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Numero do processo: 12448.735782/2012-73
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Primeira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 13 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Nov 11 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2008, 2009
ISENÇÃO TRIBUTÁRIA. ASSOCIAÇÕES CIVIS SEM FINS LUCRATIVOS. REQUISITOS LEGAIS.
Inócua a invocação de sigilo bancário, por uma entidade que se pretende isenta, contra a obrigatoriedade de comprovação da destinação/aplicação de recursos.
DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. FALTA DE PAGAMENTO DE ANTECIPADO.
Ausente a antecipação do pagamento, há de se aplicar a norma prevista no art. 173, I, do CTN, contando-se o prazo quinquenal a partir do primeiro dia do exercício seguinte ao da ocorrência do fato gerador.
TRIBUTAÇÃO DE RECEITAS ESCRITURADAS. ATUALIZAÇÃO DE CRÉDITOS. ERRO. PROVA.
Os livros comerciais provam contra o seu autor, a quem compete demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.
GLOSA DE DESPESAS. PROVISÕES NÃO COMPROVADAS.
Mantém-se a glosa das despesas com provisões escrituradas, quando não apresentada documentação de suporte para comprovar serem decorrentes de perdas na realização de créditos, e nem apresentadas as necessárias provas acerca da observância dos requisitos legais de dedutibilidade.
Numero da decisão: 1302-001.973
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em REJEITAR as preliminares de nulidade e decadência suscitadas e, no mérito, NEGAR provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator.
(documento assinado digitalmente)
LUIZ TADEU MATOSINHO MACHADO - Presidente.
(documento assinado digitalmente)
ROGÉRIO APARECIDO GIL - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Alberto Pinto Souza Júnior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Marcelo Calheiros Soriano, Rogério Aparecido Gil, Ana de Barros Fernandes Wipprich, Talita Pimenta Félix e Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente).
Nome do relator: ROGERIO APARECIDO GIL
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ASSOCIAÇÕES CIVIS SEM FINS LUCRATIVOS. REQUISITOS LEGAIS. Inócua a invocação de sigilo bancário, por uma entidade que se pretende isenta, contra a obrigatoriedade de comprovação da destinação/aplicação de recursos. DECADÊNCIA. LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. FALTA DE PAGAMENTO DE ANTECIPADO. Ausente a antecipação do pagamento, há de se aplicar a norma prevista no art. 173, I, do CTN, contandose o prazo quinquenal a partir do primeiro dia do exercício seguinte ao da ocorrência do fato gerador. TRIBUTAÇÃO DE RECEITAS ESCRITURADAS. ATUALIZAÇÃO DE CRÉDITOS. ERRO. PROVA. Os livros comerciais provam contra o seu autor, a quem compete demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. GLOSA DE DESPESAS. PROVISÕES NÃO COMPROVADAS. Mantémse a glosa das despesas com provisões escrituradas, quando não apresentada documentação de suporte para comprovar serem decorrentes de perdas na realização de créditos, e nem apresentadas as necessárias provas acerca da observância dos requisitos legais de dedutibilidade. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 44 8. 73 57 82 /2 01 2- 73 Fl. 2929DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 3 2 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em REJEITAR as preliminares de nulidade e decadência suscitadas e, no mérito, NEGAR provimento ao recurso voluntário, nos termos do voto do relator. (documento assinado digitalmente) LUIZ TADEU MATOSINHO MACHADO Presidente. (documento assinado digitalmente) ROGÉRIO APARECIDO GIL Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Alberto Pinto Souza Júnior, Marcos Antonio Nepomuceno Feitosa, Marcelo Calheiros Soriano, Rogério Aparecido Gil, Ana de Barros Fernandes Wipprich, Talita Pimenta Félix e Luiz Tadeu Matosinho Machado (Presidente). Relatório Tratase de Recurso Voluntário (fl. 2871) interposto face ao acórdão 16 57.876 da 7ª Turma da DRJ de São Paulo SP que, por unanimidade de votos, julgou improcedente a impugnação da recorrente, sobre questões que envolvem a isenção tributária da recorrente, cujo acórdão recebeu a seguinte ementa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2008, 2009 Nulidade. Falta de Apreciação de Argumentos de Defesa. No âmbito do procedimento de suspensão da isenção tributária, após emitida a notificação fiscal, com os fundamentos fáticos e jurídicos, para o ato de suspensão do benefício, e apresentada a defesa prévia da entidade isenta, compete ao Delegado da Receita Federal decidir sobre a procedência das alegações. No exercício desta competência, não é obrigado a manifestarse sobre todas as alegações da defesa, nem a aterse aos fundamentos indicados por ela ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão. Cabe à autoridade competente decidir a questão de acordo com o seu livre convencimento, utilizandose dos fatos, das provas, da jurisprudência, dos aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Anocalendário: 2008, 2009 Isenção Tributária. Associações Civis Sem Fins Lucrativos. Requisitos Legais. Fl. 2930DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 4 3 As associações civis que prestem os serviços para os quais houverem sido instituídas e os coloquem à disposição do grupo de pessoas a que se destinam, sem fins lucrativos, para a regular fruição do benefício da isenção tributária, devem fazer a prova de que: (i) não distribuem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; (ii) aplicam integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; e (iii) mantêm escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. Inócua a invocação de sigilo bancário, por uma entidade que se pretende isenta, contra a obrigatoriedade de comprovação da destinação/aplicação de recursos. Decadência. Lançamento por Homologação. Falta de Pagamento de Antecipado. Para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, ocorrendo o pagamento antecipado por parte do contribuinte, o prazo decadencial para o lançamento de eventuais diferenças é de cinco anos a contar do fato gerador, conforme estabelece o § 4° do art. 150 do CTN. Ausente a antecipação do pagamento, há de se aplicar a norma prevista no art. 173, I, do CTN, contando se o prazo qüinqüenal a partir do primeiro dia do exercício seguinte ao da ocorrência do fato gerador. Suspensão da Isenção Tributária. Falta de Comprovação de Despesas Escrituradas. Verificada a falta de comprovação de despesas escrituradas na contabilidade da entidade isenta, deve ser a suspensão do benefício fiscal, porque comprometida a prova acerca da regular destinação dos recursos (não distribuição de qualquer parcela do patrimônio ou das rendas e aplicação integral dos recursos disponíveis na manutenção dos objetivos institucionais). Suspensão da Isenção Tributária. Exercício de Atividades Econômicas Incompatíveis com as Finalidades Institucionais. A isenção tributária restringese ao eventual superávit em atividades que se integrem nos objetivos ou finalidades da entidade, não havendo amparo jurídico a que tais entidades se sirvam da exceção tributária, para, em condições privilegiadas e extravasando a órbita de seus objetivos, pratiquem atos de natureza econômicofinanceira, concorrendo com organizações que não gozem da isenção. Uma associação civil institucionalmente dedicada à defesa e proteção dos interesses dos músicos militares e civis não pode exercer atividades econômicas, como são o loteamento de imóveis, a aquisição de crédito de terceiros, para obtenção de ganho com a sua recuperação, e principalmente outras operações de natureza não regularmente comprovadas. Fl. 2931DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 5 4 ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2008, 2009 Tributação de Receitas Escrituradas. Atualização de Créditos. Erro. Prova. Os livros comerciais provam contra o seu autor, a quem compete demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Glosa de Despesas. Provisões Não Comprovadas. Mantémse a glosa das despesas com provisões escrituradas, quando não apresentada documentação de suporte para comprovar serem decorrentes de perdas na realização de créditos, e nem apresentadas as necessárias provas acerca da observância dos requisitos legais de dedutibilidade. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido Tratavase, inicialmente, de Notificação Fiscal, de fls. 02/46, contra a entidade acima identificada, para Suspensão da Isenção Tributária, relativa ao Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica IRPJ, à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSLL e às Contribuições para o Programa de Integração Social PIS e para o Financiamento da Seguridade Social Cofins, elaborada pela Divisão de Fiscalização da DRF Rio de Janeiro I, de conformidade com as disposições do art. 32 da Lei n° 9.430, de 27 de dezembro de 1996. A recorrente foi intimada do acórdão do DRJ, em 21/06/2014 (fls. 2.867). Interpôs recurso voluntário em 14/07/2014 (fls. 2.870/2.897), cujas razões são a seguir sintetizadas: a) a entidade ora impugnante foi fiscalizada pela DRF Rio de Janeiro, quanto aos resultados dos anos calendários de 2008 e 2009, no período de 31 de maio de 2011 a 06 de dezembro de 2012; diversas e sucessivas vezes, intimada pela Delegacia a apresentar a sua contabilidade e documentação fiscais; b) a DRF Rio de Janeiro expediu a minuciosa Notificação Fiscal. Concluiu pela necessidade de suspensão da isenção de impostos federais de que goza a entidade, a se realizar eventualmente por ato declaratório da Delegada da Receita Federal no Rio de Janeiro. A DRF poderia lavrar os autos de infração respectivos, com a cobrança dos impostos que a fiscalização julgasse devidos; c) a recorrente deve continuar no gozo da isenção dos tributos federais, tendo em vista não ter cometido infrações de natureza fiscal que possam invalidar os atos por ela praticados, sempre no interesse de seus associados e em cumprimento aos fins a que se propôs, desde o seu registro e a sua fundação em 18 de janeiro de 1930; Fl. 2932DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 6 5 d) pretende provar que não houve de sua parte, nos anos calendário de 2008 e 2009, o cometimento de nenhuma infração à lei de regência da isenção em exame; e) suscitou preliminar de nulidade de toda a notificação, pelo fato de a fiscalização ter praticado atos diversos, relacionados com a quebra do sigilo bancário da recorrente; f) reitera as razões de seu impugnação de modo que seja considerada como integrante desse recurso; g) acresce às razões da impugnação novos comentários a respeito das conclusões da autoridade julgadora contidas no acórdão ora recorrido, realizando, assim, uma crítica das mesmas em sua defesa; h) que a fiscalização constrói uma série extensas de presunções, visando descaracterizar as atividades da recorrente como não compreendias em seu objeto social, qual seja, o de prestar assistência de modo geral aos seus associados, músicos militares, e às suas famílias; i) que houve infração ao art. 5º, inciso XII da Constituição Federal, que garante o sigilo de dados a todos os cidadãos, incluindo obviamente os dados bancários; que o acórdão recorrido se vale exclusivamente dos dados bancários para tirar as suas conclusões acerca do cometimento de inúmeros ilícitos; j) reitera pedido de sobrestamento do feito, conforme tem sido a praxe do CARF em seus pronunciamentos; k) que entregar à fiscalização a sua movimentação bancária, em qualquer hipótese (a não ser que haja uma determinação partida no Judiciário nesse sentido), significa quebra indevida ou ilegal do sigilo bancário da entidade. Qualquer justificativa que vise abonar a citada quebra não pode prosperar em definitivo, sob pena de afrontar os preceitos constitucionais. l) intimou a entidade foi intimada várias vezes a apresentar extratos bancários diversos, relativos a aplicações financeiras e outros ativos da mesma natureza, o que se pode constatar, por exemplo, com o que consta em fls. 05 da citada notificação, transcrito a seguir: "Apresentar: Extratos emitidos pela Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA) e pela Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e pelas empresas Cruzeiro do Sul S/A Corretora de Valores e Mercadorias (CNPJ 04.169.504/000190) e Prosper S/A Corretora de Valores e Câmbio... etc, etc, referentes às aplicações efetuadas e aos rendimentos auferidos durante os anos de 2008 e 2009;..." m) que tal intimação acima foi feita em 12 de janeiro de 2012. Em 13 de fevereiro de 2012, a fiscalização expediu nova intimação à AMBRA, cujo Fl. 2933DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 7 6 texto consta em fls. 7 daquele processo, e nela, está dito que a entidade deve apresentar: "Extratos emitidos pela Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA) e pela Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e pelas empresas Cruzeiro do Sul S/A e Prosper S/A, referentes às aplicações efetuadas e aos rendimentos auferidos durante os anos calendários de 21008 e 2009, etc, etc, etc..." n) que é claríssima a quebra do sigilo bancário da entidade fiscalizada pela autoridade administrativa, sem que haja qualquer autorização judicial prévia para tanto, em claro conflito com as conclusões do Acórdão exarada pelo Supremo Tribunal Federal, em 15 de dezembro de 2010, ao apreciar o Recurso Extraordinário no. 389.808, no qual está firmado o preceito seguinte: SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS RECEITA FEDERAL Confuta com a Carta da República norma legal atribuindo à Receita Federal parte na relação jurídico tributária o afastamento do sigilo de dados relativos ao contribuinte. o) que determina o disposto no artigo 62A e parágrafos do vigente Regulamento Interno do CARF (portaria MF ns 256, com as alterações posteriores), que as decisões definitivas de mérito proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça, em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelo Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos Conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF; p) determinava ademais o citado regimento interno que ficariam sobrestados os julgamentos dos recursos sempre que o STF também sobrestasse o julgamento dos recursos extraordinários da mesma matéria, até que fosse proferida decisão nos termos do artigo 543B. q) tal determinação não mais existe em nossos dias. Isto porque a recente Portaria do Ministro da Fazenda nº 545, de 18 de novembro de 2013, revogou os dois parágrafos do artigo 62 A do Regimento interno do CARF que dispunham acerca do sobrestamento. Resta, hoje, ao intérprete, aplicar as disposições contidas no caput do artigo 62A, não revogadas pela portaria, segundo as quais as decisões proferidas pelo CARF devem refletir o entendimento manifestado pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral e pelo Superior Tribunal de Justiça em sede de recursos repetitivos; r) que a quebra do sigilo bancário que marcou o procedimento fiscal de forma decisiva tornou nulo todo o citado procedimento, uma vez que não precedida da necessária licença judicial. s) não pode ser considerada uma desobediência à ordem fiscal o fato de a entidade não ter apresentado, a contento da fiscalização, o rol de despesas Fl. 2934DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 8 7 financeiras realizadas nos anos calendários, conforme consta em fls. 20 da Notificação Fiscal ora atacada, nos termos aqui transcritos verbis: "após ser reiteradamente intimada, a AMBRA não logrou apresentar a documentação comprobatória dos lançamentos de valores mais significativos das rubricas "Outras Despesa Financeiras" referentes aos anos calendários de 2008 e 2009." t) Por outro lado, no auto de infração que contém o lançamento ora guerreado, notificado ao contribuinte em 10 de dezembro de 2013, consta que (Termo de Verificação Fiscal, fls. 09): "(Terceiro parágrafo do texto) Quanto ao item 1 acima, os esclarecimentos foram insuficientes e nenhum documento foi apresentado, em relação ao item 3, os esclarecimentos e os documentos apresentados foram insuficientes; e acerca do item 5, os esclarecimentos apresentados foram considerados insuficientes." u) por mais de uma vez, a fiscalização questionou a recorrente a respeito dos mesmos documentos (em geral, documentos que comprovariam as supostas despesas financeiras), numa repetição desnecessária e, como já visto, desautorizada por uma ordem judicial prévia; v) requer o sobrestamento do feito até que o STF julgue a repercussão geral quanto à quebra administrativa do sigilo bancário; requerse sejam cancelados os lançamentos relativos aos anos calendários de 2008 e 2009, uma vez declaradas nulas a suspensão da isenção de tributos federais de que goza a Impugnante; w) que no mérito, a fiscalização deixou de mencionar a dimensão dos negócios realizados nos anos calendários pela entidade. deixou também de comparar tais negócios com o valor do patrimônio líquido da AMBRA e demais dados de seu ativo. caso o fizesse, concluiria que os negócios realizados podem ser considerados normais e usuais para uma entidade com as dimensões financeiras e econômicas da AMBRA; x) Primeira infração item 0001 (fls. 03 do auto de infração): Despesas não comprovadas apuradas conforme descrito no Termo de Constatação Fiscal em anexo. Em seguida, a fiscalização lista despesas diversas relativas aos meses de março de 2008 a 31 de dezembro de 2009; y) com relação às rubricas "outras despesas financeiras", "outras despesas da atividade", "outros serviços" e "renda variável", nos valores respectivos de R$4,433.603,56, R$2.390.919,01, R$287.000,00, R$200.000,00 e R$2.035.943,74, todas elas relativas aos anos calendários de 2008 e 2009, conforme consta em fls. 19 do Termo de Constatação Fiscal, tais valores se tornam compreensíveis e normais caso os comparemos com o faturamento mensal da entidade hoje fixado em R$4.350.000,00 (quatro milhões, trezentos e cinquenta mil reais) em recursos provenientes de Fl. 2935DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 9 8 descontos em folha de pagamento dos associados para a quitação de parcelas de empréstimos contraídos; z) a comparação se faz necessária, uma vez que dela se descuidou totalmente a fiscalização, esquecendo de mencionála; os números são reais, as despesas foram efetivamente realizadas e o quantitativo das mesmas é perfeitamente compatível com o faturamento mensal da empresa; aa) que a fiscalização nunca mencionou as reais dimensões da AMBRA, que foi criada em 1930, possui um faturamento mensal comparável ao de médias empresas, possui setenta correspondentes e mais duas unidades em funcionamento, além de sua sede, e se serve, ademais, do concurso de pelo menos sessenta empregados em atividade à época da fiscalização; bb) que tais dados, somados ao valor médio de seu Patrimônio Líquido nos últimos anos, fixado em R$15.000.000,00 (quinze milhões de reais), demonstram nitidamente a presença de uma entidade de dimensões significativas para os seus associados, capaz de prestar serviços os mais relevantes no terreno do crédito, que vem a ser uma das áreas da economia mais incentivadas pelo atual governo; cc) que não pode prosperar a afirmação da fiscalização constante em fls. 35 da Notificação que consta no processo, no sentido de que são grandes as quantias envolvidas nas atividades retro mencionadas, quantias essas relacionadas com (1) implantação de um loteamento todo ele voltado para os associados da AMBRA (2) a aquisição dos direitos creditórios de uma instituição financeira e (3) a prestação de serviços de intermediação de negócios remunerados pelo Banco Cruzeiro do Sul, por meio do pagamento de comissões sobre o valor principal de pedidos de empréstimos realizados pelos associados da Impugnante; dd) fundamentando o seu entendimento de que tais operações devem ser consideradas irregulares, a Fiscalização cita trechos do Padecer Normativo CST n9 162, de 1974, segundo o qual (1) as entidades enfocadas no parecer são de diminuta significação econômica e, além disso, (2) as entidades isentas extravasam a órbita de seus objetivos para concorrer deslealmente com organismos que não gozam de isenção. ee) está dito no trecho citado que verbis: "o desenvolvimento de atividades paralelas, como a implantação de loteamento com finalidades residenciais, a aquisição de direitos creditórios junto a uma instituição financeira com o objetivo de recuperar tais créditos e gerar resultado positivo, e a prestação de serviços de intermediação de negócios, é incompatível com a referida isenção, não só pelo desvirtuamento do objetivo da sociedade, como também, pelo fato da concorrência com empresas prestadoras de serviços não beneficiadas pela isenção." Fl. 2936DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 10 9 ff) que os imóveis de Araruama RJ serão vendidos somente aos associados da AMBRA, o que constitui o estrito cumprimento dos objetivos sociais da entidade. Além disso, o produto das vendas será revertido em proveito dos mesmos associados; gg) quanto aos serviços de intermediação de créditos junto aos bancos listados, os mesmos só poderão ser entendidos caso se leve em consideração as dimensões econômicas e financeiras da AMBRA. Enfim, o que a fiscalização vê como desvirtuamento dos objetivos sociais da entidade, tornase razoável, oportuno e usual até, em praticamente todas as entidades do porte da recorrente; hh) que os fundamentos da autuação fiscal, no sentido de suspender a isenção de que goza a AMBRA, não procedem, quer pela aplicação da lei, que não autoriza fazêlo, quer pela realidade dos fatos, que espelham sempre uma entidade pujante financeiramente, voltada para a assistência aos associados e seus familiares; ii) ainda com relação ao mérito da autuação, a extensa digressão feita pelo Termo de Constatação Fiscal, em fls. 19/21, acerca das relações da AMBRA com as empresas Ábaco Gestão Financeira, Allog Gestão Empresarial Ltda., JBC Target Empresarial Ltda. e Preserv Operadora de Serviços Ltda. está toda calcada no fato de que tais empresas, no dizer da fiscalização, estavam inativas ou apresentavam falhas quanto à sua inscrição no CNPJ; jj) que tais fatos (as irregularidades quanto ao CNPJ) não podem ser por si sós, motivo para a glosa de despesas ou a desconsideração de quaisquer operações feitas com a empresa fiscalizada. Isto porque os contribuintes estão impedidos por uma vedação contida na lei maior (Lei nº 5.172) de conhecerem a situação fiscal de seus pares. kk) que uma empresa não é obrigada por lei a conhecer a situação fiscal de outra empresa, uma vez que tal situação, que constitui uma verdadeira intimidade empresarial, está protegida pelo sigilo fiscal. Compete ao fisco conhecer a operação feita e provar, nos autos, que tal operação não se realizou, em vez de simplesmente glosar a despesa resultante dessa operação, pelo simples fato de estar a empresa contratada em situação irregular perante o fisco. ll) que AMBRA errou ao considerar aquilo que era despesa como receita, isto é, atualizou os seus supostos créditos, aumentando o seu risco (despesa), mas lançando o resultado como receita erroneamente em sua contabilidade; mm) finalmente, a glosa das provisões operacionais operouse, de forma idêntica, sem que fosse apresentada qualquer prova a respeito; nn) que a AMBRA é uma associação sem fins lucrativos, que não tem como preocupação ou objetivo produzir lucros. Ao ser obrigada a transformar, da noite para o dia, a sua escrituração contábil, formada de receitas e Fl. 2937DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 11 10 despesas, numa escrituração que visa a apuração do lucro real, teve que realizar, convenhamos, uma façanha de magnitude acentuada. Ficou obrigada, da noite para o dia, por conta dos insistentes comandos da fiscalização, de realizar lançamentos os mais variados, com os quais, aliás, não estava acostumada. Nada mais natural que criasse provisões para perdas, visando espelhar exatamente as inúmeras e usuais perdas financeiras verificadas nos créditos por ela concedidos aos seus associados; oo) a glosa do total dessas provisões é mais um ato de truculência da fiscalização que, de forma alguma, pode ter o mínimo cabimento. É sabido que quem tem receita, tem perdas. Ainda mais no ramo de empréstimos a pessoas físicas, atividade difícil e de alto risco, que envolve cuidados especiais e grande conhecimento do mercado. Atuar aí é ter certamente perdas no sentido financeiro da palavra, já que os contratos são sumários e, apesar dos cuidados, não há como selecionar apenas os associados adimplentes. pp) não se justifica, portanto, a glosa sob o argumento de que as provisões não foram provadas. Diante da insuficiência de prova, competia à fiscalização aprofundar a auditoria de uma forma tal a buscar os elementos necessários à formação de um juízo conclusivo. qq) bastaria, portanto, à fiscalização considerar o valor da receita com a atividade para, em seguida, aceitar como devido, a título de provisão, um valor razoável de perdas consideradas despesas operacionais. Ao contrário disso, realizouse a glosa do total declarado pela fiscalizada como provisão em todos os semestres, o que obviamente não é aceito em auditoria. rr) transformouse algo que era muito fácil (calcular o valor da provisão) em algo aparentemente impossível, apenas para efetuar uma glosa inconsistente e descabida; ss) no que tange ao item 8.4 do Termo de Constatação Fiscal, constante em fls. 43, que menciona a apuração do PIS e da COFINS, importa lembrar que a AMBRA, como entidade imune e isenta de tributos, não estava sujeita ao regime de cumulatividade dessas contribuições. Nada mais natural, portanto, que ocorresse uma falta de recolhimento das mesmas e uma não apresentação da DCTF relativa ao suposto débito. Por outro lado, uma vez restaurada a imunidade e a isenção de que goza a AMBRA, será necessária uma correção da exigência fiscal relativa a essas mesmas contribuições sociais, cancelandose o lançamento. tt) não podem ser aceitos os argumentos da fiscalização acerca da decadência que impede o fisco de lançar tributos cujos fatos geradores ocorreram a mais de cinco anos. diz o Termo de Constatação Fiscal, em fls. 44, que, verbis: "No que tange ao IRPJ e CSLL, se aplica o mesmo entendimento acima, pois os períodos de apuração Fl. 2938DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 12 11 referentes aos primeiro, segundo e terceiro trimestres de 2008, conforme dispõe o art. 150 parágrafo quarto do CTN, também teriam sido atingidos pela decadência. No entanto, considerando que tanto o lançamento do IRPJ, como o da CSLL, também se dão por homologação, em relação aos períodos de apuração em questão, também não realizou qualquer recolhimento a título de IRPJ e CSLL, para fins de cômputo da decadência, do mesmo modo, aplicase a regra do artigo 173, inciso I, do CTN, contandose o prazo de cinco anos do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado uu) não obstante o entendimento da fiscalização, expresso no trecho acima transcrito do Termo de Constatação, somos de parecer, em sentido contrário, que o período de 01/01/2008 a 10/12/2008 está todo ele atingido pela decadência, não podendo ser objeto de lançamento pelo fisco, ainda que de ofício. Isto por dois motivos, a saber: (1) como entidade que goza de isenção e imunidade, não estava a AMBRA sujeita à apuração do IRPJ e da CSLL, e (2) o fato de não ter feito recolhimentos de IRPJ e CSLL no período, não determina seja a decadência fixada de outra forma que não a de cinco anos contados da ocorrência dos fatos geradores; vv) a orientação acima exposta, contrária ao entendimento do fisco, decorre do fato de que, nos lançamentos por homologação, o que se homologa não é o recolhimento dos tributos, mas a situação fiscal do contribuinte, que tanto pode ser de débito quanto de crédito. \si TI, nos recolhimentos mensais de IPI, por exemplo, a empresa pode apurar um saldo devedor ou um saldo credor, no período mensal. Ora, na ocorrência de saldo devedor, não haverá recolhimentos apesar de haver lançamentos por homologação, que são típicos do IPI, do IRPJ e da CSLL; ww) a orientação exposta encontra amparo no Acórdão nº 10193.457, da conceituada Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, como comprova os termos incisivos da sua ementa publicada no D.O.U. de 02.10.2001, verbis: "DECADÊNCIA IRPJ ANO CALENDÁRIO 1992. O imposto de renda pessoa jurídica se submete à modalidade de lançamento por homologação, eis que é exercida pelo contribuinte a atividade de determinar a matéria tributável, o cálculo do imposto e pagamento do quantum devido, independentemente de notificação, sob condição resolutória de ulterior homologação/' xx) E, logo em seguida: "A ausência de recolhimento do imposto não altera a natureza do lançamento, vez que o contribuinte continua sujeito aos encargos decorrentes da obrigação adimplida (atualização, multa, juros, etc, a partir da data de Fl. 2939DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 13 12 vencimento originalmente previsto, ressalvado o disposto no art. 106 do CTN). Preliminar que se acolhe." yy) que o fato de a AMBRA não ter realizado recolhimentos de IRPJ e CSLL em 2008 não possui o condão de alterar a regra de contagem do prazo de decadência, que continua sendo de cinco anos contados da ocorrência dos fatos geradores. Em razão disso, todos os fatos geradores ocorridos no período de 01/01/2008 a 31/12/2008 estão atingidos pela decadência, devendo ser considerado nulo o lançamento a eles relativo. Outro princípio que pode ser aqui invocado em defesa da contagem de prazo da decadência em favor da AMBra é o que afirma que ninguém está legalmente obrigado ao impossível. Ora, na situação vertente, a AMBRA sempre foi considerada entidade imune. Seria impossível, portanto, para ela, realizar recolhimentos de IRPJ e CSLL, por razões óbvias. zz) requer o cancelamento do lançamento dos tributos e contribuições contido no auto de infração, com o arquivamento do feito, uma vez consideradas as razões preliminares e de mérito contidas nesta peça de defesa. É o relatório. Voto Conselheiro ROGÉRIO APARECIDO GIL O recurso voluntário é tempestivo e a recorrente está regularmente representada. Conheço do recurso. Preliminarmente, a recorrente alega que houve quebra de sigilo bancário e que as informações e documentos sobre movimentações financeiras teriam sido obtidas, sem autorização judicial. Alega que o ADE que suspendeu a isenção da recorrente e os lançamentos em questão teriam sido formalizados, com base em informações e documentos bancários. E que se foram obtidos de forma indevida, não poderiam ser considerados pela fiscalização. O acórdão recorrido afasta essa preliminar, com base nas seguintes fundamentações: Da quebra de sigilo bancário Não tem qualquer razão a defesa quanto à preliminar de nulidade do procedimento, da notificação fiscal e, consequentemente, do Ato Declaratório Executivo ADE, por suposta quebra sigilo bancário da entidade. Para demonstrar o completo despropósito da alegação, antes de mais nada, convém explicitar que não se está de forma alguma operando no campo da imunidade constitucionalmente garantida, porque não se trata de instituição de educação e de assistência social (art. 150, VI, "c" da Constituição Federal CF) ou de entidade beneficente de assistência social (art. 195, §7° da Constituição Federal CF). Fl. 2940DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 14 13 Segundo bem explicitado no art. 12 da Lei n° 9.532, de 10 de dezembro de 1997, para ser considerada "inst i tuição de assistência social" a entidade deve prestar os serviços para os quais houver sido instituída e os colocar à disposição da população em geral, em caráter complementar às atividades do Estado, sem fins lucrativos. No Estatuto Social juntado aos autos, temse que a AMBra Associação dos Músicos Militares do Brasil congrega apenas músicos das Forças Armadas e Auxiliares, civis e militares, sendo ali qualificada como uma sociedade de caráter civil, de direito privado, beneficente, sem fins lucrativos, cultural e desportiva, e que tem por objeto os seguintes fins: a) Congregar fraternalmente os músicos militares, militares em geral, civis, e seus familiares, defendendo os seus interesses; b) Constituirse em órgão de amparo a todas as iniciativas julgadas úteis aos sócios e seus familiares; prestar auxílio e assistência, na medida do possível, inclusive as de ordem cultural e artística, e procurar por todos os meios e modos, elevar a classe no conceito público e no das autoridades religiosas, civis e militares; c) Incentivar manifestações cívicas ou patrióticas, respeitar as datas magnas da História Pátria, as Leis, os poderes constituídos e prestar homenagens aos grandes vultos da Humanidade; d) Prestar assistência médica, hospitalar, odontológica e farmacêutica, na forma do possível; e) Dentro do possível, e com a observância das normas legais aplicáveis, atender aos pedidos de assistência financeira formulados pelos seus associados, através de convênios com instituições financeiras. Por conseguinte, tratase de discussão acerca da isenção concedida às associações civis que prestem os serviços para os quais houverem sido instituídas e os coloquem à disposição do grupo de pessoas a que se dest inam, sem fins lucrativos, concedida legalmente de acordo com os preceitos do art. 15 da Lei n° 9.532, de 1997. Nesse contexto, é de suma relevância ter em conta que não basta que a associação civil preste os serviços para os quais houver sido instituída e os coloque à disposição do grupo de pessoas a que se destinam, é imprescindível a prova de que a entidade não tem fins lucrativos, e essa prova somente se faz se observados os requisitos previstos no art. 14 da Lei n° 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN), verbis: Art. 14. O disposto na alínea c do inciso IV do artigo 9° é subordinado à observância dos seguintes requisitos pelas entidades nele referidas: I não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título (Redação dada pela Lei Complementar n° 104, de 10.1.2001); Fl. 2941DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 15 14 II aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; III manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. De acordo com os preceitos acima transcritos, uma instituição deve ser reconhecida como "sem fins lucrativos", quando não distribui, a qualquer título, parcelas de distribuição dos lucros auferidos é justamente a finalidade última das pessoas jurídicas que têm fins lucrativos. Ademais, para que não se configure desvio de finalidade, uma entidade "sem fins lucrativos" deve aplicar integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais. E, justamente para fazer prova de que não distribui parcelas de seu patrimônio ou de suas rendas, e que aplica integralmente os seus recursos na manutenção de seus objetivos institucionais, uma entidade "sem fins lucrativos" deve manter escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. Como visto, contrariamente ao entendimento da Impugnante, não são apenas as pessoas jurídicas, com fins lucrativos, que devem manter escrituração capaz de comprovar a origem de suas receitas e a destinação/aplicação de seus recursos. In casu, a entidade que se pretende "sem fins lucrativos" invoca o sigilo bancário contra a fiscalização da Secretaria da Receita Federal do Brasil RFB, a quem compete a verificação da regularidade fiscal da fruição do benefício, para não ter que fazer prova da regular destinação dada aos recursos da entidade, escrituradas nas contas 'Outras Despesas Financeiras' (n° 8.1.3.01.099), 'Outras Despesas da Atividade' (n° 8.1.1.99.099), 'Outros Serviços' (n° 8.1.2.03.099) e 'Renda Variável' (n° 8.1.3.01.006). Entretanto, tal alegação é completamente ineficaz, haja vista que é dever da entidade, que pretende ser reconhecida como "sem fins lucrativos", não apenas escriturar, mas provar, com base em documentação hábil e idônea, a destinação dada aos recursos disponíveis. Ademais, é de notar que a prova da regularidade da escrituração das despesas acima referidas, poderia ter sido feita por qualquer meio hábil. Logicamente que, em se tratando de aplicações financeiras a prova hábil seriam os extratos bancários. Todavia, segundo as alegações da própria Impugnante, no curso do procedimento, as operações escrituradas nas contas contábeis acima destacadas seriam as abaixo discriminadas, não amparadas por qualquer documentação de suporte : 1. 'Outras Despesas Financeiras' (n° 8.1.3.01.099) saques em espécie para aquisição de dívida de terceiros, mediante quitação antecipada das operações e refinanciamento perante outras instituições financeiras. Segundo a entidade, os pagamentos teriam sido efetuados à Fl. 2942DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 16 15 Ábaco Gestão Financeira e Comercial Ltda (valor total dos contratos = R$ 1.961.647,93), à Allog Gestão Empresarial Ltda (valor total dos contratos = R$ 1.431.012,91) e à JBC Target Empresarial Ltda (valor do contrato = R$ 776.526,54). Na mesma conta teriam sido contabilizados pagamentos feitos à Prevserv, por conta de prestação de serviços, cuja natureza não foi identificada. Para comprovar os pagamentos teriam sido apresentados 31 (trinta e um) cheques administrativos, emitidos pelo Banco Cruzeiro do Sul em favor da Ábaco e da Prevserv; 2. 'Outras Despesas da Atividade' (n° 8.1.1.99.099) e 'Outros Serviços' (n° 8.1.2.03.099) pagamentos a beneficiários não identificados e à Prevserv Operadora de Serviços Ltda., no âmbito do mencionado contrato de prestação de serviços, não apresentado à fiscalização; 3. 'Outros Serviços' (n° 8.1.2.03.099) pagamentos de consertos de piscinas do clube disponibilizado pela Ambra a seus associados no empreendimento Residencial Girassóis (Araruama); 4. 'Renda Variável' (n° 8.1.3.01.006) apesar de questionado caráter elevado das perdas em operações de swap, para uma entidade sem fins lucrativos, relevante é que parte dos lançamentos, segundo as afirmações da entidade, se refeririam a retiradas de contacorrente a título de 'margens de garantia' de operações não comprovadas. Primeiramente, cumpre assinalar que, no curso do procedimento, a autoridade fiscal sempre consignou o porquê de a documentação porventura apresentada não ser suficiente para comprovar a regularidade da escrituração das despesas contabilizadas, tendo solicitado a apresentação de notas fiscais, contratos de prestação de serviços e comprovação de efetivo pagamento, mediante os competentes extratos bancários, comprovantes de depósito, TED, DOC, etc., conforme se pode verificar no termo de intimação de fls. 226/228. De notar que as cópias dos cheques relativos a pagamentos que, segundo a entidade, teriam sido efetuados a Ábaco e à Prevserv não foram acatados como prova suficiente das alegadas operações e dos pagamentos, tendo sido requerida a apresentação dos extratos bancários, das notas fiscais e dos contratos de prestação de serviços, porque foram levantados, pela fiscalização, elementos suficientes a comprometer a regularidade, não apenas fiscal, mas também jurídica acerca das beneficiárias dos pagamentos. Foi apurado que três dos designados beneficiários dos supostos pagamentos efetuados pela associação (Ábaco, Allog e JBC Target), são pessoas jurídicas que foram extintas, coincidentemente, por liquidação voluntária, no curto período de 26/07 a 02/08/2011. Fl. 2943DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 17 16 Outra coincidência é que, apesar dos recursos supostamente recebidos da associação, todas declararam à Secretaria da Receita Federal do Brasil RFB não ter efetuado qualquer atividade operacional, não operacional, financeira ou patrimonial, no período de 2008 e 2009, tendo apresentado Declaração de Informações Econômico Fiscais da Pessoa Jurídica DIPJ na condição de inativas. Mas as coincidências não pararam por aí: (i) duas delas (Ábaco e JBC Target) tinham o mesmo endereço cadastral; e as três (Ábaco, Allog e JBC Target) possuíam um sócio comum, Sr. Jorge Manuel Antunes (CPF n° 021.680.307 15), e duas delas (Ábaco e Allog) possuíam outro sócio comum, Sr. Antonio Ramiro Antunes (CPF n° 094.437.62749), fato a demonstrar uma inegável ligação entre as pessoas jurídicas beneficiárias das transferências dos recursos da entidade fiscalizada. Quanto à Prevserv, além de não haver prova alguma acerca da suposta prestação de serviços à associação (contrato ou notas fiscais), foi apurado que a empresa teve como sócios o Sr. José Jacinto Sobrinho (CPF n° 071.915.45704), no período de 04/10/2007 a 18/01/2008, e o Sr. Armando José Andrade de Carvalho (CPF n° 004.537.81772), no período de 08/10/2003 a 04/01/2008, os quais seriam, respectivamente, Presidente e Diretor da AMBRA desde 05/05/2004. Foi ainda registrado pela .fiscalização que umtotal de R$ 655.000.00 foi pago pela AMBRA a Prevserv, no período quais teriam sido as pessoas físicas supracitadas excluídas do quadro social, somente foram registradas na JUCERJA em 23/07 e 27/08/2008, após as transferências dos recursos escriturada na contabilidade. Diante desse quadro fático, em que é possível questionar não apenas a regularidade fiscal, mas a própria existência/autonomia das pessoas jurídicas, designadas como beneficiárias dos recursos pagos pela associação, imprescindível para a manutenção do benefício fiscal a prova da regularidade das operações supostamente realizadas e que deram ensejo à escrituração de despesas operacionais pela associação, prova sem a qual não é possível garantir que tal escrituração não visou apenas a ocultar a distribuição de parcelas do patrimônio ou das rendas da entidade, ou ainda a aplicação de seus recursos em objetos estranhos à manutenção dos seus objetivos institucionais. Por conseguinte, completamente infundada a invocação de nulidade por quebra de sigilo bancário, haja vista que a exigência feita pela fiscalização foi acerca de prova hábil e idônea das operações contabilizadas como despesas na escrituração comercial da entidade, e cujos pagamentos foram supostamente efetuados a pessoas jurídicas inativas ou ligada de alguma forma à associação. Destaquese ainda que, em nenhum momento, a prova hábil das operações se restringiu aos extratos bancários, ao contrário, acaso confirmados os pagamentos, a fiscalização deixou bem claro que seria necessária a prova da operação que teria dado causa a tais pagamentos, mediante a apresentação de contratos, notas fiscais ou outros documentos hábeis. Reiterese: a regularidade da fruição do benefício fiscal da isenção tributária das associações civis que prestem os serviços para os quais houverem sido instituídas e os coloquem à disposição do grupo de pessoas a que se Fl. 2944DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 18 17 destinam, depende da comprovação de que a entidade não tem fins lucrativos, ou seja: (i) que a entidade não distribui qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas; (ii) que a entidade aplica integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; e (iii) que, para fazer prova dos itens anteriores, a entidade mantém escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão. Além desses fatos e fundamentos demonstrados pela DRJ, verificase nos autos que, sequer foi necessário instaurarse os procedimentos de Requisição de Informações sobre Movimentações Financeiras – RMF, pois, a própria recorrente apresentou, sempre após várias intimações e reiterações, as informações e documentos sobre sua movimentação bancária. Não se vê, portanto, nos autos, qualquer pedido, diretamente, a qualquer instituição financeira para prestar informações ou fornecer documentos sobre a concorrente. Ainda que assim não fosse, isto é, ainda que a fiscalização houvesse, por meio do referido procedimento administrativo (RMF), obtido informações e documentos bancários, não haveria se falar em quebra de sigilo bancário, eis que, o art. 6º da Lei Complementar nº 105/2001, assim assegurou à fiscalização: Art. 6º As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos a que se refere este artigo serão conservados em sigilo, observada a legislação tributária. Esse dispositivo, de lei complementar recepcionada pela Constituição Federal, foi declarado constitucional pelo STF, em 24/02/2016, no julgamento das ADIs 2390, 2386, 3397 e 2859 e do RE 601.314 (Repercussão Geral). Com base nos fatos e fundamentos retro, voto por rejeitar a preliminar de quebra indevida de sigilo bancário. Preliminar de Decadência Com segunda preliminar, a recorrente alega não podem ser aceitos os argumentos da fiscalização acerca da decadência, uma vez que esta impede o fisco de lançar tributos cujos fatos geradores ocorreram a mais de cinco anos. Diz o Termo de Constatação Fiscal, em fls. 44, que, verbis: "No que tange ao IRPJ e CSLL, se aplica o mesmo entendimento acima, pois os períodos de apuração referentes aos primeiro, segundo e terceiro trimestres de 2008, conforme dispõe o art. 150 parágrafo quarto do CTN, também teriam sido atingidos pela decadência. No entanto, considerando que tanto o lançamento do IRPJ, como o da CSLL, também se dão por homologação, em relação aos períodos de apuração em questão, também não Fl. 2945DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 19 18 realizou qualquer recolhimento a título de IRPJ e CSLL, para fins de cômputo da decadência, do mesmo modo, aplicase a regra do artigo 173, inciso I, do CTN, contandose o prazo de cinco anos do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado A recorrente, a respeito, entende que o período de 01/01/2008 a 10/12/2008 foi atingido pela decadência, não podendo ser objeto de lançamento pelo fisco, ainda que de ofício. Isto por dois motivos, a saber: (1) como entidade que goza de isenção e imunidade, não estava a AMBRA sujeita à apuração do IRPJ e da CSLL, e (2) o fato de não ter feito recolhimentos de IRPJ e CSLL no período, não determina seja a decadência fixada de outra forma que não a de cinco anos contados da ocorrência dos fatos geradores. Sustenta seu entendimento sob a alegação de que, nos lançamentos por homologação, o que se homologa não é o recolhimento dos tributos, mas a situação fiscal do contribuinte, que tanto pode ser de débito quanto de crédito. Em tal linha, colaciona o Acórdão nº 10193.457, da Primeira Câmara do Primeiro Conselho de Contribuintes, como comprova os termos incisivos da sua ementa publicada no D.O.U. de 02.10.2001, verbis: "DECADÊNCIA IRPJ ANO CALENDÁRIO 1992. O imposto de renda pessoa jurídica se submete à modalidade de lançamento por homologação, eis que é exercida pelo contribuinte a atividade de determinar a matéria tributável, o cálculo do imposto e pagamento do quantum devido, independentemente de notificação, sob condição resolutória de ulterior homologação/' E, logo em seguida: "A ausência de recolhimento do imposto não altera a natureza do lançamento, vez que o contribuinte continua sujeito aos encargos decorrentes da obrigação adimplida (atualização, multa, juros, etc., a partir da data de vencimento originalmente previsto, ressalvado o disposto no art. 106 do CTN). Preliminar que se acolhe." Alega a AMBRA que o fato não ter realizado recolhimentos de IRPJ e CSLL em 2008 não possui o condão de alterar a regra de contagem do prazo de decadência, que continua sendo de cinco anos contados da ocorrência dos fatos geradores. Em razão disso, todos os fatos geradores ocorridos no período de 01/01/2008 a 31/12/2008 estão atingidos pela decadência, devendo ser considerado nulo o lançamento a eles relativo. Por sua vez, o acórdão recorrido assim previu: Quanto à invocada decadência dos créditos tributários exigidos ex officio, tendo em conta que os lançamentos, cientificados ao contribuinte em 10/12/2013, referemse aos fatos geradores ocorridos anoscalendário de 2008 e 2009, aplicase a decisão do Superior Tribunal de Justiça STJ, em Recurso Repetitivo, prolatada no Recurso Especial n° 973.733 SC (2007/01769940), relatado pelo Ministro Luiz Fux, que tem a seguinte ementa: Fl. 2946DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 20 19 PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543C, DO CPC. TRIBUTÁRIO. TRIBUTO SUJEITO A LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. INEXISTÊNCIA DE PAGAMENTO ANTECIPADO. DECADÊNCIA DO DIREITO DE O FISCO CONSTITUIR O CRÉDITO TRIBUTÁRIO. TERMO INICIAL. ARTIGO 173, I, DO CTN. APLICAÇÃO CUMULATIVA DOS PRAZOS PREVISTOS NOS ARTIGOS 150, § 4°, e 173, do CTN. IMPOSSIBILIDADE. 1. O prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crédito tributário (lançamento de ofício) contase do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei não prevê o pagamento antecipado da exação ou quando, a despeito da previsão legal, o mesmo inocorre, sem a constatação de dolo, fraude ou simulação do contribuinte, inexistindo declaração prévia do débito (Precedentes da Primeira Seção: REsp 766.050/PR, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 28.11.2007, DJ 25.02.2008; AgRg nos EREsp 216.758/SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, julgado em 22.03.2006, DJ 10.04.2006; e EREsp 276.142/SP, Rel. Ministro Luiz Fux, julgado em 13.12.2004, DJ 28.02.2005). 2. É que a decadência ou caducidade, no âmbito do Direito Tributário, importa no perecimento do direito potestativo de o Fisco constituir o crédito tributário pelo lançamento, e, consoante doutrina abalizada, encontrase regulada por cinco regras jurídicas gerais e abstratas, entre as quais figura a regra da decadência do direito de lançar nos casos de tributos sujeitos ao lançamento de ofício, ou nos casos dos tributos sujeitos ao lançamento por homologação em que o contribuinte não efetua o pagamento antecipado (Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3aed., MaxLimonad, São Paulo, 2004, págs. 163/210). 3. O dies a quo do prazo quinquenal da aludida regra decadencial regese pelo disposto no artigo 173, I, do CTN, sendo certo que o "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado" corresponde, iniludivelmente, ao primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato imponível, ainda que se trate de tributos sujeitos a lançamento por homologação, revelandose inadmissível a aplicação cumulativa/concorrente dos prazos previstos nos artigos 150, § 4°, e 173, do Codex Tributário, ante a configuração de desarrazoado prazo decadencial decenal (Alberto Xavier, "Do Lançamento no Direito Tributário Brasileiro", 3a ed., Ed. Forense, Rio de Janeiro, 2005, págs. 91/104; Luciano Amaro, "Direito Tributário Brasileiro", 10a ed., Ed. Saraiva, 2004, págs. 396/400; e Eurico Marcos Diniz de Santi, "Decadência e Prescrição no Direito Tributário", 3a ed., Max Limonad, São Paulo, 2004, págs. 183/199). 4. In casu, consoante assente na origem: (i) cuidase de tributo sujeito a homologação (ii) a obrigação ex lege de pagamento antecipado pelo contribuinte, no que concerne aos fatos imponíveis ocorridos no período de janeiro de 1991 a dezembro de 1994; e (iii) a constituição dos créditos tributários respectivos deuse em 26.03.2001. 5. Destarte, revelamse caducos os créditos tributários executados, tendo em vista o decurso do prazo decadencial quinquenal para que o Fisco efetuasse o lançamento de ofício substitutivo. Fl. 2947DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 21 20 6. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543C do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. De acordo com a jurisprudência da Corte Superior, no caso dos tributos sujeitos a lançamento por homologação, em que a lei atribui ao sujeito passivo a obrigação de declarar e pagar, antes de qualquer ato ou procedimento administrativo, os tributos e contribuições por ele apurados como devidos, quando não adimplida essa obrigação, a contagem do prazo decadencial, para constituição de ofício do crédito tributário porventura não declarado ou pago, é de cinco anos a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. In casu, a contribuinte apresentou a Declaração de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica DIPJ 2009 (anocalendário 2008) e 2010 (anocalendário de 2009), com a informação de ser entidade isenta do IRPJ e da CSLL, não apresentou Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais Dacon, e procedeu à apresentação de DCTF sem informação de qualquer débito de PIS e Cofins, pelo que inexistente qualquer pagamento relativo aos tributos constituídos exofficio. A argumentação de inexigibilidade de conduta diversa é completamente descabida, haja vista que todo contribuinte fiscalizado poderia arguir em seu favor que não se considerava devedor do tributo ou contribuição apurado de ofício. O fato de a Impugnante se reputar isenta da incidência dos tributos e contribuições constituídos de ofício não tem o efeito de abrandar a aplicação da norma mais extensa do prazo decadencial, por conta da completa falta de recolhimento dos tributos e contribuições devidos. Diante de tal quadro fático, deve a contagem do prazo decadencial observar as prescrições do art. 173, I do CTN, ou seja, cinco anos a partir do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Como os lançamentos poderiam ser efetuados no próprio anocalendário de 2008, o primeiro dia do exercício seguinte é 01/01/2009, podendo o lançamento de ofício ser efetuado até 31/12/2013, configurandose regular as exigências cientificadas à pessoa jurídica em 10/12/2013. Analisadas as razões da recorrente, em relação aos fatos apurados pela fiscalização e seus fundamentos, entendo, pelos mesmos motivos, que não há decadência nesse caso. Assim, voto por rejeitar, também, a preliminar de decadência. Do Mérito No mérito a recorrente apresenta as razões com base nas quais sustenta a nulidade do Ato Declaratório Executivo que suspendeulhe a isenção tributária, bem assim Fl. 2948DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 22 21 apresenta os fundamentos com que defende que as glosas são indevidas, conforme a seguir destacado. A DRF Rio de Janeiro expediu a minuciosa Notificação Fiscal. Concluiu pela necessidade de suspensão da isenção de impostos federais de que goza a entidade, a se realizar eventualmente por ato declaratório da Delegada da Receita Federal no Rio de Janeiro. A DRF poderia lavrar os autos de infração respectivos, com a cobrança dos impostos que a fiscalização julgasse devidos. A recorrente deve continuar no gozo da isenção dos tributos federais, tendo em vista não ter cometido infrações de natureza fiscal que possam invalidar os atos por ela praticados, sempre no interesse de seus associados e em cumprimento aos fins a que se propôs, desde o seu registro e a sua fundação em 18 de janeiro de 1930; Alega que não houve de sua parte, nos anos calendário de 2008 e 2009, o cometimento de nenhuma infração à lei de regência da isenção em exame; que os fundamentos da autuação fiscal, no sentido de suspender a isenção de que goza a AMBRA, não procedem, quer pela aplicação da lei, que não autoriza fazêlo, quer pela realidade dos fatos, que espelham sempre uma entidade pujante financeiramente, voltada para a assistência aos associados e seus familiares. Por sua vez, o acórdão recorrido traz os seguintes fatos e fundamentos: De acordo com o Parecer Conclusivo da Divisão de Orientação e Análise Tributária DIORT da DRF Rio de Janeiro I, que fundamentou a expedição do Despacho Decisório e do Ato Declaratório Executivo ADE DRF Rio de Janeiro I n° 50, de 11 de junho de 2013, a suspensão da isenção tributária da associação se deu por falta de conservação, em boa ordem, dos documentos comprobatórios da origem de suas receitas, da efetivação de suas despesas, e de outros atos ou operações que modificaram a sua situação patrimonial (art. 12, §2°, alínea "d" da Lei n° 9.532, de 10 de dezembro de 1997). Na Notificação Fiscal, a fiscalização procedeu à descrição das seguintes infrações que a associação teria praticado nos anoscalendário 2008 e 2009: (i) falta de comprovação de diversos lançamentos contábeis nas contas 'Outras Despesas Financeiras' (n° 8.1.3.01.099), 'Outras Despesas da Atividade' (n° 8.1.1.99.099), 'Outros Serviços' (n° 8.1.2.03.099) e 'Renda Variável' (n° 8.1.3.01.006); Na tentativa de comprovar a ocorrência das operações, a associação afirmou ter efetuado pagamentos a pessoas jurídicas inativas perante os cadastros da RFB (Ábaco, Allog e JBC Target) ou a pessoa jurídica ligada (Prevserv). (ii) aplicação de recursos em atividades econômicas incompatíveis com as finalidades institucionais, quais sejam: Fl. 2949DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 23 22 a) implantação de loteamento de imóvel, com fins residenciais, conforme descrição dos serviços constantes das notas fiscais apresentadas para comprovar a escrituração das despesas na conta 'Obras em Andamento Lotes em Araruama' (n° 2.2.1.01.001); Segundo a fiscalizada, os gastos seriam relativos à implantação de um clube e condomínio destinado aos associados em terreno localizado no Município de Araruama/RJ. A associação ainda pretendeu comprovar a venda do referido imóvel, em 23/11/2011, à Rede Girassol Empreendimentos Imobiliários Ltda, CNPJ n° 14.643.562/000168. No entanto, o terreno vendido, pelo valor de R$ 480.000,00, representa apenas uma pequena parcela dos terrenos que haviam sido comprados em 30/10/2000, o que se ratifica com uma simples análise da escritura. Foi também destacado pela fiscalização que, de acordo com as informações do CNPJ, a Rede Girassol Empreendimentos Imobiliários Ltda., teria sido constituída em 16/11/2011, sete dias antes da transação. b) aquisição de créditos de terceiros, junto ao Banco Prosper S.A., para obtenção de ganho na sua recuperação receitas escrituradas na conta 'Atualização Direitos Creditórios' (n° 7.1.5.02.007); No curso do procedimento, explicou a associação que a aquisição de direitos se fazia para gerar resultado positivo para a entidade, na medida em que os créditos eram recuperados com ganho. c) escrituração na conta do Ativo Circulante denominada 'Fianças Honradas' (conta n° 1.1.8.06.001) de supostos pagamentos efetuados a diversas pessoas físicas, na condição de avalista, por conta de liquidação de dívidas da Promobrás anteriormente denominada Corbrás, contraídas por esta última em 1998 e 1999, sem o devido esclarecimento acerca da inserção de tais operações na consecução dos objetivos institucionais da entidade, e sem a apresentação de suporte documental hábil (a prova de que os recursos foram efetivamente emprestados ao avalizado Promobrás, e a prova dos pagamentos efetuados pela AMBRA), haja vista que os contratos apresentados se revelaram insuficientes, diante da situação fiscal do avalizado apurada pela fiscalização; Foi apurado pela fiscalização que a Promobrás/Corbrás, no período de 1995 a 2004, não informou ter realizado qualquer operação financeira e/ou patrimonial, tendo apresentado DIPJ zeradas, desde o anocalendário2006. d) falta completa de comprovação de R$ 11.432.740,52 dos valores escriturados na conta 'Fianças Honradas' (conta n° 1.1.8.06.001), sob a alegação de extravio de livros contábeis; e) um dos beneficiários dos pagamentos (Cold Ltd.) era pessoa jurídica sediada em paraíso fiscal (Ilhas Virgens Britânicas), e a quitação dos supostos empréstimos à Promobrás teria sido feita pela AMBRA, mediante a transferência de 131 (centro e trinta e um) lotes do Condomínio Girassóis II, localizado no município de Fl. 2950DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 24 23 Araruama/RJ aquele mesmo que seria destinado exclusivamente aos associados; f) outro beneficiário (Conrado Henrique de Niemeyer), teria recebido na quitação do empréstimo, feita pela AMBRA, 500 (quinhentos) lotes do loteamento localizado em Araruama/RJ; g) outros dois beneficiários (Geraldo Luiz Barbosa da Fonseca, e Oswaldo Antonio Barbosa da Fonseca), teriam recebido na quitação do empréstimo, feita pela AMBRA, 53 (cinquenta e três) lotes do loteamento localizado em Araruama/RJ; h) um outro beneficiário (Dalifer), teria tido como intervenientes Damião de Oliveira Lopes e Sérgio da Silva Carvalho, sendo o primeiro deles, justamente um dos herdeiros do imóvel localizado no Município de Araruama/RJ, adquirido pela associação, e os pagamentos convencionados seriam suspensos a partir de 10/01/2001, se não fornecido o formal de partilha do inventário correspondente ao imóvel; Outro aspecto relevante apurado é que a associação, apesar de ter liquidado as dívidas, na condição de avalista, não adotou qualquer providência para a recuperação dos prejuízos. Também não condiz com a realidade, a alegação de que não pertenceriam mais aos quadros da associação os administradores responsáveis pelas operações, porque os instrumentos foram assinados por José Jacinto Sobrinho e/ou Américo Gomes de Barros Filho, respectivamente, DiretorPresidente e Presidente do Conselho Diretor da AMBRA. i) falta de suporte documental do lançamento contábil efetuado em 30/01/2009, no valor de R$ 41.035.320,18, a crédito da conta de ativo 'Fianças Honradas' (conta n° 1.1.8.06.001), e a débito 'Fianças Honradas' (conta n° 4.1.1.01.099), conta redutora do passivo circulante da rubrica 'Empréstimos e Financiamentos Outros' (conta n° 4.1.1.01.005), lançamento que reduziu a zero o saldo da conta n° 1.1.8.06.001, e reduziu o valor do passivo circulante em R$ 41.035.320,18; j ) a atividade de intermediação de empréstimos entre os associados e o Banco Cruzeiro do Sul S.A., com remuneração de R$ 19.853.134,66 e R$ 14.353.221,37, respectivamente, nos anos calendário de 2008 e 2009, conforme informado na DIRF da fonte pagadora, em parte não contabilizada6. A relevância da atividade foi confirmada pela própria escrituração, na qual se verificou que era de R$ 185.545.777,87 e R$ 153.000.395,79, respectivamente, a soma dos saldos das contas 'Contratos de Associados Interveniência AMBRA Banco Cruzeiro do Sul Marinha, Exército e Aeronáutica' (n° 3.3.1.01.001, 3.3.1.01.002 e 3.3.1.01.003), em 31 de dezembro dos anos de 2008 e 2009. Foi ainda mencionado que uma parte equivalente a 30% (trinta por cento) do imóvel situado no Município de Araruama/RJ, com 205 (duzentos e cinco) lotes de terreno, teria sido vendida em 27/12/2004, pelo valor de R$ 150.000,00, para a Patrimonial Maragato S/A, CNPJ n° 07.049.736/000101, representada por seu diretor Luís Felipe Índio da Costa, tendo ainda, na qualidade de interveniente anuente o Sr. Conrado Fl. 2951DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 25 24 Henrique de Niemeyer, acima mencionado. A fiscalização ainda apurou que os sócios da compradora eram os principais acionistas do Banco Cruzeiro do Sul S/A e da Cruzeiro do Sul S/A CVM, pessoas jurídicas com intensa relação comercial com a AMBRA: Srs. Luís Felipe índio da Costa, Luís Octávio Azeredo Lopes índio da Costa e Luiz Fernando Pinheiro Guimarães de Carvalho. A fiscalização bem anotou que, apesar dos documentos referentes às compras de terrenos no município de Araruama (RJ) e à rubrica 'Fianças Honradas' (conta n° 1.1.8.06.001) não terem sido firmados nos anoscalendário abrangidos pela presente ação fiscal ( 2008 e 2009), reportandose a anos anteriores, a análise efetuada acerca da documentação em questão era necessária, pois tais transações se refletiram no saldo, em 31/12/2008, das contas contábeis e, além disso, era de suma importância para se compreender parte do 'modus operandi' da AMBRA. No que diz respeito à falta de comprovação das despesas escrituradas nas contas acima referidas, a sua relevância para a regular fruição do benefício da isenção fiscal já foi apreciada, quando afastada a preliminar de nulidade, por quebra de sigilo bancário. Por outro lado, quanto ao exercício de atividades econômicas, incompatíveis com os fins institucionais da entidade, apesar dos protestos da defesa, perfeitamente aplicáveis ao caso as lições do Parecer Normativo CST n° 162, de 11/09/1974, haja vista que as isenções devem se restringir ao eventual lucro (ou melhor, superávit) em atividades que se integrem nos objetivos ou finalidades da entidade, e não ao lucro claramente decorrente do desempenho de atividades econômicas, como são o loteamento de imóveis, a aquisição de crédito de terceiros, para obtenção de ganho. De acordo com os balancetes analíticos levantados em 31/12/2008 e 31/12/2009, a AMBRA teria auferido, respectivamente, as quantias de R$ 6.970.636,73 e R$ 10.183.406,76, conforme escriturado nas rubricas 'Comissionamenoos Banco C2200Í20 d2 Sul (n° 7.1.2.04.001) e 'Comissionamentos Bonificações Metas de Vendas BCSUL' ( n p7.1.A.0A.0UC) , não escrituradas. com a sua recuperação, e principalmente as operações de natureza não regularmente comprovadas e escrituradas na conta 'Fianças Honradas' (conta n° 1.1.8.06.001). Conforme constou do referido normativo, como as isenções são outorgadas para facilitar atividades que ao Estado interessa proteger, adquire relevo a finalidade social e a diminuta significação econômica das entidades favorecidas, pelo que se conclui que não seria logicamente razoável que tais entidades se servissem da exceção tributária, para, em condições privilegiadas e extravasando a órbita de seus objetivos, praticassem atos de natureza econômicofinanceira, concorrendo com organizações que não gozem da isenção. Notese que o Parecer Normativo mencionou a diminuta significação econômica das entidades favorecidas, para explicitar que a pessoa jurídica sem fins lucrativos, e por isso isenta, não deveria desempenhar uma atividade econômica, voltada a gerar riqueza, mediante a extração, transformação e distribuição de recursos naturais, bens e serviços. E, no caso em apreço, não se pode dizer que uma entidade, voltada a prestar auxílio e assistência de forma ampla, a congregar e defender os interesses de músicos militares e civis, e seus familiares, tivesse uma grande significação econômica. Fl. 2952DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 26 25 Relevante ainda mencionar que o Parecer Normativo vem justamente distinguir as situações em que o exercício de atividades, a princípio de natureza econômica, poderiam ser admitidas, sem comprometimento do caráter sem fins lucrativos das entidades, porque adstritas aos fins a que se propuseram, verbis: 5. Eventual lucro de entidades recreativas ou esportivas, originado de exploração de bar ou restaurante no âmbito de suas dependências e para seus usuários, não se sujeita ao imposto de renda, dado que essa atividade proporciona melhores condições do desfrute e utilização das dependências da organização, integrandose, pois, nos seus objetivos. 6. De modo contrário, se uma entidade esportiva explorar linha de ônibus para transporte de associados cobrando pelo serviço prestado, deixará de merecer a dispensa legal, pois tal operação é totalmente estranha a seus fins, além de se caracterizar como atividade de natureza essencialmente econômica. 7. Sociedade religiosa que mantém anexo ao Templo, livraria para venda de livros religiosos, didáticos, discos com temas religiosos e artigos de papelaria, visando a divulgação do Evangelho não terá o eventual lucro tributado. Da mesma forma o resultado da venda de dádivas ou donativos que os fiéis depositam nos altares e cofres dos Santuários, por ser esta uma forma de que se servem os ofertantes, para reverenciarem o alvo de sua crença. 8. O mesmo não ocorre, porém, se a associação religiosa exercer atividade de compra e venda de bens não relacionados a sua finalidade, quando então deixará de fazer jus à isenção, devendo efetuar a escrituração de modo usual como procedem os comerciantes, cumpridas as disposições do Decreto n° 64.567 de 22.05.69. 9. Instituições filantrópicas que mantêm creche com serviços cobrados a uma parte dos usuários e atendimento gratuito aos demais mantida a igualdade de tratamento, não serão tributadas por 10. Fundação cultural que mantém livraria para a venda de livros a alunos dos cursos por ela mantidos, ou a terceiros, não perde direito à isenção, eis que essa atividade se identifica como meios de realização de seus fins. 11. Cumpre ressaltar, todavia, ser indispensável o atendimento dos requisitos do art. 25 do RIR pelas organizações que, no gozo de isenção, obtenham resultados positivos no exercício de atividades adstritas aos fins a que se propuseram. É justamente o que não ocorre no caso em análise em que uma associação, voltada a prestar auxílio e assistência de forma ampla, a congregar e defender os interesses de músicos militares e civis, e seus familiares, se dedica a atividades essencialmente econômicas de loteamentos de imóveis, à aquisição de créditos de terceiros, para obtenção de ganhos com a sua recuperação, e a outras atividades não devidamente comprovadas ou esclarecidas (fianças honradas). Portanto, o que está em questão não é o porte da entidade, o tamanho de seu patrimônio ou de seu faturamento: primeiro, porque não foram sequer comprovadas as despesas contabilizadas que a Impugnante pretende comparar com o porte da associação; e, segundo, porque as atividades de loteamento de imóveis, aquisição de crédito de terceiros, para obtenção de ganho com a sua recuperação, e outras não devidamente esclarecidas (fianças honradas) são flagrantemente incompatíveis com os fins Fl. 2953DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 27 26 institucionais de uma entidade dedicada a prestar auxílio e assistência a músicos militares e civis. A comparação com outras entidades não socorre a Impugnante, porque o caso se refere a sua situação jurídica, devidamente verificada pela fiscalização. A situação jurídica de outras entidades é matéria protegida por sigilo fiscal. Apenas consignese que, a princípio, a aplicação dos recursos das instituições sem fins lucrativos em aplicações financeiras ou outros investimentos de caráter permanente, não é suficiente para afastar a fruição do benefício. Na verdade, a partir do advento do art. 15, §2° da Lei n° 9.532, de 10 de dezembro de 1997, tais rendimentos passaram a ser tributados, mas sem afetar a isenção tributária da entidade sem fins lucrativos. Nesse sentido, colacionamse as seguintes ementas do Superior Tribunal de Justiça STJ: RECURSO ESPECIAL REsp 1120001 / SP Relator(a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141) Órgão Julgador T2 SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 20/06/2013 Data da Publicação/Fonte DJe 28/06/2013 Ementa: RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. APLICAÇÕES FINANCEIRAS. SINDICATO. ISENÇÃO SUBJETIVA CONCEDIDA PELO ART. 130 DO RIR/80 (DECRETO N. 85.450/80) E PELO ART. 30, DA LEIN. 4.506/64. 1. O caput do art. 130 do RIR/80 (reprodução do art. 30, da Lei n. 4.506/64), confere a isenção do Imposto de Renda ao sindicato, não fazendo qualquer ressalva a respeito do Imposto de Renda Retido na Fonte em operações financeiras. Com efeito, essa ressalva somente o foi realizada com o advento do art. 15, §2°, da Lei n. 9.532/97, Lei esta que expressamente derrogou a norma isentiva a partir de 1° de janeiro de 1988. 2. Desse modo, se houve a necessidade de o legislador posteriormente restringir a isenção anteriormente concedida, de fato o benefício fiscal abarcava as aplicações financeiras. 3. A isenção concedida pelo art. 130 do RIR/80 tem caráter subjetivo, ou seja, está atrelada ao sujeito que dela se beneficia (sociedade, sindicato, associação, fundação). Desse modo, desimportante para o caso a existência de norma legal que determine a tributação do rendimento (ganho de capital) exclusivamente na fonte. Isto porque essa tributação tem cunho genérico e objetivo mas, como já referenciado, não foi excepcionada na norma isentiva subjetiva e específica. 4. Recurso especial provido. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL EDcl no REsp 1.120.001 / SP Relator(a) Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES (1141) Órgão Julgador T2 SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 03/09/2013 Data da Publicação/Fonte DJe 11/09/2013 Ementa: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO ESPECIAL. IMPOSTO DE RENDA RETIDO NA FONTE. APLICAÇÕES FINANCEIRAS. SINDICATO. ISENÇÃO SUBJETIVA CONCEDIDA PELO ART. 130 DO RIR/80 (DECRETO N. 85.450/80) E PELO ART. 30, DA LEI N. 4.506/64. Fl. 2954DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 28 27 AUSÊNCIA DE OMISSÃO OBSCURIDADE, CONTRADIÇÃO OU ERRO MATERIAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DA FAZENDA NACIONAL REJEITADOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DO SINDICADO NÃO CONHECIDOS POR INTEMPESTIVOS. 1. Embargos de declaração da FAZENDA NACIONAL: O crescimento do patrimônio do sindicato em decorrência de uma aplicação financeira não significa necessariamente que esse patrimônio não está sendo ou não será revertido para suas atividades essenciais. Aliás, qualquer gestor responsável sabe da necessidade de bem aplicar os recursos de que dispõe, o que se dá, em princípio, no interesse daquele que tem seu patrimônio administrado. Sendo assim, por presunção, uma aplicação financeira sempre se dá no interesse da entidade, pois com o crescimento do seu patrimônio ela estará mais apta a atingir seus objetivos. Em verdade, é a Receita Federal que, em um segundo momento, deve zelar em suas fiscalizações pela observância dos incisos do art. 130, do Decreto n° 85.450, de 4 de Dezembro de 1980 (RIR/80) e apontar quando o patrimônio assim construído não foi utilizado nas finalidades próprias. RECURSO ESPECIAL REsp 554811 / RN Relator(a) Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (1123) Órgão Julgador T2 SEGUNDA TURMA Data do Julgamento 21/11/2006 Data da Publicação/Fonte DJ 06/02/2007p. 282 Ementa: PROCESSUAL CIVIL. ART. 535 DO CPC. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA N. 284 DO STF. INSTITUIÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. RENDA. ATIVIDADE FINANCEIRA. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. SÚMULA N. 7 DO STJ. EQÜIDADE. meio, a fim de assegurar a realização de suas atividades essenciais, sendo, portanto, alcançada pela imunidade prevista no art. 150, inciso VI, alínea "c", da Constituição Federal. Precedentes. RECURSO ESPECIAL N° 495.207 CE (2003/00149734) RELATOR :MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS RECORRENTE : CAIXA DE ASSISTÊNCIA DOS FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO NORDESTE DO BRASIL CAMED RECORRIDO : FAZENDA NACIONAL EMENTA: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. ART. 150, VI, "C", DA CONSTITUIÇÃO. INSTITUIÇÃO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. ART. 14 DO CTN. EXIGÊNCIA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE APLICAÇÕES FINANCEIRAS. A imunidade tributária prevista no art. 150, VI, "c" da CF/88 deve ser interpretada em conjunto com o art. 14 do CTN. Hipótese em que as aplicações financeiras efetuadas por entidades sem fins lucrativos não têm o condão de descaracterizar sua personalidade jurídica. Precedentes do STF. Recurso especial provido. No caso da Impugnante, não se trata de aplicações financeiras ou em investimentos permanentes em outras empresas, mas de atividades de loteamento de imóveis, aquisição de crédito de terceiros, para obtenção de ganho com a sua recuperação, e Fl. 2955DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 29 28 outras não devidamente esclarecidas, escrituradas na conta Fianças Honradas pagamento de dívidas de terceiros. Conveniente dizer que o fato de ser uma associação civil, que presta "serviços" de auxílio e assistência a músicos militares e civis, e os coloca à disposição do grupo de pessoas a que se destinam, não a autoriza a realizar atividades econômicas, completamente estranhas a seus objetivos institucionais, ainda que para enriquecimento da própria associação, porque caracterizada estaria a concorrência desleal com as empresas não beneficiárias da isenção. Para se contrapor ao farto levantamento da fiscalização acerca das infrações apuradas, limitouse novamente a recorrente a argumentar sobre a dimensão financeira e econômica da entidade, como se o porte da pessoa jurídica pudesse afastar o ônus de comprovação das operações escrituradas na contabilidade, principalmente quando relativas a despesas ou à aplicação dos recursos de uma entidade que se pretende beneficiária de isenção tributária. Ou ainda, como se o tamanho do patrimônio da entidade lhe autorizasse a realização de qualquer atividade, em completo desrespeito aos seus objetivos institucionais. De acordo com o art. 9°, §1° do DecretoLei n° 1.598, de 26 de dezembro de 1977, a escrituração, mantida com observância das disposições legais, faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados e comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais. Por conseguinte, o mero registro contábil de operações é inócuo se não forem regularmente comprovadas, por documentos hábeis. Ressaltese que, contrariamente ao alegado na impugnação, é da pessoa jurídica o ônus da prova dos fatos registrados na escrituração, e até prova em contrário, como não comprovadas as operações que deram causa aos pagamentos ou à saída dos recursos do patrimônio da entidade, não é possível atestar o cumprimento dos requisitos, previstos em Lei, para fruição dos benefícios fiscais, pelas instituições "sem fins lucrativos", quais sejam: (i) a não distribuição de seu patrimônio ou de suas rendas; e (ii) a aplicação integralmente de seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais. O ônus da prova somente seria da fiscalização se os fatos escriturados estivessem respaldados em provas hábeis e idôneas, o que não aconteceu, principalmente a partir do momento em que o agente fiscal trouxe aos autos elementos suficientes a comprometer a idoneidade de pagamentos efetuados a diversas pessoas jurídicas inativas ou omissas, com os mesmos sócios, ou com sócios que integraram a administração da própria associação. Nesse aspecto, oportuno consignar que as provas a serem exigidas para comprovação das operações escrituradas é afetada pelas informações disponíveis nos bancos de dados da RFB acerca da regularidade dos beneficiários dos pagamentos. Acaso se tratassem, os beneficiários, de pessoas jurídicas em situação cadastral regular, e com informações compatíveis com as prestadas pela fiscalizada, acerca dos supostos pagamentos a elas efetuados, e ainda, se tivessem sido apresentados os documentos hábeis a comprovar as operações (contratos e notas fiscais), dificilmente a escrituração das despesas seria objeto de questionamento. Fl. 2956DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 30 29 Inexigível a prova negativa requerida pela Impugnante de não ocorrência das operações, quando a própria contribuinte não é capaz de dar respaldo documental à sua escrituração. A afirmação de que os imóveis de Araruama/RJ seriam vendidos somente aos associados da AMBRA encontrase completamente desconstituída pelo levantamento da fiscalização. No que diz respeito às receitas de atualizações de direitos creditórios escrituradas pela entidade, conforme bem anotado pela fiscalização, não é possível desconsiderar os lançamentos integrantes da contabilidade, com a mera alegação de erro não regularmente comprovado. É que se encontra disposto no art. 378 do Lei n° 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Código de Processo Civil CPC, verbis: Art. 378. Os livros comerciais provam contra o seu autor. E lícito ao comerciante, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos. Diz a defesa que o erro teria sido considerar despesa como receita. Todavia, reitera que os lançamentos seriam decorrentes de atualização de créditos, o que somente poderia ensejar lançamentos com contrapartida em conta de receita, a menos que se tratasse de contabilização de perdas no recebimento de créditos, cuja dedutibilidade deveria observar o regramento previsto no art. 9° e seus §§ da Lei n° 9.430, de 27 de dezembro de 1996. Não comprovado o erro na escrituração, deve ser a tributação das receitas escrituradas, o que nada tem a ver com o descrédito da recorrente, mas com a falta de provas a acerca do erro de escrituração. Igualmente com relação à glosa das provisões não dedutíveis, escrituradas na conta n° 8.1.8 (Provisões Operacionais), cujos saldos trimestrais compunham os saldos do item 25 (Demais Provisões) das fichas 05A (Despesas Operacionais PJ em Geral) das DIPJ relativas aos anoscalendário de 2008 e 2009, apesar de intimada (cf. Termo de Intimação Fiscal lavrado em 25/09/2013), a fiscalizada teria se limitado a afirmar que, por ser uma associação sem fins lucrativos, para melhor controle, os atrasos nos pagamentos dos empréstimos concedidos aos associados eram transferidos, diretamente, para a conta de resultado até o seu efetivo recebimento, com o ajuste mensal pelos recebimentos de atrasados e inadimplentes no período. Todavia, nenhuma documentação foi apresentada a corroborar a afirmação, e ainda que assim fosse a dedutibilidade de tais perdas no recebimento de créditos não teria observado os preceitos do já mencionado art. 9° e seus §§ da Lei n° 9.430, de 27 de dezembro de 1996, e que ora se transcreve, verbis: Seção III Perdas no Recebimento de Créditos Dedução Art. 9° As perdas no recebimento de créditos decorrentes das atividades da pessoa jurídica poderão ser deduzidas como despesas, para determinação do lucro real, observado o disposto neste artigo. § 1° Poderão ser registrados como perda os créditos: I em relação aos quais tenha havido a declaração de insolvência do devedor, em sentença emanada do Poder Judiciário; Fl. 2957DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 31 30 II sem garantia, de valor: a) até R$ 5.000,00 (cinco mil reais), por operação, vencidos há mais de seis meses, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento; b) acima de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) até R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por operação, vencidos há mais de um ano, independentemente de iniciados os procedimentos judiciais para o seu recebimento, porém, mantida a cobrança administrativa; c) superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), vencidos há mais de um ano, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento; III com garantia, vencidos há mais de dois anos, desde que iniciados e mantidos os procedimentos judiciais para o seu recebimento ou o arresto das garantias; IV contra devedor declarado falido ou pessoa jurídica declarada concordatária, relativamente à parcela que exceder o valor que esta tenha se comprometido a pagar, observado o disposto no § 5°. § 2° No caso de contrato de crédito em que o não pagamento de uma ou mais parcelas implique o vencimento automático de todas as demais parcelas vincendas, os limites a que se referem as alíneas a e b do inciso II do parágrafo § 3° Para os fins desta Lei, considerase crédito garantido o proveniente de vendas com reserva de domínio, de alienação fiduciária em garantia ou de operações com outras garantias reais. § 4° No caso de crédito com empresa em processo falimentar ou de concordata, a dedução da perda será admitida a partir da data da decretação da falência ou da concessão da concordata, desde que a credora tenha adotado os procedimentos judiciais necessários para o recebimento do crédito. §5° A parcela do crédito cujo compromisso de pagar não houver sido honrado pela empresa concordatária poderá, também, ser deduzida como perda, observadas as condições previstas neste artigo. § 6° Não será admitida a dedução de perda no recebimento de créditos com pessoa jurídica que seja controladora, controlada, coligada ou interligada, bem como com pessoa física que seja acionista controlador, sócio, titular ou administrador da pessoa jurídica credora, ou parente até o terceiro grau dessas pessoas físicas. Conforme os preceitos legais acima, apesar dos protestos da defesa, não cabe à fiscalização acatar um valor razoável de perdas, porque a sua dedutibilidade depende de provas a serem produzidas pela própria pessoa jurídica. À vista dos fatos apurados pela fiscalização e em conformidade com os fundamentos demonstrados no acórdão recorrido, entendo que é devida a ratificação da decisão recorrida e, por todo o exposto, voto por NEGAR provimento ao recurso voluntário. ROGÉRIO APARECIDO GIL Relator Fl. 2958DF CARF MF Processo nº 12448.735782/201273 Acórdão n.º 1302001.973 S1C3T2 Fl. 32 31 Fl. 2959DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11516.722417/2012-85
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 23 00:00:00 UTC 2016
Ementa: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS
Período de apuração: 01/11/2011 a 31/03/2012
PAF - PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. RECURSO ESPECIAL.
ADMISSIBILIDADE. PRESSUPOSTOS.
A via do Recurso Especial não pode ser utilizada para suprir eventual omissão no acórdão recorrido, cujo remédio processual é a oposição de Embargos de Declaração. Ademais, não há que se falar em dar interpretação divergente à lei tributária, quando não há similitude fática entre os julgados em confronto, ou quando estes tratam de leis diversas, cada qual com suas especificidades.
Numero da decisão: 9202-004.340
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em não conhecer o Recurso Especial do Contribuinte, vencida a conselheira Patrícia da Silva (relatora), que o conheceu. Votou pelas conclusões a conselheira Ana Paula Fernandes. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Maria Helena Cotta Cardozo.
Nome do relator: PATRICIA DA SILVA
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RECURSO ESPECIAL. ADMISSIBILIDADE. PRESSUPOSTOS. A via do Recurso Especial não pode ser utilizada para suprir eventual omissão no acórdão recorrido, cujo remédio processual é a oposição de Embargos de Declaração. Ademais, não há que se falar em dar interpretação divergente à lei tributária, quando não há similitude fática entre os julgados em confronto, ou quando estes tratam de leis diversas, cada qual com suas especificidades. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em não conhecer o Recurso Especial do Contribuinte, vencida a conselheira Patrícia da Silva (relatora), que o conheceu. Votou pelas conclusões a conselheira Ana Paula Fernandes. Designada para redigir o voto vencedor a conselheira Maria Helena Cotta Cardozo. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício. (assinado digitalmente) Patrícia da Silva - Relatora. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo - Redatora designada. A C Ó R D Ã O G E R A D O N O P G D -C A R F PR O C E SS O 1 15 16 .7 22 41 7/ 20 12 -8 5 CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CONSELHO ADMINISTRATIVO DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS CÂMARA SUPERIOR DE RECURSOS FISCAIS Especial do Contribuinte Especial do Contribuinte 2ª Turma 2ª Turma agosto de 2016 agosto de 2016 Contribuições Previdenciárias - Multa Isolada Contribuições Previdenciárias - Multa Isolada TRANSPORTES DALCOQUIO LTDA TRANSPORTES DALCOQUIO LTDA FAZENDA NACIONAL FAZENDA NACIONAL AA Fl. 391DF CARF MF 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Relatório Cuida-se de Recurso Especial do Contribuinte contra o Acórdão 2803003.757, que negou provimento ao Recurso Voluntário, e restou assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/11/2011 a 31/03/2012 CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO O órgão julgador não está obrigado a apreciar toda e qualquer alegação apresentada pela recorrente, mas tão somente aquelas que possuem o condão de formar ou alterar sua convicção COMPENSAÇÃO DE TRIBUTO GLOSA Não há previsão legal para que se aceite a compensação de créditos previdenciários pertencentes a sujeito passivo que não possui relação direta com o fato gerador ou o responsável pelo tributo. Constatada a compensação de valores efetuada indevidamente pelo contribuinte ou em desacordo com o permitido pela legislação tributária, será efetuada a glosa dos valores e constituído o crédito tributário por meio do instrumento competente, sem prejuízo das penalidades cabíveis INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI Impossibilidade de apreciação de inconstitucionalidade da lei no âmbito administrativo. Na origem, trata-se de Autos de Infração - DEBCAD's 51.004.688-6 e 51.004.689-4 - que têm por objeto glosas de compensações efetuadas em desacordo com a legislação vigente e a multa constante do art. 89, § 10°, da Lei n° 8.212/91, respectivamente, por entender o Fisco que a compensação realizada não encontra amparo legal e que houve falsidade nas declarações prestadas. No relatório fiscal ficou consignado: No caso atual, nada pode fazer a interessada para aproveitar o valor perante a Fazenda Nacional declarando compensações em GFIPs, devendo aguardar a compensação dos credores originais, a expedição efetiva do precatório, a consignação no orçamento da União e o pagamento em pecúnia para somente então poder utilizar o valor recebido no pagamento de débitos federais. Após a expedição do precatório, poderia já apresentá-lo em execução fiscal, na condição de crédito (não de dinheiro) a ser acatado ou não pela Fazenda Nacional. E após a consignação no orçamento, em não havendo o pagamento no exercício devido, teria o poder liberatório de pagamento. Fl. 392DF CARF MF Processo nº 11516.722417/2012-85 Acórdão n.º 9202-004.340 CSRF-T2 Fl. 392 3 Todavia, nenhuma destas etapas ocorreu e o precatório alegado pela interessada ainda é mera expectativa de direito, a qual mesmo que concretizada não poderá ser aproveitada no âmbito da Receita Federal, nos termos já expostos e reiterados. No que se refere ao instituto da compensação tributária, o artigo 73 e 74 da Lei n° 9.430, de 27/12/96, regulamentando o artigo 170 do CTN, proíbe a compensação quando o crédito apresentado não se referir a tributo ou contribuição administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. O § 12°, do art. 74, da Lei 9.430/96, veda expressamente a utilização de crédito de terceiros e que não refira a tributos administrados pela RFB. (...) Note-se que os atos normativos prevêem apenas a compensação administrativo de créditos decorrentes de tributos ou contribuições pagos a maior ou indevidamente. No caso, o crédito é oriundo de ação trabalhista, em que figura como pólo passivo a FUNASA (Fundação Nacional de Saúde que incorporou a FSESP - Fundação Serviços de Saúde Pública), não se referindo, portanto, a tributo ou contribuição gerenciados por este Órgão. Contudo, independente da aplicação, ou não, ao caso concreto, das normas relativas à pretensão da interessada, pois, conforme colocado, o precatório estava suspenso. Quanto à multa isolada, seguem as razões do Fisco para o seu lançamento: 4.1 Os fatos narrados no decorrer de todo o item "3" demonstram à exaustão que a compensação indevida foi realizada com falsidade, o que induz à aplicação da multa isolada, prevista no artigo 89, parágrafo 10°, Leu n° 8.212/1991. O agir ímprobo do contribuinte e manifesta de modo cristalino face à ausência total de qualquer escusa que justifique sua conduta. Não há, pois como se falar em boa-fé objetiva em seu modus operandi, já que sob qualquer ótica não é crível conjecturar que o contribuinte agiu acreditando estar fazendo o correto. Diante de tal lançamento, o contribuinte apresentou impugnação aduzindo, preliminarmente: - nulidade do Auto de Infração por vício de fundamentação, uma vez que os processos administrativos que têm por objeto a compensação dos créditos tributários ainda encontra-se em andamento; - nulidade por ausência dos requisitos de validade do Auto de Infração, mais especificamente a ausência dos itens previstos nos incisos III e IV, do art. 10, do Decreto 70.235/72, quais sejam, descrição do fato e a disposição legal infringida e a penalidade aplicável. No mérito, arguiu a ilegalidade da autuação, posto que "o procedimento do Contribuinte não cuida de hipótese de compensação regulada pelo artigo 170 do CTN (tributo com tributo), mas sim de Poder Liberatório atribuído pela Constituição Federal, a precatórios inadimplidos pelo ente devedor". A impugnação foi julgada totalmente improcedente pela DRJ, tendo motivado a interposição do Recurso Voluntário arguindo a nulidade da decisão pela ausência de análise de todos os argumentos constantes do recurso, a nulidade do auto de infração em virtude de pendência de processo Fl. 393DF CARF MF 4 administrativo e a ilegalidade do procedimento e da multa isolada pela ausência de dolo na conduta do contribuinte. Do julgamento do recurso, ficou consignado que: não se verifica a nulidade, pois a decisão de primeira instância foi devidamente motivada; que a existência de processo administrativo cujo objeto era o pedido de compensação não impede o lançamento do crédito compensado indevidamente; que a compensação realizada não encontra respaldo legal e que, portanto, correto foi o lançamento; que o agente autuante indicou todos os fundamentos legais da autuação e da penalidade, demonstrando de forma discriminada o cálculo da multa aplicada. Contra a referida decisão, o Contribuinte interpôs Recurso Especial reiterando os termos do Recurso Voluntário, arguindo a nulidade da decisão de primeira instância pela falta de análise de todos os argumentos recursais e a ilegalidade da multa aplicada. Como paradigma, apontou o Acórdão n° 3301-002.071, no qual restou decidido que a ausência de análise de todos os argumentos gera a nulidade da decisão, devendo ser realizado novo julgamento. Quanto à multa isolada, afirma que, ao contrário do acórdão recorrido, o acórdão paradigma n° 2201-02.414 pontuou a necessidade da demonstração do dolo para aplicação da multa isolada. A Fazenda Nacional apresentou contrarrazões ressaltando a necessidade de preservação do acórdão recorrido. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Patrícia da Silva - Relatora Cientificado do acórdão em 07/08/2014, fl. 288, o contribuinte interpôs, tempestivamente, em 22/08/2014, o Recurso Especial em análise (fls. 290 a 353). O recorrente aponta divergência jurisprudencial entre o acórdão recorrido e outros julgados em relação as matérias: a) cerceamento de defesa - falta de análise de todos os argumentos; b) compensação de precatório da União vencido e não pago; c) ilegalidade da multa aplicada, tendo sido admitidas apenas letras a e c. Diante dos fatos, adoto as razões da admissibilidade para conhecer do recurso conforme as da divergências apresentadas: Cerceamento de defesa - falta de análise de todos os argumentos O acórdão recorrido negou provimento ao recurso voluntário do contribuinte, mantendo o lançamento fiscal, registrando que não ficou configurado o cerceamento de defesa e não está obrigado çã apresentada pelo recorrente, mas tão somente aquelas que possuam o condão de formar ou alterar sua convicção. Fl. 394DF CARF MF Processo nº 11516.722417/2012-85 Acórdão n.º 9202-004.340 CSRF-T2 Fl. 393 5 O recorrente se insurge contra o acórdão recorrido, alegando que a falta de apreciação de todos os argumentos suscitados pelo recorrente gera cerceamento de defesa. Apresenta acórdão paradigma nº 3301-002.071, da 1ª Turma Ordinária da 3ª Câmara da 3ª Seção de Julgamento do CARF, sessão de 22 de outubro de 2013, que decisão de primeira instância para prolação de novo julgamento, em razão da constatação da falta de apreciação de todos os argumentos suscitados pelo contribuinte, para não gerar cerceamento de defesa. São os termos do acórdão: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS - IPI Período de apuração: 01/07/2004 a 30/09/2004 FALTA DE APRECIAÇÃO DE TODOS OS ARGUMENTOS SUSCITADOS PELO SUJEITO PASSIVO. CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NULIDADE. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. RETORNO À INSTÂNCIA “A QUO” PARA NOVO JULGAMENTO. Constatada a falta de apreciação de todos os argumentos suscitados pela parte litigante, e detendo o sujeito passivo direito ao duplo grau de jurisdição administrativa, para que não haja cerceamento do direito de defesa deve ser anulada a decisão de primeiro grau e determinado o retorno dos autos à instância “a quo” para prolação de novo julgamento com análise de todos os pontos suscitados na defesa. Decisão Recorrida Nula Aguardando Nova Decisão Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em anular o acórdão proferido pela DRJ, para que outro seja proferido com a análise de todas as matérias constantes do processo. O acórdão apresentado a título de paradigma foi proferido por colegiado distinto e não foi reformado, prestando-se portanto para análise da divergência alegada. Da análise dos acórdãos recorrido e paradigma tem-se que foi demonstrada a diversidade de interpretações conferidas à lei tributária, em face de situações fáticas similares. O acórdão recorrido negou provimento ao recurso voluntário do contribuinte registrando que não ficou configurado o cerceamento de defesa e não está obrigado çã apresentada pelo recorrente. Em sentido contrário, sob a mesma situação fática, o acórdão paradigma anulou decisão de primeira instância para Fl. 395DF CARF MF 6 prolação de novo julgamento, em razão da constatação da falta de apreciação de todos os argumentos suscitados pelo contribuinte, para não gerar cerceamento de defesa. Portanto, resta comprovada a divergência indicada. Ilegalidade da multa aplicada Menciona o recorrente que o acórdão recorrido negou seguimento ao recurso voluntário por entender pela aplicabilidade da multa agravada, independentemente da existência de dolo ou não. Para tanto, apresenta o acórdão paradigma nº 2201-02.414, da 1ª Turma Ordinária da 2ª Câmara da 2ª Seção de Julgamento do CARF, sessão de 14 de maio de 2014, como divergente. São os termos: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA - IRPF Ano-calendário: 2004, 2005 PEDIDO DE DILIGÊNCIA. PERÍCIA. Incabível o deferimento da prova pericial ou a conversão dos autos em diligência se o contribuinte não apresenta elementos para abalar a convicção do julgador e o equívoco da autuação. O pedido de produção de prova pericial pelo contribuinte deve atender aos requisitos constantes no inciso IV do art. 16 do Decreto n 70.235/1972. OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS. Caracteriza omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação a qual o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Não ilide a omissão de rendimentos a simples indicação da origem sem a comprovação de que o valor não configura uma disponibilidade econômica para fins de IRPF, ou que a disponibilidade econômica dos depósitos já fora oferecida à tributação, seja na Declaração de Ajuste Anual correspondente, seja exclusivamente na fonte, ou ainda de que estar amparada por isenção. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICADORA. AFASTAMENTO. Deve ser afastada a qualificadora da multa de ofício quando não restar comprovado que o contribuinte dolosamente concorreu para supressão ou redução do pagamento de imposto. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento parcial ao recurso para desqualificar a multa de ofício, reduzindo-a ao percentual de 75%. Fez sustentação oral Fl. 396DF CARF MF Processo nº 11516.722417/2012-85 Acórdão n.º 9202-004.340 CSRF-T2 Fl. 394 7 pelo Contribuinte o Dr. Flavio de Souza Valentim, OAB/MG 96.489. O acórdão apresentado a título de paradigma foi proferido por colegiado distinto e não foi reformado, prestando-se portanto para análise da divergência alegada. O voto condutor do acórdão recorrido registra a imposição da multa isolada de 150%, vez que restou comprovado pela fiscalização que houve falsidade na declaração do recorrente (GFIP), não havendo necessidade de comprovação do dolo (fl. 283). São os termos: Voto (...) Os 9º e 10º, do art. 89, da Lei 8.212/91, fundamentam a imposição da multa isolada de 150%, uma vez que restou comprovado, pela fiscalização, que houve falsidade na declaração da recorrente, não havendo necessidade de comprovação do dolo. Assim, reitera-se, a compensação realizada pela empresa não possui amparo legal, como também não há nenhuma decisão definitiva a ampará-la. (...) Em decisão contraria, o acórdão paradigma, na própria ementa, afastou a qualificadora da multa de ofício (multa isolada de 150%), em razão de não restar comprovado que o contribuinte dolosamente concorreu para supressão ou redução do pagamento do tributo. No voto conduto da decisão paradigma consta a motivação (fls. 352/353), como segue: Inaplicabilidade da Multa de Ofício Qualificada A Contribuinte pugna pelo afastamento da multa de ofício pelos seguintes argumentos: (i) falta de previsão legal para aplicação da multa de ofício qualificada em 150%, (ii) inconstitucionalidade da multa qualificada de 150% em face de seu efeito confiscatório, (iii) inexistência de conduta típica que justifique a qualificação da multa. Alega que apresentou as informações que foram solicitadas pela fiscalização. A fiscalização qualificou a multa de ofício por entender que o volume movimentado em conta bancária em contrapartida com a declaração de isenção de Imposto de Renda revelam o intuito da Contribuinte em suprimir ou reduzir o pagamento de tributo dolosamente. Não obstante o entendimento da fiscalização, entendo que a conduta da Contribuinte não resta como bastante para qualificação da multa. A mesma contribuiu com a apresentação de informações no curso do processo fiscalizatório e o fato de a Fl. 397DF CARF MF 8 renda declarada não ser compatível com os depósitos bancários caracteriza não pagamento de imposto que já está sendo autuado e exigido com multa de ofício pelo seu não-pagamento. Desta feita, entendo que no caso em questão resta incabível a aplicação da multa qualificada por não entender que restou configurada conduta dolosa da Contribuinte para suprimir ou reduzir pagamento de tributo. Conclusão Diante do exposto, oriento meu voto no sentido de dar provimento parcial ao Recurso Voluntário para desqualificar a multa de ofício, reduzindo-a ao percentual de 75%. Da análise dos acórdãos recorrido e paradigma tem-se que foi demonstrada a diversidade de interpretações conferidas à lei tributária, em face de situações fáticas similares. O voto condutor do acórdão recorrido registrou a imposição da multa isolada de 150%, vez que restou comprovado pela fiscalização que houve falsidade na declaração (GFIP), não havendo necessidade de comprovação do dolo. Em sentido contrário, sob a mesma situação fática, o acórdão paradigma afastou a qualificadora da multa de ofício (multa isolada de 150%), em razão de não restar comprovado que o contribuinte dolosamente concorreu para supressão ou redução do pagamento do tributo. Portanto, resta comprovada a divergência indicada. Pelo exposto, entendo que foram atendidos os pressupostos de admissibilidade do recurso especial motivos pelos quais dele conheço. (assinado digitalmente) Patrícia da Silva Voto Vencedor Conselheira Maria Helena Cotta Cardozo - Redatora Designada Discordo do posicionamento da Ilustre Conselheira Relatora no que tange ao conhecimento do Recurso Especial interposto pelo Contribuinte. O recurso visa rever o decidido no Acórdão n° 2301-004.024, de 13/05/2014, assim ementado: "ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/11/2011 a 31/03/2012 Fl. 398DF CARF MF Processo nº 11516.722417/2012-85 Acórdão n.º 9202-004.340 CSRF-T2 Fl. 395 9 CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO O órgão julgador não está obrigado a apreciar toda e qualquer alegação apresentada pela recorrente, mas tão somente aquelas que possuem o condão de formar ou alterar sua convicção COMPENSAÇÃO DE TRIBUTO GLOSA Não há previsão legal para que se aceite a compensação de créditos previdenciários pertencentes a sujeito passivo que não possui relação direta com o fato gerador ou o responsável pelo tributo. Constatada a compensação de valores efetuada indevidamente pelo contribuinte ou em desacordo com o permitido pela legislação tributária, será efetuada a glosa dos valores e constituído o crédito tributário por meio do instrumento competente, sem prejuízo das penalidades cabíveis INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI Impossibilidade de apreciação de inconstitucionalidade da lei no âmbito administrativo." No presente caso, embora no apelo tenham sido suscitadas três matérias, somente foi dado seguimento a duas matérias, conforme o Despacho de Admissibilidade de Recurso Especial de fls. 357 a 366. São elas: - cerceamento de defesa - falta de análise de todos os argumentos; - ilegalidade da multa aplicada; Quanto à primeira matéria, de plano esclareça-se que o Recurso Especial não se presta a atender alegação de omissão no acórdão recorrido, cujo remédio processual é a oposição de Embargos de Declaração, no prazo de cinco dias, conforme estabelece o art. 65 do RICARF. Com efeito, não consta dos autos a oposição de Embargos Declaratórios visando suprir eventual omissão no acórdão recorrido. Por outro lado, no caso de alegação de falta de análise de argumentos ou provas no acórdão de Primeira Instância, o que normalmente é suscitado em sede de Recurso Voluntário, algumas vezes a decisão da DRJ é efetivamente anulada pelas Turmas Ordinárias do CARF, tendo em vista que inexiste a via dos Embargos de Declaração perante a Primeira Instância. Nesse passo, ainda que se pudesse entender que a primeira matéria objetivaria a declaração de nulidade da decisão de Primeira Instância e não do acórdão do CARF ora recorrido, teria de ser demonstrado o cumprimento de requisito fundamental para caracterização da divergência jurisprudencial, qual seja, a similitude fática entre as situações tratadas no acórdão recorrido e no paradigma. No caso do acórdão recorrido, restou claro que não se tratou de alegação de não conhecimento de matérias de mérito suscitadas na Impugnação (como se verificou no caso do paradigma) e sim da alegação de que argumentos relativos a preliminares não teriam sido apreciados a contento pela DRJ. Confira-se o voto condutor do acórdão recorrido, na parte em que trata das preliminares objeto do questionamento por parte do Contribuinte: "Preliminarmente, a autuada alega nulidade da decisão de primeira instância, por entender que não foram apreciados, pelos julgadores, todos os argumentos trazidos em sede de defesa, o que, segundo Fl. 399DF CARF MF 10 afirma, configura violação do princípio da ampla defesa e contraditório, bem como cerceamento do direito de defesa. Contudo, não se verifica a nulidade alegada pela recorrente Constata-se que o Relator do Acórdão combatido demonstra a convicção do julgador diante dos fatos e argumentos que lhes foram apresentados, seja pela auditoria fiscal, seja pela autuada. Ocorre que os argumentos trazidos pela recorrente não foram suficientes para que os julgadores de primeira instância se convencessem da legalidade do procedimento de compensação realizado pela recorrente. A fiscalização motivou o ato do lançamento, expondo, com muita clareza e riqueza de detalhes, as razões pelas quais efetuou a glosa da compensação realizada pela recorrente, como também fundamentou corretamente a aplicação da multa, demonstrando que houve falsidade de declaração. O art. 59, do Decreto 70.235/72, dispõe que Art. 59. São nulos: I - os atos e termos lavrados por pessoa incompetente; II - os despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. Não restou demonstrado nos autos que houve cerceamento de defesa da autuada, que demonstrou pleno conhecimento do que lhes esta sendo imputado. Constata-se que o Relator do Acórdão recorrido apreciou todas as alegações apresentadas pela impugnante que, no seu julgamento, eram importantes para a tomada de decisão, já que, conforme jurisprudência do STJ, o órgão julgador não está obrigado a apreciar toda e qualquer alegação apresentada pela recorrente, mas tão somente aquelas que possuem o condão de formar ou alterar sua convicção. Tal entendimento encontra respaldo em jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça aplicada subsidiariamente conforme se depreende do Recurso Especial, cuja ementa transcrevo abaixo: (...) Verifica-se, da leitura do relatório e voto que culminou no acórdão recorrido, que o julgador da DRJ afastou os argumentos da recorrente, deixando claro que a fiscalização, ao constatar a compensação realizada em desacordo com a legislação que trata da matéria, não poderia deixar de efetuar a glosa, uma vez que sua atividade é vinculada aos ditames legais. A autoridade julgadora argumentou, com muita propriedade, que "independentemente da existência de pedidos que poderiam estar pendentes de alguma manifestação da RFB, este fato não retira do Fisco o dever de efetuar o lançamento fiscal, até mesmo por força do risco do perecimento do direito de se lançar o tributo indevidamente compensado." Dessa forma, ao contrário do que afirma a recorrente, a autoridade julgadora da DRJ não foi omissa em sua decisão, e sim trouxe Fl. 400DF CARF MF Processo nº 11516.722417/2012-85 Acórdão n.º 9202-004.340 CSRF-T2 Fl. 396 11 argumentos suficientes para afastar as alegações de nulidade do , trazidas na peça impugnatória. Da mesma forma que os julgadores da DRJ, entendo que a existência de processos administrativos cujo objeto são pedidos de compensação em processos administrativos, não impedem o lançamento. Ora, se a recorrente alega que a fiscalização não poderia lançar o débito antes do trânsito em julgado dos pedidos administrativos de extinção para as apurações referentes às contribuições previdenciárias, entendo que também a recorrente não poderia fazer as compensações antes da decisão administrativa definitiva dos referidos processos. Se a inexistência de decisão definitiva sobre a questão debatida nos processos administrativos pendentes de julgamento acarreta incerteza sobre a exigibilidade dos tributos, da mesma forma é inegável a incerteza que paira sobre o direito à compensação. Portanto, a recorrente também não poderia ter feito a compensação, informando em GFIP, já que ainda não havia decisão administrativa definitiva sobre o direito de extinção dos tributos devidos com os créditos que alega possuir. E a fiscalização, ao se deparar com compensação sem uma decisão judicial definitiva a ampará-la, procedeu com muita propriedade à glosa, lançando as contribuições devidas por meio dos AIs ora discutidos, em observância aos ditames legais O relator do acórdão recorrido trouxe argumentos para sustentar a correção da aplicação da multa isolada agravada de 150%, fundamentando no art. 89, da Lei 8.212/91, alegando que a informação não verdadeira em GFIP, ou seja, a declaração de crédito tributário a favor do contribuinte que, conforme comprovado nos autos, não existe, tinha "o intuito de ganhos financeiros com prejuízo à Seguridade Social". Assim, não se vislumbra omissão de qualquer natureza no acórdão recorrido, não havendo que se falar em cerceamento de defesa ou em ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Nesse sentido, rejeito as preliminares de nulidade trazidas pela recorrente." (grifei) Assim, conclui-se que, no caso do acórdão recorrido, o Contribuinte arguiu preliminares que foram enfrentadas, tanto em Primeira Instância como pelo acórdão do CARF ora recorrido, tendo o Contribuinte restado insatisfeito com a rejeição de seus argumentos. Não obstante, o caso tratado no acórdão paradigma em nada se assemelha com a situação do acórdão recorrido, acima especificada. Com efeito, no caso do paradigma, a DRJ não conheceu de duas matérias de mérito que poderiam alterar substancialmente o lançamento, inclusive o cálculo do montante do ressarcimento solicitado. Confira-se decisão e voto do paradigma, Acórdão n° 3301-002.071, de 22/10/2013: Decisão "Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em anular o acórdão proferido pela DRJ, para que outro seja proferido com a análise de todas as matérias constantes do processo." (grifei) Fl. 401DF CARF MF 12 Voto "As matérias controversas no presente processo são: direito ao creditamento de IPI nas aquisições de blanquetas e limpadores de rolo; divergência de classificação fiscal dos seguintes produtos: imagem adesiva, notas fiscais, pastas personalizadas e envelopes. A classificação fiscal adotada pelo contribuinte resulta na aplicação de alíquota zero de IPI. A adotada pela fiscalização tem alíquota positiva de 15%; 3) se as operações efetuadas por indústrias gráficas por encomenda encontram-se no campo de incidência do IPI ou somente do ISS. Todas estas matérias foram enfrentadas pela fiscalização e também pela manifestação de inconformidade apresentada pelo contribuinte. Porém, o acórdão da DRJ manifestou-se somente a respeito do primeiro item, confirmando o entendimento pelo indeferimento do creditamento do IPI nas aquisições das blanquetas e limpadores de rolo. (...) Com todo respeito aos julgadores da DRJ/Recife, entendo que esta decisão foi equivocada. O outro processo citado trata exclusivamente do lançamento de ofício da multa isolada relativa ao IPI em decorrência da falta de seu destaque e lançamento na emissão da nota fiscal de saída. Assim consta do Termo de Informação Fiscal: (...) O processo citado é objeto de lançamento da multa isolada do IPI em relação à falta de lançamento do IPI na nota fiscal. Matéria realmente estranha ao presente processo. Porém, indubitavelmente, o valor da diferença do IPI, em decorrência da reclassificação fiscal dos produtos vendidos, é objeto principal na lide do presente processo. (...) O lançamento da multa isolada do IPI em outro processo, apesar que estribada na mesma reclassificação fiscal, tem fundamento diverso da presente glosa. Ela decorre da infração prevista no art. 80, I, da Lei n° 4.502/64, com a redação dada pelo art. 45 da Lei n° 9.430/96. (...) Portanto, entendo que ambas as questões não conhecidas pela DRJ/Recife no acórdão n° 1129.965 são matérias de mérito atinentes ao presente processo. Ao não conhecê-las fere-se o direito do contribuinte em ver esta matéria enfrentada em duplo grau de jurisdição administrativa cerceando-lhe o direito de defesa." (grifei) Assim, constata-se que o paradigma trata de pedido de ressarcimento de IPI, tendo a Fiscalização arguido três matérias de mérito que inviabilizariam o pedido. Quanto a essas matérias de mérito, o Contribuinte as rebateu, em sede de Manifestação de Inconformidade. A DRJ, por sua vez, somente conheceu da primeira matéria, deixando de conhecer das outras duas matérias, ao argumento de que estas teriam sido tratadas em um outro processo. Em face de tal procedimento, o acórdão do CARF indicado como paradigma Fl. 402DF CARF MF Processo nº 11516.722417/2012-85 Acórdão n.º 9202-004.340 CSRF-T2 Fl. 397 13 esclareceu que no processo citado pela DRJ, em que teriam sido julgadas as matérias por ela não conhecidas, na verdade delas não se tratou, daí a necessidade de retorno à Primeira Instância, para manifestação acerca dessas duas matérias de mérito, que inclusive poderiam repercutir no cálculo do valor dos créditos objeto do pedido de ressarcimento. Destarte, não há que se falar em divergência jurisprudencial, quando os acórdãos recorrido e paradigma não possuem qualquer similitude fática, de sorte que as soluções diversas não decorrem de interpretação divergente de lei, e sim das especificidades constantes de cada caso concreto. Em síntese: - no caso do acórdão recorrido, trata-se de Auto de Infração de Contribuições Sociais Previdenciárias, tendo o Contribuinte tecido argumentos relativos a preliminar de nulidade, argumentos esses rejeitados pela DRJ e pelo acórdão do CARF, ora recorrido; - no caso do paradigma, trata-se de Pedido de Ressarcimento de IPI, tendo a Fiscalização arguido três matérias de mérito que inviabilizariam o pedido, matérias estas devidamente enfrentadas pelo Contribuinte em sede de Manifestação de Inconformidade; entretanto, a DRJ deixou de conhecer duas dessas matérias de mérito, ao argumento de que elas já teriam sido decididas em outro processo; nesse contexto, o acórdão paradigma esclareceu que o processo citado pela DRJ como justificativa para o não conhecimento das duas matérias, na verdade delas não tratou, portanto caracterizou-se omissão pelo não conhecimento de matérias de mérito que poderiam, inclusive, alterar substancialmente o lançamento. Destarte, não há como comparar-se, para fins de declaração de nulidade, decisão que enfrenta a matéria preliminar arguida, rechaçando os argumentos do Contribuinte, com decisão que não conhece de duas matérias de mérito arguidas pela própria Fiscalização como óbices ao ressarcimento solicitado. Assim, não conheço da primeira matéria suscitada. Relativamente à segunda matéria a qual foi dado seguimento - ilegalidade da multa aplicada - trata-se da multa tipificada no art. 89 da Lei n° 8.212, de 1991, específica para compensação indevida relativa a Contribuições Sociais Previdenciárias, em que se verifique falsidade. Confira-se o voto do acórdão recorrido: "Os §§ 9° e 10°, do art. 89, da Lei 8.212/91, fundamentam a imposição da multa isolada de 150%, uma vez que restou comprovado, pela fiscalização, que houve falsidade na declaração da recorrente, não havendo necessidade de comprovação do dolo. Assim, reitera-se, a compensação realizada pela empresa não possui amparo legal, como também não há nenhuma decisão definitiva a ampará-la. Isso posto, constata-se que o AI foi lavrado de acordo com os dispositivos legais e normativos que disciplinam a matéria, tendo o agente autuante demonstrado, de forma clara e precisa, a ocorrência do fato gerador da contribuição previdenciária, fazendo constar, nos relatórios que compõem a Autuação, os fundamentos legais que amparam o procedimento adotado e as rubricas lançadas." Quanto ao paradigma, este trata de Imposto de Renda Pessoa Física, sendo que a multa qualificada foi aplicada no contexto de autuação por presunção com base em depósitos bancários sem identificação de origem (art. 42 da Lei n° 9.430, de 1996). Confira-se a ementa e o voto do paradigma, Acórdão n° 2201-02.414, de 05/08/2014: Fl. 403DF CARF MF 14 Ementa "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Ano-calendário: 2004, 2005 (...) OMISSÃO DE RENDIMENTOS. LANÇAMENTO COM BASE EM DEPÓSITOS BANCÁRIOS. Caracteriza omissão de rendimentos os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto à instituição financeira, em relação a qual o titular, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Não ilide a omissão de rendimentos a simples indicação da origem sem a comprovação de que o valor não configura uma disponibilidade econômica para fins de IRPF, ou que a disponibilidade econômica dos depósitos já fora oferecida à tributação, seja na Declaração de Ajuste Anual correspondente, seja exclusivamente na fonte, ou ainda de que estar amparada por isenção. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICADORA. AFASTAMENTO. Deve ser afastada a qualificadora da multa de ofício quando não restar comprovado que o contribuinte dolosamente concorreu para supressão ou redução do pagamento de imposto.") (frifei) Voto "4 - Inaplicabilidade da Multa de Ofício Qualificada A Contribuinte pugna pelo afastamento da multa de ofício pelos seguintes argumentos: (i) falta de previsão legal para aplicação da multa de oficio qualificada em 150%, (ii) inconstitucionalidade da multa qualificada de 150% em face de seu efeito confiscatório, (iii) inexistência de conduta típica que justifique a qualificação da multa. Alega que apresentou as informações que foram solicitadas pela fiscalização. A fiscalização qualificou a multa de ofício por entender que o volume movimentado em conta bancária em contrapartida com a declaração de isenção de Imposto de Renda revelam o intuito da Contribuinte em suprimir ou reduzir o pagamento de tributo dolosamente. Não obstante o entendimento da fiscalização, entendo que a conduta da Contribuinte não resta como bastante para qualificação da multa. A mesma contribuiu com a apresentação de informações no curso do processo fiscalizatório e o fato de a renda declarada não ser compatível com os depósitos bancários caracteriza não pagamento de imposto que já está sendo autuado e exigido com multa de ofício pelo seu não-pagamento." (grifei) Destarte, não há que se falar em dar interpretação divergente à lei tributária, quando estão em confronto normas diversas, regulando diferentes condutas, cada qual com suas especificidades, de sorte que esta segunda matéria também não pode ser conhecida. Diante do exposto, não conheço do Recurso Especial interposto pelo Contribuinte. Quanto ao mérito, deixo de me manifestar, tendo em vista o não conhecimento do apelo. Fl. 404DF CARF MF Processo nº 11516.722417/2012-85 Acórdão n.º 9202-004.340 CSRF-T2 Fl. 398 15 (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Fl. 405DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10980.927096/2009-69
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Nov 08 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Nov 25 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/03/2002 a 31/03/2002
ENTIDADE DE EDUCAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS. MENSALIDADES DE ALUNOS. ISENÇÃO. ATIVIDADE PRÓPRIA. ABRANGÊNCIA DO TERMO. POSSIBILIDADE DE SERVIÇOS CONTRAPRESTACIONAIS.
A entidade de educação sem fins lucrativos faz jus à isenção da Cofins sobre a receita relativa a sua atividade própria (aquela compatível com o seu objeto social), ainda que tenha origem em contraprestação direta dos beneficiários dos serviços prestados.
Recurso Especial do Contribuinte provido.
Numero da decisão: 9303-004.369
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso especial do Contribuinte e, no mérito, em dar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Charles Mayer de Castro Souza Relator
Participaram do Julgamento os Conselheiros Rodrigo da Costa Possas (Presidente em exercício), Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza, Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: CHARLES MAYER DE CASTRO SOUZA
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso especial do Contribuinte e, no mérito, em dar-lhe provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Relator Participaram do Julgamento os Conselheiros Rodrigo da Costa Possas (Presidente em exercício), Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza, Vanessa Marini Cecconello.
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ISENÇÃO. Recorrente SOCIEDADE PARANAENSE DE ENSINO E INFORMÁTICA Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/03/2002 a 31/03/2002 ENTIDADE DE EDUCAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS. MENSALIDADES DE ALUNOS. ISENÇÃO. ATIVIDADE PRÓPRIA. ABRANGÊNCIA DO TERMO. POSSIBILIDADE DE SERVIÇOS CONTRAPRESTACIONAIS. A entidade de educação sem fins lucrativos faz jus à isenção da Cofins sobre a receita relativa a sua atividade própria (aquela compatível com o seu objeto social), ainda que tenha origem em contraprestação direta dos beneficiários dos serviços prestados. Recurso Especial do Contribuinte provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso especial do Contribuinte e, no mérito, em darlhe provimento. (assinado digitalmente) Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza – Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 98 0. 92 70 96 /2 00 9- 69 Fl. 178DF CARF MF 2 Participaram do Julgamento os Conselheiros Rodrigo da Costa Possas (Presidente em exercício), Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza, Vanessa Marini Cecconello. Relatório Tratase de Recurso Especial de Divergência interposto tempestivamente pela contribuinte contra o Acórdão nº 3803004.381, de 25/07/2013, proferido pela 3ª Turma Especial da 3ª Seção deste CARF, que fora assim ementado: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/03/2002 a 31/03/2002 INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS. RECEITAS DAS ATIVIDADES PRÓPRIAS. ISENÇÃO. São isentas da Cofins somente as receitas decorrentes das atividades próprias das instituições de educação sem fins lucrativos, não abarcando as receitas obtidas na prestação de serviços com caráter contraprestacional. No Recurso Especial, por meio do qual pleiteou, ao final, a reforma do decisum, a Recorrente suscitou divergência em relação ao entendimento de que as receitas obtidas na prestação de serviços com caráter contraprestacional não são receitas decorrentes das atividades próprias da instituição. Visando comprovar as divergências, apresentou, como paradigmas, os Acórdãos nº 3801001.005 e 310201.333, cujas cópias de inteiro teor foram juntadas aos autos. O exame de admissibilidade do Recurso Especial encontrase às fls. 170/171. As contrarrazões apresentadas pela Fazenda Nacional, às fls. 173/176. É o Relatório. Voto Conselheiro Charles Mayer de Castro Souza, Relator. O recurso atende a todos os requisitos de admissibilidade previstos em lei, razão pela qual dele se conhece. A questão é simples e não comporta maiores digressões. Restringese a saber se a isenção da Cofins para as entidades de educação sem fins lucrativos compreende ou não as receitas obtidas na prestação de serviços com caráter contraprestacional (no caso em exame, as mensalidades escolares). Conforme demonstrado no exame de sua admissibilidade, o recurso especial trouxe entendimentos divergentes adotados por Turmas diversas deste Conselho Administrativo. Fl. 179DF CARF MF Processo nº 10980.927096/200969 Acórdão n.º 9303004.369 CSRFT3 Fl. 179 3 Conhecido, o recurso também deve ser provido. É que, como é do conhecimento de todos, a matéria já foi pacificada pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ, por meio de decisão submetida à sistemática dos recursos repetitivos, assim ementada: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ART. 543C, DO CPC. COFINS. CONCEITO DE RECEITAS RELATIVAS ÀS ATIVIDADES PRÓPRIAS DAS ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS PARA FINS DE GOZO DA ISENÇÃO PREVISTA NO ART. 14, X, DA MP N. 2.15835/2001. ILEGALIDADE DO ART. 47, II E § 2º, DA INSTRUÇÃO NORMATIVA SRF N. 247/2002. SOCIEDADE CIVIL EDUCACIONAL OU DE CARÁTER CULTURAL E CIENTÍFICO. MENSALIDADES DE ALUNOS. 1. A questão central dos autos se refere ao exame da isenção da COFINS, contida no art. 14, X, da Medida Provisória n. 1.858/99 (atual MP n. 2.15835/2001), relativa às entidades sem fins lucrativos, a fim de verificar se abrange as mensalidades pagas pelos alunos de instituição de ensino como contraprestação desses serviços educacionais. O presente recurso representativo da controvérsia não discute quaisquer outras receitas que não as mensalidades, não havendo que se falar em receitas decorrentes de aplicações financeiras ou decorrentes de mercadorias e serviços outros (vg. estacionamentos pagos, lanchonetes, aluguel ou taxa cobrada pela utilização de salões, auditórios, quadras, campos esportivos, dependências e instalações, venda de ingressos para eventos promovidos pela entidade, receitas de formaturas, excursões, etc.) prestados por essas entidades que não sejam exclusivamente os de educação. 2. O parágrafo § 2º do art. 47 da IN 247/2002 da Secretaria da Receita Federal ofende o inciso X do art. 14 da MP n° 2.158 35/01 ao excluir do conceito de "receitas relativas às atividades próprias das entidades", as contraprestações pelos serviços próprios de educação, que são as mensalidades escolares recebidas de alunos. 3. Isto porque a entidade de ensino tem por finalidade precípua a prestação de serviços educacionais. Tratase da sua razão de existir, do núcleo de suas atividades, do próprio serviço para o qual foi instituída, na expressão dos artigos 12 e 15 da Lei n.º 9.532/97. Nessa toada, não há como compreender que as receitas auferidas nessa condição (mensalidades dos alunos) não sejam aquelas decorrentes de "atividades próprias da entidade", conforme o exige a isenção estabelecida no art. 14, X, da Medida Provisória n. 1.858/99 (atual MP n. 2.158 35/2001). Sendo assim, é flagrante a ilicitude do art. 47, §2º, da IN/SRF n. 247/2002, nessa extensão. Fl. 180DF CARF MF 4 4. Precedentes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais CARF: Processo n. 19515.002921/200639, Acórdão n. 203 12738, 3ª TURMA / CSRF / CARF / MF / DF, Rel. Cons. Rodrigo Cardozo Miranda, publicado em 11/03/2008; Processo n. 10580.009928/200461, Acórdão n. 3401002.233, 1ªTO / 4ª CÂMARA / 3ª SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Emanuel Carlos Dantas de Assis, publicado em 16/08/2013; Processo n. 10680.003343/200591, Acórdão n. 3201001.457, 1ªTO / 2ª CÂMARA / 3ª SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Mércia Helena Trajano Damorim, Rel. designado Cons. Daniel Mariz Gudiño, publicado em 04/02/2014; Processo n. 13839.001046/200558, Acórdão n. 3202000.904, 2ªTO / 2ª CÂMARA / 3ª SEJUL / CARF / MF. Rel. Cons. Thiago Moura de Albuquerque Alves, publicado em 18/11/2013; Processo n. 10183.003953/200414 acórdãos 930301.486 e 9303001.869, 3ª TURMA / CSRF, Rel. Cons. Nanci Gama, julgado em 30.05.2011; Processo n. 15504.019042/201009, Acórdão 3403002.280, 3ªTO / 4ª CÂMARA / 3ª SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Ivan Allegretti, publicado em 01/08/2013; Processo: 10384.003726/200775, Acórdão 3302001.935, 2ªTO / 3ª CÂMARA / 3ª SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Fabiola Cassiano Keramidas, publicado em 04/03/2013; Processo: 15504.019042/201009, Acórdão 3403 002.280, 3ªTO / 4ª CÂMARA / 3ª SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Ivan Allegretti, julgado em 25.06.2013; Acórdão 9303 001.869, Processo: 19515.002662/200484, 3ª TURMA / CSRF / CARF / MF, Rel. Cons. Julio Cesar Alves Ramos, Sessão de 07/03/2012. 5. Precedentes em sentido contrário: AgRg no REsp 476246/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJ 12/11/2007, p. 199; AgRg no REsp 1145172/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 29/10/2009; Processo: 15504.011242/201013, Acórdão 3401002.021, 1ªTO / 4ª CÂMARA / 3ª SEJUL / CARF / MF, Rel. Cons. Odassi Guerzoin Filho, publicado em 28/11/2012; Súmula n. 107 do CARF: "A receita da atividade própria, objeto de isenção da COFINS prevista no art. 14, X, c/c art. 13, III, da MP n. 2.15835, de 2001, alcança as receitas obtidas em contraprestação de serviços educacionais prestados pelas entidades de educação sem fins lucrativos a que se refere o art. 12 da Lei n. 9.532, da 1997". 6. Tese julgada para efeito do art. 543C, do CPC: as receitas auferidas a título de mensalidades dos alunos de instituições de ensino sem fins lucrativos são decorrentes de "atividades próprias da entidade", conforme o exige a isenção estabelecida no art. 14, X, da Medida Provisória n. 1.858/99 (atual MP n. 2.15835/2001), sendo flagrante a ilicitude do art. 47, §2º, da IN/SRF n. 247/2002, nessa extensão. 7. Recurso especial não provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543C do CPC e da Resolução STJ 08/2008. (REsp 1353111/RS, rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 18/12/2015). Registrese que as decisões definitivas proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça proferidas na sistemática prevista pelos artigos 543 Fl. 181DF CARF MF Processo nº 10980.927096/200969 Acórdão n.º 9303004.369 CSRFT3 Fl. 180 5 B e 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), são de observância obrigatória no julgamento dos recursos administrativos pelo CARF, por imposição do art. 62 do Regimento Interno deste Colegiado (Portaria MF nº 343, de 09 de junho de 2015 – RICARF). Ademais, e em razão desta decisão judicial e de decisões administrativas antes proferidas, este Colegiado Administrativo, o CARF editou a Súmula nº 107, segundo a qual "A receita da atividade própria, objeto da isenção da Cofins prevista no art. 14, X, c/c art. 13, III, da MP nº 2.15835, de 2001, alcança as receitas obtidas em contraprestação de serviços educacionais prestados pelas entidades de educação sem fins lucrativos a que se refere o art. 12 da Lei nº 9.532, de 1997". Ante o exposto, conheço do recurso especial interposto pela contribuinte e, no mérito, doulhe provimento. É como voto. (assinado digitalmente) Charles Mayer de Castro Souza Fl. 182DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11831.000151/99-79
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Aug 10 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Sep 23 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Data do fato gerador: 30/09/1997, 31/10/1997, 30/11/1997, 31/12/1997, 31/01/1998, 28/02/1998, 31/03/1998, 30/04/1998, 31/05/1998, 30/06/1998, 31/07/1998, 31/08/1998, 30/09/1998, 31/10/1998, 28/02/1999, 31/03/1999, 30/04/1999
PIS DECRETOS LEIS NºS 2.445 E 2.449. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO OU COMPENSAÇÃO. DECADÊNCIA/PRESCRIÇÃO
Por força do §2º do art. 62 do RICARF/2015, devem ser reproduzidas pelos conselheiros, nos julgamentos deste Tribunal Administrativo, as decisões do Supremo Tribunal Federal proferidas em sede de recursos com repercussão geral reconhecida.
O prazo para repetição de indébito, para pedidos efetuados até 08 de junho de 2005, é de 10 anos, contados da data da ocorrência do fato gerador do tributo pago indevidamente ou a maior que o devido (tese dos 5 + 5). A partir de 9 de junho de 2005, com a vigência do art. 3º da Lei Complementar nº 118/2005, esse prazo passou a ser de 5 anos, contados da extinção do crédito pelo pagamento efetuado.
Recurso Especial do Procurador Negado.
Numero da decisão: 9303-004.227
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negar-lhe provimento.
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente em Exercício
Demes Brito- Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas ( Presidente em Exercício), Charles Mayer de Castro Souza ( Suplente convocado), Andrada Márcio Canuto Natal, Júlio César Ramos, Demes Brito, Tatiana Midori Migiyama, Vanessa Marini Cecconello, Valcir Gassen (suplente convocado em substituição à conselheira Érika Costa Camargos Autran)
Nome do relator: DEMES BRITO
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ementa_s : Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Data do fato gerador: 30/09/1997, 31/10/1997, 30/11/1997, 31/12/1997, 31/01/1998, 28/02/1998, 31/03/1998, 30/04/1998, 31/05/1998, 30/06/1998, 31/07/1998, 31/08/1998, 30/09/1998, 31/10/1998, 28/02/1999, 31/03/1999, 30/04/1999 PIS DECRETOS LEIS NºS 2.445 E 2.449. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO OU COMPENSAÇÃO. DECADÊNCIA/PRESCRIÇÃO Por força do §2º do art. 62 do RICARF/2015, devem ser reproduzidas pelos conselheiros, nos julgamentos deste Tribunal Administrativo, as decisões do Supremo Tribunal Federal proferidas em sede de recursos com repercussão geral reconhecida. O prazo para repetição de indébito, para pedidos efetuados até 08 de junho de 2005, é de 10 anos, contados da data da ocorrência do fato gerador do tributo pago indevidamente ou a maior que o devido (tese dos 5 + 5). A partir de 9 de junho de 2005, com a vigência do art. 3º da Lei Complementar nº 118/2005, esse prazo passou a ser de 5 anos, contados da extinção do crédito pelo pagamento efetuado. Recurso Especial do Procurador Negado.
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ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Data do fato gerador: 30/09/1997, 31/10/1997, 30/11/1997, 31/12/1997, 31/01/1998, 28/02/1998, 31/03/1998, 30/04/1998, 31/05/1998, 30/06/1998, 31/07/1998, 31/08/1998, 30/09/1998, 31/10/1998, 28/02/1999, 31/03/1999, 30/04/1999 PIS DECRETOS LEIS NºS 2.445 E 2.449. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO OU COMPENSAÇÃO. DECADÊNCIA/PRESCRIÇÃO Por força do §2º do art. 62 do RICARF/2015, devem ser reproduzidas pelos conselheiros, nos julgamentos deste Tribunal Administrativo, as decisões do Supremo Tribunal Federal proferidas em sede de recursos com repercussão geral reconhecida. O prazo para repetição de indébito, para pedidos efetuados até 08 de junho de 2005, é de 10 anos, contados da data da ocorrência do fato gerador do tributo pago indevidamente ou a maior que o devido (tese dos 5 + 5). A partir de 9 de junho de 2005, com a vigência do art. 3º da Lei Complementar nº 118/2005, esse prazo passou a ser de 5 anos, contados da extinção do crédito pelo pagamento efetuado. Recurso Especial do Procurador Negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negarlhe provimento. Rodrigo da Costa Pôssas Presidente em Exercício AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 83 1. 00 01 51 /9 9- 79 Fl. 588DF CARF MF Impresso em 23/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por RODR IGO DA COSTA POSSAS, Assinado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO Processo nº 11831.000151/9979 Acórdão n.º 9303004.227 CSRFT3 Fl. 589 2 Demes Brito Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas ( Presidente em Exercício), Charles Mayer de Castro Souza ( Suplente convocado), Andrada Márcio Canuto Natal, Júlio César Ramos, Demes Brito, Tatiana Midori Migiyama, Vanessa Marini Cecconello, Valcir Gassen (suplente convocado em substituição à conselheira Érika Costa Camargos Autran) Relatório Tratase de Recurso Especial de divergência interposto pela Fazenda Nacional contra acórdão nº 20218.230 2º Câmara do Segundo Conselho de Contribuintes julgado na sessão de 15 de agosto de 2007, que concedeu parcial provimento ao Recurso da Contribuinte, reconhecendo o pedido de restituição da contribuição do PIS, em face da declaração de inconstitucionalidade proferida pelo Eg. STF, em face dos DecretosLeis nºs 2.445/88 e 2.449/88, nos autos do Recurso Extraordinário n 2148.7542/RJ, tendo o Senado Federal exercido a prerrogativa contemplada no art. 52, X, da Constituição Federal Resolução nº 49, de 9 de outubro de 1995. Transcrevo, inicialmente, excerto do relatório da decisão de primeiro grau: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Data do fato gerador: 30/09/1997, 31/10/1997, 30/11/1997, 31/12/1997, 31/01/1998, 28/02/1998, 31/03/1998, 30/04/1998, 31/05/1998, 30/06/1998, 31/07/1998, 31/08/1998, 30/09/1998, 31/10/1998, 28/02/1999, 31/03/1999, 30/04/1999. Ementa: PEDIDO DE RESTITUIÇÃO OU COMPENSAÇÃO. DECADÊNCIA QUINQUENAL. O pleito de restituição/compensação de valores recolhidos a maior, a titulo de contribuição para o PIS, nos moldes dos inconstitucionais DecretosLeis nºs 2.445 e 2.449, de 1988, tem como prazo de decadência/prescrição aquele de cinco anos, contado a partir da edição da Resolução nº 49, do Senado (Precedente Acórdão nº: 20216.357). Recurso provido em parte. Tratase de recurso voluntário impetrado pela empresa Disbrasa Distribuidora de Veículos Ltda. (CNPJ n2 61.799.227/000133), em face do Acórdão n 2 05.737, de 17 de agosto de 2004 (fls. 260/277), prolatado pela DRJ/SP, que manteve o indeferimento da solicitação de restituição/compensação, assim ementado: "Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Data do fato gerador: 30/09/1997, 31/10/1997, 30/11/1997, 31/12/1997, 31/01/1998, 28/02/1998, 31/03/1998, 30/04/1998, 31/05/1998, 30/06/1998, 31/07/1998, 31/08/1998, 30/09/1998, 31/10/1998, 28/02/1999, 31/03/1999, 30/04/1999 Fl. 589DF CARF MF Impresso em 23/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por RODR IGO DA COSTA POSSAS, Assinado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO Processo nº 11831.000151/9979 Acórdão n.º 9303004.227 CSRFT3 Fl. 590 3 Ementa: DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE INCONSTITUCIONALIDADE DECADÊNCIA SEMESTRALIDADE DO PIS JUROS A manifestação de inconformidade apresentada contra decisão que não homologou as declarações de compensação apresentadas tern o condão de suspender a exigibilidade dos débitos que o contribuinte pretende compensar. Falece competência à autoridade administrativa para apreciar alegações de inconstitucionalidade. 0 direito de pedir restituição extinguese após o prazo de cinco anos, contados da data da extinção do crédito tributário. Legislação superveniente alterou o prazo de recolhimento do PIS, sendo que estas normas não foram .afetadas pela Resolução 49 do Senado Federal. Sobre os créditos tributários não pagos no prazo legal de vencimento devem ser acrescidos os juros moratórios. Solicitação Indeferida". Portanto, o presente processo trata de recurso objetivando a restituição dos valores pagos a maior, extraídos da diferença entre as quantias recolhidas pelos decretos inconstitucionais (nºs 2.445/88 e 2.448/88), no período compreendido entre janeiro de 1990 e outubro de 1994, e as efetivamente devidas pela LC nº 07/70, em razão de ter utilizado como base de cálculo desta contribuição o resultado do mês imediatamente anterior ao vencimento, e não o sexto mês anterior, como determinava o parágrafo único do art. 62 da mencionada LC. No recurso de fls. 284/304, a recorrente alega que ingressou em 12/05/1999, com o pedido de compensação dos créditos de PIS (gerados em virtude da declaração de inconstitucionalidade dos DLs) com débitos do próprio PIS, relativos aos fatos geradores ocorridos entre setembro de 1997 e outubro de 1998 e entre fevereiro e abril de 1999, aduzindo, para tanto, em síntese, que a decadência do direito de pleitear a restituição ou a compensação da diferença da Contribuição ao PIS recolhida em conformidade com Decretos Leis n°s 2.445 e 2.448, ambos de 1988, e o valor devido pela LC n 2 7/70, somente se daria em 11/10/2000, tendo em vista que a Resolução n 2 49, do Senado Federal, somente foi publicada em 10/10/95, conforme reiterada jurisprudência dos Conselhos de Contribuintes e também de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores. Irresignada com tal decisão, a Fazenda Nacional, interpõe o presente recurso, requerendo, no mérito por sua reforma. Alega que o direito de pleitear a restituição extinguese com o decurso do prazo de 05 (cinco) anos, contados da data do pagamento do tributo indevido, conforme inteligência dos artigos 168, caput e inciso I, 165, inciso I, e 156, inciso I, do CTN e demais argumentos expendidos na peça recursal. Regularmente intimada, a Contribuinte apresentou suas contrarrazões. É o relatório. Fl. 590DF CARF MF Impresso em 23/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por RODR IGO DA COSTA POSSAS, Assinado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO Processo nº 11831.000151/9979 Acórdão n.º 9303004.227 CSRFT3 Fl. 591 4 Voto Demes Brito Conselheiro Relator Admissibilidade Verifico fls. 461 a 462, o despacho de admissibilidade do presente recurso. Atende os requisitos legais. Dele conheço. Objeto da Lide Mérito A discussão cravase referente ao indébito pleiteado dos períodos de janeiro de 1990 e outubro de 1994, cuja solicitação foi protocolada em 12/05/1999, o que levou a DRF/SP a indeferir o pleito por considerar decaído o direito à restituição, em face do que preconiza o art. 168 do CTN, bem como pelo fato do Ato Declaratório SRF nº2 96/99, respaldado no Parecer PGFN/CAT n2 1.538/99, que igualmente considera o prazo de 5 (cinco) anos para que o contribuinte possa pleitear a restituição de tributo ou contribuição pago indevidamente. Por outro lado, a Câmara baixa com fundamento na decisão do Superior Tribunal de Justiça STJ, entendeu que no caso de lançamento tributário por homologação e havendo silêncio do Fisco, o prazo decadencial só se inicia após decorridos 5 (cinco) anos da ocorrência do fato gerador, acrescidos de mais um qüinqüênio, a partir da homologação tácita do lançamento. Com efeito, por força do §2º do art. 62 do RICARF/2015, as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal na sistemática prevista pelo art. 543B (com repercussão geral reconhecida) da Lei nº. 5.869/73 (CPC/1973), devem ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF Desta feita, a matéria referente à prescrição da pretensão de repetição de indébito tributário já foi julgada pelo STF, em sede de recurso extraordinário com repercussão geral reconhecida, no RE nº. 566.621, cujo julgado possui a seguinte ementa: DIREITO TRIBUTÁRIO – LEI INTERPRETATIVA – APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI COMPLEMENTAR Nº 118/2005 – DESCABIMENTO – VIOLAÇÃO À SEGURANÇA JURÍDICA – NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DA VACACIO LEGIS – APLICAÇÃO DO PRAZO REDUZIDO PARA REPETIÇÃO OU COMPENSAÇÃO DE INDÉBITOS AOS PROCESSOS AJUIZADOS A PARTIR DE 9 DE JUNHO DE 2005. Quando do advento da LC 118/05, estava consolidada a orientação da Primeira Seção do STJ no sentido de que, para os tributos sujeitos a lançamento por homologação, o prazo para repetição ou compensação de indébito era de 10 anos contados do seu fato gerador, tendo em conta a aplicação combinada dos arts. 150, § 4º, 156, VII, e 168, I, do CTN. A LC 118/05, embora tenha se autoproclamado interpretativa, implicou inovação normativa, tendo reduzido o prazo de 10 anos contados do fato gerador para 5 anos contados do pagamento indevido.Lei supostamente interpretativa que, em verdade, inova no mundo jurídico deve ser considerada como lei nova. Inocorrência de violação à Fl. 591DF CARF MF Impresso em 23/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por RODR IGO DA COSTA POSSAS, Assinado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO Processo nº 11831.000151/9979 Acórdão n.º 9303004.227 CSRFT3 Fl. 592 5 autonomia e independência dos Poderes, porquanto a lei expressamente interpretativa também se submete, como qualquer outra, ao controle judicial quanto à sua natureza, validade e aplicação. A aplicação retroativa de novo e reduzido prazo para a repetição ou compensação de indébito tributário estipulado por lei nova, fulminando, de imediato, pretensões deduzidas tempestivamente à luz do prazo então aplicável, bem como a aplicação imediata às pretensões pendentes de ajuizamento Reconhecida a inconstitucionalidade art. 4º, segunda parte, da LC 118/05, considerandose válida a aplicação do novo prazo de 5 anos tão somente às ações ajuizadas após o decurso da vacatio legis de 120 dias, ou seja, a partir de 9 de junho de 2005 Aplicação do art. 543B, § 3º, do CPC aos recursos sobrestados. Recurso extraordinário desprovido. (RE 566.621. Relatora Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 04/08/2011, REPERCUSSÃO GERAL. DjE195 DIVULG. 10102011 PUBLIC.. 11102011). Portanto, em razão do referido julgamento, o prazo para a Contribuinte pleitear a restituição de pagamentos indevidos, referentes aos tributos sujeitos a lançamento por homologação, é de 10 anos, estes aplicados tão somente para os pedidos que tenham sido protocolizados/ajuizados antes da vigência da Lei Complementar nº. 118/2005, em : 09/06/2005. Assim, conhecida a tese dos 5 + 5: corre o prazo de 5 anos, contados da data da ocorrência do fato gerador, para homologação tácita do lançamento (na forma do artigo 150, §4º do CTN); a partir daí, quando se tem por extinto o crédito tributário, passase a contar mais 5 anos para pleitear a restituição (na forma do artigo 168, I do CTN). Referida decisão não deixa dúvida de que o artigo 3º da Lei Complementar nº 118/2005 só produziu efeitos a partir de 9 de junho de 2005, de modo que, a Contribuinte protocolizou pedido de repetição de indébito em período anterior a essa data – 12/05/1999, inclusive goza do prazo de 10 anos para pleitear a repetição do indébito, contados a partir da data da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária. Diante de tudo que foi exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso da Fazenda Nacional. Para efeitos de liquidação do julgado, a unidade preparadora deve observar as regras de correção monetária até 31/12/1995, com base na tabela anexa à Norma de Execução Conjunta SRF/Cosit/Cosar n 2 08, de 27/06/97. A partir de 1/01/96, sobre os indébitos passam a incidir exclusivamente juros equivalentes a taxa Selic, acumulada mensalmente, até o mês anterior em que houver a restituição/compensação, acrescida de 1% relativamente ao mês da ocorrência da restituição ou compensação, por força do disposto no art. 39, § 4 2, da Lei n2 9.250/95. É como voto é como penso Demes Brito Fl. 592DF CARF MF Impresso em 23/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por RODR IGO DA COSTA POSSAS, Assinado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO Processo nº 11831.000151/9979 Acórdão n.º 9303004.227 CSRFT3 Fl. 593 6 Fl. 593DF CARF MF Impresso em 23/09/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO, Assinado digitalmente em 20/09/2016 por RODR IGO DA COSTA POSSAS, Assinado digitalmente em 25/08/2016 por DEMES BRITO
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Numero do processo: 15586.720942/2013-74
Turma: Segunda Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Sep 28 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Oct 21 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013
FRAUDE NA VENDA DE CAFÉ EM GRÃO. COMPROVADA A SIMULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE COMPRA. DESCONSIDERAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO. POSSIBILIDADE.
Comprovada a existência da fraude nas operações de aquisição de café em grão mediante simulação de compra realizada de pessoas jurídicas inexistentes de fato e a dissimulação da real operação de compra do produtor rural ou maquinista, pessoa física, com o fim exclusivo de se apropriar do valor integral do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desconsidera-se a operação da compra simulada e mantém-se a operação da compra dissimulada, se esta for válida na substância e na forma.
MULTA ISOLADA QUALIFICADA. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. FALSIDADE DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO COMPROVADA. CABIMENTO.
É devida aplicação da multa isolada qualificada de 150% (cento e cinquenta por cento) sobre o valor do débito indevidamente compensado, quando comprovada a falsidade na Declaração de Compensação (DComp) apresentada pelo sujeito passivo.
MULTA ISOLADA NORMAL. COMPENSAÇÃO NÃO HOMOLOGADA. FALSIDADE DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO NÃO COMPROVADA. POSSIBILIDADE.
É devida a aplicação da multa isolada normal de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do débito objeto de declaração de compensação não homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo.
MULTA ISOLADA. PEDIDO DE RESSARCIMENTO INDEVIDO OU INDEFERIDO. REVOGAÇÃO ANTES DA DECISÃO DEFINITIVA. RETROATIVA BENIGNA. POSSIBILIDADE.
A revogação antes da decisão definitiva dos preceitos legais que definiam a infração e respectivas multas isoladas de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido ou indevido, bem como de 100% (cem por cento), na hipótese de ressarcimento pleiteado de forma fraudulenta, implica o cancelamento da cobrança das respectivas penalidades aplicadas, por força da aplicação da retroativa benigna da norma legal revogadora, que deixou definir as correspondentes condutas como infração.
PROCESSO PRINCIPAL. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO EM PARTE. REFLEXO NO JULGAMENTO DO PROCESSO DECORRENTE. OBRIGATORIEDADE.
Se o recurso voluntário interposto no processo principal foi julgado procedente em parte, para restabelecer a parcela do valor do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins glosada pela fiscalização, por conseguinte, a parcela do débito compensada com o referido crédito restabelecido deve ser abatida da base de cálculo da multa isolada normal por DComp não homologada e qualificada por DComp falsificada.
Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013
NULIDADE DE DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO PROVADA A MUDANÇA DE FUNDAMENTO JURÍDICO. IMPOSSIBILIDADE.
1. Não é passível de nulidade, por cerceamento do direito de defesa, a decisão primeira instância que apreciou todas as razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências consignadas no auto de infração de forma fundamentada e motivada.
2. Não motivo para nulidade da decisão de primeira instância, se não comprovado que houve a alegada alteração o fundamento jurídico do despacho decisório proferido pela autoridade fiscal da unidade da Receita Federal de origem.
PROCEDIMENTO FISCAL. MOTIVAÇÃO ADEQUADA E SUFICIENTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE.
No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do direito de defesa procedimento fiscal apresenta fundamentação adequada e suficiente para o indeferimento do pleito de ressarcimento/compensçaõ formulado pelo contribuinte, que foi devidamente cientificada e exerceu em toda sua plenitude o seu direito de defesa nos prazos e na forma na legislação de regência.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 3302-003.391
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, por maioria de votos, dar parcial provimento ao Recurso Voluntário para cancelar a cobrança das multas isoladas relativas aos pedidos de ressarcimento e manter a cobrança das multas isoladas, qualificada (150%) e normal (50%), calculadas sobre o valor dos débitos não compensados, que deverá ser ajustado mediante a dedução da parcela dos débitos a serem compensados até o limite do valor dos créditos restabelecidos nos correspondentes processos principais, parcialmente vencidos os Conselheiro Domingos de Sá Filho e Walker Araújo e a Conselheira Lenisa Rodrigues Prado, que também excluíam a multa qualificada (150%) calculadas sobre o valor dos débitos não compensados. Fez sustentação oral: Dr. Afonso Celso Mattos Lourenço - OAB 27.406 - RJ.
(assinado digitalmente)
Ricardo Paulo Rosa - Presidente.
(assinado digitalmente)
José Fernandes do Nascimento - Relator.
Participaram do julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza e Walker Araújo.
Nome do relator: JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO
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ementa_s : Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013 FRAUDE NA VENDA DE CAFÉ EM GRÃO. COMPROVADA A SIMULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE COMPRA. DESCONSIDERAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO. POSSIBILIDADE. Comprovada a existência da fraude nas operações de aquisição de café em grão mediante simulação de compra realizada de pessoas jurídicas inexistentes de fato e a dissimulação da real operação de compra do produtor rural ou maquinista, pessoa física, com o fim exclusivo de se apropriar do valor integral do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desconsidera-se a operação da compra simulada e mantém-se a operação da compra dissimulada, se esta for válida na substância e na forma. MULTA ISOLADA QUALIFICADA. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. FALSIDADE DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO COMPROVADA. CABIMENTO. É devida aplicação da multa isolada qualificada de 150% (cento e cinquenta por cento) sobre o valor do débito indevidamente compensado, quando comprovada a falsidade na Declaração de Compensação (DComp) apresentada pelo sujeito passivo. MULTA ISOLADA NORMAL. COMPENSAÇÃO NÃO HOMOLOGADA. FALSIDADE DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO NÃO COMPROVADA. POSSIBILIDADE. É devida a aplicação da multa isolada normal de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do débito objeto de declaração de compensação não homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. MULTA ISOLADA. PEDIDO DE RESSARCIMENTO INDEVIDO OU INDEFERIDO. REVOGAÇÃO ANTES DA DECISÃO DEFINITIVA. RETROATIVA BENIGNA. POSSIBILIDADE. A revogação antes da decisão definitiva dos preceitos legais que definiam a infração e respectivas multas isoladas de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido ou indevido, bem como de 100% (cem por cento), na hipótese de ressarcimento pleiteado de forma fraudulenta, implica o cancelamento da cobrança das respectivas penalidades aplicadas, por força da aplicação da retroativa benigna da norma legal revogadora, que deixou definir as correspondentes condutas como infração. PROCESSO PRINCIPAL. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO EM PARTE. REFLEXO NO JULGAMENTO DO PROCESSO DECORRENTE. OBRIGATORIEDADE. Se o recurso voluntário interposto no processo principal foi julgado procedente em parte, para restabelecer a parcela do valor do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins glosada pela fiscalização, por conseguinte, a parcela do débito compensada com o referido crédito restabelecido deve ser abatida da base de cálculo da multa isolada normal por DComp não homologada e qualificada por DComp falsificada. Assunto: Processo Administrativo Fiscal Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013 NULIDADE DE DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO PROVADA A MUDANÇA DE FUNDAMENTO JURÍDICO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não é passível de nulidade, por cerceamento do direito de defesa, a decisão primeira instância que apreciou todas as razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências consignadas no auto de infração de forma fundamentada e motivada. 2. Não motivo para nulidade da decisão de primeira instância, se não comprovado que houve a alegada alteração o fundamento jurídico do despacho decisório proferido pela autoridade fiscal da unidade da Receita Federal de origem. PROCEDIMENTO FISCAL. MOTIVAÇÃO ADEQUADA E SUFICIENTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE. No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do direito de defesa procedimento fiscal apresenta fundamentação adequada e suficiente para o indeferimento do pleito de ressarcimento/compensçaõ formulado pelo contribuinte, que foi devidamente cientificada e exerceu em toda sua plenitude o seu direito de defesa nos prazos e na forma na legislação de regência. Recurso Voluntário Provido em Parte.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013 FRAUDE NA VENDA DE CAFÉ EM GRÃO. COMPROVADA A SIMULAÇÃO DA OPERAÇÃO DE COMPRA. DESCONSIDERAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO. MANUTENÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO DISSIMULADO. POSSIBILIDADE. Comprovada a existência da fraude nas operações de aquisição de café em grão mediante simulação de compra realizada de pessoas jurídicas inexistentes de fato e a dissimulação da real operação de compra do produtor rural ou maquinista, pessoa física, com o fim exclusivo de se apropriar do valor integral do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins, desconsiderase a operação da compra simulada e mantémse a operação da compra dissimulada, se esta for válida na substância e na forma. MULTA ISOLADA QUALIFICADA. COMPENSAÇÃO INDEVIDA. FALSIDADE DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO COMPROVADA. CABIMENTO. É devida aplicação da multa isolada qualificada de 150% (cento e cinquenta por cento) sobre o valor do débito indevidamente compensado, quando comprovada a falsidade na Declaração de Compensação (DComp) apresentada pelo sujeito passivo. MULTA ISOLADA NORMAL. COMPENSAÇÃO NÃO HOMOLOGADA. FALSIDADE DA DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO NÃO COMPROVADA. POSSIBILIDADE. É devida a aplicação da multa isolada normal de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do débito objeto de declaração de compensação não AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 58 6. 72 09 42 /2 01 3- 74 Fl. 1630DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 2 homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. MULTA ISOLADA. PEDIDO DE RESSARCIMENTO INDEVIDO OU INDEFERIDO. REVOGAÇÃO ANTES DA DECISÃO DEFINITIVA. RETROATIVA BENIGNA. POSSIBILIDADE. A revogação antes da decisão definitiva dos preceitos legais que definiam a infração e respectivas multas isoladas de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido ou indevido, bem como de 100% (cem por cento), na hipótese de ressarcimento pleiteado de forma fraudulenta, implica o cancelamento da cobrança das respectivas penalidades aplicadas, por força da aplicação da retroativa benigna da norma legal revogadora, que deixou definir as correspondentes condutas como infração. PROCESSO PRINCIPAL. RECURSO VOLUNTÁRIO PROVIDO EM PARTE. REFLEXO NO JULGAMENTO DO PROCESSO DECORRENTE. OBRIGATORIEDADE. Se o recurso voluntário interposto no processo principal foi julgado procedente em parte, para restabelecer a parcela do valor do crédito da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins glosada pela fiscalização, por conseguinte, a parcela do débito compensada com o referido crédito restabelecido deve ser abatida da base de cálculo da multa isolada normal por DComp não homologada e qualificada por DComp falsificada. ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013 NULIDADE DE DECISÃO DE PRIMEIRA INSTÂNCIA. INOCORRÊNCIA DO CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. NÃO PROVADA A MUDANÇA DE FUNDAMENTO JURÍDICO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Não é passível de nulidade, por cerceamento do direito de defesa, a decisão primeira instância que apreciou todas as razões de defesa suscitadas pelo impugnante contra todas as exigências consignadas no auto de infração de forma fundamentada e motivada. 2. Não motivo para nulidade da decisão de primeira instância, se não comprovado que houve a alegada alteração o fundamento jurídico do despacho decisório proferido pela autoridade fiscal da unidade da Receita Federal de origem. PROCEDIMENTO FISCAL. MOTIVAÇÃO ADEQUADA E SUFICIENTE. INEXISTÊNCIA DE CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. IMPOSSIBILIDADE. No âmbito do processo administrativo fiscal, não configura cerceamento do direito de defesa procedimento fiscal apresenta fundamentação adequada e suficiente para o indeferimento do pleito de ressarcimento/compensçaõ formulado pelo contribuinte, que foi devidamente cientificada e exerceu em toda sua plenitude o seu direito de defesa nos prazos e na forma na legislação de regência. Fl. 1631DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.630 3 Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar as preliminares arguídas e, no mérito, por maioria de votos, dar parcial provimento ao Recurso Voluntário para cancelar a cobrança das multas isoladas relativas aos pedidos de ressarcimento e manter a cobrança das multas isoladas, qualificada (150%) e normal (50%), calculadas sobre o valor dos débitos não compensados, que deverá ser ajustado mediante a dedução da parcela dos débitos a serem compensados até o limite do valor dos créditos restabelecidos nos correspondentes processos principais, parcialmente vencidos os Conselheiro Domingos de Sá Filho e Walker Araújo e a Conselheira Lenisa Rodrigues Prado, que também excluíam a multa qualificada (150%) calculadas sobre o valor dos débitos não compensados. Fez sustentação oral: Dr. Afonso Celso Mattos Lourenço OAB 27.406 RJ. (assinado digitalmente) Ricardo Paulo Rosa Presidente. (assinado digitalmente) José Fernandes do Nascimento Relator. Participaram do julgamento os Conselheiros Ricardo Paulo Rosa, Paulo Guilherme Déroulède, Domingos de Sá Filho, José Fernandes do Nascimento, Lenisa Rodrigues Prado, Maria do Socorro Ferreira Aguiar, Sarah Maria Linhares de Araújo Paes de Souza e Walker Araújo. Relatório Tratase de auto de infração (fls. 1257/1267), em que formalizada a cobrança de multa isolada, no valor total de R$ 1.253.215,16, correspondente ao somatório (i) da multa isolado qualificada de 150% e normal 50% por compensação indevida (não homologadas) e (ii) de multa isolado qualificada de 100% e normal 50% por ressarcimento indevido. De acordo com o subitem 5.7 do Termo de Encerramento da Ação Fiscal (TEAF) de fls. 1.081/1256, a fiscalização informou que: a) após encontro de contas entre o valor dos créditos reconhecidos com o valor dos débitos compensados foram constados débitos indevidamente compensados (não homologados) sobre os quais foram aplicadas as multas isoladas (i) qualificada de 150%, fixada no art. 18 da Lei nº 10.833/2003, referentes aos débitos compensados com a parcela dos créditos do 3° trimestre 2009, calculados sobre o preço de aquisição declarado nas notas fiscais emitidas pelas empresas inidôneas ou de “fachada”, e (ii) normal de 50%, prevista no art. 74, § 17, da Lei 9.430/1996, incluído pelo art. 62 da Lei 12.249/2010, referentes aos débitos compensados com os créditos do 4° trimestre de 2009 e 1° e 2° trimestres de 2010, calculados sobre os demais créditos glosados, conforme “DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DA MULTA ISOLADA APLICADA S/ COMPENSAÇÕES NÃOHOMOLOGADAS” de fls. 1246/1247; e Fl. 1632DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 4 b) após a recomposição dos créditos, restou comprovado o não reconhecimento (indeferimento) do valor dos créditos pleiteados sobre os quais foram aplicadas as multas isoladas (i) qualificada de 100%, fixada no art. 74, § 16, da Lei 9.430/1996, incluído pelo art. 62 da Lei 12.249/2010, referentes aos créditos do 1° trimestre 2010, calculados sobre o preço de aquisição declarado nas notas fiscais emitidas pelas empresas inidôneas ou de “fachada”, e (ii) normal de 50%, prevista no art. 74, § 15, da Lei 9.430/1996, incluído pelo art. 62 da Lei 12.249/2010, referentes aos créditos do 2° e 4° trimestres de 2010, calculados sobre os demais créditos glosados, conforme demonstrativo de fls. 1249/1250. Os demais fatos relevantes relatados do citado TEAF foram assim resumidos no relatório encartado na decisão de primeiro grau: 1. A fiscalização teve como escopo a verificação de pretensos créditos, oriundos das aquisições de bens para revenda, compensados com as contribuições não cumulativas devidas para o Programa de Integração Social (PIS) e para a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS); 2. REALCAFÉ foi objeto de ação fiscal em 2010, que analisou os pedidos de ressarcimento de créditos das contribuições não cumulativas do PIS/COFINS atinentes aos períodos de 01/2005 a 12/2008, e que resultou no indeferimento na ordem de 79% dos créditos pleiteados; 3. No Termo de Encerramento da Ação Fiscal n° 08241/2010, que faz parte do processo n° 15586.000956/201025, que analisou os referidos créditos dos períodos de 01/2005 a 12/2008, restou comprovado à saciedade que a REALCAFÉ apropriouse de créditos integrais fictos; 4. As investigações mostraram que a REALCAFÉ lançou mão de créditos do PIS/COFINS documentados com notas fiscais de empresas laranjas utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café de produtores/maquinistas. 5. O procedimento fiscal, ora encerrado, decorre das investigações originadas na operação fiscal TEMPO DE COLHEITA, deflagrada pela Delegacia da Receita Federal do Brasil em Vitória/ES, em outubro de 2007, em face de supostas empresas ATACADISTAS de café em grãos; 6. Posteriormente, na "OPERAÇÃO BROCA", deflagrada em 01/06/2010, fruto da parceria entre o Ministério Público Federal, Polícia Federal e Receita Federal, foram cumpridos mandados de busca e apreensão, sendo as empresas compradoras de café do GRUPO TRISTÃO uns dos alvos; 7. Planilhas de controle de compras e outros documentos extraídos das mídias eletrônicas apreendidas nas empresas do GRUPO TRISTÃO corroboram o que antes eram meros indícios, de fato, essas planilhas faziam clara distinção entre o VENDEDOR do café e o EMISSOR da nota fiscal; 8. Como se não bastasse, o próprio sistema informatizado de controle de compras da TRISTÃO denominado "FOLHA DE COMPRA" deixava evidente a diferença entre o vendedor Fl. 1633DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.631 5 (produtor) e a empresa laranja usada como intermediária fictícia na operação, destacando claramente no campo "vendedor" o nome do produtor/maquinista e no campo observações o nome da empresa laranja; 9. Não obstante o volume de compras nesse período ser inferior ao analisado anteriormente, 44,90% das compras no ano de 2009 foram em nome de empresas laranjas, em 2010, o percentual foi de 26,37%, sendo que as compras da TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR representaram 45,54%, após exclusão das operações em nome das empresas laranjas; 10. A TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR foi também objeto de auditoria fiscal em 2013, que analisou as PER/DCOMP de 10/2008 a 12/2010, que, ao final, resultou no indeferimento de 90,83% do valor pleiteado nos pedidos de ressarcimento, em razão do mesmo ilícito, qual seja: créditos do PIS/COFINS documentados com notas fiscais de empresas laranjas utilizadas como intermediárias fictícias na compra de café de produtores/maquinistas; 11. Repetemse nesse período algumas empresas laranjas envolvidas nas operações do período analisado anteriormente, a saber: CELBA, L&L, NOVA BRASÍLIA, P.A. CRISTO, RADIAL, ROMA, WG DE AZEVEDO, W R DA SILVA, YPIRANGA; 12. A essas se juntaram outras novas empresas laranjas, por exemplo, ADAME, CAFÉ FORTE, CAFEEIRA CASTELENSE, COFFEE TRADE DO BRASIL, COFFEER SUL GOLD COFFEE, JUPARANÃ, LÍDER, NORTE PRODUTOS ALIMENTOS, PRINCESA DO NORTE ALIMENTOS e RODRIGO SIQUEIRA. 13. Os créditos integrais, apropriados indevidamente nos livros contábeis da REALCAFÉ, foram glosados na presente auditoria e reconhecido o direito ao crédito presumido sobre tais operações, na forma da legislação aplicável; 14. Após a recomposição dos saldos, as diferenças do PIS e da COFINS devidos foram lançadas| de ofício, além da aplicação das multas isoladas sobre as compensações indevidas, nãohomologadas, e sobre o valor do crédito objeto de ressarcimento não reconhecido; 15. Foram lançados de oficio os créditos tributários relativos às diferenças apuradas de PIS/COFINS no valor de R$ 901.297,65, consubstanciado no presente processo, bem como referentes às multas isoladas sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido e sobre o valor do débito indevidamente compensado, totalizando R$1.253.215,16, consubstanciado no processo n° 15586.720942/201374; Fl. 1634DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 6 16. Além disso, após efetuada a glosa e recomposição dos saldos dos créditos, foram analisadas as PER/DCOMP resultando no reconhecimento parcial dos créditos apontados nos pedidos de ressarcimento; 17. E, finalmente, os fatos apurados no decorrer da ação fiscal em face da REALCAFÉ evidenciaram, em tese, crime contra a ordem tributária tipificado no art 1º, inciso I, II e IV da Lei n° 8.137, de 27/12/1990, pela supressão dolosa tributos devidos, bem como no art 2º, inciso I, da precitada lei, por eximirse mediante fraude de pagamentos de tributos; [...]. Em sede de impugnação (fls. 1272/1348), a interessada apresentou as razões de defesa que foram assim resumidas no citado relatório: 1. Impugnante, além da impugnação, apresentou as suas competentes Manifestações de Inconformidade contra os despachos decisórios, solicitando que as peças de ambos os casos sejam reunidas e o seu julgamento ocorra simultaneamente, conforme determina o art. 18, parágrafo 3º, da Lei n° 10.833/03; 2. A Fiscalização efetuou a glosa dos créditos integrais do PIS e da COFINS não cumulativos, de forma a conceder à Impugnante tão somente o direito ao crédito presumido sobre tais operações, mas sem a indicação de base legal para tal procedimento, pois o enquadramento legal utilizado para amparar o procedimento adotado pela fiscalização não serve como fundamentação; 3. A desconsideração dos negócios/fatos jurídicos efetuada nestes autos violou o princípio da tipicidade cerrada, a qual nada mais é do que o elemento da legalidade, ou seja, presente tipicamente no direito público, a lei deve definir e fechar todos os elementos formadores do tipo, semelhante ao direito penal, de maneira que as hipóteses da incidência do tributo devem estar prescritas em lei; 4. Ora, a partir do momento em que a fiscalização descaracterizou legítimos negócios jurídicos realizados pela Impugnante, inclusive acusandoa de falsidade em suas declarações, por evidente que caberia a esta mesma autoridade fazendária indicar de quais produtores rurais a contribuinte então teria adquirido o café; 5. Ademais, a fiscalização deveria ter feito tais indicações de forma individualizada, por trimestre, para cada um dos processos administrativos nos quais examinou os pedidos de Ressarcimento/compensação, até mesmo porque, o percentual de fornecedores considerados pela autoridade como “de fachada” e glosados, obviamente não é o mesmo se considerado cada trimestre; 6. Se tivesse sido efetuada a quebra do sigilo fiscal/bancário das empresas fornecedoras das quais a Impugnante adquiriu o café, na medida em que os pagamentos (não questionados como de fato ocorridos) foram realizados por CHEQUE/DOC/TED, por evidente que a fiscalização Fl. 1635DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.632 7 poderia individualizar a destinação dos valores para cada uma das compras, elemento concreto que poderia amparar a imputação fiscal, ao contrário dos dados subjetivos (testemunhais e meramente indiciários) constantes deste processo; 7. Se tivesse sido efetuada a quebra do sigilo fiscal/bancário das empresas fornecedoras das quais a Impugnante adquiriu o café, consideradas como “de fachada”, teria a autoridade fazendária, ao menos, realizado o devido trabalho fiscal, com a INDIVIDUALIZAÇÃO DAS ILICITUDES, e não com a GLOSA GERAL das compras referentes a cada trimestre; 8. nos termos dos fundamentos anteriormente alinhados, há que se concluir que houve ofensa ao direito à ampla defesa da Impugnante, razão pela qual esta requer seja declarada a NULIDADE ABSOLUTA do procedimento fiscal; 9. no mérito, as conclusões da Fiscalização são unilaterais e eivadas de incertezas, posto que baseadas em depoimentos proferidos por terceiros, sem que tenha sido concedida à Impugnante sequer a oportunidade de contrapor as acusações sofridas; 10. ao contrário do que sustenta a fiscalização, a Impugnante não sabia de qualquer artifício utilizado na comercialização de café e nem mesmo foi omissa em relação à existência de empresas supostamente fictícias; 11. A circunstância de que a Impugnante, seus Diretores e/ou funcionários, sequer foram denunciados na mesma, atesta a total precariedade da exigência da multa isolada em seu percentual qualificado; 12. Em suma, não restam dúvidas de que, pelo exame de todas as provas constantes dos autos inclusive levandose em consideração também os depoimentos obtidos no decorrer das investigações realizadas no âmbito da denominada "Operação Broca" , em nenhum momento a Impugnante é citada como estando envolvida na criação, ou manutenção das intituladas pseudo pessoas jurídicas, mas sim, ao contrário, sempre é indicada apenas como a destinatária (adquirente) do café, o que ratifica plenamente a sua boafé; 13. Diante do exposto, a Impugnante protesta pela desconstituição dos lançamentos fiscais relativos às multas de ofício, visto que, além de incabível a aplicação desta penalidade sobre as supostas diferenças apontadas pela autoridade fazendária, os elementos de prova constantes dos autos legitimas as compensações efetuadas pela contribuinte, de modo que deverão ser afastadas as indevidas glosas dos seus créditos apurados sob a sistemática da não cumulatividade; 14. Primeiramente, cabe novamente salientar que nenhum dos Diretores ou componentes do quadro societário da Fl. 1636DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 8 impugnante foram denunciados pelo Ministério Público Federal nos autos da ação penal n° 2008.50.05.0005383 (conforme certidão anexada aos presentes autos); 15. Deve ser considerado o que dispõe o parágrafo único, do artigo 82, da Lei n° 9.430/96, segundo o qual as empresas que comprovarem a efetivação do pagamento do preço e o recebimento das mercadorias não poderão ter seus créditos glosados; 16. No caso presente, não restou qualquer dúvida quanto ao recebimento e pagamento das mercadorias por parte da Impugnante, até mesmo porque restou reconhecido ao menos o direito ao crédito presumido sobre as operações examinadas nestes autos; 17. se reporta as suas razões de defesa e elementos de prova constantes das Manifestações de Inconformidade apresentadas nos processos administrativos relativos ao ressarcimento e compensação. O impugnante cita legislação, doutrina e jurisprudência e, com base na argumentação expedida, requer que: (1) seja declarado nulo o auto de infração; (2) ou, se ultrapassado o pedido de nulidade, no mérito, seja considerado improcedente o lançamento, anulado o crédito lançado e arquivado o auto. Sobreveio a decisão de primeira instância (fls. 1408/1436), em que, por unanimidade de votos, a impugnação foi julgada improcedente, com base nos fundamentos resumidos nos enunciados das ementas que seguem transcritos: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013 Nulidade Não padece de nulidade o auto de infração, lavrado por autoridade competente, contra o qual o contribuinte pode exercer o contraditório e a ampla defesa, onde constam os requisitos exigidos nas normas pertinentes ao processo administrativo fiscal. Matéria não Impugnada Operamse os efeitos preclusivos previstos nas normas do processo administrativo fiscal em relação à matéria que não tenha sido expressamente contestada pelo impugnante, ou em relação à prova documental que não tenha sido apresentada, salvo exceções legalmente previstas. Multa isolada. Compensação/Ressarcimento. Indevida. Cabível. Cabível a aplicação da multa isolada sobre o valor total do débito (crédito) indevidamente compensado/ressarcido, quando Fl. 1637DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.633 9 a compensação (ou ressarcimento) for considerada indevida (indevido). Multa de Ofício. Confisco. As Instâncias administrativas de julgamento não são competentes para apreciar questões de inconstitucionalidade de lei tributária que institui penalidade. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 30/08/2010, 22/09/2010, 18/11/2010, 09/12/2010, 17/12/2010, 14/01/2011, 20/01/2011, 31/01/2011, 25/03/2011, 28/03/2011, 31/03/2011, 19/04/2011, 29/04/2011, 13/05/2011, 20/05/2011, 24/05/2011, 15/06/2011, 02/09/2011, 14/12/2012, 27/03/2013, 18/04/2013, 20/05/2013 Uso de Interposta Pessoa. Inexistência de Finalidade Comercial. Dano ao Erário. Caracterizado. Negócios efetuados com pessoas jurídicas, artificialmente criadas e intencionalmente interpostas na cadeia produtiva, sem qualquer finalidade comercial, visando reduzir a carga tributária, além de simular negócios inexistentes para dissimular negócios de fato existentes, constituem dano ao Erário e fraude contra a Fazenda Pública, rejeitandose peremptoriamente qualquer eufemismo de planejamento tributário. A autuada foi cientificada da decisão de primeira instância em 19/8/2014 (fl. 1442). Em 16/9/2014, protocolou o recurso voluntário de fls. 1444/1529, em que reafirmou as razões de defesa suscitadas na peça impugnatória. Em aditamento, inicialmente, a autuada esclareceu que: a) este processo era reflexo ou decorrente dos processos nºs 10783.906706/201212, 10783.907165/201240, 10783.907167/201239, 10783.907169/201228, 10783.907173/201296, 10783.906705/2012 78, 10783.907164/201203, 10783.907166/201294, 10783.907168/201283, 10783.907172/201241, que tratam de pedidos de ressarcimento parcialmente indeferido e/ou de declarações de compensação parcialmente homologadas; e b) solicitou sobrestamento do julgamento até que fosse proferida a decisão definitiva no Recurso Extraordinário (RE) nº 796.939/RS, submetido ao regime de repercussão geral, em que analisada a constitucionalidade dos §§ 15 e 17 do art. 74 da Lei 9.430/1996, incluído pelo art. 62 da Lei 12.249/2010, que trata da cobrança das multas isoladas normal de 50% sobre o valor, respectivamente, (i) do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido ou indevido e (ii) do crédito objeto de declaração de compensação não homologada, em ambos os casos, excepcionada a hipótese de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. Em preliminar, além de reiterar as razões nulidade do procedimento fiscal suscitada na fase impugnatória, a recorrente alegou nulidade da decisão recorrida por cerceamento do direito de defesa, em virtude da ausência de fundamentação e motivação, baseada nos argumentos de que a Turma de Julgamento (i) analisara de forma genérica e sem qualquer aprofundamento a questão atinente à nulidade do procedimento fiscal e (ii) não se pronunciara sobre a possibilidade de apropriação de crédito integral nas aquisições de cooperativas; por ilegítima inovação dos fundamentos da glosa dos créditos pleiteados. Fl. 1638DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 10 No mérito, reafirmou as razões de defesa aduzidas na peça impugnatória. Em aditamento, alegou que: a) não era cabível a cobrança das multas isoladas sobre as compensações não homologadas, sob pena de cerceamento ao direito de petição e do princípio do não confisco, assegurados no art. 5º, XXXIV, “a”, e art. 150, IV, ambos da CF/1988; b) houve ilegítima ocorrência de bis in idem, em virtude da aplicação da multa isolada sobre o mesmo montante objeto de pedidos de ressarcimento e compensação; c) eram insubsistentes as provas emprestadas, colhidas no âmbito da operação “Broca”, porque supostas provas foram obtidas mediante o indevido afastamento do sigilo de dados da recorrente, o que contaminara também todas as eventuais prova derivadas; e d) a inocorrência da preclusão apontada pela decisão recorrida, sob argumento de questionou em suas razões de defesa todo o critério utilizado pela fiscalização para o indeferimento dos créditos e a não homologação da compensação parcial dos débitos. Em 16/10/2014, os autos foram distribuídos a este Relator mediante sorteio. Em 6/3/2015, por meio do despacho de fls. 1533/1535, os autos foram devolvidos à SECAM para que fosse providenciada a distribuição dos referidos processos principais, ainda não distribuídos, na forma do art. 49, § 7º, do Anexo II do Regimento Interno deste Conselho (RICARF), aprovado pela Portaria MF nº 256, de 22 de junho de 2009. Em 28/4/2015, de acordo com o despacho de fl. 1616, os presentes autos foram devolvidos a este Relator, acompanhado dos referidos processos principais que lhe foram distribuídos por conexão. Em 31/3/2015, a recorrente protocolou a petição de fls. 1537/1544, em que comunicou que havia fatos novos e relevantes para o deslinde da controvérsia, a saber: a) a possibilidade de apropriação de créditos integrais das referidas contribuições, nas aquisições de cooperativas agropecuárias e agroindustrial, em face do entendimento exarado na Solução de Consulta Cosit 65/2014 e no Parecer PGFN/CAT nº 1425/2014; b) a impossibilidade de manter a cobrança da multa isolada aplicada em razão dos pedidos de ressarcimento indevidos, em face da revogação da Medida Provisória 668/2015 e da sua aplicação retroativa; e c) as novas formas de utilização do crédito presumido agropecuário, apurado nas operações de aquisição de café in natura, instituídas pelo art. 7ºA da Lei 12.995/2014. Em 27/1/2016, reapresentou petição com o mesmo teor. É o relatório. Voto Conselheiro José Fernandes do Nascimento, Relator. O recurso é tempestivo, trata de matéria da competência deste Colegiado e preenche os demais requisitos de admissibilidade, portanto, deve ser conhecido. Inicialmente, cabe esclarecer que, os processos principais que foram distribuídos a este Relator, que tratam dos pedidos de ressarcimento parcialmente indeferidos e/ou de declarações de compensação parcialmente homologadas, serão julgados por este Colegiado na mesma assentada. Em preliminar, a recorrente pediu o sobrestamento do julgamento até que fosse proferida a decisão definitiva de mérito no âmbito do Recurso Extraordinário (RE) nº 796.939/RS, submetido ao regime de repercussão geral e que trata da análise da constitucionalidade dos §§ 15 e 17 do art. 74 da Lei 9.430/1996, incluído pelo art. 62 da Lei 12.249/2010. Os referidos preceitos legais tratam da cobrança da multa isolada de 50% sobre o Fl. 1639DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.634 11 valor, respectivamente, (i) do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido ou indevido e (ii) do crédito objeto de declaração de compensação não homologada, em ambos os casos, excepcionada a hipótese de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. Cabe ainda consignar que, o referido § 15 foi expressamente revogado pela art. 27, II, da Lei 13.137/2015, e ao § 17 foi dada nova redação pelo art. 8º da Lei 13.097/2015, o que, certamente, implicará alteração do objeto do citado RE. De qualquer sorte, o referido pleito não há como ser atendido, uma vez que não há previsão no atual RICARF, aprovado pela Portaria MF 343/2015, para sobrestamento de processos, cuja matéria em discussão esteja com o julgamento, sob o regime de repercussão geral, sobrestado no âmbito do STF. Tal previsão existiu na vigência do art. 62A, § 1º, do RICARF anterior, aprovado pela Portaria MF 256/2009. No recurso colacionado aos autos, a interessada suscita questões preliminares, atinentes a nulidade do acórdão recorrido e do procedimento fiscal, e de mérito, concernente ao insubsistência da aplicação das referidas multas isoladas. I DAS QUESTÕES PRELIMINARES Em preliminar, a recorrente alegou (i) nulidade do acórdão recorrido, por cerceamento do direito de defesa e inovação dos fundamentos da glosa dos créditos, e (ii) nulidade do procedimento fiscal por cerceamento do direito de defesa e ausência de provas. I.1 Da Nulidade da Decisão Recorrida. A recorrente alegou que a decisão recorrida era nula por cerceamento de direito de defesa, porque lhe faltava fundamentação e motivação, visto que a análise da questão da nulidade do procedimento fiscal fora feita de forma genérica e sem qualquer aprofundamento. O argumento não procede. A uma, porque o voto condutor do acórdão recorrido analisou, de forma adequada e devidamente fundamentada, todos os argumentos relevantes suscitados pela recorrente na manifestação de inconformidade, acerca dos supostos vícios de nulidade do procedimento fiscal. A duas, porque o fato de a recorrente não concordar ou entender que os argumentos apresentados no voto condutor do julgado não são corretos, certamente, não configura cerceamento do seu direito de defesa da recorrente e tampouco macula a legitimidade da questionada decisão, principalmente, tendo em conta que lhe foi conferida a oportunidade de discordar da questionada decisão, por meio do recurso em apreço. A propósito, cabe ressaltar que o dever de fundamentação fixado no art. 93, IX, da CF/1988, combinado com disposto no art. 31 do Decreto 70.235/1972, exige que a decisão ou o acórdão se manifeste sobre todas razões de defesa de forma fundamentada, sem determinar que o julgador examine, completa e pormenorizadamente, cada uma das alegações ou provas apresentadas pelas partes, nem que seja correto os fundamentos por ele aduzidos. No mesmo sentido, o entendimento manso e pacífico explicitado na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a exemplo do externado no julgamento Fl. 1640DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 12 do AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 268.238/SP, cujo enunciado da ementa segue transcrito: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. INCIDÊNCIA DO ISSQN. REGISTRO PÚBLICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS. ADI 3.089/DF. POSSIBILIDADE. BASE DE CÁLCULO DO ISSQN DEVIDO PELOS TABELIÃES. PREÇO FIXO OU PREÇO DO SERVIÇO. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. INDEFERIMENTO LIMINAR. ART. 543A, § 5º, DO CPC. ART 5º, XXXV E ART. 93, IX, AMBOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. INOCORRÊNCIA. RECURSO PREJUDICADO. AGRAVO DESPROVIDO. [...] III. A Corte Suprema, nos autos do AIRGQO 791.292/PE, julgado sob o regime da repercussão geral, reafirmou a sua jurisprudência no sentido de que o art. 93, IX, da Constituição Federal exigem que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. IV Agravo regimental desprovido. (AgRg no RE nos EDcl no AgRg no AREsp 268.238/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/12/2013, DJe 03/02/2014) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) também segue o mesmo entendimento, conforme julgamento realizado sob regime de repercussão geral, cujo enunciado da ementa segue transcrito: Questão de ordem. Agravo de Instrumento. Conversão em recurso extraordinário (CPC, art. 544, §§ 3° e 4°). 2. Alegação de ofensa aos incisos XXXV e LX do art. 5º e ao inciso IX do art. 93 da Constituição Federal. Inocorrência. 3. O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os fundamentos da decisão. 4. Questão de ordem acolhida para reconhecer a repercussão geral, reafirmar a jurisprudência do Tribunal, negar provimento ao recurso e autorizar a adoção dos procedimentos relacionados à repercussão geral.(AI 791292 QORG, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 23/06/2010, REPERCUSSÃO GERAL MÉRITO DJe149 DIVULG 12082010 PUBLIC 13 082010 EMENT VOL0241006 PP01289 RDECTRAB v. 18, n. 203, 2011, p. 113118 ) grifos não originais. Também não há vício de nulidade do acórdão recorrido, por suposta inovação dos fundamentos da glosa dos créditos, porque não ocorreu a alegada inovação. O fato de o nobre Relator do voto condutor julgado ter mencionado o parágrafo único do art. 116 do CTN no corpo do seu didático, claro e objetivo voto condutor do julgado, serviu apenas para robustecer os fundamentos jurídicos da glosa da parcela dos créditos apropriada ilicitamente pela recorrente sobre as operações de compra forjadas das pessoas jurídicas de “fachada”, as denominadas “pseudoatacadistas”, e assim demonstrar que tinha guarida no ordenamento jurídico tributário do País o procedimento da fiscalização de desconsiderar as operações de Fl. 1641DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.635 13 compra simuladas entre as “pseudoatacadistas” e considerar as reais operações de compras dissimuladas, efetivamente, realizadas com os produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas. Nos tópicos as seguir, será demonstrado que a recorrente, mancomunada com outros poderosas empresas do ramo de atividade de torrefação e exportação de grão de café, de forma planejada, contribuíram para o surgimento de fértil campo de criação pessoas jurídicas “laranjas” e de um grandioso mercado “negro” de venda de notas fiscais, com o deliberado e intencional propósito de angariar créditos indevidos das referidas contribuições, por meio de planejado esquema de interposição fraudulenta, que fora descortinado e sobejamente provado no âmbito das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”. Por essas razões, rejeitase a preliminar de nulidade da decisão primeiro grau suscitada pela recorrente. I.2 Da Nulidade do Procedimento Fiscal A recorrente alegou nulidade do procedimento fiscal, consubstanciado no mencionado Parecer e Termo de Encerramento da Ação Fiscal (TEAF), sob argumento de que (i) houve cerceamento do seu direito de defesa, (ii) a descaracterização dos negócios jurídicos de todas as pessoas jurídicas envolvidas na fraude exigiria a verificação da situação tributária de todas e (iii) ausência de comprovação da sua participação esquema de fraude envolvendo a compra de notas fiscais de pessoas jurídicas inidôneas. Do cerceamento do direito de defesa. Inicialmente, ressaltase a evidente contradição entre a alegação da recorrente de que houve cerceamento do seu direito de defesa e a robustez da peça defensiva por ela apresentada. A leitura das 86 páginas do denso recurso em apreço revela que a recorrente não só teve pleno conhecimento das irregularidades que lhe foram imputadas, como delas defendeuse adequadamente. Porém, em razão da falta de argumentos consistentes para contestar o mérito das graves imputações que lhe foram feitas pela fiscalização e demonstradas com robusto acervo probatório colhido no curso das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, a recorrente apontou supostos vícios no procedimento fiscal, que, no seu entendimento, implicaria nulidade absoluta de todo o procedimento fiscal. Um dos vícios apontados pela recorrente foi a falta de indicação da base legal da descaracterização das supostas operações de compra do café em grão das pessoa jurídica inexistente de fato e a consequente caracterização das referidas operações como compra dos produtores rurais ou maquinistas, pessoas físicas. Para recorrente, tal procedimento subsumir seia ao comportamento descrito no parágrafo único do artigo 116 do CTN, que prescindia de regulamentação ainda não realizada, logo, não poderia gerar quaisquer efeitos sobre as operações examinadas no presente processo administrativo fiscal. Sem razão a recorrente. O referido preceito legal trata da prática de simulação de negócios jurídicos (portanto de atos ou negócios lícitos), geralmente praticados sem propósito negocial ou abuso de forma, com a finalidade de “dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária.” Fl. 1642DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 14 O caso em tela, certamente, não se enquadra no figurino comportamental descrito no citado preceito legal. Aqui se trata de um gigantesco esquema fraude, implementado mediante simulação de negócios ilícitos (operações de compra e venda fictícias) com o evidente propósito de dissimular negócio jurídico lícito (operações de compra e venda reais). Em situações desse jaez, determina o ordenamento jurídico do País, que seja declarado “nulo o negócio jurídico simulado” e subsistente o dissimulado, “se válido for na substância e na forma”. Nesse sentido, dispõe o art. 167 do Código Civil, a seguir transcrito: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós datados. § 2º Ressalvamse os direitos de terceiros de boafé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. (grifos não originais) Portanto, diferentemente do alegado pela recorrente, está em perfeita consonância com as normas legais que tratam da validade dos negócios jurídicos o procedimento adotado pela fiscalização no sentido de considerar inválidas as operações simuladas de aquisição de café em grão das pessoas jurídicas inexistentes de fato (amparadas por notas fiscais comprovadamente inidôneas, compradas por quantias ínfimas das referidas pessoas jurídicas de “fachada”), e válidas as operações de aquisição do referido produto dos produtores rurais ou maquinistas, que foram dissimuladas com o nítido propósito de apropriar se ilicitamente de parcela indevida de crédito indevidos das referidas contribuições. Outro vício apontado pela recorrente que resultaria no cerceamento do seu direito de defesa foi a falta de indicação de todos os produtores rurais de quem havia adquirido o café em grão. Segunda a recorrente, a fiscalização deveria ter feito tais indicações de forma individualizada, por trimestre, para cada um dos processos administrativos nos quais examinou os pedidos de ressarcimento/compensação. Sem razão a recorrente. No caso, ao comprovar que as aquisições do café em grão das empresas “pseudoatacatadistas” foram simuladas, para acobertar as reais compras dos produtores rurais, pessoas físicas, a fiscalização poderia ter simplesmente desconsiderado tais operações e glosado a totalidade do crédito pleiteado, incluindo a parcela do crédito presumido agropecuário. Em decorrência dessa constatação, para fim de apropriação da referida parcela do crédito presumido, a comprovação de que tais produtos foram adquiridos de produtores rurais caberia à recorrente. Assim, ao presumir que tais compras foram realizadas de produtores rurais, a fiscalização evitou o árduo e grandioso trabalho probatório, certamente, da incumbência da recorrente. Dessa forma, além de não configurar vício de nulidade do procedimento fiscal, a desconsideração de que tais compras não foram realizadas de pessoas físicas implicaria na glosa da parcela do crédito presumido agropecuário, já reconhecido pela autoridade fiscal, o Fl. 1643DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.636 15 que resultaria na reformatio in pejus da decisão recorrida, o que, sabidamente, não é permitido a este Colegiado. Por essa razão, fica demonstrado o completo despropósito desse argumento. Pela mesma razão, também se revela sem o menor propósito o argumento da recorrente de que somente mediante a quebra do “sigilo fiscal/bancário” das “pseudoatacadistas”, a fiscalização poderia revelar os dados concretos que comprovariam as práticas ilícitas que relatadas. Além disso, na fase de procedimento fiscal, a instrução probatória tratase de procedimento da conveniência e da alçada do poder discricionário da fiscalização. Assim, se os elementos probatórios colhidos no âmbito das referidas operações revelaramse suficientes para comprovar o cometimento da referida fraude, por óbvio, que a quebra do sigilo fiscal ou bancário das mencionadas empresas revelavase despicienda. Até porque, em relação à recorrente, as planilhas de “PREVISÃO DE PAGAMENTO DE CAFÉ”, extraídas das mídias eletrônicas apreendidas no estabelecimento da recorrente revelaram, de forma irrefutável, que os verdadeiros fornecedores e recebedores dos recursos financeiros foram os produtores rurais e/ou maquinistas. De acordo com os dados extraídos da referida planilha, eram reais os pagamentos das compras de café em grão dos produtores e/ou maquinistas, enquanto que os pagamentos às empresas “laranjas” foram forjados para dissimular a existência da compra verdadeira. Também foi demonstrado que as contas das referidas empresas “laranjas” foram utilizadas apenas como passagem dos recursos financeiros destinados aos produtores rurais e/ou maquinistas. Os pagamentos realizados mediante TED ou depósito bancário, nas contas correntes das empresas de “fachada”, procedimento padrão utilizado por todas as empresas compradoras, de fato, foi uma tentativa de falsear a realidade dos fatos, dar aparência de legalidade a transação simulada e aparentar a condição de comprador de boafé. Por todas essas razões, rejeitase todos os argumentos suscitados pela recorrente de que o procedimento fiscal em destaque estava maculado pelo vício do alegado cerceamento do direito de defesa. Dos demais argumentos de nulidade do procedimento fiscal. A recorrente alegou nulidade procedimento fiscal, sob o argumento de que (i) a descaracterização dos negócios jurídicos de todas as pessoas jurídicas envolvidas na fraude exigiria a verificação da situação tributária de todas e (ii) a ausência de comprovação da sua participação esquema de compra de notas fiscais de pessoas jurídicas inidôneas. Tratase de argumentos de natureza meritória. O primeiro não procede, uma vez que a fiscalização se respaldou em documentos, colhidos no âmbito das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, que comprovam as enormes discrepâncias entre a movimentação financeira das “pseudoatacadistas” e os insignificantes valores das receitas declaradas e tributadas. No que tange à apresentação da DIPJ, a grande maioria das referidas pessoas jurídicas encontravase na situação de inativa ou omissa, e as poucas que se encontravam, formalmente, em situação de ativa não apresentavam ou apresentavam recolhimentos de tributos sem significância. Portanto, ao contrário do alegado pela recorrente, houve sim análise da situação tributária de todas as empresas “pseudoatacadistas” e com base nessa análise ficou confirmado que tais empresas foram utilizadas apenas para fraudar o pagamento das contribuições e gerar créditos ilícitos para os compradoras das notas fiscais. Fl. 1644DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 16 No que tange ao argumento de que não havia comprovação da participação da recorrente no esquema de fraude em referência, os fartos elementos probatórios acostados aos autos demonstram o contrário. Com efeito, as declarações prestadas a termo por produtores rurais/maquinistas, corretores, sócios (“laranjas” e de fato) e demais pessoas ligadas às empresas de fachada, colhidas no âmbito da operação “Tempo de Coheita”, corroboradas pelos documentos apreendidos no estabelecimento da recorrente e da outra empresa do Grupo Tristão1, durante a operação “Broca”, não deixam qualquer dúvida no sentido de que os dirigentes da recorrente tinham total conhecimento da existência do citado esquema fraudulento de venda de notas fiscais, que, se não descoberto em tempo hábil, teria proporcionado à recorrente, ilicitamente, elevados valores de créditos das referidas contribuições. Aliás, foi a quantidade expressiva de emails extraídos das mídias eletrônicas apreendidas nas empresas do Grupo Tristão, que deram a verdadeira dimensão do esquema de interposição fraudulenta das empresas “laranjas”. As mensagens eletrônicas extraídas da mídia apreendida evidenciam que o comprador de café em grão das empresas do Grupo Tristão, no Estado do Espírito Santo, o Sr. Ricardo Schneider, repassava aos setores contábil/fiscal, bem como a sala do café e ao setor de estoque, os dados das compras diárias de produtores, os documentos inidôneos que acobertavam a operação, de modo que, para cada pedido de compra, era informado o nome do produtor seguido do nome da empresa laranja usada para falsamente documentar a operação com nota fiscal comprada míseros centavos. Dessa forma, o modus operandi do referido esquema de fraude, descrito detalhadamente pelos agentes da cadeia de comercialização (produtor e/ou maquinista, corretor e representantes das fictas intermediárias empresas “laranjas”), foi devidamente demonstrado mediante confrontação dos documentos colhidos no decorrer das investigações e robustecido com aqueles apreendidos na operação “Broca”, conforme excertos extraídos do citado Termo que segue transcrito: Os emails contidos nas mídias apreendidas retratam compras de café desde o ano de 2004, o que implica dizer que a interposição de empresas laranjas nas aquisições do GRUPO TRISTÃO remonta aos primórdios da nãocumulatividade do PIS/COFINS. Essas mensagens foram repassadas por cópia para os dirigentes/gerentes das empresas do Grupo: LEONARDO MOREIRA GIESTAS, BRUNO MOREIRA GIESTAS, RAIMUNDO DE PAULA SOARES FILHO, MÁRCIO CÂNDIDO FERREIRA e JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS MELLO. O próprio presidente da REALCAFÉ e TRISTÃO CIA DE COMÉRCIO EXTERIOR, SÉRGIO GIESTAS TRISTÃO, bem como MARCELO SILVEIRA NETTO, então presidente do C.C.C.V, receberam emails referentes às compras de café futuro onde diziam com todas as letras que o café de vendedor (produtor) seria guiado com nota de firma (Pessoa Jurídica). 1 O GRUPO TRISTÃO é composto das seguintes empresas: REALCAFÉ SOLÚVEL DO BRASIL (industrialização café solúvel), TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR (comercialização café em grão) e TRISCAFÉ (armazenagem e rebeneficiamento). A REALCAFÉ e a TRISCAFÉ são controladas pela TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. SÉRGIO GIESTAS TRISTÃO é presidente tanto da REALCAFÉ quanto da TRISTÃO COMPANHIA DE COMÉRCIO EXTERIOR e sócio com esta na TRISCAFÉ. O comprador de café no Espírito Santo dessas empresas do GRUPO TRISTÃO foi o funcionário RICARDO SCHNEIDER. MARCELO SILVEIRA NETO, então diretor da TRISTÃO, foi presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (C.C.C.V). Fl. 1645DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.637 17 Como se não bastasse, o próprio sistema informatizado de controle de compras da TRISTÃO denominado “FOLHA DE COMPRA” deixava evidente a diferença entre o vendedor (produtor) e a empresa laranja usada como intermediária fictícia na operação. Destacava claramente no campo “vendedor” o nome do produtor/maquinista e no campo observações o nome da empresa laranja. Há emails com diálogos estabelecidos entre o corretor e a REALCAFÉ em que aquele informa a este como se daria a entrega do café. Melhor dizendo: indicava que o produtor e/ou maquinista entregaria o seu café na qualidade estipulada na confirmação de compra e venda, mas seria faturado em nome de determinada empresa laranja, ... Na falta de argumentos para contestar tão contundentes imputações, a recorrente limitouse a tentar descaracterizálas, com base no argumento, sem prova, de que tais elementos probatórios foram obtidos irregularmente, o que não corresponde aos fatos provados nos autos com base em documentos idôneos. Assim, fica demonstrado que não houve o alegado cerceamento do direito de defesa e as provas colhidas licitamente demonstram que a recorrente não só conhecia e participava, como contribuía e se beneficiava da prática dos atos fraudulentos apontados pela fiscalização. Por todas essas considerações, rejeitase todas as alegações de nulidade das autuações. E superadas todas as questões preliminares, passase a análise do mérito. II DAS QUESTÕES DE MÉRITO De acordo com auto de infração de fls. 1257/1267, as multas isoladas impostas à recorrente foram motivadas por compensações indevidas e por pedidos de ressarcimento indevidos. II.1 Das Multas Isoladas Referentes aos Pedidos de Ressarcimento Indevidos ou Falsificados. As multas aplicadas sobre os valores dos créditos da Contribuição para o PIS/Pasep e Cofins indeferidos, objeto dos pedidos de ressarcimento indevidos, foram a multa isolada normal de 50% e a qualificada de 100%, ambas previstas, respectivamente, nos §§ 15 e 16 do art. 74 da Lei 9.430/1996, incluídos pelo art. 62 da Lei 12.249/2010, a seguir transcritos: Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá utilizálo na compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. (Redação dada pela Lei nº 10.637, de 2002) [...] Fl. 1646DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 18 § 15. Será aplicada multa isolada de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do crédito objeto de pedido de ressarcimento indeferido ou indevido. (Incluído pela Lei nº 12.249, de 2010) § 16. O percentual da multa de que trata o § 15 será de 100% (cem por cento) na hipótese de ressarcimento obtido com falsidade no pedido apresentado pelo sujeito passivo. (Incluído pela Lei nº 12.249, de 2010) [...] Os preceitos legais em destaque, conforme já mencionado, foram expressamente revogados pelo art. 27, II, da Lei 13.137/2015. Dessa forma, por força do disposto no art. 106, II, “a”, do CTN, os efeitos da referida revogação retroagem para alcançar os atos não definitivamente julgados que tratam da aplicação de penalidade por infração tipificada no correspondente preceito legal revogado. Em decorrência, a cobrança das multas isoladas aplicadas sobre os valores dos créditos indevidos, objeto dos pedidos de ressarcimento parcialmente indeferidos, deve integralmente cancelada, em razão da excludente de responsabilidade decorrente da aplicação retroativa da referida norma legal revogatória, que deixou definir como infração as condutas descritas nos citados preceitos legais revogados. II.2 Das Multas Isoladas Referentes às DComp Não Homologadas ou Falsificadas. De acordo com o “DEMONSTRATIVO DE CÁLCULO DA MULTA ISOLADA APLICADA S/ COMPENSAÇÕES NÃOHOMOLOGADAS” de fls. 1246/1247, as multas isoladas aplicadas por compensações indevidas foram de dois tipos: a) a multa qualificada de 150%, por DComp falsicada, estabelecida no art. 18 da Lei nº 10.833/2003, referentes aos débitos indevidamente compensados com a parcela dos créditos do 3° trimestre 2009, calculados sobre o preço de aquisição declarado nas notas fiscais emitidas pelas empresas inidôneas ou de “fachada”; e b) a multa normal de 50%, por DComp não homologa (sem falsidade), prevista no art. 74, § 17, da Lei 9.430/1996, incluído pelo art. 62 da Lei 12.249/2010, referentes aos débitos indevidamente compensados com os créditos do 4° trimestre de 2009 e 1° e 2° trimestres de 2010, calculados sobre os demais créditos glosados. Da multa qualificada por falsidade da DComp. A multa qualificada em apreço encontrase definida no art. 18 da Lei nº 10.833/2003, que, na parte que interessa, na data da ocorrência dos fatos, tinha a seguinte redação, in verbis: Art. 18. O lançamento de ofício de que trata o art. 90 da Medida Provisória no 2.15835, de 24 de agosto de 2001, limitarseá à imposição de multa isolada em razão de nãohomologação da compensação quando se comprove falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) [...] § 2º A multa isolada a que se refere o caput deste artigo será aplicada no percentual previsto no inciso I do caput do art. 44 Fl. 1647DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.638 19 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996, aplicado em dobro, e terá como base de cálculo o valor total do débito indevidamente compensado. (Redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007) [...] (grifos não originais) Da leitura do dispositivo transcrito, inferese que a base de cálculo da multa isolada qualificada em apreço é o valor total do débito indevidamente compensado e a conduta sancionada é a apresentação de falsa Declaração de Compensação (DComp). No subitem 5.7, “a”, do Termo de Encerramento da Ação Fiscal, a fiscalização informou que o motivo da imposição da referida multa foi a utilização, nas referidas DComp da parcela do valor dos créditos da Cofins do 3º trimestre de 2009, excedente ao valor do crédito presumido agropecuário, calculado sobre o preço de aquisição do café em grão declarado nas notas fiscais emitidas pela empresas de “fachada” inseridas como intermediárias fictícias entre o produtor rural/maquinista e a recorrente. Portanto, tratase de falsidade ideológica, que se verifica quando alguma informação falsa é inserida em um documento, inclusive mediante fraude, com a finalidade de obter vantagem indevida. No caso, a recorrente tentou extinguir débitos tributários com parcela de créditos da Cofins apropriados ilicitamente sobre o preço das compras do café em grão das empresas “pseudoatacadistas”. A fraude nas compras, praticadas pela recorrente, mediante simulação de compras fictícias do café em grão das empresas inidôneas, para dissimular a compra efetiva do produto de produtores rurais e maquinistas, com objetivo de apropriarse de parcela de créditos indevida das referidas contribuições, foi devidamente comprovada nos autos do processo principal (processo nº 10783.906706/201212), conforme se extrai da leitura do voto que serviu de fundamento da decisão exarada no julgamento do recurso voluntário integrante do citado processo principal, o qual deve ser considerado como parte integrante e fundamento deste julgamento. A recorrente alegou que não houve subsunção da conduta infracionária que lhe foi imputada ao comportamento típico hipoteticamente veiculado no preceito legal transcrito, baseada no argumento de que todas as operações que deram origem ao direito creditório encontravamse devidamente registradas na sua escrituração contábil e fiscal, inclusive a fiscalização havia reconhecido o valor do crédito presumido agropecuário sobre as ditas operações. Sem razão à recorrente. No caso, a fiscalização declarou insubsistente as operações de compra das empresas “pseudoatacadistas”, por simulação e, em decorrência, manteve as compras dissimuladas, realizadas perante os produtores rurais e maquinistas, pessoas físicas. Esse procedimento está em perfeita consonância com disposto no art. o art. 167 do Código Civil, que trata da validade dos negócios jurídicos. Assim, diferentemente do alegado, todas as compras fraudulentas foram consideradas inidôneas e, por conseguinte, considerados inverossímeis os preços de aquisição dos produtos das empresas “pseudoatacadistas”. Também não procede a alegação da recorrente que não havia provas de que agira com dolo ou má fé, pois, ao contrário do alegado, as robustas provas coligidas aos autos, Fl. 1648DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 20 mencionadas no voto condutor do julgado encartado no citado processo principal, evidenciam que a autuada agiu de forma dolosa, caracterizada pela utilização de documentos que sabia ou deveria saber eram falso, assim como a inserção de dados não verdadeiros em livros exigidos pela legislação tributária e em declaração de apuração dos débitos e créditos das referidas contribuições. Tais fatos, inequivocamente, demonstram a evidente intenção da fiscalizada de fraudar a correta apuração dos créditos das referidas contribuições, assim obter ressarcimento do Erário de créditos indevido ou a compensação indevida débitos tributários. A fiscalização demonstrou que o modus operandi do esquema de fraude em comento consistia na inserção de empresas de fachada como intermediárias fictícias nas operações simuladas de compra e venda do café em grão, utilizadas para dissimular as verdadeiras aquisições de café em grão dos produtores rurais e/ou maquinistas, com o único propósito de se apropriar de créditos integrais das referidas contribuições. Os documentos apreendidos, as declarações/depoimentos prestados e as mensagens eletrônicas extraídas das mídias eletrônicas apreendidas no âmbito das operações “Tempo de Colheita” e “Broca”, regularmente juntadas aos autos, demonstram que os dirigentes e os representantes da recorrentes, em especial o comprador Ricardo Schneider, não só tinham pleno conhecimento da fraude, como também contribuíram para o surgimento e continuidade do esquema de fraude. Além disso, se não descoberto oportuna e tempestivamente pela fiscalização, certamente a recorrente seria uma das principais beneficiárias do esquema fraude em comento. Por essas razões, deve ser mantida a multa qualificada em apreço. Da multa por compensação não homologada. A multa por compensação não homologada encontrase prevista no art. 74, § 17, da Lei 9.430/1996, incluído pelo art. 62 da Lei 12.249/2010 e posteriormente alterado pelo 8º da Lei 13.097/2015, a seguir transcritos: Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclusive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de ressarcimento, poderá utilizálo na compensação de débitos próprios relativos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. (Redação dada pela Lei nº 10.637, de 2002) [...] § 17. Aplicase a multa prevista no § 15, também, sobre o valor do crédito objeto de declaração de compensação não homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. (Incluído pela Lei nº 12.249, de 2010) § 17. Será aplicada multa isolada de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor do débito objeto de declaração de compensação não homologada, salvo no caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo. (Redação dada pela Lei nº 13.097, de 2015) [...] (grifos não originais) Fl. 1649DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.639 21 Da leitura dos dispositivos transcritos, extraise que a base de cálculo da multa isolada por compensação não homologada é o valor do crédito (na redação alterada) ou débito (na redação vigente) não compensado e a conduta sancionada é a simples apresentação Dcomp, cujos débitos totais ou parciais não foram homologados. Tratase de multa sancionadora de conduta que prescinde da existência do dolo do infrator. No subitem 5.7, “a”, do Termo de Encerramento da Ação Fiscal, a fiscalização informou que o motivo da imposição da referida multa foi a não homologação da compensação dos débitos informados nas correspondentes DComp com os créditos do 4° trimestre de 2009 e 1° e 2° trimestres de 2010, o que de fato ocorreu, conforme extratos dos respectivos processos de cobrança. Na petição de fls. 1537/1544, apresentada após o prazo o recursal, a recorrente alegou que a nova redação dada pela Lei 13.097/2015, ao art. 74, § 17, da Lei 9.430/1996, a base de cálculo da multa isolada no percentual de 50%, passou a ser o “valor do débito” informado na DComp, e não mais o “valor do crédito”. Por esta razão, ainda que mantida a aplicação da referida multa sobre as compensações não homologadas, o que cogitava apenas como argumento, a mesma deveria ser recalculada sobre o valor do “débito”, informado na DComp, conforme estabelecido pela Lei na 13.097/2015. A alegação da recorrente não procede, uma vez que o cálculo da multa em apreço foi feito com base no valor do débito não compensado. Assim, com base nas razões expostas, deve ser mantida a cobrança da multa em apreço. Das demais alegações pertinentes à cobrança de ambas as multas. A recorrente alegou que a imposição da multa de ofício isolada, em casos de não homologação de DComp, violava os arts. 97, V, e 113 do CTN, que prevêem apenas dois tipos de obrigações tributárias de dar: a) pagar tributos (e respectivos acessórios, correspondentes aos juros e à multa); ou b) pagar, isoladamente, penalidade pecuniária (multa) decorrente do descumprimento de obrigação acessória (obrigação de fazer). A referida alegação implica análise da constitucionalidade das normas legais que instituíram as correspondentes infrações e respectivas penalidades, o que é defeso a este Colegiado, por expressa determinação legal do art. 26A do Decreto 70.235/1972. Aliás, no âmbito deste Conselho, a matéria foi objeto da Súmula CARF nº 2, de adoção obrigatória pelos integrantes deste Conselho, que tem o seguinte teor, in verbis: “O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária”. Além disso, a jurisprudência do extinto Primeiro Conselho de Contribuintes e da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), mencionada pela recorrente, não se aplica ao caso em tela, porque não há similitude fáticojurídica com a infração e penalidade objeto dos presentes autos. Pelas mesmas razões anteriormente aduzidas, não se toma conhecimento do alegado efeito confiscatório das referidas multas isoladas, vedado pelo art. 150, IV, da CF/1988. Fl. 1650DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A 22 A recorrente ainda alegou que as multas isoladas em questão não poderiam ser exigidas, cumulativamente, com a multa de mora de 20% calculados sobre os débitos não compensados, ou, na hipótese daquelas serem mantidas, o que admitia apenas para argumentar, esta não poderia ser exigida. Não procede tal alegação. A imposição das referidas multas isoladas tem fundamento distinto da multa de mora. Aquelas visa sancionar a compensação indevida ou não homologada, enquanto esta destinase a sancionar o pagamento espontâneo, após o prazo de vencimento, de débito tributário. As primeiras estão previstas nos preceitos legais anteriormente transcritos, ao passo que a segundo encontrase expressamente prevista no art. 61 da Lei 9.430/1996. Assim, por terem condutas típicas distintas, induvidosamente, as referidas penalidades podem ser, cumulativamente, aplicadas e cobradas, sem qualquer óbice de natureza legal. A recorrente alegou que, por força do princípio da consunção, ainda que as multas isoladas e moratória decorressem de fatos distintos, tais fatos estavam estritamente vinculados, sendo inegável que tais multas eram motivadas por um único e isolado comportamento do contribuinte, o que deixava patente a cumulatividade e, por conseguinte, a improcedência da pretendida cobrança dos tipos de multas. Mais uma vez, não assiste razão à recorrente. Não há identidade nem semelhança entre a conduta que justifica a imposição da multa mora e as condutas que embasam a aplicação das multas referidas isoladas. Assim, como se trata de fatos independentes e dessemelhantes, não se aplica ao caso em comento, os efeitos do princípio da consunção, conforme alegado pela recorrente. Também não procede a alegação de que houve ilegalidade na obtenção das supostas provas colhidas no âmbito da operação “Broca”, mediante o indevido afastamento do sigilo de dados da recorrente, que atingia e contaminava todas as eventuais provas derivadas, porque referidas provas foram apreendidas com base em expressa autorização judicial e regularmente repassadas a fiscalização pela autoridade judiciária competente. A propósito do assunto, em recente Sessão realizada no 24/2/2016, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento conjunto de cinco processos que questionavam dispositivos da Lei Complementar (LC) 105/2001, que permitem à Receita Federal receber dados bancários de contribuintes, fornecidos diretamente pelos bancos, sem prévia autorização judicial. E por maioria de votos (9 a 2), prevaleceu o entendimento de que a norma não resulta em quebra de sigilo bancário, mas sim em transferência de sigilo da órbita bancária para a fiscal, ambas protegidas contra o acesso de terceiros. A transferência de informações é feita dos bancos ao Fisco, que tem o dever de preservar o sigilo dos dados, portanto não há ofensa à Constituição Federal. Enfim, cabe ressaltar que perdeu relevância a alegação da recorrente de que houve ilegítima ocorrência de bis in idem, em virtude de aplicação, simultânea, sobre o mesmo valor da multa isolada por compensação indevida e da multa isolada por pedido de ressarcimento indevido, uma vez afastada a cobrança da última multa isolada. Do reflexo da decisão proferido nos processos principais. Em face do provimento parcial dos recursos voluntários interpostos pela recorrente perante os correspondentes processos principais, em que foi reconhecido o direito de a recorrente apropriarse do valor integral dos créditos calculados sobre as aquisições do café em grão das cooperativas de produção agropecuária ou industrial, por conseguinte, a base de Fl. 1651DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A Processo nº 15586.720942/201374 Acórdão n.º 3302003.391 S3C3T2 Fl. 1.640 23 cálculo das multas isoladas em apreço deverá ser ajustada, para deduzir a parcela dos débitos a serem compensados até o limite do valor do crédito restabelecido nos correspondentes julgados. III DA CONCLUSÃO Por todo exposto, votase pela rejeição das preliminares de nulidades e, no mérito, pelo PROVIMENTO PARCIAL do recurso, para determinar o cancelamento da cobrança das multas isoladas relativas aos pedidos de ressarcimento e manter a cobrança das multas isoladas, qualificada (150%) e normal (50%), calculadas sobre o valor dos débitos não compensados, que deverá ser ajustado mediante a dedução da parcela do valor dos débitos a serem compensados até o limite do valor dos créditos restabelecidos nos correspondentes processos principais. (assinado digitalmente) José Fernandes do Nascimento Fl. 1652DF CARF MF Impresso em 21/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 19/10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 19 /10/2016 por JOSE FERNANDES DO NASCIMENTO, Assinado digitalmente em 21/10/2016 por RICARDO PAULO ROS A
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Numero do processo: 11543.000904/2003-75
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Nov 23 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Dec 08 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Ano-calendário: 2003
Compensação. Incorporação. Direito Creditório da Incorporada. Débitos da Incorporadora.
Os efeitos da extinção da pessoa jurídica por incorporação, retroagem à data da deliberação dos membros da sociedade, ainda que as providências de baixa da inscrição da empresa incorporada junto ao sistema CNPJ da RFB, venham a ser tomadas posteriormente. Assim, deve ser reconhecido como da incorporadora, créditos antes pertencentes à incorporada, tendo em conta que os efeitos jurídicos da incorporação passam a ser reconhecidos a partir da assinatura da Assembléia Geral Extraordinária que deliberou pela incorporação.
Reconhecimento do Direito Creditório. Análise Interrompida.
Inexiste reconhecimento implícito de direito creditório quando a apreciação da compensação restringe-se a aspectos atinentes à possibilidade do pedido. A homologação da compensação ou deferimento do pedido de restituição, uma vez superado o aspecto prejudicial, depende da análise da existência, suficiência e disponibilidade do crédito pela autoridade administrativa que jurisdiciona a contribuinte.
Numero da decisão: 9101-002.494
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Adriana Gomes Rêgo - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício), Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal De Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Demetrius Nichele Macei (suplente convocado). Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto.
Nome do relator: ADRIANA GOMES REGO
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ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Anocalendário: 2003 COMPENSAÇÃO. INCORPORAÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO DA INCORPORADA. DÉBITOS DA INCORPORADORA. Os efeitos da extinção da pessoa jurídica por incorporação, retroagem à data da deliberação dos membros da sociedade, ainda que as providências de baixa da inscrição da empresa incorporada junto ao sistema CNPJ da RFB, venham a ser tomadas posteriormente. Assim, deve ser reconhecido como da incorporadora, créditos antes pertencentes à incorporada, tendo em conta que os efeitos jurídicos da incorporação passam a ser reconhecidos a partir da assinatura da Assembléia Geral Extraordinária que deliberou pela incorporação. RECONHECIMENTO DO DIREITO CREDITÓRIO. ANÁLISE INTERROMPIDA. Inexiste reconhecimento implícito de direito creditório quando a apreciação da compensação restringese a aspectos atinentes à possibilidade do pedido. A homologação da compensação ou deferimento do pedido de restituição, uma vez superado o aspecto prejudicial, depende da análise da existência, suficiência e disponibilidade do crédito pela autoridade administrativa que jurisdiciona a contribuinte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão – Presidente em exercício AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 54 3. 00 09 04 /2 00 3- 75 Fl. 594DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 594 2 (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício), Adriana Gomes Rêgo, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luís Flávio Neto, Rafael Vidal De Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Demetrius Nichele Macei (suplente convocado). Ausente, justificadamente, o Conselheiro Carlos Alberto Freitas Barreto. Relatório A FAZENDA NACIONAL recorre a este Colegiado, por meio do Recurso Especial de fls. 401 e ss, do volume 3 digitalizado, contra o Acórdão nº 10196.320 (fls. 382 e ss do volume 2 digitalizado) que, por maioria de votos, deu provimento ao Recurso Voluntário interposto pela pessoa jurídica XEROX COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., em face da decisão da 1ª Turma de Julgamento da DRJ em Porto Alegre/RS, que indeferiu a manifestação de inconformidade apresentada pela interessada contra o despacho decisório que não reconheceu o direito creditório e não homologou as compensações pleiteadas nos autos. Transcrevese a ementa do acórdão recorrido: IRPJ COMPENSAÇÃO DE TRIBUTOS CRÉDITOS DE PESSOA JURÍDICA EXTINTA POR INCORPORAÇÃO Cabível a compensação de tributos administrados pela SRF, decorrentes de operação de incorporação, após atendidos os trâmites previstos nas normas legais vigentes (art. 227 da Lei das S/A e arts. 1117 e 1118 do Novo Código Civil). O Recurso interposto tem por fundamento decisão não unânime, contrária à lei ou à evidência de provas, como previa, à época, o art. 7º, I, do Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 147, de 2007. Aduz a recorrente que, para que a sociedade incorporada deixe de existir, a extinção regular dessa somente pode ocorrer quando tal situação for levada a registro público, igualmente, não bastando a vontade dos sócios, expressada em Assembléia Geral Extraordinária, principalmente em se tratando de sociedades empresárias. Salienta ser necessário o arquivamento e a extinção da pessoa jurídica incorporada para que a incorporação possa produzir todos os efeitos legais decorrentes, dentre estes, usufruir de créditos tributários da incorporada. Sem a consumação final, com o registro público colocando uma “pá de cal” na existência da empresa incorporada, não há como se aproveitar dos créditos desta, e isso porque, para terceiros, a empresa incorporada ainda existe, eis que ativa no Registro da Junta Comercial. Aponta que não se pode fechar os olhos para a existência jurídica de duas empresas, com dois CNPJs distintos, muito embora já aprovada a incorporação e que somente devem ser considerados débitos próprios, débitos de uma única empresa, com uma única inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). Acrescenta ser vedada a compensação de prejuízos fiscais nos casos de incorporação, pois tal prática seria verdadeira evasão fiscal, vedação essa expressa no art. 33, Fl. 595DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 595 3 do Decretolei nº 2.341/87, base legal do art. 504 do RIR/94, e que ignorar tal preceito normativo seria declarar sua inconstitucionalidade, o que é vedado pela Súmula nº 2 do 1º C.C. Ao final pede pela reforma integral do acórdão. Pelo Despacho Presi nº 101220/2008, o Recurso Especial foi admitido (fl. 411, do volume 3 digitalizado). Cientificada, a pessoa jurídica XEROX COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., apresentou Contrarrazões (fls. 435 e ss do volume 3 digitalizado), pugnando inicialmente, pelo não conhecimento do Recurso Especial da PFN por falta de prequestionamento da matéria relativa à vedação de compensação de prejuízos fiscais de empresa incorporada pela incorporadora. Aponta, ainda, que o recurso contra decisão não unânime somente tem cabimento em relação à parte não unânime da decisão, seguindo a mesma lógica dos embargos infringentes, ressaltando que, dos cinco Conselheiros presentes no julgamento, apenas um deles (Dr. Alexandre Andrade Lima da Fonte Filho) votou no sentido de negar provimento ao recurso voluntário, por entender que o mais prudente seria suspender o andamento do feito até que fossem concluídos os procedimentos necessários para a baixa do CNPJ da XBRA, não tendo havido dúvida quanto a questão de que os créditos utilizados na compensação seriam da própria recorrida; havendo apenas discordância com o pronto retorno dos autos à primeira instância o que na prática poderia até ser entendido como provimento parcial. Observa que, sob a escusa de que a votação não foi unânime, não pode a recorrente aumentar o escopo de seu recurso especial e pretender adentrar na discussão sobre a titularidade dos créditos utilizados na compensação, sobre a qual não houve divergência entre os Conselheiros do colegiado. Quanto ao mérito, destaca que as compensações não foram homologadas tão somente pelo fato de, à época da sua apresentação, o status do CNPJ da XBRA ainda estar ativo, não obstante terem sido juntados no presente processo administrativo todos os documentos que demonstram a regularidade da incorporação, além da certeza e liquidez dos créditos utilizados. Afirma que, por definição legal, todos os créditos tributários existentes em nome da XBRA já passaram a ser de responsabilidade da Recorrida no momento da incorporação, de acordo com o artigo 1.115 e 1.122 do CC e, inclusive, o próprio artigo 132 do CTN, e que o erário federal não ficou um momento sequer desamparado. Defende que a extinção da empresa XBRA, de acordo com a legislação aplicável, ocorreu automaticamente com a aprovação da incorporação na assembléia geral extraordinária realizada em 15/03/2003 e que se a sociedade incorporada foi extinta e não existe mais, não havendo porque impedir que a sociedade incorporadora utilize os seus créditos para compensar com os seus próprios débitos, sob a escusa de que seriam créditos de terceiros Salienta que a própria legislação tributária também reconhece que a extinção da sociedade incorporada ocorre na data da assinatura da ata de assembléia pertinente (e não da data da baixa no CNPJ), indicando a esse respeito a redação do § 1° do artigo 1º da Lei n° 9.430/1996 e os §§ 20 e 22 (inciso I) da Instrução Normativa da SRF n° 200/2002, em vigor à época da incorporação, e ainda, a Solução de Consulta nº 83/2001, da 7ª RF. Fl. 596DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 596 4 Ao final, enumera vários pedidos que podem ser resumidos em um único: manutenção do acórdão recorrido que determinou o retorno dos autos à primeira instância para apreciação do mérito da homologação da compensação. É o relatório. Voto Conselheira Adriana Gomes Rêgo Relatora A PFN foi cientificada do Acórdão nº 10196.320, em 08/01/2008 (fl. 398 do volume 2 digitalizado) e apresentou o Recurso Especial, em 21/0/2008, como demonstra o carimbo de protocolo à fl. 401 do volume 3 digitalizado, portanto, tempestivamente. Observo que, à época do aviamento da peça recursal, vigorava o Regimento Interno da Câmara Superior de Recursos Fiscais, aprovado pela Portaria MF nº 147, de 2007, que admitia a apresentação de Recurso Especial privativamente pela PFN, contra decisão do colegiado a quo, não unânime, proferida contrariamente à lei e/ou à evidência de provas. No presente caso, têmse que a decisão foi não unânime, já que a votação se deu por maioria, e a recorrente apontou contrariedade aos artigos 45 e 985 do CC e 227, § 3º da Lei das S/As. Observo, também, que não é requisito regimental para conhecimento dessa espécie de recurso, que a matéria recorrida tenha sido prequestionada. Tal pressuposto se dá, apenas, em relação ao Recurso Especial apresentado pelo contribuinte, já que a PFN somente vem a atuar no processo, quando há julgamento proferido pelo colegiado do CARF ou do antigo Conselho de Contribuintes, não sendolhe possibilitado participar do contencioso administrativo fiscal até esse momento. Em relação à alegação de que apenas o Cons. Alexandre Andrade Lima da Fonte Filho votou no sentido de negar provimento ao recurso voluntário, “por entender que o mais prudente seria suspender o andamento do feito até que fossem concluídos os procedimentos necessários para a baixa do CNPJ da XBRA”, cumpre destacar que essa informação não consta do acórdão. Apenas consta que ele votava no sentido de negar provimento ao recurso. Como a matéria discutida no recurso voluntário era a possibilidade ou não de se homologar esta compensação, depreendo que a decisão foi não unânime em relação a esse aspecto, que é o que será discutido no presente processo. Assim, os requisitos para aviamento do Recurso Especial foram preenchidos, razão pela qual dele tomo conhecimento. Feitas estas considerações, passo ao exame do mérito. Esclareçase que a pessoa jurídica interessada apresentou pedido de compensação de débitos próprios da contribuição para o financiamento da seguridade social COFINS, referentes aos períodos de apuração de outubro e novembro de 2001, indicando como direito creditório o saldo negativo de IRPJ do anocalendário de 2002, no valor total corrigido Fl. 597DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 597 5 de R$ 2.390.962,47, que teria sido apurado pela pessoa jurídica Xerox do Brasil Ltda., incorporada pela pessoa jurídica interessada XEROX COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA. O órgão de origem negou o pleito afirmando que, apesar de terem sido apresentados elementos que comprovam a incorporação, como o protocolo de incorporação registrado na Junta Comercial do Estado do Espírito Santo, localidade da empresa incorporadora, não fora apresentado o registro da incorporação junto à Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro, de localidade da incorporada, tampouco fora providenciada a baixa do CNPJ da incorporada, que permanecia ativo. Nessas condições, havendo dois (2) CNPJ ativos nos sistemas internos da RFB, considerou que a interessada apresentou um pedido de compensação com créditos de terceiros, situação vedada pela legislação de regência. O colegiado a quo, ao julgar o Recurso Voluntário apresentado pela interessada, entendeu que as formalidades legais necessárias à caracterização da incorporação, com a produção de seus efeitos jurídicos, foram atendidas e, assim, superou o fundamento atribuído à Turma Julgadora de 1ª Instância para o indeferimento do pleito, que consistia em considerar o crédito como de terceiro, pela ausência de baixa do CNPJ da incorporada nos sistemas internos da RFB, afirmando que isso seria mera formalidade que não prejudicava os efeitos legais da incorporação. Determinou, assim, que os autos retornassem à repartição de origem para apreciação do mérito da compensação. Com efeito, a razão da não homologação das compensações, constante do Despacho Decisório nº 11543.000904/200375, fundamentado no Parecer SEORT nº 1814/2004 (fls. 159 e ss do volume 1 digitalizado) foi resumidamente a seguinte: [...] Posteriormente, em consulta ao sistema SRF CNPJ, à fl. 157, verificouse que a situação cadastral da empresa XEROX DO BRASIL LTDA, CNPJ 29.213.386/000100, continua ativa. De acordo com o disposto no art. 40 da Instrução Normativa SRF n° 460/2004, é expressamente vedada a compensação de débitos do sujeito passivo, relativos aos tributos e contribuições administrados pela SRF, com créditos de terceiros. Por fim, mister se faz ressaltar que incumbe a interessada comprovar a existência e a exatidão dos seus créditos tributários a compensar. Não cabe à Secretaria da Receita Federal o ônus da prova quando se trata de solicitação de reconhecimentos de créditos para fins de compensação de tributos e contribuições. Destarte, considerando que é expressamente vedada a compensação de débitos do sujeito passivo, relativos aos tributos e contribuições administrados pela SRF, com créditos de terceiros, é de meu parecer que não deverá ser homologada a declaração de compensação pretendida pela contribuinte, devendo se dar prosseguimento à cobrança dos débitos, nos termos da IN SRF n° 460/2004, e do art. 74 da Lei 9.430/96 (§§ 7° a 11, incluídos pela Lei n° 10.833/2003). À consideração superior (...). Nesse mesmo sentido caminhou a decisão da 5ª Turma da DRJ no Rio de Janeiro/RJO, ao apreciar a manifestação de inconformidade apresentada pela interessada, como se verifica dos seguintes trechos extraídos do voto (fls. 315 e ss do volume 2 digitalizado): Fl. 598DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 598 6 [...] 9.1. A DRF/Vitória concluiu por não reconhecer o crédito alegado pelo interessado e, conseqüentemente, .não homologou a compensação, sob o fundamento de que seria vedada a compensação utilizando créditos de terceiros, uma vez que a situação junto ao CNPJ da empresa Xerox do Brasil Ltda., incorporada pelo interessado, continua com o status de "ativa". [...] 9.5. Portanto, um dos documentos necessários para se proceder à baixa da pessoa jurídica incorporada junto ao CNPJ é o ato extintivo devidamente registrado no órgão competente. Sem tal documento não é efetivada a baixa no CNPJ. [...] 9.10. Assim, enquanto não providenciados os devidos registros na Junta Comercial e efetivada a baixa no CNPJ, não há como se homologar a compensação declarada, já que nos assentamentos da Secretaria da Receita Federal a empresa extinta "Xerox do Brasil Ltda." continua com o status de ativa junto ao CNPJ, segundo o extrato que juntei à fl. 314. Em relação ao interessado a empresa incorporada continua sendo um terceiro, enquanto não efetivados os devidos registros de baixa da mesma. 9.11. Por todo o exposto, entendo que deve ser obedecido o art. 40 da In SRF n° 460/2004, que veda a compensação de débitos do sujeito passivo utilizando créditos de terceiros. Conseqüentemente, voto pela não homologação da compensação. É o meu voto. É fato que a interessada apresentou todos os demais elementos legais e jurídicos necessários a dar ao ato da incorporação os efeitos jurídicos pleiteados. Isso foi reconhecido pela unidade de origem, como se pode notar dos seguintes trechos do parecer SEORT que fundamentou o Despacho Decisório (fls. 159 e ss do volume 1 digitalizado): [...] Vale mencionar que a contribuinte firmou, em 10/01/2003, o protocolo de que trata o Art. 224 da Lei 6.404/76, indicando o número, espécie e classe das ações; indicou que as variações monetárias posteriores integrariam o resultado da empresa incorporadora; optou pela avaliação do patrimônio líquido pelo valor contábil apurado com base no balanço apurado em 01/03/2003, em atenção ao disposto no Art. 21 da Lei n° 9.249/95; e submeteu à aprovação das Assembléias Gerais, procedendo ao registro de todos os atos na Junta Comercial do Estado do Espírito Santo sob número 030143888, conforme documento de fls. 67/69. Não se verificou o registro na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro. Em consonância ao regramento do Art. 227 da Lei 6.404/76, foi preparado o Laudo de Avaliação do Patrimônio Líquido do XEROX DO BRASIL por peritos contratados que corroboraram os valores apurados no balanço de 01/03/2003, atestando sua Fl. 599DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 599 7 avaliação "de acordo com os princípios de contabilidade emanados da legislação societária", às fls.80/86. Nos termos da legislação societária aplicável, Art. 227 da Lei 6.404/76, a incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. Oportuno se torna dizer que a Declaração de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica referente ao evento incorporação entregue, em 04/04/2003, em cumprimento à alínea (a), do inciso I, do primeiro parágrafo do Art. 24, da Instrução Normativa n° 200/2002, correspondente ao período transcorrido durante o anocalendário de ocorrência do evento, com base no balanço levantado em 02/01/2003, apresentou algumas discrepâncias nos valores constantes do Ativo e do Passivo, entretanto sem reflexo no Patrimônio Líquido apurado e confirmado pelo Laudo de Avaliação, às fls. 80/86 e 149/155. Ressaltese o conteúdo do item 4 do Protocolo de Incorporação de fls. 78. Tendo em vista a necessidade de complementação da instrução processual no que concerne a novas informações e à coleta de elementos comprobatórios, foi lavrado Termo de Intimação, às fls. 53/60, nos termos dos Arts. 927 e 928 do Decreto n° 3.000/99, solicitando informações sobre a incorporação, apresentação de comprovantes de retenção nafonte, dosDARF ção nos casos em que a empresa incorporadora figurou como fonte pagadora, dos demonstrativos, do Livro de Apuração do Lucro Real — LALUR, do Livro Razão, entre outros elementos; tendo o Procurador, devidamente identificado, com poderes de representação de acordo com o Mandato, tomado ciência em 05/08/2004, às fls. 60 e 63. [...] Em atendimento ao Termo de Intimação, a contribuinte, mediante termo de entrega, às fls. 64/65, apresentou cópias simples dos DARF, demonstrativos das fontes pagadoras e respectivos impostos retidos, originais e cópias do Livro de Apuração do Lucro Real LALUR atinente ao anocalendário de 2002, declaração concernente à utilização do crédito pleiteado, originais e cópias do Livro Diário Geral e a indicação de pessoas com poderes para prestar esclarecimentos. [...] Urge frisar que no Termo de Intimação foram solicitados os documentos pertinentes à incorporação devidamente registrados no órgão competente e a solicitação de cancelamento do CNPJ da empresa Xerox do Brasil Ltda junto à unidade cadastradora da SRF competente. Ainda foi informada a situação de cadastro CNPJ ativo para empresa incorporada, à fl. 155. Em sua resposta, a contribuinte, especificamente no item 1, entregou os documentos registrados somente na Junta Comercial do Espírito Santo e se omitiu no que concerne à regularização da situação cadastral do CNPJ, à fl. 64. [...] Fl. 600DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 600 8 Da mesma forma, reconheceu o colegiado a quo (fls. 391 e ss do volume 2 digitalizado): [...] Efetivamente, consta dos autos todas as providências legais e societárias relativas à incorporação da empresa "Xerox do Brasil Ltda." conforme Assembléia Geral Extraordinária realizada em 15.03.2003, onde consta a ratificação dos termos do protocolo, bem como a aprovação do laudo de avaliação elaborados, conforme se depreende da norma de regência prevista no artigo 1.116 a 1.118 do Novo Código Civil e no artigo 227 da Lei das Sociedades Anônimas, verbis [...] Nesse mesmo sentido, a empresa "Xerox do Brasil Ltda." realizou AGE em 15.03.2003 e também ratificou os termos do protocolo e da justificativa, tendo aprovado o laudo de avaliação e, por fim, declarouse extinta, concluindo o processo de sua incorporação pela recorrente. Também foi apresentada, em 28.04.2003, a DIPJ específica, para o encerramento das atividades, com as informações correspondentes ao período de janeiro a março de 2003. Acrescentese a isso que não houve qualquer manifestação em contrário por parte do Fisco. Consta também dos autos o balanço de encerramento das atividades da Xerox do Brasil Ltda., bem como a individualização dos bens que foram vertidos para o patrimônio da incorporadora, estando aí incluídos os impostos a recuperar que fazem parte do presente processo. [...] Temse, assim, que o fundamento para o indeferimento do pleito, tanto pelo órgão de jurisdição da interessada, quanto pela Turma Julgadora de 1ª Instância, foi a não apresentação do arquivamento dos documentos de incorporação na Junta Comercial do Rio de Janeiro o que, por conseqüência, impedia a baixa do CNPJ da incorporada dos sistemas da RFB. Assim, o direito creditório da incorporada foi considerado crédito de terceiros, em razão do CNPJ ativo da incorporada. Essa necessidade de arquivamento da incorporação na Junta Comercial do Rio de Janeiro, onde se localizava a sede da incorporada, foi também invocada pela PFN em suas razões recursais (fls. 405 e ss do volume 3 digitalizado): [...] Sem a consumação final, com o registro público colocando uma pá de cal na existência da empresa incorporada, não há como se aproveitar dos créditos desta, e isto por uma razão muito simples: para terceiros, a empresa incorporada ainda existe, eis que ativa no Registro da Junta Comercial. [...] Ora, a própria contribuinte confessa que (fl. 332/335), para adequar a situação de direito à de fato, vem tomando todas as providências (ainda não concluídas) para arquivar os documentos pertinentes nas Juntas Comerciais onde a empresa extinta 'Xerox do Brasil Ltda' possuía estabelecimento, além de Fl. 601DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 601 9 efetuar a baixa no CNPJ. Confessou também que, não efetuou a baixa no CNPJ porque o pedido de arquivamento definitivo dos documentos da incorporação tem caído em exigência na Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro. O que não se pode fazer é fechar os olhos para a irregularidade apontada: a existência jurídica de duas empresas, com dois CNPJs distintos, muito embora já aprovada a incorporação. [...] Ora somente devem ser considerados débitos próprios, débitos de uma única empresa, com uma única inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), impedindo, portanto, empresas sob mesma administração de compensarem seus tributos entre si. Entender de forma diversa significa ignorar todos os preceitos jurídicos que regulam e relevam a importância dos atos concernentes ao Registro Público. Ocorre que esse óbice não existe mais. O CNPJ da incorporada, Xerox do Brasil, já foi definitivamente baixado nos sistemas internos da RFB. Em 14/09/2016, a recorrente apresentou a petição de efls. 589/592, informando que a própria RFB providenciou a baixa no CNPJ da incorporada, Xerox do Brasil, com efeitos retroativos ao mês de 01.03.2003. De fato, a fim de verificar a veracidade da informação, consultando o sistema COMPROT, localizei o processo de nº 10569.000318/201180, formalizado para providenciar a baixa de ofício do CNPJ da incorporada Xerox do Brasil. O Decreto nº 70.235, de 1972, admite a possibilidade de conhecimento de prova trazida após a apresentação da impugnação, desde que refirase a fato ou a direito superveniente (art. 16, § 4º, "b"). Este é o caso. A baixa definitiva do CNPJ da empresa incorporada deuse por procedimento de oficio da RFB, em momento posterior à apresentação da impugnação e refere se a fato superveniente. Assim, a pendência nos sistemas internos da RFB acerca do CNPJ da incorporada Xerox do Brasil, que impedia o deferimento da compensação, não mais existe. Como bem ressaltou a Turma Julgadora de 1ª Instância, os efeitos da extinção da pessoa jurídica por incorporação, retroagem à data da deliberação dos membros da sociedade, ainda que as providências de baixa da inscrição da empresa incorporada junto ao sistema CNPJ da RFB, venham a ser tomadas posteriormente. É o que dispunha, à época, a IN SRF nº 200, de 2002: IN SRF nº 200, de 2002 Dispõe sobre o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ). Art. 24. O pedido de cancelamento de inscrição no CNPJ, por extinção da pessoa jurídica ou de qualquer de seus estabelecimentos, será único e simultâneo para todos os órgãos convenentes a que estiver sujeito. [...] Fl. 602DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 602 10 § 20. O cancelamento da inscrição no CNPJ produzirá efeitos a partir da data da extinção da pessoa jurídica. § 21. Não serão exigidas as declarações referidas no item 1 da alínea "c" do inciso I do art. 48, relativamente a período posterior à data da extinção da pessoa jurídica. § 22. Considerase data de extinção, a data: I de deliberação entre seus membros, nos casos de incorporação, fusão e cisão total; II da sentença de encerramento, no caso de falência; III da publicação, no Diário Oficial da União, do ato de encerramento da liquidação, no caso de liquidação extrajudicial promovida pelo Banco Central em instituições financeiras; IV de expiração do prazo estipulado no contrato, no caso de extinção de sociedades com data prevista no contrato social; V do registro de ato extintivo no órgão competente, nos demais casos; VI do arquivamento da decisão de cancelamento de registro pela Junta Comercial, com base no art. 60 da Lei no 8.934, de 18 de novembro de 1994. No caso, a deliberação dos membros da sociedade se deu em 15/03/2003, com a assinatura da ata da assembléia geral extraordinária. Assim, os efeitos da extinção da incorporada Xerox do Brasil são verificados a partir dessa data. Nessas condições entendo que, não havendo mais o óbice formal para que sejam reconhecidos os efeitos jurídicos da incorporação da empresa Xerox do Brasil, pela XEROX COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA., não há mais por que argüir que se trataria de declaração de compensação de créditos de terceiros, mas sim de créditos próprios da interessada. Observo que o único fundamento para a não homologação das compensações foi a impossibilidade de aproveitamento de créditos de "terceiros". Mas, como dito, este óbice não mais existe. Contudo, isto não permite concluir pela integridade da formação do crédito. A autoridade administrativa do órgão de jurisdição da interessada centrou sua decisão, exclusivamente, na possibilidade do pedido, e assim não analisou a efetiva existência do crédito. Superada esta questão, necessário se faz a apreciação do mérito pela autoridade administrativa competente, quanto aos demais requisitos para homologação da compensação. Quanto ao segundo argumento apresentado pela recorrente, o de que haveria vedação legal expressa impedindo o aproveitamento de prejuízos fiscais experimentados pela incorporada, para a compensação na incorporadora, entendo que o assunto é totalmente alienígena à situação fática tratada nestes autos, que versa sobre Declaração de Compensação de débitos próprios, com créditos próprios já que não mais considerados de terceiros, e não de compensação de prejuízos fiscais. É inadmissível, por meio de analogia, tentar criar uma vedação que a lei não estabelece porque, ainda que se tratasse de compensação de débitos próprios com crédito de terceiros, já existe na legislação de regência dispositivo específico que veda esse tipo de compensação, mas que, no presente caso, como visto, não se aplica. Fl. 603DF CARF MF Processo nº 11543.000904/200375 Acórdão n.º 9101002.494 CSRFT1 Fl. 603 11 Ante todo o exposto, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Especial da PFN, e mantenho a decisão do colegiado a quo que propôs o encaminhamento dos autos ao órgão de origem para apreciação do mérito da compensação. É como voto. (assinado digitalmente) Adriana Gomes Rêgo Fl. 604DF CARF MF
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Numero do processo: 15504.732104/2013-14
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jul 07 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Dec 12 00:00:00 UTC 2016
Numero da decisão: 1401-000.412
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Por maioria de votos, RESOLVERAM converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. Vencido o Conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio.
Documento assinado digitalmente.
Antonio Bezerra Neto - Presidente.
Documento assinado digitalmente.
Marcos de Aguiar Villas-Bôas - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (presidente da turma), Guilherme Adolfo Mendes, Luciana Zanin, Ricardo Marozzi Gregorio, Marcos de Aguiar Villas-Bôas (relator), Luis Rodrigo de Oliveira Barbosa, Aurora Tomazini de Carvalho e Lívia de Carli Germano.
Nome do relator: MARCOS DE AGUIAR VILLAS BOAS
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Atos cooperativos. Recorrente Cooperativa dos Anestesiologistas de Minas Gerais Recorrida Fazenda Nacional Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Por maioria de votos, RESOLVERAM converter o julgamento em diligência, nos termos do voto do relator. Vencido o Conselheiro Ricardo Marozzi Gregorio. Documento assinado digitalmente. Antonio Bezerra Neto Presidente. Documento assinado digitalmente. Marcos de Aguiar VillasBôas Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (presidente da turma), Guilherme Adolfo Mendes, Luciana Zanin, Ricardo Marozzi Gregorio, Marcos de Aguiar VillasBôas (relator), Luis Rodrigo de Oliveira Barbosa, Aurora Tomazini de Carvalho e Lívia de Carli Germano. RE SO LU ÇÃ O G ER A D A N O P G D -C A RF P RO CE SS O 1 55 04 .7 32 10 4/ 20 13 -1 4 Fl. 1752DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 13 2 Relatório Tratase de Recurso Voluntário em face do Acórdão nº 1451.477 da 3ª Turma da DRJ/RPO (Ribeirão Preto/SP), que julgou, por unanimidade, improcedente a Impugnação apresentada pela contribuinte. Valhome de partes do Relatório da DRJ para narrar os fatos iniciais: "Em procedimento de verificação do cumprimento das obrigações tributárias, relativas aos anoscalendário de 2009 e 2010, pela contribuinte acima identificada, foi constatada receita de prestação de serviços escriturada e não declarada e ausência de inclusão na base de cálculo do IRPJ e CSLL da totalidade dos rendimentos e/ou ganhos líquidos de aplicações financeiras de renda fixa ou renda variável. [...] De acordo com o Estatuto Social a cooperativa tem como objeto social "organizar o exercício da atividade econômica de seus cooperados, prestando assistência administrativa nos contratos de serviços médicos de anestesiologia e tratamento de dor a serem executados pelos cooperados. Relatou que, da análise da DIPJ dos anoscalendário 2009 e 2010, constatou se que a contribuinte informou as receitas auferidas pela cooperativa, contabilizadas nas contas 3.1.1.01 000— Ingressos de Serviços, 3.1.1.02.000 Ingressos Taxa Contribuição Cooperados e 3.1.1.01.001 — Ingressos de Custos Hospitalares, como atos cooperativos, deduzindo das mesmas os valores das contas.3.1.2.01.001 Descontos e Abatimentos e 3.1 2.01.003 Faturas Canceladas e adicionando Rendimentos e Ganhos Líquidos Aplicações Renda Fixa/Renda Variável (Linha 10). No entanto, excluiu da base de cálculo do IRPJ e CSLL os resultados da aplicação do percentual sobre as receitas mencionadas acima, linha 23 da Ficha 14A e linha 19 da Ficha 18A (Resultados não tributáveis de sociedades cooperativas), somente apurando IRPJ a pagar no 2º, 3º e 4º trimestres de 2010 e CSLL a pagar nos 2º e 3º trimestres de 2009 e 2º, 3º e 4° trimestres de 2010, em decorrência da incidência dos tributos sobre os rendimentos de aplicações financeiras informadas na DIPJ. [...] Registrou que, no âmbito tributário, as cooperativas que obedecem ao disposto na Lei n° 5.764/71 e demais normas específicas não sofrem incidência tributária ao praticarem os chamados atos cooperativos, em respeito ao objeto para o qual elas foram idealizadas. Evidentemente, a não incidência abrange apenas os atos cooperativos, devendo integrar a base de cálculo do imposto de renda e das contribuições e ser tributadas as parcelas que não tenham origem nesses atos. O artigo 79 da Lei n° 5.764/71 dispõe: "Art. 79. Denominamse atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associados, para a .consecução dos objetivos sociais. "Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou / mercadoria." Informou que o mesmo diploma legal dispôs em seu art. 111 que serão considerados como renda tributável os resultados positivos obtidos pelas cooperativas nas operações de que tratam os arts. 85, 86 e 88 dessa lei, ou seja, estabeleceu como regra a isenção tributária das cooperativas, excepcionando, contudo, o resultado das operações das cooperativas com não associados, ou seja, atos impróprios, nãocooperatívos. Fl. 1753DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 14 3 Neste sentido, o artigo l83, inciso II do Regulamento do Imposto de Renda – RIR/1999 dispõe que: Art. 183. As sociedades cooperativas que obedecerem ao disposto na legislação específica pagarão o imposto calculado sobre os resultados positivos, das operações e atividades estranhas à sua finalidade, tais como (Lei n 25.764, de 1971, arts. 85, 86,88 e 111, e Lei.n 99.430, de 1996, arts. 1º e2º): (...) II de. fornecimento de bens ou serviços a não associados, para atender aos objetivos sociais; Do acima exposto, temse que os atos cooperativos são os representados pelas atividades fins destas, como sendo a prestação de serviços a seus associados, sem interesse negocial, ou fim lucrativo, os que extrapolam suas finalidades institucionais caracterizamse como atos não cooperativos. Assim, somente são isentas de tributação as receitas provenientes de atos cooperativos, sendo tributáveis as receitas das cooperativas em relação a atos não cooperativos, como o fornecimento de serviços a não associados, ainda que em atendimento ao seu objetivo social. Da análise dos Contratos/acordos e de notas fiscais apresentados o fisco verificou que a cooperativa ao contratar com terceiros praticou ato não cooperativo, devendo oferecer à tributação a receita proveniente da prestação de serviço aos contratantes. Ressaltouse que foram apresentados apenas os contratos/acordos firmados entre a fiscalizada e os tomadores relacionados no Anexo I do Termo de Constatação e Intimação Fiscal (TCIF) n° 01. Dessa forma, por meio de tais documentos, a fiscalização pode constatar que a atividade preponderante da fiscalizada é a prestação de serviços médico hospitalares a terceiros, por meio de contratos celebrados com pessoas jurídicas, estando, por isso, sujeita aos recolhimentos de tributos e contribuições. A. sociedade cooperativa que pratique atos não cooperativos previstos na legislação própria, sujeitase os resultados desses atos às normas que regem a tributação das operações das demais sociedades civis e comerciais. Portanto, o campo de nãoincidência corresponde às atividades inerentes à cooperativa. O que exorbita desse campo é tributável, ou seja, não leva à descaracterização da natureza jurídica da cooperativa, apenas à tributação dos atos não cooperativos. Essa concepção decorre de não haver proibição taxativa, no regime jurídico cooperativo, da prática de atos nãocooperativos não expressamente previstos. A única exigência é que sejam tributados. Dessa forma, o percentual de presunção a ser utilizado é de 32% sobre os valores das receitas auferidas pela cooperativa, contabilizadas na conta 3.1.1.01.000 Ingressos.de Serviços e o valor de R$ 21.959,82, informado equivocadamente na. conta 3.1.1.01.001. Ingressos de Custos Hospitalares, conforme resposta ao Termo de Intimação Fiscal n°.05, deduzindo das mesmas os valores das contas 3.1.2.01.001 Descontos e Abatimentos e 3.1.2.01.003Faturas Canceladas. Com relação ao IRPJ e CSLL a base de cálculo foi apurada conforme acima mencionado adicionandose à receita bruta ajustada os valores registrados nas contas contábeis 3.1.5.02 Ganhos com Aplicações Financeiras e 3.1.5.03 – Juros e Descontos Obtidos. Quanto ao IRPJ, foi aplicado o percentual de 15%, e o percentual de 10% a título de adicional de imposto de renda sobre a parcela do lucro presumido que exceder o valor resultante da multiplicação de R$ 20.000,00 (vinte mil Fl. 1754DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 15 4 reais) pelo número de meses do respectivo período de apuração, conforme Art. 3º, caput e § 1º da Lei 9.249 de 26/12/1995. Com relação a CSLL, foi aplicado sobre a base de cálculo apurada o percentual de 9%, conforme Art. 3º, II da Lei n° 7.689/88, com redação dada pelo art. 17 da Lei n° 11.727/08. Ressaltese que dos valores apurados foram deduzidos os valores declarados em DCTF e os valores retidos confirmados na Dirf, conforme Anexos VII e VIII. Notificada da autuação a contribuinte, representada pelos procuradores Emanuel M.S.Garcia e Sílvio Humberto P. Arantes (fls. 813 a 844), ingressou com a impugnação de fls.798 a 812, na qual alega: Depois de discorrer sobre os artigos 79 e 111 da Lei n° 5.764/71, concluiu a auditorafiscal, em livre interpretação, que "a cooperativa ao contratar com terceiros praticou ato não cooperativo, devendo oferecer à tributação a receita proveniente da prestação de serviço aos contratantes." É um equívoco, permissa vénia. A impugnante, cumprindo o seu objetivo, presta serviços cooperativos aos seus associados (art. 79 da Lei 5.764/71), sem fins lucrativos, e estes prestam serviços profissionais a terceiros, não cooperados. Não é a cooperativa, portanto, a prestadora de serviços aos não cooperados. Não é correto afirmar que "a atividade preponderante da fiscalizada é a prestação de serviços médicohospitalares a terceiros, por meio de contratos celebrados com pessoas jurídicas, estando, por isso, sujeita aos recolhimentos de tributos e contribuições." Eis o que dispõe o anexo Estatuto Social da impugnante: "Art. 2° A Cooperativa terá por objetivo organizar o exercício da atividade econômica de seus cooperados, prestando assistência administrativa, nos contratos de serviços médicos de anestesiologia e tratamento de dor a serem executados pelos cooperados. Parágrafo Primeiro A Cooperativa representará seus cooperados, celebrando convênios ou contratos com Hospitais, Empresas, Associações de Classe, Entidades ou órgãos Municipais, Estaduais ou Federais, recebendo os valores devidos pelos serviços profissionais prestados por seus cooperados, repassandoos aos mesmos. Parágrafo Segundo Poderá, também, complementarmente: a. Promover o aprimoramento profissional de seus Cooperados através da realização de cursos, seminários, congressos, debates, concursos e outros empreendimentos culturais. b. Promover ainda a educação cooperativista aos cooperados e participar de campanhas de expansão do cooperativismo e modernização de suas técnicas. Art. 3º As operações da Cooperativa não terão finalidades lucrativas." Os atos cooperativos, conforme definição contida no artigo 79 da Lei 5.764/71, são aqueles "praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando associadas, para a consecução dos objetivos sociais." Já os atos não cooperativos são os que não se relacionam com os objetivos sociais das cooperativas, ou seja, são realizados com a participação de não cooperados e tem objetivo comercial, de lucro. A redação deste artigo 79 produz interpretações divergentes. Alguns interpretam de forma restritiva e entendem que os atos cooperativos são aqueles praticados única e exclusivamente com a participação dos cooperados e da cooperativa para atingir os objetivos sociais. Um exemplo disso seria uma cooperativa de trabalho médico, onde os médicos cooperados só pudessem atender aos próprios associados. Fl. 1755DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 16 5 Vale dizer que referida interpretação, não admitindo que a cooperativa coloque os produtos ou serviços dos cooperados no mercado (para terceiros), praticamente inviabilizaria a própria atividade em cooperativa. O nosso entendimento, e da maioria da doutrina e jurisprudência, é no sentido de que o ato cooperativo é aquele praticado sem fins lucrativos, visando ao cumprimento dos objetivos sociais, tendo necessariamente a cooperativa e o cooperado em duas pontas da relação e um terceiro na outra ponta. Tratase de uma relação triangular, onde a cooperativa presta serviços ao seu cooperado, buscando a inserção deste no mercado, e o cooperado, por sua vez, presta o serviço ao terceiro (cooperativa de trabalho). A lei tributaria deve ser interpretada conforme a hermenêutica geral do direito, mas com as especificidades próprias dos artigos 107 a 112 do CTN. O tratamento dado pela lei civil a institutos deste ramo do direito não pode ser alterado por força de disposições tributárias, no máximo podendo a lei tributária atribuirlhes efeitos pertinentes de direito tributário (art. 109 e 110). A integração analógica é admitida para beneficiar o contribuinte, mas não para permitir ao fisco utilizála para obter imposição maior do que a lei autoriza (art. 108 inciso l e §1° A equidade (art.108 inciso IV) beneficia o pagador de tributos, sendo sempre, na dúvida, beneficiado o contribuinte com a interpretação a seu favor, no caso de exigência tida por desconforme (art. 112). Em outras palavras, o exame das disposições colocadas no segmento dedicado à hermenêutica tributária revelase um autêntico estatuto de defesa do contribuinte, pois as disposições são voltadas a não permitir excesso de exação, interpretações coniventes ou convenientes a favor do Fisco, mas a estrita obediência da lei, e, na dúvida, sempre a favor do pagador de tributos. Deve, pois, o intérprete da lei tributária buscar orientarse pela intenção do legislador, pelo texto da lei, por seu enquadramento no sistema, pela história dos eventos que levaram à elaboração legislativa, pela finalidade do dispositivo e, principalmente, para que a norma produza os efeitos que o legislador pretendeu ao aprovála, no campo de sua concretude à ordem fática. No caso da impugnante, cooperativa de trabalho médico, os "atosmeio", ou "atos nãocooperativos intrínsecos", consistem em negociar com terceiros (planos de saúde) os honorários médicos que são recebidos e repassados aos seus cooperados, pelos serviços profissionais que estes prestam aos clientes/usuários das empresas contratantes. Não fosse assim, como poderia a cooperativa "prestar serviços aos seus associados", que se reúnem "para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum", como previsto nos artigos 3o e 4o da Lei n° 5.764/71? No PN CST 38/80, tais atos são tratados como verdadeiramente cooperativos: "3. DAS COOPERATIVAS DE MÉDICOS 3.1 Atos cooperativos. As cooperativas singulares de médicos, ao executarem as operações descritas em 2.3.1, estão plenamente abrigadas da Incidência tributária em relação aos serviços que prestem diretamente aos associados na organização e administração dos interesses comuns ligados à atividade profissional, tais como os que buscam a captação de clientela; a oferta pública ou particular dos serviços dos associados; a cobrança e o recebimento de honorários; o registro, controle e distribuição periódica dos honorários recebidos, a apuração e cobrança das despesas da sociedade, mediante rateio na proporção direta da fruição dos serviços pelos associados; cobertura de eventuais prejuízos com recursos provenientes do Fundo de Reserva (art. 28, l) e, supletivamente, mediante rateio, entres os associados, na razão direta dos serviços usufruídos (art. 89). Fl. 1756DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 17 6 3.2 Atos diversos dos legalmente permitidos. Se, conjuntamente com os serviços dos sócios a cooperativa contrata com a clientela, a preço global não discriminativo, ainda o fornecimento, a esta, de bens ou serviços de terceiros e/ou cobertura de despesas com (a) diárias e serviços hospitalares, (b) serviços de laboratórios, (c) serviços odontológicos, (d) medicamentos e e) outros serviços, especializados ou não, por não associados, pessoas físicas ou jurídicas, é evidente que estas operações não se compreendem nem entre os atos cooperativos nem entre os excepcionalmente facultados pela lei, resultando, portanto, em modalidade contratual com traços de segurosaúde." Demais disso, na relação contratual com terceiros, com a nítida finalidade de beneficiar os cooperados, não há receita, rendimento ou lucro para a cooperativa. Tanto assim que os cooperados são contribuintes do IRPF, que incide sobre os valores dos honorários que lhe são repassados. [...] Digase, desde logo, que o conceito de receita não se confunde e nem pode compreender todo o conjunto de ingressos de caixa que venha a ocorrer no curso das atividades desempenhadas pelos contribuintes, na medida em que estas se revestem de distintos fundamentos e origens, sujeitos a apreciação própria. Tais 'entradas', quando não se caracterizarem como fatores de remuneração de atividade econômica desenvolvida, obviamente, não servem de parâmetros para a adequada identificação da contrapartida que o 'faturamento' ou 'preço do serviço' devem representar; por outras palavras, elas não compartilham da natureza comum dos valores que irão compor, em conjunto, a base de cálculo do ISS, do PIS e da Cofins. O delicado ponto de distinção entre o que constitui receita tributável para o contribuinte destes tributos e aqueles valores que, embora transitando pelo seu caixa, não guardam tal configuração, foi muito bem demonstrado pelo saudoso Professor Geraldo Ataliba na seguinte passagem, que cabe como luva no presente contexto: 'O conceito de receita referese a uma espécie de entrada. Entrada é todo o dinheiro que ingressa nos cofres de determinada entidade. Nem toda entrada é receita. Receita é a entrada que passa a pertencer à entidade. Assim, só se considera receita o ingresso de dinheiro que venha a integrar o patrimônio da entidade que a recebe. Em nenhum momento constatou e demonstrou a auditora que a impugnante, realizando os supostos atos nãocooperativos, teria obtido acréscimo patrimonial o repasse aos cooperados dos honorários médicos contratados e recebidos é fato incontroverso in casu. Concluise, pois, que não poderia ter sido tomada como base de cálculo "a receita proveniente da prestação de serviço aos contratantes." Aliás, tanto o art. 111 da Lei n° 5.764/71, quanto o artigo 183, II, do RIR/99, consideram como renda tributável os resultados positivos decorrentes dos atos nãocooperativos. Por resultado, em sentido propriamente contábil, entendese a conclusão a que se chegou na verificação de uma conta ou no levantamento de um balanço (lucro ou prejuízo). Em relação às contas, referese ao saldo da Demonstração do Resultado do Exercício, que tanto pode ser credor como devedor. Sobre o tema, e tratando especificamente das sociedades cooperativas, eis a lição de Renato Lopes Becho: "O sistema cooperativista tem, nitidamente, um cunho empresarial. Acreditamos que seja importante destacarmos esse aspecto da atividade cooperativista, realçandoo para explicálo. Esse destaque da natureza empresarial das cooperativas vem destacado na doutrina tradicional, nacional e estrangeira. Dizer que uma cooperativa é uma empresa significa, para nós, dizer que há um grupo de pessoas que aportam capital, trabalho, dedicação, esforço e Fl. 1757DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 18 7 energia para a consecução de um fim específico, de conteúdo econômico, buscando um objetivo direto ou indireto, para si ou para os seus. Uma atividade empresarial que se diferencia pela finalidade e pela atuação da uma atividade pia, de natureza humanitária, caritária. Uma cooperativa não é uma instituição de caridade. É uma empresa. Entretanto, assim como as sociedades caritárias não possuem finalidade lucrativa, a cooperativa também não possui. Tanto é assim que, logo no art. 3° da Lei 5.764/71 encontramos, na definição legal de cooperativa, sua finalidade distanciada do lucro, ao lado do reconhecimento de sua natureza econômica. Essa natureza diferenciará, com traços indeléveis, as cooperativas das instituições humanitárias. E o meio econômico, assim como afasta o nosso objetivo de estudo das associações pias, aproximao das demais empresas, civis e comerciais. Tanto aproxima que as ações de uma cooperativa mais aparentam atividade comercial ou civil, genericamente, do que caridade. Porém, o objetivo não lucrativo das cooperativas é traço marcante para afastá la das demais formas empresariais. Entretanto, por ser atividade econômica, a cooperativa precisará ter contabilidade própria, operará no meio empresarial intensamente, e produzirá, como decorrência também econômica por trabalhar com dinheiro resultados econômicos. Esses resultados podem ser positivos, neutros ou negativos, da mesma forma que as empresas comerciais ou civis que trabalham com dinheiro. Se na aparência (que pouco significa para o Direito, v.g. ser o navio, em termos jurídicos, bem imóvel) esses resultados são iguais, juridicamente, se diferenciam radicalmente. [...] Os resultados positivos das cooperativas devem voltar para os associados, na proporção de suas operações com a instituição. Podem decidir, contudo, mantêlos na sociedade, ou como forma de aumento do capital (que não será remunerado) ou doálos à sociedade. Esse resultado positivo é chamado de excedente ou sobra, porque a empresa cooperativa busca, para si, apenas a satisfação dos custos administrativos e operacionais, para atingir resultado que lhe é obrigatório. E esse resultado é igual a zero. Estamos diante de outro ponto, dos mais relevantes, positivado em nossa legislação, no art. 4o, inciso vil, da Lei 5.764/71, nos seguintes termos: "...retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral." (....) Como visto, o sistema cooperativo não visa o lucro. Então poderseia perguntar: mesmo não visando o lucro, o sistema produz? A resposta é negativa. Mas esclareçase: uma cooperativa pode produzir sobras, que são o resultado positivo em suas Operações." (destacamos) Pertinente, ainda, a transcrição de trecho de voto proferido pelo Ministro Humberto Martins (Superior Tribunal de Justiça, Resp n° 885.564CE): "(...) Depreendese que a totalidade da receita auferida pela cooperativa convertese, necessariamente, aos seus membros. De igual forma, os ônus pecuniários são distribuídos de maneira proporcional entre os cooperados. Cumpre salientar que as sociedades cooperativas não detêm receita ou despesa. Os ingressos, por definição legal, são precários no patrimônio, sem elevação efetiva no ativo ou alteração significativa no passivo, permanecendo imutável o patrimônio societário." Fl. 1758DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 19 8 Tributar a receita da cooperativa (na realidade, a renda dos cooperados), mesmo nos atos considerados nãocooperativos, constituí flagrante desrespeito ao princípio da capacidade contributiva, insculpido no art. 145, § 1º, da Constituição Federal (CF). No presente caso, chegouse ao astronômico valor de R$ 15.842.253,85, calculado sobre os honorários médicos dos profissionais cooperados e que, se mantidas as autuações, deverá ser suportado por eles, com a renda do seu trabalho (já tributada) e prejuízo do seu patrimônio pessoal, uma vez que a cooperativa, por expressa disposição legal, não tem recursos próprios. Importante destacar que no Termo de Verificação Fiscal e nos seus anexos não houve a demonstração de qualquer resultado, SOBRA ou LUCRO da impugnante, decorrente do exercício de atos supostamente nãocooperativos. No Acórdão n° 130200.233, da 2ª Turma ordinária do Carf (Proc. n° 10925.000725/200542), concluiu o relator que os resultados de atos não cooperativos devem ser tributados tanto pelo IRPJ como pela CSLL, mas cuidou de ressalvar, para dar provimento ao recurso voluntário: "No entanto, para tanto, tornasse necessário que a fiscalização verifique a parcela do resultado que se refere a atos não cooperados, o que não ocorreu no caso concreto." Finalmente, para ilustrar o absurdo das autuações ora impugnadas, cabe comparar a tributação que ora se pretende impor à cooperativa (aos cooperados, portanto) com aquela a que estão sujeitas as demais sociedades de profissionais, simples ou empresárias. Nestas, tributase a renda da pessoa jurídica, mas os lucros distribuídos aos sócios são isentos do IRPF. No presente caso, exigese da cooperativa o pagamento do imposto sobre a renda que não é sua e de contribuição sobre lucro que não aufere, uma vez que os honorários médicos são repassados aos cooperados, a despeito de tais honorários já constituírem renda tributável das respectivas pessoas naturais beneficiárias". O Acórdão da DRJ ficou ementado da seguinte forma: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2009, 2010 COOPERATIVA DE TRABALHO. ATO COOPERATIVO. ISENÇÃO. A receita da cooperativa de trabalho configura ato cooperativo quando o serviço tiver sido prestado por associado e disser respeito à sua atividade econômica, sendo irrelevante o fato de o usuário final não compor o quadro associativo. HIPÓTESE DE TRIBUTAÇÃO DO RESULTADO GLOBAL DA COOPERATIVA. Se a escrituração da sociedade não estiver apoiada em documentação hábil que comprove a prática exclusiva de atos cooperativos, o resultado global da cooperativa será tributado, por ser impossível a determinação da parcela não alcançada pela não incidência tributária. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano calendário: 2009, 2010 INCONSTITUCIONALIDADE. ARGÜIÇÃO. Às instâncias administrativas não compete apreciar vícios de ilegalidade ou de inconstitucionalidade das normas tributárias, cabendolhes apenas dar fiel cumprimento à legislação vigente. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido". Inconformada com o Acórdão da DRJ, a contribuinte interpôs Recurso Voluntário, por meio do qual repete os argumentos trazidos em sua Impugnação e acrescenta Fl. 1759DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 20 9 os seguintes: a) o Acórdão da DRJ é improcedente, pois ele teria utilizado fundamento distinto do Termo de Verificação Fiscal para manter a exigência tributária e, inclusive, teria afastado expressamente o próprio fundamento do TVF; b) reforçando a alegação anterior, reafirmou que as provas seriam suficientes para demonstrar que se tenta tributar atos cooperativos por meio do Auto de Infração; c) quase todo o valor discutido neste processo foi repassado aos médicos cooperados, de modo que não se deve falar em renda da cooperativa; d) foram juntados novos contratos e outros documentos para suportar as alegações, os quais serão analisados no Voto. É o relatório. Voto Conselheiro MARCOS DE AGUIAR VILLASBÔAS Relator. O Recurso Voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, motivo pelo qual passo à sua análise. Necessidade de diligência A Recorrente alega que a DRJ teria rejeitado o motivo utilizado pelo Auto de Infração e, então, inserido outro para fundamentar a exigência tributária. O Termo de Verificação Fiscal (TVF) afirma que a Recorrente tem atividade não cooperativa preponderante, pois ela realiza a intermediação e a negociação da prestação de serviços dos cooperados a terceiros, o que é bem característico de cooperativas médicas. O TVF explica, então, que apenas foram apresentados "os contratos/acordos firmados entre a fiscalizada e os tomadores relacionados no Anexo I do Termo de Constatação e Intimação Fiscal TCIF nº 01". Da análise desses contratos, a Fiscalização concluiu, sem uma fundamentação muito rebuscada, que a maior parte da atividade era de atos não cooperativos. A DRJ, de fato, atesta expressamente que os contratos apresentados referemse a atos cooperativos, mas ressalva que mantém o lançamento pelo fato de que nem todos os contratos foram apresentados. É preciso, portanto, antes de decidir, esclarecer o contexto fáticoprobatório dos autos. Pareceme assistir razão à Recorrente quando afirma que a DRJ errou ao reconhecer que os contratos juntados aos autos referemse a operações isentas, mas, ao mesmo tempo, manteve todo o lançamento. Fl. 1760DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 21 10 É necessário, portanto, segregar as operações relativas a atos cooperativos daquelas relativas a atos não cooperativos. Deste modo, não vejo outra solução, senão baixar o processo em diligência para que a Recorrente seja intimada a apresentar os contratos relativos às notas fiscais ainda não suportadas neste processo administrativo, se eles existirem, fazendo o devido cruzamento entre as notas e os negócios jurídicos que lhe dão apoio, ou para que junte outros documentos hábeis à comprovação de que as notas fiscais relacionadas pelo Auto de Infração referemse a atos cooperativos. Por sinal, a Recorrente juntou mais alguns contratos ao seu Recurso Voluntário e, ainda, reconheceu que não havia juntado todos eles, de modo que há notas fiscais cujos fatos geradores não se sabe exatamente a natureza jurídica, motivo pelo qual o processo deve ser baixado em diligência à autoridade de origem, para que sejam esclarecidas as dúvidas em tela, conforme explicado abaixo. Além disso, a Recorrente trouxe em Recurso Voluntário documentos com o objetivo de comprovar que quase toda a renda tributada pelo Auto de Infração foi repassada aos médicos cooperados, não havendo que se falar na cooperativa como sua beneficiária. Há que se verificar em diligência a possibilidade de efetiva vinculação entre os valores tributados e os valores que teriam sido repassados, dando oportunidade para que a Recorrente apresente mais documentos comprobatórios, se assim o quiser. Não se esqueça que as cooperativas são uma forma de associação extremamente benéfica para a economia, motivo pelo qual a Constituição Federal de 1988 prescreveu expressamente no art. 146, III, "c", que "cabe à lei complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas". Na verdade, não foi instituída uma lei complementar para tanto, sendo, a lei que regula as cooperativas, aquela de 1971, extremamente defasada em termos de política tributária. Como se não bastasse o imenso atraso do sistema tributário brasileiro como um todo, mesmo com os avanços ocorridos nele, a lei das cooperativas não acompanhou tais mudanças. Se, por exemplo, a cooperativa repassa os seus ingressos aos cooperados, a renda, em princípio, não é dela, mas daqueles. Da análise dos autos, há realmente uma indicação de que ao menos uma parte dos valores ingressados decorre de atos cooperativos que resultaram em prestação de serviços a terceiros pelos cooperados, de modo que seria inapropriado tributar os valores duas vezes: na cooperativa (pessoa jurídica) e nos cooperados (pessoas físicas). Apesar de ser uma péssima política tributária, é fato que os dividendos não são tributados no Brasil, pois isentos pelo art. 10 da Lei 9.249/1995. Acaso se tribute as cooperativas e os cooperados, que obviamente terão os valores recebidos por eles considerados renda pela Receita Federal, tornarseá desinteressante a forma de associação por cooperativas, pois será o único caso no Brasil em que pessoas físicas se associam e são tributadas juntamente com as pessoas jurídicas por elas formadas. É preciso, portanto, tomar um grande cuidado com a tributação das cooperativas, que ainda parecem ser muito mal compreendidas no Brasil, tendo a falta de uma atualização legal colaborado em muito para isso. Fl. 1761DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 22 11 Os abusos pelos contribuintes precisam ser combatidos, porém isso não significa interpretar a legislação sempre restritivamente, sempre buscando tributar mais a sociedade. A dureza deve recair sobre o sonegador, sobre aquele que abusa, que planeja sem propósito negocial, e não sobre todo aquele que suporta o sistema. Devese verificar, portanto, se é possível vincular os valores tidos por renda neste processo administrativo fiscal com os valores que a Recorrente diz terem sido pagos aos cooperados, mas sem comprovar o critério para pagamento que os vincularia às receitas recebidas por ela e a efetiva entrega dos valores. Pelos documentos juntados aos autos, inclusive os relatórios de auditoria interna anexados ao Recurso Voluntário, notase que a Recorrente investe bastante em aplicações financeiras, o que está representado no seu Balanço Patrimonial. Se ela realiza muitas aplicações financeiras, isso quer dizer que boa parte da receita recebida não é repassada aos cooperados, mas objeto de investimentos para o aumento dessa riqueza, algo que começa a fugir do escopo da cooperativa. Por outro lado, esses mesmos documentos demonstram que, em alguns casos, há retenção do imposto (IRRF) pela própria tomadora dos serviços, sendo ele compensado com o imposto retido (IRRF) quando do pagamento aos cooperados, procedimento que faz sentido para se evitar uma bitributação. Como se nota, no entendimento deste Relator, é importante segregar com clareza não somente os atos cooperativos dos não cooperativos, mas também checar quando as receitas foram efetivamente distribuídas aos cooperados com pagamento do respectivo IRRF. Conclusões Pelo exposto, voto no sentido de baixar o processo em diligência para que: a) A Recorrente seja intimada a apresentar os contratos e as notas fiscais ainda não juntadas nos autos deste processo administrativo fiscal ou outros documentos que ajudem a comprovar que os valores em discussão têm natureza de pagamentos por atos cooperativos. b) A Recorrente seja intimada a apresentar documentos que comprovem a vinculação entre os valores discutidos nesse processo administrativo e aqueles efetivamente pagos aos cooperados nos anos calendários de 2009 e 2010. c) A Recorrente seja intimada a apresentar os comprovantes de pagamento do IRRF relativos às entregas de valores aos cooperados. Fl. 1762DF CARF MF Processo nº 15504.732104/201314 Resolução nº 1401001.412 S1C4T1 Fl. 23 12 d) Após encerrado o prazo para apresentação de documentos, a Autoridade de Origem informe quais notas fiscais estão acobertadas por quais contratos e quais não estão suportadas por nenhum deles. e) Após encerrado o prazo para apresentação de documentos, a Autoridade de Origem informe se é possível vincular os valores discutidos nesse processo administrativo com os pagamentos realizados aos cooperados e se houve o devido recolhimento do IRRF em relação a cada um desses pagamentos. f) Informe a Autoridade Origem se tem mais alguma consideração relevante a fazer relativa ao julgamento deste processo administrativo fiscal. g) A Recorrente seja intimada acerca do relatório final da diligência, para, caso queira, se manifestar. Documento assinado digitalmente. Marcos de Aguiar VillasBôas Fl. 1763DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16682.721256/2013-95
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 11 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Thu Nov 24 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2008, 2009, 2010, 2011
Ementa:
DECADÊNCIA DO DIREITO DO FISCO. OPERAÇÕES COM ÁGIO. TERMO INICIAL. AMORTIZAÇÃO
A decadência do direito do fisco rever/constituir o crédito tributário. relaciona-se com a ocorrência do fato jurídico tributário. A contagem deste prazo decadencial somente tem início quanto o valor do ágio passa a compor (negativamente) a base de cálculo do IRPJ e CSLL, o que se dá com a sua amortização.
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. SIMULAÇÃO. INCONSISTÊNCIA. OPERAÇÃO COM ÁGIO
Ainda que o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada, a evidência de incompatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio, com efetivo acréscimo de valor, representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura legitima uma reinterpretação dos fatos e a glosa dos valores amortizados.
MULTA QUALIFICADA. REINTERPRETAÇÃO DOS FATOS. SIMULAÇÃO SEM FRAUDE
A reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, o constitui como simulado, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de simulação com fraude e simulação sem fraude. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa.
ADOÇÃO DE REGIME DE CAIXA. ART. 409 DO RIR/99.
A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte.
Numero da decisão: 1401-001.697
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, AFASTAR a decadência e, no mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso voluntário, nos seguintes termos: I) Por unanimidade de votos, DAR provimento para cancelar a multa de ofício de 150% (cento e cinqüenta por cento), reduzindo-a para 75% (setenta e cinco por cento); II) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação à glosa do aproveitamento do ágio. Vencida a Conselheiro Lívia De Carli Germano. Os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Antonio Bezerra Neto votaram pelas conclusões, em relação apenas às considerações em tese feitas pela Relatora em relação ao "ágio interno" e "propósito negocial" e o Conselheiro Marcos de Aguiar Villas Boas votou pelas conclusões em função apenas das considerações em tese relativas ao propósito negocial; e III) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação às exclusões feitas em 2008 e 2009. (segunda infração) Vencida a Conselheira Lívia De Carli Germano. A Conselheira Lívia De Carli Germano apresentou Declaração de Voto.
ANTONIO BEZERRA NETO - Presidente.
AURORA TOMAZINI DE CARVALHO - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (Presidente), Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Ricardo Marozzi Gregorio, Luiz Rodrigo De Oliveira Barbosa, Marcos De Aguiar Villas Boas, Aurora Tomazini De Carvalho
Nome do relator: AURORA TOMAZINI DE CARVALHO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2008, 2009, 2010, 2011 Ementa: DECADÊNCIA DO DIREITO DO FISCO. OPERAÇÕES COM ÁGIO. TERMO INICIAL. AMORTIZAÇÃO A decadência do direito do fisco rever/constituir o crédito tributário. relaciona-se com a ocorrência do fato jurídico tributário. A contagem deste prazo decadencial somente tem início quanto o valor do ágio passa a compor (negativamente) a base de cálculo do IRPJ e CSLL, o que se dá com a sua amortização. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. SIMULAÇÃO. INCONSISTÊNCIA. OPERAÇÃO COM ÁGIO Ainda que o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada, a evidência de incompatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio, com efetivo acréscimo de valor, representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura legitima uma reinterpretação dos fatos e a glosa dos valores amortizados. MULTA QUALIFICADA. REINTERPRETAÇÃO DOS FATOS. SIMULAÇÃO SEM FRAUDE A reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, o constitui como simulado, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de simulação com fraude e simulação sem fraude. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa. ADOÇÃO DE REGIME DE CAIXA. ART. 409 DO RIR/99. A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte.
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OPERAÇÕES COM ÁGIO. TERMO INICIAL. AMORTIZAÇÃO A decadência do direito do fisco rever/constituir o crédito tributário. relacionase com a ocorrência do fato jurídico tributário. A contagem deste prazo decadencial somente tem início quanto o valor do ágio passa a compor (negativamente) a base de cálculo do IRPJ e CSLL, o que se dá com a sua amortização. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO. SIMULAÇÃO. INCONSISTÊNCIA. OPERAÇÃO COM ÁGIO Ainda que o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada, a evidência de incompatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio, com efetivo acréscimo de valor, representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura legitima uma reinterpretação dos fatos e a glosa dos valores amortizados. MULTA QUALIFICADA. REINTERPRETAÇÃO DOS FATOS. SIMULAÇÃO SEM FRAUDE A reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, o constitui como “simulado”, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de “simulação com fraude” e “simulação sem fraude”. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa. ADOÇÃO DE REGIME DE CAIXA. ART. 409 DO RIR/99. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 68 2. 72 12 56 /2 01 3- 95 Fl. 1437DF CARF MF 2 A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, AFASTAR a decadência e, no mérito, DAR provimento PARCIAL ao recurso voluntário, nos seguintes termos: I) Por unanimidade de votos, DAR provimento para cancelar a multa de ofício de 150% (cento e cinqüenta por cento), reduzindoa para 75% (setenta e cinco por cento); II) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação à glosa do aproveitamento do ágio. Vencida a Conselheiro Lívia De Carli Germano. Os Conselheiros Guilherme Adolfo dos Santos Mendes, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa e Antonio Bezerra Neto votaram pelas conclusões, em relação apenas às considerações em tese feitas pela Relatora em relação ao "ágio interno" e "propósito negocial" e o Conselheiro Marcos de Aguiar Villas Boas votou pelas conclusões em função apenas das considerações em tese relativas ao propósito negocial; e III) Por maioria de votos, NEGAR provimento em relação às exclusões feitas em 2008 e 2009. (segunda infração) Vencida a Conselheira Lívia De Carli Germano. A Conselheira Lívia De Carli Germano apresentou Declaração de Voto. ANTONIO BEZERRA NETO Presidente. AURORA TOMAZINI DE CARVALHO Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Antonio Bezerra Neto (Presidente), Livia De Carli Germano, Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Ricardo Marozzi Gregorio, Luiz Rodrigo De Oliveira Barbosa, Marcos De Aguiar Villas Boas, Aurora Tomazini De Carvalho Relatório O presente processo administrativo teve origem na lavratura de 2 (dois) Autos de Infração (fls. 805/836) em face da Recorrente Halliburton Serviços Ltda. para exigir valores a título de Imposto sobre a Renda Pessoa Jurídica – IRPJ e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL relativos aos anoscalendário de 2008, 2009, 2010 e 2011. As infrações imputadas ao contribuinte foram as seguintes: Infração 1: redução indevida do lucro real e da base de cálculo da CSLL decorrente da amortização de ágio interno constituído com ausência de propósito negocial e sem a ocorrência do efetivo pagamento; e Fl. 1438DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 11 3 Infração 2: exclusões indevidas na apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL sob o título “outras exclusões” por falta de apresentação de documentação comprobatória que respaldasse a justificativa declarada. No Termo de Verificação Fiscal (fls. 722/804), a Fiscalização descreve, de forma pormenorizada, as infrações imputadas ao Contribuinte. Tais razões podem ser assim sintetizadas: Infração 1: a) Foram apurados os seguintes valores como amortização de ágio nas aquisições de investimentos avaliados pelo Patrimônio Líquido nos períodos abrangidos pela fiscalização: b) O ágio amortizado decorreu da realização das seguintes operações societárias: i) Em 20.06.2003, a BITC HOLDINGS, sócia da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA., utilizou a participação que detinha nesta sociedade para integralizar o capital da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. Com isso, a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. e a BAROID INTERNACIONAL TRADINGS LLC passam a ser as sócias da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA.; ii) Em 20.06.2003, foi feito aumento do capital social da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., sendo emitidas novas quotas. O aumento de capital em questão foi subscrito pela sócia BITC HOLDINGS LLC, detentora da maioria das quotas. Uma única quota passou a ser detida pela outra sócia, BAROID INTERNATIONAL TRADING LLC. Ainda no mesmo ato, a BITC HOLDINGS LCC integralizou a totalidade de suas quotas mediante a conferência das quotas que detinha nas empresas HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA. e HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada). Nesta operação, foi constituído o ágio sobre investimentos intragrupo na sociedade HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., no montante de R$ 220.545.670,93; iii) Ainda em 20.06.2003, a BITC HOLDINGS transferiu as quotas restantes que detinha do capital da HALLIBURTON SERVIÇOS Fl. 1439DF CARF MF 4 LTDA. (Autuada) para a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. Como consequência, esta última empresa passou a deter 100% das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada); iv) Em 26.06.2003, foi emitido o protocolo de justificação dos motivos de incorporação, em que se informou o acervo líquido das incorporadas HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA. e HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., ambas incorporadas pela HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada), a fim de deduzir as despesas de amortização do ágio. A totalidade das quotas representativas do capital da empresa incorporadora (Autuada) passaram a ser da BITC HOLDINGS LLC e as quotas representativas do capital social das sociedades incorporadas foram extintas em razão da incorporação; v) Em 30.06.2003, finalmente, foi aprovado o protocolo de motivos de incorporação por meio da 64ª Alteração do Contrato Social da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada), que teve seu capital social aumentado em R$ 75.307.008,00. Como sócios quotistas, com as referidas participações, figuram: BITC HOLDINGS – 81.699.167 quotas; BAROIT INT. TRADING – 97 quotas; c) Todas as operações ocorreram intragrupo; d) A HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. era sociedade não operacional, não tendo auferido receita no ano anterior ao das operações. Tampouco figurou com holding. Foi utilizada, portanto, como “empresa veículo”; e) Todas as operações que geraram o ágio a ser amortizado foram realizadas em um único dia: 20.06.2003; f) a geração do ágio não envolveu desembolso ou obrigação correspondente, tendo correspondido a meros lançamentos contábeis; g) O patrimônio líquido da sociedade veículo (HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA.) variou de R$ 224.799,71 (31.12.2002) para R$ 124.761.198,43 (30.06.2003), unicamente por força das operações acima descritas, sem que fosse realizado qualquer pagamento ou desembolso; h) Foram utilizados critérios artificiais, estranhos à contabilidade, para reconhecimento e registro do ágio gerado internamente, o que torna inadmissíveis sua dedução do lucro real e da base de cálculo da CSLL; i) A despesa de amortização do ágio interno não se enquadra na definição de receita necessária; j) A incorporação reversa realizada é nula, por decorrer de simulação. l) Não há propósito negocial a motivar as operações realizadas. Fl. 1440DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 12 5 m) Sobre as diferenças apuradas em razão da amortização indevida do ágio foi aplicada multa de 150%, tendo em vista que os fatos se enquadram nas hipóteses dos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Infração 2: a) Não foram comprovados os requisitos legais necessários à aplicação da regra prescrita pelos artigos 407 a 409 do RIR/99. b) Tendo em vista a aplicação indevida da regra de tributação em regime de caixa, foi considerado postergado o IRPJ e a CSLL sobre o lucro líquido referente aos montantes de R$ 553.711,54 e R$ 4.573.377,41, excluídos nos anoscalendário de 2008 e 2009. Regularmente intimado, o contribuinte apresentou impugnação (fls. 873/919), na qual alegou o seguinte: • Decadência com relação a glosa do ágio, tendo em vista que seu registro contábil se deu em 2003. • Estão presentes todos os elementos necessários ao registro e à dedutibilidade da amortização do ágio: a) aquisição de investimento com ágio; b) fundamentação do ágio em expectativa de rentabilidade futura, conforme demonstrações contábeis; c) realização de operação de incorporação de controladora por controlada nos termos da legislação; • As operações societárias descritas no TVF foram realizadas com o objetivo de: a) separar os setores de energia e de engenharia do Grupo; e b) suprimir unidades e empresas cuja produção não justificasse o respectivo custo de manutenção; • A dedução da amortização do ágio é direito garantido pelo artigo 7º da Lei nº 9.532/97; • Havia propósito negocial nas operações realizadas, inseridas no contexto de reorganização mundial do Grupo; • Não houve uso de “empresaveículo”, uma vez que a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. não foi criada apenas para operação, sendo empresa que existe há mais de 55 anos, sendo a primeira subsidiária do Grupo HALLIBURTON no Brasil; Fl. 1441DF CARF MF 6 • Houve efetivo desembolso econômico: a BITC pagou a quantia de R$ 269.999.025,70 pela aquisição dos investimentos na HALLIBURTON SERVIÇOS e na HALLIBURTON CIMENTAÇÃO. O pagamento em questão foi realizado nos Estados Unidos, país de domicílio das sociedades envolvidas na transação; • Não houve, por isso, reavaliação espontânea do investimento, como forma de gerar ágio; • O ágio foi baseado em valor real de mercado e em laudo extenso e fundamentado, equivalendo, portanto, ao ágio gerado em operações entre empresas independentes; • O sobrepreço que deu origem ao ágio teve sua formação nos EUA. Seu impacto sobre as operações das sociedades brasileiras se deu no momento em que o capital da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO foi integralizado com as quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Autuada); • O ágio interno, até 31.12.2013, era legítimo no Brasil, não existindo, até essa data, qualquer tipo de restrição legal a seu registro e dedutibilidade; • Não houve simulação ou qualquer outra hipótese de ato ilícito, não cabendo, por isso, a aplicação da multa de 150%; • A tributação das parcelas contabilizadas como “outras exclusões” é ilegal, tendo em vista tratarse de montantes já regularmente oferecidos à tributação; • As receitas somente foram excluídas da apuração do lucro real no ano calendário de 2009 em razão de o seu efetivo pagamento somente ter sido realizado pela Petrobrás em janeiro de 2010, momento em que foram imediatamente oferecidas à tributação. Em 14/05/2015, a 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Salvador/BA decidiu julgar improcedente a impugnação (fls. 1265/1332), mantendo as autuações em sua integralidade. Regularmente intimada do acórdão por meio do qual foi julgada sua impugnação, a empresa autuada apresentou Recurso Voluntário (fls. 1342/1393), no qual, em síntese, repete as alegações de mérito suscitadas na impugnação. É o relatório Voto Conselheira AURORA TOMAZINI DE CARVALHO A Recorrente foi intimada do acórdão da impugnação em 20/05/2015, conforme Termo de Abertura de Documento de fl. 1339. O prazo para interposição do recurso Fl. 1442DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 13 7 teve, portanto, início no dia 21/05/2015. Tendo em vista que o Recurso Voluntário foi recebido na unidade da Receita Federal em 19/06/2015, não há dúvida quanto à sua tempestividade. Verificase, ainda, que o recurso atende aos demais requisitos de admissibilidade, pelo que deve ser conhecido e apreciado. Examinado a peça recursal, verificase que quatro são as grandes questões controversas: (i) Decadência do direito de o Fisco constituir créditos tributários relativos à amortização de ágio registrado em 2003; (ii) Legalidade das operações que geraram o ágio, bem como de seu registro e dedução da respectiva amortização; (iii) ilegitimidade da multa de ofício de 150%; e (iv) ilegalidade da tributação dos montantes contabilizados como “outras exclusões”. Cada uma delas será examinada separadamente. 1. Prejudicial de mérito: decadência No que diz respeito à decadência, não há o que alterar na decisão da DRJ. Isso porque, como bem consignado naquele acórdão, o início do prazo decadencial para a constituição de créditos tributários decorrentes da ilegitimidade da dedução de despesas com amortização de ágio se dá com a efetiva dedução destas despesas, no momento da apuração das bases tributáveis pelo IRPJ e pela CSLL. Por “ágio” entendese a diferença positiva apurada entre o valor pago na aquisição de um investimento e aquele referente ao patrimônio adquirido. Nos casos de absorção patrimonial, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, quando essa diferença de valores se dá em função dos motivos que a lei explicitamente acolhe (dentre eles a expectativa de rentabilidade futura), permitese sua dedutibilidade na apuração da base de cálculo do IRPJ e CSLL nos exercícios posteriores à absorção, respeitada a proporção em que tal investimento tenha sido realizado. Assim, com relação ao ágio (possível de se deduzindo da base de cálculo do IRPJ) é importante separar dois momentos: i) o registro; e ii) a amortização. Com o registro se dá a sua constituição, ele passa a existir como valor escritural/fiscal positivo da empresa. Com a amortização este valor é descontado na apuração da base de cálculo do IRPJ e CSLL, nos termos e condições impostas pela legislação. No momento do registro, ainda não estamos no âmbito da apuração do tributo. Não há que se falar em incidência tributária porque este valor não faz parte da base tributária do IRPJ e CSLL. A decadência, como já tive oportunidade de esclarecer, “é uma norma que se enquadra como “primária sancionatória” encontrandose em relação de coordenação com as normas que prescrevem a competência do fisco para lançar (primárias dispositivas). Elas prescrevem a não competência do fisco para constituir o crédito tributário em razão do não Fl. 1443DF CARF MF 8 exercício deste direito durante certo decurso de tempo. É da conjunção das normas que atribuem competência (primarias dispositivas) com as de decadência que delimitamos a competência do fisco para lançar. Os prazos decadenciais presentes na legislação, enquanto intervalo de tempo, reportamse ao período em que o fisco tem o direito subjetivo de lançar. O dies ad quem destes prazos marca o instante eleito pelo direito tributário para a perda deste direito, isto é, o ponto na linha cronológica do tempo a partir do qual o titular do direito de lançar deixa de ter este direito”(Decadência e Prescrição em Direito Tributário, 2a. Ed. MP editora, 2010, p. 4546). Prescreve a legislação tributária que o fisco terá competência para, em 5 anos contados do fato gerador da obrigação tributária, rever a constituição do crédito feita pelo particular, nos chamados casos de lançamento por homologação (art. 150 § 4o do CTN), desde que não verificada ocorrência de dolo, fraude ou simulação ou 5 anos contados do 1o. dia do exercício seguinte aquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, quando não houver o que homologar (art. 173, I do CTN). Os prazos se referem ao lapso temporal em que o fisco têm o direito de lançar. O que significa dizer que, findo os 5 anos, operase a perda deste direito com a incidência da norma de decadência. Pressuposto lógico para o lançamento é a ocorrência do evento tributário (fato gerador da obrigação tributária), isto porque, o ato de lançamento é responsável pela incidência/aplicação da norma tributária e esta só pode incidir no caso concreto em razão da verificação de ocorrência do fato descrito na sua hipótese. A primeira etapa, o registro do ágio não tem qualquer relação na configuração do fato jurídico tributário do IRPJ e da CSLL, pois este pode ser registrado como valor contábil e não ser amortizado. Com a amortização o valor passa a integrar a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, ou seja, compõem o fato jurídico tributário de tais tributos. A norma de decadência extingue a competência do fisco para efetuar o lançamento tributário. Não há sentido em se sustentar que o início do prazo decadencial para o fisco constituir o crédito tributário (mediante o lançamento) se dá com o registro contábil do ágio, pois este acontecimento, sem a amortização, não faz do ágio parte integrante do fato jurídico tributário. E sem a existência do evento tributário, não há pressuposto para o lançamento. Nestes termos, cabe assim ressaltar, neste ponto, que o simples registro do ágio na contabilidade – como feito pela Recorrente no ano de 2003 – não implica a ocorrência do fato jurídico tributário, na medida em que sequer compôs a base de cálculo do IRPJ e da CSLL naquele exercício. Sustenta a Recorrente que o direito ao aproveitamento fiscal do ágio é adquirido no momento em que se verifica o cumprimento das condições previstas na lei (incorporação). Há de se diferenciar, no entanto, que uma coisa é o direito (do contribuinte) à amortização do ágio, outra coisa o direito (do fisco) de rever/constituir o crédito tributário. A decadência em questão, operase sobre o direito do fisco de rever/constituir o crédito tributário. Há uma confusão de conceitos neste sentido por parte da Recorrente nas alegações de seu recurso voluntário. O prazo decadencial, a que se refere o CTN é do direito do fisco efetuar o lançamento tributário, relacionase com a ocorrência do fato jurídico tributário. O valor do ágio só integra o fato jurídico tributário quando amortizado. Para fins de prazo decadencial do direito do fisco constituir o crédito tributário, o que importa é quando esse valor passa a compor a base de cálculo do IRPJ e CSLL, ou seja, quando passa a ser um valor relevante segundo a delimitação da hipótese da regramatriz de incidência destes tributos. Fl. 1444DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 14 9 Para acabar com a confusão basta observar a estrutura da norma de decadência do direito do fisco lançar. Ela tem como objeto o direito do fisco constituir o crédito tributário, não o direito do particular de amortizar o ágio. Mesmo considerando que o valor do ágio é um crédito fiscal (conforme sustenta a recorrente, ao defender a tese da decadência), as normas de decadência do direito do fisco lançar, previstas no CTN, não atingem este crédito, elas atingem o crédito tributário. O valor do ágio é um componente da base de cálculo tributária. Só passa a ser relevante para a norma de decadência do direito do fisco lançar quando integra a base decálculo tributária, ou seja, quando tem impacto sobre o crédito tributário. O que só acontece com a sua amortização. O entendimento aqui exposto já foi acolhido por este Conselho em casos análogos ao presente, como destacado na seguinte ementa: PRELIMINAR. DECADÊNCIA. FORMAÇÃO DE ÁGIO EM PERÍODOS ANTERIORES AO DA OCORRÊNCIA DO FATO GERADOR. INOCORRÊNCIA. Somente pode se falar em contagem do prazo decadencial após a data de ocorrência dos fatos geradores, não importando a data contabilização de fatos passados que possam ter repercussão futura. O art. 113, § 1º, do CTN aduz que “A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador” e o papel de Fisco de efetuar o lançamento, nos termos do art. 142 do Estatuto Processual, nada mais é do que o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente. Não é papel do Fisco auditar as demonstrações contábeis dos contribuintes a fim de averiguar sua correição à luz dos princípios e normas que norteiam as ciências contábeis. A preocupação do Fisco deve ser sempre o reflexo tributário de determinados fatos, os quais, em inúmeras ocasiões, advém dos registros contábeis. [...] O prazo decadencial somente tem início após a ocorrência do fato gerador (art. 150, § 4º, do CTN), ou após o primeiro dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido efetuado nas hipóteses do art. 173, I, do CTN. (Acórdão nº 1402001.460. 4ª Câmara, 2ª Turma Ordinária, julgado em 08.10.2013) Assim, não há que se falar, como pretende a Recorrente, em decadência do direito de rever/constituir o crédito tributário pelo fisco em razão de o ágio ter sido gerado e registrado em 2003. Afinal, as deduções das respectivas despesas de amortização somente ocorreram no período compreendido entre os anos de 2008 e 2011. Neste sentido, o marco inicial do prazo de decadência (conforme artigo 150, §4º, do CTN) se deu em 31 de dezembro de cada um desses anos – data de ocorrência do fato jurídico tributário, previsto na hipótese da regramatriz de incidência do IRPJ e da CSLL. Por esta razão, nego provimento ao Recurso Voluntário neste ponto. 2. Dedução indevida de despesa de amortização de ágio A discussão, neste ponto, gira em torno da possibilidade, ou não, de se deduzir despesas de amortização de “ágio interno” pela Recorrente, no caso concreto. A este respeito, importa destacar, de início, que não houve questionamento ou impugnação, pelas Fl. 1445DF CARF MF 10 Autoridades Fiscais, a respeito do valor do ágio registrado, tampouco do laudo que o fundamenta economicamente. Além disso, não há divergência entre acerca dos fatos ocorridos, tampouco a respeito da legislação que, do ponto de vista tributário, rege a matéria. A controvérsia está restrita, portanto, à análise do preenchimento, ou não, dos requisitos legais para aproveitamento das despesas com a amortização do ágio apurado em razão das operações societárias realizadas pela Recorrente em 2003. Sua apreciação passa, necessariamente, portanto, pela análise e compreensão dos requisitos legais para apropriação do ágio pelas empresas em geral e pela verificação dos fatos que ensejaram a apuração do ágio no caso concreto. A compreensão desses dois principais eixos analíticos permitirá, no fim, a conclusão pela legitimidade ou ilegitimidade das deduções realizadas pela Recorrente nos exercícios de 2008 a 2011. É, então, o que passo a fazer nos próximos itens. 2.1. O ágio na legislação fiscal Editada no contexto das grandes privatizações no Brasil,a Lei nº 9.532/97 criou benefício fiscal permitindo a amortização do ágio,apurado na aquisição de sociedades, da base de cálculo tributária.O benefício foi introduzido em nosso ordenamento a fim de tornar atrativo o processo das privatizações, incentivando reorganizações societárias, visando a estimular o aumento do preço pago por empresas estatais postas à venda. O benefício em questão consistia em permitir que os valores pagos por ações de uma pessoa jurídica, que fossem superiores a seu patrimônio líquido (sobrepreço) tendo em vista uma expectativa de rentabilidade futura do investimento, poderiam ser amortizados à razão de 1/60 por mês, desde que houvesse incorporação, fusão ou cisão da empresa adquirida. Consolidouse, a partir daí, a figura do ágio como importante elemento do planejamento fiscal das sociedades empresárias do país. Como já definido no item acima, por “ágio” entendese a diferença positiva apurada entre o valor pago na aquisição de investimento e o correspondente ao patrimônio adquirido. Quando essa diferença positiva se dá em razão dos motivos que a lei estabelece, ela pode ser deduzida na apuração do lucro real (base de cálculo do IRPJ e da CSLL), nos exercícios posteriores a aquisição e nos termos da legislação aplicável, gerando, assim, efeitos tributários. Para entender a sistemática do ágio é necessário separarmos dois momentos: i) a possibilidade de seu registro e mensuração, que se relaciona com a sua existência (para fins fiscais), ou seja, com seus requisitos constitutivos; e ii) a possibilidade de sua amortização, que se relaciona com sua dedução da base de cálculo tributária. Delimitados juridicamente pela incidência de normas diferentes. Os artigos 7º e 8º da Lei n° 9.532/97–incorporados no Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99), em seu artigo 386 –tratam do direito à amortização do ágio. Enquanto que o art. 20 do Decretolei no 1.598/1977, do direito a sua constituição, que se implementa com o registro. O artigo art. 20 do referido Decreto sofreu significativas alterações pela Lei no 12.973/14, mas que não têm aplicabilidade no presente caso concreto, por isso, passamos a analisar os termos da legislação vigente à época dos fatos relevantes para este processo. Fl. 1446DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 15 11 Na sua vigência antiga, o artigo 20 do Decretolei no 1.598/1977 determinava que a pessoa jurídica, na aquisição de participação societária em sociedade controlada ou coligada, que avaliasse o investimento pelo Método de Equivalência Patrimonial, deveria desdobrar o custo de aquisição do investimento em (i) valor do patrimônio líquido na época da aquisição e (ii) ágio ou deságio na aquisição. Neste sentido, dispunha o mencionado dispositivo legal: Art. 20 O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. Tal dispositivo determinava, ainda, em seu § 2o, a necessidade de fundamentação do ágio ou do deságio apurado, indicando um dos seguintes fundamentos econômicos: (i) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; (ii)valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; ou (iii) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. Neste contexto legislativo, assim, vigia a seguinte norma jurídica, com relação ao registro e mensuração do ágio: H – “se for (i) a aquisição de participação societária em coligada ou controlada e (ii) a obrigatoriedade da sociedade avaliar o investimento efetuado pelo valor de patrimônio líquido”; deve ser C – “a obrigação do adquirente desdobrar o custo de aquisição do investimento em (a) valor do patrimônio líquido e (b) ágio ou deságio na aquisição do investimento, devendo indicar, quanto ao ágio ou deságio o seu fundamento dentre os seguintes: (i) valor de mercado dos bens da sociedade investida; (ii) valor de rentabilidade futura da investida ou, ainda, (iii) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas”.(Roberta Bordini Prado in Amortização do ágio e imposto sobre a renda: incorporação, fusão e cisão – Dissertação de Mestrado PUCSP 2012) Com o cumprimento desta norma o ágio é registrado e passa a existir enquanto um valor relevante para fins tributários. Cabe ressaltar ainda aqui que a legislação fala em “aquisição” mas não estabelece qualquer restrição ao negócio jurídico da aquisição (estando incluídos, portanto, a compra e venda, a permuta, a incorporação de ações ou qualquer outro negócio jurídico que importe a aquisição), bem como não exige qualquer forma de contraprestação pelo adquirente. Com relação à amortização do ágio, os enunciados normativos que estabelecem sua possibilidade, para fins de apuração do lucro real, encontramse nos artigos 7o. e 8o. da Lei no 9.532/1997, dispondo que: no caso da sociedade investidora absorver patrimônio de sociedade investida (e viceversa), que tenha sido adquirida com ágio ou deságio, em virtude de incorporação, fusão ou cisão,pode deduzir o valor do ágio na apuração do lucro real. Fl. 1447DF CARF MF 12 Esse diploma normativo, em sua redação original, previa que a dedução seria efetuada nos 10 anoscalendários subsequentes à sucessão societária, fracionado em parcelas não superiores a 1/60 do ágio por mês. Após a edição da Lei n° 9.718/98, o prazo foi alterado para 5 anoscalendários e o teto de 1/60 tornouse piso – valor mínimo – para a dedução. Neste sentido dispõe o mencionado dispositivo: Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de dezembro de 1977. I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "a" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "c" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados durante os cinco anoscalendários subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de 1/60 (um sessenta avos), no mínimo, para cada mês do período de apuração. No que concerne a possibilidade de amortização do ágio, com base nos enunciados acima, temos a seguinte norma jurídica: H – “Se uma pessoa jurídica absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio fundamentado no valor de rentabilidade da sociedade investida, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros da sociedade investida”; deve ser C – “a amortização do valor do ágio nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração”. (Roberta Bordini Prado in Amortização do ágio e imposto sobre a renda: incorporação, fusão e cisão – Dissertação de Mestrado PUCSP 2012) Com o cumprimento desta norma o ágio é descontado na apuração do lucro real, gerando uma redução na base tributária. Concluindo, a legislação aqui analisada permite, então, num primeiro momento o reconhecimento do ágio gerado na aquisição de participações societárias por valor superior a seu custo de aquisição contabilizado, desde que o fundamento econômico desse ágio seja devidamente identificado e demonstrado, por documento hábil, no momento da aquisição. Fl. 1448DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 16 13 Já em segundo momento, após a contabilização do ágio, caso se trate de ágio decorrente de expectativa de rentabilidade futura, poderá a pessoa jurídica se beneficiar da dedução das despesas de sua amortização, no caso de absorção patrimonial por incorporação, fusão ou cisão da investida. Os requisitos, assim, para aplicação das duas normas são: i) a aquisição de participação societária em coligada ou controlada; ii) ágio avaliado pelo valor de patrimônio líquido fundamentado em rentabilidade futura da sociedade investida; iii) absorção patrimonial da investida em virtude de incorporação, fusão ou cisão. Os requisitos em questão, muito embora de configuração aparentemente simples, se desdobram em diferentes aspectos, aumentando a complexidade acerca da análise sobre a legitimidade, ou não, do aproveitamento do ágio como despesa dedutível. 2.2. Planejamentos tributários, art. 116 do CTN e ágio interno Enquanto benefício fiscal, aferível em razão de aquisição de participação societárias, as operações com o ágio são comumente verificas em estruturações negociais decorrentes de planejamento tributário. Planejamento tributário é o nome que se dá ao conjunto de técnicas e organização estrutural de negócios jurídicos, realizados licitamente, no intuito de reduzir a carga tributária de pessoas físicas ou jurídicas. Notase que estamos no âmbito da licitude quando falamos em planejamento tributário. Quando estas técnicas e organização estrutural de negócios jurídicos são realizadas de modo ilícito não estamos mais no âmbito do planejamento tributário, mas da evasão fiscal, atrelada à ideia de fraude, sonegação e/ou conluio. No direito brasileiro vigente impera os princípios da legalidade, da livre iniciativa privada e da tipicidade das condutas ilícitas. Isto significa que: “ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei”, o que importa dizer: “tudo que não está proibido está permitido”. Destes princípios decorre a prescrição de que a delimitação e a demarcação do âmbito da ilicitude devem estar precisamente enunciada em hipóteses de normas jurídicas sancionadoras para serem considerados como tal. Planejar a realização ou estruturação de negócios jurídicos visando reduzir carga tributária que os encobre é um direito de qualquer contribuinte, desde que não ingresse no campo da ilicitude normativamente demarcada. Por sua vez, também é um direito do fisco questionar as operações realizadas pelo contribuinte. Para que gere seus regulares efeitos fiscais. Uma operação societária precisa ser consistente, combinando a licitude da forma com a finalidade jurídica que o sistema do direito lhe atribui. Não estamos aqui a falar da teoria do conteúdo sobre a forma, como bem explica Paulo de Barros Carvalho: A prevalência do conteúdo sobre a forma é mais um dentre muitos falsos problemas de que perturbam a compreensão do direito positivo. Isso porque forma e conteúdo não são aspectos separáveis a ponto de tornarse possível preterir um em favor do outro, são dimensões de um objeto incindível. Com propriedade, o escritor e Fl. 1449DF CARF MF 14 crítico literário José Veríssimo: “a forma é o fundo aparecendo”. E não há outro jeito de se conhecer, descer às entranhas do significado atribuindolhe significação, senão pela contato com a forma com que se apresente o signo. (Paulo de Barros Carvalho, Derivação e Positivação no Direito Tributário I – Entre a forma e o conteúdo na desconstituição dos negócios jurídicos simulados. Editora Noeses, p. 12) Existe a forma da operação apresentada pelo contribuinte, que revela um conteúdo (existente e lícito) e a forma da operação interpretada pelo fisco, que revela outro conteúdo também existente e lícito. O direito tributário atribui a possibilidade da fiscalização rever operações realizadas pelo contribuinte e dálas nova roupagem, reinterpretandoas de forma diferente com relação aos fatos que as constituem e as normas que as regulamenta. Assim, prescreve o parágrafo único do art. 116 do CTN: Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. No cenário brasileiro de hoje não há certezas nos planejamentos tributários, mesmo considerando que, ao falar de planejamento, estamos no âmbito da licitude das operações e das condutas praticas pelos nelas envolvidos. Isto porque o sistema prevê a possibilidade das formas dadas às operações, assim como da lei que as regulamentam, serem reinterpretadas e constituídas sobre forma diferente da feita pelo sujeito passivo tributário, quando não consistentes ou não se subsumirem as hipóteses normativas que as regulamentam. Em última instância, quando há divergência quanto à roupagem das operações, alguém no direito, será competente para dizer qual a é a roupagem que se enquadra na finalidade que lhe é proposta juridicamente, em razão de uma certa interpretação factual e normativa. O direito regula sua constituição, bem como a forma de produção de sua linguagem. A não compatibilidade dos fatos com as hipóteses eleitas pelo sistema na constituição da forma jurídica das operações ou estruturação negociais permitem sua desconsideração para fins tributários. Para entender melhor o dispositivo legal acima, que autoriza esta reinterpretação dos fatos e, por consequência, da forma das operações, pela fiscalização, é preciso esclarecer a ideia de dissimulação presente em seu enunciado. No âmbito do direito civil o conceito de dissimulação reportase a uma situação que oculta, ao conhecimento de outrem, uma outra existente, pretendendo incutir no espírito de alguém a inexistência da situação real por trás da aparente. O art. 167 do Código Civil, delimita os efeitos da dissimulação estabelecendo uma diferença entre seu conceito e o de simulação, ao prescrever: Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: Fl. 1450DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 17 15 I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pósdatados. Diante deste dispositivo, a doutrina civil diferencia os conceitos de simulação (absoluta)e dissimulação (simulação relativa). A simulação (absoluta) provoca uma falsa crença num estado não real. É um ato que oculta uma situação não existente. A dissimulação oculta, ao conhecimento de outrem, uma situação existente. É um ato que camufla outro por trás do que aparece. Na dissimulação há dois negócios existentes juridicamente. Os dois são válidos e constituídos de forma lícita. Na simulação o negócio jurídico existente forja algo que não existe. A divisão destes conceitos no âmbito do direito civil causa algumas divergências quanto a interpretação do conceito de dissimulação para fins de incidência do art. 116 do CTN. Analisando tais conceitos no uso corriqueiro da linguagem “dissimular” está ligado à ideia ocultar algo e“simular” ao de fingir algo, fazer parecer como real aquilo que não é. Assim, o termo “dissimular” do art. 116 do CTN deve ser interpretado no sentido de “ocultar”. A autoridade administrativa poderá desconsiderar, para atribuição de efeitos tributários, atos ou negócios jurídicos praticados com a finalidade de ocultar a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária. Ocultar o fato jurídico tributário ou a natureza dos elementos constitutivos do tributo pode se dar tanto por meio de uma situação que constitui juridicamente aquilo que não existe (simulação absoluta – nos termos da doutrina civil), quanto por meio de uma situação que camufla outra existente (simulação relativa – nos termos da doutrina civil). Em ambos os casos temos simulação (absoluta ou relativa), o que permite a reinterpretação e requalificação das operações para fins tributários, nos termos do artigo 116 do CTN. “Simular” nesta concepção mais abrangente, significa disfarçar uma realidade jurídica, encobrindo uma que é efetivamente praticada, ou que não existe. Parece um conceito simples, mas na prática é difícil de se identificar precisamente. Isto porque, para o direito, o que existe é aquilo que se constituí juridicamente, ou seja, formalmente, por meio da produção de uma linguagem jurídica. Para uma operação existir no mundo do direito ela tem que ser vertida numa linguagem própria do direito. E essa linguagem a constitui como tal. Assim, o que existe no mundo jurídico é a operação constituída pela linguagem que a formaliza. A simulação (relativa ou absoluta) passa a existir no mundo jurídico a partir do momento em que a autoridade administrativa não concorda com a roupagem jurídica dada pelo sujeito passivo na estruturação de seus negócios. Para isso, a fiscalização tem que identificar a forma que lhe parece mais condizente perante o sistema e demonstrar por meios comprobatórios, em razão de uma reinterpretação dos fatos e da legislação vigente, que a forma utilizada pelo sujeito passivo não tem consistência jurídica ou não condiz com as possibilidade juridicamente delimitadas no ordenamento jurídico vigente. Ao fazer isso ela atribui um sinal de “ilicitude” aos atos praticados pelo sujeito passivo e tem permissão, nos termos do art. 116 Fl. 1451DF CARF MF 16 do CTN para desconsiderar a “forma” mediante a qual tais operações se apresentam para efeitos tributários. Importante, no entanto, salientar que esta “ilicitude” é diferente daquela legalmente tipificada, delimitada por hipótese de incidência de norma sancionadora. Ela decorre de uma interpretação em relação a “roupagem jurídica” dada à operação. E, por isso, não gera efeitos sancionatórios ao sujeito passivo. Como já dito, em sede de planejamento tributário vige os princípios da livre iniciativa, da legalidade e da tipicidade. O sujeito passivo é livre para interpretar a legislação, as práticas que constituem seu negócio e atribuirlhes a roupagem jurídica que lhe parece mais adequada no contexto de sua interpretação, desde que não ingresse no âmbito da ilicitude. Isso causa certa insegurança quando lidamos com o tema do planejamento tributário. Há liberdade do contribuinte estruturar seus negócios desde que não incorra no âmbito da ilicitude, mas há autorização do sistema (arts. 116, 142 e 149 do CTN) para a autoridade administrativa rever e reinterpretar a forma dos negócios jurídicos constituídos pelo contribuinte, para fins tributários, quando não consistentes ou quando não se enquadram na finalidade que lhes é prescrita juridicamente, ou seja, quando na sua interpretação, encobre uma situação (lícita) e existente juridicamente, mas que não está revestida com a forma “própria” prescrita pelo direito. Com relação ao planejamento tributário e principalmente à dedutibilidade do ágio, a jurisprudência administrativa vem firmando posicionamento de que um dos critérios para a aplicação do art. 116 do CTN é a ausência de propósito negocial na operação, levando se em consideração o fim econômico dos negócios jurídicos praticados. Vale ressaltar que, em nossa concepção, a consistência dos negócios jurídicos que englobam um planejamento tributário não se confunde com a exigência do chamado "propósito negocial". Essa figura, por não ser contemplada em nosso ordenamento jurídico, não pode ser considerada requisito de qualquer operação societária que gere efeitos fiscais, como o aproveitamento do ágio. Mesmo porque a produção de tal prova não se constitui num critério objetivo. Como explica Maria Rita Ferragut: "Entendemos que o legislador também não contemplou o propósito negocial como elemento necessário à validade do negócio jurídico de consequências tributárias nem autorizou que, em sua ausência, a requalificação do fato, pela Administração ou pelo Judiciário seja possível. A ausência demanda, somente, uma fiscalização mais minuciosa no contribuinte." (Maria Rita Ferragut. As Provas e o Direito Tributário: teoria e prática como instrumentos para a construção da verdade jurídica. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 135) Desta forma, ao passo em que a consistência dos negócios jurídicos é circunstância essencial à apuração regular dos planejamentos tributário para fins fiscais, o chamado "propósito negocial" não o é, não havendo respaldo jurídico em nosso ordenamento para que seja utilizado como fundamento na desconstituição dos efeitos de negócios jurídicos lícitos. Especificamente com relação ao ágio, como fixado no item anterior, são incluídos como requisitos da sua dedutibilidade: i) a efetiva existência de investimento em Fl. 1452DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 18 17 sociedade empresária, mediante aquisição de participação societária; ii) prova da finalidade econômica das operações fundamentada no valor de rentabilidade da sociedade investida; iii) absorção patrimonial da investida em virtude de incorporação, fusão ou cisão. Relativamente ao segundo requisito, é indispensável a prova do fundamento econômico do valor de aquisição, cuja determinação é responsável pela criação do ágio. Daí a exigência reiteradamente feita por este Conselho e hoje positivada em lei de que seja produzido laudo idôneo para fundamentar o ágio (ou, em verdade, a expectativa de rentabilidade futura que o fundamenta e garante o direito ao aproveitamento do benefício fiscal acima mencionado). Aos requisitos acima analisados foram acrescidos outros, por meio da Lei nº 12.973/14, produto da conversão da MP 627. Além de inserir critérios de apuração que, na prática, levam à redução dos valores apurados a título de ágio (tendo em vista a exigência de reconhecimento a valor justo do patrimônio líquido antes de sua apuração), a nova legislação prescreveu proibição antes não existente no ordenamento jurídico: a de apuração e aproveitamento, para fins fiscais, do chamado "ágio interno". Importante ressaltar que antes da modificação legislativa não existia proibição no ordenamento jurídico da dedutibilidade do ágio gerado em operações entre partes relacionadas, desde que verificado a presença dos requisitos legais impostos de constituição e amortização do ágio e que os negócios constituídos juridicamente pelo sujeito passivo se encontrassem no âmbito da licitude e não caracterizassem atos evasivos. Feitas essas considerações cabe, agora, analisar se, no caso concreto, foram preenchidos os requisito necessários à dedução das despesas com amortização do ágio apurado nas operações societárias realizadas entre as empresas do Grupo da Recorrente. 2.3. O caso concreto Como explicado, as operações societárias que ensejaram a apuração do ágio podem ser sintetizadas da seguinte forma: • Estrutura societária do Grupo antes das operações As sociedades HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA LTDA., HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. e HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Recorrente) possuíam mesma composição societária, sendo suas quotas divididas entre a BAROID INTERNATIONAL e a BITC HOLDINGS: Baroid BITC Fl. 1453DF CARF MF 18 • 20.06.2003 É realizada operação de integralização de capital das quotas da BITC na HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., por meio das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA.: No mesmo ato, realizase aumento do capital social da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., com a emissão de novas quotas. Esse aumento foi subscrito pela sócia BITC HOLDINGS. Ainda no mesmo ato, a BITC HOLDINGS integralizou suas quotas mediante a conferência de quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA DO BRASIL LTDA. e da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Recorrente). Essa operação de aporte de participação societárias gerou ágio sobre investimento no montante de R$ 220.545.670,93 (duzentos e vinte milhões, quinhentos e quarenta e cinco mil, seicentos e setenta reais e noventa e três centavos), contabilizado na HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., em decorrência da diferença entre o custo de aquisição das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS e seu valor patrimonial (mais valia fundamentada em expectativa de rentabilidade futura): Ainda na mesma data, a BITC HOLDINGS transfere as quotas que ainda detinha do capital da HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. (Recorrente) para a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA., que passa a deter 100% de suas quotas • 30.06.2003 Após a emissão e aprovação do Protocolo de Justificação dos motivos de incorporação, por meio da 64ª alteração de seu contrato social, a HALLIBURTON SERVIÇOS LTDA. incorpora a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. e a HALLIBURTON SERVIÇOS DE ENERGIA LTDA. Cimentação Energia Serviços R$ 269.999.958,00 R$ 220.545.670,93 R$ 96.6730,00 R$ 270.096.631,00 Ágio Baroid BITC Cimentação Energia Serviços Baroid BITC Fl. 1454DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 19 19 Após as incorporações, a configuração das empresas passas a ser a seguinte A incorporação da HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. por sua controlada (Recorrente) permitiu a dedução das despesas de amortização do ágio, nos termos da Lei nº 9.532/97. Do exposto, alguns pontos merecem destaque, dada sua relevância ao deslinde do caso. São eles: (i) Todas as operações foram realizadas entre empresas do mesmo grupo econômico, sem qualquer participação de terceiros; (ii) Não houve pagamento efetivo de valores na realização das operações, nem mesmo aquelas que implicaram aumento de capital ou investimento com emissão de novas ações; (iii) A sociedade Halliburton Cimentação Ltda., apontada pela Fiscalização como "empresaveículo" para a geração do ágio não foi criada para a operação, sendo sociedade préexistente e integrante do Grupo há mais de 5 anos; Cimentação (incorporada) Energia (incorporada) Serviços R$ 96.6730,00 R$ 124.761.188,46 R$ 124.857.968,56 Baroid 0,01% BITC 99,9% Serviços R$ 6.392.256,00 R$ 81.699.264,00 R$75.307.008,11 (emissão novas quotas) Fl. 1455DF CARF MF 20 (iv) Foi aumentado o capital dessa sociedade empresária, que recebeu aporte feito em quotas da Recorrente; (v) Essa empresa, no entanto, não era mais operacional, não tendo auferido qualquer receita no ano anterior ao das operações aqui analisadas, havendo intenção do Grupo de extinguila; (vi) Foram realizadas duas operações de "incorporação às avessas", em que a sociedade controladora foi incorporada pela controlada; (vii) A configuração final do Grupo, após a realização das operações acima descritas, gerou aumento de capital da ordem de 75 milhões de reais e ágio amortizável de mais de 200 milhões. O primeiro ponto destacado acima é de extrema relevância. Afinal, segundo afirma a Fiscalização, o fato de serem as operações societárias realizadas entre empresas do mesmo grupo bastaria à conclusão pela ilegitimidade da amortização do ágio, dada a suposta indedutibilidade do ágio interno já à época dos fatos. Essa afirmação, no entanto, não procede. O chamado ágio interno não encontrava, até a edição da MP 627/13, qualquer óbice na legislação pátria. Como visto no item anterior, não havia na legislação– e nem dela se podia inferir, como pretendeu afirmar a Fiscalização – qualquer requisito que implicasse a proibição do ágio apurado internamente, como consequência de operações societárias entre empresas ligadas. Afinal, diversamente do feito no TVF, não há como se afirmar de forma peremptória que o ágio interno é gerado sem que haja correspondente aplicação de capital. Tampouco se pode concluir de forma automática que o ágio interno corresponderia, necessariamente, a uma despesa artificialmente criada. Inexiste, portanto, qualquer fundamento jurídico que autorize a conclusão de que, se apurado internamente, seria ilegítimo o ágio. Não foi outra a razão pela qual, aliás, a vedação a esta modalidade de ágio precisou ser veiculada de forma expressa pela legislação, passando a integrar o ordenamento jurídico, portanto, somente a partir do início da vigência da lei nº 12.973/14. Assim, uma importante premissa deve ser firmada: o fato de ser o ágio aqui analisado gerado internamente, entre empresas do mesmo grupo, não é causa suficiente à manutenção das autuações. Passemos, então, à análise dos demais aspectos fáticos, seu confronto com a legislação aplicável e a interpretação jurídica dada aos fatos pelo sujeito passivo tributário na constituição da estruturação jurídica que gerou o ágio e permitiu sua dedução da base de cálculo tributária. No caso concreto, as operações societárias, em que pese seu grande potencial modificador das estruturas de controle das sociedades envolvidas, bem como seus impactos econômicos e fiscais, foram realizadas em curto espaço de tempo e sem desembolso de valores entre as sociedades "investidas" e "investidoras". O pagamento mencionado pela Recorrente às fls. 1354 (parágrafo 42 do recurso), suspostamente realizado no exterior, não gerou impactos diretos nas operações feitas no Brasil, não tendo constituído investimento de capital estrangeiro em empresas controladas brasileiras. Assim, ainda que tenha, de fato, ocorrido, não altera a circunstância de que as operações de reorganização do grupo realizadas no Brasil foram feitas sem desembolso de valores. Fl. 1456DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 20 21 Sobre este ponto, destaco trecho da decisão da DRJ, dada a clareza da exposição: "Ademais, se de fato o citado pagamento fosse um novo aporte de capital estrangeiro em empresa nacional, o capital investido deveria ser objeto de registro junto ao Banco Central do Brasil além de constar nos registros contábeis da empresa objeto do investimento, o que não se comprova nos autos, a teor do que determina o art. 5º, §1º da Lei nº 11.371, de 28 de novembro de 2006, que dispõe sobre operações de câmbio e registro de capitais estrangeiros [...]" (fls. 1317) E, em que pese a ausência de qualquer pagamento ou operação realizada em contexto de mercado, as modificações societárias empreendidas geraram aumento de capital social e grande valor de ágio a deduzir, por supostamente, terem envolvido a aquisição de quotas da Recorrente, em investimento feito por empresa estrangeira. Conforme pontuado acima, a legislação que trata da constituição do ágio fala em “aquisição” e não estabelece qualquer restrição ao negócio jurídico da aquisição, bem como não exige qualquer forma de contraprestação pelo adquirente, mas este é um ponto a ser observado no caso concreto para se aferir a consistência jurídica da estruturação, que juntamente com outros aspectos corroboram para uma reinterpretação das operações realizada pelo grupo para fins fiscais. Somase a este aspecto o fato de que foram utilizadas na operação, com finalidade de gerar o ágio apurado, empresas não operacionais, em exemplo típico de operação feita por meio das chamadas "empresasveículo". Destaco, neste ponto, que, muito embora a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO LTDA. se trate de empresa antiga, com muitos anos de atuação no mercado, era, à época das operações, comercialmente inativa, não tendo auferido receita alguma no exercício de 2002. Aqui vale transcrever, uma vez mais, trecho da decisão de primeira instância: "É certo que a Halliburton Cimentação não foi criada em 1959 com a finalidade exclusiva de realizar uma transação comercial pra geração de ágio e posterior transporte para sua incorporadora e não se nega que no decorrer destes atos tenha de fato exercido sua atividade em algum momento, mas é igualmente certo que no presente caso, foi exatamente a função de 'empresa veículo' que desempenhou, restando caracterizada a sua utilização para geração artificial de ágio e posterior transporte e transferência deste ágio à sua incorporadora, mesmo por que, nos anos anteriores às operações societárias realizadas, a Halliburton Cimentação já não mais exercia nenhuma atividade operacional, como se comprova nos autos [...]" (1319/1320) As circunstâncias das operações em que a HALLIBURTON CIMENTAÇÃO foi envolvida evidenciam muito mais uma forma de reavaliação econômica do grupo, do que uma aquisição com investimento de rentabilidade futura. Isso porque, muito embora a empresa adquirida (com ágio) estivesse já comercialmente inativa e deficitária e que, nos dizeres da própria Recorrente, e justificadamente, assim, foi levada à extinção pela incorporação reversa Fl. 1457DF CARF MF 22 realizada (fls. 1359/1360), na mesma semana, antes de ser incorporada, recebeu substancial aporte de capital, feito por meio das quotas da HALLIBURTON SERVIÇOS. Há, assim, incoerência entre as operações sociais do grupo e a forma que as constitui. Interpretandose os fatos trazidos aos autos o que aparece é uma reavaliação econômica do grupo. Esta reavaliação, depois de operações societárias de integralização de capital de uma entidade em outra seguida de incorporação as avessas criou um ágio deduzido fiscalmente. O fato das operações serem realizadas dentro do mesmo grupo por si só não é motivo para desconsiderar o ágio, nem o fato de terem sido realizadas por meio de integralização de quotas. Mas o ágio tem que representar um efetivo acréscimo de valor nas operações referindose a um investimento de rentabilidade futura, o que a meu modo de ver, não se verifica na estruturação dos negócios jurídicos que gerou o ágio no caso concreto. Verificase, assim, prática de atos societários carentes de consistência, realizados em desrespeito à necessária compatibilidade entre a forma adotada e prescrição jurídica da forma. Embora o sujeito passivo, bem como o grupo econômico, não tenham atuado no âmbito da ilicitude legalmente tipificada em hipóteses sancionadoras, uma reinterpretação dos fatos evidencia não haver compatibilidade entre as operações realizadas e aquelas capazes de credenciar juridicamente a existência de um ágio representativo de investimento com expectativa de rentabilidade futura. Dizendo de outra forma, numa reinterpretação dos fatos eles não se subsomem à hipótese de incidência da norma de constituição do ágio. Tratase, portanto, dentro das delimitações feitas nos itens acima de ato simulado, que nos termos do art. 116 do CTN, pode ser desconsiderado para fins tributários. Alguns esclarecimentos, no entanto, ainda se fazem relevantes. Diversamente do afirmado no TVF e reiterado na decisão de 1ª Instância, não se pode concluir pela ilegalidade de uma operação societária pelo fato de uma de suas etapas corresponder a uma "incorporação reversa". Ora, assim como afirmado em relação ao ágio interno, não há óbice legal em nosso ordenamento à realização deste tipo específico de incorporação. Ela apenas precisa, reitero, ter consistência. É dizer: uma incorporação não é ilegítima porque a sociedade controlada incorpora sua controladora. O que pode fazer dela ilícita e, por isso, passível de desconsideração pelo Fisco, é o descasamento entre a finalidade de uma incorporação e os resultados obtidos de fato com a operação feita em cada caso concreto. Esse é o caso dos autos, não pelas incorporações reversas em si, mas pela sucessão de atos incompatíveis e incoerentes entre si (como o aumento de capital, com aporte em ações, com posterior extinção da sociedade por incorporação). Vejase que, ao explicar as razões que atribuiriam "propósito negocial" às operações realizadas, a Recorrente menciona a necessidade de reestruturação do Grupo no país, com racionalização da divisão dos ativos e setores explorados pelas empresas. A justificativa apresentada, muito embora fundamentada em fatos reais, não explica as operações feitas e tampouco consegue dar a elas a consistência necessária ao reconhecimento de sua licitude do ponto de vista fiscal. Assim, vislumbro no caso concreto a prática de operações em típico caso de simulação (absoluta), o que gerou uma dissimulação (simulação relativa) em relação a natureza de alguns elementos constitutivos do fato jurídico e da obrigação tributária. Toda estruturação negocial, que envolve a constituição e amortização do ágio apresentadas e operacionalizadas juridicamente pela Recorrente, camuflam uma reavaliação Fl. 1458DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 21 23 econômica do grupo empresarial, por meio da integralização de capital, subscrição de quotas e incorporação. O ato que gera, em essência, o ágio amortizado o investimento em sociedade empresarial – não ocorreu, em verdade. Ao contrário, as operações realizadas tinham como finalidade reduzir as proporções do grupo no país, diminuindo custos e porte das operações. Sequer havia a intenção de investir ou de aportar capital a qualquer título. No entanto, foram constituídas sob uma roupagem (inconsistente) diferente com vistas a aproveitar o benefício fiscal, o que caracteriza a simulação. O caso dos autos é, pois, justamente de simulação, na medida em que, todos os atos constituídos juridicamente pelo grupo espelham uma operação, mas a intepretação dos fatos levam a outra inexistente. Se pretendeu afirmar haver uma sucessão de atos visando à realização de investimentos em sociedades do grupo, mas o que se fez, foi uma reavaliação econômica do grupo, com a redução de suas proporções, extinguindo de imediato a suposta beneficiária do investimento. Utilizouse, no entanto, da “forma” jurídica“investimento com rentabilidade futura”, em razão da possibilidade de amortização do ágio. Nesta reinterpretação dos fatos, a forma utilizada pelo sujeito passivo não condiz com as possibilidade juridicamente delimitadas no ordenamento jurídico vigente para uso desta forma. Não houve, portanto, investimento de capital intragrupo a justificar a geração de ágio e, ainda mais, sua dedutibilidade para fins de apuração do IRPJ e da CSLL. Sem que tenha havido, de fato, investimento em sociedade empresária, não há causa para a geração do ágio e, por consequência, concluise que sua apuração no caso concreto foi artificial, simulada. Desta forma, retomando ponto tratado no item anterior deste voto, resta evidente, pelas provas dos autos e pelas próprias razões recursais, que falta ao caso concreto um dos dois elementos essenciais à aquisição do direito à amortização do ágio: a existência efetiva de investimento em sociedade empresária. Pelos motivos expostos, nego provimento ao Recurso Voluntário neste ponto, para manter integralmente a autuação relativa à glosa das despesas de amortização de ágio incorridas pela Recorrente nos exercícios de 2008 a 2011. 3. Da multa de ofício no percentual de 150% No Termo de Verificação Fiscal, alega a fiscalização que, no caso concreto, seria cabível a aplicação de multa no percentual de 150%,nos termos do § 1o. I do art. 44 da Lei 9.430/96, porque, no seu entender, houve prática de ações enquadráveis nas previsões dos artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Vejamos os dispositivos que fundamentam o Termo de Verificação Fiscal: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: Fl. 1459DF CARF MF 24 I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis Art . 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I – da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II – das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art . 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. Art . 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. As hipóteses do artigos 71, 72 e 73 da Lei 4.502/64, que fundamentam a qualificação da multa são: (i) sonegação; (ii) fraude; (iii) conluio. Isto significa dizer que somente na presença destas circunstâncias é que a legislação tributária permite a duplicação do percentual de 75%. A estrutura normativa da multa qualificada é de fácil organização: H – “Se for a infração tributária decorrer de sonegação, fraude ou conluio”; dever ser C – “a qualificação da multa (duplicação do percentual de 75%). O problema é de ordem semântica e envolve a delimitação dos conceitos de “sonegação”, “fraude” e “conluio”. Mas, logo desaparece quando estabelecemos um núcleo significativo comum entre eles: a ideia de ato enganoso realizado por meio ilícito. Tanto o conceito de fraude, quanto sonegação e conluio estão relacionados à ideia de ato enganoso, de ação ardilosa, dolosa, ilícita, realizada de máfé, com o intuito de enganar outrem. Na fraude tributária, definida pelo art. 72, o sujeito passivo se utiliza de meios ardilosos ilícitos, visando reduzir sua carga tributária, impedindo a ocorrência do fato jurídico tributário ou modificando seus aspectos. O conceito de sonegação fiscal, dado pelo art. 71, também está relacionado a mesma ideia de ato enganoso (ilícito), realizado, no entanto, pelo sujeito passivo, com vistas a retardar ou impedir o conhecimento pelo fisco do fato jurídico tributário. E o conceito de conluio também se reporta à ideia de ato enganoso (ilícito) com vistas à redução da carga tributária, mas implementado mediante acordo entre duas ou mais pessoas. Assim, tanto a fraude, como a sonegação, quanto o conluio, enquanto condutas ilícitas, dolosamente delimitas e, assim só o são, porque tipificadas em hipótese de Fl. 1460DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 22 25 normas sancionadoras, o que juridicamente lhes coloca no âmbito da ilicitude. Como em nosso país vigora o princípio da livre iniciativa privada, de que tudo o que não está proibido, é permitido. A ilicitude, só pode existir juridicamente se tomada como hipótese de alguma norma jurídica sancionadora punitiva. A legislação penal tipifica pontualmente as condutas ilícitas em que o sujeito passivo tributário se utiliza dolosamente de meios ardilosos, com o intuito de enganar o fisco, visando a redução da sua carga tributária nos arts. 1o. da Lei 4.729/65 e da Lei 8.137/90: Art 1º Constitui crime de sonegação fiscal: I prestar declaração falsa ou omitir, total ou parcialmente, informação que deva ser produzida a agentes das pessoas jurídicas de direito público interno, com a intenção de eximirse, total ou parcialmente, do pagamento de tributos, taxas e quaisquer adicionais devidos por lei; II inserir elementos inexatos ou omitir, rendimentos ou operações de qualquer natureza em documentos ou livros exigidos pelas leis fiscais, com a intenção de exonerarse do pagamento de tributos devidos à Fazenda Pública; III alterar faturas e quaisquer documentos relativos a operações mercantis com o propósito de fraudar a Fazenda Pública; IV fornecer ou emitir documentos graciosos ou alterar despesas, majorandoas, com o objetivo de obter dedução de tributos devidos à Fazenda Pública, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis. Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; V negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecêla em desacordo com a legislação. Tendo em conta tais dispositivos, o âmbito da ilicitude das condutas realizadas no intuito de suprimir ou reduzir o pagamento de tributo é bem demarcada. O que restringe a aplicação da multa qualificada somente às situações acima enquadradas. E, o que importa, também dizer que, a simples finalidade de evitar ou reduzir o pagamento de tributos, por si só, quando realizado por meios lícitos, não configura hipótese qualificadora da multa tributária. Notase, assim, a presença de três critérios definidores da hipótese Fl. 1461DF CARF MF 26 qualificativa da multa tributária: (i) conduta dolosa; (ii) prática ilícita, tipificada e iii) finalidade de evitar ou reduzir o pagamento de tributos, todos conectados pela conjunção. Se não ficar devidamente comprovada a existência de conduta dolosa, realizada mediante a prática de ato ilícito, com o intuito de evitar ou reduzir o pagamento de tributos ou a ocultar a ocorrência de fato jurídico tributário, não é possível a majoração da multa para o percentual de 150%. Neste sentido já se posicionou este E. Conselho: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2001, 2002 MULTA QUALIFICADA. Para que se possa preencher a definição do evidente intuito de fraude que autoriza a qualificação da multa, nos termos do artigo 44, II, da Lei 9.430/1996, é imprescindível identificar a conduta praticada: se sonegação, fraude ou conluio respectivamente, arts. 71, 72 e 73 da Lei 4.502/1964. A mera imputação de simulação nãoé suficiente para a aplicação da multa de 150%, sendo necessário comprovar o dolo, em seus aspectos subjetivo (intenção) e objetivo (prática de um ilícito). (CARF, CSRF, 1ェ Turma, ACモRDテO 9101002.189, julgado em 21/01/2016) Com relação ao âmbito de incidência e aplicação da multa qualificada chegamos num entendimento: i) é indispensável a comprovação de que o agente atuou ilicitamente, de maneira dolosa, ou seja, com a intenção de enganar o fisco; ii) a ilicitude da conduta deve ser tipificada por hipóteses de incidência de normas sancionadoras presentes no sistema jurídico. Agora cabenos analisar o caso concreto. Pelo exame dos autos não se identifica prova cabal do elemento volitivo, ou seja, da inquestionável intenção de fraudar, nem a caracterização de qualquer ato ilícito utilizado pelo sujeito passivo tributário. Está caracterizado apenas, que a operação escolhida pelo sujeito passivo ao realizar sua reestruturação societária gerou uma redução em sua carga tributária. No entanto, limitase a fiscalização a alegar que houve intuito de fraude, mas não especifica nenhuma conduta gravada juridicamente pela ilicitude, capaz de subsumirse à situações delimitadas acima. No caso concreto, como afirmado em item anterior, houve simulação. Simulação, no entanto, decorrente de uma reinterpretação da operação apresentada pelo sujeito passivo, revelando outra que teria sido encoberta, ou criada pela roupagem formal constituída juridicamente por ele. Notase que não estamos diante de um ato enganoso realizado por meio de condutas ilícitas dolosamente tipificadas, a todo o instante o sujeito passivo age dentro da lei, interpretandoa a seu favor. A legislação tributária é extremamente complexa, há divergências interpretativas em todos os âmbitos, e ao fisco, nos casos em que o crédito tributário é constituído pelo sujeito passivo, cabe o direito de rever e reinterpretar os fatos que ensejam a constituição do crédito tributário. A elaboração de uma roupagem jurídica à operação pelo sujeito passivo que, segundo sua interpretação, lhe é permitida por lei, sem utilização de meios ilícitos, nem com vontade dirigida de realizar atos enganosos, que é reinterpretada pelo fisco para fins de ensejarlhe diferentes efeitos tributários, não pode ser apenada com a qualificadora em razão deste fato não preencher os critérios da norma. Diferente situação ocorre, no entanto, quando a operação é enganosa, realizada com dolo, com a utilização de meios ilícitos. Nestes casos, há suporte fáctico para aplicação da multa qualificada. Fl. 1462DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 23 27 Para melhor esclarecer, é importante estabelecer uma diferença entre o conceito de “simulação” e o de “fraude”. Nem todo ato tido como simulado é fraudulento. Há uma diferença entre os estes dois conceitos. Pode haver “simulação com fraude” e “simulação sem fraude”. E apenas a primeira enseja incidência da multa qualificada. A ideia de simulação no âmbito do direito tributário não está relacionada necessariamente à conduta ilícita, dolosamente direcionada, com o objetivo de suprimir ou reduzir a carga tributária. Relacionase sim a ideia de ato enganoso, mas que pode ser realizado mediante condutas ilícitas ou não. Na simulação sem fraude há interpretações diferentes com relação à linguagem jurídica que constitui os fatos capazes de ensejar efeitos tributários, ou seja, uma divergência interpretativa na forma como os fatos devem ser constituídos juridicamente para fins de aplicação da legislação tributária. O fisco dá uma roupagem diferente ao fato que foi constituído pelo contribuinte ao interpretar de maneira diferente as possibilidades permissivas da legislação tributária. Essa reinterpretação do negócio jurídico realizado pelo sujeito passivo, por parte do fisco, com fundamento no art. 116 do CTN, é capaz de constituir como “simulado” um negócio para fins tributários, mas não fraudulento, no sentido de ato ilícito doloso. Por isso, importante a separação dos conceitos de “simulação com fraude” e “simulação sem fraude”. Ambas permitem a desconsideração dos atos praticados pelo sujeito passivo para efeitos tributários, mas somente na primeira incide a qualificação da multa. A respeito da impossibilidade de se equiparar a simulação às hipóteses prescritas pelos citados arts. 71, 72 e 73, destaco o seguinte trecho do voto condutor do Acórdão nº 9101002.189, proferido pela Câmara Superior deste Conselho: “Ocorre que o artigo 44, II, da Lei 9.430/1996 não faz qualquer menção à simulação. Na verdade, tal dispositivo estabelece a aplicação de multa de 150 % nos casos de evidente intuito de fraude, definidos nos arts.71, 72 e 73 da Lei n 4.502, de 30 de novembro de 1964,(...)(redação vigente à época da autuação). Ora, para que se pudesse completar a definição de "evidente intuito de fraude", que autorizaria a qualificação da multa de ofício, seria imprescindível a identificação da conduta praticada pelo contribuinte: se sonegação, fraude ou conluio respectivamente 71, 72 e 73 da Lei 4.502/1964. No caso porém, não houve qualquer fundamentação neste sentido, do que se conclui que o agravamento da penalidade carece de suporte material e, por isso, não pode subsistir” (Processo nº 18471.000009/200633. 1ª Turma. Sessão de 21.01.2016) Com relação ao caso concreto, conforme se pode verificar do TVF (fls. 785/878), a Fiscalização se limitou a afirmar a ocorrência de simulação, concluindo, sem maiores justificativas, pela aplicabilidade da multa prevista para as hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64. Sequer foi feito, em verdade, o enquadramento dos fatos a uma destas três diferentes hipóteses, como se fosse possível equiparar de forma direta o conceito de simulação com os de fraude, sonegação e conluio. Fl. 1463DF CARF MF 28 Assim, por não verificar a ocorrência de nenhuma das hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 acima transcritos, nem nas hipóteses que demarcam a ilicitude das operações, delimitadas pelos artigos 1o. da Lei 4.729/65 e da Lei 8.137/90 e, também, por não ter esse enquadramento sido feito de forma adequada pela Fiscalização, voto pelo provimento do recurso voluntário neste ponto, de modo a reduzir a multa aplicada para o percentual de 75%. 4. "Outras exclusões" Na segunda infração, a Fiscalização considerou como exclusões indevidas nos anoscalendário de 2008 e 2009 os valores de R$ 553.711,54 (quinhentos e cinquenta e três mil reais, setecentos e onze reais e cinquenta e quarto centavos) e R$ 4.573.377,41 (quatro milhões, quinhentos e setenta e três mil, trezentos e setenta e sete reais e quarenta e um centavos), respectivamente. A autuação se fundamentou na ausência de comprovação, pela Recorrente, das causas do art. 409 do RIR/99, que autorizam a adoção de regime de caixa nas hipóteses que definem. Referido artigo prescreve: Art. 409. No caso de empreitada ou fornecimento contratado, nas condições dos arts. 407 ou 408, com pessoa jurídica de direito público, ou empresa sob seu controle, empresa pública, sociedade de economia mista ou sua subsidiária, o contribuinte poderá diferir a tributação do lucro até sua realização, observadas as seguintes normas (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 10, § 3º, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso I): I poderá ser excluída do lucro líquido do período de apuração, para efeito de determinar o lucro real, parcela do lucro da empreitada ou fornecimento computado no resultado do período de apuração, proporcional à receita dessas operações consideradas nesse resultado e não recebida até a data do balanço de encerramento do mesmo período de apuração; II a parcela excluída nos termos do inciso I deverá ser computada na determinação do lucro real do período de apuração em que a receita for recebida. § 1º Se o contribuinte subcontratar parte da empreitada ou fornecimento, o direito ao diferimento de que trata este artigo caberá a ambos, na proporção da sua participação na receita a receber (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 10, § 4º). § 2º Considerase como subsidiária da sociedade de economia mista a empresa cujo capital com direito a voto pertença, em sua maioria, direta ou indiretamente, a uma única sociedade de economia mista e com esta tenha atividade integrada ou complementar. § 3º A pessoa jurídica, cujos créditos com pessoa jurídica de direito público ou com empresa sob seu controle, empresa pública, sociedade de economia mista ou sua subsidiária, decorrentes de construção por empreitada, de fornecimento de bens ou de prestação de serviços, forem quitados pelo Poder Público com títulos de sua emissão, inclusive com Certificados de Securitização, emitidos especificamente para essa finalidade, poderá computar a parcela do lucro, Fl. 1464DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 24 29 correspondente a esses créditos, que houver sido diferida na forma deste artigo, na determinação do lucro real do período de apuração do resgate dos títulos ou de sua alienação sob qualquer forma (Medida Provisória nº 1.74937, de 1999, art. 1º). Tratase, pois, de regra excepcional de tributação pelo IRPJ em regime de caixa, aplicável aos casos de contratos firmados com o Poder Público, contumaz pagador em atraso de seus deveres contratuais. Para a aplicação de referida regra, é imprescindível a prova dos requisitos exigidos pelo dispositivo legal, quais sejam: (i) contrato de empreitada ou fornecimento firmado com o Poder Público (direta ou indiretamente); (ii) com prazo de execução superior a um ano; (iii) a preço prédeterminado. Além desses requisitos, é necessário contabilizar de forma correta todos os recebimentos oriundos dos contratos que possuam as características aqui destacadas, de forma a permitir o controle do regime de caixa adotado. No caso dos autos, a Recorrente excluiu da apuração do lucro real os dois recebimentos acima mencionados, sob o argumento de que não teriam sido pagos no vencimento pela Petrobrás. Em relação ao montante relativo ao exercício de 2009, afirma, ainda, que foi levado à tributação em janeiro de 2010. A este respeito afirma, então, que no máximo poderiam ser cobrados juros e multa, decorrentes da postergação do pagamento dos tributos devidos. Não assiste, no entanto, razão à Recorrente. Isso porque, apesar suas alegações a respeito da natureza dessas exclusões, não foram trazidas aos autos provas de que os valores objeto da autuação que, ressalto, correspondem ao valor líquido da diferença entre as exclusões feitas em 2008 e 2009 e os valores adicionados se enquadrariam na regra do citado art. 409 do RIR/99. A tributação em regime de caixa pelo IRPJ e pela CSLL configura exceção à regra geral. Como tal, deve ser comprovada sua causa e autorização legal pelo contribuinte. No caso dos autos, muito embora intimado a fazêlo diversas vezes, a Recorrente não produziu a prova necessária a dar respaldo a seu alegado direito. Destaquese, neste ponto, que a simples juntada de demonstrações fiscais (DIPJs) não é prova suficiente do direito aqui discutido. Afinal, à aplicação da regra do art. 409 do RIR é necessária a demonstração da origem das receitas cuja tributação é diferida, bem como sua adequada contabilização. É preciso ressaltar, a este respeito, que a simples contabilização das receitas, na forma prescrita pelo direito, não é suficiente para comprovar sua natureza e efetiva ocorrência. Conforme já decidido por este E. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, a escrita mantida pelo contribuinte somente faz prova em seu favor quando amparada em documentação hábil e idônea: ESCRITURAÇÃO. DOCUMENTAÇÃO HÁBIL. AUTORIDADE ADMINISTRATIVA. PROVA DA INVERACIDADE DOS FATOS REGISTRADOS. A escrituração mantida com observância das disposições legais faz prova a favor do contribuinte dos fatos nela registrados, desde que comprovados por documentos hábeis, segundo sua natureza, ou assim definidos em preceitos legais. Por sua vez, Fl. 1465DF CARF MF 30 deixa a escrituração de fazer prova ao contribuinte quando a autoridade administrativa constata a ocorrência de ilícitos, e demonstra com provas contundentes que a escrituração não traduz os fatos efetivamente ocorridos e não se encontra lastreada por documentação probatória pertinente. (CARF, Processo n. 10166.721589/201024. Rel. Cons. NEREIDA DE MIRANDA FINAMORE HORTA. Sessão dia 11/02/2014) No presente caso, como explicado, tal prova não foi apresentada. Diante disso, e tendo em vista que não foi apresentado nenhum documento que comprove a natureza das receitas excluídas nos anoscalendário de 2008 e 2009, entendo pela manutenção da autuação neste ponto. Em vista disso, nego provimento ao recurso neste ponto. Conclusão Por tudo o que foi exposto, voto pelo PARCIAL PROVIMENTO do Recurso Voluntário, para cancelar a multa de ofício de 150%, reduzindoa para 75%, mantidos os demais termos das autuações. Sala de Sessões, 11 de agosto de 2016. (documento assinado digitalmente) Aurora Tomazini de Carvalho – Conselheira Relatora Declaração de Voto Conselheira LIVIA DE CARLI GERMANO Com a devida vênia ao entendimento da nobre Conselheira Relatora, orientei meu voto para dar provimento ao recurso da contribuinte quanto às despesas de amortização de ágio, pelas razões que passo a expor. É comum a menção de que a possibilidade de amortizar o ágio pago na aquisição de uma sociedade foi criada pela Lei 9.532/1997 e introduzida no contexto das privatizações no intuito de promover a valorização das empresas que eram objeto de tal processo. Isso porque, neste contexto, tal “benefício” seria levado em consideração pelos compradores na formação do preço, permitindo que apresentassem um lance maior pelas empresas a serem privatizadas. Fl. 1466DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 25 31 Todavia, a exposição de motivos da Medida Provisória 1.602/1997, convertida na Lei 9.532/1997 (e que por sua vez é a base legal do art. 386 do Regulamento do Imposto de Renda RIR/99, aprovado pelo Decreto 3.000/1999), traz um contexto um pouco diferente. Conforme se depreende do trecho abaixo, as novas exigências trazidas pela norma em especial de que o ágio tivesse por fundamento a rentabilidade futura da investida, bem como do prazo para a amortização fiscal, contado a partir da liquidação do investimento tiveram por escopo exatamente evitar “planejamentos tributários”, os quais consistiam, basicamente, na aquisição de empresa deficitária por valor acima de seu patrimônio líquido, imediatamente seguida de incorporação. Isso porque, antes da Lei 9.532/1997, tal medida acarretava o reconhecimento da totalidade do ágio como perda, passível de amortização integral imediata, independentemente da fundamentação do ágio. Vejase: “11. O art. 8º estabelece o tratamento tributário do ágio ou deságio decorrente da aquisição, por uma pessoa jurídica, de participação societária no capital de outra, avaliada pelo método de equivalência patrimonial. Atualmente, pela inexistência de regulamentação legal relativa a esse assunto, diversas empresas, utilizando dos já referidos ‘planejamentos tributários’, vêm utilizando o expediente de adquirir empresas deficitárias, pagando ágio pela participação, com a finalidade única de gerar ganhos de natureza tributária mediante o expediente, nada ortodoxo, de incorporação da empresa lucrativa pela deficitária. Com as normas previstas no Projeto, esses procedimentos não deixarão de acontecer, mas, com certeza, ficarão restritos às hipóteses de casos reais, tendo em vista o desaparecimento de toda vantagem de natureza fiscal que possa incentivar a sua adoção exclusivamente por esse motivo.” (Grifos nossos; vale notar que na conversão em lei o art. 8o acabou sendo reproduzido como art. 7º da Lei 9.532/97) Neste sentido, podemos citar como exemplo do "planejamento tributário" acima referido, o seguinte caso: Ementa: “IRPJ/CS – INCORPORAÇÃO DE SOCIEDADE – AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO – DEDUTIBILIDADE – Na incorporação de sociedade, com acervo liquido da sociedade incorporada avaliado a valor de mercado, o ágio anteriormente registrado pela controladora e baixado em razão da liquidação do investimento é dedutível na apuração do lucro real e na determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro." (Processo 10980.00656119768, Acórdão 10705875, de 22/02/2000). Merecem destaque os seguintes trechos do voto vencedor do acórdão cuja ementa se transcreveu acima: “Obviamente que não se pode olvidar que as operações praticadas pela recorrente redundaram na absorção do ágio que anteriormente se Fl. 1467DF CARF MF 32 formara, reduzindo o seu lucro tributável. Mas, ao tempo em que tais operações se realizaram, além das regras insertas no citado art. 380 do RIR/94, não havia nenhuma outra vigente, o que em negócios do gênero (aquisições de sociedades seguidas de sua absorção) abria espaços para a estruturação de operações que, desde logo, permitiam a dedutibilidade do ágio pago. O legislador, ciente de que a reboque de tais negócios realizavamse operações de planejamento tributário, por intermédio da Lei 9532/97 veio a disciplinar a figura do ágio, estabelecendo o tratamento tributário de conformidade com a sua natureza. Portanto, considerando que a dedução do ágio que motivou o presente lançamento se verificou em momento anterior ao de vigência da referida lei, tendo as operações estruturadas se pautado pelas regras impostas na legislação societária e em conformidade com os princípios de contabilidade geralmente aceitos, não havendo, por parte da autoridade que presidiu o ato de lançamento, nenhuma acusação quanto a eventual ilicitude ou simulação dos atos praticados, realmente não vejo como se manter o lançamento. (...) o que se via no momento da realização das operações em questão era um absoluto vazio legislativo, que propiciava em operações da espécie a dedutibilidade imediata e integral do ágio, tanto que o legislador, talvez até tardiamente, tratou de adequadamente regulálas.” (grifamos) Assim, apesar do viés político que é atribuído a sua introdução na legislação, há que se salientar que a amortização do ágio pago na aquisição de sociedade brasileira tem lógica na própria sistemática de tributação do IRPJ e da CSLL, e existia muito antes da Lei 9.532/1997, a qual veio tão somente impor critérios objetivos para tal fruição quais sejam, vale repetir, a fundamentação da mais valia na rentabilidade futura da investida, bem como do prazo para a amortização fiscal, contado a partir da liquidação do investimento. A legislação tributária estabelece que o ágio pago em razão da rentabilidade futura da sociedade adquirida pode ser amortizado e deduzido da base de cálculo do IRPJ e da CSLL após a alienação ou a liquidação do investimento. Tais condições não são aleatórias. Na verdade, tanto a alienação do investimento quanto a sua liquidação são eventos que dão margem ao reconhecimento de um ganho ou uma perda, correspondentes à diferença entre o valor pago na aquisição da participação societária ("custo") e o valor pelo qual esta é alienada ou liquidada (respectivamente, valor de venda ou valor de patrimônio líquido). A ocorrência de tais eventos, nos termos do DecretoLei 1.598/1977 (em especial, arts. 25, 33 e 34), acarretava a tributação do ganho (quando realizado), assim como permitia considerar a perda uma despesa dedutível. Como visto, antes da edição da Lei 9.532/1997, para fins tributários o ágio era integralmente amortizado no momento em que houvesse a incorporação, e era assim não porque nesse momento a despesa com o ágio seria confrontada com a receita que lhe deu origem, ou porque neste momento ocorreria a "confusão patrimonial" entre investidora e investida, mas tão somente porque, a partir de então, aquele investimento necessariamente seria baixado, originando uma perda. Fl. 1468DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 26 33 Vale notar que tal tratamento tributário do ágio poderia ser aplicado ainda que o ágio tivesse sido amortizado contabilmente, sendo ainda aplicável inclusive às sociedades que não estivessem obrigadas a seguir o método de equivalência patrimonial, como reconheceu o §6º, I, do artigo 386 do RIR/99: Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): (...) III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (...) § 6º O disposto neste artigo aplicase, inclusive, quando (Lei nº 9.532, de 1997, art. 8º): I o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor do patrimônio líquido; (...) Em resumo, longe de criar um "benefício fiscal" visto que a amortização já era prevista na legislação, e em condições muito mais amplas , o que os arts. 7º e 8o da Lei 9.532/1997 (reproduzidos no art. 386 do RIR/99) trouxeram foram as condições objetivas para a amortização fiscal do ágio pago na aquisição de participações societárias. Condições que, conforme indica a própria exposição de motivos da norma, foram estabelecidas buscandose evitar os "planejamentos tributários" praticados com respaldo na anterior lacuna legislativa. Assim, uma vez que tais condições tenham sido observadas, a princípio a amortização fiscal do ágio há de ser admitida. Dizemos a princípio porque, como se sabe, as autoridades fiscais estão autorizadas a efetuar e rever de ofício o lançamento tributário nas hipóteses do artigo 149 do CTN, inclusive quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação (inciso VII). No caso em questão, entendo que não restam caracterizadas tais circunstâncias que permitiriam questionar a dedutibilidade fiscal do ágio. Isso porque o que se depreende é que, com as operações, as empresas desejaram, declararam e efetivamente realizaram (i) primeiramente, a segregação, tanto em âmbito internacional quanto no Brasil, entre as empresas das áreas de serviços e energia (que seriam mantidas sob o controle do grupo Halliburton) e aquelas relativas à construção e Fl. 1469DF CARF MF 34 engenharia (KBR), as quais seriam objeto de desinvestimento anos depois; e (ii) em um segundo momento, a reunião das empresas das áreas de serviços e energia sob uma única entidade no Brasil, de modo a refletir o desenho adotado pelo grupo em outros países e a incrementar sinergias, tendo em vista tratarse de atividades integradas e complementares. É verdade que a reunião referida em "(ii)" acima que foi a que gerou o ágio ora questionado poderia ter sido feita de outra forma. Por exemplo, em lugar de a Halliburton Cimentação ter adquirido participação societária nas empresas Halliburton Energia e Halliburton Serviços para depois haver a incorporação das primeiras por esta última, o mesmo resultado seria obtido caso tivesse havido a incorporação direta das sociedades Halliburton Energia e Halliburton Cimentação pela Halliburton Serviços. Em ambos os casos, ao final, a sócia estrangeira BITIC receberia, como de fato recebeu, capital da Halliburton Serviços em troca das participações societárias antes detidas nas demais sociedades brasileiras. Ora, diante de pelo menos duas possibilidades para a pretendida reunião de negócios procedeuse àquela que traria maior vantagem em termos tributários, cumprindose os requisitos legais para a fruição de tal vantagem nos termos da Lei 9.532/1997 em especial: houve efetiva aquisição (com pagamento em participação societária), o preço teve por base demonstrativo de rentabilidade futura contemporâneo à aquisição e a amortização fiscal do ágio obedeceu à razão mínima de 1/60 ao mês. Uma vez que as operações declaradas foram efetivamente praticadas, implementandose de fato todas as consequências jurídicas e negociais das formas adotadas, não há que se falar em simulação, negócio jurídico indireto, ou coisa que o valha. Se a reestruturação, em sua fase inicial, ainda no contexto internacional, eventualmente gerou ganho de capital tributável no Brasil, esta é uma outra questão. O fato de tal ganho ter ou não sido gerado e ter ou não sido tributado aqui em nada macula a operação ocorrida em etapa posterior, de reunião de negócios no Brasil, que deu origem ao ágio registrado por empresa brasileira. Fosse o caso de se questionar a tributação, no Brasil, das alienações ocorridas no exterior na etapa inicial da reestruturação em comento, isso deveria ser objeto de lançamento próprio, inclusive contra outros sujeitos passivos. Por fim, vale notar que, à época, o simples fato de se tratar de operação entre empresas de um mesmo grupo não era suficiente para se autorizar o questionamento acerca da dedutibilidade fiscal do ágio. Afinal, se a própria legislação exigia que o preço pago pela participação societária tivesse por base uma avaliação da rentabilidade futura da empresa adquirida, é porque, existindo tal avaliação e sendo esta idônea, entendese que a compra ocorreu com base em parâmetros de mercado, não havendo razão para, no silêncio da lei quanto a qualquer outro requisito, estabelecer tratamento diferenciado entre tal operação e aquela entre partes não relacionadas. E foi exatamente por reconhecer que os requisitos e condições para a amortização fiscal do ágio devem estar expressos na lei que, mais recentemente, foi editada a Lei 12.473/2014, contendo novos parâmetros a serem observados, bem como novas restrições no caso de operações entre empresas consideradas "dependentes" (conforme definidas no artigo 25 deste diploma). Tal legislação não estava vigente à época dos fatos objeto do presente auto de infração. Neste contexto, não vejo base jurídica para o questionamento da amortização fiscal do ágio em questão. Livia De Carli Germano Conselheira Fl. 1470DF CARF MF Processo nº 16682.721256/201395 Acórdão n.º 1401001.697 S1C4T1 Fl. 27 35 Fl. 1471DF CARF MF
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Numero do processo: 10314.004310/2011-84
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Sep 27 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Oct 05 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Data do fato gerador: 04/10/2003
DECADÊNCIA.
Prazo decadencial decorrido com a conseqüente perda do direito de a Fazenda Nacional lançar o crédito tributário.
Recurso de ofício negado.
Numero da decisão: 3402-003.257
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de voto, em negar provimento ao recurso de ofício.
assinado digitalmente
Antônio Carlos Atulim - Presidente.
assinado digitalmente
Jorge Olmiro Lock Freire - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto.
Nome do relator: JORGE OLMIRO LOCK FREIRE
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ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Data do fato gerador: 04/10/2003 DECADÊNCIA. Prazo decadencial decorrido com a conseqüente perda do direito de a Fazenda Nacional lançar o crédito tributário. Recurso de ofício negado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de voto, em negar provimento ao recurso de ofício. assinado digitalmente Antônio Carlos Atulim Presidente. assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire Relator. Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Antonio Carlos Atulim, Jorge Olmiro Lock Freire, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Thais De Laurentiis Galkowicz, Waldir Navarro Bezerra, Diego Diniz Ribeiro e Carlos Augusto Daniel Neto. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 31 4. 00 43 10 /2 01 1- 84 Fl. 399DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 400 2 Relatório Por bem relatar os fatos, adoto o relatório da r. decisão, vazado nos seguintes termos: Em procedimento fiscal de verificação do cumprimento das obrigações tributárias pelo contribuinte, foram apuradas infrações aos dispositivos legais conforme se pode depreender do relato apresentado pela fiscalização. Conversão do Perdimento: Aplicação da multa equivalente ao valor da mercadoria pela impossibilidade de sua apreensão, face aos eventos constantes no relatório fiscal. Capitulação Legal: art. 23, §3º do Decreto 1455/76 – redação dada pelo art. 59 da Lei º 10.637/02, art. 2º do ADI nº 18/02. Valor: R$ 2.472.816,69. Descrição dos fatos No exercício das funções de auditorfiscal da Receita Federal do Brasil, a autoridade aduaneira lavrou o auto de infração em face da empresa Hi Care Promoções e Eventos Ltda Epp, com base no art. 27 do DL 1455/76 pela prática das infrações definidas como Dano ao Erário, sujeitando a autuada à pena de perdimento de mercadoria estrangeira ou nacional, na importação ou exportação. A lavratura do auto foi motivada pelos fatos que envolveram a autuada e outras empresas. Ao término do processo de investigação, concluiu a fiscalização que terceiros utilizaram a empresa Lírio Agência Marítima Imp. Exp. Ltda e seu sócio Agnaldo Gonzaga dos Santos para promover despachos de exportação em nome da autuada. A ação fiscal iniciouse quando a Alf/Porto de Vitória constatou que várias DDE registradas pela empresa Eletrotrading Repres. Imp. Exp. Ltda eram, em verdade, exportações fictícias pois, os dados de embarque de tais DDE foram realizados com a senha do despachante acima mencionado, sem que o mesmo soubesse da referida utilização. Ao ser indagado pela fiscalização sobre a citada ocorrência, o Sr. Agnaldo prestou as seguintes informações: · Não conhece nem trabalhou para a autuada; · A empresa Lírio, da qual é sócio, está desativada; Fl. 400DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 401 3 · Eventualmente, cedeu sua senha para ser utilizada pela comissária de despachos Intervix Despachos e Serviços Ltda, CNPJ 02.569.466/000138; · Não conhece os procedimentos relativos ao registro de presença de carga ou dados de embarque no Siscomex; · Jamais realizou qualquer serviço para a autuada ou para as demais empresas envolvidas. A Comissária Intervix Despachos e Serviços Ltda não foi localizada pela fiscalização no endereço fornecido. A autoridade aduaneira procedeu ao levantamento de todas as DDE cujos dados de embarque foram registrados, supostamente, pelo Sr. Agnaldo. Na diligência realizada, foram encontradas seis DDE da autuada vinculadas ao regime de “drawback suspensão” com suspeita de serem falsas. De acordo com a fiscalização, a autuada a empresa Hi Care e seus sócios, não foram encontrados no endereço cadastrado nos sistemas da RFB. Após a realização dos trabalhos, deduziu a autoridade fiscal que a autuada é empresa fantasma com sócios de paradeiros desconhecidos. Assim, pelos motivos expostos, a fiscalização concluiu que todas as DDE registradas com a senha do Sr. Agnaldo são ideologicamente falsas. Cita exemplos de vantagens, para os fraudadores, decorrentes da realização de exportação fictícia: 1. Lavagem de dinheiro – através da repatriação de dinheiro sujo do exterior simulando pagamento de mercadorias que nunca saíram do território nacional; 2. Desvio das mercadorias supostamente exportadas para o mercado interno, usufruindo benefícios fiscais destinados somente às exportações e, em particular, a isenção do ICMS; 3. Comercialização do produto à margem de controle fiscal; Infrações DecretoLei 1455/76, art. 24 cc DecretoLei 37/66, VI – define Dano ao Erário – utilização de qualquer documento falso – Art. 689 do Decreto 6759/2009 –Regulamento Aduaneiro. Todos os documentos envolvidos, inclusive os Registros de Exportação RE – e as Declarações de Exportação – DDE – foram consideradas ideologicamente falsos, pois refletem uma operação que nunca existiu. Fl. 401DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 402 4 Na impossibilidade de apreensão da mercadoria, seja por sua inexistência ou pelo tempo decorrido ou ainda pela inexistência da autuada, aplicase a penalidade prevista no § 1º do art. 689 que prevê a conversão da pena de perdimento em multa correspondente ao valor da mercadoria. Afirma a fiscalização que as mercadorias não foram exportadas. Sendo assim, para o valor aduaneiro foi atribuído aquele a que se refere o § 3º do art.23, do Decretolei 1455/76, em moeda nacional, convertido na data do registro das DDE. A autuada registrou as seguintes DDE no Siscomex na ALF/Vitória com a senha do Sr. Agnaldo: 2030901147/7; 2036901114/0; 2030901087/0; 2030901073/0; 2030901047/0 e 2030901012/8. De acordo com o art. 124 do Código Tributário Nacional, Lei nº. 5.172/66, os responsáveis pelos delitos cometidos são a autuada Hi Care e seus sócios: Carlos Augusto Santos, Claudina Salomão, Jan Claudius Knizek Szkely, José Eurípedes Salomão Camarano e Canuto Silvério Souza – os três últimos não constavam do quadro societário quando da lavratura do auto de infração, mas, sim, à época dos fatos. Também a Comissária Lírio e seus sócios Agnaldo dos Santos e Maria Silva Lima Gonzaga dos Santos que disponibilizaram senha pessoal e intransferível de acesso ao Siscomex a terceiros. Devidamente cientificados, a empresa autuada e seus responsáveis solidários, apresentaram suas impugnações alegando em síntese o que se segue: JAN CLAUDIUS KNIZEK SZKELY 1. Não há nos autos qualquer elemento que possa caracterizar o impugnante como responsável tributário; 2. fração menciona fatos ocorridos após a saída do impugnante do quadro societário da empresa em tela ocorrida em 02/07/2001, conforme cópia de contrato anexo; 3. O impugnante não consta no quadro societário da empresa denominada Hi Care Promoções e Eventos Ltda e, além de desconhecer totalmente os acontecimentos narrados, não possui com estes qualquer vinculação; 4. Para reafirmar o alegado, cita algumas decisões judiciais; 5. Deve ser destacado que o impugnante sequer constava no contrato social, assim, não poderia praticar condutas com excesso de poderes ou infração à lei; 6. Inadmissível ser responsabilizado pelos atos da citada empresa, vez que não pertence ao seu quadro social; Fl. 402DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 403 5 Perdimento: Possibilidade de Retificação de Declaração 7. Há a possibilidade de a mercadoria ter sido embarcada equivocadamente; 8. Caso seja comprovado o equívoco, não deverá ser considerada como falsa a declaração de conteúdo; 9. Desta forma,, não sendo considerada como falsa a declaração de conteúdo, deve ser afastada a pena de perdimento; 10. Inexiste qualquer elemento que possa sustentar a alegação da autoridade fiscal pois, o impugnante, não detinha poderes de administração na empresa, tendo se retirado do quadro social em julho de 2001; 11. Diante do exposto, requer a insubsistência e improcedência da autuação; 12. Em caso de novo lançamento, requer, ainda, a respectiva notificação sem prejuízo do disposto no art. 44, inciso I e § 3º da Lei nº. 9430/96. JOSÉ EURÍPEDES SALOMÃO CAMARANO Suspensão da exigência do Crédito Tributário 13. Enquanto não apreciada a impugnação até a sua decisão final, deve ser suspensa a exigibilidade do crédito tributáriona forma do art. 151, III do CTN. A discussão administrativa ou judicial fica pendente quanto à legalidade da cobrança do suposto débito fiscal; Dos fatos Decadência 14. O crédito tributário reclamado está fulminado pela decadência, fato este que o torna inexigível e acarreta a nulidade do presente auto de infração; 15. Além da impossibilidade da exigência do crédito tributário, face às ilegalidades que serão demonstradas, o Sr. Carlos Augusto Santos e a Srª Claudia Salomão, sócios da empresa Hi Care, são falecidos, conforme se constata das respectivas certidões de óbitos anexas; Do Mérito 16. Não exercido no prazo o lançamento, a administração perde o direito de fazêlo, conforme o art. 173 do CTN; Art. 173 – O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5(cinco) anos, contados: (...); Fl. 403DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 404 6 Parágrafo único – O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. 17. Prevê o CTN, em seu art. 156, V, que a decadência extingue o crédito tributário: Art. – Extinguem o crédito tributário: (...); V – a prescrição e a decadência; 18. Cita, nesse sentido, várias decisões da Terceira Câmara de Contribuintes; 19. A Atuação referese ao período de 24/10/2002 a 30/10/2003, porém, a fiscalização operouse apenas em 2009 e a autuação se deu tempos depois, ou seja, há mais de 05 (cinco) anos do período em que o crédito tributário poderia ser exigido; 20. Os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório foram feridos. A autoridade administrativa, ao efetuar o lançamento, citou diversos artigos infringidos sem especificar qual a infração praticada; 21. Pelo exposto, espera o acolhimento da impugnação, dandolhe integral provimento. CANUTO SILVÉRIO SOUZA Dos fatos Decadência 22. A autuação foi motivada sob a alegação de ter a impugnante promovido despacho de exportação de forma equivocada, causando, com isso, Dano ao Erário; 23. Supostamente, teria sido constatado que a empresa HI CARE se utilizou da empresa LÍRIO AGÊNCIA MARÍTIMA e seu sócio Agnaldo Gonzaga dos Santos para promover despachos de exportação em nome da autuada no período de 24/10/2002 e 30/10/2003; 24. Além de carecer de elementos fundamentais formadores de seu objetivo, fere os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório; 25. Ademais o crédito tributário exigido está fulminado pela decadência, tornandose inexigível; Do Mérito 26. Não exercido no prazo o lançamento, a administração perde o direito de fazêlo, conforme o art. 173 do CTN; Art. 173 – O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5(cinco) anos, contados: Fl. 404DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 405 7 (...); Parágrafo único – O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. 27. Prevê o CTN, em seu art. 156, V, que a decadência extingue o crédito tributário: Art. – Extinguem o crédito tributário: (...); V – a prescrição e a decadência; 28. Cita, nesse sentido, várias decisões da Terceira Câmara de Contribuintes; 29. A atuação referese ao período de 24/10/2002 a 30/10/2003, porém, a fiscalização operouse apenas em 2009 e o auto de infração se deu tempos depois, ou seja, há mais de 05 (cinco) anos do período em que o crédito tributário poderia ser exigido; 30. Os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório foram feridos. A autoridade administrativa, ao efetuar o lançamento, citou diversos artigos infringidos sem especificar qual a infração praticada; 31. Pelo exposto, espera o acolhimento da impugnação, dando lhe integral provimento. MARIA SILVA GONZAGA DOS SANTOS 32. Os fatos descritos no auto de infração, no que diz respeito à empresa Lírio Agência Marítima, não condiz com a verdade; 33. A empresa Hi Care não fez nenhum tipo de negócio com a empresa Lírio Agência Marítima; 34. A gerência da empresa Lírio Marítima sempre foi exercida por Agnaldo Gonzaga dos Santos, esposo da impugnante; 35. Nas investigações realizadas não encontraram documentos, relacionados às exportações, assinados pela impugnante nem por seu esposo ou por qualquer outro funcionário; 36. Alega que nunca trabalhou nos portos nem participou de qualquer tipo de negócio; 37. Desta forma, não há responsabilidades a serem impetradas, vez que encontrase desvinculada de tais operações AGNALDO GONZAGA DOS SANTOS 38. A descrição dos fatos não condiz com a verdade. A empresa HI CARE nunca fez negócio com a empresa LÍRIO MARÍTIMA; Fl. 405DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 406 8 39. A impugnante não conhece nenhum sócio ou representante legal da HI CARE e nunca fez contato com os mesmos; 40. Nas diligências efetuadas, não foram localizados documentos relativos às exportações, objeto do presente auto, assinados pelo impugnante nem por qualquer funcionário de sua empresa; 41. Apenas opera com exportações de fornecimento de bordo para navios e, todas devidamente autorizadas pela Receita Federal; 42. Somente, o despachante aduaneiro, Sr. Fabio da Silva Gonçalvez possuía a senha do Siscomex para o registro das DDE’s e RE’s de embarque de fornecimentos de bordo para navios nacionais e estrangeiros, função principal da Lírio Agência Marítima no porto de Vitória; 43. Diante do ocorrido, vem expressar sua indignação. HI CARE PROMOÇÃO DE EVENTOS LTDA Dos fatos Decadência 44. O crédito tributário vindicado está fulminado pela decadência, fato este que o torna inexigível, o que acarreta a nulidade do presente auto de infração; Do Mérito 45. Não exercido no prazo o lançamento, perde a administração o direito de fazêlo, conforme preceitua o art. 173 do CTN; Art. 173 – O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extinguese após 5(cinco) anos, contados: (...); Parágrafo único – O direito a que se refere este artigo extinguese definitivamente com o decurso do prazo nele previsto, contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao lançamento. 46. Prevê o CTN, em seu art. 156, V, que a decadência extingue o crédito tributário: Art. – Extinguem o crédito tributário: (...); V – a prescrição e a decadência; 47. Cita, nesse sentido, várias decisões da Terceira Câmara de Contribuintes; 48. A Atuação referese ao período de 24/10/2002 a 30/10/2003, porém, a fiscalização operouse apenas em 2009 e a autuação se deu tempos depois, ou seja, há mais de 05 (cinco) anos do período em que o crédito tributário poderia ser exigido; Fl. 406DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 407 9 49. Os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório foram feridos. A autoridade administrativa, ao efetuar o lançamento, citou diversos artigos infringidos sem especificar qual a infração praticada; 50. Pelo exposto, espera o acolhimento da impugnação, dando lhe integral provimento. Conforme se verifica, às fls. 285, o presente processo foi convertido em diligência para que fossem anexados os seguintes documentos, indispensáveis ao julgamento da lide. 1 Extrato integral das Declarações de Exportação – DDE – ,objeto do auto de infração; 2. Cópia dos Atos Concessórios que ampararam as importações dos insumos incorporados aos produtos exportados, descritos nas citadas DDE. Após atendida a solicitação contida na diligência, o presente processo retornou a esta Delegacia de Julgamento para prosseguimento. A 23ª Turma da DRJ/SP1, em 29/09/2014, julgou procedente a impugnação, pois entendeu ter decaído o direito da Fazenda Nacional para constituir o crédito tributário, considerando as datas das ciências da exigência fiscal pela empresa e pelos responsáveis solidários e a data de embarque das respectivas DE. Considerando o valor exonerado ser maior que o de alçada, a turma julgadora recorreu de ofício de sua decisão a este Colegiado. É o relatório. Voto Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire, relator. Sem reparos à r. decisão. Em que pese a excelência do trabalho fiscal e a robustez da prova produzida que desvela um núcleo de pessoas físicas e jurídicas fraudando a legislação aduaneira, em desproveito da economia nacional, o acatamento da preliminar de mérito não nos permite adentrar nesses fatos. Como discorre a r. decisão, o lançamento foi formalizado em 26/04/2011 (fl. 5), porém a notificação da autuada e dos responsáveis solidários operouse entre 20/04/2012 a 11/6/2012. Esse os termos ad quem. A modalidade de lançamento no regime aduaneiro de drawback suspensão é por declaração. A partir da assinatura do termo de responsabilidade passaria a correr o prazo prescricional. Porém a prescrição fica suspensa até o termo final para a exportação da Fl. 407DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM Processo nº 10314.004310/201184 Acórdão n.º 3402003.257 S3C4T2 Fl. 408 10 mercadoria beneficiada, momento a partir do qual se passará a contar o prazo de 5 (cinco) anos que a Fazenda Nacional terá para exigir o imposto de importação. Já as seis exportações foram embarcadas em 04/10/2003. Quer com arrimo no art. 173, I, do CTN, quer tendo como suporte o art. 139 do DL 37/66, reproduzido pelo art. 753 do RA, o prazo para ciência do lançamento seria, no máximo, em 31/12/2009. Como as ciências da exação somente se perfectibilizaram a partir de 20/04/2012, estreme de dúvida que decaído o direito da Fazenda Nacional constituir o crédito tributário inserto nestes autos. Forte no exposto, nego provimento ao recurso de ofício. assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire relator Fl. 408DF CARF MF Impresso em 05/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 03/10/2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/ 2016 por JORGE OLMIRO LOCK FREIRE, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por ANTONIO CARLOS ATULIM
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Numero do processo: 12963.000033/2007-35
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Aug 16 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Fri Oct 14 00:00:00 UTC 2016
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2002, 2003, 2004
ENCAMINHAMENTO PROCESSUAL. NÃO DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À PRIMEIRA INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA, COM DECISÃO DO FEITO DIRETAMENTE PELO CARF. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. MATÉRIA SUSCITADA DE OFÍCIO DEFINITIVAMENTE JULGADA. PEDIDO INEFICAZ.
1- Acórdão recorrido que não apenas reconhece a tempestividade de impugnação apresentada na primeira instância administrativa, mas que também adentra no seu mérito para fins de excluir responsabilidade tributária e, mais que isso, cancelar as próprias exigências fiscais em razão de vício na feitura do lançamento (matéria suscitada de ofício). Recurso especial da PGFN sustentando que, uma vez decretada a tempestividade da impugnação do sujeito passivo, os autos deveriam ter sido encaminhados de volta à Delegacia de Julgamento de origem para análise das alegações de mérito contidas na impugnação, sob pena de supressão de instância.
2- Diante do cancelamento do próprio lançamento fiscal, não cabe enviar de volta o processo para a primeira instância administrativa examinar provas do vínculo de responsabilidade tributária de uma das pessoas arroladas. O objeto do recurso especial é ineficaz para os fins de obtenção do crédito tributário, sendo a parte da decisão do acórdão recorrido que exonerou os lançamentos e não foi recorrida prejudicial ao objeto do recurso especial.
Numero da decisão: 9101-002.413
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por maioria de votos, em negar-lhe provimento, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego, André Mendes de Moura e Marcos Aurélio Pereira Valadão (presidente em exercício), que declararam nula a decisão da turma ordinária. Votou pelas conclusões a conselheira Cristiane Silva Costa. Solicitou apresentar declaração de voto o conselheiro André Mendes de Moura.
(documento assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente em exercício.
(documento assinado digitalmente)
RAFAEL VIDAL DE ARAUJO - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros
MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO (Presidente em Exercício), ANDRE MENDES DE MOURA, ADRIANA GOMES REGO, RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO, MARCOS ANTÔNIO NEPOMUCENO FEITOSA, LUIS FLÁVIO NETO, CRISTIANE SILVA COSTA, NATHÁLIA CORREIA POMPEU.
Nome do relator: RAFAEL VIDAL DE ARAUJO
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NÃO DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À PRIMEIRA INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA, COM DECISÃO DO FEITO DIRETAMENTE PELO CARF. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. MATÉRIA SUSCITADA DE OFÍCIO DEFINITIVAMENTE JULGADA. PEDIDO INEFICAZ. 1 Acórdão recorrido que não apenas reconhece a tempestividade de impugnação apresentada na primeira instância administrativa, mas que também adentra no seu mérito para fins de excluir responsabilidade tributária e, mais que isso, cancelar as próprias exigências fiscais em razão de vício na feitura do lançamento (matéria suscitada de ofício). Recurso especial da PGFN sustentando que, uma vez decretada a tempestividade da impugnação do sujeito passivo, os autos deveriam ter sido encaminhados de volta à Delegacia de Julgamento de origem para análise das alegações de mérito contidas na impugnação, sob pena de supressão de instância. 2 Diante do cancelamento do próprio lançamento fiscal, não cabe enviar de volta o processo para a primeira instância administrativa examinar provas do vínculo de responsabilidade tributária de uma das pessoas arroladas. O objeto do recurso especial é ineficaz para os fins de obtenção do crédito tributário, sendo a parte da decisão do acórdão recorrido que exonerou os lançamentos e não foi recorrida prejudicial ao objeto do recurso especial. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer o Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, por maioria de votos, em negarlhe provimento, vencidos os conselheiros Adriana Gomes Rego, André Mendes de Moura e AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 96 3. 00 00 33 /2 00 7- 35 Fl. 1301DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO 2 Marcos Aurélio Pereira Valadão (presidente em exercício), que declararam nula a decisão da turma ordinária. Votou pelas conclusões a conselheira Cristiane Silva Costa. Solicitou apresentar declaração de voto o conselheiro André Mendes de Moura. (documento assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente em exercício. (documento assinado digitalmente) RAFAEL VIDAL DE ARAUJO Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros MARCOS AURÉLIO PEREIRA VALADÃO (Presidente em Exercício), ANDRE MENDES DE MOURA, ADRIANA GOMES REGO, RAFAEL VIDAL DE ARAÚJO, MARCOS ANTÔNIO NEPOMUCENO FEITOSA, LUIS FLÁVIO NETO, CRISTIANE SILVA COSTA, NATHÁLIA CORREIA POMPEU. Relatório Tratase de recurso especial de divergência (efls.1198/1204) interposto pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional PGFN em 03/12/2009 contra o Acórdão nº 1202 000.133, de 24/08/2009, proferido pela 2ª Turma Ordinária da 2a Câmara da 1a Seção de Julgamento do CARF (efls.1176/1189), que deu provimento a recurso voluntário apresentado pelo sujeito passivo solidário acima identificado (José Ruy Gomes). O acórdão recorrido contém a ementa e a parte dispositiva transcritas abaixo: Assunto: Processo Administrativo Fiscal Anocalendário: 2002, 2003, 2004 RECURSO VOLUNTÁRIO PEREMPÇÃO Não se toma conhecimento de recursos voluntários interpostos empós 30 (trinta) dias da ciência da decisão a quo. NULIDADES Quando puder decidir o mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta a teor das disposições do art. 59, §3°, do Decreto nº 70.235/72. Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário Anocalendário: 2002, 2003, 2004 RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA SOLIDÁRIA EXCLUSÃO Exclui se do "Termo de Sujeição Passiva Solidária", exarado com base nas disposições do art. 124, inciso I, do Código Tributário Nacional, o contribuinte que mantinha com a pessoa jurídica mera relação comercial de fornecedor, sem prova de ingerência na administração da empresa e nem nos fatos que ensejaram a autuação. Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2002, 2003, 2004 Fl. 1302DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 12963.000033/200735 Acórdão n.º 9101002.413 CSRFT1 Fl. 3 3 OMISSÃO DE RECEITA PRESUNÇÃO LEGAL ART. 42 DA LEI Nº 9.430/1996 A intimação prévia para que o titular, pessoa jurídica ou pessoa física, comprove com documentação hábil e idônea, a origem dos recursos creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira se traduz em requisito mínimo, indispensável e obrigatório à aplicação da presunção legal. Recurso Voluntário Provido Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, não conhecer dos recursos interpostos pelas pessoas físicas Acyr Marcos Briccoli Filho e Márcio Aparecido Tarifa da Costa e, por maioria de votos, dar provimento ao recurso interposto pelo contribuinte José Ruy Gomes para cancelar as exigências tributárias, bem como excluílo da condição de responsável solidário, nos termos do relatório e voto que integram o presente julgado. Vencidos os conselheiros Carmen Ferreira Saraiva (Suplente Convocada) e Nelson Lósso Filho, que negaram provimento. (grifos acrescidos) A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional alega divergência quanto ao encaminhamento processual para o caso de acolhimento de preliminar de tempestividade de impugnação, cujo mérito não foi apreciado em primeira instância, apresentando como paradigma o Acórdão n° 10243.804, de 14/07/1999, efl.106, assim ementado: Ementa SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA Tendo sido considerada intempestiva a impugnação pela autoridade julgadora de primeira instância, e, sendo acolhida no recurso a preliminar de tempestividade, devolvese o processo àquela autoridade, para que a mesma se pronuncie acerca da peça impugnatória apresentada, sob pena de supressão de instância. Preliminar acolhida . Eis os fundamentos do recurso especial trazido pela recorrente: ... 8. Como antes relatado, a decisão recorrida entendeu pela tempestividade da impugnação do contribuinte José Ruy Gomes, passando a analisar o mérito do recurso do contribuinte. 9. Ocorre que, conforme se depreende do paradigma acima mencionado, decretada a tempestividade da impugnação do contribuinte, os autos devem ser encaminhados à Delegacia de Julgamento de origem para análise das alegações de mérito, sob pena de supressão de instância. 10. Nesse ponto, é oportuno observar que, esse Conselho Administrativo de Recursos Fiscais tem já se pronunciado inúmeras vezes no sentido de, acolhida a preliminar de tempestividade argüida pelo contribuinte, devese devolver os autos à instância inferior para análise das demais questões. Com efeito, não há qualquer razão para se dar tratamento diferenciado ao processo ora sob análise. Fl. 1303DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO 4 Ao final do recurso, a PGFN requer sejam os autos encaminhados à primeira instância (Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento do Rio de Janeiro I) para análise das alegações de mérito levantadas pelo sujeito passivo José Ruy Gomes. Quando do exame de admissibilidade do recurso especial da PGFN, a Presidente da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento do CARF, por meio do Despacho nº 1200 0.465/2009, de 15/12/2009, admitiu o recurso especial reconhecendo a existência da divergência suscitada, nos seguintes termos: [...] O acórdão indicado como paradigma realmente diverge do ora recorrido, uma vez que, ao afastar o problema da intempestividade, entendeu que deveria devolver o processo à primeira instância, sob pena de sua supressão, enquanto que o acórdão recorrido, abstraindo desse problema, enfrentou diretamente o mérito da autuação, e julgou o recurso sem que houvesse propriamente uma decisão recorrida, invocando para isso o disposto no art. 59, §3º, do Decreto nº 70.235/72. O Sr. José Ruy Gomes, na condição de responsável solidário pelo crédito tributário, foi cientificado em 09/02/2010 do Acórdão nº 1202000.133, do Recurso Especial da PGFN e do Despacho de Admissibilidade, conforme o Aviso de Recebimento à efl. 1218, e apresentou tempestivamente contrarrazões ao recurso, em 18/02/2010. Inicialmente, o sujeito passivo, ora recorrido, alega ausência de similitude fática entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma, do seguinte modo: Com efeito, da leitura da íntegra do paradigma apresentado depreendese que, naquela ocasião, a Impugnante não pôde protocolar sua defesa na data limite para sua apresentação, eis que a repartição preparadora se encontrava em estado de greve. Todavia, o referido contribuinte logrou êxito em comprovar a remessa postal de sua defesa em 19.04.94, fato que afastou a intempestividade argüida pelo julgador de 1" instância. Em última análise, o Acórdão paradigma tãosomente reconheceu a validade do envio da impugnação pela via postal, validando o AR que provou a citada remessa. No caso concreto, Senhores Conselheiros, a hipótese é bem diferente! Do relatório da r. decisão recorrida é possível depreender que o Recorrido não pôde exercer seu direito de defesa dentro do trintídio legal, uma vez que a intimação que lhe foi enviada não continha cópia do Termo de Verificação Fiscal, que continha a síntese dos fatos para a atribuição da responsabilidade. Vale dizer, a Câmara Recorrida reconheceu que a intimação original era nula por cerceamento ao direito de defesa. Em suma, no caso em apreço foi reconhecido o cerceamento de defesa representado pela intimação falha e a repercussão dessa falha na contagem do prazo para interposição de defesa; no caso tratado no paradigma, por sua vez, a discussão radicou em torno da comprovação da tempestividade mediante a data lançada no respectivo AR. São situações fáticas radicalmente distintas! Portanto, não havendo similitude fática entre os Acórdãos cotejados, não há como formar a divergência necessária à interposição do recurso especial, razão pela qual deve ser negado conhecimento ao apelo fazendário. Fl. 1304DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 12963.000033/200735 Acórdão n.º 9101002.413 CSRFT1 Fl. 4 5 Em seguida, argúi que houve "preclusão consumativa acerca da improcedência do lançamento, eis que a PFN não impugnou o acórdão recorrido no ponto em que esse, de ofício, reconheceu o caráter indevido da tributação formalizada em face da TANJUMINAS COMÉRCIO DE CEREAIS LTOA, que deu origem à atribuição de responsabilidade ao ora Recorrido". Argumenta ainda que, "não há como falar em supressão de instância se a improcedência do lançamento sequer foi aventada na impugnação, sendo reconhecida de ofício no âmbito do CARF. Vale dizer, na impugnação apresentada pelo Interessado foram pontuadas objeções exclusivamente à sua responsabilização solidária, sendo certo que a defesa de mérito incumbia à pessoa jurídica TANJUMINAS, que, segundo consta do processado, permaneceu silente". No mais, defende o resultado proferido no acórdão recorrido e, finalmente, pugna pelo nãoconhecimento do recurso interposto pela Fazenda Nacional, por lhe faltar o pressuposto de admissibilidade. Caso não seja esse o entendimento desse colegiado, requer seja negado provimento ao recurso especial ora contraposto, com a conseqüente manutenção do acórdão recorrido. É o relatório. Fl. 1305DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO 6 Voto Conselheiro Rafael Vidal de Araujo, Relator. O presente processo tem por objeto lançamento a título de IRPJ e reflexos (CSLL, PIS e COFINS) sobre fatos geradores ocorridos nos anoscalendário de 2002, 2003 e 2004, relativamente à empresa Tanjuminas Comércio de Cereais Ltda. A autuação fiscal está fundamentada em omissão de receita apurada a partir de depósitos bancários com origem não comprovada. O IRPJ e a CSLL foram apurados com base no lucro arbitrado, e as contribuições PIS e COFINS foram lançadas pelo regime cumulativo. Foi aplicada a multa qualificada de 150%. Além de autuar a própria pessoa jurídica, a Fiscalização também imputou responsabilidade solidária pelo crédito tributário às seguintes pessoas físicas: Acyr Marcos Briccoli Filho, José Ruy Gomes e Márcio Aparecido Tarifa da Costa. A pessoa jurídica não impugnou o lançamento. Na primeira fase do processo administrativo, apenas as pessoas físicas acima mencionadas apresentaram impugnação, tratando apenas do vínculo de responsabilidade tributária que lhes foi atribuído. A impugnação de José Ruy Gomes foi considerada intempestiva. As outras duas impugnações foram examinadas, e as exigências fiscais foram integralmente mantidas na primeira instância administrativa. Na seqüência, os responsáveis solidários apresentaram recurso voluntário. Dessa vez, a intempestividade recaiu sobre os recursos de Acyr Marcos Briccoli Filho e Márcio Aparecido Tarifa da Costa. Os recursos dessas pessoas, portanto, não foram conhecidos. Já o recurso voluntário de José Ruy Gomes foi conhecido e provido, não apenas para que se reconhecesse a tempestividade de sua impugnação na instância anterior. Conforme a ementa transcrita no início deste voto, a 2ª Turma Ordinária da 2a Câmara da 1a Seção do CARF, por meio do acórdão ora recorrido (Acórdão nº 1202000.133) deu provimento ao recurso voluntário para excluir José Ruy Gomes do pólo passivo, e, mais que isso, para cancelar as próprias exigências tributárias em razão de vício na feitura do lançamento (matéria suscitada de ofício). O recurso especial da PGFN suscita divergência especificamente quanto ao encaminhamento processual, após o CARF ter acolhido a preliminar de tempestividade da impugnação na fase anterior. Segundo a PGFN, uma vez decretada a tempestividade da impugnação do sujeito passivo, os autos deveriam ter sido encaminhados de volta à Delegacia de Julgamento Fl. 1306DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 12963.000033/200735 Acórdão n.º 9101002.413 CSRFT1 Fl. 5 7 de origem para análise das alegações de mérito contidas na impugnação, sob pena de supressão de instância. O que se contesta exatamente é o fato de o CARF ter decidido o feito sem que a Delegacia de Julgamento tivesse analisado o conteúdo (mérito) da impugnação de José Ruy Gomes. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO ESPECIAL Em sede de contrarrazões, o sujeito passivo/recorrido José Ruy Gomes argúi que o recurso especial interposto pela Fazenda Nacional não deve ser conhecido uma vez que ausente requisito essencial para a sua admissibilidade, porque inexiste similitude fática entre o acórdão recorrido e o acórdão paradigma apresentado pela recorrente/PGFN, nos seguintes termos: Em suma, no caso em apreço foi reconhecido o cerceamento de defesa representado pela intimação falha e a repercussão dessa falha na contagem do prazo para interposição de defesa; no caso tratado no paradigma, por sua vez, a discussão radicou em torno da comprovação da tempestividade mediante a data lançada no respectivo AR. São situações fáticas radicalmente distintas! Analisando o voto condutor do acórdão recorrido resta claro que, enquanto a decisão de primeira instância considerou intempestiva a impugnação apresentada por José Ruy Gomes; em segunda instância, a impugnação foi considerada tempestiva. A matéria trazida em sede de recurso especial não diz respeito às circunstâncias que levaram a ser considerada a impugnação tempestiva no acórdão recorrido, e o motivo da intempestividade no acórdão paradigma. Com efeito, a recorrente não se insurge sobre a tempestividade acolhida no acórdão recorrido. A divergência a que se refere o recurso especial da PFN é em relação à supressão de instância no julgamento do mérito da autuação em segunda instância, sem que houvesse uma decisão de primeira instância, como bem explicitado no Despacho nº 1200 0.465/2009 (efls.1208/1209) em que se examinou a admissibilidade do recurso especial: O acórdão indicado como paradigma realmente diverge do ora recorrido, uma vez que, ao afastar o problema da intempestividade, entendeu que deveria devolver o processo à primeira instância, sob pena de sua supressão, enquanto que o acórdão recorrido, abstraindo desse problema, enfrentou diretamente o mérito da autuação, e julgou o recurso sem que houvesse propriamente uma decisão recorrida, invocando para isso o disposto no art. 59, § 3°, do Decreto nº 70.235/72. Está claro que as diferenças entre as situações fáticas presentes nas decisões cotejadas em nada afeta a caracterização da divergência jurisprudencial. Portanto, a preliminar de não conhecimento do recurso especial deve ser rejeitada. Fl. 1307DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO 8 EXAME DE MÉRITO DO RECURSO ESPECIAL A divergência de interpretação da legislação tributária está associada ao problema da supressão de instância. Como já mencionado, o acórdão recorrido, invocando o disposto no §3º do art. 59 do Decreto nº 70.235/72, após reconhecer a tempestividade da impugnação de José Ruy Gomes na fase processual anterior, resolveu decidir completamente o feito, sem que a Delegacia de Julgamento tivesse analisado o conteúdo (mérito) da referida impugnação. Esta impugnação tratava da questão da imputação de responsabilidade tributária a José Ruy Gomes. Ou seja, o acórdão recorrido não apenas reconheceu a tempestividade da referida impugnação, como também adentrou no seu mérito para fins de excluir a responsabilidade de José Ruy Gomes e, mais que isso, cancelou as próprias exigências tributárias em razão de vício na feitura do lançamento (matéria suscitada de ofício). A questão da responsabilidade tributária abrangia matéria de prova (questões de fato). O que se demandava do julgador era a análise do conjunto probatório sobre a natureza do vínculo existente entre o responsável solidário José Ruy Gomes e a pessoa jurídica autuada. Não houve, assim, devolução dessa matéria para a instância revisora, já que ela nem chegou a ser analisada na primeira instância administrativa, porque a impugnação foi considerada inicialmente intempestiva. Evidente, assim, a supressão de instância quanto à imputação de responsabilidade tributária. Acontece que não se pode dizer que houve supressão de instância relativamente a outro ponto que foi julgado no acórdão recorrido, pois este identificou de ofício (pois esse tema não constou da impugnação do responsável tributário) um erro grave na feitura do próprio lançamento. Os depósitos bancários foram considerados diretamente como receita omitida, sem que a pessoa jurídica ou os responsáveis solidários fossem intimados para comprovar a sua origem. Assim, a autoridade fiscal não teria observado um requisito mínimo, indispensável e obrigatório para a aplicação da presunção legal contida no art. 42 da Lei 9.430/1996. Vale transcrever o conteúdo do referido dispositivo legal: Art. 42. Caracterizamse também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações. Isso inclusive configura matéria sumulada pelo CARF: Súmula CARF nº 29: Todos os cotitulares da conta bancária devem ser intimados para comprovar a origem dos depósitos nela efetuados, na fase que precede à lavratura do auto de infração com base na presunção legal de omissão de receitas ou rendimentos, sob pena de nulidade do lançamento. (grifos acrescidos) Fl. 1308DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 12963.000033/200735 Acórdão n.º 9101002.413 CSRFT1 Fl. 6 9 Vêse, assim, que o acórdão recorrido, além de apontar a nulidade da deficiente intimação do auto de infração e também a nulidade da decisão de primeira instância administrativa por cerceamento do direito de defesa (que motivaram a aplicação do §3º do art. 59 do Decreto nº 70.235/1972), identificou ainda outra nulidade, uma nulidade relativamente à feitura do próprio lançamento. Conforme já mencionado, essa outra nulidade foi suscitada de ofício pelo acórdão recorrido, e não foi objeto do recurso especial ora examinado. O recurso especial da PGFN está fundamentado no argumento de que o acórdão recorrido não deveria ter entrado no "mérito" da controvérsia (que dizia respeito à comprovação do vínculo da responsabilidade tributária). O problema é que o acórdão recorrido não fez apenas isso. Ele identificou a ocorrência de um grave erro no procedimento fiscal, que maculava o lançamento com vício de nulidade, conforme indica a própria Súmula CARF nº 29. Nessa toada, fazse mister conhecer do pedido da Fazenda: 11. Ex positis, a União (Fazenda Nacional) requer seja conhecido e provido o presente Recurso Especial, para reformar a decisão recorrida, devendo os autos ser encaminhados à primeira instância (Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento do Rio de Janeiro I) para análise das alegações de mérito levantadas pelo contribuinte José Ruy Gomes. (Grifouse) Os seguintes trechos das contrarrazões permitem ter uma boa visão do incidente processual: Outrossim, aproveita o ensejo para registrar a ocorrência da preclusão consumativa acerca da improcedência do lançamento, eis que a PFN não impugnou o acórdão recorrido no ponto em que esse, de ofício, reconheceu o caráter indevido da tributação formalizada em face da TANJUMINAS COMÉRCIO DE CEREAIS LTDA, que deu origem à atribuição de responsabilidade ao ora Recorrido. Diante desse contexto, cabe indagar: por que retornar o processo para a primeira instância proferir decisão em relação ao responsável tributário, se a exigência em face da pessoa jurídica foi afastada? Só há uma justificativa para esse pleito: a insistência na perpetuação dos processos. ... Vêse, portanto, que a decisão recorrida traz pronunciamento do colegiado sobre pontos diferentes, a saber: i) intempestividade dos recursos interpostos pelas outras pessoas físicas responsabilizadas pelos débitos da pessoa jurídica; ii) superação da nulidade em razão de decisão de mérito favorável ao sujeito passivo; iii) exclusão da responsabilidade solidária no caso de comprovação da existência de mera relação comercial, e; Fl. 1309DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO 10 iv) improcedência do lançamento contra a pessoa jurídica em razão de equívoco no procedimento fiscal, valendo lembrar que essa última questão foi suscitada de ofício pelo Ilustre Relator. Cabe registrar, destarte, que o Recurso interposto pela Douta Procuradoria em momento algum contesta o trecho da decisão recorrida em que, de ofício, o ilustre Relator reconhece a improcedência do lançamento contra a pessoa jurídica em razão da flagrante falha na determinação do fato índice, cuja comprovação deve anteceder a aplicação da presunção legal insculpida no art. 42 da Lei n° 9.430/96. Deveras, se essa questão foi suscitada de ofício em sede de recurso voluntário, deveria a Ilustre PGFN se Insurgir contra ela em sede de recurso especial, sob pena de ver operados os efeitos da preclusão consumativa em face dessa matéria! Ora, como falar em supressão de instância se a improcedência do lançamento sequer foi aventada na impugnação, sendo reconhecida de oficio no âmbito do CARF. Vale dizer, na impugnação apresentada pelo Interessado foram pontuadas objeções exclusivamente à sua responsabilização solidária, sendo certo que a defesa de mérito incumbia à pessoa jurídica TANJUMINAS, que, segundo consta do processado, permaneceu silente. Ademais, qual seria a utilidade de se devolver o processo à 1ª instância para que ela se manifeste sobre as objeções ao Termo de Sujeição Passiva, uma vez que a improcedência do lançamento foi declarada pela decisão recorrida e contra essa matéria não há recurso? A que serviria restabelecer uma sujeição passiva de um débito definitivamente inexistente? Portanto, tendo em vista que a improcedência do lançamento é matéria definitivamente resolvida em favor do sujeito passivo e que eventual pronunciamento da DRJ sobre a questão não traria qualquer alteração na exclusão da responsabilidade do interessado, não há como prosperar o recurso manejado pela Douta Procuradoria. Esclarecidos os rumos que tomou o processo, há que se reconhecer que o problema da falta de apreciação da impugnação do responsável tributário José Ruy Gomes na primeira instância administrativa (DRJ) tornouse uma questão irrelevante. Diante do cancelamento do próprio lançamento fiscal, conforme apontado pelo acórdão recorrido, não cabe enviar de volta o processo para a primeira instância administrativa examinar provas do vínculo de responsabilidade tributária de uma das pessoas arroladas. Ou ainda, se for dado provimento ao recurso da Fazenda Nacional, entendendose indevida a supressão de instância, o acórdão recorrido somente será reformado na parte que julgou a imputação da responsabilidade tributária, restando não reformada a parte que cancelou as exigências tributárias. Ainda nessa hipótese, o processo receberá nova decisão da DRJ sobre responsabilidade tributária, mas a parte da decisão do CARF que cancelou o lançamento permanecerá válida. Por certo que a DRJ não poderá reformar a parte da decisão do CARF que exonera o crédito tributário. Tampouco este colegiado poderá reformar a parte do acórdão recorrido que cancelou as exigências tributárias, pois esse tema não foi objeto do Fl. 1310DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO Processo nº 12963.000033/200735 Acórdão n.º 9101002.413 CSRFT1 Fl. 7 11 recurso especial (tampouco a Fazenda Nacional recorreu da possibilidade de Turma Ordinária do CARF examinar matéria de ofício). Concluise, portanto, que o objeto do recurso especial é ineficaz para os fins de obtenção do crédito tributário, sendo a parte da decisão do acórdão recorrido que exonerou os lançamentos e não foi recorrida prejudicial ao objeto do recurso especial. A necessidade de uniformização da jurisprudência, que é o fim primário do recurso especial, não pode prescindir da efetividade de se obter uma decisão útil para o caso concreto, sob pena de se travar discussões sem resultados práticos, o que seria apenas amor ao debate. Apenas a anulação do acórdão recorrido poderia recuperar a utilidade da discussão da supressão de instância. No presente caso, eventual anulação do acórdão recorrido somente poderia se dar de ofício, já que a anulação do acórdão guerreado não foi objeto do pedido da Fazenda Nacional. Ocorre que, segundo dispositivo delegatório do RICARF, houve colmatação de que não haverá, no âmbito do julgamento do recurso especial, anulação de ofício de acórdãos das turmas ordinárias do CARF, razão pela qual sequer se faz necessário analisar se o Acórdão nº 1202000.133, de 24/08/2009, padece, ou não, de nulidade. Desse modo, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso especial da PGFN. (documento assinado digitalmente) Rafael Vidal de Araujo Relator Fl. 1311DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO 12 Declaração de Voto Conselheiro André Mendes de Moura Não obstante o substancioso voto do Relator, peço vênia para divergir por entender que a decisão da turma ordinária do CARF incorreu em nulidade. Isso porque a decisão de primeira instância (DRJ) declarou a intempestividade da impugnação apresentada. Irresignado, o Contribuinte recorreu à segunda instância, que afastou a intempestividade. Ocorre que a turma ordinária do CARF, após superar o exame de admissibilidade, avançou e apreciou o mérito do recurso. No caso em análise, como a DRJ declarou a intempestividade, não foi superada a admissibilidade, e por consequência não foi examinado o mérito das alegações postas na impugnação. Portanto, caberia à turma ordinária do CARF, ao afastar a tempestividade, devolver os autos para a DRJ, para apreciação do mérito, sob pena de supressão de instância. Poderseia superar a supressão de instância apenas no caso de a turma julgadora que superou a admissibilidade depararse com mérito que poderia ser resolvido mediante aplicação de súmula de maneira direta, em questão de direito. Contudo, nos presentes autos, a turma recorrida, mediante análise dos documentos dos autos, entendeu pela ocorrência de uma nulidade na autuação fiscal, e de ofício afastou o lançamento. Ora, cognição envolvendo valoração de prova pode receber diferentes interpretações. O caso em tela, apesar da aplicação de súmula, envolveu, anteriormente, apreciação de documentação probatória. Questão de fato, com potencial de revisão, podendo inclusive resultar no afastamento da aplicação do entendimento sumular. Por sua vez, a nulidade vem tutelar, principalmente, o direito de defesa e contraditório das partes da relação processual. Consumandose a supressão de instância, restou evidente, nos presentes autos, o prejuízo da PGFN. Nesse contexto, incorreu em irregularidade insanável o Acórdão nº 1202 000.133, de 24/08/2009, proferido pela 2ª Turma Ordinária da 2a Câmara da 1a Seção de Julgamento do CARF. Entendo, portanto, que a decisão da turma a quo é eivada de nulidade. Nesse contexto, os autos deveriam retornar para a DRJ, para a retomada do rito processual, qual seja, a apreciação do mérito pela primeira instância administrativa. É como voto. (Assinado Digitalmente) André Mendes de Moura Fl. 1312DF CARF MF Impresso em 14/10/2016 por RECEITA FEDERAL - PARA USO DO SISTEMA CÓ PI A Documento assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2 de 24/08/2001 Autenticado digitalmente em 30/09/2016 por MOEMA NOGUEIRA SOUZA, Assinado digitalmente em 03/10/2016 por RAFAEL VIDAL DE ARAUJO, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por ANDRE MENDES DE MOURA, Assinado digitalmente em 14/10/2016 por MARCOS AURELIO PEREIRA VALADAO
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