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Numero do processo: 10850.000232/2007-95
Turma: Primeira Turma Ordinária da Primeira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Primeira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Dec 02 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Fri Dec 02 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF
Ano-calendário: 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007
ISENÇÃO. PROVENTOS DE APOSENTADO DE MAIOR DE 65 ANOS.
A isenção de imposto de renda incidente sobre a parcela dos rendimentos auferidos por contribuintes com 65 anos ou mais prescinde de autorização ou reconhecimento formal pelo fisco.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 2101-001.380
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar
provimento ao recurso. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Gonçalo Bonet Allage.
Matéria: IRPF- restituição - rendim.isentos/não tributaveis(ex.:PDV)
Nome do relator: JOSE RAIMUNDO TOSTA SANTOS
1.0 = *:*
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ementa_s : IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Ano-calendário: 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 ISENÇÃO. PROVENTOS DE APOSENTADO DE MAIOR DE 65 ANOS. A isenção de imposto de renda incidente sobre a parcela dos rendimentos auferidos por contribuintes com 65 anos ou mais prescinde de autorização ou reconhecimento formal pelo fisco. Recurso Voluntário Negado.
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PROVENTOS DE APOSENTADO DE MAIOR DE 65 ANOS. A isenção de imposto de renda incidente sobre a parcela dos rendimentos auferidos por contribuintes com 65 anos ou mais prescinde de autorização ou reconhecimento formal pelo fisco. Recurso Voluntário Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. Ausente, justificadamente, o Conselheiro Gonçalo Bonet Allage. (assinado digitalmente) ___________________________________ Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente (assinado digitalmente) ___________________________________ José Raimundo Tosta Santos Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente), José Raimundo Tosta Santos, Alexandre Naoki Nishioka, Célia Maria de Souza Murphy e Gilvanci Antonio de Oliveira Sousa. Relatório Fl. 186DF CARF MF Impresso em 16/02/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOSTA SANTOS, Assinado digitalmente em 17/0 1/2012 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTO, Assinado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOS TA SANTOS 2 O recurso voluntário em exame pretende a reforma do Acórdão nº 1735.151, proferido pela 3ª Turma da DRJ São Paulo II, que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a manifestação de inconformidade. A matéria em litígio foi resumida na decisão de primeiro grau, nos seguintes termos: Tratase de manifestação de inconformidade contra o Despacho Decisório DRF/SJR/SP, que indeferiu o pedido de isenção do imposto de renda incidente sobre parte dos rendimentos de aposentadoria recebidos pelo contribuinte, no período de 1998 a 2007. Na referida manifestação de inconformidade, apresentada em 28/10/2008 (fls. 130/139), o interessado traz, em breve síntese, as seguintes alegações: 1. desde dezembro de 1998, data em que completou 65 anos, atende às condições previstas na legislação para usufruir do beneficio de isenção mensal dos rendimentos provenientes de aposentadoria, reserva remunerada, reforma e pensão a que fazem jus os declarantes com 65 anos ou mais; 2. em vista da revogação do artigo 153, § 2°, inciso II, da Constituição Federal, protocolizou junto à Delegacia da Receita Federal de Rio Preto o processo administrativo n° 10850.000038/9975 e, na ocasião, a Delegada da RFB de Rio Preto, embora tenha indeferido a isenção total do artigo da Constituição Federal, reconheceu o direito do contribuinte a benesses da isenção parcial das Leis 7713/88 e 9250/95, no valor mensal de R$ 900,00, ou seja, 50 OTNs; 3. o próprio julgador da SAORT de Rio Preto, às fls. 124, reconhece que legislação tributária é um beneficio assegurado, independentemente de petição à Fazenda Pública, bastando o interessado incluir os referidos proventos na declaração de ajuste anual; 4. entretanto, a Receita Federal, agindo com dolo e fraude, informatizou a declaração de imposto de renda de ajuste anual, impossibilitando o contribuinte a gozar do desconto e inventou que o valor da isenção parcial deveria ser lançada na coluna de "outras informações", contrariando o que as leis determinaram; 5. a Fazenda do Estado de São Paulo deveria ser consultada pela Receita Federal, requisitando holerites de todos os meses aqui questionados; 6. o consignado nos itens 2.1 e 2.2 pelo auditor fiscal que indeferiu o pedido preocupase mais com o RIR do que em mencionar as leis que por sua clareza e simplicidade, não necessitam de interpretações; 7. a conclusão do auditor de que o período de dezembro de 1998 e de 1999 a 2001 foram atingidos pela decadência, não pode subsistir, vez que, por se tratar de uma fraude consumada e confessada não se aplica o instituto da decadência; 8. é imprescritível a regra contra o ato ímprobo e de império de uma administração pública irresponsável na prática de atos fraudulentos contra os cidadãos; 9. é inconcludente a alegação de que não cabe ao fisco reconhecer a isenção, mesmo porque a Receita Federal é depositária de todos os dados de todos os contribuintes (nascimento, profissão, endereço, se da ativa ou aposentado, rendimentos, salários, proventos, fontes pagadoras, deduções, bens patrimoniais); 10. a Receita Federal é a única competente para o refazimento dos cálculos, deduções legais, aplicação de alíquotas, isenção parcial e redução pela tabela anual ditada pela RFB; Fl. 187DF CARF MF Impresso em 16/02/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOSTA SANTOS, Assinado digitalmente em 17/0 1/2012 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTO, Assinado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOS TA SANTOS Processo nº 10850.000232/200795 Acórdão n.º 210101.380 S2C1T1 Fl. 175 3 11. requer que se receba o presente recurso para o fim de reverter a conclusão do despacho decisório de fls. 124 a 128, que indeferiu o pedido do recorrente pertinente ao beneficio legal de isenção parcial de BTNs devidos desde dezembro de 1998, atendendo aos postulados de direito. A decisão recorrida possui a seguinte ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física – IRPF Anocalendário: 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 PROVENTOS DE APOSENTADORIA DE MAIORES DE 65 ANOS. ISENÇÃO. A isenção de imposto de renda incidente sobre a parcela dos rendimentos auferidos por contribuintes com 65 anos ou mais prescinde de autorização ou reconhecimento formal pelo fisco, bastando o contribuinte pleiteála quando do preenchimento da declaração de ajuste dos correspondentes anoscalendário. Manifestação de Inconformidade Improcedente Em seu apelo ao CARF o recorrente o recorrente reitera as mesmas questões suscitadas perante o Órgão julgador a quo. É o Relatório. Voto Conselheiro José Raimundo Tosta Santos, Relator. O recurso atende os requisitos de admissibilidade. Do exame das peças processuais, verificase que a decisão de primeiro grau não merece qualquer reparo. O artigo 39, inciso XXXIV, do RIR, aprovado pelo Decreto 3.000, de 1999, dispõe que: Art. 39. Não entrarão no cômputo do rendimento bruto: XXXIV os rendimentos provenientes de aposentadoria e pensão, transferência para a reserve remunerada ou reforma, pagos pela Previdência Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por qualquer pessoa jurídica de direito público interno, ou por entidade de previdência privada, ate o valor de novecentos reais por mês, a partir do mês em que o contribuinte completar sessenta e cinco anos de idade, sem prejuízo da parcela isenta prevista na tabela de incidência mensal do imposto (Lei n2 7.713, de 1988, art 62, inciso XV, e Lei n2 9.250, de 1995, art. 28); Fl. 188DF CARF MF Impresso em 16/02/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOSTA SANTOS, Assinado digitalmente em 17/0 1/2012 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTO, Assinado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOS TA SANTOS 4 Posteriormente, o valor da parcela isenta foi alterado para R$ 1.058,00, pela Lei n° 10.451, de 10/05/2002; para R$ 1.164,00 e R$ 1.257,12, respectivamente pelas Leis n° 11.119, de 25/05/2005, e 11.311, de 13/06/2006, e para R$ 1.313,69, pela Lei n° 11.482, de 31/05/2007. É usual a fonte pagadora dos proventos de aposentadoria excluir da tributação do imposto de renda esta parcela de isenção, sem prejuízo da parcela isenta prevista na tabela de incidência mensal. Se assim não ocorreu, o contribuinte pode retificar a declaração a fim de se beneficiar da isenção legal sobre os proventos de aposentadoria ou pensão, até o valor permitido na legislação, ainda que a fonte pagadora não tenha consignado tal informação no Comprovante de Rendimentos Pagos e de Imposto de Renda Retido na Fonte. Este limite mensal é único, independentemente da quantidade de fontes pagadoras, e se aplica também ao 13º salário. Constatase, inclusive, que as declarações de rendimentos apresentadas, no quadro que discrimina os rendimentos isentos e nãotributáveis, indicam valores no item que trata da parcela isenta de aposentadoria, reserva remunerada, reforma e pensão de declarantes com 65 anos ou mais (fl. 09, 45, 49, 53, 56, 59, 62, 66, 70), e não foi o programa da Receita Federal que inseriu esses valores, restando apenas ao contribuinte reduzir os rendimentos tributáveis declarados dos referidos valores. A matéria em litígio já foi minuciosamente analisada no despacho decisório às fls. 124/128 e na decisão recorrida às fls. 162/165, restando cristalino que tal isenção prescinde de autorização ou reconhecimento formal da Administração Tributária. Confirase o excerto do voto condutor do acórdão recorrido: Cumpre frisar que, como bem destacou o auditor fiscal no despacho decisório de fls. 124/128, tal isenção prescinde de autorização ou reconhecimento formal pelo fisco, competindo ao contribuinte pleiteála quando do preenchimento da declaração de ajuste dos correspondentes anoscalendário, ainda que a fonte pagadora não tenha consignado tal informação no Comprovante de Rendimentos. Observese ainda que, contrariamente ao que afirma o contribuinte, as orientações para a informação da dita parcela isenta na declaração de ajuste constam dos Manuais do Imposto de Renda dos respectivos anoscalendário, sendo de fácil compreensão até mesmo para um contribuinte menos esclarecido, que não é o caso do interessado. 0 procedimento é bastante simples e consiste em subtrair do total dos rendimentos tributáveis recebidos em cada ano calendário (decorrentes de aposentadoria, pensão, transferência para a reserva remunerada ou reforma) o valor correspondente à parcela isenta anual e informálo no item relativo a Rendimentos Isentos e Não Tributáveis. Ocorre que o contribuinte não efetuou tal procedimento nas declarações de ajuste, nem mesmo depois de devidamente orientado pela Delegacia da Receita Federal de origem, mediante o despacho de decisório de fls. 124/128, insistindo na pretensão de que a autoridade julgadora o faça de oficio. Fl. 189DF CARF MF Impresso em 16/02/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOSTA SANTOS, Assinado digitalmente em 17/0 1/2012 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTO, Assinado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOS TA SANTOS Processo nº 10850.000232/200795 Acórdão n.º 210101.380 S2C1T1 Fl. 176 5 Com efeito, para corrigir qualquer erro neste sentido, o contribuinte deve providenciar a retificação da sua declaração, observado o prazo decadencial, e solicitar da fonte pagadora a observância da norma, em relação aos pagamentos mensais subseqüentes. Portanto, diferentemente do entendimento manifestado pelo interessado, referida isenção não compõe o quadro de deduções da declaração de rendimentos, como ocorre com as despesas com instrução, previdência oficial ou privada etc. Observese que a isenção em exame não é destacada no holerite do aposentado, pois não se refere a parcela relaciona com a folha de pagamento. É excluída da base de incidência do IR, por expressa determinação legal, e através de critério objetivo (proventos de aposentadoria para beneficiários a partir dos 65 anos). Em face ao exposto, nego provimento ao recurso. (assinado digitalmente) JOSÉ RAIMUNDO TOSTA SANTOS Fl. 190DF CARF MF Impresso em 16/02/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOSTA SANTOS, Assinado digitalmente em 17/0 1/2012 por LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTO, Assinado digitalmente em 16/01/2012 por JOSE RAIMUNDO TOS TA SANTOS
score : 1.0
Numero do processo: 11543.000671/2001-49
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed May 11 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Wed May 11 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR
Exercício: 1997
NORMAS PROCEDIMENTAIS/REGIMENTAIS. RECURSO ESPECIAL PROCURADOR. CONTRARIEDADE À LEI/PROVA NÃO DEMONSTRADA. NÃO CONHECIMENTO.
Com arrimo nos artigos 5º, inciso I, e 7º, § 1º, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 88/1998, vigente à época, somente deverá ser conhecido o Recurso Especial do Procurador, fundamentado naqueles dispositivos regimentais, quando devidamente comprovada à contrariedade à lei e/ou prova constante dos autos, não se prestando à amparar à pretensão da Fazenda Nacional ditames
contidos simplesmente em Instruções Normativas, normas
complementares/secundárias de direito tributário, as quais não se
confundem/equiparam à “lei” para efeito de conhecimento do recurso em epígrafe.
Recurso especial não conhecido.
Numero da decisão: 9202-001.621
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não
conhecer do recurso.
Matéria: IRPJ - tributação de lucro inflacionário diferido(LI)
Nome do relator: Rycardo Henrique Magalháes de Oliveira
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ementa_s : IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR Exercício: 1997 NORMAS PROCEDIMENTAIS/REGIMENTAIS. RECURSO ESPECIAL PROCURADOR. CONTRARIEDADE À LEI/PROVA NÃO DEMONSTRADA. NÃO CONHECIMENTO. Com arrimo nos artigos 5º, inciso I, e 7º, § 1º, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 88/1998, vigente à época, somente deverá ser conhecido o Recurso Especial do Procurador, fundamentado naqueles dispositivos regimentais, quando devidamente comprovada à contrariedade à lei e/ou prova constante dos autos, não se prestando à amparar à pretensão da Fazenda Nacional ditames contidos simplesmente em Instruções Normativas, normas complementares/secundárias de direito tributário, as quais não se confundem/equiparam à “lei” para efeito de conhecimento do recurso em epígrafe. Recurso especial não conhecido.
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conteudo_txt : Metadados => pdf:unmappedUnicodeCharsPerPage: 0; pdf:PDFVersion: 1.4; X-Parsed-By: org.apache.tika.parser.DefaultParser; access_permission:modify_annotations: true; access_permission:can_print_degraded: true; access_permission:extract_for_accessibility: true; access_permission:assemble_document: true; xmpTPg:NPages: 7; dc:format: application/pdf; version=1.4; pdf:charsPerPage: 1607; access_permission:extract_content: true; access_permission:can_print: true; access_permission:fill_in_form: true; pdf:encrypted: true; access_permission:can_modify: true; Content-Type: application/pdf | Conteúdo => CSRFT2 Fl. 1 1 0 CSRFT2 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo nº 11543.000671/200149 Recurso nº 328.764 Especial do Procurador Acórdão nº 920201.621 – 2ª Turma Sessão de 11 de maio de 2011 Matéria ITR Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado LUCIANO DELLAROLI DE AGUIAR ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR Exercício: 1997 NORMAS PROCEDIMENTAIS/REGIMENTAIS. RECURSO ESPECIAL PROCURADOR. CONTRARIEDADE À LEI/PROVA NÃO DEMONSTRADA. NÃO CONHECIMENTO. Com arrimo nos artigos 5º, inciso I, e 7º, § 1º, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 88/1998, vigente à época, somente deverá ser conhecido o Recurso Especial do Procurador, fundamentado naqueles dispositivos regimentais, quando devidamente comprovada à contrariedade à lei e/ou prova constante dos autos, não se prestando à amparar à pretensão da Fazenda Nacional ditames contidos simplesmente em Instruções Normativas, normas complementares/secundárias de direito tributário, as quais não se confundem/equiparam à “lei” para efeito de conhecimento do recurso em epígrafe. Recurso especial não conhecido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em não conhecer do recurso. Fl. 1DF CARF MF Emitido em 20/05/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE Assinado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE , 19/05/2011 por HENRIQUE PINH EIRO TORRES 2 Henrique Pinheiro Torres – PresidenteSubstituto (Assinado digitalmente) Rycardo Henrique Magalhães de Oliveira – Relator (Assinado digitalmente) EDITADO EM: 13/05/2011 Participaram, do presente julgamento, os Conselheiros Henrique Pinheiro Torres (Presidente – Substituto), Gonçalo Bonet Allage (VicePresidente Substituto), Elias Sampaio Freire, Alexandre Naoki Nishioka, Giovanni Christian Nunes Campos, Manoel Coelho Arruda Junior, Gustavo Lian Haddad, Francisco Assis de Oliveira Junior, Rycardo Henrique Magalhães de Oliveira e Marcelo Oliveira. Relatório LUCIANO DELLAROLI DE AGUIAR, contribuinte, pessoa física, já devidamente qualificado nos autos do processo administrativo em epígrafe, teve contra si lavrado Auto de Infração, em 30/03/2001, exigindolhe crédito tributário concernente ao Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural ITR, em relação ao exercício de 1997, incidente sobre o imóvel rural denominado “Fazenda do Castelo”, localizado no município de Guacui/ES, cadastrado na RFB sob o nº 17048729, conforme peça inaugural do feito, às fls. 09/13, e demais documentos que instruem o processo. Após regular processamento, interposto recurso voluntário ao então Terceiro Conselho de Contribuintes contra Decisão da 2a Turma da DRJ em Recife/PE, Acórdão nº 2.265/2002, às fls. 23/27, que julgou procedente o lançamento fiscal em referência, a Egrégia 3ª Câmara, em 14/04/2005, por maioria de votos, achou por bem DAR PROVIMENTO AO RECURSO VOLUNTÁRIO DO CONTRIBUINTE, o fazendo sob a égide dos fundamentos inseridos no Acórdão nº 30332.009, sintetizados na seguinte ementa: “ITR –ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE A teor do artigo 10º, § 7º da Lei n.º 9.393/96, modificado pela Medida Provisória 2.16667/2001, basta a simples declaração do contribuinte, para fim de isenção do ITR, respondendo o mesmo pelo pagamento do imposto e consectários legais em caso de falsidade. Nos termos da Lei n° 9.393/96, não são tributáveis as áreas de preservação permanente. RECURSO PROVIDO.” Irresignada, a Procuradoria da Fazenda Nacional interpôs Recurso Especial, às fls. 55/60, com arrimo no artigo 5º, inciso I, do então Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 55/1998, procurando demonstrar a insubsistência do Acórdão recorrido, desenvolvendo em síntese as seguintes razões: Após breve relato das fases ocorridas no decorrer do processo administrativo fiscal, insurgese contra o Acórdão atacado, por entender ter contrariado os dispositivos legais Fl. 2DF CARF MF Emitido em 20/05/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE Assinado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE , 19/05/2011 por HENRIQUE PINH EIRO TORRES Processo nº 11543.000671/200149 Acórdão n.º 920201.621 CSRFT2 Fl. 2 3 que regulam a matéria, especialmente os preceitos contidos no § 4°, inciso II, do artigo 10, da IN SRF n° 43/1997; na redação dada pela IN SRF n° 67/1997, quanto à requisição atempada do ADA, impondo seja conhecido o recurso especial da recorrente, uma vez comprovada à contrariedade à lei argüida. Contrapõese ao entendimento da Câmara recorrida, aduzindo para tanto que as áreas de preservação permanente são aquelas definidas pelo Código Florestal em seu artigo 16 e que, para serem consideradas como tal não bastam apenas “existir” no mundo fático, mas devem “existir” também no mundo jurídico quando reconhecidas pelo IBAMA a partir da requisição do ADA, mormente quando referida exigência decorre da legislação de regência. Defende que para comprovação das referidas áreas não se pode prescindir do Ato Declaratório Ambiental (ADA), protocolado junto ao IBAMA, no prazo estipulado na legislação. Infere que a Receita Federal do Brasil já se manifestou por diversas oportunidades a propósito do assunto, firmando o entendimento de que a não incidência de ITR sobre as áreas de preservação permanente está condicionada ao reconhecimento como tal por parte do Poder Público, por intermédio do ADA, devendo existir em cada imóvel informação específica da parte preservada, como estabelecem as normatizações internas da SRF, notadamente o artigo 10, § 4º, inciso I, da IN SRF nº 43/1997, que disciplinou a Lei nº 9.393/1996, com redação do artigo 1º, inciso II, da Instrução Normativa SRF nº 67/1997. Assim, inexistindo na hipótese dos autos provas de que o contribuinte procedeu à protocolização tempestiva do requerimento do ADA, impõese à manutenção da glosa realizada pela fiscalização. Por fim, requer o conhecimento e provimento do Recurso Especial, impondo a reforma do decisum ora atacado, nos termos encimados. Submetido a exame de admissibilidade, a ilustre Presidente da então 3ª Câmara do 3° Conselho, entendeu por bem admitir o Recurso Especial da Fazenda Nacional, sob o argumento de terem sido observados os pressupostos para conhecimento do recurso, uma vez tempestivo e por tratarse de decisão não unânime, além da existência do pré questionamento da matéria, relativamente a exigência do requerimento tempestivo do ADA, para fins de isenção do ITR, conforme Despacho nº 0108/2006, às fls. 62/64. Instado a se manifestar a propósito do Recurso Especial da Fazenda Nacional, o contribuinte não apresentou suas contrarrazões. É o Relatório. Fl. 3DF CARF MF Emitido em 20/05/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE Assinado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE , 19/05/2011 por HENRIQUE PINH EIRO TORRES 4 Voto Conselheiro Rycardo Henrique Magalhães de Oliveira, Relator Com a devida vênia a ilustre então Presidente da 3ª Câmara do 3º Conselho de Contribuintes, ouso divergir do despacho que deu seguimento ao Recurso Especial da Fazenda Nacional, por não vislumbrar na hipótese vertente requisito regimental amparando a pretensão da recorrente, não merecendo ser conhecida sua peça recursal, como passaremos a demonstrar. Conforme se depreende da análise do Recurso Especial, pretende a Procuradoria a reforma do Acórdão recorrido, alegando, em síntese, que as razões de decidir ali esposadas contrariaram os preceitos contidos no artigo 10, § 4º, inciso II, da IN SRF nº 43/1997, que disciplinou a Lei nº 9.393/1996, com redação dada pela Instrução Normativa SRF nº 67/1997. Por sua vez, em análise preliminar de admissibilidade, a Presidente da Câmara recorrida acolheu o pleito da recorrente, sob o argumento de terem sido observados os pressupostos para conhecimento do recurso, uma vez tempestivo e por tratarse de decisão não unânime, além da existência do préquestionamento da matéria. Observese, que não houve um aprofundamento no exame da contrariedade à lei propriamente dita, constando do Despacho que deu seguimento ao Recurso Especial da Procuradoria simplesmente que: “ 2. quanto à contrariedade à lei tributária, o recurso merece acolhimento, haja vista que a decisão foi prolatada por maioria de votos.” Ora, nos termos dos artigos 5º, inciso I, e 7º, § 1º, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 55/1998, vigente à época, a decisão tomada por maioria de votos é um dos pressupostos de admissibilidade do Recurso Especial em comento, não se confundido com a contrariedade à lei e/ou evidência de prova, que deverá (ão) ser comprovada (s) cabalmente, senão vejamos: “Art. 5 º Compete à Câmara Superior de Recursos Fiscais julgar recurso especial interposto contra: I – decisão não unânime de Câmara de Conselho de Contribuintes, quando for contrária à lei ou à evidência da prova; e II – decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra Câmara de Conselho de Contribuintes ou a própria Câmara Superior de Recursos Fiscais. [...] Art. 7 º O recurso especial deverá ser formalizado em petição dirigida ao Presidente da Câmara que houver prolatado a decisão recorrida e deverá ser apresentado por Procurador da Fazenda Nacional, no prazo de quinze dias, contando da vista oficial do acórdão, ou pelo sujeito passivo, em igual prazo, contado da data da ciência da decisão. Fl. 4DF CARF MF Emitido em 20/05/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE Assinado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE , 19/05/2011 por HENRIQUE PINH EIRO TORRES Processo nº 11543.000671/200149 Acórdão n.º 920201.621 CSRFT2 Fl. 3 5 § 1º Na hipótese de que trata o inciso I do art. 5 º deste Regimento, o recurso deverá demonstrar, fundamentadamente, a contrariedade à lei ou à evidência da prova e, havendo matérias autônomas, o recurso especial alcançará apenas a parte da decisão não unânime contrária à Fazenda Nacional.” (grifamos) A jurisprudência desta Colenda Corte Administrativa não discrepa desse entendimento, impondo a comprovação cabal da contrariedade à lei e/ou evidência de prova para efeito de conhecimento do Recurso Especial do Procurador, como se extrai dos julgados com as seguintes ementas: [...] CONHECIMENTO DO RECURSO ACÓRDÃO PROFERIDO POR MAIORIA DE VOTOS. Para que seja conhecido o recurso especial interposto pela Fazenda Nacional contra acórdão nãounânime, deve restar demonstrada a contrariedade à lei ou à evidência de prova. Providência adotada no caso em tela. [...]” (4a Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais – Recurso nº 102146640 – Acórdão nº CSRF/0400.958, Sessão de 04/08/2008) (grifamos) “RECURSOS. ADMISSIBILIDADE. A falta de demonstração fundamentada da contrariedade à lei ou à evidência da prova rende ensejo ao não conhecimento do recurso. Recurso especial não conhecido.” (2a Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais – Recurso nº 203124521 – Acórdão nº CSRF/0202.291, Sessão de 25/04/2006) (grifamos) “RECURSO ESPECIAL – CONHECIMENTO – Não pode ser conhecido, por falta de objeto, o recurso que não demonstra contrariedade à Lei e, portanto, desatende os pressupostos regimentais de admissibilidade. Recurso Especial Não Conhecido.” (1a Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais – Recurso nº 102128213 – Acórdão nº CSRF/0104.489, Sessão de 14/04/2003) (grifamos) Na hipótese dos autos, constatase que, muito embora a recorrente procure demonstrar a insubsistência do Acórdão recorrido utilizandose dos mais variados argumentos, a bem da verdade discutese, novamente, o mérito da questão (necessidade de requisição tempestiva do ADA, para fins de não incidência do Imposto Territorial Rural), o qual já foi objeto da análise desta Câmara recorrida, suscitando a “contrariedade à lei” com base em preceitos de Instruções Normativas. Assim, em que pesem as razões lançadas em seu Recurso Especial, argüindo a existência de contrariedade à lei, em momento algum a Procuradoria logrou comprovar seu argumento, eis que as Instruções Normativas não se revestem das características e/ou natureza de lei propriamente dita. Como se verifica, a Fazenda Nacional ao formular seu Recurso Especial utilizou como fundamento à sua empreitada o artigo 5º, inciso I, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, sem conquanto demonstrar que a tese sustentada no Fl. 5DF CARF MF Emitido em 20/05/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE Assinado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE , 19/05/2011 por HENRIQUE PINH EIRO TORRES 6 Acórdão atacado foi contrária à lei ou à evidência da prova, capaz de ensejar a reforma do r. decisório da Câmara recorrida. Destarte, no que tange às determinações insertas nas Instruções Normativas nºs 43 e 67, de 1997, esteios do entendimento da Fazenda Nacional, não são capazes de oferecer proteção ao seu pleito, porquanto são normas complementares/secundárias, não podendo ser equiparadas/confundidas como “leis” para efeito de conhecimento do presente recurso, sendo defeso, por essa própria natureza, inovar, suplantar e/ou cingir os ditames contidos nas leis regulamentadas. Perfunctória leitura do artigo 100, inciso I, do Códex Tributário, fulmina de uma vez por todas a pretensão fiscal, senão vejamos: “Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I – os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;[...] Na esteira desse entendimento, cabe invocar os ensinamentos do renomado doutrinador Antonio Carlos Rodrigues do Amaral, na obra “Comentários ao Código Tributário Nacional”, volume 2, coord. Ives Gandra da Silva Martins, Editora Saraiva, 1998, págs. 40/41, que ao tratar do artigo 100 do Código Tributário Nacional, assim preleciona: “ Atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas. São as instruções ministeriais, as portarias ministeriais e atos expedidos pelos chefes de órgãos ou repartições; as instruções normativas expedidas pelo Secretário da Receita Federal; as circulares e demais atos normativos internos da Administração Pública, que são vinculantes para os agentes públicos, mas não podem criar obrigações para os contribuintes que já não estejam previstas na lei ou no decreto dela decorrente. Também não vinculam o Poder Judiciário, que não está obrigado a acatar a interpretação dada pelas autoridades públicas através de tais atos normativos.” Outro não é o entendimento do eminente jurista Leandro Paulsen, ao comentar o Código Tributário Nacional, adotando posicionamento do Supremo Tribunal Federal, nos seguintes termos: “Vinculação absoluta dos atos normativos à lei. “... As instruções normativas editadas por órgão competente da administração tributária, constituem espécies jurídicas de caráter secundário, cuja validade e eficácia resultam, imediatamente, de sua estrita observância dos limites impostos pelas leis, tratados, convenções internacionais, ou decretos presidenciais, de que devem constituir normas complementares. Essas instruções nada mais são, em sua configuração jurídico formal, do que provimentos executivos cuja normatividade está diretamente subordinada aos atos de natureza primária, como as leis e as medidas provisórias a que se vinculam por um claro nexo de acessoriedade e de dependência. Se a instrução normativa, editada com fundamento no art. 100, I, do Código Tributário Nacional, vem a positivar em seu texto, em decorrência de má interpretação de lei ou medida provisória, uma exegese que possa romper a hierarquia normativa que deve manter com estes atos primários, viciarseá de ilegalidade...” (STF, Plenário, AGRADI 365/DF, rel. Min. Celso de Mello, nov/1990)” (DIREITO TRIBUTÁRIO – Constituição e Código Fl. 6DF CARF MF Emitido em 20/05/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE Assinado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE , 19/05/2011 por HENRIQUE PINH EIRO TORRES Processo nº 11543.000671/200149 Acórdão n.º 920201.621 CSRFT2 Fl. 4 7 Tributário Nacional à luz da Doutrina e da Jurisprudência” – 5ª edição, Porto Alegre: Livraria do Advogado:ESMAFE, 2003, pág. 740) Dessa forma, escorreito o Acórdão recorrido devendo, nesse sentido, ser mantido o provimento ao recurso voluntário do contribuinte, na forma decidida pela 3ª Câmara do 3º Conselho de Contribuintes, uma vez que a recorrente não logrou infirmar os elementos que serviram de base ao decisório atacado, mormente em relação aos pressupostos de conhecimento do seu recurso. Por todo o exposto, estando o Recurso Especial da Procuradoria em dissonância com as normas regimentais vigentes à época de sua protocolização, VOTO NO SENTIDO DE NÃO CONHECÊLO, pelas razões de fato e de direito acima esposadas. Rycardo Henrique Magalhães de Oliveira (Assinado digitalmente) Fl. 7DF CARF MF Emitido em 20/05/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE Assinado digitalmente em 18/05/2011 por RYCARDO HENRIQUE MAGALHAES DE , 19/05/2011 por HENRIQUE PINH EIRO TORRES
score : 1.0
Numero do processo: 13609.720058/2007-51
Turma: Segunda Turma Ordinária da Primeira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Primeira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon Sep 26 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Mon Sep 26 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR
Exercício: 2005
PEDIDO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO. FALTA DE JUSTIFICATIVA.
Nos termos do art. 18 do Decreto nº 70.235/72, pode a autoridade julgadora indeferir pedido de perícia quando a parte Interessada deixar de comprovar que a realização desta é imprescindível ao deslinde da controvérsia. Além disso, a realização de perícia é procedimento excepcional, que somente se justifica em determinados casos.
ITR. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. GLOSA. FALTA DE APRESENTAÇÃO DO ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL AO IBAMA. MANUTENÇÃO DO LANÇAMENTO.
Para os fatos geradores ocorridos a partir de 2001, a apresentação do ADA ao Ibama é obrigatória para fins de redução do valor devido a título de ITR, ou seja, para exclusão das áreas de preservação permanente. Aplicação do art. 17-O da Lei nº 6.938/81, com a redação dada pela Lei nº 10.165/2000. Este
documento deve se referir exatamente ao imóvel cujo ITR se discute, sob pena de não refletir a realidade dos fatos, e não ser aceito para os fins da lei.
ITR. VALOR DA TERRA NUA. ARBITRAMENTO COM BASE NO SIPT. POSSIBILIDADE.
O arbitramento do VTN é procedimento devidamente previsto em lei (art. 14 da Lei nº 9.393/96), e por isso devem ser utilizados os parâmetros legais lá mencionados, pelas autoridades fiscais, toda vez que o VTN declarado pelo contribuinte não for merecedor de fé. Cabe ao contribuinte a apresentação de laudo que refute os valores apurados por meio do SIPT, laudo este que deve
preencher os requisitos legais mínimos para que possa ser acolhido.
Numero da decisão: 2102-001.532
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em
REJEITAR o pedido de perícia e, no mérito, em NEGAR provimento ao recurso.
Matéria: ITR - ação fiscal - outros (inclusive penalidades)
Nome do relator: ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PAGETTI
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR Exercício: 2005 PEDIDO DE PERÍCIA. INDEFERIMENTO. FALTA DE JUSTIFICATIVA. Nos termos do art. 18 do Decreto nº 70.235/72, pode a autoridade julgadora indeferir pedido de perícia quando a parte Interessada deixar de comprovar que a realização desta é imprescindível ao deslinde da controvérsia. Além disso, a realização de perícia é procedimento excepcional, que somente se justifica em determinados casos. ITR. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. GLOSA. FALTA DE APRESENTAÇÃO DO ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL AO IBAMA. MANUTENÇÃO DO LANÇAMENTO. Para os fatos geradores ocorridos a partir de 2001, a apresentação do ADA ao Ibama é obrigatória para fins de redução do valor devido a título de ITR, ou seja, para exclusão das áreas de preservação permanente. Aplicação do art. 17O da Lei nº 6.938/81, com a redação dada pela Lei nº 10.165/2000. Este documento deve se referir exatamente ao imóvel cujo ITR se discute, sob pena de não refletir a realidade dos fatos, e não ser aceito para os fins da lei. ITR. VALOR DA TERRA NUA. ARBITRAMENTO COM BASE NO SIPT. POSSIBILIDADE. O arbitramento do VTN é procedimento devidamente previsto em lei (art. 14 da Lei nº 9.393/96), e por isso devem ser utilizados os parâmetros legais lá mencionados, pelas autoridades fiscais, toda vez que o VTN declarado pelo contribuinte não for merecedor de fé. Cabe ao contribuinte a apresentação de laudo que refute os valores apurados por meio do SIPT, laudo este que deve preencher os requisitos legais mínimos para que possa ser acolhido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 1DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em REJEITAR o pedido de perícia e, no mérito, em NEGAR provimento ao recurso. Assinado Digitalmente Giovanni Christian Nunes Campos Presidente Assinado Digitalmente Roberta de Azeredo Ferreira Pagetti Relatora EDITADO EM: 08/12/2011 Participaram, ainda, do presente julgamento, os Conselheiros Giovanni Christian Nunes Campos (Presidente), Rubens Mauricio Carvalho, Nubia Matos Moura, Atilio Pitarelli, Roberta de Azeredo Ferreira Pagetti e Carlos Andre Rodrigues Pereira Lima. Relatório Em face da contribuinte acima identificada, foi lavrada a Notificação de Lançamento de fls. 01/04 para exigência do Imposto Territorial Rural (ITR) em razão da revisão da DITR entregue para o exercício de 2005, relativamente ao imóvel denominado “Fazenda Santa Maria”, localizado no Município de Paracatu MG. De acordo com os esclarecimentos constantes do Auto, o lançamento decorreu da alteração da glosa de parte da área declarada como sendo de utilização limitada (reserva legal), bem como do arbitramento do VTN declarado pela contribuinte. Através deste lançamento, foram alteradas as áreas declaradas pela contribuinte da seguinte forma (cf. quadro de fls. 05): 2005 Declarado Considerado no lançamento Área de Utilização Limitada 4.537,9 1.868,9 VTN 1.968.563,20 7.277.367,19 A glosa da área de reserva legal se deveu ao fato de que fora informado na DITR uma área de 4.537,9 hectares, quando estavam averbados somente 1.868,9 hectares (exatamente a área que foi aceita pela fiscalização). O ADA fora apresentado em 11.01.1999, e se referia à matricula 16.447. Como em 22.10.1999 houve o desmembramento deste imóvel, e a área da fazenda passou a constar da inscrição 17.052, entendeu a autoridade fiscal que deveria a contribuinte ter apresentado um ADA retificador, corrigindo tal situação. Por isso, não foi acolhida a área remanescente (diferença entre os 4.537,9 e os 1.868,9) como sendo área de preservação permanente. O arbitramento do VTN, por outro lado, ocorreu porque o valor declarado (R$ 264,88/ha) pela contribuinte estava muito abaixo do mínimo considerado pela Secretaria Fl. 2DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO Processo nº 13609.720058/200751 Acórdão n.º 210201.532 S2C1T2 Fl. 2 3 Estadual de Agricultura de MG (R$ 503,78/ha). Como o laudo apresentado referiase ao ano de 2002, e também apresentava um VTN por hectare muito inferior ao valor constante do SIPT, entendeu a autoridade fiscal que caberia o arbitramento. Cientificada do lançamento, a Interessada apresentou a Impugnação de fls. 79/82, alegando: que a reserva legal está contida na preservação permanente, sendo que a RL está averbada na matrícula 17.052 desde 13.11.2001, correspondendo a 25% do total do imóvel, que a APP seria de 2.669,0 hectares, devidamente declarada em ADA apresentado tempestivamente; que o fato de terem constado ambas as áreas como reserva seria irrelevante, já que ambas as áreas são isentas do ITR, seja como preservação permanente ou como reserva legal. Discorreu sobre a configuração das áreas do imóvel, e alegou que o desmembramento havido na matricula do imóvel não implicou na necessidade de retificação do ADA, já que a totalidade das reservas e APP permaneceram intactas. Quanto ao arbitramento do VTN, afirmou ter trazido laudo que demonstrava o correto VTN a ser adotado, o qual levara em consideração diversas transações imobiliárias do período, e não poderia ser desconsiderado. Pugnou pela revisão do lançamento, alegando que faturava anualmente aproximadamente R$ 1.200.000,00, e apresentava margem de lucro pequena, razão pela qual não suportaria tamanha “ganância fiscal”. Requereu ainda o cancelamento do Edital nº 006/2007. Na análise de tais alegações, os membros da DRJ em Brasília decidiram pela integral manutenção do lançamento. Inconformada com tal decisão, a contribuinte interpôs o Recurso Voluntário de fls. 99/105, por meio do qual reiterou a impugnação e alegou que não poderia ser penalizada pelo erro cometido pelo profissional que elaborou o laudo e esqueceu de mencionar qual seria a área de APP. Requereu a produção de prova pericial e protestou pela juntada de novo laudo aos autos. Os autos então foram remetidos a este Conselho para julgamento. É o Relatório. Voto Conselheiro Roberta de Azeredo Ferreira Pagetti, Relator Fl. 3DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO 4 O contribuinte teve ciência da decisão recorrida em 03.10.2008, como atesta o AR de fls. 98. O Recurso Voluntário foi interposto em 28.10.2008 (dentro do prazo legal para tanto), e preenche os requisitos legais por isso dele conheço. Conforme relatado, tratase de processo no qual se discute lançamento de ITR, efetuado em razão da glosa da área de reserva legal declarada pela Recorrente, e ainda em razão do arbitramento do VTN declarado. Antes de apreciar o mérito, porém, é preciso analisar o pedido de perícia formulado desde a Impugnação, o qual foi negado pela decisão de primeira instância, e por isso mesmo, reiterado em sede de Recurso Voluntário. Do Pedido de Perícia A Recorrente pugnou pela realização de perícia em sua propriedade. Este pedido foi formulado ainda em sede de Impugnação. A decisão recorrida entendeu ser despicienda a realização da perícia, pois não estava em discussão nos autos a efetiva existência das áreas em questão, mas somente o cumprimento das obrigações formais que permitiriam à Recorrente excluir da tributação do ITR as áreas em questão. Realmente, da leitura dos autos fica claro que a matéria aqui em discussão é eminentemente de direito, pois as questões de fato (existência ou não das áreas alegadas pela Recorrente) não foram postas em dúvida. Cumpre salientar, neste ponto, que o art. 18 do Decreto nº 70.235/72 assim dispõe quanto à realizações de diligências/perícias: Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observando o disposto no art. 28, in fine. Já o art. 28 mencionado assim determina: Art. 28. Na decisão em que for julgada questão preliminar será também julgado o mérito, salvo quando incompatíveis, e dela constará o indeferimento fundamentado do pedido de diligência ou perícia, se for o caso. Percebese daí que a realização de perícias somente é deferida quando as autoridades julgadoras entenderem que são necessárias ao deslinde da controvérsia e/ou à elucidação de algum ponto controvertido. Mas este não é o caso dos autos. Por isso, deve ser mantida a decisão recorrida no que diz respeito ao indeferimento do pedido de perícia. Da Reserva Legal Quanto ao mérito do Recurso, o primeiro item do inconformismo da Recorrente diz respeito à glosa da área declarada como sendo de Reserva Legal. A autoridade lançadora acolheu como comprovada apenas uma parte da área declarada pela Recorrente, tendo em vista que somente esta parte estava averbada à margem do Registro de Imóveis. Fl. 4DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO Processo nº 13609.720058/200751 Acórdão n.º 210201.532 S2C1T2 Fl. 3 5 A Reserva Legal originalmente declarada foi de 4.537,9 hectares, a qual foi reduzida para 1.868,9 através do lançamento. A Recorrente apresentou um ADA ao Ibama (fls. 15), em 11.01.1999 e dele não consta qualquer área de Reserva Legal, constando apensa uma área de preservação permanente no exato montante declarado como sendo de Reserva Legal (4.537,9 hectares). A glosa, então, se deveu à falta de averbação da área junto ao Registro de Imóveis, já que somente estavam averbados os 1.868,9 acolhidos pela fiscalização. Alem disso, entenderam as autoridades fiscais (e também a decisão recorrida) que o ADA apresentado em 1999 seria referente à matrícula imobiliária nº 16.447, a qual foi objeto de desmembramento, quando a área da Fazenda Santa Maria passou a constar na matrícula 17.052. Em razão do desmembramento, entendeu a autoridade fiscal que o ADA deveria ter sido retificado, a fim de contemplar a nova e atual situação das terras da Recorrente. Alega a Recorrente que declarou a referida área como APP por corresponder a 61% da área comprometida com reserva legal averbada e áreas impróprias para cultivo, por isso declaradas como de preservação permanente. Afirmou que o desmembramento em nada afetaria o ADA apresentado, pois as áreas permaneceram idênticas. De fato, em razão do desmembramento da área, caberia à Recorrente demonstrar qual a porção do imóvel que teria ficado com que porção de Reserva Legal, ou de APP. Esta prova, porém, não foi feita, tendo a Recorrente se limitado a alegar que tal alteração não afetaria o tamanho da Reserva Legal existente. Fato é que com o desmembramento, a configuração do imóvel restou alterada, razão pela qual caberia à Recorrente comprovar qual seria a efetiva parcela da Reserva Legal ou APP efetivamente existentes em seu imóvel, com os respectivos documentos. Ressaltese que não há nos autos qualquer informação a este respeito. Vale lembrar, aqui, que o lançamento pode ser revisto sempre que estiver incorreto, sendo que para tanto basta ao interessado que junte documentos e demonstre – de forma clara e objetiva – que o seu direito é bom, e que o lançamento não merece ser prestigiado. Sem estas provas, o convencimento do julgador fica dificultado, e consequentemente, não há como acolher a pretensão recursal. Ademais, a decisão recorrida foi muito bem fundamentada neste ponto, e por isso merece ser prestigiada e mantida. Do arbitramento do VTN No que diz respeito ao VTN, o arbitramento se deveu ao fato de que o VTN declarado (R$ 264,88) estaria bem abaixo do menor valor informado pela Secretaria Estadual de Agricultura de MG (R$ 503,78). O laudo de avaliação trazido pela Recorrente referiase ao ano de 2002, e trazia um VTN de R$ 257,60. Alega a Recorrente que o arbitramento efetuado não poderia prevalecer, por não corresponder à realidade dos fatos. Neste ponto, porém, não lhe assiste razão. Fl. 5DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO 6 É que o arbitramento, no caso em tela, decorreu da falta de comprovação do valor declarado em sua DITR a título de VTN para o imóvel de sua propriedade. Em casos como este, existe previsão legal específica para que o arbitramento ocorra – tratase do art. 14 da Lei nº 9.393/96, que assim determina: Art. 14. No caso de falta de entrega do DIAC ou do DIAT, bem como de subavaliação ou prestação de informações inexatas, incorretas ou fraudulentas, a Secretaria da Receita Federal procederá à determinação e ao lançamento de ofício do imposto, considerando informações sobre preços de terras, constantes de sistema a ser por ela instituído, e os dados de área total, área tributável e grau de utilização do imóvel, apurados em procedimentos de fiscalização. § 1º As informações sobre preços de terra observarão os critérios estabelecidos no art. 12, § 1º, inciso II da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, e considerarão levantamentos realizados pelas Secretarias de Agricultura das Unidades Federadas ou dos Municípios. § 2º As multas cobradas em virtude do disposto neste artigo serão aquelas aplicáveis aos demais tributos federais. (grifamos) Tal sistema (SIPT), por seu turno, foi instituído pela Portaria SRF nº 447/2002, que assim dispôs: Portaria SRF nº 447, de 28 de março de 2002 DOU de 3.4.2002 Aprova o Sistema de Preços de Terras O SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL no uso da atribuição que lhe confere o art. 209 do Regimento Interno da Secretaria da Receita Federal, aprovado pela Portaria MF nº 259, de 24 de agosto de 2001, e tendo em vista o disposto no art. 14 da Lei nº 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e na Portaria SRF nº 782, de 20 de junho de 1997, resolve: Art. 1º Fica aprovado o Sistema de Preços de Terras (SIPT) em atendimento ao disposto no art. 14 da Lei nº 9.393, de 1996, que tem como objetivo fornecer informações relativas a valores de terras para o cálculo e lançamento do Imposto Territorial Rural (ITR). Art. 2º O acesso ao SIPT darseá por intermédio da Rede Serpro, somente a usuário devidamente habilitado, que será feito mediante identificação, fornecimento de senha e especificação do nível de acesso autorizado, segundo as rotinas e modelos constantes na Portaria SRF nº 782, de 20 de junho de 1997. Parágrafo único. A definição e a classificação dos perfis de usuários, os critérios para a sua habilitação e as transações autorizadas para cada perfil, relativos ao controle de acesso lógico do SIPT, serão estabelecidos em ato da Coordenação Geral de Fiscalização (Cofis). Fl. 6DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO Processo nº 13609.720058/200751 Acórdão n.º 210201.532 S2C1T2 Fl. 4 7 Art. 3º A alimentação do SIPT com os valores de terras e demais dados recebidos das Secretarias de Agricultura ou entidades correlatas, e com os valores de terra nua da base de declarações do ITR, será efetuada pela Cofis e pelas Superintendências Regionais da Receita Federal. Art. 4º A CoordenaçãoGeral de Tecnologia e Segurança da Informação providenciará a implantação do SIPT até 15 de abril de 2002. Art. 5º Esta Portaria entra em vigor nesta data. EVERARDO MACIEL Foi assim que se deu a apuração do valor do VTN para fins de lançamento do ITR no caso que aqui se examina. Nos termos da legislação supra citada, vêse que a autoridade fiscal agiu corretamente, pois na falta de outro parâmetro para aferir o valor do imóvel da Recorrente – e entendendo que não mereciam fé os valores por ela declarados em DITR, utilizouse do referido SIPT. Este sistema (SIPT) foi criado justamente para balizar o arbitramento a ser efetuado em casos como o que ora se analisa. Desde que obedecidos os critérios mencionados na lei e na IN acima transcritas, abrese – com a Impugnação ao lançamento – a chance para o contribuinte se defender, ocasião em que serão rebatidos os critérios utilizados pela autoridade fiscal, de forma a comprovar (se for o caso) que o arbitramento estava equivocado, e que o valor declarado em DITR seria merecedor de fé. O que pode, e deve ser analisado aqui, é se a Recorrente logrou ou não refutar o valor arbitrado pela fiscalização, comprovando que ele não merecia ser utilizado. Contra ele, a Recorrente alega que o laudo trazido aos autos demonstraria o equívoco do valor arbitrado. No entanto, o referido laudo – como bem salientado pela decisão recorrida se refere ao ano de 2002, quando o ITR aqui em exigência se refere ao Exercício de 2005. Por isso, não se pode ter o referido laudo como um bom parâmetro para avaliação do VTN no caso em tela. Diante de todo o exposto, VOTO no sentido de NEGAR provimento ao Recurso. Assinado Digitalmente Roberta de Azeredo Ferreira Pagetti Relatora Fl. 7DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO 8 Fl. 8DF CARF MF Impresso em 06/03/2012 por VILMA PINHEIRO TORRES - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 08/12/2011 por ROBERTA DE AZEREDO FERREIRA PA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por GIOVANNI CHRI STIAN NUNES CAMPO
score : 1.0
Numero do processo: 16561.000222/2008-72
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Oct 21 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Fri Oct 21 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ
Ano-calendário: 2002, 2003, 2004
AUDITORIA FISCAL. PERÍODO DE APURAÇÃO ATINGIDO PELA DECADÊNCIA
PARA CONSTITUIÇÃO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO. VERIFICAÇÃO DE FATOS,
OPERAÇÕES, REGISTROS E ELEMENTOS PATRIMONIAIS COM REPERCUSSÃO
TRIBUTÁRIA FUTURA. POSSIBILIDADE. LIMITAÇÕES. O fisco pode verificar fatos, operações e documentos, passíveis de registros contábeis e fiscais, devidamente escriturados ou não, em períodos de apuração atingidos pela decadência, em face de comprovada repercussão no futuro, qual seja: na apuração de lucro liquido ou real de períodos não atingidos pela decadência. Essa possibilidade delimita-se pelos seus próprios fins, pois, os ajustes decorrentes desse procedimento não podem implicar em alterações nos resultados tributáveis daqueles períodos decaídos, mas sim nos posteriores. Em relação a situações jurídicas, definitivamente constituídas, o Código Tributário Nacional estabelece que a contagem do prazo decadencial para constituição das obrigações tributárias, porventura delas inerentes, somente se inicia após 5 anos, contados do período seguinte ao que o lançamento do correspondente crédito tributário poderia ter sido efetuado (art. 173 do CTN).
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. INAPLICABILIDADE. INOCORRÊNCIA
DE FRAUDE. Nos lançamentos de ofício para constituição de diferenças de tributos devidos, não pagos e não declarados, via de regra, é aplicada a multa proporcional de 75%, nos termos do art. 44, inciso I, da Lei 9.430/1996. A qualificação da multa
para o percentual de 150% depende não só da intenção do agente, como também da prova fiscal da ocorrência da fraude ou do evidente intuito desta, caracterizada pela prática de ação ou omissão dolosa com esse fim. Na situação versada nos autos não houve dolo por parte do contribuinte, logo incabível a aplicação da multa qualificada.
DECADÊNCIA. CONSTITUIÇÃO DE CREDITO TRIBUTÁRIO MEDIANTE
AUTO DE INFRAÇÃO. IRPJ E CSLL. Desqualificada a multa de ofício, a luz do entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manifestado em recurso repetitivo, havendo antecipação do pagamento dos tributos, o transcurso do prazo decadencial ocorrerá em 5 (cinco) anos, a contar da ocorrência do fato gerador, na forma do artigo 150, § 4°, do CTN.
AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO EFETIVAMENTE PAGO NA AQUISIÇÃO
SOCIETÁRIA. PREMISSAS. As premissas básicas para amortização de ágio, com
fulcro nos art. 7o., inciso III, e 8o. da Lei 9.532 de 1997, são: i) o efetivo pagamento do custo total de aquisição, inclusive o ágio; ii) a realização das operações originais entre partes não ligadas; iii) seja demonstrada a lisura na avaliação da empresa adquirida, bem como a expectativa de rentabilidade futura. Nesse contexto não há espaço para a dedutibilidade do chamado “ágio de si mesmo”, cuja amortização é vedada para fins fiscais, sendo que no caso em questão essa prática não ocorreu.
INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADE AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO ARTIGOS
7º E 8º DA LEI Nº 9.532/97. PLANEJAMENTO FISCAL INOPONÍVEL AO
FISCO - INOCORRÊNCIA.
No contexto do programa de privatização das empresas
de telecomunicações, regrado pelas Leis 9.472/97 e 9.494/97, e pelo Decreto nº 2.546/97, a efetivação da reorganização de que tratam os artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/97, mediante a utilização de empresa veículo, desde que dessa utilização não tenha resultado aparecimento de novo ágio, não resulta economia de tributos diferente da que seria obtida sem a utilização da empresa veículo e, por conseguinte, não pode ser qualificada de planejamento fiscal inoponível ao fisco. Preliminar de Preclusão Rejeitada. Preliminar de Decadência Acolhida.
Recurso Provido no Mérito.
Numero da decisão: 1402-000.802
Decisão: Acordam os membros do colegiado: i) Por maioria de votos, rejeitar a preliminar de impossibilidade do fisco efetuar em 2008 a auditoria dos elementos contábeis e fiscais do ano-calendário de 2001, para glosar valores com repercussão em períodos posteriores (ágio passível de amortização), vencido o Conselheiro Leonardo Henrique Magalhães de Oliveira, que acolhia a preliminar, cancelando integralmente o lançamento. O Conselheiro Moises Giacomelli Nunes da Silva votou pelas conclusões. ii) Por unanimidade de votos, desqualificar a multa de ofício e acolher a preliminar de decadência relativa ao IRPJ e CSLL do ano-calendário de 2002. iii) No mérito, por unanimidade de votos, restabelecer a dedutibilidade da amortização do ágio efetivamente pago na aquisição do Banespa pelo Santander e, por conseguinte, cancelar as exigências do IRPJ e da CSLL. Tudo nos termo do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado.
Nome do relator: Antonio José Praga de Souza
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decisao_txt : Acordam os membros do colegiado: i) Por maioria de votos, rejeitar a preliminar de impossibilidade do fisco efetuar em 2008 a auditoria dos elementos contábeis e fiscais do ano-calendário de 2001, para glosar valores com repercussão em períodos posteriores (ágio passível de amortização), vencido o Conselheiro Leonardo Henrique Magalhães de Oliveira, que acolhia a preliminar, cancelando integralmente o lançamento. O Conselheiro Moises Giacomelli Nunes da Silva votou pelas conclusões. ii) Por unanimidade de votos, desqualificar a multa de ofício e acolher a preliminar de decadência relativa ao IRPJ e CSLL do ano-calendário de 2002. iii) No mérito, por unanimidade de votos, restabelecer a dedutibilidade da amortização do ágio efetivamente pago na aquisição do Banespa pelo Santander e, por conseguinte, cancelar as exigências do IRPJ e da CSLL. Tudo nos termo do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002, 2003, 2004 AUDITORIA FISCAL. PERÍODO DE APURAÇÃO ATINGIDO PELA DECADÊNCIA PARA CONSTITUIÇÃO DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO. VERIFICAÇÃO DE FATOS, OPERAÇÕES, REGISTROS E ELEMENTOS PATRIMONIAIS COM REPERCUSSÃO TRIBUTÁRIA FUTURA. POSSIBILIDADE. LIMITAÇÕES. O fisco pode verificar fatos, operações e documentos, passíveis de registros contábeis e fiscais, devidamente escriturados ou não, em períodos de apuração atingidos pela decadência, em face de comprovada repercussão no futuro, qual seja: na apuração de lucro liquido ou real de períodos não atingidos pela decadência. Essa possibilidade delimitase pelos seus próprios fins, pois, os ajustes decorrentes desse procedimento não podem implicar em alterações nos resultados tributáveis daqueles períodos decaídos, mas sim nos posteriores. Em relação a situações jurídicas, definitivamente constituídas, o Código Tributário Nacional estabelece que a contagem do prazo decadencial para constituição das obrigações tributárias, porventura delas inerentes, somente se inicia após 5 anos, contados do período seguinte ao que o lançamento do correspondente crédito tributário poderia ter sido efetuado (art. 173 do CTN). MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. INAPLICABILIDADE. INOCORRÊNCIA DE FRAUDE. Nos lançamentos de ofício para constituição de diferenças de tributos devidos, não pagos e não declarados, via de regra, é aplicada a multa proporcional de 75%, nos termos do art. 44, inciso I, da Lei 9.430/1996. A qualificação da multa para o percentual de 150% depende não só da intenção do agente, como também da prova fiscal da ocorrência da fraude ou do evidente intuito desta, caracterizada pela prática de ação ou omissão dolosa com esse fim. Na situação versada nos autos não houve dolo por parte do contribuinte, logo incabível a aplicação da multa qualificada. DECADÊNCIA. CONSTITUIÇÃO DE CREDITO TRIBUTÁRIO MEDIANTE AUTO DE INFRAÇÃO. IRPJ E CSLL. Desqualificada a multa de ofício, ‘a luz do entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manifestado em recurso repetitivo, havendo antecipação do pagamento dos tributos, o transcurso do prazo decadencial ocorrerá em 5 (cinco) anos, a contar da ocorrência do fato gerador, na forma do artigo 150, § 4°, do CTN. Fl. 1DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 2 2 AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO EFETIVAMENTE PAGO NA AQUISIÇÃO SOCIETÁRIA. PREMISSAS. As premissas básicas para amortização de ágio, com fulcro nos art. 7o., inciso III, e 8o. da Lei 9.532 de 1997, são: i) o efetivo pagamento do custo total de aquisição, inclusive o ágio; ii) a realização das operações originais entre partes não ligadas; iii) seja demonstrada a lisura na avaliação da empresa adquirida, bem como a expectativa de rentabilidade futura. Nesse contexto não há espaço para a dedutibilidade do chamado “ágio de si mesmo”, cuja amortização é vedada para fins fiscais, sendo que no caso em questão essa prática não ocorreu. INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADE AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO ARTIGOS 7º E 8º DA LEI Nº 9.532/97. PLANEJAMENTO FISCAL INOPONÍVEL AO FISCO INOCORRÊNCIA. No contexto do programa de privatização das empresas de telecomunicações, regrado pelas Leis 9.472/97 e 9.494/97, e pelo Decreto nº 2.546/97, a efetivação da reorganização de que tratam os artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/97, mediante a utilização de empresa veículo, desde que dessa utilização não tenha resultado aparecimento de novo ágio, não resulta economia de tributos diferente da que seria obtida sem a utilização da empresa veículo e, por conseguinte, não pode ser qualificada de planejamento fiscal inoponível ao fisco. Preliminar de Preclusão Rejeitada. Preliminar de Decadência Acolhida. Recurso Provido no Mérito. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado: i) Por maioria de votos, rejeitar a preliminar de impossibilidade do fisco efetuar em 2008 a auditoria dos elementos contábeis e fiscais do anocalendário de 2001, para glosar valores com repercussão em períodos posteriores (ágio passível de amortização), vencido o Conselheiro Leonardo Henrique Magalhães de Oliveira, que acolhia a preliminar, cancelando integralmente o lançamento. O Conselheiro Moises Giacomelli Nunes da Silva votou pelas conclusões. ii) Por unanimidade de votos, desqualificar a multa de ofício e acolher a preliminar de decadência relativa ao IRPJ e CSLL do anocalendário de 2002. iii) No mérito, por unanimidade de votos, restabelecer a dedutibilidade da amortização do ágio efetivamente pago na aquisição do Banespa pelo Santander e, por conseguinte, cancelar as exigências do IRPJ e da CSLL. Tudo nos termo do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. (assinado digitalmente) Albertina Silva Santos de Lima Presidente (assinado digitalmente) Antônio José Praga de Souza – Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antônio José Praga de Souza, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araújo, Frederico Augusto Gomes de Alencar, Moisés Giacomelli Nunes da Silva, Leonardo Henrique Magalhães de Oliveira e Albertina Silva Santos de Lima. Fl. 2DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 3 3 Relatório O contribuinte BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A. recorreu a este Conselho contra a decisão proferida pela 10a. TURMA DA DRJ SÃO PAULO I/SP, em primeira instância, que julgou procedente a exigência consubstanciada no presente processo, pleiteando sua reforma, com fulcro no artigo 33 do Decreto nº 70.235 de 1972 (PAF). Em razão de sua pertinência, transcrevo o relatório da decisão recorrida: Conforme o Termo de Verificação de Fiscal de fls.172/204, em fiscalização empreendida junto à empresa acima identificada, referente aos anoscalendário de 2002 a 2004, o autuante verificou em síntese que: 1. Tendo em vista o número e a similaridade dos nomes das empresas a seguir tratadas, cabe inicialmente relacionálas abaixo: 1.1. Banco Santander Central Hispano S/A (SANTANDER HISPANO), instituição financeira constituída de acordo com as leis da Espanha, com sede em Santander, Espanha; 1.2. Banco do Estado de São Paulo S/A (BANESPA), CNPJ nº 61.411.633/000187; 1.3. Banco Santander S/A (SANTANDER S/A), CNPJ nº 90.400.888/000142; 1.4. Banco Santander Brasil S/A (SANTANDER BRASIL S/A), CNPJ nº 61.472.676/000172; 1.5. Santander Holding Ltda. (SANTANDER HOLDING), CNPJ nº 04.154.302/0001 75; 1.6. Meridional Holding Ltda. (MERIDIONAL HOLDING), CNPJ nº 03.116.561/0001 49. 2. Inicialmente cabe apresentar um histórico das operações comerciais e societárias que foram objeto da presente ação fiscal: 2.1. Em 04/10/2000, foi publicado o edital do Programa Nacional de Desestatização nº 03/2000, do BACEN, com a finalidade de alienar as ações do BANESPA por leilão em 20/11/2000 (fls.19/30). 2.2. Em 25/10/2000, foi constituída a SANTANDER HOLDING, com capital de R$1.000,00, divido em 1000 quotas, sendo os quotistas: (i) SANTANDER BRASIL S/A, com 999 quotas e (ii) AURÉLIO VELO VALLEJO, espanhol, CPF nº 215.139.658 40, com uma quota. A referida sociedade tinha como objeto social a participação e administração de bens próprios ou de terceiros, participação em outras sociedades, qualquer que fosse o respectivo objeto social, na qualidade de sócia minoritária ou controladora (fls.34/39). 2.3. Em 20/11/2000, o SANTANDER HISPANO, instituição financeira constituída de acordo com as leis da Espanha, com sede em Santander, Espanha, Paseo de Pareda nº 9 a 12, arrematou, em leilão, ações do BANESPA, por R$7.050.000.000,00, cuja liquidação financeira deuse em 27/11/2000 (fls.31). Fl. 3DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 4 4 2.4. Em 29/05/2001, foi efetuada a Primeira Alteração do Contrato Social da SANTANDER HOLDING (fls.40/43), tendo sido aumentado seu capital social de R$1.000,00 para R$9.574.901.000,00, mediante a criação 9.574.900.000 novas quotas, todas subscritas e integralizadas pelo quotista então admitido, SANTANDER HISPANO, mediante a conferência à sociedade de ações representativas do capital social do BANESPA, cujo valor atribuído foi de R$9.574.900.000,00, equivalente ao montante investido pelo subscritor na aquisição das ações de emissão do BANESPA então contribuídas. O valor atribuído às ações de emissão do BANESPA para fins de sua contribuição ao capital social foi fundamentado em laudo de avaliação elaborado pela empresa KPMG CORPORATE FINANCE, CNPJ nº 48.883.938/000123. Ademais, o quotista AURÉLIO VELLO VALEJO transferiu sua única quota da SANTANDER HOLDING para o SANTANDER BRASIL S/A, pelo valor de R$1,00, retirandose, assim, da sociedade. 2.4.1. Informa a Fiscalização que o valor em questão incluía um ágio de R$7.462.067.630,07 e um patrimônio líquido de R$2.173.519.280,48 (fls.78). 2.5. Em 30/05/2001, o SANTANDER HISPANO transferiu, conforme a Segunda Alteração do Contrato Social da SANTANDER HOLDING (fls.44/50), as quotas de sua propriedade, representadas pelas ações do BANESPA, no valor de R$9.574.900.000,00, para a MERIDIONAL HOLDING. 2.6. Em 29/06/2001, o SANTANDER S/A incorporou a MERIDIONAL HOLDING (fls.52), assumindo todos os seus direitos e obrigações, principalmente as quotas de titularidade desta última, no valor de R$9.574.900.000,00. 2.7. Conforme a Terceira Alteração do Contrato Social da SANTANDER HOLDING (fls.51/55), o SANTANDER BRASIL S/A transferiu as 1.000 quotas de sua propriedade ao SANTANDER S/A, que passou a ser detentor da totalidade das quotas da SANTANDER HOLDING (fls.51/55). 2.7. Em 12/07/2001, o BANESPA incorporou sua controladora, a SANTANDER HOLDING (fls.56/60), iniciando a amortização do ágio, que ocorreu por meio da amortização dos seguintes valores: (i) R$1.492.413.525,96, no anocalendário de 2002; (ii) R$895.942.350,64, no anocalendário de 2003; e (iii) R$1.426.929.732,13, no anocalendário de 2004. 3. A análise dos fatos conduz à conclusão de que o BANESPA não preencheu as condições impostas pelo legislador para deduzir os encargos de amortização do ágio em comento, para efeito de apuração das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, conforme o disposto nos artigos 7º e 8º, da Lei nº 9.532/97, no art.20, do Decretolei nº 1.598/77, que se encontram reproduzidos nos artigos 385 e 386, do RIR/99. 4. A Fiscalização não questiona a existência do ágio pago pelo SANTANDER HISPANO pelas ações do BANESPA. 5. Conforme a legislação tributária, a dedutibilidade dos encargos de amortização de ágio para fim de apuração do lucro real e base de cálculo da CSLL limitase ao sobrepreço pago que esteja assentado em expectativas de rentabilidade futura. Quaisquer outros fundamentos econômicos que eventualmente tenham alicerçado o ágio pago não autorizam sua amortização para efeito da apuração do lucro real e base de cálculo da CSLL. 5.1. No caso em tela, não é concebível que todo o ágio pago pelo SANTANDER HISPANO tivesse como fundamento as expectativas de rentabilidade futura, uma vez Fl. 4DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 5 5 que tal conclusão implicaria em desconsiderar todo o fundo de comércio do BANESPA. 5.2. A desconsideração do fundo de comércio do BANESPA necessariamente representaria considerar sem valor (i) a carteira de clientes do BANESPA, (ii) a capilaridade do banco no Estado de São Paulo, bem como (iii) o nome e (iv) a marca da instituição financeira. 5.3. Ao afirmar que todo o ágio pago se baseou em expectativas de rentabilidade futura, o que não encontra plausibilidade no caso em comento, o grupo econômico SANTANDER ilicitamente pretendeu obter o benefício fiscal de amortizar a totalidade do ágio pago, a despeito de a legislação vedar tal benesse em relação ao ágio baseado em outros fundamentos econômicos. 6. As demais condições legais impostas também não foram cumpridas para a dedutibilidade dos encargos de amortização do ágio. 6.1. As operações societárias realizadas pelo grupo econômico SANTANDER tiveram como objetivo econômico internalizar para o Brasil um ágio pago pela sociedade estrangeira domiciliada na Espanha (SANTANDER HISPANO) e gerado quando da aquisição de ações da pessoa jurídica brasileira (BANESPA). 6.2. O ponto de partida para tal internalização deuse com o aumento de capital da SANTANDER HOLDING com ações do BANESPA, então detidas pela sociedade espanhola. 6.3. O grupo econômico SANTANDER constituiu a SANTANDER HOLDING com o único fim de internalizar e transferir o ágio. Tratase de um caso típico de “empresa veículo”, criada com este exclusivo intuito. A recente jurisprudência administrativa vem sendo firmada no sentido de se exigir um propósito negocial em operações societárias que visem apenas a alcançar benefícios fiscais, tal como o caso em comento. 6.4. A subsequente incorporação da SANTANDER HOLDING pelo BANESPA também denota o intuito de desfrutar estritamente de um benefício fiscal derivado da amortização do ágio, conforme evidencia o item 1.1 do “Protocolo de Incorporação e Instrumento de Justificação” de fls.56. 6.5. No mesmo sentido são os itens 11 e 12 da “Instrumento Particular da Terceira Alteração do Contrato Social” da SANTANDER HOLDING (fls.54), os quais estabelecem que “(...) a sociedade constituiu uma provisão para manter a integralidade do patrimônio do Incorporador. A reversão desta provisão no Incorporador permitirá a neutralização dos efeitos adversos da amortização do ágio em seu balanço. Dessa forma, os dividendos atribuídos às ações do Incorporador não serão diminuídos pelo montante do ágio amortizável em cada exercício”. Logo, fica claro o intento eminentemente fiscal da operação societária, um vez que foi utilizado um mecanismo para aplacar o efeito da amortização do ágio na distribuição de dividendos. 7. O ágio foi efetivamente pago pela sociedade domiciliada na Espanha e não por uma domiciliada no Brasil. Portanto, o ágio decorrente da aquisição de ações haveria de ser contabilizado na sociedade estrangeira adquirente das ações do BANESPA, e não em uma domiciliada no Brasil. 7.1. As operações societárias desencadeadas após a aquisição das ações do Banespa lastrearamse nessa suposta transferência do ágio pago pela sociedade espanhola Fl. 5DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 6 6 para sociedades domiciliadas no Brasil, porque a dedutibilidade dos encargos de amortização do ágio pressupõe que este tenha sido contabilizado em uma sociedade domiciliada no Brasil. 7.2. As condições de dedutibilidade de encargos de amortização de ágio prevista nos art.386, do RIR/99, têm como pressuposto uma anterior contabilização do custo de aquisição do investimento, nos termos do art.385, do RIR/99. 7.3. Contudo, o previsto no art.385, do RIR/99, não é aplicável ao SANTANDER HISPANO, porque se trata de sociedade domiciliada no exterior, que como tal não se enquadra no conceito de contribuinte, na acepção técnica empregada no caput do aludido dispositivo (salientese que tal sociedade tampouco se enquadra no art.147, II, do RIR/99). A contabilização deste ágio na sociedade adquirente deve se pautar nas regras do país de seu domicílio, a Espanha, cuja legislação eventualmente poderia também conceder benefícios fiscais em decorrência do pagamento acima do valor patrimonial de ações. Tratase de contabilização em sociedade estrangeira, em relação à qual a legislação brasileira não pode ser impingida. 7.4. Uma vez que é inaplicável o art.385, do RIR/99, à operação que deu origem ao ágio pago na aquisição de ações do Banespa, também é certo que as operações societárias subsequentes não se subsumem à norma prevista no art.386, do RIR/99, já que a incidência daquela constitui pressuposto para a dedutibilidade autorizada por esta (atendidas as demais condições por ela impostas). 7.5. A despeito da tentativa do grupo econômico SANTANDER de transferir para o Brasil o ágio pago pela sociedade espanhola, em função da aquisição das ações da sociedade nacional, a legislação brasileira não autoriza que tal ágio seja aqui amortizado para efeito da apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL da sociedade nacional. 8. Um exame da devida contabilização das operações societárias empreendidas também torna indiscutível que o escopo único destas foi internalizar e carrear para o próprio BANESPA o ágio pago pela sociedade estrangeira. 8.1. Como o SANTANDER HISPANO é controlador do SANTANDER S/A, concluise que o investimento no BANESPA (incluindo o ágio pago) permaneceu por via indireta, mesmo após todas as operação societárias já discorridas, sob o controle da empresa espanhola que arrematou as ações com ágio. Assim, o ágio permanece indiretamente como um ativo da sociedade espanhola, por meio de sua participação na sua controlada brasileira. 8.2. A operação ora em exame, acerca da possibilidade de o BANESPA deduzir os encargos de amortização do ágio gerado na aquisição de suas próprias ações (salientando que o início da amortização deuse após o BANESPA incorporar sua controladora, a qual seria supostamente detentora do ágio pago pela sociedade estrangeira na aquisição das ações do próprio BANESPA), não possui qualquer substrato do ponto de vista econômico. É ilógica a situação de uma pessoa jurídica deduzir de seus próprios resultados a amortização de um ágio gerado na aquisição de suas próprias ações, notadamente se este tinha como fundamento uma rentabilidade futura destes mesmos resultados. 8.3. Do ponto de vista contábil, o feito das operações societárias consistiu basicamente num lançamento artificial de ágio a débito do ativo do BANESPA e a crédito de seu passivo (exigível ou não exigível), no valor de R$7.462.067.630,07. Como demonstrado, apesar das operações societárias aparentarem uma licitude formal quando individualmente analisadas, o resultado final do conjunto teve por Fl. 6DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 7 7 objetivo burlar a legislação tributária, deduzindo ilegalmente encargos de amortização, em prejuízo da Fazenda Nacional. 8.4. Por consequência, impõese o lançamento de ofício dos créditos tributários do IRPJ e da CSLL, decorrentes da ilícita dedução dos encargos de amortização do ágio. 9. A situação descrita se subsume à hipótese prevista no art.72, da Lei nº 4.502/64, o que impõe a aplicação da multa no percentual de 150% prevista no §1º, do art.44, da Lei nº 9.430/96, tendo em vista a inexistência de sentido econômico da operação. 9.1. Ademais, a ilicitude das operações foi comprovada pelos seguintes aspectos: 9.1.1. A SANTANDER HOLDING foi constituída apenas como empresa veículo para carrear o ágio gerado em empresa estrangeira para o Brasil, de forma que fosse posteriormente utilizado para redução do lucro apurado na própria empresa em que o mesmo ágio foi gerado, qual seja, o BANESPA. 9.1.2. O SANTANDER HISPANO pagou pelas ações do BANESPA um montante de R$7.050.000.000,00 quando da capitalização da SANTANDER HOLDING. Contudo, o capital representante das ações passou a R$9.574.900.000,00, conforme laudo de avaliação, ampliando o ágio para R$7.462.067.630,07, sem que houvesse contrapartida com fundamento econômico para tanto. 9.1.3. A natureza do ágio alegada no laudo de avaliação é de rentabilidade de exercícios futuros, ignorando a parcela derivada do fundo de comércio do BANESPA, pois a parcela do ágio neste fundada não geraria amortizações dedutíveis das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. 9.2. Os fatos descritos evidenciam a simulação de uma operação envolvendo cinco empresas sediadas no Brasil e uma no exterior, com a finalidade de iludir o Fisco, cujo único resultado foi a redução ilícita no lucro do BANESPA. É incabível a internalização do ágio pago, porque ele permaneceu indiretamente sob o controle da sociedade espanhola. Sendo assim, houve a criação fictícia de um ativo (ágio) no BANESPA, a despeito de permanecer existindo como ativo na sociedade espanhola. 9.3. Pelo exposto, fica caracterizado o intuito de fraude, o que justifica a aplicação da multa qualificada. 10. Demonstrada a ocorrência de fraude, dolo ou simulação, iniciase a contagem do prazo de decadência do direito de formalizar a exigência tributária no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ser feito, a teor do disposto no art.173, I, do CTN, ainda que se trate de tributo cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de satisfazer a obrigação tributária sem o prévio exame da autoridade administrativa. 10.1. Consoante o exposto nos itens anteriores, houve a utilização de fraude (definida nos termos do art.72, da Lei nº 4.502/64) para a diminuição ilícita da base tributável do IRPJ e da CSLL. Assim, em relação à infração apurada, a contagem do prazo decadencial dos tributos dela decorrentes tem sua previsão legal pelo art.173, I, do CTN. 10.2. Destarte, em relação a fatos geradores do IRPJ ocorridos em 31/12/2002 (salientando que o fato gerador mais remoto ora em análise data de 31/12/2002), a data limite para o lançamento de ofício é o dia 31/12/2008. Fl. 7DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 8 8 11. Em face da incorporação do BANESPA pelo SANTANDER S/A, em agosto de 2006, houve a responsabilização da incorporadora pelos tributos devidos pela incorporada, a teor do art.132, do CTN, e do art.207, III, do RIR/99. 11.1. No caso em tela, a responsabilidade da incorporadora não se restringe aos tributos devidos, mas também às multas aplicáveis à incorporada, tendo em vista que as operações societárias ocorreram entre empresas controladas pelos mesmos sócios e administradores. Logo, é inadmissível haver o desconhecimento por parte do incorporador tanto em relação aos atos ilícitos praticados pelo incorporado, quanto no que concerne ao passivo da sociedade incorporada. 11.2. Ademais, embora o art.132, do CTN, se referir apenas a tributos, sem alusão a penalidades aplicáveis, a interpretação sistemática do dispositivo à luz do ordenamento jurídico conduz à conclusão de que a responsabilidade dos sucessores também alcança as sanções imponíveis aos sucedidos. 11.3. Logo, resta demonstrada a licitude da cominação de multas de ofício ao SANTANDER S/A, em face de infrações cometidas pelo sucedido BANESPA. Em decorrência das constatações feitas pela Fiscalização, em 29/12/2008 foram lavrados Autos de Infração de IRPJ (fls.152/158) e CSLL (fls.162/169), com os valores a seguir discriminados: Demonstrativo do IRPJ Crédito Tributário Enquadramento Legal Valor em R$ Imposto Arts. 146, 147, 207, III, 249, I, 385, 386, do RIR/99; art.72, da Lei nº 4.502/64; art. 44, II, da Lei nº 9.430/96; e arts.129, 132, 150, §§1º e 4º, e art.173, I, do CTN. 920.863.646,09 Juros de Mora (até 28/11/2008) Art.6º, §2º, da Lei nº 9.430/96. 638.190.293,07 Multa de Ofício Art.44, II, da Lei nº 9.430/96. 1.381.295.469,13 TOTAL 2.940.349.408,29 Demonstrativo da CSLL Crédito Tributário Enquadramento Legal Valor em R$ Contribuição Art.2º e §§, da Lei nº 7.689/88; arts.57, e 58, da Lei nº 8.981/95; art.16, da Lei nº 9.069/95; art.1º, da Lei nº 9.316/96; art.28, da Lei nº 9.430/96; art.7º, da MP nº 1.807/99 e reedições; art.6º, da MP nº 1.858/99 e reedições; art.37, da Lei nº 10.637/02. 316.709.902,97 Juros de Mora (até 28/11/2008) Art.28 c/c art.6º, §2º, da Lei nº 9.430/96. 218.096.122,38 Multa de Ofício Art.44, II, da Lei nº 9.430/96. 475.064.854,44 TOTAL 1.009.870.879,79 DA IMPUGNAÇÃO A autuada apresentou a impugnação de fls.324/456, protocolizada em 28/01/2009 e acompanhada dos documentos de fls.457/656, expondo, em síntese, que: Fl. 8DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 9 9 1. A Fiscalização não poderia questionar a legalidade dos atos que originaram o direito ao aproveitamento do ágio, eis que transcorreu o prazo decadencial de cinco anos entre os fatos que propiciaram o surgimento do ágio em 2001 e a lavratura dos autos de infração em questão (29/12/08). 1.1. No presente caso ocorreu a decadência do direito de o Fisco questionar a legalidade dos atos societários que originaram o ágio (integralização do capital na SANTANDER HOLDING e subsequente incorporação pelo BANESPA) e, como consequência, o direito ao seu aproveitamento que surgiu em 2001, ainda que os seus efeitos tenham ocorrido em momento subsequente (amortização realizada nos anosbase de 2001, 2002, 2003 e 2004). 1.2. As autuações do presente processo administrativo devem ser canceladas, pois já havia transcorrido o prazo de cinco anos entre os fatos que propiciaram o surgimento do ágio em 2001 e a lavratura dos autos de infração em questão (29/12/08). 2. A multa agravada de 150%, prevista no art.44, §1º, da Lei nº 9.430/96, não pode prevalecer, porque não houve fraude ou simulação nas operações que culminaram com a amortização do ágio pelo BANESPA. 2.1. O dolo, elemento essencial à tipificação da fraude e simulação, não pode ser presumido, precisa ser provado, o que não ocorreu no presente caso. 2.2. No caso em tela, as operações societárias foram registradas contabilmente e levadas ao conhecimento dos órgãos competentes, como a JUCESP, a RFB, o BACEN e a CVM. 2.3. A legalidade das operações foi analisada por empresa de consultoria e por auditores externos, que emitiram pareceres favoráveis. 2.3.1. Ao analisar a estrutura societária pretendida pela impugnante, os auditores externos não só atestaram a sua licitude e o seu propósito econômico como, também, afastaram a ocorrência de simulação ou abuso de forma ou direito, deixando claro que os atos praticados estariam de acordo com os dispositivos legais (Lei nº 9.532/97). 2.4. Todo o processo em questão iniciouse por intermédio da aquisição das ações do BANESPA pelo SANTANDER HISPANO, por meio de leilão público, sem que tenha havido qualquer questionamento por parte da administração pública quanto à lisura dessa modalidade de licitação. 2.5. As operações societárias foram realizadas com evidentes e declarados propósitos negociais, qual seja, a aquisição do BANESPA por intermédio da operação mais correta, direta e adequada possível. 2.6. É incabível a imposição da multa agravada sob a alegação de que haveria simulação no presente caso, pois a empresa SANTANDER HOLDING foi legalmente constituída com o propósito de viabilizar o processo de aquisição das ações do BANESPA, por meio de leilão público, e não para obter, de forma ilícita, a redução do seu lucro. 3. Os créditos tributários do IRPJ e da CSLL relativos ao anobase de 2002 foram atingidos pela decadência, nos termos do art.150, §4º, do CTN, uma vez que (i) não houve a comprovação de fraude ou simulação, que justificasse a aplicação da regra decadencial prevista no art.173, I, do CTN, e (ii) a impugnante somente foi cientificada da lavratura dos autos de infração em 30/12/08. Fl. 9DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 10 10 4. Ainda que fosse aplicável o art.173, I, do CTN, ao caso em tela, é certo que também transcorreu o direito de o Fisco constituir os créditos tributários do IRPJ e da CSLL relativos ao anobase de 2002. Considerandose que os fatos jurídicos tributários ocorreram em 31/12/02, o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ser efetuado seria o dia 01/01/03, quando então se iniciou o prazo decadencial de cinco anos para o Fisco efetuar o lançamento. Vale dizer, o prazo de que dispunha o Fisco para efetuar os lançamentos em questão expirouse em 01/01/08. 5. A Fiscalização não analisou o contexto em que foram praticadas todas as operações descritas e por quais motivos foi indispensável a constituição da empresa SANTANDER HOLDING e demais operações societárias que se sucederam, com as peculiaridades próprias de uma operação de aquisição de ações em leilão público, com a participação de pessoas jurídicas nacionais e estrangeiras. 5.1. É necessário esclarecer que uma coisa é o pagamento efetuado pela empresa SANTANDER HISPANO quando do leilão, que teve um ágio negocial e eventuais implicações para a referida instituição no seu país de domicílio; outra coisa é o ágio gerado em território nacional, por intermédio de uma operação societária legítima de integralização de capital com aquisição de participação societária. São duas realidades fáticas, contábeis, societárias e jurídicas distintas, porém ligadas por meio de uma finalidade, que era a aquisição do BANESPA. 5.2. O ágio gerado no Brasil decorre de uma operação de aumento de capital realizada pelo SANTANDER HISPANO junto à SANTANDER HOLDING (empresa brasileira residente), após ter adquirido as ações do Banespa em leilão público e em oferta pública de ações. 5.3. Os argumentos utilizados pelo Fisco (impossibilidade de condição de rentabilidade futura, ausência de propósito negocial, existência de típica sociedade veículo) não foram comprovados durante o processo fiscalizatório. 6. Em 30/07/2001, a controlada (BANESPA) absorveu o patrimônio da controladora (SANTANDER HOLDING) em virtude de incorporação. Tendo as ações da controlada sido adquiridas com ágio apurado com fundamento econômico no valor de rentabilidade dos resultados dos exercícios futuros, estabelece a legislação que será possível amortizar o valor do ágio nos balanços correspondentes à apuração do lucro real, levantados posteriormente à incorporação, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração (inciso III e §6º, do art.386, do RIR/99). A consequência legal da integralização das ações na SANTANDER HOLDING é o registro contábil do ágio. 6.1. O benefício fiscal previsto no art.386, do RIR/99, de aproveitamento do ágio como uma despesa dedutível tem como objetivo beneficiar situações como a do presente caso, pois tornava mais atraente a realização dos investimentos necessários para as privatizações. 6.2. Era comum que o ágio gerado em operações de privatização fosse aproveitado nas próprias empresas privatizadas, com o lucro por elas gerado, como é o caso dos autos. Neste sentido, há autorização expressa do art.386, §6º, II, do RIR/99, para aplicação do benefício fiscal quando a empresa incorporada fosse aquela que detinha a propriedade da participação societária. 6.3. O aproveitamento do ágio decorrente das privatizações, como trata o presente caso, representa a mera fruição de um benefício fiscal previsto em lei, e não Fl. 10DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 11 11 planejamento tributário, que possui todos os requisitos legais, motivação econômica e coerência das estruturas adotadas com a finalidade pretendida. 7. O Edital do Programa Nacional de Desestatização nº 3/2000, no qual estava incluído o BANESPA, dispunha que era possível a participação de licitantes tanto nacionais como estrangeiros, o que está em conformidade com o princípio constitucional de isonomia entre os concorrentes (inciso XXI, do art.37, da CF) e com o art.3º, §1º, I, da Lei nº 8.666/93. 7.1. Outro fator fundamental para se garantir a isonomia entre os participantes na determinação do lance a ser oferecido é a igualdade do tratamento tributário, o que somente pode ser atingido pela neutralidade tributária da legislação no tratamento entre nacionais e estrangeiros. 7.2. Qualquer concorrente nacional estaria em vantagem sobre os eventuais concorrentes estrangeiros caso se opusessem dificuldades transversas (como ocorreu no presente lançamento tributário), à realização por estes de operações societárias legítimas que proporcionassem os mesmos efeitos tributários se realizadas por aqueles. 7.2.1. A Fiscalização não poderia estabelecer uma restrição ao grupo SANTANDER para o aproveitamento do benefício fiscal do ágio, por representar afronta à neutralidade de concorrência, nos termos do art.3º, §1º, I, da Lei nº 8.666/93. 8. Os concorrentes estrangeiros, antes da realização do leilão público, não podiam, sob qualquer forma, ingressar recursos pecuniários em pessoas jurídicas no Brasil, uma vez que, se o fizessem, restaria prejudicado o sigilo do preço ofertado, elemento crucial para obtenção do lance vencedor. 8.1. As empresas do grupo SANTANDER em atividade no Brasil, à época do leilão, não possuíam grande estrutura patrimonial no Brasil, se comparada aos demais bancos aqui existentes. Dessa forma, para que fosse possível fazer o pagamento do lance apresentado, seria necessária a remessa desses recursos do exterior, diretamente pela matriz sediada na Espanha a uma dessas empresas. 8.2. Assim, dessa maneira, a eventual transferência desses recursos para a SANTANDER HOLDING (empresa do grupo SANTANDER no Brasil que poderia ser utilizada na aquisição do BANESPA) antes de finalizado o leilão, seria um ato que inviabilizaria o sigilo da proposta pretendida e, consequentemente, a realização do negócio. 8.3. As operações como realizadas, e só dessa forma poderiam ter sido realizadas, propiciaram atribuir neutralidade fiscal à operação, em obediência às normas legais. 8.3.1. Somente por meio da estrutura societária implementada pelo grupo SANTANDER, nos estritos termos da lei, bem como com a utilização da empresa SANTANDER HOLDING, foi possível atingir a aquisição do BANESPA em condições de igualdade com os demais concorrentes e com a garantia do sigilo da sua oferta. 9. Nos termos dos artigos 26, 27 e 28, da Lei nº 4.595/64, o capital inicial de uma instituição financeira deve ser integralizado exclusivamente em moeda corrente nacional e o aumento de capital pode ser feito em moeda corrente ou por incorporação de reservas ou reavaliação de parcela dos bens do ativo imobilizado. Logo, não existe a possibilidade legal de se aumentar o capital social de uma empresa financeira por meio da integralização de participação societária, motivo pelo qual houve a necessidade da empresa SANTANDER HOLDING, entidade não Fl. 11DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 12 12 financeira, na operação em questão, para poder receber as ações adquiridas do BANESPA, em integralização de capital. 9.1. A empresa SANTANDER HOLDING foi criada para receber como integralização de capital as ações do Banespa inicialmente adquiridas pelo SANTANDER HISPANO. Tal aquisição por parte da SANTANDER HOLDING se deu por meio da referida operação societária. Tais fatos é que justificam a sua criação. Portanto, ela era imprescindível para a consecução do propósito negocial do grupo SANTANDER. 9.2. A forma mais direta, correta e adequada de se implementar a operação pretendida pelo grupo SANTANDER foi a realizada no presente caso, reiterese, em razão da vedação de aumento de capital em instituições financeiras por intermédio de integralização de quotas de outras sociedades. De fato, seria necessária a integralização das quotas adquiridas em uma empresa não financeira (SANTANDER HOLDING), para sua posterior incorporação pelo Banespa. 10. Em 30/06/2001, antes da incorporação pelo BANESPA, o SANTANDER HOLDING por exigência da CVM e do BACEN constituiu e registrou em seu passivo exigível uma provisão equivalente ao valor total do ágio que estava registrado em sua contabilidade, o que antecipou o reconhecimento de uma despesa e gerou um prejuízo antecipado para o grupo. Esse prejuízo foi apenas societário, não gerando qualquer benefício fiscal ou redução de tributos para o grupo SANTANDER. 10.1. A contabilização de provisão como contrapartida do ágio fundamentado em expectativa de rentabilidade futura é obrigatória quando se tratar de operação envolvendo instituição financeira, com a finalidade de se obter uma melhor governança corporativa e garantir a proteção dos direitos dos acionistas minoritários contra o efeito contábil da amortização futura do ágio na distribuição dos benefícios gerados pela sociedade, garantindo a manutenção do fluxo de dividendos e a transparência das demonstrações financeiras quanto à identificação dos seus resultados operacionais. 11. A Fiscalização afirma que o ágio pago pelo SANTANDER HISPANO na aquisição do BANESPA não poderia ser classificado unicamente com fundamento na previsão dos resultados nos exercícios futuros (inciso II, do §2º, do art.385, do RIR/99). 11.1. Contudo, não assiste razão ao Fisco, uma vez que o valor amortizado, a título de ágio pelo BANESPA, decorre da aquisição de suas ações pelo SANTANDER HOLDING. O valor desta aquisição, pela SANTANDER HOLDING, encontra fundamento econômico em expectativa de rentabilidade de exercícios futuros. 11.2. A Fiscalização não provou que o ágio integralizado pelo SANTANDER HISPANO englobaria algum valor correspondente ao fundo de comércio adquirido do BANESPA, tampouco qual seria a parcela desse montante que comporia o total do custo de aquisição das ações pelo SANTANDER HOLDING. 11.3. Pela análise da conclusão do laudo de avaliação dos avaliadores externos, elaborado nos termos da lei, resta claro que o valor do ágio decorrente da integralização do capital do BANESPA na empresa SANTANDER HOLDING estava amparado no fundamento econômico da rentabilidade futura, não tendo nenhuma justificativa, portanto, em valores decorrentes da aquisição do fundo de comércio do BANESPA. 11.4. Para fins de aplicação do benefício fiscal ora em análise, o valor do ágio integralizado na SANTANDER HOLDING gerado com fundamento em expectativa de rentabilidade futura deve ser calculado com base na integralidade das ações que Fl. 12DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 13 13 compõem a sua participação societária e não apenas na participação societária adquirida no leilão. 11.5. Cumpre observar que a marca da instituição financeira adquirida foi mantida durante o período estrito em que se procederam às integrações das plataformas tecnológicas dos dois bancos. Assim que procedida a uniformização, a marca foi abandonada, sem qualquer efeito para os negócios, prova de que não influenciou no pagamento do ágio. 12. O valor pago pelo SANTANDER HISPANO no leilão, num montante de R$7.050.000.000,00, corresponde apenas à aquisição de parte das cotas pertencentes à União que eram objeto da alienação, aproximadamente 30% do capital social (60% do capital votante). 12.1. O SANTANDER HISPANO adquiriu, logo após o leilão, quase a totalidade das demais ações do BANESPA, por meio de oferta pública de ações concluída em 06/04/2001. 12.2. Em 29/05/2001, o SANTANDER HISPANO integralizou suas ações representativas de 97,2% do capital social do BANESPA na SANTANDER HOLDING, ou seja, nesse momento houve a aquisição da participação societária por parte da SANTANDER HOLDING pelo valor de R$9,57 bilhões, investimento decorrente da participação no Patrimônio Líquido do BANESPA de R$2,11 bilhões e ágio de R$7,46 bilhões. 12.3. Reiterese que esta etapa da operação foi realizada após o grupo SANTANDER ter participado do leilão público e após realizar oferta pública de ações para aquisição da quase totalidade do capital do BANESPA, e representa operação societária de integralização de capital, por meio da qual a SANTANDER HOLDING adquiriu, nos estritos termos da lei, as ações do Banespa, surgindo daí um ágio. 12.4. Pela análise da tabela de fls.438, constatase que não houve reavaliação do ágio pago quando da aquisição das ações do Banespa pertencentes à União (leilão de 20/11/2000), mas somente a aquisição de novas ações, por meio de oferta pública e aquelas pertencentes aos funcionários, motivo pelo qual deve ser considerado o montante de R$7.462.067.630,07 a título de ágio, a ser amortizado como benefício fiscal. 13. Conforme o art.132, do CTN, o sucessor responde apenas pelos tributos devidos até a data da sucessão. No caso em análise, a multa foi lançada em 30/12/2008, enquanto a incorporação deuse no dia 31/08/2006. Portanto, não há que se manter a cobrança da multa punitiva em face da impugnante. 13.1. Como a multa em apreço somente foi lançada após o evento da incorporação, que ocorreu em 31/08/2006, sobre fatos de responsabilidade exclusiva da empresa incorporada, não se pode admitir a transferência dessa penalidade também em razão do seu caráter personalíssimo, ainda que as empresas sejam do mesmo grupo econômico. 14. Considerandose a natureza remuneratória da taxa SELIC, a inconstitucionalidade de sua aplicação, bem como sua ilegalidade, não há que se admitir a utilização da mesma, no presente caso, com a natureza de juros de mora. A decisão recorrida está assim ementada: Fl. 13DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 14 14 DECADÊNCIA. FATOS GENÉRICOS DO MUNDO FENOMÊNICO. ACEPÇÃO TÉCNICA DE FATO GERADOR. É incabível afirmar que tenha ocorrido a decadência em relação a um fato genérico do mundo fenomênico. Na acepção técnica definida pelo CTN, a decadência somente pode se verificar em face de fatos geradores expressamente previstos em lei. DECADÊNCIA. DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. Quando a autoridade fiscal demonstra que ocorreram veementes indícios de dolo, fraude ou simulação, a decadência regese conforme o disposto no art. 173, inciso I, do CTN. OPERAÇÃO SOCIETÁRIA. INTEGRALIZAÇÃO DE CAPITAL SOCIAL DE SOCIEDADE LIMITIDA POR MEIO DE CONFERÊNCIA DE AÇÕES. VALOR REAL DAS AÇÕES. INEXISTÊNCIA DE ÁGIO. Numa operação de integralização de capital de sociedade limitada, efetivada por meio de conferência de ações, deve ser considerado o valor real das ações fixado em relação ao patrimônio líquido da companhia. Cabe ressaltar que tal operação societária não possui o condão de produzir ágio, nem mesmo comporta a transferência de ágio eventualmente apurado na aquisição originária das ações. EMPRESAS NACIONAL E ESTRANGEIRA. DIREITO INTERNACIONAL. LIMITE DE APLICAÇÃO DE ORDENS JURÍDICAS. Toda empresa, seja nacional ou estrangeira, está sujeita ao domínio de validade da ordem jurídica do respectivo Estado soberano, que é delimitado e circunscrito ao poder territorial de cada Estado. LEILÃO. ESPÉCIE DO GÊNERO LICITAÇÃO. ISONOMIA DE CONDIÇÕES ENTRE LICITANTES. PRINCÍPIO DE VINCULAÇÃO AO EDITAL. INAPLICABILIDADE DE NORMAS TRIBUTÁRIAS ALHEIAS AO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. O leilão, enquanto espécie do gênero licitação, é um procedimento vinculado, formalmente regulado em lei e regido pelo respectivo edital. A isonomia de condições entre licitantes é garantida pelo princípio de vinculação ao edital, o qual, todavia, não abrange a aplicação de normas tributárias alheias ao procedimento licitatório, em relação às quais não há qualquer previsão no edital. REGISTRO DE OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS. ATRIBUIÇÕES DAS JUNTAS COMERCIAIS. COMPETÊNCIA DE EXAME FORMAL DO ATO MERCANTIL. Ao efetuarem o registro das operações societárias, as Juntas Comerciais se limitam a realizar um exame formal dos atos mercantis, verificando o atendimento das exigências estipuladas por lei. As Juntas não analisam nem a matéria de direito, nem realizam a investigação do mérito dos atos mercantis. FUNDAMENTO ECONÔMICO DO ÁGIO. INDICAÇÃO DO ÁGIO FUNDAMENTADO EM FUNDO DE COMÉRCIO. Em função da expressa previsão legal do §2º, do art.20, do DecretoLei nº 1.598/77, o lançamento de ágio, decorrente de desdobramento do custo de aquisição, deve necessariamente identificar o respectivo fundamento econômico, de acordo com as alíneas do dispositivo legal em comento, que prevêem, dentre outras hipóteses, a necessária identificação do ágio fundamentado em fundo de comércio. ÔNUS DA PROVA. DETERMINAÇÃO DO VALOR DO ÁGIO. ALEGAÇÃO DESACOMPANHADA DE PROVA. Cabe ao impugnante trazer juntamente com suas alegações impugnatórias todos os documentos que dêem a elas força probante. MULTA AGRAVADA. EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE. Caracterizado o evidente intuito de fraude, definido nos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64, Fl. 14DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 15 15 impõese a aplicação da multa agravada, nos termos do §1º, do art.44, da Lei nº 9.430/96, com a redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007. MULTA DE OFÍCIO. INCORPORAÇÃO. RESPONSABILIDADE DA SUCESSORA. A pessoa jurídica incorporadora é responsável pelo crédito tributário da incorporada, respondendo tanto pelos tributos e contribuições como por eventual multa de ofício e demais encargos legais decorrentes de infração cometida pela empresa sucedida, mesmo que formalizados após a alteração societária, mormente se incorporadora e incorporada encontravamse sob controle comum. JUROS DE MORA. TAXA SELIC. A utilização da taxa SELIC para o cálculo dos juros de mora decorre de disposição expressa em lei, não cabendo aos órgãos do Poder Executivo afastar sua aplicação. DEMAIS TRIBUTOS. MESMOS EVENTOS. DECORRÊNCIA. A ocorrência de eventos que representam, ao mesmo tempo, fato gerador de vários tributos impõe a constituição dos respectivos créditos tributários, e a decisão quanto à real ocorrência desses eventos repercute na decisão de todos os tributos a eles vinculados. Assim, o decidido quanto ao Imposto de Renda Pessoa Jurídica aplica se à tributação dele decorrente. LANÇAMENTO PROCEDENTE. Cientificada da aludida decisão, a contribuinte apresentou recurso voluntário, no qual repisa as alegações da peça impugnatória, bem como contesta os fundamentos do acórdão recorrido. Transcrevese, a seguir, a síntese dessas razões recursais: PRELIMINARES I Da indevida inovação do lançamento por parte da Turma Julgadora No Termo de Verificação Fiscal, o Sr. Auditor Fiscal expressamente reconheceu que as operações societárias, quando analisadas individualmente, são lícitas, embora o resultado final tivesse como objetivo, no seu entendimento, “burlar a legislação tributária, deduzindo ilegalmente encargos de amortização em prejuízo da Fazenda Nacional.” Contudo, a Turma Julgadora sustentou, de forma absolutamente inovadora, que a integralização das ações do Banespa deveria ter sido feita apenas pelo valor do patrimônio líquido (supostamente o valor real), sem considerar, para tal propósito, o valor relativo ao ágio (ou seja, o custo total do investimento). Dessa forma, este novo critério jurídico somente poderia fundamentar a lavratura de um eventual novo auto de infração, jamais se aplicando a qualquer lançamento antecedente, sob pena de indevida mudança do critério jurídico. II “Preclusão” da possibilidade do Fisco questionar a legalidade dos atos societários que deram origem ao Ágio Em 20/11/00 o Santander Hispano arrematou, em leilão, as ações do Banespa por R$ 7.050.000.000,00, sendo que referida operação foi liquidada em 27/11/00. Ainda, após a realização do citado leilão, a aludida empresa espanhola fez uma Oferta Fl. 15DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 16 16 Pública de Ações para adquirir as demais participações societárias do Banespa que estavam no mercado. Em 29/05/01, o Santander Hispano aumentou o capital social da Santander Holding mediante a subscrição e integralização das ações do Banespa, pelo valor atribuído de R$ 9.574.900.000,00 (correspondente ao PL de R$ 2.173.519.280,48 e ágio de R$ 7.462.067.630,07). O valor relativo ao ágio foi devidamente contabilizado e declarado pela Santander Holding, conforme balanço patrimonial levantado em 30/06/01 e DIPJ (ficha 38 A). Assim, o ágio como elemento contábil e societário decorrente das operações societárias realizadas, surgiu em 29/05/01, com o aumento de capital da Santander Holding, tendo sido transferido ao Banespa por incorporação em 30/07/01, momento a partir do qual passou a produzir efeitos tributários (amortização da base de cálculo do IRPJ e da CSLL). Assim, não se pode questionar a legalidade dos atos que originaram o direito ao aproveitamento do ágio no presente caso, eis que transcorreu o prazo decadencial de cinco anos entre os fatos que propiciaram o surgimento do ágio em 2001 e a lavratura dos autos de infração em questão (29/12/2008). III Da inexistência de fraude e simulação Não há fundamento também para imputação da multa agravada de 150%, prevista no artigo 44, § 1º, da Lei n° 9.430/96, porquanto não houve fraude nas operações que culminaram com a amortização do ágio pelo Banespa. Para a caracterização da fraude, há que estar presente a figura do dolo específico caracterizado pela intenção manifesta do agente de omitir dados, informações ou procedimentos que resultam na diminuição ou retardamento da obrigação tributária. Com efeito, quem age com intuito de fraude realiza operações proibidas, não as escritura em seus registros comerciais e fiscais, não declara essas operações nos formulários de entrega obrigatória e, quando fiscalizado, não entrega a documentação solicitada, procurando sob todas as formas ocultar essas operações. E mais, adultera documentos, utilizase de documentos calçados e paralelos, pessoas inexistentes ou “laranjas” e de documentos falsos e inidôneos. No presente caso, nenhuma destas condutas foi praticada pelo Recorrente, conforme restou comprovado pelos documentos e argumentos abaixo mencionados: (i) Da publicidade dos atos societários que foram devidamente registrados nos órgãos competentes: as operações societárias foram devidamente registradas contabilmente e levadas ao conhecimento de todos os órgãos competentes como JUCESP, BACEN e CVM, bem como refletidas em documentos fiscais e contábeis submetidos à Receita Federal. (ii) Das opiniões dos assessores e dos auditores externos: para realizar as aludidas operações, o Recorrente contratou renomada empresa de consultoria especializada para analisar legalidade da reestruturação societária pretendida sob a óptica do parágrafo único ao artigo 116 do CTN. Ainda, as demonstrações contábeis do Banespa, referentes aos anosbase de 2001 a 2004, nas quais já estava refletido o ágio e as respectivas amortizações, foram devidamente analisadas e validadas pelos auditores independentes, especialmente pelas notas explicativas que acompanharam a publicação das mencionadas Fl. 16DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 17 17 demonstrações contábeis, sem quaisquer ressalvas. Na decisão ora recorrida, alegase que os pareceres acostados à peça impugnatória padeceriam de erro. Contudo, mesmo que se houvesse erro na interpretação de lei no presente caso (que não ocorreu), não há que se falar em fraude, como já decidiu a Câmara Superior de Recursos Fiscais. III.1 penalidade qualificada – inocorrência de verdadeiro intuito de fraude – erro de proibição – artigo 112 do CTN. Em se tratando de matéria controvertida, temse que o resultado final é apenas pela ocorrência de erro na interpretação da lei, mas não de fraude à lei. Recurso negado” (g.n.) (Acórdão CSRF n° 0202896) (i) Do leilão público – ato administrativo válido: toda a reestruturação societária implementada pelo grupo Santander iniciouse com a realização de leilão público, sem a menor possibilidade de conduta que tivesse por objetivo “esconder” qualquer ato do Fisco. Destaquese, inclusive, que o Sr. Agente Fiscal justifica a fraude pelo fato de o Recorrente ter oferecido um valor muito superior aos demais participantes. Contudo, esquecese que esse valor foi pago como forma de garantir a vitória no Leilão e o beneficiário foi a própria União! (ii) Da não ocorrência da “simulação de uma complexa operação”: não ocorreu no presente caso a prática de atos simulados tendentes a transmitir/conferir direitos a pessoa diversa do efetivo titular, uma vez que todo o processo de compra do Banespa deveria iniciarse, OBRIGATORIAMENTE, por intermédio do Santander Hispano (empresa espanhola, não residente), conforme será demonstrado. IV Decadência do direito do Fisco lançar o IRPJ e a CSLL referentes ao ano base de 2002 No presente caso: (i) os tributos exigidos – IRPJ e CSLL – estão sujeitos ao lançamento por homologação; (ii) os fatos jurídicos tributários ocorreram no período compreendido entre 31/12/02 e 31/12/04; (iii) não houve a comprovação de fraude, o que justificaria a aplicação da regra decadencial prevista no artigo 173, inciso I, do CTN e (iv) o Recorrente somente foi cientificado da lavratura dos autos de infração em 30/12/08, concluise que: os créditos tributários do IRPJ e da CSLL, relativos ao anobase de 2002, já estavam fulminados pela decadência, nos termos do artigo 150, § 4° do CTN. DO MÉRITO V Da efetiva operação realizada – aquisição do Banespa para expansão das atividades do Grupo Santander no Brasil Inicialmente, ressaltese que os Srs. Agentes Fiscais, durante o processo de fiscalização, não inquiriram, em momento algum, o Recorrente a justificar os motivos econômicos ou jurídicos pelos quais as operações societárias foram praticadas, tais como descritas nos atos societários que lhes foram entregues. Ou seja, os lançamentos foram efetuados com base na mera presunção de que as operações praticadas não tiveram propósito negocial (presunção decorrente da simples leitura dos atos societários – “análise das fotografias”). Fl. 17DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 18 18 De fato, ao final da análise das operações em questão (“análise do filme”), restará comprovada que a forma jurídica adotada pelo grupo Santander, para participar no processo de leilão, foi a mais direta, correta e adequada para atingir seu objetivo final: a compra do Banespa e a integração das atividades bancárias para obtenção de sinergia no grupo Santander, com o conseqüente aproveitamento do ágio decorrente dessa aquisição. Antes da aquisição do Banespa por meio do leilão ocorrido em novembro de 2000, o grupo Santander no Brasil possuía uma atividade bancária no País de pequeno porte, em face dos demais bancos privados aqui operantes. Esse panorama foi radicalmente alterado após a aquisição do Banespa. Dessa forma, a inclusão do Banespa no Programa Nacional de Desestatização foi uma oportunidade única para o grupo Santander ingressar definitivamente no mercado brasileiro e consolidar seu poder econômico no mercado nacional. Para se ratificar o até aqui exposto – aquisição do Banespa em razão de necessidade de expansão das atividades comerciais do grupo Santander – juntouse ao autos a reportagem publicada na Revista Veja, Edição nº 1677, de 29/11/2000: “OLÉ! OS ESPANHÓIS RECONQUISTARAM A AMÉRICA Santander compra o Banespa por 7 bilhões de reais, já é o terceiro maior banco privado do país e quer ser o número 1 até 2003” Com efeito, passase a expor as principais “fotografias” que compõem o “filme” da aquisição do Banespa, nas quais se perceberá a validade de cada passo adotado pelo grupo Santander, bem como o sentido econômico e o propósito negocial de toda essa operação: (i) 25/10/2000 – constituição da Santander Holding com capital de R$ 1.000,00, tendo como sócios o Banco Santander S/A e o Sr. Aurélio Velo Vallejo (21 dias após a publicação do edital do leilão); (ii) 20/11/2000 – Santander Hispano adquire as ações representativas de 30% do capital social do Banespa por meio da apresentação do maior lance secreto, em envelope fechado, adquirindo o controle anteriormente pertencente à União: Frisese: esta foi a primeira etapa da operação e, necessariamente, realizada pelo Santander Hispano (empresa espanhola – não residente) tendo em vista as particularidades do processo de desestatização do Banespa, isto é: lance secreto pelo maior valor, após préqualificação dos concorrentes. (iii) 06/04/2001 – Santander Hispano conclui a aquisição de quase a totalidade das ações do Banespa, por meio de Oferta Pública de Ações – OPA, (anunciada em 28/12/2000) chegando à participação societária de 97,2% do capital social, a um custo de aquisição de R$ 9,57 bilhões; (iv) 29/05/2001 – Santander Hispano integraliza suas ações representativas de 97,2% do capital social do Banespa na Santander Holding: momento da aquisição da participação societária pela Santander Holding pelo valor de R$ 9,57 bilhões – Investimento decorrente da participação no PL do Banespa de R$ 2,11 bilhões e Ágio de R$ 7,46 bilhões. Frisese: esta etapa da operação foi realizada após o grupo Santander ter participado do leilão público e após realizar oferta pública de ações para aquisição da quase totalidade do capital do Banespa. Além disso, representa operação societária de Fl. 18DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 19 19 integralização de capital, por intermédio da qual a Santander Holding adquiriu, nos estritos termos da lei, as ações do Banespa, surgindo daí um ágio. Tal etapa da operação foi absolutamente necessária dentro do propósito negocial do grupo Santander, bem como trouxe neutralidade fiscal e isonomia entre todos os concorrentes (nacionais/estrangeiros). (v) 30/05/2001 – Integralização das cotas da Santander Holding na Meridional Holding. Ato societário realizado para obtenção de sinergia do grupo Santander Brasil (simplificação da estrutura administrativa, integrando e racionalizando as estruturas societárias do grupo). (vi) 29/06/2001 – Banco Santander S/A incorpora a Meridional Holding e passa a deter todas as quotas da Santander Holding (ato societário realizado para obtenção de sinergia do grupo Santander Brasil): O Banco Santander Central Hispano detinha participações no Brasil em distintas instituições financeiras. Assim, com o objetivo de consolidar seus investimentos e permitir uma percepção de um único grupo no País, foi iniciado o processo de reestruturação a fim de racionalizar, em várias etapas, a estrutura societária no Brasil, bem como consolidar as operações em um único balanço. Tratouse, portanto, de operação de simplificação de estrutura societária, buscando sinergia administrativa e integração das atividades bancárias. (vii) 30/06/2001 – Constituição de Provisão – Exigência da CVM para proteger os acionistas minoritários do Banespa: Esta etapa da operação foi realizada em conformidade com as exigências da CVM e do BACEN (Instruções CVM nºs 319/99 e 349/01; Circular BACEN nº 3.017/00), com o intuito de proteger, quando da incorporação da Santander Holding pelo Banespa (etapa que se verá adiante), o fluxo na distribuição de dividendos aos acionistas minoritários. Ressaltese, portanto, que a constituição dessa provisão tem como objetivo a boa prática de governança coorporativa (proteção do acionista minoritário contra o efeito contábil da amortização futura do ágio na distribuição dos benefícios gerados pela sociedade), permitindo a manutenção do fluxo de dividendos e a transparência nas demonstrações contábeis de maneira a deixar evidente, para qualquer interessado, os resultados operacionais do Banespa (e atualmente do Recorrente). Não existe nenhum efeito fiscal nesta operação. Pelo exposto, notase, desde já, outro equívoco cometido pela Turma Julgadora ao afirmar que a provisão foi indevida (fls. 1454). (viii) 30/07/2001 – O Banespa incorpora a Santander Holding e passa a amortizar o ágio – ato societário realizado para utilização de tratamento fiscal previsto em lei (art. 386, III, e § 6º, II, do RIR/99)– não há qualquer planejamento tributário, tratase de “opção legal”: Com esta operação, o Banespa incorpora o acervo da antiga Santander Holding passando a exercer a atividade bancária plena, como uma das instituições financeiras do grupo Santander, continuando o processo de integração de atividades bancárias e buscando sinergia administrativa e tecnológica. Esse processo continuou a ser realizado pelo grupo Santander até que em 2006, após concluído o processo de renovação e integração tecnológica total, os vários bancos foram integrados juridicamente com a criação de um único banco do grupo: o Banco Santander (Brasil) S/A – atual Recorrente. Fl. 19DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 20 20 Conforme se depreende dos atos acima descritos, todas as operações realizadas pelo grupo Santander tiveram como objetivo criar uma estrutura societária que tornasse viável, como planejamento estratégico, a aquisição do Banespa, com o conseqüente aproveitamento do direito à amortização fiscal do ágio gerado na integralização das suas cotas na Santander Holding, exatamente nos termos do artigo 386, § 6º, inciso II, do RIR/99. Com efeito, dentro de todo esse contexto, notase que as operações realizadas não passaram de um conjunto de operações societárias usuais, normais e necessárias para adquirir o Banespa e iniciar a expansão dos negócios comerciais e, ainda, reduzir as complexidades estruturais de um Grupo Econômico em crescimento, que atualmente caminha para atingir o objetivo de seu planejamento estratégico. III Legitimidade da aquisição do investimento com ágio pela Santander Holding e posterior aproveitamento fiscal pelo Banespa Natureza Jurídico/Contábil do Ágio na Aquisição de Participações Societárias No presente caso, podese distinguir dois fatos jurídicos distintos e autônomos de aquisição das ações do Banespa: (i) FATO JURÍDICO 1: aquisição, pelo Santander Hispano, de ações do Banespa correspondentes a 97,02% do seu capital social, mediante o pagamento de R$ 9,57 bilhões (custo de aquisição – valor pago no leilão e na OPA). A contabilização desse investimento deve seguir a legislação da Espanha; (ii) FATO JURÍDICO 2: aquisição, pela Santander Holding, de ações do Banespa correspondentes a 97,02% do seu capital social, por meio da conferência em integralização de capital realizada pelo Santander Hispano, no valor de R$ 9,57 bilhões (transferência pelo custo de aquisição na conferência de ações). Como conseqüência desses dois fatos jurídicos autônomos de aquisição de participação societária, temse a seguinte conseqüência para as duas pessoas jurídicas em destaque: (i) O Santander Hispano deixou de possuir em seu ativo as ações do Banespa pelo custo de aquisição de R$ 9,57 bilhões e passou a possuir em seu ativo um investimento em outra sociedade controlada (Santander Holding) no mesmo valor de R$ 9,57 bilhões – troca de ativos; (ii) A Santander Holding teve um aumento no seu ativo no valor de R$ 9,57 bilhões correspondente ao investimento no Banespa, como contrapartida do aumento de capital integralizado pelo Santander Hispano. Portanto, em conformidade com os princípios contábeis geralmente aceitos e nos termos do artigo 20 do DL nº 1.598/77 e da Instrução CVM nº 247/96, a Santander Holding desdobrou o valor total do custo de aquisição das ações do Banespa (R$ 9,57 bilhões) em valor do investimento pela equivalência patrimonial (R$ 2,11 bilhões) e ágio (R$ 7,46 bilhões). Da Licitude da Aquisição de Participação Societária com Ágio Conferida em Integralização de Ações. Fl. 20DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 21 21 Os Srs. Agentes Fiscais manifestaramse expressamente acerca da operação em que o Santander Hispano conferiu as ações do Banespa em integralização de capital na Santander Holding (operação em que foi gerado o ágio objeto de amortização no presente caso), concluindo que todas as operações consideradas isoladamente foram lícitas. Ocorre que, conforme demonstrado anteriormente, a Delegacia de Julgamento trouxe um novo fundamento jurídico aos autos, na tentativa de validar as autuações em questão: a impossibilidade de conferência das ações do Banespa com ágio em integralização de capital na Santander Holding, pois as ações deveriam ter sido conferidas pelo valor de patrimônio líquido (suposto valor real). Contudo, não há nenhum óbice na legislação a que o bem conferido em integralização de capital seja avaliado a valor de mercado, desde que amparado por laudo de avaliação (o que existe no presente caso). Ademais, é totalmente coerente que o valor do ágio esteja contabilizado na mesma pessoa jurídica que é detentora do investimento, pois só assim será possível a amortização desse ágio contra os lucros futuros que o justificaram. Neste exato sentido é a conclusão do parecer elaborado para o presente caso, pelo Prof. Dr. Alexsandro Broedel Lopes, Titular do Departamento de Contabilidade da FEAUSP, Membro do IASB, FIPECAFI e atualmente Diretor da CVM: “É nosso entendimento que o ágio representado pela aquisição das ações do Banespa pelo Banco Santander Central Hispano S.A., posteriormente conferidas em integralização de capital na Santander Holding S.A., deve ser amortizado na mesma entidade que possuir os investimentos referidos. Entendemos que o ágio deve seguir o ativo que o gerou e não permanecer na entidade que adquiriu os investimentos – bem como sua respectiva amortização. É nossa opinião que esse é o tratamento adequado da questão indagada pela consulente com base nas informações fornecidas e nos Princípios Contábeis Geralmente Aceitos (PCGA) no Brasil à época da realização das operações.” (g.n.) Tratamento Tributário do Ágio – Dedução Fiscal da Amortização No presente caso, em que (i) a controlada (Banespa) absorve patrimônio da controladora (Santander Holding) em virtude de incorporação; (ii) tendo as ações da controlada sido adquiridas com ágio; (iii) apurado com fundamento econômico no valor de rentabilidade dos resultados nos exercícios futuros; (iv) estabelece a legislação que será possível amortizar o valor do ágio nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração (inciso III e § 6º do artigo 386 do RIR/99). A dedutibilidade fiscal da amortização do ágio, gerado na aquisição de sociedades, teve como objetivo incentivar a prática de fusões e aquisições, especialmente quando se tratavam de estatais em processos de privatização – como é o caso dos autos. Efetivamente, a possibilidade de aproveitamento do ágio induziria a uma oferta maior do preço que seria pago ao Estado, fomentando, portanto, as privatizações. Ademais, também era muito comum que o ágio gerado em operações de privatização fosse aproveitado nas próprias empresas privatizadas, com o lucro por elas gerado Fl. 21DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 22 22 como é o caso dos autos. Neste sentido, como já mencionado existe autorização expressa do artigo 386, § 6º, inciso II, do RIR/99 para aplicação da dedução fiscal quando a empresa incorporada fosse aquela que detinha a propriedade da participação societária. Portanto, o aproveitamento do ágio decorrente das privatizações, como trata o presente caso, representa a mera fruição de um tratamento fiscal previsto em lei e não planejamento tributário. É exatamente este efeito fiscal (esse direito) que qualquer que fosse a pessoa jurídica adquirente do Banespa, residente ou não residente, no processo de leilão, teria direito de usufruir, diferentemente do que entenderam os Sr. Julgadores na decisão ora recorrida. Rentabilidade Futura como Fundamento Econômico do Ágio A aquisição da participação societária que está sob análise é a decorrente da conferência de capital na Santander Holding, cujo fundamento econômico na expectativa de rentabilidade futura está devidamente comprovado por meio de laudo de avaliação de empresa especializada. Inicialmente, destaquese que não foi feita qualquer prova, pela Fiscalização, de que o ágio integralizado pelo Santander Hispano englobaria algum valor correspondente ao fundo de comércio adquirido do Banespa, tampouco qual seria a parcela desse montante que comporia o total do custo de aquisição das ações pela Santander Holding. Além disso, também se faz necessário deixar claro que o Laudo elaborado por empresa de avaliação especializada (KPMG Corporate Finance) não foi questionado em momento algum. Caso os fundamentos econômicos deste laudo tivessem sido analisados durante a fiscalização, ficaria claro ao Sr. Agente Fiscal que o valor do ágio pago para a aquisição das ações do Banespa se justificam, sim, no valor da expectativa de rentabilidade futura e, inclusive, contemplavam a subseqüente oferta pública que sucedeu a aquisição das ações do Banespa no processo licitatório. Ademais, apenas a título exemplificativo, o Recorrente deixou claro em sede de impugnação que a marca Banespa, isoladamente, não teve relevância para a determinação do valor do investimento. Verificase, inclusive, que a marca “Banespa” foi comercialmente abandonada, prova de que não influenciou no pagamento do ágio. De fato, o §2º do artigo 20 do DL nº 1.598/77 determina ser obrigatória a indicação do fundamento econômico para o lançamento do ágio em um dos seguintes critérios: (i) valor de mercado de ativos; (ii) expectativa de rentabilidade futura; ou (iii) fundo de comércio, intangíveis ou outras razões econômicas. Contudo, este dispositivo legal não estabelece a obrigatoriedade de consideração de todos os critérios mencionados, mas ao menos um “dentre” eles. Também não há uma ordem lógica ou pressuposta para a atribuição de destes fundamentos. Tal determinação nem seria possível, pois o fundamento econômico para o pagamento de ágio em uma aquisição de bens (no caso ações do Banespa) é critério de decisão único e exclusivo do adquirente. Tratase de prerrogativa negocial que é própria da livre iniciativa das partes na motivação para determinação do preço do ativo. Fl. 22DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 23 23 Neste sentido, a intenção do contribuinte é expressa no momento da aquisição, pelo fundamento escolhido, o qual está vinculado com o propósito econômico da aquisição. Caso o adquirente tenha por objetivo explorar o negócio adquirido, ele pode fundamentar o preço (e o ágio) pela rentabilidade esperada. Por outro lado, se o adquirente pretende liquidar a companhia, poderá estar interessado na mais valia dos ativos subjacentes a serem vendidos. IV Isonomia entre Concorrentes e Neutralidade Fiscal na Alienação do Banespa – Inexistência de Privilégio Exclusivo para as Empresas Nacionais de Aproveitamento Fiscal do Ágio O Programa Nacional de Desestatização, no qual foi incluído o Banespa, estava vinculado aos preceitos previstos na Lei nº 8.666/93, que regulamenta o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal e institui normas para licitações e contratos da Administração Pública, o qual estabelece a isonomia como fator fundamental para a alienação de bens públicos. Com o objetivo de maior aplicabilidade ao princípio constitucional de isonomia entre os concorrentes, prevê o artigo 3º, § 1º, inciso I, da Lei nº 8.666/93, que é vedado aos agentes públicos estabelecer “distinções em razão da naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes”. Ademais, diferentemente do que entendeu a Turma Julgadora, um fator fundamental para se garantir a isonomia entre os participantes, na determinação do lance a ser oferecido, é a igualdade do tratamento tributário, o que somente pode ser atingido pela neutralidade tributária da legislação no tratamento entre nacionais e estrangeiros. Apenas a título ilustrativo, ressaltese que, caso a arrematação do Banespa tivesse se dado por um banco nacional, não haveria questionamento quanto à possibilidade de aproveitamento da dedutibilidade fiscal do ágio, como ocorreu na aquisição do Banerj e do Banestado pelo Itaú. Qual seria o fundamento para o tratamento desigual entre um banco nacional e um banco ESTRANGEIRO? Nenhum! Até porque quanto maior o número de concorrentes maiorES seriam as possibilidades de sucesso do leilão e, por consequência, maior o preço recebido pela união. De fato, é importante ressaltar que o tratamento fiscal de dedutibilidade do ágio não representa, necessariamente, uma perda de receita para a Administração Pública. Isto porque o referido benefício de redução da base tributável da empresa privatizada em exercícios futuros será um fator de valorização do preço a ser pago, que irá representar o ingresso imediato de recursos para a entidade da Federação. V Da Sistemática de Alienação das Ações no Leilão – Sigilo do Lance como Fator Determinante para a Aquisição do BANESPA Ademais, um dos fatores fundamentais para a garantia de igualdade de concorrência no leilão é o sigilo da proposta dos participantes. Tratase de preceito fundamental, motivo pelo qual o desrespeito ao sigilo da proposta em procedimento licitatório é crime sujeito a detenção de 2 a 3 anos e multa, nos termos do artigo 94 da Lei nº 8.666/93. No presente caso, a sistemática de alienação das ações do Banespa, conforme previsto no Edital PND nº 3/2000, se dava por meio da apresentação de um Fl. 23DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 24 24 envelope opaco fechado, com o lance em moeda corrente nacional. A importância do sigilo consistia no fato de que o Santander Hispano somente poderia arrematar o Banespa, sem a necessidade de realizar lances a viva voz, caso não houvesse nenhum lance igual ou superior a 80% do valor do seu lance nos demais envelopes. De fato, caso as grandes instituições brasileiras, à época, acreditassem que o grupo Santander iria realmente participar do leilão, com uma proposta competitiva, elas pagariam qualquer preço para evitar o ingresso de mais um concorrente “de peso” no mercado nacional (conforme se depreende da afirmação feita por Gabriel Jaramillo, o presidente do Santander no Brasil, à época, em entrevista à Veja em 29/11/2000, logo após a aquisição do Banespa) Portanto, não resta dúvida que o sigilo do lance que foi apresentado pelo grupo Santander, para a aquisição do Banespa, era fundamental para que ele fosse vencedor na privatização. Este sigilo somente foi possível com a realização da operação tal como descrita anteriormente. Isto porque, caso o Santander Hispano tivesse capitalizado qualquer sociedade nacional, anteriormente à participação no leilão, estaria deflagrando aos demais participantes qual seria o preço que pretendia pagar, impedindo o sigilo da oferta. Caso isso ocorresse, os bancos nacionais certamente aumentariam suas ofertas, de forma a inviabilizar o ingresso do grupo Santander como um concorrente tão expressivo no mercado nacional. Não é à toa o brocardo popular: “o segredo é a alma do negócio”. Qualquer movimento cambial correspondente a R$ 7.050.000.000,00 afetaria o mercado como um todo (balança de pagamentos) e seria de conhecimento público com facilidade. A movimentação de divisas dessa magnitude provocaria a identificação do valor supostamente pretendido pelo grupo Santander para aquisição do Banespa, o que, certamente, frustraria tal objetivo. Ademais, trazer ao País, previamente ao leilão público, o aludido valor sem a certeza da vitória no processo licitatório seria extremamente custoso e irrazoável (lembrese que è época era exigida a CPMF, além de todos os demais custos bancários e riscos atinentes à moeda). VI Da Necessidade (Imprescindibilidade) da Santander Holding – Fundamento Econômico para o Presente Concreto. Afirma a decisão ora recorrida que a Santander Holding seria uma “empresa veículo”, uma “empresa de passagem”, pois teria uma duração efêmera, sem “propósito negocial” e “sem funcionários”. Contudo, destaquese inicialmente que, nos termos da Lei nº 4.595/64 (artigo 28), o aumento de capital, em uma instituição financeira, pode se dar, tão somente, pelas seguintes formas: (i) em moeda corrente; ou (ii) incorporação de reservas; ou (iii) reavaliação das parcelas dos bens do ativo imobilizado. Regulamentando a mencionada norma, o BACEN editou a Circular n° 2.750/97 (artigo 2º) que deixa evidente que o aumento de capital social nas instituições financeiras só pode ser feito por moeda corrente (recursos de acionistas ou quotistas) ou por reservas de capital ou lucros. No mesmo sentido é o o Plano de Contas COSIF (item 2) Fl. 24DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 25 25 Notase, portanto, que não existe a possibilidade legal de se aumentar o capital social de uma instituição financeira por meio da integralização de participação societária, motivo pelo qual fica evidente a necessidade da Santander Holding (entidade não financeira) para poder receber as ações adquiridas do Banespa, em integralização de capital. Portanto, não é possível argumentar que o Santander Hispano (empresa espanhola – não residente), ao invés de capitalizar as ações do Banespa na Santander Holding (suposta empresa “veículo”), poderia ter capitalizado tais ações em outra sociedade financeira pertencente ao grupo. Ora, como visto, tal procedimento não era legalmente possível, daí por que a existência da Santander Holding. Ela foi criada, justamente, para receber como integralização de capital as ações do Banespa inicialmente adquiridas pelo Santander Hispano. Tais fatos é que justificam sua criação. Portanto, ela era imprescindível e absolutamente necessária para consecução do propósito negocial do grupo Santander. Ademais, conforme já demonstrado, o grupo Santander somente pôde participar do leilão por meio do credenciamento do Santander Hispano, o qual faria o lance e o pagamento após a arrematação. Insistase: não havia outra forma jurídica possível para viabilizar essa operação (aquisição do Banespa em condições de sigilo de preço e com o aproveitamento do benefício fiscal do ágio) nem as operações societárias subseqüentes que foram implementadas para gerar sinergia no grupo Santander. Em suma, a estrutura utilizada para a aquisição das ações do Banespa era a mais adequada para que: (i) se mantivesse o sigilo do lance no leilão, tendo em vista que o Santander Hispano (não residente) não teria como internalizar esses recursos no Brasil sem que os demais participantes do leilão ficassem sabendo qual seria a sua proposta; (ii) fosse possível, por conseqüência, a amortização fiscal do ágio previsto em Lei, uma vez que não havia a viabilidade de utilização de outra sociedade do grupo Santander no Brasil; (iii) fosse dado um tratamento isonômico e neutro à operação, e (iv) fossem preservados os direitos dos acionistas minoritários do Banespa, por meio da constituição de provisão na Santander Holding no montante total do ágio (boa governança corporativa), garantindo a manutenção do fluxo de dividendos e a transparência das demonstrações financeiras quanto à identificação dos seus resultados operacionais. Neste sentido, cabe ressaltar que o intuito de se utilizar a Santander Holding, como instrumento para a viabilização do leilão, se demonstra inclusive por meio do elemento temporal (esta sociedade foi constituída antes da realização do leilão: 21 dias após a publicação do edital PND – Programa Nacional de Desestatização 03/2000 do Banco Central do Brasil). Ressaltese também que as demais operações societárias descritas pelos Srs. Agentes Fiscais se traduzem em legítimas operações de redução de estruturas societárias para obtenção de sinergias no grupo Santander Brasil, conforme também já destacado. Por fim, é importante que se tenha em mente que o presente caso é completamente distinto dos outros casos já julgados pelo Conselho de Contribuintes, especialmente distinto das operações conhecidas como “casasepara” e “operação ágio”. Isto porque, primeiramente, o presente caso trata de ágio gerado na integralização das ações do Banespa na Santander Holding. Assim, conforme já destacado, a Fl. 25DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 26 26 operação deve ser analisada como um filme, no qual se percebe todos os atos que foram executados no contexto de aquisição do Banespa no processo de privatização, por meio de lance realizado pelo Santander Hispano. No presente caso está evidente que o propósito ou a finalidade não é evitar a incidência do ganho de capital. De fato, se há algum ganho na venda do Banespa neste processo de privatização, este ganho é da União e não do grupo Santander. Ainda, o precedente administrativo citado pelos Srs. Agentes Fiscais trata, na verdade, de operação realizada entre particulares, num contexto totalmente distinto de um leilão público de privatização, seja pelo procedimento licitatório previsto em Lei no presente caso, seja pelo porte da operação de aquisição do Banespa (“jóia da coroa” das privatizações). Imprescindibilidade da Santander Holding como Forma de Proteção dos Minoritários – Fundamento Econômico para a Operação Devese destacar ainda que, antes da incorporação pelo Banespa, a Santander Holding registrou em seu passivo exigível uma provisão equivalente ao valor do ágio que estava registrado em sua contabilidade. De fato a proteção do direito ao fluxo de dividendos dos minoritários encontrase prevista e regulamentada no artigo 6º da Instrução CVM nº 319/99 (com redação dada pela Instrução CVM nº 349/01), bem como no artigo 16 da mesma norma. Esta previsão também está expressa nos artigos 1º, 7º e 8º da Circular BACEN nº 3.017/00, que trata do processo de incorporação. Esta provisão foi constituída como forma de evitar os efeitos negativos do ágio no patrimônio líquido do Banespa, decorrentes da sua amortização após a incorporação. Desta forma, com a amortização do ágio nos exercícios subseqüentes pelo Banespa (e pelo Recorrente após a incorporação), em contrapartida do resultado do período, igual valor da referida provisão seria, também, creditado no resultado, de modo a anular o efeito da amortização do ágio no fluxo de distribuição de dividendos. VII Da Teoria do Propósito Negocial –Aplicabilidade às Operações Praticadas Da Teoria do Propósito Negocial – Aplicabilidade às Operações Praticadas Motivo, Finalidade e Congruência do Negócio Jurídico No presente caso, mesmo admitindose os pressupostos da doutrina do propósito negocial para a validade do planejamento tributário (o que não é o caso dos autos), ainda assim encontramse presentes o motivo, a finalidade e congruência dos atos: O motivo foi a aquisição do Banespa em processo de privatização, com a consequente amortização fiscal do ágio gerado nessa aquisição, nos termos da Lei. A finalidade da operação era a aquisição de uma instituição financeira de grande porte e aumento da participação no mercado brasileiro. Todos os atos societários praticados inseremse congruentemente neste contexto da aquisição de uma instituição financeira por outra: (i) a forma de participação no leilão;(ii) os fluxos de caixa ocorridos; (iii) a necessidade da constituição de todas Fl. 26DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 27 27 as sociedades envolvidas; e (iv) todas as operações realizadas para reduzir estruturas e obter a sinergia e consolidação do grupo Santander no Brasil. Coerência com o Planejamento Estratégico do Empreendimento Econômico Poderseia ainda cogitar da aplicação de mais um limite ao suposto “planejamento tributário” (insistase que não é o caso dos autos) praticado no presente caso. Trata se da coerência da questão com o planejamento estratégico do empreendimento econômico. Este último limite ao “planejamento tributário” consiste na análise da operação no contexto empresarial e na verificação de sua coerência com as estratégias e os planos futuros do empreendimento como um todo. De fato, como demonstrado, o grupo Santander possuía e possui um planejamento estratégico para o Brasil claro e definido. Seu objetivo de longo prazo, declarado inclusive por meio de notícias veiculadas em jornais e revistas desde a época da aquisição do Banespa, é o de se tornar o maior Banco privado em atividade no território nacional. A aquisição do Banespa, como já mencionado, foi apenas um capítulo desse filme projetado há muito tempo, mas o filme ainda não acabou, como se percebe das mais recentes aquisições feitas por esta instituição financeira. VIII Da Inexistência de Previsão Legal para a Adição, à Base de Cálculo da CSLL, da Despesa com a Amortização de Ágio Considerada Indedutível Ainda, mesmo que se considere a amortização fiscal do ágio indedutível para fins de apuração da base de cálculo do IRPJ no presente caso, o que se admite apenas a título argumentativo, é possível concluir que o lançamento de CSLL não possui fundamento legal, motivo que enseja a reforma da decisão ora recorrida e o cancelamento do auto de infração em comento, conforme já se manifestou esse E. Conselho. “CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO – BASE DE CÁLCULO – ADIÇÕES – ILEGALIDADE – ART. 57 – LEI Nº 8.981/95 – INAPLICABILIDADE. A adição á base de cálculo da CSSL do valor da amortização do ágio na aquisição de investimentos avaliados pela equivalência patrimonial não encontra previsão legal, não podendo ser exigida do contribuinte. Não se aplica à presente questão o art. 57 da Lei nº 8.981/95, pois tal dispositivo não determina que a base de cálculo da CSLL seja idêntica à base de cálculo do IRPJ, nem que as adições devem ser as mesmas.” (Acórdão nº 107 07315) IX Da Impossibilidade do Lançamento da Multa de Ofício na Hipótese de Responsabilidade Tributária por Sucessão Ademais, o Recorrente foi autuado na qualidade de sucessor por incorporação. Contudo, como a multa em apreço somente foi lançada após o evento da incorporação, que ocorreu em 31 de agosto de 2006, sobre fatos de responsabilidade exclusiva da empresa incorporada, não se pode admitir a transferência dessa penalidade, também em razão do seu caráter personalíssimo, ainda que as empresas sejam do mesmo grupo econômico, conforme já assentou a jurisprudência (judicial e administrativa) sobre o tema, razão pela qual o Recorrente Fl. 27DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 28 28 aguarda que a decisão ora recorrida seja reformada integralmente e seja exonerada a multa de ofício em apreço. X Da não Incidência da Taxa de Juros Selic sobre a Multa de Ofício Por fim, os juros calculados com base na taxa SELIC não poderão ser exigidos sobre a multa de ofício lançada, por absoluta ausência de previsão legal, motivo pelo qual deverá esse E. Conselho determinar o seu cancelamento. DO PEDIDO Ante o exposto e ratificandose as demais alegações de defesa desenvolvidas em sede de recurso voluntário, espera o Recorrente que este Egrégio Conselho reforme a decisão ora recorrida, com o conseqüente cancelamento integral dos autos de infração objeto do presente processo administrativo (...) Instada a manifestarse nos termos do art. 48, §3o. do anexo II Regimento Interno do CARF, a douta PGFN apresentou contrarrazões de fls. , cujos a essência de transcrevese (verbis): 26 Dessa forma, ultrapassada a preliminar de decadência apresentada pelo contribuinte, passase à análise do mérito. II. “Ágio de si mesmo”. 27 Como já relatado acima, o litígio envolve basicamente dois acontecimentos. O primeiro concerne na aquisição do Banespa com ágio pelo Santander Hispano. Nesse ponto, não há divergência de que o Santander Hispano efetivamente pagou ágio pela aquisição do investimento. 28 O segundo acontecimento foi a subscrição, pelo Santander Hispano, de ações do Santander Holding, com a entrega do investimento no Banespa e sua avaliação pela rentabilidade futura. 29 A fiscalização, e o próprio contribuinte, citaram durante o processo alguns documentos que atestam que a efetiva finalidade da segunda operação era possibilitar a transferência, para a empresa operacional, do ágio pago pelo Santander Hispano na aquisição do Banespa. NAO 30 Ora, se a essência de todo o negócio jurídico em tela foi o de possibilitar a transferência do ágio pago pelo Santander Hispano para o Banespa, a segunda operação (subscrição, pelo Santander Hispano, das ações do Santander Holding com o investimento no Banespa), deveria, em verdade, ser desconsiderada, pois representa mera formalidade. Não tem verdadeira substância econômica. 31 E isso resta patente não apenas por todos os documentos existentes nos autos que demonstram a verdadeira causa negocial, como na própria utilização de “empresa veículo” (a Santander Holding, com existência efêmera, sem nenhuma atividade econômica – declarações de rendimentos não revelam nenhuma outra atividade a não ser a participação no Banespa , sem funcionários, com capital inicial Fl. 28DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 29 29 de R$ 1000,00 e que recebeu, em subscrição de capital, investimento com o impressionante valor de R$ 9.574.901.000,00). 32 Todavia (e de forma contraditória), uma das alegações do contribuinte é o de que a primeira e a segunda operação devem ser analisadas de forma independente. Ou seja, a segunda operação não representaria uma seqüência da primeira, em que efetivamente houve dispêndio de recursos e efetivo pagamento de ágio, mas uma operação autônoma, que gerou um novo ágio. 33 Nesse sentido, pedese venia para transcrever o seguinte trecho do recurso voluntário: (...) 34 No seu “memorial complementar”, apresentado após a última sessão de julgamento, o contribuinte reiterou o argumento, citando em seu favor o acórdão n.° 110100.354, que negou provimento a recurso de ofício. Naquela decisão, em síntese, a DRJ julgou que não há possibilidade jurídica de transferência de ágio entre sociedades mediante subscrição de capital em empresa veículo e sua posterior incorporação pela empresa operacional. Para a DRJ, a subscrição de capital dá origem a um ágio específico, que não se comunica com as operações anteriores. 35 Entretanto, o argumento do contribuinte em nada o aproveita. Ao inverso, justifica o auto de infração. 36 Com efeito, considerar a segunda operação como um fato distinto e autônomo em relação à primeira (aquisição do Banespa por Santander Hispano, com ágio), implica, portanto, em buscar o fundamento do ágio amortizado exclusivamente na segunda operação (subscrição de capital por Santander Hispano em Santander Holding). 37 Na segunda operação, o ágio amortizado decorreu da avaliação do Banespa para fins de subscrição de capital no Santander Holding, de acordo com os arts. 7° e 8° da Lei das S/A. O critério de avaliação utilizado foi o valor de rentabilidade futura do Banespa. Posteriormente, o Santander Holding foi incorporado pelo próprio Banespa, possibilitando a amortização. 38 Entretanto, nessa hipótese (analisandose exclusivamente a segunda operação), o ágio amortizado pelo Banespa nasceu mediante operação entre sociedades do mesmo grupo econômico, com utilização de empresa veículo, não importou em dispêndio de recursos, e resultou da projeção da sua própria rentabilidade. Ou seja, o valor amortizado pelo Banespa decorreu da rentabilidade do próprio Banespa. 39 Ora, essa é exatamente a descrição do conhecido planejamento “ágio de si mesmo”, que já foi devidamente proscrito pela jurisprudência do CARF!!! 40 Nesse ponto, pedese venia para transcrever ementa e voto condutor do acórdão 130100058, que reflete, de forma bastante didática, o entendimento do CARF a respeito do planejamento “ágio de si mesmo”. Em suma, o Conselho vem decidindo que a despesa, quando tem por base a mais valia do patrimônio da própria sociedade que se beneficiará da amortização, aproveitada mediante operação com empresa veículo, na verdade está sendo “criada” sem uma base fática, e portanto não pode ser amortizada. Confirase: “Acórdão 130100.058 3ª Câmara / 1ª Turma Ordinária Fl. 29DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 30 30 DESPESA DE ÁGIO. DESCARACTERIZAÇÃO. INDEDUTIBILIDADE — Não há que se falar em despesas de ágio na situação em que os montantes correspondentes decorrem de expectativas de rentabilidade daquele que se beneficiou da redução do lucro tributável. (...) 41 Vejase que se a subscrição de capital por Santander Hispano em Santander Holding fosse mesmo um fato distinto e autônomo da aquisição das ações do Banespa, então o fundamento do ágio pago por Santander Hispano na aquisição do Banespa não seria o mesmo da subscrição de capital no Santander Holding. E, se isso fosse procedente, o ágio amortizado pelo Banespa teria origem num negócio jurídico entre empresas do mesmo grupo, com utilização de empresa veículo, em que não houve verdadeiro dispêndio de recursos, e seu fundamento seria a rentabilidade do próprio BANESPA. Tal descrição corresponde exatamente ao planejamento “ágio de si mesmo”! 42 A fiscalização percebeu tal problema, ao afirmar que “o que aqui se examina é a possibilidade de o Banespa deduzir os encargos de amortização do ágio gerado na aquisição de suas próprias ações (...). Ora, do ponto de vista econômico, a situação se apresenta sem qualquer substrato. É desprovida de significado econômico a dedução dos referidos encargos de amortização. Como explicar que uma pessoa jurídica passe a deduzir de seus próprios resultados a amortização de um ágio gerado na aquisição de suas próprias ações, notadamente se este tinha como fundamento uma rentabilidade futura destes mesmos resultados? Alem de economicamente sem essência, a situação é rigorosamente ilógica” (fls. 194 dos autos). 43 O argumento do contribuinte de que a subscrição de capital por Santander Hispano em Santander Holding seria uma operação autônoma, independente, da verdadeira aquisição do Banespa, com o pagamento de ágio, pelo Santander Hispano, não faz sentido. Tal argumento justifica, em verdade, a manutenção integral do lançamento. 44 Contudo, caso se entenda que o que houve na realidade foi a transferência do ágio do Santander Hispano para o Banespa, há que se verificar se, nesse caso, foram cumpridos os requisitos legais para a amortização da quantia. III. Ágio na aquisição do BANESPA por Santander Hispano. Descumprimento das condições legais para a sua amortização. 45 O Banco Santander Hispano, sediado na Espanha, adquiriu as ações do Banespa com o pagamento de ágio. Entretanto, por razões particulares, não era possível incorporar ou ser incorporado pelo Banespa, para então possibilitar a amortização do ágio nos termos dos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97. Dessa forma, foi executada a operação societária já descrita, que possibilitou que o ágio fosse transferido para o Banespa sem a incorporação do Santander Hispano, e lá amortizado. 46 Importante notar que toda a argumentação do contribuinte parte da premissa de que o aproveitamento do ágio mediante amortização seria medida de justiça e neutra para fins fiscais. O contribuinte apresenta razões que o impediram de realizar a operação nos moldes descritos nos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97 (aquisição de um investimento com ágio e posterior incorporação), mas seu entendimento é que essa inadequação poderia ser contornada (mediante a subscrição em uma holding e posterior incorporação) porque o ágio foi efetivamente pago. Fl. 30DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 31 31 47 O argumento do contribuinte possui duas impropriedades. A primeira é entender que a operação intermediária, que possibilitou a transferência do ágio para a sociedade operacional, pudesse sanar a ausência dos requisitos formais para que Santander Hispano e Banespa pudessem amortizar o ágio mediante incorporação. A segunda impropriedade é confundir o disposto nos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97 com um “favor fiscal” concedido por lei, a ser fruído desde que o ágio fosse pago. III.1. Primeira impropriedade. O Santander Hispano não apresentou os requisitos para a amortização do ágio. 48 Quais os requisitos para o gozo do benefício pretendido pelo contribuinte? Em primeiro lugar, é necessário que a pessoa jurídica que adquiriu o investimento registre o ágio nos termos do art. 20, §2°, alínea “b” do DecretoLei 1598/77, ou seja, o lançamento do ágio deverá indicar, por fundamento econômico, o valor de rentabilidade da controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros. 49 Posteriormente, nos termos dos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97, é necessário que a pessoa jurídica incorpore ou seja incorporada pela sociedade investida. 50 E o que se tem no presente caso? 51 Em primeiro lugar, se está claro que o Santander Hispano pagou ágio pela aquisição do Banespa à União Federal, não está claro qual a sua motivação, se valor de mercado de bens do ativo, fundo de comércio ou rentabilidade futura do Banespa. 52 Ainda em 6/4/2001, o Santander Hispano adquiriu por meio de oferta pública mais ações do Banespa, totalizando 97,2% do seu capital social. Nessa aquisição, sequer está claro se houve pagamento de ágio, e nem qual seria a sua motivação, se valor de mercado de bens do ativo, fundo de comércio ou rentabilidade futura do Banespa. 53 O Santander Hispano, por estar sediado na Espanha, evidentemente segue as normas de contabilização espanholas. Entretanto, o gozo do benefício está condicionado ao cumprimento da norma brasileira, que exige pelo menos a demonstração do fundamento econômico do ágio. 54 Ou seja, não se explicou qual o fundamento econômico para o pagamento de ágio pelo Santander Hispano. 55 O contribuinte tentou contornar essa impropriedade mediante o laudo de avaliação do Banespa para subscrição de capital no Santander Holding. Pedese venia para transcrever alguns trechos do laudo. Notese que os pressupostos do laudo são expressos de forma clara: para fins de gozo do benefício a pessoa jurídica que adquirir com ágio deve demonstrar o fundamento, o Banespa foi adquirido com ágio, cabe ao laudo apresentar o fundamento. Confirase: (...) 56 O problema é que este é o laudo de avaliação do Banespa para fins de subscrição no Santander Holding. O laudo não se refere à operação de compra do Banespa pelo Santander Hispano, mas sim ao valor do Banespa para fins de subscrição no Santander Holding. Fl. 31DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 32 32 57 O propósito do laudo não é explicar porque motivo o Santander Hispano pagou ágio na aquisição do Banespa (se valor de mercado de bens do ativo, fundo de comércio ou rentabilidade futura). Mas, se a finalidade for a de explicar os motivos pelos quais o Santander Hispano pagou ágio na aquisição do Banespa, essa avaliação foi totalmente extemporânea, porque posterior à operação de compra do Banespa! 58 O CARF analisou caso absolutamente idêntico ao presente, e manteve a autuação. Tratase do acórdão n.° 10517.219, de interesse do contribuinte Ficap S/A, cuja ementa é a seguinte: “Ementa: ÁGIO NA INCORPORAÇÃO – Não demonstrado o pagamento de ágio, não há de se falar em aproveitamento do mesmo pela incorporadora”. 59 No caso apreciado pela antiga Quinta Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, a empresa alegou ter adquirido determinado investimento com ágio, mas à época do seu registro não demonstrou o fundamento econômico. 60 Posteriormente, em vista do benefício previsto nos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97, o contribuinte resolveu subscrever capital em uma empresa veículo para posterior incorporação, desta vez apresentando como fundamento da avaliação a rentabilidade futura do investimento. 61 Notese que, igualmente ao caso em análise, o contribuinte alegava ter pago ágio quando adquiriu o investimento. Entretanto, não fora demonstrado, pelo adquirente, o seu fundamento econômico. O contribuinte tentou sanar esse problema mediante a subscrição de ações. A Câmara julgou que, sem a demonstração do fundamento do ágio na época do seu pagamento, a operação equivaleria a uma reavaliação da própria empresa (o “ágio de si mesmo”), e negou provimento ao recurso. Vejase, no voto condutor abaixo, como a Quinta Câmara solucionou o litígio: (...) 62 A jurisprudência acima em tudo se aplica ao caso presente. Da mesma forma, não se sabe por que razão o Santander Hispano pagou o ágio. Não existe uma avaliação prévia do Banespa, que explique os motivos pelo pagamento da quantia. O contribuinte tentou solucionar esse problema mediante o laudo apresentado na subscrição de ações do Santander Holding. Mas esse laudo não é contemporâneo às operações realizadas pelo Santander Hispano, não faz menção às compras de ações, mas sim à subscrição de ações do Santander Holding. 63 Por esse motivo, correta a fiscalização ao dizer que o contribuinte, “ao ostentar que todo o ágio pago se fundou em expectativas de rentabilidade futura (o que se apresenta absolutamente fictício), o grupo econômico ilicitamente aspirou ao benefício fiscal de amortizar todo o ágio pago, a despeito de a legislação vedar tal benesse em relação àquele estribado em outros fundamentos econômicos” (fls. 184 dos autos). 64 Certa ainda a fiscalização, ao afirmar que “resta incontestável, portanto, que o previsto no art. 385 do RIR/99 não é aplicável ao Santander Central Hispano S/A, porquanto tratase de sociedade domiciliada no exterior, que como tal não se enquadra no conceito de ‘contribuinte’, na acepção técnica empregada no ‘caput’ do aludido dispositivo (...). A contabilização deste ágio na sociedade adquirente deve se pautar nas regras do país de seu domicílio (Espanha) (...) Tratase de contabilização em sociedade estrangeira, em relação à qual a legislação brasileira não pode ser impingida” (fls. 189190 dos autos). Fl. 32DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 33 33 65 Dessa forma, não foi cumprido o requisito previsto no art. 20, §2°, alínea “b” do DecretoLei 1598/77, porque a pessoa jurídica que verdadeiramente adquiriu o investimento não indicou, por fundamento econômico do ágio, o valor de rentabilidade da controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros. III.2. Segunda impropriedade. Ausência de incorporação do investimento. 66 O segundo requisito para o gozo do benefício previsto nos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97 é a incorporação do investidor pela investida, ou da investida pelo investidor. 67 Importante esclarecer que os arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97 não instituíram um favor fiscal nem subvenção àqueles que adquiriram investimentos com o pagamento de ágio. 68 Em verdade, desde o DecretoLei 1.598/77, ficou claro que a recuperação do valor pago a título de ágio não deve ser tributado pelo IRPJ. Segundo o DL 1.598/77, o ágio não seria amortizável da base de cálculo do IRPJ, mas comporia o custo do investimento na sua alienação. Confirase: (...) 69 Válido, nesse ponto, citar a doutrina de JOSÉ LUIZ BULHÕES PEDREIRA, que explica o motivo pelo qual a amortização do ágio não produz efeitos no lucro real e mostra que as quantias recebidas a título de lucro distribuído pela sociedade cujas ações foram adquiridas com ágio, na verdade não são renda, mas recuperação de capital. Confirase: “As contrapartidas da amortização de ágio ou deságio são em regra excluídas do lucro líquido do exercício para efeito de determinar o lucro real, porque têm a natureza de ajustamento (em função do capital aplicado na aquisição do investimento) da participação nos resultados da controlada ou coligada, que a investidora reconhece nas suas contas de resultado em decorrência do ajuste do valor de patrimônio líquido do investimento. Se o ajuste no valor de investimento não é computado na determinação do lucro real, a amortização do ágio ou deságio também não deve ser computada. A contrapartida da amortização desempenha essa função na medida em que os valores que serviram de fundamento ao ágio ou deságio são realizados nos exatos montantes previstos. Assim, por exemplo, se a investidora pagou 100 de ágio pela totalidade das ações de uma companhia que tinha em determinado bem do seu ativo lucro potencial de 100, quando esse lucro for realizado pela companhia será reconhecido nas contas de resultado da investidora através do ajuste no valor de patrimônio líquido da subsidiária. O débito da amortização do ágio nas contas de resultado da investidora compensa o ajusto no valor de patrimônio líquido, impedindo que a investidora reconheça como lucro do exercício o que é recuperação de capital aplicado na aquisição do investimento. O mesmo ocorre no caso do deságio que corresponde a prejuízo potencial: a amortização do deságio é crédito às contas de resultado que impede a investidora de reduzir o lucro líquido do exercício em função de prejuízo da controlada ou coligada do qual não participa, porque excluído do valor da participação societária por ocasião da aquisição”. Fl. 33DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 34 34 70 Ocorre que na extinção do investimento com a incorporação, o efeito de reduzir a base de cálculo do IRPJ na alienação desse investimento (mediante a agregação do ágio ao seu custo – art. 33 do DL 1598/77) restaria inviabilizado. Por esse motivo que os arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97 permitiram que na incorporação do investimento fosse possível amortizar o ágio. Confirase a doutrina de EDMAR OLIVEIRA ANDRADE FILHO1: “De fato, na forma do art. 391 do RIR/99, as contrapartidas da amortização do ágio ou deságio não serão computadas na determinação do lucro real, salvo quando ocorrer a alienação ou baixa do investimento. Assim sendo, o valor do ágio ou deságio amortizado e que afetar o resultado do período deverá ser adicionado ou excluído do valor do resultado do período para fins de determinação do lucro real. Esse mesmo valor será controlado na Parte B do LALUR para futura exclusão ou adição, que deverá acontecer no período em que ocorrer a alienação ou baixa do valor do investimento. A exclusão, correspondente ao valor do ágio amortizado, só não será automática se a alienação ou liquidação do investimento ocorrer em situação na qual o valor da eventual perda não pudesse ser considerado dedutível. (...) A neutralidade do ágio ou deságio amortizado não existe em casos de incorporação, fusão ou cisão. De fato, de acordo com o art. 386 do RIR/99, que tem por matriz legal o art. 7º da Lei nº 9.532/97, e também o art. 10 da Lei nº 9.718/98, a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio: (...) Sob o aspecto funcional, tais regras estabelecem procedimentos que devem ser adotados para as aquisições em que a sociedade investidora mantenha em sua escrituração contábil, ágio ou deságio na aquisição de investimentos em empresa que venha incorporar total ou parcialmente (caso de cisão parcial seguida de incorporação). Com isso, não mais é permitido que o valor de um ágio pago na aquisição de investimento possa ser totalmente amortizado, quando da aquisição se segue a fusão, ou incorporação pela investidora, da sociedade investida. Na verdade, nessas hipóteses, não havia simples amortização de ágio, mas efetiva baixa do valor, como ganho ou perda de capital. (...) As referidas normas regulam, grosso modo, o encontro – num mesmo patrimônio – do ágio ou deságio com os bens que lhes serviram de origem e que estavam originalmente em sociedades distintas”. 71 Portanto, a finalidade do disposto nos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97 é regular o efeito fiscal da recuperação do ágio na aquisição do investimento, quando este é extinto mediante a incorporação. 72 Ora, se é essa a finalidade do dispositivo legal, faz algum sentido permitir a amortização, quando não há extinção nem do investidor e nem da sociedade investida? Nessa hipótese, cabe dizer que o ativo adquirido não poderá mais ser 1 Imposto de renda das empresas. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 434. Fl. 34DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 35 35 recuperado e assim justificar a amortização? Com todas as vênias, a resposta somente pode ser negativa. 73 Contudo, essa é a pretensão do contribuinte, ao se perceber que, ao final de todo a operação, tanto a sociedade que efetivamente pagou o ágio (Santander Hispano) quanto o investimento adquirido (Banco Banespa) não foram extintos. 74 Como já argumentado, o propósito negocial e o substrato econômico que deram origem ao ágio registrado ao final pelo Banespa se encontram na operação societária realizada entre Santander Hispano e a União. 75 Portanto, o ágio registrado pelo Banespa com a incorporação da Santander Holding apresenta seus fundamentos de existência, validade e eficácia relacionados intrinsecamente à operação societária realizada pelo Santander Hispano quando da aquisição das ações do Banespa. Foi o Santander Hispano quem teve um propósito negocial ao pagamento do ágio, e quem de fato despendeu riquezas para a sua aquisição. 76 Ora, se foi o Santander Hispano quem efetivamente pagou o ágio para a aquisição do investimento Banespa, o gozo do benefício previsto nos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97 decorreria da extinção do Banespa (ou do Santander Hispano) com a incorporação, de modo que restasse impossível recuperar o ágio pago mediante a venda do investimento. 77 Ocorre que a transferência do ágio do Santander Hispano ao Banespa, pretendida pelo contribuinte, representa uma fraude à finalidade legal. 78 Com a transferência, o ágio passa a ser amortizado no Banespa, reduzindo a base de cálculo do IRPJ e da CSSL. Por outro lado, o Santander Hispano permanece de posse do seu ativo, cujo valor corresponderá ao valor de patrimônio líquido do Banespa, o qual estará inflado pelo ágio. Assim, o Santander Hispano poderá alienar o seu investimento pelo mesmo valor pago na aquisição e recuperar o ágio sem incorrer em ganho de capital. 79 Vêse claramente como o planejamento tributário, longe de representar medida de “neutralidade fiscal”, implica mesmo em uma fraude aos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97. 80 Em suma, a amortização do ágio “transferido” pelo investidor à sociedade investida (mediante a utilização da empresa veículo) não é permitida pelos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97, pois não atende à finalidade legal. A amortização somente é legalmente admitida como contrapartida à extinção do investimento (ou do investidor). 81 Dessa forma, tendo em vista o não cumprimento das condições para a fruição do benefício previsto nos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97, descabe admitir a amortização do ágio pretendido pelo Banco Santander. IV. Pedido 82 Ante o exposto, requer a Fazenda Nacional seja negado provimento ao seu recurso voluntário, para manter a autuação fiscal em sua totalidade. É o relatório. Fl. 35DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 36 36 Voto Conselheiro Antonio Jose Praga de Souza, Relator. O recurso voluntário é tempestivo e preenche os demais requisitos legais e regimentais para sua admissibilidade, dele conheço. I SÍNTESE DOS FATOS Conforme relatado, tratase de recurso voluntário interposto por Banco Santander Brasil S/A em face de acórdão proferido pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento, que manteve exigência decorrente de “glosa de amortização de ágio”, sob o fundamento de que o contribuinte descumpriu o disposto nos artigos 385 e 386 do RIR/99. A amortização do ágio foi iniciada em 2001, mas os fatos geradores do IRPJ e da CSSL alcançados pela fiscalização (redução da base de cálculo devido a amortização do ágio) ocorreram em 31/12/2002, 31/12/2003 e 31/12/2004. Os autos de infração foram lavrados em 29/12/2008, com multa qualificada no percentual de 150%, sendo que o contribuinte foi cientificado em 30/12/2008 na pessoa de seu representante regularmente constituído. O ágio amortizado teria sua origem na aquisição do Banco Banespa pelo Banco Santander Hispano, instituição financeira sediada na Espanha, em 20/11/2000. Naquela operação, o Santander Hispano pagou, pelas ações do Banespa, o valor de R$7.05 bilhões. Uma vez que o preço mínimo do Banespa era de R$ 1.85 bilhão, o Santander Hispano teria pago, a título de ágio, R$ 5.2 bilhões. Posteriormente, em 6/4/2001, o Santander Hispano adquiriu por meio de oferta pública mais ações do Banespa, totalizando 97,2% do seu capital social. Em 29/5/2001, o Santander Hispano subscreveu capital na empresa Santander Holding, sediada no Brasil, integralizando as ações do Banespa, avaliadas em R$ 9.574 bilhões. Houve avaliação das ações com laudo elaborado pela empresa KPMG Corporate Finance, de modo que a Santander Holding registrou um ágio na subscrição correspondente a R$7.462 bilhões. Consoante o termo de verificação fiscal, a natureza do ágio, constante do laudo, seria a rentabilidade de exercícios futuros do Banespa. Em 12/07/2001, o Banespa incorporou sua controladora, a Santander Holding, passando a amortizar o ágio, com base no disposto pelos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97. Posteriormente, o Banespa foi incorporado pelo Banco Santander Brasil. A fiscalização glosou o ágio amortizado, nos períodos que entendeu não alçados pela decadência, por considerála ilícita, em razão das seguintes irregularidades: Fl. 36DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 37 37 os documentos apresentados mencionam que o ágio pago pelo Santander Hispano teriam por fundamento econômico o valor de rentabilidade futura do Banespa, mas seria inverossímil que todo o ágio pago pelo Santander Hispano tivesse como fundamento a expectativa de rentabilidade futura, dado o grande fundo de comércio do Banespa; o ágio amortizado não corresponde ao ágio pago pelo Santander Hispano na aquisição do Banespa; o Grupo Santander se utilizou de “empresa veículo” de modo a transferir o ágio para a empresa operacional. A finalidade da operação era unicamente obter economia fiscal decorrente da amortização do ágio; o Santander Hispano, efetivo adquirente do Banespa, por estar sediado e submetido às normas Espanholas, não registrou o investimento com ágio, em descumprimento do art. 385 do RIR/99, o ágio amortizado pelo Banespa decorreu da aquisição das suas próprias ações (o “ágio de si mesmo”); A fiscalização concluiu pela aplicação da multa qualificada, estando caracterizada a “fraude” fiscal, nos termos do art. 72 de Lei 4.502/1964, por se tratar de operação planejada entre as empresas de um mesmo grupo, com a intenção e finalidade de criar despesas em uma delas, diminuindo ilegalmente sua base tributável, bem como pela inexistência de sentido econômico da operação. Resumidos os fatos e a acusação fiscal, passo a apreciar as razões recursais, considerando, também, as contrarrazões da Fazenda Nacional. I. DECADÊNCIA (PRECLUSÃO) DA POSSIBILIDADE DE AUDITORIA DOS ELEMENTOS CONTÁBEIS E FISCAIS DO ANOCALENDÁRIO DE 2001 COM REPERCUSSÃO FUTURA A recorrente alega, em síntese, que no ano de 2008 o Fisco não mais poderia verificar a regularidade dos atos que originaram o direito ao aproveitamento do ágio, haja vista o transcurso do prazo decadencial de cinco anos entre os fatos que propiciaram o surgimento desse ágio, ocorridos no ano 2001, e a lavratura dos autos de infração. A decisão de primeira instância enfrentou essa preliminar, que foi rejeitada pelos seguintes fundamentos (verbis): DA DECADÊNCIA DO QUESTIONAMENTO DOS ATOS SOCIETÁRIOS A contribuinte argumenta que teria ocorrido a decadência do direito de o Fisco questionar a legalidade dos atos societários que originaram o ágio ora em debate, uma vez que os fatos em comento ocorreram em 2001, e os autos de infração foram cientificados à impugnante em 30/12/2008. Fl. 37DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 38 38 A fim de enfrentar a questão, é necessário, inicialmente, trazer o conceito técnico de fato gerador, conforme definido pelos artigos 114 e 115, do CTN, in verbis: Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal. Dos artigos acima transcritos resta claro que o fato gerador da obrigação tributária é necessariamente um conceito legal, ou seja, é uma situação definida em lei. No que tange à decadência no Direito Tributário, também cumpre analisar o disposto no art.150, caput e §4º, e no art.173, incisos I e II, e parágrafo único, do CTN, in verbis: Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. (...) §4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considerase homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. (...) Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. Pela análise dos artigos retromencionados, é possível constatar que o §4º, do art.150, do CTN, é específico ao se referir a fato gerador do tributo, ou seja, o dispositivo legal em questão trata de um conceito diferente daquele utilizado Fl. 38DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 39 39 pela impugnante, cuja argumentação tratou não da acepção técnica de fato gerador, que, consoante o exposto, é uma situação definida em lei, mas sim de fatos como acontecimentos genéricos do mundo fenomênico, ao mencionar os fatos que propiciaram o surgimento do ágio. Logo, a norma contida no art.150, do CTN, não confere sustentação à alegação da impugnante. A respeito da questão, já se pronunciaram os Conselhos de Contribuintes, conforme se depreende da ementa do acórdão abaixo: DECADÊNCIA – TESE DO PAGAMENTO – IMPROPRIEDADE NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO – LANÇAMENTO – LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO A atividade exercida pelo contribuinte para dar efetividade ao artigo 150 do CTN, assemelhase à atividade exercida pela autoridade administrativa prevista no artigo 142 do CTN. A relação jurídica tributária somente nasce, se o fato previsto na hipótese de incidência prevista na lei ocorrer no mundo fenomênico e for traduzida em linguagem. (...) (1º Conselho de Contribuintes, 7ª Câmara, acórdão 10709263, sessão de 06/12/2007). (negritamos) Cumpre destacar que a própria contribuinte demonstrou conhecimento da distinção entre (i) fato gerador do tributo, previsto em lei, e (ii) fato genérico do mundo fenomênico, como fica claro pelo excerto da impugnação de fls.371, quando, ao tratar dos créditos tributários de IRPJ e CSLL relativos ao anocalendário de 2002, a impugnante reconhece: “De fato, considerandose que os fatos jurídicos tributários ocorreram em 31/12/02 (...)”. Da mesma forma, nenhuma das situações descritas nos incisos I e II, e no parágrafo único, do art.173, do CTN, contempla a hipótese de decadência aventada pela contribuinte. Sendo assim, a alegação da contribuinte de decadência do questionamento da legalidade dos atos societários resta improcedente, por absoluta falta de embasamento legal. (Grifei) É certo que a decadência opera no sentido do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações jurídicas. Em conseqüência, em 2008 o Fisco não mais poderia formalizar lançamento para exigência de crédito tributário e impor penalidades quanto a infrações incorridas no anocalendário 2001, ou seja, constituir exigências tributária. Isso por disposição expressa dos artigos 150 e 173 do CTN conforme acima grifado. O “prazo de preclusão” alegado pelo contribuinte que seria de cinco anos, corresponderia ao mesmo prazo decadencial para o lançamento (constituição da obrigação tributária), previsto no CTN. A preclusão temporal, em principio, corresponde à perda da possibilidade do exercício de um direito em decorrência do decurso de um determinado prazo. Portanto, para Fl. 39DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 40 40 que seja possível falar nesse instituto no caso em concreto, caberia ao contribuinte identificar um dever atribuído por lei à Fazenda Pública, o qual seria passível de extinção pelo decurso de prazo. Logo, “para se falar em preclusão, a lei deveria atribuir à Administração Pública o dever de glosar o ágio amortizável registrado pelo Santander Holding, ou mesmo o registrado pelo Banespa após a incorporação, a partir da data dos registros contábeis”, como bem observado pela ilustre Procurador da Fazenda Nacional Paulo Roberto Riscado Junior na sustentação oral realizada durante o julgamento do presente processo. Efetivamente, não existe essa previsão legal. Tanto o art. 142 do CTN quanto o art. 9° do Decreto n. 70.235/72 prevêem apenas o lançamento como forma de exigência do crédito tributário, retificação de prejuízo fiscal e aplicação de penalidade isolada. Não há, em lei, previsão para a glosa de ágio registrado na contabilidade em decorrência de subscrição de ações ou de incorporação nos termos dos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97. Com efeito, o registro do ágio na contabilidade não implica em redução de crédito tributário, em majoração de prejuízo fiscal ou em causa para lançamento de multa isolada. Repitase: o simples registro do ágio na contabilidade não implica em fato gerador de obrigação tributária ou em alteração, de qualquer ordem, na base de cálculo do IRPJ e da CSSL daquele período. Ao adquirir uma participação societária com ágio, a lei autoriza a pessoa jurídica a amortizar esse valor, na apuração dos tributos por ela devidos sobre os lucros em períodos futuros, sob determinadas condições, isso porque foi exatamente a expectativa desse lucro que justificou o ágio. Apenas nessa hipótese, o ágio pago, que nunca foi e nunca será fato gerador de nenhuma obrigação tributária, passa a influenciar na apuração da base de cálculo dos tributos devidos pela empresa que o pagou. Frisese: o que é homologado pelo Fisco é a apuração das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL realizada pelo contribuinte, não o ágio registrado, ou qualquer outro elemento patrimonial, ainda que definitivamente constituído. O prazo decadencial corre em face do fato gerador da obrigação tributária, e não sobre qualquer operação contabilizada. Apenas quando se verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária é que surge contra o Fisco o prazo para a homologação dos elementos que dão origem aos créditos passíveis de constituição. O prazo para controle dos registros patrimoniais com possibilidade de repercussão tributária no futuro é definido em função do prazo para gozar do crédito decorrente. Neste contexto, pode a autoridade fiscal, no prazo de que dispõe para rever o período de apuração no qual foi aproveitado, exigir prova de sua efetividade e formação e, na ausência desta, negar sua utilização. É o que o art. 37 da Lei nº 9.430/96 expressamente dispõe: “Os comprovantes da escrituração da pessoa jurídica, relativos a fatos que repercutam em lançamentos contábeis de exercícios futuros, serão conservados até que se opere a decadência do direito de a Fazenda Pública constituir os créditos tributários relativos a esses exercícios.” Esclareçase que esse dispositivo não altera o prazo decadencial para constituir o credito tributário estabelecido no CTN, tampouco cria outro prazo decadencial qualquer, apenas viabiliza a autoria fiscal dos fatos com repercussão futura. Frisese, mais uma vez, que o prazo decadencial é sempre norteado pelo nascimento da obrigação tributária, ou seja, que se dá com a ocorrência do fato gerador.. Fl. 40DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 41 41 Recentemente, o professor Marco Aurélio Greco manifestou o entendimento de que “não existe direito adquirido da empresa de usar o ágio mesmo depois de passados cinco anos do fato gerador.” A afirmação foi feita na V Jornada de Debates sobre Questões Polêmicas de Direito Tributário, promovida pela FISCOSoft em junho de 2011. Para o Dr. Greco, a tese bate de frente com entendimento do Supremo Tribunal Federal. "Não se tem direito adquirido ao prejuízo, conforme disse o Supremo ao julgar a trava de 30% para redução do lucro tributável", diz. Em 2009, o STF entendeu que a Lei 8.891/1995, que permitiu o aproveitamento, concedeu um benefício fiscal e que, por isso, não havia nada de errado com a trava de 30% por período de apuração. Assevera ele que, enquanto o ágio não é amortizado totalmente, não existe fato consumado, apenas expectativa de direito. "A empresa espera que futuramente estará sujeita ao IR e ao regime de apuração do lucro real. Mas não existe direito adquirido a regime jurídico. Ela vai se submeter àquele a que se enquadrar na data da ocorrência do fato gerador." Por isso, em relação aos autos de infração lavrados depois de passados cinco anos da informação do ágio ao fisco, Greco afirma que a prática é legal. "O auto não existe sozinho, mas decorre da contabilização irregular", defendeu. "Embora a segunda conduta aconteça cinco anos depois, é causal, não bastante em si." Segundo ele, não há prazo para o fisco reconhecer a irregularidade, mas somente para impedir o aproveitamento. "As amortizações feitas no passado ficam consolidadas. Apenas as posteriores podem ser desconsideradas." Tais considerações primam pela coerência e vem ao encontra da tese defendida neste voto. Vejamos, na prática, algumas situações abusivas que podem decorrer do entendimento defendido pelo nobre recorrente (contribuintes optantes pelo lucro real anual): i) No ano de 1998, determinado contribuinte adquire um bem não depreciável, composto por várias partes e peças, pelo valor total de $100, mas contabiliza no ativo por $200; nos anos seguintes permanece pelo mesmo valor em seus livros contábeis e balanços. No ano 2007, vende esse bem por $180 e não apura ganho de capital. Sofre auditoria em 2010 e o Fisco solicita a comprovação do custo contabilizado, ele não apresenta notas fiscais de aquisição sequer das peças efetivamente compradas, alegando que o ano de 2001 já estava decaído, logo, ocorreu a preclusão do Fisco de verificar tais custos. É isso mesmo? O tempo pode homologar o que nunca existiu, e permitir que produza efeitos futuros, impedindo a constituição do crédito tributário devido ? Estou certo de que a resposta é não. ii) No ano de 1999 o contribuinte realiza a construção de uma planta industrial com vida útil de 20 anos e contabiliza regularmente os custos. No ano de 2001 inicia a depreciação a 5% ao ano. É Fiscalizado em 2008 e apresenta apenas parte dos custos da construção realizada. Então? o Fisco não poderia glosar o excesso os encargos de depreciação de 2003 a 2007? Evidente que sim, pois esses encargos submetemse ao regime de Fl. 41DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 42 42 competência e o contribuinte deve fazer prova da efetividade dos mesmos o que só é possível mantendo em boa guarda os comprovantes dos custos e despesas incorridos. iii) No ano de 2000 o contribuinte adquire um imóvel por $1000. Contabiliza a aquisição por $12.000, utilizando para tanto um documento fraudado. Realiza uma incorporação em 2001, acrescentando diversos custos inexistentes. Vende esse imóvel, já fracionado, nos ano de 2001 e 2002, apurando um pequeno ganho em 2002 que é declarado e o tributo recolhido. É fiscalizado em 2008 (anocalendário 2002). De plano alega que o ano 2002 já está decaído, afinal passaramse mais de 5 anos da ocorrência dos fatos geradores. Todavia, com receio de o Fisco apurar a verdade dos fatos, apresenta o aludido documento de aquisição. O Fisco efetua diligências e apura todas as fraudes tributárias. Em relação à 3a. situação hipotética acima (“iii”), cabe questionar: qual o amparo legal para o Fisco realizar em 2008 uma auditoria do ano de 2002, se o contribuinte estava em tese regular perante a Administração Tributária, inclusive tendo efetuado os recolhimentos? há vedação expressa em lei para a auditoria fiscal alcançar os anos de 2000 e 2001, nos quais apurou a verdade dos fatos? Respondo: a única vedação expressa nessa hipótese “ìii” é para constituição do crédito tributário relativo ao ano de 2001, em face da decadência. Este Conselho já se manifestou sobre alegações dessa natureza em diversos acordãos. Em um deles, inclusive, o contribuinte alegou a preclusão para rever o ágio devidamente registrado na contabilidade. Tratase do acórdão 10709.545, cuja ementa é a seguinte: EMENTA DECADÊNCIA — OMISSÃO DE GANHO DE CAPITAL GLOSA DE ÁGIO. O fisco pode questionar fatos ocorridos no passado cujos efeitos fiscais se dão no futuro, pois o tempo não pode transformar em verdadeiro o que não era real, nem tampouco desfazer o que consolidou, desde que a readequação dos fatos situados em períodos já decaídos não decorra de juízo de valor. É o caso da formação de ágio maior por erro de cálculo, cujos efeitos fiscais somente se verifiquem no futuro, na sua amortização ou na utilização como custo na baixa”. (Grifei) No aludido processo o contribuinte registrou o ágio de forma equivocada em 1995, mas apenas amortizou o valor em 2000. O contribuinte alegou que a fiscalização estaria proibida, face o prazo decadencial, de glosar esse ágio. Tal argumentação foi refutada pela Câmara. Noutro acórdão, de nº 10419.219, de 27/02/2003, que tratou da retificação de prejuízo fiscal da atividade rural de período anterior, com reflexo em outro período de apuração do tributo ainda não atingido pelo decadência, a decisão também foi favorável à tese defendida por este relator. Vejamos transcrições da ementa, dispositivo e voto condutor: Acórdão 10419.219de 27/02/2003 Fl. 42DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 43 43 EMENTA IRPF ANOSCALENDÁRIO DE 1996 E 1999 – ATIVIDADE RURAL COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS – DECADÊNCIA – ABRANGÊNCIA O prazo decadencial vinculase direta e exclusivamente aos fatos geradores objeto do lançamento tributário, não se aplicando a elementos advindos de anocalendário anterior, ainda que este já tenha sido atingido pela decadência. Assim, constatando se que o anocalendário fiscalizado encontrase passível de revisão, é perfeitamente cabível o lançamento resultante da retificação do valor apropriado, a título de prejuízo da atividade rural a compensar, mesmo que este tenha origem em ano calendário abarcado pela decadência. DISPOSITIVO ACORDAM os Membros da Quarta Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por unanimidade de votos, REJEITAR a preliminar de decadência e, no mérito DAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. VOTO CONDUTOR “(...) De fato, a revisão de valores apurados em anos calendários anteriores já abrangidos pelo decurso do prazo decadencial é absolutamente inquestionável. O que não implica reconhecer que o conceito de decadência abranja também a revisão de valores que, advindos de período já tomados pela decadência, venham a influir na apuração do resultado de ano calendário ainda não decadente. Evidentemente que o conceito decadencial não abrange tal influência.Exatamente por esta integrar as apropriações de ano calendário não decadente. Restrita a revisão à essa especifica influência, respeitadas as apropriações efetuadas, ainda que incorretamente, em períodos já decadentes. Pela simples motivação de que o conceito decadencial, quer do artigo 150, § 4°, quer do artigo 173, ambos do CTN, vinculase direta e exclusivamente ao lançamento tributário a que se referencia. (...) A simples leitura do dispositivo em questão evidencia de sua absoluta ressonância com o princípio da decadência, a que se reporta tanto o artigo 149, § único, como os artigos 150, § 4º, e 173, todos do CTN., como antes mencionado. Isto é, se determinada apropriação influi no resultado na apuração do crédito tributário, é passível de revisão essa circunscrita influência. Ainda que, na origem, seja legalmente carregada de período já decadente. (Grifei) Vejase que na situação versada no Acórdão 10419.219, o contribuinte foi intimado a comprovar o saldo de prejuízos da atividade rural do ano de 1989 que foi aproveitado no anocalendário de 1996. Diante do fato de o contribuinte ter efetuado correções a maior do aludido valor no ano de 1990, a fiscalização glosou o excesso de compensações utilizado para reduzir o tributo devido em 1996. O contribuinte alegou decadência nessa revisão, que foi rejeitada pelo Colegiado, haja vista que tais valores “influem na apuração do resultado de ano calendário não decadente”. Fl. 43DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 44 44 Analisemos o Acórdão nº CSRF/0400.054, de 21/06/2005. Vejamos sua ementa e dispositivo: Acórdão CSRF 0400.054 de 21/06/2005 EMENTA IRPF RESULTADO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA REVISÃO DE PREJUÍZO COMPENSÁVEL — DECADÊNCIA — ABRANGÊNCIA O conceito decadencial, quer do artigo 150, § 4°, quer do artigo 173, ambos do CTN, vinculase direta e exclusivamente ao lançamento tributário a que se referencia; não abrange a revisão de valores advindos de período anterior, já abrangido pela decadência, que influem na apuração do resultado de ano calendário não decadente, restrita a revisão a essa circunscrita e especifica influência, respeitadas as apropriações efetuadas, ainda que incorretamente, em períodos já decadentes. DISPOSITIVO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso especial interposto pela FAZENDA NACIONAL. ACORDAM os Membros da Quarta Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, por maioria de votos, DAR provimento ao recurso e determinar o retorno dos autos à Câmara recorrida para o exame do mérito do recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente relatório. Vencidos os Conselheiros Romeu Bueno de Camargo, José Ribamar Barros Penha e Wilfrido Augusto Marques que negaram provimento ao recurso.. VOTO CONDUTOR No caso, a fiscalização verificou inicialmente que o prejuízo da atividade rural fora incorretamente apurado na declaração do exercício de 1995, com indevida utilização nas declarações dos exercícios posteriores (1996 a 2000). A origem da incorreção seria o fato de a contribuinte haver procedido à atualização monetária indevida dos saldos de prejuízos e de incentivos fiscais nos anoscalendário de 1989 e 1990 (fls. 12 a 18). No acórdão recorrido, foi acolhida a arguição de decadência, sob o seguinte argumento (fls. 276) (...) De plano, verificase que tal entendimento carece de base legal. No caso em apreço, o lançamento, cientificado a contribuinte em 28/09/2000, abarcou os anos calendário de 1996 e 1999, que ainda não se encontravam atingidos pela decadência, seja qual for o angulo pelo qual se analise. Destarte, uma vez que os anoscalendário fiscalizados não haviam sido atingidos pela decadência, não há óbice à exigência de comprovação acerca dos elementos que de alguma forma influenciaram os respectivos lançamentos, ainda que vinculados a exercícios anteriores. Ressaltese que os anoscalendário anteriores aos autuados, em que teria ocorrido o alegado lapso na correção dos saldos de prejuízo a compensar estes sim alcançados pela decadência não foram revistos. 0 que houve foi tãosomente a retificação do valor do prejuízo a compensar, apropriado nos exercícios fiscalizados. Nesse sentido é o Acórdão n° 10419.219, de 27/02/2003, cujo voto vencedor foi acatado por unanimidade de votos, assim ementado: (...) (Grifei) Fl. 44DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 45 45 Apesar de ambos os acórdãos acima terem tratado de atividade rural na pessoa física, cumpre esclarecer que a Legislação sempre estabeleceu a obrigatoriedade de escrituração para os contribuintes que desejam aproveitar prejuízos de períodos anteriores. Aliás, na redação original da Lei 8.023, acima de determinado valor de receitas era obrigatória a escrituração comercial. Outrossim, cumpre registrar que em situações análogas, nas quais a verificação de fatos, documentos e registros contábeis, de períodos atingidos pela decadência , com repercussão futura favorável ao contribuinte, ou seja, erros que lhe prejudicam, as decisões deste Conselho são sempre favoráveis à retificação dos lançamentos nos períodos ainda não atingidos pela decadência, inclusive para reconhecimento de direito creditório. Cite se como exemplo as seguintes situações em que se admite retificação favorável ao contribuinte: Lucro Inflacionário Inexistente. Fiscalização autua em 2000 a falta de realização do Lucro Inflacionário Diferido (parcelas realizáveis em 1996 a 1999. Somente em sede recurso, o Contribuinte verifica e alega que errou na apuração/declaração do LI de 1991, estando patente que seu Patrimônio Líquido era maior que o ativo imobilizado. Conselho exclui da base de cálculo o lucro inflacionário de 1991, e determina ainda, que as realizações mínimas de 1992 a 1995, porventura não efetuadas, sejam diminuídas do Saldo (existe inclusive súmula neste sentido). Ao fim e ao cabo, mantemse apenas a tributação do saldo do inflacionário efetivamente existe nos anos de 1996 a 1999. Custo de aquisição de imóvel declarado a menor. Pessoa Física e Jurídica. Contribuinte declara/contabiliza a menor o custo de aquisição de imóvel no ano de 1996 e seguintes. Em 2004 aliena o imóvel e não recolhe ganho de capital. Fiscalização autua em 2006 e toma como custo o valor declarado/contabilizado. Contribuinte faz prova do custo de aquisição real do imóvel. Conselho acolhe o custo efetivo, e reduz a exigência ainda que isso implique no reconhecimento de erros de escrituração e/ou declaração de períodos atingidos pela decadência. Nesse sentido vide acórdãos deste Conselho: Acórdão 10321611 processo 13925000136200129 LUCRO INFLACIONÁRIO REALIZADO. DIFERENÇA DE CORREÇÃO MONETÁRIA IPC/BTNF – Havendo a pessoa jurídica, no períodobase de 1990, apurado saldo devedor de correção monetária e não possuindo lucro inflacionário diferido de exercícios anteriores, não há que se falar em adição ao lucro real, a partir do períodobase de 1993, do valor que corresponder à diferença entre a variação do IPC e do BTNF, de acordo com as normas de realização do lucro inflacionário. Acórdão 10514773 processo 10166016076200115 LUCRO INFLACIONÁRIO REALIZAÇÃO A MENOR DECADÊNCIA O início da contagem do prazo decadencial para o Fisco dáse a partir do momento em que é possível efetuar o lançamento, no exercício financeiro em que deve ser tributada a sua realização, e não imediatamente após o termo do anocalendário em que foi gerado o lucro inflacionário. Fl. 45DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 46 46 LUCRO INFLACIONÁRIO ACUMULADO REALIZAÇÃO A MENOR DECADÊNCIA RECOMPOSIÇÃO DE SALDO A recomposição do saldo de lucro inflacionário acumulado deve levar em consideração, para fins de decadência, as parcelas de realização do ativo da pessoa jurídica. JUROS DE MORA SELIC Nos termos dos arts. 13 e 18 da Lei nº 9.065/95, a partir de 1º/04/95 os juros de mora serão equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC. Por unanimidade de votos, DAR provimento PARCIAL ao recurso, rejeitando a preliminar de decadência e, no mérito, acatar o pleito no sentido de se excluir as parcelas do lucro inflacionário que deveriam ser realizadas nos anos calendários de 1993 e 1994. Acórdão 10194663 processo 10410.001504/200168 LUCRO INFLACIONÁRIO. SALDO DA CORREÇÃO IPC/BTNF. ERRO DE FATO. Não procede a exigência de crédito tributário decorrente de erro cometido pela pessoa jurídica no preenchimento da declaração de rendimentos, tendo informado a maior o saldo credor da diferença de correção IPC/BTNF. Acórdão 10193740 _ processo 10880.008657/9805 ERRO DE FATO. PREJUIZOS FISCAIS. COMPENSAÇÃO: Constatado erro de fato no preenchimento da Declaração de Rendimentos, e tendo a contribuinte direito à compensação de prejuízos, procedese a tal compensação, exonerandose o crédito tributário lançado. PREJUIZO FISCAL INSUFICIENTE. DECADÊNCIA: Apesar de não haver prejuízo fiscal suficiente para compensar o lucro real apurado em determinado período de apuração, deixase de propor a formalização da exigência em virtude de já ter transcorrido, nesta data, o prazo decadencial para constituição do crédito tributário respectivo. ERRO DE FATO. BASE NEGATIVA. COMPENSAÇÃO: Constatado erro de fato no preenchimento da Declaração de Rendimentos, e tendo a contribuinte direito à compensação da base negativa da contribuição social, procedese a tal compensação, exonerandose o crédito tributário lançado. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO DE OFÍCIO Acórdão 10416265, processo 10920.000343/9699 IRPF GANHOS DE CAPITAL CUSTO DE AQUISIÇÃO ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA Deve prevalecer para efeitos fiscais o custo de aquisição constante da Escritura Pública de Compra e Venda devidamente registrado no Registro de Imóveis, quando este for mais favorável ao contribuinte que o custo avaliado pelo valor de mercado, em 31/12/91, constante da declaração de bens relativa ao exercício de 1992. O fato gerador do imposto de renda é a situação objetivamente definida na lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Erros ou equívocos por si só, não são causa de nascimento da obrigação tributária. Fl. 46DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 47 47 Enfim, ao contribuinte incumbe a prova da regularidade dos valores utilizados para redução da base de cálculo nos períodos fiscalizados, e a autoridade tem a prerrogativa de deles discordar, enquanto não transcorrido o prazo previsto na legislação para constituição do crédito tributário correspondente; podendo, para tanto, efetuar verificações em períodos anteriores, já atingidos por esse mesmo prazo decadencial; vedada, obviamente, a possibilidade de apuração e constituição de créditos tributários desses últimos. Por todo o exposto, rejeito a preliminar de impossibilidade do Fisco efetuar em 2008 a auditoria dos elementos contábeis e fiscais do anocalendário de 2001, para glosar valores com repercussão tributária em períodos posteriores (ágio passível de amortização). II. APLICAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA (150%) Passo a apreciar a aplicação da multa de ofício qualificada, isso porque, além de interferir na forma de contagem do prazo decadencial do anocalendário de 2002, seus pressupostos implicam em outros aspectos da lide, que adiante tratarei. Vejamos a transcrição do inteiro teor da acusação fiscal nessa parte: TERMO DE VERIFICAÇÃO FISCAL (Fls. 194 e seguintes do processo) (...) 3.2 DA MULTA QUALIFICADA Em face do lançamento de ofício do IRPJ e da CSLL decorrentes da infração acima exaustivamente caracterizada, cumpre o exame da multa de ofício aplicável ao caso em questão. A redação do art. 44, inciso II, da Lei n° 9.430/96 assim dispunha: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas, calculadas sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição: (...) II cento e cinqüenta por cento, nos casos de evidente intuito de fraude, definido nos arts. 71, 72 e 73 da Lei n" 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Tal dispositivo foi recentemente alterado pela Lei n° 11.488/2007, passando a vigorar com a seguinte redação (especificamente quanto à qualificadora): Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (Redação dada pela Lei n" 11.488, de 2007) I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (Redação dada pela Lei n" 11.488, de 2007) (...) Fl. 47DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 48 48 § 1o. O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. (Redação dada pela Lei n° 11.488, de 2007). Tanto a redação original quanto a atualmente vigente do dispositivo aplicável impõem a cominação da multa no percentual de 150 % nos casos previstos nos artigos 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64. Diante da presente situação concreta, devese dedicar especial atenção ao que prevê o art. 72 do diploma legal, "ipsis litteris ": Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido ou a evitar ou diferir o seu pagamento. A situação já caracterizada indiscutivelmente se subsume à hipótese prevista na norma acima. A operação planejada entre as empresas de um mesmo grupo (uma delas controlada pela outra e ambas sob o controle da mesma pessoa jurídica sediada no exterior, qual seja, o Banco Santander Central Hispano) que "propiciou" o pagamento de um ágio de 280%, ou seja, 2.054% maior que o proposto pelo segundo concorrente (de 13%) e 41.691% maior que aquele oferecido pelo terceiro colocado (0,67%), foi engendrada com o evidente intuito único de "criar" despesas de amortização em uma delas, diminuindo ilegalmente sua base tributável, restando comprovado, conforme item 3.1 acima, a inexistência de sentido econômico da operação. Há que se considerar diversos aspectos relevantes da operação que comprovam, sem nenhuma sombra de dúvida, a ilicitude das operações que almejam aproveitar o ágio aqui discutido. Um dos aspectos importantes é o fato da Santander Holding Ltda., constituída em 25 de outubro de 2000, permanecer desde sua constituição até sua capitalização por parte do Banco Santander Central Hispano, em 28 de maio de 2001, sem qualquer atividade, como já explanado no item anterior. Seu capital social permaneceu, durante todo esse período, inalterado em R$ 1.000,00. Além disso, não empreendeu qualquer movimentação financeira, incluindo pagamentos a funcionários ou diretoria. Ademais, não consta, inclusive, nenhuma informação de empregados na empresa, conforme as DIPJ apresentadas. Pelo que foi exposto acima, constatase que a Santander Holding Ltda. foi constituída apenas como "empresa veículo" para esdrúxula e ilicitamente carrear o ágio gerado em empresa estrangeira para o Brasil, de forma que fosse posteriormente utilizado para redução do lucro apurado na própria empresa em que o mesmo ágio foi gerado, qual seja, o Banespa. Embora o Banco Santander Central Hispano tenha pago pelas ações do Banespa um montante de R$ 7.050.000.000,00 (sete bilhões, cinqüenta milhões de Reais), quando da capitalização da Santander Holding Ltda., o capital representante das ações passou a R$ 9.574.900.000,00, conforme Laudo de Avaliação da KPMG, ampliando o ágio para R$ 7.462.067.630,07, sem que houvesse qualquer contrapartida com fundamento econômico para tanto. A natureza única do ágio alegada no laudo é a rentabilidade de exercícios futuros, ignorando totalmente a inescapável parcela derivada do fundo de comércio da empresa (pois a parcela do ágio neste fundada não geraria amortizações dedut´veis das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL). Fl. 48DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 49 49 Portanto, os valores relativos à marca "Banespa", sua penetração e notoriedade no mercado, sua carteira de clientes, sua rede de agências no Brasil e no exterior (e aqui não me refiro apenas às instalações físicas, mas sua conveniente distribuição, visibilidade e o próprio fato de estarem disponíveis e operacionais), sua reputação de solidez, enfim, o valor de seu fundo de comércio, foi total e convenientemente substituído pela tosca, questionável e discutível "rentabilidade de exercícios futuros". Uma prova cabal da relevância do fundo de comércio foi o tempo decorrido entre a aquisição do Banespa e sua incorporação pelo Banco Santander S.A., a qual se deu apenas em 2006 (ou seja, após 5 anos), período este em que o Grupo Santander dele se beneficiou. O fato relevante seguinte foi a simples incorporação da Santander Holding Ltda. por sua controlada, o Banespa, e o início da amortização do ágio gerado em sua aquisição por empresa domiciliada no exterior, adicionado àquele consubstanciado no Laudo de Avaliação, quando da capitalização da Santander Holding Ltda. Os fatos acima descritos evidenciam a simulação de uma complexa operação envolvendo 5 empresas sediadas no Brasil e uma no exterior, com a finalidade de iludir o fisco, cujo único resultado no "mundo real" foi a redução ilícita no lucro do Banespa. A tentativa de internalização do ágio pago restou infrutífera, porquanto ele permaneceu indiretamente sob o controle da sociedade espanhola. Por outro lado, da complexa rede de operações societárias resultou a criação fictícia de um ativo (ágio) no Banespa, a despeito de permanecer existindo como ativo da sociedade espanhola. Pelo exposto, haja vista os elementos narrados, fica patente a caracterização do intuito fraudulento, justificando plenamente a aplicação da multa qualificada. (Grifei). Em síntese a Fiscalização concluiu que os procedimentos da contribuinte amoldamse á prática de “fraude tributária”, de que trata o art. 72 da Lei 4.502/1964. Em suas contrarrazões a PFN posicionase nessa mesma linha. Afirma que os procedimentos do contribuinte, que culminaram com a amortização do ágio “transferido” pelo investidor à sociedade investida (mediante a utilização da empresa veículo), não atende à finalidade legal, e implica mesmo em uma fraude. Pois bem. Nos termos do art. 72 da Lei 4.502/64, já transcrito neste voto, a prática de fraude pressupõe o dolo. Entendese por dolo a consciência e a vontade de realização dos elementos objetivos (materiais) da conduta que se adjetiva como dolosa. Nas palavras do ilustre conselheiro Claudemir Malaquias, o dolo é “saber e querer a realização da conduta e não exige a consciência da ilicitude” 2. Observase que nos recentes julgamentos deste Conselho tem prevalecido considerarse a ocorrência de fraude em procedimentos que envolvam adulteração de documentos comprobatórios (notas fiscais, contratos, escrituras públicas, dentre outros), notas 2 "Multa Qualificada nos casos de Planejamento Tributário" http://www.ibdt.com.br/material/arquivos/Atas/IBDT_ABRIL_2011.pdf Fl. 49DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 50 50 fiscais calçadas, notas fiscais frias, notas fiscais paralelas, notas fiscais fornecidas a título gracioso, contabilidade paralela (Caixa 2), conta bancária fictícia, falsidade ideológica, declarações falsas ou errôneas(quanto apresentadas reiteradamente). No caso presente, não há registros de documentos inidôneos, empresas fictas, fraudes em registros contábeis ou de qualquer natureza. Noutro diapasão todos os atos societários foram registrados nos órgãos competentes, assim como na escrituração contábil e fiscal da Contribuinte. Vejamos, pois, a redação dos dispositivos legais aplicáveis ao procedimento do contribuinte: Decretolei nº. 1598/1977 Art. 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. Parágrafo 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento. Parágrafo 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. Parágrafo 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras ‘a’ e ‘b’ do parágrafo 2º deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração. Lei 9.532/1997 Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do Decretolei n. 1598, de 26 de dezembro de 1997: I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘a’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘c’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1589, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; Fl. 50DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 51 51 III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘b’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘b’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados durante os cinco anos calendários subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de 1/60 (um sessenta avos), no mínimo, para cada mês do período de apuração. Parágrafo 1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão. Parágrafo 2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar: a) o ágio, em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; b) o deságio, em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. Parágrafo 3º O valor registrado na forma do inciso II do ‘caput’: a) será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; b) poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. Parágrafo 4º Na hipótese da alínea ‘b’ do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos e contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente. Parágrafo 5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito. Art. 8º O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando: a) o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor de patrimônio líquido; b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. (Grifei) Fl. 51DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 52 52 Nos dispositivos acima inexiste vedação expressa aos procedimentos adotados pelo contribuinte, logo, não há que se falar em fraude à lei, que aliás não pode ser confundido com erro de interpretação da lei. Na fraude a lei, o ato em si é ilícito tendo em vista que o ordenamento jurídico proíbe sua prática. Ora, não há dúvidas quanto a intenção da contribuinte em reduzir os tributos devidos, tendo ele praticado todos os atos que entendeu válidos e amparados na lei. Se obteve êxito é outro aspecto a ser analisado, mas daí a se afirmar que estaria presente o dolo e configurada a fraude, data vênia, não comungo desse entendimento. O Santander Hispano efetivamente pagou mais de 9,5 bilhões de Reais na compra das ações representativas do capital social do Banespa, sendo que, desse valor, cerca de 2,1 bilhões de Reais correspondiam ao valor patrimonial. A diferença correspondia ao ágio, que o grupo buscou meios para transferir ao próprio Banespa e deduzir da base de cálculo do IRPJ e CSLL, visando obter aproximadamente 34% de redução dos tributos devidos pela Banco em face do lucro obtido a partir da nova administração, ou seja, mais de 2,5 bilhões de Reais. Desde o primeiro atendimento à Fiscalização, durante a auditória, o contribuinte foi transparente e coerente em seus esclarecimentos, sobretudo no que diz respeito a seu entendimento quanto ao amparo legal para aproveitar o ágio. A criação de empresa veículo para esse fim era prática normal à época, tanto que foi objeto de normatização pela CVM (Instrução CVM 349/2001). Por seu turno, a própria Lei 9.732/1997, art. 8o., versou sobre aspectos relativos a incorporação da controlada pela controladora. Nos últimos cinco anos participei de centenas de julgamentos neste Conselho em que foi apreciada a aplicação da multa qualificada. Formei critérios para estabelecer minha convicção nesses casos, os quais sempre observo, visando manter coerência em meus votos. Cabe aqui reportar alguns desses julgamentos: i) Acórdão 140200.337 de 14/12/2010 Ementa: MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. A redução sistemática de vultosas receitas na transposição de valores escriturados para as declarações entregues, sem qualquer justificativa plausível, evidencia o intuito de fraude. A apresentação de livros e documentos fiscais, durante a fiscalização, não elide a prática dolosa anterior. Naquele processo, verificouse que as receitas auferidas e escrituradas pelo contribuinte, que inclusive eram declaradas ao Fisco Estadual pela totalidade, eram reduzidas em 99% para fins de apuração dos tributos federais. Para acobertar o conhecimento da Receita Federal, o contribuinte apresentava regularmente suas DIPJ e DCTF, bem como efetuava os recolhimentos dos tributos, porém, sobre esse 1%, e durante pelo menos 3(três) anos consecutivos. A prova do dolo, no caso Sonegação (art. 71 da Lei 4.502/64) foi justamente as Declarações de Pessoa Jurídica (DIPJ e DCTF), sistemática e reiteradamente, grafando valores a menor. A multa de 150% foi mantida por 5 votos a 1. Fl. 52DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 53 53 ii) Acórdão 140200.494 de 31/03/2011 Ementa: GLOSA DE DESPESAS INIDÔNEAS. AMORTIZAÇÕES DE ÁGIO SUPOSTAMENTE PAGO NA AQUISIÇÃO DE DEBÊNTURES. Correta a glosa de despesas contabilizadas a titulo de pagamento de prêmio na aquisição de debêntures entre pessoas ligadas, amparados em contratos eivados de fraude, cujo objetivo, a toda evidência, foi reduzir o IRPJ e CSLL pelo contribuinte, devendo ser restabelecida a multa qualificada, no percentual de 150%. (Grifei). A autuada teria adquirido por R$300milhoes de Reais, debêntures cujo valor de face era de R$1mil (ágio de 299 milhões), sendo que o pagamento teria sido feito mediante TBills (Títulos do Governo dos Estados Unidos da America do Norte), cuja existência não foi comprovada. Na situação versada, a decisão de 1a. instância afastou a aplicação de multa qualificada “por não ter sido suficientemente comprovado, nos autos, o dolo nesta operação mesmo que se reconheça nela todo o artificialismo argüido pela Fiscalização”. Porem, este conselheiro entendeu que eram robustas as provas trazidas aos autos da artificialidade das operações. A começar pelo fato de a empresa, que teria emitido as debêntures possuir apenas existência formal. Nas palavras da Fiscalização: “a sociedade formalizada "produz" apenas documentos (atas, estatuto, livros contábeis, entre outros) utilizados para movimentar contabilmente recursos de outras empresas do grupo (...)”. Pelo voto de qualidade, a multa qualificada foi restabelecida. iii) Acórdão 10248.633 de 14/07/2007 Ementa: MULTA DE OFICIO QUALIFICADA RENDIMENTOS APURADOS COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS, OMITIDOS NA DECLARAÇÃO DE IRPF EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE O fato de a fiscalização apurar omissão de rendimentos em face de depósitos bancários sem origem ou acréscimo patrimonial a descoberto, não configura, por si só, a prática de dolo, fraude ou simulação, nos termos dos art. 71 a 73 da Lei 4.502 de 1964.). Aqui, o contribuinte omitiu na declaração de IRPF a conta bancária de sua titularidade. Além disso os valores movimentados eram elevadíssimos em relação aos rendimentos tributados. Todavia, a Fiscalização deixou de demonstrar a conduta dolosa, considerandose ainda que o lançamento de oficio se deu calcado na presunção legal (fraude não se presume). Mais a mais, “ao informar rendimentos ínfimos em sua declaração, ao invés de elidir a ação fiscal, o efeito foi justamente o contrário, o procedimento chamou a atenção do fisco.” A multa foi desqualificada à unanimidade. Situação semelhante foi observada em diversos outros acórdãos da relatoria deste conselheiro, cujo lançamento se deu exclusivamente com base em depósitos bancários, cuja contacorrente era de titularidade do próprio contribuinte. Fl. 53DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 54 54 Voltando a situação versada no presente processo, constatase pela DIPJ/2003, regularmente apresentada dentro prazo e posteriormente retificada, que o Banespa auferiu receitas tributáveis da ordem de 7,100 Bilhões de Reais em 2002. Por seu turno, a base de cálculo do IRPJ e CSLL foi de aproximadamente 80 Milhões de Reais, ou seja, em pouco mais de 1% da receita total, sendo que a amortização do ágio reduziu em R$ 1,492 Bilhão de Reais. Além disso, no ajuste anual a contribuinte apurou Saldos Negativos de Recolhimentos de 4 Milhões (IRPJ). Ora, uma empresa com esses números certamente estava sujeita ao acompanhamento especial de que trata a Portaria SRF nº 448 de 2002 . Definitivamente não é crível que a dedução pudesse ser ocultada do Fisco na contabilidade ou na DIPJ da recorrente, o que em verdade não ocorreu. Em face do exposto, até mesmo diante do detalhamento e clareza do Termo de Verificação Fiscal, formei convencimento de que a qualificação da multa de ofício foi exacerbada, devendo ser excluída. III. DECADÊNCIA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO DO ANO CALENDÁRIO DE 2002. Uma vez afastada a acusação de fraude, bem como os pressupostos da aplicação da multa de ofício qualificada, cumpre também reconhecer a decadência do lançamento do anocalendário de 2002, aplicandose o art. 150 parágrafo 4o. do CTN, haja vista que no presente caso houve antecipação de pagamento do IRPJ e CSLL. Nesse sentido vem decidindo o Superior Tribunal de JustiçaSTJ. Cite como exemplo o Recurso Especial nº 973.733 SC (2007/01769940), julgado em 12 de agosto de 2009, sendo relator o Ministro Luiz Fux: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo Fl. 54DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 55 55 lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontrase regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 163/210). 3. O dies a quo do prazo qüinqüenal da aludida regra decadencial regese pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 183/199). (...) 7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (Grifos do original) O Regimento Interno do CARF, sofreu algumas alterações pela Portaria nº 586, de 22/12/2010, dentre as quais se destaca o acréscimo do artigo 62A, segundo o qual as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça STJ, bem como pelo Supremo Tribunal FederalSTF, em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Logo, à luz do artigo 62A do Regimento Interno do CARF, doravante ,há que se aplicar o entendimento do STJ quanto a essa matéria. Verificase que no anocalendário de 2002 o contribuinte sofreu retenção de tributos federais pela prestação de serviços a órgãos públicos, nos termos do art. 64 da Lei 9.430/1996. No caso das instituições financeiras o código de retenção o código é 6188 e contempla (IRPJ, CSLL, PIS e COFINS). A Secretaria da Receita Federal, por exemplo, pagou a contribuinte a importância de 2.894.862,26 pelo serviço de arrecadação federal, tendo efetuado retenções de 204.087,74 (valores verificados nos sistemas da Receita Federal). A contribuinte declarou esses valores em sua DIPJ/2003; no ajuste anual, por exemplo, aproveitou R$ 245.511,80 (conforme ficha 12b da DIPJ arquivada na Receita Federal do Brasil sob no. 1272859.) Portanto, em relação ao Banco Santander Banespa, a contagem do prazo decadencial para lançamento do IRPJ e CSLL do anocalendário de 2002, iniciouse em 01/01/2003, haja vista os pagamentos e a opção pelo lucro real anual, encerrandose em 31/12/2007. Fl. 55DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 56 56 Acolho, pois, a preliminar de decadência do anocalendário 2002. IV MÉRITO Amortização do ágio pago pelo Banco Santander Hispano na aquisição do Banespa, levada a efeito pelo próprio Banespa. A matéria foi enfrentada recentemente por este Colegiado no julgamento do processo 10882.001031/200495, acórdão 140200.342 de 15/12/2010, assim ementado: LUCRO REAL. GLOSA DE AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. EXPECTATIVA DE RENTABILIDADE FUTURA. Reconhecese que o ilícito fiscal limitase à desconsideração da natureza jurídica do fundamento econômico do ágio e que a demonstração arquivada como comprovante do fundamento econômico do ágio, traduz a avaliação dos ativos, pela expectativa de rentabilidade futura. LUCRO REAL. GLOSA DE AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. CONDIÇÃO DE EFETIVIDADE DO LUCRO. A legislação fiscal editada no contexto de incentivo às privatizações e que permaneceu em vigor nos períodos objeto da autuação não condicionou a dedutibilidade da amortização do ágio à efetiva apuração de lucro, e nem estabeleceu prazo para a geração de lucros. A Instrução CVM 247/96 alterada pela 285/98 não pode ser aplicada para efeitos fiscais. (Os Grifos não são do original). No voto condutor, da lavra da ilustre conselheira Albertina Silva Santos Lima, colhese os seguintes fundamentos: (...) o disposto no caput do art. 7º, inciso III, combinado com o art. 8º, letra b, permite a amortização do ágio à razão de 1/60, no máximo, mensalmente, na situação de incorporação de empresa detentora de participação acionária adquirida com ágio. Não faz nenhuma restrição quanto a essa participação societária se referir a uma empresa terceira ou à própria incorporadora. Assim, devese aplicar a legislação às peculiaridades de cada situação. No caso concreto, a fiscalização afirmou que as reorganizações societárias (Origem e Antuérpia) por meio de negócios jurídicos indiretos previamente estabelecidas em contrato visaram, na verdade, a transferência do controle societário, com ganhos fiscais indevidos. Apesar de ter feito essa afirmação, no item relativo ao ilícito fiscal de seu Termo de Constatação Fiscal, não há qualquer acusação de que as reorganizações societárias tenham sido realizadas de forma ilícita, conforme trecho que a seguir transcrevo: (...) Conforme visto, a Lei 9.532/97, III do art. 7º, permite a amortização do valor do ágio cujo fundamento seja o valor da rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados dos exercícios futuros, no máximo, à razão de 1/60 para cada mês do período de apuração, desde que haja a respectiva demonstração que deverá ser arquivada como comprovação. A legislação fiscal não definiu o que seja valor da rentabilidade com base em previsão dos resultados dos exercícios futuros. Fl. 56DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 57 57 Essa falta de definição invoca entendimentos diversos, como exemplifica o entendimento dos AFRFs que realizaram a fiscalização e a diligência. O Parecer do Prof. Eliseu Martins, ao comentar o art. 20 do DL 1.598/77, observa que o legislador ao apresentar o ágio daquela forma incorreu em erro conceitual, pois segregou o fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas do valor de rentabilidade futura. Ressalta que essa separação é incorreta dentro dos conceitos teóricos e normativos contábeis, uma vez que, o fundo de comércio, também conhecido por goodwill, nada mais é, em contabilidade, do que a efetiva expectativa de rentabilidade futura acima dos montantes normais esperados. Salienta ainda que a CVM em sua Instrução nº 1/78 também incorreu nesse erro conceitual e que o corrigiu conforme Nota explicativa à Instrução CVM 247/96. Assim, segundo o parecerista não existem “outras razões econômicas” para o pagamento do ágio; o que poderia ocorrer é a não apresentação de uma justificativa formal para tal pagamento, mas que ele ocorre por conta dessa expectativa ou da mais valia de ativos é fato. Conclui que o fundo de comércio mencionado pelo DL, na letra “c”, incluise conceitualmente dentro do que ele mesmo considera expectativa de rentabilidade futura, letra “b”. Vejamos ainda o conceito econômico abaixo sobre goodwill, extraído da obra de MARTELANC, PASIN e CAVALCANTE (2005): ‘Tecnicamente, definese goodwill como a diferença entre o valor econômico da empresa para seus acionistas e seu valor patrimonial reavaliado a preços de mercado. Antes de uma fusão ou aquisição, pode ser projetado como a diferença entre o valor de uma empresa obtido pelo FCD e o valor patrimonial reavaliado a preços de mercado. No momento da apresentação do relatório de avaliação da empresa,muitos empresários nos perguntam se o valor dos intangíveis (reputação da empresa, fidelidade dos clientes, qualidade do corpo gerencial e dos recursos humanos, Knowhow tecnológico) e, principalmente, se o valor da marca não deveria ser mensurado à parte, sendo adicionado ao da empresa. Via de regra, a resposta é não, pois os ativos intangíveis e a marca contribuem para a geração dos lucros e fluxos de caixa futuros. Além disso, quando se avaliam empresas por métodos que usam esses atributos (método do fluxo de caixa descontado e método dos múltiplos), o valor dos intangíveis e da marca já está contemplado e incluso.’ Segundo o trecho transcrito, os ativos intangíveis e a marca contribuem para a geração de lucros e fluxos de caixa futuros e quando se avaliam empresas pelos métodos do fluxo de caixa descontado e método dos múltiplos, o valor dos intangíveis e da marca já está contemplado e incluso. O texto acima transcrito aborda métodos de avaliação de empresas e se refere ao método do fluxo de caixa descontado e método dos múltiplos. Ao se utilizar um desses métodos para avaliação de empresas, segundo o que se extrai do conceito econômico abordado, o valor do fundo de comércio e dos intangíveis estaria espelhado no resultado obtido. Apesar dos conceitos acima expressos, não podemos nos olvidar que para efeitos fiscais, devemos considerar a existência dos dois fundamentos econômicos citados: Fl. 57DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 58 58 a) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros (...) (Os Grifos não são do original). Os fundamentos acima transcritos, que representam o entendimento da maioria dos integrantes deste Colegiado, foi construído após 8 (oito) meses de apreciação da matéria (o processo retornou a pauta em maio/2010 e foi julgado em dez/2010). É certo que se trata de um benefício fiscal, pois, a regra geral, seja para as pessoas físicas, seja para as empresas, é agregar ao custo a mais valia paga na aquisição de participações societárias, independentemente de sua natureza, para ser deduzido na apuração do ganho tributável em futuras alienações, dentre outros tratamentos previsto na legislação. Ocorre que, ao contrário de outros benefícios fiscais que são objeto de normas complementares minuciosas, especialmente infralegais, determinadas pela própria lei de regência (a exemplo do Simples), a matéria em comento está adstrita às normas legais já referenciadas neste voto. Em que pese o disposto no art. 111, inciso I, do CTN, evidenciase que o objetivo da norma é propiciar maior amplitude a esse favor fiscal. Pois bem, entendo que a amortização do ágio, pago com fundamento em previsão de rentabilidade futura de ágio, com fulcro no art. 7o., inciso III, da Lei 9.532 de 1997, deve atender, inicialmente, a 3 (três) premissas básicas, quais sejam: i) o efetivo pagamento do custo total de aquisição, inclusive o ágio; ii) a realização das operações originais entre partes não ligadas; iii) seja demonstrada a lisura na avaliação da empresa adquirida, bem como a expectativa de rentabilidade futura. No presente caso, essas premissas básicas foram cumpridas. Não há dúvida que o Banco Santander Hispano efetivamente desembolsou os 9,457 Bilhões de Reais da operação. De igual forma inexiste qualquer ligação entre o grupo Santander e os alienantes, especialmente na operação principal (compra das ações da União). Também não repousa qualquer questionamento quanto ao fato de que o Banespa sofreu detalhada avaliação, refletida em suas demonstrações contábeis antes do leilão estatal. Por fim, ao contrário do que ocorreu no processo 10882.001031/200495 (acórdão 140200.342, acima citado), o laudo de demonstração da expectativa de rentabilidade futura do Banespa, apresentada durante a auditoria fiscal não passou por qualquer crivo da Fl. 58DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 59 59 fiscalização. Quanto ao laudo, o minucioso Termo de Verificação Fiscal, traz apenas as seguintes considerações: “(...) conforme Laudo de Avaliação da KPMG, ampliando o ágio para R$ 7.462.067.630,07, sem que houvesse qualquer contrapartida com fundamento econômico para tanto. A natureza única do ágio alegada no laudo é a rentabilidade de exercícios futuros, ignorando totalmente a inescapável parcela derivada do fundo de comércio da empresa (pois a parcela do ágio neste fundada não geraria amortizações dedutíveis das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL). Portanto, os valores relativos à marca "Banespa", sua penetração e notoriedade no mercado, sua carteira de clientes, sua rede de agências no Brasil e no exterior (e aqui não me refiro apenas às instalações físicas, mas sua conveniente distribuição, visibilidade e o próprio fato de estarem disponíveis e operacionais), sua reputação de solidez, enfim, o valor de seu fundo de comércio, foi total e convenientemente substituído pela tosca, questionável e discutível "rentabilidade de exercícios futuros". Uma prova cabal da relevância do fundo de comércio foi o tempo decorrido entre a aquisição do Banespa e sua incorporação pelo Banco Santander S.A., a qual se deu apenas em 2006 (ou seja, após 5 anos), período este em que o Grupo Santander dele se beneficiou. (...)” (Os Grifos não são do original). Não cabe a este Relator questionar os aspectos técnicos do aludido laudo, se isso não foi feito pela Fiscalização. É estranhável o fato de o laudo ter estabelecido a rentabilidade futura pelo total do ágio pago nas operações (leilão do BC e Oferta pública de Aquisição), todavia, é o que basta. Mais a mais, a norma reza apenas que o “O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras ‘a’ e ‘b’ do parágrafo 2º deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração” (art. 20, § 3o. do DL 1.598/1977). A Fiscalização insiste que o contribuinte deveria ter apurado também o valor do Fundo de Comércio, que também estaria incluído no valor do Ágio. Admitindose, por hipótese que cabe razão ao Fisco nessa parte, então caberia ao Fisco apurar tal parcela, mediante critério técnico e glosar parte do valor do ágio com essas razões adicionais. Porém isso também não foi feito. Tenho opinião formada a respeito do valor “fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas”, mas conclui que não cabe aqui discorrer sobre o tema, haja vista que a Lei trata desses elementos patrimoniais, embora sem qualquer aprofundamento ou determinação de que seja disciplinado em normas infralegais. De qualquer forma, não seria um valor dedutível e tendo em vista que a Lei pede apenas uma demonstração, mesmo que fosse apurado posteriormente, com base nos valores da época, a lei não estabelece que uma parte do valor do ágio pago seja tomado como “fundo de comércio”. Explico: não há determinação de que haja uma proporcionalidade, admitindose que o Fundo de comercio seja 5 Bilhões, uma vez que existe outros 7 Bilhoes de expectativa de rentabilidade futura, o ágio poderia ser totalmente dedutível, pois, continuaria havendo amparo legal.. Estou plenamente convencido de que inexistindo disposição Fl. 59DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 60 60 contratual, ou qualquer outro documento ou registro contábil produzido pelas partes, estabelecendo que parte do valor pago a título de ágio tenha outro fundamento que não a rentabilidade futura, o valor é integralmente passível de amortização. Equivocase o Fisco ao argumentar que o ágio amortizado não corresponde ao que foi pago pelo Santander Hispano na aquisição do Banespa, em face de a participação acionaria ter sido antes vertida a uma empresa veículo. Isso porque a “passagem” pela Santander Holding era necessária por diversos motivos, consoante cabalmente demonstrado pela contribuinte, na peça recursal, a seguir sintetizados: a Santander Holding foi constituída logo após a publicação do Edital do Leilão do Banespa (21 dias após), pois seria a empresa destinada a receber a participação societária a ser adquirida em leilão público. Isso porque, nos termos dos artigos 26, 27 e 28 da Lei nº 4.595/64, Circular BACEN n° 2.750 e da Circular COSIF n° 1.273 o aumento de capital em uma instituição financeira somente pode ser feito em moeda corrente ou por meio de incorporação de reservas e de reavaliação de parcela dos bens do ativo imobilizado. Não há previsão de uso de ações para a integralização em aumento de capital de empresas financeiras. a constituição de uma Holding revelouse necessária para legalmente recepcionar as ações do Banespa, adquiridas pelo Santander Hispano, em aumento de capital. Ou seja, a Holding é uma sociedade cuja finalidade é deter o investimento; a integralização das ações do Banespa na Santander Holding, conforme já planejado desde o início do processo de privatização, era a forma mais direta, correta e adequada para atingir o seu objetivo final: (i) a aquisição do Banespa; (ii) a reestruturação societária das empresas no Brasil para a integração de suas atividades bancárias, que visava obter ao final a sinergia do Grupo, e (iii) preservação dos direitos dos acionistas minoritários do Banespa, garantindo a manutenção do fluxo de dividendos e a transparência das demonstrações financeiras quanto à identificação dos seus resultados operacionais; o aproveitamento fiscal de dedutibilidade do ágio gerado na aquisição é mera conseqüência legal dos atos societários praticados, sem causar efeito adverso no fluxo de dividendos futuros dos acionistas minoritários do Banespa, mantendose a prática de boa publicidade das demonstrações financeiras. a Santander Holding foi constituída logo após a publicação do Edital do Leilão do Banespa (21 dias após), pois seria a empresa destinada a receber a participação societária a ser adquirida em leilão público. Isto porque, nos termos dos artigos 26, 27 e 28 da Lei nº 4.595/64, Circular BACEN n° 2.750 e da Circular COSIF n° 1.273 o aumento de capital em uma instituição financeira somente pode ser feito em moeda corrente ou por meio de incorporação de reservas e de reavaliação de parcela dos bens do ativo Fl. 60DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 61 61 imobilizado. Não há previsão de uso de ações para a integralização em aumento de capital de empresas financeiras; a constituição de uma Holding revelouse necessária para legalmente recepcionar as ações do Banespa, adquiridas pelo Santander Hispano, em aumento de capital. Ou seja, a Holding é uma sociedade cuja finalidade é deter o investimento; a integralização das ações do Banespa na Santander Holding, conforme já planejado desde o início do processo de privatização, era a forma mais direta, correta e adequada para atingir o seu objetivo final: (i) a aquisição do Banespa; (ii) a reestruturação societária das empresas no Brasil para a integração de suas atividades bancárias, que visava obter ao final a sinergia do Grupo, e (iii) preservação dos direitos dos acionistas minoritários do Banespa, garantindo a manutenção do fluxo de dividendos e a transparência das demonstrações financeiras quanto à identificação dos seus resultados operacionais; o aproveitamento fiscal de dedutibilidade do ágio gerado na aquisição é mera conseqüência legal dos atos societários praticados, sem causar efeito adverso no fluxo de dividendos futuros dos acionistas minoritários do Banespa, mantendose a prática de boa publicidade das demonstrações financeiras; a incorporação da Santander Holding pelo Banespa também se fez necessária por força de outros entraves burocráticos. De fato, era o Banespa quem possuía todos os registros e autorizações para atuar no Brasil como instituição financeira de capital aberto. Caso a Santander Holding fosse a incorporadora, seria necessário que ela obtivesse todos esses registros e autorizações previamente à incorporação, o que geraria um custo e complexidade desnecessários à operação societária; Por mais óbvio que possa parecer, tal qual já fundamentei na exclusão da multa qualificada, o Banco Santander Hispano desde o inicio foi transparente e coerente em seus objetivos: adquirir o Banco Banespa para alavancar suas operações no Brasil, aproveitandose do benefício fiscal de amortização do ágio que certamente teria que ser pago, haja vista que possuía expertise suficiente para gerar lucros com a nova empresa. Não se olvide que todo o ágio pago à União pela compra do Banespa ingressou nos cofres públicos. Se aquisição tivesse sido realizada junto a uma empresa privada, esse ágio seria passível de tributação pelos mesmos 34%. O fundamento fiscal no sentido de que o Santander Hispano, efetivo adquirente do Banespa, por estar sediado e submetido às normas Espanholas, não poderia ter transferido esse ágio na integralização das cotas na Santander Holding (empresa constituída no Brasil), a meu ver não tem respaldo legal. Vejamos a transcrição do entendimento fiscal: “(...) Fl. 61DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 62 62 A internalização do ágio pago pelo Santander Central Hispano S.A. constituiu a "operaçãochave", a partir da qual o grupo econômico pretendeu aproveitarse do beneficio fiscal concedido pela legislação pátria para diminuir as bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. Ora, o ágio foi efetivamente pago pela sociedade domiciliada na Espanha, e não por uma domiciliada no Brasil. Portanto, o ativo (ágio) decorrente da aquisição de ações haveria de ser contabilizado na sociedade estrangeira adquirente das ações do Banespa, e não em uma domiciliada no Brasil. As operações societárias desencadeadas após a aquisição das ações do Banespa lastrearamse nessa suposta transferência do ágio pago pela sociedade espanhola para sociedades domiciliadas no Brasil, porquanto a dedutibilidade dos encargos de amortização do ágio pressupõe que este tenha sido contabilizado em uma sociedade aqui domiciliada. As condições de dedutibilidade de encargos de amortização de ágio previstas no art. 386 do RIR/99 têm como pressuposto uma anterior contabilização do custo de aquisição do investimento, nos termos do art. 385 também do RIR/99. Cabe aqui investigar a quem é dirigida a norma prevista no art. 385 do RIR/99, cujo "caput" assevera: ‘Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em:’ (grifei) Por sua vez, o art. 146 do RIR/99 delimita o alcance do conceito de "contribuinte", ao qual se refere o "caput" do art. 385: Art. 146. São contribuintes do imposto e terão seus lucros apurados de acordo com este Decreto (DecretoLei n 5.844, de 1943, art. 27): as pessoas jurídicas (Capítulo I); (...) § 7 Salvo disposição em contrário, a expressão pessoa jurídica, quando empregada neste Decreto, compreende todos os contribuintes a que se refere este artigo, (grifei) (...) Resta incontestável, portanto, que o previsto no art. 385 do RIR/99 não é aplicável ao Santander Central Hispano S.A., porquanto tratase de sociedade domiciliada no exterior, que como tal não se enquadra no conceito de "contribuinte", na acepção técnica empregada no ‘caput’ do aludido dispositivo (salientese que tal sociedade tampouco se enquadra no art. 147, inciso II, do RIR/99). A contabilização deste ágio na sociedade adquirente devese pautar nas regras do pais de seu domicílio (Espanha), cuja legislação eventualmente pode, em tese, também conceder benefícios fiscais em decorrência do pagamento acima do valor patrimonial de ações. Tratase de contabilização em sociedade estrangeira, em relação à qual a legislação brasileira não pode ser impingida. Em sendo indiscutível a inaplicabilidade da norma contida no art. 385 do RIR/99 à operação que deu origem ao ágio pago na aquisição de ações do Banespa, também é de cristalina certeza a não subsunção dos fatos correspondentes às operações societárias subseqüentes à norma prevista no art. 386 do RIR/99, uma vez que a Fl. 62DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 63 63 incidência daquela constitui pressuposto para a dedutibilidade autorizada por esta (atendidas as demais condições por ela impostas). Por conseguinte, a despeito da frustrada tentativa do grupo econômico de transferir para o Brasil o ágio pago pela sociedade espanhola pelas ações da sociedade nacional, a legislação pátria não autoriza que tal ágio seja aqui amortizado para efeito de apuração do lucro real e da base de cálculo da CSSL da sociedade nacional. (...)” A meu ver, este é o ponto chave da acusação fiscal. Embora o Auditor Wenner Hess, tenha sido extremamente claro em seus fundamentos, abstraindo dos aspectos formais e buscando a verdade real, o que ocorreu foi uma concomitante transferência da participação no Banespa adquirida pelo Santander Hispano, na Santander Holding, ao tempo das aquisições. A exigüidade do prazo não dá margem a outra conclusão. Esso ponto foi muito bem destacado pelos ilustres patronos da recorrente em seus memoriais: (...) os lançamentos foram efetuados com base na mera presunção de que as operações praticadas não tiveram propósito negocial (presunção decorrente da simples leitura dos atos societários – “análise das fotografias”). De fato, ao final da análise das operações em questão (“análise do filme”), restará comprovada que a forma jurídica adotada pelo grupo Santander, para participar no processo de leilão, foi a mais direta, correta e adequada para atingir seu objetivo final: a compra do Banespa e a integração das atividades bancárias para obtenção de sinergia no grupo Santander, com o conseqüente aproveitamento do ágio decorrente dessa aquisição. Antes da aquisição do Banespa por meio do leilão ocorrido em novembro de 2000, o grupo Santander no Brasil possuía uma atividade bancária no País de pequeno porte, em face dos demais bancos privados aqui operantes. Esse panorama foi radicalmente alterado após a aquisição do Banespa. Dessa forma, a inclusão do Banespa no Programa Nacional de Desestatização foi uma oportunidade única para o grupo Santander ingressar definitivamente no mercado brasileiro e consolidar seu poder econômico no mercado nacional. Para se ratificar o até aqui exposto – aquisição do Banespa em razão de necessidade de expansão das atividades comerciais do grupo Santander – juntouse ao autos a reportagem publicada na Revista Veja, Edição nº 1677, de 29/11/2000: ‘OLÉ! OS ESPANHÓIS RECONQUISTARAM A AMÉRICA Santander compra o Banespa por 7 bilhões de reais, já é o terceiro maior banco privado do país e quer ser o número 1 até 2003’. Com efeito, passase a expor as principais ‘fotografias’ que compõem o ‘filme’ da aquisição do Banespa, nas quais se perceberá a validade de cada passo adotado pelo grupo Santander, bem como o sentido econômico e o propósito negocial de toda essa operação: (...) Conforme se depreende dos atos acima descritos, todas as operações realizadas pelo grupo Santander tiveram como objetivo criar uma estrutura societária que tornasse Fl. 63DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 64 64 viável, como planejamento estratégico, a aquisição do Banespa, com o conseqüente aproveitamento do direito à amortização fiscal do ágio gerado na integralização das suas cotas na Santander Holding, exatamente nos termos do artigo 386, § 6º, inciso II, do RIR/99. Com efeito, dentro de todo esse contexto, notase que as operações realizadas não passaram de um conjunto de operações societárias usuais, normais e necessárias para adquirir o Banespa e iniciar a expansão dos negócios comerciais e, ainda, reduzir as complexidades estruturais de um Grupo Econômico em crescimento, que atualmente caminha para atingir o objetivo de seu planejamento estratégico. (...) (grifos do original) Ora, em situações semelhantes em que o contribuinte utilizase de operações concatenadas para evadirse da tributação, sob o manto da formalidade, a Fiscalização analisa o “filme”, faz transparecer os verdadeiros propósitos dos contribuintes e, ao final, demonstra e conclui que tudo foi feito visando reduzir indevidamente os tributos devidos, muitas vezes mediante ações dolosas. No presente caso, a análise do “filme”, conjuntamente à legislação aplicável, autoriza a conclusão de que o contribuinte não incorreu em deduções indevidas, muito menos em ilícitos fiscais. Cabe aqui, novamente, buscar a coerência nos julgamentos. Não há margem para dois pesos e duas medidas, sob pena de total perda da credibilidade. Vejamos alguns julgados dos quais participei no qual prevaleceu a verdade real/econômica, ou o efetivo propósito negocial, sobre a verdade formal: Acórdão 10248.660 de 4/07/2007: EMENTAS: SIMULAÇÃO A simulação se caracteriza pela divergência entre a exteriorização e a vontade, isto é, são praticados determinados atos formalmente, enquanto subjetivamente, os que se praticam são outros. Assim, na simulação, os atos exteriorizados são sempre desejados pelas partes, mas apenas no aspecto formal, pois, na realidade, o ato praticado é outro. SIMULAÇÃO E DECADÊNCIA Configurada a presença de simulação, o prazo para constituir o crédito tributário é de 5 (cinco) anos, contados do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado nos termos do art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional. SIMULAÇÃO E ERRO NA IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO PASSIVO Comprovado que o contribuinte realizou a operação pretendida por meio de outrem, ato simulado, não há que se falar em erro na identificação do sujeito passivo quando o crédito tributário é constituído e exigido daquele que realmente praticou o negócio. SIMULAÇÃO E GANHO DE CAPITAL – Na apuração do ganho de capital, é considerada a operação que importe “alienação” a qualquer título de bens ou direitos, ou cessão, ou promessa de cessão de direitos à sua aquisição. Comprovada Fl. 64DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 65 65 a simulação e verificada a ocorrência de ganho de capital na operação efetivamente realizada, correta a exigência do tributo efetivamente devido. SIMULAÇÃO E MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA Comprovada a simulação, correta a exigência da multa de ofício qualificada sobre os tributos devidos, no percentual de 150%. Relevante na situação fática tratada no processo de que trata o Acórdão 102 48.660, além da sequência de operações, é que o Fisco não fez prova direta de que os alienantes (pessoas físicas) se apropriaram dos recursos da venda da participação acionária, que foi vertida à empresa veículo (casasepara). Todavia, a magnitude das evidências autorizaram a convicção de que em realidade os recursos financeiros foram vertidos aos sócios pessoas físicas. Porém, a ferro e fogo, se analisada as “fotografias” ou se imperasse a verdade formal, a conclusão poderia ter sido outra. Outro julgamento relevante deste Colegiado, no qual prevaleceu a verdade real sobre a formal ocorreu no Acórdão 140200.494 de 31/03/2011, resumido na seguinte ementa: GLOSA DE DESPESAS INIDÔNEAS. AMORTIZAÇÕES DE ÁGIO SUPOSTAMENTE PAGO NA AQUISIÇÃO DE DEBÊNTURES. Correta a glosa de despesas contabilizadas a titulo de pagamento de prêmio na aquisição de debêntures entre pessoas ligadas, amparados em contratos eivados de fraude, cujo objetivo, a toda evidência, foi reduzir o IRPJ e CSLL pelo contribuinte, devendo ser restabelecida a multa qualificada, no percentual de 150%. No processo de que trata o citado Acórdão 140200.494, aparentemente todas as formalidades foram cumpridas. Se analisados isoladamente, os atos comerciais e societários aparentemente não revelam os procedimentos dolos. Todavia, “ao analisar o filme todo”, o colegiado, por sua maioria, concluí que realmente a emissão de debêntures não teve outro propósito negocial alem de propiciar a amortização do ágio pelo adquirente. Citese também a decisão proferida pela 1a. Câmara do Antigo Primeiro Conselho de Contribuintes, 17/12/2008, de que trata o Acórdão 10197.070, assim ementado: LUCROS AUFERIDOS NO EXTERIOR POR INTERMÉDIO DE CONTROLADAS INDIRETAS Para fins de aplicação do art. 74 da MP n°215835, os resultados de controladas indiretas consideramse auferidos diretamente pela investidora brasileira, e sua tributação no Brasil não se submete às regras do tratado internacional firmado com o país de residência da controlada direta, mormente quando esses resultados não foram produzidos em operações realizadas no pais de residência da controlada evidenciando o planejamento fiscal para não tributálos no Brasil. No processo em comento, restou evidenciado que a contribuinte transferiu para sua controlada na Espanha, os resultados obtidos em outros países, no intuito de obter a isenção desses lucros ao serem remetidos para o Brasil em face do tratado BrasilEspanha. Vejamos a transcrição de um trecho do voto condutor do ilustre conselheiro Valmir Sandri que redigiu o voto vencedor daquele acórdão: Fl. 65DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 66 66 “(...) O LIMITE DO TRATADO BRASILESPANHA Não pode a Recorrente invocar em seu beneficio o tratado celebrado entre os Estados acima contratante, que visou evitar a dupla tributação dos lucros auferidos pelas sociedades residentes dos respectivos Estados, a fim de obter uma economia de imposto decorrente de lucros auferidos por outra sociedade controlada/interligada residente num terceiro Estado, os quais não fazem jus ao beneficio em razão de sua situação substancial. De fato, não há como considerar ao abrigo do tratado Brasil — Espanha, os lucros auferidos num terceiro país sem tratado, que tem apenas como passagem um dos Estados contratantes, eis que, pela regra disposta no art. 7°. do Tratado, os lucros por ele abrangido são apenas aqueles auferidos pelos Estados Contratantes, aliado ao fato de que pela lei societária e fiscal, os resultados auferidos por intermédio de outra pessoa jurídica, na qual a controlada ou coligada no exterior mantenha qualquer tipo de participação societária, ainda que indiretamente, serão considerados no balanço para efeito societário, bem como, para efeito de determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL da beneficiária no Brasil. Não se trata, portanto, como pode parecer num primeiro momento, no afastamento do tratado Brasil — Espanha, para tributar o lucro aderido por parte destes Estados contratantes, o que entendo inviável, mas sim, de dar efetividade aos preceitos definidos no referido convênio, eliminando a dupla tributação dos lucros neles auferidos e tributando os lucros alienígenas, decorrentes de estratagemas utilizadas pelas empresas com o fito de eximirse e/ou reduzir os tributos devidos, que, embora possam ser consideradas lícitas, seus resultados não se encontram contemplados nos tratados. O fato é que, a legislação brasileira determinou uma adição ao lucro líquido da sociedade controladora no Brasil, para efeito de determinação da base de cálculo do imposto de renda e contribuição social, os lucros auferidos no exterior por filial, sucursal, controlada ou coligada, considerados de forma individualizada, e sendo assim, não há como deixar de considerar isoladamente tais lucros, inclusive, para efeito da aplicação de tratados. Assim, entendo correta a decisão recorrida que manteve a exigência em relação ao presente item pela aplicação do worldwicle incarne taxation e afastamento do tratado Brasil— Espanha no caso in concreto. (...)” Voltando ao presente caso, formei pleno convencimento de que os procedimentos do Grupo Santander, desde antes da aquisição do Banespa, visaram a obtenção de resultados para seus acionistas, bem como amortizar na tributação desses resultados no Brasil, o ágio que certamente teria que pagar e pagou. Do ágio de si mesma. O fundamento do Agente Fiscal no sentido de que o ágio amortizado pelo Banespa decorreu da aquisição, com ágio, das suas próprias ações, ou seja, “ágio de si mesma”, também está equivocado. Isso porque duas são as características básicas em uma operação que redunda em “ágio de si mesma”, a saber: Fl. 66DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 67 67 Inexistência de efetivo desembolsos de recursos, neutralidade nesses desembolsos, ou até pagamentos fictícios (não comprovados). Não há materialidade nos pagamentos. Inexistência de efetiva mudança de controle acionário. Nos casos de “ágio de si mesmo” a participação acionária é adquirida por outra empresa do mesmo grupo ou por interpostas pessoas. Na situação versada nos autos, a efetividade dos desembolsos de recursos por parte do Banco Santander Hispano é inconteste. De igual forma, se visto o filme todo, verifica se que antes das operações o Banespa era controlado pela União e possuía centenas de acionistas minoritários. No momento da incorporação do Banespa por seu controlador Santander Holding, o controle acionário de ambos era do Banco Santander Hispano. Portanto, a amortização não se deu do “ágio de si mesma”, gerado artificialmente, seja no próprio Banespa, seja no Grupo Santander, e sim do ágio efetivamente pago pelo Banco Santander Hispano na aquisição do Banespa junto a União e demais acionistas minoritários. A 1a. Turma da 3a. Câmara desta Seção do CARF julgou concomitantemente a este o processo 18471.000999/200529, tendo proferido o acórdão 130100.711, em 19/11/2011, que recebeu as seguintes ementas e decisão: Acórdão 130100.711 de 19/10/2011 Ementas: SIMULAÇÃO Configurase como simulação, o comportamento do contribuinte em que se detecta uma inadequação ou inequivalência entre a forma jurídica sob a qual o negócio se apresenta e a substância ou natureza do fato gerador efetivamente realizado, ou seja, dáse pela discrepância entre a vontade querida pelo agente e o ato por ele praticado para exteriorização dessa vontade. INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADE AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO – ARTIGOS 7º E 8º DA LEI Nº 9.532/97. PLANEJAMENTO FISCAL INOPONÍVEL AO FISCO – INOCORRÊNCIA. No contexto do programa de privatização das empresas de telecomunicações, regrado pelas Leis 9.472/97 e 9.494/97, e pelo Decreto nº 2.546/97, a efetivação da reorganização de que tratam os artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/97, mediante a utilização de empresa veículo, desde que dessa utilização não tenha resultado aparecimento de novo ágio, não resulta economia de tributos diferente da que seria obtida sem a utilização da empresa veículo e, por conseguinte, não pode ser qualificada de planejamento fiscal inoponível ao fisco. ABUSO DE DIREITO A figura de “abuso de direito” pressupõe que o exercício do direito tenha se dado em prejuízo do direito de terceiros, não podendo ser invocada se a utilização da empresa veículo, exposta e aprovada pelo órgão regulador, teve por objetivo proteger direitos (os acionistas minoritários), e não violálos. Não se materializando excesso frente ao direito tributário, pois o resultado tributário alcançado seria o mesmo se não houvesse sido utilizada a empresa veículo, nem frente ao direito societário, pois a utilização da empresa veículo deuse, exatamente, para a proteção dos acionistas minoritários, descabe considerar os atos praticados e glosar as amortizações do ágio. Fl. 67DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 68 68 (...) Dispositivo: ACORDAM os membros da 4ª Câmara / 2ª Turma Ordinária da Primeira Seção de Julgamento, por unanimidade de votos, DAR provimento ao recurso voluntário e NEGAR provimento ao recurso de ofício. (Grifei.) No voto condutor do aludido Acórdão, o ilustre Conselheiro Valmir Sandri, traz uma verdadeira aula sobre o tema em questão, que é comum ao presente processo. O Relator navega com habilidade pela legislação, doutrina e jurisprudência, conforme adiante transcrito: “(...) a reorganização societária das empresas participantes do leilão de privatização também foi amplamente utilizada e incentivada, em primeiro lugar pela própria União, como previsto no decreto que criou as holdings operacionais, mas também em razão da Lei nº 9.532/97, que estabelecia o direito à dedutibilidade do ágio e o termo “a quo” do exercício desse direito que seria o momento de uma reorganização societária (incorporação, fusão ou cisão). Aliás, o Poder Legiferante não apenas reconhece a ligação ontológica entre o ágio pago e as regras de dedutibilidade previstas na Lei nº 9.532/97, mas reconhece também que esta norma legal foi um incentivo à reestruturação societária de empresas tão necessárias à economia nacional. Com efeito, foi apresentado pelo então Deputado Waldemar da Costa Neto o Projeto de Lei nº 2.922A, de 2000, que propunha, em seu artigo 1º, a revogação do inciso III do art. 7º da Lei nº 9.532/97, ao argumento de que ser “absurdo o benefício fiscal que ela concedeu às empresas vencedoras dos leilões de privatização de empresas estatais.” Posteriormente, foi apresentada a este Projeto de Lei emenda propondo a sua supressão, ou seja, a manutenção integral do artigo 7º da Lei nº 9.532/97 no ordenamento jurídico, com a seguinte justificativa: “Propomos a supressão do dispositivo, tendo em vista afetar negativamente o tratamento contábil relativo às operações de reorganização societária e, conseqüentemente, o desenvolvimento da economia nacional. Como se sabe, os processos de privatização de empresas estatais e concessão dos serviços públicos têm justamente o objetivo de fortalecer a economia, transferindo aos particulares o controle e a administração de companhias estatais. Desta forma, andou bem o Estado ao promover a privatização de suas empresas, visando justamente incrementar a situação financeiraeconômica do país. Inclusive, a forma de contabilização atualmente prevista no inciso III do art. 7o da Lei n.º 9.532, de 10 de dezembro de 1997, representou um incentivo Fl. 68DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 69 69 para que as empresas privadas participassem dos programas de desestatização. Neste sentido, podemos até dizer que um dos principais incentivos apresentados pelos processos de privatização está inserido na seara fiscal, eis a razão pela qual o benefício fiscal do inciso III do Art. 7o da Lei nº 9.532, de 1997, se faz necessário. A amortização do ágio efetivamente pago, com o fundamento na rentabilidade futura da empresa adquirida, é perfeitamente justa. O ágio consiste num “plus” no valor da empresa negociada, podendo ser bastante subjetivo, devendo, portanto, ser amortizado ao longo do tempo. O ágio, muitas vezes, representa um substancial valor no preço total de negociação de uma empresa. A amortização a longo prazo permite que a empresa adquirente consiga “digerir” o investimento efetuado de uma forma equilibrada, o que incentiva as reorganizações societárias. As demonstrações financeiras da empresa adquirida, por meio de privatização ou não, registram apenas o valor contábil da própria empresa. O eventual ágio a ser pago, que pode ser bastante relevante, não integra o patrimônio líquido da empresa adquirida; na verdade, podemos dizer que representa uma despesa necessária (do ponto de vista da empresa adquirente) para a aquisição ou reorganização. Na categoria de despesa, deve ter o tratamento apropriado para tanto. Importantíssimo ressaltar que a amortização do ágio não traz qualquer lesão ao patrimônio público, até porque o assunto faz parte das normas contábeis e dos princípios geralmente aceitos. Ora, não se pode dizer que a aplicação de um princípio contábil, qual seja, amortização do ágio, traz lesão ao poder público, pois muitos desses princípios são legalmente previstos. Além disso, não há que se falar em prejuízo, porque prejuízo pressupõe a necessária apuração de perda, o que não é o caso. A amortização de ágio é uma tradição contábil e fiscal e representa a verdadeira harmonização entre as normas contábeis e o tratamento tributário. A supressão do referido inciso III do art. 7o da Lei n.º 9.532, de 10 de dezembro de 1997, representará um desastroso descasamento com relação a esses aspectos e terá conseqüências negativas, porque a proposta representa um desincentivo às reorganizações societárias (inclusive às privatizações), o que culminará com o enfraquecimento da economia nacional e, aí sim, o patrimônio público será lesado. Também é importante lembrar que a aprovação do dispositivo prejudica enormemente todas as reorganizações societárias praticadas por empresas privadas, e não só as vencedoras dos leilões de privatização. A aprovação do dispositivo seria um retrocesso na tentativa de reerguer o país, já que representa a imposição de mais um ônus injusto e desnecessário às empresas, e por conseqüência, à população em geral. O Brasil precisa de medidas construtivas, bem estudadas, para que finalmente consiga atingir o desejado equilíbrio econômico. Ante a todo o exposto, o mais correto é suprimir o referido art. 1° do Projeto de Lei n° 2.922, de 2000, que revoga o inciso III do art. 7o da Lei n.º 9.532, de 10 de dezembro de 1997, fazendo justiça ao próprio projeto de desenvolvimento econômico do país. Fl. 69DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 70 70 Sala das Comissões, 22 de agosto de 2003.” Posteriormente, o Relator da questão junto à Comissão de Finanças e Tributação, em seu voto, acolheu integralmente as ponderações apresentadas quando da apresentação da emenda supressiva, asseverando, quanto ao mérito, em seu voto que: “No tocante ao mérito, julgamos conveniente e oportuna a atual sistemática de amortização do valor do ágio, a qual guarda perfeita harmonia com as normas contábeis e com o tratamento tributário. Como o ágio, decorrente da expectativa de rentabilidade positiva do investimento, pode representar um significativo acréscimo no preço total de negociação da empresa, a sua amortização permite que investimento feito nessa empresa seja diluído em determinado período. Estimulase, assim, o investimento em outras empresas e a reorganização societária, tão importantes num contexto de baixo crescimento econômico do país. O investimento em outras empresas e a reorganização societária contribuem para o fortalecimento das bases da economia nacional. Acrescentese ainda que o número de privatizações das empresas estatais a que se referem os autores dos projetos de lei em epígrafe diminuiu significativamente nos últimos anos. Não se deve alterar a legislação tributária vigente com base em argumentos tidos como válidos em outra realidade.” Aqui, aliás, com a devida vênia, cabe uma crítica à decisão recorrida, que menciona o Projeto de Lei nº 2.922, mas apenas na parte que lhe interessa, que foi a motivação que levou o Deputado Waldemar da Costa Neto a apresentar o projeto. Nada diz que esta justificativa foi inteiramente rechaçada pela unanimidade dos membros da Comissão de Finanças e Tributação, tendo sido, posteriormente arquivada. Isso demonstra a paixão que o debate acerca do tema pode trazer, mas que deve ser rechaçado pelo aplicador do direito. Na verdade, o Programa Nacional de Desestatização, juntamente com as regras atinentes à dedutibilidade do ágio fizeram parte de todo um contexto para a formulação dos preços ofertados nos leilões de privatização e para as sucessivas reorganizações societárias realizadas pelas empresas objeto da desestatização, servindo como atrativo e motivo para o aumento substancial dos valores auferidos pelo Governo com a privatização. Noutro giro, a dedutibilidade do ágio e a possibilidade de a empresa realizar a reorganização societária para o seu aproveitamento fez parte do pacote de condições ofertadas às empresas que participaram das privatizações, tendo, todas elas, conforme pesquisa na internet, adotado a política incentivada acima. Uma questão importante que deixei para ressaltar ao final é o fato de as empresas, ao invés de realizarem a incorporação direta, no caso a TNL pela TPAR ou viceeversa, para efeito de exercer o direito à amortização do ágio, realizarem a reorganização societária por intermédio de uma outra empresa, à qual fora transferido o ágio, o que este Conselho vem denominando de empresa veículo. Fl. 70DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 71 71 Conforme documentos acostados aos autos, vêse que outras empresas de telefonia, no caso, a TELESP CELULAR PARTICIPAÇÕES S.A. e a TELE CENTRO OESTE CELULAR PARTICIPAÇÕES S.A., utilizaram o ágio por intermédio de uma empresa veiculo. E por que realizaram essa operação para viabilizar o exercício do direito à dedução do ágio? A resposta a essa indagação está na regra da Instrução Normativa nº 319/97, da CVM, mais precisamente do artigo 15, que prescreveu: “Art. 15 Sem prejuízo de outras disposições legais ou regulamentares, são hipóteses de exercício abusivo do poder de controle: I. o aproveitamento direto ou indireto, pelo controlador, do valor do ágio pago na aquisição do controle de companhia aberta no cálculo da relação de substituição das ações dos acionistas não controladores, quando de sua incorporação pela controladora, ou nas operações de incorporação de controladora por companhia aberta controlada, ou de fusão de controladora com controlada; II. a assunção, pela companhia, como sucessora legal, de forma direta ou indireta, de endividamento associado à aquisição de seu próprio controle, ou de qualquer outra espécie de dívida contraída no interesse exclusivo do controlador; III. o não reconhecimento, no cálculo das relações de substituição das ações dos acionistas não controladores estabelecidas no protocolo da operação, da existência de espécies e classes de ações com direitos diferenciados, com a atribuição de ações, com direitos reduzidos, em substituição àquelas que se extinguirão, de modo a favorecer, direta ou indiretamente, uma outra espécie ou classe de ações; IV. a adoção, nas relações de substituição das ações dos acionistas não controladores, da cotação de bolsa das ações das companhias envolvidas, que não integrem índices gerais representativos de carteira de ações admitidos à negociação em bolsas de futuros; V. a não avaliação da totalidade dos dois patrimônios a preços de mercado, nas operações de incorporação de companhia aberta por sua controladora, ou desta por companhia aberta controlada, e nas operações de fusão entre controladora e controlada, para efeito da comparação prevista no art. 264 da Lei nº 6.404/76 e no inciso VI do art. 2º desta Instrução; e VI. a omissão, a inconsistência ou o retardamento injustificado na divulgação de informações ou de documentos que tenham sido postos à disposição do controlador ou por ele utilizados no planejamento, avaliação, promoção e execução de operações de incorporação, fusão ou cisão envolvendo companhia aberta.” Vejase que, no caso em concreto, a TELEMAR PART assumiu uma dívida com a União instrumento de assunção , conforme se depreende dos autos. Assim, se houvesse uma incorporação entre estas empresas, constituiria manifesto exercício abusivo do poder de controle, em razão da regra clara do artigo 15, inciso II, da IN 319/99, acima transcrito, com reflexo patrimonial aos acionistas minoritários. Vejamos: Fl. 71DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 72 72 Em primeiro lugar, porque a participação na TNL foi adquirida pela TELEMAR PART mediante a assunção de um passivo, e sendo assim, a TNL passaria a ser responsável por esse passivo. Ou seja, haveria um reflexo patrimonial negativo para os acionistas minoritários. Em segundo lugar, a amortização do ágio constituído com base na rentabilidade futura, contra os lucros a serem obtidos, reduzindo, consequentemente, os dividendos futuros dos acionistas, principalmente dos minoritários que não participaram do leilão. Nos dois casos, haveria, assim, uma vantagem indevida do acionista controlador em prejuízo dos minoritários, e foi justamente por isso que a CVM interveio e expediu as normas sobre o tema. De fato, a integralização de capital na empresa 140 Participações com as ações da TNL teve por objetivo — alcançado com sucesso — evitar esse prejuízo aos demais acionistas. Esse seu objetivo, ou seja, a operação realizada foi guiada, como afirmado, por razões de cunho apenas societário, não fiscal. Não se obteve, com a operação, a criação de qualquer vantagem fiscal, muito menos a prática de uma ilicitude. A contribuinte não praticou atos para obter um tratamento fiscal mais benéfico, ao qual ela não teria direito. Ao revés, no caso concreto, a contribuinte já se encontrava em perfeitas condições para a aplicação da norma fiscal. Ademais, a Lei nº 9.472 (LGT) estabelecia em seu artigo 202, que: “Art. 202. A transferência do controle acionário ou da concessão, após a desestatização, somente poderá efetuarse quando transcorrido o prazo de cinco anos, observado o disposto nos incisos II e III do art. 98 desta Lei. § 1° Vencido o prazo referido no caput, a transferência de controle ou de concessão que resulte no controle, direto ou indireto, por um mesmo acionista ou grupo de acionistas, de concessionárias atuantes em áreas distintas do plano geral de outorgas, não poderá ser efetuada enquanto tal impedimento for considerado, pela Agência, necessário ao cumprimento do plano. § 2° A restrição à transferência da concessão não se aplica quando efetuada entre empresas atuantes em uma mesma área do plano geral de outorgas.” Ora, se a TNL incorporasse a TELEMAR PART, ainda em razão da dívida correspondente a 60% do preço da aquisição das ações , estaria violando a regra do artigo 202 da LGT, visto que haveria mudança no controle acionário da empresa, na medida em que seriam emitidas, com a incorporação, ações em substituição aquelas já existentes, reduzindo, em consequência, a participação dos vencedores do leilão substancialmente, ficando inferior a 50% do capital social e, portanto, em desacordo com a LGT. Pois bem, este é o filme que deve ser analisado, que se inicia com todas as regras do Programa Nacional de Desestatização, inclusive aquela que regulamentou a dedutibilidade do ágio e incentivou a reorganização societária Fl. 72DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 73 73 de empresa, e termina, no caso, com a TNL seguindo exatamente o roteiro de promover uma reorganização societária e realizar a dedução, para efeitos fiscais a que tinha direito com o ágio pago na aquisição das ações. E é neste contexto, penso eu, que deve ser analisada a questão. E ai vem a pergunta, onde está o abuso de direito? Com a devida vênia da r. decisão, não vejo no caso em exame a dissimulação de qualquer aspecto da legislação de regência. Inexistiu abuso do direito, da forma jurídica ou da interpretação da mens legis, eis que os negócios jurídicos praticados pela Recorrente tiveram evidente motivação no plano societário e não se resumiram apenas a provocar a economia do imposto, conforme visto pelo Nobre Julgador da decisão recorrida. Portanto, analisando todas as etapas do processo de desestatização até os resultados concretos que levaram as empresas a aproveitaram o ágio por intermédio de empresas ditas veículos, não vejo com enquadrar esta operação como sendo um planejamento tributário abusivo, conforme entendeu a r. decisão recorrida, mesmo porque, para restar compreendida como abusiva, uma conduta deve refletir um conflito entre forma e substância, e a prova de tal conflito deve ser feita com base em elementos objetivos e deve inexistir justificativa razoável para tal operação, a qual não seja mera vantagem fiscal, o que, digase de passagem, em nenhum momento ficou comprovado nos autos. E a melhor forma de justificar esta conclusão é adentrar no último questionamento inicialmente posto, o de saber o que ocorreu na realidade, repitase, na realidade vista na sua inteireza, e não uma realidade parcial, como fez a r. decisão recorrida. Eis a questão: Estamos diante de um planejamento tributário? Utilizando o mesmo método da decisão recorrida, isto é, do método proposto por Marco Aurélio Greco, entendo enquadrarse as operações na categoria das "condutas desejadas (induzidas)" e das "condutas positivamente autorizadas pelo ordenamento", cuja pecha de planejamento tributário inoponível ao fisco é rechaçada pelo próprio Greco, a saber: "Cumpre, desde logo, mencionar três conjuntos de situações que ficarão fora do presente estudo por não configurarem nem planejamento nem elisão. Estes três conjuntos têm em comum serem formados por condutas que recebem do ordenamento uma qualificação – pelo menos no plano teórico com maior grau de precisão, quanto ao modo pelo qual ele as trata. Ou seja, não obstante a imanente faixa de imprecisão (a fuzzyness) que cerca toda realidade e todo processo teórico que a ela se reporta, é possível, com pequeno grau de incerteza, identificar: condutas repelidas; condutas desejadas (induzidas); e condutas positivamente autorizadas pelo ordenamento. Fl. 73DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 74 74 Estes três conjuntos de condutas, por se revestirem dessa qualificação jurídica mais nítida, ficarão fora do presente estudo, embora mereçam alguns comentários neste capítulo, pois saber o que não compõe nosso objeto de estudo auxilia na sua identificação e precisão.”3 As condutas desejadas (induzidas) pelo ordenamento, segundo Greco, são as seguintes4: "O segundo conjunto de hipóteses que deve ser apartado do planejamento tributário compõese das situações em que o ordenamento positivo deseja certo resultado e veicula preceitos no sentido de viabilizar ou induzir condutas dos destinatários da norma. E estas condutas podem, em certos casos, até mesmo levar a um tributo menor. Este conjunto engloba duas principais categorias: a denominada extrafiscalidade pura; e, particularmente, o engajamento do contribuinte em programas de incentivo. Menciono separadamente estas duas figuras, pois embora tenham base conceitual comum (utilizar o instrumento jurídico para induzir comportamentos humanos), a prática mostra que, por um lado, existem situações em que o objetivo visado pela norma é alcançado por outro lado, o atingimento do objetivo depende de um maior esforço do destinatário, muitas vezes consistente na realização de investimentos vultosos ou na formulação de compromissos de desempenho (exportar, incrementar produção, etc).” E exemplifica o ilustre tributarista: "Em determinadas hipóteses, como por exemplo no caso dos produtos sem muita felicidade denominados “supérfluos” ou produtos de baixo grau de essencialidade, a maior carga tributária imposta pelo ordenamento induz o contribuinte a fazer uma substituição material e deixar de consumir determinado produto. Promover a substituição material e passar a consumir outro produto é realizar planejamento tributário? Não. Esta hipótese está fora do campo do planejamento porque de certo modo a conduta que implica menor carga tributária apresenta uma intersecção com sentido da diretriz inerente ao ordenamento. Em outras hipóteses, a submissão a um menor imposto sobre a renda depende da instalação de uma fábrica em determinado ponto do território nacional. Nestes casos, não há dúvida de que a conduta de seguir a diretriz da norma de incentivo fiscal acarretará menor carga tributária, mas este efeito é desejado pelo ordenamento. Ele quer tributar em menor dimensão os rendimentos que decorrerem de atividades econômicas que atendem à busca da redução das desigualdades regionais ou, então, os que resultem da exploração de determinada atividade, etc. Greco ressalta ainda, que5: "O tema de incentivos e da extrafiscalidade é amplo e sua referência foi feita apenas para mostrar que há um conjunto de situações em que o contribuinte 3 Obra referida, p.76 4 Obra referida, p. 84/85 5 Obra referida, p. 92 Fl. 74DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 75 75 pode ser induzido, instado, estimulado a adotar certa conduta cujo instrumento para sensibilizálo é a previsão de vantagens no campo tributário, inclusive desonerações de carga tributária. Ora, quando o contribuinte decide agir no sentido indicado pelo ordenamento e, com isto, usufrui da menor tributação, não estamos perante hipótese de planejamento tributário nem de elisão. Em suma, não é a simples circunstância de haver um resultado favorável ao contribuinte que, ipso facto , tratase de hipótese de planejamento ou elisão." Nesse diapasão, entendo que o fato inquinado de planejamento tributário, visto na sua inteireza, repito, o filme, é uma conduta desejada ou induzida pelo ordenamento jurídico, como robustamente demonstrado acima. Ora, o próprio intérprete autêntico, o legislador, reconhece isso, conforme se depreende da exposição de motivo da Comissão de Finanças e Tributação, que rejeitou a revogação do inciso III do artigo 7º da Lei nº 9.532/97, ao acolher o voto do Relator que, textualmente, assevera que este dispositivo teve a função de estimular “o investimento em outras empresas e a reorganização societária, tão importantes num contexto de baixo crescimento econômico do país” sendo que “O investimento em outras empresas e a reorganização societária contribuem para o fortalecimento das bases da economia nacional.” E mais, é possível enxergar no filme todos aqueles atos praticados pela Recorrente, como sendo uma conduta "positivamente autorizada” pelo ordenamento, consoante ensina Greco6: "Neste contexto situase a figura das opções fiscais, que são alternativas criadas pelo ordenamento, propositalmente formuladas e colocadas à disposição do contribuinte para que delas se utilize, conforme a sua conveniência. Estas estão fora do âmbito do planejamento, pois correspondem a escolhas que o ordenamento positivamente coloca à disposição do contribuinte, abrindo expressamente a possibilidade de escolhas. O ordenamento indica dois caminhos deixando ao contribuinte a escolha de seguir um ou outro, sendo que eventualmente um deles pode ser menos oneroso do que o outro. Nas opções estamos sempre perante hipóteses em que há uma escolha expressa que o ordenamento coloca à disposição do contribuinte, hipótese clássica de lei dispositiva. Por isso, a opção fiscal desenha uma hipótese de conduta positivamente autorizada pelo ordenamento. Não chega a ser hipótese de incentivo ou induzimento a determinada conduta, mas tratase de uma escolha de ordenamento que expressamente cria e cujos efeitos tributários (de menor tributação) ele assegura. Tratase de figura semelhante àquela que Hans Kelsen examina sob o nome de “conduta regulada positivamente” ou “liberdade em sentido positivo”." No caso aqui discutido, além de ter sido uma forma de aumentar o preço das ofertas no leilão de privatização e estimular as reorganizações societárias (condutas induzidas), o artigo 7º da Lei nº 9.532/97, atribui ao contribuinte o 6 Obra referida, p.92/93 Fl. 75DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 76 76 termo “a quo” para o exercício do seu direito de deduzir o ágio (opção fiscal), ao condicionar a dedutibilidade do ágio a partir do evento incorporação, fusão ou cisão, consoante explicitado no dispositivo. O fato é que a decisão sobre o evento de incorporação, fusão ou cisão compete exclusivamente aos acionistas das empresas, a ninguém mais, razão pela qual não vejo como atribuir à pecha de abusividade as operações praticadas pela contribuinte com o intuito de aproveitar a parcela do preço pago à União no leilão de privatização, denominado de ágio. A análise do evento isolado de incorporação e a consequência esdrúxula de sua desconsideração E mesmo que analisarmos isoladamente o evento de incorporação da empresa 140 PARTICIPAÇÕES pela TNL, ainda assim não consigo enxergar qualquer direito exercido de forma abusiva, como sustentou a decisão recorrida. O argumento central da decisão para inquinar de abusivo esta incorporação, seria o fato de inexistir um interesse econômico. Para chegar a esta conclusão, tentando compilar o seu aresto anulado, várias indagações foram postas para se perquirir a economicidade da operação, que são: pesquisando sobre o motivo/vontade que levou a interessada a adotar a estratégia de incorporar a sociedade 140 PARTICIPAÇÕES S/A., será que o seu interesse foi o de observar o verdadeiro ‘’espírito da lei’’, a ‘’vontade da lei’’ que atribui ao instituto da incorporação finalidade de agregação de empresas? Será que a ‘’vontade da interessada’’ coincidiu com a ‘’vontade da lei’’, cujo desejo é que o instituto da incorporação apresente uma finalidade econômica? Será que as operações realizadas tiveram como objetivo essa finalidade econômica, consistente, por exemplo, em agregar o patrimônio da empresa incorporada, reunir atividades econômicas para reduzir custos, otimizar desempenho, incorporar tecnologia, conquistar fatia de mercado trazendo para si novos clientes a fim de tornarse mais conhecida no ramo, melhorar suas condições para fazer face á concorrência, etc? O primeiro ponto é a alegada agregação de empresas como sendo uma finalidade do instituto da incorporação, que deveria ter um cunho econômico, pois “a operação de incorporação tem como fundamento a venda, por parte dos acionistas da incorporada, de parcela de seu patrimônio aos acionistas da incorporadora e a compra, com o valor da venda, de parte do patrimônio da incorporadora. (item 52 da decisão)”. Nada mais equivocado. Veja, toda a interpretação emocional da decisão recorrida, com o devido respeito, parte de uma operação em que se está incorporando empresas com controle distintos, tal como regulado pelo artigo 227 da Lei da S/A, textualmente citado pela decisão no item 48, e que serviu de ponto de partida para todo o raciocínio. Acontece que a incorporação de empresa controlada sofreu do ordenamento jurídico uma regulação específica, prevista no artigo 264 da Lei nº 6.404/76, Fl. 76DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 77 77 na medida em que se trata de um negócio consigo mesmo ou “selfdealing transaction”. Alfredo Lamy Filho, tratando desse dispositivo, afirma que “o direito brasileiro regulou, expressamente, a matéria, e ao fazêlo afastou a discussão doutrinária sobre a eficácia da “selfdealing transaction” por isso que previu a incorporação de controlada pela controladora, isto é, de empresas sob o mesmo controle.” (in Temas de S.A., RJ, Renovar, 2007, p. 258). Aliás, a exposição justificativa do anteprojeto, sobre o artigo 264, mostra a diferença entre a incorporação realizada entre empresas com controle distintos, tal como regulado no artigo 227, e entre empresas com mesmo controle, a saber: "A incorporação de companhia controlada requer normas especiais para a proteção de acionistas minoritários, por isso que não existem, na hipótese, duas maiorias acionárias distintas, que deliberem separadamente sobre a operação, defendendo os interesses de cada companhia”. Por isso que a decisão sobre a criação e a extinção de empresas controladas compete exclusivamente aos acionistas das empresas. A criação de empresas, inclusive de empresas veículos que, aliás, foram amplamente utilizadas pelo próprio Governo para formatar o sistema de privatização, bem como a sua extinção por incorporação, independe de qualquer motivação econômica ou financeira, pois está na órbita exclusiva da decisão dos sócios, como bem ressalta Renato Ventura Ribeiro, Professor Doutor da USP Largo de São Francisco , que ensina: "Os motivos para incorporação de companhia controlada são bem variados, como concentração empresarial, para ganhos de eficiência, possibilidade de maior crescimento, benefícios tributários, oportunidades de aquisição a preços baixos, integrações verticais, proteção contra ofertas hostis, entre outros. A decisão da incorporação, independente da motivação, decorre apenas de uma única vontade, a dos controladores da incorporadora. Com isso, ela diferenciase das incorporações nas quais estão envolvidas sociedades com controladores distintos, pois uma das particularidades da incorporação de companhia controlada, como já dito, é a existência de apenas uma única vontade." O mesmo raciocínio do ilustre Professor da USP vale para a incorporação da controladora pela controlada. Aliás, o artigo 8º da Lei nº 9.532/97, corrobora esta assertiva, também para efeitos fiscais, ao prescrever que a dedutibilidade do ágio está garantida, inclusive na incorporação reversa, a saber: "Art. 8º O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando: (...) b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária." Fl. 77DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 78 78 Por essas razões não faz o menor sentido a motivação que levou o auto de infração considerar ter ocorrido um planejamento inoponível ao fisco, por não ter havido razão econômica “na aproximação dos interessados” relativamente à incorporação havida da empresa 140 PARTICIPAÇÕES pela TNL, de modo a possibilitar a dedução do ágio. Ademais, a criação de empresas veículos envolvendo as empresas que fizeram parte da privatização foi amplamente abordada e regulada pela CVM, por intermédio da Instrução CVM nº 349/01, para ajustar as distorções em razão da regulação anterior prevista na Instrução CVM nº 319/99, que tratava da matéria, passando a determinar o seguinte: “Art. 1º O art. 6º da Instrução CVM nº 319, de 3 de dezembro de 1999, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 6º ............................................................................................ § 1º O registro do ágio referido no inciso I deste artigo terá como contrapartida reserva especial de ágio na incorporação, constante do patrimônio líquido, devendo a companhia observar, relativamente aos registros referidos nos incisos II e III, o seguinte tratamento: a . constituir provisão, na incorporada, no mínimo, no montante da diferença entre o valor do ágio e do benefício fiscal decorrente da sua amortização, que será apresentada como redução da conta em que o ágio foi registrado; b. registrar o valor líquido (ágio menos provisão) em contrapartida da conta de reserva referida neste parágrafo; c. reverter a provisão referida na letra a acima para o resultado do período, proporcionalmente à amortização do ágio; e d. apresentar, para fins de divulgação das demonstrações contábeis, o valor líquido referido na letra a no ativo circulante e/ou realizável a longo prazo, conforme a expectativa da sua realização. ............................................................................................ (NR) A Nota Explicativa à Instrução CVM nº 349/2001 explica os ajustes das distorções provocadas pela regulação anterior em razão do aproveitamento do ágio, a saber: "NOTA EXPLICATIVA À INSTRUÇÃO CVM Nº 349, DE 6 DE MARÇO DE 2001. A Instrução CVM nº 319/99, ao prever que a contrapartida do ágio pudesse ser registrada integralmente em conta de reserva especial (art. 6º, § 1º), acabou possibilitando, nos caso de ágio com fundamento econômico baseado em intangíveis ou em perspectiva de rentabilidade futura, o reconhecimento de um acréscimo patrimonial sem a efetiva substância econômica. A criação de uma sociedade com a única finalidade de servir de veículo para transferir, da controladora original para a controlada, o ágio pago na sua aquisição, acabou por distorcer a figura da incorporação em sua dimensão econômica. Esta distorção ocorre em virtude de que, quando concluído o processo de incorporação da empresa veículo, o investimento e, conseqüentemente, o ágio permanecem inalterados na controladora original. Fl. 78DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 79 79 Por outro lado, a criação da empresa veículo e a transferência, para esta, do investimento original e, também, do ágio permitiram que, através desse modelo de incorporação, houvesse a possibilidade do seu aproveitamento fiscal, fazendo surgir, contabilmente, uma espécie de crédito tributário fundamentado na diminuição futura do imposto de renda e da contribuição social, em virtude da possibilidade da amortização desse ágio. Portanto, esse benefício fiscal é a única parcela do ágio que poderá ser aproveitada na controlada e que tem substância econômica. Essa é também a parcela do ágio que a CVM vem entendendo, conforme estabelecido na Instrução CVM nº 319, que pode ser capitalizada em proveito exclusivo do controlador. É, portanto, somente essa parcela com substância econômica que pode ser considerada um ativo e que poderia vir a ser capitalizada. Algumas companhias, a partir da atuação de seus auditores e com a concordância das áreas técnicas desta Comissão, constituíram uma provisão no valor integral ou parcial do valor do ágio transferido, de forma a reconhecer como ativo e como reserva especial somente o montante relativo ao benefício fiscal. A constituição dessa provisão permitiu, ainda, a essas companhias atenderem plenamente uma outra exigência da Instrução CVM nº 319 que estabelece que os dividendos dos acionistas não controladores não podem ser diminuídos pelo montante do ágio amortizado. A CVM se pronunciou formalmente a esse respeito no OFÍCIO CIRCULAR/CVM/SNC/SEP/Nº 01/2000, em que menciona que a análise quanto à recuperação do valor do ágio deve ser feita também "por ocasião da incorporação da controlada ou da controladora, por companhia aberta. Se, em função dessa análise, for verificado que o ágio pode não ser recuperável, parcial ou totalmente, a companhia deverá constituir provisão no montante do valor que espera não recuperar, devendo essa provisão ser apresentada por dedução da conta em que o ágio foi registrado". Não obstante essa manifestação, tem sido argüido que a inexistência de uma norma impositiva da CVM, determinando a obrigatoriedade da constituição dessa provisão, poderia suscitar a adoção de procedimentos não homogêneos para um mesmo evento econômico, com reflexos diferenciados no patrimônio e nos resultados das companhias abertas. Em decorrência, o art. 1º da nova Instrução veio preencher essa lacuna ao determinar, em última análise, que o ágio na incorporação da controladora, cujo fundamento tenha sido perspectiva de rentabilidade futura ou mesmo direitos de concessão, seja reconhecido nas demonstrações contábeis da incorporadora apenas pelo montante do benefício fiscal esperado. O referido artigo permite também que, para fins de divulgação, esse benefício fiscal seja classificado, de acordo com a sua natureza e prazo de realização, em conta específica do ativo circulante e do realizável a longo prazo. Essa forma de classificação, como crédito tributário, visa registrar a essência econômica do direito realizável, qual seja, a possibilidade da sua transformação em fluxo positivo de caixa em decorrência da dedutibilidade fiscal. Deve ter, portanto, o tratamento de um Ativo Fiscal Diferido sujeito às regras de reconhecimento e divulgação previstas na Deliberação CVM nº 273/98. Deve ser ressaltado que a adoção obrigatória das disposições contidas no art. 1º somente alcança as incorporações ocorridas a partir da data da publicação da nova Instrução no Diário Oficial da União. Existem, no Fl. 79DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 80 80 entanto, algumas companhias que adotaram procedimentos diferentes da presente norma respaldados na Instrução CVM nº 319 e até mesmo no vazio normativo existente antes da edição da referida Instrução. Nessas circunstâncias, é evidente que as disposições contidas no art. 1º não podem ter alcance obrigatório sobre essas companhias. No entanto, objetivando permitir um tratamento uniforme dessa matéria, facilitando a comparação entre as demonstrações contábeis das diversas companhias que adotaram esse modelo de incorporação, especialmente entre aquelas que atuam em um mesmo segmento econômico, o art. 2º veio permitir a essas companhias ajustarem as suas demonstrações contábeis, constituindo a referida provisão sem transitar diretamente pelo resultado do exercício, tendo como contrapartida o saldo da reserva especial de ágio. Essa possibilidade alcança, inclusive, as incorporações ocorridas no exercício findo em 31.12.2000. Neste caso, a Instrução prevê a possibilidade das companhias efetuarem esse ajuste a partir da data do início do exercício social, devendo, no entanto, refazer e apresentar à CVM e às Bolsas novas Informações Trimestrais (ITR) devidamente ajustadas. Foi mencionado que, concluído o processo de incorporação da empresa veículo, o investimento e, conseqüentemente, o ágio permanecem inalterados na controladora original. Dessa forma, tornase necessário que, na avaliação do investimento na controladora, sejam recompostos os montantes da equivalência patrimonial e do ágio remanescente. Embora a nova Instrução não trate da divulgação de fato relevante, é importante mencionar que, em havendo efeito relevante em decorrência da faculdade prevista no art. 2º, deverão ser observadas as disposições contidas na Instrução CVM nº 31/84. Finalmente, cabe ressaltar que, objetivando possibilitar às companhias abertas optarem pelo ajuste previsto no art. 2º ainda nas suas demonstrações contábeis de 31.12.2000, a CVM, em caráter excepcional, não se utilizou do processo de colocação dessa Instrução em audiência pública. O assunto, no entanto, foi objeto de análise no âmbito da Comissão Consultiva sobre Normas Contábeis – grupo de trabalho criado pela CVM, nos termos da Deliberação CVM nº 161/94, e integrada por representantes da Associação Brasileira dos Analistas do Mercado de Capitais (Abamec), da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e do Instituto Brasileiro de Contadores (Ibracon).” Veja que eventual distorção econômica na utilização da empresa veículo foi causada pela própria regulação levada a efeito pela Instrução CVM nº 319/99, e não pelo veículo utilizado em si. Esta nova Instrução veio consertar isso, legitimando a uso da empresa veículo do ponto de vista econômico, determinando o tratamento do ágio como sendo um Ativo Fiscal Diferido. E neste ponto, cabe retomar a análise dos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/97. Todos reconhecem que tais dispositivos vieram regular um beneficio fiscal. Aliás, o artigo 7º da Instrução CVM 319/99, foi explicito neste ponto, vejamos: “Art. 7º O protocolo de incorporação de controladora por companhia aberta controlada poderá prever que, nos casos em que a companhia vier a Fl. 80DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 81 81 auferir benefício fiscal, em decorrência da amortização do ágio referido no inciso III do art. 6º desta Instrução, a parcela da reserva especial de ágio na incorporação correspondente a tal benefício poderá ser objeto de capitalização em proveito do acionista controlador.” Mas é importante registrar que a obrigação do registro do ágio na aquisição de participação societária decorre da regra do artigo 20 do Decretolei nº 1.598/77, ao prescrever que: “art. 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I.” O ágio, a rigor, é neutro do ponto de vista fiscal, somente produzindo efeitos nesta órbita quando da alienação ou liquidação do investimento. Antes da Lei nº 9.532 tratar da questão, o ágio na baixa do investimento mediante incorporação, fusão e cisão era considerado uma perda de capital, plenamente dedutível para efeito de imposto de renda, nos termos do artigo 34 do DecretoLei nº 1.598/77: “Art. 34 Na fusão, incorporação ou cisão de sociedades com extinção de ações ou quotas de capital de uma possuída por outra, a diferença entre o valor contábil das ações ou quotas extintas e o valor de acervo líquido que as substituir será computado na determinação do lucro real de acordo com as seguintes normas: I somente será dedutível como perda de capital a diferença entre o valor contábil e o valor de acervo líquido avaliado a preços de mercado, e o contribuinte poderá, para efeito de determinar o lucro real, optar pelo tratamento da diferença como ativo diferido, amortizável no prazo máximo de 10 anos;” Em razão da incorporação há a liquidação do investimento, representando o ágio uma perda de capital imediata dedutível do IRPJ e da CSLL, como, alias, é a jurisprudência desse E. Conselho (Acórdãos nºs. 10189.158, 101 88.018, 10704.213 e 10705.875). Então, até o advento da Lei nº 9.532/97, quando da liquidação do investimento, a dedutibilidade do ágio decorria de sua própria natureza de perda de capital, que afetava o lucro contábil da empresa, reduzindo, por conseguinte, imediatamente, o lucro tributário. Por sua vez, a Lei nº 9.532/97, deu um tratamento diverso ao ágio reconhecido nos termos do artigo 20 do Decretolei n. 1598/77, e o fez apenas para efeito fiscal. Regulou o aproveitamento do ágio condicionado ao evento absorção do patrimônio e montante ao longo de determinado prazo. Com efeito, a cabeça e o inciso III do artigo 7º da Lei 9532/97, prescrevem o seguinte: Fl. 81DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 82 82 “Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977: ... III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração;” Assim, este dispositivo previu a amortização do ágio com fundamento em rentabilidade futura apenas para efeitos fiscais, tanto que a norma fala em “balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração”. Em outras palavras, estabeleceu o dispositivo uma nova regra para a utilização do ágio, diferente daquela prevista anteriormente, possibilitando o contribuinte, sob determinada condição (absorver o patrimônio) e por prazo certo, forma de reduzir a base de cálculo do IRPJ mensalmente por, ao menos, 60 meses. No presente caso, o auto de infração e a decisão recorrida suprimiram este benefício fiscal ao criarem condições inexistentes na própria legislação tributária, mais precisamente, no inciso II, do artigo 7º, da Lei nº 9.532/97. Esse dispositivo condicionou a amortização do ágio apenas e tão somente à absorção do patrimônio da investida pela investidora ou viceversa (art. 8º da norma legal), absorção esta que só pode ocorrer mediante incorporação, cisão ou fusão. Vejase que o evento condicionante trazido pela norma não é, em si, a incorporação, fusão ou cisão, mas sim a absorção do patrimônio. E por que a absorção do patrimônio foi determinada como evento condicionante para o contribuinte usufruir o benefício condicional? Simples! Porque com a absorção do patrimônio este ágio simplesmente desaparece, na medida em que há uma confusão do patrimônio de uma empresa com a outra. O artigo 219 da Lei nº 6.404/76, é claro ao dizer que: “extinguese a companhia: I pelo encerramento da liquidação; II pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão de todo o patrimônio em outras sociedades.” Veja que o inciso III, do artigo 7º, da Lei nº 9.532/97 abarca apenas as extinções realizadas mediante incorporação, fusão ou cisão, e não abarca a regra do encerramento por liquidação, em que o ágio será considerado perda de capital. No caso dos autos ocorreu este evento, conforme se denota de todos os documentos acostados; a TNL absorveu o patrimônio da empresa 140 Fl. 82DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 83 83 PARTICIPAÇÕES, que foi extinta, fazendo desaparecer, pela confusão patrimonial, o ágio existente. Portanto, a condição da regra fiscal foi cumprida, fazendo jus, o contribuinte, a usufruir no prazo determinado (mínimo e máximo estipulado) o beneficio fiscal estabelecido, que não pode ser revogado por uma nova norma legal, e muito menos por ato administrativo, como é o auto de infração. Na verdade, há uma total inversão da questão no caso. Uma coisa é o contribuinte utilizarse de negócios jurídicos para obter vantagens fiscais. Como é sabido, este Conselho vem reiteradamente rechaçando operações, como a denominada “casa e separa”, ou mesmo o “ágio interno”, quando a causa da operação societária é tão somente a criação de uma vantagem fiscal. Outra coisa completamente diversa é quando a legislação tributária cria regra fiscal para regular a utilização pelo contribuinte de determinadas “vantagens fiscais” (dedução de despesa, amortização, etc.), trazendo e regulando em seu bojo eventos, por exemplo, elementos e situações do direito societário, civil ou comercial. Nas perdas no recebimento de créditos, por exemplo, a legislação fiscal – RIR/99 criou uma série de regras para possibilitar a sua dedução, dispondo que: Art. 340. As perdas no recebimento de créditos decorrentes das atividades da pessoa jurídica poderão ser deduzidas como despesas, para determinação do lucro real, observado o disposto neste artigo (Lei nº 9.430, de 1996, art. 9º). § 1º Poderão ser registrados como perda os créditos (Lei nº 9.430, de 1996, art. 9º, § 1º): I em relação aos quais tenha havido a declaração de insolvência do devedor, em sentença emanada do Poder Judiciário; II sem garantia, de valor: a) até cinco mil reais, por operação, vencidos há mais de seis meses, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento; b) acima de cinco mil reais, até trinta mil reais, por operação, vencidos há mais de um ano, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento, porém, mantida a cobrança administrativa; c) superior a trinta mil reais, vencidos há mais de um ano, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento; De fato, na maioria dos casos, por questões de mercado, os comerciantes só iniciam uma cobrança administrativa ou judicial da dívida em casos extremos. Tentam, em primeiro plano, todas as formas para cobrar a dívida amigavelmente, como, aliás, faz a própria Receita Federal do Brasil para cobrar seus créditos. Fl. 83DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 84 84 Porém, o comportamento de ingressar com medida judicial pode ser alterado em razão de aspectos estritamente fiscais, com o intuito de o contribuinte obter a dedutibilidade da perda com o crédito. Assim, por exemplo, se o contribuinte possui um crédito de R$ 500.000,00, vencido há mais de um ano, pode iniciar o processo judicial por motivos exclusivamente fiscais, isto é, para obter a dedução da perda como despesa. E neste caso, não cabe ao intérprete perquirir se este processo judicial é procedente ou improcedente, razoável ou não razoável, bom ou ruim. A lei fiscal não trouxe esses elementos qualificativos do evento que condiciona a dedutibilidade da perda. Na verdade, neste e noutros casos, a lei fiscal induz o comportamento, ou seja, interfere na própria vontade do contribuinte. A vontade, o impulso que leva a prática da ação é eminentemente fiscal. Realmente, não há qualquer abusividade ou ilicitude no caso de o contribuinte realizar determinado negócio jurídico motivado por vantagens fiscais instituídas pela legislação. O que é ilícito, por ser abusivo, seria a causa de o negócio jurídico ser a vantagem fiscal. Não há ilícito o fato de a motivação ser fiscal. Este é o ponto fundamental, pois causa e motivo são coisas distintas. A causa é de natureza objetiva, enquanto que o motivo é subjetivo. O motivo constitui a causa impulsiva, a causa, a causa final.7 MOREIRA ALVES, resume bem a questão, quando ensina que: “a causa de um negócio jurídico difere dos motivos que levaram as partes a realizálo. Com efeito, a causa se determina objetivamente (é a função econômicosocial que o direito objetivo atribui a determinado negócio jurídico); já o motivo se apura subjetivamente (diz respeito aos fatos que induzem as partes a realizar o negócio jurídico). No contrato de compra e venda, a causa é a permuta entre a coisa e preço (essa é a função econômico social que lhe atribui o direito objetivo; essa é a finalidade prática a que visam, necessária e objetivamente, quaisquer que sejam os vendedores e quaisquer que sejam os compradores); os motivos podem ser infinitos (assim, por exemplo, alguém pode comprar uma coisa para presentear com ela um amigo). (...) A distinção entre causa e motivo é importante porque, em regra, a ordem jurídica não leva em consideração o último.” Assim, a título de síntese, enquanto a causa é a função típica de determinado negócio jurídico, o motivo é a razão metajurídica que levou a pessoa a realização do mesmo, que só influenciará na órbita jurídica se esta motivação for ilícita (art. 166 do CCv.). O problema da reorganização societária “ilícita” do ponto de vista tributário está quando a causa, isto é, a função econômicosocial que o direito objetivo atribui a determinado negócio jurídico, é distorcida para criar, instituir ou estabelecer uma vantagem fiscal. Aliás, a própria decisão recorrida cita casos em que o vício encontrase na causa típica dos negócios jurídicos, como no acórdão 10196.724, que tratou de “ágio fabricado internamente”. Neste caso, 7 cf. W. Barros Monteiro, p29 Fl. 84DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 85 85 a operação societária cria um ágio artificialmente, para assim obter a vantagem fiscal. O vício está na formação do ágio e não no seu aproveitamento posterior, quando da incorporação. Entretanto, é óbvio que o vício do ágio macula o seu próprio aproveitamento. Mas se o ágio é legítimo como no caso em tela, o seu aproveitamento deve seguir a causa típica estipulada no ordenamento para a incorporação de empresas. Se na compra e venda a causa é a permuta entre a coisa e preço, como asseverou Moreira Alves, na incorporação a causa típica é a absorção de uma ou mais sociedades por outra; esta é a função econômicosocial que lhe atribui o direito objetivo, como deixa patente o art. 227 da Lei nº 6.404/76, verbis: “Art. 227. A incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações.” A absorção do patrimônio de uma empresa por outra é a finalidade prática a que visam, necessária e objetivamente, quaisquer que sejam as empresas incorporadoras e incorporadas, constituindo, esta, por conseguinte, a sua causa típica. E foi exatamente esta causa típica, a pessoa jurídica absorver o patrimônio de outra, estipulada pelo artigo 7º, III, da Lei nº 9.532/97, como condição para o contribuinte usufruir da regra do benefício fiscal oneroso. Neste caso, a lei concede o benefício fiscal, e condiciona o seu aproveitamento, isto é, a vantagem fiscal estipulada em lei, à pessoa jurídica absorver o patrimônio de outra. Tratase de indução da norma fiscal à realização de absorção de patrimônio de empresa por intermédio de incorporação, cisão ou fusão, o que não passou despercebido do Poder Legiferante, que corroborou isso ao vetar o projeto de lei que pretendia revogar a norma isencional em tela, como acima demonstrado. Assim, por tudo que foi dito acima, entendo, sem nenhuma dúvida, não ter ocorrido, quer simulação, quer abuso de direito e/ou planejamento tributário em desacordo com a lei, mas tão somente a prática de conduta abarcada e induzida pelo ordenamento jurídico, por intermédio das regras estipuladas nos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/97, sem qualquer prejuízo para Fazenda Pública que pudesse caracterizar economia ilícita de imposto, pois a escolha de outras soluções legais e direta como a incorporação, produziria idêntica consequência tributária com relação à amortização de ágio feita por intermédio da empresa veículo. (...)” Os fundamentos acima transcritos amoldamse perfeitamente à situação fática do presente processo, haja vista que ambas as operações foram implementadas no mesmo cenário e sob o amparo dos art. 7o. e 8o. da Lei 9.532/1997. Fl. 85DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 86 86 Das declarações de voto. Adoção dos fundamentos de mérito. Os ilustres conselheiros Leonardo Oliveira e Moises Giacomelli apresentaram declarações de voto, a seguir anexadas neste Acórdão. Durante o julgamento, ambos expuseram ao Colegiado a essência de seus votos que, no mérito, abordam os mesmos fundamentos deste Relator, porém enfatizando outros aspectos. Assim sendo, peço vênia para adotar os fundamentos de mérito das citadas declarações de voto como razões adicionais de decidir. Afinal, tratase de um julgamento coletivo e eventuais omissões e obscuridade deste voto condutor podem ser sanadas pelas aludidas declarações. V) CONCLUSÃO Diante do exposto e considerando: que não há que se falar em transcurso de prazo decadencial para o Fisco verificar fatos e operações ocorridos e registrados no passado, com repercussão tributária em períodos ainda não atingidos pela decadência; que o contribuinte não incorreu em ação ou omissão dolosa, tendente a ocultar ao Fisco seus procedimentos, muito menos produziu atos societários ou quaisquer outros documentos eivados de falsidade material, pelo que é incabível a aplicação da multa qualificada de 150%; que a autoridade fiscal afirma que o ágio não poderia ser todo de rentabilidade futura, já que não foi destacada a parcela correspondente a fundo de comércio, porém não materializa essa acusação, ou seja, não faz prova de erro na determinação ou no valor da expectativa de rentabilidade futura consubstanciada no laudo apresentado pela contribuinte; que o procedimento adotado pelo Santander Hispano, qual seja, pagar o ágio original na aquisição do Banespa e ato continuo, transferir este ágio para a Santander Holding, que a seguir foi incorporada pelo próprio Banespa, com vistas a valerse do benefício fiscal, tem amparo nos art. 7oe 8o. da Lei 9.532/97, normas instituídas justamente para estas situações de desestatização. que o aludido benefício fiscal é patente, logo, procurar usufruílo é um propósito negocial legitimo para qualquer planejamento tributário, desde que, obviamente, respeite os limites da regularidade; que a Fiscalização afirma ter sido o procedimento irregular, porém não aponta precisamente quais os dispositivos legais infringidos, muito menos especifica qual o procedimento correto que deveria ter sido adotado; que não há vedação à constituição de uma holding no Brasil intermediadora dos investidores estrangeiros em empresas nacionais; Fl. 86DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 87 87 que a Fiscalização prendeuse ao fato de que o ágio foi pago por uma empresa estrangeira; mas o relevante é que ele foi pago ao Estado Brasileiro, bem como a outros contribuintes no Brasil, na aquisição de uma empresa da qual participava a própria União, sendo que o ágio foi amortizado com lucros produzidos no Pais; que se a lei pretendesse que a amortização do ágio só afetasse o resultado da empresa adquirente, não teria aberto a possibilidade de amortização também quando a incorporadora é a investida; que o objetivo da lei é deixar de tributar a rentabilidade futura quando ela se efetivar, sendo que em tese, se considerarmos que o ágio é imediatamente tributado pela alienante, ao fim e ao cabo, o resultado será positivo ou neutro para o Estado Brasileiro, haja vista que inexistindo lucratividade no investimento, a amortização do ágio seria inócua; ao passo que se a rentabilidade futura for confirmada, a renuncia tributária estaria coberta pelo ganho de capital anteriormente tributado pela alienante; que a Fiscalização pretendeu negar o direito de amortização ao Santander Hispano, mas este efetivamente nada amortizou, sendo que em verdade. a empresa Espanhola se valeu de um procedimento que não tem vedação legal para criar uma holding no Brasil, e transferir a ela por meio da conferência das ações, o ágio pago na aquisição do Banespa; enfim: a autoridade fiscal não logrou provar a ilegalidade da operação. Considerando, ainda, os fundamentos de direito do acórdão 130100.711 de 19/10/2011, supra transcritos, bem como as razões de mérito contidas nas declarações de voto que também compõe o presente o acórdão, que peço permissão aos já citados autores para também adotar como razão de decidir; voto no sentido de: i) Rejeitar a preliminar de impossibilidade do Fisco efetuar em 2008 a auditoria dos elementos contábeis e fiscais do anocalendário de 2001, para glosar valores com repercussão tributária em períodos posteriores (ágio passível de amortização); ii) Afastar a aplicação da multa de oficio qualificada, no percentual de 150%, reduzindoa 75%, bem como acolher a preliminar de decadência dos tributos relativos ao ano calendário de 2002; iii) No mérito, dar provimento ao recurso e cancelar a exigência. É este o voto condutor do presente Acórdão. (assinado digitalmente) Antônio José Praga de Souza Relator Fl. 87DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 88 88 Declaração de Voto Conselheiro Leonardo Henrique Magalhães de Oliveira. 1) DOS FATOS O BANCO SANTANDER BANESPA S/A recorreu a este Conselho contra a decisão proferida em primeira instância pela 10a. TURMA DA DRJ SÃO PAULO I/SP, que julgou procedentes as exigências consubstanciadas em autos de infração lavrados em 28/12/2008, cuja ciência ocorreu em 29/12/2008. Segundo o “Termo de Verificação Fiscal”, o Banco do Estado de São Paulo (“Banespa”), que foi sucedido por incorporação pelo Recorrente, não teria preenchido as condições legais para deduzir os encargos de amortização do ágio pago quando da aquisição de suas ações, pelo Santander Central Hispano S/A, sediado na Espanha. Visando a adequada compreensão das matérias em litígio, reproduzo, de forma sintética e cronológica, as principais operações societárias que culminaram com a amortização do ágio pelo Banespa e a interpretação extraída pela Fiscalização. 04/10/00: Publicado o edital PND (Programa Nacional de Desestatização) 2000/03 do BACEN, com a finalidade de desestatização do Banespa, mediante a alienação de suas ações, por meio do leilão; 25/10/00: Constituída a Santander Holding Ltda., tendo como sócios o Banco Santander Brasil S/A, com 999 quotas, e o Sr. Aurélio Velo Vallejo, com 1 quota. 20/11/00: O Banco Santander Central Hispano S/A, com sede na Espanha, arrematou, em leilão, as ações do Banespa por R$ 7.050.000.000,00. Referida operação foi liquidada em 27/11/00; 29/05/01: a Santander Holding Ltda. aumentou o seu capital social para R$ 9.574.901.000,00, mediante a criação de 9.574.900.000 novas quotas, que foram subscritas e integralizadas pelo Banco Santander Central Hispano S.A., por meio da conferência das ações representativas do capital social do Banespa, pelo valor atribuído de R$ 9.574.900.000,00, respaldado no Laudo de Avaliação da KPMG Corporate Finance. Tal valor correspondia ao patrimônio líquido de R$ 2.173.519.280,48 e ágio de R$ 7.462.067.630,07; Fl. 88DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 89 89 30/07/01: O Banespa incorporou sua controladora Santander Holding Ltda, realizando a amortização do ágio, objeto das autuações em questão. Diante desses fatos, concluiu a Fiscalização que as operações societárias realizadas tiveram o único propósito de internalizar para o Brasil o ágio pago pelo Santander Central Hispano S/A, mediante o aumento de capital da Santander Holding (suposta sociedade veículo) com as ações do Banespa, com o intuito de economizar tributos. 2) PRELIMINARES 2.1 Possibilidade de o Fisco realizar auditoria em períodos de apuração atingidos pela decadência para efetuar ajustes em registros contábeis com repercussão futura. Desde a peça impugnatória a recorrente alega que “não se pode questionar a legalidade dos atos que originaram o direito ao aproveitamento do ágio no presente caso, eis que transcorreu o prazo decadencial de cinco anos entre os fatos que propiciaram o surgimento do ágio em 2001 e a lavratura dos autos de infração em questão (29/12/2008).” Vejamos como esse matéria foi tratada no voto condutor do acórdão recorrido (fls. 675 dos autos): DA DECADÊNCIA DO QUESTIONAMENTO DOS ATOS SOCIETÁRIOS A contribuinte argumenta que teria ocorrido a decadência do direito de o Fisco questionar a legalidade dos atos societários que originaram o ágio ora em debate, uma vez que os fatos em comento ocorreram em 2001, e os autos de infração foram cientificados à impugnante em 30/12/2008. A fim de enfrentar a questão, é necessário, inicialmente, trazer o conceito técnico de fato gerador, conforme definido pelos artigos 114 e 115, do CTN, in verbis: Art. 114. Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Art. 115. Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal. Dos artigos acima transcritos resta claro que o fato gerador da obrigação tributária é necessariamente um conceito legal, ou seja, é uma situação definida em lei. No que tange à decadência no Direito Tributário, também cumpre analisar o disposto no art.150, caput e §4º, e no art.173, incisos I e II, e parágrafo único, do CTN, in verbis: Fl. 89DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 90 90 Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. (...) §4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considerase homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. (...) Art. 173. O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. Pela análise dos artigos retromencionados, é possível constatar que o §4º, do art.150, do CTN, é específico ao se referir a fato gerador do tributo, ou seja, o dispositivo legal em questão trata de um conceito diferente daquele utilizado pela impugnante, cuja argumentação tratou não da acepção técnica de fato gerador, que, consoante o exposto, é uma situação definida em lei, mas sim de fatos como acontecimentos genéricos do mundo fenomênico, ao mencionar os fatos que propiciaram o surgimento do ágio. Logo, a norma contida no art.150, do CTN, não confere sustentação à alegação da impugnante. A respeito da questão, já se pronunciaram os Conselhos de Contribuintes, conforme se depreende da ementa do acórdão abaixo: DECADÊNCIA – TESE DO PAGAMENTO – IMPROPRIEDADE NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO – LANÇAMENTO – LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO A atividade exercida pelo contribuinte para dar efetividade ao artigo 150 do CTN, assemelhase à atividade exercida pela autoridade administrativa prevista no artigo 142 do CTN. A relação jurídica tributária somente nasce, se o fato previsto na hipótese de incidência prevista na lei ocorrer no mundo fenomênico e for traduzida em linguagem. (...) (1º Conselho de Fl. 90DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 91 91 Contribuintes, 7ª Câmara, acórdão 10709263, sessão de 06/12/2007). (negritamos) Cumpre destacar que a própria contribuinte demonstrou conhecimento da distinção entre (i) fato gerador do tributo, previsto em lei, e (ii) fato genérico do mundo fenomênico, como fica claro pelo excerto da impugnação de fls.371, quando, ao tratar dos créditos tributários de IRPJ e CSLL relativos ao anocalendário de 2002, a impugnante reconhece: “De fato, considerandose que os fatos jurídicos tributários ocorreram em 31/12/02 (...)”. Da mesma forma, nenhuma das situações descritas nos incisos I e II, e no parágrafo único, do art.173, do CTN, contempla a hipótese de decadência aventada pela contribuinte. Sendo assim, a alegação da contribuinte de decadência do questionamento da legalidade dos atos societários resta improcedente, por absoluta falta de embasamento legal. Verificase de plano, que os ilustres julgadores de primeira instância não enfrentaram adequadamente a matéria em comento, tervergisando, pura e simplesmente, para o prazo decadencial de constituição do crédito tributário, contado da amortização do ágio, e deixou de enfrentar a decadência contada da formação e dos registros contábeis e fiscais desse mesmo ágio, enquanto elemento patrimonial. Sobre a base de cálculo do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas sujeitas ao Lucro Real, os artigos 219, 247 e 248 do Regulamento do Imposto de Renda – RIR/99 – dispõem Art. 219. A base de cálculo do imposto, determinada segundo a lei vigente na data de ocorrência do fato gerador, é o lucro real (Subtítulo III), presumido (Subtítulo IV) ou arbitrado (Subtítulo V), correspondente ao período de apuração (Lei nº 5.172, de 1966, arts. 44, 104 e 144, Lei nº 8.981, de 1995, art. 26, e Lei nº 9.430, de 1996, art. 1º). (...) Art. 247. Lucro real é o lucro líquido do período de apuração ajustado pelas adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas por este Decreto (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 6º). § 1º A determinação do lucro real será precedida da apuração do lucro líquido de cada período de apuração com observância das disposições das leis comerciais (Lei nº 8.981, de 1995, art. 37, § 1º). (...) Art. 248. O lucro líquido do período de apuração é a soma algébrica do lucro operacional (Capítulo V), dos resultados não operacionais (Capítulo VII), e das participações, e deverá ser determinado com observância dos preceitos da lei comercial (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 6º, § 1º, Lei nº 7.450, de 1985, art. 18, e Lei nº 9.249, de 1995, art. 4º). (Grifei) Fl. 91DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 92 92 Vejamos agora o tratamento do ágio determinado pelo Decretolei nº. 1598/1977 e pela Lei 9.532/1997: Decretolei nº. 1598/1977 Art. 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. Parágrafo 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento. Parágrafo 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. Parágrafo 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras ‘a’ e ‘b’ do parágrafo 2º deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração. Lei 9.532/1997 Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do Decretolei n. 1598, de 26 de dezembro de 1997: I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘a’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘c’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1589, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘b’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; Fl. 92DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 93 93 IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea ‘b’ do parágrafo 2º do art. 20 do Decretolei n. 1598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados durante os cinco anos calendários subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de 1/60 (um sessenta avos), no mínimo, para cada mês do período de apuração. Parágrafo 1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão. Parágrafo 2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar: a) o ágio, em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; b) o deságio, em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. Parágrafo 3º O valor registrado na forma do inciso II do ‘caput’: a) será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; b) poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. Parágrafo 4º Na hipótese da alínea ‘b’ do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos e contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente. Parágrafo 5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito. (Grifei) Os dispositivos acima, especialmente nos trechos grifados, demonstram cabalmente a diferenciação entre a ocorrência do ágio, enquanto elemento contábil e a possibilidade de sua amortização. A lei determina que o ágio deve ser regularmente contabilizado, e baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração. Ora, a partir dessa contabilização, se regular, o ágio enquanto elemento contábil e passivel a efeitos fiscais futuros em face de sua amortização, está sujeito a auditoria fiscal, nos mesmos moldes dos resultados negativos do IRPJ e CSLL (sobre os quais não incidem os aludidos tributos, mas é passível de reduzir a base de cálculo desses em períodos posteriores). Fl. 93DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 94 94 É certo que a decadência opera no sentido do princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações jurídicas. Em conseqüência, em 2008 o Fisco não mais poderia formalizar lançamento para exigência de crédito tributário devido no anocalendário 2001. De igual forma, não poderia realizar auditoria sobre os elementos contábeis daquele período, ainda que tenha reflexos tributários futuros. Nesse sentido são inúmeros as decisões deste Conselho. Vale citar decisão proferida pela antiga Terceira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, Acórdão 103 14.794, assim ementada: "Encargos de Depreciação. Descabe a glosa das despesas de depreciação de bens supostamente reavaliados em desacordo com as normas de regência, quando, pela ocorrência da decadência, a Fiscalização não mais puder questionar as reavaliações havidas. Recurso provido” No voto condutor, o ilustre conselheiro Carlos Emanuel dos Santos Paiva enfatiza: “(...) não pode a contribuinte sofrer qualquer lançamento relativamente a fatos cuja comprovação não mais possa ser exigida pela Fiscalização, pois que isso seria prestigiar a incúria, a inércia e o arbítrio, coisas totalmente repudiadas pelo Direito." No mesmo sentido o acórdão n° 10809.501, cujo voto conduto é da lavra da insigne conselheira Mariam Seif, e traz a seguinte ementa: "IRPJ DECADÊNCIA AJUSTES NO PASSADO COM REPERCUSSÃO FUTURA DECADÊNCIA Glosar no presente os efeitos decorrentes de valores formados no passado só é possível se a objeção do fisco não comportar juízo de valor quanto ao fato verificado em período já atingido pela decadência" Por todo o exposto, voto no sentido de acolher a preliminar de “preclusão” da possibilidade do Fisco questionar a formação do Ágio, cancelando integralmente os autos de infração. 3) MÉRITO A verificação da legalidade e regularidade das operações realizadas pelo Grupo Santander, que culminaram com a amortização do ágio pago na aquisição do Banespa, cerne do presente litígio, passa, fundamentalmente pelo análise das seguintes questões: (i) natureza jurídico/contábil do ágio na aquisição da participação societária; Fl. 94DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 95 95 (ii) licitude da aquisição de participação societária com ágio conferida em integralização de ações, (iii) Tratamento tributário do ágio em comento. Passo a discorrer sobre esses tópicos. 3.1. Natureza Jurídico/Contábil do Ágio na Aquisição de Participações Societárias O ágio ou deságio gerado em operações, como as ocorridas no presente caso, decorre da diferença entre o valor de aquisição (custo de aquisição) e o valor patrimonial das ações adquiridas (valor de patrimônio líquido), quando se adota o registro da participação societária pelo método da equivalência patrimonial, previsto no artigo 248 da Lei das S/A (Lei n° 6.404/76). Vejamos a redação do dispositivo vigente à época dos fatos: "Art. 248. No balanço patrimonial da companhia, os investimentos relevantes (artigo 247, parágrafo único) em sociedades coligadas sobre cuja administração tenha influência, ou de que participe com 20% (vinte por cento) ou mais do capital social, e em sociedades controladas, serão avaliados pelo valor de patrimônio líquido, de acordo com as seguintes normas: (...) II o valor do investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor de patrimônio líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da coligada ou controlada;" Com efeito, quando uma pessoa jurídica adquirir participação societária em sociedade controlada, a diferença a maior entre o valor de aquisição e o valor correspondente à participação no patrimônio líquido deverá ser registrado como ágio. Caso o valor de aquisição seja menor que a participação no patrimônio líquido, deverá ser registrado um deságio. A Lei das S/A não abordou expressamente a temática do ágio na aquisição de participação societária, mas a sua contabilização deve estar em conformidade com os princípios de contabilidade geralmente aceitos, nos termos do artigo 177 desta Lei. Neste sentido, confirase o que dispõe a Instrução CVM n° 247/96: "Dispõe sobre a avaliação de investimentos em sociedades coligadas e controladas e sobre os procedimentos para elaboração e divulgação das demonstrações contábeis consolidadas, para o pleno atendimento aos Princípios Fundamentais da Contabilidade (...) DOS PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO DE INVESTIMENTOS PELO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL Art. 9o O valor do investimento, pelo método da equivalência patrimonial, será obtido mediante o seguinte cálculo: Fl. 95DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 96 96 DO ÁGIO OU DESÁGIO NA AQUISIÇÃO DE INVESTIMENTO AVALIADO PELO MÉTODO DA EQUIVALÊNCIA PATRIMONIAL Art. 13. Para efeito de contabilização, o custo de aquisição de investimento em coligada e controlada deverá ser desdobrado e os valores resultantes desse desdobramento contabilizados em subcontas separadas: I equivalência patrimonial baseada em demonstrações contábeis elaboradas nos termos do artigo 10; e II ÁGIO ou deságio NA AQUISIÇÃO ou na subscrição, representado pela diferença para mais ou para menos, respectivamente, entre o custo de aquisição do investimento e a equivalência patrimonial. Art. 14. O ÁGIO ou deságio computado na ocasião da AQUISIÇÃO ou subscrição DO INVESTIMENTO deverá ser contabilizado com indicação do fundamento econômico que o determinou. (...)") Ressaltese que a legislação tributária brasileira confere o mesmo tratamento ao ágio e ao deságio na aquisição de participação societárias, conforme se verifica do artigo 20 do DL n° 1.598/77: "Art 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. § 1o O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento. § 2° O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas." Verificase que no presente caso é possível se distinguir dois fatos jurídicos distintos e autônomos de aquisição das ações do Banespa: a) Fato Jurídico 1: aquisição, pelo Santander Espanha, de ações do Banespa correspondentes a 97,02% do capital social deste, mediante o pagamento de R$ 9,57 bilhões (custo de aquisição valor pago em leilão público e em Oferta Pública de Ações). Ressaltese Fl. 96DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 97 97 que este foi o custo de aquisição da participação societária pela pessoa jurídica espanhola. Portanto, a forma de contabilização desse investimento deve seguir a legislação da Espanha; b) Fato Jurídico 2: aquisição, pela Santander Holding, de ações do Banespa correspondentes a 97,02% do capital social deste, por meio da conferência em integralização de capital pelo Santander Espanha no valor de R$ 9,57 bilhões custo de aquisição na conferência de ações). Como conseqüência desses dois fatos jurídicos autônomos de aquisição de participação societária, temse a seguinte conseqüência para as duas pessoas jurídicas em destaque: (i) O Santander Espanha deixou de possuir em seu ativo as ações do Banespa pelo custo de aquisição de R$ 9,57 bilhões e passou a possuir em seu ativo um investimento em outra sociedade controlada (Santander Holding) no mesmo valor de R$ 9,57 bilhões troca de ativos; (ii) A Santander Holding teve um aumento no seu ativo no valor de R$ 9,57 bilhões correspondente ao investimento no Banespa, como contrapartida do aumento de capital integralizado pelo Santander Espanha. A Santander Holding passou a ser a controladora do Banespa, tendo adquirido 97,02% de suas ações pelo custo de aquisição de R$ 9,57 bilhões. Ocorre que, conforme se verifica pela análise da legislação societária e tributária anteriormente descrita, a Santander Holding estava obrigada a registrar este investimento pelo valor de patrimônio líquido (método da equivalência patrimonial). Em conformidade com os princípios contábeis geralmente aceitos e nos termos da Instrução CVM n° 247/96, a Santander Holding desdobrou o valor total do custo de aquisição das ações do Banespa (R$ 9,57 bilhões) em valor do investimento pela equivalência patrimonial (R$ 2,11 bilhões) e ágio (R$ 7,46 bilhões). Portanto, todos os atos societários descritos no presente caso foram lícitos e em conformidade com os princípios contábeis geralmente aceitos, bem como atenderam às normas emitidas pelo Banco Central do Brasil. Destaquese também que o ágio adquirido no presente caso possuía fundamento na expectativa de rentabilidade futura do Banespa, o que foi comprovado por meio de Laudo de Avaliação elaborado por empresa especializada independente, projetado pela metodologia de fluxo de caixa descontado. 3.2 Da Licitude da Aquisição de Participação Societária com Ágio conferida em Integralização de Ações A Santander Holding realizou um aumento de capital de R$ 1 mil para R$ 9,57 bilhões, mediante a criação de 9,57 bilhões novas quotas, no valor nominal de R$ 1,00 cada. Estas quotas foram totalmente subscritas e integralizadas pelo Santander Espanha, mediante a conferência das ações que possuía do Banespa. De fato, quando da realização da conferência das 97,02% das ações do Banespa, o valor atribuído pelo subscritor na integralização foi de R$ 9,57 bilhões (equivalente Fl. 97DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 98 98 ao valor do custo de aquisição pelo Santander Espanha é o mesmo do custo de aquisição pela Santander Holding). Esse valor corresponde ainda ao montante dos recursos ingressados no País na aquisição das ações do Banespa, o qual foi registrado como um investimento estrangeiro direto nos termos das normas cambiais do BACEN. O capital social de uma sociedade pode ser formado por bens, avaliáveis em dinheiro. Neste caso, somente se exige que a avaliação dos bens seja feita por empresa especializada, nos termos dos artigos 7o e 8o da Lei das S/A (verbis): "Art. 7° O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Art. 8° A avaliação dos bens será feita por 3 (três) peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembléiageral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalandose em primeira convocação com a presença de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número." No presente caso, foi feita uma conferência de bens em integralização de capital. Os bens conferidos em integralização foram as ações que o Santander Espanha possuía do Banespa. Do ponto de vista da legislação societária, verificase que não há qualquer restrição à integralização da participação societária por seu valor avaliado em dinheiro. A única restrição feita pela legislação é que essa avaliação seja feita por 3 peritos ou por empresa especializada. No presente caso, apresentouse o Laudo Avaliação de empresa especializada, no qual se justifica o valor do bem no fundamento econômico da expectativa de rentabilidade futura. Sendo assim, a operação está de acordo com a Lei das S/A, bem como a aprovação da operação pela CVM pelo Banco Central do Brasil e demais órgãos competentes. Nesse sentido é o entendimento de Ricardo Mariz de Oliveira expresso na obra Fundamentos do Imposto de Renda (2a. edição 2008, pg 395): "Outra observação importante é que a lei não limita o ato ou negócio jurídico pelo qual a aquisição tenha ocorrido, podendo ele ter sido uma compra e venda, uma permuta, uma dação em pagamento, uma conferência de bem para integralização de capital, ou qualquer outro. Conseqüentemente, também é irrelevante a contraprestação da aquisição, até porque, em qualquer caso, há um custo, e neste pode estar o ágio ou deságio." Mesmo do ponto de vista econômico, também é importante se destacar a total coerência da capitalização da Santander Holding com o investimento no Banespa pelo valor do patrimônio líquido acrescido do valor do ágio pago no leilão e na Oferta Pública de Ações. Isso porque o valor conferido às ações no ato de integralização de capital correspondia ao valor efetivamente pago pelo investidor estrangeiro (Santander Hispano) pelas ações adquiridas do Banespa. Este valor representa, portanto, o efetivo valor do investimento estrangeiro direto ingressado no país. Nesse sentido, do ponto de vista econômico, este era o único valor a ser atribuído às ações na integralização de capital, sob pena de se gerar perdas de capital para o investidor estrangeiro. Fl. 98DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 99 99 Mais a mais, o valor pago com base na expectativa de rentabilidade futura, como ocorreu nos presentes autos, está intrinsecamente associado à expectativa de lucros futuros gerados por determinado investimento, motivo pelo qual a sua amortização se dará em contrapartida dessa expectativa de lucros a serem gerados. Portanto, é totalmente coerente, também do ponto de vista econômico (que também é jurídico, pois representa a conformidade com os princípios de contabilidade geralmente aceitos, nos termos do artigo 177 da Lei das S/A), que o valor do ágio esteja contabilizado na mesma pessoa jurídica que é detentora do investimento, pois só assim será possível a amortização desse ágio contra os lucros futuros que o justificaram. A legislação tributária não traz qualquer restrição quanto à possibilidade de conferência de bens na integralização de capital. Também não traz qualquer restrição quanto à possibilidade de avaliação desse bem pelo valor de patrimônio líquido somado ao valor de expectativa de rentabilidade futura, com base em laudo avaliação de empresa especializada. De fato, a legislação fiscal admite a integralização de capital pelo valor de custo de aquisição ou de mercado, nos moldes em que descrito anteriormente. Com efeito, tendo em vista que a integralização de capital é uma hipótese de alienação do investimento, ela deverá produzir os correspondentes efeitos fiscais caso seja utilizado um critério ou outro (custo de aquisição ou mercado que no presente caso é o mesmo). Portanto, também sob a ótica estritamente fiscal, o valor utilizado para a conferência das ações do Banespa na integralização do capital da Santander Holding está totalmente regular. 3.3 Tratamento Tributário do Ágio efetivamente pago O critério de amortização da despesa de agio e sua dedutibilidade para fins tributários depende do fundamento econômico para o pagamento dessa diferença. Segundo o artigo 385 do RIR/99, o lançamento do ágio deverá indicar algum dos seguintes fundamentos econômicos: valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; ou (iii) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. No presente caso, em que a controlada (Banespa) absorve patrimônio da controladora (Santander Holding) em virtude de incorporação, tendo as ações da controlada sido adquiridas com ágio apurado com fundamento econômico no valor de rentabilidade dos resultados nos exercícios futuros, estabelece a legislação que será possível amortizar o valor do ágio nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração (inciso III e § 6o do artigo 386 do RIR/99). Tratase, portanto, de tratamento fiscal, legalmente previsto, para casos específicos, tais como o do Recorrente. O preenchimento dos requisitos para a fruição desse efeito fiscal será doravante demonstrado, de forma a deixar evidente a necessidade de cancelamento das autuações em questão. Fl. 99DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 100 100 A dedutibilidade fiscal do ágio, gerado na aquisição de sociedades, teve como objetivo incentivar a prática de fusões e aquisições, especialmente quando se tratavam de estatais em processos de privatização como é o caso dos autos. Efetivamente, a possibilidade de aproveitamento do ágio induziria a uma oferta maior do preço que seria pago ao Estado, fomentando, portanto, as privatizações. Realmente, o aproveitamento fiscal do ágio, se incluído no modelo de valoração do negócio a ser privatizado, representará um efeito positivo para o alienante, vez que a dedutibilidade do ágio refletida no fluxo de caixa futuro do negócio adquirido tem impacto positivo no preço a ser ofertado pelo adquirente (adquirente este residente ou não residente). De fato, as operações de privatização encontramse inseridas no âmbito do Programa Nacional de Desestatização ("PND"), por meio do qual o Estado pretendia transferir para a iniciativa privada determinadas atividades até então exercidas por ele. O objetivo era aumentar a eficiência no exercício de determinada atividade econômica e viabilizar o ingresso de receitas para fazer frente às necessidades públicas. As empresas privadas, por sua vez, adquiriam as empresas públicas com o pagamento de um ágio em função do potencial de lucratividade do segmento econômico em que começariam a atuar. Portanto, a regra prevista no artigo 386 do RIR/99 de aproveitamento fiscal da amortização do ágio como uma despesa dedutível tem como objetivo beneficiar situações como a do presente caso, pois tornava mais atraente a realização dos vultosos investimentos necessários para as privatizações. O aproveitamento do ágio decorrente das privatizações, como trata o presente caso, representa a mera fruição de um tratamento fiscal previsto em lei, e não planejamento tributário. Tratase de uma operação societária, que possui todos os requisitos legais, motivação econômica e coerência das estruturas adotadas com a finalidade pretendida. É exatamente este efeito fiscal (esse direito) que qualquer que fosse a pessoa jurídica adquirente do Banespa, residente ou não residente, no processo de leilão, teria direito de usufruir. Conforme foi demonstrado no recurso voluntario, a aquisição da participação societária que está sob análise é a decorrente da conferência de capital na Santander Holding, cujo fundamento econômico na expectativa de rentabilidade futura está devidamente comprovado por meio de laudo de avaliação de empresa especializada. Frisese que não foi feita qualquer prova pela Fiscalização de que o ágio integralizado pelo Santander Hispano englobaria algum valor correspondente ao fundo de comércio adquirido do Banespa, tampouco qual seria a parcela desse montante que comporia o total do custo de aquisição das ações pela Santander Holding. Dessa forma, diferentemente do que entendeu o turma julgadora de 1a. instancia, os questionamentos feitos pelo Sr. Agente Fiscal não poderão gerar qualquer efeito, uma vez que ele não foi capaz de "desqualificar" o montante do ágio demonstrado no Laudo apresentado pelo contribuinte, nem sequer trouxe elementos de prova que pudessem demonstrar que qualquer fração do custo de aquisição do Banespa estaria amparado em outros fundamentos econômicos que não na rentabilidade de exercícios futuros. Fl. 100DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 101 101 Assim, resta evidente que o valor do ágio decorrente da integralização do capital do Banespa na Santander Holding estava sim amparado no fundamento econômico da rentabilidade futura. Portanto, resta claro que mesmo com a aplicação da doutrina e jurisprudência mais restritas acerca dos limites para a realização de operações que tenham efeitos tributários, os procedimentos do recorrente foram absolutamente corretos, uma vez que (i) foi demonstrada claramente a congruência entre o motivo e a finalidade da operação pretendida pelo grupo Santander, que não era somente de cunho tributária (gerar economia fiscal); e (ii) as operações realizadas inseremse evidentemente no contexto do planejamento estratégico do grupo Santander no Brasil. Estou plenamente convicto do propósito negocial da Recorrente ao realizar todas as operações sob exame, na medida em que todas elas visavam à aquisição do Banespa, bem como a fruição integral dos desdobramentos dessas operações , dentre os quais aquele do aproveitamento fiscal da amortização do ágio. Concluo assim, que também no mérito, a exigência fiscal deve ser cancelada. 4) CONCLUSÃO Por todo o exposto, voto pelo ACOLHIMENTO DA PRELIMINAR de “preclusão” da possibilidade do Fisco questionar a formação do Ágio, cancelando integralmente os autos de infração. Se vencido na preliminar, no mérito, oriento meu voto no sentido de DAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, cancelando integralmente as exigências. (assinado digitalmente) Leonardo Henrique Magalhães de Oliveira Fl. 101DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 102 102 Declaração de Voto Conselheiro Moisés Giacomelli Nunes da Silva Apesar dos detalhes já apontados pelo Conselheiro Antônio Praga, para melhor análise, faço constar que a exigência tributária diz respeito ao IRPJ e a CSLL, referente aos anoscalendário de 2002; 2003 e 2004, com multa qualificada de 150% (cento e cinquenta por cento), lavrado em face do contribuinte acima identificado, notificado em 20/12/2008, cuja infração a autoridade autuante denominou de “amortização de valores não amortizáveis”. A autoridade fiscal apontou como enquardamento legal os artigos 146, 147, 207, III, 249, I, 385 e 386 do Regulamento do Imposto de Renda de 1999, bem como o artigo 44, II, da Lei nº 9.430, de 1996 e os artigos 129, 132, 150, § 1º e 4º e art. 173, I, estes do CTN. Conforme consta do termo de verificação, no curso da ação fiscal, mais precisamente em 31 de agosto de 2006, o Banco do Estado de São Paulo, que passarei a identificar como Banespa, foi incorporado pelo Banco Santander, o que ensejou a lavradurta do auto de infração contra este, por ser sucessor, por incorporação, daquele. Do Termo de Verificação Fiscal transcrevo os seguintes eventos apontados pela autoridade autuante: 1. Em 04/10/2000, foi publicado o edital do Programa Nacional de Desestatização nº 03/2000, do BACEN, com a finalidade de alienar as ações do BANESPA por leilão em 20/11/2000 (fls.19/30). 2. Em 25/10/2000, foi constituída a SANTANDER HOLDING, com capital de R$1.000,00, divido em 1000 quotas, sendo os quotistas: (i) SANTANDER BRASIL S/A, com 999 quotas e (ii) AURÉLIO VELO VALLEJO, espanhol, CPF nº 215.139.658 40, com uma quota. 3. Em 20/11/2000, o SANTANDER HISPANO, com sede na Espanha, arrematou, em leilão, ações do BANESPA, por R$7.050.000.000,00, cuja liquidação financeira deu se em 27/11/2000 (fl.31) 8. 4. Em 29/05/2001, foi efetuada a Primeira Alteração do Contrato Social da SANTANDER HOLDING (fls.40/43), tendo sido aumentado seu capital social de R$1.000,00 para R$9.574.901.000,00, com a criação 9.574.900.000 novas quotas, todas subscritas e integralizadas pelo quotista então admitido, SANTANDER HISPANO, mediante a conferência à sociedade de ações representativas do capital social do BANESPA, cujo valor atribuído foi de R$9.574.900.000,00, equivalente ao montante investido pelo subscritor na aquisição das ações de emissão do BANESPA. Tal valor incluía um ágio de R$7.462.067.630,07 e um patrimônio líquido de R$2.173.519.280,48 (fls .78). 6. Em 30/05/2001, o SANTANDER HISPANO transferiu, conforme a Segunda Alteração do Contrato Social da SANTANDER HOLDING (fls.44/50), as quotas de sua 8 Na fl. 03 do Termo de Verificação Fiscal foi apontado de que o Santander Hispano teria adquirido, em leilão, 97,208% das ações do Banespa. No entanto, apesar de ter adquirido 97,208% das ações do Banespa, cabe esclarecer que a aquisição em leilão, pelo valor de R$ 7.050.000.000,00, foi de 30% das ações, sendo o restante adquirido em Oferta Pública. Fl. 102DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 103 103 propriedade, representadas pelas ações do BANESPA, no valor de R$9.574.900.000,00, para a MERIDIONAL HOLDING. 7. Em 29/06/2001, o SANTANDER S/A incorporou a MERIDIONAL HOLDING (fl.52), assumindo todos os seus direitos e obrigações, principalmente as quotas de titularidade desta última, no valor de R$9.574.900.000,00. 8. Em 12/07/2001, o BANESPA incorporou sua controladora, a SANTANDER HOLDING (fls.56/60), iniciando a amortização do ágio, que ocorreu por meio da amortização dos seguintes valores: (i) R$1.492.413.525,96, no anocalendário de 2002; (ii) R$895.942.350,64, no anocalendário de 2003; e (iii) R$1.426.929.732,13, no anocalendário de 2004. Após descrever os fatos, a autoridade fiscal destaca que não questiona a efetiva existência do ágio pago pelo Santander Central Hispano S.A, pelas ações do Banespa, mas que este, todavia, não preencheu os requisitos legais para dedução do mesmo, apontando para tal as seguintes razões: O auto de infração, pelo que se depreende do termo de verificação fiscal, está alicerçado nos seguintes fundamentos: I) não se questiona a existência do ágio pago pelo Santander Central Hispano (pág. 11 do TVF). A análise dos fatos a seguir conduz à conclusão de que o Banespa não preencheu as condições para deduzir a amortização do ágio (pág. 5 do TVF). Como o Banco Santander Central Hispano é controlador do Banco Santander S/A, concluise que o investimento na Banespa, por via indireta, permaneceu, mesmo após as ações societárias, sob o controle da empresa espanhola (pág. 22 do Termo de Verificação Fiscal); II) o ágio foi pago por sociedade domiciliada na Espanha e não por uma domiciliada no Brasil. Portanto, o ativo (ágio) decorrente da aquisição das ações haveria de ser contabilizado na sociedade estrangeira adquirente das ações do Banespa e não em uma domiciliada no Brasil (pág. 16 do Termo de Verificação Fiscal); III) as disposições previstas no artigo 385 do Regulamento do Imposto de Renda, não são aplicáveis ao Banco Santander Hispano, que não se enquadra no conceito de contribuinte (pág. 16 do Termo de Verificação Fiscal); IV) as operações societárias engendradas pelo grupo econômico tiveram como objetivo internalizar um ágio pago por sociedade estrangeira, gerado quando da aquisição das ações do Banespa. (pág. 13 do Termo de Verificação Fiscal); V) a Santander Holding Ltda foi constituída apenas como “empresa veículo” para ilicitamente carrear o ágio gerado em empresa estrangeira para o Brasil (pág. 25 do Termo de Verificação Fiscal). VI) apesar de o custo de aquisição em leilão ser R$ 7.050.000.000,00, o montante capitalizado na Santander Holding Ltda, pelo Banco Central Hispano, foi de R$ 9.574.9000.000,00, neste computando o valor do investimento de R$ 2.112.832.369,93 e um ágio de R$ 7.472.067.630,07 (....) Como tais valores (R$ 2.112.832.369,93) foram espontaneamente adicionados, restaria justificado o procedimento de oficio para oferecêlos à tributação. Reprisese que tal procedimento não foi adotado visto que nem mesmo os encargos de amortização do ágio pago pela sociedade espanhola eram passíveis de dedução. (pág. 13 do Termo de Verificação Fiscal); Fl. 103DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 104 104 VII) por considerar fraudulentos os procedimentos, a autoridade fiscal qualificou a multa, exigindo esta da sucessora por entender que “se trata de responsabilidade por créditos tributários e, em assim sendo, incluise também a multa.” Notificado do lançamento e, posteriormente da decisão que o confirmou, além da alegação de decadência e de inexistência de qualquer ato fraudulento, o contribuinte apresentou recurso fazendo indagações para as quais ele mesmo apresentou respostas. Eis a síntese das alegações contidas nas 131 páginas da impugnação e das 81 páginas do recurso, que irei sintetizar nas três páginas que seguem: a) Por que o grupo Santander não participou do leilão do Banespa por intermédio da Santander Holding ou de outra sociedade do grupo e, sim, pelo Santander Hispano? O grupo Santander não possuía nenhuma sociedade residente no Brasil que tivesse condições patrimoniais de preencher os requisitos exigidos para a participação no Leilão sem que fosse internalizado o valor do lance a ser feito e, com isto, fosse aberto o sigilo da proposta. b) Por que foi constituída, em 2000, a empresa Santander Holding, sendo que já existiam inúmeras sociedades devidamente constituídas do grupo Santander no País? A Santander Holding foi constituída logo após a publicação do Edital do Leilão do Banespa (21 dias após), pois seria a empresa destinada a receber a participação societária a ser adquirida em leilão público. Isto porque, nos termos dos artigos 26, 27 e 28 da Lei nº 4.595/64, Circular BACEN nº 2.750 e da COSIF Nº 1.273 o aumento de capital em numa instituição financeira somente pode ser feito em moeda corrente ou por meio de incorporação de reservas e de reavaliação de parcela dos bens do ativo imobilizado. Não há previsão de uso de ações para a integralização em aumento de capital de empresas financeiras. c) Por que o Santander Hispano não trouxe, inicialmente, os R$ 7,05 bilhões para o País, capitalizando em alguma de suas empresas para participar posteriormente do leilão do Banespa? Conforme mencionado, o sigilo do lance inicial secreto a ser feito pelo Santander Hispano era fundamento para que fosse vencedor já na primeira fase do leilão, sem a necessidade de lance em viva voz. Contudo, caso o Santander Hispano trouxesse esses recursos para o Brasil, restaria evidente para os demais concorrentes qual seria a proposta que seria apresentada. d) Por que houve a integralização das ações do Banespa na Santander Holding e não nas demais instituições financeiras do grupo Santander no País? Pode parecer repetitivo, mas a verdade é que a simplicidade do fato não comporta outra resposta: A Santander Holding foi constituída para receber a participação societária a ser adquirida em leilão público. Fl. 104DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 105 105 e) Por que a Santander Holding não tinha funcionários? Por que a Santander Holding tinha capital de R$ 1.000,00? Por que a Santander Holding existiu apenas pelo prazo de 10 meses? Conforme mencionado, a Santander Holding foi constituída para ser a sociedade do grupo Santander no Brasil que iria receber a participação acionária do Banespa adquirida pelo Santander Hispano. O prazo de 10 meses foi o tempo razoável e suficiente para a realização de todos os atos necessários para a aquisição do Banespa, em processo público de leilão, secreto, pelo melhor valor, em igualdade de condições com os concorrentes. f) Por que o Banespa foi quem incorporou a Santander Holding e não o contrário? De fato, era o Banespa quem possuía todos os registros e autorizações para atuar no Brasil como instituição financeira de capital aberto. Encerradas as perguntas e respostas, segundo o recorrente, no presente caso há 2 fatos jurídicos de aquisição societária com ágio: FATO JURÍDICO 1: AQUISIÇÃO, PELO SANTANDER HISPANO, de ações do Banespa correspondentes a 97,02% do seu capital social, mediante o pagamento de R$ 9,57 bilhões (custo de aquisição – valor pago no leilão e na OPA). A contabilização desse investimento deve seguir a legislação da Espanha; O recorrente sintetiza o fato jurídico acima descrito dizendo que este se deu mediante duas compras de ações: a) Em 20/11/2000 o Santander Hispano arrematou, em leilão, 30% do capital social do Banespa por R$ 7.050.000.000,00, conforme a seguinte ilustração: b) Em 06/04/2001, o Santander Hispano conclui a aquisição de quase a totalidade das ações do Banespa, por meio de Oferta Pública de Ações – OPA, (anunciada em Fl. 105DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 106 106 28/12/2000), chegando à participação societária de 97,2% do capital social, a um custo de aquisição de 9,57 bilhões, assim ilustrado: ü FATO JURÍDICO 2 (NOVO ÁGIO): aquisição, pela Santander Holding, de ações do Banespa correspondentes a 97,02% do seu capital social, por meio da conferência em integralização de capital realizada pelo Santander Hispano, no valor de R$ 9,57 bilhões (transferência pelo custo de aquisição na conferência de ações). Quanto ao segundo fato jurídico, ocorrido com as empresas sediadas no Brasil, as alegações do recorrente podem ser sintetizadas com a figura abaixo e o quanto segue no parágrafo seguinte: Segundo a recorrente, no presente caso, a sociedade adquirida (BANESPA) absorveu o patrimônio da sociedade adquirente (Santander Holding), conforme expressamente previsto na alínea a do artigo 8º da Lei nº 9.532/97 (incorporação reversa). Além disso, era o Banespa quem possuía todos os registros e autorizações para atuar no Brasil como instituição financeira de capital aberto. Fl. 106DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 107 107 Quanto ao Fundamento Econômico na Expectativa de Rentabilidade Futura, a recorrente argumenta que foi apresentado o competente Laudo de Avaliação para demonstrar a expectativa de rentabilidade futura (comprovante aceito por diversas decisões do CARF e do antigo Conselho de Contribuintes),o que não foi contestado pela fiscalização. Ainda, não há qualquer evidência da existência de outros fundamentos econômicos. (grifos no original). Destaques contidos nos memoriais da Fazenda Nacional a) Inexistência de decadência; b) Impossibilidade de aproveitamento de “ágio de si mesmo”; c) A essência de todo o negócio jurídico em tela foi o de possibilitar a transferência do ágio pago pelo Santander Hispano para o Banespa, a segunda operação (subscrição, pelo Santander Hispano, das ações do Santander Holding com o investimento no Banespa), deveria, em verdade, ser desconsiderada, pois representa mera formalidade. Não tem verdadeira substância econômica; d) Na segunda operação, o ágio amortizado decorreu da avaliação do Banespa para fins de subscrição de capital no Santander Holding, de acordo com os arts. 7° e 8° da Lei das S/A. O critério de avaliação utilizado foi o valor de rentabilidade futura do Banespa. Posteriormente, o Santander Holding foi incorporado pelo próprio Banespa, possibilitando a amortização; e) O contribuinte tentou contornar essa impropriedade mediante o laudo de avaliação do Banespa para subscrição de capital no Santander Holding. O problema é que este laudo de avaliação do Banespa para fins de subscrição no Santander Holding não se refere à operação de compra do Banespa pelo Santander Hispano, mas sim ao valor do Banespa para fins de subscrição no Santander Holding (grifos no original); f) Se a subscrição de capital por Santander Hispano em Santander Holding fosse mesmo um fato distinto e autônomo da aquisição das ações do Banespa, então o fundamento do ágio pago por Santander Hispano na aquisição do Banespa não seria o mesmo da subscrição de capital no Santander Holding. E, se isso fosse procedente, o ágio amortizado pelo Banespa teria origem num negócio jurídico entre empresas do mesmo grupo, com utilização de empresa veículo, em que não houve verdadeiro dispêndio de recursos, e seu fundamento seria a rentabilidade do próprio BANESPA. Tal descrição corresponde exatamente ao planejamento “ágio de si mesmo”; g) O argumento do contribuinte de que a subscrição de capital por Santander Hispano em Santander Holding seria uma operação autônoma, independente, da verdadeira aquisição do Banespa, com o pagamento de ágio, pelo Santander Hispano, não faz sentido; h) Em suma, a amortização do ágio “transferido” pelo investidor à sociedade investida (mediante a utilização da empresa veículo) não é permitida pelos arts. 7° e 8° da Lei 9.532/97, pois não atende à finalidade legal. A amortização somente é legalmente admitida como contrapartida à extinção do investimento (ou do investidor). É o relatório, passo aos fundamentos do voto. Fl. 107DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 108 108 Considerações preliminares Se por um lado o expressivo valor de que trata este processo não se constitui, e nem poderia se constituir, em dado que possa influenciar do nosso poder/dever de verificar se a obrigação tributária existe e se o crédito foi constituído conforme as normas que regem a matéria, por outro, com certeza, nos alerta de que estamos diante de bilhões de reais cuja decisão que a sociedade e as partes esperam é que respondamos a elas se este dinheiro pertence à União, e por consequência a todos os brasileiros, dentre os quais a concorrida platéia aqui presente, ou se pertence ao recorrente. Se o dinheiro pertencer à União e errarmos em nossa decisão, estaremos tirando de milhões de brasileiros, representados pela União, o que por direito lhes pertence. No entanto, se não houver a alegada obrigação tributária e decidirmos errado estaremos fazendo com que os brasileiros, integrantes da Nação, por ação deste Colegiado, o qual integro, usufruam algo que não lhes pertence. É com esta noção de responsabilidade que passo ao voto. Dos fatos incontroversos Quanto aos fatos pertinentes ao julgamento do mérito, tenho por incontroverso, quanto à existência, os seguintes eventos: I) a União, por meio de leilão realizado em 20/11/00, alienou sua participação acionária de 30% das ações do Banco Banespa, pelo valor de R$ 7.050.000.000,00; II) o Patrimônio Líquido do Banespa, na época, era de R$ 2,11 bilhões; III) o Banco Santander Hispano, em face de aquisição de ações em leilão e em Oferta Pública de Ações, detinha 97% do capital social do Banespa; IV) o Banco Santander Hispano, em 29/05/2001, utilizou suas ações avaliadas em R$ 9,57 bilhões, para integralizar capital na empresa Santander Holding, constituída 21 dias após publicação do edital. Portanto, antes da realização do leilão; V) em 12/07/2001, o Banespa incorpora a Santander Holding e passa a amortizar o ágio (art. 8º, b, da Lei nº 9.532, de 1997) gerado quando da alegada aquisição, pela Santander Holding, de ações do Banespa, por meio da integralização de capital realizada pelo Santander Hispano, no valor de R$ 9,57 bilhões (transferência pelo custo de aquisição na conferência de ações). Fl. 108DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 109 109 Da decadência e da multa qualificada Em relação à decadência, por se tratar de fatos geradores que datam de 31/12/2002; 31/12/2003 e 31/12/2004, tendo sido imputado fraude à recorrente, situação que caso confirmada desloca o prazo decadencial do artigo 150, § 4º, para o artigo 173, I, do CTN, analisarei, primeiro, os aspectos relacionados à legalidade ou ilegalidade da exigência. Se a conclusão resultar em inexistência de infração resta prejudicada a análise da decadência e da multa. Em havendo conclusão pela ilegalidade dos atos, analisarseà os aspectos relacionados à existência de fraude por parte da recorrente para, em ato subsequente, avaliar: a) os aspectos relacionados à decadência; b) se a sucessora é responsável pela multa da sucedida (art. 129 e 132, apontados pela autoridade fiscal para fundamentar a exigência). Das circunstâncias relacionadas à aquisição das ações do Banespa e eventuais reflexos ao julgamento da matéria Decorridos mais de 10 anos da data do noticiado leilão, nada melhor para compreender os fatos e suas razões do que retornar à época, como se estivéssemos vivendo os acontecimentos de então. Tal procedimento permite ao julgador formar convicção com o maior número de elementos possíveis. Neste sentido, na compreensão dos fatos e seus motivos, para depois aplicar o direito, julgo relevante avaliar algumas notícias da época que constam dos autos. Dentre estas escolhi a reportagem da revista Veja online, veiculada na semana subsequente a do leilão. Nela foram reveladas as estratégias e as razões levadas a efeito pelo recorrente para vencer o leilão. Eis três perguntas formuladas pelo repórter da Revista ao Sr. Gabriel Jaramillo, então Presidente do Banco Santander e suas respectivas respostas: Veja – Vaise para o vivavoz quando o maior lance não supera em 20% os demais. Se vocês abriram com 7 bilhões para evitar o vivavoz, é sinal que apostavam que o segundo maior lance seria de 5,5 bilhões. Vocês tinham essa informação dos concorrentes? Jaramillo – Nossa estratégia tinha dois aspectos principais. Primeiro, fazer com que os concorrentes acreditassem que estávamos fora da disputa. E conseguimos isso. Duas semanas antes do leilão desativamos toda a nossa equipe interna ligada a ele. O segundo aspecto previa que no vivavoz não conseguiríamos ganhar o banco. As grandes instituições brasileiras não deixariam. A única forma de vencer era fazer com que acreditassem que estávamos fora do jogo. Aí eles entrariam com ofertas mais baixas. A prova de que estávamos certo é que ganhamos. O resto não interessa. Veja – O mercado ficou estarrecido com o preço pago pelo Banespa... Jaramillo O banco vale 7 bilhões de reais porque significa a liderança em São Paulo, que é fundamental em nosso projeto de ser os primeiros no mercado brasileiro. O Banespa é a pedra angular de nossa estratégia na América Latina, onde já somos os maiores. Estamos no topo do ranking na Argentina e no Chile. Faltava São Paulo. O Brasil virá em seguida. Fl. 109DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 110 110 Veja – Se vocês tivessem deixado a compra para a segunda parte do leilão, em que os lances são dados em voz alta, poderiam ter pago menos, não? Jaramillo – O banco tem um valor para nós difícil de ser explicado. Por isso fizemos uma oferta para não ir ao vivavoz. Entramos para ganhar, sem risco da disputa. Os elementos que extraio da entrevista acima, feita na época dos fatos, me conduzem, com segurança, ao convencimento de que o arrematante pagou o valor antes indicado pelo Banespa por compreender que a referida instituição era essencial à expansão de seus negócios, com potencial lucratividade no mercado que passaria a atuar. Assim, apesar de retornar ao tema em momento posterior, quando analisarei o laudo que calculou a rentabilidade futura, tenho que não prospera a conclusão da autoridade fiscal de que no montante pago também estava incluso o valor da marca e de elementos subjetivos como a clientela do Banco arrematado. Quanto ao suposto valor intrínseco da marca Banespa, por exemplo, esta gradualmente foi abandonada pelo recorrente. Apesar da conclusão acima antecipada, dita questão não se trata de matéria que influi no julgamento. É elemento não determinante à exigência fiscal que se deu com base no fundamento de que o “Banespa não preencheu as condições impostas pelo legislador para deduzir os encargos da amortização do ágio” (pág. 5 do termo de verificação fiscal). Essa é a essência da controvérsia. Neste sentido, para delimitar a extensão do litígio, além do que já havia destacado na página 5, à página 13 do termo de verificação fiscal, a autoridade fiscal volta ao assunto asseverando: Apesar de o custo de aquisição em leilão ser R$ 7.050.000.000,00, o montante capitalizado na Santander Holding Ltda, pelo Banco Central Hispano, foi de R$ 9.574.9000.000,00, neste computando o valor do investimento de R$ 2.112.832.369,93 e um ágio de R$ 7.472.067.630,07 (....) Como tais valores (R$ 2.112.832.369,93) foram espontaneamente adicionados, restaria justificado o procedimento de oficio para oferecêlos à tributação. Reprisese que tal procedimento não foi adotado visto que nem mesmo os encargos de amortização do ágio pago pela sociedade espanhola eram passíveis de dedução. (pág. 13 do termo de verificação fiscal). Confirmando, ainda, de que a controvérsia acerca do montante do ágio não diz respeito ao lançamento, até porque nenhuma palavra foi dita para infirmar as conclusões constantes do laudo da KPMG que calculou a expectativa de rentabilidade futura, da página 11 do termo de verificação fiscal, apesar das considerações ali feitas, é dito textualmente: “Calha observar que aqui não se questiona a efetiva existência do ágio pago pelo Santander Central Hispano S.A. pelas ações do Banespa. Destarte, tratase de fato acerca do qual não se estabelece qualquer controvérsia”. Em conclusão, temse que a causa do lançamento, em sua essência, não é a existência ou não do ágio decorrente deste ou daquele fundamento, tampouco a quantificação deste, mas sim o não preenchimento dos requisitos, pelo recorrente, para dedução do mesmo. Fl. 110DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 111 111 Da definição e dos requisitos legais para dedução do ágio Tendo por norte de que não se pode avaliar e tampouco emitir juízo de valor acerca de determinado objeto, elemento ou instituto, sejam eles físicos, econômicos ou jurídicos, sem antes conhecêlos, vou pedir vênia para, em breves palavras, apontar os elementos que nos permitem identificar e compreender o que vamos analisar: o ágio, com base na expectativa de rentabilidade futura. Conforme afirma Marco Aurélio Greco9, há situações “em que o ordenamento positivo deseja certo resultado e veicula preceitos no sentido de viabilizar ou induzir condutas dos destinatários da norma.” Com efeito, ao implantar o Programa Nacional de Desestatização, por meio do qual o Estado transferiu para a iniciativa privada determinadas atividades até então exercidas por ele, aprovouse norma com o objetivo de incentivar que empresas privadas participassem dos leilões e que estes, com a possibilidade de deduzir o ágio pago quando da aquisição, rendessem maior valor aos cofres públicos. O incentivo fiscal aqui referido era a possibilidade de deduzir o valor pago a maior, quando da aquisição do empreendimento, na proporção máxima de 1/60 (um sessenta avos) por mês, da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. De sorte, que a possibilidade de amortização do ágio se constituiu em elemento de atração e valoração das empresas alienadas, trazendo como benefício ao alienante a possibilidade de receber, antecipadamente, valor correspondente à expectativa de riqueza gerada no futuro. Daí a lógica da dedução do valor do ágio da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Por sua vez, no caso do Banespa, o interesse das empresas privadas, e aqui incluo tanto o arrematante como os demais Bancos que participaram do leilão, tinha como razão a potencial lucratividade decorrente da atuação no segmento financeiro, com possibilidade de deduzir o ágio pago quando da aquisição. O fundamento econômico da amortização do ágio, com base em expectativa de lucros futuros, está no fato de que os resultados necessários para se chegar ao ponto de equilíbrio entre o patrimônio líquido e o valor pago a maior, quando da aquisição, não se constitui em lucro, mas sim rendimentos necessários à recomposição do patrimônio do investidor. Neste sentido, colho a seguinte lição extraída do Manual de Contabilidade das Sociedades Anônimas10, já citada na fl. 82 da cópia da impugnação anexa aos memoriais. “o ágio pago por expectativa de lucros futuros da coligada ou controlada deve ser amortizado por tais futuros lucros, ou seja, contra os resultados dos exercícios considerados na projeção dos resultados estimados que justifiquem o ágio. O 9 GRECO, Marco Aurélio, Planejamento Tributário, São Paulo: Dialética, 2004, p. 84. 10 Fundação Instituto de Pesquisas Contábeios, Atuariais e Financeiras. Manual de contabilidade das sociedades por ações : aplicável às demais sociedades / FIPECAFI; diretor responsável Sérgio de Iudícibus; coordenador técnico Eliseu Martins, supervisor de equipe de trabalho Ernesto Rubens Gelbcke, 7ª. ed., 2ª.reimp., São Paulo: Atlas, 2007, p. 176. Fl. 111DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 112 112 fundamento aqui é que o de que, na verdade, as receitas equivalentes aos lucros da coligada ou controlada não representam um lucro efetivo, já que a investidora pagou por eles antecipadamente, devendo, portanto, baIxar o ágio contra essas receitas. (,,,)” Quanto ao conceito de ágio, este decorre do artigo 20, II, do DecretoLei nº 1.598, de 1977, que definiu ágio ou deságio como “a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor do patrimônio líquido na época da aquisição”. O aproveitamento deste, por coligada ou controlada, com base em expectativa de lucro nos exercícios futuros, deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (art. 20, § 2º, b, e § 3º, do DecretoLei nº 1.598, de 1977). Com o Programa Nacional de Desestatização foi editada a Lei nº 9.532, de 1997, estabelecendo novas normas para aproveitamento do ágio. No caso, dado os limites do litígio apontados anteriormente, interessa o artigo 7º, III, que segue transcrito: Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977: (Vide Medida Provisória nº 135, de 30.10.2003) III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (Redação dada pela Lei nº 9.718, de 1998) Assim, a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, na qual detenha participação acionária adquirida com ágio, se o fundamento econômico do ágio for “valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros”, poderá amortizar o ágio nos balanços correspondentes de apuração do lucro real, levantados posteriormente à incorporação, à razão de 1/60, no máximo, para cada mês do período de apuração. A regra do artigo art. 7º, III, da Lei 9.532, de 1997, por disposição expressa do artigo 8º, b, da mesma lei, a seguir transcrito, também se aplica quando a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária, isto é, nos casos de incorporação inversa. 8º O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando: a) o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor de patrimônio líquido; b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. Fl. 112DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 113 113 A norma acima transcrita, conforme observa Ricardo Mariz de Oliveira, trouxe o “reconhecimento do que normalmente se chama de down stream que é incorporação de cima para baixo, isto é, a pessoa jurídica investida incorporar a investidora, porque, normalmente é de baixo para cima, a investidora absorve a investida, substitui a participação societária pelo ativo incorporado” 11. A situação prevista no artigo 8º tem por finalidade conjugar questões tributárias com os procedimentos de reorganizações societárias, inclusive de ordem legal. Há casos em que a incorporadora não tem interesse ou não preenche requisitos para prosseguir operando no segmento de atuação da investida. O exemplo dos autos demonstra exatamente esta situação. Por se tratar de instituição financeira que necessita de autorização do Banco Central para operar, qualquer empresa que viesse a adquirila, se não tivesse autorização do Bacen para atuar no mercado financeiro, necessitaria ser incorporada pelo Banespa e não o contrário. Daí a necessidade de o legislador prever a incorporação inversa, sem prejuízo da amortização do ágio. Com tais fundamentos, quanto a este ponto, rejeito o argumento sustentado no primeiro parágrafo da folha 23 do termo de verificação fiscal “de que não há como explicar, do ponto de vista econômico, que uma pessoa jurídica pudesse deduzir de seus próprios resultados a amortização de um ágio gerado na aquisição de suas próprias ações”. Nos casos de incorporação inversa, como expressamente previsto na alínea b do artigo 8º da Lei nº 9.532, de 1997, a contabilização da amortização do ágio se dá na pessoa jurídica investida, que irá produzir os lucros futuros, no caso dos autos, o próprio Banespa. Dos demais aspectos pertinentes ao julgamento Por estar ciente de que quem julga não pode inovar para alterar fundamentos de fato ou de direito em relação ao lançamento, no início de meu relatório descrevi as causas que ensejaram a autuação. Fiz com o propósito de aterme aos fatos imputados e suas provas. Tenho como preceito condutor de meus votos de que quem julga não pode inovar com razões de fato ou de direito em relação ao lançamento e quem faz lançamento não pode julgar. Em outras palavras, quem julga não lança e quem faz lançamento não pode julgar. Admitir que o julgador pudesse abstrairse de sua imparcialidade para inserir no auto de infração alegações fáticas ou jurídicas, que lhes pareçam pertinentes, importaria flagrante violação ao princípio da imparcialidade e de competência para o ato, dos quais o julgador não pode se divorciar. Assim, sem pretender extrapolar minha competência que é limitada ao exame dos fatos e normas apontados na autuação fiscal, em atenção aos inúmeros argumentos contidos nas manifestações das partes , alguns divorciados dos termos da acusação fiscal, mas que se explicam para justificar as teses defendidas , vou analisar 14 questionamentos que extraí das alegações das partes. Após exame de cada um, quando for o caso, em estando relacionado aos fatos e normas apontados no lançamento, direi se procedentes ou não. Eis as indagações relacionadas aos argumentos das partes: 11 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de, Planejamento E Exigências Tributárias Cisão, Fusão E Incorporação Como Instrumentos D Planejamento Tributário. Revista de Estudos Tributários nº 5 jan/fev de 1999, pág. 120). Fl. 113DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 114 114 1. Podia a Fiscalização exigir a adoção destes ou daqueles meios para a dedução do ágio, que não os empregados pelo recorrente? 2. Qual a essência do ato jurídico ou dos atos jurídicos realizados? 3. Quais os meios empregados na realização dos atos jurídicos de que trata a pergunta anterior? 4. Se existiam outros meios que poderiam ou deveriam ter sido empregados? 5. Existiam ou não razões determinantes para justificar os meios empregados? 6. Qual o significado do termo “empresa veículo” ou “empresa de passagem”, usados como sinônimos um do outro? 7. Quais as razões que caracterizam ou descaracterizam a empresa Santander Holding Ltda como “empresa veículo”? 8. Em sendo o Banco Santander Hispano controlador das empresas incorporada e incorporadora, como deixar de concluir de que o investimento no Banespa, por via indireta, não permaneceu sob o controle da empresa espanhola, conforme consta da página 22 do TVF? 9. O Banco Santander Hispano poderia integralizar capital social na empresa Santander Holding Ltda, mediante a conferência à sociedade de ações representativas do capital social do Banespa e caso afirmativo, por qual valor? 10. Existiu simulação, falta de propósito negocial ou outro tipo de fraude, quando o Banco Santander Hispano integralizou capital na empresa Santander Holding Ltda? 11. Qual seria a origem do alegado ágio na empresa Santander Holding Ltda, incorporada pelo Banespa? 12. Como explicar a utilização do mesmo laudo de avaliação do Banespa, baseado em expectativa de lucro futuro, para mais de uma operação? 13. O Banespa podia incorporar a empresa Santander Holding, beneficiando se com ágio? 14. Caso vencedoras no leilão, as outras empresas participantes poderiam deduzir o valor do ágio? Com que base legal? O que as diferencia da recorrente? Fixados os principais pontos que as partes e a sociedade, na minha avaliação, buscam resposta, passo a analisálos. Fl. 114DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 115 115 1. Da análise se a Fiscalização poderia exigir a adoção destes ou daqueles meios, que não os empregados pelo recorrente O papel da Fiscalização não é exigir esta ou aquela conduta na realização dos negócios, mas sim o de verificar se houve determinado fato sobre o qual incidiu a regramatriz de exigência tributária. Em havendo o fato, o papel da autoridade fiscal é descrevêlo, apontar a norma aplicável e calcular o valor do tributo devido. No caso concreto, por exemplo, da leitura do termo de verificação fiscal se denota que em nenhum momento a autoridade fiscal diz que deveriam ter sido utilizados outros meios ou que os atos praticados pelo recorrente foram simulados. O termo simulação sequer é mencionado. Não se questiona a existência dos negócios, dentre os quais a integralização de capital social na empresa Santander Holding Ltda com as ações do Banespa. O que se diz é que a empresa Santander Holding Ltda caracterizase como “empresa veículo”, criada com o propósito exclusivo de internalizar o ágio e, por consequência, sem preencher os requisitos exigidos por lei para amortização do ágio. 2. Da essência dos negócios realizados Os negócios realizados, se avaliados em seu conjunto, devem ser compreendidos como sendo a aquisição das ações do Banespa e a dedução do ágio pago, tendo o arrematante, para tal finalidade, constituído a empresa Santander Holding Ltda e nela integralizado capital social com as ações adquiridas do Banespa. Se avaliados de forma segregada temse três eventos jurídicos distintos: a) o primeiro evento corporificase no ato por meio do qual o Banco Santander Hispano adquire as ações do Banespa, em leilão; b) o segundo evento jurídico constituise com o ato em que o Banco Santander Hispano utiliza as ações do Banespa, pelo custo de aquisição de R$ 9,57 bilhões, para integralizar capital social Santander Holding Ltda; c) o terceiro evento jurídico dáse quando o Banespa incorpora a Santander Holding Ltda trazendo para seu ativo as ações adquiridas, passando usufruir a possibilidade de amortizar o ágio, conforme previsto no artigo 8º, b, da Lei nº 9.532, de 1997. Por estar o auto de lançamento fundado no entendimento de que os atos jurídicos, especificados nas letras “b” e “c”, do parágrafo anterior, não tinham propósito negocial e, por consequência, ineficazes para fins tributários, analisarei tais questões em tópicos próprios. 3. Dos meios empregados na realização dos eventos jurídicos antes referidos Quanto a este item, ainda que compreendido como atos indissociáveis12 entre si, a análise deve ser desdobrada em duas partes. A primeira contemplando os atos praticados 12 Ninguém, de forma razoável, deixaria de presumir de que o ágio seria amortizado. Daí a observação de que tanto os procedimentos realizados para manter o sigilo, quanto os relacionados à amortização do ágio devem ser vistos de forma indissociável, voltados a dois fins lícitos, quais sejam: a) vencer o leilão; b) amortizar o ágio. Aqui, diferentemente do que se verifica em certos planejamentos, temse meios lícitos para fins lícitos, ao passo que em outros se verificam meios lícitos para fins ilícitos. Fl. 115DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 116 116 antes do leilão e a segunda os atos realizados após o leilão, tudo isto tendo por norte o objetivo final do negócio, isto é: a) a aquisição das ações do Banespa e; b) a possibilidade de dedução do ágio pago quando da aquisição das referidas ações. Quanto à primeira parte, publicado o edital do leilão, antes deste se realizar, o Banco Santander Hispano, controlador de outras empresas no Brasil13, sem saber se sairia vencedor, constituiu a empresa Santander Holding Ltda onde centralizou as operações subsequentes, com a finalidade de aproveitar o ágio pago quando da aquisição das ações do Banespa. A segunda parte se constitui dos atos praticados após o Banco Santander Hispano ter saído vencedor do leilão. No primeiro ato, por meio de negócio jurídico cuja validade se avaliará mais adiante, promoveu integralização de capital na empresa Santander Holding Ltda, utilizandose para tal das ações do Banespa , tanto as que foram adquiridas em leilão quanto aquelas cuja aquisição se deu por meio de oferta pública , totalizando 9,57 bilhões. O segundo ato praticado foi a incorporação da empresa Santander Holding Ltda pelo Banespa, tendo como consequência tributária a dedução do ágio gerado quando do evento jurídico caracterizado pela integralização de capital na Santander Holding Ltda, referido anteriormente. 4. Da existência de outros meios que poderiam ter sido empregados para aproveitamento do ágio, por qualquer das empresas do grupo Santander, sediadas no Brasil Diz o recorrente que o grupo Santander não possuía nenhuma sociedade residente no Brasil que tivesse condições patrimoniais de preencher os requisitos exigidos para a participação no leilão, sem que fossem internalizados os recursos necessários. Pois bem, se o único problema era internalizar os recursos, considerando que na época o Banco Santander Hispano era controlador do Banco do Nordeste, do Banco Meridional e do Banco Santander do Brasil S/A, não há dúvidas de que bastava o Banco Santander Hispano internalizar os recursos em uma das empresas aqui nominadas, ou na própria Santander Holding Ltda e participar no leilão por meio dela. Se assim tivesse feito, ninguém estaria alegando que a empresa Santander Holding Ltda era “empresa de passagem”, sem propósito negocial. Desta forma, constatado a existência de outros meios para se atingir o mesmo resultado econômico e jurídico em relação à dedução do ágio, há que se investigar, o que farei no item seguinte, se os motivos para a não utilização eram determinantes para o sucesso no leilão. 5. Da existência ou não de razões determinantes para justificar os meios empregados Iniciei meu voto citando parte da entrevista do Presidente do Banco Santander Hispano, concedida uma semana após o leilão, onde ele revelou que a estratégia para vencer tinha dois aspectos principais, que volto a transcrevêlos: 13 Conforme especificado à fl. 62 da impugnação, o Banco Santander Hispano era controlador do Banco do Nordeste; Banco Meridional; Bonzano Simonsen etc. Fl. 116DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 117 117 “ Primeiro, fazer com que os concorrentes acreditassem que estávamos fora da disputa. E conseguimos isso. Duas semanas antes do leilão desativamos toda a nossa equipe interna ligada a ele.” “O segundo aspecto previa que no vivavoz não conseguiríamos ganhar o banco. As grandes instituições brasileiras não deixariam. A única forma de vencer era fazer com que acreditassem que estávamos fora do jogo. Aí eles entrariam com ofertas mais baixas.” Depreendese das razões acima de que o sigilo do lance inicial, em envelope fechado, era determinante ao resultado. Tanto era determinante que o recorrente tinha consciência de que, caso não saísse vencedor com lance em envelope fechado, na segunda fase do leilão, onde os lances se dariam por vivavoz, não tinha condições de vencer. Isto demonstra que o sigilo constituíase em elemento primordial do leilão. Ninguém poderia correr o menor risco de revelar o valor de seu lance. Isto seria desastroso tanto para a União quanto para os interessados na aquisição. Se o Banco Santander Hispano soubesse de que era de 2,3 bilhões o valor do maior lance da concorrência, em envelope fechado, bastava ter ofertado 2,8 bilhões para ter saído vencedor. A União, proprietária do Banespa, perderia 4,2 bilhões. Por outro lado, se a concorrência soubesse o valor do lance a ser dado pelo recorrente, conforme já dito, tomaria providências para não deixálo vencer. Visto desta forma e não poderia ser de outra, considerando que o aumento de capital deve ser lavado ao registro, seria impossível o Banco Santander Hispano internalizar tamanha quantia em moeda, para integralizar capital em uma de suas empresas controladas, sem que revelasse o valor máximo que ofertaria como lance. Assim, o sigilo estaria rompido e decretado o fracasso de sua participação no leilão. O negócio não teria se realizado na forma previamente planejada pelo recorrente e a União teria recebido três vezes menos na venda do Banespa. Ademais, ninguém de nós, sabedores de como as empresas calculam o retorno de seus investimentos, tem dúvidas de que os participantes do leilão, ao formularem seus lances, consideraram, para efeito da expectativa de lucro futuro, o direito de amortizar o valor do ágio, direito este assegurado aos demais participantes do leilão. Em outras palavras, a dedução do ágio é consequência do valor pago a maior, quando da aquisição. Pelo exposto, estou convencido de que o Banco Santander Hispano, na condição de licitante nãoresidente, planejou suas ações tendo por norte dois objetivos indissociáveis entre si: a) manter o sigilo do lance para vencer o leilão; b) adotar os procedimentos necessários para possibilitar a dedução do ágio. Para manter o sigilo o Banco Santander Hispano participou de forma direta no leilão, sem se valer de qualquer das empresas nacionais das quais era controlador. Quanto ao segundo objetivo, indissociável do primeiro, antes do leilão, quando sequer sabia se sairia vencedor, constituiu a empresa Santander Holding Ltda para nela Fl. 117DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 118 118 integralizar capital com as ações adquiridas do Banespa e, desta forma, igual a qualquer outro dos participantes14, caso fossem vencedores, poder deduzir o ágio. Conforme destaquei anteriormente, se o Banco Santander Hispano, previamente ao leilão, tivesse trazido os recursos financeiros ao Brasil, capitalizando a empresa Santander Holding ou qualquer outra do grupo, para posterior participação no procedimento licitatório, o ágio seria gerado da mesma forma. Isto me convence de que, se ciente disto, assim não procedeu foi porque estava agindo com o necessário e indispensável objetivo de manter o sigilo, algo que para o Banco era tão importante quanto à dedução do ágio. A prova de que o sigilo em relação ao lance era tão importante quanto à dedução do ágio é que as ações praticadas para atingir estes dois objetivos foram estruturadas antes da realização do leilão. Admitir neste processo, como efetivamente admitimos, que eram razoáveis e lícitas todas as estratégias adotadas para manter o sigilo do lance, propiciando que a União recebesse três vezes mais do que o maior valor ofertado pelos demais concorrentes e não admitir a parte que o recorrente estruturou para deduzir o ágio é adotar dois critérios de valoração para julgar atos que compõem um mesmo propósito e que fazem parte da mesma conjuntura fática e jurídica. Pelos fundamentos aqui expostos, não pode ser desprezado o ato pelo qual o Banco Santander Hispano integralizou capital na empresa Santander Holding com as ações adquiridas do Banespa, tendo por consequência a geração e posterior dedução do ágio. 6. Do significado do termo “empresa veículo” ou “empresa de passagem”, usados como sinônimos um do outro A palavra empresa, conforme definição De Plácio e Silva15, tem origem latina e significa empreender, praticar, possui o sentido de empreendimento ou cometimento intentado para a realização de um objetivo. No sentido do Direito Civil e do direito Comercial, segundo este autor, significa toda organização econômica, civil ou comercial, instituída para a exploração de um determinado ramo de negócio. Veículo, segundo o conceito posto pelo autor antes referido, é palavra de origem latina “ligada à idéia de conduzir, transportar, genericamente é instrumento ou aparelho que, dotado de certos requisitos, serve ao transporte de coisas ou pessoas.” Se não há dúvidas, como vimos, para a compreensão do termo empresa e do significado de veículo, quando analisados individualmente, o mesmo não ocorre quando, por meio destas duas palavras, se compõe uma terceira expressão, no caso, “empresa veículo”, que ainda não consta dos dicionários, ao menos nos que consultei. O termo “empresa veículo” é empregado pelas autoridades fiscais e estudiosos do direito tributário para definir a pessoa jurídica, sem propósito negocial, cuja finalidade não é produzir bens e serviços, mas servir de meio para dar aparência de regularidade a uma situação que assim não é. 14 Os outros participantes do leilção foram Bradesco e Itaú 15 SILVA, De Plácio e, Vocabulário Jurídico. Ed. Forense. Fl. 118DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 119 119 Em se tratando de empresas cujos atos formais são normais, necessário que se analise a densidade das circunstâncias em que foi constituída. É preciso ir além dos atos formais para investigar as intenções subjetivas de quem as constituiu. A breve duração pode ser indício de que estamos diante de uma “empresa veículo”, mas não pode ser avaliada de forma isolada. Um ou mais sujeitos com personalidade jurídica podem constituir empresa para conjugar recursos e conhecimentos para participar de uma licitação, por exemplo. Caso não vencedora, no certame, a empresa perderá sua razão de ser. Caso vencedora, concluído o contrato, também desaparecerá a razão para a qual foi constituída. Desta forma, ainda que esta empresa tenha sido constituída para servir de meio para se atingir a determinado propósito, não poderá ser tachada de “empresa veículo”, pois não tem por finalidade praticar ato simulado, ocultar ou encobrir fato gerador de obrigação tributária. Também, não se trata de empresa para dar aparência de regularidade a uma situação que assim não é. Existem dois elementos essenciais para se identificar se estamos ou não diante de uma empresa veículo. O primeiro deles, conforme já destaquei, é a densidade das circunstâncias em que foi constituída. O segundo é a análise dos atos negociais em seu conjunto, como se fossem lances de um mesmo jogo ou, nas expressões da defesa do recorrente, “como se fossem várias cenas do mesmo filme”. Neste caso, deve o julgador se ater ao resultado final dos vários atos realizados e não as sequência de operações realizadas para se atingir o objetivo que desde o início era querido e esperado pelas partes. 7. Da análise se a empresa Santander Holding Ltda caracterizase ou não como “empresa veículo” A análise do presente ponto passa pela verificação dos dois elementos que apontei no tópico acima, isto é: a) densidade das circunstâncias em que foi constituída; b) análise dos atos negociais em seu conjunto, como se fossem vários lances de um mesmo jogo. Por análise da densidade das circunstâncias em que foi constituída deve se ter presente o momento e a causa que justificou sua constituição. Se a causa for justificada, à semelhança em que se demonstrou em relação aos procedimentos adotados para manterem o sigilo do lance no leilão, independentemente do momento, não se estará diante de empresa de passagem. No caso concreto, quando se analisa a densidade das circunstâncias em que a empresa foi constituída, além dos aspectos relacionados ao sigilo, é necessário ter presente de que se estava diante de leilão que tinha por finalidade alienar as ações do Banespa permitindo a dedução do ágio. Outro fato que demonstra que a empresa Santander Holding Ltda tinha por objetivos outros propósitos que não somente a internalização do ágio foi que o Banco Santander Hispano a constituiu quando sequer sabia se sairia vencedor do leilão. Não se pode falar em empresa constituída com a finalidade específica de internalizar o ágio se na data de sua constituição sequer existia o alegado ágio, só gerado posteriormente. Fl. 119DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 120 120 Ainda em relação a este aspecto, há que se ter presente de que os artigos 26 a 28 da Lei nº 4.495, de 1964, que regulamenta a constituição e atuação das instituições financeiras, e dá outras providências, e o artigo 2º da Circular nº 2.750, de 1997, estabelecem que o capital inicial das instituições financeiras públicas e privadas será sempre realizado em moeda corrente e que não existe a possibilidade legal de aumentar o capital social de uma empresa financeira por meio de integralização de participação acionária, como ocorreu na Santander Holding, situação que, conforme argumenta o recorrente, fica evidente a necessidade desta empresa para receber como integralização de capital social as ações do Banespa. A constituição em território brasileiro da empresa Santander Holding Ltda para, se vencedor no leilão, o Banco Santander Hispano integralizar nela o ativo representado pelas ações e patrimônio líquido do Banespa, quando analisado com os demais elementos dos autos, dá sentido à frase contida na reportagem da revista Veja, referida anteriormente, quando diz: “Diferentemente da época colonial, a idéia agora é fixar residência, recuperar o espaço perdido e enriquecer com a América.” O segundo ponto a ser enfrentado é a análise dos atos negociais em seu conjunto, como se fossem vários lances de um jogo iniciado no momento em que o Banco Santander Hispano decidiu participar do leilão do Banespa e terminou quando começou amortizar o ágio decorrente das ações adquiridas com ágio. Para avaliação do resultado final não pode ser considerado, de forma isolada, este ou aquele lance, mas todos os que compuseram a partida, dentre os quais os seguintes elementos: a) habilitação do Banco Santander Hispano para participar do leilão; b) decisão do Banco Santander Hispano de não promover aumento de capital em uma de suas empresas controladas, no Brasil, para não correr o risco de quebrar o sigilo em relação ao lance que iria ofertar; c) decisão de constituir a empresa Santander Holding Ltda para, caso vencedor no leilão, nela integralizar as ações adquiridas no leilão do Banespa; d) decisão de desativar, duas semanas antes, toda a equipe interna ligada ao leilão, como se não fosse participar do certame; e) vencido o leilão, decisão de usar as ações do Banespa para integralizar capital social na Santander Holding Ltda, como planejado anteriormente; f) decisão de promover a incorporação da empresa Santander Holding Ltda pelo Banespa e começar a deduzir o ágio, como planejado desde o início. No caso em exame, quando se examinam os atos em seu conjunto, se percebe que as ações do Banespa, ao final, resultaram integralizando capital de contribuinte brasileiro, que faz jus à amortização do ágio. Quer sobre a ótica das disposições contidas nos artigos 25 a 28 da Lei nº 4.595, de 1964, que vedam a possibilidade de se aumentar o capital social de uma empresa financeira por meio de integralização de participação acionária; quer sobre os aspectos relacionados às estratégias de negócio e atos jurídicos necessários para que o recorrente pudesse deduzir o ágio da mesma forma que poderia caso tivesse integralizado o capital em uma de suas empresas (hipótese em que o sigilo ficaria comprometido); quer quando se analisa o negócio jurídico em seu conjunto, focando o resultado final do jogo e não os lances que o compõem, se chega à conclusão de que a empresa Santander Holding Ltda foi constituída em Fl. 120DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 121 121 densidade de circunstâncias e propósitos negociais que não permitem sua qualificação como “empresa veículo” ou de passagem. Para que não fiquem indagações sem respostas, ao menos em relação as quais reputo pertinentes aos questionamentos formulados, quanto à duração da empresa Santander Holding Ltda de apenas 10 meses, reportome ao que disse anteriormente apontado que este dado deve ser avaliado tendo por norte as razões que ditaram a sua constituição, que em relação ao caso concreto já analisei em parágrafo anterior. Ademais, necessário que se diga que a empresa Santander Holding deixou de existir em virtude de incorporação pelo Banespa, não havendo nenhuma ilegalidade nisto, procedimento idealizado desde sua constituição. 8. Da análise se o Banco Santander Hispano poderia utilizar as ações adquiridas do Banespa para integralizar capital social na empresa Santander Holding Ltda e, caso afirmativo, por qual valor? A empresa Santander Holding Ltda foi constituída sob a forma de sociedade limitada, cuja norma civil vigente à época, hoje repetida no artigo 997, III, do Código Civil, previa que o capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podia compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária. Norma semelhante, em relação as sociedade anônima, encontrase no artigo 7º da Lei das S/A. Da premissa de que as ações adquiridas, representativas da participação acionária do Banco Santander Hispano no Banespa, constituíase de direito passível de ser avaliado em pecúnia, decorre a conclusão de que as mesmas podiam ser utilizadas pelo Banco Santander Hispano para integralizar capital social na empresa Santander Holding Ltda. Admitida a possibilidade de utilização das ações adquiridas do Banespa para integralizar capital social da empresa Santander Holding Ltda, cabe analisar o valor atribuído às mesmas. Quanto a este aspecto, para posicionar a matéria, volto a transcrever as constatações e conclusões contidas à fl. 13 do termo de verificação fiscal: “Apesar de o custo de aquisição em leilão ser R$ 7.050.000.000,00, o montante capitalizado na Santander Holding Ltda, pelo Banco Central Hispano, foi de R$ 9.574.900.000,00, neste computando o valor do investimento de R$ 2.112.832.369,93 e um ágio de R$ 7.472.067.630,07 (....) Como tais valores (R$ 2.112.832.369,93) foram espontaneamente adicionados, restaria justificado o procedimento de oficio para oferecêlos à tributação. Reprisese que tal procedimento não foi adotado visto que nem mesmo os encargos de amortização do ágio pago pela sociedade espanhola eram passíveis de dedução. (pág. 13 do Termo de Verificação Fiscal).” Aqui há um equívoco da autoridade fiscal. Conforme relatei, o Banco Santander Hispano arrematou no leilão realizado em 20/11/2000 a quantidade de 11.323.000.000 ações, correspondente a 30% do capital social do Banespa, pelo montante de R$7.050.000.000,00. Em ato subsequente, em razão de Oferta Pública de Compra de Ações, o Banco Santander Hispano adquiriu ações ordinárias e preferenciais, no total de 23.896.653.312 ações, pelo valor de R$ 2.275.439.318,85, contabilizados conforme demonstrativo constante à fl. 113 da impugnação, que passo a transcrever: Fl. 121DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 122 122 Quantidade de ações % R$ Leilão 11.323.000.000 30,00% 7.050.000.000,00 Funcionários 1.197.760.392 3,20% 197.740.376,17 Sobra Tesouro 24.630.756 0,07% 15.460.009,78 Leilão Público (OPA) 23.896.653.312 63,83% 2.275.439.318,85 Outras aquisições 43.592.044 0,11% 4.537.478,50 Sub Total 36.394.636.404 97,208% 9.543.177.183,30 Outros custos CPMF .......................................................................................................21.803.912,68 Emolumentos ....................................................................................................... 5.334.978,76 Comissões OPA ............................................................................................. .......4.583.925,26 Total de outros custos ................................................................................... .....31.722.816,70 Custo Total 9.574.900.000,00 PL do Banespa (30.04.2001) 1.173.519.280,48 Participação SH 97,208% Investimento 2.112,832.369,93 Ágio 7.462.067.630,06 A análise dos dados acima demonstra que na integralização de capital feita pelo Banco Santander Hispano na empresa Santander Holding Ltda não houve “reavaliação” do ágio, mas sim a consideração do valor das novas ações adquiridas por meio da oferta pública e aquelas pertencentes aos funcionários. O valor que despendeu para adquirir as ações do Banespa foi o montante utilizado para integralizar capital social da empresa Santander Holding Ltda. Ainda em relação ao tema, caso tivesse sido adotado o valor constante do laudo de avaliação da KPMG, em relação ao qual inexiste qualquer prova para desqualificar o montante lá apontado, que foi de R$ 10,078 bilhões, em estando dito ativo contabilizado por R$ 9,574 Bilhões, haveria ganho de capital auferido pelo Banco Santander Hispano. 9. Em sendo o Banco Santander Hispano controlador das empresas incorporada e incorporadora, como deixar de concluir que o investimento no Banespa, por via indireta, não permaneceu sob o controle da empresa espanhola (pág. 22 do TVF)? Não restam dúvidas de que o Banco Santander Hispano efetivamente era controlador da empresa Santander Holding e que tais situações podem se prestar para gerar ágio fictício. É por esta razão que ao se avaliar determinado evento jurídico deve se levar em consideração, além dos aspectos formais, a densidade das circunstâncias que o cercam. O argumento da autoridade fiscal é relevante e deve ser considerado sempre que estivermos diante de situação existente apenas no papel. Porém, não é o caso dos autos. Aqui, a transação avaliada em seu conjunto não revela fraude para gerar ágio fictício, mas sim, seguramente, o maior negócio no país, no ano de 2000. A permanecer o entendimento da autoridade fiscal, sem a análise dos demais aspectos do contexto, chegaríamos à conclusão de que tal vedação seria aplicada mesmo que o Fl. 122DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 123 123 Banco Santander Hispano, sem se preocupar com o sigilo, tivesse internalizado recursos em uma de suas sociedades para depois participar do leilão por meio dela. Poderseia dizer que quem participou do leilão teria sido o Banco Santander Hispano, que aportou os recursos, servindo a empresa brasileira apenas como instrumento. Em outras palavras, a empresa brasileira seria tachada de “empresa veículo”. Isto demonstra que, por interpretações subjetivas sempre iremos encontrar uma causa para lançar. Ademais, se dissermos que o Banco Santander Hispano e suas subsidiárias, para efeitos tributários, se confundem, teríamos que adotar este equivocado entendimento em todos os sentidos. Assim, concluiríamos que as subsidiárias brasileiras, ao remeterem recursos para a matriz, não precisavam recolher Imposto de Renda na Fonte, pois os recursos não teriam circulado de uma pessoa jurídica para outra, tese esta absolutamente equivocada. Concluindo, quando se avalia um evento jurídico envolvendo empresas coligadas, nacionais ou internacionais, não se pode aplicar o disposto no artigo 27 do Decreto Lei nº 5.844, de 1943 e nos artigos 146 e 147, I e II, do Regulamento do Imposto de Renda16, para alguns aspectos relacionados ao mesmo fato e desconsiderar para outros. No caso concreto, não se pode dizer que a empresa Santander Holding Ltda, por ser subsidiária de empresa estrangeira não pode ser considerada contribuinte para fins de amortização do ágio, mas que possui legitimidade passiva para adimplir os tributos exigidos. 10. Da análise da existência de ato simulado, falta de propósito negocial ou outra espécie de fraude quando o Banco Santander Hispano integralizou capital na empresa Santander Holding Ltda Nos termos do artigo 167, § 1º, do Código Civil atual, que repete o artigo 102, do Código Civil anterior, haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pósdatados. Fixados os termos da norma que caracteriza conduta simulada, necessário que se avalie o contrato por meio do qual o Banco Santander Hispano integralizou capital social na empresa Santander Holding Ltda, com as ações adquiridas do Banespa, para verificar se sobre ele incide um dos dispositivos legais contidos no artigo 167 do Código Civil. 16 Decreto nº 3.000, de 1999. Art. 146. São contribuintes do imposto e terão seus lucros apurados de acordo com este Decreto (DecretoLei nº 5.844, de 1943, artigo 27): I as pessoas jurídicas (Capítulo I); .... Art. 147. Consideramse pessoas jurídicas, para efeito do disposto no inciso I do artigo anterior: I as pessoas jurídicas de direito privado domiciliadas no País, sejam quais forem seus fins, nacionalidade ou participantes no capital (DecretoLei nº 5.844, de 1943, artigo 27, e Lei nº 4.131, de 3 de setembro de 1962, artigo 42, e Lei nº 6.264, de 1975, artigo 1º); II as filiais, sucursais, agências ou representações no País das pessoas jurídicas com sede no exterior (Lei nº 3.470, de 1958, artigo 76, Lei nº 4.131, de 1962, artigo 42, e Lei nº 6.264, de 1975, artigo 1º); Fl. 123DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 124 124 A primeira premissa a ser avaliada é se o Banco Santander Hispano conferiu ou transmitiu, por meio do contrato de integralização de capital, direitos à pessoa diversa daquela nominada, isto é, a empresa Santander Holding Ltda. A resposta a esta premissa é negativa. É fato incontroverso de que a intenção dos signatários do documento em análise era integralizar capital social na empresa Santander Holding Ltda, utilizando para tal as ações do Banespa, quer as que foram adquiridas em leilão, quer as adquiridas por meio de oferta pública. A segunda premissa que caracteriza a simulação é a existência de declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira. No contrato de integralização de capital realizado pelo Banco Santander Hispano na empresa Santander Holding Ltda está dito que aquele estava integralizando capital social com os ativos correspondentes à sua participação no Banespa, fato que efetivamente se deu. Não há nenhuma declaração ou cláusula que esteja divorciada do efetivo negócio celebrado pelas partes. Quanto à terceira premissa que caracteriza simulação nos casos de documentos ou instrumentos antedatados ou pósdatados, tratandose de atos levados a registro público, nenhuma dúvida de que estes, na pior das hipóteses, ocorreram no dia em que foram apresentados para registro. O que se disse em relação ao contrato por meio do qual o Banco Santander Hispano integralizou capital social na empresa Santander Holding Ltda, vale para o ato de incorporação desta pelo Banespa, onde não se verifica nenhuma das hipóteses previstas no artigo 167, § 1º, do Código Civil. Da análise temse que as operações que se revelaram foram aquelas efetivamente queridas e realizadas pelas partes, inexistindo comportamento sobre o qual pudesse incidir qualquer das hipóteses previstas no artigo 167, § 1º, Código Civil. Não houve disfarce de uma operação para encobrir este ou aquele ato. Não houve negócio senão os efetivamente descritos. Não houve operações fictícias. Não houve acordo em registrar uma declaração de vontade diversa da pretendida para enganar terceiros ou encobrir os atos verdadeiramente realizados. Conforme apontado anteriormente, quando se fala em fraude decorrente de atos formalmente lícitos, mas que podem conter negócios diversos dos efetivamente declarados, há que se analisar a densidade das circunstâncias. E aqui, quando se analisa este elemento se constata que a empresa Santander Holding Ltda foi constituída antes mesmo da realização do leilão, quando o vencedor sequer podia prever se sairia vencedor ou não. Ademais, não se está diante de planejamento tributário adquirido em prateleiras de livrarias que só concede benefícios a quem os adota, simulando ou encobrindo um ou outro ato. O benefício da dedução do ágio, utilizado pelo recorrente, seria concedido a qualquer vencedor do leilão. 11. Da análise da origem do ágio na empresa Santander Holding Ltda, incorporada pelo Banespa Nos termos do artigo 385, § 2º, II e art. 386, III, do Regulamento do Imposto de Renda, o ágio, cujo conceito já definimos, deverá indicar seu fundamento econômico e o valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros. Fl. 124DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 125 125 Tais requisitos, no caso concreto, estão presentes no laudo da KPMG não impugnado pela autoridade fiscal. Observase que a glosa da amortização do ágio não está relacionada à sua existência, mas sim ao preenchimento dos requisitos para a respectiva amortização. Com isto, correta a afirmação de que o ágio em questão tem sua origem na aquisição, pela empresa Santander Holding, de ações do Banespa correspondentes a 97,02% do seu capital social, por meio da conferência em integralização de capital realizada pelo Santander Hispano, no valor de R$ 9,57 bilhões. A tese que advoga que deve ser desconsiderado o evento jurídico em que se deu a integralização de capital na empresa Santander Holding, com as ações do Banespa, conflita com o entendimento de que não se pode dizer que a empresa Santander Holding Ltda, por ser subsidiária de empresa estrangeira não pode ser considerada contribuinte para fins de amortização do ágio, mas que possui legitimidade passiva para adimplir os tributos exigidos. No caso concreto, ou se avaliam os atos em seu conjunto, como se sendo lances de uma mesma partida, conforme especificado no item 7 deste voto e se reconhece sua existência, ou se avaliam os eventos de forma individualizada e também se admite a amortização do ágio. O que não pode existir é, na avaliação do mesmo negócio jurídico (a aquisição das ações do Banespa), adotar parâmetros de avaliação divergentes. 12. Da utilização do mesmo laudo de avaliação do Banespa, baseado em expectativa futura, para mais de uma operação? Argumentouse, no decorrer do processo, não ser possível a utilização do mesmo laudo de avaliação do Banespa, baseado em expectativa futura, para mais de uma operação. Entendo que, o laudo de avaliação baseado em expectativa de lucro futuro deve refletir a situação da empresa, nada obstando que este laudo sirva para justificar mais de uma transação. Imaginemos, por hipótese, que se avalie a expectativa de resultado futuro de uma empresa encontrando certo valor. Nada impede que a alienação das ações ocorra de forma fracionada a mais de uma pessoa jurídica, tudo baseado no mesmo laudo. Numa S/A, por exemplo, não teria nexo exigir um laudo para cada lote ações vendidas. 13. Da análise da possibilidade do Banespa incorporar a empresa Santander Holding, beneficiandose com ágio Quando tratei da definição e dos requisitos para dedução do ágio, fiz referência no artigo 8º da Lei nº 9.532, de 1997, o qual prevê a possibilidade de amortização do ágio, fundado na expectativa de lucro, quando a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. Apoiado em doutrina de Ricardo Mariz de Oliveira mostrei que esta norma trouxe o reconhecimento do que normalmente se chama de down stream que é incorporação de cima para baixo, isto é, a pessoa jurídica investida incorporar a investidora, porque, normalmente é de baixo para cima, a investidora absorve a investida, substitui a participação societária pelo ativo incorporado” 17. A regra contida no artigo 8º da Lei nº 9.532, de 1997 está repetida no inciso artigo 386, § 6º, II, do Regulamento do Imposto de Renda de 1999. Assim, não há como 17 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de, Planejamento E Exigências Tributárias Cisão, Fusão E Incorporação Como Instrumentos D Planejamento Tributário. Revista de Estudos Tributários nº 5 jan/fev de 1999, pág. 120). Fl. 125DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL Processo nº 16561.000222/200872 Acórdão n.º 140200.802 S1C4T2 Fl. 126 126 acolher a acusação contida à fl. 5 do termo de verificação fiscal quando menciona “de que o Banespa não preencheu as condições impostas pelo legislador para deduzir os encargos de amortização do ágio em comento, para efeito de apuração das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL.” 14. Da análise que indaga se caso outra empresa que participou do leilão tivesse adquirido as ações do Banespa, com ágio, se poderia amortizálo A possibilidade de amortização do ágio, na forma posta nos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, se constituía em benefício fiscal concedido a todos os contribuintes que em seus atos negociais adquirissem participação societária com ágio. Assim, qualquer um dos que fosse vencedor do leilão ou que adquirisse participação societária poderia deduzir o ágio, na proporção de 1/60 (um sessenta avos) por mês, no máximo, para cada mês do período de apuração. Em conclusão Ninguém, de forma razoável, deixaria de presumir de que o ágio seria amortizado. Daí a observação de que tanto os procedimentos realizados para manter o sigilo, quanto os relacionados à amortização do ágio, devem ser vistos de forma indissociável, voltados a dois fins lícitos, quais sejam: a) vencer o leilão; b) amortizar o ágio. Aqui, diferentemente do que se verifica em certos planejamentos, temse meios lícitos para fins lícitos, ao passo que em outros se verificam meios lícitos para fins ilícitos. Em outras palavras, a participação do Banco Santander Hispano no leilão do Banespa deuse alicerçada em duas causas: a) manter o sigilo do lance para vencer o leilão; b) adotar os procedimentos necessários para possibilitar a dedução do ágio. Todas as operações foram pensadas e estruturadas antes do leilão. Assim, não se pode admitir como necessárias as estratégias adotadas para manter o sigilo do lance, propiciando que a União recebesse pelo Banco três vezes mais do que o valor ofertado pelo segundo concorrente e desconsiderar a parte da estrutura representada pelo ato de integralização de capital na empresa Santander Holding Ltda como se isto fosse uma fraude, negócio ilícito ou ineficaz para fins de amortização do ágio. Na realidade, a integralização do capital social na Santander Holding Ltda antes de ser entendido como ato ineficaz deve ser compreendido como o ato necessário para que dedução do ágio decorrente do valor pago pelas ações do Banespa. Isso posto, voto no sentido de dar provimento ao recurso, resultando prejudicados os demais pontos suscitados pelas partes. (assinado digitalmente) Moisés Giacomelli Nunes da Silva Fl. 126DF CARF MF Emitido em 23/12/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRAGA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/ 12/2011 por ALBERTINA SILVA SANTOS DE LIMA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por ANTONIO JOSE PRA GA DE SOUZA, Assinado digitalmente em 23/12/2011 por LEONARDO HENRIQUE MAGALHAES DE, Assinado digita lmente em 23/12/2011 por MOISES GIACOMELLI NUNES DA SIL
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Numero do processo: 19515.003265/2004-20
Turma: Segunda Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Oct 18 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Tue Oct 18 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ
Ano-calendário: 1999, 2000
LUCRO PRESUMIDO. OMISSÃO DE RECEITAS. FALTA DE ESCRITURAÇÃO DE PAGAMENTOS. Tem-se a omissão de receitas quando constatada a falta de escrituração de valores recebidos.
DECADÊNCIA. O IRPJ, PIS, COFINS e CSLL inserem-se no rol dos
tributos sujeitos ao lançamento por homologação, conforme o disposto no § 4° do art. 150 do CTN.
TRIBUTAÇÕES REFLEXAS. Aplica-se aos lançamentos reflexos de PIS,
COFINS e CSLL o que foi decidido quanto à exigência matriz, devido à íntima relação de causa e efeito existente entre eles.
Numero da decisão: 1202-000.599
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar
provimento ao recurso, nos termos do relatorio e votos que integram o presente julgado.
Matéria: IRPJ - AF- lucro presumido(exceto omis.receitas pres.legal)
Nome do relator: Nereida de Miranda Finamore Horta
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OMISSÃO DE RECEITAS. FALTA DE ESCRITURAÇÃO DE PAGAMENTOS. Temse a omissão de receitas quando constatada a falta de escrituração de valores recebidos. DECADÊNCIA. O IRPJ, PIS, COFINS e CSLL inseremse no rol dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, conforme o disposto no § 4° do art. 150 do CTN. TRIBUTAÇÕES REFLEXAS. Aplicase aos lançamentos reflexos de PIS, COFINS e CSLL o que foi decidido quanto à exigência matriz, devido à íntima relação de causa e efeito existente entre eles. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do relatorio e votos que integram o presente julgado. (documento assinado digitalmente) Nelson Lósso Filho Presidente. (documento assinado digitalmente) Nereida de Miranda Finamore Horta Relatora Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Nelson Losso Filho, Carlos Alberto Donassolo, Viviane Vidal Wagner, Nereida de Miranda Finamore Horta, Geraldo Valentim Neto e Orlando Jose Gonçalves Bueno Fl. 1DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT Processo nº 19515.003265/200420 Acórdão n.º 120200.599 S1C2T2 Fl. 553 2 Relatório Tratase de Recurso de Ofício oriundo de procedimento fiscal que teve início em 8 de outubro de 2002, contra a contribuinte Editora Escala Ltda. buscando apurar eventuais irregularidades no período de janeiro/1999 a dezembro/1.999, e o 1º Trimestre de 2000. Com o início da ação fiscal, procedeuse a circularização em diversos fornecedores da contribuinte e, após a análise de documentos, verificouse a ausência de escrituração das notas fiscais descritas em planilha de fls. 175/181. A contribuinte foi intimada para esclarecer a referida ausência, mas suas manifestações não foram suficientes para sanar a questão. Assim sendo, a autoridade fiscal entendeu que ocorreu a omissão de receitas para fins de apuração do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ e seus reflexos, e lavrou o Auto de Infração, o qual foi recebido em 22 de dezembro de 2004, como abaixo descritos, acrescido de multa de ofício de 75% e juros calculados com base na taxa SELIC: IRPJ (fl. 202/204) – valor do crédito apurado R$ 673.930,73; contribuição ao PIS (fl. 209/211) valor do crédito apurado R$ 220.175,92; COFINS (fl. 216/218) valor do crédito apurado R$ 1.015.466,79; CSLL – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (fl. 223/225) valor do crédito apurado R$ 462.573,35. As impugnações referentes a cada um dos tributos foi apresentada tempestivamente, em diferentes petições, a saber: IRPJ, em fls. 249/261; CSLL – fls. 407/423; PIS – fls. 427/423 e COFINS – fls. 448/464. Todavia, como as discussões são similares e derivam do relatório constante do voto da DRJ/SPOI, apresentase a matéria discutida em todas as impugnações de forma única. Em breve síntese, a matéria discutida diz respeito à decadência do direito de lançar do fisco em relação ao período anterior à 22 de dezembro de 1999, bem como à ilegalidade do cálculo dos juros com base na taxa Selic. Com isso, requer a nulidade dos autos de infração com a conseqüente impossibilidade de cobrança dos mesmos. A contribuinte juntou em sua impugnação cópias das DCTF – Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais e DARF Documento de Arrecadação de Receitas Federais, referentes ao pagamento dos valores que apurou e entendia serem devidos. A 7ª Turma da Delegacia de Julgamento da Receita Federal decidiu no Acórdão n° 14.905, de 26/09/2007, (fls 486502) pela procedência dos lançamentos referentes aos fatos geradores dos 1°. 2° e 3° trimestres de 1999 e considerou não impugnado os fatos geradores incluídos no 4° trimestre de 1999 e 1° trimestre de 2000 para todos os tributos. O processo foi encaminhado ao órgão de origem para ciência da contribuinte e demais providências. No entanto, houve divergência da conclusão do acórdão com o objeto do pedido da contribuinte, suscitado pelo órgão de origem (DERAT/SP), desse modo, o processo foi devolvido para revisão e esclarecimento do teor do acórdão. Fl. 2DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT Processo nº 19515.003265/200420 Acórdão n.º 120200.599 S1C2T2 Fl. 554 3 O órgão preparador reconheceu incompatibilidade insanável entre as razões de decidir do acórdão e parte dos fatos narrados nas petições de impugnação (especialmente, pela falta de compatibilidade entre os períodos excluídos na impugnação e os excluídos no texto do acórdão), decidiuse pelo cancelamento de referido acórdão, motivando a prolação de nova decisão. Vale transcrever trecho da decisão da DRJ/SPOI, do acórdão sob exame, de modo a afastar dúvidas (fls 523): “Inicialmente, em atenção à divergência apontada pelo órgão preparador, suscitando a revisão do acórdão n° 14.905, prolatado em 26/09/2007 (fls.486/502), verificase que, efetivamente, há incompatibilidade insanável entre a conclusão do mencionado acórdão com parte dos fatos apresentados na impugnação, quais sejam, os lançamentos referentes ao PIS/COFINS de outubro e novembro de 1999, uma yez que concluiuse naquele acórdão que esses lançamentos não teriam sido impugnados, quando resta claro, pela leitura da impugnação relativa a essas contribuições, que a impugnante declarou fora do objeto da impugnação somente os fatos geradores compreendidos entre dezembro de 1999 e março de 2000, conforme transcrição do trecho da impugnação (fls.443 e 464): "34. Por fim, a Impugnante informa que está tomando as medida (sic) necessárias ao parcelamento dos débitos referentes aos períodos compreendidos entre dezembro de 1999 e março de 2000, também lançados no auto de infração ora combatido, os quais, contudo, não são objeto da presente Impugnação" (grifos meus) Assim, cancelase o acórdão n° 14.905 e prolatase a presente decisão em conformidade com o artigo 22, § 1° combinado com o artigo 27, ambos da Portaria MF n° 58/2006, para abarcar também os períodos 'de outubro e novembro de 1999 para o PIS e COFINS e, evidentemente, efetuar as alterações necessárias à luz da legislação atual em vigor, aplicável ao caso.” (fl. 523) Ultrapassando tal ponto, cabe o exame da decisão sob julgamento no Acórdão 1619.186, de 28 de outubro de 2008. A decisão salienta, de início, que o período discutido cingese ao 1º, 2º e 3º trimestres de 1999 para o IRPJ e CSLL, e de janeiro a novembro de 1999 para a contribuição ao PIS e para Cofins, em virtude da declaração expressa de não impugnálos. A preliminar de nulidade dos autos restou afastada, por ausência de hipóteses legais que autorizam o seu reconhecimento tal qual definidas nos incisos I e II, do artigo 59 do Decreto n. 70.235/1972, com alterações introduzidas pela Lei n. 8748/1993. Ainda em sede de preliminar, examinando a alegação de decadência, verificouse a ocorrência de pagamentos referentes ao período de 1999, exceto para a COFINS nos meses de novembro e dezembro de 1.999. Fl. 3DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT Processo nº 19515.003265/200420 Acórdão n.º 120200.599 S1C2T2 Fl. 555 4 Para o exame da decadência, partiu a DRJ da premissa de que para a aplicação do disposto no artigo 150, §4º, do CTN, há que se verificar se houve ou não pagamentos dos tributos, uma vez que entende que não é possível de se homologar o ato de pagamento sem que tenha ocorrido. Se houver pagamento, devese aplicar o disposto no artigo 173, I, do mesmo CTN, isto é, 5 anos contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter ocorrido. Esse mesmo entendimento consta do Parecer PGFN/CAT N° 1617, de 1° de agosto de 2008, item 40, o qual aqui transcrevo: “40.Do que, então, emerge mais uma conclusão: o pagamento antecipado da contribuição (ainda que parcial) suscita a aplicação da regra especial, isto é, do § 4° do art. 150 do CTN, a inexistência de pagamento justifica a utilização da regra do art. 173 do CTN, para efeitos de fixação do dies a quo dos prazos de caducidade, projetados nas contribuições previdenciárias. Isto é, no que se refere à contagem dos prazos de decadência. Tal concepção, em princípio, pode ser aplicada para todos os tributos federais, e não somente, para as contribuições previdenciárias.” Em pesquisa aos sistemas da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), foi constatado que houve pagamentos relativos ao anocalendário de 1999 dos tributos com base no regime do lucro presumido (fls.513/519), com exceção para a COFINS nos meses de novembro e dezembro de 1999. A conclusão da DRJ foi por exonerar os créditos tributários relativos ao IRPJ e CSLL (referentes ao 1º, 2º e 3º trimestres de 1999), da contribuição ao PIS, no período de janeiro a novembro de 1999, e da COFINS relativa ao período entre janeiro a outubro do mesmo ano, pelo transcurso do prazo de 5 anos para se efetivar o lançamento, nos termos do artigo 150, §4º do CTN – Código Tributário Nacional. No entanto, entendeu a DRJ que não ocorreu a decadência para a COFINS relativa ao mês de novembro de 1999, já que a ciência dos autos se deu em 22 de dezembro de 2004 e a decadência só se operaria em 1º de janeiro de 2005. O mesmo raciocínio foi aplicado para os fatos geradores ocorridos a partir de dezembro de 1999 de todos os tributos sob análise nesse processo. Em conclusão, aplicouse aos tributos referidos, com ocorrência de pagamentos, a regra do artigo150, § 4º, do CTN e à COFINS de novembro, por inexistência de pagamento, o disposto no artigo173, I, do CTN. No mérito, não houve impugnação em relação à autuação por omissão de receitas, motivo pelo qual a manutenção da interpretação do fisco sobre a questão deve ser mantida, como também conclui o voto pela legalidade da aplicação da taxa Selic, afastando as alegações da impugnante. Assim, julgouse procedente em parte a impugnação efetuada pela contribuinte, exonerandose do crédito apurado as seguintes importâncias: Fatos Geradores IRPJ Multa 31/03/1999 4.774,45 3.580,83 30/06/1999 47.550,28 35.662,71 Fl. 4DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT Processo nº 19515.003265/200420 Acórdão n.º 120200.599 S1C2T2 Fl. 556 5 30/09/1999 89.939,63 67.453,72 Fatos Geradores PIS Multa 31/01/1999 170,80 128,10 28/02/1999 105,24 78,93 31/03/1999 1.275,65 956,73 30/04/1999 3.967,71 2.975,78 31/051999 5.962,35 4.471,76 30/06/1999 5.523,77 4.142,82 30/07/1999 7.044,73 5.283,54 31/08/1999 10.356,34 7.767,25 30/09/1999 11.829,30 8.871,97 31/10/1999 7.410,56 5.557,92 30/11/1999 7.948,64 5.961,48 Fatos Geradores Cofins Multa 31/01/1999 525,54 394,15 28/02/1999 485,74 364,10 31/03/1999 5.887,63 4.415,72 30/04/1999 18.312,52 13.734,39 31/05/1999 27.512,57 20.638,92 30/06/1999 25.494,34 19.120,75 30/07/1999 32.514,14 24.385,89 31/08/1999 47.789,53 35.848,89 30/09/1999 54.596,77 40.947,57 30/10/1999 34.202,62 25.651,96 Fatos Geradores CSLL Multa 31/03/1999 2.291,74 1.718,80 30/06/1999 31.350,59 23.479,19 30/09/1999 64.756,53 48.567,39 Em virtude da exoneração das importâncias acima descritas, é trazida para apreciação deste Conselho para julgamento do Recurso de Ofício. É o Relatório. Voto Conselheira Nereida de Miranda Finamore Horta Recurso preenche os requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Tratase de Recurso de Ofício que foi submetido à apreciação desse Conselho de Contribuintes por força do crédito exonerado no processo ser superior a R$ 1.000.000,00 (um milhão de Reais), nos termos do de acordo com o art. 34 do Decreto n.° 70.235/1972 e alterações introduzidas pela Lei n.° 8.748/1993 e artigo 1º da Portaria MF n.° 3/2008. Fl. 5DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT Processo nº 19515.003265/200420 Acórdão n.º 120200.599 S1C2T2 Fl. 557 6 O lançamento é datado de 21 de dezembro de 2002, tendo sido recebido em 22 de dezembro do mesmo ano, exigindo IRPJ e reflexos na CSLL, na contribuição ao PIS e na COFINS, com aplicação de multa de ofício 75% e juros calculados com base na taxa SELIC para os trimestres de 1999 e o 1º trimestre de 2000. Entendeu a DRJ que, para os tributos nos quais se verificou o pagamento, aplicase o disposto no artigo 150, § 4º, do CTN, portanto, exonerou os créditos tributários relativos ao IRPJ e CSLL, relativos aos 1º, 2º e 3º trimestres de 1999, à contribuição ao PIS, no período de janeiro a novembro de 1999, e à COFINS, relativa ao período de janeiro a outubro do mesmo ano, pelo transcurso do prazo de 5 anos para se efetivar o lançamento. Portanto, esse Recurso de Ofício abarca somente esses créditos exonerados. Concordo com o entendimetno da DRJ, como abaixo explico. Dispõe o artigo 150, § 4º, do CTN , in verbis: “Art. 150 – O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. ................................ §4º Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considerase homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.” No âmbito administrativo, homologação significa o ato pelo qual a autoridade administrativa competente confirma ou ratifica atos particulares, a fim de instituir validade jurídica aos mesmos. Assim, conforme o disposto no artigo 142 do CTN, os atos de apuração do crédito tributário, que compreendem: i) verificação da ocorrência do fato gerador; ii) a determinação da matéria tributável; e iii) o cálculo do montante do tributo devido, são todos privativos da autoridade administrativa. Quando praticados pelo particular, reclamam a figura jurídica da homologação e, após ela, passam a ser tidos, todos eles, como atos administrativos, que embora não praticados pela autoridade competente, assumem o caráter de tais atos. Colocando o disposto no parágrafo anterior no caso sob análise, temos que a apuração do crédito tributário executada pelo sujeito passivo da qual pode resultar ou não em crédito tributário devido poderá ser homologada. Após a homologação, considerase a apuração como se houvesse sido praticada pela autoridade administrativa competente. São considerados tributos sujeitos ao lançamento por homologação o IRPJ e seus reflexos (CSLL, contribuição ao PIS e COFINS), tendo em vista que são “tributos cuja legislação atribua ao sujeito o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa” e “operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa”. Assim sendo, o prazo decadencial para o lançamento de eventuais diferenças é de cinco anos a contar do fato Fl. 6DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT Processo nº 19515.003265/200420 Acórdão n.º 120200.599 S1C2T2 Fl. 558 7 gerador. Somente no caso em que a autoridade não toma conhecimento da atividade exercida pela contribuinte (omissão completa) ou na ocorrência de dolo, fraude ou simulação é que o dies a quo do prazo deslocase do fato gerador para o primeiro dia do exercício seguinte àquele no qual o lançamento poderia ter sido efetuado (artigo 173, inciso I, do CTN). O auto de infração foi lavrado em 21 de dezembro de 2002, referente aos 1º, 2º e 3º Trimestres de 1999, para o IRPJ e CSLL, e janeiro a novembro do mesmo ano, para a contribuição ao PIS e a COFINS. Assim sendo, como foi a contribuinte que apurou a base de cálculo dos tributos devidos, aplicase inequivocadamente a regra prevista no artigo 150, § 4º, do CTN, segundo a qual, o prazo para homologação da atividade realizada pelo sujeito passivo é de cinco anos, contados do fato gerador do tributo. Ou seja, o prazo de 5 anos se findou em setembro de 1999, para o IRPJ e a CSLL, e outubro e novembro de 1999, para a COFINS e a contribuição ao PIS, antes da lavratura do Auto de Infração, que foi em 21 de dezembro de 2002, logo, a decadência atingiu o direito de constituir o crédito tributário relativo ao fato gerador ocorrido em 31 de dezembro de 1996. Na mesma linha da DRJ que vai ao encontro do acima disposto, temos a decisão no Recurso Especial Nº 674.497 PR (2004/01099782) do Superior Tribunal de Justiça: “PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. RECOLHIMENTOS NÃO EFETUADOS E NÃO DECLARADOS. ART. 173, I, DO CTN. DECADÊNCIA CONSUMADA. MATÉRIA SUBMETIDA AO REGIME DO ART. 543C DO CPC (RECURSOS REPETITIVOS). OMISSÃO. NÃO OCORRÊNCIA. REDISCUSSÃO DO MÉRITO. CARÁTER PROTELATÓRIO. MULTA. 1. O aresto embargado foi absolutamente claro e inequívoco ao consignar que "em se tratando de constituição do crédito tributário, em que não houve o recolhimento do tributo, como o caso dos autos, o fisco dispõe de cinco anos contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Somente nos casos de tributo sujeito a lançamento por homologação, em que o pagamento foi feito antecipadamente, o prazo será de cinco anos a contar do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN)". 2. Devem ser repelidos os embargos declaratórios manejados com o nítido propósito de rediscutir matéria já decidida. 3. Embargos de declaração rejeitados com aplicação de multa de 1% (um por cento) sobre o valor da causa atualizado.” Quanto aos demais tributos, CSLL, contribuição ao PIS e COFINS, com base na Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal nº 8, aplicase às contribuições previdenciárias o mesmo prazo decadencial atribuído aos tributos, portanto, mantémse o mesmo entendimento acima também para os lançamentos reflexos. Em suma, concordo com a conclusão da DRJ nos termos que acima exposto e voto por negar provimento ao Recurso de Ofício. É como voto. Fl. 7DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT Processo nº 19515.003265/200420 Acórdão n.º 120200.599 S1C2T2 Fl. 559 8 (documento assinado digitalmente) Nereida de Miranda Finamore Horta – Relatora Fl. 8DF CARF MF Impresso em 16/04/2012 por ANDREA FERNANDES GARCIA - VERSO EM BRANCO CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORT, Assinado digitalmente e m 14/04/2012 por NELSON LOSSO FILHO, Assinado digitalmente em 10/04/2012 por NEREIDA DE MIRANDA FINA MORE HORT
score : 1.0
Numero do processo: 10840.002940/2007-80
Turma: Segunda Turma Ordinária da Primeira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Primeira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 24 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Wed Aug 24 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF
Exercício: 2007
IRPF. DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. OBRIGATORIEDADE POR
SER SÓCIO DE EMPRESA.
Está obrigada a apresentar a Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda a pessoa física residente no Brasil, que, no ano-calendário, participou do quadro societário de empresa como titular, sócio ou acionista, ou de cooperativa.
Estando o contribuinte obrigado à entrega da declaração de rendimentos, sua não apresentação no prazo estabelecido impõe a aplicação da multa por atraso na entrega correspondente a 1% ao mês ou fração sobre o imposto devido, limitada a 20%, com multa de no mínimo R$ 165,74.
Não há provas suficientes para demonstrar que a empresa está inapta.
IRPF. DENÚNCIA ESPONTÂNEA.
No caso de infração formal (inobservância de obrigação acessória), sem qualquer vínculo com o fato gerador de tributo, não se aplica o instituto da denuncia espontânea.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 2102-001.505
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em NEGAR
provimento ao recurso.
Matéria: IRPF- auto infração - multa por atraso na entrega da DIRPF
Nome do relator: Francisco Marconi de Oliveira
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DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. OBRIGATORIEDADE POR SER SÓCIO DE EMPRESA. Está obrigada a apresentar a Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda a pessoa física residente no Brasil, que, no anocalendário, participou do quadro societário de empresa como titular, sócio ou acionista, ou de cooperativa. Estando o contribuinte obrigado à entrega da declaração de rendimentos, sua não apresentação no prazo estabelecido impõe a aplicação da multa por atraso na entrega correspondente a 1% ao mês ou fração sobre o imposto devido, limitada a 20%, com multa de no mínimo R$ 165,74. Não há provas suficientes para demonstrar que a empresa está inapta. IRPF. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. No caso de infração formal (inobservância de obrigação acessória), sem qualquer vínculo com o fato gerador de tributo, não se aplica o instituto da denuncia espontânea. Recurso Voluntário Negado Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em NEGAR provimento ao recurso. (ASSINADO DIGITALMENTE) Giovanni Christian Nunes Campos – Presidente Fl. 53DF CARF MF Emitido em 04/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 12/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/09/2011 por GIOVANNI CHRIST IAN NUNES CAMPO 2 (ASSINADO DIGITALMENTE) Francisco Marconi de Oliveira – Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Giovanni Christian Nunes Campos (Presidente), Francisco Marconi de Oliveira, Núbia Matos Moura, Carlos André Rodrigues Pereira Lima, Roberta de Azeredo Ferreira Pagetti e Atílio Pitarelli. Relatório A contribuinte acima identificada foi autuada, por meio de Auto de Infração (fls. 20), em decorrência da entrega da Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda fora do prazo, referente ao exercício 2007, com aplicação da multa de R$ 165,00 (cento e sessenta e cinco reais). Apresentou impugnação contestando o valor da multa, por considerar que a responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, conforme art. 138 do Código Tributário Nacional. A 10ª Turma de Julgamento da DRJ/SPO II decidiu, por unanimidade de votos, considerar procedente o lançamento, mantendo a exigência da multa por atraso na entrega da declaração. O voto é fundamentado na legislação pertinente ao caso, que é a Instrução Normativa SRF nº 716/2007, art. 1º, incisos I e IV, a Lei nº 8.981/1995, art. 88, e a Lei nº 9.532/1977, art. 27, que sancionam tal conduta com aplicação da multa por atraso da entrega da declaração. A recorrente recebeu ciência do julgamento de primeira instância em 3 de julho de 2008 (fl. 28, verso) e, representada por terceiro (procuração, fl. 16), apresentou recurso voluntário no dia 4 de junho do mesmo ano (fl. 26). Alega em seu recurso que entregou a IRPF 2007, anocalendário 2006, em “01.10.2007, após o prazo final de entrega, de forma espontânea, sem qualquer procedimento da fiscalização em exigilas” e pede que se afaste a responsabilidade tributária com base no artigo 138 do CTN – denúncia espontânea. Transcreve farta jurisprudência administrativa e judicial, bem como entendimentos doutrinários correlatos. É o relatório. Fl. 54DF CARF MF Emitido em 04/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 12/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/09/2011 por GIOVANNI CHRIST IAN NUNES CAMPO Processo nº 10840.002940/200780 Acórdão n.º 2102001.505 S2C1T2 Fl. 52 3 Voto Conselheiro Francisco Marconi de Oliveira Declarase a tempestividade, uma vez que a contribuinte interpôs recurso voluntário no prazo regulamentar. Atendidos os demais requisitos legais, passase a apreciar o recurso. A matéria em litígio envolve multa por atraso na entrega da Declaração de Ajuste Anual do Imposto de Renda Pessoa Física, exercício 2007, haja vista que é sócia de empresa e a declaração foi entregue em 1º de outubro de 2010 (fl. 20), portanto fora do prazo legalmente estabelecido. A Lei nº 9.250/1995 determina a apresentação, anualmente, até o último dia útil do mês de abril do anocalendário subsequente, da declaração de rendimentos em modelo aprovado pela Secretaria da Receita Federal. A exigência da multa em exame está amparada no artigo 88 da Lei nº 8.981/1995, que sujeita á multa a pessoa física ou jurídica que deixar de apresentar a declaração de rendimentos ou a entregála fora do prazo fixado, nos termos dos incisos a seguir transcritos: I à multa de mora de um por cento ao mês ou fração sobre o Imposto de Renda devido, ainda que integralmente pago; (Vide Lei nº 9.532, de 1997). II à multa de duzentas Ufirs a oito mil Ufirs, no caso de declaração de que não resulte imposto devido. § 1º O valor mínimo a ser aplicado será: a) de duzentas Ufirs, para as pessoas físicas; O valor da multa foi convertido em reais pela Lei nº 9.532/1997: Art. 27. A multa a que se refere o inciso I do art. 88 da Lei nº 8.981, de 1995, é limitada a vinte por cento do imposto de renda devido, respeitado o valor mínimo de que trata o §1º do referido art. 88, convertido em reais de acordo com o disposto no art. 30 da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995. De acordo com o artigo 16 da Lei nº 9.779, de 1999, compete à Secretaria da Receita Federal dispor sobre as obrigações acessórias relativas aos impostos e contribuições por ela administrados, estabelecendo forma, prazo e condições para o seu cumprimento e o respectivo responsável. Por participar do quadro societário como titular de pessoa jurídica, a contribuinte encontravase obrigada à apresentação da declaração de rendimentos do exercício questionado. Observase que a contribuinte possui uma empresa “ativa regular” em seu nome, na cidade de São Paulo, cuja consulta aos sistemas informatizados da RFB encontrase anexada à folha 22. Fl. 55DF CARF MF Emitido em 04/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 12/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/09/2011 por GIOVANNI CHRIST IAN NUNES CAMPO 4 Não se sustenta a argumentação da denuncia espontânea, pois o Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem decidindo que, no caso de infração formal (inobservância de obrigação acessória), sem qualquer vínculo com o fato gerador de tributo, não se aplica o instituto, como registrados no RESP 246.960/RS, de 09/10/2001 e no ERESP n° 246.295/RS, de 18/06/2001. É igual o entendimento deste tribunal administrativo. Decisões da Câmara Superior de Recursos Fiscais sedimentaram que o instituto da denúncia espontânea não alberga a prática de ato puramente formal de o contribuinte entregar, com atraso, a declaração de rendimentos, porquanto as responsabilidades acessórias autônomas, sem qualquer vínculo direto com a existência do fato gerador do tributo, não estão alcançadas pelo art. 138 do CTN. Diante do exposto, conheço do recurso e voto para negarlhe provimento. (ASSINADO DIGITALMENTE) Francisco Marconi de Oliveira – Relator Fl. 56DF CARF MF Emitido em 04/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 12/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 1 2/09/2011 por FRANCISCO MARCONI DE OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/09/2011 por GIOVANNI CHRIST IAN NUNES CAMPO
score : 1.0
Numero do processo: 13116.000249/2005-82
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Mon Jul 25 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Mon Jul 25 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL ITR
Exercício: 2002
ITR ÁREA DE UTILIZAÇÃO LIMITADA AUSÊNCIA DE ATO DECLARATÓRIO AMBIENTAL ADA E DE AVERBAÇÃO.
A norma expressa no artigo 17O da Lei n° 6.938/81, com a redação que lhe foi dada pela Lei 10.165/2000, não é taxativa quanto à exigência de apresentação tempestiva do ADA para fins de exclusão da base de cálculo do ITR das áreas de preservação permanente e de utilização limitada. O ADA restringe-se a informações prestadas pelo contribuinte ao órgão ambiental acerca da existência de áreas de interesse ecológico.
Como regra, para que a área de reserva legal possa ser excluída da base de cálculo do ITR, ela deve estar averbada à margem da matrícula do imóvel.
Esta obrigação decorre de imposição legal, mais precisamente da
interpretação harmônica e conjunta do disposto nas Leis nos 9.393/96 e 4.771/65 (Código Florestal). A averbação pode se dar após a ocorrência do fato gerador.
No entanto, no caso, o contribuinte não apresentou o ADA, não averbou a área de reserva legal e não trouxe nenhum elemento que pudesse comprovar a sua materialidade.
Recurso especial provido.
Numero da decisão: 9202-001.627
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar
provimento ao recurso.
Matéria: ITR - ação fiscal - outros (inclusive penalidades)
Nome do relator: Gonçalo Bonet Allage
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A norma expressa no artigo 17O da Lei n° 6.938/81, com a redação que lhe foi dada pela Lei 10.165/2000, não é taxativa quanto à exigência de apresentação tempestiva do ADA para fins de exclusão da base de cálculo do ITR das áreas de preservação permanente e de utilização limitada. O ADA restringese a informações prestadas pelo contribuinte ao órgão ambiental acerca da existência de áreas de interesse ecológico. Como regra, para que a área de reserva legal possa ser excluída da base de cálculo do ITR, ela deve estar averbada à margem da matrícula do imóvel. Esta obrigação decorre de imposição legal, mais precisamente da interpretação harmônica e conjunta do disposto nas Leis nos 9.393/96 e 4.771/65 (Código Florestal). A averbação pode se dar após a ocorrência do fato gerador. No entanto, no caso, o contribuinte não apresentou o ADA, não averbou a área de reserva legal e não trouxe nenhum elemento que pudesse comprovar a sua materialidade. Recurso especial provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 1DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 203 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso. (Assinado digitalmente) Otacílio Dantas Cartaxo Presidente (Assinado digitalmente) Gonçalo Bonet Allage – Relator EDITADO EM: 04/08/2011 Participaram, do presente julgamento, os Conselheiros Otacílio Dantas Cartaxo (Presidente), Susy Gomes Hoffmann (VicePresidente), Elias Sampaio Freire, Gonçalo Bonet Allage, Giovanni Christian Nunes Campos (Conselheiro convocado), Manoel Coelho Arruda Junior, Gustavo Lian Haddad, Francisco de Assis Oliveira Junior, Rycardo Henrique Magalhães de Oliveira e Marcelo Oliveira. Relatório Em face de Camilo Jorge Cury foi lavrado o auto de infração de fls. 0208, para a exigência de imposto sobre a propriedade territorial rural, exercício 2002, em razão da glosa de áreas declaradas como sendo de preservação permanente (pela não apresentação de laudo e pela ausência de apresentação tempestiva do Ato Declaratório Ambiental – ADA) e de utilização limitada (pela falta de averbação e pela ausência de apresentação tempestiva do ADA), além da glosa de área de pastagens e da majoração do VTN, relativamente ao imóvel denominado Fazenda Santa Frutuosa, situado no município de Nova Roma (GO). A autoridade lançadora justificou a constituição do crédito tributário da seguinte forma (fls. 0607): Falta de recolhimento do Imposto Sobre a Propriedade Territorial Rural, exercício de 2001 (sic), apurado após a alteração da declaração do contribuinte, conforme art. 14 da Lei 9393/96, por não terem sido comprovadas as informações nela contida, com respeito aos itens abaixo: Área de preservação permanente: Não apresentação do Laudo elaborado por Eng.° ou Florestal, informando as áreas que se enquadram no art. 2° e 3° da Lei 4771/65 (redação dada pelo art. L° da Lei 7803/89), conforme art. 10, § l°, inciso II, letra 'a' da Lei 9393/96, e art. 11 do Decreto 4382/02, e não comprovação da solicitação de emissão do Ato Declaratório Ambiental junto ao IBAMA, conforme art. 170 da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, com a redação dada pela Lei n° 10.165, de 27 de dezembro de 2000, em data anterior à Fl. 2DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 204 3 estipulada no art. 9°, §3°, inciso I da Instrução Normativa 256/02, sendo desconsiderado o valor declarado; Área de utilização limitada: Não apresentação de documentação probatória da reserva em cartório de registro de imóveis, à margem da matrícula do imóvel, conforme art. 10, § l°, inciso II, letra 'a' da Lei 9393/96, e arts. 16, §8° e 44A da Lei 4771/65 (redação dada pelo art. 1° da MP 216667 de 25/08/2001), em data anterior à do fato gerador do ITR (01/01/2000) sic, conforme art. 12 § l° do Decreto 4.382/02, e não comprovação da solicitação de emissão do Ato Declaratório Ambiental junto ao IBAMA, conforme art. 170, § l° da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, com a redação dada pela Lei n° 10.165, de 27 de dezembro de 2000, em data anterior à estipulada no art. 9° §3°, inciso I da Instrução Normativa 256/02, sendo desconsiderado o valor declarado; Utilização das pastagens: Não apresentação de Nota Fiscal de aquisição de vacinas, obrigatórias em maio e setembro de cada ano, conforme art. 3°, inciso I da Lei Estadual 13998/2001 e art. 14 do Decreto 5652/2002 do Governo do Estado de Goiás, ou de outro documento qualquer, probatória da existência de gado em suas pastagens durante o ano anterior ao do fato gerador, conforme art. 10, § l°, inciso V, letra 'b' da Lei 9393/96, arts. 18, inciso II, 24 e 25 do Decreto 4.382/02 e arts. 17, inciso II, 24 e 25 da Instrução Normativa 256/02, sendo desconsiderado o valor declarado; Valoração da Terra Nua: Não apresentação do Laudo de Avaliação de Imóveis Rurais, conforme NBR 14653 da ABNT, sendo, conforme art. 14 § l° da Lei 9393/96, substituído o Valor da Terra Nua por Hectare Declarado pelo Valor da Terra Nua por Hectare constante no SIPT (Sistema de Preços de Terras da Secretaria da Receita Federal). O contribuinte não protocolou o ADA e também não averbou a área de utilização limitada. As áreas de preservação permanente e de utilização limitada foram reduzidas de 1.835,2 ha para 0,0 ha e de 4.588,0 ha para 0,0 ha, respectivamente (fls. 02). A 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Brasília (DF) considerou o lançamento procedente (fls. 8494). Por sua vez, a Terceira Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, apreciando o recurso voluntário interposto pelo contribuinte, proferiu o acórdão n° 30333.888, que se encontra às fls. 141152, cuja ementa é a seguinte: Assunto: Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural ITR Exercício: 2002 Ementa: ITR/2002. SUJEITO PASSIVO. Rejeitada a preliminar quanto à argüição de ilegitimidade da parte passiva, posto que o contribuinte do imposto é o proprietário do imóvel, o titular de Fl. 3DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 205 4 seu domínio útil, ou o seu possuidor a qualquer título, nos termos dos artigos 29 e 31 do Código Tributário Nacional. ÁREAS DE PASTAGEM, VALOR TOTAL DO IMÓVEL E VALOR DA TERRA NUA. Não tendo o contribuinte apresentado argumentos, bem como provas, que refutem os valores atribuídos pela fiscalização, tomamse os valores autuados como válidos. ÁREA DE RESERVA LEGAL (ARL). A exigência de averbação da área de reserva legal à margem da matrícula do imóvel como précondição à isenção não encontra amparo legal. Não se admite que o Fisco afirme sustentação legal no Código Florestal para exigir averbação da área de reserva legal como obstáculo ao seu reconhecimento como área isenta no cálculo do ITR. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. É do sujeito passivo o ônus da prova de suas declarações quando contraditadas pelo fisco, enquanto não consumada a homologação. No caso concreto não foi apresentada nenhuma prova documental da existência de área de preservação permanente na propriedade rural. A decisão recorrida, por unanimidade de votos, afastou a preliminar de ilegitimidade passiva. No mérito, por maioria de votos, deu provimento parcial ao recurso voluntário para excluir a exigência relativa à área de reserva legal, vencidos os Conselheiros Silvio Marcos Barcelos Fiúza, Nanci Gama e Nilton Luiz Bártoli (Relator), que afastavam também a exigência da área de preservação permanente, e o Conselheiro Tarásio Campelo Borges, que negou provimento. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Sergio de Castro Neves (o Conselheiro Zenaldo Loibman restou designado ad hoc para redigir o voto vencedor). Intimada do acórdão em 09/11/2007 (fls. 153), a Fazenda Nacional interpôs, com fundamento no artigo 7°, inciso II, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais então vigente, recurso especial às fls. 158164, acompanhado dos documentos de fls. 165172, cujas razões podem ser assim sintetizadas: a) Com relação à área de reserva legal, a decisão recorrida diverge do acórdão n° 30238.588; b) A glosa da área de utilização limitada/reserva legal declarada (4.588,0 ha) deve ser mantida, por falta de averbação tempestiva da área à margem da matrícula do imóvel, no cartório competente, bem como de comprovação da exigência relativa ao Ato Declaratório Ambiental ADA, nos termos exigidos pela fiscalização. O contribuinte alega que não ocorreu a averbação do memorial descritivo, por estar a propriedade invadida por terceiros de boa fé ou por integrantes do MST, sem anexar documentos de prova; c) A obrigação de averbação da área de Reserva Legal, à margem da matrícula do imóvel, prevista originalmente na Lei n° 4.771/1965 Fl. 4DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 206 5 (Código Florestal), com a redação dada pela Lei n° 7.803/1.989, foi mantida nas alterações posteriores. Dessa forma, ao se reportar a essa lei ambiental, a Lei n° 9.393/1.996 está condicionando, implicitamente, a não tributação das áreas de reserva legal ao cumprimento da referida exigência; d) A necessidade de averbação da área de reserva legal foi expressamente inserida no art. 10, § 4°, inciso I, da IN/SRF/n° 43/1997, com redação do art. 1°, inciso II, da IN/SRF n° 67/1997, tendo sido ratificada nas INs posteriores; e) O O art. 16 da Lei n° 4.771/1965 Código Florestal, com as alterações introduzidas pela Lei n° 7.803/1989, determinava que a área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição da matrícula do imóvel no registro de imóveis competente; f) Posteriormente, o art. 1° da Medida Provisória n° 2.166/2001, embora tenha conferido nova redação ao citado artigo, manteve a obrigatoriedade da averbação da área de reserva legal, agora previsto no § 8° do art. 16 da referida Lei; g) Quanto ao prazo para o cumprimento dessa obrigação, devese considerar que o lançamento se reporta à data de ocorrência do seu fato gerador, conforme art. 144 do CTN, enquanto o art. 1°, caput, da Lei n°. 9.393/1996, estabelece como marco temporal do fato gerador do ITR o dia 1° de janeiro de cada ano; h) Assim, as áreas de utilização limitada/reserva legal somente serão excluídas de tributação, se cumprida a exigência de sua averbação à margem da matrícula do imóvel, até a data de ocorrência do fato gerador do ITR do correspondente exercício; i) Dessa forma, a averbação da área de utilização limitada/reserva legal, para fins de exclusão do ITR/2002, deveria ocorrer até 01/01/2002, data do respectivo fato gerador, nos termos do art. 1° da Lei n° 9.393/1996; j) Acrescentese que, tratandose de isenção ou exclusão da tributação, conforme determina o art. 111 do CTN, deve ser observado o rigor da interpretação literal da lei; k) Portanto, demonstrado o descumprimento da exigência anteriormente fundamentada, para fins de exclusão da área glosada pela fiscalização (4.588,0 ha), entendo que deva ser mantida a sua tributação; l) Além de ter sido descumprida essa exigência, conforme admite o próprio requerente, não houve a protocolização tempestiva do Ato Declaratório Ambiental – ADA junto ao IBAMA, aplicável também às áreas de preservação permanente, para fins de exclusão do ITR; Fl. 5DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 207 6 m) Requer seja conhecido e provido o recurso, a fim de reformar em parte o v. acórdão ora recorrido, restaurandose o inteiro teor da r. decisão de 1ª instância. Admitido o recurso por intermédio do Despacho n° 074/2008 (fls. 174176), o contribuinte foi intimado e deixou de se manifestar, conforme informou a repartição de origem às fls. 191193. É o Relatório. Voto Conselheiro Gonçalo Bonet Allage, Relator O Recurso Especial da Fazenda Nacional cumpre os pressupostos de admissibilidade e deve ser conhecido. Reitero que o acórdão proferido pela Terceira Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes, por unanimidade de votos, rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva e, no mérito, por maioria de votos, deu parcial provimento ao recurso voluntário para excluir da tributação a área de reserva legal declarada pelo contribuinte. Eis os fundamentos adotados pela decisão (fls. 147150): Com efeito, a Lei n.° 8.847, de 28 de janeiro de 1994, dispõe serem isentas do ITR as áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal (ARL), previstas na Lei n.° 4.771, de 15 de setembro de 1965. Tratase, portanto, de imposição legal. Tenho assentado o entendimento, inclusive ratificado por unanimidade de votos pelos pares da Câmara Superior de Recursos Fiscais, de que basta a simples declaração do interessado para gozar da isenção do ITR relativa às áreas de que trata a alínea "a" e "d" do inciso II, §1°, do artigo 10, da Lei n°. 9.393/96, entre elas as áreas de Preservação Permanente (APP) e de Reserva Legal (ARL), insertas na alínea "a", diante da modificação ocorrida com a inserção do §7°, no citado artigo, através da Medida Provisória n.° 2.16667, de 24 de agosto 2001 (anteriormente editada sob dois outros números). Até porque, no próprio §7°, encontrase a previsão legal de que comprovada a falsidade da declaração, o contribuinte (declarante) será responsável pelo pagamento do imposto correspondente, acrescido de juros e multa previstos em lei, sem prejuízo de outras sanções aplicáveis. Neste aspecto, a autuação não trouxe qualquer elemento que pudesse implicar na constatação de falsidade da declaração do contribuinte, elemento que poderia ensejar na cobrança do tributo, nos termos do já mencionado §7°. Aliás, a autoridade fiscal autuante poderia ter providenciado a fiscalização "in loco", com o fito de trazer provas suficientes Fl. 6DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 208 7 para descaracterizar a declaração do contribuinte, já que a regra isencional, in casu, não prevê prévia comprovação por parte do declarante. (...) Nesse ínterim, manifesto que tenho o particular entendimento de que a ausência de apresentação do Ato Declaratório Ambiental, ou da averbação da área junto ao registro de imóveis competente, poderia, quando muito, caracterizar um mero descumprimento de obrigação acessória, nunca o fundamento legal válido para a glosa das áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, mesmo porque, tal exigência não é condição ao aproveitamento da isenção destinada a tais áreas, conforme disposto no art. 3° da MP n°. 2.166, de 24 de agosto de 01, que alterou o art. 10 da Lei n°. 9.393, de 19 de dezembro de 1996. Portanto, quanto às áreas de preservação permanente e de utilização limitada, há que ser provido o Recurso Voluntário. A recorrente insurgiuse contra a exclusão da base de cálculo do ITR da área de reserva legal, suscitando que só faz jus a este benefício o contribuinte que tiver apresentado tempestivamente o ADA e promovido a averbação da respectiva área à margem da matrícula do imóvel, antes da ocorrência do fato gerador do tributo, o que não ocorre no caso em tela, invocando como paradigma o acórdão n° 30238.588. Eis a matéria em litígio. Pois bem, o artigo 10, § 1°, inciso II, alínea “a”, da Lei n° 9.393/96 tem a seguinte redação: Art. 10. A apuração e o pagamento do ITR serão efetuados pelo contribuinte, independentemente de prévio procedimento da administração tributária, nos prazos e condições estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal, sujeitandose a homologação posterior. § 1°. Para os efeitos de apuração do ITR, considerarseá: I VTN, o valor do imóvel, excluídos os valores relativos a: a) construções, instalações e benfeitorias; b) culturas permanentes e temporárias; c) pastagens cultivadas e melhoradas; d) florestas plantadas; II área tributável, a área total do imóvel, menos as áreas: a) de preservação permanente e de reserva legal, previstas na Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, com a redação dada pela Lei nº 7.803, de 18 de julho de 1989; Fl. 7DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 209 8 Portanto, de acordo com tal regra, as áreas de preservação permanente e de reserva legal, previstas no Código Florestal (Lei n° 4.771/65), estão excluídas da base de cálculo do ITR. As chamadas áreas de preservação permanente e de reserva legal ou de utilização limitada têm contornos estabelecidos pelos artigos 2°, 3° e 16 do Código Florestal, atualmente com a redação que lhe foi dada pela Medida Provisória n° 2.16667/2001, da seguinte forma: Art. 2°. Consideramse de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: 1 de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2 de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura; 3 de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4 de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 5 de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação. Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observarseá o Fl. 8DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 210 9 disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo. Art. 3º. Consideramse, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: a) a atenuar a erosão das terras; b) a fixar as dunas; c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares; e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; h) a assegurar condições de bemestar público. § 1°. A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social. § 2º As florestas que integram o Patrimônio Indígena ficam sujei.tas ao regime de preservação permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei. Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: I oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal; II trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7o deste artigo; III vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País; e Fl. 9DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 211 10 IV vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País. § 1°. O percentual de reserva legal na propriedade situada em área de floresta e cerrado será definido considerando separadamente os índices contidos nos incisos I e II deste artigo. § 2°. A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento, ressalvadas as hipóteses previstas no § 3o deste artigo, sem prejuízo das demais legislações específicas. § 3°. Para cumprimento da manutenção ou compensação da área de reserva legal em pequena propriedade ou posse rural familiar, podem ser computados os plantios de árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. § 4°. A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra instituição devidamente habilitada, devendo ser considerados, no processo de aprovação, a função social da propriedade, e os seguintes critérios e instrumentos, quando houver: I o plano de bacia hidrográfica; II o plano diretor municipal; III o zoneamento ecológicoeconômico; IV outras categorias de zoneamento ambiental; e V a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida. § 5°. O Poder Executivo, se for indicado pelo Zoneamento Ecológico Econômico ZEE e pelo Zoneamento Agrícola, ouvidos o CONAMA, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura e do Abastecimento, poderá: I reduzir, para fins de recomposição, a reserva legal, na Amazônia Legal, para até cinqüenta por cento da propriedade, excluídas, em qualquer caso, as Áreas de Preservação Permanente, os ecótonos, os sítios e ecossistemas especialmente protegidos, os locais de expressiva biodiversidade e os corredores ecológicos; e II ampliar as áreas de reserva legal, em até cinqüenta por cento dos índices previstos neste Código, em todo o território nacional. Fl. 10DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 212 11 § 6°. Será admitido, pelo órgão ambiental competente, o cômputo das áreas relativas à vegetação nativa existente em área de preservação permanente no cálculo do percentual de reserva legal, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo, e quando a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e reserva legal exceder a: I oitenta por cento da propriedade rural localizada na Amazônia Legal; II cinqüenta por cento da propriedade rural localizada nas demais regiões do País; e III vinte e cinco por cento da pequena propriedade definida pelas alíneas "b" e "c" do inciso I do § 2o do art. 1o. § 7°. O regime de uso da área de preservação permanente não se altera na hipótese prevista no § 6o. § 8°. A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas neste Código. § 9°. A averbação da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar é gratuita, devendo o Poder Público prestar apoio técnico e jurídico, quando necessário. § 10. Na posse, a reserva legal é assegurada por Termo de Ajustamento de Conduta, firmado pelo possuidor com o órgão ambiental estadual ou federal competente, com força de título executivo e contendo, no mínimo, a localização da reserva legal, as suas características ecológicas básicas e a proibição de supressão de sua vegetação, aplicandose, no que couber, as mesmas disposições previstas neste Código para a propriedade rural. § 11. Poderá ser instituída reserva legal em regime de condomínio entre mais de uma propriedade, respeitado o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a aprovação do órgão ambiental estadual competente e as devidas averbações referentes a todos os imóveis envolvidos. Estas são as previsões do Código Florestal atualmente em vigor a respeito do tema em discussão. Ressalto, novamente, que a glosa da área informada na DITR/2002 como sendo de reserva legal foi promovida pela ausência de averbação e de apresentação tempestiva do ADA. Quanto à apresentação do ADA, devo destacar que em momento anterior à alteração promovida no artigo 17O da Lei n° 6.938/81 pela Lei n° 10.165, de 27/12/2000, apenas Instruções Normativas da Secretaria da Receita Federal veiculavam tal obrigação. Fl. 11DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 213 12 A ausência de amparo legal para a exigência do ADA, quanto a fatos ocorridos até o exercício 2000, deu origem ao Enunciado CARF n° 41, que tem o seguinte conteúdo: “A não apresentação do Ato Declaratório Ambiental (ADA) emitido pelo IBAMA, ou órgão conveniado, não pode motivar o lançamento de ofício relativo a fatos geradores ocorridos até o exercício de 2000”. No entanto, o caso em apreço está relacionado ao exercício 2002. A Súmula, então, é inaplicável à espécie. Para fatos ocorridos a partir do exercício 2001, inclusive, o artigo 17O da Lei n° 6.938/81, com a redação que lhe foi dada pela Lei 10.165/2000, passou a prever que: Art. 17O. Os proprietários rurais que se beneficiarem com redução do valor do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural — ITR, com base em Ato Declaratório Ambiental ADA, deverão recolher ao IBAMA a importância prevista no item 3.11 do Anexo VII da Lei nº 9.960, de 29 de janeiro de 2000, a título de Taxa de Vistoria (Redação dada pela Lei n° 10.165. de 2000) § 1ºA. A Taxa de Vistoria a que se refere o caput deste artigo não poderá exceder a dez por cento do valor da redução do imposto proporcionada pelo ADA (incluído nela Lei n° 10.165. de 2000) § 1º. A utilização do ADA para efeito de redução do valor a pagar do ITR é obrigatória. (Redação dada pela Lei n°10.165, de 2000) Embora este texto pareça demonstrar que a legislação é taxativa ao exigir a protocolização tempestiva do ADA para fins de exclusão da base de cálculo do ITR das áreas de preservação permanente e de utilização limitada, sob minha ótica, não se pode olvidar que a apresentação do ADA pelo contribuinte ao IBAMA ou órgão conveniado – até que haja uma vistoria pelo órgão competente e a ratificação ou retificação das declarações ali contidas – restringese a informações prestadas pelo contribuinte ao órgão ambiental acerca da existência de áreas que têm algum interesse ecológico. Segundo penso, com o advento de tal regra, o ADA apresentado tempestivamente tem a função de inverter o ônus da prova, passando este a ser do Fisco a partir da sua entrega. Caso não ocorra o protocolo tempestivo do ADA, pode o contribuinte se valer de outros meios de prova visando à fruição da redução da base de cálculo do ITR. Nesse sentido, no que toca à demonstração da existência efetiva das áreas em referência, na página do IBAMA na internet (www.ibama.gov.br), nos “Serviços Online”, na parte relativa ao “Ato Declaratório Ambiental – ADA”, no link “Respostas às Perguntas mais Freqüentes sobre o ADA”, em resposta à pergunta n° 40 (“Que documentação pode ser exigida para comprovar a existência das áreas de interesse ambiental?”), consta a possibilidade de apresentação dos seguintes documentos para tal finalidade: ● Ato Declaratório Ambiental – ADA e o comprovante da entrega do mesmo; Fl. 12DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 214 13 ● Ato do Poder Público declarando as florestas e demais formas de vegetação natural como Área de Preservação Permanente, conforme dispõe o Código Florestal em seu artigo 3.; ● Laudo técnico emitido por engenheiro agrônomo ou florestal, acompanhado da Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, que especifique e discrimine as Áreas de Interesse Ambiental (Área de Preservação Permanente; Área de Reserva Legal; Reserva Particular do Patrimônio Natural; Área de Declarado Interesse Ecológico; Área de Servidão Florestal ou Ambiental; Áreas Cobertas por Floresta Nativa; Áreas Alagadas para fins de Constituição de Reservatório de Usinas Hidrelétricas); ● Laudo de vistoria técnica do Ibama relativo à área de interesse ambiental; ● Certidão do Ibama ou de outro órgão de preservação ambiental (órgão ambiental estadual) referente às Áreas de Preservação Permanente e de Utilização Limitada; ● Certidão de registro ou cópia da matrícula do imóvel com averbação da Área de Reserva Legal; ● Termo de Responsabilidade de Averbação da Área de Reserva Legal (TRARL) ou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC); ● Declaração de interesse ecológico de área imprestável, bem como, de áreas de proteção dos ecossistemas (Ato do Órgão competente, federal ou estadual – Ato do Poder Público – para áreas de declarado interesse ecológico): Se houver uma área no imóvel rural que sirva para a proteção dos ecossistemas e que não seja útil para a agricultura ou pecuária, pode ser solicitada ao órgão ambiental federal ou estadual a vistoria e a declaração daquela como uma Área de Interesse Ecológico. ● Certidão de registro ou cópia da matrícula do imóvel com averbação da Área de Servidão Florestal; ● Portaria do Ibama de reconhecimento da Área de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Portanto, a própria Administração Pública entende que o ADA tem efeito meramente declaratório, não sendo o único documento comprobatório da área de utilização limitada, podendo ser levado em conta para tal finalidade a sua averbação, eventual termo de responsabilidade de averbação ou termo de ajustamento de conduta. No entanto, nada disso ocorreu no caso. A necessidade ou não de averbação da referida área no cartório de registro de imóveis, para fins de apuração da base de cálculo do ITR, é matéria bastante controvertida, tanto nos Tribunais Judiciais quanto no âmbito deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Este julgador, inclusive, chegou a votar no sentido de que inexistia o dever de averbar a área de reserva legal à margem da matrícula do imóvel. Contudo, após profundos debates, principalmente no âmbito da Primeira Turma Ordinária da Primeira Câmara da Segunda Seção, da qual faço parte, alterei meu Fl. 13DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 215 14 posicionamento para entender que a averbação da área de reserva legal na matrícula do imóvel é, como regra geral, condição para sua exclusão da base de cálculo do ITR. Acabei convencido de que a necessidade de averbação da área de reserva legal, embora com função declaratória e não constitutiva, decorre de imposição legal, mais precisamente da interpretação harmônica e conjunta do disposto nas Leis nos 9.393/96 e 4.771/65 (Código Florestal), conforme acima destacado. Ademais, nos termos do artigo 55 do Decreto n° 6.514/2008, cuja entrada em vigor restou prorrogada para 11/12/2011, por força do Decreto n° 7.497, de 09/06/2011, a ausência de averbação da reserva legal dá ensejo à aplicação de multa pecuniária. O ITR é tributo de natureza eminentemente extrafiscal, sendo que a obrigatoriedade da averbação da reserva legal está relacionada, muito além do direito tributário, à garantia de preservação de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Salvo melhor juízo, o benefício tributário consistente na exclusão da base de cálculo do ITR da área de reserva legal só pode ser reconhecido se estiverem cumpridas as exigências da legislação ambiental, o que não ocorre no caso em apreço, pois inexiste ADA, averbação da área informada na DITR ou a comprovação material de sua existência. Devo destacar, por fim e apenas para esclarecer, que, segundo penso, a averbação da área de utilização limitada pode se dar em momento posterior à ocorrência do fato gerador. Conforme asseverou o Conselheiro Giovanni Christian Nunes Campos, no julgamento do recurso voluntário n° 342.455, “...havendo uma área de reserva legal preservada e comprovada por laudos técnicos ou termos do poder público, mesmo com averbação posterior ao fato gerador, não me parece razoável arrostar o benefício tributário, quando se sabe que áreas ambientais preservadas levam longo tempo para sua recomposição, ou seja, uma área averbada e comprovada em exercício posterior, certamente existia nos exercícios logo precedentes, como redutora da área total do imóvel passível de tributação, não podendo ter sido utilizada diretamente nas atividades agrícolas, pecuárias ou extrativistas. Ademais, nem a Lei tributária nem o Código Florestal definem a data de averbação, como condicionante à isenção do ITR.” Nesse sentido, ainda, trago à colação a ementa do seguinte julgado proferido pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça – STJ: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ITR. ISENÇÃO. LEI Nº 9.393/96. AVERBAÇÃO PRÉVIA DA RESERVA LEGAL. DESNECESSIDADE. AGRAVO IMPROVIDO. 1. "A falta de averbação da área de reserva legal na matrícula do imóvel, ou a averbação feita após a data de ocorrência do fato gerador, não é, por si só, fato impeditivo ao aproveitamento da isenção de tal área na apuração do valor do ITR, ante a proteção legal estabelecida pelo artigo 16 da Lei nº 4.771/1965." (REsp nº 1.060.886/PR, Relator Ministro Luiz Fux, in DJe 18/12/2009). Fl. 14DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO Processo nº 13116.000249/200582 Acórdão n.º 920201.627 CSRFT2 Fl. 216 15 2. Agravo regimental improvido. (STJ, Primeira Turma, AgRg no REsp n° 1.157.239/DF, Relator Ministro Hamilton Carvalhido, DJE de 04/06/2010) Neste feito, contudo, inexiste averbação, seja em momento anterior ou posterior à ocorrência do fato gerador, motivo pelo qual deve ser reformada a decisão recorrida, pois não pode prosperar a exclusão da base de cálculo do ITR da área de reserva legal de 4.588,0 hectares. Diante do exposto, voto por dar provimento ao recurso da Fazenda Nacional, restabelecendo o lançamento com relação à área de reserva legal. (Assinado digitalmente) Gonçalo Bonet Allage Fl. 15DF CARF MF Emitido em 12/09/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 08/08/2011 por GONCALO BONET ALLAGE, Assinado digitalmente em 09/09/2011 por OTACILIO DANTAS CARTAXO
score : 1.0
Numero do processo: 13119.000084/2004-38
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Mar 29 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Tue Mar 29 00:00:00 UTC 2011
Ementa: SIMPLES
Período de Apuração: 01/01/1997 a 31/12/1997
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA. NÃO EQUIPARAÇÃO A SERVIÇOS DE ENGENHARIA. APLICAÇÃO DA SÚMULA N° 57 DO CARF. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL SUSCITADA.
Nos termos da súmula n° 57 do CARF, é pacifico o entendimento no sentido de que a prestação de serviços de assistência técnica não se equipara aos serviços de engenharia. Exclusão do SIMPLES que não se sustenta.
Numero da decisão: 9101-000.943
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, não conhecer do recurso.
Matéria: Simples- proc. que não versem s/exigências cred.tributario
Nome do relator: SUSY GOMES HOFFMANN
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Cajo Marcos Când residente. ,4 Susy ann - Relatora. 1 0 MM 2011 Editado em: CSRF-Tl Fl. 1 MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Processo n° 13119.000084/2004-38 Recurso n° 134.805 Especial do Procurador Acórdão no 9101-000.943 — la Turma Sessão de 29 de março de 2011 Matéria SIMPLES Recorrente FAZENDA NACIONAL Interessado JOÃO MORAIS E SAULO MACEDO LTDA. Assunto: SIMPLES Período de Apuração: 01/01/1997 a 31/12/1997 Ementa: PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA. NÃO EQUIPARAÇÃO A SERVIÇOS DE ENGENHARIA. APLICAÇÃO DA SÚMULA N° 57 DO CARF. NÃO CARACTERIZAÇÃO DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL SUSCITADA. Nos termos da súmula n° 57 do CARF, é pacifico o entendimento no sentido de que a prestação de serviços de assistência técnica não se equipara aos serviços de engenharia. Exclusão do SIMPLES que não se sustenta. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, não conhecer Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Caio Marcos Cândido, Francisco de Sales Ribeiro de Queiroz, Alexandre Andrade Lima da Fonte Filho, Alberto Pinto Souza Junior, Alexandre Antônio Alkmim Teixeira (Suplente Convocado), Claudemir Rodrigues Malaquias, Antonio Carlos Guidoni Filho, Viviane Vidal Wagner, Valmir Sandri e Susy Gomes Hoffmann. Relatório Trata-se de recurso especial de divergência interposto pela Procuradoria da Fazenda Nacional. O contribuinte teve indeferido o seu pleito de inclusão no Simples, com base na prática de atividade vedada pelo artigo 9°, inciso XIII, da Lei n° 9.317/96. O contribuinte apresentou manifestação de inconformidade, ressaltando que a atividade que desenvolve é de "comércio atacadista de aparelhos eletrônicos de uso pessoal e doméstico", não caracterizando a atividade vedada, de engenheiro eletrônico. A Delegacia da Receita Federal de Julgamento, As fls. 37/40 dos autos, indeferiu a sua solicitação. Eis ementa do julgado: "Assunto: Sistema Integrado Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte-Simples. • - Período de Apuração: 01/01/1997 a 31/12/1997. Ementa: Inclusão no Simples- Atividade Econômica não Permitida. A pessoa jurídica que preste serviços de engenheiro eletrônico, ou assemelhado, não pode optar pelo Simples. Solicitação Indeferida". O contribuinte, então, interpôs recurso voluntário. A antiga Terceira Câmara do Terceiro Conselho de Contribuintes (fls. 69/74) deu provimento ao recurso voluntário do contribuinte. Eis a ementa do julgado: "Assunto: Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte- Simples. Período de Apuração: 01/01/1997 a 31/12/1997. Ementa: SIMPLES. INCLUSÃO RETROATIVA. Comprovado que a recorrente se dedica ao ramo de comércio atacadista de aparelhos eletrônicos de uso pessoal e doméstico e a conseqüente e a conseqüente assistência técnica (Código 51.44-6-02), constituída e exercida por meros pequenos comerciantes através de sociedade empresarial, e como este ramo de atividade não se confunde com a prestação de serviços privativos de profissões legalmente regulamentadas, o ramo de atividade exercido á perfeitamente permitido pela legislação vigente aplicável. Comprovado igualmente o cumprimento dos demais requisitos legais, é de se incluir a recorrente no Sistema 2 Processo n° 13119.00008412004-38 CSRF-T1 Acórdão n.° 9101-000.943 Fl. 2 Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte-Simples, com data retroativa." A Procuradoria da Fazenda Nacional, então, interpôs o presente recurso especial, com base em divergência jurisprudencial caracterizada por julgado paradigma em que se decidiu que as prestadoras de serviço de assistência técnica não podem optar pelo Simples, por equipararem-se a serviços profissionais de engenharia. o relaiório. 3 fmann - Relatora Susy Voto Conselheira Susy Gomes Hoffmann, Relatora 0 presente recurso especial é tempestivo. No preenche, contudo, os demais requisitos de admissibilidade, tendo em vista que não mais existe a divergência jurisprudencial suscitada pela recorrente. Com efeito, a matéria debatida no recurso especial já se encontra pacificada no âmbito do CARF, através da enunciado n° 57 da sua súmula jurisprudencial. A existência da súmula, em conformidade com a decisão recorrida, destarte, importa o não conhecimento do recurso especial da Fazenda, nos termos do artigo 67, §2°, do Regimento Interno do CARF. 0 enunciado n° 57 da súmula do CARF tem o seguinte teor: A prestação de serviços de manutenção, assistência técnica, instalação ou reparos em máquinas e equipamentos, bem como os serviços de usinagem, solda, tratamento e revestimento de metais, não se equiparam a serviços profissionais prestados por engenheiros e não impedem o ingresso ou a permanência da pessoa jurídica no SIMPLES Federal Diante disso, não conheço do recurso especial da Fazenda Nacional. Sala das Sess6es, 29 de março de 2011 4
score : 1.0
Numero do processo: 10640.002458/2009-68
Turma: Primeira Turma Ordinária da Primeira Câmara da Segunda Seção
Câmara: Primeira Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Fri Sep 30 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Fri Sep 30 00:00:00 UTC 2011
Ementa: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF
Exercício: 2005, 2006
EXTRATOS BANCÁRIOS FORNECIDOS PELO CONTRIBUINTE E OBTIDOS VIA RMF EMITIDA INDEVIDAMENTE. PROVA LÍCITA.
Os extratos de conta corrente entregues pelo contribuinte em atendimento à solicitação do Fisco não constituem prova ilícita uma vez que decorrem da abertura espontânea do sigilo bancário pelo fiscalizado, mesmo que eles também tenham sido obtidos com a expedição irregular de Requisição de Movimentação Financeira RMF.
Assim, mesmo excluídas as provas ilícitas, os extratos fornecidos de forma espontânea dão suporte à parte do lançamento sob análise.
OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. PRESUNÇÃO LEGAL.
O art. 42 da Lei 9.430, de 1996, autoriza a presunção de omissão de rendimentos com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.
Não servem como prova argumentos genéricos, que não façam a correlação inequívoca entre os depósitos e as origens indicadas.
Trata-se de presunção legal onde, após a intimação do Fisco para que o fiscalizado comprove a origem dos depósitos, passa a ser ônus do contribuinte a demonstração de que não se trata de receitas auferidas, sob pena de se considerar aquilo que não foi justificado como omissão de rendimentos.
A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada (Súmula CARF nº 26).
DEPÓSITOS BANCÁRIOS INFERIORES A R$12.000,00. SOMATÓRIO
MAIOR QUE R$80.0000,00 POR ANO-CALENDÁRIO.
Os depósitos bancários iguais ou inferiores a R$ 12.000,00 (doze mil reais), cujo somatório não ultrapasse R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) no ano-calendário, não podem ser considerados na presunção da omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada, no caso de pessoa física Súmula CARF nº 61.
Hipótese em que os depósitos inferiores a R$12.000,00 superavam o limite de R$80.000,00 em cada ano-calendário.
DILIGÊNCIA. ORIGEM DOS DEPÓSITOS. ÔNUS DO CONTRIBUINTE.
Indefere-se pedido de realização de diligência para se verificar alegações com base em provas que já estão nos autos, e porque a comprovação da origem dos depósitos bancários é ônus do contribuinte.
Preliminar Rejeitada.
Pedido de Diligência Indeferido.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 2101-001.316
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de nulidade, indeferir o pedido de perícia e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso voluntário para se excluir da tributação os depósitos de R$25.000,00 em 15/01/2004, e
de R$25.000,0 e R$11.000,00 em 11/03/2005. Ausente justificadamente o conselheiro Gilvanci Antonio de Oliveira Sousa.
Nome do relator: Jose Evande Carvalho Araújo
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ementa_s : IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2005, 2006 EXTRATOS BANCÁRIOS FORNECIDOS PELO CONTRIBUINTE E OBTIDOS VIA RMF EMITIDA INDEVIDAMENTE. PROVA LÍCITA. Os extratos de conta corrente entregues pelo contribuinte em atendimento à solicitação do Fisco não constituem prova ilícita uma vez que decorrem da abertura espontânea do sigilo bancário pelo fiscalizado, mesmo que eles também tenham sido obtidos com a expedição irregular de Requisição de Movimentação Financeira RMF. Assim, mesmo excluídas as provas ilícitas, os extratos fornecidos de forma espontânea dão suporte à parte do lançamento sob análise. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. PRESUNÇÃO LEGAL. O art. 42 da Lei 9.430, de 1996, autoriza a presunção de omissão de rendimentos com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Não servem como prova argumentos genéricos, que não façam a correlação inequívoca entre os depósitos e as origens indicadas. Trata-se de presunção legal onde, após a intimação do Fisco para que o fiscalizado comprove a origem dos depósitos, passa a ser ônus do contribuinte a demonstração de que não se trata de receitas auferidas, sob pena de se considerar aquilo que não foi justificado como omissão de rendimentos. A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada (Súmula CARF nº 26). DEPÓSITOS BANCÁRIOS INFERIORES A R$12.000,00. SOMATÓRIO MAIOR QUE R$80.0000,00 POR ANO-CALENDÁRIO. Os depósitos bancários iguais ou inferiores a R$ 12.000,00 (doze mil reais), cujo somatório não ultrapasse R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) no ano-calendário, não podem ser considerados na presunção da omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada, no caso de pessoa física Súmula CARF nº 61. Hipótese em que os depósitos inferiores a R$12.000,00 superavam o limite de R$80.000,00 em cada ano-calendário. DILIGÊNCIA. ORIGEM DOS DEPÓSITOS. ÔNUS DO CONTRIBUINTE. Indefere-se pedido de realização de diligência para se verificar alegações com base em provas que já estão nos autos, e porque a comprovação da origem dos depósitos bancários é ônus do contribuinte. Preliminar Rejeitada. Pedido de Diligência Indeferido. Recurso Voluntário Provido em Parte.
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PROVA LÍCITA. Os extratos de conta corrente entregues pelo contribuinte em atendimento à solicitação do Fisco não constituem prova ilícita uma vez que decorrem da abertura espontânea do sigilo bancário pelo fiscalizado, mesmo que eles também tenham sido obtidos com a expedição irregular de Requisição de Movimentação Financeira RMF. Assim, mesmo excluídas as provas ilícitas, os extratos fornecidos de forma espontânea dão suporte à parte do lançamento sob análise. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS DE ORIGEM NÃO COMPROVADA. PRESUNÇÃO LEGAL. O art. 42 da Lei 9.430, de 1996, autoriza a presunção de omissão de rendimentos com base nos valores depositados em conta bancária para os quais o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Não servem como prova argumentos genéricos, que não façam a correlação inequívoca entre os depósitos e as origens indicadas. Tratase de presunção legal onde, após a intimação do Fisco para que o fiscalizado comprove a origem dos depósitos, passa a ser ônus do contribuinte a demonstração de que não se trata de receitas auferidas, sob pena de se considerar aquilo que não foi justificado como omissão de rendimentos. A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada (Súmula CARF nº 26). Fl. 571DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 261 2 DEPÓSITOS BANCÁRIOS INFERIORES A R$12.000,00. SOMATÓRIO MAIOR QUE R$80.0000,00 POR ANOCALENDÁRIO. Os depósitos bancários iguais ou inferiores a R$ 12.000,00 (doze mil reais), cujo somatório não ultrapasse R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) no ano calendário, não podem ser considerados na presunção da omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada, no caso de pessoa física Súmula CARF nº 61. Hipótese em que os depósitos inferiores a R$12.000,00 superavam o limite de R$80.000,00 em cada anocalendário. DILIGÊNCIA. ORIGEM DOS DEPÓSITOS. ÔNUS DO CONTRIBUINTE. Indeferese pedido de realização de diligência para se verificar alegações com base em provas que já estão nos autos, e porque a comprovação da origem dos depósitos bancários é ônus do contribuinte. Preliminar Rejeitada. Pedido de Diligência Indeferido. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar a preliminar de nulidade, indeferir o pedido de perícia e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso voluntário para se excluir da tributação os depósitos de R$25.000,00 em 15/01/2004, e de R$25.000,0 e R$11.000,00 em 11/03/2005. Ausente justificadamente o conselheiro Gilvanci Antonio de Oliveira Sousa. (assinado digitalmente) _____________________________________ Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente. (assinado digitalmente) ___________________________________ José Evande Carvalho Araujo Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente), José Evande Carvalho Araujo, Celia Maria de Souza Murphy, Gonçalo Bonet Allage, Alexandre Naoki Nishioka. Ausente, justificadamente, o conselheiro Gilvanci Antônio de Oliveira Sousa. Relatório AUTUAÇÃO Contra o contribuinte acima identificado foi lavrado o Auto de Infração de fls. 1 a 26, referente a Imposto de Renda Pessoa Física, exercícios 2005 e 2006, para lançar infração de omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários com origem não Fl. 572DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 262 3 comprovada, formalizando a exigência de imposto suplementar no valor de R$1.388.844,70, acrescido de multa de ofício de 75% e juros de mora. IMPUGNAÇÃO Cientificado do lançamento, o contribuinte apresentou impugnação (fls. 189 a 197), acatada como tempestiva. O relatório do acórdão de primeira instância descreveu o recurso da seguinte maneira (fls. 235 e verso): Após transcrever a Descrição dos Fatos constante do Auto de Infração, preliminarmente, aduziu que as Requisições de Informações sobre Movimentação Financeira —RMFs foram emitidas antes de o contribuinte autorizar o Fisco a solicitar diretamente aos bancos os extratos bancários faltantes. “O ora impugnante sempre objetivou a entrega dos extratos solicitados e o relatório fiscal em diversas passagens registra esse fato.” Tomando por base o art. 6° da Lei Complementar 105/2001 e os arts. 2° e 3° do Decreto 3.724/2001 (reproduzidos na defesa), afirmou que “o lançamento em questão foi realizado, cumprindose apenas a hipótese da existência de MPF e nenhuma das condições de indispensabilidade dos exames, que aliás tem de ser justificado pela autoridade competente. E não o foi. Portanto, não cumprida alguma das exigências legais para os acessos e exames das informações junto aos entes que integram o sistema financeiro nacional, padece o auto de infração lavrado de nulidade insanável.” Quanto ao mérito, destacamse os seguintes trechos que, em síntese, retratam os reclamos passivos: “Quando a fiscalização diz que o ora impugnante nada mais faz do que argumentar que se trata de transferência entre agências ou transferência intraagências, passando o encargo da comprovação ao Fisco, não se pode tomar como reais tais afirmativas, por que os recursos que transitaram pelas contas correntes e de poupança derivaram de operações, materialmente consistentes, as quais, do ponto de vista de rendimentos tributáveis, não se caracterizam como renda ou proventos de qualquer natureza. São operações de compra e venda de bens imóveis ou móveis, ou simples alienação de bens, cujo valor em si mesmo não representa rendimento sujeito à tributação a não ser quando há ganhos de capital e, neste caso, submetese a tributação exclusiva na fonte. ... Com efeito, os depósitos bancários por si mesmo, não constituem rendimentos. Nesse sentido é pacífica a orientação administrativa ou judicial existente. Os depósitos bancários, quando, vistos como fonte de tributação estão vinculados às hipóteses de sinais exteriores de riqueza ou quando evidenciassem acréscimos patrimoniais não compatíveis com a renda declarada, cabendo o ônus da prova ao Fisco para caracterizar a não comprovação de sua origem. Com o advento da Lei 9.430/96, o ônus da prova passou a ser do contribuinte. Mas, na essência, os depósitos bancários não comprovados continuam ligados, vinculados, conceituados dentro da idéia de rendimento bruto omitido, ou seja, se é produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos ou proventos de qualquer natureza compreendidos os acréscimos patrimoniais não correspondentes aos rendimentos declarados. Fl. 573DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 263 4 ... Vejase que, na hipótese do lançamento em questão, está demonstrada a capacidade financeira do ora impugnante, foram evidenciadas e provadas as operações de compra e venda de imóveis e alienação de bens móveis de onde provieram os recursos para os depósitos sob suspeita. E a verdade é que se está falando de bens materiais, bens imóveis, com escrituras públicas e com contratos de mútuos espelhados nos Livros Contábeis das Empresas envolvidas, todos os documentos acostados aos autos por força das intimações expedidas pela fiscalização. Para a fiscalização foram insuficientes as provas apresentadas, pois segundo ela, a documentação não é coincidente em data e valor. ... Na verdade, eminentes Julgadores, são três as operações que dão suporte aos créditos em contas correntes e de dos bancos (sic): Bradesco, Banco Real e Banco do Brasil. São elas: operação de desfazimento do negócio de compra e venda do Ed. Rua Francisco Sá 17, operação de mútuo da TV JUIZ DE FORA e a alienação do imóvel da Av. Vieira Souto, Ipanema, Rio/RJ. Tais operações, pelo montante envolvido, não eram simples, a não ser a de empréstimos da TV JUIZ DE FORA, por dizer respeito à quantia expressiva e plenamente administrável, agravadas, por certo, pela cobrança da CPMF e então vigente e por isso os créditos em conta poupança. ... É certo, por outro lado, que vão remanescem os depósitos de pequenos valores abaixo de R$ 10.000,00, porque dificilmente serão comprovados, dada a sua inexpressividade e a pessoa física, não estando obrigada a escrituração, provavelmente não irá lembrarse. ...” Além dos argumentos apresentados contra o lançamento como um todo, o contribuinte apontou alguns depósitos especificamente (valores e datas), os quais serão citados e analisados no voto. Por fim, solicita perícia com vistas a comprovar as três operações que, segundo o contribuinte, seriam as origens dos depósitos e que o resultado desta, em conjunto com tudo o que fora argumentado, determine o cancelamento dos autos. Em virtude das alegações do interessado quanto à emissão das RMFs, o presente processo foi baixado em diligência à DRF/Juiz de Fora/MG/SAFIS, sendo anexada, então, a Informação Fiscal de fls. 231/232. ACÓRDÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA A Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento julgou procedente em parte o lançamento, para excluir da base de cálculo os depósitos do Banco ABN Amro Real, no anocalendário de 2005), em julgamento consubstanciado na seguinte ementa (fls. 234 a 239): ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2005, 2006 Fl. 574DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 264 5 RMF. PRÉVIA INTIMAÇÃO. Para que seja válida, a solicitação de emissão de RMF deve ser precedida de intimação ao sujeito passivo, sendo indispensável aguardar o encerramento do prazo a ele concedido para a apresentação dos documentos, sob pena das informações obtidas em razão de tal requisição serem consideradas imprestáveis. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. DEPÓSITOS BANCÁRIOS. Com a edição da Lei 9.430/96, a partir de 1/1/1997, passaram a ser caracterizados como omissão de rendimentos, sujeitos a lançamento de ofício, os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais a pessoa física ou jurídica, regularmente intimada, não comprove, de forma inconteste, a origem dos recursos utilizados nessas operações. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. Tratandose de uma presunção legal de omissão de rendimentos, a autoridade lançadora eximese de provar no caso concreto a sua ocorrência, transferindo o ônus da prova ao contribuinte. Somente a apresentação de provas hábeis e idôneas pode refutar a presunção legal regularmente estabelecida. PERÍCIAS. REQUISITOS. Considerase não formulado o pedido de perícia que não atende aos requisitos previstos na legislação, quais sejam: exposição dos motivos que justifique o pedido, com a formulação dos quesitos referentes aos exames desejados, assim como especificação do nome, endereço e qualificação profissional do perito. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte RECURSO AO CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS (CARF) Cientificado da decisão de primeira instância em 17/12/2010 (fl. 242), o contribuinte apresentou, em 18/01/2011, o recurso de fls. 243 a 254, onde: a) preliminarmente, argúi a nulidade do procedimento, que teria acessado as informações bancárias do recorrente sem apresentar nenhuma das condições de indispensabilidade previstas no Decreto 3724/2001; b) afirma que os depósitos bancários considerados não comprovados pela fiscalização e objeto do lançamento não decorreram de operações cujos rendimentos brutos ou mesmo proventos de qualquer natureza estariam sujeitos à tributação, eis que, como proventos de qualquer natureza, não geraram acréscimos patrimoniais incompatíveis com a renda declarada; Fl. 575DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 265 6 c) assevera que está demonstrada sua capacidade financeira, e que estão evidenciadas e provadas as operações de compra e venda de imóveis e alienação de bens móveis, de onde provieram os recursos para os depósitos sob suspeita, mas que, para a fiscalização, foram insuficientes as provas apresentadas, pois a documentação não seria coincidente em data e valor; d) salienta que a operação que resultou no empréstimo feito junto à empresa FOCAGRÍCOLA, hoje denominada IPIABAS, realizadas em 2002 e 2003, para aquisição do Edifício da Rua Francisco Sá 17 Copacabana e a instalação do Hotel que se chamaria Hotel Portinari, cuja inauguração se deu em agosto de 2003, está devidamente registrada na contabilidade da mutuante, e que o desfazimento do negócio também é um fato, inclusive com alienação da totalidade das máquinas, equipamentos mobiliários e objetos de decoração, que se deu formalmente em 16.02.2004, mas as negociações se iniciaram em 05.01.2004, havendo os primeiros dispêndios em favor do ora recorrente em face da operação em 16.01.2004, com créditos junto à conta corrente do Banco do Brasil; e) argumenta que a operação do item anterior foi contestada pelo relator da decisão recorrida sob o argumento de que os documentos constantes dos autos falam de uma quantia de R$864.837,00, cuja devolução teria sido feita em seis notas promissórias. A verdade é que, quando se tratou das verbas de R$563.701,38 e R$90.000,00, que são depósitos online creditados na conta corrente do Banco do Brasil, não se estava referindo à parte remanescente de R$864.837,00, que foi devolvida em seis prestações de R$141.139,63; f) acrescenta que o crédito, nos meses de janeiro e fevereiro/2004, da ordem de R$2.366.096,36, teve origem do desfazimento do negócio com a devolução do Edifício da Rua Francisco Sá 17 e da alienação de todo os maquinismo e adereços; g) defende que os empréstimos obtidos junto à TV JUIZ DE FORA justificam diversos créditos, com coincidência de datas e valores, a exemplo da quantia de R$25.000,00 creditada ao Banco do Brasil em 15.01.2004 e a quantia de R$10.000,00 de 15.02.2004 Bradesco poupança; R$36.000,00 creditado à conta corrente do Banco do Brasil, em 11.03.2005; e R$80.000,00 creditados ao Bradesco poupança em 05.08.2005, os quais, apesar de contestado pela 1a Instância, são reais, estão nos autos, assistindo razão apenas à Relatora no que se refere ao crédito de R$10.000,00 ao Banco Bradesco Poupança, que, corretamente, é de 15.07.2004; h) perora que não foram considerados os créditos de R$66.899,88 ingressados na conta poupança Bradesco em 29.08.2005, decorrente de quantia recebida do SESI, e a importância de R$13.535,94 recebida de Jorge Willy Ha, valor esse que constava inclusive na DIPF como crédito do recorrente; i) indica que, no anocalendário de 2005, os créditos mais relevantes decorreram da venda do imóvel de sua propriedade, localizado na Av. Vieira Souto, Ipanema/Rio/RJ, no valor de venda de R$2.600.000,00, iniciandose as negociações em maio de 2005, com escrituras de compra e venda e de cessão de direitos aquisitivos, operação essa que se deu formalmente em agosto de 2005, sendo que tanto as escrituras de compra e venda como a de cessão de direito, primeiro para o Sr. Luiz Octavio Almada Angelis, como a de cessão de direitos de maio de 2005 e a cessão de direito de agosto de 2005, já se encontram acostados aos autos, evidenciando a sua materialidade; Fl. 576DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 266 7 j) advoga que não podem fazer parte da base de cálculo os depósitos de pequenos valores abaixo de R$10.000.00, pois tem dificuldade de se lembrar de cada um deles; k) solicita a realização de perícia com vistas a indicar, em análise técnica, que as operações existiram; que os créditos bancários se deram pela emissão de cheques e valores, como decorrência da operação de empréstimo da TV JUIZ DE FORA, da operação de desfazimento do negócio, com a devolução do Edifício onde foi construído o Hotel Portinari e a alienação dos maquinismos e equipamentos mobiliários e objetos de decoração que integravam o referido hotel, e da operação de venda do apartamento da Av. Vieira Souto no RJ, de sua propriedade, indicando, para tanto, como perito, o Contador Valúzio Veiga, CPF no 025.843.52753, CRC no 9223/09, perito judicial, com endereço na Av. Paranapuan, 570 ap.301, Freguesia, Ilha do Governador, Rio/RJ. Ao final, requer o cancelamento do auto de infração. O processo foi distribuído a este Conselheiro, numerado até a fl. 258, que também trata do envio dos autos ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF, contendo ainda a fl. 259, sem numeração, referente ao Despacho de Encaminhamento dos autos do SECOJ/SECEX/CARF para a 1a Câmara da 2a Seção, constando ainda um volume denominado Anexo I, com 190 páginas. É o relatório. Voto Conselheiro José Evande Carvalho Araujo, Relator. O recurso é tempestivo e atende às demais condições de admissibilidade, portanto merece ser conhecido. Preliminarmente, o recorrente argúi a nulidade do procedimento, que teria acessado suas informações bancárias sem apresentar nenhuma das condições de indispensabilidade previstas no Decreto 3.724/2001. Vejase que o julgador de 1a instância baixou o processo em diligência para que a autoridade fiscal explicasse porque emitiu Requisições de Movimentação Financeira – RMFs ainda dentro do prazo para o fiscalizado apresentar seus extratos bancários (fls. 229 e 230), e que, diante da resposta recebida, decidiu da seguinte maneira (fl. 236 v): Sem adentrar em outras considerações a respeito das circunstâncias que cercaram a emissão das RMFs nos presentes autos, é fato que o art. 4°, § 2°, do Decreto 3.724/2001 dispõe claramente que a RMF será precedida de intimação ao sujeito passivo para apresentação de informações sobre movimentação financeira, necessárias à execução do MPF. Notese, então, que existe expressa determinação para que se intime previamente o contribuinte, o que torna óbvia a necessidade de se aguardar a manifestação deste pelo prazo que lhe foi concedido para o atendimento da intimação. Se não for este o entendimento, qual seria o objetivo da prévia intimação? Assim, caso o contribuinte não apresente as informações solicitadas ou não responda Fl. 577DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 267 8 à intimação, devese enquadrálo numa das hipóteses de indispensabilidade previstas no art. 3° do Decreto 3.724/2001, para requisitálas por meio da RMF. Sob esse prisma, concluise que o simples fato da emissão das RMFs (em 29/01/2009) ser anterior ao final do prazo concedido ao contribuinte para a apresentação dos extratos bancários (26/02/2009) tornaas inválidas e, por consequência, todas as informações trazidas ao processo por meio das RMFs hão de ser desconsideradas, haja vista sua obtenção de forma irregular. Contudo, não há prejuízo da análise dos demais documentos que compõem o processo, especialmente aqueles fornecidos pelo próprio fiscalizado. Com relação ao anocalendário 2004, em atendimento ao termo de continuidade de Ação Fiscal n° 358/0701 (fls. 44/45), em 19/11/2007, o interessado apresentou os “extratos bancários das contas mantidas junto ao Banco do Brasil S/A, Banco ABN Amro Real S/A e Banco Bradesco S/A, do período de 01/01 a 31/12/2004”, conforme se vê da resposta por ele encaminhada às fls. 47/48. Já com relação ao anocalendário 2005, em atendimento ao Termo de Intimação Fiscal III (fls. 85/86), o interessado apresentou, em 26/02/2009, “os extratos do ano calendário de 2005, ex. 2006, dos Bancos do Brasil S.A e Bradesco. Por outro lado, dado que o Banco ABN AMRO REAL até agora não entregou os respectivos extratos, fica autorizado V. S. a requisitar, como prevê a Legislação, tais extratos, de modo a tornar mais eficaz nos resultados.” (vide fls. 88 a 91). Ora, depreendese dai, à exceção dos extratos do Banco ABN Amro Real, relativos ao anocalendário 2005, que o próprio contribuinte trouxe ao processo elementos suficientes para subsidiar a autuação fiscal. Assim, em virtude de se constituírem em provas ilícitas por derivação, devem ser excluídos da tributação tão somente os depósitos/créditos vinculados ao Banco ABN Amro Real, relativos ao anocalendário 2005. Em resumo, o acórdão recorrido considerou ilícitas as provas acostadas ao processo em decorrência da emissão de RMFs ainda no prazo para o contribuinte apresentar seus extratos bancários, mas admitiu aquelas que, apesar de também terem sido obtidas diretamente junto às instituições bancárias, igualmente foram trazidas aos autos pelo próprio contribuinte. No voluntário, o sujeito passivo pugna pela ilicitude de toda a prova, e pela consequente nulidade do lançamento. Sem razão o recorrente. Mesmo com a exclusão das provas consideradas ilícitas, remanescem no processo informações idênticas fornecidas por ele próprio, sendo essas provas suficientes para embasar o lançamento ainda em discussão. Observese que foram excluídos do lançamento os depósitos bancários de conta corrente não fornecida pelo contribuinte, mesmo tendo este autorizado sua obtenção diretamente junto à instituição bancária, porque essa autorização se deu após a emissão da RMF. Desta forma, rejeito a preliminar suscitada. Passase a análise do mérito. O lançamento se deu com base no art. 42 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996, abaixo transcrito: Fl. 578DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 268 9 Art.42.Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. §1º O valor das receitas ou dos rendimentos omitido será considerado auferido ou recebido no mês do crédito efetuado pela instituição financeira. §2º Os valores cuja origem houver sido comprovada, que não houverem sido computados na base de cálculo dos impostos e contribuições a que estiverem sujeitos, submeterseão às normas de tributação específicas, previstas na legislação vigente à época em que auferidos ou recebidos. §3º Para efeito de determinação da receita omitida, os créditos serão analisados individualizadamente, observado que não serão considerados: I os decorrentes de transferências de outras contas da própria pessoa física ou jurídica; II no caso de pessoa física, sem prejuízo do disposto no inciso anterior, os de valor individual igual ou inferior a R$ 1.000,00 (mil reais), desde que o seu somatório, dentro do ano calendário, não ultrapasse o valor de R$ 12.000,00 (doze mil reais). (Vide Lei nº 9.481, de 1997) §4º Tratandose de pessoa física, os rendimentos omitidos serão tributados no mês em que considerados recebidos, com base na tabela progressiva vigente à época em que tenha sido efetuado o crédito pela instituição financeira. § 5o Quando provado que os valores creditados na conta de depósito ou de investimento pertencem a terceiro, evidenciando interposição de pessoa, a determinação dos rendimentos ou receitas será efetuada em relação ao terceiro, na condição de efetivo titular da conta de depósito ou de investimento.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 2002) § 6o Na hipótese de contas de depósito ou de investimento mantidas em conjunto, cuja declaração de rendimentos ou de informações dos titulares tenham sido apresentadas em separado, e não havendo comprovação da origem dos recursos nos termos deste artigo, o valor dos rendimentos ou receitas será imputado a cada titular mediante divisão entre o total dos rendimentos ou receitas pela quantidade de titulares.(Incluído pela Lei nº 10.637, de 2002) Acrescentese que os limites do inciso II do § 3º foram alterados para R$ 12.000,00 (doze mil reais) e R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), respectivamente, pelo art. 4o da Lei nº 9.481, de 13 de agosto de 1997. Fl. 579DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 269 10 Assim, vêse que a lei criou uma presunção legal de omissão de receita, que se caracteriza quando o titular de conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, após regular intimação, não comprove a origem dos recursos creditados nessas contas, mediante documentação hábil e idônea. Por isso, após a intimação do Fisco para que o fiscalizado comprove a origem dos depósitos, passa a ser ônus do contribuinte a demonstração de que não se trata de receitas auferidas, sob pena de se considerar aquilo que não foi justificado como omissão de rendimentos. No caso, verifico que a autoridade fiscal intimou devidamente o contribuinte a apresentar seus extratos bancários (fls. 31 a 33) e que, depois de totalizar os depósitos, novamente o intimou a justificar sua origem (fls. 92 a 103 e 108 a 114), tendo sido lavrado o auto de infração após a análise minuciosa de todas as respostas do fiscalizado. Isso comprova a correta adequação do procedimento fiscal aos termos da lei. Essa explicação afasta também o argumento de que não se poderia utilizar os depósitos bancários como omissão de receitas sem que se estabelecesse um vínculo entre os recursos depositados e alguma receita não escriturada, devendose ressaltar que essa interpretação está definitivamente sepultada na esfera administrativa desde a edição da Súmula CARF nº 26, que possui o seguinte enunciado: A presunção estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96 dispensa o Fisco de comprovar o consumo da renda representada pelos depósitos bancários sem origem comprovada. Assim, após devidamente intimado a esclarecer a origem dos depósitos, passou a ser do recorrente o ônus dessa comprovação, mediante documentação hábil e idônea, coincidente em datas e valores com os depósitos bancários. Não servem como prova argumentos genéricos, que não façam a correlação inequívoca entre os depósitos e as origens indicadas. Nesse sentido, passo a analisar as diversas explicações fornecidas para a origem dos créditos lançados. Operação de desfazimento do negócio de compra e venda do Ed. Rua Francisco Sá 17: O recorrente afirma que emprestou, em 2002 e 2003, dinheiro à empresa FOCAGRÍCOLA, hoje denominada IPIABAS, para a aquisição do Edifício da Rua Francisco Sá 17 – Copacabana, para a instalação de um hotel, inaugurado em agosto de 2003. Entretanto, esse negócio foi desfeito no ano de 2004, com alienação do prédio e da totalidade das máquinas, equipamentos mobiliários e objetos de decoração, o que justificaria diversos depósitos em suas contas correntes. Acrescenta, que o negócio se deu formalmente em 16/02/2004, mas as negociações se iniciaram em 05/01/2004, havendo os primeiros pagamentos em 16/01/2004, com créditos junto a conta corrente do Banco do Brasil, nos meses de janeiro e fevereiro/2004, da ordem de R$2.366.096,36. Fl. 580DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 270 11 Verifico que a autoridade fiscal analisou minuciosamente essa operação financeira, como demonstram os excertos do Relatório Fiscal abaixo transcritos (fls. 17 a 23): Também foi realizada diligência junto à empresa lpiabas Agropecuária Ltda, CNPJ n° 04.552.971/000103, também chamada de "Focagrícola", solicitando a apresentação dos registros contábeis dos supostos empréstimos (por ele indicados) da empresa a seu sócio, ora fiscalizado, bem como demais documentos (cópias de cheques, recibos de depósitos, extratos bancários, etc) que comprovem a efetiva entrega desses recursos (AR recebido em 21/07/2009 — vide doc. às fls. 136 a 138). Em sua resposta recebida em 28/07/2009 (doc.fls. 139 a 141), a empresa "Focagrícola" assim se manifesta: "De fato, a intimação em epígrafe relaciona 26 depósitos de diferentes valores (entre R$ 10.000,00 e R$ 591.114,50), durante o ano base de 2004, nas contas correntes mantidas pelo Fiscalizado junto aos Bancos do Brasil, Bradesco e Real, representando uma movimentação financeira em torno de R$ 2.614.390,30 (a importância de R$ 591.114,50 não deve integrar essa movimentação). O balanço do anocalendário de 2002, ex.2003, transcrito às fls.156/158 do Livro Diário n° 2 (doc.01 anexo), registra que o contribuinte Omar Resende Peres aportou recursos à intimada, sendo credor da mesma em conta corrente, mediante contrato de mútuo, da ordem de R$ 2.469.562,70. Já o balanço do anocalendário 2003, ex. 2004, transcrito às fls. 199/191 do Livro Diário n° 3 (doc.02 anexo) registra um crédito no conta corrente para o contribuinte Omar Resende Peres Filho da ordem de R$ 4.798.232,43. ... E, na verdade, tais recursos foram emprestados à intimada com vistas à aquisição do prédio da rua Francisco Sá, 17, Copacabana/Rio/RJ, no ano de 2002 (doc. 03 anexo), e sua reforma e instalação de um hotel "5 estrelas", cuja inauguração se deu em 30/08/2003, conhecido sob o nome de HOTEL PORTINARI. Por razoes de ordem econômicofinanceira e administrativa, principalmente junto ao Estado e Município, a intimada veio a rescindir o contrato de compra e venda do referido imóvel da rua Francisco Sá, 17, devolvendoo ao seu antigo proprietário (doc.04 anexo), e vendeu as instalações, maquinários e equipamentos, conforme doc. 05 anexo. Como está registrado no livro Diário n° 4, fls. 08, a intimada, pela rescisão e pela venda das instalações, maquinários, equipamentos e mobiliários, baixou no conta corrente do seu credor Omar R. Peres Filho as quantias de R$ 864.000,00 e R$ 2.400.000,00, já que a intimada (doc. 06 anexo) havia autorizado que tais valores pudessem ser recebidos diretamente pelo Fiscalizado Omar Rezende Peres Filho. Aparece o valor de R$ 591.141,50 creditado na conta do Fiscalizado Omar Resende Peres Filho, contudo, tal valor, por equívoco, pode ter sido indicado como derivado da IPIABAS, o que, de fato não é, como já esclarecido nas informações prestadas quanto aos depósitos no Termo de Intimação VI, de 02.07.09." Fl. 581DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 271 12 (...) Em relação a empresa lpiabas Agropecuária Ltda (antiga Focagrícola), o contribuinte quis demonstrar que possuía um crédito junto à empresa, decorrente de empréstimo realizado em 2002 para compra de um prédio em Copacabana, que viria a ser um hotel. Os balanços patrimoniais da empresa Ipiabas apresentados indica que seu sócio Ornar Resende Peres Filho possuía os seguintes créditos: CONTA/BALANÇOPATRIMONIAL 31/12/2002 31/12/2003 31/12/2004 OMAR RESENDE PERES FILHO C/C 3.971.200,00 2.203.523,01 373.599,06 OMAR RESENDE PERES FILHO C/C HOTEL 195.655,28 2.594.709,42 0,00 TOTAL 4.166.855,28 4.798.232,43 373.599,06 Também foi apresentado um instrumento particular de mútuo em que o fiscalizado aparece como MUTUANTE e a empresa "Focagrícola" como MUTUÁRIO, da importância de R$ 3.000.000,00, datado de 30/06/2002, sendo o prazo estipulado para pagamento até 30 de junho de 2010. Cabe observar que o Sr. Omar Resende Peres Filho assina como mutuante e como mutuário. Entretanto, a forma de pagamento do citado empréstimo não guarda nenhuma coincidência em termos de valor e data com os depósitos/créditos cuja comprovação da origem está sendo solicitada pelo Fisco. Até a presente data, o contribuinte procurou demonstrar sua disponibilidade financeira através dos documentos apresentados, quer sejam contratos de mútuo ou referente a venda de imóveis. A simples prova de sua capacidade financeira não é suficiente para comprovar a origem dos depósitos/créditos realizados em suas contas bancárias nos períodos fiscalizados. Além do que, nem há coincidência de datas e valores (quer seja pelo valor total ou pelos valores individuais), pois conforme se verifica dos documentos apresentados, a importância de R$ 864.837,00 foi recebida em 16/02/2004, diretamente do Sr. Marcos Maltz e esposa no ato da rescisão contratual, conforme autorização dada pela Focagrícola. Já a importância de R$ 2.400.000,00 foi paga em 24 parcelas de R$ 100.000,00 cada, a partir de 04/02/2004. Já para o depósito de R$ 591.141,50, em 18/02/2004, na conta de caderneta de poupança do Banco Real, inicialmente alegado como sendo proveniente da Focagrícola, a justificativa por último apresentada não faz nenhum sentido, senão vejamos. O fiscalizado argumenta que este valor foi destinado a pagamento de despesas do Bonotel Administração de Imóveis Ltda, apresentando para comprovação, o instrumento particular de acerto de contas relativo a alteração contratual desta empresa. Entretanto, verificase do conteúdo deste instrumento, que o contribuinte além de transferir suas quotas pelo preço de R$ 100.000,00, comprometeuse a entregar a quantia de R$ 591.000,00 para quitação do passivo da empresa. Ou seja, tratase de uma obrigação assumida pelo contribuinte de pagar, e não de receber. Como poderia, então, servir esse argumento para justificar um depósito/crédito? Fl. 582DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 272 13 O julgador de 1a instância sopesou os argumentos da fiscalização e da defesa da seguinte maneira (fls. 238v e 239): Aduziu o impugnante que "as negociações para devolução do prédio e alienação dos maquinismos, móveis, adereços e etc, se deu no inicio de janeiro de 2004, ultimandose a operação em 16.02.2004. Logo, as verbas como a de R$ 563.701,38 e R$ 90.000,00, que são depósitos online creditados na conta corrente do Banco do Brasil, derivaram dessa operação. ... Na verdade tais parcelas representavam sinal e princípio de pagamento de uma operação maior, concretizada em 16/02/2004." Analisandose os documentos constantes dos autos referentes a essa operação, temse que da Escritura de Rescisão, às fls. 150 a 159, é possível observar: "5 — Que os OUTORGANTES neste ato, devolvem à OUTORGADA a quantia de R$ 864.837,00 ... devolução esta feita neste ato, através de 06 (seis) Notas Promissórias, emitidas pelo OUTORGANTE em caráter "pró soluto", cada uma delas no valor de R$ 141.139,63 (...) vencendose a primeira delas no dia 05 marco de 2004 e as demais em igual dia dos meses subsequentes." Do Instrumento Particular de Venda e Compra de Máquinas, Equipamentos, Mobiliário e Objetos de Decoração, datado de 04/02/2004, às fls. 161 a 163 extraise que: "3.3. Forma de Pagamento: A título de pagamento pela venda ora efetuada e consumada, os COMPRADORES emitem, neste ato, 24 (vinte e quatro) Notas Promissórias "Pro Soluto" no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais) cada uma, com vencimentos mensais a partir desta data...." Ora, é inaceitável querer o impugnante comprovar a origem de créditos em sua conta corrente no Banco do Brasil em janeiro/2004 (R$ 563.701,38 e R$ 90.000,00, ambos em 16/01/2004 — extrato fl. 33 do Anexo I) com operações que somente ocorreram a partir de fevereiro e março de 2004, consoante transcrito. Falta aqui, a necessária coincidência (ou proximidade razoável) de datas e valores, tão bem citada pela Fiscalização. No voluntário, o recorrente argumenta que, quando tratou dos créditos de R$563.701,38 e R$90.000,00, que são depósitos online creditados na conta corrente do Banco do Brasil, não estava se referindo à parte remanescente de R$864.837,00, que foi devolvida em seis prestações de R$141.139,63. A análise cuidadosa dos textos acima transcrito, permite verificar que o sujeito passivo não teve sucesso em vincular os créditos decorrentes dos atos negociais indicados com os depósitos efetuados em suas contas correntes. De fato, não encontro quaisquer dos pagamentos indicados nos documentos relativos à compra e venda do imóvel, ou na contabilidade da empresa Focagrícola, na relação dos depósitos constantes da presente autuação (fls. 27 a 30). Fl. 583DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 273 14 Do mesmo modo, não se trouxe documentação hábil que vinculasse os depósitos de R$563.701,38 e R$90.000,00 com o negócio jurídico. Operação de mútuo da TV JUIZ DE FORA: O recorrente busca justificar diversos depósitos com empréstimos obtidos junto à TV Juiz de Fora, que foram analisados pela autoridade fiscal da seguinte maneira (fl. 17): Em 24/06/2009, procedemos diligencia junto à TV Juiz de Fora Ltda., quando solicitamos o Livro Razão referente aos anoscalendário de 2004 e 2005. Conforme se verifica do Razão Analítico, conta 1.2.28.2.01 Empréstimo a Sócio/Acionista (vide fls. 119 a 135 do ANEXO l), foi feita a contabilização dos empréstimos efetuados ao fiscalizado, bem como dos pagamentos dos respectivos empréstimos, de acordo com os contratos de mútuo apresentados. Assim, há de se considerar como comprovada a origem dos recursos utilizados para efetuar os depósitos das quantias de R$ 25.000,00 e R$ 95.000,00, respectivamente em 14/01/2004 e 17/05/2004, em sua conta no banco ABN Amro Real S/A. Entretanto, apesar de não informado pelo contribuinte, o extrato bancário do Banco Bradesco identifica, em seu histórico, mais um depósito efetuado pela TV Juiz de Fora Ltda., e que também está devidamente registrado na contabilidade da empresa, coincidindo em data e valor, a saber: em 15/07/2004, no valor de R$ 10.000,00. Da mesma descrito no parágrafo anterior, há que se considerar comprovada a origem deste depósito. Por sua vez, o julgador a quo teceu as seguintes considerações (fl. 239): Argumentou o interessado, também, que "os empréstimos obtidos pelo ora impugnante junto a TV JUIZ DE FORA, cuja documentação foi dos primeiros elementos colocados à disposição da fiscalização, nem todos foram considerados, mesmo havendo coincidência de datas e dos seus créditos respectivos, a exemplo, da quantia de R$ 25.000,00 creditada ao Banco Real poupança em 14.01.2004 e a quantia de R$ 10.000,00 de 15.02.2004 Bradesco poupança; R$ 36.000,00 creditado a conta corrente do Banco do Brasil, em 11.03.2005; e R$ 80.000,00 creditados ao Bradesco poupança em 05.08.2005." Com toda a razão, a Fiscalização somente considerou como de origem comprovada os depósitos/créditos para os quais "foi feita a contabilização dos empréstimos efetuados ao fiscalizado, bem como dos pagamentos dos respectivos empréstimos, de acordo com os contratos de mútuo apresentados." Notese, inclusive, que os depósitos de R$ 25.000,00 em 14/01/2004 e de R$ 10.000,00 em 15/07/2004 (e não 15/02/2004) não constam entre aqueles que compuseram a base de cálculo da infração. Junto à impugnação, não foram anexados quaisquer documentos capazes de invalidar a análise desses empréstimos feita pela autoridade autuante. No voluntário, o recorrente reafirma que diversos créditos, muitos com coincidência de datas e valores, não foram admitidos, a exemplo daqueles de R$25.000,00 no Banco do Brasil em 15/01/2004, R$10.000,00 em 15/02/2004 no Bradesco poupança, Fl. 584DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 274 15 R$36.000,00 no Banco do Brasil em 11/03/2005, R$80.000,00 no Bradesco poupança em 05/08/2005, que estão comprovados nos autos, concordando com o acórdão recorrido apenas no que se refere ao crédito de R$10.000,00 no Bradesco Poupança, que, corretamente, é de 15/07/2004. De fato, verifico que o empréstimo de R$25.000,00, efetuado em 14/01/2004 (fl. 119 do anexo I), já foi retirado da tributação pela fiscalização. Entretanto, consta também, na mesma folha do livro razão da mutuante, um empréstimo de R$25.000,00 em 15/01/2004, que justifica o depósito do mesmo valor e na mesma data na conta corrente do Banco do Brasil (fl. 27), pelo que deve ser excluído do lançamento. Do mesmo modo, os empréstimos de R$25.000,0 e R$11.000,00 em 11/03/2005 (fls. 130 do anexo I) justificam os depósitos de mesmo valor na mesma data (fl. 27). Entretanto, o livro razão não registra empréstimo de R$80.000,00 em 05/08/2005 (fl. 133 do anexo I). Já o empréstimo de R$10.000,00 em 15/07/2004 (fls. 122 do anexo I) já foi retirado pela fiscalização. Desta forma, considero comprovada a origem dos depósitos de R$25.000,00 em 15/01/2004, e de R$25.000,0 e R$11.000,00 em 11/03/2005. Alienação do imóvel da Av. Vieira Souto, Ipanema, Rio/RJ: O recorrente indica que, no anocalendário de 2005, os créditos mais relevantes decorreram da venda do imóvel de sua propriedade, localizado na Av. Vieira Souto, Ipanema/Rio/RJ, no valor de venda de R$2.600.000,00, iniciandose as negociações em maio de 2005, com escrituras de compra e venda e de cessão de direitos aquisitivos, operação essa que se deu formalmente em agosto de 2005, sendo que tanto as escrituras de compra e venda como a de cessão de direito, primeiro para o Sr. Luiz Octavio Almada Angelis, como a de cessão de direitos de maio de 2005 e a cessão de direito de agosto de 2005, já se encontram acostados aos autos, evidenciando a sua materialidade. De fato, o contribuinte informou, em sua declaração de ajuste do exercício de 2006 (fls. 179 a 181), ter alienado o referido imóvel por R$2.600.000,00, e consta, nas fls. 220 a 223, Escritura de Promessa de Cessão de Direitos Aquisitivos, datada de 10/06/2005, que afirma que esse preço já foi integralmente quitado. Por sua vez, nas fls. 213 a 219 consta Escritura de Compra e Venda Com Cessão de Direitos, datada de 18/08/2005, onde os proprietários do imóvel e o Sr. Luiz Octavio Almada Angelis vendem a propriedade para JPM Imobiliária Participações Ltda. por R$3.000.000,00, a serem pagos da seguinte maneira: • R$469.600,00, por ocasião da assinatura do "Recibo de Sinal", em 12/07/05, através do cheque n°0000027, do Banco n°237 Agência n°2494; • R$2.277.400,00, naquele ato (18/08/2005), mediante o cheque n° 000003, do Banco n°237 Agência n°24945; Fl. 585DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 275 16 • R$253.000,00, representados por uma única Nota Promissória, com vencimento para o dia 10/11/2005, emitida naquele ato pela outorgada em caráter "pro soluto'', em favor dos intervenientes. Entretanto, não encontro quaisquer dos pagamentos acima indicados na relação dos depósitos constantes da presente autuação (fls. 27 a 30), o que faz com que não se possa admitir quaisquer desses valores como comprovação da origem dos depósitos lançados. Quantias recebidas do SESI e de Jorge Willy Ha: O recorrente afirma que não foram considerados os créditos de R$66.899,88 ingressados na conta poupança Bradesco em 29.08.2005, decorrente de quantia recebida do SESI, e a importância de R$13.535,94 recebida de Jorge Willy Ha, valor esse que constava inclusive na DIRPF como crédito do recorrente; O julgador de 1a instância assim se posicionou quanto a esse tema (fl. 239): Afirmou, ainda, o defendente que "não foram considerados os créditos de R$ 66.899,88 ingressados na conta poupança Bradesco em 29.08.2005, decorrente de quantia recebida do SESI, e a importância de R$ 13.535,94 recebida de Jorge Willy Ha, valor esse que constava inclusive na DIPF como crédito do impugnante." Com efeito, no extrato de fl. 14 do Anexo I, consta em 29/08/2005 —"TED TRANSF ELET DISPON REMET, SERVIÇO SOCIAL DA INDUSTR". Contudo, há que se ressaltar que identificar o remetente do crédito não é o mesmo que identificar sua origem, haja vista que esta pressupõe que efetivamente seja esclarecido se os depósitos foram efetuados com recursos/rendimentos já oferecidos à tributação ou isentos; o que não foi feito. Quanto à quantia de R$ 13.535,94 (creditada em 16/09/2005 — vide extrato fl. 14 do Anexo I), é fácil observar pela tabela de fl. 28 que esta não compôs a base de cálculo do lançamento. Nada a acrescentar às observações do acórdão recorrido, que bem demonstram a não comprovação de origem para um dos depósitos indicados e a não tributação do outro. Depósitos inferiores a R$10.000,00: O recorrente alega que não podem fazer parte da base de cálculo os depósitos de pequenos valores abaixo de R$10.000.00, pois tem dificuldade de se lembrar de cada um deles. Contudo, a Súmula CARF nº 61 determina que “os depósitos bancários iguais ou inferiores a R$ 12.000,00 (doze mil reais), cujo somatório não ultrapasse R$ 80.000,00 (oitenta mil reais) no anocalendário, não podem ser considerados na presunção da omissão de rendimentos caracterizada por depósitos bancários de origem não comprovada, no caso de pessoa física”, disposição compatível como ao art. 42, da Lei no 9.430, de 1996. Entretanto, os depósitos que embasam o presente lançamento superam o limite de R$80.000,00 anuais, pelo que não procede o argumento. Fl. 586DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO Processo nº 10640.002458/200968 Acórdão n.º 2101001.316 S2C1T1 Fl. 276 17 Pedido de diligência: Penso que a fiscalização realizou um trabalho detalhado, verificando os argumentos da defesa em diligências junto às fontes pagadoras apontadas, e que realizou meticulosa depuração das contas correntes, eliminando transferências e duplicidades, o que me leva a convicção de que somente restaram os depósitos sem comprovação de origem. Toda a ação fiscal foi realizada em um período de 2 anos, onde foram oportunizadas ao fiscalizado todas as possibilidades de produção de provas em contrário. Louvese, também, a consideração detalhada dos argumentos da defesa pelo julgador de 1a instância. Nesse sentido, há que se indeferir o pedido de perícia para se indique, em analise técnica, que as operações de empréstimo da TV JUIZ DE FORA, de devolução do Edifício onde foi construído o Hotel Portinari, e de venda do apartamento da Av. Vieira Souto no RJ existiram, e que os créditos bancários se deram pela emissão de cheques e valores como decorrência desses negócios. Como já explicado, é ônus do contribuinte comprovar a origem dos depósitos em suas contas correntes. Além disso, todos os documentos referentes aos negócios indicados já estão no processo, sendo perfeitamente possível se indicar a correlação entre os pagamentos deles decorrentes e os depósitos, sem a necessidade de intervenção de perito. Diante do exposto, voto por rejeitar a preliminar de nulidade, indeferir o pedido de perícia e, no mérito, dar provimento parcial ao recurso voluntário para se excluir da tributação os depósitos de R$25.000,00 em 15/01/2004, e de R$25.000,0 e R$11.000,00 em 11/03/2005. (assinado digitalmente) José Evande Carvalho Araujo Fl. 587DF CARF MF Emitido em 04/11/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 10/ 10/2011 por JOSE EVANDE CARVALHO ARAUJO, Assinado digitalmente em 11/10/2011 por LUIZ EDUARDO DE OLI VEIRA SANTO
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Numero do processo: 10508.000741/2004-75
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Oct 26 00:00:00 UTC 2011
Data da publicação: Wed Nov 30 00:00:00 UTC 2011
Ementa: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF
Exercício: 1999
Ementa: IRPF. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. ANTECIPAÇÃO DE PAGAMENTO. AUSÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. PRAZO DECADENCIAL REGIDO PELO § 4°, ART. 150, DO CTN. RENDIMENTOS SUJEITOS AO AJUSTE ANUAL. FATO GERADOR COMPLEXIVO ANUAL.
Comprovada a ocorrência de pagamento parcial, a regra decadencial expressa no CTN a ser utilizada deve ser a prevista no § 4°, Art. 150 do CTN, conforme inteligência da determinação do Art. 62A, do Regimento Interno do CARF (RICARF), em sintonia com o decidido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Recurso Especial 973.733.
Recurso Especial do Procurador Negado.
Numero da decisão: 9202-001.839
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar
provimento ao recurso.
Matéria: IRPF- ação fiscal - Dep.Bancario de origem não justificada
Nome do relator: MARCELO OLIVEIRA
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Recorrente PROCURADORIA GERAL DA FAZENDA NACIONAL (PGFN) Interessado WALDIR ALVES DOS REIS Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física IRPF Exercício: 1999 Ementa: IRPF. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. ANTECIPAÇÃO DE PAGAMENTO. AUSÊNCIA DE OCORRÊNCIA DE DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO. PRAZO DECADENCIAL REGIDO PELO § 4°, ART. 150, DO CTN. RENDIMENTOS SUJEITOS AO AJUSTE ANUAL. FATO GERADOR COMPLEXIVO ANUAL. Comprovada a ocorrência de pagamento parcial, a regra decadencial expressa no CTN a ser utilizada deve ser a prevista no § 4°, Art. 150 do CTN, conforme inteligência da determinação do Art. 62A, do Regimento Interno do CARF (RICARF), em sintonia com o decidido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), no Recurso Especial 973.733. Recurso Especial do Procurador Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso. Fl. 377DF CARF MF Impresso em 27/01/2012 por AFONSO ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/01/2012 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES 2 (assinado digitalmente) HENRIQUE PINHEIRO TORRES Presidente. (assinado digitalmente) Marcelo Oliveira Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Henrique Pinheiro Torres (Presidente em Exercício), Gonçalo Bonet Allage (VicePresidente em exercício), Luiz Eduardo de Oliveira Santos, Alexandre Naoki Nishioka (Conselheiro Convocado), Marcelo Oliveira, Manoel Coelho Arruda Junior, Gustavo Lian Haddad, Francisco Assis de Oliveira Junior, Rycardo Henrique Magalhães de Oliveira, Elias Sampaio Freire. Fl. 378DF CARF MF Impresso em 27/01/2012 por AFONSO ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/01/2012 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES Processo nº 10508.000741/200475 Acórdão n.º 920201.839 CSRFT2 Fl. 342 3 Relatório Tratase de Recurso Especial por contrariedade, fls. 0326, interposto pela nobre PGFN contra acórdão, fls. 0307, que decidiu, por maioria de votos, dar provimento ao recurso, devido a decadência. O acórdão em questão possui as seguintes ementa e decisão: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 1999 DECADÊNCIA AJUSTE ANUAL LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO Sendo a tributação das pessoas físicas sujeita a ajuste na declaração anual e independente de exame prévio da autoridade administrativa, o lançamento é por homologação, hipótese em que o direito de a Fazenda Nacional lançar decai após cinco anos, contados de 31 de dezembro de cada anocalendário questionado. Recurso provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso interposto por WALDIR ALVES DOS REIS. ACORDAM os Membros da Quarta Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, por maioria de votos, DAR provimento ao recurso, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado.. Vencido o Conselheiro Pedro Paulo Pereira Barbosa, que não acolhia a decadência. 0 Conselheiro Antonio Lopo Martinez declarouse impedido. Em seu recurso especial a PGFN alega, em síntese, que não houve antecipação do tributo, portanto a regra decadencial a ser utilizada deve ser a expressa no I, Art. 173 do CTN, não havendo que se falar em decadência da exação referente ao ano de 1998, já que o contribuinte foi intimado do lançamento em 31/12/2004. Por despacho, fls. 0333, deuse seguimento ao recurso especial. O sujeito passivo apresentou suas contra razões, fls. 0336, alegando, em síntese, que a decisão deve ser mantida, pois a regra decadencial utilizada (§ 4°, Art. 150 do CTN) foi a correta. Os autos retornaram ao Conselho, para análise e decisão. É o Relatório. Fl. 379DF CARF MF Impresso em 27/01/2012 por AFONSO ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/01/2012 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES 4 Voto Conselheiro Marcelo Oliveira Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do Recurso Especial e passo à análise de suas razões recursais. O recurso possui seu fundamento em determinação expressa no Regimento Interno da CSRF (RICSRF). Portaria 147/2007: Art. 7º Compete à Câmara Superior de Recursos Fiscais, por suas Turmas, julgar recurso especial interposto contra: I decisão nãounânime de Câmara, quando for contrária à lei ou à evidência da prova; O cerne da questão está em decidir qual regra decadencial deve ser aplicada ao presente caso. O Código Tributário Nacional (CTN) trata da decadência nos seguintes artigos: CTN: Art.150 O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, operase pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. ... § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considerase homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. ... Art.173 O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5 (cinco) anos, contados: I do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II da data em que se tornar definitiva à decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Fl. 380DF CARF MF Impresso em 27/01/2012 por AFONSO ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/01/2012 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES Processo nº 10508.000741/200475 Acórdão n.º 920201.839 CSRFT2 Fl. 343 5 Parágrafo Único O direito a que se refere este artigo extingue se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. Na interpretação dos artigos acima tem sido entendimento constante em julgados do Superior Tribunal de Justiça que, nos casos de lançamento em que o sujeito passivo antecipa parte do pagamento da contribuição, aplicase o prazo previsto no § 4º do art. 150 do CTN, ou seja, o prazo de cinco anos passa a contar da ocorrência do fato gerador, uma vez que resta caracterizado o lançamento por homologação. Se, no entanto, o sujeito passivo não efetuar pagamento algum, nada há a ser homologado e, por conseqüência, aplicase o disposto no art. 173 do CTN. O Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), através de alteração promovida pela Portaria do Ministro da Fazenda n.º 586, de 21.12.2010 (Publicada no em 22.12.2010), passou a fazer expressa previsão no sentido de que “As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF” (Art. 62A do anexo II). No que diz respeito a decadência dos tributos lançados por homologação temos o Recurso Especial nº 973.733 SC (2007/01769940), julgado em 12 de agosto de 2009, sendo relator o Ministro Luiz Fux, que teve o acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC e da Resolução STJ 08/2008, assim ementado: “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL .ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4º, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial qüinqüenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). Fl. 381DF CARF MF Impresso em 27/01/2012 por AFONSO ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/01/2012 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES 6 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontrase regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 163/210). 3. O dies a quo do prazo qüinqüenal da aludida regra decadencial regese pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, § 4º, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3ª ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10ª ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3ª ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 183/199). 5. In casu, consoante assente na origem: (i) cuidase de tributo sujeito a lançamento por homologação; (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado das contribuições previdenciárias não restou adimplida pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deuse em 26.03.2001. 6. Destarte, revelamse caducos os créditos tributários executados, tendo em vista o decurso do prazo decadencial qüinqüenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo. 7. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. Nesse sentido, encontramos informação do Fisco, fls. 0230, idêntica à prestada pelo sujeito passivo, fls 006, que em 1998 houve pagamento do tributo, ponto determinante para a aplicação da regra expressa no § 4°, Art. 150 do CTN. Portanto, não deve ser alterada a decisão proferida. Fl. 382DF CARF MF Impresso em 27/01/2012 por AFONSO ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/01/2012 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES Processo nº 10508.000741/200475 Acórdão n.º 920201.839 CSRFT2 Fl. 344 7 CONCLUSÃO: Em razão do exposto, voto por negar provimento ao recurso da nobre PGFN, nos termos do voto. (assinado digitalmente) Marcelo Oliveira Relator Fl. 383DF CARF MF Impresso em 27/01/2012 por AFONSO ANTONIO DA SILVA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 10/01/2012 por MARCELO OLIVEIRA, Assinado digitalmente em 12/01/2012 por HENRIQUE PINHEIRO TORRES
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