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Numero do processo: 11065.722647/2011-19
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon Sep 10 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Nov 19 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2006, 2007, 2009
RENDIMENTOS TRIBUTÁVEIS OMITIDOS. VALOR RECEBIDO COMO AJUDA DE CUSTO. NÃO IDENTIFICADO COMO VERBA INDENIZATÓRIA. FONTE PAGADORA RECONHECE O ERRO. OMISSÃO CONSTATADA.
Observado o pagamento de forma habitual, embora declarada na DIRF e na DAA como ajuda de custo, não se constata como sendo verba indenizatória, mas sim, acréscimo patrimonial, renda da qual era devido o pagamento de Imposto de Renda.
VALOR INCONTROVERSO PELO CONTRIBUINTE. INDEFERIMENTO DO PEDIDO.
Os rendimentos tributáveis comprovadamente omitidos na declaração de ajuste, detectados em procedimentos de oficio, serão adicionados à base de cálculo declarada para efeito de apuração do imposto devido.
DECLARAÇÃO ANUAL DE AJUSTES. RESPONSABILIDADE PELO PREENCHIMENTO DO CONTRIBUINTE.
Independente do fato de o Contribuinte ter utilizado documento errôneo fornecido pela Fonte Pagadora, é incumbência do Contribuinte o correto preenchimento da Declaração Anual de Ajustes.
Súmula CARF nº 12: Constatada a omissão de rendimentos sujeitos à incidência do imposto de renda na declaração de ajuste anual, é legítima a constituição do crédito tributário na pessoa física do beneficiário, ainda que a fonte pagadora não tenha procedido à respectiva retenção.
DEDUÇÃO. DEPENDENTES. AVÓ.
Podem ser dependentes do contribuinte os pais, os avós ou os bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tributáveis ou não, superiores ao limite de isenção mensal.
DEDUÇÃO. DESPESAS MÉDICAS.
São consideradas dedutíveis na apuração do imposto as despesas médicas desde que comprovadamente despendidas pelo contribuinte com ele e seus dependentes.
MULTA DE OFÍCIO. APLICAÇÃO
Constatada a omissão, devido o lançamento da multa de ofício.
Numero da decisão: 2301-005.647
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto da relatora.
Joao Bellini Junior - Presidente.
(assinado digitalmente)
Juliana Marteli Fais Feriato - Relatora.
(assinado digitalmente)
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Mauricio Vital, Wesley Rocha, Reginaldo Paixão Emos (suplente convocado para completar a representação fazendária), Alexandre Evaristo Pinto, Mônica Renata Mello Ferreira Stoll (suplente convocada para substituir o conselheiro Antônio Sávio Nastureles, ausente justificadamente), Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Junior (Presidente). Ausentes, justificadamente, os conselheiros Antônio Sávio Nastureles e Marcelo Freitas de Souza.
Nome do relator: JULIANA MARTELI FAIS FERIATO
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VALOR RECEBIDO COMO AJUDA DE CUSTO. NÃO IDENTIFICADO COMO VERBA INDENIZATÓRIA. FONTE PAGADORA RECONHECE O ERRO. OMISSÃO CONSTATADA. Observado o pagamento de forma habitual, embora declarada na DIRF e na DAA como ajuda de custo, não se constata como sendo verba indenizatória, mas sim, acréscimo patrimonial, renda da qual era devido o pagamento de Imposto de Renda. VALOR INCONTROVERSO PELO CONTRIBUINTE. INDEFERIMENTO DO PEDIDO. Os rendimentos tributáveis comprovadamente omitidos na declaração de ajuste, detectados em procedimentos de oficio, serão adicionados à base de cálculo declarada para efeito de apuração do imposto devido. DECLARAÇÃO ANUAL DE AJUSTES. RESPONSABILIDADE PELO PREENCHIMENTO DO CONTRIBUINTE. Independente do fato de o Contribuinte ter utilizado documento errôneo fornecido pela Fonte Pagadora, é incumbência do Contribuinte o correto preenchimento da Declaração Anual de Ajustes. Súmula CARF nº 12: Constatada a omissão de rendimentos sujeitos à incidência do imposto de renda na declaração de ajuste anual, é legítima a constituição do crédito tributário na pessoa física do beneficiário, ainda que a fonte pagadora não tenha procedido à respectiva retenção. DEDUÇÃO. DEPENDENTES. AVÓ. Podem ser dependentes do contribuinte os pais, os avós ou os bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tributáveis ou não, superiores ao limite de isenção mensal. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 06 5. 72 26 47 /2 01 1- 19 Fl. 187DF CARF MF 2 DEDUÇÃO. DESPESAS MÉDICAS. São consideradas dedutíveis na apuração do imposto as despesas médicas desde que comprovadamente despendidas pelo contribuinte com ele e seus dependentes. MULTA DE OFÍCIO. APLICAÇÃO Constatada a omissão, devido o lançamento da multa de ofício. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto da relatora. Joao Bellini Junior Presidente. (assinado digitalmente) Juliana Marteli Fais Feriato Relatora. (assinado digitalmente) Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: João Mauricio Vital, Wesley Rocha, Reginaldo Paixão Emos (suplente convocado para completar a representação fazendária), Alexandre Evaristo Pinto, Mônica Renata Mello Ferreira Stoll (suplente convocada para substituir o conselheiro Antônio Sávio Nastureles, ausente justificadamente), Juliana Marteli Fais Feriato e João Bellini Junior (Presidente). Ausentes, justificadamente, os conselheiros Antônio Sávio Nastureles e Marcelo Freitas de Souza. Relatório Tratase de Recurso Voluntário (fl. 175 e ss.) interposto em face da decisão da DRJ proferida pela 1ª Turma da DRJ/RJ1, Acórdão 1272.143 de 22/01/2015 (fls. 158 e ss), que indeferiu a Impugnação e determinou a procedência do lançamento, cuja Ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA – IRPF Anocalendário: 2006, 2007, 2008 DECISÕES DE JULGADOS ADMINISTRATIVOS E JUDICIAIS. EFEITOS. As decisões administrativas e judiciais não constituem normas gerais, não podendo seus julgados serem aproveitados em qualquer outra ocorrência, senão naquele objeto da decisão. Fl. 188DF CARF MF Processo nº 11065.722647/201119 Acórdão n.º 2301005.647 S2C3T1 Fl. 187 3 OMISSÃO DE RENDIMENTOS RECEBIDOS DE PESSOA JURÍDICA. O lançamento é efetuado de ofício quando o contribuinte deixa de informar rendimentos tributáveis recebidos de pessoa jurídica em sua Declaração de Imposto de Renda da Pessoa Física, implicando redução do imposto devido no ajuste anual. DEDUÇÃO DE DEPENDENTES. COMPROVAÇÃO Deve ser aceita a dedução com dependente apenas quando comprovada a relação de dependência declarada e quando preenchidos os requisitos legais para a dedução. DEDUÇÃO DE DESPESAS MÉDICAS. COMPROVAÇÃO. Na declaração de rendimentos poderão ser deduzidas as despesas médicas, de hospitalização, e com plano de saúde referentes a tratamento do contribuinte e de seus dependentes, desde que preenchidos os requisitos previstos na legislação de regência. MULTA DE OFÍCIO. APLICABILIDADE. Uma vez instaurado o procedimento de ofício, o crédito tributário apurado pela autoridade fiscal somente pode ser satisfeito com os encargos do lançamento de ofício. INFRAÇÃO À LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA, RESPONSABILIDADE OBJETIVA. É objetiva a responsabilidade por infração a legislação tributária, não dependendo sua apuração da aferição da existência de dolo ou culpa do sujeito passivo. Impugnação improcedente Crédito Tributário Mantido Conforme consta do Auto de Infração de fls. 98 e ss., o Contribuinte foi condenado ao pagamento de crédito tributário na importância correspondente a R$ 39.724,60, sendo R$18.619,91 de imposto a pagar, R$7.139,76 de juros e R$13.964,93 de multa proporcional calculada sobre o principal, sendo apurada as seguintes infrações: 1. R$ 9.470,46 de Omissão de Rendimentos do Trabalho com Vínculo Empregatício recebidos de Pessoa Jurídica, no Ano Calendário de 2006 2. R$ 1.516,32 de Dedução Indevida de Dependente, no Ano Calendário de 2006 Fl. 189DF CARF MF 4 3. R$ 8.386,78 de Dedução Indevida de Despesas Médicas, no Ano Calendário de 2006; 4. R$ 30.195,48 de Omissão de Rendimentos do Trabalho com Vínculo Empregatício recebidos de Pessoa Jurídica, no Ano Calendário de 2007 5. R$ 1.584,48 de Dedução Indevida de Dependente, no Ano Calendário de 2007; 6. R$ 8.983,50 de Dedução Indevida de Despesas Médicas, no Ano Calendário de 2007; 7. R$ 1.655,88 de Dedução Indevida de Dependente, no Ano Calendário de 2008; 8. R$ 9.496,50 de Dedução Indevida de Despesas Médicas, no Ano Calendário de 2008; Conforme se observa do Relatório da Ação Fiscal (fls. 87/97), os valores omitidos pelo Contribuinte dizem respeito ao pagamento de Ajuda de Custo pago pela Fonte Pagadora Comunidade Evangélica Luterana São Paulo – CELSP (CNPJ 88.332.580/000165), não sendo estes últimos oferecidos à tributação pelo contribuinte em suas Declarações de Ajuste Anual do Imposto de Renda da Pessoa Física – DAA. A Fonte Pagadora, quando intimada a informar se os valores pagos sob essa descrição efetivamente referiamse a ajuda de custo, declarou que houve “erro formal” (fl. 63) e que os montantes pagos não correspondiam a ajuda de custo nos termos do art. 6º, XX, da Lei nº 7.7713/88, retificando, em 02/09/2010, as Declarações do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRFs às fls. 52/ 59), corrigindo os rendimentos tributáveis pagos ao contribuinte e neles incluindo os valores pagos anteriormente a título de ajuda de custo. Conforme imputou a Autoridade Fiscal no lançamento do crédito tributário, tais valores foram pagos habitualmente ao Contribuinte, mensais e idênticos R$ 2.156,82, inclusive, tratase de prática realizada com todos os empregados da Fonte Pagadora (fl. 62/63). Portanto, tais valores significam em rendimentos recebidos pelo Contribuinte e deveriam ter sido declarados na DAA. Portanto, com relação aos valores, imputa a Autoridade que o Contribuinte, no ano calendário de 2006, recebeu da Fonte Pagadora a quantia de R$97.523,42, tendo o mesmo declarado R$88.052,96, havendo uma diferença nos rendimentos de R$9.470,46 (vide. Fl. 89/90). Da mesma forma, porém, com valores distinto, para os anos de 2007, 2008 e 2009. A Autoridade afirma nas fls. 90 que não constam Declarações Retificadoras e, tampouco, recolhimento de DARF do imposto devido pelas diferenças, sendo, portanto, constatada a omissão imposta ao Contribuinte. Verificase que a diferença relativa ao ano calendário 2008 foi objeto de outro lançamento (notificação de lançamento automática nº 2009/932218890838171). Nestes autos, apenas os valores referentes aos anos calendários 2006, 2007 e 2009 são objeto do lançamento. Inclusive, na Impugnação, o próprio Contribuinte afirma que já tinha realizado o Fl. 190DF CARF MF Processo nº 11065.722647/201119 Acórdão n.º 2301005.647 S2C3T1 Fl. 188 5 pagamento do imposto, juros e multa lançado para o ano calendário de 2008, portanto, o ano calendário 2008 não diz respeito ao presente processo. Com relação às deduções indevidas (com dependentes e despesas médicas), observase que a Autoridade Fiscal entendeu que a sra. MARIA DEL CARMEN BAQUERO MIGUEL, avó do Contribuinte, recebeu rendimentos superiores ao limite da isenção anual imposto pela legislação (Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, art. 35; Lei nº 11.482, de 31 de maio de 2007, art. 2º e 3º; Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 – Regulamento do Imposto sobre a Renda RIR/1999, art. 77, § 1º; Instrução Normativa SRF nº 15, de 6 de fevereiro de 2001, art. 38) para ser considerada dependente. Conforme consta nas fls. 91, a Autoridade Fiscal afirma que a avó do Contribuinte recebeu no ano calendário 2006 a quantia de R$18.420,04, sendo o limite na época o de R$14.992,31; no ano de 2007, ela recebeu a quantia de R$19.122,09, sendo o limite o valor de R$15.764,28; no ano de 2009, a Sra. Maria recebeu R$21.292,90, sendo o limite a quantia de R$17.215,08. Por esta razão, foram glosadas as deduções relativas à dependente MARIA DEL CARMEN BAQUERO MIGUEL e suas respectivas despesas médicas. Na Impugnação juntada nas fls. 125/133, o Contribuinte alega que sempre teria recebido valores a título de ajuda de custo e que a Fonte Pagadora em momento algum efetuou qualquer retenção de IRPF ou sequer recolheu contribuição previdenciária sobre; que a dependente do Contribuinte de fato recebe rendimentos provenientes de Aposentadoria, entretanto, tais rendimentos seriam insuficientes para suportar suas despesas médicas, razão pela qual tem arcado com tal ônus, tendo direito a respectiva dedução, nos termos do art. 80 do RIR; a Multa de Ofício (ou por infração) deveria ser exigida da fonte pagadora e não do Impugnante, por ter sido ela a culpada por sua omissão; que caso subsistisse, o percentual de 75% teria nítido caráter confiscatório, requerendo sua redução. Nos termos da decisão da DRJ, fls. 158/170, a Autoridade Fiscal entendeu pela improcedência da impugnação, na seguinte razão: · Nos termos do art. 787 do Regulamento do Imposto de Renda – RIR, aprovado pelo Decreto 3.000/99 determina a obrigação de as pessoas físicas apresentar anualmente suas declarações de rendimentos e de seus dependentes, nas quais se determinará o saldo do imposto a pagar ou o valor a ser restituído no ano calendário, sendo o próprio beneficiário dos rendimentos responsável pelo preenchimento da Declaração de Ajuste Anual, e, no caso de preenchimento incorreto ou não recolhimento pela Fonte Pagadora do IRPF retido na Fonte, deveria o Contribuinte têlo feito, nos termos do Parecer Normativo da SRF n. 1 de 24 de setembro de 2002, portanto, constatada a omissão, devido o imposto; · Com relação as deduções do dependentes e despesas médicas da mesma, a DRJ entendeu que tendo os comprovantes de Rendimentos da Sra. Maria Del Carmen Baquero Miguel (fls. 30/36) verificado que a mesma auferiu renda superior ao limite de isenção para seu enquadramento como dependente de seu neto (Contribuinte), mantémse a infração apurada; Fl. 191DF CARF MF 6 · Com relação à multa de ofício lançada, a Autoridade Fiscal entendeu que, independente se o sujeito passivo cometeu a infração por equívoco, descuido ou desconhecimento da legislação, não se perquirindo a intenção do agente, a responsabilidade por infração a legislação tributária é objetiva. Nas fls. 175/182, o Contribuinte junta seu Recurso Voluntário alegando: 1. que os valores lançados pela Autoridade Fiscal foram recebidos pelo Contribuinte à título de Ajuda de Custo; que a Fonte Pagadora sempre efetuou (habitualmente) o pagamento desses valores e em nenhum momento houve a retenção de IRPF e demais encargos previdenciários/trabalhistas; 2. que tais valores possuem caráter indenizatório e se assim sendo, não podem servir de base de cálculo para imposto de renda, por não haver acréscimo patrimonial, mas sim reembolso que teve com o trabalho, devendo ser cancelado o lançamento; 3. que a avó do Contribuinte possui renda, mas é insuficiente, sendo comprovado que apenas com a despesa médica (fl. 91) houve o dispêndio de 50% de seu rendimento, tendo direito às deduções; 4. indevida a imposição de multa de ofício, visto que a DAA foi feita incorretamente, não que tenha sido omitido qualquer informação; Este é o relatório. Voto Conselheira Relatora Juliana Marteli Fais Feriato Admissibilidade Conforme consta das fls. 173, o Contribuinte tomou ciência da decisão em 13/05/2015, apresentando Recurso Voluntário em 11/06/2015, nos termos das fls. 175, atestado inclusive na Certidão de fls. 184. Portanto, tempestivo o Recurso, conheço do mesmo, passando à análise de seu mérito. Fl. 192DF CARF MF Processo nº 11065.722647/201119 Acórdão n.º 2301005.647 S2C3T1 Fl. 189 7 Mérito Tratase de Recurso Voluntário do indeferimento da impugnação apresentada pelo Contribuinte referente à revisão do Imposto de Renda do mesmo, durante o período apurado, diante da omissão de recebimento de rendimentos de pessoa jurídica com vínculo empregatício e da glosa de despesas médicas/dependente, que culminou no lançamento de crédito tributário correspondente a R$ 39.724,60, sendo R$18.619,91 de imposto a pagar, R$7.139,76 de juros e R$13.964,93 de multa proporcional calculada sobre o principal. O lançamento do imposto suplementar teve origem à valores recebidos pelo Contribuinte, por sua Fonte Pagadora, à título de Ajuda de Custo, durante o AnoCalendário de 2006/2007 e 2009. A ajuda de custo é isenta do pagamento de imposto de renda, conforme versa a legislação sobre o assunto, nos termos do inciso I do Art. 39 do Decreto 3000/1999 e o inciso XX do art. 6º da Lei 7.713/1988: Art. 39. Não entrarão no cômputo do rendimento bruto: Ajuda de Custo I a ajuda de custo destinada a atender às despesas com transporte, frete e locomoção do beneficiado e seus familiares, em caso de remoção de um município para outro, sujeita à comprovação posterior pelo contribuinte Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendimentos percebidos por pessoas físicas: XX ajuda de custo destinada a atender às despesas com transporte, frete e locomoção do beneficiado e seus familiares, em caso de remoção de um município para outro, sujeita à comprovação posterior pelo contribuinte; A legislação assim prevê, visto a destinação da Ajuda de Custo: verba indenizatória. Isto, pois, a ajuda de custo, nada mais era do que o reembolso ao trabalhador, das despesas que teve com deslocamento, ou seja, não havia um acréscimo patrimonial. Entretanto, no presente caso, não se configura a ajuda de custo. Isto, pois, tratase de ação reiterada da Fonte Pagadora, de pagar seus trabalhadores com um salário médio, aumentando sua renda sob a rubrica da ajuda de custo, para pagar encargos salariais (trabalhistas e previdenciários) menores. Como a própria Fonte Pagadora disse nas fls. 63, quando indagada sobre os valores pagos ao Contribuinte, a mesma enfatizou que “os valores pagos a tal título não correspondiam efetivamente a ajuda de custo”, tratandose de erro formal. Inclusive, verificase, que tais valores eram pagos habitualmente, e, não tendo o Contribuinte comprovado que tais valores era reembolso de despesas de locomoção, quando da juntada de sua impugnação ou recurso voluntário, visto que poderia juntar os Fl. 193DF CARF MF 8 comprovantes de pagamento de tais despesas, indevida a classificação de tal verba como não tributável, visto que se trata de acréscimo da renda, sendo devido o recolhimento do Imposto de Renda. À Fonte Pagadora cabe a retenção do Imposto de Renda, já na Fonte. Mas assim não fez. Portanto, caberia ao Contribuinte declarar corretamente em sua DAA e fazer o recolhimento do imposto referente aos valores recebidos, nos termos da legislação: Art. 787. As pessoas físicas deverão apresentar anualmente declaração de rendimentos, na qual se determinará o saldo do imposto a pagar ou o valor a ser restituído, relativamente aos rendimentos percebidos no anocalendário (Lei nº 9.250, de 1995, art. 7º). Súmula CARF nº 12: Constatada a omissão de rendimentos sujeitos à incidência do imposto de renda na declaração de ajuste anual, é legítima a constituição do crédito tributário na pessoa física do beneficiário, ainda que a fonte pagadora não tenha procedido à respectiva retenção. Pois bem, o Imposto de Renda e sua Declaração são obrigações personalíssimas do Contribuinte, sendo sua responsabilidade única as informações prestadas quando do preenchimento de sua declaração anual de ajuste. A responsabilidade pela exatidão/inexatidão do conteúdo consignado na Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda é do próprio beneficiário dos rendimentos, que não pode desconhecêlos e deixar de oferecêlos à tributação. Se a fonte pagadora não efetuou os descontos, nos termos da Súmula 12 deste Conselho, legítima a constituição do crédito em face do beneficiário, ou sena, do Contribuinte. Conforme bem indicou a DRJ, em todos os anoscalendário analisados, verificase que constavam no sítio eletrônico da Receita Federal, na parte de Perguntas e Resposta, a responsabilidade do beneficiário em declarar e recolher tributo sobre renda cujo o imposto não tenha sido retido pela Fonte Pagadora (fls. 165/166). Portanto, houve a omissão, rebatida pelo Contribuinte, devendo recolher o imposto suplementar lançado com o Auto de Infração ora analisado. Ademais, com relação aos valores lançados, observase que tanto na Impugnação, quanto que também, no Recurso Voluntário, o Contribuinte NÃO NEGA que recebeu tais valores declarados pela Fonte Pagadora no período apurado. Portanto, incontroverso os valores lançados pela Autoridade Fiscal no Auto de Infração. Com relação às glosas das deduções solicitadas com dependente e com despesas médicas, observase que a negativa se dera diante do fato de a dependente auferir renda superior ao limite imposto pela legislação. Conforme consta nas fls. 91, constatase que a avó do Contribuinte recebeu no ano calendário 2006 a quantia de R$18.420,04, sendo o limite na época o de R$14.992,31; no ano de 2007, ela recebeu a quantia de R$19.122,09, sendo o limite o valor de R$15.764,28; no ano de 2009, a Sra. Maria recebeu R$21.292,90, sendo o limite a quantia de R$17.215,08. Fl. 194DF CARF MF Processo nº 11065.722647/201119 Acórdão n.º 2301005.647 S2C3T1 Fl. 190 9 A legislação é explícita e afirmativa ao indicar a impossibilidade de indicar avó como dependente se a mesma aufere renda superior ao limite anual registrado como isento: Art. 35. Para efeito do disposto nos arts. 4º, inciso III, e 8º, inciso II, alínea c, poderão ser considerados como dependentes: VI os pais, os avós ou os bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tributáveis ou não, superiores ao limite de isenção mensal; Assim como encontrado no julgamento do processo 16696.720079/201451 perante a 2ª Turma Extraordinária da Segunda Seção deste Conselho no Acordão 2002000.039 em 20/03/2018: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 2012 DEDUÇÃO. DEPENDENTES. PAIS. Podem ser dependentes do contribuinte os pais, os avós ou os bisavós, desde que não aufiram rendimentos, tributáveis ou não, superiores ao limite de isenção mensal. DEDUÇÃO. DESPESAS MÉDICAS. São consideradas dedutíveis na apuração do imposto as despesas médicas desde que comprovadamente despendidas pelo contribuinte com ele e seus dependentes. DEDUÇÃO. PENSÃO JUDICIAL. Os pagamentos realizados a título de pensão alimentícia podem ser deduzidos na declaração de rendimentos, desde que decorram do cumprimento de decisão judicial, acordo homologado judicialmente ou por escritura pública e possam ser documentalmente comprovados. Súmula CARF nº98. Portanto, comprovada a impossibilidade de deduzir as despesas da Sra. MARIA DEL CARMEN BAQUERO MIGUEL como dependente do Contribuinte, assim como, deduzir suas despesas médicas, visto que a mesma aufere renda superior ao limite da isenção. Sobre a alegação de que a dependente, apesar de ter renda superior ao limite, necessitar da ajuda do neto, pois o valor de pensão recebido é insuficiente, cabia ao Contribuinte fazer a prova do alegado. Não há a juntada de qualquer documento (nota fiscal, recibo entre outros) que identifique o alegado. Portanto, devida a glosa das deduções pretendidas, sendo devido o imposto lançado no presente Auto de Infração. Fl. 195DF CARF MF 10 Com relação à multa de ofício e o pedido para seu cancelamento, verificase que a multa tem seu lançamento de forma objetiva, ou seja, apurada a infração, constatada a omissão, a mesma é lançada, nos termos da legislação (Lei 9430/96) determina: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: a) na forma do art. 8o da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; b) na forma do art. 2o desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no ano calendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. Portanto, não há a previsão legal para a retirada ou a redução da multa de ofício requerida pela Contribuinte. Sua redução é liberalidade do FISCO quando da sua cobrança, impossível de este Conselho rever, por falta de legalidade. Assim como, a alegação da boafé do Contribuinte em nada viabiliza a redução da multa de ofício, visto que essa é lançada sempre que constatada a infração tributária. Diante do exposto, voto por negar provimento ao pedido. CONCLUSÃO Ante o exposto, voto por CONHECER do Recurso Voluntário para, no mérito, NEGAR PROVIMENTO. É como voto. Juliana Marteli Fais Feriato – Relatora. (assinado digitalmente) Fl. 196DF CARF MF Processo nº 11065.722647/201119 Acórdão n.º 2301005.647 S2C3T1 Fl. 191 11 Fl. 197DF CARF MF
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Numero do processo: 10580.904888/2011-92
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Nov 22 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Jan 07 00:00:00 UTC 2019
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Data do fato gerador: 31/01/2006
RETIFICAÇÃO DO PER/DCOMP APÓS O DESPACHO DECISÓRIO. ERRO DE PREENCHIMENTO. POSSIBILIDADE
Erro de preenchimento de Dcomp não possui o condão de gerar um impasse insuperável, uma situação em que o contribuinte não pode apresentar uma nova declaração, não pode retificar a declaração original, e nem pode ter o erro saneado no processo administrativo, sob pena de tal interpretação estabelecer uma preclusão que inviabiliza a busca da verdade material pelo processo administrativo fiscal, além de permitir um indevido enriquecimento ilícito por parte do Estado, ao auferir receita não prevista em lei.
Reconhece-se a possibilidade de transformar a origem do crédito pleiteado em saldo negativo, mas sem homologar a compensação, por ausência de análise da sua liquidez pela unidade de origem, com o conseqüente retorno dos autos à jurisdição da contribuinte, para verificação da existência, suficiência e disponibilidade do crédito pretendido em compensação, oportunizando ao contribuinte a possibilidade de apresentação de documentos, esclarecimentos e retificações das declarações apresentadas.
Numero da decisão: 1301-003.608
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento parcial ao recurso para reconhecer a possibilidade de transformar a origem do crédito pleiteado em saldo negativo, e determinar o retorno dos autos à unidade de origem para que analise o mérito do pedido quanto à liquidez do crédito requerido, oportunizando ao contribuinte, antes, a apresentação de documentos, esclarecimentos e retificações das declarações apresentadas. Ao final, deverá ser proferido despacho decisório complementar, retomando-se, a partir daí, o rito processual de praxe. Vencido o Conselheiro Roberto Silva Junior que votou por negar provimento ao recurso. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplica-se o decidido no julgamento do processo 10580.904884/2011-12, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado.
(assinado digitalmente)
Fernando Brasil de Oliveira Pinto - Presidente e Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Roberto Silva Junior, José Eduardo Dornelas Souza, Nelso Kichel, Carlos Augusto Daniel Neto, Giovana Pereira de Paiva Leite, Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Bianca Felícia Rothschild e Fernando Brasil de Oliveira Pinto (Presidente).
Nome do relator: FERNANDO BRASIL DE OLIVEIRA PINTO
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ERRO DE PREENCHIMENTO. POSSIBILIDADE Erro de preenchimento de Dcomp não possui o condão de gerar um impasse insuperável, uma situação em que o contribuinte não pode apresentar uma nova declaração, não pode retificar a declaração original, e nem pode ter o erro saneado no processo administrativo, sob pena de tal interpretação estabelecer uma preclusão que inviabiliza a busca da verdade material pelo processo administrativo fiscal, além de permitir um indevido enriquecimento ilícito por parte do Estado, ao auferir receita não prevista em lei. Reconhecese a possibilidade de transformar a origem do crédito pleiteado em saldo negativo, mas sem homologar a compensação, por ausência de análise da sua liquidez pela unidade de origem, com o conseqüente retorno dos autos à jurisdição da contribuinte, para verificação da existência, suficiência e disponibilidade do crédito pretendido em compensação, oportunizando ao contribuinte a possibilidade de apresentação de documentos, esclarecimentos e retificações das declarações apresentadas. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar provimento parcial ao recurso para reconhecer a possibilidade de transformar a origem do crédito pleiteado em saldo negativo, e determinar o retorno dos autos à unidade de origem para que analise o mérito do pedido quanto à liquidez do crédito requerido, oportunizando ao contribuinte, antes, a apresentação de documentos, esclarecimentos e retificações das declarações apresentadas. Ao final, deverá ser proferido despacho decisório complementar, retomandose, a partir daí, o rito processual de praxe. Vencido o Conselheiro Roberto Silva Junior que votou por negar AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 58 0. 90 48 88 /2 01 1- 92 Fl. 77DF CARF MF Processo nº 10580.904888/201192 Acórdão n.º 1301003.608 S1C3T1 Fl. 3 2 provimento ao recurso. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos. Portanto, aplicase o decidido no julgamento do processo 10580.904884/201112, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. (assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto Presidente e Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Roberto Silva Junior, José Eduardo Dornelas Souza, Nelso Kichel, Carlos Augusto Daniel Neto, Giovana Pereira de Paiva Leite, Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Bianca Felícia Rothschild e Fernando Brasil de Oliveira Pinto (Presidente). Fl. 78DF CARF MF Processo nº 10580.904888/201192 Acórdão n.º 1301003.608 S1C3T1 Fl. 4 3 Relatório MEDYCAMENTHA PRODUTOS ONCOLOGICOS E HOSPITALARES LTDA recorre a este Conselho em face do acórdão proferido pela 4ª Turma da DRJ em Porto Alegre que julgou improcedente a manifestação de inconformidade, pleiteando sua reforma, com fulcro nos §§ 9º e 10 do art. 74 da Lei nº 9.430, de 1996, c/c c artigo 33 do Decreto nº 70.235, de 1972 (PAF). Tratase de Recurso Voluntário interposto em face de Acórdão que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade da contribuinte, para manter na íntegra o Despacho Decisório que não homologou as compensações pleiteadas, em razão da ausência de comprovação de recolhimento indevido de estimativa e na impossibilidade de se retificar a origem do crédito pleiteado para saldo negativo de IRPJ. O presente processo decorre de pedido de compensação, cujo crédito tem origem em pagamento indevido ou a maior de estimativas mensais. O Despacho Decisório proferido pela da unidade de origem não reconheceu o valor do crédito pretendido e não homologou as compensações declaradas. Em sua Manifestação de Inconformidade a contribuinte afirmou que o erro se deu basicamente na PER/DComp, quando informou como origem do crédito Pagamento Indevido ou a Maior quando o correto seria Saldo Negativo de IRPJ, assim, requereu que sua Dcomp fosse retificada ou autorizada sua retificação. O Acórdão recorrido entendeu que não houve mero erro no preenchimento da PER/DComp, tampouco haveria que se falar em inexatidões materiais em seu preenchimento, tratandose, em realidade, de pedido do contribuinte para alteração da natureza jurídica do pedido, uma vez que PER/DComp indicava tratarse de pagamento indevido de estimativa, mas, na realidade, de saldo negativo de IRPJ. Concluiu não haver prova de recolhimento indevido de estimativa, indeferindo o pedido de reconhecimento do direito creditório pleiteado e não homologando as compensações declaradas. Cientificado da decisão de primeira instância, o contribuinte, tempestivamente, apresentou recurso voluntário com os mesmos argumentos apresentados em sede de manifestação de inconformidade, requerendo a reforma da decisão recorrida com o consequentemente reconhecimento do direito creditório requerido e a homologação das compensações declaradas. É o relatório. Fl. 79DF CARF MF Processo nº 10580.904888/201192 Acórdão n.º 1301003.608 S1C3T1 Fl. 5 4 Voto Conselheiro Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º, 2º e 3º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão nº 1301003.599, de 22/11/2018, proferido no julgamento do Processo nº 10580.904884/2011 12, paradigma ao qual o presente processo fica vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 1301003.599): "O recurso é tempestivo e preenche os demais pressupostos de admissibilidade do recurso, dele, portanto, tomo conhecimento. A Recorrente apresentou Per/DComp utilizandose de créditos decorrentes de IRPJ (estimativa) pago a maior, porém, conforme reconheceu, na realidade tratavase de Saldo Negativo. Segundo o Despacho Decisório, Analisadas as informações prestadas no documento acima identificado, foi constatada a improcedência do crédito informado no PER/DCOMP por tratarse de pagamento a título de estimativa mensal de pessoa jurídica tributada pelo lucro real, caso em que o recolhimento somente pode ser utilizado na dedução do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) devida ao final do período de apuração ou para compor o saldo negativo de IRPJ ou CSLL do período. O acórdão recorrido, por sua vez, superou a fundamentação utilizada no despacho decisório em razão de posterior alteração de entendimento por parte da RFB por meio do art. 10 da IN RFB nº 900, de 2008, e da Solução de Consulta Interna Cosit nº 19, de 2011, tanto em relação à admissão ao direito de restituição ou de compensação de valor pago a maior ou indevidamente de estimativa, quanto à sua aplicação aos PER/DComp originais transmitidos anteriormente a 1º de janeiro de 2009 e que estivessem pendentes de decisão administrativa. Aduz que o contribuinte não trouxe prova do recolhimento a maior e que o pedido de retificação do PER/DComp para se considerar como origem do crédito o saldo negativo de IRPJ, em vez de pagamento indevido ou a maior de Fl. 80DF CARF MF Processo nº 10580.904888/201192 Acórdão n.º 1301003.608 S1C3T1 Fl. 6 5 estimativa, não se enquadra nas hipóteses previstas no art. 78 da IN RFB nº 900, de 2008 Pois bem, passo à análise da controvérsia. O crédito a que refere a Recorrente tratase de Saldo Negativo de IRPJ, porém, ao preencher a Per/DComp para declarar a compensação informou como IRPJ Pago a Maior ou Indevidamente, gerando a não homologação das respectivas compensações. O ponto aqui é que a Per/DComp apresentada pelo contribuinte contém erro material, e tal fato, por si só não pode embasar a negação ao seu direito de crédito, bem como leva ao enriquecimento ilícito do Estado. Em relação à possibilidade de comprovação de erro de fato no preenchimento da declaração, inclusive na própria DCOMP, o entendimento atual, inclusive da RFB, é de que é possível superar esse equívoco, desde que haja comprovação de tal erro, conforme bem delineado pela RFB no Parecer Normativo Cosit nº 8, de 2014, cujo excerto de interesse de sua ementa reproduzse a seguir: Assunto. NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO.REVISÃO E RETIFICAÇÃO DE OFÍCIO – DE LANÇAMENTO E DE DÉBITO CONFESSADO, RESPECTIVAMENTE – EM SENTIDO FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. CABIMENTO. ESPECIFICIDADES. A revisão de ofício de lançamento regularmente notificado, para reduzir o crédito tributário, pode ser efetuada pela autoridade administrativa local para crédito tributário não extinto e indevido, no caso de ocorrer uma das hipóteses previstas nos incisos I, VIII e IX do art. 149 do Código Tributário Nacional – CTN, quais sejam: quando a lei assim o determine, aqui incluídos o vício de legalidade e as ofensas em matéria de ordem pública; erro de fato; fraude ou falta funcional; e vício formal especial, desde que a matéria não esteja submetida aos órgãos de julgamento administrativo ou já tenha sido objeto de apreciação destes. A retificação de ofício de débito confessado em declaração, para reduzir o saldo a pagar a ser encaminhado à ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional – PGFN para inscrição na Dívida Ativa, pode ser efetuada pela autoridade administrativa local para crédito tributário não extinto e indevido, na hipótese da ocorrência de erro de fato no preenchimento da declaração. Fl. 81DF CARF MF Processo nº 10580.904888/201192 Acórdão n.º 1301003.608 S1C3T1 Fl. 7 6 REVISÃO DE DESPACHO DECISÓRIO QUE NÃO HOMOLOGOU COMPENSAÇÃO, EM SENTIDO FAVORÁVEL AO CONTRIBUINTE. A revisão de ofício de despacho decisório que não homologou compensação pode ser efetuada pela autoridade administrativa local para crédito tributário não extinto e indevido, na hipótese de ocorrer erro de fato no preenchimento de declaração (na própria Declaração de Compensação – Dcomp ou em declarações que deram origem ao débito, como a Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais – DCTF e mesmo a Declaração de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica – DIPJ, quando o crédito utilizado na compensação se originar de saldo negativo de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica IRPJ ou de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL), desde que este não esteja submetido aos órgãos de julgamento administrativo ou já tenha sido objeto de apreciação destes. Dessa forma, este Colegiado tem tido o entendimento de se reconhecer parte do requerido pela Recorrente, no sentido de não lhe suprimir instâncias de julgamento, e oportunizar que, após o contribuinte ser devidamente intimado para tanto, sejam apresentados documentos e estes sejam analisados a fim de se averiguar a ocorrência do erro alegado e consequentemente a aferição de seu direito de crédito. Assim, tendo em vista o princípio da busca da verdade material, já que juntou documentos, ainda que em sede recursal daquilo que faria jus ao seu direito, voto no sentido de se afastar o óbice de retificação da Per/DComp apresentada. E dessa forma, a unidade de origem poderá verificar o mérito do pedido, acerca da existência do crédito e da respectiva compensação, bem como analisar a liquidez e certeza do referido crédito, nos termos do art. 170, do CTN, retomandose a partir de então o rito processual de praxe. CONCLUSÃO Ante o exposto, voto por dar provimento parcial ao recurso para reconhecer a possibilidade de transformar a origem do crédito pleiteado em saldo negativo, e determinar o retorno dos autos à unidade de origem para que analise o mérito do pedido quanto à liquidez do crédito requerido, oportunizando ao contribuinte, antes, a apresentação de documentos, esclarecimentos e retificações das declarações apresentadas. Ao final, deverá ser proferido despacho decisório complementar, retomandose, a partir daí, o rito processual de praxe." Fl. 82DF CARF MF Processo nº 10580.904888/201192 Acórdão n.º 1301003.608 S1C3T1 Fl. 8 7 Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º, 2º e 3º do art. 47, do Anexo II, do RICARF, voto por dar provimento parcial ao recurso voluntário para reconhecer a possibilidade de transformar a origem do crédito pleiteado em saldo negativo, e determinar o retorno dos autos à unidade de origem para que analise o mérito do pedido quanto à liquidez do crédito requerido, oportunizando ao contribuinte, antes, a apresentação de documentos, esclarecimentos e retificações das declarações apresentadas. Ao final, deverá ser proferido despacho decisório complementar, retomandose, a partir daí, o rito processual de praxe, nos termos do voto acima transcrito. (assinado digitalmente) Fernando Brasil de Oliveira Pinto Fl. 83DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.901403/2013-74
Turma: Terceira Turma Extraordinária da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Dec 04 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Dec 21 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 2008
PER/DCOMP. COMPROVAÇÃO DA LIQUIDEZ E CERTEZA.
O procedimento de apuração do direito creditório não prescinde comprovação inequívoca da liquidez e da certeza do valor de direito creditório pleiteado.
Numero da decisão: 1003-000.297
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar suscitada no recurso e, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Carmen Ferreira Saraiva Relatora e Presidente
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Sérgio Abelson, Bárbara Santos Guedes, Mauritânia Elvira de Sousa Mendonça e Carmen Ferreira Saraiva (Presidente).
Nome do relator: CARMEN FERREIRA SARAIVA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2008 PER/DCOMP. COMPROVAÇÃO DA LIQUIDEZ E CERTEZA. O procedimento de apuração do direito creditório não prescinde comprovação inequívoca da liquidez e da certeza do valor de direito creditório pleiteado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar suscitada no recurso e, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Carmen Ferreira Saraiva – Relatora e Presidente Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Sérgio Abelson, Bárbara Santos Guedes, Mauritânia Elvira de Sousa Mendonça e Carmen Ferreira Saraiva (Presidente). Relatório A Recorrente formalizou o Pedido de Ressarcimento ou Restituição/Declaração de Compensação (Per/DComp) nº 37679.72290.020908.1.2.037144 em 02.09.2008, efls. 199218, utilizandose do saldo negativo de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) no valor original de R$37.707,68 apurado pelo regime de tributação com base no lucro real do 2º trimestre do anocalendário de 2008, para compensação dos débitos ali confessados. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 90 14 03 /2 01 3- 74 Fl. 259DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 260 2 Em conformidade com o Despacho Decisório Eletrônico, efl. 191, cientificado a Recorrente em 15.04.2013, efl. 219, as informações relativas ao reconhecimento do direito creditório foram analisadas das quais se concluiu pelo deferimento parcial do pedido: Analisadas as informações prestadas no documento acima identificado e considerando que a soma das parcelas de composição do crédito informadas no PER/DCOMP deve ser suficiente para comprovar a quitação da contribuição social devida e a apuração do saldo negativo, verificouse: PARCELAS DE COMPOSIÇÃO DO CRÉDITO INFORMADAS NO PER/DCOMP PARC. CREDITO [...] RETENÇÕES FONTE [...] SOMA PARC. CRED. PER/DCOMP [...] 55.034,26 [...] 55.034,26 CONFIRMADAS [...] 40.908,10 [...] 40.908,10 [...] Enquadramento Legal: Art. 168 da Lei nº 5.172, de 1966 (Código Tributário Nacional). Inciso II do Parágrafo 1º do art. 6° e art. 28 da Lei 9.430, de 1996. Art. 4º da IN SRF 900, de 2008. Art. 74 da Lei 9.430, de 27 de dezembro de 1996. Art. 36 da Instrução Normativa RFB n° 900, de 2008. Cientificada, a Recorrente apresentou a manifestação de inconformidade. Está registrado na ementa do Acórdão da 3ª Turma/DRJ/REC/PE nº 1145.193, de 27.02.2014, efls. 233231: COMPENSAÇÃO. REQUISITOS. A certeza e a liquidez dos créditos são requisitos indispensáveis para a compensação autorizada por lei. É reconhecido o direito creditório até o limite das retenções comprovadas. Carece de certeza e liquidez a parcela do crédito pleiteado utilizada para compor o saldo negativo da CSLL que não teve sua retenção na fonte comprovada. RETENÇÃO NA FONTE. COMPROVAÇÃO. A contribuição retida na fonte sobre quaisquer rendimentos somente poderá ser compensada se o contribuinte possuir comprovante hábil da retenção em seu nome. Manifestação de Inconformidade Procedente em Parte [...] Acordam os membros da 3ª Turma de Julgamento, por unanimidade de votos, julgar procedente em parte a manifestação de inconformidade, para reconhecer, adicionalmente ao despacho, o direito creditório no montante de R$ 7.187,23. Notificada em 21.05.2014, efl. 237, a Recorrente apresentou o recurso voluntário em 20.06.2014, efls. 239256, esclarecendo a peça atende aos pressupostos de admissibilidade. Discorre sobre o procedimento fiscal contra o qual se insurge. Relativamente aos fatos expõe que: Fl. 260DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 261 3 DO MÉRITO A controvérsia cingese em torno dos comprovantes de retenção na fonte e demais documentos anexados na manifestação de inconformidade (Comprovantes de rendimentos, Notas fiscais e Livro Razão). A fundamentação invocada pelo Fisco para as glosas consistiu na não confirmação da retenção na fonte de várias das parcelas de composição do crédito informadas pela recorrente nas PER/DCOMP. O Fisco, no Acórdão que julgou a manifestação de inconformidade, opõese à possibilidade de comprovação das retenções na fonte por meio de documentação outra, que não DIRFs de recolhimento, manifestandose nestes termos: [...] Em diversas demandas que espelham situação idêntica a presente, ou seja, pedido de compensação de CSLL e admissibilidade dos registros contábeis do prestador de serviços/recorrente, como meio de prova das retenções, têmse dado acolhimento à pretensão na via judicial. [...] Portanto, a exigência de que a empresa recorrente prove a retenção exclusivamente por meio de um documento, cuja produção cabe ao terceiro é no mínimo teratológica, contrária aos princípios mais elementares, norteadores da nossa Carta Maior. Evidente assim, tratarse de previsão não sistemática, porque proíbe a compensação do imposto/contribuição, legalmente hábil a compensar. Insofismável que o critério utilizado pelo Fisco revelase, não só, ato de intransigência, de medida extrema, como também, implica tratamento muito mais rigoroso para as empresas cumpridoras de suas obrigações ficais e tributárias, como a ora recorrente, prejudicadas por uma gama imensa de outras empresas que, por inúmeras razões, não logram uma administração fiscal bem sucedida e regular perante o Fisco. [...] Portanto, pelo retro asseverado, deve o Fisco, ante aos atuais posicionamentos jurisprudenciais, bem como pelo já declinado na manifestação de inconformidade, não limitar à utilização de outros documentos ou provas que não o Comprovante Anual de Rendimentos Pagos ou Creditados e de Retenção do Imposto de Renda na Fonte. E, com o devido acolhimento dos demais documentos (Notas fiscais e Livro Razão, etc), fazendose uma análise percuciente, bem como, com o cotejamento destes com a tabela elaborada, trazidos na manifestação de inconformidade, Vossas Excelências verão que o saldo de R$7.375,44 (R$14.562,67 R$7.187,23), deverá também ser reconhecido como direito creditório. Com o objetivo de fundamentar as razões apresentadas na peça de defesa, interpreta a legislação pertinente, indica princípios constitucionais que supostamente foram violados e faz referência a entendimentos doutrinários e jurisprudenciais em seu favor. Concernente ao pedido expõe que: Ante ao todo exposto, a recorrente requer dignese Preclaro Julgador em julgar procedente o Recurso Voluntário para reconhecer a decadência e, se este não for o entendimento, que seja reconhecido o direito creditório postulado, comprovado Fl. 261DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 262 4 através de outros documentos que não exclusivamente o Comprovante Anual de Rendimentos Pagos ou Creditados e de Retenção do Imposto de Renda na Fonte. É o Relatório. Voto Conselheira Carmen Ferreira Saraiva, Relatora O recurso voluntário apresentado pela Recorrente atende aos requisitos de admissibilidade previstos nas normas de regência, em especial no Decreto nº 70.235, de 06 de março de 1972. Assim, dele tomo conhecimento. A Recorrente alega que os atos administrativos são nulos. O Per/DComp e revestido das formalidades legais com a regular intimação para que a Recorrente pudesse cumprilo ou impugnálo no prazo legal. A decisão de primeira instância está motivada de forma explícita, clara e congruente e da qual a pessoa jurídica foi regularmente cientificada. Assim, estes atos contêm todos os requisitos legais, o que lhes conferem existência, validade e eficácia. As garantias ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes foram observadas. Ademais os atos administrativos estão motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos decidam recursos administrativos. O enfrentamento das questões na peça de defesa denota perfeita compreensão da descrição dos fatos e dos enquadramentos legais que ensejaram os procedimentos de ofício, que foi regularmente analisado pela autoridade de primeira instância. Ademais, a decisão administrativa não precisa enfrentar todos os argumentos trazidos na peça recursal sobre a mesma matéria, principalmente quando os fundamentos expressamente adotados são suficientes para afastar a pretensão da Recorrente e arrimar juridicamente o posicionamento adotado. Sobre a matéria, cabe indicar o entendimento emanado em algumas oportunidade pelo Supremo Tribunal Federal1: Não há falar em negativa de prestação jurisdicional quando, como ocorre na espécie vertente, "a parte teve acesso aos recursos cabíveis na espécie e a jurisdição foi prestada (...) mediante decisão suficientemente motivada, não obstante contrária à pretensão do recorrente" (AI 650.375 AgR, rel. min. Sepúlveda Pertence, DJ de 1082007), e "o órgão judicante não é obrigado a se manifestar sobre todas as teses apresentadas pela defesa, bastando que aponte fundamentadamente as razões de seu convencimento" (AI 690.504 AgR, rel. min. Joaquim Barbosa, DJE de 2352008).[AI 747.611 AgR, rel. min. Cármen Lúcia, j. 13102009,1ª T, DJE de 13112009.] =AI 811.144 AgR, rel. min. Rosa Weber, j. 2822012, 1ª T, DJE de 1532012 1 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. A constituição e o supremo do art. 93. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp#visualizar>. Acesso em: 30 mai. 2018. Fl. 262DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 263 5 = AI 791.149 ED, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 1782010, 1ª T, DJE de 2492010 (grifos do original) As formas instrumentais adequadas foram respeitadas, os documentos foram reunidos nos autos do processo, que estão instruídos com as provas produzidas por meios lícitos. As garantias ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes foram observadas2. O de o enfrentamento das questões na peça de defesa denotar perfeita compreensão da descrição dos fatos que ensejaram o procedimento e estando a decisão motivada de forma explícita, clara e congruente, não há que se falar em nulidade dos atos em litígio. A proposição afirmada na peça recursal, desse modo, não tem cabimento. A Recorrente diz que tem direito ao reconhecimento da decadência do direito de lançar. A objeção de decadência por ser matéria de ordem pública pode ser conhecida a requerimento da parte ou de ofício e a qualquer tempo e em qualquer instância de julgamento. Este instituto pode ser definido como a perda do direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário pelo lançamento, tendo em vista decurso do lapso temporal de cinco anos previsto em lei. Em se tratando de tributo sujeito ao lançamento por homologação, no caso em que o sujeito passivo efetue o pagamento antecipado sem a necessidade do exame prévio por parte da Administração Pública, o prazo decadencial começa a fluir da ocorrência do fato gerador. Por seu turno, comprovada a conduta dolosa qualificada pela sonegação, pela fraude ou pela simulação, bem como se verificada a inexistência do pagamento antecipado, o prazo de cinco anos se inicia a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Este é o entendimento constante na decisão definitiva de mérito proferida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em recurso especial representativo da controvérsia nº 973.733/SC3, cujo trânsito em julgado ocorreu em 29.10.2009 e que deve ser reproduzido pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF4. No presente caso, tratase de exame de Pedido de Ressarcimento ou Restituição/Declaração de Compensação (Per/DComp) (art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996) e não de constituição de crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível (art. 142 do Código Tributário Nacional). Por conseguinte, no contexto do trâmite do contencioso administrativo, ou seja, na fase litigiosa do procedimento, instaurada pela regular apresentação da manifestação de inconformidade, não tem aplicação as determinações do §4º do art. 150 e inciso I do art. 170 do Código Tributário Nacional (art. 14 do Decreto nº 70.235, de 06 de março de 1972). A instauração na fase litigiosa no procedimento implementase plenamente as garantias do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório com a citação válida 2 Fundamentação legal: inciso LIV e inciso LV do art. 5º da Constituição Federal, Lei nº 9.317, de 05 de dezembro de 1996, art 6º da Lei nº 10.593, de 06 de dezembro de 2001, art. 50 da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 e art. 10 do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972. 3 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial Repetitivo nº 973733/SC. Ministro Relator: Luiz Fux, Primeira Seção, Brasília, DF, 12 de agosto de 2009. Dsponível em: <https://www.conjur.com.br/dl/relatoriovoto resp973733stjrecurso.pdf> .Acesso em: 26 nov. 2018. 4 Fundamentação Legal: § 4° do art. 150 e inciso I do art. 173 do Código Tributário Nacional. Fl. 263DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 264 6 para o aperfeiçoamento da relação processual e com a observância de todos os requisitos legais que conferem existência, validade e eficácia ao ato administrativo. A partir da notificação, de acordo com as formalidades legais, o crédito tributário já existe não podendo se cogitar do transcurso da decadência. A contestação aduzida na peça recursal, por isso, não pode ser ratificada. A Recorrente suscita que o direito creditório deve ser reconhecido. O sujeito passivo que apurar crédito relativo a tributo administrado pela RFB, passível de restituição, pode utilizálo na compensação de débitos. A partir de 01.10.2002, a compensação somente pode ser efetivada por meio de declaração e com créditos e débitos próprios, que ficam extintos sob condição resolutória de sua ulterior homologação. Também os pedidos pendentes de apreciação foram equiparados a declaração de compensação, retroagindo à data do protocolo. Posteriormente, ou seja, em de 30.12.2003, ficou estabelecido que a Per/DComp constitui confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para a exigência dos débitos indevidamente compensados, bem como que o prazo para homologação tácita da compensação declarada é de cinco anos, contados da data da sua entrega. Ademais, o procedimento se submete ao rito do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, inclusive para os efeitos do inciso III do art. 151 do Código Tributário Nacional. 5. O pressuposto é de que a pessoa jurídica deve manter os registros de todos os ganhos e rendimentos, qualquer que seja a denominação que lhes seja dada independentemente da natureza, da espécie ou da existência de título ou contrato escrito, bastando que decorram de ato ou negócio. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor dela dos fatos nela registrados e comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais6. Instaurada a fase litigiosa do procedimento, cabe à Recorrente detalhar os motivos de fato e de direito em que se basear expondo de forma minuciosa os pontos de discordância e suas razões e instruindo a peça de defesa com prova documental préconstituída imprescindível à comprovação das matérias suscitadas. Por seu turno, a autoridade julgadora, orientandose pelo princípio da verdade material na apreciação da prova, deve formar livremente sua convicção mediante a persuasão racional decidindo com base nos elementos existentes no processo e nos meios de prova em direito admitidos. Cabe à Recorrente produzir o conjunto probatório nos autos de suas alegações, já que o procedimento de apuração do direito creditório não prescinde comprovação inequívoca da liquidez e da certeza do valor de direito creditório pleiteado. Para que haja o reconhecimento do direito creditório é necessário um cuidadoso exame do pagamento a maior de tributo, uma vez que é absolutamente essencial verificar a precisão dos dados informados 5 Fundamentação legal: art. 165, art. 168, art. 170 e art. 170A do Códido Tributário Nacional, art. 9º do Decreto Lei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, 1º e art. 2º, art. 51 e art. 74 da Lei nº 9.430, de 26 de dezembro de 1996, art. 49 da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002 e art. 17 da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003. 6 Fundamentação legal : art. 195 do Código Tributário Nacional, art. 51 da Lei nº 7.450, de 23 de dezembro de 1985, art. 6º e art. 9º do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977, art. 37 da Lei nº 8.981, de 20 de novembro de 1995, art. 6º e art. 24 da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995 e art. 1º e art. 2º da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996. Fl. 264DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 265 7 em todos os livros de escrituração obrigatórios por legislação fiscal específica bem como os documentos e demais papéis que serviram de base para escrituração comercial e fiscal7. A pessoa jurídica pode deduzir do tributo devido o valor dos incentivos fiscais previstos na legislação de regência, do tributo pago ou retido na fonte, incidente sobre receitas computadas na determinação do lucro real, bem como a CSLL determinada sobre a base de cálculo estimada no caso utilização do regime com base no lucro real anual, para efeito de determinação do saldo de CSLL a pagar ou a ser compensado no encerramento do ano calendário, ocasião em que se verifica a sua liquidez e certeza8. Apenas nas situações comprovadas de inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e erros de escrita ou de cálculos existentes no Per/DComp podem ser corrigidos de ofício ou a requerimento da Requerente. O erro de fato é aquele que se situa no conhecimento e compreensão das características da situação fática tais como inexatidões materiais devidas a lapso manifesto e os erros de escrita ou de cálculos. A Administração Tributária tem o poder/dever de revisar de ofício o procedimento quando se comprove erro de fato quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória. A este poder/dever corresponde o direito de a Recorrente retificar e ver retificada de ofício a informação fornecida com erro de fato, desde que devidamente comprovado (art. 32 do Decreto nº 70.235, de 06 de março de 1972 e incisos I e III do art. 145 e inciso IV do art. 149 do Código Tributário Nacional). Em relação à dedução do valor de tributo retido na fonte, a legislação prevê que no regime de tributação com base no lucro real a pessoa jurídica pode deduzir do valor apurado no encerramento do período, o valor retido na fonte sobre as receitas que integraram a base de cálculo correspondente9. Para tanto, as pessoas jurídicas são obrigadas a prestar aos órgãos da RFB, no prazo legal, informações sobre os rendimentos que pagaram ou creditaram no anocalendário anterior, por si ou como representantes de terceiros, com indicação da natureza das respectivas importâncias, do nome, endereço e número de inscrição no CNPJ, das pessoas que o receberam, bem como o imposto de renda retido da fonte, mediante a Declaração de Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF). Também as pessoas jurídicas que efetuarem pagamentos com retenção do imposto na fonte devem fornecer à pessoa jurídica beneficiária, até o dia 31 de janeiro, documento comprobatório, em duas vias, com indicação da natureza e do montante do pagamento, das deduções e do imposto retido no anocalendário anterior, que no caso é o Informe de Rendimentos. Assim, o valor retido na fonte somente pode ser compensado se a pessoa jurídica possuir comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora para fins de apuração do saldo negativo de CSLL no encerramento do período10. A legislação expressamente permite a dedução dos valores de retenção conjunta da CSLL, da Cofins e da Contribuição para o PIS/Pasep pela prestação de serviços de limpeza, conservação, manutenção, segurança, vigilância, transporte de valores e locação de mãodeobra, pela prestação de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de 7 Fundamentação legal: art. 170 do Código Tributário Nacional, art. 34 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995 e art. 2º da Lei nº 9.430, 27 de dezembro de 1996. 8 Fundamentação legal: art. 170 do Código Tributário Nacional, art. 34 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995 e art. 2º da Lei nº 9.430, 27 de dezembro de 1996. 9 Fundamentação legal: Lei 10.833 de 29 de dezembro de 2003. 10 Fundamentação Legal: art. 86 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, art. 11 do DecretoLei nº 1.968, de 23 de novembro de 1982 e art. 10 do DecretoLei nº 2.065, de 26 de outubro de 1983. Fl. 265DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 266 8 crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, e pela remuneração de serviços profissionais referentes ao código de arrecadação nº 5952 a título de remuneração de serviços profissionais prestados por pessoa jurídica (art. 30, art. 31, art. 32, art. 35 e art. 36 da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, Instrução Normativa SRF nº 459, de 18 de outubro de 2004). O valor da CSLL, da Cofins e da Contribuição para o PIS/Pasep, código ser determinado mediante a aplicação, sobre o montante a ser pago, do percentual de 4,65% (quatro inteiros e sessenta e cinco centésimos por cento), correspondente à soma das seguintes alíquotas: a) 1% (um por cento), a título de CSLL; b) 3% (três por cento), a título de Cofins; e c) 0,65% (sessenta e cinco centésimos por cento), a título de PIS/Pasep. Os valores retidos devem ser considerados como antecipação do que for devido pelo sujeito passivo que sofreu a retenção, em relação às respectivas contribuições. Os valores retidos podem ser deduzidos, pelo sujeito passivo, das contribuições devidas de mesma espécie, relativamente a fatos geradores ocorridos a partir do mês da retenção. Ademais, na apuração da CSLL, a pessoa jurídica poderá deduzir da CSLL devida o valor retido na fonte, desde que comprovada a retenção e o cômputo das receitas correspondentes na base de cálculo do tributo (Súmula CARF nº 80). Feitas essas considerações normativas, tem cabimento a análise da situação fática tendo em vista os documentos já analisados pela autoridade de primeira instância de julgamento e aqueles produzidos em sede de recurso voluntário. Sobre a alegação de que os débitos foram alcançados pela homologação tácita, temse que a Recorrente formalizou o Per/DComp nº 37679.72290.020908.1.2.037144 em 02.09.2008, efls. 199218 e foi cientificada do Despacho Decisório Eletrônico, efl. 191, em 15.04.2013, efl. 219, com as informações relativas ao reconhecimento do direito creditório foram analisadas das quais se concluiu pelo deferimento parcial do pedido. Logo não se verifica o interregno no cinco anos entre a apresentação do Per/DComp e a notificação do Despacho Decisório. O código 5952 está regulamentado pela Instrução Normativa SRF nº 459, de 17 de outubro de 2004, e versa sobre os pagamentos efetuados pelas pessoas jurídicas de direito privado a outras pessoas jurídicas de direito privado, pela prestação de serviços de limpeza, conservação, manutenção, segurança, vigilância, transporte de valores e locação de mãodeobra, pela prestação de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a receber, bem como pela remuneração de serviços profissionais, estão sujeitos à retenção na fonte da CSLL, da Cofins e da Contribuição para o PIS/Pasep (art. 30 da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003). Neste caso, o regime de tributação previsto é no sentido de que os valores retidos serão considerados como antecipação do que for devido pela pessoa jurídica que sofreu a retenção, em relação às respectivas contribuições em separado, bem como podem ser deduzidos das contribuições devidas de mesma espécie, relativamente a fatos geradores ocorridos a partir do mês da retenção (art. 7º da Instrução Normativa SRF nº 459, de 17 de outubro de 2004). Assim, o Per/DComp previsto no art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro Fl. 266DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 267 9 de 1996, deve ter como direito creditório a identificação discriminada de cada contribuição (CSLL, Cofins e Contribuição para o PIS/Pasep), no caso em que a antecipação superar o valor devido. Na Análise das Parcelas de Crédito Contribuição Social Retida na Fonte, e fls. 192198, estão discriminadas as parcelas confirmadas, confirmadas parcialmente e não confirmadas em conformidade com as informações constantes nos registros internos da RFB apresentadas pelas fontes pagadoras. A Recorrente procura demonstrar a tese de defesa apresentando planilha de lançamentos contábeis, Notas Fiscais e os Informes de Rendimentos efls. 17190. Estes documentos foram correta e devidamente considerados pela autoridade julgadora de primeira instância, que na apreciação dessas provas formou livremente sua convicção, conforme o regime de tributação previsto (art. 7º da Instrução Normativa SRF nº 459, de 17 de outubro de 2004 e art. 29 do Decreto nº 70.235, de 06 de março de 1972). Assim, as alegadas diferenças apontadas pela Recorrente na peça recursal não foram demonstradas de modo que os fundamentos de fato e direito constantes no Acórdão da 3ª Turma/DRJ/REC/PE nº 1145.193, de 27.02.2014, efls. 233231, são acolhidos de plano nessa segunda instância de julgamento (art. 50 da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999): Nos termos do art. 170 do CTN, para que o sujeito passivo postule a restituição/compensação de tributos é necessário que seu direito seja líquido e certo. Assim é que, em se tratando de restituição ou compensação, é dever da Administração investigar a certeza e liquidez do crédito suplicado, independentemente de estar ele consignado em declaração apresentada pelo contribuinte. Assim, compete ao interessado na restituição/compensação, como se apresenta o presente pleito, fazer prova da efetiva apuração de saldo negativo do tributo, mediante comprovação de todas as parcelas que lhe deram origem, além de evidenciar sua efetiva disponibilidade para a aspirada utilização. No caso concreto, conforme se relatou, o saldo negativo da CSLL informado no PER/DCOMP, no valor de R$ 55.034,26, idêntico à DIPJ, foi formado em sua totalidade por retenções na fonte desse tributo, no código 5952, num montante de R$ 58.462,84, tendo sido confirmado, no procedimento eletrônico de investigação dos atributos do crédito, apenas, um total de R$ 40.908,10, razão pela qual não se reconheceu, relativamente à parcela de R$ 14.124,16, a certeza e liquidez necessárias à pretendida compensação. Nesse procedimento eletrônico de reconhecimento do direito creditório e a consequente homologação (total ou parcial) ou não de uma compensação, a Receita Federal, através de uma seqüência contínua de operações, cruza dados dos diversos sistemas da RFB, informações prestadas através das diversas declarações do contribuinte ou de terceiros (DCOMP, DIPJ, DCTF, DIRF etc.), além das próprias retenções (Sistemas Sinal 04, 1RPE e SIEF Pagamentos), procedimento cuja participação da postulante é primordial, materializandose através da correção dos valores informados no PER/DCOMP e nos diversos sistemas envolvidos, além do atendimento às intimações, quando necessárias, no intuito de comprovar o pretendido direito. De acordo com a manifestante, a desconsideração da parcela acima não pode prosperar por se tratar de CSLL retida na fonte pelas tomadoras do serviço, consoante comprovação nos autos através de Cartas de Rendimentos Pagos e/ou creditados (Comprovante de Rendimentos), Notas Fiscais e Livro Razão, cabendo a Fl. 267DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 268 10 si utilizar os referidos créditos, pois já laborou, sofreu retenções e cumpriu com todos os seus deveres. Quanto à prova das retenções, há de observar legislação própria, [...]. Vêse, portanto, que a compensação do imposto/contribuição na fonte está condicionada à existência do respectivo comprovante de retenção, cujo modelo é aprovado mediante ato normativo baixado pela Administração Tributária. Logo, os demais documentos anexados pela defesa (Notas Fiscais e Livro Razão) não constituem comprovantes de retenção do imposto na fonte, nos termos da legislação de regência. Ademais, no que concerne à legislação dos elementos envolvidos na presente análise: Comprovantes de retenção, DIRF e DIPJ, de acordo com a Instrução Normativa SRF nº 127, de 30 de outubro de 1998, que instituiu a Declaração Integrada de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica DIPJ e estabeleceu normas para a sua apresentação, A partir do anocalendário de 1999, todas as pessoas jurídicas, inclusive as equiparadas, deverão apresentar a DIPJ, centralizada pela matriz. (Art. 2º), entendimento este seguido pela IN RFB nº 1.028, de 30 de abril de 20107, que revogou a primeira. Nesse mesmo diapasão, dispõe a legislação sobre a Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte – DIRF, desde sua criação (IN SRF nº 3, de 2 de janeiro de 2001): [...] Quanto ao comprovante de retenção, a Instrução Normativa SRF n.º 119, de 28 de dezembro de 2000, ao aprovar o modelo de Comprovante Anual de Rendimentos Pagos ou Creditados e de Retenção de Imposto de Renda na Fonte, relativo a rendimentos pagos ou creditados por pessoas jurídicas a outras pessoas jurídicas, sujeitas à retenção na fonte, assim determinou: [...] Dessa forma, verificase que, no comprovante de retenção, deve constar, entre elementos, as informações relativas ao nome empresarial e ao Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do estabelecimento matriz, tanto da fonte pagadora quanto da que prestou o serviço. Logo, informações dos comprovantes de rendimento relativas às filiais das empresas envolvidas serão consideradas como concernentes às matrizes. De acordo com a planilha de cálculo elaborada pelo próprio contribuinte foram observadas, em alguns situações a seguir transcritas, retenções de CSLL na fonte de determinadas fontes pagadoras, informadas no PER/DCOMP, não consideradas no procedimento de análise do crédito, que resultou no despacho decisório em litígio, quando comparadas aos comprovantes de rendimentos anexados: CNPJ EMPRESA VALOR NO PER/DCOMP VALOR CONFIRMADO CARTA DE RENDIMENTO DIFERENÇA A SER CONSIDERADA 02.329.713/000200 Timac Agro Ind Com. 274,88 0,00 242,79 242,79 60.701.190/000104 Banco Itaú 122,01 0,00 122,01 122,01 61.082.822/002016 Bunge Fertilizantes 2.233,72 0,00 2.233,72 2.233,72 Fl. 268DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 269 11 76.535.764/000224 Brasil Telecom SA 3.646,58 0,00 3.589,82 3.589,82 88.301.668/000110 Suvesa Super Veiculo 442,27 442,26 442,27 0,01 91.235.549/000706 Vonpar Refrescos 998,87 0,00 998,87 998,87 92.660.364/000116 Cortel SA 183,97 183,97 183,97 0,01 TOTAL 7.187,23 Quanto à não apresentação de documentos comprovadores destaco, em função do Princípio da Verdade Material, regulador do Processo Administrativo Fiscal (Decreto nº 70.235/72), além dos próprios comandos ali existentes, dos quais destaco o art. 16, que a manifestação de inconformidade deverá vir acompanhada com os elementos de prova que possuir, sob risco de impedir sua apreciação pelo julgador administrativo. [...] O dispositivo acima, é a tradução do princípio de que o ônus da prova cabe a quem dela se aproveita. Esta formulação foi, com as devidas adaptações, trazida para o processo administrativo fiscal, posto que a obrigação de provar está expressamente atribuída tanto ao autor do procedimento, a autoridade fiscal, quanto ao contribuinte que contesta. Prevalecendo, sempre, no processo administrativotributário, a máxima ônus probandi incumbit ei qui dicit. Portanto, aquele que argúi direito em seu favor deverá demonstrar e provar esse direito, seja ele o sujeito ativo ou o sujeito passivo da relação jurídicotributária. Esclarecese, por fim, quanto à alegada prescrição dos débitos, que não é da competência dos órgãos da RFB ligados ao julgamento (DRJ e CARF) qualquer referência ao débito relativamente a sua cobrança – fase posterior ao julgamento. É da competência dos órgãos ligados ao julgamento apenas investigar os atributos do direito creditório (certeza e liquidez). Quanto à exigibilidade do débito cuja compensação não foi homologada, ela permanecerá suspensa no curso da discussão administrativa, à vista do que prescreve o § 11 do art. 74 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, incluído pela Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003. Logo, carecendo de certeza e liquidez a maior parcela do crédito pleiteado utilizada para compor o saldo negativo da CSLL cuja retenção na fonte não ficou comprovada, não há como postular a sua restituição, em função do que dispõe o art. 170 do CTN. Ante o exposto, voto no sentido de julgar procedente em parte a manifestação de inconformidade, para reconhecer, adicionalmente ao despacho, o direito creditório no montante de R$ 7.187,23. No que concerne à interpretação da legislação e aos entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, cabe esclarecer que somente devem ser observados os atos para os quais a lei atribua eficácia normativa, o que não se aplica ao presente caso, nos termos do art. 100 do Código Tributário Nacional. Atinente aos princípios constitucionais, cabe ressaltar que o CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária, uma vez que no âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a Fl. 269DF CARF MF Processo nº 11080.901403/201374 Acórdão n.º 1003000.297 S1C0T3 Fl. 270 12 aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade11. Temse que nos estritos termos legais o procedimento fiscal está correto, conforme o princípio da legalidade a que o agente público está vinculado (art. 37 da Constituição Federal, art. 116 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, art. 2º da Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999, art. 26A do Decreto nº 70.235, de 06 de março de 1972 e art. 62 do Anexo II do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09 de julho de 2015). Em assim sucedendo, voto em rejeitar a preliminar suscitada no recurso e, no mérito, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Carmen Ferreira Saraiva 11 Fundamentação legal: art. 26A do Decreto nº 70.235, de 6 de março de 1972, art. 62 do Anexo II do Regimento Interno do CARF e Súmula CARF nº 2. Fl. 270DF CARF MF
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Numero do processo: 10830.727851/2016-50
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Oct 23 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Mon Nov 19 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Classificação de Mercadorias
Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2013
EQUIPAMENTOS AUXILIARES DE GRUPO ELETROGÊNEO DE ENERGIA EÓLICA. AEROGERADOR. CONCEITO DE UNIDADE FUNCIONAL. INAPLICABILIDADE.
Os equipamentos auxiliares ao sistema do Aerogerador, com função determinada e distinta da geração de energia, não podem ser considerados, juntamente com ele uma unidade funcional, devendo cada um desses equipamentos seguir sua própria classificação fiscal na TIPI.
INCORPORAÇÃO. PENALIDADE. SUJEITO PASSIVO. INCORPORADORA.
A pessoa jurídica incorporadora é responsável pelos tributos devidos pela incorporada (art. 132 da Lei nº 5.172), inclusive no que se refere às penalidades.
MULTA COM COBERTURA DE CRÉDITO. CABIMENTO.
Nos casos em que a falta de destaque do IPI não implique a falta de recolhimento do imposto, pelo fato haver créditos capazes de absorver o imposto que deixou de ser destacado, necessária, ainda assim, aplicação da multa de ofício de 75% sobre o valor que deixou de ser lançado (multa do IPI não lançado, com cobertura de crédito).
MULTA DE OFÍCIO. RESPONSABILIDADE. SUCESSÃO TRIBUTÁRIA.
Em sendo a sucessora responsável pelos créditos tributários da sucedida, cabível é exigir daquela a multa por infração por esta cometida.
PENALIDADE. OBSERVÂNCIA DE ENTENDIMENTO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE AFASTAMENTO.
Não se pode afastar penalidade sob o argumento de adequação da conduta da autuada à decisão administrativa (art. 76, II, a, da Lei nº 4.502/64), já que, a partir da vigência do CTN, tal efeito somente se verifica na hipótese em que haja lei que atribua eficácia normativa à referida decisão administrativa.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3402-005.672
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em rejeitar a preliminar de conversão do julgamento do recurso em diligência, para elucidar a questão da remessa fracionada das mercadorias, vencida a conselheira Maria Aparecida Martins de Paula, que suscitou a diligência e os conselheiros Maysa de Sá Pittondo Deligne e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado). Acordam, ainda, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário; vencidos os conselheiros Diego Diniz Ribeiro, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Renato Vieira de Avila (suplente convocado), que lhe deram provimento integral.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Presidente e Relator.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Cynthia Elena de Campos, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Rodrigo Mineiro Fernandes e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado em substituição a Conselheira Thais De Laurentiis Galkowicz). Ausente, justificadamente, a Conselheira Thais De Laurentiis Galkowicz.
Nome do relator: WALDIR NAVARRO BEZERRA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2013 EQUIPAMENTOS AUXILIARES DE GRUPO ELETROGÊNEO DE ENERGIA EÓLICA. AEROGERADOR. CONCEITO DE UNIDADE FUNCIONAL. INAPLICABILIDADE. Os equipamentos auxiliares ao sistema do Aerogerador, com função determinada e distinta da geração de energia, não podem ser considerados, juntamente com ele uma unidade funcional, devendo cada um desses equipamentos seguir sua própria classificação fiscal na TIPI. INCORPORAÇÃO. PENALIDADE. SUJEITO PASSIVO. INCORPORADORA. A pessoa jurídica incorporadora é responsável pelos tributos devidos pela incorporada (art. 132 da Lei nº 5.172), inclusive no que se refere às penalidades. MULTA COM COBERTURA DE CRÉDITO. CABIMENTO. Nos casos em que a falta de destaque do IPI não implique a falta de recolhimento do imposto, pelo fato haver créditos capazes de absorver o imposto que deixou de ser destacado, necessária, ainda assim, aplicação da multa de ofício de 75% sobre o valor que deixou de ser lançado (multa do IPI não lançado, com cobertura de crédito). MULTA DE OFÍCIO. RESPONSABILIDADE. SUCESSÃO TRIBUTÁRIA. Em sendo a sucessora responsável pelos créditos tributários da sucedida, cabível é exigir daquela a multa por infração por esta cometida. PENALIDADE. OBSERVÂNCIA DE ENTENDIMENTO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE AFASTAMENTO. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 83 0. 72 78 51 /2 01 6- 50 Fl. 2796DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.797 2 Não se pode afastar penalidade sob o argumento de adequação da conduta da autuada à decisão administrativa (art. 76, II, a, da Lei nº 4.502/64), já que, a partir da vigência do CTN, tal efeito somente se verifica na hipótese em que haja lei que atribua eficácia normativa à referida decisão administrativa. Recurso Voluntário Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em rejeitar a preliminar de conversão do julgamento do recurso em diligência, para elucidar a questão da remessa fracionada das mercadorias, vencida a conselheira Maria Aparecida Martins de Paula, que suscitou a diligência e os conselheiros Maysa de Sá Pittondo Deligne e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado). Acordam, ainda, por maioria de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário; vencidos os conselheiros Diego Diniz Ribeiro, Maysa de Sá Pittondo Deligne e Renato Vieira de Avila (suplente convocado), que lhe deram provimento integral. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Presidente e Relator. Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro, Maria Aparecida Martins de Paula, Cynthia Elena de Campos, Pedro Sousa Bispo, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Rodrigo Mineiro Fernandes e Renato Vieira de Ávila (Suplente convocado em substituição a Conselheira Thais De Laurentiis Galkowicz). Ausente, justificadamente, a Conselheira Thais De Laurentiis Galkowicz. Relatório Trata o presente processo de Auto de Infração (fls. 1.515/1.673), lavrado contra a empresa GE POWER & WATER EQUIPAMENTOS E SERVICOS DE ENERGIA E TRATAMENTO DE AGUA LTDA., que exigiu um crédito tributário no valor total de R$ 50.459.012,74. Consta do Termo de Verificação Fiscal (TVF) de fls. 1.535/1.560, que nos anoscalendário de 2012 e 2013, a Recorrente promoveu a saída do produto denominado Aerogeradores, classificados na posição 8502.31.00 da TIPI e tributados à alíquota "0" (zero) de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Destaca o Fisco que os saldos credores constante na escrita do estabelecimento originaramse de aquisições de matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagem empregados na industrialização dos referidos Aerogeradores. Considetrando a existência de saldos credores de IPI em sua escrita fiscal, a autuada apresentou os Pedidos de Ressarcimento PER/DCOMP relacionados às fl. 2 e 1.536. Desta feita, a Fiscalização passou a analisar o direito creditório alegado pela empresa e constatou erro na classificação fiscal dos seguintes equipamentos: (i) Conversor de Energia; (ii) Sistema de Interface Meteorológica; (iii) Sistema de Gerenciamento de Site; (iv) Sistema Scada 220V 60Hz e (v) Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz. Fl. 2797DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.798 3 Para a Fiscalização, a Recorrente teria alterado indevidamente a classificação fiscal da mercadoria importada, que foi utilizado o código 8504.40.90 da TIPI, com alíquota de 15% de IPI: Conversor de energia (conversor de freqüência ou DTA), uma vez que, no momento em que promoveu a saída do produto para montagem, utilizou o código 8502.31.00 da TIPI (Grupos eletrogêneos e conversores rotativos elétricos. De energia eólica), com alíquota "0" (zero) de IPI. A Fiscalização relata que o mesmo equívoco de classificação fiscal teria ocorrido com outros produtos: Sistemas de Interface Meteorológica, de Gerenciamento de Site e Scada 220V 60Hz e, ainda com o Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz. Repitase que na saída para a montagem, todos esses produtos foram classificados no código 8502.31.00 da TIPI, tributado a alíquota "0" (zero) de IPI. No entanto, na importação, as classificações fiscais adotadas foram as seguintes (todos tributados com alíquota de 15% quando da importação): 1. Sistema de Interface Meteorológica (SIM): código 8517.62.59; 2. Sistema de Gerenciamento do Site 60HZ (SGS): código 9032.89.90; 3. Sistema SCADA 220V 60Hz: código 8471.50.30 e 8471.49.00); e, 4. Kit Laptop para utilização do Sistema SCADA 60 Hz: código 8471.30.19. 5. Conversos de Energia, código: código 8504.40.90. Como se vê, para a Fiscalização, todos esses equipamentos, quando das saídas, deveriam ser classificados em posições próprias, qual seja, com alíquota de 15% de IPI. Entretanto, a Recorrente os classificou em suas Notas Fiscais todos os equipamentos no código 8502.31.00 da TIPI (Grupos eletrogêneos e conversores rotativos elétricos. De energia eólica), tributado a alíquota "0" (zero) de IPI. A fiscalização, então, com base nas notas fiscais eletrônicas de saída, emitidas no período de 01/01/2012 a 31/12/2013, referente à remessa para montagem (CFOP 6949 e classificação fiscal 8502.31.00) dos produtos: Conversores de Energia; do Sistema de Interface Meteorológica; do Sistema de Gerenciamento de Site; do Sistema Scada 220V 60Hz e do Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz, e relacionadas no ANEXO III do Termo de Verificação Fiscal (TVF), elaborou planilha contemplando essas notas fiscais utilizando a classificação fiscal correta (ANEXO IV do TVF). Assim, foram apurados os valores de IPI que foram lançados. Ato seguinte, foi reconstituída a escrita Fiscal, considerandose, inclusive, a reversão dos estornos realizados em razão dos Pedidos de Ressarcimento. Em razão da reconstituição da escrita, a Fiscalização intimou a Recorrente a efetuar o estorno do crédito da sua escrita fiscal no montante de R$ 467.757,56 (relativo à diferença entre o saldo credor apurado pela Fiscalização e o escriturado pela empresa). Inconformada com a conclusão da Fiscalização, a Recorrente informa ser o Aerogerador composto de diversos elementos, entre eles: Pás, Gerador de energia, Cubo, Torre eólica, Conversor de energia dentre outros. Fl. 2798DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.799 4 Conforme bem salientado pelo Relatório da DRJ (Acórdão nº 0964.649, de 28/09/2017 fls. 2.676/2.704), aduzindo que após análise dos autos "tal fato ficou demonstrado no Relatório Técnico nº 000.920/2015, emitido pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), em atenção a solicitação feita pela Recorrente e anexado aos autos às fls. 2.497/2.575. O referido Parecer analisou os Geradores Eólicos, esclarecendo as características técnicas, operacionais e funcionais desse produto e permitiu à GE chegar às seguintes conclusões: 1) O princípio de funcionamento da turbina eólica está baseado na conversão de energia cinética (resultante do movimento de rotação causado pela incidência do vento nas pás do rotor da turbina) em energia elétrica. 2) As pás, o gerador de energia e o cubo, que não são objeto da presente autuação, formam a parte superior da turbina eólica, onde é captado o vento. 3) O conjunto pás/gerador/cubo é fixado a uma torre de sustentação, em cuja base está localizado o conversor de energia, que tem a função de converter a energia gerada pela turbina para os níveis adequados à injeção na rede elétrica convencional. O conversor de energia é, portanto, o responsável pela ligação entre turbina eólica e a rede convencional. 4) O processo de geração de energia elétrica pelo aerogerador é processo complexo que somente se consuma com a sua injeção na rede elétrica convencional. Importante afirmar que o produto da atividade do conjunto pás/gerador/cubo não pode ser diretamente ligado à rede elétrica convencional, sendo necessários, para tanto, o conversor de energia. 5) Ao contrário do afirmado pela Fiscalização, o relatório do INT constatou que o Conversor de Energia funciona como um “painel de interface entre o técnico do site e as funções da turbina”, que “seu funcionamento é fundamental para a perfeita geração de energia” e que “o conversor encontrase interligado e na mesma estrutura do aerogerador, formando um corpo único”. 6) o conversor de energia, além de sua função de conversão de energia propriamente dita, é o responsável por toda a parte de comunicação e alimentação do aerogerador. 7) Sem o conversor, seria gerada energia que não poderia ser aproveitada, dado que não se trataria de uma energia limpa e não seriam observados os padrões obrigatórios de funcionamento da rede elétrica brasileira. 8) adequar a energia gerada na turbina eólica à energia existente na rede para a qual está sendo distribuída é estágio intrínseco à sua produção, pois de nenhuma serventia seria a geração de uma energia inadequada ou prejudicial à rede. Nessa mesma linha de raciocino, a autuada sustenta que os demais equipamentos integram o conjunto que concorre para a geração de energia e, ainda que não sejam integrantes da turbina eólica, nem mesmo correspondam ao mesmo número de equipamentos por parque eólico, sua importância está diretamente ligada à adequação da energia gerada à rede elétrica convencional. Com relação a esses outros equipamentos, sustenta que: 1) O sistema de interface meteorológica é responsável pelo tratamento dos sinais coletados pela estação meteorológica. Ele permite verificar a posição e a velocidade do vento, de modo a facilitar o posicionamento das turbinas. Fl. 2799DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.800 5 2) O sistema de gerenciamento de site recebe os dados das Torres de Geração de Energia Eólica, envia sinais de controle de geração de maneira coordenada e controlada para a perfeita geração do parque eólico como um todo. É este sistema que controla toda a planta operacional e permite, ainda, o controle do funcionamento de cada uma das turbinas eólicas. 3) Software SCADA, instalado no sistema de gerenciamento de site, que realiza o monitoramento das turbinas, permitindo a leitura de dados de modo a controlar e monitorar o funcionamento das mesmas. Em seguida, a autuada passa a se manifestar sobre o que denomina “nítido erro de direito” da Fiscalização. Referese ao entendimento fiscal que concluiu pelo não aplicabilidade, ao presente caso, da Nota 4 da Seção XVI da TIPI. Entendendo ser aplicável a referida Nota de Seção, a autuada conclui que o equipamento relacionado ao desempenho da função principal do conjunto atrai para si a classificação dos demais equipamentos. Alega, ainda, ser aplicável a Nota Explicativa1 da posição 85.02 da TIPI, o que justificaria que o conversor de energia seja classificado na posição 8502.31.00. Isso porque a referida peça faz parte da unidade funcional de produção de energia elétrica, formando um corpo único com as demais peças e possuindo como função bem determinada a geração de energia elétrica. E o mesmo ocorreria em relação aos demais equipamentos. Com base nesses argumentos a autuada, sustenta: PRELIMINARMENTE: A expressão “grupos eletrogêneos” aplicase à combinação de um gerador elétrico com uma máquina motriz, que não seja um motor elétrico (turbina hidráulica, turbina a vapor, roda eólica, máquina a vapor, motor de ignição por centelha (faísca), motor diesel, etc.). Quando a máquina motriz e o gerador formam um só corpo ou quando, separados mas apresentados ao mesmo tempo, as duas máquinas são concebidas para formar um só corpo ou ser montadas em uma base comum (ver as Considerações Gerais desta Seção), o conjunto classificase na presente posição. 1) da necessidade de suspensão do processo pelo fato de depender da decisão no processo nº 10830.726.952/201441, que trata de matéria idêntica e engloba período de apuração do IPI anterior ao de que trata o presente processo. 2) nulidade do Processo, pelo fato de que autoridade fiscal, para impor uma nova classificação, deveria estar amparada em laudo técnico que justificasse a reclassificação pretendida. NO MÉRITO: 1) Improcedência da classificação fiscal pretendida pela Fiscalização; 2) Impossibilidade de imputar à autuada as penalidades relativas a períodos anteriores à incorporação do estabelecimento responsável pelos fatos geradores; 3) Impossibilidade de exigência da multa no montante fixado e de aplicação de multa sobre o IPI não lançado, com cobertura de crédito; 4) Ilegalidade da incidência de Juros Selic sobre a multa de ofício; Fl. 2800DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.801 6 5) Necessidade de realização de perícia no caso de se entender que o Relatório do INT não contém todos os subsídios técnicos necessários à solução da lide. Chegados os autos a esta DRJ, identificaramse alguns aspectos que necessitavam de maior esclarecimento. Em razão disso, foram solicitadas informações adicionais nos termos do Despacho 26 3ª Turma DRJ/JFA. Em resumo, solicitouse: A) que a Impugnante: 1) esclareça a contradição entre as informações por ela prestadas à Fiscalização, e o que consta em trechos do Parecer do Instituto Nacional de Tecnologia; e 2) descreva, de forma detalhada, o processo de geração de energia elétrica (importa salientar que não é o caso de se descrever o destino ou tratamento da energia produzida, mas sim as funções dos equipamentos que atuam intrinsecamente na geração de energia, ocorrida no interior da Nacelle); B) que o Instituto Nacional de Tecnologia se manifeste sobre as apontadas imprecisões relativamente às funções dos equipamentos de que trata a autuação. O INT atendeu à solicitação que lhe foi dirigida, por intermédio do Ofício nº 208/INT, de 10 de agosto de 2017, e a autuada se manifestou por intermédio do documento de fls. 2.642 a 2.644. Os fatos antes apontados, tanto pela autuada como pelo INT, foram apenas reforçados e esclarecidos nas respectivas manifestações, sem que tenha sido introduzida nos autos novidade em termos de elementos de prova. Em seguida, voltaram os autos a esta DRJ para a continuidade do julgamento. É o relatório". No entanto, os argumentos aduzidos pela Recorrente, foram parcialmente acolhidos pela primeira instância de julgamento administrativo fiscal, conforme ementa do Acórdão DRJ em Juiz de Fora (MG) nº 0964.649, de 28/09/2017, abaixo transcrito (fl. 2.676): ASSUNTO: CLASSIFICAÇÃO DE MERCADORIAS Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2013 EQUIPAMENTOS AUXILIARES DE GRUPO ELETROGÊNEO DE ENERGIA EÓLICA. CONCEITO DE UNIDADE FUNCIONAL. INAPLICABILIDADE. Os equipamentos auxiliares ao sistema pás/gerador/cubo do Aerogerador, com função determinada e distinta da geração de energia, não podem ser considerados, juntamente com ele, uma unidade funcional, devendo cada um desses equipamentos seguir sua própria classificação fiscal na TIPI. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2013 SUSPENSÃO DO PROCESSO. PENDÊNCIA DE DECISÃO DEFINITIVA DE PROCESSO RELATIVO A PERÍODO DE APURAÇÃO ANTERIOR. IMPOSSIBILIDADE. A apuração do IPI relativa a determinado trimestre leva em consideração a apuração reconstituída do período anterior Fl. 2801DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.802 7 (constante de processo específico), sem que se possa, por essa razão, cogitar de suspensão do processo até que se encerre o litígio relativo ao período de apuração anterior. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. FALTA DE COMPETÊNCIA TÉCNICA DA AUTORIDADE AUTUANTE. NULIDADE. INAPLICABILIDADE. A autoridade autuante prescinde de laudo técnico para, aplicando as regras de classificação de mercadorias, impor classificação fiscal diversa da pretendida pela autuada, desde que o faça de forma motivada. LAUDO DO INSTITUTO NACIONAL DE TECNOLOGIA. DESNECESSIDADE DE ELEMENTOS ADICIONAIS. SOLICITAÇÃO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO. Se os elementos de fato necessários à solução da lide já estão bem configurados, tornase desnecessária qualquer providência adicional em termos de diligência ou perícia. INCORPORAÇÃO. PENALIDADE. SUJEITO PASSIVO. INCORPORADORA. A pessoa jurídica incorporadora é responsável pelos tributos devidos pela incorporada (art. 132 da Lei nº 5.172), inclusive no que se refere às penalidades. PENALIDADE. EFEITO CONFISCATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO ADMINISTRATIVA. Não é permitido, em sede administrativa, que se discutam os fundamentos constitucionais da norma tributária. PENALIDADE. OBSERVÂNCIA DE ENTENDIMENTO ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE AFASTAMENTO. Não se pode afastar penalidade sob o argumento de adequação da conduta da autuada à decisão administrativa (art. 76, II, a, da Lei nº 4.502/64), já que, a partir da vigência do CTN, tal efeito somente se verifica na hipótese em que haja lei que atribua eficácia normativa à referida decisão administrativa. MULTA COM COBERTURA DE CRÉDITO. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO. Nos casos em que a falta de destaque do IPI não implique a falta de recolhimento do imposto, pelo fato haver créditos capazes de absorver o imposto que deixou de ser destacado, necessária, ainda assim, aplicação da multa de ofício de 75% sobre o valor que deixou de ser lançado (multa do IPI não lançado, com cobertura de crédito). ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/01/2012 a 31/12/2012 Fl. 2802DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.803 8 APURAÇÃO. SALDO CREDOR DE IPI. ESTORNO EM DUPLICIDADE. REDUÇÃO SALDO DEVEDOR. Deve ser retirado da apuração valor de débito de IPI que se destina a anular estorno de ressarcimento no caso em que tal valor já foi considerado na escrituração, devendo ser reduzido, em conseqüência, o saldo devedor a ser exigido relativamente ao período de apuração em análise. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte Regularmente notificado do julgado por meio de sua Caixa Postal Eletrônica (DTE perante a RFB) em 17/10/2017 (fl. 2.712) e, não concordando com a decisão, apresentou seu Recurso Voluntário em 16/11/2017 (fls. 2.715/2.755), reiterando os argumentos expendidos na sua Impugnação, em resumo com as seguintes razões: 1) PRELIMINARMENTE, alega a prejudicialidade externa entre o presente processo e o PAF n° 10830.726.952/201441, alegando a necessidade de suspensão do presente feito, porque caso a Recorrente seja vencida na discussão da validade desse suposto débito, ele será exigido pela Fazenda Nacional, ensejando flagrante bis in idem, não podendo, portanto, ser exigido, mesmo que de forma indireta também neste processo. 2) Da NULIDADE do Auto de Infração devido à falta de respaldo técnico: Conforme demonstrado em sua Impugnação, o Auto de Infração está eivado de nulidade, uma vez que, apesar de tratar de características técnicas de mercadorias, não apresentou nenhum respaldo técnico de forma a confirmar os seus fundamentos adotados; que é justamente a ausência de motivação do ato de lançamento que está sendo questionada pela Recorrente, ante à inobservância do disposto aos arts. 142 do Código Tributário Nacional e 37, caput, da Constituição Federal. 3) quanto ao MÉRITO, faz considerações acerca do produto objeto da autuação, argumentado que o produto Aerogerador, comercializado pela Recorrente, é composto de diversos elementos, quais sejam; pás, gerador de energia, cubo, torre. Sendo as características técnicas dos produtos o necessário ponto de partida para a classificação fiscal, inicia suas razões de mérito apresentando esclarecimentos acerca da composição e funcionamento do produto denominado Aerogerador. A título ilustrativo, reproduz a imagem do produto apresentado à Fiscalização no curso do procedimento. Por ser extremamente grande e volumoso, por absoluta impossibilidade física, a Recorrente vende e entrega a seus clientes o produto final desmontado, que são acompanhados das respectivas notas fiscais de remessa para montagem de Aerogerador CFOP 6949 (outros remessa para montagem). Todavia, a montagem e a instalação são realizadas em momento posterior no parque eólico de destino. Somente após a montagem e realizados os testes de funcionamento é que é emitida uma única nota fiscal de venda do Aerogerador, em que a receita é reconhecida e faturada. Isso inclusive foi reconhecido na autuação. O fato de a Recorrente entregar o produto desmontado a seus clientes, não retira a unidade do Aerogerador. Que isso ficou comprovado pelo Relatório Técnico n° 000.920/2015, emitido pelo Instituto Nacional de Tecnologia ("INT"), em atenção à solicitação da Recorrente em razão da discussão objeto do Processo Administrativo n° 10830.726952/201441 e acostado aos presentes autos (anexo à Impugnação). Fl. 2803DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.804 9 Das equivocadas premissas em que se fundou a autuação e a r. decisão recorrida interpretação equivocada da NESH: Alega a Recorrente que a reclassificação pretendida pelo Auto de Infração e mantida pela decisão recorrida, só ocorreu em função da incompreensão técnica acerca da natureza, configuração e funcionamento dos elementos componentes do Grupo Eletrogêneo e da adoção de interpretação equivocada das regras que regem o Sistema Harmonizado. Que a unidade funcional deve ser entendida como o conjunto de equipamentos que, em conjunto, atuam para executar uma função determinada. No caso em apreço, não há como se afastar desse conceito os conversores de energia e os sistemas de interface meteorológica, de gerenciamento do site, Scada e Kit laptop, na medida em que essenciais à geração de energia elétrica pela turbina eólica, bem como necessários à utilidade da energia gerada. Frisese que, sem o conversor de energia, sequer será gerada a energia e, ainda que o fosse, não seria possível o seu consumo, pois a turbina eólica não estaria conectada à rede convencional de energia elétrica, o que inutiliza o próprio Aerogerador. 4) Do descabimento da multa aplicada a impossibilidade de exigência da multa do sucessor. Aduz que a Recorrente GE POWER & WATER EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE ENERGIA E TRATAMENTO DE ÁGUA LTDA., é incorporadora de GENERAL ELECTRIC ENERGY DO BRASIL EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE ENERGIA LTDA., conforme demonstra a 47ª Alteração de contrato social registrada no órgão competente em novembro de 2015, o que é premissa adotada na autuação (fls. 1.535). Tendo em vista a referida incorporação da GENERAL ELECTRIC ENERGY DO BRASIL EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS DE ENERGIA LTDA., para efeitos de responsabilidade pelo pagamento de tributos eventualmente devido, é aplicado o disposto no art. 132 do CTN. Ainda que a Recorrente seja responsável pelos tributos da empresa sucedida, jamais poderá responder pelas multas a ela aplicadas, em respeito ao princípio da pessoalidade da pena, constitucionalmente assegurado em nosso ordenamento jurídico. 5) Da Inaplicabilidade da MULTA de 75% sobre o imposto devido, estabelecida pela autuação com base no artigo 80 da Lei nº 4.502/64. 6) Da ilegalidade da incidência de juros Selic sobre a Multa de Ofício; mostrase inafastável concluir que não há previsão legal para a cobrança de juros de mora sobre a multa lançada de ofício nos casos que não foram abrangidos pelo artigo 43 da Lei nº 9.430/96. Ao final, requer que seja dado provimento ao presente Recurso Voluntário, para que seja reformado o acórdão recorrido, determinandose o integral cancelamento do Auto de Infração, seja no tocante ao tributo cobrado, seja no tocante às penalidades e consectários impostos na autuação. Protesta, pela sustentação oral do presente recurso, requerendo seja previamente intimada nas pessoas dos seus representantes legais. Não tendo havido Manifestação nos autos para apresentação de contrarrazões pela PGFN (fl. 2.795), o processo foi a mim distribuído por sorteio. É o relatório. Fl. 2804DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.805 10 Voto Conselheiro Waldir Navarro Bezerra, Relator. 1. Da admissibilidade do recurso O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos para sua admissibilidade, e dele tomo conhecimento. 2. Preliminares 2. 1. Da Suspensão do processo Aduz a Recorrente em seu recurso que, (...) contrariamente ao afirmado no v. acórdão recorrido, existe causa suspensiva da exigibilidade desses valores consubstanciados originalmente no Processo Administrativo n° 10830.726952/201441, até que haja o trânsito em julgado administrativo, conforme artigo 151, inciso III, do Código Tributário Nacional c/c art. 74, §11 da Lei n° 9.430/96. A exigência de estorno do crédito tributário com base em reconstituição de saldo credor a partir da exigência objeto do Processo Administrativo n° 10830.726952/201441 implica exigibilidade do IPI por vias transversas, eqüivalendo ao descumprimento dos dispositivos supramencionados". (Grifei) Alega, em resumo, que não há que se falar em falta de fundamento legal para a aludida suspensão "pois o instituto da prejudicialidade decorre do próprio direito material em litígio, com desdobramentos eficaciais cogentes para dentro do direito processual". Pois bem. A Recorrente argumenta em seu Recurso que a reconstituição da escrita fiscal no presente processo levou em consideração o levantamento fiscal realizado nos autos do PAF nº 10830.726952/201441, ainda pendente de julgamento final neste CARF. Com base nisso, invoca causa suspensiva da exigibilidade desses valores consubstanciados originalmente no PAF acima citado, até que haja o trânsito em julgado administrativo, conforme artigo 151, inciso III, do CTN c/c art. 74, §11 da Lei nº 9.430/96. Explica que os saldos devedores apurados nos períodos relativos ao 4º trimestre de 2011, encontramse em discussão, de modo que ou serão cancelados, caso a Recorrente sagrese vencedora naquele processo, ou serão integralmente pago naqueles autos, acrescido de multa e juros. Demonstra que em ambos os casos restaria validado o saldo credor escriturado no livro RAIPI, em 31/12/2011, no valor de R$ 3.781.771,28. Em resumo, sustenta que até que se decida definitivamente o processo nº 10830.726952/2014 41, deveriam ser mantidas as informações prestadas em seu livro RAIPI, em 31/12/2011, sendo válido o respectivo saldo credor apurado e utilizado no procedimento de compensação. Não há que se falar em bis in idem no caso sob discussão. Houve, de fato, um equívoco na apuração do PA 01/12, conforme verificado e corrigido pela decisão a quo, equívoco este que, em nada justifica a solicitação de suspensão deste processo. Fl. 2805DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.806 11 Quedouse demonstrado na apuração do imposto no presente processo, refeita pela Fiscalização, que levou em conta o resultado da apuração do imposto relativa ao período anterior, especialmente no que se refere ao saldo credor inicial de janeiro de 2012. As correções realizadas no período de julho a dezembro de 2011, resultaram na redução do saldo credor constante da escrita fiscal da autuada (de R$ 3.781.771,28 para R$ 408.785,67). Isso acarretaria que o saldo credor inicial reconstituído de janeiro de 2012 deveria ser de R$ 408.785,67. Entretanto, a Fiscalização optou por manter íntegro o saldo credor inicial tal como constava da escrita fiscal (3.781.771,28) e fazer um lançamento a débito de R$ 3.372.985,61 para que se chegasse ao valor de R$ 408.785,67. A diferença entre o saldo inicial (em 1º de janeiro e 2012) e aquele escriturado pela Recorrente foi efetivamente retirada da apuração reconstituída, sem que com isso se possa argumentar a ocorrência de bis in idem, já que cada autuação diz respeito a fatos geradores distintos, assim como a períodos de apuração distintos. Desta forma, não há que se considerar a hipótese de suspensão do processo. 2.2. Nulidade do Processo Sustenta a Recorrente que, "(...) Conforme demonstrado pela Recorrente em sua Impugnação, o Auto de Infração está eivado de nulidade, uma vez que, apesar de tratar de características técnicas de mercadorias, não apresentou nenhum respaldo técnico de forma a confirmar os fundamentos adotados". (Grifei) Entendo que não prospera a solicitação da Recorrente.Explico. No Regulamento Aduaneiro (Decreto nº 6.759/2009), em seu artigo 94, parágrafo único, estabelece o seguinte: Art. 94. Para fins de classificação das mercadorias, a interpretação do conteúdo das posições e desdobramentos da Nomenclatura Comum do Mercosul será feita com observância das Regras Gerais para Interpretação, das Regras Gerais Complementares e das Notas Complementares e, subsidiariamente, das Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, da Organização Mundial das Aduanas (DecretoLei no 1.154, de 1o de março de 1971, art. 3o, caput). Tratandose de matéria de classificação fiscal de mercadorias, cabe lembrar que o AuditorFiscal da Receita Federal do Brasil é quem detém a competência para a interpretação da legislação tributária e aduaneira, bem como para se manifestar acerca da classificação fiscal de mercadorias. E, para efetuar a classificação fiscal segundo as Regras Gerais de Interpretação, é necessário conhecer a mercadoria e para tanto, por vezes, é necessária a elaboração de Laudo Técnico (LT) para esclarecer questões técnicas específicas. Tais laudos são adotados nos termos do art. 64 do Decreto nº 7.574/2011, que regula o Processo Administrativo Fiscal (PAF), ou seja, os Laudos devem esclarecer dúvidas sobre aspectos técnicos, não devendo o técnico que o produzir posicionarse sobre a classificação fiscal. Art. 30. Os laudos ou pareceres do Laboratório Nacional de Análises, do Instituto Nacional de Tecnologia e de outros órgãos federais congêneres serão adotados nos aspectos técnicos de sua competência, salvo se comprovada a improcedência desses laudos ou pareceres. Fl. 2806DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.807 12 § 1º Não se considera como aspecto técnico a classificação fiscal de produtos. § 2º A existência no processo de laudos ou pareceres técnicos não impede a autoridade julgadora de solicitar outros a qualquer dos órgãos referidos neste artigo. Importante ressaltar que a lei que regula o Processo Administrativo Fiscal (artigo 30,§1º do Decreto nº 70.235/72), dispõe que a classificação fiscal de mercadorias não se reveste de caráter técnico. Argumenta ainda a Recorrente que, "(...) no caso específico do ato de lançamento tributário, deve ser observado também o disposto no art. 142 do Código Tributário Nacional, do qual sobressai a imposição à Fiscalização (atividade vinculada e obrigatória) de verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar o sujeito passivo, a matéria tributável, calcular o montante do tributo e sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível". No entanto, verificase nos autos que a empresa, junto com sua Impugnação, apresentou o referido Laudo Técnico elaborado pelo INT, conforme consta documentos de fls. 2.497/2.575 e que foi considerado e analisado pela decisão de piso. Verificase nos autos que o trabalho fiscal teve como fundamento as informações técnicas do produto prestadas pela própria empresa e também no Laudo apresentado. Percebese que a Fiscalização buscou examinar todos os esclarecimentos e documentos apresentados pela Recorrente que visava comprovar que as vendas realizadas referiamse a um Aerogerador completo, a ser instalado em local determinado pelo cliente. Quanto a questão que diz respeito à nulidade do ato administrativo, cumpre notar que não se verifica nesses autos quaisquer das hipóteses previstas no art. 59 do Decreto nº 70.235, de 1972, verbis: “Art. 59. São nulos; I – os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II – os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa.” Estando todos os atos e termos, lavrados por pessoa competente, dentro da estrita legalidade e garantido o mais absoluto direito de defesa, não há que se cogitar de nulidade do Auto de Infração. No caso sob análise, inexiste qualquer violação à legalidade ou à ampla defesa, haja vista os notórios fundamentos colhidos pela autoridade fiscal para sua conclusão, além da própria Impugnação e Recurso apresentados, na qual aliás demonstra perfeita cognição, fática e jurídica, dos motivos que levaram a autuação. Ante ao todo exposto, podese concluir que o ato resistido revestiuse das formalidades previstas no art. 10 do Decreto nº 70.235/1972, não havendo incidido em quaisquer dos vícios que lhe poderiam retirar a validade. Fl. 2807DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.808 13 Em síntese, os fundamentos que servem de baliza ao ato administrativo controvertido foram todos disponibilizados ao sujeito passivo, havendolhe sido franqueado o direito de apresentar suas manifestações por escrito, inexistindo a nulidade suscitada. 3. Mérito Conforme relatado, cuidase os autos de Auto de Infração relacionado à IPI, em face da Recorrente (GE) ter promovido saída de produtos tributados com falta de lançamento de imposto, por erro de classificação fiscal e, conseqüentemente, erro de alíquota. Isso porque o estabelecimento, ao dar saída aos equipamentos: (i) Sistema de Interface Meteorológica (SIM): código 8517.62.59; (ii) Sistema de Gerenciamento do Site 60HZ (SGS): código 9032.89.90; (iii) Sistema Scada 220V 60Hz: código 8471.50.30 e 8471.49.00); e, (iv) Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz: código 8471.30.19 e (v) Conversor de Energia: código 8504.40.90, utilizouse da classificação fiscal TIPI 8502.31.00 (Grupos eletrogêneos e conversores rotativos elétricos. De energia eólica), cuja alíquota tributada é "0%" (zero), por entender que referidos equipamentos são classificados juntamente com o Grupo Eletrogêneo Eólico (Aerogeradores conjunto: Pás/Cubo/Gerador, ), por ele produzidos e comercializados. Para melhor ilustrar, esclareço que o referido NCM 8502.31.00 tem a seguinte descrição: 8502.31.00 Máquinas, aparelhos e materiais elétricos, e suas partes; aparelhos de gravação ou de reprodução de som, aparelhos de gravação ou de reprodução de imagens e de som em televisão, e suas partes e acessórios Grupos eletrogêneos e conversores rotativos elétricos Outros grupos eletrogêneos: De energia eólica. Resumindo, na saída para a montagem, todos esses produtos foram classificados no código 8502.31.00 da TIPI, tributado a alíquota "0" (zero) de IPI. No entanto, na importação, as classificações fiscais adotadas foram as acima citadas e todas tributadas com alíquota de 15%. Portanto é incontroverso as classificações nos códigos dos equipamentos acima identificados. A questão posta em litígio diz respeito ao cabimento, no caso concreto, de classificálos juntamente com o Grupo Eletrogêneo, independentemente de suas classificações próprias. Pois bem. Verificase nos autos que o princípio de funcionamento da Turbina eólica (fotos abaixo), está baseado na conversão de energia cinética (resultante do movimento de rotação causado pela incidência do vento nas pás do rotor da turbina) em energia elétrica. Em síntese, a questão é definir se o fato de os equipamentos abrangidos pela autuação concorrerem para o funcionamento do Aerogerador é suficiente para que sejam considerados como partes deste. Fl. 2808DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.809 14 Ressaltase que as Pás, o Gerador de energia e o Cubo (Nacelle), que não são objeto da presente autuação, formam a parte superior da Turbina Eólica, onde é captado o vento. Assim, o cerne da controvérsia encontrase em definir se os seguintes equipamentos (i) Sistema de Interface Meteorológica (ii) Sistema de Gerenciamento do Site 60HZ; (iii) Sistema SCADA 220V 60Hz; (iv) Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz, e (v) Conversor de Energia, são classificados juntamente com o Grupo Eletrogêneo, caracterizandose, o conjunto, como uma unidade funcional, destinada a produzir energia elétrica a partir do vento, como pretende a Recorrente. Por outro giro, a Fiscalização alega que tais equipamentos devem se sujeitar à classificação fiscal apartada em determinada posição da NCM, pois não conforma, juntamente aos demais elementos do Aerogerador (pás, cubo e gerador), unidade funcional. Afirma que possuiria, assim, a função autônoma de converter a energia já gerada pelo Aerogerador. Ou seja, no entender da Fiscalização tais equipamentos "não são montados no corpo dos Aerogeradores, nem são instalados, no Parque Eólico, em número igual ao de Aerogeradores". Não fariam, portanto, parte do conjunto do Aerogerador, uma vez que não concorreriam para a Junção principal do conjunto, sendo sistemas auxiliares. Para resolver essa questão, há que se determinar se os equipamentos relacionados acima formam uma combinação de máquinas, juntamente com o Grupo Eletrogêneo Eólico (Aerogerador), de forma a desempenhar conjuntamente a função de geração de energia, na acepção das Regras Gerais para a Interpretação do Sistema Harmonizado (RGI) da Convenção Internacional sobre o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, nas Regras Gerais Complementares do Mercosul (RGC), nas Regras Gerais Complementares da TIPI (RGC/TIPI), nos pareceres de classificação do Comitê do Sistema Harmonizado da Organização Mundial das Aduanas (OMA) e nos ditames do Mercosul, e, subsidiariamente, nas Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH), no Fl. 2809DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.810 15 caso na Nota de Seção nº 4 e das Considerações Gerais, item VII (Unidades Funcionais), ambas da Seção XVI da NESH. No Relatório Técnico nº 000.920/2015, Parecer elaborado pelo INT (fls. 2.497 e seguintes), traz a descrição dos componentes do Aerogerador, conforme trechos abaixo reproduzidos: "(...) 10. O Aerogerador, Figura 1., apresenta, basicamente, a função de converter a energia do vento, que faz girar as Pás (turbina, energia mecânica), Figura 2., item 1, em energia elétrica. Tais Pás estão interligadas ao Hub (Nariz), Figura 2., item 2, que está conectado ao Rolamento, Figura 2., item 3, ao Sistema de Controle de Passo (Pitch System), Figura 2., item 4, e ao Eixo Principal, Figura 2., item 5. A baixa rotação fornecida pelo giro do rotor é transformada em alta rotação através da Caixa de Engrenagens, Figura 2., item 6. A alta rotação é necessária para que dentro do Gerador, Figura 2., item 9 seja criado o campo magnético e permita que a geração de energia se faça a partir dele. Essa energia é enviada ao Painel Conversor de Freqüência (também denominado "conversor de energia ou freqüência ou DTA), Figura 2., item 13, que faz a regulagem dos parâmetros necessários para que essa energia seja entregue de forma segura e sem danificar a rede. Alguns outros componentes estão, também, diretamente ligados ao Fl. 2810DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.811 16 funcionamento da turbina. Por exemplo, o sensor Anemômetro que capta as características do vento, Figura 2., item 8, envia informações para o Top Box (Painel Superior), Figura 2., item 7, que aciona o Sistema Yaw (Sistema de Guinada), Figura 2., item 11 e o Pitch System (Sistema de Controle de Passo). O acionamento desses dois conjuntos faz com que a turbina se movimente na direção em que o vento entrega a maior eficiência a turbina, ou no pior caso, que façam o desligamento da turbina nos casos de ventos extremamente fortes ou até mesmo quando o vento é muito fraco para a geração de energia. A Nacelle, (também denominada "cubo") Figura 2., item 10, tratase de uma estrutura montada no topo da torre, em que está o conjunto de alguns dos principais componentes do Aerogerador com exceção do Nariz (Hub) e as Pás. A Nacelle é montada no alto da Torre de estrutura tubular, Figura 2., item 12, sendo que no interior, inferior da Torre, encontrase o Painel Conversor de Freqüência. Os principais componentes de um Aerogerador, acima citados, possuem as seguintes características: 1. Pás: São montadas 3 (três) Pás em cada turbina eólica. Os ângulos das Pás podem ser ajustados entre 0 e 90 graus, dependendo da direção e força do vento. O ajuste do ângulo é controlado pelo Pitch System (Sistema de Controle de Passo). 2. Hub (Nariz ou Cubo): O Hub é uma grande cápsula de ferro fundido que conecta as 3 (três) Pás no eixo principal. A montagem entre Hub, Pás e Nacelle é feita através de Rolamentos e a junção é feita por meio de parafusos. 3. Rolamentos: Os Rolamentos são desenvolvidos para permitir a rotação dos eixos. Existem Rolamentos nas montagens do Hub e Pá (para permitir o giro das Pás), Hub e Nacelle (para permitir o giro do rotor e consequentemente a geração de energia no Gerador) e Nacelle e Torre (para permitir o giro de toda a estrutura para que a turbina esteja trabalhando sempre com a máxima eficiência). 4. Pitch System (Sistema de Controle de Passo): Composto por 3 (tres) painéis elétricos e 3 (três) motores. São montados dentro do Hub e são os responsáveis pelo controle do ângulo de ataque das Pás do Aerogerador. Eles conseguem trabalhar de forma independente, aumentando a eficiência da turbina. 5. Eixo Principal: É o grande responsável em transferir o giro do rotor para a Caixa de Engrenagem, e consequentemente para o Gerador. Sem ele o Hub e as Pás girariam em "falso" sem que houvesse a conexão com o Gerador. 6. Caixa de Engrenagens: A Caixa de Engrenagens é responsável por transformar a baixa rotação vinda do rotor em alta rotação até o Gerador elétrico. A Caixa de Engrenagens é montada dentro da Nacelle e possui um sistema de freio individual. 7.Top Box (Painel Superior): Painel elétrico montado dentro da Nacelle. Responsável pela comunicação e energização entre o Painel Conversor de Freqüência e o Painel de Controle de passo. 8. Anemômetro e Para Raio: São todos montados no topo da parte externa da Nacelle, podendo ser acessados pela saída superior da Nacelle. 9. Gerador: O Gerador é do tipo "DoublyFed", totalmente enclausurado, garantindo a segurança dos técnicos de campo no momento da manutenção da turbina, sendo montado em cima de uma estrutura metálica e foi desenvolvido para que as vibrações e ruídos fossem o mínimo possível, já que outros componentes da turbina também utilizam a mesma estrutura para serem instalados. Fl. 2811DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.812 17 10. Nacelle (também denominado Cubo): Nacelle é o nome dado para todo o conjunto montado no alto da Torre, exceto Hub (Nariz) e Pás e toda a estrutura se parece com um ônibus. Na Nacelle são encontrados alguns dos principais componentes do Aerogerador, como, por exemplo, o Gerador, Top Box, Caixa de Engrenagens, sistema Yaw, dentre outros. A Nacelle é ventilada e possui iluminação para dar suporte no caso de algum serviço técnico. O acesso entre a Nacelle e a Torre é feita por meio de uma abertura disponível no chão da Nacelle e o acesso ao Hub é feito pela parte externa da turbina. 11. Sistema Yaw (Yaw = Guinada): Sistema desenvolvido para que toda a estrutura montada no alto da Torre pudesse ser movimentada em volta do eixo da mesma, tudo isso para garantir que mesmo com a mudança de direção dos ventos, a turbina esteja trabalhando sempre com máxima eficiência, tal sistema é composto pelo Rolamento, 4 (quatro) motores elétricos e freios. 12. Torre: A turbina é montada no alto da torre de estrutura tubular. Montada em seções que são enviadas direto para o site. Para ter acesso aos componentes no alto da torre, o técnico precisa subir pela escadaria montada por dentro da torre. 13. Painel Conversor de Freqüência (também denominado DTA ou Conversor de Energia ou Freqüência): O Painel Conversor de Freqüência, instalada no interior da Torre, em sua base, garante que a tensão, corrente e freqüência gerada pela turbina sejam entregues a estação de forma estabilizada e controlada. Ele também é o responsável pelo controle de todo o sistema dentro da turbina, sendo essencial para a perfeita geração de energia. É ele quem gerencia a posição e angulação das pás, controla a Nacelle em relação à velocidade do vento, qualidade da energia gerada, fazendo o ajuste e estabilização da freqüência da energia gerada pelo gerador para os padrões obrigatórios de funcionamento da rede elétrica brasileira, nos termos do Submódulo 3.6 disponibilizado no site da ONS, podendo até desligar o Aerogerador se necessário. Ainda, é ele responsável pela alimentação das tomadas, lâmpadas e painéis elétricos do Aerogerador, bem como pela comunicação e controle de todas as funções dos painéis elétricos montados na Nacelle. Funciona como painel de interface entre o técnico do site e as funções da turbina. Em seu interior são montados os transformadores auxiliares de baixa tensão, que são responsáveis pela alimentação de energia dentro da turbina, e também faz parte da corrente de segurança do sistema em relação a falhas na rede externa. 14. Sistema de Controle da Turbina (SCADA Supervisory Control and Data AquisitionControle Supervisório e de Aquisição de Dados"): "Software" de controle do site instalado no denominado "sistema de gerenciamento do site". O "sistema de gerenciamento do site" é composto por um bastidor, que, em sua parte frontal, é formado de roteador, teclado, monitor, mouse, servidores e armazenadores. Nele está instalado o software SCADA dedicado ao monitoramento das turbinas, permitindo a leitura de dados de modo a controlar e monitorar o funcionamento das mesmas, informando caso haja alguma deficiência impedindo o perfeito funcionamento das turbinas, a turbina pode ser controlada automaticamente ou manualmente, pelos painéis de controles situados na Nacelle ou no Painel Conversor. O Software SCADA permite, também, controlar a turbina remotamente funcionando como um verdadeiro painel de controle do parque eólico. Observase também que a partir do item 25 do citado Relatório Técnico do INT, restou transcrito os quesitos e as respostas que fundamentaram a posição da Recorrente. Fl. 2812DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.813 18 Restou evidente na letra "a" do item 25 do Relatório Técnico nº 000.920/2015 do INT, que a energia elétrica é gerada no interior da Nacelle ou Cubo. Por outro lado, não se nega que os equipamentos citados pela empresa têm função no controle de todo o sistema. Entretanto, não se pode esquecer que a classificação de mercadorias se rege por regras específicas. E, do resultado de sua aplicação, emergirá a classificação fiscal adequada. Como se depreende dos autos, a empresa classifica todo o conjunto de máquinas, equipamentos, aparelhos e acessórios que irão compor o Aerogerador (o qual virá por montar e incompleto) no código NCM 8502.31.00, amparada na RGI 2 a). Essa regra, respalda efetivamente a classificação de um bem em determinada posição, ainda que por montar, desmontado, inacabado ou incompleto, desde que possua as características essenciais do artefato completo, montado e acabado. Nas NESH, em suas Considerações Gerais à Seção XVI, quando se referem às Máquinas e Aparelhos incompletos e não montados, remetendo à RGI 2 a), explicam: “IV Máquinas e Aparelhos Incompletos: (ver a Regra Geral Interpretativa 2 a) Nesta Seção, qualquer referência a uma categoria de máquinas compreende não só as máquinas completas, mas também os conjuntos de partes obtidos na montagem ou construção, de tal modo que apresentem no estado em que se encontram, as principais características essenciais das máquinas completas (máquinas incompletas)......” “V Máquinas e Aparelhos não montados: Por razões tais como necessidade ou comodidade de transporte, as máquinas, às vezes, apresentamse desmontadas. Embora se trate, de fato, de partes separadas, o conjunto é classificado como máquina ou aparelho e não, quando a posição existe, na posição relativa às partes. Esta regra é válida mesmo quando o conjunto corresponde a uma máquina incompleta com características da máquina completa, na acepção da parte IV acima descrita........Por outro lado, os elementos em número superior ao necessário para formar uma máquina completa ou incompleta com as características da máquina completa, seguem o seu próprio regime.” Para melhor esclarecer é importante e no presente caso fundamental, recorrer às Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias NESH: 85.02 Grupos eletrogêneos e conversores rotativos elétricos. (...) 8502.3Outros grupos eletrogêneos: 8502.31De energia eólica (...) I. GRUPOS ELETROGÊNEOS A expressão “grupos eletrogêneos” aplicase à combinação de um gerador elétrico com uma máquina motriz, que não seja um motor elétrico (turbina hidráulica, turbina a vapor, roda eólica, máquina a vapor, motor de ignição por centelha (faísca), motor diesel, etc.). Quando a máquina motriz e o gerador formam um só corpo ou quando, separados mas apresentados ao mesmo tempo, as duas máquinas são concebidas para formar um só corpo ou Fl. 2813DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.814 19 ser montadas em uma base comum (ver as Considerações Gerais desta Seção), o conjunto classificase na presente posição. (Grifei) (...) Vejase agora as disposições contidas nas Notas 3, 4 e 5 da Seção XVI da TIPI, que dispõem: “3. Salvo disposições em contrário, as combinações de máquinas de espécies diferentes, destinadas a funcionar em conjunto e constituindo um corpo único, bem como as máquinas concebidas para executar duas ou mais funções diferentes, alternativas ou complementares, classificamse de acordo com a função principal que caracterize o conjunto.” “4. Quando uma máquina ou combinação de máquinas seja constituída de elementos distintos (mesmo separados ou ligados entre si por condutos, dispositivos de transmissão, cabos elétricos ou outros dispositivos), de forma a desempenhar conjuntamente uma função bem determinada, compreendida em uma das posições do Capítulo 84 ou do Capítulo 85, o conjunto classificase na posição correspondente à função que desempenha” “5. Para a aplicação destas Notas, a denominação máquinas compreende quaisquer máquinas, aparelhos, dispositivos, instrumentos e materiais diversos citados nas posições dos Capítulos 84 ou 85”. (Grifei) Não se pode ainda deixar de considerar o disposto nos artigos 15 a 17 do Regulamento do IPI, Decreto nº 7.212/2010 (RIPI/2010): Art. 15. Os produtos estão distribuídos na TIPI por Seções, Capítulos, Subcapítulos, Posições, Subposições, Itens e Subitens. Art. 16. Farseá a classificação de conformidade com as Regras Gerais para Interpretação RGI, Regras Gerais Complementares RGC e Notas Complementares NC, todas da Nomenclatura Comum do MERCOSUL NCM, integrantes do seu texto. Art. 17. As Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias NESH, do Conselho de Cooperação Aduaneira na versão lusobrasileira, efetuada pelo Grupo Binacional Brasil/Portugal, e suas alterações aprovadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, constituem elementos subsidiários de caráter fundamental para a correta interpretação do conteúdo das Posições e Subposições, bem como das Notas de Seção, Capítulo, Posições e de Subposições da Nomenclatura do Sistema Harmonizado. Em consonância ao acima disposto, cabe examinar o que estabelecem as Notas da Seção XVI da TIPI: 3. Salvo disposições em contrário, as combinações de máquinas de espécies diferentes, destinadas a funcionar em conjunto e constituindo um corpo único, bem como as máquinas concebidas para executar duas ou mais funções diferentes, alternativas ou complementares, classificamse de acordo com a função principal que caracterize o conjunto. 4. Quando uma máquina ou combinação de máquinas seja constituída de elementos distintos (mesmo separados ou ligados entre si por condutos, dispositivos de transmissão, cabos elétricos ou outros dispositivos), de forma a Fl. 2814DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.815 20 desempenhar conjuntamente uma função bem determinada, compreendida em uma das posições do Capítulo 84 ou do Capítulo 85, o conjunto classificase na posição correspondente à função que desempenha. Examinando as considerações da Nota 3 da Seção XVI, da NESH acima transcrita, relativamente às Máquinas com funções múltiplas ou combinações de máquinas, geralmente uma máquina concebida para executar várias funções diferentes, em geral classificase pela função principal que a caracteriza. Explicam que há combinações de várias máquinas ou aparelhos de espécies diferentes por associação, formando um único corpo, exercendo, sucessiva ou simultaneamente, funções distintas e geralmente complementares, incluídas em diferentes posições da Seção XVI. A NESH define ainda a formação de um único corpo por máquinas de espécies diferentes, pela incorporação de umas às outras ou pela montagem de umas sobre as outras, bem como pela sua montagem sobre uma base, armação ou suporte comuns, ou disposição em um invólucro comum. Ressalta que os diferentes elementos só podem ser considerados como formando um único corpo quando produzidos para serem fixados, em caráter permanente, uns aos outros, ou ao elemento comum. Ressaltase que excluemse, portanto, de serem caracterizados como corpo único, os conjuntos constituídos a título provisório ou as montagens que não sejam normalmente concebidas como uma combinação de máquinas. No caso, a Nota 4 da Seção XVI, que trata das unidades funcionais, explica que se aplica quando uma máquina ou uma combinação de máquinas são constituídas por elementos distintos, concebidos para executar conjuntamente uma função bem determinada incluída em uma das posições do Capítulo 84 ou, mais frequentemente, do Capítulo 85. O fato de que, por razões de comodidade, por exemplo, estes elementos estejam separados ou interligados por condutores, dispositivos de transmissão, cabos elétricos ou outros dispositivos, não se opõe à classificação do conjunto na posição correspondente à função que este executa. Na acepção da presente Nota, a expressão “concebidos para executar conjuntamente uma função bem determinada” abrange somente as máquinas e combinações de máquinas necessárias para realização da função própria ao conjunto, que forma uma unidade funcional, excetuandose as máquinas ou aparelhos que tenham funções auxiliares e não concorram para a função do conjunto. Isto posto, temos que observar que os elementos constitutivos de um conjunto que não satisfaçam às condições estabelecidas pela Nota 4 da Seção XVI para que o mesmo seja considerado uma unidade funcional, seguem o seu próprio regime de classificação. Pois bem. Consta dos autos que a geração de energia elétrica é função específica do grupo eletrogêneo. Muito embora todos os equipamentos concorram para o bom funcionamento do sistema, é evidente que cada um deles tem a sua função específica, sendo esta distinta da geração de energia. Analisando o Relatório e o Parecer do INT, podemos resumir as funções de cada equipamento que se encontra sob análise: a) Conversor de Energia: (1) que a energia é gerada dentro do Gerador e, seguida, é enviada ao Conversor de Freqüência que controla a entrega adequada da energia à rede; (2) fica localizado na base da Torre do Aerogerador e forma com ele um corpo único, e Fl. 2815DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.816 21 (3) a turbina eólica é por ele controlada, inclusive quanto à alimentação de energia e posicionamento em relação aos ventos. b) Sistema de Interface Meteorológica (SIM) e de Gerenciamento de Site (SGS): (1) localizados no interior da Nacelle (ou Cubo) e responsáveis pelo seu direcionamento; (2) o SIM envia ao TOP BOX (localizado na Nacele) a informação de posição, força e velocidade do vento, o que permite o melhor posicionamento da Nacele e das pás; e (3) O GSM é o responsável pelo monitoramento e controle da turbina, evitando a sobretensão e queima de todos os circuitos do Aerogerador. c) Sistema Scada 220V 60Hz e d) Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz: (1) supervisiona, mantém e gerencia todos os Aerogeradores para evitar panes; (2) os bastidores do Sistema Scada são conectados aos Aerogeradores por fibra ótica. No Termo de Verificação Fiscal, podese verificar a resposta da Recorrente sobre o funcionamento dos Conversores de Energia e dos Sistemas (fl. 1.543/1.545): "Resposta da fiscalizada sobre o funcionamento dos Conversores de Energia: 1) O produto importado (Conversor de Frequência) é o mesmo indicado na fotografia apresentada no decorrer da ação fiscal, chamado de conversor de energia? R: Sim, tratamse do mesmo item, porém vale ressaltar que na ilustração abaixo, apesar da indicação da seta, o conversor de Energia encontrase na parte interna da base da torre eólica. 2) O Conversor é importado já totalmente montado ou dividido em módulos ? R: O conversor é importado totalmente montado e em um bloco apenas, conforme imagem a seguir: 3) Quais são esses módulos e qual a função especifica de cada um deles ? R:Conforme mencionado na resposta 2, não são importados módulos adicionais uma vez que o Conversor vem totalmente importado. 4) Por que é necessária a existência do conversor de frequência no aerogerador? R: A energia gerada pelas turbinas eólicas (aerogeradores) não tem frequência regulada. O Conversor de Frequência regula a tensão de saída, bem como sua frequência. Sem este item a rede elétrica poderia ficar instável. 5) A energia elétrica é produzida (gerada) no gerador de energia ou no conversor de frequência? R: A energia é gerada no Gerador de Energia e tem sua frequência controlada pelo Conversor. 6) Como o Conversor é montado na turbina eólica? R: Conforme comentado na resposta do item 1, o Conversor de Energia é montado na plataforma inferior da torre eólica, do lado interno da turbina. 7) Qual a função principal deste Conversor? Fl. 2816DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.817 22 R: Conforme citado no item 4, o Conversor tem função de converter e regular a frequência e tensão da energia gerada. 8) Quais as funções secundárias deste Conversor? (...)" Grifei "Resposta da fiscalizada sobre o funcionamento do Sistema de Interface Meteorológica, Sistema de Gerenciamento de Site, Sistema Scada 220V 60Hz e Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz: 1. O que são os sistemas acima citados? Sistema de Interface Meteorológica. Sistema que trata os sinais coletados pela estação meteorológica em uma interface digital e disponibiliza os mesmos a serem utilizados em um link de comunicação de dados para a central de controle de geração do parque eólico. Sistema de Gerenciamento do site 60Hz. Também denominado como Wind Control. Recebe os dados das Torres de Geração de Energia Eólica (variáveis de geração e de manutenção), envia sinais de controle de Geração (Set points de Potência Ativa. Reativa, Frequência e Tensão) de maneira coordenada e controlada para a perfeita geração do parque eólico como um todo. Sistema Scada 220v 60HZ Recebe os dados da(s) estação(ões) meteorológica(s) dos Wind Controls e disponibiliza para serem utilizados em interface visual para monitoramento local e/ou remoto. Permite aos operadores atuar de maneira a controlar as varáveis do parque eólico e obter relatórios de operação e manutenção do parque e das turbinas individualmente. Kit Laptop P/ Utilização do Sistema Scada 60hz. São os computadores utilizados para monitoramento através do sistema Scada mencionados acima. (...)" Grifei Como pode ser observado das informações acima (fornecidas pelo Laudo do INT e informações prestadas pela empresa), a função dos equipamentos acima tem como objeto o controle da energia gerada e de monitoramento do sistema como um todo e não com o SISTEMA de geração de energia propriamente dita. Com essas considerações, vejase agora as disposições contidas nas Notas 3 e 4 da Seção XVI da TIPI, que desta forma dispõem: "Salvo disposições em contrário, as combinações de máquinas de espécies diferentes, destinadas a funcionar em conjunto e constituindo um corpo único, bem como as máquinas concebidas para executar duas ou mais funções diferentes, alternativas ou complementares, classificamse de acordo com a função principal que caracterize o conjunto” e que "Quando uma máquina ou combinação de máquinas seja constituída de elementos distintos (mesmo separados ou ligados entre si por condutos, dispositivos de transmissão, cabos elétricos ou outros dispositivos), de forma a desempenhar conjuntamente uma função bem determinada, compreendida em uma das posições do Capítulo 84 ou do Capítulo 85, o conjunto classifica se na posição correspondente à função que desempenha.” (Grifei) Fl. 2817DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.818 23 Neste contexto, entendo que não se pode classificar os equipamentos sob litígio para formar, juntamente com o grupo Eletrogêneo, um corpo único, porque não foram concebidos para se fixarem uns aos outros em caráter permanente, numa mesma base, e tal como preceituam as instruções das NESH. Como pode ser verificado, esse fato, por si só, já afasta a aplicação das Notas 3 e 4 da Seção XVI da TIPI. Os equipamentos genérico ou auxiliares, que serve a todos os Aerogeradores, deve ser classificada em separado, seguindo o seu próprio regime. Sobre as máquinas e equipamentos auxiliares, reproduzimos o entendimento das NESH referentes à Seção XVI: “III. APARELHOS INSTRUMENTOS E DISPOSITIVOS AUXILIARES (...) Os aparelhos, instrumentos e dispositivos auxiliares de controle, medida, verificação (manômetros, termômetros, indicadores de nível, etc., contadores de voltas ou de produção, interruptores horários, quadros, armários e cabinas de comando ou reguladores automáticos) apresentados com as máquinas em que são normalmente utilizados, seguem o regime da máquina quando destinados a medir, controlar, comandar, regular uma máquina determinada (constituída, conforme o caso, por uma combinação de máquinas (ver parte VI, abaixo) ou uma unidade funcional...... Todavia, os aparelhos, instrumentos e dispositivos auxiliares destinados à medida, controle, comando ou regulação de várias máquinas (incluído o caso de máquinas idênticas), obedecem o seu próprio regime.” (Grifei) Desta forma, o Conversor de Energia ou Conversor de Freqüência (DTA), que é importado e totalmente montado em um bloco apenas, têm a função de converter e regular a freqüência e tensão da energia gerada (explicação dada pela própria Recorrente às fls. 1.543/1.544 e 1.547 dos autos). A entrada do conversor é conectada por cabos ao gerador, e sua saída é conectada também por cabos ao transformador elevador e depois distribuído na rede elétrica (explicação à fl. 1.544 dos autos). Essas funções de transformação e conexão estão muito bem definidas na Nomenclatura e não estão relacionadas à produção de energia. No Parecer do INT, o perito constata que o DTA funciona como um ''painel de interface entre o técnico do site e as funções da turbina" (fl. 04 do Parecer); "seu funcionamento era vital para a perfeita geração de energia" (fl. 15 do Parecer) e ele fica localizado no interior da base da Torre da turbina eólica (fl. 15 do Parecer) e "encontravase interligado e na mesma estrutura do aerogerador, formando um corpo único" (fl. 40 do Parecer resposta ao quesito b). Sobre o Conversor de Energia e o funcionamento do Aerogerador, vejase a resposta ao quesito "d" (fl. 40/41 do Parecer INT): "d) O conversor de energia concorre para a funcionalidade do conjunto "Aerogeradores", referente à produção de energia elétrica? Em outras palavras, é essencial para a finalidade e funcionalidade do conjunto? Resposta: Sim. Conforme dito acima, a energia gerada pelo gerador não podia ser diretamente comercializada sem a colaboração do Conversor, pois, a finalidade era a obtenção de uma energia limpa, nos termos do Submódulo 3.6, disponibilizado no site da ONS conforme foi contratada. Conforme descrito no item 13 do Parágrafo 11.), e bem assim no Parágrafo 15.), o "Conversor de Energia ou Fl. 2818DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.819 24 Frequência" (OTA), instalado no interior da Torre, em sua base, garantia que a tensão, corrente e frequência geradas pela turbina fossem entregues a estação de forma estabilizada e controlada . (...). Por fim, era o DTA que fazia o casamento entre as informações passadas pelo anemômetro (instalado no topo da Nacelle) ao Top 80x, que, por sua vez, transmitia todas as informações recebidas ao DTA, e o que é recebido, mediante conexão, do "sistema de interface metereológica". O cruzamento dessas informações era importante para evitar qualquer tipo de dano à turbina eólica." Na sequência, ao responder ao quesito e (fl. 41), o Parecer constata que "( ...) sem a utilização do conversor de energia (DTA) corriase o risco de não haver produção de energia elétrica e de o sistema entrar em colapso", na medida em que a "informação da existência de vento, qualidade, sentido, força/velocidade necessárias à captação pelo aerogerador era transmitida ao DTA". E conclui que "sem o DTA, não haveria essa comunicação entre as partes do Aerogerador, não haveria fornecimento de energia dentro da turbina e o sistema entraria em colapso, pois, até os sistemas do aerogerador necessitam, para operar, da energia gerada e processada pelo Conversor (DTA)". A Nota legal da NCM/SH que discorre sobre as unidades funcionais (Nota nº 4 da Seção XVI) estabelece que o conjunto de máquinas, aparelhos e equipamentos deve desempenhar conjuntamente uma função bem determinada, a que a Recorrente atribui ser a produção de energia, desempenhada, a seu ver, por todo o conjunto de equipamentos que compõe o Aerogerador. No entanto, os equipamentos que, de fato, desempenham tal função são o Gerador, o Rotor de três Pás, além de outros equipamentos vinculados à função desse grupo (gerar ou produzir energia elétrica a partir da energia do vento). Os demais equipamentos têm função própria ou auxiliar e um uso comum a variados processos industriais. Repisandose, o Conversor de Energia tem a função de converter e regular a freqüência e tensão da energia gerada, sendo importado e totalmente montado e em um bloco apenas. Os elementos constitutivos de um conjunto que não satisfaçam às condições estabelecidas pela Nota 4 da Seção XVI para que o mesmo seja considerado uma unidade funcional, seguem o seu próprio regime de classificação conforme consta na Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH). Posto isto, concluise que o Conversor de Energia deve seguir o seu regime próprio de classificação NCM 8504.40.90, e tributado a alíquota de 15% na tabela de incidência do IPI (TIPI), qual seja, a mesma classificação utilizada no momento da importação. Da mesma forma deve ser analisada a tributação dos Sistemas (Sistema de Interface Meteorológica, sistema de Gerenciamento de Site, Sistema Scada 220V 60Hz e Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz). De acordo com as informações apresentadas pela Recorrente e consignadas no TVF (consignadas anteriormente), esses sistemas desempenham as seguintes funções: Fl. 2819DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.820 25 Sistema de Interface Meteorológica Sistema que trata os sinais coletados pela estação meteorológica em uma interface digital e disponibiliza os mesmos a serem utilizados em um link de comunicação de dados para a central de controle de geração do parque eólico. Está instalado próximo a torre anemomêtrica (a posição depende de estudo topológico e é definido pelo cliente). O Sistema de Gerenciamento do site 60Hz (Wind Control), recebe os dados das Torres de Geração de Energia Eólica (variáveis de geração e de manutenção), envia sinais de controle de Geração (Set points de Potência Ativa. Reativa, Frequência e Tensão) de maneira coordenada e controlada para a perfeita geração do parque eólico como um todo. Está localizado normalmente na Subestação Elétrica do parque. O Sistema Scada 220v 60HZ, recebe os dados da(s) estação(ões) meteorológica(s) dos Wind Controls e disponibiliza para serem utilizados em interface visual para monitoramento local e/ou remoto. Permite aos operadores atuar de maneira a controlar as varáveis do parque eólico e obter relatórios de operação e manutenção do parque e das turbinas individualmente. Está localizado normalmente na Subestação Elétrica do parque. o Kit Laptop P/ Utilização do Sistema Scada 60hz, tratase de computadores utilizados para monitoramento através do sistema Scada mencionados acima e na subestação para serviços de manutenção/engenharia. Acerca da funcionalidade dos Sistemas frente ao conjunto Aerogerador, o Parecer produzido pelo lNT, ao responder aos quesitos "f" e "g" (fls. 41/42 do Laudo) considerou qe: "f) Os sistemas de interface meteorológica e de gerenciamento do site encontram se interligados ao conjunto Aerogerador por condutos, dispositivos de transmissão, cabos elétricos ou outros dispositivos? Explicar. Resposta: Sim. Os sensores meteorológicos estavam interconectados na interface meteorológica localizada no TOP BOX, no interior da Nacelle, conjunto Aerogerador e no gerenciamento do site, internamente, ao pé da torre, DTA ("Down Tower Assembly") que gerenciava e comandava o TOP BOX para direcionamento da Nacelle. Esta interligação era feita por condutos, cabos elétricos e fibra ótica. g) Os sistemas de interface meteorológica e de gerenciamento do site concorrem para a funcionalidade do conjunto "Aerogeradores", referente à produção de energia elétrica? Descrever os riscos inerentes ao funcionamento dos Aerogeradores sem esses componentes. Resposta: Sim. Por ser o "sistema de interface metereológica" o responsável pelo envio ao TOP BOX, localizado na Nacelle do Aerogerador, a informação em relação à posição, força/velocidade e qualidade do vento, o que permite o melhor posicionamento da Nacelle e das Pás para captação do vento e consequentemente geração da energia elétrica, é essencial ao funcionamento do conjunto "Aerogerador". Sem o sistema de interface metereológica, correse o risco de não ser produzida a energia elétrica. O "sistema de gerenciamento de site", por sua vez, é o responsável pelo monitoramento e controle do funcionamento das turbinas, informando ao DTA caso haja alguma deficiência que impeça o perfeito funcionamento da turbina. Assim, é igualmente essencial para a funcionalidade do conjunto Aerogerador, de modo que a sua não utilização pode acarretar risco de sobretensão e queima de todos os circuitos do Aerogerador com a possível destruição da Torre." (Grifei) Como pode ser observado das explicações, os equipamentos que, de fato, desempenham função essencial para o funcionamento do conjunto Aerogerador são: o Fl. 2820DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.821 26 Gerador, o Rotor de três Pás, além de outros equipamentos vinculados à função desse grupo (gerar ou produzir energia elétrica a partir da energia do vento). Os demais equipamentos, como os Sistemas acima citados, têm função própria ou auxiliar e um uso comum a variados processos industriais. Conforme se observa do Parecer à fl. 2.517 e seguintes, o objetivo do Sistema de gerenciamento de site (Sistema SCADA da GE Wind), é evitar que os Aerogeradores dos Parques Eólicos entrem em pane e permitir que o parque eólico forneça potência elétrica em padrão adequado à legislação brasileira. Em suma, os Sistemas acima funcionam como um ''painel de interface entre o técnico do site e as funções da turbina. Assim, os elementos constitutivos de um conjunto que não satisfaçam às condições estabelecidas pela Nota 4 da Seção XVI para que o mesmo seja considerado uma unidade funcional, seguem o seu próprio regime de classificação conforme consta na Notas Explicativas do Sistema Harmonizado (NESH). Nas importações, a Recorrente adquiriu tais equipamentos (Sistemas SGS, o SIM e o Sistema SCADA) com as seguintes classificações: Sistema de Interface Meteorológica ( NCM 8517.62.59); do Sistema de Gerenciamento do Site 60HZ (NCM 9032.89.90); Sistema SCADA 220V 60Hz (NCM 8471.50.30 e 8471.49.00) e Kit Laptop para utilização do Sistema Scada 60 Hz (NCM 8471.30.19), todos tributados com alíquota de 15%. Posto isto, concluise que esses Sistemas devem seguir o seu regime próprio de classificação NCM acima, e tributado a alíquota de 15% na tabela de incidência do IPI (TIPI), qual seja, a mesma classificação utilizada no momento da importação. De todo o exposto, resulta correto o procedimento do Fisco em considerar cada um dos equipamentos aqui tratados como seguindo a sua própria classificação fiscal. 4. Da verificação factual x Laudo técnico A esse respeito, me filio aos fundamentos exarados pela decisão de piso, onde restou consignado que a classificação fiscal da mercadoria na TIPI será resultado da verificação factual, constante do Relatório Técnico nº 000.920/2015 Parecer do INT (fl. 2.497 e seguintes), ponderada pelos conceitos e regras específico do Sistema Harmonizado/SH. Aliás, é exatamente por essa razão que o Decreto nº 70.235, de 1972, ao passo em que empresta força vinculante às conclusões técnicas do INT (art. 30), ressalta que a classificação de mercadorias não se reveste de aspecto técnico (art. 30, § 1). Portanto, ainda que o Parecer do INT tenha considerado que o conversor de freqüência forme com o conjunto pás/cubo/gerador um corpo único (item 25, “b”), assim como o SGS, o SIM e o Sistema SCADA (item 25, “f” e “g”), e tenha constatado que o Conversor de Freqüência controla as Pás do Aerogerador e circuitos dentro da Nacelle (item 25, “e”), a aplicação das regras de classificação de mercadorias não traz, como conseqüência necessária, para este efeito específico, que deva considerarse a existência de um corpo único. As NESH trazem este conceito de forma objetiva. Não cabe à autoridade responsável pela definição da classificação fiscal adequada afastálo. Fl. 2821DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.822 27 O mesmo raciocínio é válido quanto ao entendimento exarados no Parecer do INT de que todos os equipamentos atuam na geração de energia: aplicandose as regras de classificação, considerase que não atuam na função específica de geração de energia, tomada essa expressão na acepção estrita de “transformação de energia mecânica em energia elétrica”. Ressaltese que a Recorrente considera o processo de geração de energia em sentido demasiadamente lato, a regulação e a entrega da energia à rede. Esse entendimento não se pode aceitar, ao menos para efeito de aplicação das regras de classificação fiscal de mercadorias. 5. Da diligência ou perícia Nesse sentido cabe dizer que os elementos de fato necessários à solução da lide já estão bem configurados nos autos, razão pela qual tornase desnecessária qualquer outra providência adicional em termos de diligência ou perícia. Assim, fica indeferida a solicitação de perícia, nos termos do art. 18, caput, do Decreto nº 70.235, de 1972. 6) Da alegada impossibilidade de aplicação da multa à sucessora Aduz a Recorrente em seu recurso que a responsabilidade dos sucessores restringese aos tributos e, portanto, somente o tributo poderia ser exigido, já que ela é SUCESSORA, por incorporação, "(...) Ainda que a Recorrente seja responsável pelos tributos da empresa sucedida, jamais poderá responder pelas multas a ela aplicadas, em respeito ao princípio da pessoalidade da pena, constitucionalmente assegurado em nosso ordenamento jurídico". Consta dos autos que a partir de novembro de 2015, em virtude da incorporação, a fiscalizada passou a operar sob o CNPJ 01.009.681/001940 pertencente a GE POWER & WATER EQUIPAMENTOS E SERVICOS DE ENERGIA E TRATAMENTO DE AGUA LTDA. Considerando que a pessoa jurídica incorporadora é responsável pelos tributos devidos pela incorporada (art. 132 da Lei nº 5.172), a Fiscalização elegeu como sujeito passivo GE POWER & WATER EQUIPAMENTOS E SERVICOS DE ENERGIA E TRATAMENTO DE AGUA LTDA, CNPJ 01.009.681/001940. A incorporação se deu anteriormente à lavratura do Auto de Infração, mas posteriormente à ocorrência dos fatos geradores em discussão. O art. 132 do Código Tributário Nacional está contido no Livro Segundo, Título II, Capítulo V, Seção II, que tem como dispositivo legal introdutório o art. 129, in verbis: “Art. 129. O disposto nesta Seção aplicase por igual aos créditos tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data” (destaques da transcrição). Como se vê, pretende a Recorrente dar interpretação literal ao artigo 132 do CTN, todavia, esta não é a melhor exegese sobre a responsabilidade pelo crédito tributário na sucessão. Na interpretação legislativa, não há como de ater somente a literalidade da lei; há que se buscar a exegese de forma completa, estudando o preceito em relação ao sistema em que se insere –considerando a própria lei e o sistema em vigor alcançando o seu sentido e a finalidade para a qual foi editada. Fl. 2822DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.823 28 Tal artigo enuncia a regra geral aplicável a todas as disposições sobre a responsabilidade dos sucessores, portanto, incabível interpretar o referido artigo 132 de forma literal e isoladamente, de modo a exonerar o sucessor da responsabilidade pelas multas, tendo em conta que a regra geral trata expressamente de “crédito tributário”, que engloba não apenas o valor atualizado dos tributos até então devidos pela sucedida, como também as multas (moratórias ou de ofício), posto que ambos integram o passivo fiscal da incorporada. Na redação dos artigos acima referidos (129 e 132), “tributo” equivale a “crédito tributário”, abrangendo o principal e as cominações legais. Nesse sentido, importa mencionar outros artigos do CTN: o art. 113 que determina que a obrigação tributária principal surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária; o art. 114 que define o fato gerador da obrigação principal como a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência; e o art. 139 do CTN que define que o crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Destarte, se a lei excluísse as multas da responsabilidade dos sucessores, estaria criada uma permissão legal para que as empresas, por meio de sucessivas transformações societárias, ficassem sempre a salvo de imposições de multas por infrações à legislação tributária. Certamente, não foi essa a intenção do legislador. Portanto, o artigo expressamente declara que os sucessores respondem não somente pelos créditos tributários definitivamente constituídos na data da sucessão e pelos créditos tributários em curso de constituição na mesma data, mas também pelos créditos tributários cuja constituição se iniciou posteriormente à data da sucessão, desde que relativos a fatos geradores surgidos até a referida data. Pelo exposto, podese concluir que devem ser considerados improcedentes os argumentos apresentados pela Impugnante no tocante à impossibilidade de imputação da multa de ofício à sucessora, por infração cometida pela sucedida. 7) Da alegada impossibilidade de aplicação de penalidades Aduz a Recorrente da inaplicabilidade da MULTA de 75% sobre o imposto devido, estabelecida pela autuação com base no artigo 80 da Lei nº 4.502/64, "(...) Todavia, tendo sido demonstrada a correção da classificação adotada pela Recorrente, não há que se falar da aplicação da multa ora impugnada. Não houve falta de lançamento do tributo, na medida em que se está diante de mercadoria sujeita à alíquota zero, motivo pelo qual a multa deve ser, de pronto, cancelada". E, prossegue afirmando que mesmo que desconsiderados os argumentos supra, não pode a multa em questão ser exigida por força do disposto no art. 76, inciso II, "a", da Lei n° 4.502/64 (mesmo diploma legal que estabelece a multa aplicada na autuação), que assim dispõe: "Art. 76. Não serão aplicadas penalidades: (...) II enquanto prevalecer o entendimento aos que tiverem agido ou pago o imposto: a) de acordo com interpretação fiscal constante de decisão irrecorrível de última instância administrativa, proferida em processo fiscal, inclusive de consulta, seja ou não parte o interessado;" Fl. 2823DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.824 29 Assim, considerando que o posicionamento adotado pela Recorrente está respaldado em entendimento firmado pelo CARF em casos análogos já citados acima, deve ser, de pronto, cancelada a multa imposta na presente autuação. Pois bem. Vejase o que dispõe o artigo 80 da Lei 4.502/1964: Art. 80. A falta de lançamento do valor, total ou parcial, do imposto sobre produtos industrializados na respectiva nota fiscal ou a falta de recolhimento do imposto lançado sujeitará o contribuinte à multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento) do valor do imposto que deixou de ser lançado ou recolhido. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) Preliminarmente há que se ressaltar que pode haver casos, como nos autos, em que a falta de destaque não implique a falta de recolhimento. Isso ocorre quando o estabelecimento tem créditos capazes de absorver o imposto que deixou de ser destacado. Nesta hipótese, e apenas nesta hipótese, não se cobra o imposto, já que ele não seria devido em razão dos créditos, exigese apenas e tãosomente a multa de 75% pelo fato da falta de destaque. Em outras palavras, a infração é caracterizada tão somente pela falta de destaque do valor, total ou parcial, do imposto na respectiva nota fiscal, independentemente do contribuinte possuir créditos na escrita fiscal suficientes para compensar os débitos assim apurados, ou que tenha recolhido uma parcela dos débitos devidos. Tendo sido constatada a saída de produtos em operações tributadas sem o destaque do imposto ou em destaque a menor, é dever da Fiscalização a aplicação da multa de ofício de 75% sobre o valor que deixou de ser lançado. Destarte, nada mais fez a autoridade fiscal que levar a efeito as determinações atinentes à hipótese materializada. Verificada a incontroversa e integral falta de recolhimento do IPI em relação às saídas dos produtos fiscalizados, não resta alternativa que não a lavratura do lançamento tributário respectivo. Notese que, nos termos do parágrafo único do artigo 142 do Código Tributário Nacional, a autoridade fiscal encontrase limitada ao estrito cumprimento da legislação tributária. Cabe ao julgador administrativo simplesmente seguir a lei e obrigar seu cumprimento. E não é permitido, em sede administrativa, que se questionem aspectos de natureza constitucional, como o que foi apresentado pela Recorrente. Quanto ao argumento de que a penalidade não seria aplicável pelo fato de que a autuada estaria observando entendimento do CARF sobre a matéria em litígio (disposto no art. 76 da Lei nº 4.502/64), É preciso lembrar que, posteriormente à edição da Lei nº 4.502/64, foi editada a Lei nº 5.172/66 (CTN), que acerca do assunto assim dispôs no seu art. 100, II e parágrafo único: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; Fl. 2824DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.825 30 Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. (Grifei) Notase, daí, que o CTN restringiu a aplicação do disposto no art. 76, II, a, da Lei nº 4.502/64, que vigia anteriormente à sua edição. A partir da vigência do CTN, somente haveria exclusão de penalidades para o contribuinte que observasse decisão administrativa definitiva da qual não fosse parte no processo específico se houvesse uma lei que atribuísse eficácia normativa às referidas decisões administrativas. E isso, até o presente momento, não existe. Posto isto, não se pode acatar a solicitação de cancelamento da multa exigida na presente autuação. 6) Da ilegalidade da incidência de Juros Selic sobre a Multa de Ofício. Aduz a Recorrente que "mostrase inafastável concluir que não há previsão legal para a cobrança de juros de mora sobre a multa lançada de ofício nos casos que não foram abrangidos pelo artigo 43 da Lei nº 9.430/96". Essa matéria é recorrente neste colegiado, sendo minha posição conhecida no sentido de sua pertinência. Em seu recurso, defende a Recorrente ser incabível a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício, por ausência de dispositivo legal. Contudo, pareceme induvidoso que a multa de ofício integra o conceito de obrigação tributária esposado pelo artigo 113 do Código Tributário Nacional. Como é cediço, o conceito de crédito tributário no Brasil engloba tributo e multa, como expressamente estabelece o artigo 43 da Lei nº 9.430/96: Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o §3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. (grifei) O artigo 5º, §3º, da Lei nº 9.430/96: As quotas do imposto serão acrescidas de juros equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC, para títulos federais, acumulada mensalmente, calculados a partir do primeiro dia do segundo mês subseqüente ao do encerramento do período de apuração até o último dia do mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês do pagamento. (grifei) No mesmo sentido, impõe o Código Tributário Nacional que: Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.(grifei) Fl. 2825DF CARF MF Processo nº 10830.727851/201650 Acórdão n.º 3402005.672 S3C4T2 Fl. 2.826 31 Do exposto podemos concluir que há disposição expressa para a cobrança de juros sobre multas, porque incluídas no conceito de crédito tributário, e que a taxa aplicável à espécie é a referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC. Esse também é o entendimento do STJ sobre o assunto, conforme se observa da ementa a seguir transcrita (AgRgnoREsp1335.688/PR DJe de 10/12/2012): PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA SOBRE MULTA. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMA QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. 1.Entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: "É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário." (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel.Min.Teori Albino Zavascki, DJde2/6/2010. (grifei). Por fim, neste CARF essa matéria encontrase sumulada, conforme abaixo: Súmula CARF nº 108 Incidem juros moratórios, calculados à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC, sobre o valor correspondente à multa de ofício. Assim, devem ser mantidos os juros de mora sobre a multa de ofício. 7. Conclusão Diante dos fundamentos expostos, voto por negar provimento ao Recurso Voluntário interposto. É como voto. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Fl. 2826DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10480.903651/2008-17
Turma: Terceira Turma Extraordinária da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Dec 04 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Thu Dec 20 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2002
PEDIDO DE COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO CERTA E LÍQUIDA DO INDÉBITO. NÃO CONFIGURAÇÃO.
A comprovação deficiente do indébito fiscal ao qual se deseja compensar ou ter restituído não pode fundamentar tais direitos. Somente o direito creditório comprovado de forma certa e líquida dará ensejo a compensação e/ou restituição do indébito fiscal.
Numero da decisão: 1003-000.292
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto da Relatora.
(assinado digitalmente)
Carmen Ferreira Saraiva Presidente
(assinado digitalmente)
Bárbara Santos Guedes - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Sérgio Abelson, Bárbara Santos Guedes, Mauritânia Elvira de Sousa Mendonça e Carmen Ferreira Saraiva (Presidente).
Nome do relator: BARBARA SANTOS GUEDES
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2002 PEDIDO DE COMPENSAÇÃO. COMPROVAÇÃO CERTA E LÍQUIDA DO INDÉBITO. NÃO CONFIGURAÇÃO. A comprovação deficiente do indébito fiscal ao qual se deseja compensar ou ter restituído não pode fundamentar tais direitos. Somente o direito creditório comprovado de forma certa e líquida dará ensejo a compensação e/ou restituição do indébito fiscal.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto da Relatora. (assinado digitalmente) Carmen Ferreira Saraiva Presidente (assinado digitalmente) Bárbara Santos Guedes - Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Sérgio Abelson, Bárbara Santos Guedes, Mauritânia Elvira de Sousa Mendonça e Carmen Ferreira Saraiva (Presidente).
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COMPROVAÇÃO CERTA E LÍQUIDA DO INDÉBITO. NÃO CONFIGURAÇÃO. A comprovação deficiente do indébito fiscal ao qual se deseja compensar ou ter restituído não pode fundamentar tais direitos. Somente o direito creditório comprovado de forma certa e líquida dará ensejo a compensação e/ou restituição do indébito fiscal. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto da Relatora. (assinado digitalmente) Carmen Ferreira Saraiva – Presidente (assinado digitalmente) Bárbara Santos Guedes Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Sérgio Abelson, Bárbara Santos Guedes, Mauritânia Elvira de Sousa Mendonça e Carmen Ferreira Saraiva (Presidente). Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 48 0. 90 36 51 /2 00 8- 17 Fl. 112DF CARF MF Processo nº 10480.903651/200817 Acórdão n.º 1003000.292 S1C0T3 Fl. 3 2 Tratase de recurso voluntário contra acórdão de nº 1133.743, de 13 de maio de 2011, da 4ª Turma da DRJ/REC, que julgou improcedente a manifestação de inconformidade da contribuinte, não conhecendo do direito creditório. Aos 30/07/2008, a Recorrente apresentou manifestação de inconformidade contra Despacho Decisório, nº de rastreamento 770240452, emitido em 16/06/2008, que não homologou a compensação declarada em razão de inexistência de crédito PER/DCOMP nº 14984.39923.151204.1.3.041504. Destacou que os créditos se originaram por falhas na apuração dos débitos do IRPJ e CSLL da DIPJ 2002, a qual foi retificada e que a simples falha procedimental da empresa em não retificar as suas DCTF não pode ter o condão de invalidar a existência de créditos que estão demonstrados na defesa. A DRJ/REC julgou a manifestação de inconformidade improcedente e não reconheceu o direito creditório, conforme ementa abaixo: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 PER/DCOMP. ERRO DE FATO. NÃO COMPROVAÇÃO. LIQUIDEZ E CERTEZA. Não comprovado o erro de fato no preenchimento da DCTF, com base em documentos hábeis e idôneos, não há que se acatar a DIPJ para fins de comprovar a liquidez e certeza do crédito oferecido para a compensação com os débitos indicados na PER/DCOMP eletrônica. ESPONTANEIDADE O primeiro ato por escrito de servidor competente, cientificando o sujeito passivo da obrigação tributária, implica a perda da espontaneidade para retificar as declarações apresentadas. RETIFICAÇÃO DE DECLARAÇÃO A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento. COMPENSAÇÃO. REQUISITOS. A certeza e a liquidez dos créditos são requisitos indispensáveis para a compensação autorizada por lei. Acórdão Manifestação de Inconformidade Improcedente Direito Creditório Não Reconhecido Inconformada com a decisão, a contribuinte apresentou recurso voluntário que, em síntese, destacou: Fl. 113DF CARF MF Processo nº 10480.903651/200817 Acórdão n.º 1003000.292 S1C0T3 Fl. 4 3 (i) que a DRJ ao analisar os argumentos da Recorrente, limitouse a informar que essa não apresentou provas, porém não declarou estar os dados apresentados pela empresa incorretos. Destaca que, na opinião da Recorrente, não há necessidade de apresentação de nenhum documento, visto que os valores da DIPJ são de prévio conhecimento da Receita Federal e, por isso, as provas são dispensáveis e que as autoridades administrativas devem se pautar no princípio da verdade material; (ii) que a Recorrente só identificou a falha em relação a não retificação da DCTF após o indeferimento da compensação;, fato que impediu sua retificação posterior, porém não foi notificada para explicar eventuais divergências entre DIPJ e DCTF, alegando que a Receita Federal pratica tal notificação com outros contribuintes, o que demonstra descumprimento em relação aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; (iii) ser desnecessária a apresentação de prova na manifestação de inconformidade, porque teria informado os motivos que geraram a formação dos créditos e a todas as informações que demonstravam esses valores estavam à disposição no banco de dados da Receita Federal, descumprindo o art. 37 da Lei nº 9.784/99; (iv) a existência de pagamentos a maior relacionadas no PER/DCOMP. Defendeu que o equívoco ocorreu devido a uma falha de procedimento da empresa em não retificar as DCTFs onde constavam as informações dos débitos cujas DIPJs foram retificadas. Tal erro de procedimento não anula a existência dos créditos, vez que estes decorrem da realização de pagamentos a maior de IRPJ e CSLL nos anos de 2000 e 2001, 2002 e 2003. As seguintes alterações na DIPJ foi realizada: (a) com relação ao IRPJ, as declarações originais apresentadas pela empresa não consideraram os valores relativos ao IRPJ retido na fonte quando dos recebimentos da empresa, (b) não haviam sido deduzidos, na apuração do lucro real, os valores relativos a prejuízos fiscais oriundos de exercícios anteriores para abater até 30% do lucro tributável, que foi incluído quando da retificação da DIPJ; (v) a demonstração dos valores dos créditos, colacionando à peça recursal planilha elaborada pela própria empresa apresentando os valores do IRPJ e da CSLL devidos em relação a cada DCOMP, a fim de demonstrar, em cada período de apuração os valores dos créditos relativos a pagamentos a major; (vi) que o princípio da verdade material não foi cumprido pela autoridade julgadora. Por fim, requereu a anulação da decisão proferida pela DRJ/Recife e que seja proferida decisão substitutiva, reconhecendo o direito de crédito da empresa e homologando as compensações por ela apresentadas. É o Relatório. Voto Conselheira Bárbara Santos Guedes, Relatora O recurso é tempestivo e cumpre com os demais requisitos legais de admissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento e passo a apreciar. Fl. 114DF CARF MF Processo nº 10480.903651/200817 Acórdão n.º 1003000.292 S1C0T3 Fl. 5 4 A Declaração de Compensação delimita a amplitude de exame do direito creditório alegado pela Recorrente quanto ao preenchimento dos requisitos de liquidez e de certeza necessários à extinção de débitos tributários. A Recorrente apresentou DECOMP em razão de pagamento a maior de IRPJ, código 0220, em 31.10.2002, no valor de R$ 2.013,75 um Darf no valor de R$ 6.712,50. A compensação não foi homologada, e, a partir das características do DARF discriminado no PER/DCOMP acima identificado, foram localizados um ou mais pagamentos, tendo o valor recolhido sido integralmente utilizados para quitação de débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para compensação dos débitos Informados no PER/DCOMP. A Recorrente declara que, após identificar erros na apuração do IRPJ informado na DCTF, efetuou a retificação da DIPJ 2002 em 29/07/2008, posterior à ciência do despacho decisório. Desta forma, o sujeito passivo não dispunha de espontaneidade para retificar a declaração, conforme preceitua o § 1º do art. 7o do Decreto n°70.235/1972. Ocorre, porém, que embora tenha realizado a retificação da DIPJ não retificou a respectiva DCTF. Declara ainda a Recorrente que os erros na apuração se deram especialmente em razão de não terem considerado o IRRF, bem como não haviam sido deduzidos, na apuração do lucro real, os valores relativos a prejuízos fiscais oriundos de exercícios anteriores, contudo apenas colacionou aos autos a DIPJ 2002. Pelas informações prestadas pela Recorrente, ela apresenta o mesmo recurso para diversos pedidos de compensação não homologados, em todos defende não ter apurado o IRRF (DIPJ 2002). Verificase, porém, que o IRRF no valor de R$ 4.729,57 foi totalmente utilizado no 4º Trimestre, os demais trimestres que são incluídos alguns pedidos de compensação não utilizaram IRRF. Ficha 43 Demonstrativo do Imposto de Renda Retido na Fonte, fl. 55 Receita IRRF 22.361,84 491,96 8.292,50 182,44 10.901,09 130,81 8.491,42 101,89 276.395,89 3.822,47 Totais 326.442,74 4.729,57 Observase ainda que, no 4º trimestre, a Recorrente ofereceu a tributação o lucro líquido de R$58.736,90, fl. 48. A Recorrente ainda acostou planilha que ela mesma elaborou justificando os créditos. Em que pese o entendimento da Recorrente de que não há necessidade de juntar nenhum documento comprobatório, porque a Receita Federal supostamente possuía essas informações, o mesmo não merece prosperar. Fazse necessário no mínimo do Livro Diário, que é registrado na junta comercial com a transcrição do Balanço do ano de 2002 e o Lalur com os valores coincidam com a DIPJ retificadora (parágrafo único do art. 147 do CTN e art. 18 do Decreto 70.235, de Fl. 115DF CARF MF Processo nº 10480.903651/200817 Acórdão n.º 1003000.292 S1C0T3 Fl. 6 5 1972), sem essas informações é impossível verificar a exatidão das informações declaradas pela Recorrente. A determinação de apresentar os documentos comprobatórios da identificação de crédito anteriormente não declarado, longe de ser mero formalismo, é uma determinação legal, conforme determina o art. 147 da Lei nº 5.172/1966. Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação. § 1º A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento. A comprovação, portanto, é condição para admissão da retificação realizada, quando essa, como no caso dos autos, reduz tributos. A DIPJ, embora seja um documento importante, não comprova as alegações do autor por se tratar de mera declaração sem efeitos de confissão de dívidas, tendo, pois, efeitos meramente informativos (Instrução Normativa SRF n° 014/2000). A Recorrente reconhece não ter realizado a retificação da DCTF e, embora declare nas razões de recurso, não foi por isso que a homologação da compensação não foi efetivada, mas sim pela ausência de comprovações através de documentos contábeis indispensáveis para análise dos erros apontados na apuração. Em razão disso, a alegação de que só identificou a falha em relação a não retificação da DCTF após o indeferimento da compensação, sem que houvesse qualquer tipo de notificação anterior por parte da Receita Federal para que a contribuinte explicasse as divergências não procede. Não houve descumprimento dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, porque a Recorrente teve todo o processo administrativo para juntar os documentos fiscais indispensáveis mas não o fez. Mesmo em grau de recurso voluntário a jurisprudência do CARF, na qual me filio, tem aceitado a juntada de documentos posteriormente à manifestação de inconformidade, desde que esclareça pontos fundamentais na ação. Contudo, a Recorrente não acostou nenhum documento, exceto a DIPJ 2002. A demonstração dos valores dos créditos planilha elaborada pela própria empresa não é documento suficiente para comprovar os créditos. Como já antecipado, a Recorrente deveria ter juntado os documentos fiscais idôneos para tal, mas apenas a DIPJ não é suficiente para demonstrar os erros na apuração. A declaração de que a Receita Federal já possuía as informações também não são verdadeiras, pois essa tem a posse apenas das informações prestadas pelo próprio contribuinte, sem que qualquer documento fosse apresentado até o momento. É exatamente em razão do princípio da verdade material que a Recorrente deveria ter colacionado aos autos os documentos já mencionados, pois a autoridade fiscal poderia ter efetuado a homologação de ofício, uma vez identificada a correição das retificações Fl. 116DF CARF MF Processo nº 10480.903651/200817 Acórdão n.º 1003000.292 S1C0T3 Fl. 7 6 realizadas. O contrário homologar a compensação sem os documentos contábeis indispensáveis, considerando apenas as declarações da DIPJ , como alega a Recorrente, não é obedecer ao princípio da verdade material, mas agir de forma impudente, pois com base nas declarações e documentos constantes no processo não há como validar os créditos, e, por conseguinte, não pode ser identificada a liquidez e certeza dos créditos em discussão nestes autos (art. 170 CTN). Isto posto, voto em negar provimento ao recurso voluntário, mantendo a decisão da DRJ/REC. (assinado digitalmente) Bárbara Santos Guedes Fl. 117DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10320.720150/2010-54
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 25 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Dec 11 00:00:00 UTC 2018
Numero da decisão: 3201-001.423
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do Recurso em diligência.
Charles Mayer de Castro Souza - Presidente.
Tatiana Josefovicz Belisário - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laércio Cruz Uliana Junior.
Nome do relator: TATIANA JOSEFOVICZ BELISARIO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do Recurso em diligência. Charles Mayer de Castro Souza - Presidente. Tatiana Josefovicz Belisário - Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laércio Cruz Uliana Junior.
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Resolvem os membros do colegiado, por unanimidade de votos, converter o julgamento do Recurso em diligência. Charles Mayer de Castro Souza Presidente. Tatiana Josefovicz Belisário Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Charles Mayer de Castro Souza, Marcelo Giovani Vieira, Tatiana Josefovicz Belisário, Paulo Roberto Duarte Moreira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Leonardo Correia Lima Macedo, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Laércio Cruz Uliana Junior. Relatório Inicialmente é necessário esclarecer que o presente feito compreende um lote de 36 processos conexos, todos eles relativos Pedidos de Ressarcimento de créditos de PIS e COFINS apurados pelo regime da nãocumulatividade nos anos calendários de 2003 a 2008. Tratamse dos seguintes processos: PROCESSO ACÓRDÃO DRJ TRIBUTO PERÍODO 10320.720149/201020 0830.513 PIS 2ª Trim 2003 10320.720150/201054 0831.407 PIS 3ª Trim 2003 13338.000103/200441 0831.247 PIS 1ª Trim 2004 RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 03 20 .7 20 15 0/ 20 10 -5 4 Fl. 463DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 3 2 10320.720152/201043 0830.749 PIS 2ª Trim 2004 13338.000011/200542 0831.246 PIS 3ª Trim 2004 10320.720169/201009 0831.237 COFINS 4ª Trim 2004 10320.720047/201012 0830.748 COFINS 1ª Trim 2005 10320.720155/201087 0830.750 PIS 1º Trim 2005 19647.012516/200542 0825.611 COFINS Abril/2005 13338.000155/200680 0830.757 COFINS 2ª Trim 2005 10320.720156/201021 0830.751 PIS 2º Trim 2005 19647.007420/200562 0822.687 PIS 3ª Trim 2005 10320.720157/201076 0830.752 PIS 3º Trim 2005 10320.720170/201025 0830.755 COFINS 3º Trim 2005 10320.720158/201011 0830.753 PIS 4ª Trim 2005 10320.720171/201070 0830.931 COFINS 4º Trim 2005 10320.720159/201065 0830.936 PIS 1º Trim 2006 10320.720172/201014 0831.238 COFINS 1º Trim 2006 10320.720160/201090 0830.927 PIS 2º Trim 2006 10320.720161/201034 0830.928 PIS 3ª Trim 2006 10320.720174/201011 0830.933 COFINS 3º Trim 2006 10320.720162/201089 0830.929 PIS 4º Trim 2006 10320.720175/201058 0830.934 COFINS 4º Trim 2006 10320.720163/201023 0830.930 PIS 1º Trim 2007 10320.720164/201078 0830.937 PIS 2º Trim 2007 10320.720177/201047 0830.938 COFINS 2º Trim 2007 10320.720165/201012 0831.233 PIS 3º Trim 2007 10320.720178/201091 0831.239 COFINS 3º Trim 2007 10320.720166/201067 0831.234 PIS 4º Trim 2007 10320.720179/201036 0831.240 COFINS 4º Trim 2007 10320.720167/201010 0831.235 PIS 1º Trim 2008 10320.720180/201061 0831.241 COFINS 1º Trim 2008 10320.720168/201056 0831.236 PIS 2º Trim 2008 10320.720181/201013 0831.242 COFINS 2º Trim 2008 10320.720182/201050 0831.243 COFINS 3º Trim 2008 10320.720183/201002 0831.408 COFINS 4ª Trim 2008 Desse modo, a presente Resolução será replicada em todos os processos acima referidos, devendose, na execução do julgado, observarse aquilo que se aplica a cada um dos fatos geradores abrangidos. Como dito, tratamse de diversos Pedidos de Ressarcimento de créditos de PIS e COFINS oriundos da aquisição de bens e serviços utilizados na fabricação de bens exportados para o mercado externo, apurados trimestralmente, além de um Auto de Infração. Conforme Relatório Fiscal integrante do Despacho Decisório: (...) o não reconhecimento do crédito se deu em virtude de vários fatores, compreendendo cômputo de outras receitas registradas na escrituração contábil (livro razão) e fiscal (livros registro de entrada, registro de saída, apuração de IPI, inventário etc) não informadas pelo Fl. 464DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 4 3 contribuinte no Dacon, bem como glosa de créditos informados no Dacon, mas não respaldados na contabilidade, incidentes sobre gastos ou despesas: Fl. 465DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 5 4 A Recorrente apresentou Manifestações de Inconformidade e Impugnação solicitando o reconhecimento integral do crédito postulado. Após exame, a DRJ proferiu acórdão assim ementado (ajustandose, apenas, para cada processo, o tributo PIS ou COFINS e o período de apuração): ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/04/2005 a 30/06/2005 PEDIDO DE PERÍCIA. CARÁTER TÉCNICO DA PROVA. A perícia é meio de prova destinado a exames que requeiram conhecimento técnico específico. PROVA DOCUMENTAL. MOMENTO DE APRESENTAÇÃO. A prova documental deve ser apresentada na impugnação, precluindo o direito de o impugnante fazêlo em outro momento Fl. 466DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 6 5 processual, a menos que fique demonstrada a impossibilidade de sua apresentação oportuna, por motivo de força maior, refirase a fato ou a direito superveniente ou destinese a contrapor fatos ou razões posteriormente trazidas os autos. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Período de apuração: 01/04/2005 a 30/06/2005 INCIDÊNCIA NÃOCUMULATIVA. BASE DE CÁLCULO. A partir de dezembro de 2002, a base de cálculo da contribuição é o faturamento, assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. INCIDÊNCIA NÃOCUMULATIVA. RECEITA FINANCEIRA. ALÍQUOTA ZERO. EXCLUSÃO DA BASE DE CÁLCULO. A partir de agosto de 2004, estão sujeitas à alíquota zero as receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas submetidas ao regime nãocumulativo. As receitas submetidas à alíquota zero não integram a base de cálculo da contribuição. INCIDÊNCIA NÃOCUMULATIVA. INSUMOS. CRÉDITOS NA AQUISIÇÃO. Quando adquiridos, os bens e serviços utilizados como insumo geram direito ao crédito na incidência nãocumulativa da contribuição. INSUMO. FORNECEDOR OPTANTE PELO SIMPLES. O fato de a pessoa jurídica fornecedora do bem enquadrado como insumo ser optante pelo Simples não obsta o direito de crédito do adquirente, relativamente ao valor pago. INSUMO. FORNECEDOR PESSOA FÍSICA. Não dará direito a crédito o valor da aquisição de bens ou serviços não sujeitos ao pagamento da contribuição. INSUMO. FORNECEDOR OU PRESTADOR. SITUAÇÃO FISCAL IRREGULAR. A situação fiscal irregular do fornecedor ou prestador não constitui obstáculo ao creditamento sobre o valor de bens e serviços. FALTA DE PROVA. UTILIZAÇÃO COMO INSUMO. Incumbe ao manifestante comprovar que determinado bem ou serviço, sobre o qual pleiteia creditamento, foi utilizado como insumo na fabricação de produtos destinados à venda. Fl. 467DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 7 6 RESSARCIMENTO. INSUMO CORPÓREO. Para configurar insumos para os fins de creditamento na forma do disposto no art. 3º, II, da Lei nº 10.637, de 2002, e do art. 3º, II, da Lei nº 10.833, de 2003, as matérias primas, os produtos intermediários e o material de embalagem, utilizados na fabricação de bens destinados à venda, devem sofrer alterações, tais como o desgaste, o dano, ou a perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, e, ainda, não podem representar acréscimo de vida útil superior a um ano ao bem em que forem aplicadas. RESSARCIMENTO. SERVIÇO. INSUMO. Na apuração do PIS/Pasep e da Cofins, a pessoa jurídica poderá descontar créditos calculados sobre gastos incorridos com serviços utilizados como insumo, desde que pertinentes ao, ou que viabilizam o processo produtivo e a prestação de serviços, que neles possam ser direta ou indiretamente empregados e cuja subtração importa na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da produção, isto é, cuja subtração obsta a atividade da empresa, ou implica substancial perda de qualidade do produto ou serviço daí resultantes. RESSARCIMENTO. ENERGIA ELÉTRICA. Podem ser descontados créditos da Cofins e do PIS/Pasep Nãocumulativos sobre os gastos totais com a energia elétrica consumida nos estabelecimentos da pessoa jurídica. RESSARCIMENTO. COMBUSTÍVEIS. O gasto com combustíveis utilizados como insumos na fabricação de produtos gera crédito na apuração da Cofins e do PIS/Pasep Não Cumulativos, ainda que submetidos à tributação monofásica com base em alíquota diferenciada, sendo os créditos calculados, todavia, com base nas alíquotas padrões. FRETE NA COMPRA DE INSUMOS. Não há previsão legal para apurar créditos de frete nas operações de compra. Manifestação de Inconformidade Procedente em Parte Direito Creditório Reconhecido em ParteA O acórdão recorrido, portanto, afastou as seguintes glosas: (i) receitas financeiras (determinou a exclusão das receitas financeiras da base de cálculo das contribuições); (ii) bens adquiridos e não integralmente pagos aos fornecedores no mesmo trimestre de apuração (aplicação do regime de competência); (iii) bens adquiridos de pessoas jurídicas optantes pelo SIMPLES; Fl. 468DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 8 7 (iv) créditos adquiridos de pessoas jurídicas com irregularidades, posto que não comprovado pela Fiscalização a inaptidão do respectivos CNPJs; As glosas mantidas foram as seguintes: (v) receitas de recuperação de despesas (manteve as receitas de recuperação de despesas na base de cálculo das contribuições) (vi) carvão adquirido de produtores rurais pessoas físicas, portanto, não sujeitos à incidência do PIS e da COFINS; (vii) serviços utilizados como insumos, em razão destes não estarem devidamente escriturados em DACON e, também, pela ausência de demonstração da sua inserção no "conceito funcional de insumo"; (viii) aquisição de energia elétrica em razão de divergências entre os livros fiscais e os balancetes de verificação; (ix) frete sobre operações de compra, por ausência de previsão legal; (x) "outros valores com direito a crédito", por ausência de comprovação da natureza de tais créditos Inconformado, o Contribuinte apresentou Recurso Voluntário reiterando os argumentos de defesa apresentados quanto ao crédito tributário mantido, requerendo: (a) o afastamento da declaração de preclusão do direito à apresentação de documentos probatórios; (b) o afastamento do critério físico na apuração do PIS e da COFINS não cumulativos, com a utilização dos conceitos de custos necessários à obtenção de receita, conforme legislação do Imposto de Renda; (c) a autorização para a apropriação de créditos sobre a aquisição de carvão de pessoas físicas, nos termos do art. 8º da Lei nº 10.925/2004; (d) a autorização para apropriação de créditos decorrentes da aquisição de insumos, ainda que não escriturados corretamente em DACON (erro material), bem como pela negativa imposta de comprovação da sua essencialidade; (e) a autorização para apropriação de créditos em decorrência da aquisição de energia elétrica, consumida no processo produtivo, devendo ser afastadas eventuais inconsistências verificadas em DACON; (f) a legitimidade da apropriação de créditos sobre quisição de fretes, seja nas operações de venda, seja nas aquisições; (g) autorização para a apropriação de créditos diversos decorrentes da aquisição de insumos (bens ou serviços) essenciais ao seu processo produtivo; Fl. 469DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 9 8 (h) requer a conversão do feito em diligência para a realização de perícia contábil para a verificação dos alegados erros de declaração e, também, da essencialidade dos insumos adquiridos; (i) por fim, requer seja determinada a aplicação da correção monetária sobre o crédito tributário a ser ressarcido. Após os autos foram remetidos a este CARF e a mim distribuídos por sorteio ou por redistribuição em razão de conexão. É o relatório. Voto Conselheira Tatiana Josefovicz Belisário Relatora Conforme se verifica pelo relato dos fatos, o presente feito abrange tanto discussões exclusivamente de direito, como aspectos relacionados à materialidade do crédito tributário, quanto questões relativas aos cálculos de apuração do crédito tributário. Nesse aspecto, 2 (duas) questões sobressaltam e, a meu ver, demandam melhor análise dos fatos: (i) existência de divergências entre valores declarados em DACON e escriturados em documentos contábeis; (ii) essencialidade de itens ao processo produtivo da Recorrente. Quanto ao primeiro, tenho que deve se observar, na hipótese dos autos, o princípio da verdade material a ser perseguido no curso do procedimento administrativo de constituição do crédito tributário. Por óbvio, a aplicação de tal princípio deve estar calcada na necessária observância ao ônus da prova. Tratandose de apuração de créditos de PIS e COFINS, cabe ao contribuinte demonstrar a existência do seu direito. Verifico que a Recorrente, em sua defesa e em seu Recurso Voluntário, apresentou alegações e documentos pelos quais busca legitimar os valores dos créditos considerados em sua apuração, especialmente com relação aos seguintes pontos, conforme redação utilizada pelo Acórdão recorrido: "(...)despesas incorridas com serviços prestados por pessoa jurídica, declaradas pelo contribuinte no Dacon como utilizados como insumo, mas não verificadas na sua escrituração (...)". "(...) despesas com energia elétrica, declaradas pelo contribuinte no Dacon, mas não integralmente comprovadas na escrituração (...)" Fl. 470DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 10 9 "(...) despesas com armazenagem e frete, declaradas pelo contribuinte no Dacon, mas em valores significativamente inferiores aos comprovados na escrituração (...)" "(...) crédito relativo a outras operações com direito a crédito, identificada na linha 13 da ficha 6 do Dacon (...)" Embora o acórdão proferido tenha se manifestado acerca das alegações de erros cometidos pela Recorrente, não adentrou acerca da análise específica dos documentos apresentados, limitandose a concluir que competia ao contribuinte, ao prestar suas informações, trazer maiores especificações e detalhamentos. Assim, ainda sem concluir pela prestabilidade ou não dos esclarecimentos e documentos apresentados pela Recorrente, entendo que tais demonstrações não restaram devidamente examinadas pelo acórdão recorrido, merecendo melhor análise. Quanto ao segundo aspecto, atinente aos insumos aplicados ao processo produtivo da Recorrente, sabese que, há muito, a jurisprudência deste CARF vinha se firmando no conceito da essencialidade como critério autorizador à tomada de créditos no regime não cumulativo do PIS e da COFINS. Tal entendimento foi recentemente chancelado pelo Superior Tribunal de Justiça, em sede de Recurso Representativo de controvérsia, portanto, de observância obrigatória por este órgão julgador: TRIBUTÁRIO. PIS E COFINS. CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS. NÃO CUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO. CONCEITO DE INSUMOS. DEFINIÇÃO ADMINISTRATIVA PELAS INSTRUÇÕES NORMATIVAS 247/2002 E 404/2004, DA SRF, QUE TRADUZ PROPÓSITO RESTRITIVO E DESVIRTUADOR DO SEU ALCANCE LEGAL. DESCABIMENTO. DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE INSUMOS À LUZ DOS CRITÉRIOS DA ESSENCIALIDADE OU RELEVÂNCIA. RECURSO ESPECIAL DA CONTRIBUINTE PARCIALMENTE CONHECIDO, E, NESTA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO, SOB O RITO DO ART. 543C DO CPC/1973 (ARTS. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015). 1. Para efeito do creditamento relativo às contribuições denominadas PIS e COFINS, a definição restritiva da compreensão de insumo, proposta na IN 247/2002 e na IN 404/2004, ambas da SRF, efetivamente desrespeita o comando contido no art. 3o., II, da Lei 10.637/2002 e da Lei 10.833/2003, que contém rol exemplificativo. 2. O conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios da essencialidade ou relevância, vale dizer, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de determinado item bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo contribuinte. 3. Recurso Especial representativo da controvérsia parcialmente conhecido e, nesta extensão, parcialmente provido, para determinar o retorno dos autos à instância de origem, a fim de que se aprecie, em cotejo com o objeto social da empresa, a possibilidade de dedução dos créditos realtivos a custo e despesas com: água, combustíveis e Fl. 471DF CARF MF Processo nº 10320.720150/201054 Resolução nº 3201001.423 S3C2T1 Fl. 11 10 lubrificantes, materiais e exames laboratoriais, materiais de limpeza e equipamentos de proteção individualEPI. 4. Sob o rito do art. 543C do CPC/1973 (arts. 1.036 e seguintes do CPC/2015), assentamse as seguintes teses: (a) é ilegal a disciplina de creditamento prevista nas Instruções Normativas da SRF ns. 247/2002 e 404/2004, porquanto compromete a eficácia do sistema de nãocumulatividade da contribuição ao PIS e da COFINS, tal como definido nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003; e (b) o conceito de insumo deve ser aferido à luz dos critérios de essencialidade ou relevância, ou seja, considerandose a imprescindibilidade ou a importância de terminado item bem ou serviço para o desenvolvimento da atividade econômica desempenhada pelo Contribuinte. (REsp 1221170/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 22/02/2018, DJe 24/04/2018) Assim, para a análise acerca da legitimidade das glosas efetuadas pela Fiscalização, necessário perquirir acerca da natureza de tais insumos e a sua essencialidade ao processo produtivo, aspecto não adentrado, seja em sede de lançamento, seja pela decisão de primeiro grau. Pelo exposto, voto por converter o feito em diligência para que a Autoridade Lançadora intime o contribuinte para, no prazo de 60 (sessenta) dias, prorrogável por mais 30 (trinta) dias: (i) apresentar, de forma detalhada, quais os erros de declaração existentes em suas DACONs, indicando, com o devido lastro probatório, os corretos valores a serem observado, podendo a Autoridade lançadora solicitar especificamente os documentos que entenda necessários para tal comprovação; (ii) apresentar laudo descritivo da sua atividade operacional, indicando, para cada um dos itens (insumos) objeto de glosa, sua aplicação e essencialidade ao seu processo produtivo. Após, deverá a Autoridade Lançadora se manifestar acerca das informações e documentos apresentados pela Contribuinte, notadamente no que se refere aos alegados erros de preenchimento das DACONs e respectivos documentos probatórios, apresentando relatório conclusivo. Concluído, abrase novo prazo de (30) trinta dias para que a Recorrente se manifeste acerca do Relatório Fiscal. Ao final, retornemse os autos para julgamento. Esclareço que o prazo concedido é único e aplicase a todos os processos objeto da presente Resolução. Tatiana Josefovicz Belisário Fl. 472DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10509.000219/2008-15
Turma: Segunda Turma Extraordinária da Terceira Seção
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Oct 16 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Nov 30 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Data do fato gerador: 16/03/2007
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.
Por força do disposto na súmula CARF nº 11, não há que se cogitar de prescrição intercorrente em processo administrativo fiscal.
MULTA ADMINISTRATIVA. SUBSUNÇÃO DO FATO À NORMA.
As multas dispostas no art. 107 do Decreto-lei nº 37/1966 deverão ser aplicadas sempre que houver subsunção do fato à norma.
Numero da decisão: 3002-000.424
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar suscitada e, no mérito, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
Larissa Nunes Girard - Presidente
(assinado digitalmente)
Maria Eduarda Alencar Câmara Simões - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Larissa Nunes Girard (Presidente), Alan Tavora Nem, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Relatora) e Carlos Alberto da Silva Esteves.
Nome do relator: MARIA EDUARDA ALENCAR CAMARA SIMOES
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ementa_s : Assunto: Normas de Administração Tributária Data do fato gerador: 16/03/2007 PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. Por força do disposto na súmula CARF nº 11, não há que se cogitar de prescrição intercorrente em processo administrativo fiscal. MULTA ADMINISTRATIVA. SUBSUNÇÃO DO FATO À NORMA. As multas dispostas no art. 107 do Decreto-lei nº 37/1966 deverão ser aplicadas sempre que houver subsunção do fato à norma.
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Por força do disposto na súmula CARF nº 11, não há que se cogitar de prescrição intercorrente em processo administrativo fiscal. MULTA ADMINISTRATIVA. SUBSUNÇÃO DO FATO À NORMA. As multas dispostas no art. 107 do Decretolei nº 37/1966 deverão ser aplicadas sempre que houver subsunção do fato à norma. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar a preliminar suscitada e, no mérito, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) Larissa Nunes Girard Presidente (assinado digitalmente) Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Larissa Nunes Girard (Presidente), Alan Tavora Nem, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões (Relatora) e Carlos Alberto da Silva Esteves. Relatório AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 50 9. 00 02 19 /2 00 8- 15 Fl. 295DF CARF MF 2 Por bem relatar os fatos, adoto o relatório da decisão da DRJ, à fls. 253/255 dos autos: Trata o presente processo de auto de infração lavrado para a aplicação de multa, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em decorrência do cometimento da infração ao disposto no artigo 107, inciso IV, alínea “e”, do Decretolei nº 37, de 1966, com a redação dada pelo artigo 77 da Lei nº 10.833, de 2003, tendo em vista a empresa ter deixado de prestar informação sobre veiculo ou carga, na forma e no prazo estabelecido pela Receita Federal do Brasil, conforme extraído do relatório do auto de infração. Com esta penalidade foi também aplicada cumulativamente a penalidade de advertência, nos termos das alíneas "a" e "b" do inciso I do artigo 76 da Lei no 10.833/2003, uma vez que outras opções de entrega da carga vêm sendo utilizadas pelo Depositário, diferente da que foi submetidas a apreciação e autorização da RFB no processo de alfandegamento do terminal de carga. No dia 16/03/2007, em procedimento de fiscalização de vigilância no Terminal de Carga Alfandegado TECA, do Aeroporto Internacional de Salvador, foi constatado o extravio de carga consignada a empresa FLAGESS Comercio Importação e Exportação Ltda., armazenados no TECA em 12/03/2007. Posteriormente, foi realizado inventário, pela Infraero, e constatado o extravio de 43 volumes, não localizados. Baseado nestes fatos, foi lavrado o auto de infração, processo nº 10509.000163/200718, e aplicada a penalidade de multa, por volume não localizado em local sob controle aduaneiro, estabelecida no artigo 107, inciso VII, alínea "a" do DecretoLei n° 37, de 18 de novembro de 1966, com a redação dada pelo artigo 77 da Lei 10.833, de 29 de dezembro de 2003. Em decorrência destes fatos, em 21/06/2007, o depositário foi intimado a apresentar: a) os registros contendo as informações, determinadas no artigo 55, inciso III, da Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal n° 680/2006, relativas à entrega das mercadorias desembaraçadas por 69 Declarações de Importação registradas na Alfândega do Aeroporto de Salvador, no período de 26/04/2006 a 14/03/2007, por 05 (cinco) empresas com jurisdição nos estados de São Paulo e Espírito Santo, cujas operações estavam sendo objeto de investigação pela Receita Federal; e b) Informar qual a operação constante dos extratos do sistema TECAPLUS, apresentados a Alfândega em resposta as Intimações feitas, espelha o procedimento constante do item quatro (4), letra "K", da Descrição do Sistema de Controle Operacional, apresentada para Alfandegamento do TECA. No entanto, a Interessada deixou de prestar informações na forma estabelecida pela Secretaria da Receita federal nos artigos 55, inciso III, alíneas 'a' a 'd' e artigo 57,§ 2°, da Instrução Normativa SRF n ° 680/06, para 69 operações de importação efetuadas no período de 26/04/2006 a 14/03/2007. Conforme informa a Fiscalização, e de acordo com o estabelecido no artigo 58 da IN SRF n° 680/06, ao descumprir esta determinação normativa, a Interessada, incorreu na multa prevista no inciso IV, alínea 'f' do artigo 107 do DecretoLei n° 37, de 1966, com a redação dada pelo artigo 77 da Lei n° 10.833, de 29 de dezembro de 2003. A Interessada informou a Fiscalização que devido ao aumento no volume das importações nos últimos anos e ao reduzido quantitativo de pessoal alocado à atividade, o procedimento de baixa da carga no Tecaplus só tem sido possível utilizandose uma das demais opções disponíveis e em momento subseqüente à conferência e entrega, o que para fins operacionais, se equipara à leitura do código de barras. Fl. 296DF CARF MF Processo nº 10509.000219/200815 Acórdão n.º 3002000.424 S3C0T2 Fl. 296 3 Como a operação de entrega da carga, apresentado a Receita Federal para análise e aprovação quando do alfandegamento do TECA descreve como forma de entrega da carga, apenas, a entrega mediante leitura do código de barra da PCG — (Etiqueta de Identificação de Palete de Carga). Registra, o Fisco, que outras opções de entrega que vêm sendo utilizadas pelo Depositário não foram submetidas a apreciação e autorização da SRF. Por fim, propõe no Termo de Constatação, o Fisco, que diante dos fatos e do que determina a legislação tributária, sejam tomadas providências para a aplicação da sanção de advertência ao Depositário, nos termos das alíneas "a" e "b" do inciso I do artigo 76 da Lei no 10.833/2003. Da impugnação A interessada apresentou impugnação, contra a autuação realizada pela Secretaria da Receita Federal, a qual foi imputada a sanção de ADVERTÊNCIA cumulada com aplicação de MULTA, alegando, em síntese, o que transcrevemos a seguir: Tempestividade da impugnação. o fato da inobservância parcial da Instrução Normativa 680/2006 em nenhum momento trouxe, prejuízo ao erário público e muito menos à Receita Federal tendo em vista que a totalidade das mercadorias objeto deste processo estavam desembaraçadas, totalmente livres de qualquer ônus legal, prontas para serem entregues aos seus destinatários. Primeiro que a imputação da sanção de Advertência cumulada com Multa se refere a fatos, TODOS, anteriores ao Oficio 041/2007 — ALF/SSA, o qual foi o primeiro e único documento expedido pela RFB no sentido de não observância às condições e requisitos para entrega de mercadoria, apesar do Terminal de Cargas da INFRAERO ser fiscalizado e auditado periodicamente pela RFB com base nas Portarias 1.170/00 e 969/2006. após o Oficio 041/2007 ALF/SSA, todas as exigências foram cumpridas de imediato conforme. o documento n° 041/2007, expressamente declara que as sanções administrativas e pecuniárias só serão imposta à INFRAERO em caso de não cumprimento imediato da exigências contidas no referido documento, fato que foi prontamente obedecido pela Recorrente, logo descabendo qualquer aplicação de penalidade, vez que não houve reincidência por parte da INFRAERO quanto ao descumprimento da IN 680/06. Diante disso, a recorrente insiste na aplicação de interpretação mais adequada ao fato, na razoabilidade e proporcionalidade das sanções administrativas no presente caso. A imputação da Sanção de advertência cumulada com multa imposta através do Al impõe uma restrição excessiva para o fato em comento. O auto de infração se baseia em fatos TODOS anteriores ao Oficio 041/2007 — ALF/SSA. O que significa dizer que os atos praticados pela INFRAERO até a data deste Oficio, 19/03/2007, estavam sendo praticados com a aquiescência e a chancela da Receita Federal, vez que o TECA é fiscalizado e avaliado periodicamente pela RFB. O texto de lei é bem claro ao tipificar a conduta que é , "deixar de apresentar informações", em nenhum momento a INFRAERO deixou de apresentar informações. Logo, no caso em tela, não ocorreu a exata subsunção do fato — deixar de prestar informações — ao modelo infracional, visto que a INFRAERO prestou as informações solicitadas pela RFB. Sendo assim, a multa constante no artigo utilizado pela Autuante é inaplicável. Por fim, solicita a interessada, que seja a presente impugnação conhecida, por tempestiva e julgada procedente, com a conseqüente improcedência do Auto de Infração. Caso não seja julgada procedente a presente impugnação, requer, Fl. 297DF CARF MF 4 seja feita diligência por fiscal estranho ao feito, caso seja necessário, para que se comprove o cumprimento imediato por parte da INFRAERO das exigências contidas no Oficio n° 41/2007— ALF/SSA. É o que havia a relatar. O contribuinte juntou, com sua impugnação, os documentos listados à fl. 105. De início, é importante registrar que, em que pese o relatório acima ter indicado que a presente contenda versa sobre a aplicação da multa disposta no art. 107, inciso IV, alínea "e", do Decretolei nº 37/1966, verificase à fl. 4 dos autos que o auto de infração se embasou, na verdade, na alínea "f" deste mesmo dispositivo legal. Ao analisar o caso, a DRJ entendeu, por unanimidade de votos, julgar improcedente a impugnação. Em seus fundamentos, o acórdão (fls. 252/262) consignou não apreciar as arguições acerca da aplicação da penalidade de advertência, por se considerar autoridade incompetente para tal. Afirmou não caber à autoridade administrativa apreciar argumentos de inconstitucionalidade de normas ou de desrespeito a princípios por estar o julgador administrativo adstrito ao princípio da legalidade. Afastou, igualmente, o argumento de inexistência de prejuízo ao erário, sob o fundamento de que a aplicação de penalidade independe da intenção do agente e dos efeitos do ato, nos termos do artigo 136 do CTN. Indeferiu o pedido de realização de diligência por entender suficientes as provas constantes dos autos. No mérito, a primeira instância afirmou ser incontroverso o fato de que a contribuinte deixou de prestar informações sobre 69 operações de importação no período de 26/04/2006 a 14/03/2007, pois não teria negado o fato, apenas buscado afastar a penalidade com base nos argumentos preliminares rejeitados no acórdão. Entendeu, em conclusão, correto o lançamento tributário, pela não prestação de informações na forma e prazo determinados pela Receita Federal, o que representou o ato de furtarse ao controle aduaneiro. O contribuinte foi intimado acerca desta decisão em 10/04/2017 (vide Termo de Ciência por Abertura de Mensagem à fl. 270 dos autos) e, insatisfeito com o seu teor, interpôs, em 10/05/2017 (vide fl. 272), Recurso Voluntário (fls. 273/278). Em seu recurso, a contribuinte repisou os argumentos apresentados em sua impugnação, já sintetizados acima, e alegou, também, a ocorrência de prescrição intercorrente em razão de ter transcorrido lapso de quase nove anos entre a apresentação da impugnação (30/06/2008) e seu julgamento (28/03/2017). Pediu, ao fim, o reconhecimento da prescrição intercorrente arguida, ou, caso não seja este o entendimento, pugnou pela improcedência da matéria com declaração de nulidade do auto de infração. Juntou os documentos de fls. 279/293. Os autos, então, vieramse conclusos para fins de análise do Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte. É o relatório. Voto Conselheira Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Relatora: Fl. 298DF CARF MF Processo nº 10509.000219/200815 Acórdão n.º 3002000.424 S3C0T2 Fl. 297 5 O Recurso Voluntário é tempestivo e reúne os demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele tomo conhecimento. Consoante acima narrado, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário por meio do qual repisou os argumentos constantes da impugnação apresentada, tendo acrescentado apenas, em sede preliminar, o argumento de ocorrência de prescrição intercorrente. Passo, então, à análise dos fundamentos ali apresentados. 1. Da prescrição intercorrente Alega o contribuinte que teria se configurado a prescrição intercorrente no caso concreto aqui analisado, visto que teria decorrido quase nove anos entre a apresentação de impugnação administrativa (30/06/08) e o julgamento de sua impugnação (28/03/17). De início, é importante destacar que, embora este argumento não tenha constado da impugnação originalmente apresentada, não há qualquer óbice para a sua apreciação nesta oportunidade, visto que esta matéria, por ser de ordem pública, pode ser analisada a qualquer tempo, podendo ser reconhecida inclusive de ofício pelo julgador administrativo. É cediço, contudo, que, nos termos da súmula CARF nº 11, abaixo transcrita, não há que se falar em prescrição intercorrente em processo administrativo fiscal: Súmula CARF nº 11 Não se aplica a prescrição intercorrente no processo administrativo fiscal. (Vinculante, conforme Portaria MF nº 277, de 07/06/2018, DOU de 08/06/2018). Sendo assim, há de ser conhecido, porém, afastado este argumento do Recorrente. 1. Do mérito No mérito, o contribuinte repisa os argumentos constantes da sua impugnação administrativa, trazendo como fundamento de defesa, em resumo, o seguinte: (i) que a aplicação da penalidade combatida referese a fatos anteriores ao Ofício nº 041/2007, sendo este o primeiro e único documento expedido pela RFB no sentido de não observância às condições e requisitos para entrega de mercadoria, apesar do TECA ser fiscalizado e auditado periodicamente pela RFB; (ii) que este ofício declara expressamente declara que as sanções administrativas e pecuniárias só serão impostas à Infraero em caso de não cumprimento imediato das exigências nele contidas, o que não teria ocorrido; (ii) remete à necessidade de se observar os preceitos do Direito Penal, quais sejam, da legalidade, da tipicidade e da culpabilidade; (iv) defende que o núcleo infracional disposto no art. 107 é "deixar de prestar informação", o que não teria ocorrido no caso concreto, visto que a Infraero não teria deixado em momento algum de prestar informações à RFB. Apesar de denominar este tópico como mérito, defende, ao final, que o auto de infração seria nulo. Entendo que não assiste razão ao contribuinte em seus fundamentos. Isso porque, ao contrário do que alega, houve clara subsunção do fato à norma. Como é cediço, o Fl. 299DF CARF MF 6 núcleo infracional disposto no referido art. 107 é "deixar de prestar informação na forma e no prazo estabelecidos pela SRF". Ou seja, a mera prestação de informações, sem que tenham sido atendidos os requisitos dispostos na legislação acerca da forma e do prazo não é suficiente. Nesse contexto, a multa fora imposta justamente em razão do não cumprimento das exigências nele contidas, em sintonia com o disposto no Ofício nº 041/2007. De outro norte, como é cediço, a responsabilidade pela prática da infração aqui analisada é objetiva, não sendo necessário atender ao preceito da culpabilidade, relacionado ao Direito Penal, ou mesmo se averiguar se houve eventual prejuízo ao erário. Nenhum desses elementos, ainda que restassem confirmados, possuiria o condão de afastar a incidência do dispositivo legal em tela, aplicável a todos os casos em que a prática infracional tenha ocorrido, independentemente das condições específicas do caso concreto. Nesse sentido, assim dispõe o Código Tributário Nacional: Art. 136. Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato. Esse mesmo entendimento encontra previsão no Regulamento Aduaneiro (Decreto nº 6.759/2009), conforme transcrição a seguir: Art. 673. Constitui infração toda ação ou omissão, voluntária ou involuntária, que importe inobservância, por parte de pessoa física ou jurídica, de norma estabelecida ou disciplinada neste Decreto ou em ato administrativo de caráter normativo destinado a completálo (DecretoLei nº 37, de 1966, art. 94, caput). Parágrafo único. Salvo disposição expressa em contrário, a responsabilidade por infração independe da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, da natureza e da extensão dos efeitos do ato (DecretoLei nº 37, de 1966, art. 94, § 2º). Ademais, tampouco merece guarida o argumento do Recorrente relacionado aos fatos terem sido anteriores ao Ofício nº 041/2007. Isso porque, o fato de este ter sido o primeiro e único ofício tratando sobre a não observância às condições e requisitos para entrega de mercadoria, não acoberta a prática de atos contrários ao disposto na legislação. Até porque, sabese que, por força do disposto no parágrafo único do art. 142 do CTN, a atividade da autoridade autuante é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Logo, a legislação pertinente deverá ser aplicada sempre que se verificar a sua hipótese de incidência, tal qual na hipótese dos presentes autos. Como se não bastasse, por concordar com os fundamentos constantes da decisão recorrida, transcrevoa a seguir, adotandoa também como razão de decidir: Do mérito É incontroverso o fato de que o depositário deixou de prestar informações sobre 69 operações de importação efetuadas no período de 26/04/2006 a 14/03/2007, conforme determinado pela legislação vigente. Não caracterização da infração imposta Fl. 300DF CARF MF Processo nº 10509.000219/200815 Acórdão n.º 3002000.424 S3C0T2 Fl. 298 7 Alega a interessada que a conduta da requerente não caracteriza o tipo legal sob o qual se justifica a imposição de multa, uma vez que ela não deixou de prestar informações. Vejamos o que diz os artigos 54, 55 e 58 da Instrução Normativa SRF n° 680/06, que disciplina o despacho aduaneiro de importação. Art. 54. Para retirar as mercadorias do recinto alfandegado, o importador deverá apresentar ao depositário os seguintes documentos: I via original do conhecimento de carga, ou de documento equivalente, como prova de posse ou propriedade da mercadoria; (Revogado(a) pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1356, de 03 de maio de 2013) II comprovante do recolhimento do ICMS ou, se for o caso, comprovante de exoneração do pagamento do imposto, exceto no caso de Unidade da Federação com a qual tenha sido celebrado o convênio referido no art. 53 para o pagamento mediante débito automático em conta bancária, por meio do Siscomex; III Nota Fiscal de Entrada emitida em seu nome, ou documento equivalente, ressalvados os casos de dispensa previstos na legislação estadual; e IV documentos de identificação da pessoa responsável pela retirada das mercadorias. Art. 55. O depositário do recinto alfandegado, para proceder à entrega da mercadoria, fica obrigado a: I confirmar, mediante consulta ao Siscomex, a autorização da SRF para a entrega da mercadoria; II verificar a apresentação, pelo importador, dos documentos referidos no art. 54; e III registrar as seguintes informações: a) data e hora da entrega das mercadorias, por DI; b) nome, número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e respectivo documento de identificação, com dados do órgão emitente e data de emissão, do responsável pela retirada das mercadorias; c) nome empresarial e respectivo número de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) da pessoa jurídica que efetue o transporte das mercadorias em sua retirada do recinto alfandegado; e d) placas dos veículos e número da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) dos condutores dos veículos que efetuarem o transporte referido na alínea "c". (...) Art. 58. Aplicase ao depositário a multa prevista no inciso IV, alíneas "b", "c" e "f", do art. 107 do DecretoLei nº 37, de 1966, com a redação dada pelo art. 77 da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de 2003, na hipótese de descumprimento das obrigações estabelecidas nos arts. 55 a 57. g.n. Ora o art. 55 da IN SRF n° 680/06, prescreve como conduta esperada do depositário o registro de informações sobre as cargas armazenadas, na forma Fl. 301DF CARF MF 8 estabelecidos pela RFB, como forma de controle aduaneiro das cargas que o fiel depositário armazenou em seu terminal. Desta forma, com estes controles, se busca garantir que todos os volumes informados e que foram armazenados, só sejam entregues após a liberação da Declaração de Importação e sejam registrados a hora da sua entrega, a quem foi entregue e que veículo a conduziu, buscando garantir, ou ao menos dificultar, a não subtração das mercadorias armazenada no terminal de carga. Já o art. 58, da referida Instrução Normativa, prescreve a penalidade a ser aplicada caso a conduta esperada não seja cumprida. Estabelecendo que se aplica ao depositário a multa prevista no inciso IV, alíneas "b", "c" e "f", do art. 107 do DecretoLei nº 37, de 1966.. Art. 107. Aplicamse ainda as seguintes multas: (...) IV de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) (...) b) por mêscalendário, a quem não apresentar à fiscalização os documentos relativos à operação que realizar ou em que intervier, bem como outros documentos exigidos pela Secretaria da Receita Federal, ou não mantiver os correspondentes arquivos em boa guarda e ordem; c) a quem, por qualquer meio ou forma, omissiva ou comissiva, embaraçar, dificultar ou impedir ação de fiscalização aduaneira, inclusive no caso de nãoapresentação de resposta, no prazo estipulado, a intimação em procedimento fiscal; f) por deixar de prestar informação sobre carga armazenada, ou sob sua responsabilidade, ou sobre as operações que execute, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, aplicada ao depositário ou ao operador portuário; g.n. Assim, o art. 107, em seu inciso IV, alínea “f”, deixa claro que, Intimado o contribuinte a prestar informações, findo o prazo estabelecido, fica configurada a infração não passível de denunciação com adimplemento posterior, ainda que antes de qualquer ação fiscal, pois não há meios de voltar no tempo para reparar o dano causado pela falta dessas informações no momento em que deveriam ter sido fornecidas. A obrigação de fazer, neste caso, não é só de prestar as informações, mas sim, de o fazer dentro dos prazos estabelecidos pela Receita Federal. A Fiscalização solicitou por Termo de Intimação (fls. 27) as seguintes informações: Registro contendo as informações determinadas no artigo 55, inciso III, da Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal n° 680/2006, abaixo transcritas, para cada uma das Declarações de Importação relacionadas: • Data e hora da entrega das mercadorias, por DI; • nome, numero de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e respectivo documento de identificação, 'com dados do órgão emitente e data de emissão, do responsável pela retirada das mercadorias; Fl. 302DF CARF MF Processo nº 10509.000219/200815 Acórdão n.º 3002000.424 S3C0T2 Fl. 299 9 • nome empresarial e respectivo numero de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) da pessoa jurídica que efetuou o transporte das mercadorias em sua retirada do recinto alfandegado; • placas dos veículos e número da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) dos condutores dos veículos que efetuaram o transporte referido no item anterior. Conforme afirma a Fiscalização o Depositário deixou de prestar estas informações, na forma estabelecida pela Secretaria da Receita federal nos artigos 55, inciso III, alíneas 'a' a 'd' e artigo 57, § 2°, da Instrução Normativa SRF n° 680/06, para 69 operações de importação efetuadas no período de 26/04/2006 a 14/03/2007. A Interessada não nega a ocorrência do fato, apenas alega como atenuante e exclusão da punibilidade que "da inobservância parcial da Instrução Normativa 680/2006 em nenhum momento trouxe, prejuízo ao erário público e muito menos à Receita Federal tendo em vista que a totalidade das mercadorias objeto deste processo estavam desembaraçadas, totalmente livres de qualquer ônus legal, prontas para serem entregues aos seus destinatários." A impugnante não nega o fato, mas argumenta pela não aplicação da multa pelos argumentos acima já combatidos. De qualquer forma, a lei não confere qualquer âmbito de discricionariedade à Autoridade Aduaneira, no tocante à aplicação da sanção. Portanto, basta que se caracterize o suporte fático, previsto em lei, para que seja constatada a incidência da norma sancionadora e lavrado o auto de infração por dever de ofício. Portanto, a ação da impugnante, ao deixar de prestar a informação, no prazo e forma, determinada em ato da Receita Federal, independentemente da sua intenção, implica furtarse ao controle aduaneiro. O lançamento cumpriu todos os requisitos legais, e foi devidamente cientificado ao contribuinte. Sendo assim, entendo que não há como se acolher os argumentos defendidos pelo Recorrente no presente caso. 3. Da conclusão Diante das razões acima expostas, voto no sentido de rejeitar a preliminar apresentada e, no mérito, em negar provimento ao Recurso Voluntário interposto. É como voto. (assinado digitalmente) Maria Eduarda Alencar Câmara Simões Relatora Fl. 303DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.978909/2012-11
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 26 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Fri Dec 07 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Data do fato gerador: 06/12/2004
MULTA DE MORA. PAGAMENTO EM ATRASO, MAS ANTERIOR À APRESENTAÇÃO DA DCTF E ANTES DO INÍCIO DE QUALQUER PROCEDIMENTO FISCAL. AFASTAMENTO, POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL VINCULANTE, NA FORMA REGIMENTAL.
Diante da existência de decisão definitiva do STJ, na sistemática dos recursos repetitivos, no sentido de afastar a cobrança da multa de mora por pagamento em atraso, feito anterior ou até concomitantemente à apresentação da DCTF na qual o débito foi confessado, desde que antes do início de qualquer procedimento fiscal, configura-se a denúncia espontânea do art. 138 do CTN.
Recurso Voluntário Provido em Parte
Numero da decisão: 3302-005.961
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso voluntário para reconhecer o direito creditório pleiteado, homologando-se as compensações até o limite do direito creditório reconhecido.
(assinado digitalmente)
Paulo Guilherme Déroulède - Presidente e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), Orlando Rutigliani Berri (Suplente Convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimarães (Suplente Convocado), José Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Júnior e Raphael Madeira Abad.
Nome do relator: PAULO GUILHERME DEROULEDE
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso voluntário para reconhecer o direito creditório pleiteado, homologando-se as compensações até o limite do direito creditório reconhecido. (assinado digitalmente) Paulo Guilherme Déroulède - Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), Orlando Rutigliani Berri (Suplente Convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimarães (Suplente Convocado), José Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Júnior e Raphael Madeira Abad.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 06/12/2004 MULTA DE MORA. PAGAMENTO EM ATRASO, MAS ANTERIOR À APRESENTAÇÃO DA DCTF E ANTES DO INÍCIO DE QUALQUER PROCEDIMENTO FISCAL. AFASTAMENTO, POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL VINCULANTE, NA FORMA REGIMENTAL. Diante da existência de decisão definitiva do STJ, na sistemática dos recursos repetitivos, no sentido de afastar a cobrança da multa de mora por pagamento em atraso, feito anterior ou até concomitantemente à apresentação da DCTF na qual o débito foi confessado, desde que antes do início de qualquer procedimento fiscal, configurase a denúncia espontânea do art. 138 do CTN. Recurso Voluntário Provido em Parte Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento parcial ao recurso voluntário para reconhecer o direito creditório pleiteado, homologandose as compensações até o limite do direito creditório reconhecido. (assinado digitalmente) Paulo Guilherme Déroulède Presidente e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Paulo Guilherme Déroulède (Presidente), Orlando Rutigliani Berri (Suplente Convocado), Walker Araujo, Vinicius Guimarães (Suplente Convocado), José Renato Pereira de Deus, Jorge Lima Abud, Diego Weis Júnior e Raphael Madeira Abad. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 97 89 09 /2 01 2- 11 Fl. 149DF CARF MF Processo nº 10880.978909/201211 Acórdão n.º 3302005.961 S3C3T2 Fl. 3 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário interposto contra decisão de primeira instância que julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade apresentada, mantendo a decisão da repartição de origem de indeferir o Pedido de Restituição (PER) formulado, em razão do fato de que o pagamento informado como origem do crédito já se encontrava utilizado para quitação de outros débitos da titularidade do contribuinte. Em sua Manifestação de Inconformidade, o contribuinte alegou que fazia jus à restituição pleiteada pelo fato de que o crédito informado era proveniente de recolhimento de multa de mora indevida, em razão da denúncia espontânea, tendo em vista o recolhimento espontâneo do tributo devido, nos termos do art. 138 do CTN. A Delegacia de Julgamento (DRJ), por meio do acórdão nº 14053.294, julgou improcedente a Manifestação de Inconformidade, considerando que o instituto da denúncia espontânea não exclui a multa de mora estipulada na legislação tributária, porquanto o seu pagamento é expressamente previsto para os casos em que o recolhimento do tributo ocorre espontaneamente após o vencimento da obrigação, sendo irrelevante à questão a distinção doutrinária entre caráter indenizatório ou punitivo da sua exigência. Ressaltou, ainda, o julgador de piso, que as autoridades administrativas estão obrigadas à observância da legislação tributária vigente no País, sendo incompetentes para a apreciação de arguições de inconstitucionalidade e ilegalidade de atos normativos regularmente editados. Cientificado da decisão de primeira instância, o contribuinte interpôs Recurso Voluntário e reafirmou as razões de defesa suscitadas na Manifestação de Inconformidade, enfatizando o instituto da denúncia espontânea, especialmente o seu reconhecimento pelo CARF e pelo STJ em sede de Recurso Repetitivo. É o relatório. Fl. 150DF CARF MF Processo nº 10880.978909/201211 Acórdão n.º 3302005.961 S3C3T2 Fl. 4 3 Voto Conselheiro Paulo Guilherme Déroulède, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do Anexo II do Regimento Interno do CARF (RICARF), aprovado pela Portaria MF 343, de 9 de junho de 2015, aplicandose, portanto, ao presente litígio o decidido no Acórdão nº 3302005.954, de 26/09/2018, proferida no julgamento do processo nº 10880.978899/201213, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão nº 3302005.954): 1. Admissibilidade O presente Recurso Voluntário é tempestivo, eis que a Recorrente tomou ciência da decisão em 21.03.2016 (efls. 71) e apresentou o Recurso em 20.04.2016 (efls.72), portanto dentro do prazo de 30 dias de que trata o artigo 33 do Decreto n. 70.235/72. A matéria é de competência deste Colegiado e o recurso revestese dos demais requisitos legais, razão pela qual dele conheço. 2. Mérito. Não tendo sido arguidas preliminares, é de se analisar o mérito recursal. 2.1. Denúncia Espontânea. Em relação ao instituto da denúncia espontânea e a sua atual disciplina no âmbito do Poder Judiciário e no CARF, tal entendimento encontra respaldo na jurisprudência da Câmara Superior de Recursos Fiscais que no processo 10980.004263/200730 foi proferido o Acórdão n. 9303005.874, na sessão de 18 de outubro de 2017, cuja ementa, de Relatoria do I. Conselheiro Rodrigo Pôssas é abaixo transcrita: "ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS. Período de apuração: 01/12/2003 a 31/12/2003 MULTA DE MORA. PAGAMENTO EM ATRASO, MAS ANTERIOR À APRESENTAÇÃO DA DCTF E ANTES DO INÍCIO DE QUALQUER PROCEDIMENTO FISCAL. AFASTAMENTO, POR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL VINCULANTE, NA FORMA REGIMENTAL. Havendo decisão definitiva do STJ, na sistemática dos recursos repetitivos, no sentido de afastar a cobrança da multa de mora por pagamento em atraso, feito anterior ou até concomitantemente à apresentação da DCTF na qual o débito foi confessado, desde que antes do início de qualquer procedimento fiscal, por considerar, que, nestes casos, configurase a denúncia espontânea do art. 138 do CTN, ela deverá ser reproduzida pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF, por força regimental.." Fl. 151DF CARF MF Processo nº 10880.978909/201211 Acórdão n.º 3302005.961 S3C3T2 Fl. 5 4 Quando da prolação da referida decisão, em sede de Recurso Especial, a Câmara Superior de Recursos Fiscais salientou que em razão da existência de Recurso Especial em sistemática dos Recursos Repetitivos no STJ, a matéria sequer pode ser apreciada pelo CARF. "A matéria tratada no presente recurso referese somente ao cabimento ou não da cobrança da multa moratória nos casos de pagamento a destempo, mas feito anterior ou até concomitantemente à apresentação da DCTF na qual se confessou o respectivo débito, e antes do início de qualquer procedimento fiscal. O tema não é mais passível de discussão no CARF haja vista que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu a questão posta, sob a sistemática dos recursos repetitivos, nos termos do artigo 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, antigo Código de Processo Civil. O Recurso Especial nº 1.149.022/SP, que trata da matéria, foi interposto pela autora, contra decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que entendeu que não se configurava a denúncia espontânea o deliberado pagamento a destempo do tributo, não discutido judicialmente, cujo lançamento deve por ele ser efetuado." Tratandose de Recurso Repetitivo submetido à norma do artigo 543C do CPC, aplicase a Portaria MF n. 343/2015, art. 62 § 2º que determina a aplicação da decisão, nos seguintes termos: Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade. (...) § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática dos arts. 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 1973, ou dos arts. 1.036 a 1.041 da Lei nº 13.105, de 2015 – Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) Quando da discussão da controvérsia no âmbito da Câmara Superior de Recursos Fiscais, no bojo do já mencionado Recurso Especial, o Ilmo. Conselheiro Rodrigo Pôssas salientou que o referido entendimento vincula as Delegacias de Julgamento e as Unidades de Origem da RFB, verbis: "Registrese ainda, a título de observação, que, na forma da Lei nº 10.522/2002, art. 19, § 5º, com a redação dada pelo art. 21 da Lei nº 12.844/2013, também estão vinculadas a este entendimento as Delegacias de Julgamento e as Unidades de Origem da RFB, com a manifestação da PGFN na Nota transcrita parcialmente a seguir, no que interessa a esta discussão: NOTA PGFN/CRJ/Nº 1114/2012 (...) (...) 5. ... em resposta à consulta da RFB, segue em lista anexa a esta Nota a delimitação dos julgados proferidos pelo STF e STJ, relacionados pela RFB, para efeitos de que aquele órgãoproceda ao cumprimento, no seu âmbito,do quanto disposto no Parecer PGFN 2025/2011. (...) 45 RESP 1.149.022/SP (...) Resumo: 1. A denúncia espontânea resta configurada na hipótese em que o contribuinte, após efetuar a declaração parcial do débito tributário (sujeito a Fl. 152DF CARF MF Processo nº 10880.978909/201211 Acórdão n.º 3302005.961 S3C3T2 Fl. 6 5 lançamento por homologação) acompanhado do respectivo pagamento integral, retificaa (antes de qualquer procedimento da Administração Tributária), noticiando a existência de diferença a maior, cuja quitação se dá concomitantemente." No caso concreto a Recorrente realizou uma compensação tributária e, independente de qualquer atuação estatal, posteriormente identificou o erro, recolheu a diferença e emitiu nova DCTF (...) Imperioso destacar que pela análise da documentação trazida aos autos a nova DCTF foi apresentada APÓS o recolhimento da diferença do tributo, que se deu independente de qualquer atuação por parte da Administração Pública, razão pela qual a Recorrente entende não serem devidos juros moratórios. Efetivamente, é de se constatar que o caso ora submetido a análise deste Colegiado amoldase com perfeição à jurisprudência deste Colegiado, aliás de observância compulsória, razão mais que suficiente para que seja dado provimento ao presente Recurso Voluntário Diante do exposto, voto por dar provimento parcial ao Recurso voluntário para reconhecer o direito creditório pleiteado, cabendo à unidade administrativa efetuar a compensação até o limite do crédito. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do Anexo II do RICARF, o colegiado decidiu dar provimento parcial ao Recurso Voluntário, para reconhecer o direito pleiteado, cabendo à unidade administrativa efetuar a compensação até o limite do crédito. (assinado digitalmente) Paulo Guilherme Déroulède Fl. 153DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10909.000758/2008-33
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Nov 28 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Wed Dec 12 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2005
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. RECURSO ESPECIAL. PRESSUPOSTOS. CONHECIMENTO.
Não se conhece de Recurso Especial de Divergência, quando não resta demonstrado o alegado dissídio jurisprudencial, tendo em vista que o paradigma indicado encontra-se em absoluta sintonia com o acórdão recorrido, inclusive quanto à solução dada aos julgados.
Numero da decisão: 9202-007.384
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial.
(assinado digitalmente)
Maria Helena Cotta Cardozo - Presidente em Exercício e Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício).
Nome do relator: MARIA HELENA COTTA CARDOZO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo - Presidente em Exercício e Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício).
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RECURSO ESPECIAL. PRESSUPOSTOS. CONHECIMENTO. Não se conhece de Recurso Especial de Divergência, quando não resta demonstrado o alegado dissídio jurisprudencial, tendo em vista que o paradigma indicado encontrase em absoluta sintonia com o acórdão recorrido, inclusive quanto à solução dada aos julgados. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Presidente em Exercício e Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Patrícia da Silva, Pedro Paulo Pereira Barbosa, Ana Paula Fernandes, Mário Pereira de Pinho Filho, Ana Cecília Lustosa da Cruz, Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Maria Helena Cotta Cardozo (Presidente em Exercício). Relatório Trata o presente processo, de exigência de Imposto de Renda Pessoa Física, tendo em vista a glosa de despesas de livrocaixa, referente ao exercício de 2005. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 90 9. 00 07 58 /2 00 8- 33 Fl. 69DF CARF MF 2 Em sessão plenária de 17/04/2012, foi julgado o Recurso Voluntário, prolatandose o Acórdão nº 2802001.491 (efls. 37 a 39), assim ementado: “ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2005 DEDUÇÃO. COMPROVAÇÃO É ônus da autoridade lançadora comprovar a ocorrência do fato em que se baseou para caracterizar a infração. Recurso Provido.” A decisão foi assim registrada: “ACORDAM os membros do Colegiado por unanimidade de votos DAR PROVIMENTO ao recurso nos termos do voto do relator.” O processo foi encaminhado à PGFN em 28/11/2012 (Despacho de Encaminhamento de efls. 40) e, em 28/12/2012, foi interposto o Recurso Especial de efls. 41 a 48 (Despacho de Encaminhamento de efls. 56), com fundamento no art. 67, do Anexo II, do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 256, de 2009, visando rediscutir a questão do ônus da prova, no caso de glosa de despesas escrituradas em livrocaixa. Ao Recurso Especial foi dado seguimento, conforme despacho de 16/12/2015 (efls. 57 a 60). Em seu apelo, a Fazenda Nacional apresenta as seguintes alegações: o Contribuinte limitouse a sustentar que recebeu rendimentos apenas do trabalho nãoassalariado e não possuía vínculo empregatício com a fonte pagadora, conforme Declaração de Imposto de Renda do anocalendário 2004, exercício 2005; é regra basilar do Direito que quem alega algo deve provar o fato, aplicandose, no caso vertente, por analogia, o artigo 333, inciso II, do CPC; não bastasse isso, o Contribuinte por dois momentos teve a oportunidade de comprovar se os rendimentos percebidos são ou não do trabalho assalariados, e não fez; outrossim, o Contribuinte não comprovou o desempenho de uma atividade relativa à prestação de serviços sem vínculo empregatício, se obteve receitas desta atividade, sequer trouxe documento capaz de elucidar a relação existente com a fonte pagadora dos rendimentos por ele declarados; logo, no caso dos autos, por total ausência de comprovação de que o contribuinte preenchia os requisitos para ter direito à dedução, deve ser mantida a glosa dos valores deduzidos a título de livro caixa, não cabendo a inversão do ônus da prova para o Fisco, como equivocadamente propôs o acórdão recorrido. Ao final, a Fazenda Nacional requer seja conhecido e provido o Recurso Especial, restaurandose a decisão de 1ª instância. Fl. 70DF CARF MF Processo nº 10909.000758/200833 Acórdão n.º 9202007.384 CSRFT2 Fl. 70 3 Cientificado em 20/01/2016 (AR Aviso de Recebimento de efls. 63), o Contribuinte ofereceu, em 12/02/2016 (carimbo de efls. 64), as Contrarrazões de efls. 64 a 67. Voto Conselheira Maria Helena Cotta Cardozo Relatora O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo, restando perquirir se atende aos demais pressupostos de admissibilidade. O Contribuinte foi intimado em 20/01/2016, quartafeira (AR de efls. 63), e teria até 04/02/2016, quintafeira, para oferecer Contrarrazões, o que somente foi feito em 12/02/2016 (carimbo de efls. 63), portanto já fora do prazo de quinze dias. Assim, as Contrarrazões não podem ser conhecidas, por intempestividade. Trata o presente processo, de exigência de Imposto de Renda Pessoa Física, tendo em vista a glosa de despesas de livrocaixa, referente ao exercício de 2005. O Contribuinte registrara em sua Declaração de Ajuste Anual apenas rendimentos recebidos de pessoa jurídica, que seriam decorrentes da prestação de serviços sem vínculo empregatício. A autoridade lançadora, entretanto, deduziu que tais rendimentos seriam decorrentes do trabalho com vínculo empregatício e efetuou a glosa das despesas de livrocaixa, incompatíveis com rendimentos do trabalho assalariado. Nesse contexto, deuse provimento ao Recurso Voluntário, ao fundamento de que seria ônus da autoridade lançadora a comprovação de que os rendimentos declarados pelo Contribuinte seriam fruto do trabalho com vínculo empregatício. A Fazenda Nacional, por sua vez, pugna pelo restabelecimento do lançamento, alegando que o ônus da prova, no caso de glosa de despesas escrituradas em livrocaixa, caberia ao Contribuinte. Assim, no caso do acórdão recorrido, verificouse verdadeira reclassificação dos rendimentos declarados pelo Contribuinte, concluindo o Colegiado recorrido, repitase, que caberia à autoridade lançadora o ônus de comprovar que a natureza do rendimento declarado seria de trabalho com vínculo empregatício, visto que a Declaração de Ajuste Anual não permite verificar essa particularidade, tampouco houve investigação a esse respeito. Ressaltese que a Fiscalização sequer anexou ao processo a respectiva Declaração de Ajuste Anual, deixando de demonstrar ao menos que haveria o registro de uma pessoa jurídica como fonte pagadora. Confirase o acórdão recorrido: "O recorrente apresenta como único argumento, as seguintes informações: a) que prestava serviços somente de natureza não assalariado; b) que recebeu rendimentos apenas do trabalho não assalariado; c) que não possuía vínculo empregatício com a empresa o qual fez constar da declaração de imposto de renda ano calendário 2004 exercício 2005 como FONTE PAGADORA. Fl. 71DF CARF MF 4 A decisão recorrida, por sua vez, considerou que o interessado por dois momentos teve a oportunidade de comprovar os fatos por ele contestado, qual seja, se os rendimentos percebidos são ou não assalariados, e não fez. Argumentou o relator do acórdão recorrido que o interessado não comprova o desempenho de uma atividade relativa à prestação de serviços sem vínculo empregatício; se obteve receitas desta atividade, sequer trouxe documento capaz de elucidar a relação existente com a fonte pagadora dos rendimentos por ele declarados. Logo, no caso dos autos, por total ausência de comprovação de que o contribuinte preenchia os requisitos para ter direito à dedução, deve ser mantida a glosa dos valores deduzidos a título de livro caixa. Ressalvese que o que se discute no presente processo é se o contribuinte tem ou não vínculo empregatício com a fonte pagadora. Entende este colegiado que é ônus do lançador a comprovação de que os rendimentos, em questão, são fruto de vínculo empregatício. Na DIRPF não contém essa informação e não houve investigação para comprovar a existência de vínculo. Diante do exposto e de tudo o mais que dos autos consta. Dou provimento ao recurso" (grifei) Nesse contexto, o paradigma apto a demonstrar a alegada divergência seria representado por julgado em que, diante de situação fática similar glosa liminar das despesas de livrocaixa, motivada pela reclassificação dos rendimentos declarados pelo Contribuinte como decorrentes da prestação de serviços sem vínculo empregatício, para decorrentes do trabalho com vínculo empregatício e se considerasse que caberia ao sujeito passivo o ônus de comprovar que recebeu rendimentos apenas do trabalho sem vínculo empregatício. Entretanto, analisando o inteiro teor do paradigma indicado pela Fazenda Nacional Acórdão nº 2202002.053 verificase que, longe de demonstrar a alegada divergência jurisprudencial, dito julgado encontrase em perfeita harmonia com o acórdão recorrido, já que ambos os julgados aplicam a mesma lógica. Confirase o paradigma: Ementa "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2005 GLOSA DO LIVRO CAIXA. MOTIVAÇÃO NÃO COMPROVADA. RESTABELECIMENTO DA DEDUÇÃO. Quando a única motivação para a glosa do livro caixa é a alegação de terem sido declarados apenas rendimentos recebidos de pessoa jurídica com vínculo empregatício e o contribuinte comprova ser profissional liberar e declara rendimentos recebidos de clientes diversos, sem que o fisco demonstre que tais rendimentos decorrem efetivamente do trabalho assalariado, restabelecese a dedução." Fl. 72DF CARF MF Processo nº 10909.000758/200833 Acórdão n.º 9202007.384 CSRFT2 Fl. 71 5 Voto "Trata o presente lançamento de glosa do Livro Caixa, cuja fundamentação extraise da Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal (fl. 5): De acordo com a legislação em vigor, somente pode deduzir despesas escrituradas em LivroCaixa, o contribuinte que receber rendimentos do trabalho nãoassalariado, o titular de serviços notariais e de registro e o leiloeiro. Em razão de o contribuinte ter declarado apenas Rendimentos Recebidos de Pessoa Jurídica com vínculo empregatício, está sendo glosado o valor de R$ ********81.399,64, informado a titulo de Livro Caixa, indevidamente deduzido. (...) Ora, para que a fiscalização pudesse efetuar a glosa das despesas do livro caixa fundamentada no fato de terem sido declarados apenas rendimentos do trabalho assalariado caberia a ela (fiscalização) demonstrar efetivamente que o contribuinte não recebeu rendimentos do trabalho não assalariado, ou seja, comprovar que os rendimentos declarados como recebidos de “Clientes Diversos” eram decorrentes do trabalho com vínculo empregatício, o que não ocorreu. Em sede de recurso, o contribuinte anexou cópia do registro de seu escritório no Conselho Regional de Contabilidade (fls. 322 e 323), declaração do Sindicato das Empresas de Serviços de Contabilidade (fl. 324) e os documentos que fundamentaram as despesas escrituradas no Livro Caixa (fls. 325 e 574), tais Guia de Recolhimento do FGTS e Informações à Previdência Social – GFIP, Relação dos Trabalhadores registrados junto ao Ministério da Previdência Social, recibos de pagamentos de salário, comprovante de pagamento de condomínio, IPTU, contas de telefone e luz, etc. Entendo que a comprovação da dedutibilidade das despesas escrituradas no Livro Caixa não faz parte do presente litígio, uma vez que a motivação do lançamento foi o fato de “o contribuinte ter declarado apenas Rendimentos Recebidos de Pessoa Jurídica com vínculo empregatício”, não havendo sequer uma intimação para que o contribuinte apresentasse o Livro Caixa e os documentos que o embasaram. Importa ressaltar que desde o início já haviam indícios de que o contribuinte poderia ter declarado rendimentos do trabalho não assalariado (“Clientes diverso”) e, portanto, cabia ao fisco investigar não só a natureza desses rendimentos bem como proceder ao competente exame do Livro Caixa. Por tudo que dos autos consta, restou demonstrado que o contribuinte é profissional liberal, exercendo a atividade de contador e que as receitas por ele declaradas como “Clientes diversos” enquadramse como rendimentos do trabalho não Fl. 73DF CARF MF 6 assalariado, até prova em contrário a cargo do fisco, o que não ocorreu." (grifei) Conforme o art. 67, § 8º, do Anexo II, do RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 2015, o ônus de demonstrar a alegada divergência é do Recorrente, o que no presente caso não ocorreu, já que o paradigma indicado não demonstra divergência e sim sintonia em relação ao acórdão recorrido, tanto assim que em ambos os julgados foi dado provimento ao Recurso Voluntário. Destarte, constatase que, tal como no acórdão recorrido, no paradigma o entendimento é no sentido de que cabe à autoridade lançadora o ônus de comprovar que o Contribuinte teria recebido rendimentos apenas do trabalho assalariado. Assim, tendo a Fazenda Nacional indicado paradigma que, longe de demonstrar divergência, harmonizase com a decisão recorrida, não restou demonstrada a alegada divergência jurisprudencial. Diante do exposto, não conheço do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Fl. 74DF CARF MF
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Numero do processo: 10314.722750/2016-21
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Nov 07 00:00:00 UTC 2018
Data da publicação: Tue Dec 04 00:00:00 UTC 2018
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2011
PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. LAVRATURA ANTES DE FINDAR O PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO PARA A PARTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA.
Não importa em nulidade o fato da fiscalização lavrar o auto de infração quando em curso prazo para apresentação de documentos pelo contribuinte, sobretudo - e especialmente - porque a autoridade fiscal aponta que não houve nenhum prejuízo ao contribuinte já que não foram incluídos na autuação quaisquer valores ou fatos relacionados aos documentos cujo prazo para apresentação ainda estava em aberto.
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. DEMONSTRAÇÃO DA PRÁTICA DE SONEGAÇÃO, FRAUDE OU CONLUIO. APLICABILIDADE.
Ao verificar qualquer uma das ocorrências dos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64, é dever da autoridade lançadora aplicar a multa qualificada de 150%, devendo ser demonstrada, de forma inequívoca, a intenção dolosa do contribuinte na prática dos atos de sonegação, fraude ou conluio, tudo no intuito de impedir o conhecimento do fato gerador pela autoridade fazendária.
IRRF. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. ESQUEMA DE LAVAGEM DE DINHEIRO. DESCONSIDERAÇÃO DE VALORES COMO RECURSOS. POSSIBILIDADE.
Na verificação do acréscimo patrimonial a descoberto, é possível a não consideração, como origem na planilha de fluxo mensal, dos lucros/dividendos advindos de empresas utilizadas em esquema fraudulento de lavagem de dinheiro e repasse de propinas.
Havendo a desvirtuação do propósito da empresa, as quais foram utilizadas com a finalidade de dar ares de legalidade às vantagens indevidas recebidas, os rendimentos por elas auferidos deixam de ser fruto do exercício de seus objetos sociais, mas sim fruto das atividades ilícitas praticadas por seu sócio. Se não há exploração de atividade econômica da empresa, nem tampouco exploração do seu patrimônio, não há como os rendimentos distribuídos serem materialmente considerados distribuição de lucros e dividendos.
Não se pode classificar como lucros e dividendos, ainda que formalmente declarados a este título, os rendimentos obtidos através da prática criminosa.
Ademais, os lucros/dividendos das empresas utilizadas no esquema eram, confessadamente, utilizados para efetuar o pagamento de propinas a terceiros. Ou seja, são, em verdade, recursos de terceiros que apenas transitam pelas contas das empresas como forma de dar aparência de legalidade ao esquema criminoso. Assim, o montante não pertence ao contribuinte e, também em razão disso, não pode compor o seu fluxo financeiro como origem/rendimentos na apuração do acréscimo patrimonial.
RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DEMONSTRAÇÃO DE INTERESSE COMUM NA SITUAÇÃO QUE CONSTITUA O FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. POSSIBILIDADE.
Deve ser incluída como responsável solidária empresa que tenha interesse comum na prática do ato que implicou na constituição do fato gerador da obrigação tributária.
Fica caracterizado o interesse comum o fato de empresa adquirir bens e/ou direitos com recursos oriundos da participação do contribuinte principal e suas empresas de fachada em fatos que culminaram no lançamento da obrigação principal, o qual envolve a operacionalização e o pagamento de vantagens indevidas. Ao adquirir os bens em nome da empresa apontada como responsável solidária, esta funciona como receptora dos bens do contribuinte principal, acumulando o seu patrimônio, o que revela o seu interesse comum, visto que foi ela quem efetivamente se beneficiou economicamente dos rendimentos que ensejaram o acréscimo patrimonial a descoberto.
Numero da decisão: 2201-004.778
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário.
(assinado digitalmente)
Carlos Alberto do Amaral Azeredo - Presidente.
(assinado digitalmente)
Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Daniel Melo Mendes Bezerra, Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim, Douglas Kakazu Kushiyama, Debora Fofano, Marcelo Milton da Silva Risso e Carlos Alberto do Amaral Azeredo (Presidente)
Nome do relator: RODRIGO MONTEIRO LOUREIRO AMORIM
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ACRESCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO Recorrente JULIO GERIN DE ALMEIDA CAMARGO Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Anocalendário: 2011 PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. LAVRATURA ANTES DE FINDAR O PRAZO PARA APRESENTAÇÃO DE INFORMAÇÕES. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO PARA A PARTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. Não importa em nulidade o fato da fiscalização lavrar o auto de infração quando em curso prazo para apresentação de documentos pelo contribuinte, sobretudo e especialmente porque a autoridade fiscal aponta que não houve nenhum prejuízo ao contribuinte já que não foram incluídos na autuação quaisquer valores ou fatos relacionados aos documentos cujo prazo para apresentação ainda estava em aberto. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. DEMONSTRAÇÃO DA PRÁTICA DE SONEGAÇÃO, FRAUDE OU CONLUIO. APLICABILIDADE. Ao verificar qualquer uma das ocorrências dos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64, é dever da autoridade lançadora aplicar a multa qualificada de 150%, devendo ser demonstrada, de forma inequívoca, a intenção dolosa do contribuinte na prática dos atos de sonegação, fraude ou conluio, tudo no intuito de impedir o conhecimento do fato gerador pela autoridade fazendária. IRRF. ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. ESQUEMA DE LAVAGEM DE DINHEIRO. DESCONSIDERAÇÃO DE VALORES COMO RECURSOS. POSSIBILIDADE. Na verificação do acréscimo patrimonial a descoberto, é possível a não consideração, como origem na planilha de fluxo mensal, dos lucros/dividendos advindos de empresas utilizadas em esquema fraudulento de lavagem de dinheiro e repasse de propinas. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 31 4. 72 27 50 /2 01 6- 21 Fl. 2301DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.286 2 Havendo a desvirtuação do propósito da empresa, as quais foram utilizadas com a finalidade de dar ares de legalidade às vantagens indevidas recebidas, os rendimentos por elas auferidos deixam de ser fruto do exercício de seus objetos sociais, mas sim fruto das atividades ilícitas praticadas por seu sócio. Se não há exploração de atividade econômica da empresa, nem tampouco exploração do seu patrimônio, não há como os rendimentos distribuídos serem materialmente considerados distribuição de lucros e dividendos. Não se pode classificar como lucros e dividendos, ainda que formalmente declarados a este título, os rendimentos obtidos através da prática criminosa. Ademais, os lucros/dividendos das empresas utilizadas no esquema eram, confessadamente, utilizados para efetuar o pagamento de propinas a terceiros. Ou seja, são, em verdade, recursos de terceiros que apenas transitam pelas contas das empresas como forma de dar aparência de legalidade ao esquema criminoso. Assim, o montante não pertence ao contribuinte e, também em razão disso, não pode compor o seu fluxo financeiro como origem/rendimentos na apuração do acréscimo patrimonial. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. DEMONSTRAÇÃO DE INTERESSE COMUM NA SITUAÇÃO QUE CONSTITUA O FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. POSSIBILIDADE. Deve ser incluída como responsável solidária empresa que tenha interesse comum na prática do ato que implicou na constituição do fato gerador da obrigação tributária. Fica caracterizado o interesse comum o fato de empresa adquirir bens e/ou direitos com recursos oriundos da participação do contribuinte principal e suas empresas de fachada em fatos que culminaram no lançamento da obrigação principal, o qual envolve a operacionalização e o pagamento de vantagens indevidas. Ao adquirir os bens em nome da empresa apontada como responsável solidária, esta funciona como receptora dos bens do contribuinte principal, acumulando o seu patrimônio, o que revela o seu interesse comum, visto que foi ela quem efetivamente se beneficiou economicamente dos rendimentos que ensejaram o acréscimo patrimonial a descoberto. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso voluntário. (assinado digitalmente) Carlos Alberto do Amaral Azeredo Presidente. (assinado digitalmente) Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim Relator. Fl. 2302DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.287 3 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Daniel Melo Mendes Bezerra, Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim, Douglas Kakazu Kushiyama, Debora Fofano, Marcelo Milton da Silva Risso e Carlos Alberto do Amaral Azeredo (Presidente) Relatório Cuidase de recurso voluntário de fls. 1800/1836, interposto contra decisão da DRJ em Belo Horizonte/MG, de fls. 1747/1786, a qual julgou procedente o lançamento de Imposto de Renda de Pessoa Física – IRPF de fls. 1413/1420, lavrado em 09/12/2016, relativo ao ano calendário de 2011, com ciência do RECORRENTE em 12/12/2016 conforme AR de fls. 1421. O crédito tributário objeto do presente processo administrativo foi apurado devido a acréscimo patrimonial a descoberto, gerando o crédito tributário no valor de R$ 20.604.069,31, já inclusos juros de mora (até o mês da lavratura) e multa de ofício qualificada de 150%. De acordo com o Termo de Verificação Fiscal de fls. 1367/1412, o procedimento de fiscalização foi fruto das investigações da “Operação Lava Jato”, em especial as informações disponibilizadas pelo próprio contribuinte nos Termos de Colaboração nº 1 a 8 (fls. 69/116), compartilhados pelo Ministério Público Federal com autorização do juízo da 13ª Vara Federal em Curitiba/PR, conforme despacho/decisão de fls. 66/68. Ainda de acordo com este documento, os documentos compartilhados não são mais sigilosos. Pois bem, nos termos da fiscalização, foi constatado durante a operação da Polícia Federal que o ora RECORRENTE, se valendo do trânsito junto a diversas diretorias da Petrobras (Abastecimento, Engenharia e Serviços, Internacional), operacionalizava pagamentos de propinas para dirigentes da Petrobrás, provenientes de empresas interessadas em participar na execução de obras da Estatal. De acordo com o TVF, quando as intermediações junto às diretorias da Petrobrás realizadas pelo fiscalizado resultavam em sucesso para empresa interessada, havia, na maioria dos casos, o pagamento de vantagens indevidas, exigidas por um seleto grupo de funcionários da estatal. A operacionalização do esquema era realizada através das empresas Treviso, Piemonte e Auguri, todas de propriedade do RECORRENTE, que viabilizavam o recebimento da contrapartida financeira pelas intermediações através de depósitos em contas correntes situadas no Brasil ou em bancos indicados pelos beneficiários no exterior. O TVF cita trecho do Termo de Colaboração nº 7 a fim de demonstrar como o RECORRENTE promovia as transferências de valores para o exterior objetivando a disponibilização de recursos financeiros destinados ao pagamento de vantagens indevidas, bem como utilizava de suas empresas para o mesmo fim: “... ‘QUE os recursos que o declarante remetia para a conta no CREDIT SUISSE eram decorrentes de contratos de consultoria firmado pelo declarante por intermédio de suas empresas Fl. 2303DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.288 4 AUGURI, TREVISO E PIEMONTE com consórcios e outras empresas contratadas pela PETROBRAS, conforme já relatado em termos anteriores; QUE no Brasil, o declarante realizava a distribuição de dividendos das empresas AUGURI, TREVIO E PIEMONTE, em favor de sua pessoa física, e, em seguida remetia os valores ao banco CREDIT SUISSE, a título de investimentos no exterior, mediante a formalização de contratos de câmbio: QUE utilizou a conta a conta no CREDIT SUISSE para efetuar pagamentos de propina em favor de RENATO DUQUE E PEDRO BARUSCO ...’ ... ‘QUE no ano de 2011, o declarante não estava mais contente como o atendimento do BANCO CREDIT SUISSE e os retornos de investimentos não estavam bons, razão pela qual encerrou a conta naquele banco e transferiu para o BANCO CRAMER, juntamente com os ativos; QUE as contas mantidas no BANCO CRAMER são as JULIO CAMARGO, PERSEMPRE, PIAMONT OLD, VOLARE E VIGELA ASSOCIA TED S.A.; QUE utilizou a conta VIGELA, salvo engano, para efetuar pagamentos de propinas; QUE efetuou pagamentos em favor da offshore HA1LEY, no BCP GENEVE — BANQUE DE COMMERCE ET PLACEMENTS, em Geneva, na Suiça, indicada por FERNANDO SOARES, em setembro/2011 e outubro, cada um no valor de US$ 500.000,00 dólares;...’” Além disso, a autoridade fiscal verificou, por meio da Declaração de Ajuste Anual do RECORRENTE relativa ao anocalendário 2011, o registro do recebimento de valores elevados de Rendimentos Isentos e Não Tributáveis, pagos pelas empresas Treviso, Piemonte e Auguri a título de distribuição de lucros/dividendos. A fiscalização entendeu que tal prática demonstra atividade de lavagem de capitais, já que as empresas, ao enviar os recursos aos sócios, estão “camuflando” os destinatários dos recursos lavados. Afirmou que a distribuição de lucros/dividendos representa a última das etapas do processo de lavagem de dinheiro, ao desconectar o pagamento das empreiteiras dos envios para os beneficiários dos pagamentos de vantagens indevidas, servindo também ao propósito de dificultar ou impedir o rastro financeiro destes valores. O modo de atuação do RECORRENTE na captação e pagamento das vantagens indevidas mediante a utilização de suas empresas encontrase relatado no TVF a partir das transcrições de trechos dos Termos de Colaboração firmados pelo RECORRENTE (fls. 1369/1372). Da leitura dos mencionados trechos dos Termos de Colaboração, é possível constatar que o RECORRENTE formalizava, por intermédio de suas empresas, um contrato de prestação de serviços com consórcios ou empresas contratadas pela Petrobrás, no qual era fixada uma comissão a ser paga caso houvesse sucesso na negociação. E esta comissão incluía os valores do RECORRENTE e um “ganho” a ser pago a dirigentes da própria Petrobrás. Como contrapartida pela operacionalização dos pagamentos indevidos a fiscalização entendeu que o RECORRENTE obtinha vantagens indevidas. Assim a DRJ em Belo Horizonte/MG resumiu o procedimento fiscal: A ação fiscal foi cientificada ao contribuinte em 15/2/2016, oportunidade em que foi solicitada a apresentação de diversos Fl. 2304DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.289 5 documentos listados nos itens 1.1 a 1.17 do Termo de Verificação Fiscal, fls. 1.373 e 1.374. Em 29/3/2016 foi emitido novo termo de intimação para que o contribuinte apresentasse documentos relativos às informações registradas nas abas Dívidas e Ônus Reais e Bens e Direitos da Declaração de Ajuste Anual, conforme fls. 1.377 a 1.380. Sobre o crédito que o fiscalizado tinha com Franco Clemente Pinto (já falecido) ele informou ter concedido um empréstimo àquele senhor para aquisição de um imóvel situado na Rua dos Pinheiros, 623, mas o mutuário não possuindo recursos para quitar a dívida deu o referido imóvel em pagamento e posteriormente houve sua incorporação às empresas da família do fiscalizado. A fiscalização refutou esta informação, pois o imóvel foi adquirido em 16/8/2011 pelo valor de R$440.000,00 pagos integralmente ao alienante Franco Clemente Pinto na data da lavratura da escritura pública, em moeda corrente nacional, cabendo à empresa Avanti Empreendimentos S/A o percentual de 50% do imóvel (R$220.00,00). Tal valor foi considerado como dispêndio no demonstrativo de variação patrimonial do contribuinte. Intimado a se manifestar sobre a data do aumento do valor de R$150.000,00 das quotas de capital da MRBC Acessórios Preciosos, declarado no ajuste anual do exercício 2013, ano calendário 2012, o contribuinte informou que na realidade os valores da planilha de fl. 1.381 são empréstimos ocorridos em 2011 e não adiantamento para futuro aumento de capital. A fiscalização contestou tal informação e que na realidade o total disponibilizado em 2011 foi de R$359.202,64 considerado como dispêndios no fluxo financeiro mensal. Ainda referente ao exercício 2013, anocalendário 2012 o contribuinte foi indagado sobre a data do adiantamento para futuro aumento de capital no Haras Old Friends Ltda, no montante de R$2.000.000,00. Os valores informados pelo contribuinte relativamente ao anocalendário 2011 constam em planilha na parte final da fl. 1.381 e totalizam R$175.745,89. Como na declaração de ajuste mencionada a situação em 31/12/2011 era de R$2,00, assim permanecendo também em 31/12/2012, o total de R$175.745,89 foi considerado como dispêndios no fluxo financeiro mensal. Sobre os rendimentos isentos e não tributáveis Júlio Camargo foi intimado a apresentar diversos documentos acerca Lucros e Dividendos percebidos nas empresas Treviso Empreendimentos Ltda, Piemonte Empreendimentos Ltda e Auguri Empreendimentos Ltda. Do exame do material disponibilizado a fiscalização asseverou que no caso de rendimentos isentos e não tributáveis, além da documentação ser insuficiente foi levado em consideração que o objeto social das empresas foi totalmente descaracterizado, pois nos termos de colaboração firmados pelo fiscalizado junto à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal foi possível Fl. 2305DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.290 6 constatar que o interessado participava de intermediações entre várias empresas e a Petrobrás e que os contratos somente eram viabilizados com o pagamento de propinas, o que era da ciência das empresas contratantes. Prossegue a fiscalização com a informação de que em muitos casos em que o fiscalizado atuou como intermediário, ficou acertado que os recursos para pagamento das vantagens indevidas a funcionários da Petrobrás tiveram origem nas “comissões” recebidas, por meio de contratos de consultoria firmados por suas empresas. Os pagamentos das vantagens indevidas eram operacionalizados por meio de transferências de numerário para o exterior com a utilização de contas correntes do fiscalizado. Outra forma de disponibilização dos recursos envolvia a atuação em conjunto com as empresas de fachada de Alberto Youssef. As empresas do contribuinte também foram utilizadas nas práticas que demonstram atividades de lavagem de capitais, enviando recursos aos sócios, camuflando os destinatários dos recursos. Neste ponto os autuantes afirmam que a distribuição de lucros representa a última das etapas do processo de lavagem de dinheiro, ao desconectar o pagamento das empreiteiras dos envios para os beneficiários das propinas. Os autuantes citam o fato de que em uma das contratações pela Petrobrás, a empresa SAMSUNG forneceu sondas para águas profundas (uma na África e outra no Golfo do México). Nesta operação ficou acertado o pagamento de propinas no montante de U$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de dólares). A intermediação promovida pelo fiscalizado envolveu a empresa Piemonte Empreendimentos Ltda, contratada pela SAMSUNG para viabilizar o contrato junto à Petrobrás. A indicação do negócio foi de Fernando Soares que atuava na área internacional da estatal. Na contratação da primeira sonda foi exigida propina de U$15.000.000,00 e na segunda outros U$25.000.000,00, perfazendo os U$40.000.000,00. Os autuantes asseveram que o suposto contrato de consultoria foi acertado após reunião com os representantes da SAMSUNG, oportunidade em que ficou consignado o valor de U$53.000.000,00, sendo U$40.000.000,00 para pagamento de propinas e U$13.000.000,00 de “comissões”. Entende a fiscalização que a intermediação de Júlio Camargo com a utilização da Piemonte Empreendimentos evidencia o emprego das empresas das quais é sócio, por meio de utilização simulada de contratos de consultoria para mascarar o esquema de pagamento de propinas exigidas. E neste contexto, os valores representados pelos rendimentos isentos declarados, lucros e dividendos, não foram considerados como recursos no Demonstrativo de Variação Patrimonial, pois os objetos sociais das empresas, quando desviados para atender Fl. 2306DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.291 7 a esquemas criminosos não poderiam ser utilizados para dar caráter de legalidade aos valores auferidos. Ainda sobre esse episódio envolvendo a contratação das sondas de perfuração, a fiscalização relata que em função de inadimplência da SAMSUNG relativamente ao contrato firmado com a Piemonte Empreendimentos Ltda, o fiscalizado valeuse de recursos próprios para fomentar o pagamento de propinas. No relatório fiscal há a transcrição de parte do depoimento de Júlio Camargo no qual ele diz que a última parte do pagamento de comissão em função da contratação das sondas (duas parcelas de U$6,25 milhões de dólares) não foi paga pela Samsung e como havia compromisso no pagamento de propina no total de U$40.000.000,00 ele ficou em posição de liquidez negativa no exterior. A narrativa fiscal prossegue com a informação segundo a qual o fiscalizado relatou a Alberto Youssef que precisaria saldar compromissos com Fernando Soares e que tinha liquidez no Brasil. Por sua vez Youssef teria sugerido que ele fizesse aporte na GFD Investimentos, empresa do doleiro, oportunidade em que foram formalizados contratos simulados entre as empresas de Júlio Camargo e a GFD nos valores de R$8.730.915,57 (Piemonte), R$1.850.000,00 (Treviso) e R$1.150.000,00 (Auguri). Foram solicitados documentos comprobatórios dessas operações. Como havia pendências a serem saldadas com Fernando Soares, Júlio Camargo afirmou ter repassado às empresas indicadas pelo credor, Techinis Engenharia e Consultoria, R$700.000,00 e Hawk Eyes Administração de Bens, R$2.600.000,00. A documentação pertinente a essas operações foi solicitada. Ainda foram solicitadas provas dos pagamentos efetuados no exterior, cada um no valor de US$500.000,00 saídos da conta corrente mantida no exterior no Banco Cramer, bem como comprovação dos valores remetidos ao exterior sob a rubrica investimentos no exterior mediante contratos de câmbio firmados pelas empresas Treviso (US$1.535.985,96) e Piemonte (US$1.538.422,91), com detalhamento da operação envolvendo as contas dessas empresas no Banco Merrill Lynch e a Offshore DEVONSHIRE de Alberto Youssef. Às fls. 1.387 e 1.388 foram relacionados créditos recebidos em diversas operações bancárias, sobre os quais o contribuinte foi intimado a demonstrar a documentação hábil e idônea relacionada a eles. Também foi solicitada a documentação que demonstre o relacionamento comercial com Elaine Cristina de Araújo Pinheiro – ME. A partir da segunda metade da fl. 1.388 os autuantes descrevem a documentação apresentada pelo contribuinte em relação aos fatos narrados anteriormente. Fl. 2307DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.292 8 Em outro relato que detalha o pagamento de vantagens indevidas originadas de contratos de sondas para águas profundas no Golfo do México e na África, fabricadas pela SAMSUNG, a fiscalização informa que o próprio fiscalizado no Termo de Colaboração nº 4 mencionou que a documentação apresentada em 28/9/2016 teve o intuito de dar aparente legalidade aos negócios realizados de forma escusa. Sobre o envolvimento das empresas GFD, Technis e Hawk Eyes foram solicitados documentos com a discriminação de valores e datas dos pagamentos e vantagens indevidas com a indicação da origem. Tais valores foram discriminados às fls. 1.390 e 1.391. Prosseguem os autuantes com a afirmação de que os recursos financeiros que culminaram no pagamento das vantagens indevidas teriam sido obtidos à margem da legislação. Os métodos utilizados pelo fiscalizado para saldar propinas em atraso o levou a lançar mão de recursos próprios e de suas empresas. Os valores despendidos para tais práticas foram registrados no Demonstrativo de Variação Patrimonial como dispêndios/aplicações no anocalendário 2011. Na sequência do relato fiscal foram examinadas várias operações bancárias envolvendo crédito na conta do contribuinte no Banco Santander via contratos de câmbio operacionalizados pelas empresas de sua titularidade. Tais informações constam das fls. 1.391 a 1.393. A fiscalização em tópico específico informa que durante o ano de 2011 a empresa Avanti Empreendimentos S/A adquiriu bens/direitos, como atendeu as obrigações decorrentes de aquisições efetivadas em anos anteriores. Em decorrência desses fatos foi intimada em procedimento fiscal próprio a esclarecer sobre aquisição de bens imóveis, de veículos automotores, aeronaves e embarcações e a origem de recursos. Do exame dos documentos apresentados à fiscalização verificou que o relacionamento de Júlio Camargo com a Avanti Empreendimentos S/A teve início em 6/10/2005, quando ocorreu a exclusão dos sócios, Hélio Ferraz de Almeida Camargo e Lúcia Maria Gerin de Almeida Camargo, com a inclusão de Júlio Belardi de Almeida Camargo e Roberta Belardi de Almeida Camargo, filhos do fiscalizado. A empresa vem apresentando como foco e objetivo administrar o patrimônio familiar. Os bens representados pelos veículos, embarcações, aeronaves e bens imóveis foram ou são adquiridos em nome da Avanti, sendo que o fiscalizado operou econômica e financeiramente nas aquisições, por meio de suas empresas fornecendo os recursos financeiros necessários. No Demonstrativo de Variação Patrimonial os valores que o fiscalizado efetivamente colocou à disposição da Avanti foram registrados como dispêndios/aplicações. Fl. 2308DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.293 9 Foi utilizada a nomenclatura de bens para facilitar o entendimento da operação. Os bens não são de propriedade do fiscalizado, mas os recursos financeiros utilizados para sua aquisição decorrem de suas empresas. São valores disponibilizados que decorrem de operações ilícitas, consignadas como recebimento de “comissões” oriundas de intermediações de contratos onde o foco estava em administrar e operacionalizar o pagamento de vantagens indevidas. Com foco no artigo 124, I do Código Tributário Nacional, foi atribuída responsabilidade solidária a Avanti Empreendimentos S/A, com base no interesse comum na situação que constitui o fato gerador da obrigação tributária discutidas nos autos. Dos fatos envolvendo a Avanti os autuantes ainda detalham que a empresa vem funcionando como receptora dos bens de Júlio Camargo e família. Os recursos financeiros utilizados na formação do patrimônio familiar e sua administração foram obtidos por meio de participação ativa do fiscalizado e suas empresas de fachada no esquema criminoso montado nas diretorias da Petrobrás. Esta participação foi facilitada pelo trânsito e contatos junto a diretores e gerentes da estatal que consistia nas intermediações e negociações envolvendo os interessados no fornecimento e na execução de obras. Quando essas contratações resultavam em sucesso era incluído o pagamento de vantagens indevidas exigidas pelos agentes criminosos. O contribuinte e suas empresas atuavam na captação e nos pagamentos destas vantagens, concretizando as demandas e disponibilizando os valores no Brasil e no exterior. Os benefícios advindos desta prática possibilitaram a obtenção dos recursos financeiros, utilizados inclusive, para aquisição de bens conforme relatado no item que tratou da Avanti. No entendimento da fiscalização os valores recebidos por Júlio Camargo com a utilização de suas empresas de fachada propiciaram a aquisição de bens ou que causaram reflexos nos gastos ocorridos durante o ano de 2011, conforme demonstrado nas fls. 1.399 e 1.400, onde são descritos valores referentes ao prédio situado na rua dos Pinheiros, 623, valor R$220.000,00, imóvel referente ao Conjunto 62, Torre 2, situado na Av. Magalhães de Castro, Aeronave Cessna 560 XL, imóvel referente à fração ideal de área de 67 hectares, situado na rodovia General Artigas, em Bagé/RS. Esses fatos reforçam que Júlio Camargo e a Avanti Empreendimentos S/A infringiram disposições legais e tiveram interesse comum nas situações que constituíram os fatos geradores das obrigações tratadas no Termo de Verificação Fiscal. Conforme tabela de fl. 1.401 foi sintetizado o Demonstrativo de Variação Patrimonial a Descoberto nos meses de janeiro a dezembro de 2011 e que totalizou a importância de R$25.074.787,05. O demonstrativo de forma detalhada foi acostado às fls. 1.404 a 1.412. Fl. 2309DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.294 10 A multa de ofício foi aplicada com fundamento no artigo 44, § 1º da Lei 9.430/96 no percentual de 150% sobre o imposto apurado por estarem presentes os casos definidos nos artigos 71 a 73 da Lei 4.502/64. Da Impugnação O RECORRENTE apresentou sua Impugnação de fls. 1433/1468 em 5/1/2016. Ante a clareza e precisão didática do resumo da Impugnação elaborada pela DRJ em Belo Horizonte/MG, adotase, ipsis litteris, tal trecho para compor parte do presente relatório: Cientificado do lançamento o contribuinte e a empresa Avanti Empreendimentos S/A, sujeito passivo solidário, por intermédio de advogados, aviaram a impugnação de fls. 1.433 a 1.468, acompanhada de documentação. 1. Argumenta que a maior nulidade dos autos é a acusação de que teria havido lavagem de capitais que no mérito deu ensejo a um verdadeiro arbitramento, sem amparo na lei, ao arrepio da renda já declarada e oferecida à tributação; 1.1. A fiscalização solicitou inúmeros documentos e informações e chegou a definir prazo adicional de 20 dias para o atendimento complementar. Entende que houve nulidade porque o prazo ainda não havia vencido quando os autuantes lavraram o auto de infração; 1.2. Destaca que no Termo de Colaboração nº 1 Júlio Camargo, a propósito da obra da Refinaria REVAP, explicitou que as empresas integrantes do Consórcio ECOVAP não tinham conhecimento dos pagamentos indevidos exigidos pelos funcionários da Petrobrás, o mesmo tendo ocorrido no tocante à obra da Refinaria REPAR. 1.3. Diferentemente do que concluiu a fiscalização, a defesa informa que o contribuinte não recebia comissões através de suas empresas com o propósito exclusivo de repassar integralmente tais valores a agentes públicos e funcionários da estatal a título de vantagens indevidas. Os clientes das empresas do impugnante nem sempre sabiam do pagamento das vantagens indevidas; 1.4. Remete ao Termo de Verificação Fiscal para demonstrar que no caso da REVAP, a empresa Treviso recebeu comissão de R$40 milhões e desse total efetuou pagamento de vantagens indevidas da ordem de R$12 milhões, apenas 30% da comissão total recebida. Assevera que nem sempre os clientes das empresas do contribuinte sabiam de tais pagamentos e quando eram pagas não representavam parcela relevante das comissões; 1.5. Embora não negue que tenha existido pagamento de vantagens indevidas não pode haver lavagem de dinheiro na situação em que a Treviso recebe comissões licitamente contratadas e oferece comissões inteiramente à tributação, para Fl. 2310DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.295 11 só então pagar uma vantagem indevida de 30% do que recebeu. Discorda que no Processo Administrativo Fiscal seja o foro adequado para se discutir o tipo penal da lavagem de dinheiro, até porque não está em jogo saber se houve ou não o referido ilícito; 1.6. Pondera a defesa que a origem de recursos é sempre lícita (comissões contratadas com as empresas do impugnante), com os recursos inteiramente oferecidos à tributação por cada pessoa jurídica beneficiária. Não seriam os recursos provenientes de pagamento de propina, embora parte deles tenha sido utilizada, em operação subsequente para o oferecimento de vantagens indevidas; 2. A peça impugnatória prossegue com o argumento segundo o qual não há base legal para se desconsiderar a renda declarada do contribuinte na hipótese de acréscimo patrimonial a descoberto; 2.1. A fiscalização teria ignorado que as empresas de Júlio Camargo tinham atividades próprias, partindo do pressuposto de que serviam somente com o rito de passagem de toda a verba destinada aos pagamentos indevidos; 2.2. Reclama que os comandos normativos indicados pela fiscalização são insuficientes para justificar a autuação na forma como foi proposta, visto que a exigência aqui discutida não se resume a uma identificação regular de acréscimo patrimonial a descoberto. A fiscalização teria arbitrado os valores apontados como dispêndios, atribuindoos ao impugnante e ignorou a maior parte dos rendimentos declarados sem sequer indicar o fundamento legal para tal procedimento; 2.3. Insurgese contra os cálculos da fiscalização porque todos os dispêndios e pagamentos, independente de quem os realizou, foram atribuídos ao contribuinte e, para fins de comprovação da origem dos recursos foi excluída quase a totalidade dos rendimentos declarados; 2.4. As nulidades do auto de infração conduzem à preterição do direito de defesa, ofensa ao artigo 59, II do Decreto 70.235/72. A primeira delas seria o fato de não haver no auto de infração o dispositivo que autorize o fisco simplesmente ignorar os rendimentos declarados do contribuinte. Os dispositivos normativos citados no auto de infração demonstram que a fiscalização não pode, neste tipo de lançamento, deixar de considerar os rendimentos declarados e comprovados do contribuinte; 2.5. Socorrese do inciso XIII do artigo 55 do Regulamento do Imposto de Renda para advertir que dentre os rendimentos tributáveis são consideradas as quantias correspondentes ao acréscimo patrimonial da pessoa física, apurado mensalmente, quando o acréscimo não for justificado pelos rendimentos tributáveis, não tributáveis, tributáveis exclusivamente na fonte ou objeto de tributação definitiva; Fl. 2311DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.296 12 2.6. Cita também os 806 e 807 do RIR/99 para afirmar que todos os comandos normativos reforçam a ideia de que o acréscimo patrimonial a descoberto cai por terra se os rendimentos declarados pelo contribuinte, incluídos os isentos e não tributáveis, são suficientes para justificar o aumento de patrimônio e nenhum outro dispositivo autoriza um arbitramento nos moldes levados a efeito na exigência fiscal; 2.7. Ainda que tivesse havido lavagem de capitais, por meio de distribuição de lucros das empresas para Júlio Camargo, desafia o órgão julgador a identificar em nosso ordenamento jurídico algum dispositivo legal que permita ao agente fazendário, só com base nessa premissa, desprezar os rendimentos declarados pelo contribuinte, para fins do lançamento do imposto de renda sobre acréscimo patrimonial a descoberto; 2.8. Não havendo a indicação do dispositivo legal que autorize o arbitramento se torna inviável o pleno exercício do direito de defesa porque não tem como dizer em que medida a postura do agente fiscal condiz com os termos dos artigos 55, XIII, 806 e 807 do RIR/99; 2.9. Também alega que o fisco deixou de indicar quais os comandos legais que permitiram atribuir isoladamente ao impugnante todos os pagamentos e dispêndios arrolados nos cálculos. Diz ser certo que Júlio Camargo promoveu transferências de recursos para o exterior e não nega que em alguns casos tais transferências tenham servido para o pagamento de vantagens indevidas apuradas no âmbito da “Operação Lava Jato”, todas, aliás, confessadas claramente no termo de colaboração premiada assinado pelo impugnante; 2.10. Reclama que para além de alguns pagamentos indevidos a fiscalização também computou como dispêndios, nos seus cálculos para apuração do acréscimo patrimonial, inúmeros outros pagamentos que não guardam pertinência com as vantagens indevidas aqui discutidas; 2.11. Pontua que os pagamentos feitos em 2011 pela Treviso a MRBC Acessórios Preciosos, a título de empréstimo, no valor de R$359.902,64, pág. 15 do TVF, não são pagamentos feitos pelo próprio contribuinte de modo que não podem ser a ele imputados. Tais valores passam ao largo dos pagamentos de vantagens indevidas de que cuida a “Operação Lava Jato”, pois os valores foram destinados à empresa pertencente à esposa do impugnante e naquela pessoa jurídica foi utilizado, o mesmo tendo ocorrido com os pagamentos feitos ao Haras Old Friends no montante de R$175.745,89; 2.12. Repisa que em tais casos não há sequer indícios de pagamento de vantagens indevidas que a fiscalização apontou como suficientes para justificar a autuação, mas no que interessa à nulidade discutida neste capítulo os autuantes deixaram de indicar os comandos normativos que autorizam imputar esses pagamentos a Júlio Camargo em clara preterição do direito de defesa; Fl. 2312DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.297 13 2.13. A defesa ainda sustenta que a exigência da multa agravada (sic) de 150% se deu não porque tenha ficado demonstrado uma efetiva infração aos comandos legais que a autorizam, mas simplesmente porque com esse artifício o lançamento poderia abarcar o anocalendário 2011 já atingido pela decadência em dezembro de 2016; 2.14. No Termo de Verificação Fiscal o campo destinado ao enquadramento legal não aponta nem mesmo os comandos da Lei 4.502/64, artigos 71 a 73 que preveem os crimes de sonegação em face dos quais estaria autorizada a multa. A fiscalização, de maneira muito rápida mencionou os dispositivos, mas não demonstrou a ocorrência da infração a eles. 2.15. Afirma não acreditar que acaso tivesse uma ação deliberada para impedir o fisco de tomar conhecimento de fatos geradores, a receita auferida pelas empresas teria sido integralmente oferecida à tributação nas pessoas jurídicas. Rebate a existência de dolo, pois houve o pagamento de tributos pelas pessoas jurídicas, comportamento muito diferente daquele que caracteriza a sonegação; 2.16. Argumenta que a fiscalização deveria ter sido estendida às pessoas jurídicas das quais o contribuinte é sócio de forma a analisar livros e documentos daquelas empresas para demonstrar a viabilidade da acusação de desvio de finalidade; 2.17. Informa que está apresentando as certidões negativas das empresas para demonstrar a inexistência de pendências, bem como as DIPJ para que sejam extirpadas todas e quaisquer dúvidas sobre o oferecimento integral da receita à tributação; 2.18. Como não houve fiscalização nas empresas, o que era dever dos autuantes e tendo em vista os documentos juntados que comprovam o oferecimento das receitas à tributação, não se pode falar em dolo para justificar o agravamento da penalidade; 2.19. Cita a Súmula 25 do Carf para afirmar que a presunção legal de omissão de receitas ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da penalidade; 2.20. Adentra no estudo da decadência quinquenal para asseverar que como previsto no § 4º do artigo 150 do Código Tributário Nacional os fatos geradores ocorridos no ano calendário 2011 já não mais poderiam ser objeto de lançamento e ainda que fosse mantida a tese de ocorrência de crime (acusação de dolo) o cômputo do prazo decadencial somente ocorreria em 2012 e o prazo para o lançamento do ano calendário 2011 encerraria em 1/1/2017; 2.21. Acrescenta que a declaração do anocalendário 2011 já apontava pagamento parcial (imposto a pagar de R$122,75) que foi quitado em quota única e que o contribuinte obteve em 2013 certidão negativa. Comprovado o pagamento parcial e diante da inexistência de dolo, fraude ou simulação, já se operou a homologação tácita fazendária; Fl. 2313DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.298 14 3. Sobre o lançamento em si aduz não haver acréscimo patrimonial a descoberto, seja pela renda declarada, seja pela disponibilidade de numerário no início do anocalendário e ainda pelo erro na identificação do sujeito passivo; 3.1. Os artigos 55, XIII, 806 e 807 do RIR/99 se por um lado não contemplam na modalidade ali prevista, uma autorização para que o fisco arbitre a renda o impute ao contribuinte pagamentos feitos por terceiros, ainda assim asseguram objetivamente ao contribuinte justificar o acréscimo patrimonial com rendimentos tributáveis ou não, declarados ao fisco; 3.2. O impugnante Júlio Camargo declarou no anocalendário 2011 rendimentos tributáveis de R$36.565,32, bem como rendimentos isentos de R$20.490.206,52 e rendimentos sujeitos à tributação exclusiva de R$2.423.609,76, perfazendo uma renda total de R$22.950.381,60. O fisco desprezou os rendimentos isentos, montante suficiente para reduzir dramaticamente a apuração de acréscimo patrimonial a descoberto; 3.3. Como vem decidindo o CARF, devem ser considerados como origens de recursos na análise da evolução patrimonial os rendimentos isentos e não tributáveis relativos à distribuição de lucros pagos por pessoas jurídicas. A fiscalização ignorou os informes de rendimentos apresentados pelo contribuinte e não apontou qualquer comando legal que autorizasse esse procedimento; 3.4. A fiscalização jamais questionou aspectos formais dos informes de rendimentos e tampouco examinou a escrita contábil e fiscal das fontes pagadoras. A recusa fazendária teve amparo exclusivamente na tese de que os valores percebidos pelas fontes pagadoras e repassados sob a forma de lucros ao impugnante teriam sido objeto de lavagem de capitais. As empresas das quais o contribuinte recebeu os lucros sequer foram examinadas no procedimento fiscal, tendo em vista que sua escrituração contábil não foi desclassificada; 3.5. Continua suas alegações afirmando que se o fisco não impugnou a escrita fiscal e contábil das empresas, presumese que os lucros por elas distribuídos sejam compatíveis com a renda por elas auferidas; 3.6. Mira no artigo 674 do RIR/99 para asseverar que não poderia o fisco ter desconsiderado, simplesmente, os lucros pagos ao sócio. Em não admitindo essa natureza jurídica aos lucros, caberia o lançamento de imposto na fonte sem causa; 3.7. Alega não ser correta a imputação de todos os pagamentos a Júlio Camargo, como fizeram os autuantes, pois os pagamentos apurados pelo fisco não foram todos feitos pelo impugnante e nessa condição não podem ser computados como acréscimo patrimonial descoberto; 3.8. Além dos pagamentos já mencionados realizados pela TREVISO e pela PIEMONTE a MRBC e ao HARAS, os Fl. 2314DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.299 15 pagamentos à GFD Investimentos, à Technis e à Hawk Eyes também não foram feitos por Júlio Camargo; 3.9. Insiste que não é possível o contribuinte justificar com seus próprios rendimentos declarados ao fisco, toda a movimentação financeira feita pelas empresas das quais é sócio, pois são elas as titulares das contas bancárias que movimentam e é em face dos rendimentos por elas declarados que deve ser averiguado eventual acréscimo patrimonial; 3.10. Sobre a AVANTI os dispêndios que fez na aquisição de bens contabilizados em seu ativo circulante encontram justificativa e origem no patrimônio e na renda que aquela pessoa jurídica declarou ao fisco, não havendo motivos para que a fiscalização confunda aqueles elementos com o patrimônio e a renda do impugnante; 3.11. Ainda que os bens do ativo da AVANTI possam se usufruídos pelos familiares do impugnante, isso por si não é ilegal e sequer permite deduzir ter havido um prejuízo ao erário. A empresa possui recursos próprios e renda declarada perfeitamente compatível com o patrimônio por ela adquirido e é em face dela que o fisco deve fazer a investigação de compatibilidade entre ingressos e dispêndios; 3.12. Em razão de ter havido a devolução de recursos a defesa cita o Parecer Normativo Cosit nº 5/1995 e afirma que sendo mantido o acréscimo patrimonial a descoberto é preciso reconhecer que por força do acordo de colaboração premiada o impugnante se comprometeu a devolver aos cofres públicos elevada quantia, que embute os valores correspondentes aos pagamentos e vantagens indevidas; 3.13. Ao devolver aos cofres públicos os pagamentos de vantagens indevidas, o impugnante deixa de apresentar capacidade contributiva para a apuração de acréscimo patrimonial a descoberto. Tratase, em última análise, do estorno daqueles pagamentos indevidos, no que eles deixam de existir, consumindo também os efeitos tributários que deles poderiam decorrer; 4. Sobre o apontamento da AVANTI Empreendimentos como corresponsável pelo débito apurado a acusação fiscal decorre de uma ilação bastante frágil, ao apontar que as empresas TREVISO, PIEMONTE E AUGURI forneceram recursos utilizados pela AVANTI para os pagamentos e dispêndios relacionados aos bens e direitos por ela adquiridos. Além disso, cita o item 31 do TVF para apontar que não há nexo causal entre a exigência do IRPF por conta de acréscimo patrimonial a descoberto e a circunstância de as empresas de Júlio Camargo terem fornecido recursos para que a AVANTI adquirisse bens e direitos; 4.1. Ensina que o direito brasileiro permite que empresas pertencentes a uma mesma pessoa física ou a um só grupo familiar emprestem recursos a outra. O Parecer Normativo CST Fl. 2315DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.300 16 23/83 até impõe o tratamento de mútuo, entre empresas coligadas, ainda que não haja contrato escrito. O artigo 243 § º do RIR/99, não apenas permite esse fluxo de recursos de uma empresa para outra a ela vinculada, como também estipula que para fins fiscais deverá haver o reconhecimento de uma receita financeira mínima; 4.2. Diz não haver em vigor norma que proíba a pessoa física de constituir uma sociedade ou utilizarse de uma já existente para aportar seus bens pessoais e concentrar seu patrimônio em uma pessoa jurídica, no que convencionou chamar de holding familiar. Mas para casos de abuso é preciso que seja feita a desconsideração da personalidade jurídica com base em decisão judicial, o que não foi feito pela fiscalização. Não pode o fisco, sem decisão judicial, desconsiderar a personalidade jurídica e atribuir ao sócio o patrimônio existente na sociedade; 4.3. A autoridade fazendária parece ter desenvolvido uma linha de raciocínio em que atribui o patrimônio da AVANTI ao impugnante só por acreditar que este usufrui de tal patrimônio, e nesse caso o lançamento tributário não pode ser feito com amparo no acréscimo patrimonial a descoberto e sim se poderia falar em sinais exteriores de riqueza em virtude da posse e propriedade de bens. Ainda assim o contribuinte poderia comprovar que possui renda compatível com seu patrimônio; 4.4. Argumenta a defesa que a fiscalização não comprovou em que medida a AVANTI efetivamente praticou atos tendentes à suposta lavagem de capitais. Como esse teria sido o motivo da apuração de acréscimo patrimonial a descoberto, se a AVANTI não é responsável pela prática de atos que configuram a lavagem, também não pode ser responsabilizada pelo imposto apurado contra o impugnante; 4.5. Nem mesmo o artigo 124 do CTN socorre a tese fazendária. É que o Superior Tribunal de Justiça já decidiu, em sede de recursos repetitivos, que o artigo 124 não é suficiente para que haja responsabilidade solidária em matéria tributária, sendo imprescindível que haja também, um comando legal específico atribuindo tal responsabilidade numa situação concreta. Esta interpretação deve prevalecer igualmente na esfera administrativa por se tratar de temática decidida em recursos repetitivos, por força do artigo 64A do Regimento Interno do CARF; 4.6. A AVANTI e Júlio Camargo não têm interesse comum na situação que constitui fato gerador. O impugnante é estranho ao quadro societário daquela pessoa jurídica, muito embora seus filhos sejam controladores na atualidade e não há nos autos nenhuma prova de que os recursos financeiros utilizados na formação do patrimônio familiar foram obtidos através da participação ativa do contribuinte; 4.7. Ainda que a AVANTI tivesse participação nos atos e negócios que especificamente deram origem à hipotética Fl. 2316DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.301 17 lavagem de capitais, essa responsabilidade deveria encontrar fundamento no artigo 134 ou no 135 do CTN; 5. Ao final pugna pelo cancelamento da exigência fiscal. Da Decisão da DRJ Conforme já exposto, a DRJ de origem julgou improcedente a impugnação. Transcrevo abaixo a ementa do acórdão de fls. 1747/1786. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Exercício: 2012 PRELIMINAR DE NULIDADE. FUNDAMENTAÇÃO LEGAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. São improcedentes as alegações de nulidade calcadas em erro na fundamentação legal do lançamento quando a fiscalização deixa de considerar rendimentos isentos e não tributáveis declarados pelo contribuinte, justamente porque no procedimento fiscal foram identificados elementos suficientes para tal desconsideração. Descabido é o argumento de cerceamento do direito de defesa em fase procedimental em que impera o principio inquisitório no qual a pretensão fiscal ainda não está consolidada. Quando o sujeito passivo apresenta impugnação e revela conhecimento sobre as imputações que lhe são feitas e os elementos nas quais se baseiam é afastada a alegação de cerceamento do direito de defesa. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Exercício: 2012 DECADÊNCIA. PRAZO PARA CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO OU PAGAMENTO PARCIAL. DOLO. SIMULAÇÃO. DATA DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR DO IMPOSTO DE RENDA. Tratandose de lançamento de ofício, motivado pela falta de recolhimento total ou parcial do tributo, a regra aplicável na contagem do prazo decadencial é estabelecida pelo artigo 173, I, do Código Tributário Nacional, iniciandose a contagem a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Constatada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, a regra do artigo 173, I deve sempre ser aplicada. Fl. 2317DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.302 18 Ainda que se considere o pagamento parcial do tributo, o fato gerador do imposto de renda somente se completa no dia 31 de dezembro de cada anocalendário. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INTERESSE COMUM. São solidariamente obrigadas as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação tributária. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2012 ACRÉSCIMO PATRIMONIAL A DESCOBERTO. São tributáveis os valores relativos ao acréscimo patrimonial quando não justificados pelos rendimentos tributáveis, isentos/não tributáveis, tributáveis exclusivamente na fonte ou objeto de tributação definitiva. COLABORAÇÃO PREMIADA. DEVOLUÇÃO AO ERÁRIO DE VALORES OBTIDOS ILICITAMENTE. MOMENTO DE OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. O fato gerador do imposto de renda ocorre no momento da aquisição de renda e não quando da devolução de valores correspondentes ao produto do ilícito praticado que é um efeito da condenação penal. SONEGAÇÃO. DOLO. HIPÓTESE DE APLICAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. Comprovado que o contribuinte agiu de forma dolosa com o objetivo de ocultar do fisco o real valor do imposto devido é cabível a multa de ofício qualificada aplicada sobre o imposto apurado no lançamento. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Quanto às nulidades alegadas, quais sejam, (i) o encerramento prematuro da fiscalização (com lavratura do auto de infração); (ii) a incompetência da seara tributária para discutir as acusações de lavagem de capitais; e (iii) a ausência de dispositivos que autorizem o fisco a desconsiderar os rendimentos isentos e não tributáveis, em síntese assim entendeu a DRJ: (i) A fase processual do procedimento fiscalizatório apenas se inicia com a apresentação da defesa pelo contribuinte. Até lá, o processo administrativo é inquisitório e tem finalidade instrutória. Ademais, não houve qualquer violação, pois o contribuinte poderia apresentar novos documentos até o protocolo da impugnação. (ii) Não foi a fiscalização que acusou o Sr. Júlio Camargo dos crimes de lavagem de dinheiro, como tenta imputar a defesa. A acusação foi feita pelo Ministério Público Fl. 2318DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.303 19 Federal e confirmada por sentença judicial. Por ser um fato relevante, não poderia a fiscalização deixar de mencionalo, uma vez que o crime tem relação direta com o objeto da autuação fiscal. (iii) Os rendimentos isentos e não tributáveis não foram desconsiderados. Em verdade, ante a ocorrência de crime contra a ordem econômica, houve a reclassificação dos rendimentos declarados como nãotributáveis para rendimentos tributáveis, conduta autorizada pelo ordenamento jurídico pátrio e respaldada na legislação (arts. 37, 38, 55, inciso XIII, e parágrafo único, 83, 806, 807 e 845, todos do Regulamento do Imposto de Renda RIR, aprovado pelo Decreto nº 3.000, de 1.999.) Quanto a decadência, entendeu a DRJ que, ante a ausência de recolhimento antecipado, o prazo decadencial deve ser contado de acordo com as regras do art. 173, I do CTN e não do artigo 150, §4º. Desta forma, considerando que o fato gerador do imposto de renda aconteceu no dia 31/12/2011, e que o termo inicial do prazo decadencial é o primeiro dia do exercício seguinte àquele que o tributo poderia ser lançado, apenas iniciase a contagem do prazo quinquenal decadencial em 1/1/2013. Considerando que o contribuinte foi cientificado em 12/12/2016, não há que se falar em decadência. No mérito, entendeu que houve desvirtuação do objeto social das empresas, cujo objetivo real era “dar ares de legalidade às vantagens indevidas recebidas pelo contribuinte e posteriormente utilizadas no pagamento aos funcionários da Petrobrás.”. Desta forma, agiu corretamente a fiscalização ao não considerar como isentos de tributação parcela dos valores distribuídos como lucros e dividendos das empresas investigadas. Também no mérito, compreendeu que “nos termos da legislação que rege o lançamento com base em acréscimo patrimonial a descoberto todo dispêndio que ficar vinculado ao contribuinte deve ser considerado aplicação em cada mês do anocalendário”, portanto válido o lançamento dos rendimentos que transitaram por suas pessoas jurídicas para a aquisição de bens e pagamentos de propinas aos funcionários da estatal. Ademais, a DRJ destacou que o acordo firmado pelo RECORRENTE para devolver aos cofres públicos a quantia oriunda de vantagens indevidas não tem reflexos na seara tributária, a medida em que o fato gerador da obrigação tributária surgiu com o acréscimo patrimonial indevido e o eventual estorno não tem o condão de fazer “desaparecer” o fato gerador já ocorrido. Portanto plenamente válida à tributação. Acerca da sujeição passiva solidária entendeu que a empresa Avanti Empreendimentos S/A participou na ocorrência dos fatos geradores, havendo interesse comum entre as partes. Deste modo, correta a inclusão como responsável solidária nos termos do art. 124 do CTN. Do Recurso Voluntário O RECORRENTE, devidamente intimado da decisão da DRJ em 7/11/2017, conforme termo de abertura de documento de fls. 1794, apresentou o recurso voluntário de fls. 1800/1836 em 7/12/2017, conforme termo de solicitação de juntada de fls. 1797. Em suas razões de recurso, o RECORRENTE reiterou o alegado em sua Impugnação. Fl. 2319DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.304 20 Da Petição Inominada Por fim, em 24/7/2018, o RECORRENTE juntou aos autos petição inominada de fls. 2287/2293, alegando a ocorrência de fato novo, qual seja, a superveniência de decisão proferida nos autos do Processo Judicial nº 505474177.2015.4.04.7000 pelo MM. Juízo da 13ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Curitiba – PR. Em síntese, a decisão judicial trazida aos autos determina que fatos e informações colhidas no âmbito da operação lava jato através de acordos de delação premiada não sejam utilizados pelos demais órgãos da administração pública, para não desestimular novos acordos de colaboração. Desta forma, alega o RECORRENTE que deve ser feita intimação para o Juízo da 13º Vara Federal solicitando nova autorização para utilizar as provas já compartilhadas, sob pena de perda da validade jurídica das mesmas. Este recurso voluntário compôs lote, sorteado para este relator, em Sessão Pública. É o Relatório. Voto Conselheiro Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim Relator O recurso voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos legais, razões por que dele conheço. I. PRELIMINARES I.a Do fato novo Não merece prosperar a alegação do RECORRENTE de que as provas legalmente compartilhadas pelo Ministério Público com autorização judicial são ilícitas em decorrência de decisão superveniente. Apesar de relevante, por se tratar de decisão proferida no âmbito da mesma operação que ensejou o presente processo, a decisão judicial trazida pelo RECORRENTE foi proferida ainda em primeira instância judicial, não havendo efeito erga omnes, como tenta imputar a defesa. Ademais, não é dever do CARF intimar o D. Juízo da 13º Vara Federal para se manifestar acerca da legalidade do compartilhamento de provas, já autorizado, digase de passagem. Fl. 2320DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.305 21 Em verdade, o requerido pelo contribuinte não encontra qualquer respaldo legal. O procedimento adequado a ser adotado compreenderia o reconhecimento da ilicitude das provas produzidas por meio de provimento judicial e, só então, posterior intimação deste órgão colegiado. Contudo, tal pretensão, pleiteada judicialmente pelo RECORRENTE, restou negada. Conforme amplamente divulgado na mídia nacional, em especial na matéria divulgada pelo Estadão < https://politica.estadao.com.br/blogs/faustomacedo/morofrustra delatordeeduardocunhaemautuacaoder48midareceita/>, o Sr. Júlio Camargo apresentou pedido ao juízo da 13º Vara Federal de Curitiba de idêntico teor ao ora formulado, informando que o Ministério Público já possui entendimento de que as provas obtidas com delação premiada não devem ser utilizadas para outros tipos de punição que não aquelas já firmadas no próprio acordo de colaboração. Também informou que seu patrimônio atualmente encontrase inteiramente indisponível, devido a determinação judicial proferida pela 9ª Vara Federal de Execuções Fiscal de São Paulo, o que compromete o cumprimento das obrigações pactuadas no acordo de colaboração. Assim decidiu o juízo da 13ª Vara Federal em Curitiba/PR, por intermédio do Juiz Federal Sérgio Moro: Tratase de petição distribuída pela Defesa de Julio Gerin de Almeida Camargo, visando obstar a utilização da prova produzida com base no acordo de colaboração contra o próprio colaborador pelos órgãos da RFB e do Ministério da Fazenda. Afirma que as provas decorrentes do acordo foram utilizadas para lavratura de dois autos de infração para cobrança de créditos de imposto de renda, PAF n. 10314722.750/201621 (R$ 20.604.069,31) e PAF n. 10314723.159/201772 (R$ 28.814.173,84). Alega que, administrativamente, foi determinado o arrolamento dos bens do colaborador e contra ele também foi decretada indisponibilidade de bens, na ação cautelar fiscal 0031908 41.2017.403.6182, da 9ª Vara Federal de Execuções Fiscais de São Paulo. Sustenta, ainda, que o bloqueio cautelar compromete o cumprimento das obrigações previstas no acordo de colaboração. Segundo o MPF, o compartilhamento de tais provas não deve permitir a sua utilização para novas punições, não constituindo o lançamento tributário sanção de ato ilícito, o que permitiria o uso da prova. reportouse o MPF ao entendimento exarado por este julgado no processo 505474177.2015.4.04.7000, permitindo a utilização da prova pela Receita Federal e Procuradoria da Fazenda Nacional (evento 8). Decido Em 03/07/2018, no processo 505474177.2015.4.04.7000, autorizei que a prova obtida com os acordos de colaboração fosse utilizada para a constituição e cobrança de créditos Fl. 2321DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.306 22 tributários pela Receita Federal do Brasil e Procuradoria da Fazenda Nacional. Como ali consignado, os acordos têm por finalidade a recuperação do produto do crime e, por estimativa, a reparação de danos decorrentes. Estão eles desvinculados da elisão de tributos que decorrem das manifestações de riquezas criminosas dos colaboradores. Remeto ao ali fundamentado, observando que esta também foi a posição do MPF. Assim, nos termos da referida decisão, não há ilegalidade no compartilhamento e no uso das provas obtidas nos acordos com os órgãos da Administração Tributária. Por outro lado, os compromissos financeiros do acordo devem ser cumpridos. Se necessário, pode ser coordenada a ação do MPF e da Receita para liberar bens para quitação das parcelas pendentes do acordo (para as quais o colaborador está aliás há algum tempo inadimplente). Eventuais excessos ou questionamentos de mérito quanto aos lançamentos devem, se for o caso, ser feitos pelo colaborador junto aos órgãos fiscais ou Justiça cível, não tendo este Juízo criminal poder de revisão. Ante o exposto indefiro o requerido pela Defesa Translade, por oportuno, a Secretaria para estes autos a decisão de 03/07/208 no processo 505474177.2015.4.04.7000. Ciência à Defesa e ao MPF. Curitiba, 14 de agosto de 2018. Além disto, em análise à decisão colacionada na mencionada petição inominada alegando fato novo, percebese que se trata de pedido do próprio Ministério Público Federal, sob o fundamento de proteção ao interesse público, visto que a utilização das provas por outros entes da administração pública pode desestimular novos acordos de colaboração. Perceba que se trata de uma manifestação genérica do MPF sobre a ponderação entre o estimulo aos acordos de colaboração e o interesse público tributário. Ocorre que, o próprio MPF, ao se manifestar in casu, sustentou atender ao interesse público a cobrança regular dos tributos incidentes sobre os rendimentos auferidos indevidamente pelo RECORRENTE, conforme manifestação colacionada ao Termo de Verificação Fiscal (fls. 1372): Com relação a Receita Federal destacamos o seguinte parágrafo: ..."No caso de compartilhamento com a Receita Federal, observo que a cobrança regular dos tributos atende ao interesse público e que, por outro lado, a configuração do crime contra a ordem tributária demanda, pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o lançamento tributário. Então o compartilhamento no caso além de servir ao interesse público na regular cobrança dos tributos, também atende a finalidades próprias do processo penal.". Fl. 2322DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.307 23 Entendo, desta forma, que uma manifestação genérica do MPF, proferida em autos que o ora REQUERENTE não é parte, ainda que acatada pelo juízo singular, não tem o condão de afastar a análise feita “em específico”, pelo próprio MPF, para o presente caso. Desta forma, indefiro o pedido de reconhecimento da nulidade do lançamento por ilicitude das provas que deram origem ao procedimento fiscalizatório. Indefiro também o pedido de intimação do D. Juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba/PR para se manifestar acerca da licitude das provas, haja vista que já houve manifestação do mencionado Juízo indeferindo o pedido do RECORRENTE. I.b Nulidade do auto de infração: lavratura antes de findo o prazo para apresentação das informações e documentos e ausência de fundamento legal Conforme elencado no relatório fiscal, o contribuinte alega nulidade do auto de infração ocasionada pelo encerramento prematuro da fiscalização, findando por violar a ampla defesa do contribuinte. Além disso, sustenta a violação ao princípio da legalidade, ante a inexistência de dispositivos legais autorizando a desconsideração rendimentos isentos e não tributáveis. No processo administrativo federal são nulos os atos lavrados por pessoa incompetente ou com preterição do direito de defesa, nos termos do art. 59 do Decreto nº 70.235/1972. Por sua vez, o art. 10, também Decreto nº 70.235/1972, elenca os requisitos obrigatórios mínimos do auto de infração, in vebis: Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente: I a qualificação do autuado; II o local, a data e a hora da lavratura; III a descrição do fato; IV a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; V a determinação da exigência e a intimação para cumprila ou impugnála no prazo de trinta dias; VI a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. Art. 59. São nulos: I os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. § 1º A nulidade de qualquer ato só prejudica os posteriores que dele diretamente dependam ou sejam conseqüência. Fl. 2323DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.308 24 § 2º Na declaração de nulidade, a autoridade dirá os atos alcançados, e determinará as providências necessárias ao prosseguimento ou solução do processo. Desta forma, para ser considerado nulo, o lançamento deve ter sido realizado por pessoa incompetente ou violar a ampla defesa do contribuinte. Ademais, a violação à ampla defesa deve sempre ser comprovada, ou ao menos demonstrados fortes indícios do prejuízo sofrido pelo contribuinte. Havendo compreensão dos fatos e fundamentos que levaram à lavratura do auto de infração pelo contribuinte, bem como cumprimento dos requisitos do art. 10 do Decreto nº 70.235/2012, não há como se falar em nulidade do auto de infração. Assim entende o CARF: AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. Comprovado que o sujeito passivo tomou conhecimento pormenorizado da fundamentação fática e legal do lançamento e que lhe foi oferecido prazo para defesa, não há como prosperar a tese de nulidade por cerceamento do contraditório e da ampla defesa. (Acórdão 3301004.756 – 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária, Sessão de 20/6/2018, Rel. Liziane Angelotti Meira ) AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. Não se verificando a ocorrência de nenhuma das hipóteses previstas no artigo 59 do Decreto nº 70.235/72 e observados todos os requisitos do artigo 10 do mesmo diploma legal, não há que se falar em nulidade da autuação (Acórdão nº 3302005.700 – 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, Sessão 26/7/2018, Rel. Paulo Guilherme Déroulède) Pois bem, quanto ao primeiro argumento, perceba que o contribuinte se limita a alegações genéricas, sem demonstrar qual o efetivo prejuízo sofrido pela lavratura do auto de infração 20 dias antes do prazo para apresentação de documentos se encerrar. E nem poderia ter feito. Assim descreveu a DRJ (fls. 1762): Conforme requisitado no Termo de Intimação aqui examinado, fls. 1.743 e 1.744, a fiscalização intimou o contribuinte a apresentar a relação da movimentação financeira ocorrida no anocalendário 2011 no Banque Cramer & Cie SA, localizado na Suíça. A solicitação girou em torno das operações bancárias efetuadas a crédito relativamente às seis contas correntes enumeradas. Em que pese a fiscalização ter concedido a prorrogação de prazo e o contribuinte ter sido cientificado do lançamento no mesmo dia, 12/12/2016, obviamente que na autuação não foram incluídos quaisquer valores relacionados a tais contas arroladas na intimação, de sorte que não houve nenhum prejuízo ao impugnante. Fl. 2324DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.309 25 Desta forma, a ausência de apresentação dos documentos não foi interpretada em desfavor do contribuinte e não ocasionou acréscimo algum ao valor do auto de infração. Ademais, caso nestes documentos existisse prova inequívoca e indispensável em favor do contribuinte, esta poderia ter sido apresentada posteriormente, o que não foi feito, contribuindo ainda mais para o entendimento de que não houve cerceamento de defesa. Quanto à capitulação legal, o contribuinte defende a tese de que não há autorização legislativa expressa permitindo a desconsideração, pela autoridade fazendária, dos rendimentos isentos/não tributáveis como origem, aptos a justificar os dispêndios efetuados para quitar as propinas pagas com recursos próprios em decorrência da inadimplência da SAMSUNG, pagamentos estes que configuraram o acréscimo patrimonial a descoberto. Pois bem, o acréscimo patrimonial a descoberto é caracterizado pela existência de DISPÊNDIOS/PAGAMENTOS em montantes superiores aos RECURSOS/APLICAÇÕES constantes na declaração do imposto de renda. Se há pagamentos em montantes superiores às origens comprovadas dos recursos, houve, logicamente, acréscimo patrimonial. No presente caso, o acréscimo patrimonial é caracterizado, basicamente, (i) pela desconsideração dos lucros e dividendos das empresas utilizadas no esquema fraudulento de lavagem de dinheiro e repasse de propinas como RECURSOS/APLICAÇÕES declarados pelo contribuinte e (ii) pela utilização de recursos próprios para satisfazer o pagamento de vantagens indevidas, ocasionado em especial pela inadimplência da SAMSUMG, caracterizando portanto a existência de DISPÊNDIOS/´PAGAMENTOS. Não merece qualquer reparo o lançamento fiscal. Em verdade, a “desconsideração” dos lucros e dividendos como origem dos recursos se deu por dois motivos: (i) pela desvirtuação do proposito da empresa, de forma que os rendimentos por ela auferidos não são frutos do exercício de seu objeto social, mas sim fruto das atividades ilícitas praticadas por seu sócio. Se não há exploração de atividade econômica da empresa, nem tampouco exploração do seu patrimônio, não há como os rendimentos distribuídos serem materialmente considerados distribuição de lucros e dividendos, porque não houve lucros e dividendos materiais a serem distribuídos; e (ii) por grande parte dos recursos distribuídos pela empresa serem, de fato, recursos de terceiros, sendo os lucros e dividendos da empresa apenas mecanismo para conferir aparência de legalidade ao repasse dos montantes provenientes do esquema criminoso, conforme confessa o contribuinte em seu termo de colaboração fiscal nº 7 “... ‘QUE os recursos que o declarante remetia para a conta no CREDIT SUISSE eram decorrentes de contratos de consultoria firmado pelo declarante por intermédio de suas empresas AUGURI, TREVISO E PIEMONTE com consórcios e outras empresas contratadas pela PETROBRAS, conforme já relatado em termos anteriores; QUE no Brasil, o declarante realizava a distribuição de dividendos das empresas AUGURI, TREVIO E PIEMONTE, em favor de sua pessoa física, e, em seguida remetia os valores ao banco CREDIT SUISSE, a título de investimentos no exterior, mediante a formalização de contratos de câmbio: QUE utilizou a conta a conta no CREDIT Fl. 2325DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.310 26 SUISSE para efetuar pagamentos de propina em favor de RENATO DUQUE E PEDRO BARUSCO ...’ ... ‘QUE no ano de 2011, o declarante não estava mais contente como o atendimento do BANCO CREDIT SUISSE e os retornos de investimentos não estavam bons, razão pela qual encerrou a conta naquele banco e transferiu para o BANCO CRAMER, juntamente com os ativos; QUE as contas mantidas no BANCO CRAMER são as JULIO CAMARGO, PERSEMPRE, PIAMONT OLD, VOLARE E VIGELA ASSOCIA TED S.A.; QUE utilizou a conta VIGELA, salvo engano, para efetuar pagamentos de propinas; QUE efetuou pagamentos em favor da offshore HA1LEY, no BCP GENEVE — BANQUE DE COMMERCE ET PLACEMENTS, em Geneva, na Suiça, indicada por FERNANDO SOARES, em setembro/2011 e outubro, cada um no valor de US$ 500.000,00 dólares;...’” Portanto, improcedente a alegação de nulidade do auto de infração por ausência de fundamentação legal autorizando a conduta do fiscal de desconsiderar os rendimentos isentos e não tributáveis. Ora, em verdade a autoridade fiscalizadora não poderia ter agido de forma diversa, visto que os recursos desconsiderados são comprovadamente de terceiros, não sendo aptos para justificar acréscimo patrimonial do contribuinte o que atraí a sistemática prevista nos artigos 55, XIII, 806 e 807 do Regulamento do Imposto de Renda, utilizada como fundamento legal do lançamento. Ademais, conforme bem descreveu a DRJ de origem, os rendimentos isentos/não tributáveis não foram desconsiderados; na verdade, ante a constatação/confissão dos ilícitos penais, houve a reclassificação dos rendimentos declarados como nãotributáveis para rendimentos tributáveis utilizandose da ferramenta de verificação consistente do acréscimo patrimonial a descoberto, que é presunção legal de omissão de rendimentos. O acréscimo patrimonial será abordado a fundo no tópico II.a “Alegação de inexistência de acréscimo patrimonial a descoberto seja pela renda declarada, seja pela disponibilidade de numerário no início do ano calendário, seja ainda pelo erro na identificação do sujeito passivo responsável pelos pagamentos e dispêndios”, no qual analisar seá as alegações de mérito do contribuinte. I.c Da multa qualificada: alegação de exigência formalizada apenas como ferramenta para que o lançamento pudesse alcançar (artificialmente) o anobase 2011, já atingido pela decadência. Devese esclarecer que a multa de ofício aplicada no percentual de 150% decorre de previsão legal em razão do lançamento de ofício, conforme disciplina o art. 44, I, §1º da Lei nº 9.430/96: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: Fl. 2326DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.311 27 I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) ” Assim dispõe os artigos 71,72 e 73 da Lei nº 4.502/1964: "Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72." Em sua defesa, o RECORRENTE afirma que não houve crime de sonegação pois, apesar de posteriormente destinado ao pagamento de propinas e vantagens indevidas aos dirigentes da Petrobrás, todos os valores foram originalmente declarados e tributados pela Pessoa Jurídica. Cita a súmula do CARF nº 25, por entender que a simples omissão de rendimentos não autoriza a aplicação da multa qualificada. Em princípio, existe um grande hiato entre a conduta praticada pelo RECORRENTE, qual seja, a operacionalização de esquemas multimilionários de propinas, e a simples omissão de rendimentos, fato que não enseja, por si só, a qualificação da multa. Sobre a sonegação, assim dispõe o art. 71 da lei nº 4.502/1964 Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; Nos termos da Verificação Fiscal (fl. 1402): Fl. 2327DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.312 28 “O trânsito e as facilidades de contato que Julio Gerin de Almeida Camargo, tinha com as diretorias da Petrobras (Abastecimento, Internacional e Engenharia e Serviços), propiciaram sua participação nas intermediações envolvendo a contratação de empresas interessadas nos projetos de engenharia e obras oferecidos pela estatal. Em muitos casos em que atuou como intermediário, ficou acertado o pagamento de propina para finalmente obter sucesso nas contratações. Os recursos utilizados para atender ao esquema, tiveram como origem as "comissões recebidas", através dos contratos de consultoria firmados entre as empresas do fiscalizado (Treviso, Piemonte e Auguri) e as empresas beneficiadas nas negociações. Outras práticas utilizadas pelas empresas do contribuinte residem em atividades de lavagem de capitais, enviando recursos aos sócios, "camuflando" os destinatários dos recursos lavados. Neste ponto, a distribuição de lucros/dividendos, representa a última das etapas do processo de lavagem de dinheiro, ao desconectar o pagamento das empreiteiras dos envios para os beneficiários dos pagamentos de propinas, servindo também ao propósito de dificultar ou impedir o rastro financeiro destes valores. O desvio do objeto social das empresas, para atender esquemas criminosos, não pode ser utilizado para dar caráter de legalidade aos valores auferidos, principalmente em se tratando de rendimentos isentos e não tributáveis — Lucros/Dividendos. Não é licito ter como objeto social a intermediação de negociações envolvendo o pagamento de vantagens indevidas e usufruir deste esquema, configurando justamente ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais.” A hipótese legal supracitada é plenamente aplicável à conduta do RECORRENTE. Conforme visto no tópico anterior, ao declarar como “Lucros e Dividendos” os rendimentos obtidos através de atividades praticadas fora do objeto social da empresa, o RECORRENTE dolosamente afastou estes valores da tributação e, também, tentou disfarçar sua ilegalidade, no intuito de impedir o conhecimento do fato pela autoridade fazendária. Houve, portanto, sonegação ensejando a aplicação da multa qualificada. A aplicação da multa é dever da autoridade fiscal, que tem a obrigação de aplicala sob pena de responsabilidade funcional, nos termos do art. 142 do CTN, visto que a atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, in verbis: “Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Fl. 2328DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.313 29 Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.” Assim, no momento em que o auditor realiza de ofício o lançamento do imposto de renda, deve ser aplicada a multa do art. 44 da Lei nº 9.430/96 sobre o imposto suplementar calculado, por estrita determinação legal. Neste ponto, ao verificar qualquer uma das ocorrências dos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64, é seu dever aplicar a multa qualificada de 150%, conforme dispositivos acima transcritos. Não há que se falar, desta forma, em exigência formalizada para evitar a aplicação do prazo decadencial. Houve deslocamento da contagem do prazo decadencial para hipótese regida pelo art. 173, I do CTN ante a ocorrência de dolo e sonegação fiscal, condutas praticadas pelo contribuinte e por ele confessadas no âmbito da operação lava jato. O art. 173, I, do CTN disciplina o seguinte: Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; Esclareçase que “o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado” é o primeiro dia do exercício seguinte à data que a autoridade fazendária toma conhecimento dos fatos. Neste sentido, tendo em vista que o presente lançamento se refere ao anocalendário 2011 e está relacionado a informações prestadas em declaração de ajuste anual, a autoridade fiscal somente poderia efetuar o lançamento a partir da entrega de tal declaração, em abril de 2012. Sendo assim, o dies a quo do lustro decadencial foi o dia 01/01/2013 com termo final em 01/01/2018. Portanto, o presente lançamento não se encontra fulminado pela decadência, já que a ciência do RECORRENTE ocorreu em 12/12/2016 (fl. 1421). Ademais, ainda que contado nos termos do art. 150, §4º do CTN, o crédito tributário não foi fulminado pela decadência. Devese esclarecer que o fato gerador do IRPF é complexivo. Ou seja, embora apurado mensalmente, está sujeito ao ajuste anual quando é possível definir a base de cálculo e aplicar a tabela progressiva, aperfeiçoandose no dia 31/12 de cada anocalendário. O CARF possui o entendimento firme de que o fato gerador do imposto sobre a renda se completa e se considera ocorrido em 31 de dezembro de cada ano calendário: “Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Anocalendário: 2005,2006 IRPF. DECADÊNCIA. FATO GERADOR QUE SOMENTE SE APERFEIÇOA NO DIA 31 DE DEZEMBRO DE CADA ANO. O fato gerador do IRPF é complexivo, aperfeiçoandose no dia 31/12 de cada anocalendário. Assim, como não houve o transcurso do prazo de 5 (cinco) anos entre a ocorrência do fato Fl. 2329DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.314 30 gerador e a intimação do contribuinte da lavratura do auto de infração, devese afastar a alegação de decadência do crédito tributário. (...)” (acórdão nº 2402005.594; 19/01/2017) No caso concreto, o lançamento de créditos tributários diz respeito a rendimentos sujeitos ao ajuste anual: o lançamento relativo ao APD engloba o período de janeiro a dezembro de 2011. Ou seja, o fato gerador de todos os meses ocorreu em 31/12/2011. Aplicandose a regra decadencial do art. 150, §4º, do CTN (05 anos a partir do fato gerador), temse que o lançamento poderia ser realizado até 31/12/2016, ao passo que a ciência do RECORRENTE ocorreu em 12/12/2016 (fl. 1421). Portanto, o lançamento foi realizado dentro do lustro decadencial, ainda que contado por meio da sistemática do art. 150, §4º, do CTN. II. DO MÉRITO II.a Alegação de inexistência de acréscimo patrimonial a descoberto seja pela renda declarada, seja pela disponibilidade de numerário no início do ano calendário, seja ainda pelo erro na identificação do sujeito passivo responsável pelos pagamentos e dispêndios. Tal qual descrito nos termos de cooperação, assim era operacionalizado o esquema criminoso: (i) as empresas controladas pelo contribuinte firmavam contratos simulados de prestação de serviço de intermediação, cujo real propósito era captar recursos das empresas interessadas em contratar com a Petrobrás; (ii) os valores recebidos eram distribuídos como lucros e dividendos para o sócio Júlio Camargo; e (iii) Júlio remetia os valores recebidos para o exterior a título de supostos investimentos, através do Banco Credit Suisse e, posteriormente, Banco Cramer, valores estes que eram distribuídos para os beneficiários das propinas, em geral, os dirigentes da Petrobrás. O cerne da defesa do contribuinte é a ausência de fundamento legal para desconsiderar os lucros e dividendos como rendimentos aptos para justificarem a origem dos dispêndios efetuados. Conforme anteriormente mencionado, o acréscimo patrimonial a descoberto no presente caso é caracterizado: (i) pela desconsideração, como RECURSOS/APLICAÇÕES, dos lucros e dividendos das empresas utilizadas no esquema fraudulento de lavagem de dinheiro e repasse de propinas; e (ii) pela utilização de recursos próprios para satisfazer o pagamento de vantagens indevidas, ocasionado em especial pela inadimplência da SAMSUMG, o que configurou a existência de DISPÊNDIOS/´PAGAMENTOS destes pagamentos. Quanto aos RECURSOS/APLICAÇÕES desconsiderados pela autoridade fiscal, não poderia o fiscal proceder de maneira distinta. Considerar os rendimentos ilícitos como não tributáveis apenas por formalmente serem enquadrados como “lucros e dividendos” é antijurídico e viola uma série de princípios regentes do sistema tributário brasileiro. Fl. 2330DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.315 31 No presente caso, houve uma verdadeira desvirtuação do proposito da empresa, de forma que os rendimentos por ela auferidos não são frutos do exercício de seu objeto social, mas sim fruto das atividades ilícitas praticadas por seu sócio. Se não há exploração de atividade econômica da empresa, nem tampouco exploração do seu patrimônio, não há como os rendimentos distribuídos serem materialmente considerados distribuição de lucros e dividendos. Em suma, não se pode classificar como lucros e dividendos, ainda que formalmente declarados a este título, os rendimentos obtidos através da prática criminosa. Ora, em verdade o próprio conceito de distribuição de lucros da pessoa jurídica para seus sócios é derivado do conceito jurídico de separação da personalidade jurídica da empresa. Ocorre que, como afirma Tomazette (TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: teoria geral e direito societário. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2012.p. 23), o dogma da separação patrimonial entre a pessoa jurídica e os seus membros não pode prevalecer se a pessoa jurídica tiver seus propósitos desvirtuados. Não que se aplique, no presente caso, o instituto da desconsideração da personalidade jurídica prevista no âmbito do direito civil. Este conceito doutrinário serve apenas como norte interpretativo para demonstrar a necessidade de utilização da Pessoa Jurídica de acordo com seu objeto social. Assim dispõe o art. 50 do Código Civil: Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Se o desvio de finalidade tem efeitos na esfera cível, é imperioso concluir que o mesmo também repercute na seara tributária. Cumpre esclarecer que a acusação de lavagem de dinheiro não partiu da fiscalização, mas sim da denúncia do MPF, confirmada pela sentença condenatória proferida nos autos da Ação Penal nº 508383859.2014.4.04.7000/PR, em 17/08/2015, pela 13ª Vara Federal de Curitiba/PR (link acessado em 21/08/2018: https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=701 439813124846070090000000001&evento=811&key=e0877dd042ed814d2b2f13861712dd08a 6c27ce5ce696887a454a8b6da012dae&hash=403f27d78a467609253dd5052329a931), cujos termos transcrevo abaixo: “350. Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão punitiva. (...) 353. Condeno Julio Gerin de Almeida Camargo: pelo crime de corrupção ativa, por duas vezes (contratos dos Naviossondas Petrobrás 10000 e Vitória 10000), pelo pagamento de vantagem indevida à Diretoria da Área Fl. 2331DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.316 32 Internacional da Petrobras, ocupada por Nestor Cuñat Cerveró, em razão de seu cargo (art. 333, parágrafo único, do CP); e por crime de lavagem de dinheiro, por quarenta e seis vezes, do art. 1º, caput, inciso V, da Lei nº 9.613/1998, consistente nos repasses, com ocultação e dissimulação, de recursos criminosos provenientes dos contratos de fornecimento dos NaviosSondas Petrobrás 10000 e Vitória 10000, através de operações simuladas de consultoria e utilização de contas secretas em nome de offshores para movimentação e ocultação do produto do crime. (...) Para os crimes de corrupção ativa: Júlio Camargo não tem antecedentes criminais informados no processo. As provas colacionadas neste mesmo feito, indicam que faz do crime de corrupção e de lavagem a sua profissão, visando seu próprio enriquecimento ilícito e de terceiros, o que deve ser valorado negativamente a título de personalidade. Culpabilidade, conduta social, motivos, comportamento da vítima são elementos neutros. Circunstâncias devem ser valoradas negativamente. A prática dos crimes corrupção envolveu o pagamento de propinas de pelo menos USD 14.317.083,00 e R$ 4.407.415,25 nos contratos de fornecimento dos NaviosSondas, um valor muito expressivo. Consequências também devem ser valoradas negativamente, pois, além do custo da propinas ser embutido no preço dos contratos, a estatal arcou com prejuízos com a contratação de Naviossondas sem processo competitivo e sem a demonstração de sua efetiva necessidade. A corrupção com pagamento de propina de milhões de dólares e de reais e tendo por consequência prejuízo equivalente aos cofres públicos merece reprovação especial. Considerando três vetoriais negativas, de especial reprovação, fixo, para o crime de corrupção ativa, pena de cinco anos de reclusão. Reconheço a atenuante da confissão (art. 65, III, "d", do CP), reduzindo a pena para quatro anos e seis meses de reclusão. (...) Para o crime de lavagem: Julio Camargo não tem antecedentes criminais informados no processo. As provas colacionadas neste mesmo feito, indicam que faz do crime de corrupção e de lavagem a sua profissão, visando seu próprio enriquecimento ilícito e de terceiros, o que deve ser valorado negativamente a título de personalidade. Circunstâncias devem ser valoradas negativamente. A lavagem, no presente caso, envolveu especial sofisticação, com a constituição de offshores no exterior, a utilização delas para abertura de contas secreta no exterior e o recebimento e a ocultação nela da vantagem indevida da corrupção. Tal grau de sofisticação, que inclui lavagem de dinheiro transnacional, não é inerente ao crime de lavagem e deve ser valorado negativamente a título de circunstâncias (a complexidade não é inerente ao crime de lavagem, conforme precedente do RHC 80.816/SP, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, 1ª Fl. 2332DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.317 33 Turma do STF, un., j. 10/04/2001). Consequências devem ser valoradas negativamente. A lavagem imputada a Júlio Camargo envolve a quantia substancial de USD 14.317.083,00 e R$ 4.407.415,25. Mesmo considerando os valores das operações individualmente, são eles expressivos, só uma delas, por exemplo, envolvendo oitocentos mil dólares. A lavagem de grande quantidade de dinheiro merece reprovação especial a título de consequências. Considerando três vetoriais negativas, fixo, para o crime de lavagem de dinheiro, pena de cinco anos de reclusão. Reconheço a atenuante da confissão (art. 65, III, "d", do CP), reduzindo a pena para quatro anos e seis meses de reclusão. (...) Essa seria a pena definitiva para Júlio Camargo, não houvesse o acordo de colaboração celebrado com o Ministério Público Federal e homologado por este Juízo. (...)” Conforme apresentado no TVF, com base nos Termos de Colaboração e demais documentos, constatouse que a contratação, pela Petrobrás, de empresas/consórcios interessados somente seria viabilizada mediante o pagamento de propinas, que esta era uma das condições do negócio. Ademais, os representantes das empresas a serem contratadas tinham conhecimento dessa “regra do jogo” e, portanto, sabiam do pagamento de vantagem indevida. Neste sentido, cito trecho do Termo de Colaboração nº 01 (fl. 73): “QUE os representantes das empresas UTC ENGENHARIA, RICARDO PESSOA, e da ODEBRECHT, MARCIO FARIAS, ficaram responsáveis por efetivar o pagamento da propina e o declarante não sabe dizer como isso foi operacionalizado; QUE apesar disso, como o contrato foi firmado e está em fase final de execução, regularmente, "tudo leva a crer" que os pagamentos da propina foram efetivados; QUE a sua certeza de que foi pedido propina era de que isso "era a regra do jogo", esclarecendo que durante as gestões dos Diretores de Abastecimento e de Engenharia, PAULO ROBERTO COSTA e RENATO DUQUE, a regra era de que deveria ser pago 1% para área de abastecimento e 1% para a área de engenharia sobre o valor dos contratos vinculados às suas diretorias respectivas, embora esses percentuais pudessem ser negociados e muitas vezes o foram para menos;” Quanto ao conhecimento do esquema por parte dos representantes das empresas contratadas, o RECORRENTE, em princípio, afirmou que os mesmos não tinham conhecimento do pagamento de propinas. Contudo, posteriormente, afirmou que esses representantes tinham conhecimento da “regra do jogo”, conforme trecho abaixo extraído do Termo de Colaboração nº 01 (fl. 74): “QUE indagado novamente se os representantes das empresas tinham conhecimento de que os contrato só seriam viabilizados mediante o pagamento de propina, o declarante afirma que era "uma regra do jogo" conhecida por todos, mas não falava diretamente sobre isso com os representantes das empresas, Fl. 2333DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.318 34 ademais, o declarante cobrava um percentual sobre os contratos que firmava com os consórcios; QUE como a regra do jogo exigia das empresas o pagamento de propinas para formalização dos contratos e o declarante era quem atuava junto aos Diretores da PETROBRÁS, além do fato de firmar os contratos de consultoria para fazer frente às propinas, acredita que os representantes das empresas para as quais atuou, retificando o que disse anteriormente, sabiam dos pagamentos de vantagem indevida;” De igual forma, no Termo de Colaboração nº 05 (fls. 93/94) “QUE esclarece que, no âmbito da ÁREA DE ABASTECIMENTO, do Diretor PAULO ROBERTO COSTA, a própria CAMARGO CORREA ficaria responsável pelo pagamento das propinas, sem a atuação do declarante; QUE desse modo, o valor pago de vantagem indevida pela CAMARGO CORREA ao Diretor PAULO ROBERTO COSTA não saia do contrato de consultoria que o declarante firmava com a construtora; QUE a missão do declarante ficaria então de desenvolver o objeto do contrato e o declarante então incluiu no seu custo que cobrou da CAMARGO CORREA aquilo que iria repassar à ÁREA DE ENGENHARIA; QUE esclarece então que a propina paga ao Diretor de Engenharia RENATO DUQUE e ao Gerente Executivo da Área de Engenharia PEDRO BARUSCO, partiam dos valores que o declarante recebia dos contratos de consultora firmados com a CAMARGO CORREA; QUE "eles não falaram com o declarante sobre isso, mas era a regra do jogo, isto é, se não houvesse propina na área de abastecimento e na área de engenharia, não se chegaria ao sucesso das negociações"; QUE pode dizer que a CAMARGO CORREA aceitou os valores propostos pelas empresas do declarante, TREVISO e PIEMONTE, considerando que parte desse valor seria repassado à AREA DE ENGENHARIA;” Sendo assim, constatase que as empresas interessadas em negociar com a Petrobrás sabiam do pagamento de propinas, pois esta era uma “regra do jogo”, uma condição necessária para viabilização dos contratos com a empresa estatal. Os contratos de consultoria firmados entre as empresas do RECORRENTE e aquelas interessadas em ingressar na prestação de serviços à Petrobrás representam um desvirtuamento dos objetos sociais das mencionadas empresas, com a finalidade de dar ares de legalidade às vantagens indevidas recebidas como forma de “comissões de consultoria” pelo RECORRENTE e posteriormente utilizadas no pagamento aos funcionários da Petrobrás, de acordo com o modus operandi já exposto acima. Especificamente sobre a desconsideração dos lucros declarados como recebidos das três empresas das quais é sócio, a fiscalização não acatou tais valores na composição das origens de recursos no fluxo de variação patrimonial porque os objetivos sociais das empresas foram desvirtuados para dar ares de legalidade às vantagens indevidas recebidas pelo contribuinte e posteriormente utilizadas no pagamento aos funcionários da Petrobrás. Fl. 2334DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.319 35 Ademais, como bem expôs a DRJ de origem, os mencionados “serviços de consultoria” não são comprovados pelo RECORRENTE por meio de relatórios, demonstrativos ou provas técnicas adequadas. Portanto, ainda que formalmente conceituados como lucros e dividendos, as receitas auferidas são materialmente propinas destinadas ao pagamento de vantagens indevidas aos dirigentes da Petrobrás. São, em sua grande maioria, recursos de terceiros que apenas transitam pelas contas das empresas como forma de dar aparência de legalidade ao esquema criminoso. Foi com base neste entendimento que o valor dos lucros/dividendos advindos da Treviso, da Piemonte e da Auguri não foram considerados como RECURSOS/ORIGENS no Demonstrativo da Variação Patrimonial do recorrente (fl. 1404/1412). Isso significa que esses valores não foram utilizados para fazer frente às despesas/aplicações realizadas pelo recorrente no período, razão pela qual ele teve mais despesas do que origens, caracterizando o acréscimo patrimonial a descoberto, que nada mais é do que a revelação de rendimentos tributários omitidos pelo RECORRENTE. Não é demais repisar que não houve a desconsideração dos lucros e dividendos como forma de fazer frente aos dispêndios do RECORRENTE. O que houve foi a constatação, pela autoridade fiscal, que tais valores não poderiam ser classificados como rendimentos isentos em razão da prática de ilícitos penais, conforme exposto. Consequentemente, para apurar as quantias correspondentes ao acréscimo patrimonial do RECORRENTE, a autoridade fiscal lançou mão da presunção legal de omissão de rendimentos por meio da apuração do acréscimo patrimonial a descoberto, o que revelou a base de cálculo objeto do presente lançamento, já que tal acréscimo não restou justificado pelos rendimentos tributáveis, não tributáveis, tributados exclusivamente na fonte ou objeto de tributação definitiva. Em seu recurso voluntário, o contribuinte reclama que a fiscalização não considerou os dividendos como RECURSOS/ORIGENS e, ao mesmo tempo, considerou como DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES os valores destinados a pagar as propinas. Não foi o que aconteceu no presente caso. Assim como os valores das “comissões” não foram utilizados como RECURSOS/ORIGENS do RECORRENTE (ou seja, não foram classificados como rendimentos isentos), a fiscalização compreendeu que as propinas pagas aos dirigentes da Petrobrás também não eram DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES dele. Ou seja, ao partir da premissa de que o RECORRENTE praticava lavagem de dinheiro em suas empresas (Treviso, da Piemonte e da Auguri), a fiscalização, automaticamente, considerou que o dinheiro “lavado” era verdadeiramente dos dirigentes da Petrobras e não do RECORRENTE. Por este motivo, os pagamentos das propinas não foram considerados como DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES, pois eram, na verdade, meros repasses de recursos que já pertenciam aos dirigentes da Petrobras. Transcrevo abaixo trecho do Termo de Colaboração nº 07 (fl. 105), através do qual o RECORRENTE detalhou a forma como operacionalizava o esquema de pagamento de propinas: “QUE os recursos que o declarante remetia para a conta no CREDIT SUISSE eram decorrentes de contratos de consultoria firmado pelo declarante por intermédio de suas empresas Fl. 2335DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.320 36 AUGURI, TREVISO e PIEMONTE com consórcios e outras empresas contratados pela PETROBRÁS, conforme já relatado em termos anteriores; QUE no Brasil, o declarante realizava a distribuição de dividendos das empresas AUGURI, TREVISO e PIEMONTE, em favor de sua pessoa física, e, em seguida, remetia os valores ao banco CREDIT SUISSE, a título de investimentos no exterior, mediante a formalização de contratos de câmbio; QUE utilizou a conta no CREDIT SUISSE para efetuar pagamentos de propina em favor de RENATO DUQUE e PEDRO BARUSCO, a contas indicadas pelos mesmos, que serão informadas assim que receber os extratos bancários; QUE também utilizou a conta para pagar propinas em favor de PAULO ROBERTO COSTA, mediante transferências a contas indicadas por ALBERTO YOUSSEF; QUE acredita que a conta no CREDIT SUISSE não foi usada para pagamentos em contas indicadas por FERNANDO SOARES, mas irá confirmar isso no recebimento dos extratos; QUE indagado sobre a razão da operacionalização do pagamento das propinas desta forma, afirma que, em razão do grande volume de recursos que seriam destinados ao pagamento de propinas, era uma forma mais difícil de ser detectada, pois a outra opção que o declarante tinha para o pagamento das propinas seria a compra de notas fiscais, mas nunca gostou desta forma de operar;” Verificase que o valor que o RECORRENTE recebia como lucros/dividendos de suas empresas Auguri, Treviso e Piemonte eram remetidos para sua conta no CREDIT SUISSE a fim de fazer frente a pagamento de propina a dirigentes da Petrobrás em contas destes no exterior. Sendo assim, a grande questão é: como separar a parte que caberia ao RECORRENTE da parte destinada aos dirigentes da Petrobrás resultante dessa atividade confessadamente ilícita? Como saber se todo o valor advindo de lucros e dividendos das citadas empresas não foi utilizado para fazer frente a pagamento de vantagens indevidas a terceiros? Portanto, acredito que o meio utilizado pela autoridade fiscal, de verificar o acréscimo patrimonial não justificado, foi o mais correto para apurar a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de proventos, pelo RECORRENTE, sujeita ao imposto de renda. Na contratação das sondas de perfuração de águas profundas da SAMSUNG, por exemplo, foram pagas propinas em montante equivalente a US$ 40.000.000,00 (quarenta milhões de dólares). Conforme planilhas de evolução patrimonial (fls. 1404/1411), esses dispêndios foram quase todos desconsiderados pela fiscalização, por configurarem recursos de terceiros que apenas transitavam pelas contas da empresa. Caso assim não fosse, o auto de infração seria em valor notadamente superior ao ora cobrado. O único pagamento de propina considerado como DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES foi aquele confessadamente feito com recursos próprios do RECORRENTE (conforme relatado no TVF, fls. 1384/1391, e documentos acostados às fls. 800/909) mediante valores retirados das suas empresas (Treviso, da Piemonte e da Auguri) e aportados (entre outras formas) na empresa de Alberto Youssef (GFD INVESTIMENTOS). Fl. 2336DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.321 37 Conforme descrito no TVF (fl. 1389): “Para operacionalizar o pagamento das vantagens indevidas, o contribuinte utilizouse das empresas de fachada de Alberto Youssef, simulando investimentos em empreendimentos hoteleiros na Aparecida do Norte e na Bahia, firmando contratos fictícios, contratos de mútuo e emissão de notas promissórias frias, os valores eram disponibilizados ao doleiro, que posteriormente repassava aos beneficiários. Outra forma utilizada, na quitação das propinas atrasadas, acontecia através da simulação de prestação de serviços, envolvendo empresas indicadas pelo próprio operador Fernando Soares (Technis Planejamento e Gestão de Negócios Ltda. e Hawk Eyes Administração de Bens Ltda.).” A forma como o RECORRENTE adimpliu a propina reclamada pelo Sr. Fernando Soares encontrase detalhada no Termo de Colaboração nº 4, às fls. 85/91. Dentre as diversas formas de pagamento para adimplir o acordo (pagamento no exterior através do Banco Cramer, remessa oficial de valores ao exterior, etc.), a fiscalização entendeu que houve a utilização de “recursos próprios” apenas nos contratos simulados de investimentos firmados com a empresa GFD INVESTIMENTOS (por intermédio do Sr. Alberto Youssef) e nos pagamentos de Notas Fiscais da TECHINIS ENGENHARIA E CONSULTORIA S/C LTDA e HAWK EYES ADMINISTRAÇÃO DE BENS LTDA (empresas indicadas pelo Sr. Fernando Soares), conforme relação constante do TVF (fls. 1390/1391). Esses valores, por não terem sidos decorrentes de “comissão” paga pelas empreiteiras, não foram considerados como meros repasses de propinas (ao contrário dos demais pagamentos indevidos aos dirigentes da Petrobrás), mas sim como pagamentos da propina com recursos do próprio RECORRENTE, ensejando sua classificação como DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES no Demonstrativo da Variação Patrimonial. Neste toar, também acertado o tratamento como DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES dos mencionados valores, relativos a vantagens indevidas pagas pelo RECORRENTE com recursos próprios. Isto porque, neste caso, houve a retirada de recursos de empresas de sua propriedade, que atuavam em parceria no esquema criminoso (Treviso, da Piemonte e da Auguri) para “honrar” a propina assumida perante dirigentes da Petrobrás, especificamente o Sr. Fernando Soares. Ou seja, como a própria sentença criminal reconheceu, a prática de lavagem de dinheiro era a “profissão” do RECORRENTE, tornando o pagamento de propina despesas dele próprio, e não das empresas (Treviso, da Piemonte e da Auguri): Desta forma, considerando que houve DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES em montante superior aos RENDIMENTOS/ORIGENS, resta classificado o acréscimo patrimonial a descoberto, o que atrai a incidência do art. 55, XIII, do RIR/1999: Art. 55. São também tributáveis:[...] XIII as quantias correspondentes ao acréscimo patrimonial da pessoa física, apurado mensalmente, quando esse acréscimo não for justificado pelos rendimentos tributáveis, não tributáveis, tributados exclusivamente na fonte ou objeto de tributação definitiva; Fl. 2337DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.322 38 Digase de passagem, pouco importa que os recursos foram provenientes de atividade ilícita. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, interpretando o art. 118 do Código Tributário Nacional pacificou a possibilidade de tributação da renda auferida em razão de atividade ilícita. É o chamado princípio pecunia non olet. Tal princípio determina que no direito tributário a definição legal do fato gerador é interpretada com abstração da validade jurídica do ato efetivamente praticado, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Em síntese, auferida a renda, quer oriunda de atividade lícita ou ilícita, impõese a incidência do imposto sobre a renda: Supremo Tribunal Federal Habeas corpus. Penal. Processual penal. Crime contra a ordem tributária. Artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.137/90. Desclassificação para tipo previsto no art. 2º, inciso I, da indigitada lei. Questão não analisada pelo Superior Tribunal de Justiça. Supressão de instância. Inadmissibilidade. Precedentes. Alegada atipicidade da conduta baseada na circunstância de que os valores movimentados nas contas bancárias do paciente seriam provenientes de contravenção penal. Artigo 58 do DecretoLei nº 6.259/44 Jogo do Bicho. Possibilidade jurídica de tributação sobre valores oriundos de prática ou atividade ilícita. Princípio do Direito Tributário do non olet. Precedente. Ordem parcialmente conhecida e denegada. (...) 2. A jurisprudência da Corte, à luz do art. 118 do Código Tributário Nacional, assentou entendimento de ser possível a tributação de renda obtida em razão de atividade ilícita, visto que a definição legal do fato gerador é interpretada com abstração da validade jurídica do ato efetivamente praticado, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos. Princípio do non olet. Vide o HC nº 77.530/RS, Primeira Turma, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 18/9/98. 3. Ordem parcialmente conhecida e denegada. (HC 94240 / SP, Relator Min. DIAS TOFFOLI, Julgamento: 23/08/2011, Órgão Julgador: Primeira Turma) Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: "non olet". Drogas: tráfico de drogas, envolvendo sociedades comerciais organizadas, com lucros vultosos subtraídos à contabilização regular das empresas e subtraídos à declaração de rendimentos: caracterização, em tese, de crime de sonegação fiscal, a acarretar a competência da Justiça Federal e atrair pela conexão, o tráfico de entorpecentes: irrelevância da origem ilícita, mesmo quando criminal, da renda subtraída à tributação. A exoneração tributária dos resultados econômicos de fato criminoso antes de ser corolário do princípio da moralidade constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética. (HC 77530 / RS, Relator Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento: 25/08/1998) Superior Tribunal de Justiça Fl. 2338DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.323 39 AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. CONSELHEIRO DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESPÍRITO SANTO E OUTROS. PRELIMINARES REJEITADAS. EMENDATIO LIBELLI. POSSIBILIDADE. MÉRITO. PECULATODESVIO. LAVAGEM DE DINHEIRO. DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS ORIUNDOS DE OBRAS SUPERFATURADAS E DE CONTRATO FIRMADO PELA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA PARA A CONTRATAÇÃO DE SEGURO DE VIDA POR MEIO DE CORRETORAS. DISSIMULAÇÃO DA ORIGEM ILÍCITA DA VANTAGEM. ESTRUTURAÇÃO DE EMPREENDIMENTO PARA FINS DE LAVAGEM DE DINHEIRO. CONFIGURAÇÃO DOS CRIMES PREVISTOS NOS ARTS. 312 DO CÓDIGO PENAL E 1º, V, DA LEI Nº 9.613/98. QUADRILHA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RETROATIVA. AÇÃO PENAL JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. (...) 4.2 CASO SEGURO DA ASSEMBLEIA (...) 4.2.5 Em maio de 2000, o réu Valci José Ferreira de Souza foi destinatário direto do cheque emitido pela AGF Brasil Seguros S.A., no valor de R$ 29.333,33 (fl. 3871). A referida prova foi considerada, no acórdão que recebeu a denúncia, como indicadora da autoria da participação do réu no desvio de recursos relacionados ao caso do Seguro da Assembleia. 4.2.6 O fato de a referida quantia ter sido declarada junto à Receita Federal não permite afastar, de plano, o caráter ilícito do recebimento da referida quantia. Isso porque, em primeiro lugar, o direito tributário brasileiro adota a cláusula "pecunia non olet" ou "non olet", razão pela qual admitese a tributação de valores recebidos pelo contribuinte, ainda que de forma ilegal. (...) (APN 300 / ES; Rel. Ministro Mauro Campbell Marques; Corte Especial) PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. POSSIBILIDADE JURÍDICA DE TRIBUTAÇÃO SOBRE VALORES ORIUNDOS DE CRIME. PRINCÍPIO DO DIREITO TRIBUTÁRIO DO NON OLET. EXTRATO BANCÁRIO. LAUDO ECONÔMICOFINANCEIRO. LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO DEFINITIVO. JUSTA CAUSA CONFIGURADA. QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. DECISÃO MOTIVADA. ORDEM DENEGADA. 1. Sonegação fiscal de lucro advindo de atividade criminosa: "non olet". Produto de crime subtraído à declaração de rendimentos: possível caracterização de crime de sonegação fiscal. Precedentes do STF. 2. Para o recebimento da denúncia é suficiente a existência de justa causa, entendida como lastro mínimo de materialidade e autoria. 3. A ação penal está embasada em lançamento tributário definitivo, e não apenas em extrato bancário e em laudo econômicofinanceiro elaborado unilateralmente os quais poderão ser devidamente contestados em juízo. (...) (HC 351413 / DF Relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura; Órgão Julgador Sexta Turma; Data do Julgamento; 19/04/2016) Fl. 2339DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.324 40 RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. SONEGAÇÃO FISCAL. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. O princípio nemo tenetur se detegere referese à garantia da não autoincriminação, segundo o qual ninguém pode ser forçado, por qualquer autoridade ou particular, a fornecer involuntariamente qualquer tipo de informação ou declaração que o incrimine, direta ou indiretamente. Tratase de princípio de caráter processual penal, já que intimamente ligado à produção de provas incriminadoras. Já o princípio pecunia non olet carrega consigo a idéia de igualdade de tratamento entre as pessoas que tenham capacidade contributiva semelhante, independentemente da maneira utilizada para alcançar essa disponibilidade econômica, isto é, não importa se o rendimentos tributáveis tenham ou não fonte lícita. Cuidase de princípio de direito tributário. Tais princípios não se contrapõem, seja pela questão topográfica em que se encontram no direito, seja porque um não limita ou impossibilita a aplicação do outro, até mesmo porque o princípio pecunia non olet despreza a origem da fonte econômica tributável se lícita ou ilícita. (REsp 1208583 / ES; Relatora Ministra Laurita Vaz; Órgão Julgador Quinta Turma; Data do Julgamento 04/12/2012) TRIBUTÁRIO. APREENSÃO DE MERCADORIAS. IMPORTAÇÃO IRREGULAR. PENA DE PERDIMENTO. CONVERSÃO EM RENDA. 1. Nos termos do Decretolei nº 37/66, justificase a aplicação da pena de perdimento se o importador tenta ingressar no território nacional, sem declaração ao posto fiscal competente, com mercadorias que excedem, e muito, o conceito de bagagem, indicando nítida destinação comercial. 2. O art. 118 do CTN consagra o princípio do "non olet", segundo o qual o produto da atividade ilícita deve ser tributado, desde que realizado, no mundo dos fatos, a hipótese de incidência da obrigação tributária. 3. Se o ato ou negócio ilícito for acidental à norma de tributação (= estiver na periferia da regra de incidência), surgirá a obrigação tributária com todas as conseqüências que lhe são inerentes. Por outro lado, não se admite que a ilicitude recaia sobre elemento essencial da norma de tributação. 4. Assim, por exemplo, a renda obtida com o tráfico de drogas deve ser tributada, já que o que se tributa é o aumento patrimonial e não o próprio tráfico. Nesse caso, a ilicitude é circunstância acidental à norma de tributação. No caso de importação ilícita, reconhecida a ilicitude e aplicada a pena de perdimento, não poderá ser cobrado o imposto de importação, já que "importar mercadorias" é elemento essencial do tipo tributário. Assim, a ilicitude da importação afeta a própria incidência da regra tributária no caso concerto. (REsp 984607 / PR; Relator Ministro Castro Meira; Órgão Julgador Segunda Turma Data do Julgamento 07/10/2008) PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 1º, I, DA LEI Nº 8.137/90. SONEGAÇÃO FISCAL DE LUCRO ADVINDO DE Fl. 2340DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.325 41 ATIVIDADES ILÍCITAS. "NON OLET". Segundo a orientação jurisprudencial firmada nesta Corte e no Pretório Excelso, é possível a tributação sobre rendimentos auferidos de atividade ilícita, seja de natureza civil ou penal; o pagamento de tributo não é uma sanção (art. 4º do CTN "que não constitui sanção por ato ilícito"), mas uma arrecadação decorrente de renda ou lucro percebidos, mesmo que obtidos de forma ilícita (STJ: HC 7.444/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Edson Vidigal, DJ de 03.08.1998). A exoneração tributária dos resultados econômicos de fato criminoso antes de ser corolário do princípio da moralidade constitui violação do princípio de isonomia fiscal, de manifesta inspiração ética (STF: HC 77.530/RS, Primeira Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU de 18/09/1998). Ainda, de acordo com o art. 118 do Código Tributário Nacional a definição legal do fato gerador é interpretada com abstração da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes, responsáveis ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus efeitos (STJ: REsp 182.563/RJ, 5ª Turma, Rel. Min José Arnaldo da Fonseca, DJU de 23/11/1998). Habeas corpus denegado. (HC 83292 / SP; Relator Ministro Felix Fischer; Órgão Julgador Quinta Turma) Nesse mesmo sentido, a jurisprudência deste CARF: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Ano calendário: 2000, 2002 SOBRESTAMENTO DO FEITO ADMINISTRATIVO AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PENDÊNCIA DO JULGAMENTO DO FEITO JUDICIAL SOBRESTAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL IMPOSSIBILIDADE INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO PECUNIA NON OLET AUSÊNCIA DE REGRA PROCESSUAL ADMINISTRATIVA QUE DETERMINE O SOBRESTAMENTO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL NA PENDÊNCIA DE DEMANDA CÍVEL Auferida a renda, quer se trate de atividade lícita, quer ilícita, impõese a incidência do imposto de renda, já que se assim não se procedesse, em relação à atividade ilícita, estarseia outorgando ao fora da lei uma dupla benesse: o enriquecimento sem causa proveniente da atividade criminosa e a não incidência do imposto de renda. Ora, no tocante à renda auferida, imputase o mesmo ônus tributário a qualquer contribuinte que a aufira, independentemente da origem do rendimento, não havendo falar em implicações de ação cível de improbidade administrativa em face da lide tributária, quer pela aplicação do princípio tributário pecunia non olet, que determina a tributação da renda auferida independente de sua origem, quer pela inexistência de qualquer regra processual administrativa que determine a suspensão do rito administrativo fiscal na pendência de feito prejudicial cível. (Relator Giovanni Christian Nunes Campos Nº Acórdão 210200282) Fl. 2341DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.326 42 II.b Alegação de inexigibilidade de impostos em face do Recorrente Júlio Camargo, na autuação amparada nos “pagamentos indevidos”, em razão da devolução dos recursos operada com o acordo de colaboração premiada (Parecer Normativo COSIT 5/95) O RECORRENTE tenta se eximir do dever de pagar o tributo proveniente do acréscimo patrimonial a descoberto alegando a ausência de disponibilidade econômica sob os recursos operada em virtude da devolução destes após o acordo de colaboração premiada. Não merece prosperar o argumento do contribuinte. Em princípio, destacase que nem o Parecer Cosit nº 05/95 nem os entendimentos do CARF apresentados pelo contribuinte são aplicáveis ao presente caso. Apesar de ter firmado um acordo de devolução das vantagens indevidas, não há no presente caso “estorno” de valores recebidos a maior, mas sim obrigação de restituir ante o ilícito cometido. No momento em que o RECORRENTE auferiu a renda, ainda que de origem ilícita, ocorreu o fato gerador da obrigação tributária, surgindo a obrigação de pagar tributo. Uma vez constituída a obrigação tributária, esta só é extinta após ocorrida alguma das hipóteses previstas no rol taxativo do art. 156 do CTN. São modalidades de extinção do crédito tributário: Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I o pagamento; II a compensação; III a transação; IV remissão; V a prescrição e a decadência; VI a conversão de depósito em renda; VII o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X a decisão judicial passada em julgado. XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Perceba que “acordo de devolução dos recursos” não é hipótese de extinção do crédito tributário. Fl. 2342DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.327 43 Ademais, conforme exaustivamente elucidado, os valores das “comissões” não estão sendo usados nem como ORIGEM/RECEITA nem como DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES, pois foram considerados meros repasses de recursos. O único valor efetivamente utilizado na tabela para verificar o APD são aqueles confessadamente pagos com recursos próprios, mediante valores retirados das suas empresas (Treviso, da Piemonte e da Auguri) e aportados (entre outras formas) na empresa de Alberto Youssef (GFD INVESTIMENTOS). Portanto, não merece prosperar a defesa do RECORRENTE neste ponto. II.c Do apontamento da AVANTI como corresponsável pelo débito apurado. Também sem razão o pedido do contribuinte e da responsável solidária de não reconhecimento da responsabilidade solidária da Avanti Empreendimento S/A. A Avanti Empreendimentos S/A é uma holding familiar cujos sócios são os filhos do RECORRENTE (Julio Belardi de Almeida Camargo – CPF 313.548.88880 e Roberta Belardi de Almeida Camargo – CPF 321,613.99802) e atualmente administra quase que a totalidade do seu patrimônio. São solidariamente responsáveis pelo crédito tributário as pessoas, físicas ou jurídicas, que tenha interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal ou as pessoas expressamente designadas por lei, nos termos do art. 124 do CTN. No presente lançamento, a empresa foi incluída no polo passivo por supostamente ter interesse comum na prática do ato que implicou na constituição do fato gerador da obrigação tributária, pois os valores percebidos por Júlio Camargo durante todo o ano de 2011 através das empresas Treviso, Piemonte e Auguri propiciaram a disponibilização dos recursos para aquisição de bens e direitos pela holding familiar. Nos termos do relatório fiscal (fls. 1393/1399): “A empresa Avanti Empreendimentos S/A — CNPJ 53.767.760/000195, durante o ano calendário de 2011, adquiriu bens/direitos, como também atendeu as obrigações assumidas decorrentes de aquisições efetivadas em anos calendário anteriores. Em decorrência destes fatos, foi legalmente intimada, através de procedimento fiscal próprio, amparado pelo Termo de Distribuição de Procedimento Fiscal — Fiscalização / TDPFF n° 08.1.28.002016000024, a esclarecer e apresentar os documentos necessários, conforme exposto a seguir: (...) A fiscalização procedeu a analise dos documentos/esclarecimentos apresentados e o fato relevante observado, está relacionado aos recursos financeiros utilizados para o pagamento dos bens e cumprimento das obrigações assumidas. Os recursos, foram fornecidos pelas empresas de Julio Gerin de Almeida Camargo (Treviso Empreendimentos Ltda. e Piemonte Empreendimentos Ltda.), colocados a Fl. 2343DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.328 44 disposição, através remessas ou pagamentos diretos. Em virtude dos fatos narrados e diante da necessidade de aprofundar as apurações necessárias, anexamos ao presente, os documentos apresentados pela Avanti Empreendimentos S/A. Resumidamente temos as seguintes constatações: IMOVEL (A): A aquisição do imóvel, situado a Rua dos Pinheiros, 623, ocorreu em 16/08/2011, pelo valor de R$ 440.000,00, pagos integralmente ao alienante, na data da lavratura da escritura pública, em moeda corrente nacional, cabendo a Avanti Empreendimentos S/A o percentual de 50% do imóvel (R$ 220.000,00). A título de informação apenas, consta que o alienante contraiu empréstimo, concedido por Julio Gerin de Almeida Camargo, para aquisição do referido imóvel. Não tendo recursos para quitação do mútuo o antigo proprietário deu o imóvel em pagamento, que foi incorporado às empresas da família. Nenhum documento foi apresentado comprovando tais alegações, portanto vale o que consta na escritura o valor de R$ 220.000,00. IMOVEL (B): Este imóvel foi adquirido, ainda na planta, no ano calendário de 2010, através de Instrumento Particular. As parcelas pagas ano calendário de 2011, estão relacionadas na planilha denominada: Origem dos Recursos Utilizados Para o Pagamento do Imóvel Referente ao Conj. 62 — Torre 2 — Av. Magalhães de Castro — Ano Calendário 2011. A fiscalização verificou que os Valores utilizados para os pagamentos das parcelas foram disponibilizados pela empresa do contribuinte Julio Gerin de Almeida Camargo, Treviso Empreendimentos Ltda., através do envio de TED's (Pagamento Despesas Viajante em Transito / Pagamento Fornecedores) e transferências entre contas. AERONAVE (C): A aeronave Cessna 560 XL, série 560543, matrícula PTXIB, adquirida em 2010, da Beydoun lntermediações e Agenciamentos de Negócios Ltda. O pagamento da aeronave, envolveu o parcelamento junto à alienante, assunção da dívida remanescente havida entre a Beydoun e a exproprietária Ailanto Marketing Ltda. e perante a TAM Aviação Executiva e Táxi Aéreo S/A., em razão da prestação de serviços de manutenção e instalação de equipamentos. Os valores pagos estão relacionados na planilha denominada: Origem dos Recursos Utilizados Para Pagamento da Aeronave Cessna 560 XL — Série 5605043 — Matrícula PTXIB / Ano Calendário 2011. A fiscalização verificou que os valores utilizados para os pagamentos das parcelas e outras obrigações, foram disponibilizados pelas empresas do contribuinte Julio Gerin de Almeida Camargo, Treviso Empreendimentos Ltda. e Piemonte Empreendimentos Ltda., através do envio de TED's Fl. 2344DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.329 45 (Pagamento Despesas Viajante em Transito / Pagamento Fornecedores) e transferências entre contas. IMÓVEL (D): O terreno de 67 hectares, cento e vinte nove metros quadrados, situado na Rodovia General Artigas, s/n° Bairro dos Gabriéis — Bagé / RS, foi adquirido de João Luís Vieira Paixão Cortes e esposa pela Avanti Empreendimentos S/A, em 18/04/2011. Os valores pagos estão relacionados na planilha denominada: Origem dos Recursos Utilizados Para Pagamento do Imóvel Rural Área 67 Hectares Rodovia General Artigas, s/n° Bairro dos Gabriéis — Bagé / RS. A fiscalização verificou que os valores utilizados para os pagamentos, foram disponibilizados pela empresa do fiscalizado Julio Gerin de Almeida Camargo, Treviso Empreendimentos Ltda., através do envio de TED's (Pagamento Fornecedores). Diante de todo o exposto, verificamos que o relacionamento do fiscalizado com a Avanti Empreendimentos S/A.— CNPJ 53.767.760/000195, teve início em 06/10/2005, quando ocorreu a exclusão dos sócios Hélio Ferraz de Almeida Camargo — CPF 416.160.90863 e Lucia Maria Gerin de Almeida Camargo — CPF 221.876.37883 (pais do contribuinte) e a inclusão de Julio Belardi de Almeida Camargo — CPF 313.548.88880 e Roberta Belardi de Almeida Camargo — CPF 321,613.99802 (filhos do contribuinte). Informações obtidas junto as fontes internas de informações à disposição da Secretaria da Receita Federal do Brasil. A empresa vem apresentando como foco e objetivo, formar e administrar o patrimônio familiar. Os bens representados pelos veículos, embarcações, aeronaves, etc, e os bens imóveis (terrenos, casas, escritórios, fazendas, etc), foram ou são adquiridos em nome da Avanti Empreendimentos S/A. O fiscalizado operou econômica e financeiramente nas aquisições, fornecendo através de suas empresas (Treviso Empreendimentos Ltda, Piemonte Empreendimentos Ltda. e Auguri Empreendimentos e Assessoria Comercial Ltda.), os recursos financeiros necessários. O contribuinte não é o proprietário de fato dos bens, o nome do mesmo não consta nas escrituras, instrumentos particulares, notas fiscais ou qualquer outro documento, mas utiliza e usufrui dos mesmos. Os bens/direitos, adquiridos pela Avanti Empreendimentos S/A. — CNPJ 53.767.760/000195 e aqueles que ocasionaram reflexos, no ano calendário de 2011, teve a participação de Julio Gerin de Almeida Camargo e suas empresas (Treviso Empreendimento Ltda., Piemonte Empreendimentos Ltda. e Auguri Empreendimentos e Assessoria Comercial), fornecendo os recursos financeiros necessários para a concretização dos negócios. Fl. 2345DF CARF MF Processo nº 10314.722750/201621 Acórdão n.º 2201004.778 S2C2T1 Fl. 2.330 46 No Demonstrativo da Variação Patrimonial — Fluxo financeiro Mensal, registramos como DISPÊNDIOS/APLICAÇÕES os valores que o fiscalizado efetivamente colocou a disposição da Avanti Empreendimentos S/A. Foi utilizada a nomenclatura dos bens para facilitar o entendimento da operação. Como já exposto anteriormente os bens não são de propriedade de Julio Gerin de Almeida Camargo, mas os recursos financeiros, oriundos de suas empresas sim. Os valores disponibilizados para estas aquisições, estão respaldados em operações ilícitas, à margem do universo e da legislação tributária, consignadas no recebimento de "comissões", oriundas de intermediações de contratos onde o foco estava em administrar e operacionalizar o pagamento de vantagens indevidas.” A investigação constatou que a holding familiar vem funcionando como receptora dos bens de Júlio Camargo e família e que seu patrimônio foi constituído “através da participação ativa de Julio Gerin de Almeida Camargo e suas empresas de fachada, no esquema criminoso instalado nas diretorias de Abastecimento, Internacional e Engenharia e Serviços da Petrobras. Esta participação foi facilitada pelo trânsito e facilidades de contato, junto aos diretores e gerentes das diretorias mencionadas, que consistia nas intermediações e negociações envolvendo os interessados no fornecimento e na execução de obras de engenharia a serem contratadas pela estatal. Quando estas contratações resultavam em sucesso, incluía o pagamento de vantagens indevidas (propinas), exigidas pelos agentes criminosos. O contribuinte e suas empresas atuavam na captação e nos pagamentos destas vantagens (propinas), concretizando as demandas e disponibilizando os valores no Brasil e no exterior, atendendo as "exigências" do esquema instalado na Petrobras. Os "benefícios" advindos desta prática possibilitou a obtenção dos recursos financeiros, utilizados inclusive, para aquisição de bens, conforme relatado no item IX. Avanti Empreendimentos S/A. — CNPJ 53.767.760/000195, deste Termo de Verificação Fiscal, corroborados pelos Termos de Colaboração prestados por Julio Gerin de Almeida Camargo [...]” (fls. 1398). Restou amplamente comprovado o interesse comum da Avanti Empreendimento na prática do fato gerador da obrigação tributária principal, visto que foi quem efetivamente se beneficiou economicamente dos rendimentos que ensejaram o acréscimo patrimonial a descoberto, oriundos das empresas do RECORRENTE (Treviso, Piemonte e Auguri), através das quais era concretizado o esquema criminoso. O contribuinte não apresentou em seu recurso voluntário fundamentos e provas suficientes para afastar as conclusões da autoridade fiscalizadora, limitandose a afirmar que a legislação aplicável apenas permite a tributação quando o patrimônio pertencer de fato e de direito ao contribuinte. Portanto, não merece prosperar os argumentos do contribuinte. CONCLUSÃO Em razão do exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, nos termos do voto em epígrafe. (assinado digitalmente) Rodrigo Monteiro Loureiro Amorim – Relator Fl. 2346DF CARF MF
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