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Numero do processo: 13884.721975/2013-41
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 19 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Oct 24 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Simples Nacional
Ano-calendário: 2009
INCONSTITUCIONALIDADE DE NORMAS LEGAIS
A instância administrativa não é foro apropriado para discussões desta natureza, pois qualquer discussão sobre a constitucionalidade de normas jurídicas deve ser submetida ao Poder Judiciário que detém, com exclusividade, a prerrogativa dos mecanismos de controle repressivo de constitucionalidade, regulados pela própria Constituição Federal.
QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. INOCORRÊNCIA.
Os dados obtidos pela fiscalização não implicam em quebra de sigilo bancário da fiscalizada, tão somente se referem a informações obtidas no sistema SIAFI a respeito de ordens bancárias recebidas pela fiscalizada referente a venda de mercadorias para órgãos e entidades públicos.
PROCEDIMENTO FISCAL. LEGITIMIDADE.
É legítimo o procedimento fiscal que, após proceder a inúmeras intimações ao contribuinte e a terceiros, e a promover diversos cruzamentos de informações, identificou receitas omitidas e corretamente apurou o imposto devido.
Numero da decisão: 1201-002.493
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator.
(assinado digitalmente)
Ester Marques Lins de Sousa - Presidente.
(assinado digitalmente)
José Carlos de Assis Guimarães - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Gisele Barra Bossa, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Fabiano Alves Penteado e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente).
Nome do relator: JOSE CARLOS DE ASSIS GUIMARAES
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QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. INOCORRÊNCIA. Os dados obtidos pela fiscalização não implicam em quebra de sigilo bancário da fiscalizada, tão somente se referem a informações obtidas no sistema SIAFI a respeito de ordens bancárias recebidas pela fiscalizada referente a venda de mercadorias para órgãos e entidades públicos. PROCEDIMENTO FISCAL. LEGITIMIDADE. É legítimo o procedimento fiscal que, após proceder a inúmeras intimações ao contribuinte e a terceiros, e a promover diversos cruzamentos de informações, identificou receitas omitidas e corretamente apurou o imposto devido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Presidente. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 88 4. 72 19 75 /2 01 3- 41 Fl. 1080DF CARF MF 2 (assinado digitalmente) José Carlos de Assis Guimarães Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Gisele Barra Bossa, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Fabiano Alves Penteado e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente). Relatório DENTAL SP LTDA EPP recorre a este Conselho com fulcro no art. 33 do Decreto nº 70.235, de 1972, objetivando a reforma do acórdão nº 0366.116, sessão de 12 de fevereiro de 2015, da 4ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Brasília (DF) que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a impugnação, mantendo o crédito tributário exigido. Por bem refletir o litígio até aquela fase, adoto o relatório da decisão de primeira instância, completandoo ao final: Contra a contribuinte acima identificada foram lavrados Autos de Infração (fls. 06 a 100), formalizando lançamento de ofício do crédito tributário discriminado, relativo ao anocalendário de 2009, totalizando R$ 3.213.682,80 conforme tabela abaixo: Segundo a descrição dos fatos, contida no Termo de Verificação Fiscal (TVF) (fls. 830 a 841), os lançamentos decorrem de procedimento fiscal que arbitrou a receita auferida pela empresa, para fins de tributação de Simples Nacional, tendo em vista que no ano fiscalizado não foi apresentada documentação hábil a explicar a discrepância observada entre a Receita Bruta declarada em DASN e as ordens de pagamento apontadas no sistema SIEF como tendo sido recebidas pela fiscalizada. a) DO PROCEDIMENTO FISCAL Dos Fatos Fl. 1081DF CARF MF Processo nº 13884.721975/201341 Acórdão n.º 1201002.493 S1C2T1 Fl. 3 3 Do TVF acima mencionado, oportunizase destacar os seguintes trechos para melhor entendimento da autuação: Foi lavrado em 14/06/2013 Termo de Início de Fiscalização, intimando o contribuinte a apresentar, entre outros documentos, os seus livros contábeis/fiscais e os valores da sua receita bruta mensal, referentes ao período compreendido entre janeiro e dezembro de 2009. Em 21/06/2013 o sujeito passivo protocolizou cópia do último contrato social consolidado e pediu a prorrogação de prazo de 20 (vinte) dias para a apresentação dos demais documentos, tendo obtido prorrogação de 10 (dez) dias. Já em 05/07/2013, o contribuinte informou em sua petição que estaria impossibilitada de apresentar os documentos solicitados pela autoridade fiscal pois os mesmos teriam sido subtraídos quando da ocorrência de um furto, ao estabelecimento, ocorrido em 14/11/2010, conforme cópia autenticada do B.O. policial. Em razão disso, em 10/07/2013 foram solicitados esclarecimentos quanto à reconstituição da escrita fiscal e reiterada exigência do fornecimento das informações relativas às receitas da empresa no ano de 2009. A isso, o contribuinte respondeu em petição protocolizada em 22/07/13, que por ignorância, não atentou para o art. 264 do RIR e não reconstituiu a sua escrita contábil, estando impossibilitada, ainda de apresentar os valores das suas receitas do ano de 2009 por não mais possuir as informações para tal desiderato. Nova intimação lavrada em 27/08/2009, cuja resposta confirmou que a contribuinte não reconstituiu a sua contabilidade a não disporia de meios para fazêlo. Por se tratar de empresa que vende mercadorias para o poder público, a fiscalização identificou empenhos e ordens bancárias no sistema SIAFI em montante superior à renda bruta oferecida à tributação pela contribuinte. Em 08/10/2013 a fiscalização apresentou ao contribuinte os dados obtidos no sistema SIAFI, demonstrando o recebimento pela empresa de ordens bancárias emitidas por órgãos públicos, intimando o sujeito passivo a contestar a natureza tributável dos valores percebidos. Solicitação reiterada em 12/11/2013. Em resposta protocolizada em 26/11/2013, o sujeito passivo informou não contestar o recebimento das referidas receitas. Em procedimento de circularização, a autoridade fazendária oficiou órgãos e entidades que repassaram recursos à fiscalizada no ano de 2009, a fim de certificar a natureza dos pagamentos identificados no relatório do SIAFI (Anexo I do TVF – fls. 842 a 852) no montante de R$ 3.727.606,41 (três milhões setecentos e vinte e sete mil, seiscentos e seis reais e quarenta e um centavos). Fl. 1082DF CARF MF 4 Dos pagamentos à empresa registrados no SIAFI, superiores à receita declarada pela fiscalizada A partir dos dados do SIAFI (vide Anexo 1 do TVF – fls. 842 a 852), a fiscalização detectou que a empresa DENTAL SP percebeu de órgãos públicos valores que somaram mais de R$ 3,7 milhões no ano de 2009, enquanto que segundo os dados constantes da DASN Declaração Anual do Simples Nacional, a sua receita bruta naquele ano teria sido de pouco mais de R$ 850 mil. De início, a autoridade, fazendária, requisitou a contabilidade da empresa, a fim de verificar o registro de tais recebimentos e a natureza dos mesmos, mas, o contribuinte afirmou que não poderia atender a fiscalização porque o estabelecimento comercial fora alvo de furto, tendo sido subtraídos os seus documentos fiscais e acrescentou que não reconstituiu a sua contabilidade para aquele período. A fiscalização, com o intuito de confirmar a natureza dos pagamentos realizados em favor da fiscalizada, decidiu circularizar os órgãos e entidades emissores das ordens bancárias apontadas no relatório do SIAFI. Como critério, intimou e/ou oficiou todos os estabelecimentos que, ao longo de 2009 realizaram pagamentos à fiscalizada em quantum total anual superior a R$ 20.000,00. Com este corte analítico, o valor envolvido nas circularizações somou R$ 3.223.774,63 (três milhões duzentos e vinte e três mil setecentos e setenta e quatro reais e sessenta e três centavos). Foram então emitidas solicitações fiscais a 34 (trinta e quatro) estabelecimentos consubstanciadas em 1 (um) Termo de Diligência Fiscal e 33 (trinta e três) ofícios. Após as reiterações requeridas, a fiscalização conseguiu a resposta de 32 órgãos. Todos os órgãos que atenderam à circularização, confirmaram os pagamentos efetuados à fiscalizada nos montantes apresentados no SIAFI e que tais pagamentos se referiam a compra de bens de natureza odontológica (exatamente a natureza comercial da contribuinte). As provas juntadas aos autos se constituem, entre outras, de notas fiscais, notas de empenho, contratos e ordens bancárias que confirmam inequivocamente que a contribuinte auferiu receita tributável de R$ R$ 3.089.844,62 (três milhões, oitenta e nove mil, oitocentos e quarenta e quatro reais e sessenta e dois centavos). Com a ampla amostragem realizada e diante da homogeneidade e contundência das respostas obtidas (que confirmavam os dados do SIAFI) a fiscalização entendeu como suficientes os elementos de prova obtidos para caracterizar como receita tributável no ano de 2009 o montante de R$ 3.727.606,41 (três milhões setecentos e vinte e sete mil, seiscentos e seis reais e quarenta e um centavos) apontado no relatório do SIAFI. Fl. 1083DF CARF MF Processo nº 13884.721975/201341 Acórdão n.º 1201002.493 S1C2T1 Fl. 4 5 Ou seja, visto que foi atestada a natureza tributável dos pagamentos por ampla amostragem realizada mediante confirmação das vendas pela totalidade dos clientes do sujeito passivo que atenderam o fisco no prazo estipulado, não vê a fiscalização margem para colocar dúvida de que a outra parcela (menor) não circularizada não se trate de receita percebida e tributável pelo sujeito passivo. O contribuinte foi intimado e reintimado a contestar a conclusão da fiscalização pelos termos fiscais lavrados em 08/10/2013 e 12/11/2013. In verbis, em resposta protocolada em 26/11/2013 informou: "que não contesta o recebimento das receitas constantes no anexo mencionado no Termo de Intimação Fiscal exarado em 08/10/2013.” Isto posto, fica consignada que a receita bruta tributável da fiscalizada é aquela exposta no Anexo 2 TVF que nada mais é que o Anexo 1 com os dados colocados em ordem temporal crescente. Por outro lado, a fiscalização considerou que as receitas declaradas em DASN devem ser deduzidas do lançamento ex officio, por não ter a fiscalização provas ou indícios de presunção contrária. Assim, ao final do procedimento, a fiscalização constatou que naquele ano a fiscalizada percebeu o valor de R$ 3.727.606,41, e declarou em DASN – Declaração Anual do Simples Nacional, a receita bruta de R$ 856.390,18, conforme resumido na Tabela 1 de folha 834, transcrita abaixo: Fl. 1084DF CARF MF 6 Com base em ampla amostragem, o fisco concluiu sem qualquer dúvida que a integralidade dos pagamentos efetivamente ocorreram e que se deveram a venda de mercadorias, portanto, receita tributável do ponto de vista fiscal. Da apuração do imposto devido A autoridade fiscal, lançou então exofficio o crédito tributário de Simples Nacional, nos termos da Resolução CGSN n° 05/2007, artigos 4° ao 9° e Anexo I, conforme apresentado na Tabela 2 (fl. 838). Conforme rege o Anexo I da Resolução 05/2007, apurou a partilha dos tributos, apresentada em detalhes na Tabela 3 (fl. 839) e termina esclarecendo a forma de calculo do lançamento de cada tributo: Por fim, explicase que o lançamento para cada imposto/contribuição e dividido em duas partes. Uma delas, nos meses em que há diferença entre a alíquota utilizada pelo contribuinte conforme a sua receita declarada é a alíquota da Tabela 3 que se refere à alíquota baseada no recálculo da receita acumulada da dúzia mensal anterior para cada período de apuração (insuficiência, de recolhimento baseada'em alíquota inferior à devida). Neste caso, a receita bruta declarada pelo contribuinte é multiplicada pela diferença entre as alíquotas de cada imposto/contribuição. No caso do contribuinte em voga, somente para o mês de janeiro de 2009 não há diferença nas alíquotas (vide "DEMONSTRATIVO DE VALORES APURADOS POR INSUFICIÊNCIA DE RECOLHIMENTO" no Auto de Infração). A segunda parte se refere, à omissão de receita levantada pela fiscalização, em cada um dos períodos de apuração, que é multiplicada pelas alíquotas da Tabela "3" para cada" imposto/contribuição (vide "DEMONSTRATIVO DE VALORES DE IMPOSTOS/CONTRIBUIÇÕES SOBRE DIFERENÇAS APURADAS" no Auto de Infração). Da multa de ofício e juros de mora Sobre os valores dos tributos apurados através de lançamento de ofício foi acrescida de multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento); definida no inciso I do art. 44 da Lei n° 9.430/96, combinado ao art. 35 da Lei Complementar ,n° 123/2006 e aos art. 15 e 16, I da Resolução CGSN n° 30/2008. Os juros de mora à taxa Selic, são devidos conforme o art. 61, §3° da Lei n° 9.430/96 combinado com o art. 35 da mesma LC n° 123/2006, tudo conforme demonstrativos constantes do Auto de Infração. Da representação fiscal para exclusão do Regime do Simples Nacional Como conseqüência dos fatos apurados no curso do procedimento fiscal, foi constatado que o sujeito passivo auferiu, no decorrer do anocalendário de 2009, receita bruta excedente Fl. 1085DF CARF MF Processo nº 13884.721975/201341 Acórdão n.º 1201002.493 S1C2T1 Fl. 5 7 ao limite estabelecido para permanência no Simples Nacional (R$ 2.400.000,00), tendo sido encaminhada Representação para Exclusão do Simples Nacional ao Delegado da RFB. b) DA IMPUGNAÇÃO Na impugnação apresentada (fls. 956 a 975), após apresentar um breve relato dos fatos que embasam a acusação fiscal, a contribuinte ataca o procedimento com os argumentos a seguir expostos, em síntese. Das preliminares Da nulidade do auto de infração em razão da inconstitucional quebra do sigilo bancário Protesta a suplicante pela declaração de nulidade absoluta dos autos de infração, o que implicaria o seu cancelamento, por entender que houve violação perpetrada pela fiscalização fazendária federal contra direito ao sigilo de dados (artigo 5°, inciso XII da CF), ao utilizarse das informações contidas nas ordens bancárias emitidas em seu favor (anexo 1 do TVF) uma vez que a autoridade fiscal disporia de outros mecanismos para aferir a base de cálculo do imposto. Em apoio ao seu entendimento, cita doutrina, jurisprudência do CARF (Súmula n° 02) e aponta precedentes judiciais, inclusive recente decisão do E. Supremo Tribunal Federal no RE 389.806 6 PR. Do vício formal do lançamento Argui a impugnante que a fiscalização colacionou no Termo de Verificação Fiscal – TVF anexo ao Auto de Infração, base legal exarada pelo Comitê Gestor do Simples Nacional (Resolução CGSN 05/2007) que já havia sido revogada quando dos pseudo fatos geradores ocorridos (janeiro a dezembro de 2009) pela própria Resolução 51/2008. Sustenta que o lançamento seria nulo por vício formal, vez que o TVF estaria fundamentado em Resolução do Comitê Gestor do Simples Nacional revogada à época dos fatos. Colaciona legislação e jurisprudência administrativa para amparar seus argumentos. Do mérito Da impossibilidade de se promover o lançamento por presunção Advoga que a fiscalização incorreu em manifesto error in procedendo ao efetuar o lançamento da exação com base na suposta movimentação financeira no montante de R$ 3.727.606,41 (três milhões setecentos e vinte e sete mil, seiscentos e seis reais e quarenta e um centavos) quando a autoridade fiscal somente conseguiu confirmar a existência de Fl. 1086DF CARF MF 8 pagamentos no montante de R$ 3.089.844,62 (três milhões, oitenta e nove mil, oitocentos e quarenta e quatro reais e sessenta e dois centavos). Entende que a base de cálculo jungida a autuação deve coincidir com os valores identificados pela própria autoridade sob pena de se tributar grandezas outras que não traduzem ao fato jurídico tributário. Transcreve trecho do TVF para corroborar seu entendimento Dos Pedidos Ante ao aduzido, pugna sejam rechaçados os lançamentos perpetrados no processo administrativo, nos seguintes termos: a) Seja reconhecida a malsinada ofensa ao princípio da legalidade vez que a douta autoridade fiscal não logrou comprovar a indispensabilidade da utilização das informações das operações bancárias do contribuinte, agindo, dessarte, de maneira discricionária, em completa afronta ao artigo 6°, da Lei Complementar n° 105/2001; b) Não obstante ao item acima, requer ainda seja rechaçado o lançamento calçado em informações bancárias do contribuinte ante a incompatibilidade do artigo 6°, da Lei complementar n°. 105/2001 com o inciso XII, do artigo 5°, da Carta da República. c) Por derradeiro, propugna seja reconhecida a existência de vício formal ao lançamento, na forma aduzida, ante inobservância ao disposto no inciso V, do artigo 10, do Decreto n°. 70.235/72; d) Subsidiariamente, caso não seja reconhecida a Nulidade do lançamento, propugna, pois, pela sua retificação determinando seja adotada como base de cálculo o valor efetivamente infirmado pela autoridade durante o procedimento epigrafado, inadmitindose, pois, a utilização de juízo indiciário conforme perpetrado no expediente guerreado. Cientificada da decisão de Primeira Instância e com ela não se conformando, a contribuinte DENTAL SP LTDA EPP interpôs recurso voluntário trazendo as mesmas alegações do primeiro apelo. É o relatório. Voto Conselheiro José Carlos de Assis Guimarães, Relator. O presente recurso voluntário reúne os pressupostos de admissibilidade previstos na legislação que rege o processo administrativo fiscal e deve, portanto, ser conhecido por esta Turma de Julgamento. De acordo com o Anexo II, artigo 57, parágrafo terceiro, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (RICARF), aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, adoto e transcrevo a "decisão de primeira instância", concordando com seu Fl. 1087DF CARF MF Processo nº 13884.721975/201341 Acórdão n.º 1201002.493 S1C2T1 Fl. 6 9 inteiro teor, ressalvando que inexistiu novos argumentos ou provas, quando da interposição do recurso voluntário: Das preliminares Da alegação de nulidade do auto de infração em razão da inconstitucional quebra do sigilo bancário. São descabidas as arguições de nulidade apontadas na impugnação, como será demonstrado. Sustentou a impugnante que o procedimento fiscal violou a Constituição Federal, pois teria desrespeitado direitos e garantias fundamentais à intimidade e ao sigilo de dados (artigo 5.°, inciso XII, CF/88). Com efeito, a Lei Complementar 105/2001, regulamentada pelo Decreto 3.724/2001, permite à Administração Tributária, em seu art. 6º, o acesso aos documentos, registros e livros de instituições financeiras, desde que haja processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso, e as informações sejam reputadas imprescindíveis, como é o caso dos autos. Por outro lado, o exame da suposta violação aos aludidos direitos e garantias fundamentais impõe ao julgador administrativo se manifestar sobre a constitucionalidade de lei, no caso, a Lei Complementar 105/2001. Ocorre que a apreciação das autoridades administrativas limita se às questões de sua competência, qual seja o controle da legalidade dos atos administrativos, consistente em examinar a adequação dos procedimentos fiscais às normas legais vigentes, zelando, assim, pelo seu fiel cumprimento. Está fora de seu alcance, portanto, o debate sobre aspectos da constitucionalidade ou da legalidade da legislação, uma vez que o controle da constitucionalidade das normas é de competência exclusiva do Poder Judiciário e, no sistema difuso, centrado em última instância revisional no Supremo Tribunal Federal (art. 102, I, “a”, III, da CF de 1988). Ou seja, não lhes compete apreciar a conformidade de lei, validamente editada segundo o processo legislativo constitucionalmente previsto, com preceitos emanados da própria Constituição Federal ou mesmo de outras leis, a ponto de declararlhe a nulidade ou inaplicabilidade ao caso expressamente previsto, haja vista tratarse de matéria reservada, por força de determinação constitucional, ao Poder Judiciário. Enquanto a norma não é declarada inconstitucional pelos órgãos competentes do Poder Judiciário, e não é expungida do sistema normativo, tem presunção de validade, presunção esta que é vinculante para a administração pública. Fl. 1088DF CARF MF 10 Portanto, é defeso aos órgãos administrativos jurisdicionais, de forma original, reconhecer alegação de inconstitucionalidade, ainda que sob o pretexto de deixar de aplicála ao caso concreto. Ademais, os dados obtidos pela fiscalização não ofendem o sigilo bancário, vez que foram cedidos pelos órgãos e entidades circularizados em resposta a ofício enviado pela RFB e cujo conteúdo confirmou as informações referentes a pagamentos à impugnante obtidas pela fiscalização no sistema SIAFI. A esse respeito, a lei complementar que dispõe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras aduz: LEI COMPLEMENTAR Nº 105, DE 10 DE JANEIRO DE 2001. Art. 1° As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados. § 1o São consideradas instituições financeiras, para os efeitos desta Lei Complementar: I – os bancos de qualquer espécie; II – distribuidoras de valores mobiliários; III – corretoras de câmbio e de valores mobiliários; IV – sociedades de crédito, financiamento e investimentos; V – sociedades de crédito imobiliário; VI – administradoras de cartões de crédito; VII – sociedades de arrendamento mercantil; VIII – administradoras de mercado de balcão organizado; IX – cooperativas de crédito; X – associações de poupança e empréstimo; XI – bolsas de valores e de mercadorias e futuros; XII – entidades de liquidação e compensação; XIII – outras sociedades que, em razão da natureza de suas operações, assim venham a ser consideradas pelo Conselho Monetário Nacional. § 2° As empresas de fomento comercial ou factoring, para os efeitos desta Lei Complementar, obedecerão às normas aplicáveis às instituições financeiras previstas no § 1°. Ocorre, entretanto, que nenhum dos dados apresentados no Anexo 1 ao Termo de Verificação Fiscal MPF 0812000.2013.002311 (fls. 842 a 857) foi obtido junto à agência detentora da conta corrente da fiscalizada, tendo sido resultado de procedimento de fiscalização junto aos emissores das ordens bancárias apontadas pelo Sistema SIAFI. Fl. 1089DF CARF MF Processo nº 13884.721975/201341 Acórdão n.º 1201002.493 S1C2T1 Fl. 7 11 Dessa forma, a despeito da vedação ao julgador administrativo se manifestar a respeito da constitucionalidade da Lei Complementar, convém salientar que os dados obtidos no procedimento de circularização não ferem o sigilo bancário da impugnante. Cumpre destacar, por fim, que tais informações referentes a pagamentos realizados por meio de Ordens Bancárias foram levadas ao conhecimento da contribuinte por meio do Termo de Intimação Fiscal de 08/10/2013 (fls. 33 a 43) em 15/10/2013 (AR fl. 44) e da reintimação de folha 45, em 12/11/2013. Ciente dos pagamentos, a impugnante expressamente reconheceu sua legitimidade na resposta enviada em 26/11/2013 (fl. 46) em que assevera: Ref. Mandado de Procedimento Fiscal – MPF n° 0812000.2013.002311 (....) Dental SP LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas no Ministério da Fazenda CNPJ/MF sob o n° 04.624.123/000154, com sede na Av. Heitor Villa Lobos, n° 1609, no Bairro Vila Ema, em São José dos CamposSP, vem respeitosamente perante Vossa Senhoria, em atenção ao Termo de Reintimação Fiscal em epígrafe, tempestivamente informar que não contesta o recebimento das receitas constantes no anexo mencionado no Termo de Intimação Fiscal exarado em 08/10/2013. (...)grifo nosso Rejeito, pois, as alegações da impugnante nesse item. Do vício formal do lançamento São descabidas as arguições de nulidade por vício formal apontadas na impugnação, como será demonstrado. Argui a impugnante que a fiscalização colacionou no Termo de Verificação Fiscal – TVF anexo ao Auto de Infração, base legal exarada pelo Comitê Gestor do Simples Nacional (Resolução CGSN 05/2007) que já havia sido revogada quando dos pseudo fatos geradores ocorridos (janeiro a dezembro de 2009) pela Resolução CGSN 51/2008. Sustenta que o lançamento seria nulo por vício formal, vez que o TVF estaria fundamentado em Resolução do Comitê Gestor do Simples Nacional revogada à época dos fatos. De plano cumpre salientar que a base legal apontada no Auto de Infração e Notificação Fiscal (fls. 874 a 959) – instrumento de constituição do crédito tributário estava vigente para todos os efeitos no momento dos fatos apurados ao longo da fiscalização; e que, no TVF, apesar de fazer referência à Resolução CGSN n° Fl. 1090DF CARF MF 12 05/2007, a autoridade fiscal expressamente citou a LC 123/2006 como parâmetro para elaborar sua memória de cálculo. Forçoso então, analisar a questão mais detidamente, visto que no o TVF demonstra com clareza a apuração da base de cálculo e alíquota de imposto devido e a partilha do Simples Nacional. A minuciosa leitura dos artigos pertinentes à matéria nas Resoluções CGSN n° 05/2007 e CGSN n° 51/2008 demonstra que possuem o mesmo conteúdo, à exceção do Artigo 9° da Resolução CGSN 05/2007 que foi renumerado para Artigo 10 na Resolução CGSN 51/2008 embora mantendo o mesmo conteúdo. Ocorre que a Tabela 1 do Anexo I da Resolução CGSN 51/2008 é utilizada para apuração das alíquotas e partilha do Simples Nacional e recebeu pequenas alterações em relação à Tabela 1 do Anexo 1 da Resolução CGSN 05/2007, o que poderia implicar numa partilha diferente do tributo mas não em valores a menor a recolher a título de Simples. Entretanto, a comparação entre a Tabela 1 do Anexo 1 da Resolução CGSN n° 05/2007 e a Tabela 1 do Anexo I da Resolução CGSN n° 51/2008 permite verificar que mantevese a alíquota de Simples Nacional em todas as faixas e houve alteração na partilha das receitas tributárias de IRPJ, PIS, COFINS e CPP nas faixas de tributação até R$ 360.000,00, o que não ocorre, frisese, no caso em tela. A exação exigida da impugnante foi calculada entre as faixas de 600.000,00 até acima de 2.400.000,00 as quais não sofreram alteração na Resolução CGSN n° 51/2008, sendo certo que não houve prejuízo algum para o contribuinte ou para o Fisco. Por fim, cumpre destacar que o TVF apenas apresentou um descritivo da apuração do cálculo do imposto devido, enquanto que a correta exigência encontrase detalhada nos Autos de Infração (fls. 06 a 100). Sendo assim, rejeito, as alegações de nulidade da impugnante. Do mérito Da impossibilidade de se promover o lançamento por presunção Não procedem os argumentos da impugnante como será verificado a seguir. Advoga a interessada que a fiscalização incorreu em manifesto error in procedendo ao efetuar o lançamento da exação com base na suposta movimentação financeira no montante de R$ 3.727.606,41 (três milhões setecentos e vinte e sete mil, seiscentos e seis reais e quarenta e um centavos) quando a autoridade fiscal somente conseguiu confirmar a existência de pagamentos no montante de R$ 3.089.844,62 (três milhões, oitenta e nove mil, oitocentos e quarenta e quatro reais e sessenta e dois centavos). Entende que a base de cálculo jungida a autuação deve coincidir com os valores identificados pela própria autoridade sob pena Fl. 1091DF CARF MF Processo nº 13884.721975/201341 Acórdão n.º 1201002.493 S1C2T1 Fl. 8 13 de se tributar grandezas outras que não traduzem ao fato jurídico tributário. Transcreve trecho do TVF para corroborar seu entendimento. Verificase dos elementos trazidos aos autos que a autoridade fiscal tentou em vão obter a os livros contábeis/fiscais da contribuinte bem como os valores da sua receita bruta mensal, referentes ao período compreendido entre janeiro e dezembro de 2009 (fls. 09, 10, 24, 25, 29 e 30). Não obstante, intimoua sobre as ordens bancárias em seu favor colhidas no SIAFI, requerendo esclarecimentos sobre a natureza daquela receita (fls. 33 a 43), AR de folha 44). Uma vez que não obteve resposta da intimação de folhas 33 a 43, reintimou o sujeito passivo a prestar esclarecimento a respeito das ordens bancárias por meio do Termo de Reintimação Fiscal (fl. 45). A contribuinte, comparece aos autos, em 26/11/2013 (fl. 46) reconhecendo que recebeu as receitas apontadas no anexo do Termo de Intimação Fiscal de 08.10.2013. A autoridade fiscal optou por circularizar os dados que dispunha a fim de frisese, confirmar os pagamentos realizados em favor da pessoa jurídica interessada. No melhor interesse público, estabeleceu um ponto de corte a respeito das informações que seriam suficientes para embasar a apuração da receita (estabelecimentos que, ao longo de 2009 realizaram pagamentos à fiscalizada em quantum total anual superior a R$ 20.000,00) e oficiou ou diligenciou os ordenadores de despesas requerendo confirmações. Tendo recebido resposta positiva (homogênea e contundente) de 32 das 34 solicitações de circularização emitidas, e uma vez que a fiscalizada reconheceu o recebimento das ordens bancárias apontadas pelo SIAFI, a autoridade fiscal corretamente apurou como receita bruta auferida pela empresa o montante de R$ 3.727.606,41 (três milhões setecentos e vinte e sete mil, seiscentos e seis reais e quarenta e um centavos). Enfim, diante da falta de apresentação dos livros e documentos da escrituração que identificassem a movimentação financeira, o arbitramento se deu dentro dos limites da legislação de regência da matéria, sendo, portanto, legítimo. Sendo assim, rejeito, as alegações da impugnante quanto ao mérito. CONCLUSÃO Em face do exposto, VOTO pela improcedência das impugnações, rejeitando as preliminares e mantendo o crédito tributário exigido nos autos de infração impugnados.. Fl. 1092DF CARF MF 14 Pelo exposto, VOTO por NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) José Carlos de Assis Guimarães Relator Fl. 1093DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10735.904244/2012-74
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jul 26 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Sep 26 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2011
PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. DEMONSTRAÇÃO DA PROVA.
O pedido de restituição de tributo administrado pela RFB somente pode ser realizado e deferido se a empresa comprovar a certeza e liquidez do crédito tributário pleiteado.
Numero da decisão: 1401-002.811
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Livia De Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DE SOUZA GONCALVES
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DEMONSTRAÇÃO DA PROVA. O pedido de restituição de tributo administrado pela RFB somente pode ser realizado e deferido se a empresa comprovar a certeza e liquidez do crédito tributário pleiteado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa, Livia De Carli Germano, Abel Nunes de Oliveira Neto, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Cláudio de Andrade Camerano, Daniel Ribeiro Silva e Letícia Domingues Costa Braga. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 73 5. 90 42 44 /2 01 2- 74 Fl. 583DF CARF MF Processo nº 10735.904244/201274 Acórdão n.º 1401002.811 S1C4T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto em face de decisão proferida pela 4ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Brasília (DRJ/BSB), que julgou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada pela empresa. A recorrente apresentou Declaração de Compensação onde solicita o reconhecimento de crédito decorrente de pagamento efetuado a maior. O referido pedido foi indeferido por meio de Despacho Decisório eletrônico em que foi apostado que a ora recorrente não possuía o crédito pleiteado, uma vez que o valor recolhido por meio de DARF já estaria comprometido com os valores declarados em DCTF e informados na DIPJ. Irresignada com o indeferimento da compensação, a interessada oferece manifestação de inconformidade, alegando, em síntese, que: Desempenha atividade preponderante de apoio portuário, mais especificamente o transporte de passageiros para o embarque e desembarque em navios e outras embarcações. Nos exatos termos do artigo 519, parágrafo 1º, inciso II do RIR/99, referida atividade sujeitase às alíquotas de 16% e 12%, respectivamente, para fins de apuração da base de cálculo do IRPJ e CSLL, aplicáveis sobre sua receita bruta, e não de 32% como previsto para a prestação de serviços em geral. Assim, por erro contábil, recolheu valores de IRPJ e de CSLL a maior, por considerar indevidamente a alíquota referente a prestação de serviços em geral, pelo que pugnou pelo direito à restituição relativa à recomposição do lucro presumido. Em julgamento, a DRJ julgou improcedente a manifestação de inconformidade apresentada pela empresa, conforme seguinte trecho de ementa: (...) LUCRO PRESUMIDO. BASE DE CÁLCULO. ALÍQUOTA APLICÁVEL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE TRANSPORTE DE PASSAGEIRO. FALTA DE COMPROVAÇÃO . Para fins de determinação da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, na sistemática de tributação com base no lucro presumido, as receitas decorrentes das atividades consideradas como prestação de serviços em geral estão sujeitas ao percentual de 32% , exceto a de serviço de transporte que se sujeita às alíquotas de 16 e 12%, respectivamente. No caso, contudo, a interessada não comprova nos autos o exercício da atividade e o recebimento de receitas correspondente àquela atividade. Fl. 584DF CARF MF Processo nº 10735.904244/201274 Acórdão n.º 1401002.811 S1C4T1 Fl. 4 3 COMPENSAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DA LIQUIDEZ E CERTEZA DO CRÉDITO DO SUJEITO PASSIVO. A lei somente autoriza a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda Pública. DEVER DO JULGADOR. OBSERVÂNCIA DO ENTENDIMENTO DA RFB. É dever do julgador observar o entendimento da RFB expresso em atos normativos. Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido A turma da DRJ consignou que a empresa não teria direito ao crédito pleiteado pelos seguintes motivos: (início da transcrição do voto do acórdão da DRJ) Primeiro: a alteração contratual apresentada diz que a empresa tem como objeto a prestação de serviços de transportes aquaviários, mas o deferimento do registro pela Junta Comercial data de 28/07/2011 (protocolo em 24/05/2011), quando os autos tratam de direito creditório referente aos dois primeiros trimestres de 2011 (janeiro a junho). Segundo: a interessada apenas afirma que suas receitas correspondem à atividade de prestação de serviço de transporte de passageiros, pois nada junta aos autos que comprove este fato (notas fiscais, contrato, escrituração contábil/fiscal, etc.), ao contrário, a planilha demonstrativa de cálculo ... não especifica o recebimento de receita de prestação de serviço de transporte de passageiros. Terceiro: o objeto empresarial está assim determinado ...: “A sociedade empresarial tem como objeto a prestação de serviços de transportes aquaviários, que se fará na forma e mediante a realização de: afretamento a casco nu; afretamento por tempo; navegação de apoio marítimo; navegação de apoio portuário, navegação de apoio para a praticagem, construção, modernização, conservação, reparo, conversão e jumborização de embarcações, amarração de embarcações, tudo seguindo a legislação pertinente às empresas brasileiras de navegação, bem como as demais legislações aplicáveis ao caso”. Como se vê, as atividades da empresa não são exclusivamente de prestação de serviço de transporte de passageiros, que beneficiaria a empresa na aplicação de alíquota menor e diferenciada de 32% na apuração da base de cálculo do imposto/contribuição social. Quarto: igualmente não junta aos autos qualquer documento que comprove tenha efetuado DIPJ ou DCTF Fl. 585DF CARF MF Processo nº 10735.904244/201274 Acórdão n.º 1401002.811 S1C4T1 Fl. 5 4 retificadoras, de modo que demonstrassem a apuração e cálculo de valores devidos a menor do recolhido. (término da transcrição do voto do acórdão da DRJ) Cientificada da decisão da DRJ e não satisfeita com a decisão da delegacia de piso, apresentou recurso voluntário tempestivo repetindo basicamente os argumentos apresentados na impugnação, mas anexando documentos (notasfiscais) em que intenta demonstrar que prestava serviços de transporte de passageiros. No CARF, coube a mim a relatoria do processo. É o Relatório. Voto Conselheiro Luiz Augusto de Souza Gonçalves Relator O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1401002.803, de 26/07/2018, proferido no julgamento do Processo nº 10735.904236/2012 28, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1401002.803): "O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Como visto, tratase a lide de discussão sobre o enquadramento da recorrente quanto ao tipo de serviço que presta: (i) para o fisco e para a DRJ, a recorrente não comprovou ter direito a aplicar as alíquotas de 16% e 12%, respectivamente, para o IRPJ e CSLL; assim, "cairia" na regra geral aplicada a prestadores de serviços em geral, cuja alíquota é de 32%; e (ii) para a recorrente, ela tem direito à aplicação das alíquotas de 16% e 12%, respectivamente, para o IRPJ e CSLL, por prestar serviços de transporte de passageiros. O indeferimento do pedido de restituição / compensação do referido crédito foi feito por meio de Despacho Decisório eletrônico. Sabese que o referido despacho é emitido sem uma análise pormenorizada do crédito pleiteado, pois o que se busca é analisar as formalidades que cercam as declarações e documentos de informação que servem de base para análise do crédito. Fl. 586DF CARF MF Processo nº 10735.904244/201274 Acórdão n.º 1401002.811 S1C4T1 Fl. 6 5 No caso dos autos, o indeferimento se deveu por falta da existência do suposto crédito, pelo fato de que na DCTF foi consignado, pela empresa, o débito de IRPJ e de CSLL considerando a alíquota de 32% em relação à apuração do lucro presumido. Na manifestação de inconformidade, a ora recorrente alegou que possuía direito ao referido crédito e que a DCTF havia sido encaminhada com dados incorretos. Apesar da alegação, e empresa não apresentou nenhum documento para comprovação da efetividade do crédito pleiteado. Em julgamento, a DRJ julgou improcedente a manifestação de inconformidade da empresa elencando os motivos pelos quais não concedeu o crédito, que transcrevo novamente abaixo, para facilitar a didática: (início da transcrição do voto do acórdão da DRJ) Primeiro: a alteração contratual apresentada diz que a empresa tem como objeto a prestação de serviços de transportes aquaviários, mas o deferimento do registro pela Junta Comercial data de 28/07/2011 (protocolo em 24/05/2011), quando os autos tratam de direito creditório referente aos dois primeiros trimestres de 2011 (janeiro a junho). Segundo: a interessada apenas afirma que suas receitas correspondem à atividade de prestação de serviço de transporte de passageiros, pois nada junta aos autos que comprove este fato (notas fiscais, contrato, escrituração contábil/fiscal, etc.), ao contrário, a planilha demonstrativa de cálculo ... não especifica o recebimento de receita de prestação de serviço de transporte de passageiros. Terceiro: o objeto empresarial está assim determinado ...: “A sociedade empresarial tem como objeto a prestação de serviços de transportes aquaviários, que se fará na forma e mediante a realização de: afretamento a casco nu; afretamento por tempo; navegação de apoio marítimo; navegação de apoio portuário, navegação de apoio para a praticagem, construção, modernização, conservação, reparo, conversão e jumborização de embarcações, amarração de embarcações, tudo seguindo a legislação pertinente às empresas brasileiras de navegação, bem como as demais legislações aplicáveis ao caso”. Como se vê, as atividades da empresa não são exclusivamente de prestação de serviço de transporte de passageiros, que beneficiaria a empresa na aplicação de alíquota menor e diferenciada de 32% na apuração da base de cálculo do imposto/contribuição social. Fl. 587DF CARF MF Processo nº 10735.904244/201274 Acórdão n.º 1401002.811 S1C4T1 Fl. 7 6 Quarto: igualmente não junta aos autos qualquer documento que comprove tenha efetuado DIPJ ou DCTF retificadoras, de modo que demonstrassem a apuração e cálculo de valores devidos a menor do recolhido. (término da transcrição do voto do acórdão da DRJ) Inconformada, a empresa apresentou recurso voluntário e anexou notasfiscais que alega fazerem prova de que prestou serviços de transporte de passageiros. Pois bem. O Pedido de Restituição e Compensação somente pode ser efetuado se houver certeza e liquidez do crédito pleiteado. Para tanto, deve a empresa peticionária se cercar de elementos que corroboram o pleiteado crédito tributário. As declarações e informações de entrega obrigatória ao fisco devem corresponder à realidade vivida à época da apuração do crédito e também devem estar amparadas por documentação probatória, pois sempre devese partir da premissa de que quem alega o direito é que deve fazer prova de sua existência. O princípio da verdade material, por outro lado, é primado que permeia o processo administrativo fiscal, e pode ser utilizado quando, mesmo que as formalidades não sigam inteiramente o que prega a legislação tributária, há indícios concretos das alegações da parte que tenta demonstrar o direito. Houve casos nesta turma, por exemplo, em que o mero erro de preenchimento de algum documento fiscal não serviu de motivação para indeferimento do crédito, porque restou comprovada, por outros elementos, a certeza e liquidez do crédito. Chamo a atenção, porém, que o princípio da verdade material deve ser relativizado: comparase (i) a deficiência na instrumentalização do pedido sopesada com a demonstração inequívoca de prova (ii) à celeridade processual, instituto que movimenta o processo administrativo fiscal. Como exemplo, se uma empresa não apresenta documentação alguma ou a apresenta de forma rasa, mesmo ciente da necessidade da apresentação, e traz outros documentos somente na 2ª (segunda) fase recursal, entendo que se deve afastar a alegação de busca da verdade material e ignorar a documentação apresentada, em razão da inércia da parte. Chega a ser pior! Há casos em que a(s) parte(s) traze(m) elementos após o recurso voluntário e pede(m) que o feito seja baixado em diligência para que se conceda nova oportunidade de comprovação do crédito pleiteado, conduta que entendo totalmente reprovável. Fl. 588DF CARF MF Processo nº 10735.904244/201274 Acórdão n.º 1401002.811 S1C4T1 Fl. 8 7 O caso concreto, no meu sentir, é completamente díspare da possibilidade da busca pela verdade material. Em momento algum, a recorrente demonstra interesse em comprovar efetivamente que os créditos existiram; de todas as restrições apresentadas pela delegacia de piso, no acórdão que julgou improcedente a manifestação de inconformidade, a recorrente apenas trouxe notasfiscais de serviços, as quais também não provam muita coisa, visto que não são muito legíveis e, também, que a empresa pratica outras atividades além de transporte de passageiros. Não há apresentação de contratos de serviços, a recorrente não apresenta seus controles contábeis e fiscais, e, também, não há um discriminativo sobre a apuração do IRPJ e da CSLL pelo lucro presumido, uma vez que no contrato social da recorrente consta que ela exerce várias atividades e, portanto, pode se sujeitar a mais de uma alíquota de presunção. Como não há elementos suficientes para análise do crédito pleiteado, proponho afastar o pedido da recorrente por falta de documentação comprobatória de seu suposto direito. Conclusão Diante do exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto acima transcrito. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Fl. 589DF CARF MF Processo nº 10735.904244/201274 Acórdão n.º 1401002.811 S1C4T1 Fl. 9 8 Fl. 590DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11020.003732/2009-86
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Aug 15 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Oct 18 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/01/2006 a 31/03/2006
NÃO CUMULATIVIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. AQUISIÇÃO DE INSUMOS. BENS E SERVIÇOS. DIREITO AO CREDITAMENTO.
A legislação das Contribuições Sociais não cumulativas - PIS/COFINS - informa de maneira exaustiva todas as possibilidades de aproveitamento de créditos. Não há previsão legal para creditamento sobre a aquisição de itens e serviços que não sejam utilizados diretamente no processo de produção do produto destinado a venda.
Numero da decisão: 9303-007.309
Decisão: Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por voto de qualidade, em dar-lhe provimento parcial, para restabelecer a glosa de crédito sobre gastos com (i) bens diversos, (ii) combustíveis e lubrificantes (iii) embalagem de transporte, (iv) serviços de manutenção de máquinas e tratores (v) medicamentos e fertilizantes, mantendo a decisão recorrida quanto às despesas com empilhadeiras, vencidos os Conselheiros Vanessa Marini Cecconello, Tatiana Midori Migiyama, Demes Brito e Érika Costa Camargos Autran, que lhe deram provimento parcial em menor extensão, para restabelecer a glosa apenas com relação aos medicamentos e fertilizantes.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em exercício e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício).
Nome do relator: RODRIGO DA COSTA POSSAS
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CONCEITO DE INSUMO. DIREITO DE CRÉDITOS. Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado RASIP AGRO PASTORIL S/A ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/01/2006 a 31/03/2006 NÃO CUMULATIVIDADE DAS CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. AQUISIÇÃO DE INSUMOS. BENS E SERVIÇOS. DIREITO AO CREDITAMENTO. A legislação das Contribuições Sociais não cumulativas PIS/COFINS informa de maneira exaustiva todas as possibilidades de aproveitamento de créditos. Não há previsão legal para creditamento sobre a aquisição de itens e serviços que não sejam utilizados diretamente no processo de produção do produto destinado a venda. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por voto de qualidade, em darlhe provimento parcial, para restabelecer a glosa de crédito sobre gastos com (i) bens diversos, (ii) combustíveis e lubrificantes (iii) embalagem de transporte, (iv) serviços de manutenção de máquinas e tratores (v) medicamentos e fertilizantes, mantendo a decisão recorrida quanto às despesas com empilhadeiras, vencidos os Conselheiros Vanessa Marini Cecconello, Tatiana Midori Migiyama, Demes Brito e Érika Costa Camargos Autran, que lhe deram provimento parcial em menor extensão, para restabelecer a glosa apenas com relação aos medicamentos e fertilizantes. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em exercício e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Andrada Márcio Canuto Natal, Tatiana Midori Migiyama, Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Demes Brito, Jorge Olmiro Lock Freire, Érika Costa Camargos Autran, Vanessa Marini Cecconello e Rodrigo da Costa Pôssas (Presidente em Exercício). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 02 0. 00 37 32 /2 00 9- 86 Fl. 284DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 3 2 Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela FAZENDA NACIONAL, com fulcro nos artigos 64, inciso II e 67, do Anexo II do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais – RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 256/2009, buscando a reforma do Acórdão nº 3803003.721 proferido pela 3ª Turma Especial da Terceira Seção de Julgamento, em 27 de novembro de 2012, no sentido de dar provimento parcial ao recurso voluntário. O acórdão foi assim ementado: ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Cofins Período de apuração: 01/01/2006 a 31/03/2006 INSUMOS. CRÉDITOS NA INCIDÊNCIA NÃO CUMULATIVA O conceito de insumo para a apuração de créditos a descontar do PIS não cumulativo, não pode ser interpretado como todo e qualquer bem ou serviço que gera despesa necessária à atividade da empresa, mas tão somente aqueles adquiridos de pessoa jurídica, intrínsecos à atividade, que efetivamente sejam aplicados ou consumidos na produção de bens destinados à venda ou na prestação do serviço. AQUISIÇÕES. ALÍQUOTA ZERO Descabe crédito em relação as aquisições de produtos sujeitos a alíquota zero, tendo em vista que prevalece a interpretação de que o art. 153, IV, da CF adota a técnica de cobrança própria dos impostos sobre valor agregado, permitindo a compensação do imposto devido na operação subsequente com a importância recolhida na operação antecedente. APURAÇÃO DE CRÉDITOS. EQUIPAMENTOS Afastase a glosa dos créditos em relação a despesas de manutenção de empilhadeiras, tratores e pulverizadores e retroescavadeiras, uma vez que no dentro da sistemática de apuração de créditos pela nãocumulatividade do PIS, o contribuinte possui direito subjetivo ao benefício, tendo em vista que esta despesa está vinculada ao processo produtivo. O Colegiado a quo entendeu por dar provimento parcial ao recurso voluntário para reconhecer o direito ao crédito e autorizar o ressarcimento tão somente quanto aos seguintes itens: despesas com empilhadeiras (custos de aquisição de GLP e manutenção de empilhadeiras); despesas com aquisições de combustíveis e lubrificantes gastos com viveiros e pomares; despesas com serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores; despesas com conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes e despesas com embalagem de transporte (material de transporte). Não resignada em parte com a decisão, a Fazenda Nacional interpôs recurso especial alegando divergência jurisprudencial quanto ao conceito de insumos para fins de utilização de créditos das contribuições para o PIS e a COFINS na sistemática da não cumulatividade. Insurgiuse especificamente quanto aos seguintes itens: (1) despesas com empilhadeiras; despesas com embalagem de transporte (material de embalagem); despesas Fl. 285DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 4 3 com serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores; despesas com conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes; e (2) despesas com combustíveis e lubrificantes. Visando à comprovação do dissenso interpretativo, com relação às despesas tratadas no item “1” indicou o Acórdão n.º 20312.448, segundo o qual apenas podem ser considerados insumos para fins de cálculo do crédito do PIS nãocumulativo aqueles elencados no art. 3º da Lei nº 10.637/2002 combinado com o art. 66 da IN SRF nº 464/2004, adotando a tese da definição de “insumos” prevista na legislação do IPI. Além disso, invocou paradigmas específicos para cada um dos créditos atacados: despesas com embalagem de transporte (material de transporte) – Acórdão n.º 310100.795; despesas com serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores – Acórdão n.º 3302 001.521; e despesas com empilhadeira – Acórdão n.º 3802000.341. Quanto às despesas com combustíveis e lubrificantes, constantes do item “2” da peça recursal, os acórdãos indicados foram os de n.º 380100.470 e 3301001.290. Dentre as decisões citadas como paradigmas na peça recursal, foi considerado como suficiente à comprovação do dissenso, no exame de admissibilidade, o Acórdão n.º 20312.448 que, diversamente da decisão recorrida, adota como conceito de “insumo” a tese trazida na legislação do IPI. A Recorrente aduz, em síntese, que os insumos aptos a serem considerados como créditos de PIS/Pasep e COFINS no regime nãocumulativo foram tratados de foram taxativa no art. 3º das Leis n.º 10.637/2002 e 10.833/2003, respectivamente. Portanto, para efeitos de crédito do tributo, incluemse no conceito de insumo, além de matériasprimas, produtos intermediários e material de embalagem, os itens que sejam incorporados ao bem produzido, e os bens que, mesmo não se integrando à mercadoria, sejam consumidos e/ou alterados no processo de industrialização em função da ação exercida diretamente sobre o produto, com exceção daqueles compreendidos no ativo permanente. Segundo a Fazenda Nacional, tais requisitos não são atendidos pelos itens admitidos como insumos pelo acórdão recorrido, merecendo o mesmo ser reformado. Nos termos do despacho de exame de admissibilidade do Presidente da 3ª Câmara da 3ª Seção do CARF, foi dado seguimento ao recurso especial da Fazenda Nacional, por ter sido entendida como comprovada a divergência jurisprudencial, com base no Acórdão paradigma n.º 20312.448, quanto ao conceito de insumo para utilização dos créditos na apuração do PIS e da COFINS na sistemática da nãocumulatividade. Cientificada a Contribuinte, não foram apresentadas contrarrazões. É o Relatório. Voto Conselheiro Rodrigo da Costa Pôssas, Relator Fl. 286DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 5 4 O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9303007.304, de 15/08/2018, proferido no julgamento do processo 11020.003571/200921, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese como solução deste litígio, nos termos regimentais, os entendimentos que prevaleceram naquela decisão (Acórdão 9303007.304): "Admissibilidade O recurso especial de divergência interposto pela Fazenda Nacional atende aos requisitos de admissibilidade constantes no art. 67 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015 (anteriormente Portaria MF n.º 256/2009), devendo, portanto, ter prosseguimento. Mérito Do Direito ao Crédito de PIS e COFINS nãocumulativos – Conceito de insumos No mérito, adentrase à análise do direito ao crédito de PIS e COFINS nãocumulativos decorrentes de: (1) despesas com empilhadeiras; despesas com embalagem de transporte (material de embalagem); despesas com serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores; despesas com conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes; e (2) despesas com combustíveis e lubrificantes. De início, explicitase o conceito de insumos adotado no presente voto, para posteriormente adentrarse à análise dos itens individualmente. A sistemática da nãocumulatividade para as contribuições do PIS e da COFINS foi instituída, respectivamente, pela Medida Provisória nº 66/2002, convertida na Lei nº 10.637/2002 (PIS) e pela Medida Provisória nº 135/2003, convertida na Lei nº 10.833/2003 (COFINS). Em ambos os diplomas legais, o art. 3º, inciso II, autorizase a apropriação de créditos calculados em relação a bens e serviços utilizados como insumos na fabricação de produtos destinados à venda.1 O princípio da nãocumulatividade das contribuições sociais foi também estabelecido no §12º, do art. 195 da Constituição Federal, por meio da Emenda Constitucional nº 42/2003, 1 Lei nº 10.637/2002 (PIS). Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...] II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; [...]. Lei nº 10.8332003 (COFINS). Art. 3º Do valor apurado na forma do art. 2º a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: [...]II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da Tipi; [...] Fl. 287DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 6 5 consignandose a definição por lei dos setores de atividade econômica para os quais as contribuições sociais dos incisos I, b; e IV do caput, dentre elas o PIS e a COFINS. 2 A disposição constitucional deixou a cargo do legislador ordinário a regulamentação da sistemática da nãocumulatividade do PIS e da COFINS. Por meio das Instruções Normativas nºs 247/02 (com redação da Instrução Normativa nº 358/2003) (art. 66) e 404/04 (art. 8º), a Secretaria da Receita Federal trouxe a sua interpretação dos insumos passíveis de creditamento pelo PIS e pela COFINS. A definição de insumos adotada pelos mencionados atos normativos é excessivamente restritiva, assemelhandose ao conceito de insumos utilizado para utilização dos créditos do IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados, estabelecido no art. 226 do Decreto nº 7.212/2010 (RIPI). As Instruções Normativas nºs 247/2002 e 404/2004, ao admitirem o creditamento apenas quando o insumo for efetivamente incorporado ao processo produtivo de fabricação e comercialização de bens ou prestação de serviços, aproximandose da legislação do IPI que traz critério demasiadamente restritivo, extrapolaram as disposições da legislação hierarquicamente superior no ordenamento jurídico, a saber, as Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003, e contrariaram frontalmente a finalidade da sistemática da nãocumulatividade das contribuições do PIS e da COFINS. Patente, portanto, a ilegalidade dos referidos atos normativos. Nessa senda, entendese igualmente impróprio para conceituar insumos adotarse o parâmetro estabelecido na legislação do IRPJ Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, pois demasiadamente amplo. Pelo raciocínio estabelecido a partir da leitura dos artigos 290 e 299 do Decreto nº 3.000/99 (RIR/99), poderseia enquadrar como insumo todo e qualquer custo da pessoa jurídica com o consumo de bens ou serviços integrantes do processo de fabricação ou da prestação de serviços como um todo. Em Declaração de Voto apresentada nos autos do processo administrativo nº 13053.000211/200672, em sede de julgamento de recurso especial pelo Colegiado da 3ª Turma da CSRF, o ilustre Conselheiro Gileno Gurjão Barreto assim se manifestou: [...] permaneço não compartilhando do entendimento pela possibilidade de utilização isolada da legislação do IR para alcançar a definição de "insumos" pretendida. Reconheço, no entanto, que o raciocínio é auxiliar, é instrumento que pode ser utilizado para dirimir controvérsias mais estritas. Isso porque a utilização da legislação do IRPJ alargaria sobremaneira o conceito de "insumos" ao equiparálo ao conceito contábil de "custos e despesas operacionais" que abarca todos os custos e despesas que contribuem para a atividade de uma empresa (não apenas a sua produção), o que distorceria a interpretação da legislação ao ponto de tornála inócua e de resultar em indesejável esvaziamento da função social dos tributos, passando a desonerar não o produto, mas sim o produtor, subjetivamente. As Despesas Operacionais são aquelas necessárias não apenas para produzir os bens, mas também para vender os produtos, administrar a 2 Constituição Federal de 1988. Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: [...] b) a receita ou o faturamento; [...] IV do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar. [...]§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão nãocumulativas. (grifouse) Fl. 288DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 7 6 empresa e financiar as operações. Enfim, são todas as despesas que contribuem para a manutenção da atividade operacional da empresa. Não que elas não possam ser passíveis de creditamento, mas tem que atender ao critério da essencialidade. [...] Estabelece o Código Tributário Nacional que a segunda forma de integração da lei prevista no art. 108, II, do CTN são os Princípios Gerais de Direito Tributário. Na exposição de motivos da Medida Provisória n. 66/2002, in verbis, afirmase que “O modelo ora proposto traduz demanda pela modernização do sistema tributário brasileiro sem, entretanto, pôr em risco o equilíbrio das contas públicas, na estrita observância da Lei de Responsabilidade Fiscal. Com efeito, constitui premissa básica do modelo a manutenção da carga tributária correspondente ao que hoje se arrecada em virtude da cobrança do PIS/Pasep.” Assim sendo, o conceito de "insumos", portanto, muito embora não possa ser o mesmo utilizado pela legislação do IPI, pelas razões já exploradas, também não pode atingir o alargamento proposto pela utilização de conceitos diversos contidos na legislação do IR. Ultrapassados os argumentos para a não adoção dos critérios da legislação do IPI nem do IRPJ, necessário estabelecerse o critério a ser utilizado para a conceituação de insumos. Diante do entendimento consolidado deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, inclusive no âmbito desta Câmara Superior de Recursos Fiscais, o conceito de insumos para efeitos do art. 3º, inciso II, da Lei nº 10.637/2002 e do art. 3º, inciso II da Lei 10.833/2003, deve ser interpretado com critério próprio: o da essencialidade. Referido critério traduz uma posição "intermediária" construída pelo CARF, na qual, para definir insumos, buscase a relação existente entre o bem ou serviço, utilizado como insumo e a atividade realizada pelo Contribuinte. Conceito mais elaborado de insumo, construído a partir da jurisprudência do próprio CARF e norteador dos julgamentos dos processos, no referido órgão, foi consignado no Acórdão nº 9303003.069, resultante de julgamento da CSRF em 13 de agosto de 2014: [...] Portanto, "insumo" para fins de creditamento do PIS e da COFINS não cumulativos, partindo de uma interpretação histórica, sistemática e teleológica das próprias normas instituidoras de tais tributos (Lei no. 10.637/2002 e 10.833/2003), deve ser entendido como todo custo, despesa ou encargo comprovadamente incorrido na prestação de serviço ou na produção ou fabricação de bem ou produto que seja destinado à venda, e que tenha relação e vínculo com as receitas tributadas (critério relacional), dependendo, para sua identificação, das especificidades de cada processo produtivo. Nessa linha relacional, para se verificar se determinado bem ou serviço prestado pode ser caracterizado como insumo para fins de creditamento do PIS e da COFINS, impende analisar se há: pertinência ao processo produtivo (aquisição do bem ou serviço especificamente para utilização na prestação do serviço ou na produção, ou, ao menos, para tornálo viável); essencialidade ao processo produtivo (produção ou prestação de serviço depende diretamente daquela aquisição) e possibilidade de emprego indireto no processo de produção (prescindível o consumo do bem ou a prestação de serviço em contato direto com o bem produzido). Fl. 289DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 8 7 Portanto, para que determinado bem ou prestação de serviço seja considerado insumo gerador de crédito de PIS e COFINS, imprescindível a sua essencialidade ao processo produtivo ou prestação de serviço, direta ou indiretamente, bem como haja a respectiva prova. Não é diferente a posição predominante no Superior Tribunal de Justiça, o qual reconhece, para a definição do conceito de insumo, critério amplo/próprio em função da receita, a partir da análise da pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo ou à prestação do serviço. O entendimento está refletido no voto do Ministro Relator Mauro Campbell Marques ao julgar o recurso especial nº 1.246.317MG, sintetizado na ementa: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535, DO CPC. VIOLAÇÃO AO ART. 538, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 98/STJ. CONTRIBUIÇÕES AO PIS/PASEP E COFINS NÃOCUMULATIVAS. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. ART. 3º, II, DA LEI N. 10.637/2002 E ART. 3º, II, DA LEI N. 10.833/2003. ILEGALIDADE DAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS SRF N. 247/2002 E 404/2004. 1. Não viola o art. 535, do CPC, o acórdão que decide de forma suficientemente fundamentada a lide, muito embora não faça considerações sobre todas as teses jurídicas e artigos de lei invocados pelas partes. 2. Agride o art. 538, parágrafo único, do CPC, o acórdão que aplica multa a embargos de declaração interpostos notadamente com o propósito de prequestionamento. Súmula n. 98/STJ: "Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não têm caráter protelatório". 3. São ilegais o art. 66, §5º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 247/2002 Pis/Pasep (alterada pela Instrução Normativa SRF n. 358/2003) e o art. 8º, §4º, I, "a" e "b", da Instrução Normativa SRF n. 404/2004 Cofins, que restringiram indevidamente o conceito de "insumos" previsto no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e n. 10.833/2003, respectivamente, para efeitos de creditamento na sistemática de nãocumulatividade das ditas contribuições. 4. Conforme interpretação teleológica e sistemática do ordenamento jurídico em vigor, a conceituação de "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, não se identifica com a conceituação adotada na legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados IPI, posto que excessivamente restritiva. Do mesmo modo, não corresponde exatamente aos conceitos de "Custos e Despesas Operacionais" utilizados na legislação do Imposto de Renda IR, por que demasiadamente elastecidos. 5. São "insumos", para efeitos do art. 3º, II, da Lei n. 10.637/2002, e art. 3º, II, da Lei n. 10.833/2003, todos aqueles bens e serviços pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica em substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. 6. Hipótese em que a recorrente é empresa fabricante de gêneros alimentícios sujeita, portanto, a rígidas normas de higiene e limpeza. No ramo a que pertence, as exigências de condições sanitárias das instalações se não atendidas implicam na própria impossibilidade da produção e em Fl. 290DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 9 8 substancial perda de qualidade do produto resultante. A assepsia é essencial e imprescindível ao desenvolvimento de suas atividades. Não houvessem os efeitos desinfetantes, haveria a proliferação de microorganismos na maquinaria e no ambiente produtivo que agiriam sobre os alimentos, tornandoos impróprios para o consumo. Assim, impõese considerar a abrangência do termo "insumo" para contemplar, no creditamento, os materiais de limpeza e desinfecção, bem como os serviços de dedetização quando aplicados no ambiente produtivo de empresa fabricante de gêneros alimentícios. 7. Recurso especial provido. (REsp 1246317/MG, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/05/2015, DJe 29/06/2015) (grifouse) Portanto, são insumos, para efeitos do art. 3º, II da Lei nº 10.637/2002 e do art. 3º, II da Lei nº 10.833/2003, todos os bens e serviços pertinentes ao processo produtivo e à prestação de serviços, ou ao menos que os viabilizem, podendo ser empregados direta ou indiretamente, e cuja subtração implica a impossibilidade de realização do processo produtivo e da prestação do serviço, objetando ou comprometendo a qualidade da própria atividade da pessoa jurídica. Ainda, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, o tema foi recentemente julgado pela sistemática dos recursos repetitivos nos autos do recurso especial nº 1.221.170 PR, no sentido de reconhecer a ilegalidade das Instruções Normativas SRF nºs 247/2002 e 404/2004 e aplicação de critério da essencialidade ou relevância para o processo produtivo na conceituação de insumo para os créditos de PIS e COFINS no regime nãocumulativo. Até a presente data da sessão de julgamento desse processo não houve o trânsito em julgado do acórdão do recurso especial nº 1.221.170PR pela sistemática dos recursos repetitivos, pois pendente de julgamento de embargos de declaração interpostos pela Fazenda Nacional. Fazse a ressalva do entendimento desta Conselheira, que não é o da maioria do Colegiado, que conforme previsão contida no art. 62, §2º do RICARF aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, os conselheiros já estão obrigados a reproduzir referida decisão. Assim, os valores decorrentes da contratação de fretes de produtos acabados entre estabelecimentos da própria empresa geram direito aos créditos das contribuições para o PIS e para a COFINS na sistemática nãocumulativa, pois são essenciais ao processo produtivo da Recorrente e se constituem em despesas na operação de vendas. O direito ao crédito encontra amparo no art. 3º, inciso IX, da Lei nº 10.833/03 e art. 3º, inciso IX, da Lei nº 10.637/02, que contemplam a expressão "frete na operação de venda". No caso dos autos, conforme já afirmado, a Contribuinte RASIP AGROPASTORIL S/A é pessoa jurídica que desenvolve a atividade econômica principal do cultivo de maçãs. No seu Estatuto Social (fl. 213), art. 3º, como objeto social são listadas as seguintes atividades: "(a) a produção agrícola e pastoril, a fruticultura e apicultura; (b) a criação de rebanhos de diversas espécies; (c) a indústria, o comércio, a importação e a exportação de produtos alimentícios, de produtos da agricultura, da fruticultura e da pecuária, inclusive derivados do leite; (d) a elaboração e execução de projetos e atividades de fruticultura, florestamento e reflorestamento; (e) a produção e comercialização de produtos agrícolas, sementes e mudas; e (f) a prestação de serviços inerentes a essas atividades." Importa ter em perspectiva referida atividade econômica desenvolvida pela Recorrida, pois ao se adotar o critério da pertinência, relevância e essencialidade para a definição do conceito de insumos, tais parâmetros devem ser analisados frente ao processo produtivo do Sujeito Passivo em referência. Fl. 291DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 10 9 A Fazenda Nacional, por meio de recurso especial, confronta o acórdão do recurso voluntário no que tange à possibilidade de tomada de créditos de PIS e COFINS não cumulativos pela Contribuinte decorrentes dos seguintes itens, divididos em dois grupos: (1) despesas com empilhadeiras; despesas com embalagem de transporte (material de embalagem); despesas com serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores; e (2) despesas com combustíveis e lubrificantes. Na perspectiva do conceito de insumos segundo o critério da pertinência, relevância e essencialidade ao processo produtivo, entendese não assistir razão à Recorrente quanto ao pedido de restabelecimento das glosas, pois as despesas em testilha têm relação direta com a atividade econômica principal da empresa contribuinte – o cultivo de maçãs. Para elucidar a assertiva, passase à análise individual dos bens e serviços: (a) despesas com empilhadeiras (aquisição de GLP e manutenção): no Relatório de Verificação Fiscal (fl.96), após visitas da Fiscalização à sede da empresa, foi consignado que as empilhadeiras são utilizadas para diversos fins: “descarregamento da fruta vinda dos pomares, carregamento/descarregamento da fruta nas câmaras frias, movimentação pelo packing (local onde a maçã é selecionada, limpada e embalada), bem como no carregamento das caixas de maçãs na saída dos produtos do estabelecimento”. Entendeu a Autoridade Fiscal que, ante a falta de segregação dos custos, despesas e respectivos créditos vinculados às empilhadeiras pela Contribuinte, não haveria direito ao crédito, por inexistência de previsão legal, já que as mesmas seriam utilizadas para “mero transporte da fruta dentro do processo produtivo (não há transformação ou ação direta sobre a maçã)” e, ainda, “após a finalização do processo produtivo, em suma, no início da operação de venda – carregamento da fruta na saída do estabelecimento (expedição)”. O entendimento da Fiscalização – que também é defendido pela Fazenda Nacional – é pautado pelo critério do conceito de insumos da legislação do IPI, exigindo o contato, desgaste, modificação do bem ou serviço no processo produtivo, bem como que o mesmo entre em contato com a mercadoria a ser produzida. No entanto, à luz da posição intermediária para definição do conceito de insumos, a utilização das empilhadeiras para o transporte das frutas nos pomares e para o seu carregamento na saída do estabelecimento, denota pertinência, relevância e essencialidade, com o processo produtivo do cultivo de maçãs. As empilhadeiras foram utilizadas pela Contribuinte na produção, ainda que de forma indireta, e se mostram indispensáveis à consecução do seu objeto social de produção e venda das maçãs. Além disso, não se pode imaginar que não conte a empresa com o auxílio de máquinas para o transporte do seu produto, em grandes quantidades, ao longo da produção e na saída para a venda, pois hipótese contrária inviabilizaria o próprio cultivo e escoamento da produção. Portanto, deve ser mantido o reconhecimento do direito ao crédito de PIS e COFINS nãocumulativos com relação às despesas com empilhadeiras (aquisição de GLP e manutenção). " (...)3 "(e) Conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes: 3 Não se transcreveu, do voto da relatora do processo paradigma, a parte que analisou o direito de crédito de insumos cujos entendimentos resultaram vencidos na votação, e que, portanto, não se aplicam à solução do presente litígio. Contudo, a íntegra do voto consta do Acórdão 9303007.304. Fl. 292DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 11 10 Com relação aos medicamentos e fertilizantes, têmse que deve ser reformada a decisão para excluílos da possibilidade de aproveitamento de créditos de PIS e COFINS não cumulativos. Isso porque, consoante apontado no Relatório de Verificação Fiscal, estavam sujeitos à alíquota zero na operação anterior de aquisição dos mesmos, possibilidade de crédito que foi afastada pelo próprio acórdão recorrido ao tratar do tópico específico da “alíquota zero”. Por essa razão, nesse ponto dáse provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional para restabelecer a glosa com relação aos medicamentos e fertilizantes." (...) "Com todo respeito ao voto da ilustre relatora, mas discordo de suas conclusões, quanto ao direito de se aproveitar créditos sobre despesas que não integram o custo do produto industrializado. A discussão gira em torno do conceito de insumos para fins do creditamento do PIS e da Cofins no regime da nãocumulatividade previsto nas Leis nº 10.637, de 2002, e nº 10.833, de 2003. Como visto, a relatora aplicou o entendimento, bastante comum no âmbito do CARF, de que para dar direito ao crédito basta que o bem ou o serviço adquirido seja essencial para o exercício da atividade produtiva por parte do contribuinte. É uma interpretação bastante tentadora do ponto de vista lógico, porém, na minha opinião não tem respaldo na legislação que trata do assunto. Confesso que já compartilhei em parte deste entendimento, adotando uma posição intermediária quanto ao conceito de insumos. Porém, refleti melhor, e hoje entendo que a legislação do PIS/Cofins traz uma espécie de numerus clausus em relação aos bens e serviços considerados como insumos para fins de creditamento, ou seja, fora daqueles itens expressamente admitidos pela lei, não há possibilidade de aceitálos dentro do conceito de insumo. O objeto de discussão no recurso da Fazenda Nacional, como bem relatado, referese ao aproveitamento de créditos assim separados: 1) Despesas com empilhadeiras 2) combustíveis e lubrificantes; 3) Bens diversos; 4) Materiais utilizados para embalagens de transporte; 5) Serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores; e 6) Conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes Porém, como já dito, adoto um conceito de insumos bem mais restritivo do que o conceito da necessidade e da essencialidade, adotado pelo voto vencido. Nesse sentido, importante transcrever o art. 3º das Lei nº 10.637/2002 e 10.833/2003, que trata das possibilidades de creditamento do PIS e da Cofins: Art. 3o Do valor apurado na forma do art. 2o a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados em relação a: (...) II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2o da Lei no 10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da Tipi; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) Fl. 293DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 12 11 III energia elétrica e energia térmica, inclusive sob a forma de vapor, consumidas nos estabelecimentos da pessoa jurídica; (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) IV aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa; V valor das contraprestações de operações de arrendamento mercantil de pessoa jurídica, exceto de optante pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte SIMPLES; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) VI máquinas, equipamentos e outros bens incorporados ao ativo imobilizado, adquiridos ou fabricados para locação a terceiros, ou para utilização na produção de bens destinados à venda ou na prestação de serviços; (Redação dada pela Lei nº 11.196, de 2005) VII edificações e benfeitorias em imóveis próprios ou de terceiros, utilizados nas atividades da empresa; VIII bens recebidos em devolução cuja receita de venda tenha integrado faturamento do mês ou de mês anterior, e tributada conforme o disposto nesta Lei; IX armazenagem de mercadoria e frete na operação de venda, nos casos dos incisos I e II, quando o ônus for suportado pelo vendedor. X valetransporte, valerefeição ou valealimentação, fardamento ou uniforme fornecidos aos empregados por pessoa jurídica que explore as atividades de prestação de serviços de limpeza, conservação e manutenção. (Incluído pela Lei nº 11.898, de 2009) XI bens incorporados ao ativo intangível, adquiridos para utilização na produção de bens destinados a venda ou na prestação de serviços. (...). 2o Não dará direito a crédito o valor: (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) I de mãodeobra paga a pessoa física; e (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) II da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição, inclusive no caso de isenção, esse último quando revendidos ou utilizados como insumo em produtos ou serviços sujeitos à alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela contribuição. (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) § 3o O direito ao crédito aplicase, exclusivamente, em relação: I aos bens e serviços adquiridos de pessoa jurídica domiciliada no País; II aos custos e despesas incorridos, pagos ou creditados a pessoa jurídica domiciliada no País; III aos bens e serviços adquiridos e aos custos e despesas incorridos a partir do mês em que se iniciar a aplicação do disposto nesta Lei. (...). Fl. 294DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 13 12 Ora, segundo estes dispositivos legais, somente geram créditos das contribuições os custos com bens e serviços utilizados como insumos na fabricação dos bens destinados a venda. Note que os dispositivos legais descrevem de forma exaustiva todas as possibilidades de creditamento. Fosse para atingir todos os gastos essenciais à obtenção da receita, não necessitariam ter sido elaborados desta forma, bastava um único artigo ou inciso. Não haveria necessidade de ter descido a tantos detalhes. No presente caso, é incontroverso que as referidas despesas são necessárias para a atividade econômica do contribuinte. Não discordo da conclusão do acórdão recorrido de que os gastos com aqueles bens e serviços estão vinculados às atividades econômicas do contribuinte. Mas o legislador restringiu a possibilidade de creditamento do PIS e da Cofins aos insumos utilizados na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda e na prestação de serviços. Portanto, considerando esse conceito de que os insumos devem ser utilizados diretamente na fabricação do produto destinado a venda, passemos à análise de cada item objeto do recurso especial. 1) Despesas com empilhadeiras (combustíveis e peças de manutenção) Nesse ponto só vou justificar as razões porque acompanhei a relatora pela possibilidade de tal creditamento. Verificase pelo relatório fiscal que essas empilhadeiras são usadas dentro do processo fabril de beneficiamento das maças, produto final do contribuinte. Ou seja, os combustíveis e as peças de manutenção, não ativáveis, são consumidas diretamente no processamento das maças, que são efetivamente os produtos destinados à venda. 2) Combustíveis e lubrificantes Na análise do direito ao crédito efetuada pela autoridade fiscal, foi negado o crédito nas aquisições de combustíveis não utilizados diretamente no processo produtivo. De acordo com a fiscalização a maior parte dos créditos pleiteados eram referentes a combustíveis e lubrificantes utilizados em tratores agrícolas. Em seu recurso voluntário, o contribuinte sustenta que o processo produtivo de maçãs é amplo e iniciase desde o cultivo da terra. Ou seja, um retorno ao conceito de essencialidade, não em relação à sua atividade produtiva direta, mas em relação à sua atividade econômica como um todo. Inclusive, como esclarecido no relatório da fiscalização, boa parte desses combustíveis eram levados ao ativo imobilizado pela própria empresa, em razão da vida útil dos pomares. Porém, como já frizado, as leis da não cumultatividade não trazem essa ampliação toda como pretende o contribuinte e como entende a ilustre relatora do presente voto. Como abordo no item seguinte, não há possibilidade legal do aproveitamento de créditos de insumos de insumos. 3) Bens Diversos Nessa rubrica, o acórdão recorrido negou o creditamento de vários itens e concedeu o crédito sobre alguns itens com a seguinte justificativa: Por sua vez, tomando por vista que a Interessada também é produtora de queijo e derivados do leite, e portanto necessita de todo um cuidado quanto ao gado, para que o produto comercializado e fornecido ao consumidor final seja de boa qualidade, despesas com materiais de limpeza e higienização, cerca para rebanhos e manutenção de laboratório dado seu contato direto com o produto e participação efetiva no processo produtivo devem ser aproveitadas pela empresa. Fl. 295DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 14 13 Não concordo com essa assertiva e não vejo que são insumos, da forma como genericamente descritos, utilizados no processo industrial do produto destinado a venda. O fato, por si só, de que ele tenha a atividade de produção de queijo e leite, significa concluir o seu uso diretamente em sua fase industrial. Notoriamente a cerca para rebanhos, além de não ser insumo, pois provavelmente deve ser um item do ativo imobilizado, jamais teria alguma utilidade direta na fabricação de queijo e leite. Da mesma forma, há que ser comprovado que as despesas com limpeza e higienização não se referem à fase pré industrial. Em que momento foram aplicadas essas despesas. Manutenção de laboratório, também é um termo muito genérico para ser acatado como despesas aplicadas no processo industrial. Importante relembrar que a legislação não prevê possibilidade de creditamento de insumos de insumos e esse colegiado tem tido o entendimento de que não é possível o creditamento de insumos utilizados na fase agrícola, ou préindustrial. 4) Materiais utilizados para embalagens de transporte Tomo da transcrição de trecho do voto da decisão recorrida, sobre que elementos está se discutindo tal creditamento. Constam na glosa itens como Cantoneiras – utilizadas para evitar o amassamento das caixas de papelão pelas amarras durante o transporte do produto; Pallets e seus acessórios – pregos e etiquetas – utilizados para o empilhamento de caixas para armazenamento e transporte; Fitas/Amarras – usadas para amarrar as caixas de papelão sobre os pallets. Observe que são todos itens utilizados após o encerramento do processo produtivo. São utilizados para acondicionamento de transporte da produção. Não discordo da conclusão do acórdão recorrido de que o uso da embalagem é essencial para a preservação das características dos seus produtos, durante o transporte até os pontos de venda. Penso inclusive, que em maior ou menor grau, a depender do produto final, esta é a finalidade mesmo da embalagem de transporte. Mas o legislador restringiu a possibilidade de creditamento do PIS e da Cofins aos insumos utilizados na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda. Portanto após o encerramento do processo produtivo não é possível tal creditamento, a não ser nas hipóteses expressamente previstas na legislação, a exemplo do aproveitamento do crédito do frete na operação de venda (situação excepcionada expressamente pela Lei) ou alguém seria capaz de dizer que o frete na operação de venda, suportado pelo contribuinte, não é um item essencial à sua atividade econômica. Se bastasse isso não seria necessária a excepcionadade constante da Lei. 5) Serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores. Pela característica dos bens, evidente que sua utilização é feita na etapa pré industrial. Na manutenção das lavouras que faz parte da etapa agrícola, em relação aos quais nego provimento pelas mesmas razões do item 3, supra analisado. 6) Conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes Em relação aos itens medicamentos e fertilizantes manifesto minha concordância com o voto da ilustre relatora que neste ponto proveu o recurso especial da Fazenda Nacional. Em relação aos demais confirmo o entendimento do colegiado de que sobre tais itens não há previsão legal para autorizar o creditamento, por fugirem do conceito legal de insumos estabelecido pela legislação de regência. Como dito nos itens 3 e 5 anteriores, tratamse de despesas relevantes para atividade econômica do contribuinte, porém aplicadas nas fases antecendentes ao processo produtivo propriamente dito. Fl. 296DF CARF MF Processo nº 11020.003732/200986 Acórdão n.º 9303007.309 CSRFT3 Fl. 15 14 Diante do exposto, voto por dar parcial provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional, para reestabelecer as glosas de crédito em relação aos seguintes itens: (i) bens diversos, (ii) combustíveis e lubrificantes (iii) embalagem de transporte, (iv) serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores e (v) conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, o recurso especial da Fazenda Nacional foi conhecido e, no mérito, o colegiado deulhe provimento parcial, para reestabelecer as glosas de crédito em relação aos seguintes itens: (i) bens diversos, (ii) combustíveis e lubrificantes (iii) embalagem de transporte, (iv) serviços de manutenção de máquinas, tratores, retroescavadeiras e pulverizadores e (v) conservação de sêmen, manutenção de laboratório e ordenhadeiras, bem como medicamentos e fertilizantes. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Fl. 297DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 15922.000038/2008-13
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Sep 13 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Oct 09 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2000 a 30/06/2005
JUROS SELIC. INCIDÊNCIA SOBRE OS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS ADMINISTRADOS PELA RFB.
A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais (Súmula CARF nº 4)..
MULTA CARÁTER CONFISCATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
Não pode a autoridade fiscal ou mesmo os órgãos de julgamento administrativo afastar a aplicação da multa legalmente prevista, sob a justificativa de que tem caráter confiscatório.
ALEGAÇÃO DESPROVIDA DE PROVA. COMPENSAÇÃO.
Cabe ao recorrente fazer prova de eventual direito creditório a afetar o lançamento tributário.
Numero da decisão: 2301-005.619
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado: (a) por unanimidade de votos, não conhecer das alegações de inconstitucionalidade de lei, para, na parte conhecida, (b) pelo voto de qualidade, negar provimento ao recurso voluntário; vencidos os conselheiros Marcelo Freitas de Souza Costa (relator), Wesley Rocha, Alexandre Evaristo Pinto e Juliana Marteli Fais Feriato. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro João Maurício Vital.
(assinado digitalmente)
João Bellini Junior- Presidente.
(assinado digitalmente)
Marcelo Freitas de Souza Costa - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Marcelo Freitas de Souza Costa, Reginaldo Paixão Emos, Wesley Rocha, João Maurício Vital, Juliana Marteli Fais Feriato, Antônio Sávio Nastureles e Alexandre Evaristo Pinto.
Nome do relator: MARCELO FREITAS DE SOUZA COSTA
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/01/2000 a 30/06/2005 JUROS SELIC. INCIDÊNCIA SOBRE OS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS ADMINISTRADOS PELA RFB. A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais (Súmula CARF nº 4).. MULTA CARÁTER CONFISCATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Não pode a autoridade fiscal ou mesmo os órgãos de julgamento administrativo afastar a aplicação da multa legalmente prevista, sob a justificativa de que tem caráter confiscatório. ALEGAÇÃO DESPROVIDA DE PROVA. COMPENSAÇÃO. Cabe ao recorrente fazer prova de eventual direito creditório a afetar o lançamento tributário.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado: (a) por unanimidade de votos, não conhecer das alegações de inconstitucionalidade de lei, para, na parte conhecida, (b) pelo voto de qualidade, negar provimento ao recurso voluntário; vencidos os conselheiros Marcelo Freitas de Souza Costa (relator), Wesley Rocha, Alexandre Evaristo Pinto e Juliana Marteli Fais Feriato. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro João Maurício Vital. (assinado digitalmente) João Bellini Junior- Presidente. (assinado digitalmente) Marcelo Freitas de Souza Costa - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Marcelo Freitas de Souza Costa, Reginaldo Paixão Emos, Wesley Rocha, João Maurício Vital, Juliana Marteli Fais Feriato, Antônio Sávio Nastureles e Alexandre Evaristo Pinto.
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INCIDÊNCIA SOBRE OS DÉBITOS TRIBUTÁRIOS ADMINISTRADOS PELA RFB. A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais (Súmula CARF nº 4).. MULTA CARÁTER CONFISCATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE DE DECLARAÇÃO PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Não pode a autoridade fiscal ou mesmo os órgãos de julgamento administrativo afastar a aplicação da multa legalmente prevista, sob a justificativa de que tem caráter confiscatório. ALEGAÇÃO DESPROVIDA DE PROVA. COMPENSAÇÃO. Cabe ao recorrente fazer prova de eventual direito creditório a afetar o lançamento tributário. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado: (a) por unanimidade de votos, não conhecer das alegações de inconstitucionalidade de lei, para, na parte conhecida, (b) pelo voto de qualidade, negar provimento ao recurso voluntário; vencidos os conselheiros Marcelo Freitas de Souza Costa (relator), Wesley Rocha, Alexandre Evaristo Pinto e Juliana Marteli Fais Feriato. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro João Maurício Vital. (assinado digitalmente) AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 92 2. 00 00 38 /2 00 8- 13 Fl. 303DF CARF MF 2 João Bellini Junior Presidente. (assinado digitalmente) Marcelo Freitas de Souza Costa Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Bellini Junior, Marcelo Freitas de Souza Costa, Reginaldo Paixão Emos, Wesley Rocha, João Maurício Vital, Juliana Marteli Fais Feriato, Antônio Sávio Nastureles e Alexandre Evaristo Pinto. Relatório Tratase de Auto de Infração lavrado contra o contribuinte acima identificado, consubstanciado na Notificação Fiscal de Lançamento de Débito (NFLD) nº 35.889.5669, lavrado em 13/03/2006, que constituiu crédito tributário relativo a contribuições previdenciárias, parte da empresa e de contribuintes individuais, adicional para o financiamento dos benefícios concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrentes dos riscos ambientais do trabalho(GILRAT/SAT), contribuições de terceiros e acréscimos legais, incidentes sobre diferenças de remunerações apuradas por batimento entre GFIP e outros documentos. Após a impugnação, o lançamento foi julgado procedente através da DECISÃONOTIFICAÇÃO n° 21.426.4/0259/2006, que restou assim ementada: CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS PATRONAIS DECLARADAS EM GFIP, ACRESCI DaS DE JUROS E MULTA. COMPENSAÇÃO. RESPEITO AOS CRITÉRIOS ESTABELECIDOS EM LEI E EM DECISÃO JUDICIAL. A empresa é obrigada a recolher as contribuições incidentes sobre a remuneração dos seus segurados empregados e contribuintes individuais, com valores declarados em GFIPs, no prazo legal, de acordo com os fundamentos legais descritos, por período, em relatório especifico integrante do processo. Os valores declarados em GFIP servem como base de cálculo das contribuições arrecadadas pelo Instituto Nacional do Seguro Social, compõem a base de dados para fins de cálculo e concessão dos benefícios previdenciários, bem como se constituem em termo de confissão de divida na hipótese de não recolhimento JUROS E MULTA As contribuições sociais arrecadadas em atraso ficam sujeitas aos juros equivalentes 6 taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e de Custodia SELIC a que se refere o artigo 13 da Lei 9.065/95, incidentes sobre o valor atualizado, e multa de mora , todos de caráter irrelevável. LANÇAMENTO PROCEDENTE Inconformada com referida decisão a autuada apresentou recurso a este conselho onde alegou em síntese: Que o recurso ora interposto em face no lançamento efetuado na NFLD acima descrita, seja analisado em conjunto com o recurso que será apresentado em face do Fl. 304DF CARF MF Processo nº 15922.000038/200813 Acórdão n.º 2301005.619 S2C3T1 Fl. 304 3 lançamento procedido na NFLD 35.889.5650 (parte do segurado), pois, os períodos, supostos fatos geradores e documentos comprobatórios são os mesmos. Sustenta que a Auditora Fiscal do INSS não considerou em seu levantamento, em que pesem tenham sido apresentadas todas as GPS recolhidas no período de janeiro de 2000 a agosto de 2001, as compensações de tributos pagos a maior ou indevidamente, compensações estas autorizadas por decisões proferidas nos autos dos processos judiciais n. 1999.61.05.0105495 (Ação Declaratória), da 2 a . Vara da Justiça Federal de Campinas, relativo às contribuições previdenciárias incidentes sobre a remuneração de autônomos, administradores e avulsos, ação julgada procedente, por ser totalmente inconstitucional a exigência daquele tributo no período questionado naqueles autos; e, também, as compensações efetuadas através do processo n. 1999.61.05.0140860 (Ação Declaratória), da 3 a . Vara da Justiça Federal de Campinas, relativo ao SAT Seguro de Acidente de Trabalho, cuja ação também foi julgada procedente, uma vez que o TRF da 3 a • Região reconheceu a inexigibilidade do SAT e autorizou a Recorrente em efetuar a compensação do indébito. No que diz respeito aos juros, como descrito na NFLD lavrada pelos Auditores Fiscais, os mesmos foram cobrados com base na TRD, Taxa Selic, de forma ilegal e inconstitucional, uma vez que cumulativos; Os autos vieram para julgamento junto a este conselho e foram convertidos em diligência através da Resolução 2301000.423 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária para que a autoridade fiscal esclarecesse " se foram, ou em que medida foram, consideradas no lançamento as compensações suscitadas pela recorrente. Caso não tenham sido consideradas as compensações, as justificativas para tanto devem ser apontadas. Por fim, solicitamos seja atestado o efetivo pagamento das guias apresentadas para amparar as compensações." Em resposta à diligência solicitada vieram as informações de efls. 265 e sgts. Às efls. 277/278 vem o Termo de Constatação Fiscal dando conta da impossibilidade de cientificação da recorrente ou seus representantes legais para dar ciência da diligência realizada, bem como as informações às fls. 298. É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Marcelo Freitas de Souza Costa Relator O recurso é tempestivo e estão presentes os pressupostos de admissibilidade. DAS PRELIMINARES SELIC Ilegalidade e Inconstitucionalidade Sobre esse tema, notese que o escopo do processo administrativo fiscal é verificar a regularidade/legalidade do lançamento à vista da legislação de regência, e não das normas vigentes frente à Constituição Federal. Essa tarefa é de competência privativa do Poder Judiciário. Fl. 305DF CARF MF 4 O Decreto n.º 70.235/1972, que rege o processo administrativo fiscal no âmbito da União, prescreve: Art. 26A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade.(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) Nessa linha de entendimento, a própria Portaria MF nº 256, de 22/06/2009, que aprovou o Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, é por demais enfática neste sentido, impossibilitando, regra geral, o afastamento de tratado, acordo internacional, lei ou decreto, a pretexto de inconstitucionalidade, nos seguintes termos: Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo: I que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão plenária definitiva do Supremo Tribunal Federal; ou II que fundamente crédito tributário objeto de: a) dispensa legal de constituição ou de ato declaratório do ProcuradorGeral da Fazenda Nacional, na forma dos arts. 18 e 19 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; b) súmula da AdvocaciaGeral da União, na forma do art. 43 da Lei Complementar nº 73, de 1993; ou c) parecer do AdvogadoGeral da União aprovado pelo Presidente da República, na forma do art. 40 da Lei Complementar nº 73, de 1993. Ademais, a possibilidade da utilização, a partir de 1º de abril de 1995, da taxa Selic para cálculo dos juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal é tema da Súmula 04 deste CARF, de utilização compulsória: Súmula CARF nº 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia – SELIC para títulos federais. DO MÉRITO Como já dito no relatório, os autos foram baixados em diligência para que a autoridade fiscal informasse acerca da consideração das compensações alegadas pela recorrente e, em caso negativo, as justificativas para tanto. Em resposta, vieram as informações de que o procedimento adotado neste lançamento foi o de cobrança das divergências apuradas no batimento GFIPxGPS. Fl. 306DF CARF MF Processo nº 15922.000038/200813 Acórdão n.º 2301005.619 S2C3T1 Fl. 305 5 Que por serem as GFIP's documentos declaratórios que se constituem em Instrumento de Confissão de Dívida e como nelas não foram declaradas compensações e nem foram apresentadas Retificadoras durante a ação fiscal, não foram considerados no lançamento as compensações suscitadas. Já em relação a atestar o efetivo pagamento das guias apresentadas para amparar as compensações, adveio a informação de efls. 298, confirmando em seu item 4.1b) o efetivo pagamento das guias utilizadas pela fiscalização na apuração do débito: constatados recolhimentos efetuados no período incluído no Auto de Infração (fls. 292/297). Como visto acima, do cumprimento da diligência solicitada por esta Câmara, restou comprovado o recolhimento relativo às compensações o que faz com que o lançamento seja cancelado. Ante ao exposto, Voto no sentido de CONHECER PARCIALEMENTE DO RECURSO, Rjeitar as preliminares e no mérito darlhe provimento. (assinado digitalmente) Marcelo Freitas de Souza Costa Voto Vencedor Divirjo do relator quanto ao provimento do recurso voluntário porque, ao meu ver, não restou provado que o recorrente teria algum crédito a compensar com o crédito tributário lançado, como alega. Tratase de lançamento baseado em divergências entre os valores declarados em Gfip e os valores efetivamente recolhidos a título de previdência social. Em seu recurso, a apelante sustentou que teria efetuado as compensações de acordo com decisões proferidas nos processos judiciais nºs 1999.61.05.0105495 e 1999.61.05.0140860 e afirmou, ainda, ter juntado dos feitos ao seu apelo. Entretanto, não há nenhum documento que comprove a existência de tais ações ou, muito menos, o teor das decisões judiciais. Como se sabe, na Gfip existe o campo adequado para a informação de valores eventualmente compensados, inclusive com a indicação da origem dos créditos. Ora, se o contribuinte informou corretamente seus indébitos nas Gfip do período, nada mais haveria para compensar, pois o presente lançamento partiu do valor devido declarado, ou seja, já após eventuais compensações. Ainda assim, o contribuinte teve pelo menos duas oportunidades de apresentar provas de que as referidas ações judiciais lhe dariam o direito de efetuar compensações que não estivessem declaradas nas Gfip. Entretanto, não se desincumbiu de comprovar o que alegou. Em busca da verdade material, o colegiado que primeiro analisou o processo no Carf baixou o feito em diligência para que a unidade preparadora novamente tentasse obter, junto ao recorrente, os documentos que permitissem a análise de eventual compensação a Fl. 307DF CARF MF 6 influir no crédito tributário lançado. A diligência foi infrutífera porque nenhum dos responsáveis pela empresa recorrente foi localizado nos respectivos domicílios fiscais. De fato, como apontou o relator, há prova de recolhimentos antigos que, em tese, poderiam se constituir em indébitos. Porém, não há qualquer prova do direito de compensar e muito menos elementos que permitam calcular a parte em tese compensável de cada pagamento. Ora, alegar e não provar é o mesmo que não alegar. Caberia à recorrente fazer prova do direito de compensação que alegou ter para que, assim, pudesse ser afastado o lançamento que, destaquese, foi baseado exclusivamente nas declarações do próprio contribuinte apresentadas em Gfip. Sem o teor das alegadas decisões judiciais em seu favor, não é possível sequer mensurar o quantum compensável. É como voto. (assinado digitalmente) João Maurício Vital Redator designado Fl. 308DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 12466.000913/2008-01
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 29 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Sep 27 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 10/03/2008
IMPORTAÇÃO. DANO AO ERÁRIO. OCULTAÇÃO DO REAL ADQUIRENTE. PENA DE PERDIMENTO CONVERTIDA EM MULTA.
Considera-se dano ao Erário à ocultação do real sujeito passivo na operação de importação, infração punível com a pena de perdimento, que é convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro, caso as mercadorias não sejam localizadas ou tenham sido consumidas.
AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE.
Somente ensejam a nulidade os atos e termos lavrados por pessoa incompetente e os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa.
Numero da decisão: 3302-005.783
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Fenelon Moscoso de Almeida - Presidente Substituto
(assinado digitalmente)
Jorge Lima Abud - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimaraes, Jose Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior, Raphael Madeira Abad e Fenelon Moscoso de Almeida. Ausente justificadamente o conselheiro Paulo Guilherme Déroulède.
Nome do relator: JORGE LIMA ABUD
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camara_s : Terceira Câmara
ementa_s : Assunto: Processo Administrativo Fiscal Data do fato gerador: 10/03/2008 IMPORTAÇÃO. DANO AO ERÁRIO. OCULTAÇÃO DO REAL ADQUIRENTE. PENA DE PERDIMENTO CONVERTIDA EM MULTA. Considera-se dano ao Erário à ocultação do real sujeito passivo na operação de importação, infração punível com a pena de perdimento, que é convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro, caso as mercadorias não sejam localizadas ou tenham sido consumidas. AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. Somente ensejam a nulidade os atos e termos lavrados por pessoa incompetente e os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa.
turma_s : Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Fenelon Moscoso de Almeida - Presidente Substituto (assinado digitalmente) Jorge Lima Abud - Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimaraes, Jose Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior, Raphael Madeira Abad e Fenelon Moscoso de Almeida. Ausente justificadamente o conselheiro Paulo Guilherme Déroulède.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 68; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1402; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S3C3T2 Fl. 2 1 1 S3C3T2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS TERCEIRA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 12466.000913/200801 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 3302005.783 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária Sessão de 29 de agosto de 2018 Matéria INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS Recorrente GAMA SERVIÇOS E NEGÓCIOS LTDAME Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 10/03/2008 IMPORTAÇÃO. DANO AO ERÁRIO. OCULTAÇÃO DO REAL ADQUIRENTE. PENA DE PERDIMENTO CONVERTIDA EM MULTA. Considerase dano ao Erário à ocultação do real sujeito passivo na operação de importação, infração punível com a pena de perdimento, que é convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro, caso as mercadorias não sejam localizadas ou tenham sido consumidas. AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. Somente ensejam a nulidade os atos e termos lavrados por pessoa incompetente e os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Fenelon Moscoso de Almeida Presidente Substituto (assinado digitalmente) Jorge Lima Abud Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 46 6. 00 09 13 /2 00 8- 01 Fl. 6040DF CARF MF 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Orlando Rutigliani Berri (Suplente convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimaraes, Jose Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Junior, Raphael Madeira Abad e Fenelon Moscoso de Almeida. Ausente justificadamente o conselheiro Paulo Guilherme Déroulède. Relatório Trata o presente processo de auto de infração, lavrado em 10/03/2008, formalizando a exigência de multa equivalente ao valor aduaneiro (100%) no valor de R$ 962.299,00, pelos fatos descritos a seguir. Conforme documentos em anexo (anexos 01), inicialmente recebemos correspondência da Delegacia da Receita Federal no Chuí, onde a mesma nos comunica que apurou irregularidades em operações de comércio exterior realizada pela fiscalizada. Tais irregularidades caracterizavamse em importações realizadas em valores bem superiores aos limites permitidos para a empresa e em pagamentos irrisórios de imposto de renda em relação ao expressivo volume de importações. Também foi detectada incompatibilidade econômico financeira da empresa para realizar as operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados. Em sua correspondência, aquela delegacia nos propõe que seja revisada a habilitação da empresa no RADAR, bem como nos propõe a inclusão da mesma em procedimento especial. Posteriormente, recebemos EMAIL da Inspetoria da Receita Federal em Florianópolis informandonos que ao se analisar duas Declarações de Importações (Dls) registradas pela auditada naquela inspetoria, e por meio de consultas efetuadas no sistema RADAR, foram identificados indícios de prática de irregularidades nas referidas operações, em especial de interposição fraudulenta. Em uma das importações, observouse a existência de etiquetas com o CNPJ da empresa Kinsberg Comércio Importação e Exportação de Tecidos LTDA, a qual encontravase com o seu CNPJ suspenso em virtude de prática de irregularidades em operações de comércio exterior. Em consultado sistema RADAR, a Inspetoria de Florianópolis verificou que .a empresa Kinsberg Comércio Importação e Exportação de Tecidos LTDA possuía uma série de registros de procedimentos especiais abertos, inclusive relativos a prática de ocultação do verdadeiro adquirente das . mercadorias importadas, sendo mencionadas, ainda, importações de produtos cujas marcas têm como representante no Brasil a empresa DASLU. Pelas irregularidades apuradas, a Inspetoria de Florianópolis nos propôs que a empresa fosse incluída em procedimento especial. Cabe ressaltar que a empresa Kinsberg foi declarada inapta ao final do procedimento especial, conforme documento em anexo. Também foi recebido da Alfândega do Rio de Janeiro correspondência com proposta de inclusão da empresa em procedimento especial em virtude das seguintes razões: (a) empresa com sede em Vitória/ES; (b) sócios da empresa domiciliados em São Paulo; (c) Declaração do Imposto de Renda dos sócios incompatível com o aumento de capital registrado em 2005 (o capital social saltou de R$ 60.000,00 para R$ 1.560.000,00); (d) falta de capacidade econômicofinanceira da empresa para realizar as operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados; (e) indícios de interposição fraudulenta nas operações de comércio exterior realizadas. Fl. 6041DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 3 3 Conforme determinado pelo Sr. Chefe do Serviço de Fiscalização Aduaneira (SEFIA) da Alfândega do Porto de Vitória, e conforme relatório em anexo, no mês de fevereiro/06 realizamos diligência na empresa, onde foi detectada a falta de capacidade econômicofinanceira da mesma para a realizar as suas operações de comércio exterior, bem como foi detectado que a fiscalizada havia ultrapassado o limite de importações previsto em nossa base de dados. Na referida diligência, após examinarmos as Declarações do Imposto de Renda dos sócios, também foi constatada a falta de capacidade financeira dos sócios para a integralização do Capital Social de R$ 1.500.000,00. Desta forma, foi proposto que a empresa fosse incluída em procedimento especial com base na IN/SRF n° 228/02 e com base na IN/SRF n2 455/04 (art. 14). Acatada a proposta, no dia 11 de maio de 2006 iniciamos o procedimento especial na empresa, conforme MPF e Termo de Início de Fiscalização em anexo (anexos 02). Após recebermos os documentos, iniciamos a análise econômica da auditada. Nessa análise, verificamos nos contratos sociais, que em 28 de março de 2005 houve uma alteração contratual, passando o Capital Social de R$ 60.000,00 para R$ 1.560.000,00 com integralização de R$ 800.000,00 oriundos da conta “Lucros Acumulados e R$ 700.000,00 para ser integralizado pelos sócios no prazo de 24 (vinte e quatro) meses. Posteriormente, em 25 de agosto de 2005, nova alteração contratual foi realizada, passando o Capital Social de R$ 1.560.000,00 para R$ 3.000.000,00 sendo que a diferença (R$ 1.440.000,00) seria integralizada pelos sócios em 05 (cinco) parcelas. Entretanto, ao analisarmos as contas representativas do Patrimônio Líquido (anexos 03), verificamos que a conta referente à distribuição de lucros aos sócios possuía, além dos pagamentos referentes às distribuições de lucros, vários outros registros referentes a outros pagamentos, tais como: (a) pagamento de empréstimos aos sócios; (b) adiantamentos aos sócios; (c) adiantamentos a empregados; (d) pagamento de despesas a terceiros; (e) pagamento de 13a salário. Notamos, também, que os lançamentos referentes à integralização do Capital Social por parte dos sócios, realizados no dia 30 de novembro de 2005, no valor total de R$ 740.000,00, não ocorreu, já que o registro contábil utilizado debita a conta referente a distribuição de lucros e credita a conta referente a capital a realizar. Tal lançamento, na verdade, é um artifício contábil não significando, portanto, o ingresso de recursos monetários na empresa. Desta forma, no quadro abaixo apresentado, o referido valor (R$ 740.000,00) não foi considerado para apuração dos valores do Patrimônio Líquido. Conforme se verifica, é total a falta de capacidade econômica da empresa para realizar as operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados. Analisandose o Balanço Patrimonial e o Balancete de Verificação, não localizamos nenhuma conta que indicasse a existência de empréstimos obtidos pela empresa para que a mesma pudesse realizar as expressivas importações evidenciadas no demonstrativo acima. Ainda analisandose as referidas peças contábeis, observamos que não existia a conta fornecedores (indicativo de compras a prazo). Entretanto, notamos a existência no passivo da conta Câmbio Exterior Próprio com a realização de expressivos pagamentos. Desta forma, ficou caracterizada a falta de capacidade econômica da fiscalizada para a realização das operações de comércio exterior registradas em nossa base de dados. Conforme determina o artigo 27 da Lei 10.637 de 30 de dezembro de 2002, “A operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro presumese por conta e ordem deste, para fins de aplicação do disposto nos arts. 77 a 81 da Medida Provisória na 2.15835, de 24 de agosto de 2001". Entretanto, a empresa utilizouse da simulação, já que em todas as operações de comércio exterior ela registrou as importações como se fossem próprias e emitiu nota fiscal de saída de vendas. Tal simulação foi utilizada com a finalidade de usufruir o benefício fiscal proporcionado pelo Estado do Espírito Santo, Fl. 6042DF CARF MF 4 por ser empresa atacadista, conforme documento em anexo (anexos 14), e por realizar operações interestaduais. Tal benefício fiscal caracterizase por um crédito presumido de 11% (onze por cento). A existência de tal simulação provoca danos ao Erário Estadual onde estão localizados os reais adquirentes das mercadorias, já que os reais adquirentes poderão creditar se de 12% (doze por cento) do ICMS ao darem entrada nas mercadorias em seus estabelecimentos e a fiscalizada, ao final, pagará somente 1% (um por cento) de ICMS ao Estado do Espírito Santo, em virtude do benefício fiscal citado. A Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda, ao registrar as importações como se fossem próprias, burla a legislação e aufere vantagens indevidas, as quais também são usufruídas pelos reais adquirentes das mercadorias importadas. A utilização de tal simulação contraria a Constituição Federal, já que a mesma dispõe em seu artigo 155, § 2a, inciso IX, alínea "a”, que o ICMS devido na entrada de mercadoria procedente do exterior cabe ao Estado em que estiver situado o estabelecimento destinatário da mercadoria. Assim, chegase à conclusão de que o estabelecimento principal ou matriz da Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda está localizado na cidade de São Paulo, pois, como se verifica por meio das Declarações de Imposto de Renda dos sócios (anexos 14), os mesmos sempre residiram naquela cidade. Durante o curso da fiscalização, também percebemos que daquela cidade são emanadas as ordens e instruções dos sócios para que sejam realizadas as operações da fiscalizada, administrandoa, assim, diretamente de São Paulo. Esquadrinhandose a nossa base de dados de 01/01/04 até 31/12/06, capturase que todas as mercadorias importadas foram desembaraçadas em recintos alfandegados situados fora do Estado do Espírito Santo, conforme se verifica no demonstrativo “RECINTOS DE DESEMBARAÇOS” (anexos 14). Por fim, cabe destacar que, embora a fiscalizada esteja cadastrada junto à Secretaria de Estado de Fazenda do Espírito Santo como empresa atacadista, ela nunca possuiu no Espírito Santo um galpão para estocagem de mercadorias, conforme se verifica nos contratos sociais. Assim sendo, vêse que, ao se nomear a cidade de Vitória/ES como sede da empresa, tal postura foi mais uma simulação maquinada para se obter os benefícios fiscais proporcionados pelo Estado do Espírito Santo. Ou seja, na presente fiscalização os reais adquirentes das mercadorias importadas são contribuintes do IPI. Assim sendo, a fiscalizada ao simular que ela é a adquirente das mercadorias importadas, deixando de registrar as operações como por conta e ordem, descaracteriza os reais adquirentes das mercadorias importadas da condição de equiparados a estabelecimento industrial, fazendo com que os mesmos deixem de ser contribuintes do IPI. Desta forma, o valor do IPI recolhido pela fiscalizada é bem menor do que aquele que deveria ser recolhido pelos reais adquirentes das mercadorias importadas, já que, ao simular a emissão da nota fiscal de venda, a fiscalizada a emite por um valor que é praticamente igual àquele constante na nota fiscal de entrada, quando o valor real do IPI a ser recolhido seria aquele que incidiría sobre o valor total da operação de venda das mercadorias realizadas pelos reais adquirentes aos seus clientes finais. Em sendo optante do SIMPLES, o contribuinte não poderá se apropriar de créditos relativos ao IPI. Conforme se pode observar nos documentos ora abojados que foram extraídos de nossa base de dados (anexos 14), existem diversas empresas participantes do SIMPLES que utilizaram a fiscalizada para realizar as suas importações. Assim, os valores do IPI creditados pela fiscalizada, em relação às importações de tais empresas, é mais um dano provocado à União. Fl. 6043DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 4 5 Por fim, também se verifica que a simulação adotada pela fiscalizada causa dano ao Erário Federal na apuração do PIS/PASEP e da COFINS incidentes na importação. Pela Lei Nfl 10.865 de 30/04/04, as empresas tributadas pelo Lucro Real poderão creditarse do valor recolhido na importação referente a tais contribuições, abatendo tal valor quando da apuração do PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre a receita bruta apurada na venda de produtos no mercado interno. A recuperação do PIS/PASEP e da COFINS incidentes na importação, entretanto, não poderá ser utilizada pelas empresas tributadas pelo Lucro Presumido e pelo SIMPLES. Conforme se pode observar no documento citado no item anterior, existem diversas empresas que são tributadas pelo Lucro Presumido e pelo SIMPLES que utilizaram a fiscalizada para realizar as suas importações. Assim, os valores do PIS/PASEP e da COFINS creditados pela fiscalizada, em relação às importações de tais empresas, é mais um dano provocado ao Erário Federal. Por tudo que foi exposto, fica caracterizado o dano ao Erário, já que a Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda não é a real adquirente das mercadorias importadas, devendose, assim, ser aplicado o disposto no artigo 23, inciso V (e seus parágrafos) do DecretoLei 1.455 de 07 de abril de 1976, com as modificações introduzidas pela Lei 10.637 de 30 de dezembro de 2002 (conversão da Medida Provisória N°. 66 de 29 de agosto de 2002). Cientificadas, a empresa Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda e a devedora solidária empresa Diplomat do Brasil Comércio de Artigos para Presentes Ltda apresentaram impugnação, alegando, em síntese: ü Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda fls. 1.128 a 1.134, acompanhada dos documentos de fls. 1.135 a 1.173. ü Em 11 de maio de 2006, iniciouse contra a impugnante o procedimento especial de fiscalização previsto na IN 228/02; ü Utilizandose de seu direito de defesa previsto na própria IN, apresentou contraposição, rechaçando tudo que fora levantado pelo Auditor Fiscal; ü No dia 7 de janeiro/2008, através do comunicado SECAT/ALF/PORTO VITÓRIA N° 001, chegou ao conhecimento da impugnante o despacho do Sr. Inspetor a respeito do Parecer n° 991/07, o qual expressamente declarou ser aquela representação totalmente insubsistente tomandoa nula; ü Os autos de infração não estavam numerados, dificultando a identificação de cada um deles no comprot e que não contavam com a assinatura do chefe do setor responsável, conforme previsto no art. 11 do Decreto n° 70.235/72; ü Através da decisão exarada no Parecer n° 991/07, acabouse com a possibilidade de prosperar qualquer infração porventura levantada por tal relatório. Requer, por fim, seja o auto de infração declarado nulo e insubsistente, bem como seja determinada a anulação das respectivas Representações Penais. Fl. 6044DF CARF MF 6 Diplomat do Brasil Comércio de Artigos para Presentes Ltda — fls. 1.174 a 1.178, acompanhada dos documentos de fls. 1.179 a 1.197. ü Não é parte legítima para figurar no pólo passivo da obrigação tributária; ü A impugnante comprou mercadorias nacionalizadas da empresa autuada; ü A impugnante é terceiro de boafé. Requer seja reconhecida à inexistência da solidariedade, declarandose insubsistente o presente auto de infração. Em 19 de setembro de 2008, através do Acórdão n° 0714.074, a 2a Turma da Delegacia Regional de Julgamento de Florianópolis (SC), por maioria de votos, considerou procedente o lançamento, mantendo o crédito tributário exigido. Entendeu a Turma que: ü O Auto de Infração foi lavrado por servidor competente e não ocorreu a hipótese de cerceamento do direito de defesa. Se a autoridade administrativa cumpriu todos os preceitos da legislação em vigor, constando a perfeita descrição do fato e os dispositivos legais infringidos, como se verifica nos autos, não procede o argumento de que o Auto de Infração constante no processo é nulo; ü Quanto à alegação de descumprimento de requisito estabelecido no art. 11 do PAF (assinatura do Chefe do Órgão), mister se faz esclarecer que o lançamento em tela foi formalizado por meio de auto de infração (art. 10 do referido Decreto) e não por notificação de lançamento; ü Importante registrar, por oportuno, que a apuração dos fatos e as provas concernentes ao presente processo são autônomas em relação àquelas que embasaram o Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/ALFÂNDEGA/PORTO DE VITÓRIA; ü Compulsando as peças que compõem o processo, verificase que a autoridade fiscal carreou aos autos elementos que indicam uma ocultação do real adquirente; ü Por sua vez, a empresa Diplomat do Brasil Comércio de Artigos para Presentes Ltda baseou sua defesa no argumento de que o lançamento estaria assentado em meras suposições, desprovidas de qualquer comprovação material, que as operações foram de venda e compra, que é terceiro de boafé e que não tem conhecimento de qualquer irregularidade que possa ter sido detectada na empresa “Gama”; ü É importante ressaltar que, ainda que os referidos elementos apresentem um caráter de prova indireta, é inequívoca a necessidade de que a interessada, ao contraditar, demonstre não ser a real importadora das mercadorias em questão através das razões e provas que possuir; Fl. 6045DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 5 7 ü Quanto à empresa Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda, esta construiu sua defesa argüindo a nulidade do auto de infração por inobservância ao art. 11 do Decreto n° 70.235/72 (assinatura do Chefe do Órgão) e no entendimento de que não seria possível a presente autuação em razão da conclusão do Parecer SEORT/ALF/Porto de Vitória n° 991/07 que tomou sem efeito a representação para a caracterização da declaração de inaptidão, temas estes já tratados anteriormente; ü Da análise da legislação sobre o tema em tela, acima transcrita, concluise que a mercadoria importada nas condições previstas no inciso V do artigo 23 do DecretoLei n° 1.455/76 caracteriza a infração de “dano ao erário”, sendo a mesma punida com a pena de perdimento que será convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria quando esta não for localizada ou se a mesma for consumida; ü Configurase a interposição fraudulenta toda vez que uma pessoa, física ou jurídica, apresentase como responsável por uma operação que não realizou, se interpondo entre determinada parte (no caso o fisco) e outra (no caso, o verdadeiro sujeito passivo responsável pela promoção da entrada da mercadoria no Território Nacional). A empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 20/10/2008 (folhas 2.435). A empresa DIPLOMAT DO BRASIL COMÉRCIO DE ARTIGOS PARA PRESENTES LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 22/10/2008 (folhas 2.438). A Diplomat do Brasil Comércio de Artigos para Presentes Ltda apresentou recurso, em 19/11/2008 (folhas 2.440), pugnando pela nulidade/improcedência do auto de infração ou pela aplicação do princípio da retroatividade benigna, tal como articulado no Voto Vencido do acórdão recorrido. Contra o acórdão recorrido, a empresa Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda. interpôs recurso voluntário, em 13/11/2008 (folhas 2.690) defendendo especialmente que: ü A decisão seria nula por ter alterado o critério jurídico do lançamento; que acusou a empresa de ter insuficiência de recursos, e não de ocultação do real adquirente; ü Seria nulo o lançamento por tese se baseado em Relatório tornado insubsistente pelo Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/Alfândega/Porto de Vitória, referendado pelo Inspetor da Alfândega, não tendo havido motivação para contrapor as conclusões deste; Fl. 6046DF CARF MF 8 ü Não houve interposição fraudulenta ou ocultação de adquirente. Iniciado os julgamentos dos recursos voluntários, a ilustre Turma do CARF decidiu, através da Resolução, converter o julgamento em diligência, para que a autoridade preparadora: 1. Anexasse cópia do processo de n° 12466.000172/200770 referente ao processo de inaptidão (principalmente todo o teor do Parecer n° 991/2007); 2. Esclarecesse o período abrangido do Parecer n° 991/2007 (20/12/2007); e 3. Explicar se o Auto de Infração teve como base o relatório conclusivo, conforme alegações da recorrente. Em resposta a citada Resolução, a autoridade preparadora afirmou que, de fato, o Relatório fiscal que baseou o presente auto de infração é o mesmo que foi julgado insubsistente pela Parecer n° 991/07, elaborado pelo SEORT/Alfândega/Porto de Vitória e referendado pelo Inspetor Aduaneiro. Não foi juntada a cópia do processo de n° 12466.000172/200770. Em 25 de fevereiro de 2014, através da Resolução n° 3202000.188, a 2a Turma Ordinária, da 2a Câmara, da 3a Seção de Julgamento do CARF baixou os autos em diligência para que fosse: a) juntada aos autos a cópia integral do Processo de n° 12466.000172/200770, especialmente a documentação de fls. 1.287 a 1.680 deste, onde consta os contratos de câmbio que comprovariam a capacidade econômica da recorrente, Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda., de acordo com o Parecer n° 991/07; b) intimada a unidade preparadora para analisar se a documentação de fls. 1.287 a 1.680 do Processo de n° 12466.000172/200770, onde consta os contratos de câmbio a que alude a conta contábil "Câmbio Exterior Próprio", comprovariam ou não a capacidade econômica da recorrente, Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda. Ao fim da instrução processual, as Recorrentes deverão ser intimadas para manifestarse no prazo de 30 (trinta) dias sobre os documentos juntados aos autos em decorrência da diligência. A fiscalização juntou informação fiscal de folhas 6.013 a 6.015 do processo digital. A empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA tomou ciência por via eletrônica em 16/01/2015 (folhas 6.019). A empresa DIPLOMAT DO BRASIL SERVIÇOS E APOIO ADMINISTRATIVO LTDA tomou ciência por via edital em 10/03/2015 (folhas 6.034). A empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA de folhas 6.022 a 6.029 do processo digital. Fl. 6047DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 6 9 A empresa DIPLOMAT DO BRASIL SERVIÇOS E APOIO ADMINISTRATIVO LTDA não se manifestou. É o relatório. Voto Conselheiro Jorge Lima Abud – Relator. Da admissibilidade. Por conter matéria desta E. Turma da 3a Seção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais e presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do Recurso Voluntário tempestivamente interposto pelo contribuinte, considerando que: Ø a empresa GAMA SERVICOS E NEGOCIOS LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 20/10/2008 (folhas 2.435); Ø a empresa DIPLOMAT DO BRASIL COMÉRCIO DE ARTIGOS PARA PRESENTES LTDA foi cientificada da Decisão da Delegacia Regional de Julgamento, via Aviso de Recebimento, em 22/10/2008 (folhas 2.438). Contra o acórdão recorrido, a empresa Gama Comercial Importadora e Exportadora Ltda. interpôs recurso voluntário, em 13/11/2008 (folhas 2.690). A Diplomat do Brasil Comércio de Artigos para Presentes Ltda. igualmente apresentou recurso, em 19/11/2008 (folhas 2.440). Os recurso são tempestivos. Da controvérsia. No caso em questão, a discussão se cinge aos seguintes pontos: a) A decisão seria nula por ter alterado o critério jurídico do lançamento; que acusou a empresa de ter insuficiência de recursos, e não de ocultação do real adquirente; b) Seria nulo o lançamento por tese se baseado em Relatório tornado insubsistente pelo Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/Alfândega/Porto de Vitória, referendado pelo Inspetor da Alfândega, não tendo havido motivação para contrapor as conclusões deste; c) Não houve interposição fraudulenta ou ocultação de adquirente; Fl. 6048DF CARF MF 10 d) Aplicação do princípio da retroatividade benigna, tal como articulado no Voto Vencido do acórdão recorrido. Das Preliminares. ALTERAÇÃO DO CRITÉRIO DO LANÇAMENTO Após transcrever o artigo 142 do Código Tributário Nacional, o Recorrente empresa Gama Comercial alega às folhas 06 do seu Recurso Voluntário: No caso, foi formulada uma exigência, segundo determinado critério através de todo o procedimento de lançamento, posteriormente, no momento do julgamento o conteúdo do lançamento, especificamente a matéria tributável, foi modificado sem que houvesse motivação para isso. Todo o procedimento fiscalizatório ocorreu no sentido de se comprovar a utilização pela recorrente de recursos de terceiros nas operações de comércio exterior, consequentemente toda sua defesa foi no sentido de se comprovar que nunca se utilizou de recursos de terceiros para subsidiar suas atividades, em seguida o Auditor, encarregado de analisar o procedimento da representação fiscal elaborou o parecer conclusivo. Parecer SEORT 991/07. no sentido de que não houve a utilização de recursos de terceiros nas operações da recorrente. (Grifos próprios do original) Mais adiante, às folhas 07 do seu Recurso Voluntário, a empresa Gama Comercial alega: Houve total afronta ao devido processo legal, nulificando assim seu ato, porquanto lavrou o Auto de Infração após o Parecer conclusivo n° 991/07 (SEORT), no qual julgou pela insubsistência dos motivos ensejadores da Representação Fiscal para Fins de Inaptidão, em cujo parecer constatouse a regularidade das operações realizadas pela recorrente e de que não houve a utilização de recursos de terceiros nas importações realizadas. Ademais, no Auto de Infração, não se verificou qualquer apontamento do I. Auditor Fiscal do SEFIA que indicasse que a recorrente não seria a real adquirente das mercadorias, haja vista que todo o procedimento de fiscalização foi no sentido de se comprovar, ou não, a utilização de recursos próprios na importação. O auto de infração é vago, pois o fiscal que o lavrou não o fundamenta correta e claramente, apenas apensa seu relatório conclusivo que foi considerado nulo pelo Inspetor o qual tentava comprovar que a requerente não possuia recursos próprios e a decisão advinda da Delegacia de Julgamento muda totalmente a descrição dos fatos para emitir seu Acórdão dizendo agora que se trata de ocultacão do real adquirente. E, convenhase, tal fato é muito relevante, pois muda totalmente a situação de interposição fraudulenta que foi tachada à recorrente. Fl. 6049DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 7 11 (Grifos próprios do original) O pleito da impugnante quer obstaculizar os efeitos da presente ação fiscal sob a alegação de que a empresa importadora já havia sido submetida a um procedimento especial de fiscalização anterior, com base na mesma Instrução Normativa n° 228/02. O argumento esposado pelo impugnante deliberadamente confunde (ou ignora) o objeto da presente ação fiscal com os efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02. Para aclarar e delimitar os contornos do objeto da presente ação fiscal e dos efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02, passase a discorrer sobre esse último. ❉ Os efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02 O procedimento especial de fiscalização bastante utilizado pela Receita Federal do Brasil está assim previsto: ❖ Instrução Normativa SRF n° 228/02. Art. 1º As empresas que revelarem indícios de incompatibilidade entre os volumes transacionados no comércio exterior e a capacidade econômica e financeira evidenciada ficarão sujeitas a procedimento especial de fiscalização, nos termos desta Instrução Normativa. § 1º O procedimento especial a que se refere o caput visa a identificar e coibir a ação fraudulenta de interpostas pessoas em operações de comércio exterior, como meio de dificultar a verificação da origem dos recursos aplicados, ou dos responsáveis por infração à legislação em vigor. § 2º No caso de importação realizada por conta e ordem de terceiro, conforme disciplinado na legislação específica, o controle de que trata o caput será realizado considerando as operações e a capacidade econômica e financeira do terceiro, adquirente da mercadoria. (...) Da Aplicação do Procedimento Especial Art. 3º Cabe ao titular da unidade da SRF de fiscalização aduaneira com jurisdição sobre o domicílio fiscal do estabelecimento matriz da empresa determinar o início da ação fiscalizadora, mediante expedição de Mandado de Procedimento Fiscal (MPF). Parágrafo único. Considerados a conveniência da administração e os recursos disponíveis, o Superintendente Regional da Receita Federal poderá designar outra unidade da região fiscal para conduzir o procedimento especial previsto nesta Instrução Normativa. (...) Art. 7º Enquanto não comprovada a origem lícita, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos necessários à prática das operações, bem assim a condição de real adquirente ou vendedor, o desembaraço ou a entrega das mercadorias na importação fica condicionado à prestação de garantia, até a conclusão do procedimento especial. Destacase que o procedimento especial de fiscalização disciplinado na IN SRF n° 228/02 tem por foco a EMPRESA, sendo aplicado sobre a matriz da empresa fiscalizada. A unidade da Receita Federal do Brasil responsável pelo desenvolvimento deste Fl. 6050DF CARF MF 12 procedimento é aquela que tenha jurisdição sobre a cidade na qual se localize a matriz da empresa. O fato que propicia o implemento do procedimento especial de fiscalização disciplinado pela Instrução Normativa n° 228/02 são indícios de incompatibilidade entre os volumes transacionados no comércio exterior e a capacidade econômica e financeira da empresa importadora, consoante o estipulado em seu artigo 1º. Por conseguinte, caso detectados esses indícios, serão implementados efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02, tal qual estipulado em seu artigo 7º: · a partir do momento em que é iniciado o procedimento da IN SRF n° 228/02, todas as mercadorias posteriormente importadas pela empresa sujeita ao procedimento, EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL, serão retidas pela Receita Federal do Brasil; · o desembaraço ou a entrega das mercadorias na importação fica condicionado à prestação de garantia, até a conclusão do procedimento especial. Portanto, os efeitos próprios da Instrução Normativa n° 228/02 são procedimentos atinentes ao desembaraço aduaneiro, cuja competência pelo seu implemento em última análise cabe ao Sr. Inspetor de Alfândega. Toda e qualquer mercadoria importada antes da instauração do procedimento, mas ainda não desembaraçada e entregue à empresa, será retida. Caso a empresa deseje desembaraçar alguma Declaração de Importação, poderá fazêlo mediante prestação de garantia. A seguir o quadro comparativo entre os mencionados procedimentos especiais: ❉ O objeto do presente Auto de Infração Fl. 6051DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 8 13 O objeto do presente Auto de Infração não diz respeito à procedimentos atinentes ao desembaraço aduaneiro entrega das mercadorias na importação condicionada à prestação de garantia –. O objeto do presente Auto de Infração diz respeito à: · constatação pela fiscalização de uma conduta ilícita por parte do importador – a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência de recursos empregados na importação – conduta tipificada no §2º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76; · aplicação de uma sanção – a multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.) em substituição à pena de perdimento (§3º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76 ) Percebam o seguinte: · o objeto do procedimento especial de fiscalização estipulado na Instrução Normativa n° 228/02 é a incompatibilidade entre os volumes transacionados no comércio exterior e a capacidade econômica e financeira da empresa importadora; · o objeto tanto da presente ação fiscal quanto da declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ é a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados nas operações de importação. Fl. 6052DF CARF MF 14 Portanto, são fatos dispares que põe por terra a argumentação esposada na impugnação. No mais, há que se ressaltar a distinção de competências entre os procedimentos, a saber: a) Instauração do procedimento especial de fiscalização com base na Instrução Normativa n° 228/02, cuja competência fica a cargo do Sr. Inspetor de Alfândega; b) No caso de mercadoria desembaraçada consumida, revendida ou não localizada, o lançamento da multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.), e uma vez esse lançamento impugnado a competência para o seu julgamento fica a cargo da Delegacia Regional de Julgamento; e c) A declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, com base no §1º do artigo 81 da Lei n° 9.430/96, cuja competência fica a cargo do Delegado da Receita Federal do Brasil da circunscrição da Matriz da empresa. O caso em análise diz respeito ao item (2) competência para o julgamento da multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.) a cargo da Delegacia Regional de Julgamento. Assim como o julgamento no âmbito da Delegacia Regional de Julgamento não interfere nos demais procedimentos, a recíproca é verdadeira, pois se tratam de competências distintas. O próprio Acórdão de Impugnação comunga com esse entendimento, ao afirmar que: Importante registrar, por oportuno, que a apuração dos fatos e as provas concernentes ao presente processo são autônomas em relação àquelas que embasaram o Parecer n° 991/07 elaborado pelo SEORT/ALFÂNDEGA/PORTO DE VITÓRIA; Um breve comentário a respeito da declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ: este Relator advoga que se trata de um ato discricionário, onde o Delegado da Receita Federal do Brasil da circunscrição da Matriz da empresa possui uma margem para avaliar as consequências e efeitos do ato, mesmo porque o legislador não estabeleceu quaisquer parâmetros. Uma empresa que possui um número pequeno de operações de importação sem compravação da origens dos recursos e instalações, ainda que parcas, e com empregados deve ter um tratamento diverso daquela que não comprove qualquer origem de suas operações de importação e não possua nenhuma estrutura e sem empregados. O que se quer enfatizar é que a declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ necessita de um critério, uma dosagem, que só a partir da análise da realidade constatada será possível se auferir. Feito esse adendo, a exigência da multa equivalente ao valor aduaneiro (100%), a partir da incidência do §2° c/c §3° do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, tem por Fl. 6053DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 9 15 gênese o Lançamento Vinculado por parte da autoridade fiscal e se submete ao rito do Procedimento Administrativo Fiscal, Decreto n° 70.235/72. Portanto, são esferas distintas e independentes, não podendo a decisão de uma interferir na outra, porque possuem critérios de avaliação distintos quanto aos seus resultados. NECESSIDADE DE REABERTURA DE PRAZO PARA DEFESA DIANTE DA MODIFICAÇÃO DO LANÇAMENTO AUSÊNCIA CERCEAMENTO DE DEFESA É alegado às folhas 09 do Recurso Voluntário pela empresa Gama Comercial: Em respeito aos princípios do contraditório, da motivação, da ampla defesa, do devido processo legal e da segurança jurídica, eventual mudança de motivação do ato de lançamento inicial DEVE impor o reconhecimento de ofício da nufídade do Lançamento ou do Auto de Infração, demandando obrigatória lavratura de NOVA Notificação de Lançamento ou de Auto de Infração, observando os prazos decadendais e o direito de defesa; nunca a correção. A fase de julgamento examinada somente a legalidade do lançamento tributário, especialmente sobre a relação de pertinência entre os elementos contidos na Notificação de Lançamento ou no Auto de Infração, a situação fática concreta atribuível ao sujeito passivo e o seu embasamento jurídico, por meio da observância dos preceitos constitucionais e legais. Não há que se confundirem as funções administrativa (lavratura da Notificação de Lançamento ou do Auto de Infração) e executiva (diligências e providências pertinentes à retificação da Notificação de Lançamento ou do Auto de Infração), com a função de julgamento (Decisão acerca da legitimidade do lançamento tributário). Aos órgãos de julgamento compete a função de decidir a lide processual administrativa, já que sua competência é haurida pelo art 5, incisos LV e LV1, ao passo que a da autoridade lançadora tem fundamento no art 142 do CTN e no poder/dever de tributação constitucional. Assim, a autoridade administrativa ou mantem a Notificação de Lançamento ou o Auto de Infração (de forma total ou parcial) ou decretando a respectiva insubsistência e inerente cancelamento dos débitos fiscais. Para discorrer sobre a questão levantada, é mister responder a duas indagações: 1. Qual a exigência discutida no presente Auto de Infração? 2. Qual o seu fato gerador? Fl. 6054DF CARF MF 16 A resposta a essas duas singelas questões demonstram a absoluta incongruência da argumentação esposada na impugnação, bem como da jurisprudência administrativa por ela transcrita. A exigência discutida no presente Auto de Infração é a multa equivalente ao valor aduaneiro (§3º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76) decorrente da substituição da pena de perdimento por dano ao Erário, em função da prática de interposição fraudulenta de terceiros ( inciso V, §2º do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76). E então se segue a outra questão: qual o fato gerador da pena de perdimento ou da multa equivalente ao valor aduaneiro? E a resposta categórica salta aos olhos: Não há o que se falar em fato gerador para pena de perdimento ou multa equivalente ao valor aduaneiro, porque a exigência discutida, embora proveniente de um lançamento, na sua gênese está presente um ato ilícito aduaneiro, enquanto que o fato gerador é uma atividade lícita reveladora de riqueza. A pena de perdimento, pautada no artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76, não possui natureza tributária. Sua finalidade é dispare da arrecadação de tributos. A aplicação da pena de perdimento tem por propósito a vedação que determinadas mercadorias cheguem ao mercado interno, seja pelo modo ilícito que ocorreu a sua importação, seja pela própria natureza da mercadoria importada de circulação proibida. A natureza jurídica da pena de perdimento é de sanção da espécie administrativa, proveniente do exercício do poder de polícia pela fiscalização aduaneira O conceito de tributo, esculpido no artigo 3º do Código Tributário Nacional, assim determina: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. (Grifo Nosso) O fato gerador é o instituto responsável pela natureza jurídica específica do tributo, a luz do caput do artigo 4º do Código Tributário Nacional. Fato gerador necessariamente possui natureza dispare de ato ilícito. Fl. 6055DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 10 17 Dar tratamento tributário a pena de perdimento oriunda de ato ilícito (dano ao Erário) é subverter o próprio conceito lapidar de tributo atribuído pelo artigo 3º do Código Tributário Nacional. Muitos se pegam na letra do artigo 96 do Código Tributário Nacional para dar uma conotação de infração tributária à pena de perdimento. Tributo não advém de prática de ato ilícito. Tributo não é sanção. Tributo não possui sua gênese a partir da violação do direito de alguém; não possui natureza de reparação. A gênese de um tributo é um fato gerador, jamais um ato ilícito que acarreta a aplicação da pena de perdimento. Entendese que não observar essa interpretação é violar o rigor conceitual do artigo 3º do Código Tributário Nacional ao definir tributo: ... que não constitua sanção de ato ilícito. Pena de perdimento decorre de ato ilícito, logo não pode ter tratamento de tributo. A similaridade reside que ambas as condutas são tipificadas, portanto definidas em Lei. A mesma Lei que elege a conduta dita seus efeitos caso praticada por um sujeito de direito. Contudo, ao se negar a distinção da natureza jurídica entre a incidência da multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do V.A.) em substituição à pena de perdimento e de tributo, sem ao menos atentar para suas respectivas gêneses, deturpase conceitos cristalizados que o legislador quis separar: · A gênese da relação jurídico tributária é uma conduta comissiva, uma PRÁTICA LEGAL e incentivada do ponto de vista sócio econômico, na medida em que é um fato revelador de riqueza, que o Estado legitimamente se apropria de um quinhão; · A gênese da pena de perdimento é uma conduta que pode ser tanto omissiva quanto comissiva e possui natureza jurídica de ato ilícito. Uma PRÁTICA REPUDIADA do ponto de vista jurídico, que o legislador entendeu por bem NÃO TOLERAR. Fl. 6056DF CARF MF 18 A relação jurídico tributária, cujo objeto é o tributo, por gênese um ato lícito, definido em Lei como fato gerador. A multa equivalente ao valor aduaneiro, exigida no presente Auto de Infração, tem por gênese um ato ilícito cuja a sanção é a pena de perdimento. As consequências dessa distinção são bem palpáveis quanto aos efeitos jurídicos: Para complementar a exposição, transcrevese os artigos 94 e 95 do Decreto Lei n° 37/66: Art.94 Constitui infração toda ação ou omissão, voluntária ou involuntária, que importe inobservância, por parte da pessoa natural ou jurídica, de norma estabelecida neste DecretoLei, no Fl. 6057DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 11 19 seu regulamento ou em ato administrativo de caráter normativo destinado a completálos. § 1º O regulamento e demais atos administrativos não poderão estabelecer ou disciplinar obrigação, nem definir infração ou cominar penalidade que estejam autorizadas ou previstas em lei. § 2º Salvo disposição expressa em contrário, a responsabilidade por infração independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Art.95 Respondem pela infração: I conjunta ou isoladamente, quem quer que, de qualquer forma, concorra para sua prática, ou dela se beneficie; (...) V conjunta ou isoladamente, o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso da importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) VI conjunta ou isoladamente, o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora. (Incluído pela Lei nº 11.281, de 2006) (Grifo e negrito nossos) Esse arrazoado tem por objetivo demonstrar a incongruência da argumentação analisada, por invocar fundamentos próprios do Código Tributário Nacional. AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO PARA MODIFICAR O LANÇAMENTO É alegado às folhas 13 do Recurso Voluntário da empresa Gama Comercial: No Auto de Infração constou que a penalidade foi aplicada à recorrente em razão da conclusão do I. Auditor Fiscal ao término do procedimento especial de fiscalização previsto náV IN/SRF n° 228/02, o qual resultou na proposta de Representação para Fins de Inaptidão do CNPJ da empresa. FRISESE que o enquadramento utilizado pelo I. Auditor Fiscal na lavratura do Auto de Infração decorreu de meras ilações, as quais foram todas refutadas pela recorrente por ocasião da apresentação da contraposição, inclusive sendo apreciada pela autoridade competente, qual analisou toda a defesa e os documentos apresentados sendo que, ao final, concluiu através do Parecer n° 991/07 (SEORT), que não ocorreu as irregularidades apontadas pelo I. Auditor Fiscal, razão pela qual julgou pela insubsistência daquelas alegações que motivaram o ato. Portanto, concluise, que o I. Auditor Fiscal CONDENOU a recorrente contrariamente ao resultado final daquele processo administrativo, o qual foi devidamente apreciado pela autoridade competente para tal. Ou seja, o auto de Infração jamais podería ter sido lavrado haja vista que os motivos que ensejaram aquela autuação foram julgados INSUBSISTENTES pelo Inspetor da Alfândega do Porto de Vitória, que tomou Fl. 6058DF CARF MF 20 NULA toda a atuação realizada pelo I. Auditor Fiscal no procedimento especial de fiscalização. (Grifos próprios do original) Boa parte da argumentação apresentada já foi analisada em tópicos anteriores. A argumentação referente ao Parecer 991/07 SEORT se confunde com o mérito e lá será analisada. Do Mérito. O EXERCÍCIO DOS CONTROLES ADUANEIROS Para a instauração de Ação Fiscal há a necessidade de se selecionar a empresa a ser fiscalizada. Para que as chances de acerto na escolha da empresa a ser fiscalizada sejam maiores, é recomendável que a seleção se realize a partir de algumas das seguintes fontes: ● Representações Externas Fundamentadas Devem ser valorizadas as representações externas que já tragam os elementos indiciários que as fundamentem. Não devem ser confundidas com as demandas externas requisitórias, às quais devem ser encaminhadas para a fiscalização sem passar por crivo de seleção, passando apenas por eventual complementação. ● Representações Internas Geralmente, são representações de alta qualidade, elaboradas por servidores da RFB. Normalmente já vêm instruídas com os elementos indiciários. Costumam ser oriundas da Habilitação, da Fiscalização em zona secundária ou do Despacho Aduaneiro. ● Seleção Interna É o emprego de técnicas de cruzamento de informações fiscais e aduaneiras visando identificar um conjunto de empresas que possuam maior probabilidade de estar atuando como interposta pessoa. A seguir temos uma representação dos sistemas de informações disponibilizados pelas diferentes instâncias do controle aduaneiro durante as operações de importação, os quais acumulam informações que podem ser utilizadas na seleção interna: Fl. 6059DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 12 21 Além das informações obtidas durante o controle aduaneiro, temos várias outras que são oriundas dos sistemas de fiscalização e arrecadação de tributos internos. Estas podem ser conjugadas com as informações de origem aduaneira, potencializando um aumento da qualidade e efetividade da seleção interna. A seleção interna na área da Interposição Fraudulenta normalmente considera diversos aspectos de uma empresa como a sua regularidade fiscal, rendimentos dos seus sócios, número de funcionários, etc., sendo considerado um trabalho de certa complexidade. Normalmente não utiliza qualquer informação externa como denúncias ou representações, apenas informações contidas nos bancos de dados da RFB; visando a análise dos principais componentes de risco, tais como: · Logística: tipo de mercadoria, embalagem, rota, via de transporte, país de procedência; · Relativa à Transação Comercial: país de aquisição, forma de pagamento, marca x origem. · Componente Relativa à Qualidade dos Importadores · Estrutural: Condições financeiras para a realização das operações, sócios com conhecimento do negócio, condições financeiras e patrimoniais compatíveis; · Comportamental: Relacionada ao histórico de indícios ou infrações aduaneiras, tributárias, administrativas, penais. · Componente Relativa à Qualidade dos Terceiros Intervenientes; Fl. 6060DF CARF MF 22 · Estrutural: Localização do domicílio em comparação à área de atuação; · Comportamental: Relacionada ao histórico de envolvimento com infrações aduaneiras, tributárias, administrativas, penais, ou indícios. A ausência de informação sobre o adquirente ou o encomendante do bem importado no registro da Declaração de Importação, prejudica o exercício efetivo dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. O CONCEITO DE INTERPOSIÇÃO EM OPERAÇÃO DE IMPORTAÇÃO A função da sólida construção jurisprudencial é fornecer critérios precisos para a equânime e indistinta aplicação da Lei. O dicionário eletrônico Houaiss, fornece uma definição precisa da locução interposição, que se adéqua ao contexto aqui a ser evidenciado: ato ou efeito de interpor(se) Locuções i. de pessoa jur substituição intencional por terceiro, num processo simulatório, do verdadeiro interessado num ato jurídico. Fonte: (http://houaiss.uol.com.br/busca?palavra=interposi%25C3%25A7%25C3%25A3o, em 01/08/15) A expressão “interposição fraudulenta” foi cunhada pela primeira vez em nosso Sistema Jurídico na Medida Provisória n° 66/2002. Para colher o exato alcance que pretendeu dar o legislador à citada expressão é necessário comparar termos semelhantes e seus respectivos significados. Aurélio Buarque de Holanda conceitua “interposição de pessoa” como “simulação que consiste em ocultar o verdadeiro interessado num ato jurídico, fazendo aparecer um terceiro em seu lugar”. No Vocabulário Jurídico, De Plácido e Silva, definese interposição como meterse de permeio, colocarse entre. É a intervenção de uma pessoa em negócio alheio, por ordem de seu dono ou a mandado dele. A pessoa interposta, com o fito de cumprir ou realizar aquilo que o ordenante ou mandante não pode fazer, é colocada ou posta entre este e um terceiro. A interposta pessoa nada mais é que aquela que executa um ato jurídico ou uma série de atos jurídicos, a mando ou ordem de alguém. O ato jurídico, objeto da presente análise, é justamente a operação de importação maculada pela prática de interposição fraudulenta de terceiros. Portanto, um ilícito aduaneiro. O ato de se interpor em operação de importação, pressupõe necessariamente a existência de dois participes: Fl. 6061DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 13 23 1. O importador ➞ aquele que se apresenta às autoridades aduaneiras como responsável pela nacionalização da mercadoria. Importador é aquele que promove a entrada do bem no território nacional. Há dois pressupostos básicos para se caracterizar o importador: a) deve estar devidamente HABILITADO no Sistema SiscomexRADAR; b) é aquele que efetua o registro da Declaração de Importação em seu nome. 2. O sujeito passivo oculto (ou responsável pela operação de importação) ➞ aquele que se vale do importador para obter a nacionalização da mercadoria à margem dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. O sujeito passivo oculto é aquele que não pode ou não quer promover a operação de importação em seu próprio nome. Por isso se vale outro ( o importador ) para obter produto importado no mercado interno. É de se frisar que é perfeitamente possível, à luz da legislação aplicável, que terceiro utilize o importador para obter produto importado no mercado interno. A legislação prevê duas formas de identificar o terceiro (REAL COMPRADOR no mercado interno ) responsável pela importação: I. modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros"; e II. modalidade de "importação por encomenda". Fl. 6062DF CARF MF 24 Não se valendo dessas duas modalidades de importação, fica caracterizada a seguinte situação: Ø o REAL COMPRADOR no mercado interno (sujeito passivo oculto) obtém a nacionalização do bem importado, por intermédio do importador interposto, sem a adoção formas previstas na legislação aplicável, permanecendo à margem dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. ❉ A normatização do conceito de interposição fraudulenta de terceiros em operações de importação. Coube ao artigo 59 da Lei n° 10.637/02, normatizar o conceito de interposição fictícia de pessoas para a área aduaneira, denominandoo de interposição fraudulenta de terceiros. O referido artigo alterou a redação do artigo 23, do DecretoLei nº 1.455, de 07 de Abril de 1976, que define as infrações que causam dano ao Erário, acrescentandolhe o inciso V, além de quatro novos parágrafos. ❖ Decreto Lei n° 1.455/76: Art 23. Consideramse dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: (...) V estrangeiras ou nacionais, na importação ou na exportação, na hipótese de ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 1o O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 2o Presumese interposição fraudulenta na operação de comércio exterior a não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) § 3o As infrações previstas no caput serão punidas com multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, na importação, ou ao preço constante da respectiva nota fiscal ou documento equivalente, na exportação, quando a mercadoria não for localizada, ou tiver sido consumida ou Fl. 6063DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 14 25 revendida, observados o rito e as competências estabelecidos no Decreto no 70.235, de 6 de março de 1972. (Redação dada pela Lei nº 12.350, de 2010) § 4o O disposto no § 3o não impede a apreensão da mercadoria nos casos previstos no inciso I ou quando for proibida sua importação, consumo ou circulação no território nacional.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002) Deve ser feita uma observação. No inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, o legislador trata da mesma forma as seguintes expressões: I. sujeito passivo oculto aquele que importa o bem através de um importador interposto; II. real comprador aquele que adquire o bem importado através de importador interposto no mercado interno; e III. responsável pela operação (importação) aquele que mesmo não adquirido o bem importado no mercado interno, exerce o "Domínio do Fato" sobre a operação de importação. Essas expressões ao serem usadas pelo legislador como sinônimas, retratam a mesma pessoa: o terceiro no mercado interno (dentro do território nacional) que se vale de um importador interposto para obter a nacionalização de um bem, à margem dos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. ❉ Formas de constatação da existência do sujeito passivo oculto Existem, a princípio, duas formas de constatação da existência do sujeito passivo oculto: · Por AÇÃO DIRETA – A fiscalização evidencia a existência e identifica o sujeito passivo oculto a partir de duas situações: 1. Verificação de que a fonte dos recursos aplicados na operação de comércio exterior advém de terceiro; ou 2. Verificação que terceiro foi de fato o responsável pela operação em comércio exterior (possuiu/exerceu o “domínio do fato” sobre a transação), sendo o importador um instrumento para obter o bem importado. Em ambos os casos, o terceiro deveria se identificar aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros e assim não procedeu. · Por AÇÃO INDIRETA – O fisco não identifica o sujeito passivo oculto. Contudo, o ato omissivo do importador, em não comprovar a origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados, autoriza a fiscalização a presumir que terceiro (não identificado) financia a operação em comércio exterior. Essa é a mesma conclusão da lição de Deiab Junior e Nepomuceno (2008), ao se referirem às inovações trazidas à baila pela alteração do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76: Fl. 6064DF CARF MF 26 a) apenou com perdimento a mercadoria de origem estrangeira, na importação ou na exportação, quando constatada a ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros, e; b) criou a presunção legal de interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior, quando não comprovada a origem, disponibilidade e a transferência, dos recursos empregados em tais transações. DEIAB JUNIOR, Remy; NEPOMUCENO, Bruno Carvalho. Interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior perpetradas por pessoas físicas. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1794, 30 maio 2008 . Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/11329>. Acesso em: 16 dez. 2012. Portanto, há duas formas de constatação da prática de interposição fraudulenta de terceiros: 1. Prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros (Ocultação) – Conduta infracional tipificada no inciso V do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76 – É a constatação da ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável através de fraude ou simulação. Sua inspiração vem da norma geral antielisiva do Parágrafo Único do artigo 116 do CTN, que pode estar relacionada ou não com a legislação que cuida do crime relacionado à ordem tributário e a “lavagem de dinheiro”, responsável por municiar a fiscalização para o combate da interposição fictícia de pessoas em operações de comércio exterior, o que implica na necessidade de comprovação, mediante a demonstração por parte da fiscalização, de quem é de fato o real sujeito passivo beneficiado. Aplicação do processo conhecido como “follow the money”. 2. Prática presumida da interposição fraudulenta de terceiros – Conduta infracional tipificada no §2° do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76 – Advém de uma presunção legal, o que acarreta ao importador/exportador a necessidade comprovar a origem, disponibilidade e a transferência, dos recursos empregados em operações de comércio exterior. Sua inspiração vem não só da norma geral antielisiva já citada, como também do artigo 1º da Lei nº 9.613/98 e municia a fiscalização com um mecanismo de controle para coibir a prática, pelo sujeito ocultado, do crime relacionado à “lavagem de dinheiro” por sucessivas operações internacionais, podendo estar relacionado com outras irregularidades tributárias, como por exemplo, fraude no preço/valor declarado (sub ou superfaturamento). O artigo 11 da IN SRF n° 228/2002 contempla essa formatação de constatação da prática de interposição fraudulenta de terceiros e determina seus respectivos efeitos, substanciados no artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, artigo 33 da Lei n° 11.488/2007 e no artigo 81 da Lei n° 9.430/96: ° Artigo 11 da IN SRF n° 228/2002: Fl. 6065DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 15 27 Art. 11. Concluído o procedimento especial, aplicarseá a pena de perdimento das mercadorias objeto das operações correspondentes, nos termos do art. 23, V do Decretolei nº 1.455, de 7 de abril de 1976, na hipótese de: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0 I ocultação do verdadeiro responsável pelas operações, caso descaracterizada a condição de real adquirente ou vendedor das mercadorias; II interposição fraudulenta, nos termos do § 2º do art. 23 do Decretolei nº 1.455, de 1976, com a redação dada pela Medida Provisória nº 66, de 29 de agosto de 2002, em decorrência da não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados, inclusive na hipótese do art. 10. § 1º Na hipótese prevista no inciso I do caput, será aplicada, além da pena de perdimento das mercadorias, a multa de que trata o art. 33 da Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0(Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) § 2º Na hipótese prevista no inciso II do caput, além da aplicação da pena de perdimento das mercadorias, será instaurado procedimento para declaração de inaptidão da inscrição da empresa no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0 (Incluído(a) pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) § 3º A hipótese prevista no inciso I do caput contempla a ocultação de encomendante predeterminado. http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/an exoOutros.action?idArquivoBinario=0 (Incluído(a) pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1678, de 22 de dezembro de 2016) ❉ Inftações decorrentes de cada prática de interposição fraudulenta de terceiros A prática EFETIVA da interposição fraudulenta de terceiros implica em duas infrações: ¨ Uma infração tipificada no inciso V, do artigo 23, do Decreto Lei 1.455/76, punível com a aplicação da pena de perdimento, tendo por destinatário o real adquirente da mercadoria e conseguinte conversão Fl. 6066DF CARF MF 28 em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria no caso de que não seja localizada ou que tenha sido consumida. Uma infração imprópria que pode ser cometida por qualquer um na condição de REAL COMPRADOR em coautoria com o importador interposto. ¨ Outra infração tipificada no caput do artigo 33 da Lei 11.488/2007, punível com a multa de 10% (dez por cento) do valor da operação acobertada, não podendo ser inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais), tendo por destinatário a pessoa jurídica que cedeu seu nome. Uma infração própria, já que para cometêla o agente deve ter a condição de ser importador devidamente habilitado no SISCOMEX. A prática PRESUMIDA da interposição fraudulenta de terceiros também implica em duas infrações: ¨ Uma infração tipificada no §2º, do artigo 23, do Decreto Lei n° 1.455/76, punível com a aplicação da pena de perdimento e conseguinte conversão em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria no caso de que não seja localizada ou que tenha sido consumida, tendo por destinatário o importador de direito (INTERPOSTO), em razão da não comprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na importação. Uma infração própria, já que para cometêla o agente deve ter a condição de ser importador devidamente habilitado no SISCOMEX. ¨ Outra infração tipificada no artigo 81, §1º, da Lei nº 9.430/96, que determina a declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, que não comprove a origem, a disponibilidade e a efetiva transferência, se for o caso, dos recursos empregados em operações de comércio exterior. Coadunase para essa constatação, o seguinte artigo: ¹ Artigo 99 do DecretoLei nº 37/66: Fl. 6067DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 16 29 Art.99 Apurandose, no mesmo processo, a prática de duas ou mais infrações pela mesma pessoa natural ou jurídica, aplicamse cumulativamente, no grau correspondente, quando for o caso, as penas a elas cominadas, se as infrações não forem idênticas. (Grifo e Negrito Nossos) ❉ Do ônus probatório A depender da forma de constatação da existência do sujeito passivo oculto, o ônus probatório irá oscilar: Ø Na prática efetiva o ônus probatório é da fiscalização: Cabe à ação fiscal reunir os elementos que indicam a ocorrência da interposição fraudulenta de terceiros entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto. Ø Na prática presumida o ônus probatório é do importador: Cabe ao importador a comprovação da origem, disponibilidade e transferência de recursos empregados na importação, na forma do §2º, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. ❉ A caracterização da infração O núcleo da infração da prática de interposição fraudulenta de terceiros é o USO DE INTERPOSTA PESSOA em operação de comércio exterior com o propósito de ACOBERTAR o sujeito passivo oculto. A partir disso são detectadas duas espécies da mesma infração: · Infração 1: O uso de interpostas pessoas como instrumento (meio) para acobertar a identificação do responsável pela importação (OCULTAÇÃO) por infração contra o sistema tributário nacional (FRAUDES FISCAIS/SIMULAÇÃO). · Infração 2: O uso de interpostas pessoas como instrumento (meio) para acobertar a identificação do responsável pela importação (OCULTAÇÃO) por infração contra o sistema financeiro nacional (LAVAGEM DE DINHEIRO/SIMULAÇÃO). Nesse diapasão, há três formas de se caracterizar a prática de interposição fraudulenta de terceiros: 1. A PARTIR DA NÃO IDENTIFICAÇÃO DA ORIGEM DOS RECURSOS APLICADOS A administração aduaneira deve estar atenta à movimentação de recursos financeiros de origem desconhecida ou não comprovada associada ao uso de interposta pessoa em operação de comércio exterior. Fl. 6068DF CARF MF 30 2. A PARTIR DA IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL DE INFRAÇÃO CONTRA O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL A Lei nº 8.137, de 1990, define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo. Nesse contexto, a legislação objetivou não só evitar as fraudes fiscais, como também dar maior efetividade na cobrança de tributos buscando identificar o verdadeiro sujeito passivo da obrigação tributária. 3. A PARTIR DA IDENTIFICAÇÃO DO RESPONSÁVEL PELA INFRAÇÃO CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL A Lei nº 9.613, de 1998, dispõe sobre os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores, bem como sobre a prevenção da utilização do sistema financeiro. Portanto, tem se também como finalidade não cuidar da questão puramente tributária, mas coibir crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores. Na prática as três causas se mesclam, e assim existe a hipótese de haver infrações entrelaçadas, mas sempre com o USO DE INTERPOSTA PESSOA COMO INSTRUMENTO (MEIO) PARA DIFICULTAR A IDENTIFICAÇÃO do sujeito passivo oculto. ❉ A sanção prevista A legislação apenou a prática de interposição fraudulenta de terceiros com o perdimento da mercadoria de origem estrangeira. A nova redação do § 3º, do artigo 23, do DecretoLei nº 1.455/76, dada pela Lei nº 12.350/10, substituiu a redação originariamente dada pela Medida Provisória n° 66/2002, em 29 de agosto de 2002, e estipulou a seguinte alternância de procedimentos – ritos: · Pena de perdimento ➞ se a mercadoria em situação irregular for apreendida pela fiscalização ( rito aplicado: artigo 27 do Decreto Lei n° 1.455/76 ); ou · Multa equivalente ao valor aduaneiro (100% do valor aduaneiro) ➞ se a mercadoria passível de perdimento não for localizada, ou tiver sido consumida ou revendida ( rito aplicado: Decreto n° 7.574/2011). Estáse assim diante de uma alternância de ritos procedimentais, a depender da retenção ou não da mercadoria passível de perdimento. É de se enfatizar o seguinte: ainda que a multa equivalente ao valor aduaneiro receba a designação de “crédito tributário”, por ser advinda de um lançamento, isso não altera a natureza jurídica da prática de interposição fraudulenta de terceiros: um ato ilícito passível de sanção (pena de perdimento ou multa equivalente ao valor aduaneiro). ▣ A PRÁTICA EFETIVA DE INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS Fl. 6069DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 17 31 A demonstração da prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros engloba três pontos: 1. Identificação do importador interposto e do sujeito passivo oculto; 2. Constatação do liame entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto; 3. Demonstração da FRAUDE ou SIMULAÇÃO. ❉ A identificação do importador interposto e do sujeito passivo oculto Salientase que esse é o primeiro passo ou o pressuposto básico e necessário para a caracterização da prática efetiva, mas longe de ser o suficiente. Como dito, o ato de se interpor em operação de importação, pressupõe necessariamente a existência de dois participes. Na demonstração da prática efetiva, a fiscalização tem o dever de identificar tanto o importador interposto como o sujeito passivo oculto. A fiscalização deve também evidenciar que o sujeito passivo oculto se valeu do importador interposto para obter produto importado no mercado interno. Portanto, é indispensável a demonstração pela fiscalização da revenda do produto importado no mercado interno entre os dois participes, ou a revenda do importador a alheio ( MERO COMPRADOR) sob a determinação do sujeito passivo oculto. A caracterização da prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros pode ocorrer através de diversos elementos, tais como: · a destinação integral e imediata das mercadorias importadas; Fl. 6070DF CARF MF 32 · o conhecimento prévio ao registro da DI do destinatário das mercadorias importadas; · rotulagem das mercadorias importadas com sinais de identificação do adquirente (logotipo, marcas etc.); · especificidade das mercadorias que são importadas para um único adquirente, ou conjunto restrito de adquirentes, de tal forma que a importação não poderia ser realizada para posterior comercialização no mercado interno. Atualmente, duas formas de “terceirização” das operações de comércio exterior são reconhecidas e reguladas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB): · A importação por conta e ordem uma empresa (a adquirente), interessada em uma determinada mercadoria, contrata uma prestadora de serviços (a importadora por conta e ordem) para que esta, utilizando os recursos originários da contratante. providencie, entre outros, o despacho de importação da mercadoria em nome da empresa adquirente; · A importação por encomenda uma empresa (a encomendante predeterminada), interessada em uma certa mercadoria, contrata uma outra empresa (a importadora) para que esta, com seus próprios recursos, providencie a importação dessa mercadoria e a revenda posteriormente para a empresa encomendante. A escolha entre importar mercadoria estrangeira por conta própria ou por meio de um intermediário, contratado para esse fim, é livre e perfeitamente legal, seja esse intermediário um prestador de serviço ou um revendedor. Entretanto, tanto o importador quanto o adquirente ou encomendante. conforme o caso, devem observar o tratamento tributário específico dessas operações e alguns cuidados especiais, a fim de não serem autuados ou, até mesmo, que as mercadorias sejam apreendidas. Para que uma operação de importação por encomenda ou importação por conta e ordem seja realizada de forma perfeitamente regular, é necessário, antes de tudo, que Fl. 6071DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 18 33 tanto as empresas encomendantes e adquirentes quanto a empresa importadora estejam habilitadas para operar no Siscomex, nos termos da legislação respectiva. Além de habilitação de todos os intervenientes (encomendante, adquirente e importador), nas operações de importação terceirizadas, é necessário apresentar, à unidade da RFB com jurisdição para fiscalização aduaneira sobre o estabelecimento matriz da encomendante ou adquirente, cópia do contrato firmado entre as empresas (encomendante ou adquirente e importadora), caracterizando a natureza de sua vinculação, a fim de que a contratante e a contratada sejam vinculadas no Siscomex. pelo prazo ou operações previstos no contrato. A fim de promover o despacho aduaneiro das mercadorias importadas, conforme determina o art. 3o, da IN SRF n° 634/06 e o art. 3o, da IN SRF n° 225/02, ao elaborar a Declaração de Importação, o importador, pessoa jurídica contratada, deve informar que não se trata de uma operação por conta própria, indicando, em campo próprio na ficha “importador” da DI, o número de inscrição do encomendante ou do adquirente no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). A falta de indicação do encomendante ou adquirente na Declaração de Importação, bem como a ausência de habilitação de alguma das partes no Siscomex e a ausência de vinculação do contrato na Receita Federal caracterizam a situação de ocultação do sujeito passivo ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, punível com a pena de perdimento das mercadorias (art. 23 V, do Decretolei n° 1.455/76 com a redação dada pela Lei n° 10.637/02). ❉ Das modalidades de Importação Não há propriamente uma definição normatizada e, portanto, estanque do que vem a ser a importação direta. Poderseia esboçar aqui uma definição sob o sério risco de fazêla incompleta ou até mesmo imperfeita e assim confundir mais do que auxiliar. Por isso, tomase o caminho mais fácil e seguro. Se tanto a Importação por “conta e ordem” como a Importação por “encomenda” possuem definições precisas dadas pela Lei e se apenas existem três modalidades e possibilidades de importação no Brasil, valese do critério da complementaridade para se estabelecer que aquilo que não for Importação por “conta e ordem” e Importação por “encomenda” será, portanto, uma importação direta. É mister que se compreenda um ponto chave na consolidação da legislação de combate a interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior e que servirá para o adequado deslinde do caso ora em análise: O artigo 27 da Lei n° 10.637/02 e a IN SRF nº 225, de 18 de outubro de 2002 – responsáveis pela definição, previsão e regulamentação da modalidade de Importação por “conta e ordem” – assim como o artigo 11 da Lei nº 11.281/2006 e a IN SRF nº 634/2006 responsáveis pela definição, previsão e regulamentação da modalidade de Importação por “encomenda” não criam qualquer conduta infracional. O que elas regulamentam, simplesmente, são formas permissivas de atuação de empresa interposta na importação. Fl. 6072DF CARF MF 34 Assim, temos que inicialmente o artigo 27 da Lei n° 10.637/02 (modalidade de Importação por “conta e ordem”) e posteriormente o artigo 11 da Lei n° 11.281/06 (modalidade de Importação por “encomenda”) criam formas permissivas do uso do importador interposto. Caracterizada a prática de qualquer uma dessas duas modalidades de Importação, sem a adoção dos respectivos procedimentos previstos para a adequada identificação do adquirente ou do encomendante no mercado interno, resta configurada a ocultação do sujeito passivo (real beneficiário da importação) pelo importador interposto. ❉ A identificação do liame entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto Para a seguinte indagação: existe a possibilidade da prática de interposta pessoa (importador interposto) em operações de importação frente à legislação brasileira? A resposta é SIM: Ø seja através da Importação por “conta e ordem”; ou Ø seja através da Importação por “encomenda”. Portanto, o passo subsquente ao da identificação do importador interposto e do sujeito passivo oculto é a demonstração por parte da fiscalização de que: Ø a modalidade de importação “direta” eleita pelo importador oculta uma modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros"; ou Ø a modalidade de importação “direta” eleita pelo importador oculta uma modalidade de "importação por encomenda". Em outros termos: justamente para não identificar o REAL COMPRADOR no mercado interno do produto importado, foi eleita a modalidade de importação “direta”. Fl. 6073DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 19 35 ❉ identificação da modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros" Para uma adequada análise, partese do conceito normativo da importação por conta e ordem de terceiros: · Disciplinada pelos artigos 80, 81 da Medida Provisória n° 2.158/0135 e artigo 29 da Medida Provisória n° 66/2002, regulamentada pela Instrução Normativa SRF nº 225, de 18 de outubro de 2002, com definição jurídica dada pelo artigo 27 da Lei n° 10.637/02: Art. 27. A operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro presumese por conta e ordem deste, para fins de aplicação do disposto nos arts. 77 a 81 da Medida Provisória n° 2.15835, de 24 de agosto de 2001. O artigo transcrito autoriza a seguinte presunção: denominar de importação por conta e ordem de terceiros a importação realizada mediante utilização de recursos de terceiros. Assim, se a operação de importação é adimplida (fechamento do câmbio) com recursos de terceiro, a modalidade de importação a ser reconhecida será a importação por conta e ordem de terceiros, na forma do artigo 27 da Lei n° 10.637/02. O fluxograma nos auxiliará na visualização do contexto: Fl. 6074DF CARF MF 36 ❉ Identificação da modalidade de importação “por encomenda” Para uma adequada análise, partese do conceito normativo da importação por encomenda: · Disciplinada pelo artigo 11 da Lei 11.281/06 e regulamentada pela Instrução Normativa SRF nº 634, de 24 de março de 2006, com definição jurídica dada pelo artigo 11 da Lei n° 11.281/06: Art. 11. A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros. Como dito, na redação do inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, o legislador se valeu de três expressões análogas: I. sujeito passivo oculto; II. real comprador; e III. responsável pela importação. Usase uma outra expressão com o mesmo significado para explorar adequadamente o conceito de importação por encomenda: “PESSOA PREDETERMINADA”. A nova expressão tem o seu propósito porque vem a retratar uma faceta específica e determinante para a identificação da modalidade de "importação por encomenda" : A tomada de risco. Se na modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros" a regra de ouro é entender a gênese do recurso e sua consequencia no financiamento da operação de Fl. 6075DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 20 37 importação, na modalidade de "importação por encomenda" a regra de ouro é identificar se o importador correu risco quanto à revenda do produto importado no mercado interno. Há que se comente um detalhe de suma importância: A bem dizer, o critério tomada de risco também pode e deve ser usado para caracterizar a modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros", pois se entende que a tomada de risco de revenda das mercadorias importadas no mercado interno é uma característica essencial da importação direta. Isso porque: Ø na Importação por “conta e ordem” no momento da nacionalização – registro da Declaração de Importação – já existe no mercado interno comprador certo (ADQUIRENTE); e Ø na Importação por “encomenda” no momento da nacionalização – registro da Declaração de Importação – já existe no mercado interno comprador certo (ENCOMENDANTE). Portanto, é perfeitamente possível ver em um Auto de Infração o uso do critério tomada de risco conjugado com o repasse de recursos para evidenciar uma importação por conta e ordem de terceiros. Contudo, é o repasse de recursos a característica essencial daquela modalidade de importação. Na importação por encomenda, dado o seu conceito normativo inexiste qualquer repasse de recursos. Por isso, que o critério tomada de risco passa a ser relevante em sua caracterização. Tomase por base um quadrinho usado comumente para retratar a modalidade de importação direta: Ø O importador adquire a mercadoria no mercado externo com recursos próprios e a revende no mercado interno para comprador indeterminado. Fl. 6076DF CARF MF 38 Um outro quadrinho auxiliará a compreensão do conceito de PESSOA PREDETERMINADA: Ø O importador adquire a mercadoria no mercado externo com recursos próprios e a revende no mercado interno para comprador determinado (REAL COMPRADOR). A pessoa predeterminada é o comprador de bem importado definido antes da data do registro da Declaração de Importação. Como dito, a tomada de risco de revenda das mercadorias é uma característica essencial da importação direta, enquanto que na Importação por “conta e ordem” e na Importação por “encomenda” no momento da nacionalização – registro da Declaração de Importação – já existe no mercado interno comprador certo (REAL COMPRADOR). Em uma operação de venda casada, como a promovida por uma interposta pessoa em operações de importação este risco é inexistente, já que toda operação de compra e venda foi previamente arranjada e seus termos são bem conhecidos no momento em que o importador promove o despacho aduaneiro das mercadorias. Essa premissa decorre de modo direto e imperioso do objetivo traçado pela Receita Federal do Brasil em pretender possuir controle absoluto sobre o destino de todas as mercadorias importadas por empresas nacionais. Aquele que é destinatário de bem importado, já conhecido no momento do registro da respectiva Declaração de Importação, deve ser necessariamente informado aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros na forma da IN SRF nº 225/02 para a modalidade de Importação por “conta e ordem” e da IN SRF nº 634/2006 para a modalidade de Importação por “encomenda” , sob o risco de configuração da prática de interposição fraudulenta de terceiros e conduta tendente a burlar os controles aduaneiros. O registro da Declaração de Importação é o marco eleito para identificar a PESSOA PREDETERMINADA, pois: 1. É o aspecto temporal que define o momento da entrada do bem no território aduaneiro; 2. É o instante de nacionalização do bem possível de ser precisado; Fl. 6077DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 21 39 3. Antes desse instante a legislação pátria não tem qualquer efeito sobre o bem importado; 4. Só com o registro da Declaração de Importação é que se reúne toda a gama de informações suficientes para atender os requisitos exigidos pelas Instruções Normativas citadas. E ainda se acrescenta: Antes do ingresso da mercadoria no território nacional o bem é completamente alienígena ao ordenamento jurídico pátrio. Quem comprou, porque comprou, quando comprou, como pagou são questões por ora estranhas à fiscalização aduaneira, até mesmo porque a mercadoria pode vir a ter outro destino que não o Brasil. A ação da fiscalização aduaneira brasileira, com relação à mercadoria importada, só tem sentido a partir do seu ingresso no País. Esse momento a legislação precisa muito bem, inclusive em termos de minutos e até segundos: é o registro da Declaração de Importação. A partir desse instante é que o bem passa a ter relevância ao ordenamento jurídico pátrio, em particular à ação da fiscalização aduaneira da Receita Federal do Brasil. Para poder exercer sua expertise e verificar a regularidade da importação e assim atender a premissa de possuir controle absoluto sobre o destino de todas as mercadorias importadas por empresas nacionais, no momento do registro da Declaração de Importação o importador tem o dever de informar esse fato à fiscalização aduaneira através da adoção da modalidade de Importação por “conta e ordem” ou modalidade de Importação por “encomenda” a depender da forma de financiamento da importação. Se no momento do registro da Declaração de Importação a mercadoria tem destino certo no mercado interno – PESSOA PREDETERMINADA – é dever do importador expor esse fato, sob pena de burla aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros. E nesse contexto, é inegável que o importador age como interposta pessoa, pois a mercadoria apenas transpassa por ele. Por vezes sequer adentra ao seu estabelecimento comercial. Fl. 6078DF CARF MF 40 Uma questão que é comumente suscitada é a alegação de que para se caracterizar a modalidade de "importação por encomenda" é necessário que o encomendante participe da transação comercial com o fornecedor estrangeiro. O legislador contemplou essa situação nos §§ 3º e 4º, do inciso I, do artigo 112 do Regulamento Aduaneiro, aprovado pelo Decreto n° 6.759/2009: § 3o A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros (Lei no 11.281, de 2006, art. 11, caput). § 4o Considerase promovida na forma do § 3o a importação realizada com recursos próprios da pessoa jurídica importadora, participando ou não o encomendante das operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior (Lei no 11.281, de 2006, art. 11, § 3o, com a redação dada pela Lei nº 11.452, de 2007, art. 18). (grifo e negrito nossos) Portanto, a participação do encomendante das operações comerciais relativas à aquisição dos produtos no exterior é irrelevante para a caracterização da modalidade de "importação por encomenda". ❉ Identificação do responsável pela importação. Está aqui diante de um terceiro modo de identificação do liame entre o importador interposto e o sujeito passivo oculto, à margem da modalidade de importação praticada: reconhecer quem foi o responsável pela importação. Um adendo se faz necessário: como já dito, usualmente, a fiscalização identifica a prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros pela desconstituição da modalidade de importação direta adotada pelo importador com a consequente caracterização da modalidade de "importação por conta e ordem de terceiros" ou de “por encomenda”. Fl. 6079DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 22 41 Todavia, há um outro modo de demonstrar esse liame, à margem de qualquer demonstração de repasse de recursos e/ou tomada de risco. É demonstrar que o responsável pela importação utilizou o importador interposto como um longa manus. É uma outra ótica da fiscalização reconhecer a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros dissociada do critério da capacidade econômica: o REAL COMPRADOR no mercado interno seria identificado como sendo aquele que detém o “Domínio do Fato”. Um outro modo de compreender (identificar) o responsável pela importação é através da seguinte constatação: sem a sua vontade a importação não aconteceria. Percebam uma nova variante da prática de interposição fraudulenta de terceiros: Quem exerce o “domínio do fato” pode vir a ser ou não o destinatário dos produtos importados no mercado interno. A mercadoria transacionada PODE SEQUER passa por ele assim como o dinheiro referente à transação. Ainda assim, é ele que determina todas as coordenadas do importador. Portanto, é tido como o responsável pela importação. IMPORTANTE: Se não for constatado o liame entre os assim denominados “importador interposto” e “sujeito passivo oculto”, aquele que a fiscalização a priori identificou como REAL COMPRADOR no mercado interno perde essa qualificação e passa a ser tratado como um “MERO COMPRADOR”, não cabendo assim qualquer tipificação da conduta no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. ❉ Demonstração da FRAUDE ou SIMULAÇÃO. Fl. 6080DF CARF MF 42 Como visto, o significado de “interpor”, verbo transitivo, é "pôr entre". Já a fraude representa todo artifício empregado com o fim de enganar uma pessoa e causarlhe prejuízo. Destarte, tomando como base o simples significado das palavras, é possível concluir que interposição fraudulenta é a situação fática em que determinado ente fica numa posição de "intermediário" (importador ostensivo) com o objetivo de esconder outro agente (adquirente ou encomendante), causando prejuízo ao erário ou dificultando os controles administrativos das Aduanas. Embora a fraude já esteja perfeitamente caracterizada, nos termos do art. 72 da Lei nº 4.502/1964, cumpre ainda atentar que o bem jurídico protegido pela norma contida no art. 83, inciso I, da Lei nº 4.502/1964, com a redação dada pelo art. 1º, alteração 2ª, do Decreto lei nº 400, de 30 de dezembro de 1968, não é unicamente o Erário, mas a norma visa essencialmente resguardar o controle aduaneiro e proteger a economia nacional, que se vêem afetados pela importação fraudulenta e pela entrada clandestina de mercadorias no País. Nesse passo é possível discernir entre a fraude tributária stricto sensu e a fraude aduaneira que abrange, além dos aspectos estritamente fiscais atinentes àquela, também os extrafiscais, próprios do controle aduaneiro. Nesse sentido, fraude aduaneira não se restringe à fraude exclusivamente tributária. Assim, em matéria aduaneira, a fraude assume uma feição própria, de modo que o termo “importação fraudulenta” transcende a conduta dolosa de tãosomente evitar ou reduzir o pagamento de tributo, não se restringindo à “fraude”, tal como conceituada no art. 72 da Lei nº 4.502/1964, de feição estritamente tributária. Envolve também as ações dolosas empreendidas para burlar os controles aduaneiros, com o intuito de lograr benefícios ilicitamente, com p. ex., obter vantagens cambias, remeter divisas irregularmente etc. Em tais situações, pode ocasionalmente não haver insuficiência ou falta de recolhimento de impostos, porém não se há de negar a caracterização da importação como fraudulenta, porquanto resta evidente a ação dolosa em ilidir o controle aduaneiro para fruição de vantagens ilícitas em detrimento da economia nacional, bens jurídicos que a norma visa assegurar. Então, em relação a operações aduaneiras, seria um contrasenso exigir que a fraude se caracterizasse unicamente pela falta ou insuficiência de pagamento dos impostos incidentes na importação. No ordenamento jurídico encontramos exemplos dessa acepção, em que a importação fraudulenta não necessariamente implica supressão ou redução do imposto devido. É o caso art. 23 do DecretoLei nº 1.455, de 7 de abril de 1976, com redação dada pelo art. 59 da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002 (DOU 31/12/2002), que pune uma espécie de importação fraudulenta, caracterizada pela ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, inclusive a interposição fraudulenta de terceiros, mesmo não havendo repercussão no recolhimento do imposto. Assim, “importação fraudulenta” significa importação com fraude ao controle aduaneiro, mitigandose a feição estritamente tributária de “reduzir ou evitar o pagamento do imposto” ocorrendo nos casos em que a falsificação ou a adulteração de documentos acarrete dano ao citado controle, mesmo que não haja repercussão no tratamento tributário. A propósito observese o lúcido ensinamento de ROOSEVELT BALDOMIR SOSA: "consiste a falsidade documental, em matéria aduaneira, em elaborar documento falso, Fl. 6081DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 23 43 ou alterálo total ou parcialmente de modo a iludir o controle administrativo. Também se conhece a falsidade ideológica, que é quando o documento se mostra verdadeiro, mas não expressa a verdade” (Comentário à lei aduaneira: Regulamento Aduaneiro, São Paulo: Aduaneiras, 1993, vol. III, p. 187) . A prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, tipificada no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. é uma conduta que o legislador entendeu por bem não tolerar, dado o seu RISCO POTENCIAL. O quadro abaixo indica as três etapas para a consumação da infração, de acordo com a prática efetiva. Para tanto, transcrevese trecho do Termo de Verificação Fiscal, às folhas 19 e 20 do processo digital: Por tudo que foi exposto até o presente momento, verificase que a contabilidade não está espelhando com fidedignidade as operações realizadas pela empresa e assim, pelo que foi até aqui relatado, há fortes indícios de que a fiscalizada não é a real adquirente das mercadorias importadas e que ocorria, portanto, a interposição de pessoas. Desta forma, mantivemos a continuidade da fiscalização e através de uma amostragem significativa, emitimos os Termos de Intimação Fiscal Ns 02, Ns 03, e Na 04, a fim de verificarmos a origem e a finalidade dos recursos monetários que ingressaram na empresa (anexos 09). Após terem transcorrido mais de dois meses para atender as intimações, a empresa nos forneceu os documentos solicitados. Analisandose os documentos que nos foram enviados, Fl. 6082DF CARF MF 44 verificamos que a fiscalizada enviounos somente 01 (um) contrato que foi assinado com um de seus “clientes”. Neste contrato verificase que a auditada não é a real adquirente das mercadorias, pois no mesmo é contratado que as operações_só serão realizadas mediante adiantamento de recursos monetários (anexos 10). De posse dos documentos, e em virtude da enorme quantidade de dados a serem verificados, inicialmente, utilizandose os “Compact Disc” (CDs) enviados pela empresa, criamos o Demonstrativo das Notas Fiscais Emitidas (anexos 12). Os dados constantes neste demonstrativo foram obtidos nos dados informados pela empresa na relação de notas fiscais (anexos 05) e na relação de identificação dos recursos monetários recebidos (anexos 11), os quais foram entregues, também, em “CD”. Analisandose o referido demonstrativo, concluímos que as informações prestadas pela fiscalizada não correspondiam à realidade. Em nossa análise constatamos as seguintes ocorrências: depósitos realizados em data anterior a de emissão das notas fiscais de saídas, caracterizando, assim, adiantamentos; valores depositados superiores aos valores totais constantes nas notas fiscais de saídas; valores depositados inferiores aos valores totais constantes nas notas fiscais de saídas; valores depositados em datas bem posteriores à data de emissão das notas fiscais de saídas (há casos em que a diferença de data é superior a um ano); um mesmo depósito referindose a notas fiscais de saídas emitidas em datas bem diferentes; informação de que os depósitos referiamse à devolução de cheques; Notas fiscais informadas nas planilhas de identificação dos recursos monetários recebidos não localizadas nas planilhas de notas fiscais. f) O conjunto de fatos apurados levounos a emitir o Termo de Intimação Fiscal Nfi 05 (anexos 13) para verificarmos os dados constantes nas notas fiscais de saídas. Ao examinarmos as notas fiscais de saídas, verificamos que todas as notas que constam no Demonstrativo das Notas Fiscais Emitidas foram emitidas como vendas a vista e não como vendas a prazo, como informado anteriormente pela empresa. Desta forma, nas informações prestadas, verificase que os depósitos realizados em parcelas para diversas notas fiscais são comprovações de que as informações prestadas não correspondem à realidade dos recursos monetários recebidos pela fiscalizada. Além destes fatos, observamos outros, os quais nos levaram a fazer correções no Demonstrativo das Notas Fiscais Emitidas elaborados pela fiscalização. Assim sendo, de posse do referido demonstrativo e de posse das notas fiscais, construímos ò Demonstrativo do Fl. 6083DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 24 45 Saldo Bancário (onde é demonstrado o saldo bancário da empresa nas datas especificadas), o Demonstrativo dos Valores Excluídos (onde é demonstrado os valores que não foram considerados no fluxo financeiro e o motivo da exclusão) e o Demonstrativo do Fluxo Financeiro (onde é demonstrado o real saldo de recursos monetários da empresa disponíveis para pagamento das despesas aduaneiras realizadas). No Demonstrativo do Fluxo Financeiro, fica demonstrada a total falta de capacidade financeira da empresa para realizar as operações de comércio exterior no período fiscalizado (anexos 13). Cabe destacar que quando foi gerado o Demonstrativo dos Valores Excluídos, todos os valores que foram creditados na conta “Obrigações Diversas”, e que foram debitados na conta “Bancos" como depósitos, não foram considerados como recursos monetários da empresa, já que, em contabilidade, a essência deve prevalecer sobre a forma e, assim, neste caso, não fica caracterizado que a empresa assumiu uma obrigação de pagamento de algo. Tais registros contábeis caracterizam que a empresa assumiu a obrigação de uma prestação de serviço por ter recebido recursos monetários de terceiros, caracterizando, desta forma, que tais recebimentos de recursos monetários são, na realidade, adiantamentos realizados pelos reais adquirentes das mercadorias importadas pela fiscalizada. Portanto, em planilhas anexas ao Auto de Infração, a fiscalização identificou como origem dos recursos empregados nas operações de importação, clientes da empresa Gama Comercial no mercado interno, o que caracteriza modalidade de importação por "conta e ordem". Como a figura do adquirente não aparece na Declaração de Importação, isso implica em burla aos controles aduaneiros e por conseguinte prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, conduta infracional tipificada no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76. É alegado às folhas 16 do Recurso Voluntário pela empresa Gama Comercial: Infeliz foi o procedimento do I. Auditor Fiscal do SEFIA, pois em momento algum deixou claro no Auto de Infração qual o dispositivo legal a recorrente infringiu, somente apontou os artigos que amparam o seu relatório final do procedimento especial de fiscalização da IN/SRF n° 228/02, como se não soubesse o andamento final daquele processo que estava arquivado, já nulo, então utilizou esse Relatório para embasar o auto de infração, contrariando as ordens do Inspetor, o que demonstrou a total MÁ FÉ do I. Auditor Fiscal do SEFIA já manifestada inicialmente, quando ao invés de enviar uma intimação solicitando todos os documentos, foi solicitando aos poucos, para que a fiscalização perdurasse no tempo. A Decisão proferida no referido Processo Fiscal emitida pelo SEORT da IRF/Vitória foi muito dara quando julgou insubsistente o Relatório e todas as irregularidades apontadas Fl. 6084DF CARF MF 46 pelo I. Auditor Fiscal e, por consequência, anulando a acusação que a recorrente não teria utilizado recursos próprios para sua atividade. Através dessa Decisão da autoridade competente, acabouse com a possibilidade de prosperar qualquer infração porventura levantada por tal relatório. E é isso que consta claramente do Parecer n° 991/07 e que deixa claro em diversas passagens de seu teor, como o do primeiro parágrafo da página 17: “A representação não merece prosperar, pois a ausência da comprovação acima citada trazida pela fiscalização, capaz de fundamentar suas conclusões, faz subsistir incólume o entendimento firmado no presente parecer”. Mais adiante, o Recorrente apresenta trecho do Parecer n° 991/07: “Ademais, inexiste comprovação de que o contribuinte tenha utilizado algum meio fraudulento objetivando burlar os encargos tributários, de modo que se afigura exorbitante a decretação de inaptidão do CNPJ da mesma”. “0 princípio da segurança jurídica consubstanciase na necessidade e adequação dos meios empregados para que atinja os desideratos que a lei almeja. In casu, não se configurando a interposição fraudulenta, bem como havendo possibilidade da determinação de providência extremamente gravosa ao contribuinte, novamente menciono que se afiguraria demasiada a pena imposta”. “Desta forma, do quanto foi exposto, ressalvandose as vênias cabíveis, e considerando que os fatos levantados pela fiscalização não configuram irregularidades previstas na legislação para caracterização da declaração de inaptidão, manifesto entendimento de que deva ser acolhido o pleito sobre a ins0ubsistência da representação, tomandoa sem efeito, haja vista as razões expendidas no presente parecer”. “Todavia, não se pode conceber, em pleno Estado Democrático de Direito, como suficiente para ensejará imposição de qualquer penalidade, mesmo a mais branda, a inexistência de teto da empresa representada, não só pela efetiva demonstração de sua existência, mas também pela comprovação da origem dos recursos que agora se demonstra”. (Grifos próprios do original) São necessárias as seguintes considerações: 1. Em momento algum o Parecer n° 991/07 SEORT aborda a questão da demonstração do trinômio origem, disponibilizados e transferência de recursos empregados nas operações de importação; 2. O Parecer n° 991/07 SEORT aborda a questão da declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ, o que foge por completo do escopo da prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, tipificada no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76; Fl. 6085DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 25 47 3. Sem querer invadir seara alheia, respeitando os motivos e fundamentos veiculados, mas parece claro, pelo menos para este Relator, que a declaração de inaptidão da inscrição da pessoa jurídica no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ foi denegada justamente porque se identificou a origem dos recursos empregados nas operações de importação, como sendo de terceiro identificado, o que implica em outra sanção. Portanto, o Parecer n° 991/07 SEORT, ponto basilar da defesa da Recorrente empresa Gama Comercial, não tem substância para ilidir a ocorrência da prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros. Da empresa Diplomat do Brasil. Foi identificada pela fiscalização como sendo a origem dos recursos empregados nas operações de importação praticadas pela empresa Gama Comercial e adquirente das mercadorias no mercado interno, o que implica sua condição de REAL COMPRADOR. São encontradas provas de transferências de recursos da empresa Diplomat do Brasil (REAL COMPRADORA) para à empresa Gama Comercial (importador interposto) às seguintes folhas: Ø 1928 do processo digital; Ø 1930 do processo digital; Ø 1938 do processo digital; Ø 1948 do processo digital; Ø 1958 do processo digital. Esse quadro afasta a alegação da empresa Diplomat do Brasil de ilegitimidade passiva, pois sabia que estava adquirindo produto importado no mercado interno, na condição de ADQUIRENTE / REAL COMPRADOR – sem estar habilitada para tanto. O DANO AO ERÁRIO No caso em análise, o bem jurídico tutelado é o controle aduaneiro e esse controle foi violado, mediante a prática de fraude ou simulação tendente a burlar a Administração Aduaneira. Por serem os Imposto de Importação e de Exportação tributos com caráter extrafiscal, o dano ao Erário não se relaciona apenas a questão de “quanto de tributo deixou de ser recolhido”. Até mesmo porque, pela própria natureza da fraude e simulação proporciona vantagens de outra natureza. Mas mesmo assim, podem vir a serem detectadas vantagens irregulares relacionadas a nãoincidência de impostos e contribuições decorrentes da prática de interposição fraudulenta de terceiros, muito embora não se mostrem imprescindíveis para configurar o dano ao Erário. Fl. 6086DF CARF MF 48 Para esclarecer o assunto, listase algumas dessas vantagens que podem ser auferidas indevidamente pela prática da interposição fraudulenta de terceiros: Burlar os controles de habilitação para operar no comércio exterior: Para que uma pessoa, física ou jurídica, possa operar no comércio exterior, é necessário que a Receita Federal lhe conceda uma habilitação para acesso ao Siscomex – Sistema Integrado de Comércio Exterior. A pessoa deve possuir Radar. Procedimentos relacionados a essa habilitação estão previstos em atos normativos que estabelecem uma série de verificações fiscais atinentes à avaliação da capacidade operacionaleconômicofinanceira da empresa e ao confronto entre as informações prestadas no requerimento e aquelas constantes na base de dados da Receita Federal (auditoria preventiva). Foi citado, em mais de uma oportunidade, que na interposição fraudulenta de terceiros aquele que não possui capacidade contributiva está intencionalmente exercendo o papel daquele que a possui, com o firme propósito de burla dos controles aduaneiros e fugir da exação tributária. Mesmo que se alegue que a exação tributária foi paga pela interposta pessoa, portanto o Erário não deixou de efetuar o recolhimento que lhe cabia, a burla dos controles aduaneiros ocorreu, pois não é o real importador que se apresenta perante à fiscalização com o seu nome no despacho aduaneiro. A burla aos controles aduaneiros pode causar: • impedir que uma determinada empresa (adquirente) seja submetida ao procedimento de habilitação; • impedir a equiparação, do real adquirente, à condição de estabelecimento industrial, contribuinte do IPI; • impedir a aplicação das restrições e determinações previstas na legislação de "valor aduaneiro" e de "preços de transferência"; . • impedir o conhecimento da verdadeira origem dos recursos; • impedir atribuir ao adquirente a condição de responsável solidário pelos tributos incidentes na importação; • impedir o devido registro contábil da propriedade dos bens, incluindo a composição de custos destes bens; • propiciar o aproveitamento indevido de incentivos fiscais estaduais (ICMS), a chamada "guerra fiscal' entre os Estados da federação que, muitas vezes, apenas fomenta a criação , ou simulação de enpresas com o fim único de se obter tais vantagens; • impedir o efetivo controle aduaneiro e fiscal; No caso específico da modalidade Importação por “conta e ordem” ainda podem ser listadas as seguintes burlas aos controles aduaneiros: · A não vinculação do adquirente ao Importação por “conta e ordem”, no Siscomex, via Declaração de Importação; Fl. 6087DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 26 49 · A não apresentação do adquirente, para fins da vinculação, de requerimento à unidade aduaneira da Receita Federal do Brasil com jurisdição sobre o seu estabelecimento matriz, indicando: I nome empresarial e número de inscrição do importador no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ); e II – apresentação de cópia do contrato firmado entre as partes para a prestação dos serviços. · A não habilitação do adquirente no RADAR; · A não informação pelo Importação por “conta e ordem", do número de inscrição do adquirente no CNPJ em campo próprio da Declaração de Importação; · A exigência de garantia para autorização da entrega ou desembaraço aduaneiro de mercadorias, por parte do adquirente quando o valor das importações for incompatível com o capital social ou patrimônio líquido deste; E ainda traz outros efeitos: Blindar o patrimônio do real adquirente/encomendante: No caso de eventual lançamento tributário decorrente das operações, o real importador se beneficia de certa “imunidade” no âmbito patrimonial (cobrança de tributos e multa) e penal (conduta criminosa), uma vez que, aos olhos do Fisco, somente é conhecida a identidade da interposta pessoa. Quebra da cadeia de incidência do IPI: Por ordenamento constitucional, o IPI é um tributo de incidência nãocumulativa, compensandose o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores (art. 153, § 3º, inciso II, da CF/88). O importador de mercadoria estrangeira é estabelecimento equiparado a industrial, consoante o artigo 13 da Lei 13.281/06. Desse modo, a saída de mercadoria do estabelecimento equiparado a industrial, mesmo quando a importação não tenha sido realizada diretamente por ele, constitui fato gerador do IPI, sendo efetivamente devido o valor do imposto em razão da diferença entre o preço de entrada e o preço de saída, pelo princípio da nãocumulatividade, conforme artigo 35 do Decreto nº 7.212/10 (RIPI). Fl. 6088DF CARF MF 50 Ao não se apresentar à Receita Federal como importador de mercadorias importadas, o real adquirente intenta afastar sua condição de contribuinte (por equiparação) do IPI pela saída do produto de seu estabelecimento. Sonegação de PIS/PASEP e COFINS nãocumulativos: Em uma importação por intermédio de terceiros, o importador é contribuinte do PIS/PASEP e COFINS não cumulativos sobre a receita bruta auferida (no caso da importação por encomenda) ou sobre o valor dos serviços prestados (no caso de importação por conta e ordem), consoante o artigo 12 do Decreto nº 4.524/02. Lavagem de dinheiro e ocultação de bens e valores: Por lavagem de dinheiro entendese o procedimento utilizado para disfarçar a origem de bens e valores obtidos ilegalmente. No caso da ocultação mediante fraude ou simulação, abrese brecha para a utilização de recursos de origem desconhecida no pagamento das importações. Fruição indevida pelo importador oculto ( adquirente ) do benefício do ICMS. Esse ponto em destaque ganha abrupta relevância quando a interposta pessoa se localiza em Estado da Federação que proporciona benefícios fiscais relacionados a incidência do ICMS. Um instrumento que a princípio teria fins de elisão fiscal, ao ser combinado com a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros, via modalidade de Importação por “conta e ordem" não declarada, assume contornos de elusão fiscal. Aquele que seria em princípio instrumento para fomentar a atividade econômica de um Estado da Federação, passa a ser usado de modo ilícito ao ser combinado com a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior. Para legitimar a sanção, basta a certificação do fato infracional, independente da existência de culpa, demonstração de boafé e ocorrência de efetivo dano ao Erário público. Fl. 6089DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 27 51 Este também parecer ser o entendimento da colenda jurisprudência, conforme a seguinte ementa de decisão emanada pela terceira turma do TRF da 4º Região, referente ao processo 2001.72.08.0023793/SC a respeito da natureza do dano ao erário: ADMINISTRATIVO. PENA DE PERDIMENTO. LESÃO AO ERÁRIO. ART. 136 DO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. Como a responsabilidade decorrente da violação à legislação tributária é objetiva, o dano ao erário deve ser entendido como de natureza meramente potencial, sob pena de se incentivar a fraude fiscal com a aparência de inocência, dada a dificuldade de se apurar o elemento subjetivo em cada caso concreto. Neste mesmo sentido: Origem: TRIBUNAL QUARTA REGIÃO Processo: 96.04.005111 UF: PR Orgão Julgador: PRIMEIRA TURMA Ementa PENA DE PERDIMENTO. DEL37/66. O DEL37/66 não foi revogado pela Constituição Federal pois, o dano causado ao erário público previsto no ART153, PAR11 da Carta Magna, não exige o prejuízo decorrente da exportação sem pagamento de tributos ou mesmo a exportação proibida, bastando configurarse uma situação vedada pela lei, fato que se assemelha ao crime de perigo previsto na lei penal.” Agreguese ainda outro julgado do mesmo Tribunal, na Apelação em Mandado deSegurança nº 2001.72.03.0009910/SC (grifouse): "Devese ter presente que dano ao erário não se configura unicamente pelo nãorecolhimento de tributos. Em matéria de controle aduaneiro, a questão não se limita aos aspectos tributários, pois a atividade alfandegária ultrapassa em muito a mera questão tributária. "... não é certo considerar o Direito Aduaneiro como um ramo do Direito Fiscal. É, sim, ramo independente que com aquele não se confunde, pois não lida apenas com o fenômeno impositivo, mas sobretudo com a complexa e variada gama de fenômenos que caracterizam o comércio internacional,tanto do ponto de vista da regulação quanto do controle estatal exercido” (ob. cit., p.52). - A QUEBRA DA CADEIA DO IPI – A INFRAÇÃO AO SISTEMA TRIBUTÁRIO Quando da publicação da Lei nº 4.502, de 30 de novembro de 1964, foi estabelecida a equiparação à industrial de todo importador que promovesse a nacionalização de um determinado bem: Fl. 6090DF CARF MF 52 Art. 4° Equiparamse a estabelecimento produtor, para todos os efeitos desta Lei: I os importadores e os arrematantes de produtos de procedência estrangeira; Essa equiparação atribui ao importador a obrigação de recolhimento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) não apenas na importação, mas também na revenda/saída dos produtos importados ao mercado interno, bem como a obrigação de escriturar livros fiscais e de cumprir com as demais obrigações acessórias, ainda que o mesmo desenvolva atividade meramente comercial e que as mercadorias importadas não sejam submetidas a nenhum processo produtivo. Com o advento do uso da empresa interposta em operação de comércio exterior, percebeuse a necessidade de se estender essa mesma equiparação para a figura do adquirente que se vale de um intermediário (empresa interposta) para realizar suas importações. O artigo 79 da MP 2.158/2001 cuidou dessa previsão: Art. 79. Equiparamse a estabelecimento industrial os estabelecimentos, atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. O artigo 13 da Lei nº 11.281/06 estendeu também essa condição ao encomendante: Art. 13. Equiparamse a estabelecimento industrial os estabelecimentos, atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por encomenda ou por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. A partir desta nova previsão legal, a utilização de empresa interposta em operações de comércio exterior sem a adoção de uma das duas modalidades (Importação por “conta e ordem" ou Importação por “encomenda”), implica também na não observância de: o Uma obrigação tributária principal Em relação a omitir sua condição de equiparado à industrial; o Uma obrigação tributária acessória Por não realizar a escrituração do IPI. Quando uma empresa opta por uma modalidade de importação deve estar atenta não só às diferenças de custo, mas também aos diferentes efeitos e obrigações tributárias a que estão sujeitas, não só na esfera federal, mas também no âmbito estadual. Entretanto, algumas empresas levam em consideração apenas a diferença de custos e obrigações acessórias na hora de optar entre modalidades regulamentadas pela RFB e uma outra modalidade "alternativa", sem se preocupar com as obrigações tributárias a que estão sujeitas para atuarem no comércio exterior. Algumas "economias tributárias" almejadas são inaceitáveis por agredirem a legislação em vigor. Tanto o importador quanto o adquirente de mercadoria importada por encomenda ou por sua conta e ordem são estabelecimentos equiparados a industrial. ❖ Decreto N° 7.212/2010. Art. 9° Equiparamse a estabelecimento industrial: Fl. 6091DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 28 53 I os estabelecimentos importadores de produtos de procedência estrangeira, que derem saída a esses produtos (Lei n° 4.502, de 1964, art. 4°, inciso I); (...) IX os estabelecimentos, atacadistas ou varejistas, que adquirirem produtos de procedência estrangeira, importados por encomenda ou por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora (Medida Provisória n° 2.15835, de 2001, art. 79, e Lei no 11.281, de 20 de fevereiro de 2006, art. 13);. A saída da mercadoria dos estabelecimentos equiparados a industrial é fato gerador do imposto, sendo devido o IPI. Assim, se uma empresa contratar uma importadora para registrar uma operação de importação "por encomenda" ou "por conta e ordem", será contribuinte do IPI e estará sujeita a recolher o imposto e ao cumprimento das obrigações acessórias (escrituração dos livros exigidos pelo RIPI, destaque do IPI nas notas fiscais, e outras). Porém, se o verdadeiro importador, o real adquirente ou encomendante se ocultar do Fisco, uma "empresa de fachada" figurará na declaração de importação e será equiparado a estabelecimento industrial e contribuinte do IPI. Após a nacionalização das mercadorias, a "empresa de fachada" acatará as ordens do verdadeiro responsável pela operação e "venderá" (remeterá) as mercadorias a quem ele determinar. Assim, o verdadeiro destinatário final das mercadorias de procedência estrangeira, fugirá da equiparação à indústria, dissimulando a condição de contribuinte do IPI. Exemplificando as perdas de arrecadação, pela quebra da cadeia de incidência do IPI, decorrentes de uma das possíveis simulações acima citadas, tomese duas situações em que a empresa "A" decide importar uma mercadoria com o valor aduaneiro de R$ 1.000,00 e vendêlo no mercado interno com uma margem de lucro de 150%. Na situação 1, a empresa "A" registra a importação como operação por conta própria. Na situação 2, a empresa A contrata a operação a um importador de fachada, a fim de ocultar sua situação como real importador. Para simplificar o exemplo, a alíquota do IPI é 20% e não existem outras despesas na importação: Além disso, a correta incidência do IPI sobre a mercadoria estrangeira equipara a carga tributária do produto importado ao produto nacional. Com a sonegação do IPI, a concorrência desleal do produto importado aumenta os obstáculos ao crescimento da indústria nacional. Fl. 6092DF CARF MF 54 A pratica de interposição fraudulenta de pessoas possibilita a quebra da cadeia do IPI. com a consequente sonegação daquele tributo. Não se trata do IPI vinculado à importação, este é recolhido automaticamente no ato de registro da DI. Tratase do IPI que incide em etapa posterior ao desembaraço aduaneiro, IPI incidente sobre o lucro agregado na fase comercial posterior ao desembaraço. O seguinte esquema mostra as etapas da operação: o A empresa interposta registra importação de mercadorias a preços irrisórios no mercado exterior e recolhe IPI proporcional em função do valor aduaneiro vinculado IPI vinculado à importação; o Dá saída da mercadoria (venda) a outra empresa (sujeito passivo oculto) com destaque de IPI na nota fiscal (a recolher). IPI calculado com base em um lucro agregado nesta etapa, lucro geralmente insignificante; o Por ser insignificante o valor agregado — a importadora (empresa interposta) recolhe o IPI referente ao valor agregado por ser importadora, portanto, equiparada legalmente a industrial; o O sujeito passivo oculto (controlador de fato das operações) dá saída da mercadoria aos seus clientes com lucro comercial real ao agrega valores significativos à operação. É um risco potencial que o legislador quis evitar. O sujeito passivo oculto ao não se apresentar aos órgãos responsáveis pelos controles aduaneiros por não adotar uma das modalidades de Importação permissivas para o uso de empresa interposta em operação de comércio exterior, esquivase de assumir sua posição na cadeia do Imposto sobre Produtos Industrializados, tal qual determina a legislação. Há uma cisma por parte dos causídicos que militam na área aduaneira em querer atrelar infrações passíveis de pena de perdimento (artigo 105 do DecretoLei nº 37/66 e artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76) com a exigência da constatação de recolhimento de tributos a menor. E a indagação natural que se segue a essa ilação é a seguinte: De que ordem deve ser essa sonegação para justificar a pena de perdimento: mil, cem, dez reais, ou até mesmo, um real? Ou em outros termos, se assim preferirem, vinte, dez, cinco, ou até mesmo, um por cento da base de cálculo? Ou tomando a licença de levar esse mesmo raciocínio ao seu extremo: Um único centavo sonegado, já que é a menor fração da moeda, justificaria a aplicação da pena de perdimento? Com base no que e em que? Em exame aos dispositivos citados (artigo 105 do DecretoLei nº 37/66 e artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76), é cristalino que o legislador não se ocupou em estabelecer tal discriminem. E isso reside no fato de que a área aduaneira tem por escopo outros interesses que não a exigência tributária. Dada que a função da fiscalização aduaneira tem por natureza o exercício do Poder de Polícia, sua função precípua é a repressão de CONDUTAS consideradas nocivas pelo legislador. Em exame analítico aos incisos dos dois artigos, percebese que o legislador se deteve no assunto do recolhimento dos tributos aduaneiros em apenas dois incisos do artigo 105 do DecretoLei nº 37/66, a saber: Fl. 6093DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 29 55 Art.105 Aplicase a pena de perda da mercadoria: (...) IX estrangeira, encontrada ao abandono, desacompanhada de prova de pagamento dos tributos aduaneiros, salvo as do art.58; (...) XI estrangeira, já desembaraçada e cujos tributos aduaneiros tenham sido pagos apenas em parte, mediante artifício doloso; (Grifo Nosso) Essa constatação é muito salutar para a presente análise, pois revela que quando o legislador quer atrelar a aplicação da pena de perdimento à ausência ou o pagamento parcial dos tributos incidentes no despacho aduaneiro, assim o faz. Os demais incisos de ambos os artigos (artigo 105 do DecretoLei nº 37/66 e artigo 23 do DecretoLei nº 1.455/76) dizem respeito à CONDUTAS, que o legislador entendeu por bem denominálas de “dano ao Erário”, inclusive no que tange à prática de interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior. Portanto, esse discriminem da ausência ou pagamento parcial dos tributos não se denota na redação do inciso V, do artigo 23, do DecretoLei nº 1.455/76. Quando a fiscalização se refere à “Quebra da Cadeia do IPI", o faz com propriedade no seguinte sentido: A empresa deliberadamente não assumiu sua condição de equiparado à industrial, conforme determina a legislação aplicável. Querer que a fiscalização apure quanto deixou de ser arrecadado, se é que isso aconteceu, é uma atribuição que o legislador ao estabelecer a tipificação da infração de ocultação do sujeito passivo em operações de comércio exterior não lhe conferiu. A fruição do benefício do ICMS por empresa interposta. Aquele que seria em princípio um instrumento voltado para fomentar a atividade econômica de um Estado da Federação, passa a ser usado de modo ilícito ao ser combinado com a prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior, conforme a seguinte descrição: o A empresa age como interposta pessoa em operações de comércio exterior; o A empresa interposta se apresenta aos controles aduaneiros da Receita Federal do Brasil como importador de direito; o A empresa interposta oferta o benefício do ICMS que é lhe conferido pela legislação do Estado aos seus clientes espalhados pelo território nacional; o Ao agir assim, encobre esses clientes que por força de Lei deveriam ser apresentados aos controles aduaneiros como intervenientes do comércio exterior na condição de adquirentes/encomendantes da mercadoria importada. Fl. 6094DF CARF MF 56 o Em proveito da política fiscal do Estado que exonera / mitiga o ICMS, a empresa interposta consegue oferecer bens importados no mercado interno com preços inferiores aos preços normalmente praticados, propiciando aos seu cliente (sujeito passivo oculto) uma condição ímpar, deflagrando assim prática nociva à ao princípio da livre concorrência e ao princípio da isonomia; o Aquele que deveria ser o gozo de dois direitos inicialmente legítimos (fruição do benefício do ICMS e o direto de importar) ao serem combinados, sem a estrita observância da legislação pertinente a modalidade de Importação por “conta e ordem” ou por “encomenda”, assume um contorno nocivo por propiciar uma vantagem não estendida aos demais importadores; o Destarte, tanto a empresa interposta como o sujeito passivo oculto gozam de vantagens indevidas ao combinarem sinergias: enquanto que empresa interposta (importador) se credita do ICMS, o sujeito passivo oculto (cliente) obtém a mercadoria importada no mercado interno a preços vantajosos, uma condição que é inacessível a quem se submete à legislação; Assim, devese reprimir o potencial nocivo dessa vantagem diferencial decorrente da fruição do benefício do ICMS conferido pela legislação Estadual e o uso de empresa interposta em operações de comércio exterior, que passa a ofertála pais a fora como uma vitrine em um balcão de negócios. A Lei Complementar nº 87/96 (Lei Kandir), no artigo 11, inciso I, alínea d), estabelece que: Art. 11. O local da operação ou da prestação, para os efeitos da cobrança do imposto e definição do estabelecimento responsável, é: I tratandose de mercadoria ou bem: (...) d) importado do exterior, o do estabelecimento onde ocorrer a entrada física. (Grifo Nosso) Se o estabelecimento daquele que promove a importação pela modalidade “direta” está situado em unidade da federação que fornece benefício da fruição do ICMS (crédito fictício), está evidenciado um recolhimento de ICMS a menor na importação, configurando assim uma vantagem indevida através da prática de interposição fraudulenta de terceiros, o que deve ser reprimido pela Receita Federal do Brasil. Esse crédito fictício fornecido pelo Estado de origem não entra no cômputo da do redutor da alíquota interestadual. Um exemplo é esclarecedor: Estado A tem alíquota de ICMS de 12%, ao passo que Estado B tem alíquota de ICMS de 18%. Fl. 6095DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 30 57 O Estado A fornece benefício da fruição do ICMS para as empresas importadoras que ali se instalarem, através de crédito fictício de 9%. Portanto, o importador só suportará a incidência da alíquota de 3%. Contudo, ao se remeter a mercadoria ao Estado B ( que tem alíquota de ICMS de 18% ), o diferencial da alíquota interestadual incidirá sobre 12% e não sobre a alíquota de 3% efetivamente pagos. Portanto, para o Estado B (de destino) o diferencial da alíquota interestadual a incidir será apenas de 6% (18 – 12) e não de 15% (18 3) como deveria. É um risco potencial que o legislador também quis evitar. É a famigerada guerra fiscal, trazendo efeitos nocivos aos princípios da capacidade econômica, da isonomia e da livre concorrência que a repressão à prática de interposição fraudulenta de terceiros visa combater. Incompatibilidade entre optante do SIMPLES e contribuinte do IPI. Em sendo optante do SIMPLES, o contribuinte não poderá se apropriar de créditos relativos ao IPI. Conforme se pode observar nos documentos ora abojados que foram extraídos de nossa base de dados (anexos 14), existem diversas empresas participantes do SIMPLES que utilizaram a fiscalizada para realizar as suas importações. Assim, os valores do IPI creditados pela fiscalizada, em relação às importações de tais empresas, é mais um dano provocado à União. - DA BOA FÉ ALEGADA Oportuno agora se faz trazer comentários a respeito do alegado quanto à boa fé: É imprescindível para a análise a transcrição do artigo 136 do Código Tributário Nacional: Responsabilidade por Infrações Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Esse artigo possui o seu correspondente no DecretoLei n° 37/66: Art.94 Constitui infração toda ação ou omissão, voluntária ou involuntária, que importe inobservância, por parte da pessoa natural ou jurídica, de norma estabelecida neste DecretoLei, no seu regulamento ou em ato administrativo de caráter normativo destinado a completálos. § 1º O regulamento e demais atos administrativos não poderão estabelecer ou disciplinar obrigação, nem definir infração ou cominar penalidade que estejam autorizadas ou previstas em lei. § 2º Salvo disposição expressa em contrário, a responsabilidade por infração independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Fl. 6096DF CARF MF 58 O artigo 136 do Código Tributário Nacional é taxativo no sentido de que a responsabilidade tributária é objetiva. O §2º, do artigo 94 do Decreto Lei n° 37/66, também é taxativo no sentido de que a responsabilidade por infração aduaneira é objetiva. Assim, ainda agindo de boafé, cercado das cautelas de praxe, com razões suficientes para acreditar que está praticando um ato em conformidade com o direito, ainda que ignore o fato de seu ato ou de seus representantes estar em descompasso com a legislação, o Impugnante não pode se furtar de sua responsabilidade. O Código Tributário Nacional, ao preceituar a aplicação de sanção por infrações tributárias, utiliza a expressão “independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato”. Linha absolutamente idêntica é adotada pelo DecretoLei n° 37/66. Ambos ordenamentos desconsideram a intenção do agente ou responsável como pressuposto para a aplicação da devida punição, bem como dispensa a comprovação dos efeitos e extensão dos danos à Fazenda Pública. A boa fé alegada, ainda que preponderante, por força dos artigos transcritos, não tem o condão de afastar a responsabilidade por infrações da legislação tributária. Assim, o legislador ao consagrar a responsabilidade objetiva por atos infracionais, dispensa a Fazenda Pública de perquirir fatos comprovadores da presença do dolo ou da culpa e elementos de materialidade efetiva para aplicar a sanção correspondente. A responsabilidade objetiva garante de forma mais eficaz a coercibilidade do sistema punitivo tributário. De outro modo, a atividade de fiscalização se inviabilizaria se a cada infração tivesse que se provar que o contribuinte não autorizou determinada operação por negligência, imperícia ou imprudência. Para legitimar a sanção, basta a certificação do fato infracional, independente da existência de culpa, demonstração de boafé e ocorrência de efetivo dano ao Erário público. - A INFRAÇÃO POR “CESSÃO DE NOME” A infração por “cessão de nome” surge como uma consequencia da prática efetiva da interposição fraudulenta de terceiros. Ceder seu nome, mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seu real beneficiário, ficando sujeita a multa tipificada no caput do artigo 33 da Lei 11.488/2007: Art. 33. A pessoa jurídica que ceder seu nome, inclusive mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários fica sujeita a multa de 10% (dez por cento) do valor da operação acobertada, não podendo ser inferior a R$ 5.000,00 (cinco mil reais). (Grifo e negrito nossos) Fl. 6097DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 31 59 Chamase a atenção para a expressão utilizada pelo legislador "com vistas", o que denota que a conduta infracional tipificada pelo artigo 33 da Lei n° 11.488/2007 dispensa resultado, sendo uma infração de conduta. Uma vez caracterizada a prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, com fulcro no inciso V, do artigo 23 do Decreto Lei n° 1.455/76, o importador interposto incorre também em infração por "cessão de nome". COAUTORIA DO IMPORTADOR NA PRÁTICA EFETIVA DE INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DE TERCEIROS A questão que perdura é: Por ser a infração tipificada no inciso V, do artigo 23, do Decreto Lei 1.455/76, uma infração imprópria, o importador de direito (INTERPOSTO) responde juntamente com o importador de fato pela multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria? Bernardo Alves da Silva Júnior, Procurador da Fazenda Nacional em Brasília, em magistral explanação, vem proporcionar precisa e robusta contribuição quanto à adequada hermenêutica: NÃO É ILEGAL ACUMULAR PENALIDADES POR FRAUDE Enorme controvérsia fervilha nos órgãos judiciais e administrativos competentes para dirimir contendas tributárias acerca da aplicação das multas previstas no artigo 23, inciso V, parágrafo 3º do Decretolei 1.455/1976, e artigo 33 da Lei 11.488/2007, que prevêem infrações derivadas da interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior. O cerne da discussão atine aos efeitos oriundos do art. 33 da Lei 11.488/2007, notadamente no que tange à interposição fraudulenta de terceiros materializada pela conduta de cessão do nome para o acobertamento dos reais intervenientes em operação de importação, a qual também é regulada pelo art. 23, inciso V, parágrafos 1º e 3º do DecretoLei 1.455/1976. Fl. 6098DF CARF MF 60 Segundo o Decretolei 1.455/1976, no seu art. 23, inciso V (incluído pela Lei 10.637, de 30/12/2002), a ocultação do sujeito passivo, do real vendedor, comprador ou de responsável pela operação, mediante fraude ou simulação, gera a penalidade de perdimento das mercadorias, convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria, caso esta não tenha sido localizada ou haja sido consumida. A seu turno, o art. 33 da Lei 11.488/2007 consigna a aplicação de multa, no montante de 10% do valor da operação, à pessoa jurídica que ceder seu nome para a realização de negócios de comércio exterior em que se acoberte os reais intervenientes ou beneficiários, vedada a penalidade de inaptidão de CNPJ. Muitas são as perspectivas adotadas para a solução da suposta colisão entre as citadas regras. No âmbito administrativo e em alguns juízos, ecoa com bastante força a tese de que a diferença das infrações tipificadas nos dispositivos legais apontados reside no fato de que a Lei 11.488/2007 dirigese ao importador ou exportador ostensivo, aquele que cede o seu nome, enquanto o Decretolei 1.455/1976 tem por objetivo sancionar o sujeito oculto, verdadeiro responsável pela operação. Para essa corrente, o importador ou exportador ostensivo deixou de se submeter à multa prescrita no Decretolei 1.455/1976 por força de derrogação pela lei posterior, de modo que referido agente a partir de então deve se submeter apenas à multa de 10% sobre o valor da operação acobertada, proibindose a declaração da inaptidão de seu CNPJ. Essa é a posição consolidada pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento em São Paulo, 2ª Turma (Acórdão 1725849, de 17/07/2008). Recentemente, todavia, o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, examinando a fundo a questão, trilhou caminho diverso no seu enfrentamento. Em 24 de maio de 2010, as 1ª e 2ª Turmas da 1ª Câmara da 3ª Seção do CARF deram provimento a recursos de ofício para restabelecer lançamentos fiscais nos valores de mais de R$ 42 milhões e R$ 27 milhões, respectivamente (processos 10314.010132/200744 e 10314.013716/200691), ao entendimento de que mesmo após o advento da Lei 11.488/2007 o importador ostensivo deve responder pela multa substitutiva do perdimento de mercadoria prevista no art. 23, inciso V, parágrafos 1º e 3º do Decretolei 1.455/1976. O novo entendimento perfilhado pelo CARF nos parece inteiramente acertado e condizente com os regramentos legais imponíveis. Em que pese a celeuma que rodeia o tema, a sua detida análise revela que não houve derrogação do art. 23, inciso V do Decretolei 1.455/1976, Fl. 6099DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 32 61 sendo certo que tal regra convive harmonicamente com a disposição do art. 33 da Lei 11.488/2007, de maneira a permitir a aplicação de ambas as multas ao importador ostensivo que mediante a cessão do seu nome em operação de comércio exterior oculta, em ação fraudulenta, o real adquirente. Com efeito, a escorreita leitura do art. 33 da Lei 11.488/2007, pautada nas perspectivas literal, histórica, teleológica e sistemática, evidencia que o único efeito desse comando legal foi o de empreender a substituição da penalidade de inaptidão do CNPJ pela de multa de 10% sobre o valor da operação acobertada para os importadores que cedessem seu nome para acobertar o real interveniente em operação de comércio exterior. Referida norma não faz nenhuma alusão à pena de perdimento de mercadoria prescrita no Decretolei 1.455/1976. Razões de política fiscal levaram o legislador a extirpar a penalidade de inaptidão do CNPJ, até então prevista no art. 81 da Lei 9.430/1996 c/c art. 34, inciso III e 41, inciso III, da Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal 568/2005, porque se afigurava desproporcional e infenso à Economia considerarse inexistente de fato grandes empresas de intermediação em operações no comércio exterior — Trading Companies — que viessem a cometer a infração de ceder seu nome para ocultar o real adquirente em importações. Essa penalidade culminava, em verdade, com a própria aniquilação das atividades da pessoa jurídica, pelo que se reputou mais adequado imputar, em substituição, a sanção de multa. Assim, de sua parte, o art. 23, inciso V, parágrafos 1º e 3º do Decretolei 1.455/1976 continua a sancionar o agente que oculta o verdadeiro adquirente em importação, ainda que mediante a cessão de seu nome, sendolhe aplicável a pena de perdimento da mercadoria ou multa substitutiva. Antes da Lei 11.488/2007, a conduta de ceder o nome para acobertar o real interveniente em importação gerava duas penalidades: o perdimento da mercadoria ou multa substitutiva e a inaptidão de CNPJ. Agora, à luz das normas vigentes, temse como consequência da indigitada conduta a aplicação de multa de 10% no lugar da inaptidão do CNPJ, sem prejuízo do perdimento da mercadoria. A aplicação de duas ou mais penalidades em decorrência de uma única conduta não encontra nenhum óbice no ordenamento jurídico pátrio. Isso porque o ato de ceder o nome para acobertar o real adquirente em importação tem Fl. 6100DF CARF MF 62 o condão de configurar o cometimento de duas infrações, previstas no art. 23, inciso V, do Decretolei 1.455 e no art. 33 da Lei 11.488, em circunstância similar ao concurso formal de infrações estampado no art. 70 do Código Penal. E a cada infração corresponde uma penalidade. O próprio art. 99 do Decretolei 37/1966 contempla a aplicação cumulativa das penas correspondentes à prática de duas ou mais infrações. É relevante destacar que as infrações em comento são distintas, notadamente porque tutelam bens jurídicos diversos. O art. 23, inciso V, do Decretolei 1.455/1976 visa a proteger o regime de controle aduaneiro e o patrimônio da União, ao passo que o art. 33 da Lei 11.488/2007 resguarda a higidez do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas, sancionando o mau uso da inscrição no CNPJ pelas empresas. Aqui, importa relembrar que a multa de 10% sobre o valor da operação acobertada veio substituir a inaptidão de CNPJ, e apesar da modificação do consequente normativo, o suposto normativo e o seu objeto jurídico mantiveramse inalterados. Essa constatação da diversidade de objetos jurídicos, aliás, é suficiente para afastar qualquer alegação da ocorrência de bis in idem, na esteira do que vêm decidindo iterativamente os tribunais superiores. A concepção de que as sanções ora analisadas podem ser aplicadas cumulativamente foi cristalizada no art. 727, parágrafo 3º, do Decreto 6.759/2009, que trata do Regulamento Aduaneiro, no qual se consignou expressamente que a multa de 10% do valor da operação à pessoa jurídica que ceder seu nome não prejudica a pena de perdimento das mercadorias importadas ou exportadas. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região também tem esposado essa mesma intelecção (AMS 200572080051666, Otávio Roberto Pamplona, TRF4 – 2ª Turma, 01/08/2007). As normas em cotejo não se chocam, mas sim se complementam na defesa dos bens jurídicos que visam a proteger, de modo que ambas vigoram sem qualquer prejuízo à sua aplicação. Ou seja, mesmo após o advento da Lei 11.488/2007, o importador ostensivo continua a sujeitarse à pena de perdimento da mercadoria ou a correlata multa substitutiva. A nosso juízo, o novo entendimento sufragado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais retrata a mais escorreita exegese da matéria. Assim, firme nas considerações ora alinhavadas, forçoso é concluir que o importador que ceder seu nome para acobertamento de terceiros em operação de comércio exterior deverá responder tanto pela multa substitutiva prevista no art. 23, inciso V, parágrafo 3º, do Decretolei 1.455/1976 como Fl. 6101DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 33 63 pela multa do art. 33 da Lei 11.488/2007, até mesmo em atenção ao que dispõe o art. 95, incisos I, V e VI do Decretolei 37/1966. (in: www.jurisite.com.br/textosjuridicos/texto332.html Neste mesmo sentido, posicionouse o TRF4 APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA: AMS 5166 SC 2005.72.08.0051666, Dilação Probatória. Interposição Fraudulenta. Ocultação do Verdadeiro Importador. Pena de Perdimento das Mercadorias. Dados Gerais Processo: AMS 5166 SC 2005.72.08.0051666 Relator(a): OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA Julgamento: 03/07/2007 Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA Publicação: D.E. 01/08/2007 Ementa TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DILAÇÃO PROBATÓRIA. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA. OCULTAÇÃO DO VERDADEIRO IMPORTADOR. PENA DE PERDIMENTO DAS MERCADORIAS. LEGALIDADE. ARTIGO 33 DA LEI Nº 11.488, DE 15 DE JUNHO DE 2007. NÃO REVOGAÇÃO DA PENA DE PERDIMENTO PREVISTA NO ARTIGO 23 DO DECRETOLEI Nº 1.455, DE 1976. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 1. A alegada violação a direito líquido e certo deve estar demonstrada de plano, mediante prova préconstituída (artigo 8º da Lei nº. 1.533/51), sendo descabida a utilização do mandado de segurança para o fim de desconstituir ato administrativo, que goza da presunção de legitimidade e veracidade, mediante alegações de fato que demandem dilação probatória. 2. O auto de infração, que redundou na aplicação da pena de perdimento, está devidamente fundamentado, encontrando lastro nos documentos produzidos no procedimento administrativo, que dão conta de que a impetrante, de fato, promoveu a importação em favor de terceiro, sem o observância das regras pertinentes. 3. Da mesma forma, o arbitramento feito pela autoridade fiscal, no que concerne aos valores dos bens internalizados, demonstra que houve subfaturamento, não se Fl. 6102DF CARF MF 64 desincumbindo a autuada de demonstrar, a contento, que as conclusões da autoridade fiscal estão equivocadas. 4. A existência de outras imperfeições formais na documentação que amparou a importação, aliada ao subfaturamento, são indicativos de que a operação, em princípio, está eivada de irregularidades. A prova produzida pela impetrante, por sua vez, apresentouse frágil para afastar a presunção de legitimidade do ato apontado como coator. 5. O artigo 33 da Lei nº 11.488, de 15 de junho de 2007, não tem o condão de afastar a pena de perdimento, porquanto não implicou em revogação do artigo 23 do DL nº 1.455/76, com a redação dada pela Lei nº 10.637/2002. Isso porque, a pena de perdimento atinge, em verdade, o real adquirente da mercadoria, sujeito oculto da operação de importação. A pena de multa de 10% sobre a operação, prevista no referido dispositivo legal, revelase como pena pessoal da empresa que, cedendo seu nome, faz a importação, em nome próprio, para terceiros. O parágrafo único do aludido artigo, por sua vez, estatui que "à hipótese prevista no caput deste artigo não se aplica o disposto no art. 81 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996". Essa complementação legal, constante do parágrafo único, abona o entendimento de que não houve a revogação da pena de perdimento para a hipótese retratada nos autos. Antes o confirma, porquanto exclui, expressamente, apenas a possibilidade da aplicação da sanção de inaptidão do CNPJ. Quanto às demais penas, permanecem incólumes, havendo a previsão, agora também, da pena pecuniária, nos termos do caput do aludido preceptivo legal. 6. A discussão acerca da sanção de declaração de inaptidão do CNPJ não pode ser enfrentada nesta segurança, pois o auto de infração impugnado não aplicou referida pena. A decisão que declarou a inaptidão do CNPJ foi proferida por outra autoridade, em outro procedimento, o qual, aliás, é objeto de ação ordinária que tramita na 1ª Região. 7. Denegação da segurança mantida. Improvimento da apelação. Nesse sentido, citase o artigo 99 do DecretoLei nº 37/66: Art.99 Apurandose, no mesmo processo, a prática de duas ou mais infrações pela mesma pessoa natural ou jurídica, aplicamse cumulativamente, no grau correspondente, quando for o caso, as penas a elas cominadas, se as infrações não forem idênticas. (Grifo e negrito nossos) Fl. 6103DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 34 65 São portanto duas condutas infracionais distintas, afetando bens jurídicos tutelados dispares: ¨ Art. 33 da Lei 11.488/2007: Infração própria cometida apenas pelo importador de direito (INTERPOSTO), em razão de sua habilitação no Siscomex, por ceder seu nome, inclusive mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas no acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários. O parágrafo único do referido artigo é explicito em determinar que sua aplicação vem a inibir a declaração de inaptidão do CNPJ do importador/exportador de direito (ou ostensivo), decorrente da previsão feita pelo §1º, do artigo 81 da Lei nº 9430/96, não fazendo referência à qualquer outro artigo. A conduta tipificada do importador de direito (INTERPOSTO) é de “ceder o nome” agindo em descompasso em relação à higidez do Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas. ¨ Art. 23, inciso V, do Decreto Lei 1.455/76: Infração imprópria cometida tanto pelo importador de direito (INTERPOSTO) como pelo importador de fato (REAL COMPRADOR) em coautoria. A conduta tipificada do importador de direito (INTERPOSTO) é de “prática de interposição fraudulenta de terceiros em operações de comércio exterior”, agindo em descompasso em relação aos controles aduaneiros. Encontrase apoio nas palavras de Luiz Flávio Gomes para se conceituar o instituto da coautoria: Ocorre coautoria (no Direito penal) quando várias pessoas participam da execução do crime, realizando ou não o verbo núcleo do tipo. Todos os coautores, entretanto, possuem o codomínio do fato. Todos praticam fato próprio. Enquanto o coautor participa de fato próprio, o partícipe contribui para fato alheio. Três são os requisitos da coautoria: 1) pluralidade de condutas; 2) relevância causal e jurídica de cada uma; 3) vínculo subjetivo entre os coautores (ou pelo menos de um dos coautores, com anuência ainda que tácita do outro ou dos outros coautores). A coautoria, como se vê, conta com uma parte objetiva (concretização do fato) e outra subjetiva (acordo explícito ou tácito entre os agentes). Fl. 6104DF CARF MF 66 http://jus.com.br/revista/texto/8120/conceitodeco autoriaemdireitopenal#ixzz1qoR4I4u3 Fazendo a transposição do conceito acima elucidado para a infração de interposição fraudulenta em operação de comércio exterior, temos: 1) pluralidade de condutas: a interposição fraudulenta é composta pela conduta do importador de fato (ocultado) e pela conduta do importador de direito (ocultador). Uma conduta complementa a outra. Logo ambos percorrem o fato típico da infração. 2) relevância causal e jurídica de cada uma: o importador de direito (ocultador) registra a Declaração de Importação em seu nome com recursos oriundos do importador de fato (ocultado) ou sob sua determinação. A relação entre os dois agentes é clara e cristalina com flagrante intenção de burlar os controles aduaneiros. 3) vínculo subjetivo entre os coautores: existe o liame subjetivo que liga o importador de fato (ocultado) ao importador de direito (ocultador) na clara intenção de auferir proveitos em descumprir a legislação aduaneira. É certa a exigência de que todo e qualquer importador se cadastre junto ao Siscomex (Sistema Radar) para que a Receita Federal do Brasil possa exercer um controle direto sobre suas atividades de modo a garantir, entre outros, a lisura da concorrência no mercado interno, inclusive o adquirente e o encomendante. Sabese que muitas organizações usam a figura do importador interposto para não auferir o lucro contábil e assim burlar a fiscalização no pagamento de impostos e contribuições decorrentes tanto do lucro quanto do faturamento. O vínculo que liga tanto o importador de fato ao importador de direito é justamente a consecução dessa prática visando fugir dos controles aduaneiros. O artigo 95, inciso I, do DecretoLei n° 37/66, assim determina: Art.95 Respondem pela infração: I conjunta ou isoladamente, quem quer que, de qualquer forma, concorra para sua prática, ou dela se beneficie; (Grifo e negrito próprios do impugnante) Pelo exposto, o importador de direito – importador interposto e o importador de fato – sujeito passivo oculto CONCORREM para a prática efetiva de interposição fraudulenta de terceiros, pois: Fl. 6105DF CARF MF Processo nº 12466.000913/200801 Acórdão n.º 3302005.783 S3C3T2 Fl. 35 67 Assim, entendese que, mesmo com o advento do artigo 33 da Lei n° 11.488/2007, a infração do inciso V, do artigo 23, do DecretoLei n° 1.455/76 é imputável tanto ao importador de direito (INTERPOSTO) como ao importador de fato (OCULTO) em coautoria, , no que tange à cobrança da multa proporcional ao valor aduaneiro. Por fim, o próprio § 3º, do artigo 727, do Regulamento Aduaneiro – Decreto 6.759/2009 endossa esse entendimento. Art. 727. Aplicase a multa de dez por cento do valor da operação à pessoa jurídica que ceder seu nome, inclusive mediante a disponibilização de documentos próprios, para a realização de operações de comércio exterior de terceiros com vistas ao acobertamento de seus reais intervenientes ou beneficiários (Lei no 11.488, de 2007, art. 33, caput). (...) § 3o A multa de que trata este artigo não prejudica a aplicação da pena de perdimento às mercadorias importadas ou exportadas. (grifo e negrito nossos) Portanto, a incidência da multa do artigo 33 da Lei nº 11.488/07 não exclui a aplicação da pena de perdimento e consequentemente a multa equivalente ao valor aduaneiro. Diante de tudo que foi exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao Recurso do Contribuinte. É como voto. Jorge Lima Abud. Fl. 6106DF CARF MF 68 Fl. 6107DF CARF MF
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Numero do processo: 10935.722212/2012-04
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Sep 27 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2007, 2008, 2009, 2010, 2011
JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO. LEGALIDADE.
As multas proporcionais aplicadas em lançamento de ofício, por descumprimento a mandamento legal que estabelece a determinação do valor de tributo administrado pela Receita Federal do Brasil a ser recolhido no prazo legal, estão inseridas na compreensão do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, sendo, portanto, suscetíveis à incidência de juros de mora à taxa SELIC.
Numero da decisão: 9101-003.715
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Luis Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento.
Rafael Vidal de Araújo - Presidente em exercício.
(assinado digitalmente)
Flávio Franco Corrêa - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Flávio Franco Corrêa, Luis Flávio Neto, Viviane Vidal Wagner, Gerson Macedo Guerra, Demetrius Nichele Macei e Rafael Vidal de Araújo (Presidente em Exercício).
Nome do relator: FLAVIO FRANCO CORREA
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Ano-calendário: 2007, 2008, 2009, 2010, 2011 JUROS SOBRE MULTA DE OFÍCIO. LEGALIDADE. As multas proporcionais aplicadas em lançamento de ofício, por descumprimento a mandamento legal que estabelece a determinação do valor de tributo administrado pela Receita Federal do Brasil a ser recolhido no prazo legal, estão inseridas na compreensão do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, sendo, portanto, suscetíveis à incidência de juros de mora à taxa SELIC.
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LEGALIDADE. As multas proporcionais aplicadas em lançamento de ofício, por descumprimento a mandamento legal que estabelece a determinação do valor de tributo administrado pela Receita Federal do Brasil a ser recolhido no prazo legal, estão inseridas na compreensão do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, sendo, portanto, suscetíveis à incidência de juros de mora à taxa SELIC. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Luis Flávio Neto e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Rafael Vidal de Araújo Presidente em exercício. (assinado digitalmente) Flávio Franco Corrêa Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros André Mendes de Moura, Cristiane Silva Costa, Flávio Franco Corrêa, Luis Flávio Neto, Viviane Vidal Wagner, Gerson Macedo Guerra, Demetrius Nichele Macei e Rafael Vidal de Araújo (Presidente em Exercício). Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 93 5. 72 22 12 /2 01 2- 04 Fl. 3955DF CARF MF Processo nº 10935.722212/201204 Acórdão n.º 9101003.715 CSRFT1 Fl. 3.956 2 Tratase de Recurso Especial de Divergência interposto pelo contribuinte em face do acórdão nº 1102001.005 da 2ª Turma Ordinária da 1ª Câmara, que negou provimento a Recurso Voluntário, quanto à incidência de juros de mora à taxa Selic sobre a multa proporcional. A autoridade fiscal opôs Embargos de Declaração, que foram parcialmente acolhidos para sanar obscuridade existente no acórdão e, assim, reratificálo com efeitos infringentes. Ciência da decisão dos Embargos e do acórdão do Recurso Voluntário no dia 15/09/2016, à efl. 3.577. Recurso Especial interposto no dia 14/10/2016. Por Despacho, negouse a admissibilidade do Recurso Especial, à efl. 3.737. O contribuinte ingressou com Agravo, que foi parcialmente acolhido, reconhecendose a tempestividade do Recurso Especial para, ao fim, determinar o prosseguimento no exame de admissibilidade, avaliando sob o prisma dos demais requisitos regimentais, à efl. 3.777. Em novo Despacho, o Recurso Especial foi admitido apenas quanto à incidência dos juros de mora sobre a multa proporcional, à efl. 3.779/3.788. O contribuinte ingressou com novo Agravo, que foi rejeitado, à efl. 3.934. Na oportunidade do Recurso Especial, o recorrente alegou divergência em relação ao acórdão nº 3402002.929. Despacho de Encaminhamento à PGFN no dia 05/10/2017, à efl. 3.940. Contrarrazões da PGFN apresentadas no dia 11/10/2017, à efl. 3.954. É o relatório. Voto Conselheiro Flávio Franco Corrêa, Relator. Na interposição do presente apelo, foram reunidos os requisitos de recorribilidade. Adotando as razões sobre a tempestividade de fls. 3.775/3.777, bem como as razões sobre a admissibilidade quanto à incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício, às efls. 3.786/3.787, conheço do Recurso Especial do contribuinte. O ponto crucial da dúvida está na redação do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, verbis: “Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação Fl. 3956DF CARF MF Processo nº 10935.722212/201204 Acórdão n.º 9101003.715 CSRFT1 Fl. 3.957 3 específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. (Vide Decreto nº 7.212, de 2010) §1º A multa de que trata este artigo será calculada a partir do primeiro dia subseqüente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento do tributo ou da contribuição até o dia em que ocorrer o seu pagamento. §2º O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por cento. §3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. (Vide Lei nº 9.716, de 1998) Mais especificamente, objetivase descortinar se, nos débitos a que se refere o § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, estão incluídos o tributo suprimido ao Erário e a multa proporcional aplicada mediante lançamento de ofício, ou somente o valor do tributo suprimido. De início, devese aludir à disposição normativa de onde emana a vedação à incidência de juros de mora sobre a multa de mora, conforme prevê o parágrafo único do artigo 16 do Decretolei nº 2.323/1987, com a redação dada pelo artigo 6º do Decretolei nº 2.331/1987, verbis: “Art. 6º. Os arts. 15 e 16 do Decretolei nº 2.323, de 26 de fevereiro de 1987, passam a vigorar com a seguinte redação: "Art. 15. Os débitos para com a Fazenda Nacional, de natureza tributária, para com o Fundo de Investimento Social (Finsocial) e para com o Fundo de Participação PISPasep, não pagos no vencimento, serão acrescidos de multa de mora. Parágrafo único. A multa de mora será de vinte por cento sobre o valor monetariamente atualizado do tributo ou contribuição, sendo reduzida a dez por cento se o pagamento for efetuado até o último dia útil do terceiro mês subseqüente àquele em que tiver ocorrido o vencimento do débito. Art. 16. Os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional, para com o Fundo de Participação PISPasep, assim como aqueles decorrentes de empréstimo compulsórios, serão acrescidos, na via administrativa ou judicial, de juros de mora, contados do mês seguinte ao do vencimento, à razão de um por cento ao mês calendário ou fração e calculados sobre o valor monetariamente atualizado na forma deste decretolei. Parágrafo único. Os juros de mora não incidem sobre o valor da multa de mora de que trata o artigo anterior." Percebase que o Decretolei nº 2.323/1987, ao ressalvar a multa de mora, não vedou a incidência dos juros de mora sobre a multa proporcional aplicada mediante lançamento de ofício. Por outro lado, o § 3º do artigo 950 do Decreto nº 3000/1999 (Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99) estabelece que a multa de mora não deve ser aplicada se o tributo suprimido ao Erário já tiver servido de base de cálculo para a multa proporcional decorrente de lançamento de ofício, verbis: Fl. 3957DF CARF MF Processo nº 10935.722212/201204 Acórdão n.º 9101003.715 CSRFT1 Fl. 3.958 4 “Art. 950. Os débitos não pagos nos prazos previstos na legislação específica serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento por dia de atraso (Lei nº 9.430, de 1996, art. 61). § 1º A multa de que trata este artigo será calculada a partir do primeiro dia subseqüente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento do imposto até o dia em que ocorrer o seu pagamento (Lei nº 9.430, de 1996, art. 61, § 1º). § 2º O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por cento (Lei nº 9.430, de 1996, art. 61, § 2º). § 3º A multa de mora prevista neste artigo não será aplicada quando o valor do imposto já tenha servido de base para a aplicação da multa decorrente de lançamento de ofício.” (grifei) Assim, a expressão “os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal”, constante do caput do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, deve ser interpretada no sentido de compreender, para fins de incidência dos precitados juros moratórios, a diferença do tributo não recolhida até a data de seu vencimento, em razão de sua equivocada determinação, e a consequente multa aplicada mediante lançamento de ofício. Para tal empreitada exegética, é preciso considerar os artigos 113, § 1º; 139 e 161, caput e § 1º, do Código Tributário Nacional (CTN), verbis: “Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente.” “Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.” “Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês.” A teor dos artigos suprarreferidos: a) o crédito tributário é uma decorrência da obrigação tributária principal (CTN, artigo 139); b) essa obrigação tem por objeto o pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária imposta como consequência do descumprimento do dever legal de entregar ao Estadocredor, no prazo legal, o valor integral do tributo, apurado em consonância com as normas legais (CTN, § 1º do artigo 113); c) o crédito não integralmente pago no vencimento, de que trata o caput do artigo 161 do CTN, não se resume ao valor do tributo suprimido ao Erário, porquanto a infração consistente na supressão do tributo é fato gerador da multa proporcional a ser aplicada mediante lançamento de ofício. Portanto, o § 3º do artigo 161 do CTN abarca o valor do tributo suprimido e a multa a ser aplicada de ofício, em decorrência da supressão do tributo. Fl. 3958DF CARF MF Processo nº 10935.722212/201204 Acórdão n.º 9101003.715 CSRFT1 Fl. 3.959 5 Em apoio à interpretação aqui defendida, trazse à colação o REsp nº 1.129.990PR, publicado no Dje no dia 14/09/2009, relator Ministro Castro Meira: “Da sistemática instituída pelo art. 113, caput e parágrafos, do Código Tributário NacionalCTN, extraise que o objetivo do legislador foi estabelecer um regime único de cobrança para as exações e as penalidades pecuniárias, as quais caracterizam e definem a obrigação tributária principal, de cunho essencialmente patrimonialista, que dá origem ao crédito tributário e suas conhecidas prerrogativas, como, a título de exemplo, cobrança por meio de execução distinta fundada em Certidão de Dívida AtivaCDA. A expressão "crédito tributário" é mais ampla do que o conceito de tributo, pois abrange também as penalidades decorrentes do descumprimento das obrigações acessórias. Em sede doutrinária, ensina o Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria que, "havendo descumprimento da obrigação acessória, ela se converte em principal relativamente à penalidade pecuniária (§ 3º), o que significa dizer que a sanção imposta ao inadimplente é uma multa, que, como tal, constitui uma obrigação principal, sendo exigida e cobrada através dos mesmos mecanismos aplicados aos tributos " (Código Tributário Nacional Comentado: Doutrina e Jurisprudência, Artigo por Artigo. Coord.: Vladimir Passos de Freitas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2ª ed., 2004, p. 546) De maneira simplificada, os juros de mora são devidos para compensar a demora no pagamento. Verificado o inadimplemento do tributo, advém a aplicação da multa punitiva que passa a integrar o crédito fiscal, ou seja, o montante que o contribuinte deve recolher ao Fisco. Se ainda assim há atraso na quitação da dívida, os juros de mora devem incidir sobre a totalidade do débito, inclusive a multa que, neste momento, constitui crédito titularizado pela Fazenda Pública, não se distinguindo da exação em si para efeitos de recompensar o credor pela demora no pagamento. (grifei) Em suma, o crédito tributário compreende a multa pecuniária, o que legitima a incidência de juros moratórios sobre a totalidade da dívida. Rematando, confirase a lição de Bruno Fajerstajn, encampada por Leandro Paulsen (Direito Tributário Constituição e Código Tributário à Luz da Doutrina e da Jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 9ª ed., 2007, p. 1.027 1.028): "A partir da redação do dispositivo, fica evidente que os tributos não podem corresponder à aplicação de sanção pela prática de ato ilícito, diferentemente da penalidade, a qual, em sua essência, representa uma sanção decorrente do descumprimento de uma obrigação. A despeito das diferenças existentes entre os dois institutos, ambos são prestações pecuniárias devidas ao Estado. E no caso em estudo, as penalidades decorrem justamente do descumprimento de obrigação de recolher tributos. Diante disso, ainda que inconfundíveis, o tributo e a penalidade dele decorrente são figuras intimamente relacionadas. Ciente disso, o Código Tributário Nacional, ao definir o crédito tributário e a respectiva obrigação, incluiu nesses conceitos tanto os tributos como as penalidades. (grifei) Fl. 3959DF CARF MF Processo nº 10935.722212/201204 Acórdão n.º 9101003.715 CSRFT1 Fl. 3.960 6 Com efeito, o art. 139 do Código Tributário Nacional define crédito tributário nos seguintes termos: 'Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta'. Já a obrigação principal é definida no art. 113 e no parágrafo 1º. Vejase: 'Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente'. Como se vê, o crédito e a obrigação tributária são compostos pelo tributo devido e pelas penalidades eventualmente exigíveis. No entanto, essa equiparação, muito útil para fins de arrecadação e administração fiscal, não identifica a natureza jurídica dos institutos. (...) (grifei) O Código Tributário Nacional tratou da incidência de juros de mora em seu art. 161. Confirase: 'Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. § 2º O disposto neste artigo não se aplica na pendência de consulta formulada pelo devedor dentro do prazo legal para pagamento do crédito' A redação deste dispositivo permite concluir que o Código Tributário Nacional autoriza a exigência de juros de mora sobre 'crédito' não integralmente recolhido no vencimento. Ao se referir ao crédito, evidentemente, o dispositivo está tratando do crédito tributário. E conforme demonstrado no item anterior, o crédito tributário decorre da obrigação principal, na qual estão incluídos tanto o valor do tributo devido como a penalidade dele decorrente. (grifos no original) Sendo assim, considerando o disposto no caput do art. 161 acima transcrito, é possível concluir que o Código Tributário Nacional autoriza a exigência de juros de mora sobre as multas" (Exigência de Juros de Mora sobre as Multas de Ofício no Âmbito da Secretaria da Receita Federal. Revista Dialética de Direito Tributário, São Paulo, n. 132, p. 29, setembro de 2006). (grifos no original) Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial.”(grifos no original) Essa é a diretriz a ser seguida, para se descortinar o alcance do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, fundamento legal da multa aplicada no caso concreto. Do preceito acima invocado, destacase a incidência de juros de mora sobre débitos decorrentes de tributos e contribuições. Facilmente se infere que as multas ora comentadas só nascem porque há tributo devido a ser exigido de ofício. Não houvesse tributo sonegado, não haveria multa proporcional a ser lançada de ofício. Essa deve ser a linha de Fl. 3960DF CARF MF Processo nº 10935.722212/201204 Acórdão n.º 9101003.715 CSRFT1 Fl. 3.961 7 raciocínio para o desvendamento do que se pode entender no âmbito da expressão “débitos decorrentes de tributos e contribuições.” Pelas razões acima referidas, as multas proporcionais aplicadas em lançamento de ofício, por descumprimento a mandamento legal que estabelece a determinação do valor de tributo administrado pela Receita Federal do Brasil a ser recolhido no prazo legal, estão inseridas na compreensão do § 3º do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, sendo, portanto, suscetíveis à incidência de juros de mora à taxa SELIC. Alfim, salientase que a Câmara Superior já decidiu segundo a linha exegética aqui anunciada: “JUROS DE MORA — MULTA DE OFICIO — OBRIGAÇÃO PRINCIPAL— A obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto tanto o pagamento do tributo como a penalidade pecuniária decorrente do seu não pagamento, incluindo a multa de oficio proporcional. O crédito tributário corresponde a toda a obrigação tributária principal, incluindo a multa de oficio proporcional, sobre o qual, assim, devem incidir os juros de mora à taxa Selic”. (Acórdão CSRF/0400.651, de 18/09/2007, processo nº 16327.002231/200285, Relator Conselheiro Alexandre Andrade Lima da Fonte Filho) “JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic.” (Acórdão nº 910100.539, de 11/03/2010, processo nº 16327.002243/9971, Relator Conselheiro Valmir Sandri, Redatora Designada Conselheira. Viviane Vidal Wagner) À luz dos argumentos expostos, impõese reconhecer a legalidade da incidência dos juros de mora, calculado com base na taxa SELIC, sobre a multa aplicada. CONCLUSÃO: devese conhecer do Recurso Especial do contribuinte para, no mérito, negarlhe provimento. É como voto. (assinado digitalmente) Flávio Franco Corrêa Fl. 3961DF CARF MF Processo nº 10935.722212/201204 Acórdão n.º 9101003.715 CSRFT1 Fl. 3.962 8 Fl. 3962DF CARF MF
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Numero do processo: 13808.005773/2001-28
Turma: Segunda Turma Extraordinária da Segunda Seção
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Aug 28 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Sep 18 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 1997
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. GRATIFICAÇÃO.
Os rendimentos tributáveis sujeitos à tabela progressiva recebidos pelos contribuintes e seus dependentes indicados na declaração de ajuste devem ser espontaneamente oferecidos à tributação na declaração de ajuste anual.
Cabe ao contribuinte apresentar provas quanto à composição dos valores recebidos, a fim de possibilitar à Administração Tributária promover a respectiva classificação jurídica, com vistas a verificar a incidência ou não do imposto de renda, à luz da legislação de regência da matéria.
Numero da decisão: 2002-000.269
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso, para, no mérito, negar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez - Presidente e Relatora
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez, Fábia Marcília Ferreira Campêlo, Thiago Duca Amoni e Virgílio Cansino Gil.
Nome do relator: CLAUDIA CRISTINA NOIRA PASSOS DA COSTA DEVELLY MONTEZ
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF Ano-calendário: 1997 OMISSÃO DE RENDIMENTOS. GRATIFICAÇÃO. Os rendimentos tributáveis sujeitos à tabela progressiva recebidos pelos contribuintes e seus dependentes indicados na declaração de ajuste devem ser espontaneamente oferecidos à tributação na declaração de ajuste anual. Cabe ao contribuinte apresentar provas quanto à composição dos valores recebidos, a fim de possibilitar à Administração Tributária promover a respectiva classificação jurídica, com vistas a verificar a incidência ou não do imposto de renda, à luz da legislação de regência da matéria.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 8; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1564; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; access_permission:can_modify: true; pdf:docinfo:producer: Serviço Federal de Processamento de Dados via ABCpdf; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => S2C0T2 Fl. 69 1 68 S2C0T2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO Processo nº 13808.005773/200128 Recurso nº Voluntário Acórdão nº 2002000.269 – Turma Extraordinária / 2ª Turma Sessão de 28 de agosto de 2018 Matéria IRPF. RENDIMENTOS. INDENIZAÇÃO. NATUREZA TRIBUTÁVEL. Recorrente IZAURA EMIKO FURUSHO FABRI Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 1997 OMISSÃO DE RENDIMENTOS. GRATIFICAÇÃO. Os rendimentos tributáveis sujeitos à tabela progressiva recebidos pelos contribuintes e seus dependentes indicados na declaração de ajuste devem ser espontaneamente oferecidos à tributação na declaração de ajuste anual. Cabe ao contribuinte apresentar provas quanto à composição dos valores recebidos, a fim de possibilitar à Administração Tributária promover a respectiva classificação jurídica, com vistas a verificar a incidência ou não do imposto de renda, à luz da legislação de regência da matéria. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso, para, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez Presidente e Relatora Participaram do presente julgamento os conselheiros: Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez, Fábia Marcília Ferreira Campêlo, Thiago Duca Amoni e Virgílio Cansino Gil. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 80 8. 00 57 73 /2 00 1- 28 Fl. 69DF CARF MF Processo nº 13808.005773/200128 Acórdão n.º 2002000.269 S2C0T2 Fl. 70 2 Relatório Notificação de lançamento Trata o presente processo de auto de infração – AI (fls. 22/25), relativo a imposto de renda da pessoa física, pelo qual se procedeu a alterações na declaração de ajuste anual da contribuinte acima identificada, relativa ao exercício de 1998. Essa alteração implicou na redução do imposto a restituir de R$18.349,34 para R$3.295,71. A autuação noticia a omissão de rendimentos recebidos do Banco Itaú, visto que o montante recebido não se enquadraria nas exigências legais de um PDV Programa de Demissão Voluntária. Impugnação Cientificado à contribuinte, o AI foi objeto de impugnação, em 16/10/2001, às fls. 3/27 dos autos, assim sintetizada pela decisão recorrida: 1) que o que recebeu do Banco Itaú foram verbas rescisórias pela rescisão do contrato de trabalho, indenizatórias porque resultantes de despedida por iniciativa do empregador e aquele Banco ao reter o imposto de renda sobre verbas indenizatórias descumpriu a legislação, pois não podia ignorar que essas verbas estão fora da incidência do imposto de renda; 2 ) que a Receita limitouse a indeferir o pedido rejeitando a figura do PDV Programa de Demissão Voluntária, como fundamento da pretendida isenção; 3) que os esclarecimentos prestados a pedido dessa Receita que requer, desde logo, sejam considerados parte integrante da presente impugnação contém as hipóteses possíveis de enquadramento legal, vale dizer, seja por adesão a PDV, seja por despedida sem justa causa, seja por liberalidade do ex empregador, o valor recebido por motivo da rescisão do contrato de trabalho, tem natureza indenizatória e está isento do imposto de renda; 4) que em qualquer dessas três hipóteses, não há incidência do imposto de renda na fonte ou na declaração, segundo, respectivamente; o inciso XIX, §4º, e incisos XX e XV do RIR/99 e o fato de o Banco Itaú denominar tais verbas como sendo "Gratificação Especial" em nada altera sua essência de indenização trabalhista e que as situam fora da incidência tributária, pois não configuram nem renda, nem proventos; 5) que a Súmula 215 do Superior Tribunal de Justiça considera que indenizações recebidas por ingresso a PDV não estão sujeitas ao imposto de renda. Fl. 70DF CARF MF Processo nº 13808.005773/200128 Acórdão n.º 2002000.269 S2C0T2 Fl. 71 3 A impugnação foi apreciada na 5ª Turma da DRJ/SPII que, por unanimidade, julgoua improcedente em decisão assim ementada (fls. 35/39): Assunto:Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Anocalendário:1997 Ementa: VERBAS INDENIZATÓRIAS. INCIDÊNCIA. Constitui rendimento tributável qualquer remuneração especial não expressamente declarada isenta na legislação pertinente. A IN SRF n° 165/98 trata exclusivamente de verbas indenizatórias recebidas a titulo de adesão a Plano de Demissão Voluntária (PDV) não amparando as verbas especiais recebidas nas demais hipóteses de desligamento. Recurso voluntário Ciente do acórdão de impugnação em 9/11/2016 (fl. 41), o representante da contribuinte, em 9/12/2016 (fl. 43), apresentou recurso voluntário, às fls. 43/59, no qual alega, em síntese, que: Inicialmente, informou na Declaração de Ajuste exercício 1998, como rendimento tributável verba rescisória no montante de R$75.823,19. Diz que o valor recebido a título de gratificação especial pelo Banco Itaú foi somado aos seus rendimentos de aposentadoria. Posteriormente, com base no Ato Declaratório nº 3, de 1999, e orientada por advogado do Sindicato dos Bancários de São Paulo, apresentou Declaração retificadora, informando a verba como isenta. diz que a decisão de piso tratou a impugnação como pedido de restituição incidente sobre pagamentos feitos a título de adesão a Plano de Demissão Voluntária PDV e que a contribuinte não teria comprovado a adesão ao plano. alega que a contribuinte não teria alegado em sua impugnação que se tratava de adesão a PDV e sim que a natureza das verbas recebidas e enquadramento legal se deu por indenização compensatória pela perda de emprego resultante de demissão sem justa causa, por iniciativa do empregador. discorre sobre o imposto de renda IR e diz que ele incidirá sobre a obtenção de renda e proventos de qualquer natureza. afirma que o IR tem como fator de incidência o acréscimo patrimonial e que não incidiria sobre valores obtidos a título de indenização. aduz que a decisão limitouse a indeferir seu pleito de isenção apenas tratando a figura do PDV como fundamento, o que não é o caso. argumenta que comprovou exaustivamente que o valor recebido em rescisão de contrato de trabalho se trata de indenização compensatória pela perda de emprego resultante de demissão sem justa causa, por iniciativa do empregador. Fl. 71DF CARF MF Processo nº 13808.005773/200128 Acórdão n.º 2002000.269 S2C0T2 Fl. 72 4 defende que o fato de a fonte pagadora ter denominado tais verbas como "Gratificação Especial" em nada altera sua essência de indenização trabalhista, o que as situariam fora da incidência tributária. pondera que o agente administrativo não pode interpretar a norma legal a seu bel prazer. alega que a tributação dessas verbas violaria a Constituição Federal, que proíbe utilizar tributo com efeito de confisco. cita novamente a Constituição Federal, para dizer que seu caso se enquadra no artigo 7º, inciso I, o qual prevê indenização compensatória contra despedida arbitrária e, sendo indenização, não há que se falar em tributação. diz que a Consolidação das Leis do Trabalho CLT, em seu artigo 477, é taxativa ao garantir para o empregado o direito de haver uma indenização quando não haja ele dado motivo para a cessação das relações de trabalho. argumenta que é entendimento maciço dos Tribunais Regionais Federais que as verbas pagas em razão de rescisão imotivada de contrato de trabalho não estão sujeitas a IR, bem como a gratificação especial paga por liberalidade. Reproduz ementas de decisões judiciais. diz que, não se enquadrando a verba recebida como indenização resultante de adesão a PDV, só resta a possibilidade de tratarse de indenização compensatória pela despedida sem justa causa, paga por mera liberalidade do exempregador. Processo distribuído para julgamento em Turma Extraordinária, tendo sido observadas as disposições do artigo 23B, do RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 2015, e suas alterações (fl.22). Voto Conselheira Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez Relatora Admissibilidade O recurso é tempestivo e atende aos requisitos de admissibilidade, assim, dele tomo conhecimento. Mérito O litígio recai sobre o montante de R$75.823,19 recebidos pela recorrente do Banco Itaú. Em seu recurso, o sujeito passivo aponta suposto equívoco na decisão de piso, ao analisar a verba em comento como sendo decorrente de adesão a PDV. Fl. 72DF CARF MF Processo nº 13808.005773/200128 Acórdão n.º 2002000.269 S2C0T2 Fl. 73 5 Da análise dos autos, vêse que a alegação não procede, visto que, em sua impugnação, a contribuinte mencionou a possibilidade de se tratar de PDV, além de citar normas atinentes ao PDV. Além disso, na sua defesa, a contribuinte requereu que os esclarecimentos prestados por ela integrassem a impugnação. Vejamos trechos da impugnação e dos esclarecimentos prestados no curso da ação fiscal: Impugnação Senhor Delegado : os esclarecimentos prestados, que requeiro integrem esta .matéria de impugnação, contém as hipóteses possíveis de enquadramento legal. TRATASE OU DE PDV, OU DE INDENIZAÇÃO, OU DE DOAÇÃO. .... A Súmula 215 do Superior Tribunal de Justiça considera que indenizações recebidas por ingresso a PDV não estão .sujeitas ao imposto de renda. Pedido de Esclarecimentos (fls.10/13) ... Com base no Ato Declaratório n° 3 de 07.01.1999, e orientada por advogado do Sindicato dos Bancários de São Paulo, apresentei em 03.02.1999 Declaração Retificadora na qual lancei como tributável a importância de R$ 7.511,34, relativa aos proventos de aposentadoria e como Rendimentos Isentos a importância de R$ 75.823,19, recebida em virtude da rescisão do contrato de trabalho. ... Finalmente, não se enquadrando as verbas recebidas como indenização resultante de adesão a PDV, nem como indenização compensatória pela despedida sem justa causa, só resta a hipótese de que os valores foram pagos por mera liberalidade do exempregador. Ainda assim não haveria tri Portanto, a decisão de primeira instância andou bem ao afastar a possibilidade de se tratar de verba recebida por adesão a PDV, visto que parte das alegações da contribuinte faziam referência a PDV. A recorrente alega que se trata de indenização compensatória pela perda de emprego resultante de demissão sem justa causa. Apresentou, em sua defesa, correspondência de sua fonte pagadora, comunicando a rescisão de seu contrato de trabalho (fl.14), Comprovante de Rendimentos (fl.18) e Demonstrativo de Pagamento Complementar das Verbas Rescisórias (fl.21). Na apreciação dessa alegação, a decisão de piso consigna: Por outro lado, a tributação de valores recebidos a titulo de indenização, cujo pagamento se da por mera liberalidade da Fl. 73DF CARF MF Processo nº 13808.005773/200128 Acórdão n.º 2002000.269 S2C0T2 Fl. 74 6 empresa, caso dos autos, estava, à época da ocorrrência do fato gerador, abrangida no caput do art. 45 do Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto n° 1.041, de 11 de janeiro de 1994 (RIR/1994), e não se incluia nas exceções elencadas no art. 40, inciso XVIII, do mesmo regulamento (atualmente, art. 39, inciso XX do Decreto 3000/99 — RIR199), abaixo transcritos: "Art. 45. São tributáveis os rendimentos provenientes do trabalho assalariado, as remunerações por trabalho prestado no exercício de empregos, cargos e funções, e quaisquer proventos ou vantagens percebidos, tais como: (...)" "Art. 40. Não entrarão no cômputo do rendimento bruto. (...) XVIII a indenização e o aviso prévio pagos por despedida ou rescisão de contrato de trabalho, até o limite garantido pela lei trabalhista ou por dissídio coletivo e convenções trabalhistas homologados pela Justiça do Trabalho, bem como o montante recebido pelos empregados e diretores e seus dependentes e sucessores, referente aos depósitos, da legislação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço —FGTS; (.) "(grifos meus) Objetivando dirimir eventuais dúvidas, foi publicado o PN COSIT n° 01/1995, que no seu item 4 esclarece que a simples denominação de indenização nas rubricas consignadas na rescisão do contrato de trabalho não gera direito à isenção do IR, prevista para as indenizações trabalhistas definidas na legislação pertinente: "4. Segundo o mandamento contido no artigo 111 do Código Tributário Nacional, Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966, devem ser interpretadas literalmente as normas que disponham sobre outorga de isenção. Assim, integram o rendimento tributável quaisquer outras verbas trabalhistas, tais como: salários, férias adquiridas ou proporcionais, licençaprêmio, 13° salário proporcional, quinquênio ou anuênio, aviso prévio trabalhado, abonos, folgas adquiridas, prêmio em pecúnia e qualquer outra remuneração especial, ainda que sob a denominação de indenização , pagas por ocasião da rescisão do contrato de trabalho, que extrapolem o limite garantido por lei, bem como juros e correção monetária respectivos." HA de se observar que a não incidência do Imposto de Renda na Fonte caracteriza uma espécie de isenção, devendo ser literal a interpretação, nos termos do art. 111 do Código Tributário Nacional (CTN): "Art. 111 Interpretase literalmente a legislação tributária que disponha sobre: Fl. 74DF CARF MF Processo nº 13808.005773/200128 Acórdão n.º 2002000.269 S2C0T2 Fl. 75 7 I — suspensão ou exclusão do crédito tributário; II — outorga de isenção;" Assim, há de se manter a inclusão dos rendimentos efetuada pelo lançamento, não havendo amparo legal para se considerar o valor de R$ 75.823,19, como rendimento isento e não tributável. Como consignado, a legislação que concede isenção deve ser sempre interpretada literalmente. A regra é sempre a tributação, sendo a isenção e os demais favores fiscais exceções que não podem ser estendidas indiscriminadamente. O legislador pretende, desse modo, delimitar ao máximo o campo de abrangência da renúncia fiscal, evitando que ocorram distorções. Há, então, que se identificar a natureza do rendimento para que se verifique se o mesmo é isento ou não. Entretanto, a recorrente trouxe aos autos somente os documentos de fls. 18 e 21, pelos quais não é possível enquadrar os rendimentos recebidos por ela nas hipóteses de isenção. Poderia ter trazido, por exemplo, o termo de rescisão, contendo as verbas pagas discriminadamente. Os documentos citados apontam a verba recebida como tributável, consignando ainda que se trata de "Gratif. Especial". Conforme aponta a decisão de piso, a incidência do imposto de renda sobre os valores recebidos a título de gratificação, cujo pagamento se dá por mera liberalidade da empresa estava abrangida no caput do art. 45 do Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto nº 1.041, de 11 de janeiro de 1994 (RIR/1994), e não se incluia nas exceções elencadas no art. 40, inciso XVIII, do mesmo regulamento: “Art. 45 – São tributáveis os rendimentos provenientes do trabalho assalariado, as remunerações por trabalho prestado no exercício de empregos, cargos e funções, e quaisquer proventos ou vantagens percebidos, tais como: (...)” “Art. 40 – Não entrarão no cômputo do rendimento bruto: (...) XVIII – a indenização e o aviso prévio pagos por despedida ou rescisão de contrato de trabalho, até o limite garantido pela lei trabalhista ou por dissídio coletivo e convenções trabalhistas homologados pela Justiça do Trabalho, bem como o montante recebido pelos empregados e diretores e seus dependentes ou sucessores, referente aos depósitos, da legislação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS; (...)” Ainda sobre a indenização por rescisão de contrato de trabalho, os arts. 477 e 478 do DecretoLei nº 5.452, de 1º de maio de 1943 Consolidação das Leis do Trabalho CLT asseguram ao trabalhador com contrato de trabalho por prazo indeterminado, no caso de rescisão contratual por despedida involuntária, indenização correspondente a um salário mensal por ano e fração igual ou superior a seis meses de serviço efetivo: Art. 477 É assegurado a todo empregado, não existindo prazo estipulado para a terminação do respectivo contrato, e quando não haja êle dado motivo para cessação das relações de trabalho, o direto de haver do empregador uma indenização, Fl. 75DF CARF MF Processo nº 13808.005773/200128 Acórdão n.º 2002000.269 S2C0T2 Fl. 76 8 paga na base da maior remuneração que tenha percebido na mesma emprêsa. (Redação dada pela Lei nº 5.584, de 26.6.1970) Art. 478 A indenização devida pela rescisão de contrato por prazo indeterminado será de 1 (um) mês de remuneração por ano de serviço efetivo, ou por ano e fração igual ou superior a 6 (seis) meses. (Vide Lei nº 2.959, de 1956) (...) Entretanto, repisese, que a recorrente nada juntou de forma a demonstrar que a verba recebida decorre da observância desses dispositivos. Diante das provas contidas nos autos, não merece reparos a decisão de piso. Conclusão Pelo exposto, voto por conhecer do recurso, para, no mérito, negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Claudia Cristina Noira Passos da Costa Develly Montez Fl. 76DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.963860/2009-98
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Aug 17 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Oct 01 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 31/03/2003
LEGISLAÇÃO NÃO APLICÁVEL. DECISÃO NULA.
Deve ser anulada a decisão que se baseou em legislação não mais aplicável e que não analisou o fundamento do Despacho Decisório objeto da manifestação de inconformidade.
Numero da decisão: 1201-002.425
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em anular a decisão de primeira instância, nos termos do voto da relatora.
(assinado digitalmente)
Ester Marques Lins de Sousa - Presidente e Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa (Presidente), Eva Maria Los, Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Gisele Barra Bossa.
Nome do relator: ESTER MARQUES LINS DE SOUSA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 31/03/2003 LEGISLAÇÃO NÃO APLICÁVEL. DECISÃO NULA. Deve ser anulada a decisão que se baseou em legislação não mais aplicável e que não analisou o fundamento do Despacho Decisório objeto da manifestação de inconformidade. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em anular a decisão de primeira instância, nos termos do voto da relatora. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Presidente e Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa (Presidente), Eva Maria Los, Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Gisele Barra Bossa. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 96 38 60 /2 00 9- 98 Fl. 69DF CARF MF Processo nº 10880.963860/200998 Acórdão n.º 1201002.425 S1C2T1 Fl. 3 2 Relatório Trata o presente processo de Declaração de Compensação cujo crédito é decorrente de pagamento a maior que o devido. Pelo Despacho Decisório, o crédito não foi reconhecido e a compensação não foi homologada em face de o pagamento informado estar integralmente utilizado para a quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação do débito informado no PER/DCOMP. Protocolada a Manifestação de Inconformidade, foi julgada improcedente, pelo fundamento de que na hipótese de ter sido efetuado pagamento indevido ou maior que o devido de IRPJ calculado por estimativa, esse valor somente poderia ser utilizado na dedução do IRPJ apurado ao final daquele período de apuração, ou para compor o saldo negativo de IRPJ. Foi manejado o Recurso Voluntário no qual é alegado que, à época do fato, a legislação permitia a restituição do pagamento de estimativa feito indevidamente ou a maior que o devido. A restrição só ocorreu posteriormente, por legislação superveniente ao fato. Desse modo, independentemente da data da apresentação da Dcomp, é aplicável a legislação vigente à época do pagamento de estimativa efetuado indevidamente ou a maior. É o relatório. Voto Conselheira Ester Marques Lins de Sousa, Relatora. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1201002.418, de 17/08/2018, proferido no julgamento do Processo nº 10880.968411/2009 36, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1201002.418): "Admissibilidade. O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, dele devendose conhecer. Fl. 70DF CARF MF Processo nº 10880.963860/200998 Acórdão n.º 1201002.425 S1C2T1 Fl. 4 3 Mérito. Como visto, no Despacho Decisório o crédito não foi reconhecido em face de utilização total do pagamento para a amortização de débitos da interessada. Manejada a manifestação de inconformidade, o fundamento nela exposto, consentâneo com a motivação do Despacho Decisório, não foi analisado na decisão de primeira instância, que não reconheceu o crédito e não homologou a compensação em face de que, na hipótese de ter sido efetuado pagamento indevido ou maior que o devido de IRPJ calculado por estimativa, esse valor somente poderia ser utilizado na dedução do IRPJ apurado ao final daquele período de apuração, ou para compor o saldo negativo de IRPJ. A Solução de Consulta Interna nº 19 Cosit, de 5 de dezembro de 2011, assim dispõe: ESTIMATIVAS. PAGAMENTO INDEVIDO OU A MAIOR. RESTITUIÇÃO E COMPENSAÇÃO. O art. 11 da IN RFB nº 900, de 2008, que admite a restituição ou a compensação de valor pago a maior ou indevidamente de estimativa, é preceito de caráter interpretativo das normas materiais que definem a formação do indébito na apuração anual do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, aplicandose, portanto, aos PER/DCOMP originais transmitidos anteriormente a 1º de janeiro de 2009 e que estejam pendentes de decisão administrativa. Caracterizase como indébito de estimativa inclusive o pagamento a maior ou indevido efetuado a este título após o encerramento do período de apuração, seja pela quitação do débito de estimativa de dezembro dentro do prazo de vencimento, seja pelo pagamento em atraso da estimativa devida referente a qualquer mês do período, realizado em ano posterior ao do período da estimativa apurada, mesmo na hipótese de a restituição ter sido solicitada ou a compensação declarada na vigência das IN SRF nº 460, de 2004, e IN SRF nº 600, de 2005. A nova interpretação dada pelo art. 11 da IN RFB nº 900, de 2008, aplicase inclusive aos PER/DCOMP retificadores apresentados a partir de 1º de janeiro de 2009, relativos a PER/DCOMP originais transmitidos durante o período de vigência da IN SRF nº 460, de 2004, e IN SRF nº 600, de 2005, desde que estes se encontrem pendentes de decisão administrativa. A Dcomp foi apresentada anteriormente à edição da IN RFB nº 900, de 2008. Contudo, o Despacho Decisório só foi emitido após 1º de janeiro de 2009 e, por óbvio, também a decisão recorrida. Fl. 71DF CARF MF Processo nº 10880.963860/200998 Acórdão n.º 1201002.425 S1C2T1 Fl. 5 4 Vêse, portanto, que o fundamento da decisão de primeira instância não só não poderia ser mais utilizado, como também não foi analisado o fundamento inicial (Despacho Decisório). Conclusão. Em face do exposto, voto por conhecer do recurso voluntário para anular a decisão de primeira instância, com o retorno dos autos à DRJ de origem." Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por anular a decisão de primeira instância, nos termos do voto acima transcrito. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Fl. 72DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 18471.002051/2003-46
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Jul 24 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Oct 19 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 1991
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. CONTRADIÇÃO.
Os embargos de declaração são cabíveis quando houver contradição entre os fundamentos e a parte dispositiva do acórdão.
Numero da decisão: 1201-002.291
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os Embargos de Declaração com efeitos infringentes, de acordo com o voto do relator.
(assinado digitalmente)
EVA MARIA LOS - Presidente em exercício.
(assinado digitalmente)
RAFAEL GASPARELLO LIMA - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los (presidente em exercício), Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Gisele Barra Bossa, Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada). Ausente, justificadamente, Ester Marques Lins de Sousa.
Nome do relator: RAFAEL GASPARELLO LIMA
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CONTRADIÇÃO. Os embargos de declaração são cabíveis quando houver contradição entre os fundamentos e a parte dispositiva do acórdão. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em acolher os Embargos de Declaração com efeitos infringentes, de acordo com o voto do relator. (assinado digitalmente) EVA MARIA LOS Presidente em exercício. (assinado digitalmente) RAFAEL GASPARELLO LIMA Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los (presidente em exercício), Luis Fabiano Alves Penteado, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Gisele Barra Bossa, Carmen Ferreira Saraiva (suplente convocada). Ausente, justificadamente, Ester Marques Lins de Sousa. Relatório Tratase de Embargos de Declaração, argumentando a Telemar Norte Leste S/A, ora Embargante, uma contradição no acórdão nº 10196.693, ementado abaixo: AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 18 47 1. 00 20 51 /2 00 3- 46 Fl. 463DF CARF MF 2 ASSUNTO IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 1991 Ementa: DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. No caso dos tributos submetidos a sistemática do lançamento por homologação, extinguese em cinco anos a contar dos respectivos fatos geradores o direito do fisco de proceder ao lançamento de oficio IRPJ. DIFERENÇA IPC/BTNF SALDO CREDOR TRATAMENTO O saldo credor da diferença de correção monetária IPC/BTNF, corrigido pelos índices próprios, deve ser somado ao montante de lucro inflacionário acumulado em 31/12/1992, recebendo, a partir de 01/01/1993, o mesmo tratamento dado ao saldo do lucro inflacionário acumulado a realizar. NORMAS PROCESSUAIS. EFEITOS DA INCORPORAÇÃO VERIFICADOS. Configurase a hipótese estabelecida no artigo 132 do Código Tributário Nacional com vistas a afastar a exigência da multa de oficio, as incorporações realizadas antes de constituído o crédito tributário em face da empresa incorporada. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC. A utilização da taxa SELIC como juros moratórios, decorre de expressa disposição legal sendo devidos por representar remuneração do capital que permaneceu à disposição da empresa, e não guardar natureza de sanção. Recurso Voluntário Provido. (...) ACORDAM os Membros da Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por maioria de votos, ACORDAM os Membros da Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por maioria de votos, DAR provimento PARCIAL ao recurso, para manter somente a tributação das parcelas de CR$ 711.118.030,00 e CR$ 1.876.451.465,00 relativas ao lucro inflacionário, e excluir a multa de oficio, nos termos do relatório e voto que passa integrar o presente julgado. (grifei) Anteriormente, a Fazenda Nacional interpôs Embargos de Declaração sobre este acórdão nº 10196.693, sobrevindo outro acórdão nº 110200.468, em 30 de junho de 2011, saneando a obscuridade, indicada na sua ementa: OBSCURIDADE DEFEITO NO RESULTADO DE JULGAMENTO. Ausência de esclarecimentos quanto ao posicionamento e extensão dos votos divergentes. (...) ACORDAM os Membros da Primeira Câmara da Segunda Turma Ordinária do Conselho Administrativo de Recursos Fl. 464DF CARF MF Processo nº 18471.002051/200346 Acórdão n.º 1201002.291 S1C2T1 Fl. 464 3 Fiscais, por unanimidade de votos, acolher os embargos interpostos pela Fazenda Nacional contra o acórdão 101 96.693, para esclarecer que toda matéria vencida naquele acórdão o foi por maioria de votos, nos termos do voto do relator. De acordo com a Embargante, Telemar Norte Leste S/A, notase uma contradição no acórdão embargado, conforme a seguinte exposição (efls. 406 a 414): II. DOS FATOS 4. No presente processo discutese auto de infração lavrado contra a Embargante para cobrança de crédito tributário de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ("IRPJ"), apurado no ano calendário de 1991, em decorrência das seguintes supostas infrações: Item 01 do AI: ausência de adição do lucro inflacionário a realizar na apuração do lucro real do anocalendário de 1991, no valor de CR$ 711.118.030,00; Item 02 do AI: redução do lucro real do anocalendário de 1991 em virtude de exclusão indevida, a título de lucro inflacionário, no valor de CR$ 1.876.451.465,00; Item 03 do AI: insuficiência no recolhimento do adicional do IRPJ do anocalendário de 1991, no valor de CR$ 253.506.949,50; e Item 04 do AI: insuficiência de recolhimento do IRPJ em razão da indevida realização do lucro inflacionário acumulado, no anocalendário de 1991, no valor de CR$ 13.033.561,80. 5. Irresignada, a Embargante apresentou impugnação, tendo esta sido julgada parcialmente procedente pela Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento no Rio de Janeiro. 6. Contra esta decisão, a Embargante interpôs recurso voluntário, no qual defendeu que: (i) o crédito tributário decorrente das infrações consubstanciadas nos itens 01 e 02 do auto de infração está extinto pelo pagamento (artigo 156, inciso I, do Código Tributário Nacional), realizado pela Embargante em 2002, nos termos da Medida Provisória n° 75/2002. Ademais, ainda que não se entenda pela extinção em decorrência do pagamento, ainda assim o suposto crédito tributário estaria extinto pela decadência, nos termos do artigo 156, inciso V, do Código Tributário Nacional. Isto porque, entre a decisão administrativa que anulou o primeiro auto de infração lavrado para cobrança do mesmo crédito tributário (proferida nos autos do processo administrativo n° 10410.001705/9564) e a lavratura do auto de infração ora em discussão passaramse mais de cinco anos, Fl. 465DF CARF MF 4 conforme previsto no artigo 173, inciso II, do Código Tributário Nacional. (ii) o crédito tributário decorrente das infrações descritas nos itens 03 a 04 do auto de infração está extinto pela decadência, nos termos do artigo 156, inciso V, do Código Tributário Nacional, por se referir a fato gerador ocorrido em 1991, e não ter sido objeto de lançamento anterior; e (iii) inaplicabilidade da multa de ofício, nos termos do artigo 132 do Código Tributário Nacional, uma vez que a responsabilidade da Embargante por débitos devidos por empresa incorporada se limita aos tributos devidos, não tendo ela qualquer responsabilidade sobre o pagamento da multa. 7. Conforme se extrai da ementa de julgado abaixo, a 1ª Câmara do antigo Conselho de Contribuintes, em sessão de julgamento realizada em 17 de abril de 2008, teria dado integral provimento ao recurso voluntário da Embargante: (...) 9. Entendendo haver obscuridade no referido acórdão, a Procuradoria da Fazenda Nacional opôs, em 13.11.2008, embargos de declaração objetivando,basicamente, que fosse esclarecido o posicionamento e extensão dos votos divergentes. 10. Em sessão de julgamento ocorrida no dia 30.06.2011, a 2ª Turma Ordinária da 1ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF decidiu acolher os embargos de declaração opostos pela Procuradoria da Fazenda Nacional, para esclarecer que "toda matéria vencida, aquela em que a contribuinte foi derrotada, foi por maioria de votos, ao passo que as matérias as quais a contribuinte saiu vencedora foram decididas por unanimidade de votos". 11. Ocorre que, conforme a Embargante demonstrará a seguir, o acórdão de n° 10196.693, proferido pela 1ª Câmara do antigo Conselho de Contribuinte ainda padece de contradição em relação ao efetivo posicionamento do conselheiro relator quanto à manutenção ou não dos itens 1 e 2 da autuação fiscal, o que impacta diretamente no resultado do julgamento. 12. Diante disso, a Embargante entende que os presentes embargos de declaração devem ser providos, para que tal contradição, a qual será detidamente analisada a seguir, seja devidamente sanada por esta Turma Julgadora. III. DA CONTRADIÇÃO CONTIDA NO ACÓRDÃO EMBARGADO 13. Ao analisar a fundamentação do voto do conselheiro relator do acórdão embargado, é possível verificar que seu entendimento foi pela improcedência do crédito tributário decorrente dos itens 01 e 02 do auto de infração, porque extinto pelo pagamento, conforme trecho a seguir transcrito: "Quanto aos itens 1 (adições não computadas na apuração do lucro real) e 2 (exclusões e compensações não autorizadas na Fl. 466DF CARF MF Processo nº 18471.002051/200346 Acórdão n.º 1201002.291 S1C2T1 Fl. 465 5 apuração do lucro real) da autuação fiscal, há que se ter como premissa que a recorrente, em 31/05/1993, optou pela realização incentivada prevista no artigo 31, inciso V, da Lei n° 8.541/92 (...) Assim se a recorrente exerceu a opção de realizar totalmente o saldo do lucro inflacionário existente em 31/12/1992, conforme lhe facultava a norma acima reproduzida, o valor realizado deve ser expurgado da apuração do lucro inflacionário acumulado no anocalendário de 1993. (...) 14. Apesar da opção pelo pagamento do total do IRPJ relativo ao lucro inflacionário, restou um saldo remanescente gerado no anocalendário de 1991, que refletiu na declaração de rendimentos da recorrente do anocalendário de 1995. A referida declaração de rendimentos foi objeto do processo administrativo n° 10410.001503/200113, em razão do entendimento de que a recorrente nela não computou o lucro inflacionário diferido de períodos bases anteriores e sua respectiva correção monetária, referentes ao saldo credor diferido IPC/BTNF, corrigido a partir de 1991. E, considerando que a recorrente recolheu o saldo que ainda na ocasião remanescia, aproveitandose benefício concedido pelo artigo 13 da Lei n° 10.637/2002, restam insubsistentes as exigências contidas nos itens 1 e 2 do auto de infração." (grifos nossos). 14. Apesar dessa fundamentação, em sua conclusão, o voto do conselheiro relator foi pela manutenção da tributação sobre as parcelas de CR$ 711.119.030,00 e CR$ 1.876.451.465,00, que se referem, justamente, aos itens 01 e 02 do auto de infração, conforme abaixo transcrito: "Pelo exposto, voto pelo provimento parcial do Recurso Voluntário interposto, para manter somente a tributação das parcelas de CR$ 711.118.030,00 e CR$ 1.876.451.465,00, relativas ao lucro inflacionário, e excluir a multa de ofício". 15. Notese, portanto, que a conclusão do voto condutor não guarda relação lógica com a sua fundamentação. Enquanto a conclusão é pela manutenção do lançamento relativo aos itens 01 e 02 do auto de infração, o fundamento é pela insubsistência desses mesmos itens do lançamento, o que implica em nítida contradição, justificando o cabimento e acolhimento dos presentes embargos de declaração. IV. DO PEDIDO 16. Em face de todo o exposto, requer a Embargante que seja conhecido e provido os presentes embargos de declaração, de modo que seja sanada a contradição constante da conclusão do voto condutor e da parte dispositiva do acórdão, de modo que Fl. 467DF CARF MF 6 estes passem a refletir o integral provimento do recurso voluntário, tal como se extrai da fundamentação do voto do conselheiro relator. Em despacho da presidência da 1ª Câmara desta 1ª Seção de Julgamento, existiu a admissibilidade dos Embargos de Declaração, identificando o pressuposto da contradição no acórdão recorrido (efls. 457 a 462): O Sujeito Passivo argui que há contradição no acórdão embargado pois, "enquanto a conclusão é pela manutenção do lançamento relativo aos itens 01 e 02 do auto de infração, o fundamento é pela insubsistência desses mesmos itens do lançamento, o que implica em nítida contradição, justificando o cabimento e acolhimento dos presentes embargos de declaração". (...) A situação de contradição está apontada objetivamente. No interior da própria decisão restou caracterizado esse vício, ou seja, ficou evidenciada a desconformidade interna da decisão jurisdicional. (...) Verificase que no Item 01 do AI restou evidenciada a ausência de adição do lucro inflacionário a realizar na apuração do lucro real do anocalendário de 1991, no valor de CR$ 711.118.030,00. Por seu turno, no Item 02 do AI está consignada a redução do lucro real do anocalendário de 1991 em virtude de exclusão indevida, a título de lucro inflacionário, no valor de CR$ 1.876.451.465,00 (fls. 1824 do Volume 1). Tais fatos comprovam a contradição havida no interior do próprio acórdão embargado, onde está expresso que "considerando que a recorrente recolheu o saldo que ainda na ocasião remanescia, aproveitandose do beneficio concedido pelo artigo 13 da Lei nº 10.637/2002, restam insubsistentes as exigências contidas nos itens 1 e 2 do auto de infração". Em 02.10.2015 (sextafeira), a Embargante foi intimada do acórdão nº 101 96.693, via processo digital, sobrevindo a interposição dos seus Embargos de Declaração em 09.10. 2015 (sextafeira). Considerando a extinção da 1ª Câmara desta 1ª Seção de Julgamento, mediante novo sorteio, fui designado relator. É o relatório. Voto Conselheiro Rafael Gasparello Lima, Relator. Os Embargos de Declaração são tempestivos, com admissibilidade reconhecida, portanto, deles tomo conhecimento. Fl. 468DF CARF MF Processo nº 18471.002051/200346 Acórdão n.º 1201002.291 S1C2T1 Fl. 466 7 O artigo 65 do Regulamento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (RICARF), aprovado pela Portaria MF nº 343/2015, prevê a interposição dos Embargos de Declaração quando o "acórdão contiver obscuridade, omissão ou contradição entre a decisão e os seus fundamentos, ou for omitido ponto sobre o qual deveria pronunciar se a turma". Em síntese, revisando o acórdão embargado e convergindo com a Embargante, "enquanto a conclusão é pela manutenção do lançamento relativo aos itens 01 e 02 do auto de infração, o fundamento é pela insubsistência desses mesmos itens do lançamento, o que implica em nítida contradição, justificando o cabimento e acolhimento dos presentes embargos de declaração". O Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) foi constituído através de lançamento de ofício, em virtude da não adição e a indevida exclusão/compensação do lucro inflacionário na apuração do lucro real, pertinente no anocalendário de 1991 (efls. 20 a 26). Todavia, a Embargante afirmou que esse crédito tributário foi integralmente extinto pelo pagamento. A Delegacia da Receita Federal do de Julgamento do Rio de Janeiro (DRJ/RJ1) julgou o lançamento de ofício improcedente em parte, mantendose a exigência sobre o lucro inflacionário, em que pese informado o pagamento, conforme o acórdão nº 12 11.511 (efl. 196): Em Recurso Voluntário, a ora Embargante contraditou a interpretação acima sobre o pagamento, reiterando a extinção do crédito tributário (efls. 213 a 216): Fl. 469DF CARF MF 8 Fl. 470DF CARF MF Processo nº 18471.002051/200346 Acórdão n.º 1201002.291 S1C2T1 Fl. 467 9 Conquanto dispondo pelo "provimento parcial do Recurso Voluntário interposto, para manter somente a tributação das parcelas de CR$ 711.118.030,00 e CR$ l.876.45l.465,00, relativas ao lucro inflacionário, e excluir a multa de oficio.", o acórdão embargado fundamentou a insubsistência das infrações 1 (adições não computadas na apuração do lucro real) e 2 (exclusões e compensações não autorizadas na apuração do lucro real): Fl. 471DF CARF MF 10 Assim sendo, o Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), proveniente da não adição (infração 1) e a indevida exclusão/compensação (infração 2) do lucro inflacionário na apuração do lucro real, correspondente ao anocalendário de 1991, foi integralmente liquidado mediante dois pagamentos. O primeiro adimplemento, conforme o artigo 31, inciso V, da Lei nº 8.541/1992, com a irretratável opção em 31.05.1993. E, por fim, o segundo pagamento do saldo remanescente do mesmo anocalendário de 1991, que influenciou na declaração de rendimentos do ano calendário de 1995, realizado nos termos do artigo 13 da Lei nº 10.637/2002. Isto posto, ACOLHO os Embargos de Declaração, retificando a contradição, com efeitos infringentes, modificando a parte dispositiva do acórdão nº 10196.693 para "Pelo exposto, voto pelo provimento integral do Recurso Voluntário " e sua respectiva ementa: ASSUNTO IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Fl. 472DF CARF MF Processo nº 18471.002051/200346 Acórdão n.º 1201002.291 S1C2T1 Fl. 468 11 Anocalendário: 1991 Ementa: DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. No caso dos tributos submetidos a sistemática do lançamento por homologação, extinguese em cinco anos a contar dos respectivos fatos geradores o direito do fisco de proceder ao lançamento de oficio IRPJ. DIFERENÇA IPC/BTNF SALDO CREDOR TRATAMENTO O saldo credor da diferença de correção monetária IPC/BTNF, corrigido pelos índices próprios, deve ser somado ao montante de lucro inflacionário acumulado em 31/12/1992, recebendo, a partir de 01/01/1993, o mesmo tratamento dado ao saldo do lucro inflacionário acumulado a realizar. NORMAS PROCESSUAIS. EFEITOS DA INCORPORAÇÃO VERIFICADOS. Configurase a hipótese estabelecida no artigo 132 do Código Tributário Nacional com vistas a afastar a exigência da multa de oficio, as incorporações realizadas antes de constituído o crédito tributário em face da empresa incorporada. APLICAÇÃO DA TAXA SELIC. A utilização da taxa SELIC como juros moratórios, decorre de expressa disposição legal sendo devidos por representar remuneração do capital que permaneceu à disposição da empresa, e não guardar natureza de sanção. Recurso Voluntário Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os Membros da Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por maioria de votos, DAR provimento INTEGRAL ao recurso, nos termos do relatório e voto que passa integrar o presente julgado. (assinado digitalmente) Rafael Gasparello Lima Relator Fl. 473DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.662127/2012-54
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Sep 21 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Oct 29 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Ano-calendário: 2007
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL E PROCESSO JUDICIAL. CONCOMITÂNCIA. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO.
A propositura, pelo contribuinte, de ação judicial com o mesmo objeto do processo administrativo fiscal, implica renúncia à discussão da matéria na via administrativa.
Numero da decisão: 1201-002.522
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário, nos termos do voto da relatora.
(assinado digitalmente)
Ester Marques Lins de Sousa - Presidente e Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Gisele Barra Bossa, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente). Ausente, justificadamente, o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado
Nome do relator: ESTER MARQUES LINS DE SOUSA
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ementa_s : Assunto: Normas de Administração Tributária Ano-calendário: 2007 PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL E PROCESSO JUDICIAL. CONCOMITÂNCIA. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO. A propositura, pelo contribuinte, de ação judicial com o mesmo objeto do processo administrativo fiscal, implica renúncia à discussão da matéria na via administrativa.
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CONCOMITÂNCIA. RENÚNCIA AO CONTENCIOSO ADMINISTRATIVO. A propositura, pelo contribuinte, de ação judicial com o mesmo objeto do processo administrativo fiscal, implica renúncia à discussão da matéria na via administrativa. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso voluntário, nos termos do voto da relatora. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Presidente e Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães, Luis Henrique Marotti Toselli, Rafael Gasparello Lima, Gisele Barra Bossa, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar e Ester Marques Lins de Sousa (Presidente). Ausente, justificadamente, o conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 66 21 27 /2 01 2- 54 Fl. 191DF CARF MF Processo nº 10880.662127/201254 Acórdão n.º 1201002.522 S1C2T1 Fl. 3 2 Relatório Tratase de processo administrativo decorrente de Pedido de Restituição eletrônico PER/DCOMP, transmitido pelo contribuinte a fim de compensar pretenso saldo credor de CSLL referente ao 4ª trimestre/2007. Por meio do despacho decisório de fls., o pedido foi indeferido, sob a alegação de que o DARF informado como origem do crédito já teria sido integralmente utilizado para quitar outro débito declarado. O contribuinte apresentou Manifestação de Inconformidade. Alega, em síntese: (i) que o crédito é legítimo, uma vez que, por exercer atividade consistente na prestação de serviço hospitalar, faria jus ao direito de aplicação do percentual de presunção do lucro de 12% para CSLL, e não de 32%, como equivocadamente considerou nas suas apurações; e (ii) que retificou as declarações (DIPJ e DCTF), ainda que em momento posterior ao despacho decisório. A DRJ, por unanimidade de votos, julgou improcedente a manifestação de inconformidade, por entender que o contribuinte não faria jus ao enquadramento do percentual de presunção de 12%. Cientificada da decisão de piso, a empresa interpôs recurso voluntário por meio do qual reitera as razões de defesa, bem como alega que possui decisão judicial que reconheceu o direito de aplicar o percentual de 12%, e não 32%. É o relatório. Fl. 192DF CARF MF Processo nº 10880.662127/201254 Acórdão n.º 1201002.522 S1C2T1 Fl. 4 3 Voto Conselheira Ester Marques Lins de Sousa Relatora O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1201002.511, de 21/09/2018, proferido no julgamento do Processo nº 10880.662116/2012 74, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1201002.511): Conforme visto no tópico do relatório, o presente litígio diz respeito ao enquadramento ou não do objeto social da Recorrente no conceito de serviços hospitalares. Assim, caso seja verificado que a empresa presta serviço hospitalar, cabível o reconhecimento do direito creditório. Caso contrário, ou seja, uma vez verificado que a atividade desenvolvida é outra, correto o indeferimento do pedido de restituição. Nesse contexto, e por mais esforços que a autoridade fiscal responsável pelo lançamento e a decisão da DRJ tenham empreendido no sentido de afastar o enquadramento da atividade da empresa enquanto serviço hospitalar, o fato é que a Recorrente ajuizou ação judicial que tem por objeto justamente o reconhecimento do direito de se valer do referido percentual de 8% às suas atividades. De fato, o contribuinte possui sentença que deu provimento à ação judicial por ele ajuizada e, inclusive, já transitou em julgado o reconhecimento do direito de se valer do percentual de 8% para fins de lucro presumido. Abaixo copio o quadro do movimento do processo disponibilizado eletronicamente e transcrevo o resumo da demanda, respectivamente: PROCESSO 002259987.2013.4.03.6100 MOVIMENTAÇÃO PROCESSUAL Todas as Movimentações Seq Data Descrição 40 23/01/2015 ARQUIVAMENTO DOS AUTOS Receb.Guia: 542/2014 (7a. Vara) Pac.: 610007000412 39 05/12/2014 BAIXA DEFINITIVA ARQUIVO conf. Guia n.542/2014 (7a. Vara) Fl. 193DF CARF MF Processo nº 10880.662127/201254 Acórdão n.º 1201002.522 S1C2T1 Fl. 5 4 38 28/11/2014 DECURSO DE PRAZO Nome da Parte: AUTORA Complemento Livre: DESPACHO DE FLS. 91 37 30/10/2014 DISPONIBILIZACAO D. ELETRONICO DE DESPACHO/DECISAO ,PAG. 39/41 36 08/10/2014 REMESSA PARA PUBLICACAO DE DESPACHO/DECISAO 35 08/10/2014 RECEBIMENTO DO JUIZ C/ DESPACHO/DECISAO 34 06/10/2014 AUTOS COM (CONCLUSAO) JUIZ PARA DESPACHO/DECISAO 33 06/10/2014 TRANSITO EM JULGADO Data do Último Prazo: 23/09/2014 Complemento Livre: PARA PARTES 32 27/08/2014 RECEBIMENTO DA FAZENDA NACIONAL 31 27/08/2014 RECEBIMENTO NA SECRETARIA 30 18/08/2014 REMESSA EXTERNA PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL VISTA 29 12/08/2014 DECURSO DE PRAZO Nome da Parte: AUTORA Complemento Livre: 28 16/07/2014 DISPONIBILIZACAO D. ELETRONICO DE SENTENCA ,PAG. 35/55 27 02/07/2014 REMESSA PARA PUBLICACAO DE SENTENCA Tratase de ação ordinária, com pedido de tutela antecipada, em que postula a autora a inexigibilidade do percentual de presunção de 32% na aplicação do Imposto de Renda sobre a Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido pelo regime de apuração do lucro presumido às atividades hospitalares, reconhecendose como corretos os percentuais de 8% e 12%, respectivamente.Alega que, por se tratar de pessoa jurídica prestadora de serviços médicos de pronto socorro junto ao Hospital São Luiz Unidade Itaim, atendendo em média 7.600 pacientes por mês, tem direito ao recolhimento dos tributos pelas alíquotas menores asseguradas aos prestadores de serviços hospitalares.Sustenta que a Receita Federal vinha reconhecendo às clínicas médicas o enquadramento tributário na qualidade de prestadores de serviços hospitalares, entendimento que foi alterado após a edição do Ato Declaratório Interpretativo 19/2007 e da Instrução Normativa RFB n 791/2007, com as alterações da IN n 1234/2012, que restringiram a possibilidade de enquadramento da grande maioria das clínicas na tributação presumida da renda sob os percentuais minorados.Entende que a Receita Federal não poderia criar um novo conceito de serviços hospitalares dissociado do Direito Privado, o que determina sejam afastados os atos impugnados. Como se nota, a discussão que foi travada no processo judicial direito à aplicação do percentual de 8% para fins de IRPJ no lucro presumido tem o mesmo objeto do que se postula no recurso voluntário ora interposto. Fl. 194DF CARF MF Processo nº 10880.662127/201254 Acórdão n.º 1201002.522 S1C2T1 Fl. 6 5 Nesses casos, cabível a aplicação da Súmula CARF nº 1, que assim dispõe: importa renúncia às instâncias administrativas a propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo judicial. Em razão, então, da concomitância apontada, NÃO CONHEÇO do RECURSO VOLUNTÁRIO. É como voto. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por não conhecer do recurso voluntário, nos termos do voto acima transcrito. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Fl. 195DF CARF MF
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