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Numero do processo: 10768.003508/2003-01
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Thu Mar 16 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Apr 24 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2002
INTIMAÇÃO. PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL. DECRETO 70.235/1972, ART 23, §9º.
Os Procuradores da Fazenda Nacional são intimados após o transcurso de 30 dias da entrega dos autos à Procuradoria, na forma do artigo 23, §9º, do Decreto nº 70.235/1972. Portanto, é tempestivo o recurso especial interposto após o transcurso de 15 dias contados desta intimição.
PRINCIPAL FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. INTERPRETAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA.
Como o acórdão recorrido fundou-se no artigo 55, da Lei nº 7.450/1985, o recurso especial há de ser conhecido para interpretação do dispositivo da lei tributária.
DIVERGÊNCIA NA INTERPRETAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO.
Há divergência na interpretação da lei tributária quando os acórdãos paradigma e recorrido enfrentam a prova da retenção na fonte para fins de apuração de saldo negativo de IRPJ em processo de compensação.
COTEJO ANALÍTICO. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 67, §8º, DO ATUAL RICARF.
A demonstração da divergência na interpretação da lei tributária, em razões de recurso especial, implica no conhecimento deste recurso.
PROVA. RETENÇÃO NA FONTE. SALDO NEGATIVO. LEI 7.450/185, ART. 55, RIR/99, ART. 943, §2º.
A prova da retenção na fonte tanto pode ser efetuada pela juntada de informe de rendimentos, quanto por outros documentos apresentados pela contribuinte.
Numero da decisão: 9101-002.684
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(Assinado digitalmente)
Carlos Alberto Freitas Barreto- Presidente.
(Assinado digitalmente)
Cristiane Silva Costa - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente).
Nome do relator: CRISTIANE SILVA COSTA
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ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 INTIMAÇÃO. PROCURADORIA DA FAZENDA NACIONAL. DECRETO 70.235/1972, ART 23, §9º. Os Procuradores da Fazenda Nacional são intimados após o transcurso de 30 dias da entrega dos autos à Procuradoria, na forma do artigo 23, §9º, do Decreto nº 70.235/1972. Portanto, é tempestivo o recurso especial interposto após o transcurso de 15 dias contados desta intimição. PRINCIPAL FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO RECORRIDO. INTERPRETAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA. Como o acórdão recorrido fundouse no artigo 55, da Lei nº 7.450/1985, o recurso especial há de ser conhecido para interpretação do dispositivo da lei tributária. DIVERGÊNCIA NA INTERPRETAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO. Há divergência na interpretação da lei tributária quando os acórdãos paradigma e recorrido enfrentam a prova da retenção na fonte para fins de apuração de saldo negativo de IRPJ em processo de compensação. COTEJO ANALÍTICO. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 67, §8º, DO ATUAL RICARF. A demonstração da divergência na interpretação da lei tributária, em razões de recurso especial, implica no conhecimento deste recurso. PROVA. RETENÇÃO NA FONTE. SALDO NEGATIVO. LEI 7.450/185, ART. 55, RIR/99, ART. 943, §2º. A prova da retenção na fonte tanto pode ser efetuada pela juntada de informe de rendimentos, quanto por outros documentos apresentados pela contribuinte. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 76 8. 00 35 08 /2 00 3- 01 Fl. 970DF CARF MF 2 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em negarlhe provimento. (Assinado digitalmente) Carlos Alberto Freitas Barreto Presidente. (Assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flávio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Carlos Alberto Freitas Barreto (Presidente). Relatório Tratase de processo originado pela apresentação de PERDCOMP. A Delegacia da Receita Federal proferiu despacho decisório (Parecer nº 1/2005) não homologando a compensação, diante da "não comprovação da existência de crédito tributário apontado (parte do Imposto de Renda Retido na Fonte não consta nas DIRFs apresentadas pelas fontes pagadoras)". Assim, foi indeferido o valor de crédito no importe de R$ 116.656,43 (fls. 773). Destaco trecho de manifestação da DEINF que justificou a negativa da compensação: Verificase, destarte, que a parcela total pleiteada pelo interessado de Imposto de Renda Retido na Fonte no decorrer do ano de 2002 foi de R$ 1.178.146,01. As fls. 62 a 93 foi anexada a DIRF relativa ao anocalendário de 2002. Como os valores até então encontrados não se mostravam coerentes, o interessado voltou a ser chamado, para prestar esclarecimentos complementares, através da Intimação n° 102/2004, de 24 de agosto de 2004, anexada por cópia As fls. 94 (Aviso de Recebimento As fls. 95). Em resposta, o interessado apresentou cópias do Livro Razão Analítico, contendo todos os lançamentos e as operações efetuadas, no que diz respeito A Fl. 971DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 971 3 formação do saldo negativo do IRPJ de 2002, quadros demonstrativos de Imposto de Renda Retido na Fonte de que o interessado tenha sido beneficiário no ano de 2002, comprovantes de retenção do IRRF, que corroborassem os valores constantes dos quadros demonstrativos antes mencionados e comprovação do recolhimento do imposto no exterior sobre lucros, rendimentos e ganhos de capital no valor de R$ 465.418,63, no mês de dezembro de 2002, com explicação detalhada sobre o mesmo. A documentação apresentada foi anexada As fls. 125 a 412. Deste novo atendimento à Intimação n° 102/2004, ressaltase a existência de duas observações importantes para a análise do presente processo (fls. 125 e 126): a) Contabilização do Imposto de Renda Retido na Fonte: conforme explanação do interessado, até 31/12/2002, a empresa vinha adotando o regime de caixa para a contabilização do IRRF sobre juros de capital próprio (JCP) apenas no momento do pagamento (recebimento) dos mesmos os valores eram registrados na contabilidade, ou seja, regime de caixa. A partir da mencionada data, o interessado alterou tal procedimento, passando a reconhecer os juros de capital próprio no momento da deliberação dos mesmos, registrando, portanto, em 31/12/2002, os valores que já haviam sido deliberados mas que ainda não haviam sido pagos (reclassificação contábil registrada no Livro Razão, em 31/12/2002, pelo valor de R$ 318.378,79 (fls. 254 a 256)); b) Imposto pago no exterior sobre lucros, rendimentos e ganhos de capital: O Pactual Banking Limited, sediado nas Bahamas e subsidiária integral do interessado, concedia linha de crédito para a matriz (Banco Pactual S/A), que, mensalmente remetia juros para sua subsidiária, com incidência de IRRF (código de recolhimento 0481 juros e comissões em geral). (...) Cumpre, destarte, verificar se as premissas necessárias à compensação pleiteada foram devidamente cumpridas, a saber, se o lucro do Pactual Banking Limited foi devidamente computado na apuração do Lucro Real do Banco Pactual S/A em 2002, com os seguintes limites (art. 26 da Lei 9.249/95: 1) até o limite do Imposto de Renda incidente no Brasil sobre referidos rendimentos, e 2) proporcional ao total, do Imposto de Renda e adicional, devido pela pessoa jurídica no Brasil. Conforme as cópias de partes da DIPJ/2003, anexadas as fls. 621 a 624 (quadros 36 e 37), verificase que houve, efetivamente, a declaração dos lucros da subsidiária na apuração do Lucro Real do interessado. Para o montante de lucros disponibilizados de R$ 1.861.674,51 corresponde a retenção na fonte de R$ 465.418,63 (valor limite para as compensações de imposto pago no exterior, conforme pleiteado pelo interessado). Fl. 972DF CARF MF 4 As cópias de DARF's apresentadas pelo interessado como sendo relativas ao recolhimento de Imposto de Renda Retido na Fonte sobre as remessas de juros para o Pactual Banking Limited, código de recolhimento 04811, encontramse na tabela a seguir: (...) Verificase, assim, que do total recolhido de R$ 1.013.410,28, o interessado só aproveitou R$ 465.418,63, equivalentes a 25% sobre o Lucro Disponibilizado de R$ 1.861.674,51(§ 1° do art. 26 da Lei n°9.249/96). (...) Considerando que do valor de Imposto de Renda Retido na Fonte pleiteado pelo interessado em sua DIPJ/2003 (ano calendário 2002 – R$ 1.178.146,01 só foram comprovados e constaram das DIRF's apresentadas pelas fontes pagadoras um total de R$ 1.052.099,67, existindo uma diferença de R$ 126.035,62 (conforme tabela retro) o que supera em R$ 12.938,33 o valor pleiteado pelo interessado como imposto a restituir/compensar (R$ 113.097,29), proponho que não seja homologada a Declaração de Compensação de fls. 01. Antes, porém, proponho o envio do presente processo à Seção de Programação, Avaliação e Controle da Atividade Fiscal (Deinf/RJOSapac), para a extração das peças processuais necessárias a um eventual procedimento de fiscalização, restituindose, após, o processo a esta Diort para ciência ao interessado deste despacho decisório e demais providências. (...) A contribuinte apresentou manifestação de inconformidade, (fls. 779/784), rejeitada pela Delegacia da Receita Federal de Julgamento no Rio de Janeiro, conforme acórdão do qual se destaca ementa (fls. 841): ASSUNTO: OUTROS TRIBUTOS OU CONTRIBUIÇÕES Anocalendário: 2002 COMPENSAÇÃO NÃO HOMOLOGADA. Mantémse o Despacho Decisório proferido na forma da legislação de regência. Solicitação Indeferida. Destaco trechos do acórdão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento no Rio de Janeiro: A autoridade lançadora, através do Despacho Decisório — Parecer n° 001/2005 (fls. 643/648 e 651/652), não homologou a compensação "considerando que do valor de Imposto de Renda Retido na Fonte pleiteado pelo interessado em sua DIPJ/2003 (anocalendário 2002 — R$1.178.146,01 só foram comprovados e constaram das DIRF's apresentadas pelas fontes pagadoras um total de R$1.052.099,67, existindo uma diferença de R$126.035,62 (conforme tabela retro) o que supera em R$12.938,33 o valor pleiteado pelo interessado como imposto a restituir/compensar (R$113.097,29)". No Parecer, na tabela à fl. 647, encontramse indicados os valores pedidos, os valores concedidos e os valores indeferidos. Os valores concedidos (que foram comprovados e constaram das Fl. 973DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 972 5 DlRFs) foram demonstrados nas planilhas de fls. 590/591 e 639/642, elaboradas a partir da análise dos documentos juntados aos Autos. Ao contrario do que entende o interessado, a DIRF não comprova a efetiva retenção. O entendimento da autoridade lançadora não merece reparo. Os valores que constam das DIRFs devem ser comprovados. Apenas os valores comprovados e que constaram das DIRFs podem ser aceitos. A jurisprudência não tem força vinculante. Não comprovado o direito creditório, não há que se falar em compensação. Sendo apresentado recurso voluntário (fls. 847/855), a 2ª Turma Especial da Primeira Seção de Julgamento deste Conselho deulhe provimento, conforme ementa a seguir reproduzida: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 DECLARAÇÃO DE COMPENSAÇÃO. SALDO NEGATIVO FORMADO POR RETENÇÕES NA FONTE. As retenções na fonte configuram antecipações de pagamento e o fato de não constarem de demonstrativo apresentado pela Contribuinte em atendimento a intimação fiscal, ou de lá constarem em valor menor do que o efetivamente se deu, não justifica a sua exclusão ou a redução de seu valor para a formação do saldo negativo do período. Destaco trecho do voto do Relator, ex Conselheiro José de Oliveira Ferraz Corrêa, acompanhada pelo Colegiado a quo: Em 2002, a Contribuinte apurou saldo negativo de imposto de renda em sua DIPJ no valor de R$ 113.091,48 (fls. 58), e reivindicou em sua declaração de compensação R$ 113.097,29 a esse mesmo título (fl. 1). A formação do saldo negativo do período abrangeu várias rubricas, mas a controvérsia se deu sobre o valor das retenções na fonte utilizadas como dedução do imposto: (...) A Contribuinte informou que o IRRF sobre as receitas de comissões e corretagens decorrentes da colocação e negociação de títulos e valores mobiliários deve ser recolhido pela instituição prestadora dos serviços (ou seja, por ela mesma); que realizou diversas operações de colocação e negociação de títulos no anobase de 2002, nas quais foi a responsável pelo recolhimento do IRRF; e que para fins de comprovação, encaminhava as cópias das guias de recolhimento do IRRF destas operações (DARFs com código 8045). Fl. 974DF CARF MF 6 Informou também, em relação aos juros sobre o capital próprio JCP, que adotava o procedimento de reconhecer o IRRF apenas no momento do pagamento dos juros, não obstante a receita ser contabilizada quando da deliberação do pagamento; que em função disso, diversos valores contabilizados em 2002 decorreram de JCP deliberados em 2001, os quais devem ter sido informados pela fonte pagadora na DIRF do anobase de 2001; que estava apresentando quadro demonstrativo com o IRRF relativo aos JCP deliberados em 2001 e que foram pagos em 2002; que em 31/12/2002, alterou o procedimento para reconhecer o IRRF quando da deliberação dos JCP, e que, portanto, naquela data registrou contabilmente todos os valores de IRRF que já haviam sido deliberados, mas ainda não haviam sido pagos. A Contribuinte ainda registrou que os comprovantes de IRRF sobre os JCP são preparados e fornecidos pela instituições financeiras custodiantes das ações; que não recebeu todos os informes de rendimentos e que os Bancos estavam em greve, não sendo possível a obtenção da 2ª via destes comprovantes; que apresentava como comprovante de retenção, para os casos em que não tinha o informe de rendimentos, o relatório enviado pela Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia – CBLC; e que na cópia do Razão também apresentado em atendimento à intimação, ela incluiu a data em que os valores de IRRF constam no relatório da CBLC. (...) É preciso fazer várias considerações sobre o procedimento realizado pela Delegacia de origem. Em primeiro lugar, a controvérsia envolvendo o valor das retenções não decorre de “diferenças entre a DIRF da Recorrente e as DIRFs das fontes retentoras”. Aliás, o relatório de retenções, às fls. 62 a 93, cujos valores são defendidos pela Recorrente, não é nada mais que uma síntese das informações extraídas das DIRF das próprias fontes pagadoras, que foram selecionadas e agrupadas em função do beneficiário dos pagamentos (no caso, a Recorrente). (...) Mas a negativa do direito creditório pela Delegacia de origem também não está fundada na falta de comprovação, pela interessada, dos valores informados em DIRF pelas fontes pagadoras.O Demonstrativo de fls. 639 a 642, relativamente ao código 5706, evidencia os critérios utilizados na aceitação ou não dos valores a título de retenção de IR. A unidade de origem: reconheceu valores que estavam apenas em DIRF, sem a apresentação do comprovante anual de rendimentos (é o caso das fontes: Telemar Norte Leste, Embraer, CBLC, Duratex, Tele Ceará e Tractebel); reconheceu valores constantes da DIRF do ano anterior – 2001 (é o caso das fontes: Perdigão, Tele Celular Sul, Telesp, Celular CRT, Cemig, Coteminas, Gerdau S/A, Tele Ceará, Tractebel); Fl. 975DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 973 7 reconheceu crédito quando o Demonstrativo da Contribuinte apresentava valor maior que o informado em DIRF, levando em conta os comprovantes apresentados pela Contribuinte (é o caso da fonte Centrais Elét. Bras.). Foram, portanto, admitidos valores das DIRF/2002 e DIRF/2001, e também valores que embora não constassem em DIRF, estavam amparados por comprovantes anuais de rendimentos apresentados pela Contribuinte. Mas o que é importante destacar é que a unidade de origem limitou o reconhecimento do crédito ao valor que a Contribuinte discriminou no Demonstrativo de fls. 148/149 relativamente a cada fonte pagadora. O caso da retenção feita pela Telemar Centro Oeste Cel. no código 5706 é ilustrativo: tanto a DIRF/2002, quanto o comprovante anual de rendimentos (fls. 484renumerada), indicavam retenção no valor de R$ 15.294,75, mas o “valor aceito” foi apenas de R$ 15.105,72, que é o constante do Demonstrativo de fls. 148/149. Há várias outras situações semelhantes para o código 5706, em que o reconhecimento do crédito ficou limitado ao valor constante do Demonstrativo apresentado pela Contribuinte (é o caso das fontes: Tele Celular Sul, Telesp, Sadia S/A, CST, Telemar Norte Leste, Petrobrás, Gerdau S/A, Bradesco, CBLC, Metalúrgica Gerdau, Tele Ceará, IR Tesouraria Pactual Asset Man). (...) No início do Parecer nº 001/2005 (fls. 643 a 648), a unidade de origem, após mencionar o novo regramento para a compensação de tributos, instituído pela Lei 10.637/2002 e pelas IN SRF 210/2002 e IN SRF 323/2003, fez o registro do critério que adotaria mais adiante para o reconhecimento do crédito: De acordo com estes diplomas normativos somente passou a ser apreciado o direito creditório do interessado, relativamente ao valor utilizado para levar a efeito a compensação declarada, havendo, em decorrência da análise do direito ao crédito, a proposta de homologação ou não da compensação. Assim, mesmo levando em conta as DIRF de 2002 e 2001, os comprovantes anuais de rendimentos e ainda os DARF recolhidos pela própria Contribuinte com o código 8045, o valor das retenções admitidas não alcançou R$ 1.178.146,01 (IRRF deduzido na DIPJ), porque a unidade de origem limitou o reconhecimento das retenções aos valores que constavam do Demonstrativo de fls. 148/149, relativamente a cada uma das fontes pagadoras lá indicadas pela Contribuinte. As retenções na fonte configuram antecipações de pagamento e o fato de não constarem do demonstrativo apresentado pela Contribuinte em atendimento a intimação fiscal, ou de lá contarem em valor menor do que o efetivamente se deu, não Fl. 976DF CARF MF 8 justifica a sua exclusão ou a redução de seu valor para a formação do saldo negativo do período. Quanto às retenções no código 5706, o quadro abaixo evidencia o montante das glosas em razão do critério de limitar o reconhecimento do crédito aos valores constantes do referido Demonstrativo que foi apresentado pela Contribuinte (...) Há uma situação semelhante para o código 1708, em que a retenção de R$ 23.799,47, realizada por “IR Tesouraria Pactual Asset Man”, ficou limitada ao valor de R$ 360,00. O mesmo pode ser dito em relação às retenções em 2002, com o código 3426, no valor de R$ 81.754,71, que embora estivessem constando das DIRF das fontes pagadoras, também não foram computadas porque não estavam discriminadas no referido Demonstrativo de fls. 148/149. Não há base, portanto, para a glosa das retenções, que ensejou a reversão total do saldo negativo reivindicado pela Contribuinte. As diferenças apontadas acima, somadas às retenções já reconhecidas pela Delegacia de origem, são mais que suficientes para o restabelecimento do saldo negativo em 2002, no valor de R$ 113.097,29, este sim um montante limitador do crédito a ser reconhecido, porque é o que foi reivindicado pela Contribuinte em sua declaração de compensação. A Procuradoria recebeu os autos do processo em 23/04/2013, interpondo recurso especial em 06/06/2013, no qual alega divergência na interpretação da lei tributária a respeito da comprovação da retenção exclusivamente por informe de rendimentos, indicando como paradigmas os acórdãos: (a) 10323022 (processo administrativo nº 13805.006298/9735), no qual se decidiu que "No que se refere à comprovação do imposto de renda na fonte, o meio probatório adequado, por expressa disposição legal, é o “comprovante de retenção” emitido pelo responsável por substituição. Meras notas fiscais da própria emissão do interessado não são documentos suficientes para o reconhecimento do imposto supostamente retido." (b) 10514858 (processo administrativo nº 13819.002523/9921), do qual se extrai: "Não é admitida como prova de retenção de imposto de renda na fonte a juntada de notas fiscais. O reconhecimento de tal retenção se faz através do valor registrado a título de IR FONTE no documento fornecido pela fonte pagadora denominado de ʺComprovante de Retenção de Imposto de Renda na Fonteʺ O Presidente da 2ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento (Conselheiro Rafael Vidal de Araújo) deu seguimento ao recurso especial, em decisão da qual se reproduz trecho a seguir: Do cotejo entre as ementas e os votos condutores dos arestos, recorrido e paradigmas, verificase que o tratamento foi diferenciado vez que, no recorrido concluiuse que as retenções na fonte configuram antecipações de pagamento e o fato de não constarem de demonstrativo apresentado pela contribuinte em atendimento a intimação fiscal, ou de lá constarem em valor Fl. 977DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 974 9 menor do que o efetivamente se deu, não justifica a sua exclusão ou a redução de seu valor para a formação do saldo negativo do período. A decisão recorrida afirma que não há base, portanto, para a glosa das retenções, que ensejou a reversão total do saldo negativo reivindicado pela contribuinte. Quanto aos paradigmas nº 10323022 e 10514858, entenderam que é necessário a comprovação pelo contribuinte, por meio da apresentação do comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora, do valor retido a título de IRRF, não havendo que se falar em aceitação de outras provas da retenção. A Fazenda Nacional alega que não se trata de matéria que admite qualquer meio de prova, mas sim de matéria cuja comprovação contém forma específica e legalmente estabelecida, não podendo o julgador se furtar à observância de tal preceito, aceitando prova distinta. Por tais razões, neste juízo de cognição sumária, concluise pela caracterização das divergências de interpretação suscitadas. Conclusão Assim sendo, com fundamento nos artigos 68 e 69, do Regimento Interno do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, aprovado pela Portaria MF nº 343, de 09/06/2015, e em cumprimento ao disposto no inciso III do art. 18, DOU SEGUIMENTO ao recurso especial, interposto pela Fazenda Nacional, para que seja reapreciada a matéria em discussão. A contribuinte apresentou contrarrazões ao recurso especial em 15/04/2016, requerendo seja lhe seja negado conhecimento, por (i) falta de interesse recursal da Procuradoria, na medida em que "tal recurso não se volta contra o fundamento norteador do v. acórdão recorrido", (ii) falta de similitude fática e de interpretação divergente (paradigmas tratariam da inadmissibilidade de notas fiscais como prova da retenção do IRRF); (iii) impossibilidade de rediscussão da matéria fático probatória; (iv) ausência de cotejo analítico exigido pelo artigo 67, §6º, do RICARF. No mérito, a Recorrida pede seja negado provimento ao recurso especial da Procuradoria e, subsidiariamente, caso vencida, a contribuinte pleitea baixem os autos à Turma a quo para apreciação da nulidade da decisão da DRJ, por falta de intimação das fontes pagadoras para prestarem esclarecimentos. Voto Conselheira Cristiane Silva Costa, Relatora Fl. 978DF CARF MF 10 Tempestividade: Consta dos autos remessa dos autos à Procuradoria em 23/04/2013 (fls.883), iniciandose em 24/04/2013 o cômputo do prazo de 30 dias para se considerar intimado o procurador, na forma do artigo 23, §9º, do Decreto nº 70.235/1972, verbis: Art. 23. Farseá a intimação (...) § 9º Os Procuradores da Fazenda Nacional serão considerados intimados pessoalmente das decisões do Conselho de Contribuintes e da Câmara Superior de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda, com o término do prazo de 30 (trinta) dias contados da data em que os respectivos autos forem entregues à Procuradoria na forma do § 8o deste artigo Intimado o procurador em 23/05/2013, o prazo para interposição de recurso especial esgotouse em 07/06/2013, na forma do artigo 37, §2º, do Decreto nº 70.235/1972. Tendo sido interposto recurso especial em 06/06/2013, concluise pela sua tempestividade. Principal fundamento do acórdão recorrido A Recorrida alega que não merece conhecimento o recurso especial, por falta de interesse recursal, na medida em que "tal recurso não se volta contra o fundamento norteador do v. acórdão recorrido". De acordo com as contrarrazões: "o v. acórdão recorrido é claro no sentido de atestar que as parcelas de IRRF devidamente comprovadas nestes autos, inclusive, superariam o valor de SN/IRPJ/02 pleitado". De fato, o principal argumento do acórdão recorrido foi a existência retenções na fonte suficientes à comprovação do saldo negativo pleiteado nos autos. Ocorre que a conclusão do acórdão recorrido depende da interpretação do artigo 55, da Lei nº 7.450/1985, afinal, se apenas o informe de rendimentos fosse suficiente à prova do direito alegado pela contribuinte em processo originado por compensação (como entenderam os julgadores em acórdãos paradigmas), a solução jurídica adotada pela Turma a quo poderia ser distinta. Por tal razão, supero a alegação de falta de enfrentamento do principal argumento do acórdão recorrido, para fins de conhecimento do recurso especial. Divergência na interpretação da lei tributária: Em contrarrazões, a contribuinte ainda requer o não conhecimento do recurso especial por falta de similitude fática e de interpretação divergente, considerando que paradigmas tratariam de inadmissibilidade de notas fiscais emitidas pelo próprio contribuinte, para fins de prova da retenção de IRRF. Lembro que a Procuradoria indicou dois acórdãos paradigmas, quais sejam, 10323022 e 10514858. O primeiro acórdão paradigma (10323022) trata da seguinte situação de fato, descrita naquela decisão: Fl. 979DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 975 11 O interessado formulou pedido de restituição (fl. 01) de saldos credores de IRPJ, relativos aos anoscalendário de 1992 a 1996, decorrentes de IRRF retidos sobre serviços prestados a terceiros. A autoridade local deferiu parcialmente o pedido (fls. 1488/1490 e 2548/2657). Só acolheu os valores esteados nos comprovantes de retenção de imposto de renda na fonte apresentadas pela interessada ou nos sistemas de consulta da SRF. Não reconheceu aqueles fundados apenas em notas fiscais em razão do disposto no art. 55 da Lei n° 7.450/85. (...) A autuada apresentou manifestação de inconformidade às fls. 2.678 a 2.686, na qual alega, em síntese, que, na ausência dos informes de rendimentos, o crédito deve ser analisado por meio das notas fiscais. (...) A decisão recorrida negou provimento à manifestação em face do disposto no art. 979, § 2°, do RIR/1994 (atual art. 943, § 2° do RIR/1999). Considerou a autoridade necessária a apresentação do comprovante de retenção emitido pela fonte pagadora. (...) O sujeito passivo apresentou recurso voluntário tempestivo às fls. 2.926 a 2.936, no qual, em síntese, reitera as razões apresentadas, na peça de manifestação, que estariam esteadas em decisões da própria Secretaria da Receita Federal (Soluções de consulta da 8ª e da 4ª Regiões Fiscais, bem como decisões das Delegacias de Julgamento de Florianópolis e de Fortaleza). Nesse contexto, a Turma Julgadora deste acórdão (primeiro paradigma, nº 10323022) analisou a lei tributária da forma seguinte, conforme voto vencedor: Por óbvio, a escrituração contábil e os documentos subscritos pela própria pessoa contra ela fazem prova; o contrário, porém, não é verdadeiro. Para o interessado constituir prova a seu favor, não basta carrear aos autos elementos por ele mesmo produzidos; deverá ratificálos por outros meios probatórios, cuja formação não tenha dependido exclusivamente da sua vontade. No caso específico do imposto de renda retido na fonte, esse entendimento está estampado expressamente na própria lei (art. 55, Lei n° 7.450/85), que exige para o reconhecimento do direito creditório a apresentação do comprovante da retenção emitido pela fonte pagadora. Vejamos a redação do dispositivo legal: "Art 55 O imposto de renda retido na fonte sobre quaisquer rendimentos somente poderá ser compensado na declaração de pessoa física ou jurídica, se o contribuinte possuir comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora dos rendimentos". Dessarte, a apresentação de meras notas fiscais, que são documentos elaborados pelo próprio interessado, não é suficiente para comprovar o alegado direito. (...) Fl. 980DF CARF MF 12 O acórdão recorrido está fundado na seguinte situação de fato, devidamente descrita no relatório: Tratase de recurso voluntário contra decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento do Rio de Janeiro – DRJ/RJ I, que manteve a negativa de homologação em relação a declaração de compensação apresentada pela Contribuinte (fls. 1 e 2), nos mesmos termos que já havia decidido anteriormente a Delegacia de origem. (...) Os fatos que deram origem ao presente processo estão assim descritos no relatório da decisão recorrida, Acórdão nº 1213.526, às fls. 703 a 705: Versa o presente processo sobre a Declaração de Compensação (DComp) de fls. 1/2. Através do Despacho Decisório — Parecer n° 001/2005 (fls. 643/648 e 651/652), não foi homologada a compensação “considerando que do valor de Imposto de Renda Retido na Fonte pleiteado pelo interessado em sua DIPJ/2003 (ano calendário 2002 — R$ 1.178.146,01 só foram comprovados e constaram das DIRF´s apresentadas pelas fontes pagadoras um total de R$ 1.052.099,67, existindo uma diferença de R$126.035,62 (conforme tabela retro) o que supera em R$12.938,33 o valor pleiteado pelo interessado como imposto a restituir/compensar (R$113.097,29)”. Notase uma pequena distinção entre o primeiro acórdão paradigma (103 23022) e o acórdão recorrido, qual seja, o acórdão recorrido menciona a inexistência de informação de retenção na fonte nas DIRF's apresentadas pelas fontes pagadoras. E, além disso, o acórdão paradigma trata da impossibilidade de prova de retenção por meio de notas fiscais. As pequenas diferenças fáticas são insuficientes para afastar a similitude fática entre o acórdão recorrido e o primeiro acórdão paradigma, eis que ambos os casos tratam da prova de retenção na fonte para fins de apuração de saldo negativo em processo de compensação. É sempre bom lembrar que não tratamos de identidade fática, mas similitude. Pondero que o acórdão recorrido não explicita qual a norma por ele interpretada, embora esteja claramente tratando do ônus da prova de retenção na fonte e, assim, sua conclusão dependa da apreciação do artigo 55, da Lei nº 7.450/1985. Nesse sentido, o acórdão recorrido aplicou a lei tributária da forma seguinte: As retenções na fonte configuram antecipações de pagamento e o fato de não constarem de demonstrativo apresentado pela Contribuinte em atendimento a intimação fiscal, ou de lá constarem em valor menor do que o efetivamente se deu, não justifica a sua exclusão ou a redução de seu valor para a formação do saldo negativo do período. Fl. 981DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 976 13 Percebese que o acórdão recorrido interpreta o artigo 55, da Lei nº 7.450/1985, reproduzido pelo artigo 943, §2º, do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto 3.000/1999), que dispõe: Art. 943. A Secretaria da Receita Federal poderá instituir formulário próprio para prestação das informações de que tratam os arts. 941 e 942 (DecretoLei nº 2.124, de 1984, art. 3º, parágrafo único). § 1º O beneficiário dos rendimentos de que trata este artigo é obrigado a instruir sua declaração com o mencionado documento (Lei nº 4.154, de 1962, art. 13, § 1º). § 2º O imposto retido na fonte sobre quaisquer rendimentos ou ganhos de capital somente poderá ser compensado na declaração de pessoa física ou jurídica, quando for o caso, se o contribuinte possuir comprovante da retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora, ressalvado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 7º, e no § 1º do art. 8º (Lei nº 7.450, de 1985, art. 55). Diante disso, entendo pelo conhecimento do recurso especial quanto ao primeiro paradigma (10323022), considerando que ambos analisaram o ônus da prova decorrente da aplicação do artigo 55, da Lei nº 7.450/1985, reproduzido pelo artigo 943, §2º, do RIR/1999. O segundo acórdão paradigma (10514858) analisa a seguinte situação de fato: (...) , empresa já qualificada nestes autos, apresentou pedido de retificação da DIRPJ, anocalendário 1994, cumulado com pedido de restituição de Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ e de compensação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido — CSLL, em 08/10/1999 (fls. 01/06) (...) Ao analisar o pedido de restituição e compensação a autoridade fiscal propôs o seu indeferimento, com base na seguinte argumentação: "Procedendose à análise dos autos, verificase que este processo de retificação foi instaurado em 08/10/1999, posteriormente à inscrição em Divida Ativa da União em 11/06/1999. Destarte não há como acatar o pedido de retificação de declaração do IRPF/95, já que os débitos não mais pertencem a alçada da Secretaria da Receita Federal. Quanto à compensação pleiteada, observase, conforme demonstrado nas planilhas anexas, que o saldo de imposto de renda foi totalmente exaurido até setembro de 1994, inviabilizando a quitação de débitos de contribuição social como solicitado pelo contribuinte. (...)" Fl. 982DF CARF MF 14 Nesse contexto, decidiu a Turma Julgadora no segundo acórdão paradigma (10514858), em análise da lei tributária: Pretende a recorrente seja reconhecida a existência de crédito de IRRF, sendo tal crédito utilizado na compensação de débitos inscritos de IRPJ (...) A fim de comprovar sua alegação, anexa ao Recurso Voluntário cópias da 4ªs vias de notas fiscais relativas ao ano de 1994. Ocorre que a simples apresentação de notas fiscais, sem o acompanhamento de qualquer comprovante de que os valores foram efetivamente recolhidos não se presta, por si só, como prova da retenção na fonte do imposto de renda. A prova efetiva a esse título se faz através do Comprovante de Retenção do Imposto de Renda Retido na Fonte fornecido pela fonte pagadora, que não foi juntado aos autos. Face ao que foi aqui exposto e tudo o mais que dos autos consta, voto por negar provimento ao recurso voluntário. Notase, portanto, que o segundo paradigma (10514858) a despeito da ausência de explícita menção aos dispositivos legais também trata do ônus da prova da retenção na fonte, tratando da prova por informe de rendimentos, como mencionado pelo artigo 55, da Lei nº 7.450/1985 e pelo RIR/1999. Diante disso, entendo pela existência de similitude fática quanto a ambos os paradigmas, concluindo pela possibilidade de conhecimento do recurso especial. Impossibilidade de rediscussão da matéria fático probatória Afasto, ainda, preliminar da contribuinte sobre impossibilidade de rediscussão de matéria fático probatória. Embora a Turma a quo tenha analisado vários documentos de forma bastante minuciosa , a Turma também enfrentou a legislação tributária de forma divergente com a interpretação adotada por outros Colegiados deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. A divergência na interpretação da lei tributária, que foi premissa para a análise documental feita pelo acórdão recorrido, pode e deve ser avaliada por esta Turma da CSRF. Diante disso, supero o pedido da Recorrida para não conhecimento do recurso especial quanto à alegação da impossibilidade de rediscussão da matéria fático probatória. Cotejo analítico Finalmente, a Recorrida alega que o recurso especial não deveria ser conhecido por falta de cotejo analítico exigido pelo artigo 67, §6º, do Regimento Interno deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Fl. 983DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 977 15 O recurso especial foi interposto pela Procuradoria em 2013, quando vigia o RICARF anterior (Portaria MF nº 256/2009), exigindo a demonstração analítica da divergência: Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à lei tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. (...) § 6° A divergência prevista no caput deverá ser demonstrada analiticamente com a indicação dos pontos nos paradigmas colacionados que divirjam de pontos específicos no acórdão recorrido. Em sentido similar, prevê o atual Regimento Interno deste Conselho (Portaria 343/2015): Art. 67. Compete à CSRF, por suas turmas, julgar recurso especial interposto contra decisão que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe tenha dado outra câmara, turma de câmara, turma especial ou a própria CSRF. (...) § 8º A divergência prevista no caput deverá ser demonstrada analiticamente com a indicação dos pontos nos paradigmas colacionados que divirjam de pontos específicos no acórdão recorrido. O recurso especial da Procuradoria, de forma sintética, trata de demonstrar a divergência entre a interpretação adotada pelo acórdão recorrido e a dos acórdãos paradigmas, verbis: Para satisfazer esta exigência de comprovação de dissídio jurisprudencial, invocamos alguns precedentes que, diversamente do entendimento demonstrado nos autos, exige que o contribuinte comprove, para fins de compensação com o IRPJ devido, o valor do IRRF retido somente pela apresentação do comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora (informe de rendimentos), não devendo ser aceitas outras documentos como prova da retenção. Assim, passamos a transcrever as ementas dos seguintes acórdãos paradigmas nº. 10323022 e 105148581: (...) Os precedentes acima citados comprovam, de forma cabal, a necessidade de que o contribuinte comprove, de forma idônea e contundente, e somente pela apresentação do comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora (informe de rendimentos), o valor retido a título de IRRF, não havendo que se falar em aceitação de outras provas da retenção, como representa a tese exposta no julgado ora combatido. Em respeito à verdade material e ao formalismo moderado, são usualmente admitidos recursos que não cumpram rigorosamente a exigência de demonstração analítica dos pontos de divergência. De toda forma, exigese a demonstração da divergência pela recorrente em suas razões, mesmo que tal divergência seja demonstrada de forma sintética. Fl. 984DF CARF MF 16 Em oportunidades anteriores, fui vencida nesta Turma da Câmara Superior por entender que a falta da comparação entre os casos (recorrido e paradigma) deveriam impedir o conhecimento de recurso especial, prevalecendo, naquelas oportunidades, o conhecimento do recurso. Reitero meu posicionamento manifestado anteriormente, sobre a necessidade de mesmo que de forma sintética comparação nas razões do recurso especial entre a solução jurídica adotada pelo acórdão recorrido e aquela adotada pelo acórdão, para fins de demonstração analítica da divergência. Não cabe aos julgadores inferir qual seria a distinção entre os acórdãos recorrido e paradigma, sendo imprescindível a demonstração da divergência pela parte recorrente . Ocorre que no caso dos presentes autos entendo que está preenchida tal exigência, na medida em que enfrentada pela Recorrente a divergência na interpretação da lei tributária em suas razões recursais, mesmo que de forma sintética, como acima citado. Mérito: A discussão travada nos presentes autos referese à prova de retenção, supostamente sofrida pela contribuinte, e que justificaria a existência de crédito tributário a compensar (saldo negativo do ano de 2002). A Turma a quo entendeu pela existência deste crédito, analisando documentos constantes dos autos. Assim, decidiu que: As retenções na fonte configuram antecipações de pagamento e o fato de não constarem de demonstrativo apresentado pela Contribuinte em atendimento a intimação fiscal, ou de lá constarem em valor menor do que o efetivamente se deu, não justifica a sua exclusão ou a redução de seu valor para a formação do saldo negativo do período. (trecho da ementa do acórdão). Em sentido contrário, sustenta a Procuradoria Recorrente que "a prova adequada" da retenção na fonte seria o comprovante da retenção emitido pela fonte pagadora, em observância ao artigo 55, da Lei nº 7.450/85 e aos artigos 210 e 979, do RIR/94. Há um pequeno lapso no citado recurso especial, ao se mencionar o RIR/94 (em diversos trechos), considerando que o citado RIR/1994 não tem aplicação ao caso dos autos, em que se analisa créditos compensados quanto ao anocalendário de 2002, portanto, quando já vigente o RIR/99. De toda sorte, conheço do argumento na medida em que a matriz legal também mencionada do recurso especial é o artigo 55, da Lei nº 7.450/85, que será analisado a seguir. Pois bem. O artigo 55, da Lei nº 7.450/1985 tem a seguinte redação: Art 55 O imposto de renda retido na fonte sobre quaisquer rendimentos somente poderá ser compensado na declaração de pessoa física ou jurídica, se o contribuinte possuir comprovante de retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora dos rendimentos. Fl. 985DF CARF MF Processo nº 10768.003508/200301 Acórdão n.º 9101002.684 CSRFT1 Fl. 978 17 O artigo 943, §2º, do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto nº 3.000/1999), reproduziu o artigo 55, prescrevendo: Art. 943. A Secretaria da Receita Federal poderá instituir formulário próprio para prestação das informações de que tratam os arts. 941 e 942 (DecretoLei nº 2.124, de 1984, art. 3º, parágrafo único). § 1º O beneficiário dos rendimentos de que trata este artigo é obrigado a instruir sua declaração com o mencionado documento (Lei nº 4.154, de 1962, art. 13, § 1º). § 2º O imposto retido na fonte sobre quaisquer rendimentos ou ganhos de capital somente poderá ser compensado na declaração de pessoa física ou jurídica, quando for o caso, se o contribuinte possuir comprovante da retenção emitido em seu nome pela fonte pagadora, ressalvado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 7º, e no § 1º do art. 8º (Lei nº 7.450, de 1985, art. 55). O dispositivo legal evidentemente legitima a prova de retenção na fonte por meio de informes de rendimento (comprovantes de retenção emitido pela fonte pagadora). Resta o questionamento, ora em discussão, sobre se esta seria a única forma de comprovação de retenção, como alega a Recorrente. Entendo pertinente trazer à colação o artigo 733, parágrafo único e seus incisos, que prevê: Art. 733. É responsável pela retenção do imposto (DecretoLei nº 2.394, de 21 de dezembro de 1987, art. 6º, e Lei nº 8.981, de 1995, art. 65, § 8º): I a pessoa jurídica que efetuar o pagamento dos rendimentos; II a pessoa jurídica que receber os recursos do cedente, nas operações de transferência de dívidas; III as bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas, bem como outras entidades autorizadas pela legislação que, embora não sejam fonte pagadora original, façam o pagamento ou crédito dos rendimentos ao beneficiário final. Parágrafo único. As pessoas jurídicas que retiverem o imposto de que trata este Subtítulo deverão (DecretoLei nº 2.394, de 1987, art. 6º, parágrafo único): I fornecer aos beneficiários comprovante dos rendimentos pagos e do imposto retido na fonte; II prestar as informações previstas neste Decreto. A fonte pagadora, por força do citado dispositivo, deverá fornecer comprovantes de rendimento aos beneficiários da retenção na fonte (inciso I), como também apresentar Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte DIRF (inciso II). Fl. 986DF CARF MF 18 Caso a fonte pagadora não cumpra tais obrigações acessórias de forma adequada, a fonte e somente ela estará sujeita a penalidades impostas pela legislação tributária, além de multas caso não recolha o tributo devidamente retido. Ocorre que a contribuinte (beneficiária) não tem qualquer controle a respeito das condutas impostas à fonte pagadora, consistentes em (i) fornecer comprovantes dos rendimentos pagos e do imposto retido na fonte; e (ii) prestar informações à Receita Federal, por meio de DIRF. Exatamente por isso a contribuinte não pode ser penalizada se a fonte pagadora não cumpre de forma exata qualquer destas obrigações. Afinal, a pena só pode ter relação com o sujeito obrigado à obrigação relacionada a tal sanção. Nesse sentido, nego provimento ao recurso especial da Procuradoria, admitindo como possível a prova de retenção na fonte por outros meios, afastando a interpretação do artigo 55, da Lei nº 7.450/1985, pretendida pela Recorrente. Como anteriormente mencionado, o informe de rendimentos comprova a retenção na fonte, mas não é o único meio para tal prova, em respeito ao princípio da verdade material e, acima de tudo, da impossibilidade de sancionar o contribuinte por conduta alheia, isto é, pela omissão (ou inexatidão) da fonte pagadora no cumprimento de suas obrigações acessórias. Superado tal ponto (único do recurso especial) e considerando a devolutividade restrita do recurso, limitada ao quanto alegado pela parte , nego provimento ao recurso especial, sem que seja reavaliada a prova dos autos, devidamente analisada pela Turma Julgadora a quo. Conclusão: Diante disso, voto por conhecer e negar provimento ao recurso especial da Procuradoria, mantendo o acórdão recorrido. (Assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Fl. 987DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10314.721457/2014-85
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Feb 15 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Mar 27 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Processo Administrativo Fiscal
Ano-calendário: 2009
RESULTADO DE DILIGÊNCIA. PROPOSTA DE EXCLUSÃO DOS VALORES LANÇADOS. ACATAMENTO.
A diligência fiscal tem como escopo esclarecer dúvidas surgidas nos autos e aclarar pontos obscuros, de modo que o resultado de sua realização deve servir de suporte para a prolação da decisão, principalmente por ser o julgamento administrativo norteado pelo Princípio da Verdade Material.
Comprovado em diligência fiscal que os pressupostos fáticos em que se assentava a exigência não correspondem à realidade confirmada nos livros e documentos da escrituração da contribuinte, é de se cancelar o crédito tributário de IRPJ e de CSLL constituído.
Numero da decisão: 1402-002.395
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado.
(assinado digitalmente)
Leonardo de Andrade Couto - Presidente
(assinado digitalmente)
Paulo Mateus Ciccone - Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Leonardo de Andrade Couto (presidente), Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Paulo Mateus Ciccone, Caio Cesar Nader Quintella e Demetrius Nichele Macei.
Nome do relator: PAULO MATEUS CICCONE
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PROPOSTA DE EXCLUSÃO DOS VALORES LANÇADOS. ACATAMENTO. A diligência fiscal tem como escopo esclarecer dúvidas surgidas nos autos e aclarar pontos obscuros, de modo que o resultado de sua realização deve servir de suporte para a prolação da decisão, principalmente por ser o julgamento administrativo norteado pelo Princípio da Verdade Material. Comprovado em diligência fiscal que os pressupostos fáticos em que se assentava a exigência não correspondem à realidade confirmada nos livros e documentos da escrituração da contribuinte, é de se cancelar o crédito tributário de IRPJ e de CSLL constituído. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. (assinado digitalmente) Leonardo de Andrade Couto Presidente AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 31 4. 72 14 57 /2 01 4- 85 Fl. 5040DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.041 2 (assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone Relator Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Leonardo de Andrade Couto (presidente), Lucas Bevilacqua Cabianca Vieira, Luiz Augusto de Souza Gonçalves, Fernando Brasil de Oliveira Pinto, Leonardo Luis Pagano Gonçalves, Paulo Mateus Ciccone, Caio Cesar Nader Quintella e Demetrius Nichele Macei. Fl. 5041DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.042 3 Relatório Tratase de Recurso de Ofício interposto pela 2ª Turma da DRJ/BSB em face de decisão exarada por aquele Colegiado (fls. 5016/5029)1 em sessão de 20 de maio de 2016 e que exonerou créditos tributários acima do limite alçada, em Acórdão assim ementado: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2009 DILIGÊNCIA FISCAL. COMPROVAÇÃO DOS ESCLARECIMENTOS PRESTADOS PELO SUJEITO PASSIVO NA IMPUGNAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA DO LANÇAMENTO. Comprovado em diligência fiscal que os pressupostos fáticos em que se assentava a exigência fiscal não correspondem à realidade confirmada nos livros e documentos da escrituração contábil e fiscal, é de cancelar o crédito tributário constituído. Impugnação Procedente Crédito Tributário Exonerado Os lançamentos de IRPJ constam dos autos de infração (fls. 1364/1373), assim resumidos: Em relação à CSLL, os AI (fls. 1374/1382) compreendem as mesmas infrações e valores. Impugnados os lançamentos, os autos foram à apreciação pela 2ª Turma da DRJ/BSB que inicialmente converteu o julgamento em diligência e, cumprida esta, proferiu a decisão ora recorrida. 1 A numeração referida das fls., quando não houver indicação contrária, é sempre a digital Fl. 5042DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.043 4 Por bem resumir os fatos, adoto o relatório constante da Resolução da Turma julgadora a quo que converteu o julgamento em diligência (fls. 3775/3785), adaptandoo quando necessário e subdividindoo em tópicos para melhor compreensão. DA ACUSAÇÃO FISCAL (TCF – fls. 1347/1363): “Contra a contribuinte DOW AGROSCIENCES INDUSTRIAL LTDA, em epígrafe, foram lavrados autos de infração no valor total de R$ 60.088.828,30, para exigência de IRPJ e CSLL, relativos ao anocalendário de 2009, além de redução de prejuízos fiscais e bases de cálculo negativas de CSLL. I. DO PROCEDIMENTO FISCAL Do Termo de Constatação Fiscal de fls. 1.347/1.363, parte integrante dos autos de infração, extraemse as seguintes informações. (...) As infrações apuradas, em número de três, são assim descritas no referido Termo de Constatação Fiscal. 1. Primeira Infração: “a) O Contribuinte não adicionou na Base de Cálculo do Imposto de Renda Pessoa Jurídica IRPJ e na Contribuição Social sobre o Lucro LíquidoCSLL, as Perdas Incorridas nos Mercados de Renda Variável no Período Apurado, exceto DayTrade, no valor de R$ 63.772.992,87 (líquido) na Atividade Normal, e R$ 11,726.596,17 (líquido) na Atividade Rural. Esses valores podem ser identificados na Ficha 06A da DIPJ 2010/2009 (linhas 20 e 40). Conforme identificamos no Balancete de Dezembro/2009 os valores foram registrados nas seguintes contas: Demonstramos abaixo a composição dos valores: A este respeito, o próprio Manual de Instruções de Preenchimento da DIPJ 2010/2009, especifica que os valores das respectivas Perdas devem ser informados na coluna "Atividade Geral" da Ficha 09, A linha 36, da Demonstração do Lucro Real e da Ficha 17, linha 31 do Cálculo da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido.” Fl. 5043DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.044 5 2. Segunda Infração “b) O contribuinte excluiu indevidamente das Bases de Cálculo de Imposto de Renda Pessoa Jurídica e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido, o valor de R$ 9.189.671,00 referente à Reversão da Provisão de Custo (Produto Acabado em Trânsito), conforme consta na DIPJ 2010/2009, nas linhas 33 e 40 Reversão dos Saldos das Provisões Não Dedutíveis, que compõe a Reversão de R$ 37.219.480,25, referente Atividade Normal. Por conseguinte, iremos efetuar a glosa dessa exclusão, tendo em vista que esse valor não foi adicionado no anocalendário de 2008. Para corroborar com a nossa posição, o demonstrativo abaixo, apresentado pelo contribuinte no item "b" da cartaresposta de 25/07/2013, deixa claro esta irregularidade: 3. Terceira Infração “c) Ficou sujeita à glosa a Exclusão de R$ 56.751.950,00, realizada nas Bases de Cálculo de IRPJ e da CSLL, a titulo de Variações Cambiais Ativas (MP 1858/101999, art. 30 apropriação em Regime de Caixa), posto que o contribuinte não comprovou que: Adicionou nas Bases de Cálculo de IRPJ e CSLL em 2002, os valores das Variações Cambiais Não Realizadas, quando optou pelo Regime de Caixa para apropriação das Variações Cambiais, no anocalendário de 2003 (MP 1858/101999, art. 30); Diante dessa opção pelo Regime de Caixa, teria passado a controlar a Variação Cambial Não Realizada de todas as suas operações atreladas à moeda estrangeira, na Parte "B" do LALUR, inclusive o Empréstimo com a Mycogen; Fazse mister esclarecer que esta fiscalização compareceu à empresa em 12/09/2013, para verificar diversos documentos, inclusive os LALUR de 2000 a 2009, entretanto os exames foram realizados em relação às Provisões e Reversões Não Dedutíveis relacionadas no Termo de Intimação de 28/08/2013. Na ocasião, não tínhamos conhecimento dos fatos acima alegados, que somente chegaram ao nosso conhecimento em 04/11/2013.” DA IMPUGNAÇÃO (fls. 1536/1592): “1. Da preliminar de nulidade do auto de infração Reportandose à primeira infração descrita no Termo de Constatação Fiscal de fls. 1.347/1.363, a impugnante ressalta que a autoridade fiscal solicitou que a fiscalizada demonstrasse, tão somente, a composição dos valores lançados Fl. 5044DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.045 6 na DIPJ/2010 a título de perdas incorridas no mercado de renda variável no valor de R$ 82.566.140,49, cuja resposta à intimação foi devida e tempestivamente cumprida em 03/12/2012. Aduz que o agente fiscal, ao verificar que a impugnante deduziu valores que ultrapassaram os ganhos decorrentes da mesma operação, não solicitou esclarecimentos e/ou apresentação de documentos que comprovassem a natureza das operações, o que teria resultado indevida glosa de despesas. Conclui que a lavratura dos autos de infração foi precária e superficial, o que ensejaria a sua nulidade a teor do art. 10 do Decreto nº 70.235, de 1972. 2. Do mérito 2.1 Da Primeira Infração Assevera a suplicante: “15. A IMPUGNANTE é pessoa jurídica de direito privado e que no regular exercício de suas atividades sociais, realiza diversas operações com moedas estrangeiras, dentre elas, predominantemente, operações de compra e venda de mercadorias do exterior (importação) para posterior industrialização e/ou revenda de produtos acabados. 16. Adicionalmente, também está presente no comércio exterior através da realização de operações de exportação de mercadorias e ainda, como parte usual e regular do financiamento de suas operações industrial e comercial e com o intuito de alcançar seus objetivos sociais, também capta recursos em moeda estrangeira a serem adimplidos no futuro. 17. Neste contexto, referidas operações (importação, exportação, empréstimos internacionais) resultam em direitos e obrigações indexados em moeda estrangeira, que consequentemente ficam sujeitos à variação cambial e exposição da volatilidade do mercado financeiro, bem como suas instabilidades variáveis e imprevisíveis, principalmente ante a instabilidade da moeda brasileira em face da moeda norteamericana. 18. No intuito de proteger referidas operações e, portanto, seu patrimônio, a IMPUGNANTE realiza estratégia de celebração de contratos de derivativos com instituições financeiras, notadamente, SWAPs ativos. Referida estratégia de proteção é denominada "hedge". 19. O termo "hedge", cujo significado pode ser melhor traduzido como "cobertura", surgiu no mercado financeiro ante a instabilidade da moeda e, portanto, a consequente necessidade de proteção contra riscos de variação de preços ou de taxas, decorrentes, principalmente, das variações cambiais.” Alega que, no caso dos autos, a autoridade fiscal não questionou a natureza das operações realizadas pela impugnante, mas fundamentou a autuação Fl. 5045DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.046 7 apenas no fato de que o valor da despesa obtida com operações de swap foi superior ao valor da receita obtida também com operações de swap. Destaca que, no curso normal de suas atividades operacionais, e dentre as modalidades contratuais de derivativos disponibilizadas pelo mercado financeiro, firmou contratos de swap para fins de proteção (hedge) no período fiscalizado que, em suma, se consubstanciam na troca de resultados financeiros decorrentes da aplicação de taxas de índices sobre ativos ou passivos utilizados como referenciais, limitando, assim, possíveis perdas advindas da variação cambial incidente sobre os valores captados no momento do adimplemento de seus direitos e obrigações. Aduz que o objetivo precípuo do swap com finalidade de proteção é limitar eventuais perdas e também ganhos decorrentes da exposição de ativos e passivos à moeda estrangeira (ou outras variáveis financeiras), tal como no presente caso, em que a contratação do derivativo financeiro neutralizou o ganho financeiro advindo da valorização da moeda nacional no período, mas que, caso tivesse havido a desvalorizarão da moeda no período, teria neutralizado as perdas financeiras que daí decorreria. Sustenta, então, que as referidas operações de cobertura são indissociáveis da liquidação da obrigação acobertada, tornandose inviável a possibilidade de obtenção de rendimentos e aquisição de acréscimo patrimonial uma vez que não há perda nem ganho por parte da impugnante decorrente dessas operações casadas já que apenas constituem proteção de seus direitos e obrigações. Ressalta que diante da natureza de proteção, para as operações realizadas no país, a legislação tributária instituiu um regime de dedução para as perdas incorridas nessas operações, conforme disciplina o art. 77 da Lei nº 8.981, de 1995, regulamentado pelo Decreto nº 3.000, de 1999 (RIR/99), e pela Instrução Normativa SRF nº 25, de 2001. Aduz que, da simples leitura da legislação aplicável às operações de swap com finalidade de hedge realizadas pela impugnante, resta evidente que os ganhos são tributados e as perdas são dedutíveis, ainda que estas ultrapassem os ganhos auferidos nas mesmas operações, como ocorreu no período compreendido na presente autuação. Aponta precedentes do CARF e de algumas DRJ que teriam reconhecido a dedutibilidade das aludidas despesas em operações de hedge. Reitera que, no caso sob exame, muito embora a autoridade fiscal tivesse à sua disposição todos os instrumentos legais para a correta apuração dos fatos, furtouse de cumprir com o seu dever de perquirir exaustivamente as informações prestadas pela fiscalizada no fiel cumprimento de suas obrigações acessórias, inclusive, deixando de intimála para prestar os esclarecimentos necessários a suprir eventuais dúvidas existentes acerca da dedutibilidade realizada acima do ganho auferido. A seguir, ressaltando que o princípio da verdade material deve ser observado no processo administrativo, passa a demonstrar o que seria a correta dedutibilidade das perdas decorrentes dos aludidos contratos da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, devidamente amparados por documentos fiscais e contábeis, bem como por laudo realizado pela empresa KPMG, que anexa à peça de defesa. Fl. 5046DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.047 8 Assevera que os mencionados documentos comprovam que, para todos os meses do ano de 2009, a impugnante estava sujeita aos riscos decorrentes da variação cambial ante a existência de direitos e obrigações em moeda estrangeira. Aduz que, muito embora detivesse diversas operações decorrentes dos direitos e obrigações assumidas no regular desempenho de suas atividades operacionais com exposição em dólar americano, a estratégia interna financeira optouse por somente proteger parte do montante controlado nas contas contábeis abaixo relacionadas: Informa que todos os contratos de swap foram registrados na CETIP Câmara de Custódia e Liquidação (anexa documentos). Afirma que o valor nominal contratado para proteção não ultrapassou 40% (quarenta por cento) do montante sujeito à exposição cambial sofrida no ano de 2009, o que comprovaria a nítida natureza de cobertura dos contratos de swap e afastando por completo qualquer alegação de natureza especulativa dessas operações. Ressalta que os valores de hedge mensal contratados através dos contratos de SWAP e as respectivas exposições mensais podem ser verificados na tabela descrita como "Controle de exposição cambial em dolar" no laudo anexado, devidamente amparado com os documentos de suporte. Destaca que, no anocalendário de 2009, o montante de R$ 22.248.836,98 de ganhos decorrentes dos contratos de swap, consoante Anexo 01.10 do laudo da KPMG, foi devidamente contabilizado na conta contábil nº 713081. Aduz que, conforme linha 20 da Ficha 6A da DIPJ/2010, referidos ganhos foram devidamente incluídos na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Conclui que, por decorrência lógica, quando o resultado da diferença é negativo, as diferenças apuradas que refletem as perdas incorridas pela variação cambial ante a natureza de despesa operacional, são passíveis de dedutibilidade que, in casu, não estão limitados aos ganhos acima demonstrados. Informa que as perdas decorrentes dos contratos de swap com finalidade de hedge resultaram no montante de R$ 97.748.426,02, valor este que foi contabilizado na conta contábil nº 721081 e devidamente deduzido da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Aduz que os referidos ganhos foram informados na Linha 20 (Ganhos Auferidos no Mercado de Renda Variável) e as perdas na Linha 40 (Despesas Operacionais) ambas na Ficha 6A da DIPJ/2010 ano calendário 2009. Fl. 5047DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.048 9 A seguir, ad argumentandum tantum, sustenta a impugnante a improcedência do lançamento fiscal no tocante à glosa das perdas decorrentes dos contratos de swap para fins de hedge na determinação da base de cálculo da CSLL. Reportandose à legislação apontada pelo próprio autor do procedimento, assevera a suplicante que a única exigência para a dedução da base da CSLL das despesas com operações de derivativos é a ocorrência/comprovação dessas despesas, ou seja, é a demonstração de que a empresa operou em tais mercados e incorreu em perdas, gerando despesas não vedadas no artigo 13, da Lei nº 9.249/95. Ressalta que as normas que regulam a incidência do IRPJ não são autoaplicáveis na determinação da base de cálculo da CSLL, pois as regras direcionadas ao lucro real são distintas das normas relativas à base de cálculo da CSLL, sendo que, quando o legislador pretendeu conferir o mesmo tratamento para esses tributos, ele o fez expressamente. 2.2 Da Segunda Infração Assevera a suplicante que, após a entrada em vigor do novo padrão contábil em 2008, para fins contábeis, passou a ser obrigada a realizar um ajuste em relação às mercadorias faturadas, mas não entregues aos seus clientes, tanto em relação à receita de vendas, como em relação ao custo correspondente. Nesse sentido, o valor de R$ 9.189.671,00, cuja exclusão do Lucro Real e base de cálculo da CSLL não foi admitida pela Fiscalização, referese justamente à aplicação do RTT nos lançamentos contábeis decorrentes do custo de vendas realizadas pela impugnante no mês de dezembro de 2009, mas não entregues dentro do mesmo anocalendário. Aduz que, em relação às vendas não entregues, em consonância com as previsões da Lei nº 11.638/07 e dos critérios previstos no Pronunciamento Técnico nº 30 emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), a impugnante passou a efetuar, a partir do ano calendário de 2008, estorno, para fins contábeis, do valor da receita correspondente as vendas de produtos ainda não entregues para o seu cliente. Tal estorno é representado por um débito em conta de resultado. Assim, para manter a adequação de suas demonstrações financeiras e respeitar o princípio do regime de competência que estabelece que as receitas e despesas devem ser reconhecidas de forma simultânea e correlata, a impugnante também efetuou o estorno do custo incorrido correspondente às mesmas receitas de vendas. Tal estorno é representado por crédito em conta de resultado. Ressalta que estornou contabilmente o valor da receita de vendas não entregues no ano de 2009, de R$ 20.965.806,99 e, da mesma forma, estornou o valor do custo das vendas não entregues no ano 2009, de R$ 9.189.671,00. Portanto, em observância à Lei nº 11.941/09, a fim de manter a neutralidade fiscal, efetuou uma adição na apuração do IRPJ e da CSLL do valor da receita estornada no montante de R$ 20.965.806,99 e, da mesma forma, efetuou uma exclusão do valor do custo estornado no montante de R$ 9.189.671,00. Fl. 5048DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.049 10 Destaca que a conclusão da empresa independente KPMG foi no sentido de que o procedimento adotado pela fiscalizada não resultou redução indevida das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL. Por fim, ad argumentamdum tantum, sustenta que, ainda que se admita, que o procedimento adotado pela impugnante não encontra respaldado na lei, considerandotratarse de diferença meramente temporal, deveria a fiscalização ter aplicado no caso concreto as disposições constantes no art. 273 do RIR/99 e Parecer Normativo Cosit n° 2/96, que tratam da verificação de eventuais efeitos de postergação no pagamento dos tributos em tela, com o lançamento de juros e multas pelo atraso no recolhimento, mas jamais o lançamento integral dos valores correspondente à exclusão questionada. 2.3 Da Terceira Infração Sustenta a impugnante que a autuação neste ponto está completamente equivocada, visto que houve glosa de uma exclusão que nunca teria acontecido. Salienta que o valor de R$ 56.751.950, a título de variações cambiais, não foi excluído na DIPJ do anocalendário de 2009, mas sim devidamente adicionado na referida DIPJ. Destaca a suplicante que não alterou a sua opção do regime de caixa para o regime de competência, como pareceu entender a Fiscalização, mas ao contrário, estava em 2002 no regime de competência e alterou sua opção para o regime de caixa no ano de 2003. Salienta que a variação cambial questionada decorre de um único contrato de empréstimo, celebrado com a empresa Mycogen, e que tal contrato permanecia em aberto no final do ano de 2002, e foi liquidado em dezembro de 2009 (anexa os três contratos de fechamento de câmbio). Assevera que até o ano de 2002 (inclusive), tributava a variação cambial pelo regime de competência, e que apenas a partir do anocalendário de 2003, a optou pela apuração da variação cambial pelo regime de caixa. Ressalta que, apesar de ter respondido equivocadamente à Fiscalização que, em 31/12/2002, teria adicionado a variação cambial não realizada na apuração, isso não ocorreu. Destaca que, no regime de caixa, apenas quando da liquidação da operação é que será reconhecido o ganho ou a perda cambial. Afirma que, a partir do anocalendário de 2003, fez a opção pelo regime de caixa, implementando um rígido controle da liquidação dos contratos indexados. Assim, conforme determinava o manual de preenchimento da DIPJ do anocalendário de 2002, utilizou o modelo apresentado pela RFB, controlando o regime de caixa no próprio Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR), na Parte B, onde constavam registros dos ajustes separadamente, mês a mês. Aduz que, finalmente, no ano de 2009, o contrato foi liquidado, e, assim, a receita de variação cambial de R$ 56.751.950,00 foi integralmente considerada como tributável para fins de IRPJ e CSLL. Ressalta que, em relação ao referido contrato com a Mycogen, no cálculo da variação cambial, considerou em seus controles a taxa inicial cambial, Fl. 5049DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.050 11 como sendo 3,533, relativa à 31/12/2002 (momento exato da alteração do regime de competência para o de caixa), e como taxa cambial final a de 1,78”. DA CONVERSÃO EM DILIGÊNCIA (fls. 3775/3785): Consoante encaminhamento do voto do relator de 1ª Instância, houve a conversão em diligência do julgamento, na forma da manifestação presente na Resolução nº 03000.505, verbis: “Conforme consignado no relatório, a Fiscalização identificou três infrações à legislação tributária e procedeu ao lançamento de ofício para as exigências de IRPJ e CSLL referentes ao ano de 2009. Impugnando o feito, a contribuinte anexou à sua peça de defesa diversos documentos fiscais e contábeis, bem como laudo técnico realizado pela empresa KPMG. No que tange à denominada primeira infração, assim considerada na ordem em que descrita no Termo de Constatação Nº 01 (fls. 1.354/1.356), alegou que a autoridade fiscal não questionou a natureza das operações realizadas pela impugnante, mas fundamentou a autuação apenas no fato de que o valor da despesa obtida com operações de swap foi superior ao valor da receita obtida também com operações de swap. Ou seja, asseverou a suplicante que a Fiscalização deixou de intimála para prestar os esclarecimentos necessários a suprir eventuais dúvidas existentes acerca da dedutibilidade realizada acima do ganho auferido. Quanto à segunda infração, informou a suplicante que após a entrada em vigor do novo padrão contábil em 2008, para fins contábeis, passou a ser obrigada a realizar um ajuste em relação às mercadorias faturadas, mas não entregues aos seus clientes, tanto em relação à receita de vendas, como em relação ao custo correspondente. Aduz que fez a opção pelo RTT na DIPJ/2009 (anocalendário 2008) e que a partir dessa opção passou a estar respaldada em lei para realizar ajustes nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL para fins de neutralização dos efeitos tributários dos novos métodos e critérios contábeis a partir do anocalendário de 2008. Assevera que efetuou uma adição na apuração do IRPJ e da CSLL do valor da receita estornada no montante de R$ 20.965.806,99 e, da mesma forma, efetuou uma exclusão do valor do custo estornado no montante de R$ 9.189.671,00. Já no que se refere à terceira infração, ressaltou a impugnante que a variação cambial questionada decorre de um único contrato de empréstimo, celebrado com a empresa Mycogen, e que tal contrato permanecia em aberto no final do ano de 2002, e foi liquidado em dezembro de 2009, ocasião em que a receita de variação cambial de R$ 56.751.950,00 teria sido integralmente considerada como tributável para fins de IRPJ e CSLL, em conformidade com a sua opção pelo regime de caixa feita no ano de 2003. Nesse contexto, considerando que: Fl. 5050DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.051 12 (1) Com a impugnação a contribuinte apresentou esclarecimentos detalhados acerca das aludidas operações; (2) Grande parte das robustas provas carreadas aos autos (documentos contábeis, fiscais, planilhas) junto com a peça de defesa não mereceram qualquer exame por parte da autoridade fiscal; e (3) A Fiscalização pode proceder à verificação de outros livros e documentos ou prestar outras informações que entender relevantes para o deslinde da controvérsia. Proponho, com fundamento no art. 18 do Decreto nº 70.235, de 1972, a conversão do julgamento em diligência, devendo para tanto o presente processo retornar à Delegacia Especial da Receita Federal do Brasil de Fiscalização de Comércio Exterior em São Paulo (SP) – DELEX, a fim de que a autoridade fiscal diligenciante adote as seguintes providências: 1. Examinar a documentação acostada na impugnação, promovendo ainda as diligências que entender cabíveis, anexando termos e documentos, com vistas a: 1.1. Confirmar se efetivamente os valores glosados a título de perdas em operações no mercado de renda variável (primeira infração) se referem a resultados em operações de proteção (hedge), consoante definição prevista na legislação tributária (art. 77, § 1º, da Lei nº 8.981, de 2005 e art. 57, § 3º, da IN RFB nº 1.022, de 2010); 1.2. Confirmar se a parcela excluída a título de “reversão da provisão de custo” (segunda infração) decorre da opção pelo RTT na DIPJ/2009 e que os aludidos ajustes nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL garantiram a neutralização dos efeitos tributários dos novos métodos e critérios contábeis a partir do anocalendário de 2008; 1.3. Confirmar se o regime de tributação das variações cambiais (terceira infração) decorrentes do aludido contrato de empréstimo, adotado nos anos de 2003 a 2009, foi o de caixa e se os valores escriturados na Parte B dos Livros de Apuração do Lucro Real (LALUR) refletem os valores das aludidas obrigações contratadas em moedas estrangeira e se efetivamente foram oferecidos à tributação no ano de 2009. 2. Elaborar parecer conclusivo sobre os esclarecimentos e provas carreadas pela impugnante, manifestandose fundamentadamente pelo seu acolhimento integral, parcial ou não acolhimento à luz da legislação que rege as distintas matérias objeto da glosa fiscal. 3. Concluída a diligência, do seu resultado deverá ser dado ciência ao contribuinte para que, querendo, se manifeste nos autos”. DA DILIGÊNCIA. CUMPRIMENTO. RELATÓRIO (fls. 4965/4974): Baixados os autos à Unidade de origem, a Autoridade Fiscal procedeu à diligência determinada pela DRJ/BSB, concluindo em seu Relatório (todos os destaques são do original): Fl. 5051DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.052 13 “Questionou a DRJ/BSB, se as alegações acima elencadas, extraídas da impugnação do Contribuinte, conferem com a escrituração da empresa. Respondendo a esses questionamentos, com base na documentação anexada aos autos mais os documentos juntados nesta diligência, verifiquei que: Perguntas e Respostas aos Quesitos da Autoridade Julgadora: a) Confirmar se efetivamente os valores glosados a título de perdas em operações no mercado de renda variável se refere aos resultados em operações de proteção ("hedge"), consoante definição prevista na legislação tributária (art. 77, § 1°, da Lei n° 8.981, de 2005, e art. 57, § 3°, da IN RFB n° 1.022, de 2010). Resposta do Contribuinte: O contribuinte, em 28/04/2015, apresentou a cópia do Laudo da KPMG anexado ao Processo e juntou nesta diligência cópias das "Invoices" que foram objeto de proteção (Hedge). Conforme mencionado no Laudo da KPMG as (FIs.1684 a 1691) anexadas ao processo, o contribuinte discorre exaustivamente na explicação das Perdas Incorridas nos mercados de renda variável no período apurado. Durante a fiscalização que resultou nestes Autos de Infração, o contribuinte não havia apresentado os documentos necessários para análise e validação dos números referentes às Perdas no Mercado de Renda Variável. O contribuinte também não explicou o valor do montante sujeito à exposição cambial sofrida no ano de 2009, para afastar qualquer alegação de nossa parte de tratar essas operações de natureza especulativa. Nesta diligência, contribuinte limitouse a justificar todos os elementos do Auto de Infração através de Relatórios como Laudo da KPMG e apresentou cópias dos documentos necessários para comprovar a real necessidade de utilização do Hedge como proteção dos seus passivos e ativos. No entanto, pude constatar que o valor nominal contratado para proteção não ultrapassou 40% (quarenta por cento) do montante sujeito à exposição cambial sofrida no ano e 2009. (...) Conclusões desta Diligência Com base nas documentações apresentadas e os registros contábeis analisados nesta diligência, COMPROVEI que os valores glosados se referiam às Operações de SWAP, com a finalidade da cobertura de Variações Cambiais na forma definida pelo art.77, parágrafo 1°, da Lei n° 8.981, de 2005 e art.57, parágrafo 3°, da IN RFB n° 1.022, de 2010. Fl. 5052DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.053 14 Com base nas justificativas apresentadas e no registro da adição ao Lucro Líquido analisado nesta diligência, sou de parecer pela exclusão dessa matéria tributável, no valor de R$ 75.499.589,04 b) Confirmar se a parcela excluída a título de "reversão da provisão de custo", decorre da opção pelo RTT (Regime Tributário de Transição) na DIPJ/2009 e que os aludidos ajustes nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, garantiram a neutralização dos efeitos tributários dos novos métodos e critérios contábeis a partir do anocalendário de 2008; Resposta do Contribuinte: O contribuinte em 28/04/2015 apresentou pessoalmente em sua empresa cópia do Laudo da KPMG anexado ao Processo. Conforme mencionado no Laudo da KPMG as (Fls.1692 a 1703,) anexadas ao processo, o contribuinte discorre exaustivamente na explicação: i) Reconhecimento de receita e custo; ii) Caracterização dos lançamentos contábeis como de harmonização para o IFRS; iii) Verificação dos lançamentos contábeis de estornos de receitas e custos efetuados para atender às regras de reconhecimento de receitas; iv) Verificação da Neutralidade fiscal dos lançamentos contábeis e estornos de receitas e custos realizados para atender as regras de reconhecimento de receitas. v) Todas as explicações necessárias referentes a glosa do valor de R$ 9.189.671,00, foram devidamente prestadas através do Laudo da KPMG, apresentado nesta Diligência, em 28/04/2015. O valor da exclusão efetuada pelo contribuinte no ano calendário de 2009 (R$ 9.189.671,00) não se caracteriza como uma provisão e sim como estorno de custo credor em resultado. Portanto, não deveria existir adição de igual valor no ano anterior (ano calendário de 2008). Conclusões desta Diligência O contribuinte reconheceu Receitas e Custos com base no CPC (Comitê de Pronunciamento Técnico) suas receitas e custos para fins fiscais e contábeis, com base nas notas fiscais/faturas emitidas durante o mês, conforme regime de competência. No entanto com base no Ajuste do R.T.T passou a ser obrigada a realizar um ajuste em relação às mercadorias faturadas, mas não entregues aos seus clientes, tanto em relação à receita de vendas, como relação de custo correspondente. Fl. 5053DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.054 15 O valor de R$ 9.189.671,00 excluído pela Impugnante referese a custo de vendas realizadas pela Impugnante no mês de dezembro de 2009, e não entregues dentro do mesmo ano calendário. Nesta diligência comprovei a adição ao Lucro Real no mês de janeiro/2010 no valor de R$ 9.189.671,00 conforme (F1.2638) do processo. Com base nas justificativas apresentadas e o registro da adição ao Lucro Real analisado nesta DILIGÊNCIA, sou de parecer pela exclusão dessa matéria tributável de R$ 9.189.671,00. c) Confirmar se o regime de tributação das variações cambiais, decorrentes do aludido contrato de empréstimo, adotado nos anos de 2003 a 2009, foi o caixa e se os valores escriturados na Parte B dos Livros de Apuração do Lucro Real (LALUR) refletem os valores das aludidas obrigações contratadas em moedas estrangeiras e se efetivamente foram oferecidas à tributação no ano de 2009. Resposta do contribuinte: O contribuinte em 28/04/2015 apresentou pessoalmente em sua empresa cópia do Laudo da KPMG anexado ao Processo. Conforme mencionado no Laudo da KPMG as (Fls.1711 a 1712,) anexadas ao processo, o contribuinte discorre exaustivamente na explicação dos procedimentos adotados na mudança de critério de "Regime de Competência" para "Regime de Caixa" para apropriação das Variações Cambiais. Conclusões desta Diligência Quanto ao lançamento do empréstimo de R$ 56.71.950,00 de 01/02/2000 e Recebimento em 28/12/2009, temos a esclarecer que, no decorrer da fiscalização comprovamos que, a partir de 2003, a Impugnante optou pela apuração da variação cambial pelo regime de caixa, adicionando e excluindo no LALUR, conforme na realização financeira dos seus ativos e passivos. Ocorre que em 29/10/2013 intimamos o contribuinte a apresentar e responder sobre o empréstimo efetuado à MYCOGEN S.A, no valor de US$ 32.000.000,00, e solicitamos os seguintes esclarecimentos dessa operação: i) Data do lançamento 01/02/2000, data de emissão 22/02/2000 e data do recebimento de 28/12/2009: Porque somente após 9 (nove) anos foi apropriada a Receita Cambial (R$ 56.751.950,00)? ii Taxa cambial na data do empréstimo: R$ 3,533/US$ 1,00; para aprox. R$ 1,78/US$ 1,00 na liquidação, em 28/12/2009? Resposta ao Termo de Intimação em 04/11/2013: Fl. 5054DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.055 16 Item i) A Impugnante optou pelo regime de caixa da variação cambial em 2003. Sendo assim, em 31/12/2002, adicionou na sua apuração do IRPJ e da CSLL todos os valores de variação cambial não realizada, conforme determina a legislação. Considerando a opção pelo regime de caixa, a partir desta data a impugnante passou a controlar a variação cambial não realizada de todas as suas operações atreladas à moeda estrangeira na Parte B do Lalur, inclusive o empréstimo com a Mycogen. Quando da liquidação do referido empréstimo, que ocorreu em dezembro de 2009, a Impugnante considerou em sua apuração do IRPJ e CSLL a receita de variação cambial realizada nesta operação. Item ii) A Impugnante optou pelo regime de caixa da variação cambial em 2003. Sendo assim, em 31/12/2002, adicionou na sua apuração do IRPJ e CSLL todos os valores de variação cambial não realizada, conforme determina a legislação. Em função deste fato, a data de partida do controle da variação cambial não realizada foi 31/12/2002, quando a taxa do dólar era de 3,533. Quando da liquidação do empréstimo, a taxa utilizada foi a deste mesmo período, já mencionado anteriormente, sendo a receita de variação cambial gerada nesta realização devidamente considerada como tributável para fins de IRPJ e CSLL. O próprio contribuinte reconhece ter respondido a esta fiscalização EQUIVOCADAMENTE que, em 31/12/2002, teria adicionado à variação cambial não realizada na apuração e confirma que isso NÃO OCORREU. Embora a Impugnante induzisse ã fiscalização ao erro, ao confirmar que adicionou em 31/12/2002 a variação cambial não realizada, o valor de R$ 56.751.950,00, não seria um valor tributável no lucro real de 2009. No entanto confirmamos sua adição no ano de 2009. O valor de R$ 56.751.950,00, está contido na Adição do valor de R$ 104.621.872,45. Por tudo aqui exposto, sou de parecer pela exclusão dessa tributação de R$ 56.751.950,00 deste Auto de Infração. III DAS CONCLUSÕES FINAIS – RESUMO Conforme exposto no Tópico anterior, pelos motivos expostos, sou de parecer pela exclusão dos Autos de Infração, das seguintes tributações: a) Despesas com Operações de SWAP, no valor de R$ 75.499.589,04; b) Adição de Custo de Vendas do mês de dezembro/2009, referente a mercadorias não entregues no mesmo ano calendário, no valor de R$ 9.189.671,00; c) Adição de Variação Cambial Não Realizada, no valor de R$ 56.751.950,00”. Fl. 5055DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.056 17 DA DECISÃO RECORRIDA (fls. 5016/5029): Com o retorno dos autos, após cumprida a diligência determinada, a DRJ/BSB proferiu a seguinte decisão: “Conforme consignado no relatório, a Fiscalização identificou três infrações à legislação tributária e procedeu ao lançamento de ofício para as exigências de IRPJ e CSLL referentes ao ano de 2009. Impugnando o feito, a contribuinte anexou à sua peça de defesa diversos documentos fiscais e contábeis, bem como laudo técnico realizado pela empresa KPMG. No que tange à denominada primeira infração, assim considerada na ordem em que descrita no Termo de Constatação Nº 01 (fls. 1.354/1.356), alegou a impugnante que a autoridade fiscal não questionou a natureza das operações realizadas pela impugnante, mas fundamentou a autuação apenas no fato de que o valor da despesa obtida com operações de swap foi superior ao valor da receita obtida também com operações de swap. Ao assim proceder, a Fiscalização teria concluído, equivocadamente, pela aplicação, na espécie, da norma inserta no § 4º do art. 76 da Lei nº 8.981, de 1995, verbis: Art. 76. O imposto de renda retido na fonte sobre os rendimentos de aplicações financeiras de renda fixa e de renda variável, ou pago sobre os ganhos líquidos mensais, será: (...) § 4º Ressalvado o disposto no parágrafo anterior, as perdas apuradas nas operações de que tratam os arts. 72 a 74 somente serão dedutíveis na determinação do lucro real até o limite dos ganhos auferidos em operações previstas naqueles artigos. Ou seja, asseverou a suplicante que a Fiscalização deixou de intimá la para prestar os esclarecimentos necessários a suprir eventuais dúvidas existentes acerca da dedutibilidade realizada acima do ganho auferido. Na fase de diligência, o agente fiscal assim se manifestou sobre esse item: “(...) Nesta diligência, contribuinte limitouse a justificar todos os elementos do Auto de Infração através de Relatórios como Laudo da KPMG e apresentou cópias dos documentos necessários para comprovar a real necessidade de utilização do Hedge como proteção dos seus passivos e ativos. No entanto, pude constatar que o valor nominal contratado para proteção não ultrapassou Fl. 5056DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.057 18 40% (quarenta por cento) do montante sujeito à exposição cambial sofrida no ano e 2009. (...) Com base nas documentações apresentadas e os registros contábeis analisados nesta diligência, COMPROVEI que os valores glosados se referiam às Operações de SWAP, com a finalidade da cobertura de Variações Cambiais na forma definida pelo art. 77, parágrafo 1°, da Lei n° 8.981, de 2005 e art. 57, parágrafo 3°, da IN RFB n° 1.022, de 2010. Com base nas justificativas apresentadas e no registro da adição ao Lucro Líquido analisado nesta diligência, sou de parecer pela exclusão dessa matéria tributável, no valor de R$ 75.499.589,04.” Merece ser acolhida a proposta da autoridade fiscal que, examinando a documentação apresentada pela impugnante, comprovou a natureza das operações de proteção/cobertura realizadas através de contratos de SWAP, formalizados de acordo com as normas em vigor à época, e, conseqüentemente, concluiu pela dedutibilidade das perdas incorridas nessas operações, a teor do art. 40, § 4º, da Instrução Normativa RFB nº 1.022, de 05/04/2010, verbis: Art. 40. Estão sujeitos à incidência do imposto sobre a renda na fonte, às alíquotas previstas no art. 37, os rendimentos auferidos em operações de swap. (...) § 4º As perdas incorridas nas operações de que trata este artigo somente serão dedutíveis na determinação do lucro real, se a operação de swap for registrada e contratada de acordo com as normas emitidas pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central do Brasil. De se acolher, portanto, as razões de impugnação nesse item. Quanto à segunda infração, informou a suplicante que após a entrada em vigor do novo padrão contábil em 2008, para fins contábeis, passou a ser obrigada a realizar um ajuste em relação às mercadorias faturadas, mas não entregues aos seus clientes, tanto em relação à receita de vendas, como em relação ao custo correspondente. Aduz que fez a opção pelo RTT na DIPJ/2009 (anocalendário 2008) e que a partir dessa opção passou a estar respaldada em lei para realizar ajustes nas bases de cálculo do IRPJ e da CSLL para fins de neutralização dos efeitos tributários dos novos métodos e critérios contábeis a partir do anocalendário de 2008. Assevera que efetuou uma adição na apuração do IRPJ e da CSLL do valor da receita estornada no montante de R$ 20.965.806,99 e, da Fl. 5057DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.058 19 mesma forma, efetuou uma exclusão do valor do custo estornado no montante de R$ 9.189.671,00. Na fase de diligência, o agente fiscal assim se manifestou sobre esse item: “(...) Todas as explicações necessárias referentes a glosa do valor de R$ 9.189.671,00, foram devidamente prestadas através do Laudo da KPMG, apresentado nesta Diligência, em 28/04/2015. O valor da exclusão efetuada pelo contribuinte no ano calendário de 2009 (R$ 9.189.671,00) não se caracteriza como uma provisão e sim como estorno de custo credor em resultado. Portanto, não deveria existir adição de igual valor no ano anterior (ano calendário de 2008). Conclusões desta Diligência O contribuinte reconheceu Receitas e Custos com base no CPC (Comitê de Pronunciamento Técnico) suas receitas e custos para fins fiscais e contábeis, com base nas notas fiscais/faturas emitidas durante o mês, conforme regime de competência. No entanto com base no Ajuste do R.T.T passou a ser obrigada a realizar um ajuste em relação às mercadorias faturadas, mas não entregues aos seus clientes, tanto em relação ã receita de vendas, como relação de custo correspondente. O valor de R$ 9.189.671,00 excluído pela Impugnante referese a custo de vendas realizadas pela Impugnante no mês de dezembro de 2009, e não entregues dentro do mesmo ano calendário. Nesta diligência comprovei a adição ao Lucro Real no mês de janeiro/2010 no valor de R$ 9.189.671,00 conforme (Fl. 2638) do processo. Com base nas justificativas apresentadas e o registro da adição ao Lucro Real analisado nesta DILIGÊNCIA, sou de parecer pela exclusão dessa matéria tributável de R$ 9.189.671,00.” Merece ser acolhida a proposta da autoridade fiscal, que confirmou a veracidade dos esclarecimentos prestados pela impugnante, no sentido de que a aludida exclusão, no valor de R$ 9.189.671,00, referese à aplicação do RTT nos lançamentos contábeis decorrentes do custo de vendas realizadas pela empresa no mês de dezembro de 2009, mas não entregues dentro do mesmo anocalendário, bem assim que o sujeito passivo comprovou a adição desse mesmo valor, na apuração do lucro real do mês de janeiro de 2010. De se acolher, também, as razões de impugnação nesse item. Fl. 5058DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.059 20 Por fim, no que se refere à terceira infração, ressaltou a impugnante que a variação cambial questionada decorre de um único contrato de empréstimo, celebrado com a empresa Mycogen, e que tal contrato permanecia em aberto no final do ano de 2002, e foi liquidado em dezembro de 2009, ocasião em que a receita de variação cambial de R$ 56.751.950,00 teria sido integralmente considerada como tributável para fins de IRPJ e CSLL, em conformidade com a sua opção pelo regime de caixa feita no ano de 2003. Na fase de diligência, o agente fiscal assim se manifestou sobre esse item: “(...) Conclusões desta Diligência Quanto ao lançamento do empréstimo de R$ 56.71.950,00 de 01/02/2000 e Recebimento em 28/12/2009, temos a esclarecer que, no decorrer da fiscalização comprovamos que, a partir de 2003, a Impugnante optou pela apuração da variação cambial pelo regime de caixa, adicionando e excluindo no LALUR, conforme na realização financeira dos seus ativos e passivos. Ocorre que em 29/10/2013 intimamos o contribuinte a apresentar e responder sobre o empréstimo efetuado ã MYCOGEN S.A, no valor de US$ 32.000.000,00, e solicitamos os seguintes esclarecimentos dessa operação: (...) O próprio contribuinte reconhece ter respondido a esta fiscalização EQUIVOCADAMENTE que, em 31/12/2002, teria adicionado à variação cambial não realizada na apuração e confirma que isso NÃO OCORREU. Embora a Impugnante induzisse a fiscalização ao erro, ao confirmar que adicionou em 31/12/2002 a variação cambial não realizada, o valor de R$ 56.751.950,00, não seria um valor tributável no lucro real de 2009. No entanto confirmamos sua adição no ano de 2009. O valor de R$ 56.751.950,00, está contido na Adição do valor de R$ 104.621.872,45. Por tudo aqui exposto, sou de parecer pela exclusão dessa tributação de R$ 56.751.950,00 deste Auto de Infração.” Merece ser acolhida a proposta da autoridade fiscal, que confirmou que o sujeito passivo não promoveu a exclusão, na apuração das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL, do montante de R$ 56.751.950,00, a titulo de Variações Cambiais Ativas, mas, sim, procedeu à adição desse valor, na apuração das referidas bases de cálculo referentes ao ano de 2009. De se acolher, assim, as razões de impugnação nesse item. Fl. 5059DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.060 21 Nesse cenário, considero prejudicado o exame da preliminar de nulidade dos autos de infração suscitada pela impugnante, ao fundamento de que a autoridade fiscal teria deixado de solicitar ao sujeito passivo esclarecimentos e/ou apresentação de documentos que comprovassem a natureza das aludidas operações relacionadas à mencionada primeira infração. A uma porque, é sabido, o procedimento fiscal, que não se confunde com o processo fiscal, é inquisitório, unilateral, não comportando contraditório. (...) A duas porque, ainda que de nulidade se tratasse, a lei processual administrativa tributária federal estabelece que, quando se puder decidir do mérito em favor do sujeito passivo, o órgão julgador não declarará a nulidade. Nesse sentido, vejase a dicção do §3º do art. 12 do Decreto nº 7.574, de 2011, que regulamento o processo de determinação e exigência de créditos tributários da União, verbis: (...) CONCLUSÃO Diante de todo o exposto, voto no sentido de julgar procedente a impugnação apresentada, a fim de cancelar integralmente o crédito tributário lançado”. DO RECURSO DE OFÍCIO Considerando que a exoneração do crédito tributário suplantou o limite de alçada previsto, à época, pela Portaria MF nº 3, de 03 de janeiro de 2008 (R$ 1.000.000,00), o presidente da Turma Julgadora recorreu, de ofício, a este CARF. É o relatório do essencial, em apertada síntese. Fl. 5060DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.061 22 Voto Conselheiro Paulo Mateus Ciccone O Recurso de Ofício preenche os requisitos para sua provocação pela presidência da Turma Julgadora de 1º Piso, de modo que o recebo e conheço. Como exaustiva e minuciosamente relatado pela decisão recorrida, as infrações perpetradas pelo Fisco referiramse a: 1. Perdas Incorridas nos Mercados de Renda Variável no Período Apurado, exceto DayTrade, no valor de R$ 63.772.992,87 (líquido) na Atividade Normal, e R$ 11.726.596,17 (líquido) na Atividade Rural. Valores identificados na Ficha 06A da DIPJ 2010/2009 (linhas 20 e 40); 2. Exclusão indevida, das Bases de Cálculo de Imposto de Renda Pessoa Jurídica e Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido, do valor de R$ 9.189.671,00 referente à Reversão da Provisão de Custo (Produto Acabado em Trânsito), conforme consta na DIPJ 2010/2009, nas linhas 33 e 40 Reversão dos Saldos das Provisões Não Dedutíveis, que compõe a Reversão de R$ 37.219.480,25, referente Atividade Normal; e, 3. Exclusão indevida de R$ 56.751.950,00, realizada nas Bases de Cálculo de IRPJ e da CSLL, a titulo de Variações Cambiais Ativas (MP 1858/101999, art. 30 apropriação em Regime de Caixa). Impugnada a exigência, os autos foram baixados em diligência, tendo a própria Autoridade Fiscal que realizou os lançamentos concluído pelo seu cancelamento, consoante expressamente explicitado no Relatório conclusivo do procedimento (fls. 4965/4974). Vejase: Fl. 5061DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.062 23 III DAS CONCLUSÕES FINAIS – RESUMO Conforme exposto no Tópico anterior, pelos motivos expostos, sou de parecer pela exclusão dos Autos de Infração, das seguintes tributações: a) Despesas com Operações de SWAP, no valor de R$ 75.499.589,04; b) Adição de Custo de Vendas do mês de dezembro/2009, referente a mercadorias não entregues no mesmo anocalendário, no valor de R$ 9.189.671,00; c) Adição de Variação Cambial Não Realizada, no valor de R$ 56.751.950,00”. Ora, se o Agente Fiscal a quem incumbiu a realização da fiscalização e que realizou os lançamentos, sequencialmente manifestase pelo cancelamento dos mesmos e se os valores inseridos nos autos de infração são exatamente os acima descritos, certo que não há mais litígio a apreciar, nem sob o ângulo jurídico nem sob o aspecto matemático, cabendo, como bem decidiu a decisão recorrida, acolher a manifestação fiscal e cancelar a exigência. Em outras palavras, se o autor do libelo acusatório manifestase no sentido de que a acusação restou indevida, inexiste possibilidade de se prosseguir no feito. Além disso, diligências são determinadas justamente para aclarar pontos obscuros, sanar dúvidas, fortalecer a convicção do julgador; no caso, as conclusões infirmaram o próprio trabalho fiscal, de modo que incontestável deva ser acolhida. Precedentes deste Tribunal Administrativo sinalizam neste sentido (Ac. 110100.008 – 1ª Câmara do 1º Conselho de Contribuintes Relator Valmir Sandri – c/ negrito acrescido). RESULTADO DE DILIGÊNCIA. COMPROVAÇÃO DE DESPESAS — RECOMPOSIÇÃO DE BASES A diligência fiscal resultou em recomposição das bases tributáveis objeto do lançamento. O julgamento administrativo é norteado pelo Princípio da Verdade Material, constituindose em dever do Julgador Administrativo a sua busca incessante. Adequação do lançamento de acordo com ajustes reconhecidos pela própria autoridade fiscal em diligência realizada. Pelo exposto, concordo com o teor da decisão recorrida e NEGO PROVIMENTO ao recurso de ofício É como voto. Brasília (DF), em 15 de fevereiro de 2017. (documento assinado digitalmente) Paulo Mateus Ciccone – Relator Fl. 5062DF CARF MF Processo nº 10314.721457/201485 Acórdão n.º 1402002.395 S1C4T2 Fl. 5.063 24 Fl. 5063DF CARF MF
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Numero do processo: 11077.000237/2008-89
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Mon Dec 12 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Feb 08 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/05/2004 a 28/02/2008
APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009.
Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta.
O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.
Recurso Especial do Procurador Provido.
Numero da decisão: 9202-004.879
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em dar-lhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Patrícia da Silva.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
Nome do relator: LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS
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PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo. Recurso Especial do Procurador Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em darlhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Patrícia da Silva. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 07 7. 00 02 37 /2 00 8- 89 Fl. 1107DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 2 (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do processo paradigma deste julgamento, n° 10380.005876/200753. A divergência em exame reportase à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. A Fazenda Nacional interpôs recurso especial requerendo que a retroatividade benigna fosse aplicada, essencialmente, pelos critérios constantes na Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Cientificado, o sujeito passivo não apresentou contrarrazões. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos Relator Este processo foi julgado na sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9202004.792, de 12/12/2016, proferido no julgamento do processo 10380.005876/200753, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido naquela decisão (Acórdão 9202004.792): O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Fl. 1108DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 3 Cingese a controvérsia às penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP nº 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009, quando mais benéfica ao sujeito passivo. A solução do litígio decorre do disposto no artigo 106, inciso II, alínea “a” do CTN, a seguir transcrito: Art. 106. A lei aplicase a ato ou fato pretérito: I em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II tratandose de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de definilo como infração; b) quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. (grifos acrescidos) De inicio, cumpre registrar que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), de forma unânime pacificou o entendimento de que na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Assim, a multa de mora prevista no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, não é aplicável quando realizado o lançamento de ofício, conforme consta do Acórdão nº 9202004.262 (Sessão de 23 de junho de 2016), cuja ementa transcrevese: AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA MULTA APLICAÇÃO NOS LIMITES DA LEI 8.212/91 C/C LEI 11.941/08 APLICAÇÃO DA MULTA MAIS FAVORÁVEL RETROATIVIDADE BENIGNA NATUREZA DA MULTA APLICADA. A multa nos casos em que há lançamento de obrigação principal lavrados após a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, mesmo que referente a fatos geradores anteriores a publicação da referida lei, é de ofício. AUTO DE INFRAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA COMPARATIVO DE MULTAS APLICAÇÃO DE PENALIDADE. RETROATIVIDADE BENIGNA. Fl. 1109DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 4 Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Se as multas por descumprimento de obrigações acessória e principal foram exigidas em procedimentos de ofício, ainda que em separado, incabível a aplicação retroativa do art. 32A, da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, eis que esta última estabeleceu, em seu art. 35A, penalidade única combinando as duas condutas. A legislação vigente anteriormente à Medida Provisória n° 449, de 2008, determinava, para a situação em que ocorresse (a) recolhimento insuficiente do tributo e (b) falta de declaração da verba tributável em GFIP, a constituição do crédito tributário de ofício, acrescido das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, respectivamente. Posteriormente, foi determinada, para essa mesma situação (falta de pagamento e de declaração), apenas a aplicação do art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991, que faz remissão ao art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996. Portanto, para aplicação da retroatividade benigna, resta necessário comparar (a) o somatório das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, e (b) a multa prevista no art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991. A comparação de que trata o item anterior tem por fim a aplicação da retroatividade benigna prevista no art. 106 do CTN e, caso necessário, a retificação dos valores no sistema de cobrança, a fim de que, em cada competência, o valor da multa aplicada no AIOA somado com a multa aplicada na NFLD/AIOP não exceda o percentual de 75%. Prosseguindo na análise do tema, também é entendimento pacífico deste Colegiado que na hipótese de lançamento apenas de obrigação principal, a retroatividade benigna será aplicada se, na liquidação do acórdão, a penalidade anterior à vigência da MP 449, de 2008, ultrapassar a multa do art. 35A da Lei n° 8.212/91, correspondente aos 75% previstos no art. 44 da Lei n° 9.430/96. Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela MP 449 (convertida na Lei 11.941, de 2009), tenham sido aplicadas isoladamente descumprimento de obrigação acessória sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, bem assim no caso de competências em que o lançamento da obrigação principal tenha sido atingida pela decadência. Neste sentido, transcrevese excerto do voto unânime proferido no Acórdão nº 9202004.499 (Sessão de 29 de setembro de 2016): Fl. 1110DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 5 Até a edição da MP 449/2008, quando realizado um procedimento fiscal, em que se constatava a existência de débitos previdenciários, lavravase em relação ao montante da contribuição devida, notificação fiscal de lançamento de débito NFLD. Caso constatado que, além do montante devido, descumprira o contribuinte obrigação acessória, ou seja, obrigação de fazer, como no caso de omissão em GFIP (que tem correlação direta com o fato gerador), a empresa era autuada também por descumprimento de obrigação acessória. Nessa época os dispositivos legais aplicáveis eram multa art. 35 para a NFLD (24%, que sofria acréscimos dependendo da fase processual do débito) e art. 32 (100% da contribuição devida em caso de omissões de fatos geradores em GFIP) para o Auto de infração de obrigação acessória. Contudo, a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, inseriu o art. 32A, o qual dispõe o seguinte: “Art. 32A. O contribuinte que deixar de apresentar a declaração de que trata o inciso IV do caput do art. 32 desta Lei no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentála ou a prestar esclarecimentos e sujeitarseá às seguintes multas: I – de R$ 20,00 (vinte reais) para cada grupo de 10 (dez) informações incorretas ou omitidas; e II – de 2% (dois por cento) ao mêscalendário ou fração, incidentes sobre o montante das contribuições informadas, ainda que integralmente pagas, no caso de falta de entrega da declaração ou entrega após o prazo, limitada a 20% (vinte por cento), observado o disposto no § 3o deste artigo. § 1o Para efeito de aplicação da multa prevista no inciso II do caput deste artigo, será considerado como termo inicial o dia seguinte ao término do prazo fixado para entrega da declaração e como termo final a data da efetiva entrega ou, no caso de nãoapresentação, a data da lavratura do auto de infração ou da notificação de lançamento. § 2o Observado o disposto no § 3o deste artigo, as multas serão reduzidas: I – à metade, quando a declaração for apresentada após o prazo, mas antes de qualquer procedimento de ofício; ou II – a 75% (setenta e cinco por cento), se houver apresentação da declaração no prazo fixado em intimação. Fl. 1111DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 6 § 3o A multa mínima a ser aplicada será de: I – R$ 200,00 (duzentos reais), tratandose de omissão de declaração sem ocorrência de fatos geradores de contribuição previdenciária; e II – R$ 500,00 (quinhentos reais), nos demais casos.” Entretanto, a MP 449, Lei 11.941/2009, também acrescentou o art. 35A que dispõe o seguinte, “Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996.” O inciso I do art. 44 da Lei 9.430/96, por sua vez, dispõe o seguinte: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata “ Com a alteração acima, em caso de atraso, cujo recolhimento não ocorrer de forma espontânea pelo contribuinte, levando ao lançamento de ofício, a multa a ser aplicada passa a ser a estabelecida no dispositivo acima citado, ou seja, em havendo lançamento da obrigação principal (a antiga NFLD), aplicase multa de ofício no patamar de 75%. Essa conclusão levanos ao raciocínio que a natureza da multa, sempre que existe lançamento, referese a multa de ofício e não a multa de mora referida no antigo art. 35 da lei 8212/91. Contudo, mesmo que consideremos que a natureza da multa é de "multa de ofício" não podemos isoladamente aplicar 75% para as Notificações Fiscais NFLD ou Autos de Infração de Obrigação Principal AIOP, pois estaríamos na verdade retroagindo para agravar a penalidade aplicada. Por outro lado, com base nas alterações legislativas não mais caberia, nos patamares anteriormente existentes, aplicação de NFLD + AIOA (Auto de Infração de Obrigação Acessória) cumulativamente, pois em existindo lançamento de ofício a multa passa a ser exclusivamente de 75%. Tendo identificado que a natureza da multa, sempre que há lançamento, é de multa de ofício, considerando o princípio da retroatividade benigna previsto no art. 106. inciso II, alínea “c”, do Código Tributário Nacional, há Fl. 1112DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 7 que se verificar a situação mais favorável ao sujeito passivo, face às alterações trazidas. No presente caso, foi lavrado AIOA julgada, e alvo do presente recurso especial, prevaleceu o valor de multa aplicado nos moldes do art. 32A. No caso da ausência de informação em GFIP, conforme descrito no relatório a multa aplicada ocorreu nos termos do art. 32, inciso IV, § 5º, da Lei nº 8.212/1991 também revogado, o qual previa uma multa no valor de 100% (cem por cento) da contribuição não declarada, limitada aos limites previstos no § 4º do mesmo artigo. Face essas considerações para efeitos da apuração da situação mais favorável, entendo que há que se observar qual das seguintes situações resulta mais favorável ao contribuinte: · Norma anterior, pela soma da multa aplicada nos moldes do art. 35, inciso II com a multa prevista no art. 32, inciso IV, § 5º, observada a limitação imposta pelo § 4º do mesmo artigo, ou · Norma atual, pela aplicação da multa de setenta e cinco por cento sobre os valores não declarados, sem qualquer limitação, excluído o valor de multa mantido na notificação. Levando em consideração a legislação mais benéfica ao contribuinte, conforme dispõe o art. 106 do Código Tributário Nacional (CTN), o órgão responsável pela execução do acórdão deve, quando do trânsito em julgado administrativo, efetuar o cálculo da multa, em cada competência, somando o valor da multa aplicada no AI de obrigação acessória com a multa aplicada na NFLD/AIOP, que não pode exceder o percentual de 75%, previsto no art. 44, I da Lei n° 9.430/1996. Da mesma forma, no lançamento apenas de obrigação principal o valor das multa de ofício não pode exceder 75%. No AI de obrigação acessória, isoladamente, o percentual não pode exceder as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Observese que, no caso de competências em que a obrigação principal tenha sido atingida pela decadência (pela antecipação do pagamento nos termos do art. 150, § 4º, do CTN), subsiste a obrigação acessória, isoladamente, relativa às mesmas competências, não atingidas pela decadência posto que regidas pelo art. 173, I, do CTN, e que, portanto, deve ter sua penalidade limitada ao valor previsto no artigo 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Fl. 1113DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 8 Cumpre ressaltar que o entendimento acima está em consonância com o que dispõe a Instrução Normativa RFB nº 971, de 13 de novembro de 2009, alterada pela Instrução Normativa RFB nº 1.027 em 22/04/2010, e no mesmo diapasão do que estabelece a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, que contempla tanto os lançamentos de obrigação principal quanto de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente. Neste passo, para os fatos geradores ocorridos até 03/12/2008, a autoridade responsável pela execução do acórdão, quando do trânsito em julgado administrativo, deverá observar a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 que se reporta à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias nos lançamentos de obrigação principal e de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. De fato, as disposições da referida Portaria, a seguir transcritas, estão em consonância com a jurisprudência unânime desta 2ª Turma da CSRF sobre o tema: Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 Art. 1º A aplicação do disposto nos arts. 35 e 35A da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009, às prestações de parcelamento e aos demais débitos não pagos até 3 de dezembro de 2008, inscritos ou não em Dívida Ativa, cobrados por meio de processo ainda não definitivamente julgado, observará o disposto nesta Portaria. Art. 2º No momento do pagamento ou do parcelamento do débito pelo contribuinte, o valor das multas aplicadas será analisado e os lançamentos, se necessário, serão retificados, para fins de aplicação da penalidade mais benéfica, nos termos da alínea "c" do inciso II do art. 106 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN). § 1º Caso não haja pagamento ou parcelamento do débito, a análise do valor das multas referidas no caput será realizada no momento do ajuizamento da execução fiscal pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN). § 2º A análise a que se refere o caput darseá por competência. § 3º A aplicação da penalidade mais benéfica na forma deste artigo darseá: I mediante requerimento do sujeito passivo, dirigido à autoridade administrativa competente, informando e comprovando que se subsume à mencionada hipótese; ou Fl. 1114DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 9 II de ofício, quando verificada pela autoridade administrativa a possibilidade de aplicação. § 4º Se o processo encontrarse em trâmite no contencioso administrativo de primeira instância, a autoridade julgadora fará constar de sua decisão que a análise do valor das multas para verificação e aplicação daquela que for mais benéfica, se cabível, será realizada no momento do pagamento ou do parcelamento. Art. 3º A análise da penalidade mais benéfica, a que se refere esta Portaria, será realizada pela comparação entre a soma dos valores das multas aplicadas nos lançamentos por descumprimento de obrigação principal, conforme o art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e de obrigações acessórias, conforme §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e da multa de ofício calculada na forma do art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009. § 1º Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, tenham sido aplicadas isoladamente, sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal, deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. § 2º A comparação na forma do caput deverá ser efetuada em relação aos processos conexos, devendo ser considerados, inclusive, os débitos pagos, os parcelados, os nãoimpugnados, os inscritos em Dívida Ativa da União e os ajuizados após a publicação da Medida Provisória nº 449, de 3 de dezembro de 2008. Art. 4º O valor das multas aplicadas, na forma do art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, sobre as contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, deverá ser comparado com o valor das multa de ofício previsto no art. 35A daquela Lei, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009, e, caso resulte mais benéfico ao sujeito passivo, será reduzido àquele patamar. Art. 5º Na hipótese de ter havido lançamento de ofício relativo a contribuições declaradas na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP), a multa aplicada limitarseá àquela prevista no art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. Fl. 1115DF CARF MF Processo nº 11077.000237/200889 Acórdão n.º 9202004.879 CSRFT2 Fl. 0 10 Em face ao exposto, dou provimento ao recurso para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Em face do acima exposto, voto por conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, darlhe provimento, para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Fl. 1116DF CARF MF
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Numero do processo: 10711.724923/2013-11
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Feb 21 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue May 09 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias
Data do fato gerador: 03/06/2009
OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. INOBSERVÂNCIA AO PRAZO ESTABELECIDO PREVISTO EM NORMA. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO.
É obrigação do contribuinte prestar informações sobre a desconsolidação de carga dentro dos prazos previstos no artigo 22 c/c o artigo 50 da IN SRF nº 800/2007, sob pena de sujeitar-se à aplicação da multa prevista no artigo 107, inciso I, IV, alínea "e", do Decreto Lei nº 37/66.
MULTA POR ATRASO NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE A CARGA. APLICAÇÃO POR MANIFESTO DE CARGA. IMPOSSIBILIDADE. ÔNUS DA PROVA DO CONTRIBUINTE.
A multa regulamentar sancionadora da infração por omissão ou atraso na prestação de informação sobre a carga transportada por empresa de transporte internacional de carga deve ser aplicada uma única vez por viagem do veículo transportador e não por cada manifesto de carga da mesma viagem. Contudo, se não estiverem presentes nos autos informações suficientes que comprovem a penalização por cada manifesto de carga, não há como cancelar o lançamento.
Recurso Voluntário Negado.
Numero da decisão: 3201-002.544
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
WINDERLEY MORAIS PEREIRA - Presidente Substituto e Relator
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente), Jose Luiz Feistauer de Oliveira, Mercia Helena Trajano Damorim, Cassio Schappo, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araujo, Pedro Rinaldi De Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario.
Nome do relator: WINDERLEY MORAIS PEREIRA
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MULTA POR ATRASO NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE CARGA Recorrente CEVA FREIGHT MANAGEMENT DO BRASIL LTDA. Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Data do fato gerador: 03/06/2009 OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA. INOBSERVÂNCIA AO PRAZO ESTABELECIDO PREVISTO EM NORMA. AUSÊNCIA DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO. É obrigação do contribuinte prestar informações sobre a desconsolidação de carga dentro dos prazos previstos no artigo 22 c/c o artigo 50 da IN SRF nº 800/2007, sob pena de sujeitarse à aplicação da multa prevista no artigo 107, inciso I, IV, alínea "e", do Decreto Lei nº 37/66. MULTA POR ATRASO NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE A CARGA. APLICAÇÃO POR MANIFESTO DE CARGA. IMPOSSIBILIDADE. ÔNUS DA PROVA DO CONTRIBUINTE. A multa regulamentar sancionadora da infração por omissão ou atraso na prestação de informação sobre a carga transportada por empresa de transporte internacional de carga deve ser aplicada uma única vez por viagem do veículo transportador e não por cada manifesto de carga da mesma viagem. Contudo, se não estiverem presentes nos autos informações suficientes que comprovem a penalização por cada manifesto de carga, não há como cancelar o lançamento. Recurso Voluntário Negado. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em negar provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) WINDERLEY MORAIS PEREIRA Presidente Substituto e Relator AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 71 1. 72 49 23 /2 01 3- 11 Fl. 99DF CARF MF Processo nº 10711.724923/201311 Acórdão n.º 3201002.544 S3C2T1 Fl. 3 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Winderley Morais Pereira (Presidente), Jose Luiz Feistauer de Oliveira, Mercia Helena Trajano Damorim, Cassio Schappo, Ana Clarissa Masuko dos Santos Araujo, Pedro Rinaldi De Oliveira Lima, Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario. Relatório Tratase de processo referente à exigência de multa pelo descumprimento da obrigação de prestar informação sobre veículo, operação realizada ou carga transportada, na forma e no prazo estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. A irregularidade identificada consta do tópico "Dos Fatos", parte da Descrição dos Fatos do Auto de Infração. Segundo o relatado, consistiu na prestação intempestiva de informação referente ao conhecimento eletrônico (CE) ali indicado, o que acarretou no bloqueio automático do conhecimento no sistema Carga, conforme extrato anexado aos autos. Diante dos fatos apurados, a fiscalização entendeu configurada a infração tipificada no art. 107, IV, “e”, do DecretoLei nº 37/1966, com redação dada pela Lei nº 10.833/2003, e aplicou a multa ali cominada. Não conformada com a exigência, a contribuinte apresentou Impugnação, cujos argumentos de defesa foram assim sintetizados pela DRJ: a) Princípio da razoabilidade. O atraso incorrido pela impugnante não causou embaraço ao controle aduaneiro, eis que as informações foram prestadas com suficiente antecedência da chegada do navio ao porto, o que comprova, também, o fato de a autuada não ter agido com intuito de cometer qualquer infração. Dessa forma, a aplicação de multa no presente caso ofende ao princípio da razoabilidade, que impõe à Administração Pública o dever de agir com bom senso, prudência e moderação, levando em conta a relação de proporcionalidade entre os meios empregados e a finalidade a ser alcançada, bem como as circunstâncias que envolvem a prática do ato. b) Bis in Idem. A impugnante foi penalizada mais de uma vez pela mesma conduta, uma vez que foram cobradas multas pelo atraso na entrega de informações referentes a cargas transportadas no mesmo navio/viagem, conforme processos administrativos indicados, não podendo subsistir mais de uma penalidade para o mesmo fato, conforme estabelece a legislação de regência. Assim, se infração houve, nesses casos só poderia ser aplicada multa uma única vez, consoante já decidiu a própria Receita Federal na Solução de Consulta Interna (SCI) nº 8, de 14/2/2008. Ao final a impugnante requer que seja cancelado o lançamento ou, subsidiariamente, que seja aplicado o entendimento de que só é cabível uma multa em relação a cada navio/viagem, excluindose as penalidades excedentes. A DRJ/Fortaleza julgou improcedente a impugnação apresentada, mantendo a exigência da penalidade nos termos do Acórdão 08033.131. No recurso voluntário foram repisadas as alegações trazidas na impugnação. É o relatório. Fl. 100DF CARF MF Processo nº 10711.724923/201311 Acórdão n.º 3201002.544 S3C2T1 Fl. 4 3 Voto Winderley Morais Pereira, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3201002.523, de 21 de fevereiro de 2017, proferido no julgamento do processo 10711.724209/201241, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão, (Acórdão 3201002.523): "Conforme o Direito Tributário, a legislação, as provas, documentos e petições apresentados aos autos deste procedimento administrativo e, no exercício dos trabalhos e atribuições profissionais concedidas aos Conselheiros, conforme portaria de condução e Regimento Interno deste Conselho, apresento e relato o seguinte voto. Por conter matéria preventa desta 3.ª Seção do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais e considerando o tempestivo Recurso Voluntário, dele conheço. A alegação da fiscalização de 'Não Prestação de Informação sobre Carga Transportada' e a consequente aplicação de multa de R$ 5.000,00 prevista no Art. 107 do DL 37/66, em razão do descumprimento do prazo previsto na IN RFB 800/2007, Art. 22, ocorreu em razão da fiscalização ter constatado que o contribuinte era consignatário e deveria ter cumprido o prazo em no máximo até 29/07/09 às 07:58, sendo que desconsolidou o mercante agregado HBL de fls. 23 e 24 às 18:00 do mesmo dia 29. Conforme alegação de bis in idem do contribuinte em seu Recurso Voluntário, a autuação seria atrelada a dois outros autos de infração, Processos Administrativos de n°. 10711.724.250/201218 e 10711.724.251/201262, com os mesmos fatos e penalidade. Vencido no voto de diligência, para que fossem juntadas aos autos cópias dos mencionados processos e fosse verificada a possibilidade da duplicidade da pena, conforme Resolução por mim proposta na sessão de Janeiro deste ano, é certo que devo proceder à análise do mérito desta lide. Em que pese existir precedente favorável à situação do contribuinte, como o encontrado no Acórdão 3102001.988 deste Conselho, que determinou que a multa regulamentar sancionadora da infração por omissão ou atraso na prestação de informação sobre a carga transportada por empresa de transporte internacional de carga deve ser aplicada uma única vez por viagem do veículo transportador e não por cada manifesto de carga da mesma viagem, como fora consignado na autuação, não houve comprovação da existência de duplicidade ou do bis in idem, tampouco argumentos capazes de prejudicar o lançamento fiscal ou contradizer os argumentos utilizados pela turma de origem que afirmou 'que as multas aplicadas foram decorrentes de condutas similares, porém, relativas a fatos distintos'. Fl. 101DF CARF MF Processo nº 10711.724923/201311 Acórdão n.º 3201002.544 S3C2T1 Fl. 5 4 Mas cópias dos Autos de Infração, um demonstrativo analítico, com os registros relativos às operações tratadas em cada processo apontado no recurso, não foram juntados pelo contribuinte. Esta situação (não juntada de documentos ou provas) diverge do previsto no Art. 16, inciso III e §4º, do inciso V , do Decreto nº 70.235/72, bem como do artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil. Nestes termos, considerando que a Recorrente deixou de comprovar suas alegações, não há como acolher o pedido de nulidade do lançamento suscitado pela contribuinte. Restam prejudicados os demais argumentos do contribuinte, pois todos são decorrentes da alegação de bis in idem, exceto pela alegação de aplicação do princípio da razoabilidade, o que certamente teria valia porque é um princípio constitucional, contudo, está correta a fundamentação legal do lançamento, vigente e aplicável aos fatos narrados. O lançamento capitulou corretamente a multa regulamentar pela não prestação de informação sobre veículo ou carga transportada, ou sobre operações que executar, prevista no artigo 107, inciso IV, alínea "e", do Decreto Lei º 37/66, com a redação dada pelo artigo 77 da Lei nº 10.833/2003, pelo fato da Recorrente ter prestado informações sobre a desconsolidação da carga fora do preceitos e prazos previstos nos artigo 22 e 50, da Instrução Normativa SRF nº 800/2007. Assim, deve ser aplicada a multa prevista pela letra “e” do inciso IV, art. 107 do Decreto nº 37, isso é, no montante de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Diante do exposto, votase por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário para manter o lançamento em uma só multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)." Quanto à questão do bis in idem, da mesma forma que no caso do paradigma a contribuinte não juntou ao presente processo "cópias dos Autos de Infração, um demonstrativo analítico, com os registros relativos às operações tratadas em cada processo apontado no recurso". Não comprovada a ocorrência de duplicidade da exigência, não há como acolher o pleito de nulidade do presente lançamento. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, negase provimento ao recurso voluntário. assinado digitalmente Winderley Morais Pereira Fl. 102DF CARF MF
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Numero do processo: 15586.000631/2007-47
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Mon Dec 12 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Wed Feb 08 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/01/2001 a 31/03/2001, 01/05/2001 a 31/10/2005, 01/12/2005 a 31/01/2007
APLICAÇÃO DE PENALIDADE. PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009.
Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta.
O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo.
Recurso Especial do Procurador Provido.
Numero da decisão: 9202-004.974
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em dar-lhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Patrícia da Silva.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício e Relator
Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri.
Nome do relator: LUIZ EDUARDO DE OLIVEIRA SANTOS
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PRINCÍPIO DA RETROATIVIDADE BENIGNA. LEI Nº 8.212/1991, COM A REDAÇÃO DADA PELA MP 449/2008, CONVERTIDA NA LEI Nº 11.941/2009. PORTARIA PGFN/RFB Nº 14 DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009. Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, antes de tudo, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto que sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. O cálculo da penalidade deve ser efetuado em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, se mais benéfico para o sujeito passivo. Recurso Especial do Procurador Provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, em darlhe provimento. Votou pelas conclusões a conselheira Patrícia da Silva. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 58 6. 00 06 31 /2 00 7- 47 Fl. 192DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 2 (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício e Relator Participaram da sessão de julgamento os Conselheiros Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício), Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, Gerson Macedo Guerra e Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri. Relatório O presente recurso foi objeto de julgamento na sistemática prevista no art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, adoto o relatório objeto do processo paradigma deste julgamento, n° 10380.005876/200753. A divergência em exame reportase à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. A Fazenda Nacional interpôs recurso especial requerendo que a retroatividade benigna fosse aplicada, essencialmente, pelos critérios constantes na Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Cientificado, o sujeito passivo não apresentou contrarrazões. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Eduardo de Oliveira Santos Relator Este processo foi julgado na sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 9202004.792, de 12/12/2016, proferido no julgamento do processo 10380.005876/200753, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio nos termos regimentais, o inteiro teor do voto proferido naquela decisão (Acórdão 9202004.792): O Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Fl. 193DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 3 Cingese a controvérsia às penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP nº 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009, quando mais benéfica ao sujeito passivo. A solução do litígio decorre do disposto no artigo 106, inciso II, alínea “a” do CTN, a seguir transcrito: Art. 106. A lei aplicase a ato ou fato pretérito: I em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II tratandose de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de definilo como infração; b) quando deixe de tratálo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. (grifos acrescidos) De inicio, cumpre registrar que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), de forma unânime pacificou o entendimento de que na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre dispositivos, percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Assim, a multa de mora prevista no art. 61 da Lei nº 9.430, de 1996, não é aplicável quando realizado o lançamento de ofício, conforme consta do Acórdão nº 9202004.262 (Sessão de 23 de junho de 2016), cuja ementa transcrevese: AUTO DE INFRAÇÃO OBRIGAÇÃO ACESSÓRIA MULTA APLICAÇÃO NOS LIMITES DA LEI 8.212/91 C/C LEI 11.941/08 APLICAÇÃO DA MULTA MAIS FAVORÁVEL RETROATIVIDADE BENIGNA NATUREZA DA MULTA APLICADA. A multa nos casos em que há lançamento de obrigação principal lavrados após a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, mesmo que referente a fatos geradores anteriores a publicação da referida lei, é de ofício. AUTO DE INFRAÇÃO DE OBRIGAÇÃO PRINCIPAL E ACESSÓRIA COMPARATIVO DE MULTAS APLICAÇÃO DE PENALIDADE. RETROATIVIDADE BENIGNA. Fl. 194DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 4 Na aferição acerca da aplicabilidade da retroatividade benigna, não basta a verificação da denominação atribuída à penalidade, tampouco a simples comparação entre percentuais e limites. É necessário, basicamente, que as penalidades sopesadas tenham a mesma natureza material, portanto sejam aplicáveis ao mesmo tipo de conduta. Se as multas por descumprimento de obrigações acessória e principal foram exigidas em procedimentos de ofício, ainda que em separado, incabível a aplicação retroativa do art. 32A, da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009, eis que esta última estabeleceu, em seu art. 35A, penalidade única combinando as duas condutas. A legislação vigente anteriormente à Medida Provisória n° 449, de 2008, determinava, para a situação em que ocorresse (a) recolhimento insuficiente do tributo e (b) falta de declaração da verba tributável em GFIP, a constituição do crédito tributário de ofício, acrescido das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, respectivamente. Posteriormente, foi determinada, para essa mesma situação (falta de pagamento e de declaração), apenas a aplicação do art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991, que faz remissão ao art. 44 da Lei n° 9.430, de 1996. Portanto, para aplicação da retroatividade benigna, resta necessário comparar (a) o somatório das multas previstas nos arts. 35, II, e 32, § 5o, ambos da Lei n° 8.212, de 1991, e (b) a multa prevista no art. 35A da Lei n° 8.212, de 1991. A comparação de que trata o item anterior tem por fim a aplicação da retroatividade benigna prevista no art. 106 do CTN e, caso necessário, a retificação dos valores no sistema de cobrança, a fim de que, em cada competência, o valor da multa aplicada no AIOA somado com a multa aplicada na NFLD/AIOP não exceda o percentual de 75%. Prosseguindo na análise do tema, também é entendimento pacífico deste Colegiado que na hipótese de lançamento apenas de obrigação principal, a retroatividade benigna será aplicada se, na liquidação do acórdão, a penalidade anterior à vigência da MP 449, de 2008, ultrapassar a multa do art. 35A da Lei n° 8.212/91, correspondente aos 75% previstos no art. 44 da Lei n° 9.430/96. Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela MP 449 (convertida na Lei 11.941, de 2009), tenham sido aplicadas isoladamente descumprimento de obrigação acessória sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, bem assim no caso de competências em que o lançamento da obrigação principal tenha sido atingida pela decadência. Neste sentido, transcrevese excerto do voto unânime proferido no Acórdão nº 9202004.499 (Sessão de 29 de setembro de 2016): Fl. 195DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 5 Até a edição da MP 449/2008, quando realizado um procedimento fiscal, em que se constatava a existência de débitos previdenciários, lavravase em relação ao montante da contribuição devida, notificação fiscal de lançamento de débito NFLD. Caso constatado que, além do montante devido, descumprira o contribuinte obrigação acessória, ou seja, obrigação de fazer, como no caso de omissão em GFIP (que tem correlação direta com o fato gerador), a empresa era autuada também por descumprimento de obrigação acessória. Nessa época os dispositivos legais aplicáveis eram multa art. 35 para a NFLD (24%, que sofria acréscimos dependendo da fase processual do débito) e art. 32 (100% da contribuição devida em caso de omissões de fatos geradores em GFIP) para o Auto de infração de obrigação acessória. Contudo, a MP 449/2008, convertida na lei 11.941/2009, inseriu o art. 32A, o qual dispõe o seguinte: “Art. 32A. O contribuinte que deixar de apresentar a declaração de que trata o inciso IV do caput do art. 32 desta Lei no prazo fixado ou que a apresentar com incorreções ou omissões será intimado a apresentála ou a prestar esclarecimentos e sujeitarseá às seguintes multas: I – de R$ 20,00 (vinte reais) para cada grupo de 10 (dez) informações incorretas ou omitidas; e II – de 2% (dois por cento) ao mêscalendário ou fração, incidentes sobre o montante das contribuições informadas, ainda que integralmente pagas, no caso de falta de entrega da declaração ou entrega após o prazo, limitada a 20% (vinte por cento), observado o disposto no § 3o deste artigo. § 1o Para efeito de aplicação da multa prevista no inciso II do caput deste artigo, será considerado como termo inicial o dia seguinte ao término do prazo fixado para entrega da declaração e como termo final a data da efetiva entrega ou, no caso de nãoapresentação, a data da lavratura do auto de infração ou da notificação de lançamento. § 2o Observado o disposto no § 3o deste artigo, as multas serão reduzidas: I – à metade, quando a declaração for apresentada após o prazo, mas antes de qualquer procedimento de ofício; ou II – a 75% (setenta e cinco por cento), se houver apresentação da declaração no prazo fixado em intimação. Fl. 196DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 6 § 3o A multa mínima a ser aplicada será de: I – R$ 200,00 (duzentos reais), tratandose de omissão de declaração sem ocorrência de fatos geradores de contribuição previdenciária; e II – R$ 500,00 (quinhentos reais), nos demais casos.” Entretanto, a MP 449, Lei 11.941/2009, também acrescentou o art. 35A que dispõe o seguinte, “Art. 35A. Nos casos de lançamento de ofício relativos às contribuições referidas no art. 35 desta Lei, aplicase o disposto no art. 44 da Lei no 9.430, de 27 de dezembro de 1996.” O inciso I do art. 44 da Lei 9.430/96, por sua vez, dispõe o seguinte: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata “ Com a alteração acima, em caso de atraso, cujo recolhimento não ocorrer de forma espontânea pelo contribuinte, levando ao lançamento de ofício, a multa a ser aplicada passa a ser a estabelecida no dispositivo acima citado, ou seja, em havendo lançamento da obrigação principal (a antiga NFLD), aplicase multa de ofício no patamar de 75%. Essa conclusão levanos ao raciocínio que a natureza da multa, sempre que existe lançamento, referese a multa de ofício e não a multa de mora referida no antigo art. 35 da lei 8212/91. Contudo, mesmo que consideremos que a natureza da multa é de "multa de ofício" não podemos isoladamente aplicar 75% para as Notificações Fiscais NFLD ou Autos de Infração de Obrigação Principal AIOP, pois estaríamos na verdade retroagindo para agravar a penalidade aplicada. Por outro lado, com base nas alterações legislativas não mais caberia, nos patamares anteriormente existentes, aplicação de NFLD + AIOA (Auto de Infração de Obrigação Acessória) cumulativamente, pois em existindo lançamento de ofício a multa passa a ser exclusivamente de 75%. Tendo identificado que a natureza da multa, sempre que há lançamento, é de multa de ofício, considerando o princípio da retroatividade benigna previsto no art. 106. inciso II, alínea “c”, do Código Tributário Nacional, há Fl. 197DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 7 que se verificar a situação mais favorável ao sujeito passivo, face às alterações trazidas. No presente caso, foi lavrado AIOA julgada, e alvo do presente recurso especial, prevaleceu o valor de multa aplicado nos moldes do art. 32A. No caso da ausência de informação em GFIP, conforme descrito no relatório a multa aplicada ocorreu nos termos do art. 32, inciso IV, § 5º, da Lei nº 8.212/1991 também revogado, o qual previa uma multa no valor de 100% (cem por cento) da contribuição não declarada, limitada aos limites previstos no § 4º do mesmo artigo. Face essas considerações para efeitos da apuração da situação mais favorável, entendo que há que se observar qual das seguintes situações resulta mais favorável ao contribuinte: · Norma anterior, pela soma da multa aplicada nos moldes do art. 35, inciso II com a multa prevista no art. 32, inciso IV, § 5º, observada a limitação imposta pelo § 4º do mesmo artigo, ou · Norma atual, pela aplicação da multa de setenta e cinco por cento sobre os valores não declarados, sem qualquer limitação, excluído o valor de multa mantido na notificação. Levando em consideração a legislação mais benéfica ao contribuinte, conforme dispõe o art. 106 do Código Tributário Nacional (CTN), o órgão responsável pela execução do acórdão deve, quando do trânsito em julgado administrativo, efetuar o cálculo da multa, em cada competência, somando o valor da multa aplicada no AI de obrigação acessória com a multa aplicada na NFLD/AIOP, que não pode exceder o percentual de 75%, previsto no art. 44, I da Lei n° 9.430/1996. Da mesma forma, no lançamento apenas de obrigação principal o valor das multa de ofício não pode exceder 75%. No AI de obrigação acessória, isoladamente, o percentual não pode exceder as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Observese que, no caso de competências em que a obrigação principal tenha sido atingida pela decadência (pela antecipação do pagamento nos termos do art. 150, § 4º, do CTN), subsiste a obrigação acessória, isoladamente, relativa às mesmas competências, não atingidas pela decadência posto que regidas pelo art. 173, I, do CTN, e que, portanto, deve ter sua penalidade limitada ao valor previsto no artigo 32A da Lei nº 8.212, de 1991. Fl. 198DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 8 Cumpre ressaltar que o entendimento acima está em consonância com o que dispõe a Instrução Normativa RFB nº 971, de 13 de novembro de 2009, alterada pela Instrução Normativa RFB nº 1.027 em 22/04/2010, e no mesmo diapasão do que estabelece a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009, que contempla tanto os lançamentos de obrigação principal quanto de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente. Neste passo, para os fatos geradores ocorridos até 03/12/2008, a autoridade responsável pela execução do acórdão, quando do trânsito em julgado administrativo, deverá observar a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 que se reporta à aplicação do princípio da retroatividade benigna previsto no artigo 106, inciso II, alínea “c”, do CTN, em face das penalidades aplicadas às contribuições previdenciárias nos lançamentos de obrigação principal e de obrigação acessória, em conjunto ou isoladamente, previstas na Lei nº 8.212/1991, com as alterações promovidas pela MP 449/2008, convertida na Lei nº 11.941/2009. De fato, as disposições da referida Portaria, a seguir transcritas, estão em consonância com a jurisprudência unânime desta 2ª Turma da CSRF sobre o tema: Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009 Art. 1º A aplicação do disposto nos arts. 35 e 35A da Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009, às prestações de parcelamento e aos demais débitos não pagos até 3 de dezembro de 2008, inscritos ou não em Dívida Ativa, cobrados por meio de processo ainda não definitivamente julgado, observará o disposto nesta Portaria. Art. 2º No momento do pagamento ou do parcelamento do débito pelo contribuinte, o valor das multas aplicadas será analisado e os lançamentos, se necessário, serão retificados, para fins de aplicação da penalidade mais benéfica, nos termos da alínea "c" do inciso II do art. 106 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 Código Tributário Nacional (CTN). § 1º Caso não haja pagamento ou parcelamento do débito, a análise do valor das multas referidas no caput será realizada no momento do ajuizamento da execução fiscal pela ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional (PGFN). § 2º A análise a que se refere o caput darseá por competência. § 3º A aplicação da penalidade mais benéfica na forma deste artigo darseá: I mediante requerimento do sujeito passivo, dirigido à autoridade administrativa competente, informando e comprovando que se subsume à mencionada hipótese; ou Fl. 199DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 9 II de ofício, quando verificada pela autoridade administrativa a possibilidade de aplicação. § 4º Se o processo encontrarse em trâmite no contencioso administrativo de primeira instância, a autoridade julgadora fará constar de sua decisão que a análise do valor das multas para verificação e aplicação daquela que for mais benéfica, se cabível, será realizada no momento do pagamento ou do parcelamento. Art. 3º A análise da penalidade mais benéfica, a que se refere esta Portaria, será realizada pela comparação entre a soma dos valores das multas aplicadas nos lançamentos por descumprimento de obrigação principal, conforme o art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e de obrigações acessórias, conforme §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, e da multa de ofício calculada na forma do art. 35A da Lei nº 8.212, de 1991, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009. § 1º Caso as multas previstas nos §§ 4º e 5º do art. 32 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, tenham sido aplicadas isoladamente, sem a imposição de penalidade pecuniária pelo descumprimento de obrigação principal, deverão ser comparadas com as penalidades previstas no art. 32A da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. § 2º A comparação na forma do caput deverá ser efetuada em relação aos processos conexos, devendo ser considerados, inclusive, os débitos pagos, os parcelados, os nãoimpugnados, os inscritos em Dívida Ativa da União e os ajuizados após a publicação da Medida Provisória nº 449, de 3 de dezembro de 2008. Art. 4º O valor das multas aplicadas, na forma do art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, em sua redação anterior à dada pela Lei nº 11.941, de 2009, sobre as contribuições devidas a terceiros, assim entendidas outras entidades e fundos, deverá ser comparado com o valor das multa de ofício previsto no art. 35A daquela Lei, acrescido pela Lei nº 11.941, de 2009, e, caso resulte mais benéfico ao sujeito passivo, será reduzido àquele patamar. Art. 5º Na hipótese de ter havido lançamento de ofício relativo a contribuições declaradas na Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social (GFIP), a multa aplicada limitarseá àquela prevista no art. 35 da Lei nº 8.212, de 1991, com a redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009. Fl. 200DF CARF MF Processo nº 15586.000631/200747 Acórdão n.º 9202004.974 CSRFT2 Fl. 0 10 Em face ao exposto, dou provimento ao recurso para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. Em face do acima exposto, voto por conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional e, no mérito, darlhe provimento, para que a retroatividade benigna seja aplicada em conformidade com a Portaria PGFN/RFB nº 14 de 04 de dezembro de 2009. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Fl. 201DF CARF MF
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Numero do processo: 11070.721963/2015-28
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Jan 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Mar 01 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/01/2011 a 31/12/2012
ALTERAÇÃO DE CRITÉRIO JURÍDICO. ART. 146 DO CTN. NÃO OCORRÊNCIA. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro Auto de Infração diz respeito a um mesmo lançamento e não a lançamentos diversos, como aduzido neste caso.
IPI. CRÉDITO. PRODUTOS ISENTOS ORIUNDOS DA ZONA FRANCA DE MANAUS (ZFM)). DECISÃO JUDICIAL COISA JULGADA. A autoridade administrativa está adstrita a aplicar exatamente o comando determinado pelo Poder Judiciário, sem qualquer margem de discricionariedade.
ZFM. INSUMOS. CRÉDITO FICTO DO ART. 6º DO DECRETO-LEI Nº 1.435/75. ISENÇÃO. AMAZÔNIA OCIDENTAL. A aquisição de insumos isentos, provenientes da Zona Franca de Manaus, não legitima aproveitamento de créditos de IPI. No art. 6º do Decreto-Lei nº 1.435/75, entende-se por "matérias-primas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional", aquelas produzidas na área da Amazônia Ocidental. Não se tratando os insumos de matérias-primas agrícolas e/ou extrativas vegetais de produção regional, não há direito ao creditamento ficto.
IPI. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. KITS DE CONCENTRADOS PARA PRODUÇÃO DE REFRIGERANTES. Nas hipóteses em que a mercadoria descrita como kit ou concentrado para refrigerantes constitui-se de um conjunto cujas partes consistem em diferentes matérias-primas e produtos intermediários que só se tornam efetivamente uma preparação composta para elaboração de bebidas em decorrência de nova etapa de industrialização ocorrida no estabelecimento adquirente, cada um dos componentes desses kits deverá ser classificado no código próprio da TIPI.
SUFRAMA. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DA MERCADORIA. Nos atos de sua competência, a SUFRAMA pode tratar os kits como se fossem uma mercadoria única, o que não afeta a validade desses atos para os objetivos propostos, porém este tratamento não prevalece para fins de Classificação Fiscal da mercadoria. (enquadramento na TIPI).
MULTA DE OFÍCIO. INEFICÁCIA NORMATIVA DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS. PREVISÃO EM LEI. EXIGÊNCIA. É cabível a exigência de penalidade, nos casos em que não se discute o direito ao crédito de IPI oriundo de insumos isentos, pois a empresa possui decisão judicial sobre o assunto. Os valores objeto de discussão abrangem exclusivamente o aproveitamento indevido de créditos por erro na alíquota de cálculo, prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, assunto em relação ao qual inexiste jurisprudência administrativa.
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A literalidade do artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430, de 1996, separa os débitos tributários das penalidades (multas de ofício), determinando a incidência dos juros só sobre os primeiros, e não sobre as segundas. Assim falta previsão legal para a incidência da Selic sobre a multa de ofício imposta nos autos de infração lavrados pela RFB.
Recurso Voluntário Provido em Parte.
Numero da decisão: 3402-003.800
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, em dar provimento parcial ao recurso voluntário da seguinte forma: a) por unanimidade de votos, foram rejeitadas as preliminares de nulidade do lançamento; b) pelo voto de qualidade, negou-se provimento quanto ao mérito. Vencidos os Conselheiros Carlos Augusto Daniel Neto, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Maysa de Sá Pittondo Deligne. Designado o Conselheiro Waldir Navarro Bezerra. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro deu provimento ao recurso por entender que o contribuinte estava amparado pela coisa julgada que garantia o direito ao aproveitamento dos créditos; c) por maioria de votos, excluiu-se a cobrança de juros de mora sobre a multa de ofício na fase de liquidação administrativa do presente julgado. Vencidos os Conselheiros Jorge Freire, Waldir Navarro Bezerra e Maria Aparecida Martins de Paula. Designada a Conselheira Thais de Laurentiis Galkowicz. Os Conselheiros Jorge Freire, Diego Diniz Ribeiro e Maysa de Sá Pittondo Deligne apresentaram declarações de voto.
(assinado digitalmente)
Antonio Carlos Atulim - Presidente.
(assinado digitalmente)
Carlos Augusto Daniel Neto - Relator.
(assinado digitalmente)
Waldir Navarro Bezerra - Redator Designado.
(assinado digitalmente)
Thais de Laurentiis Galkowicz - Redatora Designada.
Participaram da sessão de julgamento os seguintes Conselheiros: Antônio Carlos Atulim (Presidente), Jorge Olmiro Lock Freire, Carlos Augusto Daniel Neto, Maysa de Sá Pittondo Deligne, Maria Aparecida Martins de Paula, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Waldir Navarro Bezerra.
Estiveram presentes ao julgamento o Dr. Antonio Carlos Garcia de Souza, OAB/RJ 48.955, advogado da recorrente, o Dr. Pedro Cestari, Procurador da Fazenda Nacional, e os Auditores-Fiscais da Receita Federal Hélio Mesquita de Freitas e Maria Cláudia Pereira da Silveira, representantes da Coordenação-Geral de Fiscalização.
Outros eventos ocorridos: O patrono da recorrente questionou o Conselheiro Jorge Freire acerca de sua participação na fiscalização dos processos sob julgamento. O Conselheiro Jorge Freire indagou se o patrono estava arguindo sua suspeição e esclareceu que não participou da fiscalização que originou esses processos. O patrono esclareceu que não estava arguindo a suspeição ou o impedimento do referido conselheiro, apenas estava perguntando se o conselheiro havia ou não participado da fiscalização.
Nome do relator: CARLOS AUGUSTO DANIEL NETO
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ART. 146 DO CTN. NÃO OCORRÊNCIA. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro Auto de Infração diz respeito a um mesmo lançamento e não a lançamentos diversos, como aduzido neste caso. IPI. CRÉDITO. PRODUTOS ISENTOS ORIUNDOS DA ZONA FRANCA DE MANAUS (ZFM)). DECISÃO JUDICIAL COISA JULGADA. A autoridade administrativa está adstrita a aplicar exatamente o comando determinado pelo Poder Judiciário, sem qualquer margem de discricionariedade. ZFM. INSUMOS. CRÉDITO FICTO DO ART. 6º DO DECRETOLEI Nº 1.435/75. ISENÇÃO. AMAZÔNIA OCIDENTAL. A aquisição de insumos isentos, provenientes da Zona Franca de Manaus, não legitima aproveitamento de créditos de IPI. No art. 6º do DecretoLei nº 1.435/75, entendese por "matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional", aquelas produzidas na área da Amazônia Ocidental. Não se tratando os insumos de matériasprimas agrícolas e/ou extrativas vegetais de produção regional, não há direito ao creditamento ficto. IPI. CLASSIFICAÇÃO FISCAL. KITS DE CONCENTRADOS PARA PRODUÇÃO DE REFRIGERANTES. Nas hipóteses em que a mercadoria descrita como “kit ou concentrado para refrigerantes” constituise de um conjunto cujas partes consistem em diferentes matériasprimas e produtos intermediários que só se tornam efetivamente uma preparação composta para elaboração de bebidas em decorrência de nova etapa de industrialização ocorrida no estabelecimento adquirente, cada um dos componentes desses “kits” deverá ser classificado no código próprio da TIPI. SUFRAMA. CLASSIFICAÇÃO FISCAL DA MERCADORIA. Nos atos de sua competência, a SUFRAMA pode tratar os kits como se fossem uma AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 07 0. 72 19 63 /2 01 5- 28 Fl. 1568DF CARF MF 2 mercadoria única, o que não afeta a validade desses atos para os objetivos propostos, porém este tratamento não prevalece para fins de Classificação Fiscal da mercadoria. (enquadramento na TIPI). MULTA DE OFÍCIO. INEFICÁCIA NORMATIVA DAS DECISÕES ADMINISTRATIVAS. PREVISÃO EM LEI. EXIGÊNCIA. É cabível a exigência de penalidade, nos casos em que não se discute o direito ao crédito de IPI oriundo de insumos isentos, pois a empresa possui decisão judicial sobre o assunto. Os valores objeto de discussão abrangem exclusivamente o aproveitamento indevido de créditos por erro na alíquota de cálculo, prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, assunto em relação ao qual inexiste jurisprudência administrativa. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A literalidade do artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430, de 1996, separa os débitos tributários das penalidades (multas de ofício), determinando a incidência dos juros só sobre os primeiros, e não sobre as segundas. Assim falta previsão legal para a incidência da Selic sobre a multa de ofício imposta nos autos de infração lavrados pela RFB. Recurso Voluntário Provido em Parte. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, em dar provimento parcial ao recurso voluntário da seguinte forma: a) por unanimidade de votos, foram rejeitadas as preliminares de nulidade do lançamento; b) pelo voto de qualidade, negouse provimento quanto ao mérito. Vencidos os Conselheiros Carlos Augusto Daniel Neto, Diego Diniz Ribeiro, Thais de Laurentiis Galkowicz e Maysa de Sá Pittondo Deligne. Designado o Conselheiro Waldir Navarro Bezerra. O Conselheiro Diego Diniz Ribeiro deu provimento ao recurso por entender que o contribuinte estava amparado pela coisa julgada que garantia o direito ao aproveitamento dos créditos; c) por maioria de votos, excluiuse a cobrança de juros de mora sobre a multa de ofício na fase de liquidação administrativa do presente julgado. Vencidos os Conselheiros Jorge Freire, Waldir Navarro Bezerra e Maria Aparecida Martins de Paula. 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Estiveram presentes ao julgamento o Dr. Antonio Carlos Garcia de Souza, OAB/RJ 48.955, advogado da recorrente, o Dr. Pedro Cestari, Procurador da Fazenda Nacional, e os AuditoresFiscais da Receita Federal Hélio Mesquita de Freitas e Maria Cláudia Pereira da Silveira, representantes da CoordenaçãoGeral de Fiscalização. Outros eventos ocorridos: O patrono da recorrente questionou o Conselheiro Jorge Freire acerca de sua participação na fiscalização dos processos sob julgamento. O Conselheiro Jorge Freire indagou se o patrono estava arguindo sua suspeição e esclareceu que não participou da fiscalização que originou esses processos. O patrono esclareceu que não estava arguindo a suspeição ou o impedimento do referido conselheiro, apenas estava perguntando se o conselheiro havia ou não participado da fiscalização. Relatório Tratase de auto de infração lavrado contra a VONPAR REFRESCOS S.A. ("VONPAR") pela fiscalização para exigir Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI – e respectivos juros de mora e multa de ofício. O tributo lançado representa saldos devedores apurados na escrita após a glosa de créditos decorrentes de aquisições de insumos isentos (kits de concentrados para refrigerantes) feitas à empresa RECOFARMA INDÚSTRIA DO AMAZONAS LTDA ("RECOFARMA"), CNPJ 61.454.393/000106, situada na Zona Franca de Manaus. As razões apresentadas no Termo de Verificação Fiscal para a glosa dos créditos foram as seguintes: 1) no processo de industrialização destes insumos não foram empregadas matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, o que afasta o reconhecimento da isenção prevista no art. 82, inciso III, do Decreto nº 4.544, de 2002 (Regulamento do IPI – RIPI/2002) e, por sua vez, impede a utilização dos créditos como previsto no art. 175 do mesmo Regulamento. 2) nenhum dos componentes dos kits para refrigerantes se enquadraria no Ex 1 da NCM 2106.90.10, o que exclui a aplicação da alíquota de 27% adotada pela adquirente no cálculo dos créditos, ou seja, mesmo que houvesse direito ao crédito previsto no artigo 175 do RIPI/2002, o valor do imposto calculado como se devido fosse seria zero. A respeito do fundamento nº 01, a autoridade reconhece a existência de coisa julgada em Mandado de Segurança Individual impetrado pela VONPAR no RE 212.4842, mas sustenta o AuditorFiscal que referida decisão analisou apenas o aspecto genérico do princípio da nãocumulatividade, não adentrando nas normas específicas da Zona Franca de Manaus, e Fl. 1570DF CARF MF 4 que o tema foi reexaminado durante a análise de Embargos de Declaração interpostos nos autos do RE n° 566.819/RS, para afastar a sua eficácia no caso. A respeito do fundamento nº02, discorre a classificação adotada para os kits para refrigerantes, no Ex 01 do código 2106.90.10 da TIPI, que é próprio para preparações compostas, entendendo que não sendo possível chamar de preparação algo que não está preparado nem misturado. Os componentes dos kits adquiridos pela fiscalizada apresentam, cada um, suas próprias características individuais, e podem ser aplicadas em qualquer produto da indústria de alimentos e fármacos, pormenorizadamente descrito nos itens 73 e seguintes do TVF. Em síntese, o autuante concluiu que todos os componentes dos kits para refrigerantes, objeto de Laudos Técnicos elaborados no curso da ação fiscal de abrangência nacional antes citada, são classificados em códigos tributados à alíquota zero, com exceção dos componentes que se classificam no código 3302.10.00, cuja alíquota é de 5%. Estando caracterizada a impossibilidade de enquadrar os kits para refrigerantes no Ex 01 do código 2106.90.10, seria indevida a utilização da alíquota de 27% para cálculo dos créditos. Regularmente cientificado, o contribuinte apresentou impugnação tempestiva apontando, quanto ao mérito: I) existência de coisa julgada (RE n° 212.4842) no âmbito do mandado de segurança individual nº 91.00095524, assegurandolhe o direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de concentrado de refrigerantes, insumos isentos oriundos da ZFM, calculado à alíquota de 27%, com fundamento no art. 69, inc. II do RIPI/2002, cuja base legal é o art. 9º do Decretolei 288/1967. II) reitera que o direito a utilização da alíquota de 27% estaria assegurado pelo Acórdão do STF no julgamento do citado RE, conforme interpretação de trecho do Voto, que transcreve e que decorreria da classificação no Ex 01 do código 2106.90.10 da TIPI/2007, que corresponde à própria definição dada na Resolução do Conselho de Administração da SUFRAMA nº 298/2007, adotada nas notas fiscais emitidas pela fornecedora e auditadas pelo referido órgão. Assim, para fazer jus à referida alíquota seria suficiente a aquisição de concentrados isentos oriundos da ZFM, com projeto industrial aprovado por Resolução do CAS e que os mesmos sejam utilizados na fabricação de refrigerantes sujeitos à tributação pelo IPI. Estando tais requisitos comprovados no presente caso, a autoridade estaria vinculada ao que foi decidido pelo Poder Judiciário. III) Ad argumentandum, sustenta que o autuante estaria equivocado ao limitar a competência da SUFRAMA à aprovação de projetos, excluindo a concessão dos benefícios do art. 9º do DecretoLei 288/1967 e do art. 6º do DL 1435/1975, tendo em vista os arts. 1º, VI e 4º, I, “c”, ambos do Anexo I, do Decreto n° 7.139/2010. IV) Quanto à classificação fiscal argumenta, primeiramente, que decorre da própria definição dada pela SUFRAMA, objeto da Resolução do CAS n° 298/2007. No Parecer Técnico n° 224/2007, que integra a referida Resolução, a SUFRAMA, definiu o produto como concentrado para refrigerantes, ou seja, como preparações químicas utilizadas como matéria prima de refrigerantes, com capacidade de diluição superior a 10 partes de bebida para cada parte do concentrado, classificado na posição 2106.90.10 Ex. 01 da TIPI/2007. V) Quanto aos aspectos técnicos da classificação, discorda do argumento do fiscal. Também considera equivocado o entendimento de que as regras 2 a) e 3 b) do Sistema Harmonizado não se aplicariam aos "kits" para refrigerantes. Segundo as Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (NESH), aprovadas pelo Decreto n° 435/1992, da posição 2106 em seu item 12, restaria claro que as preparações Fl. 1571DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 4 5 compostas não precisariam, necessariamente, já estar prontas para uso. Antes da diluição, essas preparações poderiam ser submetidas a um tratamento complementar, sem serem descaracterizadas como preparações compostas para fins de classificação na posição 2106. Além disso, a exclusão que consta no item XI da Nota Explicativa dessa própria Regra 3 b) decorreria simplesmente do fato de o concentrado para refrigerantes ter classificação fiscal especifica, qual seja: 2106.90.10 Ex. 01 e Ex. 02 da TIPI/2007. VI) Aponta que as notas fiscais são documentos idôneos, com validade fiscal, e que, na qualidade de adquirente de boafé, teria direito à manutenção do crédito delas decorrente. Invoca os arts. 62, 48 e 53 da Lei 4.502/1964. VII) Defende a impossibilidade de exigência de multa de ofício sobre o valor dos créditos glosados, com base no art. 76, II, “a”, da Lei 4.502/1964, pois a Câmara Superior de Recursos Fiscais, à época dos fatos geradores, teria reconhecido o direito ao crédito de IPI relativo à aquisição de insumos com benefício da isenção subjetiva, utilizados na fabricação de produtos sujeitos ao IPI, em observância ao entendimento do STF no julgamento do RE 212.4842. VIII) Contesta a incidência de juros sobre a multa de oficio porque implicaria numa indireta majoração da própria penalidade, não se podendo falar em mora na exigência de multa, à vista do disposto no art. 16 do Decretolei 2.323/1987, com a redação dada pelo artigo 6º do Decretolei 2.331/1987. Ademais, o artigos 59 da Lei 8.383/1991 e art. 61 da Lei 9.430/1996), também não prevêem essa cobrança. Invoca jurisprudência administrativa do CARF. A Impugnação foi julgada improcedente em Acórdão que, reconhecendo a existência de coisa julgada favorável ao contribuinte, ponderou pela manutenção com fundamento no 2º argumento levantado pelo Fiscal, no sentido de que não há ofensa à coisa julgada quando a Fiscalização, buscando apurar o “imposto que seria devido caso não houvesse a isenção” verifica que, tendo em vista a correta classificação dos produtos, não haveria créditos a aproveitar, porque o referidos produtos eram, na sua maior parte, à exceção de um, tributados à alíquota zero. O Contribuinte apresentou Recurso Voluntário, no qual aduziu novamente os argumentos de sua Impugnação, razão pela qual não serão aqui repetidos. É o relatório, em síntese. Voto Vencido Conselheiro Carlos Augusto Daniel Neto O Recurso Voluntário é tempestivo e atende aos demais requisitos de admissibilidade, razão pela qual dele tomo conhecimento. I) Preliminares 1) Da alteração de critério jurídico Fl. 1572DF CARF MF 6 Alega o Recorrente que ocorrera alteração de critério jurídico, com o fato da autuação passar a adotar o fundamento do erro na classificação fiscal, conjuntamente ao argumento tradicional da impossibilidade de tomada de crédito básico de IPI das saídas isentas da ZFM. Não deve proceder tal preliminar. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro auto de infração diz respeito a um mesmo lançamento, e não a lançamentos diversos. Em vista disso, nego provimento à preliminar apontada. II) Do Mérito 1) Do Direito do Contribuinte em Função de Decisão Judicial Transitada em Julgado em seu favor Tal matéria é velha conhecida deste Colegiado, e já foi por ele minuciosamente enfrentada, em especial no irretocável voto proferido pela Ilustra Conselheira Thais de Laurentiis Galkowicz, no Acórdão CARF nº 3402002.900, julgado em Janeiro de 2016, na qual figurava como parte também a VONPAR, pelo que adiro sem ressalvas ao entendimento lá esposado, o qual reproduzo abaixo (fazendo as devidas adaptações), seguro do acerto de suas razões. A Recorrente, na persecução de suas atividades sociais, adquiriu da empresa RECOFARMA um “concentrado” que é isento de IPI, com fulcro no artigo 69, inciso II do RIPI/2002, uma vez que se trata de produto oriundo da Zona Franca de Manaus e utilizado na fabricação de produtos (refrigerantes) sujeito ao IPI. Entendendo estar amparada pela decisão judicial proferida no bojo do Mandado de Segurança n. 91.00095524, a Recorrida tomou crédito de IPI, aplicando a alíquota de 27% prevista na Tabela de Incidência do IPI (“TIPI”) sobre o valor destes produtos. A seu turno, a autoridade fiscal entendeu que o julgamento final da citada ação judicial não se aplica ao presente caso, porque as decisões nela proferidas seriam genéricas e não teriam analisado as normas particulares da Zona Franca de Manaus no que diz respeito ao creditamento de IPI. Cumpre, então, confirmar se o objeto deste processo administrativo está englobado ou não pela decisão judicial proferida no Mandado de Segurança n. 91.00095524, o qual foi objeto de julgamento de Apelação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (AMS n. 95.04.373844) e posteriormente levado à apreciação do Supremo Tribunal Federal (“STF”) no RE 212.4842/RS. Pois bem. Logo no início da petição inicial do referido writ, ao tratar dos fatos que deram origem ao direito líquido e certo pleiteado judicialmente, o contribuinte esclarece que se dedica à industrialização e comercialização de refrigerantes, elaborados a partir de concentrados de refrigerantes adquiridos de outras empresa. Passa então a relatar que sobreveio a adquirir tais produtos de fornecedor alocado na Zona Franca de Manaus, beneficiado por isenção do IPI justamente em razão de estar ali geograficamente situado, bem como por cumprir as demais determinações legais. 1 Contudo, assume que este benefício não é 1 Art. 9° do Decretolei n. 288/67: “Estão isentas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) todas as mercadorias produzidas na Zona Franca de Manaus, quer se destinem ao seu consumo interno, quer à comercialização em qualquer ponto do Território Nacional.” Fl. 1573DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 5 7 aquele previstos como capaz de gerar crédito de IPI, conforme o Decreto n. 87.981/82 (RIPI então vigente), artigos 45 e 82, inciso VI e XXVI, e justamente por essa razão recorre ao Poder Judiciário para buscar o direito ao creditamento do IPI pela entrada de produtos advindos de fornecedor isento da Zona Franca de Manaus. Ao final de suas razões de fato e de direito, traz o seguinte pedido, que é de fundamental observação, uma vez que é o que traça os limites da lide e a amplitude da coisa julgada. In verbis: Diante deste cenário, a sentença proferida em primeiro grau traz expressamente em seu relatório a discussão sobre as isenções de IPI para concentrados de refrigerante oriundos da Zona Franca de Manaus, como se constata dos trechos colacionados abaixo: (...) Art. 6º do Decretolei 1.435/75: “Ficam isentos do Imposto sobre Produtos Industrializados os produtos elaborados com matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, exclusive as de origem pecuária, por estabelecimentos localizados na área definida pelo § 4º do art. 1º do Decretolei nº 291, de 28 de fevereiro de 1967. § 1º Os produtos a que se refere o "caput" deste artigo gerarão crédito do Imposto sobre Produtos Industrializados, calculado como se devido fosse, sempre que empregados como matériasprimas, produtos intermediários ou materiais de embalagem, na industrialização, em qualquer ponto do território nacional, de produtos efetivamente sujeitos ao pagamento do referido imposto. § 2º Os incentivos fiscais previstos neste artigo aplicamse, exclusivamente, aos produtos elaborados por estabelecimentos industriais cujos projetos tenham sido aprovados pela SUFRAMA. Fl. 1574DF CARF MF 8 Dessa forma, o Douto Magistrado de primeiro grau decidiu o caso em favor do contribuinte, com o dispositivo da sentença lavrado nos seguintes termos: Já no julgamento da apelação apresentada pela Fazenda Nacional, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (“TRF4”), foi mantida em seus exatos termos a sentença anteriormente proferida, resultando em acórdão cuja ementa segue transcrita: Irresignada com a sucumbência, a Fazenda Nacional levou a questão ao Supremo Tribunal Federal (“STF”), por meio do Recurso Extraordinário n. 212.4842/RS (“RE n. 212.484), já constando como parte o nome da Vonpar Refrescos S.A., sucessora da Porto Alegre Refrescos S.A. Mostrase importante o exame da discussão travada pelos Ministros do STF no citado processo, haja vista que a autuação guerreada pelo contribuinte nestes autos somente foi levada a cabo pois a Autoridade Fiscal entendeu que “o mencionado RE 212.484 analisou apenas o aspecto genérico do princípio da não cumulatividade, sem adentrar às normas específicas existentes na zona Franca de Manaus”, como se observa no item II do Termo de Constatação Fiscal. Pois bem. O Ilmo Relator Ilmar Galvão, relator do RE n. 212.484, dissentiu do entendimento esposado no acórdão recorrido pela União Federal, entendendo que o texto Fl. 1575DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 6 9 constitucional (artigo 153, §3º, inciso II), ao estabelecer que o IPI será não cumulativo, “compensandose o que for devido em cada operação com o montante cobrado nas anteriores”, somente diz respeito aos valores efetivamente “cobrados” para dar direito ao crédito. No seu sentir, as isenções do IPI não visam beneficiar o consumidor final, mas sim o industrial abarcado pela lei, sendo efetivamente a isenção do IPI uma forma de diferir o pagamento do tributo na cadeia produtiva. Desta feita, julga que o contribuinte não tem direito aos créditos de IPI discutido nos autos. De outro lado, vem em defesa do contribuinte o Ministro Nelson Jobim, trazendo uma narrativa sobre a regulação da concorrência do mercado de refrigerantes e sucos feitos através de legislação do IPI. Diverge, assim, da posição do Relator, analisando especificamente o caso da produção de refrigerantes. Abaixo, colaciono o trecho mais expressivo do seu voto acerca das especificidades do caso concreto: (...) O Ministro Nelson Jobim conclui então que, por força da técnica utilizada no Brasil para a tributação do valor agregado pela não cumulatividade do IPI, não se pode vedar a utilização do crédito pretendido pelo contribuinte que compra produtos da Zona Franca de Manaus, sob pena de tornar cumulativo o tributo não cumulativo, exterminando o objetivo extrafiscal pretendido pela tributação. Seguiram este entendimento divergente trazido por Nelson Jobim o Ministro Maurício Corrêa, o Ministro Sepúlveda Pertence, o Ministro Octavio Gallotti, o Ministro Sidney Sanches, o Ministro Néri da Silveira, expressamente consignando o acompanhamento das razões trazidas pela divergência. Igualmente votaram pelo não provimento do recurso os Ministros Moreira Alves e Marco Aurélio Mello. Ao final do julgamento pelo Pretório Excelso, ao acórdão foi atribuída a seguinte ementa: Fl. 1576DF CARF MF 10 Destarte, pela análise das peças processuais trazidas aos autos, constato que o tema do direito ao crédito de IPI decorrente de produtos com isenção saídos da Zona Franca de Manaus foi ampla e claramente tratado pelo contribuinte e apreciado pelo Poder Judiciário. É manifesto que a discussão jurídica travada no Mandado de Segurança n. 91.00095524, culminando no acórdão do RE 212.484/RS, beneficia o contribuinte, diferentemente do quanto alegado pela Autoridade Fiscal no item II do Termo de Constatação Fiscal. Por essas razões, muito embora não haja previsão legal para a tomada de crédito efetuada pelo contribuinte, há decisão judicial que lhe dá esse direito, transitada em julgado na data 10/12/1998, ou seja, anteriormente ao período glosado e cobrado neste auto de infração. Lembrese que a decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão decidida (artigo 467 do Código de Processo Civil). Assim, o item II do auto de infração, o qual se embasa justamente no argumento de falta de previsão legal para a utilização do crédito de IPI relativo aos insumos advindos de fornecedor da Zona Franca de Manaus com o benefício previsto no artigo 69, inciso II do RIPI/2002, deve ser cancelado. Registrese que, no presente caso, não é necessário – como normalmente ocorre adentrar na questão do histórico dos julgamentos do STF a respeito do direito ao crédito de IPI oriundo de operações onde não há cobrança do imposto, que, como argumentam os contribuintes de modo geral, diferenciase da situação dos créditos de produtos isentos oriundos da Zona Franca de Manaus. Estes seriam entendidos como um assunto “especial” no STF, em relação ao assunto “geral” de crédito de IPI de operações com alíquota zero, isentas ou não tributadas, os quais, como é consabido, não dão direito ao crédito do imposto, como firmando na alteração de jurisprudência consolidada nos RE 370.682 e 566.891. A alegada diferenciação das duas situações se depreenderia do RE n. 592.891, que parece dar tratamento diferenciado ao crédito de IPI decorrente de produtos munidos de isenção da Zona Franca de Manaus, cuja repercussão geral foi reconhecida, mas o julgamento encontrase ainda pendente. Com efeito, tal discussão é despicienda in casu. Afinal, o contribuinte ora recorrido possui decisão individual e concreta que lhe beneficia (o RE 212.484, tão conhecido e citado nas discussões sobre o tema), não dependendo de antigos ou eventuais novos entendimentos exarados em processos com força vinculante e efeito erga omnes proferidos pelo STF. Basta, no presente caso, que se respeite a autoridade da coisa julgada entre as partes ali firmada. Assim, exatamente por constar como parte do RE 212.484, a Vonpar Refrescos S.A. deve ser tratada de forma distinta daquela que prevalece nos recentes julgados proferidos pelo CARF, que não reconhecem o direito dos contribuintes ao crédito de IPI ora em discussão (Processo n. 10735.903077/201082, Acórdão n. 34030003.242 e Processo n. 10283.005286/200729, Acórdão 3403003.613). É verdade que tal situação pode criar desigualdade entre a Vonpar Refrescos S.A. e os demais contribuintes. Porém não cabe a este órgão julgador resolver esta eventual externalidade concorrencial, mas sim decidir conforme a lei. Em outros termos, certa ou errada a decisão proferida pelo STF no RE 212.484, cujo entendimento pode ser ou não alterado para terceiros pela decisão a ser proferida no RE 592.891, dotado de repercussão geral, neste caso específico que está sob julgamento há coisa julgada cogente entre as partes (Vonpar Refrescos S.A. e União Federal), cuja superior hierarquia deve guiar a Administração Pública. Fl. 1577DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 7 11 Consigno, por fim, que a coisa julgada configura instituto próprio do Estado Democrático de Direito, em que o zelo pela segurança jurídica tem papel primordial para a efetivação dos valores jurídicos constitucionais.2 Na Constituição de 1988, este instituto teve lugar dentre as garantias fundamentais (artigo 5º, inciso XXXVI da Constituição), possuindo, portanto, o status maior de cláusula pétrea da ordem jurídica, não podendo ser alterada sequer por atividade do constituinte derivado via emenda à Constituição (artigo 60, § 4º, CF/88). Afinal, a coisa julgada possui o condão de trazer a imutabilidade e definitividade aos efeitos da sentença, configurando “uma das mais representativas expressões de segurança jurídica.” 3 O Código de Processo civil determinou, igualmente, que, uma vez configurada a coisa julgada formal, não haverá mais espaço algum para que se discutam os exatos dizeres que foram colocados na sentença, salvo nas estreitas hipóteses em que a lei designa situações para tal afastamento, como decisão fundamentada de revisão proferida pelo próprio juízo ou os casos da ação rescisória (artigo 485, CPC). Neste caso, não há notícia de ação rescisória manejada pela Fazenda Nacional buscando reverter o entendimento transitado em julgado no RE 212.484 em favor do contribuinte Por conseguinte, não resta outro caminho a este Conselho se não reconhecer o direito ao crédito de IPI da Vonpar Refrescos S.A., nos exatos moldes da decisão transitada em julgado no RE n. 212.484, oriundo do Mandado de Segurança n. 91.00095524. 2) Da ausência de erro quanto a classificação fiscal das mercadorias O segundo fundamento da autuação fiscal consiste na afirmação de a classificação fiscal adotada pelo contribuinte (Ex 01 do código 2106.90.10) estaria equivocada, pois "preparações" deve ser entendida apenas como produtos prontos para uso. O Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (SH) é um sistema padronizado de codificação e classificação desenvolvido e mantido pela Organização Mundial das Aduanas — OMA, da qual o Brasil faz parte (Decreto 97.409/1988 que promulgou a Convenção Internacional sobre o SH, aprovada pelo Decreto Legislativo 71/1988). Um dos compromissos assumidos como Parte Contratante dessa Convenção (art. 3º) consiste em aplicar as Regras Gerais para a Interpretação do Sistema Harmonizado, sem aditamentos nem modificações, bem como todas as Notas de Seção, de Capítulo e de Subposição e a não modificar a estrutura das Seções, dos Capítulos, das posições ou das subposições. De acordo com os arts. 16 e 17 do RIPI/2002 (art. 10 da Lei 4.502/1964), a classificação deverá ser feita de acordo com as Regras Gerais para Interpretação RGI, Regras Gerais Complementares RGC e Notas Complementares NC, todas da Nomenclatura Comum do MERCOSUL NCM, integrantes do seu texto. As Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias NESH, do Conselho de Cooperação Aduaneira na versão luso brasileira, efetuada pelo Grupo Binacional Brasil/Portugal, e suas alterações aprovadas pela 2 Laurentiis, Thais Catib de. Embargos à Execução, coisa julgada e inconstitucionalidade: uma análise das questões controvertidas acerca do art. 741, parágrafo único do Código de Processo Civil, Revista Dialética de Direito Processual n. 118, jan 2013, p. 127 – 151. 3 Torres, Heleno Taveira. Direito Constitucional Tributário e Segurança Jurídica. São Paulo: RT, 2011, p. 447. Fl. 1578DF CARF MF 12 Secretaria da Receita Federal do Brasil (IN RFB 807/2008), constituem elementos subsidiários de caráter fundamental para a correta interpretação do conteúdo das Posições e, bem como das Notas de Seção, Capítulo, Posições e Subposições da Nomenclatura do Sistema Harmonizado. Os fundamentos são resumidos pelo fiscal nos seguintes itens do TVF: “76) Conforme demonstrado a seguir, não é possível chamar de preparação algo que não está preparado nem misturado. 77) Segundo o dicionário eletrônico Houaiss, o vocábulo “preparação” tem os seguintes significados: “Ato ou efeito de preparase; preparo, preparamento, preparativo 1. operação ou processo de aprontar qualquer coisa para uso ou serviço 2. elaboração dos alimentos para transformálos nos diversos pratos, iguarias, etc. 3. feitura de um preparado; preparo 4. m.q. PREPARADO (“´produto”)” (grifo nosso) O termo “preparação” indica, pois, uma ação – o ato de preparar, e um resultado – o preparado. 77.1 – Conforme o dicionário eletrônico Priberam da Língua Portuguesa, o vocábulo “preparação” tem os seguintes significados: 1. .Ato ou efeito de preparar ou de prepararse. 2. Obra prévia. 3. Composição. 4. Manipulação. 5. [Farmácia, Química] Preparado. O termo “preparado”, por sua vez, é definido como: 1. Que se preparou. 2. Que foi feito antecipadamente. = PRONTO 3. Que tem ou fez preparação. ≠ IMPREPARADO 4. Aquilo que se preparou (ex.: colocar o preparado no forno durante meia hora). 5. [Farmácia, Química] Produto obtido de uma manipulação química ou farmacêutica. = PREPARAÇÃO 78) Portanto, os termos “preparações”, citados nos Ex 01 e Ex 02 devem ser entendidos como produtos prontos para uso, cuja origem advém de um processo de preparo. Os insumos empregados devem sofrer algum tipo de processamento, de transformação, podendo ser uma simples mistura de ingredientes ou complementada com algo mais elaborado como cozimento, por exemplo. 79) Não é o caso dos “kits” adquiridos pela fiscalizada, cujos componentes são misturados durante o processo de elaboração da bebida final. Se cada componente foi recebido do fornecedor na sua embalagem individual, não há que se falar em uma mercadoria pronta para uso. Fl. 1579DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 8 13 (...) 80.3 – Da mesma forma que no exemplo acima, os textos dos Ex 01 e Ex 02 do código 2106.90.10 tratam de “preparações compostas” constituídas por uma mistura de diversas substâncias, as quais por diluição deveriam produzir o refrigerante. Não é o caso dos “concentrados” adquiridos por Vonpar, pois estes são um conjunto de ingredientes, cada uma na sua embalagem individual, que não estão misturados e não estão prontos para uso.” Em síntese, podese dizer que a fiscalização se baseou em um dos sentidos lexicais do verbete "preparação" e partiu do pressuposto de que "preparação" seria apenas a mistura já homogeneizada e passível de diluição, diferentemente dos ingredientes que compõem o "concentrado" adquirido pela Vonpar. Primeiramente, devese frisar que essa discussão é nova para este Colegiado, haja vista que TODAS as autuações relativas a esta matéria (glosa de créditos de IPI de saídas isentas da ZFM) foram lavradas sob o fundamento anterior, já rebatido em razão da existência de coisa julgada material em favor da VONPAR. Tal inovação, especialmente e exclusivamente em relação a este Contribuinte específico, causa alguma espécie. Em razão da verificação da existência de coisa julgada que impediria a autoridade fiscal de lançar o tributo contra a VONPAR pelo primeiro fundamento indicado, a autoridade fiscal achou por bem construir um argumento ad hoc, personalíssimo à Recorrente, com a finalidade de "escapar" dos constrangimentos constitucionais e possibilitar a autuação da empresa. Verificase, pois, que a discussão da classificação fiscal, neste caso, vem como um deus ex machina um recurso da dramaturgia grega que consistia originariamente na descida em cena de um deus cuja missão era dar uma solução arbitrária a um impasse vivido pelos personagens. Explicome: diante do impasse gerado pelo óbice que a existência de singular decisão judicial favorável ao Contribuinte, em relação à tese fiscal para a glosa dos créditos, foi preciso recorrer a uma solução arbitrária para sair desse embaraço arrecadatório. O artifício encontrado foi o recurso à classificação fiscal dos "kits de concentrados". Para isso, utilizouse o auditor fiscal de uma série de premissas absolutamente equivocadas para construir, somadas a um emaranhado de disposições regulamentares que nada tem a ver com a classificação das mercadorias em análise (chegando inclusive a tratar de soluções de consulta proferidas pela Alfândega norteamericana), e por fim pincelando com diversos dispositivos do NESH (que em nada se referem ao caso específico) para justificar a conclusão de que o kit deve ser classificado parte a parte. Todos eles serão oportunamente analisados, em razão de um ponto mais premente para análise: a impessoalidade nos atos administrativos. A impessoalidade da Administração Pública no trato com os administrados é decorrência direta da igualdade republicana, garantindo a todos um tratamento isonômico na aplicação das leis. Não é a toa que tal princípio foi colocado no próprio caput do art. 37 da Constituição Federal, pedra angular do regime jurídico a que se sujeita o Poder Público: Fl. 1580DF CARF MF 14 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: A impessoalidade é decorrência da própria vinculação à lei e à moralidade a que se submetem os agentes administrativos, como comando de vedação a qualquer espécie de distinção que se funde em critérios pessoais do administrados. É corolário dela o tratamento igual de todos os contribuintes que estejam em uma mesma situação jurídica, sem que se façam distinções incabidas. Mais do que isso, a impessoalidade é uma das mais importantes, quiçá a maior, barreira ao arbítrio da Administração Pública, pois onde não há impessoalidade, decerto lá estará o arbítrio. Naturalmente, não estamos em tempos de outrora, onde a arbitrariedade e a pessoalidade restavam evidentes nos comandos de um soberano. Atualmente, a pessoalidade encontra subterfúgio em interpretações aparentemente jurídicas, em artifícios hermenêuticos que deixam transparecer a intenção do agente de beneficiar ou prejudicar especificamente um determinado administrado. É dizer, a arbitrariedade encontra se caminho, subrepticiamente, sob o manto da legalidade, não podendo ser confundidas as duas coisas. Em razão disso, Agustín Gordillo pontua que a arbitrariedade é um vício subjetivo dos atos administrativos que compromete sua validade jurídica, inclusive traçando com mestria a linha entre a arbitrariedade e o vício de violação da lei. Senão vejamos, em tradução livre, a lição mais abalizada: Deve anotarse especialmente que em todos estes casos o vício do ato deverá ser encontrado no raciocínio feito pelo administrador para ditar o ato; em igual sentido que na matéria de desvio de poder, se prescinde da questão do seu objeto ser ou não, em si, violador de norma expressa alguma; o vício do ato não deriva de que este vá contra proibição expressa da ordem jurídica, senão de que há chegado a ela por caminhos distintos do que a ordem jurídica prescreve. Chegou à decisão por sua pura vontade, por capricho; não fez uma análise racional e razoável dos fatos e do direito. Por isso, ainda que a decisão não pareça ir contra normas expressas, é de todos os modos ilegítima. (GORDILLO, Agustín. Tratado de Derecho Administrativo, T.3, 6ªed.. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. P. IX 45) No caso em tela, verificase que a fiscalização que sempre utilizou um determinado critério para fiscalizar e autuar as empresas que tomam créditos de IPI de saídas isentas da ZFM inovou especificamente em relação à VONPAR, buscando com isso escapar às raias da coisa julgada. Ora, se a fraude à lei consiste em utilizarse de regras jurídicas para contornar uma proibição substancial de outra regra legal, podese dizer seguramente que estamos diante de uma caso de fraude à Constituição, pois procura o fiscal, utilizandose de um complexo arrazoado, escapar da arrebatadora eficácia, constitucionalmente garantida, da coisa julgada. Fl. 1581DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 9 15 Essa tentativa de autuar a qualquer custo resta evidente ao longo da análise dos argumentos que fundamentaram a desconsideração da classificação feita pelo Contribuinte, que serão analisados abaixo. Primeiramente, a fiscalização afirma que o Laudo exarado pelo laboratório confirma de forma inequívoca que a classificação fiscal adotada pelo Contribuinte está errada. Todavia, uma simples análise do documento atesta exatamente o contrário, como será demonstrado abaixo, apresentandose o resultado por amostragem: 1) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 1 2) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 2 3) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1 4) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2A 5) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2B 6) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1B 7) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1C 8) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 3 9) Concentrado/Kit sabor sprite parte 2 Fl. 1582DF CARF MF 16 10) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1 11) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1A 12) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1G 13) Concentrado/Kit sabor sprite light ou zero parte 1B No Laudo anexado aos autos, se verifica que os "kits de concentrados" abrangem basicamente preparações líquidas e sólidas, sendo estas últimas compostas de Ácido Cítrico, Sorbato de Sódio e Benzoato de Sódio, que vem às vezes misturados com outros sais, e em outras isolados. Em seguida, o Fiscal desconsidera a indicação feita pelo Laudo de que se tratariam de preparações, para adotar seu próprio sentido atécnico, digase que obteve à partir de uma consulta ao dicionário Priberam, na internet, concluindo assim que "preparações" devem ser entendidos apenas como produtos prontos para uso, já tendo sido processados, enquanto no caso dos kits, os componentes são misturados no processo de elaboração da bebida final. Para fundamentar, cita a distinção entre preparações alimentícias simples e compostas, para enquadrar o caso em tela na preparação alimentícia composta homogeneizada. Pontua então uma de suas falácias: Ora, não apenas a utilização da mercadoria é relevante para fins de classificação como a própria TIPI delineia elementos teleológicos no bojo de suas classificações, especialmente na posição 2106.90.10 e seus Ex 01 e 02: 2106.90.10 Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas Ex 01 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida da posição 22.02, com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado Ex 02 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida refrigerante do Capítulo 22, com capacidade de diluição de até 10 partes da bebida para cada parte do concentrado É dizer, faz toda a diferença para fins classificatórios o fato da mercadoria receber determinada destinação ou não, para esse caso dos concentrados, como também para diversos outros. Fl. 1583DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 10 17 Outro exemplo banal da erronia da premissa assumida pelo Fiscal é a classificação de produtos inorgânicos não misturados, que embora sejam usualmente incluídos no capítulo 28 da TIPI, são excluídos do mesmo quando se apresentem sob formas ou acondicionamentos especiais, ou quando submetidos a tratamentos que mantenham sua constituição química, como no caso da posição 30.04 (produtos para uso terapêutico ou profilático, que se apresentem em doses ou acondicionados para venda a retalho). De qualquer forma, resta trivial que o Sistema Harmonizado privilegia a destinação da mercadoria e o papel comercial que a mesma exercerá, sobre o simples dado de sua constituição físicoquímica. Vejamos o que a NESH tem a dizer a respeito da posição indicada pelo Contribuinte: A) As preparações para utilização na alimentação humana, quer no estado em que se encontram, quer depois de tratamento (cozimento, dissolução ou ebulição em água, leite, etc.). A Nota Explicativa A referentes à classificação 2106.90 é expressa em afirmar que a preparação não perde o seu caráter enquanto tal pelo simples fato de posteriormente passar por um tratamento, mencionando especificamente a possibilidade de dissolução, que implica mistura fato este utilizado pelo fiscal como argumento para afastar a natureza de preparação. Ou seja, a preparação não precisa estar "pronta para uso", mas sim deve trazer os elementos que, conjuntamente e após tratamento, componham a preparação necessária para a elaboração da bebida da posição 22.02. Isso é corroborado quando se compulsa a NESH XI à RGI/SH 3, que traz exceção expressa à aplicação da regra 3 de interpretação do SH: XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. O referido dispositivo deixa claro ao tratar de "mercadorias constituídas por diferentes componentes" que os kits de concentrado devem ser tratados como uma única mercadoria, a despeito da existência de diversas partes (em embalagem comum ou não) e em proporções fixas. Isso conduziria a uma aparente contradição com a RGI/SH 2.b, que trata da classificação de produtos misturados ou artigos compostos, remetendo expressamente à Regra 3, verbis: Qualquer referência a uma matéria em determinada posição diz respeito a essa matéria, quer em estado puro, quer misturada ou associada a outras matérias. Da mesma forma, qualquer referência a obras de uma matéria determinada abrange as obras constituídas inteira ou parcialmente por essa matéria. A Fl. 1584DF CARF MF 18 classificação destes produtos misturados ou artigos compostos efetuase conforme os princípios enunciados na Regra 3. Tal contradição se dissipa, todavia, diante da NESH X à RGI/SH 2.b, que determina expressamente que: Os produtos misturados que constituam preparações mencionadas como tais, numa Nota de Seção ou de Capítulo ou nos dizeres de uma posição, devem classificarse por aplicação da Regra 1. Em razão disso, a metarregra interpretativa a ser aplicada passa a ser a RGI/SH 1, com o respaldo das Notas Explicativas mencionadas acima, autorizando o Contribuinte a tratar como uma só mercadoria o "kit de concentrado", constituído por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), e em proporções fixas. Fica expressamente afastada pela NESH a primeira falácia do TVF. Além disso, afirma categoricamente o auditorfiscal que: Com tal afirmativa em mente, que nos parece ser a segunda falácia, prossigamos para a Nota Explicativa B, relativa à classificação 2106.90 da NESH: B) As preparações constituídas, inteira ou parcialmente, por substâncias alimentícias que entrem na preparação de bebidas ou de alimentos destinados ao consumo humano. Incluem se, entre outras, nesta posição as preparações constituídas por misturas de produtos químicos (ÁCIDOS ORGÂNICOS, SAIS DE CÁLCIO, ETC.) com SUBSTÂNCIAS ALIMENTÍCIAS (farinhas, açúcares, leite em pó, por exemplo), para serem incorporadas em preparações alimentícias, quer como ingredientes destas preparações, quer para melhorar lhes algumas das suas características (apresentação, conservação, etc.) (ver as Considerações Gerais do Capítulo 38). E prossegue no subitem 7: 7) As preparações compostas, alcoólicas ou não (exceto as à base de substâncias odoríferas), dos tipos utilizados na fabricação de diversas bebidas não alcoólicas ou alcoólicas. Estas preparações podem ser obtidas adicionando aos extratos vegetais da posição 13.02 diversas substâncias, tais como ácido láctico, ácido tartárico, ácido cítrico, ácido fosfórico, agentes de conservação, produtos tensoativos, sucos de frutas, etc. Estas preparações contêm a totalidade ou parte dos ingredientes aromatizantes que caracterizam uma determinada bebida. Em conseqüência, a bebida em questão pode, geralmente, ser obtida pela simples diluição da preparação em água, vinho ou álcool, com ou sem adição, por exemplo, de açúcar ou de dióxido de carbono. Alguns destes produtos são preparados especialmente para consumo doméstico; SÃO TAMBÉM Fl. 1585DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 11 19 FREQÜENTEMENTE UTILIZADOS NA INDÚSTRIA PARA EVITAR OS TRANSPORTES DESNECESSÁRIOS DE GRANDES QUANTIDADES DE ÁGUA, DE ÁLCOOL, ETC. Tal como se apresentam, estas preparações não de destinam a ser consumidas como bebidas, o que as distingue das bebidas do Capítulo 22. Em primeiro lugar, a NESH considera expressamente que Ácido Cítrico e conservantes (Sorbato de Sódio, Benzoato de Sódio e Citrato de Sódio) fazem parte da "preparação" que se enquadra na posição indicada pelo contribuinte ela é absolutamente literal a esse respeito! E mais, ela desce à minúcia de indicar que a "preparação" pode ser enviada sem passar pela diluição, ou seja, encampando as diversas partes do "kit", para evitar os transportes desnecessários de grandes quantidades de água, de álcool, etc. Há uma preocupação expressa com uma limitação técnica, ao contrário do afirmado pela autoridade fiscalizadora. Isso não implica dizer que o auditor necessite pesquisar a realidade econômica e mercadológica para definir a classificação fiscal de todas as mercadorias, mas apenas daquelas cujas disposições do NCMSH e a respectiva NESH tragam expressas a relevância da destinação e a pertinência na consideração da limitação técnica. E mais, vejamos o subitem 12: 12) As preparações compostas para fabricação de refrescos ou refrigerantes ou de outras bebidas, constituídas por exemplo, por: (...) Estas preparações destinam se a ser consumidas como bebidas, por simples diluição em água ou depois de tratamento complementar. Algumas preparações deste tipo servem para se adicionar a outras preparações alimentícias. Novamente, a NESH desce ao detalhe a respeito de tal posição do NCM, para indicar que a "preparação" não perde seu caráter enquanto tal simplesmente pelo fato de sofrer diluição ou algum tipo de tratamento complementar no estabelecimento da Recorrente. A Procuradoria da Fazenda aduz que [a]capacidade de diluição dos “concentrados” fornecidos pela Recofarma foram anabolizados com ingredientes que elevaram substancialmente a capacidade de diluição nas empresas engarrafadoras, como é o caso da VONPAR. Todavia, como visto, o acréscimo dos demais componentes do "kit" não descaracteriza o seu caráter de preparação, diferentemente do que entende o douto procurador. Portanto, resta claro pela leitura das notas explicativas que: i) o fato do kit envolver partes sólidas e líquidas que sofreram diluição posteriormente no estabelecimento da adquirente não desnatura a sua natureza de "preparação". ii) o fato do kit ser destinado a uma empresa que produz refrigerantes é relevante para a classificação de tal mercadoria no Ex 01 da posição 2106.90. Fl. 1586DF CARF MF 20 iii) os sólidos presentes no kit são produtos de conservação e ácido cítrico, todos expressamente mencionados como partes integrantes das preparações, podendo ser misturados posteriormente aos extratos, no momento da diluição. Minha convicção pessoal é de que a questão estaria definitivamente sepultada já neste ponto, pela leitura minimamente atenciosa da NESH, mas devemos prosseguir na análise do longo arrazoado fiscal. E mais, não deve causar qualquer espécie tal situação. Situação análoga é presente na classificação dos produtos químicos importados em "kits" para, após mistura, comporem os explosivos classificados na Posição 36.02 (Seção VI) do SH nesse caso, ainda que não se apresentem prontos para a utilização, se classificam na Posição por determinação da Nota 3 da Seção VI: 3) Os produtos apresentados em sortidos compostos de diversos elementos constitutivos distintos, classificáveis, no todo ou em parte, pela presente Seção e reconhecíveis como destinados, depois de misturados, a constituir um produto das Seções VI ou VII, devem classificarse na posição correspondente a este último produto, desde que esses elementos constitutivos sejam: a)Em razão do seu acondicionamento, nitidamente reconhecíveis como destinados a serem utilizados conjuntamente sem prévio reacondicionamento; b)Apresentados ao mesmo tempo; c)Reconhecíveis, dada a sua natureza ou quantidades respectivas, como complementares uns dos outros. Tratamse de critérios que só aclaram (ainda que por analogia) ainda mais os parâmetros que devem ser considerados para a classificação dos kits de concentrados, os quais são nitidamente destinados à fabricação de bebidas não alcoólicas, em utilização conjunta, enviados simultaneamente (kits) e em proporção e quantidades suficientes para a produção dos concentrados a serem diluídos. Em seguida, o fiscal recorre a classificações fiscais do U.S. Customs and Border Protection, órgão aduaneiro dos Estados Unidos responsável pela classificação de mercadorias, para sustentar que os produtos de um kit devem ser considerados individualmente. Como se verifica no documento, o produto importado era um kit com um número exato de panquecas, hambúrgueres de salsicha e/ou de ovo para a feitura de doze sanduíches, além de embalagens e etiquetas para o sanduíche pronto. O Fiscal responsável pelo parecer acerca da questão entendeu que como as partes vinham separadas, deveriam receber suas classificações próprias, porque passariam por um processo de montagem. Todavia, parece que o auditor responsável pela lavratura deste auto de infração "esqueceu" de citar o seguinte trecho do parece estrangeiro: Na tradução juramentada, anexa ao TVF: Fl. 1587DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 12 21 Convenientemente, o fiscal colheu do parecer apenas o que lhe interessava, esquecendo de mencionar a exceção expressamente feita pelo autor do mesmo, na interpretação das regras de classificação fiscal. Ele tenta, insistentemente, aplicar à "preparação" as regras de classificação a produtos sujeitos a montagem (como foi feito com o caso dos sanduíches), a despeito de nada ter a ver tal classificação com o caso em tela, no qual envolve mera diluição dos componentes tratamento este expressamente previsto nas Notas Explicativas ao Sistema Harmonizado. A insistência do fiscal em justificar o injustificável fica clara com a profusão desordenada de portarias e dispositivos que cita, onde o termo "concentrado" está presente, mas que em nada tem a ver com classificação fiscal. O fato do "kit" envolver diversos produtos que serão reunidos no estabelecimento da Recorrente não altera o fato de que a legislação aduaneira determina que a sua classificação deverá ser na posição 2106.90.10, no Ex 01. Mais ainda, recorre à Lei nº 8918/1994 e ao Decreto 6.871/2009 para afirmar que o fato dos "kits de concentrados" não terem registro no MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) desqualificaria o mesmo como "Preparados líquidos ou sólidos para bebidas". Ora, a mencionada lei exige o registro de bebidas junto ao MAPA. Inclusive o regulamento veiculado pelo Decreto º 6.871/09 traz uma expressa definição da mesma, para estes fins: Art.2o Para os fins deste Regulamento, considerase: Iestabelecimento de bebida: o espaço delimitado que compreende o local e a área que o circunda, onde se efetiva conjunto de operações e processos, que tem como finalidade a obtenção de bebida, assim como o armazenamento e transporte desta e suas matériasprimas; IIbebida: o produto de origem vegetal industrializado, destinado à ingestão humana em estado líquido, sem finalidade medicamentosa ou terapêutica; IIItambém bebida: a polpa de fruta, o xarope sem finalidade medicamentosa ou terapêutica, os preparados sólidos e líquidos para bebida, a soda e os fermentados alcoólicos de origem animal, os destilados alcoólicos de origem animal e as bebidas elaboradas com a mistura de substâncias de origem vegetal e animal; IVmatériaprima: todo produto ou substância de origem vegetal, animal ou mineral que, para ser utilizado na composição da bebida, necessita de tratamento e transformação, em conjunto ou separadamente; Fl. 1588DF CARF MF 22 Vingrediente: toda substância, incluídos os aditivos, empregada na fabricação ou preparação de bebidas e que esteja presente no produto final, em sua forma original ou modificada; VIcomposição: a especificação qualitativa e quantitativa da matériaprima e dos ingredientes empregados na fabricação ou preparação da bebida; VIIaditivo: qualquer ingrediente adicionado intencionalmente à bebida, sem propósito de nutrir, com o objetivo de conservar ou modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais, durante a produção, elaboração, padronização, engarrafamento, envasamento, armazenagem, transporte ou manipulação; Entendeu o fiscal que o "kit de concentrado" se enquadraria nos "preparados sólidos e líquidos", equiparados a bebida pelo inciso II, pois tais preparados são aqueles produtos destinados ao consumidor ou varejista, para preparação de refrigerante nas máquinas em que a venda ocorre diretamente nos copos (máquinas Post Mix), através da adição de água à mistura é o que deixa claro os artigos 27 a 29 do Decreto, verbis: Art.29.Preparado líquido ou concentrado líquido para refrigerante é o produto que contiver suco ou extrato vegetal de sua origem, adicionado de água potável para o seu consumo, com ou sem açúcares. Art.30.O preparado líquido ou concentrado líquido para refrigerante, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para o respectivo refrigerante. Parágrafo único.O preparado líquido para refrigerante, quando adicionado de açúcares, deverá ter a designação adoçado, acrescido à sua denominação. Se verifica com clareza que se tratam de preparações absolutamente diferentes. O "kit de concentrado" é vendido à indústria que produz o refrigerante, e qualifica se como um conjunto de matériasprimas e aditivos, conforme expressamente acatados pela Nota Explicativa B, relativa à classificação 2106.90 da NESH, já mencionada anteriormente. O que se verifica, pois, é a utilização por parte do fiscal, de uma terminologia eminentemente técnica para induzir à falsa ideia de que os preparados de que trata o inc. III do art. 2º do Decreto 6871/09 seriam a mesma coisa das preparações da Posição 2106.90.10 do NCMSH. Por fim, recorre também a Não obstante a clareza da citada fiscalização à cópia da tradução juramentada da documentação do Conselho de Cooperação Aduaneira CCA (atual OMA), obtida do processo que tem por objeto o auto de infração lavrado contra a fornecedora Recofarma (11080.723817/201428). A decisão recorrida, ao invocar os trabalhos preparatórios da CCA (atual OMA), que estiveram por trás da redação da NESH XI à RGI/SH 3, não está se socorrendo de interpretação autêntica! Já descrevemos o que é a interpretação autêntica em outras oportunidades, pelo que reproduzimos abaixo algumas dessas considerações: Fl. 1589DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 13 23 Em primeiro lugar, falar em lei interpretativa é falar em interpretação autêntica, que é aquela praticada através de toda lei ou disposição legislativa cujo conteúdo consista na determinação do significado de uma ou mais disposições legislativas anteriores (GUASTINI, Ricardo. Interpretare e Argomentare. Milano: Giuffré, 2011. P.81). (...) O caráter "autêntico" é dado a qualquer interpretação decorrente do próprio sujeito que tenha produzido o texto a ser interpretado seria como se Machado de Assis subscrevesse carta em que confirmasse a traição de Capitu, que deveria ser tomada com a interpretação autêntica da obra "Dom Casmurro". Naturalmente que ao falarmos de Direito, especialmente Direito Tributário, cujas principais regras são produzidas por um Parlamento, fica evidente o caráter ficcional dessa autenticidade (Cf. PUGIOTTO, Andrea. La legge interpretativa e i suoi giudici. Milano: Giuffré, 2003. P.125127) de modo que a subjetividade do legislador se revela como uma noção meramente metafórica, para não dizer ideológica, diante da possibilidade de composições absolutamente distintas desse órgão emitirem leis interpretativas. Isso demanda que substituamos o pressuposto da identidade do autor ou do órgão para a identidade de função (legislativa), que liga a força normativa dos dois atos, lei interpretada e lei interpretativa se prestando a justificar a interpretação autêntica. Portanto, a interpretação autêntica decorre de um ato legislativo de mesma natureza e hierarquia, veiculado pelo sujeito detentor da mesma função, com o objetivo de aclarar dispositivo anteriormente veiculado. Como o próprio a própria decisão coloca "O documento anexado consiste em interpretação autêntica, que decorre da análise realizada pela CCA para fins de formalização do item XI da Nota Explicativa da Regra 3 b" tratase, pois, de documento que representa trabalhos preparatórios, anteriores à redação da Nota Explicativa em comento. Salta aos olhos a impossibilidade de um trabalho preparatório ser tratado como interpretação autêntica. Em primeiro lugar, não possui natureza normativa, por não veicular qualquer comando vinculante, e sequer se qualifica como norma jurídica, para fins de hierarquização em um sistema graduado verticalmente. Em segundo lugar, o trabalho preparatório é anterior à Nota Explicativa, de modo que não poderia ser interpretação autêntica de algo que sequer existe ainda. Como qualquer ato comunicativo, a norma jurídica de desprende de seu autor no momento que é exarada, da mesma forma que a vontade do legislador e o sentido objetivo da lei não podem se confundir. Quando muito, os trabalhos preparatórios servem para auxiliar na interpretação dos dispositivos legais, em caso de dúvida, mas nunca contra a sua própria literalidade, nem para lhe agravar o conteúdo essa é a lição clássica de Karl Engisch no seu Fl. 1590DF CARF MF 24 Einführung in das juristsche Denken, ao enfrentar o embate entre as escolas objetivistas e subjetivistas de interpretação. A justificação subjacente a uma determinada norma pode, sim, ser utilizada para identificar casos de sobreinclusão e subinclusão normativa aptos a serem sanados por meio de analogia ou pela técnica de dissociação no momento da aplicação, mas nunca para fins de ampliar o alcance de regras restritivas, como em matéria tributária e penal. A ideia de recorrer à ideologia subjacente à lei posta para fins de interpretála e integrála não é estranha ao Direito Tributário basta que lembremos, por exemplo, do § I da Steueranpassungsgesetz de 1934 (Lei de Adaptação Fiscal), exarado na Alemanha nazista para conformar a interpretação de todas as leis fiscais à ideologia nacionalsocialista, como emanação do chamado Führerprinzip. Deixo aqui o registro histórico dos riscos desta prática. Prosseguindo, cabe ressaltar que diversos pareceres do CCA foram internalizados e tornados vinculantes por meio de Instruções Normativas, e disponibilizados no site da RFB, mas que em nenhum deles consta o documento apresentado pelo julgador a quo. Portanto, tais atas de reuniões não são e nem podem ser tratadas como pareceres oficiais daquela organização, mas como registros históricos dos debates, tampouco tendo sido oficialmente introduzidos no sistema jurídico nacional. É dizer, nem soft law chegam a ser, porque nem Direito são. Fica clara a improcedência dos argumentos esgrimidos na autuação e na decisão a quo. Tudo isso que foi demonstrado transparece uma profunda arbitrariedade perpetrada pela fiscalização, que olvidou das regras classificatórias expressas para buscar, por meios oblíquos e subterfúgios, a glosa dos créditos. Isso fica muito mais claro por diversos momentos em que informações relevantes são voluntariamente omitidas do TVF para manter a integridade das escusas conclusões alcançadas. Corrobora esse entendimento o fato de este fundamento relacionado à classificação fiscal estar presente apenas nos casos da VONPAR, coincidentemente a empresa que detém um provimento judicial definitivo a seu favor. Tratase, pois, de uma solução arbitrária da fiscalização para conseguir autuar especificamente a VONPAR, o que se qualifica perfeitamente como um vício subjetivo de arbitrariedade e pessoalidade no ato administrativo de lançamento, maculando integralmente a validade do mesmo. Forte em minhas convicções, posso declarar seguramente estarmos diante de um ato administrativo nulo, mas apenas a título de obter dictum, em razão do art. 59, §3º do Decreto 70.235/72, verbis: Art. 59. São nulos: §3º Quando puder decidir do mérito a favor do sujeito passivo a quem aproveitaria a declaração de nulidade, a autoridade julgadora não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprirlhe a falta. Portanto, a despeito da patente nulidade, estamos fortes nos fundamentos acima delineados quanto à concessão de provimento favorável do mérito ao sujeito passivo, razão pela qual não pronunciaremos tal nulidade no dispositivo da decisão. Fl. 1591DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 14 25 3) Da multa de ofício e dos juros de mora sobre multa de ofício Em razão do provimento do mérito, resta prejudicada a análise relativa às demais questões relativas a multas e juros de mora. III) Conclusão Ante o exposto, e forte nos fundamentos apresentados, voto por dar PROVIMENTO INTEGRAL ao Recurso Voluntário. É como voto. Carlos Augusto Daniel Neto Relator. Fl. 1592DF CARF MF 26 Voto Vencedor Conselheiro Waldir Navarro Bezerra, Redator designado Não obstante as sempre bem fundamentadas razões do ilustre Conselheiro Relator, peço vênia para manifestar entendimento divergente neste processo, por vislumbrar na hipótese vertente conclusão diversa da adotada pelo nobre julgador, quanto ao posicionamento desenvolvido no Recurso Voluntário, devendo ser mantida a decisão a quo, com a respectiva procedência do Auto de Infração, como passarei a demonstrar. 1. Breve Contexto Consta dos autos, que a empresa VONPAR Refrescos S/A, CNPJ n° 91.235.549/000978, tem como ramo de atividade a fabricação de refrigerantes. No período de janeiro de 2011 a dezembro de 2012, o estabelecimento produziu os seguintes refrigerantes: CocaCola, CocaCola Zero, CocaCola Light, Fanta Laranja, Fanta Uva, Sprite, Guaraná Kuat, Guaraná Kuat Light e Guaraná Taí. No período acima, a maior parte dos créditos do IPI escriturados pela Recorrente, foram oriundos de insumos adquiridos da empresa RECOFARMA, empresa situada na Zona Franca de Manaus (ZFM) que elabora produtos destinados à fabricação de bebidas não alcoólicas da posição 22.02 da Tabela de Incidência do IPI (TIPI). Tais produtos são constituídos de até seis componentes, sendo que cada componente sai do estabelecimento industrial em embalagem individual. Esses produtos são distribuídos para diversas fábricas engarrafadoras espalhadas no território nacional, que atuam em regime de franquia. A VONPAR é uma dessas franqueadas. No presente processo, o Fisco revisou sua posição sobre o RE nº 212.484RS, concordando com o entendimento de que ele continua com efeitos válidos entre as partes. Assim, admite que a Recorrente tem o direito de aproveitar créditos do IPI correspondentes ao valor do tributo incidente sobre produtos procedentes da Zona Franca de Manaus, mesmo que os bens recebidos somente façam jus à isenção do artigo 81, inciso II, do RIPI/2010 (artigo 69, inciso II, do RIPI/2002). Visando melhor contextualizar os fatos, reproduzo abaixo, trechos do TVF Termo de Verificação Fiscal de fl. 962/1005: "(...) 10) Assim, tratandose de bens fabricados por estabelecimentos industriais localizados na Amazônia Ocidental, há na legislação do IPI uma espécie de incentivo na forma de crédito, quando os produtos são elaborados com matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais, de produção regional. 12) Desta forma, a fiscalizada não poderia aproveitar créditos com base no artigo 175 do RIPI/2002, pois, conforme explicado nos itens 12 até 70 do Termo de Verificação Fiscal datado de 29/12/2014 (processo fiscal nº 11070.722571/201403), os produtos fornecidos por Recofarma não faziam jus à isenção do artigo 82, inc. III, do RIPI/2002. 13) Entretanto, no presente processo admitese que Vonpar tem o direito de aproveitar créditos do IPI correspondentes ao valor do tributo incidente sobre produtos procedentes da Zona Franca de Manaus, mesmo que os bens recebidos somente façam jus à isenção do artigo 81, inciso II, do RIPI/2010 (art. 69, inciso II, do RIPI/2002). Fl. 1593DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 15 27 14) Tal procedimento foi adotado porque em 10/12/1998, transitou em julgado a decisão proferida no Recurso Extraordinário (RE) nº 212.484RS, que assegurou a Vonpar o direito ao crédito do IPI relativo à aquisição de matérias primas isentas, oriundas de fornecedor situado na Zona Franca de Manaus, e utilizadas na fabricação de produto cuja saída é sujeita ao IPI. (...)". Relata ainda no TVF que nas notas fiscais de saída emitidas até o final de 2010, a RECOFARMA registrou que os concentrados se classificariam no código 2106.90.10 (Preparações dos tipos utilizadas para elaboração de bebidas), cuja alíquota do IPI é zero. Que a partir de janeiro de 2011, passou a constar nas notas a indicação do "Ex 01" do código 2106.90.10 (Preparações compostas, não alcoólicas extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida da posição 22.02, com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado. Em janeiro de 2011, a RECOFARMA emitiu cartas de correção relativas à ausência da indicação do "Ex 01" nas notas emitidas nos anos anteriores. Destaca ainda que até 30/09/2012, os produtos enquadrados no Ex 01 do código 2106.90.10 eram tributados à alíquota de 27% (Decreto nº 6.006, de 28/12/2006, e Decreto nº 7.660, de 23/12/2011). A partir de 01/10/2012, os produtos enquadrados no "Ex 01" do código 2106.90.10, passaram a ser tributados à alíquota de 20%. Ao final, a fiscalização demonstra em seu TVF, que apesar de a VONPAR ter direito a se creditar do valor do tributo incidente sobre insumos adquiridos sob o regime de isenção, permanece plenamente justificada a glosa total dos créditos oriundos de "kits para refrigerantes", pois é igual a zero o valor do IPI calculado, como se devido fosse, sobre os produtos em questão. 2. Do auto de Infração Primeiramente, cabe lembrar que a autoridade fiscal reconheceu os efeitos da coisa julgada formada no RE 212.484 (RS). O que não se pode aceitar, tal como adiante será demonstrado, é que tal julgado tenha decidido a alíquota aplicável ao “concentrado”. Vitrificase no Relatório de Fiscalização que o Fisco admite que mesmo a Recorrente faça jus apenas à isenção do artigo 81, inc. II. do RIPI 2010, a empresa tem o direito ao aproveitamento dos créditos em razão dos efeitos da decisão do RE 212.484 (RS), os quais passa a admitir, revendo a posição adotada em autuações anteriores. Ainda assim, entende que a glosa é cabível pois a classificação fiscal dada aos "kits para refrigerantes", como se fossem um produto único, está equivocada, devendo seus componentes ser classificados separadamente, do que resulta a inexistência de valor a ser aproveitado, pois a maior parte desses componentes é tributada à alíquota zero. Apenas um deles classificase em código tributado com alíquota de 5% (3302.10.00), porém é impossível determinar o valor do crédito, porque não há discriminação do valor respectivo nas notas fiscais. Constatouse, porém, que o produtos que as empresas do Sistema CocaCola chamam de "concentrado" é na realidade um conjunto de matérias primas e produtos intermediários. Como restou delineado no TVF, o termo "concentrado" foi empregado de maneira tecnicamente incorreto, e seu uso refletiu apenas a prática comercial das empresas. Fl. 1594DF CARF MF 28 Desta forma, foram apurados os créditos indevidos nos períodos tratados neste auto, elaborada reconstituição da escrita fiscal, conforme discriminado nos demonstrativos que compõem o Termo de Verificação Fiscal (TVF), o que resultou na apuração dos débitos de imposto objeto do lançamento, acrescido de juros de mora e multa de ofício. I. PRELIMINAR I.1 Da alteração de critério jurídico Alega o Recorrente que ocorrera alteração de critério jurídico (Inovação Retroativa), com o fato da autuação passar a adotar o fundamento do erro na classificação fiscal, conjuntamente ao argumento tradicional da impossibilidade de tomada de crédito básico de IPI das saídas isentas da Zona Franca de Manaus (ZFM). Não obstante, a Fiscalização refuta a ofensa ao art. 146 CTN, sob o fundamento de que não haveria manifestação expressa aceitando a classificação fiscal do "concentrado" para refrigerantes classificado na posição 2106.90.10, "Ex 01". Em procedimento anterior realizado na VONPAR, o Fisco avaliou se os bens em cuja elaboração não houve emprego de matériaprima extrativa regional poderiam gerar direito ao aproveitamento de créditos incentivados. Portanto, como se vê, o Fisco não analisou a classificação fiscal dos chamados “concentrados”. No entanto, a Recorrente afirma que "por conseguinte, não seria licito que a Fiscalização inovasse o critério jurídico para, nestes casos, atingir fatos geradores anteriores, inclusive, à ciência do primeiro auto de infração lavrado contra a Recorrente (data de 29.12.2014), no qual foi questionada, pela primeira vez, a classificação fiscal do concentrado". Para melhor esclarecer sobre essa matéria, entendo oportuna a citação da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) em suas contrarrazões assentadas nestes autos, ao afirmar que "(...) o art. 146 do CTN é aplicável quando a modificação do critério jurídico no exercício do lançamento ocorre para o mesmo sujeito passivo. A Recorrente não experimentou qualquer alteração nesse sentido, tanto assim que os argumentos recursais se voltaram para uma suposta alteração de critério jurídico do lançamento dirigido à RECOFARMA no dia 22/12/2014, que por sua vez, evidentemente, não se confunde com a VONPAR". Como é cediço, em se tratando de exigência tributária, em que se maneja complexo sistema de normas e conceitos específicos, é difícil imaginar que haveria respeito à legalidade caso se pudesse aceitar a tese desenvolvida pela Recorrente. Aceitandose essa tese, seria exigido da fiscalização que se manifestasse sobre todos os pontos possíveis e imagináveis da conduta do contribuinte, porque, se não o fizesse, estaria configurada uma prática de aceitação de tal comportamento e, assim, fixado um critério jurídico. Na prática, a vingar esse entendimento, toda e qualquer ação fiscal acabaria trazendo embutida alteração de critério jurídico. Registrese, ainda, que para tentar apoiar a alegação de violação ao art. 146 do CTN, a VONPAR citou decisão do STJ que não admitiu que fosse efetuada revisão de lançamento em decorrência de erro de direito. Tal decisão não se aplica ao presente caso, uma vez que não houve revisão de lançamento (foi lançado o IPI devido em períodos de apuração que não haviam sido objeto de cobrança), nem erro (de fato ou de direito), nem fixação de critério. Fl. 1595DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 16 29 Portanto, resta plenamente demonstrada a regularidade do Auto de Infração, não devendo proceder essa preliminar. A alteração de critério jurídico que impede a lavratura de outro Auto de Infração diz respeito a um mesmo lançamento, e não a lançamentos diversos, como no presente caso, de outra empresa (a RECOFARMA), como aduzido pela Recorrente. II MÉRITO II.1 Do Direito da VONPAR Decisão Judicial Transitada em Julgado Aduz a Recorrente a existência de coisa julgada (RE n° 212.4842) no âmbito do Mandado de Segurança Individual nº 91.00095524, assegurandolhe o direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de concentrado de refrigerantes, insumos isentos oriundos da ZFM, calculado à alíquota de 27%, com fundamento no art. 69, inc. II do RIPI/2002, cuja base legal é o art. 9º do Decretolei 288, de 1967. De fato encontrase demonstrada e confirmada nos autos a existência de coisa julgada (RE n° 212.4842), no âmbito do Mandado de Segurança Individual (MSI) nº 91.00095524, impetrado pela própria recorrente (VOLPAR). Em 10/12/1998, transitou em julgado a decisão proferida no Recurso Extraordinário (RE) nº 212.484RS, que assegurou a VONPAR o direito ao crédito do IPI relativo à aquisição de matériasprimas isentas, oriundas de fornecedor situado na Zona Franca de Manaus (ZFM), e utilizadas na fabricação de produto cuja saída é sujeita ao IPI. Vejase a ementa: EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IPI. Isenção incidente sobre insumos. Direito de crédito. Princípio da não cumulatividade. Ofensa não caracterizada. Não ocorre ofensa à CF (art. 153, § 3º, II) quando o contribuinte do IPI creditase do valor do tributo incidente sobre insumos adquiridos sob o regime de isenção. Quando impetrou o Mandado de Segurança Individual (MSI) que resultou na decisão em questão, a VONPAR pediu para que fosse assegurado o seu direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de insumos que identificou como “concentrados”. Verificase que quando pleiteou o referido MSI, que a Recorrente pleiteou que lhe fosse assegurado o direito aos créditos de IPI relativos às aquisições de "concentrados" para refrigerantes isentos, oriundos da Zona Franca de Manaus, classificados na posição 2106.90.01, vigente à época da impetração do MSI (correspondente à alíquota de 36%) e, à época do trânsito em julgado do referido MSI, correspondia à posição 2106.90.10 (cuja alíquota era de 27%). Tal pleito foi integralmente concedido. Neste caso, não há notícia de ação rescisória manejada pela Fazenda Nacional buscando reverter o entendimento transitado em julgado no RE nº 212.4842, em favor do contribuinte. A decisão a quo, corrobora esse entendimento, vejase os termos (fl. 1.393): "(...) Impossível concordar que, no julgamento do RE nº 212.484, tenha sido acobertada pelo manto da coisa julgada a classificação fiscal dos “concentrados”. Como é sabido, o instituto da coisa julgada protege a tese abrangida pela parte dispositiva da sentença (ou do acórdão). Não há como emprestar esse caráter de proteção às afirmações feitas ad argumentandum tantum. Fl. 1596DF CARF MF 30 O julgado de que se trata reconheceu à Impugnante o direito ao crédito de insumos isentos adquiridos junto a fornecedores localizados na Zona Franca de Manaus e utilizados em seu processo produtivo. Esse é o dispositivo do acórdão. Essa é a tese que está protegida pelo manto da coisa julgada. E isso foi reconhecido pela Autoridade Fiscal. O Poder Judiciário teria a última palavra sobre a classificação fiscal de determinado produto se e somente se esse fosse um dos pontos controvertidos do processo. Aí sim, tal entendimento poderia adquirir o caráter de definitividade e poderia ser coberto pela coisa julgada". (grifei). No entanto, a fiscalização entende que a referida coisa julgada não teria definido a classificação fiscal do "concentrado para refrigerantes" e, como consequência, a definição da alíquota do crédito de IPI. Assim, em obediência aos termos do provimento judicial, que assegurou o aproveitamento do crédito relativo ao imposto que incidiria na aquisição dos insumos, caso não houvesse o benefício da isenção, cabe à autoridade administrativa examinar se o valor creditado pelo contribuinte na sua escrita fiscal, em decorrência das citadas aquisições está correto. Nesse contexto, cito a abordagem consignada pela PGFN em suas contrarazões em processos da Recorrente, (...) é de extrema importância destacar que a decisão judicial conferiu o direito da Recorrente fazer o abatimento do débito quando o valor do crédito de IPI for potencialmente devido, ou seja, o Judiciário NÃO conferiu à VONPAR o direito líquido e certo de, independentemente do atendimento das condições para utilização do benefício fiscal, aproveitar o “valorcrédito do IPI” (grifei). Vale ressaltar que ao impetrar o MSI nº 91.00095522, a Recorrente estava buscando o reconhecimento do direito de aproveitar créditos de IPI em decorrência de aquisições de insumos isentos, procedentes da Zona Franca de Manaus, nas alíquotas de incidência relativas a estes produtos, nisso consistindo o que lhe foi assegurado em todas as instâncias, sempre em decorrência da aplicação do princípio da nãocumulatividade. Se a Recorrente pretendesse que fosse analisada a Classificação Fiscal de seus produtos, teria que prestar informações corretas sobre suas características. Entretanto, a empresa não mencionou que o produto que ela tratou como uma preparação única era na realidade um conjunto de mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente. Não cabia ao Judiciário ou à Procuradoria da Fazenda Nacional conferir se o produto citado no MSI efetivamente correspondia ao concentrado sujeito à alíquota de 27%, pois tal fato era irrelevante para o objeto da ação judicial, que discutia o direito ao crédito do IPI em função da aplicação do princípio da não cumulatividade. Assim, não há ofensa à coisa julgada quando o Fisco, buscando apurar o “imposto que seria devido caso não houvesse a isenção”, verifica que com a correta classificação dos produtos, não haveria créditos a aproveitar, porque o referidos produtos eram, na sua maior parte (à exceção de um), tributados à alíquota zero, razão pela qual não poderia a Recorrente ter efetuado abatimento do débito de IPI no período fiscalizado, o que corrobora a regularidade da autuação fiscal e a inexistência de ofensa à referida decisão transitada em julgado. Fl. 1597DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 17 31 Portanto, a coisa julgada só se opera sobre o que foi pedido pela parte por via do exercício do poder de ação, ou, noutras palavras, somente o mérito ou o objeto litigioso é que será acobertado pela imutabilidade da coisa julgada. A regra do art. 469 da Lei 5.869/1973 (Código de Processo Civil – CPC, vigente à época) é clara ao estabelecer, expressamente, que não fazem coisa julgada os motivos (inciso I), mesmo que importantes para determinação do alcance da parte dispositiva da sentença; a verdade dos fatos, que tenha sido estabelecida como fundamento da sentença (inciso II); e a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentalmente ao processo. Neste caso, ao impetrar o MSI nº 91.00095522, a Recorrente estava buscando o reconhecimento do direito de aproveitar créditos de IPI em decorrência de aquisições de insumos isentos, procedentes da Zona Franca de Manaus, nas alíquotas de incidência relativas a estes produtos, nisso consistindo o que lhe foi assegurado em todas as instâncias, sempre em decorrência da aplicação do princípio da nãocumulatividade. Desta forma, não há ofensa à coisa julgada quando o Fisco, buscando apurar o “imposto que seria devido caso não houvesse a isenção” verifica que, tendo em vista a correta classificação fiscal dos produtos, não haveria créditos a aproveitar, porque o referidos produtos eram, na sua maior parte, à exceção de um, tributados à alíquota zero. II.2. Da obrigação de verificar a correta classificação fiscal na NF Aduz a Recorrente que não tinha a obrigação de verificar a regularidade da classificação fiscal indicada na Nota Fiscal para o "concentrado". Que os créditos de IPI objeto dos autos de infração em julgamento, foram apurados sob a vigência de Lei e do RIPI, que não impõem a obrigação de o adquirente examinar a classificação fiscal do produto. E como a classificação dos concentrados na posição 2106.90.10 "Ex. 01", foi definida pela RECOFARMA (fornecedora do concentrado), não há qualquer infração praticada pela RECORRENTE ao aceitar tal classificação fiscal e utilizar a respectiva alíquota para calcular o crédito de IPI isento, estando este procedimento como um ato licito. Em suma, argumenta que não pode o Fisco glosar a alíquota do crédito de IPI decorrente da aquisição do concentrado pela Recorrente, fundado em suposto erro da classificação fiscal efetuada pela fornecedora RECOFARMA. No caso, há que se ressaltar uma questão de fato que foi ignorado pela Recorrente. Conforme consta em Termos e Relatórios elaborados pelo Fisco, nas Notas Fiscais de saída emitidas pela VONPAR até o final do ano de 2010, a RECOFARMA registrou que os “concentrados” se classificariam no código 2106.90.10 (Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas), sem o Ex 01, cuja alíquota do IPI é zero. Vejase trecho do TVF abaixo reproduzido (fl. 965): "(...) 7) Nas notas fiscais de saída emitidas por Recofarma, não há destaque de IPI, pois o contribuinte entende que os produtos estariam isentos do imposto com base no artigo 69, inciso II, e artigo 82, inciso III, do RIPI/2002 Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados instituído pelo Decreto nº 4.544, de 26/12/2002, ou no artigo 81, inciso II, e artigo 95, inciso III, do RIPI/2010 Regulamento do Imposto sobre Produtos Industrializados instituído pelo Decreto nº 7.212, de 15/06/2010. Fl. 1598DF CARF MF 32 8) Embora normalmente as matériasprimas, produtos intermediários e materiais de embalagem adquiridos sem pagamento de IPI não propiciem o aproveitamento desse imposto, existem casos excepcionais previstos em lei em que há direito ao crédito, dentre eles aquele previsto no artigo 237 do RIPI/2010 (artigo 175 do RIPI/2002): (...)". Relata no TVF que nas notas fiscais de saída emitidas até o final de 2010, a RECOFARMA registrou que os concentrados se classificariam no código 2106.90.10 (Preparações dos tipos utilizadas para elaboração de bebidas), cuja alíquota do IPI é zero. A partir de janeiro de 2011, passou a constar nas notas a indicação do "Ex 01" do código 2106.90.10 (Preparações compostas, não alcoólicas extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida da posição 22.02, com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado. Em janeiro de 2011, a RECOFARMA emitiu cartas de correção relativas à ausência da indicação do "Ex 01" nas notas emitidas nos anos anteriores. Tal procedimento, também foi informado pela própria Recorrente, conforme consta em seu recurso voluntário. "(...) 4.6.9. Com efeito, a RECOFARMA emitiu cartas de correção, na qual explicitou o enquadramento no Ex 01 que tem, inclusive, alíquota inferior a do Ex 02, qual seja, 27% (fls. 468 a 472)". A Recorrente argumenta que as notas fiscais emitidas pela RECOFARMA atendem a todos os requisitos, de forma que, na qualidade de adquirente de boafé, tem direito à manutenção do referido crédito de IPI. Cita legislação do IPI, a jurisprudência do STJ e a do TIT (ICMS), que o creditamento com base nos fundamentos de notas fiscais idôneas é ato licito, pois não configura qualquer infração capaz de impedilo. Pois bem. Mesmo que se considere a improvável hipótese de que a adquirente não teria como saber que o código de classificação fiscal estava incorreto, é cabível a glosa, pois não existe previsão legal para a manutenção de créditos indevidos/ilegítimos. Caso a empresa se sinta prejudicada pelo fornecedor, deverá com ele negociar para reaver compensação por eventual prejuízos auferidos. Portanto, entendo correto o questionamento da classificação fiscal por parte do Fisco neste caso em concreto. II.3. Quanto a (correta) classificação fiscal das mercadorias O segundo fundamento da autuação fiscal consiste na afirmação de a classificação fiscal adotada pelo contribuinte ("Ex 01" do código 2106.90.10) estaria equivocada, pois "preparações" deve ser entendida apenas como produtos prontos para seu uso. No caso sob análise, o fato de a RECOFARMA optar por entregar as “partes” que compõem os “kits de concentrados” para posterior processamento industrial que finalizará o produto (nas fábricas engarrafadoras), transformando o “concentrado” em refrigerantes, não impede que a classificação do SH recaia sobre os componentes que, individualmente considerados, foram agregados na forma de “kits”. Os créditos de IPI em questão são oriundos de mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e comercializadas em conjunto, em proporções fixas, utilizadas na fabricação de bebidas como refrigerantes, refrescos, néctares, isotônicos e bebidas à base de extrato de chá. Fl. 1599DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 18 33 A recorrente se refere aos insumos em questão como sendo “concentrados”, termo que é tecnicamente incorreto. Tais mercadorias serão identificadas como “kits para fabricação de bebidas”, ou simplesmente “kits”. Como relatado pelo Fisco, citese que um dos bens de produção regional citado pela empresa para tentar justificar o aproveitamento de créditos é o corante caramelo, matériaprima usada na elaboração de componentes de kits para refrigerantes sabor Cola. O corante é um produto industrializado que não é resultado de processo de extração de um vegetal, e por isto não atende ao requisito previsto na legislação. Outros insumos cujo emprego no processo industrial não pode gerar direito à isenção do inciso III do art. 95 do RIPI/2010, são o álcool neutro (aditivo que não é resultado de processo de extração de um vegetal), o ácido cítrico (bem fabricado no Estado de São Paulo) e o óleo de dendê (aditivo que entra em quantidades ínfimas na fabricação de filmes plásticos para embalagem). É cediço que para fins da aplicação da isenção prevista no artigo 95, inciso III, do RIPI/2010, deve haver o emprego direto do bem extrativo no processo produtivo do contribuinte beneficiado, pois matérias primas são por definição aqueles bens que se incorporam no processo de transformação do qual resulta a mercadoria industrializada. Dentre os insumos utilizados no processo de industrialização dos componentes de kits para refrigerantes, o único que efetivamente se caracteriza com matéria prima agrícola e extrativa vegetal é o extrato de guaraná. Muito bem, retornado a classificação do produto. A fiscalização afirma que o Laudo exarado pelo laboratório confirma de forma inequívoca que a classificação fiscal adotada pelo Contribuinte está errada. Vejase: 1) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 1 2) Concentrado/Kit sabor cocacola parte 2 3) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1 4) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2A 5) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 2B Fl. 1600DF CARF MF 34 6) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1B 7) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 1C 8) Concentrado/Kit sabor cocacola zero parte 3 9) Concentrado/Kit sabor sprite parte 2 10) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1 11) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1A 12) Concentrado/Kit sabor sprite parte 1G 13) Concentrado/Kit sabor sprite light ou zero parte 1B Há que ser observado que no Laudo anexado aos autos, se verifica que os "kits de concentrados" abrangem basicamente preparações líquidas e sólidas, sendo estas últimas compostas de Ácido Cítrico, Sorbato de Sódio e Benzoato de Sódio, que vem às vezes misturados com outros sais, e em outras isolados. Os insumos objeto deste processo correspondem a um conjunto de matérias primas e produtos intermediários comercializados em forma de kits constituídos de dois ou mais componentes, sendo que cada componente sai do estabelecimento industrial em embalagem individual. A recorrente trata tais "kits" como se fossem uma mercadoria única denominada de “concentrado”, aplicando a alíquota prevista para o "Ex 01" do código 2106.90.10 da TIPI, cujo texto está transcrito a seguir, sobre o valor registrado nas respectivas notas fiscais de compras. Fl. 1601DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 19 35 2106.90.10 Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas Ex 01 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida da posição 22.02, com capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado Ex 02 Preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sabores concentrados), para elaboração de bebida refrigerante do Capítulo 22, com capacidade de diluição de até 10 partes da bebida para cada parte do concentrado A alíquota da citada exceção tarifária era de 27% até 30/09/2012, passando a ser de 20% a partir de 01/10/2012. Entretanto, diversas normas da NESH (Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias) indicam que os componentes de kits para fabricação de bebidas, não se caracterizam como uma mercadoria única. II.3.1. Análise do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) Considerase que o fato de existir na NESH um item específico que regula os produtos aqui em discussão é suficiente, por si só, para demonstrar o erro no entendimento adotado pela VONPAR. Normalmente, diferentes matérias ou artigos, quando embalados individualmente, devem ser classificados separadamente, ainda que integrantes de uma mesma remessa. Neste sentido, deve se observar, em especial, o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), transcrito a seguir, que exclui os bens destinados à fabricação de bebidas do campo de aplicação da RGI 3 b) do Sistema Harmonizado: XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. O dispositivo acima mencionado foi incluído na NESH após análise efetuada pelo Conselho de Cooperação Aduaneira (CCA) nos anos de 1985 e 1986, em resposta a consultas recebidas de países membros da organização internacional sobre a classificação de produtos com as mesmas características dos "kits para fabricação de bebidas" produzidos no Brasil. Da leitura do material, vemos que o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) teve por origem consultas sobre a classificação fiscal de bens com características idênticas a dos insumos adquiridos pela Recorrente, inclusive bases para elaboração de FANTA (marca produzida pelas empresas do grupo CocaCola) e de um refrigerante sabor Cola. Depois de uma demorada análise, o CCA decidiu que os componentes individuais de bases para fabricação de bebidas deveriam ser classificados separadamente. O texto da análise do CCA, equivale a uma detalhada exposição de motivos para o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), deixando claro que a criação dessa Nota teve por objetivo determinar que os componentes dos kits para fabricação de bebidas devem ser classificados separadamente nos códigos apropriados para cada um deles. O Sistema Harmonizado é cogente e foi internalizado no Brasil por meio do Decreto nº 97.409, de 22/12/1988, cujo art. 1° expressa: Fl. 1602DF CARF MF 36 “Art. 1° A Convenção Internacional sobre o Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém. ” O artigo 98 da Lei nº 5.172, de 25/10/1966 (CTN Código Tributário Nacional) dispõe que: Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha. O CCA decidiu incorporar a sua decisão sobre o assunto na NESH. Como a legislação brasileira não deixa dúvidas de que devem ser cumpridas as normas internacionais sobre o Sistema Harmonizado, a Nota XI da RGI 3 b) é suficiente, por si só, para afastar a possibilidade de enquadramento dos componentes dos "kits" em um código de classificação único. As empresas defendem que a definição da classificação dos kits deve considerar a motivação que o produto desperta em quem o adquire. No entanto, entendo que a definição de classificação fiscal deve obedecer ao que diz a legislação, não podendo ser determinada de acordo com o interesse comercial do fabricante. A seguir, passemos a analisar se os componentes de kits, individualmente considerados, poderiam ser enquadrados no Ex 01 ao código 2106.90.10. II.3.2. Do enquadramento no Ex 01 do código 2106.90.10 Ressaltese que não há controvérsias de que os produtos fornecidos por RECOFARMA são iguais aos referidos pelo item XI. Também não há controvérsias de que para classificar um "kit" no "Ex 01" é preciso que ele seja tratado como se fosse uma mercadoria única. A divergência está no fato de que a fiscalização afirmou em seus Termos e Relatórios que o item XI determina que os componentes individuais sejam classificados separadamente, enquanto que VONPAR deu uma interpretação completamente oposta em seus Recursos. Para que uma mercadoria se classifique no Ex 01 do código 2106.90.10, deve apresentar as seguintes características: (a) Que seja uma preparação composta; (b) Que não seja alcoólica; (c) Que se caracterize como extrato concentrado ou sabor concentrado; (d) Que seja própria para elaboração de bebida da posição 22.02, (e) Que tenha capacidade de diluição superior a 10 partes da bebida para cada parte do concentrado. Pois bem. No que se refere à condição citada na letra “a”, acima, esclareçase que a palavra "preparação" aplicase a mercadoria que esteja preparada, pronta para uso pelo adquirente. Não existe na legislação a hipótese de que um bem formado por componentes individuais não misturados possa ser enquadrado como uma preparação alimentícia. Cada embalagem individual (por exemplo, embalagem que contenha uma mistura de extrato de noz de cola com outros aromatizantes e com corante caramelo) forma uma preparação composta. Tais preparações, porém, não atendem às condições citadas nas letras “c” e “e”, acima. Nenhum componente dos "kits", isoladamente considerado, pode ser identificado como um extrato ou sabor concentrado. Para que ficasse caracterizado um produto chamado de "concentrado", o conteúdo das diversas partes que compõem cada "kit" deveria estar reunido numa única parte, tanto que as empresas criaram a ficção de que para fins de classificação fiscal os "kits" formam uma mercadoria única. Fl. 1603DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 20 37 Não se pode atribuir capacidade de diluição a nenhum componente dos kits para fabricação de bebidas. Se o conteúdo de qualquer embalagem individual fosse diluído, não apresentaria as mesmas características sensoriais e físicoquímicas da bebida que se pretende comercializar. Tratandose das preparações compostas para elaboração de bebidas da posição 22.02, não há dúvida de que o concentrado diluído deve apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida na concentração normal, tanto que uma diferença fundamental entre o Ex 01 e o Ex 02 é a "capacidade de diluição", que no primeiro é superior a "10 partes da bebida", enquanto no segundo é igual ou menor do que "10 partes da bebida". Afinal, se a preparação diluída não resultar na bebida final, não há como se definir sua capacidade de diluição em "partes da bebida por cada parte do concentrado". A Lei nº 8.918/1994, mandamento válido para qualquer bebida, foi regulamentada pelo Decreto nº 2.314/1994, posteriormente revogado pelo Decreto nº 6.871/2009. A seguir, estão transcritos artigos do Regulamento vigente que tratam de concentrados: Art. 13. A bebida deverá conter, obrigatoriamente, a matériaprima vegetal, animal ou mineral, responsável por sua característica sensorial, excetuando o xarope e o preparado sólido para refresco. [...]. § 4º O produto concentrado, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida na concentração normal." (...) Art. 30. O preparado líquido ou concentrado líquido para refrigerante, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para o respectivo refrigerante. Assim, como nenhum componente se classifica no "Ex 01" do código 2106.90.10, resta definir o enquadramento correto para cada um deles, procedimento efetuado com base na análise das características dos ingredientes que fazem parte das embalagens individuais. Para tanto, a Solução de Consulta SRRF02/DIANA nº 5/2010, de 20/05/2010, ratificada pela Informação COANA/CECLAM nº 8/2015, de 12/03/2015, classificou da seguinte maneira os componentes de kit para preparação de bebida refrigerante, sabor laranja: a) NCM 2106.90.10 Preparação para aromatização de bebida refrigerante, com sabor laranja, constituída de água potável (70%), gomas naturais de laranja (20,44%), aromatizante sabor laranja (5,8%), corantes, ácido cítrico anidro e conservantes, em embalagem de 50kg; b) NCM 2916.31.21 Benzoato de sódio, em embalagem de 15kg, e; Fl. 1604DF CARF MF 38 c) NCM 2918.14.00 Ácido cítrico anidro, em embalagem de 67kg. Além de suas embalagens individuais, os componentes do kit também se encontram acondicionados conjuntamente em uma segunda embalagem, formando um único volume. Dispositivos Legais: 1ª RGI/SH (texto das posições 2106, 2916 e 2918 e texto da nota 5C, do capítulo 29), 6ª RGI/SH (texto das subposições 2106.90, 2916.31 e 2918.14) e 1ª Regra Geral Complementar (texto do item 2916.31.2 e dos subitens 2106.90.10 e 2916.31.21), da Tarifa Externa Comum, do Mercosul, aprovada pela Resolução Camex nº 43/2006, e suas alterações, e com subsídios das Notas Explicativas do Sistema Harmonizado. Observese que a Solução de Consulta, publicada no Diário Oficial da União de 04/06/2010, foi o primeiro e único ato vinculante da Administração Tributária que definiu a classificação fiscal de "kits" para fabricação de bebidas. Constatase no caso, que os componentes mais importantes dos "kits para fabricação de bebidas" são aqueles que contêm extratos e ingredientes aromatizantes específicos para a bebida a ser industrializada (por exemplo, componentes que contenham extrato de cola ou extrato de guaraná), devendo ser classificados no código 2106.90.10, como uma “Preparação do tipo utilizado para elaboração de bebidas”, cuja alíquota do IPI é zero. A Procuradoria da Fazenda Nacional, em processos da mesma empresa, ressalta em suas contrarrazões que, (...) a capacidade de diluição dos “concentrados” fornecidos pela Recofarma foram anabolizados com ingredientes que elevaram substancialmente a capacidade de diluição nas empresas engarrafadoras, como é o caso da VONPAR". Concluindo, essa preparação, não se classifica no "Ex 01" do código 2106.90.10, pois, conforme já explicado, a embalagem individual não contém todos os ingredientes necessários para caracterizar um produto chamado de “concentrado”. A impossibilidade de classificação no "Ex 01" do código 2106.90.10, decorre do fato de que no momento da ocorrência do fato gerador os componentes não estão misturados, e sim acondicionados em embalagens individuais. II.3.3. Conclusão Desta forma, conforme posicionamento adotado no Auto de Infração, correto pelos seus próprios fundamentos, que convergem com o entendimento adotado pela CCA e do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), com o objetivo de uniformizar o tratamento de produtos em idêntica situação, adotase a classificação individual dos produtos que compõem os "kits para refrigerantes", como proposto no TVF, a partir dos Laudos Técnicos que os identificaram, no curso da ação fiscal. Conforme ali referido, todos os componentes dos kits para refrigerantes são classificados em códigos tributados à alíquota zero, com exceção dos componentes que se classificam no código 3302.10.00, cuja alíquota é de 5%. II.4. Da competência da SUFRAMA para classificar mercadorias Aduz a Recorrente que de fato, podese até questionar se a SUFRAMA teria competência para conceder os benefícios fiscais, mas esse questionamento não afeta sua competência para definir e, pois, classificar fiscalmente produto que será eventualmente beneficiado no projeto industrial aprovado. Sustenta que o autuante estaria equivocado ao limitar a competência da SUFRAMA à aprovação de projetos, excluindo a concessão dos Fl. 1605DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 21 39 benefícios do art. 9º do DecretoLei 288, de 1967 e do art. 6º do DL nº 1.435, de 1975, tendo em vista os arts. 1º, VI e 4º, I, “c”, ambos do Anexo I, do Decreto n° 7.139, de 2010. É cediço que o DL n° 1.435, de 1975, regulamentado pelo Decreto n° 7.139, de 2010 (art. 4º, I, c), outorgou à SUFRAMA a competência exclusiva para aprovar os projetos de empresas (PPB), que objetivem usufruir dos benefícios fiscais previstos no art. 6° do DL n° 1.435, de 1975, bem como para estabelecer normas, exigências, limitações e condições para aprovação dos referidos projetos, consoante o art. 176 do CTN. Portanto não resta dúvidas quanto a isso. Por outro giro, se compete à SUFRAMA administrar os incentivos relativos à Zona Franca de Manaus (ZFM) e à Amazônia Ocidental, cabe à Receita Federal do Brasil (RFB), órgão da Administração Fazendária, a fiscalização do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), conforme o estabelecido no art. 94 da Lei nº 4.502/64 e nos arts. 427 e 428 do RIPI/2002 (art. 431 do RIPU/2010). Sobre a competência da fiscalização do IPI, veja o que reproduz os arts. 505 e 506, do RIPI atual (Decreto nº 7.212. de 2010) grifouse: Art. 505. A fiscalização do imposto compete à Secretaria da Receita Federal do Brasil (Lei nº 5.172, de 1966, arts. 142, 194 e 196, Lei nº 4.502, de 1964, art. 91,e Lei no11.457, de 2007, art. 2o). Parágrafo único. A execução das atividades de fiscalização compete às unidades centrais, da referida Secretaria, e, nos limites de suas jurisdições, às suas unidades regionais e às demais unidades, de conformidade com as instruções expedidas pela mesma Secretaria. Art. 506. A fiscalização será exercida sobre todas as pessoas, naturais ou jurídicas, contribuintes ou não, que estiverem obrigadas ao cumprimento de disposições da legislação do imposto, bem como as que gozarem de imunidade condicionada ou de isenção (Lei nº 5.172, de 1966, arts. 142 e 194, parágrafo único, e Lei nº 4.502, de 1964, art. 94). Pode ser verificado nos autos que não há, no processo sob análise, discordância entre o Fisco e a SUFRAMA quanto à classificação fiscal do produto adquirido pela VONPAR. Entendo que a SUFRAMA não se pronunciou sobre o enquadramento na TIPI dos produtos em questão, nem teria competência legal para fazêlo. O que se observa é que as competências estão sendo exercidas de forma concorrente, sem desrespeito às áreas de atuação de cada órgão. Em suas Resoluções e Pareceres, a SUFRAMA chamou os produtos elaborados pela RECOFARMA de “concentrados”, adotando a descrição utilizada pelo citado fabricante ao submeter os Projetos Industriais. Mas não é a forma usada para se referir à mercadoria que identifica sua classificação fiscal. Para tal fim, é necessário que se faça uma análise minuciosa de cada produto, fundamentada com base nas Regras de classificação. Como consta no Parecer Técnico n° 224/2007, que integra a Resolução do CAS n° 298/2007, a SUFRAMA tomou como base para sua análise “a industrialização do tipo: Concentrado para bebidas refrigerantes, sabor de cola”. Fl. 1606DF CARF MF 40 No Brasil, a competência em relação aos aspectos tecnológicos da fabricação de bebidas, inclusive definições de produtos, pertence ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA, conforme previsto na Lei nº 8.918, de 1994. E o Decreto nº 6.871, de 2009, que regulamentou a Lei nº 8.918/1994, traz uma definição precisa em relação aos concentrados para bebidas, prevendo no § 4º de seu art. 13 que “(...) o produto concentrado, quando diluído, deverá apresentar as mesmas características fixadas nos padrões de identidade e qualidade para a bebida na concentração normal". A definição acima está perfeitamente de acordo com as normas da NESH, tendo sido utilizada pela fiscalização para reforçar o entendimento de que uma “parte de concentrado” (por exemplo, o componente que contém o extrato de cola) não pode ser enquadrada no "Ex 01" do código 2106.90.10. A fiscalização não desconsiderou, nem questionou, a competência da SUFRAMA para aprovar projetos de empresas que desejem usufruir dos benefícios fiscais de instituídos pelo DL nº 1.435, de 1975. Também não desconsiderou os atos dela emanados, que gozam de presunção de legitimidade, veracidade e legalidade, e permanecem válidos para os fins a que se destinam. Portanto, nos atos de sua competência, a SUFRAMA pode tratar os kits como se fossem uma mercadoria única, o que não afeta a validade desses atos para os objetivos propostos, porém este tratamento não prevalece para fins de Classificação Fiscal da mercadoria (enquadramento na TIPI). Aliás, nem a SUFRAMA e nem mesmo a RFB, que no Brasil possui a competência legal para tratar de classificação fiscal, podem alterar a definição do produto para fins de enquadramento na NCM, porque as definições de mercadorias para fins de classificação obedecem a regras internacionais. II.5. Do benefício do no art. 6º do DL n° 1.435/75 Alega a Recorrente que, com referência aos benefícios concedidos pela SUFRAMA, "(...) Logo, é inquestionável que os concentrados produzidos pela RECOFARMA e adquiridos pela Recorrente, gera direito ao crédito do IPI porque foram expressa e especificamente contempladas com o beneficio do art. 6º do DL nº 1.435/75". Pois bem. Muito embora o Auto de Infração lavrado, motivado pela glosa de crédito de IPI, decorre da aquisição de insumos (concentrado) isentos da empresa RECOFARMA, no período fiscalizado, o fundamento principal da autuação foi a de que o concentrado não seria classificado na posição 21.06.90.10 "Ex. 01", porque ele não seria um produto único e, pois como tal, deveriam ser utilizadas as respectivas classificações fiscais de seus componentes de forma isolada, que não dariam o crédito à alíquota de 27%, mas à alíquota zero, CUMPRE observar que o Fisco também demonstrou no curso da ação fiscal, que a RECOFARMA não utilizou matériasprimas de produção regional em seu processo industrial de "concentrado" e sim, produtos industrializados (como exemplo o corante caramelo, álcool e ácido cítrico), requisito essencial previsto no art. 6º do DL n° 1.435/75. Consta dos autos, que no período fiscalizado ocorreu o aproveitamento indevido de créditos incentivados com base no artigo art. 6º do DL n° 1.435/75, oriundo de notas fiscais emitidas por RECOFARMA, (exceto kits para guaraná), em função de não ocorrer a utilização, no processo de industrialização de RECOFARMA, de matériasprimas agrícolas e extrativas vegetais de produção regional, requisito essencial previsto no Regulamento do IPI e no art. 6º do DL n° 1.435/75. Fl. 1607DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 22 41 A Recorrente crê (a nosso ver, de forma equivocada) serem as manifestações da SUFRAMA sobre essa matéria, insuscetíveis de apreciação pelo Fisco. É certo que a SUFRAMA aprova projetos (PPB), como deixam claros os textos das normas reproduzidos nos autos (e analisado em tópico anterior). Contudo, cabe à empresa que obtém a aprovação (no caso, à RECOFARMA) cumprir os requisitos normativos estabelecidos, entre os quais os de respeitar o PPB e de utilizar matériasprimas regionais de origem vegetal. De início, cabe lembrar a impossibilidade de ser beneficiado qualquer produto que apenas contenha produto de origem regional. A norma é bastante clara no sentido de que o produto que poderá gozar da isenção (e, também, proporcionar o direito de crédito de IPI para o adquirente) deve ser elaborado a partir de insumos regionais e não apenas contêlos. A distinção não é inútil e acarreta, como única interpretação legítima, a impossibilidade de que se considerem etapas anteriores do processo produtivo, para efeito de concessão da isenção (e do direito ao crédito de IPI para o adquirente). De fato, a etapa fabril em foco, para o mencionado efeito, é aquela que ocorre na Amazônia Ocidental o que obriga que a matériaprima utilizada nesta etapa cumpra os requisitos legais, não bastando que o produto contenha insumos de caráter regional como elemento constitutivo remoto. Notase que algumas das matériaprima em discussão (como o açúcar e o álcool, por exemplo), são produtos industrializados, que certamente não podem ser caracterizados como MATÉRIAPRIMA AGRÍCOLA E EXTRATIVA VEGETAL, requisito essencial previsto nos Regulamentos do IPI e no art. 6º do DL n° 1.435/75. Portanto, se o produto adquirido pela Recorrente não é aquele cuja natureza específica está contemplado na norma isencional (art. 6° do Decreto lei n° 1.435/75), não há como pretender se creditar do imposto (IPI), como se devido fosse. Portanto, os produtos adquiridos da RECORFARMA (exceto kits para guaraná) não faziam jus à isenção do artigo 6º do DL n° 1.435/75. II.6. Do benefício do no art. 9º do DL n° 288/67 Aduz a Recorrente em seu recurso que também demonstrou que os concentrados elaborados pela RECOFARMA fazem jus ao benefício do art. 9º do DL n° 288/67 e que tem direito ao crédito de IPI decorrente da aquisição dos referidos concentrados isentos oriundos da Zona Franca de Manaus, porque é aplicável o entendimento vigente do Plenário do STF proferido no RE n° 212.484. A isenção ao IPI dos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus, que foi instituída pelo art. 9º do DecretoLei nº 288/67, foi regulamentada pelo art. 69, I e II, do RIPI/2002. Da leitura desses dispositivos legais e regulamentares se constata que não houve previsão expressa do direito ao aproveitamento do crédito ficto. Tendo em vista que nas notas fiscais de aquisição dos concentrados adquiridos com isenção não houve o destaque do imposto, não há direito do contribuinte efetuar o crédito. Portanto, entendo que, neste caso, não existe amparo legal para a tomada de créditos fictos de IPI em relação a insumos adquiridos com a isenção prevista no art. 9º do DecretoLei nº 288/67. No entanto, temos que observar a decisão proferida no julgamento do RE 212.4842 (RS) que permanece vigente, e como vistos nos autos, o entendimento ali adotado Fl. 1608DF CARF MF 42 ainda não foi alterado de forma definitiva pelo STF, e a empresa VONPAR teria direito ao aproveitamento de créditos relativos ao tributo potencialmente incidente sobre os insumos adquiridos sob regime de isenção de que tratam os arts. 69, incisos I e II, 82, inciso III, do RIPI/2002 e art. 81, inciso II e 95, inciso III, do RIPI/2010). Por consequência, a discussão quanto à possibilidade de aproveitar créditos em virtude das aquisições de que trata este processo está vencida para a Fazenda Pública em relação a Recorrente, como reconhecido no próprio Relatório Fiscal. Isto tudo, não obstante a correta argumentação desenvolvida pelo Fisco, com a qual este Relator concorda, no sentido de que não é cabível a aplicação do art. 237 do RIPI/20I0 (artigo 175 do RIPI/2002) porque os produtos adquiridos não fazem jus à isenção prevista no artigo 95, inciso III, do RIPI/2010 (art. 82, inciso III, do RIPI/2002). Nesse ponto, devese observar que as sucessivas decisões proferidas no curso da ação judicial proposta pela Recorrente não dispuseram a respeito da classificação fiscal dos kits para refrigerantes, aspecto que dela não é objeto, de acordo com os termos da petição inicial. Não obstante a argumentação e transcrições feitas no recurso, frisase que, em nenhuma das instâncias de julgamento, o Poder Judiciário avaliou se os insumos são ou não uma mercadoria única, nem se manifestou sobre a correta classificação a ser adotada, em função dessa particularidade, como dá conta a documentação comprobatória fornecida pela Recorrente, em especial os Votos dos Ministros do STF, na apreciação do RE 212.4842. II.7. Dispensa multa de ofício base no art. 76, II, “a” da Lei nº 4.502/64 A defesa alegou que o art. 97, VI, do CTN autoriza a lei a estabelecer hipóteses de dispensa ou de redução de penalidades, o que legitimaria sua pretensão em aplicar o art. 76, II, "a" da Lei nº 4.502/64. Que o CARF está obrigado a observar as regras previstas em Decreto, por força do disposto no art. 26A do Decreto n° 70.235/72 e no art. 62 do Regimento Interno do CARF. Especificamente em relação às aquisições de insumos isentos oriundos da Zona Franca de Manaus, a CSRF tem entendimento no sentido de reconhecer o crédito de IPI ao adquirente desses insumos desde 11.11.2002. Alega também que (fl. 1.485): "(...) Com efeito, o art. 100, parágrafo único, do CTN estabelece que a observância de atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas têm o condão de excluir a cobrança de multa, juros de mora e correção monetária". "(...)No caso, como já visto, a SUFRAMA tem competência para aprovar projeto industrial para fruição da isenção prevista no art. 6º do DL n° 1.435/75, classificar o produto beneficiado pela isenção e autorizar o crédito do respectivo imposto, nos termos do Decreto n° 7.139/2010 c/c a Resolução do CAS n° 202/2006". Os argumentos da Recorrente consistem, em síntese, na alegação de que a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) teria reconhecido o direito ao crédito de IPI relativo à aquisição de insumos isentos (com benefício da isenção subjetiva), utilizados na fabricação de produtos sujeitos ao IPI, em observância ao entendimento Plenário do STF no julgamento do RE 212.484/RS e que assim não caberia a aplicação de penalidade (multa de ofício), nos termos do art. 76, II, “a”, da Lei nº 4.502/1964, que dispõe: “Art . 76. Não serão aplicadas penalidades: Fl. 1609DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 23 43 II enquanto prevalecer o entendimento, aos que tiverem agido ou pago o imposto: a) de acordo com interpretação fiscal constante de decisão irrecorrível de última instância administrativa, proferida em processo fiscal, inclusive de consulta, seja ou não parte o interessado; ...” E que a SUFRAMA teria competência para aprovar projeto industrial para fruição da isenção prevista no art. 6º do DL n° 1.435/75, classificar o produto beneficiado pela isenção e autorizar o crédito do respectivo imposto, nos termos do Decreto n° 7.139/2010 c/c a Resolução do CAS n° 202/2006 e portanto, também não caberia a aplicação da penalidade. Pois bem. Ocorre que posteriormente à edição da Lei nº 4.502/1964, foi editado o Código Tributário Nacional [Lei nº 5.172, de 1966], recepcionado como Lei Complementar pela Constituição Federal de 1988, que assim dispôs no seu art. 100, incs. I e II e parágrafo único: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; ... Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. Ou seja, a partir da vigência do CTN, a exclusão de penalidades com fundamento em decisões do CARF, sem que o contribuinte seja parte nos processos específicos, só é possível caso exista lei atribuindo eficácia normativa às referidas decisões, o que, até o presente momento, não existe. Nesse sentido, vale também relembrar que o Parecer Normativo Cosit nº 23/2013, já pacificou a questão ao esclarecer que os acórdãos do CARF não constituem normas complementares da legislação tributária, porquanto não possuem caráter normativo nem vinculante. Entretanto, deve ser observado que nos processos da VONPAR não se discute o direito ao crédito de IPI oriundo de insumos isentos, pois a empresa possui decisão judicial sobre o assunto. Os valores objeto de discussão abrangem exclusivamente o aproveitamento indevido de créditos por erro na alíquota de cálculo, assunto em relação ao qual inexiste jurisprudência administrativa. Nada obstante, essa é a multa prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, vazada nos seguintes termos: Fl. 1610DF CARF MF 44 Art. 80. A falta de lançamento do valor, total ou parcial, do imposto sobre produtos industrializados na respectiva nota fiscal ou a falta de recolhimento do imposto lançado sujeitará o contribuinte à multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento) do valor do imposto que deixou de ser lançado ou recolhido. A meu juízo, o artigo 76 da Lei 4.502 foi derrogado pela nova redação do art. 80 da mesma Lei, de redação de 2007. Já quanto às citadas normas da SUFRAMA (Resolução CAS nº 298/2007, integrada pelo Parecer Técnico nº 224/2007), as mesmas não se enquadram na prescrição contida no art. 76, II, "a" da Lei nº 4.502/64, pois não foram proferidas no âmbito do processo administrativo fiscal de determinação e exigência de créditos tributários. Por todo o acima exposto, carece de fundamento a argumentação que visa afastar a aplicação de penalidade, devendo ser mantida a exigência de multa de ofício. II.8. Dos juros de mora sobre multa de ofício Alega a Recorrente em seus recurso que "seria totalmente descabida a incidência de juros sobre a multa de oficio lançada contra a RECORRENTE, porque implicaria numa indireta majoração da própria penalidade e não se pode falar em mora na exigência de multa". Essa matéria é recorrente neste Colegiado, sendo minha posição conhecida no sentido de sua pertinência. Nesse ponto, adoto o entendimento inserto no Acórdão 9303002.399, da 3ª Turma da CSRF, julgado em 15/03/2013. Repiso o voto do relator, Henrique Pinheiro Torres, vazado nos seguintes termos, o qual adoto como fundamento de decidir. A obrigação tributária principal, como é de conhecimento de todos, surge com a ocorrência do fato gerador e tem por objeto o pagamento do tributo ou de penalidade pecuniária, e extinguese com o crédito dela decorrente. Essa é a dicção do § 1º do 1art. 113 do CTN. Ao seu turno o art. 139 do CTN dispõe que o crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Do cotejo desses dispositivos legais, concluise, sem qualquer margem à dúvida, que o crédito tributário inclui tanto o valor do tributo quanto o da penalidade pecuniária, visto que ambos constituem a obrigação tributária, a qual tem a mesma natureza do crédito a ela correspondente. Um é a imagem, absolutamente, simétrica do outro, apenas invertida, como ocorre no reflexo do espelho. Olhandose do ponto de vista do credor (pólo ativo da relação jurídica tributária, verseá o crédito tributário; se se transmutar para o pólo oposto, que se verá será, justamente, o inverso, uma obrigação. Daí o art. 139 do CTN declarar expressamente que um tem a mesma natureza do outro. Assim, como o crédito tributário correspondente à obrigação tributária e esta é constituída de tributo e de penalidade pecuniária, a conclusão lógica, e a única possível, é que a penalidade é crédito tributário. Fl. 1611DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 24 45 Estabelecidas essas premissas, o próximo passo é verificar o tratamento dispensado pela Legislação às hipóteses em que o crédito não é liquidado na data de vencimento. Primeiramente, temse a norma geral estabelecida no Código Tributário Nacional, mais precisamente no caput do 3art. 161, o qual dispõe que, o crédito não integralmente pago no vencimento será acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta. Essa norma geral, por si só, já seria suficiente para assegurar a incidência de juros moratórios sobre multa não paga no prazo de vencimento, pois disciplina especificamente o tratamento a ser dado ao crédito não liquidado no tempo estabelecido pela legislação tributária, mas o legislador ordinário, para não deixar margem à interpretação que discrepasse desse entendimento, foi preciso ao estabelecer que o crédito decorrente de penalidades que não forem pagos no respectivo vencimento estarão sujeitos à incidência de juros de mora. Essa previsão consta, expressamente, do art. 43 da Lei 9.430/1996, que se transcreve linhas abaixo. Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Da leitura do dispositivo acima transcrito, concluise, facilmente, sem necessidade de se recorrer a Hermes ou a uma Pitonisa, que o crédito tributário, relativo à penalidade pecuniária, constituído de ofício, não pago no respectivo vencimento, fica sujeito à incidência de juros moratórios, calculados à taxa Selic, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento Em síntese, temse que o crédito tributário, quer se refira a tributo quer seja relativo à penalidade pecuniária, não pago no respectivo vencimento, fica sujeito à incidência de juros de mora, calculado à taxa Selic, a partir do primeiro dia do mês subsequente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento Para eliminar quaisquer dúvidas que ainda restassem, o Superior Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento sobre a matéria, conforme AgRg no REsp 1.335.688PR, julgado em 04/12/2012: EMENTA:PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS DE MORA SOBRE MULTA. Fl. 1612DF CARF MF 46 INCIDÊNCIA. PRECEDENTES DE AMBAS AS TURMA QUE COMPÕEM A PRIMEIRA SEÇÃO DO STJ. 1. Entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: "É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário." (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010. 2. Agravo regimental não provido. Embora o caso paradigmático tratasse de exação de tributo estadual, asseverou o Ministro relator do Agravo: Nos termos da jurisprudência pacífica do STJ, o crédito tributário compreende a multa pecuniária, o que legitima a incidência de juros moratórios sobre a totalidade da dívida. Assim, voto no sentido de que devem ser mantidos os juros de mora sobre a multa de ofício. III. CONCLUSÃO Ante ao todo acima exposto, e forte nos fundamentos apresentados, voto por NEGAR PROVIMENTO ao Recurso Voluntário. É como voto. (assinado digitalmente) Waldir Navarro Bezerra Redator designado Thais de Laurentiis Galkowicz Redatora Designada JUROS SOBRE A MULTA DE OFÍCIO Ouso divergir do Ilustre Relator com relação à incidência dos juros Selic sobre a multa de ofício, entendendo que assiste razão à Recorrente. Isto porque inexiste no ordenamento jurídico pátrio dispositivo legal que fundamente tal exigência. Com efeito, o artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430, de 37 de dezembro de 1996 (“Lei n. 9.430/96) dispõe que sobre os “ “os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, (...) não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora”, e que “sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora”. O comando do citado artigo, portanto, determina que sobre os débitos (tributos) será aplicada multa de mora quando pagos a destempo, e sobre os débitos aplicarse á, igualmente, os juros de mora. Contudo, a multa de ofício não foi incluída no débito tributário para fins de aplicação dos juros. Seria de fato “ilógico interpretar que a expressão “débitos” ao início do caput abarca as multas de ofício. Se abarcasse, sobre elas deveria incidir a multa de Fl. 1613DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 25 47 mora, conforme o final do comando do caput”, nas palavras do Conselheiro Rosaldo Trevisan (Acórdão 3403002.367, de 24 de julho de 2013). Vêse, assim, que a literalidade do artigo separa os débitos tributários das penalidades (multas de ofício), determinando a incidência dos juros só sobre os primeiros, e não sobre as segundas. Parece ter assim andado o legislador buscando estar em sintonia com as regras estabelecidas pelo Código Tributário Nacional (“CTN”), com o status de lei complementar que tem ao dar cumprimento às funções estipuladas pelo artigo 146 da Constituição Federal. Efetivamente, o CTN além de claramente separar a natureza jurídica dos tributos (invariavelmente decorrente de condutas lícitas, segundo o artigo 3ª) e das multas (penalidades pela prática de ilícitos, ou seja, sanções aplicadas quando da ocorrência de infrações ao sistema tributário), em seu artigo 161 coloca que o “crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária.” O artigo 161 do CTN, destarte, desintegra as penalidades do crédito tributário para fins de aplicação dos juros. Afinal, caso quisesse que as penalidades estivessem abarcadas pela locução “crédito”, no início do dispositivo, não as teria destacado e dado tratamento diferenciado ao final do mesmo dispositivo legal. Ressalto que não se está aqui a olvidar que a separação entre crédito tributário (do ponto de vista do Fisco, o que corresponde ao débito tributário, do ponto de vista do contribuinte) e penalidades, do artigo 161 do CTN, colide com outras normas trazidas pelo próprio CTN, vale dizer, o artigo 1134 combinado com o artigo 139,5 os quais, lidos conjuntamente, levam à conclusão de que o crédito tributário abarca toda a obrigação principal, composta tanto pelos tributos como pelas penalidades pecuniárias devidas pelo contribuinte aos Cofres Públicos. Tal incoerência, contudo, não é suficiente para afastar a dissociação entre crédito/débito tributário e penalidades, estampada tanto no artigo 161 do CTN como no artigo 61 da Lei n. 9.430/96, quando tratam especificamente a incidência dos juros sobre os valores devidos pelos contribuintes ao Fisco. Em ambos os dispositivos somente há autorização para a incidência de juros (no âmbito federal representado pela SELIC) sobre o crédito/débito, entendido como aquele decorrente de fatos gerados de tributos, mas não sobre as penalidades tributárias. As incoerências da legislação tributária são diversas, cabendo aos órgãos julgadores solucionálas da maneira mais lógica e justa possível, que é justamente o que aqui se pretende, chegando, das razões acima expostas, à conclusão pela não incidência de juros sobre a multa de ofício. 4 Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. 5 Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. Fl. 1614DF CARF MF 48 Nesse sentido vem caminhando a jurisprudência do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (e.g. Acórdão 3403002.367, de 24 de julho de 2013; Acórdão 3402 002.862, de 26 de janeiro 2016), porém ainda não consolidada. Assim, ao meu ver, é nesse sentido que deve ser interpretada a Súmula CARF n. 4,6 cujo teor impõe o reconhecimento como devida a SELIC sobre débitos tributários administrados pela Secretaria Receita Federal. São sim devidos os juros SELIC, mas tão somente sobre os tributos no período de inadimplência, e não sobre eventuais multas de ofício cobradas no mesmo suporte documental (auto de infração). Sem lei que estabeleça expressamente a aplicação de juros sobre a multa de ofício, incabível a cobrança pretendida pela Autoridade Fiscal nestes autos, devendo ser a mesma cancelada por este Colegiado. Neste ponto, insta mencionar que não seria aplicável ao presente caso o art. 43, da Lei n.º 9.430/96, mencionado no Acórdão 9303002.399, da 3ª Turma da CSRF. Isso porque o referido dispositivo traz a previsão de aplicação dos juros de mora quando da lavratura auto de infração que se refira, "exclusivamente, a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente", tratandose, portanto, de "Auto de Infração sem tributo" nos termos do título utilizado pela própria lei neste artigo: "Seção V Normas sobre o Lançamento de Tributos e Contribuições Auto de Infração sem Tributo Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento." (grifo nosso) Como se depreende do relatório, a hipótese trazida no dispositivo legal acima distinguese claramente daquela sob análise, no qual foi aplicada multa de ofício sobre o valor do tributo não recolhido (IPI), esta sim sem previsão legal para a incidência de juros. Por fim, cumpre tecer alguns comentários sobre o julgamento do Superior Tribunal de Justiça, que poderia ser citado como fundamento da posição em sentido contrário a aqui exposta. Tratase do AgRg no REsp 1.335.688PR, segundo o qual: "entendimento de ambas as Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ no sentido de que: 'É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário.' (REsp 1.129.990/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ de 14/9/2009). De igual modo: REsp 834.681/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 2/6/2010." 6 Súmula CARF n° 4: A partir de 1o de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais” Fl. 1615DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 26 49 Com a devida vênia ao Egrégio Tribunal, entendo que a decisão ali alcançada não merece guarida. Para ser mais precisa, por uma análise acurada do teor do julgamento, entendo que o STJ ainda não se manifestou sobre a específica questão aqui discutida, pois no AgRg no REsp 1.335.688PR não foi trazido um único fundamento de decidir a respeito da diccção do artigo 61 caput e §3º da Lei n. 9.430/96, apresentada alhures, tendo sido a decisão calcada em acórdãos do próprio órgão que não resolvem ao tema. Explico. No Recurso Especial n. 1.335.688, bem como no Agravo de Instrumento de mesmo número, as razões de decidir do Ministro Relator Benedito Gonçalvez se limitam a afirmar que o acórdão do TRF da 4ª Região, objeto de reclame do contribuinte, ao decidir pela incidência dos juros Selic sobre a multa de ofício espelhou a jurisprudência firmada pelas Turmas que compõem a Primeira Seção do STJ, justamente como consta no trecho da ementa acima citado, quais sejam: o REsp 1.129.990/PR e o REsp 834.681/MG. Ocorre que no REsp 1.129.990/PR, segundo os dizeres do Ministro Castro Meira (Relator) "a questão devolvida a este Superior Tribunal de Justiça consiste em saber se a multa decorrente do inadimplemento de ICMS sujeitase à incidência de juros de mora, como defende o Fisco Estadual, ou sequer integra o crédito tributário e, portanto, não pode sofrer este acréscimo, conforme a tese adotada pelo acórdão hostilizado." Não são necessárias maiores digressões para chegar a conclusão de que se a matéria analisada pelo STJ nesse caso dizia respeito à tributo estadual (ICMS), de modo que não foi objeto de apreciação a legislação federal que fundamenta o presente voto (artigo 61 caput e §3º da Lei n. 9.430/96). Com efeito, o r. acórdão teve como base unicamente as normas constantes dos artigos 113, 139 e 161 do CTN. Na mesma problemática incorre o REsp 834.681/MG, no qual discutiase, em primeiro lugar, a aplicabilidade da taxa Selic como índice legítimo de correção monetária e juros de mora para a correção de débitos do contribuinte perante a Fazenda Pública estadual (de Minas Gerais, in casu). Como segundo ponto enfrentado pelo STJ aparecia a incidência dos juros sobre a multa de ofício que, por óbvio, também se limitava ao âmbito da legislação estadual, provável razão pela qual mais uma vez o Tribunal silenciou sobre a exegese do artigo 61, caput e §3º da Lei n. 9.430/96. Constatase, assim, que os precedentes utilizados como alicerce para a decisão do AgRg no REsp 1.335.688PR não tangenciaram especificamente os dizeres do artigo 61 caput e §3º da Lei n. 9.430/96. Por essa razão não vislumbro qualquer razão para alterar o posicionamento majoritário que vem sendo adotado por esse Colegiado, a respeito da falta de previsão legal para a incidência da Selic sobre a multa de ofício imposta nos autos de infração lavrados pela Secretaria da Receita Federal. Dessarte, voto por dar provimento ao recurso voluntário para a excluir a aplicação da taxa de juros Selic sobre a multa de ofício na fase de liquidação administrativa do presente julgado. (assinado digitalmente) Thais de Laurentiis Galkowicz Redatora Designada Fl. 1616DF CARF MF 50 Declaração de Voto Conselheiro Diego Diniz Ribeiro 1. Tomo a liberdade de, independentemente do brilhantismo do voto do r. Relator do caso, acrescentar algumas considerações a respeito da alegação de coisa julgada aduzida pelo contribuinte em seu recurso voluntário. 2. Nesse sentido, insta destacar que o recorrente impetrou o mandado de segurança individual n. 91.00095524, oportunidade em que vindicou o direito de ver assegurado o direito a créditos de IPI relativos às aquisições de concentrados para refrigerantes classificados na posição n. 21.06.90.01 da TIPI/88 e sujeitos a isenção, porque tais aquisições seriam egressas da Zona Franca de Manaus. Na inicial do mandamus consta o seguinte pedido: reconhecimento dos créditos IPI relativos a compras da Zona Franca de Manaus de concentrados de refrigerantes, ou seja, o xarope, isentos nas alíquotas incidentes relativas a este produto. 3. Logo, o primeiro aspecto a ser considerado para fins da delimitação da coisa julgada é o pedido apresentado na inicial do writ, na medida em que tal pedido conforma a atividade judicante, i.e., delimita a sua extensão. Daí falarse, inclusive, em princípio da adstrição no processo civil e da proibição de julgamentos ultra, extra e citra petita. 4. Não obstante, apesar da importância do pedido para o exercício da atividade judicante, é óbvio que o elemento da inicial não pode ser analisado como se fosse uma ilha, ou seja, completamente isolado do contexto petitório em que se encontra inserido. Em outros termos, a inicial de uma determinada demanda deve ser vista sob uma perspectiva holística, no qual se destaca, dentre outros elementos fundamentais, o pedido formulado pelo autor. Tenho que esta conclusão é ínsita do ordenamento processual e está devidamente incorporada no CPC/2015 em razão do que dispõe seu art. 322, § 2º,in verbis: Art. 322. O pedido deve ser certo. (...) § 2o A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boafé. 5. Diante deste quadro, é possível perceber que no citado mandado de segurança individual n. 91.00095524 o que se discute é exatamente o direito ao crédito decorrente da aquisição de concentrados da ZFM para a produção de refrigerantes pela recorrente. Há, inclusive, o apontamento do código do NCM do citado produto com a sua consequente individualização. Este é o quadro fático sobre o qual a citada lide se desenvolveu e que, em momento algum, foi questionado pela União no aludido mandamus. 6. Ressaltese, inclusive, que no voto proferido pelo STF para o caso (RE n. 212.484), o. então Ministro Nelson Jobim faz referência expressa à caracterização do produto adquirido pela Recorrente. Logo, se no citado mandamus o recorrente conformou inadequadamente o produto7 para o qual vindicou o crédito de IPI, o que decorreria (pretensamente) da sua indevida classificação fiscal, tal questão deveria ter sido objeto de 7 Partindo da ideia de que o produto discutido na lide não seria único (concentrado) e com um tratamento jurídico tributário também próprio, mas sim composto por diferentes subprodutos passíveis de individualização e, consequentemente, com um tratamento jurídicotributário próprio individualizado cada um desses subprodutos. Fl. 1617DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 27 51 questionamento naquela demanda judicial por parte da União, sob pena de tal discussão ser considerada como questionada judicialmente e repelida. É o que dispunha o art. 474 do CPC/738, vigente à época, e que agora encontra guarida no art. 508 do CPC/20159. 7. Em verdade, o que a União tenta por intermédio da fiscalização aqui tratada é, em última análise, dar um indevido efeito rescisório para a autuação fiscal perpetrada, com o escopo, pois, de desconstituir a coisa julgada nesse mandado de segurança propria manu militari. 8. Por outro giro verbal, uma eventual discussão quanto à magnitude ou extensão da decisão proferida no writ teria que ser objeto de uma ação rescisória, oportunidade em que um terceiro Estado Juiz , equidistante das partes, analisará se de fato existe ou não uma daquelas hipóteses que prevê o manejo da ação rescisória. 9. Com base também em tais considerações, acompanho o voto proferido pelo r. Relator do caso para dar provimento ao recurso voluntário interposto pelo contribuinte. 10. É como voto. Diego Diniz Ribeiro Conselheiro. Conselheiro Jorge Olmiro Lock Freire. Acompanho in totum o voto divergente do ilustre Conselheiro Waldir Bezerra Navarro, porém quero apenas me manifestar acerca de alguns pontos levantados pela defesa e confrontar algumas colocações feitas pelo Dr. Carlos Daniel, ínclito relator, em seu voto. COISA JULGADA Quer a recorrente fazer crer que o Acórdão do STF 212.484, que transitou em julgado em 10.12.1998, e a coisa julgada que dele decorreu, também incluiu a classificação fiscal do concentrado. Ledo engano, e por mais de um motivo. O pedido inicial da Vonpar no mandamus 91.00095524, o qual delimite a lide, foi o seguinte: "Seja, em sentença, ao final, garantido o direito líquido e certo da impetrante aos créditos de IPI relativos às compras procedentes da Zona Franca de Manaus, de concentrado de refrigerantes, isento, as alíquotas de incidência relativas a este produto, devido pelas indústrias fora da Zona Franca de Manaus". Sobre tal tópico, bem pontuou o relato fiscal (fl. 361): 8 " Art. 474. Passada em julgado a sentença de mérito, reputarseão deduzidas e repelidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido." 9 " Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerarseão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido." Fl. 1618DF CARF MF 52 72) Em Impugnação ao Auto de Infração lavrado por meio do processo nº 11080.733630/201441, Vonpar alegou que na coisa julgada formada no RE n° 212.484 foi estabelecido que a alíquota de 27% deveria ser utilizada para calcular o crédito de IPI na aquisição de concentrados isentos oriundos da Zona Franca de Manaus. 72.1 Evidentemente, no RE n° 212.484RS não se analisou a classificação fiscal dos “concentrados”, nem se assegurou a aplicação da alíquota de 27% para cálculo dos créditos. O que se discutiu na época foi o mesmo assunto que continua em discussão até hoje (a matéria está para ser julgada, em virtude da admissão da repercussão geral, no Recurso Extraordinário nº 592.891/SP): as empresas há muito tempo pretendem assegurar o direito ao crédito do IPI, calculado como se o imposto fosse devido, nas entradas de matériasprimas isentas oriundas de fornecedores situados na Zona Franca de Manaus. Não se discutiu na ação judicial de Vonpar, nem está se discutindo no STF, o direito ao crédito oriundo das aquisições de uma matériaprima específica, mas sim o direito ao crédito para qualquer insumo que se enquadre na situação analisada. Da mesma forma, o ilustre representante da Fazenda Nacional, Dr. Pedro Cestari, averbou nas contrarrazões ao recurso voluntário acerca do que restou decidido: A sentença acolheu o pedido e "julgou procedente a ação, concedendo a segurança para declarar a existência do direito líquido e certo da impetrante em abater o IPI devido sobre os produtos industrializados, no momento da saída de seu estabelecimento, o valorcrédito do IPI potencialmente incidente na operação anterior de que participe como adquirente de produtos industrializados sujeitos à isenção pela proveniência da Zona Franca de Manaus" É de extrema importância destacar que a decisão judicial conferiu o direito da Recorrente fazer o abatimento do débito quando o valor do crédito de IPI for potencialmente devido, ou seja, o Judiciário NÃO conferiu à VONPAR o direito líquido e certo de, independentemente do atendimento das condições para utilização do benefício fiscal, aproveitar o “valorcrédito do IPI”. A decisão tampouco obstou a tributação para a hipótese em que o fornecedor dos “concentrados” (Recofarma) não cumpre os requisitos da norma de desoneração e classifica equivocadamente os referidos produtos na TIPI. Em outras palavras, a sentença acima possibilitou o aproveitamento dos créditos de IPI em tese, no seu aspecto potencial (de extinção de débitos de IPI), de modo que para fazer valer o direito de crédito é indispensável que todas as condicionantes previstas na norma isentiva (art. 6º, §1º do DL 1435/75) sejam cumulativamente atendidas. A alíquota fiscal dos “concentrados” que poderia, em tese, beneficiar a recorrente, foi incorretamente classificada pela Recofarma no Ex 01 do código 2106.90.10, ou seja, o crédito de IPI isento (para a Recofarma), que gerou a alíquota de 27% para a VONPAR, não poderia ter sido apropriado pela Recorrente. Fl. 1619DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 28 53 Com efeito, a sentença possibilitou o creditamento, desde que correta a classificação fiscal e alíquota superior a zero, caso contrário não haverá potencial crédito de IPI, nos termos do que preceituou aquela, a gerar crédito para a impetrante, ora recorrente. Portanto, imprópria a arguição acerca do art. 474 do CPC de 1973 (art. 508 do novel CPC), pelo que divirjo do Conselheiro Diego Diniz Ribeiro. Mais que isso, ainda é indispensável que haja a classificação dos “concentrados” na alíquota correta da TIPI. Sem embargo, sem reparos ao lançamento e à r. decisão no ponto. A CLASSIFICAÇÃO FISCAL Primeiramente, oportuno gizar que os 5 processos em análise reportamse a fatos geradores ocorridos até o final de 2010. Demais disso, notas fiscais de saída emitidas até o final do ano de 2010, a Recofarma registrou que os “concentrados” se classificariam no código 2106.90.10 (Preparações dos tipos utilizados para elaboração de bebidas), cuja alíquota do IPI é zero, tendo o Fisco relatado que somente nas notas fiscais emitidas a partir de janeiro de 2011 passou a constar a indicação do Ex 01 do código 2106.90.10, e que em janeiro de 2011 Recofarma emitiu cartas de correção relativas à ausência da indicação do Ex 01 nas notas emitidas nos anos anteriores. Portanto, nos processos em pauta, a recorrente efetuou o cálculo dos créditos de IPI com a utilização de alíquota que não correspondia ao código indicado nas notas fiscais. De qualquer maneira, ainda que as notas fiscais de Recofarma indicassem código fiscal com a alíquota utilizada por Vonpar, permaneceria sem razão a recorrente. Os processos administrativos e judiciais em que foi discutida a obrigação ou não dos adquirentes fazerem conferência de classificação fiscal em notas de compras tratavam de créditos básicos, em que o cálculo e recolhimento do imposto devido havia sido feito pelo emitente. Quanto à correta classificação dos produtos adquiridos pela recorrente, igualmente não tenho dúvida que a fiscalização está absolutamente correta. Em análise ao fluxograma simplificado do processo de fabricação de refrigerante cocacola (fl. 382 Anexo 1 ao relatório), a cargo da VONPAR, vêse, o que é inconteste, que os produtos utilizados pela recorrente e fornecidos pela Recofarma, são produtos adicionados separadamente após a mistura de água e açúcar (que resultam no xarope simples), de forma que após sua adição resulta o xarope final ou concentrado líquido. Portanto, o tão falado kit nada mais é do que a adição de produtos intermediários distintos já em fase de industrialização dentro do estabelecimento industrial da defendente. A controvérsia levantada pelo ilustre relator não encontra qualquer respaldo nas regras de classificação. Ora, se as mercadorias saídas da recofarma e adquiridas pela recorrente (sobre as quais tomou indevido crédito) são mercadorias distintas, com diferente natureza física, pelo que embaladas em distintas embalagens, não vejo como querer classificá las que se de apenas uma mercadoria se tratassem. Cediço que a classificação fiscal de mercadoria se materializa em um dos códigos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), que tem por base o Sistema Fl. 1620DF CARF MF 54 Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (SH) adotado pelo Brasil por meio do Decreto nº 97.409/1988, de 23/12/1988, DOU de 27/12/1888. Sabemos que o código NCM é obtido mediante a aplicação das Regras Gerais para Interpretação do Sistema Harmonizado (RGI) e das Regras Gerais Complementares (RGC), e, de forma subsidiária, pelas normas explicativas do Sistema Harmonizado (NESH) de Designação e de Codificação de Mercadorias, assim como as Notas de Seção, Capítulo, posições e subposições da Nomenclatura do Sistema Harmonizado. A regra 1ª RGI dispõe que: "Os títulos das Seções, Capítulos e Subcapítulos têm apenas valor indicativo. Para os efeitos legais, a classificação é determinada pelos textos das posições e das Notas de Seção e de Capítulo e, desde que não sejam contrárias aos textos das referidas posições e Notas..." Assim, o ponto de partida para classificar um produto são os textos das posições e das notas de Seção e Capítulo da TIPI. Portanto, dúvida não há que as Notas Explicativas do Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias (Nesh), versão lusobrasileira, aprovadas pelo Decreto nº 435, de 27 de janeiro de 1992 e alterações posteriores, constituem elemento subsidiário de caráter fundamental para a correta interpretação do conteúdo das posições e subposições do SH. Ora, na NESH há um item específico que regula os produtos aqui em discussão: é o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), transcrito, na qual se fundou a fiscalização, a seguir: XI) A presente Regra não se aplica às mercadorias constituídas por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto (mesmo em embalagem comum), em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. O CCA (órgão que 1994 passou a ser chamado de Organização Mundial das Aduanas – OMA) decidiu incorporar a sua decisão sobre o assunto na NESH, por meio da criação do item XI da Nota Explicativa da Regra Interpretativa 3 (b). Transcrevo a seguir texto retirado da tradução anexada aos autos: Em suas sessões de outubro de 1985 (na 55ª. Sessão do Comitê de Nomenclatura e 55ª. Sessão do Comitê do Sistema Harmonizado Interino), os Comitês examinaram a classificação das bases de bebidas constituídas por diferentes componentes importados conjuntamente em proporções fixas em uma remessa. Os Comitês concordaram com que os componentes individuais deveriam ser classificados separadamente. Os Comitês também concordaram em incorporar o conteúdo da decisão na Nota Explicativa da Regra Interpretativa 3 (b), como um exemplo da não aplicação desta Regra (...) (i) Regra Interpretativa Geral 3 (b) . Novo Item (XI). Após Item ( X ), insira o seguinte novo Item ( XI) : Fl. 1621DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 29 55 “ (XI) A presente Regra não se aplica a produtos constituídos por diferentes componentes acondicionados separadamente e apresentados em conjunto, mesmo estando em embalagem comum, em proporções fixas, para a fabricação industrial de bebidas, por exemplo. “ Ficou, portanto, derrubada qualquer possibilidade de classificar os bens em questão como se fossem uma mercadoria única, entendimento defendido pela recorrente. O CCA explicitou que cada componente deveria ser enquadrado em sua própria classificação, embora não tenha definido quais seriam elas, o que é compreensível, considerandose a complexidade da análise dos ingredientes e demais características de cada componente, que no caso dos produtos de Recofarma exigiu, inclusive, a execução de exame pericial. Como se vê, o CCA apontou ser óbvio que não se pode tratar como mercadoria única (produto composto) um conjunto de embalagens individuais contendo ingredientes para fabricação de bebidas. Sobre a decisão do Conselho de Cooperação Aduaneira CCA, o ilustre relator diz que é um “trabalho preparatório anterior à Nota Explicativa, de modo que não poderia ser interpretação autêntica de algo que sequer existe ainda”, o que não é verídico, pois continuando a leitura da documentação do CCA, verificase que o órgão estudou algumas redações alternativas, até chegar ao texto do item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), que permanece em vigor até hoje, sem qualquer alteração em sua redação. Podemos dizer que o texto em questão equivale ao que na elaboração de uma Lei seria chamado de Exposição de Motivos. Só que, ao contrário do que muitas vezes acontece na elaboração das Leis, o texto da “Exposição de Motivos” para o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) é tão minucioso e detalhado que não deixa margem à dúvida sobre sua interpretação. A partir do momento que a solução de consulta foi transformada em um item da NESH, seria desnecessário analisar o mérito dos argumentos empregados pela empresa e pela fiscalização. As regras da NESH são cogentes no sistema jurídico brasileiro, tendo hierarquia superior à de Pareceres ou Instruções Normativas. Se autoridades brasileiras, por hipótese, não concordassem com o entendimento adotado, ainda assim teriam que obedecêlo, por força do que dispõe o artigo 98 da Lei nº 5.172, de 25/10/1966 (CTN Código Tributário Nacional). Portanto, rechaço veementemente a afirmação do relator10 que já inicia seu voto afirmando que a fiscalização teria recorrido a uma “solução arbitrária” para fazer o lançamento de ofício na Vonpar, pois, em realidade, como mencionado no item 74 do Termo de Verificação Fiscal lavrado no estabelecimento de Vonpar de Porto Alegre em 30/12/2014, a identificação do erro de classificação não começou na recorrente, e sim em trabalho realizado na Recofarma com base em Mandado de Procedimento Fiscal Nacional (documento emitido pelo órgão central da RFB em Brasília). 10 No caso em tela, verificase que a fiscalização que sempre utilizou um determinado critério para fiscalizar e autuar as empresas que tomam créditos de IPI de saídas isentas da ZFM inovou especificamente em relação à VONPAR, buscando com isso escapar às raias da coisa julgada. Fl. 1622DF CARF MF 56 Dessarte, data venia, trazer à baila argumento como falta de moralidade administrativa do Fisco na ação fiscal sob comento, em longa digressão que refoge ao núcleo da quaestio, é desarrazoado, para dizer o mínimo. Por certo, se o digno relator pesquisar processos recentes que aguardam julgamento neste Conselho, certamente encontrará outros adquirentes que foram autuados em função do erro de classificação fiscal nos produtos fornecidos por Recofarma. Pelas afirmações descabidas que faz, creio que o nobre relator não tenha se dado a tal trabalho O que pode fazer toda a diferença para fins classificatórios é o fato da mercadoria ter sido concebida para receber determinada destinação, e não a destinação efetiva que recebeu em casos específicos. A legislação não permite que o enquadramento na TIPI de um produto possa variar conforme o ramo de atividade de seus destinatários. A utilização pretendida para a mercadoria é importante porque, evidentemente, as características de um produto industrializado são determinadas pela utilização para a qual o produto foi concebido. Mas, por exemplo, se uma determinada preparação do tipo utilizado para elaboração de medicamentos for vendida exclusivamente para um engarrafador de refrigerantes, ela não pode em decorrência disso passar a ser classificada como uma preparação do tipo utilizado para elaboração de refrigerantes. Desta maneira, para fins de classificação, devem ser analisadas características como ingredientes, formato e embalagem do produto (características estas que são decorrentes da utilização para a qual o produto foi concebido), mas não a atividade de cada destinatário das notas fiscais. De qualquer maneira, analiso com profundidade não só a utilização para a qual os kits de Recofarma foram concebidos, como as atividades desenvolvidas pelos seus destinatários. A maior parte das vendas efetuadas pelas chamadas empresas do Sistema Coca Cola correspondem a refrigerantes. Mas as empresas do Sistema CocaCola também efetuam vendas de extratos concentrados destinados ao preparo de refrigerantes em máquinas "postmix", mercadorias que são classificadas no Ex 02 do código 2106.90.10. Registro que a elaboração dos refrigerantes da posição 22.02 pelos detentores das máquinas "postmix" é uma operação excluída do conceito de industrialização pelo art. 5º do RIPI, transcrito a seguir, e por isto a tributação do IPI ocorre no momento da saída dos concentrados do Ex 02. Art. 5o Não se considera industrialização: (...) II o preparo de refrigerantes, à base de extrato concentrado, por meio de máquinas, automáticas ou não, em restaurantes, bares e estabelecimentos similares, para venda direta a consumidor (DecretoLei no 1.686, de 26 de junho de 1979, art. 5o, § 2o); Portanto, quando o produto final vendido por Vonpar ou outro adquirente de Recofarma são os concentrados vendidos para bares e restaurantes, fica evidente que não se pode dizer que os kits são destinados à elaboração de bebida da posição 22.02. Fl. 1623DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 30 57 Afinal, quando se pensa na utilização para a qual o insumo foi concebido, deve se analisar a operação de industrialização em que este insumo é utilizado (elaboração do concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10), e não operação de industrialização realizada em uma etapa futura da cadeia produtiva (elaboração dos refrigerantes pelos detentores das máquinas "postmix"). Quem não tem conhecimento do processo produtivo dos engarrafadores e acredite, equivocadamente, que o enquadramento na TIPI de um produto deva variar conforme a motivação de seus destinatários, poderia imaginar que o mesmo kit deveria receber dois enquadramentos distintos na TIPI, dependendo de qual é o produto final vendido pelo seu adquirente: se é um refrigerante pronto ou se é um concentrado destinado a máquinas "post mix". Em realidade, porém, 100% dos kits recebidos de Recofarma são usados para industrializar concentrados classificados no Ex 02 do código 2106.90.10. As empresas do Sistema CocaCola executam dois processos de industrialização distintos, como se denota do que consta no referido Anexo I. Primeiro elas misturam os componentes dos kits, obtendo o concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10. Depois (exceto nos casos em que estes concentrados são destinados a máquinas "postmix") o concentrado resultante da mistura é levado para outro equipamento, onde é diluído em água carbonatada, resultando no refrigerante. Este segundo processo industrial é executado dentro do mesmo estabelecimento que na etapa anterior fabricou o concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10. Mas nada impediria que fossem criados estabelecimentos cuja única atividade fosse a produção do refrigerante. Nesta hipótese, o concentrado do Ex 02 do código 2106.90.10 seria sempre um produto final para as empresas do Sistema CocaCola, podendo ser vendido ou para detentores das máquinas "postmix" ou para os fabricantes exclusivos de refrigerantes. O IPI é um imposto real, e não pessoal. Não importa se o CNPJ do estabelecimento que fabricou o concentrado do Ex 02 é ou não o mesmo do estabelecimento que transformou este concentrado em refrigerante. São duas operações industriais distintas, que resultam em produtos que devem receber classificações fiscais distintas. Sobre este assunto, cabe observar o que diz o artigo 31 do RIPI/2010, que trata da capacidade tributária, e o artigo 3º do Regulamento, que transcrevo a seguir: Art. 3º Produto industrializado é o resultante de qualquer operação definida neste Regulamento como industrialização, mesmo incompleta, parcial ou intermediária (Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966, art. 46, parágrafo único, e Lei nº 4.502, de 1964, art. 3º). (grifei) Na realidade, porém, 100% dos kits recebidos de Recofarma são usados para industrializar concentrados classificados no Ex 02 do código 2106.90.10. O Sistema Harmonizado contempla classificações fiscais de mercadorias no estado em que se encontram nas diversas etapas da cadeia produtiva, abrangendo desde as matériasprimas, passando por produtos intermediários e chegando até o produto finalmente elaborado. Resta claro, então, que os componentes dos kits sempre se caracterizam como ingredientes (matériasprimas e produtos intermediários) destinados à elaboração de Fl. 1624DF CARF MF 58 concentrados do Ex 02 do código 2106.90.10 (produto intermediário ou produto final, dependendo de sua destinação). Por fim, apenas a título de observação, registro que apesar das empresas do Sistema CocaCola serem conhecidas como “engarrafadoras” (o que se justifica pela quantidade de vendas), caso se utilizasse como critério a complexidade das operações que executam, sua atividade principal seria a de “produtoras de concentrados”. Isto porque, dentre as operações executadas no estabelecimento do engarrafador, a etapa em que ocorre a mistura dos componentes dos kits é tecnicamente a de maior importância, só podendo ser executada seguindo detalhadas especificações técnicas. Já a etapa em que é realizada a diluição do concentrado em água carbonatada, resultando no refrigerante, é de execução bastante simples, tanto que pode ser realizada pelas máquinas Post Mix. O relator escreveu: No Laudo anexado aos autos, se verifica que os "kits de concentrados" abrangem basicamente preparações líquidas e sólidas (..) Em seguida, o Fiscal desconsidera a indicação feita pelo Laudo de que se tratariam de preparações, para adotar seu próprio sentido (...) “(...) o fato do kit envolver partes sólidas e líquidas que sofreram diluição posteriormente no estabelecimento da adquirente não desnatura a sua natureza de "preparação". Os Laudos mostram que os kits são formados por um conjunto de produtos, sendo que, em geral, cada um deles é uma preparação (existem exceções em que a “parte” é formada por uma única matéria, como, por exemplo, benzoato de sódio). Os Laudos mostram que todos os kits contêm duas ou mais preparações, cada uma em sua embalagem individual. Ao contrário do que diz o relator, sobre este fato não há controvérsias. A controvérsia está no fato de que a empresa considera que duas ou mais preparações enviadas na mesma remessa, em proporções fixas, devem ser consideradas como se formassem uma única preparação, enquanto o Fisco considera que um kit com duas preparações, cada uma na sua embalagem individual, deve ser enquadrado em dois códigos de classificação fiscal, e não em um código único. Já mencionei que o item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b) não deixa dúvidas de que o entendimento do Fisco é o correto. De qualquer maneira, analisei Notas Explicativas de outras posições do SH, e não encontrei um único caso de Nota que faça referência a uma preparação alimentícia formada por “partes” não misturadas entre si. Sempre que a NESH se refere a preparações, fica claro que está tratando de uma mistura. Isto também fica claro em relação a outros produtos enquadrados na posição 21.06. Por exemplo, a seguir estão transcritos textos dos itens 13, 14 e 15 da NESH da posição 21.06 (os grifos são meus): Fl. 1625DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 31 59 13) As misturas de extrato de ginseng com outras substâncias (por exemplo, lactose ou glicose) utilizadas para preparação de “chá” ou de outra bebida à base de ginseng. 14) Os produtos constituídos por uma mistura de plantas ou partes de plantas, sementes ou frutas de espécies diferentes, ou por plantas ou partes de plantas, sementes ou frutas de uma ou de diversas espécies misturadas com outras substâncias (...) 15) As misturas constituídas por plantas, partes de plantas, sementes ou frutas (inteiras, cortadas, trituradas ou pulverizadas) de espécies incluídas em diferentes Capítulos (...) O relator citou em seu voto o item X da Nota Explicativa da Regra 2 b), que em sua parte final diz que "Os produtos misturados que constituam preparações mencionadas como tais, numa Nota de Seção ou de Capítulo ou nos dizeres de uma posição, devem classificarse por aplicação da Regra 1”. (grifo meu) Ora, o item X da Nota Explicativa da Regra 2 b) corrobora o entendimento de que quando o SH se refere a preparações está tratando de produtos misturados. Assim, se os produtos que compõem os kits estivessem misturados, eles poderiam ser classificados como um produto único mediante aplicação da Regra 1. Só que não é o caso dos kits para refrigerantes, que são formados por várias preparações não misturadas entre si. O relator, assim como eu, parece ter procurado e não encontrado na NESH alguma Nota que faça referência a uma preparação alimentícia formada por “partes” não misturadas entre si. Digo isso porque como “situação análoga” a dos kits para refrigerantes não citou produto similar ao que estamos analisando, mas sim “produtos químicos importados em "kits" para, após mistura, comporem os explosivos classificados na Posição 36.02 (Seção VI) do SH nesse caso, ainda que não se apresentem prontos para a utilização, se classificam na Posição por determinação da Nota 3 da Seção VI”. A regra geral dento do SH é que cada produto tenha classificação individual própria, mas existem exceções, abrangidas pela RGI 3 b). Só que, como já explicado, a NESH excluiu as bases para bebidas do campo de aplicação da RGI 3 b). Aproveito para transcrever mais um trecho da decisão do CCA cuja tradução consta dos autos: 18. Nesse sentido, deve ser dada atenção à Nota 3 da Seção VI e à Nota da Seção VII que tratam de casos em que os componentes são misturados após importação. Não existe nota similar relativa a produtos da Seção IV. Implicitamente, também pareceria que a Nota Interpretativa 3 (b) não abrange os tipos de casos cobertos pela Nota 3 da Seção VI e a Nota da Seção VII. Como se vê, na análise que resultou no item XI da Nota Explicativa da RGI 3 b), o CCA analisou exatamente o caso citado pelo relator (produtos da Seção VI), rejeitando sua similaridade com os produtos da Seção IV, onde se incluem as preparações alimentícias. Concluo que os textos dos Ex 01 e Ex 02 do código 2106.90.10, ao ser referirem a “preparações compostas”, estão tratando de bens constituídos por uma mistura de diversas substâncias. Fl. 1626DF CARF MF 60 Com essas considerações, entendo correta a classificação fiscal adota pelo Fisco, cuja alíquota no período em análise é 0 %, pelo que correta a glosa dos créditos por ilegítimos. DA MULTA APLICADA O argumento da impugnante consiste, em síntese, na alegação de que a Câmara Superior de Recursos Fiscais teria reconhecido o direito ao crédito de IPI relativo à aquisição de insumos isentos (com benefício da isenção subjetiva), utilizados na fabricação de produtos sujeitos ao IPI, em observância ao entendimento Plenário do STF no julgamento do RE 212.484/RS e que assim não caberia a aplicação de penalidade, nos termos do art. 76, II, “a”, da Lei nº 4.502/1964, que dispõe: “Art . 76. Não serão aplicadas penalidades: II enquanto prevalecer o entendimento, aos que tiverem agido ou pago o imposto: a) de acordo com interpretação fiscal constante de decisão irrecorrível de última instância administrativa, proferida em processo fiscal, inclusive de consulta, seja ou não parte o interessado; ...” Ocorre que posteriormente à edição da Lei nº 4.502/1964, foi editado o Código Tributário Nacional [Lei nº 5.172, de 1966], recepcionado como Lei Complementar pela Constituição Federal de 1988, que assim dispôs no seu art. 100, incs. I e II e parágrafo único: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; ... Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo. Ou seja, a partir da vigência do CTN, a exclusão de penalidades com fundamento em decisões do CARF, sem que o contribuinte seja parte nos processos específicos, só é possível caso exista lei atribuindo eficácia normativa às referidas decisões, o que, até o presente momento, não existe. Nada obstante, essa é a multa prescrita pelo art. 569 do RIPI/2010, com espeque no art. 80 da Lei 4.502/64, com redação dada pelo art. 13 da Lei 11.448, de 15/06/2007, vazada nos seguintes termos: Art. 80. A falta de lançamento do valor, total ou parcial, do imposto sobre produtos industrializados na respectiva nota Fl. 1627DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 32 61 fiscal ou a falta de recolhimento do imposto lançado sujeitará o contribuinte à multa de ofício de 75% (setenta e cinco por cento) do valor do imposto que deixou de ser lançado ou recolhido. Portanto, há lei válida, vigente e eficaz, que se sobrepõe a qualquer norma regulamentar, que determina a aplicação de multa de ofício específica para o caso de cobrança de IPI por falta de seu recolhimento, como no caso versado nestes autos. Em consequência, escorreita sua aplicação. Eram essas minhas considerações assinado digitalmente Jorge Olmiro Lock Freire Conselheira Maysa de Sá Pittondo Deligne No momento da leitura do voto vista do Ilustre Conselheiro Jorge Freire, mostrei irresignação específica quanto à menção ao fluxograma de fabricação de refrigerantes trazido no Anexo 3 do termo de Verificação Fiscal. Quanto à esta questão, afirmou o Ilustre Conselheiro: "Quanto à correta classificação dos produtos adquiridos pela recorrente, igualmente não tenho dúvida que a fiscalização está absolutamente correta. Em análise ao fluxograma simplificado do processo de fabricação de refrigerante cocacola (fl. 382 Anexo 1 o relatório), a cargo da VONPAR, vêse, o que é inconteste, que os produtos utilizados pela recorrente e fornecidos pela Recofarma, são produtos adicionados separadamente após a mistura de água e açúcar (que resultam no xarope simples), de forma que após sua adição resulta o xarope final ou concentrado líquido. Portanto, o tão falado kit nada mais é do que a adição de produtos intermediários distintos já em fase de industrialização dentro do estabelecimento industrial da defendente." Contudo, a meu ver, os fluxogramas trazidos às efls. 541/542 somente reforçam as razões trazidas pelo Ilustre Conselheiro Relator, por denotarem que os kits de concentrado, apenas são acrescidos de água ou açúcar após ingressarem no estabelecimento da Recorrente. Ocorre exatamente o "tratamento" ao qual se refere a NESH na forma elucidada pelo I. Relator em seu voto: "Vejamos o que a NESH tem a dizer a respeito da posição indicada pelo Contribuinte: A) As preparações para utilização na alimentação humana, quer no estado em que se encontram, quer depois de tratamento (cozimento, dissolução ou ebulição em água, leite, etc.). A Nota Explicativa A referentes à classificação 2106.90 é expressa em afirmar que a preparação não perde o seu caráter enquanto tal pelo simples fato de posteriormente passar por um tratamento, mencionando especificamente a possibilidade de Fl. 1628DF CARF MF 62 dissolução, que implica mistura fato este utilizado pelo fiscal como argumento para afastar a natureza de preparação. Ou seja, a preparação não precisa estar "pronta para uso", mas sim deve trazer os elementos que, conjuntamente e após tratamento, componham a preparação necessária para a elaboração da bebida da posição 22.02." A meu ver, os fluxogramas acostados aos autos confirmam essa afirmação do Relator. Eles evidenciam, ainda, que todos os elementos adquiridos pelo Recorrente na forma de "kits" são conjuntos dentro do processo produtivo, compondo o preparado para a elaboração das bebidas na forma da posição adotada pelo Recorrente. Seguem abaixo os fluxogramas constantes dos autos somente para facilitar a visualização: Fl. 1629DF CARF MF Processo nº 11070.721963/201528 Acórdão n.º 3402003.800 S3C4T2 Fl. 33 63 Tratamse somente de considerações adicionais que respaldam a conclusão alcançada no voto do Ilustre Relator pelo provimento do Recurso Voluntário. Fl. 1630DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11050.001157/2003-34
Turma: 3ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 3ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Nov 09 00:00:00 UTC 2016
Data da publicação: Mon Mar 20 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas Gerais de Direito Tributário
Data do fato gerador: 03/02/1999
LANÇAMENTO DE OFÍCIO. JUROS E MULTA.
Nos termos do art. 63 da Lei 9.430/96, apenas a concessão de medida liminar antes da constituição obsta a inclusão da multa de ofício nos lançamentos de ofício. Consoante Súmula CARF nº 05, o afastamento dos juros de mora requer o depósito do montante integral do crédito tributário.
Numero da decisão: 9303-004.396
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, em negar-lhe provimento. Votaram pelas conclusões as conselheiras Tatiana Midori Migiyama e Vanessa Marini Cecconello
Rodrigo da Costa Pôssas - Presidente.
Júlio César Alves Ramos - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello.
Nome do relator: JULIO CESAR ALVES RAMOS
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JUROS E MULTA Recorrente INTERNATIONAL INDÚSTRIA AUTOMOTIVA DA AMÉRICA DO SUL LTDA. Interessado FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Data do fato gerador: 03/02/1999 LANÇAMENTO DE OFÍCIO. JUROS E MULTA. Nos termos do art. 63 da Lei 9.430/96, apenas a concessão de medida liminar antes da constituição obsta a inclusão da multa de ofício nos lançamentos de ofício. Consoante Súmula CARF nº 05, o afastamento dos juros de mora requer o depósito do montante integral do crédito tributário. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, em negarlhe provimento. Votaram pelas conclusões as conselheiras Tatiana Midori Migiyama e Vanessa Marini Cecconello Rodrigo da Costa Pôssas Presidente. Júlio César Alves Ramos Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rodrigo da Costa Pôssas, Júlio César Alves Ramos, Tatiana Midori Migiyama, Andrada Márcio Canuto Natal, Demes Brito, Érika Costa Camargos Autran, Charles Mayer de Castro Souza e Vanessa Marini Cecconello. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 05 0. 00 11 57 /2 00 3- 34 Fl. 335DF CARF MF 2 Relatório Insurgese o sujeito passivo contra entendimento esposado em acórdão prolatado pela Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara que manteve a multa e os juros de mora em lançamento de crédito tributário objeto de contestação judicial. Assim agiu a autoridade lançadora em razão de a liminar inicialmente postulada não ter sido deferida mas ter sido autorizado o depósito do crédito tributário questionado. Sobrevieram, então, depósitos intempestivos que foram considerados parciais porquanto sem os acréscimos decorrentes do atraso. Destarte, o lançamento não considerou suspensa a exigibilidade do crédito tributário. O recurso especial comprova a divergência por meio de paradigma que entendeu que em caso de depósitos parciais ocorre a suspensão do crédito no montante depositado, somente podendo incidir a multa, assim como os juros, sobre a parcela eventualmente não depositada. O recurso foi admitido e sobrevieram contrarrazões. É o relatório. Voto Conselheiro Júlio César Alves Ramos Relator Entendo ter sido comprovada a divergência, uma vez que a segunda decisão apresentada como paradigma efetivamente debruçouse sobre a mesma situação depósitos parciais e entendeu que, ainda assim, havia suspensão de exigibilidade e, por consequência, seriam indevidos os acréscimos de multa e de juros. Conheço do recurso. Mas, no mérito, negolhe provimento com base em considerações já expendidas em outros julgados e que reproduzo na sequência. No tocante à multa, como é de todos sabido, a Lei 9.430 somente previu sua dispensa nos casos de lançamento de ofício destinados a prevenir a decadência de créditos cuja exigibilidade se encontre suspensa por força de decisão judicial1. Como sua simples leitura indica, a Lei nem contemplou todas as hipóteses de suspensão de exigibilidade nem mesmo acresceu à existência de decisão judicial aquela aqui discutida (inciso II do art. 151). É importante ainda lembrar que a redação original da norma legal apenas mencionava a decisão em mandado de segurança. Somente em 2001 veio ela a sofrer alteração para incluir outras espécies de ação judicial passíveis de concessão de decisões liminares. Parece claro, com isso, que o legislador jamais teve a intenção de dispensar a multa para outras hipóteses de suspensão de exigibilidade distintas das ordens judiciais. 1 Art. 63 Na constituição de crédito tributário destinada a prevenir a decadência, relativo a tributo de competência da União, cuja exigibilidade houver sido suspensa na forma dos incisos IV e V do art. 151 da Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966, não caberá lançamento de multa de ofício. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.15835, de 2001) Fl. 336DF CARF MF Processo nº 11050.001157/200334 Acórdão n.º 9303004.396 CSRFT3 Fl. 3 3 Também não é desconhecido de ninguém que a atividade de lançamento tributário é vinculada e obrigatória nos termos do CTN2. Não pode, pois, a autoridade incumbida de sua realização dispensar a multa para hipótese não contemplada expressamente na legislação. E, entendo eu, tampouco os conselheiros integrantes deste Tribunal administrativo por força de suas disposições regimentais (hoje o art. 62 do anexo II da Portaria 343/2015) 3 . Vale dizer que dispositivo semelhante sempre esteve presente nas edições anteriores. Nesses termos, nem mesmo se integrais os depósitos, a meu ver, cabe a dispensa da multa por absoluta falta de previsão legal. A suspensão da exigibilidade é requisito apenas quando se discute a inclusão de juros de mora. E isso por força da Súmula CARF nº 05: Súmula CARF nº 5: São devidos juros de mora sobre o crédito tributário não integralmente pago no vencimento, ainda que suspensa sua exigibilidade, salvo quando existir depósito no montante integral. Pareceme que a Súmula está a dizer que sempre há a exigência de juros quando o crédito não tenha sido pago no vencimento. Ela apenas abre uma exceção: quando a exigibilidade do crédito estiver suspensa por força da realização de depósito no montante integral do crédito. Esse requisito de integralidade há muito é também exigido pelo e STJ em posicionamento já sumulado4. Considero, por isso, relevante reafirmar que essa integralidade se apura com respeito à parcela efetivamente discutida no Poder Judiciário, que não corresponde sempre à totalidade do crédito tributário de um dado período de apuração. Nesse sentido, quando os contribuintes pretendem discutir judicialmente a ampliação de uma dada exigência, seja por majoração da alíquota aplicável, ou por alargamento de sua base de incidência, o depósito deve cobrir toda a parcela acrescida, mas não precisa nem deve incluir a incidência sobre a base anterior não contestada. Por exemplo, no caso da COFINS, em que a Lei 9.718 tanto ampliou a alíquota de 2% para 3%, quanto alargou a base de cálculo, três situações poderiam ocorrer: a) contribuintes que apenas contestassem a ampliação da alíquota: entendo que, para serem integrais, os depósitos não podem ser inferiores a 1% da base de cálculo integral, devendose recolher em DARF toda a outra parte (2% sobre a base total). 2 Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. 3 Art. 62. Fica vedado aos membros das turmas de julgamento do CARF afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade 4 Súmula 112: O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro. Fl. 337DF CARF MF 4 b) quem apenas contestasse a ampliação da base, por sua vez, deveria recolher em DARF 3% sobre a base não ampliada (faturamento nos termos da LC 70), depositando em DARF 3% sobre as "outras receitas". c) por fim, quem a grande maioria incluísse as duas contestações apenas deveria recolher em DARF 2% sobre a base antiga. Nesse caso, pois, só seriam integrais depósitos que alcançassem a totalidade da diferença entre o montante devido nos termos novos (3% sobre a base alargada) e a parcela devida nos termos da legislação alterada, isto é, 2% sobre a base restrita. Embora possa parecer óbvia, essa delimitação nem sempre é bem observada pela fiscalização, que, muitas vezes, exige que o sujeito passivo deposite todo o tributo devido no período de apuração para que considere os depósitos integrais. Definidos, porém, esses contornos, a Súmula CARF acima transcrita, a meu sentir, impede que dispensemos os juros quando os depósitos não sejam integrais. Notese que ela não se restringe a prever a inclusão dos juros em dada hipótese: ela afirma que eles são sempre devidos exceto quando haja depósitos integrais. A posição contrária, acolhida na decisão paradigma, parece pretender equiparar o depósito parcial ao "pagamento" de que fala a Súmula, especialmente por conta da alteração introduzida na forma de realização dos primeiros pela Lei 9.703/98. Para quem a advoga, pareceme, a disponibilização dos recursos à Fazenda tornaria desnecessária a incidência de juros. Com todas as vênias sempre recomendáveis, não concordo com esse posicionamento. É que, embora os depósitos tenham mesmo passado a se realizar em DARF e os valores a ficar em conta do Tesouro, não vejo como isso se possa equiparar a um efetivo pagamento. Somente neste último caso é que os valores são de titularidade plena do Tesouro que, aí sim, os pode destinar da forma que lhe aprouver. Valores depositados não; eles podem ter de ser devolvidos no caso de o sujeito passivo obter sucesso na discussão judicial que encetou. Assim, o que a Lei 9.703 fez foi permitir o uso imediato dos recursos objetos de contestação judicial, atento, porém, o Tesouro à possibilidade de ter de restituílos se a União vier a perder a ação. Destarte, configurado que o crédito tributário não foi pago no vencimento, cabe o lançamento de ofício. Este só é feito para prevenir a decadência quando sua exigibilidade estiver suspensa por uma das hipóteses do art. 151. Dentre elas apenas as hipóteses dos incisos IV e V levam à dispensa da multa e a do inciso II, à dos juros. Este, aliás, é o único reparo que faço à decisão recorrida: segundo sua ementa, o lançamento teria sido feito com o objetivo de prevenir a decadência. Assim não penso; os lançamentos para prevenir decadência são sempre decorrentes de alguma hipótese de suspensão de exigibilidade. Essa suspensão, no entanto, não impede a incidência de multa e juros: quanto à primeira, é necessário que se tenha decisão liminar suspensiva da exigibilidade anterior ao lançamento; para os segundos, que haja depósito integral. Não ocorridas, no caso concreto, nenhuma dessas hipóteses, devidos tanto os juros quanto a multa. É o voto, portanto, por negar provimento ao recurso do contribuinte. Fl. 338DF CARF MF Processo nº 11050.001157/200334 Acórdão n.º 9303004.396 CSRFT3 Fl. 4 5 Conselheiro Júlio César Alves Ramos Fl. 339DF CARF MF
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Numero do processo: 13116.000674/2007-33
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Mar 28 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Apr 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Período de apuração: 01/04/2006 a 31/07/2006
Ementa:
CRÉDITOS. GASTOS FASES PREPARATÓRIAS DA PRODUÇÃO. POSSIBILIDADE.
As etapas de preparação material da planta para acesso, extração e obtenção dos recursos e insumos minerais, bem como as atividades de acesso, extração, movimentação e tratamento dos minerais assim obtidos, constituem parte do processo de produção para fins de apuração dos créditos dessas contribuições sociais.
Numero da decisão: 3401-003.434
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, dar provimento parcial ao recurso voluntário apresentado, vencidos os conselheiros Rosaldo Trevisan, Robson José Bayerl e Fenelon Moscoso de Almeida, que davam provimento parcial em menor extensão, não reconhecendo o crédito em relação a despesa com ICMS - substituição de energia elétrica. O voto do Conselheiro Robson José Bayerl, ausente justificadamente na sessão, foi coletado e computado na reunião de junho/2016. Processo julgado em 29/03/2017.
Rosaldo Trevisan - Presidente.
Eloy Eros da Silva Nogueira - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (Presidente), Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Rodolfo Tsuboi, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice Presidente), Hélcio Lafetá Reis.
Nome do relator: ELOY EROS DA SILVA NOGUEIRA
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL COFINS Período de apuração: 01/04/2006 a 31/07/2006 Ementa: CRÉDITOS. GASTOS FASES PREPARATÓRIAS DA PRODUÇÃO. POSSIBILIDADE. As etapas de preparação material da planta para acesso, extração e obtenção dos recursos e insumos minerais, bem como as atividades de acesso, extração, movimentação e tratamento dos minerais assim obtidos, constituem parte do processo de produção para fins de apuração dos créditos dessas contribuições sociais. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, dar provimento parcial ao recurso voluntário apresentado, vencidos os conselheiros Rosaldo Trevisan, Robson José Bayerl e Fenelon Moscoso de Almeida, que davam provimento parcial em menor extensão, não reconhecendo o crédito em relação a despesa com ICMS substituição de energia elétrica. O voto do Conselheiro Robson José Bayerl, ausente justificadamente na sessão, foi coletado e computado na reunião de junho/2016. Processo julgado em 29/03/2017. Rosaldo Trevisan Presidente. Eloy Eros da Silva Nogueira Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 11 6. 00 06 74 /2 00 7- 33 Fl. 1663DF CARF MF 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Rosaldo Trevisan (Presidente), Augusto Fiel Jorge D'Oliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Rodolfo Tsuboi, Leonardo Ogassawara de Araújo Branco (vice Presidente), Hélcio Lafetá Reis. Relatório Este processo cuida de pedido de ressarcimento (PER) de cofins não cumulativo para ter reconhecimento em crédito Exportação ao qual tem associado Declarações de Compensação. A unidade de jurisdição não reconheceu a totalidade dos créditos pleiteados por ter constatado que a contribuinte havia entregue DACON com os campos 'zerados' ou seja, sem preenchimento para registrar as origens dos créditos e os próprios créditos. Além disso, ela não homologou a totalidade das compensações requeridas. Para introduzir o contraditório, reproduzo o relatório de lavra do Il. Conselheiro Odassi Guerzoni Filho constante da Resolução n. 3401000.222: Relatório Tratase de PER entregue em 29/03/2007 no qual foi indicado a existência de um crédito de "cofins NãoCumulativa Exportação", no valor de R$ 1.687.295,08, apurado em dezembro de 2006, portanto, relativo ao 2° trimestre, para o seu aproveitamento na compensação do débitos do IRPJ e da CSLL, ambos do período de apuração de fevereiro de 2007, mediante a entrega de duas Dcomp também em 29/03/2007. A DRF em Anápolis/GO1, todavia, não reconheceu o crédito sob o argumento de que o Dacon Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais do 2° semestre de 2006, entregue em 05/04/2007, estava com todos os seus campos "zerados". Consequentemente, não homologou a compensação. Na Manifestação de Inconformidade a interessada admitiu que incorrera em erro formal quando do preenchimento de seu Dacon, mas que, tão logo cientificada dos termos do Despacho Decisório, apresentou o correspondente retificador. Argumentou que a verdade real deve prevalecer sobre o formalismo, solicitou a realização de perícia e colacionou ementas de decisões administrativas que a socorreriam. A 2a Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Brasília/DF, não acolheu os termos da Manifestação de Inconformidade sob o argumento de que, da análise que efetuou na DIPJ da empresa do ano calendário de 2006, constatou: a) que a mesma indicara, na "Ficha 1 Dados Iniciais", que não realiza operações com o exterior; b) que na "Ficha 04A", indicara que não havia efetuado qualquer aquisição de insumos; c) que na "Ficha 06A", indicara que a "Receita de Exportação" era zero; e d) que no Balanço Patrimonial, indicara a existência apenas de receitas financeiras e outras receitas. Além disso, que nas DCTF relativas ao ano calendário de 2006 não havia sido indicada a existência de débitos do PIS/Pasep ou da Cofins, bem como que à Manifestação de Inconformidade não havia sido juntado qualquer elemento de prova acerca da existência dos créditos postulados, especialmente em face das significativas contradições que detectara entre as informações prestadas pela interessada à Receita Federal do Brasil, o que afastaria a caracterização do alegado erro formal. Também negou o pedido de perícia, sob o fundamento de que as regras do artigo 16 do Decreto n° 70.235, de 6 de março de 1972, não teriam sido observadas. Fl. 1664DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 3 3 No Recurso Voluntário a Recorrente, reiterando seus argumentos de que poderia efetuar a retificação de suas informações prestadas à Receita Federal do Brasil, esclareceu que as informações que fizera constar de sua DIPJ do ano calendário de 2006 relacionadas ao montante das exportações realizadas não mostraram valor algum pelo fato de que as operações de exportação, às quais os insumos cujos créditos estão sendo postulados se referem, somente se deram no ano seguinte, de 2007, no mês de fevereiro, consoante DIPJ d o AC de 2007, visto que em 2006 encontravase ainda em fase de instalação e de início de suas atividades, o que, por sua vez, justificaria o fato de não ter informado débitos de PIS/Pasep ou de Cofins nas DCTF. Alegou ainda que a não apresentação, quando da Manifestação de Inconformidade, da DIPJ do AC de 2008 e dos balancetes que indicariam a existência de estoques de insumos ao final do ano de 2006, foi motivada pela escolha da autoridade fiscal de confrontar o Dacon retificador com outros documentos, que não com esses. E, por conta disso, considerou a Recorrente que novas razões e argumentos foram apresentados pela DRJ, o que implicaria na observância da regra do artigo 16, § 4°, "c", do Decreto n° 70.235, de 6 de março de 1972. Invocou ainda os princípios da ampla defesa, da legalidade, da oficialidade e verdade material, para a produção de prova nesta fase recursal, na esteira de doutrina e de jurisprudência administrativa colacionadas. Por fim, que não pode ser aceito o argumento da autoridade de julgamento de que os créditos devem estar relacionados às exportações do próprio período de apuração, por falta de previsão legal. Reiterou ainda o seu pedido de perícia para a comprovação de seu crédito. Este processo chegou ao CARF e foi submetido a sessão de 03 de fevereiro de 2011, quando o julgamento foi convertido em diligência pelo entendimento de que: Resolução n.º 3401000.222... VOTO....... Inicialmente, de se registrar que a DRF fundamentou o indeferimento do pedido num único parágrafo apenas, em que alegou que não haveriam créditos a compensar pelo fato do Dacon do 2° semestre de 2006 estar "zerado". Todavia, com a devida vênia, bem que poderia, em homenagem aos princípios da eficiência, da finalidade, da verdade material e do informalismo moderado, ter se valido da regra que consta do artigo 24 da IN SRF n° 600, de 28/12/2005 e ao menos ter tentado obter maiores explicações da interessada sobre o porquê de tamanho disparate, já que, se esta pleiteava créditos no PER/Dcomp, haveria de ter indicado a sua origem em outro demonstrativo, qual seja, no Dacon. A DRJ, por sua vez, mesmo tendo em mãos a informação de que a interessada admitira o erro de entregar um Dacon totalmente em branco e de que a sua retificação já fora efetuada , optou por seguir em frente na análise do pleito, lançando mão de outros elementos que encontrou nos sistemas internos da SRF, quais sejam, as informações constantes da DIPJ e das DCTF relativas ao ano calendário de 2006. Fl. 1665DF CARF MF 4 E, a exemplo da DRF, não procurou obter da interessada quaisquer esclarecimentos sobre o porquê de, por exemplo, ter sido informado na "Ficha 01 Dados Iniciais", que não se realizara operações com o exterior; na "Ficha 04A", não ter havido a aquisição de insumos; na "Ficha 06A", ter sido "zero" o valor das receitas de exportação; e, na DCTF, não terem sido informados quaisquer débitos de PIS/Pasep ou de Cofins. Limitouse a intimar a Impugnante para sanear um problema com a procuração. Assim, fazendo às vezes da Autoridade encarregada da apreciação do pedido, decretou a inexistência de qualquer direito a crédito, rechaçando, inclusive, o pedido de perícia formulado de forma incompleta, digase, de passagem. Porém, os esclarecimentos trazidos pela interessada nesta fase processual demonstram que, no mínimo, seu pedido deva ser efetivamente submetido ao crivo da Unidade de origem, desta feita, já em condições para tal, ou seja: temse o Dacon retificador e a informação de que somente em 2007, ano seguinte ao trimestre de cujos créditos são originários, é que foram realizadas exportações, bem como, de que somente em 2007 é que passaram a existir débitos do PIS/Pasep ou da Cofins, porquanto em 2006 a interessada ainda se encontrava no início de suas operações. .... A meu ver, a inexistência de operações de exportação no ano de 2006 (ocorreram em fevereiro de 2007), por si só, não inibiria o reconhecimento do direito ao crédito originado dos custos, despesas e encargos havidos em 2006, bem como não impediria o seu aproveitamento em procedimento de compensação em período posterior à ocorrência das exportações. Até porque, a regra do § 4°, do art. 3°, qual seja, de que "O crédito não aproveitado em determinado mês poderá sêlo nos meses subsequentes" poderia perfeitamente ser aplicada também nos casos envolvendo a CofinsExportação. Em outras palavras, quero dizer que o que importa é que os custos, despesas e encargos geradores dos créditos estejam vinculados às receitas de exportação. ... Em face de todo o exposto, voto por converter o julgamento para que a Unidade de origem, diante de todos os elementos contidos no processo e de outros que entender necessários para tanto, informe a este Colegiado acerca da procedência do crédito indicado no PER de fl. 2, bem como, em assim o sendo, se o mesmo se mostra suficiente para suportar a compensação do débito indicado na Dcomp de fl. 7. A Recorrente deverá ser cientificada quanto ao teor do resultado da diligência para que, em assim o desejando, manifestese no prazo de trinta dias. A autoridade fiscal, em atendimento à Resolução, analisou o PER, as DACONs, as notas fiscais e outros documentos apresentados pela contribuinte e concluiu que a contribuinte teria direito ao crédito de R$ 647.495,89, glosando a diferença com relação ao declarado na DACON (R$ 1,421.186,62) e com relação ao valor requerido no PER (R$ 1.687.295,08). A autoridade fiscal informou as razões das glosas: Item a) Notas Fiscais de Aquisição de Imobilizado (Sobre Bens do Ativo Imobilizado Com Base no Valor de Aquisição Ficha 16A Linha 10 do DACON): Primeiramente, importantíssimo salientar que a linha 10 da Ficha 16A do DACON deverá ser preenchida na hipótese de a pessoa jurídica optar pela recuperação acelerada de créditos (depreciação acelerada), calculados sobre o valor de aquisição de máquinas e Fl. 1666DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 4 5 equipamentos adquiridos novos, na proporção de 1/48 (um quarenta e oito avos), destinados ao ativo imobilizado, adquiridos a partir de 1° de maio de 2004, para utilização na produção de bens destinados à venda ou utilizados na prestação de serviços, conforme disposto no § 14 do art. 3o da Lei no 10.833 de 2003. Feita esta consideração inicial, e com base nas planilhas apresentadas pelo contribuinte, relativas aos meses de outubro a dezembro de 2006, verificamos que os valores totais da depreciação acelerada ali informados são absurdamente divergentes das importâncias declaradas nos respectivos DACONs: ... Conforme planilha elaborada pelo contribuinte, fl. 896, a empresa informa que teria feito aquisições de máquinas e equipamentos nos valores ali informados, relativamente aos anos de 2005 e 2006. Frisase que, conforme informações da interessada, as primeiras aquisições teriam ocorrido em janeiro de 2005. Em outra planilha, de fl. 897, o sujeito passivo detalha a forma como foram contabilizados os encargos de depreciação acelerada, com base nos valores de aquisição de máquinas e equipamentos adquiridos de janeiro de 2005 a dezembro de 2006, na proporção de 1/48, conforme disposto no § 14 do art. 3o da Lei no 10.833 de 2003. Como se percebe da análise da tabela 3 acima, há uma enorme discrepância entre os valores declarados no DACON, na Ficha 16A, linha 10 (depreciação acelerada sobre aquisições de máquinas e equipamentos) e os apresentados na planilha. Com base nas informações contidas em arquivo magnético apresentado, contendo planilhas eletrônicas com a composição mensal das bases de cálculo dos créditos do PIS e COFINS, sobre aquisições de máquinas e equipamentos classificáveis no ativo imobilizado (depreciação acelerada), e analisando as notas fiscais solicitadas por amostragem, fls. 646 a 893, observamos que os valores infinitamente mais significativos não são representativos de aquisições de máquinas e equipamentos, mas sim de notas fiscais referentes a pagamentos por serviços de execução de obras, desmatamentos, terraplanagem, remoção de solo, nivelamento de terreno, extração de cascalho, serviços de roçada, treinamento para operação de máquinas, transportes, pagamentos relativos à locação de galpões, entre outros itens q não se adequam à aquisição de máquinas/equipamentos. Inclusive, o mesmo problema já havia sido relatado pelo auditor fiscal responsável pela primeira análise dos PER/DCOMPs. Na oportunidade, foi relatado pelo fiscal que o sujeito passivo teria descontado créditos sobre depreciação acelerada calculada em virtude de aquisições/serviços para construção de planta, areia lavada, materiais elétricos, construção préfabricada e présoldada, serviços de construção de barragens, serviços de construção civil, aterramentos, serviços de montagem de equipamentos, serviços de obra civil na planta, entre outros. Do exposto, percebese, inequivocamente, que os bens relatados acima não poderiam, em hipótese alguma, integrar a Linha 10 da Ficha 16A dos DACONs, que se refere, exclusivamente, a cálculo de créditos acelerados sobre as compras de máquinas e equipamentos novos (1/48 avos do valor da aquisição) utilizados na fabricação de produtos destinados à venda. ... Assim, analisamos as mencionadas notas fiscais e glosamos aquelas que não se referiam a aquisições de máquinas/equipamentos, as que não foram entregues ou que apresentam divergências com as informações nos DACONs. Juntamos ao processo apenas as notas fiscais glosadas, sendo que nas tabelas 5 a 7, relacionamos os números de todas as NFs que não foram acatadas. .. Fl. 1667DF CARF MF 6 [relaciona as notas fiscais glosadas por que não correspondem a aquisição de máquinas e equipamentos; relaciona as notas fiscais glosadas por não constarem na relação do contribuinte, ou não apresentadas, ou apresentadas em duplicidade]... Analisando o DACON da empresa para o período em questão, verificamos que a empresa declara não ter apurado créditos sobre operações de importação, fls. 568 a 606, tanto é que as fichas 06B e 16B, onde o declarante deveria informar os valores relativos á depreciação (acelerada ou normal), sobre aquisições de máquinas/equipamentos ocorrido no mercado externo, vinculados a receitas de exportação, tributadas no mercado interneo ou não tributada, não foram preenchidas, encontramse inibidas. Sendo assim, visando a padronizar as diligências em curso, e acatando as determinações contidas na decisão colegiada da segunda instância julgadora, adotaremos o entendimento exposto no Acórdão do CARF n.º 3102002.167 .. nos autos 13116.001612/200749, ... que determina que deverão prevalecer os valores informados nos DACONs, que consistem nos documentos hábeis e idôneos, pois determinado pela legislação, para declaração dos valores dos créditos das contribuições não cumulativas apuradas mensalmente. Por conseguinte, se o contribuinte tivesse, de fato, apurado créditos oriundos de aquisições no mercado externo, deveria ter procedido a retificação do DACON, na forma e segundo os prazos fixados na legislação tributária. Se tal correção não foi feita, induvidosamente, devem prevalecer as informações prestadas nos correspondentes DACONs, ou seja, de que não houver quaisquer importações geradoras de créditos de PIS COFINS para os períodos em análise. Portanto, glosaremos a integralidade dos créditos originados de importações de bolas de moinho, xantano entre outros itens, uma vez não constarem como geradores de créditos nos respectivos DACONs. Importante salientar que, para fins de calculo de créditos, as planilhas elaboradas pelo contribuinte, que estão em desacordo com as informações dos DACONs, ora consideram bolas de moinho como insumos, ora como integrantes do ativo imobilizado. ..... Item b) Notas Fiscais de Aquisição de Insumos (Bens Utilizados como Insumos Ficha 16A Linha 02 do DACON): .... Constatamos que no período em questão, só foram adquiridos quatro tipos de insumos, combustíveis (biodiesel/óleo diesel), utilizados para garantir o processo de extração e beneficiamento do minério a ser utilizado no processo produtivo, cuja única fornecedora é a Petrobras Distribuidora S.A., uma única aquisição de explosivos/detonadores (no mês de outubro), cuja finalidade é destruir as rochas visando contribuir com o processo de lavra/Britagem, adquiridos da empresa Orica Brasil LTDA, por fim aquisições de bolas de moinho e xantato, somente no mês de dezembro, utilizadas no processo produtivo, segundo a empresa, para garantir a redução granulométrica proporcionando a liberação do mineral de interesse (no caso das bolas de moinho) e tornar a superfície da partícula hidrofóbica, ou seja, perder a sua afinidade com a água sendo possível sua interação com bolhas de ar (xantato), adquiridos da fornecedora Masa MinasArgentinas S.A (aquisições efetuadas no mercado externo). .. Consultando o DACON da empresa para o período em questão, verificamos que a empresa declara não ter apurado créditos sobre operações de importação, fls. 568 a 570, tanto é que as fichas 06B e 16B, onde o declarante deveria informar os valores das aquisições, dos custos e das despesas decorrentes de operações de importação vinculados a receitas de exportação, tributadas no mercado interno ou não tributada, não foram preenchidas, encontramse inibidas. Fl. 1668DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 5 7 Sendo assim, mais uma vez, deverão prevalecer os valores informados nos DACONs, que consistem nos documentos hábeis e idôneos, pois determinado pela legislação, para declaração dos valores dos créditos das contribuições não cumulativas apuradas mensalmente. Por conseguinte, se o contribuinte tivesse, de fato, apurado créditos oriundos de aquisição de insumos no mercado externo, deveria ter procedido a retificação do referido demonstrativo, na forma e segundo os prazos fixados na legislação tributária. Se tal correção não foi feita, induvidosamente, devem prevalecer as informações prestadas nos correspondentes DACONs. Portanto, glosaremos a integralidade dos créditos originados de importações de bolas de moinho e xantato, conforme planilha elaborada pela empresa, tendo em vista que as fichas 06B e 16B encontramse zeradas/inibidas, sem informações acerca de eventuais créditos calculados sobre a importação de insumos. Analisamos a situação cadastral dos principais fornecedores nacionais da empresa, que são Petrobras Distribuidora S.A. (combustíveis) e Orica Brasil LTDA (explosivos), fls. 1411 a 1416, não tendo sido encontradas irregularidades. Por fim, apenas nas aquisições de explosivos/detonadores houve destaque do IPI. Tal análise é necessária, pois, para fins de cálculo de créditos do PIS/COFINS, não integra o custo dos insumos o IPI incidente na aquisição, quando for recuperável pelo comprador. Por meio da Ficha Dados Iniciais da DIPJ, exercício 2007, ano calendário de 2006, fls. 1417 a 1420, pudemos constatar que a empresa não é contribuinte do IPI, portanto, por não recuperar o imposto na aquisição de seus insumos, o valor integrará seus custos e poderá compor a base de cálculo para apuração de créditos do PIS/COFINS, como procedeu o contribuinte. Em relação ao ICMS, também integrará o custo de aquisição dos insumos, uma vez que não foi cobrado pelo vendedor na condição de substituto tributário. 3) Notas Fiscais de Despesas de Energia Elétrica (Ficha 16A Linha 04 do DACON.. O valor total das despesas com energia elétrica discriminado na planilha apresentada pelo contribuinte confere com a linha 04 da Ficha 16A do DACON, fl. 645. Intimamos o contribuinte a apresentar todas as notas fiscais que deram suporte aos valores declarados. A nota fiscal mais representativa, no valor de R$ 185.401,73, foi de aquisição de energia elétrica da empresa Tractebel Energia Comercializadora Ltda. Pudemos verificar que a empresa descontou créditos de PIS/ COFINS sobre o valor total da nota, ou seja, R$ 185.401,73, quando o correto seria sobre o valor de R$ 131.635,23 (excluindose R$ 53.766,50 referente ao ICMS substituição), já que o ICMS integra o custo de aquisição dos insumos, exceto quando cobrado pelo vendedor na condição de substituto tributário. Outra irregularidade constatada, diz respeito às três últimas linhas da planilha elaborada, tendo em vista que o contribuinte informou que adquiriu energia elétrica de empresas que na verdade venderam artigos para laboratório e partes e peças de uma subestação composta por materiais diversos. As empresas em questão são a Merse Artigos para Laboratórios LTDA e a Weg Equipamentos Elétricos S.A, ou seja, não são empresas que tem como atividade a venda de energia elétrica. (GRIFOS ACRESCIDOS) A contribuinte, cientificada dessa Informação Fiscal, apresentou manifestação de inconformidade, por meio da qual roga mais uma vez pelo Princípio da Verdade Material, para que ele prevaleça sobre a formalidade e os erros de preenchimento da Fl. 1669DF CARF MF 8 DACON. E que os documentos contábeis e notas fiscais devem ser base da apuração da realidade, não se restringindo a apuração ao informado na DACON. Reconhece que cometeu equivoco ao relacionar notas fiscais com gastos que deveriam ser enquadrados como bens e serviços relativos a edificações (que compõem a planta industrial), ao invés de aquisição de máquinas e equipamentos. Mas ressalta que havia apresentado documentos que comprovam os gastos com edificações e o direito ao crédito, descontados na base de depreciação. A contribuinte acrescenta que lhe parece equivocada as glosas motivadas por notas fiscais não apresentadas e apresentadas em duplicidade, pois ao cotejar a relação da Informação Fiscal e os documentos tem como certo que essas notas foram apresentadas. Ela ainda explica que, com relação à exclusão pela autoridade fiscal do ICMS substituição nas despesas de energia elétrica, ela não pode ser mantida por que o ICMS substituição nessa despesa de energia elétrica não se confunde com o ICMS substituição de outros tipos de operação. In verbis: Dos créditos relacionados às despesas de energia elétrica Primeiramente, importante destacar que, assim como ocorre em todas as Unidades Federativas, ocorre o fato gerador do ICMS quando da entrada no território goiano de energia elétrica não destinada a comercialização ou industrialização, conforme o disposto no art. 4o §1º do Decreto 4.852/97. Vejamos: Art. 4º O ICMS tem como fato gerador a (Lei nº 11.651/91, art. 11 e 12): (...) # § 1º É, também, fato gerador do ICMS: () Ill a entrada, no território goiano, decorrente de operação interestadual, dos seguintes produtos, quando não destinados à comercialização ou à industrialização: (...) b) energia elétrica; Assim como nos casos de aquisição de mercadorias, produtos e serviços, os consumidores de energia elétrica possuem a liberalidade de realizar sua contratação junto às empresas geradoras, distribuidoras ou agente comercializador, ainda que a mesma não tenha sido gerada na Unidade Federativa de consumo. Desta forma, não se obrigam a consumir ou contratar energia elétrica da concessionária oficial, podendo recorrer ao mercado de contratação livre. Diante de tal fato, as Unidades Federativas, no intuito de garantir responsabilidade pelo recolhimento do ICMS incidente sobre o consumo de energia elétrica, celebraram o Convênio ICMS n° 83/00, por meio do qual atribuiuse ao estabelecimento gerador ou distribuidor, a obrigatoriedade de cumprir com a obrigação tributária principal (pagamento). Vejamos: CONVÊNIO ICMS 83/00 Dispõe sobre o regime de substituição tributária nas operações interestaduais com energia elétrica não destinada à comercialização ou à industrialização. (...) Cláusula primeira. Ficam os Estados e o Distrito Federal autorizados a atribuir ao estabelecimento gerador ou distribuidor, inclusive o agente comercializador de energia elétrica, situados em outras unidades federadas, a condição de substitutos tributários, relativamente ao ICMS Fl. 1670DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 6 9 incidente sobre a entrada, em seus territórios, de energia elétrica não destinada à comercialização ou à industrialização. Da detida análise de referido dispositivo legal, concluise que a modalidade de substituição tributária estabelecida no Convênio 83/00, nem de longe se amolda ao modelo relacionado à substituição tributária pelas operações posteriores, cuja metodologia visa recolher o ICMS devido pelo próximo da cadeia tributária, geralmente um estabelecimento varejista, que confere continuidade ao ciclo de circulação da mercadoria. A substituição tributária que ocorre com a energia elétrica, apenas e tão somente, atribui a responsabilidade ao gerador ou distribuidor, localizado em outra UF, pelo recolhimento do imposto devido por ele próprio, tanto que o Convênio ICMS 83/00 faz questão de mencionar "energia elétrica não destinada à comercialização ou industrialização". Ora, se o gerador ou distribuidor, é o responsável pelo recolhimento do ICMS incidente na energia elétrica consumida pelo contratante, não destinada a comercialização ou industrialização, por dedução lógica, a norma referese ao imposto devido pelo próprio gerador ou distribuidor, ou seja, o ICMS normal, que foi tratado como substituição tributária, pelo simples fato do estabelecimento fornecedor, não estar localizado na mesma UF de consumo. Caso o estabelecimento gerador ou distribuidor, localizarse na mesma UF de consumo da energia elétrica, o Convênio ICMS 83/00 não tem aplicação, pois neste caso, o estabelecimento fornecedor já recolheria o ICMS ao seu Estado, através da apuração do imposto em sua escrita fiscal. Tal fato ocorreu, durante certo período de tempo, nas operações de fornecimento de energia elétrica pela concessionária estatal Centrais Elétricas de Goiás S.A.CELG à Recorrente. Assim, nenhuma diferença há, quanto ao ICMS incidente, tanto em uma nota fiscal contratada da CELG, quanto da TRACTEBEL ENEGERGIA S.A. ou qualquer outra empresa fornecedora localizada em outra UF, visto que, o custo tributário foi integralmente suportado pela empresa contratante, a Recorrente no caso. Portanto, não se pode atribuir tratamento igualitário de conceito a modalidade de substituição tributária de ICMS nas operações com energia elétrica, nos termos do Convênio ICMS 83/00, com a modalidade de substituição tributária pelas operações posteriores, pelo simples fato de que a empresa adquirente, naquele caso, atua como consumidor final do produto em si, no caso, a energia elétrica. Desta forma, enseja o mesmo direito ao crédito de PIS/COFINS, sem a dedução do ICMS destacado no documento fiscal a título de substituição tributária, uma nota fiscal de contratação de energia elétrica adquirida de empresa localizada em outra UF, e uma nota fiscal emitida por outra empresa fornecedora, localizada no mesmo estado, pois em ambos os casos, tratase do imposto estadual incidente pelas operações próprias, perfazendo o custo final do produto. Com efeito, analisando a nota fiscal glosada pelo i. Auditor, verificase que caso seja aplicada a alíquota de ICMS prevista para a aquisição de energia elétrica sobre o valor da nota obterseá o valor idêntico ao destacado na nota fiscal no campo ICMS Fl. 1671DF CARF MF 10 "substituição". Esse fato denota que o ICMSST, no caso em tela, implica tão somente a transferência da responsabilidade pelo recolhimento do tributo. Logo, por esses motivos, merece reforma o Despacho Decisório ora combalido, a fim de que seja reconhecido o direito ao crédito de PIS descontado pela Recorrente sobre as operações de aquisição de energia elétrica realizada nos termos do Convênio ICMS n9 83/00, adotandose como base o valor integral da nota fiscal, considerando o valor destacado a título de ICMS substituição tributária. Outro aspecto que merece reforma é a glosa de itens adquiridos para composição de subestação de energia própria da Recorrente, sob o fundamento de que as empresas fornecedoras não tem como atividade a venda de energia elétrica. Ora, em que pese a mercadoria adquirida em referidos casos não se tratar de energia elétrica propriamente dita, tratamse de despesas relacionadas à energia elétrica, gerando igualmente o direito ao desconto do crédito de PIS sobre referidas operações. Com efeito, ainda que se desconsiderasse a natureza do crédito sobre referidas operações, ou seja, como não sendo vinculadas à despesa de energia elétrica, os valores despendidos pela Recorrente igualmente gerariam direito ao desconto do crédito na qualidade de bens destinados a composição do ativo imobilizado ou insumos na manutenção de máquinas e equipamentos, nos termos da Lei n9 10.637/02. Nesse sentido, eis o entendimento do CARF sobre a matéria: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep Período de apuração: 01/07/2003 a 30/09/2003 Ementa:.CRÉDITOS. INSUMOS. No cálculo do PIS NãoCumulativo podem ser descontados os créditos calculados em relação às partes e peças utilizados na manutenção de máquinas e equipamentos. COMBUSTÍVEIS E LUBRIFICANTES. Os combustíveis e lubrificantes usados diretamente na produção geram direito ao credito independente de exercerem ação direta sobre o produto em fabricação. LOCAÇÃO DE MAQUINAS E EQUIPAMENTOS.ÔNUS DA PROVA. Cabe a quem alega o direito comprovalo. Em virtude de falta de comprovação de que os valores deduzidos do PIS na sistemática não cumulativa referemse efetivamente a locação de maquinas e equipamentos usados no processo produtivo da empresa o direito não há de ser reconhecido. (Processo n9 10218.000489/200541, Data de Publicação: 09/08/2011, Contribuinte: COMPANHIA SIDERÚRGICA DO PARA COSIPAR, Relator(a): NAYRA BASTOS MANATTA) (grifo nosso) Dessa forma, resta evidente a materialidade do crédito incidente sobre as despesas de energia elétrica referentes a sua aquisição no mercado livre, sem o desconto do ICMS ST, bem como sobre os itens adquiridos com o objetivo de composição da subestação de energia própria da Recorrente É o relatório. Voto Conselheiro Eloy Eros da Silva Nogueira Fl. 1672DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 7 11 Tempestivo o recurso e atendidos os demais requisitos de admissibilidade. Preliminares Tempestividade e atendimento dos demais requisitos de admissibilidade aferidos na Resolução 3401000.222. Esposo o entendimento que dá as fundações e orienta o contido na Resolução acima citada, de que a administração pode agir e decidir sob o manto dos Princípios da eficiência, da finalidade, da verdade material e do informalismo moderado. Esses princípios justificariam a legalidade e a legitimidade de decisões que ultrapassariam os equívocos cometidos pelos contribuintes em suas obrigações acessórias e em suas petições. Há cabimento para que, em uma aproximação de boa fé e lealdade, a administração interpele por esclarecimentos quando se vê diante de incongruências e erros nas petições de contribuinte, e crie a oportunidade para eventuais saneamentos, se possíveis pelo que determina a lei. O fato desse processo estar submetido à apreciação deste Colegiado entrega a ele a competência para admitir a retificação das declarações fiscais quando se constata que elas trazem erros diante do que se apura na escrituração ou empíricamente na atividade da contribuinte. A Resolução não acolheu a motivação de glosa baseada unicamente no que constava nas DACONs, como consta do Despacho Decisório e nos Acórdão proferido pela 1ª instância. Ou seja, não se constituiria em fato intransponível para a verificação do direito a crédito estar a DACON com campos em branco ou preenchidos com zero, ou preenchidos com valores errados. Esse entendimento se consubstanciou naquela Resolução na decisão do colegiado para se verificar a procedência do crédito, aproveitando tudo o que consta do processo e outros que entender necessários. Ora, a autoridade fiscal adotou o critério de prevalência do contido na DACON em detrimento dos documentos apresentados pela contribuinte em resposta á sua Intimação. A meu julgar, a adoção desse critério afastouse do entendimento nuclear da Resolução. No encontro de documentos contábeis e notas fiscais com as DACONS, deve prevalecer a Verdade Material sobre a formalidade. Se comprovadas a materialidade e a procedência dos gastos e depreciações, e o seu enquadramento nas prescrições da legislação que disciplina os créditos do PIS e da COFINS, eles deve justificar o reconhecimento do direito a crédito, mesmo que se constate erros no preenchimento de declarações fiscais e na escrituração. Por isso proponho a este Colegiado reafirmar a Resolução anterior e converter esse julgamento em diligência para: Fl. 1673DF CARF MF 12 · informar os gastos (e notas fiscais) com bens e serviços relativos às edificações e planta da atividade de produção da contribuinte; informar e segregar outros tipos de gastos; · No item anterior, para cada um dos tipos de gastos, informar a procedência dos gastos e informar as razões para a glosa ou para a não glosa; · Repetir os dois itens anteriores com relação aos gastos relativos à aquisição de bens ou serviços procedentes do exterior; · Revisar as glosas baseadas na motivação de falta de apresentação de notas fiscais e duplicidade de notas fiscais, tendo em vista a consideração feita pela contribuinte; Entretanto, na sessão de junho de 2016, por maioria de votos, esta proposta de conversão do julgamento em diligência não foi aprovada; e nessa ocasião o processo saiu de julgamento com vistas para o Conselheiro Júlio César Alves Ramos. Nas sessões seguintes ele permaneceu na pauta, mas não foi julgado por falta de tempo. Na sessão de hoje, prosseguimos a apreciação do contraditório. Mérito Sobre as bases e critérios da apuração A diligência proposta foi vencida, pois o colegiado a entendeu desnecessária, sendo possível prosseguir o julgamento sem ela. Retomo os argumentos ali constantes para que eles passem a compor este voto, os quais submeto a este colegiado, não mais para a diligência, mas para apreciar o mérito da lide. Reafirmo o entendimento que deu as fundações e orientou o contido na Resolução acima citada, de que a administração pode agir e decidir sob o manto dos Princípios da eficiência, da finalidade, da verdade material e do informalismo moderado. Esses princípios justificam a legalidade e a legitimidade de decisões que ultrapassam os equívocos cometidos pelos contribuintes em suas obrigações acessórias e em suas petições. Sob o manto constitucional e da legislação processual que albergam a boa fé e a lealdade, pode a administração interpelar por esclarecimentos quando se vê diante de incongruências e erros nas petições de contribuinte, e criar a oportunidade para eventuais saneamentos, se possíveis pelo que determina a lei. O fato desse processo estar submetido à apreciação deste Colegiado entregou a ele a competência para admitir a retificação das declarações fiscais quando se constata que elas trazem erros diante do que se apura na escrituração ou empíricamente na atividade da contribuinte. A Resolução não acolheu a motivação de glosa baseada unicamente no que constava nas DACONs, como consta do Despacho Decisório e nos Acórdão proferido pela 1ª instância. Ou seja, não se constituiria em fato intransponível para a verificação do direito a crédito estar a DACON com campos em branco ou preenchidos com zero, ou preenchidos com Fl. 1674DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 8 13 valores errados. Esse entendimento se consubstanciou naquela Resolução na decisão do colegiado para se verificar a procedência do crédito, aproveitando tudo o que consta do processo e outros que entender necessários. A autoridade fiscal adotou o critério de prevalência do contido na DACON em detrimento dos documentos apresentados pela contribuinte em resposta á sua Intimação. A meu julgar, a adoção desse critério afastouse do entendimento nuclear da Resolução. Por isso proponho a este Colegiado, como havia explicado na sessão de junho de 2016 e mantenho nesta sessão, que, no encontro de documentos contábeis e notas fiscais com as DACONS, deve prevalecer a Verdade Material sobre a formalidade. Se comprovadas a materialidade e a procedência das receitas e dos gastos e depreciações, e o seu enquadramento nas prescrições da legislação que disciplina os créditos do PIS e da COFINS, eles devem justificar o reconhecimento do direito a crédito, mesmo que se constate erros no preenchimento de declarações fiscais e na escrituração. Sobre as glosas Primeiramente apresento a este Colegiado o entendimento que baliza minha proposição de apuração de créditos e que passa pelo conceito de insumos, na apuração do PIS e da COFINS previstos na Lei 10.637/2002 e 10.833/2003. Considerações preliminares para o conceito de insumo ao caso O sentido de não cumulatividade para o PIS e para a COFINS e a lógica básica para sua apuração A Constituição Federal, em seu artigo 195, estabeleceu contribuições incidentes sobre as receitas ou faturamento do empregador, da empresa ou de entidade equiparada na forma da lei, cuja arrecadação desse tributo se constituiria em recursos a serem destinados a financiar a seguridade social. Ela, em seu § 12, atribuiu ao legislador ordinário a competência para a criação e o disciplinamento do regime de não cumulatividade dessas contribuições. A Constituição Federal cria a incidência desses tributos sobre a receita ou a faturamento. Mas, são as Leis n.º 10.637, de 2002, e n.º 10.833, de 2003 que trazem elementos para definir as hipóteses de incidência e as de exclusão ou isenção. Além disso, essas leis, regulam o PIS e a COFINS e pretendem vir ao encontro daquela previsão constitucional de um regime de não cumulatividade. Nesse sentido, elas trazem as regras para a determinação do valor devido dessas contribuições, e, para tanto, prevêem que o cálculo considere a redução por créditos apurados para fatores que concorreram para a obtenção dessa receita ou faturamento. A regra da não cumulatividade estatuída pelo inciso II, § 3º do artigo 153 da CF/1988 para o IPI não corresponde ao regime de não cumulatividade previsto pelo § 12 do artigo 195 da mesma CF. E mesmo as regras das Leis acima citadas, que se apresentam como sob o manto desse regime de não cumulatividade, não correspondem à lógica e regime previsto para o IPI. Mas o uso da mesma expressão pareceme pode causar confusão para os neófitos da matéria. Por isso propugno seja o regime de não cumulatividade do PIS e da COFINS considerado um regime próprio e distinto daquele reservado ao IPI. Fl. 1675DF CARF MF 14 Para disciplinar o creditamento, que abate o valor devido, essas leis informam e disciplinam o creditamento para, por dedução ou abatimento, se determinar o valor devido dessas contribuições. O creditamento assim estabelecido pretende atender ao regime de não cumulatividade previsto na Constituição Federal e criado através das Leis aqui citadas. E, até o momento, este é um ponto central em minha compreensão a respeito dessa matéria: · a materialidade desse tributo está na receita tributável; · a materialidade da não cumulatividade está na relação de dependência da receita tributável para com a ocorrência do fator previsto em lei qual seja, corresponda à uma das hipóteses dos §§ e incisos do artigo 3º da Lei em tela; logo, o direito de creditamento está reservado para os fatores em que esteja demonstrado ser ele necessário para a geração da receita tributável. Apesar de mal traçadas, essas breves considerações representam, a meu ver, a lógica da não cumulatividade do PIS e da COFINS expressa na leitura conjugada dos artigos dessas Leis. Não faz sentido que se possa gerar creditamento a partir da ocorrência de fatores que não tenham relação de causação ou de concorrência para com a geração da receita a ser tributada. Contradiz essa lógica ler os incisos e §§ do artigo 3º desconectados dos demais artigos da mesma Lei, principalmente os artigos 1º e 2º. Pressupostos para interpretar e identificar os insumos e demais fatores para o creditamento do PIS e da COFINS: Além dessas considerações gerais, ainda preciso me aproximar de outro aspecto central da matéria: a referência a insumo constante nessas leis. Grande controvérsia se instalou a respeito desse creditamento, especialmente quanto ao inciso II, que traz o seguinte texto: II bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes, exceto em relação ao pagamento de que trata o art. 2º da Lei nº10.485, de 3 de julho de 2002, devido pelo fabricante ou importador, ao concessionário, pela intermediação ou entrega dos veículos classificados nas posições 87.03 e 87.04 da TIPI; (Redação dada pela Lei nº 10.865, de 2004) Principalmente os debates se centram na definição de insumos para efeito dessa regra. Os estudiosos sintetizam relatando a existência de três correntes de interpretação e decisão: 1. a primeira que se utiliza dos conceitos e definições proporcionadas pela legislação do IPI, e constantes nas Instruções Normativas da Receita Federal que tratam do PIS e da COFINS, e circunscrevem insumos a matérias primas, produtos intermediário e material de embalagem; 2. a segunda que se utiliza dos conceitos e definições proporcionadas pela legislação do Imposto de Renda, e identificam e separam os custos e despesas das operações e os custos e despesas não operacionais; insumos seriam toda e qualquer custo ou despesa operacional da pessoa jurídica; Fl. 1676DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 9 15 3. a terceira que entende que o PIS e a COFINS deve se pautar por conceitos e definições próprias, que acaba por se afastar da visão estreita da primeira e, também, da visão alargada da segunda. As duas primeiras perspectivas, (1º) para se tratar insumos no PIS e na COFINS a partir da legislação do IPI, malgrado ser a esposada pela Receita Federal em suas normativas, e (2ª) a que se alinha com a legislação do Imposto de Renda, vêm sendo questionadas recorrentemente. Decisões proferidas nas altas cortes administrativas vêm assentando o entendimento da 3ª perspectiva, de que o PIS e a COFINS demandam critérios próprios. Dentre essa decisões destaco o bem fundamentado voto do Ilmo Conselheiro Henrique Pinheiro Torres na Câmara Superior de Recursos Fiscais no Acórdão n.º 930301.035: A questão que se apresenta a debate diz respeito à possibilidade ou não de se apropriar como crédito de Pis/Pasep dos valores relativos a custos com combustíveis, lubrificantes e com a remoção de resíduos industriais. O deslinde está em se definir o alcance do termo insumo, trazido no inciso II do art. 3º da Lei 10.637/2002. A Secretaria da Receita Federal do Brasil estendeu o alcance do termo insumo, previsto na legislação do IPI (o conceito trazido no Parecer Normativo CST n° 65/79), para o PIS/Pasep e a para a Cofins não cumulativos. A meu sentir, o alcance dado ao termo insumo, pela legislação do IPI não é o mesmo que foi dado pela legislação dessas contribuições. No âmbito desse imposto, o conceito de insumo restringe se ao de matériaprima, produto intermediário e de material de embalagem, já na seara das contribuições, houve um alargamento, que inclui até prestação de serviços, o que demonstra que o conceito de insumo aplicado na legislação do IPI não tem o mesmo alcance do aplicado nessas contribuições. Neste ponto, socorrome dos sempre precisos ensinamentos do Conselheiro Julio César Alves Ramos, em minuta de voto referente ao Processo n° 13974.000199/2003 61, que, com as honras costumeiras, transcrevo excerto linhas abaixo: Destarte, aplicada a legislação do ao caso concreto, tudo o que restaria seria a confirmação da decisão recorrida. Isso a meu ver, porém, não basta. É que, definitivamente, não considero que se deva adotar o conceito de industrialização aplicável ao IPI, assim como tampouco considero assimilável a restritiva noção de matérias primas, produtos intermediários e material de embalagem lá prevista para o estabelecimento do conceito de ‘insumos’ aqui referido. A primeira e mais óbvia razão está na completa ausência de remissão àquela legislação na Lei 10.637. Em segundo lugar, ao usar a expressão ‘insumos’, claramente estava o legislador do PIS ampliando aquele conceito, tanto que ai incluiu ‘serviços’, de nenhum modo enquadráveis como matérias primas, produtos intermediários ou material de embalagem. Fl. 1677DF CARF MF 16 Ora, uma simples leitura do artigo 3º da Lei 10.637/2002 é suficiente para verificar que o legislador não restringiu a apropriação de créditos de Pis/Pasep aos parâmetros adotados no creditamento de IPI. No inciso II desse artigo, como asseverou o insigne conselheiro, o legislador incluiu no conceito de insumos os serviços contratados pela pessoa jurídica. Esse dispositivo legal também considerou como insumo combustíveis e lubrificantes, o que, no âmbito do IPI, seria um verdadeiro sacrilégio. Mas as diferenças não param aí, nos incisos seguintes, permitiuse o creditamento de aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa jurídica, utilizados nas atividades da empresa, máquinas e equipamentos adquiridos para utilização na fabricação de produtos destinados à venda, bem como a outros bens incorporados ao ativo imobilizado etc. Isso denota que o legislador não quis restringir o creditamento do Pis/Pasep as aquisições de matériasprimas, produtos intermediários e ou material de embalagens (alcance de insumos na legislação do IPI) utilizados, diretamente, na produção industrial, ao contrario, ampliou de modo a considerar insumos como sendo os gastos gerais que a pessoa jurídica precisa incorrer na produção de bens ou serviços por ela realizada. As condições para fruição dos créditos acima mencionados encontram se reguladas nos parágrafos desse artigo. Voltando ao caso dos autos, os gastos com aquisição de combustíveis e com lubrificantes, junto à pessoa jurídica domiciliada no pais, bem como as despesas havidas com a remoção de resíduos industriais, pagas a pessoa jurídica nacional prestadora de serviços, geram direito a créditos de Pis/Pasep, nos termos do art. 3º transcrito linhas acima. Com essas considerações, voto no sentido de negar provimento ao recurso apresentado pela Fazenda Nacional.. Por causa dessas considerações que entendo: (a) não se poder limitar o creditamento aos conceitos e critério advindos da legislação do IPI. Os insumos não se limitam às matérias primas, aos produtos intermediários e aos materiais de embalagem, e não se limitam à avaliação pela aplicação do critério de consumo/desgaste físico. Essa limitação não encontra sustentação no que dispôs a Constituição Federal e as Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003 sobre a matéria; (b) não se pode acriticamente transpor para o creditamento do PIS e da COFINS os conceitos e regras da legislação do Imposto de Renda, pois, além de serem de materialidades distintas, essa legislação não se destina a tratar a hipótese de incidência do tributo contemplando a unidade de análise representada pela relação "insumoprocesso produto/serviço destinados a venda", como é o caso do PIS e da COFINS. A meu ver, essas duas leis informam que dão direito a crédito os bens e serviços, utilizados como insumos na prestação de serviços e na produção de bens ou produtos destinados a venda. Quando designam insumos, tenho como certo que se referem a fatores de produção, os fatores necessários para que os serviços possam estar em condições de serem prestados ou para que os bens e produtos possam ser obtidos em condições de serem destinados a venda. E quando afirmam que são os utilizados na prestação de serviços e na produção, depreendo que: são os utilizados na ação de prestar serviços ou na ação de produzir ou na ação de fabricar. Para se decidir que um bem ou serviço possa gerar crédito com relação a determinada receita tributada, há que se perquirir em que medida esse bem ou serviço é Fl. 1678DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 10 17 fator necessário para a prestação do serviço ou para o processo de produção do produto ou bem destinado a venda, e geradores, em última instância, da receita tributada. A meu sentir, não é o caso de restringir a que o bem ou serviço tenha sido utilizado como insumo do próprio produto a ser vendido ou do próprio serviço; ou que ele seja adstrito pelo principio do contato físico, ou do desgaste ou transformação. Embora o serviço prestado ou o produto vendido seja o alfa da obtenção da receita a ser tributada, a lei indica que o bem ou o serviço utilizado como insumo alcança a atividade de prestação do serviço ou a atividade de produção, direta ou indiretamente quanto ao produto vendido. Essa visão conjuga o "processo" e o "produto/serviço resultante do processo". Mas esses processos devem estar inequivocamente ligados ao serviço prestado ou ligados ao produto vendido. Para se justificar o creditamento, não basta demonstrar que os bens e serviços concorreram para o processo de produção, ou de fabricação, ou de prestação do serviço, mas é necessário em adição demonstrar para qual produto ou serviço aqueles fatores de produção ou insumos concorreram. Concluídas essas considerações introdutórias, sintome em condições de propor passar à análise das questões de mérito. Das glosas dos bens utilizados como insumos e dos gastos com bens, serviços e outros fatores aplicados no processo de produção: A recorrente é uma empresa de extração e produção de bens minerais. Da análise do exposto anteriormente, considero que podem gerar direito a crédito na apuração das contribuições sociais os gastos com e os bens e serviços adquiridos de pessoas jurídicas domiciliadas no País, aplicados ou consumidos no processo de produção do qual resultam, principalmente, bens de consumo, destinado ao comércio, ou para serem usadas em novo processo de transformação, ou para serem usados nos processos de prestação de serviços, ou para serem usados no processo de revenda, observados os limites e as condições dadas pela lei. Também entendo que o termo "insumo" não pode ser interpretado como todo e qualquer bem ou serviço que gera despesa necessária para a atividade da empresa, mas, sim, tãosomente, como aqueles bens e serviços que, adquiridos de pessoa jurídica, efetivamente sejam aplicados ou consumidos nesses processos. E, ainda, em se tratando de aquisição de bens, estes não poderão estar incluídos no ativo imobilizado da empresa. Mas os dispositivos legais que estabelecem o PIS e a COFINS não invocaram a legislação do IPI ou do IRPJ para subsidiar a determinação do direito de creditamento. Por todas essas considerações feitas, proponho que não deve prevalecer a motivação da autoridade fiscal quando ela aplica apenas os conceitos da legislação do IPI para justificar as glosas. Nesse sentido, as possibilidades para se caracterizar insumos não se limitam a: Fl. 1679DF CARF MF 18 · quando se tratar de matériaprima, produto intermediário ou material de embalagem, bens esses que efetivamente compõem ou se agregam ao bem final da etapa de industrialização; · quando se tratar de outros bens quaisquer, os quais não se agregam ao bem final, desde que sofram alterações, como desgaste, dano ou perda de propriedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o produto em industrialização. · aos bens obtidos por processo industrial. No caso em discussão neste processo, há que se identificar que despesas e custos se referem aos fatores que se ligam comprovadamente ao processo de produção, de prestação de serviços e de revenda. As informações presentes neste processo, a meu ver, permitem que formemos convicção a esse respeito. Por isso entendo que as etapas de preparação material da planta para acesso, extração e obtenção dos recursos e insumos minerais, bem como as atividades de acesso, extração, movimentação e tratamento dos minerais assim obtidos, constituem parte do processo de produção para fins de apuração dos créditos dessas contribuições sociais. Por isso, considero que os gastos com explosivos, detonadores, bolas de moinho, xantato e biodiesel podem ser considerados insumos a justificar os créditos na apuração dos PIS e da COFINS, em análise neste processo. Além disso, os gastos com bens e serviços com as atividades de acesso, extração, transporte e tratamento dos recursos minerais podem ser considerados como necessários ao processo de produção e justificam os créditos em discussão. Ademais, também justificam esses créditos os gastos com preparo e manutenção da planta e das edificações, calculados sob a forma de depreciação. Por isso, e respeitando as definições postas neste voto, creio que não devem ser mantidas as glosas referentes aos pagamentos por serviços de execução de obras, desmatamentos, terraplanagem, remoção de solo, nivelamento de terreno, extração de cascalho, serviços de roçada, treinamento para operação de máquinas, transportes, pagamentos relativos à locação de galpões, entre outros itens, e os créditos devem ser calculados consoante sejam eles relativos a edificações, ou sejam eles considerados serviços ou bens adquiridos necessários ao processo de produção, ou a aluguéis de equipamentos ou edificações, etc. Concordo com os argumentos da defesa e também entendo que a razão assiste à recorrente no que concerne á diferença entre o ICMS substituição tributária no tipo de obrigação de despesa com energia elétrica deste caso, com o ICMS substituição usual, pois temos aqui a empresa como consumidora final, não havendo possibilidade de repasse. A apuração do valor de crédito deve aproveitar todas as notas fiscais e demais documentos juntados pela contribuinte nestes autos, inclusive após a apresentação do recurso voluntário, desde que atendam ao decidido neste Acórdão e às leis que disciplinam a matéria. As demais glosas devem ser mantidas pelo fato da contribuinte não as ter contestado. É como voto. Fl. 1680DF CARF MF Processo nº 13116.000674/200733 Acórdão n.º 3401003.434 S3C4T1 Fl. 11 19 Conselheiro Eloy Eros da Silva Nogueira Relator Fl. 1681DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 15224.001313/2006-21
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Terceira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Apr 25 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu May 11 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Data do fato gerador: 24/07/2006
IMPORTAÇÃO. EXTRAVIO DE MERCADORIAS. INOCORRÊNCIA. CONFIRMAÇÃO DE RECEBIMENTO IMPORTADOR.
Confirmado, através de realização de diligência, que o importador da mercadoria recebeu integralmente os volumes supostamente faltantes, mostra-se infundada a exigência de multa pelo extravio dessas mesmas mercadorias e demais tributos devidos na operação, com responsabilização do transportador pela infração.
Recurso voluntário provido.
Numero da decisão: 3401-003.502
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário apresentado.
Rosaldo Trevisan Presidente
Robson José Bayerl Relator
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Robson José Bayerl, Rosaldo Trevisan, Augusto Fiel Jorge DOliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco.
Nome do relator: ROBSON JOSE BAYERL
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EXTRAVIO DE MERCADORIAS. INOCORRÊNCIA. CONFIRMAÇÃO DE RECEBIMENTO IMPORTADOR. Confirmado, através de realização de diligência, que o importador da mercadoria recebeu integralmente os volumes supostamente faltantes, mostrase infundada a exigência de multa pelo extravio dessas mesmas mercadorias e demais tributos devidos na operação, com responsabilização do transportador pela infração. Recurso voluntário provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do Colegiado, por unanimidade de votos, dar provimento ao recurso voluntário apresentado. Rosaldo Trevisan – Presidente Robson José Bayerl – Relator Participaram do presente julgamento os Conselheiros Robson José Bayerl, Rosaldo Trevisan, Augusto Fiel Jorge D’Oliveira, Eloy Eros da Silva Nogueira, André Henrique Lemos, Fenelon Moscoso de Almeida, Tiago Guerra Machado e Leonardo Ogassawara de Araújo Branco. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 22 4. 00 13 13 /2 00 6- 21Fl. 274DF CARF MF 2 Relatório Cuidase de auto de infração para exigência dos tributos e multas devidos pelo extravio de mercadoria apurado em procedimento de Vistoria Aduaneira, cuja descrição dos fatos tomo por empréstimo da decisão de piso, verbis: “Na descrição dos fatos (fl. 03), o autuante informa que a empresa Placibrás da Amazônia Ltda solicitou à fiscalização aduaneira, por meio do processo administrativo nº 15224.000987/200617, a realização de Vistoria Aduaneira referente à carga amparada pelo conhecimento aéreo 549116045044150140117, que, por ocasião do armazenamento, havia sido registrada pelo depositário no Sistema Integrado de Gerência do Manifesto, do Trânsito e do Armazenamento (Mantra), com indisponibilidade 22 – divergência de peso e avaria "C" amassado, informação avalizada pelo transportador na ocasião, e que os registros do peso bruto da mercadoria feitos no mesmo sistema pelo transportador e depositário são divergentes, o primeiro informou 134,5 kg, conforme o constante no conhecimento aéreo, enquanto o segundo informou 8,5 kg. O fiscal ainda narra que em 24/07/06 compareceram os representantes do importador, do transportador e do depositário à conferência do volume armazenado na Infraero e que foi constatado que ele encontravase levemente amassado, sendo, ainda, apurada a falta de 4.640 unidades de processadores P42.80 GHz, classificados no código 8542.21.22 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).” Em impugnação o contribuinte argumentou, em breve resumo, que não houve extravio, mas sim embarque parcial da mercadoria descrita, o que justificaria a grande diferença de peso, tendo transportado exatamente o que recebera para despacho. A DRJ Fortaleza/CE julgou improcedente a impugnação mediante decisão assim ementada: “TRIBUTOS INCIDENTES NA IMPORTAÇÃO. RESPONSABILIDADE POR EXTRAVIO. O responsável pelo extravio, identificado pela autoridade aduaneira em regular procedimento formal, deve indenizar a Fazenda Nacional do valor dos tributos que, em consequência, deixarem de ser recolhidos, sendo que, para efeitos fiscais, os transportadores respondem pelo conteúdo dos volumes quando forem descarregados com peso ou dimensão inferior ao manifesto ou documento de efeito equivalente, ou ainda do conhecimento de carga.” Em recurso voluntário o contribuinte sustentou a presunção de extravio, ressaltando que houve equívoco ao registrar a carga que deixou de ser transportada; que deveria ser aplicada a multa prevista no art. 107, IV, “e” do DL 37/66; que não houve apuração adequada do extravio, ante a documentação acostada; que não ocorreu o fato gerador dos tributos ou da multa, ante a ausência de extravio; que não teria sido apurada a responsabilidade do recorrente pelo extravio das mercadorias; e, que não houve concretização do suporte fático necessário à incidência tributária. Fl. 275DF CARF MF Processo nº 15224.001313/200621 Acórdão n.º 3401003.502 S3C4T1 Fl. 11 3 Em 15/03/2016, através da Resolução nº 3401000.921, o julgamento foi convertido em diligência objetivando, dentre outros questionamentos, verificar se houve, de fato, embarque parcial e se o importador recebera a integralidade das mercadorias importadas. Cumprida a diligência, retornam os autos para prosseguimento. É o relatório. Voto Conselheiro Robson José Bayerl, Relator Os requisitos de admissibilidade já foram examinados por ocasião da primeira oportunidade de pauta do processo. Segundo consta do relatório de autuação, a infração verificada consistiria no extravio de 4.640 (quatro mil, seiscentas e quarenta) unidades de processador P4 2,80 GHz, de um total de 5.000 (cinco mil) unidades importadas pela pessoa jurídica PLACIBRAS DA AMAZÔNIA LTDA., solicitante do procedimento de vistoria aduaneira, cujo transporte foi realizado pela ora recorrente, ABSA – AEROLINHAS BRASILEIRAS S/A, através do conhecimento aéreo 549116045044150140117. O procedimento de diligência consistiu na intimação dos envolvidos na operação, a saber, transportador, expedidor e importador, para se pronunciar a respeito dos questionamentos aviados por esta turma julgadora. O transportador respondeu que seria imprescindível a intimação do importador para se manifestar sobre o recebimento, ou não, das mercadorias, em tese, extraviadas (fls. 183/185). O agente de cargas informou desconhecer que os volumes tivessem “sido embarcados e encontrados em outro vôo, cuidandose, efetivamente, de caso de extravio” (fl. 234). O importador, por sua vez, PLACIBRAS DA AMAZÔNIA S/A, após alguma dificuldade para intimação, atestou a importação da mercadoria, seu desembaraço através da DI 06/0953754 e a emissão da nota fiscal de entrada correspondente. (fls. 197/198). Examinando a declaração de importação em referência, registrada em 11/08/2006, verifico que o conhecimento aéreo lá indicado confere com aquele informado no relatório fiscal de autuação, MAWB 54911604504 HAWB 4150140117. Neste mesmo documento há referência ao Termo de Vistoria SAOPE nº 021/2006, que instrui o presente processo, como fundamento para exigência dos tributos e multas. A mercadoria descrita na DI corresponde a “circuito integrado monolítico digital, montado, SMD, microprocessador: **SUFRAMA** circuito interno tipo Intel P4, 2,80 GHz, 1mbyte 533 Mhz 478, Prescott, SMD, microprocessador”, na quantidade de 5.000 (cinco Fl. 276DF CARF MF 4 mil) unidades, no valor de US$ 365.000,00 (trezentos e sessenta e cinco mil dólares norte americanos), conforme documento de fls. 227/230. A nota fiscal de entrada nº 000236 (fl. 232), emitida em 01/09/2006, vinculada à DI 06/09537541, de 11/08/2006, registra a entrada de 5.000 (cinco mil) unidades de circuito integrado monolítico, no valor de R$ 799.272,34 (setecentos e noventa e nove mil, duzentos e setenta e dois reais, trinta e quatro centavos). Como se verifica dos documentos arrolados, ainda que a diligência não tenha sido integralmente cumprida, faltando um relatório circunstanciado confeccionado pelos agentes fiscais responsáveis pelo procedimento, a partir desse acervo, é possível atestar que a mercadoria importada e objeto de vistoria aduaneira, 5.000 (cinco mil) unidades de “processadores P4 2,80 GHz, foi recebida, desembaraçada e recepcionada em seu estabelecimento pelo importador. Assim, uma vez confirmado por via documental o recebimento integral da mercadoria pelo importador, ainda que não tenha sido possível identificar as falhas de controle de armazenamento de mercadorias importadas, mostrase infundada a alegação de extravio de 4.640 (quatro mil, seiscentas e quarenta) unidades de microprocessadores, como consta da acusação fiscal, a justificar a exigência de multa, IPI, PIS/Pasep e Cofins e respectivos consectários, sobre estas mercadorias. Ausente suporte fático à infração, impossível a manutenção do lançamento na forma em que lavrado, razão pela qual deve ser tornado insubsistente. Com estas considerações, voto por dar provimento ao recurso voluntário. Robson José Bayerl Fl. 277DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11971.001634/2007-01
Turma: Terceira Turma Especial da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 03 00:00:00 UTC 2011
Ementa: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO
Ano calendário:2005
DENÚNCIA ESPONTÂNEA. MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DE DECLARAÇÃO.
A denúncia espontânea (art. 138 do Código Tributário Nacional) não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração (Súmula Carf nº49).
ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI.
O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula Carf nº2).
Numero da decisão: 1803-001.015
Decisão: ACORDAM os membros da 3ª Turma Especial da Primeira Seção de
Julgamento, NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado.
Nome do relator: Sérgio Luiz Bezerra Presta
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ementa_s : NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Ano calendário:2005 DENÚNCIA ESPONTÂNEA. MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DE DECLARAÇÃO. A denúncia espontânea (art. 138 do Código Tributário Nacional) não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração (Súmula Carf nº49). ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula Carf nº2).
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MULTA POR ATRASO NA ENTREGA DE DECLARAÇÃO. A denúncia espontânea (art. 138 do Código Tributário Nacional) não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração (Súmula Carf nº 49). ALEGAÇÕES DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária (Súmula Carf nº 2). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. ACORDAM os membros da 3ª Turma Especial da Primeira Seção de Julgamento, NEGAR PROVIMENTO ao recurso voluntário, nos termos do relatório e voto que passam a integrar o presente julgado. (assinado digitalmente) Selene Ferreira de Moraes Presidente (assinado digitalmente) Sergio Luiz Bezerra Presta Relator Fl. 109DF CARF MF Emitido em 12/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/10/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 03/1 0/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 12/10/2011 por SELENE FERREIRA DE MO RAES Processo nº 11971.001634/200701 Acórdão n.º 180301.015 S1TE03 Fl. 110 2 Participaram do presente julgamento os Conselheiros Selene Ferreira de Moraes, Meigan Sack Rodrigues, Walter Adolfo Maresch, Victor Humberto da Silva Maizman, Sérgio Rodrigues Mendes e Sérgio Luiz Bezerra Presta. Relatório Por bem descrever os fatos relativos ao contencioso, adoto o relato do órgão julgador de primeira instância até aquela fase: “Tratase de Auto de Infração, ã II. 21, lavrado contra a contribuinte acima identificada, por meio do qual é exigido o valor R$ 54.900,38, a titulo de "Multa por Atraso na Entrega da Declaração de Débitos e Créditos Federais — DCTF". relativamente ao ano calendário de 2005. Inconformada com a exigência, a contribuinte apresenta sua impugnação, as fls. 01 a 20, mediante a qual alega o seguinte: Cita a contribuinte o art. 7° da Lei no 10.426/2002 e afirma que a aplicação da multa em percentual sobre o montante dos tributos informados na DCTF torna a penalidade, da mesma infração, variável, na qual não leva em consideração a gravidade da infração. A impugnante passa a teorizar a respeita da obrigação tributária principal e acessória, com diversas citações de doutrinadores. Afirma que para ser exigida uma obrigação acessória deve estar relacionada ao “interesse da arrecadação ou fiscalização”, sem o qual torna esta obrigação sem aparo legal. No caso concreto, afirma que a entrega da DCTF não tem qualquer relação com o recolhimento do tributo. O lançamento é atividade da administração e não do contribuinte. Esta penalidade da forma aplicada provoca desigualdade entre os contribuintes. Alega, através de exemplos, que o atraso na entrega da DCTF, em muitos casos, terá multa mais agravada que mesmo o atraso no pagamento do tributo devido. Assim, conclui que a sanção imposta fere o principio da isonomia. Ainda, alega que o tratamento conferido pela legislação não é proporcional e nem razoável. Passa a explicar os princípios razoabilidade da proporcionalidade. Conclui que a legislação que impõem a aplicação de muita excessiva é inconstitucional. Passa a atribuir o caráter confiscatório a multa aplicada. O valor da multa transformou num verdadeiro adicional do tributo. Ainda como argumento cita o principio da capacidade contributiva e que seu cumprimento visa frear a ação da administração. Finaliza requerendo o cancelamento da multa aplicada.” A 4ª Turma da DRJ/RECIFE–PE, em sessão de 13 de outubro de 2010, ao analisar a peça impugnatória apresentada, proferiu o acórdão n° 1131.467 onde decidiu “por unanimidade de votos, julgar improcedente a impugnação, mantendo o crédito tributário exigido”, sob argumentos assim ementados: Fl. 110DF CARF MF Emitido em 12/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/10/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 03/1 0/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 12/10/2011 por SELENE FERREIRA DE MO RAES Processo nº 11971.001634/200701 Acórdão n.º 180301.015 S1TE03 Fl. 111 3 “ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Anocalendário: 2005 Ilegalidade das Leis e dos Atos Normativos Tributários Observância do Entendimento da SRF. A discussão sobre legalidade das leis e dos atos normativos tributários matéria reservada ao Poder Judiciário. A autoridade administrativa compete constituir o crédito tributário pelo lançamento, sendo este vinculado e obrigatório sob pena de responsabilidade funcional, enquanto o julgador deve observar o entendimento da SRF expresso em atos tributários. Impugnação Improcedente Crédito Tributário Mantido” Cientificado da decisão em 22/01/2011 (sábado), a Recorrente protocolou, em 23/02/2011 (quartafeira), recurso voluntário a este Conselho, onde manteve os mesmos argumentos da peça impugnatória apresentada. É o relatório do essencial. Voto Conselheiro Sérgio Luiz Bezerra Presta, Relator O presente recurso é tempestivo, além de atender aos pressupostos legais para seu seguimento. Por essa razão dele conheço. Observando tudo que consta nos autos, não posso concordar com a tese apresentada pela Recorrente (tanto na impugnação quanto no recurso voluntário), tendo em vista que a penalidade tributária decorre da aplicação de multa por atraso na entrega da DCTF relativa ao ano calendário de 2006; multa esta que foi imputada à Recorrente por força das determinações constantes do Art. 7° da Lei n° 10.426/2002 e que pode ser observada na forma esquemática a seguir transcrita: A B C D 1 O sujeito passivo que deixar de apresentar: Declaração de Informações Econômico Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ); Declaração de Débitos e Créditos Tributários (DCTF); Declaração Simplificada da Pessoa Jurídica e Declaração de Imposto de Será intimado a apresentar a declaração original, no caso de não apresentação Sujeitarseá às seguintes multas I – de 2% por mês calendário ou fração incidente sobre o montante do imposto de renda da pessoa jurídica informado na DIPJ, ainda que integralmente pago, no caso de falta de entrega da declaração, ou entrega após o prazo, limitada a 20%. II – de 2% no mês calendário ou fração incidente sobre o Fl. 111DF CARF MF Emitido em 12/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/10/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 03/1 0/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 12/10/2011 por SELENE FERREIRA DE MO RAES Processo nº 11971.001634/200701 Acórdão n.º 180301.015 S1TE03 Fl. 112 4 Renda Retido na Fonte (DIRF), nos prazos fixados montante de tributos e contribuições informados na DCTF, na Declaração Simplificada da Pessoa Jurídica ou na DIRF, ainda que integralmente pago, no caso de falta de entrega destas Declarações ou entrega após o prazo, limitada a 20%. 2 Ou que as apresentar com incorreções ou omissões Ou a prestar esclarecimentos nos demais casos, no prazo estipulado pela Receita Federal do Brasil III – de R$ 20,00 para cada grupo de 10 informações incorretas ou omitidas. Observando a planilha acima, atentese que a coluna C (“sujeitarseá às seguintes multas”) é ligada pela conjunção “e” (e não “ou”), o que obriga sempre A na aplicação de multa por atraso na entrega ou com informações incorretas ou omitidas em qualquer das hipóteses das linhas 1 e 2; ou seja, intimandose previamente ou não o contribuinte. E, o denominado “prazo fixado” a que se refere à coluna A, linha 1, é o prazo fixado pela legislação tributária (art.6° da IN SRF n° 482/2004) para entrega da DCTF, e não um prazo aleatório posteriormente fixado pela Administração para a correção. Outrossim, a intimação prévia para prestar esclarecimentos só se aplica no caso de apresentação de declaração com incorreções ou omissões (linha 2). Diante desse fato, não há o que se falar se houve ou não pronunciamento ou qualquer ação por parte do fisco em relação ao atraso na entrega da DCTF, tendo em vista que a legislação imputa aos contribuintes um prazo para cumprir a obrigação acessória; e, no presente caso a Recorrente simplesmente não a fez. E, mesmo que o Fisco não tenha gerado qualquer movimento para cobrar o cumprimento da obrigação acessória da Recorrente, a entrega da DCTF fora do prazo não está albergada pelo instituto da denuncia espontânea. Essa é a posição da Súmula Carf nº 49, a quem, por dever de oficio, me filio e que possui o seguinte teor: “Sumula 49 A denúncia espontânea (art. 138 do Código Tributário Nacional) não alcança a penalidade decorrente do atraso na entrega de declaração”. Esse entendimento também é acolhido no âmbito do Poder Judiciário, onde a jurisprudência é pacífica em ambas as turmas do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no sentido de que a denúncia espontânea não é aplicável às multas pelo descumprimento de obrigações acessórias, de natureza formal e desvinculadas diretamente do fato gerador da obrigação principal: “TRIBUTÁRIO. MULTA MORATÓRIA. ART. 138 DO CTN. ENTREGA EM ATRASO DA DECLARAÇÃO DE RENDIMENTOS. 1. A denúncia espontânea não tem o condão de afastar a multa decorrente do atraso na entrega da declaração de rendimentos, uma vez que os efeitos do artigo 138 do CTN não se estendem às obrigações acessórias autônomas. Precedentes. Fl. 112DF CARF MF Emitido em 12/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/10/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 03/1 0/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 12/10/2011 por SELENE FERREIRA DE MO RAES Processo nº 11971.001634/200701 Acórdão n.º 180301.015 S1TE03 Fl. 113 5 2. Recurso especial não provido. (REsp 1129202/SP, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 29/06/2010) PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL.DCTF. MULTA POR ATRASO NA ENTREGA. POSSIBILIDADE. JURISPRUDÊNCIA PACIFICADA. SÚMULA 83/STJ. INCIDÊNCIA. 1. Aresto recorrido que se encontra em consonância com a jurisprudência assente do STJ no sentido de que não se mostra desarrazoada a aplicação de multa em razão do atraso na entrega da Declaração de Contribuições e Tributos Federais DCTF. Precedentes. 2. Agravo regimental nãoprovido. (AgRg no Ag 985.433/SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/12/2008, DJe 13/02/2009) PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ATRASO NA ENTREGA DA DECLARAÇÃO DE OPERAÇÕES IMOBILIÁRIAS. MULTA MORATÓRIA. CABIMENTO. DENÚNCIA ESPONTÂNEA NÃO CONFIGURADA. 1 A entrega das declarações de operações imobiliárias fora do prazo previsto em lei constitui infração formal, não podendo ser considerada como infração de natureza tributária, apta a atrair o instituto da denúncia espontânea previsto no art. 138 do Código Tributário Nacional. Do contrário, estarseia admitindo e incentivando o nãopagamento de tributos no prazo determinado, já que ausente qualquer punição pecuniária para o contribuinte faltoso. 2 A entrega extemporânea das referidas declarações é ato puramente formal, sem qualquer vínculo com o fato gerador do tributo e, como obrigação acessória autônoma, não é alcançada pelo art. 138 do CTN, estando o contribuinte sujeito ao pagamento da multa moratória devida. 3 Precedentes: AgRg no REsp 669851/RJ, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 22.02.2005, DJ 21.03.2005; REsp 331.849/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 09.11.2004, DJ 21.03.2005; REsp 504967/PR, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 24.08.2004, DJ 08.11.2004; REsp 504967/PR, Rel. Ministro FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 24.08.2004, DJ 08.11.2004; EREsp n° 246.295RS, Relator Ministro JOSÉ DELGADO, DJ de 20.08.2001; EREsp n° 246.295RS, Relator Ministro JOSÉ DELGADO, DJ de 20.08.2001; RESP 250.637, Relator Ministro Milton Luiz Pereira, DJ 13/02/02. 4 – Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 884.939/MG, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/02/2009, DJe 19/02/2009)” Fl. 113DF CARF MF Emitido em 12/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/10/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 03/1 0/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 12/10/2011 por SELENE FERREIRA DE MO RAES Processo nº 11971.001634/200701 Acórdão n.º 180301.015 S1TE03 Fl. 114 6 Por fim, como vem afirmando o Preeminente Conselheiro Sérgio Rodrigues Mendes, nos julgamentos análogos realizados por essa 3ª Turma Especial, “não se afasta a responsabilidade da empresa no caso, porque culpa lhe cabe, tanto na escolha do encarregado da elaboração e entrega das declarações (culpa in eligendo), quanto na fiscalização das suas tarefas (culpa in vigilando)”. Já no que se refere à alegada inconstitucionalidade da aplicação dessa multa, por pretensamente conflitar a sua gradação com o direito à ampla defesa e o direito gratuito de petição e ao devido processo legal, todos estampados no art. 5º da Constituição Federal, aplica se a Súmula Carf nº 2, assim redigida: “Súmula Carf nº 2 O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária”. Assim, considerando tudo o que consta dos autos, voto no sentido de NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. (assinado digitalmente) Sérgio Luiz Bezerra Presta Fl. 114DF CARF MF Emitido em 12/10/2011 pelo Ministério da Fazenda Autenticado digitalmente em 03/10/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 03/1 0/2011 por SERGIO LUIZ BEZERRA PRESTA, Assinado digitalmente em 12/10/2011 por SELENE FERREIRA DE MO RAES
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