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Numero do processo: 15586.720498/2013-97
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 26 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Wed Aug 30 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2009
OMISSÃO DE RECEITAS. CONSTATAÇÃO TRIBUTAÇÃO NA DIPJ. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
Comprovado que a empresa tributou os valores tido como omitidos em sua DIPJ relativa ao 1º trimestre/2009, cancela-se parcialmente a autuação.
OMISSÃO DE RECEITAS. PROCEDÊNCIA PARCIAL. RECÁLCULO UTILIZAÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS.
Considerando-se procedente em parte o lançamento há de se refazer os cálculos de utilização dos prejuízos fiscais de IRPJ e bases de cálculo negativas de CSLL.
Numero da decisão: 1401-002.011
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Abel Nunes de Oliveira Neto - Relator.
Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Jose Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto (Relator), Lívia De Carli Germano, Daniel Ribeiro Silva, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa
Nome do relator: ABEL NUNES DE OLIVEIRA NETO
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2009 OMISSÃO DE RECEITAS. CONSTATAÇÃO TRIBUTAÇÃO NA DIPJ. PROCEDÊNCIA PARCIAL. Comprovado que a empresa tributou os valores tido como omitidos em sua DIPJ relativa ao 1º trimestre/2009, cancela-se parcialmente a autuação. OMISSÃO DE RECEITAS. PROCEDÊNCIA PARCIAL. RECÁLCULO UTILIZAÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS. Considerando-se procedente em parte o lançamento há de se refazer os cálculos de utilização dos prejuízos fiscais de IRPJ e bases de cálculo negativas de CSLL.
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CONSTATAÇÃO TRIBUTAÇÃO NA DIPJ. PROCEDÊNCIA PARCIAL. Comprovado que a empresa tributou os valores tido como omitidos em sua DIPJ relativa ao 1º trimestre/2009, cancelase parcialmente a autuação. OMISSÃO DE RECEITAS. PROCEDÊNCIA PARCIAL. RECÁLCULO UTILIZAÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS. Considerandose procedente em parte o lançamento há de se refazer os cálculos de utilização dos prejuízos fiscais de IRPJ e bases de cálculo negativas de CSLL. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso de ofício. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Abel Nunes de Oliveira Neto Relator. Participaram do presente julgamento os Conselheiros: Luiz Augusto de Souza Gonçalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcângelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 15 58 6. 72 04 98 /2 01 3- 97 Fl. 1613DF CARF MF 2 Mendes, Jose Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto (Relator), Lívia De Carli Germano, Daniel Ribeiro Silva, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa Relatório Contra o contribuinte foi lavrado auto de infração relativo ao IRPJ e reflexos do ano de 2009 em função de omissão de receitas. Referida omissão foi constatada por meio de informações de fornecedores da empresa que apresentaram comprovantes da venda de mercadorias à empresa. Cientificado o contribuinte apresentou impugnação de fls. 688 em diante alegando cerceamento do direito de defesa, a necessidade de converter o julgamento em diligência, entendendo que a multa de ofício lançada tem caráter confiscatório, alegou que o auto culminou em excesso de exação, que a taxa SELIC é ilegal para fins de atualização monetária, Analisando a impugnação a Delegacia de Julgamento emitiu a seguinte decisão: Fl. 1614DF CARF MF Processo nº 15586.720498/201397 Acórdão n.º 1401002.011 S1C4T1 Fl. 1.614 3 Da decisão proferida a Delegacia de Julgamento recorreu de ofício em razão da parcela exonerada dos créditos tributários. Tal parcela deveuse ao pronunciamento do fiscal em seu relatório no qual informa que ocorreu omissão de receitas no 2º, 3º e 4º trimestre/2009. Assim, a receita que foi utilizada para apuração da omissão no 1º trimestre já havia sido tributada pelo contribuinte. Desta forma foi refeita a apuração do 1º trimestre/2009, resultando em nenhum valor a lançar e os prejuízos fiscais e BC negativa da CSLL foram deslocados para os trimestres seguintes resultando na redução da autuação. Cientificado da decisão em março/2014 o contribuinte deixou escoar o prazo recursal sem apresentar recurso voluntário contra a decisão. Posteriormente o contribuinte apresentou ação anulatória com pedido de liminar para suspensão da exigibilidade dos débitos, que foi acatada pelo Judiciário. Fl. 1615DF CARF MF 4 Assim, o processo chegou a este CARF apenas para análise do recurso de ofício apresentado pela Delegacia de Julgamento do Rio de Janeiro.: É o relatório do necessário. Voto Conselheiro Abel Nunes de Oliveira Neto Relator Tendo em vista a não apresentação de Recurso Voluntário por parte do contribuinte a análise recursal prenderseá, unicamente, ao recurso de ofício apresentado pela Delegacia de Julgamento contra sua decisão em função da exoneração de crédito tributário em limite superior ao de alçada. Neste ponto a exoneração parcial do crédito tributário deveuse às seguintes considerações pela DRJ/RJOI: Na sua impugnação a interessada questiona, apenas, o cálculo da base tributável relativa ao 1º trimestre, alegando que os rendimentos correspondentes haviam sido considerados em duplicidade, uma vez que, do valor total das receitas apuradas pela fiscalização, para esse período, o autuante abatera o prejuízo indicado na DIPJ/2010, o qual já resultava de apuração efetuada com o total da Renda Líquida da Atividade declarada de R$ 8.469.477,98 (Ficha 06A da mesma DIPJ, fl.518). Consta do Termo de Verificação integrante dos autos, a afirmação de que a fiscalizada não ofereceu à tributação do IRPJ as receitas da atividade auferidas no 2°, 3° e 4° trimestres de 2009, informando somente os custos e despesas incorridos nos montantes, respectivamente, de R$ 7.011.640,58, R$ 9.749.276,00 e R$ 6.267.270,00. Podese constatar, portanto, que o autuante não faz menção a ocorrência de omissão de rendimentos no 1º trimestre, levando em consideração o prejuízo de R$ 105.927,21. Também não foram glosados os custos ou despesas incorridos indicados nas apurações da DIPJ/2010, tanto no 1º trimestre quanto nos demais. Dessa forma, fazse necessário refazer o cálculo relativo ao 1º trimestre, considerando: como receita tributável o valor das vendas apurado pela fiscalização, e não questionado pela interessada: R$ 8.471.648,11; Fl. 1616DF CARF MF Processo nº 15586.720498/201397 Acórdão n.º 1401002.011 S1C4T1 Fl. 1.615 5 como custos e despesas operacionais os valores indicados na Demonstração do Resultado (fl.518, DIPJ/2010 – Ficha 06A, Linhas 17 e 38), que são, respectivamente, R$ 7.434.616,00 e R$ 1.140.787,19, totalizando R$ 8.574.403,19. A compensação de prejuízo de períodos anteriores, que havia sido efetuada no 1º trimestre, deverá ser deslocada para os períodos seguintes, em consequência dos novos valores apurados e em face da limitação de 30% determinada pela legislação de regência (art.510 do RIR/1999). Essa compensação deverá ser devidamente processada no SAPLI (Sistema de Acompanhamento de Prejuízo Fiscal e Base de Cálculo da CSLL Fl. 1617DF CARF MF 6 À vista do demonstrado e verificandose os dados de apuração da DIPJ da empresa, juntamente com as informações das omissões apuradas pela fiscalização, não merece reparo a decisão da DRJ/RJOI. Efetivamente na apuração dos valores devidos de IRPJ e CSLL do 1º trimestre/2009 o fiscal incluiu as omissões apuradas como se não houvesse oferecimento de receitas na DIPJ da empresa. Refazendose as apurações com a exclusão da dupla imputação das receitas do 1º trimestre, foram recalculados os valores devidos a título de IRPJ e CSLL de todos os trimestres, inclusive com a consideração dos prejuízos fiscais que existiam em estoque para o abatimento de até 30% das bases de cálculo do IRPJ e CSLL. Constatandose, ao final, que os cálculos elaborados pela Delegacia de Julgamento encontramse corretos em função dos fatos verificados no processo, entendemos correta a decisão que desonerou parcialmente os créditos tributários. Assim, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso de ofício manejado pela DRJ/RJOI, mantendo a autuação nos termos aprovados pela decisão de Piso. Abel Nunes de Oliveira Neto Fl. 1618DF CARF MF Processo nº 15586.720498/201397 Acórdão n.º 1401002.011 S1C4T1 Fl. 1.616 7 Fl. 1619DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 16561.720040/2011-17
Turma: 1ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 1ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Wed Jun 07 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Aug 08 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2007, 2008, 2009, 2010
PREMISSA. INSTITUTO JURÍDICO-TRIBUTÁRIO.
O conceito do ágio é disciplinado pelo art. 20 do Decreto-Lei nº 1.598, de 27/12/1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, e trata-se de instituto jurídico-tributário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica.
APROVEITAMENTO DO ÁGIO. INVESTIDORA E INVESTIDA. EVENTOS. SEPARAÇÃO. UNIÃO.
São dois os eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformam-se em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão).
DESPESAS. AMORTIZAÇÃO. ÁGIO.
A amortização, a qual se submete o ágio para o seu aproveitamento, constitui-se em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontra-se submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99, submetendo-se aos testes de necessidade, usualidade e normalidade.
DESPESAS. FATOS ESPONTÂNEOS.
Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Não há como estender os atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica.
CONDIÇÕES PARA AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. TESTES DE VERIFICAÇÃO.
A cognição para verificar se a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência dos arts. 385 e 386 do RIR/99, segundo, se requisitos de ordem formal estabelecidos encontram-se atendidos, como arquivamento da demonstração de rentabilidade futura do investimento e efetivo pagamento na aquisição, e, terceiro, se as condições do negócio atenderam os padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes e reorganizações societárias com substância econômica.
AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. INVESTIDOR E INVESTIDA. MESMA UNIVERSALIDADE.
Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997 se dirigem às pessoas jurídicas (1) real sociedade investidora, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura, decidiu pela aquisição e desembolsou originariamente os recursos, e (2) pessoa jurídica investida. Deve-se consumar a confusão de patrimônio entre essas duas pessoas jurídicas, ou seja, o lucro e o investimento que lhe deu causa passam a se comunicar diretamente. Compartilhando do mesmo patrimônio a controladora e a controlada ou coligada, consolida-se cenário no qual os lucros auferidos pelo investimento passam a ser tributados precisamente pela pessoa jurídica que adquiriu o ativo com mais valia (ágio). Enfim, toma-se o momento em que o contribuinte aproveita-se da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, para se aperfeiçoar o lançamento fiscal com base no regime de tributação aplicável ao caso e estabelecer o termo inicial para contagem do prazo decadencial.
CSLL. DECORRÊNCIA.
Aplica-se à CSLL o decidido no IRPJ, vez que compartilham o mesmo suporte fático e matéria tributável.
MULTA ISOLADA. MULTA DE OFÍCIO. LEI. NOVA REDAÇÃO. FATOS GERADORES A PARTIR DE 2007.
Tratam os incisos I e II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996 de suportes fáticos distintos e autônomos com diferenças claras na temporalidade da apuração, que tem por consequência a aplicação das penalidades sobre bases de cálculo diferentes. A multa de ofício aplica-se sobre o resultado apurado anualmente, cujo fato gerador aperfeiçoa-se ao final do ano-calendário, e a multa isolada sobre insuficiência de recolhimento de estimativa apurada conforme balancetes elaborados mês a mês ou ainda sobre base presumida de receita bruta mensal. O disposto na Súmula nº 105 do CARF aplica-se aos fatos geradores pretéritos ao ano de 2007, vez que sedimentada com precedentes da antiga redação do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, que foi alterada pela MP nº 351, de 22/01/2007, convertida na Lei nº 11.489, de 15/07/2007.
JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA.
A multa de ofício, penalidade pecuniária, compõe a obrigação tributária principal, e, por conseguinte, integra o crédito tributário, que se encontra submetido à incidência de juros moratórios, após o seu vencimento, em consonância com os artigos 113, 139 e 161, do CTN, e 61, § 3º, da Lei 9.430/96.
Numero da decisão: 9101-002.892
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, em negar-lhe provimento (i) por voto de qualidade, quanto ao ágio, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa (relatora), Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento; (ii) por maioria de votos, em relação à multa isolada quanto às estimativas mensais, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio, que lhe deram provimento; e (iii) por voto de qualidade, quanto aos juros de mora sobre multa de ofício, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Votaram pelas conclusões, em relação à multa isolada, os conselheiros Luís Flávio Neto e Daniele Souto Rodrigues Amadio. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro André Mendes de Moura. Acordam, ainda, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional.
(assinado digitalmente)
Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente em Exercício
(assinado digitalmente)
Cristiane Silva Costa - Relatora
(assinado digitalmente)
André Mendes de Moura - Redator designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício).
Nome do relator: CRISTIANE SILVA COSTA
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, em negar-lhe provimento (i) por voto de qualidade, quanto ao ágio, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa (relatora), Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento; (ii) por maioria de votos, em relação à multa isolada quanto às estimativas mensais, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio, que lhe deram provimento; e (iii) por voto de qualidade, quanto aos juros de mora sobre multa de ofício, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Votaram pelas conclusões, em relação à multa isolada, os conselheiros Luís Flávio Neto e Daniele Souto Rodrigues Amadio. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro André Mendes de Moura. Acordam, ainda, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão - Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa - Relatora (assinado digitalmente) André Mendes de Moura - Redator designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício).
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2007, 2008, 2009, 2010 PREMISSA. INSTITUTO JURÍDICO-TRIBUTÁRIO. O conceito do ágio é disciplinado pelo art. 20 do Decreto-Lei nº 1.598, de 27/12/1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, e trata-se de instituto jurídico-tributário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica. APROVEITAMENTO DO ÁGIO. INVESTIDORA E INVESTIDA. EVENTOS. SEPARAÇÃO. UNIÃO. São dois os eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformam-se em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). DESPESAS. AMORTIZAÇÃO. ÁGIO. A amortização, a qual se submete o ágio para o seu aproveitamento, constitui-se em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontra-se submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99, submetendo-se aos testes de necessidade, usualidade e normalidade. DESPESAS. FATOS ESPONTÂNEOS. Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Não há como estender os atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica. CONDIÇÕES PARA AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. TESTES DE VERIFICAÇÃO. A cognição para verificar se a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência dos arts. 385 e 386 do RIR/99, segundo, se requisitos de ordem formal estabelecidos encontram-se atendidos, como arquivamento da demonstração de rentabilidade futura do investimento e efetivo pagamento na aquisição, e, terceiro, se as condições do negócio atenderam os padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes e reorganizações societárias com substância econômica. AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. INVESTIDOR E INVESTIDA. MESMA UNIVERSALIDADE. Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997 se dirigem às pessoas jurídicas (1) real sociedade investidora, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura, decidiu pela aquisição e desembolsou originariamente os recursos, e (2) pessoa jurídica investida. Deve-se consumar a confusão de patrimônio entre essas duas pessoas jurídicas, ou seja, o lucro e o investimento que lhe deu causa passam a se comunicar diretamente. Compartilhando do mesmo patrimônio a controladora e a controlada ou coligada, consolida-se cenário no qual os lucros auferidos pelo investimento passam a ser tributados precisamente pela pessoa jurídica que adquiriu o ativo com mais valia (ágio). Enfim, toma-se o momento em que o contribuinte aproveita-se da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, para se aperfeiçoar o lançamento fiscal com base no regime de tributação aplicável ao caso e estabelecer o termo inicial para contagem do prazo decadencial. CSLL. DECORRÊNCIA. Aplica-se à CSLL o decidido no IRPJ, vez que compartilham o mesmo suporte fático e matéria tributável. MULTA ISOLADA. MULTA DE OFÍCIO. LEI. NOVA REDAÇÃO. FATOS GERADORES A PARTIR DE 2007. Tratam os incisos I e II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996 de suportes fáticos distintos e autônomos com diferenças claras na temporalidade da apuração, que tem por consequência a aplicação das penalidades sobre bases de cálculo diferentes. A multa de ofício aplica-se sobre o resultado apurado anualmente, cujo fato gerador aperfeiçoa-se ao final do ano-calendário, e a multa isolada sobre insuficiência de recolhimento de estimativa apurada conforme balancetes elaborados mês a mês ou ainda sobre base presumida de receita bruta mensal. O disposto na Súmula nº 105 do CARF aplica-se aos fatos geradores pretéritos ao ano de 2007, vez que sedimentada com precedentes da antiga redação do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, que foi alterada pela MP nº 351, de 22/01/2007, convertida na Lei nº 11.489, de 15/07/2007. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. A multa de ofício, penalidade pecuniária, compõe a obrigação tributária principal, e, por conseguinte, integra o crédito tributário, que se encontra submetido à incidência de juros moratórios, após o seu vencimento, em consonância com os artigos 113, 139 e 161, do CTN, e 61, § 3º, da Lei 9.430/96.
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INSTITUTO JURÍDICOTRIBUTÁRIO. O conceito do ágio é disciplinado pelo art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, e tratase de instituto jurídicotributário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica. APROVEITAMENTO DO ÁGIO. INVESTIDORA E INVESTIDA. EVENTOS. SEPARAÇÃO. UNIÃO. São dois os eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformamse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). DESPESAS. AMORTIZAÇÃO. ÁGIO. A amortização, a qual se submete o ágio para o seu aproveitamento, constituise em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontrase submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99, submetendose aos testes de necessidade, usualidade e normalidade. DESPESAS. FATOS ESPONTÂNEOS. Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Não há como estender os atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica. CONDIÇÕES PARA AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. TESTES DE VERIFICAÇÃO. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 16 56 1. 72 00 40 /2 01 1- 17 Fl. 3378DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.379 2 A cognição para verificar se a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência dos arts. 385 e 386 do RIR/99, segundo, se requisitos de ordem formal estabelecidos encontram se atendidos, como arquivamento da demonstração de rentabilidade futura do investimento e efetivo pagamento na aquisição, e, terceiro, se as condições do negócio atenderam os padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes e reorganizações societárias com substância econômica. AMORTIZAÇÃO DO ÁGIO. HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA. INVESTIDOR E INVESTIDA. MESMA UNIVERSALIDADE. Os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997 se dirigem às pessoas jurídicas (1) real sociedade investidora, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, fez os estudos de rentabilidade futura, decidiu pela aquisição e desembolsou originariamente os recursos, e (2) pessoa jurídica investida. Devese consumar a confusão de patrimônio entre essas duas pessoas jurídicas, ou seja, o lucro e o investimento que lhe deu causa passam a se comunicar diretamente. Compartilhando do mesmo patrimônio a controladora e a controlada ou coligada, consolidase cenário no qual os lucros auferidos pelo investimento passam a ser tributados precisamente pela pessoa jurídica que adquiriu o ativo com mais valia (ágio). Enfim, tomase o momento em que o contribuinte aproveitase da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, para se aperfeiçoar o lançamento fiscal com base no regime de tributação aplicável ao caso e estabelecer o termo inicial para contagem do prazo decadencial. CSLL. DECORRÊNCIA. Aplicase à CSLL o decidido no IRPJ, vez que compartilham o mesmo suporte fático e matéria tributável. MULTA ISOLADA. MULTA DE OFÍCIO. LEI. NOVA REDAÇÃO. FATOS GERADORES A PARTIR DE 2007. Tratam os incisos I e II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996 de suportes fáticos distintos e autônomos com diferenças claras na temporalidade da apuração, que tem por consequência a aplicação das penalidades sobre bases de cálculo diferentes. A multa de ofício aplicase sobre o resultado apurado anualmente, cujo fato gerador aperfeiçoase ao final do anocalendário, e a multa isolada sobre insuficiência de recolhimento de estimativa apurada conforme balancetes elaborados mês a mês ou ainda sobre base presumida de receita bruta mensal. O disposto na Súmula nº 105 do CARF aplicase aos fatos geradores pretéritos ao ano de 2007, vez que sedimentada com precedentes da antiga redação do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, que foi alterada pela MP nº 351, de 22/01/2007, convertida na Lei nº 11.489, de 15/07/2007. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. A multa de ofício, penalidade pecuniária, compõe a obrigação tributária principal, e, por conseguinte, integra o crédito tributário, que se encontra submetido à incidência de juros moratórios, após o seu vencimento, em consonância com os artigos 113, 139 e 161, do CTN, e 61, § 3º, da Lei 9.430/96. Fl. 3379DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.380 3 Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial do Contribuinte e, no mérito, em negarlhe provimento (i) por voto de qualidade, quanto ao ágio, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa (relatora), Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento; (ii) por maioria de votos, em relação à multa isolada quanto às estimativas mensais, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio, que lhe deram provimento; e (iii) por voto de qualidade, quanto aos juros de mora sobre multa de ofício, vencidos os conselheiros Cristiane Silva Costa, Luís Flávio Neto, Daniele Souto Rodrigues Amadio e Gerson Macedo Guerra, que lhe deram provimento. Votaram pelas conclusões, em relação à multa isolada, os conselheiros Luís Flávio Neto e Daniele Souto Rodrigues Amadio. Designado para redigir o voto vencedor o conselheiro André Mendes de Moura. Acordam, ainda, por unanimidade de votos, em não conhecer do Recurso Especial da Fazenda Nacional. (assinado digitalmente) Marcos Aurélio Pereira Valadão Presidente em Exercício (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Relatora (assinado digitalmente) André Mendes de Moura Redator designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros Adriana Gomes Rego, Cristiane Silva Costa, André Mendes de Moura, Luis Flavio Neto, Rafael Vidal de Araújo, Daniele Souto Rodrigues Amadio, Gerson Macedo Guerra e Marcos Aurélio Pereira Valadão (Presidente em Exercício). Relatório Tratase de processo originado pela lavratura de Auto de Infração de IRPJ e CSLL quanto aos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010, com imposição de multa de 150% sobre o crédito tributário, além de multas sobre estimativas mensais de setembro a dezembro de 2007 e janeiro a novembro de 2008 (fls. 2075). Consta do Termo de Verificação Fiscal que acompanha o Auto de Infração (fls. 2011/2074) os organogramas que revelam a estrutura societária analisada pela fiscalização e a justificativa para a autuação fiscal: Fl. 3380DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.381 4 Fl. 3381DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.382 5 Fl. 3382DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.383 6 Fl. 3383DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.384 7 4.1.1 Segundo declarações da fiscalizada (doc 14):: i) a Ticket Serviços S.A. incorporou em 20/08/2007 a Sobraser Participações LTda. CNPJ 08.767.306/000180, sua controladora. Como pode ser verificado na DIPJ de evento especial da Sobraser (Doc 75) há um ágio registrado no valor de R$ 360.523.377,70 e, após a incorporação, a partir de setembro de 2007, esse ágio passou a ser amortizado na razão de 1/60 ao mês pela Ticket Serviços; ii) desde os anos 80 a Ticket Serviços S.A. tinha o seu controle compartilhado entre o Grupo Accor (França), com 50% do capital detido pela sociedade brasileira Accor Participações S/A, e os Grupos Brascan e Espírito Santo com os outros 50% do capital, participação detida pelas Cia. Sinal de Participações e Sinal Participações S.A. iii) verificase pelos organogramas apresentados (Doc 7 e 18) que quando a fiscalizada cita o Grupo Accor ela está se referindo às sociedades domiciliadas no exterior Accor Hotels Belgium, Saminvest e Accor S.A.; iv) em dezembro de 2006 a Accor Participações S.A. adquiriu dos grupos Brascan e Espírito Santo, a totalidade das ações do capital social das sociedades Cia Sinal de Participações e Sinal Participações S.A. (Doc 47 e 48), sendo que o valor global do negócio foi de R$ 538.152.000,00; v) a Interatlântico S.A. vendeu 20% da sua participação no capital da Sinal Participações S.A por R$ 107.630.400,00. No Fl. 3384DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.385 8 item 4.1.3 verificamos a contabilização do pagamento na Accor Participações (dados obtidos através dos arquivos digitais da escrituração contábil apresentados pela Accor); vi) a Bracan Brasil Holdings LLC vendeu a sua participação no capital da Companhia Sinal (a qual detinha 80% das ações do capital da Sinal Participações) por R$ 430.521.600,00. No item 4.1.3 verificamos a contabilização do pagamento na Accor Participações (dados obtidos através dos arquivos digitais da escrituração contábil apresentados pela Accor). Foi apresentada cópia do contrato de câmbio e do comprovante de retenção do IRF no valor de R$ 47.691.433,14 referente ao pagamento à Bracan Brasil Holdings LLC (Doc 49); vii) a Cia Sinal de Participações tinha como único ativo ações ordinárias de emissão da Sinal Participações, correspondentes a 80% do capital social da Sinal Participações sendo que esses 80 somados aos 20% adquiridos diretamente pela Accor PArticipações da Interatlântico (Grupo Espírito Santo) resultaram em 100% das ações do capital da Sinal Participações; viii) por sua vez, a Sinal Participações tinha como únicos ativos ações representativas de 50% do capital social da GR S.A.; ix) após essas aquisições, a Accor Participações S.A. passou a deter, de forma direta e indireta, 99,91% das ações do capital da Ticket Serviços e 50% das ações do capital da GR S.A (os 0.09% restantes eram detidos pela Accor S.A., uma das sócias da Accor Participações S.A., domiciliada no exterior). (...) Como se viu, a incorporação reversa é operação prevista no art. 264, da Lei das S.A., mas não pode olvidar que a operação pode estar sendo realizada abusivamente ou como negócio indireto em fraude à lei, fraude esta associada não só à lei societária, mas também à lei tributária. A incorporação às avessas deve ser analisada sob a ótica objetiva do instituto jurídico, razão pela qual deve ser justificada por motivações que afastem a estranheza da operação e se coadunem com a perfeita adequação à realidade fática do caso. (...) Em matéria tributária, tão ou mais importante do que o preenchimento das formalidades legais para sua constituição é a identificação do emprendimento que justifica sua existência. O que se quer dizer é que a criação de uma pessoa jurídica tem sentido na medida em que está associada à ideia de empreendimento econômico ou profissional, onde haja propósito negocial. Ou seja, a ideia de empresa é o núcleo a ser investigado. 5.2.3 Utilização de empresa veículo Embora a possibilidade de amortização do ágio antes que ocorra a alienação ou liquidação do investimento se caracterize Fl. 3385DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.386 9 como beneficio fiscal, outorgado pela Lei nº 9.532/97, é obvio que o benefício se aplica às reais hipóteses de aquisição de investimento com ágio, não àquelas em que tenha havido uma artificial estruturação para possibilitar a transferência do ágio a ser amortizado em futura incorporação, com o único objetivo de criar despesas dedutíveis. Questionase, no presente caso, o cabimento da dedutibilidade, na apuração do IRPJ e da CSLL, da amortização de ágio transferido entre entidades no mesmo grupo econômico, através uso de uma empresa veículo criada exclusivamente para esse fim. A empresa Accor Participações S.A que tinha registrado em seu ativo o investimento representado pela quase totalidade das ações representativas do capital da Ticket Serviços S.A. mais o ágio oriundo da aquisição das ações que estavam em poder dos grupos Brascan e Espírito Santo, transferiu, após uma cisão parcial, esse investimento juntamente com o respectivo ágio para a empresa Sobraser Participações Ltda. a qual, na sequencia, após um lapso temporal de dez dias, foi incorporada pela sua controlada a Ticket Serviços S.A. A cisão parcial na Accor Participações S.A com a versão do patrimônio cindido (ações da Ticket Serviços S.A. mais o ágio) ocorreu no dia 10/08/2007. No dia 20/08/2007 a Ticket Serviços S.A. incorporou a Sobraser Participações S.A. passando a amortizar (a partir de setembro) o ágio recebido de R$ 360.523.377,70 em parcelas 1/60 ao mês reduzindo os montantes devidos de IRPJ e CSLL. Como pode ser verificado na DIPJ e nos assentamentos contábeis da Sobraser, os únicos eventos registrados são referentes à integralização de capital com as ações da Ticket Serviços S.A., o ágio e o reconhecimento de resultado de equivalência patrimonial. Pela análise dos esclarecimentos e da documentação apresentada, verificase que as sócias da Accor Participações S.A. (Saminvest, Accor Hotels e Accor S.A.) mantiveram, durante todo o processo de reestruturação, a mesma participação percentual e o controle total, mesmo que algumas vezes indireto, de todo o processo. Constatase, pelos atos afetos ao processo de reorganização, que há uma coincidência entre os administradores, procuradores e contador de todas as sociedades envolvidas. No início de agosto tinhase o investimento na Ticket Serviços S.A. mais o ágio contabilizados na Accor Participações S.A.; no final daquele mês tínhamos a Accor PArticipações S.A controlando a Ticket Serviços S.A indiretamente através da Accor Brasil Participações Ltda. Abaixo fazemos uma demonstração gráfica desse processo (...) Segundo alegou a fiscalizada, essa reestruturação teria sido adotada por exigência do Banco Central do Brasil (Bacen), pois Fl. 3386DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.387 10 havia intenção em transformar a Ticket Serviços em instituição financeira; seria necessário o controle por uma holding exclusiva (no caso a Accor Brasil Participações Ltda).; Fato é que, independentemente de ser uma exigência do BAcen como alegou, além da criação de uma holding exclusiva, uma empresa veículo foi criada e utilizada para a transferência do ágio para a Ticket Serviços S.A., o que supostamente legitimaria sua amortização com fundamento no inciso III do artigo 386 do RIR/99. (...) No caso concreto, o antes representava o controle de quase 100% da Ticket Serviços S.A. pela Accor PArticipações (...); o depois é representado pelo controle da Ticket Serviços S.A pela Accor Participações S.A., ainda que de forma indireta através da Accor Brasil Participações Ltda., uma holding constituída para esse fim. O Capital Social da Ticket Serviços S.A. permaneceu inalterado, durante todo o processo, porém ela teria agora o suposto direito de se beneficiar, mesmo que forçando artificialmente a condição de dedutibilidade do ágio estabelecida no inciso III art. 386 do RIR, da redução do IRPJ e da CSLL nos próximos cinco anos. (...) Em relação ao elemento tempo, temse a criação e a curta existência da Sobraser Participações Ltda., empresa que foi criada em abril de 2007 com capital social de R$ 1.000,00 e que recebeu todas as ações do investimento Ticket Serviços S.A. e o ágio em 10/08/2007, sendo incorporada pela sua controlada após 10 dias, em 20/08/2007. (...) A criação de uma sociedade para posterior extinção por incorporação revela evidente falta de propósito negocial, ou seja, inexistência de fundamento econômico da transformação societária. (...) Nesse contexto, qual foi o papel da empresa Sobraser Participações Ltda.? Respondemos: transferir o ágio antes contabilizado na Accor Participações S.A. para a Ticket Serviços S.A. através da incorporação reversa da Sobraser e se beneficiar INDEVIDAMENTE da amortização (verdadeiro benefício fiscal) do inciso III do artigo 389 do RIR/99. (...) O artigo 72 da Lei 4.502/64 conceitua fraude do seguinte modo (...) As peças probatórias revelam que a principal conduta adotada foi a de impedir, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador, excluir ou modificar suas características essenciais, de modo a reduzir a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, tendo omo consequencia a falta de pagamento dos referidos tributos (...) (grifos e negritos originais) A contribuinte apresentou Impugnação Administrativa, decidindo a Delegacia da Receita Federal de Julgamento em São Paulo pela manutenção integral do lançamento, conforme acórdão do qual se destaca ementa (fls. 2.685): ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Fl. 3387DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.388 11 Anocalendário: 2007, 2008, 2009, 2010 DILIGÊNCIA. DESNECESSIDADE. O pedido de realização de diligência é indeferido, tanto por estar em desacordo com os requisitos legais, quanto por ser desnecessária. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário:2007, 2008, 2009, 2010 GLOSAS. AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO. OPERAÇÕES SOCIETÁRIAS. Não são dedutíveis as amortizações de ágios apurados por meio operações societárias que revelam a prática de artifícios dolosos evidenciados pelo “planejamento tributário” efetuado por meio da utilização de pessoas jurídicas criadas para esse fim e que não se caracterizam como sociedades empresárias. MULTAS ISOLADAS. ESTIMATIVAS. Mantémse a multa aplicada, dada expressa previsão na legislação vigente. MULTAS DE OFÍCIO QUALIFICADAS. Justificam as multas de 150% a reincidência no procedimento e a prática de artifícios dolosos evidenciados pelo “planejamento tributário” efetuado por meio de pessoas jurídicas criadas para esse fim e que não se caracterizam como sociedades empresárias. JUROS SOBRE MULTAS. Não conheço do argumento a respeito de ilegalidade de futura aplicação de juros sobre a multa, pois tais juros não fazem parte do litígio, visto que não constam do Auto de Infração. AUTOS REFLEXOS. CSLL. O decidido quanto ao IRPJ aplicase à tributação dele decorrente. Sendo apresentado recurso voluntário, a 1ª Turma Ordinária da 1ª Câmara da Primeira Seção de Julgamento deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais deulhe provimento apenas para desqualificação da multa de ofício, conforme ementa a seguir reproduzida: ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2007, 2008, 2009, 2010 TRANSFERÊNCIA DE ÁGIO PARA EMPRESA VEÍCULO SEGUIDA DE SUA INCORPORAÇÃO PELA INVESTIDA. Fl. 3388DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.389 12 SUBSISTÊNCIA DO INVESTIMENTO NO PATRIMÔNIO DA INVESTIDORA ORIGINAL. Para dedução fiscal da amortização de ágio fundamentado em rentabilidade futura é necessário que a incorporação se verifique entre a investida e a pessoa jurídica que adquiriu a participação societária com ágio. Não é possível a amortização se o investimento subsiste no patrimônio da investidora original. MULTA DE OFÍCIO. QUALIFICAÇÃO. FRAUDE. INOCORRÊNCIA. Existindo ágio pago em regular aquisição de investimento entre empresas privadas, a interpretação equivocada do sujeito passivo acerca da possibilidade de sua amortização não é suficiente para a qualificação da penalidade aplicável aos tributos que deixaram de ser recolhidos em razão da amortização daquele valor. MULTA ISOLADA. FALTA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS. O nãorecolhimento de estimativas sujeita a pessoa jurídica à multa de ofício isolada, ainda que encerrado o anocalendário. CUMULAÇÃO COM MULTA DE OFÍCIO. COMPATIBILIDADE. É compatível com a multa isolada a exigência da multa de ofício relativa ao tributo apurado ao final do anocalendário, por caracterizarem penalidades distintas. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. CABIMENTO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa SELIC. Destaco trecho do voto da Conselheira Redatora do voto vencedor a respeito da exigência principal, multas isoladas e juros de mora sobre a multa de ofício, exConselheira Edeli Pereira Bessa As amortizações aqui em debate referemse a ágio pago por Accor Participações S/A ao adquirir Cia. Sinal de Participações e Sinal Participações S/A, holdings que possuíam como únicos ativos ações das empresas Ticket Serviços S/A e GR S/A. Por meio destas operações, Accor Participações S/A passou a deter a parcela do capital de Ticket Serviços S/A até então detida pelos Grupos Brascan e Espírito Santo. O ágio foi fundamentado em rentabilidade futura, e a Fiscalização não questiona este aspecto. (...) Significa dizer que, ao longo das operações realizadas, o controle da Ticket Serviços S/A passou da Accor Participações S/A para a Sobraser Participações Ltda, mas sempre esteve sob o Grupo Accor, que ao final transfere este controle para a Accor Brasil Participações Ltda, e submete esta ao controle da Accor Participações S/A. Fl. 3389DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.390 13 O quadro a seguir sintetiza o cenário vislumbrado pela Fiscalização para oporse à amortização do ágio: Significa dizer que Ticket Serviços S/A permanece submetida ao controle de Accor Participações Ltda, muito embora o ágio por ela pago na aquisição das participações societárias que os Grupos Brascan e Espírito Santo detinham na Ticket Serviços S/A tenha sido transportado para o patrimônio da investida, e a partir daí amortizado com efeitos fiscais. Fl. 3390DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.391 14 A autoridade fiscal, frente a tais circunstâncias, anota que a incorporação da controlada pela controladora está prevista em lei, mas pode ser realizada abusivamente, em fraude à lei tributária e societária; que a criação de uma pessoa jurídica tem sentido na medida em que está associada a idéia de empreendimento econômico ou profissional, quando haja propósito negocial; que a dedutibilidade do ágio está restrita a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio, fundamentado na rentabilidade futura da coligada ou controlada; e que a amortização não está autorizada nas hipótese em que tenha havido uma artificial estruturação para possibilitar a transferência do ágio a ser amortizado em futura incorporação, com o único objetivo de criar despesas dedutíveis. (...) Conclui que a utilização da via indireta (constituição de empresa veículo) teve como único objetivo contornar a restrição da legislação tributária para operacionalizar a amortização do ágio originalmente registrado na companhia que realizou o investimento, buscando, assim, os benefícios fiscais de se pagar menos tributos. Por esta razão, enfatizando a ausência de propósito societário e reportandose ao art. 72 da Lei nº 4.502/64, a autoridade fiscal formaliza a exigência com aplicação de multa qualificada, bem como impõe multa isolada sobre as estimativas não recolhidas nos períodos fiscalizados. (...) Assim, tem razão a Fiscalização quando conclui que a Accor Brasil Participações Ltda seria a holding constituída para atender às exigências do BACEN. Por sua vez, para nela aportar o investimento detido na autuada por Accor Participações S/A, e promover a pretendida segregação de atividades, bastaria que a cisão promovida em 10/08/2007 vertesse o correspondente patrimônio em favor de Accor Brasil Participações Ltda, e não de Sobraser Participações Ltda. De outro lado, para ter direito à amortização com efeitos fiscais, necessária seria a extinção do investimento adquirido com ágio. Ou seja, a adquirente (Accor Participações S/A) deveria incorporar ou ser incorporada pela investida (Ticket Serviços S/A), ou mesmo ser realizada uma fusão entre elas. Todavia, como insiste a interessada em sua defesa, não havia interesse negocial em promover esta extinção, de um lado porque as atividades da Ticket Serviços S/A não poderiam agregar outras que prejudicassem seu interesse de se tornar uma instituição financeira, e de outro porque a extinção do CNPJ da Ticket Serviços S/A causaria transtornos operacionais em razão do volume de contratados por ela mantidos. Não está em discussão a efetiva aquisição do investimento na autuada, até então detido pelos Grupos Espírito Santo e Brascan, e o pagamento de ágio, nesta ocasião, fundamentado em rentabilidade futura. Apenas não se verificou a condição Fl. 3391DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.392 15 exigida no art. 386 do RIR/99 para dedutibilidade da amortização do ágio antes da alienação do investimento. Esta Relatora já se manifestou contrariamente a este tipo de operação, que busca superar os impedimentos práticos verificados no atendimento às condições legais para dedução, na apuração do IRPJ e da CSLL, da amortização do ágio antes da alienação do investimento. Neste sentido é o voto no Acórdão nº 1101000.835 (...) Por fim, a recorrente enuncia outras formas que poderia ter adotado para beneficiarse da amortização fiscal do ágio. Contudo, o fato é que elas não foram implementadas, optandose por fórmula, em razão de interesses negociais diversos, e por meio da qual subsistiram ativas investidora e investida, em afronta ao requisito essencial da lei, que é a unificação patrimonial destas entidades. Assim, resta comprovada a conduta contrária à lei, intencionalmente praticada pelo contribuinte, mas que no entender da Fiscalização seria, inclusive, hábil a justificar a qualificação da penalidade. Ocorre que, se de um lado não apenas as omissões de dados e informações constituem o dolo necessário para caracterização da fraude, verificandose esta também quando o sujeito passivo constrói um cenário falso para aparentar a presença dos requisitos legais que autorizariam a dedução por ele pretendida, não é possível afirmar que a conduta da autuada, no presente caso, tenha alcançado estes contornos. O grupo empresarial buscou usufruir do que entendia ser um benefício fiscal constituindo empresa veículo para, a partir dela, formalizar uma incorporação que não realizou o objetivo final da lei, qual seja, a união patrimonial entre investida e investidora. De outro lado, porém, o ágio efetivamente existiu e foi pago, apenas não se verificando a efetiva incorporação entre investidora e investida. Na medida em que somente a adquirente original do investimento detinha as condições necessárias para a aquisição, a impossibilidade de aproveitamento do ágio era uma desvantagem a ser considerada nas decisões empresariais. Mas, interpretando de forma diversa a legislação, o grupo empresarial praticou os atos que reputou válidos para amortizar o ágio pago aos Grupos Brascan e Espírito Santo, atos que devem ser reprovados com a conseqüente exigência do crédito tributário. Contudo, mesmo valendose da Sobraser Participações Ltda apenas para atribuir efeitos fiscais à amortização do ágio, não se vislumbra dolo suficiente à caracterização da fraude tributária, na medida em que o ágio existe e foi pago, à semelhança de outros casos práticos que ensejaram o aproveitamento do disposto no art. 7o da Lei nº 9.532/97, a motivar a equivocada interpretação da contribuinte. Encerrando, quanto à multa isolada, a recorrente questiona o fato de ela ter sido formalizada concomitantemente com a multa Fl. 3392DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.393 16 de ofício aplicada sobre o ajuste anual, em decorrência da mesma infração. Ocorre que a legislação fixa como regra a apuração trimestral do lucro real ou da base de cálculo da CSLL, e faculta aos contribuintes a apuração destes resultados apenas ao final do anocalendário caso recolham as antecipações mensais devidas, com base na receita bruta e acréscimos, ou justifiquem sua redução/dispensa mediante balancetes de suspensão/redução. Se assim não procedem, desde a redação original da Lei nº 9.430/96 estava assim disposto: (...) Concluise, daí, que o legislador estabeleceu a possibilidade de a penalidade ser aplicada mesmo depois de encerrado o ano calendário correspondente, e ainda que evidenciada a desnecessidade das antecipações, nesta ocasião, por inexistência de IRPJ ou CSLL devidos na apuração anual. Para exonerarse da referida obrigação, cumpria à contribuinte levantar balancetes mensais de suspensão, e evidenciar a inexistência de base de cálculo para recolhimento das estimativas durante todo o anocalendário. (...) Observese, ainda, que a norma antes citada recebeu a seguinte redação pela Medida Provisória n.º 351/2007, posteriormente convertida na Lei nº 11.488/2007: (...) Nestes termos, em ambos os dispositivos estão presentes idênticos elementos para aplicação da penalidade: permanece ela isolada, aplicável aos casos de falta de recolhimento de estimativas mensais de IRPJ e CSLL por pessoa jurídica (art. 2o da Lei nº 9.430/96), mesmo se apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa da CSLL ao final do anocalendário. A única distinção é o percentual aplicado, agora de 50% e não mais de 75%, como aplicado pela autoridade lançadora. Impróprio, assim, falar em aplicação concomitante de penalidades em razão de uma mesma infração: o fato ilícito que justifica a multa isolada é o não cumprimento da obrigação correspondente ao recolhimento das estimativas mensais – obrigação acessória imposta aos optantes pela apuração anual das bases tributáveis – e o fato ilícito que motiva a multa proporcional é o não cumprimento da obrigação referente ao recolhimento do tributo devido ao final do período. E, quanto aos juros de mora incidentes sobre a multa de ofício, adoto as razões de decidir da I. Conselheira Viviane Vidal Wagner expressas em voto vencedor em julgamento proferido em 11/03/2010 na Câmara Superior de Recursos Fiscais, formalizado no Acórdão nº 910100.539: (...) A multa qualificada foi afastada por unanimidade pelo Colegiado a quo, pelas razões do voto do Relator: Fl. 3393DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.394 17 Por mais que me esforce, não consigo enxergar a máfé aventada pela fiscalização, que inclusive gerou a qualificação da multa de ofício. A Redatora do voto vencedor menciona a qualificação da multa em trecho do seu voto: Assim, resta comprovada a conduta contrária à lei, intencionalmente praticada pelo contribuinte, mas que no entender da Fiscalização seria, inclusive, hábil a justificar a qualificação da penalidade. Ocorre que, se de um lado não apenas as omissões de dados e informações constituem o dolo necessário para caracterização da fraude, verificandose esta também quando o sujeito passivo constrói um cenário falso para aparentar a presença dos requisitos legais que autorizariam a dedução por ele pretendida, não é possível afirmar que a conduta da autuada, no presente caso, tenha alcançado estes contornos. O grupo empresarial buscou usufruir do que entendia ser um benefício fiscal constituindo empresa veículo para, a partir dela, formalizar uma incorporação que não realizou o objetivo final da lei, qual seja, a união patrimonial entre investida e investidora. De outro lado, porém, o ágio efetivamente existiu e foi pago, apenas não se verificando a efetiva incorporação entre investidora e investida. A Procuradoria recebeu os autos do processo em 08/11/2013 (fls. 2.994), interpondo recurso especial em 12/11/2013 (fls. 4.544), no qual alega divergência na interpretação da lei tributária a respeito da multa qualificada, tratandoa sob os seguintes enfoques: (i) omissão significativa da receita, sendo indicados como paradigmas os acórdãos: (i.a) 10196.668 (processo administrativo nº 19647.000259/200768)), no qual se decidiu que "deixar de escriturar parcela significativa dos seus rendimentos, torna notório o intuito de retardar o conhecimento, por parte da autoridade fiscal, das circunstâncias materiais da obrigação tributária, justificando a aplicação da multa majorada"; e (i.b) 10196.757 (13971.000968/200785), constando desta decisão que "De acordo com as planilhas de fls. 1761 e 1762, os valores contabilizados não chegam a 10% dos valores movimentados em instituições financeiras de titularidade da contribuinte, caracterizando, dessa maneira, a intenção fraudulenta da contribuinte". (ii) prática reiterada da infração, com os seguintes paradigmas apontados: (ii.a) 10194.095 (10166.014821/200183), do qual se extrai: "A prática reiterada de infrações definidas como falta de recolhimento e/ou de declaração inexata, por diversos anos seguidos, caracteriza indício veemente da ocorrência de irregularidades definidas nos artigos 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64 e justifica a aplicação da multa qualificada", e Fl. 3394DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.395 18 ii) 9101001.002 (10980.003004/200449), verbis: "durante períodos de apuração sucessivos, visando a retardar o conhecimento da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal pela autoridade fazendária, caracterizase a figura da sonegação descrita no art. 71 da Lei nº 4.502/196, impondose a aplicação da multa de ofício qualificada" O Presidente da 1ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento (Conselheiro Marcos Aurélio Pereira Valadão) deu seguimento ao recurso especial relativamente a dois paradigmas (10196.668 e 10196.757), em decisão da qual se reproduz trecho a seguir: Nos paradigmas, a multa qualificada foi imposta e mantida em decorrência de reiterada omissão de receitas ante a existência de conduta dolosa em lançamento de IRPJ com a intenção de fraudar o Fisco. No caso presente, a multa foi afastada. Há, portanto, de início, situações com resultados diferentes. Há que se considerar que em juízo de prelibação, como é a admissibilidade de recurso especial, sem adentrar profundamente nas questões a serem discutidas, vislumbrase o antagonismo entre o acórdão recorrido e os paradigmas no que tange à aplicação da lei que trata da qualificação da multa em casos em que há a ocorrência de conduta que pode ser considerada como dolosa, por resultar em redução do imposto devido, com reiteração. Daí que o recurso especial deve ser admitido em vista da divergência suscitada. A Recorrente, quanto à mesma matéria, traz outros dois paradigmas, o que lhe oportunizaria a apreciação de quatro paradigmas, ferindo, assim, o Regimento Interno, que limita a análise a dois paradigmas por matéria. Deixo, portanto, de apreciar os Acórdãos nºs 10194.095, 9101001.002 e 107 07.937 por expressa vedação regimental. (...) Em razão de terem sido preenchidos os requisitos do art. 67 do RICARF, DOU SEGUIMENTO AO RECURSO ESPECIAL POR DIVERGÊNCIA. Em 14/08/2015 o contribuinte foi intimado quanto ao acórdão do recurso voluntário, recurso especial e sua admissibilidade (fls. 3025). O contribuinte, assim, apresentou embargos de declaração em face do acórdão da Turma a quo em 20/08/2015, no qual sustentou a existência de duas contradições no acórdão: (i) voto vencedor "afirma que não era possível a amortização do ágio no momento em que a Accor Participações, adquirente, incorporou as empresas Cia. Sinal de Participações e Sinal Participações, adquiridas porque o ágio teria sido fundamentado na rentabilidade futura da embargante". "Logo em seguida, afirma que 'as empresas envolvidas na incorporação devem ser, necessariamente, a adquirente da participação societária e a investida adquirida'", (ii) o voto vencedor reconhece que as "ações da embargante pertenciam a três diferentes grupos" e, a despeito disso, menciona que "ao longo das operações realizadas, o controle da Ticket Serviços S/A .... sempre esteve sob o Grupo Accor". Os embargos de declaração foram rejeitados por decisão da Presidente de Câmara (fls. 3.075/3.078), com a intimação do contribuinte em 18/01/2016. Fl. 3395DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.396 19 Nesse contexto, o contribuinte apresentou recurso especial em 02/02/2016 (fls. 3.085/3.130), no qual sustenta divergência na interpretação da lei tributária a respeito dos seguintes temas: (i) dedutibilidade do ágio apurado em aquisição de investimentos, indicando como paradigmas os acórdãos: (i.a) 1201001.242, do qual se extrai: "Se o ágio na aquisição do investimento efetivamente ocorreu, não sendo fruto de operações entre empresas do mesmo grupo econômico (ágio interno), incabível a glosa da despesa com sua amortização fundada no emprego da assim chamada 'empresa veículo'" (i.b) 1402001.264, constando deste acórdão que: "As premissas básicas para amortização de ágio, com fulcro nos art. 7º, inciso III, e 8º, da Lei 9.532 de 1997, são: i) o efetivo pagamento do custo total de aquisição, inclusive o ágio; ii) a realização das operações originais entre partes não ligadas; iii) seja demonstrada a lisura na avaliação da empresa adquirida, bem como a expectativa de rentabilidade futura. Cumpridas essas premissas, cancelase a glosa." (ii) aplicação da multa isolada sobre estimativas mensais, com a identificação dos seguintes acórdãos paradigmas : (ii.a) 1402001.948, verbis: "É improcedente a aplicação de penalidade pelo não recolhimento de estimativa quando a fiscalização apura, após o encerramento do exercício, valor de estimativas superior ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou Contribuição Social sobre o Lucro Líquido apurado em sua escrita fiscal ao final do exercício. Ademais, não comporta a cobrança de multa isolada em lançamento de ofício, por falta de recolhimento de tributo por estimativa, sob pena de dupla incidência de multa de ofício sobre uma mesma infração". (ii.b) 1103001.153, do qual consta: "Multa isolada para as estimativas descabida. Apenado o continente, incabível apenar o conteúdo. Penalizar pelo todo e ao mesmo tempo pela parte do todo seria uma contradição de termos lógicos e axiológicos. Princípio da consunção em matéria apenatória." (iii) incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício, sendo apresentados os seguintes acórdãos paradigmas: (iii.a) 910100.772, no qual se decidiu: "Os juros de mora só incidem sobre o valor do tributo, não alcançando o valor da multa ofício aplicada". (iii.b) 1202001.118, verbis: "Não incidem os juros com base na taxa Selic sobre a multa de ofício, vez que o artigo 61 da Lei nº 9.730/96 apenas impõe sua incidência sobre débitos decorrentes de tributos e contribuições. Igualmente não incidem os juros prebistos no artigo 161 do CTN sobre a multa de ofício." Fl. 3396DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.397 20 Este recurso especial também foi admitido pelo Presidente da Primeira Câmara (Conselheiro André Mendes Moura): Assim, passo à análise da admissibilidade do recurso especial quanto à matéria Dedutibilidade, para fins fiscais, das quotas de amortização de ágio apurado em aquisição de investimento a que se refere o item "a". (...) Como se vê, enquanto o acórdão recorrido negou o direito à dedutibilidade da amortização fiscal do ágio "transferido" a outra empresa do grupo mediante o uso de "empresa veículo", ambos os acórdãos paradigmas consignaram ser regular a utilização de "empresa veículo", desde que o ágio seja fruto de operação ocorrida entre partes independentes e desde que haja efetivo pagamento. O confronto dos fundamentos expressos nos votos condutores dos acórdãos recorrido e paradigmas evidencia que o contribuinte logrou comprovar a ocorrência do alegado dissenso jurisprudencial. Desse modo, comprovada a divergência jurisprudencial, devese DAR seguimento ao recurso especial quanto a essa matéria tratada no item "a". A seguir, passo a análise da matéria a que se refere o item "b" Impossibilidade de aplicação da multa isolada por falta de pagamento das estimativas mensais do IRPJ e da CSLL, concomitante com a multa lançada de ofício. (...) O confronto dos fundamentos expressos nos votos condutores dos acórdãos recorrido e paradigmas evidencia que o contribuinte logrou comprovar a ocorrência do alegado dissenso jurisprudencial. Desse modo, comprovada a divergência jurisprudencial, devese DAR seguimento ao recurso especial do contribuinte, também em relação ao item "b". Quanto à matéria tratada no item "c" Incidência de juros sobre a multa de ofício, o acórdão recorrido possui a seguinte ementa: (...) O confronto dos fundamentos expressos nos votos condutores dos acórdãos recorrido e paradigmas evidencia que o contribuinte logrou comprovar a ocorrência do alegado dissenso jurisprudencial. Desse modo, comprovada a divergência jurisprudencial, devese DAR seguimento ao recurso especial também quanto a essa matéria tratada no item "c". Do exame dos requisitos de admissibilidade, verifico que os acórdãos paradigmas apresentados como divergentes foram proferidos por colegiado distinto do acórdão recorrido e restou demonstrada a divergência apontada, razão pela qual DOU SEGUIMENTO ao Recurso Especial do contribuinte. (negritos originais) A Procuradoria foi intimada, apresentando contrarrazões (fl. 3349/3376), nas quais pleitea não seja conhecido o recurso, eis que: (i) não demonstrado no recurso qual a legislação interpretada de forma divergente, como exigiria o artigo 67, §1º, do RICARF; (ii) Fl. 3397DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.398 21 também não deveria ser conhecido quanto à multa isolada relativa às estimativas mensais, pois os paradigmas indicados tratando de multa aplicada posteriormente à vigência da Lei nº 11.488/2007 contrariariam a Súmula CARF 105. No mérito, a Procuradoria sustenta a improcedência dos argumentos do contribuinte, notadamente porque (i) teriam sido realizadas operações societárias unicamente para reduzir a base de cálculo do IRPJ e CSLL, sem propósito negócial; (ii) a interpretação dos artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997 impediria a dedutibilidade de ágio como o destes autos; (iii) seria possível aplicar cumulativamente multa de ofício e isolada sobre estimativas mensais, nos termos do artigo 44, II, da Lei nº 9.430/1996; e (iv) seria legítima a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. É o relatório. Voto Vencido Conselheira Cristiane Silva Costa, Relatora. Recurso Especial do contribuinte O recurso especial do contribuinte é tempestivo, tendo sido demonstrada a divergência na interpretação da lei tributária, conforme despacho que admissibilidade cujas razões adoto no presente voto. Passo a enfrentar os requerimentos da Recorrida para não conhecimento do recurso. Com efeito, a Procuradoria pede seja negado conhecimento ao recurso especial pois não teria sido demonstrada a legislação interpretada de forma divergente como exigiria o artigo 67, §1º, do RICARF. Afasto o argumento pois o recurso especial do contribuinte é claro ao mencionar os dispositivos legais cuja interpretação divergente foram objeto de recurso especial. A título de exemplo, consta às fls. 6 do recurso que "o v. acórdão, analisando o artigo 7º da Lei n. 9532/97, e transcrevendo trecho do acórdão n. 1101000.835, assim concluiu.... Vejase que, analisando as mesmas normas jurídicas, o acórdão recorrido entendeu que a participação da chamada empresa veículo invalida a amortização do ágio, em contraposição ao acórdão n. 1201001.242, que reconheceu expressamente que esse aspecto, por si só. não autoriza a gloa das amortzações de ágio. A evidência da divergência aparece também no que se refere à interpretação feita pelas decisões sobre o conceito de 'investidor original'. De fato, a decisão recorrida entende que a norma do art. 7º da Lei n. 9532 aplicase somente para a pessoa jurídica que possuía os recursos utilizados para aquisição, a qual é chamada de 'investidor original', não sendo aplicálve quando há Fl. 3398DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.399 22 participação de terceira pessoa na operação (empresa veículo), enquanto o acórdão paradigma entende que esse entendimento 'ensejaria uma interpretação restritiva dessas normas no tocante à ideia de 'verdadeiro investidor', a qual é 'frontalmente contrária à finalidade para a qual foram criados os arts. 7º e 8º da Lei n. 9532'.' " Assim, rejeito o pedido de não conhecimento do recurso especial quanto ao mérito (ágio). A Procuradoria ainda alega que não deveria ser conhecido o recurso especial do contribuinte quanto à multa isolada relativa às estimativas mensais, pois os paradigmas indicados tratando de multa aplicada posteriormente à vigência da Lei nº 11.488/2007 contrariariam a Súmula CARF 105. Lembro que o presente processo trata da imposição de multa por estimativas mensais relativas ao período de setembro a dezembro de 2007 e janeiro a novembro de 2008. Os acórdãos paradigmas indicados pelo contribuinte a respeito do tema são os de número 1402 001.948 e 1103001.153. Destaco trecho de ementa de tais acórdãos: Acórdão 1402001.948: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Exercício: 2009 (...) MULTA ISOLADA. FALTA DE RECOLHIMENTO DE ESTIMATIVAS. VERIFICAÇÃO APÓS O ENCERRAMENTO DO EXERCÍCIO. CONCOMITÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. O artigo 44 da Lei nº 9.430, de 1996, preceitua que a multa de ofício deve ser calculada sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição, materialidade que não se confunde com o valor calculado sob base estimada ao longo do ano. O Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido efetivamente devido pelo contribuinte surge com o lucro apurado em 31 de dezembro de cada anocalendário. É improcedente a aplicação de penalidade pelo não recolhimento de estimativa quando a fiscalização apura, após o encerramento do exercício, valor de estimativas superior ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica ou Contribuição Social sobre o Lucro Líquido apurado em sua escrita fiscal ao final do exercício. Ademais, não comporta a cobrança de multa isolada em lançamento de ofício, por falta de recolhimento de tributo por estimativa, sob pena de dupla incidência de multa de ofício sobre uma mesma infração. Acórdão 1103001.153 Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica IRPJ Anocalendário: 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 (...) Fl. 3399DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.400 23 MULTA ISOLADA E MULTA SOBRE IRPJ E CSLL EFETIVOS CONCOMITÂNCIA Multa isolada para as estimativas descabida. Apenado o continente, incabível apenar o conteúdo. Penalizar pelo todo e ao mesmo tempo pela parte do todo seria uma contradição de termos lógicos e axiológicos. Princípio da consunção em matéria apenatória. A aplicação da multa de ofício de 150% sobre IRPJ e CSLL exigidos exclui a aplicação da multa de ofício de 50% sobre IRPJ e CSLL por estimativa dos mesmos anoscalendário. Notese que os acórdãos paradigmas tratam de fatos contemporâneos aos analisados nestes autos e, assim, trataram do artigo 44, da Lei nº 9.430/1996 com redação vigente ao tempo dos fatos ora em discussão. Além disso, não há qualquer ofensa à Súmula CARF 105. Diante disso, rejeito a alegação da Procuradoria, conhecendo o recurso especial do contribuinte. Por tais razões, voto por conhecer o recurso especial do contribuinte. Passo, assim, à análise do mérito deste recurso. Dedutibilidade do ágio Em síntese, o acórdão recorrido entendeu pela manutenção da glosa da despesa com ágio porque: " para a dedução fiscal da amortização de ágio fundamentado em rentabilidade futura é necessário que a incorporação se verifique entre a investida e a pessoa jurídica que adquiriu a participação societária com ágio. Não é possível a amortização se o investimento subsiste no patrimônio da investidora original" (trecho da ementa). O acórdão recorrido, assim, manteve o lançamento pelo seu fundamento, já que neste foi identificado como causa da glosa: A criação de uma sociedade para posterior extinção por incorporação revela evidente falta de propósito negocial, ou seja, inexistência de fundamento econômico da transformação societária. (...) Nesse contexto, qual foi o papel da empresa Sobraser Participações Ltda.? Respondemos: transferir o ágio antes contabilizado na Accor Participações S.A. para a Ticket Serviços S.A. através da incorporação reversa da Sobraser e se beneficiar INDEVIDAMENTE da amortização (verdadeiro benefício fiscal) do inciso III do artigo 389 do RIR/99. (...) Diante disso, tratarei no presente voto da possibilidade de surgimento de ágio com a utilização de holding de investimento, denominada informalmente de "empresa veículo". O lançamento tributário e o acórdão recorrido tratam da interpretação do s artigos artigo 7º e 8º, da Lei nº 9.532/1997. Lembro o teor do artigo 7º, da Lei nº 9.532/1997: Art. 7º A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 26 de Fl. 3400DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.401 24 dezembro de 1977: (Vide Medida Provisória nº 135, de 30.10.2003) I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "a" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "c" do § 2º do art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 1977, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata a alínea "b" do § 2° do art. 20 do Decretolei n° 1.598, de 1977, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (Redação dada pela Lei nº 9.718, de 1998) (...) § 1º O valor registrado na forma do inciso I integrará o custo do bem ou direito para efeito de apuração de ganho ou perda de capital e de depreciação, amortização ou exaustão. § 2º Se o bem que deu causa ao ágio ou deságio não houver sido transferido, na hipótese de cisão, para o patrimônio da sucessora, esta deverá registrar: a) o ágio, em conta de ativo diferido, para amortização na forma prevista no inciso III; b) o deságio, em conta de receita diferida, para amortização na forma prevista no inciso IV. § 3º O valor registrado na forma do inciso II do caput: a) será considerado custo de aquisição, para efeito de apuração de ganho ou perda de capital na alienação do direito que lhe deu causa ou na sua transferência para sócio ou acionista, na hipótese de devolução de capital; b) poderá ser deduzido como perda, no encerramento das atividades da empresa, se comprovada, nessa data, a inexistência do fundo de comércio ou do intangível que lhe deu causa. § 4º Na hipótese da alínea "b" do parágrafo anterior, a posterior utilização econômica do fundo de comércio ou intangível sujeitará a pessoa física ou jurídica usuária ao pagamento dos tributos e contribuições que deixaram de ser pagos, acrescidos de juros de mora e multa, calculados de conformidade com a legislação vigente. § 5º O valor que servir de base de cálculo dos tributos e contribuições a que se refere o parágrafo anterior poderá ser registrado em conta do ativo, como custo do direito. Fl. 3401DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.402 25 E a previsão do artigo 8º, da Lei nº 9.532/1997, verbis: Art. 8º O disposto no artigo anterior aplicase, inclusive, quando: a) o investimento não for, obrigatoriamente, avaliado pelo valor de patrimônio líquido; b) a empresa incorporada, fusionada ou cindida for aquela que detinha a propriedade da participação societária. Em comentários aos citados dispositivos legais, Marcos Vinicius Neder e Lavínia Moraes de Almeida Nogueira Junqueira tratam da possibilidade de holding e incorporação reversa, sem prejuízo do reconhecimento do ágio dedutível: A Lei nº 9.532/1997 expressamente veio a permitir a dedução do ágio, no caso da "incorporação reversa", algo que não estava claro na legislação anterior. Ou seja, o ágio passou a ser dedutível também no momento em que a investida incorpora a investidora. Tratase, claramente, da incorporação da investidora direta. Essa permissão expressa que autoriza deduzir o ágio na "incorporação reversa" teve como objetivo estimular o interesse da iniciativa privada na aquisição de participação societária em empresas públicas em fase de privatização. (...)" A Lei não proibiu o aproveitamento do ágio no caso de incorporação de empresas holdings, constituídas pelos controladores indiretos com o propósito de adquirir, consolidar e gerir a participação na empresa investida. Não apenas isso não foi proibido como foi expressamente autorizado, na medida em que a Lei permitiu a dedução do ágio no caso da incorporação reversa pela empresa investida na empresa que nela detém a participação acionária e estimulou os processos de privatização (...) A norma tributária, ao conceder o incentivo tributário de aproveitamento do ágio na Lei 9.532/1997, não fez restrição ao uso de holdings, muito pelo contrário as incentivou, como comentamos anteriormente, inclusive ao permitir a dedução do ágio na incorporação reversa. Assim, a mera existência da Instrução CVM 349/2001, que dispõe sobre o tratamento contábil do ágio na incorporação reversa de holdings em empresas de capital aberto, e a existência dos procedimentos contábeis nela sugeridos não afetam em nada a possibilidade de dedução do ágio na incorporação reversa da holding. (...) A Lei não restringiu a apuração ou a dedução fiscal de ágio quando a empresa incorporada, adquirente do investimento, fosse empresa pura de holding, ou quando a empresa tivesse recebido recursos de seu sócio ou acionista em aumento de capital, ou ainda quando tivesse recebido a participação acionária em subscrição de ações de sua emissão. Logo, o tratamento de todas essas hipóteses, quando da incorporação reversa da holding Y, é alcançado, de forma equivalente, pela Lei" (Análise do Tratamento Contábil e Fiscal do Ágio em Fl. 3402DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.403 26 Estrutura de Aquisição ou Titularidade de Sociedades quanto há a Interposição de Holding, in Controvérsias JurídicoContábeis, 4ª Volume, São Paulo, Dialética, 2013, fls. 161, 162 e 179). Destaco ainda voto vencido do acórdão recorrido, apresentado pelo ex Conselheiro Benedicto Celso Benício Júnior: Considerando o detalhamento dos fatos e do direito feito por meio do relatório, principalmente quanto à diagramação das operações societárias ocorridas permitome ir direto ao ponto nevrálgico que permeou o presente lançamento, qual seja, a utilização de operações societárias sucessivas que culminaram na passagem de ágio anteriormente constituído na empresa ACCOR Participações S/A (ACOPART) para a autuada, com sua consequente amortização fiscal. Digo isto, pois, como evidenciado, restou incontroversa e, portanto, impassível de questionamento, a origem e a formação dos ágios objeto de transferência para a Recorrente. Os mesmos pautaramse em aquisições feitas pela Cia Sinal de participações em 1999 (ágio na aquisição do investimento na Sinal Participações) e em 2006 (ágio na aquisição dos investimentos nas empresas “Cia Sinal” e “Sinal” junto aos grupos Brascan e Espírito Santo, respectivamente), dispensandose assim maiores comentários acerca de sua procedência. Sustenta a Recorrente, que o intuito da reorganização societária ocorrida dentro do grupo ACCOR, que envolveu a criação da SOBRASER, visou segregar ativos relacionados a suas atividades financeiras e nãofinanceiras, considerando a futura intenção do grupo à época em transformála uma sociedade de crédito, investimento e financiamento (instituição financeira), que apesar de não levado a cabo após a reestruturação ocorrida, por alegadas questões conjunturais de ordem legislativotributária e econômica, foi objeto de amplo estudo interno conforme denota prospecto anexado aos autos (fls 2773 a 2898). Por outro lado, o fisco ataca as sucessivas operações societárias ocorridas internamente no grupo ACCOR após a incorporação pela ACOPART das adquiridas “Cia Sinal” e “Sinal Participações” (detentoras de investimento na autuada), principalmente a criação e efemeridade da empresa SOBRASER Participações Ltda, para a qual foi vertido por meio de cisão o investimento na Recorrente e os ágios anteriormente constituídos. Em suma, a acusação que paira sobre a Recorrente (itens 5.2.3 e 6 do TVF, fls 2059 a 2065) foi de ter constituído empresa sem efetiva finalidade empresarial (exercício de atividade econômica, representada pela produção de bens e/ou serviços) em desrespeito a preceitos do Código Civil (arts 966, 981 e 982) para tão somente transferir o ágio da ACOPART a autuada, possibilitando nela sua amortização fiscal. Seria um clássico exemplo de ocorrência da alcunhada “empresa veículo”, tão combatida em vários julgados deste colegiado. Fl. 3403DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.404 27 Segundo o fisco não haveria causa econômica além da economia fiscal para a criação da SOBRASER em 19.04.07 por representantes legais da ACCOR Participações S/A e pela própria ACOPART, que teria sido utilizada apenas como artifício para a dedu tibilidade na autuada do ágio pago pelas aquisições efetuadas pela ACOPART no ano anterior, tanto que em um período de 10 dias (entre 10.08.2007 e 20.08.2007) teria recebido parte do acervo patrimonial da ACOPART relativo ao investimento na autuada, bem como o ágio oriundo de operações com terceiro s, e sido incorporada por sua própria investia (a Recorrente) de forma reversa. A DRJ corrobora o entendimento da autoridade lançadora, concluindo que apenas um contrato social regular e um CNPJ não significam a existência de uma sociedade empresária. Enaltece que o uso de uma empresa veículo como a SOBRASER em sua acepção corriqueira em dissonância aos ditames do Código Civil para a mera transferência artificial do ágio, representa o alardeado abuso de direito. A Recorrente por sua vez, destaca que o grupo ACCOR poderia ter alcançado o mesmo resultado de outras formas, qual seja de amortização do ágio na autuada, inclusive de forma direta sem a criação da ACOBRASPART e da SOBRASER, uma vez que a partir da incorporação da “Cia Sinal” e da “Sinal” em 21.05.2007 a ACOPART já faria jus a sua dedução, bastando, por exemplo, apenas incorporar a autuada para que o benefício fiscal em debate pudesse ser gozado legitimamente no âmbito de suas atividades. Só não o fez por uma série de entraves burocráticos que decorreriam da extinção do CNPJ da autuada junto a órgãos públicos, fornecedores (incluindo credenciados) e clientes, bem como organizacionais, no âmbito do grupo ACCOR. Em suma, sustenta que a SOBRASER foi uma sociedade de propósito específico, para a qual não eram necessários empregados, nem a realização de outros negócios desconectados de sua razão de existir, não sendo necessário que tivesse longa existência. (...) Tenho acompanhado nesta casa as mais variadas discussões acerca do direito a amortização fiscal de ágio lastreado em rentabilidade futura previsto nos arts 7º e 8º da Lei nº 9.532/97 (regulamentado pelo art. 386,III do RIR/99), que surgiu à sua época como forma de incentivo às privatizações. Já foram trazidos a julgamento inúmeros debates acerca da legitimidade de sua formação, inclusive pela utilização de empresas veículo, analise das partes envolvidas (ágio de si mesmo), questionamento acerca de sua forma de pagamento (incorporação de ações), contendas sobre os critérios dos laudos de avaliação que o suportam, e como no presente no caso a análise de litígios que envolvem o uso de sucessivas operações societárias visando implementar seu aproveitamento. Fl. 3404DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.405 28 Pois bem. Particularmente entendo que deve ser reprimida a utilização de reorganizações societárias para fins de amortizações fiscais de ágio quando o resultado delas provenientes propicia de forma simulada a obtenção de resultados que não seriam lídimos pelas vias normais e diretas, sem a aplicação de métodos heterodoxos. Todavia, no presente caso enxergo que o direito a amortização do ágio fiscal no CNPJ da autuada, não necessitaria da estrutura utilizada pelo grupo ACCOR e atacada pela fiscalização, podendo realmente ser obtido de forma direta, uma vez que com a incorporação das “Cia Sinal” e da “Sinal” a ACOPART teria o legítimo de direito de amortizar o ágio pago nestas aquisições, inclusive aquele já carregado pela Cia Sinal. Neste cenário, bastaria apenas incorporar a autuada, o que seria plenamente possível, de forma a proceder a amortização fiscal do ágio no âmbito das atividades operacionais da TICKET. O resultado obtido pela reorganização societária engendrada teve o mesmo efeito do cenário ortodoxo acima descrito. Não vejo como usar o verbo simular para operação em que o resultado obtido é o mesmo independente das vias eleitas para sua obtenção. A mim resta muito claro, que os motivos que levaram a criação da ACOBRASPART e principalmente da SOBRASER tiveram nítido intuito organizacional e não sonegatório como tentar fazer crer a fiscalização. Os indícios apontados pela autoridade fiscal e o suposto desrespeito a dispositivos do Código Civil quanto a uma suposta falta de propósito negocial e econômico da SOBRASER somente perfariam prova contra a Recorrente, se por meio da reorganização realizada o resultado obtido fosse defeso pelas vias ordinárias. Não é o que ocorre. Nesta ordem de considerações, filiome à corrente jurisprudencial deste pretório e ao entendimento dos pareceristas que assessoram a Recorrente no sentido de que o uso de roupagem jurídica diferenciada, mas que não interfere no resultado obtido é um direito disponível e acessível ao contribuinte, sem que tal exercício possa ser oposto pelas autoridades fiscais, sob pena de ingerência na atividade econômica do contribuinte. Peço vênia inclusive, para a transcrição de outras possíveis operações societária elencadas pela Recorrente que levariam ao mesmo fim obtido, sem ofensa a legislação instituidora do guerreado benefício fiscal. (...) A norma legal prevê a possibilidade de transferência de ágio entre empresas na ocorrência de fusão, cisão e incorporação. Assim, o patrimônio da empresa sucedida passa para o Fl. 3405DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.406 29 patrimônio da sucessora, representado pelos bens, direitos e obrigações. No caso da existência de ágio no patrimônio da empresa sucedida, será o mesmo transferido para o patrimônio da sucessora. (...) Para mim ficou meridianamente claro que a ACOBRASPART e a SOBRASER foram criadas para evitar contratempos organizacionais e burocráticos que seriam enfrentados pela autuada, caso fosse incorporada diretamente pela ACOPART e não para redução ilícita da carga tributária, posto que tal empresa já fazia jus a dedução fiscal do ágio em razão das incorporações da “Cia Sinal” e da “Sinal”, bastando somente, como destacado, incorporar a autuada para que os efeitos fiscais da amortização também se irradiassem para suas atividades. Adoto as razões do voto vencido, acima colacionado, para confirmar a legitimidade do ágio tratado nos autos, sem que se vislumbre artificialidade na criação das empresas acima citadas. Acrescento que é legítima a transferência de ágio em operação societária, fundamentandose a hipótese no artigos 248, da Lei nº 6.404/1976 e no artigo 20, do Decreto nº 1.598/1976. O artigo 248, da Lei nº 6.404/1976 teve redação alterada nos anos de 2007 (Lei nº 11.638/2007) e 2008 (Medida Provisória nº 449/2008). Como tratamos nos autos de fatos ocorridos entre 2007 a 2010 reproduzo a seguir a redação vigente do dispositivo legal em cada um dos anos calendários. No anocalendário de 2007, a redação do artigo 248, da Lei nº 6.404/1976 era a seguinte: Art. 248. No balanço patrimonial da companhia, os investimentos em coligadas sobre cuja administração tenha influência significativa, ou de que participe com 20% (vinte por cento) ou mais do capital votante, em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo método da equivalência patrimonial, de acordo com as seguintes normas: (Redação dada pela Lei nº 11.638,de 2007) I o valor do patrimônio líquido da coligada ou da controlada será determinado com base em balanço patrimonial ou balancete de verificação levantado, com observância das normas desta Lei, na mesma data, ou até 60 (sessenta) dias, no máximo, antes da data do balanço da companhia; no valor de patrimônio líquido não serão computados os resultados não realizados decorrentes de negócios com a companhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas; II o valor do investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor de patrimônio líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da coligada ou controlada; Fl. 3406DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.407 30 III a diferença entre o valor do investimento, de acordo com o número II, e o custo de aquisição corrigido monetariamente; somente será registrada como resultado do exercício: a) se decorrer de lucro ou prejuízo apurado na coligada ou controlada; b) se corresponder, comprovadamente, a ganhos ou perdas efetivos; c) no caso de companhia aberta, com observância das normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários. § 1º Para efeito de determinar a relevância do investimento, nos casos deste artigo, serão computados como parte do custo de aquisição os saldos de créditos da companhia contra as coligadas e controladas. § 2º A sociedade coligada, sempre que solicitada pela companhia, deverá elaborar e fornecer o balanço ou balancete de verificação previsto no número I. No ano de 2008 e seguintes, aplicase a redação conferida pela Medida Provisória nº 449/2008, publicada em 03 de dezembro daquele ano e posteriormente convertida na Lei nº 11.941/2009: Art. 248. No balanço patrimonial da companhia, os investimentos em coligadas ou em controladas e em outras sociedades que façam parte de um mesmo grupo ou estejam sob controle comum serão avaliados pelo método da equivalência patrimonial, de acordo com as seguintes normas: (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) I o valor do patrimônio líquido da coligada ou da controlada será determinado com base em balanço patrimonial ou balancete de verificação levantado, com observância das normas desta Lei, na mesma data, ou até 60 (sessenta) dias, no máximo, antes da data do balanço da companhia; no valor de patrimônio líquido não serão computados os resultados não realizados decorrentes de negócios com a companhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas; II o valor do investimento será determinado mediante a aplicação, sobre o valor de patrimônio líquido referido no número anterior, da porcentagem de participação no capital da coligada ou controlada; III a diferença entre o valor do investimento, de acordo com o número II, e o custo de aquisição corrigido monetariamente; somente será registrada como resultado do exercício: a) se decorrer de lucro ou prejuízo apurado na coligada ou controlada; b) se corresponder, comprovadamente, a ganhos ou perdas efetivos; Fl. 3407DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.408 31 c) no caso de companhia aberta, com observância das normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários. § 1º Para efeito de determinar a relevância do investimento, nos casos deste artigo, serão computados como parte do custo de aquisição os saldos de créditos da companhia contra as coligadas e controladas. § 2º A sociedade coligada, sempre que solicitada pela companhia, deverá elaborar e fornecer o balanço ou balancete de verificação previsto no número I. De toda sorte, respeitadas as condições tratadas pelo dispositivo da Lei nº 6.404/1976, desde a original redação, a Lei nº 6.404/1976 obrigava que o investimento adquirido fosse avaliado pelo método de equivalência patrimonial. O artigo 20, do Decreto nº 1.598/1976 tinha a seguinte redação ao tempo dos fatos tratados nestes autos (anos de 2006 a 2008), regulando o desdobramento do custo de aquisição em ágio por rentabilidade futura: Art. 20 – O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em: I – valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo 21; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o número I. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento. § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico: a) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; b) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; c) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam as letras a e b do § 2º deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração. Consta do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto nº 3.000/1999) reprodução da disposição legal em seu artigo 385, verbis: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e Fl. 3408DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.409 32 II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. Ao tratar do ágio sobre expectativa de rentabilidade futura, o artigo 20, do Decreto nº 1.598/1976 como também sua reprodução no RIR/99 trata indistintamente das hipóteses de aquisição da participação, sem qualquer restrição. Portanto, a exigência da aplicação do método de equivalência patrimonial decorre da própria lógica do artigo 248, da Lei nº 6.404/1976, como também do conceito adotado pelo artigo 20, do Decreto nº 1.598/1976. A transferência de ágio efetuada pela Recorrida em operações societárias descritas no relatório deste acórdão , portanto, decorre da regular transferência de investimento em observância a estas normas. Ressalto que o artigo 7º e 8º da Lei nº 9.532/1997, ao tratar da confusão patrimonial como condição da amortização do ágio não tem qualquer referência ao "investidor original", ao contrário do que entendeu a nobre prolatora de voto vencedor no acórdão recorrido. A exigência legal é de investimento adquirido com ágio, que poderá ser deduzido quando houver a confusão patrimonial pela empresa que detenha o investimento adquirido, ou mesmo pela própria investida caso ocorra incorporação reversa. Tenho manifestado neste Colegiado a minha posição sobre a dispensabilidade de confusão patrimonial (fundada pelos artigos 7º e 8º, acima citados) entre investidora original e investida original, na medida em que a legislação não atribui interpretação restritiva nesse sentido. Afinal, há que se ponderar se a origem do ágio é legítima (com a existência de partes independentes, pagamento, demonstração da rentabilidade futura, etc.). Nesse contexto, um vez demonstrada a legítima origem do ágio, não há restrição legal ou contábil à sua transferência juntamente com o investimento a ele relacionado. Diante disso, voto por conhecer e dar provimento ao recurso especial do contribuinte, adotando razões de decidir do voto vencido acima reproduzido. Multa isolada quanto às estimativas mensais O contribuinte alega a impossibilidade de cobrança cumulada da multa isolada, calculada sobre estimativas mensais, com a multa de ofício. Entendo que merece acolhimento o recurso especial nessa matéria. Fl. 3409DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.410 33 A impossibilidade de cobrança cumulada de multa de ofício calculada sobre o saldo do tributo ao pagar no final do ano calendário e da multa sobre estimativas mensais tem por principal fundamento a lógica empregada na sistemática de antecipação por estimativas. Isto porque as estimativas mensais não configuram obrigação tributária autônoma, mas mera técnica de arrecadação. A esse respeito, destaquese artigo 231, do RIR/1999 (Decreto 3.000/1999), que estabelece a compensação dos valores antecipados a título de estimativa mensal ao final do ano: Art. 231. Para efeito de determinação do saldo de imposto a pagar ou a ser compensado, a pessoa jurídica poderá deduzir do imposto devido o valor (Lei nº 9.430, de 1996, art. 2º, § 4º): (...) IV do imposto pago na forma dos arts. 222 a 230. (grifamos) De acordo com o dispositivo do Regulamento do Imposto de Renda, a pessoa jurídica que tenha recolhido estimativas poderá, ao final do anocalendário, deduzilas do saldo a pagar do IRPJ. Tal mecanismo demonstra a relação inafastável entre as estimativas mensais e a apuração ao final do período, confirmando que não se tratam de relações jurídicas tributárias autônomas, mas apenas uma técnica de arrecadação. Considerando a natureza de mera antecipação da estimativa, este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais consolidou entendimento sobre a impossibilidade de sua cobrança após o encerramento do ano calendário, conforme Enunciado n. 82 de sua Súmula: Súmula CARF 82: Após o encerramento do anocalendário, é incabível lançamento de ofício de IRPJ ou CSLL para exigir estimativas não recolhidas. O E. Superior Tribunal de Justiça também decidiu que as estimativas mensais são meras antecipações do fato gerador, que ocorre ao final do período de apuração, verbis: É firme o entendimento deste Tribunal no sentido de que o regime de antecipação mensal é opção do contribuinte, que pode apurar o lucro real, base de calculo do IRPJ e da CSLL, por estimativa, e antecipar o pagamento dos tributos, segundo a faculadde prevista no art. 2º da Lei nº 9.430/96. (Superior Tribunal de Justiça, AgRg no Resp 694.278, Rel. Min. Humberto Martins, DJ de 03/08/2006) Nesse contexto, seria legítima a cobrança de multa isolada sobre estimativas mensais se efetuado o lançamento antes do encerramento do anocalendário, o que não ocorreu no caso do presente processo administrativo. São precisas as considerações de Paulo de Barros Carvalho tratando da relação indissociável entre o tributo pago ao final do ano e a estimativa mensal: Prescreve o art. 2º da Lei n. 9.430/969 que a pessoa jurídica sujeita à tributação com base no lucro real poderá optar pelo pagamento dos tributos, em cada mês, determinados sobre base de cálculo estimada. Feita essa opção, temse recolhimento do IRPJ e da CSLL por estimativa, em que os valores devidos a título de imposto e Fl. 3410DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.411 34 de contribuição são determinados mediante a aplicação, sobre a receita bruta auferida mensalmente, dos percentuais previstos em lei. Essa opção não exclui, contudo, a obrigação de calcular a renda e o lucro líquido no final do anocalendário, e de efetuar o pagamento dos tributos sobre ele incidentes. O §3º do dispositivo acima transcrito não deixa dúvidas a respeito do assunto (...). E o §4º segue a mesma linha de raciocínio, ao estipular que o tributo pago no regime de estimativa deve ser deduzido para fins de determinação do saldo de tributo a pagar. Em sentido semelhante, também, é a disposição do art. 6º da Lei n. 9.430/96, a qual permite entrever a indissociabilidade do tributo pago no regime de estimativa e aquele devido ao final do anocalendário. (...) Os referidos preceitos legais nos levam a concluir que o regime de estimativa não veicula tributos distintos do IRPJ e da CSLL anuais. Tratase de técnica de tributação que implica antecipação do recolhimento de valores presumidamente devidos em 31 de dezembro de cada ano. Por isso, na apuração dos tributoos no último dia do anocalendário (critério temporal do IRPJ e da CSLL) devem ser consideradas as quantias antecipadas e, ainda, se estas forem superiores ao débito efetivo, cabe sua restituição (Derivação e Positivação no Direito Tributário, Volume 1, 2ª edição, São Paulo, Noeses, 2014, fl. 289/290) Sobreleva considerar que o E. Superior Tribunal de Justiça entende indevida a multa isolada quando já imposta multa de ofício, exatamente como ocorrido nos presentes autos, aplicando o princípio da consunção. Destacase ementa de acórdão nesse sentido: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. DEFICIÊNCIA DA FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF. MULTA ISOLADA E DE OFÍCIO. ART. 44 DA LEI N. 9.430/96 (REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 11.488/07). EXIGÊNCIA CONCOMITANTE. IMPOSSIBILIDADE NO CASO. 1. Recurso especial em que se discute a possibilidade de cumulação das multas dos incisos I e II do art. 44 da Lei n. 9.430/96 no caso de ausência do recolhimento do tributo. 2. Alegação genérica de violação do art. 535 do CPC. Incidência da Súmula 284 do Supremo Tribunal Federal. 3. A multa de ofício do inciso I do art. 44 da Lei n. 9.430/96 aplicase aos casos de "totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata". 4. A multa na forma do inciso II é cobrada isoladamente sobre o valor do pagamento mensal: "a) na forma do art. 8° da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; (Incluída pela Lei nº 11.488, de 2007) e b) na forma do art. 2° desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. (Incluída pela Lei n. 11.488, de 2007)". 5. As multas isoladas limitamse aos casos em que não possam ser exigidas concomitantemente com o valor total do tributo devido. Fl. 3411DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.412 35 6. No caso, a exigência isolada da multa (inciso II) é absorvida pela multa de ofício (inciso I). A infração mais grave absorve aquelas de menor gravidade. Princípio da consunção. Recurso especial improvido. (Superior Tribunal de Justiça, Resp 1.496.354, Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJ de 24.03.2015 grifamos) Na mesma linha, é o teor do Enunciado nº 105, da Súmula do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, do Ministério da Fazenda: Súmula CARF nº 105 A multa isolada por falta de recolhimento de estimativas, lançada com fundamento no art. 44 §1º, inciso IV da Lei nº 9.430, de 1996, não pode ser exigida ao mesmo tempo da multa de ofício por falta de pagamento de IRPJ e CSLL apurada no ajuste anual, devendo subsistir a multa de ofício. Como o Enunciado de Súmula explicita que está tratando de lançamentos efetuados sob a vigência do artigo 44, §1º, inciso IV, da Lei nº 9.430/1996, entendo que não seja o caso de simples aplicação deste Enunciado ao caso dos autos, lançado com fundamento no mesmo artigo 44, mas com alteração posterior, isto é, pela Medida Provisória nº 351/2007, convertida na Lei nº 11.488/2007. De toda sorte, o racional que originou a Súmula CARF referida (consunção) deve implicar na mesma conclusão, isto é, na impossibilidade de exigência cumulada destas penalidades. É importante anotar que o artigo 44, da Lei nº 9.430/1996 sofreu pequena alteração pela Medida Provisória nº 351/2007, convertida na Lei nº 11.488/2007, para dispor que: Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: (...) II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal. A exposição de Motivos da Medida Provisória nº 351/2007, que foi convertida na Lei nº 11.488 e alterou o artigo 44 a respeito da multa isolada, atesta que a única alteração veiculada por aquela norma foi quanto ao percentual da multa de ofício, verbis: A alteração do artigo 44 da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, efetuada pelo art. 14 do Projeto tem o objetivo de reduzir o percentual da multa de ofício, lançada isoladamente, nas hipóteses de falta de pagamento mensal devido pela pessoa física ou pela pessoa jurídica a título de estimativa, bem como retira a hipótese de incidência da multa de ofício no caso de pagamento do tributo após o vencimento do prazo, sem o acréscimo de multa de mora. Portanto, após a alteração pela lei nº 11.488/2007, a norma de imposição da multa isolada permanece idêntica salvo quanto ao percentual aplicado, agora de 50%, quando anteriormente era de 75%. Exatamente por isso deveria ser afastada sua cobrança diante da evidente ilegalidade de cumulação de multa isolada sobre estimativas mensais com a multa de ofício. Assim, voto por dar provimento ao recurso especial do contribuinte para afastar a exigência de multa isolada calculada sobre estimativas mensais. Fl. 3412DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.413 36 Juros de Mora sobre a Multa de Ofício Entendo, ainda, pela impossibilidade de juros de mora sobre a multa de ofício. Isto porque o caput do artigo 61 da Lei nº 9.430/1996, trata apenas dos débitos de tributos e contribuições administradas pela Secretaria da Receita Federal, verbis: Art. 61. Os débitos para com a União, decorrentes de tributos e contribuições administrados pela Secretaria da Receita Federal, cujos fatos geradores ocorrerem a partir de 1º de janeiro de 1997, não pagos nos prazos previstos na legislação específica, serão acrescidos de multa de mora, calculada à taxa de trinta e três centésimos por cento, por dia de atraso. § 1º A multa de que trata este artigo será calculada a partir do primeiro dia subseqüente ao do vencimento do prazo previsto para o pagamento do tributo ou da contribuição até o dia em que ocorrer o seu pagamento. § 2º O percentual de multa a ser aplicado fica limitado a vinte por cento. § 3º Sobre os débitos a que se refere este artigo incidirão juros de mora calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. (Vide Medida Provisória nº 1.725, de 1998) (Vide Lei nº 9.716, de 1998) O caput acima colacionado, ao dispor sobre débitos decorrentes de tributos e contribuições tratou dos débitos decorrentes dos fatos geradores que originam a cobrança destes tributos e contribuições, isto é, os débitos dos tributos. Não tratou, assim, das penalidades decorrentes do descumprimento da obrigação tributária. Acrescentese que o §3º deste dispositivo legal trata da possibilidade de incidência de juros de mora sobre os débitos a que se refere o citado artigo, isto é, débitos de tributos e contribuições devidas à Receita Federal do Brasil expressamente tratados pelo caput , confirmando que não há previsão para incidência de juros sobre a multa de ofício. Ressaltese que os parágrafos de um artigo expressam aspectos complementares à norma enunciada no caput do artigo, ou exceções à regra por ele estabelecidas, conforme artigo 11, III, alínea "c", da Lei Complementar nº 95/1998: Art. 11. As disposições normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica, observadas, para esse propósito, as seguintes normas: (...) III para a obtenção de ordem lógica: (...) c) expressar por meio dos parágrafos os aspectos complementares à norma enunciada no caput do artigo e as exceções à regra por este estabelecida; Assim, a disposição do §3º, do artigo 61 deve se conformar ao caput deste dispositivo, regulando, assim, os débitos de tributos, contribuições e multa de mora. Fl. 3413DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.414 37 É oportuno lembrar que o legislador expressamente previu a incidência de juros sobre multas isoladas, como se depreende do artigo 43, da mesma Lei nº 9.430/1996: Art. 43. Poderá ser formalizada exigência de crédito tributário correspondente exclusivamente a multa ou a juros de mora, isolada ou conjuntamente. Parágrafo único. Sobre o crédito constituído na forma deste artigo, não pago no respectivo vencimento, incidirão juros de mora, calculados à taxa a que se refere o § 3º do art. 5º, a partir do primeiro dia do mês subseqüente ao vencimento do prazo até o mês anterior ao do pagamento e de um por cento no mês de pagamento. Ao regular a multa de ofício, em sentido contrário, o artigo 44 da Lei nº 9.430/1996 não estabeleceu expressamente a incidência de juros. Nesse sentido, destacase a , redação do citado dispositivo, com redação vigente ao tempo do fato gerador tratado nestes autos (2007 a 2010): Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (...) Ressaltese que o Código Tributário Nacional trata de crédito tributário com dois sentidos diferentes, em alguns dispositivos tratando da obrigação tributária e a penalidade pelo descumprimento desta obrigação, como se observa dos artigos 121, 139, 142, em outros apenas como a obrigação tributária principal, como se verifica dos artigos 161 e 164. Colacionase o artigo 164, do Código Tributário Nacional: Art. 164. A importância de crédito tributário pode ser consignada judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos: I de recusa de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória; II de subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal; III de exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador. § 1º A consignação só pode versar sobre o crédito que o consignante se propõe pagar. Ao dispor que cabe a consignação na hipótese de recusa ao pagamento "outro tributo ou de penalidade" evidencia que no crédito tributário tratado pelo artigo 164 não está incluída penalidade. No mesmo sentido, dispõe o artigo 161, do Código Tributário Nacional: Fl. 3414DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.415 38 Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês. Notese que o artigo 161, do Código Tributário Nacional, define a incidência de juros de mora, "sem prejuízo das penalidades", revelando que estas penalidades não compõe o crédito tributário na acepção expressa por este dispositivo. O §1º do artigo 161 expressa "aspectos complementares à norma enunciada no caput" (conforme artigo 11, III, alínea "c", da Lei Complementar nº 95/1998) e, portanto, não infirma a conclusão que a penalidade não está incluída no crédito como definido por este dispositivo. Nesse contexto, voto por dar provimento ao recurso especial do contribuinte também para afastar a incidência de juros de mora sobre a multa de ofício. Recurso Especial da Procuradoria: Multa Qualificada O recurso especial da Procuradoria trata da multa qualificada, afastada pelo Colegiado a quo. O Presidente da 1ª Câmara da 1ª Seção de Julgamento deu seguimento ao recurso especial relativamente a dois paradigmas (10196.668 e 10196.757). A Fazenda Recorrente apontou outros 2 acórdãos, que não foram apreciados pelo Presidente de Câmara, mas tal análise é dispensável diante do artigo 67, do RICARF (Portaria MF 343/2015), como também previa o RICARF anterior (Portaria MF nº 256/2009). Ocorre que o primeiro paradigma admitido (10196.668) tem o seguinte quadro fático descrito seu relatório: A empresa foi acusada de ter omitido receitas em 2001, representadas por receitas declaradas pelas companhias seguradoras em suas DIRF e que não foram registradas em sua contabilidade nem justificadas. Além disso, constatou a fiscalização que, em relação às receitas escrituradas, o valor devido do IRPJ, após a compensação dos prejuízos fiscais conforme LALUR não foram declarados em DCTF nem recolhidos. O segundo acórdão paradigma (10196.757) tem o seguinte quadro fático descrito seu relatório: O crédito tributário objeto do presente processo administrativo foi apurado no valor de R$ 8.620.804,23, já inclusos juros e multa de oficio de 150%, e tem origem na omissão de receitas, Fl. 3415DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.416 39 apurada com base e depósitos bancários de origem não comprovada, nos anoscalendário de 2002 a 2004. Diante deste quadro fático relatado pelos acórdãos paradigmas, não há similitude fática que possa justificar o conhecimento do recurso especial da Procuradoria. Portanto, não conheço do recurso especial da Procuradoria. Conclusão Pelas razões expostas, voto por conhecer o recurso especial do contribuinte. No mérito, voto por dar provimento ao recurso especial do contribuinte para reconhecer a legitimidade do ágio; cancelar a multa imposta quanto às estimativas mensais e afastar a incidência de juros sobre a multa de ofício. Ademais, voto por não conhecer o recurso especial da Procuradoria. (assinado digitalmente) Cristiane Silva Costa Voto Vencedor Conselheiro André Mendes de Moura, Redator designado. A princípio, registro que acompanhei a I. Relatora em relação ao não conhecimento do recurso especial da PGFN, e ao conhecimento do recurso especial da Contribuinte. Contudo, não obstante o substancioso voto da I. Relatora, a quem sempre renderei homenagens, peço vênia para divergir no exame do mérito do recurso da Contribuinte, no qual foram tratadas as matérias: 1º) despesa de amortização do ágio; 2º) multa isolada por insuficiência no recolhimento de estimativas mensais; 3º) juros de mora sobre multa de ofício. Passo ao exame do mérito em relação a cada uma delas. I. Despesa de Amortização do Ágio. O voto apresenta análise histórica e sistêmica sobre o tema, para depois tratar do caso concreto. 1. Conceito e Contexto Histórico Fl. 3416DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.417 40 Podese entender o ágio como um sobrepreço pago sobre o valor de um ativo (mercadoria, investimento, dentre outros). Tratandose de investimento decorrente de uma participação societária em uma empresa, em brevíssima síntese, o ágio é formado quando uma primeira pessoa jurídica adquire de uma segunda pessoa jurídica um investimento em valor superior ao seu valor patrimonial. O investimento em questão são ações de uma terceira pessoa jurídica, que são avaliadas pelo método contábil da equivalência patrimonial. Ou seja, a empresa A detém ações da empresa B, avaliadas patrimonialmente em 60 unidades. A empresa C adquire, junto à empresa A, as ações da empresa B, por 100 unidades. A empresa C é a investidora e a empresa B é a investida. Interessante é que emergem dois critérios para a apuração do ágio. Adotandose os padrões da ciência contábil, apesar das ações estarem avaliadas patrimonialmente em 60 unidades, deveriam ainda ser objeto de majoração, ao ser considerar, primeiro, se o valor de mercado dos ativos tangíveis seria superior ao contabilizado. Assim, supondose que, apesar do patrimônio ter sido avaliado em 60 unidades, o valor de mercado seria de 70 unidades, considerase para fins de apuração 70 unidades. Segundo, caso se constate a presença de ativos intangíveis sem reconhecimento contábil no valor de 12 unidades, temse, ao final, que o ágio, denominado goodwill, seria a diferença entre o valor pago (100 unidades) e o valor de mercado mais intangíveis (60 + 10 + 12 = 82 unidades). Ou seja, o ágio passível de aproveitamento pela empresa C, decorrente da aquisição da empresa B, mediante atendimento de condições legais, seria no valor de 18 unidades. Ocorre que o legislador, ao editar o DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977, resolveu adotar um conceito jurídico para o ágio próprio para fins tributários. Isso porque positivou no art. 20 do mencionado decretolei que o denominado ágio poderia ter três fundamentos econômicos, baseados: (1) no sobrepreço dos ativos; e/ou (2) na expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido e/ou (3) no fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. E, posteriormente, os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, autorizaram a amortização do ágio nos casos (1) e (2), mediante atendimento de determinadas condições. Na medida em que a lei não determinou nenhum critério para a utilização dos fundamentos econômicos, consolidouse a prática de se adotar, em praticamente todas as operações de transformação societária, o reconhecimento do ágio amparado exclusivamente no caso (2): expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido. O ágio passou a ser simplesmente a diferença entre o custo de aquisição e o valor patrimonial do investimento. Assim, voltando ao exemplo, a empresa C, investidora, ao adquirir ações da empresa investida B avaliadas patrimonialmente em 60 unidades, pelo valor de 100 unidades, poderia justificar o sobrepreço de 40 unidades integralmente com base no fundamento econômico de expectativa de rentabilidade futura do investimento adquirido. Na realidade, a legislação tributária ampliou o conceito do goodwill. E como darseia o aproveitamento do ágio? Em duas situações. Fl. 3417DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.418 41 Na primeira, quando a empresa C realizasse o investimento, por exemplo, ao alienar a empresa B para uma outra pessoa jurídica. Assim, se vendesse a empresa B para a empresa D por 150 unidades, apuraria um ganho de 50 unidades. Isso porque, ao patrimônio líquido da empresa alienada, de 60 unidades, seria adicionado o ágio de 40 unidades. Assim, a base de cálculo para apuração do ganho de capital seria a diferença entre 150 e 100 unidades, perfazendo 50 unidades. Na segunda, no caso de a empresa C (investidora) e a empresa B (investida) promoverem uma transformação societária (incorporação, fusão ou cisão), de modo em que passem a integrar uma mesma universalidade. Por exemplo, a empresa B incorpora a empresa C, ou, a empresa C incorpora a empresa B. Nesse caso, o valor de ágio de 40 unidades poderia passar a ser amortizado, para fins fiscais, no prazo de sessenta meses, resultando em uma redução na base de cálculo do IRPJ e CSLL a pagar. Naturalmente, no Brasil, em relação ao ágio, a contabilidade empresarial pautouse pelas diretrizes da contabilidade fiscal, até a edição da Lei nº 11.638, de 2007. O novo diploma norteouse pela busca de uma adequação aos padrões internacionais para a contabilidade, adotando, principalmente, como diretrizes a busca da primazia da essência sobre a forma e a orientação por princípios sobrepondose a um conjunto de regras detalhadas baseadas em aspectos de ordem escritural 1. Nesse contexto, houve um realinhamento das normas contábeis no Brasil, e por consequência do conceito do goodwill. Em síntese, ágio contábil passa (melhor dizendo, volta) a ser a diferença entre o valor da aquisição e o valor patrimonial justo dos ativos (patrimônio líquido ajustado pelo valor justo dos ativos e passivos). E recentemente, por meio da Lei nº 12.973, de 13/05/2014, o legislador promoveu uma aproximação do conceito jurídicotributário do ágio com o conceito contábil da Lei nº 11.638, de 2007, além de novas regras para o seu aproveitamento, que não são objeto de análise do presente voto. Enfim, resta evidente que o conceito do ágio tratado para o caso concreto, disciplinado pelo art. 20 do DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977 e os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 10/12/1997, alinhase a um conceito jurídico determinado pela legislação tributária. Tratase, portanto, de instituto jurídicotributário, premissa para a sua análise sob uma perspectiva histórica e sistêmica. 2. Aproveitamento do Ágio. Hipóteses Apesar de já ter sido apreciado singelamente no tópico anterior, o destino que pode ser dado ao ágio contabilizado pela empresa investidora merece uma análise mais detalhada. Há que se observar, inicialmente, como o art. 219 da Lei nº 6.404, de 1.976 trata das hipóteses de extinção da pessoa jurídica: Art. 219. Extinguese a companhia: 1 IUDÍCIBUS, Sérgio de. Manual de contabilidade das sociedades por ações: (aplicável às demais sociedades), 1ª ed. São Paulo : Editora Atlas, 2008, p. 31. Fl. 3418DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.419 42 I pelo encerramento da liquidação; II pela incorporação ou fusão, e pela cisão com versão de todo o patrimônio em outras sociedades. E, ao se tratar de ágio, vale destacar, mais uma vez, os dois sujeitos, as duas partes envolvidas na sua criação: a pessoa jurídica investidora e a pessoa jurídica investida, sendo a investidora é aquela que adquiriu a investida, com sobrepreço. Não por acaso, são dois eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida com ágio; (2) a investidora e a investida transformamse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). Podese dizer que os eventos (1) e (2) guardam correlação, respectivamente, com os incisos I e II da lei que dispõe sobre as Sociedades por Ações. 3. Aproveitamento do Ágio. Separação de Investidora e Investida No primeiro evento, tratase de situação no qual a investidora aliena o investimento para uma terceira empresa. Nesse caso, o ágio passa a integrar o valor patrimonial do investimento para fins de apuração do ganho de capital e, assim, reduz a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. A situação é tratada pelo DecretoLei nº 1.598, de 27/12/1977, arts. 391 e 426 do RIR/99: Art. 391. As contrapartidas da amortização do ágio ou deságio de que trata o art. 385 não serão computadas na determinação do lucro real, ressalvado o disposto no art. 426 (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 25, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso III). Parágrafo único. Concomitantemente com a amortização, na escrituração comercial, do ágio ou deságio a que se refere este artigo, será mantido controle, no LALUR, para efeito de determinação do ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação do investimento (art. 426). (...) Art. 426. O valor contábil para efeito de determinar o ganho ou perda de capital na alienação ou liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor de patrimônio líquido (art. 384), será a soma algébrica dos seguintes valores (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 33, e DecretoLei nº 1.730, de 1979, art. 1º, inciso V): I valor de patrimônio líquido pelo qual o investimento estiver registrado na contabilidade do contribuinte; II ágio ou deságio na aquisição do investimento, ainda que tenha sido amortizado na escrituração comercial do contribuinte, excluídos os computados nos exercícios financeiros de 1979 e 1980, na determinação do lucro real; Fl. 3419DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.420 43 III provisão para perdas que tiver sido computada, como dedução, na determinação do lucro real, observado o disposto no parágrafo único do artigo anterior. (...) (grifei) Assim, o aproveitamento do ágio ocorre no momento em que o investimento que lhe deu causa foi objeto de alienação ou liquidação. 4. Aproveitamento do Ágio. Encontro entre Investidora e Investida Já o segundo evento aplicase quando a investidora e a investida transformaremse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). O ágio pode se tornar uma despesa de amortização, desde que preenchidos os requisitos da legislação e no contexto de uma transformação societária envolvendo a investidora e a investida. Contudo, sobre o assunto, há evolução legislativa que merece ser apresentada. Primeiro, o tratamento conferido à participação societária extinta em fusão, incorporação ou cisão, atendia o disposto no art. 34 do DecretoLei nº 1.598, de 1977: Art 34 Na fusão, incorporação ou cisão de sociedades com extinção de ações ou quotas de capital de uma possuída por outra, a diferença entre o valor contábil das ações ou quotas extintas e o valor de acervo líquido que as substituir será computado na determinação do lucro real de acordo com as seguintes normas: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) I somente será dedutível como perda de capital a diferença entre o valor contábil e o valor de acervo líquido avaliado a preços de mercado, e o contribuinte poderá, para efeito de determinar o lucro real, optar pelo tratamento da diferença como ativo diferido, amortizável no prazo máximo de 10 anos; (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) II será computado como ganho de capital o valor pelo qual tiver sido recebido o acervo líquido que exceder o valor contábil das ações ou quotas extintas, mas o contribuinte poderá, observado o disposto nos §§ 1º e 2º, diferir a tributação sobre a parte do ganho de capital em bens do ativo permanente, até que esse seja realizado. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 1º O contribuinte somente poderá diferir a tributação da parte do ganho de capital correspondente a bens do ativo permanente se: (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) a) discriminar os bens do acervo líquido recebido a que corresponder o ganho de capital diferido, de modo a permitir a determinação do valor realizado em cada períodobase; e (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) Fl. 3420DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.421 44 b) mantiver, no livro de que trata o item I do artigo 8º, conta de controle do ganho de capital ainda não tributado, cujo saldo ficará sujeito a correção monetária anual, por ocasião do balanço, aos mesmos coeficientes aplicados na correção do ativo permanente. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) § 2º O contribuinte deve computar no lucro real de cada períodobase a parte do ganho de capital realizada mediante alienação ou liquidação, ou através de quotas de depreciação, amortização ou exaustão deduzidas como custo ou despesa operacional. (Revogado pela Lei nº 12.973, de 2014) (Vigência) O que se pode observar é que o único requisito a ser cumprido, como perda de capital, é que o acervo líquido vertido em razão da incorporação, fusão ou cisão estivesse avaliado a preços de mercado. Contudo, para que se consumasse a perda de capital prevista no inciso I, o valor contábil deveria ser maior do que o acervo líquido avaliado a preços de mercado, e tal situação se mostraria viável, especialmente, quando, imediatamente após à aquisição do investimento com ágio, ocorresse a operação de incorporação, fusão ou cisão 2. Ocorre que tal previsão se consumou em operações um tanto quanto questionáveis por vários contribuintes, mediante aquisição de empresas deficitárias pagandose ágio, para, em logo em seguida, promover a incorporação da investidora pela investida. As operações ocorriam quase simultaneamente. E, nesse contexto, o aproveitamento do ágio, nas situações de transformação societária, sofreu alteração legislativa. Vale transcrever a Exposição de Motivos da MP nº 1.602, de 1997 3, que, posteriormente, foi convertida na Lei nº 9.532, de 1997. 11. O art. 8º estabelece o tratamento tributário do ágio ou deságio decorrente da aquisição, por uma pessoa jurídica, de participação societária no capital de outra, avaliada pelo método da equivalência patrimonial. Atualmente, pela inexistência de regulamentação legal relativa a esse assunto, diversas empresas, utilizando dos já referidos "planejamentos tributários", vem utilizando o expediente de adquirir empresas deficitárias, pagando ágio pela participação, com a finalidade única de gerar ganhos de natureza tributária, mediante o expediente, nada ortodoxo, de incorporação da empresa lucrativa pela deficitária. Com as normas previstas no Projeto, esses procedimentos não deixarão de acontecer, mas, com certeza, ficarão restritos às hipóteses de casos reais, tendo em vista o desaparecimento de toda vantagem de natureza fiscal que possa incentivar a sua adoção exclusivamente por esse motivo. Não vacilou a doutrina abalizada de LUÍS EDUARDO SCHOUERI4 ao discorrer, com precisão sobre o assunto: 2 Ver Acórdão nº 1101000.841, da 1ª Turma Ordinária da 1ª Câmara do CARF, da relatora Edeli Pereira Bessa., p. 15. 3 Exposição de Motivos publicada no Diário do Congresso Nacional nº 26, de 02/12/1997, pg. 18021 e segs, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. Fl. 3421DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.422 45 Anteriormente à edição da Lei nº 9.532/1997, não havia na legislação tributária nacional regulamentação relativa ao tratamento que deveria ser conferido ao ágio em hipóteses de incorporação envolvendo a pessoa jurídica que o pagou e a pessoa jurídica que motivou a despesa com ágio. O que ocorria, na prática, era a consideração de que a incorporação era, per se, evento suficiente para a realização do ágio, independentemente de sua fundamentação econômica. (...) Sendo assim, a partir de 1998, ano em que entrou em vigor a Lei nº 9.532/1997, adveio um cenário diferente em matéria de dedução fiscal do ágio. Desde então, restringiramse as hipóteses em que o ágio seria passível de ser deduzido no caso de incorporação entre pessoas jurídicas, com a imposição de limites máximos de dedução em determinadas situações. Ou seja, nem sempre o ágio contabilizado pela pessoa jurídica poderia ser deduzido de seu lucro real quando da ocorrência do evento de incorporação. Pelo contrário. Com a regulamentação ora em vigor, poucas são as hipóteses em que o ágio registrado poderá ser deduzido, a depender da fundamentação econômica que lhe seja conferida. Merece transcrição o Relatório da Comissão Mista 5 que trabalhou na edição da MP 1.602, de 1997: O artigo 8º altera as regras para determinação do ganho ou perda de capital na liquidação de investimento em coligada ou controlada avaliado pelo valor do patrimônio líquido, quando agregado de ágio ou deságio. De acordo com as novas regras, os ágios existentes não mais serão computados como custo (amortizados pelo total), no ato de liquidação do investimento, como eram de acordo com as normas ora modificadas. O ágio ou deságio referente à diferença entre o valor de mercado dos bens absorvidos e o respectivo valor contábil, na empresa incorporada (inclusive a fusionada ou cindida), será registrado na própria conta de registro dos respectivos bens, a empresa incorporador (inclusive a resultante da fusão ou a que absorva o patrimônio da cindida), produzindo as repercussões próprias na depreciação normal. O ágio ou deságio decorrente de expectativa de resultado futuro poderá ser amortizado durante os cinco anoscalendário subsequentes à incorporação, à razão de 1/60 (um sessenta avos) para cada mês do período de apuração. (...) Percebese que, em razão de um completo desvirtuamento do instituto, o legislador foi chamado a intervir, para normatizar, nos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, 4 SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo : Dialética, 2012, p. 66 e segs. 5 Relatório da Comissão Mista publicada no Diário do Congresso Nacional nº 27, de 03/12/1997, pg. 18024, http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?datSessao=01/12/1997&tipDiario=2. Acesso em 15/02/2016. Fl. 3422DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.423 46 sobre situações específicas tratando de eventos de transformação societária envolvendo investidor e investida. Inclusive, no decorrer dos debates tratando do assunto, chegouse a cogitar que o aproveitamento do ágio não seria uma despesa, mas um benefício fiscal. Em breves palavras, caso fosse benefício fiscal, o próprio legislador deveria ter tratado do assunto, como o fez na Exposição de Motivos de outros dispositivos da MP nº 1.602, de 1997 (convertida na Lei nº 9.532, de 1997). Na realidade, a Exposição de Motivos deixa claro que a motivação para o dispositivo foi um maior controle sobre os planejamentos tributários abusivos, que descaracterizavam o ágio por meio de analogias completamente desprovidas de sustentação jurídica. E deixou claro que se trata de uma despesa de amortização. E qual foram as novidades trazidas pelos arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997? Primeiro, há que se contextualizar a disciplina do método de equivalência patrimonial (MEP). Isso porque o ágio aplicase apenas em investimentos sociedades coligadas e controladas avaliado pelo MEP, conforme previsto no art. 384 do RIR/99. O método tem como principal característica permitir uma atualização dos valores dos investimentos em coligadas ou controladas com base na variação do patrimônio líquido das investidas. As variações no patrimônio líquido da pessoa jurídica investida passam a ser refletidas na investidora pelo MEP. Contudo, os aumentos no valor do patrimônio líquido da sociedade investida não são computados na determinação do lucro real da investidora. Vale transcrever os dispositivos dos arts. 387, 388 e 389 do RIR/99 que discorrem sobre o procedimento de contabilização a ser adotado pela investidora. Art. 387. Em cada balanço, o contribuinte deverá avaliar o investimento pelo valor de patrimônio líquido da coligada ou controlada, de acordo com o disposto no art. 248 da Lei nº 6.404, de 1976, e as seguintes normas (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 21, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso III): (...) Art. 388. O valor do investimento na data do balanço (art. 387, I), deverá ser ajustado ao valor de patrimônio líquido determinado de acordo com o disposto no artigo anterior, mediante lançamento da diferença a débito ou a crédito da conta de investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 22). (...) Art. 389. A contrapartida do ajuste de que trata o art. 388, por aumento ou redução no valor de patrimônio líquido do investimento, não será computada na determinação do lucro real (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 23, e DecretoLei nº 1.648, de 1978, art. 1º, inciso IV). Fl. 3423DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.424 47 (...) Resta nítida a separação dos patrimônios entre investidora e investida, inclusive as repercussões sobre os resultados de cada um. A investida, pessoa jurídica independente, em razão de sua atividade econômica, apura rendimentos que, naturalmente, são por ela tributados. Por sua vez, na medida em que a investida aumenta seu patrimônio líquido em razão de resultados positivos, por meio do MEP há uma repercussão na contabilidade da investidora, para refletir o acréscimo patrimonial realizado. A conta de ativos em investimentos é debitada na investidora, e, por sua vez, a contrapartida, apesar de creditada como receita, é excluída na apuração do Lucro Real. Com certeza, não faria sentido tributar os lucros na investida, e em seguida tributar o aumento do patrimônio líquido na investidora, que ocorreu precisamente por conta dos lucros auferidos pela investida. E esclarece o art. 385 do RIR/99 que se a pessoa jurídica adquirir um investimento avaliado pelo MEP por valor superior ou inferior ao contabilizado no patrimônio líquido, deverá desdobrar o custo da aquisição em (1) valor do patrimônio líquido na época da aquisição e (2) ágio ou deságio. Para a devida transparência na mais valia (ou menor valia) do investimento, o registro contábil deve ocorrer em contas diferentes: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). (grifei) Como se pode observar, a formação do ágio não ocorre espontaneamente. Pelo contrário, deve ser motivado, e indicado o seu fundamento econômico, que deve se Fl. 3424DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.425 48 amparar em pelo menos um dos três critérios estabelecidos no § 2º do art. 385 do RIR/99, (1) valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade, (2) valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros (3) fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. E, conforme já dito, por ser a motivação adotada pela quase totalidade das empresas, todos os holofotes dirigemse ao fundamento econômico com base em expectativa de rentabilidade futura da empresa adquirida. Tratase precisamente de lucros esperados a serem auferidos pela controlada ou coligada, em um futuro determinado. Por isso o adquirente (futuro controlador) se propõe a desembolsar pelo investimento um valor superior ao daquele contabilizado no patrimônio líquido da vendedora. Por sua vez, tal expectativa deve ser lastreada em demonstração devidamente arquivada como comprovante de escrituração, conforme previsto no § 3º do art. 385 do RIR/99. E, finalmente, passamos a apreciar os arts. 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, consolidados no art. 386 do RIR/99. Como já dito, em eventos de transformação societária, quando investidora absorve o patrimônio da investida (ou vice versa), adquirido com ágio ou deságio, em razão de cisão, fusão ou incorporação, resolveu o legislador disciplinar a situação: Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): I deverá registrar o valor do ágio ou deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso I do § 2º do artigo anterior, em contrapartida à conta que registre o bem ou direito que lhe deu causa; II deverá registrar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso III do § 2º do artigo anterior, em contrapartida a conta de ativo permanente, não sujeita a amortização; III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; IV deverá amortizar o valor do deságio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços correspondentes à apuração do lucro real, levantados durante os cinco anoscalendário subseqüentes à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no mínimo, para cada mês do período de apuração.(...) (grifei) Fica evidente que os arts. 385 e 386 do RIR/99 guardam conexão indissociável, constituindose em norma tributária permissiva do aproveitamento do ágio nos casos de incorporação, fusão ou cisão envolvendo o investimento objeto da mais valia. Fl. 3425DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.426 49 5. Amortização. Despesa. Definido que o aproveitamento do ágio pode darse por meio de despesa de amortização, mostrase pertinente apreciar do que trata tal dispêndio. No RIR/99 (DecretoLei nº 3.000, de 26/03/1999), o conceito de amortização encontrase no Subtítulo II (Lucro Real), Capítulo V (Lucro Operacional), Seção III (Custos, Despesas Operacionais e Encargos). O artigo 299 do diploma em análise trata, no art. 299, na Subseção I, das Disposições Gerais sobre as despesas: Art. 299. São operacionais as despesas não computadas nos custos, necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47). § 1º São necessárias as despesas pagas ou incorridas para a realização das transações ou operações exigidas pela atividade da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 1º). § 2º As despesas operacionais admitidas são as usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa (Lei nº 4.506, de 1964, art. 47, § 2º). § 3º O disposto neste artigo aplicase também às gratificações pagas aos empregados, seja qual for a designação que tiverem. Para serem dedutíveis, devem as despesas serem necessárias à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, e serem usuais ou normais no tipo de transações, operações ou atividades da empresa. Por sua vez, logo após as Subseções II (Depreciação de Bens do Ativo Imobilizado) e III (Depreciação Acelerada Incentivada), encontra previsão legal a amortização, no art. 324, na Subseção IV do RIR/99 6. Percebese que a amortização constituise em espécie de gênero despesa, e, naturalmente, encontrase submetida ao regramento geral das despesas disposto no art. 299 do RIR/99. 6. Despesa Em Face de Fatos Construídos Artificialmente 6 Art. 324. Poderá ser computada, como custo ou encargo, em cada período de apuração, a importância correspondente à recuperação do capital aplicado, ou dos recursos aplicados em despesas que contribuam para a formação do resultado de mais de um período de apuração (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, e DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 15, § 1º). § 1º Em qualquer hipótese, o montante acumulado das quotas de amortização não poderá ultrapassar o custo de aquisição do bem ou direito, ou o valor das despesas (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, § 2º). § 2º Somente serão admitidas as amortizações de custos ou despesas que observem as condições estabelecidas neste Decreto (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, § 5º). § 3º Se a existência ou o exercício do direito, ou a utilização do bem, terminar antes da amortização integral de seu custo, o saldo não amortizado constituirá encargo no período de apuração em que se extinguir o direito ou terminar a utilização do bem (Lei nº 4.506, de 1964, art. 58, § 4º). § 4º Somente será permitida a amortização de bens e direitos intrinsecamente relacionados com a produção ou comercialização dos bens e serviços (Lei nº 9.249, de 1995, art. 13, inciso III). Fl. 3426DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.427 50 No mundo real os fatos nascem e morrem, decorrentes de eventos naturais ou da vontade humana. O direito elege, para si, fatos com relevância para regular o convívio social. No que concerne ao direito tributário, são escolhidos fatos decorrentes da atividade econômica, financeira, operacional, que nascem espontaneamente, precisamente em razão de atividades normais, que são eleitos porque guardam repercussão com a renda ou o patrimônio. São condutas relevantes de pessoas físicas ou jurídicas, de ordem econômica ou social, ocorridas no mundo dos fatos, que são colhidas pelo legislador que lhes confere uma qualificação jurídica. Por exemplo, o fato de auferir lucro, mediante operações espontâneas, das atividades operacionais da pessoa jurídica, amoldase à hipótese de incidência prevista pela norma, razão pela qual nasce a obrigação do contribuinte recolher os tributos. Da mesma maneira, a pessoa jurídica, no contexto de suas atividades operacionais, incorre em dispêndios para a realização de suas tarefas. Contratase um prestador de serviços, comprase uma mercadoria, operações necessárias à consecução das atividades da empresa, que surgem naturalmente. Ocorre que, em relação aos casos tratados relativos á amortização do ágio, proliferaramse situações no qual se busca, especificamente, o enquadramento da norma permissiva de despesa. Tratamse de operações especialmente construídas, mediante inclusive utilização de empresas de papel, de curtíssima duração, sem funcionários ou quadro funcional incompatível, com capital social mínimo, além de outras características completamente atípicas no contexto empresarial, envolvendo aportes de substanciais recursos para, em questão de dias ou meses, serem objeto de operações de transformação societária. Tais eventos podem receber qualificação jurídica e surtir efeitos nos ramos empresarial, cível, contábil, dentre outros. Situação completamente diferente ocorre no ramo tributário. Não há norma de despesa que recepcione um situação criada artificialmente. As despesas devem decorrer de operações necessárias, normais, usuais da pessoa jurídica. Impossível estender atributos de normalidade, ou usualidade, para despesas, independente sua espécie, derivadas de operações atípicas, não consentâneas com uma regular operação econômica e financeira da pessoa jurídica. Admitindose uma construção artificial do suporte fático, consumarseia um tratamento desigual, desarrazoado e desproporcional, que afronta o princípio da capacidade contributiva e da isonomia, vez que seria conferida a uma determinada categoria de despesa uma premissa completamente diferente, uma liberalidade não aplicável à grande maioria dos contribuintes. 7. Hipótese de Incidência Prevista Para a Amortização Fl. 3427DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.428 51 Realizada análise do ágio sob perspectiva do gênero despesa, cabe prosseguir com a apreciação da legislação específica que trata de sua amortização. Vale recapitular os dois eventos em que a investidora pode se aproveitar do ágio contabilizado: (1) a investidora deixa de ser a detentora do investimento, ao alienar a participação da pessoa jurídica adquirida (investida) com ágio; (2) a investidora e a investida transformamse em uma só universalidade (em eventos de cisão, transformação e fusão). E repetir que estamos, agora, tratando da segunda situação. Cenário que se encontra disposto nos arts. 7º e 8º da Lei n° 9.532, de 1997, e nos arts. 385 e 386 do RIR/99, do qual transcrevo apenas os fragmentos de maior interesse para o debate: Art. 385. O contribuinte que avaliar investimento em sociedade coligada ou controlada pelo valor de patrimônio líquido deverá, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20): I valor de patrimônio líquido na época da aquisição, determinado de acordo com o disposto no artigo seguinte; e II ágio ou deságio na aquisição, que será a diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor de que trata o inciso anterior. § 1º O valor de patrimônio líquido e o ágio ou deságio serão registrados em subcontas distintas do custo de aquisição do investimento (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 1º). § 2º O lançamento do ágio ou deságio deverá indicar, dentre os seguintes, seu fundamento econômico (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 2º): I valor de mercado de bens do ativo da coligada ou controlada superior ou inferior ao custo registrado na sua contabilidade; II valor de rentabilidade da coligada ou controlada, com base em previsão dos resultados nos exercícios futuros; III fundo de comércio, intangíveis e outras razões econômicas. § 3º O lançamento com os fundamentos de que tratam os incisos I e II do parágrafo anterior deverá ser baseado em demonstração que o contribuinte arquivará como comprovante da escrituração (DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 20, § 3º). Art. 386. A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, apurado segundo o disposto no artigo anterior (Lei nº 9.532, de 1997, art. 7º, e Lei nº 9.718, de 1998, art. 10): (...) III poderá amortizar o valor do ágio cujo fundamento seja o de que trata o inciso II do § 2º do artigo anterior, nos balanços Fl. 3428DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.429 52 correspondentes à apuração de lucro real, levantados posteriormente à incorporação, fusão ou cisão, à razão de um sessenta avos, no máximo, para cada mês do período de apuração; (...) (grifei) Percebese claramente, no caso, que o suporte fático delineado pela norma predica, de fato, que investidora e investida tenham que integrar uma mesma universalidade: A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio. A conclusão é ratificada analisandose a norma em debate sob a perspectiva da hipótese de incidência tributária delineada pela melhor doutrina de GERALDO ATALIBA 7. Esclarece o doutrinador que a hipótese de incidência se apresenta sob variados aspectos, cuja reunião lhe dá entidade. Ao se apreciar o aspecto pessoal, merecem relevo as palavras da doutrina, ao determinar que se trata da qualidade que determina os sujeitos da obrigação tributária. E a norma em análise se dirige à pessoa jurídica investidora originária, aquela que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, coordenou e comandou os estudos de rentabilidade futura e desembolsou os recursos para a aquisição, e à pessoa jurídica investida. Ocorre que, em se tratando do ágio, as reorganizações societárias empreendidas apresentaram novas pessoas ao processo. Como exemplo, podemos citar situação no qual a pessoa jurídica A adquire com ágio participação societária da pessoa jurídica B. Em seguida, utilizase de uma outra pessoa jurídica, C, e integraliza o capital social dessa pessoa jurídica C com a participação societária que adquiriu da pessoa jurídica B. Resta consolidada situação no qual a pessoa jurídica A controla a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C controla a pessoa jurídica B. Em seguida, sucedese evento de transformação societária, no qual a pessoa jurídica B absorve patrimônio da pessoa jurídica C, ou vice versa. Ocorre que os sujeitos eleitos pela norma são precisamente a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) cuja participação societária foi adquirida com ágio. Para fins fiscais, não há nenhuma previsão para que o ágio contabilizado na pessoa jurídica A (investidora), em razão de reorganizações societárias empreendidas por grupo empresarial, possa ser considerado "transferido" para a pessoa jurídica C, e a pessoa jurídica C, ao absorver ou ser absorvida pela pessoa jurídica B, possa aproveitar o ágio cuja origem deuse pela aquisição da pessoa jurídica A da pessoa jurídica B. Da mesma maneira, encontramse situações no qual a pessoa jurídica A realiza aportes financeiros na pessoa jurídica C e, de plano, a pessoa jurídica C adquire participação societária da pessoa jurídica B com ágio. Em seguida, a pessoa jurídica C absorve patrimônio da pessoa jurídica B, ou vice versa, a passa a fazer a amortização do ágio. Mais uma vez, não é o que prevê o aspecto pessoal da hipótese de incidência da norma em questão. A pessoa jurídica que adquiriu o investimento, que acreditou na mais 7 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária, 6ª ed. São Paulo : Malheiros Editores, 2010, p. 51 e segs. Fl. 3429DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.430 53 valia e que desembolsou os recursos para a aquisição foi, de fato, a pessoa jurídica A (investidora). No outro pólo da relação, a pessoa jurídica adquirida com ágio foi a pessoa jurídica B. Ou seja, o aspecto pessoal da hipótese de incidência, no caso, autoriza o aproveitamento do ágio a partir do momento em que a pessoa jurídica A (investidora) e a pessoa jurídica B (investida) passem a integrar a mesma universalidade. São as situações mais elementares. Contudo, há reorganizações envolvendo inúmeras empresas (pessoa jurídica D, E, F, G, H e assim por diante). Vale registrar que goza a pessoa jurídica de liberdade negocial, podendo dispor de suas operações buscando otimizar seu funcionamento, com desdobramentos econômicos, sociais e tributários. Contudo, não necessariamente todos os fatos são recepcionados pela norma tributária. A partir do momento em que, em razão das reorganizações societárias, passam a ser utilizadas novas pessoas jurídicas (C, D, E, F, G, e assim sucessivamente), pessoas jurídicas distintas da investidora originária (pessoa jurídica A) e da investida (pessoa jurídica B), e o evento de absorção não envolve mais a pessoa jurídica A e a pessoa jurídica B, mas sim pessoa jurídica distinta (como, por exemplo, pessoa jurídica F e pessoa jurídica B), a subsunção ao art. 386 do RIR/99 tornase impossível, vez que o fato imponível (suporte fático, situado no plano concreto) deixa de ser amoldar à hipótese de incidência da norma (plano abstrato), por incompatibilidade do aspecto pessoal. Em relação ao aspecto material, há que se consumar a confusão de patrimônio entre investidora e investida, a que faz alusão o caput do art. 386 do RIR (A pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio...). Com a confusão patrimonial, aperfeiçoase o encontro de contas entre o real investidor e investida, e a amortização do ágio passa a ser autorizada, com repercussão direta na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Na realidade, o requisito expresso de que investidor e investida passam a compor o mesmo patrimônio, mediante evento de transformação societária, no qual a investidora absorve a investida, ou vice versa, encontra fundamento no fato de que, com a confusão de patrimônios, o lucro auferido pela investida passa a integrar a mesma universalidade da investidora. SCHOUERI8, com muita clareza, discorre que, antes da absorção, investidor e investida são entidades autônomas. O lucro auferido pela investida (que foi a motivação para que a investidora adquirisse a investida com o sobrepreço), é tributado pela própria investida. E, por meio do MEP, eventual acréscimo no patrimônio líquido da investida seria refletido na investidora, sem, contudo, haver tributação na investidora. A lógica do sistema mostrase clara, na medida em que não caberia uma dupla tributação dos lucros auferidos pela investida. Por sua vez, a partir do momento em que se consuma a confusão patrimonial, os lucros auferidos pela então investida passam a integrar a mesma universalidade da investidora. Reside, precisamente nesse ponto, o permissivo para que o ágio, pago pela investidora exatamente em razão dos lucros a serem auferidos pela investida, possa ser 8 SCHOUERI, 2012, p. 62. Fl. 3430DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.431 54 aproveitado, vez que passam a se comunicar, diretamente, a despesa de amortização do ágio e as receitas auferidas pela investida. Ou seja, compartilhando o mesmo patrimônio investidora e investida, consolidase cenário no qual a mesma pessoa jurídica que adquiriu o investimento com mais valia (ágio) baseado na expectativa de rentabilidade futura, passa a ser tributada pelos lucros percebidos nesse investimento. Verificase, mais uma vez, que a norma em debate, ao predicar, expressamente, que para se consumar o aproveitamento da despesa de amortização do ágio, os sujeitos da relação jurídica seriam a pessoa jurídica que absorver patrimônio de outra, em virtude de incorporação, fusão ou cisão, na qual detenha participação societária adquirida com ágio ou deságio, ou seja, investidor e investida, não o fez por acaso. Tratase precisamente do encontro de contas da investidora originária, que incorreu na despesa e adquiriu o investimento, e a investida, potencial geradora dos lucros que motivou o esforço incorrido. Prosseguindo a análise da hipótese de incidência da norma em questão, no que concerne ao aspecto temporal, cabe verificar o momento em que o contribuinte aproveita se da amortização do ágio, mediante ajustes na escrituração contábil e no LALUR, evento que provoca impacto direto na apuração da base de cálculo tributável. Registrese que a consumação do aspecto temporal não se confunde com o termo inicial do prazo decadencial. Isso porque, partindose da construção da norma conforme operação no qual "Se A é, B deveser", onde a primeira parte é o antecedente, e a segunda é o consequente, a consumação da hipótese de incidência localizase no antecedente. Ou seja, "Se A é", indica que a hipótese de incidência, no caso concreto, mediante aperfeiçoamento dos aspectos pessoal, material e temporal, concretizouse em sua plenitude. Assim, passase para a etapa seguinte, o consequente ("B deveser"), no qual se aplica o regime de tributação a que encontra submetido o contribuinte (lucro real trimestral ou anual), efetuase o lançamento fiscal com base na repercussão que as glosas despesas de ágio indevidamente amortizadas tiveram na apuração da base de cálculo, e, por consequência, determinase o termo inicial para contagem do prazo decadencial. 8. Consolidação Considerandose tudo o que já foi escrito, entendo que a cognição para a amortização do ágio passa por verificar, primeiro, se os fatos se amoldam à hipótese de incidência, segundo, se requisitos de ordem formal estabelecidos pela norma encontramse atendidos e, terceiro, se as condições do negócio atenderam os padrões normais de mercado. A primeira verificação parece óbvia, mas, diante de todo o exposto até o momento, observase que a discussão mais relevante inserese precisamente neste momento, situado antes da subsunção do fato à norma. Falase insistentemente se haveria impedimento para se admitir a construção de fatos que buscam se amoldar à hipótese de incidência de norma de despesa. O ponto é que, independente da genialidade da construção empreendida, da reorganização societária arquitetada e consumada, a investidora originária prevista pela norma não perderá a condição de investidora originária. Quem viabilizou a aquisição? De onde vieram os recursos de fato? Quem efetuou os estudos de viabilidade econômica da investida? Fl. 3431DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.432 55 Quem tomou a decisão de adquirir um investimento com sobrepreço? Respondo: a investidora originária. Ainda que a pessoa jurídica A, investidora originária, para viabilizar a aquisição da pessoa jurídica B, investida, tenha (1) "transferido" o ágio para a pessoa jurídica C, ou (2) efetuado aportes financeiros (dinheiro, mútuo) para a pessoa jurídica C, a pessoa jurídica A não perderá a condição de investidora originária. Podese dizer que, de acordo com as regras contábeis, em decorrência de reorganizações societárias empreendidas, o ágio legitimamente passou a integrar o patrimônio da pessoa jurídica C, que por sua vez foi incorporada pela pessoa jurídica B (investida). Ocorre que a absorção patrimonial envolvendo a pessoa jurídica C e a pessoa jurídica B não tem qualificação jurídica para fins tributários. Isso porque se trata de operação que não se enquadra na hipótese de incidência da norma, que elege, quanto ao aspecto pessoal, a pessoa jurídica A (investidora originária) e a pessoa jurídica B (investida), e quanto ao aspecto material, o encontro de contas entre a despesa incorrida pela pessoa jurídica A (investidora originária que efetivamente incorreu no esforço para adquirir o investimento com sobrepreço) e as receitas auferidas pela pessoa jurídica B (investida). Mostrase insustentável, portanto, ignorar todo um contexto histórico e sistêmico da norma permissiva de aproveitamento do ágio, despesa operacional, para que se autorize "pinçar" os artigos 7º e 8º da Lei nº 9.532, de 1997, promover uma interpretação isolada, blindada em uma bolha contábil, e se construir uma tese no qual se permita que fatos construídos artificialmente possam alterar a hipótese de incidência de norma tributária. Caso superada a primeira verificação, cabe prosseguir com a segunda verificação, relativa a aspectos de ordem formal, qual seja, se a demonstração que o contribuinte arquivar como comprovante de escrituração prevista no art. 20, § 3º do Decreto Lei nº 1.598, de 27/12/1977 (1) existe e (2) se mostra apta a justificar o fundamento econômico do ágio. Há que se verificar também (3) se ocorreu, efetivamente, o pagamento pelo investimento. Enfim, referese a terceira verificação a constatar se toda a operação ocorreu dentro de padrões normais de mercado, com atuação de agentes independentes, distante de situações que possam indicar ocorrência de negociações eivadas de ilicitude, que poderiam guardar repercussão, inclusive, na esfera penal, como nos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137, de 1990. 9. Sobre o Caso Concreto Feitas as considerações, passo a analisar o caso concreto. Para fins didáticos, os números envolvidos nas operações serão arredondados. Tratase de operação no qual o Grupo Accor (ACCOR) adquiriu participação societária da TICKET, com sobrepreço (ágio). Fl. 3432DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.433 56 Transcrevo as operações descritas no relatório da decisão de primeira instância (DRJ/São Paulo), apresentadas de maneira didática (efls. 2687/2688). "1 a Ticket Serviços S.A. (TICKET) tem como objetivo social, dentre outras atividades, a prestação de serviços de administração de sistemas e/ou convênios para fornecer valerefeição, valealimentação, valefarmácia, etc., às empresas e seus empregados; 2 a ação fiscal teve por escopo a análise da incorporação efetuada, em 20/08/2007, pela TICKET, da sua controladora, a Sobraser Participações Ltda., CNPJ 08.767.306/000180 (SOBRASER), constituída em 17/04/2007, que declarou no Balanço Patrimonial de sua única DIPJ apresentada (a de evento especial) um investimento de R$ 104.622.166,80, capital de R$ 450.315.522,02, e ágio de R$ 360.523.377,70, acerca do qual cabem os seguintes esclarecimentos: a) a TICKET, desde os anos 80, era controlada, de forma compartilhada, pelo Grupo Accor (entendase: Accor Hotels Belgium, Saminvest e Accor S.A., todas domiciliadas no exterior), da França por meio, majoritariamente, da Accor Participações S.A. (ACOPART), esta domiciliada no Brasil , e pelos Grupos Brascan, do Canadá, e Espírito Santo, de Portugal, estes dois por meio da Cia. Sinal de Participações e da Sinal Participações S.A.; b) em 01/12/2006, o Grupo Accor, por meio da ACOPART adquiriu a Cia. Sinal de Participações e a Sinal Participações S.A., contabilizando o investimento por equivalência patrimonial, reconhecendo o ágio pago na aquisição, fundamentandoo na expectativa de rentabilidade futura; c) em 05/04/2007, ambas foram incorporadas pela ACOPART, que passou a registrar em seu ativo permanente, investimentos adicionais na TICKET e na GR S.A.; o valor do ágio ficou assim registrado na ACOPART: R$ 360.523.377,70, referente à TICKET, e R$ 74.838.749,82, referente à GR S.A.; d) por conta de estudos para transformar a TICKET em instituição financeira, esta deveria ser controlada por uma holding exclusiva; para isso, foram constituídas a SOBRASER e a Accor Brasil Participações Ltda.(ACOBRASPART), com capital simbólico de R$ 1.000,00 cada, subscrito e integralizado pelo Grupo Accor, devendo vir a ser a ACOBRASPART essa holding exclusiva; e) as quotas do capital da SOBRASER foram adquiridas pela ACOBRASPART, que, por sua vez, teve suas quotas adquiridas pela ACOPART; f) em 10/08/2007, a ACOPART sofreu cisão parcial, vertendo o investimento na TICKET (mais o ágio) para a SOBRASER, que, na seqüência (após dez dias), foi incorporada pela sua controlada, a TICKET; g) em razão do patrimônio necessário para transformar a TICKET em instituição financeira, na qual não se admitiria como ativo o valor do ágio, a TICKET incorporou a sua controladora, a SOBRASER, em 20/08/2007; h) para atender o BACEN, as empresas estrangeiras que passaram a deter ações da TICKET após a cisão parcial da ACOPART conferiram essas participações em aumento de capital na ACOBRASPART; Fl. 3433DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.434 57 i) por conta da incorporação da SOBRASER, a TICKET iniciou a apropriação de 1/60 do ágio por mês a partir de setembro de 2007, e, conforme Lei n° 11.638/2007, baixou contra o patrimônio líquido o valor integral do ágio; j) o ágio foi baixado na SOBRASER contra a conta Lucro e Prejuízos acumulados, mantendose, entretanto, na incorporadora, o seu valor registrado na parte B do LALUR; 3 já havia o registro, na Cia Sinal, de um ágio de R$ 45.315.079,48 atrelado ao investimento na Sinal Participações que se originara em 1999 na aquisição de ações e que ainda não havia sido amortizado e que na incorporação pela ACOPART foi adicionado ao ágio proveniente da aquisição da Cia. Sinal e da Sinal Participações S.A.." São os fatos. O que se observa é que, após a aquisição do investimento (ações da TICKET), ocorrem uma série de reorganizações societárias internas, dentro grupo econômico da adquirente (ACCOR). Diante de todo o escrito no presente voto, a operação em análise não passa pela primeira verificação (vide item 8 do voto). Quanto ao aspecto pessoal, cabe verificar quem é efetivamente a pessoa jurídica investidora e a pessoa jurídica investida. A pessoa jurídica investidora é a ACCOR que efetuou o aporte de recursos para aquisição do investimento TICKET com pagamento de sobrepreço, por ter sido realizado em valor superior ao do patrimônio líquido. É incontestável que foi a ACCOR a empresa que efetivamente acreditou na mais valia do investimento, coordenou e comandou os estudos de rentabilidade futura do investimento a ser adquirido e desembolsou os recursos para a aquisição (vide item 7 do voto). Por sua vez, a pessoa jurídica investida foi a empresa TICKET. E, como visto, o evento de incorporação deuse entre a SOBRASER e a TICKET. Ou seja, não houve participação da investidora ACCOR. Nesse sentido, o aproveitamento da despesa de amortização de ágio promovido pela Contribuinte deuse sem respaldo legal, vez que não se consumou a hipótese de incidência prevista nos arts. 7º e 8·da Lei nº 9.532, de 1997. Na realidade, apreciandose as operações realizadas no âmbito do grupo econômico (ACCOR), constatase, com nitidez, a construção artificial do suporte fático, para que se pudesse amoldar à hipótese de incidência de despesa de amortização do ágio (item 6 do voto). Resta evidente o deliberado intuito de fabricar uma despesa com repercussão na base tributável. Para tanto, criouse empresa de papel, sem substância, com capital social irrelevante para uma empresa do porte do grupo (R$1.000,00), de brevíssima duração (10 dias), especificamente para viabilizar o evento de incorporação previsto pela norma que autoriza a amortização do ágio. Fl. 3434DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.435 58 Transcrevo novamente as constatações da decisão de primeira instância (efl. 2689): 5 quanto ao TEMPO, temse a criação e a curta existência da SOBRASER, criada em abril de 2007 com capital social de R$ 1.000,00 e que recebeu todas as ações da TICKET mais o ágio em 10/08/2007, sendo incorporada pela sua controlada após 10 dias, em 20/08/2007; 6 outro tipo de sociedade citada pelo referido tributarista é a "sociedade efêmera" ou de curta duração, que é a que nasce para ser extinta tão logo cumpra seu papel em certa operação. Exatamente como ocorreu com a SOBRASER; 7 a criação de uma sociedade para posterior extinção por incorporação revela evidente falta de propósito negocial, ou seja, inexistência de fundamento econômico da transformação societária; não se concebe, nas operações normais dos agentes econômicos, que se crie empresas para extinguilas em seguida, pois são entidades criadas para explorar uma atividade econômica e, como regra geral, têm como premissa a continuidade de suas operações; 8 no caso em exame, não houve outra causa econômica, além da economia fiscal, para a criação da SOBRASER, de modo que não há, no caso da SOBRASER, a presença de um dos elementos essenciais ao negócio jurídico: a vontade, o ânimo, de exercer atividade econômica; 9 qual foi, então, o papel da SOBRASER? Resposta: transferir o ágio antes contabilizado na ACOPART para a TICKET, através da incorporação reversa da SOBRASER, para que a TICKET se beneficiasse, indevidamente, da dedução da amortização do ágio; 10 assim, o ágio transferido para a SOBRASER, que foi criada exclusivamente para tal operação e sem motivação econômica empresarial que justificasse a sua existência (art. 966 do Código Civil), e que logo desapareceu por ter sido incorporada pela investida, não poderia ter sido por ela amortizado tributariamente; Repito: a construção do sistema tributário parte de premissa de que a pessoa jurídica tem um efeito multiplicador na sociedade. Gera empregos, contrata fornecedores, viabilizando um ciclo virtuoso, gerando rendimentos que, por sua vez, são tributáveis e propiciam os recursos necessários para a manutenção do Estado. Por isso, a pessoa jurídica tem regimes de tributação diferenciados, podendo optar por aquele que se mostre o mais eficiente para a sua operação. O caso concreto demonstra com clareza o desvirtuamento do instituto da pessoa jurídica, criandose empresa de papel, fictícia, com capital social irrelevante, sem operação, com o único intuito de se fabricar uma despesa. Empresa se presta a fabricar produtos, e não a fabricar despesas. Fl. 3435DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.436 59 Portanto, voto no sentido de negar provimento ao recurso da Contribuinte quanto à matéria despesa de amortização de ágio. II. Multa isolada por insuficiência no recolhimento de estimativas mensais. O lucro real é um dos regimes de tributação existentes no sistema tributário, atualmente regido pela Lei nº 9.430, de 1996, aplicado a partir do anocalendário de 1997: Capítulo I IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA Seção I Apuração da Base de Cálculo Período de Apuração Trimestral Art. 1º A partir do anocalendário de 1997, o imposto de renda das pessoas jurídicas será determinado com base no lucro real, presumido, ou arbitrado, por períodos de apuração trimestrais, encerrados nos dias 31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de dezembro de cada anocalendário, observada a legislação vigente, com as alterações desta Lei. (grifei) No lucro real, podese optar pelo regime de apuração trimestral ou anual. Vale reforçar que é uma opção do contribuinte aderir ao regime anual ou trimestral. E, no caso do regime anual, a lei é expressa ao dispor sobre a apuração de estimativas mensais. Transcrevo redação vigente à época dos fatos geradores objeto da autuação: Lei nº 9.430, de 1996 Art. 2º A pessoa jurídica sujeita a tributação com base no lucro real poderá optar pelo pagamento do imposto, em cada mês, determinado sobre base de cálculo estimada, mediante a aplicação, sobre a receita bruta auferida mensalmente, dos percentuais de que trata o art. 15 da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 29 e nos arts. 30 a 32, 34 e 35 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995, com as alterações da Lei nº 9.065, de 20 de junho de 1995. ................................................................................ Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995 Art. 35. A pessoa jurídica poderá suspender ou reduzir o pagamento do imposto devido em cada mês, desde que demonstre, através de balanços ou balancetes mensais, que o valor acumulado já pago excede o valor do imposto, inclusive adicional, calculado com base no lucro real do período em curso. § 1º Os balanços ou balancetes de que trata este artigo: Fl. 3436DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.437 60 a) deverão ser levantados com observância das leis comerciais e fiscais e transcritos no livro Diário; b) somente produzirão efeitos para determinação da parcela do Imposto de Renda e da contribuição social sobre o lucro devidos no decorrer do anocalendário. § 2º Estão dispensadas do pagamento de que tratam os arts. 28 e 29 as pessoas jurídicas que, através de balanço ou balancetes mensais, demonstrem a existência de prejuízos fiscais apurados a partir do mês de janeiro do anocalendário. (grifei) Observase, portanto, com base em lei, a obrigatoriedade de a contribuinte optante pelo regime de lucro real anual, apurar, mensalmente, imposto devido, a partir de base de cálculo estimada com base na receita bruta, ou por balanço ou balancete mensal, esta que, inclusive, prevê a suspensão ou redução do pagamento do imposto na hipótese em que o valor acumulado já pago excede o valor de imposto apurado ao final do mês. Contudo, a hipótese de não pagamento de estimativa deve atender aos comandos legais, no sentido de que os balanços ou balancetes deverão ser levantados com observância das leis comerciais e fiscais e transcritos no livro Diário. Tratase de obrigação imposta ao contribuinte que optar pelo regime do lucro real anual. E o legislador, com o objetivo de tutelar a conduta legal, dispôs penalidade para o seu descumprimento. No caso, a prevista no art. 44 da mesma Lei nº 9.430, de 1996 (redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007)): Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: (...) b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. (grifei) A sanção imposta pelo sistema é claríssima: caso descumprido o pagamento da estimativa mensal, cabe imputação de multa isolada, sobre a totalidade (caso em que não se pagou nada a título de estimativa mensal) ou diferença entre o valor que deveria ter sido pago e o efetivamente pago, apurado a cada mês do anocalendário. Penalizase a conduta de descumprimento de obrigação tributária, de pagamento de tributo de maneira antecipada conforme determinação expressa da legislação. A sanção tem base legal. Fl. 3437DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.438 61 E mais: expressamente dispõe que é cabível ainda que a pessoa jurídica tenha apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa de CSLL. E se trata de multa, gênero, isolada, espécie, a ser lançada de ofício e cujo prazo decadencial é regido pelo art. 173, inciso I do CTN. Pode sim ser efetuado lançamento após o anocalendário, naturalmente dentro do período não atingido pela decadência. Fato é que o descumprimento de norma que determina o pagamento do tributo em regime de antecipação proporciona substancial prejuízo, por permitir uma liberalidade no ordenamento jurídico sem base legal, por fomentar um tratamento desigual entre os contribuintes, e por implicar em não ingresso de recursos aos cofres do Estado. Consumarseia situação de exceção, e um prêmio para as pessoas jurídicas que descumprissem deliberadamente a lei tributária. Por qual razão a pessoa jurídica que descumpre conduta prevista em lei deve receber tratamento diferente (e vantajoso) daquela que cumpriu com suas obrigações, apurou mensalmente a estimativa mensal a pagar e efetuou os recolhimentos? Como acolher conduta de contribuinte que ignorou a legislação tributária vigente, e se considerou apto a receber um tratamento especial, diferente das demais pessoas jurídicas que cumpriram com suas obrigações? Não se trata de legalidade por legalidade. O sistema jurídicotributário deve ser respeitado, assim como os contribuintes que seguem suas determinações. Não se deve fomentar lacunas para se ignorar a lógica do sistema, para conceder tratamentos vantajosos para condutas lesivas, em afronta à proporcionalidade e razoabilidade. Enfim, a nova redação para imputação de multa isolada em debate, aplicável aos fatos geradores ocorridos a partir de 22/01/2007 (o caso em debate), afastou qualquer dúvida sobre a possibilidade de aplicação concomitante das multas de ofício e das multas isoladas por insuficiência de estimativa mensal. As hipóteses de incidência que ensejam a imposição das penalidades da multa de ofício e da multa isolada em razão da falta de pagamento da estimativa são distintas, cada qual tratada em inciso próprio no art. 44 da Lei nº. 9.430, de 1996. Observase que os incisos I e II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, tratam de suportes fáticos distintos e autônomos, com diferenças claras na temporalidade da apuração, que tem por consequência a aplicação das penalidades sobre bases de cálculo diferentes. A multa de ofício aplicase sobre o resultado apurado anualmente, cujo fato gerador aperfeiçoa se ao final do anocalendário. Por sua vez, a multa isolada é apurada conforme balancetes elaborados mês a mês ou, ainda, mediante receita bruta acumulada mensalmente. Ou seja, são materialidades independentes, não havendo que se falar em concomitância. A matéria foi tratada exaustivamente no mencionado Acórdão nº 9101 002.438. de relatoria da Conselheira Adriana Gomes Rêgo, que de maneira precisa e objetiva, apresentou uma interpretação histórica, teleológica e sistêmica do dispositivo normativo. Transcrevo excerto no qual trata da não aplicação do princípio da consunção, no qual menciona entendimento da exConselheira Karem Jureidini Dias. Fl. 3438DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.439 62 Há argumentos no sentido de que o princípio da consunção veda a cumulação das penalidades. Dizem seus adeptos que o não recolhimento da estimativa mensal seria etapa preparatória da infração cometida no ajuste anual e, em tais circunstâncias o princípio da consunção autorizaria a subsistência, apenas, da penalidade aplicada sobre o tributo devido ao final do ano calendário, prestigiando o bem jurídico mais relevante, no caso, a arrecadação tributária, em confronto com a antecipação de fluxo de caixa assegurada pelas estimativas. Ademais, como a base fática para imposição das penalidades seria a mesma, a exigência concomitante das multas representaria bis in idem, até porque, embora a lei tenha previsto ambas penalidades, não determinou a sua aplicação simultânea. E acrescentam que, em se tratando de matéria de penalidades, seria aplicável o art. 112 do CTN. Entretanto, com a devida vênia, discordo desse entendimento. Para tanto, aproveitome, inicialmente do voto proferido pela Conselheira Karem Jureidini Dias na condução do Acórdão nº 9101001.135, para trazer sua abordagem conceitual acerca das sanções em matéria tributária: [...] A sanção de natureza tributária decorre do descumprimento de obrigação tributária – qual seja, obrigação de pagar tributo. A sanção de natureza tributária pode sofrer agravamento ou qualificação, esta última em razão de o ilícito também possuir natureza penal, como nos casos de existência de dolo, fraude ou simulação. O mesmo auto de infração pode veicular, também, norma impositiva de multa em razão de descumprimento de uma obrigação acessória obrigação de fazer – pois, ainda que a obrigação acessória sempre se relacione a uma obrigação tributária principal, revestese de natureza administrativa. Sobre as obrigações acessórias e principais em matéria tributária, vale destacar o que dispõe o artigo 113 do Código Tributário Nacional: “Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância, convertese em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.” Fica evidente da leitura do dispositivo em comento que a obrigação principal, em direito tributário, é pagar tributo, e a Fl. 3439DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.440 63 obrigação acessória é aquela que possui características administrativas, na medida em que as respectivas normas comportamentais servem ao interesse da administração tributária, em especial, quando do exercício da atividade fiscalizatória. O dispositivo transcrito determina, ainda, que em relação à obrigação acessória, ocorrendo seu descumprimento pelo contribuinte e imposta multa, o valor devido convertese em conversão, a natureza da sanção aplicada permanece sendo administrativa, já que não há cobrança de tributo envolvida, mas sim a aplicação de uma penalidade em razão da inobservância de uma norma que visava proteger os interesses fiscalizatórios da administração tributária. Assim, as sanções em matéria tributária podem ter natureza (i) tributária principal quando se referem a descumprimento da obrigação principal, ou seja, falta de recolhimento de tributo; (ii) administrativa – quando se referem à mero descumprimento de obrigação acessória que, em verdade, tem por objetivo auxiliar os agentes públicos que se encarregam da fiscalização; ou, ainda (iii) penal – quando qualquer dos ilícitos antes mencionados representar, também, ilícito penal. Significa dizer que, para definir a natureza da sanção aplicada, necessário se faz verificar o antecedente da norma sancionatória, identificando a relação jurídica desobedecida. Aplicamse às sanções o princípio da proporcionalidade, que deve ser observado quando da aplicação do critério quantitativo. Neste ponto destacamos a lição de Helenilson Cunha Pontes a respeito do princípio da proporcionalidade em matéria de sanções tributárias, verbis: “As sanções tributárias são instrumentos de que se vale o legislador para buscar o atingimento de uma finalidade desejada pelo ordenamento jurídico. A análise da constitucionalidade de uma sanção deve sempre ser realizada considerando o objetivo visado com sua criação legislativa. De forma geral, como lembra Régis Fernandes de Oliveira, “a sanção deve guardar proporção com o objetivo de sua imposição”. O princípio da proporcionalidade constitui um instrumento normativo constitucional através do qual podese concretizar o controle dos excessos do legislador e das autoridades estatais em geral na definição abstrata e concreta das sanções”. O primeiro passo para o controle da constitucionalidade de uma sanção, através do princípio da proporcionalidade, consiste na perquirição dos objetivos imediatos visados com a previsão abstrata e/ou com a imposição concreta da sanção. Vale dizer, na perquirição do interesse público que valida a previsão e a imposição de sanção”. (in “O Princípio da Proporcionalidade e o Direito Tributário”, ed. Dialética, São Paulo, 2000, pg.135) Assim, em respeito a referido princípio, é possível afirmar que: se a multa é de natureza tributária, terá por base apropriada, via de regra, o montante do tributo não recolhido. Se a multa é de natureza administrativa, a base de cálculo terá por grandeza Fl. 3440DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.441 64 montante proporcional ao ilícito que se pretende proibir. Em ambos os casos as sanções podem ser agravadas ou qualificadas. Agravada, se além do descumprimento de obrigação acessória ou principal, houver embaraço à fiscalização, e, qualificada se ao ilícito somarse outro de cunho penal – existência de dolo, fraude ou simulação. A MULTA ISOLADA POR NÃO RECOLHIMENTO DAS ANTECIPAÇÕES A multa isolada, aplicada por ausência de recolhimento de antecipações, é regulada pelo artigo 44, inciso II, alínea “b”, da Lei nº 9.430/96, verbis: [...] A norma prevê, portanto, a imposição da referida penalidade quando o contribuinte do IRPJ e da CSLL, sujeito ao Lucro Real Anual, deixar de promover as antecipações devidas em razão da disposição contida no artigo 2º da Lei nº 9.430/96, verbis: [...] A natureza das antecipações, por sua vez, já foi objeto de análise do Superior Tribunal de Justiça, que manifestou entendimento no sentido de considerar que as antecipações se referem ao pagamento de tributo, conforme se depreende dos seguintes julgados: “TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. IMPOSTO DE RENDA. CSSL. RECOLHIMENTO ANTECIPADO. ESTIMATIVA. TAXA SELIC. INAPLICABILIDADE. 1. "É firme o entendimento deste Tribunal no sentido de que o regime de antecipação mensal é opção do contribuinte, que pode apurar o lucro real, base de cálculo do IRPJ e da CSSL, por estimativa, e antecipar o pagamento dos tributos, segundo a faculdade prevista no art. 2° da Lei n. 9430/96" (AgRg no REsp 694278RJ, relator Ministro Humberto Martins, DJ de 3/8/2006). 2. A antecipação do pagamento dos tributos não configura pagamento indevido à Fazenda Pública que justifique a incidência da taxa Selic. 3. Recurso especial improvido.” (Recurso Especial 529570 / SC Relator Ministro João Otávio de Noronha Segunda Turma Data do Julgamento 19/09/2006 DJ 26.10.2006 p. 277) “AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL TRIBUTÁRIO IMPOSTO DE RENDA PESSOA JURÍDICA IRPJ E CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO CSSL APURAÇÃO POR ESTIMATIVA PAGAMENTO ANTECIPADO OPÇÃO DO CONTRIBUINTE LEI N. 9430/96. É firme o entendimento deste Tribunal no sentido de que o regime de antecipação mensal é opção do contribuinte, que pode apurar o lucro real, base de cálculo do IRPJ e da CSSL, por Fl. 3441DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.442 65 estimativa, e antecipar o pagamento dos tributos, segundo a faculdade prevista no art. 2° da Lei n. 9430/96. Precedentes: REsp 492.865/RS, Rel. Min. Franciulli Netto, DJ25.4.2005 e REsp 574347/SC, Rel. Min. José Delgado, DJ 27.9.2004.Agravo regimental improvido.” (Agravo Regimental No Recurso Especial 2004/01397180 Relator Ministro Humberto Martins Segunda Turma DJ 17.08.2006 p. 341) Do exposto, inferese que a multa em questão tem natureza tributária, pois aplicada em razão do descumprimento de obrigação principal, qual seja, falta de pagamento de tributo, ainda que por antecipação prevista em lei. Debates instalaramse no âmbito desse Conselho Administrativo sobre a natureza da multa isolada. Inicialmente me filiei à corrente que entendia que a multa isolada não poderia prosperar porque penalizava conduta que não se configurava obrigação principal, tampouco obrigação acessória. Ou seja, mantinha o entendimento de que a multa em questão não se referia a qualquer obrigação prevista no artigo 113 do Código Tributário Nacional, na medida em que penalizava conduta que, a meu ver à época, não podia ser considerada obrigação principal, já que o tributo não estava definitivamente apurado, tampouco poderia ser considerada obrigação acessória, pois evidentemente não configura uma obrigação de caráter meramente administrativo, uma vez que a relação jurídica prevista na norma primária dispositiva é o “pagamento” de antecipação. Nada obstante, modifiquei meu entendimento, mormente por concluir que tratase, em verdade, de multa pelo não pagamento do tributo que deve ser antecipado. Ainda que tenha o contribuinte declarado e recolhido o montante devido de IRPJ e CSLL ao final do exercício, fato é que caberá multa isolada quando o contribuinte não efetua a antecipação deste tributo. Tanto assim que, até a alteração promovida pela Lei nº 11.488/07, o caput do artigo 44 da Lei nº 9.430/96, previa que o cálculo das multas ali estabelecidas seria realizado “sobre a totalidade ou diferença de tributo ou contribuição”. Frente a estas considerações, releva destacar que a penalidade em debate é exigida isoladamente, sem qualquer hipótese de agravamento ou qualificação e, embora seu cálculo tenha por referência a antecipação não realizada, sua exigência não se dá por falta de "pagamento de tributo", dado o fato gerador do tributo sequer ter ocorrido. De forma semelhante, outras penalidades reconhecidas como decorrentes do descumprimento de obrigações acessórias são calculadas em razão do valor dos tributos devidos e exigidas de forma isolada. Enfim, transcrevo parte de conclusão do didático voto: A alteração legislativa promovida pela Medida Provisória nº 351, de 2007, portanto, claramente fixou a possibilidade de Fl. 3442DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.443 66 aplicação de duas penalidades em caso de lançamento de ofício frente a sujeito passivo optante pela apuração anual do lucro tributável. Somente desconsiderandose todo o histórico de aplicação das penalidades previstas na redação original do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, seria possível interpretar que a redação original não determinou a aplicação simultânea das penalidades. A redação alterada é direta e impositiva ao firmar que "serão aplicadas as seguintes multas". Ademais, quando o legislador estipula na alínea "b" do inciso II do art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, a exigência isolada da multa sobre o valor do pagamento mensal ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base negativa no anocalendário correspondente, claramente afirma a aplicação da penalidade mesmo se apurado lucro tributável e, por conseqüência, tributo devido sujeito à multa prevista no inciso I do seu art. 44. Acrescentese que não se pode falar, no caso, de bis in idem sob o pressuposto de que a imposição das penalidades teria a mesma base fática. Basta observar que as infrações ocorrem em diferentes momentos, o primeiro correspondente à apuração da estimativa com a finalidade de cumprir o requisito de antecipação do recolhimento imposto aos optantes pela apuração anual do lucro, e o segundo apenas na apuração do lucro tributável ao final do anocalendário. A análise, assim, não pode ficar limitada, por exemplo, à omissão de receitas ou ao registro de despesas indedutíveis, especialmente porque, para fins tributários, estas ocorrências devem, necessariamente, repercutir no cumprimento da obrigação acessória de antecipar ou na constituição, pelo sujeito passivo, da obrigação tributária principal. A base fática, portanto, é constituída pelo registro contábil ou fiscal, ou mesmo sua supressão, e pela repercussão conferida pelo sujeito passivo àquela ocorrência no cumprimento das obrigações tributárias. Como esta conduta se dá em momentos distintos e com finalidades distintas, duas penalidades são aplicáveis, sem se cogitar de bis in idem. Portanto, voto no sentido de negar provimento ao recurso da Contribuinte quanto a matéria multa isolada por insuficiência no recolhimento de estimativas mensais. III. Juros de mora sobre multa de ofício. Sobre o assunto, vale transcrever, inicialmente, o artigo 113, do CTN, que predica que o objeto da obrigação tributária principal é o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária: Art. 113. A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extinguese juntamente com o crédito dela decorrente. (grifei) § 2º (...) Fl. 3443DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.444 67 Por sua vez, o crédito tributário decorre da obrigação principal, conforme o artigo 139 do CTN: Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. A penalidade pecuniária tem base no art. 44 da Lei nº 9.430, de 1996, materializada na multa de ofício aplicada sobre o tributo. E, como se pode observar a penalidade pecuniária, decorrente da infração, compõe a obrigação tributária principal e, por conseguinte, integra o crédito tributário. Por sua vez, o CTN, ao discorrer sobre o pagamento, informa que devem incidir juros sobre o crédito tributário não integralmente adimplido no vencimento, verbis: Art. 161. O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. (grifei) § 1º (...) E a correção estipulada pelo mencionado art. 161, a partir da Lei nº 9.065, de 1995, segue a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais, questão já pacificada pela Súmula CARF nº 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. Verificase, assim que tanto tributo quanto a multa de ofício estão sujeitos à atualização prevista no art. 161 do CTN, mediante aplicação da taxa SELIC. Portanto, voto no sentido de negar provimento ao recurso especial da Contribuinte em relação a matéria incidência de juros de mora sobre multa de ofício. Enfim, aplicase à CSLL o decidido no IRPJ, vez que compartilham o mesmo suporte fático e matéria tributável. IV. Conclusão. Diante do exposto, voto no sentido de conhecer e negar provimento ao recurso especial da Contribuinte. Em relação ao recurso especial da PGFN, acompanho a relatora no sentido de não conhecêlo. (assinado digitalmente) André Mendes de Moura Fl. 3444DF CARF MF Processo nº 16561.720040/201117 Acórdão n.º 9101002.892 CSRFT1 Fl. 3.445 68 Fl. 3445DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 11853.001281/2007-88
Turma: Segunda Turma Ordinária da Quarta Câmara da Segunda Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Segunda Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Mon Sep 18 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuições Sociais Previdenciárias
Período de apuração: 01/08/2001 a 31/07/2004
VINCULAÇÃO DOS PROCESSOS. REFLEXOS JÁ JULGADOS. VINCULAÇÃO INCABÍVEL.
Os processo reflexos já foram julgados e é incabível a vinculação dos autos para julgamento conjunto (§ 2º do art. 6º do Anexo II do RICARF).
NULIDADE DO LANÇAMENTO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO AO DIREITO DE DEFESA.
1. Somente há nulidade quando o descumprimento de uma regra legal ou infra-legal cause prejuízo ao direito de defesa do contribuinte.
2. As eventuais formalidades constantes da legislação tributária não constituem um fim em si mesmas, mas sim representam um meio de assegurar o direito do devido processo legal.
3. O RDA relaciona, por estabelecimento e por competência, as parcelas que seriam deduzidas das contribuições apuradas, mas a própria contribuinte reconheceu não ter efetuado nenhum recolhimento das contribuições lançadas, nem mesmo quanto à prestação de serviços prestados por meio de cooperativa de trabalho.
4. Por outro lado, não houve o arrolamento de bens do sujeito passivo e, por consequência, não houve a emissão do TAB.
5. Quanto à não entrega dos relatórios em mídia digital, o sujeito passivo teve acesso a todos os relatórios integrantes da presente NFLD em meio impresso, o que viabilizou o seu direito de defesa.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. CONFISCO. INCOMPETÊNCIA DO CARF. SÚMULA Nº 2.
A cláusula de não confisco está prevista na Constituição Federal e, para se concluir pela existência de imposição confiscatória, seria necessário declarar a inconstitucionalidade da Lei 8212/91, o que encontra óbice na Súmula CARF nº 2.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. COMPETÊNCIA DO AUDITOR. EXISTÊNCIA.
1. De acordo com o § 2º do art. 229 do Regulamento da Previdência Social, o auditor fiscal poderá desconsiderar o vínculo negocial e efetuar o enquadramento como segurado empregado, caso constate que o segurado contratado, sob qualquer denominação, preenche as condições referidas no inc. I do caput do art. 9º.
2. De outro vértice, o art. 142 do CTN prevê que a autoridade administrativa tem competência privativa para constituir o crédito tributário pelo lançamento, constituição que demanda a verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente.
CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. CONTRATAÇÃO DE TRABALHADORES POR MEIO DE COOPERATIVA DE TRABALHO. DESCONSIDERAÇÃO DA COOPERATIVA. REQUISITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO. EXISTÊNCIA. REALIDADE DOS FATOS.
1. O acervo probatório dos autos demonstra a existência inequívoca de não eventualidade, de subordinação e de remuneração, devendo ser mantida a autuação.
2. O que importa para o direito tributário é a realidade, e não a aparente verdade resultante do negócios jurídico celebrado pela parte.
JUROS MORATÓRIOS. SELIC. SÚMULA CARF Nº 4. CABIMENTO.
1. A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre os débitos administrados pela Secretaria da Receita Federal, entre os quais se incluem as contribuições devidas à seguridade social e as contribuições devidas a terceiros (Lei 11457/07, arts. 2º e 3º), são calculáveis, no período de inadimplência, de acordo com a SELIC.
2. Súmula CARF nº 4.
Numero da decisão: 2402-005.961
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares de nulidade do lançamento e negar provimento ao recurso voluntário. Ausente, justificadamente, a Conselheira Fernanda Melo Leal.
(assinado digitalmente)
Mário Pereira de Pinho Filho - Presidente
(assinado digitalmente)
João Victor Ribeiro Aldinucci - Relator
Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mário Pereira de Pinho Filho, Ronnie Soares Anderson, João Victor Ribeiro Aldinucci, Luis Henrique Dias Lima, Theodoro Vicente Agostinho, Mauricio Nogueira Righetti e Jamed Abdul Nasser Feitoza.
Nome do relator: JOAO VICTOR RIBEIRO ALDINUCCI
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CONTRATAÇÃO DE EMPREGADOS ATRAVÉS DE COOPERATIVA Recorrente INSTITUTO RUI BARBOSA DO BRASIL SS LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS Período de apuração: 01/08/2001 a 31/07/2004 VINCULAÇÃO DOS PROCESSOS. REFLEXOS JÁ JULGADOS. VINCULAÇÃO INCABÍVEL. Os processo reflexos já foram julgados e é incabível a vinculação dos autos para julgamento conjunto (§ 2º do art. 6º do Anexo II do RICARF). NULIDADE DO LANÇAMENTO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO AO DIREITO DE DEFESA. 1. Somente há nulidade quando o descumprimento de uma regra legal ou infralegal cause prejuízo ao direito de defesa do contribuinte. 2. As eventuais formalidades constantes da legislação tributária não constituem um fim em si mesmas, mas sim representam um meio de assegurar o direito do devido processo legal. 3. O RDA relaciona, por estabelecimento e por competência, as parcelas que seriam deduzidas das contribuições apuradas, mas a própria contribuinte reconheceu não ter efetuado nenhum recolhimento das contribuições lançadas, nem mesmo quanto à prestação de serviços prestados por meio de cooperativa de trabalho. 4. Por outro lado, não houve o arrolamento de bens do sujeito passivo e, por consequência, não houve a emissão do TAB. 5. Quanto à não entrega dos relatórios em mídia digital, o sujeito passivo teve acesso a todos os relatórios integrantes da presente NFLD em meio impresso, o que viabilizou o seu direito de defesa. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. CONFISCO. INCOMPETÊNCIA DO CARF. SÚMULA Nº 2. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 11 85 3. 00 12 81 /2 00 7- 88 Fl. 1928DF CARF MF 2 A cláusula de não confisco está prevista na Constituição Federal e, para se concluir pela existência de imposição confiscatória, seria necessário declarar a inconstitucionalidade da Lei 8212/91, o que encontra óbice na Súmula CARF nº 2. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. COMPETÊNCIA DO AUDITOR. EXISTÊNCIA. 1. De acordo com o § 2º do art. 229 do Regulamento da Previdência Social, o auditor fiscal poderá desconsiderar o vínculo negocial e efetuar o enquadramento como segurado empregado, caso constate que o segurado contratado, sob qualquer denominação, preenche as condições referidas no inc. I do caput do art. 9º. 2. De outro vértice, o art. 142 do CTN prevê que a autoridade administrativa tem competência privativa para constituir o crédito tributário pelo lançamento, constituição que demanda a verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente. CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS À SEGURIDADE SOCIAL. CONTRATAÇÃO DE TRABALHADORES POR MEIO DE COOPERATIVA DE TRABALHO. DESCONSIDERAÇÃO DA COOPERATIVA. REQUISITOS DA RELAÇÃO DE EMPREGO. EXISTÊNCIA. REALIDADE DOS FATOS. 1. O acervo probatório dos autos demonstra a existência inequívoca de não eventualidade, de subordinação e de remuneração, devendo ser mantida a autuação. 2. O que importa para o direito tributário é a realidade, e não a aparente verdade resultante do negócios jurídico celebrado pela parte. JUROS MORATÓRIOS. SELIC. SÚMULA CARF Nº 4. CABIMENTO. 1. A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre os débitos administrados pela Secretaria da Receita Federal, entre os quais se incluem as contribuições devidas à seguridade social e as contribuições devidas a terceiros (Lei 11457/07, arts. 2º e 3º), são calculáveis, no período de inadimplência, de acordo com a SELIC. 2. Súmula CARF nº 4. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Fl. 1929DF CARF MF Processo nº 11853.001281/200788 Acórdão n.º 2402005.961 S2C4T2 Fl. 3 3 Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, rejeitar as preliminares de nulidade do lançamento e negar provimento ao recurso voluntário. Ausente, justificadamente, a Conselheira Fernanda Melo Leal. (assinado digitalmente) Mário Pereira de Pinho Filho Presidente (assinado digitalmente) João Victor Ribeiro Aldinucci Relator Participaram do presente julgamento os conselheiros: Mário Pereira de Pinho Filho, Ronnie Soares Anderson, João Victor Ribeiro Aldinucci, Luis Henrique Dias Lima, Theodoro Vicente Agostinho, Mauricio Nogueira Righetti e Jamed Abdul Nasser Feitoza. Fl. 1930DF CARF MF 4 Relatório A fiscalização lavrou em face do sujeito passivo a NFLD nº 35.852.7945, na qual constituiu as contribuições devidas à seguridade social, correspondentes à: a) parte da empresa; b) adicional GILRAT; c) parte dos segurados; d) contribuições devidas a outras entidades ou fundos (terceiros). De acordo com o relatório fiscal (fls. 99 e seguintes), as contribuições foram constituídas em razão da desconsideração da contratação de cooperativa de trabalho e o consequente enquadramento dos profissionais, administrativos e professores, como segurados empregados. Em síntese, eis um resumo dos fatos apurados pela fiscalização: a) a contribuinte celebrou contrato de adesão para prestação de serviços profissionais com a Cooperativa de Serviços Técnico Empresariais COOPSEM; b) anteriormente à contratação da cooperativa, a contribuinte mantinha um quadro próprio com aproximadamente quarenta e sete empregados; c) a partir de julho/2001, a contribuinte iniciou um processo de esvaziamento desse contingente; d) segundo informações de pessoas que atenderam à fiscalização, a contratação da cooperativa tinha como principal objetivo reduzir os custos operacionais e proporcionar maior ganho financeiro ao profissional; e) a COOPSEM possui dois estabelecimentos: a sede, no Rio de Janeiro RJ, e o escritório na cidade de São Paulo SP; f) uma vez que os dois estabelecimentos estão situados em cidades distintas e longe do local de prestação dos serviços resta prejudicada a possibilidade de os associados participarem de suas reuniões e torna inviável o modelo de gestão das cooperativas baseado no princípio assemblear; g) no site da Associação Nacional de Cooperativas de Trabalho, a COOPSEM se apresenta como uma cooperativa focada no business informática, e não como cooperativa de professores, mestres e doutores; h) as atividades desenvolvidas pelos cooperados atendiam a necessidade permanente e estavam relacionadas à atividade principal da empresa; i) existia a subordinação direta entre os cooperados e a tomadora dos serviços, pois não havia autonomia na prestação dos serviços; Fl. 1931DF CARF MF Processo nº 11853.001281/200788 Acórdão n.º 2402005.961 S2C4T2 Fl. 4 5 j) quanto à pessoalidade, os serviços não podiam ser realizados por qualquer profissional que tivesse a mesma qualificação, mas por um profissional determinado pela contratada; k) quanto à remuneração, embora ela ocorre por intermédio da cooperativa, existia uma planilha de pagamento dos professores e administrativos, discriminando cada profissional e o valor de cada parcela que compunha a sua retribuição financeira; l) a contribuinte não informava em GFIP os valores envolvidos na contratação, não realizava qualquer recolhimento e não dava o tratamento tributário relativo ao pagamento de cooperativa de trabalho, o que culminou na lavratura de Auto de Infração; m) foi constatado o pagamento de parcelas que normalmente são feitas a segurados empregados, a exemplo de verbas de alimentação e transporte, além de pagamentos relativos ao atendimento a alunos/reuniões e pesquisa/produção científica; n) a contribuinte firmou Termo de Ajustamento de Conduta junto ao Ministério Público do Trabalho, reconhecendo que a contratação estava irregular, comprometendose a regularizála. A contribuinte apresentou sua impugnação tempestivamente (cujos fundamentos, conforme adiante se verá, são idênticos aos do seu recurso voluntário), a qual foi julgada improcedente pelo Ministério da Previdência Social, Secretaria da Receita Previdenciária, Delegacia no Distrito Federal, conforme decisão assim ementada: CUSTEIO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. RELATÓRIOS. RDA. TAB. MÍDIA DIGITAL. NÃO ENTREGA. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO COMPROVAÇÃO. COOPERATIVA DE TRABALHO. DESCONSIDERAÇÃO. ENQUADRAMENTO. SEGURADOS EMPREGADOS. TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADEFIM. ILICITUDE. RELATÓRIO DE CORESPONSÁVEIS. SÓCIOS SOLIDÁRIOS. NÃO NECESSIDADE DA COMPROVAÇÃO DO DOLO OU CULPA. TAXA SELIC. LEGALIDADE. RELATÓRIOS. NÃO ENTREGA. A não entrega dos relatórios RDA e TAB, bem como a dos relatórios em mídia digital, não ocasionou prejuízo para a defesa do contribuinte, além de não afrontar normas procedimentais vigentes. COOPERATIVA DESCONSIDERAÇÃO. Se o Auditor Fiscal da Previdência Social constatar que o segurado contratado como cooperado preenche as condições referidas no inciso I do caput do art. 9º, deverá desconsiderar o vínculo pactuado e efetuar o enquadramento como segurado empregado. TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADEFIM. ILICITUDE. É irregular a contratação de cooperativa para a prestação de serviços relacionados à atividadefim da empresa. Fl. 1932DF CARF MF 6 RELATÓRIO DE CORESPONSÁVEIS. Os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social, independentemente da comprovação do dolo ou culpa, nos termos do art. 13, caput, da Lei nº 8.620/93. TAXA SELIC. LEGALIDADE. É lícita a incidência de juros com base na Taxa SELIC, pois prevista na Lei nº 9.065/95 e consolidação prevista no artigo 34 da Lei nº 8.212/91. A contribuinte foi intimada da decisão em 24 de janeiro de 2007 (fl. 1752), através de aviso de recebimento, e interpôs recurso voluntário em 23 de fevereiro daquele ano (fls. 1759/1823 e fl. 1825), no qual reiterou os fatos e os fundamentos de sua impugnação, a saber: Preliminares a) pede a reunião dos lançamentos em um único processo, sobretudo porque os Autos de Infração decorrem da NFLD; b) pugna pela nulidade do feito por inobservância das normas procedimentais; No mérito c) afirma que o lançamento é confiscatório; d) assevera que o INSS não tem competência para declarar vínculo empregatício; e) tenta descredibilizar o trabalho da fiscalização; f) defende que a relação com a cooperativa era eminentemente contratual; g) reafirma que existe uma relação contratual juridicamente válida; h) pede o afastamento de qualquer possibilidade de vínculo empregatício; i) faz longas considerações sobre as "sociedades cooperativas", sobre a "sociedade sem fins lucrativos", sobre o conceito de cooperativa na visão de "organismos internacionais", sobre os atos cooperativos e não cooperativos, sua natureza jurídica, sobre a realidade da COOPSEM; j) reafirma a inexistência de requisitos da relação empregatícia; k) diz que o lançamento cria exigência tributária não prevista em lei; l) de acordo com a recorrente, ela assinou o TAC para afastar qualquer atrito com o Ministério Público do Trabalho MPT, acatando a orientação no sentido de não mais adotar o modelo de contratação de serviços por cooperativas de trabalho, ainda que legal e com amparo na lei; m) afirma que o MEC não fez qualquer restrição quanto à contratação de cooperativas; n) requer a exclusão da SELIC; Fl. 1933DF CARF MF Processo nº 11853.001281/200788 Acórdão n.º 2402005.961 S2C4T2 Fl. 5 7 o) diante da improcedência da NFLD, pede a improcedência dos Autos de Infração; p) assevera que, caso estivesse inadimplente, seria em relação às contribuições devidas pelos tomadores de serviços prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho. Através de mandado de segurança, foi determinado o processamento do presente recurso independentemente do depósito recursal de 30% (fl. 1905/1907). Sem contrarrazões. É o relatório. Fl. 1934DF CARF MF 8 Voto Conselheiro João Victor Ribeiro Aldinucci Relator 1 Conhecimento O recurso voluntário é tempestivo e estão presentes os demais requisitos de admissibilidade, devendo, portanto, ser conhecido. 2 Das preliminares 2.1 DA REUNIÃO DOS PROCESSOS A recorrente pede a reunião dos lançamentos em um único processo, sobretudo porque os Autos de Infração decorrem da NFLD. O Regimento Interno deste Conselho Administrativo de Recursos Fiscais RICARF, em seu Anexo II, art. 6º, prevê que os processos podem ser vinculados por conexão, decorrência ou reflexo. Contudo, os PAF reflexos nºs 11853.000979/200786 (AI 358527929) e 11853.000980/200719 (AI 358527937) já foram julgados neste Conselho, conforme verificado no sistema de "Acompanhamento Processual", no site http://idg.carf.fazenda.gov.br/. Logo, é inviável a vinculação dos autos para julgamento conjunto, afirmação esta corroborada pelo § 2º do citado art. 6º com destaques: Art. 6º Os processos vinculados poderão ser distribuídos e julgados observandose a seguinte disciplina: §1º Os processos podem ser vinculados por: [...] § 2º Observada a competência da Seção, os processos poderão ser distribuídos ao conselheiro que primeiro recebeu o processo conexo, ou o principal, salvo se para esses já houver sido prolatada decisão. 2.2 DA NULIDADE DO LANÇAMENTO A contribuinte pugna pela nulidade do feito por inobservância das normas procedimentais, mais especificamente porque a autoridade fiscal não teria anexado aos autos o Relatório de Documentos Apresentados RDA e o Termo de Arrolamento de Bens e Direitos TAB, o que teria cerceado o seu direito de defesa. Além desses documentos, a recorrente ainda afirma que a fiscalização desatendeu ao disposto no art. 663 da Instrução Normativa SRP 14/05, segundo o qual os relatórios e documentos emitidos em procedimento fiscal serão entregues ao sujeito passivo em Fl. 1935DF CARF MF Processo nº 11853.001281/200788 Acórdão n.º 2402005.961 S2C4T2 Fl. 6 9 arquivos digitais autenticados pelo AuditorFiscal, devendo ser entregues também em meio impresso, com a assinatura do sujeito passivo. Diz que dos documentos que deveriam conter a sua assinatura, destacarse iam o RDA e o TAB. É amplamente sabido que somente há nulidade quando o descumprimento de uma regra legal ou infralegal cause prejuízo ao direito de defesa do contribuinte. Nessa toada, as eventuais formalidades constantes das instruções normativas emanadas da Receita Federal do Brasil ou da antiga Receita Previdenciária não constituem um fim em si mesmas, mas sim representam um meio de assegurar o direito do devido processo legal. O sujeito passivo tem todo o direito de saber os fatos contra si imputados e as provas nos quais ele se alicerçam. Todos os atos e termos devem ser lavrados por pessoa competente, e os despachos e as decisões devem ser devidamente fundamentados, e de forma alguma pode, por qualquer via, ser preterido o direito de defesa do administrado. Expressandose de outra forma, a apoiandose na inexcedível doutrina do professor Leandro Paulsen, "a nulidade não decorre propriamente do descumprimento do requisito formal, mas dos seus efeitos comprometedores do direito de defesa assegurado constitucionalmente"1, já que as formalidades "não são um fim, em si mesmas, mas um instrumento para assegurar o exercício da ampla defesa"2. Neste caso concreto, a recorrente fez alegações extremamente genéricas acerca do cerceamento do seu direito de defesa. Nem mesmo num patamar mínimo aceitável, ela precisou de que forma estaria caracterizado tal cerceamento. É óbvio que, a depender do grau de deficiência da instrução processual ou da decisão prolatada no bojo do processo administrativo, o sujeito passivo realmente não tem como fazer uma indicação mais precisa, mas não é isso que ocorre neste caso. Pelo contrário, e como bem decidido pela instância a quo, o RDA relaciona, por estabelecimento e por competência, as parcelas que seriam deduzidas das contribuições apuradas, mas a própria contribuinte reconheceu não ter efetuado nenhum recolhimento das contribuições lançadas, nem mesmo quanto à prestação de serviços prestados por meio de cooperativa de trabalho. Por outro lado, não houve o arrolamento de bens do sujeito passivo e, por consequência, não houve a emissão do TAB. Finalmente, e quanto à não entrega dos relatórios em mídia digital, a decisão recorrida foi igualmente incensurável ao afirmar que o sujeito passivo teve acesso a todos os relatórios integrantes da presente NFLD em meio impresso, o que viabilizou o seu direito de defesa. Noutro giro verbal, a ação fiscal foi conduzida por servidor competente, que concedeu à recorrente os prazos legais para a apresentação de documentos e prestação de esclarecimentos; a Notificação de Lançamento foi devidamente motivada e foi concedido ao 1 PAULSEN, Leandro. Direito tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 10. ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado; ESMAFE, 2008, p. 133. 2 PAULSEN, Leandro. Obra citada, p. 133. Fl. 1936DF CARF MF 10 sujeito passivo o prazo legal para a formulação de impugnação; a Notificação ainda contém clara descrição do fato gerador da obrigação, da matéria tributável, do montante do tributo devido, da identificação do sujeito passivo e da penalidade aplicável; não houve nenhum prejuízo para os direitos de defesa e do contraditório da recorrente, que puderam ser exercidos na forma e no prazo legal. Ou seja, a fiscalização transcorreu dentro da mais restrita legalidade e não houve qualquer inobservância ao direito de defesa da recorrente, rejeitandose, portanto, a preliminar de nulidade do lançamento. 3 No mérito 3.1 DO CONFISCO A recorrente afirma que o lançamento é confiscatório. Ora, a cláusula de não confisco está prevista na Constituição Federal e, para se concluir pela existência de imposição confiscatória, seria necessário declarar a inconstitucionalidade da Lei 8212/91. Como sabido, entretanto, este Conselho não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Vejase, nesse sentido, a Súmula CARF 2: Súmula CARF nº 2: O CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária. Isto é, a verificação de que a norma implicaria infringência ao desenho constitucional da exação tributária exacerba a competência originária desta Corte administrativa, que é a de órgão revisor dos atos praticados pela Administração, bem como invade competência atribuída especificamente ao Judiciário pela Constituição Federal, negandose provimento ao recurso neste particular. 3.2 DA COMPETÊNCIA DO AUDITOR A contribuinte assevera que o INSS não tem competência para declarar vínculo empregatício. Essa assertiva, todavia, está equivocada, pois, segundo o § 2º do art. 229 do Regulamento da Previdência Social, o auditor fiscal poderá desconsiderar o vínculo negocial e efetuar o enquadramento como segurado empregado, caso constate que o segurado contratado, sob qualquer denominação, preenche as condições referidas no inc. I do caput do art. 9º. Esse inc. I preleciona que empregado é que aquele que presta serviço em caráter não eventual, sob subordinação e mediante remuneração. Vejase: Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas: I como empregado: a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural a empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado; Fl. 1937DF CARF MF Processo nº 11853.001281/200788 Acórdão n.º 2402005.961 S2C4T2 Fl. 7 11 ......................................................................................................... Art. 229. [...]: § 2º Se o Auditor Fiscal da Previdência Social constatar que o segurado contratado como contribuinte individual, trabalhador avulso, ou sob qualquer outra denominação, preenche as condições referidas no inciso I do caput do art. 9º, deverá desconsiderar o vínculo pactuado e efetuar o enquadramento como segurado empregado.(Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 1999) Como se vê, havendo demonstração (a) de não eventualidade; (b) de subordinação e (c) de remuneração, pode ser descaracterizado o vínculo pactuado, corroborandose a existência efetiva de vínculo empregatício, oculto sob a contração de contribuinte individual, de trabalhador avulso, ou de qualquer outra denominação, inclusive de cooperativas de trabalho. De outro vértice, o art. 142 do CTN prevê que a autoridade administrativa tem competência privativa para constituir o crédito tributário pelo lançamento, constituição que demanda a verificação da ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente. 3.3 DA DESCONSIDERAÇÃO DA CONTRATAÇÃO DE COOPERATIVA DE TRABALHO Sobre esse ponto, a recorrente defende que a relação com a cooperativa era eminentemente contratual, defendendo a inexistência de relação de emprego. Como já afirmado, havendo demonstração (a) de não eventualidade; (b) de subordinação e (c) de remuneração, pode ser descaracterizado o vínculo pactuado. O art. 3º da CLT preceitua que se considera "empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário". Segundo a doutrina do Direito do Trabalho, "na definição legal brasileira estão os seguintes requisitos da figura do empregado: a) pessoa física; b) subordinação compreendida de forma mais ampla que dependência; c) ineventualidade do trabalho; d) salário; e) pessoalidade da prestação de serviços, esta resultante não da definição de empregado, mas de empregador"3. Comprovada a existência efetiva do vínculo empregatício, mormente em função da demonstração dos requisitos acima, há repercussão jurídica nas esferas trabalhista e tributária. No âmbito trabalhista, o item I da Súmula 331/TST preleciona que "a contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formandose o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário". Na esfera tributária, a combinação do disposto no § 2º do art. 229 do Regulamento da Previdência Social com o disposto no art. 142 do CTN viabiliza o lançamento 3 Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho. Amauri Mascaro Nascimento. 10. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 311. Fl. 1938DF CARF MF 12 das contribuições devidas à seguridade social e das contribuições devidas a outras entidades ou fundos. Verbis: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. Neste caso concreto, não pode passar despercebida a acusação constante do item 8 do relatório fiscal, segundo a qual a recorrente havia iniciado um processo de esvaziamento de seu contingente de empregados, para a contratação de profissionais diretamente ligados à sua atividadefim, por meio da cooperativa COOPSEM. Tal acusação não foi negada pelo sujeito passivo, tampouco, e por consequência, houve qualquer produção de prova que desmerecesse o trabalho da fiscalização. Outra assertiva incontroversa é a de que a COOPSEM teria funcionado irregularmente, uma vez que ela seria uma cooperativa focada em informática, conforme informações constantes do site da Associação Nacional de Cooperativas de Trabalho, e não uma cooperativa de professores, mestres e doutores. A par disso, a fiscalização ainda demonstrou o seguinte: 1. Os serviços contratados não poderiam ser prestados por qualquer cooperado que tivesse a mesma qualificação, mas por profissional específico, que era previamente submetido a um processo de seleção. 2. Os serviços contratados, prestados de forma não eventual pelos cooperados, administrativos e professores, atendiam à necessidade permanente e estavam relacionados à atividadefim da empresa, sendo indispensáveis à consecução dos seus objetivos e de suas finalidades sociais. 3. Embora o pagamento fosse feito por intermédio da COOPSEM, havia uma planilha de pagamento dos professores e administrativos, que discriminava cada profissional e o valor de cada parcela que compunha a sua retribuição financeira. 4. A empresa supervisionava e fiscalizava a prestação dos serviços, tal como comprovam os documentos anexados, por amostragem, que se referem à avaliação de desempenho, por coordenador e diretores acadêmicos. Não se desconhece, a propósito, que o contratante, no contrato típico de prestação de serviços, tem o direito de supervisionar e fiscalizar as atividades prestadas pelo contratado, mas o conjunto probatório dos autos (diante do que já se disse e diante do que ainda será acrescentado) demonstra, sem sombra de dúvidas, que houve mais do que mera contratação de serviços e que havia sim subordinação. Com efeito, observase que a contribuinte assinou o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC) n° 043/2004, por meio do qual se comprometeu a se abster de contratar trabalhadores por meio de cooperativas, para a prestação de serviços ligados às suas atividadesfim e meio, e também a regularizar a situação laboral de seus trabalhadores. Fl. 1939DF CARF MF Processo nº 11853.001281/200788 Acórdão n.º 2402005.961 S2C4T2 Fl. 8 13 Ou seja, ao contrário do que alega (que teria assinado o TAC para prevenir infrações futuras), a recorrente reconheceu, na esfera administrativa, e em documento que tem eficácia de título executivo (art. 5º, § 6º, da Lei 7347/854), a irregularidade de sua conduta e a nulidade absoluta de todos os atos praticados com o intuito de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação da lei trabalhista. Diante de tudo o que foi exposto, concluise que a contribuinte não tem razão quando tenta se arvorar na existência de um contrato juridicamente válido; e quando tece considerações sobre as cooperativas, seus princípios, sobre os atos cooperativas e sua natureza jurídica. O que importa para o direito tributário é a realidade, e não a aparente verdade resultante dos negócios jurídicos celebrados pela parte. É irrelevante a nomenclatura do instrumento negocial ou mesmo a eventual fatura, importando, sim, identificar a materialidade da hipótese de incidência e sua efetiva ocorrência no mundo real. O princípio da realidade sobrepõese ao aspecto formal, considerados os elementos tributários, conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal5. O prof. Hugo de Brito Machado afirma, ainda, com precisão, que "ao Direito Tributário importa a realidade. Não a forma jurídica"6. Com base no acervo probatório dos autos, e aplicandose a legislação de regência, observase que deve ser mantida a autuação. Por fim, e a propósito, sobreleva ressaltar que as contribuições lançadas estão sim calcadas na lei. O relatório fiscal, nos itens 34 a 38, traz ampla fundamentação legal a respeito das contribuições devidas à seguridade social, parte da empresa e parte dos segurados, inclusive do adicional GILRAT, bem como das contribuições devidas a outras entidades ou fundos (terceiros), sendo a alegação da recorrente totalmente desprovida de razão. 3.4 DA SELIC A tese da recorrente, segundo a qual os juros moratórios não seriam devidos com base na SELIC, é rechaçada pela Súmula CARF nº 4. Isto é, desde 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre os débitos administrados pela Secretaria da Receita Federal, entre os quais se incluem as 4 Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei nº 11.448, de 2007) (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência) [...] § 6° Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial. (Incluído pela Lei nª 8.078, de 11.9.1990) 5 STF, RE 346084 / PR. 6 MACHADO, Hugo de Brito. Comentários ao código tributário nacional, volume II. São Paulo: Atlas, 2004, p. 396. Fl. 1940DF CARF MF 14 contribuições devidas à seguridade social e as contribuições devidas a terceiros (Lei 11457/07, arts. 2º e 3º), são calculáveis, no período de inadimplência, de acordo com a SELIC: Súmula CARF nº 4: A partir de 1º de abril de 1995, os juros moratórios incidentes sobre débitos tributários administrados pela Secretaria da Receita Federal são devidos, no período de inadimplência, à taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia SELIC para títulos federais. 4 Conclusão Diante do exposto, votase no sentido de CONHECER do recurso voluntário, para REJEITAR as preliminares de nulidade do lançamento e NEGARLHE PROVIMENTO. (assinado digitalmente) João Victor Ribeiro Aldinucci Fl. 1941DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13116.721141/2015-07
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Primeira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Wed Jul 26 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Aug 15 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2011, 2012, 2013
PEDIDO DE PERÍCIA.
No âmbito do Processo Administrativo Fiscal, a produção de prova pericial só deve ser deferida quando imprescindível à solução da lide e desde que motivada com a formulação de quesitos expressamente indicados.
CORRESPONDENTE BANCÁRIO. TITULARIDADE DAS RECEITAS.
O correspondente bancário contratado pelas instituições financeiras é o titular das receitas provenientes da prestação dos serviços financeiros, sendo vedada a cessão do contrato sem a observância dos requisitos previstos em norma regulamentar específica (Resolução Bacen nº 3.954/2011).
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. FALTA DE MOTIVAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA.
A aplicação de multa qualificada deve ser motivada de forma explícita e clara, de modo a permitir a devida compreensão dos fatos e o pleno exercício do direito de defesa, sob pena de improcedência.
MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. FRAUDE. DOLO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. ERRO DE PROIBIÇÃO.
O erro de proibição, que decorre de mero contraste interpretativo, não deve ser confundido com o dolo. Uma vez ausente a figura do dolo, no seu aspecto subjetivo (intenção) ou objetivo (prática de um ato ilícito), a multa qualificada deve ser afastada.
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SÓCIO ADMINISTRADOR. ART. 135, III DO CTN. MOTIVAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE CONDUTA DOLOSA. IMPROCEDÊNCIA.
A simples qualificação de sócio administrador, por si só, é insuficiente para a aplicação do artigo 135, III, do CTN. Inexistindo motivação ou prova de que a pessoa praticou conduta dolosa que caracterize excesso de poderes ou infração a lei, contrato social ou estatutos, não há que se falar em responsabilidade tributária pessoal.
IRPJ. ESTIMATIVA. MULTA ISOLADA.
Do ano-calendário 2007 em diante, se não efetuado o pagamento da estimativa mensal, cabe a imputação de multa isolada, sobre a totalidade ou diferença entre o valor que deveria ter sido pago e o efetivamente pago, apurado a cada mês do ano-calendário, mesmo que lançada a multa de ofício por falta de pagamento de IRPJ e CSLL apurados no ajuste anual.
MULTA DE OFÍCIO. JUROS DE MORA SELIC. INCIDÊNCIA.
Sobre a multa de ofício lançada incidem juros de mora à taxa SELIC. Precedentes do STJ e da CSRF.
IRPJ. REFLEXOS.
O decidido quanto ao IRPJ deve ser aplicado à tributação reflexa (CSLL, PIS e COFINS) decorrente dos mesmos elementos e fatos.
Numero da decisão: 1201-001.825
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, para: a) afastar a multa qualificada de 150%, devendo ser reduzida para 75% e b) excluir a responsabilidade solidária do sócio administrador, Sr. Raimundo Aidar Junior. Vencidos o Relator e o Conselheiro Rafael Gasparello Lima, que davam parcial provimento ao Recurso Voluntário, em maior extensão, para também afastar as multas isoladas. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Paulo Cezar Fernandes de Aguiar. Declarou-se impedido o Conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado.
(assinado digitalmente)
Roberto Caparroz de Almeida - Presidente
(assinado digitalmente)
Luis Henrique Marotti Toselli - Relator
(assinado digitalmente)
Paulo Cezar Fernandes de Aguiar - Redator Designado
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida, Luis Fabiano Alves Penteado, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães e Rafael Gasparello Lima.
Nome do relator: LUIS HENRIQUE MAROTTI TOSELLI
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2011, 2012, 2013 PEDIDO DE PERÍCIA. No âmbito do Processo Administrativo Fiscal, a produção de prova pericial só deve ser deferida quando imprescindível à solução da lide e desde que motivada com a formulação de quesitos expressamente indicados. CORRESPONDENTE BANCÁRIO. TITULARIDADE DAS RECEITAS. O correspondente bancário contratado pelas instituições financeiras é o titular das receitas provenientes da prestação dos serviços financeiros, sendo vedada a cessão do contrato sem a observância dos requisitos previstos em norma regulamentar específica (Resolução Bacen nº 3.954/2011). MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. FALTA DE MOTIVAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. A aplicação de multa qualificada deve ser motivada de forma explícita e clara, de modo a permitir a devida compreensão dos fatos e o pleno exercício do direito de defesa, sob pena de improcedência. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. FRAUDE. DOLO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. ERRO DE PROIBIÇÃO. O erro de proibição, que decorre de mero contraste interpretativo, não deve ser confundido com o dolo. Uma vez ausente a figura do dolo, no seu aspecto subjetivo (intenção) ou objetivo (prática de um ato ilícito), a multa qualificada deve ser afastada. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SÓCIO ADMINISTRADOR. ART. 135, III DO CTN. MOTIVAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE CONDUTA DOLOSA. IMPROCEDÊNCIA. A simples qualificação de sócio administrador, por si só, é insuficiente para a aplicação do artigo 135, III, do CTN. Inexistindo motivação ou prova de que a pessoa praticou conduta dolosa que caracterize excesso de poderes ou infração a lei, contrato social ou estatutos, não há que se falar em responsabilidade tributária pessoal. IRPJ. ESTIMATIVA. MULTA ISOLADA. Do ano-calendário 2007 em diante, se não efetuado o pagamento da estimativa mensal, cabe a imputação de multa isolada, sobre a totalidade ou diferença entre o valor que deveria ter sido pago e o efetivamente pago, apurado a cada mês do ano-calendário, mesmo que lançada a multa de ofício por falta de pagamento de IRPJ e CSLL apurados no ajuste anual. MULTA DE OFÍCIO. JUROS DE MORA SELIC. INCIDÊNCIA. Sobre a multa de ofício lançada incidem juros de mora à taxa SELIC. Precedentes do STJ e da CSRF. IRPJ. REFLEXOS. O decidido quanto ao IRPJ deve ser aplicado à tributação reflexa (CSLL, PIS e COFINS) decorrente dos mesmos elementos e fatos.
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2011, 2012, 2013 PEDIDO DE PERÍCIA. No âmbito do Processo Administrativo Fiscal, a produção de prova pericial só deve ser deferida quando imprescindível à solução da lide e desde que motivada com a formulação de quesitos expressamente indicados. CORRESPONDENTE BANCÁRIO. TITULARIDADE DAS RECEITAS. O correspondente bancário contratado pelas instituições financeiras é o titular das receitas provenientes da prestação dos serviços financeiros, sendo vedada a cessão do contrato sem a observância dos requisitos previstos em norma regulamentar específica (Resolução Bacen nº 3.954/2011). MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. FALTA DE MOTIVAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. A aplicação de multa qualificada deve ser motivada de forma explícita e clara, de modo a permitir a devida compreensão dos fatos e o pleno exercício do direito de defesa, sob pena de improcedência. MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. FRAUDE. DOLO. NÃO CARACTERIZAÇÃO. ERRO DE PROIBIÇÃO. O erro de proibição, que decorre de mero contraste interpretativo, não deve ser confundido com o dolo. Uma vez ausente a figura do dolo, no seu aspecto subjetivo (intenção) ou objetivo (prática de um ato ilícito), a multa qualificada deve ser afastada. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. SÓCIO ADMINISTRADOR. ART. 135, III DO CTN. MOTIVAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE CONDUTA DOLOSA. IMPROCEDÊNCIA. A simples qualificação de sócio administrador, por si só, é insuficiente para a aplicação do artigo 135, III, do CTN. Inexistindo motivação ou prova de que AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 11 6. 72 11 41 /2 01 5- 07 Fl. 5125DF CARF MF 2 a pessoa praticou conduta dolosa que caracterize excesso de poderes ou infração a lei, contrato social ou estatutos, não há que se falar em responsabilidade tributária pessoal. IRPJ. ESTIMATIVA. MULTA ISOLADA. Do anocalendário 2007 em diante, se não efetuado o pagamento da estimativa mensal, cabe a imputação de multa isolada, sobre a totalidade ou diferença entre o valor que deveria ter sido pago e o efetivamente pago, apurado a cada mês do anocalendário, mesmo que lançada a multa de ofício por falta de pagamento de IRPJ e CSLL apurados no ajuste anual. MULTA DE OFÍCIO. JUROS DE MORA SELIC. INCIDÊNCIA. Sobre a multa de ofício lançada incidem juros de mora à taxa SELIC. Precedentes do STJ e da CSRF. IRPJ. REFLEXOS. O decidido quanto ao IRPJ deve ser aplicado à tributação reflexa (CSLL, PIS e COFINS) decorrente dos mesmos elementos e fatos. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por maioria de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário, para: a) afastar a multa qualificada de 150%, devendo ser reduzida para 75% e b) excluir a responsabilidade solidária do sócio administrador, Sr. Raimundo Aidar Junior. Vencidos o Relator e o Conselheiro Rafael Gasparello Lima, que davam parcial provimento ao Recurso Voluntário, em maior extensão, para também afastar as multas isoladas. Designado para redigir o voto vencedor o Conselheiro Paulo Cezar Fernandes de Aguiar. Declarouse impedido o Conselheiro Luis Fabiano Alves Penteado. (assinado digitalmente) Roberto Caparroz de Almeida Presidente (assinado digitalmente) Luis Henrique Marotti Toselli Relator (assinado digitalmente) Paulo Cezar Fernandes de Aguiar Redator Designado Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Roberto Caparroz de Almeida, Luis Fabiano Alves Penteado, Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Luis Henrique Marotti Toselli, Eva Maria Los, José Carlos de Assis Guimarães e Rafael Gasparello Lima. Fl. 5126DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 3 3 Relatório Tratase de processo administrativo decorrente de Autos de Infração que exigem Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), Contribuição para o PIS/Pasep (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), referentes aos anos calendários de 2011, 2012 e 2013, acrescidos de juros, multa isolada sobre as estimativas apuradas e multa qualificada de 150%. Em síntese, a fiscalização alega que a contribuinte, concessionária de automóveis, omitiu receitas a título de comissões por serviços de intermediação de operações de financiamentos e leasing de veículos por ela comercializados, comissões estas cujos valores foram indevidamente transferidos para outra empresa (Siga Pollo Representações e Corretora de Seguros Ltda., sociedade empresária pertencente ao mesmo sócioadministrador e com o mesmo endereço da contribuinte). Por entender que tal conduta seria fraudulenta, o sócio administrador da referida empresa, Sr. Raimundo Aidar Junior, foi incluído como responsável pelo crédito tributário lançado. A autoridade fiscal responsável motivou o lançamento por meio do Termo de Verificação Fiscal de fls. 3931/3944, dos quais reproduzo os trechos abaixo: "[...] 7 Na contabilidade de 2011, enviada pelo sujeito passivo ao Sistema Público de Escrituração Digital (SPED), chamounos a atenção os lançamentos efetuados na conta "3.1.1.2.1.02.00034 Comissões Sobre Financiamentos" (fls. 13111339), sempre com valores iguais e sinais trocados (de forma que o saldo da conta é sempre zero), e fazendo menção a notas fiscais de uma empresa com nome de SIGA POLLO. [...] IIA DA DILIGÊNCIA NA EMPRESA SIGA POLLO REPRESENTAÇÕES E CORRETORA DE SEGUROS LTDA. 19 Os cadastros do nosso sistema de controle mostram que um dos sócios do sujeito passivo, o Sr. RAIMUNDO AIDAR JÚNIOR, de CPF 08.887.399/000186, também é um dos donos da empresa SIGA POLLO REPRESENTAÇÕES E CORRETORA DE SEGUROS LTDA (SIGA POLLO), de CNPJ 08.887.399/000186 (fls. 18631864 e 18671868). 20 Notese que o endereço da SIGA POLLO é o mesmo do sujeito passivo. Ambos ficam na Quadra 31, Lotes 116 / 2534, Parque Esplanada II, Valparaíso de Goiás (GO), CEP 72876 241. 21 A SIGA POLLO entregou a DIPJ/2012 (fls. 37793802), a DIPJ/2013 (fls. 38033826), e a DIPJ/2014 (fls. 38273851), Fl. 5127DF CARF MF 4 todas pelo Lucro Presumido, informando receitas de R$ 1.575.278,93 (um milhão, quinhentos e setenta e cinco mil, duzentos e setenta e oito reais, e noventa e três centavos), em 2011; R$ 1.117.786,27 (um milhão, cento e dezessete mil, setecentos e oitenta e seis reais, e vinte e sete centavos), em 2012; e R$ 833.693,26 (oitocentos e trinta e três mil, seiscentos e noventa e três reais, e vinte e seis centavos), em 2013. 22 Em 05/01/2015, entregamos um Termo de Diligência Fiscal à SIGA POLLO (fls. 23072310), solicitando todas as suas notas fiscais das vendas de serviços efetuadas em 2011, bem como a comprovação do efetivo recebimento dos valores relativos a estas vendas. 23 A resposta da SIGA POLLO ao Termo de Diligência Fiscal (fls. 23112470) foi protocolada, em 16/01/2015, pelo seu procurador, Sr. WALBER DA COSTA RESENDE, de CPF 430.671.58172, Contador inscrito no CRC com número GO 010225/01 (fls. 2317). 24 Notese que o mesmo Sr. WALBER DA COSTA REZENDE também é contador e procurador do sujeito passivo (fls. 1735 1737). 25 Na resposta ao Termo de Diligência Fiscal, vemos que as notas fiscais são relativas ao serviço de venda de financiamentos, em 2011, tendo como tomadores dos serviços as seguintes instituições: · Banco Volkswagen S/A, de CNPJ 59.109.165/000149 (fls. 23182343); · BV Financeira S/A, de CNPJ 01.149.953/000189 (fls. 23542367); · Santander Leasing S/A, de CNPJ 47.193.149/000106 (fls. 23682373); · Itaú Unibanco S/A, de CNPJ 60.701.190/196516 (fls. 23742390); · Banco Panamericano S/A, de CNPJ 59.285.411/0001 13, e Panamericano Arrendamento Mercantil S/A, de CNPJ 02.682.287/000102 (fls. 23912403); e · Aymoré Crédito, Financiamento, e Investimento S/A, de CNPJ 07.707.650/000110 (fls. 24042416). [...] 39 As explicações dadas pela SIGA POLLO, tentando desvincular a sua atuação da venda financiada de veículos (feita pelo sujeito passivo), estão em desacordo com as notas fiscais emitidas pela própria empresa (fls. 23112470 e 24752779), várias das quais descrevem, explicitamente, o valor recebido como "comissão sobre a venda de financiamento". Além disso, ela mesma admite esta relação, ao se negar a nos entregar a lista dos veículos financiados, porque esta lista era mesma já entregue pelo sujeito passivo. Fl. 5128DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 4 5 40 Tendo em vista as notas fiscais emitidas pela SIGA POLLO, também abrimos diligências, para solicitar esclarecimentos às instituições financeiras envolvidas (tomadoras dos serviços). 41 Como veremos a seguir, as próprias instituições financeiras nos informaram, claramente, que os valores remetidos à SIGA POLLO são comissões sobre as vendas de contratos de financiamento de veículos comercializados pelo sujeito passivo, a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES LTDA. IIB DAS DILIGÊNCIAS NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS QUE APARECEM COMO CLIENTES NAS NOTAS FISCAIS EMITIDAS PELA SIGA POLLO. IIB.1 ITAÚ UNIBANCO S/A, BANCO ITAUCARD S/A, BANCO ITAULEASING S/A. [...] 46 Em 01/04/2015, o ITAÚ UNIBANCO nos enviou resposta (fls. 29602975), explicando que, de fato, havia um Contrato de Correspondente no País, firmado entre as empresas do Grupo Itaú (Itaú Unibanco, Banco ITAUCARD, Banco ITAÚLEASING) e a fiscalizada, POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES LTDA. Acrescentou que, "nos termos de correspondente bancário firmado, a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES, CNPJ 00.487.954/000170, determina que os pagamentos deverão ser feitos por sua conta e ordem à Siga Pollo Representações e Corretora de Seguros Ltda. CNPJ 08.887.399/000186 Conta Corrente Bradesco 237 Agência 25410 Conta Corrente 11 667 0" (grifamos). [...] 55 Fizemos o cruzamento da relação enviada pelo BANCO ITAULEASING S/A com a escrituração fiscal (fls. 3777) e contábil (fls. 3778) do sujeito passivo, e constatamos que, de fato, os financiamentos vendidos são para veículos comercializados pela fiscalizada, a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES. IIB.2 BANCO VOLKSWAGEM S/A. [...] 58 Para respaldar os pagamentos efetuados à SIGA POLLO, em 2011, o Banco Volkswagen nos enviou cópia de um contrato (fls. 30953097) entre a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES (a fiscalizada, contratante) e a SIGA POLLO (contratada), e de uma "Carta de Autorização de Transferência de Créditos" (fls. 30983099), na qual o sujeito passivo determina que os pagamentos de seus serviços fossem repassados direto para a conta da SIGA POLLO. 60 Em 01/04/2015, o Banco Volkswagen nos enviou resposta (fls. 31013195), com cópias das mesmas notas fiscais de serviço emitidas pela SIGA POLLO relativas aos serviços de "produção Fl. 5129DF CARF MF 6 de contratos de financiamento" ou "intermediação de vendas de financiamento", em 2012 e 2013. 61 Novamente, ficou claro que os pagamentos destas vendas de financiamentos eram para o sujeito passivo, que ordenou o seu repasse à SIGA POLLO (fls. 31913195). [...] 64 Fizemos o cruzamento da relação enviada pelo BANCO VOLKSWAGEN com a escrituração fiscal (fls. 3777) e contábil (fls. 3778) do sujeito passivo, e constatamos que, de fato, os financiamentos vendidos são para veículos comercializados pela fiscalizada, a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES. IIB.3 BV FINANCEIRA S/A CREDITO FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO. [...] 66 A resposta (fls. 33193321) nos foi encaminhada, em 27/02/2015, confirmando os pagamentos feitos à SIGA POLLO, e esclarecendo que o contrato que embasava tais pagamentos era firmado com a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES (sujeito passivo, na presente fiscalização), que, por sua vez, determinava o repasse à SIGA POLLO. 67 No contrato apresentado, o sujeito passivo se obriga a "encaminhar para análise pela CONTRATANTE as propostas de financiamento apresentadas pelos consumidores dos bens que comercializa", e a BV FINANCEIRA S/A se obriga a pagar ao sujeito passivo "uma comissão incidente sobre o valor líquido financiado, das propostas de financiamento efetivamente aprovadas e pagas pela CONTRATANTE" (grifamos). [...] 72 Fizemos o cruzamento da relação enviada pela BV FINANCEIRA com a escrituração fiscal (fls. 3777) e contábil (fls. 3778) do sujeito passivo, e constatamos que, de fato, os financiamentos vendidos são para veículos comercializados pela fiscalizada, a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES (incluindo alguns poucos veículos usados). IIB.4 BANCO PAN S/A E PANAMERICANO ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A. [...] 75 O Contrato de Prestação de Serviços de Correspondente no País (fls. 33373345) é celebrado entre a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES (sujeito passivo na presente ação fiscal), como contratada, e o BANCO PANAMERICANO S/A e a PANAMERICANO ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A, como contratantes. 76 De acordo com o contrato, o sujeito passivo deve encaminhar ao BANCO PANAMERICANO "propostas apresentadas por pessoas interessadas ("Clientes") para a realização de operações de crédito pessoal, operações de crédito Fl. 5130DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 5 7 para financiamento de bens e operações de emissão de cartões de crédito" (grifamos). Também deve encaminhar à PANAMERICANO ARRENDAMENTO MERCANTIL S/A "propostas de operações de arrendamento mercantil apresentadas por Clientes" (grifamos). O sujeito passivo obriga se, ainda, a prestar "serviços de coleta de informações cadastrais e de documentação". 77 A respeito da remuneração pelos serviços prestados pelo sujeito passivo, o contrato esclarece que as contratantes pagarão os valores ajustados entre as Partes, e que esta remuneração "só será devida sobre as propostas encaminhadas pela CONTRATADA que forem efetivamente aprovadas e formalizadas pelas CONTRATANTES" (grifamos). [...] 82 Fizemos o cruzamento da relação enviada pelo BANCO PAN S/A com a escrituração fiscal (fls. 3777) e contábil (fls. 3778) do sujeito passivo, e constatamos que, de fato, os financiamentos vendidos são para veículos comercializados pela fiscalizada, a POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES. [...] III DA OMISSÃO DAS RECEITAS DE COMISSÕES PAGAS POR INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS. 88 De acordo com o Contrato Social (e alterações) apresentado pela fiscalizada (fls. 1310), no período de 2011 a 2013, o sujeito passivo tinha como objeto social, entre outras coisas, o comércio varejista de veículos novos e usados. 89 Em todo este período, a administração da empresa ficou a cargo do sócio RAIMUNDO AIDAR JÚNIOR. 90 A escrita fiscal, bem como a contábil, mostra que a receita do sujeito passivo é, quase totalmente, originada pela revenda de carros da marca Volkswagen, novos e usados, e que grande parte destas vendas é financiada por instituições financeiras bastante conhecidas no mercado. O próprio sujeito passivo nos enviou uma relação significativa de veículos vendidos através de financiamento. 91 Como vimos acima, nos parágrafos 43 a 82, o sujeito passivo também intermediou os contratos de financiamento vinculados diretamente às suas operações de revenda de veículos, tendo recebido comissões por este serviço de intermediação (venda de financiamento ou leasing). 92 As relações de contratos enviadas pelas instituições financeiras nos permitem asseverar que as comissões foram pagas pela venda de financiamentos de veículos comercializados pelo sujeito passivo, que, por sua vez, chegou a firmar Contrato de Correspondente no País com as maiores destas instituições financeiras. Fl. 5131DF CARF MF 8 93 Ocorre que, por determinação do sujeito passivo, as instituições financeiras depositaram estas comissões na conta de uma outra empresa, a SIGA POLLO REPRESENTACOES E CORRETORA DE SEGUROS LTDA (SIGA POLLO), de CNPJ 08.887.399/000186, também pertencente ao Sr. RAIMUNDO AIDAR JUNIOR. 94 Desta forma, estes pagamentos não apareceram na contabilidade do sujeito passivo, que, por sua vez, não os ofereceu à tributação. 95 O pagamento das comissões foi para a conta da SIGA POLLO, empresa situada no mesmo endereço do sujeito passivo, com o mesmo dono, o mesmo contador e procurador. A SIGA POLLO fez apuração do IPRJ e da CSLL pelo lucro presumido, no período de 2011 a 2013. 96 Não resta dúvida de que o sujeito passivo, que sempre optou pelo lucro real anual, resolveu segregar parte da sua receita e tributála (em outra empresa) pelo lucro presumido, para pagar menos tributos. Para isso, utilizou uma outra empresa do mesmo grupo, a SIGA POLLO, que, na verdade, funcionava dentro da POLLO SERVIÇOS AUTOMOTORES LTDA (a fiscalizada). 97 A tributação indevida deste serviço pelo lucro presumido acarreta uma diminuição muito significativa dos tributos devidos pelo sujeito passivo. No IRPJ, por exemplo, a base cai para apenas 32% (trinta e dois por cento) da receita. Na COFINS, especificamente no caso do sujeito passivo, que não tem mais créditos para abater, a alíquota cai de 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento) para 3% (três por cento) da receita. 98 Não é possível que o contribuinte que opta pelo lucro real separe uma parte de sua receita, para tributála pelo lucro presumido. Tendo o sujeito passivo optado por tributar suas vendas de veículos (financiadas ou não) pelo lucro real anual, ele também deve tributar da mesma maneira suas receitas de intermediação de contratos de financiamento. 99 Sendo assim, devemos lançar de ofício, no lucro real anual, o IRPJ e a CSLL relativos a estas comissões do sujeito passivo, bem como o PIS e a COFINS correspondentes, no sistema não cumulativo. A contribuinte foi intimada dos Autos de infração em 11/07/15 e o responsável solidário em 31/07/15. Ambos apresentaram impugnação em conjunto (fls. 3.996/4.005). Em preliminar, os impugnantes pedem a declaração de nulidade das autuações, tendo em vista a duplicidade de lançamento sobre o mesmo fato gerador e em face da insegurança na apuração dos valores. No mérito, alegam, em resumo, que: Fl. 5132DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 6 9 a) não há irregularidade na segregação da atividade de intermediação de financiamentos (prestação de serviços), praticada pela empresa Siga Pollo, e da atividade de revenda de veículos (comércio), praticada pela Recorrente; b) os contratos formalizados entre Pollo e Siga Pollo, bem como entre estas e as instituições financiadoras, expressam a realidade da estrutura jurídica adotada; c) os contratos entre a Pollo e as instituições financeiras justificavamse pela exigência destas pela vinculação direta do capital social da concessionária para a liberação dos financiamentos ou alienações fiduciárias em arrendamento mercantil; d) a Siga Pollo era a empresa específica do grupo empresarial para intermediação e agenciamento de serviços e negócios em geral, exceto imobiliários; e) as receitas próprias da Siga Pollo foram oferecidas à tributação; f) não houve trânsito das receitas da Siga Pollo na Pollo; g) a Siga Pollo, quando menos, deveria ser tratada pela fiscalização como sociedade em conta de participação (SCP); h) a legislação permite que as SCP realizem a tributação com base no lucro presumido e que a escrituração de suas atividades seja realizada nos livros do sócio ostensivo, com evidenciação de que os lançamentos se referem à SCP – isso foi exatamente como a Pollo fez em relação à Siga Pollo (art. 254 do RIR/99); i) ainda que a Siga Pollo não fosse especificamente uma SCP, ela poderia ser aceita como tal e serem suas operações especificadas na contabilidade da Pollo; j) não pode haver fraude se a legislação expressamente admite a segregação de receitas até mesmo para uma SCP – uma sociedade para a qual não é exigível formalidade, é equiparada a pessoa jurídica para fins tributários e pode ser tributada por regime diverso do adotado pelo sócio ostensivo; k) a menção explícita das atividades da Siga Pollo na contabilidade da Pollo demonstra a inexistência de intenção dolosa de sonegar informações ou tributos; l) a Siga Pollo é empresa real que foi constituída às claras para exercer atividades de intermediação dos financiamentos junto às instituições financeiras, possui funcionários próprios (conforme RAIS, fls. 4.923/4.934), alvará de funcionamento (fl. 4.938/4.940) e recolhe tributos sobre suas atividades (fls. 4.943/4.979); m) é simplório o argumento da fiscalização de que era a Pollo quem realizava a intermediação dos financiamentos porque havia contratos firmados entre ela e as instituições financeiras; n) o Carf, em diversas oportunidades, demonstrouse favoravelmente à segregação de atividades reais, com regimes distintos de tributação; o) o fato de a Pollo registrar as receitas da Siga Pollo para fins de controle próprio não importa omissão de receitas, mas excesso de contabilização; Fl. 5133DF CARF MF 10 p) a fiscalização não demonstrou objetivamente qual seria a conduta da contribuinte a justificar o “evidente intuito de fraude” – há apenas presunções e afirmação genérica; q) não houve pretensão de impedir ou retardar a ocorrência do fato gerador: todos os atos praticados encontramse claramente registrados na escrituração fiscal, a contribuinte não tentou esconder nada do fisco nem tentou fraudar documento ou informação; r) a fiscalização não tipificou de forma objetiva qualquer situação fática com “excesso de poderes ou infração de lei”; s) o autuante não demonstrou em que foi infringido o contrato social, onde se caracterizou o excesso de poderes, qual a lei e em que momento foi desobedecida; t) a imposição das multas isoladas é indevida, pois é inadmissível a aplicação de duas punições (multa de ofício e multa isolada) em relação à mesma omissão de receita; u) é incabível a aplicação dos juros de mora sobre a multa de ofício e a conversão do julgamento em diligência, caso necessária a confirmação das evidências sinalizadas por suas provas; e v) caso seja constatada insuficiência de prova, necessária uma perícia. Tramitado o feito, foi proferida decisão de primeira instância (fls. 5.032/5.047), a qual julgou as impugnações improcedentes. A ementa do decisium recebeu a seguinte redação: AUTO DE INFRAÇÃO. NULIDADE. A nulidade do auto de infração somente se justifica diante de atos e termos lavrados por pessoa incompetente ou de despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. CORRESPONDENTE BANCÁRIO. TITULARIDADE DAS RECEITAS. O correspondente bancário é o titular das receitas pagas por instituições financeiras contratantes do serviço. MULTA QUALIFICADA. FRAUDE. Constitui fraude a segregação intencional e sem propósito negocial de receitas próprias para tributação em empresa ligada, objetivando exclusivamente vantagem fiscal ilícita. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DE SÓCIO ADMINISTRADOR. PRÁTICA DE ATOS COM INFRAÇÃO À LEI. O sócioadministrador é pessoalmente responsável pelos atos com infração à lei que pratica ou que tolera quando deveria evitar, em razão do exercício do poder de gestão. LUCRO REAL ANUAL. MULTA ISOLADA. FALTA OU INSUFICIÊNCIA NO PAGAMENTO DE ESTIMATIVAS MENSAIS. A multa de 50%, aplicada isoladamente, incide sobre as estimativas mensais devidas e não recolhidas, quando o contribuinte é tributado pelo lucro real anual, ainda que tenha Fl. 5134DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 7 11 sofrido prejuízo fiscal ou apresente base de cálculo negativa de CSLL no anocalendário correspondente. JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. NÃO CONHECIMENTO. Os juros de mora incidentes sobre as multas de ofício não devem ser apreciados no âmbito do processo administrativofiscal porque não são constituídos pelo lançamento. LANÇAMENTOS REFLEXOS: CSLL, PIS E COFINS. O que foi decidido em relação ao lançamento matriz de IRPJ é aplicável aos lançamentos decorrentes devido à estreita relação entre causas e efeitos. Impugnação Improcedente Irresignados com o teor da decisão de piso, cujas ciências ocorreram em 23/05/16 ao devedor principal (fl. 5.074) e por edital ao solidário (fls. 5.081), ambos interpuseram recurso voluntário em conjunto, em 20/06/2016 (fls. 5.083/5.101), recurso este que reitera os argumentos de defesa, exclui as argüições de nulidade; e inclui novo argumento, qual seja, o de que seria necessário o abatimento de todas as despesas da Siga Pollo e dos pagamentos por ela efetuados a título de IRPJ e CSLL. É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Luis Henrique Marotti Toselli O recurso voluntário interposto pelo devedor principal e responsável solidário atende os pressupostos de admissibilidade, razão pela qual dele conheço e passo a apreciálo. Perícia Primeiramente, entendo que não cabe a perícia solicitada pelos Recorrentes. Isso porque, além dos quesitos sequer terem sido indicados, a prova pericial deve ser determinada apenas quando imprescindível à solução da lide. Quando ausentes esses requisitos, caso dessa situação em particular, na qual os elementos dos autos já são suficientes para a resolução da controvérsia, o pedido deve ser indeferido, na linha do que dispõe o art. 18 do Decreto nº 70.235/72. Indefiro, portanto, o pedido subsidiário para realização de perícia e não vejo nesta negativa qualquer prejuízo à ampla defesa. Fl. 5135DF CARF MF 12 Da omissão de receitas de comissões sobre serviços financeiros Conforme visto no tópico destinado aos fatos, o cerne da discussão gira em torno da legitimidade ou não da “transferência”, por parte da Recorrente a outra empresa do grupo, das receitas auferidas com a prestação de serviços financeiros, considerando sua qualificação como correspondente nos termos da Resolução Bacen nº 3.954/2011. O tema ora em análise, portanto, não diz respeito propriamente ao direito de segregar atividades entre empresas do mesmo grupo. A matéria de fundo é outra. Consiste, na verdade, em verificar se, do ponto de vista jurídico, a Recorrente, na qualidade de correspondente financeiro, poderia ou não ter alocado as receitas da prestação desses serviços para outra empresa do grupo. As receitas consideradas omitidas correspondem às comissões incidentes sobre a intermediação de financiamentos bancários destinados à aquisição de veículos vendidos pela Recorrente. Tratamse de serviços “paralelos” à atividade de comercialização em questão e que estão diretamente relacionadas aos contratos de correspondente firmados entre a Recorrente e algumas instituições financeiras. A possibilidade de contratação de correspondentes no País por instituições financeiras não é algo novo no ordenamento jurídico brasileiro. Foi autorizada inicialmente em 1973, estando a matéria regulamentada atualmente pela Resolução Bacen nº 3.954/2011. Os correspondentes bancários são empresas contratadas por instituições financeiras e autorizadas a funcionar pelo Banco Central para prestar serviços bancários à população, representandoas. Como exemplo de correspondentes bancários temos, dentre outras sociedades, as lotéricas, os bancos postais, farmácias e as concessionárias de veículos (caso da Recorrente). A regra geral é a de que os direitos e as obrigações inerentes aos contratos de correspondente são intransferíveis. Dizemos como regra geral porque a própria norma estabelece, no seu artigo 7º (sétimo), que: Art. 7º Admitese o substabelecimento do contrato de correspondente, em um único nível, desde que o contrato inicial preveja essa possibilidade e as condições para sua efetivação, entre as quais a anuência da instituição contratante. § 1º A instituição contratante, para anuir ao substabelecimento, deve assegurar o cumprimento das disposições desta resolução, inclusive quanto às entidades passíveis de contratação na forma do art. 3º. § 2º É vedado o substabelecimento do contrato no tocante às atividades de atendimento em operações de câmbio. Como se percebe, existe regra expressa que permite o substabelecimento (parcial ou total) do contrato de correspondente, mas desde que (i) o contrato inicial possua cláusula expressa nesse sentido; e (ii) haja anuência da instituição financeira contratante, a quem compete assegurar o cumprimento das demais disposições previstas na mencionada Resolução. Fl. 5136DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 8 13 Nesse caso concreto, após a Recorrente e as instituições financeiras contratantes terem sido intimadas, foram trazidos aos autos vários documentos, dos quais merecem atenção as cópias de contratos firmados entre a Recorrente e o Itaú Unibanco (fls. 2.967/2.972), Banco Volkswagen (fls. 3.312/3.316) e Banco Panamericano (fls. 3.337/3.345). Da leitura de tais contratos, percebese que a Recorrente faz jus ao recebimento de comissões pela prestação de serviços de correspondente bancário, bem como que existem cláusulas que permitiriam o substabelecimento das atividades contempladas no contrato, mas desde que com expressa anuência do Banco, na linha do que determina a norma regulamentadora apontada. Após várias vezes intimada, a Recorrente não logrou êxito em comprovar a celebração de contrato de substabelecimento com os referidos Bancos contratantes, o que levou a autoridade fiscal a questionar o procedimento de alocação das receitas. Com efeito, foram disponibilizados cópia de um contrato de prestação de serviços entre pessoas jurídicas e documento denominado Carta de autorização de transferência de créditos (fls. 3.098/3.099). O contrato em questão (fls. 3.095/3.097) – datado de fevereiro/2008 e com prazo de validade de 3 (três) anos foi celebrado apenas pelas partes interessadas (Pollo Serviços Automotores Ltda. – Recorrente e Siga Pollo Representações Comerciais Ltda. – empresa relacionada), justamente na tentativa de ceder atividades de correspondente financeiro de uma empresa para a outra. Já a referida carta foi feita pelas mesmas partes do contrato, com a anuência do Banco Volkswagen, noticiando que a empresa Siga Pollo passaria a faturar e a receber em contas bancárias próprias os pagamentos provenientes das comissões pelos serviços de correspondente financeiro. A DRJ, porém, entendeu que esses documentos seriam insuficientes para permitir a segregação das receitas. Desta forma, considerou que o titular das receitas de fato seria a Recorrente (e não a empresa Siga Pollo). Veja, a propósito, o seguinte trecho da decisão de piso: As instituições financeiras foram intimadas. Elas trouxeram cópia dos contratos que pactuaram com a Pollo, segundo os quais esta sociedade faria jus a comissões pela prestação de serviços, na qualidade de correspondente (fls. 2967/2972, 3095/3097, 3191/3193, 3312/3316 e 3337/3345). Apesar disso, por orientação da Pollo, os pagamentos das comissões baseadas nos financiamentos de veículos vendidos por ela eram realizados à Siga Pollo. As relações de pagamentos efetuados pelas financeiras à Siga Pollo, as notas fiscais emitidas pela Siga Pollo e os registros contábeis e fiscais das vendas da Pollo constituem provas inexoráveis de que as notas fiscais da Siga Pollo e os pagamentos das comissões pelas instituições financeiras estavam respaldados nas vendas de veículos realizados pela Pollo. Os impugnantes não veem problemas em serem segregadas as atividades de intermediação de financiamentos e de revenda de Fl. 5137DF CARF MF 14 veículos em duas empresas. A análise desse argumento, contudo, não é essencial para o deslinde da questão. O importante é identificar quem é o titular da receita bruta e da renda; ou seja, o contribuinte aquele que tem relação pessoal e direta com a situação que constitui o fato gerador (art. 121, parágrafo único, I, do CTN). A exigência de vinculação direta do capital social da concessionária para a liberação dos financiamentos ou alienação fiduciária em arrendamento mercantil por parte das instituições financeira não é premissa básica para que os contratos de prestação de serviços de correspondente fossem realizados com a Pollo e não com a Siga Pollo. Ao contrário, poderia ser um requisito para que a instituição financeira contratante somente aceitasse a Pollo como prestadora de serviços de correspondente. A atividade de correspondente mereceu atenção do Estado, em virtude de seu comprometimento com a fé e com a economia popular. Por isso, o Banco Central regulou a contratação de correspondentes nos País pelas instituições financeiras, editando a Resolução Bacen 3.954/11. Contrato de correspondente é o negócio jurídico em que sociedades, empresários, associações, prestadores de serviços notariais e de registro ou empresas públicas prestam serviços de atendimento a clientes e usuários de uma instituição financeira, mediante remuneração (arts. 1°, 3°, 4°, 4°A e 11, V, da Resolução Bacen 3.954/11). A recepção e o encaminhamento de propostas de operações de crédito e de arrendamento mercantil, concedidos pela instituição financeira, constituíamse nos principais objetos dos contratos de correspondente constantes dos autos (ar. 8°, V, da Resolução Bacen 3.954/11), nos quais também era agregada a obrigação de prestar serviços complementares de coleta de informações cadastrais e de documentação, bem como o controle e processamento de dados (art. 8°, parágrafo único, da Resolução Bacen 3.954/11). As instituições financeiras assumem inteira responsabilidade pelo atendimento prestado pelos seus correspondentes, pois estes atuam por conta e sob as diretrizes delas, mediante garantia de integridade, confiabilidade, segurança e sigilo das transações, bem como cumprimento das normas aplicáveis (art. 2° da Resolução Bacen 3.954/11). Em razão disso, verificamse cláusulas nos acordos com o Banco Volkswagen (10.3, fl. 3315), com o grupo ItaúUnibanco (20, fl. 2972) e com o Banco Panamericano (8.1.e, fl. 3342) que vedam a subrogação ou substabelecimento dos direitos e obrigações do correspondente sem a prévia e expressa anuência da instituição financeira. A norma reguladora estabelece uma série de obrigações para os correspondentes. Entre elas, destacamse: a exigência de relação formal de vínculo empregatício ou contratual com as pessoas naturais integrantes da sua equipe, envolvidas no atendimento aos clientes e usuários da instituição financeira (art. 10, I, da Resolução Bacen 3.954/11); a identificação dessas Fl. 5138DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 9 15 pessoas para o público mediante crachás (art. 11, II, da Resolução Bacen 3.954/11) e para o envio da documentação à instituição contratante (art. 11, III, da Resolução Bacen 3.954/11); e a submissão dos correspondentes e operações ao controle do Banco Central (art. 10, X e XI, 12A e 14, § 3°, da Resolução Bacen 3.954/11). Como se vê, o conteúdo do contrato de correspondente prevê uma obrigação, em princípio, intransferível. Caberia à autuada comprovar que a Pollo, contratante com as instituições financeiras na condição de correspondente, teria transferido seus direitos e obrigações para a Siga Pollo, com a anuência expressa das entidades contratantes. Contudo, isso não foi realizado. Os três grupos de instituições financiadoras citados no processo como contratantes dos serviços da Pollo (Volkswagen, Itaú Unibanco e BV Financeira) não revelam a Siga Pollo como correspondente, mas sim a Pollo, entre as relações de correspondentes divulgadas na internet exigidas pelo Banco Central (art. 15 da Resolução Bacen 3.954/11), apenas a Pollo (fls. 5018/5031). A decisão de primeira instância, nesse particular, não merece reforma. Isso porque a anuência expressa das instituições financeiras contratantes em contrato específico de substabelecimento é pressuposto essencial para a cessão (parcial ou integral) das atividades de correspondente bancário, como prescreve o artigo 7º da Resolução do Bacen nº 3.954/2011. A norma admite o substabelecimento do contrato de correspondente, mas impõe requisitos jurídicos essenciais para que isso ocorra. É justamente para esse “detalhe” que a Recorrente parece não ter se atentado. As instituições financeiras contratantes devem assegurar o cumprimento das disposições daquela resolução, inclusive quanto às entidades passíveis de “subcontratação”, razão pela qual a sua vinculação solene e formal é pressuposto de validade e eficácia da cessão contratual. O correspondente atua pessoalmente nesse tipo de relação jurídica, afinal atua por conta e sob as diretrizes da instituição contratante, que assume inteira responsabilidade pelo atendimento prestado aos clientes e usuários por meio do contratado, à qual cabe garantir a integridade, a confiabilidade, a segurança e o sigilo das transações realizadas por meio do contratado, bem como o cumprimento da legislação e da regulamentação relativa a essas transações. Ora, a ausência do cumprimento dos aspectos “formais” para a correta cessão de contrato de correspondente enseja a invalidade da correspondente declaração de vontade apresentada pelas partes. A solenidade requerida pelo artigo 7º da Resolução, segundo penso, integra a própria substância do ato. Segundo o artigo 167, IV, do Código Civil, é nulo o negócio jurídico quando não revestir a forma prescrita em lei. Fl. 5139DF CARF MF 16 De acordo com o que leciona Caio Mário da Silva Pereira1: Quando é a lei que exige, para certos atos, forma especial, integrativa ou substancial, não é possível utilizaremse de outra as partes. Estão neste caso o pacto antenupcial (Código Civil, art. 1.653), os contratos que tenham por objeto a transferência de propriedade imóvel de valor superior a certo limite ou a constituição de ônus reais (Código Civil, art. 108), bem como todos aqueles outros casos em que a lei instituiu a mesma exigência. Em qualquer dessas hipóteses, a emissão de vontade se vincula à forma, e não pode ser realizada diferentemente: a vontade, por si só e independentemente da vestimenta exterior, é inoperante para a produção do efeito desejado. É que nestes casos, a forma é estabelecida ad substantiam ou ad solemnitatem. O efeito da sua inobservância é a nulidade do ato. Trazendo essas lições ao caso concreto, a minha opinião é a de que a Recorrente não se valeu do mecanismo jurídico correto para a cessão do contrato de correspondente. A participação das instituições financeiras para efeito de substabelecimento contratual não constitui formalidade inócua, mas é integrativa do próprio ato em si, como condição de sua eficácia. O não cumprimento desse requisito – como é o caso – enseja a nulidade da cessão contratual oposta pela Recorrente e, mais ainda, enseja a tributação das receitas indevidamente alocadas a terceiro pelo seu verdadeiro titular, ou seja, a Recorrente. Não se trata aqui, repitase, de medida contrária à legalidade de segregar atividades empresariais entre mais de uma sociedade do mesmo grupo econômico, mas sim de uma tentativa equivocada do contribuinte de transferir receita própria, tributável sob a sistemática do lucro real, a outra empresa do grupo, sujeita ao lucro presumido. Entendo correta, portanto, a caracterização da infração por omissão de receita. Da equiparação com a sistemática aplicável à SCP Aduz os Recorrentes que a empresa Siga Pollo (empresa que reconheceu as receitas na sistemática do lucro presumido) poderia ter sido equiparada a uma Sociedade em Conta de Participação (SCP), fato este que comprometeria a acusação fiscal. A decisão de primeiro grau afastou tal alegação, sob a seguinte justificativa: A contribuinte não reconhece a Siga Pollo como uma SCP, mas alega que a fiscalização deveria tratála como tal. As SCP são sociedades despersonalizadas, não sujeitas a inscrição no Registro de Comércio, que resultam da associação de duas ou mais pessoas para um empreendimento comum, ficando um ou mais sócios em posição ostensiva e outro(s) em 1 Instituições de Direito Civil. Teoria Geral de Direito Civil. Volume I. Rio de Janeiro: Forense. 25ª edição. P. 410. Fl. 5140DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 10 17 posição oculta. O relacionamento com o mundo exterior se dá apenas por intermédio do(s) sócio(s) ostensivo(s), que assume(m) as obrigações da sociedade como obrigações pessoais. Os sócios ocultos não têm nenhuma relação com os credores em decorrência do empreendimento comum. A única relação jurídica que eles têm é estabelecida com o(s) sócio(s) ostensivo(s). A legislação tributária determina que o sócio ostensivo seja o responsável pela apuração de resultados da SCP, pela apresentação das informações à RFB e pelo recolhimento dos tributos. Ela também estabelece que as operações de sociedade poderão ser efetuadas em livros próprios ou nos livros do sócio ostensivo (art. 254 do RIR/99): I quando forem utilizados os livros do sócio ostensivo, os registros contábeis deverão ser feitos de forma a evidenciar os lançamentos referentes à sociedade em conta de participação; II os resultados e o lucro real correspondentes à sociedade em conta de participação deverão ser apurados e demonstrados destacadamente dos resultados e do lucro real do sócio ostensivo, ainda que a escrituração seja feita nos mesmos livros; III nos documentos relacionados com a atividade da sociedade em conta de participação, o sócio ostensivo deverá fazer constar indicação de modo a permitir identificar sua vinculação com a referida sociedade. Cumpre ressalvar que a Instrução Normativa SRF 31, de 29 de março de 2001, abriu a possibilidade de as SCP optarem pelo regime de tributação com base no lucro presumido, destacando que essa opção não implica a simultânea opção do sócio ostensivo, e viceversa. Pollo e Siga Pollo têm personalidades jurídicas próprias e praticam atos por sua conta e risco. Não cabe aqui aplicar as regras específicas da SCP, em virtude da analogia, porquanto esse instituto consiste em interpretação extensiva aplicável somente para hipótese de inexistência de disposições legais expressas; o que não é o caso (art. 107, I, do CTN). As possibilidades de opção por regime de tributação diverso e de escrituração das atividades da SCP nos livros do sócio ostensivo também não justificam a exclusão da tributação de parte da renda da Pollo, sob argumento de repartição de atividades com sua ligada. As comissões pela prestação de serviços de correspondente devem integrar a receita bruta e a renda da Pollo. Também nesse ponto a decisão da DRJ merece ser acolhida. Fl. 5141DF CARF MF 18 Além do fato da Siga Polo não ser qualificada como uma verdadeira SCP, a analogia em questão sequer é cabível. As receitas consideradas omitidas, conforme visto, de fato deveriam ter sido registradas e tributadas pela Recorrente, que é a sua verdadeira titular. Do abatimento das despesas e dos tributos pagos pela Siga Pollo Em sede recursal, os Recorrentes requerem o abatimento das despesas incorridas pela Siga Pollo, assim como dos tributos por ela recolhidos. Em relação aos tributos recolhidos, ao contrário do quanto alegado, a autoridade fiscal responsável pelo lançamento já fez tal abatimento por ocasião da emissão dos Autos de Infração, os quais, aliás, possuem campos próprios que informa os valores deduzidos (fls. 3.866/3.870; 3.884/3.886; 3.898/3.900; e 3.913/3.915). Nos itens 102 a 104 do TVF (fls. 3.941/3.942), aliás, esse abatimento foi motivado e justificado com quadros próprios. Também o pedido para que as despesas da Siga Pollo sejam levadas em conta na apuração não merece prosperar. Isso porque, além de tal pleito ter sido feito genericamente e somente em sede de recurso, não há nenhuma indicação ou comprovação de qual ou quais as despesas os Recorrentes estariam se referindo. Como se sabe, são dedutíveis da base de cálculo do IRPJ as despesas que, não registradas como custo, são consideradas necessárias para o desenvolvimento da atividade da pessoa jurídica e para a manutenção da respectiva fonte produtora (cf. art. 299 do RIR/99). A regra geral para conferir dedutibilidade a determinado gasto é a de que ele deve ser usual ou normal no tipo de transação ou operação exigida pela atividade da empresa, além de ser passível de comprovação. Das orientações trazidas pelo RIR/99, concluise que não existe uma lista taxativa de despesas que são ou não dedutíveis da base de cálculo do IRPJ. Pelo contrário, a exclusão de um determinado gasto do lucro real depende unicamente da sua função no contexto das atividades desempenhadas pela pessoa jurídica. Para ser dedutível, a despesa deve ser usual e normal para a realização das transações exigidas pela atividade da empresa e devem ser comprovadas. Nesse contexto, o entendimento da jurisprudência administrativa é no sentido de que as pessoas jurídicas tributadas com base lucro real podem comprovar suas despesas dedutíveis por meio de qualquer documentação hábil e idônea (fatura, nota fiscal, recibo etc.), desde que fique claramente demonstrada a natureza da despesa, o beneficiário, a efetiva aquisição de bem e/ou serviço e o valor da operação, sob pena de glosa. Ocorre que, no presente caso, os Recorrente não comprovaram e sequer indicaram quais as despesas que pretendem deduzir, razão pela qual não há como acolher o pedido. Da multa qualificada de 150% A aplicação da multa qualificada de 150% foi motivada nos itens 108 e 109 do TVF (fl. 3.943), in verbis: Fl. 5142DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 11 19 IIIB DA MULTA QUALIFICADA POR EVIDENTE INTUITO DE FRAUDE. 108 Está claro que o contribuinte modificou, dolosa e reiteradamente, característica essencial do fato gerador (colocou a SIGA POLLO como sujeito passivo), com a intenção de reduzir o montante de imposto a pagar (oferecendo apenas 32% da base real à tributação, no lucro presumido). Este comportamento caracteriza a fraude, conforme o artigo 72 da Lei n° 4.502/64 (grifo nosso): Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido a evitar ou diferir o seu pagamento. 109 Sendo assim, a multa de ofício deve ser de 150% (cento e cinquenta por cento), de acordo com a artigo 44 da Lei n° 9.430/96. Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; (...) § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis. Da leitura do relatório fiscal, verificase, de plano, a falta de motivação adequada dos fatos ou circunstâncias que supostamente autorizariam o emprego de multa qualificada. O que se tem no caso, pois, é a aplicação de multa qualificada de 150%, cabível apenas em situações nas quais haja a comprovação de dolo, sem explicitação das suas razões motivadoras. Em se tratando de qualificação de multa de ofício em percentual duplicado, seria necessário que o fisco reunisse evidências capazes de sustentar que a alegada fraude partiu de conduta dolosa, para só então lançar mão do agravamento da penalidade. Ocorre que, no presente caso, não há qualquer justificativa ou evidência de que isso tenha ocorrido. Fl. 5143DF CARF MF 20 Isso significa dizer que o presente lançamento, no que concerne à qualificação da multa, cerceia o direito de defesa do contribuinte pois carente de motivação. Tal procedimento, contudo, fere diretamente o artigo 10, III e IV, do Decreto nº 70.235/1972 e artigo 50, II e seu parágrafo único da Lei nº 9.784/99, dispositivos estes que, respectivamente, possuem a seguinte redação: Art. 10. O auto de infração será lavrado por servidor competente, no local da verificação da falta, e conterá obrigatoriamente: [...] III a descrição do fato; IV a disposição legal infringida e a penalidade aplicável; Artigo. 50 Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando: [...] II – imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; [...] Parágrafo 1º A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato. Outra não é, cabe acrescentar, a lição da nossa melhor doutrina acerca do tema, tal como a de Hely Lopes Meirelles2: “Em conclusão, com a Constituição de 1988 consagrando o princípio da moralidade e ampliando o do acesso ao Judiciário, a regra geral é a obrigatoriedade da motivação, para que a atuação ética do administrador fique demonstrada pela exposição dos motivos do ato e para garantir o próprio acesso ao Judiciário. [...] na esfera federal, a referida Lei 9.784, de 29.1.99, diz que a Administração Pública obedecerá, dentre outros, ao princípio da motivação (art. 1º.). No processo e nos atos administrativos a motivação é atendida com a “indicação dos pressupostos de fato e de direito” que determinarem a decisão ou o ato (parágrafo único do art. 1º. e art. 50). A motivação “dever ser explícita, clara e congruente” (parágrafo 1º. do art. 50). Assim, se não permitir o seu devido entendimento, a motivação não atenderá aos seus fins, podendo acarretar a nulidade do ato. Nesse sentido também já se manifestou o CARF. Vejase: 2 Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros. 28ª Edição. 2003. P. 98. Fl. 5144DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 12 21 QUALIFICAÇÃO DA MULTA DE OFÍCIO APLICADA. FALTA DE MOTIVAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. Os atos administrativos devem ser motivados, com indicação dos fatos e fundamentos jurídicos, quando – entre outras situações – imponham ou agravem sanções, devendo essa motivação ser explícita, clara e congruente, de modo a permitir o pleno exercício do direito de defesa (art. 50, inciso II e § 1º, da Lei nº 9.784, de 1999). Acórdão nº 1803001.477. Sessão de 11 de setembro de 2012. Para que se possa cogitar o agravamento da multa (de 75% para 150%), mister que a autoridade fiscal identifique a exata ação ou omissão dolosa, tanto no seu aspecto objetivo (prática de ato ilícito) quanto no aspecto subjetivo (vontade de lesar o fisco). Para esse labor, devese diferenciar as hipóteses de contraste hermenêutico das hipóteses em que o contribuinte busca atuar sobre o material fático, com vistas a intencionalmente ocultar ou dificultar o reconhecimento do fato gerador. Nesses termos, é bem possível que o contribuinte venha a adotar entendimento diverso daquele empregado pelo fisco. Nestas situações, ainda que o sujeito passivo tenha fundamentado sua prática na experiência, em opiniões legais e ou em decisões administrativas e judiciais, pode – aos olhos da fiscalização – surgir ilícito tributário que seja objeto de autuação. Isso, porém, em nada se aproxima daquelas situações em que o sujeito passivo comete um ilícito tributário de forma consciente, isto é, dolosa, visando justamente a não recolher tributo que sabe ser devido. Essas situações normalmente são identificadas pelo uso de meios inidôneos para acobertar fatos que dão origem ao crédito tributário, ou pela imposição de medidas que induzam a erro o trabalho da fiscalização. São justamente as situações previstas nos artigos art. 71 a 73 da Lei 4.502/64, que repudiam as situações de sonegação, fraude ou conluio. E apenas com a devida compreensão desses institutos é que se é possível segregar, do ponto de vista técnico jurídico, o ilícito tributário decorrente de interpretação divergente daquele praticado com a intenção (dolo) em prejudicar a Fazenda. Dito de outros modos, o ilícito tributário pode compreender apenas um ou dois elementos: (i) elemento objetivo, que corresponde propriamente ao ilícito tributário (não pagamento, pagamento a menor ou postergação de pagamento de tributo); e (ii) elemento subjetivo, identificado pelo conhecimento prévio de utilização de atos ou negócios ilícitos para reduzir ou não pagar tributos, isto é, dolo específico. Todo lançamento pressupõe um ilícito tributário (elemento objetivo). Contudo, somente o ilícito praticado em evidente intenção de fraudar o fisco apresentará o dolo (elemento subjetivo). Notase, assim, que não se pode colocar na mesma vala a ocorrência de um ilícito com a intenção em praticálo. Fl. 5145DF CARF MF 22 Nesse sentido, aliás, caminhou a jurisprudência do CARF, conforme se extrai da inteligência das Súmulas nºs 14 e 25, a seguir transcritas: Súmula CARF nº 14: A simples apuração de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação do evidente intuito de fraude do sujeito passivo. Súmula CARF nº 25: A presunção legal de omissão de receita ou de rendimentos, por si só, não autoriza a qualificação da multa de ofício, sendo necessária a comprovação de uma das hipóteses dos arts. 71, 72 e 73 da Lei n° 4.502/64. Consolidouse, portanto, o entendimento de que a omissão de receita decorrente de uma conduta não dolosa não é causa de multa qualificada. E foi exatamente isso que ocorreu nessa situação particular: uma omissão de receitas em face da sua transferência equivocada para tributação mais vantajosa. O artigo 72 da Lei nº 4.502/64 – citado como base legal da multa qualificada – ao trazer a conduta típica denominada de fraude – tem como pressuposto a inequívoca constatação de dolo. A fraude, pois, não se presume, devendo ser cabalmente comprovada pelo fisco. E nesse ponto, nem se diga que a mera indicação de que o contribuinte pretendeu, com a transferência das receitas, apenas reduzir a tributação constitui prova de fraude. Faltalhe, a toda evidência, a comprovação do elemento subjetivo inerente à qualificação da multa: a intenção das partes de praticar um ato ilícito. Os ensinamentos da Conselheira Lívia De Carli Germano (relatora designada para redigir o voto vencedor no Acórdão CSRF 9101002.189, em Sessão de 21 de janeiro de 2016), são esclarecedores: “Como ensina Brandão Machado, na noção de dolo se insere a idéia de contrariedade ao direito, ou seja, da prática de um ilícito (“Um caso de elusão de imposto de renda”. In: Direito Tributário Atual, vol. 9, São Paulo: Resenha Tributária, 1989, p. 2209). Da mesma forma, Marco Aurélio Greco observa: “Outra observação a ser feita é a de que a incidência do inciso II do artigo 44 da Lei nº 9.430/96, que leva à multa mais onerosa, supõe a ocorrência inequívoca de intuito fraudulento. (...) Se não houve intuito de enganar, esconder, iludir, mas se, pelo contrário, o contribuinte agiu de forma clara, deixando explícitos seus atos e negócios, de modo a permitir a ampla fiscalização pela autoridade fazendária, e se agiu na convicção e certeza de que seus atos tinham determinado perfil legalmente protegido – que levava ao enquadramento em regime ou previsão legal tributariamente mais favorável – não se trata de caso regulado pelo inciso II do artigo 44, mas sim de divergência de qualificação jurídica dos fatos; hipótese completamente distinta da fraude a que se refere o dispositivo. Fl. 5146DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 13 23 A multa agravada só tem cabimento se o elemento subjetivo do tipo for a fraude no sentido de enganar, esconder, iludir, etc.” (Planejamento Tributário, São Paulo: Dialética, 2004, grifos nossos). É que para que se possa falar em dolo, para além da intenção (elemento subjetivo), é necessário que o que se pretende seja ilícito (elemento objetivo), ou seja, é preciso que tal intenção seja direcionada à prática de ato ou omissão contrários ao direito. Nesse passo, não basta a intenção de reduzir a tributação. É necessário, sim, que o contribuinte, ao buscar tal resultado, adote conduta que afronte norma que proíba ou obrigue, ou seja, contrarie uma norma imperativa, praticando assim um ato típico. É neste sentido que os artigos 71, 72 e 73 da Lei nº 4.502/64 trazem as condutas típicas da sonegação, fraude e conluio, todas elas supondo a inequívoca constatação de dolo, elemento essencial do tipo. No caso em questão, entretanto, não se verifica norma imperativa que tenha sido contrariada. Também em outro julgado da CSRF, a multa qualificada foi afastada justamente em razão da ausência de comprovação dos elementos do dolo. Vejase a ementa do julgado referido: MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA. INAPLICABILIDADE. INOCORRÊNCIA DE FRAUDE. Nos lançamentos de ofício para constituição de diferenças de tributos devidos, não pagos ou não declarados, via de regra, é aplicada a multa proporcional de 75%, nos termos do art. 44, inciso I, da Lei 9.430/1996. A qualificação da multa para aplicação do percentual de 150%, depende não só da intenção do agente, como também da prova fiscal da ocorrência de fraude ou do evidente intuito desta caracterizada pela prática de ação ou omissão dolosa com esse fim. Na situação versada nos autos não restou cabalmente comprovado o dolo por parte do contribuinte para fins tributário, logo incabível a aplicação da multa qualificada. (Acórdão 910101.402. Sessão de 17 de julho de 2012). Em julgado mais recente, também a CSRF já deu sinais de acatar a tese do chamado “erro de proibição”. Assim, caso fique demonstrado que o sujeito passivo teve a convicção de ter agido conforme uma leitura possível que fez da legislação tributária, ausente o dolo e, conseqüentemente, inaplicável a qualificação da penalidade. Veja a ementa do seguinte julgado: MULTA QUALIFICADA. INOCORRÊNCIA A existência de correntes doutrinárias divergentes, além de precedentes jurisprudenciais favoráveis ao negócio jurídico praticado pelo Fl. 5147DF CARF MF 24 contribuinte, demonstra, na verdade, uma hipótese de erro de proibição. Não há como ser reconhecido o dolo necessário à qualificação da multa, quando se percebe dos autos a convicção do recorrente no sentido de estar agindo segundo o permissivo legal, sem ocultação da prática e da intenção final dos seus negócios. (Acórdão nº 9202005.237. Sessão de 17/02/2017). Mais precisamente, o erro de proibição tem por base a noção de relevação de pena do Direito Penal e se faz presente, em linhas gerais, quando não é possível conhecer, de antemão, o caráter ilícito de uma conduta. Situação bastante diferente do erro de proibição é aquela em que o sujeito passivo está ciente da sua obrigação com o fisco, mas, em sentido oposto a lei, age de forma consciente com o objetivo de lesar o Erário. Em situações nas quais agem com dolo, normalmente os contribuintes se valem de documentação adulterada, apresentação de informações falsas, contabilidade paralela, conta bancária não escriturada (“caixa 2”), interposta pessoa etc., tudo na tentativa de iludir a autoridade fiscal. Nessa situação particular, entretanto, não há nenhum registro ou indício de utilização de qualquer tipo de medida fraudulenta por parte dos Recorrentes. Pelo contrário, os valores considerados como omissão de receitas foram lançados em contas contábeis da própria Recorrente, tendo sido também faturados e tributados por empresa do grupo, que equivocadamente entendeu ser a titular de tais recebíveis. Em outras palavras, foi a partir da contabilidade da própria Recorrente que a fiscalização constatou a irregularidade que imputou à empresa. Em nenhum momento a Recorrente negou a transferência das receitas para outra empresa do grupo, naquilo que chamou de legalidade de segregação de atividade empresarial. Ainda que a contribuinte tenha realizado um negócio jurídico inválido para alocar receitas próprias para outra empresa do grupo e, consequentemente, recolher menos tributo, tal procedimento não é fruto de conduta fraudulenta, sonegação ou conluio, mas, quando muito, de mero erro de proibição causado por uma interpretação equivocada das norma regulamentadora já citada. Não custa repetir: foi a partir das informações colhidas da Recorrente que a fiscalização tomou conhecimento dos fatos e lançou os tributos que considerou devidos. Ora, a possibilidade de substabelecimento do contrato de correspondente está prevista no ordenamento jurídico, conforme já exposto. O erro do contribuinte, porém, foi o de não observar os requisitos jurídicos para validade desta cessão, e nada mais! Não vislumbro conduta dolosa na prática que adotou. Não há dúvidas de que o contribuinte buscou, por meio do referido arranjo contratual, obter economia tributária, mas daí a se afirmar que restaria caracterizada fraude, com a devida vênia, existe um abismo. Por fim, ainda merece ser destacado que a multa, nesse caso concreto, não poderia ter sido qualificada também em razão do que dispõe o artigo 112, IV, do CTN, in verbis: Artigo 112 A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpretase da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto: Fl. 5148DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 14 25 [...] IV à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. A aplicação da multa qualificada de 150%, portanto, não se sustenta. Da multa isolada A discussão sobre a legitimidade ou não da cobrança cumulativa de multa isolada e multa de ofício não é recente, mas é tema que ainda demanda atenção. Com a aprovação da Súmula CARF nº 105, restou sedimentado que: “a multa isolada por falta de recolhimento de estimativas, lançada com fundamento no art. 44 § 1º, inciso IV da Lei nº 9.430, de 1996, não pode ser exigida ao mesmo tempo da multa de ofício por falta de pagamento de IRPJ e CSLL apurado no ajuste anual, devendo subsistir a multa de ofício.” Na prática, a Súmula aplicase indubitavelmente para os fatos compreendidos até 31/12/2006. Dizemos indubitavelmente porque há corrente doutrinária e jurisprudencial que sustenta que, após a nova redação dada pela Lei nº 11.488/2007 ao art. 44 da Lei nº 9.430/96 (que passou a produzir efeitos a partir de 2007), não haveria mais espaço para interpretação diversa daquela que afirma a possibilidade da exigência de multa isolada, mesmo nos casos em que houver sido imposta a multa de ofício pela falta de pagamento anual do IRPJ e da CSLL. Vejamos, então, o que dispõe o art. 44 da Lei 9.430/96, com a redadação dada pela Lei nº 11.488/2007: “Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: a) na forma do art. 8º da Lei no 7.713, de 22 de dezembro de 1988, que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física; b) na forma do art. 2o desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. Fl. 5149DF CARF MF 26 § 1o O percentual de multa de que trata o inciso I do caput deste artigo será duplicado nos casos previstos nos arts. 71, 72 e 73 da Lei no 4.502, de 30 de novembro de 1964, independentemente de outras penalidades administrativas ou criminais cabíveis.” Da leitura desses dispositivos, verificase que a multa do inciso I é aplicável nos casos de totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata. A multa prevista no inciso II, porém, é passível de exigência sobre o valor do pagamento mensal de estimativa que deixar de ser efetuado, ainda que não tenha sido apurado imposto a pagar na declaração de ajuste, no caso de pessoa física e ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. Adotando uma interpretação sistemática, me parece que o mais razoável é não admitir a cumulação das multas, devendo a infração prevista no inciso II ser absorvida quando o caso concreto também se enquadrar na hipótese de multa mais onerosa (inciso I). Com efeito, aplicar a multa de ofício de 75% sobre o valor apurado de IRPJ, juntamente com o principal, e, ao mesmo tempo, pretender exigir a multa de 50% sobre o IRPJ não antecipado no mesmo período de apuração, representa uma violação à razoabilidade e proporcionalidade. Vale dizer, a cobrança de multa de ofício de 75% sobre o tributo não pago supre a exigência da multa isolada de 50% sobre eventual estimativa (antecipação do tributo devido) não recolhida. Admitir o contrário permite que duas penalidades incidam sobre uma mesma base de cálculo (bis in idem), o que é vedado no sistema jurídico. Ao analisar essa matéria, destacase a seguinte passagem do voto condutor proferido pelo Sr. Ministro Humberto Martins, da 2ª Turma do STJ (Resp 1.496.354PR. Dje 24/03/2015): “Sistematicamente, notase que a multa do inciso II do referido artigo somente poderá ser aplicada quando não possível a multa do inciso I. Destacase que o inadimplemento das antecipações mensais do imposto de renda não implicam, por si só, a ilação de que haverá tributo devido. Os recolhimentos mensais , ainda que configurem obrigações a pagar, não representam, no sentido técnico, o tributo em si. Este apenas será apurado ao final do ano calendário, quando ocorrer o fato gerador. As hipóteses do inciso II, “a” e “b”, em regra, não trazem novas hipóteses de cabimento de multa. A melhor exegese revela que não são multas distintas, mas apenas formas distintas de aplicação da multa do art. 44, em consequência de, nos casos ali decritos, não haver nada a ser cobrado a título de obrigação tributária principal. As chamadas “multas isoladas”, portanto, apenas servem aos casos em que não possam ser exigidas juntamente com o tributo devido (inciso I), na medida em que são elas apenas formas de exigência das multas descritas no caput. Fl. 5150DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 15 27 Esse entendimento é corolário da lógica do sistema normativo tributário que pretende prevenir e sancionar o descumprimento de obrigações tributárias. De fato, a infração que se pretende repreender com a exigência isolada da multa (ausência de recolhimento mensal do IRPJ e CSLL por estimativa) é completamente abrangida por eventual infração que acarrete, ao final do ano calendário, o recolhimento a menor dos tributos, e que dê azo, assim, à cobrança da multa de forma conjunta.” Em decisão mais recente, a C. 2ª Turma do STJ ratificou seu posicionamento, conforme atesta a ementa do seguinte julgado: “TRIBUTÁRIO. [...]. CUMULAÇÃO DE MULTA DE OFÍCIO E ISOLADA. IMPOSSIBILIDADE. [...] 2. Nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos casos de declaração inexata, seria cabível a multa de ofício ou no percentual de 75% (inciso I), ou aumentada de metade (parágrafo 2º), não se cogitando da sua cumulação.” (Resp 1.567.289RS. Dje 27/05/2016). Sobre o tema, precisas as colocações do Conselheiro Marcos Takata em voto proferido no Acórdão nº 1103001097 (DOU28/11/2014): “É de cartesiana nitidez, para mim, que a aplicação da multa de ofício de 75% sobre o valor não pago do IRPJ e da CSL efetivamente devidos, cobráveis juntamente com esses, exclui a aplicação da multa de ofício de 50% (multa isolada) sobre o valor não pago do IRPJ e da CSL mensal por estimativa, do mesmo anocalendário. Isso, seja por interpretação lógica dos preceitos citados (aliás, para além disso, podese dizer que é corolário lógico), seja por interpretação finalística do aet. 44, I e II, da Lei n167 9.430/96. Apenando o continente, desnecessário e incabível apenar o conteúdo. Se já se penaliza o todo, não há sentido em se penalizar também a parte do todo. Noutros termos, é a aplicação do princípio da consunção em matéria penal. Como penalizar pelo todo e ao mesmo tempo pela parte do todo? Isso seria uma contradição de termos lógicos e axiológicos – e mesmo finalísticos (teleológicos).” (fls. 1.369). Em face dessas considerações, afasto a aplicação da multa isolada. Da responsabilidade atribuída ao sócio administrador A motivação para enquadramento do sócio administrador, Sr. Raimundo Aidar Junior, como responsável solidário foi ainda mais singela. Vejase: Fl. 5151DF CARF MF 28 IIIC DO SÓCIOADMINISTRADOR COMO SUJEITO PASSIVO SOLIDÁRIO. 110 Como vimos, o sócioadministrador do sujeito passivo, Sr. RAIMUNDO AIDAR JÚNIOR, de CPF 189.668.61172, cometeu infração de lei, ao determinar que a receita dos serviços de venda de financiamentos fosse oferecida à tributação pelo lucro presumido, em outra empresa de sua propriedade (a SIGA POLLO). Por isso, deve ser considerado solidário pelos créditos correspondentes à obrigação tributária resultante deste ato, conforme o artigo 135 do Código Tributário Nacional (Lei n° 5.172/66), com grifo nosso: Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I as pessoas referidas no artigo anterior; II os mandatários, prepostos e empregados; III os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. De uma rápida leitura do artigo 135, III, do CTN acima transcrito – base legal invocada pela fiscalização para imputar a responsabilidade solidária , percebese que a responsabilização pessoal de diretores, gerentes ou representantes depende de comprovação de conduta (i) com excesso de poderes ou (ii) infração de lei, contrato social ou estatuto. A responsabilidade de que trata o artigo 135, III, portanto, é composta por 2 (dois) elementos: o elemento pessoal, que diz respeito à pessoa que praticou a conduta, e o elemento fático, que diz respeito ao exercício de ato com excesso de poder ou com infração à lei, contrato social ou estatuto da empresa. Ainda segundo o CTN, a conduta que enseja a responsabilidade de terceiros deve estar intimamente ligada ao fato gerador do tributo, como prescreve o artigo 128 do CTN: Artigo 128 Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindoa a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. Dessa forma, o TVF deve demonstrar que a pessoa qualificada como responsável pessoal agiu em infração a lei, ou em contrariedade aos limites do desempenho de sua função de sócio administrador, e, mais ainda, que desta conduta é que teria resultado o ilícito. Quer a autoridade fiscal ver prevalecer o Termo de Sujeição Passiva Solidária, mister que ela comprove a participação direta e consciente do administrador na realização dos atos alegadamente simulados ou fraudulentos. Fl. 5152DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 16 29 Ressaltese, por oportuno, que já foi reconhecido e consolidado pelo STJ, por meio da súmula 430, que o inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sóciogerente. Tal entendimento foi ratificado em recurso julgado sob o rito do art. 543C do CPC (sistemática de recursos repetitivos), cuja ementa foi assim redigida: TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. TRIBUTO DECLARADO PELO CONTRIBUINTE. CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. DISPENSA. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO. TRIBUTO NÃO PAGO PELA SOCIEDADE. [...] 2. É igualmente pacífica a jurisprudência do STJ no sentido de que a simples falta de pagamento do tributo não configura, por si só, nem em tese, circunstância que acarreta a responsabilidade subsidiária do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É indispensável, para tanto, que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da empresa (EREsp 374.139/RS, 1ªSeção, DJ de 28.02.2005).[...]” (Resp 1.101.728/SP, julgado. Dje 23/03/2009). Verificase, assim, que a jurisprudência está consolidada no sentido de que o não pagamento do tributo pela sociedade não é causa suficiente para que seus representantes se tornem responsáveis pelos débitos fiscais. Também a mera qualificação de diretor, gerente ou representante da empresa autuada, por si só, não é suficiente para ensejar a responsabilidade pessoal. Nesse ponto, vale assinalar que o STF julgou inconstitucional o artigo 13 da Lei nº 8.620/93, dispositivo este que pretendeu vincular à simples condição de sócio a obrigação por débitos previdenciários de sociedades limitadas. Transcrevo abaixo o seguinte trecho da ementa do referido julgado: DIREITO TRIBUTÁRIO. RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA. NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO. ART 146, III, DA CF. ART. 135, III, DO CTN. SÓCIOS DE SOCIEDADE LIMITADA. ART. 13 DA LEI 8.620/93. INCONSTITUCIONALIDADES FORMAL E MATERIAL. REPERCUSSÃO GERAL. APLICAÇÃO DA DECISÃO PELOS DEMAIS TRIBUNAIS. [...] 5. O art. 135, III, do CTN responsabiliza apenas aqueles que estejam na direção, gerência ou representação da pessoa jurídica e tãosomente quando pratiquem atos com excesso de poder ou infração à lei, contrato social ou estatutos. Desse modo, apenas o sócio com poderes de gestão ou representação da sociedade é que pode ser responsabilizado, o que resguarda a pessoalidade entre o ilícito (mal gestão ou representação) e a conseqüência de ter de responder pelo tributo devido pela sociedade. Fl. 5153DF CARF MF 30 6. O art. 13 da Lei 8.620/93 não se limitou a repetir ou detalhar a regra de responsabilidade constante do art. 135 do CTN, tampouco cuidou de uma nova hipótese específica e distinta. Ao vincular à simples condição de sócio a obrigação de responder solidariamente pelos débitos da sociedade limitada perante a Seguridade Social, tratou a mesma situação genérica regulada pelo art. 135, III, do CTN, mas de modo diverso, incorrendo em inconstitucionalidade por violação ao art. 146, III, da CF. [...] 8. Reconhecida a inconstitucionalidade do art. 13 da Lei 8.620/93 na parte em que determinou que os sócios das empresas por cotas de responsabilidade limitada responderiam solidariamente, com seus bens pessoais, pelos débitos junto à Seguridade Social. (STF. RE 562.276. Plenário, 03/11/2010) O que buscamos demonstrar, a partir dessas decisões dos Tribunais Superiores, é que a responsabilização pessoal depende da comprovação (logo, não se presume) de que a pessoa, a partir de ato doloso, praticou conduta tendente a impedir artificialmente a ocorrência do fato gerador. É o que se observa de recentes acórdãos do CARF. Vejase: “Os necessários elementos à caracterização da responsabilidade prevista no art. 135 do CTN são: a figura do administrador da sociedade, com poderes de gestão e as condutas reveladoras de excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatuto, com a imprescindível demonstração do dolo” (Acórdão n. 3301003.160. Sessão de 25/01/17) “É imprescindível, para tanto, que tenha agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto da empresa. Porém, o autuante não imputou qualquer ato ilícito a cada um dos sócios, não individualizando as condutas, restando flagrante a ilegitimidade passiva pelo prisma desse dispositivo (135 do CTN)” (Acórdão n. 1401001.785. Sessão de 14/02/17) A atribuição de responsabilidade tributária não constitui expediente que possa ser utilizado “por atacado” ou no “modo piloto automático”. Enquanto ato administrativo vinculado, o enquadramento do caso concreto à hipótese normativa de responsabilidade deve ser motivado, permitindo o pleno conhecimento das circunstâncias fáticas e a devida compreensão das razões de direito que nortearam a sujeição passiva. A mera indicação do dispositivo legal ou alegação genérica sem comprovação fática dos motivos que levaram a inclusão do sócio no polo passivo não é suficiente para ensejar a responsabilidade tributária em questão. E foi exatamente isso o que aconteceu nessa situação particular: a imprescindível demonstração da infração a lei ou ao contrato social não existiu. Também nenhum eventual ato de gestão ou conduta com “excesso de poderes” relacionados com a infração foi indicada. Fl. 5154DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 17 31 O TVF não tipificou em qual situação a responsabilidade tributária teria sido efetivamente enquadrada. Não há qualquer relato objetivo de fatos passíveis de enquadramento de “excesso de poderes” ou “infração a lei” ou “violação ao contrato social”. Tal como estruturado, esse item do lançamento também é carente de motivação, afinal não é possível aferir com precisão de onde ou em que momento ocorreu a infração, muito menos de qual conduta do sócio se trata. Fazendo um certo esforço, o único parágrafo para motivar esta parte do lançamento (item 110 – fl. 3.943) dá sinais de que o Recorrente foi responsabilizado pelo fato dele ser sócio administrador da empresa autuada, como se fosse possível esta confusão de pessoas. Ora, não há dúvidas de que o Recorrente exerce um cargo de administração, afinal é sócio assim qualificado, mas isso não significa dizer que ele participou dolosamente de operação fraudulenta. A mera qualificação jurídica de sócio administrador não é suficiente para a responsabilização por crédito tributário, conforme decisão do STF apontada acima. A autoridade fiscal responsável pelo lançamento, pois, confundiu a previsão abstrata inerente ao poder de representação com o seu efetivo exercício. Não há nenhuma ata societária ou qualquer outro documento que possa indicar o conhecimento da ilegalidade pelo sócio tal como sustentada pela fiscalização, muito menos indícios de que a pretensa fraude teria de fato sido arquitetada pelo Recorrente. Na verdade, o único elemento que poderia vincular o Recorrente à responsabilidade imputada seria a multa qualificada que foi exigida. Parece, então, que o silogismo empregado pela autoridade autuante foi o seguinte: como o agravamento da multa pressupõe a prática de ato doloso contra o direito tributário, e sendo este ato decorrente de ato de gestão, logo deve ser atribuída a autoria do ilícito àquele que ocupa a função de sócio ou administrador da empresa. Não concordo, porém, com esse racional. Admitir tal argumento significa atropelar a autonomia da pessoa jurídica e estabelecer uma presunção de confusão patrimonial entre sócio e empresa que não possui fundamento legal. Nesse ponto, o seguinte trecho do precedente do STF3 acima referido cai como uma luva: “não é dado ao legislador estabelecer confusão entre os patrimônios das pessoas física e jurídica, o que, além de impor desconsideração ex lege e objetiva da personalidade jurídica, descaracterizando as sociedades limitadas, implica irrazoabilidade e inibe a iniciativa privada”. Ademais, considerando que votei por afastar a aplicação da multa qualificada pela ausência de caracterização de fraude ou dolo, definitivamente não há que se falar nos pressupostos para a aplicação da responsabilidade pessoal do sócio. Nesse sentido também já se posicionou o CARF, conforme atestam as ementas abaixo. “Ora, são necessários dois elementos, para a caracterização da previsão legal do artigo 135 do CTN: a) a prática de ato ilegal; 3 STF. RE 562.276. Plenário, 03/11/2010. Fl. 5155DF CARF MF 32 b) doloso, isto é, com a finalidade de deixar de pagar tributo. A responsabilidade tem natureza jurídica subjetiva, não objetiva. Como já dito no item anterior à qualificação da penalidade, o elemento dolo não restou provado e, por essa razão, deve ser excluída a responsabilidade pessoal do recorrentesolidário.” (Acórdão nº 1103001.197. Sessão de 24/03/15) SUJEIÇÃO PASSIVA. AUSÊNCIA DE DOLO. RESPONSABILIDADE ATRIBUÍDA A ADMINISTRADOR DA PESSOA JURÍDICA. ART. 135, III, DO CTN. IMPOSSIBILIDADE. A exoneração da penalidade qualificada afasta conduta dolosa que denote sonegação, fraude ou conluio, impossibilitando a responsabilização dos administradores da pessoa jurídica com base no art. 135, III, do CTN.” (Acórdão nº 1402002.148. Sessão de 05/04/16) Por todo o exposto, afasto a imputação da responsabilidade solidária do sócio administrador, Sr. Raimundo Aidar Junior. Da incidência de juros Selic sobre a multa de ofício A previsão de incidência de juros de mora sobre a multa de ofício está configurada no bojo do artigo 161, do CTN: “Artigo 161 O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês.” A análise desse dispositivo, notadamente a palavra “crédito”, deve ser feita levando em conta que o lançamento é ato que formaliza a exigência do valor do principal, juros e multa de ofício, passando esses valores a compor a obrigação tributária. O crédito tributário, pois, tem por objeto o pagamento de tributos e penalidades pecuniárias. Isso não significa dizer que a referida norma equipare tributo a multa, afinal, por definição, tributo não tem natureza de sanção. A circunstância de o contribuinte ser imputado ao pagamento de multa não dispensa o pagamento do tributo apurado. Tanto o tributo quanto a multa decorrem de fatos previstos na lei e, por integrarem o crédito, estão sujeitos aos juros de mora. Esse é também o entendimento das duas Turmas do STJ, conforme se observa das ementas transcritas a seguir. “TRIBUTÁRIO. MULTA PECUNIÁRIA. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. LEGITIMIDADE. Fl. 5156DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 18 33 1. É legítima a incidência de juros de mora sobre multa fiscal punitiva, a qual integra o crédito tributário. 2. Recurso especial provido.” (STJ. 2ª Turma. REsp 1.129.990/PR. Dje 01/09/09). “TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. TAXA SELIC. APLICAÇÃO PARA TRIBUTOS ESTADUAIS DIANTE DA EXISTÊNCIA DE LEI AUTORIZADORA. MATÉRIA DECIDIDA PELA 1ª SEÇÃO, NO RESP 879844/MG, DJE DE 25/11/2009, JULGADO SOB O REGIME DO ART. 543C DO CPC. ESPECIAL EFICÁCIA VINCULATIVA DESSE PRECEDENTE (CPC, ART. 543C, § 7º), QUE IMPÕE A ADOÇÃO EM CASOS ANÁLOGOS. MULTA PECUNIÁRIA. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA. LEGITIMIDADE. PRECEDENTE DA 2ª TURMA DO STJ. RECURSO ESPECIAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.” (STJ. 1ª Turma. REsp 834.681/MG. Dje 02/06/10). Nesse sentido, é pacífica a jurisprudência da Câmara Superior de Recursos Fiscais. A título ilustrativo, veja os seguintes julgados: “JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. A obrigação tributária principal compreende tributo e multa de oficio proporcional. Sobre o crédito tributário constituído, incluindo a multa de oficio, incidem juros de mora, devidos à taxa Selic.” (Acórdão CSRF 9101000.539. Sessão de 02/07/14). “Juros de mora sobre multa de ofício. A melhor exegese da remissão feita pelo caput do art. 30 aos débitos referidos no art. 29, ambos da Lei n° 10.522/02, leva à conclusão que alcança todos os débitos de qualquer natureza para com a Fazenda Nacional, inclusive os relativos à multa de ofício”. (Acórdão CSRF 9101001.474 Sessão de 26/09/12). “JUROS DE MORA SOBRE MULTA DE OFÍCIO. INCIDÊNCIA. O crédito tributário, quer se refira a tributo quer seja relativo à penalidade pecuniária, não pago no respectivo vencimento, está sujeito à incidência de juros de mora, calculado à taxa Selic até o mês anterior ao pagamento, e de um por cento no mês de pagamento (Acórdão CSRF 9303002.399. Sessão de 15/08/13). Adotando essa linha jurisprudencial, considero legal a incidência dos juros de mora sobre a multa de ofício com base na taxa SELIC, conforme artigo 61, § 3º, da Lei nº 9.430/96. Conclusão Por todo o exposto, voto por CONHECER o recurso voluntário para, no mérito, DARLHE PARCIAL PROVIMENTO, a fim de que seja: (i) afastada a multa Fl. 5157DF CARF MF 34 qualificada de 150%, devendo ser reduzida para 75%; (ii) afastada a multa isolada; e (iii) excluída a responsabilidade solidária do sócio administrador, Sr. Raimundo Aidar Junior. É como voto. (assinado digitalmente) Luis Henrique Marotti Toselli Fl. 5158DF CARF MF Processo nº 13116.721141/201507 Acórdão n.º 1201001.825 S1C2T1 Fl. 19 35 Voto Vencedor Conselheiro Paulo Cezar Fernandes de Aguiar, Redator designado. Peço vênia para discordar do nobre relator com relação aos termos do seu voto, no que tange às multas isoladas. No caso de insuficiência de pagamento mensal do tributo por estimativa, do anocalendário 2007 em diante é aplicável o disposto no artigo 44, inciso I, alínea "b" da Lei nº 9.430/96 (redação dada pela Lei nº 11.488, de 2007): Art. 44. Nos casos de lançamento de ofício, serão aplicadas as seguintes multas: I de 75% (setenta e cinco por cento) sobre a totalidade ou diferença de imposto ou contribuição nos casos de falta de pagamento ou recolhimento, de falta de declaração e nos de declaração inexata; II de 50% (cinqüenta por cento), exigida isoladamente, sobre o valor do pagamento mensal: (...) b) na forma do art. 2º desta Lei, que deixar de ser efetuado, ainda que tenha sido apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa para a contribuição social sobre o lucro líquido, no anocalendário correspondente, no caso de pessoa jurídica. (Grifo acrescido). Conforme se vê da legislação acima transcrita, caso não efetuado o pagamento do tributo devido mensalmente por estimativa, cabe a imputação de multa isolada, sobre a totalidade (caso em que não se pagou nenhum valor a título de estimativa mensal) ou a diferença entre o valor que deveria ter sido pago e o efetivamente pago, apurado a cada mês do respectivo anocalendário. A legislação dispõe que é cabível a aplicação da referida multa, ainda que a pessoa jurídica tenha apurado prejuízo fiscal ou base de cálculo negativa de CSLL ao final do período de apuração. E a nova redação dada ao dispositivo legal, aplicável aos fatos geradores ocorridos a partir de 22 de janeiro de 2007, afastou qualquer dúvida sobre a possibilidade de aplicação concomitante das multas de ofício e das multas isoladas por insuficiência de estimativa mensal. As hipóteses de incidência que ensejam a imposição das penalidades da multa de ofício e da multa isolada em razão da falta de pagamento da estimativa são distintas, cada qual tratada em inciso próprio no artigo 44 da Lei nº 9.430/1996. Observase que os incisos I e II do artigo 44 da Lei nº 9.430/1996, tratam de suportes fáticos distintos e autônomos, com diferenças claras na temporalidade da apuração Fl. 5159DF CARF MF 36 que tem por consequência a aplicação das penalidades sobre bases de cálculo diferentes. A multa de ofício aplicase sobre o resultado apurado anualmente, cujo fato gerador aperfeiçoase ao final do anocalendário. Por sua vez, a multa isolada é apurada conforme balancetes elaborados mês a mês ou, ainda, mediante receita bruta acumulada mensalmente. Ou seja, são materialidades independentes, não havendo que se falar em concomitância. Assim, voto no sentido de manter a multa isolada decorrente dos valores apurados de estimativas mensais. (assinado digitalmente) Paulo Cezar Fernandes de Aguiar Fl. 5160DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10865.001109/2003-07
Turma: Primeira Turma Ordinária da Segunda Câmara da Terceira Seção
Câmara: Segunda Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Tue Jun 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Aug 22 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI
Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - ALEGAÇÃO DE ACÓRDÃO EXTRA-PETITA
Não incorre em julgamento extra-petita o acórdão proferido em sede de Recurso de Ofício que reexaminou a totalidade do acórdão recorrido que concluiu pela improcedência total do lançamento.
Numero da decisão: 3201-002.882
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar os Embargos de Declaração.
WINDERLEY MORAIS PEREIRA - Presidente Substituto.
TATIANA JOSEFOVICZ BELISÁRIO - Relatora.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente Substituto), Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Orlando Rutigliani Berri, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Renato Vieira de Avila.
Nome do relator: TATIANA JOSEFOVICZ BELISARIO
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Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em rejeitar os Embargos de Declaração. WINDERLEY MORAIS PEREIRA Presidente Substituto. TATIANA JOSEFOVICZ BELISÁRIO Relatora. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Winderley Morais Pereira (Presidente Substituto), Paulo Roberto Duarte Moreira, Tatiana Josefovicz Belisario, Marcelo Giovani Vieira, Pedro Rinaldi de Oliveira Lima, Orlando Rutigliani Berri, Leonardo Vinicius Toledo de Andrade e Renato Vieira de Avila. Relatório Por se tratar de Embargos de Declaração, trago Relatório de Recurso Voluntário: AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 86 5. 00 11 09 /2 00 3- 07 Fl. 483DF CARF MF 2 Por bem narrar o histórico do caso dos autos até o acórdão recorrido, transcrevo o relatório da DRJ: Tratase de impugnação de lançamento (efls. 2 a 12) apresentada em 26 de agosto de 2003 contra o auto de infração de revisão de DCTF de IPI (efls. 15 a 27) de 07 de agosto de 2003 (efl. 317), relativo aos períodos do 2º ao 4º trimestres de 1998. De acordo com o auto de infração, a Interessada não seria parte autora das ações judiciais que constaram das DCTF como causas de suspensão do crédito tributário, relativamente aos períodos mencionados. O despacho de efl. 293, ignorando o fato de a Interessada haver apresentado impugnação de lançamento, constatou que as ações judiciais foram posteriormente decididas a favor da Fazenda Nacional, razão que justificaria a inscrição da dívida. De acordo com os documentos que se seguiram ao mencionado despacho, a dívida foi inscrita. Posteriormente, foi cancelada a inscrição da dívida ativa, nos termos do despacho decisório de efls. 390 e 391. Na impugnação de lançamento, a Interessada alegou inicialmente a nulidade do auto de infração, por supostamente faltarlhe motivação e descrição específica da das suas razões. Ademais, alegou ter ocorrido decadência em relação aos fatos geradores ocorridos até julho de 1998, à vista do disposto no art. 150, § 4º, do Código Tributário Nacional. No mérito, alegou que todo o período autuado encontrarseia “amparado com medida suspensiva”, razão pela qual deveriam ser excluídos os acréscimos punitivos e moratórios. Acrescentou que o estabelecimento autuado fazia parte da ação judicial apresentada, razão por que incidiria o disposto no art. 151, IV, do CTN. Citou ementas de acórdãos judiciais segundo os quais não incidiria também a multa de mora. Na sequência, tratou da suposta ilegitimidade da taxa de juros Selic. Apreciando a impugnação, a DRJ exonerou o crédito tributário, porque o fundamento do auto de infração revelouse improcedente, conforme resume a ementa: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998 IPI. DECADÊNCIA. AUSÊNCIA DE PAGAMENTOS ANTECIPADOS. PRAZO. CONTAGEM. Não havendo pagamentos antecipados, o termo inicial do prazo de decadência é o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Fl. 484DF CARF MF Processo nº 10865.001109/200307 Acórdão n.º 3201002.882 S3C2T1 Fl. 484 3 ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998 AUTO DE INFRAÇÃO. REVISÃO DE DCTF. AÇÃO FISCAL DE OUTRO CNPJ. FALTA DE MOTIVAÇÃO. INEXISTÊNCIA. Ainda que equivocada, a constatação de que o contribuinte não se incluía na ação fiscal vinculada à suspensão de exigibilidade do crédito tributário, é motivação idônea para validar o lançamento sob o ponto de vista formal. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998 AUDITORIA ELETRÔNICA DE DCTF. DÉBITOS DECLARADOS COMO SUSPENSOS POR AÇÃO JUDICIAL DE OUTRO CNPJ. AUTO DE INFRAÇÃO. Improcede o lançamento formalizado sob o fundamento de que o processo judicial, no âmbito do qual haveria medida judicial suspensiva da exigibilidade dos créditos, referese a outro CNPJ, quando, faticamente, essa circunstância não se verificou. Impugnação Procedente Crédito Tributário Exonerado. Diante da exoneração do crédito tributário acima do valor de alçada, recorrese de ofício da decisão acima transcrita. O processo digitalizado foi distribuído e, posteriormente, encaminhado a este Conselheiro Relator na forma regimental. É o relatório. Em sede de Recurso de Ofício, portanto, a conclusão obtida foi no seguinte sentido: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998 AUDITORIA ELETRÔNICA DE DCTF. DÉBITOS DECLARADOS COMO SUSPENSOS POR AÇÃO JUDICIAL DE OUTRO CNPJ. AUTO DE INFRAÇÃO. Improcede o lançamento formalizado sob o fundamento de que o processo judicial, no âmbito do qual haveria medida judicial suspensiva da exigibilidade dos créditos, referese a outro CNPJ, quando, faticamente, essa circunstância não se verificou. Recurso de ofício negado. A Fazenda Nacional opôs Embargos de Declaração alegando: Quanto a afirmação, contida no acórdão recorrido, de que o presente auto de infração não impediria a cobrança com base na Fl. 485DF CARF MF 4 DCTF, não concordo com tal asserção. Em julgamento ocorrido em janeiro de 2015, decidimos, por unanimidade, em matéria idêntica, que se caracteriza “nulidade, por vício material, do auto de infração, que foi fundamentado no único fato que se revelou improcedente de que o processo judicial informado pela contribuinte não abrangeria seu CNPJ”(Acórdão nº 3202001.463).” A primeira questão que se revela tem pertinência com o objeto do recurso de ofício e a competência desta e. Corte para julgá lo. O r. acórdão da d. DRJ afastou a aplicação da multa de ofício, mas não o crédito tributário da obrigação principal. Por conseguinte, o objeto do recurso de ofício é tãosomente a multa de ofício e não o crédito tributário relativo ao tributo de per se. O r. acórdão, contudo, afastou tanto o crédito tributário da obrigação principal – o tributo , quanto a multa de ofício. A admissibilidade foi por mim examinada nos seguintes termos: Em seus Embargos de Declaração, a Fazenda Nacional requer seja "sanada a contradição e a omissão" supostamente existentes no acórdão embargado, justificando, portanto, o cabimento dos recurso nos termos do já transcrito art. 65 do RICARF. Não obstante, pelas razões recursais, notase que o Embargante não aponta, de forma objetiva, onde estaria a contradição (assim entendida, nos termos da lei, como contradição interna do julgado), ou mesmo qualquer omissão acerca de ponto sobre o qual deveria ter se manifestado o julgado. O que pretende a Embargante é o saneamento de suposto erro no julgado. Nesse aspecto, necessário adentrar, ainda que superficialmente, nas razões de Embargos apresentadas pela Fazenda Nacional. A Embargante inicia seu arrazoado apontando a existência de nulidade do acórdão embargado, nos termos do art. 12, inciso II do PAF, uma vez que este teria decidido questão que não fora objeto de recurso de ofício. Já de início, destaco o que dispõe o art. 12, inciso II do Decreto nº 7.574, de 29 de setembro de 2011: Art. 12. São nulos (Decreto nº 70.235, de 1972, art. 59): (...) IIos despachos e decisões proferidos por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa. Logo, para a alegação de nulidade aventada, caberia a demonstração de que a decisão teria sido proferida por autoridade incompetente ou com preterição do direito de defesa, o que, data maxima venia, não logrou o Embargante. Fl. 486DF CARF MF Processo nº 10865.001109/200307 Acórdão n.º 3201002.882 S3C2T1 Fl. 485 5 Lado outro, o cabimento dos Embargos de Declaração foi assim fundamentado pela Embargante: O r. acórdão da d. DRJ afastou a aplicação da multa de ofício, mas não o crédito tributário da obrigação principal. Por conseguinte, o objeto do recurso de ofício é tãosomente a multa de ofício e não o crédito tributário relativo ao tributo de per se. O r. acórdão, contudo, afastou tanto o crédito tributário da obrigação principal – o tributo , quanto a multa de ofício Data venia, o r. acórdão decidiu questão que não fora objeto do recurso de ofício. Portanto, incidiu em nulidade, na forma do disposto no PAF, art. 12, inciso II. A partir dessa colocação, a Embargante apresenta diversos fundamentos de mérito pelos quais a decisão embargada merece ser reformada. Assim, o que se percebe é que o Embargante apresenta argumento no sentido de que o acórdão proferido em sede de Recurso de Ofício seria ultra petita, ou seja, que o acórdão embargado teria ultrapassado os limites a que estaria circunscrito no âmbito do Recurso de Ofício. Assim, cabe perquirir se a alegação de acórdão ultra petita pode ou não ser admitida em sede de Embargos de Declaração. A questão ainda não se encontra pacificada no âmbito deste Conselho, verificandose a existência tanto de decisões que admitem o acolhimento de Embargos de Declaração para exame da alegação de decisão ultrapetita, quanto decisões que afirmam que tal alegação deve ser apresentada em sede de Recurso Especial. Confirase: Assunto: Imposto sobre Produtos Industrializados IPI Período de apuração: 01/01/2001 a 31/03/2001 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DECISÃO ULTRA PETITA CABIMENTO É cabível a apresentação de embargos de declaração quando a decisão recorrida for ultra petita. O ressarcimento está limitado aos termos do pedido do contribuinte, não podendo ser concedido mais do que o solicitado, menos ainda quando o que foi concedido sequer constou da matéria discutida nos autos. Embargos Acolhidos. (Acórdão nº 3302002.834, de 28/01/2015, Processo nº 10930.001136/200189; Relatora FABIOLA CASSIANO KERAMIDAS) Processo Administrativo Fiscal Período de apuração: 01/01/2006 a 31/03/2006 DECISÃO ULTRA PETITA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO. Fl. 487DF CARF MF 6 Não se conhece de embargos de declaração interpostos em acórdão ultra ou extra petita, hipótese na qual o remédio cabível é recurso especial. (Acórdão nº 3401001.753, de 21/03/2012, Processo nº 11065.100421/200603; Relator EMANUEL CARLOS DANTAS DE ASSIS) A existência de divergência jurisprudencial no âmbito deste CARF acerca do cabimento ou não dos Embargos de Declaração para apreciação da alegação de que a decisão embargada seria ultrapetita, a meu ver, já afasta, de imediato, a hipótese de manifesta inadmissibilidade dos embargos. Em assim sendo, não existindo manifesta inadmissibilidade dos Embargos, é recomendável que a questão seja levada à deliberação pela Turma Julgadora que, inclusive, poderá rever o presente juízo perfunctório de admissibilidade. Pelo exposto, proponho o conhecimento dos Embargos de Declaração opostos pela Fazenda Nacional e a sua remessa para julgamento pela Turma. A proposta foi acolhida pelo Presidente desta Turma, admitindo os Embargos de Declaração. É o relatório. Voto Conselheira Tatiana Josefovicz Belisário Conforme exposto no despacho de admissibilidade, existe divergência quanto à possibilidade de se examinar, em sede de Embargos de Declaração, alegação de que a decisão embargada teria sido extrapetita. Todavia, a despeito da discussão travada acerca da admissibilidade, vejo que não assiste a alegação de julgamento extrapetita. Com efeito, diferentemente do que alega a Fazenda Nacional, o Acórdão da DRJ anulou todo o crédito tributário, julgando totalmente procedente a impugnação, exonerando a totalidade do crédito tributário: ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998 IPI. DECADÊNCIA. AUSÊNCIA DE PAGAMENTOS ANTECIPADOS. PRAZO. CONTAGEM. Não havendo pagamentos antecipados, o termo inicial do prazo de decadência é o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Fl. 488DF CARF MF Processo nº 10865.001109/200307 Acórdão n.º 3201002.882 S3C2T1 Fl. 486 7 ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998 AUTO DE INFRAÇÃO. REVISÃO DE DCTF. AÇÃO FISCAL DE OUTRO CNPJ. FALTA DE MOTIVAÇÃO. INEXISTÊNCIA. Ainda que equivocada, a constatação de que o contribuinte não se incluía na ação fiscal vinculada à suspensão de exigibilidade do crédito tributário, é motivação idônea para validar o lançamento sob o ponto de vista formal. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS IPI Período de apuração: 01/04/1998 a 31/12/1998 AUDITORIA ELETRÔNICA DE DCTF. DÉBITOS DECLARADOS COMO SUSPENSOS POR AÇÃO JUDICIAL DE OUTRO CNPJ. AUTO DE INFRAÇÃO. Improcede o lançamento formalizado sob o fundamento de que o processo judicial, no âmbito do qual haveria medida judicial suspensiva da exigibilidade dos créditos, referese a outro CNPJ, quando, faticamente, essa circunstância não se verificou. Impugnação Procedente Crédito Tributário Exonerado Logo, não há falar que que esta Turma, em sede de recurso de ofício, deveria ficar adstrita à multa, não incorrendo o alegado julgamento extrapetita. Os demais argumentos trazidos nos embargos dizem respeito ao mérito pela qual a PGFN entende deve ser mantido o crédito tributário, matéria de típico inconformismo em sede de Recurso Especial. Assim, REJEITO os EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. Tatiana Josefovicz Belisário Relatora Fl. 489DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 13706.002086/2005-22
Turma: 2ª TURMA/CÂMARA SUPERIOR REC. FISCAIS
Câmara: 2ª SEÇÃO
Seção: Câmara Superior de Recursos Fiscais
Data da sessão: Tue Jun 27 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Aug 08 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF
Exercício: 2001
ISENÇÃO. MOLÉSTIA GRAVE. REQUISITOS. MATÉRIA SUMULADA.
Incabível a incidência do Imposto de Renda sobres rendimentos de aposentadoria, reforma, reserva remunerada ou pensão recebidos por portador de moléstia grave prevista em lei, devidamente comprovada por meio de laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios (Súmula CARF nº 63).
Numero da decisão: 9202-005.545
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento.
(assinado digitalmente)
Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício
(assinado digitalmente)
Maria Helena Cotta Cardozo - Relatora
Participaram do presente julgamento os Conselheiros Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício).
Nome do relator: MARIA HELENA COTTA CARDOZO
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negar-lhe provimento. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos - Presidente em exercício (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo - Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício).
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MOLÉSTIA GRAVE. REQUISITOS. MATÉRIA SUMULADA. Incabível a incidência do Imposto de Renda sobres rendimentos de aposentadoria, reforma, reserva remunerada ou pensão recebidos por portador de moléstia grave prevista em lei, devidamente comprovada por meio de laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios (Súmula CARF nº 63). Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em conhecer do Recurso Especial e, no mérito, em negarlhe provimento. (assinado digitalmente) Luiz Eduardo de Oliveira Santos Presidente em exercício (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Relatora Participaram do presente julgamento os Conselheiros Maria Helena Cotta Cardozo, Patrícia da Silva, Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, Ana Paula Fernandes, Heitor de Souza Lima Junior, João Victor Ribeiro Aldinucci (suplente convocado), Rita Eliza Reis da Costa Bacchieri e Luiz Eduardo de Oliveira Santos (Presidente em exercício). AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 13 70 6. 00 20 86 /2 00 5- 22 Fl. 122DF CARF MF 2 Relatório Em sessão plenária de 20/09/2012, foi dado provimento ao Recurso Voluntário s/n, exarandose o Acórdão nº 2101001.896 (efls. 95 a 98), assim ementado: "ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA FÍSICA IRPF Exercício: 2001 IRPF. MOLÉSTIA GRAVE DOENÇA DE ALZHEIMER DEMÊNCIA O estado de alienação mental ou a síndrome demencial ou constituída da demência senil causada pela Doença de Alzheimer configura o pressuposto de "moléstia grave" previsto na legislação para fins de isenção do imposto sobre proventos de aposentadoria e pensão." O processo foi recebido na PGFN em 12/04/2013 (Relação de Movimentação de efls. 101) e, em 17/04/2013 (Relação de Movimentação de efls.102), a Fazenda Nacional interpôs o Recurso Especial de efls. 103 a 111. O Recurso Especial está fundamentado no art. 67, Anexo II, do Regimento Interno do CARF, aprovado pela Portaria MF nº 256, de 2009, e visa rediscutir a isenção por moléstia grave, relativamente a portador do Mal de Alzheimer. Ao Recurso Especial foi dado seguimento, conforme o Despacho s/n de 29/05/2015 (efls. 113 a 115). Em seu apelo a Fazenda Nacional apresenta as seguintes alegações: a isenção por moléstia grave encontrase regulamentada pela Lei nº 7.713/1988, em seu artigo 6º, inciso XIV, nos termos abaixo: "Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendimentos percebidos por pessoas físicas: (...) XIV os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estado avançados da doença de Paget (osteíte deformante), síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sidocontraída depois da aposentadoria ou reforma; XIV os proventos de aposentadoria ou reforma, desde que motivadas por acidente sem serviços, e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerosemúltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia Fl. 123DF CARF MF Processo nº 13706.002086/200522 Acórdão n.º 9202005.545 CSRFT2 Fl. 123 3 grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma; (Redação dada pela Lei nº 8.541, de 1992) (Vide Lei 9.250, de 1995) XIV os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma; (Redação dada pela Lei nº 11.052, de 2004)" a partir do anocalendário de 1996, devese aplicar, para o reconhecimento de isenções, as disposições, sobre o assunto, trazidas pela Lei nº 9.250, de 1995: "Art. 30 A partir de 1º de janeiro de 1996, para efeito do reconhecimento de novas isenções de que tratam os incisos XIV e XXI do art. 6º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, com a redação dada pelo art. 47 da Lei nº 8.541, de 23 de dezembro de 1992, a moléstia deverá ser comprovada mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios."(g.n.) o Decreto nº 3.000/99 (RIR), em seu artigo 39, incisos XXXI e XXXIII, bem como no §4º também trata da matéria: CAPÍTULO II RENDIMENTOS ISENTOS OU NÃO TRIBUTÁVEIS Seção I Rendimentos Diversos Art. 39. Não entrarão no cômputo do rendimento bruto: (...) Pensionistas com Doença Grave XXXI os valores recebidos a título de pensão, quando o beneficiário desse rendimento for portador de doença relacionada no inciso XXXIII deste artigo, exceto a decorrente de moléstia profissional, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída após a concessão da pensão (Lei nº 7.713, de 1988, art. 6º, inciso XXI, e Lei nº 8.541, de 1992, art. 47); Fl. 124DF CARF MF 4 (...) Proventos de Aposentadoria por Doença Grave XXXIII os proventos de aposentadoria ou reforma, desde que motivadas por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, estados avançados de doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome de imunodeficiência adquirida, e fibrose cística (mucoviscidose), com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma (Lei nº 7.713, de 1988, art. 6º, inciso XIV, Lei nº 8.541, de 1992, art. 47, e Lei nº 9.250, de 1995, art. 30, § 2º); (...) § 4º Para o reconhecimento de novas isenções de que tratam os incisos XXXI e XXXIII, a partir de 1º de janeiro de 1996, a moléstia deverá ser comprovada mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, devendo ser fixado o prazo de validade do laudo pericial, no caso de moléstias passíveis de controle (Lei nº 9.250, de 1995, art. 30 e § 1º). a Instrução Normativa SRF nº 15, de 06 de fevereiro de 2001, ao normatizar o disposto no art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713, de 1988, e alterações posteriores, assim esclarece: "Art. 5º Estão isentos ou não se sujeitam ao imposto de renda os seguintes rendimentos: (...) XII proventos de aposentadoria ou reforma motivadas por acidente em serviço e recebidos pelos portadores de moléstia (...) 1º A concessão das isenções de que tratam os incisos XII e XXXV, solicitada a partir de 1º de janeiro de 1996, só pode ser deferida se a doença houver sido reconhecida mediante laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.(g.n.) § 2º As isenções a que se referem os incisos XII e XXXV aplicam se aos rendimentos recebidos a partir: I do mês da concessão da aposentadoria, reforma ou pensão, quando a doença for preexistente; II do mês da emissão do laudo pericial, emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, que reconhecer a moléstia, se esta for contraída após a concessão da aposentadoria, reforma ou pensão; III da data em que a doença for contraída, quando identificada no laudo pericial." (g.n.) Fl. 125DF CARF MF Processo nº 13706.002086/200522 Acórdão n.º 9202005.545 CSRFT2 Fl. 124 5 de acordo com o texto legal, depreendese que há dois requisitos cumulativos indispensáveis à concessão da isenção, um reportase à natureza dos valores recebidos, que devem ser proventos de aposentadoria ou reforma e pensão, e o outro relaciona se com a existência da moléstia tipificada no texto legal; quanto ao requisito indispensável à concessão da isenção objeto da controvérsia neste feito, frisese que a doença discriminada nos documentos apresentados trata se de demência senil do tipo Alzheimer, ou doença de Alzheimer, moléstia esta que não se encontra discriminada na Lei nº 7.713/1988, em seu artigo 6º, inciso XIV, com a redação dada pela Lei nº 11.052, de 29 de dezembro de 2004; sabese que, de acordo com o estabelecido na Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), a interpretação da legislação tributária que disponha sobre outorga de isenção deve ser literal, não há como interpretar de modo diferente o assunto; concluise, então, que a interessada não faz jus à isenção regulamentada pela Lei nº 7.713/1988, em seu artigo 6º, inciso XIV, com a redação dada pela Lei nº 11.052, de 2004; registrese que a própria Turma a quo já conferiu diverso tratamento à matéria (Acórdãos nºs 280101.299 e 280100.450); concluise que a interressada não faz jus à isenção pretendida, portanto o acórdão hostilizado merece reforma. Ao final, a Fazenda Nacional pede o conhecimento e provimento do Recurso Especial, reformandose o acórdão recorrido e restabelecendose o lançamento em sua integralidade. Cientificada, a Contribuinte quedouse silente. Voto Conselheira Maria Helena Cotta Cardozo Relatora O Recurso Especial da Fazenda Nacional é tempestivo e atende aos demais pressupostos de admissibilidade, portanto deve ser conhecido. Não foram oferecidas Contrarrazões. Tratase de isenção de rendimentos recebidos por portador de moléstia grave prevista em lei, mais especificamente, de Mal de Alzheimer. O art. 6º, inciso XIV da Lei nº 7.713, de 1988, com a redação da Lei nº 11.052, de 2004, assim estabelece: "Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendimentos percebidos por pessoas físicas: (...) Fl. 126DF CARF MF 6 XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma." (grifei) A matéria inclusive já se encontra sumulada no CARF: Súmula CARF nº 63. Para gozo da isenção do imposto de renda da pessoa física pelos portadores de moléstia grave, os rendimentos devem ser provenientes de aposentadoria, reforma, reserva remunerada ou pensão e a moléstia deve ser devidamente comprovada por laudo pericial emitido por serviço médico oficial da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. No presente caso, tratase de rendimentos de aposentadoria e pensão, referentes ao exercício de 2001, recebidos por portadora de Mal de Alzheimer desde 1993, o que foi comprovado por laudo pericial emitido pela Junta Médica do Município de Mesquita (fls. 13), que assim atesta: "Atestamos, através de laudo médico descrito abaixo, para os devidos fins junto à Receita Federal, que a Sra Iara Ximenes Brotherhood, 70 anos, é portadora de Doença de Alzheimer CID G30, estando sob cuidados médicos desde 1993, com tratamento especializado, sendo a mesma isenta de pagamento de imposto de renda, de acordo com a declaração emitida pela Previdência Social (em anexo)." (geifei) Com efeito, a declaração de fls. 12, emitida pelo INSS, atesta que a Contribuinte encontrase cadastrada no sistema de isenção do Imposto de Renda. Assim, constatase que a própria lei estabelece que o reconhecimento da isenção deve ser feito "com base em conclusão da medicina especializada". Nesse passo, o laudo acima não deixa dúvidas no sentido de que a medicina especializada enquadrou a moléstia da contribuinte no benefício da isenção, não cabendo infirmálo, sem prova da existência de irregularidade na sua emissão. Diante do exposto, conheço do Recurso Especial interposto pela Fazenda Nacional e, no mérito, negolhe provimento. (assinado digitalmente) Maria Helena Cotta Cardozo Relatora Fl. 127DF CARF MF Processo nº 13706.002086/200522 Acórdão n.º 9202005.545 CSRFT2 Fl. 125 7 Fl. 128DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10880.987827/2012-59
Turma: Primeira Turma Ordinária da Quarta Câmara da Primeira Seção
Câmara: Quarta Câmara
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Thu Jun 22 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Tue Aug 08 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ
Ano-calendário: 2008
SALDO NEGATIVO - IRPJ - RETENÇÕES
Uma vez não comprovados a retenção na fonte ou o oferecimento à tributação da receita corresponde, não há que se reconhecer o IRRF na composição do saldo negativo do período.
ESTIMATIVAS - COMPENSAÇÕES NÃO HOMOLOGADAS
As estimativas compensadas devem compor o cálculo do ajuste do período, mesmo quando a compensação não for homologada, uma vez que seu valor será objeto de cobrança pelas vias próprias.
Numero da decisão: 1401-001.980
Decisão: Vistos, relatados e discutidos os presentes autos.
Acordam os membros do colegiado, Por unanimidade de votos, dar parcial provimento ao recurso voluntário para reconhecer a parcela suplementar de saldo negativo, a valores originais, de R$ 496.373,67.
(assinado digitalmente)
Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente.
(assinado digitalmente)
Guilherme Adolfo dos Santos Mendes - Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Jose Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Livia de Carli Germano, Daniel Ribeiro Silva, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
Nome do relator: GUILHERME ADOLFO DOS SANTOS MENDES
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ementa_s : Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica - IRPJ Ano-calendário: 2008 SALDO NEGATIVO - IRPJ - RETENÇÕES Uma vez não comprovados a retenção na fonte ou o oferecimento à tributação da receita corresponde, não há que se reconhecer o IRRF na composição do saldo negativo do período. ESTIMATIVAS - COMPENSAÇÕES NÃO HOMOLOGADAS As estimativas compensadas devem compor o cálculo do ajuste do período, mesmo quando a compensação não for homologada, uma vez que seu valor será objeto de cobrança pelas vias próprias.
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decisao_txt : Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, Por unanimidade de votos, dar parcial provimento ao recurso voluntário para reconhecer a parcela suplementar de saldo negativo, a valores originais, de R$ 496.373,67. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves - Presidente. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes - Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Jose Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Livia de Carli Germano, Daniel Ribeiro Silva, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa.
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ESTIMATIVAS COMPENSAÇÕES NÃO HOMOLOGADAS As estimativas compensadas devem compor o cálculo do ajuste do período, mesmo quando a compensação não for homologada, uma vez que seu valor será objeto de cobrança pelas vias próprias. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, Por unanimidade de votos, dar parcial provimento ao recurso voluntário para reconhecer a parcela suplementar de saldo negativo, a valores originais, de R$ 496.373,67. (assinado digitalmente) Luiz Augusto de Souza Gonçalves Presidente. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Relator. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 88 0. 98 78 27 /2 01 2- 59 Fl. 1105DF CARF MF 2 Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto de Souza Goncalves (Presidente), Luciana Yoshihara Arcangelo Zanin, Guilherme Adolfo Dos Santos Mendes, Jose Roberto Adelino da Silva, Abel Nunes de Oliveira Neto, Livia de Carli Germano, Daniel Ribeiro Silva, Luiz Rodrigo de Oliveira Barbosa. Relatório Em relação às peças iniciais do presente feito, sirvome do relatório da autoridade a quo: Trata o presente processo das compensações declaradas por meio dos PER/DCOMP’s a seguir relacionados (fls. 0209), com utilização do direito creditório de R$ 54.717.899,22 de saldo negativo de IRPJ do anocalendário de 2008: 2. A DERAT/São Paulo, por meio do despacho decisório proferido em 05/12/2012 (fls. 1015), rastreamento nº 041083680, reconheceu apenas o direito creditório de R$ 16.435.854,23 em face da não confirmação das seguintes parcelas de composição do crédito: Fl. 1106DF CARF MF Processo nº 10880.987827/201259 Acórdão n.º 1401001.980 S1C4T1 Fl. 1.106 3 3. Em consequência, foi integralmente homologada a compensação declarada no PER/DCOMP nº 35984.38422.291209.1.3.027661 e parcialmente a do PER/DCOMP nº 27537.78439.220110.1.7.029923, restando Fl. 1107DF CARF MF 4 não homologada a compensação objeto do PER/DCOMP nº 17245.50450.220110.1.3.020459. 4. Regulamente cientificado por via postal em 17/12/2012 (AR à fl. 12), a reclamante, por intermédio de seu representante legal (mandato à fl. 42), apresentou, em 16/01/2013, a tempestiva manifestação de inconformidade de fls. 1640, instruída com os documentos de fls. 43803, cujo teor é sintetizado a seguir: a) no tópico “Da Legitimidade do Crédito Decorrente do Saldo Negativo de IRPJ do AnoCalendário de 2008 – Do Imposto de Renda Retido na Fonte” argui que o montante de R$ 30.157.940,31 de imposto de renda na fonte aproveitado na apuração do saldo negativo de IRPJ do anocalendário de 2008 foi efetivamente retido e os rendimentos referentes a ele foram devidamente oferecidos à tributação na ficha de resultado na DIPJ 2009, como Outras Receitas Financeiras; b) presume que o não reconhecimento do crédito no valor integral se deve ao fato de a fiscalização ter constatado que, do total de R$ 569.486.646,22 de receitas financeiras a que corresponde o montante de R$ 30.157.940,31 de imposto retido na fonte, supostamente o valor de R$ 448.344.101,00, vinculado à fonte pagadora Merrill Lynch S/A CTVM (CNPJ 02.670.590/000195), com informe de rendimento à fl. 168), não teria sido oferecido à tributação; c) que o valor de R$ 448.344.101,00 não se refere a rendimento de aplicações financeiras, pois decorre da venda de 20.853.214 ações nominativas da companhia, no aumento de capital realizado por meio de emissão primária de ações; que houve a correta incidência do IRRF à alíquota de 0,005% sobre o valor de venda das ações da companhia, nos termos do art. 10, IV, da IN 487, de 2004, e art. 2º, §§ 1º e 2º da Lei nº 11.033, de 2004, e art. 52, IV, da IN nº 1.022/2010; d) relata que em 12/08/2008 o Conselho de Administração aprovou o aumento do capital social da contribuinte de R$ 1.183.825.551,00 para R$ 2.559.718.051,00 mediante a emissão de 63.995.000 ações ordinárias, ao preço individual de emissão de R$ 21,50; dentro do prazo estabelecido na reunião do Conselho de Administração, foram vendidas 43.151.786 ações ordinárias, restando 20.853.214 ações que foram ofertadas em leilão de sobras; a venda das ações remanescentes ao preço individual de R$ 21,50 acarretou aumento do capital da empresa no valor de R$ 448.344.101,00, cujo valor não deve ser considerado como rendimento tributável; e) no tópico “Do Oferecimento à Tributação dos Rendimentos dos Ativos Financeiros. Da Comprovação da Retenção pelas Demais Fontes Pagadoras” aduz que os rendimentos financeiros correspondentes ao montante de R$ 30.157.940,31 de IRRF do anocalendário de 2008 foram efetivamente reconhecidos pela contribuinte, com exceção da operação com o Banco Merrill Lynch S/A CTVM; protesta pela posterior juntada de referidas fichas razão; f) no tópico “Da Desconsideração das Antecipações Realizadas pela Empresa – Demais Estimativas Compensadas – Da Fl. 1108DF CARF MF Processo nº 10880.987827/201259 Acórdão n.º 1401001.980 S1C4T1 Fl. 1.107 5 DCOMP nº 15324.73560.260308.1.3.095501” alega que o débito de R$ 1.004.986,65 de estimativa do mês de janeiro/2008 foi compensado com créditos de Cofins nãocumulativo vinculados a operações de exportação, conforme PER/DCOMP nº 15324.73560.260308.1.3.095501; ao analisar referida declaração de compensação, o agente fiscal concluiu que o crédito reconhecido foi suficiente para compensar apenas a parcela de R$ 508.612,98 daquele débito; g) na análise dos pedidos de ressarcimento tratados nos autos dos processos nºs 12585.000202/201097, 12585.000212/2010 22, 12585.000227/201091, 12585.000214/201011, 12585.000215/201066, 12585.000228/201035, 12585.000216/201019, 12585.000229/201080, 12585.000218/201008, 12585.000231/201059, 12585.720439/201179, 12585.720441/201148, 12585.720438/201124 e 12585.720440/201101 foi deferido em favor da impugnante o crédito no montante de R$ 64.354.837,55; h) a reclamante foi intimada a manifestarse acerca dos débitos apontados como passíveis de compensação de ofício e concordou com a compensação dos débitos indicados pela RFB que não se encontravam com sua exigibilidade suspensa, dentre eles o de R$ 496.373,67 com código de receita 2362 do período de apuração janeiro/2008 (fl. 210); com a realização da compensação de ofício, resta comprovada a extinção do débito de R$ 496.373,67 que perfaz do valor da estimativa de janeiro/2008; i) no tópico “Da DCOMP nº 38654.21040.300608.1.3.088753 e 09147.37216.060808.1.3.090158” argumenta que os débitos de estimativa de maio e junho/2008 foram compensados com créditos de PIS e Cofins nãocumulativos vinculados à operações de exportação, conforme PER/DCOMP’s nº 38654.21040.300608.1.3.088753 e 09147.37216.060808.1.3.09 0158 (fls. 176195); o agente fiscal concluiu que o crédito informado não foi confirmado em face de tais declarações de compensação terem sido canceladas, o que realmente ocorreu, mas não considerou que foi apresentada nova declaração de compensação, o PER/DCOMP nº 24674.51678.180909.1.3.09 2744, para extinção de tais estimativas; j) no tópico “Da Desconsideração do Imposto Pago no Exterior Para a Formação do Saldo Negativo de IRPJ Relativo ao Ano Calendário de 2008” relata que os lucros, rendimentos e ganhos de capital auferidos no exterior, por pessoa jurídica domiciliada no Brasil, estão sujeitos à incidência do IRPJ e da CSLL, na forma das legislação brasileira (art. 74 da MP nº 215835/2001, observado o seguinte: (i) os lucros referidos são os apurados por filiais e sucursais de pessoa jurídica domiciliada no Brasil e os decorrentes de participações societárias, inclusive em controladas e coligadas; (ii) os rendimentos e ganhos de capital são os auferidos no exterior diretamente pela pessoa jurídica domiciliada no Brasil; (iii) os rendimentos e os ganhos de capital, decorrentes de aplicações financeiras ou operações efetuadas no exterior, integrarão os resultados da pessoa Fl. 1109DF CARF MF 6 jurídica domiciliadas no Brasil, e as perdas reconhecidas nesses resultados são indedutíveis e deve ser adicionadas para determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL; (iv) os escritórios que não exerçam, exclusivamente, atividades de representação ou intermediação em nome da matriz brasileira, e que explorem qualquer atividade produtiva em nome próprio, submetemse às normas examinadas deste trabalho na condição de filial ou sucursal; k) que os lucros auferidos no exterior, por intermédio de filiais, sucursais, controladas ou coligadas devem de acordo com a legislação atual, a despeito de sua constitucionalidade estar sob análise do STF, ser computado para fins de determinação do lucro real e da base de cálculo da CSLL no balanço levantado em 31 de dezembro do anocalendário em que tiverem sido disponibilizados para a pessoa jurídica domiciliada no Brasil; l) logo, na medida em que a manifestante incluiu em seu lucro real do anocalendário de 2008 o resultado proveniente de suas operações no exterior, faz jus ao tax credit do imposto pago no país de origem de tais rendimentos; a restrição a creditamento para a formação do saldo negativo de IRPJ revelase como verdadeiro locupletamento sem causa por parte do Estado, não se podendo, portanto, admitir tal glosa; m) como forma de demonstrar a apropriação do rendimento no lucro real de 2008, protesta desde já pela posterior juntada da documentação hábil e apta a comprovar não só o pagamento do imposto, com base em documento de arrecadação e demonstrações financeiras das investidas, como também a contrapartida contábil destes resultados via equivalência patrimonial no resultado fiscal da manifestante no ano calendário de 2008; n) no tópico “Do Pedido” requer seja recebido e processado a presente manifestação de inconformidade, acatando os argumentos consignados para que seja dada provimento, a fim de suspender a exigibilidade do crédito tributário e reformar parcialmente o despacho decisório, a fim de que seja reconhecido integralmente o direito creditório postulado, homologando totalmente as compensações realizadas pela empresa. Da decisão de primeiro grau A Delegacia de Julgamento deu provimento parcial à manifestação de inconformidade (fls. 9951011), nos termos que se seguem. Estimativas Reconheceu as estimativas de maio e junho de 2008, mas não a de janeiro. Fl. 1110DF CARF MF Processo nº 10880.987827/201259 Acórdão n.º 1401001.980 S1C4T1 Fl. 1.108 7 No tocante a esta última (janeiro de 2008), que faz parte do objeto do recurso voluntário, o julgador entendeu que a estimativa teve a sua compensação homologada parcialmente (R$ 508.612,98) nos autos do processo nº 16349.000297/200959. A diferença de R$ 496.373,67, não homologada, passou a ser controlada nos autos do processo nº 10880.727136/201206, no qual foi intimada para anuir com compensação de ofício. Em resposta, aduziu que não concordava com a compensação de ofício de valores com a exigibilidade suspensa, dentre os quais não se encontrava a referida parcela. No entanto: (...) o Juízo da 11ª Vara Federal Cível de São Paulo concedeu liminar nos autos da ação judicial nº 002003305.2012.403.6100 (fls. 808816), em 23/11/2012, determinando a suspensão da exigibilidade dos créditos tributários tratados, dentre outros, no processo administrativo nº 10880.727136/201206, relativo à cobrança da parcela de R$ 496.373,67 do débito em análise. A situação de suspenso por medida judicial desse valor foi confirmada em consulta ao sistema SIEF/Processo (fl. 884). 15. Dessa forma, não há como se considerar a parcela de R$ 496.373,67 da estimativa de janeiro/2008 na formação do saldo negativo de IRPJ do anocalendário de 2008. Retenções na fonte No tocante às retenções na fonte, o julgador aduz que dos R$ 30.157.940,31 empregados pela recorrente para a formação do saldo negativo, a autoridade local não reconheceu o valor de R$ 15.026.874,36. A seguir apresenta quadro analítico com as retenções não reconhecidas segregadas em três grupos: (i) Ganhos auferidos no mercado de renda variável (valor total de R$ 15.015.640,93), (ii) Operações Day Trade (R$ 40,35) e (iii) Fundo de investimento cultural e artístico Ficart (R$ 11.193,08). Não reconheceu o valor de R$ 11.193,08 (Fundo de investimento cultural e artístico Ficart), sob o fundamento de que a recorrente deixou de juntar aos autos o comprovante de retenção e que não há na DIRF da fonte qualquer referência a esse valor. Também não reconheceu o valor relativo às operações Day Trade (R$ 40,35), apesar de confirmar a retenção na DIRF, a receita não foi oferecida à tributação, conforme informação da linha 20 (Ganhos em Operações Day Trade) da Ficha 06A (Demonstração do Resultado) da DIPJ 2009. Por fim, acatou parcialmente os valores atinentes aos ganhos auferidos no mercado de renda variável. Dos R$ 15.015.640,93, em litígio naquele momento processual, reconheceu a parcela de R$ 10.610.900,38. Após uma longa análise dos argumentos apresentados pela defesa, concluiu que o rendimento de R$ 448.344.101,00 era relativo a emissão primária de ações, o qual deve ser excluído dos rendimentos oferecidos à tributação no campo próprio (linha 19 da Ficha 06A da DIPJ 2009). Na referida linha, consta o valor de R$ 36.286.103,71, enquanto o valor dos rendimentos que deveriam ser oferecidos à tributação, já suprimido o montante de R$ 448.344.101,00, são de R$ 55.375.486,17. Dessa forma, como só foram oferecidos 65,5274% Fl. 1111DF CARF MF 8 dos rendimentos, devem ser reconhecido proporcionalmente o imposto retido na fonte, ou seja, R$ 10.588.483,18. Imposto pago no exterior Após análise da legislação de regência, a Delegacia de Julgamento assim indeferiu o pleito quanto ao imposto pago no exterior: 41. Logo, como imposto devido algum foi apurado no ajuste anual, parcela alguma do imposto pago no exterior pode ser compensada no ajuste anual do anocalendário de 2008. 42. Ainda que o valor do imposto pago no exterior não excedesse o montante do imposto de renda e adicional, devidos no Brasil, sobre o valor dos lucros, rendimentos e ganhos de capital incluídos na apuração do lucro real, inexiste nos autos comprovação do imposto pago no exterior mediante apresentação de documento reconhecido pelo respectivo órgão arrecadador e pelo Consulado da Embaixada Brasileira no país em que for devido o imposto, conforme exigido pelo artigo 26, § 2º, da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, e artigo 14, §§ 13 e 14, da Instrução Normativa SRF nº 213, de 2002. 43. Dessa forma, o imposto pago no exterior não pode compor o saldo negativo de IRPJ do anocalendário de 2008. DO RECURSO VOLUNTÁRIO O sujeito passivo apresentou recurso voluntário tempestivo, às fls. 1.023 a 1.049, no qual tece as razões de defesa que se seguem. Estimativa de janeiro de 2008 A defesa tece inicialmente uma longa descrição do seu modo de aproveitamento de créditos tributários na exportação e o seu uso para a compensação de tributos devidos, bem como do caminho processual específico para a quitação da estimativa de janeiro de 2008, descrição esta que não diverge daquela feita na decisão recorrida. Sua divergência começa na análise do objeto e da decisão proferida na ação judicial nº 002003305.2012.403.6100. Aduz que concordou com a compensação de ofício da referida parcela, pois havia rejeitado a compensação de ofício em relação exclusivamente aos valores com exigibilidade suspensa e, dentre estes, não se encontrava a parcela de R$ 496.373,67, logo foi extinta pela compensação de ofício. A referida liminar nos autos da ação judicial nº 002003305.2012.403.6100 teve por propósito apenas impedir a compensação de ofício de débitos com exigibilidade suspensa nos termos do art. 151 do CTN e garantir a emissão de emissão de Certidão Negativa. Desse modo, o valor de R$ 496.373,67 foi compensado de ofício. Ainda que assim não se considere, o referido valor deve ser considerado para fins de formação do saldo negativo, uma vez que será cobrado pelos meios legais. Fl. 1112DF CARF MF Processo nº 10880.987827/201259 Acórdão n.º 1401001.980 S1C4T1 Fl. 1.109 9 Ademais, no caso de nãohomologação de compensação, conforme a Solução de Consulta Interna nº 18 da Cosit, o valor da estimativa deve ser cobrado com os acréscimos legais sem impedir o seu reconhecimento para fins de determinação do saldo negativo. Retenções na fonte Em relação ao IRRF relativo a Operações Day Trade (R$ 40,35) e Fundo de investimento cultural e artísticoFicart (R$ 11.193,08), a defesa apenas pede a juntada posterior de provas, as quais não foram até hoje carreadas ao feito. No tocante ao IRRF sobre operações de renda variável, entende que ofereceu todos os rendimentos respectivos ao imposto não reconhecido. Assim, devem ser reconhecidos ainda R$ 4.415.973,98, fruto da diferença entre R$ 30.157.940,31 pleiteados e R$ 25.741.966,33, já reconhecidos pelas autoridades fiscais e de julgamento. A aplicação do percentual de 65,5274% pela DRJ sobre o imposto retido sob o fundamento de que a recorrente ofereceu à tributação apenas R$ 36.286.103,71 de R$ 55.375.486,17, está equivocado. A Delegacia só considerou o valor oferecido na linha 19, ficha 06A da DIPJ 2009. No entanto, tal entendimento não se coaduna com o seu razão contábil (doc 1), com as DIRF das fontes pagadoras e nem com a sua DIPJ (doc 2). O que ocorreu foi que parte dos rendimentos das operações de SWAP foram apropriados na linha 22 da mesma ficha (Outras receitas financeiras). Imposto pago no exterior Aduziu que a pessoa jurídica pode deduzir do imposto devido no Brasil, o imposto pago ou retido na fonte incidentes sobre receitas que compuseram o lucro real, como os lucros auferidos por meio de controladas e coligadas no exterior. Destaca que os lucros auferidos no exterior estão sujeitos à incidência do IRPJ e da CSLL no Brasil, conforme a legislação de regência, e que esta pessoa está sujeita à tributação pelo lucro real. Em resumo, nas suas palavras: Protesta pela juntada posterior da documentação que comprove o imposto pago no exterior, assim como a contrapartida contábil dos resultados. É o relatório do essencial. Fl. 1113DF CARF MF 10 Voto Conselheiro Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Relator Estruturamos o nosso voto de acordo com os itens em disputa. 1. Estimativa de janeiro de 2008 (R$ 496.373,67) Por dois motivos, entendemos que deve ser reconhecido a parcela em litígio relativa à estimativa de janeiro de 2008, ou seja, o valor de R$ 496.373,67. Em primeiro lugar, a liminar que serviu de fundamento para a denegação do pedido pela autoridade julgadora recorrida não propaga efeitos capazes de impedir a extinção da estimativa pela compensação de ofício, conforme corretamente afirmado pela defesa. A liminar, cuja cópia consta das fls. 808816, tem claramente por objeto o pedido de emissão de certidão negativa, que estava obstada pela exigência de créditos tributários controlados em diversos processos administrativos, dentre os quais, aquele que controla do débito da parcela da estimativa aqui tratada. No feito judicial, o contribuinte busca a tutela sob o fundamento de que dispõe de indébito tributário suficiente para liquidar todas as suas dívidas perante a Fazenda Pública. Assim, numa apreciação de cunho sumário, a autoridade judicial decide suspender a exigibilidade de todos os processos administrativos e determinar a emissão da CND. É evidente que, uma vez que não suspensa a exigibilidade da parcela ora em debate, fato incontroverso, a autoridade fazendária pode realizar a compensação de ofício como pretendido e, assim, indiscutivelmente o contribuinte tem direito a que este valor venha a compor o saldo negativo do período. Em segundo lugar, apesar do meu posicionamento pessoal pela impossibilidade de exigência de estimativas, não podemos perder de vista que a própria Receita Federal, mediante a Solução de Consulta Interna Cosit nº 18, de 13 de outubro de 2006, estabelece esse procedimento no caso de compensações não homologadas com repercussões sobre a composição do saldo negativo. Segue a parte pertinente da ementa: Na hipótese de compensação não homologada, os débitos serão cobrados com base em Dcomp, e, por conseguinte, não cabe a glosa dessas estimativas na apuração do imposto a pagar ou do saldo negativo apurado na DIPJ. Por esses dois fundamentos, deve ser dado provimento ao recurso voluntário nessa parte, ou seja, para reconhecer o valor suplementar de saldo negativo de R$ 496.373,67. 2. Retenções na fonte Fl. 1114DF CARF MF Processo nº 10880.987827/201259 Acórdão n.º 1401001.980 S1C4T1 Fl. 1.110 11 2.1. Fundo de investimento cultural e artísticoFicart (R$ 11.193,08) e operações Day Trade (R$ 40,35) O contribuinte protesta pela posterior juntada de documentos para provar o seu direito. Pois bem, não houve a referida juntada, logo deve ser mantida a decisão recorrida por ausência de provas. 2.2. Ganhos auferidos no mercado de renda variável (R$ 15.015.640,93) A defesa aduz que parte dos rendimentos das operações de Swap deixaram de ser registradas na linha na linha 19, ficha 06A da DIPJ 2009, mas compõem o valor registrado na linha 22 da mesma ficha. Para comprovar juntou o livro razão e a própria DIPJ. Ora, como reiteradamente já nos posicionamos, provar não corresponde apenas a juntar papeis e documentos. É necessário articular esses elementos aos argumentos apresentados. Em primeiro lugar, deveria ter esclarecida a razão para desmembrar um mesmo item de receita em duas linhas diferentes. O contribuinte junta aos autos duas páginas do seu livro razão (fls. 1.079 e 1.080), que se referem apenas à conta "SWAP GANHOS S/OPER. DE MERCADO". Nela, está registrado o saldo final de R$ 91.906.740,45 para o ano de 2008. Juntou também cópia da citada ficha 06A. Na linha 19, está registrado o já ventilado valor de R$ 36.286.103,71, sobre o qual a Delegacia de Julgamento fez o cálculo proporcional para fins de reconhecimento do IRRF. Na linha 22, está registrado o valor de R$ 175.570.286,17 a título de outras receitas financeiras. Claro que a diferença este último valor pode abarcar aquele que se considerou omitido na linha 19, pois é significativamente maior. Todavia, pode também (e é mais provável essa hipótese) contemplar receitas diversas daquelas obtidas com as operações de Swap. Além de esclarecer a razão de ter segregado um mesmo item de receita, controlado por meio de uma única conta de sua contabilidade, em duas linhas da DIPJ, a defesa, para demonstrar que parte das receitas com Swaps foram oferecidas na linha 22, deveria feito a conciliação do valor registrado, isto é, demonstrar a sua completa composição. Para tal, seria necessário apresentar todas as páginas do livro razão relativas às receitas financeiras e apresentar os cálculos pertinentes. Nesse passo, poderíamos indagar se não seria pertinente dar essa oportunidade à defesa por meio de diligência. Entendo que não; afinal, a necessidade dessa demonstração para constituir a prova é algo evidente. Se a empresa não fez, sobretudo porque não estamos tratando com uma empresa de pequeno, é porque agiu estrategicamente, torcendo por uma análise superficial do julgador, diante da impossibilidade de demonstração completa, ou porque foi culposamente omissa no cumprimento do ônus probante. Desse modo, não merece reparos a decisão recorrida quanto a este item. 3. Imposto pago no exterior Nesse item, o contribuinte também requer o oferecimento posterior de documentos para provar o seu direito. Afinal, este foi mais um dos fundamentos da decisão recorrida, como podemos verificar do seguinte trecho: Fl. 1115DF CARF MF 12 42. Ainda que o valor do imposto pago no exterior não excedesse o montante do imposto de renda e adicional, devidos no Brasil, sobre o valor dos lucros, rendimentos e ganhos de capital incluídos na apuração do lucro real, inexiste nos autos comprovação do imposto pago no exterior mediante apresentação de documento reconhecido pelo respectivo órgão arrecadador e pelo Consulado da Embaixada Brasileira no país em que for devido o imposto, conforme exigido pelo artigo 26, § 2º, da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, e artigo 14, §§ 13 e 14, da Instrução Normativa SRF nº 213, de 2002. Uma vez que a defesa não apresentou a documentação nem sequer posteriormente em conformidade com o seu pedido, inexiste comprovação do pagamento do imposto no exterior. Dessarte, não há sequer que se perquirir do direito aplicável, uma vez que o próprio fato não foi comprovado. Deve, assim, também esta parcela ser denegada. Conclusão Por todo o exposto, voto para dar provimento parcial ao recurso voluntário com o fito de reconhecer a parcela suplementar de saldo negativo, a valores originais, de R$ 496.373,67. (assinado digitalmente) Guilherme Adolfo dos Santos Mendes Fl. 1116DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10580.009142/2006-14
Turma: Segunda Turma Especial da Primeira Seção
Seção: Primeira Seção de Julgamento
Data da sessão: Mon Oct 03 00:00:00 UTC 2011
Ementa: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Ano-calendário: 2002 PEDIDO DE PERÍCIA Incabível a realização de perícia quando se encontram no processo todos os elementos que permitem formar a livre convicção do julgador. Além disso, as perícias e diligências não se destinam a suprir o ônus probatório que incumbe ao Contribuinte. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ Ano-calendário: 2002 LUCRO PRESUMIDO - COEFICIENTE DE PRESUNÇÃO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Na atividade de prestação de serviços em geral, o coeficiente a ser aplicado sobre a receita bruta da empresa optante pelo lucro presumido para a determinação da base de cálculo do imposto de renda é de 32% (trinta e dois por cento), ainda que sejam utilizados materiais na prestação do serviço. O coeficiente de 8% (oito por cento) somente é aplicável à atividade de construção por empreitada, quando houver fornecimento de material pela contratada.
Numero da decisão: 1802-000.980
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em NEGAR provimento ao recurso.
Nome do relator: José de Oliveira Ferraz Corrêa
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Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2002 PEDIDO DE PERÍCIA Incabível a realização de perícia quando se encontram no processo todos os elementos que permitem formar a livre convicção do julgador. Além disso, as perícias e diligências não se destinam a suprir o ônus probatório que incumbe ao Contribuinte. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA IRPJ Anocalendário: 2002 LUCRO PRESUMIDO COEFICIENTE DE PRESUNÇÃO PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Na atividade de prestação de serviços em geral, o coeficiente a ser aplicado sobre a receita bruta da empresa optante pelo lucro presumido para a determinação da base de cálculo do imposto de renda é de 32% (trinta e dois por cento), ainda que sejam utilizados materiais na prestação do serviço. O coeficiente de 8% (oito por cento) somente é aplicável à atividade de construção por empreitada, quando houver fornecimento de material pela contratada. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em NEGAR provimento ao recurso. (assinado digitalmente) Ester Marques Lins de Sousa Presidente. Fl. 809DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 797 2 (assinado digitalmente) José de Oliveira Ferraz Corrêa Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Ester Marques Lins de Sousa, José de Oliveira Ferraz Corrêa, Marciel Eder Costa, Nelso Kichel, Gustavo Junqueira Carneiro Leão e Marco Antônio Nunes Castilho . Fl. 810DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 798 3 Relatório Tratase de Recurso Voluntário contra decisão da Delegacia da Receita Federal de Julgamento em Salvador/BA, que considerou procedente o lançamento realizado para a constituição de crédito tributário relativo ao Imposto sobre a Renda da Pessoa da Jurídica – IRPJ, conforme auto de infração de fls. 3 a 10, no valor de R$ 213.076,44, incluindose nesse montante a multa de ofício de 75% e os juros moratórios. A exigência se refere a fatos geradores ocorridos nos trimestres do ano calendário de 2002, períodos em que o IRPJ foi apurado pelas sistemática do lucro presumido. Foram imputadas à Contribuinte duas infrações, que estão assim descritas no auto de infração: 001 RECEITAS DA ATIVIDADE Receita da atividade, não declarada, tendo em vista que para realizar a prestação de serviço da nota fiscal n° 1392, no valor de R$ 1.013,46, referente a instalação de porta giratória, fl. 225, a empresa teve que emitir a nota fiscal avulsa n° 1025, de venda de mercadoria, no valor de R$ 8.927,73, referente a venda da porta giratória, fl.226, e que não foi incluída como receita do mês de julho e conseqüentemente não foi incluída na apuração da base de cálculo do 3° trimestre do anocalendário 2002. (...) 002 APLICAÇÃO INDEVIDA DE COEFICIENTE DE DETERMINAÇÃO DO LUCRO A fiscalização foi iniciada em 05/04/2006, através do Termo de Início de Fiscalização anexo à fl. 23, e foi selecionada para verificação da correta utilização do coeficiente de presunção do Lucro sobre a Receita Bruta, tendo em vista que o CNAE Fiscal da empresa, fls. 32 a 33, é 4549799 (Outros Obras de Instalações), que na página da empresa na internet, fl. 34, a empresa além de edificações civis, realiza serviços de Manutenção de instalações elétricas, mecânicas, hidráulicas, rede de telefonia, porta detectora de metais, sistemas de automação bancária, Instalações elétricas e industriais, sistema de iluminação, alarmes, sistema de telecomunicações, etc., e que na DIPJ 2003, anocalendário 2002, a empresa utilizou o coeficiente de presunção do lucro de 8% para toda a sua receita bruta anual, não tendo declarado receita sujeita ao coeficiente de 32%, mesmo tendo inúmeros tipos de prestação de serviços, fls. 37 e 38. No Termo de Início de Fiscalização solicitamos, dentre outros itens, que a empresa justificasse a utilização do coeficiente de 8% para determinação do Lucro Presumido. No documento datado de 18/04/2006, fls. 68, a empresa solicitou prorrogação do prazo de atendimento do Termo de Início de Fl. 811DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 799 4 Fiscalização. No documento datado de 03/05/2006, fls. 70 a 71, a empresa informa que o número do CNAE utilizado na DIPJ2003 (74.209/99 Outros Serviços Técnicos Especializados) está inadequado. Que seria feita alteração cadastral para correção do CNAE para 45314 e 45330, pois a empresa tem como atividades principais a Execução de Obras de Construção e de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações. Informa, ainda, que a utilização do percentual de 8% é decorrente das Receitas da atividade no âmbito de execução de obras de Construção e de Infraestrutura para Energia Elétrica e Telecomunicações com a utilização concomitante de materiais e de mãodeobra. Em 05/05/2006 a empresa apresentou o documento da fl. 73 , acompanhado dos livros Diário, Razão, Livro de Apuração do ISS e Planilha com o levantamento da base de cálculo do IRPJ do anocalendário 2002, dentre outros elementos. Intimamos a empresa em 04/08/2006, fl. 27, a apresentar cópia dos contratos com clientes e das notas fiscais de prestação de serviços do anocalendário 2002. Em 03/08/2006 a empresa apresentou os documentos solicitados, fl. 74. Em 13/09/2006 solicitamos talonário com todas as notas fiscais do anocalendário 2002, fl. 28. Em 15 de setembro o contribuinte apresentou pastas com as notas fiscais solicitadas, fl. 75. Em 22/09/2006 intimamos novamente a empresa a apresentar as notas fiscais que não estavam nas pastas; cópia dos contratos com as empresas CROMEX, POLITEC e TELEBAHIA CELULAR; talão das notas fiscais de ns° 1699 a 1750, informada na planilha como “talão em branco”; e Relação dos bens e direitos integrantes do ativo permanente da empresa fls. 29 e 30. Em 28/09/2006 a empresa apresentou as notas fiscais que faltavam e em 06/10/2006 os documentos restantes, fls. 76, 77 e 78. Da análise dos documentos apresentados, verificamos que: A empresa além de realizar obras de construção civil, realiza outros tipos de prestações de serviços que não se configuram como obras de construção civil e mesmo com empregos de materiais não fazem jus ao coeficiente de presunção do lucro de 8%, conforme diversos contratos e notas fiscais anexos às fls.122 a 686; Alguns contratos como o realizado com a TELEBAHIA CELULAR, por exemplo, tratase de serviço de MANUTENÇÃO PREVENTIVA, que consiste, segundo o item 3.1.1 do mesmo, fl..616, “num programa de atividades a serem realizadas periodicamente, através de acesso local ou remoto em cada EQUIPAMENTO, incluindo: verificações, correções de Fl. 812DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 800 5 anormalidades, ajustes, testes, medições, limpezas internas e externas, levantamentos, bem como a análise e substituição/reparo de unidades, placas, peças, módulos, cartões impressos, componentes, sobressalentes e também suas instalações, detectando e removendo irregularidades de modo a não causarem prejuízos ao desempenho do sistema, mantendoos de acordo com as respectivas especificações”. Da mesma forma, no Anexo III, fls. 646 a 647, verificamos alguns tipos de serviços a serem realizados como: limpeza de salas/instalações; poda de grama; retirada de folhas e capim seco e de todo e qualquer lixo e detrito em geral, dentre outros; Na Planilha apresentada pela empresa, fls.89 a 106, diversas notas fiscais correspondem a prestação de serviços sem emprego de materiais. Pela justificativa apresentada no documento de fl. 71, observamos que o contribuinte utilizou o coeficiente de 8% aplicado para o caso de CONSTRUÇÃO CIVIL POR EMPREITADA, porém segundo o Ato Declaratório Normativo COSIT n° 06, de 13 de janeiro de 1997 e as Soluções de Consulta SRRF/9RF/DISIT n° 45, de 27 de abril de 2000 e SRRF/6ªRF/DISIT n° 178, de 26 de maio de 2004, a utilização do percentual de 8% somente é cabível para as OBRAS de CONSTRUÇÃ0 CIVIL, com emprego de materiais. Como exemplo destas obras temos a construção de estradas e semelhantes, a edificação de prédios, pontes, viadutos, diques, portos, mirantes, reservatórios de água, barragens, pavimentação e terraplanagens, assim como outras que apresentem características semelhantes. Da mesma forma, NÃO CARACTERIZA construção as atividades relativas a manutenção, reparos, reposição de partes, peças ou de natureza semelhante, ou mesmo aquelas exclusivamente de montagem ou instalação, cujo percentual será de 32% para o IRPJ, observandose o comando do RIR/99, art. 519, parágrafos 1°, inciso III, letra “a”, e 3°. Como o contribuinte possui atividades diversificadas, deveria aplicar o percentual correspondente a cada atividade. Efetuamos o lançamento considerando o coeficiente correspondente a cada atividade, analisando todas as notas fiscais do anocalendário 2002, apurando a Receita mensalmente e trimestralmente, conforme Planilha anexa às fls. 14 a 22 , onde dividimos as Receitas em três tipos e em colunas diferentes: As Receitas de Notas Fiscais sem utilização de Material, as Receitas de Notas Fiscais não caracterizadas como Obras de Construção Civil e as Receitas de Notas Fiscais que mantivemos como Obras de Construção Civil, com emprego de materiais, onde aplicamos o coeficiente de 8%. Ressaltamos que foram diminuídos dos valores devidos trimestralmente, os valores do Imposto de Renda Retido na Fonte (Informado na DIPJ2003) e os valores pagos e/ou declarados em DCTF em cada trimestre do anocalendário Fl. 813DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 801 6 2002, conforme planilhas anexas, elaboradas pela fiscalização às fls. 11 a 13. (grifos acrescidos) A Planilha de fls. 14 a 22, que indica o tratamento dado a cada uma das notas fiscais emitidas, também sintetiza as conclusões dos trabalhos de auditoria: PA Base Cálculo Receita Para Receita Para Utilizada P/ Apuração Apuração Contribuinte Base Cálculo Base Cálculo 32% 8% Total 1º Trimestre 956.469,58 312.256,26 644.213,32 Total 2º Trimestre 728.010,38 292.453,76 435.556,62 Total 3º Trimestre 994.749,64 560.196,37 443.481,00 Total 4º Trimestre 626.811,45 300.744,65 326.066,80 Instaurada a fase litigiosa, com a impugnação de fls. 688 a 738, e conforme descrito na decisão de primeira instância, Acórdão nº 1518.291 (fls. 752 a 756), a Contribuinte questionou a exigência fiscal nos seguintes termos: a) "a Fiscalização da Receita Federal lavrou o Auto de Infração em epigrafe, apontando duas infrações, sendo a 001 (“Receitas de Atividades”) e a infração 002 (“Aplicação indevida de coeficiente de determinação do lucro”) e que “em relação à infração 002, o entendimento da Fiscalização foi que a ora Impugnante utilizou indevidamente o coeficiente de presunção do lucro de 8%, argumentando que além de realizar obras de construção civil, realiza outros tipos de prestações de serviços que não se configuram como obras de construção civil e mesmo com emprego de materiais não fazem jus ao coeficiente de presunção de 8%”; b)“conforme restará demonstrado ao longo da presente peça impugnativa, o Auto de Infração ora atacado não merece prosperar pois a atividade e os contratos da impugnante são todos relacionados à atividade de construção civil”; c) “quanto à questão do número do cadastro CNAE utilizado, a impugnante já esclareceu, durante a ação fiscal que foi um erro e que as suas atividades são sim de construção civil conforme reconheceu a própria Fiscalização no bojo do Auto de Infração”; d) “o problema todo é que a impugnante não possui atividades diversificadas, como entendeu a Fiscalização, mas apenas uma atividade que é a de construção civil em geral”; e) “a partir de um único contrato a Impugnante realiza atividade de construção civil em geral, e dentro dessa atividade executa serviços de engenharia, instalação e manutenção, emitindo notas Fl. 814DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 802 7 fiscais individuais para cada serviço realizado, mas todos os serviços ligados a um contrato de construção civil”; f) “conforme art. 279 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR/99) a receita bruta é aquela auferida no contrato. O preço dos serviços referese a um contrato, e em razão disso a segregação de notas fiscais isoladas (como fez a Fiscalização) não significa que cada nota referese a um contrato O certo é que durante a vigência de um contrato a receita bruta da impugnante foi auferida pelo somatório das notas fiscais e no cumprimento do contrato e pela atividade executada são fornecidos materiais, o que prova o equívoco da Fiscalização, que se restringiu às notas fiscais e não ao contexto do contrato e da atividade executada pela Impugnante”; g) “ocorre que existem notas fiscais de serviços que envolvem a mãodeobra especializada de engenharia e também o uso de equipamentos de alta tecnologia aplicados ao trabalho. Mas, no caso da Impugnante, sempre o contexto do contrato referese a serviços de construção civil”; h) juntou cópia autenticada do seu Contrato Social (DOC 03), “a fim de provar que exerce a atividade de construção civil em geral, bem como é especializada no ramo de telecomunicações, eletricidade e eletrônica, como se depreende pela leitura da sua cláusula segunda” e que “resta provado, assim, que a impugnante exerce a atividade de construção civil em geral, inclusive é especializada na elaboração de projetos, execução de instalações, montagens, manutenção e prestação de serviços em geral para telecomunicações, eletricidade e eletrônica. Como prova que exerce a atividade de construção civil em geral, a Impugnante junta à presente defesa cópia autenticada da Certidão de Registro e Quitação no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Bahia — CREABA (DOC 04)”; i) “outra alegação feita pela Fiscalização, para justificar seu entendimento de que a Impugnante possui atividades diversificadas, foi o Ato Declaratório COSIT 06/97. Só que é preciso observar que um Ato Declaratório é uma norma de caráter infralegal (abaixo da “lei”), não tendo força vinculante sobre os particulares (contribuintes), não os obrigando, uma vez que nem mesmo recebe a divulgação necessária (publicidade)” e assim “fica claro que a Fiscalização não pode afirmar que houve desrespeito da “norma” citada por parte da ora Impugnante, uma vez que o Ato Declaratório é uma norma infra legal”; j) “caso V. Sas. não se convençam de plano quanto à improcedência do Auto de Infração, a Impugnante requer a realização de diligência fiscal, conforme quesitos anexos, no sentido de que seja designado um Auditor Fiscal estranho à fiscalização originária, com a finalidade específica de promover a apuração da receita bruta da Impugnante, levandose em consideração todos os serviços executados pela Impugnante em Fl. 815DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 803 8 cada contrato” e que “motiva o citado pedido de diligência o fato de que a impugnante deseja fazer prova em contrário”; k) “resta provado, portanto, que: a Impugnante exerce a atividade de construção civil em geral, inclusive é especializada na elaboração de projetos, na execução de instalações, montagens, manutenção e prestação de serviços em geral para telecomunicações, eletricidade e eletrônica (conforme arts 7, I, 8, I e 9, I da Resolução 218, do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia)”. Finaliza a sua defesa requerendo o cancelamento e arquivamento do Auto de Infração. Como mencionado, a DRJ Salvador/BA considerou procedente o lançamento, expressando suas conclusões com a ementa abaixo: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Anocalendário: 2002 PEDIDO DE DILIGÊNCIA. É de ser indeferido o pedido de diligência quando os fatos relatados e as provas constantes dos autos são suficientes para o deslinde da questão. ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA — IRPJ Anocalendário: 2002 RECEITAS NÃO DECLARADAS. MATÉRIA NÃO IMPUGNADA. Considerase não impugnada a matéria que não tenha sido expressamente contestada pela Contribuinte. LUCRO PRESUMIDO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EM GERAL. UTILIZAÇÃO DE MATERIAL. PERCENTUAL. Na atividade de prestação de serviços em geral, o percentual a ser aplicado sobre a receita bruta da empresa optante pelo lucro presumido para determinação da base de cálculo do imposto de renda será de 32% (trinta e dois por cento), ainda que utilize material na prestação de serviços. O percentual de oito por cento, aplicase apenas à atividade de construção civil quando houver fornecimento de material. Lançamento Procedente Inconformada com essa decisão, da qual tomou ciência em 25/05/2009, a Contribuinte apresentou em 22/06/2009 o recurso voluntário de fls. 761 a 786, onde reitera as mesmas razões de sua impugnação, conforme descrito nos parágrafos anteriores. Este é o Relatório. Fl. 816DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 804 9 Voto Conselheiro José de Oliveira Ferraz Corrêa, Relator. O recurso é tempestivo e dotado dos pressupostos para a sua admissibilidade. Portanto, dele tomo conhecimento. Conforme relatado, a matéria em litígio diz respeito a lançamento para a exigência de IRPJ/Lucro Presumido referente a fatos geradores ocorridos nos trimestres do anocalendário de 2002. A Fiscalização imputou à Contribuinte duas infrações: 1 não declaração da receita auferida com a nota fiscal n° 1025, emitida no mês de julho/2002; e 2 aplicação indevida do coeficiente para a determinação do lucro presumido nos quatro trimestres de 2002. A Contribuinte aplicou sobre a receita bruta apenas o coeficiente de 8%, quando deveria ter considerado que parte de sua atividade estava submetida ao coeficiente de 32%, referente à prestação de serviços. Na fase de impugnação já não houve contestação em relação à primeira infração. Portanto, o litígio abrange somente a segunda infração. PEDIDO DE PERÍCIA Em sede de recurso voluntário, a Contribuinte renovou o pedido de perícia, com os seguintes quesitos: 1) Queira o Sr. Auditor Fiscal responder se os serviços previstos nos contratos firmados pela Recorrente se enquadram no conceito de CONSTRUÇÃO CIVIL? 2) Caso positiva a resposta ao item 1, é possível informar com exatidão se a receita bruta da Recorrente é formada pela remuneração de serviços de CONSTRUÇÃO CIVIL? 3) Os serviços faturados pela Recorrente, e que estão elencados no Auto de Infração de forma isolada, referemse a um Contrato onde o objeto é o serviço de Construção Civil (mesmo sendo serviços auxiliares ou complementares) ??? Ou seja, o Sr. Auditor Diligente confirma que os tais serviços, separados pela Autuante neste Auto de Infração, fazem parte de Contratos “mãe”, cujo objeto é a prestação de serviços na área da Construção Civil, e que no contrato há, sim, a previsão de fornecimento de material ??? Fl. 817DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 805 10 Esse mesmo pedido de perícia foi indeferido pela Delegacia de Julgamento, conforme os fundamentos abaixo: No presente caso, as infrações apuradas pelo Fisco estão fartamente documentadas, não precisando encaminhar o processo para realização de diligência ou perícia. No tocante ao requerimento de diligência e diante do anteriormente explicitado, indefiroo tendo em vista que os fatos relatados e as provas constantes nos autos são suficientes para o deslinde da matéria e, portanto, constam nos autos todos os elementos para a formulação da livre convicção do julgador em consonância com o art. 18 do Decreto n.° 70.235 de 1972, que regulou o Processo Administrativo Fiscal (PAF), nesses termos: Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendêlas necessárias, indeferido as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observado o disposto no art. 28, in fine. (Redação dada pelo art. 1° da Lei n° 8.748/93). Dessa forma, conforme o dispositivo acima transcrito, indefiro o pedido de realização de perícia, pois prescindível ao deslinde da questão. Realmente, a Fiscalização juntou aos autos uma farta documentação colhida ao longo dos trabalhos de auditoria, referente a notas fiscais, contratos e outros documentos que evidenciam as atividades desenvolvidas pela Contribuinte (fls. 34 a 686). Além disso, a Planilha de fls. 14 a 22 indica o tratamento dado a cada uma das notas fiscais emitidas pela Recorrente, em vista dos documentos referidos acima. Nestes termos, a perícia revelouse mesmo desnecessária, conforme restará melhor demonstrado adiante, na análise de mérito, de modo que mantenho o indeferimento do pedido. MÉRITO A Recorrente argumenta que realiza a atividade de construção civil em geral, firmando um único contrato, e que dentro dessa atividade ela executa diversos serviços de engenharia, instalação e manutenção, emitindo notas fiscais individuais para cada serviço realizado, mas todos estes serviços estariam sempre ligados a um contrato de construção civil. No intuito de demonstrar que sua atividade é mesmo a construção civil, a Recorrente faz várias incursões sobre as normas que regulamentam a profissão de engenheiro. As informações descritas no auto de infração, contudo, evidenciam a execução de muitas atividades que embora relacionadas à engenharia, estão submetidas ao coeficiente de 32%, e não de 8%. É o caso, por exemplo, dos contratos de serviços de manutenção preventiva. Fl. 818DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 806 11 Tais informações estão transcritas no relatório que antecede o voto, com os devidos destaques. Além delas, vale também registrar os fundamentos da decisão recorrida, que também teceu comentários detalhados sobre os documentos que compõe os autos: Para provar suas alegações, o impugnante juntou cópia autenticada do seu Contrato Social (DOC 03), “a fim de provar que exerce a atividade de construção civil em geral, bem como é especializada no ramo de telecomunicações, eletricidade e eletrônica, como se depreende pela leitura da sua cláusula segunda” e cópia autenticada da Certidão de Registro e Quitação no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia da Bahia — CREABA (DOC 04). Entretanto tais meios de prova, isoladamente, não têm o condão de comprovar que a totalidade das atividades exercidas pelo impugnante era estritamente de construção civil. Necessário, então, analisar os contratos celebrados pelo contribuinte, com o fim de se constatar o que fora alegado na sua defesa Analisando os contratos realizados pelo impugnante, dentre os quais o celebrado com a VIVO, verificase que o objeto do contrato prevê diversos serviços detalhados nos seus anexos (fl 612) conforme transcrito a seguir. “Prestação de serviços de manutenção preventiva e corretiva em sistemas de rádio freqüência, infraestrutura e zeladoria nas instalações da planta da VIVOBA, sendo a sua área de autuação a região Bahia 01” (Anexo I). Neste mesmo contrato foram discriminados os serviços de manutenção preventiva no item 3.1.1 (fl. 616), que “consiste num programa de atividades a serem realizadas periodicamente, através de acesso local ou remoto em cada equipamento, incluindo: verificações, correções de anormalidades, ajustes, testes, medições, limpezas internas e externas, levantamentos, bem como a análise e substituição/reparo de unidades, placas, peças, módulos, cartões impressos, componentes, sobressalentes e também suas instalações, detectando e removendo irregularidades de modo a não causarem prejuízos ao desempenho do sistema, mantendoos de acordo com as respectivas especificações”. No Anexo III do mesmo contrato (fls 646 e 647), foram especificados diversos serviços, dentre os quais, limpeza de salas/instalações, poda de grama, retirada de folhas e capim seco e de todo lixo e detrito em geral. Tais informações contratuais ratificam os diversos serviços anunciados pela autuada na sua página da internet (fl. 34): a) Manutenção — instalações elétricas, mecânicas, hidráulicas, cabeamento estruturado, dentre outros; b) Obras de engenharia — edificações civis, instalações elétricas prediais, etc; Fl. 819DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 807 12 c) Telecomunicações — atuação nos sites de telefonia celular móvel com manutenção das instalações prediais, etc. Ante o exposto, concluise que a empresa autuada efetivamente prestava diversos tipos de serviços (atividades diversificadas), o que afasta o argumento da defesa de que prestava apenas serviços de construção civil, suscitando o art. 279 do RIR/1999 para subsidiar a sua alegação de que “a receita bruta é aquela auferida no contrato; O preço dos serviços referese a um contrato, e em razão disso a segregação de notas fiscais isoladas (como fez a Fiscalização) não significa que cada nota referese a um contrato”. Entretanto, esta declaração não encontra amparo no mencionado dispositivo, que trata do conceito de receita bruta sem qualquer referência a contratos, conforme transcrição a seguir. Art.279. A receita bruta das vendas e serviços compreende o produto da venda de bens nas operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado auferido nas operações de conta alheia (Lei nº 4.506, de 1964, art. 44, e DecretoLei nº 1.598, de 1977, art. 12). Em nenhum momento o autuante tratou as notas fiscais como se fossem oriundas de contratos isoladas, pelo contrário, a autuação foi embasada nos serviços especificados nos contratos, que, conforme já analisado, englobam diversas atividades de prestação de serviços. Nesta situação, quando do cálculo do IRPJ apurado pela sistemática do Lucro Presumido, o exercício de atividades diversificadas está disciplinado no § 3º do art. 519 do Regulamento do Imposto de Renda, aprovado pelo Decreto n° 3.000, de 26/03/1999 RIR/1999), que exige a aplicação do percentual correspondente a cada uma das atividades, conforme a seguir. (...) Somente a atividade de construção por empreitada, se houver fornecimento de materiais pela contratada, submetese ao coeficiente de 8%, nos termos do Ato Declaratório Normativo COSIT n° 06 de 13 de janeiro de 1997. Assim, na atividade de prestação de serviços em geral, o percentual a ser aplicado sobre a receita bruta da empresa optante pelo lucro presumido para determinação da base de cálculo do imposto de renda será de 32% (trinta e dois por cento), ainda que utilize material na prestação de serviços. O percentual de oito por cento, aplicase apenas à atividade de construção. Apesar do contribuinte ter alegado que o mencionado Ato Declaratório é norma de caráter infralegal, não obrigando os particulares a obedecêla, “uma vez que nem mesmo recebe a divulgação necessária”, cabe ressaltar que o mesmo foi Fl. 820DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 808 13 publicado no Diário Oficial da União em 15/01/1997, e, portanto, afastada a tese de ausência de publicidade. Ademais, o Ato Declaratório é espécie de norma complementar prevista no art. 100, I, do Código Tributário Nacional (atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas), vinculando a fiscalização, não cabendo ao auditor fiscal desconsiderálo. Por outro lado, se fosse efetivamente desconsiderado o Ato Declaratório, conforme pleiteado pelo contribuinte, aplicarseia o percentual de 32% para todas as suas receitas auferidas, visto que este é o percentual previsto em lei para a atividade de prestação de serviço em geral. Cabe ressaltar que o auditor fiscal utilizou como enquadramento legal do presente auto de infração, os artigos 518 e 519 do RIR/1999 (fl. 06), referentes aos percentuais do lucro presumido, não se restringindo ao aludido Ato Declaratório. Os elementos presentes nos Autos, portanto, demonstram ser correta a aplicação dos coeficientes de 8% e 32% para a apuração do Lucro do impugnante, e assim, mantenho os lançamentos do IRPJ relativos ao anocalendário de 2002 na sua totalidade. O principal aspecto da controvérsia não é saber se a atividade desenvolvida pela Recorrente está ou não relacionada à profissão de engenheiro, ou mais especificamente à construção civil, se é fiscalizada pelo CREA, etc. Ninguém tem dúvidas de que, por exemplo, a elaboração de um projeto para a construção de um edifício, ou de um projeto elétrico, etc., deve ser realizado por profissional devidamente habilitado. Mas isso não significa dizer que por estar relacionado à engenharia, à construção civil, a tributação deste serviço pelo IRPJ/Lucro Presumido se dará mediante a aplicação do coeficiente de 8%. Nesse sentido, vale registrar que a menção ao ADN COSIT Nº 6/1997 serviu apenas para evidenciar uma interpretação que justifica a aplicação do coeficiente de 8% para a atividade de construção por empreitada, quando há fornecimento de materiais pela contratada. É que a atividade de construção com emprego de materiais próprios, quando a construtora entrega para o cliente a obra pronta, se assemelha mais a uma compra e venda do que à prestação de um serviço, em razão da proporção dos custos envolvidos e, nesse caso, é razoável que o lucro seja presumido com o coeficiente de 8%. Situação diferente ocorre com a prestação de serviço, ainda que seja serviço de profissão regulamentada, ou de serviços em geral, mesmo com emprego de material, cuja presunção do lucro se dá pela aplicação do coeficiente de 32%, nos termos do art. 15, § 1º, III, “a”, da Lei nº 9.249/1995. Vêse que apesar da detalhada análise feita pela Fiscalização sobre os contratos e cada uma das notas fiscais emitidas, a Contribuinte optou, desde a fase de impugnação, por atacar genericamente as conclusões do trabalho de auditoria, fazendo muitos Fl. 821DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA Processo nº 10580.009142/200614 Acórdão n.º 180200.980 S1TE02 Fl. 809 14 comentários em torno de noções teóricas que caracterizam a atividade de construção civil e a profissão de engenheiro, e requerendo perícia para que restassem comprovadas as suas alegações, quando deveria ter apresentado documentos capazes de efetivamente comproválas, ou ao menos confrontado individualmente as conclusões da Fiscalização, a partir dos inúmeros documentos contidos nos autos. Como já mencionado, a Planilha de fls. 14 a 22, que indica o tratamento dado pela Fiscalização a cada uma das notas fiscais emitidas, também sintetiza as conclusões do trabalho de auditoria: PA Base Cálculo Receita Para Receita Para Utilizada P/ Apuração Apuração Contribuinte Base Cálculo Base Cálculo 32% 8% Total 1º Trimestre 956.469,58 312.256,26 644.213,32 Total 2º Trimestre 728.010,38 292.453,76 435.556,62 Total 3º Trimestre 994.749,64 560.196,37 443.481,00 Total 4º Trimestre 626.811,45 300.744,65 326.066,80 Em sede de recurso voluntário, a Contribuinte adotou a mesma estratégia anterior, reiterando os argumentos contidos em sua impugnação, e, por isso, não conseguiu infirmar a prova produzida pela Fiscalização, nem refutar os fundamentos transcritos acima, pelo que os adoto nesta decisão, para também manter o lançamento. Diante do exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso. (assinado digitalmente) José de Oliveira Ferraz Corrêa Fl. 822DF CARF MF Impresso em 17/10/2011 por ANDREA FERNANDES GARCIA CÓ PI A Autenticado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 10/10/2011 por JOSE DE OLIVEIRA FERRAZ CORREA, Assinado digitalmente em 15/10/2011 por ESTER MARQUES LINS DE SOUSA
score : 1.0
Numero do processo: 12466.001851/2010-61
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed Aug 30 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Oct 05 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Normas de Administração Tributária
Período de apuração: 28/02/2005 a 26/01/2006
DECADÊNCIA. INFRAÇÕES ADUANEIRAS. A decadência em matéria aduaneira é regida pelo art. 139 do Decreto-lei nº 37/66, que determina o prazo de decadencial de 5 anos para impor penalidades, a contar da data da infração, no caso, o registro da declaração de importação.
Recurso de Ofício Negado
IMPORTAÇÃO. FRAUDE NÃO DEMONSTRADA. PENA DE PERDIMENTO INCABÍVEL.
A medida extrema de perdimento dos bens somente se mostra cabível quando demonstrada cabalmente as fraudes por artifícios dolosos e documentação emitida com falsidade ideológica imputadas ao contribuinte.
ÔNUS DA PROVA. CONSTITUIÇÃO DO FATO JURÍDICO-TRIBUTÁRIO.
É ônus da fiscalização munir o lançamento com todos os elementos de prova dos fatos constituintes do direito da Fazenda. Na ausência de provas, o lançamento tributário deve ser cancelado.
Recursos Voluntários Providos
Numero da decisão: 3301-003.975
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado; por maioria de votos, em dar provimento aos recursos voluntários, vencidos os Conselheiros Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho (Relator) e Liziane Angelotti Meira; e, por unanimidade, em negar provimento ao recurso de ofício; nos termos do relatório e votos que integram o presente julgado. Foi designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Semíramis de Oliveira Duro.
(ASSINADO DIGITALMENTE)
José Henrique Mauri - Presidente substituto.
(ASSINADO DIGITALMENTE)
Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho - Relator.
(ASSINADO DIGITALMENTE)
Semíramis de Oliveira Duro - Redatora designada.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: José Henrique Mauri (Presidente substituto), Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Marcos Roberto da Silva, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen.
Nome do relator: ANTONIO CARLOS DA COSTA CAVALCANTI FILHO
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E GRADIENTE ELETRÔNICA S.A. (IGB ELETRÔNICA S.A.) FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: NORMAS DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA Período de apuração: 28/02/2005 a 26/01/2006 DECADÊNCIA. INFRAÇÕES ADUANEIRAS. A decadência em matéria aduaneira é regida pelo art. 139 do Decretolei nº 37/66, que determina o prazo de decadencial de 5 anos para impor penalidades, a contar da data da infração, no caso, o registro da declaração de importação. Recurso de Ofício Negado IMPORTAÇÃO. FRAUDE NÃO DEMONSTRADA. PENA DE PERDIMENTO INCABÍVEL. A medida extrema de perdimento dos bens somente se mostra cabível quando demonstrada cabalmente as fraudes por artifícios dolosos e documentação emitida com falsidade ideológica imputadas ao contribuinte. ÔNUS DA PROVA. CONSTITUIÇÃO DO FATO JURÍDICO TRIBUTÁRIO. É ônus da fiscalização munir o lançamento com todos os elementos de prova dos fatos constituintes do direito da Fazenda. Na ausência de provas, o lançamento tributário deve ser cancelado. Recursos Voluntários Providos Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, acordam os membros do colegiado; por maioria de votos, em dar provimento aos recursos voluntários, vencidos os Conselheiros Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho (Relator) e Liziane Angelotti Meira; e, por unanimidade, em negar provimento ao recurso de ofício; nos termos do relatório e votos AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 12 46 6. 00 18 51 /2 01 0- 61 Fl. 1406DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.407 2 que integram o presente julgado. Foi designada para redigir o voto vencedor a Conselheira Semíramis de Oliveira Duro. (ASSINADO DIGITALMENTE) José Henrique Mauri Presidente substituto. (ASSINADO DIGITALMENTE) Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho Relator. (ASSINADO DIGITALMENTE) Semíramis de Oliveira Duro Redatora designada. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: José Henrique Mauri (Presidente substituto), Liziane Angelotti Meira, Marcelo Costa Marques D'Oliveira, Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Marcos Roberto da Silva, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen. Relatório Tratase de recursos voluntários e de recurso de ofício interpostos contra o Acórdão nº 0738.237, proferido pela 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Florianópolis, no qual a impugnação foi dada por procedente em parte, tendo sido excluídos determinados valores de crédito tributário em razão da decadência do direito de constituílos. O presente processo administrativo traz lançamento de multa equivalente ao valor aduaneiro. Esta foi aplicada por terem sido consumidas as mercadorias sob autuação, após incidir a penalidade de perdimento; por ocultação do real adquirente e comprador das mercadorias no exterior, a GRADIENTE ELETRÔNICA S/A, que foi incluída como solidária na autuação; e pela utilização de documentos ideologicamente falsos. Tudo conforme descrito e documentado pela fiscalização. Por bem descrever os fatos, adoto o relatório constante do acórdão recorrido, na parte que interessa ao presente voto: As importações em análise (tabela fl. 04) foram registradas por conta e risco (sic) próprio da empresa COTIA TRADING S.A., contudo, registra a autoridade fiscal que constatou que as mercadorias foram fabricadas na China por conta e ordem da empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A., que foi a real compradora das mercadorias no exterior, real importadora e real adquirente no mercado nacional (sic), assumindo todos os custos das operações de importação. Relata a autoridade fiscal que os recursos utilizados para realização das operações de importação foram financiados pela empresa COTIA TRADING S.A., refletindo um subterfúgio, a fim de transparecer, como próprias, as Fl. 1407DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.408 3 operações que eram realizadas por ordem de terceiros. O financiamento tem por objetivo dar credibilidade na operação simulada. Informa também a autoridade fiscal que os fornecedores (fabricantes no exterior) e a empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A., foram os que acertaram as condições dos contratos de compra e venda, definindo mercadorias, preços efetivos, formas de pagamento, etc., que representa a operação real, aquelas que os intervenientes intentaram ocultar. Acertadas as condições, as mercadorias foram embarcadas consignadas à empresa COTIA TRADING S.A. que registrou as declarações de importação obedecendo aos valores constantes nas faturas internacionais apresentadas. A autoridade fiscal aponta algumas vantagens na simulação perpetrada pelas empresas: Segurança em relação à fiscalização, visto que os elementos que revelam as efetivas transações comerciais permanecem ocultos; Quebra da cadeia do imposto sobre produtos industrializados, visto que a empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A. deveria ser equiparada à empresa industrial, esquivandose assim de obrigações tributárias principais e acessórias, obtendo substancial vantagem fiscal indevida; Informa a autoridade fiscal que a empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A. está habilitada para atuar como interveniente no comércio internacional desde 27/12/2002 e poderia ter sido apresentada como importadora, seja por conta própria, seja através de terceiros (por sua conta e ordem ou como encomendante), atendendo ainda a legislação do imposto sobre produtos industrializados, o que não o fez, demonstrando sua intenção de se manter à margem da legislação, utilizandose de interpostas pessoas para promover o comércio de mercadorias importadas. A fiscalização, com vistas a demonstrar o modus operandi adotado pela empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A., traz aos autos provas emprestadas do processo administrativo fiscal n° 12466.002687/200976. Com relação à tais documentos indica que se tratam de operação de importação em que a empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A. utilizou outro interveniente com vistas a realizar operação de importação de mercadorias do mesmo tipo que é objeto da presente autuação, restando demonstrado a natureza das mercadorias e os necessários ajustes pelo fabricante no exterior para que as mesmas possam ser adequadas às especificações determinadas pela real adquirente, a empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A. Adicionalmente informa que três dos quatro exportadores do presente processo, são os mesmos exportadores identificados naquele processo. Conforme relatado à folhas 23 e 24, o negócio real, era efetuado nos seguintes moldes: 1. A GRADIENTE interessada em reduzir seus custos, e aumentar a sua competitividade, passou a comercializar produtos fabricados na CHINA. Fl. 1408DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.409 4 Para isso localizou fabricantes de eletroeletrônicos nesse País, através de escritório próprio estabelecido para esse fim, em Shenzen (sul do País). Uma vez localizado o fabricante, combinaram os principais pontos, quantidades, preços, itens da customização, prazos e demais condições do negócio real. 2. Uma vez acertadas as condições, definidas as quantidades totais, com base em schedule estipulando as datas de produção e embarque, nas datas próprias, a GRADIENTE passou a formular os pedidos ao fabricante (exemplo fls. 119 a 121); O fabricante promoveu a produção das encomendas, que quando concluídas foram inspecionadas a pedido da GRADIENTE (exemplo do relatório fls. 122 a 125). Aprovadas as mercadorias e definida a data de embarque, a GRADIENTE, considerando os preços negociados formulou os pedidos destinados à COTIA, que passou a cuidar dos demais trâmites para os embarques e nacionalização das mercadorias. 3. Em posse do pedido recebido, a COTIA, coordenou a parte logística da operação, preparou os pagamentos antecipados ou contratou as cartas de crédito, conforme o caso. 4. Seguiuse então o transporte internacional e a nacionalização a cargo da COTIA, e as entregas acobertadas por notas fiscais de venda de mercadorias já nacionalizadas. Os argumentos apresentados pela autoridade fiscal objetivam comprovar que o importador, empresa COTIA TRADING S.A., e o adquirente, empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A., praticaram diversas irregularidades em suas operações de importação, todas com vistas a reduzir tributos devidos ou a simular situação distinta da realidade, com a finalidade de descaracterizar a incidência do imposto sobre produtos industrializados, calculados sobre a diferença entre a compra e venda, na saída dos produtos importados colocados a consumo pela real importadora, a empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A., que se manteve oculta em todas as declarações formuladas perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil. Portanto, ambas empresas praticaram simulação fraudulenta, ocultação do real comprador, falsificação de documentos e prestaram informações falsas à Secretaria da Receita Federal do Brasil. Em síntese, a pessoa jurídica importadora, empresa COTIA TRADING S.A., não participou das transações comerciais que originaram as importações das mercadorias. Participou, entretanto, de simulações de importações por conta própria, em acordo simulatório com o real adquirente das mercadorias. Logo, sua atividade dizia respeito ao despacho aduaneiro das mercadorias importadas, ou seja, é de se dizer que atuava por conta e ordem do real adquirente das mercadorias de procedência estrangeira. Indica também a autoridade fiscal que ocorreu simulação e falsidade ideológica em todas as declarações de importação feitas e registradas no SISCOMEX, falsidade ideológica nos conhecimentos de embarque (BL´s) e faturas internacionais apresentados. Fl. 1409DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.410 5 Informa a autoridade fiscal que a conduta perpetrada pelas interessadas causou dano ao Erário (fls. 49 a 57), apresentando demonstrativo de cálculo do imposto sobre produtos industrializados que deixou de ser recolhido pela filial da empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A. (CNPJ n° 43.185.362/002827), destinatária das mercadorias importadas, conforme notas fiscais de venda da empresa COTIA TRADING S.A. Informa que fez a devida Representação Fiscal para Fins Penais, processo administrativo n° 12466.001852/201014. Intimada, a empresa COTIA TRADING S.A. apresentou impugnação às folhas 550 a 599, anexando os documentos de folhas 600 a 608. Em síntese, traz as seguintes alegações: Que, há nulidades na autuação, visto que deveriam ser lavrados autos de infração distintos para cada contribuinte; a revisão aduaneira não se destina a aplicar a pena de perdimento de mercadoria já desembaraçada; Que, a conversão do perdimento em multa somente é admitida no caso de mercadoria não localizada ou que tenha sido consumida. No presente caso, a mercadoria foi desembaraçada e comercializada no País, não sendo o caso de mercadoria extraviada ou perdida (não localizada), nem mesmo de mercadoria que pereceu, evaporou, desapareceu ou foi roubada (consumida), o que impede a aplicação da penalidade, em razão do princípio da estrita legalidade; Que, a ciência do auto de infração foi dada em 23/07/2010, houve inequívoca decadência para as declarações de importação registradas antes de 23/07/2005; Que, a autuação é ilegal devido à falta de amparo em Mandado de Procedimento Fiscal válido, violando o princípio constitucional do devido processo legal; Que, a impugnante contratou o câmbio, recebeu a fatura comercial e os conhecimento de transporte em seu nome (legítima proprietária da mercadoria conforme consignado nestes documentos), emitiu notas fiscais a título de compra e venda, além de contabilizar a operação como compra e venda de mercadorias de seu estoque. Não ocorreu mera prestação de serviço, mas sim operação de compra e venda de mercadorias importadas regularmente, mesmo que sob encomenda prévia; Que, não há como aplicar retroativamente o disposto na Lei n° 11.281/06, que criou nova hipótese de equiparação a industrial, tornando o encomendante um contribuinte do imposto sobre produtos industrializados. A mesma só pode atingir fatos geradores ocorridos após a publicação da referida lei, pois criou nova hipótese tributária. A importação para revenda a encomendante predeterminado não configura importação por conta e ordem de terceiros; Fl. 1410DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.411 6 Que, a análise da documentação anexada ao presente processo administrativo e utilizada no despacho aduaneiro de importação (faturas comerciais, declaração de importação, contrato de câmbio, conhecimento de transporte, packing list, notas fiscais), prova que a impugnante promoveu a importação em nome e com recursos próprios, sendo a real adquirente das mercadorias importadas, visando revendêlas no mercado nacional a um proponente comprador, a Gradiente; Que, para que as operações fossem consideradas como uma importação por conta e ordem de terceiros, estas deveriam preencher os requisitos das IN’s SRF n° 225/02 e 247/02, além do ADI SRF n° 07/02, o que não ocorreu no presente caso. O procedimento adotado pela impugnante está em conformidade com “interpretação fiscal constante de ato expedido pela Secretaria da Receita Federal”, afastando a aplicação de qualquer tipo de penalidade, consoante o artigo 610 do Regulamento Aduaneiro, além do artigo 101 do Decretolei n° 37/66; Que, a operação presumida pelo agente fiscal no presente auto de infração não encontra amparo legal, fático, probatório e, por tanto, “não fecha”. Meras presunções não provam efetivamente o alegado sem o amparo de outros elementos probatórios; Que, a alegação de ocultação do real adquirente, mediante fraude ou simulação, inclusive interposição fraudulenta não pode simplesmente ser presumida, mas sim provada de forma inequívoca, sob pena de cometer injustiças e atrocidades absurdas, além de inexplicáveis. Não havia obrigação legal que impusesse ao importador informar na declaração de importação quem era seu possível e futuro cliente comprador (imposição que viola o princípio da legalidade); Que, não houve adiantamento de recursos, pois todos os pagamentos da Gradiente foram posteriores ao faturamento da Cotia, a qual não pediu reembolso, mas sim realizou uma venda com pagamento parcelado, praxe comercial comum, legal e efetivamente realizada no presente caso, tendo em vista que a Cotia tinha comprovada capacidade econômicofinanceira, agiu com recursos próprios e, portanto, assumiu o risco comercial da operação; Que, houve claro intuito comercial por parte da impugnante ao realizar a operação de compra e venda muito mais lucrativa que uma mera prestação de serviços por conta e ordem; Que, a conversão da pena de perdimento após o desembaraço acarreta em penalização de valor superior ao que seria devido caso tais bens ainda não tivessem sido desembaraçados, isto é, a interessada recolheu os valores a título de tributos incidentes na operação de importação, e posteriormente, após o desembaraço sofre com penalização de 100% do valor aduaneiro, total absurdo. Viola princípios constitucionais da legalidade e da isonomia. Enriquecimento ilícito da União em detrimento aos contribuintes de boafé; Que, a presunção de falta de recolhimento de tributos, em especial do imposto sobre produtos industrializados, por equiparação a industrial do Fl. 1411DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.412 7 futuro cliente da impugnante é improcedente. A impugnante recolheu efetivamente todos os tributos correta e tempestivamente; Que, o conhecimento de transporte em seu nome comprova a propriedade das mercadorias importadas; Que, a aplicação da multa em trato afronta o princípio da proporcionalidade, o dano ao Erário alegado pelo fisco é muito menor que a penalidade imposta ao contribuinte; Que, somente o ato comissivo, a ação do importador em elaborar documento falso caracterizaria tal infração, o que não ocorreu no presente caso, pois a impugnante não elaborou tais faturas comerciais ou conhecimentos de transporte. Tais documentos foram elaborados pelo exportador, a impugnante apenas adquiriu os produtos, não tendo como e nem porque duvidar das informações ali constantes. Não há provas ou indícios de conduta delituosa, não há que se falar em falsidade ideológica nem material; Que, a prova emprestada utilizada é falha justamente por se equiparar a um mero indício, já que nem sempre o que ocorreu em um procedimento terá ocorrido em outro, a autoridade administrativa tem o dever de apurar os fatos; Que, a aplicação da multa substitutiva à pena de perdimento de mercadorias em sede de revisão aduaneira não encontra fundamento legal no enquadramento citado pela fiscalização. As mercadorias em trato já foram submetidas ao despacho aduaneiro, foram regularmente desembaraçadas. O enquadramento invocado destinase à aplicação da pena de perdimento nas hipóteses em que ainda não houve a conclusão do despacho aduaneiro de importação; Que, a autuação deveria estar limitada ao disposto no artigo 33 da Lei n° 11.488/07; Que, a impugnante não tem interesse comum com a Gradiente, na situação que constitui o fato gerador dos tributos em questão. É inaplicável a pretendida responsabilidade tributária da impugnante sobre as obrigações da Gradiente. As empresas possuem objetivos totalmente divergentes em suas operações; Requer seja declarada a nulidade do auto de infração, no mérito julgado insubsistente e improcedente, revogada a aplicação da pena de perdimento, alternativamente, seja reduzida para multa mais benéfica (10% do valor aduaneiro), por fim, que todas as intimações sejam feitas em nome da impugnante. Intimada, a empresa GRADIENTE ELETRÔNICA S/A. apresentou impugnação às folhas 615 a 635, anexando os documentos de folhas 636 a 705. Em síntese, traz as seguintes alegações: Fl. 1412DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.413 8 Que, para que seja configurada a importação por conta e ordem de terceiros, é condição determinante que a real adquirente tenha suportado todos os gastos e despesas decorrentes da operação a que deu mando. No caso dos autos a própria fiscalização atesta que as operações foram custeadas pela empresa importadora; Que, a impugnante agiu como adquirente de boa fé, ausente a responsabilidade tributária. Apenas adquiriu mercadorias da empresa autuada sem, contudo, participar de qualquer procedimento ou planejamento tendente a simular operações de importação, não participou do procedimento de internação das mercadorias; Que, para a configuração de presunção capaz de subsidiar uma autuação fiscal e, por via de consequência, a responsabilização de terceiro, é de fundamental importância que o fato conhecido esteja adequada e cabalmente provado. No caso há ausência de prova do fato ensejador da responsabilidade da impugnante. Sequer existe julgamento em definitivo nos autos do PA n° 12466.002687/200976 capaz de atestar a veracidade e seriedade das provas nele constante; Que, a pena aplicada à impugnante é patentemente inconstitucional; Requer seja recebida e acolhida a impugnação para o fim de que seja cancelado o auto de infração. Encaminhado o processo para julgamento em primeira instância, em 13/05/2011 foi prolatado, por unanimidade de votos, o Acórdão n° 0724.405 – 1ª Turma da DRJ/FNS, que julgou procedente a impugnação apresentada, cancelando o crédito tributário exigido. Ementa: Assunto: Obrigações Acessórias Período de apuração: 28/02/2005 a 26/01/2006 PENALIDADE. PROVAS. SUBSUNÇÃO DOS FATOS À NORMA. É ônus da fiscalização instruir o lançamento com todos os elementos de prova dos fatos constituintes da Fazenda. A caracterização da infração depende da subsunção dos fatos à norma legal, sem o que é impossibilitada a aplicação de penalidade. Apresentado o competente recurso de ofício, os autos foram encaminhados para a ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional, que apresentou razões com vistas ao provimento do recurso de ofício (fls. 762 a 774). Em síntese: inexistiu controvérsia sobre os fatos e para fatos incontroversos não é necessária prova; a participação de um terceiro elemento, oculto ao que se pudesse perceber numa análise da declaração de importação e/ou dos respectivos documentos instrutivos, já eram vedadas Fl. 1413DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.414 9 desde 2002; a multa do caput do artigo 33 da Lei n°11.488/2007 foi instituída para o fim de substituir a pena de inaptidão. Em 25/02/2015, a Terceira Seção de Julgamento, do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, prolatou o Acórdão n° 3404002.919 – 4ª Câmara/1ª Turma Ordinária do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (fls.777 a 790), por voto de qualidade, onde restou provido o recurso de ofício. A Relatora foi vencida, e um dos conselheiros votou por provimento sem o retorno dos autos à unidade julgadora de primeiro grau. Ementa: ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Período de apuração: 28/02/2005 a 26/01/20O6 Ementa PROVA EMPRESTADA. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL. CABIMENTO. SUBSUNÇÃO DOS FATOS À NORMA. E válido no processo administrativo o instituto da "prova emprestada", desde que garantido às partes o contraditório e a ampla defesa, mostrandose válido o lançamento que carreia aos autos elementos de prova suficientes a demonstrar a ocorrência de fatos jurídicos semelhantes aqueles verificados em outro procedimento administrativo, ainda que envolva partes distintas. AUSÊNCIA DE PROVA. ACOLHIMENTO. RECURSO DE OFÍCIO. PROVIMENTO. MÉRITO. ENFRENTAMENTO. Revista, em sede de recurso de ofício, a decisão de primeira instância administrativa que acolhe argumento de ausência de prova do ilícito administrativo, necessária se faz a devolução do julgamento para enfrentamento da questão meritória remanescente, a fim de que não haja indevida supressão de instância. (Grifos acrescidos) A empresa COTIA TRADING S.A. interpôs recurso especial (fls. 833 a 859), que, conforme Despacho n° 3.400 4ª Câmara (fls. 891 e 892), foi deferido. A ProcuradoriaGeral da Fazenda Nacional apresentou suas contrarrazões ao recurso especial (fls. 894 a 899). Em 16/03/2016 foi prolatado o Acórdão n° 9303003.527 – 3ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais (fls. 902 a 906) que, por maioria de votos, não conheceu do recurso especial, por falta de divergência jurisprudencial. Ementa: ASSUNTO: PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 28/02/2005 a 26/01/2006 Fl. 1414DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.415 10 RECURSO ESPECIAL DE DIVERGÊNCIA. PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE. Não se conhece de Recurso Especial de Divergência, quando não restam demonstrados os alegados dissídios jurisprudenciais, tendo em vista a ausência de similitude fática entre os acórdãos recorrido e paradigmas. Em 13/04/2016 os autos retornaram à esta instância de julgamento para que seja proferido novo acórdão, como determinado pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. O citado novo acórdão decidiu por dar por procedente em parte a impugnação, assim ementado: ASSUNTO: OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS Período de apuração: 28/02/2005 a 26/01/2006 DANO AO ERÁRIO. PENA DE PERDIMENTO. MERCADORIA NÃO LOCALIZADA. MULTA IGUAL AO VALOR ADUANEIRO DA MERCADORIA. Considerase dano ao Erário a ocultação do real responsável pela operação de importação, infração punível com a pena de perdimento, que é convertida em multa equivalente ao valor aduaneiro, caso as mercadorias não sejam localizadas ou tenham sido consumidas. ASSUNTO: NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO Período de apuração: 28/02/2005 a 26/01/2006 INFRAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. São solidariamente obrigadas as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal, respondendo pela infração, conjunta ou isoladamente, quem quer que, de qualquer forma, concorra para sua prática, ou dela se beneficie. Importador e real adquirente respondem conjuntamente pela prática da infração. DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. REVISÃO ADUANEIRA. DECADÊNCIA. INFRAÇÃO. PRAZO. A revisão aduaneira deverá estar concluída no prazo de 5 (cinco) anos, contado da data do registro da declaração de importação correspondente. Considerase concluída a revisão aduaneira na data da ciência, ao interessado, da exigência do crédito tributário apurado. O direito de impor penalidade extinguese em 5 (cinco) anos, a contar da data da infração. Impugnação Procedente em Parte Crédito Tributário Mantido em Parte Fl. 1415DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.416 11 Ambas as autuadas foram cientificadas do novo acórdão. Em 15/06/2016, a unidade preparadora, não tendo identificado recurso da COTIA TRADING à instância superior, lavrou termo de preempção (fl. 1014). Em 23/02/2017, fora juntada ao sistema eletrônico “eprocesso”, petição datada de 15/07/2016, na qual pugna a COTIA pela juntada de cópia de recurso voluntário, o qual, defende, teria sido tempestivamente protocolado no processo em pauta, mas que teria ocorrido um erro da peticionária, no momento da assinatura digital da peça. A solidária GRADIENTE, sob a nova denominação social, IGB ELETRÔNICA S.A., apresentou, tempestivamente, recurso voluntário, em 30/05/2016. Este relator manterá a referência à GRADIENTE, denominação sob a qual foi lavrado o auto de infração e emitido o acórdão recorrido. A recorrente defende: a regularidade das operações ora fiscalizadas; a ausência de sua responsabilidade tributária, por ser adquirente de boa fé; a ausência de prova do fato ensejador de sua responsabilização; e a inconstitucionalidade da aplicação da pena de perdimento. Ao final, reque, o cancelamento da autuação. Em sessão desta 1ª Turma Ordinária, ocorrida em 27/06/2017, patrono da COTIA, Dr. Mauricio Pereira Faro, anunciou que haveria sido juntada nova petição, há poucos dias da sessão, esta contendo documentos comprobatórios que não haviam sido anteriormente juntadas ao processo, bem como o recurso voluntário que pretende ver processado. O Conselheiro José Henrique Mauri pediu vistas do processo. Instrui esta última petição com documento intitulado "RECURSO VOLUNTÁRIO". Neste, aduz, em síntese, que: teria realizado importações com recursos próprios, mesmo que sob encomenda prévia, mas antes da atual legislação de importação sob encomenda; não haver ocultação por ser ela própria a real compradora, proprietária e adquirente das mercadorias importadas; não atendidos os requisitos exigidos pela Receita Federal para a importação por conta e ordem de terceiros, a operação não pode ser entendida ou presumida como tal; ser relevante a origem dos recursos para a caracterização da operação como por conta própria ou por encomenda; deve ser aplicado o art. 33 da Lei nº 11.488/07, tendo este revogado tacitamente a pena de 10% do valor das mercadorias importadas; e ter o acórdão nº 0724.405 da 1ª Turma da DRJ/FNS cancelado o auto de infração, "por entendimento de que não caberia a aplicação de prova emprestada". Ao final, pugna pela reforma da decisão recorrida na parte em que foi mantido o crédito tributário. No acórdão recorrido, consta recurso de Ofício a este CARF, não tendo sido identificada manifestação posterior da PGFN. O processo 12466.002687/200976 do qual foram extraídas provas utilizadas no presente processo, envolvendo a GRADIENTE, encontrase em cobrança na PFN, após ter a 2ª Turma Ordinária da 2ª Câmara desta Seção do CARF negado provimento ao recurso voluntário então interposto, assim decidindo: Assunto: Obrigações Acessórias Período de apuração: 09/09/2004 a 18/04/2006 DANO AO ERÁRIO. APLICAÇÃO DA PENA DE PERDIMENTO. CONVERSÃO EM MULTA EQUIVALENTE AO VALOR ADUANEIRO DA MERCADORIA QUE NÃO SEJA LOCALIZADA OU QUE TENHA Fl. 1416DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.417 12 SIDO CONSUMIDA. Caracterizase dano ao erário, decorrente de ocultação do real responsável pela operação de importação, logo, sendo punido com a pena de perdimento das mercadorias que, no entanto, convertese em multa equivalente ao valor aduaneiro da mercadoria que não seja localizada ou que tenha sido consumida. Já a pena pecuniária prevista no art. 33 da Lei n° Lei n° 11.488, de 2007 veio apenas substituir a pena não pecuniária de declaração de inaptidão e não a pena de perdimento. É o relatório. Voto Vencido Conselheiro Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Relator. 1. Petições da COTIA Conforme relatado, a contribuinte peticionou, em documento de 15/07/2016, pela juntada de cópia de recurso voluntário, após ter sido cientificada de ter havido perempção na apresentação deste, assim se explicando: Ocorre que por lapso da Peticionaria no momento do envio do documento “Recurso Voluntário’, por meio do Programa Digital de Juntada de Documento, acabou usando para assinar o documento o certificado digital da Cotia Vitória, ao invés da Cotia Trading, conforme mensagem na caixa postal da Cotia Vitória (doc. 02). Referida mensagem consta o seguinte texto: “informamos que foi verificada inconsistência na recepção do documento enviado para o processo nº 12466.001851/201061, inconsistência do usuário que não possui permissão para realizar solicitação de juntada de documento no processo/ciência”. Ainda, consta na mensagem que a solicitação de juntada do documento foi transmitida em 08/06/2016, ou seja, considerando que a notificação se deu em 10/05/2016, concluise que o prazo de 30 (trinta) dias para apresentação do Recurso Voluntário expirou em 09/06/2016, portanto, o Recurso Voluntário foi interposto dentro do prazo legal. Sendo assim, está claro que a Peticionário solicitou a juntada do Recurso Voluntário no presente processo, por meio do Programa Digital de Juntada de Documento, entretanto, por erro no momento da assinatura digital do documento, constou a Cotia Vitório, ao invés da Cotia Trading S/A. Frisese que ao gerar o termo de juntada de documentos constava corretamente o número do presente processo administrativo (12466.001851/201061), isto quer dizer que, realmente o erro cometido pela Fl. 1417DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.418 13 Peticionária foi exatamente no momento da assinatura digital do Recurso Voluntário. Desse modo, mesmo que a Peticionária tenha equivocadamente protocolado o Recurso Voluntário com certificado digital da Cotia Vitório, o mesmo foi feito tempestivamente, razão pela qual o presente Recurso Voluntário deve ser recebido e processado para os devidos fins de direito, sendo ele encaminhado para regular julgamento no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais do Ministério da Fazenda – BrasíliaDF. (Grifos da peticionária). No entanto, o "doc. 02", referido como "mensagem na caixa postal da Cotia Vitória", não fora juntado ao processo, ao tempo de tal petição; tampouco qualquer peça que pudesse ser entendida como recurso voluntário da COTIA. Assim, como a contribuinte não havia trazido aos autos, até então, provas efetivas da ocorrência da alegada apresentação tempestiva de recurso voluntário, entendeu este relator pela manutenção da referida preempção. Em sessão desta 1ª Turma Ordinária, ocorrida em 27/07/2017, o patrono da recorrente, Dr. Mauricio Pereira Faro, anunciou que haveria sido juntada nova petição, poucos dois dias antes da sessão, esta instruída com documentos comprobatórios do antes alegado e o recurso voluntário que pretende ver processado. De fato, em 26/06/2017, fora juntada nova petição, instruída com um "Doc. nº 02", intitulado "RECURSO VOLUNTÁRIO", e um "Doc. nº 03", com tela de mensagens do EPROCESSO, na qual consta "Erro: Solicitação de juntada de Documentos [Processo/Procedimento nº 12466.001851/201061]", "Data/Hora Envio" "08/06/2016 18:24:56"; detalhado em tela na qual consta: Pela presente mensagem informamos que foi verificada inconsistência(s) na recepção do(s) documento(s) enviado(s) [...] Número do Processo/Procedimento: 12466.001851/201061 Interessado: 01.826.229/000142 COTIA TRADING SERVICOS E COMERCIO S/A [...] Assim, a argumentação do contribuinte parece crível, no sentido de ter havido juntada de documento (ainda que não especificado) no prazo para a interposição do recurso voluntário; ainda que assinada com certificado digital de outra empresa. Há de se considerar que, antes do sistema informatizado "eprocesso", ao tempo dos processos em papel portanto, as unidades preparadoras informavam de erros, como falta de assinatura ou de procuração, de forma que a contribuinterecorrente pudesse, naquele momento, sanear o processo. Não é o que acontece no "eprocesso". Ademais, do termo de Fl. 1418DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.419 14 preempção não fora, de pronto, cientificado à COTIA, a não ser que com ele se deparasse ao consultar o processo. Assim sendo e ao amparo do princípio do formalismo moderado que rege o processo administrativofiscal e na busca da verdade material, entendo por considerar tempestivo o recurso, como tendo sido apresentado em 08/06/2016, tomandoo como o "Doc. nº 02" apresentado na última petição da COTIA; dando provimento ao pedido da contribuinte. 2. Recurso de ofício Com relação à questão da decadência, objeto de recurso de ofício, consignado no acórdão recorrido, reproduzo manifestação do relator deste: Assim, em relação aos tributos, a contagem é iniciada do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o mesmo poderia ter sido lançado, contudo, tratandose de exigência de diferença de tributo, o prazo é contado da data do pagamento efetuado. Portanto, na hipótese de ter ocorrido algum pagamento de tributo, por ocasião do registro da declaração de importação, para a exigência da diferença deste mesmo tributo a contagem do prazo decadencial tem por início na própria data de registro da declaração de importação, dado que a regra geral, na importação, é que o pagamento dos tributos seja efetuado por ocasião do registro da declaração de importação. No caso em análise, seguindo robusta jurisprudência do CARF, entendo que a decadência em matéria aduaneira está esculpida no art. 139 do Decretolei nº 37/66 (combinado com o art. 138 da mesma norma), a qual estabelece o prazo quinquenal para imposição de penalidades, a contar da data da infração, dispositivo também referido no acórdão recorrido. Seguem dois exemplos de Acórdãos nesse sentido: DECADÊNCIA. INFRAÇÕES ADUANEIRAS. NORMA ESPECIAL. A decadência em matéria aduaneira é regida pelo artigo 139 do Decretolei n. 37/66, cujo mandamento dispõe que o prazo de decadência para impor penalidades é de 5 anos a contar da data da infração, que no caso é o registro da declaração de importação. (CARF, 3º Seção, 4º Câmara, 2º Turma Ordinária, Ac. 3402003.443, de 22/11/2016, rel. Conselheira Thais De Laurentis Galkowicz). DECADÊNCIA. EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DATA DA INFRAÇÃO. TERMO INICIAL. INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA. O prazo decadencial das obrigações tributárias decorrentes de ilícitos aduaneiros tem como termo inicial a data de ocorrência da infração, na forma prevista no art. 139 do DL nº. 37/66. Tratandose de penalidade devida em face da interposição fraudulenta na importação (DL nº 1.455, art. 23, V), sujeitase à decadência ao cabo do prazo de cinco anos, cujo termo inicial é a prática da infração na data de registro da declaração de importação. (CARF, 3º Seção, 4º Câmara, 2º Turma Ordinária, Ac. 3402002.989, de 17/03/2016, rel. Conselheiro Waldir Navarro Bezerra). Fl. 1419DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.420 15 Ademais, outros disposições legais apontam na mesma direção: Do Decretolei nº 37/66: Art.54 A apuração da regularidade do pagamento do imposto e demais gravames devidos à Fazenda Nacional ou do benefício fiscal aplicado, e da exatidão das informações prestadas pelo importador será realizada na forma que estabelecer o regulamento e processada no prazo de 5 (cinco) anos, contado do registro da declaração de que trata o art.44 deste DecretoLei. (Redação dada pelo DecretoLei nº 2.472, de 01/09/1988). (grifos do relator). Do Decreto nº 6.759/09: Art. 638. [...] § 1o Para a constituição do crédito tributário, apurado na revisão, a autoridade aduaneira deverá observar os prazos referidos nos arts. 752 e 753. (grifos do relator). Art. 753. O direito de impor penalidade extinguese em cinco anos, contados da data da infração (DecretoLei nº 37, de 1966, art. 139). Assim concordo com a decisão recorrida, na questão da decadência, negando provimento ao recurso de ofício. 3. Recursos voluntários da GRADIENTE e da COTIA O recurso voluntário juntado pela COTIA foi, pelas razões expostas no item anterior, dado por tempestivo. O recurso apresentado pela GRADIENTE, com a nova razão social IGB ELETRÔNICA S.A., é tempestivo. Ambos os recursos atendem aos demais pressupostos de admissibilidade1. A presente parte do voto destinase ao julgamento de tais recursos, ante a decisão constante do Acórdão nº 0738.237, proferido pela 1ª Turma da Delegacia da Receita Federal do Brasil de Julgamento em Florianópolis. A 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara desta 3ª Seção de Julgamento, no Acórdão n° 3404002.919, após rever decisão anterior de primeira instância administrativa, determinou devolução do julgamento àquela, para enfrentamento das questões de mérito remanescentes, após decidir sobre provas dos ilícitos. A decisão recorrida esclarece sobre os limites impostos pela decisão de segunda instância: 1 Ressaltese ser desnecessário responder todos as questões levantadas pelas partes, em já havendo motivo suficiente para decidir (Lei n° 13.105/15, art. 489, § 1o , IV. STJ. 1ª Seção. EDcl no MS 21.315DF, Rel. Min. Diva Malerbi, julgado em 8/6/2016). Fl. 1420DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.421 16 [...] em razão do estrito dever de acatar a decisão da instância de julgamento superior, o entendimento a prevalecer no presente julgamento, em razão da força vinculante daquela decisão, é o exarado no Acórdão n° 3404002.919 – 4ª Câmara/1ª Turma Ordinária do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, que em síntese estabelece: • que o enfrentamento a ser realizado pela primeira instância de julgamento deve ser realizado em relação às questões meritórias remanescentes (evitar supressão de instância) – ementa; • que é válido o lançamento que carreia aos autos elementos de prova suficientes a demonstrar a ocorrência de fatos jurídicos semelhantes aqueles verificados em outro procedimento administrativo, ainda que envolva partes distintas (ementa); • que existem sim elementos suficientes neste processo a embasar a autuação (voto); • que a prova emprestada é válida (voto); [...] • que é plausível e lícito concluir que o modus operandi adotado pelas autuadas era idêntico àquele constatado nos processos administrativos fiscais n° 12466.002687/200976 e 12466.000121/201043, modificando tãosomente o “importador”, que no caso é a empresa COTIA TRADING S.A. (voto); O presente processo administrativo traz lançamento de multa equivalente ao valor aduaneiro; aplicada por terem sido consumidas as mercadorias sob autuação, após incidir a penalidade de perdimento; por ocultação do real adquirente e comprador das mercadorias no exterior. Tudo conforme descrito e documentado pela fiscalização, sintetizado no trecho reproduzido abaixo (ainda que já exposto no relatório): 1. A GRADIENTE interessada em reduzir seus custos, e aumentar a sua competitividade, passou a comercializar produtos fabricados na CHINA. Para isso localizou fabricantes de eletroeletrônicos nesse País, através de escritório próprio estabelecido para esse fim, em Shenzen (sul do País). Uma vez localizado o fabricante, combinaram os principais pontos, quantidades, preços, itens da customização, prazos e demais condições do negócio real. 2. Uma vez acertadas as condições, definidas as quantidades totais, com base em schedule estipulando as datas de produção e embarque, nas datas próprias, a GRADIENTE passou a formular os pedidos ao fabricante (exemplo fls. 119 a 121); O fabricante promoveu a produção das encomendas, que quando concluídas foram inspecionadas a pedido da GRADIENTE (exemplo do relatório fls. 122 a 125). Aprovadas as mercadorias e definida a data de embarque, a GRADIENTE, considerando os preços negociados formulou os pedidos destinados à COTIA, que passou a cuidar dos demais trâmites para os embarques e nacionalização das mercadorias. Fl. 1421DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.422 17 3. Em posse do pedido recebido, a COTIA, coordenou a parte logística da operação, preparou os pagamentos antecipados ou contratou as cartas de crédito, conforme o caso. 4. Seguiuse então o transporte internacional e a nacionalização a cargo da COTIA, e as entregas acobertadas por notas fiscais de venda de mercadorias já nacionalizadas. Reproduzo, ainda, e de forma exemplificativa, alguns trechos e documentos constantes da autuação a demonstrarem tais afirmações: [...] O acordo comercial firmado entre a GRADIENTE e a GBM ADVANCED TECHNOLOGY INTERNATINAL INC (cópia extraída do processo 12466.002687/200976), uma corporação sediada em Hong Kong (fls. 117 e 118), demonstra a forma da contratação da produção dos equipamentos, essas mercadorias não poderiam ser adquiridas prontas, devido as especificações próprias necessárias para a comercialização no mercado brasileiro com a marca da GRADIENTE. Esse acordo comercial que especifica, inclusive, a customização das embalagens, ratifica de forma cabal o entendimento da ação fiscal, vez que não registra qualquer participação da outra empresa FUNDAPEANA envolvida no processo 12466.002687/200976, ou qualquer empresa brasileira, que não seja a GRADIENTE, e registra no item 9, nFront Panei shall be exclusive for Gradiente in Latin American Market as long as Gradiente is in business with GBM under tbe terms and conditions of this agreement" (tradução livre : o painel dianteiro deve ser exclusivo para a Gradiente no mercado latino americano desde que a Gradiente mantenha Fl. 1422DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.423 18 seus negócios com a GBM nos termos e condições deste acordo), no termo de garantia também define as obrigações das duas empresas sem sequer citar uma única ação da empresa envolvida como importadora. Na chamada produção por encomenda, feita a partir das especificações ditadas por determinado cliente, sobressaise a característica de ser o produto encomendado o único do mesmo gênero, ou seja, a produção encomendada é personalizada, o que inviabiliza a participação de qualquer empresa fora a GRADIENTE, na comercialização de tais produtos, sem que a mesma tome a frente do negócio ao menos no momento da compra e da venda. [...] Fl. 1423DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.424 19 [...] [...] Fl. 1424DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.425 20 São apenas três exemplos a demonstrarem a real relação comercial entre a GRADIENTE e os exportadores: aquela negociava diretamente com estes; com os exportadores firmava contratos de compra ("purchase agreement") e emitia ordens ou pedidos de compra ("purchase order") diretamente; além de com eles discutir inspeções das mercadorias. Observese que tal modus operandi não foi contestado pelas recorrentes, o que já se havia sido registrado no Acórdão da 3401002.919 da 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara desta 3ª Seção de Julgamento e ressaltado no acórdão da DRJ ora recorrido. O contrato de compra ("purchase agreement") exposto fala em "pedidos não canceláveis da Gradiente" a serem colocados em meados de 2004. A ordem de compra citada se refere a embarques até agosto de 2004. Já o email sobre inspeções de mercadorias é datado de agosto de 2004. As operações objeto do presente auto foram registradas no Siscomex entre fevereiro de 2005 e janeiro de 2006. Assim, o registro das DIs autuadas no presente processo; que vem a reboque de um complexo processo de negociação com o exportador, pedido de compra, produção, embarque, etc; ocorreram a partir de apenas seis meses após as demonstradas práticas; constando, dos quatro exportadores constantes destas DIs, três das envolvidas no processo donde emergiram as provas do dito modus operandi; levando à formação da convicção de qual tal prática se repetira. E, de fato, nas operações objeto do presente auto de infração, nas próprias declarações de importação, já se encontram provas de que as mercadorias seriam previamente da GRADIENTE, quando a COTIA declarava serem operações por conta própria. Fl. 1425DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.426 21 A título de exemplo, reproduzo trechos da DI 05/02061159, relativa a mercadorias descritas como "DVD PLAYER", consignados como da "GRADIENTE", em DI registrada pela COTIA como por sua conta própria: [...] O mesmo se repete para todas as importações autuadas. Apenas nas duas últimas DIs, ao invés de "DVD", consta "APARELHO RECEPTOR DE TV", mas ainda da "GRADIENTE", Demonstrase assim ser a GRADIENTE que adquiria as mercadorias dos exportadores e não a COTIA. Apenas os despachos aduaneiros de importação e algumas etapas posteriores à real aquisição internacional eram realizadas pela COTIA ou tinham participação desta, a exemplo da parte logística da operação, pagamentos antecipados ou cartas de crédito. A notícia da revista VEJA dá o desenho da operação da GRADIENTE em território Chinês como um todo: lá montou um escritório, garimpava fornecedores e deles comprava. O art. 1º, §1º, da Instrução Normativa (IN) SRF nº 225/2002, define a importação por conta e ordem de terceiros: Entendese por importador por conta e ordem de terceiro a pessoa jurídica que promover, em seu nome, o despacho aduaneiro de importação de mercadoria adquirida por outra, em razão de contrato previamente firmado, que poderá compreender, ainda, a prestação de outros serviços relacionados com a transação comercial, como a realização de cotação de preços e a intermediação comercial. A COTIA promoveu os despachos aduaneiros de importação das mercadorias adquiridas dos exportadores pela GRADIENTE. A primeira é, de fato, importadora por conta e ordem da segunda. Se houvesse contrato previamente firmado formalizando tal relação, tratarseia importação por conta e ordem não só de fato, mas também de direito. Fl. 1426DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.427 22 Assim, nas operações autuadas resta oculto o real adquirente das mercadorias importadas ou responsável pelas operações: a GRADIENTE. Da ocultação, decorre a prestação de informações falsas à Receita Federal, nas declarações de importação e faturas comerciais em pauta, posto que nelas deveria figurar a GRADIENTE como adquirente, conforme dispõe a citada IN. Alega a COTIA que as importações em foco "foram realizadas com recursos próprios, mesmo que sob encomenda prévia, embora antes da atual legislação de importação sob encomenda. O art. 11 da Lei nº 11.281/2006, referido pela COTIA, posterior portanto às importações autuadas, trouxe ao ordenamento jurídico o instituto da importação por encomenda: "A importação promovida por pessoa jurídica importadora que adquire mercadorias no exterior para revenda a encomendante predeterminado". Tal operação é totalmente distinta daquela verificada no caso presente: o pedido ao exportador, portanto a aquisição internacional, era feito pela GRADIENTE; não se tratando de encomenda da GRADIENTE à COTIA, para que esta adquirisse produtos no exterior. A COTIA ainda traz a lume ainda o §3º do mesmo artigo, para alegar, como estabelece sua parte final, que a caracterização da operação de importação sob encomenda independe de quem negocia com o exportador no exterior, a importadora ou o encomendante. Comparemos as normas em foco. O art. 1º, §1º, da IN SRF nº 225/2002, estabelece a importação por conta e ordem de terceiros quando a mercadoria é adquirida por terceiro que não o importador; ao passo o art. 11 da Lei nº 11.281 deixa claro que o importador é quem de fato adquire as mercadorias no exterior, estabelecendo seu §3º que a encomendante pode participar ou não das operações comerciais com o exterior. Ora, restou claramente demonstrado que a GRADIENTE e não COTIA era o adquirente de fato, ultrapassando em muito o papel de mero participante da operação. Repisese: a GRADIENTE firmava contratos de compra com os exportadores e emitia ordens ou pedidos de compra diretamente a eles; além discutir inspeções das mercadorias diretamente com eles. A participação da COTIA se dava nos despachos aduaneiros de importação e em etapas posteriores à real aquisição internacional que eram realizadas pela GRADIENTE, na parte logística da operação e nos pagamentos. Não merece crédito portanto a afirmação da GRADIENTE de que “tão somente após a concretização da operação de importação e de desembaraço das mercadorias importadas é que a Recte. os adquiriu no mercado interno”. A COTIA assevera ser relevante a origem dos recursos para caracterização das operações, "os quais devem ser do próprio importador para caracterizar uma operação por encomenda, diferenciandose de uma operação por conta e ordem, onde os recursos são do adquirente". Esse raciocínio não se aplica ao presente caso, posto que a distinção principal entre tais modalidades de importação é se o terceiro adquiriu ou só encomendou ao importador para que este adquirisse, sendo a primeira hipótese a que emergiu das provas acostadas aos autos. Às normas que regem a importação por encomenda, a COTIA atribui caráter interpretativo, por esclarecer (retroativamente) a existência de uma importação desta modalidade. Por tratar o presente processo de instituto distinto, o da importação por conta e ordem de terceiros, tal discussão nada acrescenta ao caso em pauta. Fl. 1427DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.428 23 A COTIA afirma ainda que, não atendidos os requisitos estabelecidos pela Receita Federal para a importação por conta e ordem de terceiros, a operação não pode ser entendida ou presumida como tal e que compete ao importador optar entre efetuar a importação por conta própria ou conta e ordem de terceiros. Certamente que a importação por conta e ordem formal somente se caracteriza quando observados os requisitos que lhe foram impostos pela norma. No caso em pauta, no entanto, o que se demonstra é a ocorrência de operações por conta e ordem de fato e não na modalidade formal, não se aplicando tal raciocínio. A GRADIENTE, com base na IN que rege importação por conta e ordem de terceiros, a de nº 225/2002, e, diz ela, em doutrina, afirma que, quando se tratar de importação por conta e ordem de terceiros: é necessário que a aquisição dos bens importados seja realizada pelo real adquirente. 12. Nesse sentido, por aquisição, devese entender não apenas a intenção originária da real adquirente de importar determinadas mercadorias, mas também que esta deverá, efetivamente, efetivar a aquisição do bem junto fornecedor estrangeiro e arcar com todas as despesas decorrentes da importação efetivada em seu favor. 13. Isso quer significar que, para que seja configurada a importação por conta e ordem de terceiros, é condição determinante que a real adquirente tenha suportado todos os gastos e despesas decorrentes da operação a que deu mando. (Grifos do original). O art. 27 da Lei nº 10.637/02 estabelece que "operação de comércio exterior realizada mediante utilização de recursos de terceiro presumese por conta e ordem deste”, para fins de aplicação do disposto nos arts. 77 a 81 da Medida Provisória no 2.15835, de 24 de agosto de 2001". A mesma disposição está reproduzida no art. 5º da referida IN nº 225. Os referidos artigos da citada medida provisória introduzem, na legislação aduaneira, a importação e exportação por conta e ordem de terceiros, inclusive autorizando a então Secretaria da Receita Federal a estabelecer requisitos e condições para a utilização da nova modalidade de operação. Não estabelece tal norma ser "determinante que a real adquirente tenha suportado todos os gastos e despesas decorrentes da operação a que deu mando"; nem estabeleceu o dispositivo que a utilização de recursos de terceiros deveria ser obrigatoriamente demonstrado pela fiscalização, como defende a GRADIENTE. O disposto neste art. 27 é presunção legal posta à disposição da fiscalização, como um dos instrumentos a demonstrarem a importação por conta e ordem de fato. No entanto, há outros modos de se provar a importação por conta e ordem de fato, como a demonstração da ocorrência de fato da operação, com base em sua definição, tal como efetivado, anteriormente, no presente voto. A GRADIENTE ainda afirma que apenas fora demonstrado "que a importação era custeada pela empresa importadora, que, posteriormente ‘financiava’ esses custos para a Recte". Fl. 1428DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.429 24 Ainda que seja desnecessária a demonstração de que a GRADIENTE arcava com os custos da importação, ela mesma confessa que, no fundo, a importação era financiada pela COTIA, sendo a GRADIENTE, em última análise, que arcava com os tais custos. E o financiamento de operações de importação por parte da COTIA era ao tempo das operações autuadas serviço oferecido pela empresa em seu site na internet, conforme consta do auto de infração: Desde 1976 no mercado, a Cotia é a maior Trading Company independente do Brasil. Oferece a seus clientes soluções completas que integram gestão, logística e financiamento. Cada operação é desenhada sob medida considerando todos os aspectos envolvidos, de forma a obter o melhor resultado final. Uma rede de subsidiárias e empresas coligadas assegura a eficiência e a rapidez nas operações. Tecnologia e profissionais preparados garantem soluções rápidas, informações contínuas e seguras, e planejamento tributário eficiente consultoria tributária", (grifo nosso) (f 1. 103) [...] "A Cotia USA simplifica e financia o processo de importação de empresas brasileiras a partir do mercado norte americano. Gerencia os processos de compras, coleta os produtos na origem, consolida cargas, elabora toda a documentação para a exportação, paga os fornecedores e fatura para a Importadora no Brasil, podendo estender os prazos de pagamento quando necessário. No Brasil, a Cotia Trading complementa a operação, oferecendo a vantagem de seu EADI, onde os produtos podem ser mantidos armazenados em regime de entreposto, aumentando o prazo para o desembaraço e os respectivos desembolsos dos Impostos por até 120 dias a partir da chegada das mercadorias." (grifo nosso) (f 1. 114) (grifos do relator). Assim, a aquisição das mercadorias dos exportadores era feita diretamente pela GRADIENTE, como antes demonstrado; operação apenas financiada pela COTIA. O Código Civil, em seu art. 167, define o instituto da simulação: "Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: [...] aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem". Sobre simulação cito Clóvis Beviláqua: Dizse que há simulação, quando o ato existe apenas aparentemente, sob a forma, em que o agente faz entrar nas relações da vida. É um ato fictício, que encobre e disfarça uma declaração real da vontade, ou que simula a existência de uma declaração que não se faz2. O se verifica, no presente caso, é que havia um negócio aparente, uma importação por conta própria da COTIA; e uma negócio real, a aquisição de mercadorias 2 BEVILÁQUA, Clóvis. Teoria Geral do Direito Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1980, p. 225. Fl. 1429DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.430 25 no exterior pela GRADIENTE, adquirente de fato e real responsável pelas operações; caracterizandose assim a simulação. A Lei nº 4.502/64 assim estatui: Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, ou a evitar ou diferir o seu pagamento. Tanto a simulação como a ocultação aqui demonstradas são caracterizadas como fraude, sendo que, tal ação ou omissão altera a obrigação tributária em uma das suas características fulcrais, no caso presente, a sujeição passiva. Tendo interesse comum nas importações, por ser a real adquirente das mercadorias autuadas e responsável de fato pelas operações, a GRADIENTE é responsável solidária nestas, por força do art. 124, I, do Código Tributário Nacional (CTN). E mais, concorrendo para a prática das operações em foco e delas se beneficiando, deve conjuntamente responder pelas infrações, como determina o art. 95, I do Decretolei n° 37/66. Alega a GRADIENTE sua boafé nos negócios autuados, pleiteando a exclusão de responsabilidade nas operações autuadas, assim descrevendo: 27. Isso porque, ao contrário do entendimento firmado pelo agente fiscal, a Recte. não efetivou a aquisição no exterior das mercadorias importadas pela Cotia Trading S/A, de modo que a Recte. não participou de tais operações de importação. [...] 29. E, nesse sentido, cabe destacar que a Recte., em momento algum, participou do procedimento de internação das mercadorias, tendo, apenas e tão somente, adquirido tais mercadorias da empresa fiscalizada já no mercado nacional. Ora, pelo já demonstrado, a GRADIENTE negociava diretamente com os exportadores, com eles contratava o fornecimento das mercadorias, a eles emitia ordens ou pedidos de compra e ainda determinava inspeções nas mercadorias, efetivando consciente e intencionalmente as aquisições no exterior, bem ao contrário do alegado acima; descabendo socorrerse da boafé. Ainda que fosse verificada a boafé, sua responsabilidade não poderia ser eximida ante o caráter objetivo da responsabilidade na esfera aduaneiratributária, independendo esta “da intenção do agente ou do responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato”, nos termos do art. 136 do CTN. Alega ainda a GRADIENTE a ausência de prova do fato ensejador da sua responsabilização, inexistindo nexo causal com "a conduta infratora da autuada". Tal afirmação não procede diante das provas apresentadas contratos, faturas, comunicações representações de fatos conhecidos e certos; quais sejam, o compromisso firmado de uma relação de Fl. 1430DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.431 26 fornecimento internacional, ordens ou pedidos de compra de mercadorias, pedidos de inspeção de mercadorias, etc; dos quais, mediante processo lógico, resulta a demonstração de que a GRADIENTE adquiria previa e diretamente mercadorias dos exportadores envolvidos nas operações autuadas, numa relação causal plenamente caracterizada. Aduz a COTIA que a caracterização do tipo infracional da falsidade ideológica não dispensa a prova da ação (ato comissivo) de inserir ou fazer inserir uma declaração falsa, além do elemento subjetivo, o dolo. Ora se era a real adquirente a GRADIENTE, que negociava diretamente com os exportadores, firmava contratos de compra, emitia ordens ou pedidos de compra; sabia então que não era ela mesma, a COTIA, que adquiria as mercadorias, tendo consciência da real operação que ocultava, e que realizou ela mesma, ainda que por seus prepostos, o registro das Declarações de Importação, nelas inserindo dados que sabia, não representavam a real operação de comércio exterior, bem como emitiu e/ou utilizou documentos eivados dos mesmos vícios. Também alega não ter elaborado faturas comerciais ou conhecimentos de transporte, por estes terem sido emitidos pelo exportador. Observese que, se não elaborou nem os solicitou da forma como foram emitidos; ao menos os utilizou e com eles instruiu declarações de importações registradas por ela mesma; estas eivadas pela falsidade, por não refletirem a importação por conta e ordem de terceiros que efetivamente ocorria. Não se utilizou a fiscalização da presunção legal de nãocomprovação da origem, disponibilidade e transferência dos recursos empregados na operação de comércio exterior; em nada acrescentando a demonstração da COTIA ter capacidade financeira para realizar as operações por conta própria. A COTIA argumenta ainda ser a falsidade crimemeio para o alegado crime fim da ocultação. A tese de absorção do crimemeio pelo crimefim é característica do direito penal e não do tributário, havendo previsão legal de aplicação da penalidade de perdimento constatandose qualquer dessas práticas infracionais. A COTIA traz feito judicial que entende pela flexibilização da pena de perdimento do dano em não havendo elemento danoso. Alega ainda que eventual caracterização da GRADIENTE como equiparada à industrial e a consequente falta de recolhimento do IPI, não tem qualquer relação com a COTIA, não podendo esta ser responsabilizada por eventual sonegação de seus clientes. A jurisprudência deste Conselho é pacífica em entender que o dano ao Erário decorre de disposição legal, sendo inócua, portanto, a discussão sobre a existência de efetivo prejuízo aos cofres públicos, inclusive com relação à cadeia do IPI. Insurgese a COTIA contra a responsabilidade solidária que teria sido a ela imposta, com base no art. 124, do CTN, com relação a obrigações tributárias da GRADIENTE. Equivocase a recorrente: a GRADIENTE é que foi colocada como solidária das obrigações de responsabilidade da COTIA, por força do citado dispositivo. Aduz a COTIA, que, com o advento da multa do art. 33 da Lei nº 11.488/07, revogouse tacitamente a pena de 100% do valor aduaneiro objeto do presente auto de infração, aquela penalidade menos severa, de aplicação retroativa. A posição mais recente deste Conselho é contrária a esta tese, a exemplo do Acórdão 3301003.085, desta Turma, de 27/09/2016. Fl. 1431DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.432 27 A GRADIENTE alega a inconstitucionalidade da penalidade aplicada, aduzindo afronta ao seu direito de propriedade, constante do art. 5º, inciso XXII, da Constituição Federal; devendo, no seu entender, ser exigido o tributo que deixou de ser recolhido, acrescido da multa legalmente prevista; afastandose a pena de perdimento das mercadorias, em sendo esta desproporcional e indevida; não sendo permitido ao Fisco simplesmente tomar bens de qualquer contribuinte como forma de punilo por alguma infração cometida. Observese que pena de perdimento e a multa que daquela decorreu encontram clara previsão legal. Sobre inconstitucionalidade, o CARF não é competente para se pronunciar (Súmula CARF nº 2). Discute a GRADIENTE a utilização de prova emprestada do processo administrativo nº 12466.002687/200976. Suscita também a COTIA o entendimento trazido pelo acórdão n º 0724.405 da 1ª Turma da DRJ/FNS de que não caberia a aplicação de prova emprestada. Tal questão já fora exaustivamente discutida no contencioso administrativo. A referida primeira decisão da DRJ/FNS já fora desfeita por acórdão deste Conselho. A decisão da Delegacia de Julgamento agora recorrida não tratou deste ponto, atendose à questão meritória remanescente, por determinação contida no Acórdão n° 3404002.919 da 1ª Turma Ordinária da 4ª Câmara deste CARF; na qual ficou decidido, com base em fundamentação a qual acompanho, que: É válido no processo administrativo o instituto da "prova emprestada", desde que garantido às partes o contraditório e a ampla defesa, mostrando se válido o lançamento que carreia aos autos elementos de prova suficientes a demonstrar a ocorrência de fatos jurídicos semelhantes aqueles verificados em outro procedimento administrativo, ainda que envolva partes distintas" (grifos do acórdão original). Recurso especial da COTIA sobre este Acórdão não foi conhecido pela Câmara Superior deste Conselho, por não haver divergência na jurisprudência, dandose a definitividade, na esfera administrativa, do lá decidido. O citado processo administrativo está em fase de cobrança, tendo sido emito acórdão deste CARF, em 2012, mantendo o crédito tributário lançado. Assim, nego provimento ao recurso da contribuinte. Conclusão Por todo o exposto, voto por negar provimento aos recursos voluntários apresentados pela GRADIENTE e pela COTIA e ao recurso de ofício. (ASSINADO DIGITALMENTE) Antonio Carlos da Costa Cavalcanti Filho Relator Fl. 1432DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.433 28 Voto Vencedor A despeito do excelente voto do Relator, ouso divergir quanto à comprovação da ocorrência da interposição fraudulenta, objeto dos recursos voluntários da Cotia Trading e da Gradiente. O presente processo tem como controvérsia a apontada fraude relativa à ocultação da Gradiente como real adquirente e compradora das mercadorias no exterior, importadas diretamente pela Cotia Trading, bem como a utilização de documentos ideologicamente falsos. Assevera a fiscalização que houve simulação entre as duas empresas: o negócio aparente seria a importação por conta própria da Cotia Trading, ao passo que a aquisição de mercadorias no exterior pela Gradiente seria o negócio real. O artigo 167, § 1º do Código Civil dispõe que há simulação nos negócios jurídicos quando: I aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira e III os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós datados. Observase a simulação quando houver divergência entre a vontade real e a vontade declarada com a finalidade de produzir efeito diverso e ludibriar terceiros. Na seara da tributação, para que haja simulação que legitime a desconsideração do negócio jurídico, é necessário: (i) conluio entre as partes; (ii) divergência entre a real vontade das partes e o negócio por elas declarado; e (iii) intenção de lograr o Fisco. Nesse sentido: Os atos tendentes a ocultar ocorrência de fato jurídico tributário configuram operações simuladas, pois não obstante a intenção consista na prática do fato que acarretará o nascimento da obrigação de pagar tributo, este, ao ser concretizado, é mascarado para que aparente algo diverso do que realmente é.” (CARVALHO, Paulo de Barros. Derivação e Positivação no Direito Tributário. Vol. 1. São Paulo: Editora Noeses, 2013, p. 80). Vejase que a jurisprudência do CARF atrela a simulação à devida comprovação dos fatos a que se remete: SIMULAÇÃO SUBSTÂNCIA DOS ATOS Não se verifica a simulação quando os atos praticados são lícitos e sua exteriorização revela coerência com os institutos de direito Fl. 1433DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.434 29 privado adotados, assumindo o contribuinte as consequências e ônus das formas jurídicas por ele escolhidas, ainda que motivado pelo objetivo de economia de imposto. SIMULAÇÃO NEXO DE CAUSALIDADE A caracterização da simulação demanda demonstração de nexo de causalidade entre o intuito simulatório e a subtração de imposto dele decorrente. SIMULAÇÃO EFEITOS DA DESCONSIDERAÇÃO O lançamento, na hipótese de simulação relativa, deve considerar a realidade subjacente em todos os seus aspectos, com adequada consideração do sujeito passivo que praticou os atos que a conformam. Preliminares rejeitadas. Recurso provido. Acórdão nº 10421.729, julg. 26/07/2006. SIMULAÇÃO A simulação se caracteriza pela divergência entre a exteriorização e a vontade, isto é, são praticados determinados atos formalmente, enquanto subjetivamente, os que se praticam são outros. Assim, na simulação, os atos exteriorizados são sempre desejados pelas partes, mas apenas no aspecto formal, pois, na realidade, o ato praticado é outro. SIMULAÇÃO E DECADÊNCIA Configurada a presença de simulação, o prazo para constituir o crédito tributário é de 5 (cinco) anos, contados do exercício (ano) seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado nos termos do art. 173, inciso I, do Código Tributário Nacional. SIMULAÇÃO E MULTA DE OFÍCIO QUALIFICADA Comprovada a simulação, correta a exigência da multa de ofício qualificada sobre os tributos devidos, no percentual de 150%. Acórdão nº 10248.620, julg. 14/06/2007. SIMULAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO. O fato dos atos societários terem sido formalmente praticados, com registro nos órgãos competentes, escrituração contábil, etc. não retira a possibilidade da operação em causa se enquadrar como simulação, isso porque faz parte da natureza da simulação o envolvimento de atos jurídicos lícitos. Afinal, simulação é a desconformidade, consciente e pactuada entre as partes que realizam determinado negócio jurídico, entre o negócio efetivamente praticado e os atos formais (lícitos) de declaração de vontade. Não é razoável esperar que alguém tente dissimular um negócio jurídico dandolhe a aparência de um outro ilícito. Acórdão nº 10323.441, julg. 17/04/2008. Já a fraude tributária é expressa na Lei nº 4.502/64, nos artigos, arts. 71, 72 e 73, que disciplinam as figuras da sonegação, fraude e conluio, verbis: Fl. 1434DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.435 30 Art. 71. Sonegação é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, o conhecimento por parte da autoridade fazendária: I – da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, sua natureza ou circunstâncias materiais; II – das condições pessoais de contribuinte, suscetíveis de afetar a obrigação tributária principal ou o crédito tributário correspondente. Art. 72. Fraude é toda ação ou omissão dolosa tendente a impedir ou retardar, total ou parcialmente, a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal, ou a excluir ou modificar as suas características essenciais, de modo a reduzir o montante do imposto devido, a evitar ou diferir o seu pagamento. Art. 73. Conluio é o ajuste doloso entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, visando qualquer dos efeitos referidos nos arts. 71 e 72. Estará o contribuinte no campo da ilicitude se o negócio jurídico for simulado ou se houver a ocorrência do disposto nos artigos 71, 72 e 73 da Lei 4.502/64, ou seja, se as condutas esconderem, modificarem ou excluírem o fato jurídicotributário. Portanto, fraude tributária é a violação intencional da norma jurídica tributária, sendo imprescindível a existência do dolo, que é a intenção de empregar expediente ardiloso para “mascarar” a ocorrência do fato jurídicotributário. Não basta a simples suspeita de fraude ou simulação para que o negócio jurídico realizado pelo contribuinte possa ser desconsiderado pela autoridade administrativa, é necessária a prova do intuito doloso aplicado com a finalidade de modificar as características essenciais do fato jurídicotributário. Eis que, no que tange às infrações tributárias, o dolo e a culpa não podem ser presumidos, devem sim ser provados: Sendo assim, ao compor em linguagem o fato ilícito, além de referir os traços concretos que perfazem o resultado, a autoridade fiscal deve indicar o nexo entre a conduta do infrator e o efeito que provocou, ressaltando o elemento volitivo (dolo ou culpa, conforme o caso), justamente porque integram o vulto típico da infração. (CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método. 6.ed. São Paulo: Editora Noeses, 2015, p. 857). Por conseguinte, o lançamento tributário com a desconsideração do negócio jurídico realizado e a exigência do tributo incidente sobre a real operação, deve trazer a motivação através da prova dos fatos nele constituídos. Fl. 1435DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.436 31 Como é a prova que constitui o fato jurídico tributário no tempo e no espaço e identifica seus sujeitos, sem ela não se pode afirmar que um evento ocorreu, ou seja, que houve subsunção do fato à previsão da norma jurídica. É o que se depreende da lição de Fabiana Del Padre Tomé: A fundamentação das normas individuais e concretas na linguagem das provas decorre da necessária observância aos princípios da estrita legalidade e da tipicidade tributária, limites objetivos que buscam implementar o sobreprincípio da segurança jurídica, garantindo que os indivíduos estarão sujeitos à tributação somente se for praticado o fato conotativamente descrito na hipótese normativa tributária. (A Prova no Direito Tributário. 3.ed. São Paulo: Editora Noeses, 2011, p. 270). Neste processo, como provas da ocorrência da interposição fraudulenta, a autoridade anexou as provas coletadas em outro processo administrativo fiscal, o nº 12466.002687/200976, no qual a Gradiente é parte. Buscou a fiscalização, com vistas a demonstrar o modus operandi adotado pela Gradiente, trazer aos autos as provas emprestadas. No processo nº 12466.002687/200976, o autuante aponta que os documentos indicam que se tratam de operações de importação em que a Gradiente utilizou outro interveniente com vistas a realizar operação de importação de mercadorias do mesmo tipo que é objeto desta autuação, restando demonstrado a natureza das mercadorias e os necessários ajustes pelo fabricante no exterior para que as mesmas possam ser adequadas às especificações determinadas pela real adquirente, a Gradiente. Ademais, informa que três dos quatro exportadores deste caso, são os mesmos exportadores identificados naquele outro processo. Entretanto, não há como se considerar as provas do processo nº 12466.002687/200976 como aptas a embasar a presente autuação. Não se trata de afastar a prova emprestada, ou seja, não se discute aqui a possibilidade ou não do uso de prova emprestada. O que se faz, nestes autos, é a valoração das provas emprestadas e demais elementos aqui constantes em face do relatado pela fiscalização. Desse cotejo, entendo que se está diante de fatos que não guardam relação com os presentes autos: a uma, são operações de importações distintas, a duas, não se observa naqueles autos o vínculo nas importações entre a Gradiente e a Cotia Trading. Entendo que a fiscalização não trouxe a estes autos outros elementos como suporte probatório mínimo e necessário para a comprovação da atividade dolosa da Cotia e da Gradiente. Os contratos entre Gradiente e GBM, bem como matéria da Revista Veja (edição 1968), não têm o condão de fundamentar a certeza da ocorrência dos fatos narrados Fl. 1436DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.437 32 pela fiscalização. Não vislumbro, a partir dos elementos juntados, a conexão entre os fatos narrados, as provas trazidas e as conclusões. Diante disso, documentalmente, com relação às importações tratadas neste processo, realizadas pela Cotia Trading, a prova de ilicitude não foi contundente. A prova deve satisfazer duas condições fundamentais para que a autuação subsista: i) a comprovação da ocorrência do fato doloso e ii) a demonstração da existência do liame entre a conduta das autuadas e o mencionado fato. Isso porque, no processo administrativo, não há espaço para a dúvida quanto à ocorrência da infração. No caso em tela, entendo que os motivos e os elementos trazidos pela fiscalização são insuficientes para a formação de convicção acerca da ocorrência da interposição fraudulenta, conforme posto na acusação fiscal, ou seja, diante do que foi posto pela acusação, ainda persiste a dúvida quanto à ocorrência da infração. Nesse sentido, o CARF já se manifestou: Acórdão 3101001.078, julg. 24/04/2012. PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL Período de apuração: 27/11/2002 a 19/10/2007 PENA DE PERDIMENTO. COMPROVAÇÃO. FRAUDE, SIMULAÇÃO OU INTERPOSIÇÃO FRAUDULENTA. Não comprovado objetivamente o dano ao Erário mediante fraude, simulação ou interposição fraudulenta de terceiros na importação de mercadorias ou, pela forma presumida, a indisponibilidade financeira do importador, não deve permanecer a pena de perdimento convertida em multa. Recurso de Oficio Negado. Em suma, a questão controvertida neste processo é justamente a fraude atribuída às empresas Gradiente e Cotia Trading, matéria totalmente vinculada à produção de prova pela autoridade administrativa (ônus da fiscalização). Então, considerando o império da estrita legalidade, tipicidade tributária, motivação do lançamento tributário, devido processo legal e ampla defesa, diante da gravidade da fraude aduaneira imputada às oras Recorrentes, o lançamento tributário desprovido de provas cabais deve ser cancelado, conforme as justificativas tratadas no corpo deste voto. Por fim, não é plausível e lícito concluir que o modus operandi adotado pelas autuadas era idêntico àquele constatado no processo n° 12466.002687/200976, modificando apenas o “importador”, que neste caso é a Cotia, sob pena de se autuar com base em presunção, ao arrepio da lei. Por todo o exposto, voto por dar provimento aos recursos voluntários, para cancelar a multa de perdimento aplicada, diante da ausência dos pressupostos legais para sua aplicação. Fl. 1437DF CARF MF Processo nº 12466.001851/201061 Acórdão n.º 3301003.975 S3C3T1 Fl. 1.438 33 (ASSINADO DIGITALMENTE) Semíramis de Oliveira Duro Redatora Fl. 1438DF CARF MF
score : 1.0
Numero do processo: 10850.907796/2011-37
Turma: Primeira Turma Ordinária da Terceira Câmara da Terceira Seção
Câmara: Terceira Câmara
Seção: Terceira Seção De Julgamento
Data da sessão: Wed May 24 00:00:00 UTC 2017
Data da publicação: Thu Aug 10 00:00:00 UTC 2017
Ementa: Assunto: Contribuição para o PIS/Pasep
Data do Fato Gerador: 31/05/2000
RESTITUIÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO PARCIALMENTE COMPROVADO.
Uma vez confirmada pela fiscalização em diligência a existência parcial do direito creditório, este há de ser reconhecido, no limite no crédito identificado.
Recurso Voluntário parcialmente provido.
Numero da decisão: 3301-003.639
Decisão: Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário.
(assinado digitalmente)
LUIZ AUGUSTO DO COUTO CHAGAS - Presidente e Relator.
Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto do Couto Chagas (Presidente), José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d´Oliveira, Marcos Roberto da Silva, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Antônio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen.
Nome do relator: LUIZ AUGUSTO DO COUTO CHAGAS
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Direito creditório comprovado. Recorrente GREEN VEICULOS COMERCIO E IMPORTACAO LTDA Recorrida FAZENDA NACIONAL ASSUNTO: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIS/PASEP Data do Fato Gerador: 31/05/2000 RESTITUIÇÃO. DIREITO CREDITÓRIO PARCIALMENTE COMPROVADO. Uma vez confirmada pela fiscalização em diligência a existência parcial do direito creditório, este há de ser reconhecido, no limite no crédito identificado. Recurso Voluntário parcialmente provido. Acordam os membros do colegiado, por unanimidade de votos, em dar parcial provimento ao Recurso Voluntário. (assinado digitalmente) LUIZ AUGUSTO DO COUTO CHAGAS Presidente e Relator. Participaram da sessão de julgamento os conselheiros: Luiz Augusto do Couto Chagas (Presidente), José Henrique Mauri, Marcelo Costa Marques d´Oliveira, Marcos Roberto da Silva, Maria Eduarda Alencar Câmara Simões, Antônio Carlos da Costa Cavalcanti Filho, Semíramis de Oliveira Duro e Valcir Gassen. Relatório Trata o presente processo de Pedido de Restituição, cumulado com declarações de compensação, de créditos de PIS, referentes a pagamento efetuado indevidamente ou ao maior no período de apuração maio de 2000. AC ÓR DÃ O GE RA DO N O PG D- CA RF P RO CE SS O 10 85 0. 90 77 96 /2 01 1- 37 Fl. 155DF CARF MF Processo nº 10850.907796/201137 Acórdão n.º 3301003.639 S3C3T1 Fl. 3 2 O despacho decisório emitido pela unidade de origem indeferiu o pedido de restituição e não homologou a Dcomp, pois o pagamento indicado no PER teria sido integralmente utilizado para quitar débitos do contribuinte, não restando crédito disponível para restituição. O despacho propôs ainda a lavratura de auto de infração, para exigir a multa isolada de 50%, conforme o § 17 c/c o § 15, do artigo 74 da Lei nº 9.430/96, sobre o montante cuja compensação não foi homologada. Irresignado, o recorrente apresentou, tempestivamente, manifestação de inconformidade, para alegar que: I. O Despacho Decisório não teria examinado o motivo real do recolhimento a maior, por não ter aventado a possibilidade de que tal pagamento seria devido à ampliação da base de cálculo do PIS e da Cofins de que trata a Lei nº 9.718/98; dessa forma, deveria ser reformado, em desrespeito ao artigo 65 da IN RFB nº 900/2008, e ao artigo 142 do Código Tributário Nacional – CTN; II. O pagamento indevido, objeto da restituição, seria devido à inconstitucionalidade do parágrafo 1º, do artigo 3º, da Lei nº 9.718/98, que trata da ampliação da base de cálculo do PIS e da Cofins; a discussão de tal matéria estaria superada pelo STF, pois já teria sido aplicada a repercussão geral no RE nº 585.235, de 10/09/2008; III. Outra prova da pacificação de tal entendimento seria a edição da Lei nº 11.941/2009, que teria revogado o parágrafo 1º, do artigo 3º, da Lei nº 9.718/98; IV. O entendimento do STF deveria ser aplicado às decisões administrativas, conforme os seguintes dispositivos: inciso I do parágrafo 6º, do artigo 26A, do Decreto nº 72.235/72 – PAF; inciso I, do artigo 59, do Decreto n° 7.574/2011; inciso I, parágrafo 1º, do artigo 62 e caput do artigo 62A., ambos do RICARF; Argumentou que na base de cálculo do PIS e da Cofins deveriam ser incluídos os valores correspondentes apenas às receitas de vendas de mercadorias e serviços. Solicitou comprovar as alegações através da realização de diligência, perícia e juntada de documentos. Requereu ainda a reunião destes autos com o processo nº 10850.721795/201288, o qual havia exigido a multa isolada sobre o montante cuja compensação foi não homologada. Concluiu, requerendo o reconhecimento do direito à restituição e a homologação da Dcomp. Caso o direito creditório não fosse reconhecido, propôs o cancelamento da multa de mora de 20%. Apensou planilha e balancete contendo as receitas financeiras da empresa. Ao analisar o caso, a DRJ em Ribeirão Preto (SP), entendeu por julgar improcedente a manifestação de inconformidade, nos termos nos termos do Acórdão 14 043.844. O contribuinte foi intimado do conteúdo desta decisão, e, insatisfeito com o seu conteúdo, interpôs Recurso Voluntário. Fl. 156DF CARF MF Processo nº 10850.907796/201137 Acórdão n.º 3301003.639 S3C3T1 Fl. 4 3 Este Conselho, então, através da Resolução nº 3801000.701, entendeu por converter o julgamento em diligência, para que a Delegacia de origem apurasse a composição da base de cálculo da Contribuição com base na documentação apresentada e na escrita fiscal e contábil do contribuinte, relativa aos períodos de apuração apontados nos pedidos de restituição, e a correção dos valores a restituir inicialmente pleiteados, correspondentes à indevida ampliação da base de cálculo do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98. Em atendimento à referida resolução foi elaborada a informação fiscal constante nos autos, através da qual a fiscalização propôs o reconhecimento do direito creditório decorrente do recolhimento a maior apurado, sendo o contribuinte intimado quanto ao teor desta e, posteriormente, encaminhado o processo para prosseguimento do julgamento. É o relatório. Voto Conselheiro Luiz Augusto do Couto Chagas, Relator. O julgamento deste processo segue a sistemática dos recursos repetitivos, regulamentada pelo art. 47, §§ 1º e 2º, do RICARF, aprovado pela Portaria MF 343, de 09 de junho de 2015. Portanto, ao presente litígio aplicase o decidido no Acórdão 3301003.633, de 24 de maio de 2017, proferido no julgamento do processo 10850.722388/201115, paradigma ao qual o presente processo foi vinculado. Transcrevese, como solução deste litígio, nos termos regimentais, o entendimento que prevaleceu naquela decisão (Acórdão 3301003.633): "O Recurso Voluntário é tempestivo e reúne os demais requisitos de admissibilidade, portanto, dele conheço. Consoante acima narrado, tratase de Pedido de Restituição de créditos de Cofins, referentes a pagamento efetuado indevidamente ou ao maior no período de apuração de setembro de 2002, no valor de R$ 3.344,37. Como bem assentou este Conselho quando da Resolução nº 3801 000.677, quanto à matéria de direito, assiste razão ao contribuinte, visto que o alargamento da base de cálculo da COFINS inserta no art. 3º, parágrafo 1º da Lei n. 9.718/1998 já foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal e, ao contrário do que constou da decisão recorrida, tal entendimento deve ser observado por este Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. É o que se extrai dos fundamentos da resolução abaixo transcritos, os quais adoto como razão de decidir: A questão posta em discussão cingese ao direito ao crédito de COFINS pago com base no art. 3º, § 1, da Lei n° 9.718, de 1998, que foram posteriormente declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal. Preliminarmente, entendo que deve ser considerada a documentação comprobatória apresentada em sede de Recurso Voluntário, que, em tese, Fl. 157DF CARF MF Processo nº 10850.907796/201137 Acórdão n.º 3301003.639 S3C3T1 Fl. 5 4 estaria atingida pela preclusão consumativa, em obediência aos princípios da ampla defesa e da verdade material, conforme entendimento prevalente nesse colegiado e que foram juntadas em complemento aos documentos comprobatórios apensados anteriormente, os quais, em tese, ratificam os argumentos apresentados. No mérito, vejamos o alegado: A Lei nº 9.718/98, conversão da Medida Provisória nº 1.724/98, estendeu o conceito de faturamento, base de cálculo das contribuições PIS e Cofins, definindoo no §1º do art. 3º como "receita bruta" da pessoa jurídica, e esta seria “a totalidade das receitas auferidas pela pessoa jurídica, sendo irrelevantes o tipo de atividade por ela exercida e a classificação contábil adotada para as receitas”. Ocorre, todavia, que o Pleno do Egrégio Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento dos Recursos Extraordinários n.ºs 357.950/RS, 358.273/RS, 390840/MG, Relator Ministro Marco Aurélio, e n.º 346.0846/PR, do Ministro Ilmar Galvão, pacificou o entendimento da inconstitucionalidade da ampliação da base de cálculo das contribuições destinadas ao PIS e à Cofins, promovida pelo § 1º, do artigo 3º, da Lei n.º 9.718/98. Os aludidos acórdãos foram assim ementados: CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE ARTIGO 3º, § 1º, DA LEI Nº 9.718, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1998 EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 20, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1998. O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente. TRIBUTÁRIO INSTITUTOS EXPRESSÕES E VOCÁBULOS SENTIDO. A norma pedagógica do artigo 110 do Código Tributário Nacional ressalta a impossibilidade de a lei tributária alterar a definição, o conteúdo e o alcance de consagrados institutos, conceitos e formas de direito privado utilizados expressa ou implicitamente. Sobrepõese ao aspecto formal o princípio da realidade, considerados os elementos tributários. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL PIS RECEITA BRUTA NOÇÃO INCONSTITUCIONALIDADE DO § 1º DO ARTIGO 3º DA LEI Nº 9.718/98. A jurisprudência do Supremo, ante a redação do artigo 195 da Carta Federal anterior à Emenda Constitucional nº 20/98, consolidouse no sentido de tomar as expressões receita bruta e faturamento como sinônimas, jungindoas à venda de mercadorias, de serviços ou de mercadorias e serviços. É inconstitucional o § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98, no que ampliou o conceito de receita bruta para envolver a totalidade das receitas auferidas por pessoas jurídicas, independentemente da atividade por elas desenvolvida e da classificação contábil adotada. No mais, o STF, no julgamento do RE nº 585.235, publicado no DJ nº 227 do dia 28/11/2008, julgado no qual havia sido aplicada a repercussão geral da matéria em exame, reconheceu a inconstitucionalidade do § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98. Segue a ementa, in verbis: Fl. 158DF CARF MF Processo nº 10850.907796/201137 Acórdão n.º 3301003.639 S3C3T1 Fl. 6 5 RECURSO. Extraordinário. Tributo. Contribuição social. PIS. COFINS. Alargamento da base de cálculo. Art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. Inconstitucionalidade. Precedentes do Plenário (RE nº 346.084/PR, Rel. orig. Min. ILMAR GALVÃO, DJ de 1º.9.2006; REs nos 357.950/RS, 358.273/RS e 390.840/MG, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJ de 15.8.2006) Repercussão Geral do tema. Reconhecimento pelo Plenário. Recurso improvido. É inconstitucional a ampliação da base de cálculo do PIS e da COFINS prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 9.718/98. Neste sentido, há de se observar o artigo 62A do Regimento Interno do Conselho Administrativo Fiscais (CARF), aprovado pela Portaria nº 256/2009 do Ministro da Fazenda, com alterações das Portarias 446/2009 e 586/2010, que dispõe que os Conselheiros têm que reproduzir as decisões do STF proferidas na sistemática da repercussão geral, in verbis: Art. 62A. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional, na sistemática prevista pelos artigos 543B e 543C da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, Código de Processo Civil, deverão ser reproduzidas pelos conselheiros no julgamento dos recursos no âmbito do CARF. Outrossim, o Decreto nº 70.235/72, que rege o processo fiscal, estabelece: “Art. 26A. No âmbito do processo administrativo fiscal, fica vedado aos órgãos de julgamento afastar a aplicação ou deixar de observar tratado, acordo internacional, lei ou decreto, sob fundamento de inconstitucionalidade* (...) §6º O disposto no caput deste artigo não se aplica aos casos de tratado, acordo internacional, lei ou ato normativo:* I que já tenha sido declarado inconstitucional por decisão definitiva plenária do Supremo Tribunal Federal;* (...)” *Nova redação dada pela Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009 Atentese que em relação ao PIS, a partir da Lei 10.637, de 2002, e à Cofins, a partir da Lei 10.833, de 2003, para aquelas empresas sujeitas ao regime não cumulativo de apuração das referidas contribuições, essa discussão deixou de ser pertinente, vez que as normas em questão instituíram nova base de cálculo, desta feita com amparo na Constituição Federal, pela redação da Emenda Constitucional 20, de 1998. Fl. 159DF CARF MF Processo nº 10850.907796/201137 Acórdão n.º 3301003.639 S3C3T1 Fl. 7 6 Além do mais, em consonância com o entendimento da Excelsa Corte, a Lei nº 11.941/09 revogou expressamente o § 1º do artigo 3º da Lei nº 9.718/98. Da análise dos demonstrativos e da Declaração de Informações EconômicoFiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ), verificase que outras receitas compuseram a base de cálculo da contribuição COFINS em desacordo com o conceito de faturamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), qual seja, a receita bruta das vendas de mercadorias, de mercadorias e serviços e de serviço de qualquer natureza. Com efeito, é incontroverso o bom direito da recorrente em relação aos recolhimentos à título de Cofins no período de apuração apontado no pedido de restituição, tendo em vista que esse litígio administrativo tem como objeto principal a restituição de contribuição paga a maior com fundamento na declaração de inconstitucionalidade do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98 pelo Excelso STF (alargamento da base de cálculo do PIS e da Cofins). Em que pese o direito da interessada, do exame dos elementos comprobatórios, constatase que, no caso vertente, os documentos apresentados são insuficientes para se apurar a correta composição da base de cálculo da contribuição da Cofins e eventuais pagamentos a maior. Ante ao exposto, voto no sentido de converter o presente julgamento em diligência, para que a Delegacia de origem: a) apure a composição da base de cálculo da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) com base na documentação apresentada e na escrita fiscal e contábil, relativo aos períodos de apuração apontados nos pedidos de restituição, e a correção dos valores inicialmente pleiteados correspondentes à indevida ampliação da base de cálculo do § 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/98; b) cientifique a interessada quanto ao teor dos cálculos para, desejando, manifestarse no prazo de dez dias. Após a conclusão da diligência, retornar o processo a este CARF para julgamento. Ou seja, nos termos da resolução em questão, ainda que a matéria de direito fosse de fácil resolução, entenderam os julgadores naquela oportunidade que não havia nos autos elementos suficientes para que se confirmasse a certeza e liquidez do crédito pleiteado. Isso porque, como é cediço, para fins de concessão de pedido de restituição e/ou compensação de indébito fiscal, é imprescindível que o crédito tributário pleiteado esteja munido de tais características. Eventual dúvida existente, contudo, restou dirimida pela informação fiscal realizada em decorrência da diligência determinada por este Conselho. No caso concreto ora analisado, restou confirmada pela fiscalização a existência de direito creditório no montante de R$ 3.220,13, cuja conclusão transcrevo a seguir: Após, apuração da Contribuição da COFINS devida para o mês de Setembro de 2002 no valor de R$.6.509,48, e observado que o valor total recolhido foi de R$.9.729,61 (fls.13), concluímos que o valor recolhimento a maior é de R$.3.220,13. Fl. 160DF CARF MF Processo nº 10850.907796/201137 Acórdão n.º 3301003.639 S3C3T1 Fl. 8 7 Desta forma, proponho o reconhecimento do direito creditório pleiteado no Pedido de Restituição às fls.2, transmitido através do programa PERDCOMP sob o nº 38979.57407.160807.1.2.040345, no valor de R$.3.220,13. Mencionese ainda que, intimado para se manifestar sobre o resultado desta diligência, o contribuinte não se manifestou (vide despacho de fl. 277 dos autos), o que leva a crer que concordou com o valor identificado pela fiscalização, ainda que parcial ao seu pleito originário, no valor de R$ 3.344,37. Diante do acima exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao Recurso Voluntário interposto pelo contribuinte, para fins de, reconhecendo o direito creditório no importe de R$ 3.220,13, conforme apurado na informação fiscal de fls. 270 e seguintes dos autos, deferir parcialmente o pedido de restituição e, em consequência, determinar a homologação do pedido de compensação, no limite do crédito reconhecido." Da mesma forma que ocorreu no caso do paradigma, no presente processo a unidade de origem, em atendimento a diligência requerida, conforme apurado na informação fiscal, propôs o reconhecimento do direito creditório pleiteado decorrente de recolhimento a maior. Aplicandose a decisão do paradigma ao presente processo, em razão da sistemática prevista nos §§ 1º e 2º do art. 47 do RICARF, dou parcial provimento ao recurso voluntário, reconhecendo o direito creditório pleiteado no importe de R$ 22,9, conforme apurado na informação fiscal constante nos autos, e, em consequência, determinar a homologação do pedido de compensação, no limite do crédito reconhecido. assinado digitalmente Luiz Augusto do Couto Chagas Fl. 161DF CARF MF
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