2°, inciso I, 3°, 8°, inciso I, e 9°, da Lei n° 9.715/98; arts. 2° e 3°, da Lei n° 9.718/98; arts. 2°, inciso I, alínea "a" e parágrafo único, 3°, 10, 23, 59 e 63 do Decreto n° 4.524/02. 4. No que se refere à multa de oficio e aos juros de mora, os dispositivos legais aplicados foram relacionados no demonstrativo de fl. 53. 5. Após tomar ciência da autuação, o interessado, inconformado, apresentou, em 30/12/2004, a impugnação juntada às fls. 63/81, e documentos anexos de fls. 82/133 (doc. 1 alteração de contrato social, procuração, documento de identidade do procurador da empresa, fls. 82/103; doc. 2 cópia do Auto de Infração, Termo de Constatação, Planilhas demonstrativas e Instruções, fls. 104/133), com as alegações abaixo resumidas: 5.1. preliminarmente, cumpre asseverar que parte dos valores lançados no presente Auto de Infração, correspondentes aos fatos geradores ocorridos nos períodos de jan/99 a ago/99, out/99 e nov/99, é, de plano, inexigível, eis que decaiu a União no seu direito de constituição do crédito tributário, sendo nulo o lançamento nessa parte; 5.2. sendo a contribuição ao PIS um tributo sujeito ao denominado lançamento por homologação, conforme positivado no artigo 150 do CTN, cabe ao contribuinte, ante a ocorrência do Fl. 521DF CARF MF Processo nº 19515.002966/200441 Acórdão n.º 3301004.820 S3C3T1 Fl. 521 4 fato gerador, proceder ao recolhimento do valor que entende devido, sem antes submetêlo ao crivo da administração fazendária, cabendo a esta, posteriormente, concordar ou não com o valor apurado; 5.3. como se pode depreender da redação clara e precisa do dispositivo acima mencionado, bem como de seu parágrafo quarto, o termo inicial da contagem do prazo decadencial de lançamento é a ocorrência do fato gerador, e, sendo assim, considerando que o lançamento somente se materializou em 03/12/2004, com a ciência expressa do contribuinte, todos os valores relativos a fatos geradores ocorridos há mais de cinco anos, contados regressivamente à essa data, já foram alcançados pela decadência; 5.4. a jurisprudência administrativa é pacífica no que tange ao prazo decadencial na forma acima esposada, consoante alguns recentes julgados do E. Conselho de Contribuintes (Acórdãos n"s 20176613, 20308145 e 10806908); 5.5. o Poder Judiciário também abraça a tese da decadência em cinco anos a partir da ocorrência do fato gerador, conforme entendimento exarado pelo E. Superior Tribunal de Justiça (STJ), nos autos do AGRESP 178.308 e do RESP 178.433/SP; 5.6. a ampliação das bases de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS, pretendida pela MP n° 1.724/98, posteriormente convertida na Lei n° 9.718, de 27/11/1998 (DOU de 28/11/1998), ofende de maneira irrecuperável o disposto no artigo 195, inciso I, da Constituição Federal vigente (CF/88), que determinava, à época da edição da medida provisória e da lei em comento, fossem as contribuições sociais calculadas com base no faturamento, folha de salários ou lucro; 5.7. somente com a promulgação da Emenda Constitucional (EC) n° 20, aprovada na sessão do Congresso Nacional de 01/12/1998 e editada no DOU de 16/12/1998, é que foi modificado o artigo 195, inciso I, da CF/88, ampliando a competência para instituição de contribuições sociais para a totalidade das receitas; 5.8. a exigência das referidas contribuições com base no valor das receitas, em relação aos fatos geradores ocorridos a partir de 01/02/1999, ofende o ordenamento jurídico do País, principalmente porque a vigência e a eficácia das leis estão subordinadas a uma condição prévia de existência e validade em nível jurídico, sendo que, nesse sentido, algumas considerações acerca dos conceitos de faturamento e receita se fazem necessárias, a fim de que se possa constatar a efetiva violação ao artigo 110 do CTN; 5.9. receita bruta e faturamento se equiparam no que tange a seu conceito jurídico, conforme já havia decidido o E. Supremo Tribunal Federal (STF) nos autos do Recurso Extraordinário (RE) n° 150.7551 e da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) n° 11/DF, e, nesses termos, até a edição da malsinada Lei n° 9.718/98, o conceito de receita bruta, Fl. 522DF CARF MF Processo nº 19515.002966/200441 Acórdão n.º 3301004.820 S3C3T1 Fl. 522 5 para fins da contribuição ao PIS e da COFINS, foi sempre correspondente ao de faturamento, opinião de consenso nos três Poderes da República; 5.10. da leitura dos art. 2° e 3°, § 1°, da Lei n° 9.718/98, observa se afronta ao art. 110 do CTN, que veda à lei tributária alterar os conceitos próprios do direito positivo, considerando, ainda, que o DL n° 2.397/87, que alterou o DL n° 1.940/82, em seu artigo 22, conceitua receita bruta como o produto da venda de bens e da prestação de serviços e nada mais; 5.11. a partir da nova competência outorgada pela EC n° 20/98, seria necessária a edição de nova lei, sem o que resta no mundo jurídico apenas uma competência outorgada ainda pendente de exercício, valendo dizer que a rigidez da atual Constituição Federal implica o submetimento do legislador infraconstitucional a esta, determinando a própria validade da lei; 5.12. a compatibilidade da Lei n° 9.718/98 com o ordenamento jurídico vigente deve ser aferida no momento de sua existência (no dia 27/11/1998), ou seja, à luz do art. 195, I, da CF/88, antes da promulgação da EC n° 20/98; 5.13. no caso específico, a EC n° 20/98 foi aprovada em sessão do Congresso Nacional de 01/12/1998, data posterior a de conversão da MP n° 1.724/98 na Lei n° 9.718/98, ocorrida em 27/11/1998, e, nesses termos, o vício de inconstitucionalidade da Lei n° 9.718/98 é originário, sendo impassível, portanto, de convalidação, também pelo que, destarte, é patente a inconstitucionalidade da Lei n° 9.718/98, haja vista que extrapolou a competência constitucional à época outorgada à União Federal para a instituição de contribuições sociais; 5.14. ainda que se admita, apenas para argumentar, a possível constitucionalidade da Lei n° 9.718/98, devese, no caso concreto, verificar o que, à luz das ciências jurídica, contábil e econômica, seriam efetivamente "receitas auferidas pela pessoa jurídica" (art. 30, § 1°), buscando a real base de cálculo das referidas contribuições; 5.15. muito embora o legislador não tenha cuidado de definir, expressamente, o que afinal comporia "a totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica", é certo que nem todas variações patrimoniais de uma pessoa jurídica são produto de um faturamento ou receita, conceitos que, necessariamente, devem estar conectados à idéia de efetivos ingressos de novas riquezns ao patrimônio da pessoa jurídica, decorrentes do exercício da sociedade empresarial; 5.16. portanto, como traço caracterizador e marcante do conceito de receita apontase o efetivo ingresso de numerários e valores no patrimônio da empresa, sendo que, de outro lado, receita bruta decorre exclusivamente da venda de bens e serviços, e, desse modo, nem sempre alterações meramente escriturais representa receita bruta, base de cálculo da contribuição ao PIS e da COFINS; Fl. 523DF CARF MF Processo nº 19515.002966/200441 Acórdão n.º 3301004.820 S3C3T1 Fl. 523 6 5.17. por todo o exposto, requer o impugnante que seja considerado o integral acolhimento dos argumentos aduzidos na presente impugnação, para que seja extinto o crédito tributário em sua totalidade, e, finalmente, que se determine o arquivamento do presente procedimento administrativo, julgandose improcedente o Auto de Infração lavrado. 6. À fl. 142, tendo em vista o contido na Portaria RFB n° 10.706, de 14/07/2007, que transferiu a competência para julgamento dos processos relacionados em seu Anexo Único, da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento de São Paulo I (DRJ/SP01) para a Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento no Rio de Janeiro II (DRJ/RJ02), o presente processo foi encaminhado a esta DRJ/RJ02, para julgamento. Analisada a manifestação de inconformidade, a Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento julgou procedente o lançamento a seguinte ementa (fl. 285): ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/01/1999 a 31/08/1999, 01/10/1999 a 31/12/1999, 01/02/2000 a 31/05/2000, 01/07/2000 a 31/07/2000, 01/09/2000 a 28/02/2001, 01/04/2001 a 31/05/2001, 01/07/2001 a 30/06/2002, 01/08/2002 a 30/09/2002, 01/12/2002 a 30/01/2003, 01/03/2003 a 31/07/2003, 01/09/2003 a 31/12/2003 PIS/PASEP. DECADÊNCIA. Tendo sido constituído o crédito tributário dentro do prazo de dez anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, não se caracteriza a decadência. INCONSTITUCIONALIDADE. ILEGALIDADE. Não compete à Autoridade Administrativa apreciar argüições de inconstitucionalidade ou ilegalidade de norma legitimamente inserida no ordenamento jurídico nacional, pois o controle das leis achase reservado ao Poder Judiciário. Lançamento Procedente Foi apresentado Recurso Voluntário (fls. 389 e seguintes), no qual a Recorrente apresenta suas razões organizadas nos seguintes tópicos: 2.1.1 Da decadência de Parte do Suposto Débito 2.2.1 Da Inconstitucionalidade e Ilegalidade da Lei 9.718/1998 2.2.2 Do Conceito de Renda Voto Conselheira Liziane Angelotti Meira O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais pressupostos legais de admissibilidade e deve ser conhecido. Fl. 524DF CARF MF Processo nº 19515.002966/200441 Acórdão n.º 3301004.820 S3C3T1 Fl. 524 7 Será analisada cada uma das questões apresentada pela Recorrente. 2.1.1 Da decadência de Parte do Suposto Débito A Recorrente alega preliminarmente que, em função da decadência, seria indevido o presente lançamento fiscal da contribuição para o PIS, relativamente aos fatos geradores correspondentes aos períodos de apuração janeiro a agosto, outubro e novembro de 1999 (PA 01/99 a 08/99, 10/99 e 11/99), para os quais já teria transcorrido, quando da ciência do lançamento pelo autuado (ocorrida em 03/12/2004), o prazo de 5 (cinco) anos a que alude o art 150, § 4°, do CTN. De acordo com a Súmula Vinculante nº 08, do STF, os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991 são inconstitucionais, devendo prevalecer, no que tange à decadência e prescrição, as disposições do Código Tributário Nacional (CTN). O prazo decadencial, portanto, é de cinco anos. O dies a quo do referido prazo, tendo em conta que não houve pagamento, é aquele estabelecido no art. 173, inciso I do CTN (primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado). Dessa forma, no presente caso, não havia se consumado o prazo decadencial em relação aos fatos geradores de 1999. Portanto, não assiste razão à Recorrente neste ponto. 2.2.1 Da Inconstitucionalidade e Ilegalidade da Lei 9.718/1998 e 2.2.2 Do Conceito de Renda A Recorrente alega também a inconstitucionalidade e ilegalidade do alargamento da base de cálculo do PIS, promovido pela Lei n° 9.718/98. Mister consignar que a Lei Complementar nº 70/91, no seu art. 2º, restringia a materialidade do tributo ao faturamento “mensal, assim considerado a receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços e de serviço de qualquer natureza”. Não havia previsão para incidência sobre outras receitas, o que somente ocorreu com o advento da Lei nº 9.718/98, a qual, no seu art. 3º, § 1°, ampliou o âmbito normativo da contribuição, de modo a compreender a totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica. O § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 foi julgado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do RE nº 346.084/PR: CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE – ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI Nº 9.718, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1998 – EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1998. O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente. TRIBUTÁRIO – INSTITUTOS – EXPRESSÕES E VOCÁBULOS – SENTIDO. A norma pedagógica do artigo 110 do Código Tributário Nacional ressalta a impossibilidade de a lei tributária alterar a definição, o conteúdo e o alcance de consagrados institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente. Sobrepõese ao aspecto formal o princípio da realidade, considerados os elementos tributários. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL – PIS – RECEITA BRUTA – NOÇÃO – INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI Nº 9.718/98. A jurisprudência do Supremo, ante a redação do artigo 195 da Carta Federal anterior à Emenda Constitucional nº 20/98, consolidouse no sentido de tomar as expressões receita bruta e faturamento como sinônimas, jungindoas à venda de mercadorias, de Fl. 525DF CARF MF Processo nº 19515.002966/200441 Acórdão n.º 3301004.820 S3C3T1 Fl. 525 8 serviços ou de mercadorias e serviços. É inconstitucional o § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98, no que ampliou o conceito de receita bruta para envolver a totalidade das receitas auferidas por pessoas jurídicas, independentemente da atividade por elas desenvolvida e da classificação contábil adotada. (STF. T. Pleno. RE 346.084/PR. Rel. Min. ILMAR GALVÃO. Rel. p/ Acordão. Min. MARCO AURÉLIO. DJ 01/09/2006). Esse entendimento foi reafirmado no julgamento do RE nº 585.235/RG, decidido em regime de repercussão geral (CPC, art. 543B), no qual também foi deliberada e edição de súmula vinculante sobre a matéria: RECURSO Extraordinário. Tributo. Contribuição Social. PIS. COFINS. Alargamento da base de cálculo. Art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. Inconstitucionalidade. Precedentes do Plenário (RE nº 346.084/PR, Rel. orig. ILMAR GALVÃO, DJ de 1º.09.2006; Res n º 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJ de 15.8.2006) Repercussão Geral do tema. Reconhecimento pelo Plenário. Recurso improvido. É inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. (STF. RE 585235 RGQO. Rel. Min. CESAR PELUSO. DJ 28/11/2008). Nesse sentido, é de se concluir que assiste razão à Recorrente quando defende a inconstitucionalidade da no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98, e consequentemente, defende ser indevida no período em pauta a inclusão na base de cálculo da contribuição para a Cofins de valores estranhos ao conceito de faturamento constante da Lei Complementar nº 70/91. Por todo o exposto, voto por dar provimento ao recurso voluntário . Liziane Angelotti Meira Relatora Fl. 526DF CARF MF
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Numero do processo: 10909.001735/2010-61
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Aug 29 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Sep 28 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2005, 2006, 2007, 2008
DECADÊNCIA. GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO DE AÇÕES A PRAZO. FATO GERADOR.
Nas vendas a prazo o fato gerador do Imposto de Renda se realiza com o efetivo pagamento da parcela acordada pelas partes, sendo este o momento a ser considerado, para efeito de aferição do atendimento ao prazo decadencial.
Numero da decisão: 9202-007.178
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em dar-lhe provimento, vencida a conselheira Patrícia da Silva, que lhe negou provimento.
(assinado digitalmente)
Maria Helena Cotta Cardozo - Presidente em Exercício e Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho (suplente convocado), Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício).
Nome do relator: MARIA HELENA COTTA CARDOZO
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GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO DE AÇÕES A PRAZO. FATO GERADOR. Nas vendas a prazo o fato gerador do Imposto de Renda se realiza com o efetivo pagamento da parcela acordada pelas partes, sendo este o momento a ser considerado, para efeito de aferição do atendimento ao prazo decadencial. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em darlhe provimento, vencida a conselheira Patrícia da Silva, que lhe negou provimento. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Presidente em Exercício e Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho (suplente convocado), Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício). Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 90 9. 00 17 35 /2 01 0- 61 Fl. 550DF CARF MF 2 Trata o presente processo, de exigência de Imposto de Renda Pessoa Física, tendo em vista a omissão de ganho de capital obtido na alienação a prazo de participação societária. O crédito tributário exigido referese ao ganho de capital no período de agosto/2005 a fevereiro/2008, uma vez que, para os valores apurados relativos aos meses de fevereiro a julho e parcela de agosto/2005 (demonstrativos de apuração às fls. 223 a 232), foi considerada a parcela de R$ 362.582,23, do DARF recolhido em 31/03/2005, no montante de R$ 630.012,60, uma vez que a diferença já havia sido pleiteada por meio de PER/DECOMP. A ciência do lançamento ocorreu em 01/06/2010 (fls. 234). Em sessão plenária de 04/11/2014, foi julgado o Recurso Voluntário, prolatandose o Acórdão nº 2801003.778 (efls. 487 a 504), assim ementado: “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2006 DECADÊNCIA. TERMO A QUO. Conforme entendimento sufragado pelo STJ, em julgamento submetido ao rito do art. 543C do CPC (recurso repetitivo), existindo pagamento do tributo por parte do contribuinte até a data do vencimento, o prazo para que o Fisco efetue lançamento de ofício, por entender insuficiente o recolhimento efetuado, é de cinco anos contados da data do fato gerador (CTN, artigo 150, § 4º). GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÕES A PRAZO. MOMENTO DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. Nas alienações de bens a prazo, o fato gerador ocorre no momento da alienação e o ganho de capital deverá ser apurado como venda à vista, com vencimento do imposto, de forma proporcional, na medida em que os pagamentos forem sendo realizados. O recebimento de valores de forma parcelada não altera e nem fraciona a data da ocorrência do fato gerador referente ao ganho de capital. Recurso Voluntário Provido.” A decisão foi assim registrada: “Acordam os membros do colegiado, pelo voto de qualidade, dar provimento ao recurso. Vencidos os Conselheiros Marcelo Vasconcelos de Almeida (Relator), Marcio Henrique Sales Parada e José Valdemir da Silva que negavam provimento ao recurso. Designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Tânia Mara Paschoalin.” O processo foi encaminhado à PGFN em 26/11/2014 (Despacho de Encaminhamento de efls. 505) e, em 17/12/2014, foi interposto o Recurso Especial de efls. 506 a 516 (Despacho de Encaminhamento de efls. 517), com fundamento no art. 67, do Anexo II, do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 256, de 2009, visando rediscutir o momento de ocorrência do fato gerador do Imposto de Renda incidente sobre o ganho de capital auferido na alienação a prazo. Fl. 551DF CARF MF Processo nº 10909.001735/201061 Acórdão n.º 9202007.178 CSRFT2 Fl. 551 3 Ao Recurso Especial foi dado seguimento, conforme despacho de 24/04/2015 (efls. 518 a 520). Em seu apelo, a Fazenda Nacional alega, em síntese: o colegiado a quo acolheu a preliminar de decadência, alegando que, em conformidade com a disciplina do § 4°, do art. 150, do CTN, a contagem do prazo decadencial de cinco anos é feita a partir da ocorrência do fato gerador, pelo que, quando do lançamento, em 01/06/2010, já estaria decaído o direito de a Fazenda Nacional efetuar o lançamento em relação aos fatos geradores ocorridos nos anoscalendário de 2001 e 2002. isso porque considerou que a data do fato gerador do Imposto de Renda incidente sobre o ganho de capital auferido na alienação a prazo se dá no momento da alienação do bem ou do direito; relativamente à apuração do ganho de capital e tributação das parcelas recebidas a prazo, o RIR/1999, em seu art. 140, dispõe: Art. 140. Nas alienações a prazo, o ganho de capital deverá ser apurado como venda a vista e tributado na proporção das parcelas recebidas em cada mês, considerandose a respectiva atualização monetária, se houver (Lei 7.713, de 1988, art. 21) § I º Para efeito do disposto no caput, deverá ser calculada a relação percentual do ganho de capital sobre o valor de alienação que será aplicada sobre cada parcela recebida. portanto, nenhuma irregularidade se vislumbra no procedimento adotado pela autoridade lançadora, que apurou o ganho de capital como se a venda fosse a vista, diferindo a tributação na proporção das parcelas recebidas em cada mês, tal como prescreve o dispositivo legal acima transcrito; em consequência, há que se reputar improcedente a alegação do autuado, de que o fato gerador é único e indivisível e que só ocorre no momento em que é praticado o ato jurídico que lhe deu causa, sofrendo o ganho de capital apurado tributação exclusiva pela alíquota de 15%, na data da venda, independentemente de como será recebido; com efeito, a compra e venda é negócio jurídico, de trato bilateral ou sinalagmática, que só se aperfeiçoa com a entrega do bem pelo vendedor com correspondente pagamento do preço pelo comprador, assim, o contrato de compra e venda, por si só, não gera a obrigação de pagar imposto, mas somente quando houver a disponibilidade econômica ou jurídica de renda para o alienante (CTN, art. 43 e 116); o IRPF, por seu turno, segue o regime de caixa o fato gerador ocorre na medida do recebimento dos rendimentos; a alienação de bens, por si só, não faz nascer a obrigação de pagar tributo, portanto somente a alienação não constitui fato gerador; é fato gerador o recebimento de rendimentos decorrentes de ganho de capital produzido na alienação, portanto o fato gerador não ocorre na data de alienação, mas sim, quando do recebimento das parcelas que representam o ganho de capital; Fl. 552DF CARF MF 4 o art. 140 do RIR/99, assim como o art. 31, da IN SRF n° 84, de 2001, quando expressa o comando de que o ganho de capital deve ser apurado como se a venda fosse efetuada à vista, referese à forma de apuração, devendo ser calculado abstraindo os eventuais reajustes nos preços vincendos, assim como a correspondência da relação percentual entre o preço recebido e o valor tributável; do contrário, teríamos a situação esdrúxula de tributar totalmente, na data de alienação, o ganho de capital, indistintamente se o valor foi recebido à vista ou a prazo; se a prazo, ocorreria a incidência do imposto antes de receber o quantum, que seria a própria base de cálculo do imposto, e mais, no caso de uma venda a prazo superior a cinco anos, já nasceriam decaídas as parcelas que vencem após cinco anos; assim, correto o lançamento no que tange à tributação do ganho de capital mediante alienação a prazo, tendo como fato gerador a data do recebimento das respectivas parcelas; logo, não ocorreu a decadência do direito de o Fisco constituir o respectivo crédito tributário, porquanto o fato gerador mais antigo ocorreu em agosto de 2005, ao passo que a cientificação do lançamento se deu em junho de 2010, antes de decorrido o prazo de cinco anos para constituição do crédito tributário. Ao final, a Fazenda Nacional requer o provimento do Recurso Especial, reformandose o acórdão recorrido. Cientificada do acórdão, do Recurso Especial da Procuradoria e do despacho que lhe deu seguimento em 18/05/2015 (AR Aviso de Recebimento de efls. 535), a Contribuinte ofereceu, em 01/06/2015 (carimbo de efls. 536), as Contrarrazões de efls. 536 a 548, contendo os seguintes argumentos: a Contribuinte efetuou a venda a prazo das cotas sociais de uma empresa, as quais, até então, eram de sua propriedade, tendo tal venda sido realizada por meio do "Contrato de Opção de Compra de Quotas", firmado em 07/10/2004, e por preço que gerou ganho de capital tributável pelo Imposto de Renda Pessoa Física; haja vista a ocorrência de ganho de capital, a Contribuinte, por meio de DARF juntado às fls. 128 dos autos, em 31/03/2005, recolheu o valor que entendeu devido a título de imposto de renda incidente sobre o ganho de capital auferido com a alienação das aludidas cotas; ocorre que a Autoridade Lançadora, entendendo que os valores em tela teriam sido recolhidos a menor, lançou as diferenças que entendeu existirem, por meio de Auto de Infração sobre o qual a Contribuinte tomou ciência em 1º/06/2010. como houve pagamento/recolhimento de tributo, entendendose apenas pela sua insuficiência, o prazo decadencial para lançamento do crédito tributário deve ser computado nos termos do art. 150, §4°, do CTN, ou seja, tendo seu termo de início na data da ocorrência do fato gerador; o fato gerador, por sua vez, de acordo com a decisão recorrida, ocorreu no momento da alienação das cotas sociais da empresa, ou seja, na data em que o negócio jurídico foi celebrado, de modo que o crédito tributário lançado em face da Contribuinte já está fulminado pela decadência; Fl. 553DF CARF MF Processo nº 10909.001735/201061 Acórdão n.º 9202007.178 CSRFT2 Fl. 552 5 nesse ponto, a despeito da alienação das cotas empresariais ter ocorrido com o contrato firmado em 07/10/2004, o entendimento do relator foi de que tal alienação teria ocorrido quando da assinatura do segundo aditamento do contrato em questão, assinado em 08/02/2005, o que, todavia, não altera a insubsistência do Auto de Infração; apesar de não questionar a aplicação do art. 150, § 4°, do CTN para fins de cálculo do prazo decadencial, a Recorrente mostra irresignação acerca do momento da ocorrência do fato gerador, que, segundo seu entendimento, teria ocorrido nas datas em que a Contribuinte recebeu as parcelas devidas pela aquisição das cotas empresariais em exame; segundo o próprio artigo 140 do RIR/99, no caso de venda em várias parcelas, temse o fato gerador no momento da alienação; cabe aqui salientar que, apesar do artigo supra prever a hipótese do vencimento do imposto de forma proporcional, na medida em que os pagamentos forem sendo realizados, tal situação não é capaz de alterar o fato gerador do tributo, que, in casu, ocorreu no momento da alienação; plenamente possível que a legislação preveja o pagamento do tributo em data posterior, tal qual ocorre, por exemplo, na Declaração de Ajuste Anual das pessoas físicas, em que o fato gerador, decorrente dos rendimentos do trabalho, se dá em 31 de dezembro, com a declaração entregue e imposto apurado no mês de abril do ano seguinte, o que não altera o fato gerador do imposto de renda pessoa física e nem altera o marco inicial do prazo decadencial; sobre o tema, o Egrégio Supremo Tribunal Federal já fixou entendimento no sentido de que, o diferimento, enquanto postergação da data prevista para o pagamento do tributo, é o meio pelo qual "se transfere o momento do recolhimento do tributo cujo fato gerador já ocorreu" (STF, ADI 2056, Relator(a): Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 30/05/2007, DJe082 Divulg 16082007 Public 17082007 DJ 17082007 PP 00022 EMENT VOL0228502 PP00365 RTFP v. 15, n. 76, 2007, p. 331337); assim, mesmo na hipótese de venda a prazo, o Imposto de Renda incidente sobre o ganho de capital decorrente da venda das cotas do capital social ocorre no momento da sua alienação; nessa mesma linha é o entendimento deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2005 GANHO DE CAPITAL ALIENAÇÕES A PRAZO. MOMENTO DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. Nas alienações de bens a prazo, o fato gerador ocorre no momento da alienação e o ganho de capital deverá ser apurado como venda à vista, com vencimento do imposto, de forma proporcional, na medida em que os pagamentos forem sendo realizados. O recebimento de valores de forma parcelada não altera e nem fraciona a data da ocorrência do fato gerador referente ao ganho de capital. Recurso Voluntário Provido. (CARF, Recurso Voluntário, Processo n° 11516.005320/2009 17, Acórdão n° 2801003.557, Relator Marcio Henrique Sales Parada, Sessão de 15/05/2014)" (destaques da Contribuinte) Fl. 554DF CARF MF 6 consoante entendimento do próprio Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, "sendo certo que o Contrato Particular de Promessa de Compra e Venda constitui autêntico direito real de aquisição, temse que a celebração do contrato preliminar em referência constitui título hábil a ser abrangido no conceito de alienação exposto na norma tributária"; logo, o fato gerador em exame ocorreu na data em que o negócio jurídico foi celebrado; a fim de afastar o entendimento de que o fato gerador do Imposto de Renda nesse caso é o momento da alienação das cotas empresariais, a Recorrente alega que a obrigação de pagar o imposto somente nasceria com a disponibilidade econômica ou jurídica da renda ao alienante, nos termos do art. 43 do CTN; ora, no momento da alienação das cotas, há disponibilidade jurídica de direitos reais sobre os quais a Contribuinte pode dispor, tratandose de fato gerador fixado em perfeita consonância com o dispositivo contido no art. 43, do Código Tributário Nacional; com a alienação das cotas, passa o alienante a dispor juridicamente da renda dela decorrente, tal qual ocorre, por exemplo, numa venda a prazo, em que a empresa irá apurar contabilmente a receita da venda no momento da sua ocorrência, e não no momento do recebimento das suas parcelas; é porque, a partir do momento em que ocorreu a venda, ou, no caso, a alienação das cotas, o alienante passa a dispor de um direito, o qual pode plenamente consistir no fato gerador do Imposto de Renda, na medida em que o art. 43, II, do Código Tributário Nacional estabelece que imposto sobre a renda tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica da renda; consoante já fixado por este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, "com base nos conceitos de 'disponibilidade' e 'patrimônio', podese afirmar que se considera como disponível, para fins do imposto de renda, o direito que tiver ingressado no patrimônio do contribuinte. Com efeito, sendo certo que o patrimônio é um conjunto de direitos, a aquisição de quaisquer direitos, ainda que não se trate da moeda em si, mas desde que possam ser dispostas pelo contribuinte, são tributadas pelo imposto de renda"; a 2a Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, na mesma linha e por unanimidade de votos, nos autos do Processo n° 10850.002613/200113 Recurso 154.849 Acórdão n° 920202.014, de 20/03/2002, esclareceu que "(...) no caso de ganho de capital em vendas a prazo, o fato gerador ocorre no momento da alienação o não no pagamento das parcelas, por expressa determinação legal. (...). Portanto, como a alienação, que difere do recolhimento do tributo, ocorre com a formalização do negócio jurídico, no caso em questão o fato gerador do tributo ocorreu com a pactuação da venda e não com o pagamento das parcelas." a legislação de regência não estipula, expressamente, que a incidência do Imposto de Renda se verifica apenas no momento em que os valores, em moeda, ingressem no patrimônio do alienante; o que a legislação estabelece é que, sendo possível constatar a ocorrência do fato gerador no momento da alienação, é devido o imposto de renda à alíquota de 15% sobre o Fl. 555DF CARF MF Processo nº 10909.001735/201061 Acórdão n.º 9202007.178 CSRFT2 Fl. 553 7 referido acréscimo patrimonial e, neste momento da alienação, já é possível determinar a base de cálculo do imposto, apurandose a valorização sobre a qual incide o imposto; até mesmo porque, como bem destaca a Jurisprudência, "não há. no momento do recebimento de cada uma das parcelas, nova apuração do tributo, à luz da lei vigente ao tempo do efetivo pagamento do preço, o que seria necessário se a lei considerasse como momento da ocorrência do fato gerador a data do recebimento de cada uma das parcelas,, como se o lucro fosse aferido sob o regime de caixa. De fato, se considerássemos a ocorrência de vários fatos geradores em decorrência de uma única venda e compra a prazo, terseia de admitir diferentes formas de apuração do imposto para parcelas decorrentes de um mesmo contrato, o que tornaria ainda mais complexo nosso sistema. (...). Não se pode admitir que, numa mesma situação, existam datas distintas de ocorrência do fato gerador, uma para efeitos de decadência e outra para efeitos de apuração do tributo devido"; mormente no presente caso, em que o contribuinte recolheu o tributo que entendeu correto em 31/03/2005, não havendo como ser deslocado o momento do fato gerador; por outro lado, se seguirmos a tese da Recorrente, de que "o contrato de compra e venda, por si só, não gera a obrigação de pagar imposto, mas somente quando houver a disponibilidade econômica ou jurídica de renda para o alienante", ainda sobre esse entendimento, o Auto de Infração não mereceria prosperar, isso porque em nenhum momento restou comprovado no processo administrativo a disponibilidade econômica da renda, tendo o Auto de Infração se pautado única e exclusivamente no contrato de compra e venda para apurar o ganho de capital objeto da autuação. Ao final, a Contribuinte pede que seja negado provimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional ou, caso assim não se entenda, que seja o processo devolvido à Câmara a quo para análise das questões de mérito. Voto Conselheira Maria Helena Cotta Cardozo Relatora O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Trata o presente processo, de exigência de Imposto de Renda Pessoa Física, tendo em vista a omissão de ganho de capital obtido na alienação a prazo de participação societária, referente ao período de agosto/2005 a fevereiro/2008, uma vez que, para os valores apurados relativos aos meses de fevereiro a julho e parcela de agosto/2005 (demonstrativos de apuração às fls. 223 a 232), foi considerada a parcela de R$ 362.582,23, do DARF recolhido em 31/03/2005, no montante de R$ 630.012,60, uma vez que a diferença já havia sido pleiteada por meio de PER/DECOMP. A ciência do lançamento ocorreu em 01/06/2010 (fls. 234). No acórdão recorrido, entendeuse que teria se operado a decadência, considerandose o fato gerador como ocorrido em fevereiro/2005, momento da celebração do contrato. Em seu apelo, a Fazenda Nacional pede que se considere como data de ocorrência do fato gerador a data do recebimento de cada uma das parcelas pactuadas, o que afastaria a decadência declarada no acórdão recorrido. Fl. 556DF CARF MF 8 Primeiramente, registrase que o art. 114 do CTN dispõe que o fato gerador da obrigação tributária é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Nesse passo, analisandose detidamente o art. 21 da Lei nº 7.713, de 1988, verifica se que dito dispositivo é cristalino ao dispor que nas alienações a prazo o ganho de capital será tributado na proporção das parcelas recebidas em cada mês. Confirase: Art. 21. Nas alienações a prazo, o ganho de capital será tributado na proporção das parcelas recebidas em cada mês, considerandose a respectiva atualização monetária, se houver. § 1º O imposto de que trata este artigo deverá ser pago até o último dia útil do mês subseqüente ao da percepção dos ganhos. Não é por acaso que a lei determinou que o pagamento do imposto ocorre até o último dia útil do mês subseqüente ao da percepção dos ganhos. Tal fato, por si só, demonstra a determinação legal para o deslocamento do fato gerador do ganho de capital. Em outra passagem, a Lei nº 7.713, de 1988, na segunda parte do art. 2º, dispõe que o imposto de renda das pessoas físicas será devido "... à medida em que os rendimentos e ganhos de capital forem percebidos". E, em seu parágrafo primeiro, determina que o pagamento do imposto será "... até o último dia útil do mês subseqüente ao da percepção dos ganhos". Notese que o "ganho" descrito pela norma representa, essencialmente, o acréscimo patrimonial, ou seja, o recebimento das parcelas avençadas. Assim, a contagem do prazo decadencial a partir da data da alienação configuraria contradição normativa, qual seja, para fins de determinação do termo inicial contarseia a partir da assinatura do contrato (regime de competência), e para fins de pagamento do imposto, contarseia a partir do recebimento das parcelas, ou seja, regime de caixa. Não parece razoável a utilização de dois critérios totalmente antagônicos para determinação da contagem do prazo decadencial, razão pela qual o fato gerador do ganho de capital, nos caso de venda parcelada, ocorrerá na data de pagamento de cada parcela recebida, respeitandose o regime de caixa. E assim, a partir de cada uma delas, devese contar o prazo decadencial. No presente caso, o negócio jurídico foi celebrado em fevereiro/2005, a primeira parcela não paga considerada no lançamento referese a agosto/2005 e a ciência do Auto de Infração se deu em 1º/06/2010 (fls. 239), portanto não ocorreu a decadência, seja pela aplicação do art. 150, § 4º, seja pela aplicação do art. 173, I, ambos do CTN. Em sede de Contrarrazões, a Contribuinte compara a situação dos autos com rendimentos do trabalho, cujo tributo é exigido somente com a entrega da Declaração de Ajuste Anual, em abril do ano seguinte ao da ocorrência do fato gerador, em 31 de dezembro. Ora, a comparação é absolutamente imprópria, já que os rendimentos do trabalho, a que alude a Contribuinte, já foram tributados na fonte, no momento do seu recebimento, o que reforça a conclusão acerca da aplicação do regime de caixa. Com efeito, no que tange a essa espécie de rendimentos, o que ocorre em abril do ano seguinte é apenas um ajuste, visto que o tributo já foi retido pela fonte pagadora durante o anocalendário. Assim, longe de demonstrar a tese abraçada pela Contribuinte, o exemplo deixa patente que a exigência do imposto é no momento do recebimento do rendimento. Ainda em sede de Contrarrazões, a Contribuinte compara a alienação ora examinada, com alienações efetuadas por empresas. De plano se extrai a impropriedade de tal comparação, já que, diferentemente da pessoa física, a pessoa jurídica se rege pelo regime de competência. Quanto ao argumento de que a tributação por parcela levaria à aplicação de Fl. 557DF CARF MF Processo nº 10909.001735/201061 Acórdão n.º 9202007.178 CSRFT2 Fl. 554 9 diferentes formas de apuração, o voto vencido do acórdão recorrido brilhantemente assim se manifestou: "A situação revelada neste processo demonstra o quão frágil é este argumento. É que o contrato foi celebrado em fevereiro de 2005, o lançamento ocorreu em junho de 2010 e o julgamento de segunda instância está ocorrendo em outubro de 2014, sem que a legislação respectiva tenha se alterado uma única vez. Não se está querendo dizer que é impossível ocorrer alterações supervenientes na legislação. É lógico que pode. Contudo, as exceções devem ser tratadas como exceções, e não como regra, mediante a análise de cada caso concreto. Demais disso, nada impede que o legislador estabeleça regras de transição no caso de alterações legislativas, o que é até comum no ordenamento jurídico brasileiro." Quanto à jurisprudência que corrobora o entendimento esposado no presente voto, dentre inúmeros julgados, citase: Acórdão 2202002.860, de 05/11/2014 Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2002, 2003, 2004 (...) GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO A PRAZO. FATO GERADOR. Na apuração do ganho de capital decorrente de alienação a prazo, deve ser considerado o fato gerador como ocorrido na data do recebimento de cada uma das parcelas pactuadas, à medida do seu recebimento. (...) Recurso parcialmente provido." Acórdão 2101002.674, de 21/01/2015 "Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Anocalendário: 2006, 2007, 2008 IRPF. GANHO DE CAPITAL. RECEBIMENTO PARCELADO DE QUOTAS DE PARTICIPAÇÃO SOCIETÁRIA ALIENADAS. PARCELAS INDEXADAS. DECADÊNCIA. INOCORRÊNCIA. O termo inicial para contagem do prazo decadencial em se tratando de imposto de renda devido sobre o ganho de capital decorrente de contrato de alienação de cotas societárias a prazo e com parcelas indexadas, é o momento do recebimento de cada parcela, pois nesse momento é que se afere de forma definitiva o preço de venda que resta condicionado índice de correção monetária. Precedente. Fl. 558DF CARF MF 10 Recurso Voluntário Negado. Crédito Tributário Mantido." Acórdão 9202003.770, de 16/02/2016 "Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2006, 2007, 2008, 2009 DECADÊNCIA OMISSÃO DE RENDIMENTOS GANHO DE CAPITAL. Ganho de capital auferido na alienação do imóvel rural o fato gerador se dá no momento do efetivo ganho de capital. Em sendo o pagamento parcelado o fato gerador também será tomado a cada parcela separadamente." Acórdão 9202003.820, de 09/03/2016 "Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2005, 2006, 2007, 2008 IRPF GANHO DE CAPITAL ALIENAÇÃO DE AÇÕES A PRAZO. FATO GERADOR APURAÇÃO DA DECADÊNCIA Nas vendas a prazo o fato gerador do Imposto de Renda se realiza com o efetivo pagamento da parcela acordada pelas partes, devendo este ser o momento para contagem do prazo decadencial. Recurso Especial do Contribuinte Negado" Acórdão 2402005.975, de 12/09/2017 "Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Anocalendário: 2008 GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL A PRAZO. FATO GERADOR. APURAÇÃO DA DECADÊNCIA. Nas vendas a prazo o fato gerador do Imposto de Renda se realiza com o efetivo pagamento da parcela acordada pelas partes, devendo este ser o momento para contagem do prazo decadencial. (...)" Acórdão 2401005.291, de 06/03/2018 "Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Anocalendário: 2007 GANHO DE CAPITAL. ALIENAÇÃO A PRAZO. PAGAMENTO PARCELADO. MOMENTO DO FATO GERADOR. Nas alienações a prazo, o fato gerador do ganho de capital aperfeiçoase quando do efetivo recebimento de cada parcela do preço ajustado entre as partes, quando então nasce a obrigação tributária de pagamento do imposto sobre a renda, na proporção delas." Fl. 559DF CARF MF Processo nº 10909.001735/201061 Acórdão n.º 9202007.178 CSRFT2 Fl. 555 11 Por fim, resta esclarecer que não há que se falar em devolução à Câmara de origem para análise de questões de mérito, tendo em vista que a decadência foi a única matéria suscitada em sede de Recurso Voluntário. Diante do exposto, conheço do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional e, no mérito, doulhe provimento. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Fl. 560DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 18088.000137/2008-72
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 11 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Oct 22 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/1998 a 30/09/2007
NULIDADE. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS DO LANÇAMENTO. Preenchidos os requisitos do lançamento, não há que se falar em nulidade.
ARBITRAMENTO.
A fiscalização está autorizada legalmente a lançar de ofício, arbitrando as importâncias que reputarem devidas, com base em elementos idôneos de que dispuser, quando a contabilidade da empresa não registrar o movimento real de remuneração de segurados a seu serviço, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL.
Integra o salário de contribuição a remuneração paga a contribuinte individual.
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ASSISTÊNCIA MÉDICA. DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS PLANOS OFERTADOS. POSSIBILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA.
Os valores pagos a título de assistência médica pela empresa não integram o salário de contribuição se e somente se forem destinados a todos os empregados e dirigentes. A legislação não faz exigência quanto a homogeneidade dos planos, o que a lei exige é o oferecimento de cobertura a todos os empregados e dirigentes, ou seja, impõe universalidade.
SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. SEGURO DE VIDA EM GRUPO.
Integra o salário de contribuição o valor pago pelo prêmio de seguro de vida em desacordo com a lei.
SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. PREVIDÊNCIA PRIVADA.
Integra o salário de contribuição os valores pagos a título de previdência privada, quando não comprovada a regularidade da concessão.
Numero da decisão: 2401-005.710
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício. Por unanimidade de votos rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso voluntário para: a) excluir da base de cálculo do levantamento M os valores discriminados na Tabela 1 do voto - R$ 70.192,11 na competência set/04 e R$ 87.496,98 na competência dez/05; e b) excluir os levantamentos AM, AMF e MF. Vencidos os conselheiros Miriam Denise Xavier (relatora), Francisco Ricardo Gouveia Coutinho e José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, que davam provimento parcial em menor extensão para excluir apenas os valores relativos ao levantamento M. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Rayd Santana Ferreira.
(assinado digitalmente)
Miriam Denise Xavier - Relatora e Presidente.
(assinado digitalmente)
Rayd Santana Ferreira - Redator Designado.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier, Cleberson Alex Friess, Andrea Viana Arrais Egypto, Francisco Ricardo Gouveia Coutinho, Rayd Santana Ferreira, José Luiz Hentsch Benjamin Pinheiro, Luciana Matos Pereira Barbosa e Matheus Soares Leite.
Nome do relator: MIRIAM DENISE XAVIER
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/01/1998 a 30/09/2007 NULIDADE. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS DO LANÇAMENTO. Preenchidos os requisitos do lançamento, não há que se falar em nulidade. ARBITRAMENTO. A fiscalização está autorizada legalmente a lançar de ofício, arbitrando as importâncias que reputarem devidas, com base em elementos idôneos de que dispuser, quando a contabilidade da empresa não registrar o movimento real de remuneração de segurados a seu serviço, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. Integra o salário de contribuição a remuneração paga a contribuinte individual. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ASSISTÊNCIA MÉDICA. DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS PLANOS OFERTADOS. POSSIBILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA. Os valores pagos a título de assistência médica pela empresa não integram o salário de contribuição se e somente se forem destinados a todos os empregados e dirigentes. A legislação não faz exigência quanto a homogeneidade dos planos, o que a lei exige é o oferecimento de cobertura a todos os empregados e dirigentes, ou seja, impõe universalidade. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. Integra o salário de contribuição o valor pago pelo prêmio de seguro de vida em desacordo com a lei. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. PREVIDÊNCIA PRIVADA. Integra o salário de contribuição os valores pagos a título de previdência privada, quando não comprovada a regularidade da concessão.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício. Por unanimidade de votos rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso voluntário para: a) excluir da base de cálculo do levantamento M os valores discriminados na Tabela 1 do voto - R$ 70.192,11 na competência set/04 e R$ 87.496,98 na competência dez/05; e b) excluir os levantamentos AM, AMF e MF. Vencidos os conselheiros Miriam Denise Xavier (relatora), Francisco Ricardo Gouveia Coutinho e José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, que davam provimento parcial em menor extensão para excluir apenas os valores relativos ao levantamento M. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Rayd Santana Ferreira. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier - Relatora e Presidente. (assinado digitalmente) Rayd Santana Ferreira - Redator Designado. Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier, Cleberson Alex Friess, Andrea Viana Arrais Egypto, Francisco Ricardo Gouveia Coutinho, Rayd Santana Ferreira, José Luiz Hentsch Benjamin Pinheiro, Luciana Matos Pereira Barbosa e Matheus Soares Leite.
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Recorrentes FISCHER S/A AGROINDÚSTRIA E OUTROS FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/1998 a 30/09/2007 NULIDADE. INEXISTÊNCIA. REQUISITOS DO LANÇAMENTO. Preenchidos os requisitos do lançamento, não há que se falar em nulidade. ARBITRAMENTO. A fiscalização está autorizada legalmente a lançar de ofício, arbitrando as importâncias que reputarem devidas, com base em elementos idôneos de que dispuser, quando a contabilidade da empresa não registrar o movimento real de remuneração de segurados a seu serviço, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. Integra o salário de contribuição a remuneração paga a contribuinte individual. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. ASSISTÊNCIA MÉDICA. DIFERENCIAÇÃO ENTRE OS PLANOS OFERTADOS. POSSIBILIDADE. NÃO INCIDÊNCIA. Os valores pagos a título de assistência médica pela empresa não integram o salário de contribuição se e somente se forem destinados a todos os empregados e dirigentes. A legislação não faz exigência quanto a homogeneidade dos planos, o que a lei exige é o oferecimento de cobertura a todos os empregados e dirigentes, ou seja, impõe universalidade. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. Integra o salário de contribuição o valor pago pelo prêmio de seguro de vida em desacordo com a lei. SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO. PREVIDÊNCIA PRIVADA. Integra o salário de contribuição os valores pagos a título de previdência privada, quando não comprovada a regularidade da concessão. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 08 8. 00 01 37 /2 00 8- 72 Fl. 3407DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.408 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício. Por unanimidade de votos rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, por maioria de votos, dar provimento parcial ao recurso voluntário para: a) excluir da base de cálculo do levantamento M os valores discriminados na Tabela 1 do voto R$ 70.192,11 na competência set/04 e R$ 87.496,98 na competência dez/05; e b) excluir os levantamentos AM, AMF e MF. Vencidos os conselheiros Miriam Denise Xavier (relatora), Francisco Ricardo Gouveia Coutinho e José Luís Hentsch Benjamin Pinheiro, que davam provimento parcial em menor extensão para excluir apenas os valores relativos ao levantamento M. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Rayd Santana Ferreira. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Relatora e Presidente. (assinado digitalmente) Rayd Santana Ferreira Redator Designado. Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Miriam Denise Xavier, Cleberson Alex Friess, Andrea Viana Arrais Egypto, Francisco Ricardo Gouveia Coutinho, Rayd Santana Ferreira, José Luiz Hentsch Benjamin Pinheiro, Luciana Matos Pereira Barbosa e Matheus Soares Leite. Relatório Tratase de Recurso de Ofício e de Recurso Voluntário apresentado contra o Acórdão nº 1427.768 6ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto SP (fls. 2.993/3.026), que julgou procedente em parte a autuação por descumprimento de obrigação principal, AIOP nº 37.143.8438, com ciência do Contribuinte em 3/6/08, à fl. 3, com valor consolidado de R$ 7.242.471,36, que foi reduzido após o julgamento de primeira instância para R$ 1.471.359,36. O crédito tributário se refere à contribuição social previdenciária correspondente à contribuição da empresa, incidente sobre valores pagos a segurados contribuintes individuais, diretores, no período de 01/98 a 09/07. Fl. 3408DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.409 3 De acordo com o relatório fiscal, fls. 683/739, os fatos foram identificados nas folhas de pagamento da empresa, ratificados nos registros contábeis, e são fatos geradores do presente lançamento os valores apurados nos seguintes códigos de levantamentos: 1 Assistência médica plano de assistência médica e hospitalar disponível a todos os funcionários e seus dependentes legais, porém em planos distintos entre seus prestadores de serviço no momento da concessão do benefício. O custo é assumido integralmente pela empresa. · AM Assistência médica 05/04 a 09/07 · AMA assistência médica antes GFIP 05/98 a 12/98 · AMF assistência médica FPAS 507 01/99 a 04/04 2 Despesa de viagem reembolso por km rodado pela utilização de veículo próprio, para cargos executivos. Foi apurada nos termos do art. 233 do RPS Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto 3.048/99. · DV despesas de viagem 05/04 a 09/07 · DVA despesas de viagem antes GFIP 01/98 a 12/98 · DVF despesas de viagem FPAS 507 01/99 a 04/04 3 Empréstimo valor pago a Maurílio Lobo Filho, antes de concretizado formalmente sua inclusão da diretoria. · EMP empréstimo devolvido 05/04 4 Folhas de pagamento confronto entre valores das folhas de pagamento e GFIP, cujos recolhimentos não ficaram comprovados. · FND valores em folha não declarados em GFIP 07/04 a 02/05 · FNF valores em folha não declarados em GFIP FPAS 507 08/03 a 04/04 5 Gratificação aferição valores registrados em conta contábil denominada gratificações, com históricos sucintos e sem exibição de documentos, usando a prerrogativa contida no art. 233 do RPS. · G gratificação 05/04 a 09/07 · GA gratificação antes GFIP 01/98 a 12/98 · GF Gratificação FPAS 507 01/99 a 04/04 6 Mútuos aferição verificado na escrituração contábil contas nomeada como empréstimo e a deficiência dos registros impossibilitaram qualquer conclusão relativo à regularidade e devolução dos empréstimos, com fundamento no art. 233 do RPS. Fl. 3409DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.410 4 · M Mutuo 05/04 a 12/05 · MA Mutuo antes GFIP 01/98 a 08/98 · MF Mutuo FPAS 507 04/99 a 04/04 7 Terapias complementares complementação de tratamentos (psico fono), pagos aos funcionários e dependentes, exceto funcionários contratos na modalidade de prazo determinado, tratandose de parcela tributável, pois não atende todos os empregados e dirigentes, ficando excluído do plano os laboradores contratados a prazo determinado. · PF Psico fono 05/04 a 09/07 · PFA Psico fono antes GFIP 05/98 a 12/98 · PFF Psico fono FPAS 507 01/99 a 04/04 8 Previdência privada aferição valores apurados em conta contábil intitulada previdência privada, com históricos sucintos e sem exibição de documentos, com fundamento no art. 233 do RPS. · PP Previdência privada 11/05 a 08/07 · PPA Previdência privada antes GFIP 01/98 a 11/98 · PPF Previdência privada FPAS 507 08/99 9 Reembolso odontológico dos diretores tratamento odontológico nas situações preventivas e curativas, aplicado aos diretores, gerentes de divisão e de departamentos e com "status de" e seus dependentes legais. Reembolso de despesas, limitado a 50% do salário. Parcela tributável, pois atende apenas aos escalões mais elevados. · RO Reembolso odonto 05/04 a 09/07 · ROA Reembolso odonto antes GFIP 01/98 a 12/98 · ROF Reembolso odonto FPAS 507 01/99 a 04/04 10 Seguro de Vida em Grupo indenização quando da ocorrência de sinistros. Aplicado a todos os funcionários e estagiários. Benefício não contemplado em acordo/convenção coletiva. Em razão de que na conta contábil não segregar o montante apropriado e tampouco a identificação do beneficiário, os valores apurados foram extraídos dos descontos alocados nas folhas de pagamento, usando a prerrogativa prevista no art. 233 do RPS. · SV Seguro de vida 05/04 a 09/07 · SVA Seguro de vida antes GFIP 01/98 a 12/98 · SVF Seguro de vida FPAS 507 01/99 a 04/04 Fl. 3410DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.411 5 Os valores a título de remuneração indireta foram pagos em desconformidade com a legislação que rege cada matéria, razão pela qual compõem o salário de contribuição. Os valores lançados não foram declarados em GFIP. Cientificado do lançamento, o contribuinte apresentou impugnação, sendo proferido o Acórdão nº 1427.768 6ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto SP (fls. 2.993/3.026), com a seguinte ementa e resultado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/01/1998 a 30/09/2007 CONTRIBUIÇÕES DA EMPRESA INCIDENTES SOBRE A REMUNERAÇÃO DE CONTRIBUINTES INDIVIDUAIS. A empresa é obrigada a recolher as contribuições a seu cargo incidentes sobre as remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados contribuintes individuais. PRAZO DECADENCIAL. OCORRÊNCIA EM PARTE. Nos tributos sujeitos ao regime de lançamento por homologação, havendo pagamento antecipado, contase o prazo decadencial a partir da ocorrência do fato gerador. Quando não há pagamento antecipado, ou na hipótese de fraude, dolo ou simulação, aplica se a regra geral disposta no art. 173, I, do CTN. AUTUAÇÃO. LEGALIDADE. NULIDADE. INCABÍVEL. O AutodeInfração devidamente motivado, com a descrição das razões de fato e de direito, contendo as informações suficientes ao exercício do contraditório e da ampla defesa, é ato administrativo que goza de presunção de legalidade e veracidade, sendo descabida a argüição de nulidade do feito. SALÁRIODECONTRIBUIÇÃO. ARBITRAMENTO. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. RETIFICAÇÃO DE DÉBITO. Integra o saláriodecontribuição do segurado contribuinte individual empresário a remuneração auferida em uma ou mais empresas. É permitido o lançamento de crédito por arbitramento no caso de não exibição dos documentos solicitados e/ou apresentação deficiente, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. Em razão da comprovação por ocasião da diligência procedida, cabe retificação do débito para excluir os valores recolhidos em data anterior à autuação e os que não devem compor a base de cálculo. SALÁRIODECONTRIBUIÇÃO. SEGURO DE VIDA. PREVIDÊNCIA PRIVADA. ASSISTÊNCIA MÉDICA, ODONTOLÓGICA E REEMBOLSO DE DESPESAS. Integra o saláriodecontribuição o valor relativo a seguro de vida, pago em desacordo com a legislação pertinente. Fl. 3411DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.412 6 Integra o saláriodecontribuição o valor atinente a programa de previdência privada, quando não comprovada a regularidade da concessão. Integra o saláriodecontribuição a importância concernente a assistência médica, odontológica e de reembolso de despesas, quando pago em discordância com a legislação correspondente. LEGALIDADE E CONSTITUCIONALIDADE. ÂMBITO ADMINISTRATIVO. A instância administrativa é incompetente para se manifestar sobre a constitucionalidade das leis e a legalidade dos atos normativos infralegais. PROVAS. PRAZO PARA APRESENTAÇÃO. PRECLUSÃO. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. A prova documental no contencioso administrativo deve ser apresentada juntamente com a impugnação, precluindo o direito de fazêlo em outro momento processual, salvo se fundada nas hipóteses expressamente previstas. INTIMAÇÃO. DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO. ENDEREÇO CADASTRAL. PEDIDO REJEITADO. Dada a existência de determinação legal expressa, as intimações são endereçadas ao domicílio tributário eleito pelo sujeito passivo, assim considerado o endereço postal, eletrônico ou de fax, por ele fornecido, para fins cadastrais. PRAZO PARA MANIFESTAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO. A apresentação de alegações após o prazo concedido para a empresa se pronunciar enseja o seu não conhecimento. VÍCIO FORMAL INSANÁVEL. EXCLUSÃO DO LEVANTAMENTO ESPECÍFICO. INCLUSÃO POSTERIOR. Embora concluise pela procedência parcial, a constatação de vicio formal insanável em determinado levantamento enseja a exclusão em sua totalidade para posterior inclusão em futura autuação. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte Consta do acórdão de impugnação que: A Autuada não questionou os aspectos relativos ao mérito dos Lançamentos "Despesas de Viagens" e "Empréstimos" e parte de "Folha de Pagamento". Concordou e no prazo de defesa efetuou os recolhimentos devidos, conforme cópia de GPS juntada aos autos, já apropriadas, o que resultou na exclusão dos valores referentes aos levantamentos abaixo: DV — de 05/2004 a 09/2007 total; Fl. 3412DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.413 7 DVF — 06/2003 a 04/2004; EMP — 05/2004 — total; FND — competência 10/2004 — de R$ 13.843,21 para R$ 10.903,21. Foi excluído, por decadência, o período de janeiro/1998 a maio/2003. Levantamento Folhas de pagamento, retificado após diligência fiscal: · FNF improcedente em sua totalidade e · FND mantido o salário de contribuição de R$ 3.968,19, na competência 07/04. Levantamento Gratificação, retificado após diligência fiscal: · G mantido o salário de contribuição na competência 10/04 no valor de R$ 848.207,15, e na competência 11/04, no valor de R$ 2.891,03. · GF mantido o valor lançado na competência 09/03. Levantamento Mútuos, retificado após diligência fiscal: · Levantamento M: competência SC lançado SC excluído SC mantido mai/04 20.591,26 20.339,75 251,51 jun/04 22.465,30 21.731,92 733,38 jul/04 21.165,78 20.914,27 251,51 ago/04 20.973,96 20.566,55 407,41 set/04 86.645,74 15.603,63 71.042,11 out/04 20.844,24 20.844,24 0 dez/04 164.214,39 155.401,55 8.812,84 jan/05 7.559,31 7.559,31 0 fev/05 5.094,37 5.094,37 0 mar/05 101.691,95 14.904,55 86.787,40 abr/05 89.532,56 14.631,36 74.901,20 mai/05 1.787.886,69 1.787.886,69 0 jun/05 56.751,20 0 56.751,20 ago/05 1.632.779,58 1.632.779,58 0 out/05 19.805,47 19.805,47 0 dez/05 1.160.285,95 1.072.788,97 87.496,98 · Levantamento MF totalmente excluído por vício formal. Levantamentos terapias complementares, reembolso odontológico dos diretores, seguro de vida em grupo, assistência médica e previdência privada, integralmente mantidos no período não decadente. Cientificado do Acórdão em 8/4/10 (Aviso de Recebimento AR de fl. 3.027), a autuada FISCHER S.A. — AGROINDÚSTRIA apresentou recurso voluntário em Fl. 3413DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.414 8 17/4/10, fls. 3.031/3.055, que contém, basicamente, os mesmos argumentos da impugnação, em síntese: Preliminarmente, alega que o auto de infração é nulo, uma vez que a fiscalização não aprofundou as suas investigações, valendose de presunção para determinar a base de cálculo da contribuição relativa à previdência privada e gratificação — aferição e mútuos — aferição. Acrescenta que a fiscalização não comprovou a ocorrência das infrações supostamente cometidas, nem trouxe aos autos elementos que confirmassem sua suspeita, presumindo a ocorrência do fato gerador , com fulcro no RPS, art. 233. Aduz que o auditor fiscal reconheceu que parte do lançamento deveria ser cancelado e que, apesar disso, a DRJ entendeu que o procedimento fiscal não possui vício. Diz que com base em meras alegações, desprovidas de quaisquer elementos de provas, a fiscalização efetuou o lançamento, presumindo as bases, nos termos do art. 233 do Decreto 3.048/89. Ao deixar de aprofundar as suas investigações e identificar eventuais pagamentos realizados aos diretores, que não foram computados na base de cálculo e optar pelo cômodo procedimento previsto no transcrito art. 233, sem amparo em norma legal, a fiscalização maculou irremediavelmente o lançamento tributário. Invoca o Principio da Legalidade e art. 142 do CTN, não observados pela fiscalização, que realizou o lançamento sobre parte dos saldos existentes em registros contábeis, que não se referem à remuneração dos diretores da Impugnante, devendo ser declarada a nulidade do lançamento, relativo aos supostos pagamentos efetuados a titulo de previdência privada, gratificações e mútuos. Afirma ser improcedente a exigência da contribuição sobre despesas médicas, lançadas a título de mútuo. Diz que o lançamento foi retificado, sendo mantido apenas nas competências 06/03 e 07/03, com base na alegação de que a respectiva base de cálculo engloba despesas médicas, que não foram consideradas no correspondente levantamento, pois ambas rubricas — Assistência Médica e Mútuos — compõem o salário de contribuição dos contribuintes individuais e nenhum prejuízo vai causar à Autuada, pois em nada altera o valor do débito da Empresa. Entende que o lançamento não pode ser mantido, pois há disparidade entre os fatos ocorridos e o fundamento legal dado por infringido, o que dá causa à nulidade do auto de infração. A autoridade administrativa deve determinar com precisão o dispositivo legal ao qual essa situação está subsumida. Cita o CTN, art. 142, o Decreto 70.235/72, art. 10, e decisões do CARF. Alega ser improcedente a exigência sobre empréstimos, posteriormente, devolvidos pelos funcionários da recorrente. Afirma que parte das exigências fiscais correspondentes aos mútuos concedidos pela recorrente, merece ser cancelada, na medida em que os seus funcionários vêm devolvendo as quantias que lhe foram emprestadas, conforme recibos (docs. 3 e 4), razão pela qual não podem ser consideradas como remuneração deles. Fl. 3414DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.415 9 Com efeito, os valores considerados pela fiscalização nas bases de cálculo da contribuição previdenciária, relativas às competências 09/04, 04/05 e 12/05, referemse a verdadeiros empréstimos concedidos pela recorrente, conforme comprovam os anexos instrumentos particulares de mútuo (docs. 1 e 2). Argumenta que há valores considerados em duplicidade. Diz que restou mantida a exigência da contribuição destinada à Seguridade Social sobre empréstimos supostamente concedidos pela recorrente, nos meses de abril e junho de 2005, nos valores de R$ 74.901,20 e R$ 56.751,20, respectivamente. Afirma que a maior quantia engloba a menor, ou seja, os R$ 56.751,20 estão compreendidos nos R$ 74.901,20, que corresponde à soma daquele valor ("emprest. carro Nelson Ivan") e de R$ 18.150,00 ("empr. compra celular Citric") (doc. 5). Assim, o lançamento do empréstimo ao Sr. Nelson Ivan foi considerado em duplicidade, devendo a respectiva exigência fiscal ser cancelada. Quanto à assistência médica, entendeuse que a recorrente não pode conceder planos de assistência médica distintos a seus empregados e diretores, em função de seus cargos, sob pena de perder o benefício fiscal, previsto na Lei 8.212/91, art. 28, § 9°, alínea "q", apesar de ser incontroverso que a recorrente disponibiliza a todos os seus funcionários, gerentes e diretores planos de assistência médica. Observa que o referido dispositivo legal não contém qualquer determinação no sentido de que a assistência médica deve ser uniforme a todos os empregados e dirigentes da empresa. A referida norma legal exige, tão somente, que esse benefício seja disponibilizado a essas pessoas. Sobre as terapias complementares, foi mantido o lançamento sobre valores pagos para tratamentos psicológicos, fonoaudiólogos, etc., não cobertos pelos planos de saúdes. Entendeuse que tais benefícios devem ser concedidos a todos os empregados e dirigentes da recorrente, nos termos da alínea "q" do parágrafo 9° do art. 28 da Lei n. 8212, porém, como não são oferecidos aos trabalhadores contratados por prazo determinado, não podem ser excluídos da base tributável. Diz que a exigência fiscal não merece prevalecer, pois desconsidera a natureza dos serviços assistenciais oferecidos aos seus empregados e diretores, bem como não leva em conta as peculiaridades do ramo de atividade da Recorrente. Explica que em virtude da atividade por ela desenvolvida, qual seja, a industrialização de produção rural própria e de terceiros, tornase necessário contratar trabalhadores nos meses do ano em que ocorre a colheita da laranja, e de outros frutos. A esses trabalhadores contratados por período de tempo determinado, é garantido o acesso aos serviços médicos e hospitalares, mediante plano de saúde. No entanto, pela própria natureza das terapias complementares, cujos efeitos são verificados ao longo de um período, não faz qualquer sentido lógicojurídico exigir que esse benefício seja estendido àquela classe de trabalhadores. Quanto aos pagamentos feitos a entidades abertas de previdência privada, o lançamento foi efetuado, pois não teria sido devidamente demonstrado o cumprimento da condição prevista na Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea "p", qual seja, o oferecimento dos planos de previdência privada a todos os seus empregados. Destaca que apesar da matéria ter sido enfrentada sob o prisma da Lei Complementar 109/01, a decisão recorrida ignorou os ditames desse diploma legal, limitando se a repetir as alegações do Sr. Auditor Fiscal, constantes no auto de infração. Diz que nos autos deste processo administrativo, não foi levantada dúvida acerca da efetividade das contribuições feitas pela recorrente, destinadas ao custeio dos planos Fl. 3415DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.416 10 previdenciários de seus funcionários e diretores, razão pela qual a discussão se restringe ao alcance da norma inserta na Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea "p". Explica que até meados do anocalendário de 2001, era incontestável que a exclusão das contribuições relativas aos planos de previdência privada, da base de cálculo da contribuição destinada à Seguridade Social, dependia da observância do oferecimento do plano a todos os empregados e dirigentes da pessoa jurídica. Contudo, com o advento da Lei Complementar 109, que regulou o art. 202 da Constituição, dispondo sobre o regime da previdência privada de caráter complementar ao regime geral de previdência social, foram revogadas as condições impostas na Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea "p", no caso dos planos das entidades abertas. Logo, não integram a base de cálculo da contribuição previdenciária as contribuições realizadas pelos empregadores, destinadas ao custeio de planos de benefício de entidades abertas, ainda que tais planos não sejam oferecidos à totalidade de seus empregados. Acrescenta que dentre os lançamentos realizados na conta gráfica "gratificações", competências 10/04 e 11/04, existem dois valores, totalizando R$ 851.098,18, que dizem respeito a contribuições feitas pela recorrente a entidades abertas de previdência privada, mas que, contabilmente, foram classificados erroneamente. O equívoco pode ser observado ao se verificar o histórico dos respectivos lançamentos contábeis, "outros pagamentos previdência privada", realizados nas anexas folhas de seu Livro Razão e das cópias das respectivas solicitações de pagamento (docs. 6 a 8). Assim, a contribuição incidente sobre aquelas quantias deve seguir a mesma sorte dos demais valores pagos pela recorrente às entidades abertas de previdência complementar. Sobre o seguro de vida em grupo, o lançamento foi mantido por ser considerado que inexiste a previsão de seguro de vida em grupo no acordo coletivo de trabalho, firmado entre o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Matão e a recorrente. No entanto, ao contrário do que alega a fiscalização, os acordos coletivos de trabalho celebrados pela recorrente sempre previram a possibilidade de ser disponibilizado aos seus trabalhadores seguro de vida em grupo, em substituição do chamado "auxílio funeral". Confirase, a título exemplificativo, a cláusula 31ª do acordo coletivo, relativo ao ano de 2007, que constava nos acordos dos anos anteriores: "No caso de falecimento do empregado as empresas pagarão aos seus dependentes legais, a título de auxílio funeral, 05 salários normativos da categoria profissional convenente, vigentes à data do falecimento, no caso de morte natural ou acidente, e 7 salários normativos, no caso de morte por acidente de trabalho. Ficam excluídas desta obrigação as empresas que mantenham seguro de vida em grupo, com a subvenção por parte das mesmas, bem como as que adotarem procedimentos mais favoráveis ou subvencionem totalmente as despesas do funeral." Equivocamse as autoridades julgadoras "a quo", do mesmo modo que se equivocou o Sr. Agente Fiscal, quando afirmam que essa cláusula não se enquadra na regra do art. 214, parágrafo 9º, inciso XXV, do Decreto n. 3048, com a redação dada pelo Decreto n. 3265, de 29.11.1999, segundo a qual "não integram o saláriodecontribuição, exclusivamente (...) o valor das contribuições efetivamente pago pela pessoa jurídica relativo a prêmio de Fl. 3416DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.417 11 seguro de vida em grupo, desde que previsto em acordo ou convenção coletiva de trabalho e disponível à totalidade de seus empregados e dirigentes, observados, no que couber, os arts. 9° e 468 da Consolidação das Leis do Trabalho". Afirma que a leitura atenta da cláusula 31ª do acordo coletivo de trabalho, acima transcrita, evidencia que está previsto que as empresas que o subscreveram podem manter seguro de vida em grupo para os seus empregados, em substituição ao pagamento do "auxílio funeral". Essa foi a única saída encontrada para acomodar os diversos interesses das partes daquele acordo, razão pela qual aquele dispositivo convencional deixou duas alternativas de benefícios que podem ser disponibilizados aos empregados daquelas empresas. A primeira alternativa é o pagamento de determinada quantia a título de "auxílio funeral", ao passo que a segunda consiste na manutenção de seguro de vida em grupo. Entende correto o pagamento pois o seguro de vida em grupo está previsto em acordo coletivo de trabalho e o plano é disponibilizado à totalidade dos funcionários da recorrente. Requer o cancelamento da parcela mantida na exigência fiscal. As solidárias, Fischer S/A Comércio, Indústria e Agricultura (fl. 3.071) , Citrosuco Serviços Portuários S.A. (fl. 3.118) e Citrosuco Paulista Ltda (fl. 3.165), apresentaram recursos nos quais reiteram os fundamentos apresentados pela autuada. Os autos foram baixados em diligência, conforme Resolução 2403000.300, fls. 3.221/3.268, de relatoria do conselheiro Paulo Maurício Pinheiro Monteiro, que não mais integra este Conselho, para que a fiscalização se manifestasse sobre: (i) Se ocorreu de fato o alegado pela Recorrente de que despesas médicas de diretores foram lançadas pela AuditoriaFiscal no Código de Levantamento MF, relacionado a Mútuos, nas competências 06/2003 e 07/2003. Ainda assim, temse a referência do subitem 6.7 da Informação Fiscal e o posicionamento da decisão de primeira instância às fls. 2781. (ii) Se ocorreu de fato o alegado pela Recorrente de que, em relação ao Código de Levantamento EMP, ou seja, os mútuos concedidos pela Recorrente aos seus funcionários vêm sendo quitados, conforme se verifica nas competências 09/2004, 04/2005 e 12/2005 com os anexos instrumentos particulares de mútuo no Recurso Voluntário. (iii) Se os empréstimos concedidos pela Recorrente, nos meses 04.2005 e 06.2005, nos valores de R$ 74.901,20 e R$ 56.751,20, respectivamente, foram considerados pela AuditoriaFiscal em duplicidade. Neste sentido a Recorrente alega que a maior quantia engloba a menor, ou seja, os R$ 56.751,20 estão compreendidos nos R$ 74.901,20, que corresponde à soma daquele valor ("emprest. carro Nelson Ivan") e de R$ 18.150,00 ("empr. compra celular Citric") (doc. 5), sendo então o lançamento do empréstimo ao Sr. Nelson Ivan foi considerado em duplicidade. Fl. 3417DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.418 12 (iv) Qual o Código de levantamento e as competências referentes ao relatado no item (iii) acima. (v) Em relação aos Códigos de Levantamento AM ASSIST MED e AMF ASSIST MED FPAS 507, a AuditoriaFiscal informe se a Recorrente disponibiliza planos de assistência médica a todos os empregados, gerentes e diretores. (vi) Em relação aos Códigos de Levantamento RO REEMBOLSO ODONTO e ROFREEMBOLSO ODONTO FPAS 507, a AuditoriaFiscal informe se a Recorrente disponibiliza planos de assistência odontológica a todos os empregados, gerentes e diretores. (vii) Em relação ao Código de levantamento GF, nas competências 10.2004 e 11.2004, se procede o alegado pela Recorrente de que existem dois valores, totalizando R$ 851.098,18, que dizem respeito a contribuições feitas pela recorrente a entidades abertas de previdência privada, mas que, contabilmente, foram classificados erroneamente, conforme os docs. 6 a 8) em anexo no Recurso Voluntário. A fiscalização respondeu à diligência, conforme informação fiscal de fls. 3.272/3.279, que contém as respostas aos itens listados acima, em síntese: (i) Informa que o valor de R$ 62.700,00 (fl. 1.860) coincide com o contabilizado e lançado pela auditoria, os demais não atingem de nenhuma forma o outro valor apurado de R$ 626.003,12 (somando todos, ou alguma combinação de alguns deles). A política de assistência médica da empresa não prevê nenhum benefício adicional, como o suposto reembolso que alega a autuada. Caso o plano contratado também o preveja tal lavra cabe a operadora de saúde contratada e não ao ente patrocinador do plano. Seja pelos valores desconexos com os apurados pela auditoria fiscal e apropriados nos registros contábeis, seja pela ausência de política de reembolso explicitada pela empresa, não há como albergar os argumentos da pessoa jurídica de que trata de despesa médica, que se concedeu algum benefício aos seus laboradores o fez por liberalidade e não coincide com a rubrica despesa médica apurada pela fiscalização. (ii) O recibo tem valor probatório relativo, no curso da ação fiscal fora identificado que a empresa possuía um recibo de quitação de valores, quando na verdade a própria fiscalizada indicara que o montante fora perdoado. A autuada poderia ter trazido ao processo, o depósito bancário, cópia do cheque, ou qualquer outro documento de prova inequívoca de transferência dos valores da pessoa física para a pessoa jurídica, contudo preferiu apresentar meros recibos que já tinham demonstrado não possuir qualquer confiabilidade. Não há prova de que estão ocorrendo as quitações alegadas. (iii) Realmente é inegável a coincidência entre as somas dos valores R$ 56.751,20 com R$ 18.150,00 e o lançamento de R$ 74.901,20. Entretanto inexiste elemento que prove que possuem relação entre si. Fl. 3418DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.419 13 A constituição do crédito foi realizada em grande parte pela omissão na apresentação dos documentos que suportassem os lançamentos contábeis, estes também em grande parte com históricos incompletos e incompreensíveis. O próprio contribuinte demonstra desconhecer seus próprios registros, no momento da defesa nada trouxe acerca da suposta “duplicidade” na cobrança que alega neste momento no recurso. Sobre o montante de R$ 74.901,20 esta auditoria já havia se manifestado por ocasião da diligência realizada para esclarecer algumas questões trazidas pelo autuado. Como não trouxe elementos suficientes para comprovar a alegação não há como concordar com o sujeito passivo devendo ser mantido o respectivo crédito previdenciário. (iv) As competências são 04/2005 (R$ 74.901,20) e 06/2005 (R$ 56.751,20) descritos sob o levantamento M (RL Relatório de Lançamentos folhas 582 do presente). (v) Segundo a política de benefícios aplicada pela empresa todos os funcionários e dependentes legais da Fischer S/A Comércio, Indústria e Agricultura fazem jus a algum tipo de assistência médica (folhas 971, 971 e 973 do presente). (vi) Segundo a política de benefícios aplicada pela empresa somente os Diretores, Gerentes de Divisão e Gerentes de Departamentos da Fischer S/A Comércio, Indústria e Agricultura fazem jus a assistência odontológica (folhas 938 e 939 do presente). (vii) Imperioso relembrar os registros contábeis deficientes e a falta de comprovação documental dos perceptivos contábeis recorrentes na fiscalizada. 46. Tentou com tal ardil desincumbirse de suas obrigações tributárias e ora tenta novamente delas escapar, apesar de reiteradas vezes instada a comprovar em época própria, aguardou a defesa e o recursos para exibir algumas situações realmente legítimas e outras que não há instrumento probatório fiel. 47. Este é mais um caso, no próprio relatório fiscal do auto de infração o auditor fez a ressalva no tocante aos valores referentes ao levantamento Gratificações. “Relevante mencionar que nas apropriações de outubro e novembro de 2004, constam históricos que fazem menção a pagamentos de previdência privada, o que demonstra mais uma vez a ineficiência das descrições nos históricos.” 48. O que deve prevalecer numa contabilidade tão deficiente? O título da conta ou seu histórico? 49. Na verdade nenhuma delas, a apresentação dos documentos de suporte deveriam sanar a questão, o que o contribuinte tenta realizar no momento. 50. Foram juntados os documentos às folhas 3110 a 3117. Os dois últimos, meras solicitações de pagamento (documento Fl. 3419DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.420 14 interno da empresa) em favor de Unibanco AIG S/A Seguros e Previdência. 51. A empresa não se preocupou em juntar os comprovantes de pagamentos tampouco documentos que indiquem a que título foram realizados. 52. Nem mesmo os valores são coincidentes, veja que o documento juntado à folha 3116, consta o valor de R$ 854.144,60 enquanto que o apurado na conta contábil constante do levantamento naquele mês (10/2004) R$ 848.207,15 e no outro mês o documento à folha 3117 anota R$ 2.911,26 e no contábil apropriado R$ 2.891,03 em 11/2004. 53. Por toda a dificuldade em registrar de forma minimamente razoável seus históricos bem como de apresentar documentos que os comprovem não é possível aceitar as alegações do sujeito passivo. A autuada foi cientificada do resultado da diligência em 6/6/16 (Termo de Ciência de fl. 3.285) e apresentou manifestação em 16/6/16, fls. 3.287/3.298, que contém, em síntese: Reitera os argumentos apresentados no recurso de que o lançamento é nulo. Afirma que os valores de R$ 626.003,12 e R$ 62.700,00 referemse a despesas médicas incorridas por diretor da requerente que não foram reembolsadas pela Unimed e que foram assumidas pela empresa em virtude de sua política assistencial a seus funcionários. Diz juntar os comprovantes das despesas. Reafirma que o plano de assistência médica prevê que o custo das despesas será assumido integralmente pela requerente. Sobre o item (ii) diz que apresenta comprovantes de transferência bancária que não deixam dúvidas sobre a quitação dos mútuos havidos com os Srs. Sérgio Luis Canassa (doc. 13) e Ronaldo Marfori Sampaio (doc. 14). Assim, é incontestável que os valores lançados nas competências 09/04, 04/05 e 12/05 se referem a empréstimos concedidos devendo a exigência ser cancelada. Quanto aos itens (iii) e (iv) diz que a fiscalização não poderia eleger a data de uma simples transferência contábil como fato gerador de obrigação tributária. Sobre o item (v), a auditoria concluiu que todos os funcionários e dependentes legais da recorrente fazem jus a algum tipo de assistência médica. Sobre o item (vi) diz que tem duas políticas relativas ao tratamento odontológico, a primeira consiste no sistema de reembolso de despesas gastas por diretores e gerentes e a segunda aplicável a todos os funcionários, traduzse por oferecerlhes assistência odontológica junta a dentistas conveniados. Quanto ao item (vii) explica que a divergência entre os valores constantes nas autorizações de pagamento e os registros na conta de previdência privada referemse à parcela referente à taxa de remuneração das entidades privadas que gerenciam o plano, equivalente a aproximadamente 0,7% do total das contribuições efetuadas (contratos de adesão ao plano de previdência privada docs. 853 a 857 da impugnação). Tudo evidenciado nos comprovantes de transferência bancária (docs. 17 e 18). Fl. 3420DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.421 15 Pede o cancelamento da exigência fiscal. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Miriam Denise Xavier, Relatora. RECURSO DE OFÍCIO Em 9/2/17 foi publicada a Portaria MF nº 63, que aumentou o limite de alçada para recurso de ofício, que antes era de um milhão de reais, para R$ 2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais). A Súmula CARF nº 103 dispõe que: Para fins de conhecimento de recurso de ofício, aplicase o limite de alçada vigente na data de sua apreciação em segunda instância. Da análise dos autos vêse que foram excluídos o valor principal de R$ 2.886.013,45 e a multa de R$ 758.504,10, que juntos somam R$ 3.644.517,55. Sendo assim, por superar o novo limite estabelecido na Portaria MF nº 63/17, conheço do recurso de ofício. Conforme relatado, as exclusões foram determinadas: a) pelo reconhecimento da decadência até a competência 05/03, aplicandose o disposto no CTN, art. 150, § 4º, pois se verificou que houve princípio de recolhimento em todo o período considerado decadente; b) por ter sido reconhecido pela fiscalização erros materiais no lançamento, conforme informação fiscal (fls. 2.543/2.571); e c) por ter sido identificado erro na classificação do levantamento MF, sendo excluído por vício formal insanável. Sendo assim, estou de acordo com as exclusões efetuadas e nego provimento ao recurso de ofício. RECURSO VOLUNTÁRIO ADMISSIBILIDADE O recurso voluntário foi oferecido no prazo legal, assim, deve ser conhecido. DELIMITAÇÃO DA LIDE Após pagamentos realizados e retificações propostas pela DRJ, mantémse em litígio os seguintes lançamentos: Fl. 3421DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.422 16 1 Assistência médica plano de assistência médica e hospitalar disponível a todos os funcionários e seus dependentes legais, porém em planos distintos entre seus prestadores de serviço no momento da concessão do benefício. · AM Assistência médica 05/04 a 09/07 · AMF assistência médica FPAS 507 06/03 a 04/04 2 Folhas de pagamento confronto entre valores das folhas de pagamento e GFIP, cujos recolhimentos não ficaram comprovados. · FND mantido o salário de contribuição de R$ 3.968,19, na competência 07/04. 3 Gratificação aferição valores registrados em conta contábil denominada gratificações, com históricos sucintos e sem exibição de documentos, usando a prerrogativa contida no art. 233 do RPS. · G mantido o salário de contribuição na competência 10/04 no valor de R$ 848.207,15, e na competência 11/04, no valor de R$ 2.891,03. · GF mantido o valor lançado na competência 09/03. 4 Mútuos aferição verificado na escrituração contábil contas nomeada como empréstimo e a deficiência dos registros impossibilitaram qualquer conclusão relativo à regularidade e devolução dos empréstimos, com fundamento no art. 233 do RPS. · M Mutuo 05/04 a 12/05 competência SC lançado SC excluído SC mantido mai/04 20.591,26 20.339,75 251,51 jun/04 22.465,30 21.731,92 733,38 jul/04 21.165,78 20.914,27 251,51 ago/04 20.973,96 20.566,55 407,41 set/04 86.645,74 15.603,63 71.042,11 out/04 20.844,24 20.844,24 0 dez/04 164.214,39 155.401,55 8.812,84 jan/05 7.559,31 7.559,31 0 fev/05 5.094,37 5.094,37 0 mar/05 101.691,95 14.904,55 86.787,40 abr/05 89.532,56 14.631,36 74.901,20 mai/05 1.787.886,69 1.787.886,69 0 jun/05 56.751,20 0 56.751,20 ago/05 1.632.779,58 1.632.779,58 0 out/05 19.805,47 19.805,47 0 dez/05 1.160.285,95 1.072.788,97 87.496,98 5 Terapias complementares complementação de tratamentos (psico fono), pagos aos funcionários e dependentes, exceto funcionários contratos na modalidade de Fl. 3422DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.423 17 prazo determinado, tratandose de parcela tributável, pois não atende todos os empregados e dirigentes, ficando excluído do plano os laboradores contratados a prazo determinado. · PF Psico fono 05/04 a 09/07 · PFF Psico fono FPAS 507 06/03 a 04/04 6 Previdência privada aferição valores apurados em conta contábil intitulada previdência privada, com históricos sucintos e sem exibição de documentos, com fundamento no art. 233 do RPS. · PP Previdência privada 11/05 a 08/07 7 Reembolso odontológico dos diretores tratamento odontológico nas situações preventivas e curativas, aplicado aos diretores, gerentes de divisão e de departamentos e com "status de" e seus dependentes legais. Parcela tributável pois atende apenas aos escalões mais elevados. · RO Reembolso odonto 05/04 a 09/07 · ROF Reembolso odonto FPAS 507 06/03 a 04/04 8 Seguro de Vida em Grupo indenização quando da ocorrência de sinistros. Aplicado a todos os funcionários e estagiários. Benefício não contemplado em acordo/convenção coletiva. Em razão de que na conta contábil não segregar o montante apropriado e tampouco a identificação do beneficiário, os valores apurados foram extraídos dos descontos alocados nas folhas de pagamento, usando a prerrogativa prevista no art. 233 do RPS. · SV Seguro de vida 05/04 a 09/07 · SVF Seguro de vida FPAS 507 06/03 a 04/04 PRELIMINAR NULIDADE O argumento do contribuinte de que o auto de infração é nulo, uma vez que a fiscalização não aprofundou as suas investigações, valendose de presunção para determinar a base de cálculo da contribuição relativa à previdência privada e gratificação — aferição e mútuos — aferição, não tem como prosperar. Ao contrário do que alega a recorrente, o lançamento foi constituído conforme determina o CTN, art. 142: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Fl. 3423DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.424 18 Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Toda a situação fática que determinou a ocorrência do fato gerador foi detalhadamente descrita no Relatório Fiscal e a base de cálculo apontada nos anexos, Relatório de Lançamentos RL, o montante devido foi calculado conforme Relatório Discriminativo do Débito DD, o sujeito passivo foi identificado e regularmente intimado da autuação. A fundamentação legal do crédito tributário lançado está descrita no Relatório Fiscal e no Relatório Fundamentos Legais do Débito. Foram cumpridos os requisitos do Decreto 70.235/72, art. 10, não havendo que se falar em nulidade, pois, ao contrário do que entende o sujeito passivo, cabia à fiscalização efetuar o lançamento do crédito tributário devido. O fato de ter ocorrido retificação no lançamento, por terem sido verificados erros materiais, não macula todo o lançamento. Pelo contrário, demonstra que foi revisado, sendo excluída a parte indevida e mantida, após revisão, a contribuição devida. Desta forma, cumpriuse o que determina a Lei 8.212/91, artigo 33: Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas à tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao recolhimento das contribuições sociais previstas no parágrafo único do art. 11 desta Lei, das contribuições incidentes a título de substituição e das devidas a outras entidades e fundos. [...] § 3o Ocorrendo recusa ou sonegação de qualquer documento ou informação, ou sua apresentação deficiente, a Secretaria da Receita Federal do Brasil pode, sem prejuízo da penalidade cabível, lançar de ofício a importância devida. [...] § 6º Se, no exame da escrituração contábil e de qualquer outro documento da empresa, a fiscalização constatar que a contabilidade não registra o movimento real de remuneração dos segurados a seu serviço, do faturamento e do lucro, serão apuradas, por aferição indireta, as contribuições efetivamente devidas, cabendo à empresa o ônus da prova em contrário. MÉRITO ASSISTÊNCIA MÉDICA, ASSISTÊNCIA ODONTOLÓGICA E TERAPIAS COMPLEMENTARES Nos termos da Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea 'q', na redação vigente à época dos fatos geradores, para que o plano de assistência médica ou odontológica não integre o salário de contribuição, a cobertura deve ser oferecida a todos os empregados e dirigentes da empresa. Fl. 3424DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.425 19 Art. 28. Entendese por saláriodecontribuição: [...] § 9º Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: [...] q) o valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio da empresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médicohospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa; Conforme relatado, a autuada fornecia plano de assistência médica e hospitalar disponível a todos os funcionários e seus dependentes legais, porém em planos distintos entre seus prestadores de serviço no momento da concessão do benefício e o custo é assumido integralmente pela empresa. Quanto às terapias complementares complementação de tratamentos (psico fono), os valores eram pagos aos funcionários e dependentes, exceto funcionários contratos na modalidade de prazo determinado. E quanto ao reembolso odontológico dos diretores, o tratamento odontológico nas situações preventivas e curativas, aplicado aos diretores, gerentes de divisão e de departamentos e com "status de" e seus dependentes legais. O reembolso de despesas era limitado a 50% do salário e atendia apenas aos escalões mais elevados. Vêse que a controvérsia dos autos está na interpretação conferida à Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea ‘q’. De um lado a fiscalização entendeu que para o gozo da isenção prevista no dispositivo legal citado, o plano de saúde ofertado pela empresa deve ser idêntico para todos os empregados e dirigentes. Já o sujeito passivo entende que basta ter cobertura a todos, não havendo impedimento em diferenciar a qualidade ou abrangência do plano em virtude do cargo ocupado pelo segurado. A cobertura é a garantia de proteção contra o risco de determinado evento. Já o risco é um evento futuro, incerto e que independe da vontade das partes. Para o custeio de um plano, cada risco deve ser considerado isoladamente, devendo o prêmio ou contribuição a ser pago pelo segurado (ou pela empresa, ou por ambos) ser calculado conforme os riscos contratados. Assim, dependendo dos riscos acobertados, temse o montante devido pelo participante do plano para caso haja o sinistro (acontecimento do evento de risco previsto no plano), possa usufruir os benefícios propostos pelo plano contratado. No caso dos planos de saúde, além dos riscos acobertados, também são oferecidas comodidades, como planos enfermaria ou apartamento, com ou sem reembolso de despesas médicas, reembolso de medicamentos etc. Tais comodidades também integram o cálculo do prêmio ou contribuição. Fl. 3425DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.426 20 Logo, os riscos acobertados e as comodidades do plano importam no valor a ser pago pelo participante ou por ele e a patrocinadora (empresa que oferece o plano a seus empregados), ou somente pela patrocinadora. Portanto, dizer que a cobertura deve abranger a todos os empregados e dirigentes não significa, necessariamente, que os riscos acobertados e as comodidades tenham que ser iguais para todos. Aliás, caso assim o fosse, seria uma forma de burlar o dispositivo previsto em lei, acima transcrito, pois se o plano é também custeado pelo trabalhador e a empresa oferecesse somente um plano que cobrisse vários riscos e com muitas comodidades (mais caro), poderia incorrer na grande probabilidade dos segurados com menores salários não aderirem ao plano, podendose inferir que o plano, apesar de “oferecido para todos”, somente visaria a acobertar os trabalhadores com maiores salários. Desta forma, para os planos coparticipativos, em que trabalhador e empresa participam do custeio, não existe vedação legal à oferta de planos diferenciados para determinados trabalhadores (por exemplo, um plano para empregados e outro para dirigentes). Basta que sejam oferecidos a todos. A condição estipulada pelo legislador na Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea “q” restaria atendida pelo fato de haver cobertura de assistência médica e/ou plano de saúde a todos os empregados e dirigentes da empresa, ainda que os riscos acobertados sejam diferentes entre si. Assim, não é necessário que a cobertura disponibilizada pela empresa seja a mesma para todos os grupos de colaboradores, basta que haja cobertura e que ela abranja a todos os empregados e dirigentes para que seja determinada a não inclusão dos valores correspondentes à assistência médica ou ao plano de saúde no cômputo do saláriode contribuição e a consequente não incidência de contribuições previdenciárias. Exigir que haja cobertura a todos os empregados e dirigentes da empresa é diferente de exigir que haja a mesma cobertura a todos estes funcionários. A condição imposta pelo legislador para a não incidência da contribuição previdenciária é, simplesmente, a existência de cobertura que abranja a todos os empregados e dirigentes. A condição assim delineada está em acordo com a finalidade da norma de não incidência condicionada, que é a de garantir a isonomia entre todos os empregados e dirigentes. Assim, para planos custeados por empregado e empresa, não há problema em se oferecer planos diferenciados aos empregados e dirigentes, desde que os funcionários possam optar pelo plano que desejarem. Esta seria a melhor forma de atingir o propósito legal, oferecendo planos diferenciados, mas que todos os trabalhadores pudessem aderir a eles, garantindo a cobertura a todos os empregados e dirigentes. Por outro lado, se a empresa assume a totalidade do custo com o plano, a oferta de planos diferenciados, em função do cargo ou salário, com acesso exclusivo, apresenta evidente discriminação, desvirtuando o propósito legal. Fl. 3426DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.427 21 No presente caso, restou claro que os valores pagos para assistência médica, terapias complementares e tratamentos odontológicos foram feitos exclusivamente pela empresa, sem coparticipação dos funcionários. Assim, qualquer valor recebido pelos segurados a título de assistência médica, terapias complementares ou tratamento odontológico, em dissonância com a determinação legal, são entendidos como remuneração e integram o salário de contribuição, pois assim não está garantida a isonomia entre todos os empregados e dirigentes, devendo ser mantidos os valores lançados nos levantamentos AM, AMF, PF, PFF, RO e ROF. DESPESAS MÉDICAS A TÍTULO DE MÚTUO Diante do exposto no item acima, mantémse os valores lançados no levantamento MF, competências 06/03 e 07/03, pois conforme afirmado pela recorrente, referemse a despesas médicas incorridas por diretor da requerente que não foram reembolsadas pela Unimed e que foram assumidas pela empresa em virtude de sua política assistencial a seus funcionários. Sendo devido o valor e estando fundamentado o lançamento, em que pese ter sido apurado no levantamento relativo a mútuos (M) e não assistência médica (AM), não há prejuízo ao contribuinte, que entendeu perfeitamente o fato gerador (tanto é que se defendeu), pois somente após o lançamento restou comprovado que tais valores foram pagos a título de despesas médicas. O próprio autuado afirma, conforme manifestação à fl. 2.853, que procedeu à reclassificação contábil dos valores. Assim, não há que se falar em disparidade entre os fatos ocorridos e o fundamento legal dado por infringido, ou em nulidade do auto de infração. MÚTUOS Alega o recorrente que os valores emprestados foram devolvidos pelos funcionários, conforme recibos (docs. 3 e 4). Os valores considerados pela fiscalização nas bases de cálculo da contribuição previdenciária, relativas às competências 09/04, 04/05 e 12/05, referemse a verdadeiros empréstimos concedidos pela recorrente, conforme comprovam os anexos instrumentos particulares de mútuo (docs. 1 e 2). Questionada sobre tal alegação, em resposta à diligência requerida, a fiscalização informou que foi verificado que a empresa possuía recibo de quitação dos valores, mas indicara que o montante fora perdoado. Sugeriu que a autuada poderia ter trazido ao processo, o depósito bancário, cópia do cheque, ou qualquer outro documento de prova inequívoca de transferência dos valores da pessoa física para a pessoa jurídica. Em manifestação sobre a diligência a recorrente afirma que apresenta comprovantes de transferência bancária que não deixam dúvidas sobre a quitação dos mútuos havidos com os Srs. Sérgio Luis Canassa (doc. 13) e Ronaldo Marfori Sampaio (doc. 14). Afirma que os valores lançados nas competências 09/04, 04/05 e 12/05 se referem a empréstimos concedidos devendo a exigência ser cancelada. Pelo contrato de mútuo firmado com Sérgio Luiz Canassa (fls. 3.056/3.057), em 5/8/04, vêse que o valor emprestado foi de R$ 70.192,11, a ser devolvido em 36 meses, conforme cláusula 1. À fl. 3.060 foi juntado um recibo dando quitação do valor de R$ Fl. 3427DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.428 22 24.185,50, referente a tal mútuo, datado de 30/9/09. Há um comprovante de transferência bancária (fl. 3.384) cuja conta debitada pertence a Sérgio Luiz Canassa, no valor de R$ 24.185,50, em 30/9/09. Outro à fl. 3.385, no valor de R$ 24.185,50, em 15/10/10, e mais um, no mesmo valor de R$ 24.185,50, em 15/9/11. Tais comprovantes totalizam R$ 72.556,50. Pelo contrato de mútuo firmado com Ronaldo Marfori Sampaio (fls. 3.058/3.059), em 9/12/05, vêse que o valor emprestado foi de R$ 87.496, 98, a ser devolvido em 36 meses, conforme cláusula 1. Foi apresentado um recibo (fl. 3061), de 1/12/09, no valor de R$ 28.664,29 e o comprovante de transferência (fl. 3.387), no valor do recibo, datado de 1/12/09. Há outro comprovante de transferência bancária, de 15/10/10, no valor de R$ 28.664,29 (fl. 3.388), e mais um, de 1/9/11, também no valor de R$ 28.664,29 (fl. 3.389). Tais comprovantes totalizam R$ 85.992,87. Em que pese a previsão contratual para quitação do empréstimo em 36 meses e os valores terem sido devolvidos em data posterior, podese inferir que tais depósitos a crédito da autuada ocorreram para quitação dos mútuos. Assim, o lançamento deve ser retificado para excluir da base de cálculo os valores lançados a título de mútuo nos quais restou comprovado seu pagamento, conforme Tabela 1. Tabela 1 Retificação do lançamento efetuado no levantamento M. competência SC mantido DRJ SC excluído SC mantido final set/04 71.042,11 70.192,11 850,00 dez/05 87.496,98 87.496,98 0,00 Argumenta ainda a recorrente que há valores considerados em duplicidade. Diz que restou mantida a exigência da contribuição destinada à Seguridade Social sobre empréstimos supostamente concedidos pela recorrente, nos meses de abril e junho de 2005, nos valores de R$ 74.901,20 e R$ 56.751,20, respectivamente. Afirma que a maior quantia engloba a menor, ou seja, os R$ 56.751,20 estão compreendidos nos R$ 74.901,20, que corresponde à soma daquele valor ("emprest. carro Nelson Ivan") e de R$ 18.150,00 ("empr. compra celular Citric") (doc. 5). Assim, o lançamento do empréstimo ao Sr. Nelson Ivan foi considerado em duplicidade, devendo a respectiva exigência fiscal ser cancelada. Questionada sobre tal duplicidade, a fiscalização reconhece a coincidência dos valores somados, mas atesta que inexiste elemento que prove que possuem relação entre si. Sendo assim, deve ser mantido o lançamento. PREVIDÊNCIA PRIVADA Alega a recorrente que para os pagamentos feitos a entidades abertas de previdência privada, o lançamento foi efetuado pois não teria sido devidamente demonstrado o cumprimento da condição prevista na Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea "p", qual seja, o oferecimento dos planos de previdência privada a todos os seus empregados. Contudo, da leitura do relatório fiscal vêse que foram considerados como salário de contribuição os valores lançados na conta intitulada Previdência Privada, pois foram solicitados documentos e nada foi disponibilizado. Assim, não foi possível confirmar se os Fl. 3428DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.429 23 valores lançados em referida conta se referiam realmente à previdência complementar, não sendo possível sua exclusão da base de cálculo da contribuição previdenciária, nos termos da Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea 'p'. Os valores foram lançados no levantamento PP, período 11/05 a 08/07. Para referido período, nenhum documento foi apresentado. Os documentos apresentados pela recorrente, que indicam pagamentos feitos à Unibanco AIG S/A, fls. 3.392/3.399 se referem ao período de 10/04 a 11/04, que não estão incluídos no lançamento. Assim, mantémse o lançamento efetuado no levantamento PP. LEVANTAMENTO GRATIFICAÇÕES G Acrescenta a recorrente que dentre os lançamentos realizados na conta gráfica "gratificações", competências 10/04 e 11/04, existem dois valores, totalizando R$ 851.098,18, que dizem respeito a contribuições feitas pela recorrente a entidades abertas de previdência privada, mas que, contabilmente, foram classificados erroneamente. O equívoco pode ser observado ao se verificar o histórico dos respectivos lançamentos contábeis, "outros pagamentos previdência privada", realizados nas anexas folhas de seu Livro Razão e das cópias das respectivas solicitações de pagamento (docs. 6 a 8). Assim, a contribuição incidente sobre aquelas quantias deve seguir a mesma sorte demais valores pagos pela recorrente às entidades abertas de previdência complementar. Questionada sobre tal fato, a fiscalização afirmou que os documentos são meras solicitações de pagamento (documento interno da empresa) em favor de Unibanco AIG S/A Seguros e Previdência. A empresa não se preocupou em juntar os comprovantes de pagamentos tampouco documentos que indiquem a que título foram realizados. Em sua manifestação a recorrente explica a divergência entre os valores constantes nas autorizações de pagamento e os registros na conta "gratificações". Contudo, não apresenta qualquer documento capaz de demonstrar que tais valores se referem a previdência complementar aberta oferecida aos seus empregados e dirigentes, nos termos da Lei 8.212/91, art. 28, § 9º, alínea 'p', c/c LC 109/01, que determinassem a exclusão da base de cálculo apurada. Assim, mantémse o lançamento efetuado no levantamento G. SEGURO DE VIDA EM GRUPO Sobre o seguro de vida em grupo, em que pese o entendimento da autuada de que a cláusula 31ª do acordo coletivo de trabalho, evidencia que está previsto que as empresas que o subscreveram podem manter seguro de vida em grupo para os seus empregados, em substituição ao pagamento do "auxílio funeral", esse não foi o entendimento da fiscalização, nem da autoridade julgadora de primeira instância e também não é o desta relatora. Conforme acórdão de impugnação, restou esclarecido à recorrente que para que haja a isenção, deve haver previsão do benefício prêmio de seguro de vida em grupo em acordo ou convenção coletiva de trabalho. Contudo, a empresa não previu em seus acordos ou convenções coletivas o pagamento de tal benefício. A cláusula específica referente ao auxílio funeral não cumpriu esse papel. Mantido, assim, os valores lançados nos levantamentos SV e SVF. Fl. 3429DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.430 24 LEVANTAMENTOS GF E FND Não foram apresentadas alegações quanto a esses levantamentos. CONCLUSÃO Voto por conhecer do recurso de ofício e negarlhe provimento. Conhecer do recurso voluntário, rejeitar a preliminar de nulidade e, no mérito, darlhe provimento parcial para excluir da base de cálculo do levantamento M os valores discriminados na Tabela 1 do voto: R$ 70.192,11 na competência set/04 e R$ 87.496,98 na competência dez/05. (assinado digitalmente) Miriam Denise Xavier Voto Vencedor Conselheiro Rayd Santana Ferreira Redator Designado Não obstante as sempre bem fundamentadas razões do ilustre Conselheira Relatora, peço vênia para manifestar entendimento divergente, por vislumbrar na hipótese vertente conclusão diversa da adotada pela nobre julgadora, quanto o posicionamento ao Recurso Voluntário, devendo ser modificada a decisão a quo, apenas em relação aos levantamentos AM, AMF e MF, como passaremos a demonstrar. Cediço que as contribuições previdenciárias incidem sobre verbas de natureza remuneratória, pois expressamente a Lei de Custeio, Lei nº 8.212/91, ao tratar da contribuição das empresas, assim estabelece: Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: I vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa. (...) Fl. 3430DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.431 25 III vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços Como bem apontado no fundamentado e coerente voto da Conselheira Miriam Denise Xavier, a Lei nº 8.212/91 tem a seguinte redação para determinação que tais valores não integram o salário de contribuição: q) o valor relativo à assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio da empresa ou por ela conveniado, inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médicohospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa; (grifamos) Da leitura atenta do texto da norma, extraímos que os valores referentes ao pagamento dos valores relativos à assistência a saúde dos trabalhadores, assim entendido além do valor dos serviços médicos ou odontológicos, o reembolso de despesas. com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, com despesas médicashospitalares e outras despesas similares, são extraídos do salário de contribuição, ou seja, não são passíveis de incidência de contribuição previdenciária. Nítida norma isentiva, porém com conteúdo de caráter exemplificativo e de ampla abrangência quanto ao tipo de assistência médica. Uma única exigência é feita pelo legislador: que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes da empresa. Tal disposição explicita nos força a duas reflexões. Primeira: qual o conceito que deve o interprete dar ao vocábulo cobertura. Segunda: por que essa cobertura deve estenderse a totalidade dos empregados (trabalhadores com vínculo de emprego), e dirigentes da empresa (trabalhadores sem vínculo de emprego). Para refletimos sobre o conceito empregado pelo Legislador para 'cobertura' da assistência médica, forçoso analisarmos o mercado de prestação de serviços de seguro saúde ou plano de assistência médica no Brasil. No mínimo uma constatação faremos: mercado altamente competitivo, regulado pelo Governo, e com marcante característica da diversificação de produtos. Podese contratar planos somente de assistência médica, somente de assistência hospitalar, com atendimento somente ambulatorial, somente em rede credenciada, com vários padrões de hotelaria (enfermaria, quartos duplos, suítes), com possibilidade de livre escolha de médico e hospital etc. Enfim, um grande número de possibilidades, de coberturas, e, por óbvio, de custos. Essa constatação nos permite a primeira inferência: a melhor acepção de cobertura para a norma isentiva constante da alínea 'q" do parágrafo 9º artigo 28 da Lei nº Fl. 3431DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.432 26 8.212/91 é a universalidade, ou seja, o que a lei exige é o oferecimento de cobertura a todos os empregados e dirigentes, não fazendo exigência quanto à homogeneidade dos planos. Aqui, mister um esclarecimento. Academicamente (Aspectos Trabalhistas e Tributários dos Bônus de Contratação e de Retenção, Revista de Direito do Trabalho, Ed. RT, no prelo), já nos pronunciamos no sentido de que as verbas de natureza remuneratória ostentam uma das seguintes características: Do exposto, assentemos: o pagamento percebido do empregado terá natureza salarial quando este for resultado do serviço prestado, pelo tempo à disposição, quando for o caso de interrupção do efeito do contrato de trabalho (no caso ausência de trabalho), ou por força do contrato, individual ou coletivo, de trabalho. Nesses, e somente nesses casos, a verba recebida diretamente do empregador terá natureza salarial. A essa verba, acrescese a gorjeta, e teremos assim, as verbas remuneratórias. Todo o resto, remuneração não é (destacamos) Ora, como visto acima, a base de cálculo das contribuições previdenciárias é a remuneração paga ou devida pela empresa, aos segurados empregados, avulsos e contribuintes individuais que lhe prestam serviço. Desde Karl Marx, sabese que a remuneração é função da mais valia que o trabalho prestado pelo homem resulta para a empresa. Tal afirmação é constatada facilmente ao se observar que quanto mais ascende na pirâmide funcional, maior o salário do trabalhador, ou seja, mais alto o cargo ou a função, maior a remuneração. Dito de maneira diversa, o que difere os cargos e funções dentro da empresa é a remuneração, a mais valia proporcionada por aquele que agrega mais valor ao seu trabalho, o valor percebido como contraprestação pelo serviço prestado. Desta conclusão, podemos afirmar que se a assistência médica ofertada pela empresa for a mesma, ou seja, tiver a mesma especificidade, a mesma cobertura para todos os trabalhadores e dirigentes e portanto, o mesmo valor, essa não poderá ser considerada remuneração, pois estarseia dando o mesmo salário para trabalhos diferentes. Além do mais, caberia a fiscalização demonstrar que a diferença entre os planos tratase de remuneração, o que no caso vertente, não o fez. Do raciocínio acima exposto, não nos resta outra opção que não considerar o valor pago a título de assistência médica como isento de contribuição previdenciária Na mesma linha, é de excluir os valores lançados no levantamento MF, competências 06/03 e 07/03, pois conforme afirmado pela recorrente, referemse a despesas médicas incorridas por diretor da requerente que não foram reembolsadas pela Unimed e que foram assumidas pela empresa em virtude de sua política assistencial a seus funcionários. Neste diapasão, estando os levantamentos AM, AMF e MF, sub examine, em dissonância com as normas legais que regulamentam a matéria, entendo por afastar a incidência das contribuições previdenciárias sobre às rubricas encimadas, pelas razões de fato e de direito acima esposadas. Fl. 3432DF CARF MF Processo nº 18088.000137/200872 Acórdão n.º 2401005.710 S2C4T1 Fl. 3.433 27 É como voto. (assinado digitalmente) Rayd Santana Ferreira Fl. 3433DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.724641/2012-79
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 25 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Oct 15 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/02/2008 a 31/12/2011
ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. NÃO CONHECIMENTO. INCOMPETÊNCIA MATERIAL DO CARF. SÚMULA CARF Nº 2.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária.
JUROS MORATÓRIOS. TAXA SELIC. LEGALIDADE. SÚMULA CARF Nº 4. APLICAÇÃO.
Em conformidade com a Súmula CARF nº 4, deve ser aplicada a taxa do Selic para fixação dos juros moratórios para recolhimento do crédito tributário em atraso, a partir de abril de 1995.
MULTAS. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INAPLICABILIDADE. RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA. SÚMULA CARF Nº 51.
As multas previstas no Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de natureza tributária.
CONJUNTO DE CAPAS PARA MOTOCICLISTAS. PRODUTO DE PLÁSTICO ALVEOLAR COM MATÉRIA TÊXTIL COM FIM ÚNICO DE SUPORTE.
Roupas confeccionadas com plástico alveolar e com matéria têxtil que lhe sirva apenas de suporte se classificam no Código NCM nº 3926.20.00 (TIPI).
MULTA E JUROS DE MORA. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA.
A incidência de multa de ofício (sanção-punição) e de juros de mora (sanção-ressarcimento) são corolários de institutos distintos, não caracterizam bis in idem e têm previsão legal própria.
JUROS DE MORA. SELIC. MULTAS EM LANÇAMENTO DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. SÚMULA CARF Nº 108.
Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício.
Numero da decisão: 3401-005.319
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso.
(assinado digitalmente)
Rosaldo Trevisan - Presidente.
(assinado digitalmente)
Leonardo Ogassawara de Araújo Branco - Relator.
Participaram do presente julgamento os conselheiros Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Marcos Roberto da Silva (suplente convocado), André Henrique Lemos, Lázaro Antonio Souza Soares, Cássio Schappo, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (Vice-Presidente) e Rosaldo Trevisan (Presidente).
Nome do relator: LEONARDO OGASSAWARA DE ARAUJO BRANCO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI Período de apuração: 01/02/2008 a 31/12/2011 ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. NÃO CONHECIMENTO. INCOMPETÊNCIA MATERIAL DO CARF. SÚMULA CARF Nº 2. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. JUROS MORATÓRIOS. TAXA SELIC. LEGALIDADE. SÚMULA CARF Nº 4. APLICAÇÃO. Em conformidade com a Súmula CARF nº 4, deve ser aplicada a taxa do Selic para fixação dos juros moratórios para recolhimento do crédito tributário em atraso, a partir de abril de 1995. MULTAS. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INAPLICABILIDADE. RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA. SÚMULA CARF Nº 51. As multas previstas no Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de natureza tributária. CONJUNTO DE CAPAS PARA MOTOCICLISTAS. PRODUTO DE PLÁSTICO ALVEOLAR COM MATÉRIA TÊXTIL COM FIM ÚNICO DE SUPORTE. Roupas confeccionadas com plástico alveolar e com matéria têxtil que lhe sirva apenas de suporte se classificam no Código NCM nº 3926.20.00 (TIPI). MULTA E JUROS DE MORA. BIS IN IDEM. INOCORRÊNCIA. A incidência de multa de ofício (sanção-punição) e de juros de mora (sanção-ressarcimento) são corolários de institutos distintos, não caracterizam bis in idem e têm previsão legal própria. JUROS DE MORA. SELIC. MULTAS EM LANÇAMENTO DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. SÚMULA CARF Nº 108. Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan - Presidente. (assinado digitalmente) Leonardo Ogassawara de Araújo Branco - Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Marcos Roberto da Silva (suplente convocado), André Henrique Lemos, Lázaro Antonio Souza Soares, Cássio Schappo, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (Vice-Presidente) e Rosaldo Trevisan (Presidente).
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/02/2008 a 31/12/2011 ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. NÃO CONHECIMENTO. INCOMPETÊNCIA MATERIAL DO CARF. SÚMULA CARF Nº 2. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. JUROS MORATÓRIOS. TAXA SELIC. LEGALIDADE. SÚMULA CARF Nº 4. APLICAÇÃO. Em conformidade com a Súmula CARF nº 4, deve ser aplicada a taxa do Selic para fixação dos juros moratórios para recolhimento do crédito tributário em atraso, a partir de abril de 1995. MULTAS. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INAPLICABILIDADE. RELAÇÃO JURÍDICOTRIBUTÁRIA. SÚMULA CARF Nº 51. As multas previstas no Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de natureza tributária. CONJUNTO DE CAPAS PARA MOTOCICLISTAS. PRODUTO DE PLÁSTICO ALVEOLAR COM MATÉRIA TÊXTIL COM FIM ÚNICO DE SUPORTE. Roupas confeccionadas com plástico alveolar e com matéria têxtil que lhe sirva apenas de suporte se classificam no Código NCM nº 3926.20.00 (TIPI). MULTA E JUROS DE MORA. “BIS IN IDEM”. INOCORRÊNCIA. A incidência de multa de ofício (sançãopunição) e de juros de mora (sanção ressarcimento) são corolários de institutos distintos, não caracterizam “bis in idem” e têm previsão legal própria. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 72 46 41 /2 01 2- 79 Fl. 993DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 994 2 JUROS DE MORA. SELIC. MULTAS EM LANÇAMENTO DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. SÚMULA CARF Nº 108. Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Rosaldo Trevisan Presidente. (assinado digitalmente) Leonardo Ogassawara de Araújo Branco Relator. Participaram do presente julgamento os conselheiros Mara Cristina Sifuentes, Tiago Guerra Machado, Marcos Roberto da Silva (suplente convocado), André Henrique Lemos, Lázaro Antonio Souza Soares, Cássio Schappo, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (VicePresidente) e Rosaldo Trevisan (Presidente). Relatório 1. Tratase de auto de infração, lavrado em 10/05/2012 com o objetivo de formalizar a cobrança de/em razão da falta de recolhimento de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), referente ao período de apuração compreendido entre fevereiro de 2008 a dezembro de 2011, acrescido de multa de ofício de 75% e juros, totalizando, assim, o valor histórico de R$ 1.030.580,92. 2. Segundo se depreende do termo de encerramento de ação fiscal, situado às fls. 744 a 750, narra a autoridade fiscal que o procedimento constatou que a contribuinte atribuiu classificação fiscal indevida na saída de vestuário para ser usado por motociclistas como proteção contra a chuva, comercialmente denominado como "capa para chuva", nas posições 6202.13.00 e 6203.23.00 da TIPI, tributados à alíquota zero, enquanto que deveriam ter sido classificados na NCM 3926.2000, tributados à alíquota de 5%. 3. A contribuinte apresentou impugnação, na qual argumentou, em síntese, que: (i) a autoridade fiscal classificou produto acabado como se fosse matériaprima, aplicando o texto de posição 39.26, e que o critério utilizado de levar em conta a matériaprima conduziria à nulidade do auto de infração; (ii) a capitulação 6202.13.00 refere a CASACOS E SEMELHANTES DE FIBRAS SINTÉTICAS OU ARTIFICIAIS, ou seja, justamente o caso da Fl. 994DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 995 3 contribuinte, cujo tecido que faz o casaco é fruto de uma fusão a quente feita em máquinas com um produto de fibra sintética e um produto de fibra têxtil, utilizado principalmente para fazer roupa e outros materiais como lençóis de cama, almofadas, echarpes entre outros e, após, fundido com um produto de fibra têxtil que é o tecido que fica de forro interno para evitar o contato da fibra sintética com a pele, bem como para possibilitar que sejam realizadas as costuras; (iii) todo o “setor” classificaria as “jaquetas de motoqueiros” na posição adotada pela contribuinte; (iv) a multa majorada é nula, abusiva e confiscatória; (v) a cumulação de multa moratória com juros de mora implica bis in idem; (vi) requer a redução da multa para a prevista na lei mais benéfica ao contribuinte, aplicandose ao caso o art. 61 da Lei n° 9.430, de 1996, e as disposições do Código de Defesa do Consumidor; (vii) descaber a incidência de juros de mora e a atualização monetária sobre as multas aplicadas; (viii) os juros de mora devem estar limitados ao patamar de 1% ao mês, e que a incidência de juros pela taxa Selic fere o princípio da legalidade; (ix) é necessário que se realize perícia técnica, indicando quesitos e perito para confrontar detalhes e elementos do laudo unilateral produzido pela autoridade fiscal. 4. Em 29/07/2014, a 08ª Turma da Delegacia Regional do Brasil de Julgamento em Ribeirão Preto (SP) proferiu o Acórdão DRJ nº 1452.464, situado às fls. 927 a 946, de relatoria do AuditorFiscal José Antonio Francisco, que entendeu, por unanimidade de votos, julgar improcedente a impugnação, mantendo o crédito tributário exigido, nos termos da ementa abaixo transcrita: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/02/2008 a 31/12/2011 CLASSIFICAÇÃO FISCAL. NULIDADE E PRESUNÇÃO. Não há que se falar em adoção de presunção ou em nulidade quando a classificação fiscal se tenha baseado em laudo e nas regras gerais do Sistema Harmonizado. PERÍCIA. LAUDO. CONTRADITÓRIO. Respeitado o contraditório pela apresentação de laudo pelo contribuinte e tendo sido realizada nova diligência para dirimir as dúvidas originalmente suscitadas, resta superado o requerimento original de produção de prova pericial. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. NATUREZA DA MATÉRIA PRIMA E FUNÇÃO DO MATERIAL TÊXTIL. PROVA. CONVICÇÃO. As alegações apresentadas na manifestação de inconformidade devem ser devidamente demonstradas nos autos. Elaborados, pelo contribuinte e pelo Fisco, dois laudos conflitantes, cabe à autoridade julgadora formar sua convicção com base nos elementos constantes dos autos. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. LEIS INSTITUIDORAS DE MULTA E JUROS. INCONSTITUCIONALIDADE. Fl. 995DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 996 4 É vedado aos órgãos de julgamento administrativos o afastamento de lei ou decreto por suposta razão de inconstitucionalidade. MULTA DE OFÍCIO. MAJORAÇÃO. INOCORRÊNCIA. Restam prejudicadas as alegações sobre a majoração não aplicada da multa. ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS Período de apuração: 01/02/2008 a 31/12/2011 CONJUNTO DE CAPAS PARA MOTOCICLISTAS. PRODUTO DE PLÁSTICO ALVEOLAR COM MATÉRIA TÊXTIL COM FIM ÚNICO DE SUPORTE. Roupas confeccionadas com plástico alveolar e com matéria têxtil que lhe sirva apenas de suporte classificam se na posição 3926.2000. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/02/2008 a 31/12/2011 JUROS DE MORA. TAXA SELIC. LEGALIDADE. A exigência de juros com base na taxa Selic é legal, nos termos de entendimento exarado pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral. MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA. Como débito decorrente de tributos e contribuições administrados pela Receita Federal, incidem sobre a multa de ofício, a partir da data de vencimento, juros Selic. MULTA E JUROS DE MORA. “BIS IN IDEM”. A incidência de multa de ofício e de juros de mora não caracterizam “bis in idem”. MULTA DE OFÍCIO. INTERPRETAÇÃO BENÉFICA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. São inaplicáveis no âmbito do Direito Tributária as multas previstas no Código de Defesa do Consumidor (Súmula Carf n. 51). Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Fl. 996DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 997 5 5. A contribuinte, intimada da decisão em 03/09/2014, pelo decurso de prazo de 15 dias a contar da disponibilização dos arquivos correspondentes no link Processo Digital, no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte (Portal eCAC), em conformidade com o termo de ciência situado à fl. 953, interpôs, em 17/09/2014, em conformidade com o termo de solicitação de juntada situado à fl. 954 e com o respectivo carimbo de protocolo aposto pela unidade local, recurso voluntário, situado às fls. 955 a 976, no qual reiterou as razões de sua impugnação manifestação de inconformidade. É o Relatório. Voto Conselheiro Leonardo Ogassawara de Araújo Branco, Relator 6. O recurso voluntário é tempestivo e preenche os requisitos formais de admissibilidade e, portanto, dele tomo conhecimento, com as seguintes ressalvas. 7. Quanto às alegações de inconstitucionalidade de leis, tratase de matéria que não pode ser apreciada no âmbito do processo administrativo fiscal, conforme dispõe o Decreto nº 70.235/1972, com redação dada pela Lei nº 11.941/2009: Decreto nº 70.235/1972 Art. 26. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. 8. Tal entendimento, ademais, encontrase consolidado neste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, conforme súmula aprovada pela Portaria nº 52, de 21 de dezembro de 2010: Súmula CARF nº 2 O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. 9. Assim, voto por não conhecer do recurso voluntário neste particular. Fl. 997DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 998 6 10. Alega a recorrente nulidade da decisão de primeira instância administrativa por conta do indeferimento da prova pericial preterição do direito de defesa por parte do julgador de primeiro piso, que a considerou, dentro dos limites de sua discricionariedade, prescindível, nos termos do art. 18 do Decreto nº 70.235/1972, o que, como melhor se explicitará na análise do mérito, não constitui a preterição do direito de defesa. Quanto à alegação de nulidade por ter a autoridade fiscal se valido de presunção, tampouco se vislumbram quaisquer das hipóteses previstas no art. 59 da norma em referência, conforme bem refutado pela decisão objurgada: "Em relação à nulidade da autuação, a alegação é inconsistente, uma vez que não houve aplicação de “entendimento particular” da Fiscalização, que se baseou em laudo técnico e nas regras de interpretação para reclassificar as mercadorias da Interessada, e não houve, conseqüentemente, lavratura de auto de infração por presunção. Pelo contrário, a Fiscalização entendeu, inicialmente, não ser possível efetuar a classificação fiscal sem um parecer técnico, somente concluindo que a classificação adotada pela Interessada seria incorreta após obter o conhecimento exato dos produtos. Foram coletadas amostras, que foram lacradas e enviadas para perícia. Somente após ter o resultado da perícia – a prova – é que a Fiscalização procedeu à classificação fiscal. A controvérsia instaurada pela Impugnante diz respeito ao mérito da exigência e deve ser analisada no âmbito da apreciação da prova e da aplicação das regras de classificação fiscal. Não há que se falar, além disso, em presunção, uma vez que a Fiscalização nada presumiu, conforme relatado anteriormente. Ficou superado o requerimento de perícia, à vista do relatório técnico apresentada pela Impugnante, uma vez que os quesitos foram respondidos pelas conclusões do referido relatório. Também restaram superadas as alegações de produção unilateral de provas e de nulidade por classificação do produto como se fosse matéria prima" (seleção e grifos nossos). 11. Assim, voto por conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário neste particular. 12. A questão de fundo consiste, portanto, em deslindar se os produtos industrializados e vendidos pela empresa autuada, consistentes em vestuário para motociclistas como proteção contra a chuva e comercializados sob a denominação de "capas de chuva" devem ser classificados, como defende a contribuinte, sob o Código NCM nº 6202.13.00 (masculino) ou 6203.23.00 (feminino), ou se equivocada aquela proposta pela autoridade fiscal sob o Código NCM nº 3926.20.00: uma ou outra conclusão terá como efeito imediato a improcedência do auto de infração lavrado. Fl. 998DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 999 7 13. Em visita ao site da contribuinte, disponível em <http://www2.deltacapas.com.br/produtos/>, realizada em 22/08/2018, como forma de subsidiar a formação da convicção a respeito da correta classificação fiscal das mercadorias, extraíramse as seguintes imagens comerciais dos produtos em disputa: Fl. 999DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1000 8 14. Para a contribuinte recorrente, as mercadorias devem ser classificadas na Seção XI da TIPI ("Matérias têxteis e suas obras"): (i) no Capítulo 62 ("Vestuário e seus acessórios, exceto de malha"), Posição 6202 ["Mantôs (Casacos compridos), capas, anoraques, casacos (blusões) e semelhantes, de uso feminino, exceto os artigos da posição 62.04"], Subposição, Item e Subitem 6202.13.00 ("De fibras sintéticas ou artificiais"), quando vendidos individualmente, e submetidas, portanto, a uma alíquota zero de IPI; ou (ii) no Capítulo 62 ("Vestuário e seus acessórios, exceto de malha"), Posição 6203 ["Ternos (Fatos*), conjuntos, paletós (casacos*), calças, jardineiras, bermudas e shorts (calções) (exceto de banho), de uso masculino"], Subposição, Item e Subitem 6203.23.00 ("Conjuntos de fibras sintéticas"), quando vendidos em conjunto para uso masculino, e submetidas, portanto, a uma alíquota zero de IPI: Fl. 1000DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1001 9 15. Para a autoridade fiscal, por outro lado, as mercadorias devem ser classificadas na Seção IV da TIPI ("Plástico e suas obras; borracha e suas obras"): (iii) no Capítulo 39 ("Plásticos e suas obras"), Posição 3926 ("Outras obras de plásticos e suas obras de outras matérias das posições 3901 a 39.14"), Subposição, Item e Subitem 3926.20.00 ("Vestuário e seus acessórios, incluindo as luvas, mitenes e semelhantes"), Fl. 1001DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1002 10 16. Em síntese, a primeira questão a ser respondida é se a mercadoria se trata de um vestuário de (i) plástico, ou de (ii) conjunto de fibras sintéticas/artificiais: · Capítulo 39 ("Plásticos e suas obras"): vestuário de plástico. · Capítulo 62 ("Vestuário e seus acessórios, exceto de malha"): vestuário de conjunto de fibras sintéticas/artificiais; ou 17. Como se sabe, para se resolver a questão sob litígio, necessário o recurso às Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Fl. 1002DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1003 11 mercadorias (NESH) e, no caso concreto, estáse diante de um tecido revestido ou recoberto por um plástico, o que deslocaria, segundo a autoridade fiscal, a classificação, na verdade, para a Posição 5903: 18. Ao se voltar especificamente às metarregras de aplicação descritas no Capítulo 59 da TIPI ("Tecidos impregnados, revestidos, recobertos ou estratificados; artigos para usos técnicos de matérias têxteis"), deve o aplicador considerar o texto da Nota 2, a seguir transcrita: "2. A posição 59.03 compreende: a) Os tecidos impregnados, revestidos, recobertos ou estratificados, com plástico, quaisquer que sejam o seu peso por metro quadrado e a natureza do plástico (compacto ou alveolar), com exceção: 1) Dos tecidos cuja impregnação, revestimento ou recobrimento não sejam perceptíveis à vista desarmada (geralmente, Capítulos 50 a 55, 58 ou 60), considerandose irrelevantes as mudanças de cor provocadas por estas operações; 2) Dos produtos que não possam enrolarse manualmente, sem se fenderem, num mandril de 7 mm de diâmetro, a uma temperatura compreendida entre 15 °C e 30 °C (geralmente, Capítulo 39); 3) Dos produtos em que o tecido esteja, quer inteiramente embebido no plástico, quer totalmente revestido ou recoberto, em ambas as faces, desta matéria, desde que o revestimento ou recobrimento sejam perceptíveis à vista desarmada, considerandose irrelevantes as mudanças de cor provocadas por estas operações (Capítulo 39); 4) Dos tecidos revestidos ou recobertos parcialmente com plástico, que apresentem desenhos resultantes desses tratamentos (geralmente, Capítulos 50 a 55, 58 ou 60); 5) Das chapas, folhas ou tiras de plástico alveolar, combinadas com tecido, em que o tecido sirva apenas de reforço (Capítulo 39); Fl. 1003DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1004 12 6) Dos produtos têxteis da posição 58.11; 19. As Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH), esclarecem, ademais, o tratamento dos plásticos combinados com matérias têxteis e, neste sentido, caso se trate de plástico alveolar em que o tecido sirva apenas de reforço, deslocase a classificação para o Capítulo 39 ("Plástico e suas obras"). As amostras enviadas pela autoridade lançadora foram entendidas como espécies de "plástico alveolar" de polímero de cloreto de vinila por laudo técnico emitido pelo Centro Tecnológico de Polímeros (SENAI) contratado pela unidade local com base em amostras enviadas: 20. Transcrevese, a seguir, o trecho pertinente do laudo: Fl. 1004DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1005 13 21. Transcrevese, ainda, trecho pertinente da decisão recorrida: De fato, em consulta ao sítio da empresa na Internet (http://www2.deltacapas.com.br/wp content/uploads/2013/12/deltacapas_catalogo_textos.pdf), verificase que a principal linha de produtos da Interessada é um conjunto impermeável de blusa e calça para motociclistas. De acordo com a página inicial (http://www2.deltacapas.com.br/), as linhas de produtos seriam de “PVC, Nylon e acessórios em várias cores, tamanhos e combinações”. (...) As principais conclusões a que se devem chegar são as de se se trata de plástico alveolar e de se o tecido lhe serve apenas de suporte. O laudo requerido pelo Fisco foi elaborado pelo Centro Tecnológico de Polímeros do Senai Cetepo, entidade especialista em materiais plásticos e elastômeros. Já a Interessada escolheu a empresa Newtech Assessoria, Consultoria e Prestação de Serviços S/S Ltda., também notória especialista em polímeros. A conclusão do primeiro laudo foi a seguinte: Na análise de Identificação Qualitativa por Espectrofotometria de Infravermelho (FTIR) a camada "Material Polimérico Preto" das amostras "AFRFB MAT.11.109 LACRE 094601" e "AFRFB MAT.11.109 LACRE 094656" apresentaram absorções características de um poli(cloreto de vinila) (PVC). Fl. 1005DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1006 14 Avaliandose as micrografias obtidas por MEV na camada "Material Polimérico Preto" observase nas imagens a presença de vazios distribuídos ao longo da matriz polimérica nas duas amostras. De acordo com os resultados obtidos, ambas as amostras não se excluem do conceito de plástico alveolar, conforme definição a seguir: "O plástico alveolar é um plástico que apresenta numerosas células (quer abertas ou fechadas, quer as duas) distribuídas por toda a sua massa. Compreende o plástico esponjoso, o plástico expandido, o plástico microporoso ou micro alveolar. Pode ser flexível ou rígido. O plástico alveolar é obtido por diversos métodos e, geralmente, por incorporação de um gás no plástico propriamente dito (por exemplo, por mistura mecânica, evaporação de um solvente de baixo ponto de ebulição ou degradação de uma matéria que produza gás), por mistura no plástico de microesferas ocas (por exemplo, de vidro ou de resina fenólica), por sinterização (fritagem) de grânulos de plástico ou por mistura de plástico com água ou uma matéria solúvel em um solvente, que são extraídas do plástico por rinçagem ou lixiviação, deixando vácuos". Já a do segundo laudo foi esta: Na análise por MEV, as figuras 12,13, 22 e 23 apresentam as micrografias do corte da seção transversal das amostras NT141333 e NT141334, respectivamente. Nas micrografias, não apresentam estruturas alveolares, ou celulares. Estão evidentes os defeitos da estrutura, alguns poros e bolhas, oriundos do processamento do material, semelhantes e de mesma causa, presentes nas figuras de 5 a 7 e também figuras de 19 a 21. As figuras de 9 a 11 e as figuras 15 a 17, mostram a superfície de contato com o tecido de poliéster. Notase que o PVC envolve quase na totalidade os fios de poliéster. Notase características do processamento onde sugerese que o PVC é depositado na forma de um plastisol sobre o tecido e depois passado por um forno aquecido(processo de espalmagem) para gelificação e fusão/acabamento. Nas figuras de 10 e 16 observase o produto acabado com a trama de tecido parcialmente submersa na massa do polímero. Fl. 1006DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1007 15 As figuras de 4 a 7, e as figuras 18 a 21 das amostras NT141333 e NT141334, respectivamente, mostram a superfície externa da manta(superfície lisa). As figuras de 18 a 21 (amostra de espessura menor) mostram a superfície contendo marcações regulares dando a falsa impressão de estruturas alveolares ou celulares. Este efeito visual é causado pelos diferentes materiais que compõe a estrutura da manta. No processamento, durante o resfriamento, como os materiais são diferentes, diferentes coeficientes de dilatação térmica entre o PVC e o Poliéster, criase gradientes de temperatura e contrações diferenciadas na massa. Resumindo, as marcações são resultantes das diferenças de contração de diferentes materiais. Quanto maior a espessura da camada, menor este efeito visual de contração (para uma mesma espessura do material do tecido) Outro fator inconteste que comprova a homogeneidade do produto sem a presença de estruturas alveolares e/ou celulares é a medida de densidade. Conforme referências bibliográficas, os materiais alveolares e espumas em geral, possuem densidades entre 0,016 g/cm³ até 0,960 g/cm³[1]. O valor medido da densidade para as amostras NT141333 e NT141334 foram 1,40 e 1,41, respectivamente. O segundo laudo pautouse por apontar equívocos do primeiro laudo, especialmente quanto à homogeneidade do produto, à falsa impressão de que se trataria de estruturas alveolares e à sua densidade, concluindo que se trataria de “PVC flexível” (couro sintético, formado por manta de tecido de poliéster, sobre o qual seria depositado PVC, na forma de plastisol2). Não abordaram os laudos a questão da função do material têxtil. Quanto à densidade, o laudo produzido pelo Cetepo, mesmo após a diligência, nada mencionou. Esclareçase que a citação da densidade de plásticos alveolares no laudo produzido pela Interessada é imprecisa, uma vez que o autor diz que a densidade de espumas de plástico pode variar de 1,6 a mais de 960 Kg/m3 (0,016 a 0,96 g/cm3), conforme demonstrado abaixo: As espumas de plástico3 podem ser produzidas em uma grande variedade de densidades, de cerca de 0,1 lb / ft3 (1,6 kg/m3) a mais de 60 lb/ft3 (960 kg/m3)(1). Uma vez que as propriedades de resistência mecânica são geralmente proporcionais às Fl. 1007DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1008 16 densidades da espuma, o uso dessas espumas geralmente determina a escala de densidade da espuma que deve ser produzida. Assim, para a espuma rígida, o uso em suporte de carga requer altas densidades e (ou) espumas reforçadas com fibra, enquanto que densidades baixas são geralmente usadas em isolamento térmico. 4 Ademais, o texto original referese à unidade de densidade “libras por pés cúbicos” em valores claramente arredondados de 0,1 a 60. Dessa forma, seria perfeitamente razoável que a densidade pudesse alcançar mais de 1 g/cm3. Considerando, ainda, que o produto não é plástico alveolar puro, a densidade medida de em torno de 1,4 g/cm3 não demonstra a alegação da Interessada. Pelo contrário, sugere que, se a densidade do material têxtil for muito maior do que a densidade medida, possivelmente a densidade da porção plástica esteja dentro do limite apontado pela própria Interessada, o que retira a credibilidade do laudo em relação a esse aspecto da análise. Outro questão que se deve ressaltar é a diferença de qualidade entre as fotos apresentadas nos dois laudos. A resolução das fotos apresentadas no laudo da Newtech é notoriamente maior e permite a análise dos detalhes microscópicos das amostras, o que sugere, segundo as alegações da Interessada, autoridade para afirmar que a conclusão do laudo do Cetepo estaria equivocada. Nesse contexto, alegou a Interessada que não haveria células, pois as marcações decorreriam do processo de fabricação por extrusão a quente. Entretanto, o laudo foge ao enfrentamento da conclusão do Cetepo de que há vazios no material, não se tratando, portanto, apenas de marcações. É inegável que se trata de PVC (plástico), sendo que a definição de plástico alveolar passa apenas pela caracterização da existência de vazios. O Laudo da Newtech explicou da seguinte forma o processo de obtenção do couro sintético: Processo de espalmagem: Este processo, considerado um dos mais importantes processos para o mercado de pastas de PVC, consiste na deposição do plastisol diretamente sobre um substrato, que geralmente é um tecido. A manta formada passa por um forno, onde o plastisol é gelificado e fundido sobre o substrato. Ao ser resfriado originando uma camada resistente sobre o substrato. Um dos produtos Fl. 1008DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1009 17 obtidos por este processo é o couro sintético para vestuário e indústria calçadista [2]. Devese observar, no entanto, que o plástico alveolar é também conhecido como “couro sintético”: Folhas de plástico alveolar Tratase de um tipo de plástico com muitos alvéolos em toda a matéria. Os alvéolos podem estar abertos ou fechados, ou pode verificarse uma combinação dos dois. Estas folhas são comummente utilizadas no fabrico de malas e artefactos semelhantes classificados na posição 4202. Frequentemente, são utilizadas como um substituto do couro e descritas como «imitação de couro», «couro sintético», «couro de poliuretano (PU)», «couro de vinil» ou «couro de policloreto de vinilo (PVC)». A orientação reproduzida acima diz respeito a um guia para classificar artigos de couro, no âmbito da “European Classification of Goods”, demonstrando que não existe a distinção nítida alegada pela Interessada. O material analisado nos autos poderia claramente ser chamado de “couro de PVC”, uma vez que o plástico alveolar é utilizado na produção de couro sintético, ao contrário do que defendido no laudo da Interessada. Considerando todos os aspectos analisados, o laudo da Interessada, apesar de apoiarse na obra citada, parece não seguir os critérios normalmente adotados para classificação fiscal. Dessa forma, concluise cabe razão ao Fisco, uma vez que, conforme apontado no laudo, “as amostras não se excluem do conceito de plástico alveolar”. No tocante à utilização do tecido para reforço, o critério de classificação fiscal é claro, conforme os textos abaixo reproduzidos Em alguns casos, podem ser adicionados têxteis aos produtos de plástico a fim de reforçálos. Se se tratar de um plástico alveolar que tenha sido revestido, apenas de um dos lados, com tecido, deverá classificálo na posição adequada do capítulo 39. Se o plástico tiver sido revestido dos dois lados, as mercadorias devem ser classificadas como têxteis, utilizando a posição adequada do capítulo 59. 6 Plásticos combinados com matérias têxteis Os revestimentos de paredes ou de tetos que correspondam às condições da Nota 9 do presente Capítulo classificamse na posição 39.18. A classificação dos plásticos combinados com matérias têxteis é regida essencialmente pela Nota 1 h) da Seção XI, pela Nota 3 do Capítulo 56 e pela Fl. 1009DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1010 18 Nota 2 do Capítulo 59. O presente Capítulo abrange, além disso, os seguintes produtos: [...]d) As chapas, folhas ou tiras, de plástico alveolar, combinadas com tecido, feltro ou falso tecido, nas quais a matéria têxtil serve apenas de suporte. Considerase a esse respeito, como servindo apenas de suporte quando são aplicados sobre uma única face dessas chapas, folhas e tiras, os produtos têxteis não trabalhados, crus, branqueados ou tingidos uniformemente. Por outro lado, aqueles que são lavrados, impressos ou que tenham sofrido um trabalho mais elaborado (franzidos, por exemplo), bem como os produtos têxteis especiais, tais como veludo, tules, rendas e os produtos têxteis da posição 58.11, são considerados como tendo uma função além da de simples suporte. As chapas, folhas e tiras, de plástico alveolar, combinadas com produtos têxteis nas duas faces, seja qual for a natureza do produto têxtil, estão, todavia, excluídas do presente Capítulo (geralmente, posições 56.02, 56.03 e 59.03). (Nesh 2002). No caso dos autos, tratase de aplicação somente em uma das faces, não se enquadrando nas situações de “lavrados, impressos ou que tenham sofrido um trabalho mais elaborado (franzidos, por exemplo), bem como os produtos têxteis especiais, tais como veludo, tules, rendas e os produtos têxteis da posição 58.11”. A Interessada alegou que o tecido também serviria para conforme no contato com a pele. Entretanto, essa função seria secundária, uma vez que não é comum o uso da jaqueta e da calça apenas sobre a pele. Em relação à prova da alegação, ademais, a Interessada nada apresentou. Dessa forma, a classificação fiscal foi efetuada corretamente" (seleção e grifos nossos). 22. Assim, uma vez que se trata de produto de plástico alveolar e que a matéria têxtil serviria apenas de reforço à estrutura do produto, classificase a mercadoria sob o Código NCM nº 3926.20.20: um vestuário feito de uma espécie de plástico e suas obras, o que afasta a alegação da contribuinte no sentido de que a autoridade se voltou a classificar apenas uma matéria prima, e não um produto acabado. A classificação em referência se refere especificamente a um produto acabado: "vestuário". Ao dispor sobre a inclusão de "luvas", e.g., remete a outro produto igualmente acabado. Fl. 1010DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1011 19 23. O dissenso se instauraria a partir do momento em que a ora recorrente discorda da natureza de "plástico alveolar" do material, o que tampouco a socorre na classificação que reputa como correta. Contudo, em que pese a assertiva e hiperbólica maneira como se refere à acusação fiscal e à decisão recorrida, no sentido de construírem uma presunção contrária à pretensão da autuada, ambas autoridades se baseiam no laudo técnico em referência, que é secundado por outro, produzido pela contribuinte e que, como bem aponta o julgador a quo, pautouse por apontar equívocos do primeiro laudo, especialmente quanto à homogeneidade do produto, à falsa impressão de que se trataria de estruturas alveolares e à sua densidade, concluindo ser um “PVC flexível” ("couro sintético, formado por manta de tecido de poliéster, sobre o qual seria depositado PVC, na forma de plastisol"). Ademais, o "(...) laudo da Interessada, apesar de apoiarse na obra citada, parece não seguir os critérios normalmente adotados para classificação fiscal", pertinentes ao Sistema Harmonizado e que não podem ser ignorados. Assim, correta a decisão recorrida no sentido de que o documento apresentado não é suficiente para gerar dúvida apta a ensejar nova diligência específica para este fim, sendo prescindível, portanto, nos termos do art. 18 do Decreto nº 70.235/1972. 24. Assim, voto por conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário neste particular. 25. Quanto à alegação de ilegalidade dos juros, de acordo com a Súmula CARF nº 4, a partir de 1º/04/1995, "(...) os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal" passaram a ser devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial SELIC para títulos federais. 26. Assim, voto por conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário neste particular. 27. Devem ser igualmente rechaçadas as alegações da recorrente no sentido de que se aplicam ao caso as multas do Código de Defesa do Consumidor (CDC), por inexistir relação de consumo, sendo esta a posição sedimentada por este Conselho de acordo com a Súmula CARF nº 51: "As multas previstas no Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de natureza tributária". Em igual sentido, tampouco se configura o “bis in idem”, uma vez que a multa de ofício é aplicada pelo cometimento da infração (sanção punição) e os juros de mora são devidos de da mora (sançãoressarcimento), e ambos têm previsão legal própria, não sendo possível a cominação de multa diversa, uma vez que se trata da multabase, ainda que sujeita eventualmente a redução, nos termos legais, prevista na legislação para o caso. 28. Assim, voto por conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário neste particular. 29. Resta dúvida, todavia, sobre se a expressão "débitos tributários" compreende apenas tributos ou também as penalidades, sobretudo ao se ter em conta que o art. 161 do Código Tributário Nacional determina que o "(...) crédito não integralmente pago no Fl. 1011DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1012 20 vencimento é acrescido de juros de mora (...) sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis": Código Tributário Nacional Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1° Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. § 2º O disposto neste artigo não se aplica na pendência de consulta formulada pelo devedor dentro do prazo legal para pagamento do crédito. 30. Em outras palavras, ao crédito tributário se acrescem os juros de mora e, para além deste montante, é possível a aplicação de penalidades aquelas cabíveis segundo a legislação. Logo, a dicção do art. 161 do Código Tributário Nacional determina a incidência dos juros sobre o crédito, do qual não participam as multas, pois espécies de penalidades cabíveis. Neste sentido o racional, com o qual comungamos, do voto vencedor do Conselheiro Rosaldo Trevisan no Acórdão CARF nº 3403002.702, de 29/01/2014: "As multas são inequivocamente penalidades. Assim, restaria ilógica a leitura de que a expressão créditos ao início do caput abarca as penalidades. Tal exegese equivaleria a sustentar que: os tributos e multas cabíveis não integralmente pagos no vencimento serão acrescidos de juros, sem prejuízos da aplicação das multas cabíveis" (seleção e grifos nossos) . 31. O voto em referência continua a sua análise pela leitura do art. 61 da Lei nº 9.430/1996 que também demarcou a divisão entre os débitos, de um lado, sobre os quais devem incidir os juros de mora (cf. caput e § 3º do dispositivo) e a multa de mora, de outro: Lei nº 9.430/1996 Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1 de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. § 1º A multa de que trata este artigo será calculada a partir do primeiro dia subseqüente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento do tributo ou da contribuição até o dia em que ocorrer o seu pagamento. § 2º O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por cento. §3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Fl. 1012DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1013 21 32. O voto propõe, então, a análise dos arts. 29 e 30 da Lei nº 10.522/2002, que tampouco pacificam a matéria em debate: Lei nº 10.522/2002 Art. 29. Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional e os decorrentes de contribuições arrecadadas pela União, constituídos ou não, cujos fatos geradores tenham ocorrido até 31 de dezembro de 1994, que não hajam sido objeto de parcelamento requerido até 31 de agosto de 1995, expressos em quantidade de Ufir, serão reconvertidos para real, com base no valor daquela fixado para 1º de janeiro de 1997. § 1° A partir de 1o de janeiro de 1997, os créditos apurados serão lançados em reais. § 2° Para fins de inscrição dos débitos referidos neste artigo em Dívida Ativa da União, deverá ser informado à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional o valor originário dos mesmos, na moeda vigente à época da ocorrência do fato gerador da obrigação (...). Art. 30. Em relação aos débitos referidos no art. 29, bem como aos inscritos em Dívida Ativa da União, passam a incidir, a partir de 1o de janeiro de 1997, juros de mora equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia Selic para títulos federais, acumulada mensalmente, até o último dia do mês anterior ao do pagamento, e de 1% (um por cento) no mês de pagamento. 33. O art. 30 determina a incidência de juros de mora (Selic) sobre os débitos referidos no art. 29, que seriam aqueles de qualquer natureza devidos à Fazenda Nacional e aqueles decorrentes de contribuições arrecadadas pela União. Contudo, ao se referir à apuração realizada a partir de 1º de janeiro de 1997, o legislador utiliza o vocábulo "créditos", o que implica ou promiscuidade terminológica ou um discrímen voltado especificamente para as quantias apuradas a partir de 1997, o que remete à conclusão do raciocínio do voto que referenciamos: "(...) tal raciocínio, ancorado em uma entre duas leituras possíveis do dispositivo, revelase insuficiente para impor o ônus ao contribuinte (...). Não se tem dúvidas que o valor das multas também deveria ser atualizado, sob pena de a penalidade tornar se pouco efetiva ou até inócua ao fim do processo. Mas o legislador não estabeleceu expressamente isso. Pela carência de base legal, então, entendese pelo não cabimento da aplicação de juros de mora sobre a multa de ofício"1 (seleção e grifos nossos). 34. Em que pese a existência da controvérsia acima delineada, bem como a ressalva de posicionamento singular deste aplicador, que não se estende aos demais integrantes desta turma julgadora, deve o colegiado se curvar ao mandamento veiculado pela Súmula CARF nº 108, a seguir transcrita, que passa a ser a única e exclusiva razão de decidir deste específico capítulo do voto: 1 Voto vencedor do Conselheiro Rosaldo Trevisan no Acórdão CARF nº 3403002.702, de 29/01/2014. Fl. 1013DF CARF MF Processo nº 11080.724641/201279 Acórdão n.º 3401005.319 S3C4T1 Fl. 1014 22 Súmula CARF nº 108. Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício. 35. Assim, voto por conhecer e julgar improcedente o recurso voluntário neste particular. 36. Assim, com base nestes fundamentos, voto por conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso voluntário interposto. (assinado digitalmente) Leonardo Ogassawara de Araújo Branco Relator Fl. 1014DF CARF MF
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