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Numero do processo: 19647.001625/2003-72
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Mon Apr 03 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed May 03 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Ano-calendário: 1991
NULIDADE DE LANÇAMENTO. VÍCIO MATERIAL. VÍCIO FORMAL. ASPECTOS QUE ULTRAPASSAM O ÂMBITO DO VÍCIO FORMAL.
Vício formal é aquele verificado de plano no próprio instrumento de formalização do crédito, e que não está relacionado à realidade representada (declarada) por meio do ato administrativo de lançamento. Espécie de vício que não diz respeito aos elementos constitutivos da obrigação tributária, ou seja, ao fato gerador, à base de cálculo, ao sujeito passivo, etc. O procedimento para sanear o erro incorrido na atividade de lançamento implicou na identificação da própria matéria tributável, assim entendida a descrição dos fatos e a base de cálculo, que não constavam do primeiro lançamento. A ausência desses elementos configura vício grave, não só porque dizem respeito à própria essência da relação jurídico-tributária, mas também porque inviabilizam o direito de defesa e do contraditório. Não cabe falar em convalidação do ato de lançamento se está havendo inovação na parte substancial desse ato. Além disso, o Decreto n° 70.235/72, em seus artigos 59 e 60, deixa bastante claro que não cabe saneamento de vício (para fins de convalidação do ato) nos casos de nulidade por preterição do direito de defesa. Não há como reconhecer a ocorrência de vício formal. A regra do art. 173, II, do CTN não é aplicável à situação sob exame para fins de alongar o prazo decadencial em favor do Fisco.
Numero da decisão: 9101-002.713
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(documento assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto - Presidente.
(documento assinado digitalmente)
Rafael Vidal de Araujo - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Jose Eduardo Dornelas Souza, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado CONSTRUTORA INCORPORADORA JB LTDA. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 1991 NULIDADE DE LANÇAMENTO. VÍCIO MATERIAL. VÍCIO FORMAL. ASPECTOS QUE ULTRAPASSAM O ÂMBITO DO VÍCIO FORMAL. Vício formal é aquele verificado de plano no próprio instrumento de formalização do crédito, e que não está relacionado à realidade representada (declarada) por meio do ato administrativo de lançamento. Espécie de vício que não diz respeito aos elementos constitutivos da obrigação tributária, ou seja, ao fato gerador, à base de cálculo, ao sujeito passivo, etc. O procedimento para sanear o erro incorrido na atividade de lançamento implicou na identificação da própria matéria tributável, assim entendida a descrição dos fatos e a base de cálculo, que não constavam do primeiro lançamento. A ausência desses elementos configura vício grave, não só porque dizem respeito à própria essência da relação jurídicotributária, mas também porque inviabilizam o direito de defesa e do contraditório. Não cabe falar em convalidação do ato de lançamento se está havendo inovação na parte substancial desse ato. Além disso, o Decreto n° 70.235/72, em seus artigos 59 e 60, deixa bastante claro que não cabe saneamento de vício (para fins de convalidação do ato) nos casos de nulidade por preterição do direito de defesa. Não há como reconhecer a ocorrência de vício formal. A regra do art. 173, II, do CTN não é aplicável à situação sob exame para fins de alongar o prazo decadencial em favor do Fisco. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negarlhe provimento. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 19 64 7. 00 16 25 /2 00 3- 72 Fl. 1313DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 3 2 (documento assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Jose Eduardo Dornelas Souza, Gerson Macedo Guerra, Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório Tratase de recurso especial de divergência interposto pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), fundamentado atualmente no art. 67 e seguintes do Anexo II da Portaria nº 343, de 09/06/2015, que aprova o Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), em que se alega divergência jurisprudencial quanto à identificação da espécie do vício que ensejou declaração de nulidade do auto de infração original, posteriormente substituído por novo lançamento. A recorrente insurgiuse contra o Acórdão nº 180200.489, de 19/05/2010, por meio do qual a 2a Turma Especial da 1a Seção de Julgamento do CARF, por maioria de votos, deu provimento a recurso voluntário da contribuinte para fins de acolher a alegação de decadência do segundo lançamento que corrigiu as falhas anteriores do lançamento original, entendendo que a regra prevista no art. 173, II, do CTN não seria aplicável aos casos de nulidade por vício material. O acórdão recorrido contém a seguinte ementa: Assunto: Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido CSLL Anocalendário: 1991 Ementa: REGRAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO. DECADÊNCIA. LANÇAMENTO ANULADO POR VÍCIO MATERIAL. PRAZO PARA LAVRATURA DE NOVO AUTO DE INFRAÇÃO. O prazo estabelecido no art. 173, inciso II, do CTN, somente é aplicável quando a nulidade do lançamento de oficio original for declarada em virtude de vício formal. Neste caso o fisco deve retificar o lançamento de oficio antes do transcurso do prazo decadencial. A PGFN afirma que o acórdão recorrido deu à lei tributária interpretação divergente da que tem sido dada em outros processos, especificamente quanto à identificação da espécie do vício que ensejou declaração de nulidade do auto de infração original, posteriormente substituído por novo lançamento. Para o processamento de seu recurso, a PGFN desenvolve os argumentos descritos abaixo: Fl. 1314DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 4 3 a Turma entendeu que o lançamento originário, por carecer de descrição clara e precisa do fato gerador, deveria ter sido anulado por vício material, e não formal, o que implicou a não incidência do artigo 173, inciso II, do CTN e, por conseguinte, o reconhecimento da decadência para o período mencionado; a decisão da e. Câmara a quo diverge da decisão proferida pela então Terceira Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, constante do Acórdão n° 30333365 (Acórdão Paradigma), abaixo transcrito: Acórdão n° 30333365 "ITR/1999. VÍCIO FORMAL. CERCEAMENTO AO DIREITO DE DEFESA. NULIDADE DO LANÇAMENTO. Constatada insuficiência na descrição dos fatos e no enquadramento legal é de se reconhecer A NULIDADE DO LANÇAMENTO POR VÍCIO FORMAL e cerceamento ao direito de defesa. A imprecisão do lançamento é particularmente notada na identificação do sujeito passivo, na caracterização do imóvel sobre o qual deve recair o lançamento, e na descrição da motivação e respectivo enquadramento legal para a autuação. Recurso de oficio negado". diversamente da premissa adotada pela e. Câmara a quo, a então Terceira Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes entendeu que a insuficiência na descrição dos fatos é vício de natureza formal; o Decreto n° 70.235/72, que regula o Processo Administrativo Fiscal, estabelece os requisitos que devem fazer parte do auto de infração no seu art. 10; o art. 37 da Lei n° 8.212/91 estabelece os requisitos para a lavratura de notificação de débito das contribuições tratadas na referia lei; os requisitos elencados nesses dispositivos legais, dentre eles, a descrição do fato gerador, possuem natureza formal, ou seja, determinam como o ato administrativo, in casu, o lançamento, deve exteriorizase; tal disciplina tem por objetivo uniformizar o procedimento de autuação da fiscalização, de maneira a conferir garantias ao contribuinte, em especial da ampla defesa e do contraditório; um lançamento tributário é anulado por vício formal quando não se obedece as formalidades necessárias ou indispensáveis à existência do ato, isto é, às disposições de ordem legal para a sua feitura; na hipótese em apreço, a deficiência quanto ao apontamento dos elementos caracterizadores do fato gerador, não pode ser considerado como de natureza material, pois se assim fosse estarseia afirmando que o motivo do ato (fato jurídico) nunca existiu; não há que se confundir falta de motivo com falta ou deficiência de fundamentação/motivação. A primeira representa a exposição dos motivos, ou seja, a demonstração, por escrito, de que os pressupostos de fato que justificam o ato realmente Fl. 1315DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 5 4 existiram. Já a motivação diz respeito às formalidades que ensejam a formação do ato. No caso em debate, a descrição fática não é clara o suficiente para o exercício do direito de defesa do contribuinte. Tratase, assim, de motivação deficiente do ato administrativo. Portanto, vício de forma; a jurisprudência dos Conselhos de Contribuintes é farta em decisões que, ao determinarem o cancelamento do lançamento por falta de preenchimento de alguns dos requisitos formais estipulados no art. 10 do Decreto n° 70.235/72 e/ou art. 142 do CTN, consideraram que se tratava de nulidade por vício de forma (ementas transcritas); o acórdão recorrido mostrase equivocado ao afirmar que a deficiência na descrição dos fatos ensejadores do lançamento constitui vicio material, eis que se vício existe no lançamento, este é de natureza formal visto que relacionado a elemento de exteriorização do ato administrativo; tratandose de vício relacionado à motivação, que se revela como requisito atinente à forma do ato administrativo fiscal, é correto dizer que referido vício poder ser perfeitamente convalidável, inclusive com base no que preceitua o art. 55 da Lei n° 9.784/99; verificandose a deficiência na descrição do fato gerador (motivação do ato administrativo de lançamento), nada obsta a sua complementação pela autoridade fiscal competente; a convalidação in casu é providência que também se harmoniza com o conteúdo dos arts. 59 e 60 do Decreto n° 70.235/72, dispositivos estes que, privilegiando a instrumentalidade das formas, só determinam a declaração de nulidade em sede do processo administrativo fiscal nos casos de (a) vicio de incompetência; e (b) preterição do direito de defesa; pelo exposto, requer a União (Fazenda Nacional) seja o presente recurso conhecido e provido, para afastar a decadência no caso em exame, uma vez que legítima a contagem do prazo de acordo com a regra do art. 173, inciso II, do CTN. Quando do exame de admissibilidade do Recurso Especial da PGFN, o Presidente da 2a Câmara da 1a Seção de Julgamento do CARF, por meio do Despacho nº 1200 00.038/2012, de 16/02/2012, admitiu o recurso especial fazendo as seguintes considerações sobre a divergência suscitada: Verificase que da contraposição dos fundamentos expressos nas ementas e nos votos condutores dos aludidos acórdãos, evidenciase que a recorrente logrou êxito em comprovar a ocorrência do alegado dissenso jurisprudencial, pois em situações fáticas semelhantes, chegouse a conclusões distintas. Na decisão recorrida, o e. colegiado da Segunda Turma Especial assentou o entendimento de que o lançamento efetuado em desconformidade com o disposto no art. 142 do CTN está eivado de vício material. Fl. 1316DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 6 5 A decisão apresentada como paradigma, firma entendimento diverso, no sentido de que “a infração ao art. 142 do CTN, e aos requisitos previstos nos artigos 10 e 11 do Decreto nº 70.235/1972, constitui vício de forma que causa a nulidade do lançamento (...)". Assim, do confronto entre as decisões verificase que o recurso especial deve ser admitido, porquanto o acórdão paradigma apresentado como divergente foi proferido por colegiado distinto e restou demonstrada a divergência na interpretação da legislação tributária. Por todo o exposto, e no uso da competência prevista no art. 18, inciso III do RICARF, DOU SEGUIMENTO ao recurso especial impetrado pela Fazenda. Em 05/11/2013, a contribuinte foi considerada intimada (por edital) do Acórdão nº 180200.489, do recurso especial da PGFN e do despacho que admitiu esse recurso, e ela não apresentou contrarrazões. É o relatório. Fl. 1317DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 7 6 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. Conheço do recurso especial, pois este preenche os requisitos de admissibilidade. O presente processo tem por objeto lançamento realizado em 15/09/2003 para exigência de crédito tributário relativo à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) apurada em relação ao anocalendário de 1991. Consoante Relatório de Descrição dos Fatos e Enquadramento Legal (fl. 02), a Autoridade Fiscal constatou apuração incorreta da CSLL, ante um apontado erro no cálculo da dita contribuição. O lançamento em questão é substitutivo daquele julgado nulo pela Delegacia de Julgamento de Recife/PE em 21/09/1998, no âmbito do processo administrativo n° 10480.011589/9688 (apenso). A realização do segundo lançamento está amparada no entendimento de que, com a anulação do lançamento original, teria havido a renovação do prazo de decadência, por força da regra contida no art. 173, II, do CTN. A decisão de primeira instância administrativa manteve o lançamento, rejeitando a alegação de decadência, com base nesse mesmo entendimento. Contudo, a decisão de segunda instância administrativa (acórdão recorrido), ao julgar o recurso voluntário da contribuinte, concluiu que a nulidade do primeiro lançamento configurava vício material (e não vício formal), e que, sendo assim, a regra prevista no art. 173, II, do CTN não era aplicável ao caso, o que implicou no reconhecimento da decadência do segundo lançamento. Em seu recurso especial, a PGFN suscita divergência de interpretação da legislação tributária quanto à identificação da espécie do vício que ensejou a declaração de nulidade do auto de infração original, cujo problema foi corrigido por meio do segundo lançamento, sobre o qual subiste debate em torno da ocorrência ou não de decadência. Para o Direito Tributário, essa questão de compreender e identificar se o vício é formal ou material tem grande relevância, porque o Código Tributário Nacional CTN, nos casos de vício formal, prolonga o prazo de decadência para constituição de crédito tributário, nos termos de seu art. 173, II: Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Fl. 1318DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 8 7 Os prazos de decadência tem a função de trazer segurança e estabilidade para as relações jurídicas, e é razoável admitir que o prolongamento desse prazo em favor do Fisco, em razão de erro por ele mesmo cometido, deve abranger vícios de menor gravidade. Com efeito, o sentido do CTN não é prolongar a decadência para todo o tipo de crédito tributário, mas apenas para aqueles que tenha sido anulados por ocorrência de "vício formal" em sua constituição. Nem sempre é tarefa fácil distinguir o vício formal do vício material, dadas as inúmeras circunstâncias e combinações em que eles podem se apresentar. O problema é que os requisitos de forma não são um fim em si mesmo. Eles existem para resguardar valores. É a chamada instrumentalidade das formas, e isso às vezes cria linhas muito tênues de divisa entre o aspecto formal e o aspecto substancial das relações jurídicas. É esse o contexto quando se afirma que não há nulidade sem prejuízo da parte. Nesse sentido, vale trazer à baila as palavras de Leandro Paulsen: Não há requisitos de forma que impliquem nulidade de modo automático e objetivo. A nulidade não decorre propriamente do descumprimento do requisito formal, mas dos seus efeitos comprometedores do direito de defesa assegurado constitucionalmente ao contribuinte já por força do art. 5º, LV, da Constituição Federal. Isso porque as formalidades se justificam como garantidoras da defesa do contribuinte; não são um fim, em si mesmas, mas um instrumento para assegurar o exercício da ampla defesa. Alegada eventual irregularidade, cabe, à autoridade administrativa ou judicial verificar, pois, se tal implicou efetivo prejuízo à defesa do contribuinte. Daí falarse do princípio da informalidade do processo administrativo. (PAULSEN, Leandro. Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 13ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011.) A Lei nº 4.717/1965 (Lei da Ação Popular), ao tratar da anulação de atos lesivos ao patrimônio público, permite, em seu art. 2º, uma análise comparativa entre os diferentes elementos que compõe o ato administrativo (competência, forma, objeto, motivo e finalidade): “Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de: a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de finalidade. Parágrafo único. Para a conceituação dos casos de nulidade observarseão as seguintes normas: Fl. 1319DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 9 8 a) a incompetência fica caracterizada quando o ato não se incluir nas atribuições legais do agente que o praticou; b) o vício de forma consiste na omissão ou na observância incompleta ou irregular de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato; c) a ilegalidade do objeto ocorre quando o resultado do ato importa em violação de lei, regulamento ou outro ato normativo; d) a inexistência dos motivos se verifica quando a matéria de fato ou de direito, em que se fundamenta o ato, é materialmente inexistente ou juridicamente inadequada ao resultado obtido; e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.” (grifos acrescidos) Pela enumeração dos elementos que compõe o ato administrativo, já se pode visualizar o que se distingue da forma, ou seja, o que não deve ser confundido com a aspecto formal do ato (a competência, o objeto, o motivo e a finalidade). No contexto do ato administrativo de lançamento, vício formal é aquele verificado de plano, no próprio instrumento de formalização do crédito, e que não está relacionado à realidade jurídica representada (declarada) por meio deste ato. O vício formal não pode estar relacionado aos elementos constitutivos da obrigação tributária, ou seja, não pode referirse à verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação, à determinação da matéria tributável, ao cálculo do montante do tributo devido e à identificação do sujeito passivo, porque aí está a própria essência da relação jurídicotributária. O vício formal a que se refere o artigo 173, II, do CTN abrange, por exemplo, a ausência de indicação de local, data e hora da lavratura do lançamento, a falta de assinatura do autuante, ou a falta da indicação de seu cargo ou função, ou ainda de seu número de matrícula, todos eles configurando elementos formais para a lavratura de auto de infração, conforme art. 10 do Decreto nº 70.235/1972, mas que não se confundem com a essência/ conteúdo da relação jurídicotributária, apresentada como resultado das atividades inerentes ao lançamento (verificação da ocorrência do fato gerador, determinação da matéria tributável, cálculo do montante do tributo devido, etc. CTN, art. 142). Penso que a verificação da possibilidade de refazimento (repetição) do ato de lançamento, com o mesmo conteúdo, para fins de apenas sanear o vício detectado, é um referencial bastante útil para se examinar a espécie do vício. Se houver possibilidade de o lançamento ser repetido, com o mesmo conteúdo concreto (mesmos elementos constitutivos da obrigação tributária), sem incorrer na mesma invalidade, o vício é formal. Isso é um sinal de que o problema está nos aspectos extrínsecos e não no núcleo da relação jurídicotributária. Há uma decisão da Câmara Superior de Recursos Fiscais, o Acórdão nº 9101 00.955, que explicita bem esse aspecto: Acórdão nº 910100.955 Fl. 1320DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 10 9 ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2000 NULIDADE DO LANÇAMENTO. VÍCIO MATERIAL. A verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação, a determinação da matéria tributável, o cálculo do montante do tributo devido e a identificação do sujeito passivo, definidos no art. 142 do Código Tributário Nacional — CTN, por serem elementos fundamentais, intrínsecos, do lançamento, sem cuja delimitação precisa não se pode admitir a existência da obrigação tributária em concreto, antecedem e são preparatórios à formalização do crédito tributário, a qual se dá no momento seguinte, mediante a lavratura do auto de infração, seguida da notificação ao sujeito passivo, quando, ai sim, deverão estar presentes os seus requisitos formais, extrínsecos, como, por exemplo, a assinatura do autuante, com a indicação de seu cargo ou função e o número de matricula; a assinatura do chefe do órgão expedidor ou de outro servidor autorizado, com a indicação de seu cargo ou função e o número de matrícula. [...] Voto [...] Como visto, há um ponto comum em todos os mestres citados: o lançamento substitutivo só tem lugar se a obrigação tributária já estiver perfeitamente definida no lançamento primitivo. Neste plano, haveria uma espécie de proteção ao crédito público já formalizado, mas contaminado por um vicio de forma que o torna inexeqüível.... Bem sopesada, percebese que a regra especial do artigo 173, II, do CTN, impede que a forma prevaleça sobre o fundo. [...] [...] 4.0 VÍCIO FORMAL NÃO ADMITE INVESTIGAÇÕES ADICIONAIS Neste contexto, é licito concluir que as investigações intentadas no sentido de determinar, aferir, precisar o fato que se pretendeu tributar anteriormente, revelamse incompatíveis com os estreitos limites dos procedimentos reservados ao saneamento do vício formal. Com efeito, sob o pretexto de corrigir o vício formal detectado, não pode o Fisco intimar o contribuinte para apresentar informações, esclarecimentos, documentos, etc. tendentes a apurar a matéria tributável. Se tais providencias forem necessárias, significa que a obrigação tributária não estava definida e o vício apurado não seria apenas de forma, mas, sim, de estrutura ou da essência do ato praticado. Deveras, como visto anteriormente, a adoção da regra especial de decadência prevista no artigo 173, II, do CTN, no plano do vicio formal, que autoriza um segundo lançamento sobre o mesmo fato, Fl. 1321DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 11 10 exige que a obrigação tributária tenha sido plenamente definida no primeiro lançamento. Vale dizer, para usar as palavras já transcritas do Mestre Ives Gandra Martins, o segundo lançamento visa "preservar um direito já previamente qualificado, mas inexeqüível pelo vicio formal detectado". Ora, se o direito já estava previamente qualificado, o segundo lançamento, suprida a formalidade antes não observada, deve basear se nos mesmos elementos probatórios colhidos por ocasião do primeiro lançamento. [...] O fato é que se houver inovação na parte substancial do lançamento (seja através de um lançamento complementar, seja através do resultado de uma diligência), não há como sustentar que a nulidade então existente decorria de vício formal. Nesse passo, vale transcrever a parte final da referida decisão proferida pela Delegacia de Julgamento de Recife/PE em 21/09/1998 (DECISÃO DRJ/RCE nº 639/1998), exarada nos autos do processo nº 10480.011569/9688, que identificou o vício de nulidade no lançamento original: [...] O lançamento foi efetuado através da notificação, de fl. 05, não contendo a matéria tributável, assim entendida a descrição dos fatos e a base de cálculo; o nome, o cargo, o número de matricula e a assinatura do AFTN autuante; a data e a hora da lavratura, conforme previsto no art. 5º, II, VI e VII da já citada Instrução Normativa, sendo tal omissão motivo para que seja declarada a nulidade do lançamento. Ressalvese que, nos termos do art. 6º da Instrução, a declaração de nulidade não impede, quando for o caso, novo lançamento. CONCLUSÃO DECLARO NULO o presente lançamento, tornando sem efeito a notificação de fl. 05 do processo. No caso sob exame, o procedimento para sanear o erro incorrido na atividade de lançamento implicou na identificação da própria matéria tributável, assim entendida a descrição dos fatos e a base de cálculo, que não constavam do primeiro lançamento. A ausência desses elementos configura vício grave, não só porque dizem respeito à própria essência da relação jurídicotributária, mas também porque inviabilizam o direito de defesa e do contraditório. Às considerações da PGFN sobre convalidação do ato administrativo, se aplicam todos os comentários no sentido de que o vício é formal (e sanável nos termos do art. 173, II, do CTN) quando existe a possibilidade de o lançamento ser repetido, com o mesmo conteúdo concreto (mesmos elementos constitutivos da obrigação tributária), sem incorrer na mesma invalidade. Fl. 1322DF CARF MF Processo nº 19647.001625/200372 Acórdão n.º 9101002.713 CSRFT1 Fl. 12 11 Com efeito, não cabe falar em convalidação do ato de lançamento se está havendo inovação na parte substancial desse ato. Além disso, o próprio Decreto n° 70.235/72, em seus artigos 59 e 60 (trazidos à baila pela PGFN), deixa bastante claro que não cabe saneamento de vício (para fins de convalidação do ato) nos casos de nulidade por preterição do direito de defesa. Por tudo o que se disse, não há como reconhecer neste caso a ocorrência de vício formal. A regra do art. 173, II, do CTN não é aplicável à situação sob exame para fins de alongar o prazo decadencial em favor do Fisco. Desse modo, voto no sentido de NEGAR provimento ao recurso especial da PGFN. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Fl. 1323DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11080.720375/2010-43
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Segunda Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 18 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Fri Feb 17 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário: 2008
DIRPF. DEDUÇÕES. COMPROVAÇÃO. REGULAMENTO DO IMPOSTO DE RENDA/RIR 1999.
Todas as deduções na base de cálculo do imposto previstas pela legislação estão sujeitas a comprovação ou justificação, a juízo da autoridade lançadora (Decreto-Lei n° 5.844, de 1943, art. 11, § 3°).
DESPESAS MÉDICAS.
Poderão ser deduzidos os pagamentos referentes a despesas médicas efetuados pelo contribuinte, relativos ao próprio tratamento e ao de seus dependentes, desde que comprovados mediante documentação hábil e idônea.
O pagamento de plano de saúde da filha não declarada como dependente na DIRPF, não é dedutível da base de cálculo do IRPF.
PREENCHIMENTO DA DECLARAÇÃO DE AJUSTE. RETIFICAÇÃO DEPOIS DA NOTIFICAÇÃO DE LANÇAMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
Nos termos art. 832 do RIR/1999, é vedada a retificação da Declaração de Ajuste Anual do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física depois de iniciado o processo de lançamento de ofício.
Numero da decisão: 2202-003.619
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso.
Assinado digitalmente
Marco Aurélio de Oliveira Barbosa Presidente
Assinado digitalmente
Cecilia Dutra Pillar - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (Presidente), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosemary Figueiroa Augusto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar, Márcio Henrique Sales Parada e José Alfredo Duarte Filho (Suplente Convocado).
Nome do relator: CECILIA DUTRA PILLAR
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DEDUÇÕES. COMPROVAÇÃO. REGULAMENTO DO IMPOSTO DE RENDA/RIR 1999. Todas as deduções na base de cálculo do imposto previstas pela legislação estão sujeitas a comprovação ou justificação, a juízo da autoridade lançadora (DecretoLei n° 5.844, de 1943, art. 11, § 3°). DESPESAS MÉDICAS. Poderão ser deduzidos os pagamentos referentes a despesas médicas efetuados pelo contribuinte, relativos ao próprio tratamento e ao de seus dependentes, desde que comprovados mediante documentação hábil e idônea. O pagamento de plano de saúde da filha não declarada como dependente na DIRPF, não é dedutível da base de cálculo do IRPF. PREENCHIMENTO DA DECLARAÇÃO DE AJUSTE. RETIFICAÇÃO DEPOIS DA NOTIFICAÇÃO DE LANÇAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. Nos termos art. 832 do RIR/1999, é vedada a retificação da Declaração de Ajuste Anual do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física depois de iniciado o processo de lançamento de ofício. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. Assinado digitalmente Marco Aurélio de Oliveira Barbosa – Presidente AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 08 0. 72 03 75 /2 01 0- 43 Fl. 140DF CARF MF 2 Assinado digitalmente Cecilia Dutra Pillar Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Marco Aurélio de Oliveira Barbosa (Presidente), Junia Roberta Gouveia Sampaio, Dilson Jatahy Fonseca Neto, Rosemary Figueiroa Augusto, Martin da Silva Gesto, Cecilia Dutra Pillar, Márcio Henrique Sales Parada e José Alfredo Duarte Filho (Suplente Convocado). Relatório Trata o presente processo de Notificação de Lançamento relativa ao Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas, decorrente de revisão da Declaração de Ajuste Anual do IRPF do exercício de 2009, ano calendário de 2008, em função dedução de despesas médicas de não dependente, no valor de R$ 12.290,09 resultando na diferença de imposto a pagar de R$ 3.379,77, acrescido de multa de ofício de 75% e mais juros de mora calculados com base na taxa Selic até a data de regularização. Inconformado o contribuinte apresentou impugnação parcial conforme relatório da DRJ, que por bem descrever as alegações, transcrevo: 1. Na Declaração de Ajuste Anual de 2009, ano base 2008, declarou a totalidade da despesa com o plano de saúde da Unimed (Plano Familiar II com participação) do qual é titular e que custeia há 12 anos para si mesmo, sua esposa e filhos. 2. Consignou a totalidade dos pagamentos efetuados à empresa Enterprise Consulting Partners, que lhe dava, e a seus dependentes, acesso ao plano de saúde Uniodonto. Os pagamentos eram efetuados a pedido e no valor solicitado pela empresa, não tendo acesso à fatura da Uniodonto para conferência. 3. Por engano, deixou de incluir como dependente sua filha Clara Freund, inclusão a que tinha direito por lei, visto que a mesma completou 25 anos em 17/12/2008. 4. Requer a inclusão das seguintes deduções correspondentes ao dependente acima: · R$ 1.655,88 (dedução com dependente); · R$ 3.598,76 referente à despesa com o custeio do plano de saúde Unimed; · R$ 2.592,29 referente a despesas com instrução, correspondente ao pagamento à Sociedade de Educação Ritter dos Reis declarado na ficha "Pagamentos e doações efetuados"; · Valor desconhecido despendido com o custeio do plano de saúde Uniodonto, que requer seja obtido pela Receita Federal. Fl. 141DF CARF MF Processo nº 11080.720375/201043 Acórdão n.º 2202003.619 S2C2T2 Fl. 141 3 · Concorda com o imposto suplementar a pagar no valor de R$ 1.221,87, sobre o qual devem incidir a multa de ofício passível de redução de R$ 916,40 e os juros de mora de R$ 82,84, resultando num total de R$ 2.221,11, redutíveis para R$ 1.762,91 se pagos até o vencimento, e requer que o crédito gerado pela apuração da dedução relativa ao custeio do plano Uniodonto para a dependente Clara Freund seja abatido de impostos futuros devidos. · Requer, por fim, prioridade na análise desta impugnação, de acordo com o Art. 71 da Lei nº 10.471/03 (Estatuto do Idoso) A Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Porto Alegre (RS), julgou improcedente a impugnação, conforme acórdão de fls. 95/98, indeferindo o pedido do contribuinte de inclusão de sua filha Clara Freund como sua dependente por falta de apresentação de documentos comprobatórios e mantendo as glosas que foram objeto de impugnação. Cientificado dessa decisão por via postal em 16/08/2011, (A.R. de fls. 103), o Contribuinte apresentou Recurso Voluntário em 05/09/2011 (fls. 104/107), no qual alega que sempre declarou sua filha como dependente, reproduz os mesmos argumentos trazidos na impugnação e anexa cópia da certidão de nascimento, carteira de identidade e do cartão do CPF da filha; comprovante de pagamentos de despesas com instrução da filha e cópia da DIRPF 2009, anocalendário 2008. Ao final pede: Fl. 142DF CARF MF 4 É o Relatório. Voto Conselheira Cecilia Dutra Pillar, relatora. O recurso é tempestivo e atende às demais formalidades legais, portanto dele conheço. O presente recurso resumese à controvérsia acerca da dedução dos pagamentos efetuados de despesas médicas pelo declarante (planos de Saúde Unimed e Enterprise), em nome da filha, não declarada como sua dependente na DIRPF. A dedução de despesas médicas e de saúde na declaração de ajuste anual tem como fundamento legal os dispositivos do art. 8º da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, que transcrevo: Art. 8º A base de cálculo do imposto devido no anocalendário será a diferença entre as somas: I de todos os rendimentos percebidos durante o ano calendário, exceto os isentos, os nãotributáveis, os tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação definitiva; II das deduções relativas: a) aos pagamentos efetuados, no anocalendário, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias; [...] § 2º O disposto na alínea a do inciso II: I aplicase, também, aos pagamentos efetuados a empresas domiciliadas no País, destinados à cobertura de despesas com hospitalização, médicas e odontológicas, bem como a entidades que assegurem direito de atendimento ou ressarcimento de despesas da mesma natureza; II restringese aos pagamentos efetuados pelo contribuinte, relativos ao próprio tratamento e ao de seus dependentes; (...) ( sem grifos no original) A decisão da DRJ está em consonância com o ordenamento jurídico, pois nos termos do incido II do parágrafo 2º, do art. 8º da Lei nº 9.250/1995 acima transcrito, apenas as despesas do declarante e de seus dependentes são dedutíveis da base de cálculo do IRPF. O contribuinte propõe que seja processada a retificação de sua declaração para incluir a filha como dependente, permitindo a dedução do valor da dependente e também de despesas médicas e de instrução desembolsados em seu benefício. Fl. 143DF CARF MF Processo nº 11080.720375/201043 Acórdão n.º 2202003.619 S2C2T2 Fl. 142 5 Não pode este órgão julgador acatar o pleito do Recorrente uma vez que o lançamento de ofício já se encontra processado. Sobre esse tema, é importante citar o disposto no art. 832 do Decreto nº 3.000/1999 (RIR/99): Art. 832. A autoridade administrativa poderá autorizar a retificação da declaração de rendimentos, quando comprovado erro nela contido, desde que sem interrupção do pagamento do saldo do imposto e antes de iniciado o processo de lançamento de ofício (DecretoLei nº 1.967, de 1982, art. 21, e DecretoLei nº 1.968, de 23 de novembro de 1982, art. 6º). Assim, o pedido do interessado para que seja processada retificação de sua DIRPF para inclusão de dependente, após concretizado o lançamento de ofício, não pode ser atendido pois é procedimento vedado pela legislação do imposto de renda. Outro pedido do recorrente é que com o processamento de nova declaração seja gerado crédito em seu favor, considerando o recolhimento realizado em 23/02/2010, que teria sido feito a maior, em função de não ter incluído a dedução pleiteada de R$ 454,73. Como não será processada nova declaração, este pedido perde seu objeto, não havendo crédito a reconhecer. CONCLUSÃO Diante do exposto, voto no sentido de NEGAR provimento ao recurso voluntário, mantendo o lançamento. Assinado digitalmente Cecilia Dutra Pillar Relatora Fl. 144DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.000582/2009-28
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 07 00:00:00 UTC 2012
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ
Ano-calendário: 1991
DECADÊNCIA. LANÇAMENTO PARA FINS DE PREVENÇÃO.
IMPEDIMENTO JUDICIAL. INÉRCIA FAZENDARIA.
O Fisco deve lavrar auto de infração para fins de prevenção da decadência.
Na pendência de ordem judicial que impeça o lançamento de oficio, deve a Fazenda buscar a reforma do decisurn, pela via recursal pertinente. Frente
inércia a que deu causa o próprio agente lançador, assumiu os riscos da caducidade. Não se aplica, aqui, o critério de cômputo do artigo 173, inciso II, do CTN, uma vez não ter se demonstrado que o cancelamento judicial dos autos de infrações precedentes fora determinado pela averiguação de vicio formal.
IRPJ. POSTERGAÇÃO DE RECEITAS. TRIBUTAÇÃO. IMPUTAÇÃO
PROPORCIONAL.
A partir da vigência da Lei n° 9.430/96, em caso de recolhimento de tributo
realizado depois do período de competência (postergação do tributo), não é
mais aplicável o método de imputação proporcional.
CSLL. DIFERENÇA DEVEDORA DA VARIAÇÃO IPC/BTNF.
INDEDUTIBILIDADE JUNTO À BASE IMPONÍVEL.
0 saldo devedor da parcela de correção monetária referente à diferença de
variação, no ano-base de 1990, do IPC e do BTNF não pode ser deduzido da
base de cálculo da CSLL, a teor do artigo 41 do Decreto n° 332/91.
INCONSTITUCIONALIDADE. LEGISLAÇÃO TRIBUTARIA. SÚMULA
CARF N° 02.
O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade
de lei tributária.
JUROS DE MORA. TAXA SELIG. SÚMULA CARP N° 04.
A partir de I° de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais
Numero da decisão: 1101-000.774
Decisão: Acordam os membros da Primeira Turma Ordinária da Primeira Camara da Primeira Seção de Julgamento, por unanimidade, ACOLHER A PRELIMINAR DE DECADÊNCIA suscitada, a fim de determinar o cancelamento dos autos de infração lavrados
Nome do relator: Benedicto Celso Benício Júnior
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ementa_s : IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ Ano-calendário: 1991 DECADÊNCIA. LANÇAMENTO PARA FINS DE PREVENÇÃO. IMPEDIMENTO JUDICIAL. INÉRCIA FAZENDARIA. O Fisco deve lavrar auto de infração para fins de prevenção da decadência. Na pendência de ordem judicial que impeça o lançamento de oficio, deve a Fazenda buscar a reforma do decisurn, pela via recursal pertinente. Frente inércia a que deu causa o próprio agente lançador, assumiu os riscos da caducidade. Não se aplica, aqui, o critério de cômputo do artigo 173, inciso II, do CTN, uma vez não ter se demonstrado que o cancelamento judicial dos autos de infrações precedentes fora determinado pela averiguação de vicio formal. IRPJ. POSTERGAÇÃO DE RECEITAS. TRIBUTAÇÃO. IMPUTAÇÃO PROPORCIONAL. A partir da vigência da Lei n° 9.430/96, em caso de recolhimento de tributo realizado depois do período de competência (postergação do tributo), não é mais aplicável o método de imputação proporcional. CSLL. DIFERENÇA DEVEDORA DA VARIAÇÃO IPC/BTNF. INDEDUTIBILIDADE JUNTO À BASE IMPONÍVEL. 0 saldo devedor da parcela de correção monetária referente à diferença de variação, no ano-base de 1990, do IPC e do BTNF não pode ser deduzido da base de cálculo da CSLL, a teor do artigo 41 do Decreto n° 332/91. INCONSTITUCIONALIDADE. LEGISLAÇÃO TRIBUTARIA. SÚMULA CARF N° 02. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. JUROS DE MORA. TAXA SELIG. SÚMULA CARP N° 04. A partir de I° de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais
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LANÇAMENTO PARA FINS DE PREVENÇÃO. IMPEDIMENTO JUDICIAL. INÉRCIA FAZENDARIA. O Fisco deve lavrar auto de infração para fins de prevenção da decadência. Na pendência de ordem judicial que impeça o lançamento de oficio, deve a Fazenda buscar a reforma do decisurn, pela via recursal pertinente. Frente inércia a que deu causa o próprio agente lançador, assumiu os riscos da caducidade. Não se aplica, aqui, o critério de cômputo do artigo 173, inciso II, do CTN, uma vez não ter se demonstrado que o cancelamento judicial dos autos de infrações precedentes fora determinado pela averiguação de vicio formal. IRPJ. POSTERGAÇÃO DE RECEITAS. TRIBUTAÇÃO. IMPUTAÇÃO PROPORCIONAL. A partir da vigência da Lei n° 9.430/96, em caso de recolhimento de tributo realizado depois do período de competência (postergação do tributo), não é mais aplicável o método de imputação proporcional. CSLL. DIFERENÇA DEVEDORA DA VARIAÇÃO IPC/BTNF. INDEDUTIBILIDADE JUNTO À BASE IMPONÍVEL. 0 saldo devedor da parcela de correção monetária referente à diferença de variação, no ano-base de 1990, do IPC e do BTNF não pode ser deduzido da base de cálculo da CSLL, a teor do artigo 41 do Decreto n° 332/91. INCONSTITUCIONALIDADE. LEGISLAÇÃO TRIBUTARIA. SÚMULA CARF N° 02. O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. JUROS DE MORA. TAXA SELIG. SÚMULA CARP N° 04. Processo n° 16327.000582/2009-28 si -c: ITI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 32 A partir de I° de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Receita Federal do Brasil são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros da Primeira Turma Ordinária da Primeira Camara da Primeira Seção de Julgamento, por unanimidade, ACOLHER A PRELIMINAR DE DECADÊNCIA suscitada, a fim de determinar o cancelamento dos autos de infração lavrados. Farão declaração de voto os Conselheiros Edeli Pereira Bessa e Carlos Eduardo de Almeida Guerreiro. VALMA EZES - Presidente CE SO -- 13-E- C— CIO JUNIOR - Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Valmar Fonseca de Menezes, Benedict° Celso Benicio Júnior, Edell Pereira Bessa, Carlos Eduardo de Almeida Guerreiro, José Ricardo da Silva e Nara Cristina Takeda Taga. Relatório Por meio de ação fiscal levada a efeito junto ao contribuinte suso qualificado, foi apurada, conforme descrição fática contida nos autos de infração de fls. 114/116 e 123/125, suposta inobservância do regime de escrituração pertinente ao IRPJ e à CSLL, operada mediante exclusão, na apuração do lucro real e da base de cálculo da contribuição, tocantes ao ano-calendário de 1991, de valores referentes ao saldo devedor da correção monetária atinente à diferença IPC/BTNF, nos termos do artigo 3° da Lei n° 8.200/91, alterado pela Lei n° 8.682/93, de um lado, e dos artigos 32 e seguintes do Decreto n°332/91, de outro. Segundo estresidos relatos, a irregularidade em questão cerrara amparo em medida liminar obtida, em 05.05.1992, nos autos do Mandado de Segurança n° 92.0046671-0. Sentença proferida no bojo do citado writ, datada de 14.09.1994, denegara, contudo, a segurança pleiteada, jogando por terra a antecipação de tutela jurisdicional alcançada. 2 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-C1TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 33 Foi interposto Recurso de Apelação, então, pelo contribuinte, oportunamente provido pelo Tribunal Regional Federal da 3a Regido (TRF-3). A União ingressou, ulteriormente, com Recurso Extraordinário, direcionado ao Supremo Tribunal Federal — remédio ao qual se deu provimento, mediante aresto datado de 22.04.2004, transitado em julgado em 07.06.2004. Em 04.09.1995, a autoridade fiscal já havia, de todo modo, lavrado autos de infração (Processo Administrativo n° 13805.005559/1995-10) em face do impetrante, para fim de constituir créditos de IRPJ, de CSLL e de ILL, incidentes A correção monetária excluída das correlatas bases imponiveis, apuradas no ano- calendário de 1991. Reconheceu-se, na oportunidade, a suspensão da exigibilidade das cifras cobradas, nos termos do artigo 151, inciso IV, do CTN. Em face desse All, o contribuinte peticionou nos autos do indigitado Mandado de Segurança — àquele tempo, já em sede de Apelação — , alegando descumprimento de ordem judicial. 0 i. relator determinou, em tal cenário, o cancelamento dos autos de infração, enquanto perdurasse a discussão judicial. Ciente dessa ordem, a autoridade fiscal a interpretou, por conta, como denotativa de singela suspensão do andamento das peças acusatórias, até decisão judicial final. Finalmente, depois do transito em julgado do aresto exarado pelo Supremo Tribunal Federal, proferido em resposta ao Recurso Extraordinário interposto pela Unido, enviou o Fisco, ao contribuinte, carta-cobrança do crédito lançado de oficio. Ocorre que, conforme relatório aposto a acórdão (fls. 30/31) da lavra do vetusto Primeiro Conselho de Contribuintes, gerado no âmbito do Processo Administrativo n° 13805.005559/1995-10, a autuada deixara, originalmente, de apresentar impugnação aos autos de infração exordiais, em razão de o cancelamento das peças acusatórias ter sido predeterminado pelo próprio relator da Apelação judicial interposta pelo contribuinte. Transitada em julgado a decisão que deu provimento ao Recurso Extraordinário da Unido, o contribuinte, depois de receber a relatada carta- cobrança, optou por opor, enfim, impugnação desfavorável As exigências de fronde. A d. DEINF/SPO entreviu como imperiosa a reabertura de prazo para a exposição de instrumento impugnatório, permitindo ao contribuinte a apresentação da nova defesa. Todavia, a d. DRJ/SPO-1, revendo aquele ato, proferiu despacho diverso, informando inexistir previsão legal para a recontagem do interregno hábil para interposição de impugnação. Ato continuo, de todo modo, a d. DEINF/SPO, escorada em despacho formalizado pela própria relatora do caso no âmbito da. DRJ/SPO-1, excluiu a multa e o crédito referentes ao ILL, sob auspícios de essencial revisão de oficio do ato lançador. Cientificada, a autuada opôs Recurso Voluntário ao extinto Primeiro Conselho de Contribuintes. Este órgão colegiado, mediante o Acórdão n° 101-96.965, declarou nulos os autos de infração administrados pelo Processo Administrativo n° 13805.005559/1995-10, ressalvando o direito do Fisco de efetuar novos lançamentos, dentro de prazo decadencial contado da data do transito em julgado da decisão que pôs termo ao Recurso Extraordinário da União. 3 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI Ti Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 34 A Fiscalização, então, recompôs o lucro real do ano-calendário de 1991, mediante adição do valor correspondente ao saldo devedor da diferença de correção monetária entre o 1PC e o BTNF. Resultou disso IRPJ a pagar. Refez-se, no mais, conforme demonstrativo de fls. 105/106, o cálculo do imposto aferido nos anos- base de 1993 a 1998, considerando-se os efeitos da possível dedução da despesa de correção monetária especial — que, na forma da legislação em vigor, eram passiveis de ser aproveitados pelo sujeito passivo, A razão de 25% (vinte e cinco por cento), para 1993, e de 15% (quinze por cento), para o período compreendido entre 1994 e 1998. Imputados os pagamentos efetuados a maior nos períodos citados, apurou-se o saldo devedor derradeiro de IRPJ, com base na Lei n° 8.200/91, na Lei n° 8.682/93 e no Decreto n° 332/91. A Fiscalização recompôs, ainda, a base de cálculo da CSLL, mediante adição do valor do resultado da correção monetária referida, com amparo no artigo 41 do Decreto n° 332/91 e na Lei n° 8.200/91. Chegou-se, com tal proceder, a saldo devedor da contribuição, passível de exigência, nos moldes do demonstrativo de fl. 124. Frente a tais razões, foram lavrados os autos de infração sob escólio, integrados pelos termos, pelos demonstrativos e pelos documentos neles mencionados. 0 crédito tributário lançado, composto por tributos, multa proporcional e juros de mora, calculados até 29.05.2009, perfez o total de R$ 8.354.459,21 (oito milhões, trezentos e cinquenta e quatro mil, quatrocentos e cinquenta e nove reais e vinte e um centavos), para o IRPJ, e de R$ 4.570.213,37 (quatro milhões, quinhentos e setenta mil, duzentos e treze reais e trinta e sete centavos), para a CSLL. Inconformado com a autuação, da qual foi devidamente cientificado em 05.06.2009, o contribuinte apresentou, em 07.07.2009, a impugnação de fls. 138/200, com os documentos anexados As fls. 201/325. Por meio deste instrumento, deduziu, em resumo, as seguintes ilações: - 0 direito ao lançamento já decaiu, eis que expirado o prazo de 05 (cinco) anos previsto pelo artigo 150, § 4°, do CTN. A decisão do Conselho de Contribuintes, exarada no bojo do Processo Administrativo n° 13805.005559/1995-10, tem efeitos restritos A nulidade daquele lançamento; - A decisão judicial não impediu a realização de lançamento voltado a evitar a decadência; ao revés, apenas determinou, A autoridade fiscal, que se abstivesse de praticar quaisquer atos censórios contra a impugnante, no sentido de aplicar a esta sanções derivadas do não pagamento do tributo, atrelado à decisão que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário. O decisum judicial visou somente a garantir a eficácia da ordem que suspendeu a exigibilidade do credito tributário, obstando a penalização do contribuinte; - A decadência não se interrompe, de forma que a decisão judicial não teria o condão de afastar a fluência do prazo decadencial, cabendo A Fazenda reverter a decisão, para evitar o perecimento do direito que entendia lhe caber. Havendo discussão judicial, deve o Fisco efetuar o lançamento no prazo legal, conforme Pareceres n° 743/88 e 1.064/93, ambos da PGFN, e consoante o disposto no artigo 63 da Lei n° 9.430/96. Não há fundamento para se computar o prazo decadencial a partir da data em que se tornou definitiva a decisão que reformou a anterior, ou a contar de momento diverso daqueles preconizados pelos artigos 150, § 4. 0 , e 173, inciso I, do CTN; 4 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CIT1 AcOrcido n.° 1101-000.774 Fl. 35 - Admitindo-se, para argumentar, que impedimento houvesse, este se deu até o momenta em que reconhecido o direito da Fazenda quanto à matéria discutida judicialmente. Considerando que, em 22.04.2004, foi publicado o acórdão que proveu o Recurso Extraordinário da Fazenda, começaria a fluir em 30.04.2004 (cinco dias tem a impugnante para recorrer) o prazo deeadencial pertinente, expirando-se em 30.04.2009. Quando menos, o transcurso do quinquênio de caducidade teria inicio na data de 21.05.2004, quando a Fazenda foi intimada da decisão que proveu seu Recurso Extraordinário; - 0 lançamento é insubsistente, devido a falhas na apuração do montante exigido, que retiram qualquer certeza, liquidez ou exigibilidade do suposto crédito. A imputação realizada pelo i. fiscal, no cálculo da postergação do IRPJ, vai contra a legislação e o entendimento do CARF. Em vez do lançamento de juros isolados, referentes ao período da postergação — em consonância com os artigos 43 da Lei n° 9.430/96, de um lado, e 6° do Decreto-lei n° 1.598/77, de outro —, realizou o i. agente fazenddrio mera imputação de pagamento — inclusive corn acréscimo de multa de mora de 20% (vinte por cento). Gerado foi, com isso, saldo remanescente, sobre o qual se aplicou nova multa, equivalente a 75% (setenta e cinco por cento). Conforme o § 6° do artigo 6° do Decreto-lei n° 1.598/77, o lançamento do crédito deveria ser efetuado pelo valor liquido, depois de compensada a diminuição do imposto lançado em outro períodos-base — 6. qual o contribuinte tem direito em decorrência da aplicação do disposto no § 4° do cuidado comando. Eventual crédito exigido resultará, pois, da diferença entre o imposto pago a maior no exercício posterior, de uma banda, e aquele devido em exercício anterior, de outra. Para o valor postergado, haverá cobrança de correção monetária e de juros de mora, pelo prazo em que ocorrer a postergação de pagamento (§ 7° do artigo 6° do Decreto-lei n° 1.598/77); - Esse regramento especifico, e não a imputação, é que deve ser observado na quantificação da exigência decorrente da postergação de pagamento, não cabendo, por isso, falar-se na multa moratória prescrita pelo artigo 61 da Lei n° 9.430/96. Também no Parecer Normativo CGST n° 02/96, o procedimento a ser adotado pela Fiscalização foi minuciosamente descrito. Nos casos em que há postergação, nulo é o lançamento que não observa os procedimentos peculiares aplicáveis á. espécie. A Nota Cosit no 106/2004, de sua vez, não serve de fundamento para a manutenção do lançamento, pois não se trata, aqui, de postergação por erro no regime de competência; - A multa de mora é indevida, porquanto estava a postulante amparada por medida judicial favorável, durante todo o período em que ocorreu a postergação, não podendo ser computado qualquer acréscimo a titulo de multa, sob pena de descumprimento da decisão judicial e do artigo 63 da Lei n° 9.430/96. Sobre o valor postergado há, apenas, cobrança de correção monetária e de juros, pelo prazo em que ocorrida a postergação de pagamento (§ 7° do artigo 6.° do Decreto-lei n° 1.598/77), sem acréscimo de multa. A postergação de tributo configura uma forma de denúncia espontânea, nos termos do artigo 138 do CTN. A Lei n° 11.488/07, de mais a mais, alterou o artigo 44 da Lei n° 9.430/96, afastando a exigência de multa pelo pagamento de tributo depois do vencimento, aplicando ao caso a retroatividade benigna do artigo 106, inciso II, alínea "c", do CTN. Assim, não poderia ser exigido qualquer valor de multa na imputação, tampouco ser cobrada multa de 75% (setenta e cinco por cento) sobre eventual saldo; - No ano-base de 1991, a despesa relativa à CSLL era dedutível da base de cálculo do IRPJ, pelo regime de competência. Por isso, o fiscal deveria afastar do lucro real o importe relativo à. CSLL lançada (admitindo-se, para argumentar, que esta sej a.( devida); 5 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-C111 Acórdão n.° 1101-000.774 FL 36 - Ao calcular o IRPJ, o i. fiscal incorreu em erro, pois os valores pagos a maior nos anos de 1996 a 1998, informados no demonstrativo de fl. 106, não foram corretamente transpostos para o demonstrativo de imputação de pagamento inserto no auto de infração. A claudicação perpetrada diminuiu o valor considerado como pago por postergação, devendo ser corrigido o auto infracional; - Na Lei n° 8.200/91, não há dispositivo que impeça a apropriação da diferença de IPC/BTNF, para efeitos de apuração da CSLL. Apesar disso, o artigo 41 do Decreto n° 332/91 — norma de índole inferior — modificou a base de cálculo da exação, vedando o reconhecimento da existência dessa diferença de índice de correção monetária. Um mero decreto não pode determinar, por óbvio, adições A. base de cálculo de tributos, majorando, assim, a exigência, sob pena de se violar o principio da legalidade, assegurado pelos artigos 5°, inciso II, e 150, inciso I, da Constituição Federal, e pelo artigo 97, inciso IV e § 1 0, do CTN. 0 Decreto afronta, ainda, os artigos 59; 84, inciso IV; e 195, alínea "1", da Constituição Federal; bem como os artigos 99 e 110 do CTN e a Lei n° 7.689/88. Foi alterado, em todo esse cenário, de forma ilídima, o conceito de "lucro" construido pelo direito privado, responsável por balizar a incidência da contribuição em comento; - A impugnante é sociedade referida pelo artigo 22, § 1 0, da Lei n° 8.212/91. Nos termos da Lei no 7.689/88, sujeita-se, por tal razão, a pagamento de CSLL segundo aliquota superior àquela fixada para as demais empresas, em ofensa ao principio da isonomia tributária, assegurado pelos artigos 5°, inciso I, 150, inciso II, e 194, inciso V, da Constituição Federal, em conjunto com o artigo 60, § 4.°, inciso IV, da Carta Maior. A aliquota aplicável ao caso deve ser a mesma aplicada as outras empresas — ou seja, de 10% (dez por cento). Do mesmo modo, fere a isonomia exigir adicional de IRPJ computado mediante aliquota maior do que a fixada para as demais empresas, nos anos de 1991 a 1994; Embora ainda não exigidos no auto de infração, vem-se impugnar, desde já, a exigência de juros sobre a multa de oficio, por falta de amparo legal. Citam- se o artigo 161 do CTN e os artigos 43 e 61 da Lei n° 9.430/96, no sentido deste raciocínio; - Os juros não podem ser exigidos com base na Selic, figura híbrida composta pela correção monetária, por juros e por valores correspondentes remuneração de serviços das instituições financeiras. Este índice, ademais, é fixado unilateralmente pelo Executivo, em extrapolação ao percentual de 1% (um por cento) previsto pelo artigo 161 do CTN. A 8' TURMA DA DRJ EM SAO PAULO — SP 1, ao julgar a impugnação protocolada, houve por bem exonerar em parte os lançamentos oficiosos, corrigindo os equívocos cometidos na transposição dos valores consignados no demonstrativo de fl. 106, de um lado, ao auto de infração, de outro, consoante aresto (fls. 328/345) assim ementado: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA — IRPJ Data do fato gerador: 31/12/1991 AÇÃO JUDICIAL COM DECISÃO DEFINITIVA. COISA JULGADA. 6 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI -C1T1 Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 37 Incabível qualquer pretensão de alteração do que foi determinado em decisão judicial transitada em julgado. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. Satisfeitos os requisitos do art. 10 do Decreto n.° 70.235/72 e não tendo ocorrido o disposto no art. 59 do mesmo diploma legal, não há que se falar em anulação ou cancelamento do auto de infração. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. Conforme art.173, II, do CT1V, o direito da Fazenda constituir o crédito tributário extingue-se em cinco anos contados da data de decisão definitiva que houver anulado o lançamento anteriormente efetuado. INCONSTITUCIONALIDADE. As autoridades administrativas estão obrigadas observância da legislação tributária vigente no Pais, sendo incompetentes para a apreciação de arguições de inconstitucionalidade e ilegalidade de normas. JUROS SELIC. MULTA DE OFICIO. Juros e multa exigidos conforme a legislação de regência. CSLL NÃO ESCRITURADA. IMPOSSIBILIDADE DE DEDUÇÃO DE OFÍCIO DA CSLL DO LUCRO REAL. Não escriturada no exercício fiscal competente, não pode ser deduzida a CSLL do lucro real. VALORES APURADOS. VALORES TRANSPOSTOS NO AUTO DE INFRAÇÃ O. ERRO. PARCELA EXONERADA. Exonera-se a parcela lançada, bem como a multa, correspondente a erro na transposição do demonstrativo dos valores apurados para o auto de ração. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE 0 LUCRO LÍQUIDO — CSLL Data do fato gerador: 31/12/1991 AÇÃO JUDICIAL COM DECISÃO DEFINITIVA. COISA JULGADA Incabível qualquer pretensão de alteração do que foi determinado em decisão judicial transitada em julgado. INEXISTÊNCIA DE NULIDADE. Satisfeitos os requisitos do art. 10 do Decreto n.° 70.235/72 e não tendo ocorrido o disposto no art. 59 do mesmo diploma legal, não há que se falar em anulação ou cancelamento do auto de infração. DECADÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. Conforme art. 173, II, do CTN, o direito da Fazenda constituir o crédito tributário extingue-se em cinco 7 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 38 anos contados da data de decisão definitiva que houver anulado o lançamento anteriormente efetuado. INCONSTITUCIONALIDADE. As autoridades administrativas estão obrigadas observância da legislação tributária vigente no Pais, sendo incompetentes para a apreciação de argüições de inconstitucionalidade e ilegalidade de normas. JUROS SELIC. MULTA DE OFICIO. Juros e muita exigidos conforme a legislação de regência. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte" Cientificada desse acórdão em 16.12.2009 (fl. 348), a interessada interpôs o Recurso Voluntário sob análise (fls. 349/530), em 15.01.2010, reiterando os argumentos ventilados em primeira instância. o relatório. Voto Conselheiro BENEDICTO CELSO BENICIO JUNIOR, Relator: 0 recurso é tempestivo e atende aos pressupostos legais para seu seguimento. Dele conheço. Para que os pontos suscitados em recurso sejam abordados com a devida acuracia, dividirei a exposição em tópicos, nos seguintes moldes: (i) Preliminarmente: da alegada decadência do direito fazendário de constituir os autos de infração guerreados Como alhures se explanou, os autos de infração em apreço (fls. 114/116 e 123/125) foram constituídos com o escopo de exigir, do contribuinte, importes de IRPJ e de CSLL tocantes ao ano-calendário de 1991 (exercício de 1992), resultantes de supostas irregularidades na dedução, junto As bases imponiveis dos dois tributos, do saldo devedor da parcela de correção monetária referente A diferença de variação, no ano-base de 1990, do IPC e do BTNF. Importar pisar, de pronto, consoante amplamente veiculado no curso dos autos (e como bem relatado pelas próprias peças acusatórias), que a dedução infirmada foi realizada com arrimo em antecipação liminar de efeitos da tutela jurisdicional, concedida, em 05.05.1992, no âmbito do Mandado de Segurança n° 92.0046671-0. A segurança pedida neste mandamus, veio, eventualmente, a ser denegada, dando a recorrente andamento, então; a 8 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CITI Acórdão n.° 1101-000.774 P1.39 Recurso de Apelação (Processo n° 95.03.036992-4), recebido pelo juizo a quo nos efeitos devolutivo e suspensivo e distribuído ao TRF-3 em 04.05.1995 (fl. 25). Não obstante isso, a Fazenda lavrou, em 04.09.1995, autos de infração desfavoráveis à peticionária (cópias As fls. 446/459), por meio dos quais exigira importes de IRPJ, de CSLL e de ILL respeitantes A matéria sob dissecação, juntamente com montantes de juros de mora e de multa punitiva mensurada em 100% (cem por cento) do principal. Ora, vê-se, aqui, o primeiro problema serio dos autos. Sabe-se que a precedente recepção do Recurso de Apelação, nos efeitos devolutivo e suspensivo, representara, por si, a consagração do sobrestamento da exigibilidade dos passivos fiscais então debatidos. A superveniente lavratura de peps infracionais, engendrada na pendência do julgamento daquele remédio judicial, jamais poderia, pois, contemplar multa proporcional. Ainda assim, esta foi a conduta adotada pelo Fisco. Perante tal panorama, tem-se noticia de que a recorrente peticionou nos autos do Recurso de Apelação protocolizado, requerendo a anulação dos All's, por suposta inobservância de ordem judicial. 0 i. juiz relator do libelo apelatório, reconhecendo razão na insurgência do sujeito passivo, determinou, A época, o cancelamento das peças lançadoras, consoante vocábulo assim declinado (fl. 17): "(..) Determinei a requisição destes autos, porquanto, a apelante , em petição de 22.09.95, alega ter o Departamento da Receita Federal em 04/09/95, lavrado auto de infração, intimando-a ao recolhimento, no prazo de 30 dias, do montante correspondente ao Imposto de Renda constante de fls. 373. Diante do exposto, vislumbro o descumprimento à ordem judicial, posto que esta apelação foi recebida no efeito suspensivo e tenho como eivado de vicio a lavratura do referido auto, uma vez que a matéria encontra-se 'sub judice'. Destarte, por ser completamente nulo tal auto, de infração, determino o Cancelamento deste, até o julgamento da presente Apelação. Registro que deve o Sr. Chefe do Departamento da Receita Federal abster-se de qualquer ato censório contra a apelante, até nova o determinação deste juizo. Oficie-se ao Departamento da Receita Federal, comunicando o `decisum'. Decorrido o prazo para eventual interposição de recurso, devolvam-se os autos ao Douto Ministério Público Federal, para parecer, conforme jó solicitado. (..)" (g.n.) .ioA nosso ver, andou bem o i. juiz do TRF-3 ao determinar o desfazimen daqueles primeiros autos de infração, porquanto eivados de vícios na mensuração dos lançamentos. Jamais se poderia, contudo, ordenar, no mesmo ato, que a Receita Federal se abstivesse de lavrar outros instrumentos de imputação, sob pena de se estar, com isso, 9 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CIT1 Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 40 impedindo que o Fisco constituísse créditos tributários potencialmente legítimos, dentro do interregno decadencial. A ordenança jurisdicional comentada é ilegal e inconstitucional, e disso temos plena convicção. O cancelamento das primeiras peças lavradas não poderia ser acompanhada sendo da autorização para que o Fisco constituísse outras em seu lugar, para fins de prevenção da caducidade, sem consideração de quaisquer consectdrios punitivos. De todo modo, certo é que aquela decisão interlocutória, merecedora de severas reprimendas, poderia e deveria ter sido desafiada pela d. Procuradoria da Fazenda Nacional, mediante interposição de Agravo de Instrumento. Inexiste, contudo, relato de que isto tenha ocorrido; em verdade, tudo o que sabemos é que a autoridade fazenddria, devidamente oficiada daquele comando judicial, optou por se quedar inerte, interpretando o decisum, por seu risco, como indicativo de "sobrestamento" do curso do processo administrativo de exigência. Ora, o silêncio fazenddrio é inescusável. Ao não infirmar a decisão copiada à fl. 17, prostrou-se a Fazenda sob o jugo de mandamento judicial ilícito. A nulificação dos autos de infração primeiramente lavrados poderia até não ser revertido, mas deveria o Fisco ter buscado, em superiores instancias, o reconhecimento da possibilidade de formalização de outros All's, devidamente expurgados das multas sancionadoras, capazes de obstar o aperfeiçoamento da caducidade. Ao não recorrer do decisum, deixando que se perfizesse a coisa julgada, o ente lançador permitiu aperfeiçoar, de um lado, o cancelamento das primeiras peças imputacionais, e, de outro lado, a impossibilidade de lavratura de novos instrumentos, enquanto não julgado o Recurso de Apelação manejado perante o TRF-3. Depois de transitado em julgado o acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal, em sede de julgamento do Recurso Extraordinário interposto pela Unido, o Fisco intentou revigorar as primeiras cartulas de acusação, encaminhando missivas de cobrança ao contribuinte. Impugnadas em vão as exigências, foi a controvérsia dirimida somente pelo extinto Primeiro Conselho de Contribuinte (fls. 29/37), em julgamento ao Recurso Voluntário movimentado pelo sujeito passivo, no curso do Processo Administrativo n° 13805.005559/1995-10. Na oportunidade, aquele colegiado, por maioria de votos, entendeu .terem sido irremediavelmente nulificados os All's exordiais, por determinação do TRF-3, resguardando-se aos agentes fazenddrios o direito de constituir outros autos de infração, dentro de prazo decadencial supostamente iniciado "a partir do transito em julgado da ação judicial". Foi assim, pois, que, já nos meandros do ano-calendário de 2009, os novos autos infracionais, objeto do corrente processo administrativo, foram formatados. Não nos parecesse, contudo, que essa possibilidade ainda existisse, ao revés do que foi entendido até então. Vejamos. Como explicado, o Fisco, ainda que suspensa a respectiva exigibilidade, deveria formalizar o crédito tributário, lançando-o de oficio se preciso fosse. Não deveria se cominar, ern tal hipótese, qualquer multa punitiva. In casu, os primeiros autos de infração respeitantes A. matéria discutida ignoraram essa forma, haja vista terem sido produzidos de maneira a encampar todos os consectdrios legais. A correta determinação judicial do cancelamento de tais peças veio ladeada, todavia, pela ordenação in idiosa da 10 Processo n° 16327.000582 12009-28 SI-CI TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 41 impossibilidade de lavratura de quaisquer outras, enquanto não dirimido o Recurso de Apelação aviado pelo sujeito passivo. Segundo também relatamos, essa decisão interlocutória deveria ter sido recorrida pela Fazenda, mediante Agravo de Instrumento. Tal medida, de império inegável, não foi adotada. Os agentes fiscais se sujeitaram, assim, por inércia ou por desídia, ao desmando do decisum encartado à fl. 17, ficando impedidos de lavrar autos de infração válidos. Claro que nada disso poderia ser imputado à ora recorrente; a não insurgência da Fazenda, tendente a restabelecer o direito de lançar com fins de prevenção da decadência, prejudicou, noutras palavras, apenas a esta, sem qualquer reflexo nocivo aos direitos do contribuinte. Parece-nos óbvio, assim, que se perfez a decadência dos lançamentos em comento, concernentes ao ano-calendário de 1991, muito antes da lavratura do segundo grupo de autos de infração, formalizado nos idos do ano-calendário de 2009. Para que não haja dúvidas, lembre-se que os interregnos de caducidade, no direito tributário brasileiro, regem-se segundo 03 (três) diferentes critérios, preconizados, nomeadamente: i) pelo artigo 150, § 4°, do CTN; ii) pelo artigo 173, inciso I, do CTN; e iii) pelo artigo 173, inciso II, do CTN, As duas primeiras regras, se aplicadas ao caso, levariam A. óbvia constatação do perecimento do direito fazenddrio de lançar. Qualquer que fosse o dies a quo admitido — data dos fatos geradores, turno um, ou o primeiro dia do exercício subsequente àquele em que possível a formalização crediticia, turno outro —, indubitável é o transcurso de mais de 05 (cinco) anos, até o dies ad quem. O comando do artigo 173, inciso H, do CTN, abaixo reproduzido, poderia, por seu lugar, fazer derivar entendimento diverso. 0 átimo de inicio do quinquênio decadencial, em dita situação, corresponderia à "data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vicio formal, o lançamento anteriormente efetuado": "Art. 173. 0 direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: II - da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vicio formal, o lançamento anteriormente efetuado." (g.n.) O aresto ora recorrido enunciou, expressamente, o entendimento de que o preceito em estudo se cominaria à espécie. Considerando, como decisão que supostamente anulara os lançamentos pretéritos, o aresto proferido em sede de Recurso Extraordinário (fl. 22), transitado em julgado em 07.06.2004 (fl. 23), os julgadores inferiores postularam, de fato, pela interpretação de que a decadência só se teria perfeito em 07.06.2009 — 02 (dois) dias depois da ciência, ao contribuinte, dos autos de infração presentemente postos em xeque. Dois graves equívocos, porem, imbuem o raciocínio do acórdão predecessor. 1 1 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CITI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 42 De um lado, é de se notar que, em nenhum momento, atentou-se para o fato de o artigo 173, inciso II, do CTN ter lugar somente quanto o auto de infração anterior tenha sido cancelado por conta de vicio formal. Não é este o caso. A decisão interlocutória proferida, provocada pelo contribuinte, colheu fundamento, segundo nos parece, no fato de ter sido cominada indevida penalidade punitiva, a despeito da suspensão da exigibilidade dos valores debitórios. Outro motivo legitimo inexistiria, afinal, eis que o lançamento preventivo de caducidade, quando perfeitamente engendrado, tem respaldo na lei e na jurisprudência. Ocorre termos claro, na esteira da melhor doutrina, que claudicações na mensuração do quantum debeatur — quer em relação ao principal, quer na definição das penalidades aplicáveis — consubstanciam vícios de natureza material. São desta espécie, afinal, todos os erros cometidos na desincumbência da competência administrativa esculpida pelo artigo 142, caput, do CTN: "Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível." (g.n.) A decisão em comento não especificou, porém, o motivo que realmente substanciou o cancelamento do primeiro grupo de peps infracionais. Podemos apenas deduzir que a razão tenha sido a impingência indevida de consectdrios sancionadores. Não é de todo inverossímil, então, que também imaginemos que tal decisum tenha sido exarado com espeque no equivocado entendimento de que obrigações fiscais sub judice não podem, automaticamente, ser objeto de lançamento de oficio. Nesse caso, apesar disso, ainda estaríamos em presença de vicio material. Isto porque o entendimento debatido, embora eivado de confusão e de atecnicidade, implicaria considerar, em substância, que a suspensão da exigibilidade impediria a própria construção do lançamento. Noutras palavras, a decisão judicial copiada à fl. 17, acaso se entenda seu escopo dessa maneira, nada mais fizera do que asseverar que os All's formalizados careciam de substrato ou de conteúdo material, urna vez que o montante do tributo devido e a ocorrência certa do fato imponivel estariam prejudicadas pela pendência da lide judicial. Vemos que, qualquer que tenha sido a razão para o cancelamento judicialmente determinado, tocou ele, necessariamente, a aspectos e definições da própria substância do lançamento, e não a aspectos meramente formais do ato (requisitos extrínsecos). Inaplicável, pois, o regramento do artigo 173, inciso II, do CTN. Mas não é s6. De outro lado, incumbe ainda ressaltar que o dies a quo incidente, mesmo que impingente o citado comando complementar, não seria aquele definido pelo acórdão guerreado, identificado à data de certificação do trânsito em julgado do aresto proferido em sede de Recurso Extraordinário. 12 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI Ti Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 43 Note-se que o curso do quinquênio decadencial erigido pelo artigo 173, inciso II, do CTN se inicia com a definitividade da decisão que preconizar a nulidade do auto infração, forte na constatação de vicio formal. In casu, isto ocorreu no momento em que a decisão interlocutória de fl. 17 fez coisa julgada, nos idos do ano-calendário de 1996, haja vista a não apresentação, pela União, do competente Recurso de Agravo de Instrumento (preclusão temporal). Ulteriormente, ainda mais caracterizado ficou o cenário de definitividade quando, ao interpor Recurso Extraordinário, em 11.10.1996 (fl. 24), o Fisco não versou, sequer obliquamente, sobre a matéria analisada (preclusdo lógica). Em tais termos, o cômputo do lustro de decadência, na melhor das hipoteses, estender-se-ia até ao ano-base de 2001, e não até os idos de 2004. Frente a todo o exposto, mostra-se completamente inadmissível o entendimento de que os autos de infração são tempordneos. Não se deve olvidar, outrossim, que o acórdão n° 101-96.965/08, proferido, pela Primeira Camara do extinto Primeiro Conselho de Contribuintes, pertinente ao Processo Administrativo n° 13805.005559/1995-10, surte efeitos muito limitados sobre o presente litígio. Com efeito, naquele aresto, prevaleceu o entendimento de que o TRF-3, ao impedir a lavratura de autos de infrações que substituíssem o primeiro grupo de All's, interrompera a fluência do prazo de caducidade, reiniciando-se este somente com o trânsito em julgado da ação judicial. Sucede, no entanto, que a decadência, segundo lições colhidas no direito privado, não se interrompe jamais — não obstante existam exegetas que entendam que o direito tributário encampou regra interruptiva excepcional no artigo 173, inciso II, do CTN, ora inaplicável. Temos, portanto, que as conclusões apontadas por aquele acórdão, objeto doutro processo administrativo, carecem de qualquer fulcro normativo. Mesmo que assim não fosse, em todo modo, não nos vincula o entendimento formatado em relação a outro litígio, distinto deste. A ressalva realizada pelos julgadores de segunda instância daqueles autos, permissiva da efetivação de novo lançamento, teve nítida feição diretiva, capaz de servir de baliza à atividade fiscal. Mc) podem ser aquelas considerações tomadas, então, como determinações decisórias de observância compulsória, porquanto tocantes a lançamentos distintos. Não ha como se alegar tenha sido aperfeiçoada a coisa julgada material, eis que a validade e a legitimidade dos autos de infração sob escólio jamais poderiam ter sido versadas por aquele colegiado, dadas a impertinência do objeto Aquela controvérsia e a inconfundibilidade dos dois grupos de documentos de imputação oficiosa sob consideração. Neste sentido, cremos indispensável acolhermos a preliminar de decadência suscitada, determinando-se o cancelamento integral dos autos de infração objeto deste processo. Acaso, no entanto, este não seja o entendimento partilhado pelos meus pares, passo, ato continuo, a analisar o mérito recursa!, em obediência ao disposto pelo artigo 59, § 1 0, do RICARF (Anexo I da Portaria MF n° 256/09). (it) Da caracterização da posterga cão do pagamento do IRPJ e da indevida aplicação do método de "imputação proporcional" 13 Processo If 16327.00058212009-28 SI-CIT1 Acórdao n.° 1101-000.774 Fl. 44 No mérito, ainda que em tópico topograficamente erigido como preliminar, aventou o contribuinte que a postergação do pagamento do IRPJ, reconhecida pelo i. fiscal lançador, foi vertida em apuração equivocada, empregada segundo ilícito método de "imputação proporcional". Os valores de 1RPJ em cobro foram derivados, realmente, da constatação de que o sujeito passivo deduziu, do lucro real apurado no ano-calendário de 1991, saldo devedor integral da parcela de correção monetária referente à diferença de variação, no ano-base de 1990, do IPC e do BTNF. Como se sabe, o dispositivo do artigo 3°, inciso 1, da Lei n°8.200/91, adiante reproduzido, permitiu essa dedução somente de forma fracionada, durante os anos-calendários de 1993 a 1998: "Art. 3 0 A parcela da correção monetária das demonstrações financeiras, relativa ao período-base de 1990, que corresponder à diferença verificada no ano de 1990 entra a variação do lndice de Preps ao Consumidor (1PC) e a variação do BTN Fiscal, terá o seguinte tratamento fiscal: 1 - Poderá ser deduzida, na determinação do lucro real, em seis anos-calendário, a partir de 1993, à razão de 25% em 1993 e de 15% ao ano, de 1994 a 1998, quando se tratar de saldo devedor. (..)" Assim, ao realizar a dedução integral e antecipada do saldo devedor de correção monetária especial, o contribuinte deu azo a típica situação de postergação do pagamento do IRPJ. Exatamente por esse motivo, intentou o i. agente autuante imputar os importes solvidos aos inadimplidos, impingindo juros de mora e multa proporcional ao remanescente. Sucede, porém, que a metodologia concretamente posta a funcionar não legitima. Com efeito, consoante se pode dessumir do demonstrativo de fls. 105/106, banda primeira, e da memória de cálculo de fls. 107/109, encartada ao auto de infração, banda segunda, o i. fiscal autuante realizou o procedimento de "imputação proporcional" questionado pelo sujeito passivo, assim sumarizado: i) expurgo, junto ao lucro real apurado no ano-base de 1991, das deduções reputadas descabidas, com a consequente apuração do IRPJ não pago; ii) dedução, junto aos lucros reais atrelados aos anos -calendários de 1993 a 1998, do saldo negativo da parcela de correção monetária tocant á. diferença 14 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CIT1 Fl. 45 Acórdão n.° 1101-000.774 de variação do IPC e do BTNF, em atenção As taxas definidas pelo artigo 3°, inciso I, da Lei n° 8.200/91, com a conseguinte apuração de pagamentos a maior de IRPJ; iii) consideração dos pagamentos a maior apurados, tocantes aos anos-base de 1993 a 1998, como correspondentes a quitações proporcionais de imposto, de multa de mora de 20% (vinte por cento) e de juros de mora. Para tais fins, utilizou-se fórmula assim definida (fl. 108): Imp. Orig. Pag = (Valor Pago / % Imp. (100%) + % Juros + % Multa) x 100/ Coef Cor. Mon. iv) imputação dos valores resultantes da fórmula suso resenhada, supostamente representativos dos pagamentos extemporâneos de principal, A cifra debitória a que se chegou pelo cálculo do item i), com a conseguinte averiguação das importâncias de IRPJ a serem lançadas pelo auto de infração ora guerreado; e v) cominação de juros de mora e de multa proporcional de 75% (setenta e cinco por cento) ao resultado do item precedente. Ora, a singela análise do proceder fazendário nos permite perceber insubsistência flagrantes. E arbitrária, para dizer o mínimo, a alocação dos pagamentos a maior constatados, vinculados a competências posteriores, à quitação de importes de multa de mora de 20% (vinte por cento) e de juros de mora, computados sobre o imposto inadimplido no ano- base de 1991. Não se há, claro, como admitir essa imputação proporcional, mormente porquanto não optada pelo contribuinte; outrossim, mais gravosa se mostra a situação quando se tem em conta que o saldo devedor apurado ao final fora acrescido de outros juros de mora, lado um, e de multa de caráter punitivo, lado outro. 0 método sob perscrutação afronta, cabalmente, o disposto no artigo 6°, §§ 4° a 7°, do Decreto-lei n° 1.598/77, adiante transcrito, refletido pelo artigo 273 do Decreto n° 3.000/99: "Art 6° - Lucro real é o lucro liquido do exercício ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas pela legislação tributária. ssS' 4° - Os valores que, por competirem a outro período- base, forem, para efeito de determinação do lucro real, adicionados ao lucro liquido do exercício, ou dele 15 Processo n° 16327.000582/2009-28 Si-CIT1 Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 46 excluídos, serão, na determinação do lucro real do período competente, excluídos do lucro liquido ou a ele adicionados, respectivamente. § 5° - A inexatidão quanto ao período-base de escrituração de receita, rendimento, custo ou dedução, ou do reconhecimento de lucro, somente constitui fundamento para lançamento de imposto, diferença de imposto, correção monetária ou multa, se dela resultar: a) a posterga cão do pagamento do imposto para exercício posterior ao em que seria devido; ou b) a redução indevida do lucro real em qualquer período- base. § 6° - O lançamento de diferença de imposto com fundamento em inexatidão quanto ao período-base de competência de receitas, rendimentos ou deduções será feito pelo valor liquido, depois de compensada a diminuição do imposto lançado em outro período-base a que o contribuinte tiver direito em decorrência da aplicação do disposto no § 4°. § 7° - O disposto nos §§ 4 0 e 6' não exclui a cobrança de correção monetária e juros de mora pelo prazo em que tiver ocorrido postergação de pagamento do imposto em virtude de inexatidão quanto ao período de competência." 0 correto a se fazer, portanto, era a defenestração liquida do IRPJ pago a menor, mediante compensação com o valor "puro" do imposto quitado extemporaneamente (postergado para outro período de apuração). Havendo saldo devedor, este é que deveria ser lançado de oficio, devidamente acrescido de juros de mora e de multa proporcional de 75% (setenta e cinco por cento). Mesmo, alias, que inexistisse qualquer importe de principal a descoberto, poderiam ser requeridos, mediante lançamento de oficio, os juros de mora competentes. Inexigível, porem, seria a multa de oficio, eis que inexistente principal que lhe servisse de base de cálculo, ou a multa de mora, dado esta ser estranha ao campo dos lançamentos via auto infracional. Tudo isso e possível, pise-se, graças ao preceito esculpido pelo artigo 43 da Lei n° 9.430/96, in verbis: "Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3° do art. 5°, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao 16 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 47 vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento." Foi justamente a partir da edição da Lei n° 9.430, nos idos do ano de 1996, que este colegiado passou a vislumbrar a inaplicabilidade do método de "imputação proporcional", para fins de mensuração de passivos parcial ou totalmente quitados sob cenário de postergação. De vasto campo amostra!, pode-se colher, elucidativamente, as seguintes ementas de julgamento, similares a muitas outras existentes: "IRPJ - POSTERGAÇÃO DE RECEITAS - TRIBUTAÇÃO - A partir da vigência da Lei n° 9.430/96, em caso de recolhimento de tributo após o período de competência ( posterga cão do tributo), não é mais aplicável o método de imputação proporcional." (Ac. n° 101-96.590/08) "POSTERGAÇÃO DE RECEITAS - No caso de posterga cão de imposto devido e recolhido em período posterior a autuação deve limitar-se a multa e juros de mora, em razão da extinção da imputação proporcional de valores pela lei n°9.430/1996." (Ac. no 101.94-905/05) Caracterizada está, A guisa de conclusão, a claudicação cometida na aferição dos valores tributáveis. Ainda que identificáveis os importes cobráveis, com esteio nas cifras ilustradas pelos demonstrativos de fls. 106/107, cerrarnos conosco a exegese de que tais vícios não são sanáveis. Assim e porque os erros perpetrados, derivados da aplicação do método de "imputação proporcional", impediram o próprio delineamento da matéria tributável, ao arrepio do suso transcrito artigo 142 do CTN. Em direção idêntica a essa já decidiu este órgão, consoante se pode depreender do seguinte excerto, colhido do corpo do Acórdão n° 10 1-96.590/08: "Com relação aos fatos geradores ocorridos no ano- calendário de 1997, a autoridade fiscal procedeu aos cálculos sob a sistemática da imputa cão proporcional, ou seja, considerou que nos valores recolhidos no ano-base de 1996 estariam incluídos os juros moratórios, bem como a multa de mora. Assim, o cálculo do imposto devido constante do auto de infração foi efetuado utilizando-se de imputação proporcional dos valores recolhidos em 1996 e 1997. Ocorre que com a entrada em vigor da lei no 9.430/1996 tal sistemática de apuração deixou de ser aplicada, tendo em vista a possibilidade de lançamento de multa e juros 17 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-Cl TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 48 moratórios desacompanhados de tributo (artigo 43 e seu parágrafo único). Conforme se pode verificar no demonstrativo do cálculo do IRPJ (a titulo de exemplo) às fls. 297 e 298, após inclusão da base tributável, a fiscalização excluiu dos valores pagos os juros moratórios e a multa de mora, com o intuito de apurar o valor liquido ainda devido. Assim, a autuação para que se proceda a comparação de tais valores visando a verificação da extinção do crédito tributário, fez a exclusão das parcelas correspondentes de multa e juros de mora do valor recolhido intempestivamente, e é isso que está consignado no demonstrativo de apuração do imposto. Tendo sido recolhido o valor do imposto devido, fora do prazo de vencimento do mesmo, o lançamento deveria cingir-se ao lançamento dos acréscimos moratórios correspondente, de forma isolada. Assim , não tendo sido perfeitamente determinada a matéria tributável, requisito essencial do lançamento, previsto no artigo 142 do CTN, excluo do lançamento o item correspondente àpostergação de receitas." (g.n.) Assim, posiciono-me pelo cancelamento dos lançamentos pertinentes ao IRPJ, deixando de versar sobre os demais argumentos recursais que postulavam por esta mesma prestação jurisdicional. Igual solução não se aplica, contudo, à CSLL, consoante adiante explanaremos. (iii) Da indedutibilidade, junto ei base de cálculo da CSLL, do saldo devedor da parcela de correção monetária referente a diferença de variação do IPC e do BTNF 0 Fisco glosou a totalidade da dedução realizada, pelo sujeito passivo, frente base imponivel da CSLL. Assim se procedeu em virtude de não se poder excluir, do lucro liquido tributável, quaisquer importes de saldo devedor da parcela de correção monetária referente à diferença de variação, no ano-base de 1990, do IPC e do BTNF, em razão do comando do artigo 41, caput, do Decreto n° 332/91, in verbis: "Art. 41. 0 resultado da correção monetária de que trata este capitulo não influirá na base de cálculo da contribuição social (Lei le 7.689/88 e do imposto de renda na fonte sobre o lucro liquido." 18 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CITI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 49 A recorrente argumenta, em seu favor, que esta vedação não poderia ser veiculada por meio de Decreto, dado gerar efeitos na determinação da própria base de calculo da CSLL. Entendimento divergente levaria a afronta ao principio da legalidade tributária, uma vez inexistir preceito idêntico na Lei n° 8.200/91. Ocorre, entretanto, que a lei ordinária indigitada fez, sim, diferenciação entre o 1RPJ e a contribuição social sob estudo. O artigo 3 0, inciso 1, deste diploma, alhures já copiado, autorizou deduções somente em relação ao lucro real — base de calculo que, por sua natureza, diz apenas com o imposto, e não com a CSLL. Em tal seara, indubitável é que o Decreto n° 332/91 não chegou a inovar o direito, limitando-se apenas a aclarar situação legislada preexistente. De todo modo, não caberia a nós analisar a constitucionalidade da citada legislação infraordindria. Sobre o assunto, limitar-me-ei a lembrar que nada mais pode esse colegiado do que prestigiar a aplicação concreta das normas, segundo a forma já sedimentada pela Súmula CARF n° 02: "Súmula CARE n° 2: 0 CARE não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária." (iv) Das demais alegações recursais voltadas a desafiar a constitucionalidade ou a legalidade da legislação tributária vigente Em referência aos demais tópicos tocantes à discussão sobre a validade sistêmica da legislação fiscal vicejante, reportar-me-ei As breves considerações acima ventiladas. Destarte, não acolho, por impossível, a arguição de violação à isonomia, derivada da previsão de aliquotas distintas de CSLL para os diferentes contribuintes, e a ilação de inconstitucionalidade da cobrança de juros de mora computados à taxa referencial Selic, a partir de 01.04.1995. No que concerne ao último tópico, imperioso é sublinhar, para reforçar, que outra Súmula deste Conselho, a de n° 04, trouxe a lume percuciente "Súmula CARE n° 4: A partir de 1° de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC para títulos federais." (v) Da exigência de juros de mora computados sobre as multas de oficio 19 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-Cl TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 50 Por derradeiro, verificamos que a recorrente se insurgiu contra a cominação de juros de mora contabilizados sobre as multas punitivas lançadas. Acredito, aqui, que a peticionária esteja questionando a cobrança dos consectdrios moratOrios que incidirão em eventual execução dos passivos remanescentes, depois de esgotado o contencioso administrativo. Afinal de contas, a análise dos autos infracionais permite entrever que não se cobrou, ate agora, qualquer juro sobre penalidades. Alheio aos autos, pois, é o objeto discutido. Não é aqui que o contribuinte logrará debater o tema, porquanto ainda não ter ocorrido a exigência em questão. Logo, não despenderemos energia com o tópico, limitando-nos a debelar as construções recursais. Isto posto, ACOLHO A PRELIMINAR DE DECADÊNCIA suscitada, a fim de determinar o cancelamento dos autos de infração lavrados. Acaso vencido por meus pares, voto, no mérito, por DAR PROVIMENTO PARCIAL ao Recurso Voluntário, com vistas a determinar o cancelamento dos autos de infração lançadores de IRPJ, em razão dos insanáveis equívocos cometidos na determinação da matéria tributável, ao arrepio do artigo 142 do CTN. Sala das Sessões, em 07 de agost e 2012 BENEDICTO CELS BEICO JUNIOR - Relator 20 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 51 Declaração de Voto Conselheira EDELI PEREIRA BESSA Como bem descreve o I. Relator, o Fisco inicialmente formalizou auto de infração em 04/09/95 para exigência de IRPJ, CSLL e ILL, e correspondente multa de oficio, devidos em razão da glosa de deduções no ano-calendário 1991, as quais subsistiam autorizadas judicialmente em razão de apelação interposta contra sentença denegatória em mandado de segurança, recebida nos efeitos devolutivo e suspensivo. Comunicado este fato ao juizo competente, este houve por bem anular os lançamentos, determinando que o Fisco se abstivesse de qualquer ato censório contra a apelante, até nova determinação daquele juizo. Discordo, porém, do posicionamento do I. Relator acerca da ilegalidade e inconstitucionalidade da decisão que determinou tal anulação, pois, até a edição da Lei n° 9.430/96, o único meio à disposição do Fisco para constituir o crédito tributário e evitar arguições de decadência era o lançamento de oficio mediante auto de infração ou notificação de lançamento, consoante disposto no CTN e no Decreto n° 70.235/72: CTN, Lei n°5.172/66: Art. 142. Compete privativamente et autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Decreto n° 70.235/72: Art. 9 0 A exigência de crédito tributário, a retificação de prejuízo fiscal e a aplicação de penalidade isolada serão formalizadas em autos de infração ou notificação de lançamento, distintos para cada imposto, contribuição ou penalidade, os quais deverão estar instruidos com todos os termos, depoimentos, laudos e demais elementos de prova indispensáveis a comprovação do ilícito.-(Redação dada pela Lei n° 8.748, de 1993) [.--] Art. 10. 0 auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente: I - a qualificação do autuado; - o local, a data e a hora da lavratura; III - a descrição do fato; IV - a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; V - a determinação da exigência e a intimação para cumpri-la ou impugná-la no prazo de trinta dias; VI - a assinatura do autuante e a indicação de seu cargo ou função e o número de matricula. 21 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 52 Art. 11. A notificação de lançamento será expedida pelo órgão que administra o tributo e conterá obrigatoriamente: I - a qualificação do notificado; - o valor do crédito tributário e o prazo para recolhimento ou impugnação; Ill - a disposição legal infringida, se for o caso; IV - a assinatura do chefe do órgão expedidor ou de outro servidor autorizado e a indicação de seu cargo ou função e o número de matricula. Parágrafo único. Prescinde de assinatura a notificação de lançamento emitida por processo eletrônico. [---i Art. 62. Durante a vigência de medida judicial que determinar a suspensão da cobrança, do tributo não será instaurado procedimento fiscal contra o sujeito passivo favorecido pela decisão, relativamente, à matéria sobre que versar a ordem de suspensão. Parágrafo único. Se a medida referir-se a matéria objeto de processo fiscal, o curso deste não será suspenso, exceto quanto aos atos executórios. Destaco, porém, que naqueles dois instrumentos de lançamento, a intimação para cumprimento da exigência apresenta-se como requisito essencial. Tais determinações, em conjunto com o disposto no art. 62, acima transcrito, permitem perfeitamente a conclusão de que não seria possível formalizar lançamentos por meio de auto de infração ou notificação de lançamento enquanto pendente decisão judicial que suspendesse a exigibilidade do crédito tributário. Inexistindo outro instrumento para a constituição do crédito tributário, é compreensível a preocupação do Fisco de que sua inércia pudesse ensejar futuras alegações de decadência contra exigência que viesse a ser formalizada apenas quando revertida definitivamente a decisão judicial em comento. Dai a adoção da única forma possível para constituição do crédito tributário - auto de infração com aplicação de multa de oficio e intimação para seu pagamento —, e a conseqüente sujeição A interpretação judicial de que esta medida era inválida, porque o contribuinte não poderia ser constrangido a pagar tributo com exigibilidade suspensa. Já com a edição da Lei no 9.430/96, implicitamente foi admitida a formalização de lançamento sem intimação para cumprimento da exigência, ao assim se estabelecer: Art. 63. Não caberá lançamento de multa de oficio na constituição do crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributos e contribuições de competência da União, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma do inciso IV do art. 151 da Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966. Alberto Xavier (in Do Lançamento - Teoria Geral do Ato, do Procedimento e do Processo Tributário. Rio Janeiro, Forense, 2001, p. 429) entende que o art. 62 do Decreto n° 70.235/72 fi cou tacitamente revogado em face do artigo 63 da Lei n°. 9.430/96. E, de fato, na prática, a edição da Lei n° 9.430/96 conciliou interesses do Fisco e dos contribuintes, permitindo a verificação da matéria tributável mais proximamente ao fato gerador, e a correspondente constituição do credito tributário sem imputação de penalidade descumprimento de ordem judicial suspensiva de sua exigibilidade. 22 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI TI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 53 Por estas razões, também não concordo com a censura feita pelo I. Relator inatividade da Fazenda Nacional contra a decisão judicial que anulou o primeiro lançamento. contexto legislativo presente naquele momento autorizava a interpretação adotada pelo juizo competente, e a ausência de recursos contra a decisão em comento representa a concordância, naquele caso concreto, com a restrição imposta temporariamente A exigência do crédito tributário, a qual acabou por dar segurança ao Fisco de que atuara até o limite do que lhe era possível. Também não concordo com a alegação da recorrente de que sua pretensão, ao questionar judicialmente o primeiro lançamento, restringia-se A exclusão da multa e à declaração de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, sem pleitear sua anulação, de modo que a restrição a atos censórios não impediria, a partir da edição da Lei n° 9.430/96, a formalização do lançamento sem a aplicação de penalidade e com suspensão da exigibilidade. Há ato judicial que, no caso concreto, determinou que o Chefe do Departamento da Receita Federal se abstivesse de qualquer ato censório contra a apelante, até nova determinação deste juizo. E perfeitamente razoável a interpretação de que a autoridade administrativa estava impedida de formalizar qualquer lançamento até que o juizo competente se manifestasse favoravelmente A exigibilidade do crédito tributário e, demais disto, não se verifica nos autos a petição referida pela recorrente, que poderia restringir a interpretação da decisão em referência àquela por ela invocada. E, prevalecendo a interpretação aqui defendida, não pode ser ela dissociada do disposto no art. 23 da Lei n° 3.470/58, incorporado ao art. 903 do Decreto n°. 3.000/99 (RIR/99), in verbis: "lido correrão os prazos estabelecidos em lei para o lançamento ou a cobrança do imposto, a revisão da declaração e o exame da escrituração do contribuinte ou a da fonte pagadora do rendimento, até decisão na esfera judiciária, nos casos em que a ação das repartições da Secretaria da Receita Federal for suspensa por medida judicial contra a Fazenda Nacional". Prevalecendo o entendimento de que o lançamento tributário era impraticável até que o Poder Judiciário o permitisse, não é possível imputar ao Fisco qualquer conseqüência por sua inatividade. Neste sentido, inclusive, são as disposições do CTN, ao tratar do prazo decadencial para constituição do crédito tributário: Art. 173. 0 direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data ern que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vicio formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. (negrejou-se) 0 prazo decadencial, portanto, flui a partir do momento em que o lançamento pode ser efetuado. Na pendência de decisão judicial que impede o lançamento tributário, não há inércia e não há decadência. 0 prazo decadencial, em tais condições, somente tem sua contagem deflagrada a partir do momento em que o lançamento volta a ser possível, iniciando- 23 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CI TI Acórdão n.° 1101-009.774 Fl. 54 se no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que se tornou eficaz a decisão judicial que possibilitou a sua formalização. Diz a doutrina que a decadência não se interrompe ou suspende. Mas esta conclusão decorre, tão só, da inexistência de hipóteses expressas de suspensão ou interrupção, semelhança do que ocorre com a prescrição. A lei tributária, porém, implicitamente reconhece esta possibilidade não s6 no inciso em destaque, como também no inciso II do mesmo art. 173 do CTN, que fixa a decisão anulatória de lançamento por vicio formal como marco inicial de nova contagem do prazo decadencial para formalização do lançamento substitutivo. Acrescento, ainda, que não tern qualquer aplicação no presente caso o disposto no art. 150, §4° do CTN, pois seus efeitos pressupõem que a Fazenda Pública não tenha se pronunciado acerca de conduta antecipada pelo sujeito passivo, o que, evidentemente, aqui não se verificou. Por estas razões, reputo correto o direcionamento adotado no acórdão n° 101- 96.965/08, em razão da cobrança promovida nos autos do processo Administrativo n° 13805.005559/95-10. A exigência ali formalizada foi anulada por decisão judicial definitiva, e necessária seria nova constituição do crédito tributário para que seu pagamento fosse exigido da contribuinte, a partir do momento que esta exigência voltou a ser possível. Importa, assim, avaliar se o segundo lançamento foi formalizado antes de transcorrido o prazo decadencial para tanto, o qual, como já disse, tem inicio no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento passou a ser possível. Consta da decisão interlocutória proferida nos autos da Apelação em Mandado de Segurança n° 95.03.36992-4 (fl. 17) o que já transcrito pelo!. Relator: (.) Determinei a requisição destes autos, porquanto, a apelante , em petição de 22.09.95, alega ter o Departamento da Receita Federal eni 04/09/95, lavrado auto de infração, intimando-a ao recolhimento, no prazo de 30 dias, do montante correspondente ao Imposto de Renda constante de fls. 373. Diante do exposto, vislumbro o descumprimento à ordem judicial, posto que esta apelação foi recebida no efeito suspensivo e tenho como eivado de vicio a lavratura do referido auto, uma vez que a matéria encontra-se 'sub judice'. Destarte, por ser completamente nulo tal auto, de infração, determino o Cancelamento deste, até o julgamento da presente Apelação. Registro que deve o Sr. Chefe do Departamento da Receita Federal abster-se de qualquer ato censório contra a apelante, até nova o determinação deste juizo. Oficie-se ao Departamento da Receita Federal, comunicando o `decisum'. Decorrido o prazo para eventual interposição de recurso, devolvam-se os autos ao Douto Ministério Público Federal, para parecer, conforme já solicitado. (.) (negrejei) Ao apreciar a apelação do sujeito passivo, o Tribunal Regional Federal da 3 a Região deu-lhe provimento em sessão de 17/04/96, na medida em que o órgão Especial daquela Corte, em 28/09/95, reconheceu a inconstitucionalidade da disposição constante do inciso Ido art. 3 0 da Lei n° 8.200/91, no julgamento da Arguição de Inconstitucionalidade na Remessa "Ex Officio" n° 9-1.03.-17561-7 (fl. 18). Não houve autorização, portanto, par 24 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CIT1 Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 55 qualquer ato censório contra a apelante, mas sim a confirmação da tese por ela defendida e contrária ao pagamento do crédito tributário correspondente. Admitido em 04/02/97 o Recurso Extraordinário interposto pela União (fl. 19), o Supremo Tribunal Federal acolheu a tese da Fazenda Nacional ao corrigir o erro material da decisão inicialmente proferida em 22/08/2002 (fl. 20), dando provimento ao recurso extraordinário em decisão de 30/03/2004 (fl. 21). 0 trânsito em julgado verificou-se em 07/06/2004 (fl. 27). Diante deste contexto, somente com a decisão do Supremo Tribunal Federal foi afastado o impedimento imposto pelo Tribunal Regional da 3' Região, passando a ser possível o lançamento do credito tributário correspondente em 2004, o que remete o inicio do prazo decadencial para 01/01/2005, e evidencia a validade da exigência aqui formalizada em 05/06/2009. Por oportuno esclareço que este entendimento subsiste frente ao que expresso pelo Superior Tribunal de Justiça ao decidir, na sistemática prevista pelo art. 543-C do Código de Processo Civil, o que assim foi ementado no acórdão proferido nos autos do REsp n° 973.733/SC, publicado em 18/09/2009: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE 0 FISCO CONSTITUIR 0 CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIALARTIGO 173, .1, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, ,¢' 4 0, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. 0 prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de oficio) conta-se do primeiro dia do exercício seguinte àquele ern que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fox, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fox, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. Ê que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontra-se regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de oficio, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de San/i, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3' ed., Max Limonad, Sao Paulo, 2004, págs. 163/210). 3. 0 dies a quo do prazo qüinqüenal da aludida regra decadencial rege-se pelo disposto no artigo 173, I, do CT1V, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelrnente, ao primeiro dia do exercício seguinte a ocorrência do fato imponivel, ainda que se irate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelando-se inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos .0 nos artigos 150, § 4°, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração d 25 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-Cl Ti Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 56 desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3 " ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, pigs. 91/104; Luciano Arnaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10° ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3a ed., Max Limonad, Silo Paulo, 2004, págs. 183/199). 5. In casu, consoante assente na origem: (2) cuida-se de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponiveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deu-se em 26.03.2001. 6. Destarte, revelam-se caducos os créditos tributários executados, tendo em vista o decurso do prazo decadencial qüinqüenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de oficio substitutivo. 7. Recurso especial desprovIdo. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC', e da Resolução STJ 08/2008. (negrejou-se) O referido julgado é comumente utilizado para evidenciar que o fato de o tributo sujeitar-se a lançamento por homologação não é suficiente para, em caso de ausência de dolo, fraude ou simulação, tomar-se o encerramento do período de apuração como termo inicial da contagem do prazo decadencial de 5 (cinco) anos. Resta claro, a partir da ementa transcrita, que é necessário haver uma conduta objetiva a ser homologada, sob pena de a contagem do prazo decadencial ser orientada pelo disposto no art. 173 do CTN. Relevante notar, porem, que, no caso apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça, a discussão central prendia-se ao argumento da recorrente (Instituto Nacional de Seguridade Social — TNSS) de que o prazo para constituição do crédito tributário seria de 10 (dez) anos, contando-se 5 (cinco) anos a partir do encerramento do prazo de homologação previsto no art. 150, §4° do CTN, como antes já havia decidido aquele Tribunal Superior. De fato, o relatório daquele julgado expressa que em debate estava o lançamento formalizado em 26/03/2001, de valores devidos em 01/01/92 e 01/01/95. Por sua vez, a autarquia previdencidria, alem de invocar o art. 45 da Lei n° 8.212/91, pretendeu que o prazo para constituição do crédito tributário tivesse inicio após a homologação do lançamento, momento que reputava ser o primeiro dia seguinte aquele em que o lançamento poderia ser efetuado. Em resposta a esta arguição, o Ministro Relator Luiz Fux assim se posicionou: Outrossim, impende assinalar que o 'Primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponivel, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelando-se inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, sç 4°, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3° ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10° ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de San/i, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3' ed., Max Lin2onad, São Paulo, 2004, págs. 183/199). 26 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CIT1 Acórdão n.° 1101-000.774 FL 57 Já no presente caso, há circunstâncias especiais que fazem com que o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado não corresponda ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponivel, as quais não foram objeto de análise pelo Superior Tribunal de Justiça. Quanto A. definição do que se entende por exercício, importa observar que tal conceito é extraído do Direito Financeiro, correspondente ao ano civil, consoante dispõe a Lei no 4.320/64: Do Exercício Financeiro Art. 34. 0 exercício financeiro coincidirá com o ano civil. Art. 35. Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nêle arrecadadas; II - as despesas nêle legalmente empenhadas. (grifos não dispostos no original) Aliás, esta mesma interpretação é encontrada nos arts. 9° e 104 do CTN, bem como no art. 150, III, "a" e "b", da Constituição Federal: Código Tributário Nacional (CTN) Art. 9 0 É vedado et Unido, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] - cobrar imposto sobre o patrimônio e a renda com base em lei posterior à data inicial do exercício financeiro a que corresponda; [..-] Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda: I - que instituem ou majoram tais impostos; - que definem novas hipóteses de incidência; III - que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178. Constituição Federal Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III [---] - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do inicio da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (negrejou-se) Assim, mantém-se o entendimento antes exposto de que o prazo decadencial para o lançamento que se tornou possível em 2004 tem inicio no primeiro dia do exercici seguinte, qual seja, 2005. 27 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CIT1 Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 58 Por tais razões, voto por REJEITAR a preliminar de decadência. tkel1.0 I PEREIRA BESSA — Conselheira 28 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CITI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 59 Declaração de Voto Conselheiro CARLOS EDUARDO DE ALMEIDA GUERREIRO Conforme o relator, o auto se refere ao ano-calendário de 1991 e foi cientificado em 2009. Existiu uma primeira autuação, feita em 1995, que foi cancelada por determinação de Tribunal (TRF-3), em 1995, porque o contribuinte discutia a matéria judicialmente. Além da anulação o Tribunal determinou que a fiscalização se abstivesse de praticar atos censórios contra o contribuinte até determinação da justiça. Ainda conforme o relator, a discussão judicial foi até o STF, que acabou decidindo favoravelmente ao Fisco sobre a matéria discutida. Com tal decisão do STF, o Fisco pretendeu cobrar o auto que havia sido anulado pelo TRF-3 e o Primeiro Conselho de Contribuintes acabou confirmando administrativamente o cancelamento prévio (pela justiça) da cobrança. A partir desta decisão, a fiscalização entendeu possível refazer o lançamento e lavrou novo auto de infração, em 2009, relativo ao ano de 1991. 0 argumento do Fisco para estender o prazo decadencial foi de que apenas a partir da decisão do STF 6. que começou a correr a decadência, já que até então o Fisco estava impedido de praticar atos censó rios contra o contribuinte. No entanto, parece equivocado pretender que a decisão, por proibir qualquer ato censório, impedisse o Fisco de refazer o lançamento. Ao contrario, parece que o TRF-3 proibiu apenas a aplicação de multa. Inclusive, cabe registrar que a defesa do contribuinte argumentou na sustentação oral que o pedido feito ao TRF-3 visou apenas afastar a aplicação da multa. 0 que confirmaria o sentido ora atribuído a ato censório. Dessarte, o lançamento poderia ser imediatamente refeito após a decisão do TRF-3, porém sem a multa. Assim, não cabe pensar em suspensão ou interrupção do prazo decadencial e o lançamento só poderia ter sido feito ate 1997. Ademais, independente do exato conteúdo da decisão, o Fisco deveria ter questionado judicialmente tal decisão, pelos instrumentos processuais adequados, a fim de se defender de qualquer lesão causada pela decisão. També, caso tivesse dúvidas quanto ao conteúdo da decisão, deveria ter embargado, para que o TRF-3 esclarecesse exatamente o que pretendia dizer com a proibição de atos censórios. Mas, não houve tal defesa ou questionamento, por inércia do Fisco. Dessarte, não parece razoável pretender estender o inicio da contagem (ou continuação da contagem) do prazo decadencial até a decisão final do STF, pois não se pode sequer afirmar que a decisão do TRF-3 tenha impedido o lançamento. De qualquer modo, mesmo admitindo-se por hipótese que a decisão do TRF- 3 tivesse impedido o lançamento, de sorte a interromper ou suspender o prazo decadencial, ainda assim não seria razoável pretender que o prazo decadencial ficasse suspenso até a decisão 29 1.1 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CITI Acórdão n.° 1101-000.774 Fl. 60 do STF. Para bem compreender este ponto é preciso recapitular o ambiente jurídico existente nos anos noventa. Com o advento da Constituição de 1988 dois fenômenos ocorreram. Primeiro surgiram diversas leis adequando o sistema de tributação à Constituição. Segundo, o questionamento judicial das regras de tributação tornou-se corriqueiro. Nesta linha, o mandado de segurança que, por definição legal, voltava-se contra ato concreto, por construção pretoriana, passa a ser usado contra a lei em tese. Assim, surgem decisões interlocutórias que sustentam a inexistência de relação jurídica em razão de inconstitucionalidade da lei e que proibem o Fisco de fazer o lançamento da matéria. Porém, logo fica claro para boa parte do judiciário que tal forma de decidir tinha graves inconvenientes, pois a decisão judicial final poderia ser favorável ao Fisco mas a decisão interlocutória proibitiva do lançamento poderia implicar na decadência. Aos poucos, cria-se um consenso de que a justiça deveria admitir o lançamento, para prevenir a decadência, embora não coubesse a cobrança de multa já que o contribuinte teria agido amparado por decisões judiciais. A partir deste ponto de consciência da questão, tornam-se raras as liminares ou sentenças que, além de reconhecer a inexistência do crédito, impediam o lançamento. Tal posição acaba sendo positivada pelo art. 63 da Lei n° 9.430, de 1996, in verbis, na redação original e alterada. Art. 63. Não caberá lançamento de multa de oficio na constituição do crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributos e contribuições de competência da Unido, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma do inciso IV do art. 151 da Lei n°5.172, de 25 de outubro de 1966. Art. 63. Na constituição de crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributo de competência da cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do art. 151 da Lei n2 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá lançamento de multa de oficio. (Redação dada pela Medida Provisória n°2.158-35, de 2001) I° 0 disposto neste artigo aplica-se, exclusivamente, aos casos em que a suspensão da exigibilidade do débito tenha ocorrido antes do inicio de qualquer procedimento de oficio a ele relativo. .5S 2° A interposição da ação judicial favorecida com a medida liminar interrompe a incidência da multa de mora, desde a concessão da medida judicial, até 30 dias após a data da publicação da decisão judicial que considerar devido o tributo ou contribuição. A disposição legal deixa claro que as decisões judiciais, que não sejam definitivas, devem apenas suspender a exigibilidade do crédito e que, nessa situação, o Fisco pode e deve efetuar o lançamento para prevenir a decadência, porém sem aplicar a multa. Ora, considerando a inovação jurídica do ordenamento trazida pelo dispositivo transcrito, mesmo se o Fisco tivesse alguma dúvida sobre o conteúdo da decisão do TRF-3 (se havia proibido ou não o lançamento), deveria ter refeito o lançamento. Afinal, a 30 Processo n° 16327.000582/2009-28 SI-CITI Acórdao n.° 1101-000.774 Fl. 61 novidade legislativa esvaziaria eventual conteúdo proibitivo da decisão. Mas, o Fisco resolveu não refazer o lançamento e esperou passivamente até a decisão do STF. Inclusive, mesmo que a decisão tivesse expressamente proibido o Fisco de fazer o lançamento, com o advento do art. 63 da Lei n° 9.430, de 1996, há uma alteração do panorama jurídico, que retiraria a validade da decisão. Portanto, mesmo supondo que a decisão houvesse interrompido o prazo decadencial, este voltaria a correr com a entrada em vigor da lei. Deste modo, mesmo supondo este conteúdo para a decisão, o lançamento só poderia ter sido efetuado até 2002. Por tais razões, voto por reconhecer a decadência do período lançado. Sala das Sessões, 7 de agosto de 2012. Carlos Eduardo de meida Guerreiro 31
score : 1.0
Numero do processo: 10711.726384/2013-54
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 21 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue May 09 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Data do fato gerador: 03/06/2009
OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. INOBSERVÂNCIA AO PRAZO ESTABELECIDO PREVISTO EM NORMA. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO.
É obrigação do contribuinte prestar informações sobre a desconsolidação de carga dentro dos prazos previstos no artigo 22 c/c o artigo 50 da IN SRF nº 800/2007, sob pena de sujeitar-se à aplicação da multa prevista no artigo 107, inciso I, IV, alínea "e", do Decreto Lei nº 37/66.
MULTA POR ATRASO NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE A CARGA. APLICAÇÃO POR MANIFESTO DE CARGA. IMPOSSIBILIDADE. ÔNUS DA PROVA DO CONTRIBUINTE.
A multa regulamentar sancionadora da infração por omissão ou atraso na prestação de informação sobre a carga transportada por empresa de transporte internacional de carga deve ser aplicada uma única vez por viagem do veículo transportador e não por cada manifesto de carga da mesma viagem. Contudo, se não estiverem presentes nos autos informações suficientes que comprovem a penalização por cada manifesto de carga, não há como cancelar o lançamento.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3201-002.549
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
WINDERLEY MORAIS PEREIRA - Presidente Substituto e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente), Jose Luiz Feistauer de Oliveira, Mercia Helena Trajano Damorim, Cassio Schappo, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araujo, Pedro Rinaldi De Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario.
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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MULTA POR ATRASO NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE CARGA Recorrente CEVA FREIGHT MANAGEMENT DO BRASIL LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Data do fato gerador: 03/06/2009 OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. INOBSERVÂNCIA AO PRAZO ESTABELECIDO PREVISTO EM NORMA. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO. É obrigação do contribuinte prestar informações sobre a desconsolidação de carga dentro dos prazos previstos no artigo 22 c/c o artigo 50 da IN SRF nº 800/2007, sob pena de sujeitarse à aplicação da multa prevista no artigo 107, inciso I, IV, alínea "e", do Decreto Lei nº 37/66. MULTA POR ATRASO NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE A CARGA. APLICAÇÃO POR MANIFESTO DE CARGA. IMPOSSIBILIDADE. ÔNUS DA PROVA DO CONTRIBUINTE. A multa regulamentar sancionadora da infração por omissão ou atraso na prestação de informação sobre a carga transportada por empresa de transporte internacional de carga deve ser aplicada uma única vez por viagem do veículo transportador e não por cada manifesto de carga da mesma viagem. Contudo, se não estiverem presentes nos autos informações suficientes que comprovem a penalização por cada manifesto de carga, não há como cancelar o lançamento. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) WINDERLEY MORAIS PEREIRA Presidente Substituto e Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 71 1. 72 63 84 /2 01 3- 54 Fl. 127DF CARF MF Processo nº 10711.726384/201354 Acórdão n.º 3201002.549 S3C2T1 Fl. 3 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente), Jose Luiz Feistauer de Oliveira, Mercia Helena Trajano Damorim, Cassio Schappo, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araujo, Pedro Rinaldi De Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario. Relatório Tratase de processo referente à exigência de multa pelo descumprimento da obrigação de prestar informação sobre veículo, operação realizada ou carga transportada, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. A irregularidade identificada consta do tópico "Dos Fatos", parte da Descrição dos Fatos do Auto de Infração. Segundo o relatado, consistiu na prestação intempestiva de informação referente ao conhecimento eletrônico (CE) ali indicado, o que acarretou no bloqueio automático do conhecimento no sistema Carga, conforme extrato anexado aos autos. Diante dos fatos apurados, a fiscalização entendeu configurada a infração tipificada no art. 107, IV, “e”, do DecretoLei nº 37/1966, com redação dada pela Lei nº 10.833/2003, e aplicou a multa ali cominada. Não conformada com a exigência, a contribuinte apresentou Impugnação, cujos argumentos de defesa foram assim sintetizados pela DRJ: a) Princípio da razoabilidade. O atraso incorrido pela impugnante não causou embaraço ao controle aduaneiro, eis que as informações foram prestadas com suficiente antecedência da chegada do navio ao porto, o que comprova, também, o fato de a autuada não ter agido com intuito de cometer qualquer infração. Dessa forma, a aplicação de multa no presente caso ofende ao princípio da razoabilidade, que impõe à Administração Pública o dever de agir com bom senso, prudência e moderação, levando em conta a relação de proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade a ser alcançada, bem como as circunstâncias que envolvem a prática do ato. b) Bis in Idem. A impugnante foi penalizada mais de uma vez pela mesma conduta, uma vez que foram cobradas multas pelo atraso na entrega de informações referentes a cargas transportadas no mesmo navio/viagem, conforme processos administrativos indicados, não podendo subsistir mais de uma penalidade para o mesmo fato, conforme estabelece a legislação de regência. Assim, se infração houve, nesses casos só poderia ser aplicada multa uma única vez, consoante já decidiu a própria Receita Federal na Solução de Consulta Interna (SCI) nº 8, de 14/2/2008. Ao final a impugnante requer que seja cancelado o lançamento ou, subsidiariamente, que seja aplicado o entendimento de que só é cabível uma multa em relação a cada navio/viagem, excluindose as penalidades excedentes. A DRJ/Fortaleza julgou improcedente a impugnação apresentada, mantendo a exigência da penalidade nos termos do Acórdão 08033.141. No recurso voluntário foram repisadas as alegações trazidas na impugnação. É o relatório. Fl. 128DF CARF MF Processo nº 10711.726384/201354 Acórdão n.º 3201002.549 S3C2T1 Fl. 4 3 Voto Winderley Morais Pereira, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3201002.523, de 21 de fevereiro de 2017, proferido no julgamento do processo 10711.724209/201241, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão, (Acórdão 3201002.523): "Conforme o Direito Tributário, a legislação, as provas, documentos e petições apresentados aos autos deste procedimento administrativo e, no exercício dos trabalhos e atribuições profissionais concedidas aos Conselheiros, conforme portaria de condução e Regimento Interno deste Conselho, apresento e relato o seguinte voto. Por conter matéria preventa desta 3.ª Seção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais e considerando o tempestivo Recurso Voluntário, dele conheço. A alegação da fiscalização de 'Não Prestação de Informação sobre Carga Transportada' e a consequente aplicação de multa de R$ 5.000,00 prevista no Art. 107 do DL 37/66, em razão do descumprimento do prazo previsto na IN RFB 800/2007, Art. 22, ocorreu em razão da fiscalização ter constatado que o contribuinte era consignatário e deveria ter cumprido o prazo em no máximo até 29/07/09 às 07:58, sendo que desconsolidou o mercante agregado HBL de fls. 23 e 24 às 18:00 do mesmo dia 29. Conforme alegação de bis in idem do contribuinte em seu Recurso Voluntário, a autuação seria atrelada a dois outros autos de infração, Processos Administrativos de n°. 10711.724.250/201218 e 10711.724.251/201262, com os mesmos fatos e penalidade. Vencido no voto de diligência, para que fossem juntadas aos autos cópias dos mencionados processos e fosse verificada a possibilidade da duplicidade da pena, conforme Resolução por mim proposta na sessão de Janeiro deste ano, é certo que devo proceder à análise do mérito desta lide. Em que pese existir precedente favorável à situação do contribuinte, como o encontrado no Acórdão 3102001.988 deste Conselho, que determinou que a multa regulamentar sancionadora da infração por omissão ou atraso na prestação de informação sobre a carga transportada por empresa de transporte internacional de carga deve ser aplicada uma única vez por viagem do veículo transportador e não por cada manifesto de carga da mesma viagem, como fora consignado na autuação, não houve comprovação da existência de duplicidade ou do bis in idem, tampouco argumentos capazes de prejudicar o lançamento fiscal ou contradizer os argumentos utilizados pela turma de origem que afirmou 'que as multas aplicadas foram decorrentes de condutas similares, porém, relativas a fatos distintos'. Fl. 129DF CARF MF Processo nº 10711.726384/201354 Acórdão n.º 3201002.549 S3C2T1 Fl. 5 4 Mas cópias dos Autos de Infração, um demonstrativo analítico, com os registros relativos às operações tratadas em cada processo apontado no recurso, não foram juntados pelo contribuinte. Esta situação (não juntada de documentos ou provas) diverge do previsto no Art. 16, inciso III e §4º, do inciso V , do Decreto nº 70.235/72, bem como do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil. Nestes termos, considerando que a Recorrente deixou de comprovar suas alegações, não há como acolher o pedido de nulidade do lançamento suscitado pela contribuinte. Restam prejudicados os demais argumentos do contribuinte, pois todos são decorrentes da alegação de bis in idem, exceto pela alegação de aplicação do princípio da razoabilidade, o que certamente teria valia porque é um princípio constitucional, contudo, está correta a fundamentação legal do lançamento, vigente e aplicável aos fatos narrados. O lançamento capitulou corretamente a multa regulamentar pela não prestação de informação sobre veículo ou carga transportada, ou sobre operações que executar, prevista no artigo 107, inciso IV, alínea "e", do Decreto Lei º 37/66, com a redação dada pelo artigo 77 da Lei nº 10.833/2003, pelo fato da Recorrente ter prestado informações sobre a desconsolidação da carga fora do preceitos e prazos previstos nos artigo 22 e 50, da Instrução Normativa SRF nº 800/2007. Assim, deve ser aplicada a multa prevista pela letra “e” do inciso IV, art. 107 do Decreto nº 37, isso é, no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Diante do exposto, votase por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário para manter o lançamento em uma só multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)." Quanto à questão do bis in idem, da mesma forma que no caso do paradigma a contribuinte não juntou ao presente processo "cópias dos Autos de Infração, um demonstrativo analítico, com os registros relativos às operações tratadas em cada processo apontado no recurso". Não comprovada a ocorrência de duplicidade da exigência, não há como acolher o pleito de nulidade do presente lançamento. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, negase provimento ao recurso voluntário. assinado digitalmente Winderley Morais Pereira Fl. 130DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 14751.000019/2008-33
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Mon Dec 12 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Feb 08 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2005 a 30/11/2006
APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009.
Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta.
O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.
Recurso Especial do Procurador Provido.
Numero da decisão: 9202-004.954
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em dar-lhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Patrícia da Silva.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
Nome do relator: LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/01/2005 a 30/11/2006 APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo. Recurso Especial do Procurador Provido.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em dar-lhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Patrícia da Silva. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
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PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo. Recurso Especial do Procurador Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em darlhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Patrícia da Silva. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 14 75 1. 00 00 19 /2 00 8- 33 Fl. 297DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 2 (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do processo paradigma deste julgamento, n° 10380.005876/200753. A divergência em exame reportase à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. A Fazenda Nacional interpôs recurso especial requerendo que a retroatividade benigna fosse aplicada, essencialmente, pelos critérios constantes na Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Cientificado, o sujeito passivo não apresentou contrarrazões. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos Relator Este processo foi julgado na sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9202004.792, de 12/12/2016, proferido no julgamento do processo 10380.005876/200753, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido naquela decisão (Acórdão 9202004.792): O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Fl. 298DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 3 Cingese a controvérsia às penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP nº 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009, quando mais benéfica ao sujeito passivo. A solução do litígio decorre do disposto no artigo 106, inciso II, alínea “a” do CTN, a seguir transcrito: Art. 106. A lei aplicase a ato ou fato pretérito: I em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II tratandose de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de definilo como infração; b) quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. (grifos acrescidos) De inicio, cumpre registrar que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), de forma unânime pacificou o entendimento de que na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Assim, a multa de mora prevista no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, não é aplicável quando realizado o lançamento de ofício, conforme consta do Acórdão nº 9202004.262 (Sessão de 23 de junho de 2016), cuja ementa transcrevese: AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA MULTA APLICAÇÃO NOS LIMITES DA LEI 8.212/91 C/C LEI 11.941/08 APLICAÇÃO DA MULTA MAIS FAVORÁVEL RETROATIVIDADE BENIGNA NATUREZA DA MULTA APLICADA. A multa nos casos em que há lançamento de obrigação principal lavrados após a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, mesmo que referente a fatos geradores anteriores a publicação da referida lei, é de ofício. AUTO DE INFRAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA COMPARATIVO DE MULTAS APLICAÇÃO DE PENALIDADE. RETROATIVIDADE BENIGNA. Fl. 299DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 4 Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Se as multas por descumprimento de obrigações acessória e principal foram exigidas em procedimentos de ofício, ainda que em separado, incabível a aplicação retroativa do art. 32A, da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, eis que esta última estabeleceu, em seu art. 35A, penalidade única combinando as duas condutas. A legislação vigente anteriormente à Medida Provisória n° 449, de 2008, determinava, para a situação em que ocorresse (a) recolhimento insuficiente do tributo e (b) falta de declaração da verba tributável em GFIP, a constituição do crédito tributário de ofício, acrescido das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, respectivamente. Posteriormente, foi determinada, para essa mesma situação (falta de pagamento e de declaração), apenas a aplicação do art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991, que faz remissão ao art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996. Portanto, para aplicação da retroatividade benigna, resta necessário comparar (a) o somatório das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, e (b) a multa prevista no art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991. A comparação de que trata o item anterior tem por fim a aplicação da retroatividade benigna prevista no art. 106 do CTN e, caso necessário, a retificação dos valores no sistema de cobrança, a fim de que, em cada competência, o valor da multa aplicada no AIOA somado com a multa aplicada na NFLD/AIOP não exceda o percentual de 75%. Prosseguindo na análise do tema, também é entendimento pacífico deste Colegiado que na hipótese de lançamento apenas de obrigação principal, a retroatividade benigna será aplicada se, na liquidação do acórdão, a penalidade anterior à vigência da MP 449, de 2008, ultrapassar a multa do art. 35A da Lei n° 8.212/91, correspondente aos 75% previstos no art. 44 da Lei n° 9.430/96. Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela MP 449 (convertida na Lei 11.941, de 2009), tenham sido aplicadas isoladamente descumprimento de obrigação acessória sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, bem assim no caso de competências em que o lançamento da obrigação principal tenha sido atingida pela decadência. Neste sentido, transcrevese excerto do voto unânime proferido no Acórdão nº 9202004.499 (Sessão de 29 de setembro de 2016): Fl. 300DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 5 Até a edição da MP 449/2008, quando realizado um procedimento fiscal, em que se constatava a existência de débitos previdenciários, lavravase em relação ao montante da contribuição devida, notificação fiscal de lançamento de débito NFLD. Caso constatado que, além do montante devido, descumprira o contribuinte obrigação acessória, ou seja, obrigação de fazer, como no caso de omissão em GFIP (que tem correlação direta com o fato gerador), a empresa era autuada também por descumprimento de obrigação acessória. Nessa época os dispositivos legais aplicáveis eram multa art. 35 para a NFLD (24%, que sofria acréscimos dependendo da fase processual do débito) e art. 32 (100% da contribuição devida em caso de omissões de fatos geradores em GFIP) para o Auto de infração de obrigação acessória. Contudo, a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, inseriu o art. 32A, o qual dispõe o seguinte: “Art. 32A. O contribuinte que deixar de apresentar a declaração de que trata o inciso IV do caput do art. 32 desta Lei no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentála ou a prestar esclarecimentos e sujeitarseá às seguintes multas: I – de R$ 20,00 (vinte reais) para cada grupo de 10 (dez) informações incorretas ou omitidas; e II – de 2% (dois por cento) ao mêscalendário ou fração, incidentes sobre o montante das contribuições informadas, ainda que integralmente pagas, no caso de falta de entrega da declaração ou entrega após o prazo, limitada a 20% (vinte por cento), observado o disposto no § 3o deste artigo. § 1o Para efeito de aplicação da multa prevista no inciso II do caput deste artigo, será considerado como termo inicial o dia seguinte ao término do prazo fixado para entrega da declaração e como termo final a data da efetiva entrega ou, no caso de nãoapresentação, a data da lavratura do auto de infração ou da notificação de lançamento. § 2o Observado o disposto no § 3o deste artigo, as multas serão reduzidas: I – à metade, quando a declaração for apresentada após o prazo, mas antes de qualquer procedimento de ofício; ou II – a 75% (setenta e cinco por cento), se houver apresentação da declaração no prazo fixado em intimação. Fl. 301DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 6 § 3o A multa mínima a ser aplicada será de: I – R$ 200,00 (duzentos reais), tratandose de omissão de declaração sem ocorrência de fatos geradores de contribuição previdenciária; e II – R$ 500,00 (quinhentos reais), nos demais casos.” Entretanto, a MP 449, Lei 11.941/2009, também acrescentou o art. 35A que dispõe o seguinte, “Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996.” O inciso I do art. 44 da Lei 9.430/96, por sua vez, dispõe o seguinte: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata “ Com a alteração acima, em caso de atraso, cujo recolhimento não ocorrer de forma espontânea pelo contribuinte, levando ao lançamento de ofício, a multa a ser aplicada passa a ser a estabelecida no dispositivo acima citado, ou seja, em havendo lançamento da obrigação principal (a antiga NFLD), aplicase multa de ofício no patamar de 75%. Essa conclusão levanos ao raciocínio que a natureza da multa, sempre que existe lançamento, referese a multa de ofício e não a multa de mora referida no antigo art. 35 da lei 8212/91. Contudo, mesmo que consideremos que a natureza da multa é de "multa de ofício" não podemos isoladamente aplicar 75% para as Notificações Fiscais NFLD ou Autos de Infração de Obrigação Principal AIOP, pois estaríamos na verdade retroagindo para agravar a penalidade aplicada. Por outro lado, com base nas alterações legislativas não mais caberia, nos patamares anteriormente existentes, aplicação de NFLD + AIOA (Auto de Infração de Obrigação Acessória) cumulativamente, pois em existindo lançamento de ofício a multa passa a ser exclusivamente de 75%. Tendo identificado que a natureza da multa, sempre que há lançamento, é de multa de ofício, considerando o princípio da retroatividade benigna previsto no art. 106. inciso II, alínea “c”, do Código Tributário Nacional, há Fl. 302DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 7 que se verificar a situação mais favorável ao sujeito passivo, face às alterações trazidas. No presente caso, foi lavrado AIOA julgada, e alvo do presente recurso especial, prevaleceu o valor de multa aplicado nos moldes do art. 32A. No caso da ausência de informação em GFIP, conforme descrito no relatório a multa aplicada ocorreu nos termos do art. 32, inciso IV, § 5º, da Lei nº 8.212/1991 também revogado, o qual previa uma multa no valor de 100% (cem por cento) da contribuição não declarada, limitada aos limites previstos no § 4º do mesmo artigo. Face essas considerações para efeitos da apuração da situação mais favorável, entendo que há que se observar qual das seguintes situações resulta mais favorável ao contribuinte: · Norma anterior, pela soma da multa aplicada nos moldes do art. 35, inciso II com a multa prevista no art. 32, inciso IV, § 5º, observada a limitação imposta pelo § 4º do mesmo artigo, ou · Norma atual, pela aplicação da multa de setenta e cinco por cento sobre os valores não declarados, sem qualquer limitação, excluído o valor de multa mantido na notificação. Levando em consideração a legislação mais benéfica ao contribuinte, conforme dispõe o art. 106 do Código Tributário Nacional (CTN), o órgão responsável pela execução do acórdão deve, quando do trânsito em julgado administrativo, efetuar o cálculo da multa, em cada competência, somando o valor da multa aplicada no AI de obrigação acessória com a multa aplicada na NFLD/AIOP, que não pode exceder o percentual de 75%, previsto no art. 44, I da Lei n° 9.430/1996. Da mesma forma, no lançamento apenas de obrigação principal o valor das multa de ofício não pode exceder 75%. No AI de obrigação acessória, isoladamente, o percentual não pode exceder as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Observese que, no caso de competências em que a obrigação principal tenha sido atingida pela decadência (pela antecipação do pagamento nos termos do art. 150, § 4º, do CTN), subsiste a obrigação acessória, isoladamente, relativa às mesmas competências, não atingidas pela decadência posto que regidas pelo art. 173, I, do CTN, e que, portanto, deve ter sua penalidade limitada ao valor previsto no artigo 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Fl. 303DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 8 Cumpre ressaltar que o entendimento acima está em consonância com o que dispõe a Instrução Normativa RFB nº 971, de 13 de novembro de 2009, alterada pela Instrução Normativa RFB nº 1.027 em 22/04/2010, e no mesmo diapasão do que estabelece a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, que contempla tanto os lançamentos de obrigação principal quanto de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente. Neste passo, para os fatos geradores ocorridos até 03/12/2008, a autoridade responsável pela execução do acórdão, quando do trânsito em julgado administrativo, deverá observar a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 que se reporta à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias nos lançamentos de obrigação principal e de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. De fato, as disposições da referida Portaria, a seguir transcritas, estão em consonância com a jurisprudência unânime desta 2ª Turma da CSRF sobre o tema: Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 Art. 1º A aplicação do disposto nos arts. 35 e 35A da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009, às prestações de parcelamento e aos demais débitos não pagos até 3 de dezembro de 2008, inscritos ou não em Dívida Ativa, cobrados por meio de processo ainda não definitivamente julgado, observará o disposto nesta Portaria. Art. 2º No momento do pagamento ou do parcelamento do débito pelo contribuinte, o valor das multas aplicadas será analisado e os lançamentos, se necessário, serão retificados, para fins de aplicação da penalidade mais benéfica, nos termos da alínea "c" do inciso II do art. 106 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN). § 1º Caso não haja pagamento ou parcelamento do débito, a análise do valor das multas referidas no caput será realizada no momento do ajuizamento da execução fiscal pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN). § 2º A análise a que se refere o caput darseá por competência. § 3º A aplicação da penalidade mais benéfica na forma deste artigo darseá: I mediante requerimento do sujeito passivo, dirigido à autoridade administrativa competente, informando e comprovando que se subsume à mencionada hipótese; ou Fl. 304DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 9 II de ofício, quando verificada pela autoridade administrativa a possibilidade de aplicação. § 4º Se o processo encontrarse em trâmite no contencioso administrativo de primeira instância, a autoridade julgadora fará constar de sua decisão que a análise do valor das multas para verificação e aplicação daquela que for mais benéfica, se cabível, será realizada no momento do pagamento ou do parcelamento. Art. 3º A análise da penalidade mais benéfica, a que se refere esta Portaria, será realizada pela comparação entre a soma dos valores das multas aplicadas nos lançamentos por descumprimento de obrigação principal, conforme o art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e de obrigações acessórias, conforme §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e da multa de ofício calculada na forma do art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009. § 1º Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, tenham sido aplicadas isoladamente, sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal, deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. § 2º A comparação na forma do caput deverá ser efetuada em relação aos processos conexos, devendo ser considerados, inclusive, os débitos pagos, os parcelados, os nãoimpugnados, os inscritos em Dívida Ativa da União e os ajuizados após a publicação da Medida Provisória nº 449, de 3 de dezembro de 2008. Art. 4º O valor das multas aplicadas, na forma do art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, sobre as contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, deverá ser comparado com o valor das multa de ofício previsto no art. 35A daquela Lei, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009, e, caso resulte mais benéfico ao sujeito passivo, será reduzido àquele patamar. Art. 5º Na hipótese de ter havido lançamento de ofício relativo a contribuições declaradas na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP), a multa aplicada limitarseá àquela prevista no art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. Fl. 305DF CARF MF Processo nº 14751.000019/200833 Acórdão n.º 9202004.954 CSRFT2 Fl. 0 10 Em face ao exposto, dou provimento ao recurso para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Em face do acima exposto, voto por conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, darlhe provimento, para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Fl. 306DF CARF MF
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Numero do processo: 11070.722571/2014-03
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Mar 01 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/01/2009 a 31/03/2010
IPI. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA DO DIREITO. PRESUNÇÃO DE PAGAMENTO ANTECIPADO. A presunção de pagamento antecipado prevista no art. 124, parágrafo único, III, do RIPI/2002, somente opera em relação a créditos admitidos pelo regulamento. Sendo ilegítimos os créditos glosados e tendo os saldos credores da escrita fiscal dado lugar a saldos devedores que não foram objeto de pagamento antes do exame efetuado pela autoridade administrativa, o prazo de decadência deve ser contato pela regra do art. 173, I, do CTN.
ALTERAÇÃO DE CRITÉRIO JURÍDICO. ART. 146 DO CTN. NÃO OCORRÊNCIA. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro Auto de Infração diz respeito a um mesmo lançamento e não a lançamentos diversos, como aduzido neste caso.
IPI. CRÉDITO. PRODUTOS ISENTOS ORIUNDOS DA ZONA FRANCA DE MANAUS (ZFM)). DECISÃO JUDICIAL COISA JULGADA. A autoridade administrativa está adstrita a aplicar exatamente o comando determinado pelo Poder Judiciário, sem qualquer margem de discricionariedade.
ZFM. INSUMOS. CRÉDITO FICTO DO ART. 6º DO DECRETO-LEI Nº 1.435/75. ISENÇÃO. AMAZÔNIA OCIDENTAL. A aquisição de insumos isentos, provenientes da Zona Franca de Manaus, não legitima aproveitamento de créditos de IPI. No art. 6º do Decreto-Lei nº 1.435/75, entende-se por "matérias-primas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional", aquelas produzidas na área da Amazônia Ocidental. Não se tratando os insumos de matérias-primas agrícolas e/ou extrativas vegetais de produção regional, não há direito ao creditamento ficto.
IPI. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. KITS DE CONCENTRADOS PARA PRODUÇÃO DE REFRIGERANTES. Nas hipóteses em que a mercadoria descrita como kit ou concentrado para refrigerantes constitui-se de um conjunto cujas partes consistem em diferentes matérias-primas e produtos intermediários que só se tornam efetivamente uma preparação composta para elaboração de bebidas em decorrência de nova etapa de industrialização ocorrida no estabelecimento adquirente, cada um dos componentes desses kits deverá ser classificado no código próprio da TIPI.
SUFRAMA. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DA MERCADORIA. Nos atos de sua competência, a SUFRAMA pode tratar os kits como se fossem uma mercadoria única, o que não afeta a validade desses atos para os objetivos propostos, porém este tratamento não prevalece para fins de Classificação Fiscal da mercadoria. (enquadramento na TIPI).
MULTA DE OFÍCIO. INEFICÁCIA NORMATIVA DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS. PREVISÃO EM LEI. EXIGÊNCIA. É cabível a exigência de penalidade, nos casos em que não se discute o direito ao crédito de IPI oriundo de insumos isentos, pois a empresa possui decisão judicial sobre o assunto. Os valores objeto de discussão abrangem exclusivamente o aproveitamento indevido de créditos por erro na alíquota de cálculo, prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, assunto em relação ao qual inexiste jurisprudência administrativa.
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A literalidade do artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430, de 1996, separa os débitos tributários das penalidades (multas de ofício), determinando a incidência dos juros só sobre os primeiros, e não sobre as segundas. Assim falta previsão legal para a incidência da Selic sobre a multa de ofício imposta nos autos de infração lavrados pela RFB.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 3402-003.801
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, em DAR provimento parcial ao recurso voluntário da seguinte forma: (a) por unanimidade de votos, foram rejeitadas as preliminares de nulidade do lançamento; (b) pelo voto de qualidade, rejeitou-se a preliminar de decadência e negou-se provimento quanto ao mérito. Vencidos os Conselheiros Carlos Augusto Daniel Neto, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Maysa de Sá Pittondo Deligne. Designado o Conselheiro Waldir Navarro Bezerra. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro deu provimento ao recurso por entender que o contribuinte estava amparado pela coisa julgada que garantia o direito ao aproveitamento dos créditos correspondentes à classificação propugnada pelo Contribuinte; (c) por maioria de votos, excluiu-se a cobrança de juros de mora sobre a multa de ofício na fase de liquidação administrativa do presente julgado. Vencidos os Conselheiros Jorge Freire, Waldir Navarro Bezerra e Maria Aparecida Martins de Paula. Designada a Conselheira Thais de Laurentiis Galkowicz. Os Conselheiros Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro e Maysa de Sá Pittondo Deligne apresentaram declarações de voto.
(assinado digitalmente)
Antonio Carlos Atulim - Presidente.
(assinado digitalmente)
Carlos Augusto Daniel Neto - Relator.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Redator designado
(assinado digitalmente)
Thais de Laurentiis Galkowicz
Participaram da sessão de julgamento os seguintes Conselheiros: Antônio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Carlos Augusto Daniel Neto, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra.
Estiveram presentes ao julgamento o Dr. Antonio Carlos Garcia de Souza, OAB/RJ nº 48.955, advogado da recorrente, o Dr. Pedro Cestari, Procurador da Fazenda Nacional, e os Auditores-Fiscais da Receita Federal Hélio Mesquita de Freitas e Maria Cláudia Pereira da Silveira, representantes da Coordenação-Geral de Fiscalização (COFIS).
Outros eventos ocorridos: O patrono da recorrente questionou o Conselheiro Jorge Freire acerca de sua participação na fiscalização dos processos sob julgamento. O Conselheiro Jorge Freire indagou se o patrono estava arguindo sua suspeição e esclareceu que não participou da fiscalização que originou esses processos. O patrono esclareceu que não estava arguindo a suspeição ou o impedimento do referido conselheiro, apenas estava perguntando se o conselheiro havia ou não participado da fiscalização.
Nome do relator: CARLOS AUGUSTO DANIEL NETO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI Período de apuração: 01/01/2009 a 31/03/2010 IPI. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA DO DIREITO. PRESUNÇÃO DE PAGAMENTO ANTECIPADO. A presunção de pagamento antecipado prevista no art. 124, parágrafo único, III, do RIPI/2002, somente opera em relação a créditos admitidos pelo regulamento. Sendo ilegítimos os créditos glosados e tendo os saldos credores da escrita fiscal dado lugar a saldos devedores que não foram objeto de pagamento antes do exame efetuado pela autoridade administrativa, o prazo de decadência deve ser contato pela regra do art. 173, I, do CTN. ALTERAÇÃO DE CRITÉRIO JURÍDICO. ART. 146 DO CTN. NÃO OCORRÊNCIA. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro Auto de Infração diz respeito a um mesmo lançamento e não a lançamentos diversos, como aduzido neste caso. IPI. CRÉDITO. PRODUTOS ISENTOS ORIUNDOS DA ZONA FRANCA DE MANAUS (ZFM)). DECISÃO JUDICIAL COISA JULGADA. A autoridade administrativa está adstrita a aplicar exatamente o comando determinado pelo Poder Judiciário, sem qualquer margem de discricionariedade. ZFM. INSUMOS. CRÉDITO FICTO DO ART. 6º DO DECRETO-LEI Nº 1.435/75. ISENÇÃO. AMAZÔNIA OCIDENTAL. A aquisição de insumos isentos, provenientes da Zona Franca de Manaus, não legitima aproveitamento de créditos de IPI. No art. 6º do Decreto-Lei nº 1.435/75, entende-se por "matérias-primas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional", aquelas produzidas na área da Amazônia Ocidental. Não se tratando os insumos de matérias-primas agrícolas e/ou extrativas vegetais de produção regional, não há direito ao creditamento ficto. IPI. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. KITS DE CONCENTRADOS PARA PRODUÇÃO DE REFRIGERANTES. Nas hipóteses em que a mercadoria descrita como kit ou concentrado para refrigerantes constitui-se de um conjunto cujas partes consistem em diferentes matérias-primas e produtos intermediários que só se tornam efetivamente uma preparação composta para elaboração de bebidas em decorrência de nova etapa de industrialização ocorrida no estabelecimento adquirente, cada um dos componentes desses kits deverá ser classificado no código próprio da TIPI. SUFRAMA. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DA MERCADORIA. Nos atos de sua competência, a SUFRAMA pode tratar os kits como se fossem uma mercadoria única, o que não afeta a validade desses atos para os objetivos propostos, porém este tratamento não prevalece para fins de Classificação Fiscal da mercadoria. (enquadramento na TIPI). MULTA DE OFÍCIO. INEFICÁCIA NORMATIVA DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS. PREVISÃO EM LEI. EXIGÊNCIA. É cabível a exigência de penalidade, nos casos em que não se discute o direito ao crédito de IPI oriundo de insumos isentos, pois a empresa possui decisão judicial sobre o assunto. Os valores objeto de discussão abrangem exclusivamente o aproveitamento indevido de créditos por erro na alíquota de cálculo, prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, assunto em relação ao qual inexiste jurisprudência administrativa. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A literalidade do artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430, de 1996, separa os débitos tributários das penalidades (multas de ofício), determinando a incidência dos juros só sobre os primeiros, e não sobre as segundas. Assim falta previsão legal para a incidência da Selic sobre a multa de ofício imposta nos autos de infração lavrados pela RFB. Recurso Voluntário Provido em Parte.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/01/2009 a 31/03/2010 IPI. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. DECADÊNCIA DO DIREITO. PRESUNÇÃO DE PAGAMENTO ANTECIPADO. A presunção de pagamento antecipado prevista no art. 124, parágrafo único, III, do RIPI/2002, somente opera em relação a créditos admitidos pelo regulamento. Sendo ilegítimos os créditos glosados e tendo os saldos credores da escrita fiscal dado lugar a saldos devedores que não foram objeto de pagamento antes do exame efetuado pela autoridade administrativa, o prazo de decadência deve ser contato pela regra do art. 173, I, do CTN. ALTERAÇÃO DE CRITÉRIO JURÍDICO. ART. 146 DO CTN. NÃO OCORRÊNCIA. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro Auto de Infração diz respeito a um mesmo lançamento e não a lançamentos diversos, como aduzido neste caso. IPI. CRÉDITO. PRODUTOS ISENTOS ORIUNDOS DA ZONA FRANCA DE MANAUS (ZFM)). DECISÃO JUDICIAL COISA JULGADA. A autoridade administrativa está adstrita a aplicar exatamente o comando determinado pelo Poder Judiciário, sem qualquer margem de discricionariedade. ZFM. INSUMOS. CRÉDITO FICTO DO ART. 6º DO DECRETOLEI Nº 1.435/75. ISENÇÃO. AMAZÔNIA OCIDENTAL. A aquisição de insumos isentos, provenientes da Zona Franca de Manaus, não legitima aproveitamento de créditos de IPI. No art. 6º do DecretoLei nº 1.435/75, entendese por "matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional", aquelas produzidas na área da Amazônia Ocidental. Não se tratando os insumos de matériasprimas agrícolas e/ou extrativas vegetais de produção regional, não há direito ao creditamento ficto. IPI. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. KITS DE CONCENTRADOS PARA PRODUÇÃO DE REFRIGERANTES. Nas hipóteses em que a mercadoria AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 07 0. 72 25 71 /2 01 4- 03 Fl. 1703DF CARF MF 2 descrita como “kit ou concentrado para refrigerantes” constituise de um conjunto cujas partes consistem em diferentes matériasprimas e produtos intermediários que só se tornam efetivamente uma preparação composta para elaboração de bebidas em decorrência de nova etapa de industrialização ocorrida no estabelecimento adquirente, cada um dos componentes desses “kits” deverá ser classificado no código próprio da TIPI. SUFRAMA. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DA MERCADORIA. Nos atos de sua competência, a SUFRAMA pode tratar os kits como se fossem uma mercadoria única, o que não afeta a validade desses atos para os objetivos propostos, porém este tratamento não prevalece para fins de Classificação Fiscal da mercadoria. (enquadramento na TIPI). MULTA DE OFÍCIO. INEFICÁCIA NORMATIVA DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS. PREVISÃO EM LEI. EXIGÊNCIA. É cabível a exigência de penalidade, nos casos em que não se discute o direito ao crédito de IPI oriundo de insumos isentos, pois a empresa possui decisão judicial sobre o assunto. Os valores objeto de discussão abrangem exclusivamente o aproveitamento indevido de créditos por erro na alíquota de cálculo, prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, assunto em relação ao qual inexiste jurisprudência administrativa. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A literalidade do artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430, de 1996, separa os débitos tributários das penalidades (multas de ofício), determinando a incidência dos juros só sobre os primeiros, e não sobre as segundas. Assim falta previsão legal para a incidência da Selic sobre a multa de ofício imposta nos autos de infração lavrados pela RFB. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, em DAR provimento parcial ao recurso voluntário da seguinte forma: (a) por unanimidade de votos, foram rejeitadas as preliminares de nulidade do lançamento; (b) pelo voto de qualidade, rejeitouse a preliminar de decadência e negouse provimento quanto ao mérito. Vencidos os Conselheiros Carlos Augusto Daniel Neto, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Maysa de Sá Pittondo Deligne. Designado o Conselheiro Waldir Navarro Bezerra. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro deu provimento ao recurso por entender que o contribuinte estava amparado pela coisa julgada que garantia o direito ao aproveitamento dos créditos correspondentes à classificação propugnada pelo Contribuinte; (c) por maioria de votos, excluiuse a cobrança de juros de mora sobre a multa de ofício na fase de liquidação administrativa do presente julgado. Vencidos os Conselheiros Jorge Freire, Waldir Navarro Bezerra e Maria Aparecida Martins de Paula. Designada a Conselheira Thais de Laurentiis Galkowicz. Os Conselheiros Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro e Maysa de Sá Pittondo Deligne apresentaram declarações de voto. (assinado digitalmente) Antonio Carlos Atulim Presidente. (assinado digitalmente) Fl. 1704DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.704 3 Carlos Augusto Daniel Neto Relator. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Redator designado (assinado digitalmente) Thais de Laurentiis Galkowicz Participaram da sessão de julgamento os seguintes Conselheiros: Antônio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Carlos Augusto Daniel Neto, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra. Estiveram presentes ao julgamento o Dr. Antonio Carlos Garcia de Souza, OAB/RJ nº 48.955, advogado da recorrente, o Dr. Pedro Cestari, Procurador da Fazenda Nacional, e os AuditoresFiscais da Receita Federal Hélio Mesquita de Freitas e Maria Cláudia Pereira da Silveira, representantes da CoordenaçãoGeral de Fiscalização (COFIS). Outros eventos ocorridos: O patrono da recorrente questionou o Conselheiro Jorge Freire acerca de sua participação na fiscalização dos processos sob julgamento. O Conselheiro Jorge Freire indagou se o patrono estava arguindo sua suspeição e esclareceu que não participou da fiscalização que originou esses processos. O patrono esclareceu que não estava arguindo a suspeição ou o impedimento do referido conselheiro, apenas estava perguntando se o conselheiro havia ou não participado da fiscalização. Relatório Tratase de auto de infração lavrado contra a VONPAR REFRESCOS S.A. ("VONPAR") pela fiscalização para exigir Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI – e respectivos juros de mora e multa de ofício. O tributo lançado representa saldos devedores apurados na escrita após a glosa de créditos decorrentes de aquisições de insumos isentos (kits de concentrados para refrigerantes) feitas à empresa RECOFARMA INDÚSTRIA DO AMAZONAS LTDA ("RECOFARMA"), CNPJ 61.454.393/000106, situada na Zona Franca de Manaus. As razões apresentadas no Termo de Verificação Fiscal para a glosa dos créditos foram as seguintes: 1) no processo de industrialização destes insumos não foram empregadas matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, o que afasta o reconhecimento da isenção prevista no art. 82, inciso III, do Decreto nº 4.544, de 2002 (Regulamento do IPI – RIPI/2002) e, por sua vez, impede a utilização dos créditos como previsto no art. 175 do mesmo Regulamento. Fl. 1705DF CARF MF 4 2) nenhum dos componentes dos kits para refrigerantes se enquadraria no Ex 1 da NCM 2106.90.10, o que exclui a aplicação da alíquota de 27% adotada pela adquirente no cálculo dos créditos, ou seja, mesmo que houvesse direito ao crédito previsto no artigo 175 do RIPI/2002, o valor do imposto calculado como se devido fosse seria zero. A respeito do fundamento nº 01, a autoridade reconhece a existência de coisa julgada em Mandado de Segurança Individual impetrado pela VONPAR no RE 212.4842, mas sustenta o AuditorFiscal que referida decisão analisou apenas o aspecto genérico do princípio da nãocumulatividade, não adentrando nas normas específicas da Zona Franca de Manaus, e que o tema foi reexaminado durante a análise de Embargos de Declaração interpostos nos autos do RE n° 566.819/RS, para afastar a sua eficácia no caso. A respeito do fundamento nº 02, discorre a classificação adotada para os kits para refrigerantes, no Ex 01 do código 2106.90.10 da TIPI, que é próprio para preparações compostas, entendendo que não sendo possível chamar de preparação algo que não está preparado nem misturado. Os componentes dos kits adquiridos pela fiscalizada apresentam, cada um, suas próprias características individuais, e podem ser aplicadas em qualquer produto da indústria de alimentos e fármacos, pormenorizadamente descrito nos itens 73 e seguintes do TVF. Em síntese, o autuante concluiu que todos os componentes dos kits para refrigerantes, objeto de Laudos Técnicos elaborados no curso da ação fiscal de abrangência nacional antes citada, são classificados em códigos tributados à alíquota zero, com exceção dos componentes que se classificam no código 3302.10.00, cuja alíquota é de 5%. Estando caracterizada a impossibilidade de enquadrar os kits para refrigerantes no Ex 01 do código 2106.90.10, seria indevida a utilização da alíquota de 27% para cálculo dos créditos. Regularmente cientificado, o contribuinte apresentou impugnação tempestiva apontando, em preliminar, a decadência do direito da Fazenda Pública efetivar o lançamento em relação aos fatos geradores anteriores a dezembro de 2009, tendo em vista o disposto no art. 150, § 4º do CTN. Quanto ao mérito, defende: I) existência de coisa julgada (RE n° 212.4842) no âmbito do mandado de segurança individual nº 91.00095524, assegurandolhe o direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de concentrado de refrigerantes, insumos isentos oriundos da ZFM, calculado à alíquota de 27%, com fundamento no art. 69, inc. II do RIPI/2002, cuja base legal é o art. 9º do Decretolei 288/1967. II) reitera que o direito a utilização da alíquota de 27% estaria assegurado pelo Acórdão do STF no julgamento do citado RE, conforme interpretação de trecho do Voto, que transcreve e que decorreria da classificação no Ex 01 do código 2106.90.10 da TIPI/2007, que corresponde à própria definição dada na Resolução do Conselho de Administração da SUFRAMA nº 298/2007, adotada nas notas fiscais emitidas pela fornecedora e auditadas pelo referido órgão. Assim, para fazer jus à referida alíquota seria suficiente a aquisição de concentrados isentos oriundos da ZFM, com projeto industrial aprovado por Resolução do CAS e que os mesmos sejam utilizados na fabricação de refrigerantes sujeitos à tributação pelo IPI. Estando tais requisitos comprovados no presente caso, a autoridade estaria vinculada ao que foi decidido pelo Poder Judiciário. III) Ad argumentandum, sustenta que o autuante estaria equivocado ao limitar a competência da SUFRAMA à aprovação de projetos, excluindo a concessão dos benefícios Fl. 1706DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.705 5 do art. 9º do DecretoLei 288/1967 e do art. 6º do DL 1435/1975, tendo em vista os arts. 1º, VI e 4º, I, “c”, ambos do Anexo I, do Decreto n° 7.139/2010. IV) Quanto à classificação fiscal argumenta, primeiramente, que decorre da própria definição dada pela SUFRAMA, objeto da Resolução do CAS n° 298/2007. No Parecer Técnico n° 224/2007, que integra a referida Resolução, a SUFRAMA, definiu o produto como concentrado para refrigerantes, ou seja, como preparações químicas utilizadas como matéria prima de refrigerantes, com capacidade de diluição superior a 10 partes de bebida para cada parte do concentrado, classificado na posição 2106.90.10 Ex. 01 da TIPI/2007. V) Quanto aos aspectos técnicos da classificação, discorda do argumento do fiscal. Também considera equivocado o entendimento de que as regras 2 a) e 3 b) do Sistema Harmonizado não se aplicariam aos "kits" para refrigerantes. Segundo as Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (NESH), aprovadas pelo Decreto n° 435/1992, da posição 2106 em seu item 12, restaria claro que as preparações compostas não precisariam, necessariamente, já estar prontas para uso. Antes da diluição, essas preparações poderiam ser submetidas a um tratamento complementar, sem serem descaracterizadas como preparações compostas para fins de classificação na posição 2106. Além disso, a exclusão que consta no item XI da Nota Explicativa dessa própria Regra 3 b) decorreria simplesmente do fato de o concentrado para refrigerantes ter classificação fiscal especifica, qual seja: 2106.90.10 Ex. 01 e Ex. 02 da TIPI/2007. VI) Aponta que as notas fiscais são documentos idôneos, com validade fiscal, e que, na qualidade de adquirente de boafé, teria direito à manutenção do crédito delas decorrente. Invoca os arts. 62, 48 e 53 da Lei 4.502/1964. VII) Defende a impossibilidade de exigência de multa de ofício sobre o valor dos créditos glosados, com base no art. 76, II, “a”, da Lei 4.502/1964, pois a Câmara Superior de Recursos Fiscais, à época dos fatos geradores, teria reconhecido o direito ao crédito de IPI relativo à aquisição de insumos com benefício da isenção subjetiva, utilizados na fabricação de produtos sujeitos ao IPI, em observância ao entendimento do STF no julgamento do RE 212.4842. VIII) Contesta a incidência de juros sobre a multa de oficio porque implicaria numa indireta majoração da própria penalidade, não se podendo falar em mora na exigência de multa, à vista do disposto no art. 16 do Decretolei 2.323/1987, com a redação dada pelo artigo 6º do Decretolei 2.331/1987. Ademais, o artigos 59 da Lei 8.383/1991 e art. 61 da Lei 9.430/1996), também não prevêem essa cobrança. Invoca jurisprudência administrativa do CARF. A Impugnação foi julgada improcedente em Acórdão que, reconhecendo a existência de coisa julgada favorável ao contribuinte, ponderou pela manutenção com fundamento no 2º argumento levantado pelo Fiscal: "(...) não há ofensa à coisa julgada quando a Fiscalização, buscando apurar o “imposto que seria devido caso não houvesse a isenção” verifica que, tendo em vista a correta classificação dos produtos, não haveria créditos a aproveitar, porque o referidos produtos eram, na sua maior parte, à exceção de um, tributados à alíquota zero". Fl. 1707DF CARF MF 6 O Contribuinte apresentou Recurso Voluntário, no qual aduziu novamente os argumentos de sua Impugnação, razão pela qual não serão aqui repetidos. A Procuradoria da Fazenda Nacional apresentou contrarrazões, reiterando os argumentos do TVF. É o relatório, em síntese. Voto Vencido Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto, Relator O Recurso Voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento. I) Preliminares 1) Decadência Alega o Recorrente que houve decadência, em razão ao período anterior a Dezembro de 2009, pois pelo art. 124, p.u., III do RIPI/02, o encontro de crédito e débito na escrita fiscal em que resulta saldo credor equivale a pagamento antecipado, desde que a utilização dos créditos não seja com dolo, fraude ou simulação. Cita precedentes da CSRF. Refletindo sobre o tema, reformamos posição que assumimos preteritamente para concordar com a posição do Recorrente. O art. 124 do RIPI/02 é expresso em equiparar pagamento à compensação: Art. 124. Os atos de iniciativa do sujeito passivo, no lançamento por homologação, aperfeiçoamse com o pagamento do imposto ou com a compensação do mesmo, nos termos dos arts. 207 e 208 e efetuados antes de qualquer procedimento de ofício da autoridade administrativa (Lei nº 5.172, de 1966, art. 150 e § 1º, Lei nº 9.430, de 1996, arts. 73 e 74, e Medida Provisória nº 66, de 2002, art. 49). Parágrafo único. Considerase pagamento: I o recolhimento do saldo devedor, após serem deduzidos os créditos admitidos dos débitos, no período de apuração do imposto; I o recolhimento do imposto não sujeito a apuração por períodos, haja ou não créditos a deduzir; ou III a dedução dos débitos, no período de apuração do imposto, dos créditos admitidos, sem resultar saldo a recolher. Entendo que a melhor leitura desse dispositivo foi realizada pelo Conselheiro Júlio César Alves Ramos, em seu voto vencedor no Acórdão CSRF nº 9303003.299, reproduzido abaixo: Fl. 1708DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.706 7 Considero que o objetivo desse dispositivo é compatibilizar as normas de apuração do imposto, em face do princípio da não cumulatividade, àquelas do Código Tributário Nacional relativas ao lançamento por homologação. Mais claramente, dispor sobre os casos em que o contribuinte nada recolhe (em Darf) simplesmente porque entende nada ter a recolher. Registro, por isso, que só estamos a julgar sob tal dispositivo o período de apuração de agosto de 1999, em que nada foi recolhido em DARF, dado que o montante dos créditos que o contribuinte entendia possuir foi suficiente para "liquidar" todo o débito do período. O mesmo não ocorreu com respeito ao mês de junho de 1999, em que houve saldo devedor, aparentemente recolhido por meio de DARF já que a fiscalização o considerou na apuração que fez (planilha de fls. 199/202 dos autos). Como se sabe, muito discutiu a doutrina acerca da necessidade de efetivo recolhimento para que a decadência se contasse na forma do art. 150. Os opositores a essa corrente sempre apontaram exatamente essa situação em que o sujeito passivo realiza todos os procedimentos que a Lei lhe exige, mas constata, ao final, nada ter a recolher. Isso não era bem resolvido nos tributos cumulativos, a exemplo do PIS e da COFINS, até porque a possibilidade de saldo zero era remota. No caso do IPI, porém, (e também do ICMS estadual) ela é bem real. Por isso, é que leio a equiparação a pagamento prevista no regulamento do IPI como sendo bastante ampla. Com efeito, pareceme que ela procura assegurar que uma vez escriturados os créditos a que o sujeito passivo entenda ter direito (ainda que erradamente) o prazo de que dispõe a Fazenda para revisar os procedimentos adotados é o do art. 150, salvo se em tais procedimentos comprovadamente tiver agido com dolo, fraude ou simulação. Essa leitura soame mais consentânea com a lógica daquele artigo, que transfere ao sujeito passivo responsabilidades que, a todo sentido, deveriam ser do sujeito ativo (porquanto de seu interesse) e apenas lhe traz como bônus a redução do prazo revisional. Assim, a menos que saiba ou deva saber não serem aproveitáveis (admitidos) os créditos que está a escriturar, hipótese em que essa escrituração seria dolosa, o sujeito passivo não pode apenas arcar com o ônus das disposições do art. 150, isto é, proceder a todos os controles e apurações ali previstos e ainda assim poder ter contra si lavrado auto de infração no prazo do art. 173, I. Essa interpretação, aliás, o colocaria na mesma situação de quem não adotasse qualquer daqueles procedimentos, desde que, também a este, não se pudesse imputar dolo. Notese que quando de efetivo recolhimento em Darf se trata, a situação é rigorosamente a mesma: a menos que se tenha viabilizado de forma dolosa, o recolhimento, ainda que a menor Fl. 1709DF CARF MF 8 que o devido, tem a força de manter o prazo decadencial contado na forma do art. 150. Desnecessário repetir, a fiscalização não fez acusação de atitude dolosa por parte do autuado e, coerentemente, não qualificou a multa aplicada. Entendo que até o poderia porque não há na legislação do IPI qualquer dispositivo que autorize o creditamento de valores a título de "tributos pagos indevidamente", mas a sua ausência implica, a meu sentir, a manutenção das disposições relativas ao lançamento por homologação. Nesses termos, voto por reconhecer a decadência do período anterior a Dezembro de 2009. 2) Da alteração de critério jurídico Alega o Recorrente que ocorrera alteração de critério jurídico, com o fato da autuação passar a adotar o fundamento do erro na classificação fiscal, conjuntamente ao argumento tradicional da impossibilidade de tomada de crédito básico de IPI das saídas isentas da ZFM. Não deve proceder tal preliminar. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro auto de infração diz respeito a um mesmo lançamento, e não a lançamentos diversos. Em vista disso, nego provimento à preliminar apontada. II) Do Mérito 1) Do Direito do Contribuinte em Função de Decisão Judicial Transitada em Julgado em seu favor Tal matéria é velha conhecida deste Colegiado, e já foi por ele minuciosamente enfrentada, em especial no irretocável voto proferido pela Ilustra Conselheira Thais de Laurentiis Galkowicz, no Acórdão CARF nº 3402002.900, julgado em Janeiro de 2016, na qual figurava como parte também a VONPAR, pelo que adiro sem ressalvas ao entendimento lá esposado, o qual reproduzo abaixo (fazendo as devidas adaptações), seguro do acerto de suas razões. A Recorrente, na persecução de suas atividades sociais, adquiriu da empresa RECOFARMA um “concentrado” que é isento de IPI, com fulcro no artigo 69, inciso II do RIPI/2002, uma vez que se trata de produto oriundo da Zona Franca de Manaus e utilizado na fabricação de produtos (refrigerantes) sujeito ao IPI. Entendendo estar amparada pela decisão judicial proferida no bojo do Mandado de Segurança n. 91.00095524, a Recorrida tomou crédito de IPI, aplicando a alíquota de 27% prevista na Tabela de Incidência do IPI (“TIPI”) sobre o valor destes produtos. A seu turno, a autoridade fiscal entendeu que o julgamento final da citada ação judicial não se aplica ao presente caso, porque as decisões nela proferidas seriam genéricas e não teriam analisado as normas particulares da Zona Franca de Manaus no que diz respeito ao creditamento de IPI. Cumpre, então, confirmar se o objeto deste processo administrativo está englobado ou não pela decisão judicial proferida no Mandado de Segurança n. 91.00095524, o Fl. 1710DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.707 9 qual foi objeto de julgamento de Apelação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (AMS n. 95.04.373844) e posteriormente levado à apreciação do Supremo Tribunal Federal (“STF”) no RE 212.4842/RS. Pois bem. Logo no início da petição inicial do referido writ, ao tratar dos fatos que deram origem ao direito líquido e certo pleiteado judicialmente, o contribuinte esclarece que se dedica à industrialização e comercialização de refrigerantes, elaborados a partir de concentrados de refrigerantes adquiridos de outras empresa. Passa então a relatar que sobreveio a adquirir tais produtos de fornecedor alocado na Zona Franca de Manaus, beneficiado por isenção do IPI justamente em razão de estar ali geograficamente situado, bem como por cumprir as demais determinações legais. 1 Contudo, assume que este benefício não é aquele previstos como capaz de gerar crédito de IPI, conforme o Decreto n. 87.981/82 (RIPI então vigente), artigos 45 e 82, inciso VI e XXVI, e justamente por essa razão recorre ao Poder Judiciário para buscar o direito ao creditamento do IPI pela entrada de produtos advindos de fornecedor isento da Zona Franca de Manaus. Ao final de suas razões de fato e de direito, traz o seguinte pedido, que é de fundamental observação, uma vez que é o que traça os limites da lide e a amplitude da coisa julgada. In verbis: Diante deste cenário, a sentença proferida em primeiro grau traz expressamente em seu relatório a discussão sobre as isenções de IPI para concentrados de refrigerante oriundos da Zona Franca de Manaus, como se constata dos trechos colacionados abaixo: 1 Art. 9° do Decretolei n. 288/67: “Estão isentas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) todas as mercadorias produzidas na Zona Franca de Manaus, quer se destinem ao seu consumo interno, quer à comercialização em qualquer ponto do Território Nacional.” Art. 6º do Decretolei 1.435/75: “Ficam isentos do Imposto sobre Produtos Industrializados os produtos elaborados com matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, exclusive as de origem pecuária, por estabelecimentos localizados na área definida pelo § 4º do art. 1º do Decretolei nº 291, de 28 de fevereiro de 1967. § 1º Os produtos a que se refere o "caput" deste artigo gerarão crédito do Imposto sobre Produtos Industrializados, calculado como se devido fosse, sempre que empregados como matériasprimas, produtos intermediários ou materiais de embalagem, na industrialização, em qualquer ponto do território nacional, de produtos efetivamente sujeitos ao pagamento do referido imposto. § 2º Os incentivos fiscais previstos neste artigo aplicamse, exclusivamente, aos produtos elaborados por estabelecimentos industriais cujos projetos tenham sido aprovados pela SUFRAMA. Fl. 1711DF CARF MF 10 (...) Dessa forma, o Douto Magistrado de primeiro grau decidiu o caso em favor do contribuinte, com o dispositivo da sentença lavrado nos seguintes termos: Já no julgamento da apelação apresentada pela Fazenda Nacional, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (“TRF4”), foi mantida em seus exatos termos a sentença anteriormente proferida, resultando em acórdão cuja ementa segue transcrita: Irresignada com a sucumbência, a Fazenda Nacional levou a questão ao Supremo Tribunal Federal (“STF”), por meio do Recurso Extraordinário n. 212.4842/RS (“RE Fl. 1712DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.708 11 n. 212.484), já constando como parte o nome da Vonpar Refrescos S.A., sucessora da Porto Alegre Refrescos S.A. Mostrase importante o exame da discussão travada pelos Ministros do STF no citado processo, haja vista que a autuação guerreada pelo contribuinte nestes autos somente foi levada a cabo pois a Autoridade Fiscal entendeu que “o mencionado RE 212.484 analisou apenas o aspecto genérico do princípio da não cumulatividade, sem adentrar às normas específicas existentes na zona Franca de Manaus”, como se observa no item II do Termo de Constatação Fiscal. Pois bem. O Ilmo Relator Ilmar Galvão, relator do RE n. 212.484, dissentiu do entendimento esposado no acórdão recorrido pela União Federal, entendendo que o texto constitucional (artigo 153, §3º, inciso II), ao estabelecer que o IPI será não cumulativo, “compensandose o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores”, somente diz respeito aos valores efetivamente “cobrados” para dar direito ao crédito. No seu sentir, as isenções do IPI não visam beneficiar o consumidor final, mas sim o industrial abarcado pela lei, sendo efetivamente a isenção do IPI uma forma de diferir o pagamento do tributo na cadeia produtiva. Desta feita, julga que o contribuinte não tem direito aos créditos de IPI discutido nos autos. De outro lado, vem em defesa do contribuinte o Ministro Nelson Jobim, trazendo uma narrativa sobre a regulação da concorrência do mercado de refrigerantes e sucos feitos através de legislação do IPI. Diverge, assim, da posição do Relator, analisando especificamente o caso da produção de refrigerantes. Abaixo, colaciono o trecho mais expressivo do seu voto acerca das especificidades do caso concreto: (...) O Ministro Nelson Jobim conclui então que, por força da técnica utilizada no Brasil para a tributação do valor agregado pela não cumulatividade do IPI, não se pode vedar a utilização do crédito pretendido pelo contribuinte que compra produtos da Zona Franca de Fl. 1713DF CARF MF 12 Manaus, sob pena de tornar cumulativo o tributo não cumulativo, exterminando o objetivo extrafiscal pretendido pela tributação. Seguiram este entendimento divergente trazido por Nelson Jobim o Ministro Maurício Corrêa, o Ministro Sepúlveda Pertence, o Ministro Octavio Gallotti, o Ministro Sidney Sanches, o Ministro Néri da Silveira, expressamente consignando o acompanhamento das razões trazidas pela divergência. Igualmente votaram pelo não provimento do recurso os Ministros Moreira Alves e Marco Aurélio Mello. Ao final do julgamento pelo Pretório Excelso, ao acórdão foi atribuída a seguinte ementa: Destarte, pela análise das peças processuais trazidas aos autos, constato que o tema do direito ao crédito de IPI decorrente de produtos com isenção saídos da Zona Franca de Manaus foi ampla e claramente tratado pelo contribuinte e apreciado pelo Poder Judiciário. É manifesto que a discussão jurídica travada no Mandado de Segurança n. 91.00095524, culminando no acórdão do RE 212.484/RS, beneficia o contribuinte, diferentemente do quanto alegado pela Autoridade Fiscal no item II do Termo de Constatação Fiscal. Por essas razões, muito embora não haja previsão legal para a tomada de crédito efetuada pelo contribuinte, há decisão judicial que lhe dá esse direito, transitada em julgado na data 10/12/1998, ou seja, anteriormente ao período glosado e cobrado neste auto de infração. Lembrese que a decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão decidida (artigo 467 do Código de Processo Civil). Assim, o item II do auto de infração, o qual se embasa justamente no argumento de falta de previsão legal para a utilização do crédito de IPI relativo aos insumos advindos de fornecedor da Zona Franca de Manaus com o benefício previsto no artigo 69, inciso II do RIPI/2002, deve ser cancelado. Registrese que, no presente caso, não é necessário – como normalmente ocorre adentrar na questão do histórico dos julgamentos do STF a respeito do direito ao crédito de IPI oriundo de operações onde não há cobrança do imposto, que, como argumentam os contribuintes de modo geral, diferenciase da situação dos créditos de produtos isentos oriundos da Zona Franca de Manaus. Estes seriam entendidos como um assunto “especial” no STF, em relação ao assunto “geral” de crédito de IPI de operações com alíquota zero, isentas ou não tributadas, os quais, como é consabido, não dão direito ao crédito do imposto, como firmando na alteração de jurisprudência consolidada nos RE 370.682 e 566.891. A alegada diferenciação das duas situações se depreenderia do RE n. 592.891, que parece dar tratamento diferenciado ao crédito de IPI decorrente de produtos munidos de isenção da Zona Franca de Manaus, cuja repercussão geral foi reconhecida, mas o julgamento encontrase ainda pendente. Com efeito, tal discussão é despicienda in casu. Afinal, o contribuinte ora recorrido possui decisão individual e concreta que lhe beneficia (o RE 212.484, tão conhecido e citado nas discussões sobre o tema), não dependendo de antigos ou eventuais novos entendimentos exarados em processos com força vinculante e efeito erga omnes proferidos pelo STF. Basta, no presente caso, que se respeite a autoridade da coisa julgada entre as partes ali firmada. Assim, exatamente por constar como parte do RE 212.484, a Vonpar Refrescos S.A. deve ser tratada de forma distinta daquela que prevalece nos recentes julgados proferidos pelo CARF, que não reconhecem o direito dos contribuintes ao crédito de IPI ora em discussão (Processo n. 10735.903077/201082, Acórdão n. 34030003.242 e Processo n. Fl. 1714DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.709 13 10283.005286/200729, Acórdão 3403003.613). É verdade que tal situação pode criar desigualdade entre a Vonpar Refrescos S.A. e os demais contribuintes. Porém não cabe a este órgão julgador resolver esta eventual externalidade concorrencial, mas sim decidir conforme a lei. Em outros termos, certa ou errada a decisão proferida pelo STF no RE 212.484, cujo entendimento pode ser ou não alterado para terceiros pela decisão a ser proferida no RE 592.891, dotado de repercussão geral, neste caso específico que está sob julgamento há coisa julgada cogente entre as partes (Vonpar Refrescos S.A. e União Federal), cuja superior hierarquia deve guiar a Administração Pública. Consigno, por fim, que a coisa julgada configura instituto próprio do Estado Democrático de Direito, em que o zelo pela segurança jurídica tem papel primordial para a efetivação dos valores jurídicos constitucionais.2 Na Constituição de 1988, este instituto teve lugar dentre as garantias fundamentais (artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição), possuindo, portanto, o status maior de cláusula pétrea da ordem jurídica, não podendo ser alterada sequer por atividade do constituinte derivado via emenda à Constituição (artigo 60, § 4º, CF/88). Afinal, a coisa julgada possui o condão de trazer a imutabilidade e definitividade aos efeitos da sentença, configurando “uma das mais representativas expressões de segurança jurídica.” 3 O Código de Processo civil determinou, igualmente, que, uma vez configurada a coisa julgada formal, não haverá mais espaço algum para que se discutam os exatos dizeres que foram colocados na sentença, salvo nas estreitas hipóteses em que a lei designa situações para tal afastamento, como decisão fundamentada de revisão proferida pelo próprio juízo ou os casos da ação rescisória (artigo 485, CPC). Neste caso, não há notícia de ação rescisória manejada pela Fazenda Nacional buscando reverter o entendimento transitado em julgado no RE 212.484 em favor do contribuinte Por conseguinte, não resta outro caminho a este Conselho se não reconhecer o direito ao crédito de IPI da Vonpar Refrescos S.A., nos exatos moldes da decisão transitada em julgado no RE n. 212.484, oriundo do Mandado de Segurança n. 91.00095524. 2) Da ausência de erro quanto a classificação fiscal das mercadorias O segundo fundamento da autuação fiscal consiste na afirmação de a classificação fiscal adotada pelo contribuinte (Ex 01 do código 2106.90.10) estaria equivocada, pois "preparações" deve ser entendida apenas como produtos prontos para uso. O Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (SH) é um sistema padronizado de codificação e classificação desenvolvido e mantido pela Organização Mundial das Aduanas — OMA, da qual o Brasil faz parte (Decreto 97.409/1988 que promulgou a Convenção Internacional sobre o SH, aprovada pelo Decreto Legislativo 71/1988). Um dos compromissos assumidos como Parte Contratante dessa Convenção (art. 3º) consiste em aplicar as Regras Gerais para a Interpretação do Sistema Harmonizado, sem aditamentos nem modificações, bem como todas as Notas de Seção, de Capítulo e de 2 Laurentiis, Thais Catib de. Embargos à Execução, coisa julgada e inconstitucionalidade: uma análise das questões controvertidas acerca do art. 741, parágrafo único do Código de Processo Civil, Revista Dialética de Direito Processual n. 118, jan 2013, p. 127 – 151. 3 Torres, Heleno Taveira. Direito Constitucional Tributário e Segurança Jurídica. São Paulo: RT, 2011, p. 447. Fl. 1715DF CARF MF 14 Subposição e a não modificar a estrutura das Seções, dos Capítulos, das posições ou das subposições. De acordo com os arts. 16 e 17 do RIPI/2002 (art. 10 da Lei 4.502/1964), a classificação deverá ser feita de acordo com as Regras Gerais para Interpretação RGI, Regras Gerais Complementares RGC e Notas Complementares NC, todas da Nomenclatura Comum do MERCOSUL NCM, integrantes do seu texto. As Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias NESH, do Conselho de Cooperação Aduaneira na versão luso brasileira, efetuada pelo Grupo Binacional Brasil/Portugal, e suas alterações aprovadas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (IN RFB 807/2008), constituem elementos subsidiários de caráter fundamental para a correta interpretação do conteúdo das Posições e, bem como das Notas de Seção, Capítulo, Posições e Subposições da Nomenclatura do Sistema Harmonizado. Os fundamentos são resumidos pelo fiscal nos seguintes itens do TVF: “76) Conforme demonstrado a seguir, não é possível chamar de preparação algo que não está preparado nem misturado. 77) Segundo o dicionário eletrônico Houaiss, o vocábulo “preparação” tem os seguintes significados: “Ato ou efeito de preparase; preparo, preparamento, preparativo 1. operação ou processo de aprontar qualquer coisa para uso ou serviço 2. elaboração dos alimentos para transformálos nos diversos pratos, iguarias, etc. 3. feitura de um preparado; preparo 4. m.q. PREPARADO (“´produto”)” (grifo nosso) O termo “preparação” indica, pois, uma ação – o ato de preparar, e um resultado – o preparado. 77.1 – Conforme o dicionário eletrônico Priberam da Língua Portuguesa, o vocábulo “preparação” tem os seguintes significados: 1. .Ato ou efeito de preparar ou de prepararse. 2. Obra prévia. 3. Composição. 4. Manipulação. 5. [Farmácia, Química] Preparado. O termo “preparado”, por sua vez, é definido como: 1. Que se preparou. 2. Que foi feito antecipadamente. = PRONTO 3. Que tem ou fez preparação. ≠ IMPREPARADO 4. Aquilo que se preparou (ex.: colocar o preparado no forno durante meia hora). 5. [Farmácia, Química] Produto obtido de uma manipulação química ou farmacêutica. = PREPARAÇÃO 78) Portanto, os termos “preparações”, citados nos Ex 01 e Ex 02 devem ser Fl. 1716DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.710 15 entendidos como produtos prontos para uso, cuja origem advém de um processo de preparo. Os insumos empregados devem sofrer algum tipo de processamento, de transformação, podendo ser uma simples mistura de ingredientes ou complementada com algo mais elaborado como cozimento, por exemplo. 79) Não é o caso dos “kits” adquiridos pela fiscalizada, cujos componentes são misturados durante o processo de elaboração da bebida final. Se cada componente foi recebido do fornecedor na sua embalagem individual, não há que se falar em uma mercadoria pronta para uso. (...) 80.3 – Da mesma forma que no exemplo acima, os textos dos Ex 01 e Ex 02 do código 2106.90.10 tratam de “preparações compostas” constituídas por uma mistura de diversas substâncias, as quais por diluição deveriam produzir o refrigerante. Não é o caso dos “concentrados” adquiridos por Vonpar, pois estes são um conjunto de ingredientes, cada uma na sua embalagem individual, que não estão misturados e não estão prontos para uso.” Em síntese, podese dizer que a fiscalização se baseou em um dos sentidos lexicais do verbete "preparação" e partiu do pressuposto de que "preparação" seria apenas a mistura já homogeneizada e passível de diluição, diferentemente dos ingredientes que compõem o "concentrado" adquirido pela Vonpar. Primeiramente, devese frisar que essa discussão é nova para este Colegiado, haja vista que TODAS as autuações relativas a esta matéria (glosa de créditos de IPI de saídas isentas da ZFM) foram lavradas sob o fundamento anterior, já rebatido em razão da existência de coisa julgada material em favor da VONPAR. Tal inovação, especialmente e exclusivamente em relação a este Contribuinte específico, causa alguma espécie. Em razão da verificação da existência de coisa julgada que impediria a autoridade fiscal de lançar o tributo contra a VONPAR pelo primeiro fundamento indicado, a autoridade fiscal achou por bem construir um argumento ad hoc, personalíssimo à Recorrente, com a finalidade de "escapar" dos constrangimentos constitucionais e possibilitar a autuação da empresa. Verificase, pois, que a discussão da classificação fiscal, neste caso, vem como um deus ex machina um recurso da dramaturgia grega que consistia originariamente na descida em cena de um deus cuja missão era dar uma solução arbitrária a um impasse vivido pelos personagens. Explicome: diante do impasse gerado pelo óbice que a existência de singular decisão judicial favorável ao Contribuinte, em relação à tese fiscal para a glosa dos créditos, foi preciso recorrer a uma solução arbitrária para sair desse embaraço arrecadatório. O artifício encontrado foi o recurso à classificação fiscal dos "kits de concentrados". Para isso, utilizouse o auditor fiscal de uma série de premissas absolutamente equivocadas para construir, somadas a um emaranhado de disposições regulamentares que nada tem a ver com a classificação das mercadorias em análise (chegando inclusive a tratar de Fl. 1717DF CARF MF 16 soluções de consulta proferidas pela Alfândega norteamericana), e por fim pincelando com diversos dispositivos do NESH (que em nada se referem ao caso específico) para justificar a conclusão de que o kit deve ser classificado parte a parte. Todos eles serão oportunamente analisados, em razão de um ponto mais premente para análise: a impessoalidade nos atos administrativos. A impessoalidade da Administração Pública no trato com os administrados é decorrência direta da igualdade republicana, garantindo a todos um tratamento isonômico na aplicação das leis. Não é a toa que tal princípio foi colocado no próprio caput do art. 37 da Constituição Federal, pedra angular do regime jurídico a que se sujeita o Poder Público: Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: A impessoalidade é decorrência da própria vinculação à lei e à moralidade a que se submetem os agentes administrativos, como comando de vedação a qualquer espécie de distinção que se funde em critérios pessoais do administrados. É corolário dela o tratamento igual de todos os contribuintes que estejam em uma mesma situação jurídica, sem que se façam distinções incabidas. Mais do que isso, a impessoalidade é uma das mais importantes, quiçá a maior, barreira ao arbítrio da Administração Pública, pois onde não há impessoalidade, decerto lá estará o arbítrio. Naturalmente, não estamos em tempos de outrora, onde a arbitrariedade e a pessoalidade restavam evidentes nos comandos de um soberano. Atualmente, a pessoalidade encontra subterfúgio em interpretações aparentemente jurídicas, em artifícios hermenêuticos que deixam transparecer a intenção do agente de beneficiar ou prejudicar especificamente um determinado administrado. É dizer, a arbitrariedade encontra se caminho, subrepticiamente, sob o manto da legalidade, não podendo ser confundidas as duas coisas. Em razão disso, Agustín Gordillo pontua que a arbitrariedade é um vício subjetivo dos atos administrativos que compromete sua validade jurídica, inclusive traçando com mestria a linha entre a arbitrariedade e o vício de violação da lei. Senão vejamos, em tradução livre, a lição mais abalizada: Deve anotarse especialmente que em todos estes casos o vício do ato deverá ser encontrado no raciocínio feito pelo administrador para ditar o ato; em igual sentido que na matéria de desvio de poder, se prescinde da questão do seu objeto ser ou não, em si, violador de norma expressa alguma; o vício do ato não deriva de que este vá contra proibição expressa da ordem jurídica, senão de que há chegado a ela por caminhos distintos do que a ordem jurídica prescreve. Chegou à decisão por sua pura vontade, por capricho; não fez uma análise racional e razoável dos fatos e do direito. Por isso, ainda que a decisão não pareça ir contra normas expressas, é de todos os modos ilegítima. (GORDILLO, Agustín. Tratado de Derecho Fl. 1718DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.711 17 Administrativo, T.3, 6ªed.. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. P. IX 45) No caso em tela, verificase que a fiscalização que sempre utilizou um determinado critério para fiscalizar e autuar as empresas que tomam créditos de IPI de saídas isentas da ZFM inovou especificamente em relação à VONPAR, buscando com isso escapar às raias da coisa julgada. Ora, se a fraude à lei consiste em utilizarse de regras jurídicas para contornar uma proibição substancial de outra regra legal, podese dizer seguramente que estamos diante de uma caso de fraude à Constituição, pois procura o fiscal, utilizandose de um complexo arrazoado, escapar da arrebatadora eficácia, constitucionalmente garantida, da coisa julgada. Essa tentativa de autuar a qualquer custo resta evidente ao longo da análise dos argumentos que fundamentaram a desconsideração da classificação feita pelo Contribuinte, que serão analisados abaixo. Primeiramente, a fiscalização afirma que o Laudo exarado pelo laboratório confirma de forma inequívoca que a classificação fiscal adotada pelo Contribuinte está errada. Todavia, uma simples análise do documento atesta exatamente o contrário, como será demonstrado abaixo, apresentandose o resultado por amostragem: 1) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 1 2) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 2 3) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1 4) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2A 5) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2B 6) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1B Fl. 1719DF CARF MF 18 7) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1C 8) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 3 9) Concentrado/Kit sabor sprite parte 2 10) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1 11) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1A 12) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1G 13) Concentrado/Kit sabor sprite light ou zero parte 1B No Laudo anexado aos autos, se verifica que os "kits de concentrados" abrangem basicamente preparações líquidas e sólidas, sendo estas últimas compostas de Ácido Cítrico, Sorbato de Sódio e Benzoato de Sódio, que vem às vezes misturados com outros sais, e em outras isolados. Em seguida, o Fiscal desconsidera a indicação feita pelo Laudo de que se tratariam de preparações, para adotar seu próprio sentido atécnico, digase que obteve à partir de uma consulta ao dicionário Priberam, na internet, concluindo assim que "preparações" devem ser entendidos apenas como produtos prontos para uso, já tendo sido processados, enquanto no caso dos kits, os componentes são misturados no processo de elaboração da bebida final. Para fundamentar, cita a distinção entre preparações alimentícias simples e compostas, para enquadrar o caso em tela na preparação alimentícia composta homogeneizada. Pontua então uma de suas falácias: Fl. 1720DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.712 19 Ora, não apenas a utilização da mercadoria é relevante para fins de classificação como a própria TIPI delineia elementos teleológicos no bojo de suas classificações, especialmente na posição 2106.90.10 e seus Ex 01 e 02: 2106.90.10 Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas Ex 01 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida da posição 22.02, com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado Ex 02 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida refrigerante do Capítulo 22, com capacidade de diluição de até 10 partes da bebida para cada parte do concentrado É dizer, faz toda a diferença para fins classificatórios o fato da mercadoria receber determinada destinação ou não, para esse caso dos concentrados, como também para diversos outros. Outro exemplo banal da erronia da premissa assumida pelo Fiscal é a classificação de produtos inorgânicos não misturados, que embora sejam usualmente incluídos no capítulo 28 da TIPI, são excluídos do mesmo quando se apresentem sob formas ou acondicionamentos especiais, ou quando submetidos a tratamentos que mantenham sua constituição química, como no caso da posição 30.04 (produtos para uso terapêutico ou profilático, que se apresentem em doses ou acondicionados para venda a retalho). De qualquer forma, resta trivial que o Sistema Harmonizado privilegia a destinação da mercadoria e o papel comercial que a mesma exercerá, sobre o simples dado de sua constituição físicoquímica. Vejamos o que a NESH tem a dizer a respeito da posição indicada pelo Contribuinte: A) As preparações para utilização na alimentação humana, quer no estado em que se encontram, quer depois de tratamento (cozimento, dissolução ou ebulição em água, leite, etc.). A Nota Explicativa A referentes à classificação 2106.90 é expressa em afirmar que a preparação não perde o seu caráter enquanto tal pelo simples fato de posteriormente passar por um tratamento, mencionando especificamente a possibilidade de dissolução, que implica mistura fato este utilizado pelo fiscal como argumento para afastar a natureza de preparação. Ou seja, a preparação não precisa estar "pronta para uso", mas sim deve trazer os elementos que, conjuntamente e após tratamento, componham a preparação necessária para a elaboração da bebida da posição 22.02. Isso é corroborado quando se compulsa a NESH XI à RGI/SH 3, que traz exceção expressa à aplicação da regra 3 de interpretação do SH: XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. Fl. 1721DF CARF MF 20 O referido dispositivo deixa claro ao tratar de "mercadorias constituídas por diferentes componentes" que os kits de concentrado devem ser tratados como uma única mercadoria, a despeito da existência de diversas partes (em embalagem comum ou não) e em proporções fixas. Isso conduziria a uma aparente contradição com a RGI/SH 2.b, que trata da classificação de produtos misturados ou artigos compostos, remetendo expressamente à Regra 3, verbis: Qualquer referência a uma matéria em determinada posição diz respeito a essa matéria, quer em estado puro, quer misturada ou associada a outras matérias. Da mesma forma, qualquer referência a obras de uma matéria determinada abrange as obras constituídas inteira ou parcialmente por essa matéria. A classificação destes produtos misturados ou artigos compostos efetuase conforme os princípios enunciados na Regra 3. Tal contradição se dissipa, todavia, diante da NESH X à RGI/SH 2.b, que determina expressamente que: Os produtos misturados que constituam preparações mencionadas como tais, numa Nota de Seção ou de Capítulo ou nos dizeres de uma posição, devem classificarse por aplicação da Regra 1. Em razão disso, a metarregra interpretativa a ser aplicada passa a ser a RGI/SH 1, com o respaldo das Notas Explicativas mencionadas acima, autorizando o Contribuinte a tratar como uma só mercadoria o "kit de concentrado", constituído por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), e em proporções fixas. Fica expressamente afastada pela NESH a primeira falácia do TVF. Além disso, afirma categoricamente o auditorfiscal que: Com tal afirmativa em mente, que nos parece ser a segunda falácia, prossigamos para a Nota Explicativa B, relativa à classificação 2106.90 da NESH: B) As preparações constituídas, inteira ou parcialmente, por substâncias alimentícias que entrem na preparação de bebidas ou de alimentos destinados ao consumo humano. Incluem se, entre outras, nesta posição as preparações constituídas por misturas de produtos químicos (ÁCIDOS ORGÂNICOS, SAIS DE CÁLCIO, ETC.) com SUBSTÂNCIAS ALIMENTÍCIAS (farinhas, açúcares, leite em pó, por exemplo), para serem incorporadas em preparações alimentícias, quer como ingredientes destas preparações, quer para melhorar lhes algumas das suas características (apresentação, conservação, etc.) (ver as Considerações Gerais do Capítulo 38). E prossegue no subitem 7: Fl. 1722DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.713 21 7) As preparações compostas, alcoólicas ou não (exceto as à base de substâncias odoríferas), dos tipos utilizados na fabricação de diversas bebidas não alcoólicas ou alcoólicas. Estas preparações podem ser obtidas adicionando aos extratos vegetais da posição 13.02 diversas substâncias, tais como ácido láctico, ácido tartárico, ácido cítrico, ácido fosfórico, agentes de conservação, produtos tensoativos, sucos de frutas, etc. Estas preparações contêm a totalidade ou parte dos ingredientes aromatizantes que caracterizam uma determinada bebida. Em conseqüência, a bebida em questão pode, geralmente, ser obtida pela simples diluição da preparação em água, vinho ou álcool, com ou sem adição, por exemplo, de açúcar ou de dióxido de carbono. Alguns destes produtos são preparados especialmente para consumo doméstico; SÃO TAMBÉM FREQÜENTEMENTE UTILIZADOS NA INDÚSTRIA PARA EVITAR OS TRANSPORTES DESNECESSÁRIOS DE GRANDES QUANTIDADES DE ÁGUA, DE ÁLCOOL, ETC. Tal como se apresentam, estas preparações não de destinam a ser consumidas como bebidas, o que as distingue das bebidas do Capítulo 22. Em primeiro lugar, a NESH considera expressamente que Ácido Cítrico e conservantes (Sorbato de Sódio, Benzoato de Sódio e Citrato de Sódio) fazem parte da "preparação" que se enquadra na posição indicada pelo contribuinte ela é absolutamente literal a esse respeito! E mais, ela desce à minúcia de indicar que a "preparação" pode ser enviada sem passar pela diluição, ou seja, encampando as diversas partes do "kit", para evitar os transportes desnecessários de grandes quantidades de água, de álcool, etc. Há uma preocupação expressa com uma limitação técnica, ao contrário do afirmado pela autoridade fiscalizadora. Isso não implica dizer que o auditor necessite pesquisar a realidade econômica e mercadológica para definir a classificação fiscal de todas as mercadorias, mas apenas daquelas cujas disposições do NCMSH e a respectiva NESH tragam expressas a relevância da destinação e a pertinência na consideração da limitação técnica. E mais, vejamos o subitem 12: 12) As preparações compostas para fabricação de refrescos ou refrigerantes ou de outras bebidas, constituídas por exemplo, por: (...) Estas preparações destinam se a ser consumidas como bebidas, por simples diluição em água ou depois de tratamento complementar. Algumas preparações deste tipo servem para se adicionar a outras preparações alimentícias. Novamente, a NESH desce ao detalhe a respeito de tal posição do NCM, para indicar que a "preparação" não perde seu caráter enquanto tal simplesmente pelo fato de sofrer diluição ou algum tipo de tratamento complementar no estabelecimento da Recorrente. A Procuradoria da Fazenda aduz que [a]capacidade de diluição dos “concentrados” fornecidos pela Recofarma foram anabolizados com ingredientes que elevaram Fl. 1723DF CARF MF 22 substancialmente a capacidade de diluição nas empresas engarrafadoras, como é o caso da VONPAR. Todavia, como visto, o acréscimo dos demais componentes do "kit" não descaracteriza o seu caráter de preparação, diferentemente do que entende o douto procurador. Portanto, resta claro pela leitura das notas explicativas que: i) o fato do kit envolver partes sólidas e líquidas que sofreram diluição posteriormente no estabelecimento da adquirente não desnatura a sua natureza de "preparação". ii) o fato do kit ser destinado a uma empresa que produz refrigerantes é relevante para a classificação de tal mercadoria no Ex 01 da posição 2106.90. iii) os sólidos presentes no kit são produtos de conservação e ácido cítrico, todos expressamente mencionados como partes integrantes das preparações, podendo ser misturados posteriormente aos extratos, no momento da diluição. Minha convicção pessoal é de que a questão estaria definitivamente sepultada já neste ponto, pela leitura minimamente atenciosa da NESH, mas devemos prosseguir na análise do longo arrazoado fiscal. E mais, não deve causar qualquer espécie tal situação. Situação análoga é presente na classificação dos produtos químicos importados em "kits" para, após mistura, comporem os explosivos classificados na Posição 36.02 (Seção VI) do SH nesse caso, ainda que não se apresentem prontos para a utilização, se classificam na Posição por determinação da Nota 3 da Seção VI: 3) Os produtos apresentados em sortidos compostos de diversos elementos constitutivos distintos, classificáveis, no todo ou em parte, pela presente Seção e reconhecíveis como destinados, depois de misturados, a constituir um produto das Seções VI ou VII, devem classificarse na posição correspondente a este último produto, desde que esses elementos constitutivos sejam: a)Em razão do seu acondicionamento, nitidamente reconhecíveis como destinados a serem utilizados conjuntamente sem prévio reacondicionamento; b)Apresentados ao mesmo tempo; c)Reconhecíveis, dada a sua natureza ou quantidades respectivas, como complementares uns dos outros. Tratamse de critérios que só aclaram (ainda que por analogia) ainda mais os parâmetros que devem ser considerados para a classificação dos kits de concentrados, os quais são nitidamente destinados à fabricação de bebidas não alcoólicas, em utilização conjunta, enviados simultaneamente (kits) e em proporção e quantidades suficientes para a produção dos concentrados a serem diluídos. Em seguida, o fiscal recorre a classificações fiscais do U.S. Customs and Border Protection, órgão aduaneiro dos Estados Unidos responsável pela classificação de mercadorias, para sustentar que os produtos de um kit devem ser considerados individualmente. Fl. 1724DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.714 23 Como se verifica no documento, o produto importado era um kit com um número exato de panquecas, hambúrgueres de salsicha e/ou de ovo para a feitura de doze sanduíches, além de embalagens e etiquetas para o sanduíche pronto. O Fiscal responsável pelo parecer acerca da questão entendeu que como as partes vinham separadas, deveriam receber suas classificações próprias, porque passariam por um processo de montagem. Todavia, parece que o auditor responsável pela lavratura deste auto de infração "esqueceu" de citar o seguinte trecho do parece estrangeiro: Na tradução juramentada, anexa ao TVF: Convenientemente, o fiscal colheu do parecer apenas o que lhe interessava, esquecendo de mencionar a exceção expressamente feita pelo autor do mesmo, na interpretação das regras de classificação fiscal. Ele tenta, insistentemente, aplicar à "preparação" as regras de classificação a produtos sujeitos a montagem (como foi feito com o caso dos sanduíches), a despeito de nada ter a ver tal classificação com o caso em tela, no qual envolve mera diluição dos componentes tratamento este expressamente previsto nas Notas Explicativas ao Sistema Harmonizado. A insistência do fiscal em justificar o injustificável fica clara com a profusão desordenada de portarias e dispositivos que cita, onde o termo "concentrado" está presente, mas que em nada tem a ver com classificação fiscal. O fato do "kit" envolver diversos produtos que serão reunidos no estabelecimento da Recorrente não altera o fato de que a legislação aduaneira determina que a sua classificação deverá ser na posição 2106.90.10, no Ex 01. Mais ainda, recorre à Lei nº 8918/1994 e ao Decreto 6.871/2009 para afirmar que o fato dos "kits de concentrados" não terem registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) desqualificaria o mesmo como "Preparados líquidos ou sólidos para bebidas". Ora, a mencionada lei exige o registro de bebidas junto ao MAPA. Inclusive o regulamento veiculado pelo Decreto º 6.871/09 traz uma expressa definição da mesma, para estes fins: Art.2o Para os fins deste Regulamento, considerase: Iestabelecimento de bebida: o espaço delimitado que compreende o local e a área que o circunda, onde se efetiva conjunto de operações e processos, que tem como finalidade a obtenção de bebida, assim como o armazenamento e transporte desta e suas matériasprimas; Fl. 1725DF CARF MF 24 IIbebida: o produto de origem vegetal industrializado, destinado à ingestão humana em estado líquido, sem finalidade medicamentosa ou terapêutica; IIItambém bebida: a polpa de fruta, o xarope sem finalidade medicamentosa ou terapêutica, os preparados sólidos e líquidos para bebida, a soda e os fermentados alcoólicos de origem animal, os destilados alcoólicos de origem animal e as bebidas elaboradas com a mistura de substâncias de origem vegetal e animal; IVmatériaprima: todo produto ou substância de origem vegetal, animal ou mineral que, para ser utilizado na composição da bebida, necessita de tratamento e transformação, em conjunto ou separadamente; Vingrediente: toda substância, incluídos os aditivos, empregada na fabricação ou preparação de bebidas e que esteja presente no produto final, em sua forma original ou modificada; VIcomposição: a especificação qualitativa e quantitativa da matériaprima e dos ingredientes empregados na fabricação ou preparação da bebida; VIIaditivo: qualquer ingrediente adicionado intencionalmente à bebida, sem propósito de nutrir, com o objetivo de conservar ou modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a produção, elaboração, padronização, engarrafamento, envasamento, armazenagem, transporte ou manipulação; Entendeu o fiscal que o "kit de concentrado" se enquadraria nos "preparados sólidos e líquidos", equiparados a bebida pelo inciso II, pois tais preparados são aqueles produtos destinados ao consumidor ou varejista, para preparação de refrigerante nas máquinas em que a venda ocorre diretamente nos copos (máquinas Post Mix), através da adição de água à mistura é o que deixa claro os artigos 27 a 29 do Decreto, verbis: Art.29.Preparado líquido ou concentrado líquido para refrigerante é o produto que contiver suco ou extrato vegetal de sua origem, adicionado de água potável para o seu consumo, com ou sem açúcares. Art.30.O preparado líquido ou concentrado líquido para refrigerante, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para o respectivo refrigerante. Parágrafo único.O preparado líquido para refrigerante, quando adicionado de açúcares, deverá ter a designação adoçado, acrescido à sua denominação. Se verifica com clareza que se tratam de preparações absolutamente diferentes. O "kit de concentrado" é vendido à indústria que produz o refrigerante, e qualifica se como um conjunto de matériasprimas e aditivos, conforme expressamente acatados pela Nota Explicativa B, relativa à classificação 2106.90 da NESH, já mencionada anteriormente. Fl. 1726DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.715 25 O que se verifica, pois, é a utilização por parte do fiscal, de uma terminologia eminentemente técnica para induzir à falsa ideia de que os preparados de que trata o inc. III do art. 2º do Decreto 6871/09 seriam a mesma coisa das preparações da Posição 2106.90.10 do NCMSH. Por fim, para a mais absoluta surpresa deste julgador, a decisão a quo não apenas inovou na argumentação trazida por extenso TVF, como também anexou documentos novos ao processo! Permitome citar o trecho canhestro de confessado desatino procedimental: Não obstante a clareza da citada Nota Explicativa, para enriquecimento da argumentação desenvolvida no TVF, anexei ao processo cópia da tradução juramentada da documentação do Conselho de Cooperação Aduaneira CCA (atual OMA), obtida do processo que tem por objeto o auto de infração lavrado contra a fornecedora Recofarma (11080.723817/2014 28). O documento anexo, por si, sequer deveria ser conhecido por este colegiado, por se tratar de "prova" (apenas em um sentido largamente lato) nova, produzida por sujeito incompetente para tanto e sem que fosse oportunizada o direito de defesa do contribuinte a seu respeito, em sede de Impugnação. Apenas por amor à argumentação, e por um dever de retidão, irei demonstrar que, ainda que considerado, tal documento em nada altera o desfecho do raciocínio alinhavado neste voto. A decisão recorrida, ao invocar os trabalhos preparatórios da CCA (atual OMA), que estiveram por trás da redação da NESH XI à RGI/SH 3, não está se socorrendo de interpretação autêntica! Já descrevemos o que é a interpretação autêntica em outras oportunidades, pelo que reproduzimos abaixo algumas dessas considerações: Em primeiro lugar, falar em lei interpretativa é falar em interpretação autêntica, que é aquela praticada através de toda lei ou disposição legislativa cujo conteúdo consista na determinação do significado de uma ou mais disposições legislativas anteriores (GUASTINI, Ricardo. Interpretare e Argomentare. Milano: Giuffré, 2011. P.81). (...) O caráter "autêntico" é dado a qualquer interpretação decorrente do próprio sujeito que tenha produzido o texto a ser interpretado seria como se Machado de Assis subscrevesse carta em que confirmasse a traição de Capitu, que deveria ser tomada com a interpretação autêntica da obra "Dom Casmurro". Naturalmente que ao falarmos de Direito, especialmente Direito Tributário, cujas principais regras são produzidas por um Parlamento, fica evidente o caráter ficcional dessa autenticidade (Cf. PUGIOTTO, Andrea. La legge interpretativa e i suoi giudici. Milano: Giuffré, 2003. P.125127) de modo que a subjetividade do legislador se revela como uma noção meramente metafórica, para não dizer ideológica, diante da Fl. 1727DF CARF MF 26 possibilidade de composições absolutamente distintas desse órgão emitirem leis interpretativas. Isso demanda que substituamos o pressuposto da identidade do autor ou do órgão para a identidade de função (legislativa), que liga a força normativa dos dois atos, lei interpretada e lei interpretativa se prestando a justificar a interpretação autêntica. Portanto, a interpretação autêntica decorre de um ato legislativo de mesma natureza e hierarquia, veiculado pelo sujeito detentor da mesma função, com o objetivo de aclarar dispositivo anteriormente veiculado. Como o próprio a própria decisão coloca "O documento anexado consiste em interpretação autêntica, que decorre da análise realizada pela CCA para fins de formalização do item XI da Nota Explicativa da Regra 3 b" tratase, pois, de documento que representa trabalhos preparatórios, anteriores à redação da Nota Explicativa em comento. Salta aos olhos a impossibilidade de um trabalho preparatório ser tratado como interpretação autêntica. Em primeiro lugar, não possui natureza normativa, por não veicular qualquer comando vinculante, e sequer se qualifica como norma jurídica, para fins de hierarquização em um sistema graduado verticalmente. Em segundo lugar, o trabalho preparatório é anterior à Nota Explicativa, de modo que não poderia ser interpretação autêntica de algo que sequer existe ainda. Como qualquer ato comunicativo, a norma jurídica de desprende de seu autor no momento que é exarada, da mesma forma que a vontade do legislador e o sentido objetivo da lei não podem se confundir. Quando muito, os trabalhos preparatórios servem para auxiliar na interpretação dos dispositivos legais, em caso de dúvida, mas nunca contra a sua própria literalidade, nem para lhe agravar o conteúdo essa é a lição clássica de Karl Engisch no seu Einführung in das juristsche Denken, ao enfrentar o embate entre as escolas objetivistas e subjetivistas de interpretação. A justificação subjacente a uma determinada norma pode, sim, ser utilizada para identificar casos de sobreinclusão e subinclusão normativa aptos a serem sanados por meio de analogia ou pela técnica de dissociação no momento da aplicação, mas nunca para fins de ampliar o alcance de regras restritivas, como em matéria tributária e penal. A ideia de recorrer à ideologia subjacente à lei posta para fins de interpretála e integrála não é estranha ao Direito Tributário basta que lembremos, por exemplo, do § I da Steueranpassungsgesetz de 1934 (Lei de Adaptação Fiscal), exarado na Alemanha nazista para conformar a interpretação de todas as leis fiscais à ideologia nacionalsocialista, como emanação do chamado Führerprinzip. Deixo aqui o registro histórico dos riscos desta prática. Prosseguindo, cabe ressaltar que diversos pareceres do CCA foram internalizados e tornados vinculantes por meio de Instruções Normativas, e disponibilizados no site da RFB, mas que em nenhum deles consta o documento apresentado pelo julgador a quo. Portanto, tais atas de reuniões não são e nem podem ser tratadas como pareceres oficiais daquela organização, mas como registros históricos dos debates, tampouco tendo sido oficialmente introduzidos no sistema jurídico nacional. É dizer, nem soft law chegam a ser, porque nem Direito são. Fl. 1728DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.716 27 Desse modo, devese afastar de pronto o argumento levantado pela decisão a quo pelos seguintes motivos: I) o julgador de 1ª instância não pode juntar novos documentos ao processo; II) não foi oportunizado à Recorrente o direito de se manifestar sobre esse documento na impugnação; c) tratase de inovação à fundamentação da autuação; d) o documento juntado não possui qualquer valor normativo, não tendo sido publicado oficialmente como parecer, tampouco internalizado no Direito Brasileiro. Fica clara a improcedência dos argumentos esgrimidos na autuação e na decisão a quo. Tudo isso que foi demonstrado transparece uma profunda arbitrariedade perpetrada pela fiscalização, que olvidou das regras classificatórias expressas para buscar, por meios oblíquos e subterfúgios, a glosa dos créditos. Isso fica muito mais claro por diversos momentos em que informações relevantes são voluntariamente omitidas do TVF para manter a integridade das escusas conclusões alcançadas. Corrobora esse entendimento o fato de este fundamento relacionado à classificação fiscal estar presente apenas nos casos da VONPAR, coincidentemente a empresa que detém um provimento judicial definitivo a seu favor. Tratase, pois, de uma solução arbitrária da fiscalização para conseguir autuar especificamente a VONPAR, o que se qualifica perfeitamente como um vício subjetivo de arbitrariedade e pessoalidade no ato administrativo de lançamento, maculando integralmente a validade do mesmo. Forte em minhas convicções, posso declarar seguramente estarmos diante de um ato administrativo nulo, mas apenas a título de obter dictum, em razão do art. 59, §3º do Decreto 70.235/72, verbis: Art. 59. São nulos: §3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. Portanto, a despeito da patente nulidade, estamos fortes nos fundamentos acima delineados quanto à concessão de provimento favorável do mérito ao sujeito passivo, razão pela qual não pronunciaremos tal nulidade no dispositivo da decisão. 3) Da multa de ofício e dos juros de mora sobre multa de ofício Em razão do provimento do mérito, resta prejudicada a análise das demais questões relativas a multas e juros de mora. III) Conclusão Ante o exposto, e forte nos fundamentos apresentados, voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntário. É como voto. Fl. 1729DF CARF MF 28 Carlos Augusto Daniel Neto Relator. Fl. 1730DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.717 29 Voto Vencedor Conselheiro Waldir Navarro Bezerra, Redator designado Não obstante as sempre bem fundamentadas razões do ilustre Conselheiro Relator, peço vênia para manifestar entendimento divergente neste processo, por vislumbrar na hipótese vertente conclusão diversa da adotada pelo nobre julgador, quanto ao posicionamento desenvolvido no Recurso Voluntário, devendo ser mantida a decisão a quo, com a respectiva procedência do Auto de Infração, como passarei a demonstrar. 1. Breve Contexto Consta do Termo de Verificação Fiscal (TVF) às fls. 1.006/1.044, que a empresa VONPAR Refrescos S/A, CNPJ n° 91.235.549/000978, tem como ramo de atividade a fabricação de refrigerantes. No período de janeiro de 2009 a março de 2010, o estabelecimento produziu os seguintes refrigerantes: CocaCola, CocaCola Zero, CocaCola Light, Fanta Laranja, Fanta Uva, Sprite, Guaraná Kuat, Guaraná Kuat Light e Guaraná Taí. No período acima, a maior parte dos créditos do IPI escriturados pela Recorrente, foram oriundos de insumos adquiridos da empresa RECOFARMA, empresa situada na Zona Franca de Manaus (ZFM) que elabora produtos destinados à fabricação de bebidas não alcoólicas da posição 22.02 da Tabela de Incidência do IPI (TIPI). Tais produtos são constituídos de até seis componentes, sendo que cada componente sai do estabelecimento industrial em embalagem individual. Esses produtos são distribuídos para diversas fábricas engarrafadoras espalhadas no território nacional, que atuam em regime de franquia. A VONPAR é uma dessas franqueadas. Nas notas fiscais de saída emitidas de janeiro de 2009 a março de 2010, a RECOFARMA identificou esses produtos como "concentrados contendo kits", formados por "partes". Doravante os produtos que a VONPAR adquire da RECOFARMA serão identificados como "kits para refrigerantes", ou simplesmente "kits". Ressaltase que nas notas fiscais de saída emitidas pela RECOFARMA não há destaque de IPI, tendo sido registrado que os produtos estariam isentos do IPI com base nos artigo 69, inciso II, e artigo 82, inciso III, do Decreto n° 4.544, de 2002 (RIPI). E conclui o Fisco em seu TVE às fls. 1.009/1.010 que, "Assim, tratandose de bens fabricados por estabelecimentos industriais localizados na Amazônia Ocidental, há na legislação do IPI uma espécie de incentivo na forma de crédito somente quando os produtos são elaborados com matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais, de produção regional. A VONPAR, entendendo ter direito ao crédito previsto no art. 175 do RIPI/2002, aplicou sobre o valor dos produtos adquiridos da RECOFARMA a alíquota de 27%, prevista na Tabela de Incidência do IPI (TIPI) para o "Ex 01" do código 2106.90.10 (Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida da posição 22.02, com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado), escriturando o resultado no livro Registro de Apuração do IPI. 2. Do auto de Infração Fl. 1731DF CARF MF 30 O Auto de Infração foi lavrado em 29/12/2014, motivado pela glosa de crédito de IPI decorrente da aquisição de insumos (concentrados) isentos da empresa RECOFARMA, referente ao período de janeiro de 2009 a março de 2010, cujo fundamento principal da autuação é o de que o concentrado não seria classificado na posição 21.06.90.10 "Ex. 01", porque ele não seria um produto único e, pois como tal, deveriam ser utilizadas as respectivas classificações fiscais de seus componentes de forma isolada, que não dariam o crédito à alíquota de 27%, mas à alíquota zero, CUMPRE observar que em relação a este PAF n° 11070.722571/201403, o Fisco também demonstrou no curso da ação fiscal, que a RECOFARMA não utilizou matériasprimas de produção regional em seu processo industrial de "concentrado" e sim, produtos industrializados (como exemplo o corante caramelo, álcool e ácido cítrico), requisito essencial previsto nos Regulamentos do IPI e no art. 6º do DL n° 1.435/75. Da análise das notas fiscais emitidas pela RECOFARMA, o que se vê é a indicação dos arts. 69, II e 82, III, todos do Decreto nº 4.544/2002 (RIPI/2002), de modo que, após análise da composição dos produtos adquiridos pela VONPAR, concluise, pois, que eles somente poderiam gozar, em tese, da isenção prevista no artigo 69, inciso II, do RIPI/2002 (em face de os insumos utilizados pelo fornecedor serem industrializados na ZFM, mas não produzidos com MP agrícolas ou extrativas vegetais), mas, NÃO, de crédito ficto, tendo em vista não ter cumprido os requisitos previstos no art. 175 do RIPI/2002. Sobre o acima exposto, verificase que desta forma o Fisco concluiu seu relatório, conforme consta do TVF (fl. 1.070 e ss): "(...) 70. Face a todo o exposto, constatouse que no período de janeiro de 2009 a março de 2010 ocorreu o aproveitamento indevido de créditos incentivados com base no artigo 175 do RIPI/2002, oriundo de notas fiscais emitidas por Recofarma, (exceto kits para guaraná), em função de não ocorrer a utilização, no processo de industrialização de Recofarma, de matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, requisito essencial previsto nos Regulamentos do IPI e no art. 6º do DL n° 1.435/75. A seguir, sintetizamos os motivos para tal entendimento: (...). A recorrente em seu recurso, aduz que "na sua impugnação também demonstrou que os concentrados elaborados pela RECOFARMA, fazem jus ao benefício do art. 9º do DL n° 288/67 e que tem direito ao crédito de IPI decorrente da aquisição dos referidos concentrados isentos oriundos da Zona Franca de Manaus, porque é aplicável o entendimento do Plenário do STF no RE n° 212.484, "(...) Dessa forma, a RECORRENTE se reporta aos argumentos utilizados na seção 4.6. da impugnação, que também passam a integrar o presente recurso voluntário, na qual a RECORRENTE demonstra que faz jus ao referido crédito" (fl. 1.593). A respeito desse fundamento, o Fisco reconhece a existência de coisa julgada em Mandado de Segurança Individual impetrado pela VONPAR no RE nº 212.4842, mas sustenta que referida decisão analisou apenas o aspecto genérico do princípio da não cumulatividade, não adentrando nas normas específicas da Zona Franca de Manaus, e que o tema foi reexaminado durante a análise de Embargos de Declaração interpostos nos autos do RE n° 566.819/RS, para afastar a sua eficácia no caso. Nesse contexto, por força da decisão transitada em julgado (RE n° 212.484), o creditamento de IPI somente pode ocorrer quando cumpridas todas as condicionantes para a isenção dos “concentrados” fornecidos pela RECOFARMA, haja vista que o dispositivo da decisão judicial prolatada no MSI nº 91.00095524, assegurou à Recorrente a utilização de um valorcrédito do IPI em potencial. Fl. 1732DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.718 31 No Termo de Verificação Fiscal restou explicitado exaustivamente sobre este ponto, quanto a seus fundamentos fáticos e jurídicos e ainda nos tópicos subsequentes será abordado sobre essas matérias (benefícios referente aos art. 6º do DL n° 1.435/75 e art. 9º do DL n° 288/67), restando concluir que não estaria caracterizada a isenção prevista no art. 82, inciso III, do RIPI/2002, o que, por sua vez, impede a sua utilização com base no art. 175 do mesmo Regulamento. Portanto, os produtos adquiridos da RECORFARMA (exceto kits para guaraná) não faziam jus à isenção do artigo 82, inciso III, do RIPI/2002. I DAS PRELIMINARES I.1. Da alegada decadência Alega a Recorrente que houve decadência, com referência a períodos anteriores a Dezembro de 2009 (pela aplicação do art. 150, § 4º do CTN), pois pelo art. 124, parágrafo único, III, do RIPI/02, o encontro de crédito e débito na escrita fiscal em que resulta saldo credor equivale a pagamento antecipado, desde que a utilização dos créditos não seja com dolo, fraude ou simulação. Cita precedentes da CSRF. Pois bem. Ocorre que já houve debates sobre esse tema nesta Turma em diversos julgamentos desta matéria para discordar da posição do Recorrente. Como é cediço, nos termos do caput do art. 150 do CTN, combinado com os arts. 110 a 113 do RIPI/98 e 123 a 126 do RIPI/2002, o IPI encontrase sujeito ao lançamento do tipo “por homologação”. Também é fato, que o art. 124 do RIPI/02 é expresso em equiparar pagamento à compensação. Vejase: Art. 124. Os atos de iniciativa do sujeito passivo, no lançamento por homologação, aperfeiçoamse com o pagamento do imposto ou com a compensação do mesmo, nos termos dos arts. 207 e 208 e efetuados antes de qualquer procedimento de ofício da autoridade administrativa (Lei nº 5.172, de 1966, art. 150 e § 1º, Lei nº 9.430, de 1996, arts. 73 e 74, e Medida Provisória nº 66, de 2002, art. 49). Parágrafo único. Considerase pagamento: I o recolhimento do saldo devedor, após serem deduzidos os créditos admitidos dos débitos, no período de apuração do imposto; I o recolhimento do imposto não sujeito a apuração por períodos, haja ou não créditos a deduzir; ou III a dedução dos débitos, no período de apuração do imposto, dos créditos ADMITIDOS, sem resultar saldo a recolher. Assim, entendo equivocado os argumentos da Recorrente, pois tratandose de créditos ilegítimos, como a seguir se articulará, a presunção de pagamento antecipado prevista Fl. 1733DF CARF MF 32 no art. 124, parágrafo único, III do RIPI/2002, não pode operar, uma vez que esse dispositivo regulamentar se refere expressamente a créditos admitidos pelo Regulamento. E, repisando neste sentido, o dispositivo regulamentar é de clareza vítrea: somente créditos admitidos pelo regulamento são aptos a caracterizar o pagamento antecipado. No caso concreto não ocorreu o pagamento antecipado alegado pela defesa, porque os créditos utilizados na dedução dos débitos não eram admitidos pelo regulamento, como restará demonstrado quando da análise do mérito. Portanto, com a extração dos créditos ilegítimos da escrita do contribuinte os saldos credores passaram a ser devedores, em relação aos quais não houve recolhimento prévio ao início do procedimento de Ofício. Por tal razão, a regra de contagem do prazo de decadência para o caso concreto é a prevista no art. 173, I do CTN. Definido esse aspecto, devese verificar, então, se efetivamente ocorreram pagamentos antecipados de IPI. Em face da legislação exposta, em especial, a redação do art. 124 do RIPI/2002, considerase pagamento: a) o recolhimento do saldo devedor, após serem deduzidos os créditos admitidos dos débitos, no período de apuração do imposto (art. 124, parágrafo único, I), motivo pelo qual não se considera pagamento o recolhimento do saldo devedor, após serem deduzidos créditos não admitidos, no todo ou em parte, dos débitos, no período de apuração do imposto; e b) a dedução dos débitos, no período de apuração do imposto, dos créditos admitidos, sem resultar saldo a recolher (art. 124, parágrafo único, III), motivo pelo qual não se considera pagamento a dedução dos débitos, no período de apuração do imposto, de créditos não admitidos, no todo ou em parte, de que resultou saldo a recolher. Verificase no TVF elaborado pelo Fisco à fl.1.043, onde restou consignado a seguinte informação: "(...)Esclareçase que, como não houve pagamento antecipado em nenhum dos períodos de apuração analisados, não há que se falar em homologação tácita ou expressa, e a análise da decadência foi feita com base no art. 173,1, da Lei n° 5.172, de 1966 (Código Tributário Nacional)" (grifei). Nesse mesmo contexto, vejamos como a DRJ analisou essa questão, conforme trecho abaixo reproduzido (fl. 1.510): "(...)No presente caso, os créditos utilizados para abatimento de débitos foram glosados, o que resultou na existência de saldos devedores em todos os períodos. Dessa forma, considerase que não houve pagamento antecipado em nenhum dos períodos de apuração, não havendo, portanto, que se falar em homologação tácita ou expressa. A análise da decadência deve ser feita como no lançamento de ofício, que é regido pelo art. 173, I, do CTN". Logo, para os períodos de apuração entre janeiro e dezembro de 2009, inclusive, a contagem do prazo decadencial iniciase a partir de 1º de janeiro de 2010, encerrandose em 31 de dezembro de 2014. Tendo a ciência do Auto de Infração ocorrido no dia 29/12/2014, não há que se cogitar de decadência do lançamento, restando, portanto, improcedente a alegação da Recorrente (VONPAR). Fl. 1734DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.719 33 I.2. Da alteração de critério jurídico Alega o Recorrente que ocorrera alteração de critério jurídico (Inovação Retroativa), com o fato da autuação passar a adotar o fundamento do erro na classificação fiscal, conjuntamente ao argumento tradicional da impossibilidade de tomada de crédito básico de IPI das saídas isentas da Zona Franca de Manaus (ZFM). Não obstante, a Fiscalização refuta a ofensa ao art. 146 CTN, sob o fundamento de que não haveria manifestação expressa aceitando a classificação fiscal do "concentrado" para refrigerantes classificado na posição 2106.90.10, "Ex 01". Em procedimento anterior realizado na VONPAR, o Fisco avaliou se os bens em cuja elaboração não houve emprego de matériaprima extrativa regional poderiam gerar direito ao aproveitamento de créditos incentivados. Portanto, como se vê, o Fisco não analisou a classificação fiscal dos chamados “concentrados”. No entanto, a Recorrente afirma que "por conseguinte, não seria licito que a Fiscalização inovasse o critério jurídico para, nestes casos, atingir fatos geradores anteriores, inclusive, à ciência do primeiro auto de infração lavrado contra a Recorrente (data de 29.12.2014), no qual foi questionada, pela primeira vez, a classificação fiscal do concentrado". Para melhor esclarecer sobre essa matéria, entendo oportuna a citação da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) em suas contrarrazões assentadas nestes autos, ao afirmar que: "(...) o art. 146 do CTN é aplicável quando a modificação do critério jurídico no exercício do lançamento ocorre para o mesmo sujeito passivo. A Recorrente não experimentou qualquer alteração nesse sentido, tanto assim que os argumentos recursais se voltaram para uma suposta alteração de critério jurídico do lançamento dirigido à RECOFARMA no dia 22/12/2014, que por sua vez, evidentemente, não se confunde com a VONPAR". Como é cediço, em se tratando de exigência tributária, em que se maneja complexo sistema de normas e conceitos específicos, é difícil imaginar que haveria respeito à legalidade caso se pudesse aceitar a tese desenvolvida pela Recorrente. Aceitandose essa tese, seria exigido da fiscalização que se manifestasse sobre todos os pontos possíveis e imagináveis da conduta do contribuinte, porque, se não o fizesse, estaria configurada uma prática de aceitação de tal comportamento e, assim, fixado um critério jurídico. Na prática, a vingar esse entendimento, toda e qualquer ação fiscal acabaria trazendo embutida alteração de critério jurídico. Registrese, ainda, que para tentar apoiar a alegação de violação ao art. 146 do CTN, a VONPAR citou decisão do STJ que não admitiu que fosse efetuada revisão de lançamento em decorrência de erro de direito. Tal decisão não se aplica ao presente caso, uma vez que não houve revisão de lançamento (foi lançado o IPI devido em períodos de apuração que não haviam sido objeto de cobrança), nem erro (de fato ou de direito), nem fixação de critério. Portanto, resta plenamente demonstrada a regularidade do Auto de Infração, não devendo proceder essa preliminar. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro Auto de Infração diz respeito a um mesmo lançamento, e não a lançamentos diversos, como no presente caso, de outra empresa (a RECOFARMA), como aduzido pela Recorrente. Fl. 1735DF CARF MF 34 II MÉRITO II.1. Do Direito da VONPAR Decisão Judicial Transitada em Julgado Aduz a Recorrente a existência de coisa julgada (RE n° 212.4842) no âmbito do Mandado de Segurança Individual nº 91.00095524, assegurandolhe o direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de concentrado de refrigerantes, insumos isentos oriundos da ZFM, calculado à alíquota de 27%, com fundamento no art. 69, inc. II do RIPI/2002, cuja base legal é o art. 9º do Decretolei 288, de 1967. De fato encontrase demonstrada e confirmada nos autos a existência de coisa julgada (RE n° 212.4842), no âmbito do Mandado de Segurança Individual (MSI) nº 91.00095524, impetrado pela própria recorrente (VOLPAR). Em 10/12/1998, transitou em julgado a decisão proferida no Recurso Extraordinário (RE) nº 212.484RS, que assegurou a VONPAR o direito ao crédito do IPI relativo à aquisição de matériasprimas isentas, oriundas de fornecedor situado na Zona Franca de Manaus (ZFM), e utilizadas na fabricação de produto cuja saída é sujeita ao IPI. Vejase a ementa: EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IPI. Isenção incidente sobre insumos. Direito de crédito. Princípio da não cumulatividade. Ofensa não caracterizada. Não ocorre ofensa à CF (art. 153, § 3º, II) quando o contribuinte do IPI creditase do valor do tributo incidente sobre insumos adquiridos sob o regime de isenção. Quando impetrou o Mandado de Segurança Individual (MSI) que resultou na decisão em questão, a VONPAR pediu para que fosse assegurado o seu direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de insumos que identificou como “concentrados”. Verificase que quando pleiteou o referido MSI, que a Recorrente pleiteou que lhe fosse assegurado o direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de "concentrados" para refrigerantes isentos, oriundos da Zona Franca de Manaus, classificados na posição 2106.90.01, vigente à época da impetração do MSI (correspondente à alíquota de 36%) e, à época do trânsito em julgado do referido MSI, correspondia à posição 2106.90.10 (cuja alíquota era de 27%). Tal pleito foi integralmente concedido. Neste caso, não há notícia de ação rescisória manejada pela Fazenda Nacional buscando reverter o entendimento transitado em julgado no RE nº 212.4842, em favor do contribuinte. A decisão a quo, corrobora esse entendimento, vejase os termos (fl. 1.515): "(...) Tendo em vista que a decisão proferida no julgamento do RE 212.4842 permanece vigente, e o entendimento ali adotado ainda não foi alterado de forma definitiva pelo STF, a empresa Vonpar teria direito ao aproveitamento de créditos relativos ao tributo potencialmente incidente sobre os insumos adquiridos sob regime de isenção, nos termos das decisões antes transcritas. Por consequência, apesar da correta argumentação desenvolvida pelo autuante com respeito à base legal do aproveitamento de crédito, com a qual esta relatora concorda, até o presente momento a discussão a respeito está vencida para a Fazenda Pública, em relação a este contribuinte, cabendo tãosomente examinar se o valor aproveitado efetivamente corresponde ao imposto que incidiria na aquisição dos insumos, caso não houvesse o benefício da isenção, tal como preconizado no provimento judicial". Fl. 1736DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.720 35 No entanto, a fiscalização entende que a referida coisa julgada não teria definido a classificação fiscal do "concentrado para refrigerantes" e, como consequência, a definição alíquota do crédito de IPI. Nesse contexto, cito a abordagem consignada pela PGFN em suas contrarazões, (...) é de extrema importância destacar que a decisão judicial conferiu o direito da Recorrente fazer o abatimento do débito quando o valor do crédito de IPI for potencialmente devido, ou seja, o Judiciário NÃO conferiu à VONPAR o direito líquido e certo de, independentemente do atendimento das condições para utilização do benefício fiscal, aproveitar o “valorcrédito do IPI” (grifei). Vale ressaltar que ao impetrar o MSI nº 91.00095522, a Recorrente estava buscando o reconhecimento do direito de aproveitar créditos de IPI em decorrência de aquisições de insumos isentos, procedentes da Zona Franca de Manaus, nas alíquotas de incidência relativas a estes produtos, nisso consistindo o que lhe foi assegurado em todas as instâncias, sempre em decorrência da aplicação do princípio da nãocumulatividade. Se a Recorrente pretendesse que fosse analisada a Classificação Fiscal de seus produtos, teria que prestar informações corretas sobre suas características. Entretanto, a empresa não mencionou que o produto que ela tratou como uma preparação única era na realidade um conjunto de mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente. Não cabia ao Judiciário ou à Procuradoria da Fazenda Nacional conferir se o produto citado no MSI efetivamente correspondia ao concentrado sujeito à alíquota de 27%, pois tal fato era irrelevante para o objeto da ação judicial, que discutia o direito ao crédito do IPI em função da aplicação do princípio da não cumulatividade. Assim, não há ofensa à coisa julgada quando o Fisco, buscando apurar o “imposto que seria devido caso não houvesse a isenção”, verifica que com a correta classificação dos produtos, não haveria créditos a aproveitar, porque o referidos produtos eram, na sua maior parte (à exceção de um), tributados à alíquota zero, razão pela qual não poderia a Recorrente ter efetuado abatimento do débito de IPI no período fiscalizado, o que corrobora a regularidade da autuação fiscal e a inexistência de ofensa à referida decisão transitada em julgado. Portanto, a coisa julgada só se opera sobre o que foi pedido pela parte por via do exercício do poder de ação, ou, noutras palavras, somente o mérito ou o objeto litigioso é que será acobertado pela imutabilidade da coisa julgada. A regra do art. 469 da Lei 5.869/1973 (Código de Processo Civil – CPC, vigente à época) é clara ao estabelecer, expressamente, que não fazem coisa julgada os motivos (inciso I), mesmo que importantes para determinação do alcance da parte dispositiva da sentença; a verdade dos fatos, que tenha sido estabelecida como fundamento da sentença (inciso II); e a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentalmente ao processo. Neste caso, ao impetrar o MSI nº 91.00095522, a Recorrente estava buscando o reconhecimento do direito de aproveitar créditos de IPI em decorrência de aquisições de insumos isentos, procedentes da Zona Franca de Manaus, nas alíquotas de incidência relativas a estes produtos, nisso consistindo o que lhe foi assegurado em todas as instâncias, sempre em decorrência da aplicação do princípio da nãocumulatividade. Fl. 1737DF CARF MF 36 Desta forma, não há ofensa à coisa julgada quando o Fisco, buscando apurar o “imposto que seria devido caso não houvesse a isenção” verifica que, tendo em vista a correta classificação fiscal dos produtos, não haveria créditos a aproveitar, porque o referidos produtos eram, na sua maior parte, à exceção de um, tributados à alíquota zero. II.2. Da obrigação de verificar a correta classificação fiscal na NF Aduz a Recorrente que não tinha a obrigação de verificar a regularidade da classificação fiscal indicada na Nota Fiscal para o "concentrado". Que os créditos de IPI objeto dos autos de infração em julgamento, foram apurados sob a vigência de Lei e do RIPI, que não impõem a obrigação de o adquirente examinar a classificação fiscal do produto. E como a classificação dos concentrados na posição 2106.90.10 "Ex. 01", foi definida pela RECOFARMA (fornecedora do concentrado), não há qualquer infração praticada pela RECORRENTE ao aceitar tal classificação fiscal e utilizar a respectiva alíquota para calcular o crédito de IPI isento, estando este procedimento como um ato licito. Em suma, argumenta que não pode o Fisco glosar a alíquota do crédito de IPI decorrente da aquisição do concentrado pela Recorrente, fundado em suposto erro da classificação fiscal efetuada pela fornecedora RECOFARMA. No caso, há que se ressaltar uma questão de fato que foi ignorado pela Recorrente. Conforme consta em Termos e Relatórios elaborados pelo Fisco, nas Notas Fiscais de saída emitidas pela VONPAR até o final do ano de 2010, a RECOFARMA registrou que os “concentrados” se classificariam no código 2106.90.10 (Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas), sem o "Ex 01", cuja alíquota do IPI é zero. Vejase trecho do TVE abaixo reproduzido (fl. 1.039 e 1.041) grifei: (...) 102. Verificouse que nas notas fiscais que Vonpar e demais engarrafadores receberam de Recofarma consta apenas o registro do código de classificação fiscal 2106.90.10, cuja alíquota é zero, sem a indicação do Ex 01. Esta fiscalização supõe que as empresas do Sistema CocaCola tenham se comunicado e decidido utilizar o Ex 01 do código 2106.90.10, cuja alíquota é de 27%". "(...) Comprovado que era ilegítimo o crédito oriundo de notas fiscais em que o imposto não estava destacado, tais valores devem ser glosados na escrita fiscal de Vonpar, cobrandose o imposto que deixou de recolhido. Tal cobrança é cabível mesmo que se considere que o adquirente foi de alguma maneira informado por Recofarma que os produtos se classificavam no Ex 01 do código 2106.90.10 (nas notas fiscais, não foi registrado o Ex 01), e que o adquirente desconhecia que não existe base legal para tal enquadramento. Observese que os dados constantes dos Laudos Técnicos obtidos pela fiscalização no curso de ação fiscal realizada em Recofarma certamente não são novidade para Vonpar e demais fabricantes de refrigerantes, e que caso um adquirente se considere prejudicado por seu fornecedor, poderá buscar algum acerto com ele, a fim de reaver os montantes perdidos". O Fisco também relatou que somente nas notas fiscais emitidas a partir de janeiro de 2011, passou a constar a indicação do "Ex 01" do código 2106.90.10, e que em janeiro de 2011 a RECOFARMA emitiu as respectivas cartas de correção relativas à ausência da indicação do "Ex 01" para as notas emitidas nos anos anteriores. Tal procedimento, também foi informado pela própria Recorrente, conforme consta em seu recurso à fl. 1.589: Fl. 1738DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.721 37 "(...) 5.6.9. Com efeito, a RECOFARMA emitiu cartas de correção, na qual explicitou o enquadramento no Ex 01 que tem, inclusive, alíquota inferior a do Ex 02, qual seja, 27% (fls. 1.338, 1.340, 1.342 e 1.344)". Observase que neste processo, estão sendo analisados fatos geradores de IPI ocorridos até o mês de março do ano de 2010. Portanto, neste processo a Recorrente efetuou o cálculo dos créditos de IPI com a utilização de alíquota que não correspondia ao código indicado nas notas fiscais. Ao final a Recorrente argumenta que as notas fiscais emitidas pela RECOFARMA atendem a todos os requisitos acima, de forma que, na qualidade de adquirente de boafé, tem direito à manutenção do referido crédito de IPI. Cita legislação do IPI, a jurisprudência do STJ e a do TIT (ICMS), que o creditamento com base nos fundamentos de notas fiscais idôneas é ato licito, pois não configura qualquer infração capaz de impedilo. Pois bem. Mesmo que se considere a improvável hipótese de que a adquirente não teria como saber que o código de classificação fiscal estava incorreto, é cabível a glosa, pois não existe previsão legal para a manutenção de créditos indevidos/ilegítimos. Caso a empresa se sinta prejudicada pelo fornecedor, deverá com ele negociar para reaver compensação por eventual prejuízos auferidos. Portanto, entendo correto o questionamento da classificação fiscal por parte do Fisco neste caso em concreto. II.3. Quanto a (correta) classificação fiscal das mercadorias O segundo fundamento da autuação fiscal consiste na afirmação de a classificação fiscal adotada pelo contribuinte ("Ex 01" do código 2106.90.10) estaria equivocada, pois "preparações" deve ser entendida apenas como produtos prontos para seu uso. No caso sob análise, o fato de a RECOFARMA optar por entregar as “partes” que compõem os “kits de concentrados” para posterior processamento industrial que finalizará o produto (nas fábricas engarrafadoras), transformando o “concentrado” em refrigerantes, não impede que a classificação do SH recaia sobre os componentes que, individualmente considerados, foram agregados na forma de “kits”. Os créditos de IPI em questão são oriundos de mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e comercializadas em conjunto, em proporções fixas, utilizadas na fabricação de bebidas como refrigerantes, refrescos, néctares, isotônicos e bebidas à base de extrato de chá. A recorrente se refere aos insumos em questão como sendo “concentrados”, termo que é tecnicamente incorreto. Tais mercadorias serão identificadas como “kits para fabricação de bebidas”, ou simplesmente “kits”. Primeiramente, como relatado pelo Fisco, citese que um dos bens de produção regional citado pela empresa para tentar justificar o aproveitamento de créditos é o corante caramelo, matériaprima usada na elaboração de componentes de kits para refrigerantes sabor Cola. O corante é um produto industrializado que não é resultado de processo de extração de um vegetal, e por isto não atende ao requisito previsto na legislação. Outros insumos cujo emprego no processo industrial não pode gerar direito à isenção do inciso III do art. 95 do Fl. 1739DF CARF MF 38 RIPI/2010, são o álcool neutro (aditivo que não é resultado de processo de extração de um vegetal), o ácido cítrico (bem fabricado no Estado de São Paulo) e o óleo de dendê (aditivo que entra em quantidades ínfimas na fabricação de filmes plásticos para embalagem). É cediço que para fins da aplicação da isenção prevista no artigo 95, inciso III, do RIPI/2010, deve haver o emprego direto do bem extrativo no processo produtivo do contribuinte beneficiado, pois matériasprimas são por definição aqueles bens que se incorporam no processo de transformação do qual resulta a mercadoria industrializada. Dentre os insumos utilizados no processo de industrialização dos componentes de kits para refrigerantes, o único que efetivamente se caracteriza com matéria prima agrícola e extrativa vegetal é o extrato de guaraná. Muito bem, retornado a classificação do produto. A fiscalização afirma que o Laudo exarado pelo laboratório confirma de forma inequívoca que a classificação fiscal adotada pelo Contribuinte está errada. Vejase: 1) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 1 2) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 2 3) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1 4) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2A 5) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2B 6) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1B 7) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1C 8) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 3 Fl. 1740DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.722 39 9) Concentrado/Kit sabor sprite parte 2 10) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1 11) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1A 12) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1G 13) Concentrado/Kit sabor sprite light ou zero parte 1B Há que ser observado que no Laudo anexado aos autos, se verifica que os "kits de concentrados" abrangem basicamente preparações líquidas e sólidas, sendo estas últimas compostas de Ácido Cítrico, Sorbato de Sódio e Benzoato de Sódio, que vem às vezes misturados com outros sais, e em outras isolados. Os insumos objeto deste processo correspondem a um conjunto de matérias primas e produtos intermediários comercializados em forma de kits constituídos de dois ou mais componentes, sendo que cada componente sai do estabelecimento industrial em embalagem individual. A recorrente trata tais "kits" como se fossem uma mercadoria única denominada de “concentrado”, aplicando a alíquota prevista para o "Ex 01" do código 2106.90.10 da TIPI, cujo texto está transcrito a seguir, sobre o valor registrado nas respectivas notas fiscais de compras. 2106.90.10 Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas Ex 01 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida da posição 22.02, com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado Ex 02 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida refrigerante do Capítulo 22, com capacidade de diluição de até 10 partes da bebida para cada parte do concentrado A alíquota da citada exceção tarifária era de 27% até 30/09/2012, passando a ser de 20% a partir de 01/10/2012. Entretanto, diversas normas da NESH (Notas Explicativas Fl. 1741DF CARF MF 40 do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias) indicam que os componentes de kits para fabricação de bebidas, não se caracterizam como uma mercadoria única. II.3.1. Análise do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) Considerase que o fato de existir na NESH um item específico que regula os produtos aqui em discussão é suficiente, por si só, para demonstrar o erro no entendimento adotado pela VONPAR. Normalmente, diferentes matérias ou artigos, quando embalados individualmente, devem ser classificados separadamente, ainda que integrantes de uma mesma remessa. Neste sentido, deve se observar, em especial, o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), transcrito a seguir, que exclui os bens destinados à fabricação de bebidas do campo de aplicação da RGI 3 b) do Sistema Harmonizado: XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. O dispositivo acima mencionado foi incluído na NESH após análise efetuada pelo Conselho de Cooperação Aduaneira (CCA) nos anos de 1985 e 1986, em resposta a consultas recebidas de países membros da organização internacional sobre a classificação de produtos com as mesmas características dos "kits para fabricação de bebidas" produzidos no Brasil. Da leitura do material, vemos que o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) teve por origem consultas sobre a classificação fiscal de bens com características idênticas a dos insumos adquiridos pela Recorrente, inclusive bases para elaboração de FANTA (marca produzida pelas empresas do grupo CocaCola) e de um refrigerante sabor Cola. Depois de uma demorada análise, o CCA decidiu que os componentes individuais de bases para fabricação de bebidas deveriam ser classificados separadamente. O texto da análise do CCA, equivale a uma detalhada exposição de motivos para o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), deixando claro que a criação dessa Nota teve por objetivo determinar que os componentes dos kits para fabricação de bebidas devem ser classificados separadamente nos códigos apropriados para cada um deles. O Sistema Harmonizado é cogente e foi internalizado no Brasil por meio do Decreto nº 97.409, de 22/12/1988, cujo art. 1° expressa: “Art. 1° A Convenção Internacional sobre o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém. ” O artigo 98 da Lei nº 5.172, de 25/10/1966 (CTN Código Tributário Nacional) dispõe que: Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha. O CCA decidiu incorporar a sua decisão sobre o assunto na NESH. Como a legislação brasileira não deixa dúvidas de que devem ser cumpridas as normas internacionais Fl. 1742DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.723 41 sobre o Sistema Harmonizado, a Nota XI da RGI 3 b) é suficiente, por si só, para afastar a possibilidade de enquadramento dos componentes dos "kits" em um código de classificação único. As empresas defendem que a definição da classificação dos kits deve considerar a motivação que o produto desperta em quem o adquire. No entanto, entendo que a definição de classificação fiscal deve obedecer ao que diz a legislação, não podendo ser determinada de acordo com o interesse comercial do fabricante. A seguir, passemos a analisar se os componentes de kits, individualmente considerados, poderiam ser enquadrados no Ex 01 ao código 2106.90.10. II.3.2. Do enquadramento no Ex 01 do código 2106.90.10 Ressaltese que não há controvérsias de que os produtos fornecidos por RECOFARMA são iguais aos referidos pelo item XI. Também não há controvérsias de que para classificar um "kit" no "Ex 01" é preciso que ele seja tratado como se fosse uma mercadoria única. A divergência está no fato de que a fiscalização afirmou em seus Termos e Relatórios que o item XI determina que os componentes individuais sejam classificados separadamente, enquanto que VONPAR deu uma interpretação completamente oposta em seus Recursos. Para que uma mercadoria se classifique no Ex 01 do código 2106.90.10, deve apresentar as seguintes características: (a) Que seja uma preparação composta; (b) Que não seja alcoólica; (c) Que se caracterize como extrato concentrado ou sabor concentrado; (d) Que seja própria para elaboração de bebida da posição 22.02, (e) Que tenha capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado. Pois bem. No que se refere à condição citada na letra “a”, acima, esclareçase que a palavra "preparação" aplicase a mercadoria que esteja preparada, pronta para uso pelo adquirente. Não existe na legislação a hipótese de que um bem formado por componentes individuais não misturados possa ser enquadrado como uma preparação alimentícia. Cada embalagem individual (por exemplo, embalagem que contenha uma mistura de extrato de noz de cola com outros aromatizantes e com corante caramelo) forma uma preparação composta. Tais preparações, porém, não atendem às condições citadas nas letras “c” e “e”, acima. Nenhum componente dos "kits", isoladamente considerado, pode ser identificado como um extrato ou sabor concentrado. Para que ficasse caracterizado um produto chamado de "concentrado", o conteúdo das diversas partes que compõem cada "kit" deveria estar reunido numa única parte, tanto que as empresas criaram a ficção de que para fins de classificação fiscal os "kits" formam uma mercadoria única. Não se pode atribuir capacidade de diluição a nenhum componente dos kits para fabricação de bebidas. Se o conteúdo de qualquer embalagem individual fosse diluído, não apresentaria as mesmas características sensoriais e físicoquímicas da bebida que se pretende comercializar. Tratandose das preparações compostas para elaboração de bebidas da posição 22.02, não há dúvida de que o concentrado diluído deve apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida na concentração normal, tanto que uma diferença fundamental entre o Ex 01 e o Ex 02 é a "capacidade de Fl. 1743DF CARF MF 42 diluição", que no primeiro é superior a "10 partes da bebida", enquanto no segundo é igual ou menor do que "10 partes da bebida". Afinal, se a preparação diluída não resultar na bebida final, não há como se definir sua capacidade de diluição em "partes da bebida por cada parte do concentrado". A Lei nº 8.918/1994, mandamento válido para qualquer bebida, foi regulamentada pelo Decreto nº 2.314/1994, posteriormente revogado pelo Decreto nº 6.871/2009. A seguir, estão transcritos artigos do Regulamento vigente que tratam de concentrados: Art. 13. A bebida deverá conter, obrigatoriamente, a matériaprima vegetal, animal ou mineral, responsável por sua característica sensorial, excetuando o xarope e o preparado sólido para refresco. [...]. § 4º O produto concentrado, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida na concentração normal." (...) Art. 30. O preparado líquido ou concentrado líquido para refrigerante, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para o respectivo refrigerante. Assim, como nenhum componente se classifica no "Ex 01" do código 2106.90.10, resta definir o enquadramento correto para cada um deles, procedimento efetuado com base na análise das características dos ingredientes que fazem parte das embalagens individuais. Para tanto, a Solução de Consulta SRRF02/DIANA nº 5/2010, de 20/05/2010, ratificada pela Informação COANA/CECLAM nº 8/2015, de 12/03/2015, classificou da seguinte maneira os componentes de kit para preparação de bebida refrigerante, sabor laranja: a) NCM 2106.90.10 Preparação para aromatização de bebida refrigerante, com sabor laranja, constituída de água potável (70%), gomas naturais de laranja (20,44%), aromatizante sabor laranja (5,8%), corantes, ácido cítrico anidro e conservantes, em embalagem de 50kg; b) NCM 2916.31.21 Benzoato de sódio, em embalagem de 15kg, e; c) NCM 2918.14.00 Ácido cítrico anidro, em embalagem de 67kg. Além de suas embalagens individuais, os componentes do kit também se encontram acondicionados conjuntamente em uma segunda embalagem, formando um único volume. Dispositivos Legais: 1ª RGI/SH (texto das posições 2106, 2916 e 2918 e texto da nota 5C, do capítulo 29), 6ª RGI/SH (texto das subposições 2106.90, 2916.31 e 2918.14) e 1ª Regra Geral Complementar (texto do item 2916.31.2 e dos subitens 2106.90.10 e 2916.31.21), da Tarifa Externa Comum, do Mercosul, aprovada pela Resolução Camex nº 43/2006, e suas alterações, e com subsídios das Notas Explicativas do Sistema Harmonizado. Fl. 1744DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.724 43 Observese que a Solução de Consulta, publicada no Diário Oficial da União de 04/06/2010, foi o primeiro e único ato vinculante da Administração Tributária que definiu a classificação fiscal de "kits" para fabricação de bebidas. Constatase no caso, que os componentes mais importantes dos "kits para fabricação de bebidas" são aqueles que contêm extratos e ingredientes aromatizantes específicos para a bebida a ser industrializada (por exemplo, componentes que contenham extrato de cola ou extrato de guaraná), devendo ser classificados no código 2106.90.10, como uma “Preparação do tipo utilizado para elaboração de bebidas”, cuja alíquota do IPI é zero. A Procuradoria da Fazenda Nacional em suas contrarrazões ressalta que, (...) a capacidade de diluição dos “concentrados” fornecidos pela Recofarma foram anabolizados com ingredientes que elevaram substancialmente a capacidade de diluição nas empresas engarrafadoras, como é o caso da VONPAR". Concluindo, essa preparação, não se classifica no "Ex 01" do código 2106.90.10, pois, conforme já explicado, a embalagem individual não contém todos os ingredientes necessários para caracterizar um produto chamado de “concentrado”. A impossibilidade de classificação no "Ex 01" do código 2106.90.10, decorre do fato de que no momento da ocorrência do fato gerador os componentes não estão misturados, e sim acondicionados em embalagens individuais. II.3.3. Conclusão Desta forma, conforme posicionamento adotado no Auto de Infração, correto pelos seus próprios fundamentos, que convergem com o entendimento adotado pela CCA e do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), com o objetivo de uniformizar o tratamento de produtos em idêntica situação, adotase a classificação individual dos produtos que compõem os "kits para refrigerantes", como proposto no item "99, do TVF", a partir dos Laudos Técnicos que os identificaram, no curso da ação fiscal. Conforme ali referido, todos os componentes dos kits para refrigerantes são classificados em códigos tributados à alíquota zero, com exceção dos componentes que se classificam no código 3302.10.00, cuja alíquota é de 5%. II.4. Da competência da SUFRAMA para classificar mercadorias Aduz a Recorrente que de fato, podese até questionar se a SUFRAMA teria competência para conceder os benefícios fiscais, mas esse questionamento não afeta sua competência para definir e, pois, classificar fiscalmente produto que será eventualmente beneficiado no projeto industrial aprovado. Sustenta que o autuante estaria equivocado ao limitar a competência da SUFRAMA à aprovação de projetos, excluindo a concessão dos benefícios do art. 9º do DecretoLei 288, de 1967 e do art. 6º do DL nº 1.435, de 1975, tendo em vista os arts. 1º, VI e 4º, I, “c”, ambos do Anexo I, do Decreto n° 7.139, de 2010. É cediço que o DL n° 1.435, de 1975, regulamentado pelo Decreto n° 7.139, de 2010 (art. 4º, I, c), outorgou à SUFRAMA a competência exclusiva para aprovar os projetos de empresas (PPB), que objetivem usufruir dos benefícios fiscais previstos no art. 6° do DL n° 1.435, de 1975, bem como para estabelecer normas, exigências, limitações e condições para aprovação dos referidos projetos, consoante o art. 176 do CTN. Fl. 1745DF CARF MF 44 Portanto não resta dúvidas quanto a isso. Por outro giro, se compete à SUFRAMA administrar os incentivos relativos à Zona Franca de Manaus (ZFM) e à Amazônia Ocidental, cabe à Receita Federal do Brasil (RFB), órgão da Administração Fazendária, a fiscalização do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), conforme o estabelecido no art. 94 da Lei nº 4.502/64 e nos arts. 427 e 428 do RIPI/2002 (art. 431 do RIPU/2010). Sobre a competência da fiscalização do IPI, veja o que reproduz os arts. 505 e 506, do RIPI atual (Decreto nº 7.212. de 2010) grifouse: Art. 505. A fiscalização do imposto compete à Secretaria da Receita Federal do Brasil (Lei nº 5.172, de 1966, arts. 142, 194 e 196, Lei nº 4.502, de 1964, art. 91,e Lei no11.457, de 2007, art. 2o). Parágrafo único. A execução das atividades de fiscalização compete às unidades centrais, da referida Secretaria, e, nos limites de suas jurisdições, às suas unidades regionais e às demais unidades, de conformidade com as instruções expedidas pela mesma Secretaria. Art. 506. A fiscalização será exercida sobre todas as pessoas, naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, que estiverem obrigadas ao cumprimento de disposições da legislação do imposto, bem como as que gozarem de imunidade condicionada ou de isenção (Lei nº 5.172, de 1966, arts. 142 e 194, parágrafo único, e Lei nº 4.502, de 1964, art. 94). Pode ser verificado nos autos que não há, no processo sob análise, discordância entre o Fisco e a SUFRAMA quanto à classificação fiscal do produto adquirido pela VONPAR. Entendo que a SUFRAMA não se pronunciou sobre o enquadramento na TIPI dos produtos em questão, nem teria competência legal para fazêlo. O que se observa é que as competências estão sendo exercidas de forma concorrente, sem desrespeito às áreas de atuação de cada órgão. Em suas Resoluções e Pareceres, a SUFRAMA chamou os produtos elaborados pela RECOFARMA de “concentrados”, adotando a descrição utilizada pelo citado fabricante ao submeter os Projetos Industriais. Mas não é a forma usada para se referir à mercadoria que identifica sua classificação fiscal. Para tal fim, é necessário que se faça uma análise minuciosa de cada produto, fundamentada com base nas Regras de classificação. Como consta no Parecer Técnico n° 224/2007, que integra a Resolução do CAS n° 298/2007, a SUFRAMA tomou como base para sua análise “a industrialização do tipo: Concentrado para bebidas refrigerantes, sabor de cola”. No Brasil, a competência em relação aos aspectos tecnológicos da fabricação de bebidas, inclusive definições de produtos, pertence ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA, conforme previsto na Lei nº 8.918, de 1994. E o Decreto nº 6.871, de 2009, que regulamentou a Lei nº 8.918/1994, traz uma definição precisa em relação aos concentrados para bebidas, prevendo no § 4º de seu art. 13 que “(...) o produto concentrado, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida na concentração normal". A definição acima está perfeitamente de acordo com as normas da NESH, tendo sido utilizada pela fiscalização para reforçar o entendimento de que uma “parte de Fl. 1746DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.725 45 concentrado” (por exemplo, o componente que contém o extrato de cola) não pode ser enquadrada no "Ex 01" do código 2106.90.10. A fiscalização não desconsiderou, nem questionou, a competência da SUFRAMA para aprovar projetos de empresas que desejem usufruir dos benefícios fiscais de instituídos pelo DL nº 1.435, de 1975. Também não desconsiderou os atos dela emanados, que gozam de presunção de legitimidade, veracidade e legalidade, e permanecem válidos para os fins a que se destinam. Portanto, nos atos de sua competência, a SUFRAMA pode tratar os kits como se fossem uma mercadoria única, o que não afeta a validade desses atos para os objetivos propostos, porém este tratamento não prevalece para fins de Classificação Fiscal da mercadoria (enquadramento na TIPI). Aliás, nem a SUFRAMA e nem mesmo a RFB, que no Brasil possui a competência legal para tratar de classificação fiscal, podem alterar a definição do produto para fins de enquadramento na NCM, porque as definições de mercadorias para fins de classificação obedecem a regras internacionais. II.5. Do benefício do no art. 6º do DL n° 1.435/75 Alega a Recorrente que "(...) Na sua impugnação, a Recorrente demonstrou que os concentrados elaborados pela RECOFARMA fazem jus ao benef´cio do art. 6º do DL nº 1.435/75, juntando, inclusive, os atos da SUFRAMA que assim dispõe". Pois bem. Muito embora o Auto de Infração, motivado pela glosa de crédito de IPI, decorrente da aquisição de insumos (concentrado) isentos da empresa RECOFARMA, no período fiscalizado, o fundamento principal da autuação foi a de que o concentrado não seria classificado na posição 21.06.90.10 "Ex. 01", porque ele não seria um produto único e, pois como tal, deveriam ser utilizadas as respectivas classificações fiscais de seus componentes de forma isolada, que não dariam o crédito à alíquota de 27%, mas à alíquota zero, CUMPRE observar que o Fisco também demonstrou no curso da ação fiscal, que a RECOFARMA não utilizou matériasprimas de produção regional em seu processo industrial de "concentrado" e sim, produtos industrializados (como exemplo o corante caramelo, álcool e ácido cítrico), requisito essencial previsto no art. 6º do DL n° 1.435/75. Consta dos autos, que no período fiscalizado ocorreu o aproveitamento indevido de créditos incentivados com base no artigo art. 6º do DL n° 1.435/75, oriundo de notas fiscais emitidas por RECOFARMA, (exceto kits para guaraná), em função de não ocorrer a utilização, no processo de industrialização de RECOFARMA, de matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, requisito essencial previsto no Regulamento do IPI e no art. 6º do DL n° 1.435/75. A Recorrente crê (a nosso ver, de forma equivocada) serem as manifestações da SUFRAMA sobre essa matéria, insuscetíveis de apreciação pelo Fisco. É certo que a SUFRAMA aprova projetos (PPB), como deixam claros os textos das normas reproduzidos nos autos (e analisados em tópico anterior). Contudo, cabe à empresa que obtém a aprovação (no caso, à RECOFARMA) cumprir os requisitos normativos estabelecidos, entre os quais os de respeitar o PPB e de utilizar matériasprimas regionais de origem vegetal. De início, cabe lembrar a impossibilidade de ser beneficiado qualquer produto que apenas contenha produto de origem regional. A norma é bastante clara no sentido Fl. 1747DF CARF MF 46 de que o produto que poderá gozar da isenção (e, também, proporcionar o direito de crédito de IPI para o adquirente) deve ser elaborado a partir de insumos regionais e não apenas contêlos. A distinção não é inútil e acarreta, como única interpretação legítima, a impossibilidade de que se considerem etapas anteriores do processo produtivo, para efeito de concessão da isenção (e do direito ao crédito de IPI para o adquirente). De fato, a etapa fabril em foco, para o mencionado efeito, é aquela que ocorre na Amazônia Ocidental o que obriga que a matériaprima utilizada nesta etapa cumpra os requisitos legais, não bastando que o produto contenha insumos de caráter regional como elemento constitutivo remoto. Notase que algumas das matériaprima em discussão (como o açúcar e o álcool, por exemplo), são produtos industrializados, que certamente não podem ser caracterizados como MATÉRIAPRIMA AGRÍCOLA E EXTRATIVA VEGETAL, requisito essencial previsto nos Regulamentos do IPI e no art. 6º do DL n° 1.435/75. Portanto, se o produto adquirido pela Recorrente não é aquele cuja natureza específica está contemplado na norma isencional (art. 6° do Decreto lei n° 1.435/75), não há como pretender se creditar do imposto (IPI), como se devido fosse. Portanto, os produtos adquiridos da RECORFARMA (exceto kits para guaraná) não faziam jus à isenção do artigo 6º do DL n° 1.435/75. II.6. Do benefício do no art. 9º do DL n° 288/67 Aduz a Recorrente em seu recurso que, "(...) na sua impugnação, a RECORRENTE também demonstrou que os concentrados elaborados pela RECOFARMA fazem jus ao benefício do art. 9º do DL n° 288/67 e que tem direito ao crédito de IPI decorrente da aquisição dos referidos concentrados isentos oriundos da Zona Franca de Manaus, porque é aplicável o entendimento do Plenário do STF no RE n° 212.484. A isenção ao IPI dos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus, que foi instituída pelo art. 9º do DecretoLei nº 288/67, foi regulamentada pelo art. 69, I e II, do RIPI/2002. Da leitura desses dispositivos legais e regulamentares se constata que não houve previsão expressa do direito ao aproveitamento do crédito ficto. Tendo em vista que nas notas fiscais de aquisição dos concentrados adquiridos com isenção não houve o destaque do imposto, não há direito do contribuinte efetuar o crédito. Portanto, entendo que, neste caso, não existe amparo legal para a tomada de créditos fictos de IPI em relação a insumos adquiridos com a isenção prevista no art. 9º do DecretoLei nº 288/67. No entanto, temos que observar a decisão proferida no julgamento do RE 212.4842 (RS) que permanece vigente, e como visto nos autos, o entendimento ali adotado ainda não foi alterado de forma definitiva pelo STF, e a empresa VONPAR teria direito ao aproveitamento de créditos relativos ao tributo potencialmente incidente sobre os insumos adquiridos sob regime de isenção de que tratam os arts. 69, incisos I e II, 82, inciso III, do RIPI/2002 e art. 81, inciso II e 95, inciso III, do RIPI/2010). Por consequência, a discussão quanto à possibilidade de aproveitar créditos em virtude das aquisições de que trata este processo está vencida para a Fazenda Pública, em relação a Recorrente, como reconhecido no próprio Relatório Fiscal. Isto tudo, não obstante a correta argumentação desenvolvida pelo Fisco, com a qual este Relator concorda, no sentido de que não é cabível a aplicação do art. 237 do RIPI/20I0 (artigo 175 do RIPI/2002) porque os Fl. 1748DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.726 47 produtos adquiridos não fazem jus à isenção prevista no artigo 95, inciso III, do RIPI/2010 (art. 82, inciso III, do RIPI/2002). Nesse ponto, devese observar que as sucessivas decisões proferidas no curso da ação judicial proposta pela Recorrente não dispuseram a respeito da classificação fiscal dos kits para refrigerantes, aspecto que dela não é objeto, de acordo com os termos da petição inicial. Não obstante a argumentação e transcrições feitas no recurso, frisase que, em nenhuma das instâncias de julgamento, o Poder Judiciário avaliou se os insumos são ou não uma mercadoria única, nem se manifestou sobre a correta classificação a ser adotada, em função dessa particularidade, como dá conta a documentação comprobatória fornecida pela Recorrente, em especial os Votos dos Ministros do STF, na apreciação do RE 212.4842. II.7. Dispensa multa de ofício base no art. 76, II, “a” da Lei nº 4.502/64 A defesa alegou que o art. 97, VI, do CTN autoriza a lei a estabelecer hipóteses de dispensa ou de redução de penalidades, o que legitimaria sua pretensão em aplicar o art. 76, II, "a" da Lei nº 4.502/64 (fl. 1.595). Que o CARF está obrigado a observar as regras previstas em Decreto, por força do disposto no art. 26A do Decreto n° 70.235/72 e no art. 62 do Regimento Interno do CARF. Especificamente em relação às aquisições de insumos isentos oriundos da Zona Franca de Manaus, a CSRF tem entendimento no sentido de reconhecer o crédito de IPI ao adquirente desses insumos desde 11.11.2002. Alega também que (fl. 1.593): "(...) Com efeito, o art. 100, parágrafo único, do CTN estabelece que a observância de atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas têm o condão de excluir a cobrança de multa, juros de mora e correção monetária". "(...)No caso, como já visto, a SUFRAMA tem competência para aprovar projeto industrial para fruição da isenção prevista no art. 6º do DL n° 1.435/75, classificar o produto beneficiado pela isenção e autorizar o crédito do respectivo imposto, nos termos do Decreto n° 7.139/2010 c/c a Resolução do CAS n° 202/2006". Os argumentos da Recorrente consistem, em síntese, na alegação de que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) teria reconhecido o direito ao crédito de IPI relativo à aquisição de insumos isentos (com benefício da isenção subjetiva), utilizados na fabricação de produtos sujeitos ao IPI, em observância ao entendimento Plenário do STF no julgamento do RE 212.484/RS e que assim não caberia a aplicação de penalidade (multa de ofício), nos termos do art. 76, II, “a”, da Lei nº 4.502/1964, que dispõe: “Art . 76. Não serão aplicadas penalidades: II enquanto prevalecer o entendimento, aos que tiverem agido ou pago o imposto: a) de acordo com interpretação fiscal constante de decisão irrecorrível de última instância administrativa, proferida em processo fiscal, inclusive de consulta, seja ou não parte o interessado; ...” Fl. 1749DF CARF MF 48 E que a SUFRAMA teria competência para aprovar projeto industrial para fruição da isenção prevista no art. 6º do DL n° 1.435/75, classificar o produto beneficiado pela isenção e autorizar o crédito do respectivo imposto, nos termos do Decreto n° 7.139/2010 c/c a Resolução do CAS n° 202/2006 e portanto, também não caberia a aplicação da penalidade. Pois bem. Ocorre que posteriormente à edição da Lei nº 4.502/1964, foi editado o Código Tributário Nacional [Lei nº 5.172, de 1966], recepcionado como Lei Complementar pela Constituição Federal de 1988, que assim dispôs no seu art. 100, incs. I e II e parágrafo único: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; ... Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. Ou seja, a partir da vigência do CTN, a exclusão de penalidades com fundamento em decisões do CARF, sem que o contribuinte seja parte nos processos específicos, só é possível caso exista lei atribuindo eficácia normativa às referidas decisões, o que, até o presente momento, não existe. Nesse sentido, vale também relembrar que o Parecer Normativo Cosit nº 23/2013, já pacificou a questão ao esclarecer que os acórdãos do CARF não constituem normas complementares da legislação tributária, porquanto não possuem caráter normativo nem vinculante. Entretanto, deve ser observado que nos processos da VONPAR não se discute o direito ao crédito de IPI oriundo de insumos isentos, pois a empresa possui decisão judicial sobre o assunto. Os valores objeto de discussão abrangem exclusivamente o aproveitamento indevido de créditos por erro na alíquota de cálculo, assunto em relação ao qual inexiste jurisprudência administrativa. Nada obstante, essa é a multa prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, vazada nos seguintes termos: Art. 80. A falta de lançamento do valor, total ou parcial, do imposto sobre produtos industrializados na respectiva nota fiscal ou a falta de recolhimento do imposto lançado sujeitará o contribuinte à multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento) do valor do imposto que deixou de ser lançado ou recolhido. A meu juízo, o artigo 76 da Lei 4.502 foi derrogado pela nova redação do art. 80 da mesma Lei, de redação de 2007. Fl. 1750DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.727 49 Já quanto às citadas normas da SUFRAMA (Resolução CAS nº 298/2007, integrada pelo Parecer Técnico nº 224/2007), as mesmas não se enquadram na prescrição contida no art. 76, II, "a" da Lei nº 4.502/64, pois não foram proferidas no âmbito do processo administrativo fiscal de determinação e exigência de créditos tributários. Por todo o acima exposto, carece de fundamento a argumentação que visa afastar a aplicação de penalidade, devendo ser mantida a exigência de multa de ofício. II.8. Dos juros de mora sobre multa de ofício Alega a Recorrente em seus recurso que "seria totalmente descabida a incidência de juros sobre a multa de oficio lançada contra a RECORRENTE, porque implicaria numa indireta majoração da própria penalidade e não se pode falar em mora na exigência de multa". Essa matéria é recorrente neste Colegiado, sendo minha posição conhecida no sentido de sua pertinência. Nesse ponto, adoto o entendimento inserto no Acórdão 9303002.399, da 3ª Turma da CSRF, julgado em 15/03/2013. Repiso o voto do relator, Henrique Pinheiro Torres, vazado nos seguintes termos, o qual adoto como fundamento de decidir. A obrigação tributária principal, como é de conhecimento de todos, surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto o pagamento do tributo ou de penalidade pecuniária, e extinguese com o crédito dela decorrente. Essa é a dicção do § 1º do 1art. 113 do CTN. Ao seu turno o art. 139 do CTN dispõe que o crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Do cotejo desses dispositivos legais, concluise, sem qualquer margem à dúvida, que o crédito tributário inclui tanto o valor do tributo quanto o da penalidade pecuniária, visto que ambos constituem a obrigação tributária, a qual tem a mesma natureza do crédito a ela correspondente. Um é a imagem, absolutamente, simétrica do outro, apenas invertida, como ocorre no reflexo do espelho. Olhandose do ponto de vista do credor (pólo ativo da relação jurídica tributária, verseá o crédito tributário; se se transmutar para o pólo oposto, que se verá será, justamente, o inverso, uma obrigação. Daí o art. 139 do CTN declarar expressamente que um tem a mesma natureza do outro. Assim, como o crédito tributário correspondente à obrigação tributária e esta é constituída de tributo e de penalidade pecuniária, a conclusão lógica, e a única possível, é que a penalidade é crédito tributário. Estabelecidas essas premissas, o próximo passo é verificar o tratamento dispensado pela Legislação às hipóteses em que o crédito não é liquidado na data de vencimento. Primeiramente, temse a norma geral estabelecida no Código Tributário Nacional, mais precisamente no caput do 3art. 161, o qual dispõe que, o crédito não integralmente pago no vencimento Fl. 1751DF CARF MF 50 será acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta. Essa norma geral, por si só, já seria suficiente para assegurar a incidência de juros moratórios sobre multa não paga no prazo de vencimento, pois disciplina especificamente o tratamento a ser dado ao crédito não liquidado no tempo estabelecido pela legislação tributária, mas o legislador ordinário, para não deixar margem à interpretação que discrepasse desse entendimento, foi preciso ao estabelecer que o crédito decorrente de penalidades que não forem pagos no respectivo vencimento estarão sujeitos à incidência de juros de mora. Essa previsão consta, expressamente, do art. 43 da Lei 9.430/1996, que se transcreve linhas abaixo. Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Da leitura do dispositivo acima transcrito, concluise, facilmente, sem necessidade de se recorrer a Hermes ou a uma Pitonisa, que o crédito tributário, relativo à penalidade pecuniária, constituído de ofício, não pago no respectivo vencimento, fica sujeito à incidência de juros moratórios, calculados à taxa Selic, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento Em síntese, temse que o crédito tributário, quer se refira a tributo quer seja relativo à penalidade pecuniária, não pago no respectivo vencimento, fica sujeito à incidência de juros de mora, calculado à taxa Selic, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento Para eliminar quaisquer dúvidas que ainda restassem, o Superior Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento sobre a matéria, conforme AgRg no REsp 1.335.688PR, julgado em 04/12/2012: EMENTA:PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA SOBRE MULTA. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMA QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. 1. Entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: "É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário." (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010. Fl. 1752DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.728 51 2. Agravo regimental não provido. Embora o caso paradigmático tratasse de exação de tributo estadual, asseverou o Ministro relator do Agravo: Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, o crédito tributário compreende a multa pecuniária, o que legitima a incidência de juros moratórios sobre a totalidade da dívida. Assim, voto no sentido de que devem ser mantidos os juros de mora sobre a multa de ofício. III. CONCLUSÃO Ante ao todo acima exposto, e forte nos fundamentos apresentados, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. É como voto. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Redator designado Thais de Laurentiis Galkowicz Redatora Designada JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO Ouso divergir do Ilustre Relator com relação à incidência dos juros Selic sobre a multa de ofício, entendendo que assiste razão à Recorrente. Isto porque inexiste no ordenamento jurídico pátrio dispositivo legal que fundamente tal exigência. Com efeito, o artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430, de 37 de dezembro de 1996 (“Lei n. 9.430/96) dispõe que sobre os “ “os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, (...) não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora”, e que “sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora”. O comando do citado artigo, portanto, determina que sobre os débitos (tributos) será aplicada multa de mora quando pagos a destempo, e sobre os débitos aplicarse á, igualmente, os juros de mora. Contudo, a multa de ofício não foi incluída no débito tributário para fins de aplicação dos juros. Seria de fato “ilógico interpretar que a expressão “débitos” ao início do caput abarca as multas de ofício. Se abarcasse, sobre elas deveria incidir a multa de mora, conforme o final do comando do caput”, nas palavras do Conselheiro Rosaldo Trevisan (Acórdão 3403002.367, de 24 de julho de 2013). Vêse, assim, que a literalidade do artigo separa os débitos tributários das penalidades (multas de ofício), determinando a incidência dos juros só sobre os primeiros, e não sobre as segundas. Fl. 1753DF CARF MF 52 Parece ter assim andado o legislador buscando estar em sintonia com as regras estabelecidas pelo Código Tributário Nacional (“CTN”), com o status de lei complementar que tem ao dar cumprimento às funções estipuladas pelo artigo 146 da Constituição Federal. Efetivamente, o CTN além de claramente separar a natureza jurídica dos tributos (invariavelmente decorrente de condutas lícitas, segundo o artigo 3ª) e das multas (penalidades pela prática de ilícitos, ou seja, sanções aplicadas quando da ocorrência de infrações ao sistema tributário), em seu artigo 161 coloca que o “crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.” O artigo 161 do CTN, destarte, desintegra as penalidades do crédito tributário para fins de aplicação dos juros. Afinal, caso quisesse que as penalidades estivessem abarcadas pela locução “crédito”, no início do dispositivo, não as teria destacado e dado tratamento diferenciado ao final do mesmo dispositivo legal. Ressalto que não se está aqui a olvidar que a separação entre crédito tributário (do ponto de vista do Fisco, o que corresponde ao débito tributário, do ponto de vista do contribuinte) e penalidades, do artigo 161 do CTN, colide com outras normas trazidas pelo próprio CTN, vale dizer, o artigo 1134 combinado com o artigo 139,5 os quais, lidos conjuntamente, levam à conclusão de que o crédito tributário abarca toda a obrigação principal, composta tanto pelos tributos como pelas penalidades pecuniárias devidas pelo contribuinte aos Cofres Públicos. Tal incoerência, contudo, não é suficiente para afastar a dissociação entre crédito/débito tributário e penalidades, estampada tanto no artigo 161 do CTN como no artigo 61 da Lei n. 9.430/96, quando tratam especificamente a incidência dos juros sobre os valores devidos pelos contribuintes ao Fisco. Em ambos os dispositivos somente há autorização para a incidência de juros (no âmbito federal representado pela SELIC) sobre o crédito/débito, entendido como aquele decorrente de fatos gerados de tributos, mas não sobre as penalidades tributárias. As incoerências da legislação tributária são diversas, cabendo aos órgãos julgadores solucionálas da maneira mais lógica e justa possível, que é justamente o que aqui se pretende, chegando, das razões acima expostas, à conclusão pela não incidência de juros sobre a multa de ofício. Nesse sentido vem caminhando a jurisprudência do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (e.g. Acórdão 3403002.367, de 24 de julho de 2013; Acórdão 3402 002.862, de 26 de janeiro 2016), porém ainda não consolidada. Assim, ao meu ver, é nesse sentido que deve ser interpretada a Súmula CARF n. 4,6 cujo teor impõe o reconhecimento como devida a SELIC sobre débitos tributários administrados pela Secretaria Receita Federal. São sim devidos os juros SELIC, mas tão 4 Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. 5 Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. 6 Súmula CARF n° 4: A partir de 1o de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais” Fl. 1754DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.729 53 somente sobre os tributos no período de inadimplência, e não sobre eventuais multas de ofício cobradas no mesmo suporte documental (auto de infração). Sem lei que estabeleça expressamente a aplicação de juros sobre a multa de ofício, incabível a cobrança pretendida pela Autoridade Fiscal nestes autos, devendo ser a mesma cancelada por este Colegiado. Neste ponto, insta mencionar que não seria aplicável ao presente caso o art. 43, da Lei n.º 9.430/96, mencionado no Acórdão 9303002.399, da 3ª Turma da CSRF. Isso porque o referido dispositivo traz a previsão de aplicação dos juros de mora quando da lavratura auto de infração que se refira, "exclusivamente, a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente", tratandose, portanto, de "Auto de Infração sem tributo" nos termos do título utilizado pela própria lei neste artigo: "Seção V Normas sobre o Lançamento de Tributos e Contribuições Auto de Infração sem Tributo Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento." (grifo nosso) Como se depreende do relatório, a hipótese trazida no dispositivo legal acima distinguese claramente daquela sob análise, no qual foi aplicada multa de ofício sobre o valor do tributo não recolhido (IPI), esta sim sem previsão legal para a incidência de juros. Por fim, cumpre tecer alguns comentários sobre o julgamento do Superior Tribunal de Justiça, que poderia ser citado como fundamento da posição em sentido contrário a aqui exposta. Tratase do AgRg no REsp 1.335.688PR, segundo o qual: "entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: 'É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário.' (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010." Com a devida vênia ao Egrégio Tribunal, entendo que a decisão ali alcançada não merece guarida. Para ser mais precisa, por uma análise acurada do teor do julgamento, entendo que o STJ ainda não se manifestou sobre a específica questão aqui discutida, pois no AgRg no REsp 1.335.688PR não foi trazido um único fundamento de decidir a respeito da diccção do artigo 61 caput e §3º da Lei n. 9.430/96, apresentada alhures, tendo sido a decisão calcada em acórdãos do próprio órgão que não resolvem ao tema. Explico. Fl. 1755DF CARF MF 54 No Recurso Especial n. 1.335.688, bem como no Agravo de Instrumento de mesmo número, as razões de decidir do Ministro Relator Benedito Gonçalvez se limitam a afirmar que o acórdão do TRF da 4ª Região, objeto de reclame do contribuinte, ao decidir pela incidência dos juros Selic sobre a multa de ofício espelhou a jurisprudência firmada pelas Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ, justamente como consta no trecho da ementa acima citado, quais sejam: o REsp 1.129.990/PR e o REsp 834.681/MG. Ocorre que no REsp 1.129.990/PR, segundo os dizeres do Ministro Castro Meira (Relator) "a questão devolvida a este Superior Tribunal de Justiça consiste em saber se a multa decorrente do inadimplemento de ICMS sujeitase à incidência de juros de mora, como defende o Fisco Estadual, ou sequer integra o crédito tributário e, portanto, não pode sofrer este acréscimo, conforme a tese adotada pelo acórdão hostilizado." Não são necessárias maiores digressões para chegar a conclusão de que se a matéria analisada pelo STJ nesse caso dizia respeito à tributo estadual (ICMS), de modo que não foi objeto de apreciação a legislação federal que fundamenta o presente voto (artigo 61 caput e §3º da Lei n. 9.430/96). Com efeito, o r. acórdão teve como base unicamente as normas constantes dos artigos 113, 139 e 161 do CTN. Na mesma problemática incorre o REsp 834.681/MG, no qual discutiase, em primeiro lugar, a aplicabilidade da taxa Selic como índice legítimo de correção monetária e juros de mora para a correção de débitos do contribuinte perante a Fazenda Pública estadual (de Minas Gerais, in casu). Como segundo ponto enfrentado pelo STJ aparecia a incidência dos juros sobre a multa de ofício que, por óbvio, também se limitava ao âmbito da legislação estadual, provável razão pela qual mais uma vez o Tribunal silenciou sobre a exegese do artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430/96. Constatase, assim, que os precedentes utilizados como alicerce para a decisão do AgRg no REsp 1.335.688PR não tangenciaram especificamente os dizeres do artigo 61 caput e §3º da Lei n. 9.430/96. Por essa razão não vislumbro qualquer razão para alterar o posicionamento majoritário que vem sendo adotado por esse Colegiado, a respeito da falta de previsão legal para a incidência da Selic sobre a multa de ofício imposta nos autos de infração lavrados pela Secretaria da Receita Federal. Dessarte, voto por dar provimento ao recurso voluntário para a excluir a aplicação da taxa de juros Selic sobre a multa de ofício na fase de liquidação administrativa do presente julgado. (assinado digitalmente) Thais de Laurentiis Galkowicz Redatora Designada Fl. 1756DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.730 55 Declaração de Voto Conselheiro Diego Diniz Ribeiro 1. Tomo a liberdade de, independentemente do brilhantismo do voto do r. Relator do caso, acrescentar algumas considerações a respeito da alegação de coisa julgada aduzida pelo contribuinte em seu recurso voluntário. 2. Nesse sentido, insta destacar que o recorrente impetrou o mandado de segurança individual n. 91.00095524, oportunidade em que vindicou o direito de ver assegurado o direito a créditos de IPI relativos às aquisições de concentrados para refrigerantes classificados na posição n. 21.06.90.01 da TIPI/88 e sujeitos a isenção, porque tais aquisições seriam egressas da Zona Franca de Manaus. Na inicial do mandamus consta o seguinte pedido: reconhecimento dos créditos IPI relativos a compras da Zona Franca de Manaus de concentrados de refrigerantes, ou seja, o xarope, isentos nas alíquotas incidentes relativas a este produto. 3. Logo, o primeiro aspecto a ser considerado para fins da delimitação da coisa julgada é o pedido apresentado na inicial do writ, na medida em que tal pedido conforma a atividade judicante, i.e., delimita a sua extensão. Daí falarse, inclusive, em princípio da adstrição no processo civil e da proibição de julgamentos ultra, extra e citra petita. 4. Não obstante, apesar da importância do pedido para o exercício da atividade judicante, é óbvio que o elemento da inicial não pode ser analisado como se fosse uma ilha, ou seja, completamente isolado do contexto petitório em que se encontra inserido. Em outros termos, a inicial de uma determinada demanda deve ser vista sob uma perspectiva holística, no qual se destaca, dentre outros elementos fundamentais, o pedido formulado pelo autor. Tenho que esta conclusão é ínsita do ordenamento processual e está devidamente incorporada no CPC/2015 em razão do que dispõe seu art. 322, § 2º,in verbis: Art. 322. O pedido deve ser certo. (...) § 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boafé. 5. Diante deste quadro, é possível perceber que no citado mandado de segurança individual n. 91.00095524 o que se discute é exatamente o direito ao crédito decorrente da aquisição de concentrados da ZFM para a produção de refrigerantes pela recorrente. Há, inclusive, o apontamento do código do NCM do citado produto com a sua consequente individualização. Este é o quadro fático sobre o qual a citada lide se desenvolveu e que, em momento algum, foi questionado pela União no aludido mandamus. 6. Ressaltese, inclusive, que no voto proferido pelo STF para o caso (RE n. 212.484), o. então Ministro Nelson Jobim faz referência expressa à caracterização do produto adquirido pela Recorrente. Logo, se no citado mandamus o recorrente conformou Fl. 1757DF CARF MF 56 inadequadamente o produto7 para o qual vindicou o crédito de IPI, o que decorreria (pretensamente) da sua indevida classificação fiscal, tal questão deveria ter sido objeto de questionamento naquela demanda judicial por parte da União, sob pena de tal discussão ser considerada como questionada judicialmente e repelida. É o que dispunha o art. 474 do CPC/738, vigente à época, e que agora encontra guarida no art. 508 do CPC/20159. 7. Em verdade, o que a União tenta por intermédio da fiscalização aqui tratada é, em última análise, dar um indevido efeito rescisório para a autuação fiscal perpetrada, com o escopo, pois, de desconstituir a coisa julgada nesse mandado de segurança propria manu militari. 8. Por outro giro verbal, uma eventual discussão quanto à magnitude ou extensão da decisão proferida no writ teria que ser objeto de uma ação rescisória, oportunidade em que um terceiro Estado Juiz , equidistante das partes, analisará se de fato existe ou não uma daquelas hipóteses que prevê o manejo da ação rescisória. 9. Com base também em tais considerações, acompanho o voto proferido pelo r. Relator do caso para dar provimento ao recurso voluntário interposto pelo contribuinte. 10. É como voto. Diego Diniz Ribeiro Conselheiro. Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire. Acompanho in totum o voto divergente do ilustre Conselheiro Waldir Bezerra Navarro, porém quero apenas me manifestar acerca de alguns pontos levantados pela defesa e confrontar algumas colocações feitas pelo Dr. Carlos Daniel, ínclito relator, em seu voto. COISA JULGADA Quer a recorrente fazer crer que o Acórdão do STF 212.484, que transitou em julgado em 10.12.1998, e a coisa julgada que dele decorreu, também incluiu a classificação fiscal do concentrado. Ledo engano, e por mais de um motivo. O pedido inicial da Vonpar no mandamus 91.00095524, o qual delimite a lide, foi o seguinte: "Seja, em sentença, ao final, garantido o direito líquido e certo da impetrante aos créditos de IPI relativos às compras procedentes da Zona Franca de Manaus, de concentrado de refrigerantes, isento, as alíquotas de incidência relativas a este produto, devido pelas indústrias fora da Zona Franca de Manaus". 7 Partindo da ideia de que o produto discutido na lide não seria único (concentrado) e com um tratamento jurídico tributário também próprio, mas sim composto por diferentes subprodutos passíveis de individualização e, consequentemente, com um tratamento jurídicotributário próprio individualizado cada um desses subprodutos. 8 " Art. 474. Passada em julgado a sentença de mérito, reputarseão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido." 9 " Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerarseão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido." Fl. 1758DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.731 57 Sobre tal tópico, bem pontuou o relato fiscal (fl. 361): 72) Em Impugnação ao Auto de Infração lavrado por meio do processo nº 11080.733630/201441, Vonpar alegou que na coisa julgada formada no RE n° 212.484 foi estabelecido que a alíquota de 27% deveria ser utilizada para calcular o crédito de IPI na aquisição de concentrados isentos oriundos da Zona Franca de Manaus. 72.1 Evidentemente, no RE n° 212.484RS não se analisou a classificação fiscal dos “concentrados”, nem se assegurou a aplicação da alíquota de 27% para cálculo dos créditos. O que se discutiu na época foi o mesmo assunto que continua em discussão até hoje (a matéria está para ser julgada, em virtude da admissão da repercussão geral, no Recurso Extraordinário nº 592.891/SP): as empresas há muito tempo pretendem assegurar o direito ao crédito do IPI, calculado como se o imposto fosse devido, nas entradas de matériasprimas isentas oriundas de fornecedores situados na Zona Franca de Manaus. Não se discutiu na ação judicial de Vonpar, nem está se discutindo no STF, o direito ao crédito oriundo das aquisições de uma matériaprima específica, mas sim o direito ao crédito para qualquer insumo que se enquadre na situação analisada. Da mesma forma, o ilustre representante da Fazenda Nacional, Dr. Pedro Cestari, averbou nas contrarrazões ao recurso voluntário acerca do que restou decidido: A sentença acolheu o pedido e "julgou procedente a ação, concedendo a segurança para declarar a existência do direito líquido e certo da impetrante em abater o IPI devido sobre os produtos industrializados, no momento da saída de seu estabelecimento, o valorcrédito do IPI potencialmente incidente na operação anterior de que participe como adquirente de produtos industrializados sujeitos à isenção pela proveniência da Zona Franca de Manaus" É de extrema importância destacar que a decisão judicial conferiu o direito da Recorrente fazer o abatimento do débito quando o valor do crédito de IPI for potencialmente devido, ou seja, o Judiciário NÃO conferiu à VONPAR o direito líquido e certo de, independentemente do atendimento das condições para utilização do benefício fiscal, aproveitar o “valorcrédito do IPI”. A decisão tampouco obstou a tributação para a hipótese em que o fornecedor dos “concentrados” (Recofarma) não cumpre os requisitos da norma de desoneração e classifica equivocadamente os referidos produtos na TIPI. Em outras palavras, a sentença acima possibilitou o aproveitamento dos créditos de IPI em tese, no seu aspecto potencial (de extinção de débitos de IPI), de modo que para fazer valer o direito de crédito é indispensável que todas as condicionantes previstas na norma isentiva (art. 6º, §1º do DL 1435/75) sejam cumulativamente atendidas. Fl. 1759DF CARF MF 58 A alíquota fiscal dos “concentrados” que poderia, em tese, beneficiar a recorrente, foi incorretamente classificada pela Recofarma no Ex 01 do código 2106.90.10, ou seja, o crédito de IPI isento (para a Recofarma), que gerou a alíquota de 27% para a VONPAR, não poderia ter sido apropriado pela Recorrente. Com efeito, a sentença possibilitou o creditamento, desde que correta a classificação fiscal e alíquota superior a zero, caso contrário não haverá potencial crédito de IPI, nos termos do que preceituou aquela, a gerar crédito para a impetrante, ora recorrente. Portanto, imprópria a arguição acerca do art. 474 do CPC de 1973 (art. 508 do novel CPC), pelo que divirjo do Conselheiro Diego Diniz Ribeiro. Mais que isso, ainda é indispensável que haja a classificação dos “concentrados” na alíquota correta da TIPI. Sem embargo, sem reparos ao lançamento e à r. decisão no ponto. A CLASSIFICAÇÃO FISCAL Primeiramente, oportuno gizar que os 5 processos em análise reportamse a fatos geradores ocorridos até o final de 2010. Demais disso, notas fiscais de saída emitidas até o final do ano de 2010, a Recofarma registrou que os “concentrados” se classificariam no código 2106.90.10 (Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas), cuja alíquota do IPI é zero, tendo o Fisco relatado que somente nas notas fiscais emitidas a partir de janeiro de 2011 passou a constar a indicação do Ex 01 do código 2106.90.10, e que em janeiro de 2011 Recofarma emitiu cartas de correção relativas à ausência da indicação do Ex 01 nas notas emitidas nos anos anteriores. Portanto, nos processos em pauta, a recorrente efetuou o cálculo dos créditos de IPI com a utilização de alíquota que não correspondia ao código indicado nas notas fiscais. De qualquer maneira, ainda que as notas fiscais de Recofarma indicassem código fiscal com a alíquota utilizada por Vonpar, permaneceria sem razão a recorrente. Os processos administrativos e judiciais em que foi discutida a obrigação ou não dos adquirentes fazerem conferência de classificação fiscal em notas de compras tratavam de créditos básicos, em que o cálculo e recolhimento do imposto devido havia sido feito pelo emitente. Quanto à correta classificação dos produtos adquiridos pela recorrente, igualmente não tenho dúvida que a fiscalização está absolutamente correta. Em análise ao fluxograma simplificado do processo de fabricação de refrigerante cocacola (fl. 382 Anexo 1 ao relatório), a cargo da VONPAR, vêse, o que é inconteste, que os produtos utilizados pela recorrente e fornecidos pela Recofarma, são produtos adicionados separadamente após a mistura de água e açúcar (que resultam no xarope simples), de forma que após sua adição resulta o xarope final ou concentrado líquido. Portanto, o tão falado kit nada mais é do que a adição de produtos intermediários distintos já em fase de industrialização dentro do estabelecimento industrial da defendente. A controvérsia levantada pelo ilustre relator não encontra qualquer respaldo nas regras de classificação. Ora, se as mercadorias saídas da recofarma e adquiridas pela recorrente (sobre as quais tomou indevido crédito) são mercadorias distintas, com diferente natureza física, pelo que embaladas em distintas embalagens, não vejo como querer classificá las que se de apenas uma mercadoria se tratassem. Fl. 1760DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.732 59 Cediço que a classificação fiscal de mercadoria se materializa em um dos códigos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), que tem por base o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH) adotado pelo Brasil por meio do Decreto nº 97.409/1988, de 23/12/1988, DOU de 27/12/1888. Sabemos que o código NCM é obtido mediante a aplicação das Regras Gerais para Interpretação do Sistema Harmonizado (RGI) e das Regras Gerais Complementares (RGC), e, de forma subsidiária, pelas normas explicativas do Sistema Harmonizado (NESH) de Designação e de Codificação de Mercadorias, assim como as Notas de Seção, Capítulo, posições e subposições da Nomenclatura do Sistema Harmonizado. A regra 1ª RGI dispõe que: "Os títulos das Seções, Capítulos e Subcapítulos têm apenas valor indicativo. Para os efeitos legais, a classificação é determinada pelos textos das posições e das Notas de Seção e de Capítulo e, desde que não sejam contrárias aos textos das referidas posições e Notas..." Assim, o ponto de partida para classificar um produto são os textos das posições e das notas de Seção e Capítulo da TIPI. Portanto, dúvida não há que as Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (Nesh), versão lusobrasileira, aprovadas pelo Decreto nº 435, de 27 de janeiro de 1992 e alterações posteriores, constituem elemento subsidiário de caráter fundamental para a correta interpretação do conteúdo das posições e subposições do SH. Ora, na NESH há um item específico que regula os produtos aqui em discussão: é o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), transcrito, na qual se fundou a fiscalização, a seguir: XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. O CCA (órgão que 1994 passou a ser chamado de Organização Mundial das Aduanas – OMA) decidiu incorporar a sua decisão sobre o assunto na NESH, por meio da criação do item XI da Nota Explicativa da Regra Interpretativa 3 (b). Transcrevo a seguir texto retirado da tradução anexada aos autos: Em suas sessões de outubro de 1985 (na 55ª. Sessão do Comitê de Nomenclatura e 55ª. Sessão do Comitê do Sistema Harmonizado Interino), os Comitês examinaram a classificação das bases de bebidas constituídas por diferentes componentes importados conjuntamente em proporções fixas em uma remessa. Os Comitês concordaram com que os componentes individuais deveriam ser classificados separadamente. Os Comitês também concordaram em incorporar o conteúdo da decisão na Nota Explicativa da Regra Interpretativa 3 (b), como um exemplo da não aplicação desta Regra Fl. 1761DF CARF MF 60 (...) (i) Regra Interpretativa Geral 3 (b) . Novo Item (XI). Após Item ( X ), insira o seguinte novo Item ( XI) : “ (XI) A presente Regra não se aplica a produtos constituídos por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto, mesmo estando em embalagem comum, em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. “ Ficou, portanto, derrubada qualquer possibilidade de classificar os bens em questão como se fossem uma mercadoria única, entendimento defendido pela recorrente. O CCA explicitou que cada componente deveria ser enquadrado em sua própria classificação, embora não tenha definido quais seriam elas, o que é compreensível, considerandose a complexidade da análise dos ingredientes e demais características de cada componente, que no caso dos produtos de Recofarma exigiu, inclusive, a execução de exame pericial. Como se vê, o CCA apontou ser óbvio que não se pode tratar como mercadoria única (produto composto) um conjunto de embalagens individuais contendo ingredientes para fabricação de bebidas. Sobre a decisão do Conselho de Cooperação Aduaneira CCA, o ilustre relator diz que é um “trabalho preparatório anterior à Nota Explicativa, de modo que não poderia ser interpretação autêntica de algo que sequer existe ainda”, o que não é verídico, pois continuando a leitura da documentação do CCA, verificase que o órgão estudou algumas redações alternativas, até chegar ao texto do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), que permanece em vigor até hoje, sem qualquer alteração em sua redação. Podemos dizer que o texto em questão equivale ao que na elaboração de uma Lei seria chamado de Exposição de Motivos. Só que, ao contrário do que muitas vezes acontece na elaboração das Leis, o texto da “Exposição de Motivos” para o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) é tão minucioso e detalhado que não deixa margem à dúvida sobre sua interpretação. A partir do momento que a solução de consulta foi transformada em um item da NESH, seria desnecessário analisar o mérito dos argumentos empregados pela empresa e pela fiscalização. As regras da NESH são cogentes no sistema jurídico brasileiro, tendo hierarquia superior à de Pareceres ou Instruções Normativas. Se autoridades brasileiras, por hipótese, não concordassem com o entendimento adotado, ainda assim teriam que obedecêlo, por força do que dispõe o artigo 98 da Lei nº 5.172, de 25/10/1966 (CTN Código Tributário Nacional). Portanto, rechaço veementemente a afirmação do relator10 que já inicia seu voto afirmando que a fiscalização teria recorrido a uma “solução arbitrária” para fazer o lançamento de ofício na Vonpar, pois, em realidade, como mencionado no item 74 do Termo de Verificação Fiscal lavrado no estabelecimento de Vonpar de Porto Alegre em 30/12/2014, a identificação do erro de classificação não começou na recorrente, e sim em trabalho realizado 10 No caso em tela, verificase que a fiscalização que sempre utilizou um determinado critério para fiscalizar e autuar as empresas que tomam créditos de IPI de saídas isentas da ZFM inovou especificamente em relação à VONPAR, buscando com isso escapar às raias da coisa julgada. Fl. 1762DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.733 61 na Recofarma com base em Mandado de Procedimento Fiscal Nacional (documento emitido pelo órgão central da RFB em Brasília). Dessarte, data venia, trazer à baila argumento como falta de moralidade administrativa do Fisco na ação fiscal sob comento, em longa digressão que refoge ao núcleo da quaestio, é desarrazoado, para dizer o mínimo. Por certo, se o digno relator pesquisar processos recentes que aguardam julgamento neste Conselho, certamente encontrará outros adquirentes que foram autuados em função do erro de classificação fiscal nos produtos fornecidos por Recofarma. Pelas afirmações descabidas que faz, creio que o nobre relator não tenha se dado a tal trabalho O que pode fazer toda a diferença para fins classificatórios é o fato da mercadoria ter sido concebida para receber determinada destinação, e não a destinação efetiva que recebeu em casos específicos. A legislação não permite que o enquadramento na TIPI de um produto possa variar conforme o ramo de atividade de seus destinatários. A utilização pretendida para a mercadoria é importante porque, evidentemente, as características de um produto industrializado são determinadas pela utilização para a qual o produto foi concebido. Mas, por exemplo, se uma determinada preparação do tipo utilizado para elaboração de medicamentos for vendida exclusivamente para um engarrafador de refrigerantes, ela não pode em decorrência disso passar a ser classificada como uma preparação do tipo utilizado para elaboração de refrigerantes. Desta maneira, para fins de classificação, devem ser analisadas características como ingredientes, formato e embalagem do produto (características estas que são decorrentes da utilização para a qual o produto foi concebido), mas não a atividade de cada destinatário das notas fiscais. De qualquer maneira, analiso com profundidade não só a utilização para a qual os kits de Recofarma foram concebidos, como as atividades desenvolvidas pelos seus destinatários. A maior parte das vendas efetuadas pelas chamadas empresas do Sistema Coca Cola correspondem a refrigerantes. Mas as empresas do Sistema CocaCola também efetuam vendas de extratos concentrados destinados ao preparo de refrigerantes em máquinas "postmix", mercadorias que são classificadas no Ex 02 do código 2106.90.10. Registro que a elaboração dos refrigerantes da posição 22.02 pelos detentores das máquinas "postmix" é uma operação excluída do conceito de industrialização pelo art. 5º do RIPI, transcrito a seguir, e por isto a tributação do IPI ocorre no momento da saída dos concentrados do Ex 02. Art. 5o Não se considera industrialização: (...) II o preparo de refrigerantes, à base de extrato concentrado, por meio de máquinas, automáticas ou não, em restaurantes, bares e estabelecimentos similares, para venda direta a Fl. 1763DF CARF MF 62 consumidor (DecretoLei no 1.686, de 26 de junho de 1979, art. 5o, § 2o); Portanto, quando o produto final vendido por Vonpar ou outro adquirente de Recofarma são os concentrados vendidos para bares e restaurantes, fica evidente que não se pode dizer que os kits são destinados à elaboração de bebida da posição 22.02. Afinal, quando se pensa na utilização para a qual o insumo foi concebido, deve se analisar a operação de industrialização em que este insumo é utilizado (elaboração do concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10), e não operação de industrialização realizada em uma etapa futura da cadeia produtiva (elaboração dos refrigerantes pelos detentores das máquinas "postmix"). Quem não tem conhecimento do processo produtivo dos engarrafadores e acredite, equivocadamente, que o enquadramento na TIPI de um produto deva variar conforme a motivação de seus destinatários, poderia imaginar que o mesmo kit deveria receber dois enquadramentos distintos na TIPI, dependendo de qual é o produto final vendido pelo seu adquirente: se é um refrigerante pronto ou se é um concentrado destinado a máquinas "post mix". Em realidade, porém, 100% dos kits recebidos de Recofarma são usados para industrializar concentrados classificados no Ex 02 do código 2106.90.10. As empresas do Sistema CocaCola executam dois processos de industrialização distintos, como se denota do que consta no referido Anexo I. Primeiro elas misturam os componentes dos kits, obtendo o concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10. Depois (exceto nos casos em que estes concentrados são destinados a máquinas "postmix") o concentrado resultante da mistura é levado para outro equipamento, onde é diluído em água carbonatada, resultando no refrigerante. Este segundo processo industrial é executado dentro do mesmo estabelecimento que na etapa anterior fabricou o concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10. Mas nada impediria que fossem criados estabelecimentos cuja única atividade fosse a produção do refrigerante. Nesta hipótese, o concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10 seria sempre um produto final para as empresas do Sistema CocaCola, podendo ser vendido ou para detentores das máquinas "postmix" ou para os fabricantes exclusivos de refrigerantes. O IPI é um imposto real, e não pessoal. Não importa se o CNPJ do estabelecimento que fabricou o concentrado do Ex 02 é ou não o mesmo do estabelecimento que transformou este concentrado em refrigerante. São duas operações industriais distintas, que resultam em produtos que devem receber classificações fiscais distintas. Sobre este assunto, cabe observar o que diz o artigo 31 do RIPI/2010, que trata da capacidade tributária, e o artigo 3º do Regulamento, que transcrevo a seguir: Art. 3º Produto industrializado é o resultante de qualquer operação definida neste Regulamento como industrialização, mesmo incompleta, parcial ou intermediária (Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966, art. 46, parágrafo único, e Lei nº 4.502, de 1964, art. 3º). (grifei) Na realidade, porém, 100% dos kits recebidos de Recofarma são usados para industrializar concentrados classificados no Ex 02 do código 2106.90.10. O Sistema Harmonizado contempla classificações fiscais de mercadorias no estado em que se encontram nas diversas etapas da cadeia produtiva, abrangendo desde as Fl. 1764DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.734 63 matériasprimas, passando por produtos intermediários e chegando até o produto finalmente elaborado. Resta claro, então, que os componentes dos kits sempre se caracterizam como ingredientes (matériasprimas e produtos intermediários) destinados à elaboração de concentrados do Ex 02 do código 2106.90.10 (produto intermediário ou produto final, dependendo de sua destinação). Por fim, apenas a título de observação, registro que apesar das empresas do Sistema CocaCola serem conhecidas como “engarrafadoras” (o que se justifica pela quantidade de vendas), caso se utilizasse como critério a complexidade das operações que executam, sua atividade principal seria a de “produtoras de concentrados”. Isto porque, dentre as operações executadas no estabelecimento do engarrafador, a etapa em que ocorre a mistura dos componentes dos kits é tecnicamente a de maior importância, só podendo ser executada seguindo detalhadas especificações técnicas. Já a etapa em que é realizada a diluição do concentrado em água carbonatada, resultando no refrigerante, é de execução bastante simples, tanto que pode ser realizada pelas máquinas Post Mix. O relator escreveu: No Laudo anexado aos autos, se verifica que os "kits de concentrados" abrangem basicamente preparações líquidas e sólidas (..) Em seguida, o Fiscal desconsidera a indicação feita pelo Laudo de que se tratariam de preparações, para adotar seu próprio sentido (...) “(...) o fato do kit envolver partes sólidas e líquidas que sofreram diluição posteriormente no estabelecimento da adquirente não desnatura a sua natureza de "preparação". Os Laudos mostram que os kits são formados por um conjunto de produtos, sendo que, em geral, cada um deles é uma preparação (existem exceções em que a “parte” é formada por uma única matéria, como, por exemplo, benzoato de sódio). Os Laudos mostram que todos os kits contêm duas ou mais preparações, cada uma em sua embalagem individual. Ao contrário do que diz o relator, sobre este fato não há controvérsias. A controvérsia está no fato de que a empresa considera que duas ou mais preparações enviadas na mesma remessa, em proporções fixas, devem ser consideradas como se formassem uma única preparação, enquanto o Fisco considera que um kit com duas preparações, cada uma na sua embalagem individual, deve ser enquadrado em dois códigos de classificação fiscal, e não em um código único. Já mencionei que o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) não deixa dúvidas de que o entendimento do Fisco é o correto. De qualquer maneira, analisei Notas Explicativas de outras posições do SH, e não encontrei um único caso de Nota que faça referência a uma preparação alimentícia formada por “partes” não misturadas entre si. Sempre que a NESH se refere a preparações, fica claro que está tratando de uma mistura. Fl. 1765DF CARF MF 64 Isto também fica claro em relação a outros produtos enquadrados na posição 21.06. Por exemplo, a seguir estão transcritos textos dos itens 13, 14 e 15 da NESH da posição 21.06 (os grifos são meus): 13) As misturas de extrato de ginseng com outras substâncias (por exemplo, lactose ou glicose) utilizadas para preparação de “chá” ou de outra bebida à base de ginseng. 14) Os produtos constituídos por uma mistura de plantas ou partes de plantas, sementes ou frutas de espécies diferentes, ou por plantas ou partes de plantas, sementes ou frutas de uma ou de diversas espécies misturadas com outras substâncias (...) 15) As misturas constituídas por plantas, partes de plantas, sementes ou frutas (inteiras, cortadas, trituradas ou pulverizadas) de espécies incluídas em diferentes Capítulos (...) O relator citou em seu voto o item X da Nota Explicativa da Regra 2 b), que em sua parte final diz que "Os produtos misturados que constituam preparações mencionadas como tais, numa Nota de Seção ou de Capítulo ou nos dizeres de uma posição, devem classificarse por aplicação da Regra 1”. (grifo meu) Ora, o item X da Nota Explicativa da Regra 2 b) corrobora o entendimento de que quando o SH se refere a preparações está tratando de produtos misturados. Assim, se os produtos que compõem os kits estivessem misturados, eles poderiam ser classificados como um produto único mediante aplicação da Regra 1. Só que não é o caso dos kits para refrigerantes, que são formados por várias preparações não misturadas entre si. O relator, assim como eu, parece ter procurado e não encontrado na NESH alguma Nota que faça referência a uma preparação alimentícia formada por “partes” não misturadas entre si. Digo isso porque como “situação análoga” a dos kits para refrigerantes não citou produto similar ao que estamos analisando, mas sim “produtos químicos importados em "kits" para, após mistura, comporem os explosivos classificados na Posição 36.02 (Seção VI) do SH nesse caso, ainda que não se apresentem prontos para a utilização, se classificam na Posição por determinação da Nota 3 da Seção VI”. A regra geral dento do SH é que cada produto tenha classificação individual própria, mas existem exceções, abrangidas pela RGI 3 b). Só que, como já explicado, a NESH excluiu as bases para bebidas do campo de aplicação da RGI 3 b). Aproveito para transcrever mais um trecho da decisão do CCA cuja tradução consta dos autos: 18. Nesse sentido, deve ser dada atenção à Nota 3 da Seção VI e à Nota da Seção VII que tratam de casos em que os componentes são misturados após importação. Não existe nota similar relativa a produtos da Seção IV. Implicitamente, também pareceria que a Nota Interpretativa 3 (b) não abrange os tipos de casos cobertos pela Nota 3 da Seção VI e a Nota da Seção VII. Como se vê, na análise que resultou no item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), o CCA analisou exatamente o caso citado pelo relator (produtos da Seção VI), rejeitando sua similaridade com os produtos da Seção IV, onde se incluem as preparações alimentícias. Fl. 1766DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.735 65 Concluo que os textos dos Ex 01 e Ex 02 do código 2106.90.10, ao ser referirem a “preparações compostas”, estão tratando de bens constituídos por uma mistura de diversas substâncias. Com essas considerações, entendo correta a classificação fiscal adota pelo Fisco, cuja alíquota no período em análise é 0 %, pelo que correta a glosa dos créditos por ilegítimos. DA MULTA APLICADA O argumento da impugnante consiste, em síntese, na alegação de que a Câmara Superior de Recursos Fiscais teria reconhecido o direito ao crédito de IPI relativo à aquisição de insumos isentos (com benefício da isenção subjetiva), utilizados na fabricação de produtos sujeitos ao IPI, em observância ao entendimento Plenário do STF no julgamento do RE 212.484/RS e que assim não caberia a aplicação de penalidade, nos termos do art. 76, II, “a”, da Lei nº 4.502/1964, que dispõe: “Art . 76. Não serão aplicadas penalidades: II enquanto prevalecer o entendimento, aos que tiverem agido ou pago o imposto: a) de acordo com interpretação fiscal constante de decisão irrecorrível de última instância administrativa, proferida em processo fiscal, inclusive de consulta, seja ou não parte o interessado; ...” Ocorre que posteriormente à edição da Lei nº 4.502/1964, foi editado o Código Tributário Nacional [Lei nº 5.172, de 1966], recepcionado como Lei Complementar pela Constituição Federal de 1988, que assim dispôs no seu art. 100, incs. I e II e parágrafo único: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; ... Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. Ou seja, a partir da vigência do CTN, a exclusão de penalidades com fundamento em decisões do CARF, sem que o contribuinte seja parte nos processos específicos, só é possível caso exista lei atribuindo eficácia normativa às referidas decisões, o que, até o presente momento, não existe. Fl. 1767DF CARF MF 66 Nada obstante, essa é a multa prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, vazada nos seguintes termos: Art. 80. A falta de lançamento do valor, total ou parcial, do imposto sobre produtos industrializados na respectiva nota fiscal ou a falta de recolhimento do imposto lançado sujeitará o contribuinte à multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento) do valor do imposto que deixou de ser lançado ou recolhido. Portanto, há lei válida, vigente e eficaz, que se sobrepõe a qualquer norma regulamentar, que determina a aplicação de multa de ofício específica para o caso de cobrança de IPI por falta de seu recolhimento, como no caso versado nestes autos. Em consequência, escorreita sua aplicação. Eram essas minhas considerações assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire Conselheira Maysa de Sá Pittondo Deligne No momento da leitura do voto vista do Ilustre Conselheiro Jorge Freire, mostrei irresignação específica quanto à menção ao fluxograma de fabricação de refrigerantes trazido no Anexo 3 do termo de Verificação Fiscal. Quanto à esta questão, afirmou o Ilustre Conselheiro: "Quanto à correta classificação dos produtos adquiridos pela recorrente, igualmente não tenho dúvida que a fiscalização está absolutamente correta. Em análise ao fluxograma simplificado do processo de fabricação de refrigerante cocacola (fl. 382 Anexo 1 o relatório), a cargo da VONPAR, vêse, o que é inconteste, que os produtos utilizados pela recorrente e fornecidos pela Recofarma, são produtos adicionados separadamente após a mistura de água e açúcar (que resultam no xarope simples), de forma que após sua adição resulta o xarope final ou concentrado líquido. Portanto, o tão falado kit nada mais é do que a adição de produtos intermediários distintos já em fase de industrialização dentro do estabelecimento industrial da defendente." Contudo, a meu ver, os fluxogramas trazidos às efls. 541/542 somente reforçam as razões trazidas pelo Ilustre Conselheiro Relator, por denotarem que os kits de concentrado, apenas são acrescidos de água ou açúcar após ingressarem no estabelecimento da Recorrente. Ocorre exatamente o "tratamento" ao qual se refere a NESH na forma elucidada pelo I. Relator em seu voto: "Vejamos o que a NESH tem a dizer a respeito da posição indicada pelo Contribuinte: A) As preparações para utilização na alimentação humana, quer no estado em que se encontram, quer depois de tratamento (cozimento, dissolução ou ebulição em água, leite, etc.). Fl. 1768DF CARF MF Processo nº 11070.722571/201403 Acórdão n.º 3402003.801 S3C4T2 Fl. 1.736 67 A Nota Explicativa A referentes à classificação 2106.90 é expressa em afirmar que a preparação não perde o seu caráter enquanto tal pelo simples fato de posteriormente passar por um tratamento, mencionando especificamente a possibilidade de dissolução, que implica mistura fato este utilizado pelo fiscal como argumento para afastar a natureza de preparação. Ou seja, a preparação não precisa estar "pronta para uso", mas sim deve trazer os elementos que, conjuntamente e após tratamento, componham a preparação necessária para a elaboração da bebida da posição 22.02." A meu ver, os fluxogramas acostados aos autos confirmam essa afirmação do Relator. Eles evidenciam, ainda, que todos os elementos adquiridos pelo Recorrente na forma de "kits" são conjuntos dentro do processo produtivo, compondo o preparado para a elaboração das bebidas na forma da posição adotada pelo Recorrente. Seguem abaixo os fluxogramas constantes dos autos somente para facilitar a visualização: Fl. 1769DF CARF MF 68 Tratamse somente de considerações adicionais que respaldam a conclusão alcançada no voto do Ilustre Relator pelo provimento do Recurso Voluntário. Fl. 1770DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10218.001273/2007-64
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Mar 23 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu May 11 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 31/08/2002 a 31/12/2003
AUTO DE INFRAÇÃO. PROCEDIMENTO REFLEXO. IRPJ. COMPETÊNCIA. PRIMEIRA SEÇÃO. Compete à Primeira Seção do CARF o julgamento de recurso voluntário relativo a procedimento reflexo do IRPJ, formalizado com base nos mesmos elementos de prova (art. 2o, IV do Anexo II do RICARF).
COFINS, NÃO-CUMULATIVIDADE. VIGÊNCIA FEVEREIRO/2004. O regime da não-cumulatividade para o cálculo da COFINS tem vigência a partir dos fatos geradores de fevereiro de 2004. Para fatos geradores ocorridos em 2002 e 2003, a vigência é da Lei 9.718/98.
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. OCORRÊNCIA DE FRAUDE E SONEGAÇÃO. INDÍCIOS. INEXISTÊNCIA DE FATO DE MATRIZ. INFORMAÇÕES DIFERENTES FISCO ESTADUAL. CONDUTA REITERADA. CABIMENTO. A utilização de endereço de matriz, inexistente de fato, objetivando minimizar o risco de fiscalizações. Declarações diversas para os Fiscos Federal e Estadual, criam um obstáculo à real compreensão da situação fiscal da contribuinte. Práticas reiteradas. Elementos que, juntos, permitem a qualificação da multa de ofício.
DECADÊNCIA. DOLO. O prazo decadencial é contado a partir do 1º dia do exercício àquele em que o lançamento poderia ser constituído, se constatado o dolo.
OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. REQUISITOS. REGULAR INTIMAÇÃO. Nos termos do art. 42 da Lei nº 9.430/96, para a caracterização da omissão de receitas por depósitos bancários, necessária a ocorrência de três requisitos, a existência do crédito na conta bancária; a regular intimação a comprovar a origem dos créditos; e a consequente falta de comprovação da origem do crédito. É nulo o lançamento efetuado sem a regular intimação.
Numero da decisão: 1301-002.264
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em DAR provimento PARCIAL ao recurso voluntário para afastar a exigência incidente sobre a omissão de receitas com base em depósitos bancários.
assinado digitalmente
Waldir Veiga Rocha - Presidente
assinado digitalmente
Amélia Wakako Morishita Yamamoto - Relatora
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Flavio Franco Correa, José Eduardo Dornelas Souza, Roberto Silva Junior, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Milene de Araújo Macedo, Amélia Wakako Morishita Yamamoto e Waldir Veiga Rocha.
Nome do relator: Relator
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Período de apuração: 31/08/2002 a 31/12/2003 AUTO DE INFRAÇÃO. PROCEDIMENTO REFLEXO. IRPJ. COMPETÊNCIA. PRIMEIRA SEÇÃO. Compete à Primeira Seção do CARF o julgamento de recurso voluntário relativo a procedimento reflexo do IRPJ, formalizado com base nos mesmos elementos de prova (art. 2o, IV do Anexo II do RICARF). COFINS, NÃO-CUMULATIVIDADE. VIGÊNCIA FEVEREIRO/2004. O regime da não-cumulatividade para o cálculo da COFINS tem vigência a partir dos fatos geradores de fevereiro de 2004. Para fatos geradores ocorridos em 2002 e 2003, a vigência é da Lei 9.718/98. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. OCORRÊNCIA DE FRAUDE E SONEGAÇÃO. INDÍCIOS. INEXISTÊNCIA DE FATO DE MATRIZ. INFORMAÇÕES DIFERENTES FISCO ESTADUAL. CONDUTA REITERADA. CABIMENTO. A utilização de endereço de matriz, inexistente de fato, objetivando minimizar o risco de fiscalizações. Declarações diversas para os Fiscos Federal e Estadual, criam um obstáculo à real compreensão da situação fiscal da contribuinte. Práticas reiteradas. Elementos que, juntos, permitem a qualificação da multa de ofício. DECADÊNCIA. DOLO. O prazo decadencial é contado a partir do 1º dia do exercício àquele em que o lançamento poderia ser constituído, se constatado o dolo. OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. REQUISITOS. REGULAR INTIMAÇÃO. Nos termos do art. 42 da Lei nº 9.430/96, para a caracterização da omissão de receitas por depósitos bancários, necessária a ocorrência de três requisitos, a existência do crédito na conta bancária; a regular intimação a comprovar a origem dos créditos; e a consequente falta de comprovação da origem do crédito. É nulo o lançamento efetuado sem a regular intimação.
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PROCEDIMENTO REFLEXO. IRPJ. COMPETÊNCIA. PRIMEIRA SEÇÃO. Compete à Primeira Seção do CARF o julgamento de recurso voluntário relativo a procedimento reflexo do IRPJ, formalizado com base nos mesmos elementos de prova (art. 2o, IV do Anexo II do RICARF). COFINS, NÃOCUMULATIVIDADE. VIGÊNCIA FEVEREIRO/2004. O regime da nãocumulatividade para o cálculo da COFINS tem vigência a partir dos fatos geradores de fevereiro de 2004. Para fatos geradores ocorridos em 2002 e 2003, a vigência é da Lei 9.718/98. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. OCORRÊNCIA DE FRAUDE E SONEGAÇÃO. INDÍCIOS. INEXISTÊNCIA DE FATO DE MATRIZ. INFORMAÇÕES DIFERENTES FISCO ESTADUAL. CONDUTA REITERADA. CABIMENTO. A utilização de endereço de matriz, inexistente de fato, objetivando minimizar o risco de fiscalizações. Declarações diversas para os Fiscos Federal e Estadual, criam um obstáculo à real compreensão da situação fiscal da contribuinte. Práticas reiteradas. Elementos que, juntos, permitem a qualificação da multa de ofício. DECADÊNCIA. DOLO. O prazo decadencial é contado a partir do 1º dia do exercício àquele em que o lançamento poderia ser constituído, se constatado o dolo. OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. REQUISITOS. REGULAR INTIMAÇÃO. Nos termos do art. 42 da Lei nº 9.430/96, para a caracterização da omissão de receitas por depósitos bancários, necessária a ocorrência de três requisitos, a existência do crédito na conta bancária; a regular intimação a comprovar a origem dos créditos; e a consequente falta AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 21 8. 00 12 73 /2 00 7- 64 Fl. 1188DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.189 2 de comprovação da origem do crédito. É nulo o lançamento efetuado sem a regular intimação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em DAR provimento PARCIAL ao recurso voluntário para afastar a exigência incidente sobre a omissão de receitas com base em depósitos bancários. assinado digitalmente Waldir Veiga Rocha Presidente assinado digitalmente Amélia Wakako Morishita Yamamoto Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Flavio Franco Correa, José Eduardo Dornelas Souza, Roberto Silva Junior, Marcos Paulo Leme Brisola Caseiro, Milene de Araújo Macedo, Amélia Wakako Morishita Yamamoto e Waldir Veiga Rocha. Fl. 1189DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.190 3 Relatório FRIGOXIN COMERCIAL LTDA, já qualificada nos autos, recorre da decisão proferida pela 3a Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Belém (PA) DRJ/BEL, que, por voto de qualidade, manteve a multa qualificada, e no mérito, por unanimidade, julgou procedente em parte a impugnação para manter o crédito tributário exigido de COFINS de agosto de 2002 a dezembro de 2003, por insuficiência no recolhimento, alterandose apenas os valores relativos à competência de agosto, setembro e outubro de 2002. Do Lançamento Tratase de auto de infração para lançamento de COFINS (fls. 617/628), cumulados de juros e multa de ofício, com ciência em 06/12/2007, lavrados contra a FRIGOXIN COMERCIAL LTDA, em razão de insuficiência de recolhimento da COFINS, com base no art. 1º da LC 70/91, arts. 2º , 3º e 8º da Lei nº 9.718/98, com alterações da MP nº 1.807/99 e reedições e arts. 2º, inc. II e § único, 3º, 10, 22 e 51 do Decreto nº 4.524/2002. Tratou também da sujeição passiva solidária, na qualidade de responsável, do Sr. Atílio Gusson, que foi cientificado por Edital. Segundo o Relatório da Auditoria Fiscal, (fls. 587/616), verificouse que: 1) A ação fiscal de início estava sob a responsabilidade da Delegacia de Fiscalização no Rio de Janeiro, e em paralelo, tramitava na Delegacia Federal em Marabá, procedimento para verificar a existência de fato da então matriz da fiscalizada, localizada no Rio de Janeiro, em razão da unidade da fiscalizada, localizada em Xinguara, embora considerada filial, realizava toda a industrialização, a comercialização dos produtos objeto da atividade econômica, controle administrativo, financeiro e jurídico, com cerca de 200 funcionários, enquanto a unidade do Rio de Janeiro, matriz, era formada por apenas uma sala, com um empregado. Relata ainda, que em procedimentos de fiscalização nas empresas do ramo frigorífico da região é prática manter como filial um pequeno estabelecimento em cidades de grande porte econômico, como Rio de Janeiro e São Paulo, com o objetivo de inquinar eventuais ações fiscalizadoras, já que desta forma o risco de sofrer uma ação coercitiva do Fisco Federal, na prática, é infinitamente menor, em razão do universo total de contribuintes. Ademais, a fiscalizada vinha constantemente recolhendo e declarando (DIPJ e DCTF) valores insignificantes a título de tributos federais, especificamente IRPJ e reflexos (PIS, COFINS e CSLL) 2) Constatada a inexistência de fato da fiscalizada no endereço sediado no Rio de Janeiro, após diligência lá realizadas, procedeuse na desconsideração daquele domicílio fiscal (fls. 290/295), e a partir de então, passouse a considerar como matriz a unidade industrial localizada no município de Xinguara, Estado do Pará, nos termos do art. 127 do CTN e art. 212, §3º do RIR/99 , restando evidente que o ato de constituir uma matriz no Rio de Janeiro teve como escopo único e exclusivo dificultar e até impossibilitar sobremaneira a ação fiscalizadora e arrecadadora da administração tributária federal. Fl. 1190DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.191 4 3) A Secretaria de Fazenda do Estado do Pará foi oficiada, à fl. 224, com o objetivo de conhecer as operações comerciais declaradas pela fiscalizada, declaração econômicofiscais, dados mensais de receita bruta e de arrecadação anual de ICMS. A resposta foi fornecida às fls. 225/228, com informações relativas a arrecadação de ICMS e receita bruta anual da fiscalizada de 2001 a 2005, tais valores se apresentaram muito acima daquelas apresentadas pela fiscalizada em sua escrituração contábil. 4) A fiscalizada apresentou os recibos de entrega da DIPJ e DCTF, livros Diário e Razão, livro registro de entradas e de saídas e de inventário do ano de 2002. 5) Um dos sócios da fiscalizada, Sr. LUIZ MENEGON, prestou depoimento no curso do procedimento administrativo fiscal em que se visava apurar a inexistência de fato do estabelecimento localizado no Rio de Janeiro. Ele justificou a criação da matriz da empresa em razão da barreira sanitária que aflige o Estado do Pará, sendo que não é permitida a venda de carne com osso para o Centro/Sul do país, e que de fato aquele estabelecimento não está funcionando. Ressalta a fiscalização que a fiscalizada, por conta e ordem de seus administradores, manteve a matriz fictícia fora da barreira sanitária, com o objetivo de induzir em erro as autoridades agropecuárias federais (Ministério da Agricultura) e estaduais (ADEPARA), burlando o controle da fiscalização sanitária, além de tentar iludir as autoridades tributárias. 6) O sócio, ainda, declarou de início que a integralização do capital havia sido realizada em dinheiro, através de mútuo contraído junto a ANTONIO JOSE DA SILVA, o qual, segundo se descobriu posteriormente, era empregado (comprador de gado) contratado pela fiscalizada. Considerando como verdadeira tal informação, estaríamos diante de um caso extremamente emblemático, onde o patrão contrai um empréstimo junto ao empregado para constituir uma empresa. E que talvez esse dinheiro emprestado pudesse ter sido levantado através de mútuo bancário junto ao Banco do Brasil. 7) Dessa forma, o Sr. ANTONIO JOSE DA SILVA também foi ouvido, porém declarou que desconhece tais operações, que nunca manteve nenhum tipo de relação comercial com o Sr. |Luiz Menegon, que sempre tratou com o Sr. Atílio Gusson, jamais efetuou empréstimos ao Sr. Luiz Menegon, não possuía condições financeiras para emprestar a quantia de R$100.000,00 (cem mil reais), . Entretanto o sócio havia declarado tal empréstimo fictício em sua DIRPF, o que demonstra o objetivo de iludir as autoridades fiscais sobre a constituição da sociedade empresária e a origem dos recursos utilizados na integralização do capital, bem como induzindo e mantendo as diversas instâncias fiscais em erro. 8) A fiscalizada foi intimada a explicar as divergências encontradas entre os valores lançados em sua escrituração contábil e aqueles informados em seus livros fiscais (livro registro de saídas e DIEF fornecida pela SEFA/PA). 9) Em razão dos fortes indícios de que o quadro societário da fiscalizada havia sido constituído por interpostas pessoas, e eventuais procurações outorgadas a terceiros seriam relevantes fontes de investigação para se chegar aos verdadeiros responsáveis, foi também intimada a apresentar as procurações acostadas nas instituições financeiras onde manteve contas bancárias no período de 01/2002 a 12/2003, bem como extratos bancários em meio magnético das contas de depósito ou de aplicações financeiras no mesmo período. 10) Posteriormente, foi intimada, a explicar as substanciais diferenças entre as bases de cálculo de PIS e de COFINS entre os valores lançados na escrituração contábil a Fl. 1191DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.192 5 título de receitas brutas auferidas em cada período mensal nos anoscalendários 2002 e 2003, bem como com aquele declarado em DCTF. não houve o cumprimento de alguns requisitos para o gozo da isenção e que por meio do processo administrativo nº 19647.010752/201091, concluiuse, em Despacho Decisório de 11/01/2011, pela suspensão da isenção de IRPJ e CSLL, expedindo o ADE nº 07/2011, ao qual a contribuinte teve ciência em 17/01/2011. 11) Foi lavrada o termo de requisição de informações sobre a movimentação financeira RMF, para intimar as instituições financeiras nas quais a fiscalizada manteve operações bancárias, Bradesco e BCN. Fazse mister esclarecer que a fiscalizada, embora tenha apresentado os extratos bancários do período sob análise, trouxe ao procedimento extratos impressos em papel utilizado em fax, estes já totalmente ilegíveis, o que os levou a requisitar estes documentos junto às instituições financeiras intervenientes. Requisitouse ainda, haja vista a grande quantidade de lançamentos nas contascorrentes, todos os extratos bancários em meio magnético. Registrese que, em razão de os referidos documentos, em momento anterior, já terem sido apresentados voluntariamente pela fiscalizada, tal requisição não teve o caráter de quebra de sigilo bancário administrativa, conforme prevê o Decreto Lei n o 4.324/01, que regulamenta o art. 60 da Lei Complementar n o 105, de 10 de janeiro de 2001. Procedeuse ainda na requisição para que as instituições apresentassem cópias de eventuais instrumentos de procuração que ampararam a movimentação de contas por terceiros, em virtude da conduta omissiva da fiscalizada para cumprimento da obrigação. 12) As procurações foram apresentadas, às fls. 351/354, bem como informou que de fato constatou uma diferença no valor da receita, mas já que não estava em posse dos livros contábeis que estavam com a fiscalização não foi possível detectar o motivo de tais diferenças, mas que afirmou que as receitas brutas de vendas apuradas no curso é maior do que aferida pela fiscalização. Juntou, também planilha de cálculo de PIS e de COFINS, declarando que era à época dos fatos optante pelo lucro real., o que segundo ela, justificaria as divergências. Observando a referida planilha, verificouse que houve recolhimento muito menor de tais tributos, haja vista estes terem sua base de cálculo sobre o montante do faturamento, com a incidência mensal. 13) Nesse sentido, os arts. 2º e 3º da Lei n o 9.718/98, diploma legal vigente à época e que tratava da matéria tributária em questão: Art. 2º As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, devidas pelas pessoas jurídicas de direito privado, serão calculadas com base no seu faturamento, observadas a legislação vigente e as alterações introduzidas por esta Lei, grifo nosso Art. 3º O faturamento a que se refere o artigo anterior corresponde à receita bruta da pessoa jurídica. §1º Entendese por receita bruta a totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade por ela exercida e a classificação contábil adotada para as receitas. Fl. 1192DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.193 6 14) Portanto, é bom que se diga, não vigorava, à época dos fatos geradores desta obrigação tributária, o regime nãocumulativo para cálculo e pagamento das referidas contribuições, que só veio a ser implementado com o advento no mundo jurídico das Leis n o 10.637/2002 e 10.833/2002, sendo ainda condição sine qua non, a opção por tal regime na DIPJ, a partir de 2003 (PIS) e 2004 (COFINS), faculdade não praticada pela fiscalizada em períodos subsequentes. Mesmo se a fiscalizada, ao arrepio da Lei, levasse a efeito o cálculo com bases na aludida sistemática, não se verificou nenhum lançamento atinente a rubricas contábeis PIS não cumulativo, COFINS não cumulativo, créditos auferidos em operações de compras, dentre outros inerentes a regra em questão. 15) O Bradesco apresentou as documentações financeiras solicitadas, bem como as procurações. Assim, a fiscalizada foi intimada para justificar as diferenças apontadas entre os valores originados em suas contas bancárias e aqueles lançados em sua escrituração contábil, conta bancos, anocalendário 2002. Registrese que as divergências foram apuradas, em que pese ter a autoridade fiscal realizado a devida conciliação bancária entre todas as contas, ter considerado somente os valores a título de lançamentos nos extratos bancários acima de 1.000,00 reais, assim como ter desconsiderado os lançamentos atinentes a cheques devolvidos, redução de saldo devedor, empréstimos bancários e outros que não guardavam nenhuma conexão com a hipótese indiciária de receitas auferidas no período sob análise 16) Embora regularmente intimada a comprovar a origem dos recursos acima, ou a esclarecer o motivo das divergências apuradas, a fiscalizada, adotando a conduta omissiva, quedouse inerte a apontar a origem de tais recursos ou até mesmo trazer ao procedimento informações precisas que levassem a concluir que não se tratavam de receitas auferidas na sua atividade empresária. 17) A responsabilidade tributária solidária de Atílio Gusson restou comprovada, conforme os elementos de prova especificados no termo de sujeição passiva solidária. Ele foi intimado e prestou esclarecimentos, onde notouse que referente ao cargo desempenhado, havia contradições nas informações prestadas por ele e pelo sócio Luiz Menegon, no tocante à gerência ocupada, se comercial ou financeira. Embora superficialmente não apresentem muitas diferenças, estas áreas se ocupam de funções diversas. Enquanto o gerente comercial cuida da administração das vendas, identificação e prospecção de novos negócios, da análise e interpretação dos resultados da unidade, bem como das movimentações de mercado; o gerente financeiro tem como responsabilidade precípua administrar a captação de recursos financeiros, conforme a necessidade da empresa, assim como prover o planejamento, controle e avaliação financeiros da empresa. aduz ainda que Atílio Gusson mantinha profundo conhecimento das atividades operacionais, administrativas, contábeis e financeiras da empresa. Informou ainda que, juntamente com o sócio Luiz Menegon, possuía poderes para assinar cheques na empresa. Analisouse a avaliação patrimonial com base nas informações do sistema informatizado da RFB, e verificouse que já em 2003, começou a apresentar movimentação financeira relevante, principalmente se comparada aos valores declarados como rendimentos auferidos em decorrência do trabalho assalariado na empresa Frigoxin Comercial (movimentação financeira em torno de dez vezes maior que os rendimentos declarados). Já Luiz Menegon apresentava movimentação financeira mais modesta, se comparada a de Atílio Gusson. No que tange à variação patrimonial, destacase que Atílio, muito embora não tenha declarado, realizou gastos com construção/incorporação de um imóvel na ordem de R$ 920.970,00, em 01/04/2004.(v. documentos denominados "Dossiê Integrado" dos contribuintes e que foram juntados aos autos). Fl. 1193DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.194 7 18) Analisouse as diversas procurações que foram lavradas para o Sr. Atílio Gusson, e notouse que apesar dele ser Gerente Comercial ou Financeiro, os poderes a ele conferidos suplantam as atribuições, podendo comparálo a sócio da sociedade empresária, com participação direta na atividade empresarial, haja vista manter poderes quase ilimitados. 19) Ressaltese, ainda, que após o início da ação fiscal, em 16/11/2006, período que coincide também como o fim da exploração industrial, portanto, período em que não mais havia o abate de bovinos, por parte da empresa Frigoxin, foi lavrada escritura pública de revogação dos mandatos acima citados. Tal fato só corrobora o entendimento de que, enquanto se manteve a atividade produtiva do abate de bovinos e comercialização dos produtos derivados, Atílio Gusson exercia efetivamente e de forma direta o poder decisório de gestão e administração na empresa Frigoxin Comercial, furtandose a aparecer com responsável direto, sob o esquálido manto da interposição fraudulenta de outras pessoas no quadro societário, com notória infração a lei, segundo dispõe o art. 135 do CTN. 20) Aplicouse a multa qualificada do art. 44, V, §2º da Lei 9.430/96. Da impugnação Em 08/01/2008, inconformado com o lançamento tributário, o contribuinte apresentou impugnação (fls. 605624), alegando em suma: DA SUPOSTA INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA DOS SÓCIOS E DA ALTERAÇÃO DO DOMICÍLIO FISCAL DA IMPUGNANTE a) Não há nos autos nenhum elemento que descaracterize a condição de sócio de Luís Menegon, sendo certo que sempre exerceu referida função, representando a empresa nas diversas situações. b) As alegações — de que o Sr. Atílio Gusson exerceria atividade executiva de relevante importância e ter atribuições que suplantariam as funções do cargo de gerente financeiro — não merecem prosperar, uma vez que os poderes a ele conferidos são normais de um gerente financeiro, tais como monitoramento contábil e financeiro, tesouraria, fechamentos contábeis, balanços, lucros e perdas, aumento da eficiência da organização, gerenciamento de fluxo de caixa, contas a pagar e a receber, processos administrativos, controle de custos de produção com vendas, controle de aplicações financeiras, etc. c) Além disso, não existe nenhum impedimento legal para que o gerente financeiro na qualidade de mandatário da empresa possa atuar como seu representante e desempenhar as funções ali atribuídas que, digase de passagem, em nada extrapolam suas atribuições no cargo ocupado. d) Ademais, vale mencionar que o Sr. Atílio foi admitido como gerente financeiro da impugnante em setembro de 2002 e percebia o salário mensal inicial de R$2.500,00 tendo atingido o montante de R$8.900,00 após quatro anos de trabalho. Em 1° de novembro de 2007, o Sr. Atílio foi demitido. e) No que diz respeito à desconsideração do domicílio fiscal do impugnante na cidade do Rio de janeiro, e na consideração da unidade industrial na cidade de Xinguara como matriz, também não merecem prosperar os argumentos fazendários, pois o artigo 127 do CTN só poderia ser invocado pelos agentes fiscais na hipótese de nãoeleição de domicílio fiscal por parte do contribuinte. f) Ao contrário do que argüiu o agente fiscal, na matriz do Rio de Janeiro funcionava um escritório administrativo e a contabilidade da empresa, sendo que não teve maiores Fl. 1194DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.195 8 atividades devido à imposição da barreira sanitária, que proibia a venda de carne sem osso do sul do Pará. g) Tanto isso é verdade que numa das respostas às intimações fiscais, o impugnante explicitou que precisaria de prazo para realizar a entrega de documentos, pois necessitaria organizar a ida da contadora para Xinguara. Somente com a descaracterização do domicílio fiscal no Rio de Janeiro foi que a empresa determinou a ida de sua contadora a Xinguara para poder atender as exigências fiscais. Portanto, ao contrário do que alegam as arrecadadora da administração tributária federal. DA DECADÊNCIA h) Conforme artigo 150, § 4º, do CTN a decadência ocorre em cinco anos a partir do fato gerador. i) Aduziu decisões administrativas e judiciais. j) Assim, decaíram os fatos jurídicos ocorridos entre 08/2002 a 11/2002. DA IMPROCEDÊNCIA DAS INFRAÇÕES APURADAS k) Como é possível verificar no termo de verificação fiscal, as autoridades fiscais tãosomente se limitaram a mencionar a suposta falta de recolhimento dos valores devidos a título de Cofins, sem apresentar nenhuma planilha explicativa dos valores supostamente devidos. 1) Em verdade, no auto de infração constam valores fechados de supostas infrações, apurados mês a mês, sem a menção detalhada da forma de apuração da provável infração, além de inexistirem planilhas que demonstrem a ocorrência de tal fato. Ora, tal omissão dificulta sobremaneira o direito de ampla defesa e exercício do contraditório por parte do impugnante, configurando no caso em tela um notório cerceamento de seu direito de defesa, pelo que deve ser declarada a nulidade da autuação. m) Aduziu o artigo 5°, inciso LV, da Constituição Federal. DO DESCABIMENTO DA MULTA QUALIFICADA n) Não pode prosperar a multa de 150%, pois não há falar em simulação, tampouco em objetivo de fugir à tributação. o) Por mais abrangente que seja a descrição da hipótese de incidência da fraude (artigo 72 da Lei n° 4.502/1964), o elemento dolo que lhe é atinente desautoriza a consideração automática do intuito de fraudar. p) Tanto é verdade que é possível verificar no termo de verificação fiscal que o impugnante não criou quaisquer embaraços ao trabalho fiscal e, ademais, forneceu os documentos solicitados, segundo se depreende da seguinte passagem: "Registrese que, em razão de os referidos documentos, em momento anterior, já terem sido apresentados voluntariamente pela fiscalizada, tal requisição não teve o caráter de quebra de sigilo bancário administrativa ..." (fl. 15). q) Além de ter apresentado os documentos solicitados ao longo do trabalho fiscal, houve in casu um mero erro de escrituração contábil da empresa, que, caso tivesse o alegado intuito de burlar o fisco jamais teria feito a escrituração correta no livro de registro de saídas e também não teria efetuado declaração junto à Fazenda estadual. Fl. 1195DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.196 9 r) Além disso, o efetivo intuito de fraude, para que seja aceito, há que ficar estreme de dúvida, indagação e/ou divergência. s) Na realidade, o pressuposto de que todas as operações teriam sido feitas tão somente para lesar a Fazenda Nacional, além de não se mostrar razoável e proporcional, não se sustenta diante dos fatos, principalmente em face do comportamento regular da empresa nas suas operações. t) Ademais, não há, no caso vertente, elemento contundente, convincente e/ou excludente de outra circunstância, igualmente plausível, de que houve tãosomente interesse de lesar o fisco. Não há prova alguma. Há em verdade, Construções imaginárias, frutos de incrível poder criativo, mas provas, fatos e documentos de que as operações tenham efetivamente o intuito de burlar a Fazenda Pública, onde efetivamente não há. Da decisão da DRJ Em julgamento realizado em 20 de maio de 2008, a 3ª Turma da DRJ/BEL, considerou improcedente a impugnação da contribuinte e prolatou o acórdão 0110.993, (fls. 692/702), assim ementado: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2002, 2003 PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO, REPRESENTAÇÃO FISCAL PARA FINS PENAIS. O processo administrativo tributário tem como escopo decidir, na órbita administrativa, se houve ou não a ocorrência de fato gerador do imposto e, caso este tenha ocorrido, verificar se o lançamento esteve de acordo com a legislação aplicável. Logo, o julgador administrativo não deve se manifestar quanto ao processo de representação fiscal para fins penais, já que nele não há interesse tributário envolvido. ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Anocalendário: 2002, 2003 MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. ELEIÇÃO DO DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO. ARTIFICIALIDADE. SONEGAÇÃO. A conduta do contribuinte em escolher domicílio fiscal longínquo e artificial para burlar o fisco, com vistas a retardar total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais, justifica a qualificação da multa devido à hipótese descrita no artigo 71, inciso I, da Lei n° 4.502/1964, como espécie de sonegação. ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL — COFINS Anocalendário: 2002, 2003 DECADÊNCIA. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL. DEZ ANOS. Fl. 1196DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.197 10 O direito de o Fisco apurar e constituir suas contribuições sociais extingue se após dez anos contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o crédito poderia ter sido constituído. FATOS JURÍDICOS TRIBUTÁRIOS. DESCRIÇÃO. ELEMENTOS. A descrição da materialidade do fato, do quantum debeatur (base de cálculo e alíquota) e do período a que se refere, inclusive com planilhas demonstrativas, engloba os elementos obrigatórios do auto de infração e refuta a existência de cerceamento do direito de defesa. Lançamento Procedente em Parte Do Recurso Voluntário A ora recorrente, devidamente cientificada do acórdão recorrido, apresentou recurso voluntário (fls. 709/727), onde sustenta os argumentos apresentados em sede de manifestação de inconformidade, principalmente nos seguintes pontos: (a) da decadência quanto aos períodos de agosto a novembro de 2002, em razão da ocorrência de 5 anos após os fatos geradores, já que a ciência do lançamento ocorreu em 07 de dezembro de 2007, nos termos do art. 150, §4º do CTN; (b) da alteração do domicílio fiscal da recorrente e redução da multa qualificada para 75%; (c) da improcedência das infrações apuradas, em razão da não apresentação de nenhuma planilha por parte da fiscalização, caracterização cerceamento de defesa; e (d) do descabimento da multa qualificada; Do Acórdão de Recurso Voluntário O processo chegou ao CARF e em 11/11/2014, pelo teor do Acórdão nº 3202001.377 (fls. 730 a 735), no qual a turma unanimemente não conhece do recurso por ser de competência da Primeira Seção de Julgamento do CARF, nos termos do art. 2º, IV, do Anexo II, do RICARF, em virtude de tratar de procedimento conexo, decorrente ou reflexo de procedimento de exigência de IRPJ, nos seguintes termos: Compulsando os autos verifico no Termo de Verificação Fiscal que foram apuradas as seguintes infrações: a) Receitas não contabilizadas: Após confrontação entre os livros registro de saídas que retratam as informações contidas nas declarações de informações econômicofiscais (DIEF) entregues a SEFA/PA e os livros contábeis Diário e Razão, verificouse a suposta omissão de lançamentos de notas fiscais de saída na contabilidade da empresa; b) Omissão de receitas — depósitos bancários de origem não comprovada: após confrontação entre os valores constantes nos lançamentos contábeis das contas Bancos e aqueles constantes nos extratos bancários da fiscalizada, referentes aos recursos depositados em contas Fl. 1197DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.198 11 correntes e de aplicação financeira, constatouse supostas divergências que foram consideradas presunção legal de omissão de receitas; c) Insuficiência de recolhimento e declaração — PIS e COFINS: Não escrituração e não recolhimento dos valores devidos a título de PIS e COFINS nos períodos de agosto de 2002 a dezembro de 2003; e d) Aplicação de multa qualificada de 150% (cento è cinqüenta por cento) sob alegação de evidente intuito de fraudar o Fisco. Foram lavrados autos de infração exigindo a cobrança de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS em razão da omissão de receitas e receitas não contabilizadas apontadas pela fiscalização. Em 16/02/2017, recebi os presentes autos, por sorteio. É o relatório. Fl. 1198DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.199 12 Voto Conselheira Amélia Wakako Morishita Yamamoto, Relatora Da Competência da 1a Seção de Julgamento do CARF A recorrente foi autuada em razão de infração de COFINS, por conta de receitas não contabilizadas, omissão de receitas, ocasionando a insuficiência de recolhimento de COFINS, referente aos meses de agosto de 2002 a dezembro de 2003. E de acordo com o último Acórdão de Recurso Voluntário, de fls. 730/735, por decisão unânime da Turma no sentido de se declinar a competência para esta Seção, em razão de procedimento conexo, decorrente ou reflexo de procedimento de exigência de IRPJ. Certo é que estamos na vigência do Regimento Interno, alterado pela Portaria MF nº 152/2016, e em que pese o auto de infração tratarse de crédito tributário de COFINS, nos termos do seu art. 2º, IV, do Anexo II, à Primeira Seção de Julgamento cabe processar e julgar recursos de ofício e voluntário de decisão de primeira instância que versem sobre aplicação da legislação relativa a: IV CSLL, IRRF, Contribuição para o PIS/Pasep ou Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB), quando reflexos do IRPJ, formalizados com base nos mesmos elementos de prova; (Redação dada pela Portaria MF nº 152, de 2016) Nos termos do voto condutor do acórdão nº 3202001.377, bem como de partes do Termo de Verificação Fiscal, analiso que a exigência da COFINS está lastreada em fatos cuja apuração serviu para a prática de infração à legislação do IRPJ. a) Receitas não contabilizadas: Após confrontação entre os livros registro de saídas que retratam as informações contidas nas declarações de informações econômicofiscais (DIEF) entregues a SEFA/PA e os livros contábeis Diário e Razão, verificouse a suposta omissão de lançamentos de notas fiscais de saída na contabilidade da empresa; b) Omissão de receitas — depósitos bancários de origem não comprovada: após confrontação entre os valores constantes nos lançamentos contábeis das contas Bancos e aqueles constantes nos extratos bancários da fiscalizada, referentes aos recursos depositados em contas correntes e de aplicação financeira, constatouse supostas divergências que foram consideradas presunção legal de omissão de receitas; c) Insuficiência de recolhimento e declaração — PIS e COFINS: Não escrituração e não recolhimento dos valores devidos a título de PIS e COFINS nos períodos de agosto de 2002 a dezembro de 2003; e d) Aplicação de multa qualificada de 150% (cento è cinqüenta por cento) sob alegação de evidente intuito de fraudar o Fisco. Fl. 1199DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.200 13 Foram lavrados autos de infração exigindo a cobrança de IRPJ, CSLL, PIS e COFINS em razão da omissão de receitas e receitas não contabilizadas apontadas pela fiscalização. Quanto ao processo nº 10218.001271/200775, relativo às exigências de IRPJ e CSLL, por unanimidade de votos, o Colegiado não conheceu do recurso por intempestivo e negou provimento ao recurso de ofício. O acórdão de nº 1302000.243, de 08/04/2010, recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002, 2003 OMISSÃO DE RECEITAS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. REQUISITOS. REGULAR INTIMAÇÃO. Nos termos do art. 42 da Lei n° 9.430/96, para a caracterização da omissão de receitas por depósitos bancários, mister a ocorrência de três condições: e existência do crédito na conta bancária; a regular intimação a comprovar a origem dos créditos; e a conseqüente falta de comprovação da origem do crédito. É nulo o lançamento efetuado sem a regular intimação do Assunto. PAF. Recurso Intempestivo. Não se conhece do recurso quando o mesmo é intempestivo. Dessa forma, mantida a decisão da DRJ no que se refere à omissão de receita, caracterizada pela falta/insuficiência de contabilização das receitas escrituradas no Livro Registro de Saídas, com reflexo no IRPJ, CSLL, PIS e COFINS. Mantida também, apesar do recurso de ofício, a decisão da DRJ de se anular o lançamento relacionado à omissão de receitas por depósitos bancários de origem não comprovada. Atualmente, de acordo com informação extraída do sítio do CARF na internet, o referido processo se encontra em arquivo, como "encerrado", sem recursos pendentes. Fixada a competência desta Primeira Seção de Julgamento, passo à análise dos requisitos de admissibilidade. RECURSO VOLUNTÁRIO 1) Da admissibilidade A contribuinte foi cientificada do teor do acórdão da DRJ/BEL e intimada ao recolhimento dos débitos de COFINS em 05/06/2008 (fl. 707), e apresentou em 07/07/2008, recurso voluntário, juntados às fls. 709/727, tempestivamente, portanto dele conheço. No que tange à representação da recorrente, consoante despacho do AFRF da SARAC Seção de Arrecadação e Cobrança, à fl. 729, indica que a procuração acostada aos autos que outorga poderes para a signatária da petição apresenta um vício de titularidade, pois o processo diz respeito ao CNPJ da matriz, enquanto que a procuração foi outorgada pela filial. Intimada a sanear o vício, a recorrente quedouse inerte. Fl. 1200DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.201 14 Da análise da procuração à fl. 685, verificase que o outorgante é o sócio administrador da empresa, (fl. 674), que possui amplos poderes para representar a pessoa jurídica. Dessa forma, o fato de constar o CNPJ e o endereço da filial, entendo não ser um vício para que deixemos de conhecer do recurso. Ainda que a recorrente não tenha apresentado outra procuração, e até mesmo como veremos no mérito, a filial da empresa foi considerada como domicílio fiscal, já que o endereço da matriz foi desconsiderado. 2) Do Mérito 2.1) Da desconsideração do domicílio do contribuinte A recorrente, conforme seu objeto social, é empresa que possui como atividade econômica a comercialização de carne bovina e demais produtos e subprodutos nos mercados interno e externos, bem como demais resíduos de valores econômicos, podendo ainda proceder o abate de bovinos, a frigorificação e a industrialização explorando estas atividades em unidades próprias e/ou de terceiros exercendo todas as atividades inerentes à consecução desse objeto, a prestação de serviços para terceiros, bem assim a intermediação com compra, venda e revenda em geral de negócios do ramo de carne bovina e seus derivados, podendo participar do capital de outras empresas, inclusive como acionista ou cotista. Cabe salientar que todo o procedimento fiscal teve seu início na Delegacia de Fiscalização no Rio de Janeiro, com ciência, por parte da fiscalizada, porém, tramitava também na Delegacia da Receita Federal em Marabá, procedimento de diligência fiscal para verificar a existência de fato da então "matriz" da fiscalizada, localizada no Município do Rio de Janeiro. Após uma série de diligências, realizadas com o intuito de se verificar tal existência de fato da matriz, uma vez que a unidade da fiscalizada, localizada em Xangara (PA), embora considerada filial, realizava toda a industrialização, a comercialização dos produtos, bem como era onde se localizavam todo o controle administrativo, financeiro, jurídico, e ainda contando com cerca de 200 (duzentos) funcionários; verificouse que a unidade carioca se resumia a uma pequena sala, de 21 metros quadrados, com apenas um empregado. Cumpre ressaltar que a fiscalização afirma que é prática comum naquela localidade que a matriz de empresas esteja sediada em locais como Rio de Janeiro e São Paulo, já que assim teria uma probabilidade menor de sofrer ação fiscal ou até mesmo ter um acompanhamento diferenciado por parte das autoridades fiscais, do que se estivesse com asua matriz localizada no município de Xinguara. Assim, procedeuse na desconsideração do domicílio fiscal do Rio de Janeiro, conforme termo de encerramento de diligência, às fls. 290/295, passando, então a considerar como matriz a unidade industrial da cidade de Xinguara, no Pará. Alega a Recorrente, que o art. 127, do CTN apenas pode ser invocado na hipótese de não ter havido eleição de domicílio fiscal por parte do contribuinte, e afirma que na matriz localizada no Rio de Janeiro funcionava um escritório administrativo e a contabilidade da empresa, sendo que não obteve maiores atividades devido à imposição da barreira sanitária, que proibia a venda de carne sem osso do Sul do Pará. E dessa forma, não há que se aplicar o art. 127, §2º do CTN, nem lhe ser aplicada a multa qualificada. Vejamos o que diz o art. 127 do CTN: Fl. 1201DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.202 15 "Art. 127. Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de domicilio tributário, na forma da legislação aplicável, considerase como tal: I quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou desconhecida, o centro habitual de sua atividade; II quanto às pessoas jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada estabelecimento; III quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de suas repartições no território da entidade tributante. § 1° Quando não couber a aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos deste artigo, considerarseá como domicílio tributário do contribuinte ou responsável o lugar da situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação. § 2° A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo, aplicandose então a regra do parágrafo anterior." Da mesma forma o art. 212, I, b e §2º e §3º do CTN. Por compreender de mesmo modo, acompanho os argumentos do acórdão da DRJ, que segue assim redigido: 32. De acordo com o § 2° supra, a autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito pelo contribuinte. Para tanto, basta que sua opção impossibilite ou dificulte a fiscalização do tributo, o que é o caso em comento. Devese aplicar então a regra do parágrafo § 1°, que fixa o novo domicílio como o lugar da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação. Nesse passo, nada mais legítima que a decisão fiscal de alteração do domicílio do Rio de Janeiro (RJ) para Xinguara (PA), consoante explicações detalhadas no Termo de Verificação Fiscal (fls. 563566) 33. O contribuinte afirmou que na matriz do Rio de Janeiro funcionava um escritório administrativo e a contabilidade da empresa, mas não provou. Contraditoriamente argumentou que precisaria de prazo para realizar a entrega de documentos, pois a contadora iria para Xinguara. Ora se a escolha mais racional de domicílio fiscal do contribuinte era o Rio de Janeiro, ele não teria razão para pedir prazo à fiscalização, nem de que a contadora se deslocasse para Xinguara a fim de coletar documentos, pois eles deveriam estar no domicílio fiscal do contribuinte (que na época era o Rio de Janeiro). 34. Outrossim, no que tange à afirmação do contribuinte de que teria sediado a pessoa jurídica para fugir à barreira sanitária imposta ao Estado do Pará, que proibia a venda de determinado Fl. 1202DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.203 16 tipo de carne para o centro/sul do país, mesmo que o sujeito passivo realmente tenha cometido tal ato ilícito, em sede de impugnação tributária, essa alegação não pode ser conhecida, pois, assim o fazendo, o impugnante seria beneficiado por sua própria torpeza ("nemo auditur propriam turpitudinem allegans"), o que é vedado em Direito. 35. Por fim, destaquese que a finalidade de posicionar seu domicílio fiscal no Rio de Janeiro, consoante já salientado pelo agente fiscal, é o de estar localizado em cidademetrópole, na qual sua movimentação de recursos financeiros possa passar despercebida diante da quantidade de contribuintes a serem fiscalizados. 36. Logo, como o contribuinte escolheu inicialmente seu domicílio fiscal (Rio de Janeiro), com vistas a retardar total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais, concluise que a alteração de domicílio fiscal para Xinguara (PA) não merece reparos. 2.2) Das infrações apuradas Nos termos do TVF e do Auto de Infração, verificamos que o lançamento da COFINS decorreu de dois pontos: a) Receitas não contabilizadas — verificouse a omissão de lançamentos de notas fiscais de saída nos Livros Diário e Razão após cotejo levado a efeito entre o livro registro de saídas que retrata as informações contidas nas declarações de informações econômicofiscais (DIEF) entregues a SEFA/PA e aqueles livros contábeis (Diário e Razão). b) Omissão de receitas — depósitos bancários de origem não comprovada — Após confrontação entre os valores constantes nos lançamentos contábeis das contas Bancos e aqueles constantes nos extratos bancários da fiscalizada, referentes aos recursos depositados em contascorrentes e de aplicação' financeira, constatouse supostas divergências que foram consideradas presunção legal de omissão de receitas. Alega a Recorrente que, no termo de verificação fiscal, as autoridades fiscais tãosomente se limitaram a mencionar a suposta falta de recolhimento de Cofins, sem apresentar nenhuma planilha explicativa dos valores supostamente devidos. Também afirmou que no auto de infração constam valores fechados de supostas infrações, apurados mês a mês, sem a menção detalhada da forma de apuração da provável infração, além de inexistirem planilhas que demonstrem a ocorrência de tal fato. Em conseqüência, o contribuinte argüiu cerceamento ao seu direito de ampla defesa e exercício do contraditório por parte do impugnante. Tal alegação não tem respaldo, conforme se verifica dos cálculos acostados junto ao Termo de Verificação Fiscal. No que se refere ao item a) verificamos que em razão das divergências na escrituração da Recorrente e aqueles informados nos seus livros fiscais (livro de registro de saídas e DIEF fornecida pela SEFA/PA) foi ela intimada a esclarecer tais diferenças: Fl. 1203DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.204 17 Decorrendo, assim, apuração de novas bases de cálculo de COFINS: Fl. 1204DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.205 18 Em resposta à intimação, a contribuinte num primeiro momento alegou que em razão dos livros contábeis se encontrarem com a fiscalização não poderia detectar a diferença, depois informou que a receita bruta de vendas apurada é maior que a aferida pela fiscalização conforme quadro abaixo: Porém nada justifica! Fl. 1205DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.206 19 Nesse sentido, entendo que as divergências entre os valores declarados aos fiscos federal e estadual constituem prova direta de omissão de receitas. Desta feita, seguem abaixo os seguintes julgados proferidos pelo então Conselho de Contribuintes do Ministério da Fazenda, atual Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF): "IRPJ OMISSÃO DE RECEITAS. DIVERGÊNCIA ENTRE OS VALORES DECLARADOS À RECEITA FEDERAL E AQUELES ESCRITURADOS NO LIVRO REGISTRO DE APURAÇÃO DE ICMS A divergência entre os valores das receitas escrituradas no Livro Registro de Apuração de ICMS e aqueles declarados ao Fisco Federal caracteriza omissão de receitas quando não infirmada pelo sujeito passivo. (Acordão 10196607, 1º CC, 1ª Câmara, Relator Alexandre Andrade Lima da Fonte Filho, Sessão 06/03/2008) IRPJ OMISSÃO DE RECEITAS. DIVERGÊNCIA ENTRE OS VALORES ESCRITURADOS NO LIVRO RAZÃO E NO LIVRO REGISTRO DE APURAÇÃO DE ICMS A divergência entre os valores das receitas escrituradas no Livro Registro de Apuração de ICMS e no Livro Razão, expurgadas as mercadorias devolvidas, caracteriza omissão de receitas quando não infirmada pelo sujeito passivo. Apresentou, às fls. 467 e ss, o seu cálculo de PIS e de COFINS de 2002 e 2003: Fl. 1206DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.207 20 Conforme se verifica dos cálculos, a Recorrente não aplicou o disposto no art. 2º e 3º da Lei 9.718/98, norma aplicável à época dos fatos: Art. 2º As contribuições para o PIS/PASEP e a COFINS, devidas pelas pessoas jurídicas de direito privado, serão calculadas com base no seu faturamento, observadas a legislação vigente e as alterações introduzidas por esta Lei. Art.3º O faturamento a que se refere o artigo anterior corresponde à receita bruta da pessoa jurídica. Ao que parece, a Recorrente aplicou o regime nãocumulativo, porém, no que tange à COFINS, a Lei 10.833/2003, que introduziu este novo regime, e especificamente em seu o inc. I do art. 93, que determinou a produção de efeitos, ela só passou a vigorar a partir de Fevereiro de 2004. Ora no caso em tela, falamos de fatos geradores relativos a agosto de 2002 a dezembro de 2003, período em que a Lei 9.718/98 vigorava para fins de cálculo da COFINS. Assim, não há motivos suficientes para que haja a exoneração do credito tributário, uma vez que resta nítida a omissão de receita no presente caso, e consequentemente a aplicação da COFINS. No que se refere ao segundo item, b) omissão de receitas em razão de depósitos bancários de origem não comprovada no ano de 2002, constatouse supostas divergências que foram consideradas presunção de legal de omissão de receitas, valhome do acórdão do processo administrativo que tratou do IRPJ e da CSLL decorrentes dos mesmos fatos, que manteve a exoneração quanto a este item julgada pela DRJ, bem como, negado provimento àquele Recurso de Ofício, pelas razões a seguir expostas: Sobre o assunto, tenho que à recorrente foi atribuída a infração de "Omissão de Receita Operacional caracterizada pela falta de contabilização de depósitos bancários, ...", fundamentada no art. 42 da Lei n° 9.460/96. Pareceme que a denominação da infração dada pelo Auditor Fiscal não goza de um certo rigor técnico. Isto porque, o que caracteriza a infração delineada no art 42 da Lei n° 9.430/96 é a falta de comprovação da origem dos depósitos bancários e não a falta de contabilização Fl. 1207DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.208 21 destes. Muito embora a escrituração contábil dos créditos bancários sirva de justificativa para estes, ela não é a única maneira de comprovar a origem dos créditos bancários. A falta de rigor na denominação da infração foi sanada pela descrição dos fatos do Termo de Verificação Fiscal que permitem concluir que o caso trata da omissão de receitas caracterizada por depósitos de origem não comprovada e pela fundamentação legal da infração, qual seja, o art 42 da Lei n° 9.430/96, de onde destaco o caput do artigo: Art.42.Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Pela leitura do dispositivo, para que se cristalize a infração basta que o contribuinte, regularmente intimado, deixe de comprovar a origem dos depósitos bancários. Hipótese em que todos os créditos não comprovados ficam suscetíveis ao lançamento ante a presunção legal de omissão de receitas. No caso concreto, o lançamento de omissão de receitas por depósitos não comprovados se limitou ao anocalendário 2002 (fl. 599). Sobre este período, o contribuinte foi intimado a esclarecer "as divergências apuradas entre os valores originados em suas contas bancárias e aqueles lançados em sua escrituração contábil, conta bancos" (fls. 533534). A divergência destacada pela fiscalização teve como base a diferença entre soma mensal dos créditos à conta banco e a soma mensal dos depósitos registrados nos extratos bancários (excluídos os créditos de transferências, estornos, empréstimos bancários, etc.). A fiscalização ainda anexou ao Termo de Intimação a listagem dos depósitos bancários (fls. 535554). O contribuinte não apresentou resposta à intimação e foi autuado com base nos exatos valores das divergências mensais levantadas no Termo de Intimação. Com base nestes fatos, o lançamento não merece prosperar. Explico. A infração de omissão de receitas caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada possui como condições sine qua non; a comprovação individualizada da existência dos depósitos bancários; a regular intimação para que o contribuinte comprove a origem dos depósitos bancários; e a falta de comprovação da origem desses depósitos bancários. No caso, vejo que o contribuinte não foi regularmente intimado a comprovar a origem dos depósitos bancários, e sim a esclarecer a divergência encontrada entre as totalizações mensais dos créditos à conta banco e a correspondente soma dos depósitos registrados nos extratos bancários. É bem verdade que os créditos à conta banco em tese justificam os depósitos bancários correspondentes. Porém, a rigor, se a fiscalização desejasse ter a iniciativa de excluir do rol de depósitos bancários os valores registrados na contabilidade, deveria têlo feito individualmente, depósito a depósito, para no final ter uma relação de depósitos bancários não identificados na conta banco. Relação de depósitos bancários esta que deveria ter sido levado ao conhecimento do contribuinte para comprovação da origem. Fl. 1208DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.209 22 Melhor seria se a fiscalização intimasse o contribuinte a comprovar a origem de todos os créditos bancários (excluídos as transferências, estornos, empréstimos bancários, etc), deixando a cargo deste identificar quais valores já estariam escriturados na contabilidade. Dessa feita, para que pudesse levar a cabo o lançamento dos depósitos bancários, a fiscalização deveria ter adotado um dos dois procedimentos abaixo: Intimar o contribuinte a comprovar a origem de todos os depósitos bancários seja pela identificação dos valores já escriturados na contabilidade, seja por qualquer outro meio, deixando, assim, ao contribuinte a tarefa da comprovação. Situação em que todos os depósitos não comprovados estariam suscetíveis ao lançamento; Excluir, por iniciativa própria, da relação dos depósitos bancários, os créditos que já haviam sido escriturados na contabilidade. Em seguida, mediante intimação, levar ao conhecido do contribuinte os depósitos bancários não identificados na contabilidade, para que este fizesse a comprovação da origem. Situação em que apenas os depósitos bancários não identificados na contabilidade, e não comprovados pelo contribuinte, estariam sujeitos ao lançamento. De todo o jeito, o contribuinte deveria ter sido expressamente intimado a comprovar a origem dos depósitos bancários passiveis de lançamento para que pudesse exercer com plenitude o contraditório e a ampla defesa. Bem como, deveria ter tido ciência de quais depósitos ensejaram o lançamento. Ocorre que a fiscalização não intimou o contribuinte a comprovar a totalidade dos depósitos creditados na conta bancária, e nem levou ao conhecimento deste quais seriam os depósitos bancários não identificados na contabilidade para a devida comprovação da origem. Apenas se limitou a pedir esclarecimento sobre as divergências identificadas nos totais mensais. E mais, tampouco identificou ao contribuinte quais depósitos foram efetivamente suscetíveis ao lançamento por falta de comprovação da origem. Com efeito, é de se reconhecer que, in casu, houve cerceamento de defesa do contribuinte, eis que este não foi regular e expressamente intimado a comprovar a origem dos depósitos bancários que ensejaram a exação fiscal, devendose, portanto, anular a parte do lançamento que tenha origem nos depósitos bancários. Afirma a fiscalização sobre a matéria: Com objetivo proporcionarlhe a produção de prova em contrário, a fiscalizada foi cientificada do termo de intimação fiscal lavrado em 26/09/2007, sendo intimada a comprovar com documentação hábil e idônea a origem dos recursos depositados em todas as suas _contascorrentes, conforme lançamentos constantes no anexo ao citado termo, os quais foram extraídos dos extratos bancários fornecidos pelas instituições financeiras. Da análise levada a efeito, apôs expurgarmos os valores referentes a eventuais resgates de aplicações financeiras, estornos, cheques devolvidos e empréstimos bancários, apuramos omissão de receitas nos períodos e totais, caracterizados pelos depósitos em conta não comprovados a sua origem pela fiscalizada, posto que, embora regularmente intimada afazêlo, conforme já dito, quedouse inerte. A intimação acima citada foi feita a fls. 533, onde consta: Esclarecer as divergências apuradas entre os valores originados em suas contas bancárias e aqueles lançados em sua escrituração contábil, conta bancos, anocalendário 2002. Registrese que as divergências foram apuradas, em que pese ter esta autoridade fiscal realizado a devida conciliação bancária entre todas as contas, ter considerado somente os valores a título de Fl. 1209DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.210 23 lançamentos nos extratos bancários acima de 1.000,00 reais, assim como ter desconsiderado os lançamentos atinentes a cheques devolvidos, redução de saldo devedor, empréstimos bancários e outros que não guardavam nenhuma conexão com a hipótese indiciária de receitas auferidas no período sob análise. Relevante ressaltar ainda que não foram detectados na escrituração contábil lançamentos referentes à conta mantida junto ao BCN S/A. Segue anexo ao presente termo documento constando todos os lançamentos bancários considerados na análise acima epigrafada. Como se pode observar, a Autoridade Fiscal não cumpriu o disposto no art. 42 da Lei 9430/96: Art.42.Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em Conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. §1º O valor das receitas ou dos rendimentos omitido será considerado auferido ou recebido no mês do crédito efetuado pela instituição financeira. §2° Os valores cuja origem houver sido comprovada, que não houverem sido computados na base de cálculo dos impostos e contribuições a que estiverem sujeitos, submeterseão às normas de tributação especificas, previstas na legislação vigente à época em que auferidos ou recebidos. §3° Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: Embora a fiscalização tenha anexado a lista de depósitos, intimou a recorrente conforme repito abaixo: Fl. 1210DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.211 24 Esclarecer as divergências apuradas entre os valores originados em suas contas bancárias e aqueles lançados em sua escrituração contábil, conta bancos, anocalendário 2002. Ora, o texto legal permite a presunção desde que os depósitos sejam analisados individualizadamente, ou seja, a recorrente tem de ser intimada a demonstrar a origem de cada depósito (origem), pois caso não obtenha êxito na comprovação, presumese que os depósitos sejam referentes a receitas do contribuinte que não foram submetidas à tributação. Da forma corno agiu, a fiscalização tributou com base em indicio mas, corno não há previsão legal que eleve este indicio ao grau de presunção, tornase insubsistente o lançamento. Assim, não merece prosperar o lançamento baseado no presunção de omissão de receitas de depósitos bancários sem a comprovação de origem, quando a recorrente não tenha sido regularmente intimada a demonstrar a origem de cada depósito. 2.3) Da multa qualificada A multa qualificada foi aplicada em decorrência do que dispõe o artigo 44, inciso II, da Lei n° 9.430/1996, posteriormente alterado para o §1º do mesmo artigo (pela Lei nº11.488/2007): "Art. 44. Nos casos de lançamento de oficio, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei n°11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Redação dada pela Lei n°11.488, de 2007) §1º O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei n°11.488, de 2007)"(destaquei) Já os mencionados artigos 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/1964 trazem que: "Art . 71. Sonegação é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é tôda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do impôsto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Fl. 1211DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.212 25 Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72." Da análise das diversas condutas da Recorrente, verificamos que foram diversas aquelas em que claramente teve o objetivo de impedir ou retardar o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador. Desde o início, quando escolheu como matriz da empresa localidade distante cerca de 4000 quilômetros, deixando tãosomente uma sala pequena, com um funcionário apenas. Seja para burlar o fisco federal, seja também para burlar as autoridades sanitárias, quando justifica que seria para fazer frente à proibição de se enviar carnes com ossos para o Centro/Sul do país. Quando um dos sócios quando questionado como obteve os valores para aportar capital, justifica que tomou um empréstimo de um empregado da própria empresa, e este por sua vez nega quaisquer tipos de relacionamento a esse título. Prosseguindo, ainda, com ações que caracterizam o objetivo de se evitar o imposto, com a entrega de declarações com informações diferentes para o Fisco Federal e para o Fisco Estadual, isso ao longo de um ano e meio, demonstrando a conduta reiterada. Ora, por todos esses motivos, de se prevalecer a multa qualificada. 2.4) Da decadência Em decorrência da aplicação da multa qualificada e sua manutenção, não cabe o argumento do recorrente de decadência parcial de COFINS relativos às competências 08/2002 a 11/2002. Caso sejam constatados a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, o prazo decadencial deslocase para a regra determinada no art. 173, I do CTN. Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; Assim, também a Súmula CARF nº 72: Caracterizada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação, a contagem do prazo decadencial regese pelo art. 173, inciso I, do CTN. Dessa forma, diante da conduta dolosa da recorrente, aplicável o art. 173, I do CTN, e não o previsto no §4º do art. 150 do CTN, não havendo o que falar em decadência parcial daquelas competências. CONCLUSÃO Assim, em razão da própria conexão destes autos com o de IRPJ/CSLL, em que a decisão da DRJ tornouse definitiva, aqui também devem seguir as mesmas conclusões. Fl. 1212DF CARF MF Processo nº 10218.001273/200764 Acórdão n.º 1301002.264 S1C3T1 Fl. 1.213 26 Diante de todo o acima exposto, voto por CONHECER do Recurso Voluntário, e em relação ao mérito darlhe provimento parcial para cancelar o lançamento de COFINS decorrente da omissão de receitas em razão de depósitos bancários de origem não comprovada. assinado digitalmente Amélia Wakako Morishita Yamamoto Relatora Fl. 1213DF CARF MF
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Numero do processo: 15504.726481/2014-97
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jan 19 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Mar 28 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Ano-calendário:2012
MOLÉSTIA GRAVE. PROVENTOS DE APOSENTADORIA. ISENÇÃO.
São isentos do imposto de renda pessoa física os rendimentos provenientes de aposentadoria, reforma, reserva ou pensão, uma vez comprovado, por laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, que o interessado é portador de uma das moléstias apontadas na legislação de regência como aptas à concessão do benefício.
Recurso Voluntário Provido.
Numero da decisão: 2402-005.591
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e dar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Kleber Ferreira de Araújo - Presidente
(assinado digitalmente)
Bianca Felícia Rothschild - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Túlio Teotônio de Melo Pereira, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, João Victor Ribeiro Aldinucci e Bianca Felicia Rothschild.
Nome do relator: BIANCA FELICIA ROTHSCHILD
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e dar-lhe provimento. (assinado digitalmente) Kleber Ferreira de Araújo - Presidente (assinado digitalmente) Bianca Felícia Rothschild - Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Túlio Teotônio de Melo Pereira, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, João Victor Ribeiro Aldinucci e Bianca Felicia Rothschild.
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PROVENTOS DE APOSENTADORIA. ISENÇÃO. São isentos do imposto de renda pessoa física os rendimentos provenientes de aposentadoria, reforma, reserva ou pensão, uma vez comprovado, por laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, que o interessado é portador de uma das moléstias apontadas na legislação de regência como aptas à concessão do benefício. Recurso Voluntário Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 50 4. 72 64 81 /2 01 4- 97 Fl. 76DF CARF MF 2 Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e darlhe provimento. (assinado digitalmente) Kleber Ferreira de Araújo Presidente (assinado digitalmente) Bianca Felícia Rothschild Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Kleber Ferreira de Araújo, Ronnie Soares Anderson, Jamed Abdul Nasser Feitoza, Túlio Teotônio de Melo Pereira, Theodoro Vicente Agostinho, Mário Pereira de Pinho Filho, João Victor Ribeiro Aldinucci e Bianca Felicia Rothschild. Fl. 77DF CARF MF Processo nº 15504.726481/201497 Acórdão n.º 2402005.591 S2C4T2 Fl. 3 3 Relatório Conforme relatório da decisão recorrida, Tratase de notificação de lançamento relativa ao Imposto de Renda Pessoa Física – IRPF, correspondente ao ano calendário de 2012, consistente na glosa de R$ 15.253,52 de despesas médicas indevidamente deduzidas da base tributável, por falta de previsão legal para sua dedução, procedimento que implicou no ajuste do valor do IRPF a restituir de R$ 7.185,23 para R$ 2.990,51. O sujeito passivo foi cientificado, da Notificação de Lançamento (NL) em 24/07/2014 (fl.17) e apresentou impugnação em 13/08/2014 (fl.02), alegando, em síntese, que: Por meio do Processo nº 15504.726481/201497 protocolado em 12/06/2015 (fls. 42 a 56), o impugnante pede prioridade no pagamento da restituição com base no art. 69A da Lei nº 9.784/1994 e requer a isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física do ano calendário de 2012 juntando para tanto o Laudo Pericial nº 0.113.600/2014 emitido pelo Subsistema Integrado de Atenção a Saúde do Servidor – SIASS, da Universidade Federal de Minas Gerais, indicando o seguinte: Ante a consideração de que a impugnação em tela não se enquadraria nas hipóteses previstas pelo art. 6ºA da IN RFB nº 958, de 15 de julho de 2009, que estabelece os procedimentos para revisão das Declarações de Ajuste Anual do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (DIRPF) o processo foi encaminhado para julgamento pela DRJ. A decisão da autoridade de primeira instancia julgou a impugnação da Recorrente improcedente alegando que somente é autorizada a dedução de despesas médicas com tratamento do próprio contribuinte ou de seus dependentes, estando, pois, de acordo com a lei a glosa aqui efetuada, uma vez que a esposa do impugnante não foi relacionada como dependente na declaração objeto da autuação. Ressalta que não se pode atender o pleito para inclusão de dependente, pois a retificação da declaração somente é autorizada mediante a comprovação do erro através de documentação hábil e idônea, e antes de notificado o lançamento, nos termos do art. 147, § 1º, do CTN. Fl. 78DF CARF MF 4 Quanto à isenção concedida aos portadores de moléstia grave, depreendese da legislação tributaria que há dois requisitos cumulativos indispensáveis à concessão da isenção. Um reportase à natureza dos valores recebidos, que devem ser proventos de aposentadoria ou reforma e pensão, e o outro se relaciona com a existência da moléstia tipificada no texto legal, sendo a comprovação da doença grave feita obrigatoriamente através de laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, atestando e ocorrência exata e literal de uma das patologias relacionadas no citado dispositivo legal. Do exame do laudo pericial de fl. 48 emitido em 28/07/2014, observase que consta diagnóstico de doença “equivalente a paralisia irreversível e incapacitante” com CID 1O: I63.0, que se refere a “Infarto cerebral devido a trombose de artérias précerebrais”. Aduz que não cabe à autoridade administrativa estabelecer conclusões médicas quando os documentos apresentados não indicam concretamente a presença das moléstias relacionadas na norma de isenção. Primeiro por não disporem de competência para tal e segundo porque a literalidade imposta pelo CTN para a concessão da isenção determina que apenas a atestação médica em laudo oficial, com a denominação da doença tal como expressa no dispositivo legal é hábil à comprovação. Cientificado da decisão de primeira instancia em 12/02/2016, o contribuinte apresentou tempestivamente, fl. 68/73, em 11/03/2016, o recurso voluntário aduzindo, em síntese que o laudo pericial juntado aos autos foi expedido por uma Junta Oficial da União SIASS, declaração feita pelos médicos capacitados aos quais ao examinar o Recorrente estudaram detalhadamente a doença grave, atestando a ocorrenca exata e literal de uma das patologias relacionadas na legislação tributária, portanto, nao há como por em duvida o diagnostico de "equivalente a paralisia irreverssível e incapacitante", conclusão de doutores e não leigos. Junta, ainda, o Recorrente, Parecer da Junta sobre o laudo pericial originalmente apresentado e manual de perícia oficial do servidor público federal para sustentar seus argumentos. Sem contrarazões. É o relatório. Fl. 79DF CARF MF Processo nº 15504.726481/201497 Acórdão n.º 2402005.591 S2C4T2 Fl. 4 5 Voto Conselheira Bianca Felicia Rothschild Relatora O recurso é TEMPESTIVO, eis que intimado da decisão no dia 12/02/2016, interpôs recurso voluntário no dia 11/03/2016, atendendo também às demais condições de admissibilidade. Portanto, merece ser CONHECIDO. ISENÇÃO POR MOLÉSTIA GRAVE Temse em pauta recurso voluntário no qual o Recorrente pretende que seja reconhecido seu direito à isenção do imposto de renda pessoa física, alegando que é portador de doença grave. Para o gozo da isenção pleiteada, a Lei no 7.713/1988 estabelece os seguintes requisitos: Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendimentos percebidos por pessoas físicas: (...) XIV os proventos de aposentadoria ou reforma, desde que motivadas por acidente sem serviços, e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerosemúltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma; (Redação dada pela Lei nº 8.541, de 1992) (Vide Lei 9.250, de 1995) (...) XXI os valores recebidos a título de pensão quando o beneficiário desse rendimento for portador das doenças relacionadas no inciso XIV deste artigo, exceto as decorrentes de moléstia profissional, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após a concessão da pensão. (Incluído pela Lei nº 8.541, de 1992) (grifouse) Dos dispositivos transcritos, extraemse os dois requisitos para o exercício do direito à isenção pleiteada: a) que os rendimentos sejam oriundos de aposentadoria, reforma ou pensão; Fl. 80DF CARF MF 6 b) que o contribuinte seja portador de uma das doenças enumeradas no inciso XIV, do art. 6o, da Lei no 7.713/1988. Ademais, partir do anocalendário 1996, a Lei no 9.250/1995 qualificou a comprovação do segundo requisito nos seguintes termos: Art. 30 A partir de 1° de janeiro de 1996, para efeito do reconhecimento de novas isenções de que tratam os incisos XIV e XXI do art. 6° da Lei n° 7.713, de 22 de dezembro de 1988, com a redação dada pelo art. 47 da Lei n° 8.541, de 23 de dezembro de 1992, a moléstia deverá ser comprovada mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (grifouse) Em análise ao caso em tela, verificase que o Recorrente é contribuinte aposentado pelo Ministério da Fazenda (fl. 20) e como tal foi submetido a perícia oficial do Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor Público Federal SIASS para que pudesse atestar ser portador de moléstia grave para fins de isenção do imposto de renda sobre seus rendimentos de aposentadoria Perícia oficial: ação médica ou odontológica com o objetivo de avaliar o estado de saúde do servidor para o exercício de suas atividades laborais art3º, II, Lei 6.833/09. O laudo médico emitido pelo SIASS atesta que o Recorrente é portador de doença equivalente a paralisia irreversível e incapacitante, indicando para tal a CID 10: I63.0. Vejamos: A DRJ, como bem notado, observa que consta diagnóstico de doença “equivalente a paralisia irreversível e incapacitante” com CID 10: I63.0, se refere a “Infarto cerebral devido a trombose de artérias précerebrais”. Fl. 81DF CARF MF Processo nº 15504.726481/201497 Acórdão n.º 2402005.591 S2C4T2 Fl. 5 7 Neste sentido alega que não cabe a autoridade estabelecer conclusões médicas quando os documentos apresentados não indicarem concretamente a presença das moléstias relacionadas na norma de isenção. Respeitosamente, apresento divergência da autoridade originária no tocante a validade do laudo pericial apresentado. De acordo com o Manual de Perícia Oficial do Servidor Público Federal https://www2.siapenet.gov.br/saude/portal/public/pesquisaPortal/pesquisaPortal.xhtml documento obrigatoriamente seguido pelos profissionais médicos que emitem laudo oficial de saúde e obtido no próprio site do SIASS, no que refere a paralisia, determina que: a11) Paralisia Irreversível e Incapacitante Conceito Entendese por paralisia a incapacidade de contração voluntária de um músculo ou grupo de músculos, resultante de uma lesão orgânica de natureza destrutiva ou degenerativa, causada pela interrupção de uma das vias motoras, em qualquer ponto, desde o córtex cerebral até a própria fibra muscular, pela lesão de neurônio motor central ou periférico. A abolição das funções sensoriais, na ausência de lesões orgânicas das vias nervosas, caracteriza a paralisia funcional. A paralisia será considerada irreversível e incapacitante quando, esgotados os recursos terapêuticos da medicina especializada e os prazos necessários à recuperação motora, permanecerem distúrbios graves e extensos que afetem a mobilidade, a sensibilidade e a troficidade. São equiparadas às paralisias as lesões osteomusculoarticulares, as vasculares graves e crônicas, e as paresias das quais resultem alterações extensas e definitivas das funções nervosas, da motilidade e da troficidade, esgotados os recursos terapêuticos da medicina especializada e os prazos necessários à recuperação. Critérios de Enquadramento Os portadores de paralisia irreversível e incapacitante de um dos tipos escritos anteriormente, satisfeitas as condições conceituais especificadas, serão considerados impossibilitados para qualquer trabalho de forma total e permanente. A perícia deverá especificar no relato da avaliação pericial os diagnósticos anatômico e etiológico e o caráter definitivo e permanente, como citado na lei. A perícia deverá declarar entre parênteses, após enunciar o diagnóstico, a expressão “equivalente à Paralisia Irreversível e Incapacitante”, quando concluírem pela invalidez dos inspecionados portadores das lesões que se equiparam à paralisia, satisfeitas todas as condições constantes desses itens. Fl. 82DF CARF MF 8 A paralisia de um músculo ou de um grupo de músculos não apresenta por si só motivo para concessão das vantagens da lei e muitas vezes não leva à incapacidade. É preciso que, depois de esgotadas todas as medidas terapêuticas disponíveis, seja considerada irreversível e incapacite o servidor para o exercício da atividade inerente ao cargo. O laudo pericial deverá conter o nome da doença conforme especificado em lei bem como a data de início da doença e se há necessidade de reavaliação. Tendo em vista o acima, concluise que os médicos simplesmente seguiram o Manual de Perícia Oficial do Servidor Público Federal indicando o nome da moléstia acometida ao paciente Infarto cerebral devido a trombose de artérias précerebrais” e a expressão "equivalente à paralisia irreversível e incapacitante", tendo em vista os resultados que esta causou na saúde do mesmo. Notem que o próprio texto acima transcrito admite que há casos em que não há motivo para a concessão de vantagens da lei, sendo preciso serem esgotadas todas as medidas terapêuticas disponíveis, para que seja considerada como irreversível e incapacite o servidor para o exercício da atividade. Do exposto, concluímos que há comprovação, por laudo pericial emitido por serviço médico oficial, de que o sujeito passivo foi diagnosticado com doença prevista no inciso XIV, do art. 6o, da Lei no 7.713/1988, pelo que deve ser reconhecido o seu direito à isenção do imposto de renda incidente sobre os rendimentos de aposentadoria. Firme no entendimento exposto, voto por CONHECER e DAR PROVIMENTO ao recurso de forma a manter o Crédito Tributário. (assinado digitalmente) Bianca Felicia Rothschild. Fl. 83DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10680.723882/2010-15
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Mar 28 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Apr 18 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/12/2006 a 31/12/2007
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS REQUISITOS DA LEI Nº 10.101/2000. CELEBRAÇÃO DO ACORDO APÓS O INÍCIO DO PERÍODO DE APURAÇÃO.
As regras para percepção da PLR devem constituir-se incentivo à produtividade. Regras estabelecidas no decorrer do período de aferição não estimulam esforço adicional.
MULTA POR FALTA DE APRESENTAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO COM TODAS AS REMUNERAÇÕES PAGAS OU CREDITADAS AOS SEGURADOS.
É obrigação do empregador o preparo da folha de pagamento, com informação das remunerações pagas ou creditadas a todos os segurados a seu serviço, contendo tanto as verbas componentes do salário-de-contribuição quanto as demais verbas pagas.
Numero da decisão: 9202-005.267
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em dar-lhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Fábio Piovesan Bozza (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
Nome do relator: LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS
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ementa_s : Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias Período de apuração: 01/12/2006 a 31/12/2007 PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS REQUISITOS DA LEI Nº 10.101/2000. CELEBRAÇÃO DO ACORDO APÓS O INÍCIO DO PERÍODO DE APURAÇÃO. As regras para percepção da PLR devem constituir-se incentivo à produtividade. Regras estabelecidas no decorrer do período de aferição não estimulam esforço adicional. MULTA POR FALTA DE APRESENTAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO COM TODAS AS REMUNERAÇÕES PAGAS OU CREDITADAS AOS SEGURADOS. É obrigação do empregador o preparo da folha de pagamento, com informação das remunerações pagas ou creditadas a todos os segurados a seu serviço, contendo tanto as verbas componentes do salário-de-contribuição quanto as demais verbas pagas.
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CELEBRAÇÃO DO ACORDO APÓS O INÍCIO DO PERÍODO DE APURAÇÃO. As regras para percepção da PLR devem constituirse incentivo à produtividade. Regras estabelecidas no decorrer do período de aferição não estimulam esforço adicional. MULTA POR FALTA DE APRESENTAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO COM TODAS AS REMUNERAÇÕES PAGAS OU CREDITADAS AOS SEGURADOS. É obrigação do empregador o preparo da folha de pagamento, com informação das remunerações pagas ou creditadas a todos os segurados a seu serviço, contendo tanto as verbas componentes do saláriodecontribuição quanto as demais verbas pagas. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em darlhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 68 0. 72 38 82 /2 01 0- 15 Fl. 192DF CARF MF 2 (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Fábio Piovesan Bozza (suplente convocado) e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Relatório Trata o presente processo de auto de infração AI NFLD DEBCAD nº 37.305.5641, à efl. 02, cientificado à contribuinte acima qualificada, em 25/10/2010 (efl. 02), com relatório fiscal às efls. 05 a 07. O lançamento visou à constituição de multa por descumprimento de obrigação acessória por deixar a empresa de preparar folha(s) de pagamento(s) das remunerações pagas ou creditadas a todos os segurados a seu serviço, de acordo com os padrões e normas estabelecidos pelo órgão competente da Seguridade Social. Tratase de verba de natureza salarial: pagamento de participação nos lucros em desacordo com a legislação. Os instrumentos de acordo para pagamento do PLR teriam vulnerado dois requisitos legais: (a) por não beneficiarem a todos os trabalhadores da empresa, pois somente os trabalhadores lotados em um de seus estabelecimentos foram favorecidos; (b) por não serem formalizados previamente ao início do cumprimento das metas, já que só o foram ao final dos anos de 2006 e 2007. O crédito lançado atingiu o montante de R$ 2.863,58, consolidado na data de 22/10/2010, para o período de apuração de 01/12/2006 a 31/12/2007, tendo esta multa resultado de agravamento por reincidência genérica. O AI foi impugnado, às efls. 64 a 76, em 24/11/2010. Já a 6ª Turma da DRJ/BEL, no acórdão nº 0240.073, prolatado em 28/08/2012, às efls. 97 a 102, considerou, por maioria de votos, parcialmente procedente a impugnação. A procedência parcial se deu em razão de: i) os argumentos (a) e (b) acima citados, foram enfrentados quando do julgamento dos autos de infração de obrigação principal, mas aqui são irrelevantes, pois, consoante se extraí do conteúdo do § 9º do art. 225 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048 de 06/05/1999, as folhas de pagamentos devem registrar, em destacado, tanto as parcelas base de contribuições previdenciárias, como as que não sofrem a aludida incidência; ii) não caberia, no presente AI, a aplicação da majoração da multa, uma vez que na data da prática das novas infrações a empresa, não era considerada reincidente, o que implicou redução à metade do crédito tributário lançado. Inconformada, em 06/12/2012, a contribuinte, interpôs recurso voluntário RV, às efls. 113 a 123, argumentando, em apertada síntese que: Fl. 193DF CARF MF Processo nº 10680.723882/201015 Acórdão n.º 9202005.267 CSRFT2 Fl. 193 3 § a PLR por ela distribuída respeita integralmente os ditames da Lei nº 10.101/2000; § não há qualquer óbice legal que descaracterize a PLR paga diferenciada por estabelecimento, até porque as representações sindicais têm bases territoriais distintas o que faz com que as filiais de uma mesma empresa estejam sujeitas a negociações com distintas representações e condições; § as metas, que já haviam sido acordadas desde o início do ano, eram de conhecimento dos empregados, tendo sido apenas formalizado o acordo ao seu final, inexistindo exigência na lei de que a negociação com os empregados tivesse metas formalizadas por escrito em documento formal; § há jurisprudência pacífica afirmando a natureza nãosalarial da PLR e considerandoa objeto de livre negociação entre as partes, sem requisitos formais para sua criação; § não haveria reincidência para justificar o agravamento da penalidade. O recurso voluntário foi apreciado pela 3ª Turma Ordinária da 4ª Câmara da Segunda Seção de Julgamento em 14/05/2014, resultando no acórdão 2403002.625, às efls. 125 a 141, que tem a seguinte ementa: PREVIDENCIÁRIO. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS OU RESULTADOS PLR. FORMALIZAÇÃO DO PACTUADO. Restando provado acerto prévio contendo as metas, resultados e prazos para pagamento de participação nos lucros ou resultados PLR, a aposição das assinaturas no mesmo exercício contábil, com anuência do sindicato da categoria aperfeiçoa o pactuado formalizandoo na forma do que é exigido no art. 2°, II, da Lei 10.101/2000. Recurso Voluntário Provido O acórdão foi assim exarado: ACORDAM os membros do Colegiado, por maioria de votos, em dar provimento ao recurso. Vencidos os conselheiros Carlos Alberto Mees Stringari (relator) e Paulo Mauricio Pinheiro Monteiro. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro Ivacir Julio de Souza RE da Fazenda Nacional Cientificada do acórdão, em 27/02/2015, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, em 19/03/2015, manejou recurso especial de divergência RE (efls. 142 a 149) ao citado acórdão, entendendo que o aresto diverge de entendimento firmados no CARF entende necessária a assinatura de acordo prévio ao pagamento para que se caracterize a PLR. Fl. 194DF CARF MF 4 A Procuradora junta como paradigma o acórdão nº 2402003.984 , da Sexta Câmara do Segundo Conselho de Contribuintes. Explicitando a divergência, assim se manifestou a Procuradora: De um lado, o paradigma deixa claro o entendimento de que como somente com a assinatura do termo de acordo entre as partes ou do acordo coletivo, ocorre a formalização do término da negociação e se tem um ato jurídico perfeito apto a exarar efeitos jurídicos, o termo de acordo entre as partes ou o acordo coletivo deve estar assinado antes do pagamento da PLR. De outro, o acórdão recorrido defende ser possível a assinatura do acordo após o pagamento de PLR. (Sublinhas do original) Na argumentação para sustentar sua posição, a Procuradora sustentou: Nessa esteira, cumpre registrar que a classificação de determinada verba como “participação nos lucros” exige de maneira imprescindível o estrito cumprimento dos requisitos legais. No caso em estudo, restou demasiadamente demonstrado que a participação nos lucros foi efetivada em desacordo com os parâmetros legais, razão pela qual não pode ser admitida a sua exclusão do salário de contribuição, haja vista que o acordo foi assinado, e, consequentemente formalizado, somente após o pagamento da PLR. Nesse contexto, é importante assinalar, como bem registrou o acórdão paradigma, que somente com a assinatura, considerase concluída a negociação entre as partes, tornandose apta a produção de efeitos jurídicos. Assim, não há como considerar a existência de acordo prévio, se a sua assinatura ocorreu posteriormente ao pagamento da PLR. Pelas razões expostas requereu a Procuradora que fosse conhecido o recurso e provido para que se reforme o acórdão recorrido e se restabeleça o lançamento. O RE da Procuradora foi apreciado pela Presidente da 4ª Câmara da Segunda Seção de Julgamento do CARF, nos termos dos arts. 67 e 68 do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria n° 256 de 22/06/2009, por meio do despacho nº 24000/2015, datado de 1º/12/2015, às efls. 161 a 163, entendendo ele por lhe dar seguimento, em face do cumprimento dos requisitos regimentais. A contribuinte foi cientificada do acórdão de recurso voluntário, do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional e do despacho que lhe deu prosseguimento, por meio da Intimação nº 44, de 11/01/2016 (efl 164), em 20/01/2016 (efl. 169). Contrarrazões da contribuinte Em 03/02/2016, a contribuinte apresentou contrarrazões ao RE da Procuradoria, às efls. 174 a 182, onde, repisou os argumentos trazidos em seu recurso voluntário. É o relatório. Fl. 195DF CARF MF Processo nº 10680.723882/201015 Acórdão n.º 9202005.267 CSRFT2 Fl. 194 5 Voto Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos Relator Quanto à admissibilidade do recurso especial da Fazenda Nacional, há uma questão a ser analisada. De início cabe ressaltar que apesar de a contribuinte em seu contraarrazoado seguir se referindo aos dois argumentos que embasaram o AI, o fato é que, desde a prolação do acórdão de impugnação, nenhum deles compõem a lide. Com efeito, o recurso voluntário foi interposto com base na mesma argumentação da impugnação, mas a multa aplicada neste processo, com esclarecido pelo acórdão de impugnação, independeria desses argumentos, decorrendo, de acordo com o disposto no inciso IV do § 9º do art. 225 do RPS, tãosomente da obrigação de destacar em folha de pagamento tanto as parcelas integrantes como as não integrantes do saláriodecontribuição, em folha de pagamento. Assim, entendo que o próprio recurso voluntário não teria trazido qualquer argumento que pudesse alterar o acórdão de impugnação do qual se recorria. Todavia, a decisão recorrida não considerou esse aspecto e decidiu que, se a verba fosse considerada não tributável, a multa não iria prosperar. E como a Fazenda Nacional trouxe paradigma afirmando que a multa seria devida, entendo haver divergência entre o acórdão prolatado na instância a quo e o paradigma indicado pela Fazenda Nacional. Portanto, conheço do recurso e passo a analisar a lide sob esse prisma. No mérito, cingese a discussão ao argumento recorrido na divergência: falta de formalização de acordo prévia ao pagamento para haver participação nos lucros e/ou resultados sem incidência da contribuição previdenciária. De acordo com o previsto no art. 28 da Lei n ° 8.212/1991, para o segurado empregado entendese por saláriodecontribuição a totalidade dos rendimentos pagos, a qualquer título, conforme a seguir reproduzido: Art.28. Entendese por saláriodecontribuição: I para o empregado e trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços nos termos da lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa; (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10/12/97). (Grifei.). Fl. 196DF CARF MF 6 A legislação previdenciária é clara quando destaca, em seu art. 28, §9º, quais as verbas que não integram o salário de contribuição. Tais parcelas, relacionadas em numerus clausus, não sofrem incidência de contribuições previdenciárias, seja por sua natureza indenizatória ou assistencial. Reparase que, nos termos a seguir colocados, a participação nos lucros ou resultados somente não integra o saláriodecontribuição, quando paga ou creditada de acordo com lei específica: Art. 28 (...) § 9º Não integram o saláriodecontribuição para os fins desta Lei, exclusivamente: (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 10/12/97) j) a participação nos lucros ou resultados da empresa, quando paga ou creditada de acordo com lei específica; (Grifei.) Pois bem, a referida lei específica é a Lei n° 10.101, de 2000, e o procedimento descrito em seu art. 2º, abaixo reproduzido, estabelece que: (a) os instrumentos decorrentes da negociação devem conter regras claras e (b) serem pactuados previamente. Art. 2º A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: Icomissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria; I comissão paritária escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria;(Redação dada pela Lei nº 12.832, de 2013) (Produção de efeito) II convenção ou acordo coletivo. §1º Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo, podendo ser considerados, entre outros, os seguintes critérios e condições: I índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa; II programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente. (Grifei.) Em vista da legislação acima, com relação à formalização do PLR, considero que a assinatura do acordo em data posterior à do período de apuração dos lucros ou resultados a serem distribuídos, já é suficiente para darlhe natureza tributável. Isso porque retira da verba paga uma de suas características essenciais: a recompensa pelo esforço conjunto entre o capital Fl. 197DF CARF MF Processo nº 10680.723882/201015 Acórdão n.º 9202005.267 CSRFT2 Fl. 195 7 e o trabalho, para alcance de metas; o que traria competitividade à empresa e, em última análise, ao país. Entendo que o acordo necessita ser assinado antes de iniciado o período a que se refere, porquanto a PLR tem por finalidade incentivar o trabalhador a incrementar sua produtividade, situandoa acima do que lhe é usual ou ordinário. Sem que o acordo se dê antes de iniciado o período, não haveria como o trabalhador saber, com precisão, em quanto deveria aumentar o seu esforço para alcançar metas e qual o possível efeito financeiro que isto lhe acarretaria. A fim de que o trabalhador não fique ao talante do empregador, e, ao mesmo tempo, que o empregador tenha assegurado o necessário incremento de produtividade para justificar o compartilhamento do seu lucro, o acordo deve ser celebrado antes da vigência do período em que vigorará, de modo a que as partes iniciem esse tempo conhecedores de todas as regras a cumprirem. Essa interpretação, além de estar em consonância com a teleologia da Participação nos Lucros ou Resultados, é totalmente adstrita às normas de hermenêutica em Direito Tributário. Ora, para que se afaste a tributação de pagamentos havidos em face da existência de prestação de serviços, mormente da relação decorrente de contrato de trabalho e seus acessórios, a interpretação das normas tributárias há que ser literal, ou seja, restritiva. Isso decorre da orientação que se tira do art. 111 do Código Tributário Nacional CTN. Assim, não vejo como afastar a exigência de que o pacto prévio deva ser comprovado de forma inequívoca e não é o que se descortina no presente processo. No caso concreto, a formalização ocorreu em pactos firmados até mesmo em momentos posteriores aos pagamentos, conforme admitido pela própria decisão recorrida, fato não contraditado pelas partes: O Relatório Fiscal da obrigação principal apresenta que os pagamentos ocorreram nos dia 22/12/2006 e 20/12/2007 e que os acordos foram assinados nos dias 27/12/2006 (para o ano 2006) e 28/12/2007 (para o ano 2007) e que as metas deveriam ser definidas previamente. 2.2.2 Os referidos instrumentos acima mencionados, denominados "Programas de Metas de Participação nos Lucros e/ou Resultados" foram assinados nas datas de 27/12/2006 (para o ano de 2006) e 28/12/2007 (para o ano de 2007). Deles constam metas de caráter geral, setorial e individual, bem como os critérios de apuração das mesmas. Ora. ao se postergar a assinatura dos acordos para os últimos dias de cada ano, o que ocorreu foi a assinatura de atos para referendar situações pretéritas, de antemão conhecidas; o item II do § 1º do art. 2º da Lei 10.101, acima reproduzido, deixa claro que os programas de metas, resultados e prazos, devem ser previamente pactuados. Nem poderia ser de outra forma, já que, por definição, é impossível o estabelecimento de metas a posteriori. Mais grave, os pagamentos das parcelas a titulo de participação nos lucros/resultados foram feitos nas datas de 22/12/2006 e 20/12/2007, Fl. 198DF CARF MF 8 como consta dos acordos, portanto antes mesmo da assinatura dos mesmos. Na realidade estes valores pagos revestemse das características de uma gratificação qualquer, para a qual criouse, após seu pagamento, um simulacro de Programa de Metas de Participação nos Lucros e/ou Resultados. (Negritos do original, sublinhei.) Por fim, não há que se falar em conhecimento prévio do pacto como um atenuante na norma legalmente posta, visto que, na norma, não há previsão dessa possibilidade. Por essas razões, discordo da decisão do relator do voto vencedor do acórdão recorrido e considero acertado o lançamento das contribuições sobre os valores a título de PLR que não se cingiram às disposições legais. Conclusão Pelo exposto, voto no sentido de conhecer do recurso da Fazenda Nacional e darlhe provimento, para reformar a decisão recorrida e restabelecer a decisão de primeira instância, quanto à multa sobre as verbas pagas mas não destacadas em folha de pagamento, mantendo o valor do crédito estipulado no acórdão de impugnação. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Fl. 199DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16327.002160/2007-25
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Mar 22 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Apr 27 00:00:00 UTC 2017
Numero da decisão: 1402-000.425
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Por unanimidade de votos, resolvem os membros do Colegiado, converter o julgamento em diligência, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Ausente justificadamente o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira
(assinado digitalmente)
Leonardo de Andrade Couto - Presidente.
(assinado digitalmente)
Demetrius Nichele Macei - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Leonardo de Andrade Couto (Presidente), Demetrius Nichele Macei, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Caio Cesar Nader Quintella, Paulo Mateus Ciccone, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Fernando Brasil de Oliveira Pinto
Nome do relator: DEMETRIUS NICHELE MACEI
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Por unanimidade de votos, resolvem os membros do Colegiado, converter o julgamento em diligência, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. Ausente justificadamente o Conselheiro Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira (assinado digitalmente) Leonardo de Andrade Couto Presidente. (assinado digitalmente) Demetrius Nichele Macei Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Leonardo de Andrade Couto (Presidente), Demetrius Nichele Macei, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Caio Cesar Nader Quintella, Paulo Mateus Ciccone, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Fernando Brasil de Oliveira Pinto RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 63 27 .0 02 16 0/ 20 07 -2 5 Fl. 2086DF CARF MF Processo nº 16327.002160/200725 Resolução nº 1402000.425 S1C4T2 Fl. 2.087 2 Relatório Adoto, em sua integralidade, o relatório da DRJ de São Paulo I SP. Trata o presente processo de Auto de Infração (fls. 670 a 675), lavrado em procedimento de fiscalização, para a constituição de créditos tributários de Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ, relativos ao anocalendário de 2003, em face da compensação indevida de prejuízos fiscais. Relata o autuante, no Termo de Verificação Fiscal IRPJ/CSLL, o seguinte (fls.677a688): Em 10 de outubro de 2007, pelo Termo de Constatação e/Intimação Fiscal, o contribuinte foi intimado a manifestarse sobre a exatidão das bases de utilização de prejuízos fiscais e base de cálculo negativa de CSLL levantadas, assim como sobre o saldo do crédito de CSLL, decorrente de base de cálculo negativa ate 31/12/1998, no valor de R$ 8.477.093,45, em 31/12/2003. Em resposta, o contribuinte apresenta demonstrativos, relacionado as compensações de ofício de base de cálculo negativa de CSLL e de prejuízo fiscais efetuadas, relacionandoas aos processos administrativos lavrados e a situação atual dos mesmos. Além do mais, informa que as compensações de oficio não foram consideradas em sua base de cálculo já que os autos estão sendo questionados administrativamente ou judicialmente. HISTÓRICO DAS COMPENSAÇÕES DE OFÍCIO DE PREJUÍZO FISCAL E BASE DE CALCULO NEGATIVA DA CSLL EFETUADAS: Em 27 de março de 2000, nos autos do processo administrativo n°l6327.000555/0028, a fiscalização constatou que o contribuinte amparado por liminar em mandado de segurança no processo n°93.03.114.7278, junto ao TRF da 8a Região, deixou de adicionar aos lucros líquidos dos respectivos meses/anoscalendário de 1994 a 1998, para efeito de determinação do lucro real, o montante dos tributos cuja exigibilidade estava suspensa nos termos do art. 151 do CTN. Foi lavrado o competente auto de infração, com exigibilidade suspensa, sendo o contribuinte intimado a proceder às alterações em seus controles a fim de excluir do valor do prejuízo fiscal apurado, os valores discriminados à folha 679. DEMONSTRATIVO DE APURAÇÃO DAS COMPENSAÇÕES EFETUADAS QUE GERARAM COMPENSAÇÕES INDEVIDAS DE PREJUÍZO FISCAL E BASE DE CÁLCULO NEGATIVA DA CSLL NO ANOCALENDÁRIO DE 2003: Os valores tributáveis de IRPJ e de CSLL, originados por compensações indevidas de prejuízo fiscal e base de cálculo negativa de CSLL estão descritos nos demonstrativos, constantes do ANEXO II. O valor tributável de IRPJ é de R$ 121.147.312,63; e o d a CSLL soma o montante de R$ 147.113.890,72, sendo composto por R$ 147.000.178,12 (compensação excedeu o saldo de base de cálculo negativa); de R$ 113.712,60, de excesso de recuperação de crédito, que convertido para saldo de base de cálculo negativa de CSLL a 18% compõe um saldo de base de cálculo negativa de CSLL a 18% de R$ 631.736,67. DO LANÇAMENTO: Fl. 2087DF CARF MF Processo nº 16327.002160/200725 Resolução nº 1402000.425 S1C4T2 Fl. 2.088 3 Para constar e surtir todos os efeitos de ordem legal, lavramos o presente TERMO DE VERIFICAÇÃO DE INFRAÇÃO FISCAL DE DRPJ e CSLL, do BANCO ITAÚ BBA S/A (CNPJ: 31.516.198/000194), ANOCALENDÁRIO DE 2003, relativo à infração COMPENSAÇÕES INDEVIDAS DE PREJUÍZO FISCAL E BASE DE CALCULO NEGATIVA DE CSLL) no sucessor e responsável tributário BANCO ITAÚ BBA S/A (CNPJ: 17.298.092/000130), como parte integrante do AUTO DE INFRAÇÃO, em três vias de igual teor, uma das quais fica em poder do autuado. Em decorrência das constatações feitas pela Fiscalização, em 19/12/2007 foi lavrado o Auto de Infração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ (fls. 670 a 674), no montante de R$ 69.953.486,97 (fl.03), com os valores a seguir discriminados: Da Impugnação Cientificado do Auto de Infração em 19/12/2007(fl.670), o contribuinte apresentou, em 10/01/2008, a impugnação de fls.690 a 709, acompanhada dos documentos de fls. 710 a 1103. DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA 1. O Auto de Infração não se revestiu das formalidades previstas no Decreto n°70235/72, visto que a descrição do suposto fato gerador, como se verá a seguir, é contraditória e confusa, de modo que não traz elementos suficientes a permitir a adequada defesa dos interesses da Requerente. 1.1 Pretenderse que a Requerente em 2003 tivesse realizado compensação de acordo com ajustes impostos pelo Fisco somente em 28/09/2004 não só é totalmente desarrazoado, como é inviável! Tal fato evidencia a total falta de lógica da Fiscalização no momento da formalização do lançamento. Deixa clara a improcedência do Auto de Infração devido à imprecisa e confusa descrição dos fatos supostamente sujeito à incidência do IRPJ. Fl. 2088DF CARF MF Processo nº 16327.002160/200725 Resolução nº 1402000.425 S1C4T2 Fl. 2.089 4 O Auto de infração em momento algum faz referência direta ao PA n°16327.001177/200412. A autuação limitase afirmar que "em 28 de setembro de 2004, foi lavrado auto de infração, referente a atividades exercidas no exterior Para a realização de qualquer lançamento, de acordo com o artigo 10 do Decreto n°70.235/72 é preciso haver uma descrição precisa e completa dos fatos questionados, o que não ocorreu, impedindo a Requerente de exercitar em plenitude a ampla defesa e ao contraditório. Assim, resta demonstrado que o Auto de Infração é improcedente e deve ser cancelado, uma vez que não se reveste das formalidades essenciais impostas pela legislação tributária. O presente processo cobra valores de IRPJ decorrente de uma suposta redução indevida do lucro real no anocalendário de 2003 em virtude de compensação de saldos inexistentes de prejuízos. Os prejuízos teriam sido compensados nos PA's: n°l 6327.000555/00 28, n°16327.001311/200213, n°16327.001177/200412, todos em andamento, dos quais o presente processo e reflexo. A Requerente deixou para efetuar os ajustes determinados pela Fiscalização, quando os processos acima referidos, estivessem encerrados, pois apenas nesse momento os créditos já estariam definitivamente constituídos, ou teriam sido cancelados, o que motivo para a realização dos ajustes. A MULTA E OS JUROS 2. Em razão da comprovada suspensão da exigibilidade do crédito tributário, o auto de Infração não poderia ter sido lavrado com multa e juros moratório. Ainda que procedente a autuação, o que se considera para argumentar, o artigo 132 do CTN, norma específica aplicável às situações em que há a incorporação de uma sociedade (como no presente caso), estabelece que a Requerente, na condição de incorporadora, não responde pelas penalidades aplicadas à sociedade incorporada (BBA Finanças), quando o lançamento ocorrer após a data da incorporação. Ad argumentandum, a multa de ofício no valor de 75% da exigência mantida, é excessiva e extrapola os limites da razoabilidade e da proporcionalidade, devendo ser reduzida. A taxa SELIC não pode ser aplicada aos créditos tributários, uma vez que não foi criada por lei para fins tributários. Se aplicável a taxa SELIC, ela somente poderá incidir sobre o crédito tributário principal, não podendo recair sobre o valor da multa de ofício, que é penalidade e não tem natureza tributária. Dessa forma, requerse o acolhimento integral da presente Impugnação, determinando o cancelamento da exigência consubstanciada no Auto de Infração em questão, assim como das penalidades e dos juros aplicados. Passo, agora, a complementar o relatório da DRJ de São Paulo I SP, cuja decisão restou assim ementada: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Ano calendário: 2003 AUTO DE INFRAÇÃO. CERCEAMENTO DE Fl. 2089DF CARF MF Processo nº 16327.002160/200725 Resolução nº 1402000.425 S1C4T2 Fl. 2.090 5 DEFESA. INOCORRÊNCIA. Pelo arrazoado da impugnação verifica se que a requerente tem pleno conhecimento dos fatos que lhe foram imputados e, assim, rejeitase a preliminar de cerceamento de direito de defesa. MULTA DE OFÍCIO. CABIMENTO. Não comprovada a vigência de medida liminar em Mandado de Segurança ou Medida Cautelar, por ocasião do lançamento, cabível multa de ofício. MULTA DE OFÍCIO. RESPONSABILIDADE DE SUCESSOR. O sucessor responde pelo pagamento da multa de ofício e dos juros de mora aplicados à sucedida antes ou depois da incorporação. JUROS DE MORA. CABIMENTO. A falta de pagamento do tributo na data do vencimento implica a exigência de juros moratórios, calculados até a data do efetivo pagamento, tendo a aplicação da taxa SELIC previsão legal. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. A multa de ofício, sendo parte integrante do crédito tributário, está sujeita à incidência dos juros de mora a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao do vencimento. ALEGAÇÕES DE ILEGALIDADE E INCONSTITUCIONALIDADE. Alegações de ilegalidade e inconstitucionalidade são de exclusiva competência do Poder Judiciário. Lançamento procedente. Diante de tal decisão, a Requerente interpôs Recurso Voluntário a este Conselho, reiterando os pedidos de sua impugnação. Não há Recurso de Ofício, nem mesmo Contrarrazões por parte da PGFN. É o relatório. Fl. 2090DF CARF MF Processo nº 16327.002160/200725 Resolução nº 1402000.425 S1C4T2 Fl. 2.091 6 Voto Conselheiro Demetrius Nichele Macei Relator No presente processo são cobrados débitos de Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica IRPJ, anocalendário de 2003, em decorrência da não homologação de compensação realizada pela Recorrente, em decorrência da não homologação de compensação realizada com suposto saldo insuficiente de prejuízos fiscais. Alega o Fisco que as bases negativas da Requerente não existiriam no montante por ela compensado, devido à sua utilização, feita de ofício pelas Autoridades Administrativas, para quitar parte dos débitos objeto dos Processos n°s 16327.000555/0028, 16327.001311/200213 e 16327.001177/200412 Ocorre que nos autos do Processo Administrativo n°16327.000555/0028, foi proferida decisão definitiva que reconheceu a decadência de parcela da autuação, referente ao IRPJ do anocalendário de 1994. O saldo remanescente do Auto de Infração, segundo informa a recorrente, foi quitado por meio de pagamento à vista feito no âmbito do parcelamento instituído pela Lei n° 11.941/2009. (e folhas n.12341688) No que se refere ao Processo Administrativo n° 16327.001 311/200213, também há decisão definitiva na esfera administrativa que reconheceu a decadência do direito do Fisco cobrar IRPJ e CSLL sobre os resultados apurados no ano de 1996 e a dedutibilidade de perdas no recebimento de créditos contra a sociedade Exportadora Princesa do Sul Ltda.. A única parcela da autuação mantida, que dizia respeito à dedutibilidade dos juros de mora incorridos sobre tributos cuja exigibilidade esteja suspensa por medida judicial, nos anos de 1997 e 1998, foi paga à vista com os benefícios da Lei n° 11.941/09. (efolhas n.12281233) A discussão travada no Processo Administrativo n° 16327.001177/200412 resultou em decisão parcialmente procedente à Recorrente e, mesmo na parte em que o lançamento foi mantido, a decisão reconhece a dependência e interrelação dos valores devidos com os discutidos nos Mandados de Segurança n° 2003.61.00.0035168 e 93.031147278 que, inclusive contam com depósitos judiciais e que, segundo a Recorrente, o primeiro processo judicial foi julgado totalmente favorável ao Contribuinte, cancelando integralmente a cobrança. (conforme efolhas n. 2043). Em 30/11/2011, por meio de decisão desta Turma Julgadora, ocorreu o sobrestamento do presente processo justamente para aguardar o transito em julgado do Mandado de Segurança n. 2003.61.00.0035168 em questão, o que agora se concretizou. Diante dos fatos narrados é imperiosa a reconstituição dos saldos de Prejuízos Fiscais de IRPJ e Base Negativa de CSLL para verificar se remanesce saldo a ser cobrado no presente processo, ou seja, se ainda há matéria objeto de julgamento. Diante do exposto, proponho a conversão do presente julgamento em diligência para que a Unidade de Origem verifique o impacto dos processos administrativos, atualizando a base de dados do SAPLI (base de cálculo negativa de CSLL), conforme o caso, mencionados sobre os valores cobrados neste processo, especialmente considerando: a) o cancelamento de parte da cobrança consubstanciada nos Processos n°s 16327.000555/0028, 16327.001311/200213; Fl. 2091DF CARF MF Processo nº 16327.002160/200725 Resolução nº 1402000.425 S1C4T2 Fl. 2.092 7 b) a quitação do saldo remanescente dessas autuações no parcelamento da Lei n° 11.941/09, e; c) os efeitos da ação judicial (Mandado de Segurança n° 2003.61.00.0035168 e 93.031147278) no Processo n° 16327.001177/200412, inclusive considerados os depósitos judiciais existentes; d) Após as devidas atualizações, juntar ao relatório circunstanciado o novo demonstrativo da base de cálculo negativa da CSLL devidamente atualizado (SAPLI). c) ao final do procedimento, deverá a autoridade fiscalizadora cientificar o sujeito passivo do resultado da diligencia para que, querendo, se manifeste em 30 (trinta) dias, com fundamento no artigo 35, parágrafo único, do Decreto 7.574|2011. Entendo, finalmente, que com o resultado desta diligência será possível decidir definitivamente o Recurso Voluntário apresentado. É o voto. (assinado digitalmente) Demetrius Nichele Macei Relator Fl. 2092DF CARF MF
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